História - Volume 1

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ENSINO MÉDIO

PRÉ-VESTIBULAR

HIS
HISTÓRIA

1
COLEÇÃO PV
Copyright © Editora Poliedro, 2022.
Todos os direitos de edição reservados à Editora Poliedro.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal, Lei 9.610
de 19 de fevereiro de 1998.
ISBN 978-65-5613-318-8

Presidente: Nicolau Arbex Sarkis


Autoria: Daniel Gomes de Carvalho e Rafael Santesso
Verdasca
Edição de conteúdo: Juliana Grassmann dos Santos,
Beatriz de Almeida Francisco, Camila Caldas Petroni, Caroline
Bárbara Ferreira Castelo Branco Reis, João Victor Ferraz
Santos (ass.) e Nathalie Furtado Dias Pimentel
Edição de arte: Bruna H. Fava, Christine Getschko,
Lourenzo Acunzo, Marina Ferreira e Nathalia Laia
Design: Adilson Casarotti
Licenciamento e multimídia: Leticia Palaria de Castro
Rocha, Danielle Navarro Fernandes, Fernanda Bitencourt
e Jessica Clifton Riley
Revisão: Rosangela Carmo Muricy, Bianca da Silva Rocha,
Bruno Freitas, Eliana Marilia G. Cesar, Ingrid Lourenço,
Leticia Borges, Sara Santos e Thiago Marques
Impressão e acabamento: PierPrint

Crédito de capa: Neale Cousland/Shutterstock.com

A Editora Poliedro pesquisou junto às fontes apropriadas a existência de eventuais


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à disposição para avaliação e consequentes correção e inserção nas futuras edições,
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Poliedro Sistema de Ensino


T. 12 3924 -1616
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Sumário
Frente 1
1 A formação dos impérios ibéricos .......................................................................5
A formação dos reinos de Portugal e Espanha, 6
A transição para a Idade Moderna, 11
Revisando, 14
Exercícios propostos, 16
Texto complementar, 20
Resumindo, 21
Quer saber mais?, 21
Exercícios complementares, 21
BNCC em foco, 28

2 A formação das estruturas coloniais............................................................... 29


Pioneirismo de Portugal e da Espanha na
expansão marítima, 30
Povos indígenas da América, 32
Período pré-colonial (1500-1530), 37
A montagem do sistema colonial, 38
Colonização da América espanhola, 39
Instalação da empresa açucareira na América portuguesa, 42
Escravidão, 44
Brasil e África, 44
Sociedade colonial nos séculos XVI e XVII, 46
Administração na América portuguesa, 46
Formação da União Ibérica, 48
Revisando, 52
Exercícios propostos, 54
Texto complementar, 68
Resumindo, 69
Quer saber mais?, 69
Exercícios complementares, 69
BNCC em foco, 83
3 Da crise do açúcar ao apogeu do sistema colonial no Brasil ..................... 85
A Restauração, 86
A expansão colonial, 88
Mineração, 90
Revisando, 95
Exercícios propostos, 97
Texto complementar, 102
Resumindo, 102
Quer saber mais?, 103
Exercícios complementares, 103
BNCC em foco, 108

Frente 2
1 História e Pré-história .......................................................................................109
História: e nós com isso?, 110
A Pré-história e as origens humanas, 113
Revisando, 117
Exercícios propostos, 120
Texto complementar, 124
Resumindo, 124
Quer saber mais?, 125
Exercícios complementares, 125
BNCC em foco, 128

2 Os povos do Oriente Médio e do norte da África na Antiguidade .......... 129


Onde viviam esses povos?, 130
Organização política, 132
Economia e sociedade, 135
A religião, 138
Antiguidade Oriental?, 141
Revisando, 142
Exercícios propostos, 143
Textos complementares, 146
Resumindo, 146
Quer saber mais?, 146
Exercícios complementares, 147
BNCC em foco, 148

3 A Antiguidade Clássica ...................................................................................... 149


Grécia Antiga, 150
Roma Antiga, 160
Revisando, 170
Exercícios propostos, 172
Texto complementar, 179
Resumindo, 180
Quer saber mais?, 181
Exercícios complementares, 181
BNCC em foco, 188

4 Outras Idades Médias ........................................................................................ 189


Origem do termo “Idade Média”, 190
A Idade Média e o islã, 191
O Império Bizantino, 196
Revisando, 200
Exercícios propostos, 202
Texto complementar, 204
Resumindo, 205
Quer saber mais?, 205
Exercícios complementares, 205
BNCC em foco, 208

5 A Idade Média na Europa ocidental


e o início da primeira modernidade .................................................................. 209
Os reinos germânicos e a formação do feudalismo (séculos V-IX), 210
O apogeu do feudalismo (séculos IX-XI), 215
A expansão do mundo feudal (séculos XI-XIII), 220
A crise do feudalismo (séculos XIV-XV), 224
A Idade Moderna (1453-1789), 226
Revisando, 231
Exercícios propostos, 233
Texto complementar, 242
Resumindo, 242
Quer saber mais?, 243
Exercícios complementares, 243
BNCC em foco, 251

Gabarito ...................................................................................................................... 253


Francisco Pradilla y Ortiz/Senado da Espanha
FRENTE 1

CAPÍTULO A formação dos impérios ibéricos

1
Na década de 1990, o historiador indiano Sanjay Subrahmanyam propôs o que conhe-
cemos por “História Conectada”, que estabelece conexões entre diversas partes do
mundo sem reduzi-las a “dominantes” e “subordinadas” e sem promover uma compa-
ração direta, mas buscando semelhanças e diferenças entre elas. Nessa abordagem,
deve-se partir do micro ao macro, das partes ao todo e vice-versa. A compreensão
da história do Brasil, por exemplo, passa pela compreensão da história do Império
Português, bem como por um aprofundamento em relação à história do continente
africano e da própria América. Neste capítulo, conheceremos o processo de formação
dos impérios ibéricos, desde a constituição dos reinos de Portugal e Espanha até a
expansão marítima.
A formação dos reinos de Portugal e Espanha
Reconquista?
É comum a utilização do termo “Guerra de Reconquista” para designar o fenômeno que resultou na formação dos
reinos de Portugal e Espanha. No entanto, a ideia de “reconquistar” não se refere a algo que fora previamente conquis-
tado? Como podemos utilizar o termo “reconquista”, nesse contexto, se Portugal e Espanha sequer existiam no momento
em que a guerra aconteceu?
Além disso, é comum que a expressão venha acompanhada de um caráter religioso. Fala-se em uma “Guerra de Re-
conquista Cristã”. Como a península Ibérica estava ocupada por populações islâmicas desde o século VIII, a “Guerra de
Reconquista” seria, por essa perspectiva, uma retomada da cristandade sobre a região. Porém, qual é a legitimidade que os
cristãos possuíam sobre aquelas terras? Foram os cristãos os primeiros a ocuparem a península Ibérica?
Para que possamos compreender melhor o panorama que envolveu o confronto entre cristãos e islâmicos na península
Ibérica, devemos antes conhecer a história da ocupação humana nesse território.

Ocupação da península Ibérica


Dos povos autóctones ao domínio romano
Ainda que haja evidências arqueológicas da presença, há cerca de 500 mil anos, de neandertais e de homo sapiens
sapiens na península Ibérica, os agrupamentos sociais da Idade do Ferro é que são considerados autóctones, ou
seja, nativos da região. Entre esses povos, podemos destacar os iberos, que serão resgatados para a denominação
da península; os lusos, posteriormente utilizados na construção da identidade portuguesa; e os celtas, que também
se fizeram presentes em outras regiões europeias.
Entre os séculos XII a.C. e III a.C., fenícios e gregos tiveram contato com esses povos nativos e até mesmo fundaram
colônias na região. Além das trocas culturais, a presença dos fenícios foi fundamental para o envolvimento dos iberos
nas Guerras Púnicas (264 a.C.-146 a.C.), entre romanos e cartagineses. O conflito entre a República Romana e Cartago,
colônia fenícia no norte do continente africano, fez com que os iberos fossem recrutados para lutar ao lado dos fenícios.
Com isso, Roma, vitoriosa no conflito, acabou por invadir e dominar a península Ibérica.

Povos autóctones da península Ibérica – c. 300 a.C.

OCEANO
ATLÂNTICO
Meridiano de Greenwich

Fonte: LE ROUX, Patrick. La Péninsule Ibérique aux époques Romaines (fin du IIIe S. av. n.è. - début du VIe s. de n.è. Paris:
Armand Colin, , p. 3. (Adapt.)
O mapa apresenta a pluralidade de grupos linguísticos que habitavam a Península Ibérica por volta de 3 a.C.
A diversidade de idiomas é um indicativo da heterogeneidade de etnias presentes entre os povos autóctones.
Também é possível identificar as primeiras colônias estabelecidas pelos fenícios (cartagineses) e pelos gregos.

6 HISTÓRIA Capítulo  A formação dos impérios ibéricos


O domínio romano, que perdurou do século III a.C. ao século V d.C., promoveu, nas localidades em que se fez mais
intenso, uma série de influências sobre os povos autóctones, além da cultural e linguística. Estradas, aquedutos e termas
transformaram a região, já previamente urbanizada. Outro legado importante da presença romana na península Ibérica foi
a consolidação, ao longo dos séculos, da religião cristã.
Outras áreas da península, mais distantes do domínio romano, conseguiram manter características próprias, como
suas línguas nativas – no caso da região montanhosa de Cântabro, por exemplo, foi preservada a língua basca. Toda essa
narrativa, envolta em uma ampla heterogeneidade de povos e culturas que circunda a ocupação humana na península
Ibérica, é um dos fatores que colaboram para a compreensão da diversidade cultural presente, ainda hoje, na região.

A crise do Império Romano e os povos “bárbaros”


Explicar a decadência de um império vasto e complexo como o romano exige uma compreensão ampla de diversos
fatores que, juntos, contribuíram para esse processo. Aqui, vamos nos concentrar apenas em alguns deles.
Com o fim da expansão territorial, ainda no apogeu do império, o consequente fim das guerras contra os inimigos
externos contribuiu para a escassez de mão de obra escravizada. Cada vez mais dependente desse sistema exploratório
de trabalho, Roma assistiu ao colapso do modo de produção escravista e às consequências para a economia. Disputas
internas pelo poder político e a expansão do cristianismo em Roma, que enfraqueceu a figura do imperador, foram também
fatores importantes para o agravamento da crise do Império Romano e a consequente perda de seus domínios.
Em meio a uma crise política, econômica e social, os povos que viviam fora dos territórios imperiais, chamados pelos
romanos de “bárbaros” (alanos, odos, visigodos, suevos, ostrogodos, vândalos, saxões, hunos, germanos, francos etc.),
iniciaram um processo migratório em direção aos domínios de Roma. É importante frisar que a aproximação desses povos
não pode ser reduzida a invasões territoriais. Além de incursões militares, muitos desses povos passaram a conviver de
maneira harmoniosa com povos de áreas mais distantes de Roma; outros, por sua vez, estabeleceram alianças militares
com o próprio Império Romano.
Com o decorrer da crise e da queda de Roma, os visigodos se apossaram da maior parte da península Ibérica até o século
VII. Nesse período, prevaleceram no território traços que marcaram o medievo ocidental, como uma expressiva religiosidade
católica, o desenvolvimento de uma nobreza ligada à terra e à guerra e um clero enriquecido e politicamente influente.

Os reinos “bárbaros” no Ocidente europeu – século V

OCEANO
ATLÂNTICO
M
ar

sp

40º
io

N
Mar Negro
h
reenwic

Mar Mediterrâneo
no de G
Meridia

FRENTE 1

Fonte:MCEVEDY, Colin. Atlas da história medieval. São Paulo: Verbo, 999. p. 9. .
Com a queda do Império Romano do Ocidente, em 476, inúmeros reinos bárbaros foram formados no antigo território de Roma. Na península Ibérica, dois
reinos se formaram: o Reino dos Suevos e o Reino dos Visigodos.

7
A península Ibérica e o islã Após a morte de Muhammad, o islamismo manteve a
Até aqui, vimos que a ocupação da península Ibérica pas- sua expansão e conquistou a Síria, a região da Mesopotâ-
sou por lusos, iberos, gregos, fenícios, romanos (pagãos e mia, a Palestina, a Pérsia, parte da Índia, a costa oriental e
cristãos), vândalos, suevos e visigodos. No entanto, a narrativa o norte do continente africano (conforme será tratado no
da formação de P ugal e Espanha tem início com a ocupação próximo capítulo) e a península Ibérica.
islâmica da região. Para entendermos como esse processo
Ocupação islâmica da península Ibérica
se consolidou, devemos antes conhecer um pouco sobre a
origem do islamismo. Em 711, durante o período do califado omíada, a ex-
pansão islâmica chegou ao Ocidente europeu. A derrota
A expansão islâmica dos visigodos para os árabes na Batalha de Guadalete deu
No século VII, na península Arábica, Muhammad (571- início à formação de uma série de reinos muçulmanos na
-62) fundou uma nova religião monoteísta: o islamismo. península Ibérica, entre eles os reinos de Valência, Granada
Tornando-se o seu representante máximo, o fundador, já e Al-Andalus.
consagrado como profeta, unificou política e religiosamente A existência de reinos na região perdurou até o
a península Arábica e iniciou um intenso processo de ex- século XV. Durante esse período, judeus, cristãos e muçul-
pansão religiosa na região. manos conviveram sob a garantia de tolerância religiosa nas
áreas dos reinos islâmicos. Apesar de terem de pagar mais
tributos e não poderem construir casas mais altas que as dos
Biblioteca Nacional da França

muçulmanos, judeus e cristãos (estes também conhecidos


como moçárabes) não eram perseguidos. Deviam, porém,
usar distintivos de identificação e promover seus respectivos
rituais religiosos em silêncio.
A presença árabe na península Ibérica contribuiu para
um profundo desenvolvimento técnico-científico na região. A
agricultura conheceu o cultivo de algodão e laranja; as cate-
drais – muitas vezes utilizadas tanto por muçulmanos como
por judeus e católicos – receberam influência da arquitetura
árabe, o que pode ser observado na constituição dos arcos,
por exemplo; e avanços na Matemática auxiliaram nas técnicas
de navegação, essenciais à expansão marítima do século XV.

Muhammad proibindo a intercalação. Cópia otomana do século XVII de um


manuscrito do início do século XIV. Muhammad é o nome original de Maomé
na língua árabe. O nome aportuguesado é considerado ofensivo por alguns
muçulmanos.

A expansão do califado omíada – século VIII

Cristanidade ocidental
OCEANO
ATLÂNTICO Cristanidade oriental

Islã

Papado
Patriarcado
ecumênico

ºN
40
M
ar
C
ás
pi
o

Mar Negro

Roma Constantinopla
No século VIII, o califado
omíada havia adquirido
h

um território considerável.
reenwic

As regiões ao redor do
Mar Mediterrâneo
Mediterrâneo foram
no de G

divididas entre muçulmanos


e cristãos. O cristianismo,
Meridia

nesse momento, possuía


dois centros: um em Roma,
no Ocidente, e outro em
Constantinopla, no Oriente. 0º

Fonte: MCEVEDY, Colin. Atlas da história medieval. São Paulo: Verbo, 999. p. . (Adapt.).

8 HISTÓRIA Capítulo  A formação dos impérios ibéricos


A Guerra de Reconquista Cristã Os reinos ibéricos
O início do conflito A formação de Portugal
Retomando os questionamentos do início do capítulo, Em 106, Henrique de Borgonha recebeu o senho-
podemos dizer que não é possível atribuir a algum agru- rio de terras do Condado Portucalense como doação de
pamento a legitimidade sobre a península Ibérica. Daí a Afonso VI, rei de Leão. Ainda que com diferenças em rela-
importância do saber histórico como forma de questionar ção às estruturas feudais clássicas (presentes no território
discursos e o modo como as narrativas são contadas. que hoje corresponde à França, por exemplo), D. Henrique,
Os cristãos, herdeiros do reino visigodo, ao vencerem
natural de Dijon, região que faz parte da atual França, tinha
a Batalha de Covadonga, em 722, mantiveram-se na região
o dever hereditário de proteger as terras, podendo usufruir
das Astúrias e, posteriormente, na Galícia. Na perspectiva
dos tributos recolhidos na região.
cristã da expulsão dos muçulmanos da península Ibérica,
foi a resistência no norte do território que iniciou a chamada O herdeiro de D. Henrique, Afonso Henriques, após
Reconquista. ter vencido os mouros na Batalha de Ourique (11), con-
Assim, “Guerra de Reconquista” é o termo utilizado para seguiu ampliar seu poder político no condado, onde já
designar o período que, ao longo de quase oito séculos, era aclamado como rei. Após Afonso Henriques ampliar
envolveu, em um empreendimento de caráter político, a autonomia do Condado Portucalense, o reino de Leão o
religioso e militar, a luta da cristandade pelo domínio da reconheceu como Afonso I, rei de Portugal (ainda que me-
península Ibérica. A Reconquista tem como marco inicial a diante um juramento de lealdade a Leão). Em 117, com a
vitória na já citada Batalha de Covadonga e, como marco bula papal Manifestis Probatum, o reino lusitano consumou
final, a tomada de Granada, em 142. sua emancipação.
Ao longo desse processo, diversos territórios cristãos A dinastia de Borgonha governou Portugal até 18.
foram formados (alguns inicialmente como senhorios e, Nesse período, deu início ao processo de centralização
posteriormente, consolidados como reinos): Leão, Navarra, política do poder, por meio de uma profunda organização
Portugal, Aragão, Castela, Córdoba e Granada. militar. O exército nacional foi formado e reforçado com a
libertação dos servos na região.

A Revolução de Avis
Em 18, a morte do rei D. Fernando, “o Formoso”,
levou ao fim a dinastia de Borgonha e, consequentemente,
deu início a uma crise sucessória em Portugal. Sem que
houvesse um herdeiro legítimo ao trono português, o rei
de Castela, D. João I (casado com D. Beatriz, filha de D. Fer-
nando), reclamou para si a coroa de Portugal, assim como
a unificação dos reinos.
Em Portugal, descontentes com a possibilidade da ane-
xação por Castela, a baixa nobreza e a camada mercantil
Meridiano de Greenwich

passaram a apoiar a coroação de D. João, Mestre de Avis


OCEANO (irmão bastardo de D. Fernando).
ATLÂNTICO
A chamada Revolução de Avis (18-185) acarretou a
vitória de Portugal contra a família real de Castela, levando
Fonte: ATLAS da história do mundo. São Paulo: Folha de S. Paulo, 99,
D. João de Avis ao trono. A Revolução de Avis favoreceu a
p. . (Adapt.) centralização política do poder em Portugal, que organizou,
As conquistas cristãs sobre a Península Ibérica ao longo da Guerra de nesse momento, uma burocracia capaz de controlar o re-
Reconquista foram feitas gradualmente, entre os séculos VIII e XV.
colhimento de tributos e os incentivos para tornar possível
a expansão marítima.
Apesar de iniciados no século VIII, foi entre os séculos A dinastia de Borgonha, entre os séculos XII e XIV, já
XI e XIII, sob a influência do movimento cruzadista – e os havia promovido intensas transformações políticas, econô-
sucessivos fracassos na tentativa de tomar Jerusalém –, micas e sociais em Portugal. Com a Revolução de Avis e
que se intensificaram os embates contra os muçulmanos. a burocratização proveniente da consolidação política do
A identidade ibérica, construída ao longo de guerras, foi poder, as mudanças se fortaleceram. É importante notar que
fortemente marcada pela religiosidade católica. Figuras parte dessas mudanças, como a formação das monarquias
como El Cid (104-10), responsável pela conquista de absolutistas (o termo será discutido mais profundamente na
Valência, e o bíblico Santiago Mata-Mouros, que, segundo frente 2 do livro 2), só acontecerá no restante da Europa
FRENTE 1

a lenda, apareceu em diversas ocasiões para ajudar os ao longo da Idade Moderna, ou seja, Portugal realizou tais
cristãos contra os muçulmanos, tornaram-se personagens processos de maneira precoce em relação às demais mo-
heroicos no Império Espanhol. narquias do continente.

9
Atenção Reinos ibéricos antes da unicação espanhola

Meridiano de Greenwich
Reinos ibéricos
cristãos
Domínio islâmico
OCEANO Conquista de
ATLÂNTICO Granada após
o fim da Guerra
de Granada
(1482 a 1492)

Fonte: ALBUQUERQUE, Manoel M. de; REIS, Arthur Cézar F; CARVALHO, Car-


los Delgado de. Atlas histórico escolar. Rio de Janeiro: FENAME, 99. (Adapt.)
Granada foi o último local de resistência islâmica na península Ibérica. Em
483, cerca de uma década antes da conquista de Granada, a península
Ibérica era constituída pelo Reino de Portugal (que já havia passado pela
A formação da Espanha Revolução de Avis), o Reino de Castela (que havia dominado Leão), o
Reino de Navarra (pertencente ao reino francês) e o Reino de Aragão (que
Ao final do século XV, com a tomada de Granada, a se estendia até a Sicília).
“Reconquista” cristã havia chegado ao fim. Na península
Ibérica, após uma série de disputas internas, havia quatro Saiba mais
reinos: Portugal, Navarra, Castela e Aragão.
Em 146, o casamento dos “reis católicos”, Fernando
de Aragão (1452-1516) e Isabel de Castela (1451-1504),
unificou os reinos sob a égide do cristianismo.
É importante ressaltar que a unificação da Espanha
não a transformou em um reino tal qual conhecemos.
A Espanha foi, até meados do século XIX, uma confede-
ração de reinos chefiados por um único rei. Os reinos
gozavam de autonomia variada, mas tinham de subme-
ter-se ao poder central. O historiador John Elliott chama
essa estrutura de “monarquia compósita”.
Por isso, ainda assim, podemos dizer que tanto na
Espanha como em Portugal houve uma centralização pre-
coce do poder político, em comparação com o restante
Ocidente europeu.
Collection Avila Madrigal de las Altas Torres/Convento de las Augustinas, Chile

Retrato de casamento
do rei Fernando de
Aragão e da rainha
Isabel de Castela.
Século XV. Óleo sobre
tela. Convento das
Augustinas, Chile.
A união de Fernando
de Aragão e Isabel
de Castela, os "reis
católicos", foi decisivo
para a formação
da Espanha.

10 HISTÓRIA Capítulo  A formação dos impérios ibéricos


Saiba mais econômico pautado na produção de excedentes e, con-
sequentemente, na ampliação das relações comerciais;
inovações técnicas e tecnológicas ampliarem a produ-
ção agrícola; a retomada da importância dos espaços
urbanos; o enfraquecimento dos senhores feudais e o
fortalecimento da centralização política do poder; entre
outras transformações sociais.

Expansão e crise do mundo feudal


Durante o século IX, o Tratado de Verdun, que dividiu
o vasto império de Carlos Magno entre seus três descen-
dentes, e uma nova leva de invasões “bárbaras” (agora,
de povos mais ao norte da Europa, como os vikings)
foram essenciais para a fragmentação política e para o
fortalecimento dos senhores feudais em parte do ociden-
te da Europa. Os senhorios representavam espaços que
garantiam a proteção militar e espiritual daqueles que se
submetiam a um nobre, o senhor feudal.
No apogeu do mundo feudal, próprio da Europa oci-
dental, prevaleceu a economia de subsistência (ainda que
o comércio tenha permanecido em pequena escala), a so-
ciedade estamental e a descentralização do poder político.
Porém, três séculos mais tarde, as invasões cessaram
e, gradualmente, ocorreu uma acomodação populacional e
territorial na Europa. O período, sem grandes epidemias
e sem grandes conflitos, favoreceu tanto o crescimen-
to demográfico quanto uma maior segurança nas rotas
comerciais.
Assim, o início da Baixa Idade Média foi marcado
pelo crescimento populacional e o aumento da produ-
ção agrícola (beneficiada por novas técnicas, como a
rotação trienal de terras, e por novas tecnologias, como
a charrua e o moinho hidráulico). A produção de exce-
A transição para a Idade Moderna dentes, somada ao novo contexto, favoreceu o chamado
renascimento urbano-comercial, e o crescimento do co-
Do micro ao macro mércio resultou na formação das cidades medievais.
Seguindo o que foi proposto no início deste capítulo, Paralelamente a esse processo, as Cruzadas (séculos
vamos transitar entre as partes e o todo, entre o micro e o XI-XIII) contribuíram não somente para a expansão do
macro. Agora que conhecemos as especificidades da for- feudo às cidades, mas também do Ocidente em dire-
mação dos reinos de Portugal e Espanha, vamos considerar ção ao Oriente. Iniciadas com um caráter estritamente
esse período de uma perspectiva mais ampla. religioso, conforme o renascimento urbano-comercial
Sairemos do micro a fim de compreender, de maneira se consolidava, as Cruzadas, principalmente a partir da
mais abrangente, as transformações que aconteceram no quarta incursão (financiada pelos comerciantes de Ve-
Ocidente europeu durante a passagem da Idade Média neza), passaram a representar os crescentes interesses
para a Idade Moderna e de que forma elas se relacionam comerciais do Ocidente europeu.
com a expansão marítima. Durante os séculos XIV e XV, em um feudalismo
transformado pela expansão, a crise se torna mais
A Baixa Idade Média evidente. Em um período marcado pela fome, por
doenças (como a peste negra) e revoltas de campone-
Toda crise é ruim?
ses, os senhores feudais não conseguiam mais garantir
Convencionou-se designar Baixa Idade Média o pe- a proteção da população campesina e, portanto, foram
ríodo que vai do século XI ao século XV. A crise ou o perdendo a importância que haviam conquistado. Com
declínio desse período representa uma transformação a necessidade de conter a crise, o enfraquecimento
nos principais aspectos que caracterizaram o apogeu dos senhores feudais e as novas demandas, entre elas
do feudalismo – é importante destacar que falar em o gerenciamento de uma moeda única no reino, capaz
FRENTE 1

crise da Idade Média não implica, necessariamente, de facilitar as relações comerciais, os reis recuperaram
um caráter pejorativo ao fenômeno. Assim, veremos sua importância, em um processo de centralização do
a economia de subsistência dar lugar a um modelo poder político.

11
Mercantilismo Navegar não era uma novidade para as sociedades
Do ponto de vista historiográfico, não há consenso sobre europeias. O mar Mediterrâneo, por exemplo, foi palco de
a economia de excedentes, desenvolvida durante a Baixa uma série de expedições e conflitos durante a Antiguidade.
Idade Média, ter sido uma economia capitalista ou não. Ainda A novidade da expansão marítima do século XV consistia
que seja possível identificar, por exemplo, algumas relações em navegar no oceano Atlântico.
capitalistas de trabalho no período, a classificação dessas prá- Por isso, é fundamental compreendermos que a na-
ticas econômicas é, ainda, tema de debate entre historiadores. vegação oceânica carregou um intenso caráter fantástico
Podemos, no entanto, utilizar o termo mercantilismo para durante a Antiguidade e a Idade Média. A civilização grega,
caracterizar o conjunto de práticas econômicas na Europa por exemplo, representou o oceano em diversas narrativas
Ocidental, principalmente entre os séculos XV e XVIII. míticas, como “Jasão e os Argonautas”. As “colunas de Hér-
Uma de suas principais características é o metalismo, cules” citam o Estreito de Gibraltar; os domínios de Hades
ou , ideia de que as riquezas de um reino eram (deus do "submundo" na mitologia grega) eram localizados
definidas pelo acúmulo de metais preciosos. Estes eram es- em direção ao poente (oeste) e, na Odisseia, de Homero,
senciais na produção monetária, então o valor das moedas Ulisses chega aos Campos Elísios pelo oceano.
dependia intrinsecamente da quantidade de metal (peso) O Navio chegou aos confins do profundo Oceano, onde
que cada uma possuía. Outras características do mercanti- surge a cidade dos Cimrios, sempre envolta em neblina e
lismo são: protecionismo alfandegário; manutenção de uma em nuvens: nunca o sol brilhante os visita com sua luz, nem
balança comercial favorável; concessão de monopólios a quando sobe para o cu cheio de astros nem quando do cu
particulares (a economia mercantil, como herança da Baixa se inclina para a terra, pois uma noite ali se estende sobre os
Idade Média, funciona em sistemas de monopólios tanto pobres mortais. L chegando, impelimos o navio para a praia,
para o comércio quanto para a produção); e, como veremos desembarcamos as reses e, seguindo o curso do Oceano fomos
mais adiante, o próprio colonialismo. ter ao lugar indicado por Circe. Perimedes e Eurloco segura-
vam com firmeza as vtimas; eu, desembainhando a cortante
A expansão marítima espada que levava o flanco, escavei um buraco do compri-
mento e da largura de um brao. Em seguida, ali despejei uma
Por que enfrentar os perigos das navegações?
libao para os defuntos: primeiro mel e leite, depois suave
A expansão marítima europeia, iniciada no século XV, vinho e, por fim, gua e por cima espargi a branca farinha. E
foi um marco da modernidade. dirigi uma ardente prece s lnguidas sombras dos mortos: de
As conquistas proporcionadas pelas assim chamadas volta a taca, haveria de imolar em minha casa uma estril vaca, a
“descobertas” representaram o início de um lento proces- melhor da manada, enchendo a pira de esplndidas ofertas;
so de transformação da posição econômica da Europa no a Tirsias, em particular, prometi sacrificar uma rs negra, a
mundo. Isso porque, ao contrário do senso comum euro- mais bela de todo o rebanho.
cêntrico da história, devemos considerar o poderio árabe HOMERO. Odisseia. So Paulo: Atena Editora, 1960. Disponvel em: https://
teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8149/tde-05102007-151151/publico/TESE_
e os reinos africanos durante o período medieval. Essa LUCINEA_RINALDI.pdf. Acesso em: 25 ago. 2021.
hegemonia que a Europa começou a conquistar terminaria
apenas com o fim da Segunda Guerra Mundial, quando a Com a ascensão do cristianismo, durante o Império
disputa pela hegemonia passou a ser entre Estados Uni- Romano, o oceano recebeu conotações ambíguas. Ora era
dos e União Soviética e, posteriormente, com o final da visto de uma perspectiva positiva, como no Gênesis bíblico,
Guerra Fria, quando estendeu-se para a América e a Ásia. em que as águas serviam como oposição às trevas; ora
Houve também uma alteração no eixo de poder inter- recebia um caráter negativo, como na narrativa do dilúvio.
nacional. O Mediterrâneo deu lugar ao oceano Atlântico Contudo, no cristianismo surgem os primeiros santos pa-
como foco da disputa. tronos das navegações e dos navegadores: São Cristóvão
A expansão marítima significou, ainda, um processo (protetor dos caminhos), São Brandão, Santo Amaro e San-
de dominação cultural por meio da ocidentalização. Nas telmo (santos navegadores).
Índias, na América e no Japão, os valores, a mentalidade e Durante a Idade Média e com o apogeu do feudalismo,
a religiosidade europeus foram implementados – por vezes o oceano tornou-se sinônimo do desconhecido. Entendia-
impostos – como forma de consolidar a conquista sobre es- -se que a terra conhecida estaria toda rodeada por águas
sas regiões, ainda que no Japão tenham ocorrido reações e, assim, quanto mais distante do centro (terra), maiores
que modificaram essa dinâmica de ocidentalização. Seria seriam os perigos. Para o imaginário medieval, o oceano
a primeira experiência de “globalização” do Ocidente, que representava uma fronteira entre o que é real (visível) e
permitiu contatos interculturais (muitas vezes por meio da aquilo que está num campo mítico ou simbólico.
violência), ampliou os territórios conhecidos e favoreceu Navegar, portanto, representava o enfrentamento do des-
novos arranjos geopolíticos. conhecido, interpretado, na maioria dos casos, como sinônimo
de perigo. Ou seja, para além dos perigos concretos, como
os naufrágios (a maior parte das embarcações conseguia
realizar apenas uma única viagem), a falta de instrumentos
de precisão para se guiar, a ausência de mapas, as correntes
marítimas, entre outros riscos, devemos compreender o que
impulsionou o interesse pelas Grandes Navegações.

12 HISTÓRIA Capítulo  A formação dos impérios ibéricos


Os interesses políticos e econômicos
O processo de desenvolvimento comercial na Europa favoreceu a consolidação de uma economia de excedentes (mercan-
tilismo). Dessa forma, a busca por produtos de alto valor comercial ganhou um interesse cada vez maior. Cidades da península
Itálica, como Gênova, Pisa, Roma, Florença e Veneza, destacaram-se comercialmente ao exercer um intenso controle sobre
o comércio de produtos do Oriente. Boa parte dos produtos vinha por rotas terrestres da região das Índias (o termo “Índias”,
à época, não era utilizado para designar o que hoje chamamos de Índia, mas uma vasta região que incluía China, Japão, Ilhas
Molucas, entre outras) até Constantinopla, que, por sua vez, repassava as mercadorias às cidades italianas pelo Mediterrâneo.
As especiarias orientais (pimenta-do-reino, noz-moscada, cravo-da-índia, canela, anis, gengibre, semente de coentro,
semente de mostarda, açafrão etc.), portanto, chegavam à Europa tendo as cidades italianas como intermediárias. Assim,
as navegações atlânticas seriam uma alternativa ao monopólio dessas cidades, visando a um comércio direto entre o
Ocidente e o Oriente.
O crescimento da atividade comercial (que representou um aumento na cunhagem de moedas), somado ao afluxo de
riquezas em direção ao Oriente, promoveu, na Europa do século XIV, uma escassez de metais preciosos. As navegações
eram, portanto, um mecanismo para a obtenção de novas fontes de metais como o ouro e a prata.

Rotas comerciais europeias na Baixa Idade Média – século XIII


OCEANO
ATLÂNTICO
Rio

Rio
R

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Tejo

40º N
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Mar Mediterrâneo

Fonte: CARTWRIGHT, Mark. Trade in Medieval Europe. World History Encyclopedia. Disponível em: https://www.worldhistory.org/article/3/trade-in-medieval-europe/.
Acesso em:  ago. .

Renascimento Cultural
Além das questões de caráter político-econômico, houve uma importante transformação na mentalidade europeia. O
Renascimento Cultural (tema que será abordado com mais profundidade na frente 2) promoveu uma mudança na forma
de pensar e compreender o mundo em parte do Ocidente europeu.
A transição do pensamento teocêntrico para o antropocentrismo não promoveu abalos na fé ou na crença em Deus.
No entanto, favoreceu o desenvolvimento de uma cultura terrena. Essa forma secular de pensamento não questionava,
necessariamente, aquilo que era tido como fantástico ou maravilhoso; havia um desejo por descobertas, de ver com os
próprios olhos o que era tido como lenda.
O pensamento antropocêntrico não incentivou as Grandes Navegações por descreditar as lendas sobre os oceanos
FRENTE 1

serem habitados por criaturas monstruosas ou sobre o Oriente ser ocupado por homens com cabeça de cachorro, pigmeus
e gigantes. O antropocentrismo favoreceu a expansão ultramarina à medida que incitava um gosto pelo mistério e pelo
desconhecido, ou, como é comum aparecer na historiografia, um “gosto pela aventura”.

13
Revisando

1. A chamada “Guerra de Reconquista”


a) foi motivada apenas por ideais econômicos.
b) aconteceu devido à precoce centralização do poder nos Estados ibéricos.
c) envolveu a expulsão dos mouros e a formação de reinos cristãos na península Ibérica.
d) rompeu com os preceitos defendidos pelas Cruzadas.
e) marcou o início do projeto expansionista inglês.

2. A presença islâmica na península Ibérica foi


a) fruto da derrota cristã durante a segunda Cruzada.
b) resultado da expansão islâmica ao longo dos séculos VII e VIII.
c) resultado da vitória moura na Batalha de Poitiers.
d) estabelecida após a invasão árabe a Portugal e Espanha.
e) impedida pela ascensão do Império Franco.

3. A unificação espanhola, na virada do século XV para o século XVI,


a) promoveu o desaparecimento das diferenças identitárias internas.
b) garantiu a supressão da religião católica na Espanha.
c) permitiu a tolerância religiosa no reino espanhol.
d) foi sucedida pela perseguição e expulsão dos judeus.
e) favoreceu o domínio sobre o Reino de Portugal ainda no século XV.

4. Sobre a Revolução de Avis, ocorrida em Portugal no século XIV, pode-se afirmar que:
a) consolidou o processo de Reconquista cristã da península Ibérica.
b) permitiu que a burguesia mercantil assumisse o controle da política nacional.
c) promoveu um impedimento no desenvolvimento do projeto ultramarino lusitano.
d) contribuiu para a consolidação da centralização política do poder em Portugal.
e) favoreceu a fragmentação territorial do Condado Portucalense.

5. UFMG (Adapt.) Leia este trecho:


Este fluxo de prata  despejado em um pas protecionista, barricado de alfndegas. Nada sai ou entra em Espanha sem
o consentimento de um governo desconfiado, tenaz em vigiar as entradas e as sadas de metais preciosos. Em princpio, a
enorme fortuna americana vem, portanto, terminar num vaso fechado. Mas o fecho no  perfeito [...] Ou dir-se-ia to co-
mumente que os Reinos de Espanha so as “ndias dos outros Reinos Estrangeiros”.
BRAUDEL, Fernand. O Mediterrâneo e o mundo mediterrânico à época de Felipe II. Lisboa: Martins Fontes, 1983-1984, v.1, p. 523-527.

a) IDENTIFIQUE a prática econômica a que se faz referência nesse texto.

b) CITE o principal objetivo dessa prática.

c) Mas o fecho no era perfeito [...] Ou dir-se-ia to comumente que os Reinos de Espanha so as “ndias dos outros
Reinos Estrangeiros”.
EXPLIQUE o sentido histórico dessa frase.

14 HISTÓRIA Capítulo  A formação dos impérios ibéricos


6. UFPR Sob o ponto de vista poltico, todos os reis medievais ibricos se consideravam herdeiros legtimos e descendentes
dos antigos monarcas visigodos. Por isso, consideravam sua qualquer terra ganha aos “infiis”. Assim surgiu a palavra Recon-
quista. A guerra permanente tinha-se por justa, at que fosse alcanado o objetivo ltimo. Mais do que um conflito religioso,
a Reconquista surgia a todos, na Europa crist, como uma questo de herana.
(Adaptado de Oliveira Marques. Breve Histria de Portugal. Lisboa: Presena, 2001. p. 72–73.)

Sobre o fenômeno da Reconquista, é correto armar:


a) Favoreceu o nascimento dos reinos ibéricos independentes.
b) Promoveu a conversão em massa das populações muçulmanas para o cristianismo.
c) Deslocou integralmente o interesse e a ação dos cruzados para a Península Ibérica.
d) Fomentou a migração imediata dos muçulmanos para o norte da África.
e) Encerrou a coexistência entre cristãos e muçulmanos no medievo ibérico.

7. De que forma as Cruzadas se relacionam com a Guerra de “Reconquista”?

8. A questão religiosa foi uma marca fundamental da história da península Ibérica entre os séculos VIII e XVI. Caracterize
a forma com a qual os reinos mulçumanos e cristãos trataram os judeus na região.

9. UEL Durante os sculos XI a XIII verificou-se nas atividades agrcolas e artesanais da Europa Centro-Ocidental um conjunto
de transformaões (...) que repercutiram no crescimento das trocas mercantis. Situa-se a historicamente o chamado renas-
cimento urbano medieval.
A. E. Rodrigues e F. A. Falcon. A formação do mundo moderno. 2. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2006. p. 9.

Com base no texto e nos conhecimentos sobre o tema, é correto armar que tais mudanças econômicas:
a) caracterizaram-se pelo desenvolvimento das técnicas de produção e amplo emprego de recursos energéticos,
tais como carvão e petróleo.
b) implicaram no capitalismo mercantil incrementado pelo amplo comércio atlântico, fomentado por negociantes
italianos e príncipes alemães.
c) aumentaram a produção no campo e na cidade e fomentaram a circulação de bens e moedas, viabilizados por
novos instrumentos de crédito a governantes e comerciantes.
d) privatizaram as terras e introduziram um modelo de produção fabril, promovido pelo governo britânico.
e) reforçaram o predomínio político e comercial dos senhores feudais sobre os governos citadinos.

10. Caracterize as principais diferenças entre o modo de produção feudal e o modo de produção mercantilista ressaltan-
do como essa transição contribuiu para as Grandes Navegações.
FRENTE 1

15
Exercícios propostos

1. Qual é a relação entre o cristianismo e a formação dos 4. UFG Observe a imagem a seguir:
reinos de Portugal e Espanha? Explique.

2. Fatec 2017 No século VIII, tropas muçulmanas,


lideradas pelo general Tarik, saíram do Norte da
África, atravessaram o mar Mediterrâneo pelo Es-
treito de Gibraltar e conquistaram quase toda a
península Ibérica.
Sobre o período de domínio muçulmano na península
Ibérica, é correto armar que
a) contribuiu para a consolidação do feudalismo,
isolando a Europa do restante do mundo e esti-
mulando as pessoas a abandonarem as cidades.
b) o desenvolvimento mercantil provocou o cres-
cimento de cidades como Córdoba e Toledo,
Foto de Augusto Cabrita. In: Os mais belos castelos e fortalezas de Portugal.
atraindo poetas, letrados e músicos, estimulando Lisboa: Verbo, 86. p. .
o ambiente intelectual.
c) sua duração foi maior em Portugal do que na A imagem do castelo Almourol, situado em uma ilha
Espanha, reino do qual os muçulmanos foram ex- no rio Tejo, em Portugal (século XII), relaciona-se com
pulsos pelos cruzados, cerca de trinta anos após a) os ideais cavalheirescos da nobreza guerreira de
origem germânica na Europa ocidental cristã.
a ocupação da península Ibérica.
b) a insegurança diante das invasões germânicas na
d) durou aproximadamente meio século e foi marca-
Hispania, no Império Romano do Ocidente.
do pela perseguição aos cristãos, pela obstrução
c) a defesa e proteção do reino na guerra de Re-
das rotas mercantis e pela Peste Negra, que dizi-
conquista do território ibérico dominado pelos
mou parte da população europeia.
mouros.
e) consolidou o sistema escravocrata medieval,
d) o auxílio para a libertação da cidade santa de Je-
fechou universidades, desestimulou o desenvolvi- rusalém do domínio muçulmano.
mento científico e proibiu manifestações literárias e) os mecanismos de proteção nos conflitos fre-
e musicais pagãs. quentes entre os reinos cristãos da Península
Ibérica.
3. Uece 2018 Considerando a Idade Média, relacione
corretamente os acontecimentos apresentados a 5. UFPR 2018 (Adapt.) Para muitos pesquisadores,  cor-
seguir aos valores do código de Cavalaria Medieval, reto assinalar que durante a Idade Mdia foram os rabes,
numerando a Coluna II de acordo com a Coluna I. no os cristos, os herdeiros e sucessores da cincia he-
lnica, uma herana que fez com que toda a extenso
dos seus domnios, da Espanha ao Afeganisto, o mundo
Coluna I Coluna II muulmano, fosse cenrio de uma atividade intelectual
intensa, no só em filosofia, mas tambm em matem-
tica, astronomia e medicina. Nem sempre conhecida ou
. Guerra Santa Ação de libertação da Espanha traduzida no Ocidente, essa produo est preservada
do domínio árabe. em uma grande quantidade de manuscritos.
(BISSIO, Beatriz. O mundo falava árabe. A civilizao rabe-islmica
clssica atravs da obra de Ibn Khaldun e Ibn Battuta.
. Cruzadas Liberação do domínio da Terra Rio de Janeiro: Civilizao Brasileira, 2012, p. 36.)
Santa dos muçulmanos.
Com base no texto acima e nos conhecimentos sobre
o mundo muçulmano na Idade Média, assinale a alter-
3. Reconquista Combate que tem como obje- nativa correta.
tivo a defesa da verdadeira fé. a) Foi justamente em função do seu caráter religio-
so fragmentado que o mundo muçulmano e a sua
A sequência correta, de cima para baixo, é: civilização distinguiram-se mais vigorosamente
a) 2, 1, . do Ocidente cristão, fortemente homogêneo.
b) , 1, 2. A existência, no seio do Império Muçulmano, de
c) , 2, 1. numerosas tendências religiosas teve consequên-
d) 1, , 2. cias consideráveis na produção de manuscritos.

16 HISTÓRIA Capítulo  A formação dos impérios ibéricos


b) Apesar da sua hegemonia nas ciências durante I. A nobreza portuguesa lutou de forma unificada
o período medieval, a civilização muçulmana era, contra o reino de Castela pela independência de
afinal, um simples conjunto díspar de emprésti- Portugal, apoiando-se no retorno do Rei Dom
mos culturais, o qual não conseguia refletir o novo Sebastião I.
universalismo e a nova ordem social que se ins- II. A reconquista da região ibérica, no século XIII,
taurou com o surgimento do Islã. teve início com o Papa Urbano VII ao conceder o
c) Durante esse período, cidades como Córdoba, reino de Navarra a Dom Afonso Henrique.
Bagdá e Alexandria, entre outras, se tornaram III. A reconquista espanhola equilibrou-se em uma
centros de intercâmbio de conhecimentos. Tra- centralização política, mas sem atingir uma unifi-
tava-se de um circuito cosmopolita do qual a cação cultural pelas diversas identidades de seus
Europa, periférica e tragada por diversas crises habitantes.
religiosas, não participou. IV. Em Portugal, a Revolução de Avis, composta
d) A Idade Média foi um período caraterizado pelo majoritariamente pelas camadas burguesas, forta-
domínio efetivo, militar e político, dos países mu- leceu a unificação política do reino.
çulmanos sobre os países cristãos. Um domínio
caracterizado, entre outras coisas, pela presen- Assinale a alternativa correta.
ça hegemônica da língua árabe nos espaços a) Somente as afirmativas I e II são corretas.
comerciais, políticos e acadêmicos da Europa. b) Somente as afirmativas I e IV são corretas.
e) Existe consenso entre a maioria dos historiadores c) Somente as afirmativas III e IV são corretas.
que estudam o período de que a emergência do d) Somente as afirmativas I, II e III são corretas.
horizonte renascentista deve muito ao trabalho e) Somente as afirmativas II, III e IV são correta6
dos sábios e acadêmicos muçulmanos, conhe-
cidos pelo mundo cristão, sobretudo, através da 8. UPF 2017 Entende-se por mercantilismo o conjun-
Península Ibérica. to de ideias e práticas econômicas dominantes na
Europa entre os séculos XV e XVII. Seu período de
6. UFG 2012 Leia o texto a seguir. dominação corresponde à fase de transição do feu-
É notório que os reis que deixaram boa memória, cada dalismo para o capitalismo e ficou marcado pela
um no seu tempo, buscaram a maneira de acrescentar intervenção estatal na economia, caracterizado:
as suas rendas e fazendas, sem dano e prejuzo dos seus a) Pela limitação das atividades das companhias
sditos, para sustentar o seu estado real, a boa governana comerciais privadas, em função dos privilégios
dos seus reinos, bem como a guarda e conservao deles concedidos às empresas estatais.
para a conquista e guerra. b) Pela preocupação com o enriquecimento da
ARCHIVO GENERAL DE SIMANCAS. Diversos de Castela. Livro 3, fólio 85. burguesia em detrimento da nobreza feudal, ga-
Apud PEDRERO-SÁNCHEZ, Maria Guadalupe. Histria da Idade Média:
textos e testemunhas. So Paulo: Unesp, 2000. p. 256. (Adaptado.) rantindo a aliança de burgueses de vários países.
c) Pelo monopólio metropolitano sobre as colônias
Escrito no século XV, o texto é parte de uma ins-
da América, o qual passou a estimular as disputas
trução régia de Fernando de Aragão e Isabel de
entre as grandes empresas comerciais de pro-
Castela. Ele revela, como aspecto característico das
priedade da burguesia.
monarquias europeias centralizadas, a organização
d) Pelas teorias metalistas, que, ao defender práticas
das nanças régias,
protecionistas, promoveram grande rivalidade en-
a) considerando as despesas com a administração
tre as nações europeias.
dos negócios militares.
e) Pelo controle exclusivo externo, em contraposi-
b) implementando uma política de favorecimento da
burguesia emergente. ção à livre concorrência interna, tanto nas áreas
c) estabelecendo uma remuneração à nobreza pe- coloniais quanto nas metropolitanas.
los serviços burocráticos.
d) impondo o controle estatal às atividades econô- 9. UEPG 2017 Os chamados Estados Nacionais Mo-
micas privadas. dernos emergiram na Europa a partir do final da
e) justificando a intervenção na economia com base Idade Média, sendo que os primeiros casos datam
nos princípios de autossuficiência. do século XII e apresentam características bastante
peculiares. A respeito desse tema, assinale o que
7. UEL 2016 A organização do mundo medieval, con- for correto.
cebida como harmônica, foi rompida no decorrer dos  A ascensão dos Estados Nacionais Modernos
séculos X ao XV por um complexo processo histórico correspondeu ao fim do absolutismo, uma forma
constituído por transformações e criações que muda- secular de monarquia existente na Europa. A partir
FRENTE 1

ram a Europa Ocidental. de então, todos os monarcas passaram a governar


Em relação à criação das monarquias ibéricas nesse sob os limites de constituições que delimitavam os
contexto, considere as armativas a seguir. direitos e as funções dos reis.

17
 A partir das unificações regionais que deram Tendo em vista a armação de Braudel e as ca-
origem aos Estados Nacionais Modernos, as racterísticas do mercantilismo, assinale a única
forças militares acabaram perdendo espaço. alternativa correta referente a um princípio ou ideia
Na medida em que a figura do monarca simbo- mercantilista.
lizava a ideia de nação e a identidade nacional, a) A liberdade econômica e o individualismo finan-
os exércitos perderam sentido e foram paulati- ceiro devem prevalecer acima do bem comum e
namente enfraquecendo ao longo dos séculos das políticas públicas.
XVII e XVIII. b) Todas as relações sociais de produção devem ser
 Portugal foi o primeiro país europeu a se unificar definidas pela liberdade de contrato entre capital
em torno do que se entende por um Estado Na- e trabalho, visando o lucro coletivo.
cional Moderno. Tal primazia se deu pelo esforço c) É preciso crer que leis naturais regem o comércio
coletivo dos portugueses na reconquista cristã da e as indústrias, e devem, portanto, agir de acordo
Península Ibérica, então marcada pela presença com a “mão invisível” da economia.
dos árabes. d) A maneira ideal de se acumular riquezas é fazer
 A não formação de quadros burocráticos especia- com que mais mercadorias sejam vendidas e me-
lizados foi um fator decisivo para o fracasso dos nor quantidade seja comprada pelo país.
Estados Nacionais Modernos e que levou aos
processos revolucionários dos séculos XVIII e XIX
12. Unimontes 2015 Em relação ao Mercantilismo (con-
que puseram ao fim tal modelo. Geralmente, os
junto de ideias e práticas de intervenção do Estado na
monarcas indicavam parentes ou amigos para a
economia), marque com a letra C (CORRETA) ou com a
gestão pública.
letra I (INCORRETA) cada uma das afirmativas.
 A organização administrativa, a unificação de ta-
xas e leis e a liberdade comercial no espaço do Qualquer política econômica caracterizada pela
reino são fatores que explicam o apoio da nas- intervenção estatal deve ser classicada como
cente burguesia aos processos de centralização mercantilismo, independentemente da época de
política que levou a formação dos Estados Nacio- sua efetivação.
nais Modernos. Os Estados Nacionais que emergiram na Europa,
Soma: na Idade Moderna, implementaram práticas mer-
cantilistas para garantirem o fortalecimento de suas
10. Uece 2019 Escreva V ou F conforme seja verdadeiro economias.
ou falso o que se afirma nos itens abaixo sobre as mo- Na época do mercantilismo, a concepção dominan-
narquias ibéricas. te de riqueza era a de que a agricultura constituía a
A formação das monarquias ibéricas está ligada ao principal fonte da riqueza nacional.
processo de reconquista cristã. O metalismo e a busca pela balança comercial
As monarquias nacionais ibéricas se formaram an- favorável, além da obsessão por colônias, são ca-
tes das monarquias francesa e inglesa. racterísticas da política mercantilista.
O reino de Castela foi o único domínio espanhol A sequência CORRETA é
que não contou com minorias étnicas e religiosas.
a) C, C, I, I.
Defenderam tolerância e respeito, não obstante a
b) C, I, C, I.
maioria dos reinos cristãos.
c) I, I, C, C.
A sequência correta, de cima para baixo, é: d) I, C, I, C.
a) V, F, F, F.
b) V, F, V, V. 13. UPE 2017 O exerccio do mercantilismo pressupõe a
c) F, V, V, F. existncia de um Estado forte, capaz de planejar aspectos
d) F, V, F, V. importantes da economia e de realizar, posteriormente, a
prtica dessa planificao.
11. Uern 2015 Os descobrimentos martimos europeus do POMER, Leon. O surgimento das nações. So Paulo: Atual, 1987, p. 28.

sculo XVI esto inseridos no contexto da poltica mer- No contexto descrito pelo texto, o poder do Estado
cantilista. Essa poltica, segundo o historiador Fernand
Moderno estaria ligado à
Braudel “(...) reagrupa comodamente uma srie de atos
a) capacidade tributária da sociedade.
e de atitudes, de projetos, de ideias, de experincias que
b) possibilidade de exercício da guerra.
marcam, entre o sculo XV e XVIII, a primeira afirmao
c) amplitude da utilização de mão de obra escrava.
do Estado moderno em relao aos problemas concretos
que ele tinha que enfrentar”.
d) habilidade de mediação de conflitos internacionais.
(BRAUDEL, Fernand, Civilisation, Èconomie et Capitalisme, XVº XVIIIº Siècle;
e) quantidade de transações no comércio inter-
le Jeux de L’èchange. Paris: Armand Coln, 1979. in: MARQUES, 2006.) continental.

18 HISTÓRIA Capítulo  A formação dos impérios ibéricos


14. Acafe 2020 Articulando uma relação íntima entre o Assinale a alternativa correta.
Estado e a economia, o mercantilismo caracterizou-se a) O tema dos descobrimentos relaciona-se ao
por uma política pela qual o Estado buscava garantir estudo da inferioridade da natureza americana,
desenvolvimento comercial e financeiro. Foi típico das que justificava a exploração colonial e o trabalho
Monarquias Absolutistas da Europa. Acerca do mer- compulsório.
cantilismo, todas as afirmações abaixo estão corretas, b) Humboldt retoma o marco histórico dos desco-
exceto a alternativa: brimentos e das viagens marítimas e reconhece
a) Necessitando de ouro e de prata para o fortale- suas contribuições para a expansão do conheci-
cimento das moedas nacionais, o metalismo foi mento científico.
também um importante instrumento do mercanti- c) Os conhecimentos anteriores às proposições de
lismo europeu. Galileu foram preservados nos mapas, métodos
b) As medidas alfandegárias incentivavam as impor- astronômicos e conhecimentos geográficos do
tações e liberavam o mercado interno para os mundo resultantes dos descobrimentos.
produtos estrangeiros, incentivando, desta ma- d) Os descobrimentos tiveram grande repercussão
neira, as relações comerciais. no mundo contemporâneo por estabelecer os
c) Na Inglaterra, ocorreu o desenvolvimento da frota parâmetros religiosos e sociais com os quais se ex-
naval e da marinha mercante, essenciais para a plica o processo da independência nas Américas.
expansão do comércio externo.
d) O domínio de colônias, dentro do Pacto Co- 17. UEL Para compreender a expansão marítima nos sé-
lonial, também caracterizou o mercantilismo, culos XV e XVI, é necessário considerar a importância
destacando-se os países ibéricos. Criava-se da cartograa. Sobre o tema, é correto armar que os
uma relação de dependência da colônia em re- cartógrafos representaram o mundo:
lação à metrópole. a) valendo-se de conhecimentos acumulados e
transmitidos por meio da Filosofia, da Astronomia
15. Acafe 2017 A formação dos Estados Modernos, o Ab- e da experiência concreta.
solutismo Monárquico e o Mercantilismo caracterizaram b) desconhecendo o valor político de sua arte de
a centralização política em várias partes da Europa, em cartografar para os rumos da rivalidade castelha-
oposição ao poder político descentralizado do sistema no-portuguesa.
feudal. Nesse sentido é correto afirmar, exceto: c) ignorando a hagiografia medieval e as crenças na
a) O mercantilismo foi caracterizado pelo controle existência de monstros marinhos e de correntes
estatal da economia e priorizava o domínio de de ventos nos oceanos.
colônias para fornecer matérias-primas e criar d) confirmando os conhecimentos estáticos sobre
mercados consumidores para a metrópole. o planeta, resultantes da observação direta dos
b) O casamento de Fernando, herdeiro do trono de espaços desconhecidos.
Aragão, com Isabel, do trono de Castela, consolidou e) anotando nos mapas pontos geográficos, longi-
a formação do território que corresponde à Espanha. tudes e latitudes com exímia precisão, em função
c) O processo de fortalecimento do poder real atingiu dos eficazes instrumentos de navegação.
seu ápice com o absolutismo. O monarca passou a
exercer o controle total sobre o comércio, as ma- 18. Fatec 2013 As caravelas foram um grande avano
nufaturas e sobre a máquina administrativa. tecnológico no final do sculo XV. Graas a elas, foi
d) As Guerras da Reconquista, ao expulsarem os possvel realizar viagens de longa distncia de forma efi-
muçulmanos da Europa, contribuíram decisiva- ciente. Centenas de homens embarcaram nas caravelas
mente para a formação da Monarquia francesa dos descobrimentos. Alguns buscavam enriquecimento
numa aliança com setores da nobreza. rpido, outros, oportunidade de difundir a f em Cristo.
Estes homens eram atrados pela aventura, porm as sur-
presas nem sempre eram agradveis. Nas embarcaões,
16. Unicamp 2013 Alexandre von Humboldt (1769-1859)
proliferavam doenas e a alimentao era precria.
foi um cientista que analisou o processo das descober-
Revista de Histria da Biblioteca Nacional, setembro de 2012, p. 22-25.
tas martimas do sculo XVI, classificando-o como um (Adaptado.)
avano cientfico mpar. A descoberta do Novo Mundo
foi marcante porque os trabalhos realizados para co- Sobre a época descrita no texto e considerando as
nhecer sua geografia tiveram incontestvel influncia informações apresentadas, é correto armar que as
no aperfeioamento dos mapas e nos mtodos astronô- viagens nas caravelas
micos para determinar a posio dos lugares. Humboldt a) foram realizadas no contexto da expansão do
constatou a importncia das viagens imputando-lhes mercantilismo europeu, visando também à am-
valor cientfico e histórico. pliação do catolicismo.
FRENTE 1

(Adaptado de H. B. Domingues, “Viagens cientficas: descobrimento e b) não pretendiam descobrir novos territórios, apenas
colonizao no Brasil no sculo XIX”, em Alda Heizer e Antonio A.
Passos Videira, Ciência, Civilização e Império nos trpicos.
estabelecer rotas para aventureiros e marginaliza-
Rio de Janeiro: Access Editora, 2001, p. 59.) dos da sociedade.

19
c) tinham como principal objetivo retirar as populações muçulmanas da Península Ibérica, após as Guerras de Reconquista.
d) eram feitas em condições precárias, pois eram clandestinas, ou seja, eram realizadas sem o consentimento das
Coroas europeias.
e) não ocorriam em condições apropriadas, embora a maior parte dos tripulantes das caravelas pertencesse à no-
breza feudal.

19. Unifesp Se como concluo que acontecer, persistir esta viagem de Lisboa para Calicute, que j se iniciou, devero faltar as
especiarias s gals venezianas e aos seus mercadores.
(Diário de Girolamo Priuli. Julho de 1501)

Esta armação evidencia que Veneza estava


a) tomada de surpresa pela chegada dos portugueses à Índia, razão pela qual entrou em rápida e acentuada deca-
dência econômica.
b) acompanhando atentamente as navegações portuguesas no Oriente, as quais iriam trazer prejuízos ao seu comércio.
c) despreocupada com a abertura de uma nova rota pelos portugueses, pois isto não iria afetar seu comércio e
suas manufaturas.
d) impotente para resistir ao monopólio que os portugueses iriam estabelecer no comércio de especiarias pelo
Mediterrâneo.
e) articulando uma aliança com outros estados italianos para anular os eventuais prejuízos decorrentes das navega-
ções portuguesas.

20. UPF 2016 Luís Vaz de Camões, um dos maiores nomes do Renascimento Cultural português, imortalizou, em sua
principal obra, a viagem de Vasco da Gama às Índias.
“J no largo Oceano navegavam,
As inquietas ondas apartando;
Os ventos brandamente respiravam,
Das naus as velas côncavas inchando;
Da branca escuma os mares se mostravam
Cobertos, onde as proas vo cortando
As martimas guas consagradas,
Que do gado de Próteo so cortadas.”
(CAMÕES. Os Lusíadas. Verso 19)

Assinale a alternativa que apresenta corretamente elementos relativos à participação de Portugal na expansão marí-
tima europeia nos séculos XV e XVI.
a) O total apoio da Igreja Católica, desde a aclamação do primeiro rei português, visando à expansão econômica e
religiosa que a expansão marítima iria concretizar.
b) Para o grupo mercantil, a expansão marítima era comercial e aumentava os negócios, superando a crise do sé-
culo XV; para o Estado, trazia maiores rendas; para a nobreza, trazia cargos e pensões; e, para a Igreja Católica,
representava maior cristianização dos “povos bárbaros”.
c) O pioneirismo português se deveu mais ao atraso dos seus rivais, envolvidos em disputas dinásticas, do que a
fatores próprios do processo histórico, econômico, político e social de Portugal.
d) A expansão marítima, embora contasse com o apoio entusiasmado do grupo mercantil, recebeu o combate
dos proprietários agrícolas, para quem os dispêndios com o comércio eram perdulários.
e) A burguesia, ao liderar a arraia-miúda na Revolução de Avis, conseguiu manter a independência de Portugal,
centralizou o poder e impôs ao Estado o seu interesse específico na expansão.

Texto complementar

A experiência do viajante
Na oitava fossa do oitavo círculo do "Inferno" de Dante, Ulisses, envolto numa língua de fogo, relata sua morte (Divina commedia, XXVI, 90-
142). Depois de separar-se de Circe, nada pode refrear seu ardente desejo de conhecer o mundo, os vícios e a as virtudes dos humanos. Nem a
lembrança de seu querido filho Telêmaco, nem o amor de sua esposa Penélope, nem a piedade devida a seu pai, Laertes, são capazes de conter
o desejo intenso de experiência, de sapientia mundi. Ulisses encontra-se no mar Mediterrâneo, com um único navio e alguns companheiros fiéis.
As descrições geográficas são precisas. De um lado observa a costa da Espanha, a última Hespéria; do outro, a costa do Marrocos, fim da África.
À sua direita deixa Sevilha; a sua esquerda Ceuta. Após um discurso no qual infunde coragem e firmeza em seus companheiros para seguir via-
gem, a nau cruza os pilares de Hércules, emblemáticas colunas plantadas por um semideus para que nenhum humano se atrevesse a ultrapassá-las.
Os pilares de Hércules eram, desde a Antiguidade, inscrições topográficas que representavam o limite do mundo conhecido e um símbolo da proibição
divina diante da insensata curiosidade humana. Além deles se estende um mar sem limites, tenebroso, o verde mar da escuridão.

20 HISTÓRIA Capítulo  A formação dos impérios ibéricos


O viajante pretende conhecer o mundo sem habitantes que se encontra seguindo o sol. A tripulação, já velha e cansada, aventura-se pelo
Atlântico. Navega primeiro rumo a oeste, depois rumo ao sul. Cruza o Equador. Ulisses distingue na noite o brilho das estrelas do outro polo, navega
cinco meses por esse mar quando, obscurecido pela distância, recorta-se a silhueta de uma montanha, "alta tanto / quanto veduta non návea alcuna"
[erguido tanto / que de outro igual nenhum de nós lembrava]. O viajante se alegra ao divisar o anúncio dessa "nova terra" desconhecida e desabitada
que se situa nas antípodas, sem compreender que vislumbra o objeto de sua perdição: a montanha do paraíso. Desafiara proibições divinas para
aproximar-se de terras inexploradas e é justo – da perspectiva cristã – seu naufrágio diante delas. Da nova terra se levanta um turbilhão que faz o
navio girar entre as ondas, até que o mar se feche sobre ele. Modelo do curioso, o navegante naufraga nos espaços sagrados do ignoto.
GIUCCI, Guillermo. Viajantes do maravilhoso. São Paulo: Companhia das Letras, 99. pp. 3-.

Resumindo
y A formação dos reinos de Portugal e Espanha aconteceu de forma precoce em relação às outras regiões da Europa.
y Com a centralização do poder e as transformações políticas, econômicas e sociais que aconteceram na passagem da Idade
Média para a Idade Moderna, Portugal e Espanha foram pioneiros nas Grandes Navegações.
y As navegações foram motivadas pelo espírito de aventura e pela procura por metais preciosos e produtos de alto valor co-
mercial. De forma geral, as navegações ultramarinas visavam atender às demandas das práticas mercantilistas.

Quer saber mais?

Livros
BETHENCOURT, Francisco; CURTO, Diogo Ramada (dir.). A expansão marítima portuguesa, 1400-1800. Lisboa: Edições 0, 00.
A obra apresenta análises diversas de aspectos políticos, econômicos, culturais e sociais da expansão marítima portuguesa.
MICELI, Paulo. O ponto onde estamos: viagens e viajantes na história da expansão e da conquista (Portugal, século XV e XVI).
Campinas: Editora Unicamp, 00.
O livro trata de aspectos do cotidiano das navegações portuguesas.

Exercícios complementares

1. Unicamp 2013 Tradicionalmente, a vitória dos cristos sobre os muulmanos na Batalha de Covadonga, na regio da
Pennsula Ibrica, em 722, foi considerada o incio da chamada Reconquista. Mais do que um decisivo confronto blico,
Covadonga foi uma luta dos habitantes locais por sua autonomia. A aproximao ideológica desta vitória, feita mais tarde
por clrigos das Astrias, conferiu  batalha a importncia de um fato transcendente, associado ao que se considerava a
misso da monarquia numa Hispnia que tombara diante dos seus inimigos.
(Adaptado de R. Ramos, B. V. Sousa e N. Monteiro (orgs.), Histria de Portugal. Lisboa: A Esfera dos Livros, 2009, p. 17-18.)

a) Explique o que foi a Reconquista.


b) De que maneiras a Batalha de Covadonga foi reutilizada no discurso histórico e político pelos clérigos das Astúrias?

2. Unesp As caravanas do Sudo ou do Niger trazem regularmente a Marrocos, a Tunes, sobretudo aos Montes da Barca ou ao
Cairo, milhares de escravos negros arrancados aos pases da África tropical (...) os mercadores mouros organizam terrveis
razias, que despovoaram regiões inteiras do interior. Este trfico muulmano dos negros de África, prosseguindo durante
sculos e em certos casos at os mais recentes, desempenhou sem dvida um papel primordial no despovoamento antigo
da África.
(Jacques Heers, O trabalho na Idade Média.)

O texto descreve um episódio da história dos muçulmanos na Idade Média, quando


a) Maomé começou a pregar a Guerra Santa no Cairo como condição para a expansão da religião de Alá, que ga-
rantia aos guerreiros uma vida celestial de pura espiritualidade.
b) atuaram no tráfico de escravos negros, dominaram a África do Norte, atravessaram o estreito de Gibraltar e inva-
diram a Península Ibérica.
c) a expansão árabe foi propiciada pelos lucros do comércio de escravos, que visava abastecer com mão de obra
negra as regiões da Península Ibérica.
d) os reinos árabes floresceram no sul do continente africano, nas regiões de florestas tropicais, berço do monoteísmo
FRENTE 1

islâmico.
e) os árabes ultrapassaram os Pirineus e mantiveram o domínio sobre o reino Franco, até o final da Idade Média
ocidental.

21
3. UEMG 2016

http://descobrirmaishistoria.blogspot.com.br/___archive.html. Acesso em: /9/

Durante a Idade Média, no ano de , nascia Maomé, conhecido por ser o profeta de Alá. Desde a sua morte até o
século XXI a crença em Alá tem sido difundida pela fé Islâmica que é, até hoje, predominante no norte da África e na
Península Arábica. Em , a expansão islâmica conquistara espaço na Europa Ocidental. Quase toda a Península Ibérica
ca sob o poder do Califado.
O que detém o avanço Islâmico é
a) a resistência do império Franco e o processo de reconquista ligado às monarquias locais fortemente influencia-
das pelo cristianismo.
b) a proposta, dos grupos dirigentes das Monarquias Ibéricas, de associar os preceitos islâmicos aos valores cris-
tãos, enfraquecendo assim as frentes de batalha.
c) a ação da Rússia em repressão aos islâmicos, formando uma frente combativa para manter as antigas monarquias
ibéricas.
d) a formação de um Reino Cristão que unia todas as monarquias europeias para combater os invasores.

4. FGV-RJ 2015 Da mesma forma que a Terra Santa, ainda que com identidade menor, a Pennsula Ibrica possibilitava
a reunio das ideias de paz (luta no exterior da Cristandade), de Guerra Santa (engrandecimento da Igreja em terra an-
teriormente crist) e de peregrinao (corpo santo apostólico em Santiago de Compostela). A Reconquista revelou-se
especialmente atraente, o que  significativo, para o centro-sul francs (...) cujos cavaleiros foram os mais constantes
participantes ultramontanos da luta antimoura na Pennsula.
FRANCO JÚNIOR, Hilrio. Peregrinos, monges e guerreiros.Feudo-clericalismo e religiosidade em Castela Medieval. So Paulo: Hucitec, 1990, p. 161.

Sobre a Reconquista Ibérica, é correto armar que se trata de


a) um conjunto de guerras e conquistas territoriais cujas motivações foram semelhantes àquelas que estimularam
a ação dos cristãos durante as Cruzadas.
b) um movimento dirigido pelos comerciantes castelhanos, interessados em se apropriar das riquezas e rotas mer-
cantis do mundo islâmico.
c) um movimento sem vinculação às crenças religiosas e devocionais cristãs e estimuladas pelo avanço científico
precoce da Península Ibérica.
d) uma incursão de cavaleiros a serviço da monarquia francesa com o intuito de anexar a Península Ibérica e
reestruturar o antigo Império Carolíngio.
e) um movimento essencialmente religioso que visava a combater o fanatismo muçulmano e estabelecer monar-
quias cristãs que respeitassem a liberdade religiosa na Península Ibérica.

22 HISTÓRIA Capítulo  A formação dos impérios ibéricos


5. FMJ 2020 Observe o mapa, que se refere ao ano de 737.

(Colin McEvedy. Atlas de história medieval, 2007.)

No contexto da Idade Média, o mapa demonstra


a) a divisão do Império Carolíngio, que se desagregou em diferentes reinos cristãos.
b) a expansão árabe, que resultou na formação de um império islâmico com domínios em três diferentes continentes.
c) a invasão da Europa ocidental por povos bárbaros, que vieram de territórios da atual Hungria.
d) a reconstrução do Império Romano do Ocidente, que era uma importante aspiração dos governantes bizantinos.
e) o processo de unificação das tribos da península Arábica, que fez surgir um Estado árabe-muçulmano.

6. Unicamp (Adapt.) Os impérios desenvolveram diferentes estratégias de inclusão. O império romano permitia a multi-
plicidade de crenças, desde que a lealdade política estivesse assegurada. Espanha e Portugal, entretanto, apesar de terem
incorporado povos de línguas e culturas diversas sob seus governos, impuseram uma uniformidade legal e religiosa, prati-
cando políticas de intolerância religiosa como caminho preferencial para assegurar a submissão e a lealdade de seus súditos.
(Adaptado de Stuart B. Schwartz, Impérios intolerantes: unidade religiosa e perigo da tolerância nos impérios
ibéricos da época moderna, em R. Vainfas & Rodrigo B. Monteiro (orgs.), Império de várias faces. São Paulo: Alameda, 2009, p. 26.)

A partir do texto, diferencie o império Romano dos impérios ibéricos modernos.

. UFG 2012 Analise a imagem a seguir.


SANTIAGO MATAMOUROS.

FRENTE 1

SANTIAGO MATAMOUROS. Disponível em: <http://www.wga.hu/art/c/carreno/st_james.jpg>. Acesso em: 29 fev. 2012

23
Desde a Idade Média, São Tiago Maior foi retrata- 9. FGV-SP 2014 Ao final da Copa do Mundo de fute-
do de várias formas. Nessa imagem do século XVII, bol disputada na África do Sul (), alguns dos
que recorre à Reconquista na Península Ibérica, sua jogadores da seleção da Espanha realizaram a volta
gura é representada como Matamouros. Com base olímpica como campeões desfraldando uma bandei-
na imagem, conclui-se que essa recorrência alude à ra da Catalunha. A respeito da História dessa região,
a) valorização da cultura islâmica, derivada do con- é correto afirmar:
tato com os muçulmanos. a) O reino de Aragão uniu-se ao de Castela com o
b) apropriação de personagens bíblicos, utilizados casamento dos reis católicos, Fernando e Isabel,
para legitimar a disputa territorial e religiosa. mantendo-se a autonomia de Aragão e o funcio-
c) formação de uma matriz cultural ibérica, renovada namento de cortes próprias.
pela fusão entre belicismo islâmico e apostolicis- b) A região da Catalunha promoveu uma revolução
mo cristão. ao final do século XVIII, influenciada pelos acon-
d) incorporação do princípio muçulmano da Guerra tecimentos transcorridos na França com a subida
Santa, favorecida pela expansão árabe. dos jacobinos ao poder.
e) adoção do ideal muçulmano de martírio, advindo
c) Durante a II República, a partir de 11, a região
da experiência adquirida nas Cruzadas.
perdeu sua autonomia e tornou-se uma das bases
das legiões falangistas que apoiaram Franco.
8. UFC (Adapt.) Leia, a seguir, trechos da canção “Quin-
d) A autonomia e o direito ao ensino da língua cata-
to Império” e responda as questões que seguem.
lã e seu emprego na administração pública foram
Parte 1 garantidos à Catalunha com o regime franquista,
(...) a partir de 16.
Meu sangue  trilha,
e) Com a democratização, em 175, a região da
dos Mouros, dos Lusitanos.
Catalunha perdeu sua autonomia e isso desen-
Dunas, pedras, oceanos
cadeou o aparecimento de movimentos armados
rastreiam meu caminhar.
que lutam pela sua independência.
E sendo eu
que a Netuno dei meu leme,
com a voz que nunca treme 10. Unicamp 2018 A ideia de que a demanda de especiarias
fiquei a me perguntar: resultava da necessidade de disfarar o gosto da carne e
‘o que ser do peixe putrefatos  um dos grandes mitos da história
que alm daquelas guas da alimentao. Na Europa medieval, os alimentos fres-
agitadas, turvas, calmas, cos eram mais frescos que os atuais, pois provinham da
eu irei l encontrar?’ produo local. Os alimentos em conserva mantinham-se
Parte 2 em salga, curtio, dessecao ou gordura, assim como
(...) hoje em dia so enlatados, refrigerados, liofilizados ou
Eu decifrei astros e constelaões, embalados a vcuo. De qualquer forma, os aspectos de-
conduzi embarcaões, terminantes do papel desempenhado pelas especiarias na
destinei-me a navegar. gastronomia eram o gosto e a cultura. A cozinha mui-
Atravessei to temperada com especiarias era objeto de desejo por
a Tormenta, a Esperana, ser cara e por “condimentar” a posio social dos ricos e
at onde o sonho alcana as aspiraões de quem ambicionava s-lo. Alm disso, a
minha F pude cravar.
moda gastronômica predominante na baixa Idade Mdia
Rasguei as lendas
europeia imitava as receitas rabes, que exigiam sabores
do Oceano Tenebroso,
doces e ingredientes fragrantes: leite de amndoa, extra-
para El Rey, o Glorioso,
tos de flores aromticas e outras iguarias orientais.
no h mais trevas no mar.
(Adaptado de Felipe Armesto-Fernndez, 1492: o ano em que o mundo
(NÓBREGA, Antonio; FREIRE, Wilson. “Quinto Imprio” In: NÓBREGA, começou. So Paulo: Companhia das Letras, 2017, p.27).
Antonio. Madeira que cupim não ri. So Paulo: Brincante, 1997, faixa 04.)
A partir do texto acima e de seus conhecimentos
a) Qual a relação dos mouros com a formação do
históricos:
Estado português?
a) defina o que são as especiarias e explique seu
b) Os versos a seguir, transcritos da segunda parte
significado social na Europa medieval.
da canção Quinto Império, sugerem algumas con-
b) explique como era feito o comércio de especia-
sequências das navegações portuguesas. Cite, a
rias na baixa Idade Média.
consequência sugerida por cada transcrição.
I. Atravessei / a Tormenta, a Esperança, 11. Unifesp (Adapt.) Mercantilismo é o nome normal-
II. até onde o sonho alcança / minha Fé pude cravar. mente dado à política econômica de alguns Estados
III. Rasguei as lendas / do Oceano Tenebroso, Modernos europeus, desenvolvida entre os séculos
IV. para El Rey, o Glorioso, / não há mais trevas no mar. XV e XVIII. Indique duas características desse sistema.

24 HISTÓRIA Capítulo  A formação dos impérios ibéricos


12. Fuvest 2012 Deve-se notar que a nfase dada  face- “A expanso martima teve ligaões com os questiona-
ta cruzadstica da expanso portuguesa no implica, de mentos e as inovaões que acompanharam o Renascimento
modo algum, que os interesses comerciais estivessem e, politicamente, com a formao do Estado moderno na
dela ausentes – como tampouco o haviam estado das Europa. Assim,  impossvel analis-la sem mencionar as
cruzadas do Levante, em boa parte manejadas e finan- mudanas econômicas, a intensificao das atividades co-
ciadas pela burguesia das repblicas martimas da Itlia. merciais, o fascnio pelas especiarias, a luta da burguesia
To mesclados andavam os desejos de dilatar o territó- para consolidar sua riqueza”.
rio cristo com as aspiraões por lucro mercantil que, na REZENDE, Antonio Paulo; DIDIER, Maria Thereza. Rumos da Histria:
sua orao de obedincia ao pontfice romano, D. JooII Histria Geral e do Brasil. So Paulo: Atual, 2001. p. 158.
Gravura do sc. XVI, de Theodore de Bry. p. 157-158.
no hesitava em mencionar entre os servios prestados
por Portugal  cristandade o trato do ouro da Mina, “co- Sobre a expansão marítima e comercial europeia:
mrcio to santo, to seguro e to ativo” que o nome do a) Explique duas razões para o pioneirismo do reino
Salvador, “nunca antes nem de ouvir dizer conhecido”, português.
ressoava agora nas plagas africanas… b) Considerando que o mercantilismo é um con-
Luiz Felipe Thomaz, “D. Manuel, a ndia e o Brasil”.Revista de História
(USP), 161, 2o Semestre de 2009, p.16-17. Adaptado.
junto de práticas econômicas relacionadas ao
processo de expansão marítima, explique (em
Com base na armação do autor, pode-se dizer que no máximo 6 linhas) duas de suas característi-
a expansão portuguesa dos séculos XV e XVI foi um cas citadas abaixo:
empreendimento y Metalismo
a) puramente religioso, bem diferente das cruzadas y Protecionismo
dos séculos anteriores, já que essas eram, na rea- y Balança Comercial Favorável
lidade, grandes empresas comerciais financiadas y Colonialismo
pela burguesia italiana.
b) ao mesmo tempo religioso e comercial, já que era
14. FGV-SP 2015 O Estado era tanto o sujeito como o
comum, à época, a concepção de que a expan-
objeto da poltica econômica mercantilista. O mer-
são da cristandade servia à expansão econômica
cantilismo refletia a concepo a respeito das relaões
e vice-versa. entre o Estado e a nao que imperava na poca (s-
c) por meio do qual os desejos por expansão territo- culos XVI e XVII). Era o Estado, no a nao, o que lhe
rial portuguesa, dilatação da fé cristã e conquista interessava.
de novos mercados para a economia europeia (Eli F. Heckscher, La epoca mercantilista, 1943, p. 459-461, apud Adhemar
mostrar-se-iam incompatíveis. Marques e et alii (seleo), Histria moderna
através de textos, 1989, p. 85. Adaptado.)
d) militar, assim como as cruzadas dos séculos
anteriores, e no qual objetivos econômicos e Segundo o autor,
religiosos surgiriam como complemento apenas a) as relações profundas entre o Estado absolutista
ocasional. e o nacionalismo levaram à intolerância e a tudo
e) que visava, exclusivamente, lucrar com o o que impedia o bem-estar dos súditos, unidos
comércio intercontinental, a despeito de, ofi- por regulamentações e normas rígidas.
cialmente, autoridades políticas e religiosas b) as práticas econômicas intervencionistas do
afirmarem que seu único objetivo era a expan- Estado absolutista tinham o objetivo específico
são da fé cristã. de enriquecer a nação, em especial, os comer-
ciantes, que impulsionavam o comércio externo,
13. UFSC 2012 (Adapt.) base da acumulação da época.
c) o mercantilismo foi um sistema de poder, pois
o Estado absolutista implantou práticas econô-
micas intervencionistas, cujo objetivo maior foi
o fortalecimento do poder político do próprio
Estado.
d) o Estado absolutista privilegiou sua aliada
política, a nobreza, ao adotar medidas não in-
tervencionistas, para preservar a concentração
fundiária, já que a terra era a medida de rique-
za da época.
e) a nação, compreendida como todos os sú-
ditos do Estado absolutista, era o alvo maior
FRENTE 1

de todas as medidas econômicas, isto é, o


intervencionismo está intimamente ligado ao
nacionalismo.

25
15. Unesp 2015
Deus quer, o homem sonha, a obra nasce.
Deus quis que a terra fosse toda uma,
Que o mar unisse, j no separasse.
Sagrou-te, e foste desvendando a espuma,

E a orla branca foi de ilha em continente,


Clareou, correndo, at ao fim do mundo,
E viu-se a terra inteira, de repente,
Surgir, redonda, do azul profundo.

Quem te sagrou criou-te portugus.


Do mar e nós em ti nos deu sinal.
Cumpriu-se o Mar, e o Imprio se desfez.
Senhor, falta cumprir-se Portugal!
PESSOA, Fernando. “O Infante”. Mensagem. Obra poética, 1960.

Identique quatro características que, segundo o texto, marcaram a expansão marítima portuguesa dos séculos XV e
XVI. Exemplique com os versos do próprio poema.

16. Unesp (...) A abertura de novas rotas, a fim de superar os entraves derivados do monopólio das importaões orientais pelos
venezianos e muulmanos, e a escassez do metal nobre implicavam dificuldades tcnicas (navegaões do Mar Oceano) e eco-
nômicas (alto custo dos investimentos) (...), o que exigia larga mobilizao de recursos (...) em escala nacional (...) A expanso
martima, comercial e colonial, postulando um certo grau de centralizao do poder para tornar-se realizvel, constituiu-se (...)
em fator essencial do poder do Estado metropolitano.
(Fernando Novais, O Brasil nos quadros do antigo sistema colonial.In: Carlos Guilherme Motta (org.), Brasil em perspectiva)

A partir do texto, responda:


Por que a centralização política foi condição para a expansão marítima e comercial nos séculos XV e XVI?

17. UEL (Adapt.) Leia os textos a seguir e responda à questão.


Mais vale estar na charneca com uma velha carroa do que no mar num navio novo.
(Provrbio holands. In SEBILLOT, P. Légendes, croyances et superstitions de la mer. Paris: 1886, p. 73.)

Ó mar salgado, quanto do teu sal


So lgrimas de Portugal?
Por te cruzarmos, quantas mes choraram, quantos filhos em vo rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar para que fosses nosso, ó mar!
(PESSOA, F. Obra poética. Rio de Janeiro: Aguilar, 1969, p. 82.)

Com base nos textos e nos conhecimentos sobre o tema da Expansão Marítima dos séculos XV e XVI, é correto
armar que as navegações
a) constituíram uma realização sem precedentes na história da humanidade, uma vez que foram muitos os obstá-
culos a serem superados nesse processo, tais como a ameaça que representava o desconhecido e o fracasso
de grande parte das expedições, que desapareceram no mar.
b) propiciaram o fim do monopólio que espanhóis e italianos mantinham sobre o comércio das especiarias do
oriente através do domínio do mar Mediterrâneo, uma vez que foram os franceses e os portugueses, a despeito
das tentativas holandesas, que realizaram o périplo africano e encontraram o caminho para as Índias.
c) resultaram na hegemonia franco-britânica sobre os mares, o que, a longo prazo, permitiu a realização da acu-
mulação originária de capital e, através desta, o financiamento do processo de implantação da indústria naval,
o que prolongou esta hegemonia até o final da Primeira Guerra Mundial.
d) propiciaram o domínio da Holanda sobre os mares, fazendo com que a colonização das novas terras descober-
tas dependesse da marinha mercante daquele país para a manutenção das ligações comerciais entre os demais
países europeus e suas colônias no restante do mundo.
e) representaram o triunfo da ciência e da tecnologia resultantes das concepções cartesianas e, consequente-
mente, a destruição de lendas e mitos sobre o Novo Mundo, uma vez que as expedições revelaram os limites
do mundo e propiciaram rapidamente formas seguras de transposição oceânica.

26 HISTÓRIA Capítulo  A formação dos impérios ibéricos


18. Unicamp Referindo-se à expansão marítima dos séculos XV e XVI, o poeta português Fernando Pessoa escreveu,
em 9, no poema “Padrão”:
“E ao imenso e possvel oceano
Ensinam estas Quinas, que aqui vs,
Que o mar com fim ser grego ou romano:
O mar sem fim  portugus.”
(Fernando Pessoa, Mensagem – poemas esotéricos. Madri: ALLCA XX, 1997, p. 49.)

Nestes versos identicamos uma comparação entre dois processos históricos. É válido armar que o poema compara
a) o sistema de colonização da Idade Moderna aos sistemas de colonização da Antiguidade Clássica: a navegação
oceânica tornou possível aos portugueses o tráfico de escravos para suas colônias, enquanto gregos e romanos
utilizavam servos presos à terra.
b) o alcance da expansão marítima portuguesa da Idade Moderna aos processos de colonização da Antiguidade
Clássica: enquanto o domínio grego e romano se limitava ao mar Mediterrâneo, o domínio português expandiu-se
pelos oceanos Atlântico e Índico.
c) a localização geográfica das possessões coloniais dos impérios antigos e modernos: as cidades-estado gregas
e depois o Império Romano se limitaram a expandir seus domínios pela Europa, ao passo que Portugal fundou
colônias na costa do norte da África.
d) a duração dos impérios antigos e modernos: enquanto o domínio de gregos e romanos sobre os mares teve um
fim com as guerras do Peloponeso e Púnicas, respectivamente, Portugal figurou como a maior potência marítima
até a independência de suas colônias.

19. FGV-SP 2019 Leia com atenção o trecho de Os Lusíadas.


Quem eram, de que terra, que buscavam,
Ou que partes do mar corrido tinham?
Os fortes Lusitanos lhe tornavam
As discretas respostas que convinham:
"Os Portugueses somos do Ocidente,
Imos buscando as terras do Oriente.
"Do mar temos corrido e navegado
Toda a parte do Antrtico e Calisto,
Toda a costa Africana rodeado;
Diversos cus e terras temos visto;
Dum Rei potente somos, to amado,
To querido de todos e benquisto,
Que no no largo mar, com leda fronte,
Mas no lago entraremos de Aqueronte.
Lus de Camões, Os Lusíadas, sculo XVI. (adaptado)
http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/ua000178.pdf

Sobre a chamada expansão marítima do século XVI, é correto armar:


a) Iniciou-se com o Périplo Africano, que representou o primeiro contato histórico dos europeus com os povos da África.
b) Foi possibilitada pelo processo de descentralização política portuguesa, que garantiu a participação de grupos
particulares nas atividades marítimas.
c) Teve motivações análogas às da Reconquista, como a conquista de terras e riquezas, a expansão do Cristianismo
e o combate aos muçulmanos.
d) Foi promovida pela Igreja estabelecida em Roma, que incumbiu os Estados ibéricos de empreenderem a con-
quista de novos continentes.
e) Foi provocada pelos avanços dos povos islamizados do Norte da África sobre o sul do continente europeu.

20. FGV-RJ 2020 (…) Vossas Majestades, como católicos cristos e Soberanos devotos da santa f crist, seus incrementadores
e inimigos da seita de Maom e de todas as idolatrias e heresias, pensaram em enviar-me a mim, Cristóvo Colombo, s
mencionadas regiões da ndia para ir ver os ditos prncipes, os povos, as terras e a disposio delas e de tudo a maneira que
se pudesse ater-se para sua converso  nossa f; e ordenaram que eu no fosse por terra ao Oriente, por onde se costuma ir
mas pelo caminho do Ocidente, por onde at hoje no sabemos com segurana se algum teria passado.
Cristóvo Colombo, Diários da Descoberta da América, Porto Alegre: L&PM, 1984, p. 29-31.
FRENTE 1

27
De acordo com o excerto dos Diários de Colombo, é correto armar:
a) A navegação pelo Atlântico com o objetivo de chegar às Índias era uma empreitada conhecida desde a Antiguidade.
b) As relações entre a Igreja e o Estado estavam intimamente ligadas no projeto de conhecimento e conquista
das Índias.
c) O acesso ao Oriente por rota terrestre era conhecido pelos europeus durante a Antiguidade, mas foi interrompi-
do durante a Idade Média.
d) A conversão dos muçulmanos e o combate às heresias foram fatores desprezados durante a expansão marítima
europeia dos séculos XV e XVI.
e) A viagem marítima tinha como objetivo principal pacificar a cristandade envolvida nos conflitos relacionados com
a Reforma Protestante.

