Anais VII Semana de Formação
Anais VII Semana de Formação
Anais VII Semana de Formação
Realização
Equipe de Organização
Comissão de Avaliação
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Sumário
Apresentação Oral.......................................................................................................4
Apresentação Criativa
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Apresentação Oral
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Sandra Fagionato-Ruffino1
Cristina Aparecida Ferreira2
Denise Ap. de P. Ribeiro Leppos3
Solange dos Santos P. Da Costa 4
Resumo: Este trabalho tem como objetivo apresentar os resultados de uma sequência de
vivências lúdicas realizadas, remotamente, em meados de 2020, com crianças entre 2 e 3
anos, em um centro municipal de educação infantil da rede municipal de educação de São
Carlos. Tal proposta apresenta, de maneira lúdica, como a brincadeira é uma forma
possível de aproximar a criança da natureza onde vive. Vale ressaltar que o brincar, desta
forma, atua como prática estruturante para o desenvolvimento cognitivo, social, motor e
emocional da criança. A experiência foi pensada a partir de documentos norteadores como
a BNCC e alguns pesquisadores que trazem à tona discussões sobre a importância do
brincar e o contato com a natureza na educação infantil.
Introdução
A experiência aqui relatada aconteceu no segundo semestre do ano letivo de 2020,
com crianças entre 2 e 3 anos do CEMEI Deputado Vicente Botta, na cidade de São
Carlos. Insere-se no contexto das atividades remotas realizadas no decorrer de 2020 em
função da pandemia causada pelo novo coronavírus.
Conforme disposto na Instrução Normativa 1/20205, foi proposto que
[...] os/as docentes e educadores(as) de creche da Educação Infantil,
incluindo as escolas particulares, conveniadas e filantrópicas,
planejarão e ofertarão orientações e encaminhamentos aos responsáveis
pelas crianças, utilizando os meios e recursos possíveis e mais
adequados a esse momento. Para tanto, os/as docentes/educadores(as)
de creche e a gestão escolar devem seguir as seguintes normativas que
estão em consonância com a Resolução 001/2020 do Conselho
Municipal de Educação:
como objetos; destacam que o ser humano deixou de se sentir parte integrante da natureza,
sendo reduzido a trabalhador e consumidor e a natureza como matéria-prima utilizando-
a de forma predatória, desconsiderando sua capacidade de recomposição. Acredita-se que
o afastamento da natureza gera desconhecimento e falta de afeto, tornando-se mais difícil
o desenvolvimento de atitudes de conservação (LOUREIRO, 2009; TREIN, 2008).
As crianças em especial, apesar de todo seu interesse e deslumbramento pela
natureza, encontram-se emparedadas nas escolas, como nos coloca Tiriba (2006), presas
a um controle de seu corpo, de seu tempo e de seu ritmo o que as leva a não verem e não
se sentirem parte do mundo natural. Acreditamos que esta realidade não é diferente entre
as famílias. Cada vez menos vemos as crianças brincando nas ruas e quintais; as telas tem
tomado a maior parte de seu tempo, mesmo entre as bem pequenas. A natureza não é mais
cenário de faz de conta para muitas crianças.
A natureza que se apresenta às crianças, quando isso ocorre, é uma natureza
“pedagogizada”, revestida de um interesse de cunho científico, racional, e não para
desfrute ou deleite. Uma natureza distante: as crianças desde pequenas reconhecem o
elefante, o leão e a girafa, mas não conhecem o lobo-guará, tamanduá ou o sabiá.
Além da degradação ambiental, estudos tem mostrado que o afastamento da
natureza tem gerado problemas mentais e físicos, sobretudo para as crianças. Neste
sentido, em 2005, o jornalista e escritor americano Richard Louv criou a expressão
“Transtorno de Déficit de natureza” (UNICAMP, 2020).
O artigo Nature and mental health: An ecosystem service perspective, de Bratman
et al (2019), por meio de levantamento bibliográfico de estudos que tratam do tema,
apresenta uma visão geral sobre os impactos da natureza na qualidade de vida, tais como:
bem estar psicológico com aumento de sentimentos positivos, felicidade, propósito na
vida, melhor gerenciamento de tarefas cotidianas, memória e atenção, melhoria no
desempenho escolar, imaginação e criatividade de crianças. Acredita-se que as
experiências na natureza estão diretamente relacionadas à redução de fatores de risco para
doenças mentais, contribuindo, desta forma, para melhora do sono e da redução no
estresse, na diminuição da ansiedade, no déficit de atenção e no transtorno de
hiperatividade.
Considerando assim a necessidade de aproximação das crianças com a natureza,
não nos interessava uma vivência que levasse a uma percepção da natureza como um
recurso pedagógico, mas sim um encontro com a natureza, de forma que as crianças
pudessem experimentá-la por meio de seu corpo todo e de forma lúdica. Com a
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Objetivos
Considerando, assim, o processo do brincar enquanto prática estruturante, o
principal objetivo da nossa proposta foi proporcionar às crianças e às famílias um
momento de descontração e criação coletiva, buscando uma maior aproximação com a
natureza e o ambiente e que vivem. Como objetivos específicos propusemos:
i) Ampliar a aproximação das crianças com a natureza e desenvolver o hábito de
observação do ambiente em que vive.
ii) Conhecer o ambiente em que vive bem como o mundo da qual a criança faz parte.
iii) Proporcionar brincadeiras simples que estimulassem o fazer criativo e o
movimento das crianças.
iv) Ampliar o repertório cultural das crianças e das famílias.
Descrição do caso
O principal meio de contato das professoras com as crianças e as famílias foi via
WhatsApp, pois consideramos ser o meio mais rápido e assertivo que nos possibilitava
observar se todas as famílias estavam recebendo as informações enviadas. Para tanto, foi
criado um grupo de WhatsApp para cada turma. As sugestões de vivências e orientações
eram também postadas na página do facebook da escola (Cemei Vicente Botta) e, sempre
que necessário, entrávamos em contato via telefone.
A vivência lúdica que aqui relatamos, intitula-se, como já mencionamos,
“Acampamento de férias” e foi realizada durante duas semanas. Todos os dias, eram
enviadas, às famílias, sugestões de brincadeiras, vídeos, fôlderes, dicas, orientações gerais
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Discussão
Apesar de poucos retornos, percebemos que muitas famílias deram asas à
imaginação proporcionando vivências semelhantes às que enviamos e complementando-
as. Recebemos vídeos das crianças com mochilas nas costas dirigindo-se de bicicleta e a
pé para o acampamento, outras mães relataram que o filho foi de trem para o
acampamento e que a filha quis ir de ônibus igual a professora. Foram enviadas várias
fotos das barracas; algumas mães relatavam que a criança quis que elas entrassem junto,
em outras aparecem os irmãos participando e uma das crianças levou o cachorro e a mãe
relatou que ela brincou muito. Outra família enviou-nos fotos de um jacaré entalhado na
11
madeira que o avô trouxe de uma viagem feita ao Pantanal que a criança insistiu em
acrescentar na aventura.
A brincadeira de fazer trilha (Semana 1, Dia 4) para uma das famílias rendeu num
percurso interessante em que a mãe criou vários obstáculos no quintal para a criança
vencer: passar por baixo de cadeira, rastejar, andar sobre pinguela (feita com cabo de
vassoura) etc. Ainda sobre a trilha, uma mãe proporcionou um “banho de cachoeira” para
a criança com uma mangueira.
Conclusões
Não é possível dizer assertivamente o quanto a experiência foi produtiva no
contexto das famílias como um todo, uma vez que, o retorno não era obrigatório. E mesmo
considerando os poucos retornos que tivemos, isso também não nos garante que de fato
as propostas tenham sido aplicadas. A participação das famílias e a interação nos grupos
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de WhatsApp das turmas foi pequena. Algumas mães relataram que continuaram
trabalhando fora do ambiente familiar e, com a sobrecarga, não conseguiam realizar todas
as vivências com as crianças.
A turma com participação mais frequente foi a que tinha mães professoras da rede
municipal e estadual; estas sempre davam algum tipo de retorno, enviavam fotos,
comentários ou áudios das crianças. Contudo, independentemente dos retornos dados ou
mesmo da ausência deles, não podemos garantir efetivamente que tais práticas foram
realizadas, pois havia famílias que, por opção, não participavam do grupo de WhatsApp
da turma, mas isso não significa que tal ação não fosse realizada.
Referências
http://forumeja.org.br/sites/forumeja.org.br/files/Educa%C3%A7%C3%A3o%20Ambie
ntal%20no%20Brasil%20(texto%20basico).pdf >. Acesso em 23 set. 2021.
TIRIBA, Léa. Crianças, natureza e educação infantil. In: REUNIÃO ANUAL DA ANPEd,
29, 2006, Anais... Caxambu: 2006. Disponível em <
https://www.anped.org.br/biblioteca/item/criancas-natureza-e-educacao-infantil>.Acesso em
20 set. 2021.
Adrianna Nunez 6
Resumo: Foi através desta proposta, a Sessão Simultânea de Leitura, que pudemos
garantir o primeiro encontro virtual entre as crianças, entre as crianças e suas professoras
e também o encontro com um objeto que os pequeninos têm bastante intimidade, uma vez
que convivem diariamente com ele nas classes da Educação Infantil: os livros de
literatura! A Sessão Simultânea de Leitura é uma proposta didática que se insere dentro
das situações habituais de leitura literária por parte do professor, mas com uma variante:
todos os docentes, no mesmo momento, leem um conto para as crianças de distintas salas
e de distintas idades, as crianças trocam interpretações acerca das obras e logo
recomendam oralmente os contos escutados para os companheiros de sua sala habitual.
Se forma assim um espaço público de leitura e intercâmbio, uma comunidade de
interpretação, onde os pequenos vão construindo referências compartilhadas ao falarem
juntos sobre os mesmos livros. No modo remoto, iniciamos esta proposta com a Educação
Infantil, em meados de março de 2020, na intenção de continuar com esta prática que é
tão importante para o desenvolvimento do trabalho com a literatura e com a formação de
leitores.
6
Adrianna Nunez - Mestranda em Escritura y Alfabetización na UNLP - Universidad Nacional de La
Plata / Argentina. ([email protected])
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que nos surpreendeu, uma espécie de negação, pois não admitimos, em um primeiro
momento, ter que lidar com a realidade que se apresentava a todas nós. Levar a escola à
distância era para a equipe algo inalcançável, inadmissível... principalmente para quem
trabalha com as crianças que estão na primeira infância. Para nós, que concebemos o
processo de aprendizagem como uma construção do sujeito que aprende, oferecer uma
escola distante não foi tarefa simples.
