Uso de Ferramentas Da Carpintaria para o Auxilio Do Ensino Do Teorema de Pitagoras
Uso de Ferramentas Da Carpintaria para o Auxilio Do Ensino Do Teorema de Pitagoras
Uso de Ferramentas Da Carpintaria para o Auxilio Do Ensino Do Teorema de Pitagoras
Universidade Rovuma
Nampula
2021
2
Manuel Marques
Supervisor:
Universidade Rovuma
Nampula
2021
ii
ÍNDICE
Índice de Tabelas.....................................................................................................................iv
Índice de Gráficos.....................................................................................................................v
Índice de Figuras......................................................................................................................vi
Declaração...............................................................................................................................vii
Dedicatória.............................................................................................................................viii
Agradecimentos........................................................................................................................ix
Resumo.......................................................................................................................................x
CAPÍTULO I: INTRODUÇÃO.............................................................................................11
2.1 Contextualização.............................................................................................................17
6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...............................................................................36
APÊNDICES...........................................................................................................................38
iv
Índice de Tabelas
v
Índice de Gráficos
vi
Índice de Figuras
vii
Declaração
Declaro por minha honra que esta monografia científica é resultado da minha inteira
investigação e das orientações do meu supervisor. O seu conteúdo é meramente original e
todas as fontes consultadas estão devidamente mencionadas no texto e na bibliografia final.
Declaro ainda que este trabalho nunca foi apresentado em nenhuma outra Instituição para
obtenção de qualquer grau académico.
__________________________________
(Paulo João Murapa)
viii
Dedicatória
ix
Agradecimentos
x
Resumo
A presente pesquisa com vista na obtenção do grau de Licenciatura em Ensino de Matemática fez um
estudo de caso, especificamente, com os alunos da 8ª classe da Escola e duas carpintarias sedeadas na
cidade de Nacala Porto.A proposta deste projecto tem como objectivo sugerir uma metodologia
centrada na exploração, onde o aluno passa a ser um agente activo no processo ensino-aprendizagem,
oportunizar situações que exigem a sua capacidade de observar, criar, construir os significados pelas
suas próprias impressões, em que o professor passa a ser o orientador, monitor das actividades
propostas aos alunos e por eles realizadas. Portanto, é de extrema importância a saída dos alunos da
escola, para a exploração das situações reais, onde a matemática é praticada nos diversos contextos
sociais, pois é assim que se consolida o reconhecimento, a aplicabilidade do programa
etnomatemática. Foram convidados os alunos a sair do seu lugar habitual de realização de aulas, a sala
de aulas na escola, para passarem a ter a nova aula junto as carpintarias. Os alunos visitaram duas
carpintarias e com base no uso das ferramentas do carpinteiro conseguiram verificar a aplicabilidade
da Matemática que estudam na escola no seu quotidiano. Conclui-se que para leccionar a disciplina de
Matemática podemos inserir a carpintaria e suas ferramentas, como um meio de aprendizagem e
resolução de exercícios, em particular, no Teorema de Pitágoras. Por mais simples que seja a
explicação e a resolução de exercícios, é importante que o aluno tenha uma noção prática e bem
explicativa do assunto tratado, para que ele tenha um maior rendimento e uma melhor compreensão,
além de se exercitar mentalmente com os exercícios propostos pelo docente.
CAPÍTULO I: INTRODUÇÃO
É neste contexto que surge o presente estudo com vista a explorar os conhecimentos
matemáticos presentes no quotidiano dos carpinteiros e relacionar com os saberes
matemáticos estudados nas escolas.
Foram realizados, por meio de pesquisa de caso, ou seja, visita a algumas carpintarias da
cidade de Nacala, em que os alunos tiveram a oportunidade de observar e identificar os
instrumentos e o trabalho desenvolvido pelos carpinteiros, entrevistá-lo, colher informações
detalhadas, fotografar, bem como, identificar os conhecimentos matemáticos necessários
usados por eles para desenvolver a sua actividade e fazer um registo dos mesmos.