BNCC em foco
EM13CHS102

1.

EM13CHS201

2.

EM13CHS204
3.

28 HISTÓRIA Capítulo  A formação dos impérios ibéricos


FRENTE 1

CAPÍTULO A formação das estruturas coloniais

2
Descoberta ou “achamento”? Ocupação ou invasão? A chegada dos europeus à Amé-
rica constituiu um dos fenômenos mais complexos da história. O contato com os povos
ameríndios representava conhecer agrupamentos humanos que não correspondiam a
nenhuma de suas expectativas em termos de valores sociais, políticos ou religiosos.
Os choques ocorriam, geralmente, de maneira violenta, resultando no extermínio de
parte significativa das comunidades indígenas.
A conquista – militar, política, religiosa ou cultural – foi ferramenta imprescindível da
colonização. Ao longo do século XVI, Portugal e Espanha instalaram sistemas coloniais
na América, voltados para a acumulação de lucro na Europa.
Pioneirismo de Portugal As primeiras conquistas portuguesas
e da Espanha na expansão marítima Em 1415, Portugal promoveu a conquista de Ceuta, que
representou o início de sua expansão ultramarina. Localizada
O que justificou Portugal e Espanha terem sido pionei-
no noroeste do continente africano, Ceuta era um entreposto
ros do processo das Grandes Navegações?
comercial muçulmano que servia também como ponto de
Um primeiro aspecto, apesar de não ser central na com- partida para uma série de ataques no Mediterrâneo. Dessa
preensão do pioneirismo ibérico, é a localização geográfica forma, a tomada de Ceuta por Portugal representava uma
desses reinos, que possuíam um litoral recortado, favorável expansão do espírito cruzadístico que havia impulsionado
às navegações, sobretudo às principais rotas do Atlântico a chamada Guerra de Reconquista (ainda em curso nessa
e do Mediterrâneo. época), de contenção da religião islâmica.
Como vimos, a centralização política do poder em Por- Posteriormente, foram conquistadas as ilhas atlânticas
tugal e na Espanha foi precoce em comparação aos outros da Madeira (1425) e dos Açores (1427), de onde Portu-
reinos da Europa. Dessa forma, as respectivas monarquias gal iniciará o seu projeto colonizador, que debateremos
eram capazes de concentrar a arrecadação tributária e, mais adiante. Também foi conquistado o litoral ocidental
assim, financiar os empreendimentos marítimos, que não só da África. Após vencerem o desafio de transpor o Cabo
favoreceriam os comerciantes, como já vimos, mas também do Bojador (1434), os portugueses criaram uma série de
as práticas mercantilistas, beneficiando Portugal e Espanha. feitorias ao longo do continente africano: Guiné (1453),
Eram as monarquias centralizadas que permitiam a ob- Cabo Verde(1460) e São Tomé (1471). As feitorias eram
tenção de títulos, privilégios, soldos e recompensas aos entrepostos comerciais fortificados, nos quais trocava-se
navegadores. Em um navio, por exemplo, o capitão era um tabaco, armas e açúcar por marfim, ouro em pó, pimenta
representante do rei, exercendo autoridade suprema sobre malagueta e, posteriormente, africanos escravizados.
seus subordinados durante as viagens. O desejo de uma rota alternativa às Índias acentuou-se
Por fim, a questão do desenvolvimento técnico e tecnoló- com a tomada de Constantinopla pelo Império Turco-Otomano,
gico. Não há algo que possamos chamar de uma “revolução em 1453. Com o fim da chamada “rota da seda” (rota comer-
técnica” no que diz respeito às Grandes Navegações, mas cial terrestre entre o Oriente e o Ocidente), Portugal tinha a
um processo de aperfeiçoamento gradual. possibilidade de adquirir o monopólio do comércio oriental.
No campo da Cartografia, a elaboração de portulanos
(mapas com nomes de portos escritos perpendicularmente Rotas para o Oriente – século XV
à costa) e de mapas de cabotagem foi uma das atividades
mais importantes para o sucesso das navegações. Inclusive,
cartógrafos eram disputados entre os reinos, o que acabou
transformando a Cartografia em questão política.
Entre os instrumentos e técnicas de navegação, o
uso do astrolábio e do quadrante (influências dos povos
árabes) possibilitou que os navegadores se orientassem
melhor. Uma agulha magnética conectada à rosa dos ven-
tos formou a bússola. Também houve aperfeiçoamento no
cálculo de latitude.
Em Portugal, especificamente, aprofundou-se o co-
nhecimento dos ventos alísios. Talvez, entre as inovações
tecnológicas lusitanas, deva ser destacada a criação das
caravelas, no início do século XV. As caravelas eram em-
barcações de pequeno porte, leves, rápidas e de fácil
manobrabilidade. Concebidas com dois e, posteriormente,
três mastros, conseguiam navegar com ventos contrários (po-
diam executar a manobra de “bolinar”, ziguezaguear contra
os ventos), além de possibilitarem o uso de remos, caso fosse
necessário. Também podiam se aproximar mais da terra.
Durante muito tempo, a historiografia debateu a res-
peito da existência da Escola de Sagres, concebida como
um espaço de ensino de técnicas de navegação. No en-
tanto, sem evidências de sua existência, ela foi tida, entre
os historiadores, como um mito criado a fim de enaltecer o
domínio português sobre os mares. Ainda não é possível
afirmar a sua existência, mas entende-se hoje que essa Chegar às “Índias” contornando o continente africano era a rota mais
longa. No entanto, ao romper com os intermediários, Portugal passou
escola possa ter sido um espaço em que especialistas a ser hegemônico no comércio de especiarias.
e estudiosos da navegação reuniam-se para debater e Fonte: O’BRIEN, Patrick (ed.). Philip’s Atlas of World History. Londres:
compartilhar seus conhecimentos. Philip’s, , p. -. (Adapt.)

30 HISTÓRIA Capítulo 2 A formação das estruturas coloniais


Em 1488, Bartolomeu Dias chegou ao Cabo das Tor- responsável pela demarcação, apoiava a rainha Isabel de
mentas, no sul da África. Rebatizado com o nome de Cabo Castela, que sairia beneficiada. O rei de Portugal repu-
da Boa Esperança, sua conquista representava a possibi- diou o tratado e ameaçou declarar guerra caso o acordo
lidade de realizar o périplo no continente africano para, não fosse refeito.
então, chegar ao Oriente. Uma década depois, em 1498, Com a bula revogada, em 1494 foi assinado o Tratado
o genovês Cristóvão Colombo, que havia navegado sob a de Tordesilhas (assim chamado por ter sido firmado na cidade
bandeira espanhola anteriormente, fundou a primeira feito-
espanhola de Tordesilhas), deslocando o limite para 370
ria portuguesa no Oriente: Calicute. A chegada de Colombo
léguas a oeste de Cabo Verde, mas mantendo para a Espa-
a essa região consolidou os objetivos do expansionismo
nha o direito de exploração do território a oeste da linha e
português.
o do leste para Portugal. Dessa forma, Portugal obteve mais
As primeiras conquistas espanholas espaço no Atlântico para realizar suas navegações até o
Após o casamento de Isabel de Castela e Fernando Oriente e, intencionalmente ou por acaso, de explorar parte
de Aragão, que consolidou uma relativa centralização do do território do que viria a sero Brasil.
Estado espanhol, foi concretizada a expansão marítima
da Espanha. Os tratados ibéricos – século XV
Pouco antes da unificação, porém, diz a lenda que
Cristóvão Colombo, usando um ovo como exemplo, teria
proposto aos reis católicos uma rota para chegar às Ín-
dias mais eficiente do que a dos portugueses, que haviam
acabado de contornar a África. Colombo pretendia chegar
ao Oriente navegando em direção ao Ocidente, ou seja,
OCEANO
circum-navegar o globo terrestre. É importante ressaltar ATLÂNTICO
que a Igreja Católica não afirmava, nessa época, que a Golfo do
México Trópico de Câncer
Terra era plana. Ainda que existisse um modelo terrestre
plano, a Igreja defendia a existência de um modelo esférico, Mar do Caribe
Cabo
remontando à Antiguidade (Ptolomeu, no século II d.C., já Verde

defendia o modelo esférico do planeta, além de ter sido Equador



o responsável pela criação dos conceitos de latitude e
longitude). Mesmo assim, os riscos da proposta feita por

Meridiano de Greenwich
OCEANO
Colombo aos reis espanhóis eram elevados. ATLÂNTICO
Com o aval de Fernando e Isabel, Colombo partiu em Trópico de Capricórnio

direção ao oeste com três caravelas: Pinta, Nina e Santa


OCEANO
Maria. Após pouco mais de um mês de viagem, chegou à PACÍFICO
América (à Ilha de Guanaani, hoje San Salvador) pensando
ter chegado às Índias.

Os tratados ibéricos

Ao compreenderem que o território atingido por Colom-
Fonte: Tratado de Tordesilhas. Britannica Escola. Disponível em: https://escola.
bo, em 1492, era um continente até então desconhecido britannica.com.br/artigo/Tratado-de-Tordesilhas/. Acesso em:  ago. .
pelos europeus, acirraram-se as disputas entre Portugal e
Espanha pela legitimidade da exploração dessas terras.
Anteriormente, ainda em 1480, os reinos ibéricos ha- Terra à vista: Cabral e o Brasil
viam firmado o Tratado de Toledo. O acordo assegurava ao Em 1498, Vasco da Gama havia alcançado as Índias,
reino espanhol a exploração das terras ao norte das Ilhas dando início ao domínio português no Oriente. Após retor-
Canárias e, aos portugueses, as terras ao sul do referencial nar a Portugal, os relatos retratavam uma terra de riquezas
(garantindo a rota para o Oriente, contornando a África). (Vasco da Gama descreveu Samorim, rei de Calicute, como
Porém, a viagem de Colombo à América, sob a bandeira do uma pessoa adornada por joias, ouro e pedras preciosas)
reino espanhol, tornou necessária a redefinição dos limites e de produtos de alto valor comercial (o grão de pimenta
de exploração. comprado a 8 cruzados era vendido a 80 na Europa).
A legitimação da exploração das terras pautava-se Logo após o retorno de Vasco da Gama, o rei de Por-
na tradição canônica medieval que concedia ao papa – tugal, D. Manuel, enviou outra expedição às Índias com o
e, portanto, à Igreja Católica – a jurisdição universal so- intuito de aprofundar a relação com o Oriente e assegurar
bre o mundo. Em 1493, a Bula Inter Coetera propôs a o monopólio sobre o comércio de especiarias. Assim, no
delimitação da área de exploração a partir de uma linha dia 9 de março de 1500, partiu de Portugal uma grande
FRENTE 1

imaginária, a cerca de cem léguas a oeste de Cabo Ver- frota de treze caravelas e dez naus (embarcações usadas
de, deixando o território a oeste da linha para Castela e principalmente para fins militares), sob o comando do fidal-
o do leste para Portugal. No entanto, o papa Alexandre VI, go Pedro Álvares Cabral.

31
A frota de Cabral, porém, não chegou ao destino es- narrativas ameríndias contribuíram para a manutenção de
perado. Desviando mais a oeste do que o desejado, no uma perspectiva eurocêntrica sobre os povos nativos
dia 22 de abril de 1500, chegou a um trecho de terra logo da América.Nesse sentido, o historiador SergeGru-
batizado de Monte Pascoal, por causa do feriado da Páscoa. zinskifez uma profunda análise sobre as tentativas de
Em seguida, chegaram à região hoje conhecida como Porto escrever uma história indígena da Mesoamérica no sé-
Seguro, chamando-a de Ilha de Vera Cruz. Ao descobrir que culo XVI. A partir do trabalho do missionárioToribiode
não se tratava de uma ilha, alteraram o nome para Terra de BenaventeMotolinia (1482-156),Gruzinskiidentifica
Vera Cruz e, posteriormente, Terra de Santa Cruz. asdificuldadesmetodológicas queenvolviama escri-
tadessa história, uma vez que, para a Europa do século
Viagem de Pedro Álvares Cabral ao Brasil e XVI, a produçãohistoriográfica dependia intrinsecamente
Calicute – 1500 de documentos escritos.
Portanto, o trabalho de construir uma história indígena
daMesoamérica, anterior ao contato com os espanhóis, a
partir de fontes orais e imagens foi um esforço significativo.
Tal observação, no entanto, não deve ser compreendida
como exaltação do empreendimento europeu, mas como
mecanismo de indagação às razões que seriam capazes
de justificar esse esforço.
Trópico de Câncer
Ashistóriasproduzidas por Motolinia sobre os di-
versos representantes indígenas permitem que esses
sejam concebidos como objetos homogêneos e está-
ticos, sendo, portanto, passíveis de transformações.
Equador
0º Ao inserir a história ameríndia na perspectiva europeia
OCEANO de tempo, a homogeneização indígena atende às ex-
ATLÂNTICO OCEANO
ÍNDICO pectativas da Europa de transformar os espaços e as
pessoas, além de sublimar as especificidades presentes
Trópico de Capricórnio
naqueles povos.
Meridiano de Greenwich

Então, como poderemos escrever ou entender uma


história indígena? Ciente de que, para o historiador, todas
as documentações representam alguma forma de parciali-
dade, cabe, então, um importante exercício de alteridade,
Ida
buscando nos colocar no lugar do outro. Isso nos permite
Volta que compreendamos de maneira mais profunda os fenô-
0º menos históricos das populações indígenas.
Fonte: VICENTINO, Cláudio. Atlas histórico: Geral e do Brasil. São Paulo:
Scipione, , p. 9. (Adapt.).
Saiba mais
Povos indígenas da América
Durante muito tempo, a historiografia tradicional
utilizou fontes europeias, tratadas sem que houvesse ques-
tionamentos sobre a credibilidade delas, para redigir uma
história indígena. Crônicas, cartas de viagem, diários de
navegação e tratados descritivos serviram tanto para
descrever a fauna, a flora, o clima e a terra quanto pa-
ra caracterizar as sociedades ameríndias. Esses relatos,
no entanto, eram usualmente carregados de exacerbação
de detalhes “exóticos” (aos olhos europeus) sobre os in- [...] A teoria pós-colonial é uma empresa de descolo-
dígenas, representados frequentemente como “bárbaros” nização, mas não a descolonização concreta (algo que já
ou “selvagens” e, assim, distante do que seria o ideal de foi mais ou menos realizado) das lutas armadas e acordos
civilização, o que contribuiu para uma construção negativa militares, mas a descolonização da história e da teoria,
em relação a essas populações que, de alguma forma, uma abordagem de fato alternativa do Ocidente. [...] os
perdura até hoje. estudos pós-coloniais reinserem o debate da identidade
A utilização da palavra “índios”, por exemplo, muitas ve- nacional, da representação, da etnicidade, da diferença e
zes omite a heterogeneidade entre as diversas populações da subalternidade no centro da história cultural mundial
ameríndias, já que, a partir de uma perspectiva eurocêntrica, contemporânea.
as diferenças étnico-culturais existentes não as retiravam da
condição, atribuída pelos europeus, de selvagens.
A carência de fontes escritas pelas populações do
continente americano e a interferência europeia nas

32 HISTÓRIA Capítulo 2 A formação das estruturas coloniais


Mesoamérica fértil vale do México, cujo apogeu se deu por volta dos
O termo “mesoamérica” foi criado pelo arqueólogo séculos V e VI, foi fruto de vários séculos de desenvolvi-
alemão Paul Kirchhoff para designar a região da Amé- mento. Teotihuacán constituía espacialmente tudo o que
rica Central (México, Belize, Guatemala, El Salvador, está implícito na ideia de uma cidade: edifícios religio-
Honduras, Nicarágua e Costa Rica), na qual populações sos, como duas pirâmides escalonadas e o templo de
Quetzalcóatl (a “serpente emplumada”); palácios; escolas;
ameríndias se desenvolveram a partir de algumas carac-
ruas pavimentadas; e regiões reservadas para habitação;
terísticas em comum.
chegando a ter cerca de 50 mil habitantes. Dominando
Os registros fósseis humanos na região da Mesoaméri-
as áreas vizinhas, foi o centro de um grande reino ou de
ca datam de 9000 a.C. Os indícios arqueológicos apontam
uma confederação de povos.
que o desenvolvimento das práticas agrícolas na região
Uma das mais conhecidas civilizações da América
pode ter acontecido por volta de 5000 a.C., e o domínio
Central foi a civilização maia, que se desenvolveu na
sobre a produção da cerâmica, por volta de 2300 a.C.
península de Yucatán, por planícies dos estados mexi-
Porém, foi aproximadamente em 1300 a.C., na região
canos de Tabasco e Chiapas, partes da Guatemala e,
do Golfo do México, conhecida desde então por Olman
ainda, por Belize, El Salvador e Honduras, a partir do
(Terra da Borracha, Terra dos Olmecas), que teve início o de-
século IV, alcançando seu apogeu econômico e cultu-
senvolvimento urbano com a formação de grandes cidades. ral entre os séculos XI e XIII. Os maias não formaram
A passagem para o modelo urbano (ou ainda proto-ur- um império unificado, mas estruturaram-se em cidades-
bano) promoveu mudanças políticas, socioeconômicas e -Estados independentes.
religiosas entre os olmecas.

Ricardo David Sánchez (CC BY 3.0)


Áreas culturais da Mesoamérica

Golfo do México

Trópico de Câncer

NORTE
DO MÉXICO

OCIDENTE GOLFO
CENTRO

MAIA
OCEANO GUERRERO
OAXACA
PACÍFICO

AMÉRICA
CENTRAL

105º O

Fonte: FAMSI – Foundantion for the Advancement of Mesoamerican


Studies, Inc. Disponível em: http://www.famsi.org/maps/. Acesso em:  ago.
. (Adapt.) Vista da chamada Rua dos Mortos, no sítio arqueológico de Teotihuacán, no
México. Ao final da rua, a Pirâmide da Lua com a arquitetura em degraus.
Mapa com a delimitação das áreas culturais da Mesoamérica. Apesar de os
Foto atual.
mexicas (astecas) e os maias serem os mais conhecidos, diversas outras
civilizações desenvolveram-se no espaço que compreende, hoje, o México
e suas adjacências. Entre elas podemos citar a dos olmecas, a de Monte A sociedade maia estruturou-se em dois estratos so-
Albán, Cholula e Teotihuacán.
ciais predominantes: um grupo dominante (importantes
guerreiros, governantes e sacerdotes) e uma população
A organização da Mesoamérica teve por base uma que se submetia política e religiosamente ao primeiro
elite de sacerdotes comandando comunidades de cam- grupo. Entre suas realizações culturais, desenvolveram
poneses. A existência de artefatos adornados (estatuetas, complexas técnicas arquitetônicas (abóbada guarnecida
máscaras de jaguar, colares, pedras polidas etc.) na re- por contraforte) e artísticas (pinturas em murais, esculturas
gião indica que, provavelmente, havia uma divisão do em baixo relevo, cerâmica); calendários a partir de uma
trabalho na sociedade; enquanto alguns grupos perma- precisa observação astronômica; conhecimento sobre o
neceram na produção agrícola, outros se especializaram zero matemático e uma forma de escrita ainda hoje não
em ofícios artísticos, sacerdócio e demais atividades. decodificada.
Essa civilização legou uma avançada técnica agrícola A civilização maia, assim como os teotihuacanos, pas-
baseada na irrigação artificial, um sistema de escrita e sou por um declínio entre os séculos VIII e X, porém muitas
numeração, um calendário e uma arquitetura religiosa. cidades continuaram existindo, algumas mantendo-se autôno-
Possuíam um culto aos mortos, além de acreditarem na mas até o início da conquista espanhola. Essas civilizações,
vida após a morte. que compõem o período clássico (250-900) da Mesoaméri-
FRENTE 1

A influência olmeca se fez presente em várias loca- ca, deixaram uma série de legados, como o urbanismo e as
lidades da Mesoamérica. Teotihuacán, “a metrópole dos heranças religiosas, que se aperfeiçoaram posteriormente,
deuses”, talvez seja o melhor exemplo. Estabelecida no no período pós-clássico (950-1519).

33
A mais expressiva das civilizações da América Central Sua organização econômica tinha por base a agricultu-
no período da chegada dos espanhóis foi a mexica (asteca). ra e a exploração das populações dominadas. Promoveram
Os astecas desenvolveram um império que se estendeu do complexas obras de irrigação, como as chinampas, ou jar-
México até a região hoje co,mpreendida pela Guatemala, dins flutuantes, que eram pequenas ilhas artificiais feitas por
com mais de 300 mil quilômetros quadrados de área. Eles acumulação de lama das margens pantanosas de lagos, a
tinham como área central a atual Cidade do México, onde fim de expandir as áreas cultiváveis.
os astecas ergueram sua capital, Tenochtitlán, na qual, acre- A sociedade, assim como no passado mítico, baseava-
dita-se, viviam mais de 100 mil pessoas. -se em uma estrutura rígida, no topo da qual se encontrava
Os mexicas narram sua própria origem da seguinte uma camada de aristocratas e chefes militares, além dos
maneira: viviam na mítica Aztlan-Chicomoztoc (alguns sacerdotes. Estes mantinham o domínio sobre a massa
pesquisadores indicam que pode representar uma região de camponeses, que vivia sob um regime semelhante
ao norte do Vale do México), composta de sete caver- à servidão coletiva, além de um grande contingente de
nas e de povos que falavam o náhualt, idioma de muitos escravizados, normalmente prisioneiros de guerra. Havia
teotihuacanos. Socialmente subordinados por tlatoque uma divisão do trabalho na qual aos homens eram reser-
(governantes) e pipiltin (nobres), os macehualtin (como vadas as tarefas ligadas à agricultura (abóboras,pimentas,
se autodenominavam os mexicas, com uma conotação de milho, feijões, batatas, cacau, chicle, coca, tomate, quinoa,
“servos”) eram obrigados a ceder parte da sua produção algodão de fibra longa, tabaco e mandioca) e à produção
agrícola aos governantes como tributos. Descontentes especializada, enquanto às mulheres cabiam trabalhos
com a situação, seguiram a profecia do sacerdote Huit- domésticos, a feitura da massa de tortillas, a fiação e a
zilopochtli, que dizia que o deus Tetzahuitl Teotl havia tecelagem. Os mexicas conheciam o ouro, a prata, o co-
aconselhado que os mexicas migrassem até encontrar um bre e o estanho, além de algumas pedras preciosas. Eles
local em que avistassem uma águia pousada em um cacto também desenvolveram técnicas metalúrgicas na criação
devorando uma cobra. Essa imagem foi vista em uma ilha do
de adornos e ferramentas.
Lago Texcoco, e teria se tornado, em 1325, a cidade
A religiosidade mexica se desenvolveu a partir dos cul-
de Tenochtitlán.
tos ao sol e à terra. Ometeotl era, para os mexicas, “o deus
dual”, ao mesmo tempo pai onicriador e mãe universal; pai
Diego Rivera/Palacio Nacional, México

e mãe de todos os quatro deuses que permitiram colo-


car o sol em movimento e, assim, criar a vida. A partir da
compreensão de que o sangue era parte integrante
da cosmogonia, praticaram sacrifícios humanos em larga
escala.
Os mexicas exerceram domínio sobre diversas outras
sociedades ameríndias, submetendo-as ao pagamento de
tributos, que, por sua vez, eram um dos pilares de manuten-
ção do poderio mexica. Às vésperas da invasão espanhola,
Tenochitlán era o centro administrativo de um grande e
complexo domínio territorial.

Zona andina central


Os primeiros núcleos de civilização desenvolveram-
-se na região andina da América do Sul (Peru, Bolívia,
Equador, Chile e Argentina), a partir de 1200 a.C. com o
cultivo sistemático do milho, o que possibilitou a seden-
tarização e o surgimento de várias cidades-Estados. A
partir de 600 d.C., esses núcleos passaram a se unificar,
estabelecendo impérios que ultrapassaram os limites
originais e dominando áreas mais vastas. Os períodos
em que houve a presença de uma administração central
capaz de controlar os agrupamentos humanos tanto na
costa quanto na região das montanhas, são denominados
“horizontes”.
Durante o chamado “horizonte primitivo”, o desenvolvi-
mento esteve concentrado em Chavín, um templo religioso
nas montanhas do leste, entre 1000 a.C. e 300 a.C. Durante
o “horizonte médio” (500 a.C.-1000 d.C.), destacaram-se
Detalhe de A grande Tenochtitlán, mural de Diego Rivera, 1945. Palácio sucessivamente dois centros administrativos: Tiahuanaco,
Nacional, México. Fundada a partir de uma ilha no centro do Lago Texcoco,
a expansão do centro administrativo mexica foi feita a partir da formação de na região boliviana do Lago Titicaca, e Huari, no Vale do
ilhas artificiais interligadas pela navegação. Mantaro, no Peru.

34 HISTÓRIA Capítulo 2 A formação das estruturas coloniais


Mas foi Tahuantinsuyo, o Império Inca, comunidade mul- A administração era centralizada na capital, Cuzco, de
tiétnica formada nos Andes, que se destacou. Suas origens onde partia uma extensa rede de estradas (cerca
situam-se no século XII, quando ocorreu a reunião de vários de 30 mil km de extensão) que interligavam o império,
povos sob o domínio do grupo inca ou quíchua, na região dividido em quatro territórios governados pelos após
de Cuzco, no Peru. O longo processo de disputa bélica com (chefes), que assessoravam o inca (imperador). Cada
povos vizinhos pelo controle da região desenvolveu uma for- território subdividia-se em províncias para fins de con-
ma de poder político na qual o imperador acumulou também trole tributário.
a autoridade religiosa, tornando-se divino, o “filho do sol”.
O período mais conhecido da história inca situa-se no Indígenas antes do Brasil
século XV, com sua expansão territorial iniciada pelo im- Antes da chegada dos portugueses, o território que
perador Pachakuti, que resultou em um império de mais viria a ser o Brasil era habitado por centenas de gru-
de 4 300 quilômetros ao longo dos Andes (envolvendo o pos diferentes que compunham mais de 1000 línguas
Equador, ao norte, e o Chile e a Argentina, ao sul) e que distintas, das quais sobreviveram cerca de 160. Esses
ainda estava em fase de expansão quando os espanhóis milhares de idiomas derivavam de quatro principais gru-
alcançaram a região na segunda década do século XVI. pos linguísticos: o tupi (representando o agrupamento
As comunidades incorporadas pelos incas mantinham mais populoso, que ocupava quase toda a faixa da costa
uma identidade cultural própria na qual os senhores lo- atlântica até a margem sul do Rio Amazonas); o macro
cais eram submetidos a um sistema de governo indireto. jê (grupos que habitavam a região do planalto central,
A sociedade inca era teocrática e rigidamente hie- o Maranhão e o alto Paraguai); o caraíba (presentes da
rarquizada. No topo, ficavam o soberano e sua parentela; região amazônica); e o aruaque (estabelecidos às mar-
depois, os militares, os sacerdotes e os altos funcionários
gens dos rios Negro e Orinoco). Podemos citar, ainda,
imperiais; mais abaixo, os trabalhadores especializados; e,
outros grupos, com menores quantidades de represen-
na base, os camponeses, submetidos à servidão coletiva.
tantes, que derivaram de outros troncos linguísticos,
A terra era considerada propriedade do imperador, por-
como xirianá, tucano, pano, paezan, guaicuru, charrua,
tanto os camponeses apenas a cultivavam. A agricultura (milho,
nhambiquara, bororo, carajá, mura, aripaquista etc.
batata, tomate, coca, quinoa e amendoim) era feita em terra-
Muitos agrupamentos foram exterminados sem que
ços como forma de permitir a prática agrícola em declives
houvesse tempo de os linguístas conhecerem e estu-
de montanhas. Homens e mulheres também eram sujeitos à
darem seus idiomas. Diante disso, Johanna Nichols,
mita, trabalho forçado em obras públicas e serviços militares.
especialista em estudos de idiomas, diz que, se um
Os incas não chegaram a elaborar uma escrita. Uti-
grupo linguístico necessita de 8 mil anos para tornar-se
lizaram-se apenas de pictogramas e ideogramas, mas
diferente dos outros, para que houvesse tantas línguas
desenvolveram um sistema contábil sofisticado, o quipo,
na região, o território deve ter sido povoado há pelo
necessário em uma sociedade tributária controlada pelo
menos 50 mil anos. Estimativas mais recentes indicam
Estado. O idioma praticado era o runa simi, ao qual os
que havia uma população de cerca de 2,4 milhões de
europeus denominaram quíchua.
indígenas no que viria a ser o Brasil à época da chegada
dos portugueses; na mesma época, em Portugal, havia
Simon Mayer/Shutterstock.com

cerca de 1,4 milhões de habitantes.


A teoria que apresenta datação mais antiga para a ocu-
pação do território identificado hoje como Brasil é a da
arqueóloga Niède Guidon. Segundo a pesquisadora,
vestígios do que supostamente seriam restos de foguei-
ras encontrados na região do Piauí indicariam ocupação
humana há cerca de 50 mil anos. Porém, essa teoria foi
amplamente criticada por muitos arqueólogos, pois os
vestígios encontrados por Guidon seriam de combustão
espontânea, e não indícios de atividade humana, con-
forme defendia a pesquisadora.
Outros agrupamentos humanos, também do período
denominado Pré-história, foram os povos dos samba-
quis, que habitaram a costa atlântica entre 2 e 8 mil
anos atrás, vivendo da pesca e da coleta de frutos do
mar. Esses diversos grupos tinham em comum a prática
de acumular materiais orgânicos como conchas, carti-
lagens de peixes e moluscos, ossadas humanas etc.,
formando os sambaquis (palavra formada por “tãba”,
FRENTE 1

que significa "concha", e “ki”, que significa "amontoa-


O quipo, ou khipu, era um instrumento feito de lã ou algodão no qual os
nós (tanto a quantidade de amarrações quanto suas posições nas cordas) e do"). Os sambaquis eram, portanto, um “amontoado de
diferentes cores eram utilizados como mecanismo de contagem e comunicação. conchas”, depósitos constituídos por materiais orgânicos

35
que, empilhados ao longo do tempo, sofreram a ação chamadas “bugigangas” europeias, como facas e ma-
de intempéries naturais e, assim, passaram por uma chados, promoveram profundas alterações nos modos
fossilização química. de vida dos povos ameríndios. Como formas de ador-
no, utilizavam pinturas corporais e ornamentos feitos
Joannis77 (CC BY 4.0)

de pedras e penas (para caçar aves sem danificar as


penas, alguns indígenas desenvolveram setas de pontas
arredondadas) que eram usados em diversas partes do
corpo, como boca, cintura, orelhas, pescoço etc.
Dada a impossibilidade de trabalhar a fundo as espe-
cificidades de cada um dos agrupamentos, abordaremos
aqui os mais numerosos: os derivados do jê e do tupi.
Os jês, família linguística do tronco macro jê, repre-
sentam os agrupamentos que falavam o akwen, apinajé,
kaingang, kayapó, suyá, timbira, entre outros. Distantes
do mar, não possuíam familiaridade com atividades liga-
das à navegação. Passaram por processos migratórios
pouco intensos e, assim, constituíram aldeias maiores do
que as de outras comunidades indígenas e sem hierar-
quias. Por viverem na região centro-oeste do que hoje
é o Brasil, foram menos afetados, inicialmente, com o
processo de conquista europeia.
Os tupis formaram a família linguística tupi-guarani,
que, por sua vez, representa os agrupamentos que fala-
vam o tupinambá, guarani, parakanã, kagwahiv, tapirapé,
kayabi, araweté, entre outros. Como habitavam a região
do litoral atlântico, tiveram intensos contatos (muitas
vezes de forma violenta) com os portugueses e, por
Há sambaquis que resistem até os dias de hoje e, como são isso, aparecem com maior destaque nas narrativas da
semelhantes a pequenas colinas nas regiões litorâneas, muitos colonização. Os tupis haviam dominado de forma mais
passaram despercebidos. Uma tática amplamente utilizada pelos
pesquisadores para identificá-los foi consultar as comunidades profunda as práticas agrícolas. Exerciam a agricultura de
caiçaras sobre os locais de que retiraram recursos para construírem coivara, técnica na qual a queimada era utilizada como
suas habitações. Como os sambaquis são depósitos de calcário, muitos forma de abrir espaço para áreas cultiváveis. Entre os ali-
foram utilizados para extração a fim de servir à construção civil. Na foto
de 2012, vemos o Sambaqui Figueirinha I, na região de Jaguaruna, em mentos cultivados, destacavam-se o milho e a mandioca.
Santa Catarina. Seus aldeamentos eram formados por quatro ou
mais habitações dispostas de maneira circular, deixando,
Os indígenas que habitaram o território brasileiro não de- ao centro, um pátio no qual ocorriam as festas, os rituais
senvolveram sistema numérico ou de escrita, pautando-se, e outras atividades cotidianas. Possuíam uma religiosi-
portanto, na tradição oral. Eram caçadores e coletores; dade de caráter politeísta atrelada à natureza. Segundo
apesar de terem dominado a agricultura e a pecuária, a cosmologia tupi, os animais compunham sociedades
havia poucos animais que pudessem ser domesticados formadas por linguagem, cultura, moral e religião pró-
para a subsistência e as práticas agrícolas em regiões prias, apesar de serem incompreensíveis para os seres
de floresta densa. Por isso, muitos agrupamentos viviam humanos; não havia, portanto, a hierarquia da natureza
em aldeias por períodos curtos; muitas vezes, as comu- típica do pensamento cristão ocidental. Seres humanos
nidades deslocavam-se anualmente por um perímetro e natureza eram equivalentes em importância.
para aproveitar determinadas estações para a coleta de Os conflitos entre comunidades indígenas não eram
insumos específicos. As aldeias eram montadas com ma- movidos pelo desejo de exercer dominação política, es-
teriais como madeira, cipó e capim. cravização ou extração de tributos ou de bens materiais.
Na região amazônica, muitos agrupamentos domina- De forma geral, as guerras eram motivadas por vingança
ram complexas técnicas artesanais, como a produção de ou conflitos de cunho ancestral. Quando eram feitos pri-
cerâmica. Destaque para a cerâmica marajoara decorada sioneiros de guerra, a intenção não era promover uma
com grafismos pintados (nas cores vermelho, extraída exploração compulsória do trabalho, mas a extração de
do urucum, preto, extraída do jenipapo, e branco) e com suas forças subjetivas durante os rituais antropofágicos.
aplicações em alto-relevo. A cerâmica marajoara foi am- A antropofagia, ou canibalismo ritual – importante frisar
plamente utilizada para a fabricação de urnas funerárias, que não se tratava de uma prática comum a todos os
o que é um indicativo de que essa população possuía indígenas –, era praticada por certas comunidades a fim
ritos sobre a morte. de adquirir a força, a coragem e a honra de seus inimi-
Apesar de hábeis artesãos, os indígenas conheciam gos derrotados em conflito. Consistia, portanto, em um
metais, mas não haviam dominado as técnicas meta- ato culturalmente reconhecido pelas partes presentes
lúrgicas, o que contribui para entendermos como as no processo.

36 HISTÓRIA Capítulo 2 A formação das estruturas coloniais


Saiba mais

Quando trazem para casa um inimigo, os primeiros a bater nele são as mulheres e as crianças. Depois colam nele penas
cinzas, raspam-lhes as sobrancelhas, dançam em volta dele e atam-no direito, de forma a não poder fugir. Depois dão-lhe
uma mulher, que o alimenta e também se entretém com ele. [...].
Alimentam bem o prisioneiro. Mantêm-no assim durante algum tempo e preparam-se para a festa. [...]. Confeccionam,
ainda, ramos de penas e os amarram à maça com a qual o matam. Fazem também uma grande corda, que chamam de mu-
çurana. Com essa corda amarram-no antes de matá-lo. [...]. Soltam a muçurana de seu pescoço e passam-na em volta do
corpo e depois puxam-na com força, dos dois lados. Ele agora fica amarrado no centro. Muitas pessoas puxam a corda de
ambos os lados. Deixam-no assim por algum tempo e põem à frente dele pequenas pedras, para que possa atirá-las contra
as mulheres que andam em torno dele e lhe dizem, de forma ameaçadora, como querem comê-lo. As mulheres estão pin-
tadas e, depois de ele ter sido esquartejado, devem andar em volta das cabanas com os quatro primeiros pedaços. Isso para
o grande regozijo dos remanescentes.

Período pré-colonial (1500-1530)


O desinteresse inicial
Independentemente da intencionalidade ou causalidade que levou à chegada da frota comandada por Pedro Álvares
Cabral ao Brasil, é certo que o território americano não era o destino final daquela expedição.
Após a assim chamada “descoberta”, as naus e caravelas não retornaram a Portugal; passados alguns dias, Cabral
comandou sua frota em direção ao destino estabelecido desde o início: ao Oriente e ao lucrativo comércio de especiarias.
O primeiro contato com o território que viria a ser o Brasil não apresentou, de início, elementos que pudessem
ser explorados pelos interesses mercantis. Os indígenas não usavam adereços feitos de ouro ou prata, o que indica-
va, aos portugueses, que não havia metais preciosos na região. As primeiras impressões não encontraram, também,
abundância de produtos dotados de alto valor comercial.
Soma-se isso a centralização dos interesses lusitanos no lucrativo comércio com o Oriente. Dessa forma, a explo-
ração do território recém-achado pelos portugueses não assumiria um protagonismo nos esforços promovidos pela
monarquia de Portugal. Enquanto nas “Índias” eram montadas feitorias, criada a Casa da Mina e posteriormente, a
FRENTE 1

Casa da Índia (organização para administrar e organizar o comércio dos territórios dominados pelos portugueses no
Oriente), além do Conselho da Índia, as iniciativas em relação ao território americano limitaram-se, durante as primeiras
décadas, à expedição de reconhecimento e à exploração do pau-brasil.

37
Extração de pau-brasil
O pau-brasil (que acabaria influenciando no nome do território colonial) é uma árvore, que pode chegar até 15metros
de altura e era abundante na região da Mata Atlântica. A madeira do pau-brasil possui uma cor vermelho vivo que
remete a brasas de fogo (daí o nome Brasil) cuja resina servia para tingir tecidos. Além disso, a madeira era de ótima
qualidade para construções.
Interessado nas aplicações comerciais, Portugal concentrou os seus limitados esforços na região para extração
do pau-brasil. Inclusive, é importante lembrarmos que essa atividade acontecia em sistema de estanco régio, ou seja,
tratava-se de um monopólio da Coroa. Como as atenções estavam voltadas as “Índias”, a Coroa portuguesa conce-
deu o monopólio sobre a atividade para terceiros, principalmente a Fernando de Noronha e, depois a Jorge Lopes
Bixorda. A concessão de monopólios (de comércio ou produção) a particulares consistia em uma prática comum do
mercantilismo, e não somente reforçava a centralização política do poder, como também permitia um aumento sobre
as arrecadações (mesmo concedendo o monopólio, a Coroa continuava recolhendo tributos referentes às trocas).
A extração era feita de forma rudimentar, a partir de escambo com comunidades indígenas litorâneas. Os indígenas
extraíam o pau-brasil e o armazenavam em feitorias. A primeira feitoria foi montada, em 1504, na região onde hoje é
Cabo Frio. Em troca do trabalho, os indígenas recebiam as chamadas “bugigangas”. Porém, é necessário tomarmos
cuidado em associarmos o termo a um caráter pejorativo. Entre as “bugigangas” estavam objetos como: facas, ma-
chados, agulhas, foices, espelhos, chapéus, anzóis, panelas, pás etc. Para povos que não exerciam o domínio sobre
a metalurgia do ferro, essas ferramentas permitiram profundas transformações tanto na possibilidade de ampliar a
produção, quanto no tempo reservado ao ócio.

A Colônia vista com outros olhos


Ainda na primeira metade do século XVI, por volta de 1530, iniciou-se a decadência do comércio com o Oriente.
O fim do monopólio português (com o surgimento de novas concorrências) e os ataques árabes no oceano Índico
favoreciam, simultaneamente, a desvalorização das especiarias no mercado europeu e o encarecimento na manuten-
ção dos domínios no Oriente.
Assim, pela necessidade de organizar uma nova fonte de lucros (ainda que o comércio com o Oriente não tenha
sido interrompido), Portugal voltou sua atenção para o território americano. Porém, por não terem sido prioridade da
monarquia lusitana, as terras além do Atlântico estavam, nesse momento, sofrendo constantes ataques de piratas e
corsários, além de contar com a presença de mercadores ingleses, franceses, da região dos Países Baixos, entre ou-
tros. Os franceses, sobretudo, eram a principal ameaça para Portugal. Portanto, a fim de tornar o território lucrativo aos
interesses portugueses, era necessário antes assegurar a posse e o domínio sobre essas terras.
Em 1530, Martim Afonso de Sousa (1500-1564), fidalgo de confiança do rei de Portugal D. João III (1502-1557),
liderou uma expedição armada em direção ao Brasil. A expedição que durou até 1533, tinha como principais finalidades
o combate aos contrabandistas franceses e fundar vilas a fim de povoar e consolidar a posse da Coroa lusitana sobre
a região. Por isso, Martim Afonso fundou inicialmente a vila de São Vicente (1532), no litoral paulista.

A montagem do sistema colonial


Estrutura e administração da Colônia
Como vimos anteriormente, o mercantilismo consistia em um conjunto de práticas promovidas pelos Estados cen-
tralizados europeus que se desenvolveram no início da Idade Moderna. Entre essas práticas estavam o metalismo; a
manutenção de uma balança comercial favorável; o protecionismo alfandegário e o estabelecimento de monopólios
(que, como vimos na extração de pau-brasil, poderiam ser concedidos a particulares) sobre atividades econômicas.
Veremos, a seguir, como a concepção de colônia funcionou como uma espécie de síntese aos anseios mercantis.
O que foi o sistema colonial? “Colônia”, na Antiguidade romana, era uma palavra utilizada para designar uma unidade
agrícola. “Sistema”, por sua vez, corresponde a um conjunto de elementos, portanto dois ou mais, que estabelecem
algum tipo de relação entre si. Compreendemos o sistema colonial enquanto um conjunto entre uma unidade agrícola
(colônia) e a metrópole (no caso do Brasil, Portugal).
A relação se dava a partir da imposição de um monopólio metropolitano sobre as atividades produtivas e comerciais
da colônia. A partir do sistema colonial, a colônia deveria exportar produtos primários exclusivamente à metrópole, e,
a partir de restrições à produção manufatureira, a colônia deveria importar manufaturas, apenas, oriundas da metró-
pole. A submissão colonial ao monopólio metropolitano, base fundamental do sistema colonial, é o que chamamos
de pacto colonial.
No entanto, é preciso dizer que o monopólio metropolitano concedido na concepção teórica do sistema colonial
nunca se deu de maneira absoluta. Sua aplicação dependia de intensos mecanismos de controle e fiscalização por
parte da metrópole. Sendo assim, as colonizações conviveram com contrabando e com uma dinâmica voltada para o
mercado interno colonial. Da mesma forma, temos que observar que a intensidade da aplicação do pacto colonial e a
fiscalização para garantir o exclusivo metropolitano oscilaram ao longo do tempo e pelos espaços coloniais.

38 HISTÓRIA Capítulo 2 A formação das estruturas coloniais


Houve períodos de maior e de menor controle – quan- em 1515. Quatro anos mais tarde, em 1519, essa mesma
do as atividades coloniais não se faziam interessantes para população havia sido reduzida a 17milhões. As mesmas
a metrópole. Nesses momentos, as colônias gozaram de pesquisas inferem que, em 1548, havia 6milhões de
maiores liberdades comerciais. Também podia ocorrer de indígenas no México e, no início do século XVII, dos
certas regiões da colônia receberem maior fiscalização, 25milhões iniciais, havia cerca de 750milameríndios.
enquanto outras eram negligenciadas. Segundo o poeta chileno Pablo Neruda, a conquista
espanhola foi realizada pela cruz, pela espada e pela fome.
Saiba mais Em uma mesma perspectiva, o importante historiador franco-
-búlgaro Tzvetan Todorov, em sua obra A Conquista da
América, fala em uma conquista material e em uma con-
quista espiritual sobre o continente.
A “conquista espiritual” foi feita pela “cruz”, ou seja, pela
imposição da fé católica aos ameríndios. Não podemos, no
entanto, pensar que a conquista espiritual não tenha sido
violenta, também, em uma perspectiva física. O catolicismo
foi imposto pela força, aculturando os indígenas e legitiman-
do a dominação. A resistência dos ameríndios à nova fé
muitas vezes foi utilizada pelos espanhóis como argumento
para legitimar a “guerra justa” e a escravização dos nativos.
A “conquista material”, por sua vez, representa as inter-
venções bélicas – ou pela “espada”, na frase de Neruda. O
enfrentamento militar entre europeus e indígenas favorecia
os espanhóis, pois eles usavam armas de fogo, cavalos,
cães e armaduras. Entre as táticas de batalha, o cerco
contra cidades ameríndias e o confisco de alimentos se
fizeram presentes. Nesse sentido, a “fome” foi elemento
crucial na violência contra os indígenas em dois momentos:
primeiramente como tática de guerra e, posteriormente,
já durante a colonização, com a introdução do cultivo de
novos alimentos produzidos em larga escala (o trigo, por
exemplo), o que prejudicou as práticas agrícolas de subsis-
tência dos povos nativos. Com as exportações em massa
de insumos primários, ocorreu a diminuição da produção
de alimentos voltada ao mercado interno e, assim, houve
o encarecimento desses produtos.
Há um aspecto da conquista material sobre a Améri-
ca que não está presente na fala do poeta: as doenças.
Doenças como varíola, malária, sarampo, tifo e gripe eram
comuns no século XVI, tanto na Europa quanto nas regiões
que, há séculos, possuíam trânsito com as populações eu-
ropeias, como é o caso de partes do continente africano
e do oeste asiático. A América, entretanto, esteve isolada
do contato com essas doenças endêmicas, e, por isso, os
ameríndios não possuíam imunidade ou defesas biológicas
contra elas.
Situados em regiões insulares da América Central
desde a chegada à América, os espanhóis realizaram, na
virada do século XV para o XVI, uma série de incursões
Colonização da América espanhola de caráter exploratório sobre o continente americano. As
expedições militares espanholas concentraram-se contra
Conquista da América pelos espanhóis os dois agrupamentos sociais mais numerosos que estavam
O início da colonização espanhola na América se presentes no continente: o Império Mexica e o Império Inca.
deu no violento processo de conquista sobre o território Ambos acabaram dominados – material e espiritualmen-
e, principalmente, sobre as populações ameríndias. A te – pelos espanhóis, mesmo que estes estivessem em
colonização da América (Ibérica), em números absolutos, menor número.
representou o maior massacre da história, promovido A conquista sobre os mexicas se deu sobre a li-
FRENTE 1

pela Europa, em relação às populações autóctones. derança do conquistador espanhol Hernán Cortés
S. F. Cook e W. Borah estimam a população indíge- (1485-1547). Em 1519, Cortés partiu de Cuba em dire-
na, na região do México, em 25 milhões de pessoas ção ao litoral do que hoje seria Vera Cruz, no México.

39
Com cerca de 600soldados, 15 cavaleiros e 15 ca- população mexica da cidade por fome, sede (as águas
nhões, os espanhóis conquistaram o centro mexica de foram envenenadas pelos espanhóis), doenças e enfren-
Tenochtitlán, que, à época, estima-se que possuía entre tamento militar. Em 1522, os antigos territórios do Império
100 mil e 300milhabitantes. Mexica tornaram-se a Nova Espanha.
Durante muito tempo, a fim de explicar a vitória Da mesma forma que as disputas internas foram utiliza-
espanhola diante de tamanha disparidade numérica, das na conquista do Império Mexica, o mesmo aconteceu
foi defendida e tese de que a civilização mexica teria no Império Inca.
facilmente se submetido aos espanhóis, uma vez que A sucessão ao trono inca poderia ser feita por qual-
acreditavam que se tratava de deuses. Em carta ao rei quer pessoa que tivesse parentesco com o rei. Não havia,
espanhol, Cortés diz que os mexicas o reconheceram portanto, uma linha sucessória definida, podendo ocupar
como o deus Quetzalcóatl. Porém, o historiador Mat- o trono filhos, sobrinhos, irmãos ou até mesmo primos do
thew Restall, em sua consagrada obra Sete mitos da antigo imperador. O final de um reinado era, normalmente,
conquista espanhola, aponta que essa interpretação um período de conflitos pela sucessão real. No início do
não está inteiramente correta. Para compreender a século XVI, quando os espanhóis tiveram contato com a
conquista de Cortés, devemos lembrar, inicialmente,
região andina, os irmãos Huascar e Atahualpa disputavam
que a civilização mexica era composta de uma vasta
o poder após a morte do pai deles, Huayna Capac.
heterogeneidade de comunidades indígenas submeti-
Francisco Pizarro (1471 ou 1476-1541), depois de já ter
das a um poder central. Os espanhóis, dessa maneira,
tentado, sem sucesso, conquistar os incas, usou a guerra civil
exploraram a rivalidade já existente entre os agrupa-
a seu favor. Após ter aportado na costa de onde hoje é o
mentos ameríndios.
Equador, em 1531, Pizarro marchou em direção ao Peru. Ao
A aliança entre os espanhóis e alguns indíge-
chegar a Cuzco, em 1532, a guerra civil havia terminado com
nas pode ser compreendida a partir da relação entre
a morte de Huascar, e o recém-vitorioso Atahualpa tentava se
Hernán Cortés e a indígena Malinche. Ela pertencia à
etnia Nahua e fazia parte da população nativa subme- consolidar como novo imperador.
tida aos mexicas. Por conhecer o idioma nahuatl, ela A fim de se impor aos incas, Pizarro explorou as riva-
dominava as tradições astecas e teria sido umas das lidades que permaneceram no império diante da disputa
responsáveis por transferir esse conhecimento aos es- entre os irmãos. Ao mesmo tempo que Pizarro apoiou os
panhóis, que, mediante vantagem de conhecer seus incas ligados a Huascar, nomeando-os para cargos diver-
inimigos, usaram isso ao seu favor. Além disso, ao co- sos, o conquistador espanhol sequestrou o novo imperador,
nhecer as dinâmicas internas, os espanhóis formaram Atahualpa, e exigiu como resgate um aposento cheio de
alianças com outros ameríndios descontentes com a ouro e dois outros cheios de prata. Mesmo após receber
submissão ao império de Montezuma II. Portanto, além o pagamento, o imperador inca foi condenado à morte e
dos pouco mais de 600 espanhóis, a conquista foi rea- executado pelos espanhóis.
lizada com o apoio de centenas de guerreiros ameríndios. Favorecido pela fragmentação interna, Francisco Pi-
Cortés submeteu a capital do Império Mexica, Teno- zarro conseguiu dominar Cuzco e Quito em 1533. Dois
chtitlán, a um cerco de 75 dias e consolidou a conquista anos depois, em 1535, Lima, a nova capital definida pela
em 13 de agosto de 1521, após a morte de boa parte da Espanha, foi fundada no Vice-Reino do Peru.
y, Califórnia, Estados Unidos.
B

Imagem do códice Lienzo de Tlaxcal, 1550. Cortés e Malinche (à direita) encontram


Montezuma II (à esquerda) em 1519.

40 HISTÓRIA Capítulo 2 A formação das estruturas coloniais


Particularidades da colonização espanhola Cidades e vilas da América espanhola
Uma das principais diferenças entre a colonização
espanhola e a colonização portuguesa, o processo de
urbanização ganhou destaque no capítulo “O semeador
e o ladrilhador” de um dos mais consagrados ensaios da
historiografia, o livro Raízes do Brasil, de Sérgio Buarque
de Holanda. De forma resumida, a distinção entre o se-
meador e o ladrilhador é apresentada a partir de duas
concepções distintas em relação à formação das cidades
coloniais. Os portugueses seriam os “semeadores” e te-
riam fundado suas cidades sem nenhum tipo de ordenação
ou racionalização prévia, jogando suas sementes de forma
aleatória (“caia onde cair”, como diz o Sermão da Sexagé-
sima, do jesuíta Antônio Vieira, de onde Sérgio Buarque
tira a ideia do semear), e os espaços urbanos teriam se
desenvolvido sem método ou rigor. Em contrapartida, os
espanhóis “ladrilhadores” teriam planejado suas cidades
a partir de um modelo geométrico em forma de grade, a
fim de melhor explorá-las.
Contudo, devemos perceber que há diversas inter-
pretações possíveis acerca da urbanização promovida
pelos espanhóis em território colonial. Enquanto alguns
historiadores defendem a ideia de que o plano em grade
das cidades coloniais era um mecanismo pensado previa-
mente para racionalizar e, assim, tornar a exploração mais
efetiva; outros, por sua vez, questionam a possibilidade
de existir, na Espanha, um conhecimento prévio sobre as
Fonte: BETHELL, Leslie. (org). História da América Latina. Volume II –
formações urbanas. Compreendem, portanto, que a dispo- América Latina Colonial. São Paulo: Edusp, , p. .
sição urbana em forma de grade seria uma solução mais
natural e, principalmente, mais compatível com o tamanho Para a exploração de minérios na região colonial, a Es-
do território americano. panha renunciou à administração direta em troca de parte da
Podemos, no entanto, perceber que as hipóteses não extração, feita por mineradores independentes, paga à me-
são, necessariamente, antagônicas, sendo possível analisá- trópole como forma de tributo. Até o século XVIII, a tributação
-las de forma conciliável. Independentemente da existência, predominante foi de 20% dos minérios extraídos; tal imposto
ou não, de um caráter intencional, no que envolveu a mon- ficou conhecido como quinto real. No entanto, seja visando es-
tagem de cidades no território colonial da Espanha, é certo timular a exploração em determinadas regiões ou por pressões
afirmarmos que a construção desses espaços representa coloniais, o valor cobrado foi alterado ao longo dos séculos
uma forma de transferência de uma ordem social, política e a depender das localidades. Em alguns lugares, por exem-
e econômica europeia à América. plo, os 20% foram reduzidos para 10%, em outros, para 5%.
A urbanização, seja por parte do “semeador” ou do Em 1778, a Espanha reduziu a cobrança em todo o território
“ladrilhador”, foi uma importante ferramenta da colonização. colonial. A partir de então, foi cobrado 3% nas colônias e mais
Trata-se de um recurso que favoreceu a ocupação (conse- o equivalente a 2% quando os minérios chegavam à Europa.
quentemente, a proteção), a apropriação de recursos e a A “mortífera fome do ouro”, como Pietro Martire de-
imposição de uma jurisdição àquele espaço. Por exemplo, signou a exploração de minérios no período colonial,
as cidades espanholas na colônia possuíam uma ampla contribuiu para a morte cada vez mais numerosa dos ame-
rede de serviços e universidades desde o século XVI. ríndios. A exploração de grandes quantidades de minério
A principal atividade econômica foi a extração de mi- exigia um número cada vez maior de trabalhadores.
nérios como o ouro e, especialmente, a prata. Lembremos Tendo a Espanha restrições sobre o tráfico de africanos –
que a procura por metais preciosos, ao ser uma das ba- uma vez que era uma atividade controlada majoritariamen-
ses da economia mercantil, contribuiu para incentivar as te por Portugal –, a exploração da mão de obra indígena
Grandes Navegações e era um dos principais interesses era a base do modo de produção colonial, exceto na área
das monarquias europeias em suas respectivas colônias. das Antilhas, onde a escravização de africanos foi predo-
A Espanha contou com duas vantagens: primeiramente, minante. É preciso que tenhamos cuidado nas formas de
a abundância de minérios nas regiões que configuram, designar o trabalho compulsório imposto aos ameríndios.
hoje, México, Peru e Bolívia; em segundo lugar, o fato de A ideia de “escravidão indígena”, que existiu apenas em
FRENTE 1

as civilizações mexica e inca dominarem práticas metalúr- casos excepcionais, não é o suficiente para descrever o
gicas contribuiu para que as minas de ouro e prata fossem processo. Chamaremos, então, o modelo mais comum de
rapidamente identificadas. exploração da mão de obra nativa de servidão indígena.

41
Uma das principais formas de servidão indígena foi a de tributos. Na Espanha, visando controlar as atividades colo-
encomienda, a qual consistia na concessão temporária de niais, havia o Conselho Real e Supremo das Índias, órgão que
ameríndios aos chamados encomenderos, normalmente controlava a administração dos territórios americanos, e as
proprietários de terras que podiam explorar a mão de obra Casas de Contratação, por meio das quais todos os assuntos
em troca da obrigação de promover a catequese. relacionados a impostos e comércio eram controlados. Para
Na região do Vice-Reino do Peru, a exploração da impedir o contrabando, foi estabelecido um sistema de porto
mão de obra indígena foi feita por meio da mita. O sistema único na Espanha para receber as mercadorias coloniais, en-
de mita era parte da tradição incaica, mas foi apropriado quanto, na América, todas as relações comerciais eram feitas
pelos espanhóis a fim de legitimar o trabalho compulsório a partir de um porto em Vera Cruz, no México; um porto em
dos ameríndios com finalidades religiosas (construção de Porto Belo, no Panamá; e, por fim, um porto em Cartagena.
igrejas) e públicas, por um período de 7 anos passíveis As colônias americanas foram submetidas a uma estru-
de renovação em troca de um salário anual irrisório. Uma tura administrativa rígida, composta de quatro Vice-Reinos,
prática semelhante à mita foi reproduzida no México sob criados ao longo da colonização: Nova Espanha (México e
o nome de repartimiento. Durante as lutas por indepen- Califórnia), Nova Granada (Colômbia e Equador), Peru (Peru
dência na América, em 1825, Simon Bolívar aboliu a mita. e Bolívia) e Rio da Prata (Argentina, Uruguai e Paraguai),
locais de maior interesse inicial por parte da Espanha e por
Divisão administrativa quatro capitanias-gerais, que formavam áreas estratégicas:
da América espanhola Cuba, Guatemala, Venezuela e Chile.
Enquanto a exploração de ouro e prata destacou as re-
giões do México, do Peru e da Bolívia, outras áreas coloniais
produziam gêneros alimentícios, como o Chile e a América
Central, ou criavam gado, como a Argentina.
Tanto os Vice-Reinos como as capitanias-gerais
subdividiam-se em Audiências, com jurisdição sobre assun-
tos judiciais, religiosos, militares, financeiros e comerciais.
OCEANO
ATLÂNTICO Existiam ainda os cabildos, ou ayuntamientos (câmaras mu-
nicipais), encarregados da administração de vilas e cidades.
A Igreja Católica exerceu um importante papel na Amé-
rica espanhola, pois auxiliava na submissão dos indígenas
0º aos interesses da metrópole. Como vimos, a Igreja Católica
foi parte integrante da “conquista espiritual”, mas durante
a colonização se fez presente ao coibir manifestações cul-
OCEANO turais e religiosas ameríndias ou de matrizes africanas por
PACÍFICO
meio dos Tribunais do Santo Ofício instalados nos Vice-Rei-
nos de Nova Espanha e do Peru.
A sociedade colonial espanhola era rigidamente hie-
rarquizada. O acesso aos principais cargos administrativos
na colônia estavam todos reservados aos chapetones
(espanhóis ou descendentes diretos de espanhóis que
representavam o interesse metropolitano), enquanto os
criollos (denominação atribuída aos colonos que repre-
sentavam os interesses coloniais) não tinham acesso
à administração mesmo sendo, normalmente, grandes
60º O
proprietários de terras e possuindo alto poder aquisitivo.
Fonte: ALBUQUERQUE, Manoel M. de. REIS, Arthur Cézar F. CARVALHO,
Apenas no século XVIII, quando o domínio espanhol já co-
Carlos Delgado de. Atlas histórico escolar. Rio de Janeiro: meçava a ser contestado por essa elite colonial, as disputas
FENAME, . (Adapt.) internas permitiram a presença dos criollos nos cabildos.

Antonio de la Calancha (1584-1654), frade agostiniano, Instalação da empresa açucareira


disse que “os moinhos moeram mais índios do que metais,
pois cada peso que se cunha custa a morte de dez índios”.
na América portuguesa
Notem, portanto, que, ao chamarmos esses mecanismos Brasil: empresa mercantil lusitana
de servidão indígena, e não de escravidão, não estamos Diferentemente da América espanhola, que contava
preocupados em dizer que algum tenha sido melhor, pior, com complexas estruturas de produção, além da abun-
mais ou menos violento. É necessário, apenas, diferenciá- dância de metais preciosos, coube a Portugal transformar
-los a fim de evidenciar suas especificidades. o território do Brasil em um aparato que servisse aos in-
Interessada na mineração, a fiscalização metropolitana teresses mercantis; daí a analogia de se pensar o Brasil
se fez presente por meio de diversos aparatos burocráticos como uma empresa mercantil com ênfase no setor primário
na tentativa de impedir o contrabando ou o não pagamento voltado para exportação.

42 HISTÓRIA Capítulo 2 A formação das estruturas coloniais


Madeira, tabaco, minérios, algodão e, principal- plantation brasileiro: nem todos os senhores de engenho
mente, o açúcar, conhecido como “ouro branco” e plantavam cana-de-açúcar. Havia lavradores livres que,
considerado um produto de luxo de alto valor comer- apesar de possuírem terras, não detinham os recursos ne-
cial, eram produzidos aqui. O açúcar, produzido a partir cessários para a montagem de um engenho.
da cana, já existia no Oriente desde o século VI; ele Esses lavradores levavam sua produção para moagem
passou a ser produzido também na Europa (Sicília, em engenho de terceiros, iniciando-se, assim, a segunda
Chipre, Creta e península Ibérica) e no norte da África ao etapa, a transformação da cana-de-açúcar em produtos
longo do século XIV. Portanto, esse método produtivo comerciáveis. A cana era moída e, depois, o caldo extra-
não era novidade quando os portugueses o trouxeram ído dela era fervido até virar melaço. O melaço, livre de
para o Brasil. impurezas, era reservado em recipientes de barro até ficar
A partir de iniciativas de D. Henrique, Portugal montou cristalizado, formando os chamados “pães de açúcar”,
plantações de açúcar nas ilhas atlânticas (Madeira e Açores) dos quais era extraído o açúcar mascavo (considerado de
e também em Cabo Verde e São Tomé. A produção açu- qualidade inferior) e o açúcar branco, que era moído e
careira nessas regiões era feita a partir de um modelo que levado para a secagem ao ar livre. O açúcar então era
seria replicado no Brasil: latifúndio, monocultura, exploração encaixotado e dividido entre lavrador e senhor de en-
da mão de obra escravizada negra de origem africana e genho. Na última etapa, a comercial, o açúcar era levado
com a produção voltada à exportação; modelo conhecido aos portos e transportado para Lisboa. Como vimos an-
como plantation. teriormente, era Flandres que distribuía o produto para o
Apesar de se constituir enquanto atividade agrícola, mercado europeu.
portanto primária, a produção de açúcar era bastante com- O lucro da produção açucareira estava distribuído entre
plexa. Até o século XVIII, tratava-se de uma das atividades lavradores, senhores de engenho, intermediários comer-
de maior exigência mecânica conhecida pelos europeus. ciais na Colônia e em Portugal e, por fim, comerciantes
Sua implementação dependia de apoio de especialistas flamengos. Assim, os lucros de Portugal com o açúcar eram
que, trazidos da Ilha da Madeira ao Brasil, verificavam a expressivamente maiores que o dos lavradores e senhores
viabilidade da produção canavieira. Embora detivesse de engenho; a maior parte das riquezas, no entanto, con-
experiência prévia e o conhecimento necessário para o centrava-se nos Países Baixos.
manejo de uma empresa açucareira, a Coroa portuguesa Então, como Portugal poderia ampliar seus lucros na
não contava com os recursos necessários na dispendiosa
exploração colonial? É o que responderemos a seguir.
montagem dos engenhos.
O financiamento para a fundação dos primeiros en-

Biblioteca da Universidade de Sevilla, España


genhos de açúcar no Brasil foi feito, em grande parte, por
particulares. Entre os grupos que investiam na montagem de
engenhos, destacaram-se os comerciantes flamengos (co-
mumente tratados de forma vulgar como “holandeses”), que
possuíam um amplo desenvolvimento financeiro à época.
Quando o açúcar chegava a Lisboa, ele era vendido,
preferencialmente, para a região de Flandres, cujos comer-
ciantes acumulavam grande parte das riquezas atreladas à
produção açucareira ao serem responsáveis pela distribui-
ção do produto final na Europa.
Portugal não ficava, então, com a maior parte dos
lucros? Para responder a essa pergunta, é necessário co-
nhecermos mais a fundo os processos que envolviam a Engenho de açúcar. Ilustração feita para o livro Novo e Completo Dicionário
produção açucareira. de Artes e Ciências, publicado na Inglaterra em 1763.

As terras da produção açucareira Atividades econômicas complementares


O eixo da produção açucareira concentrou-se no litoral Além da produção de açúcar, havia também na Colô-
do nordeste brasileiro, principalmente na região que hoje nia outras atividades econômicas e muitas assumiam um
representa Bahia e Pernambuco. Apesar de o cultivo de caráter complementar à agricultura canavieira. Caso, por
cana-de-açúcar ter se feito presente também no sudeste, exemplo, da pecuária; o gado era usado como transporte,
o nordeste recebeu o protagonismo devido à proximidade na tração nos engenhos e, ainda, destinado à alimentação
com a metrópole, o que favorecia o transporte da mer- e ao mercado interno.
cadoria, além de contar com condições naturais, como o Durante o período colonial, a criação de gado foi feita
solo de massapê (terra escura e argilosa), fértil ao cultivo de forma extensiva, ou seja, criado solto a fim de apro-
de cana-de-açúcar. veitar a vasta extensão territorial. A pecuária era realizada
FRENTE 1

A produção do açúcar estava dividida em três etapas: essencialmente por trabalhadores livres. Outra importante
agrícola, manufatureira e comercial. Na primeira parte, a atividade era a existência de lavouras de policultura para
produção agrícola, destacava-se uma especificidade do subsistência (arroz, feijão e mandioca).

43
Escravidão Assim, a opção pela exploração da mão de obra negra
de origem africana se deu pelos altos lucros gerados pelo
Mão de obra escravizada tráfico negreiro e pelos interesses metropolitanos adjacentes
negra de origem africana a ele. Não à toa, muitos colonos continuaram escravizando
No que diz respeito ao aumento dos lucros metropolita- indígenas, ainda que ilegalmente, até o século XVIII.
nos, devemos conhecer o peso do tráfico transatlântico de
escravizados como fonte de mão de obra para as colônias Atenção
lusitanas.
Inicialmente, havia sido empregada a exploração com-
pulsória da mão de obra indígena. No entanto, em 1570,
Portugal proibiu a escravização de indígenas (salvo em ca-
sos de “guerra justa”).
Por que Portugal optou pela escravização de negros
de origem africana em detrimento da exploração da mão de
obra indígena?
É necessário tomarmos alguns cuidados ao responder a
essa questão. Afirmar que o indígena não estava adaptado à
escravidão, que era “preguiçoso” ou que não detinha conhe-
cimentos agrícolas é afirmar que o negro havia nascido para a
escravidão, um raciocínio equivocado. Afirmar que os indíge-
nas fugiam com maior facilidade é outro engano, pois omite a
vastidão do território que compõe o Brasil e a pluralidade de
agrupamentos indígenas que havia aqui no século XVI. Essas
justificativas também escondem as tantas formas de resistência Brasil e África
dos negros escravizados. Durante os mais de três séculos de Os dois lados do Atlântico
escravidão, houve revoltas, ataques a senhores, fugas, forma-
A escravidão praticada na Idade Moderna represen-
ção de quilombos e, ainda, o suicídio e a prática do aborto.
tou a maior migração forçada da história. Estima-se que
Outra justificativa comum à nossa indagação está na bula 3646800 pessoas foram trazidas ao Brasil para serem es-
Sublimis Dei, divulgada pelo papa Paulo III em 1546. Nela, cravizadas, representando 38% do tráfico mundial.
os indígenas são caracterizados como gentios (pagãos), ou A história colonial do Brasil é indissociável da história
seja, eram seres humanos que não conheciam a palavra de da África. Por isso, para que possamos compreender a his-
Deus e, portanto, passíveis de conversão. Na prática, isso tória brasileira, é necessário que conheçamos, também, a
significaria o fim da escravização dos indígenas, pois seria do continente africano.
possível catequizá-los na fé católica. Porém, essa resposta
é insuficiente para compreender a razão da escravização Uma breve história da África
dos negros em detrimento da escravização dos indígenas. Para que possamos pensar uma história da África, é preci-
Primeiramente porque, ao recusarem ou oferecerem resis- so reconhecer a África e os africanos como algo extremamente
tência à conversão, os indígenas abandonariam a condição plural. Houve, e ainda há, no continente africano, uma vasta he-
de gentios e passariam a ser vistos pela Igreja Católica como terogeneidade étnica, cultural, religiosa, de idiomas, estruturas
infiéis, sendo, portanto, passíveis de escravização. sociais e políticas e, inclusive, de fenótipos. O território, por sua
Outro aspecto importante é atentar aos esforços sobre vez, também se apresenta de forma diversa. Rodeado pelo
a catequese de negros escravizados, que, inclusive, rece- Mediterrâneo ao norte, pelo Oceano Atlântico ao oeste e
biam nomes cristãos. Ora, se havia tentativa de cristianizar pelo Índico na costa oriental, o continente conta com extensas
os negros de origem africana, por que estes podiam ser áreas desérticas, estepes, savanas e florestas tropicais.
escravizados e os indígenas não? A homogeneização dos diferentes povos africanos foi
A explicação da exploração da mão de obra africana frequentemente utilizada como uma maneira de inferiorizar
parece encontrar-se em outro lugar. Segundo Fernando os que eram considerados diferentes e, assim, legitimar
Novaes, importante historiador brasileiro, é o tráfico tran- processos de dominação.
satlântico de escravizados que explica a escravização dos Portanto, devemos reconhecer que não há uma única
negros, e não o contrário. história da África. Há muitas histórias de muitas Áfricas. Traba-
Ao proibir a escravização indígena no território colo- lhar com a história africana só é possível se feita a partir tanto
nial, Portugal, que já possuía feitorias na costa ocidental da das relações internas quanto da sua interação com outros
África, garantia um mercado consumidor para os traficantes continentes. O que iremos propor aqui é conhecer alguns
lusitanos de escravizados, assim como permitia maior ar- dos principais aspectos do continente até o século XIV.
recadação de tributos sobre essas transações comerciais. É comum associarmos a história do continente africano
Além disso, permitia aos comerciantes que trocassem es- apenas à escravidão moderna ou ao imperialismo do sécu-
cravizados por produtos coloniais, evitando um afluxo de loXIX. No entanto, a África foi palco de fenômenos históricos
riquezas (moeda) da metrópole em direção à Colônia. amplamente conhecidos. Foi no território africano que o ser

44 HISTÓRIA Capítulo 2 A formação das estruturas coloniais


humano surgiu e desenvolveu-se antes de migrar para outros comandados por um chefe eleito. Nos clãs, havia uma divi-
continentes. Lá também foi encontrada Lucy, o mais antigo (e são equitativa da produção. Um reino poderia ser composto
completo) fóssil hominídeo de que se tem notícia, com cer- de uma congregação de diversos clãs que manteriam a
ca de 3 milhões de anos. O domínio sobre a agricultura e o autonomia sobre seus ritos e tradições. Os clãs deveriam,
aprofundamento das técnicas e tecnologias durante o período no entanto, jurar fidelidade ao rei, normalmente um chefe
Neolítico e, posteriormente, o domínio da metalurgia acontece- de clã que havia se sobreposto aos demais. Era comum
ram no continente africano. E o desenvolvimento da civilização que os reis tivessem um caráter sagrado. Um império era
egípcia, que legou uma série de elementos culturais para a formado a partir da submissão de um grande território e
humanidade, também ocorreu na África. sobre alguns reinos.
O continente também integrou o Império Persa, a civiliza- No século XV, com a chegada dos po ugueses ao litoral
ção fenícia, o Império Macedônico e o Império Romano. Com atlântico do continente, havia, por exemplo, os impérios de
a expansão romana, inclusive, muitos territórios africanos Mali, Gana, Benin, Daomé, Kongo e Ndongo. O Kongo possuía
cristianizaram-se. A fé cristã, disseminada a partir do Egito 3 milhões de habitantes, com um rei (Manikongo) sentado em
durante o século IV, assumiu diversas interpretações. Em um trono de madeira e marfim. Mbanza Kongo era a capital do
Axum (Namíbia), por exemplo, a igreja axumita, ao seguir o reino, hoje chamada São Salvador, em Angola. De lá, saíam
monofisismo (doutrina segundo a qual a natureza divina de caravanas que levavam ferro e sal para outras partes da África.
Jesus prevalece sobre a natureza humana), formou-se como Portugal explorou as rivalidades existentes entre os
Igreja separada tanto de Roma quanto de Constantinopla. grupos dominantes e dominados para favorecer o tráfico tran-
Com a expansão do islamismo a partir do século VII, o satlântico de escravizados. A atividade alterou a dinâmica na
califado Omíada conquistou o Egito, em 652, e depois parte África; vários grupos africanos passaram a dedicar-se à captura
da costa oriental e o norte do continente. No litoral índico, de pessoas para que fossem comercializadas como escra-
o encontro entre populações árabes-islâmicas com nati- vizadas. Os portugueses venderam pólvora e fuzis a reinos
vos de matriz cultural banto deu origem a uma sociedade africanos que efetuavam tal caça, desequilibrando a relação
marcada pela utilização do idioma suaíli (hoje, com falantes de poderes no continente. Esses mercadores adquiriam escra-
vizados por meio da guerra com outros povos (muitas vezes
na República do Quênia, Tanzânia e Uganda). No norte da
é o rei de determinada região africana quem realiza esse co-
África, no Magreb, houve uma resistência inicial dos povos
mércio) ou pela venda de homens considerados subversivos,
berberes, mas que acabaram se convertendo ao islamismo.
tais como adúlteros, bandidos e feiticeiros.
Com a presença mulçumana no norte do continente
No entanto, dada a pluralidade que tanto enfatizamos,
africano, o Magreb recebeu um incremento das ativida-
nem todos os reinos submeteram-se aos interesses dos
des comerciais; caravanas de camelo vindas do Oriente
europeus. Muitas regiões se recusaram a capturar e comer-
cruzavam a região em direção ao Sudão Ocidental (entre
cializar escravizados. Um caso muito famoso que ilustra essa
Senegal e Mali), Central (República do Chade) e Oriental.
explicação é a rainha Nzinga, de Angola, que, após uma série
A presença islâmica também contribuiu para o desenvolvi-
de conflitos com os portugueses, fez acordos de paz, sendo
mento do comércio de escravizados na região.
uma das únicas economias que não dependiam do trabalho
Muitas vezes, a experiência de escravidão no continente
escravizado. Essa rainha causou um grande impacto no imagi-
africano, anterior ao colonialismo moderno, foi utilizada a fim
nário europeu, pois rompia com a ideia dominante da mulher
de justificar a escravização praticada na Idade Moderna a partir submissa: dizia que era um rei e tinha um harém de homens
da premissa de que “o africano” já escravizava “o africano”. No vestidos de mulher, os quais chamava “minhas esposas”.
entanto, tal afirmação é equivocada. Não existe “o africano”;
como vimos, havia, no continente africano, diversas culturas
Galeria Nacional de Retratos, Londres.

e etnias que não se reconheciam como iguais, sendo muitas


até mesmo rivais entre si. Também é necessário diferenciar as
formas de escravidão praticadas no continente da que seria
realizada pela Europa a partir do século XV. Na África, assim
como nas civilizações mesopotâmicas, na civilização grega e
em Roma, havia três formas de escravidão: por compra e ven-
da, por dívidas ou sendo prisioneiro de guerra. Os cativos não
perdiam sua liberdade por completo, gozando de autonomia,
inclusive, para se deslocarem sozinhos em longas viagens.
Houve diferentes formas de organização social na África.
Muitas sociedades, principalmente antes do contato com o
cristianismo e com o islamismo, eram matrilineares, ou seja,
a legitimação da linhagem se fazia pelas descendências das
mulheres. Outras, como a civilização de Meroé, além de matrili-
neares, eram matriarcais, com mulheres em posições de poder.
FRENTE 1

Entre as formas de Estado, podemos destacar, das


Retrato imaginário da rainha Nzinga de autoria do francês Achille Devéria,
mais rudimentares às mais complexas, os clãs ou linhagens anos 1830. A imagem de Nzinga ganhou notoriedade com esse retrato,
que eram reunidos por uma ancestralidade em comum e embora tratasse do olhar europeu sobre a personagem.

45
Sociedade colonial nos (principalmente agrupamentos litorâneos de troncos
derivados do tupi), vivendo entre eles. A aproximação
séculos XVI e XVII cultural era, justamente, para expandir as possibilidades
A sociedade açucareira de conversão.
A sociedade que se desenvolveu ao redor da produ- Para tal, algumas outras táticas foram adotadas. Peças
ção açucareira estava alocada na região rural do litoral teatrais, muitas vezes representadas em idiomas nativos, mistu-
nordestino. ravam elementos locais com narrativas canônicas. A conversão
Diretamente condicionada pelo núcleo fundamental por imposição sincrética se fez bastante comum. Elementos da
colonial, era patriarcal, autoritária e violenta. A sociedade mitologia indígena eram associados a santos católicos.
era hierarquizada, pautada pela contraposição do senhor Os jesuítas organizaram-se nas colônias em missões,
de engenho e dos submetidos à escravidão. um espaço de conversão, produção e reserva de mão de
O senhor de engenho representava um caráter obra produtiva e militar. Nesses espaços eram ensinadas
aristocrático, cujos status e poder relacionavam-se, princi- aos indígenas lições de religião, alfabetização nos moldes
palmente, à posse de terras e de escravizados. portugueses e música. O objetivo dos jesuítas era moldar
Compondo o restante do quadro social, havia uma pe- os indígenas na fé cristã e em valores europeus como dis-
ciplina e trabalho.
quena parcela de trabalhadores livres (capatazes, feitores,
Os jesuítas colaboraram para o processo de coloniza-
técnicos de produção de açúcar, trabalhadores urbanos,
ção, uma vez que muitas das missões tornaram-se vilas e,
médicos, professores e membros do clero); todos, no en-
posteriormente, cidades. Em 1554, eles fundaram o Colé-
tanto, estavam submetidos ao poder dos senhores. Às
gio de São Paulo, que viria a ser a cidade de São Paulo.
mulheres, independentemente de status social, impunha-se
Para os colonos, os jesuítas foram essenciais na formação
uma condição de submissão. Eram subordinadas juridica-
educacional. Diferentemente da América espanhola, onde
mente aos homens e excluídas da política.
existiram universidades desde o século XVI, a América por-
Assim, a possibilidade de mobilidade social era consi-
tuguesa teve por alguns séculos, nos jesuítas, a principal
deravelmente restritiva.
rede educacional da Colônia.
Companhia de Jesus
Administração
Em 1540, em meio ao contexto das reformas religiosas
na Europa, o papa Paulo III reconheceu a congregação na América portuguesa
criada por Inácio de Loyola (1491-1556), a Companhia Capitanias hereditárias
de Jesus. Os jesuítas eram uma ordem religiosa católica Como vimos, povoar os territórios coloniais era uma
que representava uma espécie de reinvenção do espírito importante ferramenta de defesa, já que consolidava a legi-
cruzadista. Organizados em uma rígida hierarquia interna, timidade sobre determinado território. Quando Portugal deu
os jesuítas dedicavam-se à vida prática e espiritual início à montagem do sistema colonial, fazia-se necessário,
pautados na ideia de servidão a Deus e de muita oração, também, povoar e administrar a Colônia.
pois acreditavam que ela seria responsável por toda Mas e o Tratado de Tordesilhas? Ele não era suficiente
transformação possível. para garantir a legitimidade de Portugal sobre o território
Na Europa, os jesuítas foram bastante ativos no sistema do Brasil?
educacional e político, criaram escolas e agiram politica- O tratado foi um acordo pautado na tradição canôni-
mente como ministros, embaixadores etc. A Companhia ca medieval a qual entendia que o papa, representante
de Jesus representou uma ativa obra da Igreja Católica no de Deus na Terra, detém a jurisdição universal sobre as
que diz respeito à expansão da fé cristã. Diante das milhares terras do mundo. No entanto, com a passagem da Idade
de comunidades indígenas nos territórios americanos, os Média para a Idade Moderna, uma série de transformações
jesuítas exerceram um papel fundamental na conversão dos sociais, políticas, econômicas e de mentalidade acontece-
nativos. Como vimos, em 1537 – pouco antes do reconhe- ram. Além dessas, ocorreram importantes mudanças de
cimento do papa sobre a ordem jesuítica –, os indígenas cunho jurídico. A formação de leis seculares se opunha
foram considerados gentios, ou seja, passíveis de conversão. às tradições medievais, muitas vezes consuetudinárias.
Dessa forma, a catequese indígena representava a principal Dessa forma, reinos como a França recusavam-se a aceitar
tarefa dos jesuítas na Colônia. legitimidade sobre territórios que não estivessem efetiva-
O processo de catequese indígena deveria ser dife- mente ocupados.
rente do que fora praticado anteriormente em regiões da A expedição de Martim Afonso de Sousa patrulhou a cos-
África. Dentro das sociedades hierarquizadas, ao converter ta e expulsou, inclusive, franceses do território colonial. Mas
os líderes, o restante da população também acabaria gra- como impedir, a partir de então, novos invasores? Em 1534,
dualmente convertido. Porém, as comunidades indígenas Portugal implementou o sistema de capitanias hereditárias.
no Brasil não reconheciam hierarquias aos moldes pressu- A administração colonial por meio de capitanias não
postos pelos europeus, obrigando, assim, que a catequese era uma novidade para a Coroa portuguesa. Sem dispor
acontecesse de forma individual. dos recursos necessários, Portugal, desde as colônias
Nos primeiros contatos, os jesuítas aprenderam o atlânticas no século XV, já havia instalado esse sistema de
idioma e os aspectos culturais daquelas sociedades colonização delegada a particulares. Sem dispor de capital

46 HISTÓRIA Capítulo 2 A formação das estruturas coloniais


financeiro e humano suficiente, a metrópole garantia autonomia aos colonos (usando de seus próprios recursos) como
agentes da exploração, enquanto a Coroa, na maioria dos casos, mostrava-se presente recolhendo tributos e montando
o aparato fiscalizador.
A instituição das capitanias hereditárias era herdeira, com algumas especificidades, da concessão real de senhorio
no Portugal da Baixa Idade Média. Era concedido, de forma hereditária, o senhorio sobre uma faixa de terra, ou seja, os
capitães donatários, agora senhores de territórios delimitados, detinham a jurisdição sobre aquela região e sobre os ha-
bitantes que nela residissem. A monarquia portuguesa, ao conceder as capitanias, ficava, então, restrita a uma condição
de senhorio maior e deveria respeitar a autonomia dos donatários.
Cada capitão donatário, ao receber a carta de doação, assumia a responsabilidade jurídica sobre as terras, além de obri-
gações: criar vilas, cobrar tributos, defender o território, nomear cargos políticos, militares e jurídicos e promover a doação
de sesmarias. A sesmaria era um mecanismo de facilitação de acesso à terra. O sesmeiro, ao receber a terra, passava a ter
a obrigação de catequizar os nativos da região, proteger as terras e torná-las lucrativas à metrópole em um período de até
5 anos, além de pagar tributos à Coroa sobre essa produção. Essa forma de colonização, concedendo amplos poderes aos
particulares, gerou uma série de conflitos com a monarquia, tanto em territórios na África e na América.

Saiba mais

OCEANO
ATLÂNTICO

40º O

O território colonial foi dividido em 15 capitanias, que, por sua vez, foram cedidas a doze capitães donatários. Sendo
a condição de senhor de significativa importância à metrópole, as capitanias foram concedidas a nobres de baixa e média
estirpes, também conhecidos como fidalgos, burocratas e comerciantes de Portugal.
Porém, a necessidade de altos investimentos, somada às hostilidades presentes no território americano (animais,
conflitos com indígenas, constantes invasões estrangeiras e condições sociais e climáticas distintas da metrópole), gerou
uma série de complicações na adoção do modelo no Brasil. Dos doze capitães donatários, seis nunca chegaram a vir ao
Brasil, dois foram mortos por indígenas e outros foram acusados pelos colonos de abusarem do poder imputado a eles.
Diferentemente da experiência nas ilhas atlânticas, o sistema de capitanias hereditárias no Brasil – devido à distância para
com a metrópole – acabou concedendo autonomia em demasia aos donatários.
É comum afirmarmos que, das 15 capitanias, somente duas prosperaram: Pernambuco e São Vicente. Porém, o que
significa “prosperar”? Muitas vezes, associa-se a prosperidade das capitanias apenas à exploração do açúcar. No entanto,
é preciso nos lembrarmos, também, das obrigações que detinham os donatários. Pernambuco e São Vicente prosperaram
FRENTE 1

por causa do plantio de cana-de-açúcar e por terem fundado vilas, doado sesmarias, colaborado no processo de povoa-
mento e proteção, além de terem organizado juridicamente, os territórios. Prosperar, nesse contexto, representa atender
às expectativas da metrópole.