A escola que acreditamos é a escola presencial, uma escola onde existe a relação
direta entre todos os sujeitos que a integram e onde articulamos os saberes e as
experiências das crianças com o patrimônio que a humanidade sistematizou. Nossa
situação perfeita, nosso cenário ideal para que as aprendizagens aconteçam é garantir uma
escola onde todos possam se encontrar, onde as crianças possam participar de uma rotina
e de propostas pensadas para elas, com seus pares e professores próximos, em um
ambiente coletivo, com olhar e com escuta. Toda essa paisagem é extremamente validada
por nós, e justamente por não vermos, inicialmente, uma saída possível, sentimos a nossa
zona de conforto abalada. Pensamos: como apresentar uma escola à distância e ao mesmo
tempo considerar o modo de aprender das crianças, principalmente das crianças
pequenas? Como pensar esse período de distanciamento que não será curto? Como tornar
esse momento o mais próximo possível, apesar de estarmos nos encontrando através das
telas? Como auxiliar as famílias nesta nova parceria que a pandemia nos coloca?
Depois de muitas reuniões, reflexões, trocas e ideias entre os profissionais de
nossa equipe – processo este obviamente acompanhado por inúmeras incertezas, receios,
angústias – começamos a desenhar/construir juntas um possível trabalho pedagógico para
chegar à casa das crianças, trabalho este que sofreu ao longo do tempo inúmeras
modificações a partir das experiências infindáveis e totalmente inéditas que passamos a
colecionar desde o dia 23 de março de 2020 – primeiro dia da escola neste novo formato.
Logicamente, antes de tudo iniciar, enviamos às famílias muitos comunicados e informes
na tentativa de cercar todos os detalhes visíveis para nós. Agora, mais do que nunca,
precisaríamos dividir muitas das nossas intenções com os pais das crianças, afinal, uma
vez que as crianças pequenas não possuem ainda a autonomia necessária para realizar as
propostas em casa sem a ajuda de um adulto, eles seriam a nossa “ponte”, imprescindível,
ainda mais neste momento.
Perder a totalidade da nossa interação com as crianças neste momento também
nos angustiou muito. Como olhar para as crianças e perceber suas necessidades de
aprendizagem estando longe delas? Como dosar os desafios das propostas planejadas?
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Como ajustar nossos encaminhamentos e nossas intervenções à distância, uma vez que
fazemos isso a partir das respostas e sinais genuínos que as crianças nos oferecem a todo
instante quando estamos próximas à elas? Como garantir o espaço do erro tão essencial
para nós no processo de ensinar e aprender estando as crianças perto dos pais (uma vez
que imaginávamos que a tentação em fazer o filho acertar estaria presente)? Como
garantir que as crianças pudessem ser quem elas são em relação ao seu modo de
sentir/pensar durante a realização das propostas e colocar as suas hipóteses em jogo,
recebendo ao mesmo tempo um certo tipo de encaminhamento dos familiares?
Todas essas aflições rodearam por muito tempo o nosso fazer pedagógico... porém
sabíamos que tínhamos que lidar com elas para seguir ensinando de forma remota e que
precisávamos ter esta clareza para, ao mesmo tempo, fazer o manejo do possível. Era
necessário também compreender que os pais, neste momento, não poderiam, e nem
deveriam, receber a “missão” de serem os pedagogos, pois as famílias estabelecem uma
relação de natureza não pedagógica e neste sentido, isso implicaria uma série de situações
que sabemos não serem as mais ideais7, mas eram as possíveis para esta fase da nossa
história.
Para levar o ensino de forma não presencial, a equipe precisou construir em pouco
tempo uma escola com um modelo de interação remota. Para o segmento que trabalha
com as crianças da Educação Infantil, volto a dizer que esta tarefa foi especialmente
desafiadora, mas os primeiros caminhos foram surgindo a partir do trabalho intenso de
todos os educadores envolvidos e também a partir de muitas trocas com profissionais da
Educação de várias partes de São Paulo, do Brasil e do mundo. Posso afirmar que
pudemos contar e participar de um grande movimento de trocas e construções coletivas.
Uma vez que muitos educadores estavam totalmente “online”, a quantidade de lives,
cursos, palestras, reuniões e mensagens cresceram muito. Todos com a única preocupação
7 Nos referimos aqui às situações que sabemos que podem “nascer” em casa na presença
dos pais que, aflitos com a falta da escola presencial na vida dos filhos, acabam oferecendo
caminhos nem sempre produtivos ou que comungam com a proposta pedagógica da escola.
Um exemplo são os pais que acabam comprando cartilhas para ajudar na alfabetização, o que
para nós é algo que pode atrapalhar o processo de aprendizagem das crianças e, apesar das
orientações que costumeiramente oferecemos às famílias, elas acabam cedendo ao que elas
sabem fazer para ajudar.
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de pensar juntos e construir uma escola possível para este tempo imprevisível que se
instalou na vida profissional (e pessoal) de todos.
A partir da troca e do conhecimento que eu, como coordenadora, busquei para
auxiliar a equipe com a qual trabalho e as crianças da escola, percebi que o principal
caminho no qual deveríamos apostar e seguir era o da manutenção dos vínculos, sempre
tão importantes para nós! Não poderíamos deixar a escola desaparecer da vida das
crianças, apesar de estarmos em um formato jamais imaginado. Foi então que, passado
aquele primeiro momento de negar a realidade, começamos a conceber as primeiras
estratégias de trabalho pedagógico e a oferecer às crianças situações de aprendizagem
possíveis.
Para levar a escola para dentro da casa das crianças, revisitamos (e desta vez com
um olhar ainda mais apurado) os princípios e valores do nosso projeto educacional no
intuito de não entregar algo que não éramos enquanto escola presencial. Não podíamos
correr o risco de alterar a nossa prática pedagógica só por estarmos no modo remoto, não
podíamos entregar uma escola que não acreditávamos só para cumprir exigências ou
ceder às pressões (pois estas também vieram de vários lugares). Nossa certeza maior, e
porque não dizer, a única que tínhamos desde o início: não iríamos entregar às famílias
uma escola falsa!
Mas o que significava não entregar uma escola falsa? Consistia em planejar e
desenhar propostas fundadas nas teorias que sustentam o nosso fazer pedagógico e
ancorar nossas decisões nos princípios que para nós são tão caros. Precisávamos levar até
as crianças um modo de aprender que seria diferente, mas deveríamos continuar com a
premissa de que na Educação Infantil as crianças aprendem e produzem conhecimento a
partir da sua própria experiência no mundo – segundo Dewey8 (2010), a criança constrói
sentido a partir dos seus vínculos práticos e emocionais. Paulo Fochi9 (2019) defende que
a criança “pega” tudo o que tem e coloca em tudo o que está se relacionando... ela vai
9Paulo Fochi – Pedagogo, Especialista em Educação Infantil pela Unisinos, Mestre e doutor
em Educação pela USP. É professor da Unisinos e coordena o Observatório da Cultura Infantil
– OBECI. Também foi consultor na Base Nacional Comum Curricular da Educação Infantil.
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entender e ajustar a partir da sua relação com o mundo e não sentada em uma cadeira com
alguém apresentando um processo de repetição, respondendo aos “pedidos” de um adulto
– ela vai e precisa construir por si mesma.
E é neste ponto que entra a escola que defendemos e a que pretendíamos continuar
levando até a casa de nossos alunos. Acreditamos que o espaço escolar é um espaço social
com uma função extremamente importante, não só para instrução, mas também para a
formação humana, pois ela é, como defende Peter Moss10 (2019), um lugar de encontros.
Lugar onde crianças e adultos, alunos e educadores, se relacionam com seus pares, com
os outros, com o mundo. A tarefa de ensinar, principalmente no segmento da Educação
Infantil, não funciona com instrução, de fora para dentro. A construção do conhecimento
se dá na relação de um sujeito predisposto a aprender sobre algo, sobre o mundo (relação
do seu mundo interno com o mundo externo) mas que precisa de mediação atenta e boas
condições, que não podem ser pobres e que precisam necessariamente dar abertura para
o mundo interno das crianças. O perigo de não promover boas condições de aprendizagem
é empobrecer a curiosidade e o desejo de aprender das crianças.
Se a ajuda oferecida não estiver conectada de alguma forma aos
esquemas de conhecimento do aluno, se não for capaz de
mobilizá-los e ativá-los e, ao mesmo tempo, forçar sua
reestruturação, não estará cumprindo efetivamente sua missão.
(ONRUBIA, 2009, p.125).
Na escola, as crianças têm contato com uma prática pedagógica que procura
apresentar situações de aprendizagem com significado, que estabelecem relação com os
contextos sociais, presentes fora da escola, na vida de cada um. Não oferecemos cenários
descontextualizados, que “não dizem nada” para as crianças pequenas, mas situações em
que elas conseguem estabelecer relações, levantar conhecimentos prévios sobre
determinado assunto, que possam pensar por si mesmas, narrar, explicar, opinar, entre
outras ações. Sendo assim, uma vez que as propostas enviadas para casa possuem relação
com o que costumam fazer na escola e com as práticas sociais, estas também conseguem
estabelecer ligação rápida com aquilo que as crianças também podem fazer em casa –
mudam-se os contextos, mas não muda o nosso propósito educativo11. Há muito mais
para se aprender na ponte escola-sociedade / escola-família do que estamos acostumados
a enxergar.
Nesta fase da construção do trabalho, estávamos de certa forma garantindo duas
vertentes que para nós são imprescindíveis: a relação com as propostas didáticas que as
crianças já estão acostumadas, conhecem e participam com motivação e o vínculo com
os colegas e professores, durante as conversas nos encontros online.
Colocarei agora uma lupa no trabalho realizado por nós para dar ênfase e poder
compartilhar a situação didática que nos motivou e que nos impulsionou a iniciar os
encontros síncronos. Foi através desta proposta, a Sessão Simultânea de Leitura, que
realizamos habitualmente no modo presencial, que pudemos garantir o primeiro encontro
virtual entre as crianças de um mesmo grupo, entre as crianças e sua professora e também
o encontro com um objeto que os pequeninos têm bastante intimidade, uma vez que
11 Por exemplo: se na escola as crianças contam os pincéis para serem entregues aos colegas
durante uma atividade de pintura, em casa podemos criar um contexto em que elas precisam
contar quantos copos são necessários para todos da casa tomarem café, ou contar os
ingredientes necessários para preparar uma receita sugerida pela professora. Se na escola as
crianças observam a professora durante a escrita de uma lista de personagens de histórias
conhecidos, em casa podem participar da escrita de uma lista com os itens para a compra no
supermercado ou lista com os afazeres diários da família durante aquele dia ou durante a
semana... ouvir histórias preferidas... ouvir músicas... sentar para ver um álbum de família e
conversar sobre o que viveram... etc.