Essa tendência concebe uma aprendizagem significativa em que se buscam estratégias que
possibilitem ao aluno atribuir sentido e construir significados às ideias matemáticas;
desenvolvendo a capacidade de estabelecer relações, justificar, analisar, discutir e criar. Isto
significa que o aluno precisa compreender os conceitos e princípios matemáticos, raciocinar
claramente e comunicar suas ideias matemáticas, reconhecendo suas aplicações. Desse modo,
a Educação Matemática permite uma articulação entre o processo pedagógico, a visão do
aluno, suas opções diante da vida, da história e do quotidiano.
Para melhor compreensão do presente trabalho este, está estruturado em cinco (5) Capítulos
onde: no capítulo I, estão enquadradas os seguintes itens: delimitação do tema de pesquisa, a
justificativa da pesquisa, a problematização, os objectivos gerais e específicos a alcançar no
final da pesquisa, e a relevância da pesquisa; no capítulo II tem-se a Fundamentação Teórica;
capítulo III alberga aspectos ligados com os procedimentos metodológicos; capitulo IV,
consta a apresentação, análise e interpretação de dados, seguido do capítulo V onde estão as
conclusões e sugestões.
12
A presente pesquisa foi levada a cabo com o seguinte tema: O Uso das Ferramentas de
Carpintaria para o Auxílio do Ensino de Matemática: Uma proposta didáctica para o PEA do
Teorema de Pitágoras, na 8ª classe, utilizando as ferramentas de carpintaria (2020 – 2021).
A matemática é vista actualmente como uma disciplina que traz grandes dificuldades no PEA,
tanto para os alunos, como aos professores envolvidos no mesmo. De um lado, observa-se a
incompreensão e a falta de motivação dos alunos em relação aos conteúdos matemáticos
ensinados em sala de aula de forma tradicional, e do outro, está o professor que não consegue
alcançar resultados satisfatórios no ensino de sua disciplina.
A preocupação por este tema surge da crítica a situação do ensino de matemática hoje
existente. É um ponto consensual entre as pesquisas de Educação Matemática, o facto de que
o ensino de matemática tem sido desenvolvido de forma monótona, ou seja, o conteúdo que se
trabalha em sala de aula prioriza a memorização aleatória de resultados conceituais,
impedindo-os então de produzir ou criar novas fórmulas, uma vez que os resultados são pré-
determinados. Entre outras coisas, esse ensino não tem levado em consideração o
conhecimento matemático adquirido pelos indivíduos no decorrer de suas vidas.
A busca por ultrapassar a Matemática vista como uma ciência abstracta e formal tem sido
apontada por diversos pesquisadores e educadores como uma preocupação no PEA. Assim, a
Etnomatemática vem sendo apontada como uma vertente da tendência pedagógica
Socioetnocultural.
É olhando neste panorama da Matemática vista como algo real e não abstracto que surge a
presente pesquisa com vis ta a dar resposta a seguinte pergunta: que impacto motivacional
trará a utilização de ferramentas de carpinteiro no PEA do Teorema de Pitágoras?
13
As aulas de matemática, de uma maneira em geral, são conduzidas através de exposição oral
do conteúdo com demonstrações de exemplos, em seguida propõe-se a resolução de
exercícios, conforme os modelos resolvidos no quadro, o que não tem trazido resultados
significativos e tem gerado, de certa forma, a falta de interesse pela disciplina. Faz-se
necessário tirar a matemática do pedestal e colocá-la de acordo com a realidade, permitir ao
aluno a leitura da matemática presente na realidade dos diversos grupos sociais, trazer esse
contexto para a sala de aula.
A proposta deste projecto tem como objectivo sugerir uma metodologia centrada na
exploração, onde o aluno passa a ser um agente activo no processo ensino-aprendizagem, dar
prioridade situações que exigem a sua capacidade de observar, criar, construir os significados
pelas suas próprias impressões, em que o professor passa a ser o orientador, monitor das
actividades propostas aos alunos e por eles realizadas. Portanto, é de extrema importância a
saída dos alunos da escola, para a exploração das situações reais, onde a matemática é
praticada nos diversos contextos sociais, pois é assim que se consolida o reconhecimento, a
aplicabilidade do programa etnomatemática.
Desta forma a importância de uma proposta que contemple a forma de se ensinar e aprender
Matemática partindo da realidade, ou seja, utilizando os conhecimentos matemáticos
aplicados por diferentes grupos sociais, em particular dos carpinteiros, no desenvolvimento de
suas actividades, como ponto de partida para um entendimento contextualizado e de
qualidade, da Matemática académica. Direccionando, assim, a visão dos alunos para a
necessidade de aproximação entre o saber popular e o saber académico, da construção de um
elo entre esses saberes, ou seja, a necessidade do ensino-aprendizagem numa perspectiva
etnomatemática.