47
Câmaras Municipais processo de colonização. Caberia, a partir de agora, ao
Como vimos anteriormente, a fundação de vilas e ci- governador-geral a concessão de sesmarias.
dades era feita a partir de intenções defensivas. Todavia, Não é necessário que tenhamos conhecimento sobre
o processo de urbanização possuía, ainda, atributos de as especificidades de cada um dos governadores-gerais.
caráter burocrático. No entanto, a fim de melhor compreender a montagem do
Na mesma época da instalação do sistema de ca- sistema colonial, iremos conhecer os três primeiros gover-
pitanias hereditárias, foram estabelecidas as Câmaras nos-gerais no Brasil.
O primeiro governador-geral do Brasil, Tomé de Souza
Municipais (a primeira, em 1532) como representação do
(1549 -1553), fundou, em 1549, a cidade de Salvador, que
poder local nas vilas. As Câmaras Municipais eram órgãos
se tornou, a partir de então, a sede do Governo-geral e do
administrativos locais que visavam controlar e organizar as
primeiro bispado. Com ele, chegaram mudas de cana-de-
vilas e cidades que se desenvolviam na Colônia.
-açúcar, os primeiros escravizados e os primeiros jesuítas,
As câmaras ficavam nas sedes das principais vilas e
liderados por Manoel da Nóbrega.
eram compostas de três a quatro vereadores, além de um
Duarte da Costa (1553-1558) enfrentou conflitos com
procurador e um juiz (os juízes nomeados pela Coroa eram
franceses, que, em 1555, haviam invadido a região da
denominados juízes de fora). A candidatura e a eleição eram
Baía da Guanabara, formando, ali, uma colônia france-
restritas aos que fossem considerados “homens bons”. Na
sa, a “França Antártica”, governada por NicolasDurandde
prática, a participação política estava restrita aos homens
Villegagnon(1510-1571). A montagem da colônia francesa
brancos, maiores de 21 anos, proprietários de terras e que
visava, essencialmente, à exploração do pau-brasil. Tratava-se
não possuíssem ancestrais que tivessem praticado trabalhos
de uma região delicada, não somente pela presença dos fran-
manuais. Sendo assim, cristãos-novos, mulheres, ameríndios,
ceses em território de domínio português, mas também pelas
pardos e negros eram excluídos da política colonial.
constantes disputas entre populações indígenas nos arredo-
Cabia à câmara e a seus oficiais promover a adminis-
res. No coração da ocupação francesa, encontrava-se o Forte
tração financeira, a limpeza das ruas, o preparo de festas, a Coligny, situado na Ilha de Serijipe (hoje, Ilha de Villegagnon).
realização de obras públicas, julgar alguns crimes comuns A expulsão dos franceses, no entanto, só se concreti-
e, ainda, garantir a manutenção da cadeia. Os vereadores zou no Governo-geral de Mem de Sá (1558-1572). O fim da
também eram os responsáveis pela doação de datas (ter- França Antártica aconteceu mediante um conflito contra os
renos urbanos). franceses e os indígenas tupinambás, aliados dos franceses
na extração de pau-brasil, que formaram a Confederação
Governo-geral
dos Tamoios. Após o conflito, houve uma negociação de
Mediante o fracasso da maior parte das capitanias, a paz entre os portugueses e os indígenas, conseguida pelos
Coroa portuguesa, desejosa de conter os desmandos dos jesuítas em um acordo conhecido como Armistício de Iperoig.
capitães donatários e, assim, reaver o controle sobre a re- Com a morte de Mem de Sá, em 1573, a América por-
gião colonial, instalou o Governo-geral em 1548. Além do
tuguesa foi dividida. Criou-se, então, a Repartição do Norte,
insucesso da primeira tentativa administrativa, a descoberta
com centro administrativo em Salvador, e a Repartição do
da vila rica de Potosí, em 1545, na América espanhola, re-
Sul, com um governo no Rio de Janeiro. Como a divisão
forçou a necessidade da Coroa portuguesa em assegurar
não deu resultados significativos, em 1578, o governo foi
melhor controle sobre a Colônia. Com a descoberta de
novamente unificado, com a sede retornando a Salvador.
grandes jazidas de minérios na região onde hoje é o Peru,
Portugal acreditava ser questão de tempo até que grandes
quantidades de ouro e prata fossem descobertas, também, Formação da União Ibérica
em sua colônia. Sendo assim, fazia-se urgente garantir o Crise sucessória em Portugal
completo domínio sobre a região para evitar prejuízos, em Após a montagem do sistema, como vimos, Portugal
caso de descoberta de minérios no Brasil.
usufruiu da exploração colonial sem grandes percalços,
O Governo-geral consistia em um organismo burocrático
salvo uma ou outra exceção. Contudo, a partir de 1580 até
e centralizador com o intuito de melhor coordenar a admi-
1640, o reino passou por mudanças políticas que afetaram
nistração colonial e, assim, garantir que a Colônia servisse à
diretamente o Brasil. Durante esse período, Portugal este-
metrópole. Importante dizer que o Governo-geral não substi-
ve submetido ao Império Habsburgo, ou seja, ao Império
tuiu o sistema de capitanias hereditárias, mas visava esvaziar
o poder dos capitães donatários. Ao criar cargos, como os de Espanhol. Para que compreendamos como isso aconteceu,
governador-geral, ouvidor-mor (responsável pela justiça), pro- é necessário que conheçamos o fim da Dinastia de Avis.
vedor-mor (responsável pela fiscalização sobre a tributação), Em 1578, D. Sebastião de Avis, rei de Portugal, foi visto
capitão-mor da costa (responsável pela defesa de ataques pela última vez durante a Batalha de Alcácer Quibir, no
estrangeiros) e alcaide-mor (responsável pelo policiamento norte do Marrocos.
interno), os capitães donatários estavam, agora, subordina- D. Sebastião, filho de João Manuel e de Joana da
dos a superiores e, portanto, com menor autonomia. Áustria, perdeu os pais ainda muito cedo. Com uma cria-
O governador-geral, cargo nomeado pelo conselho de ção fortemente religiosa, nunca se casou, vivendo sob um
Estado português, era um servidor da monarquia lusitana. ideal cavaleiresco. Movido pelo “espírito de cruzada”, de
Eleito a cada três anos (podendo ser nomeado sucessiva- combate aos infiéis, organizou uma forte empreitada para
mente), garantia uma participação mais ativa da Coroa no conquistar a região do Marrocos. Nas vizinhanças do Rio

48 HISTÓRIA Capítulo 2 A formação das estruturas coloniais


Wad al-Makhazin, após uma vitória inicial dos portugueses, Em 1584, um jovem aldeão afirmou ser D. Sebastião,
o exército português foi derrotado na Batalha de Alcácer mas foi rapidamente desmascarado e preso pela Coroa
Quibir. No meio dessa batalha, D. Sebastião desapareceu; espanhola. No ano seguinte, o filho de um homem que
ninguém encontrou seu corpo nem o viu fugindo. Relatos trabalhava em uma pedraria na região dos Açores afirmou
dizem que foi avistado pela última vez no alto de uma colina. ser o antigo rei e começou a distribuir, a lavradores, títulos
Sem ter se casado e, portanto, sem herdeiros legíti- de nobreza com o intuito de organizar uma corte e um
mos, o desaparecimento de D. Sebastião passou o trono exército. Todos foram executados. Em 1594, um pastelei-
de Portugal ao seu tio-avô, o cardeal da Igreja Católica ro chamado Sebastião começou a ser seguido por uma
D. Henrique. O governo de D. Henrique não cessaria os multidão de sebastianistas fervorosos. Seus discípulos
problemas dinásticos em Portugal; por ser cardeal, o novo armaram uma conspiração, mandando cartas a casas no-
rei não poderia constituir família. Entretanto, mesmo com a biliárquicas portuguesas e estrangeiras, chegando até a
autorização do papa para romper com o celibato, D. Hen- prometer a prima do verdadeiro Sebastião em casamen-
rique morreu, dois anos mais tarde, sem deixar herdeiros.
to. O impostor, assim como os anteriores, foi executado.
Era o fim da Dinastia de Avis em Portugal.
Ainda no séculoXVI, um jovem da região de Nápoles
Felipe II, rei da Espanha, pertencente à Dinastia
se apresentou como D.Sebastião; sem conseguir falar
Habsburgo, primo de D. Sebastião, seria o mais próximo na
português, foi preso.
linhagem a assumir o trono lusitano. Contando com o apoio do
No século XVIII, mais de 200 anos após o desapare-
papa e de significativos setores da nobreza portuguesa, Feli-
cimento do último rei de Avis, um sebastianista previu um
peII iniciou um amplo movimento pela unificação das Coroas.
terremoto em Lisboa, o que, três anos mais tarde, con-
Prometeu preservar o idioma e as instituições portuguesas, de
modo que todos os assuntos referentes a Portugal fossem re- cretizou-se. O sebastianismo transformava-se, cada vez
solvidos apenas por ministros portugueses dentro do território mais, em uma superstição de caráter messiânico. Em 1813,
português. A união se consolidou em 1581 com o Juramen- durante o domínio de Napoleão Bonaparte sobre Portugal,
to de Tomar; a partir de então, Portugal passou a integrar a surgiu mais um homem alegando ser Sebastião: Antônio
monarquia espanhola. Apesar de possuir relativa autonomia, José Dias disse ter sido enviado por Deus para salvar seu
Portugal deveria submeter-se ao poder central da Espanha. país, mas também acabou preso.
O sebastianismo se faria presente na identidade por-
Sebastianismo tuguesa e na brasileira. O “messianismo” brasileiro se
O fim da Dinastia de Avis representou, para Portugal, o expressaria por meio do desejo de transformações das
fim do apogeu do Império Português. A associação entre o condições políticas e sociais, em diversos contextos, como
desaparecimento de D. Sebastião e a decadência de Portugal foi o caso do arraial de Canudos e de Contestado, assuntos
foi fundamental para o desenvolvimento do “sebastianismo”, que serão tratados posteriormente.
um sentimento nostálgico atrelado ao apogeu lusitano.
Sem que houvesse sido encontrado o corpo de D. Se- O Império Habsburgo
bastião, muitos aguardariam seu retorno na expectativa de A união das Coroas de Portugal e Espanha tor-
que, assim, Portugal recobrasse sua completa autonomia nou o Império Habsburgo, a mais importante casa real
política e, também, seu poderio político e econômico. No na Europa, ainda mais poderoso. Além de todo o Im-
entanto, com o passar dos anos (e séculos), a expectativa pério Português (na África, na Ásia e na América), os
do retorno de D. Sebastião assumira um caráter cada vez habsburgos dominavam a região do Sacro Império Ro-
mais místico e religioso. mano-Germânico e os Países Baixos.
Dessa forma, Portugal passou a se inserir nas
Palácio de Holyroodhouse/The Royal Collection Trust, Inglaterra.

questões geopolíticas do Império Espanhol. Há dois


conflitos centrais que merecem nossa atenção. Em
primeiro lugar, a luta pela emancipação política dos
Países Baixos. A região, essencialmente protestante,
havia entrado em conflito contra os espanhóis, cató-
licos, em 1568. A ruptura com o domínio Habsburgo
visava cessar as perseguições religiosas e não mais ter
de se submeter aos altos tributos que lhes eram cobra-
dos. Em 1581, a região declarou sua independência,
formando, assim, a República das Províncias Unidas
(Flandres, Zelândia, Utrecht, Antuérpia, Bruxelas, Gent
e Holanda). O conflito, no entanto, acabou se mesclan-
do a uma guerra ainda maior, a Guerra dos Trinta Anos
(1618-1648). Nela, a República das Províncias Unidas
FRENTE 1

(com apoio dos principados protestantes do Sacro Im-


Detalhe de Cristóvão de Morais. Retrato de Sebastião, rei de Portugal,
c. 1565. Óleo sobre tela. Palácio de Holyrood, Edimburgo. D. Sebastião pério e da França Bourbônica) continuava seu combate
retratado com cerca de 11 anos de idade. contra os Habsburgos.

49
Como os conflitos espanhóis eram, também, atrelados os conflitos que envolveram a emancipação da República
aos portugueses, a aliança de Portugal com os comercian- das Províncias Unidas e, posteriormente, a Guerra dos Trinta
tes de Flandres na produção açucareira foi gradualmente Anos, a Espanha proibiu que Portugal, submetido à Coroa
se rompendo. A inserção de Portugal em meio a essa série espanhola, mantivesse suas relações comerciais a região
de conflitos favoreceu as sucessivas invasões estrangeiras dos Países Baixos.
sobre o território colonial do Brasil ao final do século XVI Assim, impedidos de realizar comércio com as colônias
e início do século XVII. portuguesas, os neerlandeses passaram a adotar uma políti-
ca agressiva de guerra no ultramar, visando se apropriar de
Brasil filipino riquezas (escravizados, ouro, açúcar e canela) e territórios
Domínio luso-espanhol coloniais ibéricos na Ásia, África e América.
Durante o período da União Ibérica, a colônia portu- Em 1602, na Holanda, foi criada a Companhia das Ín-
guesa recebeu a visitação do Tribunal do Santo Ofício, o dias Orientais (V.O.C.), uma companhia de comércio – parte
qual se fez presente ao longo de todo o período colonial estatal, parte privada – responsável por conquistar diversas
na América espanhola. feitorias luso-espanholas no Oriente. Vale ressaltar que as
Do ponto de vista administrativo, Portugal e seus terri- companhias de comércio tinham um importante aspecto
tórios coloniais passaram a ser regidos, desde 1603, pelas militar, uma vez que, em diversos casos, o processo de
Ordenações Filipinas, que constituíram um código jurídico, conquista não se dava de forma pacífica.
ou seja, um conjunto de leis que foram vigentes no território Assim, em 1621, os holandeses criaram a Companhia
do Brasil até a criação do Código Criminal, em 1830. das Índias Ocidentais (W.I.C.) com o objetivo de expandir a
Nesse período, ocorreu o início da interiorização da co- atuação holandesa em direção ao Novo Mundo. Estando
lonização, até mesmo em razão da perda de validade do proibido o comércio com a região colonial portuguesa, a
Tratado de Tordesilhas, visto que, com a união das Coroas Companhia da Índias Ocidentais assumiu um caráter es-
de Portugal e Espanha, não era mais necessária a existên- sencialmente militar, praticando sistematicamente ataques
cia de uma divisão entre o domínio colonial espanhol e o e saques na costa do nordeste brasileiro.
português. Em 1619, Belém tornou-se a base da penetração A primeira tentativa de ataque direto aconteceu entre
e exploração da região amazônica. Em 1621, a Colônia foi 1624 e 1625, em Salvador. Além de capital e sede adminis-
novamente dividida em duas partes: o Estado do Grão-Pará trativa da Colônia, Salvador constituía-se no porto por onde
e Maranhão e o Estado do Brasil, com governos indepen- o açúcar brasileiro escoava para a Europa. Conquistá-la equi-
dentes (o território colonial teria dois governos-gerais até as valia não apenas a neutralizar as possibilidades de defesa
reformas pombalinas, no século XVIII). Devido às dificuldades ibérica como também exercer o controle sobre a produção e
no estabelecimento de comunicações internas entre o terri- o comércio do açúcar. O ataque que havia conseguido domi-
tório colonial ao norte e o restante da colônia portuguesa, a nar Salvador em um pouco mais de 24 horas foi frustrado no
criação do Estado do Grão-Pará e Maranhão promovia uma ano seguinte, graças a uma eficaz resistência luso-espanhola.
conexão direta entre a metrópole e a região norte. Dessa A Companhia das Índias Ocidentais voltou a atacar o litoral
forma, buscava-se atenuar os ataques estrangeiros que se da Bahia outras duas vezes, ambas sem sucesso.
acentuaram durante o período da União Ibérica. Sem resultados efetivos na Bahia, em 1630, a Com-
Ao final do século XVI, corsários ingleses – como panhia das Índias Ocidentais invadiu Pernambuco em um
Edward Fenton, em 1583; Robert Withrington, em 1587; e processo que se prolongou ao longo de sete anos. Com o
Thomas Cavendish, em 1591 – atacaram a costa brasileira. desejo de apropriar-se da produção de açúcar, a Companhia
Em 1612, houve uma nova incursão francesa. Após terem das Índias tentava evitar a destruição dos engenhos. Entre
sido expulsos da Baía de Guanabara, em 1567, os france- os colonos, a reação à invasão se deu de forma bastante
ses atacaram a região do Maranhão. Liderados por Daniel heterogênea. Em um primeiro momento, recuaram em dire-
de la Touche, fundaram a cidade de São Luís, tentando ção ao interior, formando núcleos de resistência, enquanto
estabelecer outra colônia nas terras portuguesas, à qual os holandeses se fixaram em Olinda. Símbolo da resistência,
deram o nome de França Equinocial. A reação portuguesa Matias de Albuquerque, junto aos agrupamentos indígenas,
foi intensa, e, sob o comando de Jerônimo de Albuquerque, promoveu diversas guerras de emboscada contra os neerlan-
conseguiram expulsar os franceses em 1615. deses. Alguns senhores de engenho, mediante os ataques,
Porém, o destaque do período das invasões ficou com fugiram para outras regiões da Colônia ou voltaram à Europa;
a ocupação holandesa no nordeste, que perdurou de 1630 outros, posteriormente conhecidos como “colaboracionistas”,
a 1654.
apoiaram a invasão. Domingo Fernandes Calabar, após ter
lutado na resistência, aliou-se aos holandeses, transmitindo
Brasil holandês
informações sobre os núcleos de resistência e liderando
Invasão e ocupação do nordeste brasileiro investidas militares contra os colonos.
Como vimos, a República das Províncias Unidas era Com a concretização da conquista em 1637, a Compa-
formada por Flandres, Zelândia, Utrecht, Antuérpia, Bru- nhia das Índias Ocidentais visava à tomada de toda a empresa
xelas, Gent e Holanda. A Holanda – termo muitas vezes açucareira lusitana, ou seja, não apenas havia dominado o
empregado para fazer referência aos Países Baixos como nordeste brasileiro, do litoral do Maranhão até Sergipe, como
um todo – era a mais poderosa dessas províncias. Durante também promoveu a ocupação de feitorias africanas para

50 HISTÓRIA Capítulo 2 A formação das estruturas coloniais


controlar o tráfico transatlântico de escravizados (em 1637, e a flora locais. Markgraf, posteriormente, contribuiu com a
tomou a feitoria de São Jorge da Mina, na Guiné; e, em 1641, construção do primeiro observatório astronômico das Amé-
a feitoria de São Paulo de Luanda, em Angola). ricas, no Recife. No campo das artes, Frans J. Post e Albert
Entre 1637 e 1644, o território dominado pela Compa- Eckhout, influenciados pelo barroco holandês, retrataram
nhia das Índias Ocidentais foi governado pelo conde Maurício paisagens, tipos étnicos, a fauna e a flora brasileiros. Muitas
de Nassau. Esse foi o período mais próspero da dominação obras produzidas pelos holandeses, no Brasil, foram dadas
holandesa e o apogeu da produção açucareira no nordeste como presentes para uma série de monarquias europeias;
brasileiro. Desejosos de ampliar a produção de açúcar, os outras acabaram sendo destruídas na Guerra de Restaura-
holandeses promoveram intensos investimentos no desen- ção, terminada em 1653.
volvimento da empresa açucareira. A presença holandesa
Saiba mais
nas feitorias africanas havia intensificado o fluxo de escraviza-
dos no Brasil. Senhores de engenho receberam incentivos e
empréstimos e os engenhos abandonados durante a guerra
foram confiscados e postos a leilão. Antes receosos com a
invasão, muitos colonos – principalmente os membros da
elite –, agora, estreitavam as relações com os holandeses.
A chegada de investimentos e empresários também
contribuiu com o processo de urbanização da região. Priva-
dos do porto de Salvador, os holandeses tiveram de escoar
a produção açucareira por Recife, porto mais próximo a
Olinda, área rural que concentrava boa parte dos engenhos.
Assim, Recife recebeu uma série de obras modernizadoras,
como a melhoria e ampliação do porto, hospitais, calçamen-
to e iluminação das ruas, construção de pontes, drenagem
de pântanos, parques, museus, bibliotecas etc.
A presença da Companhia das Índias Ocidentais, ou
seja, a presença de holandeses, em sua maioria calvinistas,
estabeleceu que não houvesse perseguição religiosa no
nordeste colonial. Tratou-se de um período em que muitos
judeus, cristãos-novos e islâmicos deslocaram-se para o
Brasil. No entanto, muitos católicos alegavam que eram
coibidos de promover suas práticas religiosas.
Por fim, durante o governo de Nassau, missões cien-
tíficas e artísticas vieram ao Brasil. Willem Piso e Georg
Markgraf constituíram uma expedição para estudar a fauna

Coleção particular, Amsterdã.

FRENTE 1

Frans Post. Engenho, 1661. Óleo sobre madeira. Coleção particular, Amsterdã. Post seguiu pintando temas brasileiros
mesmo após retornar à Holanda, em 1644.

51
Revisando

1. UPF 2019 No final do século XV, Espanha e Portugal d) havia uma só sociedade indígena vivendo em
foram os primeiros países europeus a promoverem a harmonia, igualitarismo e paz; desconhecia-se a vio-
expansão marítima europeia, chamada também de as lência da guerra, trazida para cá pelos europeus.
Grandes Navegações. As razões desse pioneirismo
estão relacionadas 4. Unesp 2021 O consumo dos alimentos nas propriedades
a) à enorme quantidade de capitais acumulados de monocultura de cana-de-açúcar estava […] baseado
nesses dois países através do renascimento co- no que se podia produzir nas brechas de um grande sis-
mercial no século XIV.
tema subordinado ao mercado externo, resultando em
b) ao processo de fortalecimento da burguesia co-
uma grande quantidade de farinha de mandioca, feijões
mercial que estava ocupando o poder tanto na
de diversos tipos, batata-doce, milho e cará comidos com
Espanha quanto em Portugal.
pouco rigor, além de uma cultura do doce, cristalizada
c) ao desenvolvimento industrial dos dois países,
na mistura das frutas com açúcar refinado e simbolizada,
que os forçou a buscar novos mercados consumi-
popularmente, pela rapadura.
dores e fornecedores de matéria-prima.
(Paula Pinto e Silva. “Sabores da colônia”. In: Luciano Figueiredo (org).
d) ao espírito aventureiro de portugueses e espanhóis História do Brasil para ocupados, 2013.)
desenvolvido durante a Guerra de Reconquista con-
tra os mouros. O texto caracteriza formas de alimentação no Brasil
e) à centralização monárquica e ao fato de a nobreza colonial e revela
desses dois países estar fortalecida, ao contrário a) o esforço metropolitano de diversificar a produ-
de outras nobrezas europeias, conseguindo, as- ção da colônia, com o intuito de ampliar as vendas
sim, financiar o projeto de expansão marítima. de alimentos para outros países europeus.
b) a diferença entre a sofisticação da alimentação
2. UEM 2014 Sobre a expansão marítima e a colonização da população colonial e o restrito conjunto de ali-
europeias nos séculos XV e XVI e seus desdobra- mentos disponíveis na metrópole.
mentos na integração das regiões geográficas e na c) a articulação entre um sistema de produção
economia mundial, assinale a(s) alternativa(s) correta(s). voltado ao atendimento das necessidades e
 Na época das navegações, as monarquias nacio-
interesses da metrópole e as estratégias de
nais adotavam práticas econômicas que buscavam
subsistência.
a acumulação de metais preciosos como medida
d) o interesse dos grandes proprietários de terras na
de riqueza.
 As navegações portuguesas dos séculos XIV, XV colônia de produzir para o mercado interno, rejei-
e XVI tiveram como finalidade principal promover tando a submissão ao domínio metropolitano.
a emigração do excedente populacional daquele e) a separação entre as lavouras voltadas ao forne-
país para as colônias do além-mar. cimento de alimentos para os países vizinhos e as
 Durante o período colonial, as colônias ibero- plantações destinadas ao consumo interno.
-americanas deveriam realizar comércio apenas
com suas metrópoles. 5. Famerp 2019 O sistema de plantation, predominante
 A colonização da América contribuiu para o de- na colonização portuguesa do Brasil, baseou-se na
senvolvimento do comércio entre os continentes a) produção agrícola voltada à subsistência e ao co-
e para a Revolução Industrial. mércio local.
 Como resultado da colonização da América, Por- b) exportação dos excedentes agrícolas não consu-
tugal e Espanha se transformaram em potências midos internamente.
econômicas e importantes polos da Revolução
c) aplicação de moderna tecnologia europeia à agri-
Industrial.
cultura.
Soma: d) rotação de culturas em pequenas propriedades
rurais.
3. Uece 2019 Antes da chegada dos portugueses às ter-
e) monocultura extensiva com emprego de trabalho
ras americanas,
compulsório.
a) havia dois grupos étnicos habitando a região hoje
chamada Brasil: os Tupis e os Tapuias.
b) falavam-se alguns poucos dialetos, variantes de uma 6. UFSC 2016 Sobre os povos africanos, é CORRETO
mesma língua geral, o Nheengatu, apesar de existir afirmar que:
um grande número de grupos indígenas.  a partir do século XV, diversos povos africanos, ao
c) uma variedade de comunidades nativas, etnica- serem desenraizados e transplantados para dife-
mente diferentes, espalhava-se pelo território da rentes regiões, foram vítimas da maior migração
futura América portuguesa. forçada da história da humanidade.

52 HISTÓRIA Capítulo 2 A formação das estruturas coloniais


 a compra e venda de pessoas escravizadas já era 8. Uece 2017 No período de  a , Portugal foi
amplamente praticada na África antes mesmo do governado pelo Rei Felipe II, que era também rei da
interesse europeu pela atividade, o que facilitou Espanha. Isto se deveu ao fato de o rei português,
os acordos comerciais. D. Sebastião, ter morrido, em , na batalha de
 a pequena variedade de etnias africanas e a Alcácer-Quibir, sem deixar herdeiro; e seu sucessor, o
proximidade de suas manifestações culturais fa- Cardeal D. Henrique, que tinha  anos, veio a falecer
cilitaram o processo de desenraizamento e de em janeiro de , ocasionando a crise dinástica e a
aceitação daqueles povos da condição de escra- disputa que levaria o rei espanhol ao trono português.
vos na América. Essa época é conhecida como
 na época do tráfico atlântico, os milhares de su- a) Período Pré-colonial.
b) Período Regencial.
jeitos escravizados não tinham a ciência de que
c) União Ibérica.
eram “africanos”, pois esta identidade foi forjada
d) Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves.
muitos anos depois.
 muito do que se conhece sobre o passado dos
9. FGV-SP 2012 “Na ilha Espanhola que foi a primeira,
povos africanos deve-se ao papel exercido pelos
como se disse, a que chegaram os espanhóis, começaram
contadores de histórias, geralmente anciãos, que
as grandes matanças e perdas de gente, tendo os espanhóis
através da tradição oral buscam a preservação da começado a tomar as mulheres e filhos dos índios para de-
memória coletiva. les servir-se e usar mal e a comer seus víveres adquiridos
Soma: por seus suores e trabalhos, não se contentando com o que
os índios de bom grado lhes davam, cada qual segundo sua
faculdade, a qual é sempre pequena porque estão acostu-
7. UFPR 2015 “(...) a aldeia é um espaço escolhido e or-
mados a não ter de provisão mais do que necessitam e que
ganizado pelo próprio índio, e ‘o aldeamento é resultado
obtêm com pouco trabalho. E o que pode bastar duran-
de uma política feita por vontade dos europeus para con-
te um mês para três lares de dez pessoas, um espanhol o
centrar comunidades indígenas’.”
come ou destrói num só dia. Depois de muitos outros abu-
(Aldeias que não estão no mapa. Entrevista com a Profa. Dra. Nanci
sos, violências e tormentos a que os submetiam, os índios
Vieira de Oliveira por Maria Alice Cruz. Jornal da Unicamp. 197,
novembro de 2002, p.5.) começaram a perceber que esses homens não podiam ter
descido do céu. Alguns escondiam suas carnes, outros suas
A armação acima se refere aos aldeamentos mis- mulheres e seus filhos e outros fugiam para as montanhas
sionários e às transformações que eles trouxeram a fim de se afastar dessa Nação. Os espanhóis lhes davam
à vida dos indígenas no período colonial da Améri- bofetadas, socos e bastonadas e se ingeriam em sua vida
ca portuguesa. Os objetivos das missões jesuíticas até deitar a mão sobre os senhores das cidades.”
eram Frei Bartolomeu de Las Casas, O Paraíso Destruído (1502).
São Paulo: L&M Pocket, 2001, pág. 32 e 33.
a) a catequese e a escravidão dos indígenas como
mão de obra para a monocultura, o que implicou Assinale a alternativa que interpreta corretamente o
para os índios a mestiçagem com os escravos texto acima.
negros e a modificação de sistema de trabalho e a) Frei Bartolomeu de Las Casas faz referência
organização social. aos atos violentos praticados pelos cruzados
b) a aculturação, a conversão religiosa e a escraviza- castelhanos, aragoneses e leonenses – aqui va-
ção dos indígenas para extração do pau-brasil, o gamente chamados de “espanhóis” – ao tomarem
que implicou para os índios a mestiçagem com os Jerusalém, a Terra Santa.
brancos europeus e a modificação da sua organi- b) O excerto refere-se à chegada dos navegadores
espanhóis, durante o reinado de Felipe II, às ilhas
zação social.
Filipinas, que receberam tal nome em homena-
c) a catequese, o isolamento político e cultural dos
gem ao monarca.
jesuítas e o controle das áreas de fronteiras com
c) Trata-se de uma crítica da Igreja Católica à es-
as colônias espanholas, o que implicou para os
cravidão de africanos na Ilha de Madagascar, na
índios uma grande mortalidade por conta dos
África Oriental, iniciada quando Vasco da Gama
confrontos com os espanhóis. ultrapassou o Cabo das Tormentas, em 1488 d.C.
d) a aculturação e a proteção dos indígenas perante d) Frei Bartolomeu de Las Casas denuncia o mas-
os bandeirantes, o que implicou para os índios a sacre físico, cultural e ideológico das populações
conversão religiosa e a formação de clérigos e de autóctones americanas, praticado pelos conquista-
noviças para a Companhia de Jesus. dores espanhóis, que atingiram a região em 1492.
e) a catequese, a proteção dos indígenas e a assi- e) Frei Bartolomeu de Las Casas refere-se aos mé-
milação dos nativos ao sistema colonial, o que todos de conquista e colonização efetivados pela
FRENTE 1

implicou para os índios a modificação de hábitos, Coroa Espanhola, sobretudo na Índia, razão pela
crenças religiosas, sistema de trabalho e organi- qual se denominou a possessão como Ilha Espa-
zação habitacional. nhola e seus habitantes, índios.

53
10. UFU 2012 Considere a tela e o trecho que se seguem. A pintura captura os dois elementos centrais do mito
de Colombo: o uso brilhante da tecnologia de seu
tempo e, sobretudo, a genialidade de sua visão.
Os contextos mais amplos das atividades dos conquis-
tadores foram sobrepujados por uma visão personalista da
Conquista, visão que confere primazia de causa e expli-
cação a um punhado de homens excepcionais. O nosso
Colombo é um homem não do século XV, mas do XIX – com
tintas do século XX.
RESTALL, Matthew. Sete Mitos da Conquista Espanhola. Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 2006. p. 25-63. (Trecho adaptado).

Da perspectiva da obra de Restall, a obra Inspiração


de Cristóvão Colombo revela
a) informações sobre o Descobrimento da América
sob a perspectiva de Colombo.
b) a busca obstinada de Colombo por novas terras,
advinda da devoção à ciência e à fé.
c) uma imagem idealizada de Colombo e do Desco-
brimento da América.
Óleo sobre tela. José María Obregón. Inspiração de Cristóvão Colombo. d) o momento histórico no qual o Descobrimento da
1856. México. América era projetado por Colombo.

Exercícios propostos

1. Uece 2020 Atente para as seguintes afirmações a A representação cartográca de Battista Agnese
respeito do Tratado de Tordesilhas, assinado em  de
junho de :
I. Seu objetivo foi demarcar os direitos de explora-
ção dos países ibéricos, tendo como elemento
propulsor o desenvolvimento da expansão co-
mercial marítima.
II. Estabelecendo uma linha demarcatória de 370
léguas a oeste das ilhas de Cabo Verde, o acor-
do atribuía a Portugal e Espanha não apenas as
terras já descobertas, mas também as por se des-
cobrirem.
III. Como se tratava da criação de um sistema de
monopólio, impunha uma reserva de mercado
metropolitano que atingia todas as riquezas co-
loniais.
Battista Agnese, Atlas Portulano, 1545. Biblioteca Digital Mundial. Disponível
É correto o que se arma somente em em https://www.wdl.org/pt/.
a) III.
b) I e III.
c) II. a) revelava a permanência das técnicas e sentidos
d) I e II. simbólicos da cosmografia medieval, que orien-
taram os navegadores ibéricos na época da
2. Fuvest 2020 A representação cartográfica a seguir expansão ultramarina.
refere-se à viagem de circunavegação, iniciada em b) estava vinculada aos dogmas cristãos e procu-
Sanlúcar de Barrameda, na Andaluzia, em  de se- rava conciliar o registro da viagem de Fernão de
tembro de , e comandada pelo português Fernão Magalhães com a perspectiva de Terra Plana ain-
de Magalhães, a serviço da monarquia da Espanha. da presente entre letrados cristãos.
A despeito da repercussão da viagem para o de- c) estava baseada nos relatos dos navegadores,
senvolvimento dos conhecimentos náuticos e para a no acúmulo de conhecimentos acerca das rotas
exploração do Oceano Pacífico, Battista Agnese foi marítimas e em estimativas de distâncias a par-
um dos poucos cartógrafos a registrar a empreitada tir de cálculos matemáticos e da planificação do
de Magalhães. globo terrestre.

54 HISTÓRIA Capítulo 2 A formação das estruturas coloniais


d) apresentava o Oceano Pacífico em suas reais b) um esforço amplo de salvação dos povos nati-
dimensões de acordo com o entendimento de vos do Brasil orientou as ações dos mercadores
Fernão de Magalhães e de Cristóvão Colombo e portugueses.
em desacordo com as perspectivas cristãs. c) os nomes atribuídos pelos colonizadores às terras
e) estava assentada nos conhecimentos e detalha- do Novo Mundo sempre respeitaram motivações
mentos geográficos bíblicos e nas formulações e princípios religiosos.
cosmológicas de Ptolomeu, fundamentais para o d) o objetivo primordial da colonização portuguesa
sucesso da viagem de Fernão de Magalhães. do Brasil foi impedir o avanço do protestantismo
nas terras do Novo Mundo.
3. Famerp 2017 e) uma visão mística da colonização acompanhou a
exploração dos recursos naturais existentes nas
terras conquistadas.

5. Unesp 2018 (Adapt.) Leia o texto para responder à


questão a seguir.
As primeiras expedições na costa africana a partir da
ocupação de Ceuta em 1415, ainda na terra de povos
berberes, foram registrando a geografia, as condições de
navegação e de ancoragem. Nas paradas, os portugueses
negociavam com as populações locais e sequestravam
pessoas que chegavam às praias, levando-as para os
navios para serem vendidas como escravas. Tal ato era
(Serge Gruzinski. 1480-1520: a passagem do século, . Adaptado.) justificado pelo fato de esses povos serem infiéis, se-
guidores das leis de Maomé, considerados inimigos, e
portanto podiam ser escravizados, pois acreditavam ser
Considerando o mapa e o contexto histórico, é correto
justo guerrear com eles. Mais ao sul, além do rio Senegal,
constatar que essas viagens
os povos encontrados não eram islamizados, portanto
a) estabeleceram as bases de uma economia pla-
não eram inimigos, mas eram pagãos, ignorantes das leis
netária, com plena integração comercial entre as de Deus, e no entender dos portugueses da época tam-
diversas partes do mundo. bém podiam ser escravizados, pois ao se converterem
b) contribuíram para a globalização, ao conectar par- ao cristianismo teriam uma chance de salvar suas almas
tes do mundo que até então se ignoravam ou não na vida além desta.
se ligavam diretamente. (Marina de Mello e Souza. África e Brasil africano, 2007.)
c) resultaram de equívocos e erros de navegação,
mais do que de cálculos ou de um projeto expan- O texto caracteriza
sionista organizado. a) o mercado atlântico de africanos escravizados em
d) representaram a ampliação da hegemonia romana seu período de maior intensidade e o controle do
sobre o planeta, iniciada na Antiguidade Clássica. tráfico pelas Companhias de Comércio.
e) tiveram por objetivo a aquisição de escravos, daí b) o avanço gradual da presença europeia na África
privilegiarem rotas na direção. e a conformação de um modelo de exploração da
natureza e do trabalho.
4. Unesp 2019 O dia em que o capitão-mor Pedro Álvares c) as estratégias da colonização europeia e a sua
Cabral levantou a cruz [...] era a 3 de maio, quando se busca por uma exploração sustentável do conti-
celebra a invenção da Santa Cruz em que Cristo Nosso nente africano.
Redentor morreu por nós, e por esta causa pôs nome à d) o caráter laico do Estado português e as suas
terra que se encontrava descoberta de Santa Cruz e por ações diplomáticas junto aos reinos e às socieda-
este nome foi conhecida muitos anos. Porém, como o des organizadas da África.
demônio com o sinal da cruz perdeu todo o domínio que e) o pioneirismo português na expansão marítima e
tinha sobre os homens, receando perder também o muito a concentração de sua atividade exploradora nas
que tinha em os desta terra, trabalhou que se esquecesse áreas centrais do continente africano.
o primeiro nome e lhe ficasse o de Brasil, por causa de
um pau assim chamado de cor abrasada e vermelha com 6. Unicamp Em carta ao rei D. Manuel, Pero Vaz de Cami-
que tingem panos [...]. nha narrou os primeiros contatos entre os indígenas e os
(Frei Vicente do Salvador, 1627. Apud Laura de Mello e Souza.
O Diabo e a Terra de Santa Cruz, 1986. Adaptado.)
portugueses no Brasil: “Quando eles vieram, o capitão es-
tava com um colar de ouro muito grande ao pescoço. Um
O texto revela que deles fitou o colar do Capitão, e começou a fazer acenos
FRENTE 1

a) a Igreja católica defendeu a prática do extrativismo com a mão em direção à terra, e depois para o colar, como
durante o processo de conquista e colonização se quisesse dizer-nos que havia ouro na terra. Outro viu
do Brasil. umas contas de rosário, brancas, e acenava para a terra e

55
novamente para as contas e para o colar do Capitão, como Esse quadro foi alterado com a chegada dos eu-
se dissesse que dariam ouro por aquilo. Isto nós tomáva- ropeus, que passaram a incentivar os conflitos
mos nesse sentido, por assim o desejarmos! Mas se ele interétnicos para estabelecer o domínio colonial.
queria dizer que levaria as contas e o colar, isto nós não
queríamos entender, porque não havíamos de dar-lhe!”
8. FGV-RJ 2020 De maneira geral, a conquista progrediu
(Adaptado de Leonardo Arroyo, A carta de Pero Vaz de Caminha. São Paulo:
Melhoramentos; Rio de Janeiro: INL, 1971, p. 72-74.) com mais rapidez e mostrou-se mais eficiente contra
os Estados indígenas organizados, uma vez que estes
Esse trecho da carta de Caminha nos permite concluir se renderam aos espanhóis como entidades unificadas.
que o contato entre as culturas indígena e europeia foi Quando caía uma capital urbana, todo o território impe-
a) favorecido pelo interesse que ambas as partes rial perdia muito do seu poder de resistência.
demonstravam em realizar transações comerciais: (Charles Gibson. “As sociedades indígenas sob domínio espanhol”. In: Leslie
os indígenas se integrariam ao sistema de colo- Bethell (org.). História da América Latina, vol. II, 1999.)
nização, abastecendo as feitorias, voltadas ao O texto alude a um aspecto da conquista espanhola
comércio do pau-brasil, e se miscigenando com
dos povos ameríndios, no século XVI, que
os colonizadores.
a) substituiu, em povos tradicionalmente domina-
b) guiado pelo interesse dos descobridores em
dos, a escravidão pelo trabalho assalariado.
explorar a nova terra, principalmente por meio
b) encontrou nas populações litorâneas da América
da extração de riquezas, interesse que se co-
grandes acúmulos de metais preciosos.
locava acima da compreensão da cultura dos
c) contou com o apoio dos líderes religiosos nativos
indígenas, que seria quase dizimada junto com
convertidos ao monoteísmo cristão.
essa população.
d) subjugou de forma pacífica antigas instituições
c) facilitado pela docilidade dos indígenas, que se
imperiais em plena decadência política.
associaram aos descobridores na exploração da
e) usufruiu de uma estrutura hierárquica de domina-
nova terra, viabilizando um sistema colonial cuja
ção política nativa previamente instalada.
base era a escravização dos povos nativos, o que
levaria à destruição da sua cultura.
d) marcado pela necessidade dos colonizadores 9. Fac. Albert Einstein 2019 Mil anos antes da “desco-
de obterem matéria-prima para suas indústrias e berta” do Brasil pelos europeus, um grande movimento
ampliarem o mercado consumidor para sua pro- de migração parece ter se iniciado no sul da floresta
dução industrial, o que levou à busca por colônias amazônica. Os povos que se moviam falavam línguas
e à integração cultural das populações nativas. aparentadas, de uma grande família de línguas que deno-
minamos tupi-guarani. Praticavam a coivara e eram bons
caçadores e pescadores.
7. Unicamp 2020 Na América Portuguesa do século XVI,
(Norberto Luiz Guarinello. Os primeiros habitantes do Brasil, 2009.
a política europeia para os indígenas pressupunha tam- Adaptado.)
bém a existência de uma política indígena frente aos
europeus, já que os Tamoios e os Tupiniquins tinham A partir do texto e de seus conhecimentos, pode-se
seus próprios motivos para se aliarem aos franceses ou armar que os referidos povos
aos portugueses. a) limitavam-se ao extrativismo e alimentavam-se
(Adaptado de Manuela Carneiro da Cunha, Introdução a uma história principalmente de moluscos, daí serem também
indígena. São Paulo: Companhia das Letras/Fapesp, 1992, p. 18.) chamados de povos dos sambaquis.
Com base no excerto e nos seus conhecimentos so- b) eram pacíficos e estabeleceram relações amisto-
bre os primeiros contatos entre europeus e indígenas sas com outros grupos nativos e, posteriormente,
no Brasil, assinale a alternativa correta. com os colonizadores portugueses.
a) A população ameríndia era heterogênea e os c) eram originários da Ilha de Marajó e dominavam a
conflitos entre diferentes grupos étnicos ajuda- cerâmica, o que permitia a conservação de manti-
ram a definir, de acordo com suas próprias lógicas mentos e a produção de urnas funerárias.
e interesses, a dinâmica dos seus contatos com d) foram dizimados por grupos indígenas proceden-
os europeus. tes do litoral pacífico do continente, daí sua cultura
b) O fato de Tamoios e Tupiniquins serem grupos alia- ter sido extinta antes da conquista portuguesa.
dos contribuiu para neutralizar as disputas entre e) praticavam a agricultura e tinham bom domínio da
franceses e portugueses pelo controle do Brasil, navegação, o que contribuiu para sua expansão
pelo papel mediador que os nativos exerciam. pelas terras posteriormente chamadas de Brasil.
c) Os indígenas, agentes de sua história, desde
cedo souberam explorar as rivalidades entre os 10. Enem 2018 O encontro entre o Velho e o Novo Mundo,
europeus e mantê-los afastados dos seus confli- que a descoberta de Colombo tornou possível, é de um
tos interétnicos, anulando o impacto da presença tipo muito particular: é uma guerra – ou a Conquista –,
portuguesa. como se dizia então. E um mistério continua: o resultado
d) As etnias indígenas viviam em harmonia umas do combate. Por que a vitória fulgurante, se os habi-
com as outras e em equilíbrio com a natureza. tantes da América eram tão superiores em número aos

56 HISTÓRIA Capítulo 2 A formação das estruturas coloniais


adversários e lutaram no próprio solo? Se nos limitarmos é, no mínimo, questionável, o uso do termo “des-
à conquista do México – a mais espetacular, já que a cobrimento do Brasil” pelos portugueses. O que
civilização mexicana é a mais brilhante do mundo pré-co- houve, de fato, foi um processo de dominação
lombiano – como explicar que Cortez, liderando centenas dos europeus sobre os nativos americanos.
de homens, tenha conseguido tomar o reino de Montezuma,
Soma:
que dispunha de centenas de milhares de guerreiros?
TODOROV. T. A conquista da América. São Paulo: Martins Fontes. 1991
(adaptado). 12. UEM 2014 Com relação ao início da colonização do
Brasil, é correto afirmar que:
No contexto da conquista, conforme análise apre-  Devido ao fracasso da adoção da escravidão dos
sentada no texto, uma estratégia para superar as nativos, os portugueses adotaram o sistema feudal
disparidades levantadas foi como forma de dominação dos índios brasileiros.
a) implantar as missões cristãs entre as comunida-  As feitorias instituídas após o descobrimento
des submetidas. eram, ao mesmo tempo, um entreposto comercial
b) utilizar a superioridade física dos mercenários e um estabelecimento de defesa.
africanos.  As principais tribos indígenas brasileiras en-
c) explorar as rivalidades existentes entre os povos contradas pelos colonizadores europeus eram
nativos. coletoras. Sendo assim, elas não praticavam a
d) introduzir vetores para a disseminação de doen- agricultura como forma de sobrevivência.
ças epidêmicas.  As primeiras relações comerciais estabelecidas
e) comprar terras para o enfraquecimento das teo- entre os índios do litoral da América Portuguesa
cracias autóctones. e os europeus assumiram a forma do escambo.
 Assim como ocorria no Paraguai, os aldeamentos
11. UEPG 2018 Diferente da versão romantizada que ou as reduções foram uma estratégia utilizada
mostra uma chegada pacífica dos europeus ao Brasil pelos jesuítas para sujeitar os índios à lei civil e
no século XVI, a colonização portuguesa se deu a par- religiosa dos padres.
tir do uso sistemático da violência e do extermínio dos Soma:
habitantes originais da terra (os indígenas). A explora-
ção e o povoamento da colônia só foi possível após a 13. UEPB 2014 Considerando a realidade da América
sobreposição bélica dos europeus sobre os nativos. Portuguesa nas três primeiras décadas do século XVI,
A respeito da colonização brasileira no século XVI, as- é correto afirmar:
sinale o que for correto. a) A expedição exploradora de Gaspar de Lemos,
 No século XVI, as mulheres tiveram destacada em 1501, implantou o sistema de Capitanias
atuação na vida social e política colonial. Não são Hereditárias para garantir o desenvolvimento da
raros os casos de mulheres que administraram cana-de-açúcar.
engenhos de açúcar e ocuparam cargos nas câ- b) A Coroa Portuguesa proibiu o estanco do pau-
maras coloniais. Esse quadro muda gradualmente -brasil, já que a madeira era contrabandeada por
nos dois últimos séculos coloniais. franceses e ingleses.
 É possível afirmar que a ocupação efetiva da co- c) As expedições de Cristovão Jackes, em 1516 e
lônia pelos portugueses se deu a partir de 1530. 1526 não tinham caráter militar, nem combateram
Antes disso, ocorrem algumas expedições, no- estrangeiros. Tinham a função específica de reco-
meiam-se algumas localidades litorâneas e se nhecer o território e implantar as feitorias.
constroem poucas feitorias. Somente com a pro- d) A atividade desenvolvida com autorização da Co-
dução do açúcar no litoral nordestino é que, de roa Portuguesa foi a extração de pau-brasil, uma
fato, os portugueses trazem contingentes huma- atividade nômade e predatória, que não tinha a
nos e montam uma estrutura produtiva na colônia. finalidade de promover o povoamento.
 Martin Afonso de Souza fundou as vilas de Pira- e) A mão de obra indígena foi pouco explorada e
tininga e São Vicente (ambas no litoral de São bastante valorizada pelos portugueses, que pre-
Paulo) e ali desenvolveu o plantio de cana-de-açú- senteavam os nativos com objetos de grande
car, cultura com a qual os portugueses tomaram valor no mercado europeu.
contato durante as Cruzadas medievais.
 A atividade açucareira no século XVI teve seu 14. Unioeste 2012 Sobre o processo de ocupação e ex-
auge no litoral nordestino. Naquela região, os ploração da América Portuguesa e a relação entre
engenhos reais contavam com centenas de portugueses e as populações indígenas, é correto
escravos (predominantemente africanos) e pro- afirmar que
duziam em larga escala, uma vez que o principal a) apoiados em práticas como escambo e escra-
FRENTE 1

objetivo era abastecer os mercados europeus. vização os portugueses conseguiram iniciar a


 Na medida em que já existiam habitantes no ter- exploração do território brasileiro nas primeiras
ritório brasileiro antes da chegada dos europeus décadas do século XVI.

57
b) os portugueses não encontraram nenhuma re- 17. UFU 2012 A pintura e a escrita em latim eram prá-
sistência das populações nativas, as quais foram ticas das elites artísticas e intelectuais indígenas no
rapidamente civilizadas pela prática do escambo. processo de conquista e colonização da América.
c) sob a influência das ideias de Rousseau, os co- O estudo de tais práticas permite, assim, analisar
lonos portugueses respeitaram o modo de vida aspectos da participação dessas elites naquele pe-
das várias sociedades nativas e promoveram uma ríodo histórico.
ocupação pacífica do Brasil.
d) uma das principais facilidades encontradas pelos
portugueses na ocupação do território brasileiro foi a
unidade linguística e cultural das populações nativas.
e) a presença portuguesa no Brasil não provocou
alterações na diversidade e na demografia das
populações nativas.

15. PUC-RS 2016 Sobre o período pré-colonial na Histó-


ria do Brasil, é correto afirmar que
a) foi estabelecida a escravidão indígena como for-
ma de exploração do trabalho, devido à ausência
de uma atividade econômica que financiasse o
tráfico de escravos africanos para o Brasil.
b) a economia baseou-se na exploração de produtos
naturais da terra, que não exigiam o estabeleci-
mento da agricultura para serem extraídos, como
o pau-brasil, o cacau e o látex.
c) promoveu-se a doação de porções da terra re-
cém-descoberta para a aristocracia portuguesa,
cujos membros ocupavam os principais cargos na
administração pública reinol.
d) havia desinteresse na colonização imediata do
território, tendo em vista que os principais recur-
sos humanos e materiais portugueses estavam
voltados para a exploração do rendoso comércio
com as Índias.
e) foram enviadas ao litoral brasileiro as chamadas
“expedições guarda-costas”, que visavam vigiar a
nova descoberta portuguesa diante da possível
Juan Gerson – Os Cavaleiros do Apocalipse – 1562 – papel amate
invasão holandesa na região.

Texto 1
16. UFRGS 2020 (Adapt.) A respeito da expansão eu-
Na metade do século XVI, um pintor nativo mexica-
ropeia, da conquista e da ocupação da América
no, batizado Juan Gerson, criou um extraordinário ciclo
Espanhola, considere as afirmações a seguir)
de pinturas para a igreja franciscana de Tecamachalco,
I. A encomienda era um sistema no qual indígenas
no atual estado de Puebla. O ciclo representa os eventos
deveriam fornecer mão de obra e pagar tributos a
bíblicos do Apocalipse, no formato oval, pintados em
colonos espanhóis)
papel amate, tradicionalmente usado pelos mexicas.
II. A conquista foi pacífica em relação aos Estados
PERRY, Richard. Mexico’s fortress monasteries. Espadana, 1993. Trecho
indígenas organizados, elemento que facilitou a disponível em: <http://www.colonial-mexico.com/PueblaTlaxcala/apocalypse.
rendição dessas populações) html, com acesso em 05/07/2012>. Acesso em: 3 jul, 2012. (adaptado)

III. A escravidão de povos autóctones foi um ex- Texto 2


pediente comum, utilizado pela Coroa, contra Os espanhóis, assustados de ver os progressos da ado-
indígenas capturados em guerras ou que se ção da escrita em latim entre os índios, escreviam já
rebelassem. na década de 1540: “Os índios têm escritores tão bons
Quais estão corretas? e tão numerosos que não sei dizer o número deles, e
a) Apenas I. esses escritores redigem cartas que os colocam a par
b) Apenas II. de todos os negócios do país de um mar a outro, o que
c) Apenas III. antes da Conquista era coisa impossível.”
GRUZINSKI. Serge. O Renascimento ameríndio. In. NOVAES, Adauto.
d) Apenas I e III. A outra margem do Ocidente. São Paulo:
e) I, II e III. Companhia das Letras, 1999, p. 294. adaptado)

58 HISTÓRIA Capítulo 2 A formação das estruturas coloniais


As informações sobre as práticas artísticas e inte- c) reconhecer os opositores do regime.
lectuais da elite indígena no processo de conquista d) facilitar a atuação dos magistrados.
e colonização da América evidenciam e) fortalecer a lealdade dos súditos.
a) a mistura de elementos artísticos e culturais da
tradição indígena e da cultura ocidental na so- 20. UPF 2018 Na conquista europeia da América, mui-
ciedade colonial em construção.
to mais do que na guerra, os processos de trabalho
b) a dificuldade espanhola em impedir o acesso à
e o consequente controle disciplinar imposto pelos
formação acadêmica e artística dos índios que
espanhóis resultaram na mortandade da população
se projetaram no cenário artístico europeu.
c) o poder da Igreja de destruir a cultura e a reli- nativa. Dentre os processos de trabalho impostos
gião indígenas no processo de cristianização e aos indígenas e que resultaram em sua dizimação,
ocidentalização da América. podemos apontar
d) o potencial civilizador europeu, que permitiu a) o assalariamento, que era pago em valores
retirar da barbárie e do paganismo populações muito baixos e geralmente em espécie.
até então isoladas da civilização. b) a peonagem, na qual os indígenas trabalham em
troca de comida, embora essa fosse racionada.
18. Enem 2013 c) a escravidão imposta aos indígenas, semelhan-
te à dos africanos trazidos para América para
O canto triste dos conquistados:
trabalhar na extração de metais.
os últimos dias de Tenochtitlán d) a encomienda, forma de trabalho compulsório
Nos caminhos jazem dardos quebrados; imposto a toda uma tribo para executar servi-
os cabelos estão espalhados. ços agrícolas e de mineração.
Destelhadas estão as casas,
e) a parceria, na qual os indígenas eram obrigados
Vermelhas estão as águas, os rios, como se alguém
as tivesse tingido,
a trabalhar na agricultura e nas minas, destinando
Nos escudos esteve nosso resguardo, mas os escu- dois terços da produção aos espanhóis.
dos não detêm a desolação...
PINSKY, J. et al.História da América através de textos. 21. FGV-RJ 2018 A respeito da conquista da América e
São Paulo. Contexto, 2007 (fragmento).
de sua colonização empreendida pelos espanhóis,
O texto é um registro asteca, cujo sentido está re- é correto afirmar:
lacionado ao (à) a) Foram facilitadas pelo baixo índice de ocupa-
a) tragédia causada pela destruição da cultura ção humana nas regiões do México, do Peru
desse povo. e da Bolívia, o que permitiu o estabelecimento
b) tentativa frustada de resistência a um poder de núcleos urbanos baseados nas referências
considerado superior. culturais europeias.
c) extermínio das populações indígenas pelo
b) Basearam-se na produção agrícola realizada
Exército espanhol.
nas plantations escravistas e no comércio local,
d) dissolução da memória sobre os feitos de seus
o que garantiu o controle do território frente às
antepassados.
e) profetização das consequências da coloniza- invasões de outras potências europeias.
ção da América. c) Basearam-se em um sistema administrativo
dividido em vice-reinados, cujas jurisdições
19. Enem PPL 2018 Embora a compra de cargos e títu- se estendiam sobre vastas áreas territoriais
los fosse bem difundida na América, muitos nobres, e cabildos, representações políticas locais
aí moradores, receberam títulos da monarquia devido controladas por grandes proprietários, comer-
a suas qualidades e serviços. Desde o século XVI, os ciantes e mineradores.
títulos de marquês e conde (títulos de Castela) eram d) Foram marcadas pelo estímulo a fluxos mi-
concedidos, sobretudo, aos vice-reis e capitães-gerais gratórios provenientes da Península Ibérica, o
nascidos na Espanha. Com menor incidência, esta que permitiu que, em poucas décadas, hou-
mercê régia também podia ser remuneração de ser-
vesse uma ampla maioria de europeus e seus
viços militares, de feitos na conquista, colonização e
fundação de cidades.
descendentes nos territórios americanos con-
RAMINELLI, R. Nobreza e riqueza no Antigo Regime ibérico setecentista. trolados pela Espanha.
Revista de História, n. 169, jul.-dez. 2013. e) Caracterizaram-se pela tolerância religiosa e
Segundo o texto, as concessões da Coroa espa- pela diversidade política, o que acabou por
nhola visavam o fortalecimento do seu poder na transformar a América Espanhola em área de
FRENTE 1

América ao refúgio para grupos e indivíduos perseguidos


a) restringir os privilégios dos comerciantes. no continente europeu por suas crenças e prá-
b) reestruturar a organização das tropas. ticas políticas.

59
22. Unesp 2020 Para responder à questão a seguir, leia o 23. ESPM 2019 A primeira vez que se mencionou o açúcar
trecho de uma carta enviada por Antônio Vieira ao rei e a intenção de implantar uma produção desse gênero no
D. João IV em  de abril de . Brasil foi em 1516, quando o rei D. Manuel ordenou que
No fim da carta de que 1V. M. me fez mercê me man- se distribuíssem machados, enxadas e demais ferramentas
da V. M. diga meu parecer sobre a conveniência de haver às pessoas que fossem povoar o Brasil e que se procuras-
se um homem prático e capaz de ali dar princípio a um
neste estado ou dois capitães-mores ou um só governador.
engenho de açúcar. Os primeiros engenhos começaram a
Eu, Senhor, razões políticas nunca as soube, e hoje
funcionar em Pernambuco no ano de 1535, sob a direção
as sei muito menos; mas por obedecer direi toscamente
de Duarte Coelho. A partir daí os registros não parariam
o que me parece.
de crescer: quatro estabelecimentos em 1550; trinta em
Digo que menos mal será um ladrão que dois; e que
1570, e 140 no fim do século XVI. A produção de cana
mais dificultoso serão de achar dois homens de bem que um.
alastrava-se não só numericamente como espacialmente,
Sendo propostos a Catão dois cidadãos romanos para o
chegando à Paraíba, ao Rio Grande do Norte, à Bahia e
provimento de duas praças, respondeu que ambos lhe
até mesmo ao Pará. Mas foi em Pernambuco e na Bahia,
descontentavam: um porque nada tinha, outro porque
sobretudo na região do recôncavo baiano, que a econo-
nada lhe bastava. Tais são os dois capitães-mores em que
mia açucareira de fato prosperou. Tiveram início, então,
se repartiu este governo: Baltasar de Sousa não tem nada,
os anos dourados do Brasil da cana, a produção alcan-
Inácio do Rego não lhe basta nada; e eu não sei qual é çando 350 mil arrobas no final do século XVI.
maior tentação, se a _____1_____, se a _____2_____. Tudo (Lilia M. Schwarcz. Brasil: uma Biografia)
quanto há na capitania do Pará, tirando as terras, não vale
10 mil cruzados, como é notório, e desta terra há-de tirar A partir do texto e considerando a economia açucarei-
Inácio do Rego mais de 100 mil cruzados em três anos, ra e a civilização do açúcar, é correto assinalar:
segundo se lhe vão logrando bem as indústrias. a) a cana-de-açúcar era um produto autóctone, ou
Tudo isto sai do sangue e do suor dos tristes índios, seja, nativo do Brasil e gradativamente foi caindo
aos quais trata como tão escravos seus, que nenhum tem no gosto dos portugueses e dos europeus, a par-
liberdade nem para deixar de servir a ele nem para poder tir do século XVI.
servir a outrem; o que, além da injustiça que se faz aos b) a produção e comercialização do açúcar ocorre-
índios, é ocasião de padecerem muitas necessidades os ram sob a influência do livre-cambismo em que se
portugueses e de perecerem os pobres. Em uma capitania baseou o empreendimento colonial português.
destas confessei uma pobre mulher, das que vieram das c) a metrópole estabeleceu o monopólio real, porém
Ilhas, a qual me disse com muitas lágrimas que, dos nove a comercialização do açúcar passou para os porões
filhos que tivera, lhe morreram em três meses cinco filhos, dos navios holandeses, que acabaram por assumir
de pura fome e desamparo; e, consolando-a eu pela morte parte substancial do tráfego entre Brasil e Europa.
de tantos filhos, respondeu-me: “Padre, não são esses os d) os portugueses mantiveram um rigoroso mono-
por que eu choro, senão pelos quatro que tenho vivos sem pólio sobre o processo de produção e refinação
ter com que os sustentar, e peço a Deus todos os dias que do açúcar, só permitindo a participação de estran-
me os leve também.” geiros na comercialização do produto.
São lastimosas as misérias que passa esta pobre gente e) para implantação da indústria canavieira no Bra-
das Ilhas, porque, como não têm com que agradecer, se sil, o projeto colonizador luso precisava contar
algum índio se reparte não lhe chega a eles, senão aos com mão de obra compulsória e abundante,
poderosos; e é este um desamparo a que V. M. por piedade dada a extensão do território e por isso sempre
deverá mandar acudir. privilegiou a utilização dos nativos, cuja captura
Tornando aos índios do Pará, dos quais, como dizia, proporcionava grandes lucros para a coroa.
se serve quem ali governa como se foram seus escravos,
e os traz quase todos ocupados em seus interesses, prin-
24. ESPM-RJ 2016 Quem vir na escuridade da noite aque-
cipalmente no dos tabacos, obriga-me a consciência a
las fornalhas tremendas perpetuamente ardentes, o ruído
manifestar a V. M. os grandes pecados que por ocasião
das rodas, das cadeias, da gente toda da cor da mesma
deste serviço se cometem.
noite, trabalhando vivamente, e gemendo tudo ao mes-
(Sérgio Rodrigues (org.). Cartas brasileiras, 2017. Adaptado.)
1V. M.: Vossa Majestade. mo tempo sem momento de tréguas, nem de descanso;
quem vir enfim toda a máquina e aparato confuso e es-
Em um estudo publicado em , o historiador Gus- trondoso daquela Babilônia, não poderá duvidar, ainda
tavo Acioli Lopes vale-se, no quadro da economia que tenha visto Etnas e Vesúvios, que é uma semelhança
colonial, da expressão “primo pobre” para se referir de inferno.
ao produto derivado das lavouras mencionadas por (Padre Antonio Vieira. Citado por Lilia Schwarcz
e Heloisa Starling in Brasil uma Biografia)
Antônio Vieira em sua carta.
No contexto histórico em que foi escrita a carta, o “pri- A leitura do trecho deve ser relacionada com:
mo rico” seria a) o trabalho indígena na extração do pau-brasil.
a) o açúcar. d) o ouro. b) o trabalho indígena na lavoura da cana-de-açúcar.
b) o pau-brasil. e) o algodão. c) o trabalho de escravos negros africanos no enge-
c) o café. nho de cana-de-açúcar.

60 HISTÓRIA Capítulo 2 A formação das estruturas coloniais


d) o trabalho de escravos negros africanos no garim- Nunca os missionários entraram na briga para saber se
po, na mineração. o africano havia sido ilegalmente escravizado ou não, mas
e) o trabalho de imigrantes italianos na lavoura cafeeira. a escravidão indígena foi embargada pelos missionários
desde o começo, e isso também é um pouco interesse dos
negreiros, ou seja, que a escravidão africana predomine.
25. Unesp 2015 Leia o texto para responder à questão.
[...] A escravização tem dois processos: o primeiro é a
A casa-grande, residência do senhor de engenho, é uma despersonalização, e o segundo é a dessocialização.
vasta e sólida mansão térrea ou em sobrado; distingue-se
pelo seu estilo arquitetônico sóbrio, mas imponente, que
ainda hoje empresta majestade à paisagem rural, nas velhas
fazendas de açúcar que a preservaram. Constituía o centro
de irradiação de toda a atividade econômica e social da
propriedade. A casa-grande completava-se com a capela,
onde se realizavam os ofícios e as cerimônias religiosas
[...]. Próximo se erguia a senzala, habitação dos escravos,
os quais, nos grandes engenhos, podiam alcançar algumas
centenas de “peças”. Pouco além serpenteava o rio, traçando
através da floresta uma via de comunicação vital. O rio e
o mar se mantiveram, no período colonial, como elemen-
tos constantes de preferência para a escolha da situação da
grande lavoura. Ambos constituíam as artérias vivificantes:
por meio delas o engenho fazia escoar suas safras de açúcar
e, por elas, singravam os barcos que conduziam as toras de
madeira abatidas na floresta, que alimentavam as fornalhas
do engenho, ou a variedade e a multiplicidade de gêneros e
artigos manufaturados que o engenho adquiria alhures [...].
(Alice Canabrava apud Déa Ribeiro Fenelon (org.).
50 textos de história do Brasil,1986.) (Luiz Felipe de Alencastro. Entrevista a Mariluce Moura.
“O observador do Brasil no Atlântico Sul”. In: Revista Pesquisa
Quanto à organização da vida e do trabalho no enge- Fapesp, no 188, outubro de 2011.)
nho colonial, o texto
A “despersonalização” e a “dessocialização” dos es-
a) destaca a ausência de quaisquer relações de tra-
cravizados podem ser associadas, respectivamente,
balho e de amizade dos senhores com os seus
a) ao fato de que os escravos eram identificados por
escravos.
números marcados a ferro e à interdição do con-
b) demonstra a distribuição espacial das constru-
tato entre os cativos e seus senhores.
ções e seu papel no funcionamento e na lógica
b) à noção do escravo como mercadoria e ao fato
do poder dentro do engenho.
de que os africanos eram extraídos de sua comu-
c) enfatiza a predominância do trabalho compulsório
nidade de origem.
e os lucros obtidos na comercialização de escra-
c) à noção do escravo como tolerante ao trabalho
vos de origem africana.
compulsório e ao fato de que ele era proibido de
d) denuncia o descaso dos senhores de engenho
fazer amizades ou constituir família.
com a escolha da localização para a instalação do
d) ao fato de que os escravos eram etnologicamen-
engenho.
te indistintos e à proibição de realização de festas
e) atesta a irracionalidade do posicionamento das
e cultos.
edificações e os problemas logísticos trazidos
e) à noção do escravo como desconhecedor do
pela falta de planejamento espacial.
território colonial e ao fato de que ele não era re-
26. Unesp 2020 (Adapt.) Leia o texto e observe o mapa conhecido como brasileiro.
para responder à questão.
Nem existia Brasil no começo dessa história. Existiam
27. UFRGS 2017 Assinale com V (verdadeiro) ou F (falso) as
o Peru e o México, no contexto pré-colombiano, mas Ar- afirmações abaixo, sobre a expansão de Portugal e a for-
gentina, Brasil, Chile, Estados Unidos, Canadá, não. No mação do império ultramarino entre os séculos XV e XVIII.
que seria o Brasil, havia gente no Norte, no Rio, depois O principal resultado da dinâmica expansionista de
no Sul, mas toda essa gente tinha pouca relação entre si Portugal foi a homogeneização de todas as regiões
até meados do século XVIII. E há aí a questão da navega- que compunham o território imperial, tornando-as
ção marítima, torna-se importante aprender bem história plenamente dependentes da metrópole e despro-
marítima, que é ligada à geografia. [...] Essa compreensão vidas de autonomia política e econômica.
me deu muita liberdade para ver as relações que Rio, A formação do Império português, iniciada no con-
Pernambuco e Bahia tinham com Luanda. Depois a Bahia texto do Renascimento europeu, deu-se a partir
FRENTE 1

tem muito mais relação com o antigo Daomé, hoje Benin, da constituição de um ideário predominantemente
na Costa da Mina. Isso formava um todo, muito mais do clássico, que rompeu com as tradições medievais
que o Brasil ou a América portuguesa. [...] de governo.

61
O reino de Portugal, do ponto de vista econômico, A partir da descrição do reino do Congo, é correto
estava amplamente ligado ao comércio atlântico, armar que, nesse reino,
tendo como uma das principais fontes de renda as a) toda a organização administrativa estava voltada
receitas obtidas pelo tráco ultramarino. para a acumulação de riquezas nas mãos do so-
A Igreja Católica, marcada pela dependência em berano, que as redistribuía entre as aldeias mais
relação à Coroa por meio do padroado régio, desem- leais e com maior potencialidade econômica.
penhou um importante papel unicador do Império b) o político e o sobrenatural estavam intimamente re-
ao longo da expansão territorial portuguesa. lacionados, além das semelhanças entre uma corte
A sequência correta de preenchimento dos parênte- europeia e uma de um reino na África, porque am-
ses, de cima para baixo, é bas eram caracterizadas por hierarquias rígidas.
a) V – V – F – V. c) a ordem política derivava de uma economia vol-
b) V – F – V – F. tada para a produção baseada no uso da mão
c) F – V – F – V. de obra compulsória, por isso o soberano era o
d) F – V – V – F. maior beneficiado com a captura de homens para
e) F – F – V – V. serem escravizados.
d) a fragmentação do poder entre os chefes das al-
28. Uece 2019 A parte da África localizada ao sul do deias e os conselheiros do soberano permitiu a
equador foi habitada por povos cuja língua falada per- consolidação de uma prática política pouco usual
tencia a um tronco linguístico com dezenas de famílias na África, na qual as decisões eram tomadas pe-
e cerca de  línguas, as quais atualmente são fa- los moradores do reino.
ladas por aproximadamente  milhões de pessoas e) a prevalência da condição tribal favoreceu sua
dominação por outros povos africanos, mas
em territórios como o Congo, Angola e Moçambique.
especialmente pelos comerciantes europeus, in-
Por extensão, os povos que falam essas línguas são
teressados na exploração de metais amoedáveis.
chamados de
a) mbanza longos.
b) malineses. 30. FGV-SP 2016 “Em muitos reinos sudaneses, sobretudo
c) bantos. entre os reis e as elites, o islamismo foi bem recebido e
d) congolezes. conseguiu vários adeptos, tendo chegado à região da sa-
vana africana, provavelmente, antes do século XI, trazido
pela família árabe-berbere dos Kunta.
29. FGV-SP 2017 [Desde o início do século XIV], no reino (...) O islamismo possuía alguns preceitos atraentes e
do Congo (...) moravam povos agricultores que, quando aceitáveis pelas concepções religiosas africanas, (...) as-
convocados pelo mani Congo, partiam em sua defesa sociava as histórias sagradas às genealogias, acreditava na
contra inimigos de fora ou para controlar rebeliões revelação divina, na existência de um criador e no destino.
de aldeias que queriam se desligar do reino. Aldeias (...) O escritor árabe Ibn Batuta relatou, no século XIV,
(lubatas) e cidades (banzas) pagavam tributos ao mani que o rei do Mali, numa manhã, comemorou a data islâ-
Congo, geralmente com o que produziam: alimentos, mica do fim do Ramadã e, à tarde, presenciou um ritual
tecidos de ráfia vindos do nordeste, sal vindo da cos- da religião tradicional realizado por trovadores com más-
ta, cobre vindo do sudeste e zimbos (pequenos búzios caras de aves.”
afunilados colhidos na região de Luanda que serviam (Regiane Augusto de Mattos, História e
de moeda). (...) o mani Congo, cercado de seus conse- cultura afro-brasileira. 2011)
lheiros, controlava o comércio, o trânsito de pessoas,
Considerando o trecho e os conhecimentos sobre a
recebia os impostos, exercia a justiça, buscava garantir
história da África, é correto armar que
a harmonia da vida do reino e das pessoas que viviam
a) a penetração do islamismo nas regiões subsaaria-
nele. Os limites do reino eram traçados pelo conjun-
nas mostrou-se superficial porque atingiu poucos
to de aldeias que pagavam tributos ao poder central,
setores sociais, especialmente aqueles voltados
devendo fidelidade a ele e recebendo proteção, tanto
para os assuntos deste mundo como para os assuntos
aos negócios comerciais, além de sofrer forte
do além, pois o mani Congo também era responsável concorrência do cristianismo.
pelas boas relações com os espíritos e os ancestrais. b) a presença do islamismo no continente africano
(...) O mani Congo vivia em construções que se derivou da impossibilidade dos árabes em ocupar
destacavam das outras pelo tamanho, pelos muros que regiões na Península Ibérica, o que os levou à in-
a cercavam, pelo labirinto de passagens que levavam vasão de territórios subsaarianos, onde ocorreu
de um edifício a outro e pelos aposentos reais que fi- violenta imposição religiosa.
cavam no centro desse conjunto e eram decorados de c) o desprezo das sociedades africanas pela
tapetes e tecidos de ráfia. Ali o mani vivia com suas tradição árabe gerou transações comerciais mar-
mulheres, filhos, parentes, conselheiros, escravos, e só cadas pela desconfiança recíproca, desprezo
recebia os que tivessem nobreza suficiente para gozar mudado, posteriormente, com o abandono das
desse privilégio. religiões primitivas da África e com a hegemonia
Marina de Mello e Souza. África e Brasil africano, 2006. do islamismo.

62 HISTÓRIA Capítulo 2 A formação das estruturas coloniais


d) o comércio transaariano foi uma das portas de en- colônia, que enfrentava diculdades, dentre elas os
trada do islamismo na África, e essa religião, em constantes conitos com os indígenas e os resulta-
algumas regiões do continente, ou incorporou-se dos insatisfatórios de algumas capitanias.
às religiões tradicionais ou facilitou uma convivên-
Assinale a alternativa que contém a sequência correta,
cia relativamente harmônica.
de cima para baixo:
e) as correntes islâmicas mais moderadas, caso dos
sunitas, influenciaram as principais lideranças da a) V–F–F–V
África ocidental, possibilitando a formação de b) V–F–V–F
novas denominações religiosas, não islâmicas, c) V–V–F–F
desligadas das tradições tribais locais. d) F–V–F–V
e) F–V–V–F
31. Famerp 2018 A Bahia é cidade d’El-Rei, e a corte do
Brasil; nela residem os Srs. Bispo, Governador, Ouvidor- 33. PUC-SP 2016 “Entre todos os moradores e povoadores
-Geral, com outros oficiais e justiça de Sua Majestade; uns fazem engenhos de açúcar porque são poderosos
[...]. É terra farta de mantimentos, carnes de vaca, por- para isso, outros canaviais, outros algodoais, outros man-
co, galinha, ovelhas, e outras criações; tem 36 engenhos, timentos, que é a principal e mais necessária cousa para
neles se faz o melhor açúcar de toda a costa; [...] terá a terra, outros usam de pescar, que também é muito ne-
a cidade com seu termo passante de três mil vizinhos cessário para a terra, outros usam de navios que andam
Portugueses, oito mil Índios cristãos, e três ou quatro mil buscando mantimentos e tratando pela terra conforme ao
escravos da Guiné. regimento que tenho posto, outros são mestres de enge-
(Fernão Cardim. Tratados da terra e gente do Brasil, 1997.) nhos, outros mestres de açúcares, carpinteiros, ferreiros,
oleiros e oficiais de fôrmas e sinos para os açúcares e ou-
O padre Fernão Cardim foi testemunha da coloniza- tros oficiais que ando trabalhando e gastando o meu por
ção portuguesa do Brasil de  a . O excerto faz adquirir para a terra, e os mando buscar em Portugal, na
uma descrição de Salvador, sede do Governo-Geral, Galiza e nas Canárias às minhas custas, além de alguns
referindo-se, entre outros aspectos, à que os que vêm fazer os engenhos trazem, e aqui moram
a) incorporação pelos colonizadores dos padrões e povoam, uns solteiros e outros casados, e outros que
culturais indígenas. cada dia caso e trabalho por casar na terra.”
b) ligação da atividade produtiva local com o comér- Gonsalves de Mello e Albuquerque. Cartas de Duarte
Coelho a El Rei. Recife: Fundação Joaquim Nabuco, 1997, p. 114.
cio internacional.
c) miscigenação crescente dos grupos étnicos pre- A carta, enviada pelo donatário de Pernambuco ao rei
sentes na cidade. de Portugal em , mostra que os
d) existência luxuosa da nobreza portuguesa na ca- a) colonos exerciam diversas atividades produtivas
pital da colônia. no Brasil colonial, o que gerava a presença de mui-
e) dependência da população em relação à importa- tos trabalhadores livres sob a ordem escravocrata.
ção de produtos de sobrevivência. b) escravos desempenhavam todas as atividades
produtivas no Brasil colonial, o que permitia aos
32. Udesc Analise as proposições sobre a administração colonos portugueses o desfrute do ócio e o enri-
colonial na América portuguesa, e assinale (V) para quecimento rápido.
verdadeira e (F) para falsa. c) senhores de engenho controlavam todas as rela-
Com o objetivo de diminuir as diculdades na ad- ções de trabalho e de produção no Brasil colonial,
ministração das capitanias, D. João III implantou, na o que impedia que a Corte portuguesa lucrasse
América portuguesa, um Governo-Geral que deve- efetivamente com a empresa colonizadora.
ria ser capaz de restabelecer a autoridade da Corte d) nobres portugueses eram os donatários das prin-
portuguesa nos domínios coloniais, centralizar as cipais capitanias no Brasil colonial, o que limitava
decisões e a política colonial. a ascensão social dos escravos alforriados.
A Capitania de São Vicente foi escolhida pela Co-
roa Portuguesa para ser a sede do Governo, pois 34. UEM 2016 A partir de , a Coroa Portuguesa
estava localizada em um ponto estratégico do terri- adotou o sistema de capitanias hereditárias ou de do-
tório colonial português. Foi nesta Capitania que se natarias para viabilizar a colonização do Brasil. Sobre
implementaram as novas políticas administrativas a divisão do território colonial brasileiro em capitanias,
da Coroa com a instalação do Governo-Geral. assinale a(s) alternativa(s) correta(s).
Tomé de Souza foi o responsável por instalar o pri-  O sistema de capitanias hereditárias se caracte-
meiro Governo- Geral. Trouxe com ele soldados, rizava pela doação de extensas faixas de terra a
colonos, burocratas, jesuítas, e deu início à cons- capitães-donatários, regulamentada pelas Cartas
trução da primeira capital do Brasil: Rio de Janeiro. de Doação e Forais.
FRENTE 1

A criação e instalação do Governo-Geral na Amé-  O donatário deveria colonizar a capitania, fundar


rica portuguesa foi uma alternativa encontrada vilas e proteger a terra e seus colonos contra os
pela Coroa Portuguesa para organizar e ocupar a ataques de nativos e de estrangeiros.

63
 Os forais estabeleciam os direitos e os deveres  Os primeiros trabalhadores europeus assalariados
dos donatários em relação à exploração da terra, livres chegaram ao Brasil somente no século XVIII,
que recebiam não como proprietários, mas como para trabalhar nas fazendas de café de São Paulo e
administradores. de criação de gado em Minas Gerais. Esse fato deu
 As capitanias hereditárias que mais prosperaram origem à expressão “política do café com leite”.
foram a de Santana, localizada ao sul do território  A administração pública das vilas estava a cargo
brasileiro, e a do Maranhão, situada na parte se- das câmaras municipais, também chamadas de
tentrional da colônia. Senado da Câmara, órgãos formados por verea-
 O sistema de capitanias hereditárias foi adotado dores eleitos pelos chamados “homens bons”.
primeiramente na América Portuguesa e só de-  No século XVIII, além da produção açucareira,
pois implantado por Portugal em suas colônias principalmente no Nordeste, e da mineração,
das ilhas do Atlântico. principalmente na região central do atual território
Soma: brasileiro, desenvolviam-se também a pecuária,
a produção de gêneros de subsistência e outras
35. UEPG 2016 As capitanias hereditárias foram instala- atividades econômicas.
das no Brasil em . Lotes que mediam entre  e Soma:
 quilômetros de terras e que iam do litoral brasi-
leiro até a linha imaginária do Tratado de Tordesilhas, 37. UEPG 2017 A partir da chegada dos portugueses, em
as capitanias corresponderam às primeiras divisões , teve início o período de colonização do Brasil.
administrativas na colônia e marcaram o modelo de Ao longo do século XVI, ocorreu o processo de forma-
colonização lusitano ao longo do século XVI. A respei- ção de uma sociedade e de um modelo econômico
to desse tema, assinale o que for correto. bastante característicos e que acabou por lançar as
 O donatário, ou seja, aquele que recebia a pos- bases do que viria ser a realidade socioeconômica
se da terra das mãos do rei de Portugal, tinha a brasileira após a independência, em . A respeito
obrigação de torná-la produtiva. Cabia ao dona- do primeiro século colonial, assinale o que for correto.
tário a doação de terras (sesmarias), a fundação  A senzala era a principal construção dos enge-
de vilas e a organização da defesa territorial da nhos do século XVI. Ela abrigava o proprietário da
capitania. terra, sua família, seus agregados e empregados
 O meridiano de Tordesilhas, linha imaginária que mais importantes. Era o centro administrativo e
cortava a América de norte a sul, tinha como fun- social do latifúndio.
ção delimitar os espaços continentais vinculados  Um dos principais traços da sociedade colonial do
à colonização ibérica, inglesa e francesa sobre século XVI foi a segregação étnica. Ao contrário da
esse território. miscigenação que ocorreu a partir do século XIX,
 Cartas de doação eram os documentos cartográ- nesse primeiro momento praticamente não houve
ficos que indicavam o tamanho e os limites das mistura racial entre brancos, negros e índios.
capitanias de acordo com a concessão real aos  A alta lucratividade propiciada pela comercializa-
donatários. ção de escravos africanos trazidos para o Brasil
 Qualquer súdito português que demonstrasse in- potencializou a atividade do tráfico negreiro já no
teresse em vir para a colônia poderia receber a século XVI.
concessão de uma capitania. Isso explica o fato  A mobilidade social era praticamente nula. A pos-
de fidalgos, pequenos comerciantes e até mes- se do latifúndio tornava o seu proprietário detentor
mo trabalhadores despossuídos terem se tornado absoluto de poder, levando ao clientelismo e a hie-
donatários no Brasil do século XVI. rarquização acentuada da sociedade.
Soma:  Do ponto de vista religioso, apesar do predomí-
nio católico, a sociedade colonial do século XVI
36. UEM 2019 Sobre o período de domínio português foi marcada pela forte presença de grupos liga-
nos territórios da América, os quais viriam a se consti- dos às religiões protestantes como o calvinismo
tuir no Brasil, assinale o que for correto. e o luteranismo.
 A sociedade que se desenvolveu no litoral do Soma:
atual Nordeste brasileiro tinha características
aristocráticas; era dominada por um grupo de pro- 38. Uece 2017 Leia atentamente os excertos a seguir:
prietários rurais e patriarcais, centrado no poder
do chefe de família, o patriarca. “Os escravos são as mãos e os pés do senhor de en-
genho, porque sem eles no Brasil não é possível fazer,
 Entre as várias rebeliões e revoltas que ocorreram
conservar e aumentar fazenda, nem ter engenho corrente.
naquele período, a Inconfidência Mineira (1789)
E do modo com que se há com eles, depende tê-los bons
foi a mais radical. Seu programa de governo pre- ou maus para o serviço”;
gava a instalação de uma monarquia brasileira e a André João Antonil. Cultura e Opulência do Brasil
imediata abolição da escravidão. por suas drogas e minas. Belo Horizonte. Itatiaia, 1982. p. 89.

64 HISTÓRIA Capítulo 2 A formação das estruturas coloniais


“A democracia no Brasil foi sempre um lamentável mal-  Cabiam à mulher os trabalhos domésticos e a
-entendido. Uma aristocracia rural e semifeudal importou-a e educação dos filhos nos preceitos cristãos.
tratou de acomodá-la, onde fosse possível, aos seus direitos ou  A sociedade patriarcal se organizava em torno da
privilégios, os mesmos privilégios que tinham sido, no Velho figura do Senhor de Engenho e o engenho, ou a
Mundo, o alvo da luta da burguesia contra os aristocratas”.
grande fazenda, era mais que uma unidade pro-
Sérgio Buarque de Holanda. Raízes do Brasil.
Rio de janeiro. José Olímpio editora, 1984. p. 119. dutiva, polarizando a vida social.
 Na sociedade patriarcal predominava o trabalho
Considerando os vários aspectos da formação social assalariado; contudo, os trabalhos domésticos
do Brasil, pode-se armar corretamente que os dois eram realizados por escravos.
trechos acima tratam  Por meio do compadrio se estabelecia uma rede
a) da inclusão do negro e do pobre no processo de parentesco que promovia dependências e pri-
democrático que rompeu com os direitos e privi- vilégios entre os grandes proprietários de terras.
légios das classes dominantes.
b) da integração social ocorrida ainda na coloniza- Soma:
ção com o processo de miscigenação étnica que
tornou iguais todos os brasileiros. 41. Acafe 2018 “É verdade que antes da união das monar-
c) da condição de exploração e exclusão a que esta- quias ibéricas, em 1580, ao manter uma boa relação com
va sujeita uma parcela significativa da população os portugueses, os flamengos frequentavam os portos bra-
brasileira em razão dos interesses das elites. sileiros e a cidade de Lisboa carregando açúcar em suas
d) da perfeita inclusão dos negros libertos e da popu- urcas, levando-o a refinar em Flandres e distribuindo-o por
lação pobre em geral na sociedade brasileira, com via terrestre e fluvial por toda a Europa central. De sua
embarcação tão características, ficou a lembrança na to-
a criação da República e da democracia no Brasil.
ponímia carioca, através do morro que evoca a sua forma.”
PRIORI, Mary del. Histórias da gente brasileira:
39. UEPG 2016 Núcleo central da sociedade colonial bra- volume 1: colônia. São Paulo: Editora LeYa, 2016. Página 69.
sileira do século XVI, o engenho de açúcar nordestino
propiciou a formação de um sistema de relações sociais Com base no texto e nos conhecimentos sobre o pe-
que acabou sendo esmiuçado por Gilberto Freyre, no ríodo colonial da história do Brasil é correto armar,
clássico Casa Grande & Senzala. A respeito da socie- exceto:
dade colonial do século XVI, assinale o que for correto. a) Durante a União Ibérica, holandeses e espanhóis
 Apesar de centrada nos engenhos, a sociedade formaram a Companhia das Índias Ocidentais e
açucareira ficou conhecida por seu alto nível de dividiram os lucros da comercialização do açúcar
urbanização. Ao redor das estruturas agrárias produzido no Brasil e levado para a Europa.
floresceram inúmeras cidades de grande porte, b) Com a União Ibérica acirraram-se os conflitos
como Recife e Salvador. entre a Espanha e a Holanda. Com a proibição es-
 A sociedade açucareira era patriarcal, ficando a panhola da parceria comercial entre holandeses
maior parte dos poderes concentrados nas mãos e produtores de açúcar no Brasil, os flamengos
dos senhores de engenho. invadiram o nordeste.
 O engenho era o centro da produção e também da c) Maurício de Nassau, administrador holandês em
sociedade açucareira. Sua sede administrativa era Pernambuco, promoveu reformas urbanas e mante-
a Casa Grande, local onde o senhor do engenho ve uma boa relação com os senhores de engenho.
residia com sua família e com seus agregados. d) A revolta conhecida como Insurreição Per-
 A mão de obra predominante nos engenhos era nambucana acabou determinando a saída dos
composta por escravos africanos que participavam holandeses do nordeste brasileiro e teve como
de todas as etapas produtivas. Porém, além deles, consequência uma crise na empresa açucareira
haviam também trabalhadores livres e assalariados. brasileira.
 Além dos senhores e dos escravos, na sociedade
açucareira também existiam outros grupos sociais 42. Mackenzie 2013 Com a união das coroas de Portugal
como o dos pequenos lavradores que arrenda- e Espanha, ocorreu o início do período chamado de
vam porções de terras dos grandes engenhos e União Ibérica (-). A Holanda, que enfrentou
ali plantavam cana-de-açúcar. diversas lutas contra a Espanha, exerceu influência di-
Soma: reta na colônia portuguesa na América, pois
a) passou a pilhar e saquear as feitorias na costa afri-
40. UEM 2015 No período colonial predominava no Nor- cana dominada pelos espanhóis, interessada no
deste brasileiro uma sociedade patriarcal. Sobre essa comércio de escravos e de marfim, invadindo, tam-
sociedade é correto afirmar que: bém, as cidades de Santos e Salvador, no Brasil.
 Na sociedade patriarcal prevalecia a democracia b) o embargo espanhol representou prejuízos para
FRENTE 1

familiar, onde os problemas econômico-sociais os interesses holandeses no Brasil, uma vez que
eram resolvidos pelos pais e pelos filhos com ida- participavam do comércio de produtos tropicais
de acima de 18 anos. nacionais, principalmente do pau-brasil.

65
c) sofria, na época, perseguições religiosas na Europa e retaliações dos católicos residentes em seu país, por isso,
seu desejo foi montar uma colônia protestante no Brasil.
d) ocupou o nordeste brasileiro para evitar a criação de bases e feitorias espanholas, visando quebrar o mono-
pólio da rota da prata advinda das demais colônias e também minar o prestígio internacional ibérico.
e) apoderou-se do nordeste brasileiro e retomou o controle da lucrativa operação de transporte, refino e distribui-
ção comercial do açúcar brasileiro, perdido a partir da União Ibérica.

43. Uece 2017 Leia atentamente o excerto a seguir:


“Há duas Brancas Dias: uma real, outra imaginária. A primeira pode ser conhecida consultando-se os documentos históricos
e os estudos já escritos a respeito; a outra está nos romances e peças de teatros inspirados pelo personagem real. [...] Enquanto
seu marido, Diogo Fernandes, instalava-se em Pernambuco, [...] Branca, que havia permanecido em Portugal, era denunciada e
presa pela Inquisição. Acusada de judaísmo pela própria mãe e por uma irmã, que já se encontravam presas, Branca admitiu a
dita heresia, sendo assim libertada, [...]. Com a morte do marido, além de administrar a parcela que restava do engenho Cama-
ragibe após um fracasso parcial de sua exploração, Branca manteve em sua casa da Rua Palhares, em Olinda, com a ajuda das
filhas, uma escola para ensinar meninas a cozinhar, bordar e fazer rendados. Mal imaginava que, trinta anos depois, já morta,
suas ex-alunas a denunciariam ao visitador inquisitorial por práticas judaizantes no Brasil”.
Bruno Fleiter. Duas faces de um mito. Nossa História. Ano 1, nº 10, ago. 2004. p. 48.

O aspecto da colonização do Brasil tratado no trecho acima diz respeito


a) ao processo de inclusão social dos praticantes de religiões não católicas, respeitando o direito ao culto e suas
tradições religiosas.
b) à perseguição religiosa, por parte do Tribunal do Santo Ofício, que trouxe a inquisição até as terras brasileiras no
período colonial.
c) à condição de liberdade de culto e manifestação religiosa presentes na História do Brasil desde a colonização
até os dias atuais.
d) à perfeita inclusão na sociedade brasileira dos negros libertos, dos judeus e da população pobre em geral, com
a criação da República e da democracia no Brasil.

44. UCS 2014 Durante a União Ibérica (-), iniciou-se a ocupação do território que hoje denominamos de Ama-
zônia. Considere as seguintes afirmativas sobre a ocupação desse território)
I. A ocupação portuguesa foi empreendida de duas maneiras: a primeira com a instalação de fortalezas militares na
beira dos rios para controlar a navegação (única via de comunicação) e os navios de outros países europeus; a
segunda, através de várias ordens de padres católicos que instalaram missões para a evangelização dos índios)
II. O Forte do Presépio, instalado em 1616, deu origem à cidade de Belém; do Forte de São José do Rio Negro,
fundado em 1669, nasceu Manaus)
III. Os índios, nas Missões, cultivavam a terra e entravam na floresta para colher as drogas do sertão, tais como: a
baunilha, o cacau, o guaraná e a castanha-do-pará. Porém, as Missões transformaram-se em empreendimentos
pouco lucrativos, uma vez que os índios não gostavam de trabalhar.
Das armativas acima, pode-se dizer que
a) apenas I está correta. d) apenas II e III estão corretas.
b) apenas II está correta. e) I, II e III estão corretas.
c) apenas I e II estão corretas.