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convivem diariamente com ele nas classes da Educação Infantil: o livro, em especial, os
livros de literatura!
A Sessão Simultânea de Leitura12 é uma proposta didática que se insere dentro
das situações habituais de leitura literária por parte do professor, mas com uma variante:
todos os docentes da Ed. Infantil, no mesmo momento, leem um conto para as crianças
de distintas salas e de distintas idades, as crianças trocam interpretações acerca das obras
e logo recomendam oralmente os contos escutados para os companheiros de sua sala
habitual. Como as sessões se replicam no dia ou na semana seguinte, as crianças terão a
oportunidade de eleger uma nova obra na próxima sessão. Se forma assim um espaço
público de leitura e intercâmbio, uma comunidade de interpretação, onde os pequenos
vão construindo referências compartilhadas ao falarem juntos sobre os mesmos livros.
Além de ser uma proposta que faz parte da rotina da escola presencial, e por sinal
muito querida e esperada pelas crianças, decidimos iniciar o estabelecimento do nosso
vínculo virtual através da literatura e da conversa literária por alguns motivos: por ser
uma experiência narrativa que possibilita o contato com diversas emoções e sentimentos
(das crianças e seus professores), por acreditarmos que ela possibilita um espaço potente
para a imaginação, para pensar sobre a própria existência, para ajudar a suportar
experiências ruins e boas, construir a própria leitura de mundo, reconhecer que o mundo
é maior e diverso, por auxiliar na construção dos processos de singularização e por ser
um espaço fecundo de produção simbólica. Foi então que, com esta proposta agora no
modo remoto, estabelecemos como intenção da ação docente, três principais objetivos:
proporcionar situações de leitura literária de qualidade às crianças, estabelecer conversas
literárias após e durante a leitura das obras e manter os vínculos entre
crianças/educadores/famílias.
Quando lemos um livro de literatura para as crianças, nossa intenção pedagógica
é criar um espaço para que elas possam ler o texto (leitura feita através do professor, já
que ainda não são leitoras convencionais) e ler as imagens/ilustrações – que possam ter
um lugar de fala e de escuta garantidos. E assim, ler é abrir possibilidades para que as
crianças sintam, pensem e construam sentidos possíveis para a história a partir do seu
ponto de vista, das suas experiências e impressões. Ao ler um livro, o professor não fecha
sentidos e significados, mas encaminha uma conversa literária garantindo um espaço para
que as crianças construam a sua leitura, para que façam a sua interpretação, para que
tomem a palavra, troquem, discordem, silenciem... partindo tanto das suas reflexões
individuais como das outras tantas leituras feitas e compartilhadas pelas outras crianças
– neste sentido, a leitura de cada um vai sendo ampliada pela leitura do outro,
ressignificada, formando novas camadas de sentido – o que difere totalmente de um viés
de acúmulo sem reflexão. Esta experiência nos confirma ainda mais a necessidade de
mantermos este vínculo (mesmo à distância), pois sabemos que precisamos continuar a
oferecer um espaço em que as crianças tenham a sua voz garantida.
Escutar, assim como ler, tem que ver, porém, com a vontade e
com a disposição para aceitar e apreciar a palavra dos outros em
toda sua complexidade, isto é, não só aquilo que esperamos, que
nos tranquiliza ou coincide com nossos sentidos, mas também o
que diverge de nossas interpretações ou visões de mundo.(...)
Construir significados com outros sem precisar concluí-los é
condição fundamental da escuta, e isso supõe a consciência de
que a construção de sentidos nunca é um ato meramente
individual. (BAJOUR, Cecília, 2012, p.24-25)
Para lermos verdadeiramente com o outro, é preciso escuta atenta, com abertura e
disponibilidade para receber e conhecer outras visões de mundo e pressupõe um interesse
genuíno de me abrir para o outro. Ler, desta forma que defendemos, significa atuar no
mundo a partir da minha construção legítima, que nasce do meu encontro com outras
pessoas que me afetam. Na escola, estando ela no modo presencial ou no modo remoto,
precisamos apostar e confiar nos encontros.
Concluímos, após o término do trabalho, que nossos objetivos foram alcançados.
Notamos que as crianças participaram com empolgação e alegria dos encontros
planejados, pois fizeram durante muitos momentos ao longo das leituras, comentários
interessados e curiosos acerca das narrativas e ilustrações, trocaram opiniões sobre
personagens e desfechos, demonstraram emoções diversas em relação ao desenrolar das
histórias e estabeleceram (mesmo à distância) uma parceria genuína com os demais
colegas e familiares que participaram também como leitores. Já o retorno dos pais foi
igualmente positivo, pois ao final da proposta a equipe recebeu inúmeros comentários e
elogios sobre a forma como planejamos e encaminhamos – muitos pais se colocaram
surpresos com a postura participativa e crítica das crianças durante as leituras, e ainda
destacaram a forma criativa como iniciamos o vínculo remoto com as crianças.
Além de toda esta intenção pedagógica que sustenta o ato de ler livros de literatura
para as crianças pequenas, apostamos que esta também seria uma boa estratégia para
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conseguirmos criar neste momento uma reserva emocional e criativa para o reencontro
que teríamos na volta para a escola presencial... Sabíamos que o retorno seria novo,
diferente e que também precisaríamos contar com uma mobilização inédita. Muitos
educadores já concluíram a partir desta experiência que vivemos que a escola, mais do
que nunca, precisará ser reinventada... Teremos que encontrar tempo e espaço para
pensar: o que fica do período remoto? O que do antigo período presencial precisa ir
embora?
Com muito ainda a ser pensado, concluo este relato com a certeza que já estamos
Educadores diferentes e que, ao vivermos esse período de distanciamento social,
encontramos caminhos criativos para continuar com a nossa escola da maneira que nos
foi possível, entretanto, todo esse aprendizado precisará também ser acomodado e
“digerido” por toda a equipe para que possamos devolver na forma de novas construções.
Referências Bibliográficas:
BAJOUR, Cecilia. Ouvir nas entrelinhas: o valor da escuta nas práticas de leitura.
São Paulo: Pulo do Gato, 2012.
MACEDO, Lino de; ASSIS, Bernadete Amêndola de. Psicanálise e Pedagogia. São
Paulo: Casa do Psicólogo, 2002.
ONRUBIA, Javier. Ensinar: criar zonas de desenvolvimento proximal e nelas intervir. In:
COLL, César. et al. O construtivismo na sala de aula. São Paulo: Ática, 2009.
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Resumo: Este trabalho tem por objetivo mostrar como as brincadeiras infantis são
importantes para a formação e o desenvolvimento do sujeito-criança. Durante o ano de
2020, fomos abarcados pela pandemia provocada pelo novo coronavírus (COVID-19).
As atividades presenciais na escola foram substituídas por vivências lúdicas e
atendimento remoto. Sabemos que essa não é a forma ideal de oferecer e oportunizar
aprendizagens às crianças, mas, nesse momento em que distanciamento foi essencial, essa
foi a maneira que encontramos para nos mantermos presentes e oferecer atendimento às
famílias, proporcionando momentos em família de qualidade. É importante salientar que
muitas famílias passaram por dificuldades (de várias ordens), nesse sentido, buscamos
propiciar vivências em que elas pudessem se esquecer das intempéries ocasionadas pela
pandemia que ainda assola nosso país. Neste relato de experiência, apresentaremos uma
sequência de vivências lúdicas que tiveram como eixo norteador as brincadeiras do nosso
tempo de infância. Tentamos, de diversas formas, estimular a participação das famílias
expondo a importância da história da sua família, do rememorar, do brincar, do explorar
entre outros aspectos, na formação desse sujeito-criança.
Introdução
A experiência aqui relatada aconteceu no segundo semestre do ano letivo de 2020,
com crianças entre 2 e 3 anos em um C.E.M.E.I., na cidade de São Carlos. Insere-se no
contexto das atividades remotas realizadas no decorrer de 2020 em função da pandemia
causada pelo novo coronavírus.
Conforme disposto na Instrução Normativa 1/202017, foi proposto que
[...] os/as docentes e educadores(as) de creche da Educação Infantil,
incluindo as escolas particulares, conveniadas e filantrópicas,
planejarão e ofertarão orientações e encaminhamentos aos responsáveis
13
Prefeitura Municipal de São Carlos. E-mail: [email protected]
14
Prefeitura Municipal de São Carlos. E-mail: [email protected]
15
Prefeitura Municipal de São Carlos. E-mail: [email protected]
16
Prefeitura Municipal de São Carlos. E-mail: [email protected]
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Disponível em:
<http://www.saocarlos.sp.gov.br/images/stories/diario_oficial_2020/DO_30062020_1589.pdf>. Acesso
em: 21 de agosto de 2021.
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Objetivos
O escopo das vivências foi resgatar nas famílias as brincadeiras de infância e,
dessa maneira, reforçar os laços afetivos entre elas (crianças e famílias). Para tanto,
propusemos os seguintes objetivos específicos:
i) Proporcionar às crianças e às famílias momentos de descontração,
aprendizagens e desenvolvimento através de brincadeiras antigas.
ii) Ampliar o repertório cultural através das cantigas de roda que fazem parte da
cultura popular brasileira.
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iii) Ampliar o repertório cultural artístico por meio da exploração das obras de
artes de alguns pintores brasileiros que retratam ou retrataram em telas as
brincadeiras populares (de roda, de rua etc.).
iv) Desenvolver a coordenação motora fina e grossa bem como noções de espaço,
de tempo e de ritmo.
v) Estimular a criatividade e a imaginação por meio de brincadeiras e músicas.
Descrição do Caso
A primeira sequência de vivências lúdicas se deu em cinco etapas: i) enviamos
vídeos curtos explicando que já fomos crianças e qual brincadeira mais gostávamos
quando pequenas. A primeira brincadeira foi “bolinhas de sabão”; ii) a segunda
brincadeira sugerida foi “esconde-esconde”; iii) a terceira foi “subir em árvore”, iv) a
quarta “bobinho” e, por último, v) orientamos os adultos da família a conversarem com a
criança dizendo que já foram crianças e que contassem a elas as histórias de suas infâncias
– onde moravam, com quem moravam, se tinham irmãos e do que gostavam de brincar.
