Dívida Pública
Dívida Pública
Dívida Pública
Introdução
2. Objectivos
2.1. Objectivos gerais
3. Metodologia
Este estudo trata-se de uma revisão bibliográfica realizada por meio das bases de dados
Lilacs, Scielo, Google Acadêmico e literaturas. Nestes locais de pesquisa foram buscados
materiais de aporte para uma melhor explicação sobre o tema referido, cujos autores discutem
diferentes assuntos ligados diretamente ao foco principal, que é a Divida Publica em
Moçambique.
4. REFERENCIAL TEORICO
4.1. DÍVIDA PÚBLICA
Não há, no direito internacional, qualquer definição expressa do conceito de dívida pública. É
possível encontrar uma formulação no artigo 32 da Convenção de Viena sobre Sucessão de
Estados a Respeito da Propriedade Estatal, Arquivos e Dívidas, de 1983, em que ela é
apresentada como toda obrigação financeira do Estado conforme ao direito internacional e
assumida perante outros Estados, organizações internacionais e outros sujeitos de direito
internacional. A convenção, no entanto, não obteve quantidade suficiente de ratificações para
entrar em vigor e, além disso, peca por ser vaga quanto ao fundamento de validade (quais
seriam, afinal, as normas de direito internacional aplicáveis, e sua abrangência subjetiva?) e
aos sujeitos de direito internacional envolvidos, de cuja especificação se depende para saber
se a dívida do Estado com credores privados seria também dívida pública. Por esta razão é
necessária uma elaboração conceitual mais precisa.
Começando pelo rácio serviço da dívida/exportações, este foi adoptado como um proxy da
capacidade do país devedor de gerar moeda estrangeira para fazer face às obrigações
decorrentes do seu nível de endividamento. O primeiro problema com este indicador deve-se
ao facto de negligenciar outras fontes de mobilização de moeda estrangeira para além das
exportações, como por exemplo, os donativos e o Investimento Directo Estrangeiro (IDE)
que, no caso de Moçambique, representam fontes importantes das divisas que são usadas para
o país.
O segundo, tem a ver com o facto de o indicador não tomar em consideração a condição de
sustentabilidade da dívida externa patente na definição adoptada pelo FMI e o pelo BM, que
requer um nível de endividamento para o qual “o país pode responder totalmente às suas
obrigações actuais e futuras de serviço da dívida, sem recurso à recalendarização do
pagamento, ou acumulação de atrasados e sem comprometer o crescimento económico”. Esta
definição implica que para ser considerado numa situação de endividamento sustentável o
país deve ser capaz de mobilizar recursos suficientes em todos os períodos, não só para
responder às obrigações decorrentes da sua dívida externa, como também, para fazer face a
todas as outras despesas necessárias para o seu crescimento.
Desta forma, fica evidente que no rácio serviço da dívida/exportações falta a referência às
outras despesas para além da dívida. Implícito na adopção deste rácio e dos valores limiares
de sustentabilidade para o mesmo, está o pressuposto que existe um valor da dívida
proporcional ao volume de exportações que não gera efeitos negativos sobre o crescimento
do país devedor. Olhando concretamente para o caso do rácio serviço da dívida/exportações e
para o seu valor limiar de sustentabilidade de 20% aplicado ao caso de Moçambique, este
equivale a dizer que uma fracção de 20% das exportações pode ir para o serviço da divida
sem constranger o crescimento económico. Em outras palavras, isto significa que 80% do
valor das exportações (considerado como a única fonte de divisas) é suficiente para realizar
as restantes despesas em divisas necessárias ao crescimento do país.
Tendo em conta a taxa de cobertura das exportações sobre as importações, regra geral inferior
a 80%, fica evidente que este pressuposto e, consequentemente, este indicador e o seu valor
limiar de sustentabilidade são inadequados para o contexto moçambicano. Mais ainda, tendo
em conta a oscilação da taxa de cobertura, fica evidente que o valor limiar de sustentabilidade
não pode ser o mesmo para o mesmo país em todos anos e muito menos para países
diferentes – com o mesmo nível de CPIA – em todos anos. Alternativamente, a aceitação
deste indicador e da definição de sustentabilidade adoptada pelo LIC DSF, implica que o país
vive uma situação de insustentabilidade da dívida externa.