45. UEM 2015 Em , Felipe II da Espanha assumiu o trono de Portugal. A partir de então, e até , os reis da Espa-
nha eram, também, reis de Portugal. Este período da história dos dois países é conhecido como o da União Ibérica.
A esse respeito, assinale a(s) alternativa(s) correta(s).
 Com a União Ibérica, ocorreu uma fusão econômica e administrativa, pois tanto o reino de Portugal quanto suas
colônias passaram a ser administrados diretamente pela nobreza da Espanha.
 O império espanhol, sob o reinado de Felipe II, congregava a Península Ibérica, os Países Baixos e outras posses-
sões na Europa. Suas possessões na América incluíam o México, ao norte, e, ao sul, os atuais territórios do Brasil,
do Chile e da Argentina, além de possessões na África e na Ásia.
 Inimigos dos espanhóis durante a União Ibérica, os ingleses percorreram, com seus navios, a costa brasileira pilhan-
do navios carregados de açúcar.
 A grande extensão territorial, a distância entre as possessões e os ataques de outros povos foram minando o
império espanhol. A porção portuguesa desse império sofreu perdas territoriais até 1640, quando ocorreu a res-
tauração dos Bragança ao trono português.
 O Tratado de Methuen, de 1703, firmado entre Portugal, Inglaterra e Espanha, marcou o reconhecimento efetivo, por
parte da Espanha, da independência portuguesa e ao mesmo tempo deu início à influência inglesa sobre Portugal.
Soma:
66 HISTÓRIA Capítulo 2 A formação das estruturas coloniais
46. Uece 2018 Sobre a presença de europeus, durante os séculos XVI, XVII e XVIII, no território que hoje pertence ao
Brasil, é correto afirmar que
a) se restringiu aos portugueses que, desde o Tratado de Tordesilhas, eram os únicos com direito sobre esta terra
plenamente reconhecido pelas demais nações europeias.
b) diferentemente de outras regiões da América, nenhuma das cidades do Brasil sofreu ataques de piratas ou cor-
sários de origem europeia.
c) devido ao Tratado de Tordesilhas, apenas portugueses e espanhóis estiveram pelas terras brasileiras durante os
séculos de nossa colonização.
d) além dos portugueses, em diversas regiões do atual território brasileiro, nos primeiros séculos da colônia, houve
presenças de espanhóis, franceses e holandeses.

47. Uece 2018 O governo de Felipe I à frente do reino português (-) marcou o início da União Ibérica,
período em que os dois reinos ibéricos foram governados pelo mesmo soberano, após a guerra de sucessão
portuguesa. Este mesmo monarca, chamado Felipe II, na Espanha, originou a dinastia filipina.
Em relação ao Brasil, a chegada do rei espanhol ao trono português teve como consequência
a) a elevação do Brasil a vice-reino, tal qual os demais vice-reinos que a coroa espanhola possuía na América.
b) a ocupação do litoral brasileiro da região Sudeste, no Rio de Janeiro e em São Paulo, por espanhóis.
c) a elevação do Brasil à categoria de Reino Unido à Portugal e à Espanha, o que apressou a independência da
colônia.
d) a ocupação do litoral nordeste do Brasil pelos holandeses, que pretendiam retomar o comércio do açúcar.

48. Uece 2017 Atente ao seguinte enunciado: “Em seu governo, Maurício de Nassau incentivou a produção de açúcar,
que havia decaído durante a conquista, com a concessão de financiamentos; também estimulou a agricultura de
subsistência, sobretudo da mandioca, para que não faltassem alimentos aos mais pobres. Homem culto e amante
das artes, seu governo foi um período de tolerância religiosa entre católicos e protestantes. Seu retorno à Europa e
sua substituição por um ‘triunvirato’ – que alterou suas práticas administrativas – fez surgir reações e insurreições por
parte dos senhores de engenho”.
O enunciado se refere ao período histórico marcado
a) pela implantação do Governo-Geral, em 1548, como forma de resolver o fracasso administrativo das Capitanias
Hereditárias e garantir a posse e a pacificação da Colônia.
b) pelo domínio francês no Maranhão, no qual o governo do Conde Nassau trouxe grandes avanços à cultura cana-
vieira daquela região e o desenvolvimento da cidade de São Luís.
c) pelo domínio francês no Rio de Janeiro, que teve na figura de Maurício de Nassau seu grande nome, responsável
por desenvolver a economia e a cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro.
d) pelo domínio holandês no Nordeste do Brasil, que se estendeu desde a Bahia até o Maranhão e que teve na
administração de Nassau seu período de maior desenvolvimento.

49. UPF 2017 “As invasões holandesas que ocorreram no século XVII foram o maior conflito político-militar da Colônia brasi-
leira. Embora concentradas no Nordeste, elas não se resumiram a um simples episódio regional. Ao contrário, fizeram parte
do quadro das relações internacionais entre os países europeus, revelando a dimensão da luta pelo controle do açúcar e das
fontes de suprimento de escravos”
(Boris Fausto, História do Brasil, 1996, p. 84)

Sobre o tema destacado no texto acima, é correto armar que


a) Domingos Fernandes Calabar foi o personagem principal das forças luso-brasileiras, lutando heroicamente até o
final ao lado de Portugal, que lhe deu o título de príncipe.
b) a ocupação das zonas de produção açucareira na América portuguesa e o controle do suprimento de escravos
teve como principal interessada a maior companhia de comércio da época, a Companhia Holandesa das Índias
Ocidentais, financiada com capitais do Estado e de financistas particulares.
c) o despotismo de Maurício de Nassau em Pernambuco levou a sociedade local a se levantar contra o período de
pobreza imposto por ele, em 1630.
d) o projeto holandês de colônias de povoamento, similar ao dos Estados Unidos, poderia ter estimulado um desen-
volvimento autônomo à colônia brasileira, com base na industrialização.
FRENTE 1

e) as Batalhas de Guararapes (1648 e 1649) marcaram a tomada de Recife pelo exército luso-brasileiro, formado
majoritariamente por índios tapuias que, com sua técnica de guerra avançada, foram decisivos para a derrota
dos holandeses.

67
50. FGV-RJ Frans Post chegou ao Brasil em  e integrou o grupo de artistas ligados à administração holandesa sob
o comando de Maurício de Nassau. Paisagens, cenas cotidianas e personagens foram os temas principais represen-
tados por Post durante os anos vividos no Brasil. Observe atentamente a imagem abaixo, de sua autoria, e depois
responda às questões propostas.

a) Identifique na pintura: a instalação representada; a força motriz utilizada; a mão de obra predominante e o produ-
to processado.
b) Depois de estabelecidos em Pernambuco, os holandeses conquistaram Angola. Qual era a articulação entre
essas duas regiões?

Texto complementar

Por que é errado dizer que “os negros escravizaram os negros”?


[...]
Na África Central do século XVII (região onde hoje se localizam Angola, República do Congo e República Democrática do Congo), por exem-
plo, existiam diversos reinos. O reino do Congo, reino do Dongo, Matamba, Cassange, Benguela, entre outros. Os habitantes de cada um desses
reinos não se identificavam como “negros” ou como “africanos”, muito menos se identificavam como iguais. Os reinos se constituíam em rígidas
hierarquias, baseadas em ancestralidade, laços de sangue, poder sobre território, poder sobre pessoas, alianças políticas e militares. Havia
pessoas com mais direitos do que outras; pessoas com mais poderes do que outras. Considerando a organização do Quilombo dos Palmares
como a reconstrução de um reino centro-africano no Brasil, é possível dizer que esses valores e hierarquias também foram reproduzidos aqui.
Tomemos, como exemplo, o reino do Dongo, formado pelo grupo étnico ambundo, no qual o idioma era o quimbundo, cujo soberano do reino se
chamava Ngola (o que deu origem ao nome do país Angola). O Ngola era a autoridade máxima dentro de todo o reino. Mas o reino era dividido em várias
regiões e cada região tinha um líder local, chamado soba. O soba era o chefe da aldeia, representava a liderança máxima dentro de seu espaço de
domínio e exercia poder sobre todas as pessoas que residiam naquele território. Dentro das aldeias, havia os membros oficiais das famílias, chamados
de crianças da “murinda”; e aqueles que eram chamados de quijicos, servos obtidos através de guerra, mas que não poderiam ser vendidos. Os quijicos
eram uma extensão dos bens do soba e do Ngola. E, por fim, havia no Dongo a categoria social dos mubicas. Os mubicas eram escravizados obtidos
em guerra que poderiam ser vendidos e eram muitas vezes usados como moeda de troca. Os mubicas estavam abaixo dos quijicos, que estavam abaixo
das crianças da murinda, que estavam abaixo dos sobas, que por sua vez estavam abaixo do Ngola. Todas são categorias sociais distintas, divididas
em hierarquias extremamente organizadas e baseadas nos valores dos ambundos. Percebam, os quijicos não eram livres e detentores de direitos, mas
não poderiam ser vendidos, ao contrário dos mubicas. Isso porque a lógica de escravidão dentro dos valores ambundos é completamente diferente da
escravidão que se desenvolve no continente americano.
Nessa sociedade complexa, fica evidente que não se tratava de negros escravizando negros. Eram sobas e Ngolas que exerciam seus
poderes e domínios legítimos sobre pessoas. Não eram negros vendendo os próprios negros. Eram sobas e Ngolas vendendo mubicas, porque
os mubicas não eram considerados iguais aos sobas e Ngolas. E são essas diferenças que precisamos enxergar. Não existia uma identidade
única, uma classe social única, um grupo africano único. Os ambundos, assim como qualquer outro povo africano, enxergavam-se dentro de suas
diferenças. E, da mesma forma como ocorreu ao longo da história da humanidade, essas diferenças resultavam em disputas, guerras, hierarquias
e poderes distribuídos de formas diferentes.
Entretanto, não é possível de forma alguma dizer que a escravidão dos mubicas do reino do Dongo era igual à escravidão do Brasil Colônia
e Império. Não é possível dizer que os escravizados do Dongo eram iguais aos milhões de africanos escravizados nas Américas. A existência da
escravidão no continente africano tem suas especificidades que a diferem profundamente do processo de escravidão que se desenvolveu no
Brasil. A escravidão entre os povos africanos é a prova de que, assim como os povos europeus, asiáticos e quaisquer outros, os africanos são
seres humanos inseridos em experiências históricas de grande densidade. Não se trata de negar a existência da escravidão dentro do continente
africano. Mas dizer de forma genérica que “negros escravizaram negros” é negar a complexidade das sociedades africanas, é reduzi-las a um
único grupo, é diminuir sua humanidade. E o mais importante: a existência da escravidão no continente africano não é justificativa para diminuir
a cruel, violenta, genocida e desumanizadora experiência da escravidão africana nas Américas [...].
OLIVEIRA, Guilherme. Por que é errado dizer que os negros escravizaram os negros? Portal Geledés,  nov. .
Disponível em: https://www.geledes.org.br/por-que-e-errado-dizer-que-os-negros-escravizaram-os-negros/. Acesso em:  jul. .

68 HISTÓRIA Capítulo 2 A formação das estruturas coloniais


Resumindo
 A chegada dos europeus à América promoveu um intenso choque nas culturas ameríndias.
 No território que viria a ser a América espanhola, destacavam-se os grandes impérios Mexica (na Mesoamérica) e Inca
(na zona andina central).
 No território que viria a ser o Brasil, as populações indígenas eram marcadas por uma profunda heterogeneidade.
 As bases da colonização foram definidas pelo sistema colonial, ou seja, pelo exclusivo metropolitano em relação ao
comércio colonial.
 A colonização espanhola foi marcada pela extração de minérios, exploração da mão de obra indígena (mita e
encomienda) e urbanização e segmentação social entre criollos e chapetones.
 Após um período de desinteresse inicial pela América, Portugal deu início à montagem da empresa açucareira pauta-
da na exploração da mão de obra escravizada negra de origem africana. A produção de açúcar na Colônia foi baliza
para o estabelecimento das relações sociais e econômicas.
 Entre 1580 e 1640, Portugal esteve submetido ao domínio espanhol. Durante esse período, o da União Ibérica,
a Companhia das Índias Ocidentais invadiu o nordeste colonial do Brasil, tomando, para si, a empresa açucareira
de Portugal.

Quer saber mais?

Livros Podcast
CUNHA, Manuela Carneiro da. História dos índios no Brasil. História Pirata # – Os povos indígenas e o Brasil colonial,
São Paulo: Companhia das Letras, . com José Inaldo Chaves.
O livro reúne mais de 100 artigos de pesquisadores sobre O programa debate questões diversas sobre a história e
a história dos povos indígenas do Brasil. a historiografia dos povos indígenas do Brasil.
FAUSTO, Carlos.Os índios antes do Brasil. Rio de Janeiro: Vídeo
Zahar, . Colonização e formação do Brasil l Fernando Novais. Café
O livro aborda, por meio de problemáticas diversas, a his- Filosófico CPFL. Disponível em: www.youtube.com/watch?
tória dos povos nativos do território que viria a ser o Brasil. v=DfeNoGm_d. Acesso em:  jul. .
Aula com Fernando Novais, professor Emérito da Univer-
MACEDO, José Rivair. História da África. São Paulo: Con-
sidade de São Paulo, sobre o Brasil Colônia e a formação
texto, .
do Brasil como nação.
A obra apresenta uma visão panorâmica da história do
continente africano e sua diversidade.

Exercícios complementares

1. Unicamp 2020 O escritor Fernão Mendes Pinto não foi o único a criticar a construção de um império que ia da Índia ao Amazo-
nas. Outros – entre os quais se destacam Gil Vicente e Camões – registraram que o reverso da medalha do papel de civilizadores
e missionários assumido pelos portugueses era a brutalidade, a covardia, a avareza, a crueldade, a pilhagem e o desprezo pelas
sensibilidades, costumes, crenças e propriedades dos locais. A prosa e a poesia do século XVI exprimiram o receio de que o preço
a pagar por tal aventureirismo poderia ser a degenerescência moral e o declínio das virtudes cívicas em Portugal.
(Adaptado de A. J. R. Russel-Wood, Reviewed work: The Travels of Fernão Mendes Pinto by Fernão Mendes Pinto, Revecca D. Catz. The International History
Review, p. 568-572, ago. 1990.)

a) Explique as críticas de Gil Vicente e Camões à construção do Império português da Época Moderna.
b) Cite e explique uma forma de resistência à presença dos portugueses no Ultramar.

2. Unicamp 2019 Sobre o diário do indígena Chimalpahin, o historiador Serge Gruzinski escreveu: Toda a obra do cronista
transborda de anotações que desenham um imaginário planetário, cujas referências nos parecem muitas vezes inesperadas.
Dois meses depois de ter evocado o assassinato do rei de França, em 15 de novembro de 1610, Chimalpahin dirige seu olhar
para o Japão e anota: “Dom Rodrigo de Vivero, vindo do Japão, perto da China, fez sua entrada na Cidade do México. Fez-se
amigo do imperador japonês e este lhe emprestou a fortuna que Rodrigo trouxe à Cidade do México; ele trouxe, além disso,
alguns japoneses com ele. Todos estavam vestidos como se vestiam lá, com uma espécie de colete e um cinto em torno da
cintura, onde levavam sua katana de aço, uma espécie de espada. Não se mostravam tímidos, não eram pessoas calmas ou
humildes, tinham, ao contrário, o aspecto de águias ferozes.”
(Adaptado de Serge Gruzinski, As quatro partes do mundo:história de uma mundialização. Belo Horizonte: Editora UFMG, São Paulo: Edusp, 2014, p. 36.)
FRENTE 1

Considerando o estudo histórico de Gruzinski e seus conhecimentos,


a) identifique, a partir do texto, dois aspectos que caracterizam os contatos culturais;
b) explique a importância do diário de Chimalpahin para a compreensão do processo de colonização da América.

69
3. Fuvest 2020 A imagem a seguir refere-se às montanhas: e cada um dita a lei a seus filhos e mulheres,
principais rotas de comércio da África do Norte e sem se preocupar uns com os outros”.
Ocidental, no século XV. (Homero. Odisseia, Século VIII a.C.)

“Parece-me gente de tal inocência que, se homem


os entendesse e eles a nós, seriam logo cristãos, porque
eles não têm nem entendem nenhuma crença, segundo
parece. E, portanto, se os degredados que aqui hão-de
ficar aprenderem bem a sua fala e os entenderem, não
duvido, segundo a santa intenção de Vossa Alteza, faze-
rem-se cristãos e crerem na nossa santa fé, à qual praza a
Nosso Senhor que os traga, porque, certo, esta gente é boa
e de boa simplicidade e imprimir-se-á [facilmente] neles
qualquer cunho que lhes quiserem dar”.
(Pero Vaz de Caminha. Carta a el-rei dom Manuel
sobre o achamento do Brasil, 1.º de maio de 1500.)
Eric Wolf, A Europa e os Povos sem História (trad.). São Paulo: Edusp, 2005.
Os textos apresentados expressam valores próprios
Em relação às rotas comerciais representadas no às sociedades em que foram produzidos: a Grécia da
mapa, é correto armar que elas antiguidade e a ibérica do século XV.
a) indicam que a melhoria das condições ambientais a) Que diferença de valores pode ser constatada
do Saara permitiu a construção de estradas pelo
entre essas sociedades, a partir dos textos?
deserto.
b) Além do objetivo expresso pela Carta de Caminha,
b) foram construídas pelo poder islâmico do Cairo, que
a colonização portuguesa do Brasil teve uma clara
promoveu a unificação de toda a África do Norte.
finalidade econômica. Qual finalidade era essa?
c) mostram a decadência econômica do comércio do
Saara oriental, em razão da crise do Império Egípcio.
d) atingem a região ao sudoeste do Saara, local de 6. Fac. Albert Einstein 2017
origem do ouro que chegava aos portos do Medi-
Em busca de Pindorama – A questão da terra
terrâneo.
e) representam o poder do Império de Songai, cuja e da identidade indígenas no Brasil
capital era Timbuctu, que unificou todo o território A luta dos gamela na região de Viana [Maranhão] não
entre o Atlântico e o mar Vermelho. é recente, afirmam os indígenas. Há ataques registrados
em pelo menos duas outras ocasiões: no final da década
4. Unesp 2016 Esta terra, Senhor, me parece que da ponta de 1960, quando escrituras de terras onde eles viviam
que mais contra o sul vimos até a outra ponta que contra começaram a aparecer com o nome de outros donos, e
o norte vem, de que nós deste porto houvemos vista, será em 1987. Como em diversas regiões do país, o conflito
tamanha que haverá nela bem vinte ou vinte e cinco léguas reflete a dificuldade que rege a titularidade de terras ru-
por costa. Traz, ao longo do mar, nalgumas partes, grandes rais. Uma história que passa por expulsões de pessoas
barreiras, delas vermelhas e delas brancas; e a terra por cima mais vulneráveis de suas áreas, por grilagem e ocupações
toda chã e muito cheia de grandes arvoredos. De ponta a
irregulares e, até, pela conivência de cartórios, que em
ponta, é toda praia parma, muito chã e muito formosa. [...]
décadas passadas faziam registros falsos de acordo com o
Nela, até agora, não pudemos saber que haja ouro,
gosto de quem pudesse pagar mais. Em um cenário onde o
nem prata, nem coisa alguma de metal nem de ferro; nem
lho vimos. estoque de terras vêm se esgotando, os conflitos parecem
Porém a terra em si é de muito bons ares [...]. estar se tornando cada vez mais frequentes.
Águas são muitas; infindas. Em tal maneira é graciosa Talita Bedinelli, EL PAÍS. Fonte: http://brasil.elpais.com/brasil/2017/05/06/
politica/1494107739_378228.html, Acessado em: 08/05/17. Imagem: https://
que, querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo, por bem
mirim.org/terras-indigenas, acesso em 13/05/2017
das águas que tem.
Porém o melhor fruto, que nela se pode fazer, me pa- No Mato Grosso, onde está reunida, a população xa-
rece que será salvar esta gente. E esta deve ser a principal vante tem atualmente quase vinte mil índios, segundo o
semente que vossa alteza em ela deve lançar. censo da Funai. Cerca de deles vivem nas quatro aldeias
(Carta de Pero Vaz de Caminha, 1500. http://objdigital.bn.br.) de Marãiwatsédé, numa região que era de transição do cer-
Identique duas das motivações da colonização rado para a floresta amazônica – quem conheceu a região
portuguesa do Brasil citadas na Carta, indicando os nos anos 1960 fala com saudosismo do mato fechado que
trechos do documento que as mencionam. encobria até as estradas. A mata, contudo, desapareceu.
Rodeada por fazendas com soja e gado, ela ganhou o título
5. Unifesp “Chegamos à terra dos Ciclopes, homens sober- de terra indígena mais desmatada do Brasil, com cerca de
bos e sem leis (...) Não têm assembleias que julguem ou 80% de seu território destruído.
deliberem, nem leis; vivem em grutas, no cimo das altas Lucas Ferraz, Rai Reis Pública – Agência de Reportagem e Jornalismo
Investigativo, 12/09/2016.

70 HISTÓRIA Capítulo 2 A formação das estruturas coloniais


Imagem: [http://www.dicionariotupiguarani.com.br/mapas/].
Acesso em 13/05/2017.

Art. 231. São reconhecidos aos índios sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, e os direitos ori-
ginários sobre as terras que tradicionalmente ocupam, competindo à União demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos os
seus bens.
§ 1o - São terras tradicionalmente ocupadas pelos índios as por eles habitadas em caráter permanente, as utilizadas
para suas atividades produtivas, as imprescindíveis à preservação dos recursos ambientais necessários a seu bem-estar e as
necessárias a sua reprodução física e cultural, segundo seus usos, costumes e tradições.
§ 2o - As terras tradicionalmente ocupadas pelos índios destinam-se a sua posse permanente, cabendo-lhes o usufruto
exclusivo das riquezas do solo, dos rios e dos lagos nelas existentes.
(...)
§ 4o - As terras de que trata este artigo são inalienáveis e indisponíveis, e os direitos sobre elas, imprescritíveis
Fonte: Extraído de Constituição da Rep. Fed. do Brasil, 1988. Tít VIII, Cap. VIII, Dos Indios.[http://www.planalto.gov.br] Acesso em: 17/05/2017

OCEANO
ATLÂNTICO
Equador

Trópico de C
apricórn
io
FRENTE 1

Imagem: [http://www.socioambiental.org]. Acesso em 17/05/2017.

A partir dos textos e das imagens, caracterize a situação dos povos indígenas no início da colonização portuguesa
(século XVI) e na atualidade, tendo em vista a questão da terra e da identidade.

71
7. Fuvest 2018
Estimativa da população indígena da América na época do contato europeu

Stuart B. Schwartz & James Lockhart, A América Latina na época colonial. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, .

Com base nos dados fornecidos pela tabela,


a) explique as razões da distribuição geográfica desigual da população indígena no hemisfério americano no mo-
mento do contato europeu;
b) compare as unidades políticas indígenas do México com as dos Andes, citando ao menos um padrão comum e
uma divergência entre elas.

8. Unesp 2017 Os deuses disseram entre si depois de criar o homem: “O que os homens comerão, oh deuses? Vamos já todos bus-
car o alimento.” Enquanto isso, as formigas vermelhas estavam colhendo e carregando os grãos de milho que traziam de dentro do
Tonacatepetl (Montanha do Sustento). O deus Quetzalcoatl encontrou as formigas e lhes disse: “Digam-me, onde vocês colheram
os grãos de milho?”. Muitas vezes lhes perguntou, mas as formigas não quiseram responder. Algum tempo depois, as formigas dis-
seram a Quetzalcoatl: “Lá.” E apontaram o lugar. Quetzalcoatl se transformou em formiga negra e as acompanhou. Desse modo,
Quetzalcoatl acompanhou as formigas vermelhas até o depósito, arranjou o milho e em seguida o levou a Tamoanchan (moradia
dos deuses e onde o homem havia sido criado). Ali os deuses o mastigaram e o puseram na nossa boca para nos robustecer.
Apud Eduardo Natalino dos Santos. Cidades pré-hispânicas
do México e da América Central, 2004.

O texto asteca
a) promove a divulgação das qualidades nutricionais do milho para o fortalecimento dos guerreiros mesoamericanos.
b) oferece uma explicação mítica para a importância do milho na base da alimentação dos povos mesoamericanos.
c) demonstra sustentação histórica e claro desenvolvimento de pensamento lógico e racional.
d) procura justificar o fato de apenas os governantes dos povos mesoamericanos poderem exercer atividades agrícolas.
e) revela a influência das fábulas europeias na construção do imaginário dos povos mesoamericanos.

9. FGV-SP 2016 O poeta canta:


“A espada, a cruz e a fome iam dizimando a família selvagem.” (Pablo Neruda).
Talvez não seja inútil partir desses versos para tentar perceber por que elementos – que encarados em seu conjunto,
constituem um mecanismo – foi possível a conquista da América.
(Ruggiero Romano, Mecanismos da Conquista Colonial. 1973. Adaptado

Sobre o trecho citado, é correto armar que a conquista espanhola da América


a) diferenciou-se muito da praticada pelos portugueses no Brasil, porque houve a instituição de pequenas pro-
priedades rurais, a produção essencialmente voltada para o mercado interno e, ao mesmo tempo, uma política
indigenista que privilegiou a catequese e condenou todas as formas de exploração do trabalho indígena, estabe-
lecendo o trabalho assalariado para as atividades produtivas; mas a ausência de alimentos fez a fome prevalecer
entre os colonos.
b) contou com muitas condições facilitadoras, caso da organização social das sociedades indígenas, produtoras
de excedentes agrícolas e acostumadas com o trabalho de exploração extrativista mineral; mas, por outro lado,
os religiosos espanhóis defendiam a necessidade da escravidão indígena a fim de que os nativos da América
percebessem a importância da fé religiosa e do temor a Deus para a construção de laços familiares estáveis e
moralmente aceitos.
c) foi organizada pelas elites coloniais, representadas pelos criollos, que criaram vários mecanismos de exploração
do trabalho indígena, prevalecendo a condição escrava, porque, ainda que os preceitos jurídicos explicitassem a
qualidade dos nativos de homens livres, cada morador adulto de aldeias era obrigado a oferecer a metade dos
dias do ano de trabalho nas propriedades agrícolas, sempre com o irrestrito apoio das congregações religiosas,
especialmente a dos jesuítas.
72 HISTÓRIA Capítulo 2 A formação das estruturas coloniais
d) constitui-se como um organismo, no qual se ar- 11. UFG Analise os mapas a seguir.
ticularam a superioridade bélica do colonizador,
exemplificada pelo uso do cavalo; a existência Mapa 1 – Terra Brasilis
de alguns mitos religiosos que precederam a
presença espanhola na América, caso das profe-
cias que garantiam a chegada iminente de novos
deuses ou de calamidades; e uma considerável
modificação nas formas de organização das so-
ciedades nativas americanas, materializada na
imposição de novas formas e ritmos de trabalho.
e) esteve sempre muito ameaçada pela dificuldade
em obter mão de obra farta, porque as guerras
entre os povos nativos eram constantes e gera-
vam muitas mortes e, além disso, porque havia
uma pressão importante de vários setores da
Igreja Católica para que os indígenas só fossem
deslocados às frentes de trabalho depois da for-
mação catequética, que demorava alguns anos e
retirava dos índios a motivação para as atividades
mais rudes, caso da extração da prata.
Disponível em: <http://estudoliterario.blogspot.com/2008_02_01.archive.
htm>. Acesso em: 1 dez. 2009
10. Unesp 2018 Em 1500, fazia oito anos que havia presença
europeia no Caribe: uma primeira tentativa de colonização Mapa 2 – America Meridionalis
que ninguém na época podia imaginar que seria o prelúdio
da conquista e da ocidentalização de todo um continente e
até, na realidade, uma das primeiras etapas da globalização.
A aventura das ilhas foi exemplar para toda a
América, espanhola, inglesa ou portuguesa, pois ali se de-
senvolveu um roteiro que se reproduziu em várias outras
regiões do continente americano: caos e esbanjamento,
incompetência e desperdício, indiferença, massacres e
epidemias. A experiência serviu pelo menos de lição à
coroa espanhola, que tentou praticar no resto de suas
possessões americanas uma política mais racional de do-
minação e de exploração dos vencidos: a instalação de
uma Igreja poderosa, dominadora e próxima dos autócto-
nes, assim como a instalação de uma rede administrativa
densa e o envio de funcionários zelosos, que evitaram a
repetição da catástrofe antilhana.
(Serge Gruzinski. A passagem do século: 1480-1520:
as origens da globalização, 1999. Adaptado.) Disponível em:<www.novomilenio.inf.br/santos/mapa68g.htm>.
Acesso em: 01 dez. 2009.
As epidemias provocadas pelos contatos entre euro-
peus e povos autóctones da América Os dois mapas foram produzidos, respectivamente, em
 e  e descrevem, de forma distinta, o continente
a) demonstraram o risco da expansão territorial para americano. Com base na comparação entre os mapas,
áreas distantes e determinaram o imediato de- explique a relação entre representação cartográca e
senvolvimento de vacinas. o conhecimento do território, em cada um deles.
b) representaram uma espécie de guerra biológica
que afetou, ainda que de forma desigual, conquis-
12. Unicamp O termo ‘feitor’ foi utilizado em Portugal e no
tadores e conquistados.
Brasil colonial para designar diversas ocupações. Na época
c) provocaram a interdição, pelas cortes europeias,
da expansão marítima portuguesa, as feitorias espalhadas
da circulação de mulheres grávidas entre os dois
pela costa africana e, depois, pelas Índias e pelo Brasil
continentes.
tinham feitores na direção dos entrepostos com função mer-
d) foram utilizadas pelos nativos para impedir o cantil, militar, diplomática. No Brasil, porém, o sistema de
avanço dos europeus, que contraíram doenças feitorias teve menor significado do que nas outras conquis-
tropicais, como a febre amarela e a malária.
FRENTE 1

tas, ficando o termo ‘feitor’ muito associado à administração


e) levaram à proibição, pelas cortes europeias, do de empresas agrícolas.
contato sexual entre europeus e nativos, para im- (Adaptado de Ronaldo Vainfas (org.), “Dicionário do Brasil Colonial”.
pedir a propagação da sífilis. Rio de Janeiro: Ed. Objetiva, 2000, p. 222).

73
a) Indique características do sistema de feitorias em- 15. UFU 2016 No final da década de 1970 e início da década de
preendido por Portugal. 1980, vários trabalhos foram publicados abordando a temá-
b) Qual a produção agrícola predominante no Brasil tica do mercado interno. Trabalhos esses, de base empírica,
entre os séculos XVI e XVII? Quais as funções de- que se encarregaram de demonstrar a forte presença de re-
sempenhadas pelo feitor nessas empresas agrícolas? lações de troca e a sua significação para o desenvolvimento
interno da colônia. Trata-se agora de avaliar as especificida-
des do mercado interno brasileiro, as diversas modalidades
13. Unesp O comércio foi de fato o nervo da colonização
em cada região e a sua integração com a sociedade local.
do Antigo Regime, isto é, para incrementar as ativida-
CHAVES, Cláudia Maria das Graças. Mercadores das minas setecentistas.
des mercantis processava-se a ocupação, povoamento São Paulo: Annablume, 1999, p. 27 (Adaptado).
e valorização das novas áreas. E aqui ressalta de novo
o sentido da colonização da época Moderna; indo em A historiograa recente sobre a economia do Brasil
curso na Europa a expansão da economia de mercado, colonial tem enfatizado uma dinâmica econômica
com a mercantilização crescente dos vários setores pro- mais diversicada, que pode ser exemplicada
dutivos antes à margem da circulação de mercadorias – a a) pela crescente presença de um tráfico interno de
produção colonial era uma produção mercantil, ligada indígenas escravizados, com apoio da Igreja, e
às grandes linhas do tráfico internacional. responsável pela formação de grupos mercantis
(Fernando A. Novais. Portugal e Brasil na crise do no interior da colônia.
Antigo Sistema Colonial (1777-1808), 1981. Adaptado.) b) pelo fortalecimento, ao longo de todo o século
O mecanismo principal da colonização foi o comércio XVIII, da economia açucareira que, ao contrário
entre colônia e metrópole, fato que se manifesta da economia mineradora, era muito mais voltada
a) na ampliação do movimento de integração eco- ao mercado interno.
nômica europeia por meio do amplo acesso de c) pela presença de mecanismos de acumulação
endógena de capital e pela formação de grupos
outras potências aos mercados coloniais.
mercantis que constituíram riqueza para além das
b) na ausência de preocupações capitalistas por
barreiras impostas pelo sistema colonial.
parte dos colonos, que preferiam manter o mode-
d) pelas atividades bandeirantes de exploração do in-
lo feudal e a hegemonia dos senhores de terras.
terior que, financiadas essencialmente pela Igreja,
c) nas críticas das autoridades metropolitanas à per-
foram decisivas na ampliação do mercado domés-
sistência do escravismo, que impedia a ampliação
tico a partir do desenvolvimento de novas culturas.
do mercado consumidor na colônia.
d) no desinteresse metropolitano de ocupar as
novas terras conquistadas, limitando-se à explo- 16. Fuvest 2020 Observe a imagem e leia o texto.
ração imediatista das riquezas encontradas.
e) no condicionamento político, demográfico e eco-
nômico dos espaços coloniais, que deveriam
gerar lucros para as economias metropolitanas.

14. Enem PPL 2014 Áreas em estabelecimento de ativi-


dades econômicas sempre se colocaram como grande
chamariz. Foi assim no litoral nordestino, no início da
colonização, com o pau-brasil, a cana-de-açúcar, o
fumo, as produções de alimentos e o comércio. O enri-
quecimento rápido exacerbou o espírito de aventura do
homem moderno.
FARIAS, S. C. A Colônia em movimento. Rio de Janeiro:
Nova Fronteira, 1998 (adaptado).

O processo descrito no texto trouxe como efeito o(a)


a) acumulação de capitais na Colônia, propiciando a
criação de um ambiente intelectual efervescente.
b) surgimento de grandes cidades coloniais, volta-
das para o comércio e com grande concentração
monetária.
c) concentração da população na região litorânea, Felipe Guamán Poma de Ayala, o autor da imagem, foi
pela facilidade de escoamento da produção. um cronista ameríndio de ascendência incaica que vi-
d) favorecimento dos naturais da Colônia na conces- veu no Peru entre  e . A imagem faz parte de
são de títulos de nobreza e fidalguia pela Monarquia. sua Nueva Corónica y Buen Gobierno, nalizada no
e) construção de relações de trabalho menos de- começo do século XVII e endereçada ao rei Felipe III,
siguais que as da Metrópole, inspiradas pelo sendo acompanhada da seguinte legenda, traduzida
empreendedorismo. do espanhol:

74 HISTÓRIA Capítulo 2 A formação das estruturas coloniais


“Pobre dos índios, de seis animais que comem e a que a) Identifique uma estratégia utilizada por espanhóis
temem os pobres dos índios deste reino: serpente, corregedor; e outra pelos indígenas durante as disputas pelo
tigre, espanhóis das cidades; leão, encomendero; cadela, domínio do México.
padre da doutrina; gato, escrivão; rato, cacique principal. b) Explique por que houve acentuada queda de-
Estes ditos animais que não temem a Deus esfolam aos pobres mográfica entre as populações indígenas nas
índios deste reino, e não há remédio, pobre Jesus Cristo”. primeiras décadas após a conquista espanhola.
a) Identifique a situação do Peru quando da elabora-
ção da obra. 19. Unicamp 2019 A seguir, leia um trecho da petição ao rei
b) Descreva as estruturas de poder político e econô- de Espanha escrita por Juan Garrido, conquistador resi-
mico que são comentadas na imagem e no texto dente na cidade do México, em  de Setembro de .
que a acompanha.
c) Analise as tensões no mundo indígena sugeridas Eu, Juan Garrido, de cor negra, membro desta co-
por texto e imagem. munidade [vecino], e residente nesta cidade, trago um
relato de como servi à Vossa Majestade na conquista e
pacificação desta Nova Espanha. Desde quando Cortés
17. UFU 2016 Em 1519, a cidade do México-Tenochtitlán con- entrou nela, estive presente em todas as invasões, con-
tava com cerca de 400 mil habitantes, o que significa que, quistas e pacificações realizadas no sul do Pacífico, nas
na época, era provavelmente a maior cidade do mundo, e ilhas de Porto Rico e de Cuba. Fiz tudo às minhas custas,
que essa sociedade urbanizada com certeza dispunha de eli- sem receber nem salário nem repartimiento de índios
tes perfeitamente formadas para que pudesse funcionar de ou qualquer outra coisa. De todas estas formas, durante
maneira eficaz. Compreende-se que, para administrar uma trinta anos, servi e continuo a servir à Vossa Majestade.
cidade de tal importância, os invasores não pudessem se (Traduzido e adaptado de Matthew Restall, Probanza of Juan Garrido. Black
abster dos saberes sofisticados, do prestígio e da influência Conquistadors: Armed Africans in Early Spanish America. The Americas,
Cambridge, v. 57, n. 2, out. 2000, p. 171.)
da nobreza índia. Essa nobreza tinha uma formação notável.
Antes da conquista espanhola, era formada em colégios de Assinale a alternativa correta.
ensino superior, os calmecac, onde aprendia os saberes, os a) A presença de negros nos processos de conquista
mitos, os rituais e as artes do mundo pré-colombiano. [...] e colonização das Américas limitou-se à atuação
GRUZINSKI, Serge. O renascimento ameríndio.
como mão de obra escravizada em plantações,
In: NOVAES, Adauto (org.). A outra margem do Ocidente. São Paulo:
Companhia das Letras, 1999, p. 285-286 (Adaptado). em serviços domésticos ou como trabalhadores
sem especialização em núcleos urbanos.
O texto discorre acerca das relações entre os con- b) A presença de afrodescendentes na América
quistadores espanhóis e os indígenas durante o longo espanhola pode ser distribuída nas categorias:
período de colonização da América. escravos, fugitivos ou forros, em meio rural e urba-
A respeito desse tema, faça o que se pede. no, auxiliares nos processos de conquista e ainda
a) Discuta como o impacto da presença de uma elite como conquistadores, proprietários e vecinos.
letrada nativa em terras americanas afetou a colo- c) A presença de negros nos exércitos de Cortez
nização espanhola. é um exemplo da ausência de critérios discrimi-
b) Considerando as diferenças culturais existentes natórios de limpeza de sangue no processo de
entre os indígenas da América Espanhola e da conquista da América espanhola, diferentemente
América Portuguesa, caracterize as distintas es- do que ocorria nas Américas portuguesa e inglesa.
tratégias usadas por colonizadores espanhóis e d) A presença de afrodescendentes no mundo
portugueses em relação aos nativos. espanhol foi tardia e concentrou-se no espaço
caribenho, onde atuaram como parte da mão de
18. Unicamp 2012 Durante a conquista espanhola no obra escravizada, mas também atuaram como
México, iniciada em 1519 por Cortés, a superioridade conquistadores e vecinos cidadãos.
tecnológica dos europeus era amplamente compensada
pela superioridade numérica dos indígenas e muitos tru- 20. Fuvest 2018 A imagem representa a morte de Atahualpa,
ques foram inventados para atrapalhar o deslocamento o último imperador inca, em , após a conquista es-
dos cavalos: os indígenas acostumaram-se a cavar fossas panhola comandada por Francisco Pizarro.
profundas nas quais espetavam paus em que as montarias
eram empaladas. Mais tarde, em 1521, canoas “encou-
raçadas” resistiriam às armas de fogo. A tática indígena
evoluiu e adaptou-se às práticas do adversário: os me-
xicas, contrariamente ao costume, armaram ataques
noturnos ou em terreno coberto. Por outro lado, se as
epidemias de varíola já estavam dizimando as tropas de
FRENTE 1

México-Tenochtitlan, também não poupavam os índios


de Tlaxcala ou de Texcoco, que apoiavam os espanhóis.
(Adaptado de Carmen Bernand e Serge Gruzinski,
História do Novo Mundo. São Paulo: Edusp, 1997, p. 351.) Luis Montero. Os funerais do índio Atahualpa. Óleo sobre tela, 1865-1867.

75
Analise as quatro armações seguintes, a respeito da MAPA 2
empresa e da conquista colonial espanhola no Peru e
da representação presente na imagem)
I. A conquista foi favorecida pelo conflito interno
entre os dois irmãos incas, Atahualpa e Huáscar,
aproveitado pelas forças espanholas lideradas
por Francisco Pizarro)
II. A produção agrícola das plantations escravistas
constituiu-se na base econômica do vice-reinado
do Peru, controlado pelos espanhóis)
III. Do lado esquerdo da pintura, há uma movimen-
tação conflituosa, na qual as mulheres incas são
contidas por guardas espanhóis, contrastando
com a expressão ordenada e solene do lado
direito, composto por religiosos e autoridades es-
panholas em torno do corpo do imperador inca)
IV. A pintura revela o resgate de elementos histó-
ricos – importante para a construção do ideário
nacionalista no século XIX, no processo pós-in-
dependência e de formação do Estado nacional
peruano –, mas retrata os personagens indíge-
nas com trajes e feições europeus.
Estão corretas apenas as armações
a) I, II e III. d) I e II. Mapa do Brasil, de João Teixeira Albernaz, 1666.
b) II, III e IV. e) III e IV. ADONIAS, I; FURRER, B. Mapa: imagens da formação territorial brasileira.
c) I, III e IV. Rio de Janeiro: Fundação Odebrecht, .

Podem-se observar nos mapas maneiras distintas


21. Uerj 2017
de representar o território que viria a ser designado
MAPA 1 como Brasil, no contexto da conquista e colonização
portuguesa na América entre os séculos XVI e XVII,
respectivamente.
Identique um aspecto de cada um dos mapas que
os diferencie quanto à representação do território. Em
seguida, apresente duas ações políticas ou econômi-
cas da colonização portuguesa no Brasil, uma para o
século XVI e outra para o século XVII.

22. Uerj Pelo que, começando, digo que as riquezas do


Brasil consistem em seis coisas, com as quais seus povoa-
dores se fazem ricos, que são estas: a primeira, a lavoura
do açúcar; a segunda, a mercancia; a terceira, o pau a
que chamam do Brasil; a quarta, os algodões e madeiras;
a quinta, a lavoura de mantimentos; a sexta e última, a
criação de gados. De todas estas coisas o principal nervo
e substância da riqueza da terra é a lavoura dos açúcares.
BRANDÃO, Ambrósio Fernandes, 1618. Adaptado de PRIORE, M. del;
VENÂNCIO, R. P. O livro de ouro da história do Brasil.
Rio de Janeiro: Ediouro, 2001.

Considera-se hoje que o Brasil colonial teve um


desenvolvimento bastante diferente da interpretação de
Caio Prado Júnior. É que mudou a ótica de observação:
os historiadores passaram a analisar o funcionamento da
colônia. Não que a intenção da política metropolitana
fosse diferente do que propõe o autor. Mas a realidade se
revelava muito mais complexa. No lugar da imagem de
colonos engessados pela metrópole, vem à tona um grande
Planisfério de Cantino, 1502.
dinamismo do comércio colonial.
Sheila de Castro Faria. Adaptado de www.revistadehistoria.com.br

76 HISTÓRIA Capítulo 2 A formação das estruturas coloniais


O texto do século XVII enumera interesses da metró- d) esse produto desrespeitava um princípio central nas
pole portuguesa em relação à colonização do Brasil; relações que algumas metrópoles europeias impu-
já o segundo texto, uma análise mais contemporânea, nham aos seus espaços coloniais, nesse caso, a
descreve uma sociedade mais complexa que ia além quebra do monopólio de grupos mercantis do reino
dos planos dos exploradores europeus. e a concorrência a produtos da metrópole.
Indique dois objetivos da Coroa Portuguesa com a im- e) essa mercadoria recebeu um impulso importante,
plantação da empresa açucareira no Brasil colonial. Em mesmo contrariando as determinações metro-
seguida, identique duas características da economia politanas, mas, gradativamente, perdeu a sua
colonial que comprovam o seu dinamismo interno. importância, em especial quando o tabaco e os
tecidos de algodão assumiram a função de moeda
23. Unesp A produção açucareira [do Brasil] colonial exigiu, de troca por escravos na África.
além da constituição de formas específicas de trabalho,
configuração peculiar da propriedade da terra. 25. Unesp 2016 Os diários, as memórias e as crônicas de
(Vera Lúcia Amaral Ferlini, Terra, trabalho e poder) viagens escritas por marinheiros, comerciantes, militares,
missionários e exploradores, ao lado das cartas náuticas,
Identique e analise essa “conguração peculiar da
seriam as principais fontes de conhecimento e representa-
propriedade da terra”.
ção da África dos séculos XV ao XVIII.
A barbárie dos costumes, o paganismo e a violência
24. FGV-SP 2018 A agromanufatura da cana resultaria em cotidiana foram atribuídos aos africanos ao mesmo tempo
outro produto tão importante quanto o açúcar: a cachaça. em que se justificava a sua escravização no Novo Mundo.
Alambiques proliferaram ao longo dos séculos coloniais. A desumanização de suas práticas serviria como justifica-
A comercialização da bebida afetava profundamente a tiva compensatória para a coisificação dos negros e para o
importação de vinhos de Portugal. Esse comércio era obri- uso de sua força de trabalho nas plantations da América.
gatório, pois por meio dos tributos pagos pelas cotas do (Regina Claro. Olhar a África, 2012. Adaptado.)
vinho importado é que a Coroa pagava as suas tropas na
Colônia. A cachaça produzida aqui passou a concorrer As “plantations da América”, citadas no texto, corres-
com os vinhos, com vantagens econômicas e culturais. pondem a
Essa concorrência comercial entre colônia e metrópole se a) um esforço de coordenação da colonização ao
estendeu para as praças negreiras e rotas de comercializa- redor do Atlântico, com a aplicação de modelos
ção de escravos na África portuguesa. A cachaça brasileira, econômicos idênticos nas colônias ibéricas da
por ser a bebida preferida para os negócios de compra e América e da costa africana.
venda de escravos africanos, colocou em grande desvanta- b) uma estratégia de valorização, na colonização
gem a comercialização dos vinhos portugueses remetidos da América e na África, das atividades agrícolas
à África. A longa queda de braço mercantil acabou favore- baseadas em mão de obra escrava, com a conse-
cendo afinal a cachaça, porque sem ela, nada de escravos, quente eliminação de toda forma de artesanato e
nada de produção na Colônia, com consequências graves de comércio local.
para a arrecadação do reino. c) um modelo de organização da produção agrícola
(Ana Maria da Silva Moura. Doce, amargo açúcar. Nossa História,
ano 3, nº 29, 2006. Adaptado)
caracterizado pelo predomínio de grandes pro-
priedades monocultoras, que utilizavam trabalho
A partir dessa breve história da cachaça no Brasil, é escravo e destinavam a maior parte de sua pro-
correto armar que dução ao mercado externo.
a) essa produção prejudicou os negócios rela- d) uma forma de organização da produção agríco-
cionados ao açúcar, porque desviava parte la, implantada nas colônias africanas a partir do
considerável da mão de obra e dos capitais, além sucesso da experiência de povoamento das colô-
de incentivar o tráfico negreiro em detrimento do nias inglesas na América do Norte.
uso do trabalho compulsório indígena, que mais e) uma política de utilização sistemática de mão de
interessava ao Estado português. obra de origem africana na pecuária, substituindo
b) esse item motivou recorrentes conflitos entre o trabalho dos indígenas, que não se adaptavam
as elites colonial e metropolitana, condição em ao sedentarismo e à escravidão.
parte solucionada quando as regiões africanas
fornecedoras de escravos tornaram-se também 26. Unicamp 2020 Um dos eixos da bipolaridade escra-
produtoras de cachaça, o que desestimulou a sua vista que unia a África à América portuguesa girava,
produção na América portuguesa. justamente, na rota aberta entre as duas margens do
c) essa bebida tem uma trajetória que comprova a mar por correntezas e ventos complementares. Na ida,
ausência de domínio da metrópole sobre a Améri- a rota principal seguia o inverso dos ponteiros do reló-
ca portuguesa, porque as restrições ao comércio gio, no sentido dos ventos oeste-leste, entre o Trópico de
FRENTE 1

e à produção de mercadorias no espaço colonial Capricórnio e 30º5. Na volta, a rota principal seguia no
não surtiam efeitos práticos e coube aos senho- sentido dos alísios de sudeste, abaixo da linha do Equa-
res de engenho impor a ordem na Colônia. dor. Na medida em que se zarpava com facilidade de

77
Pernambuco, da Bahia e do Rio de Janeiro até Luanda ou a) Como se caracterizava a escravidão do século XV
a Costa da Mina, e vice-versa, a navegação luso-brasilei- em algumas regiões da África?
ra que se desenvolveu naquelas rotas foi transatlântica e b) Como se caracterizava a escravidão no Brasil
negreira. Vários tipos de trocas uniam as duas margens Colônia considerando as relações entre América
do oceano. Portuguesa e África?
(Adaptado de Luiz Felipe de Alencastro, O trato dos viventes: formação do
Brasil no Atlântico Sul. São Paulo: Companhia das Letras, 2000, p. 61-63.)
28. Uerj 2018
Com base no excerto e em seus conhecimentos, res-
ponda às questões.
a) Explique a direção dos ventos alísios no Atlântico
Sul e a sua funcionalidade no transporte marítimo
da África para o Brasil.
b) Cite e explique um exemplo de relação esta-
belecida entre o Brasil e a África na época da
colonização portuguesa na América.

27. UEL 2020 Leia o texto e analise o mapa a seguir.


Até o século XV, as principais características das co-
munidades africanas eram o parentesco e a escravidão.
A comunidade era a principal garantia da coesão social:
indivíduos que ameaçassem a harmonia ou rompessem A raça africana constitui uma parte grande da popu-
com a lealdade ao seu grupo de parentesco podiam ser lação dos países da América, e principalmente no Brasil,
expulsos e, então, escravizados por outras comunidades. um elemento essencial da vida civil e das relações sociais
Na África, os escravos eram obtidos de várias maneiras: que não teremos dúvida em consagrar grande parte desta
através do aprisionamento de “estrangeiros”, em guerras, obra aos negros, a seus usos e costumes. Compreende-se
sequestros ou compra, tanto de indivíduos expulsos de ainda melhor que assim o façamos escrevendo uma viagem
suas comunidades – acusados de praticar feitiçaria, por pitoresca. Entretanto, se alguém julgar que em semelhante
exemplo – quanto de membros de comunidades cuja so- viagem dois cadernos de figuras de pretos são demais, quei-
brevivência estava ameaçada pela fome. Ou ainda, através ra considerar que o único lugar da terra em que é possível
de punições aplicadas a membros da própria comunidade fazer semelhante escolha de fisionomias características,
por crimes cometidos, como adultério, assassinato e não entre as tribos de negros, é talvez o Brasil, principalmente
pagamento de dívidas. Embora os escravos não tivessem o Rio de Janeiro; é, em todo caso, o lugar mais favorável
estabilidade nas comunidades que os aprisionaram, po- a essas observações. Com efeito, o destino singular dessas
diam tornar-se parte das mesmas, até mesmo participando raças de homens traz aqui membros de quase todas as tribos
da África. Num só golpe de vista pode o artista conseguir
da estrutura familiar e exercendo funções econômicas.
Adaptação de: MATTOS, H. M.; GRINBERG, K. “As relações Brasil –
resultados que, na África, só atingiria através de longas e
África no Contexto do Atlântico Sul”. In: Beluce Belucci (Coord.). perigosas viagens a todas as regiões dessa parte do mundo.
Introdução à história da África e da cultura afro-brasileira. Rio de Janeiro: Adaptado de RUGENDAS, J. M. Viagem pitoresca
UCAM, CEAA: CCBB, 2003. p. 32-33. através do Brasil. Belo Horizonte: Itatiaia.

Rugendas foi um dos integrantes da expedição dirigida


pelo naturalista Barão de Langsdor, que percorreu o Bra-
sil entre  e . A obra Viagem pitoresca através do
Brasil, publicada em , é resultado dessa experiência.
A partir das imagens, indique um aspecto valorizado
por Rugendas ao representar as populações de ori-
gem africana. Em seguida, a partir do texto, identique
uma característica do continente africano percebida
por Rugendas.

29. UFRGS 2017 Assinale a alternativa correta sobre a


história das diferentes sociedades africanas até o
século XVI.
a) O império Songhai, situado às margens do rio Ní-
ger, teve em sua capital Gao um importante polo
QUEVEDO, J.; ORDONEZ, M. A escravidão do Brasil. Trabalhoe Resistência. mercantil que reunia mercadores oriundos da Lí-
2. ed., São Paulo, FTD, 1999 (coleção “Para conhecer melhor”) olharparaver. bia, do Egito e do Magreb.
blogspot.com
b) As sociedades da África equatorial, em função
Com base no texto, no mapa e nos conhecimentos das condições geográficas e climáticas pouco
sobre escravidão, responda aos itens a seguir. propícias, eram formadas predominantemente

78 HISTÓRIA Capítulo 2 A formação das estruturas coloniais


por pastores de animais de pequeno porte, sen- a) Qual era a origem social daqueles que ocupavam
do praticamente inexistente na região o cultivo de os cargos nas Câmaras Municipais?
produtos agrícolas. b) Cite três funções das Câmaras Municipais nas
c) As sociedades de origem Bantu, localizadas na principais vilas coloniais.
região da África meridional entre os séculos XII e
XV, eram predominantemente nômades e coleto- 33. Fuvest 2016 Eu por vezes tenho dito a V. A. aquilo que
ras, não organizadas em aldeias e com escasso me parecia acerca dos negócios da França, e isto por ver
desenvolvimento tecnológico. por conjecturas e aparências grandes aquilo que podia
d) A África, marcada pela intensa difusão do cris- suceder dos pontos mais aparentes, que consigo traziam
tianismo durante as Cruzadas, contou, entre muito prejuízo ao estado e aumento dos senhorios de V.
os séculos XI e XV, com reduzida presença de A. E tudo se encerrava em vós, Senhor, trabalhardes com
elementos islâmicos na definição das variadas modos honestos de fazer que esta gente não houvesse de
culturas existentes no continente. entrar nem possuir coisa de vossas navegações, pelo gran-
e) O estabelecimento da colônia portuguesa em díssimo dano que daí se podia seguir.
Moçambique, no século XVI, definiu o início das Serafim Leite. Cartas dos primeiros jesuítas do Brasil, 1954.
rotas comerciais ligando a região oriental do con- O trecho acima foi extraído de uma carta dirigida pelo pa-
tinente africano, entre Madagascar e o Chifre da
dre jesuíta Diogo de Gouveia ao Rei de Portugal D. João III,
África, com a Europa e a Ásia.
escrita em Paris, em //. Seu conteúdo mostra
a) a persistência dos ataques franceses contra a
30. Uece 2020 Atente para as seguintes afirmações so- América, que Portugal vinha tentando colonizar
bre a expansão do cristianismo, no norte da África, de modo efetivo desde a adoção do sistema de
entre os séculos I e VIII d.C.) capitanias hereditárias.
I. Começou, aproximadamente, no ano de 62 d.C. b) os primórdios da aliança que logo se estabelece-
na cidade de Alexandria e depois difundiu-se ria entre as Coroas de Portugal e da França e que
para a região da Cirenaica e ao longo do rio Nilo, visava combater as pretensões expansionistas da
indo para Kush e Núbia) Espanha na América.
II. As invasões dos Vândalos, de 429 a 430 d.C., c) a preocupação dos jesuítas portugueses com a
e a expansão árabe, a partir do século VII d.C., expansão de jesuítas franceses, que, no Brasil,
contribuíram para o enfraquecimento e quase de- vinham exercendo grande influência sobre as po-
saparecimento do cristianismo) pulações nativas.
III. A Etiópia foi o único local que, graças a sua profunda d) o projeto de expansão territorial português na
tradição monástica, adotou a religião cristã e conse- Europa, o qual, na época da carta, visava à do-
guiu manter-se distante do proselitismo muçulmano. minação de territórios franceses tanto na Europa
É correto o que se arma em quanto na América.
a) II e III apenas. c) I e III apenas. e) a manifestação de um conflito entre a recém-criada
b) I, II e III. d) I e II apenas. ordem jesuíta e a Coroa portuguesa em torno
do combate à pirataria francesa.
31. Unesp 2017 Caracterize os sistemas administrativos
de capitanias hereditárias e de governo-geral em- 34. Unesp 2015 O Brasil colonial foi organizado como
pregados na colonização brasileira. Indique duas uma empresa comercial resultante de uma aliança entre a
diferenças entre esses sistemas. burguesia mercantil, a Coroa e a nobreza. Essa aliança re-
fletiu-se numa política de terras que incorporou concepções
32. UFJF “(...) ponderando-se o acharem-se hoje as Vilas des- rurais tanto feudais como mercantis.
COSTA, Emília Viotti da. Da Monarquia à República, 1987.
sa Capitania tão numerosas como se acham, e que sendo
uma grande parte das famílias dos seus moradores de A constatação de que “Essa aliança reetiu-se numa
limpo nascimento, era justo que somente as pessoas que política de terras que incorporou concepções rurais
tiverem essa qualidade andassem na governança delas...” tanto feudais como mercantis” justica-se, pois a po-
Ordem Régia (Para Câmara de Vila Rica-MG), 27 de janeiro de 1726.
lítica de terras desenvolvida por Portugal durante a
“A Câmara e a Misericórdia podem ser descritas, ape- colonização brasileira
nas com um ligeiro exagero, como os pilares gêmeos da a) permitiu tanto o surgimento de uma ampla camada
sociedade colonial desde Maranhão até Macau.” de pequenos proprietários, cuja produção se
BOXER, C. R. O império marítimo português. voltava para o mercado interno, quanto a imple-
Lisboa: Edições 70, 1969, p. 267.
mentação de sólidas parcerias comerciais com o
O mais signicativo órgão político-administrativo im- restante da América.
plantado por Portugal nas vilas coloniais da América b) determinou tanto uma rigorosa hierarquia nobi-
FRENTE 1

Portuguesa era a Câmara Municipal. liárquica nas terras coloniais, quanto o confisco
Baseando-se nas citações apresentadas, responda total e imediato das terras comunais cultivadas
com suas próprias palavras: por grupos indígenas ao longo do litoral brasileiro.

79
c) envolveu tanto a cessão vitalícia do usufruto de ter- a) Identifique uma das práticas punitivas descritas no
ras que continuavam a ser propriedades da Coroa, texto empregadas na sociedade colonial brasileira.
quanto a orientação principal do uso da terra para b) Explique as relações entre a exibição do poder
a monocultura exportadora. monárquico e as punições judiciais na sociedade
d) garantiu tanto a prevalência da agricultura de sub- do Antigo Regime europeu.
sistência, quanto a difusão, na região amazônica c) A participação do povo nas execuções conferia a
e nas áreas centrais da colônia, das práticas da elas um caráter democrático? Justifique.
pecuária e da agricultura de exportação.
e) assegurou tanto o predomínio do minifúndio no Nor- 37. Unicamp 2018 Ao estudar a condição feminina no Bra-
deste brasileiro, quanto uma regular distribuição de sil colonial não se pode ter a ingenuidade de crer numa
terras entre camponeses no Centro-Sul, com o ob-
solidariedade de gênero, acima de diferenças de raça,
jetivo de estimular a agricultura de exportação.
credo e segmento econômico.
(Adaptado de Mary del Priore, A mulher na história da colônia,
35. UFPE (Adapt.) Conquistar as terras da América foi um em Ao sul do corpo: condição feminina, maternidade e mentalidades no
marco na História dos povos europeus. Portugal fez Brasil colônia. Rio de Janeiro: José Olympio, 1993).
parte das aventuras marítimas e colonizadoras. Para
a) Considerando como era a mentalidade portuguesa
assegurar o domínio sobre as suas conquistas, ins-
no período mencionado, cite e explique uma fun-
tituiu, no Brasil, o sistema de capitanias hereditárias.
ção da mulher branca no processo de colonização.
Historicamente, com essa medida, Portugal:
b) Explique dois papéis sociais desempenhados pe-
conseguiu manter seu poder local e garantir um êxi-
las mulheres escravizadas de origem africana no
to inquestionável nas suas ações administrativas.
contexto do Brasil colonial.
obteve sucesso nos seus projetos econômicos, gra-
ças à organização de plantações de algodão e de
cana-de-açúcar em todas as capitanias do Nordeste. 38. UFU 2016 A realidade religiosa de hoje em dia na Amé-
proporcionou maior domínio sobre as terras colo- rica Latina demonstra à evidência o caráter superficial da
nizadas, embora tenha enfrentado diculdades na cristianização autoritária conduzida outrora pelo poder
implantação desse regime de governo. colonial. No Brasil, especialmente, cultos clandestinos sub-
teve condições de mostrar a riqueza dos investi- sistiram – e agora afloram novamente – entre os índios e,
mentos portugueses e a potência militar de seu sobretudo entre os negros trazidos da África. Os escritores
povo, uma das maiores do mundo moderno. e os viajantes dos séculos XVI-XVIII não puderam deixar de
armou a prevalência de princípios mercantilistas assinalá-los. Ao lê-los, percebe-se que o dia pertencia aos
da colonização portuguesa e garantiu o êxito eco- brancos e a noite, aos escravos. Posto o sol, os caminhos do
nômico de algumas capitanias. Brasil se fechavam aos brancos que se trancafiavam em suas
vastas moradas por temor dos escravos.
DELUMEAU, Jean. História do medo no Ocidente. São Paulo:
36. Fuvest 2020 O suplício tem então uma função jurídi- Companhia das Letras, 1989, p. 266-267 (Adaptado).
co‐política. É um cerimonial para reconstituir a soberania
lesada por um instante [...]. A execução pública, por rá- A catequese, indissociável do projeto colonizador
pida e cotidiana que seja, se insere em toda a série dos português, jamais conseguiu subverter totalmente o
grandes rituais do poder eclipsado e restaurado (coroa- diversicado conjunto de crenças e costumes dos in-
ção, entrada do rei numa cidade conquistada, submissão dígenas e dos negros.
dos súditos revoltados). [...] A respeito de tal constatação, faça o que se pede.
O suplício não restabelecia a justiça; reativava o po- a) Apresente duas características do sincretismo religio-
der. No século XVII, e ainda no começo do XVIII, ele so que marcou a colonização portuguesa no Brasil.
não era, com todo o seu teatro de terror, o resíduo ainda não b) Caracterize a ambiguidade da posição da Igreja
extinto de uma outra época. Suas crueldades, sua ostenta- Católica em relação à escravidão de indígenas e
ção, a violência corporal, o jogo desmesurado de forcas, negros.
o cerimonial cuidadoso, enfim, todo o seu aparato se en-
grenava no funcionamento político da penalidade. [...] 39. UEL 2013 Leia o texto a seguir, escrito pelo Padre
Mas nessa cena de terror o papel do povo é ambíguo. Antonil em .
Ele é chamado como espectador: é convocado para assistir às
Os escravos são as mãos e os pés do senhor de engenho,
exposições, às confissões públicas; os pelourinhos, as forcas
porque sem eles no Brasil não é possível fazer, conservar e
e os cadafalsos são erguidos nas praças públicas ou à beira
aumentar a fazenda, nem ter engenho corrente. E do modo
dos caminhos; os cadáveres dos supliciados muitas vezes
são colocados bem em evidência perto do local de seus cri- como se há com eles, depende tê-los bons ou maus para o
mes. As pessoas não só têm que saber, mas também ver com serviço. Por isso, é necessário comprar cada ano algumas
seus próprios olhos. Porque é necessário que tenham medo; peças e reparti-las pelos partidos, roças, serrarias e barcas.
mas também porque devem ser testemunhas e garantias da E porque comumente são de nações diversas, e uns mais
punição, e porque até certo ponto devem tomar parte nela. boçais que outros e de forças muito diferentes, se há de fazer
Michel Foucault, Vigiar e Punir. Petrópolis: Vozes, 1983. a repartição com reparo e escolha, e não às cegas.

80 HISTÓRIA Capítulo 2 A formação das estruturas coloniais


No Brasil, costumam dizer que para o escravo são 42. UnB (Adapt.) Qualquer pessoa que matar outra ou mandar
necessários PPP, a saber, pau, pão e pano. E, posto que matar, morra por isso morte natural*. Porém, se algum fidal-
comecem mal, principiando pelo castigo que é o pau, con- go de grande solar matar alguém, não seja julgado à morte
tudo, prouvera a Deus que tão abundante fosse o comer e sem no-lo fazerem saber, para vermos o estado, linhagem
o vestir como muitas vezes é o castigo, dado por qualquer e condição da pessoa, assim do matador como do morto,
causa pouco provada, ou levantada; e com instrumentos qualidade e circunstâncias da morte, e mandarmos o que
de muito rigor, ainda quando os crimes são certos, de que for de serviço de Deus e bem da República.
se não usa nem com os brutos animais... O escravo, ora seja cristão, ora o não seja, que matar
(Adaptado de: ANTONIL, A. J. Cultura e opulência do Brasil por suas drogas e seu senhor, ou filho de seu senhor, seja atenazado, e lhe
minas. 3.ed. Belo Horizonte: Itatiaia/Edusp, 1982. p.89. Coleção Reconquista sejam decepadas as mãos, e morra morte natural na forca
do Brasil. Disponível em: <http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/
bv000026.pdf>. Acesso em: 1 ago. 2012.)
para sempre; e se ferir seu senhor sem o matar, morra morte
natural. E se arrancar alguma arma contra seu senhor, posto
a) Considerando o Período Colonial brasileiro, expli- que não o fira, seja açoitado publicamente com baraço e
que a afirmativa “Os escravos são as mãos e os pregão pela vila, e seja-lhe decepada uma mão.
pés do senhor de engenho”. Lara, Silvia H. (ed.). Ordenações filipinas, Livro V. São Paulo:
b) Qual a posição assumida pelo Padre Antonil fren- Companhia das Letras, 1999, p. 143-44; 158.
te ao tratamento dispensado aos escravos? (*) A expressão morrer morte natural designa a condenação de alguém à
pena de morte.
40. Famema 2018 Havia muito capital e muita riqueza entre
Considerando o texto que apresenta um extrato das
os lavradores de cana, alguns ligados por laços de sangue Ordenações Filipinas, base do direito português do
ou matrimônio aos senhores de engenho. Havia também início do século XVII até meados do século XIX, julgue
um bom número de mulheres, não raro viúvas, participan- os itens que se seguem.
do da economia açucareira. Digno de nota até o fim do a) As Ordenações Filipinas, como tal, nunca chega-
século XVIII, contudo, era o fato de os lavradores de cana ram a ser aplicadas no território brasileiro.
serem quase invariavelmente brancos. Os negros e mu- b) Pode-se depreender do texto que nobres acu-
latos livres simplesmente não dispunham de créditos ou sados de ter cometido crime de assassinato
capital para assumir os encargos desse tipo de agricultura. dispunham de tratamento especial por parte da
(Stuart Schwartz. “O Nordeste açucareiro no Brasil Colonial”. In: João Luis R. justiça portuguesa.
Fragoso e Maria de Fátima Gouvêa (orgs). O Brasil Colonial, vol 2, 2014.)

O excerto indica que a sociedade colonial açucareira foi 43. Acafe 2016 União Ibérica (-) caracterizou-se
a) organizada em classes, cuja posição dependia de quando Filipe II invadiu Portugal com suas tropas e as-
bens móveis. sumiu a coroa portuguesa, unindo Portugal e Espanha.
b) apoiada no trabalho escravo, principalmente o No contexto da União Ibérica, todas as alternativas
dos lavradores de cana. estão corretas, exceto a:
c) baseada na “limpeza de sangue”, portanto se a) Em 1640 terminou o domínio espanhol, através
proibia a miscigenação. do movimento liderado pelo Duque de Bragança.
d) determinada pelos recursos financeiros, o que im- O duque foi coroado monarca de Portugal, dando
pedia a mobilidade. início à dinastia de Bragança.
e) hierarquizada por critérios diversos, tais como a b) Neste período, o Tratado de Tordesilhas não teve
etnia e riqueza. nenhum efeito entre os limites territoriais portu-
gueses e espanhóis na América. Isto favoreceu o
avanço português para o interior da colônia.
41. Unicamp A união de Espanha e Portugal, em 1580, trouxe
c) O principal motivo da União Ibérica foi a tentativa
vantagens para ambos os lados. Portugal era tratado pelos
da França de anexar a Espanha ao seu território.
monarcas espanhóis não como uma conquista, mas como
A união do exército espanhol com o exército por-
um outro reino. Os mercados, as frotas e a prata espanhóis
tuguês conseguiu afastar esta ameaça.
revelaram-se atraentes para a nobreza e para os merca-
d) Os holandeses invadiram o Nordeste neste perío-
dores portugueses. A Espanha beneficiou-se da aquisição
do e dominaram Pernambuco, pois os espanhóis
de um porto atlântico de grande importância, acesso ao
não estavam permitindo o contato comercial dos
comércio de especiarias da Índia, comércio com as colô-
batavos com os produtores de açúcar.
nias portuguesas na costa da África e contrabando com a
colônia do Brasil.
44. Unicamp Entre  e , Portugal enfrentou uma
(Adaptado de Stuart B. Schwartz. Da América Portuguesa ao Brasil. delicada situação política: de um lado, passou a per-
Lisboa: Difel, 2003, p. 188-189.)
tencer à União Ibérica e, de outro, viu os holandeses
a) Segundo o texto, quais foram os benefícios da dominarem Pernambuco, através da Companhia das
FRENTE 1

União Ibérica para Portugal e para a Espanha? Índias Ocidentais, a partir de .
b) No contexto da União Ibérica, o que foi o sebas- a) O que foi a União Ibérica?
tianismo? b) Dê três motivos para a invasão holandesa no Brasil.

81
45. UEG Identique e analise dois elementos da imagem que
“Brigam Espanha e Holanda
expressem esse “olhar europeu” sobre o Brasil.
Pelos direitos do mar
O mar é das gaivotas 47. Unicamp Uma análise das lutas suscitadas pela ocupa-
Que nele sabem voar ção holandesa no Brasil pode ajudar a desconstruir ideias
O mar é das gaivotas feitas. Uma tese tradicional diz respeito ao reforço da
E de quem sabe navegar identidade brasileira durante as lutas com os holande-
Brigam Espanha e Holanda ses: a luta pela expulsão dos holandeses seria obra muito
Pelos direitos do mar mais dos brasileiros e negros do que dos portugueses.
Brigam Espanha e Holanda Já a tese que critica essa associação entre a experiência
Porque não sabem que o mar da dominação holandesa e a gênese de um sentimento
É de quem o sabe amar” nativista insiste nas divisões – no âmbito da economia
DINIZ, Leila. Leila Diniz. São Paulo: Editora Brasiliense,1983
açucareira – entre senhores de engenho excluídos ou fa-
A nal da Copa do Mundo de  reproduziu de modo vorecidos pela ocupação holandesa.
simbólico um conito que tem origens históricas: a dispu- (Adaptado de Diogo Ramada Curto, Cultura imperial e projetos coloniais
(séculos XV a XVIII). Campinas: Editora da Unicamp, 2009, p. 278.)
ta entre Espanha e Holanda pela hegemonia do comércio
marítimo mundial no século XVII. Um evento diretamente a) Identifique no texto duas interpretações diver-
relacionado a essa disputa pelo domínio marítimo foi gentes a respeito da luta contra a dominação
a) a criação da Companhia das Índias Ocidentais, holandesa no Brasil.
pela Holanda, com o objetivo de explorar as colô- b) Mencione dois fatores que levaram à invasão de
nias e possessões espanholas. Pernambuco pelos holandeses no século XVII.
b) a Guerra dos Trinta Anos, motivada pelos inte-
resses ingleses e holandeses em estabelecer 48. Uerj 2016
colônias no continente africano.
c) a tomada do Cabo da Boa Esperança em 1650
pelas tropas portuguesas, que criam na região a
Cidade do Cabo.
d) a Guerra dos Emboabas, motivada pelo controle
do comércio escravista nas regiões mineradoras
brasileiras.

46. Unesp 2012 O artista holandês Albert Eckhout (c.-


c.) esteve no Brasil entre  e , na comitiva
de Maurício de Nassau. A tela foi pintada nesse perío-
do e pode ser considerada exemplar da forma como
muitos viajantes europeus representaram os índios
que aqui viviam.

Engenho de açúcar

Vista de Olinda
(Albert Eckhout. Índia Tarairiu (tapuia), 1641.) Pinturas de Frans Post, século XVII, enciclopedia.itaucultural.org.br

82 HISTÓRIA Capítulo 2 A formação das estruturas coloniais


O triunfo holandês seria coroado com a chegada do conde Maurício de Nassau-Siegen, que desembarcou como go-
vernador em janeiro de 1637. Transformado em mito de nossa história seiscentista, Nassau ficaria também celebrizado pela
missão de pintores e naturalistas que financiou no seu governo. Frans Post (1612-1680) foi o mais renomado componente da
missão nassoviana, dedicando-se à pintura de paisagens, retratando a natureza tropical e as construções humanas.
Adaptado de Vainfas, R. “Tempo dos Flamengos: a experiência colonial holandesa”. In: FRAGOSO, J. L. R.; GOUVEA, M. de F. (org). O Brasil colonial. Rio de
Janeiro: Civilização Brasileira, 2014.

A presença holandesa no Brasil, entre  e , interferiu nos rumos da colonização portuguesa nas terras ame-
ricanas. O governo de Nassau (-) tornou-se uma referência, estimulando a produção de registros, como as
pinturas de Frans Post.

Identifique o principal objetivo econômico da presença holandesa no Brasil, no século XVII. Em seguida, apresente
duas realizações do governo de Nassau que tenham contribuído para sua notoriedade histórica.

49. Fuvest 2014 Não há trabalho, nem gênero de vida no mundo mais parecido à cruz e à paixão de Cristo, que o vosso em um
destes engenhos [...]. A paixão de Cristo parte foi de noite sem dormir, parte foi de dia sem descansar, e tais são as vossas noites
e os vossos dias. Cristo despido, e vós despidos; Cristo sem comer, e vós famintos; Cristo em tudo maltratado, e vós maltratados
em tudo. Os ferros, as prisões, os açoites, as chagas, os nomes afrontosos, de tudo isto se compõe a vossa imitação, que, se for
acompanhada de paciência, também terá merecimento e martírio[...]. De todos os mistérios da vida, morte e ressurreição de
Cristo, os que pertencem por condição aos pretos, e como por herança, são os mais dolorosos.
P. Antônio Vieira, “Sermão décimo quarto”. In: I. Inácio & T. Lucca (orgs.). Documentos do Brasil colonial. São Paulo: Ática, 1993, p.73

A partir da leitura do texto, escrito pelo padre jesuíta Antônio Vieira em , pode-se armar, corretamente, que, nas
terras portuguesas da América,
a) a Igreja Católica defendia os escravos dos excessos cometidos pelos seus senhores e os incitava a se revoltar.
b) as formas de escravidão nos engenhos eram mais brandas do que em outros setores econômicos, pois ali vigorava
uma ética religiosa inspirada na Bíblia.
c) a Igreja Católica apoiava, com a maioria de seus membros, a escravidão dos africanos, tratando, portanto, de
justificá-la com base na Bíblia.
d) clérigos, como P. Vieira, se mostravam indecisos quanto às atitudes que deveriam tomar em relação à escravidão
negra, pois a própria Igreja se mantinha neutra na questão.
e) havia formas de discriminação religiosa que se sobrepunham às formas de discriminação racial, sendo estas,
assim, pouco significativas.

50. Fuvest “Andava o conde de Nassau tão ocupado em fabricar a sua nova cidade, que para estimular os moradores a fazerem
casas, ele mesmo, com muita curiosidade, lhe andava fazendo as medidas, e endireitando as ruas para ficar a povoação
mais vistosa.”
(Frei Manuel Calado. O valoroso Lucideno e triunfo da liberdade, 1648.)

Com base no texto, responda:


a) Quem foi o conde de Nassau?
b) Qual o projeto apresentado no texto? Explique.

BNCC em foco
EM13CHS201

1. Aqueles que foram de Espanha para esses países (e se têm na conta de cristãos) usaram de duas maneiras gerais e principais
para extirpar da face da terra aquelas míseras nações. Uma foi a guerra injusta, cruel, tirânica e sangrenta. Outra foi matar
todos aqueles que podiam ainda respirar ou suspirar e pensar em recobrar a liberdade ou subtrair-se aos tormentos que su-
portam, como fazem todos os senhores naturais e os homens valorosos e fortes; pois comumente na guerra não deixam viver
senão mulheres e crianças: e depois oprimem-nos com a mais horrível e áspera servidão a que jamais tenham submetido
homens ou animais.
EM13CHS204
2. não obstante o haver-se casado de pouco, lhes assistem
sete índias concubinas, e daqui se pode inferir como pro-
cede no mais; tendo sido a sua vida, desde que teve uso
da razão – se é que a teve, porque, se assim foi, de sorte a
perdeu que entendo a não achará com facilidade –, até o
presente, andar metido pelos matos à caça de índios, e de
índias, estas para o exercício das suas torpezas, e aqueles
para os granjeios de seus interesses.










a)
b)
c)
d)
e) 

EM13CHS503

3. Este homem é um dos maiores selvagens


que tenho topado: quando se avistou comigo trouxe con-
sigo língua, porque nem falar sabe, nem se diferencia do
mais bárbaro tapuia mais que em dizer que é cristão, e

HISTÓRIA Capítulo 2 Formação das estruturas coloniais


Detalhe de Antônio Parreiras, Julgamento de
Filipe dos Santos, c. 1923. Óleo sobre tela.
Museu Antônio Parreiras, Niterói, Rio de Janeiro.
FRENTE 1

CAPÍTULO Da crise do açúcar ao apogeu


do sistema colonial no Brasil

3 Entre o final do século XVII e o início do século XVIII, momento marcado pela crise na
economia açucareira, a colonização portuguesa desprende-se do litoral e expande-se
em direção ao interior, movimento que resulta na descoberta das primeiras grandes jazi-
das de ouro na região de Minas Gerais. Em razão dessa descoberta, Portugal expandirá
seus mecanismos de controle sobre a Colônia, a fim de garantir a maior margem possí-
vel de lucro sobre a exploração de minério. No entanto, a economia lusitana, em crise
desde a União Ibérica, verá boa parte do ouro extraído do território do Brasil terminar na
Inglaterra. O acirramento sobre a fiscalização, por sua vez, contribuirá para uma série de
conflitos entre metrópole e colônia, resultando inclusive em revoltas.
A Restauração Os colonos diziam lutar para ter direito de ver o novo
rei português e pela liberdade religiosa católica. Após a
O fim da União Ibérica mudança administrativa e a ostensiva cobrança dos divi-
Ao longo de todo o período da União Ibérica, entre dendos, viam os holandeses como estranhos aos hábitos,
1580 e 1640, houve resistência e oposições em Portugal. ao idioma e às leis.
Durante o reinado de Filipe IV de Espanha (Filipe III, em Durante o conflito, destacou-se o chamado “panteão
Portugal), os acordos firmados em Tomar foram amplamente restaurador”, representado por Henrique Dias, um ho-
desrespeitados: houve a nomeação de ministros castelha- mem negro que havia sido liberto e liderava uma tropa
nos em Portugal, o rei não reuniu Cortes portuguesas e formada por outros libertos e escravizados foragidos;
sequer estabeleceu um diálogo com as elites lusitanas. En- pelo colono João Fernandes; pelo indígena potiguar
tão, o português D. João, duque de Bragança, tornou-se conhecido por Felipe Camarão; e pelo filho de senhor
uma alternativa para pôr fim à União Ibérica e dar início, em de engenhos, um homem branco, André Vital. Durante
Portugal, à Dinastia de Bragança. muitos anos, foi construída e divulgada a narrativa de
Contudo, a retomada da autonomia portuguesa não que se formara, ali, o “Exército Brasileiro”, com a partici-
aconteceu de maneira pacífica. Com a coroação de D. João IV pação desses homens de origens sociais e étnico-raciais
de Bragança como rei de Portugal, os Habsburgos reagi- diversas. No entanto, é importante analisar essas cons-
ram. Assim, entre 1640 e 1680 houve uma intensa disputa truções narrativas que exaltam uma “mistura das raças”
militar entre Portugal e Espanha. Após sessenta anos de (brancos, negros, indígenas e miscigenados) no Brasil,
domínio Habsburgo e com o império colonial em grande uma vez que a discriminação já se fazia presente desde
parte ocupado pelas Companhias das Índias Ocidentais e aquele momento da história brasileira. O próprio termo
Orientais, Portugal recorreu à Inglaterra, que se tornou uma "brasileiro" deve ser usado com cautela para se referir
importante aliada. ao século XVII, para evitar anacronismos.
A aproximação diplomática anglo-lusitana se deu Simultaneamente a esses acontecimentos no Brasil co-
por meio de uma série de tratados de proteção militar lonial, na Inglaterra, onde ocorriam as Revoluções Inglesas,
e comerciais, dando início a um processo de depen- Oliver Cromwell decretou o Ato de Navegação de 1651,
dência econômica crescente de Portugal em relação restringindo a participação de estrangeiros no comércio
à Inglaterra. Em troca de apoio, os portugueses foram inglês. Tal medida enfraqueceu a Companhia das Índias e,
obrigados a aceitar a presença cada vez maior de pro- ao mesmo tempo, deu início a uma guerra entre a Inglaterra
dutos ingleses em seus territórios, tanto metropolitanos e Holanda.
quanto coloniais. Com o início da Guerra Anglo-Holandesa, a resistência
por parte da Companhia das Índias Ocidentais se fez cada
O Brasil e a Restauração vez mais difícil no Brasil. Em 1651, conforme previsto no
Com o fim da União Ibérica e o início dos conflitos en- tratado assinado dez anos antes, chegava ao fim a trégua
tre Portugal e Espanha, D. João IV optou por estabelecer entre Portugal e Holanda, e assim o movimento em Per-
uma trégua de dez anos com os holandeses no Brasil. A nambuco passou a contar com apoio português. Porém,
trégua, assinada em 1641, aceitaria a presença holande- somente em 1654 foi concretizada a expulsão dos holan-
sa no nordeste até 1651. Os holandeses, cientes de que, deses que ocupavam o nordeste do Brasil.
resolvida a retomada da autonomia política em Portugal, Para se retirar do território colonial, os holandeses exi-
seriam alvo de esforços lusitanos para recobrar o território giram de Portugal o pagamento de uma indenização no
colonial, transformaram drasticamente sua relação com os valor de 4 000 000 de ducados (dívida que a Coroa pagou
senhores de engenho. mediante mais empréstimos dos ingleses) e, ainda, a posse
Em 1644, Maurício de Nassau foi substituído por das Ilhas Moluscas (na Indonésia) e de Malabar (na Índia).
Hendrick Hamel Pieter Bas e Adriaan Bullestrate no governo Os portugueses, cientes da decadência de suas colônias
do nordeste brasileiro. Com isso, teve fim a política de crédi- orientais, aceitaram as exigências com a expectativa de
to financeiro, que deu lugar a uma ostensiva cobrança de reaver a até então importantíssima empresa açucareira do
dívidas dos empréstimos feitos aos senhores de engenho. nordeste colonial.
Nesse processo, engenhos foram confiscados como forma de
pagamento das dívidas com a Companhia das Índias. A aristo- A crise do açúcar
cracia pernambucana, que antes demonstrou estar satisfeita Com a expulsão dos holandeses, Portugal investiu na
com a presença dos holandeses, mediante a nova postura retomada da empresa açucareira no Brasil e, em 1642,
administrativa pôs fim às boas relações. Formou-se, entre os criou o Conselho Ultramarino, com o objetivo de ampliar
colonos e a Companhia de Comércio, um foco de tensão. o controle sobre a administração colonial.
A partir de 1645, eclodiu, em Pernambuco, uma série Na segunda metade do século XVII, houve o fortaleci-
de levantes contra o domínio holandês, contrariando as or- mento da atividade jesuítica, evidenciado, por exemplo, a
dens da Coroa portuguesa, que estava comprometida com atuação de Padre Antônio Vieira (1608-1697). Os jesuítas
a trégua que havia assinado em 1641 e com vigência até representaram um importante braço dos esforços de co-
1651. Era o início da chamada Insurreição Pernambucana lonização. Ao mesmo tempo que coibiam a escravização
ou Guerra da Liberdade Divina (1645-1654). dos indígenas, construíam discursos que legitimavam a

86 HISTÓRIA Capítulo 3 Da crise do açúcar ao apogeu do sistema colonial no Brasil


escravidão negra de origem africana. Outro jesuíta, Jorge

Oscar Pereira da Silva/MASP, São Paulo, SP.


Benci (1650-1708), criticava os castigos físicos promovi-
dos pelos senhores aos escravizados; dizia que, dessa
forma, os senhores, além de sofrer prejuízos com o in-
vestimento feito na compra do escravizado, corriam o
risco de ir para o inferno. Desse modo, as proposições
jesuíticas ligadas à escravização de indígenas e africa-
nos favoreciam o tráfico atlântico de pessoas africanas
escravizadas e legitimavam a ordem escravista colonial.
Apesar de ter recuperado a empresa açucareira, as
expectativas portuguesas não se concretizaram. Após
serem expulsos do Brasil, os holandeses passaram a pro-
duzir açúcar em seus domínios nas Antilhas. Sua maior
disponibilidade de capitais, maior capacidade técnica de
refino e transporte e seu domínio sobre as rotas de dis- Oscar Pereira da Silva. A renúncia de ser rei – aclamação de Amador
tribuição do produto na Europa davam condições mais Bueno, 1931. Museu de Arte de São Paulo, São Paulo.
vantajosas aos holandeses. Somado a isso, na região do
Ainda no século XVII, ocorreu outra revolta nativista,
Caribe, havia ainda a produção açucareira francesa e in-
a Revolta de Beckman no Maranhão, em 1684. O Estado
glesa, o que contribuiu para que houvesse abundância do Maranhão, desde a expulsão dos holandeses, enfren-
de açúcar disponível no mercado europeu, muita concor- tava uma significativa crise econômica. Com a crise do
rência e, consequentemente, provocou a desvalorização açúcar, muitos senhores passaram a escravizar indígenas
do produto. por não conseguirem arcar com os altos custos envolvi-
Cabe destacar que a crise do açúcar não significou, dos na compra de escravizados de origem africana. Em
porém, o fim da produção açucareira no nordeste do Bra- 1682, foi criada a Companhia Geral de Comércio do Es-
sil. O açúcar seguiu como o principal produto da olônia tado do Maranhão, cujo objetivo era exercer o monopólio
explorado pela metrópole. sobre as atividades comerciais na região, inclusive de
escravizados africanos, por um período de vinte anos.
A emergência das revoltas nativistas O monopólio da Companhia de Comércio passou a ser
O endividamento português, especialmente com questionado à medida em que ela não atendia às necessida-
a Inglaterra, em decorrência dos gastos envolvendo a des locais. Havia a necessidade de mão de obra escravizada,
Restauração e a expulsão dos holandeses, fez com que porém a Companhia não fazia chegar a quantidade neces-
Portugal promovesse o início de um arrocho colonial sobre sária de escravizados vindos de outros lugares – ao mesmo
o Brasil, ou seja, ampliasse os mecanismos de controle a tempo, havia uma pressão jesuítica contra a escravização
fim de garantir o funcionamento do sistema colonial. de indígenas da região. A Companhia também passou a ser
Nesse contexto, podemos identificar os primeiros atri- acusada de falsificar pesos e medidas e de vender alimen-
tos entre regiões coloniais e a metrópole ou, como são tos estragados. Mais que isso, o monopólio desfrutado pela
costumeiramente chamadas, as primeiras “revoltas nati- Companhia de Comércio permitia que esta vendesse pro-
vistas”. Elas aconteceram no território colonial do Brasil dutos europeus a um preço altíssimo, ao mesmo tempo que
pagava valores insignificantes pela produção local.
e os revoltosos lutavam por um melhor acordo dentro da
A insatisfação com a administração colonial gerou
relação entre metrópole e colônia. Pediam, por exemplo,
uma revolta na qual os irmãos Manuel e Tomás Beckman,
o fim do monopólio, menores impostos e leis menos rígi-
renomados senhores de engenho da região, e Jorge
das. Não lutavam, portanto, pela independência política,
Sampaio, proprietário de terras, lideraram um grupo de
ou seja, não exigiam a ruptura política com Portugal.
colonos, entre os quais havia outros proprietários de terra,
A primeira delas foi a Aclamação de Amador Bueno,
comerciantes e religiosos de outras ordens descontentes
em 1641, na capitania de São Paulo. Com a restauração com os privilégios que eram concedidos aos jesuítas. Em
portuguesa, comerciantes da capitania de São Vicente pouco tempo, os revoltosos conseguiram tomar o Corpo
temiam que Portugal cessasse o comércio de indígenas da Guarda, em São Luís, deram voz de prisão ao capi-
escravizados que havia se desenvolvido na região de tão-mor Baltasar Fernandes e ocuparam o Colégio dos
São Paulo durante o período da União Ibérica. Tal fato Jesuítas, cujos religiosos foram expulsos do Maranhão
motivou uma reação dos bandeirantes paulistas, que com os representantes da Companhia de Comércio.
expulsaram os jesuítas, num episódio conhecido como É importante ressaltar que não havia a intenção de
“Botada dos padres fora”, e depois aclamaram, como “Rei promover uma ruptura com Portugal. Em meio às reinvindi-
de São Paulo", Amador Bueno da Ribeira, um importante cações, Tomás Beckman foi enviado à metrópole a fim de
FRENTE 1

comerciante, capitão-mor e ouvidor. Porém, sem sequer jurar lealdade ao rei em nome do Maranhão. No entanto,
ter sido consultado, Amador Bueno recusou o título e o Portugal reagiu à revolta e enviou ao Maranhão um novo
movimento foi rapidamente dissipado. governador e um efetivo militar para conter os revoltosos.