Depois, pedimos que ensinassem uma brincadeira de seu tempo de infância para a criança.
A segunda sequência de vivências lúdicas, cujo objetivo foi, além de todos já
citados anteriormente, a ampliação do repertório sobre cantigas de roda que fazem parte
da cultura popular brasileira. Foram enviados às famílias vídeos com
cantigas/brincadeiras que nós professoras gostávamos quando crianças: “Batatinha frita
um, dois, três!”; “Caranguejo não é peixe”, “De abóbora faz melão” e “O caminhão de
laranja”. As famílias receberam orientações para explorarem estas e outras cantigas com
as crianças durante a semana, conforme as etapas seguintes: i) pedimos que a família se
reunisse e explicasse para a criança que fariam brincadeiras com cantigas. Se fossem fazer
uma brincadeira de sua infância, que contassem a ela esse detalhe. Se fosse uma
brincadeira sugerida por nós professoras, que dissessem qual professora gostava de
brincar assim. Isso foi importante para contextualizar e fazer com que a criança
percebesse que cada pessoa tem uma história de vida e estimular a conversa em família,
ii) em outro momento, pedimos que dançassem ou brincassem com a criança
apresentando os movimentos tradicionais da cantiga a fim de preservar a cultura, mas
valorizando os movimentos espontâneos da criança e iii) por fim, sugerimos que
registrassem as brincadeiras de rodas desenvolvidas com as crianças e que comentassem
como tinha sido a experiência no grupo de WhatsApp da turma.
27
18
Ver: AIDAR, Laura. Portinari - Kids. In.: TodaMatéria. 2010. Disponível em:
https://www.todamateria.com.br/portinari-kids/. Acesso em 07 de agosto de 2020.
19
Para mais informações, ver: Revista Prosa Verso e Arte. A criança é eterna nas pinturas de Ricardo
Ferrari. Fonte das pinturas: EF Errol Flyn (Galeria de Arte). s/d. Disponível em:
https://www.revistaprosaversoearte.com/a-crianca-e-eterna-nas-pinturas-de-ricardo-ferrari/. Acesso em
07 de agosto de 2020.
28
outras possibilidades para que todos pudessem, à sua maneira, participar das propostas
sem constrangimentos.
Discussão
As mudanças necessárias em decorrência da pandemia que resultou no trabalho
remoto aconteceram de forma rápida e a adaptação demandou tempo. Contudo,
aproveitamos o momento para aprender e conhecer recursos novos, a produzir e editar
vídeos, pois foi essa a forma que encontramos para nos mostrar às crianças, para elas não
nos esquecerem e mantermos o vínculo. As vivências foram desafiadoras e ao mesmo
tempo encantadoras, tanto para nós professoras quanto para as famílias de nossas
crianças. Num momento em que o distanciamento se fazia necessário, tentamos com
nossas experiências resgatar esses laços em família e, de algum modo, fazer-nos presente
na vida das crianças.
Em um momento tão difícil como este que vivenciamos, apostamos na
necessidade de reforçar ou resgatar os vínculos familiares. Nesse sentido, nossa sequência
de vivências sobre “brincadeiras da nossa infância” buscou enfatizar como os laços
familiares são primordiais para o desenvolvimento cognitivo e social da criança. Elas
mostraram não apenas às famílias, mas para nós professoras também, a importância do
trabalho em conjunto (professores + família + comunidade). Esse trabalho uniu as pessoas
independentemente de classe social, etnia, sexo etc., ensinou-nos que todos temos uma
história e que ela deve ser respeitada, ensinou-nos a ter empatia para com o próximo. Ele
foi que um projeto escolar, cumpriu uma função social.
As brincadeiras realizadas contribuem para o desenvolvimento de competências e
habilidades nas crianças, a saber: i) brincar de “bobinho” auxilia no desenvolvimento da
coordenação motora, do equilíbrio e da força muscular, além de trabalhar com
sentimentos de frustração e de superação; ii) ao brincar de fazer “bolhas de sabão”,
assoprando, a criança treina os músculos usados na fala e aprende a controlar o ar ao falar,
melhora a respiração e, consequentemente, a pronúncia das palavras, pois o movimento
de sopro é muito importante para o desenvolvimento da fala, iii) brincar de “esconde-
esconde” auxilia no desenvolvimento da criatividade, do raciocínio e da estratégia por
parte das crianças. A brincadeira exige que ela pense onde poderá se esconder, escolher
os locais mais adequados, relacionar seu tamanho com o espaço onde está, imaginar onde
a outra pessoa pode estar e iv) ao brincar de “subir em árvores”, ou pelo menos tentar
subir nelas, as crianças exploram o próprio corpo e o espaço, ajudando, desta forma, no
29
Conclusões
Durante a pandemia, buscamos meios possíveis e acessíveis para nos
aproximarmos das famílias das nossas crianças, por meio do grupo de WhatsApp da
turma. Salientamos que não enviaríamos atividades para as crianças realizarem, mas sim
vivências lúdicas com práticas cujos objetivos seriam o de proporcionar às crianças e às
famílias momentos de descontração, de aprendizagens e de desenvolvimento através de
brincadeiras, musicalização, expressão corporal etc. Cabe ressaltar que todos os
materiais e os recursos utilizados para a realização das propostas partiram daquilo que as
famílias já possuíam em casa (como por exemplo: gravetos, folhas, prendedor de roupas
entre outros suportes encontrados na natureza, no quintal de casa) sem a necessidade de
gastarem, uma vez que, em algumas famílias algum membro havia perdido o emprego ou
estavam passando por problemas financeiros.
A ideia da sequência surgiu porque queríamos, de algum modo, aproximar-nos
das famílias e mostrar o quão importante estavam sendo para o desenvolvimento de
seus/suas filhos/as. Observamos que ao contarmos nossas experiências e nossas histórias,
as crianças e as famílias sentiram-se mais motivadas e mais próximas da gente e isso
influenciou positivamente na participação delas em nossas vivências lúdicas.
Em todo momento do trabalho remoto, buscamos oportunizar práticas em que os
direitos de aprendizagens de conviver, de brincar, de participar, de explorar, de expressar
e de conhecer-se, recomendados pela BNCC20, estivessem presentes. No trabalho em
questão, eles apareceram em diversos momentos, por exemplo: nas brincadeiras
propostas, na contação de histórias, nas músicas cantadas, nas mensagens de vídeo e de
áudios gravadas e enviadas via WhatsApp etc. O direito de conviver talvez tenha sido o
menos possibilitado, posto que nos encontrávamos num momento em que o
distanciamento e o isolamento social se fazia necessário.
Assim como buscávamos garantir os direitos de aprendizagens em nossas práticas,
os campos de experiências também foram contemplados, ora com ênfase em alguns ora
em outros. Todos os campos estiveram presentes na experiência aqui apresentada, já que
sempre os julgamos imprescindíveis para o desenvolvimento social, motor, cognitivo e
emocional da criança.
20
Ver: BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Disponível em:
<http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_EI_EF_110518_versaofinal_site.pdf>. Acesso
em: 02 jun.2020.
32
Referências
KISHIMOTO, Tizuko (Org.). Jogo, brinquedo, brincadeira e a educação. 14. ed. São
Paulo: Cortez, 2017.
21
Prefeitura Municipal de São Carlos. E-mail: [email protected]
22
Prefeitura Municipal de São Carlos. E-mail: [email protected]
23
Unidade de Atendimento à criança - UAC/UFSCar. E-mail: [email protected]
34
INTRODUÇÃO
Não resta dúvidas de que contar histórias na Educação Infantil, contribui com
a formação global da criança. Tal prática, além de favorecer a relação afetiva
da criança com o livro desde a mais tenra idade, proporciona momentos de
prazer, desperta a curiosidade, criatividade, fantasia e a imaginação. (COSTA;
VALADEZ, 2007, p. 172)
OBJETIVOS
METODOLOGIA
Sabemos que muitos pais retornaram aos seus trabalhos e antes de iniciarmos os
encontros síncronos, checamos com as famílias quem tinham acesso à internet, qual era
o interesse das mesmas para esta atividade e qual horário facilitaria sua participação.
Obtivemos boa receptividade das famílias em participar dos encontros síncronos, que
37
ocorriam no período da noite, já que foi uma demanda das mesmas, visto que a maioria
trabalhava e não conseguia acompanhar as crianças em outro horário.
O livro usado para esta vivência “Não me toca seu Boboca”, aborda o tema do
abuso sexual de forma simples, leve e natural. A personagem Ritoca conta uma situação
que passou, quando um “tio” aparentemente bonzinho se tornou seu vizinho e cativou
todos seus amigos do bairro, com brincadeiras e presentes. Mas não demorou muito para
que o “tio Pipoca”, como era chamado, convidasse a turma para uma tarde de diversão
em sua casa, mas com a condição: não contar para ninguém! Muito esperta Ritoca logo
percebeu que tinha algo de errado, que esse tal de Pipoca estava mal-intencionado.
Quando tocou em sua orelha com a desculpa de olhar os brincos, tocou em seu pescoço
dizendo para não ficar assustada porque queria ver seu pingente, Ritoca logo percebeu
que essas atitudes eram imprudentes e diz: “O nosso corpo é um tesouro que devemos
tratar cuidadosamente. Se for de um sujeito suspeito ninguém deve tocar na gente” (2017).
Percebendo que estava sendo assediada Ritoca começa a gritar “Não me toca seu Boboca”
e sai correndo, seus amigos assustados percebendo que alguma coisa de errado tinha
acontecido também saem correndo da casa do Boboca. Os gritos da coelha foram ouvidos
por todos e o seu Boboca até tentou fugir, mas não conseguiu escapar.
DISCUSSÃO
CONCLUSÕES
Os pais que estavam presentes também destacaram que o livro abordou uma
situação conflitante e importante, já que muitos estão trabalhando e tem que deixar seus
filhos com terceiros. Todos que participaram do encontro demonstraram satisfação, em
41
REFERÊNCIAS
24
Unidade de Atendimento à criança – UAC/UFSCar. Email: [email protected]
43
Esse relato de experiência começa com uma epígrafe, trecho da música “Cuida
com cuidado” do grupo Palavra Cantada, que nos faz refletir e ampliar nosso conceito do
que é cuidado.
Cuidar da impaciência, da solidão, da dispersão, cuidado com a distância, com a
intolerância, são proposições que ultrapassam o cuidado físico, higienista que constitui
um horizonte normativo que orienta as práticas de saúde.