15
Para Freire (1997, p. 81), o acto de ensinar “[...] não é a simples transmissão do conhecimento
em torno do objecto ou do conteúdo. Transmissão que se faz muito mais através da pura
descrição do conceito do objecto a ser mecanicamente memorizando pelos alunos”. Não se
ensinam saberes prontos, acabados, mas transformam-se aprendizados através de interacções
com a realidade, levando em consideração a influência de toda bagagem de saberes que o
alunado carrega. Diante disso, Freire (1999) busca uma reflexão sobre a compreensão do acto
de aprender, constatando que foi aprendendo que se entendeu que era possível ensinar. E que
o aluno não se defronta com saberes apenas na escola, no acto da docência, mas em toda sua
relação com o mundo que o cerca.
2.1 Contextualização
Na Idade antiga, não havia separação entre arte, ciência e religião e, em não raras vezes a
expressão artística buscava agradar aos deuses, fazendo aqui o paralelo com a religião e,
ainda, com a busca pelo ideal perfeito, conceito esse adoptado principalmente pelos gregos
que tentam retratar com o máximo de perfeição o deu ideal de beleza por meio das expressões
artísticas.
Dessa forma, é notável que a arte se tornou um produto do ser humano, do seu meio social e
ainda a essência da sua alma, qualificando-o e distinguindo-o dos outros animais.
Nesse sentido, o desenvolvimento artístico também pode ser estudado com base na concepção
da Etnomatemática, que surgiu na década de 1970, com a proposta do professor Ubiratan
D’Ambrósio de modificar as bases de ensino, versando sobre a necessidade de se enfatizar a
matemática produzida pelas diferentes culturas e civilizações, com o objectivo primordial de
aliar o conhecimento empírico ao academicísmo característicos das bases curriculares.
Essa nova conjuntura traz em sua essência o ideal de uma aprendizagem significativa do
aluno, de modo que esse seja capaz de atribuir sentidos e construir conceitos matemáticos.
Significa dizer que os alunos precisam ir além do plano das ideias é necessário relacionar os
conceitos matemáticos, interioriza-los e raciocinar com eles, aplicando-os no seu quotidiano.
O grande educador Paulo Freire defendeu a ideia de que, para ensinar, antes de tudo, é
necessário aprender. Aprender matemática é a sabedoria que o professor de matemática possui
incorporada e que lhe confere autoridade para ensinar. O professor de matemática,
definitivamente, não é o sábio em matemática, mas aquele que sabe aprender matemática e,
por isso, sabe como ensinar a outrem a aprender também (FREIRE, 1989).
Para ele, ao aprender matemática, o indivíduo produz o conhecimento matemático e, por isso,
conhece esse tipo de conhecimento, suas características, seus critérios de verdade e as formas
de sua produção (ibidem, 1989).
Portanto, ao professor de matemática, cabe uma reflexão constante sobre estas questões:
Quais são as características do conhecimento matemático? Como são produzidos os
conhecimentos matemáticos? Que disciplina a matemática exige para ser aprendida?
(GIARDINETTO, 1999).
possível e não esmorecer diante das mazelas do mundo profissional, ou outros motivos
(FREIRE, 1989).
A preocupação por este tema surge da crítica a situação do ensino de matemática hoje
existente. É um ponto consensual entre as pesquisas de Educação Matemática, o fato de que o
ensino de matemática tem sido desenvolvido de forma monótona, ou seja, o conteúdo que se
trabalha em sala de aula prioriza a memorização aleatória de resultados conceituais,
impedindo-os então de produzir ou criar novas fórmulas, uma vez que os resultados são pré-
determinados. Entre outras coisas, esse ensino não tem levado em consideração o
conhecimento matemático adquirido pelos indivíduos no decorrer de suas vidas.