Desde 2001, a dívida pública interna aumentou 19 vezes, a uma taxa média anual quatro
vezes superior à do PIB, e a dívida pública externa aumentou três vezes, a uma taxa média
anual 40% mais rápida que a do PIB. O peso da dívida pública interna no stock total da
dívida pública aumentou de 2% para 14%, e no serviço da dívida passou de 2% para 90%
desde 2009, por causa das altas taxas de juro que tornam a compra da dívida pública lucrativa
para o capital financeiro doméstico. O governo argumenta que a gestão da dívida é feita de
acordo com standards internacionais de sustentabilidade fiscal para economias semelhantes à
de Moçambique, pelo que não existe motivo de alarme. Recentemente, o governo declarou
que desde que Moçambique pague o serviço da dívida, um stock de dívida maior aumenta a
visibilidade da economia nacional na arena internacional. No entanto, o argumento do
governo é, no mínimo, inadequado para lidar séria e responsavelmente com a questão da
dívida pública, por vários factores.
Existem dois outros factores são mais importantes do que os indicadores estáticos de
sustentabilidade fiscal da dívida, nomeadamente o crescimento meteórico da dívida, já
referido, e, em especial, da dívida pública interna e da dívida comercial externa (que cresceu
44 vezes desde 2008), substancialmente mais caras do que a dívida oficial concessional.
Daqui resultam pressões adicionais sobre o orçamento do Estado e as reservas externas, com
o peso do serviço da dívida a duplicar em ambos, conduzindo a pressões adicionais para o
corte da despesa. Dado o padrão extractivo de acumulação e o enfoque do Estado na
mobilização de grande capital externo, a resposta política às pressões orçamentais é a
contracção da despesa nas áreas públicas de maior impacto social (educação, saúde,
segurança social, transporte público e saneamento), pois não são prioridades políticas e
sociais para as classes capitalistas financeiras nacionais em emergência, ficando estas áreas
dependentes da ajuda externa que, assim, funciona como suporte político e financeiro à
aliança entre o Estado, o grande capital nacional e o capital multinacional.
Que factores causam o endividamento público? Esta pergunta parece banal pois a resposta
parece óbvia: excesso de consumo relativamente ao rendimento. No entanto, tal resposta nada
diz sobre os padrões do rendimento, da despesa e da relação entre os dois. O endividamento
emerge de vários factores relacionados que fazem parte das dinâmicas da porosidade como
mecanismo de subsídio do processo de acumulação privada de capital: incentivos fiscais
redundantes, o financiamento da logística do grande capital, bem como a intensidade em
capital e, por consequência, a dependência de importações da estratégia de investimento.
Estes factores formam um pacote de subsídios para o grande capital multinacional que
garante o acesso das classes capitalistas emergentes em Moçambique às rendas da economia
e do capital multinacional, a baixo custo e sem terem de realizar financeiramente essa sua
participação pecuniária na expropriação e acumulação de capital. A não tributação do capital
multinacional, em especial das grandes empresas que já geram lucros há quatro ou mais anos,
e a hesitação em tributar as transacções especulativas das concessões de recursos naturais,
implicaram a perda de entre 72 e 96 biliões de meticais em receita fiscal adicional, apenas no
período 2005-2013 (9 a 12 biliões de meticais por ano), o que seria equivalente a 13% da
receita do Estado, 7% da despesa pública e 3% do PIB. A estas perdas podem adicionar-se as
relacionadas com a privatização da gestão e das rendas de infra-estrutura pública (por
exemplo, os principais portos e linhas férreas) e a não colecta das tarifas (por si, já irrisórias)
sobre a terra atribuída a grandes explorações comerciais.
Relativamente a composição do Stock da Dívida Externa por tipo de Taxa de Juro, importar
destacar que não houve uma grande alteração em comparação com o I Trimestre de 2022,
apresentando um incremento de 0.1p. p da dívida contratada a taxa de juro Fixa e um
decréscimo na mesma proporção na dívida contratada a taxa de juro variável.
No período em análise, o valor total do serviço da dívida pública externa situou-se em 104.66
milhões de dólares, sendo 82.1milhões de dólares, correspondentes a amortização do Capital
e 22.52 milhões de dólares ao pagamento de Juros, o que representa uma redução de cerca de
59.72 de dólares (36%), em relação ao I trimestre de 2022.
Relativamente a composição do stock da Dívida Pública Interna por tipo de taxas de juro
importa destacar que no final do II trimestre de 2022, 48% da dívida foi contratada a taxas de
juro fixa e os restantes 52% a taxas de juro variável, apresentando uma redução de 1pp na
carteira contratada a taxa de juro variável e um incremento na mesma 3 Valores dos leasings
pagos na rubrica bens e servicos 11 proporção na carteira contratada a taxa de juro fixa, em
comparação com o I trimestre de 2022.