A Pedagogia defende o cuidado e a educação enquanto práticas indissociáveis na
Educação Infantil, Rossetti-Ferreira (2003) e Rosemberg (1999), por exemplo, trazem em
seus estudos e pesquisas as práticas de educar e cuidar na Educação Infantil, promulgadas
pela Lei de Diretrizes de Bases – LDB (BRASIL, 1996).
Cuidado envolve a ação de cuidar, preservar, guardar, conservar, apoiar, tomar
conta. Implica também ajudar os outros, promover o seu bem-estar e evitar que sofram
de algum mal. Também é possível cuidar de objetos (como uma casa) para impedir que
ocorram danos.
Podemos também pensar no cuidado envolvendo o autocuidado, o cuidado físico,
psíquico (mental e cognitiva), emocional e espiritual.
De acordo com Dalbosco (2006) “cuidado diz respeito então a uma atitude, a um
modo prático de ser-no-mundo adotado pelo ser humano em relação à sua ação e ao
fenômeno da vida em sua totalidade”.
Diante dessas definições, o objetivo dessa proposta foi envolver as famílias e as
crianças de 2 a 3 anos de idade, do Grupo 2, período da manhã, da Unidade de
Atendimento à Criança – UAC, localizada na Universidade Federal de São Carlos –
UFSCar, campus São Carlos, para contribuir com material imagético de áudio, vídeo e
produção artística da VII Semana de Formação, Pesquisas, Práticas em Educação Infantil
(2021), cujo tema é Dimensões do cuidar.
Os objetivos específicos envolveram: conhecer as dimensões do cuidar que a
criança de 2 a 3 anos tem; reconhecer situações nas quais as crianças lidam com o cuidado;
incentivar a linguagem oral para verbalizar as concepções de cuidado que a criança tem;
estimular a imaginação e criatividade nas brincadeiras de faz de conta envolvendo o
cuidado; motivar a produção artística das crianças a partir do tema cuidado; envolver as
famílias na discussão das concepções das crianças sobre o cuidado e utilizar a literatura
infantil para ampliar a concepção de cuidado das famílias e crianças.
44
Desenvolvimento
Figura 1 – Print do site da Semana da UAC com a frase de uma criança do Grupo 2
25
https://sites.google.com/view/semanauac/home?authuser=0
45
Essa frase “Do que você cuida? – Dos meus brinquedos. E como você cuida dos
brinquedos? – Brincando” é sensacional, pois nos faz ampliar nossa concepção de cuidar.
Significa que cuidar vai além de zelar, guardar para não estragar e conservar. Se essa
criança fosse seguir esse conceito de forma restrita, ela iria guardar o brinquedo e não
usar, mas ela ressignificou, transgrediu e com sua potência e protagonismo disse
“brincando”, que concepção mais linda quando podemos cuidar brincando, o brinquedo
sofrerá seus desgastes naturais com o tempo, mais sua função é permitir a brincadeira.
Macêdo (2006, p. 4) afirma que “as práticas de cuidar/educar implicam em
atitudes e comportamentos que demandam conhecimentos, habilidades e até valores
potencializados no sentido de contribuir para o desenvolvimento da criança”.
Desta forma, a brincadeira contribui para o desenvolvimento da criança e é um
direito da criança, logo cuidar da criança significa também garantir seu direito à
brincadeira. A brincadeira é uma forma privilegiada de conhecer o mundo, isso envolve
criar a cultura da infância.
Uma outra criança de 3 anos, em seu vídeo, respondeu da seguinte forma a
pergunta da mãe “De quem você cuida? - Eu cuido da mamãe e do papai. E como você
cuida da mamãe? – Com muito carinho.” O aspecto do afeto está muito presente na
concepção do cuidado dessa criança, mais uma vez transgride a concepção reducionista
que cuidado é físico.
O cuidado com as emoções e o cuidado das emoções é essencial no contexto da
educação da criança, seja na família ou na Instituição de Educação Infantil.
De acordo com Rosemberg (1999) é preciso estar atento aos afetos, emoções e
sentimentos das crianças, às relações com os outros, com as coisas e com o ambiente.
Outra criança de 2 anos, em seu diálogo com a mãe, em vídeo, destaca também o
aspecto do afeto, quando trata do cuidado “De quem você gosta de cuidar? – Da Vovó.
Como que você cuida dela? – Assim. Assim como? – De beijo e uma flor.”. Essa narrativa
evidencia o afeto, trazendo uma perspectiva ampla do que é cuidado.
Dar e receber afeto, proporcionar o desenvolvimento da autonomia e contribuir
para a constituição da identidade da criança é papel da Educação Infantil (MACÊDO,
2006).
Quanto à segunda proposta, brincar de faz de conta em casa e observar as
situações em que o cuidado estivesse presente, nenhuma família enviou o feedback.
Embora, em outras propostas do mês de setembro, como construir brinquedos com caixas,
46
o cuidado com a boneca ao alimentá-la apareceu e o cuidado com a louça suja, lavando
na pia de caixa esteve presente nas brincadeiras compartilhadas pelas famílias.
Quanto aos desenhos, onze crianças representaram as relações de cuidado mais
físico, de acordo com as legendas dos registros que as famílias escreverem, como: três
crianças desenharam que cuidam do cachorro. Três crianças desenharam que cuidam dos
galos, sapo, coelha e peixe. Uma criança desenhou ela “cuidando da minha casa, varrendo
com a vassoura”. Uma criança desenhou uma escada, pois a mamãe sempre fala para ela
tomar cuidado. Uma desenhou a mãe dando banho nela. Outra desenhou os amigos e o
parque; e uma criança desenhou flores para demonstrar o afeto à avó e à mãe.
Figura 2 – Exemplo dos registros das crianças cuidando dos animais – cachorro, galo,
coelho, peixe e sapo.
Essa compreensão das crianças mais física, relacionada muitas vezes à higiene
não está errada, mas sabemos que o conceito de cuidado, ultrapassa essa definição, assim
como pudemos ver nos vídeos das crianças.
Para Montenegro (1999) o cuidado implica em cuidar do outro em toda sua
dimensão humana o que implica dizer que as ações de cuidar, diferentemente do que
pensa a grande maioria das pessoas não significa apenas atender às necessidades básicas
de sobrevivência.
Para finalizar a proposta, a professora em um encontro síncrono, pelo Google
Meet, pediu para cada criança apresentar seu desenho e as oito crianças presentes no dia,
falaram sobre o que produziram e demonstraram empolgação com o feedback da
professora, que o desenho estava lindo, que a arte que elas produziram merecia um lugar
especial para ficar em exposição em casa e as crianças se alegraram com os elogios que
validaram suas falas.
Depois disso, foi contada a história “Quero colo” de Stela Barbieri e Fernando
Vilela da coleção Itaú Social, da campanha de distribuição gratuita de 2018.
A história mostra que o colo sempre é bom, qualquer hora do dia, em qualquer
situação, como símbolo de afeto, sintonia e cuidado. Lugar que desperta sentidos e
emoções, que protege e é amável. Nesse clima, finalizou-se naquele dia a discussão do
tema. Na outra semana o tema voltou com a proposta “Prazer em te conhecer”, pois a
turma recebeu sete crianças novas, as famílias e as crianças se apresentaram, falaram e
48
Avaliação da experiência
Há quem diga que crianças de 2 a 3 anos não sabem definir o que é cuidado, mas
as crianças do Grupo 2 mostraram que sabem o que é cuidado, na sua dimensão mais
ampla, que vai além dos cuidados físicos.
Articular as formas de comunicação, a linguagem oral com o desenho, permitiu
que conhecêssemos mais profundamente o que as crianças compreendem sobre o cuidado.
Essa proposta trouxe bons resultados para as crianças, com o intermédio da
família, pois, conseguiram externalizar suas concepções sobre o cuidado.
No entanto, esse tipo de abordagem remota não substitui a qualidade e a
potencialidade da realização das vivências no contexto presencial da Educação Infantil.
Embora as crianças tenham se envolvido nas propostas, se estivéssemos no trabalho
presencial o compartilhamento das concepções das crianças poderia ser mais envolvente
e demorado, como por exemplo, em rodas de conversa. Na interação entre crianças-
crianças e crianças-adultos os registros poderiam ser potencializados e realizados de
diferentes formas bidimensionais ou tridimensionais, com diferentes suportes e
instrumentos, em diferentes espaços, com estrutura própria de uma instituição de
Educação Infantil.
Considerações finais
Tendo em vista as singularidades das crianças, que são seres completos em suas
dimensões cognitivas, afetivas, psicomotoras e sociais, que possuem necessidades,
peculiaridades e diferenças culturais, étnicas e de gênero, não podemos conceber uma
Educação Infantil em que não estejam presentes os cuidados com o seu corpo, sua
alimentação, sua saúde, seu crescimento e seu desenvolvimento cognitivo, motor e afetivo
(MACÊDO, 2006).
Nós enquanto professoras da Educação Infantil devemos ter uma concepção
substancial do que é o cuidado, visto que uma concepção rasa fragiliza o trabalho
pedagógico com os bebês e crianças, prejudicando o objetivo do desenvolvimento integral
dos mesmos.
49
O cuidado vai muito além das atividades básicas de sobrevivência humana tais
como alimentação, higiene, sono e guarda, ou disciplinamento moral. Complementar os
cuidados da família e respeitar a criança como um todo, compreendê-la na sua essência
é nosso papel. Contribuir para a construção da sua autonomia é uma das dimensões do
cuidado, como afirmava Paulo Freire, a partir de uma educação libertadora.
Referências
BRASIL. Presidência de República. Lei de Diretrizes de Bases da Educação
Nacional. Lei n. 9394. 1996. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9394.htm . Acesso em: 29 set. 2021.
DALBOSCO, Almir Cláudio. O cuidado como conceito articulador de uma nova
relação entre filosofia e pedagogia. Educação e Sociedade. v. 27, n. 97, set./dez.2006.
p. 1113-1135.
MACÊDO, Lenilda Cordeiro de. O cuidado e a educação enquanto práticas
indissociáveis na Educação Infantil. Anais... 29º Reunião anual da ANPEd. 15 a 18 de
outubro. Caxambu, 2006.
MONTENEGRO, Maria Thereza T. A educação moral como parte da formação para
o cuidado na educação infantil. 177 f. Tese (Doutorado em Psicologia Social)
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. São Paulo, 2001.
ROSEMBERG, Fúlvia. Educar e cuidar como funções da educação infantil no
Brasil: perspectiva histórica. São Paulo: Faculdade de Ciências Sociais, Pontifícia
Universidade de Campinas, 1999 (mimeo).