87
Concluída a repressão, Manuel Beckman e Jorge Restauração do trono português repercutiram no terri-
Sampaio, identificados como os líderes do movimento, tório colonial.
foram condenados à forca; outros envolvidos foram con- Os comerciantes portugueses, cuja presença foi per-
denados à prisão perpétua. A Companhia de Comércio mitida durante a vigência da União Ibérica, passaram a
do Maranhão, cuja atuação provocou a revolta, foi extinta ser expulsos da região. O controle do comércio platino
em 1685. ficou ao encargo de duas importantes colônias da Espa-
nha: Buenos Aires, na margem direita do Rio da Prata, e
A expansão colonial Montevidéu, na margem esquerda. Estrategicamente, em
Em busca de novas riquezas 1680, próximo a Montevidéu, os portugueses fundaram
a Colônia do Sacramento, com o objetivo de disputar o
Portugal se endividou ao garantir a restauração da
comércio e a posse da região.
autonomia política e para expulsar os holandeses, que
A importância econômica da região foi ampliada a
haviam ocupado por mais de duas décadas uma impor-
partir do século XVIII, com a expansão da pecuária, que
tante fonte de renda na América portuguesa, o nordeste
tinha por objetivo abastecer a região mineradora no cen-
açucareiro. Ao recuperar o domínio sobre a região, a
tro do Brasil. Dessa forma, não mais se tratava apenas de
concorrência e a desvalorização do açúcar frustraram as
uma disputa por um polo de comércio como também por
expectativas portuguesas, que não conseguiriam pagar,
terras nas quais se multiplicavam as estâncias, grandes
como planejado, as dívidas contraídas. O agravamento da
fazendas produtoras de gado. As disputas entre espa-
crise econômica da Coroa, que havia perdido as colônias
nhóis e portugueses na região platina se estenderam por
orientais, fez com que fossem estimuladas buscas por
um longo período.
outras fontes de renda na América portuguesa.
Com isso, o processo de interiorização se intensifi-
As expedições bandeirantes
cou. Os elementos responsáveis por esse processo e
pela consequente ampliação territorial da Colônia foram A capitania de São Vicente, apesar de ter sido o
a pecuária, as drogas do sertão e as disputas fronteiriças primeiro núcleo efetivo da colonização portuguesa, es-
ao sul da capitania de São Vicente. truturada inicialmente para a produção açucareira, não
A pecuária representava uma atividade subsidiária se desenvolveu muito ao longo dos séculos XVI e XVII.
à produção açucareira. Com a expansão do cultivo da O litoral estreito, limitado pela Serra do Mar, e a maior
cana-de-açúcar ao longo do século XVI e início do XVII, distância em relação à metrópole dificultavam o trans-
muitos criadores deslocaram-se para o interior do sertão porte do plantio, produzido na zona do planalto paulista,
nordestino, principalmente ao longo do Rio São Francisco tornando as exportações mais complexas se comparadas
e de seus afluentes. O gado, criado de maneira exten- ao que ocorria nos principais empreendimentos coloniais
siva, percorria grandes distâncias durante a pastagem, açucareiros no nordeste da Colônia.
o que fez com que essa atividade se estendesse pela No século XVII, a região contava com escassez de
faixa do sertão e atingisse as regiões interioranas do moedas, produtos e africanos escravizados. A econo-
Ceará e do Maranhão. mia local baseava-se na agricultura de subsistência e
Durante a União Ibérica, foi criado o Estado do Mara- na produção da conserva de marmelo. A sociedade era
nhão e Grão-Pará, com administração distinta do Brasil. majoritariamente composta de indígenas.
A ocupação foi feita de maneira gradual, movida pela Nesse contexto, o bandeirantismo configura-se como
necessidade de proteger a Colônia dos constantes ata- fruto social de uma região marginalizada de recursos
ques estrangeiros. Ao longo do século XVII, a busca pelas materiais e vida econômica restrita. Os bandeirantes,
drogas do sertão assumiu o protagonismo econômico da diferentemente do que vemos hoje em estátuas e repro-
região. Esse termo é empregado para designar toda uma duções, pareciam-se mais com indígenas do que com
série de plantas nativas com propriedades medicinais, europeus. Sem a chegada de produtos da Europa e de-
alimentícias, cosméticas e afrodisíacas, como baunilha, vido à precariedade local, andavam, em geral, descalços,
salsaparrilha, canela, castanha, cravo, guaraná e, sobre- e não com botas de montaria. O chapéu de abas largas,
tudo, o cacau. Esses produtos eram obtidos por meio camisa e, quando muito, um gibão (espécie de colete de
do extrativismo em regiões remotas e de difícil acesso. couro) para proteção de flechas indígenas compunham
Da mesma forma que a pecuária foi responsável pela o vestuário dos bandeirantes.
ocupação do sertão nordestino, a busca pelas drogas Isolados do litoral pela Serra do Mar, os bandeirantes
do sertão foi um dos principais elementos a motivar a tinham como uma opção de busca de atividade econô-
ocupação da Amazônia. mica a penetração a oeste, facilitada pela existência
Por fim, a luta pela posse das terras ao sul de São do Rio Tietê, o qual avançava, enquanto via fluvial, em
Paulo esteve ligada a dois fatores fundamentais: às ban- direção às terras mais centrais do continente. Assim,
deiras que se dirigiam às missões jesuíticas no sul e ao buscavam outras formas de ganho, para tirar o máximo
interesse de Portugal e dos comerciantes portugueses proveito das brechas do sistema colonial, como captura,
na América em disputar com os espanhóis o controle do escravização e comércio de populações nativas. Desse
comércio no Rio da Prata. Com o fim da União Ibérica, modo, foram agentes da expansão territorial e da inte-
os conflitos entre Portugal e Espanha no processo de riorização da colonização.

88 HISTÓRIA Capítulo 3 Da crise do açúcar ao apogeu do sistema colonial no Brasil


Saiba mais

Bandeira é o nome utilizado para designar as expe- escravizados foragidos, enfrentassem agrupamentos in-
dições realizadas pelos bandeirantes. Geralmente, eram dígenas hostis aos interesses coloniais ou destruíssem
comandadas por um chefe, que mantinha um forte rigor quilombos. Portanto, eram expedições contratadas.
hierárquico sobre seus subordinados. Entre 1690 e 1695, o bandeirante Domingos Jorge Ve-
Havia predominantemente três tipos de bandeiras: lho foi contratado para destruir o quilombo dos Palmares,
apresamento, sertanismo de contrato e prospecção. uma extensa confederação de comunidades quilombolas
As bandeiras de apresamento eram voltadas para a situada a 60 quilômetros da costa do atual estado do Ala-
captura e o comércio de indígenas escravizados. Tal ativida- goas, com economia própria e relações econômicas com
de se intensificou durante o período em que os holandeses vilas ao seu redor. Com receio de se tornar um incentivo
tomaram as feitorias portuguesas na África, o que resultou para fugas de escravizados, o poder colonial pretendeu dar
no encarecimento dos escravizados de origem africana e no um fim exemplar a Palmares, que resistiu por anos a vários
aumento da exploração da mão de obra indígena escravi- ataques até sua destruição, para a qual participação dos
zada, ainda que ilegalmente. Muitas vezes, as bandeiras de bandeirantes foi significativa.
apresamento atacaram missões jesuíticas, e, como vimos Por fim, as bandeiras de prospecção eram expedi-
anteriormente, a expansão da colonização em direção ao ções em busca de metais preciosos. Elas passaram a
FRENTE 1

sul da América esteve atrelada à escravidão indígena. ser mais frequentes sobretudo após o declínio do tráfico
Nas bandeiras de sertanismo de contrato, os senho- de indígenas escravizados e a recuperação portuguesa
res contratavam bandeirantes para que capturassem das feitorias africanas.

89
Bandeiras e entradas – séculos XVI e XVII
60° O

0° Equador

r nio
de Capricó
Trópico

Fonte: Atlas Histórico do Brasil. FGV CPDOC. Disponível em: https://atlas.fgv.br/marcos/bandeiras-e-bandeirantes/mapas/


bandeiras-e-entradas. Acesso em:  ago. .

A descoberta do ouro (e, portanto, os lucros) do açúcar baixaram muito devido à


No final do século XVII, os esforços promovidos pela ampliação da concorrência, principalmente dos próprios
Coroa portuguesa para a busca de metais preciosos foram holandeses e seu açúcar antilhano. Com isso, Portugal op-
intensificados por causa da crise do açúcar e começaram a tou por buscar novas fontes de renda na Colônia, enquanto
surtir resultados. Portugal, cada vez mais endividado com reforçava o controle metropolitano sobre a região colonial
a Inglaterra, sofrendo os impactos econômicos da desvalo- para evitar qualquer prejuízo.
rização do açúcar e dos gastos empreendidos nos conflitos Essas medidas de controle se manifestaram, em um
militares, finalmente encontra ouro em sua colônia na América. primeiro momento, na criação do Conselho Ultramarino
A comunicação oficial da descoberta do ouro ocorreu e no estabelecimento das companhias monopolistas de
em 1693, no Rio das Velhas, pelo bandeirante Antônio Ro- comércio e atingiram seu auge durante o século XVIII
drigues Arzão, seguida por diversas outras descobertas após a descoberta das jazidas de minério na região de
na região que envolve partes dos atuais estados de Minas Minas Gerais.
Gerais, Mato Grosso e Goiás. A descoberta de minérios na O período entre a descoberta do ouro, em 1693, e o
região centro-sul da Colônia promoveu um intenso fluxo fim da administração pombalina, em 1777, representou o
populacional para lá. apogeu do sistema colonial. Anteriormente, definimos
o sistema colonial como um conjunto interdependente,
Mineração ao redor de uma monarquia europeia, pautado no lucro.
No sistema colonial, o comércio externo estava sujeito ao
Nova relação de Portugal com a Colônia monopólio metropolitano. A colônia deveria exportar bens
A Restauração do trono de Portugal demandou con- primários exclusivamente à metrópole e só poderia importar
sideráveis recursos financeiros para custear os conflitos manufaturas, também de forma exclusiva, oriundas da me-
militares com os espanhóis. A expectativa da Coroa com trópole. O apogeu do sistema colonial representa o período
a expulsão dos holandeses do Brasil – que também impli- em que a fiscalização e o controle da metrópole, a fim de
cou gastos – era retomar a até então lucrativa empresa garantir o monopólio sobre o comércio da colônia, foram
açucareira do Brasil, o que não ocorreu, pois os preços mais intensos.

90 HISTÓRIA Capítulo 3 Da crise do açúcar ao apogeu do sistema colonial no Brasil


O apogeu do sistema, porém, não coincide neces- Em 1702, o Regimento dos Superintendentes, Guar-
sariamente com o apogeu econômico da metrópole. das-mores e Oficiais Deputados para as Minas de Ouro
Apesar de impor mecanismos de fiscalização mais in- garantiu a livre exploração sobre a mineração e criou o
tensos e, assim, coibir práticas de contrabando de modo cargo de Intendente das Minas. A intendência era respon-
mais eficiente, isso não significa que a metrópole obteve, sável por distribuir datas (terrenos auríferos demarcados
obrigatoriamente, maiores lucros. Apesar da descoberta em lotes). A descoberta de minérios devia ser declarada
de ouro e diamantes na América portuguesa, a grave si- à intendência, que, por sua vez, demarcava um períme-
tuação econômica da Coroa fez com que boa parte das tro ao redor dessa área e a dividia em lotes, e, por fim,
riquezas extraídas do território colonial fosse utilizada para leiloava as áreas demarcadas, dando prioridade a quem
o pagamento de dividendos na Europa e, principalmente, havia feito a descoberta.
à Inglaterra. A livre exploração sobre a mineração era interessante
Em 1703, o Tratado de Methuen, conhecido também
à metrópole, que se beneficiava por meio da tributação.
como Tratado de Panos e Vinhos, foi determinante no pro-
A Coroa recolhia o imposto chamado quinto, ou seja, 20%
cesso de decadência econômica portuguesa. A primeira
de todo o ouro obtido no território colonial. Além do quinto,
cláusula do contrato permitia que os tecidos ingleses, proi-
havia a capitação, uma quantia fixa em ouro, paga pelo
bidos de entrar em Portugal desde o final do século XVII,
minerador, proporcional ao número de escravizados que
pudessem ser importados pelos portugueses. A segunda
ele empregava na mineração.
cláusula estabelecia que a importação de vinhos franceses
seria preterida em relação aos vinhos portugueses na Ingla- Havia, no entanto, uma série de empecilhos para a
terra. Apesar de parecer um acordo vantajoso para ambas devida fiscalização portuguesa. O ouro encontrado no ter-
as partes, o Tratado acabou prejudicando, a longo prazo, ritório da Colônia era, principalmente, um ouro de aluvião,
a economia portuguesa. ou seja, disponível em depósitos fluviais, misturado com
Além da diferença de preços e mercado entre os vi- cascalho, areia ou lama. Normalmente, o ouro de aluvião
nhos e as manufaturas de lã, o monopólio inglês sobre o era encontrado em pequenas formas granulares, como
comércio de tecidos foi um entre os diversos fatores que se fossem grãos em pó. Isso favorecia o contrabando, que
favoreceram o pioneirismo da Inglaterra na Revolução foi largamente praticado no período colonial. Era comum,
Industrial. A manufatura de tecidos era uma atividade por exemplo, esconder ouro embaixo das unhas – des-
facilmente mecanizável, com amplo mercado consumi- se modo, mineradores visavam obter ouro sem pagar
dor, e a expansão dessa produção se fazia cada vez imposto e escravizados tentavam obter recursos para
mais necessária aos interesses econômicos ingleses. comprar sua carta de alforria, um documento que compro-
Em contrapartida, em Portugal, com a produção de vi- vava a condição de liberto. Outra prática de contrabando
nhos, foi mantido um modelo produtivo manufatureiro. comum era a utilização dos chamados “santos do pau
A entrada de uma grande quantidade de manufatura- oco”, imagens sacras feitas de madeira com interior oco,
dos ingleses em Portugal, pagando taxas alfandegárias preenchido com ouro.
baixíssimas e, portanto, sendo vendidos a baixo custo Para coibir o contrabando, Portugal proibiu a circulação
no reino, desfavoreceu o desenvolvimento de cunho de ouro em pó e instalou, a partir de 1719, as Casas de
industrial em Portugal. Fundição. Com isso, todo o ouro obtido deveria ser levado
Ao longo do século XVIII, grande parte das riquezas co- para esses órgãos, onde era fundido em barras e recebia o
loniais extraídas do território brasileiro ia para a Inglaterra, o selo real atestando seu peso e valor. Durante esse processo
que incluía o ouro. O poderio econômico inglês impulsionou
também era retirado o quinto. Só era permitida a circulação
a Revolução Industrial, o que, por sua vez, fez da Inglaterra
de minérios devidamente quintados, selados e em barra.
uma potência ainda mais fortalecida.
No mesmo ano, foi criado um agrupamento militar dedicado
Economia mineradora à fiscalização das atividades auríferas, os “Dragões Reais
de Minas”.
Com a descoberta do ouro, a atenção metropolitana
Dessa forma, eram criados novos mecanismos
deslocou-se do nordeste para a região centro-sul (área
para impedir qualquer desrespeito ao sistema colo-
que envolve hoje os estados de Minas Gerais, Mato Gros-
nial. Sem conseguir impedir por completo as práticas
so, Goiás, São Paulo e Rio de Janeiro). Com o importante
crescimento econômico, em 1763 a metrópole transferiu de contrabando, Portugal criou a derrama, prevista
a capital de Salvador para o Rio de Janeiro. A economia no Alvará Régio de 1750. A partir de então, havia
mineradora não substituiu a economia açucareira; mesmo uma cota anual mínima – relacionada ao quinto – que
durante o auge da mineração, o açúcar permaneceu como deveria ser recolhida pela Coroa. Caso a meta não
o principal produto de exportação colonial. fosse atingida, a diferença restante era transformada
O modelo produtivo se manteve baseado na ex- em um imposto que seria cobrado (de maneira os-
ploração do trabalho de africanos escravizados. Porém, tensiva, se necessário) de toda a população, fossem
diferentemente das práticas econômicas que pautaram a mineradores ou não. Tratava-se de um mecanismo que
FRENTE 1

produção colonial nos séculos XVI e XVII, a atividade mi- favorecia práticas de delações, uma vez que, para
neradora foi submetida, desde seu início, a um minucioso evitar a cobrança da derrama, era comum que colonos
controle e fiscalização pela metrópole. denunciassem contrabandistas.

91
Crescimento do mercado interno Durante o período da mineração, destacou-se o Bar-
A atividade mineradora foi acompanhada pela forma- roco, um movimento artístico europeu que surgiu entre o
ção de núcleos urbanos, que confirmavam a autoridade final do século XVI e início do século XVII, pautado pela
real por meio de medidas que garantissem a arreca- atmosfera da religiosidade pós-Reformas e caracterizado
dação de tributos e a organização do povoamento. por um exagero intencional marcado nos contrastes. No
Desenvolveram-se cidades como Vila do Carmo (Ma- Brasil, esse movimento se consolidou ao longo do século
riana), Arraial do Tejuco (Diamantina), São João del-Rei, XVIII e apresentou características próprias, bastante distin-
Vila Real de Nossa Senhora da Conceição do Sabará tas dos referenciais europeus.
(Sabará) e Vila Rica (Ouro Preto) – cidades ainda exis- Na região de Minas Gerais, o Barroco se fez presente,
tentes e pertencentes ao atual estado de Minas Gerais. principalmente, na construção de igrejas, pinturas e escul-
A urbanização promoveu a ampliação do mercado inter- turas. Entre os principais artistas estão Aleijadinho, Mestre
no e, consequentemente, um maior volume de capitais Valentim e Manuel da Costa Ataíde. As igrejas foram fruto da
circulando na Colônia. competição das ordens terceiras, que visavam ao destaque
Outras regiões, por sua vez, desenvolveram-se a partir na região mineradora, visto que os clérigos foram proibidos
da demanda por produtos de abastecimento para a região pela Coroa de se fixarem na capitania, no início do século
mineradora. Ao sul das minas, em São Paulo e no Rio de XVIII. Conforme suas condições sociais e financeiras, as
Janeiro, houve uma intensificação no cultivo do tabaco. ordens terceiras construíram igrejas com adornos em ouro
Os tropeiros representavam caravanas de comerciantes e outras pedras preciosas. Nos frontões, esculturas feitas
que vendiam uma série de insumos à região mineradora, de pedra-sabão, com complexos detalhes, davam destaque
principalmente montaria. Tratou-se de um período de di- ao edifício.
versificação da pecuária caracterizado pela necessidade

OSTILL is Franck Camhi/Shutterstock.com


de transportar o ouro e de se deslocar entre as diversas
regiões da Colônia, agora mais integrada. A região de So-
rocaba, no atual estado de São Paulo, destacou-se pelas
feiras de gado muar.
Os bandeirantes, após a descoberta das jazidas de mi-
nério, ampliaram suas atuações no comércio ligado à região
mineradora por meio das bandeiras de comércio ou ciclo
das monções. Tratava-se de expedições fluviais, em com-
boios anuais, voltadas a abastecer os núcleos de ocupação
mais distantes, como os garimpeiros de ouro na região de
Cuiabá. Algumas se expandiram mais ao norte, formando
novas frentes de expansão sobre a região amazônica.

Sociedade mineradora
A necessidade do abastecimento das regiões mi-
neradoras levou ao desenvolvimento do comércio e
ao surgimento de cidades, as quais se transformaram
em polos de maior diversificação social. As transforma-
ções não foram apenas espaciais e econômicas, mas
também sociais.
O desenvolvimento urbano favoreceu o surgimen-
to da camada média por meio dos trabalhos e serviços
realizados especificamente nas cidades. Outro aspecto
importante era que, mediante a livre exploração dos mi-
nérios, a possibilidade de ascensão social era maior nas
sociedades mineradoras do que na sociedade açucareira.
Ainda que, claramente, aqueles com mais recursos esti-
vessem mais propensos a encontrar minérios, não era
impossível que um pequeno lavrador também encontrasse
e ascendesse socialmente.
Desse modo, novas elites, ligadas à mineração e à vida
urbana, formam-se na Colônia. São os filhos dessas eli-
tes que, ao estudarem na Europa, trarão para cá as novas
ideias de liberdade, sendo diretamente responsáveis não
apenas pela ampliação da atividade cultural colonial, mas
Igreja de São Francisco de Assis, em Ouro Preto, Minas Gerais, em fotografia
principalmente pela base intelectual da luta que começaria de 2018. Podemos observar os detalhados adornos, esculpidos em pedra-
a se travar contra o domínio metropolitano. sabão, presentes na parte superior da porta.

92 HISTÓRIA Capítulo 3 Da crise do açúcar ao apogeu do sistema colonial no Brasil


Ampliação das revoltas nativistas Assim, reclamavam do baixo valor pago pelo açúcar e do
Durante a primeira metade do século XVIII, a intensi- alto valor cobrado pelas dívidas acumuladas na compra
ficação do arrocho colonial agravou a tensão já existente dos insumos.
entre as demandas coloniais e as exigências metropoli- Em 1709, os comerciantes de Recife, apoiados pela
tanas. A Colônia, cada vez mais fortalecida econômica Coroa, conseguiram que a região fosse elevada à catego-
e socialmente, além de influenciada pelos debates inte- ria de vila, separada de Olinda. O novo estatuto permitiu
lectuais vindos da Europa, assistiu a uma ampliação de que Recife usufruísse maior autonomia no que diz respeito,
revoltas. Durante o século XVIII, muitas delas ocorreram por exemplo, à determinação de novas tarifas de frete
na região mineradora. Veremos, a seguir, algumas das marítimo. Até então, estas eram definidas pela Câmara
principais rebeliões. de Olinda e, consequentemente, pelos interesses dos
Logo após a descoberta de minérios na região de senhores de engenho.
Minas Gerais, houve um intenso fluxo migratório para a A decisão acirrou o descontentamento dos senhores
região. Pessoas de outras regiões da Colônia, em busca de engenho de Olinda (pejorativamente chamados de “ma-
do ouro, deslocaram-se em direção ao centro-sul. Também zombos” pelos comerciantes recifenses), que decidiram
foi o período em que a maior quantidade de portugueses invadir Recife. A guerra se prolongou por mais de um ano e
veio para o território colonial. terminou apenas com a intervenção de Portugal em 1711.
Os bandeirantes, por terem sido responsáveis pela A Coroa portuguesa não somente manteve a autonomia
descoberta das jazidas de minério, demandavam a exclu- de Recife como também transformou a nova vila em sede
sividade sobre a exploração das riquezas. A disputa dos administrativa da capitania de Pernambuco. No entanto,
bandeirantes por terra e pelo monopólio sobre a extração todos os revoltosos foram anistiados, dado que os senhores
do ouro chamou-se Guerra dos Emboabas e aconteceu de engenho, apesar da decadência, ainda detinham certo
entre 1708 e 1709. poder e prestígio.
Os bandeirantes protagonizaram uma série de confli- Uma das principais revoltas nativistas do século XVIII
tos contra os que eram considerados forasteiros, pessoas foi a Revolta de Filipe dos Santos ou Revolta de Vila Rica,
que não fossem da região de São Paulo, e contra os em 1720, no coração da região mineradora. Tratou-se de
agentes da Coroa. A metrópole não tinha nenhum inte- uma reação à proibição da circulação de ouro em pó e da
resse no monopólio bandeirante, e a livre exploração da criação das Casas de Fundição em 1719, onde, a partir
região mineradora atendia às expectativas lusitanas, já de então, todo o ouro obtido deveria ser entregue para
que, quanto mais ouro fosse descoberto, maior seria a ser transformado em barras e taxado, ou seja, extraída a
arrecadação tributária. parcela correspondente ao quinto.
Fora do eixo da mineração, em Pernambuco, entre
O descontentamento dos colonos se dava sobretudo
1710 e 1711, aconteceu a Guerra dos Mascates ou
com relação à criação das Casas de Fundição e à proibi-
Fronda dos Mazombos. Durante a crise da produção
ção da circulação do ouro em pó. A Colônia sofria com
açucareira, a partir da segunda metade do século XVII, a
a escassez de moedas e, assim, o ouro em pó facilitava
aristocracia rural de senhores de engenho da região de
as transações comerciais. Era difícil fracionar as barras
Olinda se via cada vez mais enfraquecida economicamen-
para obter os valores necessários nessas transações,
te, tornando-a mais endividada com os comerciantes da
o que interferia negativamente no comércio interno da
região de Recife.
região mineradora.
Olinda era o centro político da capitania. Assim, era a
Por isso, a Revolta de Vila Rica foi uma rebelião pro-
Câmara Municipal de Olinda que exercia controle sobre
tagonizada, principalmente, pela camada média. Filipe
o porto de Recife, por exemplo. Porém, a crise da aristo-
cracia açucareira – e, consequentemente, de Olinda – foi dos Santos, um dos líderes da revolta, era tropeiro. Mais
agravada com a mineração, especialmente com o desa- de 2 mil revoltosos se rebelaram contra a instalação das
bastecimento de escravizados, já que praticamente todo Casas de Fundição. Sem tropas que lhe permitissem
o tráfico se concentrou em atender a grande demanda da conter a população, o conde de Assumar, intendente
região mineradora. Ao mesmo tempo, os comerciantes de de Minas Gerais, procurou negociar e ganhar-lhes a
Recife, portugueses em sua maioria, prosperavam e se viam simpatia, prometendo atender a todas as reivindicações.
protegidos por uma legislação que lhes garantia o mono- Entretanto, tão logo conseguiu reunir um contingente
pólio comercial. Muitos, inclusive, tornaram-se credores de suficiente de homens, atacou os revoltosos, prendendo
senhores de engenho de Olinda. todos os líderes. Filipe dos Santos foi condenado ao
Os comerciantes de Recife (pejorativamente chama- esquartejamento. Suas partes foram expostas à beira
dos de “mascates” pelos senhores de engenho de Olinda) das estradas, e sua cabeça fincada no pelourinho de
eram responsáveis tanto por suprir os engenhos, com a Vila Rica.
venda de insumos básicos, quanto por receber as caixas O episódio suscitou a necessidade, por parte da Coroa
de açúcar, exportadas para a Europa. Com a crise açu- portuguesa, de aumentar o controle sobre a região. As-
FRENTE 1

careira, os senhores de engenho iam endividando-se ao sim, a fim de aprimorar o controle das atividades e evitar
longo da safra e, na hora de vender as caixas de açúcar, futuras revoltas, Portugal decidiu separar São Paulo de
tinham de se submeter ao monopólio comercial de Recife. Minas, criando, em 1720, a capitania de Minas Gerais.

93
Redefinição dos limites e tratados território colonial. Em contrapartida, porém, os espanhóis,
Em 1750, foi assinado o Tratado de Madri a fim de interessados no controle e na administração do Rio da
substituir as antigas definições coloniais promovidas pelo Prata, exigiram que Portugal renunciasse à Colônia do
Tratado de Tordesilhas. Nas tratativas, teve destaque a Sacramento, à época ocupada pelos portugueses. Em tro-
atuação do diplomata Alexandre de Gusmão, que ne- ca, a Espanha ofereceu ainda o chamado Território das
gociou com a Espanha os territórios que deveriam ser Sete Missões (São Francisco de Borja,São Nicolau,São
legitimados como portugueses a partir do princípio romano Miguel Arcanjo,São Lourenço Mártir,São João Batista,
do uti possidetis, ita possideatis (quem possui de fato deve São Luiz GonzagaeSanto Ângelo Custódio, hoje no Rio
possuir de direito). Grande do Sul), um local ocupado por jesuítas espanhóis
Gusmão apresentou um mapa da América do Sul – com missões indígenas.
cuidadosamente elaborado pelos melhores geógrafos Portugal aceitou o acordo, mas tal troca não foi aceita
de Portugal – mostrando as terras que os portugueses pelos jesuítas, que resistiam em entregar aos portugueses
haviam ocupado até então e defendia o argumento de os territórios que ocupavam. Assim, em 1753, teve início
que a posse deveria ser reconhecida a quem possuía uma série de conflitos entre indígenas Guarani e exércitos
e ocupava de fato as terras. A Espanha, concentrada na ibéricos, denominados Guerras Guaraníticas. A guerra se
extração de minérios na zona andina, permitiu que, com prolongou até 1756, quando os jesuítas foram derrotados
o Tratado de Madri, Portugal conseguisse triplicar seu pela intensa repressão ibérica.

Mapa do território colonial português denido pelo Tratado de Madri – 1750

Equador 0°
Meridiano de Tordesilhas

OCEANO
ATLÂNTICO

OCEANO
PACÍFICO
órnio
de Capric
Trópico

Fonte: ALBUQUERQUE, Manoel M. de. REIS, Arthur Cézar F. CARVALHO, Carlos Delgado de. Atlas histórico escolar. Rio de Janeiro: FENAME, . (Adapt.)

94 HISTÓRIA Capítulo 3 Da crise do açúcar ao apogeu do sistema colonial no Brasil


Revisando

1. Famema 2017 No Brasil Colonial, uma determinada 4. ESPM-SP 2016 Das minas e seus moradores bastava di-
atividade gerou maior articulação entre regiões dis- zer que é habitada de gente intratável. A terra parece que
tantes, ampliou a intervenção regulamentadora da evapora tumultos; a água exala motins; o ouro toca desa-
metrópole e deu origem a uma sociedade diferencia- foros; destilam liberdades os ares; vomitam insolências as
da, caracterizada pela vida urbana, pelo aumento da nuvens; influem desordens os astros; o clima é tumba da
mestiçagem e do número de alforrias e por uma notá- paz e berço da rebelião; a natureza anda inquieta consigo,
vel produção cultural. Trata-se e amotinada lá por dentro é como no inferno.
Lilia Schwarcz e Heloisa Starling. Brasil: uma Biografia.
a) da pecuária no sertão nordestino.
b) das plantations de tabaco e algodão no Nordeste. O texto é parte do discurso histórico e político sobre
c) da coleta de drogas do sertão na região amazônica. a sublevação que nas minas houve no ano de 
d) das missões jesuíticas no Sul. e que o governador Pedro Miguel de Almeida e Por-
e) da extração de ouro nas Minas Gerais. tugal, o conde de Assumar, fez chegar às mãos das
autoridades régias em Lisboa.
2. UFMS 2019 Quando pensamos na diversidade de A respeito da sedição de Vila Rica, em , é correto
paisagens, associada à extensão territorial e às assinalar:
formas como foram povoadas as diversas regiões a) os sediciosos planejavam forçar a coroa a sus-
do Brasil, retomamos a ideia de que o País assume pender o estabelecimento das casas de fundição,
dimensões continentais. Além da vastidão do ter- onde se registrava o ouro em barras e se deduzia
ritório, é importante lembrar que o Brasil também o quinto por arroba, o imposto devido ao rei;
possui uma história riquíssima e que cada região b) os sediciosos planejavam forçar a coroa a abolir
foi marcada por uma atividade econômica ao a derrama, que determinava a cobrança de todos
longo do período de ocupação pós-. Assim, os impostos atrasados;
assinale a alternativa que associa corretamente: a c) os sediciosos rebelaram-se contra forasteiros que
região do país, a atividade econômica que histori- eram beneficiados pela coroa com privilégios na
camente foi praticada na região, o período em que exploração das jazidas auríferas;
obteve maior êxito e qual foi a matriz da mão de d) os projetos dos sediciosos eram o rompimento
obra utilizada. com Portugal, a adoção de um regime republica-
a) Região Nordeste; mineração; período imperial; no e a criação de uma universidade em Vila Rica;
e) a sublevação desafiou a ação do marquês de
trabalho assalariado.
Pombal que havia determinado o monopólio ré-
b) Região Sul; lavoura açucareira; período colonial;
gio sobre a extração de diamantes. 6
trabalho escravo.
c) Região Norte; produção de algodão; período im-
perial; trabalho indígena. 5. Unicamp 2019 Tanto que se viu a abundância do ouro
d) Região Centro-Oeste; mineração; período repu- que se tirava e a largueza com que se pagava tudo o que
lá ia, logo se fizeram estalagens e logo começaram os mer-
blicano; trabalho assalariado.
cadores a mandar às Minas Gerais o melhor que chega nos
e) Região Sudeste; mineração; período colonial; tra-
navios do Reino e de outras partes. De todas as partes do
balho escravo.
Brasil, se começou a enviar tudo o que dá a terra, com lucro
não somente grande, mas excessivo. Daqui se seguiu, man-
3. PUC-RS A nova política colonial posta em prática darem-se às Minas Gerais as boiadas de Paranaguá, e às do
na administração do Marquês de Pombal – Primeiro rio das Velhas, as boiadas dos campos da Bahia, e tudo o
Ministro do Rei D. José I (-) – no Brasil carac- mais que os moradores imaginaram poderia apetecer-se de
terizou-se qualquer gênero de cousas naturais e industriais, adventí-
a) pela formação de companhias privilegiadas com cias e próprias.
o monopólio do comércio colonial e pela centrali- (Adaptado de André Antonil, Cultura e Opulência do Brasil.
Belo Horizonte: Itatiaia-Edusp, 1982, p. 169-171.)
zação da administração.
b) pelo investimento na expansão da lavoura de Sobre os efeitos da descoberta das grandes jazidas
café no Nordeste e de algodão no Sudeste visan- de metais e pedras preciosas no interior da América
do aumentar os rendimentos da Coroa. portuguesa na formação histórica do centro-sul do
c) pelo estímulo ao desenvolvimento de manu- Brasil, é correto armar que:
faturas de tecido nas áreas não propícias ao a) A demanda do mercado consumidor criado na
desenvolvimento da agricultura. zona mineradora permitiu a conexão entre di-
d) pela doação de capitanias privilegiadas no Sul e o ferentes partes da Colônia que até então eram
FRENTE 1

estímulo às iniciativas privadas na colonização. pouco integradas.


e) pelo apoio à ação dos missionários jesuítas no b) A partir da criação de rotas de comércio entre os
Maranhão e no Vale do Rio Amazonas. campos do sul da Colônia e a região mineradora,

95
Sorocaba e suas feiras perderam a relevância d) à ocupação de vastos espaços do território da
econômica adquirida no século XVII. colônia por colonos espanhóis das regiões do
c) O desenvolvimento socioeconômico da região Potosi e do Rio da Prata, quando ocorreu a União
das minas e do centro-sul levou a Coroa a des- Ibérica (1580-1640), época em que reis hispâni-
locar a capital da Colônia de Salvador para Ouro cos governaram o reino de Portugal.
Preto em 1763.
d) Como o solo da região mineradora era infértil, 8. Acafe 2019 A descoberta de ouro no interior do atual
durante todo o século XVIII sua população impor- estado de Minas Gerais gerou um grande desloca-
tava os produtos alimentares de Portugal ou de mento populacional, transferindo parte da população
outras capitanias. colonial do litoral para o interior. Uma série de mu-
danças ocorreu na colônia, dentro do contexto da
6. Acafe 2018 A Revolta de Vila Rica no século XVIII mostrou mineração. Sobre o ciclo do ouro no período colonial
os abusos que as autoridades portuguesas cometiam brasileiro, todas as alternativas estão corretas, exceto
com os mineradores e a população de Minas Gerais. a alternativa:
No contexto dessa revolta é correto armar, exceto: a) A transferência da capital da colônia de Salvador
a) O movimento reivindicava a redução dos preços para o Rio de Janeiro também está inserida no
dos alimentos e o cancelamento da medida que contexto da mineração.
proibia a circulação de ouro em pó. b) A mineração favoreceu o surgimento de núcleos
b) Foi um dos nomes dados à Inconfidência Mineira, urbanos no interior da colônia.
que entre seus participantes teve Joaquim José c) Foi criado um comércio interno com o charque e
da Silva Xavier. outros produtos da pecuária (couro, sebo).
c) Os altos impostos e o rígido controle sobre a ex- d) A riqueza do ouro serviu para proporcionar o
ploração do ouro também contribuíram para o início da industrialização brasileira nas regiões
levante de Vila Rica. Sudeste e Sul.
d) Um dos líderes da revolta foi enforcado e teve seu
corpo esquartejado e exposto em praça pública. 9. Uece 2020 A partir do século XVIII, houve um cres-
cimento da estrutura urbana no Brasil Colônia, com o
7. Uece 2019 Segundo nos informa Darcy Ribeiro (, surgimento de um grande número de vilas e cidades,
p. ), em fins do século XVI, a colônia possuía  cida- devido, principalmente,
des, a maior delas, Salvador, então sede do Governo a) ao crescimento da atividade açucareira em todo o
Geral, contava com aproximadamente  mil habitan- Brasil, após a expulsão dos invasores holandeses.
tes; no final do século XVII, salvador tinha em torno b) ao desenvolvimento da mineração de ouro e
de  mil habitantes e Recife tinha  mil. Ao final pedras preciosas na região de Minas Gerais e à
do século XVIII, enquanto cidades centenárias como pecuária no Nordeste.
Salvador e Recife tinham por volta de  mil e  mil c) ao estabelecimento da industrialização promo-
habitantes, respectivamente, a jovem cidade de Vila vida pela vinda da família real portuguesa para
Rica, hoje Ouro Preto, elevada à categoria de Vila so- o Brasil.
mente em , já possuía cerca de  mil habitantes. d) ao aparecimento da cafeicultura como atividade
RIBEIRO, Darcy. O povo brasileiro: A formação e o sentido do Brasil. São econômica de exportação nas regiões Sudeste
Paulo: Companhia das Letras, 1995, p. 194.
e Nordeste.
O fenômeno demográco do rápido crescimento po-
pulacional de Vila rica (Ouro Preto) no século XVIII é 10. Famerp 2017 A descoberta de ouro, no Brasil do sé-
atribuído culo XVII, provocou, entre outros
a) ao processo de interiorização da colonização a) a formação de núcleos populacionais no interior
portuguesa no Brasil a partir da expansão da da colônia e o pagamento, por Portugal, de parte
atividade pecuarista, por meio das correntes do das dívidas com a Inglaterra.
sertão de dentro, oriunda da Bahia, e do sertão de b) o fim da economia agrícola monocultora e a clara
fora originária de Pernambuco. diferenciação em relação às áreas de coloniza-
b) à grande migração de colonos e de pessoas ção espanhola na América.
oriundas de Portugal para a região que hoje é Mi- c) o início do extrativismo na colônia e a exploração
nas Gerais, em função das descobertas de jazidas dos metais nobres brasileiros por multinacionais
de ouro e pedras preciosas, o que fez surgirem inglesas e norte-americanas.
vários centros urbanos na área. d) o desenvolvimento de ampla produção agrícola
c) ao estímulo ao desenvolvimento da colônia, pro- na região das Minas e a autossuficiência alimentar
movido por Sebastião José de Carvalho e Melo, das áreas mineradoras.
o marquês de Pombal, secretário de Estado do e) a implantação de vasta rede de transportes na re-
Reino, sob o reinado de D. José I, que incentivou gião das Minas e o rápido escoamento do ouro na
a indústria e a educação no Brasil. direção dos portos do Nordeste.

96 HISTÓRIA Capítulo 3 Da crise do açúcar ao apogeu do sistema colonial no Brasil


Exercícios propostos

1. UFPel “(...) da amizade dos índios depende em parte estudado com os jesuítas, conhecia latim. Lutou ao lado
o sossego e a conservação da colônia do Brasil e que dos portugueses e participou da famosa batalha de Porto
se tendo isto em vista deve-se-lhe permitir conservar a Calvo ao lado dos terços de Henrique Dias, enfrentando
sua natural liberdade, mesmo aos que no tempo do rei tropas comandadas pelo próprio Maurício de Nassau.
de Espanha caíram ou por qualquer meio foram cons- Teve reconhecida sua lealdade pelo rei de Portugal que
trangidos à escravidão, como eu próprio fiz libertando lhe concedeu o hábito de Cavaleiro da Ordem de Cris-
alguns. Devem-se dar ordens, também, para que não to, o direito de usar o título de dom e brasão de armas,
sejam ultrajados pelos seus ‘capitães’, ou alugados a com soldo de capitão-mor dos índios.
dinheiro ou obrigados contra sua vontade a trabalhar Ronaldo Vainfas – direção. Dicionário do Brasil Colonial.
nos engenhos; ao contrário deve-se permitir a cada um
viver do modo que entender e trabalhar onde quiser, Felipe Camarão se distinguiu atuando ao lado dos
como os da nossa nação (...).” portugueses:
Fragmento do relatório de Maurício de Nassau aos a) contra os invasores franceses do Rio de Janeiro,
diretores da Companhia das Índias Ocidentais, em 1644. que tentavam criar a França Antártica;
O documento demonstra que, durante b) na luta contra o corsário Duguay-Trouin que sa-
a) a Insurreição Pernambucana, a Companhia das Ín- queou o Rio de Janeiro;
dias Ocidentais era contrária a qualquer trabalho c) no combate que desalojou os invasores france-
escravo na produção açucareira. ses do Maranhão;
b) a União Ibérica, os holandeses proibiram o tráfico d) na guerrilha contra os holandeses que invadiram
de escravos para o Brasil e promoveram a liber- a Bahia;
dade aos indígenas. e) no combate aos holandeses, que haviam atacado
c) o período Colonial, a escravização indígena foi o nordeste do Brasil, com destaque na Insurreição
inexistente, devido aos interesses estratégicos e Pernambucana.
comerciais dos europeus.
d) as ocupações francesas, no nordeste do Brasil, 4. UPF 2016 As invasões holandesas que ocorreram no
ocorreram transformações nas relações dos eu- século XVII foram o maior conflito militar da Colônia. Em-
ropeus com as populações nativas, no que se bora concentradas no Nordeste, elas não se resumiram a
refere ao trabalho cativo. um simples episódio regional. Ao contrário, fizeram par-
e) a ocupação holandesa, no nordeste brasileiro, foi te do quadro das relações internacionais entre os países
combatida a escravização indígena promovida europeus, revelando a dimensão da luta pelo controle do
pelos ibéricos. açúcar e das fontes de suprimento de escravos.
FAUSTO, Boris. História do Brasil. São Paulo: Edusp, 1996, p. 84.

2. Uece 2020 Filipe Camarão, Henrique Dias, André Tendo em vista o quadro histórico descrito acima, con-
Vidal de Negreiros e João Fernandes Vieira são sidere o seguinte:
personagens que participaram da Insurreição Per- I. A Companhia Holandesa das Índias Ocidentais
nambucana, que foi teve como alvo principal a ocupação das zonas
a) um movimento de oposição ao absolutismo de de produção açucareira na América portuguesa.
D. Pedro I e resultou na formação de outro país, II. Domingos Fernandes Calabar, alagoano, tornou-
a Confederação do Equador, durante o primeiro -se colaborador das forças invasoras, até ser
reinado. preso e executado.
b) o conflito entre manifestantes a favor e contra as III. Durante o governo do príncipe Maurício de Nassau,
medidas de austeridade de D. Pedro II, em 1848, ocorreu a vinda de artistas, naturalistas e letrados
na primeira fase do segundo reinado. para Pernambuco, e o Recife conheceu vários me-
c) um movimento separatista pernambucano, ocor- lhoramentos urbanos.
rido no período regencial, entre 1831 e 1840, e IV. Os holandeses defendiam o trabalho livre e pos-
que somente foi pacificado com a ascensão de tulavam pelo fim da escravidão.
D. Pedro II ao trono. V. A reconquista ocorreu porque os brasileiros uni-
d) o conflito responsável pela expulsão dos holan- ram os brancos, os negros escravos e os índios
deses do Nordeste brasileiro, no século XVII, e em prol de Portugal num acordo que ficou conhe-
que garantiu a continuidade do sistema colonial cido como a “união das três raças”.
português na região. Está correto apenas o que se arma em:
a) I e II.
3. ESPM-SP 2019 Antonio Felipe Camarão, ou simples- b) II e III.
FRENTE 1

mente Poti (camarão), na língua tupi, era índio potiguar c) I, II e III.


nascido no Rio Grande do Norte, em 1601. Foi uma d) III, IV e V.
das principais lideranças potiguares do nordeste, havia e) III e V.

97
5. ESPM-SP 2013 Leia os versos de Gregório de Matos b) idealizadas por autoridades coloniais e pelos pri-
abaixo e responda: meiros moradores instalados na Vila de São Paulo,
O açúcar já se acabou? Baixou.
com o objetivo principal de combater os coloniza-
E o dinheiro se extinguiu? Subiu. dores espanhóis que vinham desrespeitando os
Logo já convalesceu? Morreu. limites do Tratado de Tordesilhas e tomando-lhes
À Bahia aconteceu as minas de ouro e prata.
o que a um doente acontece, c) planejadas pelos brancos colonizadores, em-
cai na cama, o mal lhe cresce, preendedores particulares ou encarregados da
baixou, subiu e morreu. Coroa, compostas de dezenas de índios e mes-
tiços contratados para desbravar o “sertão” e
A decadência econômica que afetava a Bahia e o Nor-
viabilizar rotas comerciais de minérios, especia-
deste brasileiro no nal do século XVII decorria:
rias e gado entre as isoladas vilas do interior.
a) da invasão francesa e da devastação da lavoura
d) articuladas e executadas pelos bandeirantes, a
canavieira;
mando da Coroa, da Igreja Católica ou por ini-
b) da região se encontrar então sob a ocupação ho-
ciativa própria, a fim de assegurar o controle
landesa;
c) da concorrência que o açúcar produzido pelos português das minas de ouro e o plantio em terras
holandeses, nas Antilhas, fazia ao açúcar produ- férteis, dizimando índios hostis e fundando vilas
zido no Brasil; jesuíticas para o branqueamento da população.
d) do deslanchar naquele tempo da cafeicultura; e) organizadas e financiadas, respectivamente, pela
e) do fato de a Espanha, que dominava a região na Coroa Portuguesa e por particulares, em busca de
época, ter seu interesse voltado para a extração metais preciosos, do apresamento de indígenas e
da prata em regiões como México e Peru.7 da efetivação da posse das terras por colonizado-
res portugueses.
6. Fuvest 2013 A economia das possessões coloniais
portuguesas na América foi marcada por mercado- 8. IFSC 2016
rias que, uma vez exportadas para outras regiões
do mundo, podiam alcançar alto valor e garantir, aos
envolvidos em seu comércio, grandes lucros. Além
do açúcar, explorado desde meados do século XVI,
e do ouro, extraído regularmente desde fins do XVII,
merecem destaque, como elementos de exportação
presentes nessa economia:
a) tabaco, algodão e derivados da pecuária.
b) ferro, sal e tecidos.
c) escravos indígenas, arroz e diamantes.
d) animais exóticos, cacau e embarcações.
e) drogas do sertão, frutos do mar e cordoaria.

7. PUC-Campinas 2018 Se a obra historiográfica de Sérgio


Buarque de Hollanda foi um olhar para o passado bra- https://parqueibirapuera.org/areas-externas-do-parque-
sileiro a partir da História de São Paulo (as monções, as ibirapuera/monumento-as-bandeiras/
entradas e bandeiras, os caminhos e fronteiras) entre a
O monumento representado na gura acima está lo-
generalidade do ensaio, em Raízes do Brasil, e a sistema-
tização acadêmica de sua produção na USP, a cidade do calizado no Parque do Ibirapuera, na cidade de São
Rio de Janeiro funda um universo poético e um horizonte Paulo, e faz referência às diversas expedições que
criativo inteiramente novos em Chico Buarque, no cru- aconteciam no Brasil no período em que era colônia
zamento das atividades do “morro” (o samba, sobretudo) de Portugal. Sobre essas expedições, relacione as
com as da “cidade” (A Bossa Nova e a vida intelectual do colunas:
circuito Zona Sul). () Entradas
(FIGUEIREDO, Luciano (org). História do Brasil para ocupados. () Bandeiras
Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2013, p. 451.)
() Sertanismo de contrato
As entradas e bandeiras, durante o Período Colonial, () Bandeiras de prospecção
foram expedições: ( ) Expedições de iniciativas particulares com obje-
a) contratadas pelos donatários das capitanias, a fim tivos diversos.
de mapear as populações indígenas que habita- ( ) Expedições com objetivo de combater tribos indí-
vam a região e instalar missões e aldeias visando genas e quilombos.
à sua pacificação, etapa indispensável para o su- ( ) Expedições que tinham como principal objetivo
cesso do empreendimento colonial. encontrar metais e pedras preciosas.

98 HISTÓRIA Capítulo 3 Da crise do açúcar ao apogeu do sistema colonial no Brasil


( ) Expedições patrocinadas pela Coroa ou gover- Considerando o contexto histórico-geográco de
nadores com objetivos diversos, entre eles a produção do soneto, as transformações na paisagem
expansão do território. assinaladas pelo eu lírico relacionam-se à seguinte
atividade econômica:
Assinale a alternativa que contém a sequência COR-
a) indústria.
RETA correspondente ao preenchimento da segunda
b) extrativismo vegetal.
coluna, de cima para baixo.
c) agricultura.
a) 1, 3, 4, 2.
d) extrativismo mineral.
b) 2, 4, 3, 1.
e) pecuária.
c) 2, 3, 4, 1.
d) 1, 4, 3, 2.
11. UFJF 2018 O mapa a seguir constitui-se como um do-
e) 3, 2, 4, 1.
cumento do século XVII e revela o Brasil conhecido e
cartografado naquele contexto. Ao longo dos séculos
9. UEM 2015 Em  eclodiu no Maranhão a Revolta de
XVII e XVIII, muitas atividades propiciaram o aumen-
Beckman. A respeito desta revolta, assinale a(s) alter-
to do espaço conhecido e habitado do território hoje
nativa(s) correta(s).
chamado Brasil.
 A Revolta de Beckman foi uma tentativa de o Es- Este é o Mapa de João Teixeira Albernaz II, intitulado
tado do Maranhão e o do Grão Pará se tornarem Província do Brasil, datado de . Ali é possível ver
independentes de Portugal. o litoral do Brasil, desde a Barra do Pará, até o Rio
 O estopim do conflito foi a elevação de Imperatriz, Grande, incluindo algumas missões jesuíticas na fron-
em 1683, à categoria de vila, por meio de uma teira do Rio da Prata.
Carta Régia. Os senhores de engenho que viviam
em São Luís não aceitaram a medida, pois isso
significava uma diminuição de seus poderes.
 A Revolta relaciona-se à criação, por parte da Co-
roa Portuguesa, da Companhia de Comércio do
Estado do Maranhão, com o objetivo de promover
o desenvolvimento daquela região.
 A Companhia de Comércio do Estado do Mara-
nhão deveria fornecer ao Maranhão ferramentas,
utensílios, gêneros de consumo e escravos, no
entanto não conseguiu estabelecer um comércio
regular na região.
 No contexto da revolta, os jesuítas, contrários à
escravização dos índios pelos moradores do Ma-
ranhão, foram expulsos pelos revoltosos.
Soma:

10. Unesp 2020 (Adapt.) Leia o soneto “VII”, de Cláudio


Manuel da Costa, para responder à questão a seguir.
Onde estou? Este sítio desconheço:
Quem fez tão diferente aquele prado?
Tudo outra natureza tem tomado,
E em contemplá-lo, tímido, esmoreço.
Fonte: Cartografia Biblioteca Nacional, disponível em https://goo.gl/ifakX
Uma fonte aqui houve; eu não me esqueço
De estar a ela um dia reclinado; A respeito da expansão territorial, assinale a alterna-
Ali em vale um monte está mudado: tiva CORRETA:
Quanto pode dos anos o progresso! a) A pecuária desempenhou um importante papel
para o povoamento do Sertão e com o tempo,
Árvores aqui vi tão florescentes, os vaqueiros seguiram o curso dos rios, especial-
Que faziam perpétua a primavera: mente do Rio São Francisco.
Nem troncos vejo agora decadentes. b) O desconhecimento em relação às bacias hidro-
gráficas existentes fez com que a ocupação se
Eu me engano: a região esta não era; mantivesse restrita ao litoral da Colônia.
FRENTE 1

Mas que venho a estranhar, se estão presentes c) Os jesuítas instalaram suas missões na região nordes-
Meus males, com que tudo degenera! te, visto que a Coroa Portuguesa proibia a presença
(Cláudio Manuel da Costa. Obras, 2002.) das aldeias na região ao sul do Rio de Janeiro.

99
d) A colonização portuguesa manteve-se localizada na  o crescimento da produção aurífera nas últimas
região nordeste, permanecendo as terras abaixo do décadas do século XVIII fez com que o governo
Trópico de Capricórnio dominadas pela Espanha. português reduzisse o controle sobre a cobrança
e) Não houve nenhuma ocupação da região da de tributos, garantindo maior tranquilidade políti-
Amazônia, o que fez com que esta parte do Brasil ca na colônia do Brasil.
ficasse inexplorada até o final do século XI13  os artistas setecentistas da região das minas cos-
tumavam ser agrupados como representantes de
12. Uece 2018 Ocorridos entre os meados do século XVII um estilo denominado cubismo mineiro, típico das
até as primeiras décadas do século XVIII, os movimen- Minas Gerais.
tos nativistas apresentam-se como os primeiros sinais Soma:
de uma crise do sistema colonial.
Sobre esses movimentos, é correto armar que
14. FGV-SP 2013 Dom Pedro Miguel de Almeida Portugal –
a) tinham como principal objetivo a separação polí-
conde de Assumar – se casou em 1715 com D. Maria José
tica entre colônia e metrópole, com a autonomia
de Lencastre. Daí a dois anos partiria para o Brasil como
administrativa e a formação de novas nações li- governador da capitania de São Paulo e Minas Gerais.
vres nas regiões onde ocorriam. Nas Minas, não teria sossego, dividido entre o cuidado
b) em Minas Gerais, com a Guerra dos Emboabas e a ante virtuais levantes escravos e efetivos levantes de po-
Revolta de Felipe dos Santos, no Maranhão, com a derosos; o mais sério destes o celebrizaria como algoz:
Revolta dos Beckman, e em Pernambuco, com a In- foi o conde de Assumar que, em 1720, mandou executar
surreição Pernambucana e a Guerra dos Mascates, Felipe dos Santos sem julgamento, sendo a seguir chama-
aparecem as divergências entre os interesses dos do a Lisboa e amargurado um longo ostracismo.
colonos e os da metrópole. SOUZA, Laura de Mello e. Norma e conflito:
c) ocorreram somente em locais que vivenciavam aspectos da história de Minas no século XVIII.
crises econômicas, como o Rio Grande do Sul A morte de Felipe dos Santos esteve vinculada a
(Farroupilha 1835-1845) e Pernambuco (Revolu- a) uma sublevação em Vila Rica, que envolveu vá-
ção Pernambucana de 1817). rios grupos sociais, descontentes com a decisão
d) somente a Confederação do Equador, ocorrida
de levar todo ouro extraído para ser quintado nas
no nordeste brasileiro, pode ser tomada como um
Casas de Fundição.
legítimo movimento nativista, uma vez que não pre-
b) um movimento popular que exigia a autonomia
tendia a separação política em relação a Portugal,
das Minas Gerais da capitania do Rio de Janeiro e
mas, somente, maior autonomia administrativ15
o imediato cancelamento das atividades da Com-
panhia de Comércio do Brasil.
13. UFSC 2015 c) uma revolta denominada Guerra do Sertão,
A peso de ouro comandada por potentados locais, que não acei-
tavam as imposições colonialistas portuguesas,
Mais do que um recurso natural. Mais do que um artigo como a proibição do comércio com a Bahia.
de exportação. O que se descobriu em Minas Gerais depois d) uma insurreição comandada pela elite colonial, inspi-
de dois séculos de colonização foi fortuna em estado puro.
rada no sebastianismo, que defendia a emancipação
CARRARA, Angelo Alves. Revista de História
da Biblioteca Nacional, nov. 2008. Dossiê Ouro. da região das Minas do restante da América portu-
guesa, com a criação de uma nova monarquia.
Sobre a mineração na América portuguesa, é CORRETO e) uma rebelião, que contrapôs os paulistas – des-
armar que: cobridores das minas e primeiros exploradores
 a grande instabilidade social do início da mineração – e os chamados emboabas ou forasteiros – pes-
resultou em diversos conflitos armados, sendo o mais soas de outras regiões do Brasil, que vieram atrás
conhecido deles a chamada Guerra dos Emboabas.
das riquezas de Minas.
 ao contrário da produção açucareira, a exploração
das minas de ouro priorizou o trabalho livre em
15. ESPM-SP 2014 À medida que o século chegava ao fim,
detrimento do uso de mão de obra escrava
agravava-se a tensão entre os comerciantes portugueses
em função dos frequentes temores de fugas e rou-
residentes em Recife e os produtores luso-brasileiros. Esse
bos por parte dos mineradores.
atrito assumiu a forma de uma contenda municipal entre
 com o objetivo de assegurar o controle sobre a
Recife e Olinda, ou seja, entre o credor urbano e o devedor
exploração do ouro, Portugal assumiu a posse
rural. Olinda era a principal cidade de Pernambuco e
das áreas mineradoras e passou a concedê-las
sediava as principais instituições locais. Lá os senhores
em forma de lotes (datas). de engenho tinham suas casas. Por outro lado, o porto de
 a liberdade religiosa, uma das características das Recife, a poucos quilômetros de distância era o principal
sociedades mineradoras, permitiu, ainda no sécu- local do embarque das exportações de açúcar da capitania.
lo XVIII, a instalação de muitas igrejas e templos LOPEZ, Adriana, MOTA, Carlos Guilherme.
de diferentes religiões europeias e africanas. História do Brasil: uma interpretação.

100 HISTÓRIA Capítulo 3 Da crise do açúcar ao apogeu do sistema colonial no Brasil


A tensão mencionada no texto contribuiu para desen- chegada dos africanos escravizados, exercendo
cadear qual das rebeliões coloniais citadas abaixo: importante papel produtivo na colônia.
a) Aclamação de Amador Bueno da Ribeira.  Apesar de colonial, a sociedade da mineração,
b) Revolta de Beckman. que se formou no século XVIII, diferia completa-
c) Guerra dos Mascates. mente da sociedade do açúcar. Urbana, marcada
d) Guerra dos Emboabas. por grande mobilidade social e estruturada a par-
e) Revolta de Felipe dos Santos. tir do trabalho livre e assalariado, pode-se dizer
que nela a escravidão foi meramente assessória.
16. UEPG 2017 Em , um relatório enviado pelo Conse-  A religiosidade foi um dos traços marcantes da
lho Ultramarino ao rei de Portugal definia um quilombo sociedade colonial brasileira. A forte presença
como “toda habitação de negros fugidos, que passem da Igreja Católica foi sentida durante os três sécu-
de cinco, em parte despovoada, ainda que não tenham los da colônia. Importante destacar que também
ranchos levantados e nem se achem pilões nele”. Apesar há grande influência de religiões protestantes
da historiografia atual tratar da existência de quilombos como o luteranismo e o calvinismo, sem contar as
consentidos pelos senhores e nos quais as comunidades religiões de origem africana.
negras gozavam de certa autonomia, o mais comum no  O mulato e o caboclo são personagens típicos da
período colonial brasileiro era a sua caracterização como sociedade colonial. Marcada pela mistura de ra-
estruturas sociais de resistência negra que reuniam des- ças e também de culturas, a sociedade colonial
de pequenos grupos até milhares de negros fugitivos. possui um caráter essencialmente mestiço.
A respeito desse tema, assinale o que for correto. Soma:
 Em que pese expressar a luta pela liberdade e
desafiar a ordem escravocrata, os quilombos não 18. Uece 2017 O início do Séc. XVIII marcou uma
colocaram em risco o sistema de escravidão na co- importante mudança no processo de colonização do
lônia. Prova disso é que no Brasil a abolição ocorreu Brasil pela metrópole portuguesa. A descoberta
após o fim do período colonial, no fim do século XIX. de jazidas de pedras e metais preciosos, no interior do
 Domingos Jorge Velho, português radicado na território, promoveu interiorização do povoamento e
colônia, foi um dos principais defensores da forma- diversas alterações na administração colonial.
ção de quilombos. Era dono de um dos maiores. Sobre esse período, é correto armar que
 Ao longo do período colonial existiram centenas a) apesar de a capital da colônia permanecer no
de quilombos, sendo as regiões dos atuais esta- litoral, diversos núcleos urbanos surgiram nas re-
dos de Pernambuco, Bahia e Alagoas, locais onde giões de exploração mineira tais como Vila Rica,
ocorreram com muita frequência. Diamantina, Sabará e Mariana.
 Durante o domínio holandês em Pernambuco, não b) a mais importante alteração administrativa foi a
se verifica a fuga de escravos nem a formação de transferência da capital da colônia, de Salvador,
quilombos. O fato dos holandeses condenarem a es- na Bahia, para Ouro Preto, em Minas Gerais.
cravidão e estruturarem um modelo social baseado c) a cobrança de impostos sobre a mineração, como
no trabalho livre e assalariado explica tal fenômeno. o “quinto”, praticada pela Intendência das Minas,
 Os quilombos eram locais onde os negros se or- era tolerada pois todos os recursos eram usados
ganizavam social e culturalmente de acordo com na educação e na saúde pública e gratuita para
suas origens, produzindo coletivamente e sobre- os colonos.
vivendo à margem do sistema escravista. d) na atividade mineradora, o uso de trabalho es-
Soma: cravo, muito amplo na economia açucareira, era
quase inexistente, sobressaindo-se o trabalho li-
17. UEPG 2018 Objeto de estudo de diversos historiado- vre de imigrantes europeus.
res, sociólogos e antropólogos, a sociedade colonial
brasileira possui peculiaridades e constitui a base da 19. UEPG 2017 Resultado das pretensões e objetivos
nossa sociedade contemporânea. portugueses nas áreas coloniais, bem como da es-
A respeito desse tema, assinale o que for correto. trutura econômica montada a partir do século XVI, a
 Agrária, patriarcal e escravista, a sociedade colo- sociedade colonial brasileira possui características
nial se estruturou a partir da grande propriedade bastante peculiares. É possível afirmar que, em parte,
e do poder dos donos da terra. Nesse cenário, os o atual modelo social brasileiro reflete aquele que vi-
povoados e vilas tiveram papel secundário, limita- gorou entre os séculos XVI e XVIII.
dos praticamente às funções administrativas. A respeito da sociedade colonial brasileira, assinale o
 Os indígenas, povos originários do território, que for correto.
foram amplamente integrados ao modelo de so-  Na colônia, foi comum o transporte de pessoas
FRENTE 1

ciedade colonial. Inicialmente utilizados como em redes, cadeirinhas ou liteiras. Cabia aos escra-
escravos, os indígenas ascenderam à condição vos, carregar os seus senhores ou outros livres,
de trabalhadores livres e assalariados a partir da neste caso cobrando por tal serviço.

101
 A culinária colonial foi toda baseada na tradição

Marcos Alves Morato/Editora Abril


europeia, não sendo possível falar em integração
das práticas alimentares indígenas ou negras.
Devido ao seu alto preço, o consumo de carne
bovina restringiu-se aos mais abastados.
 Apesar de predominantemente patriarcal, na so-
ciedade colonial, existiram muitas mulheres que
se envolveram em práticas políticas e que ocupa-
ram cargos administrativos.
 Os indígenas foram plenamente integrados ao
modelo social colonial. Considerados homens
livres, eles tiveram papel importante na dinamiza-
ção do comércio interno e na integração territorial
durante a Colônia.
 Apesar de ambas comporem a sociedade colo-
nial brasileira, a sociedade da mineração possui
características diferentes da sociedade do açúcar.
A dinâmica urbana, a existência de profissões es-
a) crise do sistema colonial e eclosão das revoltas
pecializadas e a influência do iluminismo francês
regenciais.
marcaram a experiência mineira.
b) deslocamento do centro administrativo da Colô-
Soma: nia para a cidade de Ouro Preto.
c) exploração econômica das minas de ouro e con-
20. UFSM 2015 A igreja de São Francisco (foto), cons- solidação da agricultura canavieira.
truída em Ouro Preto no século XVIII, é um marco d) ciclo da mineração e decorrente diversificação do
do barroco e da arquitetura brasileira. O contexto sistema produtivo.
histórico que explica a realização dessa obra é cria- e) distanciamento em relação a autoridade colonial
do pelo(a) e consequente maior liberdade de expressão.

Texto complementar

As artes nas Minas Gerais


[...] transformava a obra de arte em um meio de entesouramento. Também contribuía para tamanho dinamismo um traço comporta-
mental típico da sociedade colonial mineira, ou seja, acentuado gosto pela ostentação e pela pompa, de um lado, advindo por herança
dos colonizadores metropolitanos, [...]. Atente-se para o fausto das procissões, relembre-se o luxo e a riqueza dos rituais, perceba-se
a magnificência dos templos, e poderá, então, compreender que se está diante de realidade social onde as artes plásticas e os ofícios
artesanais a ela relacionados tiveram especial relevo e destaque, onde o tempo e as mudanças sociais foram se encarregando de refinar
o gosto das pessoas, existindo por parte dos artistas permanente apuração ou renovação das formas estéticas.
Todas as características aqui apontadas se juntara para identificar em Minas um acentuado espírito competitivo entre essas associa-
ções, que não só disputavam o concurso dos melhores artistas e artesãos para as suas encomendas, como, através deles, procuravam
transformar a grandiosidade ou a beleza de suas obras em um fator de prestígio, de autoafirmação e de destaque, se as compararmos
a outras agremiações. Tais rivalidades, aliás, tiveram inegável saldo positivo, posto que a emulação resultou tanto no aprimoramento do
senso estético como do nível de exigência dos compradores e do público em geral.
BOSCHI, Caio C. O Barroco mineiro: artes e trabalho. São Paulo: Brasiliense, . p. -.

Resumindo
• Com a expulsão dos holandeses e a concorrência com a produção açucareira da região das Antilhas, houve a desvalorização
do açúcar no comércio europeu.
• A expansão territorial na Colônia foi promovida, ao longo do século XVII, como ferramenta de busca de novas alternativas
econômicas para a exploração metropolitana, das quais se destacam: as drogas do sertão, na região amazônica; a pecuária
no sertão nordestino; a fundação da Colônia do Sacramento, no Sul; e, principalmente, as bandeiras.
• O século XVIII foi marcado por uma intensa fiscalização metropolitana sobre a Colônia, o que acabou resultando em uma
série de revoltas denominadas nativistas.
• A mineração foi responsável pelo desenvolvimento da economia no Brasil e do mercado interno, além da integração entre
várias regiões da Colônia.

102 HISTÓRIA Capítulo 3 Da crise do açúcar ao apogeu do sistema colonial no Brasil


Quer saber mais?

Livros FIGUEIREDO, Luciano.Rebeliões no Brasil Colônia. Rio de


DAVIDOFF, Carlos. Bandeirantismo: verso e reverso. São Janeiro: Zahar, 5.
Paulo: Brasiliense, . (Col. Tudo é história) O livro aborda rebeliões na América portuguesa nos sé-
O livro analisa as entradas e bandeiras a partir de pers- culos XVII e XVIII e a relação desses movimentos com a
pectivas que desconstroem mitos relacionados a esses formação da identidade colonial.
fenômenos.
Podcast
BAETA, Rodrigo Espinha. Teoria do Barroco. Salvador: História Pirata # – Barroco: Europa x Brasil com André
EDUFBA, . Honor.
A obra investiga o conceito de Barroco a partir dos fun- Debate sobre o Barroco com André Honor, historiador e
damentos essenciais do conceito. professor da Universidade de Brasília, a partir de diversas
problemáticas relacionadas ao tema.

Exercícios complementares

1. UFJF Leia atentamente o trecho a seguir e, com a) De norte a sul das Américas, o processo de co-
base nele e em seus conhecimentos, responda ao lonização obedeceu a um determinado modelo,
que se pede. o mercantilista, de modo a impedir que, nas co-
“Se pensarmos na história do Brasil (...) veremos que lônias, existissem outras atividades econômicas
nenhum produto, ou atividade desaparece. Às vezes nem não comprometidas com o abastecimento do
mesmo decai, (...). Na verdade, o que aconteceu [no caso mercado externo.
do açúcar] deve ser explicado por fatores que dizem res- b) A abundância de ouro e prata nas regiões co-
peito às condições do mercado consumidor mundial, ao lonizadas pela Espanha levou a metrópole a
nível técnico da produção, à competitividade do produto...” introduzir, nessas colônias, muitas práticas típicas
LINHARES, M. Y. L. História da agricultura brasileira. do feudalismo, como a corveia e as banalidades.
a) Cite e analise dois fatores que levaram à chama- c) No Brasil, a colonização foi compartilhada pela
da “crise do açúcar”, em meados do século XVII. Coroa portuguesa e pela iniciativa privada, o que
b) É correto dizer que existiu um “ciclo do açúcar” no pode ser exemplificado, de um lado, pelo Go-
Brasil? Justifique sua resposta. verno Geral e Vice-Reinado, e, de outro, pelas
capitanias hereditárias, sesmarias, produção de
açúcar e exploração aurífera.
2. UFRJ “Por mais de um século o Brasil foi o principal
d) De todos os movimentos insurrecionais que o
exportador mundial de açúcar. De 1600 a 1650 o açúcar
respondia por 90% a 95% dos ganhos brasileiros com ex-
Brasil conheceu no período colonial, a Conjura-
portações. Mesmo no período em torno de 1700, quando ção Mineira (Inconfidência) foi o de maior apelo
o setor açucareiro declinou, ele continuava a representar popular e o que mais desgastou militarmente as
15% dos ganhos do Brasil com exportações.” forças portuguesas
SKIDMORE, Thomas E. Uma história do Brasil.
São Paulo: Paz e Terra, 1998, p. 36.
4. Uece 2018 Atente ao seguinte enunciado: “Em seu
Explique um fator, externo à América portuguesa, res- governo, Maurício de Nassau incentivou a produção
ponsável pelo declínio relativo do setor açucareiro de açúcar, que havia decaído durante a conquista, com
brasileiro na segunda metade do século XVII. a concessão de nanciamentos; também estimulou a
agricultura de subsistência, sobretudo da mandioca,
3. UnB 2015 Cerca de um século antes de Maquiavel para que não faltassem alimentos aos mais pobres.
publicar sua mais célebre obra, um pequeno país, Por- Homem culto e amante das artes, seu governo foi um
tugal, dava início à saga das grandes navegações. Esse período de tolerância religiosa entre católicos e pro-
ciclo de viagens ultramarinas, ao qual outros países se testantes. Seu retorno à Europa e sua substituição por
incorporaram, ligou a Europa à África, à Ásia e ao Novo um ‘triunvirato’ – que alterou suas práticas administra-
Mundo, a América. O sistema colonial dele decorrente tivas – fez surgir reações e insurreições por parte dos
desempenhou importante papel para a nova congu- senhores de engenho”.
ração econômica da Idade Moderna, que, a partir da O enunciado se refere ao período histórico marcado
Europa, se disseminava pelo mundo. A crise desse sis- a) pela implantação do Governo-Geral, em 1548,
tema coincidiu com a crise do Antigo Regime europeu, como forma de resolver o fracasso administrativo
com o colapso das práticas econômicas mercantilistas das Capitanias Hereditárias e garantir a posse e a
FRENTE 1

e do absolutismo político, a partir de ns do século XVIII. pacificação da Colônia.


Em relação a esse cenário histórico de profundas b) pelo domínio francês no Maranhão, no qual o go-
transformações, assinale a opção correta. verno do Conde Nassau trouxe grandes avanços

103
à cultura canavieira daquela região e o desenvol- b) Defina duas características do mito do bandeirante
vimento da cidade de São Luís. construído entre o final do século XIX e primeira me-
c) pelo domínio francês no Rio de Janeiro, que teve na tade do século XX por grupos paulistas e explique
figura de Maurício de Nassau seu grande nome, res- duas razões que levaram a essa construção. Em se-
ponsável por desenvolver a economia e a cidade guida, aponte uma crítica feita a essa mitologia.
de São Sebastião do Rio de Janeiro.
d) pelo domínio holandês no Nordeste do Brasil, que 7. UFMG 2013 Analise este mapa:
se estendeu desde a Bahia até o Maranhão e
Bandeiras e Expedições
que teve na administração de Nassau seu perío-
do de maior desenvolvimento.
de Apresamento (1550-1720)

5. Fuvest Observe a seguinte foto.

Imagens das estátuas de Antônio Raposo Tavares (esq.) e Fernão Dias Pais
(dir.), existentes no salão de entrada do museu Paulista, São Paulo.

Essas duas estátuas representam bandeirantes pau-


listas do século XVII e trazem conteúdos de uma
mitologia criada em torno desses personagens histó-
ricos.
a) Caracterize a mitologia construída em torno dos
bandeirantes paulistas.
b) Indique dois aspectos da atuação dos bandeiran-
MONTEIRO, John Manuel. Negros da Terra: Indios e bandeirantes nas origens
tes que, em geral, são omitidos por essa mitologia de São Paulo. São Paulo: Companhia das Letras, 1994, p. 13. (Adaptado).

6. UFPR 2019 Leia o excerto abaixo, retirado de artigo A partir da análise do mapa e considerando outros co-
sobre a construção da mitologia referente à figura e à nhecimentos sobre o assunto,
atuação dos bandeirantes no Brasil: a) EXPLIQUE um motivo para as Expedições de
Apresamento.
Delineou-se com toda a clareza [...] uma preocupação
b) CITE dois processos históricos decorrentes das
ao mesmo tempo historiográfica e ideológica, presente prin-
Expedições de Apresamento.
cipalmente na obra de historiadores paulistas da primeira
c) COMPARE o tratamento dado aos povos indíge-
metade do século XX, em estudar a formação da população
nas por parte das Expedições de Apresamento e
paulista a partir da biografia de seus antepassados ilustres,
das Missões jesuíticas.
encarnados na figura do bandeirante.
SOUZA, Ricardo Luiz de. A mitologia bandeirante: construção e sentidos.
História Social, Campinas, SP, n. 13, 2007, p. 161.
8. Famerp2021 (Adapt.)Leia o texto para responder à
questão
A partir dos conhecimentos sobre o período colonial Os protestos antirracismo iniciados nos Estados
da América Portuguesa (séculos XVI a XIX) e sobre Unidos após a morte de George Floyd por um policial
o período referido no excerto (a primeira metade do colocaram o mundo em polvorosa no final de maio. Além
século XX no Brasil): dos protestos em solo americano, cidadãos de diversas
a) Cite 2 principais atividades das bandeiras no perío- nações intensificaram a discussão acerca do racismo e
do colonial da América Portuguesa. resolveram pôr as mãos na massa — literalmente.

104 HISTÓRIA Capítulo 3 Da crise do açúcar ao apogeu do sistema colonial no Brasil


No último dia 7, em Bristol, Inglaterra, uma multi- b) nessas incursões não havia nenhuma participação
dão enfurecida derrubou de seu pedestal a estátua do de indígenas entre os integrantes das bandeiras;
traficante de escravos EdwardColstone a jogou no rio c) o objetivo primordial dos bandeirantes paulistas
da cidade. O ato foi um protesto contra a reverência era apresar “negros da terra” para a exportação
a personalidades históricas cuja conduta é atualmente dessa mão de obra para a Europa;
considerada condenável. d) os ataques dos bandeirantes paulistas aos je-
Na Bélgica, os moradores da cidade de Antuérpia
suítas castelhanos eram uma resposta contra a
agiram de forma parecida. Na semana passada, os belgas
postura da Espanha que naquele momento apoia-
vandalizaram e removeram a estátua do rei Leopoldo II,
va a invasão holandesa ao Brasil;
lembrado sobretudo por ter colonizado o Congo Belga.
[…] e) as incursões dos bandeirantes paulistas contra as
O Brasil não ficou para trás na discussão — e nem missões jesuíticas de Guairá e Tapes ocorreram
poderia, diante do fato de ter sido o país das Américas que após o Tratado de Madri.
mais recebeu escravos entre os séculos XVI e XIX. Aqui,
estátuas de personalidades históricas que atualmente se- 10. Unicamp (Adapt.) O aprisionamento de indígenas pelos
riam julgadas pelos mais diversos crimes habitam cidades bandeirantes foi uma forma de obter mão de obra para
de todos os tamanhos. a lavoura e para o transporte. No litoral, o preço dos in-
BRITO, Sabrina. “Derrubada de estátuas: vandalismo ou reparação dígenas era bem menor que o dos escravos negros – o
histórica?” https://veja.abril.com.br, 9 jun. 2020.
que interessava aos colonos menos abonados. O sistema
de apresamento consistia em manter boas relações com
No caso brasileiro, alguns dos principais alvos de pro- uma tribo indígena e aproveitar seu estado de guerra qua-
testos são as estátuas e monumentos dedicados a se permanente com seus adversários, para convencê-Ia a
a) políticos associados a casos de corrupção, uma Ihes ceder os vencidos, os quais costumeiramente eram
vez que dilapidaram os recursos financeiros do devorados em rituais antropofágicos.
país, inviabilizando a superação da crise econô- Adaptado de Laima Mesgravis. “De bandeirante a fazendeiro”.
In: Paula Porta (org.), História da cidade de São Paulo: a cidade colonial,
mica e a implementação de programas sociais. 1554-1822. São Paulo: Paz e Terra, 2004. vol. 1. p. 117.
b) presidentes do período militar brasileiro, uma
vez que lideraram a ação repressiva contra os a) O que foram as bandeiras?
opositores, consolidando um regime de caráter b) Por que o aprisionamento dos indígenas interes-
ditatorial no país. sava aos bandeirantes e aos colonos?
c) jesuítas que atuaram nas missões e reduções
indígenas da colônia, uma vez que converteram 11. Fuvest As interpretações históricas sobre o papel dos
os nativos ao catolicismo, impedindo a livre ex- Bandeirantes nos séculos XVII e XVIII apresentam,
pressão da religiosidade e das manifestações de um lado, a visão desses paulistas como heróis e, de
culturais desses povos. outro, como vilões. A partir dessa afirmação, discorra
d) militares e civis que participaram da Guerra do sobre
Paraguai, uma vez que o conflito provocou a a) os bandeirantes como heróis, ligando-os à ques-
dizimação de parte da população, destruindo tão das fronteiras.
econômica e socialmente o país vizinho. b) os bandeirantes como vilões, ligando-os à ques-
e) bandeirantes, uma vez que atuaram na captura de tão dos índios.
nativos e na destruição de quilombos, contribuin-
do para a ampliação e manutenção do trabalho 12. FGV-SP “O missionário que se volta para o índio, pre-
compulsório na colônia. ga-lhe em tupi e compõe autos devotos (e, por vezes,
circenses) com o fim de convertê-lo, é um difusor do sal-
9. ESPM-SP 2015 As incursões dos bandeirantes paulistas vacionismo ibérico para quem a vida do selvagem estava
às missões dos jesuítas castelhanos do Guairá multipli- imersa na barbárie (...).”
caram-se a partir do século XVII. Paulistas e guerreiros BOSI, A. Dialética da colonização, São Paulo,
tupiniquins enveredavam pelo Caminho do Peabiru, ve- Companhia das Letras, 2000, p. 92.
lha trilha tupi, rumo ao Guairá, território situado entre
Entre os diversos aspectos que caracterizaram a pre-
os rios Paranapanema, Iguaçu e Paraná. Nessa região de
posse duvidosa, dado que os portugueses sempre consi- sença dos jesuítas no Brasil colonial estão:
deraram que a linha de Tordesilhas passava pelo estuário a) A defesa da tolerância religiosa, o combate à
do Prata, os jesuítas espanhóis haviam criado entre 1622 escravização de negros africanos e o desenvolvi-
e 1628 onze missões. mento de eficientes métodos pedagógicos.
b) A política missionária, o alargamento das frontei-
Adriana Lopez e Carlos Guilherme Mota. História do Brasil: uma interpretação.
ras da fé cristã e a ação educativa desenvolvida
Quanto ao assunto tratado no texto é correto assinalar: em seus colégios.
FRENTE 1

a) as incursões dos bandeirantes às missões je- c) A aceitação das práticas religiosas indígenas, a
suítas visavam apresar indígenas aldeados em inflexível imposição do idioma português e a pers-
grupos numerosos e habituados ao trabalho rural; pectiva salvacionista.

105
d) A condenação do uso de imagens nas celebrações Cite a principal atividade econômica que condicionou
litúrgicas, a tradução da Bíblia para o tupi e o distan- o surgimento dos caminhos da Estrada Real e identi-
ciamento das orientações do Concílio de Trento. que dois interesses da Coroa portuguesa em controlar
esses caminhos, no decorrer do século XVIII.
13. UFMG No início do século XVIII, em Pernambuco e
em Minas Gerais, dois conflitos – respectivamente, 15. Unicamp 2012 Durante o século XVIII, a capitania
a Guerra dos Mascates e a Guerra dos Emboabas – de São Paulo sofreu grandes transformações territoriais
opuseram grupos que já se consideravam naturais da e administrativas. Em 1709, nasceu a capitania de São
terra a portugueses e outros recém-chegados. Paulo e das Minas do ouro, abrangendo imenso territó-
EXPLICITE as razões que levaram esses grupos a se rio correspondente à quase totalidade das atuais regiões
enfrentar na Sul, Sudeste e Centro-Oeste, à exceção da então capi-
a) Guerra dos Mascates. tania do Rio de Janeiro e do Espírito Santo. Até 1748,
b) Guerra dos Emboabas. sucessivos desmembramentos formaram as regiões de
Minas, Santa Catarina, Rio Grande de São Pedro, Goiás
e Mato Grosso. O novo capitão-general, mais conheci-
14. Uerj 2012 do como Morgado de Mateus, foi diretamente instruído
pelo futuro Marquês de Pombal a ocupar-se da fronteira
oeste ameaçada pelos espanhóis e a fomentar a produ-
ção de gêneros de exportação.
Adaptado de Ana Paula Medicci, “São Paulo nos projetos de império”,
em Wilma Peres Costa e Cecília Helena de Oliveira, De um império
a outro: formação do Brasil, séculos XVIII e XIX.
São Paulo: Hucitec/Fapesp, 2007, p. 243.

a) Cite duas atividades econômicas que sustenta-


vam a capitania de São Paulo no século XVIII.
b) Considerando a política territorial na América
Portuguesa nos séculos XVI e XVII, comente as
mudanças significativas do século XVIII nesse
aspecto.

16. Fatec 2014 Durante o período colonial, a explora-


ção de trabalhadores escravos de origem africana foi
fundamental para o desenvolvimento das atividades
produtivas em toda a América Portuguesa.
(http://www.palmares.gov.br/2008/06/livro-valoriza-historia-afro-brasileira-
do-ciclo-deouro/ Acesso em: 08.01.2014. Adaptado)

No ciclo do ouro, no século XVIII, os escravos não


foram responsáveis apenas pela parte braçal, mas também
pelo desenvolvimento de técnicas que nunca tinham sido
aplicadas na região de Minas Gerais como, por exemplo, a
http://direitomonarquicodobrasil.blogspot.com
técnica das canoas (que eram lavadouros, espécies de me-
A Estrada Real, nos dias de hoje, é a reunião dos vários sas) em que se depositava o cascalho retirado dos rios ou
caminhos construídos no Brasil-Colônia, principalmente tabuleiros em pequenos montes para ser lavado e apurado.
nos séculos XVII e XVIII, para o transporte das riquezas do (http://www.palmares.gov.br/2008/06/livro-valoriza-historia-afro-brasileira-
interior para o litoral do Rio de Janeiro, de onde seguiam do-ciclo-deouro/ Acesso em: 08.01.2014. Adaptado)

para a metrópole portuguesa. São 1.512 km que permitem Considerando os elementos apresentados, é correto
mergulhar na história brasileira. A circulação de pessoas, concluir que a mineração no período colonial
mercadorias e riquezas era obrigatoriamente feita por a) reproduzia o modelo de extração trazido pelos
aqueles caminhos, constituindo crime de lesa-majestade colonizadores portugueses.
a abertura de outros não autorizados pela administração
b) agregava procedimentos técnicos desenvolvidos
metropolitana.
pelos escravos africanos.
Adaptado de http://360graus.terra.com.br
c) dependia de grandes máquinas extratoras impor-
A expansão da colonização na América portugue- tadas da Europa.
sa, nos séculos XVII e XVIII, ocasionou o surgimento d) visava à exploração do ouro, abundante nas re-
de novas atividades econômicas, de núcleos de po- giões litorâneas.
voamento e de caminhos e estradas, como os que e) era prejudicada pela inexperiência dos escravos
compuseram a Estrada Real. nas minas.

106 HISTÓRIA Capítulo 3 Da crise do açúcar ao apogeu do sistema colonial no Brasil


17. UFU Os historiadores são quase unânimes em reconhecer que a atividade mineradora do século XVIII resultou numa forma
específica de colonização que a diferenciava do resto do Brasil.
FARIA, Sheila de Castro. Dicionário do Brasil Colonial. Rio de Janeiro: Objetiva, 2000, p. 397.

Considere o contexto histórico da América portuguesa, no que se refere à sociedade e à economia colonial
do século XVIII, e diferencie esta forma de colonização daquela realizada no Nordeste açucareiro, dos séculos
XVI e XVII.

18. UFG Leia o fragmento a seguir: [...] pois que sendo menor o número das fábricas de mineirar que ficam ao sul de São Félix,
elas renderam ao quinto na Casa Real de Fundição, em 1777, 216 marcos de ouro, e as do norte, 38 marcos. Isso demonstra
que, apesar da maior extensão do terreno e o maior número de escravos ocupado no exercício de mineirar, há muito extravio
do ouro e a necessidade de empregar a maior vigilância para evitar esse roubo no norte.
Relatório do governador José de Vasconcelos. In: PALACÍN, Luís et al. “História de Goiás em documentos”.
Goiânia: Ed. da UFG, 2001. p. 97-98. [Adaptado].

O documento acima ressalta as diculdades da coleta do tributo régio do quinto. No que se refere à mineração na
capitania de Goiás colonial e ao controle da extração aurífera,
a) explique a razão da diferença de arrecadação do quinto entre as regiões mineradoras do norte e do sul;
b) analise a função desempenhada pelas duas Casas Reais de Fundição (Vila Boa e São Félix).

19. FGV-SP 2015 [...] se o interesse da Coroa estava centralizado na atividade minerária, ela não poderia negligenciar outras
atividades que garantissem sua manutenção e continuidade. É nesse contexto que a agricultura deve ser vista integrando
os mecanismos necessários ao processo de colonização desenvolvidos na própria Colônia, uma vez que, voltada para o
consumo interno, era um meio de garantir a reprodução da estrutura social, além de permitir a redução dos custos com
a manutenção da força de trabalho escrava.
Guimarães, C. M. e REIS, F. M. da M. “Agricultura e mineração no século XVIII”, in Resende, m.e.l. e VILLALTA, L.C. (orgs.) História
de Minas Gerais. As minas setecentistas. Belo Horizonte: Autêntica Editora/Companhia do Tempo, 2007, p. 323.

Assinale a alternativa que interpreta corretamente o texto.


a) Para o desenvolvimento das atividades de exploração das minas foi decisiva a permissão dada pela metrópole
ao desenvolvimento técnico e industrial da região.
b) Os caminhos entre as minas e Salvador, além de escoar a produção mineradora e permitir a entrada de escravos,
ficaram marcados pelo aparecimento de importantes vilas e povoados.
c) A produção agrícola na região das minas desenvolveu-se a ponto de se tornar um dos principais itens da pauta
de produtos exportados no período colonial.
d) Apesar do crescimento da agricultura e da pecuária, o mercado interno não se desenvolveu no Brasil colonial,
cuja produção se manteve estritamente voltada ao mercado externo.
e) As atividades agrícolas e a pecuária desenvolveram-se de certo modo integradas ao desenvolvimento da mine-
ração e da urbanização da região mineradora.

20. UnB (Adapt.) Em termos de contribuição para o ordenamento territorial, sobressai, na Região de Influência da Estrada Real,
o processo de ocupação e de constituição de núcleos pioneiros de atividade econômica — como foram os polos de minera-
ção —, e a criação e a organização de aldeias, vilas e cidades, muitas das quais incorporavam arruamentos, infraestruturas,
serviços básicos e técnicas construtivas do mais elevado nível tecnológico, equivalente àquele prevalente no Portugal de
correspondente época.
G.D. Calaes; G.Ferreira (Eds). A estrada real e a transferência da corte portuguesa. Programa Rumys – Projeto Estrada Real. Rio de Janeiro:
CETEM/MCT/CNPq/CYTED, 2009, p. 36 (com adaptações).

A partir das informações acima, julgue os itens seguir.


a) No século XVIII, o desenvolvimento da economia mineradora na região da Estrada Real foi acompanhado de
significativos movimentos populacionais e culminou com o deslocamento do eixo administrativo e econômico
do Brasil colônia para a região Centro-Sul. É nesse contexto que se pode entender a transferência da capital do
Vice-Reinado do Brasil, de Belém para o Rio de Janeiro, em 1763.
b) No século XVIII, no Centro-Sul do Brasil Colônia, onde se encontram atualmente as cidades de Goiás e
Pirenópolis, surgiu a capitania de Goiás. O modelo de organização urbana e econômica utilizado nas ci-
dades dessa capitania, que esteve na Região de Influência da Estrada Real, serviu de base para a criação
do Distrito Diamantino, retardatário com relação ao processo de expansão da atividade de extrativismo
mineral no Brasil.
FRENTE 1

107
BNCC em foco
EM13CHS104

1.

Síntese entre erudito e popular


Na região mineira, a separação entre cultura popular
(as artes mecânicas) e erudita (as artes liberais) é marcada
pela elite colonial, que tem como exemplo os valores eu-
ropeus, e o grupo popular, formado pela fusão de várias
culturas: portugueses aventureiros ou degredados, negros e
índios. Aleijadinho, unindo as sofisticações da arte erudita
ao entendimento do artífice popular, consegue fazer essa
síntese característica deste momento único na história da
arte brasileira: o barroco colonial. a)

b)

a)
c)

b)

c)
d)

d)

e) e)

EM13CHS104
2.