Neste sentido, a defesa da necessidade de se considerar a experiência de vida dos alunos, parte
da constatação de que em muitas situações, o indivíduo já apresenta certo domínio de um
determinado conteúdo em suas actividades quotidianas. Reporta-nos Giardinetto (1999)
quando afirma:
A ideia de defesa de se considerar a experiência de vida dos alunos ganha maior ênfase ao
constatar o facto de que, ao mesmo tempo em que o aluno domina um determinado conteúdo,
esse mesmo aluno fracassa ao lidar com as formas mais sistematizadas desse mesmo conteúdo
no âmbito escolar.
desenvolver nas relações sociais de exploração, para garantir o mínimo da força de trabalho
necessária para concluí-la.
A Matemática tem uma função fundamental na nossa vida quanto à própria linguagem. Todo
ser humano em qualquer grau de escolarização emprega-a de uma maneira ou de outra.
Porém, a maioria deles sente dificuldade ou mesmo verdadeiro pavor a essa disciplina.
Quando trabalhamos com a matemática nas séries iniciais ela parece-nos fácil. À medida que
vamos avançando nas séries posteriores ela vai perdendo seu grau de facilidade, levando
muitas vezes o aluno ao desinteresse, deixando de produzir e de construir seu conhecimento e
passando apenas a reproduzir fórmulas.
Por isso procuramos tratar sobre o uso da Modelagem no ensino da matemática, pelo qual, a
noção de modelo se faz presente em todas as áreas e se constitui num conjunto de símbolos
que interagem entre si, representando alguma coisa, e essa representação pode se dar por meio
de um desenho ou imagem, um projecto, um esquema, um gráfico, uma lei matemática,
enfim, um modelo matemático não é um objecto, uma obra arquitectónica ou uma tecnologia,
mas sim um projecto, o esquema, a lei ou a representação que permite a produção ou a
reprodução ou execução dessa acção (GIARDINETTO, 1999).
Para D’Ambrósio (1998), o modelo seria o ponto de ligação entre as informações captadas
pelo indivíduo e sua acção sobre a realidade; situa-se no nível do indivíduo e é criado por ele
como um instrumento de auxílio à compreensão da realidade através da reflexão.
Sabemos que a Matemática tem uma linguagem própria e universal que deve ser
compreendida por todos. A maneira de medir o processo de construção desse conhecimento é
que pode ser diferente. Para isso, é fundamental considerar, já que o saber socialmente
produzido serve como ponto de partida e de chegada para o trabalho docente.
possível, prazerosa, desta forma acreditamos ser a Modelagem Matemática mais conveniente
e eficaz na construção do saber quotidiano, em especial a que melhor explicaria nosso tema
em questão – A Carpintaria.
Percebemos em sala de aula que quanto mais o aluno mergulhar na imaginação, mais estará
exercitando sua capacidade de concentrar a atenção, de descobrir, e de criar, possibilitando a
alegria de vencer obstáculos. Por sua vez, a função educativa da Modelagem Matemática por
ser um processo de diversificação, que quando empregado de forma coerente, é de extrema
valia, pois o que se espera do aluno é que ele construa estruturas mentais que o capacitem a
atingir outros estágios formais e abstractos, baseados na realidade que estes vivenciam.
A Matemática precisa ser ensinada como instrumento para interpretação do mundo em seus
diversos contextos, isto é, formar para a criticidade, para a indignação, para a cidadania e não
para a memorização, alienação e exclusão. Isso só vem confirmar o que diz Freire (1989, p.
37):
Sendo a matemática uma disciplina abrangente, tanto no contexto escolar como fora dele, faz-
se necessário criar situações novas que desafiem o aluno a se organizar para resolver
problemas. Por isso, é indispensável propor alternativas pedagógicas distintas baseadas na
oportunização de actividades concretas na tentativa de qualificar o ensino-aprendizagem.
Baseando-se nas ideias citadas acima, nos interessamos por Modelagem Matemática porque
através desta, poderemos contribuir para um aprendizado de matemática, mais significativo
aproximando o aluno da sua realidade, que neste contexto, tem na carpintaria, sua e dos seus
familiares a principal fonte de renda na região, levando-o a agir sobre essa realidade.
Acreditamos que, para atingir uma aprendizagem significativa, o aluno precisa se apropriar do
conhecimento matemático, nesse sentido os Modelos Matemáticos são, ao mesmo tempo,
estratégias e recursos que se expressam como uma forma clara de resgatar aspectos do
pensamento matemático, desenvolvendo o pensamento científico; baseiam-se no processo de
construção de conceitos, através de situações que estimulem a curiosidade matemática. Desse
23
modo, o aluno passa a não temer o desafio, mas a desejá-lo, aprimorando seu desempenho e
interesse pela disciplina.