Contextos e começos
26
[email protected] - Colégio Santa Marcelina – Piraí do Sul PR
27
[email protected] – Secretaria Municipal de Educação – Palmeira - PR
28
[email protected]; - Dpto de Pedagogia - Universidade Estadual de Ponta
Grossa- PR
51
Para Drumond (2013, p. 200) “[...] a ida dos (as) estagiários (as) a campo
representa a oportunidade de refletir sobre o próprio processo de formação, e também, a
possibilidade de problematizar o cotidiano das instituições de Educação Infantil.” O
estágio contribui significativamente para a formação do professor e é através dele onde
o ser professor se inicia.
Brincar é a realidade cotidiana da vida das crianças, e para que elas brinquem,
basta deixar que exercitem a sua imaginação que é um instrumento que permite às
crianças relacionarem seus interesses e às suas necessidades com a realidade. Esse é o
meio de interagir com o universo dos adultos é a partir das brincadeiras que a criança
expressa seus medos, suas fantasias, seus desejos, sentimentos e conhecimentos que vai
construindo a partir das experiências que vive. A brincadeira é desta forma, um espaço
de aprendizagem onde a criança age.
Pensando nas condições de que as crianças desde muito cedo passam a maior
parte do seu tempo inseridas em um ambiente educacional e que tem como meta
resultados positivos, trabalhar com o corpo dessa criança é algo essencial, pois ao mesmo
tempo em que se espera aprendizagem e domínio dos conhecimentos historicamente
produzidos há também que se considerar a infância como algo essencial nessa fase da
vida.
29
https://youtu.be/ggRJRSJvFTA
54
desenhos que se constituíam na tela foi surpreendente. Mobilizou a atenção de todos que
relataram com detalhes a história, mesmo sem falas.
30
Nome fictício
55
Imagem 3- Livro
Fonte:Editora Ática
Aos poucos fomos incorporando novos elementos… Tintas neon para a pele,
estrelas (que faziam referência a história), e as crianças nos diziam: “Viu profe, não
tenho mais medo”!
Algumas reflexões
O estágio é essencial para uma boa formação. É ali que erramos e aprendemos
com os próprios erros. Aprendemos muito com as crianças, todas as vezes em que
estivemos na sala de aula. É um espaço de encontro com as crianças, como destacam
Peroza e Camargo (2019). Detalhes de um cotidiano que muitas vezes não damos
importância, mas que para os pequenos faz uma grande diferença, como abaixar para
conversar até um jogo da turma em que eles nos ensinaram as regras. Buscamos
organizar as docências considerando o que as crianças gostavam de fazer, ouvindo sobre
seus conhecimentos, interesses e sentimentos.
diversas possibilidades, amparados nos escritos de Cunha (2016) que nos impulsiona a
buscar o novo, a possibilitar a interação da criança:
Referências:
CUNHA, S. R. V. Arte, Criação e trabalho pedagógico. Revista Pátio Ensino
Fundamental. Porto Alegre: Grupo A Educação S.A., Ano XX, no. 79, Agosto/outubro
2016, p.10-13
DORNELLES, L.V. Na Escola Infantil todo mundo brinca se você brinca. In: CRAIDY,
C.M.; KAERCHER, G. E. S. Educação Infantil: Pra que te quero? Porto Alegre:
Artmed, 2001.
Introdução
A escrita está presente em nossas vidas desde a nossa infância, uns mais outros
menos, adepender do ambiente em que vivemos em placas, rótulos de produtos, outdoors,
receitas,bulas de remédio, livros, convites, revistas, gibis, meios digitais, entre outros
diversos portadores textuais. Mello (2010), autora que é referência em linguagem escrita
na Educação Infantil na perspectiva-histórico cultural, aponta que apesar de ter contato
coma escrita desde muito cedo na sociedade a forma como a criança se apropria do mundo
letrado depende de como a linguagem escrita chega até ela e dos significados que
atribuem a ela. De acordo com Mello (2010, p. 332) a criança estabelece relações com a
61
escrita em suas vivências e experiências fazendo uso social dessa linguagem, apontando
que
1
Aluna do Programa de Pós-Graduação Profissional em Educação (PPGPE), Universidade Federal de
SãoCarlos (UFSCar); Professora de Educação Infantil na Prefeitura Municipal de São Carlos
([email protected]).
A Educação Infantil não tem como função alfabetizar as crianças no seu sentido
técnico e sistemático de codificação (escrita) e decodificação (leitura), mas sim de inseri-
las na cultura escrita por meio de seu uso social, a partir do contato com diversos
portadores e gêneros textuais, levando em consideração as especificidades das crianças e a
importância dos aspectos lúdicos e das brincadeiras próprias da faixa etária. Segundo
Britto (2005, p.20),
Objetivos
- Analisar práticas de linguagem escrita realizadas pela professora
pesquisadora em 2019em uma turma da última etapa da Educação Infantil a partir de
registros fotográficos de vivências envolvendo a escrita naquele ano.
- Refletir sobre essas práticas de linguagem escrita a partir da perspectiva
histórico- cultural.
Metodologia da pesquisa
A pesquisa de mestrado da qual faz parte as práticas aqui apresentadas foi
desenvolvida a partir da pesquisa qualitativa do tipo exploratória que segundo Bodgan e
Bliken (1996, p. 47 - 50) tem como características: ter o ambiente natural como fonte de
dados; é uma pesquisa descritiva; o pesquisador se interessa mais pelo processo do que
pelo produto; realiza os dados de maneira indutiva; se interessam na forma como as
63
pessoas dão significados e sentidos à sua vida. Ainda de acordo com Bodgan e Bliken
(1996), a pesquisa qualitativa pode ser um instrumento de melhoria na prática docente.
Discussão
A análise dos registros fotográficos de vivências de linguagem escrita realizadas
pela professora pesquisadora em 2019 em uma turma de última etapa da Educação
Infantilfoi dividia em oito temas gerais: Nome; Dados das preferências e brincadeiras;
Leitura deleite e contação de histórias; Calendário; Letras, números e palavras; Manuseio,
escritae leitura de portadores e gêneros textuais diversos; Produção de textos coletivos e
Desenho.
Figura 3 – Montando o nome com letras móveis com auxílio da ficha (quebra-cabeça)
Dessa maneira, era realizado o uso social da escrita com elementos lúdicos que
são fundamentais nesse processo levando em consideração a faixa etária das crianças.
Segundo Abramovich (2009), a leitura e o contato com livros
(...) mostra à criança que o que ouviu está impresso num livro
(se for o caso) e que ela poderá voltar a ele tantas vezes quanto
queira (ou deixa-lo abandonado pelo tempo que seu desinteresse
determinar...). E quando a criança for manusear o livro sozinha,
que o folheie bem folheado, que olhe tanto quanto queira, que
explore sua forma, que se delicie em retirá-lo da estante
(encontrando-o sozinha, em casa ou na escola), que vire página
por página ou que pule algumas até reencontrar aquele
momento especial que estava buscando... (mesmo que ainda
não saiba ler, ela o encontra... e fácil!) (ABRAMOVICH, 2009,
p. 17).
Segundo Vygotsky (2019, 133) a escrita precisa estar presente na vida dos
sujeitos demaneira que faça sentido a eles, em contextos significativos e em que “(...) o
ensino temque ser organizado de forma que a leitura e a escrita se tornem necessárias às
68
F
F
Figura 13 – Rótulos
Conclusões
As análises dos registros fotográficos, envolvendo práticas de linguagem escrita,
realizadas pela própria professora pesquisadora na dissertação de mestrado,
demonstraram que é possível trabalhar a escrita na Educação Infantil de forma prazerosa
e lúdica, a partir de brincadeiras e do uso social da escrita sem antecipar conteúdos do
Ensino Fundamental.
Referências
CRUVINEL, F. R. Ensinar a ler na escola: a leitura como prática social. Ensino Em-
Revista. Uberlândia, v. 17, n.1, p. 249-276, jan./jun. 2010. Disponível em:
http://www.seer.ufu.br/index.php/emrevista/article/view/8194/5212. Acesso em: 05
jul.2021.
Resumo
O presente relato tem por objetivo refletir sobre o cuidar e o educar juntamente com as
famílias de bebês e crianças bem pequenas em tempos de pandemia da COVID-19,
durante o atendimento remoto, visto que com a interrupção das atividades presenciais nas
instituições municipais de Educação Infantil de São Carlos/SP, as professoras tiveram
que inovar suas propostas pedagógicas a fim de orientar e manter um vínculo com as
famílias, por meio de vivências que pudessem colaborar não só no desenvolvimento e
aprendizagem, mas também com o cuidar, visando o desenvolvimento da autonomia e a
consciência corporal dos bebês e das crianças. Foram enviadas as propostas “hora do
banho”, “lavar as mãos e “brincando de estátua” com o propósito de estimular o cuidado
físico e mental. As vivências realizadas no âmbito familiar foram fundamentais para as
professoras cumprirem seus objetivos, no entanto, sabemos que elas não excluem a
necessidade de se vivenciar essas propostas na instituição de Educação Infantil.
Acreditamos que a parceria entre família e escola é fundamental para articular o cuidar e
o educar.
Introdução
O presente relato tem por objetivo refletir sobre o cuidar e o educar juntamente com as
famílias de bebês e crianças bem pequenas em tempos de pandemia da COVID-19,
durante o atendimento remoto. As famílias têm suas crianças matriculadas em uma
instituição de Educação Infantil pública em uma turma de 21 crianças com 1 a 2 anos com
4 professoras, autoras deste relato.
O ensino remoto foi estabelecido pelo Decreto Municipal 213/2020 e a Instrução
Normativa 01/2020, ambos foram publicados no Diário Oficial do munícipio de São
31
Prefeitura Municipal de São Carlos - [email protected]
32
Prefeitura Municipal de São Carlos - [email protected]
33
Prefeitura Municipal de São Carlos - [email protected]
34
Prefeitura Municipal de São Carlos - [email protected]
73
Referências
Diário Oficial de São Carlos. Terça-feira, 30 de junho de 2021. Disponível em: <
http://www.saocarlos.sp.gov.br/images/stories/diario_oficial_2020/DO_30062020_1589
.pdf> Acesso em: 10/09/2021.
Samantha Meconi35
Introdução
Em nossa ação supervisora, entendemos que o papel da educação pública deve
ser, prioritariamente, o de incentivar ações democráticas pautadas na dialogicidade, na
perspectiva de uma educação crítica, emancipatória e inclusiva, que garanta direitos e que
esteja a serviço da ciência e do desenvolvimento de bebês e crianças, adolescentes,
jovens, adultos e, consequentemente, da sociedade como um todo. Portanto, priorizamos
a formação permanente da comunidade escolar em nossa prática.