EM13CHS2O

3. Todos os anos, multidões de portu-


gueses e de estrangeiros saem nas frotas para ir às minas.
Das cidades, vilas, plantações e do interior do Brasil
vêm brancos, mestiços e negros juntamente com muitos
ameríndios contratados pelos paulistas. A mistura é de
pessoas de todos os tipos e condições; homens e mu-
lheres; moços e velhos; pobres e ricos; fidalgos e povo;
leigos, clérigos e religiosos de diferentes ordens, muitos
dos quais não têm casa nem convento no Brasil.

a)
b)
c)
d)
e)

HISTÓRIA Capítulo 3 Da crise do açúcar ao apogeu do sistema colonial no Brasil


Théodore Chassériau. Alexis de
Tocqueville, . Óleo sobre
tela. Palácio de Versalhes, França.

FRENTE 2

CAPÍTULO História e Pré-história

1
Na pintura apresentada, você pode ver o filósofo francês Alexis de Tocqueville (1805-
-1859). Em seu livro A democracia na América, de 1835, ele reafirmou a importância
de estudar História: “Quando o passado não mais ilumina o futuro, a mente humana
caminha nas trevas”. Para ele, o estudo da história é fundamental para compreendermos
o mundo que nos cerca e, assim, caminharmos adiante. Para você, o que é História?
E qual é a importância dos estudos em História? Como eles podem auxiliar nos-
sa compreensão do mundo? Neste primeiro capítulo, discutiremos a importância do
conhecimento histórico e, em seguida, apresentaremos, em linhas gerais, o período
conhecido como “Pré-história”.
História: e nós com isso? Os tempos do historiador
O que é História? O historiador, portanto, privilegiaria o estudo do ser
humano através do tempo. Certamente, esse tempo não
Em 1939, começava a Segunda Guerra Mundial (1939-
é estável e linear, mas uma rede complexa que envolve,
-1945) e, em 1940, as tropas nazistas de Hitler, com seus
de um lado, o perecimento e a transformação de todas as
tanques e soldados, entravam na França. Enquanto isso, um
coisas e, de outro, nossas próprias percepções.
professor de História Medieval da renomada Universidade
Assim como Marc Bloch, outro historiador francês
Sorbonne, no mesmo país, deixou a direção da publica-
chamado Fernand Braudel (1902-1985) também foi
ção Revue des Annales para lutar contra as tropas alemãs.
preso pelos nazistas em um campo perto de Lübeck, na
Seu nome era Marc Bloch (1886-1944). Ele já havia lutado
Alemanha. Braudel sobreviveu e tornou-se um grande
na Primeira Guerra Mundial (1914-1918) e era um histo-
historiador das gerações seguintes. No campo de con-
riador consagrado, pois havia escrito o clássico Os reis
centração, aliás, redigiu o clássico O Mediterrâneo e o
taumaturgos sobre a crença de que monarcas medievais e
Mundo Mediterrânico na Época de Filipe II. Inclusive, ele
modernos poderiam curar doenças com as mãos. Durante
esteve no Brasil entre 1935 e 1937 e auxiliou na fundação
a guerra, Bloch foi detido pela polícia secreta nazista, a
dos primeiros cursos de História do país, na Universidade
Gestapo. Em seguida, foi torturado e fuzilado.
de São Paulo (USP).
Braudel afirma que o tempo experenciado pelo historia-
Coleção particular

dor está longe de ser linear. Existiria, segundo ele, um tempo


de curta duração: o tempo das nossas atividades diárias,
do noticiário, do nosso dia a dia. E, em meio ao cotidiano,
reproduzimos costumes de séculos e milênios atrás: utiliza-
mos garfo e faca, lemos livros em papel e falamos uma língua
derivada do latim. Essas são as temporalidades de longa
duração. Por último, experenciamos ciclos de expansão e
recessão econômica e vivenciamos regimes políticos, como
a democracia brasileira, que existe há poucas décadas,
ou seja, os tempos de média duração. Nossa experiência
de vida é atravessada por essas várias temporalidades. O
historiador, então, deve lidar com toda essa complexidade
do passado.
É preciso que os historiadores entendam, ao máximo,
os seres humanos do passado em seu próprio tempo.
Em outras palavras, seria um erro do historiador atribuir
a pessoas de outras épocas as próprias demandas e
os próprios pensamentos, sem compreendê-los nos
próprios termos. Isso é denominado anacronismo (do
prefixo a, ausência, e chronos, tempo) e, como o próprio
nome já diz, representa a falta de compreensão com os
seres humanos do passado, o que, em última instância,
é uma incompreensão da própria dinâmica do tempo.
O historiador Marc Bloch foi um dos fundadores do movimento
Por exemplo, comparar o “pão e circo” de Roma com
historiográfico chamado Escola dos Annales.
as políticas sociais da atualidade é um caso grave de
Antes de ir à guerra, Marc Bloch estava escrevendo anacronismo, pois são ideias distintas, com propósitos
um livro sobre o ofício do historiador. Da obra, nunca fi- e de épocas também distintos.
nalizada, restaram apenas fragmentos. Nesse pequeno
clássico, que está publicado em português como Apologia História é investigação
da História, o autor se pergunta: o que é o conhecimento Contar histórias faz parte da existência humana. Con-
em História? tamos histórias de nossa vida para filhos e amigos para
Para Bloch, a História é uma ciência, afinal ela tem um afirmar e fortalecer nossos elos como sociedade.
objeto de estudo, métodos sólidos e critérios refinados de A palavra “história” é de origem grega e significa co-
verificação da verdade. Além disso, a História, diferentemen- nhecimento através da investigação.
te da Biologia ou da Química, tem como objeto de estudo Na Grécia Antiga, Heródoto deu o nome de Histórias
os seres humanos; e, mesmo quando a História se dedica a às suas narrativas sobre as guerras travadas entre gregos,
pensar a natureza ou os objetos, ela o faz em função de sua persas e as sociedades de sua época. O que a história de
relação com a nossa espécie, a dos Homo sapiens. Heródoto tinha de distinto das “histórias sagradas” que do-
Assim, a História é uma ciência humana. E qual seria minavam até então? Para ele, não havia uma história única
a especificidade da História? A resposta é: a análise das e sagrada; pelo contrário, havia muitas histórias, de povos
sociedades humanas através do tempo. diversos, e elas estariam envolvidas em falsidades e boatos.

110 HISTÓRIA Capítulo 1 História e Pré-história


Então, caberia ao historiador a investigação do que seria o Esses grandes nomes do século XIX, em muitos ca-
mais correto. Para Heródoto, o historiador deveria: sos, definiram os conceitos que utilizamos até hoje para
refletirmos sobre o passado. Ranke, por exemplo, foi o
) salvar do esquecimento as almas dos seres humanos
primeiro a utilizar, de um ponto de vista historiográfico,
no curso do tempo; e
a expressão “Contrarreforma”, para se referir à resposta
) fazer uma narrativa no “tempo”, e não no “tempo dos
da Igreja Católica ao avanço do protestantismo. Jacob
deuses”, isto é, despida de mitologias e baseada em
Burckhardt (1818-1897) foi o primeiro estudioso a defen-
uma investigação.
der que teria existido um “Renascimento”. Jules Michelet
Heródoto, inclusive, realizou muitas viagens investiga- (1798-1874) criou as cronologias da Revolução Francesa
tivas. Nelas, ele buscou, entre várias narrativas distintas, utilizadas até os dias atuais.
aquela que seria mais fidedigna. Os historiadores do século XIX eram bastante di-
Outro historiador grego, Tucídides, vai além: em sua versos e complexos. O filósofo Benedetto Croce
História da Guerra do Peloponeso, defendeu que, em vez (1866-1952), certa vez, disse que “toda história é his-
de escrever histórias a partir do que “escutou”, ele faria tória contemporânea”. Os estudos que fazemos sobre
uma “autópsia”, ou seja, descreveria uma história a partir o passado, concordemos ou não, são muito influencia-
do que viu. dos por demandas e limites do nosso presente. Afinal,
Muito mudou desde Heródoto e Tucídides, mas algo quando fazemos uma investigação histórica, nosso ob-
continua válido: o historiador constrói os seus relatos a partir jetivo é responder a alguma pergunta predeterminada,
de uma minuciosa investigação. Um dos principais historia- que se relaciona com nossas próprias demandas – sem
dores contemporâneos, Carlo Ginzburg (1939-), assemelha desconsiderar as ideias da época analisada, como men-
o seu trabalho em busca de fios e rastros ao trabalho de cionado. No século XIX, os Estados Nacionais estavam
um detetive. Todo o conhecimento do historiador, assim, em gestação. Dessa forma, o assunto mais estudado pe-
é amparado em fontes primárias, isto é, em documenta- los historiadores do período era a História Política. Na
ção da época estudada. Essas fontes podem ser dos mais atualidade, os estudos sobre a história das mulheres e a
variados tipos: manuscritos, textos impressos, evidências história das populações negras estão em alta, dado que
arqueológicas, relatos orais etc. essas são questões muito prementes.
É por isso que o trabalho do historiador não é opinião:

European University Institute, Florença, Itália


tudo o que diz sempre deve estar amparado por evidências
dos mais diversos tipos e ancorado em uma metodolo-
gia específica. Da mesma forma, o trabalho do historiador
também não é um dogma, pois, a todo momento, novas
documentações, fontes, metodologias e perspectivas mu-
dam o nosso conhecimento sobre o passado.

Saiba mais

FRENTE 2

Michelle Perrot (1928-) é um dos grandes nomes no estudo da história das


mulheres. Foto de 2016.
O advento da História como ciência
Apesar de o conhecimento histórico ser tão antigo No século XIX, foi predominante uma forma específi-
quanto a espécie humana, foi apenas no século XIX que ca de História Política: a que tratava de reis, diplomatas,
a História se tornou uma disciplina universitária específica. estadistas e guerras. Já no século XX, outros tipos de
Tal fato aconteceu na Alemanha, com nomes como o his- História passaram a ser construídas: a História Econômica,
toriador Leopold von Ranke (1795-1886). a História Intelectual, a História Social e a História Cultural.

111
A historiadora Élisabeth Badinter (1944-), por exemplo, No século XXI, ganham espaço ainda outros tipos de
estudou a história do amor materno; o historiador Luiz história, como a História Natural e os estudos da história
Mott (1946-), a história da homossexualidade; o historiador homem-animal. Com a digitalização da documentação, os
Philippe Ariès (1914-1984), a história da infância; histo- historiadores conseguem encontrar fontes com maior faci-
riadores como Robert Darnton (1939-) e Roger Chartier lidade e fazer outros tipos de levantamentos e estatísticas.
(1945-) analisaram a história da escrita e da leitura; Carlo Outro campo de estudos também em alta hoje é a chamada
Ginzburg (1939-), por meio do que chamamos de micro- História Pública, que não visa apenas tornar o conhecimen-
-história, buscou revelar grandes elementos do passado to em História acessível ao grande público, mas também,
estudando casos e pessoas específicas. Walter Benjamin como pontuou o historiador Bruno Leal, “fazer com que os
(1892-1940), por exemplo, propôs, no início do século XX, diversos segmentos da sociedade participem da construção
o estudo de uma “história dos vencidos”, que Georges deste conhecimento”.
Lefebvre (1874-1959) chamou de “história vista de baixo”,

Coleção particular
isto é, do ponto de vista daqueles que sofreram e foram
oprimidos de alguma maneira. Os campos da historiografia,
assim, ampliaram-se conforme o passar das décadas.

Saiba mais

Benjamin reconhece que o conhecimento histórico


é transmitido e exploradoatravés de sua narração. O que
se conhece sobre determinados períodos históricosestá
essencialmente ligado ao ponto de vista que se dispõe
materialmente a contarsobre este recorte. A disposição
material que embasa esta descrição é possível de setor-
nar efetiva, consequentemente, quando se trata daquele
lado cuja transmissão foiviabilizada por seu “sucesso
histórico”, ou, para usar termos benjaminianos, por
sua“vitória”. Nesse sentido, pode-se dizer que o discurso
tradicional da história constróiem seu desenvolvimen-
to uma “tradição dos vencedores”. Longe de se portar O historiador de Trindade e Tobago Cyril Lionel Robert James (1901-1989)
escreveu uma história do ponto de vista das populações escravizadas do
como algoespontâneo ou desinteressado, o que cerceia
Haiti, em seu clássico Os jacobinos negros, da década de 1930.
esse processo são a violência e o poderque garantem o
estabelecimento perpétuo dos detentores da “ação histó-
rica” efetiva.O que faz com que uma guerra represente A periodização e suas questões
sempre o mesmo jogo onde os personagens,o cenário Tradicionalmente, a história foi dividida pelos franceses
e o objetivo permanecem sempre os mesmos. De modo em cinco períodos:
contrário a essa“naturalização” dos acontecimentos, y Pré-história, do surgimento dos hominídeos (em tor-
Walter Benjamin aponta para o que se denomina“tra- no de 1,9 milhão a.C.) ao “aparecimento” da escrita na
dição dos vencidos”, ou seja, a mobilização das forças
Mesopotâmia (3300 a.C.);
que foram silenciadas, quesucumbiram ao domínio da
y História Antiga, do “aparecimento” da escrita à
violência do vencedor.
queda do Império Romano do Ocidente (3300 a.C.-
A história tradicional, segundo Benjamin, é um -476 d.C.);
cortejo de triunfo dos vencedores que avança austera- y História Medieval, da queda do Império Romano à
mente e se ergue sob os destroços daqueles que foram queda do Império Bizantino (476-1453);
vencidos. O passado é o lugar no qual o sofrimento e y História Moderna, da queda do Império Bizantino à
a luta dos vencidos mantêm-se sepultados, esquecidos Revolução Francesa (1453-1789); e
sob a opulência da classe dominante. [...]as conquistas y História Contemporânea, da Revolução Francesa
alcançadas através da força e da opressão do inimigo aos dias atuais.
estão resguardadas sob a tutela da classe dominante que
possui a responsabilidade de sua transmissão, logo, de Em primeiro lugar, essas divisões foram criadas pelos
sua perpetuação. [...] historiadores por motivos didáticos, isto é, para tornar o
passado mais inteligível. Pois, por exemplo, no dia 4 de
setembro de 476, data oficial do fim do Império Romano,
o mundo antigo não deixou de existir e deu lugar ao
mundo medieval. Pelo contrário, as transições costumam
ser mais sutis e, frequentemente, não são percebidas
pelas pessoas da época.

112 HISTÓRIA Capítulo 1 História e Pré-história


Em segundo lugar, e mais importante: essa divisão Atualmente, o termo “Pré-história” é considerado
é absolutamente eurocêntrica, ou seja, toma a Europa impreciso, pois sugere que a espécie humana não teria
como parâmetro e modelo para o resto do mundo. Para história sem escrita, como se fosse incapaz de transmi-
os povos incas, maias, chineses, indianos, habitantes da tir seus feitos e pensamentos para a posteridade. Hoje,
África subsaariana, ou seja, para a maior parte do planeta, contudo, sabe-se que essa noção está ancorada em uma
dizer que o ano de 476 é o “fim da Antiguidade” é uma concepção logocêntrica da História, ou seja, que centra
afirmação desprovida de sentido. Como discutiremos nossa existência na palavra, no discurso e na escrita.
adiante, os próprios nomes “Pré-história” e “Idade Média” A existência humana é mais plural do que a palavra
são equivocados e carregados de preconceitos. Mesmo escrita: com auxílio da Arqueologia, sabemos que os
assim, neste livro, adotaremos essa periodização, pois seres humanos “pré-históricos” possuíam formas sofisti-
ainda é a mais recorrente na disciplina de História. cadas de sociedade, arte e religião. E como conhecer o
Podemos concluir, portanto, que o conhecimento passado por meio da investigação arqueológica? A partir
nunca é neutro, dado que as periodizações e fontes de um exemplo simples, suponhamos que um arqueólogo
adotadas sempre dizem respeito a valores e escolhas encontre um machado de bronze em determinado local.
específicas. É preciso lembrar que nenhum historiador, Feito com cobre e estanho, a fusão do bronze é uma tare-
nenhum livro de História falará sobre tudo o que aconte- fa complexa. Os metais utilizados para produzir o bronze
ceu, afinal o passado é vasto. Por isso, fazemos seleções são raros e dificilmente aparecem juntos na natureza, o
e falamos de recortes específicos da história. Em outras que indica a existência de comércio ou de alguma forma
palavras, todo conhecimento é parcial, pois nunca falará de migração. Por fim, a existência de comércio indica que
de tudo sob todos os pontos de vista. Desse modo, o havia algum excedente para ser trocado pelos metais.
cientista deve explicitar suas escolhas, seus métodos.
São Paulo: periodizações e abordagen.. O surgimento do ser humano
Na Pré-história, ocorreu o surgimento da espécie
Saiba mais humana. E, de modo geral, todas as sociedades huma-
nas, em algum momento, formularam explicações sobre
a origem do ser humano.
Podemos começar citando a posição criacionista,
Já faz algum tempo que os historiadores percebe-
segundo a qual o ser humano fora criado de uma forma
ram as dificuldades do seu ofício, não apenas pelos
semelhante à atual. No século XVIII, contudo, pensado-
obstáculos de acesso aos documentos, mas porque sua
atividade não é neutra e nem o passado existe como
res como o conde de Buffon (1707-1788) começaram a
coisa organizada e pronta, à espera de ser desvelado. sustentar uma posição distinta, de que a natureza muda
O historiador produz o passado de que fala a partir das conforme o tempo e não está fixada em formas imutáveis.
fontes documentais que seleciona e recorta, compõe Além disso, enxergavam o ser humano como parte da
uma trama dentre várias outras possíveis e constrói uma natureza, e não separado dela.
interpretação do acontecimento. Há múltiplas histórias a Herdeiro dessas concepções iluministas, Charles
serem contadas já que os grupos sociais, étnicos, sexuais, Darwin (1809-1882) contribuiu com a ideia evolucionis-
generacionais, de baixo ou de cima, se constituem de ta da natureza, corroborada pelos estudos posteriores
maneiras diversas, mas têm diferentes modos de narrá- sobre genética. Recentemente, por exemplo, o Projeto
-las. A História pode mostrar formas diferentes de pensar, Genoma Humano mostrou como a genética humana está
de organizar a vida, de problematizar, vivenciadas por fortemente ligada ao resto da natureza.
outras sociedades, em outros momentos históricos.
Dentro das teorias evolucionistas, não há um consen-
so sobre a maneira como o ser humano surgiu. Dessa
forma, frequentemente são feitas muitas descobertas
ao redor do mundo. Provavelmente, entre a escrita e a
impressão deste livro, novas evidências surgirão.
A Pré-história e as origens humanas Os biólogos costumam afirmar que a evolução dos
O que foi a Pré-história? hominídeos não se assemelha a uma linha, mas aos
Tradicionalmente, chamamos de Pré-história o período galhos de uma árvore. Isso significa dizer que diversas
mais longo da história humana, ou seja, o tempo entre o formas de ser humano surgiram e que, enquanto umas
aparecimento dos primeiros hominídeos e o advento da teriam desaparecido, outras deixaram descendentes.
FRENTE 2

escrita, o que teria ocorrido entre 5 ou 6 mil anos atrás. O ter- A seguir, veremos alguns exemplos de seres humanos
mo “Pré-história” foi cunhado pelo inglês Sir John Lubbock do passado.
(1834-1913), em 1865, na sua obra-prima Pre-historic O Homo habilis, surgido há cerca de 2,5 milhões
Times, para negar a cronologia, sustentada por alguns gru- de anos, viveu em savanas, era bípede e possuía uma
pos religiosos, segundo a qual a Terra teria sido criada em arcada dentária que sugere uma dieta de plantas e ani-
4004 a.C. Em contraste, ele mostrava que existiam evidên- mais. Seu uso de pedras afiadas compensava a pequena
cias de povos e civilizações muitos mais antigos. estatura e os dentes pequenos.

113
O Homo erectus surgiu na África centro-oriental, cerca

Hairymuseummatt/(CC BY 2.0)
de 1,5 milhão de anos atrás, e povoou a Europa e a Ásia.
Com um cérebro maior, um maxilar maciço e uma postura
mais ereta, os achados arqueológicos sugerem coopera-
ção e repartição de alimentos, o que deve ter garantido
a sobrevivência dos filhos por tempo prolongado. Até o
momento, ele foi o ser humano que mais durou na Terra,
sobrevivendo por mais de 1 milhão de anos. Atribui-se a
ele também a “descoberta” do fogo.
O fogo torna os alimentos mais digeríveis, liberando
mais tempo para a atividade humana e possibilitando ali-
mentar um cérebro que demanda cada vez mais energia.
Pelo fogo, o ser humano passa a ter outra relação com o Crânio de Homo sapiens (à esquerda) e Homo neanderthalensis (à direita).
ambiente: aquecido pelas fogueiras, ele suporta noites frias,
penetra regiões temperadas ou árticas, explora cavernas O atual ser humano, então, espalhou-se pelos quatro
e cria novos alimentos. cantos do planeta e subjugou o neandertal, que desapare-
ceu há 30 mil anos. Eles migraram da África para o Oriente
Reprodução/The National Library of Australia, Camberra, Australia

Médio (há 90 mil anos), para a Índia (há 70 mil), Europa e


Austrália (50 mil) e Américas (entre 20 e 15 mil anos atrás).
A ocupação da Islândia, de ilhas do Mediterrâneo e da
Nova Zelândia ocorreu aproximadamente em 1500 a.C.
Portanto, todos nós somos produto de milênios de migra-
ções e integrações.
As semelhanças físicas entre os povos indígenas bra-
sileiros e os povos do chamado “Oriente” fizeram surgir a
hipótese de uma grande migração em alguma das últimas
três eras do gelo, quando seria possível atravessar a pé
o Estreito de Bering, que liga a Ásia à América do Norte.
No entanto, tal hipótese tem sido contestada: talvez seja
falsa ou pode não ter sido a única corrente migratória ao
continente americano. Outra possibilidade, defendida pelo
Gordon Childe (1892-1957), um dos maiores especialistas em Pré-história, antropólogo francês Paul Rivet (1876-1958), chamada teo-
sustenta, em relação ao uso do fogo, que, “pela primeira vez na história, uma
criatura da natureza dirigia uma das grandes forças naturais [...], afirmava um
ria malaio-polinésia, prevê a chegada por meio de canoas
poder sobre a natureza e modelava os objetos à sua vontade”. que cruzaram o Oceano Pacífico.
Na Serra da Capivara, em Lagoa Santa, Minas Ge-
Os neandertais (Homo neanderthalensis) surgiram rais, foi encontrado o crânio mais antigo da América, com
há 200 ou 100 mil anos, bem próximos aos seres huma- 11 680 anos, apelidado de Luzia. O crânio não possui
nos modernos. Com cérebro avantajado, grandes braços traços orientais, o que invalida a tese de um povoamento
e enorme mandíbula, eles já produziam objetos como exclusivamente asiático. O incêndio no Museu Nacional
ferramentas e travesseiros de pedra. É comum encontrar (Rio de Janeiro), em 2018, destruiu parte do achado.
a cabeça e o tronco dos neandertais enterrados separa- Em 1970, a arqueóloga Niède Guidon (1933-) encon-
damente, o que sugere uma prática mortuária específica trou em Pedra Furada, no Piauí, restos de fogueira de 50 mil
dessa espécie. anos. Ela, então, levantou a hipótese de que há 70 mil anos
Finalmente, o Homo sapiens, que surgiu há 120 mil alguns grupos chegaram ao Brasil navegando, ilha por ilha.
anos. Tal espécie, delicada se comparada ao resto da na- É importante destacar que a falta de financiamento para as
tureza, ampliou o número e a complexidade das ligações pesquisas arqueológicas no Brasil dificulta outros avanços
entre os neurônios, criando linguagem e desenvolvendo na área, apesar dos esforços dos especialistas.
sua cultura. Como disse Gordon Childe, “dentro de nos-
Armando Fávaro/Agência Estado/AE

sa espécie, os melhoramentos no equipamento que os


homens fazem para si mesmos – isto é, na cultura – substi-
tuíram as modificações corporais”. Ou seja, a diferença entre
um ser humano de 150 mil anos atrás e um ser humano
atual, do ponto de vista biológico, é ínfima; no ponto de
vista cultural, entretanto, é abismal. Por isso, o surgimento
da linguagem há cerca de 70 mil anos é chamado, pelo
historiador Yuval Noah Harari (1976-), de Revolução Cog-
nitiva. Por meio da linguagem, o ser humano é capaz de
criar ideias como: ética, nação, dinheiro, república, família,
democracia, leis, direitos humanos etc. Niède Guidon (1933-), uma das mais importantes arqueólogas brasileiras.

114 HISTÓRIA Capítulo 1 História e Pré-história


O período Paleolítico Em sua obra A História da Arte, Ernst Gombrich (1909-
O período mais longo da Pré-história é o Paleolítico, -2001) sugere que as pinturas de animais soltos nas caver-
termo que significa “antiga idade da pedra”. Ele teria ini- nas eram representações mágicas, destinadas a assegurar
ciado com o aparecimento dos primeiros hominídeos e a alimentação ou uma boa caça. Por que ele propõe isso?
encerrado 12 mil anos atrás, data aproximada do desen- Em primeiro lugar, as obras de animais eram dotadas de um
volvimento da agricultura. realismo surpreendente, enquanto as esculturas humanas,
Nesse período, ganhou forma a evolução da nossa es- como a famosa Vênus de Willendorf, encontrada na Áustria,
pécie, como trabalhado no tópico anterior. O ser humano eram estilizadas, com certas partes do corpo exageradas.
do Paleolítico convivia com uma fauna distinta da atual, com Em segundo lugar, tais pinturas eram, em muitos casos, en-
mamutes, tigres-dentes-de-sabre e cavalos selvagens. As saiadas previamente em blocos de pedra, o que mostra que
pessoas não produziam alimentos, de modo que a exis- não eram meras brincadeiras, e também que, provavelmente,
tência dependia da caça e pesca de animais e da coleta eram feitas por pessoas especializadas. Em terceiro lugar,
de frutas, vegetais e raízes. Com isso, o ser humano levava elas eram feitas em locais profundos da caverna, ou seja, não
uma vida nômade. eram feitas para serem vistas. Quarto, ainda hoje, diversos
povos indígenas, sobretudo na Austrália, realizam pinturas e
É possível dividir o Paleolítico em três períodos:
danças para conseguir boa caça e colheita. Quinto, no final
y No Paleolítico Inferior, houve a transição para instru- da Pré-história, o surgimento da escrita indica que, de fato,
mentos de pedras lascadas mais afiadas e angulares, acreditava-se no poder da pintura.
como os machados utilizados pelo H. erectus. As Os historiadores, contudo, levantam muitas dúvidas a
caçadas coletivas foram aperfeiçoadas, e os seres hu- respeito das proposições de Gombrich. O historiador de
manos dormiam a céu aberto. arte brasileiro André Honor levanta algumas dúvidas: por
y O Paleolítico Médio ocorreu há 125 mil anos. Nele, que essa arte não poderia ser feita sem propósito utilitário?
as ferramentas receberam maior aperfeiçoamento, Não seria essa mais uma maneira de negar historicidade e
com o surgimento de arcos, flechas, anzóis e pontas vida desses povos? Por que os historiadores de arte não
de lança requintadas, utilizadas na caça de alguns consideram que a Vênus seja um autorretrato feito por mu-
animais, como renas. Os seres humanos passaram lheres grávidas? Em uma época em que não havia espelhos,
a viver em cavernas, utilizavam adornos pessoais e a visão da escultora sobre si mesma poderia ser uma visão
praticavam rituais de sepultamento, dando início às “de cima para baixo”. Em vez de uma escultura “fantástica”,
primeiras manifestações de vida religiosa.
teríamos algo realista, e as supostas deformidades nas Vê-
y O Paleolítico Superior iniciou com o nascimento do
nus são apenas questões de perspectiva.
H. sapiens e o fim da nossa evolução biológica. Esse
período apresentou uma rica coleção de objetos de

terstock.com
marfim, ossos, chifres e lâminas cuidadosamente
produzidas. Os seres humanos passaram a criar rou-
pas com as peles dos animais com o uso da agulha.
Aparecem também as primeiras pinturas, esculturas
e símbolos gravados.

L
Por volta de 40 mil anos atrás, a pintura passou a
desenvolver-se de maneira notável nas cavernas e foi
chamada de arte rupestre. As primeiras obras de arte da
humanidade eram, principalmente, pinturas de animais nas
paredes das grutas, feitas com sangue, e estatuetas escul-
pidas em gesso, osso, chifre, marfim, pedra ou argila.
Bridgeman Images/Fotoarena

Vênus de Willendorf, arte paleolítica.

No final do período Paleolítico, teve início o Mesolíti-


FRENTE 2

co Europeu, a última era glacial e momento de transição


para o Neolítico. Com o recuo das geleiras, entre 18 e 10
mil anos atrás, a megafauna do período glacial (mamutes,
tigres-dentes-de-sabre, rinocerontes-lanudos etc.) desa-
pareceu, a paisagem de tundras deu lugar às coníferas,
surgiram desertos e desenvolveram-se as culturas costei-
Arte rupestre na Caverna de Lascaux, França. ras, ribeirinhas e florestais.

115
O período Neolítico a primeira explosão demográfica da história, quando a po-
Entre 12 e 10 mil anos atrás, no Oriente Médio e norte pulação humana saltou de 100 mil para 3,2 milhões de
da África, encontramos os registros mais antigos da Revo- indivíduos na região do Oriente Médio e no norte da África.
lução Agrícola, ou a Primeira Revolução Neolítica, isto é, É importante saber que o advento da agricultura não signi-
a domesticação de plantas (agricultura) e animais (pecuá- ficou o fim da vida nômade; pelo contrário, diversas formas
ria). Tal revolução, ao que tudo indica, ocorreu de maneira de existência continuaram a conviver.
independente em várias regiões do planeta. A Revolução Sobre a arte neolítica, podemos dizer que as pinturas
Agrícola só é comparável, em importância, à Revolução tornaram-se menos naturalistas e imitativas, ganhando maior
Industrial, dado o impacto gigantesco em nossa história. complexidade, movimento e possibilidade de constituir uma
A criação de ovelhas, cabras e porcos forneceu ao ser narrativa. A cerâmica e as construções megalíticas para o
humano o leite e derivados, o esterco, o couro e a carne. A culto funerário eram a maior expressão da arte neolítica.
lã das ovelhas e o algodão impulsionaram o trabalho têxtil.

Adwo/Shutterstock.com
O boi foi utilizado para puxar arados, carroças e carregar
peso. O asno, a mula, o camelo e o cavalo foram os princi-
pais animais de transporte, enquanto o cachorro ajudava na
caça e no pastoreio dos rebanhos. Durante o Neolítico,
na Amazônia e nos Andes, a lhama e o porquinho-da-índia
foram também domesticados.
A agricultura, por sua vez, exigiu conhecimento sobre
cheias e colheitas, o que favoreceu o surgimento do calen-
dário e da Astronomia. Na China, o arroz foi domesticado
em 6000 a.C.; o café, na Etiópia; a cana-de-açúcar e a ba-
nana, em Nova Guiné; a berinjela e o gergelim, na Índia;
girassol, batata, milho, feijão e abóbora, na América. Desde
então, o milho, o trigo, a cevada, a oliva e a aveia foram
selecionados de tal maneira que perderam a capacidade
de se reproduzir sem interferência humana.
Em suma, mais de 90% das espécies com as quais nos
alimentamos hoje foram domesticadas na Pré-história – e,
desde lá, poucos animais ou plantas novas foram introdu-
zidos em nossa dieta.
Além disso, a necessidade de armazenar grãos contri-
buiu para o desenvolvimento da cerâmica. É dessa época
também o surgimento do machado de pedra polida, que O menir é um monólito colocado sobre uma sepultura ou perto dela. Foto de
para o arqueólogo antigo era o marco da época neolítica. Évora, Portugal. Foto de 2016.
A roda, atrelada ao boi, burro ou jumento, fazia-os transpor-
tar um carro ou vagão, facilitando o comércio.

Jtlopes (CC BY 3.0)


Estabelecendo relações

Assim, ao plantar e estocar alimentos, foi mais fácil ao


ser humano fixar residência, ou a sedentarização, cons-
O dólmen é um tipo de túmulo constituído por dois ou vários blocos de
truindo casas sólidas, muros, moinhos e dando origem às pedra fixados verticalmente no solo, sobre os quais repousa horizontalmente
primeiras vilas. Por isso, entre 10 e 6 mil anos atrás, ocorreu a terceira pedra. Foto atual registrada em São Geraldo, Portugal.

116 HISTÓRIA Capítulo 1 História e Pré-história


O fim da Pré-história a vida social das cidades (cidades-reino), primeiramente na
Com o avanço da agricultura e suas técnicas, tem-se Mesopotâmia, 3000 a.C.
um crescimento dos excedentes na produção. O excedente Dessa forma, o centro do poder não é mais o tem-
possibilita o comércio, aliado a um número cada vez maior plo dos sacerdotes, mas o palácio dos reis, que assumiu
uma forma autocrática e dinástica. O rei possuía atribui-
de pessoas que trabalham em atividades secundárias (fabri-
ções como a construção e o conserto de canais, diques
cação de utensílios, armas, roupas, construção de edifícios
e reservatórios, mostrando-se como distribuidor da água e
etc.) e terciárias (comércio, serviços religiosos e médicos,
da abundância. Ele coordenava também os exércitos e o
administração pública e segurança).
comércio externo. No próximo capítulo, veremos essas es-
É a partir do desenvolvimento da agricultura que se
truturas no Antigo Egito e na Antiga Mesopotâmia.
observa o surgimento de cidades e a complexificação so-
Outra marca do fim do Neolítico é a escrita, que apare-
cial. Esse fenômeno é chamado de Revolução Urbana ou
ceu primeiramente na Mesopotâmia em, aproximadamente,
Segunda Revolução Neolítica. Ao que tudo indica, ocorreu
3300 a.C., de acordo com o historiador Marcelo Rede,
3000 a.C.-1300 a.C., quando as primeiras grandes cidades
especialista no assunto. O aparecimento da escrita é um
surgiram no Oriente Médio e no norte da África, na região fenômeno altamente complexo, um momento em que a
do chamado Crescente Fértil, especialmente na Mesopo- mente humana aumenta sua capacidade de abstração e
tâmia e no Egito. de associação de um símbolo a um significado.
Um dos primeiros centros urbanos significativos que co- De qualquer forma, permanecemos com uma pergunta
nhecemos existiu na cidade de Uruk, na Mesopotâmia. Lá, com essencial: por que surgiu a escrita e por que ela pode ser
as poucas pedreiras da Antiga Mesopotâmia, foi muito útil a considerada um marco da passagem da Pré-história para
invenção do tijolo, feito de um pouco de barro misturado com a Antiguidade?
palha, modelado com uma forma de madeira e secado ao sol. O surgimento da escrita está ligado a necessidades di-
Trata-se de regiões desérticas, nas quais a obtenção de versas, como o registro de dados e informações, o controle
água demandava grandes obras, como canais para drenar os do comércio, da coleta de impostos e da mão de obra. Com
pântanos e irrigar os campos, plataformas para proteger pes- as relações sociais mais complexas, não era possível armaze-
soas e animais das enchentes, além de diques protetores. Os nar os dados apenas com o auxílio da memória ou de objetos
historiadores acreditam que essas primeiras cidades foram (tokens) específicos. A escrita é ainda um componente do
organizadas em torno de templos religiosos (cidades-tem- poder, isto é, um instrumento de dominação dos reis e sacer-
plo), que eram responsáveis pela organização do trabalho e dotes, por meio do registro de discursos, batalhas e histórias
pelo comércio. Com o passar do tempo, a arqueologia obser- mitológicas. Ela surge, portanto, como um instrumento de
vou que palácios foram construídos e passaram a organizar controle, administração e ordenação da sociedade.

Atenção

Revisando

1. Fatec 2015 A forma como as sociedades organizam 2. Enem PPL 2015 Os nossos ancestrais dedicavam-se à
as suas atividades produtivas se transforma ao lon- caça, à pesca e à coleta de frutas e vegetais, garantindo
go do tempo e vem marcando mudanças históricas sua subsistência, porque ainda não conheciam as prá-
importantes. ticas de agricultura e pecuária. Uma vez esgotados os
Na transição do período Paleolítico para o período alimentos, viam-se obrigados a transferir o acampamento
FRENTE 2

Neolítico, observam-se importantes mudanças na or- para outro lugar.


HALL, P.P. Gestão ambiental. São Paulo: Pearson, 2011 (adaptado).
ganização produtiva como, por exemplo
a) o término do sistema de plantation. O texto refere-se ao movimento migratório denomi-
b) a formação das corporações de ofício. nado
c) a construção de núcleos urbanos feudais. a) sedentarismo. d) nomadismo.
d) o início das grandes organizações sindicais. b) transumância. e) pendularismo.
e) o surgimento da agricultura de subsistência. c) êxodo rural.

117
3. Fuvest 2012 Há cerca de 2000 anos, os sítios super- exemplo, utensílios domésticos, vestuário, foto-
ficiais e sem cerâmica dos caçadores antigos foram grafias, monumentos ou mesmo registros orais.
substituídos por conjuntos que evidenciam uma forte  a escrita da história depende da análise de fontes
mudança na tecnologia e nos hábitos. Ao mesmo tempo
e da interpretação de quem a analisa, por isso ela
que aparecem a cerâmica chamada itararé (no Paraná)
deve ser entendida como uma versão.
ou taquara (no Rio Grande do Sul) e o consumo de ve-
getais cultivados, encontram-se novas estruturas de  a forma de dividir a história em quatro grandes
habitações. épocas – antiga, média, moderna e contemporâ-
André Prous. O Brasil antes dos brasileiros. A pré-história do nosso país. nea –, apesar de ser um invento europeu, deve
Rio de Janeiro: Zahar, 2007, p. 49. Adaptado. ser empregada para o entendimento do processo
O texto associa o desenvolvimento da agricultura com histórico dos diferentes povos do mundo.
o da cerâmica entre os habitantes do atual território  os conceitos de tombamento e patrimônio ima-
do Brasil, há  anos. Isso se deve ao fato de que terial foram instituídos como forma de preservar
a agricultura bens dos mais variados, materiais e imateriais,
a) favoreceu a ampliação das trocas comerciais com como fotografias, livros, imóveis, cidades, receitas
povos andinos, que dominavam as técnicas de culinárias, que sejam considerados importantes
produção de cerâmica e as transmitiram aos po- para a memória coletiva.
vos guarani.  apesar da ampliação da noção de documentos
b) possibilitou que os povos que a praticavam se
históricos, os documentos oficiais ainda são
tornassem sedentários e pudessem armazenar
tomados pelos historiadores como as únicas le-
alimentos, criando a necessidade de fabricação
gítimas fontes para o conhecimento histórico.
de recipientes para guardá-los.
c) proliferou, sobretudo, entre os povos dos samba-  os estudos históricos da atualidade procuram
quis, que conciliaram a produção de objetos de dar voz a diferentes sujeitos, como mulheres,
cerâmica com a utilização de conchas e ossos na trabalhadores rurais, crianças etc.; no entanto,
elaboração de armas e ferramentas. as pesquisas sobre o passado ainda têm maior
d) difundiu-se, originalmente, na ilha de Fernando concentração nas ações dos reis, generais, co-
de Noronha, região de caça e coleta restritas, o mandantes de revoltas e revoluções, pois são os
que forçava as populações locais a desenvolver atos dos grandes governantes e líderes que mo-
o cultivo de alimentos. dificam o rumo dos acontecimentos.
e) era praticada, prioritariamente, por grupos que Soma
viviam nas áreas litorâneas e que estavam, por-
tanto, mais sujeitos a influências culturais de 5. UEL 2018 Os indivíduos da espécie Homo sapiens
povos residentes fora da América. “Cro-Magnon” foram os primeiros a domesticar ani-
mais e a deixar expressivas obras de arte, como
4. UFSC 2016 pinturas em cavernas e figuras esculpidas de animais
O jovem Alexandre conquistou a Índia. e de mulheres grávidas. Nas paredes da Caverna
Sozinho? de Chauvet, por exemplo, estão as famosas pinturas do
César bateu os gauleses. Paleolítico Superior.
Não levava sequer um cozinheiro? De acordo com a hipótese mais aceita atualmente,
Filipe da Espanha chorou, quando sua Armada naufragou. nossos ancestrais surgiram na África e daí teriam irra-
Ninguém mais chorou? diado para outros continentes.
Frederico II venceu a Guerra dos Sete Anos.
Quem venceu além dele? Com base nessa hipótese, de origem única na África,
Cada página uma vitória. assinale a alternativa que indica corretamente como
Quem cozinhava o banquete? ocorreu essa irradiação, em ordem cronológica, a
A cada dez anos um grande homem. partir do continente africano, para as diversas partes
Quem pagava os gastos? do mundo.
BRECHT, Bertolt. Perguntas de um trabalhador que lê. a) Europa – Nordeste da Ásia – América do Norte –
In:____. Poemas. Tradução de Paulo Cesar Souza. Indonésia – Austrália.
São Paulo: Brasiliense, 1986, p. 167.
b) Sudeste da Ásia – Europa – Nordeste da Ásia –
Em relação a fontes e escrita da história, é CORRETO América do Norte – América do Sul.
armar que: c) Sudeste da Ásia – Europa – América do Norte –
 por muito tempo as pesquisas históricas pri- América do Sul – Austrália.
vilegiaram as fontes escritas, mas atualmente d) Europa – América do Norte – América do Sul –
entende-se que todo tipo de registro dos atos Austrália – Sudeste da Ásia.
e pensamentos da sociedade pode ser usado e) Europa – Nordeste da Ásia – América do Norte –
como fonte para a escrita da história, como, por América do Sul – Oceania.

118 HISTÓRIA Capítulo 1 História e Pré-história


6. Uece 2016 Leia atentamente o seguinte excerto: 8. Uern 2015 É impossível compreender seu tempo para
quem ignora todo o passado. Ser uma pessoa con-
Se o homem comum não conhece as suas origens
temporânea e também ter consciência das heranças,
ele é como um macaco louco. Ele não conhece ao cer-
consentidas ou contestadas.
to as relações de sua grande família, é como um dragão
René Remond. in Bittencourt, C. Ensino da História:
descomunal. Ele que não conhece as circunstâncias e o Fundamentos e métodos. São Paulo: Cortez. 2004. p. 155.
curso das ações de seu nobre pai e avô é como um ho-
mem que, tendo preparado a dor para seus filhos, joga-os A história tem um caráter instrumental para a
neste mundo. compreensão das experiências sociais, culturais, tec-
MOMIGLIANO, A. As raízes clássicas da historiografia nológicas, políticas e econômicas da humanidade ao
moderna. Bauru: EDUSC, 2004, p.55 longo do tempo. Sobre o papel da história na forma-
ção da cidadania, assinale a alternativa correta.
Do trecho acima, depreendem-se algumas caracterís-
a) O ensino da história não apenas contribui para o
ticas da escrita da História, quais sejam:
desenvolvimento da consciência, mas dá suporte
a) conservação da memória do passado, quadro à construção da própria identidade do indivíduo.
cronológico e interpretação dos acontecimentos. b) No decorrer dos períodos históricos, a fundamen-
b) conhecimento da natureza, origem das espécies tação teórica que incita a obediência às leis foi
animais e lembrança ancestral. a principal contribuição da história na formação
c) dialética socrática, valores teóricos e morais e cidadã.
busca pela verdade intrínseca da origem humana. c) A história, em uma visão contemporânea, passou
d) atitude crítica em relação ao registro dos acon- a ter como prioridade o estudo do presente, dan-
tecimentos, desinteresse pelo passado e árvore do ao passado um caráter arcaico e antiquado,
genealógica. dispensável à pesquisa histórica.
d) A história como ciência básica e fundamental-
7. Uern 2015 Leia os textos. mente teórica incide de forma relativa e tênue
nas atividades práticas da vida humana, tendo,
Tão objetiva é a História para os positivistas que um de
portanto, neutralidade em relação à política.
seus maiores ensinamentos é a busca incessante de fatos
históricos e sua comprovação empírica. Daí a necessida-
de, como pregavam, de se utilizar na pesquisa e análise o 9. UCS 2015 Por muito tempo, os historiadores acredita-
máximo de documentos possíveis. ram que deveriam e poderiam reproduzir os fatos “tal
Disponível em: http://www.klepsidra.net/klepsidra7/annales.html como tinham ocorrido”. Dentre as características do
conhecimento histórico que assim produziam, é cor-
A nova história não estuda épocas. [...] Aqui reside
reto afirmar que
o conceito de “História de Longa Duração”. Segundo
a) os historiadores, ao privilegiarem a realidade
Braudel, a história situa-se em três escalões: a superfí-
dos fatos, esperavam produzir um conhecimen-
cie, uma história dos acontecimentos que se insere no
to científico que analisasse os processos e seus
tempo curto; a meia encosta, uma história conjuntural,
significados, abrindo espaço para a subjetividade
que segue um ritmo mais lento; e, em profundidade,
humana em suas análises.
uma história de longa duração, que põe em causa os
b) era uma história linear, cronológica, de nomes,
séculos.
fatos e datas, que pretendia uma verdade abso-
Disponível em: http://www.klepsidra.net/klepsidra7/annales.html
luta, como forma de expressar a neutralidade do
Os textos expõem duas concepções historiográcas: historiador.
Positivista e da Nova História, ou Escola dos Annales. c) era uma história temática, na medida em que
Ao analisá-los, é possível inferir que acreditava que tudo o que o homem fazia e, até
a) ambos concordam que a história é um verdadeiro mesmo o que ele não fazia, poderia ser conside-
exercício de erudição, acima de qualquer ciência rado fato histórico.
e dos progressos da humanidade. d) os fatos privilegiados seriam aqueles poucos que
b) para os positivistas, a história é uma ciência se- eram amplamente documentados, como as festas
cundária, embora consiga obter a totalidade populares e a cultura das pessoas ordinárias.
sobre todos os fatos não deixando dúvidas no e) o fundamental era compreender o funcionamento
que se refere à sua veracidade. econômico da sociedade, que é o determinante
c) os historiadores tradicionais pensam na história de tudo e garante a neutralidade do historiador.
FRENTE 2

como essencialmente uma narrativa dos acon-


tecimentos, enquanto a Nova História está mais 10. UEG Grande parte da presença humana na Terra é
preocupada com a análise das estruturas. explicada pelos historiadores tendo como referência
d) a busca dos fatos, segundo os representantes o termo “pré-história”.
dos Annales, é feita pela observação minuciosa Sobre esse período, discorra sobre os seguintes tópicos:
dos textos e documentos oficiais, da mesma ma- a) o significado da revolução neolítica;
neira que o químico, ou outro cientista, o faz. b) as limitações conceituais do termo “pré-história”.

119
Exercícios propostos

1. Enem PPL 2019 Os pesquisadores que trabalham com sociedades indígenas centram sua atenção em documentos do
tipo jurídico-administrativo (visitas, testamentos, processos) ou em relações e informes têm deixado em segundo plano
as crônicas. Quando as utilizam, dão maior importância àquelas que foram escritas primeiro e que têm caráter menos
teórico e intelectualizado, por acharem que estas podem oferecer informações menos deformadas. Contrariamos esse
posicionamento, pois as crônicas são importantes fontes etnográficas, independentemente de serem contemporâneas ao
momento da conquista ou de terem sido redigidas em período posterior. O fato de seus autores serem verdadeiros huma-
nistas ou pouco letrados não desvaloriza o conteúdo dessas crônicas.
PORTUGAL, A. R. O ayllu andino nas crônicas quinhentistas: um polígrafo na literatura brasileira do século XIX (1885-1897).
São Paulo: Cultura Acadêmica, 2009.

As fontes valorizadas no texto são relevantes para a reconstrução da história das sociedades pré-colombianas porque
a) sintetizam os ensinamentos da catequese.
b) enfatizam os esforços de colonização.
c) tipificam os sítios arqueológicos.
d) relativizam os registros oficiais.
e) substituem as narrativas orais.

2. Unioeste 2019 Leia e analise o fragmento abaixo.


Desde 2013, o autoproclamado Estado Islâmico do Iraque e do Levante – também conhecido pelas siglas ISIL ou ISIS,
na tradução do nome do grupo em inglês – luta pela conquista de territórios na Síria e no Iraque, travando uma guerra que já
deixou mais de 230 mil mortos e milhões de desabrigados. [...] Para afirmar a superioridade do Islamismo, o Estado Islâmico
tem se esforçado para destruir sítios arqueológicos e históricos de civilizações e religiões antigas, numa tentativa de apagar
o passado. [...] Em quase três anos de conflitos, o ISIS destruiu, pelo menos, treze sítios arqueológicos ou ruínas históricas.
ALENCAR, Lucas. Treze locais históricos destruídos pelo Estado Islâmico. 4 jan. 2016. Disponível em: https://revistagalileu.globo.com/Sociedade/
noticia/2016/01/13-locais-historicos-destruidos-pelo-estado-islamico.html.

Ao tratarmos de evidências e procedimentos para análise de processos históricos, é CORRETO armar que
a) a análise histórica não necessita dessas evidências, já que elas eram apenas utilizadas como foco de visitação
turística. Pois, o material necessário para a reflexão histórica encontra-se registrado em documentos impressos e
arquivos públicos.
b) a destruição desses registros históricos não faz parte do modo como o Estado Islâmico propõe impor certa lei-
tura da história a partir dos seus interesses e domínio, esses atos foram realizados por erro de alvos durante os
ataques realizados.
c) a destruição dos sítios arqueológicos e históricos se deve apenas a um conflito no Oriente Médio em função das
práticas religiosas e à intolerância pela intervenção estrangeira.
d) práticas como as realizadas pelo Estado Islâmico, ao destruírem sítios arqueológicos e históricos, destacam como
o debate sobre memória e história faz parte das disputas de poder, inclusive, como tentativa de imposição de
certo nacionalismo como controle do presente e do passado para intenções futuras.
e) as fontes são materiais importantes na investigação histórica acadêmica. O historiador se utiliza desses indícios
para aprofundar pesquisas; com destaque para períodos, fatos e sujeitos. Porém, o uso de sítios arqueológicos e
históricos são desnecessários ao ensino de história, por isso podem ser facilmente descartados.

3. Enem PPL 2019 Lembro, a propósito, uma cerimônia religiosa a que assisti na noite de Santo Antônio de 1975 quan-
do presente a uma festa em honra do padroeiro. Ia a coisa assim bonita e simples, até que, recitadas as cinco dezenas
de ave-marias e os seus padre-nossos, chegou a hora do remate com o canto da salve-rainha. O capelão começou a
entoar nesse instante hino à Virgem, em latim “Salve Regina, mater misericordiae”, e, o que eu estranhei, foi seguido
de pronto sem qualquer hesitação pelos presentes. Depois veio o espantoso para mim: a reza, também entoada, de
toda a extensa ladainha de Nossa Senhora igualmente em latim. Eu olhava e não acabava de crer: aqueles caboclos
que eu via mourejando de serventes nas obras do bairro estavam agora ali acaipirando lindamente a poesia medieval
do responso.
BOSI, A. Dialética da colonização. São Paulo: Cia. das Letras, 1992.

O estranhamento do autor diante da cerimônia relaciona-se ao encontro de temporalidades que


a) questionam ritos católicos.
b) evidenciam práticas ecumênicas.

120 HISTÓRIA Capítulo 1 História e Pré-história


c) elitizam manifestações populares.
d) valorizam conhecimentos escolares.
e) revelam permanências culturais.

4. Enem PPL 2019 Para dar conta do movimento histórico do processo de inserção dos povos indígenas em contextos urba-
nos, cuja memória reside na fala dos seus sujeitos, foi necessário construir um método de investigação, baseado na História
Oral, que desvelasse essas vivências ainda não estudadas pela historiografia, bem como as conflitivas relações de fronteira
daí decorrentes. A partir da história oral foi possível entender a dinâmica de deslocamento e inserção dos índios urbanos
no contexto da sociedade nacional, bem como perceber os entrelugares construídos por estes grupos étnicos na luta pela
sobrevivência e no enfrentamento da sua condição de invisibilidade.
MUSSI, P. L. V. Tronco velho ou ponta da rama? A mulher indígena terena nos entrelugares da fronteira urbana. Patrimônio e Memória, n. 1, 2008.

O uso desse método para compreender as condições dos povos indígenas nas áreas urbanas brasileiras justica-se por
a) focalizar a empregabilidade de indivíduos carentes de especialização técnica.
b) permitir o recenseamento de cidadãos ausentes das estatísticas oficiais.
c) neutralizar as ideologias de observadores imbuídos de viés acadêmico.
d) promover o retorno de grupos apartados de suas nações de origem.
e) registrar as trajetórias de sujeitos distantes das práticas de escrita.

5. Fepar 2019 O cristianismo trouxe uma concepção de devir histórico linear, uniforme, que, estendendo-se da
Criação até o Juízo Final, foi adaptada em forma secular pelo moderno pensamento histórico [...] A articulação
em Antiguidade-Idade Média-Idade Moderna foi enunciada pelo alemão Cristoph Cellarius (-); de iní-
cio, correspondia à interpretação e valorização pelos humanistas de uma história cultural europeia ocidental.
Ao final do século XIX [...] afirmou-se no mundo ocidental uma divisão baseada em grandes marcos ou eventos,
que se denomina “periodização clássica”.

Uma referência cronológica

4000 476 1453 1789

Considere o texto, a linha do tempo e seus conhecimentos de História para avaliar as armativas.
A Idade Antiga, por ter maior duração, disponibiliza ao historiador maior número de fontes históricas escritas
do que a Idade Moderna, que compreende pouco mais de  séculos.
Enquanto o ano  marca, na periodização clássica, o tempo decorrido depois de Cristo (d.C.), a Civilização
Islâmica tem o início de seu calendário no ano , quando ocorreu a hégira, a retirada do profeta Maomé
de Meca para Medina.
O ano de , data da queda do Império Romano do Ocidente, marca um período de instabilidade (com
triunfo dos germânicos e conflitos entre eles) e de uma economia de base rural, com antigos escravos e
colonos transformados em servos de gleba, na estrutura feudal que foi sendo definida.
FRENTE 2

A tomada de Constantinopla pelos turcos otomanos ocorreu em , no século XV. A data marca o fim da
Idade Média, quando estava em marcha a expansão das cidades e o capitalismo comercial, ao qual se vin-
cula o movimento das Grandes Navegações, cujo objetivo inicial era o comércio de especiarias diretamente
nas fontes.
No ano de  teve início a Revolução Francesa. A data marca o início da Idade Contemporânea, com a
redação da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, que consagrava o igualitarismo no plano
econômico e a defesa da república como forma de governo.

121
6. UEPG 2018 Existem diferenças claras entre o que compreendemos por tempo cronológico e por tempo histórico.
A respeito deste último, assinale o que for correto.
 Historiadores se valem das formas de organizar e viver de uma sociedade para afirmar que um determinado
tempo histórico se diferencia de outro.
 A passagem de um tempo histórico para outro pode ser marcada por permanências de hábitos, ideias e
comportamentos.
 Há diferenças temporais entre os tempos históricos. Por exemplo: a Idade Média durou cerca de 1000 anos,
enquanto a Idade Moderna pouco mais de 300 anos.
 Para os historiadores, a chamada Idade Contemporânea teve início em 1789, com a Revolução Francesa, e se
prolonga até os dias atuais.
Soma:

7. Fuvest 2017 Um elemento essencial para a evolução da dieta humana foi a transição para a agricultura como o modo
primordial de subsistência. A Revolução Neolítica estreitou dramaticamente o nicho alimentar ao diminuir a variedade de
mantimentos disponíveis; com a virada para a agricultura intensiva, houve um claro declínio na nutrição humana. Por sua
vez, a industrialização recente do sistema alimentar mundial resultou em uma outra transição nutricional, na qual as nações
em desenvolvimento estão experimentando, simultaneamente, subnutrição e obesidade.
George J. Armelagos, “Brain Evolution, the Determinates of Food Choice, and the Omnivore’s Dilemma”, Critical Reviews
in Food Science and Nutrition, 2014. Adaptado.

A respeito dos resultados das transformações nos sistemas alimentares descritas pelo autor, é correto armar:
a) A quantidade absoluta de mantimentos disponíveis para as sociedades humanas diminuiu após a Revolu-
ção Neolítica.
b) A invenção da agricultura, ao diversificar a cesta de mantimentos, melhorou o balanço nutricional das socieda-
des sedentárias.
c) Os ganhos de produtividade agrícola obtidos com as revoluções Neolítica e Industrial trouxeram simplificação
das dietas alimentares.
d) As populações das nações em desenvolvimento estão sofrendo com a obesidade por consumirem alimentos de
melhor qualidade nutricional.
e) A dieta humana pouco variou ao longo do tempo, mantendo-se inalterada da Revolução Neolítica à Revolu-
ção Industrial.

8. UPE 2018

Figuras Figuras Figuras


Marcas de Mãos
Antropomórcas Zoomórcas Ambíguas

Sítio: Pedra Fish Sítio: Pedra Furada Sítio: Furna do Lajeiro Liso Sítio: Pedra da Lua
Venturosa - PE Venturosa- PE Caetés - PE Brejo da Madre de Deus – PE

Grafismos Reconhecíveis. Imagens tratadas pelo software Adobe Photoshop X6.


In Perazzo; Pessis; Cisneiros. As pinturas rupestres da Tradição Agreste em Pernambuco e na Paraíba. Revista FUMDHAMENTOS XII 2015, p. 33.

Observando os grasmos, assinale a alternativa CORRETA.


a) Não havia animais nesse período específico.
b) Essas manifestações culturais não podem ser consideradas arte.
c) Nada sabemos sobre essas populações humanas.
d) Inexistiam técnicas para produção de pigmentos.
e) Há grande relevância histórica e artística.

122 HISTÓRIA Capítulo 1 História e Pré-história


9. Uern 2013 As gravuras se referem aos monumentos megalíticos, constantes objetos de estudo de arqueólogos e
historiadores. Observe.

(Disponível em: http://www.infoescola.com/arquitetura/monumentos-megaliticos/.)

Acerca dessas formações rochosas misteriosas, devidamente arrumadas na natureza por nossos antepassados, é
correto armar que
a) são consideradas monumentos pela sua formação. Acredita-se que podem ter surgido durante o período Neolítico
(Idade da Pedra) e a finalidade de sua existência não é totalmente conhecida.
b) muitas eram contempladas e cultuadas pelos religiosos fundadores da Igreja Católica, que acreditavam em seus
poderes esotéricos e na presença de relíquias sagradas entre as pedras utilizadas em sua construção.
c) são construções feitas por seres detentores de altos conhecimentos, pois a maioria das pedras chega a
pesar toneladas. Os templos seriam destinados aos alquimistas e magos, donos do conhecimento científico
no período Homérico.
d) algumas são construções de indivíduos solitários, conhecidos como menires (em celta significa “pedras compridas”) e
tinham o objetivo comprovado de abrigar as tribos nômades em suas incursões em busca de alimento e moradia.

10. Enem

FRENTE 2

Pintura rupestre da Toca do Pajaú – PI. Internet: www.betocelli.com.


A pintura rupestre mostrada na gura anterior, que é um patrimônio cultural brasileiro, expressa
a) o conflito entre os povos indígenas e os europeus durante o processo de colonização do Brasil.
b) a organização social e política de um povo indígena e a hierarquia entre seus membros.
c) aspectos da vida cotidiana de grupos que viveram durante a chamada pré-história do Brasil.
d) os rituais que envolvem sacrifícios de grandes dinossauros atualmente extintos.
e) a constante guerra entre diferentes grupos paleoíndios da América durante o período colonial.

123
Texto complementar

Trechos de Apologia da História, de Marc Bloch


Há muito tempo, com efeito, nossos grandes precursores, Michelet, Fustel de Coulanges, nos ensinaram a reconhecer: o objeto
da História é, por natureza, o homem. Digamos melhor: os homens. Mais que o singular, favorável à abstração, o plural, que é o modo
gramatical da relatividade, convém a uma ciência da diversidade. Por trás dos grandes vestígios sensíveis da paisagem, [os artefatos
ou as máquinas,] por trás dos escritos aparentemente mais insípidos e as instituições aparentemente mais desligadas daqueles que as
criaram, são os homens que a História quer capturar. Quem não conseguir isso será apenas, no máximo, um serviçal da erudição. Já o
bom historiador se parece com o ogro da lenda. Onde fareja carne humana, sabe que ali está a sua caça.
Do caráter da História como conhecimento dos homens decorre sua posição específica em relação ao problema da expressão. Será
uma “ciência”? Ou uma “arte”? Sobre isso nossos bisavós, por volta de 1800, gostavam de dissertar gravemente. Mais tarde, por volta
dos anos 1890 [...], pôde-se ver especialistas do método indignarem-se com que, nos trabalhos históricos, o público desse
importância, para eles excessiva, ao que eles chamavam “forma”. [...] Não há menos beleza numa equação exata do que numa
frase correta. Mas cada ciência tem sua estética de linguagem, que lhe é própria. Os fatos humanos são, por essência, fenômenos muito
delicados, entre os quais muitos escapam à medida matemática. [...] Onde calcular é impossível, impõe-se sugerir. Entre a expressão
das realidades do mundo físico e a das realidades do espírito humano, o contraste é, em suma, o mesmo que entre a tarefa do operário
fresador e a do luthier: ambos trabalham no milímetro; mas o fresador usa instrumentos mecânicos de precisão; o luthier guia-se, antes
de tudo, pela sensibilidade do ouvido e dos dedos. Não seria bom nem que o fresador se contentasse com o empirismo do luthier, nem
que este pretendesse imitar o fresador. Será possível negar que haja, como o tato das mãos, um das palavras?
[...]
“Ciência dos homens”: dissemos. É ainda vago demais. É preciso acrescentar: “dos homens, no tempo”: O historiador não apenas
pensa “humano”: A atmosfera em que seu pensamento respira naturalmente é a categoria da duração. Decerto, dificilmente imagina-se
que uma ciência, qualquer que seja, possa abstrair do tempo. Entretanto, para muitas dentre elas, que, por convenção, o desintegram em
fragmentos artificialmente homogêneos, ele representa apenas uma medida. Realidade concreta e viva, submetida à irreversibilidade de seu
impulso, o tempo da história, ao contrário, é o próprio plasma em que se engastam os fenômenos e como o lugar de sua inteligibilidade.
O número dos segundos, anos ou séculos que um corpo radiaotivo exige para se transformar em outros corpos é, para a atomística, um
dado fundamental. Mas que esta ou aquela dessas metamorfoses tenha ocorrido há mil anos, ontem ou hoje ou que deva se produzir
amanhã, sem dúvida tal consideração interessaria ao geólogo, porque a Geologia é, à sua maneira, uma disciplina histórica; ela deixa o
físico frio como gelo. Nenhum historiador, em contrapartida, se contentará em constatar que César levou oito anos para conquistar a Gália
e que foram necessários quinze anos a Lutero para que, do ortodoxo noviço de Erfurt, saísse o reformador de Wittenberg. Importa-lhe
muito mais atribuir à conquista da Gália seu exato lugar cronológico nas vicissitudes das sociedades europeias; e, sem absolutamente
negar o que uma crise espiritual como a de irmão Martinho continha de eterno, só julgará ter prestado contas disso depois de ter fixado,
com precisão, seu momento na curva dos destinos tanto do homem que foi seu herói como da civilização que teve como atmosfera.
Ora, esse tempo verdadeiro é, por natureza, um continuum. É também perpétua mudança. [...]
BLOCH, Marc. Apologia da História, ou, O ofício de historiador. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001. p. 52-55.

Resumindo
y O historiador francês Marc Bloch definiu o conhecimento histórico como o estudo dos seres humanos através do tempo.
Nesse sentido, a História se configura como uma ciência que, a partir de uma metodologia específica e do uso profissional de
fontes primárias, constrói um discurso sobre as sociedades humanas e suas transformações. Desse modo, são fundamentais
as análises das diversas temporalidades (longa, curta e média) que atravessam a nossa experiência.
y Cabe ao historiador, da mesma forma, periodizar o passado, a fim de torná-lo mais inteligível. Isso foi feito, por exemplo, na cons-
trução da ideia de Pré-história, pensada no século XIX como uma maneira de periodizar o mundo anterior à escrita. Sabemos
hoje, contudo, que o termo “Pré-história” é impreciso, por sugerir que o período anterior à escrita carece de estrutura histórica.
y Usualmente, dividimos a Pré-história em dois grandes períodos, o Paleolítico, caracterizado pela caça e pela coleta, e o Neo-
lítico, definido pelo advento da agricultura e da pecuária. Em decorrência da Revolução Neolítica, há também o surgimento
das primeiras cidades, na região do Oriente Médio e no norte da África, onde terão espaço as sociedades mesopotâmica e
egípcia, tema do próximo capítulo.

124 HISTÓRIA Capítulo 1 História e Pré-história


Quer saber mais?

Sites Livros
https://anpuh.org.br/. Acesso em:  jun. . BLOCH, Marc.Apologia da História, ou, O ofício de histo-
Página da Associação Nacional de História (ANPUH), a riador. Jorge Zahar, .
maior organização de historiadores do Brasil, com infor- Uma das principais obras sobre o estudo da história e a
mações e materiais diversos. pesquisa em História.
https://www.revistas.usp.br/revhistoria/article/view/ GOSDEN, Chris. Pré-História.Porto Alegre: L&PM, .
4/. Acesso em:  jul. . Análise da Pré-história por meio de fatos e algumas
BRAUDEL, Fernand. História e Ciências Sociais: a longa deduções.
duração.Revista de História, v. , n. , p. -4, .
LÉVÊQUE, Pierre; CARDOSO, Artur Lopes; RIBEIRO, Antó-
O artigo apresenta uma reflexão sobre a História e a So-
nio Pinto.As primeiras civilizações: da Idade da Pedra aos
ciologia, suas diferenças e convergências.
povos semitas. Lisboa: Edições , .
Diversos textos de especialistas sobre as primeiras
civilizações.

Exercícios complementares
1. Udesc 2018 A História, segundo o historiador Marc Assinale a alternativa correta, de cima para baixo.
Bloch, pode ser definida como a ciência do homem no a) V–V–V–V
tempo. Quando estudada em instituições escolares,
b) V–F–F–F
ela é, comumente, dividida em: Idade Antiga, Idade
c) F–V–V–V
Medieval, Idade Moderna e Idade Contemporânea.
Sobre este modelo de organização do tempo histó- d) V–V–F–F
rico em períodos ou idades, analise as proposições. e) F–V–V–F
I. O modelo acima foi instituído na Grécia durante
o século IV a.C. por Aristóteles que, na época, 3. UFU 2018 Objeto de estudo da nova historiografia, a:
assumia as funções de tutor de Alexandre da
(...) história da vida cotidiana e privada é a história
Macedônia.
de pequenos prazeres, dos detalhes quase invisíveis, dos
II. A adoção deste modelo demonstra o forte vín-
culo existente entre os programas escolares dramas do banal, do insignificante, das coisas deixadas
de história e a tradição europeia, na medida “de lado”.
em que as idades são organizadas a partir de DEL PRIORI, Mary. História do cotidiano e da vida privada.
In: CARDOSO, Ciro Flamarion; VAINFAS, Ronaldo (Org.).
processos ocorridos majoritariamente no Con- Domínios da história: ensaios de teoria e metodologia.
tinente Europeu. Rio de Janeiro: Campus, 1997.
III. O modelo citado foi desenvolvido e institucionali-
zado em 1837, pelo Instituto Histórico Geográfico Esse fragmento de texto aborda a inovação do co-
Brasileiro, e refere-se, exclusivamente, aos pro- nhecimento histórico a partir da segunda metade do
cessos ocorridos a partir do Descobrimento do século XX, conhecida como Nova História. Desde en-
Brasil, em 1500. tão, novos sujeitos tornaram-se objetos da pesquisa
Assinale a alternativa correta. histórica, observando-se o seu protagonismo em dife-
a) Somente a afirmativa I é verdadeira. rentes esferas sociais.
b) Somente a afirmativa III é verdadeira. Com base nessa informação, é INCORRETO armar que
c) Somente as afirmativas I e II são verdadeiras. compuseram o novo grupo de indivíduos estudados
d) Somente as afirmativas II e III são verdadeiras.
a) as mulheres atenienses na Grécia clássica.
e) Somente a afirmativa II é verdadeira.
b) os imperadores e os generais da Roma antiga.
c) as comunidades manicomiais e as étnicas.
2. Udesc 2018 O conhecimento histórico acadêmico ou
científico é construído, prioritariamente, por meio de d) os afrodescendentes no continente americano.
práticas de investigação e análise. Para a construção
do conhecimento histórico, as fontes ou vestígios são, 4. UEL 2018 Leia o texto a seguir.
FRENTE 2

portanto, elementos fundamentais.


Eu vi coisas que vocês não imaginariam. Naves de
Analise os itens abaixo, e coloque (V) para o que for ataque em chamas ao largo de Órion. Eu vi raios-c brilha-
fonte histórica e (F) para o que não for fonte histórica. rem na escuridão próximos ao Portão de Tannhäuser. Todos
Jornais e Revistas esses momentos se perderão no tempo, como lágrimas na
Fotograas chuva. Hora de morrer.
Documentos ociais de Estado (Disponível em: https://pt.wikiquote.org/
Cartas e documentos pessoais wiki/Blade_Runner. Acesso em: 11 jul. 2017.)

125
Esta é uma fala do androide Roy que queria eliminar Decard, no lme Blade Runner, o Caçador de Androides
(), dirigido por Ridley Scott. No entanto, no combate, Roy o salvou da morte. Essa reexão apresenta a noção
de uma existência construída por múltiplas experiências as quais, que por serem as memórias de Roy, se perderiam
para sempre.
Com base nos conhecimentos hoje predominantes sobre os fundamentos da história, atribua V (verdadeiro) ou F
(falso) às armativas a seguir.
A História privilegia, nos seus estudos, as experiências coletivas dos grandes grupos humanos, excluindo a vida
do indivíduo comum.
A historiograa desconsidera a memória oral para registrar as formas culturais de compreensão do mundo.
Nos museus e cemitérios, descansam os personagens históricos cujas ideias não mais afetarão os vivos.
Memória e história são noções diferentes, mas se complementam e interagem quando depoimentos orais são
registrados em documentos.
Um fato histórico gera uma diversidade de documentos, e as interpretações sobre ele ressignicam o seu teor.
Assinale a alternativa que contém, de cima para baixo, a sequência correta.
a) V, F, F, V, F
b) V, F, V, F, V
c) V, V, F, V, F
d) F, F, F, V, V
e) F, V, V, F, V

5. Uece 2017 História, como área do conhecimento, possui, hoje, especificidades que a definem, dentre as quais en-
contra-se a característica de
a) ater-se apenas a documentos escritos, não aceitando como fonte outros tipos de informação tais como informa-
ções originadas na oralidade ou produzidas pela mídia.
b) não se ater apenas aos fatos realizados por governantes e poderosos, tomando os eventos cotidianos e as prá-
ticas sociais como importantes temas históricos.
c) entender o tempo histórico e o tempo cronológico como iguais, uma vez que ambos são caracterizados por ter
medidas constantes e exatas de tempo.
d) reconhecer apenas grandes eventos documentados oficialmente como um fato histórico.

6. Udesc 2018 Em 1972, a equipe do arqueólogo Richard Leakey encontrou, nas imediações do Lago Turkana, o crânio e os
ossos de um Homo rudolfensis de 1,9 milhões de anos. Esta espécie teria coabitado o território africano ao mesmo tempo em
que três outras; o Homo habilis, o Homo erectus e o Paranthropus boisei. Em 1974, pesquisadores descobriram, na Etiópia,
um fóssil de 3,2 milhões de anos, ao qual apelidaram de Lucy. Em 2017, foram publicadas pesquisas a respeito de fósseis de
Homo sapiens encontrados no Marrocos, os quais contariam com cerca de 300 mil anos.
Disponível em www.bbc.com, acessado em 15 de março de 2018.

Estas descobertas foram essenciais para o desenvolvimento de pesquisas, a respeito da evolução de espécies, pois
elas poderiam ser referentes aos antepassados diretos da espécie humana. A este respeito, é correto armar:
a) A descoberta de 2017 refuta a teoria de que a origem da vida humana seria na África, deslocando-a para a pe-
nínsula arábica.
b) Os seres humanos que habitam a África, a América e a Europa não fazem parte da mesma espécie.
c) É consensual, para a comunidade científica, a afirmação de que a espécie humana é originária do Continente
Africano.
d) Não existem consensos a respeito de qual continente teria se originado a espécie humana.
e) O Homo sapiens é, evidentemente, anterior ao Homo rudolfensis.

7. Uece 2018 É admirável a variedade de habitats ocupados pelos primeiros humanos que possivelmente iniciaram o
povoamento da América em seu ponto mais meridional na Terra do Fogo, no extremo sul do continente. A chegada
na América comprova a engenhosidade, adaptabilidade e capacidade migratória excepcional e insuperável do
a) Homo habilis.
b) Homo neanderthalensis.
c) Homo de denisova.
d) Homo sapiens.

126 HISTÓRIA Capítulo 1 História e Pré-história


8. UEL 2018 Analise a figura a seguir e responda às questões.

(Disponível em: http://www.filmeb.com.br/calendario-de-estreias/cavernados-sonhos-esquecidos. Acesso em: 9 out. 2017.)

Com base na gura e nos conhecimentos sobre arte paleolítica, assinale a alternativa correta.
a) A pintura feita com guache é uma característica desse período, que consiste na mistura de alguns tipos de
terra; tais pinturas serviam para catalogar o que haviam caçado, garantindo a diversidade de espécies nas
caças seguintes.
b) As pinturas e os desenhos foram feitos com pigmentos minerais e vegetais, fixados com gordura animal; tais
produções são relacionadas a aspectos mágicos, presentes no cotidiano das organizações pré-históricas.
c) As pinturas funcionavam como oferenda aos deuses e, pelas dimensões, é possível perceber o nível de reverên-
cia; os artistas desse período empenhavam-se na produção de uma arte religiosa com fins decorativos.
d) As pinturas e os desenhos encontrados nas grutas eram feitos como afrescos e representam figuras híbridas,
metade humana e metade animal; os mitos gregos têm suas origens nessas imagens da pré-história.
e) Nos registros encontrados nas cavernas, as figuras de destaque remetem à flora; para os povos paleolíticos
esses desenhos caracterizaram o momento em que deixaram de ser nômades e, para a história, foi o início das
catalogações de todas as espécies.

9. UPE 2017 Na bacia do Rio São Francisco, nas paleolagoas conhecidas hoje como tanques, foram achados ossos de animais
extintos da fauna pleistocênica, que conviveram com o homem em diversas áreas da região, como Salgueiro e Alagoinha,
em Pernambuco. Pesquisas mais recentes assinalaram, também, a presença de megafauna, como o mastodonte e a pregui-
ça-gigante, como é o caso da Lagoa Uri de Cima em Salgueiro.
MARTIN, Gabriela; PESSIS, Anne-Marie. Breve Panorama da Pré-História do Vale do São Francisco no Nordeste do Brasil. Revista FUMDHAMentos,
Volume 1 – Número 10 – Ano 2013, p. 14, adaptado.

O trecho acima propõe uma leitura da História do Brasil, que se caracteriza pela
a) presença essencial dos europeus no continente americano.
b) inexistência de exemplares da megafauna em território brasileiro.
c) carência de estudos paleoantropológicos e sítios arqueológicos no Nordeste.
d) antiguidade da presença humana no país, anterior à chegada dos portugueses.
e) existência de répteis de porte avantajado, popularmente conhecidos como dinossauros.

10. Uece Considera-se a Pré-História o período de maior duração na História. Corresponde ao surgimento do ser humano
no planeta Terra e se estende até a criação da escrita, aproximadamente  a.C. A longa duração dessa fase fez
com que se convencionasse dividi-la em períodos distintos: o Paleolítico, o Mesolítico, o Neolítico e a Idade dos
Metais. Sobre o Período Neolítico, é correto afirmar-se que é
FRENTE 2

a) conhecido como Idade da Pedra Polida e marcado pelo desenvolvimento da agricultura e pela domesticação de
animais.
b) conhecido como Idade da Pedra Lascada e caracterizado pela larga produção de artefatos em madeira, osso ou
pedra lascada.
c) caracterizado pelo avanço de uma indústria lítica e pelo gradual desaparecimento de artefatos feitos com ossos.
d) considerado a fase de transição da Pré-História para a História, pois nesse período desenvolveu-se a técnica
da fundição.

127
BNCC em foco
EM13CHS103 EM13CHS101

1. 2. Vivemos num mundo muito diferente daquele em


que nossos bisavós viveram.
A intensa radiação solar na região equatorial é res- De lá para cá, as mudanças foram muitas.
ponsável direta pelas altas taxas de evaporação da água Hoje, por meio do fax, pode-se enviar uma carta ao
de sua superfície, levando à formação de massas de ar Japão em menos de um minuto. Com um telefone celu-
quente e úmido que condicionam os altos índices plu- lar, pode-se conversar com alguém que esteja sentado
viométricos observados. Assim, elevadas temperaturas, no banco de uma praça. Pela Internet, pode-se visitar o
intensa radiação solar e muita chuva caracterizam o Louvre – um museu francês que contém obras de artistas
clima das regiões tropicais e nos fazem entender as lu- de diferentes épocas e de várias partes do mundo – sem
xuriantes formações florestais e as riquezas dos recifes sair de casa. Hoje é possível também viajar em trens e
de corais típicos dessas latitudes. Esses fatores reunidos aviões muito mais velozes do que os que nossos bisavós
explicam, ainda, a elevada produtividade associada aos conheceram.
referidos ecossistemas. Se compararmos o modo de se vestir e de se enfeitar
do tempo dos nossos bisavós com o atual, veremos que aí
também houve mudanças acentuadas. [...]
Para muitas pessoas, a História lembra apenas velha-
É seguramente fácil encontrar casos de correlação ria, túmulos de reis, cidades em ruínas, papéis roídos por
íntima entre um fato geográfico e um fato social. A con- ratos. Lembra um passado frio, distante, morto.
tiguidade* de duas regiões, planície e montanha, onde a Mas a ideia que temos de História é outra. Acredi-
ordem dos trabalhos não é a mesma e onde as colheitas tamos que faz sentido estudar o passado porque ele nos
amadurecem em datas diferentes, torna disponíveis os tra- ajuda a compreender o presente.
balhadores que alugarão periodicamente seus braços. A
presença de uma grande cidade faz nascer à sua porta cul-
tivos especiais, associados a hábitos igualmente especiais,
como o dos horticultores. A ocorrência bem localizada
de um produto de primeira necessidade pode engendrar EM13CHS101
consequências sociais e políticas. 3. Podemos definir como “artefatos” os
objetos que parecem manifestar um aspecto inteligí-
vel da ação do homem. Existem casos duvidosos de
atribuição de origem, como nas escavações de sítios
paleolíticos chineses, em que certas pedras lascadas
pelo fogo parecem ter sido resultado de uma ação ex-
clusiva da natureza.

a)

b)

c)

d)

e)
a) d)
b) e)
c)

HISTÓRIA Capítulo  História e Pré-história


FRENTE 2

CAPÍTULO Os povos do Oriente Médio e do


norte da África na Antiguidade

2
Talvez você já tenha ouvido falar sobre as pirâmides do Egito, os jardins suspensos da
Babilônia, a Cleópatra ou Nabucodonosor II. A presença desses lugares e personagens
em filmes, textos bíblicos e sites de internet pode instigar nossa curiosidade sobre os
povos da Antiguidade.
No entanto, não podemos reduzir a história desses povos a meras curiosidades, dei-
xando de lado a existência de incontáveis mulheres e homens. Não podemos também
desconsiderar o trabalho científico de diversos pesquisadores a respeito desses povos.
Considerando esses estudos, neste capítulo apresentaremos um panorama da vida des-
sas pessoas durante a Antiguidade.
Onde viviam esses povos? Usualmente, atribui-se aos gregos e romanos o título
de “criadores da civilização ocidental”. Tal ideia advém,
Foi na região que hoje chamamos de Oriente Médio e
norte da África que surgiram algumas das primeiras cidades sobretudo, do século XIX, e relaciona-se a uma tentativa
de que temos notícia e onde viveram os egípcios, os de diminuir as contribuições de outros povos, ao mesmo
persas, os hebreus, os fenícios e as diversas populações tempo que cria um imaginário de um passado ocidental
chamadas, genericamente, de “mesopotâmicas”. Todos clássico. Em contrapartida, a historiografia atual, com
esses povos deixaram legados como a escrita, o alfabeto, o apoio de modernas formas de pesquisa empírica e
a Aritmética, a Geometria, unidades de pesos e medidas, a de uma metodologia rigorosa, tem reforçado que as
Astronomia, o calendário lunar e solar, princípios de medici- origens de nossa “civilização” são muito mais diversas
na, códigos religiosos e formas de organização do Estado. e plurais.

Saiba mais

Esses povos ocuparam uma área de aproxima- Atualmente, a região abriga os estados da Palestina, Israel,
damente 500 mil km², chamada de Crescente Fértil, Jordânia, Kuwait, Líbano e Chipre, além de regiões da Síria, do
marcada pela existência de vários rios, que tornam as Iraque, do Egito, do sudeste da Turquia e do sudoeste do Irã.
terras próximas a eles propícias para a agricultura. Cor- Essas sociedades estavam localizadas, portanto, em
responde a vales férteis, cercados por regiões inóspitas regiões desérticas e dependiam dos rios para a realização
de desertos e estepes, ao redor dos quais surgiram, das mais diversas atividades. A fim de melhor aproveitar
na Antiguidade, grandes centros urbanos como a Me- esses recursos hídricos, construíram grandes canais, diques
sopotâmia, entre os rios Tigre e Eufrates; o Egito, às e outros instrumentos engenhosos que realizavam o con-
margens do rio Nilo; a Síria, próxima ao rio Orontes; e trole e a circulação forçada da água, facilitando o seu fluxo
Israel e Jordânia, junto ao rio Jordão. Nessa região se para cidades e plantações. Por suas relações com os rios e
passaram a Revolução Agrícola e a Revolução Urbana, pela habilidade e dependência do manejo da água, esses
estudadas no capítulo anterior. povos também são chamados de sociedades hidráulicas
A expressão “Crescente Fértil” foi criada pelo arqueó- ou de regadio.
logo estadunidense James Henry Breasted (1865-1935), e

Tor Eigeland/Alamy/Fotoarena
se refere ao traçado da região semelhante à lua crescente,
como podemos ver no mapa a seguir.

Crescente Fértil
Mar Negro

Mar
Anatólia
Cáspio

Síria Rio
E Assíria
uf
ra

Rio

t es
T

Mar Mediterrâneo
igr
M

e
es
o
ordã

op

Palestina
ot

Deserto
Rio J

âm

sírio
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Baixo Egito
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Golfo

Alto Egito Pérsicors
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Trópico de Câncer
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Ver

N
o
Ri Deserto
me

da Núbia
lho

Fonte: Crescente Fértil. Britannica Escola. Disponível em: https://escola. Shaduff, um antigo instrumento para obtenção de água.
britannica.com.br/artigo/CrescenteFértil/422. Acesso em:  jul. 22. Egito, foto atual.

130 HISTÓRIA Capítulo 2 Os povos do Oriente Médio e do norte da África na Antiguidade


Saiba mais

A frase proferida no século V a.C. pelo historiador grego Heródoto, “O Egito é uma dádiva do Nilo”, ilustra a importância
do rio para aquele povo. O rio Nilo, um dos mais extensos do mundo, tem seu período de cheias entre julho e setembro,
inundando suas margens com águas barrentas ou lodosas. Quando, em fins de outubro, as águas voltam ao normal, uma
camada de nutrientes (húmus) torna a terra extremamente fértil, permitindo uma boa colheita. Por isso, o próprio nome Egito
significa “terra preta” ou “terra fértil”. As obras de drenagem e irrigação tiveram, nesse sentido, um papel muito importante ao
longo da história dos povos egípcios, pois permitiam levar as águas do rio para outros lugares. O Nilo também servia como
comunicação entre as diversas partes do território, como pode ser observado no mapa.

Império Egípcio – c. de 1450 a.C.

Mar Cáspio

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fra
Mar Mediterrâneo tes io
Tig
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Golfo
Pérsico
Ri
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Nilo

Ma

Trópico de Câncer
rV
erm
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o

OCEANO
45º L
ÍNDICO

Fonte: DUBY, Georges. Atlas Histórico Mundial. Barcelona: Larousse Editorial, 2, p. 2. (Adapt.)

No caso da Mesopotâmia, não havia um império, reino ou país, mas uma região geográfica que, embora cercada por
desertos, possui uma planície cortada pelos rios Tigre e Eufrates, que nascem na atual Turquia e correm para o sul, até
desaguarem no Golfo Pérsico e em seus diversos afluentes e córregos. Tais rios garantem uma planície de terras férteis,
onde é possível praticar a agricultura irrigada, com o cultivo de grãos, tamareiras e outras plantas. A presença da água e
da fertilidade nessa região do Oriente Médio favoreceu sua ocupação, mas também ocasionou diversos conflitos entre as
populações nos desertos das proximidades.
Composta de diversas cidades independentes (cidades-templo, inicialmente, e cidades-reino, posteriormente), a Me-
FRENTE 2

sopotâmia nunca chegou a ser um Estado unificado, como foi o Egito. No entanto, ao longo de sua história, alguns povos
promoveram vastos movimentos de conquista, formando grandes reinos e quase unificando a região em alguns momentos
da história. O primeiro desses povos foram os sumérios, seguidos por acadianos, babilônicos, assírios e neobabilônicos.
Da mesma forma, apesar de serem independentes, as cidades mesopotâmicas possuíam uma cultura em comum, a cultura
sumério-acadiana (depois herdada pelos babilônicos e persas), e mostravam bastante independência na esfera econô-
mica, o que nos permite falar em uma “sociedade mesopotâmica”. A história da Mesopotâmia, nesse sentido, inclui uma
plêiade de povos, como mostra o mapa da página a seguir.

131
Região da Mesopotâmia

Mar
Cáspio

Rio E

Rio Tigre
ufr
at
es
Mar
Mediterrâneo

Golfo
Pérsico

Fonte: Mesopotâmia. Britannica Escola. Disponível em: https://escola.britannica.com.br/artigo/Mesopotâmia/4. Acesso em:  jul. 22.

A partir de 5000 a.C, a maior parte da região entre rios A palavra “faraó” significa “grande casa”. No Egito, o
foi ocupada e, por volta de 3750 a.C., iniciou-se a urbani- faraó exercia funções políticas e religiosas, sendo chefe
zação na Mesopotâmia. Como vimos, os primeiros povos militar, juiz supremo, comandante único do Estado e coorde-
da Mesopotâmia foram os sumérios, que desenvolveram a nador da economia, além de ser considerado um deus vivo,
escrita mais antiga conhecida, feita com a impressão de um intermediário entre os humanos e todo o panteão egípcio.
estilete na argila ainda mole e, por isso, chamada cuneifor- Por tudo isso, era considerado o principal defensor do maat,
me. Ela era utilizada para registrar textos religiosos, mitos, expressão que significa “ordem”. Do faraó dependiam a or-
poemas, cartas, inscrições dos reis e contratos. dem na terra e a ordem cósmica, ética, religiosa e filosófica.
Jon Bodsworth (CC BY 2.0)/Wikimedia Commons

Organização política
A ocupação da região do Nilo ocorreu ainda durante o
Neolítico, com os grupos saarianos do grupo linguístico hamita.
As populações que lá se estabeleceram agruparam-se em
comunidades chamadas spats (mais conhecidas pelo termo
grego nomos). Supõe-se que o chefe de uma confederação
tribal, o “Escorpião”, tenha reunido sob seu poder um território
que se estende de Hierakômpis até Tura. Seu sucessor, Men As esculturas de faraós são
a representação de sua
(Menés do grego) ou Narmer, teria sido responsável por unifi- idealização, atestando seu
car o Egito, tornando-se o primeiro faraó. Assim, a unificação caráter divino. Não é por acaso
do Egito deu-se entre 3100 a.C. ou 3000 a.C. e 90 a.C. que escultor, em egípcio,
significa “aquele que mantém
vivo”. Na imagem, estátua do
Museu Britânico, Londres

faraó Kéfren (c. de 2500 a.C.),


datada de c. 2500 a.C. Museu
Egípcio, Cairo.

A administração do território concentrava-se no palácio,


exercida pelos funcionários do faraó. O principal deles era o
Menés ou Narmer (século tjati, ou vizir, uma espécie de “primeiro-ministro”. Além disso,
XXXII a.C.), com a coroa do havia os nomarcas, responsáveis pela administração das pro-
Alto Egito, executando um víncias em nome do rei, e os numerosos escribas, os quais,
inimigo de guerra. Museu
Britânico, Londres. como conhecedores da escrita, registravam a arrecadação e a
Esse artefato, produzido em cobrança de impostos, a produção agrícola, as atividades co-
c. 3100 a.C., é um dos merciais, poemas, histórias, ca as e determinações faraônicas
documentos utilizados por
egiptólogos para pensar a e religiosas. Os escribas possuíam muita importância e prestí-
unificação do Egito. gio na sociedade egípcia, conforme registra o texto a seguir.