Este tipo de estudo é desenvolvido com objectivo de proporcionar visão geral, de tipos
aproximativos a cerca de determinados factos. Este tipo de pesquisa não é imperiosa aos
procedimentos de amostragem e técnica quantitativa de colecta de dados.
25
Para o ambiente em que foram colectados os dados, bem como as formas de controlo das
variáveis envolvidas (procedimentos da pesquisa), a presente pesquisa foi um estudo de caso.
De acordo com YIN citado por GIL (2008:58) o estudo de caso “é um estudo empírico que
investiga um fenómeno actual dentro do seu contexto de realidade, quando as fronteiras entre
o fenómeno e o contexto não são claramente definidas e no qual são utilizadas várias fontes
de evidência”.
De acordo com GIL (2008:10) o método indutivo “é um método que parte do particular e
coloca a generalização como um produto posterior do trabalho de colecta de dados
particulares”, e “a generalização não deve ser buscada aprioristicamente, mas constatada a
partir da observação de casos concretos suficientemente confirmados dessa realidade”.
Tendo em vista aos procedimentos metódicos do tratamento dos dados ou colecta dos dados
(métodos que indicam os meios técnicos da investigação), destacou-se o método
observacional.
Esta técnica facilitou o rápido acesso aos dados sobre a problemática em pesquisa
possibilitando o acesso a informações que os alunos consideravam de domínio particular e
26
A pesquisa teve como outra técnica o teste; que é “um instrumento utilizado com a finalidade
de obter dados que permitam medir o rendimento, a frequência, a capacidade ou a conduta de
indivíduos, de forma quantitativa” (LAKATOS & MARCONI, 1992, p. 107).
Após a identificação dos instrumentos usados pelos carpinteiros no seu trabalho diário, a
partir da observação e entrevista, procedeu-se com a aplicação destes instrumentos no cálculo
dos exercícios envolvendo o Teorema de Pitágoras e, efectuaram-se testes experimentais em
forma de questionário para avaliar o nível de domínio, motivação e consolidação dos
conteúdos matemáticos modelados.
De seguida os dados foram tabelados e graficados para posterior análise e interpretação para
fornecer respostas da viabilidade desta proposta para o ensino do Teorema de Pitágoras.
Deste modo, trabalhou-se com uma amostra de 20 alunos divididos em duas turmas e um
conjunto de 10 carpinteiros que trabalham a tempo inteiro neste ramo. A escolha destes alunos
e carpinteiros foi numa forma aleatória para permitir que fossem abrangidos o maior número
de características duma forma probabilística.
27
Os dados ora apresentados, foram levantados com base nas entrevistas efectuadas aos
carpinteiros por parte dos alunos, partindo de uma observação da vida real, em particular, no
ramo da carpintaria. Foram realizadas visitas a duas carpintarias, no número de quatro visitas;
sendo duas para cada.
As primeiras duas visitas tinham como objectivo, formalizar o pedido de realização das
práticas pedagógicas a esses estabelecimentos e especificar os objectivos da actividade. Esta
etapa, apenas foi realizada pelo professor (autor).
Actualmente, na cidade de Nacala Porto, existem muitas carpintarias espalhadas nos diversos
bairros da cidade municipal. Dentre essas, apenas duas carpintarias foram escolhidas para a
realização do presente projecto pedagógico.
De salientar que não se registou descontentamento por parte dos proprietários das carpintarias
uma vez que o professor era residente e bem conhecido por eles e por outro lado se sentiram
felizes por saber que estavam sendo envolvidos num projecto pedagógico.
A entrevista foi dirigida pelos alunos que a medida que seguiam o guião da entrevista
adicionavam outros questionamentos com base na evolução das respostas dadas pelos
profissionais da carpintaria e aos aspectos também por eles observados.
28
A primeira e segunda questão da entrevista tinha como objectivo saber o tempo de profissão
dos entrevistados e como chegaram a aprender o ofício de carpinteiro.