No entanto, é importante destacar que, desde março de 2020, vivenciamos no país
uma crise sanitária, causada pela pandemia do novo coronavírus, que provocou mais de
meio milhão de mortes e mudanças sociais profundas, afetando diretamente as dinâmicas
escolares e a vida como um todo.
A partir desse momento, começamos a pensar na Educação Infantil em tempos
pandêmicos, buscando, nesse cenário atípico, meios para resistir e reexistir com bebês e
crianças pequenas, uma vez que as atividades presenciais nas escolas foram suspensas,
35
Graduada em História, Mestre em Educação pela PUC-SP e Doutoranda em Ciências Sociais pela
PUC-SP. Supervisora Escolar na Rede Municipal de Educação. E-mail: [email protected]
82
36
Taipas e Perus são regiões da periferia da cidade de São Paulo, no território noroeste.
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Descrição do caso
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A rede direta é formada por escolas cuja instalações e RH são construídas e totalmente administradas
pela Secretaria Municipal de Educação. A rede indireta é formada por centros de educação infantil (CEI)
cujo prédio é de propriedade do poder público, ou alugado por ele, cuja gestão é feita por organização
privada conveniada com a prefeitura de São Paulo. A rede conveniada, atualmente chamada de parceira, é
constituída por equipamentos de educação Infantil nos quais tanto o prédio quanto a gestão são de
responsabilidade da Organização da Sociedade Civil.
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Discussão
Conclusões
Este relato teve como objetivo abordar o cuidado da ação supervisora em relação
à formação dos educadores de Educação Infantil inspirada nos princípios freireanos e,
especificamente, em um contexto da pandemia. Destacamos que todas as ações que
realizamos coletivamente revelam que conhecimento e atuação no território trazem
possibilidades e potencialidades e deveriam ser ponto de partida para o planejamento de
políticas educacionais.
Destacamos que em nossa ação supervisora reconhecemos a importância de cuidar
da formação de quem cuida, a potencialidade das ações coletivas, nas quais o diálogo é o
motor da reorganização do currículo e dos contextos educativos. Em nossos encontros
formativos e dialógicos, reconhecemos que são muitos os desafios. Porém, seguimos na
construção da escola à serviço do bem público e da garantia de direitos.
Assim como a gestão de Paulo Freire, que valorizou a participação e a autonomia,
acreditamos que, ao colocar em prática tais princípios, há o convite à tomada de decisões,
à colaboração e à responsabilidade compartilhada.
Referências Bibliográficas
FREIRE, Paulo. Educação: o sonho possível. In: BRANDÃO, Carlos Rodrigues (Org). O
educador: vida e morte. 8 ed. Rio de Janeiro: Edições Greal, 1982. pp
90-101.
Introdução
Quando alguém pensa em uma criança, a figura que lhe vem à mente se refere a
uma imagem que se criou - de acordo com crenças, valores, senso comum etc - sobre o
universo infantil. É provável que muitas pessoas imaginem um “padrão” de criança, um
ser pequeno, puro, inocente, sorridente, obediente, bem arrumado. Essa “romantização”
não se distancia das propagandas, fotos, anúncios que circulam nas diferentes mídias em
nossa sociedade. Entretanto, apesar de muitos imaginarem existir “a” criança e “a”
infância, não podemos tratar este assunto no singular ou idealizar um “padrão”, uma vez
que são diversas as infâncias e as crianças que as vivem.
38
Professora EBTT na UAC/UFSCar. Doutoranda em Educação pela UFSCar. E-mail:
[email protected]
39
Professora I, no município de São Carlos. Mestre em Educação Escolar pela UNESP. E-mail:
[email protected]
88
Notando as muitas dimensões da pandemia e o que ela nos tem permitido perceber
em relação à escola (KOHAN, 2020), acreditamos que a situação atual – apesar de difícil
- pode ser importante para problematizações e mudanças na EI. Partindo desta
perspectiva, o presente texto se refere a um trabalho teórico, de caráter bibliográfico (GIL,
2002). Por meio do diálogo com autores da área da EI, discutimos a construção do olhar
cuidadoso sobre as crianças bem como às propostas pedagógicas oferecidas a elas,
especialmente nesse tempo de confinamento vivido por nós.
Por esse universo ser composto por tantas experiências, histórias, contextos e
vidas, temos que reconhecer a infância como uma etapa muito importante e única. Por
isso, a criança deve “ser protegida da exposição inadequada de determinados assuntos ou
acontecimentos, bem como resguardadas de atitudes e situações violentas” (NOGUEIRA,
2016, p.493). Fato este que implica na garantia de direitos relacionados “a condições
dignas de vida, à brincadeira, ao conhecimento, ao afeto e às interações saudáveis”
(KRAMER, 2007, p.17) nos ambientes em que frequenta, especialmente nas instituições
de EI. Há caminhos para organizar práticas pedagógicas “sem abreviar a infância – ao
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Neste contexto de pandemia, também precisamos - mais do que nunca - olhar para
as crianças e a infância desta forma, pois se antes já nos era um grande desafio o exercício
de escuta às crianças, a pandemia as "silenciou" ainda mais. Isso porque houve grande
alteração na vida das famílias, professoras e equipe escolar. Todas/os tiveram que, em
pouquíssimo tempo, criar e reorganizar novas maneiras de viver tudo isso. Professoras
estão lidando com a sobrecarga de trabalho remoto; muitas vezes, não possuem
instrumentos, espaços e recursos adequados que sustentem esse cotidiano virtual
(KOHAN, 2020). As famílias, em especial as mães, para quem o trabalho doméstico recai
historicamente, vivem uma situação desafiadora, pois muitas atuam em trabalhos
considerados “essenciais”, outras perderam o emprego ou sua renda diminuiu. Somado
ao trabalho de casa e os desafios econômicos, de saúde e emocionais, estão agora
passando todas as horas do dia com as crianças.
Do outro lado desse cenário conturbado existem as crianças que, no caso da EI,
são ainda muito pequenas e não aprendem a partir de “conteúdos”, mas pelo brincar,
interações e linguagens. Por isso, a proposta pedagógica das instituições de EI devem ter
como objetivo principal/fundamental garantir às crianças acesso a “apropriação,
renovação e articulação de conhecimentos e aprendizagens de diferentes linguagens,
assim como o direito à proteção, à saúde, à liberdade, à confiança, ao respeito, à
dignidade, à brincadeira, à convivência e à interação” (BRASIL, 2009).
Esses dois anos de isolamento social mostrou que a EI faz falta na vida das
crianças, por ser um espaço de tempo e de vivência plena da infância, de encontro com
outras crianças e por ser um ambiente acolhedor que alimenta não apenas o corpo
biológico, mas o ser social, cultural e histórico. Essa situação nos conduz a algo
importante: durante e após a pandemia - momento de restrição do interagir e movimentar-
se - será essencial deixar que as crianças brinquem! Para Kramer (2020, p.790) esse será
o maior ensinamento para a EI: “Os adultos vão ficar preocupados com os horários, as
rotinas de funcionamento, tensos e querendo trabalhar com o currículo [...] e as crianças
vão querer brincar, e isso vai ser muito bom”.
Não podemos mais aceitar práticas na EI que desrespeitem o direito de ser criança
e a maneira como ela interage com o mundo, consigo mesma e com o outro. A isso nos
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referimos a adoção de cartilhas para treino motor (repetição incansável de letras; recortes
nas linhas pontilhadas; pinturas em figuras delimitadas) – materiais estes que também
ignoram a diversidade; a organização de salas com apenas mesas, cadeiras, bebê conforto,
sem a presença de materiais diversificados, espaços livres, cantos de brincadeiras e de
leitura – restringindo os movimentos dos seus corpos e interações com os outros; a
produção exacerbada de “trabalhinhos no papel”; o oferecimento da brincadeira como um
passatempo, não reconhecendo as aprendizagens, explorações, interações propiciadas
pelas atividades lúdicas. Esses são exemplos de práticas que veem a criança como um
sujeito passivo; menosprezam a capacidade infantil (crianças são pequenas em tamanhos
e não em saberes!) tratam a infância como algo “global” (não reconhecem a existência de
“infâncias” compostas por uma diversidade de histórias, vivências, contextos!);
valorizam apenas a escrita, desconsiderando as outras linguagens simbólicas presentes no
mundo infantil.
Podemos apresentar às crianças obras de arte e instigar a leitura que cada uma faz
sobre aquela pintura, desenho, escultura, como: Quais sons poderíamos imaginar ouvir
no quadro “uma festa” do Bruegel? A comida parece saborosa? Quantas frutas, legumes,
flores você consegue encontrar no rosto pintado por Arcimboldo? Se você fosse pintar
um rosto, o que usaria? O que as crianças estão fazendo no quadro de Portinari? Vocês
reconhecem alguma brincadeira? Será que está fazendo calor ou frio? Outra ideia é o uso
de recursos tecnológicos como uma forma das crianças demonstrarem o seu olhar sobre
o mundo em que está inserida. Assim, elas podem fotografar ou filmar momentos, falas,
brincadeiras, objetos, projetos, descobertas. O que elas têm a dizer sobre seus professores,
amigos, vivências, famílias, somente por meio de imagens? O que gostariam de falar
através dessa linguagem simbólica? E se elas produzirem podcasts sobre assuntos que
estudaram, pesquisaram?
Considerações finais
Quando discutimos sobre a EI estamos tratando de questões que vão muito além
de aspectos relativos à instituição educativa em si - sobre como é organizada ou o seu
currículo ou suas necessidades ou qualidades. Falar sobre creches e pré-escolas é falar,
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antes de qualquer coisa, sobre criança (DIDONET, 2001). É falar sobre ser criança na
nossa sociedade do passado, do presente e do futuro. “E é, também, falar um pouco de
nós mesmos, pois quando nos colocamos diante da criança, como pais ou educadores,
estamos nos interrogando sobre a nossa própria trajetória a partir da criança que fomos”
(DIDONET, 2001, p.11) e daquilo que imaginamos que uma criança deva ser.
Por mais que tenhamos criado uma definição global de criança (um ser inocente?
sorridente? feliz? sincero?) e de infância (seria esse um momento da vida em que o único
fazer dos pequenos é brincar?), devemos desconstruir essas concepções e crenças a fim
de reconhecer que nenhuma criança e infância se molda à caixinha que criamos em nosso
imaginário. Esse também é um passo importante para que as instituições de EI possam
cumprir com o seu papel de acolher e de estar aberta ao criativo, novo e inusitado
(DIDONET, 2001).
da importância do tempo livre, ele precisa ser intercalado com momentos dirigidos e,
principalmente, com situações de interação. O tempo livre por si, a exposição a vídeos e
os brinquedos educativos não são suficientes para promover o desenvolvimento.