132 HISTÓRIA Capítulo 2 Os povos do Oriente Médio e do norte da África na Antiguidade


“Sê escriba. Não terás canseiras e ficarás preservado de A história política do Egito faraônico é dividida em:
outros tipos de trabalho. Não terás de transportar a enxada, a • Reino Antigo (7- a.C.): período no qual
picareta e o cesto. Não terás de guiar o arado e serás poupado ocorreu o auge da divinização do faraó e a capital era
de todos os tipos de canseira. Mênfis. O culto ao deus Rá (o deus sol) atingiu sua
Deixa que te recorde o estado miserável do camponês: maior importância, as pirâmides de Queops, Quéfren
quando chegam os funcionários para fixar a taxa da colheita, e Miquerinos foram criadas e o faraó era identifica-
as serpentes já levaram metade do cereal e o hipopótamo comeu do como encarnação do deus Hórus. O reino antigo
o resto. O pássaro voraz é uma calamidade para os camponeses. entrou em crise devido a invasões estrangeiras e con-
O trigo que restava na eira desapareceu, os ladrões levaram-no.
flitos entre o faraó, os nomarcas e os sacerdotes, no
Não pode pagar o que deve pelos bois que pediu emprestados;
período chamado de “Primeiro Período Intermediário”.
além disso, os bois morreram de tanto lavrarem e debulharem.
• Reino Médio (-6 a.C.): período em que o
E já o escriba atraca à margem do rio para calcular o imposto
faraó retoma seu lugar de poder. Com as guerras con-
sobre a colheita, com um séquito de servos armados de bastões
e de núbios com ramos de palmeira”.
tra os hicsos (grupo misto semita-asiático), tem início
Sátira dos ofícios. Citado por CAMINOS, Ricardo A. “O Camponês”. In:
o “Segundo Período Intermediário”, caracterizado por
DONADONI, Sérgio (dir.). O homem egípcio. Lisboa: Presença, 1994. instabilidades e conflitos.
• Reino Novo (-7 a.C.): com a expulsão dos
Rama (CC BY 2.0)/Museu do Louvre, Paris

hicsos, inicia-se o período mais bem documentado


do Egito. Foi nessa época que viveram os faraós
Akhenaton, Hatshepsut e Ramsés II. Nesse perío-
do, muitos tribunais foram substituídos por oráculos,
na solução de querelas jurídicas. Ao final do Reino
Novo, o faraó, enfraquecido, dividiu seu poder com
o alto sacerdote de Amon e com o vice-rei da Núbia.

ArchaiOptix (CC BY 4.0)/Novo Museu, Berlim


A barriga protuberante nas esculturas dos escribas egípcios sugere prestígio
social, uma vez que indica fartura de alimentos e um trabalho não braçal.
Estátua de escriba sentado (2600-2350 a.C.). Museu do Louvre,Paris.

Saiba mais

Estátua de Hatshepsut, que, em cerca de 1480 a.C., foi a primeira mulher a


assumir o trono egípcio, adotando para si símbolos régios como a barba falsa
e o distintivo do faraó. Novo Museu, Berlim.

O Reino Novo teve fim quando o Egito, em 55 a.C., foi


conquistado pelo rei persa Cambises. Em seguida, o território
foi tomado por Alexandre, o Grande, em 33 a.C. Posterior-
mente, o território foi romano, bizantino, árabe, turco e inglês,
recuperando sua autonomia política apenas no século XX.
No caso da Mesopotâmia, como se viu, não havia
FRENTE 2

um reino unificado, mas cidades independentes. As pri-


meiras dessas cidades, fundadas pelos povos sumérios,
organizavam-se em torno de templos (cidades-templos) e,
posteriormente, passaram a ser comandadas pelos palácios,
onde residiam os governantes. Cada cidade possuía um deus
protetor que, acreditava-se, possuía todas as terras. Foi o
caso das cidades de Quish, Ur, Uruk, Eridu, Lagash e Nipur.

133
No primeiro milênio antes de Cristo os governantes e sumo sacerdotes locais eram chamados de en (em outros perío-
dos, também chamados de ensi e en era autoridade máxima, detentor do poder político, militar e religioso, tendo
a responsabilidade de abrir canais, diques, barreiras e rotas de comércio. Abaixo dele havia um conselho de anciãos, que
julgavam as decisões a serem tomadas.
Ao longo da história, alguns povos tentaram unificar a região da Mesopotâmia. Os acadianos, por exemplo, dominaram a
parte sul, liderados pelo rei Sargão I, e permaneceram no controle da região entre 2340 a.C. e 2154 a.C. Em 2154 a.C., a inva-
são dos povos gútios, expulsos pelo ensi da cidade de Uruk, deu fim a essa hegemonia. Foi quando ocorreu a fusão definitiva
dos povos sumérios e acadianos.
Posteriormente, a região da Assíria, a partir da cidade de Assur, também estabeleceu um domínio, interrompido pela
invasão dos hititas. A partir de 1900 a.C., a longa disputa terminou com a hegemonia da cidade da Babilônia, liderada
pelo seu rei Hammurabi.
Durante o Império Babilônico, o rei passou a contar com um conjunto mais complexo de funcionários e conselhos. Havia
uma assembleia de homens livres (purhum), um conselho de anciãos (shibutum), os representantes do rei (shakanakum) e
os coletores de impostos (makisu). Após um novo período de dominação assíria e babilônica, a região acabou subjugada
pelas invasões de Ciro, o Grande, da Pérsia, em 539 a.C. e, em seguida, de Alexandre, o Grande, em 331 a.C. Com as
conquistas do rei macedônico, toda a região passou por um processo de helenização, o que significou uma profunda
mudança cultural, como se verá no próximo capítulo.

Atenção O efeito prático dessas coleções de sentenças reais pa-


rece ter sido o de servir de modelo para que os funcionários
resolvessem casos semelhantes. Além disso, ao mandar fazer
um “código”, o rei reforçava a sua imagem de ordenador da
O nascimento da lei? sociedade. Os “códigos” mais antigos foram:
É muito comum dizer-se que a Mesopotâmia conhe- • o de Ur-Nammu (2112-2095 a.C.), fundador da terceira
ceuas primeiras leis da história do homem. Mas, na verdade, dinastia de Ur, foi escrito em sumério.
os “códigos” mesopotâmicos eram muito diferentes das le- • o de Lipit-Ishtar (1934-1925 a.C.), rei da cidade de Isin;
gislações atuais: eles não tinham leis que estabelecessem também escrito em sumério.
as características de um crime. Diferentemente, em geral, • as Leis de Eshunna, possivelmente datadas do fim do
parecem ser coletâneas de sentenças reais, que descreviam século XIX a.C. É o primeiro escrito em acadiano.
uma situação concreta e particular e diziam o que deveria • o Código de Hammurabi, rei da Babilônia entre 1792 e
acontecer com o acusado. Como, por exemplo, nesta pas- 1750 a.C. O bloco de pedra em que foi gravado [...] foi
sagem do famoso “código” de Hammurabi: “Se um pedreiro descoberto em Susa, para onde foi levado como troféu
construiu uma casa para um homem livre, mas não reforçou de guerra pelos elamitas, que invadiram a Babilônia por
seu trabalho e a casa, que ele construiu, caiu e matou o dono volta de 1100 a.C.
da casa, então esse pedreiro será morto.”

Saiba mais

Tanto no caso egípcio quanto no caso mesopotâmico, a Pérsia ocupou um papel fundamental na unificação desses
territórios. A região conhecida como Planalto Iraniano ou Planalto Persa era formada predominantemente por montanhas
e desertos, com a Mesopotâmia a oeste, a Índia a leste, o mar Cáspio ao norte e o oceano Índico ao sul. Mesmo as áreas
com cultivos agrícolas apresentavam baixa fertilidade, obrigando a realização de complexas obras de irrigação. A partir
de 000 a.C., povos arianos ou indo-europeus povoaram a região, organizando-se em pequenos Estados monárquicos
rivais, destacando-se, entre eles, o Reino dos Medos, ao norte, e o Reino dos Persas, ao sul.
Inicialmente com capital em Ecbátana, o Reino dos Medos teve seu apogeu até o século IV a.C., destacando-se os
soberanos Dejoces, o primeiro rei dos medos, Fraortes, seu sucessor, e Ciáxeres, filho de Fraortes. Este último, aliando-se
à Babilônia de Nabopolassar, destruiu Nínive e anexou o Império Assírio. Os medos estenderam seu domínio sobre os
persas até o reinado de Ciro I, o Grande (559 a.C.-529 a.C.).

134 HISTÓRIA Capítulo 2 Os povos do Oriente Médio e do norte da África na Antiguidade


Ciro I, príncipe persa, da Dinastia Aquemênida, foi responsável por anexar o Reino da Média e fundar o Império Persa.
Ciro substituiu a antiga capital, Anshan, por Pasárgada, construindo ali imponentes palácios. Os persas conquistaram os
medos, anexaram a Lídia (Sardes), submeteram as cidades gregas da Ásia Menor (Anatólia, que englobava as cidades jô-
nicas), conquistaram a Babilônia e chegaram aos territórios indianos. O filho e sucessor de Ciro, Cambises, foi responsável
por expandir o território até o Egito. Nesse período, o Império Persa se estendia do Egito à Índia.
Com a morte de Cambises e a ascensão de Dario I ( a.C.-86 a.C.), o império chegou ao seu apogeu. Dario I
reforçou a diplomacia de respeito às tradições e práticas religiosas de cada local e estabeleceu uma organização adminis-
trativa que dividiu o império em vinte províncias, chamadas satrápias, as quais eram regidas por sátrapas (governadores).
As satrápias eram obrigadas a pagar um imposto, calculado de acordo com suas riquezas, e abrigavam tropas que res-
pondiam diretamente ao imperador, evitando concentração de poder nas mãos dos sátrapas.

Império Persa – século VI a.C.

O Império Aquemênida em
sua maior extensão (500 a.C.)
Centros de poder imperial
Capitais satrápias
Mar de
Aral Rota Real
Mar Negro
Mar
Cáspio
Daskyleion Lago Marakanda
de Vã
Sardes Tushpa Lago
Úrmia
Zadrakarta
Rio

Rio Zariaspa
E uf
Ti

rat
gre

es Ecbátana Peukelaa
Mar Areia Arachosia
Mediterrâneo Taxila
Babilônia Susa Phrada

Pasárgada
30º N
Mênfis Persépolis
Ri
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N
Ma
ilo

rV

Mar
erm

Arábico
elh
o

45º L

Fonte: DUBY, Georges. Atlas Histórico Mundial. Barcelona: Larousse Editorial, 2, p. . (Adapt.)

Dario I e seu sucessor, Xerxes I, entraram em guerra com os gregos, nos conflitos que ficaram conhecidos como
Guerras Médicas, com vitória dos gregos. A Dinastia Aquemênida, no entanto, terminou em 331 a.C., quando Dario III foi
derrotado por Alexandre, o Grande.

Economia e sociedade
Uma característica comum às economias dessas sociedades foi a dependência dos rios e dos sistemas de irrigação.
Existiu nessas regiões uma dupla dinâmica econômica:
• As sociedades aldeãs, caracterizadas pela propriedade comunitária da terra e por uma economia de subsistência.
• Os complexos palacianos e templários, que supervisionavam o trabalho forçado e cobravam impostos.
A estrutura palaciana, portanto, controlava as aldeias, que passaram a conviver com uma estrutura militar e política que,
nas entressafras, exigia prestação de trabalho forçado (a corveia real ou servidão coletiva, geralmente para a construção
de obras) e cobranças de tributos (geralmente na forma de alimentos).
Também existia a grande economia familiar: funcionários, sacerdotes ou comerciantes que investiam em terras e
compravam pessoas escravizadas. A escravidão que existia nessas regiões, diferente da que existiu no Brasil, não era a
base econômica dessas sociedades.
Granger/Shutterstock

FRENTE 2

Camponeses trabalhando
na colheita de trigo,
c. 1213 a.C.-1203 a.C.
Tumba de Sennedjem,
em Luxor.

135
G. NIMATALLAH/DEA/Granger/Imageplus
Atenção

Na Mesopotâmia, não existia uma moeda unificada; a


cevada ou os metais eram, usualmente, padrões de valor
nas transações comerciais. Apenas o domínio persa trouxe
a moeda cunhada para a região.
As principais atividades eram a plantação de cevada e
trigo (utilizados na produção de pão e cerveja), de sésamo
(utilizado na produção de óleo para alimentação e ilumina-
ção) e de linho (utilizado na fabricação de tecidos), além
da criação de animais, especialmente ovelhas, cabras e
porcos, dos quais se extraíam carne, lã e leite (utilizado na Mulher fabricando cerveja, c. 2400-2300 a.C. Museu Arqueológico Nacional
produção de iogurtes e queijos). Os bois e asnos também de Florença.
eram aproveitados para o arado e para puxar carroças.

Museu Britânico, Londres


Cavalos e camelos foram muito usados, principalmente
na guerra. Legumes e hortaliças complementavam a ali-
mentação da Mesopotâmia. Nas aldeias também havia
uma produção artesanal, com potes de cerâmica, cestos
de fibras vegetais, ferramentas de pedra, madeira, osso e,
às vezes, metal. Enquanto nas aldeias a maior parte das
pessoas praticava a agricultura e o pastoreio ou era arte-
são, nas cidades havia pedreiros, barbeiros, escultores,
carpinteiros, artesãos, pequenos e grandes comerciantes.
Como a Mesopotâmia era carente em metais, pedras e
madeira de qualidade, a maioria das matérias-primas vinha
de outros lugares.
No caso do Egito, os camponeses também eram
maioria da população e estavam submetidos a tributos
e trabalhos forçados. Os principais produtos eram a ce-
A caça nos pântanos como programa de lazer. Tumba de Nebamun, c. 1350
vada, o emmer (uma espécie de trigo) e o linho, bastante a.C. Museu Britânico, Londres.
utilizado na produção de tecidos. A atividade artesanal
se concentrava na fabricação de tijolos e vasilhames fei-
Museu Britânico, Londres

tos com argila úmida do rio Nilo, na fabricação de pão e


cerveja, na produção de vinho de uva e tâmara, na fiação
e tecelagem do linho, entre outras. Atividades como a
produção de tijolo e de cerveja eram feitas nas próprias al-
deias, enquanto as atividades ligadas a artigos de luxo se
desenvolviam nas oficinas pertencentes ao rei. De Creta,
no mundo grego, eles traziam artesanato e cerâmica; de
Punt (atual Somália), eles adquiriam árvores de incenso.
A madeira usada em navios, palácios e templos, a prata,
o estanho, a cerâmica de luxo e o lápis-lazúli eram impor- Inspeção do gado em pintura na tumba de Nebamun, c. 1350 a.C. Museu
tados da Fenícia. Britânico de Londres.

13 HISTÓRIA Capítulo 2 Os povos do Oriente Médio e do norte da África na Antiguidade


No que diz respeito ao comércio, os povos fenícios

Granger/Shutterstock
tiveram um destaque importante. A Fenícia compreendia
uma extensão de aproximadamente 00 km, que hoje
corresponde ao Líbano e a uma parte da Síria e da Pa-
lestina. O nome Fenícia deriva do grego Phoiníke, que
significa “país da púrpura”, e se deve ao fato de que o
algodão e o linho comercializados por esses povos eram
tingidos com a famosa púrpura de Tiro, extraída de um
molusco da região.
Fazendo uso de sua vasta floresta de cedros, madeira
utilizada na construção de barcos, e de seus bons portos
naturais, os fenícios tornaram-se comerciantes de azeite,
perfume, madeira, joias e metais. Esses povos também se
destacaram pelos trabalhos realizados em marfim, na forma
de pentes, estojos e estatuetas, e pela técnica de fabrica-
ção do vidro.
Originários de cidades como Ugarit, Biblo (futura
Jubayl), Sídon (Saída), Tiro (Sur) e Bérito (Beirute), os fení-
cios fundaram muitas cidades e postos comerciais no Mar Navio fenício em relevo do século I.
Mediterrâneo. Os fenícios escalaram em Chipre, a faixa
costeira da Anatólia, o sul da Palestina, o delta do Rio Nilo A Fenícia era composta de cidades-Estados
e mantiveram relações econômicas com Creta. No norte da independentes, controladas por uma oligarquia de co-
África, eles se estabeleceram em Útica no século XII a.C. e merciantes e proprietários agrícolas. Algumas cidades,
fundaram outros núcleos no século IX a.C., entre os quais como Cartago, adotaram o modelo grego de organi-
Cartago. Na península Ibérica, Gades (Cádiz), fundada no zação, tornando-se, inclusive, democráticas. Um dos
século XII a.C., foi o porto principal dos fenícios, além da legados deixados pelos fenícios é a difusão do alfabeto
ilha de Malta. fonético de  letras.

Rotas comerciais fenícias

42°
N
h
nwic
Gree
o de
idian
Mer

FRENTE 2

Fenícia
Cidades fenícias
Colônias fenícias
Outras cidades
Rotas comerciais
fenícias

Fonte: Britannica Kids. Disponível em: https://kids.britannica.com/kids/assembly/view/. Acesso em: o set. 22.

13
A religião A religião buscava estabeceler um paralelo entre a
ordem cósmica e as hierarquias sociais, reforçando a supre-
Antes do século XIX, para a maior parte dos seres hu-
macia dos faraós ou a cobrança de impostos e a servidão
manos, é muito difícil separar a esfera religiosa da vida das
coletiva. Eles acreditavam que o universo parecia funcionar
esferas política, econômica e social. A própria ideia de uma
como uma rede, na qual cada ponto importava para o todo:
vida separada em “esferas”, de acordo com o sociólogo
a coexistência harmônica de tudo era o chamado maat,
Max Weber, é parte da modernidade. Por isso, a divisão
personificado por uma deusa com a cabeça emplumada.
entre política, economia e religião, feita neste capítulo, é
Muitos deuses, portanto, personificam conceitos. Os rituais,
apenas didática e não existia para as pessoas que viveram
realizados pelo faraó ou pelos sacerdotes, preservariam
na Antiguidade.
o mundo do caos, chamado por eles de isfet. O caos era
No mundo antigo também não existia a separação en-
entendido como uma ameaça constante.
tre profano e sagrado. A palavra, a escrita, as imagens, os
gestos e símbolos em geral eram dotados de sacralidade. Atenção
Quebrar uma estatueta de um hipopótamo substituía o
sacrifício de um hipopótamo real. O desenho de pães na
tumba alimentava o morto. Uma estátua não representava
um deus, mas era uma das formas do sagrado, que é oni-
presente. Um templo não era apenas um “lugar”, mas um
microcosmo que conteria os elementos de todo o universo.
Como não havia essa separação entre o laico e o religioso,
os templos religiosos também exerciam funções econô-
micas e políticas. No caso do Egito e da Mesopotâmia, os
mitos comportavam uma grande riqueza e complexidade.
Existiam, por exemplo, muitas histórias distintas sobre a
criação do universo.
Muito do que conhecemos hoje sobre a religião egípcia
vem do estudo de relevos pintados em tumbas e templos,
narrativas literárias e textos funerários, como os Textos das
Pirâmides, os Textos dos Sarcófagos e o Livro dos Mor-
tos. A religião egípcia é muito pautada pela observação
da natureza, de forma que os deuses combinavam formas
humanas e animais (antropozoomorfia).
Rama (CC BY 2.0)/Museu do Louvre, Paris

O reforço da ordem cósmica significava também o re-


forço das hierarquias sociais, como a supremacia dos faraós
ou a cobrança de impostos e a servidão coletiva. Os tem-
plos eram instituições que validavam a dominação social,
que era sacralizada. Erguidos exclusivamente a mando do
faraó, serviam como residência dos deuses e centro de
operações mágicas. Somente sacerdotes e faraós podiam
entrar nesses locais. O restante da população realizava
Amon-Ra e Maat recebem unguento do rei Ptolemeu VIII Evérgeta II consultas com os oráculos durante os festivais e possuía
(170 a.C.-116 a.C.) Museu do Louvre, Paris. amuletos como o Olho de Hórus.

13 HISTÓRIA Capítulo 2 Os povos do Oriente Médio e do norte da África na Antiguidade


Os egípcios acreditavam que corpo e alma não esta- Na Mesopotâmia, os pesquisadores pensaram a religião
vam separados e que o ser humano é composto de quatro como um elemento de unidade mediante a fragmentação
elementos: o corpo material (khet); a força vital, que, após a política que existia. Como no Egito, havia deuses que per-
morte, depende de oferendas para continuar a existir (ka); sonificavam forças materiais, como Gibil, o fogo. Contudo,
a alma, que nos faz únicos, representada nas pinturas como ao contrário do Egito, as divindades eram apenas antropo-
um pássaro (ba ou bai); e a chispa do fogo divino (khu). A mórficas, isto é, não eram representadas como animais. Era
existência dos quatro elementos deveria ser preservada comum também que pessoas de destaque na história meso-
após a morte a fim de evitar o desaparecimento total do potâmica se tornassem divinas. Outros deuses representavam
indivíduo. O ba e o khu, elementos espirituais, poderiam coletividades, como iggi, os deuses celestes, e anunnaki, os
ser preservados por meio de orações. O corpo, no entanto, deuses do subterrâneo. As mudanças de domínio de cidades
como moradia da alma, deveria ser mumificado e prote- signi cavam também mudanças de domínio de deuses, como
gido. As crenças funerárias e mesmo as possibilidades ocorreu com o deus Marduk, da Babilônia, que substituiu Enlil.
de quem poderia ser mumificado mudaram ao longo da Os deuses da Mesopotâmia, como os seres humanos,
história egípcia, mas a ideia de que o ba fazia uma traves- eram sujeitos a fraquezas e paixões. Eles emitiam uma luz
sia após a morte e encontrava a transfiguração (akhet) particular (melam) que provocava reações (ni): terremotos,
sempre existiu. furacões, secas e qualquer outro fenômeno que aflige
a humanidade podem ser fruto da raiva dos deuses. Os
Gianni Dagli Orti/Shutterstock

seres humanos estavam sempre submetidos aos desejos


dos deuses. O texto conhecido como Dilúvio sumério conta
como o deus Enlil decidiu inundar a terra para destruir a
humanidade. Outro deus, Enki, teria salvado uma pessoa
e sua família, evitando a extinção humana.

Saiba mais

Tu Gilgamesh, Enche tua barriga;


Alegra-te dia e noite [...]
Cuida do jovem que tu tens nas mãos.
Anúbis junto a corpo mumificado. No Egito Antigo, apenas o faraó poderia
ter uma vida imortal e ser mumificado. A arte egípcia também servia, Que tua amada alegre-se em teus braços.
frequentemente, ao poder e à religião: arquitetos, escultores ou pintores Eis tudo o que pode fazer a humanidade.
eram funcionários do faraó e seus temas glorificavam os feitos dos líderes,
descreviam hábitos religiosos ou representavam atividades humanas
necessárias nas vidas futuras. Tumba de Senedjem, em Luxor.
Poliorketes/Shutterstock.com

FRENTE 2

Dur-Untas, ou Choga Zambil, construído no século XIII a.C., localizado no território do atual Irã. Não se sabe exatamente a função dos zigurates da Antiga
Mesopotâmia, como os da imagem. Acredita-se que eles funcionavam como uma escada que uniria o céu e a Terra. Foto atual.

139
Para os mesopotâmicos, o universo era governado por leis divinas, as mês, entre as quais estavam a monarquia, a
verdade e a música. Segundo os sumérios, no princípio de tudo havia um grande Mar Primordial (a deusa Nammu), onde
se misturavam todas as coisas, numa situação caótica, que deu origem ao céu e à Terra. A criação seria, portanto, uma
superação do caos no princípio de tudo, um processo de separação e ordenamento das coisas. Da união entre o céu e
a Terra nasceram vários deuses. Um deles, Enlil, fez da Terra seu reino, enquanto o deus An ficou com o céu. Havia ainda
um Mundo Inferior, destinado à deusa Ereshikgal. Os próprios seres humanos teriam sido criados porque os deuses não
tinham quem trabalhasse por eles e os servissem.

Saiba mais

Na Pérsia, havia a crença do zoroastrismo, que deriva da atuação do profeta Zaratustra (nascido em cerca de
650 a.C.). Zaratustra teria se encontrado com Ahura Mazda (ou Ormuz-Mazda), o Ser Supremo, e, a partir desse encon-
tro, teria transmitido a mensagem divina à comunidade. Ahura Mazda teria dois filhos gêmeos: o bem, representado por
Spenta Mainyu, e o mal, representado por Angra Mainyu. A partir de então todos, tanto os seres humanos como os espíri-
tos, tinham o livre-arbítrio para escolher entre o bem (asha) e o mal (drug), de modo que o mundo viveria em meio a uma
eterna disputa de forças contrárias.
O culto a Ahura-Mazda, chamado masdeísmo, era liderado por sacerdotes denominados magos, aos quais cabia pre-
servar o fogo sagrado aceso nos altos das montanhas. Zaratustra estabeleceu a obrigação de cinco orações individuais
diárias e a celebração de festas comunais. Do zoroastrismo derivaram várias religiões, como o mitraísmo e o maniqueísmo,
além de possuir fortes influências sobre o orfismo e o pitagorismo.
Radiokafka/Shutterstock.com

Faravahar, símbolo associado


ao zoroastrismo, em
construção nas ruínas de
Persépolis, Irã. Acreditava-se
que, após a morte, as almas
eram conduzidas à ponte
Cinvat, onde seriam colocadas
em uma balança e avaliadas
segundo seus pensamentos.
No fim dos tempos, haveria um
julgamento final, no qual um
rio de lava e metal derretido
separaria os justos dos
injustos. Foto atual.

Na região ocupada atualmente por Palestina e Israel, situada na costa oriental do mar Mediterrâneo, se desenvolveram,
no primeiro milênio a.C., os hebreus. Na região, irrigada e fertilizada pelas águas do rio Jordão, desenvolvia-se a agricultura.
Localizada entre a Mesopotâmia e o Egito, era passagem obrigatória entre a África e a Ásia.
A história dos hebreus é contada no livro Tanach, dos judeus, ou no chamado Antigo Testamento, dos cristãos. Devido
à falta de fontes documentais, há controvérsias sobre datas e sobre a existência de determinados personagens de algumas
dessas narrativas. Em vez de pensar os textos cristãos e judaicos como verdadeiros ou falsos, os historiadores os conside-
ram fontes históricas, buscando entender, a partir deles, elementos sobre a sociedade, a vida e a mentalidade dos povos
antigos. Muitos textos assírios ou babilônicos, por exemplo, apresentam ligações ou semelhanças com os textos bíblicos.
Os textos religiosos contêm narrativas como a história de Abraão, originário de Ur, na Mesopotâmia, que teria lançado as
bases do monoteísmo. Segundo esses textos, Iavé (uma das denominações de Deus) não seria apenas o Senhor de Israel,
mas o Deus único, universal, Princípio Uno que criou o mundo, e que já havia se revelado a outros justos antes de Abraão.
Iavé teria escolhido os hebreus como seu povo, por meio do qual seria redimida toda a humanidade, e prometido
a eles “uma terra que mana leite e mel”. Os hebreus teriam, então, se deslocado para a região da Palestina por volta de
000 a.C., em busca da chamada Terra Prometida. Por isso, a palavra hebreu significa “povo do outro lado do rio”, devido
à sua origem migrante. Quando os hebreus chegaram à Palestina, ela era habitada por diversas outras populações, como
cananeus e filisteus no litoral, nômades semitas no sul, edomitas, moabitas e arameus no leste e no norte. Estes últimos
tornaram sua língua, o aramaico, idioma oficial dessa região.

140 HISTÓRIA Capítulo 2 Os povos do Oriente Médio e do norte da África na Antiguidade


Ainda de acordo com essa tradição, os hebreus estavam rei dos persas, permitiu a volta desses povos à região de
divididos em 1 tribos seminômades, chefiadas por cada um Judá, onde, a partir de então, são chamados de judeus ou
dos 1 filhos de Jacó (na tradição, neto de Abraão). Os líde- israelitas. Por fim, a Judeia foi dominada pelo Império Roma-
res dessas tribos eram os grandes patriarcas do judaísmo. no, tornando-se seu reino cliente em 63 a.C. É importante
Em 1800 a.C., fortes secas e ataques estrangeiros obrigaram lembrar que o cristianismo era entendido pelos romanos
os hebreus a deixar a Palestina e migrar parao Egito. como um ramo do judaísmo. Diversas revoltas levaram à
Conta-se que, liderados por Moisés, os hebreus dei- destruição de Jerusalém e à expulsão dos judeus de sua
xaram o Egito em 150 a.C. De acordo com historiadores, região pelo imperador romano Tito, em 70 d.C. Com isso,
trata-se de um período, na passagem da Idade do Bronze os judeus se viram obrigados a se espalhar pelo mundo na
para a Idade do Ferro, no qual a opressão contra a população chamada diáspora hebraica.
camponesa no Egito e na Mesopotâmia de fato aumentou,
e esse tipo de migração de grupos foi comum. Deus teria Antiguidade Oriental?
se revelado para Moisés, no alto do monte Sinai, para esta-
Atribuir a denominação “Antiguidade Oriental” a esse
belecer uma aliança com o povo hebreu. O símbolo dessa
período que acabamos de estudar ainda é muito comum.
aliança seriam as Tábuas da Lei, onde estariam os Dez Man-
No entanto, é necessário refletir sobre ela, sobretudo em
damentos (Decálago), entregues por Deus a Moisés.
decorrência de dois fatores:
Os hebreus chegaram à Palestina, na região de Jericó,
• a ideia de Oriente é uma construção do próprio Oci-
chefiados por Josué, onde se organizaram em tribos ligadas
dente, que se refere de uma forma genérica a uma
pelo culto a Iavé. Para alguns historiadores, é a partir desse
enorme quantidade de povos diversos;
momento que se pode falar com mais certeza na existência
de um povo hebraico.
• a separação entre Antiguidade Oriental e Ociden-
No entanto, para se instalar na região, entraram em tal leva ao não reconhecimento das conexões entre
conflito com cananeus e filisteus. Para organizar as batalhas, gregos, romanos, egípcios, mesopotâmicos, fenícios,
passaram a escolher um líder temporário, que só existia hebreus e persas.
nos momentos de guerra, como acontecia em outras tri- As sociedades gregas, por exemplo, tinham costumes,
bos. Esse líder era conhecido como juiz e entre os mais práticas e relações comerciais semelhantes aos desses
célebres estão Gedeão, Jefté e, especialmente, Sansão, povos denominados orientais. O colapso da sociedade cre-
que derrotou os filisteus. tense, afinal, coincidirá com o colapso das sociedades do
Ainda segundo essa tradição, os anciãos de Israel fo- bronze e a ascensão do uso do ferro no Egito e na Mesopo-
ram até Samuel, o último juiz, e pediram um rei. Assim, os tâmia. Podemos lembrar também a rivalidade entre gregos
hebreus escolheram Saul como rei, em 1030 a.C. Come- e persas, que culmina nas Guerras Médicas, e a rivalidade
çava a era dos reis, entre os quais os mais conhecidos entre fenícios e romanos, que culmina nas Guerras Púnicas.
são Davi e Salomão. Com a morte de Salomão, houve uma Se, por um lado, muitos fenícios adotaram a organização
divisão entre as tribos de Israel, o Cisma Hebraico, que das pólis gregas e mesmo a forma democrática de Atenas,
originou dois reinos: Judá, com capital em Jerusalém, e por outro, Alexandre, o Grande, se inspirou nas técnicas
Israel, com capital em Samaria. O sucessor de Salomão, Ro- persas de administração. Além disso, todas essas socieda-
boão, governou Judá. Essa divisão marcou uma separação des acabaram dominadas por grandes impérios, como o
entre os rituais religiosos dos reinos do norte e do sul, que persa, o macedônico e o romano – nos dois últimos casos,
permanecem até hoje, com o judaísmo e os samaritanos. houve uma forte helenização do Oriente Médio e do norte
Após essa divisão, o Reino de Israel foi conquistado da África. Da mesma forma, após a conversão de Roma ao
em 70 a.C. pelos assírios. Em seguida, o Reino de Judá cristianismo houve também uma “orientalização” do Império
foi destruído pelos babilônicos em 586 a.C. Somente Ciro, Romano, que adotou a religião da Palestina.

Saiba mais

Os egípcios tinham apenas um termo para designar a si mesmos: [...] = kmt ,=


“os negros” (literalmente). [...]
[...] o totemismo, as cosmogonias, a arquitetura, os instrumentos musicais, etc.
FRENTE 2

também são reminiscências do Egito na cultura da África Negra. A Antiguidade


egípcia é, para a cultura africana, o que é a Antiguidade greco-romana para a cultura
ocidental.

141
Revisando

1. Fatec 201 No século V a.C., Heródoto, historiador 4. UFRGS Leia os itens abaixo, que contém possíveis
grego, afirmou que “O Egito é uma dádiva do Nilo”. condições para o surgimento do Estado nas socieda-
Assinale a alternativa que apresenta, corretamente, a des da Antiguidade.
principal razão de se atribuir ao rio Nilo uma importân- I. Gradativa diferenciação da sociedade em classes
cia tão grande para o desenvolvimento do Egito Antigo. sociais, impulsionada por uma divisão social do
a) Nos períodos de cheias, as águas desse rio fertili- trabalho mais intensa, capaz de produzir exce-
zavam as margens, o que possibilitou a agricultura. dentes de alimentos.
b) Os faraós construíram barragens para obter eletricida- II. Passagem da economia comunal para uma econo-
de, aumentando a produção de itens de exportação. mia escravista, estimulada por guerras entre povos
c) A navegação pelo grande rio permitiu que os vizinhos, propiciando aumento da produção de ex-
egípcios conquistassem o sul da Europa, forman- cedentes e de trocas, com uma divisão do trabalho
do um grande império. entre agricultura, pecuária e artesanato.
d) Das margens do rio se retirava o barro com que III. Constituição da propriedade da terra e do regi-
eram fabricados os tijolos utilizados na constru- me de servidão coletiva nas sociedades orientais
ção das grandes pirâmides. para que as grandes construções públicas fossem
e) Atravessando a África de norte a sul, o Nilo possi- realizadas sob orientação dos grupos dirigentes.
bilitou a integração cultural e econômica da área
Quais dentre eles apresentam efetivas condições
entre o Saara e o deserto da Namíbia.
para tal surgimento?
a) Apenas I. d) Apenas II e III.
2. UPF 2015 As civilizações antigas localizadas no Orien- b) Apenas I e II. e) I, II e III.
te Médio basicamente se dividem em três: egípcia, c) Apenas I e III.
mesopotâmica e hebraica. Sobre essas civilizações
e suas características comuns, é correto afirmar que:
5. UFRN As sociedades que, na Antiguidade, habitavam
a) suas relações sociais eram baseadas no princípio da
os vales dos rios Nilo, Tigre e Eufrates tinham em co-
igualdade de todos os cidadãos perante os deuses.
mum o fato de:
b) se desenvolveram na região do crescente fértil,
a) terem desenvolvido um intenso comércio ma-
nas proximidades de rios.
rítimo, que favoreceu a constituição de grandes
c) nelas existia uma teocracia absoluta baseada no
civilizações hidráulicas.
comércio marítimo.
b) serem povos orientais que formaram diversas
d) suas religiões primavam por uma vida após a mor-
cidades-estado, as quais organizavam e controla-
te, com castigos ou recompensas eternas.
vam a produção de cereais.
e) contavam com códigos de leis brandos e despro-
c) haverem possibilitado a formação do Estado a par-
vidos de ética religiosa.
tir da produção de excedentes, da necessidade de
controle hidráulico e da diferenciação social.
3. UFRGS 201 Considere as afirmações abaixo, sobre d) possuírem, baseados na prestação de serviço
a história das sociedades antigas. dos camponeses, imensos exércitos que viabili-
I. O Egito faraônico caracterizava-se pela estrutura zaram a formação de grandes impérios milenares.
política horizontalizada, pela pouca estratificação
social e pela economia centrada na piscicultura
. Uece 2013 A sociedade egípcia estruturava-se em
devido às cheias do rio Nilo.
um sistema hierárquico. A pirâmide, imagem típica da
II. Os fenícios mantiveram uma estrutura social militari-
arquitetura do Egito, representa simbolicamente a or-
zada e terrestre, que permitiu a conquista de outros
ganização social, com os escravos na base, seguidos,
povos na região do Oriente Médio, culminando
em ordem crescente, pelos mercadores e artesãos,
com o fim de rotas comerciais marítimas com a Ásia.
militares, burocratas, sacerdotes, culminando com o
III. A expansão do Império Persa, durante o governo
faraó no topo.
de Dario I, foi marcada pela unificação dos siste-
Assinale a opção que corresponde a uma função (ou
mas tributário e monetário, pela implementação
a funções) dos escribas nessa sociedade.
de um código jurídico e por uma rede de estradas
a) Além de dirigir a vida religiosa, guardar o conhe-
e de comunicação.
cimento científico.
Quais estão corretas? b) Aconselhar o faraó, por isso recebiam também o
a) Apenas I. nome de vizir.
b) Apenas II. c) Organizar e gerir os ofícios públicos, núcleo fun-
c) Apenas III. damental da burocracia.
d) Apenas II e III. d) Coletar o papiro e decorar as tumbas reais ou
e) I, II e III. privadas.

142 HISTÓRIA Capítulo 2 Os povos do Oriente Médio e do norte da África na Antiguidade


. Uece 2019 No século VIII a.C. os fenícios protagoniza- O excerto faz uma comparação entre a sociedade da
ram uma intensa movimentação no Mar Mediterrâneo Suméria e a do Egito da Antiguidade, acentuando, en-
ao lançarem seus navios para o alto mar, implemen- tre elas,
tando uma rede de comercialização de ferro, vinho, a) os aspectos divergentes do ponto de vista da na-
azeite, ouro, cerâmica e escravos. Os fenícios também tureza das atividades econômicas.
são os responsáveis pela criação da b) a ausência de organização militar para a defesa
a) literatura. c) roda. dos terrenos férteis.
b) escrita alfabética. d) matemática. c) os esforços para o aproveitamento de condições
naturais de sobrevivência social.
. Uece 2012 Segundo o historiador grego Heródoto, os d) os padrões distintos de submissão da mão de
egípcios, dentre todos os povos da Antiguidade, eram obra capturada nas guerras.
os mais religiosos. Efetivamente a vida religiosa que e) a existência de sociedades sustentadas pela pro-
se desenvolveu no Egito foi extremamente rica e arti- priedade coletiva das terras.
culada. A característica fundamental da religiosidade
egípcia era o culto 10. Uefs 201 Uma opinião aceita amplamente é a de que
a) a divindades antropoformes. os gregos receberam o alfabeto dos povos fenícios. O
b) a divindades zoomorfas, cuja divindade principal nosso próprio alfabeto é derivado do alfabeto grego.
é Rá. Os intermediários foram os etruscos, cuja escrita foi
c) dedicado aos heróis caçadores representados na transmitida aos romanos. (John F. Healey. “O primeiro
forma de animais. alfabeto”. In: Lendo o passado, . Adaptado.)
d) dedicado exclusivamente ao deus Rá, o sol. O excerto explicita a existência de
a) igualdades culturais, linguísticas e políticas entre as
9. FGV-SP 2021 O Eufrates não é um rio manso e amistoso sociedades das antiguidades Oriental e Clássica.
como o Nilo, com uma inundação de fim de verão, regu- b) desenvolvimentos paralelos e independentes
lar como um relógio, que prepara a terra para o plantio dos povos mesopotâmicos, semitas, africanos e
do trigo no inverno. [...] Ele transborda de suas margens, greco-romanos.
de forma errática e imprevisível, durante a primave- c) encontros intercivilizacionais e políticos decor-
ra, quando a semente já no chão tem de ser protegida, rentes da formação do antigo Império Egípcio na
primeiro para não se afogar sob as águas da enchente; Europa e na Ásia.
segundo, para não secar sob o sol escaldante, que faz d) diálogos e trocas culturais transcorridos na região
evaporar mais da metade do fluxo do rio antes que ele do Mar Mediterrâneo na Antiguidade.
chegue ao mar. e) vínculos necessários entre difusão de regimes
(Paul Kriwaczek. Babilônia: a Mesopotâmia e o nascimento da civilização, 2018.) democráticos e formação cultural dos cidadãos.

Exercícios propostos

1. UFSC 201 O aparecimento da escrita foi tão importante que, durante muito tempo, foi considerado o marco inicial da
História. Foi a terceira forma de comunicação elaborada pelo ser humano e provocou grande revolução nos seus costumes.
Diferentemente da fala e das pinturas rupestres, a escrita permitiu ao ser humano a comunicação de longo alcance geográfi-
co, a fixação de leis, de regras e penalidades, que viabilizaram a formação de estruturas sociais e políticas estáveis.
VAINFAS, Ronaldo. História I (Ensino Médio). 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2016,p. 30.

Sobre a escrita e a comunicação ao longo da História, é correto armar que:


 na região da Mesopotâmia, existia uma escrita chamada de cuneiforme, que serviu, inclusive, para o registro do
Código de Hamurabi, conhecido como o primeiro código de leis escritas.
 no Egito antigo, a escrita hieroglífica era privilégio da realeza e só podia ser utilizada para fins administrativos,
sendo absolutamente proibida para registros ou pregações religiosas.
 o avanço dos conhecimentos na Europa, a partir do século XV, ganhou grande impulso com a contribuição de
Johannes Gutenberg, que, ao desenvolver a impressão com tipos móveis, renovou radicalmente a tipografia e o
alcance das produções escritas.
FRENTE 2

8 os povos ágrafos, como muitas sociedades ameríndias e africanas, devem ser considerados menos desenvolvi-
dos do ponto de vista da comunicação por não possuírem escrita.
6 durante o período medieval, o livre acesso à leitura, através das diversas bibliotecas espalhadas pelos mosteiros
cristãos na Europa, garantiu a consolidação do respeito a dogmas e doutrinas da Igreja.
 sancionada como língua oficial dos surdos no Brasil no início do século XXI, a Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS),
ao contrário dos idiomas essencialmente orais e auditivos, tem como característica ser visual e gestual.
Soma:

143
2. Uepa 2014 Os escribas do Egito antigo ocupavam uma posição subalterna na hierarquia administrativa gover-
namental frente à aristocracia burocrática. Sua posição social era inferior em relação aos conselheiros do Faraó,
aos chefes da administração, à nobreza territorial, à elite militar e aos sacerdotes. Mas as características de seu
ofício os afastavam de trabalhos forçados e das arbitrariedades das elites, que subjugavam e exploravam cam-
poneses livres e escravos de origem estrangeira. Tal condição privilegiada se explicava:
a) pelas possibilidades de ascensão social dos escribas que, em função do sucesso de suas carreiras, pode-
riam ocupar posições no alto escalão da administração pública.
b) por serem provenientes do meio social dos felás, camponeses livres, que investiam na formação educacio-
nal de seus filhos mais inclinados ao serviço público.
c) pelo domínio dos escribas dos segredos da escrita demótica e dos hieróglifos, do cálculo e, por conseguin-
te, da organização das atividades da administração pública.
d) pelo domínio exclusivo dos escribas do idioma escrito, da matemática, da agrimensura e dos processos
administrativos em geral.
e) pela dependência direta de faraós e altos funcionários reais relativa aos conhecimentos dos escribas, que
formavam uma corporação intelectual dotada de poder político.

3. Fuvest 2015 Examine estas imagens produzidas no antigo Egito:

Apud Ciro Flammarion Santana Cardoso. O Egito antigo. São Paulo: Brasiliense, 2.

As imagens revelam
a) o caráter familiar do cultivo agrícola no Oriente Próximo, dada a escassez de mão de obra e a proibição, no
antigo Egito, do trabalho compulsório.
b) a inexistência de qualquer conhecimento tecnológico que permitisse o aprimoramento da produção de ali-
mentos, o que provocava longas temporadas de fome.
c) o prevalecimento da agricultura como única atividade econômica, dada a impossibilidade de caça ou pesca
nas regiões ocupadas pelo antigo Egito.
d) a dificuldade de acesso à água em todo o Egito, o que limitava as atividades de plantio e inviabilizava a
criação de gado de maior porte.
e) a importância das atividades agrícolas no antigo Egito, que ocupavam os trabalhadores durante aproxima-
damente metade do ano.

4. Famerp 201 Com esta civilização surge [...] uma vida econômica dominada pelo comércio marítimo. Tal traço lhe
atribui uma originalidade precisa entre as civilizações orientais, às quais ela se liga por tantos laços. Isto era inevitável,
numa ilha onde a natureza impunha ao homem condições de vida muito diversas das reinantes nos vales do Nilo e do
Eufrates.
(André Aymard e Jeannine Auboyer. “O homem no Oriente próximo”. In: O Oriente e a Grécia Antiga, vol. 2, 1962.)

O excerto destaca a originalidade da civilização cretense, entre 2 e 4 a.C., em relação às sociedades do
Mediterrâneo Oriental e do Oriente Médio, caracterizadas
a) pela alta produção de gêneros alimentícios com um mínimo de esforço individual.
b) pela inexistência de contatos comerciais com economias dos povos vizinhos.
c) pela divisão socialmente igualitária dos bens produzidos em grande escala.
d) pelo conhecimento dos segredos da escrita pela casta de produtores agrícolas.
e) pela presença do trabalho coletivo em regiões favoráveis à economia agrícola.

144 HISTÓRIA Capítulo 2 Os povos do Oriente Médio e do norte da África na Antiguidade


5. Unesp Observe a figura. alimentos.
Tumba de Senedjem b) a ocupação da planície mesopotâmica e das
áreas vizinhas a ela, durante a Antiguidade, teve
caráter sedentário e ininterrupto.
c) a ocupação das áreas vizinhas da Mesopotâmia
tinha características nômades e os povos meso-
potâmicos praticavam a agricultura irrigada.
d) a ocupação sedentária das regiões desérticas
(Egito. Século XIII a.C.) representava uma ameaça militar aos habitantes
da Mesopotâmia.
A respeito do contexto apresentado, é correto armar:
e) os povos mesopotâmicos jamais puderam se se-
a) a imagem demonstra que os agricultores das mar-
dentarizar, devido às dificuldades de obtenção de
gens férteis do rio Nilo desconheciam a escrita.
alimentos na região.
b) ao contrário da economia da caça de animais,
que exigia o trabalho coletivo, a agricultura não
originava sociedades humanas. . IFSul 201 Este povo destacou-se pela organização e
c) a imagem revela uma apurada técnica de compo- desenvolvimento de uma cultura militar. Encarava a guer-
sição, além de se referir à economia e à cultura ra como uma das principais formas de conquistar poder
daquele período histórico. e desenvolver a sociedade. Era extremamente cruel com
d) os antigos egípcios cultivavam cereais e desco- os povos inimigos que conquistava, impondo aos venci-
nheciam as atividades econômicas do artesanato dos, castigos e crueldades como uma forma de manter
e da criação de animais. respeito e espalhar o medo entre os outros povos. O tex-
e) a imagem comprova que as produções culturais to acima se refere a qual povo da antiguidade?
dos homens estão desvinculadas de suas práti- a) Caldeus. c) Assírios.
cas econômicas e de subsistência. b) Hititas. d) Sumérios.

. UFG Observe a imagem: 9. UFRGS Na África, durante a Antiguidade, entre . a.C.
e 2 a.C., desenvolveu-se o primeiro Império unifi-
cado historicamente conhecido, cuja longevidade e
continuidade ainda despertam a atenção de arqueólo-
gos e historiadores. Esse Império
a) legou à humanidade códigos e compilações de leis.
b) desenvolveu a escrita alfabética, dominada por
amplos setores da sociedade.
Osíris. Disponível em:
<www.akenatonjh.com.br>.
c) retinha parcela insignificante do excedente eco-
Acesso em: 2 set. 2. nômico disponível.
A pintura egípcia pode ser caracterizada como uma d) sustentou a crença de que o caráter divino dos
arte que reis se transmitia exclusivamente pela via paterna.
a) definiu os valores passageiros e transitórios como e) dependia das cheias do rio Nilo para a prática da
forma de representação privilegiada. agricultura.
b) concebeu as imagens como modelo de conduta,
utilizando-as em rituais profanos. 10. UPF 201 Na chamada Antiguidade Oriental, as so-
c) adornou os palácios como forma de representa- ciedades, notadamente a egípcia e a mesopotâmica,
ção pública do poder político. desenvolveram-se em regiões semiáridas, onde obras
d) valorizou a originalidade na criação artística como hidráulicas grandiosas eram necessárias para o cultivo
possibilidade de experimentação de novos estilos. agrícola. Então, nessas sociedades:
e) elegeu os valores eternos, presentes nos monu- a) Desenvolveu-se o modo de produção escravista
mentos funerários, como objeto de representação. intimamente ligado ao caráter bélico e expansio-
nista dessas sociedades.
. Unesp 2015 A maior parte das regiões vizinhas [da an- b) A forma de trabalho predominante era a servidão
tiga Mesopotâmia] caracteriza-se pela aridez e pela falta coletiva, e o indivíduo explorava a terra como
de água, o que desestimulou o povoamento e fez com que membro da comunidade e servia ao Estado, pro-
fosse ocupada por populações organizadas em pequenos prietário dessa terra.
grupos que circulavam pelo deserto. Já a Mesopotâmia c) O principal instrumento de poder das camadas po-
apresenta uma grande diferença: embora marcada pela
FRENTE 2

pulares era constituído pelo Estado, que assegurava


paisagem desértica, possui uma planície cortada por dois o seu domínio sobre os outros grupos sociais.
grandes rios e diversos afluentes ecórregos. d) A superação das comunidades coletivas levou ao
(Marcelo Rede. A Mesopotâmia, 2002.)
surgimento da propriedade privada e, como resul-
A partir do texto, é correto armar que tado, à utilização da mão de obra escrava.
a) os povos mesopotâmicos dependiam apenas da e) A ampla utilização do trabalho livre garantia a pro-
caça e do extrativismo vegetal para a obtenção de dução de excedentes, que era necessária para as
trocas comerciais e para o progresso econômico.
145
Textos complementares

Trecho do Código de Hammurabi


1o – Se alguém acusa um outro, lhe imputa um sortilégio, mas não pode dar a prova disso, aquele que acusou, deverá ser morto.
2o – Se alguém avança uma imputação de sortilégio contra um outro e não a pode provar e aquele contra o qual a imputação de sortilégio
foi feita, vai ao rio, salta no rio, se o rio o traga, aquele que acusou deverá receber em posse à sua casa. Mas, se o rio o demonstra inocente e
ele fica ileso, aquele que avançou a imputação deverá ser morto, aquele que saltou no rio deverá receber em posse a casa do seu acusador.
3o – Se alguém em um processo se apresenta como testemunha de acusação e, não prova o que disse, se o processo importa perda de
vida, ele deverá ser morto.
4o – Se alguém se apresenta como testemunha por grão e dinheiro, deverá suportar a pena cominada no processo.
CÓDIGO de Hamurábi. Disponível em: http://www.dhnet.org.br/direitos/
anthist/hamurabi.htm. Acesso em:  ago. 22.

A vida palacial
[...] A invenção da escrita no início do terceiro milênio veio reforçar, ainda mais, o poder da burocracia urbana. [...]
Neste novo tipo de sociedade fazia-se mister criar novos polos decisórios aceitos por todos, já que o poder dos chefes de família,
vigente na antiga comunidade rural, era insuficiente para gerir o governo de uma cidade-estado. Surgiu, então, um novo centro de go-
verno da cidade ligado inicialmente ao templo e mais tarde ao palácio [...]. Nas primeiras organizações urbanas da Baixa Mesopotâmia
o templo do deus principal da cidade era o centro político e econômico da cidade-estado; mais tarde [...] apareceu o palácio como
residência do governante da cidade e separado do complexo templário. Em pouco tempo, o palácio tornou-se o centro da vida social,
política e econômica da cidade-estado [...].
BOUZON, E. O templo, o palácio e o pequeno produtor na Baixa Mesopotâmia pré-sargônica. Phoînix, Rio de Janeiro, v. 4, n. , , p. -.
Disponível em: https://revistas.ufrj.br/index.php/phoinix/article/download//2. Acesso em:  ago. 22.

Resumindo
• Dependência desses povos em relação aos grandes rios e, por conseguinte, à realização de grandes obras de irrigação,
como diques, canais e aquedutos.
• Presença de sociedades estratificadas, seja por meio de um reino unificado, como houve no Egito, seja por meio de cidades
dispersas com hegemonias temporárias, como na Mesopotâmia. No caso da Pérsia, houve a formação de um grande império,
que entrou em confronto com os gregos.
• Sobreposição de uma economia aldeã por uma economia, inicialmente, comandada por templos e, posteriormente, coman-
dada por palácios.
• Submissão das comunidades aldeãs à cobrança de impostos e ao trabalho forçado.
• Destaque dos fenícios no comércio durante a Antiguidade.
• Pluralidade religiosa no mundo antigo, como se observa no monoteísmo hebraico ou no zoroastrismo persa, e seus legados
para religiões na contemporaneidade.

Quer saber mais?

Livros Sites
JOÃO, Maria Theresa Davi. Tópicos de História Antiga Egito Digital para Universidades. Disponível em: https://
Oriental. Curitiba: InterSaberes, . www.ucl.ac.uk/museums-static/digitalegypt/Welcome.html.
O livro apresenta uma análise didática das primeiras Acesso em:  jul. .
sociedades. O site conta com vários materiais sobre o Egito Antigo,
reunidos em épocas.
CARDOSO, Ciro Flamarion. Sete olhares sobre a Antigui-
dade. . ed. Brasília: Editora UnB, 99. Egito – Museu Britânico. Disponível em: https://www.british
Reunião de ensaios diversos sobre a Antiguidade Clás- museum.org/collection/egypt. Acesso em:  jul. .
sica e Oriental. Na página, em inglês, é possível acessar os itens da co-
leção do Egito Antigo pertencente ao Museu Britânico.
REDE, Marcelo. A Mesopotâmia. . ed. São Paulo: Saraiva,
.
O livro aborda a história da Mesopotâmia de maneira
completa, a partir de documentos diversos.

14 HISTÓRIA Capítulo 2 Os povos do Oriente Médio e do norte da África na Antiguidade


Exercícios complementares

1. Fuvest No antigo Egito e na Mesopotâmia, assim trabalharem em obras públicas, que engrandece-
como nos demais lugares onde foi inventada, a escrita ram o próprio Egito.
esteve vinculada ao poder estatal. Este, por sua vez, e) significava um peso para a população egípcia, que
dependeu de um certo tipo de economia para surgir condenava o luxo faraônico e a religião basea-
e se desenvolver. da em crenças e superstições.
Considerando as armações acima, explique as rela-
ções entre: 4. UFT 2014 A construção das pirâmides do Egito antigo
a) escrita e Estado; b) Estado e economia. ainda está envolta em mistérios e curiosidades, sendo
fonte de estudos na História, na Engenharia, na Mate-
2. Fuvest 201 Considere este mapa, que representa mática e na Arte.
uma região com histórico de migrações e disputas O processo de construção das pirâmides caracteriza-
territoriais e que já abrigou, desde antes da Era Cristã, -se pela:
várias civilizações. a) despreocupação em edificar um templo duradouro.
b) arquitetura dissociada de funções de ordem
funerária.
c) grandiosidade em suas dimensões e em uma es-
trutura sólida.
d) aplicação de diversos materiais como a madeira
e o estanho.
e) utilização de tijolos de argila na edificação de
suas paredes internas.

5. UnB 201 Acerca da interação dos seres humanos


com a natureza nas civilizações da Antiguidade, assi-
nale a opção correta.
a) As sociedades do Egito antigo não praticavam a
agricultura, uma vez que era considerado tabu o
Folha de S.Paulo, //2. Adaptado.
uso das águas do Nilo em atividades desvincula-
das dos cultos religiosos, como a irrigação.
a) Mencione duas características da bacia hidrográ- b) Na religiosidade suméria, tal como acontece
fica dos rios Tigre/Eufrates, relacionando-as com também em diversas outras religiões antigas, a
sua ocupação na Antiguidade. Justifique. responsabilidade pela ocorrência de desastres
b) Identifique um importante conflito que, atualmente, naturais como secas ou inundações era atribuída
ocorre na área indicada no mapa e apresente uma às divindades.
motivação político-religiosa para esse conflito. c) Ao abandonarem o nomadismo, por volta de
000 a.C., as comunidades hebraicas estabe-
3. Enem O Egito é visitado anualmente por milhões de leceram-se em locais costeiros e passaram a
turistas de todos os quadrantes do planeta, desejosos dedicar-se majoritariamente ao comércio, ficando,
de ver com os próprios olhos a grandiosidade do po- assim, particularmente vulneráveis a intempéries
der esculpida em pedra há milênios: as pirâmides de como tempestades e maremotos.
Gizeh, as tumbas do Vale dos Reis e os numerosos d) Na Antiguidade, diferentemente do que ocorre no
templos construídos ao longo do Nilo. mundo contemporâneo, as catástrofes ambientais
O que hoje se transformou em atração turística era, no decorriam de causas naturais, pois a interferên-
passado, interpretado de forma muito diferente, pois cia humana era limitada e incapaz de modificar
a) significava, entre outros aspectos, o poder que os oambiente.
faraós tinham para escravizar grandes contingentes
populacionais que trabalhavam nesses monumentos. . IFSul 2015 Pelo Código, ficamos sabendo que a pu-
b) representava para as populações do alto Egito a nição de alguns delitos variava de acordo com a
FRENTE 2

possibilidade de migrar para o sul e encontrar tra- posição social tanto da vítima como do infrator. Em
balho nos canteiros faraônicos. geral, no entanto, a justiça era aplicada pelo principio
c) significava a solução para os problemas econô- do “olho por olho, dente por dente”, ou seja, o castigo
micos, uma vez que os faraós sacrificavam aos era equivalente à ofensa ou ao dano causado. No tex-
deuses suas riquezas, construindo templos. to acima, estamos comentando o código de
d) representava a possibilidade de o faraó orde- a) Hamurábi. c) Assur.
nar a sociedade, obrigando os desocupados a b) MarduK. d) Nergal.

14
. UFRR 2015 O Iraque, país localizado no Oriente Mé- b) Como a organização política de fenícios e gregos
dio, atualmente, convivendo com instabilidade política os diferenciava da civilização egípcia?
e social, bem como, ameaças de grupos terroristas, já
foi palco de uma importante civilização da antiguida- 9. UFRN As civilizações da Mesopotâmia e a do Egi-
de denominada Mesopotâmia. Sobre esta importante to desenvolveram-se em regiões semiáridas, onde
civilização pode se afirmar que: se construíram grandes obras hidráulicas. Em razão
a) foi a primeira civilização da História, era formada disso, a estrutura sociopolítica assumiu a forma de Es-
de povos nômades que mudavam-se constante- tado, que passou a
mente em busca de alimentos; a) organizar a produção comunitária das aldeias,
b) é considerada o berço da civilização, pois foi o pri- controlar diques e canais de irrigação e apropriar-
meiro povo que utilizou instrumentos importantes -se dos excedentes produtivos.
que, posteriormente, deram origem à medicina; b) desenvolver as atividades econômicas com base
nas comunidades coletivistas e na propriedade
c) foi a primeira civilização que cultivou o milho e a
comum da terra e dos canais de drenagem.
cevada dando início assim a agricultura, e o siste-
c) estimular a formação de grandes latifúndios, utili-
ma era plantation;
zar a escravidão individual e administrar as obras
d) foi pioneira na utilização da escrita, da matemática
de drenagem e de irrigação.
e da astronomia;
d) definir, como diretriz para a vida econômica, o de-
e) foi a primeira civilização a praticar o cultivo dos ali- senvolvimento do artesanato e do comércio, o que
mentos dando início ao que mais tarde chamou-se implicava a construção de portos bem equipados.
agricultura, o primeiro e principal produto era o café.
10. Uece As relações entre o Estado e a religião, exis-
. Unicamp À Ilíada, epopeia guerreira, sucede a Odisseia, tentes entre os povos da Antiguidade, caracterizaram
pacífica coletânea de lendas e aventuras marítimas. Esse diferentes formas de organização político-social. So-
contraste corresponde a uma mudança, quando os povos bre essas relações, é correto afirmar que
da região renunciam às lutas em territórios muito estreitos a) o politeísmo implantado pelas monarquias he-
e se voltam para os países longínquos. Os poemas homé- braicas restringia a concepção do rei como ser
ricos são contemporâneos da grande expansão marítima humano, tornando-o ungido de Deus.
dos fenícios e a Odisseia está cheia de violências e rapi- b) a teocracia egípcia, concepção divina de poder,
nas de todo tipo praticadas pelos fenícios, apresentados personificada no faraó como próprio Deus, limi-
como mercadores descarados e bandidos sem escrúpu- tou-se ao período do Novo Império.
los; mas devemos levar em conta, nessas narrativas, as c) a monarquia teocrática, no Egito antigo, ocorria
rivalidades comerciais. através da personificação de Deus e do Estado
(Adaptado de J. Gabriel-Leroux, As primeiras civilizações do Mediterrâneo.
na figura do faraó.
São Paulo: Martins Fontes, 1989, p. 67-68.)
d) o Código de Hamurábi era um manual de orien-
a) Segundo o texto, quais seriam as razões históri- tação espiritual, que autorizava os fiéis a fazer
cas da diferença entre a Ilíada e a Odisseia? justiça com as próprias mãos.

BNCC em foco

EM13CHS103 EM13CHS401
1. 2.

EM13CHS104
3.
a)

b)
a)
c) b)

d) c)
d)

HISTÓRIA Capítulo 2 Os povos do Oriente Médio e do norte da África na Antiguidade


Representação de Aquiles matando
Pentesileia em ânfora grega, c. 535 a.C.
Museu Britânico, Londres.
FRENTE 2

CAPÍTULO A Antiguidade Clássica

3
Todos nós conhecemos algo que remeta ao mundo greco-romano. Alguns seriados
e grandes sucessos de Hollywood, por exemplo, apresentam diversos elementos da
Antiguidade Clássica. Porém, esse passado costuma ser apresentado de forma des-
contextualizada e acrítica, como se a história se resumisse a um baú de curiosidades.
Diversos conceitos, como o de democracia, república e império, foram criados no
mundo clássico. Contudo, é preciso cuidado para não fazer análises anacrônicas, pois
esses conceitos tinham significados distintos para esses povos. É importante compre-
ender, a um só tempo, o que nos une a essas populações e o que nos separa delas,
pois é nessa compreensão de alteridade que está o cerne da ciência histórica.
Grécia Antiga gregos usavam para descrever sua identidade, para além
de qualquer conteúdo territorial e político, é Hélade.
O que foi a Grécia Antiga? Dessa maneira, ao estudar a Grécia Antiga, conhecemos
Vivemos em um mundo dividido em Estados-Nação, povos que viveram não apenas no atual país Grécia, mas
onde cada um tem suas leis, impostos e força policial uni- também em diversas regiões da atual Turquia, Itália e de
ficados e um sistema político estruturado. Como essa é a países do norte da África.
nossa realidade, tendemos a projetá-la aos seres humanos O espaço fundamental do mundo grego e, depois, do
do passado. Contudo, é preciso considerar que os Esta- mundo romano não foi desenhado por fronteiras territoriais,
dos Nacionais são uma criação do século XIX, e que os mas pelo mar Mediterrâneo. Separado do oceano Atlânti-
indivíduos que viveram em outras épocas experimentaram co pelo estreito de Gibraltar e do mar Negro pelo estreito
realidades políticas diferentes da nossa. de Bósforo, o Mediterrâneo foi um grande protagonista da
Quando se fala em Grécia, alguns pensam no Esta- História Antiga. Nele, uma grande teia de relações foi cons-
do-Nação atual, localizado na Europa e banhado pelo truída entre as penínsulas Itálica, Balcânica e a Anatólia
mar Mediterrâneo. A Grécia Antiga, entretanto, abrangia (atual Turquia). Grandes portos e ilhas vendiam produtos
todos os povos que falavam o mesmo idioma (ainda que como azeite, vinho ou lã. A colonização e a escravidão tam-
com dialetos diferentes), cultuavam os mesmos deuses e bém fomentavam essa integração. Portanto, a conectividade
possuíam os mesmos costumes. O termo que os próprios do mar foi uma das características das sociedades clássicas.

A expansão grega – 750-550 a.C.

Fonte: Atlas Histórico In: ARRUDA, José Jobson de A.; PILETTI, Nelson. Toda a História. 13. ed. São Paulo: Ática, 2007.

O mundo antigo ficou conhecido como o mundo das y Período homérico (- a.C.): após a desagre-
cidades. Porém, a riqueza e o sustento dos habitantes gação das sociedades micênicas com as invasões dos
vinham de rendas rurais. Fosse em Esparta, Atenas ou dórios, as populações fogem para os campos ou para
Roma, a renda dos moradores das cidades provinha a costa da Ásia e a vida gira em torno da aristocracia.
principalmente dos grãos, do azeite e do vinho, de y Período arcaico (-5 a.C.): formação das pólis
forma que as manufaturas (têxteis, cerâmica, mobília e gregas, com sua lei escrita e a palavra publicizada.
utensílios de vidro) permaneciam rudimentares e em As cidades estabelecem colônias, o comércio se de-
pouca quantidade. senvolve e a noção de cidadania se consolida em
Costuma-se dividir a história da Grécia Antiga em oposição à escravidão.
cinco períodos: y Período clássico (5-6 a.C.): momento de apogeu
y Período pré-homérico (- a.C.): marcado da pólis grega, quando, sob liderança ateniense, os
pelas civilizações cretense e micênica, é o momento persas são derrotados. Eclode também uma guerra
em que o mundo grego é dominado por palácios, entre confederações de cidades lideradas por Espar-
que cumpriam funções administrativas, políticas e ta e Atenas. Trata-se, por fim, da época dos sofistas,
econômicas. de Sócrates e de Platão.

150 HISTÓRIA Capítulo 3 A Antiguidade Clássica


y Período helenístico (6-46 a.C.): declínio da pólis, Os palácios cretenses eram centros religiosos, políticos,
com o predomínio da Macedônia e o aparecimento militares, administrativos e econômicos. Vários povoa-
de uma formação imperial e de uma civilização híbri- mentos, como Faísto, Cânia, Mália e, sobretudo, Cnossos,
da, que une o mundo grego, mesopotâmico, persa e desenvolveram-se ao redor do principal palácio da ilha. Por
egípcio. Esse período termina com o domínio romano volta de  a.C., o poder marítimo e comercial de Creta
sobre o mundo grego. já havia se expandido sobre o mar Egeu e todo o sul da
península Balcânica.
Estabelecendo relações Nesse período, povos indo-europeus dirigiam-se à pe-
nínsula Balcânica. Os primeiros a chegar foram os jônios,
os quais submeteram os antigos habitantes da Ásia Menor
e construíram cidades fortificadas. Em torno de 58 a.C.,
os jônios buscaram refúgio nas terras da Ática. Os eólios,
se instalaram na Beócia e na Tessália. Os aqueus, por sua
vez, ocuparam boa parte da península e conquistaram os
cretenses em 4 a.C, aproximadamente.

Scorpp/Shutterstock.com
O período pré-homérico (2000-1100 a.C.)
O período pré-homérico antecede a formação da cul-
tura e dos povos gregos. A Arqueologia revela que no
período Neolítico, a península Balcânica era habitada por
povos chamados de pelasgos ou pelágios. Entre  e
6 a.C., eles constituíam uma monarquia, praticavam
uma economia agrícola, produziam cerâmica e desenvol-
viam uma metalurgia do bronze.
Arqueólogos também descobriram que por volta de
 a.C., ao sul da península, havia imponentes palácios
na ilha de Creta, além de objetos de bronze, depósitos de
alimentos e registros financeiros. A sociedade cretense ou
minoica possuía reis, guerreiros e sacerdotes-escribas, que
controlavam a escrita, os tributos, os gastos e os pagamen-
tos de funcionários.
terstock.com

Vestígios arqueológicos do palácio de Cnossos, Creta, na Grécia.


Foto atual.
Pier

Os reis aqueus, especialmente os da cidade fortificada


de Micenas, enriqueceram com o saque de Creta. Além das
riquezas, os micênicos também assimilaram de Creta sua
FRENTE 2

escrita, seu pensamento e sua organização sociopolítica.


Devido ao poder de Micenas e às heranças de Creta, os
povos gregos desenvolveram uma sociedade que ficou co-
nhecida como civilização creto-micênica. Tratava-se de uma
monarquia cujo rei (ou ánax) era considerado divino e cujos
Mulheres da elite minoica retratadas em afresco do palácio de Cnossos,
palácios controlavam a vida religiosa, ordenando o calendá-
cerca de 1500 a.C. rio, os rituais, as festas, os sacrifícios e o valor das oferendas.

151
Entre 5 e 5 a.C., a civilização micênica conhe- em torno da aristocracia. Muito do que se conhece desse
ceu seu ápice, conquistando o comércio do Mediterrâneo período é devido aos poemas atribuídos a Homero: Ilíada,
oriental. Nas guerras, utilizava predominantemente armas que descreve a Guerra de Troia, e Odisseia, que descreve
de bronze e carros com cavalos. De acordo com alguns as aventuras de Odisseu (ou Ulisses, para os romanos) após
historiadores, a expansão militar micênica, em busca de a Guerra de Troia, durante seu retorno à ilha de Ítaca, de
novas terras, encontrou oposição da cidade de Troia VII onde era rei. Essas histórias eram cantadas por poetas que
(ou Ílion). Foi então que teria ocorrido a lendária guerra perambulavam pela Grécia relatando as glórias de heróis
entre gregos (ou “aqueus”) e troianos, descrita em Ilíada, como Aquiles e Odisseu. As palavras dos poetas eram vis-
de Homero. tas como fruto da inspiração divina e permitiam às pessoas
Os palácios da civilização creto-micênica conheceram o acesso ao mundo dos deuses.
seu fim entre  e  a.C., quando guerreiros tradicio- As sociedades homéricas, profundamente rurais, ti-
nalmente chamados de dórios invadiram a região. Em vastas nham como unidade básica as oikós ou grandes famílias
regiões da Anatólia, do antigo Egito e da Mesopotâmia, ocor- (em latim, denominadas genos). Cada oikós era uma uni-
reram invasões que levaram essas sociedades ao colapso. dade econômica e humana, que praticava o pastoreio e
a tecelagem e produzia cereais, óleo, vinho e legumes.
Cada família cultuava seus antepassados, fazendo da reli-
C Messier/(CC BY 4.0)/ Museu Arqueológico de Heraclião, Grécia

gião um fator fundamental de unidade. As oikós tinham no


comando um aristocrata, que também era chefe guerreiro,
chamado de patriarca ou eupátrida (termo que significa
“bem-nascido”). O prestígio do eupátrida estava ligado às
terras, aos escravos, aos contatos além-mar e à posse de
armas de ferro e de cavalos.
A maior parte do trabalho nos campos ou dos afaze-
res domésticos era feita por homens e mulheres livres e
pobres, que dependiam dos aristocratas, os chamados
georgóis. Entre os homens livres, havia também os thetas:
homens sem posses, excluídos das oikós, que vagavam
em busca de alimento. As mulheres supervisionavam
as atividades domésticas e ocupavam-se dos trabalhos
com tecidos. Em Odisseia, conhecemos Penélope, que,
durante vários anos, tece o famoso manto que, à noite,
desmanchava em segredo para adiar sua escolha de um
pretendente.
Ao longo do período homérico, tornou-se mais fre-
quente o trabalho das populações escravizadas. Ainda
não era predominante, mas, gradualmente, se tornaria a
base da economia grega. A escravidão na Antiguidade
Clássica, em geral, era oriunda do endividamento e da
guerra, e os escravos serviam em obras públicas, em
funções urbanas e domésticas ou na agricultura. Muitos
exerciam atividades fora de casa para tentar comprar
sua liberdade.
Estátua cretense de cerca de 1700 a.C. que representa uma deusa
Huesca/Coleção particular

segurando duas cobras.

No mundo grego que despontava, o poder palaciano


sumiu de forma brusca, e toda a região das antigas cidades
passou por um processo de ruralização. Não foi apenas
uma dinastia que sucumbiu, e sim um tipo de sociedade
centralizada no palácio, comandada por um rei divino. O
declínio do poder palaciano possibilitou, posteriormente,
a criação de diferentes formas de organização política.
Esse processo de dispersão dos gregos, que fugiam das
invasões dórias, é chamado de Primeira Diáspora Grega.

O período homérico (1100-700 a.C.)


Após a desagregação das sociedades micênicas,
com as invasões dos dórios, as populações fugiram para
os campos ou para a costa da Ásia, e a vida passou a girar Representação de escravos trabalhando em uma mina, datada do século VII a.C.

152 HISTÓRIA Capítulo 3 A Antiguidade Clássica


O mundo homérico era fundamentalmente aristocrático. Os eupátridas, membros das famílias mais ricas, decidiam os
destinos da comunidade. Segundo o historiador Jean Pierre Vernant, era fundamental para esses homens o reconhecimento
de sua virtude (areté) por parte dos outros, isto é, de seu lugar, função e propósito no corpo social – daí a importância de
oferecer banquetes, dedicar-se às guerras, ser leal aos outros homens e evitar excessos para manter a reputação.
Nas assembleias de guerreiros, discutiam-se principalmente assuntos referentes a batalhas e distribuição de prêmios.
A persuasão (peithó) era importante, de modo que a palavra deixou de representar apenas a autoridade de um rei divini-
zado e se tornou importante para estabelecer diálogos entre homens (aristocratas) que se viam como iguais. Entre eles,
havia um rei local (basileus), cujo poder era limitado e provinha de sua sabedoria, habilidade guerreira e riqueza material.
Nesse processo, os elos entre as oikós de uma mesma área territorial foram reforçados, formando a fratria. A união de
várias fratrias, por sua vez, formava as tribos. Essa nova estrutura, ainda mais ampla, era chamada demos. Posteriormente,
no período arcaico, demos recebeu o sentido de “povo”, “cidadão”, em oposição à aristocracia e ao rei.
No período homérico houve a ascensão da metalurgia do ferro, que substituiu a do bronze. O ferro, mais abundante
e de mais fácil manuseio, permitiu o aprimoramento das técnicas agrícolas e maior difusão de armas. Houve também a
adoção do alfabeto fenício, no século IX a.C., de escrita e compreensão mais fáceis, que retirou o monopólio dos escribas
dos palácios. Com o alfabeto e o ferro, e portanto com letras e armas, os gregos conheceram uma substancial expansão.

Atenção

FRENTE 2

153
O período arcaico (700-500 a.C.) A soma das maneiras de vida, das formas de convivência
e da organização da pólis era chamada de política. Viver
O nascimento da pólis
na pólis era, para muitos gregos, um sinal de superioridade.
Entre os séculos VIII e VI a.C., a partir da união das Para pensadores como Platão e Aristóteles, a pólis era um
antigas famílias e da derrubada dos antigos reis, a pólis forte exemplo da capacidade humana de superar a própria
ganhou espaço no mundo mediterrânico, fato que mar- natureza. Enquanto os animais precisariam solucionar os con-
ca a passagem do período homérico para o arcaico. As flitos por meio da força, a pólis, por ser um espaço dotado
pólis eram comunidades independentes, com instituições de leis iguais para todos os seus cidadãos (isonomia), podia
militares próprias e relativa autonomia política; por isso, garantir a justiça (diké) e resolver seus problemas por meio
frequentemente também eram cidades-Estado. Possuíam do diálogo (logos). A política seria um meio de realização
limites territoriais demarcados, que compreendiam áreas das potencialidades humanas, superando as vicissitudes da
de cidade e de campo, onde vivia a maioria da população, condição natural. A virtude cívica (dikaiosyne), nesse sentido,
e alguns povoados urbanos secundários. consistia em não apenas obedecer às leis justas, mas também
A população de uma cidade era submetida aos mes- em entender corretamente como ser um cidadão virtuoso.
mos costumes e unida pelo culto às mesmas divindades
protetoras. Toda pólis contava com um templo, localizado Atenção
na parte alta da cidade, dedicado aos deuses e não mais
às divindades de uma família aristocrática ou de uma etnia.
Muitos historiadores, aliás, acreditam que a pólis surgiu
em torno do culto às divindades, tendo a religião como
fator aglutinador.

k.com
anyaivanov

Ruínas do Partenon, templo dedicado à deusa grega Atena, construído no século V a.C. na Acrópole de Atenas, na Grécia. Foto atual.

154 HISTÓRIA Capítulo 3 A Antiguidade Clássica


Enquanto, no período pré-homérico, a palavra do rei O período arcaico foi também uma época de expansão
possuía sacralidade, nas pólis ocorria a justiça propriamen- territorial. Os endividados, os aventureiros e os miseráveis
te humana e realizada por meio de uma lei que era regra (excluídos por falta de terras associada ao crescimento
comum. A cidade pré-homérica era dominada pela buro- demográfico, fugas ou derrotas em disputas políticas), for-
cracia e dependia de um poder palaciano; já a pólis era maram grupos em torno de um chefe para buscar outras
uma comuna de agricultores, cidadãos independentes e terras, que acabavam ligadas econômica e culturalmen-
proprietários privados. Enquanto aquela era produtora, isto te à cidade original. No século V a.C., por exemplo, mais
é, precisava de uma produção artesanal para sobreviver, de  mil atenienses elevaram-se da condição de theta
esta era consumidora e vivia das rendas obtidas no campo. à condição de cidadão por ganhar terras no estrangeiro,
Essa igualdade existe apenas na esfera política, ocupada caracterizando a colonização ou Segunda Diáspora Grega,
essencialmente por homens. Na esfera familiar (oikós), pre- a partir de 5 a.C. A organização da pólis espalhou-se
domina a desigualdade, pois mulheres, filhos, empregados para o sul da Itália e a Sicília (a chamada Magna Grécia), o
e escravos estavam fora desse jogo político. norte da África, o sul da atual França, a península Ibérica, a
Para a formação da pólis, foi também essencial a di- região da atual Turquia, entre outros lugares.
fusão da moeda, inventada no reino da Lídia e adotada Algumas colônias podiam ter um caráter agrário
pelos gregos. Cada pólis possuía sua própria moeda, com (apoikia), enquanto outras funcionavam como entrepostos
as inscrições de seu deus, seus símbolos e produtos, afir- comerciais (emporion), processo este que favoreceu o for-
mando autonomia e independência. talecimento dos comerciantes. Nota-se que, diferentemente
Nesse período, não havia um exército permanente, da expansão romana, a colonização grega assumiu uma
pois eram os próprios cidadãos que pegavam em armas, dimensão muito mais policêntrica, não configurando exata-
os chamados soldados hoplitas. Eram eles também que mente uma dominação política de uma região sobre outra.
providenciavam os objetos necessários para o combate,
garantindo uma infantaria bem armada. Eles lutavam numa Saiba mais
formação chamada “falange hoplítica”, isto é, fechada, com
um escudo ao lado de outro, e avançavam em passos
iguais, ordenados numa série de fileiras. Numa falange, não
havia lugar para heroísmos individuais, típicos do mundo
pré-homérico: o fundamental era o destino do grupo como
um todo, mais do que as honras individuais.
Bibi Saint-Pol/Coleções Estatais de Antiguidades, Munique

A pólis de Esparta
Esparta localizava-se na região da Lacônia, na península
do Peloponeso, em um vale com terras férteis e propícias
à agricultura e a boas pastagens. Esparta nunca se tornou
um centro urbano, mas permaneceu separada em vilarejos
e sem uma muralha unificadora. Os espartanos optaram por
fechar-se às influências estrangeiras, ao mesmo tempo em
que adotaram para si costumes rígidos e uma disciplina
Detalhe de ânfora com a representação de soldados hoplitas, c. 560 a.C.
atroz para manter intacta a ordem estabelecida.
O cidadão (polités) possuía direitos políticos em sua Segundo a tradição, Esparta foi fundada no século IX
própria cidade, ou seja, tinha posse da sua terra, estava pro- a.C. pelos dórios, e as populações conquistadas tornaram-
tegido pelas leis e participava da política. O estrangeiro grego -se uma espécie de servos da cidade, os hilotas. Cada
e livre, isto é, aquele advindo de outras cidades da Grécia, espartano adulto tinha um lote de terra próprio, cultivado
era chamado de meteco e, privado de direitos políticos, era por famílias de hilotas, as quais davam parte dos frutos da
obrigado a pagar taxas especiais ao Estado. Geralmente, terra aos espartanos. Embora não tivessem direitos polí-
FRENTE 2

exercia atividades artesanais e comerciais, que os cidadãos ticos, os hilotas não eram escravos, pois formavam uma
desprezavam. Em muitos casos, os estrangeiros não gre- comunidade à parte, tinham suas próprias famílias e não
gos eram vistos como aquilo que os romanos chamariam de podiam ser comprados ou vendidos. Os espartanos tinham
bárbaros (palavra em latim que significa “estrangeiro”), por o status de cidadãos e eram proibidos de exercer qualquer
não terem a mesma língua e cultura que os gregos. Dessa atividade econômica, sendo, por lei, obrigados a ocupar-
forma, o conceito de bárbaro foi criado na Grécia Antiga para -se apenas da política e da guerra. Os periecos, por sua
designar aqueles que viviam fora das pólis. vez, viviam em áreas independentes e afastadas, possuíam

155
pequenos lotes de terra e dedicavam-se ao comércio e ao empobrecido exigia a redistribuição de terras, o fim da
artesanato. escravidão por dívida e maior participação nas decisões
O poder político na pólis era reservado aos homens políticas. Os comerciantes exigiam participar da adminis-
espartanos. A Gerúsia era composta de dois reis e um tração da pólis, enquanto enriqueciam com o comércio
conselho de 8 anciãos com mais de 6 anos, com do vinho e das oliveiras, intensificado pela colonização.
participação militar encerrada e pertencentes a famílias Simultaneamente, a formação dos hoplitas reforçou o sen-
tradicionais de Esparta. Os reis eram escolhidos entre as timento comunitário e, mais importante, armou a população.
duas famílias mais importantes e tinham função militar. Diante da tensão social, as elites atenienses escolheram
Os membros da Gerúsia eram chamados de gerontes legisladores que elaboraram propostas a fim de atenuar a
e, além deles, havia cinco éforos, guardiões das leis situação. Entre os principais legisladores está Drácon, que
de Esparta e responsáveis por cuidar da educação de organizou e tornou público um registro escrito das leis, até
novos guerreiros, coordenar a mobilização das tropas e então transmitidas oralmente e conhecidas apenas pelos
julgar a atuação dos reis. Os gerontes e os éforos eram eupátridas. No entanto, a aristocracia continuava a fazer as
eleitos pela Ápela, uma assembleia de homens adultos leis e a dominar a vida pública.
espartanos com poderes eletivos e cuja administração Diante de novos conflitos, os atenienses elegeram
cabia apenas aos reis e anciãos. Eleita, a Gerúsia redigia como arconte Sólon, que pôs fim à escravidão por dívida,
e apresentava as leis, que eram votadas na Ápela. Caso bloqueou o crescimento de latifúndios e permitiu o retorno
esta não aceitasse um projeto proposto pelos gerontes, dos cidadãos atenienses vendidos como escravos. Sólon
poderia ser dissolvida. Os antigos descreviam Esparta vinculou a possibilidade de participação política às fortunas,
como um governo misto e equilibrado, por conter ele- dividindo a sociedade de forma censitária, permitindo ao
mentos monárquicos (diarquia), democráticos (Ápela e cidadão rico se tornar arconte de Atenas, independente-
eforato) e oligárquicos (Gerúsia).
mente de sua ligação com a terra ou de sua família. Também
O regime político de Esparta era uma oligarquia e
instaurou a Bulé, um novo conselho controlado por eupá-
o poder estava concentrado em um pequeno grupo de
tridas, que propunha leis, e o Helieu, um tribunal popular
espartanos. Toda essa estrutura – inclusive o rigoroso sis-
de justiça.
tema de educação dos mais jovens – era garantida por um
As reformas propostas por Sólon não agradaram a aris-
código de leis, sagrado e imutável, escrito pelo lendário
tocracia, que perdeu privilégios e não conseguiu conter as
Licurgo. É habitual a historiografia ressaltar o papel da
camadas populares, que queriam maior poder de decisão.
mulher espartana, a qual tinha uma participação ativa nos
Aproveitando-se dessa situação, no século VI a.C. as tira-
assuntos da cidade, visto que os homens passavam boa
nias (forma de governo em que um indivíduo conquista o
parte da vida jovem e adulta dedicando-se aos afazeres
poder de forma ilegítima) ampliaram a participação política
militares.
em todo o mundo grego.
A pólis de Atenas Entre 56 e 5 a.C., a população ateniense apoiou
Psístrato, um tirano que ascendeu ao poder e limitou os
Na região da Ática, no sudeste da península Balcânica,
situa-se Atenas, outra importante pólis grega. Com solo poderes da aristocracia, confiscando terras e distribuindo-
pouco fértil, Atenas se tornou dependente da importação -as aos camponeses, concedeu empréstimos e promoveu
de alguns alimentos, como o trigo. As colinas, por sua vez, obras públicas. Por meio de suas reformas e com a co-
favoreciam a plantação de oliveiras e videiras, e ao sul ha- lonização grega, Atenas se tornou uma sociedade de
via o importante porto de Pireu. Com um forte comércio e pequenos proprietários.
uma poderosa frota naval, Atenas estabeleceu um grande No século IV a.C., três quartos dos cidadãos atenienses
intercâmbio cultural com a Ásia Menor, de onde vieram eram proprietários de terras, enquanto os demais podiam
inovações técnicas e descobertas no campo da aritmética, vender sua força de trabalho, integrar a frota naval ou par-
da astronomia e das artes. ticipar das colônias atenienses. As tiranias bloquearam o
Durante muito tempo, Atenas manteve uma monarquia, monopólio da propriedade agrária e tornaram modesta a
até que seu último rei foi derrubado pela aristocracia pro- base da comunidade helênica.
prietária de terras, que estabeleceu um regime oligárquico. Em 58 a.C., Clístenes assumiu o poder em Atenas
O rei foi substituído por nove magistrados, os arcontes, e acabou com as guerras civis, tirando de vez o poder da
eleitos anualmente pela assembleia de eupátridas e en- aristocracia. Foi implementada uma reforma de leis que
carregados do exército, da religião, da legislação, entre extinguiu o sistema censitário de Sólon e organizou o povo
outros assuntos. O conselho de eupátridas, o areópago, em dez classes, reunindo habitantes do território ateniense
assessorava os arcontes, aplicava a justiça e executava a para destruir os antigos vínculos familiares provenientes do
administração. mundo homérico e refundar a pólis de Atenas. Essa reforma
Os conflitos sociais em Atenas cresciam e ameaça- política foi fundamental para a instituição da democracia,
vam a estabilidade do regime oligárquico. O povo (demos) que significa “poder do povo”.