Observou-se que a maior parte destes carpinteiros se dedicaram muito cedo à profissão, tendo
como pressuposto, a luta pela sobrevivência das suas famílias, uma vez que viram neste
ofício, o seu meio de trabalho e ganhar dinheiro. E tal facto foi influenciado, por um lado,
pela forma como estes chegaram a exercer a actividade de carpinteiro. Grande parte destes,
aprenderam com parentes, pais ou tios que vinham desenvolvendo estas actividades nas suas
casas ou residências.
29
6
5
5
4
3 [1 - 5 anos]
3
[6 - 10 anos]
2
2 [11 - mais anos[
0
Carpinteiro
Fonte: O autor.
8
7
7
5 Com os pais
4 Com um outro
membro familiar
3 Um outro carpin-
teiro não familiar
2
2
1
1
0
Carpinteiro
Fonte: O autor.
Verificou-se que a maior parte dos entrevistados não tinham frequentado algum curso
profissional mas, estavam a frequentar o ensino secundário, esperançosos de um dia poderem
frequentar um curso profissionalizante, mesmo que este não estivesse relacionado com a
carpintaria.
Este ofício o praticam como mera paixão e olham-no como fonte de renda para os seus
estudos e sustento familiar enquanto procuravam por um trabalho oficial.
7
6
6
5 Não estudou e
não estuda
4 A frequentar a
escola
3 Concluiu o ensino
geral
2 Frequentou um
2 curso de carpin-
1 1 taria
1
0
Carpinteiro
Fonte: O autor.
A questão três tinha como objectivo saber se estes verificavam a presença da matemática no
seu trabalho e se este era importante.
De acordo com as respostas obtidas foi interessante verificar que apesar dos entrevistados
terem pouca ou nenhuma convivência com a matemática sistematizada, que é ensinada no
âmbito escolar, todos afirmaram reconhecer a importância da matemática no desenvolvimento
do seu trabalho quotidiano, e todos fazem uso das operações básicas, ainda que os mesmos
afirmem que em parte das suas actividades quotidianas, eles não utilizam a matemática pura,
na mesma proporção que usam a matemática das tradições dos seus antepassados. Ao mesmo
tempo observa-se segundo a fala de alguns que reconhecem a necessidade de uma
proximidade maior entre a matemática oficial e a popular para o melhor aproveitamento do
que é ensinado na sala de aula com o que eles fazem no seu dia-a-dia.
Fazem uso da matemática na medida em que utilizam as réguas para medir e alinhar a
madeira usada para a criação dos mobiliários;
(acrescentar mais dizeres por parte dos carpinteiros)
Por fim, pediu-se que os entrevistados mostrassem os instrumentos que possuíam na sua
carpintaria que eram úteis para o seu ofício e indicassem os que eram indispensáveis em
qualquer que fosse o trabalho a fazer1.
No retorno à sala de aula e a partir dos registos efectuados pelos alunos durante a visita às
carpintarias, foi proposto um debate, diálogo, sobre as experiências vivenciadas por eles, e
também, a exposição dos registos realizados, com a finalidade de fazer com que os alunos
expressassem os conhecimentos adquiridos e informassem qual matemática puderam perceber
na prática dos carpinteiros, o que eles já sabiam e o que ainda não estudaram ou não se
lembram; se a forma como os carpinteiros se referem à matemática é a mesma ensinada na
escola.
Os carpinteiros usam para a construção dos seus diversos objectos (mobília) suas formas de
compreender a natureza e os saberes adquiridos ao longo do tempo, os quais, são transmitidos
de geração em geração. Tais conhecimentos podem ser classificados como tradicionais e
científicos.
1
Vide nos apêndices II as fotos referentes aos instrumentos utilizados nas carpintarias visitadas.
32
São diversas as ferramentas usadas pelos carpinteiros, das quais com maior referência as
seguintes: o esquadro, o prumo, o nível, trena, e a mente do carpinteiro (uma das peças
fundamentais para a execução do trabalho).
Esquadro é um instrumento que traça linhas rectas e com ângulos específicos para cada tipo
de esquadro. Com ele pode-se verificar se uma peça está no “esquadro” (dito de carpinteiro e
outras profissões para indicar quando a peça está formando um ângulo de 90° ou com o
ângulo necessário).
Nesta actividade utilizou-se o esquadro, formato ‘L’, que é usado comummente pelo
carpinteiro (versão mais pequena) ou pelo pedreiro (versão mais grande), de fácil aquisição
para o professor e para os alunos, a partir de qualquer ferragem da região (figura 2 e 3).