Mas para que isso seja efetivado, devemos questionar: Como estão sendo cuidados
aqueles que devem ser cuidadosos com as crianças na EI? Talvez, professores de crianças
pequenas também tenham vivido durante muito tempo experiências que aprisionaram a
dimensão criativa, artística, inventiva (OSTETTO, 2013). Por isso, salienta-se a
necessidade do oferecimento de um apoio e formação aos professores nesse contexto de
pandemia de forma que “vise ampliar olhares, escutas e movimentos sensíveis, despertar
linguagens adormecidas, acionar esferas diferenciadas de conhecimento, mexer com o
corpo e alma” (LEITE; OSTETTO, 2013, p.11-12).
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Referências
BARBOSA, M. C. S.; CAMPOS, R. BNC e educação infantil: quais as possibilidades?.
Retratos da Escola, v. 9, 2015.
DIDONET, V. Creche: a que veio. Para onde vai Em aberto, Brasilia, v.18, n.73, 2001.
MELLO, S.; FARIAS, M. A escola como lugar da cultura mais elaborada. Educação,
Santa Maria, v.35, n.1, p.53-68, 2010.
OSTETTO, L. Dos gestos na educação infantil: textos do corpo. In: OSTETTO, L. E.;
LEITE, M. I.. Arte, infância e formação de professores: autoria e transgressão.
Campinas: Papirus, 2013.
Apresentação Criativa
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Referências:
FOCHI, Paulo (org). Mini-histórias: rapsódias da vida cotidiana nas escolas do
Observatório da Cultura Infantil – OBECI. Porto Alegre: Paulo Fochi Estudos
Pedagógicos, 2019.
Cozinhar como uma dimensão do cuidar surgiu a partir de trocas de receitas entre crianças
e famílias das crianças do Grupo 4 do período da tarde da Unidade de Atendimento à
Criança da UFSCar através do grupo de famílias em uma rede social- WhatsApp. Em
meio à Pandemia da Covid 19, as famílias começaram a trocar fotos dos momentos
vivenciados em família e, que, geralmente, eram cozinhando. À partir desta experiência,
começamos a inserir no encontro com as crianças do Grupo 4 vivências culinárias que
se constituiu como um momento de trocas, de afetos, de amores, do cotidiano, da rotina
e que vão além de receitas saborosas. Nesse momento de isolamento o ato de cozinhar foi
e ainda é tão importante porque propicia uma socialização dentro de casa, de sentar-se à
mesa, conversar, ensinar às crianças esse processo mágico e, principalmente do resgate
do cozinhar em casa. Achinte (2014) propõe uma reflexão em relação às “implicações
culturais do ato de comer”, sendo a alimentação uma ação que não deve ser considerada
inocente, para ele, comer vai além de alimentarse, pois esse ato é marcado por uma série
de relações sociais, culturais, raciais e de gênero, as quais são atravessadas pelo poder. A
forma como nos alimentamos e cultivamos nossos alimentos podem dizer muito sobre
como vivemos, nossa cultura e até mesmos aspectos sobre a política, poder e colonização.
Achinte (2014) chama de desculturação gastronômica o processo de incorporar os hábitos
alimentares impostos pelos colonizadores. Por isso, chama a atenção para a urgência deste
debate nas vivências culinárias, sendo importante para o resgate dos costumes, das
memórias aos saberes e sabores (ACHINTE, 2014), permitindo que se coloque em curso
o processo de descolonização e problematizando os alicerces do que seria ""uma boa
receita"", ""uma boa comida"", ""verdadeira cozinha"", "" alta gastronomia"", etc. Neste
sentido, é possível pensarmos no ato de cozinhar como um valor simbólico e metafórico.
como um caminho possível para o cuidado de si e do outro. No preparo das receitas, todo
o processo é uma experiência que promove resultados únicos, pois cada criança, cada
família, dispõe de um campo de referências próprio para o entendimento dos sabores e
gostos. E isso às crianças demonstraram durante essa jornada que trilhamos com a
interatividade, as trocas de receitas entre famílias e professora, entre as próprias crianças,
101
Referência Bibliográfica
COUTO, MIA . A avó, a cidade e o semáforo’, do livro “O Fio das Missangas”. São
Paulo-Companhia das Letras, 2016."
102
Introdução: Nos meses de agosto e setembro de 2021 propomos vivências, por meio de
grupos de WhatsApp com as famílias, com histórias infantis e cultura popular, por meio
de parlendas, cantigas e trava-línguas.para três turmas de fase 5 (crianças com idades
entre 4 e 5 anos), de um Centro Municipal de Educação Infantil de São Carlos. Justifica-
se essa temática pois desperta a curiosidade, estimula a imaginação, desenvolve a
autonomia e o pensamento, proporciona vivenciar diversas emoções como medo e
angústias, ajudando a criança a resolver seus conflitos emocionais. Além disso, estas
podem ser grandes aliadas no aprendizado das crianças, de uma forma prazerosa e
divertida, estimulando o desenvolvimento da criança na sua expressão oral, de leitura e
escrita (SILVA, PINHEIRO; 2019). Metodologia: Dessa forma, optamos pelas seguintes
histórias para o mês de Agosto: 1) A Galinha Ruiva: trabalhamos duas versões diferentes,
o desenho livre, a escrita, o recorte, a montagem e a colagem do nome da história, bem
como o compartilhamento de duas receitas feitas com milho, o ingrediente principal em
uma das versões. 2) Chapeuzinho Vermelho: sugerimos confecção de fantoches dos
personagens da história e reconto, feito pelas crianças utilizando esses fantoches. Além
da criatividade, a oralidade foi nosso objetivo com essa proposta. 3) Alice no país das
Maravilhas: trabalhamos uma lista com os personagens escolhidos pelas crianças e com
o conceito de comparação (grande e pequeno) entre objetos escolhidos em casa. 4) O
Monstro das Cores: nosso principal objetivo foi dialogar com as crianças sobre as
emoções e os sentimentos; reconhecer os personagens e relacioná-los com o sentimento
que expressam. Durante o mês de Setembro trabalhamos com parlendas, cantigas e trava-
línguas da seguinte forma: a)I nformativo sobre Parlendas e Cultura Popular com o
objetivo de sensibilizar as famílias para as vivências que serão propostas; b) Parlendas
“A Galinha do Vizinho” e “Hoje é domingo”; c) Adivinhas; d) Trava-Língua; e)
Quadrinhas; f) Ditados Populares; e g) Confecção do pião. Discussão: Considerando os
campos de experiência, julgamos importante que as crianças possam vivenciar momentos
de fala e escuta, potencializando sua participação na cultura oral, pois é através da escuta
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Referências
SILVA, Karina Aparecida Ramos da; PINHEIRO, Fábio Henrique. CONSCIÊNCIA
FONOLÓGICA E O LÚDICO NA EDUCAÇÃO INFANTIL. Revista Eletrônica da
Educação, [S.l.], v. 2, n. 1, p. 124-135, feb. 2019. ISSN 2595-0401. Disponível em:
<http://portal.fundacaojau.edu.br:8078/journal/index.php/revista_educacao/article/view/
42>. Acesso em: 29 sep. 2021. doi: https://doi.org/10.29327/230485.2.1-9.
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Introdução: Olhar para o céu é uma atividade cultural e coletiva, que perpassa as
sociedades desde a sedentarização da humanidade. A relação com os corpos celestes
advém da curiosidade e do mistério, mas também das necessidades sociais – localização
espacial através das estrelas; relação com os fenômenos sazonais para agricultura e caça
e a própria noção da passagem do tempo (FARES et al., 2004). A ciência, entendida como
uma construção humana histórica e cultural (ALBUQUERQUE et al., 2011), portanto, o
conhecimento científico, um produto cultural (FAGIONATO-RUFFINO, 2012).
Descrição do caso: O projeto “Experiências Astronômicas em Casa” foi uma proposta
desenvolvida na Unidade de Atendimento à Criança (UAC – UFSCar). Seus objetivos
incluíram: 1) Promover experiências voltadas à astronomia para crianças; e 2) Explorar
os fundamentos da astronomia numa perspectiva cultural e histórica, bem como princípios
da etnoastronomia. As experiências, vivências e atividades propostas às crianças e suas
famílias foram enviadas a cada professora de referência da turma, conforme demanda das
crianças, na forma de documentos escritos, vídeos e áudios. Todo o material foi produzido
de maneira lúdica e de forma virtual. Uma vez por mês, foi enviado um Caderno, com
sugestões, experiências, vídeos etc. para todas as crianças da unidade, que realizavam as
propostas e experiências em seu próprio tempo. A professora também participou do
encontro virtual de algumas turmas para realizar experiências e trocas. Muitas famílias
viveram o projeto intensamente, nos enviando devolutivas positivas e muitas fotos do que
criavam em casa. Discussão: As crianças experimentam, reproduzem e vivem a cultura
de seu contexto, mas também criam, inventam, fantasiam. As “culturas infantis”, são
produzidas e partilhadas pelas crianças nas interações. As crianças, em sua experiência
de ser criança e produzir cultura, se relacionam com a ciência e seus elementos (SOUZA,
2016). Em seu próprio processo investigativo, as crianças “têm uma atividade mental de
construção de conhecimentos muito próxima à atividade intelectual dos cientistas: elas,
como eles, procuram explicações para os fatos e fenômenos que observam, constroem
suas hipóteses baseadas em situações não-diretamente visíveis, dão nomes àquilo que
vêem e buscam explicar aquilo que não vêem e que procuram entender” (CAVALCANTI,
1995, p. 9, apud FAGIONATO-RUFFINO, 2012, p. 38). Tomando a astronomia da
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Referências
ALBUQUERQUE, V. et al. Astronomia e Cultura nas Pesquisas em Ensino de Ciências
na Última Década. I Simpósio Nacional de Educação em Astronomia. Rio de Janeiro,
2011. p. 1–10.
Referências
Protecting and Transforming Education for Shared Futures and Common Humanity. –
A Joint Statement on the COVID – 19 Crisis – International Comission on the Futures
of Education – 14 April, 2020.
<https://unesdoc.unesco.org/ark:/48223/pf0000373207/PDF/373207eng.pdf.multi>
Acesso em 03/10/2021
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