4.4.3.2. Serviço da Dívida Pública Interna
O incremento acima referido é explicado, dentre outros factores, pelo aumento do stock da
dívida externa verificado a nível das empresas ENH, E.P pelo registo de desembolsos por
parte dos concessionários, CFM, E.P devido ao desembolso de 11 milhões de dólares pelo
ABSA Mozambique relativos a reabilitação da linha de Machipanada e HCB, S.A na
sequência do desembolso de 3,5 milhões de dólares pelo Standard Bank para apoio a
tesouraria.
No que tange a composição do stock da Dívida Directa por tipo de taxa de juro pode-se
constatar que em ambos períodos a proporção foi mesma, sendo 20% para o stock da dívida
com taxas fixas e 80% para o stock da dívida com taxas variáveis.
De referir que o stock da dívida a taxa variável cresceu de 188,729.27 milhões de meticais no
I trimestre de 2022 para 195,702.17 milhões de Meticais no II trimestre de 2022, o
correspondente a um incremento em 4%, enquanto o stock da dívida a taxa fixa cresceu em
3% para 48,904.64 milhões de Meticais no II trimestre de 2022.
4.4.4.3. Dívida Pública Externa Directa do SEE
No II trimestre de 2022, o Stock da Dívida Externa das Empresas que compõe o SEE registou
um incremento global de 4,25% (140,02 milhões de dólares), passando de 3.292,91 milhões
de dólares no I trimestre de 2022 para 3.432,93 milhões de dólares decorrente,
fundamentalmente do aumento do stock registado pelas Empresas Públicas, ENH e ADM,
bem como pelo incremento do stock das empresas participadas PETROMOC e TMCEL.
Por outro lado, nota-se, no período em análise, uma ligeira redução no stock da dívida externa
directa do BNI, S.A em 660 mil dólares, da EMEM, S.A assim como da EDM, E.P, ambas na
ordem dos 20 mil dólares.
Das empresas participadas, destacam-se como as que mais contribuíram para a redução do
stock da dívida interna directa a LAM, S.A que amortizou 642,92 milhões de meticais
representando uma redução em 8,06%, a PETROMOC, S.A que liquidou 370,33 milhões de
meticais o equivalente a uma redução em 8,50%, a TMCEL, S.A cujo saldo reduziu 221,93
milhões de meticais (11,49%) e o BNI que observou uma redução na ordem dos 200 milhões
de meticais (54,17%).
De seguida, o metical com um peso de 6,9% na estrutura da dívida directa por moedas, tendo
registado uma redução do stock em 9% para 16,824.86 milhões de Meticais no final do II
Trimestre do corrente ano, decorrente, dentre outros factores, do cumprimento do serviço da
dívida.
Ao final do II trimestre de 2021 o stock da Dívida Pública e Garantida registou uma variação
nominal na ordem de 164.51 milhões de dólares, passando de 18,479.78 milhões de dólares
no I trimestre de 2021 para 18,644.29 milhões de dólares (105% do PIB). A nível do SEE
importa destacar dentre outros factores, o aumento do stock da dívida externa verificado a
nível das empresas ENH, E.P e CFM, E.P, pelo registo de desembolsos por parte dos
concessionários relativos a reabilitação da linha de Machipanada e para apoio a tesouraria.
5. Conclusão
O uso dos rácios dívida/exportações, dívida/receitas fiscais e dívida/PIB faria sentido se estes
representassem proxies razoáveis da capacidade do país de gerar rendimento para servir a sua
dívida e sustentar o seu crescimento. Este artigo argumentou que, para o caso de
Moçambique, isto não se aplica.
No original, “‘State Debt’ means any financial obligation of a predecessor State arising in
conformity with international Law towards another State, an international organization or any
other subject of international Law” (Vienna Convention on Succession of States in respect of
State Property, Archives and Debt, 8/4/1983, sem vigor).
Northover, H., Joyner, K. & Woodard, D. (1998). A Human Development Approach to Debt
Relief for the World’s Poor. UK: CAFOD.
Ossemane, R. (2008). A critical Discussion of the Low Income Countries Debt Sustainability
Framework: The case of Mozambique. MSc Dissertation. London: SOAS, University of
London.
Sachs, J. D. (1989). The Debt Overhang of Developing Countries. In Calvo, Guillermo et. al.
Debt Stabilization and Development. Oxford: Basil Blackwell.