Para se ensinar o Teorema de Pitágoras utilizando o esquadro de carpinteiro foi necessário ter
em mãos o esquadro, um palitinho fino e comprido e uma régua2. Observando-se que no
esquadro já tem uma parte enumerada em centímetros, colocou-se a régua ou fita métrica na
outra parte conforme a figura 4. O palito foi nossa hipotenusa.
2
No lugar da régua, usamos a fita métrica comummentemente usada pelos carpinteiros.
33
Com base no exercício efectuado em sala de aula, poder-se-á perceber melhor como se
ensinou o Teorema de Pitágoras a partir dessa proposta didáctica:
x
2 cm
3 cm
Para fazer a resolução do exercício, com o esquadro em mãos colocou-se o palito nas duas
entradas dos catetos, ou seja, uma ponta na régua onde está o número 3, e a outra ponta onde
está o número 2. Assim formou-se um triângulo rectângulo, e pôde-se seguir com a resolução
do exercício aplicando o Teorema de Pitágoras (figura 5).
Em seguida cortou-se o palito onde acabava a hipotenusa, e com o auxílio da régua mediu-se
o palito da ponta até a parte cortada. Daí ficou demonstrado utilizando um material concreto à
resolução do nosso exercício, onde a hipotenusa foi de 3,61 cm (figura 6).
Para provar que este método de ensino era eficaz e correcto, apresentamos na figura 6 a
questão utilizando como se aprende nos bancos escolares com o método tradicional usado nas
escolas de ensino básico (figura 7).
Este modo também pode ser utilizado para saber quanto vale o cateto: com as mesmas
ferramentas do exercício anterior, sabendo agora o valor da hipotenusa e de um cateto, porém
com o tamanho da hipotenusa procurou-se o cateto com base no toque dela na régua, assim
quando a ponta da hipotenusa tocou na régua fez um comprimento, e esse foi nosso cateto
procurado.
Durante a entrevista realizada, foi-nos possível verificar que os carpinteiros não somente
reconhecem que existe matemática no seu ofício, em especial geometria, presente nas
mobílias que constroem, como, também, souberam revelar onde e de que forma elas aparecem
em meio aos rabiscos de medidas, cortes nas madeiras, através do cálculo da quantidade de
material necessário para construir do objecto.
padronização quase universal, não perde seu conceito pela sociedade quanto sua importância
para o próprio desenvolvimento como um todo. Todavia, isso não quer dizer que várias
formas de desenvolver e aplicar esses conhecimentos padronizados deve ser seguido sem
nenhum questionamento, pois, ao mesmo tempo em que o sistema de ensino é formalizado
entre as diversas civilizações, aborta-se outros saberes que só enriqueceriam o já conceituado
campo da ciência matemática, conduzindo a humanidade a uma melhor e mais justa dignidade
cultural.
Conforme Fonseca (2002) todos esses factores conferem “ao ensino de matemática que se
pretende processar um carácter de sistematização, de reelaboração e/ou alargamento de alguns
conceitos, de desenvolvimento de algumas habilidades” (FONSECA, 2002, p. 51).
Segundo a autora é necessário que se estabeleçam novas tendências de ensino ou técnicas que
possibilite relacionar ou redefinir conceitos permitindo ampliar assim os saberes matemáticos,
unindo o conhecimento sistematizado ou não sistematizado alcançando assim uma
aprendizagem significativa mais relevante constituindo-se, portanto numa matemática mais
interessante para o aprendiz.
36
6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BERLINGHOFF, W. P., & GOUVÊA, F. (2008). A matemática através dos tempos: um guia
fácil e prático para professores e entusiastas. São Paulo: Edgard Blucher.
CERVO, A. L., & BERVIAN, P. A. (2002). Metodologia científica. São Paulo: Atlas.
LAKATOS, E. M., & MARCONI, M. d. (1992). Metodologia do trabalho científico (4a ed.).
São Paulo: Atlas S.A.
SMOLE, K. S., DINIZ, M., & CÂNDIDO, P. (2007). Cadernos do Mathema: jogos de
matemática de primeiro e quinto ano. Porto Alegre: Artmed.
38
APÊNDICES