156 HISTÓRIA Capítulo 3 A Antiguidade Clássica


A democracia ateniense era direta, na qual todos caso sua presença fosse, por algum motivo, nociva à
os cidadãos podiam participar da Eclésia, localizada democracia. Os magistrados eram sorteados entre os
na Ágora (praça pública), e discutir assuntos relativos à cidadãos que se candidatavam e tinham a função de
administração da pólis. A assembleia de cidadãos con- executar as decisões tomadas pela Eclésia e pela Helieia,
centrava a maioria dos poderes, havendo um mínimo de um tribunal popular.
4 encontros por ano e um quórum de 6 mil para deli- Todos os cidadãos, independentemente de sua ri-
berações. Cada sessão era precedida pelo sacrifício de queza, podiam participar da política; no entanto, eram
um animal oferecido a Zeus e Atenas. A cidade atenien- cidadãos em Atenas apenas os homens, adultos maiores
se, portanto, não estava centralizada no palácio (período de 8 anos, livres, filhos de pai e mãe atenienses. Mu-
pré-homérico), nem na aristocracia (período homérico), lheres, crianças e estrangeiros eram submetidos às leis
mas na Ágora, espaço comum onde eram debatidos os e poderiam ter propriedade, mas não participar da polí-
problemas de interesse geral. As propostas da Eclésia tica. Mesmo com essa exclusão, até o século XX poucas
eram enviadas ao conselho (Bulé), onde eram comenta- vezes na história um número tão grande de camponeses
das e emendadas, retornando então para a assembleia e artesãos pobres teve direito de voto. Em 4 a.C.,
soberana para serem votadas. havia cerca de  mil habitantes em Atenas, sendo
As decisões eram tomadas por meio de debate,   cidadãos e suas famílias, 8 5 estrangeiros
disputa, persuasão e discussão na Ágora. Nenhum ci- e   escravos.
dadão ateniense poderia deixar de se submeter às leis
aprovadas pela Eclésia e, se discordasse da opinião da Atenção
maioria, deveria aceitá-la ou abandonar a pólis. Todos os
cidadãos possuíam isonomia, igual submissão à lei e à
participação no exercício do poder, e isegoria, o direito
de falar na assembleia. Em meio a esse contexto, surge
o ostracismo, no qual os cidadãos atenienses votavam
em cacos de cerâmica em forma de ostra (ostrakon) para
que um indivíduo fosse exilado da cidade por dez anos,

Saiba mais

FRENTE 2

157
O período clássico (500–336 a.C.)
Durante o período clássico, a civilização grega atingiu seu apogeu: a estrutura da pólis e a democracia atingiram
seu máximo desenvolvimento, ao mesmo tempo que floresciam as artes, a filosofia e o teatro. Esse apogeu teve iní-
cio, sobretudo, com a vitória nas Guerras Médicas, ocorridas entre 49 a.C. e 49 a.C., produto do choque entre as
cidades gregas e a política expansionista dos persas. A Pérsia (atual Irã) iniciou sua expansão sobretudo no reinado
de Ciro I, conquistando o Egito, a Índia, a Ásia Menor e algumas colônias gregas na Europa. Nesse ínterim, Dario I,
seu sucessor, criou uma complexa estrutura administrativa. Quando Aristágoras, o tirano da pólis de Mileto, pediu
ajuda militar à Erétria e Atenas, Dario teve seu pretexto para declarar guerra à Grécia. Os persas arrasaram Mileto
e, em seguida, avançaram sobre a Grécia. Após a morte de Dario, o sucessor Xerxes I continuou os conflitos, mas
acabou derrotado pelos gregos.
Durante os conflitos, foi criada a Liga ou Confederação de Delos, uma aliança militar contra os persas, em que as
cidades membros pagavam tributos para um fundo comum, a fim de sustentar as tropas e navios. A renda arrecadada
era depositada na ilha de Delos. Em 454 a.C., o tesouro foi transferido para Atenas. Após vencer os persas, Atenas,
líder da Liga de Delos, tornou-se uma das cidades mais importantes e ricas da Grécia Antiga. As outras cidades da Liga,
antes aliadas, passaram a ser tratadas como súditas: estavam condicionadas ao pagamento de tributos e não podiam
ter frota naval ou se desvincular da Liga de Delos. As cidades que se revoltaram, como Naxos e Tasos, foram destruídas.
Desenvolveu-se, assim, um imperialismo ateniense.
Durante o governo de Péricles, a democracia foi aprimorada. Cargos políticos ligados à redação de leis e sua
aplicação tornaram-se legalmente acessíveis a cidadãos independentemente da renda e foi criada uma pequena re-
muneração para aqueles que ocupassem cargos públicos. Além disso, seu governo ficou marcado pela construção do
Partenon, templo em homenagem à deusa Atena.
Além da Liga de Delos, outra aliança militar se formou na Grécia Antiga, a Liga do Peloponeso. Diversas pólis,
sobretudo as da região da Beócia (com exceção de Corinto, tradicional aliada de Atenas), estavam sob a liderança de
Esparta. De um lado, Atenas, uma democracia comercial e grande potência marítima, e, de outro, Esparta, uma aristo-
cracia agrícola e potência militar terrestre. Essa oposição de forças deu origem à Guerra do Peloponeso (4-44 a.C.)
quando alguns grupos da cidade de Córcira, colônia de Corinto, aliaram-se a Atenas. Contudo, durante a guerra, di-
versas cidades da Liga de Delos se rebelaram, e os persas, tendo em vista um maior controle sobre o mar, apoiaram
abertamente Esparta. Em 45 a.C., o general espartano Lisandro, com ajuda das frotas persas, capturou toda a marinha
ateniense e cortou seu abastecimento de grãos. Enquanto isso, o rei espartano Pausânias cercava Atenas por terra.
Após seis meses bloqueada por mar e por terra, Atenas se rendeu. Sua muralha foi destruída, seu império dissolvido
e a guerra teve fim.
Entre as consequências da Guerra do Peloponeso estão o declínio das pólis gregas, a fuga de camponeses de suas
terras para lutar ou se proteger e o empobrecimento da população, que fez com que aumentassem os conflitos sociais.
Golpes e contragolpes afligiam as pólis, de modo que novos tiranos surgiram e a ideia de democracia perdeu força. A
vitória de Esparta não trouxe a prometida liberdade às cidades do império ateniense, que foram divididas entre persas
e espartanos; houve o retorno das oligarquias e a permanência de tributos a pagar. Os espartanos tentaram ainda uma
fracassada ofensiva contra os persas, que entregou a eles o controle sobre a costa da Ásia Menor. As cidades domina-
das uniram-se contra Esparta, e, em  a.C, os espartanos foram derrotados pelos tebanos, na Batalha de Leuctras.
Diante desse cenário, as pólis gregas enfraquecidas acabaram submetidas a Alexandre, o Grande (56- a.C.).

Saiba mais

O período helenístico (336-146 a.C.)


Entre os séculos IV a.C. e II a.C., a Grécia esteve sob domínio da Macedônia, caracterizando o que ficou conhecido
como período helenístico. Inicialmente, o reino da Macedônia, governado por Filipe II, despontou como potência militar
e promoveu uma política expansionista, anexando cidades gregas e vencendo a Batalha de Queroneia, em 8 a.C.
Filipe II foi assassinado em 6 a.C. e o trono passou para seu filho, Alexandre, o Grande.
Alexandre, discípulo de Aristóteles, assimilou valores da cultura grega e efetivou uma grande expansão territorial,
que contou com a conquista do Egito, onde foi coroado faraó, e a construção de numerosas cidades, como é o caso
de Alexandria. Também conquistou a Pérsia, a Ásia Menor, a Mesopotâmia e o norte da Índia. Alexandre, então, foi
acometido pela febre e morreu pouco tempo depois na Babilônia, em  a.C.

158 HISTÓRIA Capítulo 3 A Antiguidade Clássica


O Império Macedônico

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Mar Arábico O império de Alexandre,


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Fonte: HILGEMANN,
Werner; KINDER,
Herman. Atlas histórico.
50º L
Paris: Perrin, 1992. p. 58.

Alexandre construiu um grande império e apropriou- representações gregas. O comércio entre as cidades
-se da complexa estrutura política persa. Sem herdeiros, o prosperou, e as especiarias orientais como limão, aça-
império foi disputado entre seus generais, depois de sua frão, romã e pistache passaram a ser levadas para a
morte. Por fim, houve a divisão dos reinos helenísticos: na Europa. Os tecidos persas ganharam na Europa a fama
Macedônia, sob comando da dinastia Antigônida; no Egito, que têm até hoje.
sob comando dos Ptolomeus; e, na Mesopotâmia e na Síria, Nas artes, ao contrário da serenidade e racionalidade
comandados por generais macedônicos. das obras gregas clássicas, a arte helenística apresenta
Os reinos helenísticos eram governados sob a forma elementos de tensão e conflito. Na obra Laocoonte e
das monarquias pré-homéricas e egípcias: poder concen- seus filhos, do século II a.C., é representada uma cena
trado nos palácios, corte vasta e forte burocracia. O rei da Eneida, de Virgílio, onde o sacerdote Laocoonte
tornou-se figura de adoração e as assembleias democráti- advertiu a população troiana para não aceitar o cavalo
cas desapareceram. Esses Estados logo se fragmentaram de madeira entregue pelos gregos. Como castigo, os
e foram paulatinamente anexados, nos séculos II e I a.C., deuses, enviaram serpentes do mar que envolveram o
pelos romanos, constituindo uma nova hegemonia no mun- sacerdote e seus dois filhos.
do mediterrânico.

k.com
Nesse período, houve a intensificação dos contatos
entre as culturas grega, egípcia, persa, hebraica, meso-
potâmica, afegã e hindu, e, com isso, surgiu a chamada
cultura helenística. A escrita passou a ser valorizada
em detrimento da tradição oral, de maneira que uma
obra literária só passava a ser considerada válida quando
transformada em livro. Atuaram, nesse sentido, os escri-
bas alexandrinos, e assim foram construídas as grandes
bibliotecas helenísticas, cujo maior exemplo é a Biblio-
teca de Alexandria.
Nas ciências, destaca-se o matemático Euclides, que
desenvolveu as formas e teoremas da matemática; na
FRENTE 2

geografia, Erastótenes, que calculou a circunferência


do planeta; na física, Arquimedes, que elaborou as leis
da hidrostática e definiu o valor do Pi; e na astrono-
mia, Aristarco, criador do primeiro modelo heliocêntrico
de universo.
Nos templos, os egípcios mantiveram a prática da Laocoonte e seus filhos, escultura em mármore atribuída a Agesandro,
mumificação, mas começaram a pintar seus túmulos com Atenodoro, Polidoro. Museu Pio-Clementino, Vaticano, Itália.

159
Saiba mais Roma Antiga
Da origem à monarquia (753-509 a.C.)
No momento de sua fundação, Roma era uma cidade
independente, com estruturas semelhantes a uma pólis
grega. No entanto, as mudanças internas e as guerras com
as quais se envolveu levaram Roma a se tornar um império,
e um dos mais duradouros da história. O Império Romano
se estendeu da Grã-Bretanha ao rio Eufrates e do mar do
Norte ao Egito, e era fortemente ancorado na escravidão.
Interligado por uma rede de estradas, o Império Romano
possuía refinadas técnicas de administração, cobranças de
impostos e fixação de tropas.
Roma incorporou muito da cultura das regiões que
conquistou, especialmente da Grécia. Não foi apenas
ouro e tecido que os romanos saquearam, mas também
a cultura grega, seus princípios religiosos e sua política.
Ideias e palavras como república, senado, plebiscito,
comício, proletário e sufrágio vêm do período romano.
Contudo, assim como a democracia dos gregos, a Re-
pública e o Senado romanos tinham significados muito
distintos dos nossos.
Há diferenças fundamentais entre o mundo grego e o
romano. Na evolução histórica de Roma, houve o fortaleci-
mento dos patrícios, um grupo de proprietários de terra, que
derrubaram a monarquia e instauraram instituições capazes
de garantir o seu domínio. Ao contrário da Grécia, na qual
a democracia tirou o poder da aristocracia, em Roma, no
Império ou na República, o poder permaneceu essencial-
mente aristocrático. A aristocracia romana, contudo, não
foi a mesma do início ao fim; extremamente maleável, ela
passou por grandes transformações e soube unir-se a uma
nobreza plebeia.
A península Itálica possui uma cadeia montanhosa que
protege a região dos ventos frios do norte e contribui para
a ocorrência de chuvas. O solo na região é fértil, favore-
cendo a agricultura e a criação de gado. O rio Tibre nasce
nas montanhas da Itália central e cruza uma planície antes
de chegar ao mar. Às margens do rio Tibre, foi fundada a
cidade de Roma. Antes da fundação da cidade, a região
foi ocupada por diversos povos como italiotas (latinos,
sabinos, samnitas e úmbrios), gregos, messápios, lucanos,
campanos e etruscos.
Os etruscos exploravam o ferro e o cobre e viviam em
cidades planejadas, que influenciaram os romanos
em seu plano urbanístico e seus túneis subterrâneos.
Possuíam um amplo comércio, e seu artesanato, em
cerâmica e bronze, era encontrado em várias partes da
Europa. No século VI a.C., o Império Etrusco abarcava
ao norte a planície do Pó e ao sul a região da atual
Nápoles. Roma, fundada por latinos e sabinos, estava
localizada no Lácio, entre colônias gregas do sul da
Itália (Magna Grécia) e a Etrúria. Vestígios arqueológi-
cos indicam que a cidade foi fundada quando pastores
e agricultores, que ocupavam as colinas do Palatino,
Esquilino e do Quirinal, uniram-se para se proteger de
ataques etruscos.

160 HISTÓRIA Capítulo 3 A Antiguidade Clássica


k.com
A República (509-27 a.C.)
A expressão res publica (literalmente “a coisa pública”)
é a tradução latina da palavra grega politeia, que foi utili-
zada de formas distintas. Platão e Aristóteles usaram-na
Ja

como sinônimo de “governo” ou “formação política”, seja


ela qual for. O mesmo Aristóteles, contudo, usou o termo
como significando “governo moderado” e “equilibrado”,
diferente dos governos aristocrático e monárquico e tam-
bém das formas que ele via como degeneradas: a tirania,
a oligarquia e a democracia.
No caso romano, o termo é utilizado em oposição à
monarquia. Trata-se da ideia de um governo para o bem
comum. Em uma república, o homem deve colocar esse
Escultura Lupa Capitolina, exposta na cidade de Roma, Itália. Foto de 2017. bem comum, que é público e geral, acima de suas pai-
Segundo a mitologia clássica, os irmãos Rômulo e Remo foram escondidos
em um cesto e colocados no rio Tibre. Ao chegar entre dois vales, foram
xões, interesses e ambições individuais. Até o século XVIII,
amamentados por uma loba e criados por pastores. Adultos, os irmãos a República não estava relacionada à Democracia. Até du-
resolveram fundar uma cidade. zentos anos atrás, muitos pensadores acreditavam que
Durante a monarquia, o rei acumulava funções políticas, um governo democrático traria a desordem e, assim, seria
militares e religiosas. Seu cargo não era hereditário, mas incompatível com o bem comum republicano.
eleito pelos chefes das famílias mais ricas. Junto ao rei, ha- A República Romana era composta do Senado, das
via o Senado, um Conselho de Anciãos que se manifestava Magistraturas e das Assembleias. O Senado, instituição
sobre questões importantes, como as guerras. mais poderosa de Roma, controlava o tesouro público,
As comunidades de Roma estavam organizadas em dirigia a política externa e interna, zelava pela religião e
famílias vinculadas por um antepassado comum e eram tinha o poder de decidir sobre guerras. Os 300 senadores
chefiadas por um patriarca (pater) que exercia um poder cumpriam cargos vitalícios e eram eleitos pelos censores,
ilimitado sobre a mulher, os filhos e os escravos. A camada que eram escolhidos entre os ex-magistrados.
dos patrícios era composta dos chefes das famílias po- Os magistrados eram eleitos pelas assembleias para
derosas, proprietários de grandes terras e rebanhos, que exercer mandato de um ano (com exceção do censor). De-
detinham o poder político e diziam ser descendentes de sempenhavam as funções dos antigos reis, possuindo alguns
heróis lendários. Possuíam escravos, clientes e alianças dos seus poderes. Os magistrados mais influentes eram os
com outras aristocracias. Abaixo dos patrícios, estavam os dois cônsules, que dirigiam os negócios públicos e as cam-
plebeus, homens livres, pequenos agricultores, comer- panhas militares. Os pretores eram encarregados da justiça;
ciantes ou artesãos. Eram considerados romanos, mas não os questores, da administração de recursos e despesas; e
tinham os privilégios dos patrícios. Muitos patrícios exerciam os edis curis cuidavam dos edifícios, esgotos, vigilância de
o patrocínio (patronus) ou proteção sobre um outro grupo mercados e organização dos jogos. Os censores, eleitos
ou pessoa (um plebeu ou um patrício menos importante),
a cada cinco anos, classificavam os cidadãos, definindo os
que se tornava seu cliente. A relação de clientela envolvia
que poderiam participar do exército, quais teriam direitos a
uma série de obrigações mútuas: um patrono poderia ajudar
decisões políticas e como ficariam distribuídos nas ordens
em um empréstimo, um casamento ou um apoio para obter
existentes. O pontífice máximo era o chefe dos sacerdotes
um cargo, esperando, em troca, que seu cliente o ajudasse
e estipulava as regras morais da sociedade. Em Roma, a
sempre que fosse necessário. Por fim, estavam os escravos,
religião era vista como questão cívica, instrumento de esta-
que nesse período eram pouco numerosos.
bilidade e coesão social.
Roma tornou-se um centro urbano organizado, mudou
As assembleias (curial, centurial e tribal) elegiam os ma-
suas instituições políticas, ganhou um sistema de esgoto,
santuários e foi cercada por muralhas, enquanto o latim gistrados, inclusive os censores, responsáveis por eleger os
tornou-se a língua corrente. Foi adotada a forma hoplítica senadores. Podiam votar apenas os cidadãos romanos, ou
de organização do exército. Além disso, os romanos tiveram seja, os homens livres, incluindo filhos livres dos escravos e
contato com os gregos, que estabeleceram colônias na estrangeiros de cidades aliadas. Apesar de algumas parti-
Itália meridional e na Sicília. cipações da plebe, as assembleias eram controladas pelos
Do século VII a.C. ao VI a.C., os povos etruscos conquis- patrícios, uma vez que o direito a um lugar era definido pela
taram Roma. Em 509 a.C., o último rei de origem etrusca, fortuna e pela posição, avaliadas por meio do census. Em
FRENTE 2

Tarquínio, o Soberbo, foi deposto por uma revolta, e a Roma, os votos realizavam-se coletivamente – nesse caso,
realeza foi abolida. Nesse período, sabe-se que em várias por meio das assembleias.
cidades os patrícios derrubaram reis, visando aumentar seu Em caso de grave ameaça à República, como guerras
poder. A aristocracia romana temia que, como na Grécia, ou revoluções, o Senado podia suspender todas as leis e
uma tirania ligada à plebe democratizasse o acesso à terra. indicar um chefe único para governar Roma por seis meses:
Assim, os reis deixaram de existir, e Roma passou a ser o ditador. Com o poder de todas as magistraturas, ele teria
uma República. a função de pacificar a cidade.

161
Os conflitos entre plebeus dando início às Guerras Púnicas (4-4 a.C.). Com a
e patrícios (494-287 a.C.) eventual vitória de Roma, Cartago foi destruída e houve o con-
Após a proclamação da República, os patrícios assu- trole romano dos territórios ao longo de todo o Mediterrâneo.
miram para si todos os cargos políticos. Durante mais de As Guerras Púnicas representaram um marco da grande
dois séculos, a plebe, liderada pelos plebeus enriquecidos, expansão territorial romana. No fim do século II a.C., toda
articulou uma luta contra essa estrutura política, conseguin- a civilização mediterrânica estava sob o domínio romano.
do importantes reformas. A expansão garantiu riqueza por meio dos saques, gló-
Em 494 a.C., os plebeus, descontentes com a legisla- ria militar para a aristocracia e aquisição dos terrenos das
ção sobre dívidas e com a falta de proteção aos cidadãos, áreas conquistadas. Os comerciantes italianos obtinham
se retiraram para o monte Aventino, deixando os patrícios novas possibilidades de comércio, e os tributos cobrados
dos povos dominados garantiam tanta riqueza que houve
sem trabalhadores e soldados. Os patrícios cederam e foi
a isenção de impostos.
criado o cargo de tribuno da plebe, eleito pelos plebeus,
Para administrar diferentes regiões, os romanos empre-
nas assembleias da plebe, e que tinha poder de veto sobre
garam várias estratégias. Uma delas foi o municipium, que
as ações do Senado.
consistia em considerar as regiões como províncias roma-
Em 450 a.C., a plebe – novamente insatisfeita com o
nas e dar-lhes a cidadania. Tinham autonomia interna e o
aumento dos impostos – ameaçou voltar ao monte Aventino
direito de participar das assembleias, mas, em contrapartida,
e exigiu que as leis, que eram orais e conhecidas somente
deveriam fornecer soldados para a expansão romana. Con-
pelos governantes, fossem escritas. Nasceu, assim, a Lei
tudo, nem todas as regiões conquistadas gozaram dessa
das Doze Tábuas, que deu origem ao direito romano.
cidadania, e, às vezes, eram obrigadas a conceder soldados
Em 445 a.C., a Lei Canuleia aboliu a proibição ao casa-
e a pagar pesados tributos sem obter cidadania. Além disso,
mento entre patrícios e plebeus; em 367 a.C., a Lei Licínia
outra estratégia foi integrar as áreas conquistadas por meio
Sextia estabeleceu que um dos cônsules fosse sempre ple-
de um eficiente sistema de estradas.
beu, e, em 326 a.C., com a Lei de Poetélia, a escravidão
O mar Mediterrâneo, agora, era chamado de Mare
por dívida foi abolida. Em 287 a.C., os plebeus se retiraram
Nostrum (nosso mar) pelos romanos. Nele, circulavam
novamente para o monte Aventino, conseguindo aprova-
mercadorias e soldados, intensificando o comércio e a
ção da Lei Hortênsia, na qual as decisões da assembleia
popular da plebe, os plebiscitos, poderiam ter validade em
toda Roma. Embora a plebe tenha ampliado sua participa- Bacia Mediterrânea: Mare Nostrum
ção na sociedade romana, não alcançou plena igualdade
política em relação aos patrícios. Importante destacar que
as assembleias que elegiam os magistrados continuaram
a ser controladas pelos patrícios.

A expansão romana
As lutas sociais conquistaram uma nova dimensão no
cenário de expansão territorial de Roma. Entre os séculos
V e III a.C., houve uma série de campanhas militares na
península Itálica contra aqueles que ameaçavam a existên-
cia da cidade. Roma estabeleceu alianças com as cidades
dominadas, e a expansão, a partir daí, se deu entre uma
liga de cidades por ela liderada. Cada guerra significava o
aumento de recursos, por meio do saque e da pilhagem, de
escravos, de cidades aliadas e do exército que se tornava
cada vez maior.
No século III a.C., os romanos já dominavam toda
a península Itálica e o apogeu dessas conquistas se
deu em confronto com Cartago, sua antiga aliada. Fun-
dada pelos fenícios em 841 a.C., Cartago, situada no
norte da África, era uma pólis democrática, potência
comercial, com base na exploração e venda de miné-
rios, e não tolerava o surgimento de um concorrente Fonte: VICENTINO, Cláudio; DORIGO, Gianpaolo. História geral e do Brasil.
São Paulo: Scipione, . p. .
no Mediterrâneo ocidental. Os acontecimentos que de-
sencadearam a guerra se deram em Messina, região integração no mundo antigo.
da Sicília. Mercenários de Siracusa, aliados cartagine-
ses, invadiram Messina, que era de influência romana. As consequências da expansão romana
Os romanos tiveram, então, seu pretexto para invadir toda A expansão transformou Roma profundamente
a Sicília. Cartago, no entanto, não aceitou tal ocupação, e acabaria por minar a própria República. As guerras

162 HISTÓRIA Capítulo 3 A Antiguidade Clássica


aumentaram o poder da aristocracia, que, ao se apode- proprietários (patrícios) se apoderavam das terras aban-
rar das terras conquistadas, passou a ter centenas de donadas, adquirindo-as a preços baixíssimos, além de
escravos. Essa mesma aristocracia restringia cada vez receber muitas terras conquistadas. Não faltava mão
mais o acesso às magistraturas: o consulado se tornou de obra: os milhares de escravos capturados na guerra
um privilégio de vinte e cinco famílias da alta aristocracia, atendiam à necessidade. Essa massa empobrecida que
e o cargo de tribuno da plebe perdeu importância. se dirigiu à cidade formou um proletariado urbano, que
Os senadores passaram a se distinguir como uma vivia de trabalhos ocasionais ou de esmolas.
ordem (orto senatorios), grupo reconhecido pelo Estado Após o período de expansão, muitos territórios pas-
que mantinha determinados privilégios jurídicos devido saram a se revoltar, pois não possuíam cidadania política,
às suas funções, diferenciando-se por seu prestígio, sua pagavam pesados tributos e eram explorados ao máximo
fortuna, dignidade e hereditariedade. pelos comerciantes e latifundiários romanos. Entre os
Ao conquistar o Mediterrâneo, Roma vivenciou o anos de 90 e 88 a.C., Roma enfrentou várias guerras
crescimento do comércio e da economia monetária. contra essas cidades.
Com o domínio das rotas comerciais da região, diversos
produtos chegavam a preços baixos das novas regiões Saiba mais
romanas, o que fortaleceu os homens novos, um grupo
de comerciantes e soldados enriquecidos. Os mais ricos
desse grupo passaram a integrar uma nova ordem que
admitia membros cuja fortuna não se baseasse exclu-
sivamente na terra. Na ordem equestre (“cavaleiros”)
poderiam entrar todos que tivessem renda para ser ca-
valeiro do exército (400 mil sestércios).
Paralelamente às guerras, Roma tornou-se pro-
priamente escravista quando sua produção passou a
depender do trabalho escravo. Então, a partir do século II
a.C., formaram-se os grandes latifúndios escravistas que,
pela primeira vez na história, foram introduzidos em larga
escala. O escravo e sua família eram submetidos a uma
severa disciplina e não podiam jamais ficar ociosos. Tra- A crise da República (133-27 a.C.)
balhavam preferencialmente nos latifúndios, mas podiam Enquanto Roma tornava-se a cidade mais poderosa
ser encontrados em outros locais da República Romana. do mundo, sua população empobrecia cada vez mais.
Nos centros urbanos, os escravos trabalhavam ao lado Diante disso, em 133 a.C. os irmãos Tibério e Caio Graco
de homens livres no artesanato, na metalurgia, nas tarefas viam na distribuição de terras uma forma de superar a
domésticas e poderiam ser, inclusive, médicos, professo- crise. O objetivo da reforma agrária dos irmãos Graco
res, músicos, secretários e gladiadores. Havia também os era reduzir o número de cidadãos sem terra, aumentar a
escravos do Estado, que trabalhavam nas grandes obras camada de pequenos e médios proprietários para, assim,
públicas, em minas e pedreiras. Os latifúndios escravistas ter maior número de soldados no exército (dado que
eram imensos e pouco vigiados, pois os senhores geral- apenas homens capazes de se armar poderiam lutar nas
mente residiam nas cidades. Assim, entre 134 e 104 a.C., guerras). O povo afluiu em massa do campo para Roma,
uma série de levantes servis ocorreu na Sicília, sendo do- exaltado com a reforma, e o grupo de latifundiários que
minados com grande dificuldade. O mais famoso deles teve ocupava as terras estatais, por sua vez, se mobilizou
início em Cápua e foi liderado pelo gladiador Espártaco. contra Tibério Graco, que foi morto.
Uma das mais sérias consequências da expansão Em 123 a.C., Caio Graco assumiu o cargo de tribu-
romana foi uma aparente contradição: por que quanto no da plebe e passou a defender um projeto de reformas
mais Roma crescia, mais empobreciam os camponeses, ainda mais amplo. Entre as propostas estava conceder a
maioria da população? Obrigados a servir no exército, cidadania romana aos povos latinos e a criação de leis
eles passaram muitos anos lutando longe de casa, aban- que distribuíam trigo a preço reduzido aos cidadãos. Caio
donando suas plantações. Muitas famílias viam-se sem gozava de grande popularidade, contudo, os senadores
homens para cultivar a lavoura. Viúvas e órfãos se endi- rejeitaram qualquer tipo de mudança, levando-o ao suicídio.
vidavam, vendiam sua propriedade para os latifundiários No norte da África, Roma enfrentava uma revolta da
e dirigiam-se para a cidade. Outros soldados, ao retorna- Numíbia, comandada pelo rei Jugurta. Em 108 a.C., o
rem às suas propriedades, encontravam-nas devastadas general Caio Mário, o homem mais rico de Roma, mas
FRENTE 2

pela guerra, a família morta ou empobrecida, e, assim, nascido plebeu, derrotou Jugurta. Pelo seu prestígio, foi
também seguiam para a cidade. eleito ditador e cônsul, dominando a política romana en-
Muitos camponeses endividados eram expulsos tre 107 e 86 a.C. Criou o exército permanente, pagando
pelos grandes proprietários. Pequenos proprietários os soldados e permitindo, pela primeira vez, que os mais
arruinavam-se devido à concorrência com os produ- pobres se alistassem como voluntários, ambicionando os
tos das províncias e dos latifúndios. Então, os grandes ganhos dos saques e das promoções de carreira.

163
A República Romana era incapaz de administrar um o imperador passou a ser encarado como um deus vivo,
império cada vez maior e mais complexo. Com isso, os herdeiro do sangue divino de seu pai, Júlio César. Assim,
ambiciosos generais se fortaleceram e ganharam um pres- Otávio passou a se chamar Imperador Augusto César
tígio cada vez maior dentro da população. Foi então que (Imperator Caesar Augustus).
um novo confronto assolou Roma: o cônsul patrício Lúcio O Senado e as magistraturas se mantiveram, contudo,
Cornélio Sila tinha ganho o comando da guerra contra Otávio Augusto e seus sucessores tomaram para si os po-
Mitríades, o rei do Ponto. No entanto, Caio Mário, ambi- deres dos senadores e magistrados. Otávio tinha imunidade
cionando comandar essa guerra, induziu as assembleias no cargo e direito de convocar assembleias, e o Senado, de
a suspenderem os direitos políticos de Sila. Furioso, o impor leis, de escolher os magistrados, de vetar medidas
cônsul mobilizou as tropas sob seu comando e invadiu de senadores e magistrados etc. Ele controlava o tesouro
Roma, executando seus adversários a assumindo plenos imperial, era o comandante do exército e o único que po-
poderes, como ditador de Roma. O general fugiu para deria ser aclamado após as vitórias nas batalhas.
a África. No poder, Sila reforçou o Senado, aumentando Além disso, Augusto vangloriava-se por transformar
o número de membros, e revogou o poder dos tribu- Roma de uma “cidade de tijolos” para uma “cidade de már-
nos da plebe. As conquistas da plebe estavam perdidas more” e capital de um império. Ele garantiu o fornecimento
e Roma tornava-se mais aristocrática. Sila morreu em de água ao construir aquedutos, cais e esgotos. Também
79 a.C., na Sicília. ergueu o Fórum de Augusto, o Altar da Paz e um mausoléu
Diversos chefes políticos passaram a disputar o poder. para a família imperial. Ele criou o cargo de prefeito da
Em 60 a.C., Pompeu, Crasso e Júlio César concluíram um cidade e confiou aos vigiles (bombeiros) o policiamento
acordo conhecido como primeiro triunvirato. Com apoio noturno e a luta contra os incêndios tão comuns em Roma.
do exército, o triunvirato controlou Roma, prometendo Junto a seu amigo, Mecenas, Augusto protegeu e sus-
restabelecer a ordem na cidade e acabar com complôs,
tentou inúmeros homens das letras, como Tito Lívio, Horácio
escândalos e revoltas. Após a morte de Crasso, Júlio César
e Virgílio. Posteriormente, chamou-se de “mecenato” a pro-
e Pompeu entraram em confronto armado pela disputa de
teção que um homem rico dá a um artista.
poder, que resultou na vitória de César. Em 44 a.C., Júlio
César tornou-se ditador vitalício, concentrando todo o po-

Museus Vaticanos, Roma


der político em suas mãos e enfraquecendo o Senado, que
perdeu os poderes na administração financeira e provincial.
Somente César podia nomear governadores, decidir sobre
guerras e controlar todas as magistraturas. Desenvolveu
uma política de colonização para distribuir terras e divulgar
a cultura romana, doou terras a 100 mil romanos, unificou a
moeda no império e fez todo o mediterrâneo viver segundo
o calendário romano.
Os senadores, temerosos pela perda de poder, acu-
saram César de aspirar à realeza e armaram um golpe,
convencendo Brutus a liderá-lo. Em 44 a.C., César foi
assassinado no Senado. Sua morte causou grande co-
moção popular e deu início a novas guerras civis em
Roma. Desse modo, foi feito um novo acordo – o segun-
do triunvirato – unindo, no governo, Caio Otávio, Marco
Antônio e Lépido. Mais uma guerra aconteceu entre os
três triúnviros. Otávio conquistou o Egito, apoderando-se
da fortuna milenar dos faraós e formando um exército de
70 legiões. Roma novamente ficou sob o comando
de um único senhor: Otávio, que chegou à Roma acla-
mado pelo povo e pelo Senado.

O Império Romano (27 a.C.-476 d.C.)


O principado de Otávio Augusto (27 a.C.-14 d.C.)
e o Alto Império Romano (14 a.C.-235 d.C. )
Em um primeiro momento, Otávio se apresentou como
defensor da República, da paz e da liberdade e manteve
as instituições republicanas, assumindo o título de princeps
(“primeiro dos cidadãos”), chefe da República. Em 27 a.C.
renunciou a seus poderes, mas o Senado suplicou-lhe que
permanecesse e concedeu-lhe o título de Augusto, que Augusto de Prima Porta, c. 20 a.C. Mármore. Museu Chiaramonti, Vaticano.
significa divino, superior aos homens mortais. Com o tempo, Estátua retratando Otávio Augusto.

16 HISTÓRIA Capítulo 3 A Antiguidade Clássica


Para evitar novas revoltas no exército, o imperador, massas. Práticas como essa têm raízes históricas complexas
forneceu lotes de terra aos milhares de soldados depois e, nesse caso, têm origem com os gregos e remetem a um
das guerras. O exército fixou-se em  mil homens, com comprometimento dos nobres com a vida social.
salário, carreira e direitos de aposentadoria. Desse modo, A partir de Augusto, as diretrizes da política externa ro-
Roma tornou-se um regime imperial de fato. A manutenção mana também mudaram. Essa mudança teve um impacto
da vida, da propriedade e do status dos senadores, o fim cultural sem precedentes, pois as províncias deixaram de ser
das guerras e a paz que Augusto trouxe a Roma fizeram simples terras de conquista e adotaram, progressivamente, o
com que o regime fosse bem aceito. modo de vida greco-romano, integrando o império. As cida-
Otávio Augusto e os demais imperadores procuraram des ganharam cada vez mais autonomia, até que o imperador
sempre manter a plebe romana satisfeita, seguindo uma Caracala, em , concedeu a cidadania a todos os habitan-
política de distribuição de trigo e dinheiro e proporcio- tes do império, que já somavam 55 milhões. A infraestrutura
nando espetáculos de luta entre gladiadores, corridas de das estradas foi ampliada, e foram construídos pontes para
cavalo e teatro. Era a oficialização da política do “pão e o acesso a regiões isoladas e melhores portos nas cidades
circo” (panem et circenses), expressão consagrada nos marítimas, o que promoveu a integração econômica entre
séculos seguintes. as províncias do império.
A distribuição e os espetáculos ocorriam todos os anos. O Direito Romano começou a se organizar no Império,
Contudo, o trigo era insuficiente para abastecer uma família, reunindo todas as leis e textos e procurando levantar as re-
ou seja, é equivocado pensar que a plebe vivia ociosa e gras gerais. Nas palavras de Ulpiano, o Direito era a arte de
sustentada pelo Estado. Muitos daqueles que viviam ape- buscar aquilo que “é bom e traz equidade”. Séculos depois,
nas do alimento distribuído eram os miseráveis que não no fim da Idade Média, quando os Estados começaram a
conseguiram trabalho. Da mesma forma, o “pão e circo” se reorganizar, o Direito Romano – ou melhor, uma leitura
não era simplesmente uma estratégia de manipulação das que se fez dele – tornou-se sua base jurídica.

Saiba mais

FRENTE 2

165
O período do Alto Império, desde as reformas de Augusto até o fim do século II, é conhecido como Pax Romana (Paz
Romana), devido às poucas guerras externas (Augusto fixou as fronteiras), à paz interna (fim das guerras entre generais,
pão e circo e os vigiles), aos poucos conflitos com suas províncias (ordem e obediência promovidas por Augusto, maior
integração ao Império) e a toda prosperidade do Império.

Extensão do Império Romano – século II

Mar do
Norte

Rio
OCEANO
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ATLÂNTICO
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o
o
Se
na

Mar
Rio Cáspio
40º Rio P Dan
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o Mar Negro

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Mar Mediterrâneo fr at e s
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Fonte: DUBY, Georges. Atlas histórico mundial. Paris: Larousse, 2003. p. 27.

Saiba mais

166 HISTÓRIA Capítulo 3 A Antiguidade Clássica


O Baixo Império Romano (235-476 d.C.) mais altos, colocavam-se sob a proteção de um proprie-
A partir do século III, após a dinastia dos Severos, o tário de terra (romano ou bárbaro), tornando-se colonos.
Império Romano passou a viver uma crise social e política Então, um contrato era estabelecido: o proprietário cedia
que teve início com a ameaça de uma liga de bárbaros que um lote de terra por cinco anos para o colono cultivar, e
atacava os domínios romanos, enquanto os partas ten- o colono comprometia-se a pagar tributos e a trabalhar
tavam reconstruir o Império Persa, pressionando as certos períodos nas terras do senhor. Com o tempo os
fronteiras orientais. contratos tornaram-se vitalícios e hereditários, de modo
Diante disso, Roma estabeleceu acordos com os que nem o colono podia abandonar a terra, nem o senhor
chefes de tribos bárbaras, concedendo a eles territórios expulsá-lo.
em troca do fim das ameaças e o pedido de que lutassem No fim do século IV, a situação dos colonos tornou-se
contra outros bárbaros. Além disso, eles recebiam o títu- tão precária que já eram chamados de servos da gleba,
lo de federados (foederati) e tornavam-se oficialmente pois, apesar de não serem escravos, estavam proibidos por
romanos. No final do Império, muitos deles tornaram-se lei de fugir de sua terra e de suas obrigações. No século
cristãos e passaram a adotar costumes romanos; líde- V, os colonos já não pagavam mais impostos ao Estado,
res bárbaros ganharam o título de patrícios, e cônsules mas ao proprietário de terra, que por sua vez os repassava
e tribos inteiras, como a dos alanos, francos, visigodos e ao Estado. Posteriormente, para fugir do Império Romano,
ostrogodos, foram incorporadas ao Império, lutando camponeses livres, colonos e aldeias inteiras entregavam
junto com os romanos. Muitos romanos pobres, inclu- suas terras a um rico aristocrata, saindo da órbita do Estado
sive, preferiam ser governados pelos bárbaros, pois o e colocando-se em sua proteção. A esse processo deu-se
Estado romano cobrava muitos impostos. Tem-se, então, o nome de patrocínio. Esses territórios se tornavam cada
um processo crescente de romanização e assimilação vez mais independentes, pois tinham uma produção qua-
dos bárbaros. se autossuficiente, exerciam a justiça com suas próprias
Se, no período monárquico, as elites latinas fundiram-se regras e organizavam as próprias tropas para lutar contra
às elites etruscas, e, no período republicano, houve a forma- os bárbaros.
ção de uma elite patrício-plebeia mais itálica que romana, Outro elemento fundamental nesse momento de
agora o Império Romano assimilava em suas elites os povos crise do Império Romano foi o cristianismo. Desde a
germânicos. Roma, portanto, conviveu com essa dupla-au- conquista de Alexandre Magno, toda a Palestina era área
toridade: os bárbaros, que eram reis de seus povos, eram de influência grega. Sob o domínio romano, a partir de
também generais dos romanos, submissos ao imperador. 6 a.C., na região conviviam judeus, samaritanos, gregos
Portanto, na maioria dos casos, os bárbaros se instalaram e romanos. Foi nesse contexto que os cristãos – vistos
pacificamente no Império. Por todos esses motivos, o termo pelos romanos, inicialmente, como uma seita de judeus
migrações bárbaras é mais apropriado do que “invasões”, e ligados à figura de Jesus Cristo – pregavam a existência
não remete à falsa ideia de bandos de bárbaros destruindo de um único Deus, e que Cristo trazia o perdão de seus
tudo. Contudo, isso não significa que não houve ataques pecados e a promessa de felicidade. Seus seguidores,
diretos. O objetivo é enfatizar uma relação mais complexa os apóstolos, difundiram as mensagens de Jesus, em
e dinâmica entre romanos e bárbaros. grego, considerado na época uma língua universal. Os
Durante o Baixo Império, Roma passava por uma cri- cristãos, monoteístas, negavam categoricamente o cul-
se política interna que a deixava incapaz de enfrentar os to imperial. Para enfrentar esses problemas, o Império
inimigos. Generais bem-sucedidos cobiçavam o título de respondeu com a centralização do poder, obrigando os
imperador e, constantemente, tomavam o poder para si. romanos a pagar pesados impostos, enquanto o impera-
E, por um século após a queda dos Severos, não houve dor cercou-se de um cerimonial como o das monarquias
a formação de uma dinastia. Outro ponto é que, desde os egípcia e persa.
Antoninos, o Estado gastava fortunas em anfiteatros, termas, Proclamado imperador em 84, Diocleciano reorgani-
espetáculos e, sobretudo, com o exército, aumentando o zou profundamente as estruturas imperiais. Para fortalecer
déficit. O fim das conquistas e, consequentemente, dos a defesa das fronteiras e evitar interferências na sucessão
saques gerou uma crescente escassez de metais precio- do poder, ele estabeleceu a tetrarquia. Em vez de um,
sos, desvalorização da moeda e inflação. Algumas trocas passaram a existir quatro imperadores, com laços familiares:
passaram a ser feitas diretamente em produtos (in natura) dois “Augustos”, acompanhados cada um por um imperador
e também houve a queda em número no fornecimento de mais jovem, com o título de “César”. Cada Augusto reinaria
escravos. Todos esses aspectos foram compensados com por vinte anos, transmitindo o poder ao César e nomeando
o aumento de impostos e do poder do Império, cada vez o substituto deste.
FRENTE 2

mais burocratizado. O Império também foi dividido em doze dioceses. Cada


Com o declínio da escravidão e um número cada uma se dividia em províncias, cujo número saltou de 48
vez maior de pessoas no espaço rural, fugindo das mi- para 5. Para conter os preços em alta, Diocleciano emitiu
grações bárbaras, dos impostos e das lutas sociais na o Édito do Máximo, no ano de , fixando o maior preço
cidade, ganhou força o colonato, que aos poucos se tor- de todas as mercadorias. No entanto, todas essas reformas
nou dominante no campo. Homens que saíam das cidades, aumentaram os impostos e tiveram grande oposição da aris-
incapazes de se sustentarem e pagar impostos cada vez tocracia, que se recusava a participar dos governos locais.

167
Após as reformas, em 5
império que já não tinha mais centro nem periferia.
Com a abdicação de Diocleciano, o sistema de tetrarquia não sobrevi
pois os imperadores guerrearam entre si. Em um desses conflitos, o tetrarca
Constantino derrotou seus rivais e ocupou, sozinho, o trono. Constantino, o
primeiro imperador cristão, renunciou de todos os cultos romanos. Nessa
época, os imperadores interferiam intensamente nos assuntos da Igreja,
e o cristianismo tornou-se a principal instituição romana. A partir de Cons-

rt
tantino, todos os imperadores foram cristãos (com exceção de Juliano, o

g
Apóstata). Com a proclamação do Édito de Milão, em , todas as reli-
giões – entre elas o cristianismo – passaram a ser toleradas, podendo ser
livremente praticadas. Ademais, o Édito passou a proibir que os municípios
pagãos obrigassem os cristãos a realizar sacrifícios, instituiu o repouso obri-
gatório aos domingos e aboliu as penas contra o celibato
Constantino ganhou grande popularidade.
Diante das diferentes interpretações da doutrina católica, Constantino presidiu Moeda com o perfil de Diocleciano.
o Concílio de Niceia, em 5, para determinar as diretrizes básicas do cristianismo, dan-
do unidade à religião. Estabeleceram-se elementos da ortodoxia cristã, como o dogma da Santíssima Trindade, aceita
após um grande debate entre o bispo Atanásio e Ário, fundador de uma seita arianista. Todas as divergências dessa
doutrina oficial foram consideradas interpretações equivocadas da doutrina cristã, heresias.
A partir das reformas de Constantino, bispos passaram a receber terras e outros eclesiásticos obtiveram cargos na
administração pública e gozaram de grandes privilégios no Império. A partir do papa Leão I, em 445, ficou estabelecido
que o bispo de Roma, chamado papa, era a autoridade máxima de toda cristandade, legítimo sucessor de São Pedro,
primeiro chefe da Igreja.
O Império tornou-se um Estado burocrático e hierárquico, aumentando o número de cargos, prefeitos, governadores
e senadores. Os imperadores passaram a instalar-se em Milão e Ravena, em vez de Roma. Em 4, Constantino criou uma
nova capital para o Império, a cidade de Constantinopla (hoje em Istambul, na Turquia), no Oriente, área mais rica do Império.
chrisdorney/Shutterstock.com

Estátua do Imperador Constantino, na Inglaterra. Foto atual.

Saiba mais

168 HISTÓRIA Capítulo 3 A Antiguidade Clássica


O imperador Teodósio, em 392, com o Édito de Tessalônica, proibiu todas as formas de ritos pagãos no Impé-
rio, perseguindo os seus praticantes. Cristãos com ideias diferentes das do imperador também eram perseguidos.
Nunca houve tanta perseguição aos cristãos quanto a partir do século IV, desta vez promovidas por eles mesmos.
Com a morte de Teodósio, em 395, o Império foi dividido entre seus dois filhos: Honório herdou o Império Romano
Ocidental, a parte original do Império, com capital em Ravena; e Acádio, o Império Romano Oriental, com capital
em Constantinopla. Assim, Roma deixou de ser a capital do Império.
O Império Romano do Oriente – que englobava os territórios atuais da Grécia, do Egito, da Turquia, da Síria e
do Irã – conseguiu sobreviver durante toda a Idade Média (até 1453), formando o que a posteridade chamou de
Império Bizantino. A Igreja do Oriente, ligada ao Imperador, apoiava-o. Foram mantidas uma burocracia eficiente,
exército e marinha bem equipados e um sistema financeiro organizado e operado uniformemente.

Divisão do Império Romano do Ocidente e do Oriente – 395 d.C.

Rio R
en
o

Fonte: ALBUQUERQUE, Manoel Maurício de; REIS, Arthur Cézar Ferreira; CARVALHO, Carlos Delgado de. Atlas histórico escolar.
7. ed. rev. atual. Rio de Janeiro: FENAME.

Já no Império Romano do Ocidente, a crise econômica, os ataques bárbaros e as disputas políticas terminaram em 46,
quando o rei Odoacro depôs o último imperador do Império do Ocidente.
Em seguida, Odoacro entregou as insígnias imperiais ao imperador do Oriente, jurando fidelidade a ele. As-
sim, os diversos territórios ocidentais passaram a ser governados por povos bárbaros (francos, visigodos, suevos,
vândalos, ostrogodos, burgúndios etc.), mas todos os reis bárbaros deveriam jurar submissão ao imperador do
Oriente. Em 493, os ostrogodos, liderados por Teodorico, venceram Odoacro, se apoderaram da península Itálica
e se mesclaram aos romanos. Ao longo dos séculos, eles tornaram-se mais autônomos em relação ao imperador
do Oriente.
No século VII, os reinos bárbaros já não eram mais submissos ao imperador do Oriente. Como veremos, a
coroação de Carlos Magno, no Natal de 800, como imperador de Roma, marca essa posição: ele afirmará que o
FRENTE 2

centro do Império está no Ocidente, e não no Oriente.


Há poucos documentos que apresentam informações sobre o ano de 46. Mesmo que a queda do imperador
em Ravena tenha ocorrido, o acontecimento não teve muita notoriedade, pois há muito tempo o poder já estava cen-
trado em Constantinopla e também dividido nas mãos de reis bárbaros. A Igreja Católica já era uma força importante
desde o século III. Assim, alguns historiadores preferem denominar Antiguidade Tardia o período entre o século III
e o século VIII (época da ascensão do islã, de seu império e da maior autonomia dos reinos bárbaros). Seguindo a
periodização tradicional, a partir do século V inicia-se a Idade Média.

169
Revisando

1. Udesc 2018 Observe a linha do tempo abaixo: 3. Uece 2017 Atente ao seguinte excerto:
 a.C. () (2) () () ()  d.C.
“Vivi a guerra inteira, tendo uma idade que me per-
mitia formar meu próprio juízo, e segui-a atentamente,
A respeito da chamada Antiguidade Clássica, assina- de modo a obter informações precisas. Atingiu-me tam-
le a alternativa que apresenta a correta ordem dos bém uma condenação ao exílio que me manteve longe
eventos, segundo a linha do tempo apresentada. de minha terra por vinte anos após o meu período de
a) Fundação de Roma pelos etruscos; Configuração comando em Anfípolis e, diante de minha familiaridade
do modelo de democracia ateniense; Instau- com as atividades de ambos os lados, especialmente
ração do Império Romano; Queda do Império aquelas do Peloponeso, em consequência do meu ba-
Romano; Instauração da República Romana. nimento, graças ao meu ócio, pude acompanhar melhor
o curso dos acontecimentos. Relatarei, então, as diver-
b) Acontecimentos narrados por Homero em Ilíada e
gências surgidas após os dez anos, e o rompimento da
Odisseia; Desenvolvimento das noções de democra-
trégua e as hostilidades supervenientes”.
cia e cidadania grega; Crise da República Romana; (TUCÍDIDES, História da Guerra do Peloponeso, V, 26).
Instauração do Império Romano; Oficialização do
cristianismo como religião do Império Romano. Sobre a Guerra do Peloponeso, registrada por Tucídi-
c) Expansão do Império Romano; Queda do Império des, é correto armar que
Romano; Estruturação do Sistema Feudal; Crise a) se trata de conflito armado entre gregos e
do século XIV; Renascimento. troianos.
d) Queda do Império Romano; Oficialização do cris- b) foi uma guerra entre Atenas e Esparta.
tianismo; Proclamação da República Romana; c) não ocorreu propriamente: trata-se de uma ficção
Proclamação da República Grega; Expansão dos do mundo antigo.
etruscos para Atenas. d) foi o conflito que ficou conhecido como Guerras
e) República Ateniense; Ascensão do Império Médicas.
Espartano; Oficialização do cristianismo; Pro-
4. UEG 2015 Como resultado das campanhas militares de
clamação da República Romana; Expansão do
Alexandre (Magno), surgiu a cultura helenística. Houve in-
Império Romano.
fluência da cultura oriental sobre a grega, porém não se deve
superestimar a importância dessa influência. Na realidade,
2. UFG 2013 Leia o fragmento a seguir.
os caracteres da cultura grega sempre foram dominantes.
Tinha o desejo de saber por que o Nilo começa a ORDOÑEZ, Marlene; QUEVEDO, Júlio.
encher no solstício de Verão. De acordo com a primeira Horizontes da História. São Paulo: IBEP, 2005. p. 41.
explicação, são os ventos estivais que, desviando com Essa hegemonia da cultura helênica vericou-se,
seu sopro as águas do Nilo, impede-as de ir para o mar,
sobretudo no Ocidente, sendo justicada pelo fato
ocasionando a cheia. A segunda versão é ainda mais
absurda, embora encerre qualquer coisa de maravilhoso.
de que
Dizem que o oceano envolve toda a terra, e que o Nilo a) os persas logo revelariam pretensões imperia-
está sujeito a inundações porque vem do oceano. A ter- listas, sendo liderados por Xerxes numa grande
ceira explicação é mais falsa. Com efeito, pretender que o campanha militar contra os gregos.
Nilo provém de fontes de neve equivale a não dizer nada. b) os habitantes de Alexandria, a capital do Im-
Como poderia ser formado por fontes de neve se vem de pério de Alexandre, se recusavam a admitir a
um clima muito quente para um país igualmente tórrido? presença de estrangeiros em suas fronteiras.
HERÓDOTO. História. Rio de Janeiro: Jackson Inc., c) os gregos mantinham forte resistência à liderança
1964. p. 119-120. (Adaptado).
de Alexandre Magno, por ele não ser grego de
No fragmento apresentado, escrito por volta de 0 origem, já que nascera na Macedônia.
a.C., Heródoto expõe diferentes visões para explicar d) os orientais, mesmo tendo se integrado ao
os motivos das cheias do rio Nilo, no Egito. A forma de império de Alexandre, continuaram sendo consi-
exposição de Heródoto expressa uma característica da derados bárbaros pelos gregos.
pólis grega, associada
a) ao apego a modelos explicativos baseados no 5. Uece 2019 Com a morte de Alexandre, o Grande,
empirismo. iniciou-se a fase conhecida como Helenismo. Con-
b) à crença na interferência de elementos míticos siderando os valores e ideais desse período, atente
sobre os eventos naturais. para os seguintes itens:
c) à especulação filosófica como forma de transfor- I. favorecimento da unificação entre a cultura supe-
mar a realidade. rior e a cultura popular;
d) à relativização da verdade como meio para alcan- II. reforço dos elos entre o indivíduo e a comunida-
çar o conhecimento. de, repudiando o individualismo;
e) ao exercício do diálogo constituído por distintas III. destaque para os ideais filosóficos do epicurismo
opiniões sobre os acontecimentos. e do estoicismo.

170 HISTÓRIA Capítulo 3 A Antiguidade Clássica


É correto somente o que consta em 9. Mackenzie 2018 Após a unificação da península Itá-
a) II e III. c) I e II. lica, em 272 a.C, e a vitória contra Cartago, Roma se
b) III. d) I. tornou uma potência que não parou mais de se ex-
pandir. Contudo, para os plebeus, o expansionismo
6. ESPM-RJ 2019 O ano de 509 a.C., uma das datas mais
de Roma ocasionou profundas mudanças sociais, que
importantes na história de Roma, marcou o fim da Mo-
atingiram, principalmente, esse grupo social. Analise
narquia e o começo da República, a qual significou uma
mudança radical na forma de governar Roma. O governo as afirmativas abaixo.
passou a ser exercido pelos magistrados, pelo Senado e I. Ao mobilizar para a guerra, os pequenos e mé-
pelas assembleias. Os magistrados detinham o poder exe- dios proprietários plebeus, sem que recebessem
cutivo. A mais importante das magistraturas era exercida nenhum tipo de remuneração do Estado, por tais
por dois elementos que atuavam como os representantes serviços, ocasionou a ruína dos mesmos. Ao re-
do conjunto dos cidadãos. Suas funções eram comandar tornar para Roma, não tinham recursos financeiros
o exército, convocar o senado e presidir os cultos públi- para retomar suas atividades.
cos. Eram os verdadeiros chefes da República e deveriam II. A conquista do norte da África e da Sicília e a
atuar sempre de comum acordo. Nenhum deles podia
remessa de suas colheitas de trigo para Roma fi-
tomar uma decisão sem consultar o seu colega (o termo
colega significa associado a outro).
zeram com que o preço do produto despencasse,
PASTOR, Bárbara. Breve História de la Antigua Roma: Monarquia y República.
impossibilitando os proprietários plebeus de con-
correrem com o baixo preço do trigo importado.
O texto deve ser relacionado a:
III. A solução encontrada pelos pequenos e médios
a) pretores; d) cônsules;
proprietários plebeus para enfrentarem a crise foi
b) questores; e) ditadores.
a reconversão das culturas em suas terras: substi-
c) tribunos da plebe;
tuíram o trigo e a cevada pelo plantio e cultivo de
7. Uece 2018 As Guerras Púnicas, que se constituíram vinhas e olivais.
por uma série de combates entre Roma e Cartago no Assinale a alternativa correta.
período entre o século III e o século II a.C., assinala- a) I está correta, apenas.
ram uma mudança radical na história de Roma e do b) II está correta, apenas.
mundo antigo, porque c) III está correta, apenas.
a) mesmo tendo Roma sofrido algumas derrotas, d) I e II estão corretas, apenas.
triunfou com as vitórias de Aníbal. e) II e III estão corretas, apenas.
b) os conflitos entre Roma e Cartago duraram mais
10. UEM 2020 “No período republicano, a estrutura de
de um século.
poder em Roma se concentrou em instituições como o
c) após o fim do conflito, Roma se aproximou de uma
Senado, as assembleias ou comícios e as magistraturas.”
civilização mais avançada e rica.
BRAICK, P. R.; MOTA, M. B., 2012, p. 100.
d) redesenhou toda a organização do mundo anti-
go e Roma transformou-se na grande potência do A respeito da república romana na Antiguidade Clás-
Mediterrâneo. sica, assinale o que for correto.
 Os magistrados eram eleitos pelas assembleias para
8. UEPG 2019 Antiguidade Clássica é uma denominação a ocupação dos cargos de cônsul, pretor, censor,
utilizada para se referir ao período histórico da Euro- questor e edil, e cumpriam o mandato por tempo
pa compreendido entre os séculos VIII a.C. e V d.C. A indeterminado. O ditador, entretanto, recebia do Se-
respeito da história grega abrangida por esse período, nado o poder absoluto, mas limitado a seis meses.
assinale o que for correto.  Com a política expansionista, Roma disputou a
 Ilíada e Odisseia são dois poemas atribuídos a supremacia do Mar Mediterrâneo com Cartago,
Homero, suposto escritor que, nesses dois textos,
enfrentando os cartagineses em três guerras de-
narrou a Guerra de Troia e as aventuras de Ulisses.
nominadas Guerras Púnicas.
 No chamado Período Homérico, as populações
 Os plebeus estavam excluídos dos principais cargos
gregas se organizavam em comunidades que
possuíam uma base familiar comum: os genos. públicos, entretanto, a partir das disputas com os pa-
 As Pólis, ou cidades-Estado, surgiram a partir da trícios, conquistaram o direito de eleger seus próprios
unificação dos genos. Cada Pólis possuía gover- magistrados, denominados tribunos da plebe.
no e leis próprios.  As guerras de conquista contribuíram para que
 Localizada na Lacônia, região árida e montanhosa, Roma elevasse o número de escravos e amplias-
FRENTE 2

Esparta foi uma das mais importantes cidades-Es- se suas riquezas advindas de espólios de guerra
tado da Grécia na Antiguidade Clássica. e de tributos.
 Avessas ao contato com outros povos, as ci-  A formação do Primeiro e do Segundo Triunvira-
dades-Estado gregas se caracterizaram pelo to teve como objetivo solucionar o problema da
isolamento e pela forte estrutura militar, fato que questão agrária por meio de reformas que aten-
as distanciou, por exemplo, dos romanos. diam as reivindicações da plebe.
Soma: Soma:

171
Exercícios propostos

1. Unesp 2020 A Odisseia choca-se com a questão do 3. Unesp 2017 Apesar de sua dispersão geográfica e
passado. Para perscrutar o futuro e o passado, recorre-se de sua fragmentação política, os gregos tinham uma
geralmente ao adivinho. Inspirado pela musa, o adivi- profunda consciência de pertencer a uma só e mes-
nho vê o antes e o além: circula entre os deuses e entre ma cultura. Esse fenômeno é tão mais extraordinário,
os homens, não todos os homens, mas os heróis, pre- considerando-se a ausência de qualquer autoridade
ferencialmente mortos gloriosamente em combate. Ao central política ou religiosa e o livre espírito de inven-
celebrar aqueles que passaram, ele forja o passado, mas ção de uma determinada comunidade para resolver os
um passado sem duração, acabado. diversos problemas políticos ou culturais que se colo-
cavam para ela.
(François Hartog. Regimes de historicidade:
FINLEY, Moses I. Os primeiros tempos
presentismo e experiências do tempo, 2015. Adaptado.) da Grécia, 1998. (Adapt).

O texto arma que a obra de Homero O excerto refere-se ao seguinte aspecto essencial da
a) questiona as ações heroicas dos povos fundado- história grega da Antiguidade:
res da Grécia Antiga, pois se baseia na concepção a) a predominância da reflexão política sobre o de-
filosófica de physis. senvolvimento das belas-artes.
b) valoriza os mitos em que os gregos acreditavam b) a fragilidade militar de populações isoladas em
e que estão no fundamento das concepções mo- pequenas unidades políticas.
dernas de tempo e história. c) a vinculação do nascimento da filosofia com a
c) é fundadora da ideia de história, pois concebe constituição de governos tirânicos.
o passado como um tempo que prossegue no d) a existência de cidades-estados conjugada a pa-
presente e ensina os homens a aprenderem com drões civilizatórios de unificação.
seus erros. e) a igualdade social sustentada pela exploração
d) identifica uma forma do pensamento mítico e econômica de colônias estrangeiras
uma visão de passado estranha à ideia de diá-
logo entre temporalidades, que caracteriza a 4. Unicamp 2018 Os gregos sentiram paixão pelo huma-
história. no, por suas capacidades, por sua energia construtiva.
e) desenvolve uma abordagem crítica do passado e Por isso, inventaram a polis: a comunidade cidadã em
uma reflexão de caráter racionalista, semelhantes cujo espaço artificial, antropocêntrico, não governa a ne-
à da filosofia pré-socrática. cessidade da natureza, nem a vontade dos deuses, mas a
liberdade dos homens, isto é, sua capacidade de racioci-
2. Uefs 2018 Leia o trecho de Odisseia, poema grego nar, de discutir, de escolher e de destituir dirigentes, de
criar problemas e propor soluções. O nome pelo qual
composto no final do século VIII a.C.
hoje conhecemos essa invenção grega, a mais revolu-
Tenho uma serva velha, muito compreensiva, cionária, politicamente falando, que já se produziu na
que amamentou e criou o meu pobre marido, história humana, é democracia.
recebendo-o nos braços no dia em que a mãe o deu à luz.
(Adaptado de Fernando Savater, Política para meu filho.
[...] São Paulo: Martins Fontes, 1996, p. 77.)
Anda lá, ó sensata Euricleia, levanta-te agora:
lava os pés de quem tem a idade do teu amo. Assinale a alternativa correta, considerando o texto
Homero. Odisseia, 2011.
acima e seus conhecimentos sobre a Grécia Antiga.

O trecho apresenta as palavras da rainha Penélope a) Para os gregos, a cidade era o espaço do exer-
no momento da chegada de Ulisses ao palácio da ilha cício da liberdade dos homens e da tirania dos
de Ítaca. deuses.
b) Os gregos inventaram a democracia, que tinha
Considerando o conteúdo do trecho e a organização então o mesmo funcionamento do sistema políti-
social na Grécia Antiga, pode-se sustentar a co vigente atualmente no Brasil.
a) predominância do poder político feminino nas ci- c) Para os gregos, a liberdade dos homens era exer-
dades monárquicas. cida na polis e estava relacionada à capacidade
b) existência de relações escravistas no interior das de invenção da política.
famílias nobres. d) A democracia foi uma invenção grega que criou
c) natureza pacífica das relações entre gregos e problemas em função do excesso de liberdade
bárbaros. dos homens.
d) tendência à libertação dos escravos depois da
Guerra de Troia. 5. Enem PPL 2019 Quando se trata de competência nas
e) resistência passiva dos trabalhadores estrangei- construções e nas artes, os atenienses acreditam que
ros nos palácios dos reis. poucos sejam capazes de dar conselhos. Quando, ao

172 HISTÓRIA Capítulo 3 A Antiguidade Clássica


contrário, se trata de uma deliberação política, toleram c) de habitantes mais hábeis militarmente e mais cul-
que qualquer um fale, de outro modo não existiria a tos para comporem o conselho político da pólis.
cidade. d) de homens e mulheres descendentes de gregos
BOBBIO, N. Teoria geral da política. Rio de Janeiro: Elsevier, 2000 para governarem a cidade nos tempos de paz.
(adaptado).
e) de estrangeiros aliados da cidade para auxiliarem
De acordo com o texto, a atuação política dos cida- os cidadãos nas decisões concernentes às rela-
dãos atenienses na Antiguidade Clássica tinha como ções entre as pólis.
característica fundamental o(a)
a) dedicação altruísta em ações coletivas. 9. Unisc 2017 Leia o texto a seguir:
b) participação direta em fóruns decisórios.
c) ativismo humanista em debates públicos. “Como ocorre na atualidade, também na Antiguidade
[demos] era um termo ambíguo ou polissêmico, já que
d) discurso formalista em espaços acadêmicos.
em certos contextos de uso se referia ao conjunto dos
e) representação igualitária em instâncias parla-
cidadãos, e em outros às pessoas comuns, à parte mais
mentares.
pobre da população”.
CARDOSO, Ciro Flamarion S. A Cidade-Estado Antiga.
6. UFRN 2013 A palavra “democracia” surgiu na Grécia 3. ed. São Paulo: Ática: 1990. p. 84.
Antiga, mas, em diferentes tempos, ela denominou
realidades distintas. Analisando a formação da demo- Apesar das democracias modernas possuírem alguns
cracia grega no século VI a.C., o historiador Ciro F. elementos que remetem à democracia ateniense, na
Cardoso afirma: Antiguidade percebe-se algumas características es-
pecícas, conforme sugere o fragmento acima.
Ao apoiar-se politicamente nas massas populares, em
favor das quais tomava diversas medidas, [...] a tirania pro- Considere as seguintes armativas.
moveu a configuração do demos como força política mais I. Os atenienses participavam diretamente das dis-
estruturada do que o fora até então: ela significou, assim, cussões e da tomada de decisões, pelo voto.
a destruição, não dos aristocratas, mas da sociedade e do II. Os escravos eram considerados bárbaros e as
regime aristocrático mais ou menos exclusivo. mulheres seres inferiores e, portanto, excluídos
CARDOSO, Ciro F. A cidade antiga. São Paulo: Ática, 1993. p. 31. naturalmente de qualquer debate. Porém, os es-
a) Mencione duas diferenças entre o modelo po- trangeiros gozavam de direitos políticos, desde
lítico aristocrático e o modelo democrático na que participassem dos negócios públicos.
Grécia Antiga do século VI a.C. III. Na democracia ateniense, nem todos são cida-
b) Compare os direitos de cidadania e o exercício dãos, pois mulheres, escravos e estrangeiros são
do voto na democracia ateniense da Antiguidade excluídos da cidadania.
e nas sociedades democráticas ocidentais IV. Sendo uma democracia representativa, como as
contemporâneas. modernas, os atenienses participavam da Eclésia –
a principal assembleia da democracia na Grécia
7. Unesp 2018 O aparecimento da filosofia na Grécia não Antiga.
foi um fato isolado. Estava ligado ao nascimento da pólis. Assinale a alternativa correta.
REDE, Marcelo. A Grécia Antiga, 2012.
a) Somente as afirmativas I e II estão corretas.
A relação entre os surgimentos da losoa e da pólis b) Somente a afirmativa II está correta.
na Grécia Antiga é explicada, entre outros fatores, c) Somente a afirmativa III está correta.
a) pelo interesse dos mercadores em estruturar o d) Somente a afirmativa IV está correta.
mercado financeiro das grandes cidades. e) Somente as afirmativas II e IV estão corretas.
b) pelo esforço dos legisladores em justificar e legi-
timar o poder divino dos reis. 10. UFRGS 2017 Na sua narrativa da Guerra do Pelo-
c) pela rejeição da população urbana à persistência poneso, Tucídides assim relata as práticas funerais
do pensamento mítico de origem rural. atenienses.
d) pela preocupação dos pensadores em refletir so-
“Desse cortejo participam livremente cidadãos e
bre a organização da vida na cidade. estrangeiros; e as mulheres da família estão presentes,
e) pela resistência dos grupos nacionalistas às inva- ao túmulo, fazendo ouvir sua lamentação. Depositam-
sões e ao expansionismo estrangeiro. -se, em seguida, os despojos no monumento público,
FRENTE 2

situado na mais bela avenida da cidade, e onde as


8. Famerp 2018 Na democracia ateniense da Antiguida- vítimas de guerra são sempre sepultadas – à exceção
de, havia um modo de exercício do poder político, que dos mortos de Maratona: a estes, considerando-se seu
consistia no sorteio mérito excepcional, concedeu-se sepultura no pró-
a) de cidadãos para o exercício de funções adminis- prio lugar da batalha. Uma vez que a terra recobre
trativas por um curto período de tempo. os mortos, um homem escolhido pela pólis, reputado
b) de indivíduos da população da cidade para partici- por distinguir-se intelectualmente e gozar de alta es-
parem da assembleia dos cidadãos na Ágora. tima, pronuncia em sua honra um elogio apropriado;

173
depois disto, todos se retiram. Assim têm lugar esses mérito, tampouco a pobreza constitui um empecilho:
funerais; e, durante toda a guerra, quando era o caso, se um homem está apto a servir ao Estado, não será
aplicava-se o costume”. tolhido pela simplicidade da sua condição.
Citado em LORAUX, N. A invenção de Atenas. THUCYDIDE. OEuvres complètes.
Rio de Janeiro: Editora 34, 1994. p. 39. Paris: Gallimard, 1998. p. 811-812.

Assinale a alternativa correta a respeito da história da Com relação à democracia ateniense no século V a.C.,
antiguidade grega, a partir do texto apresentado. considere as armações abaixo.
a) Os ritos funerais na Grécia antiga eram cerimô-
I. A isonomia – igualdade de direitos para todos os
nias religiosas, destinadas apenas a conduzir ao
cidadãos perante a lei – era uma característica da
paraíso os heróis mortos.
democracia ateniense.
b) Os metecos, participantes das práticas funerais,
II. Todos os cidadãos, na Assembleia, tinham o direi-
formavam parte do demos ateniense e possuíam
to ao voto, mas somente os cidadãos de origem
os mesmos direitos políticos que os cidadãos da
nobre tinham o direito a discursar.
pólis.
III. Atenas vetava a participação política das mulhe-
c) Todos os soldados atenienses mortos nos con-
res, estrangeiros e escravos, uma vez que esses
frontos com Esparta, em razão do grande mérito
não eram considerados cidadãos.
de seus feitos, eram sepultados no próprio lugar
da batalha. Quais estão corretas?
d) A cena descrita, ocorrida na democracia ate- a) Apenas I.
niense, indica o valor dado aos cidadãos mais b) Apenas II.
eloquentes da cidade. c) Apenas I e III.
e) A realização de um discurso fúnebre por alguém d) Apenas II e III.
escolhido na massa de cidadãos de Atenas revela e) I, II e III.
o caráter secundário e improvisado da cerimônia.
13. Famema 2020 Leia o excerto sobre a preparação
11. UEG 2018 Leia o texto a seguir. dos rapazes na Grécia Antiga para exercer seu papel
de cidadão e pai de família.
Para justificar a ambição grega de hegemonia univer-
sal, Aristóteles (384 - 322 a. C.) formulou a hipótese de Dois tipos de iniciação persistiam nas épocas clás-
que certas raças são, por natureza, livres desde o berço, sica e helenística em Atenas. A primeira, de origem mais
enquanto outras são escravas. arcaica, era a apresentação do adolescente à 1fratria
COMAS, Juan. Os mitos raciais. Raça e Ciência. paterna, inicialmente em um sacrifício oferecido pelo
São Paulo: Perspectiva, 1960. v. I. p. 13.
pai aos deuses Zeus e Atena. A segunda, provavelmen-
Essa losoa racial foi incorporada às campanhas mi- te estabelecida na época clássica, era o serviço militar,
litares de um grande general e líder político que foi chamado efebia. Ambas tinham igual importância para
aluno de Aristóteles. Seu nome era os gregos do período, e era indispensável que o jovem
a) Leônidas, rei espartano que liderou a resistência passasse pelas duas.
Maria Beatriz Florenzano. Nascer, viver e morrer
contra os persas com apenas  soldados. na Grécia Antiga, 1996. Adaptado.
b) Alexandre, o Grande, rei da Macedônia, que di-
1
fundiu a cultura grega na África e na Ásia. fratria: grupo de pessoas que acreditavam ter o mesmo ancestral.

c) Nero, imperador romano admirador dos gregos, De acordo com o excerto, tornar-se cidadão em Ate-
famoso por ter colocado fogo em Roma. nas dependia
d) Péricles, governante responsável pelo apogeu da a) da formação intelectual e do pertencimento às
cidade de Atenas no período clássico. tropas da cidade.
e) Licurgo, legislador conhecido por estabelecer as b) da aceitação pelo grupo familiar e da preparação
duras leis da cidade de Esparta. para a guerra.
c) do casamento dentro da linhagem e do auxílio mi-
12. UFRGS 2020 Leia o texto abaixo que apresenta um litar ao Estado.
trecho do Discurso Fúnebre de Péricles, citado pelo d) de pagamentos feitos aos sacerdotes e do com-
historiador Tucídides (0-3 a.C.). bate aos inimigos.
A nossa constituição não imita as leis dos estados e) do reconhecimento pelas autoridades civis e da
vizinhos. Em vez disso, somos mais um modelo para capacidade bélica.
os outros do que imitadores. O governo favorece a
maioria em vez de poucos – por isso é chamado de 14. Unicamp 2015 Apenas a procriação de filhos le-
democracia. Se consultarmos a lei, veremos que ela gítimos, embora essencial, não justifica a escolha
garante justiça igual para todos em suas diferenças da esposa. As ambições políticas e as necessidades
particulares; quanto à condição social, o avanço na econômicas que as subentendem exercem um papel
vida pública depende da reputação de capacidade. As igualmente poderoso. Comodemonstraram inúmeros
questões de classe não têm permissão de interferir no estudos, os dirigentes atenienses casam-se entre si, e

174 HISTÓRIA Capítulo 3 A Antiguidade Clássica


geralmente com o parente mais próximo possível, isto Texto II
é, primos coirmãos. É sintomático que os autores anti-
A “Lei das Doze Tábuas” se tornou um dos textos
gos que nos informam sobre o casamento de homens
fundamentais do direito romano, uma das principais
políticos atenienses omitam os nomes das mulheres
heranças romanas que chegaram até nós. A publicação
desposadas, mas nunca o nome do seu pai ou do seu dessas leis, por volta de 450 a.C., foi importante pois o
marido precedente. conhecimento das “regras do jogo” da vida em socie-
Adaptado de AlainCorbine outros, História da virilidade, dade é um instrumento favorável ao homem comum e
vol. 1. Petrópolis: Vozes, 2014, p. 62.
potencialmente limitador da hegemonia e arbítrio dos
Considerando o texto e a situação da mulher na Ate- poderosos.
nas clássica, podemos armar que se trata de uma FUNARI, P. P. Grécia e Roma. São Paulo:
Contexto, 2011 (adaptado).
sociedade
a) na qual o casamento também tem implicações O ponto de convergência entre as realidades sociopo-
políticas e sociais. líticas indicadas nos textos consiste na ideia de que a
b) que, por ser democrática, dá uma atenção espe- a) discussão de preceitos formais estabeleceu a
cial aos direitos da mulher. democracia.
c) em que o amor é o critério principal para a forma- b) invenção de códigos jurídicos desarticulou as
ção de casais da elite. aristocracias.
d) em que o direito da mulher se sobrepõe ao inte- c) formulação de regulamentos oficiais instituiu as
resse político e social. sociedades.
d) definição de princípios morais encerrou os confli-
15. Unesp 2016 A cidade tira de seu império uma parte tos de interesses.
da honra, da qual todos vós vos gloriais, e que deveis e) criação de normas coletivas diminuiu as desigual-
legitimamente apoiar; não vos esquiveis às provas, se dades de tratamento.
não renunciais também a buscar as honras; e não pen-
seis que se trata apenas, nesta questão, de ser escravos 17. Enem 2016 A Lei das Doze Tábuas, de meados do sécu-
em vez de livres: trata-se da perda de um império, e do lo V a.C., fixou por escrito um velho direito costumeiro.
risco ligado ao ódio que aí contraístes. No relativo às dívidas não pagas, o código permitia, em
Péricles apud PierreCabanes. Introdução
última análise, matar o devedor; ou vendê-lo como es-
à história da Antiguidade, 2009. cravo “do outro lado do Tibre” – isto é, fora do território
de Roma.
O discurso de Péricles, no século V a.C., convoca os ate- CARDOSO, C. F. S. O trabalho compulsório na Antiguidade.
nienses para lutar na Guerra do Peloponeso e enfatiza Rio de Janeiro: Graal, 1984.

a) a rejeição à escravidão em Atenas e a defesa A referida lei foi um marco na luta por direitos na Roma
do trabalho livre como base de toda sociedade Antiga, pois possibilitou que os plebeus
democrática.
b) a defesa da democracia, por Atenas, diante das a) modificassem a estrutura agrária assentada no
latifúndio.
ameaças aristocráticas de Roma.
b) exercessem a prática da escravidão sobre seus
c) a rejeição à tirania como forma de governo e a
devedores.
celebração da república ateniense.
c) conquistassem a possibilidade de casamento
d) a defesa do território ateniense, frente à investida com os patrícios.
militar das tropas cartaginesas. d) ampliassem a participação política nos cargos po-
e) a defesa do poder de Atenas e a sua disposição líticos públicos.
de manter-se à frente de uma confederação de e) reivindicassem as mudanças sociais com base no
cidades. conhecimento das leis.

16. Enem 2017 18. Uepa 2014 Além dos fervores e das delícias do calendá-
Texto I rio religioso, havia outros prazeres que nada tinham de
sagrado e só eram encontrados na cidade; faziam parte
Sólon é o primeiro nome grego que nos vem à men- das vantagens da vida urbana. Tais prazeres consistiam nos
te quando terra e dívida são mencionadas juntas. Logo banhos públicos e nos espetáculos (teatros, corridas de
depois de 600 a.C., ele foi designado “legislador” em
FRENTE 2

carros no Circo, lutas de gladiadores ou de caçadores


Atenas, com poderes sem precedentes, porque a exi- de feras na arena do anfiteatro, ou em terra grega, no
gência de redistribuição de terras e o cancelamento das teatro) [...] Homens livres, escravos, mulheres, crianças,
dívidas não podiam continuar bloqueados pela oligar- todo mundo tinha acesso aos espetáculos e aos banhos,
quia dos proprietários de terra por meio da força ou de inclusive os estrangeiros, vinha gente de longe para ver
pequenas concessões. os gladiadores numa cidade.
FINLEY, M. Economia e sociedade na Grécia antiga. Por alguns cêntimos, os pobres passavam horas num
São Paulo: WMF Martins Fontes, 2013 (adaptado). ambiente luxuoso que constituía uma homenagem das

175
autoridades. Além das complicadas instalações de ba- oficial do Império Romano, implicou na divulga-
nhos frios e quentes, os pobres encontravam passeios e ção dos princípios dessa nova doutrina para os
campos de esporte. [...] Nessa vida de praia artificial, o povos bárbaros.
maior prazer era de estar na multidão, gritar, encontrar e) A crescente produção de cereais, durante o Im-
pessoas, escutar as conversas, saber de casos curiosos pério Romano, especialmente, o trigo, levou à
que seriam objetos de anedota e exibir-se.
expansão de suas fronteiras, uma vez que era ne-
(ARIÈS, Philippe; DUBY, Georges. História da vida privada: do Império
Romano ao ano mil. São Paulo: Companhia das Letras, 1989.p.193-194, In: cessário ser escoado e vendido para as demais
BRAICK, Patrícia Ramos e MOTA, Myriam Becho. História: das cavernas ao províncias romanas.
terceiro milênio. vol.1. São Paulo: Editora Moderna, 2010).

A partir da leitura do texto, é correto armar que o 20. UFPR 2014 Sobre a religião da Roma Antiga, conside-
Estado romano propiciava: re as afirmativas abaixo:
a) espaços públicos luxuosos destinados aos ba-
. Os Jogos Olímpicos eram a principal cerimônia
nhos frios e quentes, que tinham a finalidade de
pública de adoração aos deuses, com a consa-
promover o lazer e estimular a comunicação e
gração de atletas de diversas partes do domínio
socialização entre as diversas camadas sociais
romano, representando as mais diferentes divin-
de Roma.
dades dos territórios conquistados.
b) locais insalubres para as camadas populares se
. Roma Antiga era politeísta, com deuses
divertirem, nos quais encontravam os banhos
antropomórficos incorporados de povos conquis-
públicos e espetáculos gratuitos como a luta de
tados, especialmente dos gregos. A expansão do
gladiadores, dentro da política do pão e circo.
c) espaços privados de lazer para as camadas mais domínio romano promoveu a coexistência dessa
abastadas da sociedade romana, onde eram religião com religiões locais que não conflitassem
cultivadas rodas de conversação e espetáculos com os rituais romanos.
teatrais. . Havia dois tipos de cultos: os promovidos pelo
d) divertimentos populares a todos os segmentos Estado romano, que dedicava rituais, festivais e
sociais, os quais eram realizados em espaços templos aos grandes deuses, e o culto doméstico,
públicos e privados, sendo nestes últimos instala- voltado para antepassados e espíritos domésti-
das as famosas termas onde ocorriam os banhos cos (denominados Lares).
quentes e frios. 4. O fim da Pax Romana ocorreu com a expansão
e) oportunidades para os segmentos sociais mais do cristianismo, que substituiu o culto domés-
abastados se comunicarem com sujeitos vindos tico romano pelo monoteísmo, promovendo
de outros lugares, especialmente da Grécia, obje- contestação do poder do Imperador entre os
tivando a interação de costumes e valores. cidadãos romanos.
Assinale a alternativa correta.
19. Mackenzie 2014 O Mar Mediterrâneo foi a maior de a) Somente as afirmativas ,  e  são verdadeiras.
todas as vias de circulação romanas e dele resultou b) Somente as afirmativas ,  e 4 são verdadeiras.
a formação do Império Romano (27 a.C. a 7 d.C.). A c) Somente as afirmativas  e 4 são verdadeiras.
respeito dessa importante conquista para a civilização d) Somente as afirmativas  e  são verdadeiras.
romana, assinale a alternativa correta. e) Somente as afirmativas  e 4 são verdadeiras.
a) A eliminação da hegemonia cartaginesa sobre
a região além de permitir que Roma passasse a 21. Unicamp 2014 O termo “bárbaro” teve diferentes sig-
dominar o comércio mediterrâneo, possibilitou nificados ao longo da história. Sobre os usos desse
aumentar o dinamismo próprio da estrutura escra-
conceito, podemos afirmar que:
vista, que necessitava de mão de obra decorrentes
das conquistas. a) Bárbaro foi uma denominação comum a muitas
b) Após a derrota romana nas Guerras Púnicas, civilizações para qualificar os povos que não
quando fenícios e cartagineses ocuparam o compartilhavam dos valores destas mesmas
estreito de Gibraltar, a única saída para dar conti- civilizações.
nuidade ao processo de expansão foi a conquista b) Entre os gregos do período clássico o termo foi
do Mar Mediterrâneo. utilizado para qualificar povos que não falavam
c) A explosão demográfica e os conflitos internos grego e depois disso deixou de ser empregado
com a plebe urbana exigiram medidas expan- no mundo mediterrâneo antigo.
sionistas por parte do governo, para que se c) Bárbaros eram os povos que os germanos clas-
estabelecessem colônias romanas fora da Pe- sificavam como inadequados para a conquista,
nínsula Itálica a fim de minimizar as tensões como os vândalos, por exemplo.
sociais. d) Gregos e romanos classificavam de bárbaros povos
d) A necessidade de expansão do cristianismo, que viviam da caça e da coleta, como os persas, em
que, a partir do século IV, tornou-se a religião oposição aos povos urbanos civilizados.

176 HISTÓRIA Capítulo 3 A Antiguidade Clássica


22. UFG 2014 Leia o verbete a seguir. 24. Mackenzie 2019 No processo histórico da Roma An-
tiga, a República, como regime político foi substituída
vândalo (do latim vandalus). S. m. 1. Membro de um
povo germânico de bárbaros que, na Antiguidade, devas-
pelo Império. Sobre a ordem imperial, é correto afir-
taram o Sul da Europa e o Norte da África. 2. Fig. Aquele mar que a
que destrói monumentos ou objetos respeitáveis. 3. Fam. a) concentração dos poderes na figura do imperador
Indivíduo que tudo destrói, quebra, rebenta. tranquilizava a classe dos patrícios e senadores
FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Aurélio Século XXI: que concordavam com esse tipo de regime que,
dicionário da língua portuguesa. 3. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, de acordo com eles, seria o único capaz de sufo-
1999. (Adaptado).
car a anarquia e as rebeliões de escravos.
O verbete “vândalo” indica que o mesmo ter- b) criação do império, obra elaborada pelo Primei-
mo adquire diferentes signicados. O sentido ro e Segundo Triunvirato, expressou o triunfo da
predominante no dicionário citado, e amplamente vontade dos generais, para os quais o regime im-
empregado na cobertura midiática das recentes perial seria o tipo de governo ideal, para controlar
manifestações no Brasil, decorre da prevalência, na a crise social do final da República.
cultura ocidental, de uma c) base do império foi sustentada pelo poder dos
a) visão de mundo dos romanos, que, negando a camponeses romanos, nos campos, e pela plebe
cultura dos povos germânicos, consolidou a dico- nos centros urbanos, principais interessados na
tomia entre civilização e barbárie. existência de uma ordem que lhes assegurasse
b) mentalidade medieval, que, após a queda do Impé- o domínio da terra e a permanência da prática do
rio Romano, se apropriou da herança cultural dos pão e circo.
povos germânicos conquistadores, valorizando-a. d) vitória da participação popular no cerne da vida
c) concepção renascentista, que resgatou os va- política marcou, profundamente, o novo regime
lores cristãos da sociedade romana, reprimidos político, diferente do que ocorreu tanto no perío-
desde as invasões dos povos bárbaros. do monárquico, quanto no período republicano.
d) imagem construída por povos dominados pelo e) crise econômica pela qual Roma passava nos
Império, que identificaram os vândalos como sím- últimos anos da República, decorrente das
bolo de resistência à expansão romana. inúmeras derrotas militares enfrentadas pelos ro-
e) percepção resultante dos conflitos internos entre manos e os gastos despendidos para consolidar
os povos germânicos que disseminou uma ima- a conquista do Mediterrâneo, levaram o povo a
gem negativa em relação aos vândalos. apoiar o novo regime.

23. Famerp 2019 Leia o texto para responder à questão: 25. UFPR 2020 Para assegurar a ordem entre os conquista-
dos, os romanos tinham que manter postos avançados
Enquanto nas cidades o poder ficou nas mãos dos e acampamentos militares espalhados pelo território
bispos, nos campos, concentrou-se na dos grandes pro- imperial. Era preciso alimentar e armar os soldados
prietários. O governo romano perdeu força: já não era onde estivessem.
capaz de cobrar os impostos de maneira eficiente, nem FUNARI, Pedro P. A. Grécia e Roma.
mesmo de pagar os exércitos. Em 476, o último imperador São Paulo: Editora Contexto, 2001, p. 91.
romano foi deposto. Era o fim do Império Romano e do
Sobre o exército romano, no período imperial, é cor-
mundo antigo e o início de uma nova era, a Idade Média.
reto armar:
(Carlos Augusto Ribeiro Machado. Roma e seu império, 2004. Adaptado.)
a) Foi decisivo nas conquistas territoriais durante o
A queda do Império Romano do Ocidente foi provoca- período republicano, perdendo seu prestígio du-
da, entre outros fatores, rante o período imperial.
a) pela fragilização do poder central, que gradua- b) Permaneceu distante das atividades de manuten-
imente perdeu o controle das províncias que ção das fronteiras dos territórios.
compunham o Império. c) Deixou de exercer sua influência no governo após
b) pelo declínio econômico das colônias asiáticas, as reformas de Augusto.
que deixaram de fornecer matérias-primas à capi- d) Desempenhou diferentes papéis administrativos
tal do Império. e econômicos na manutenção do poder imperial.
c) pela hegemonia econômico-financeira da Igreja, e) Era limitado em tamanho, o que refletiu num papel
que passou a combater militarmente os impera- político secundário.
FRENTE 2

dores pagãos.
d) pelo desenvolvimento militar dos impérios mace- 26. Unioeste 2018 Estar no mundo, hoje, é conviver com
dônio e persa, que se tornaram rivais de Roma e a a mobilidade e a migração, e todas suas implicações.
derrotaram. Do ponto de vista existencial, esta é uma experiência
e) pelas invasões dos bárbaros, que saquearam o desconcertante, em que as referências espaciais e socio-
Império Romano e, assim, facilitaram sua conquis- culturais são reconstituídas, num processo que envolve
ta pelos hunos. e atinge o próprio cerne da autoidentidade: a segurança

177
existencial. (...) Esse percurso leva a um pensar ontológi- castigados em primeiro lugar pela divina vingança e, de-
co acerca das estratégias e consequências do fenômeno pois, também pela nossa própria iniciativa.
migratório, o que faz refletir sobre o papel da identida- Édito de Tessalônica, ano 380 d.C. In: PEDRERO-SÁNCHEZ, M. G.
de territorial, do envolvimento com o lugar e das redes História da Idade Média: textos e testemunhas. São Paulo: Unesp, 2000.

sociais no movimento de sair do lugar de origem e esta- Nos textos, a postura do Império Romano diante do
belecer-se no local de destino. cristianismo é retratada em dois momentos distintos.
MARANDOLA JR., Eduardo; GALLO, Priscila M. Dal. Ser Migrante:
implicações territoriais e existenciais da migração. R. Bras. Est. Pop. Rio de
Em que pesem as diferentes épocas, é destacada a
Janeiro, v. 27, n. 2, jul./dez. 2010, p. 407. permanência da seguinte prática:
a) Ausência de liberdade religiosa.
Acerca dos movimentos populacionais e seus impac-
b) Sacralização dos locais de culto.
tos ao longo da história é INCORRETO armar:
c) Reconhecimento do direito divino.
a) Os anos entre 85 e 9 caracterizam-se
d) Formação de tribunais eclesiásticos.
como o período de maior entrada de imigrantes
e) Subordinação do poder governamental.
no Brasil, devido principalmente ao aumento da
cafeicultura e consequentemente à maior neces-
sidade de mão de obra. 28. Unicamp 2020 Os imperadores romanos que reina-
b) A chamada Expansão Marítima, sob liderança ram no século II administraram um vasto império. Eles
se tornaram mais abertamente monárquicos e dinásticos,
de portugueses e espanhóis, ocorre a partir do
particularmente fora de Roma, onde não precisavam se
século XV. Conhecida ainda como As Grandes
preocupar com os humores do Senado. Emergiu uma
Navegações, ficou marcada entre outros aspec-
corte itinerante que competia por influência. Comu-
tos pela submissão de outros seres humanos ao
nidades provinciais enviavam um embaixador atrás do
trabalho escravo e pela difusão do cristianismo.
outro para acompanhar o imperador onde quer que ele
c) Um importante movimento populacional ocorre pudesse estar. Poderiam encontrar Adriano às margens do
no século III d.C.: o Império Romano sofreu a in- Nilo ou supervisionando a construção da grande muralha
vasão de um único povo denominado, por ele, de que cruzava o norte da Britânia; ajudando a projetar seu
“povo bárbaro”. templo de Vênus diante do Coliseu; fazendo um discur-
d) A imigração tem sido um dos principais problemas so para soldados na África. O império era governado de
humanitários dos últimos anos. Os imigrantes nem onde o imperador estivesse.
sempre são acolhidos, ao contrário, se deparam (Adaptado de Greg Woolf, Roma. São Paulo: Cultrix, 2017, p. 204.)
com perseguição policial, políticas xenofóbicas e
A partir da leitura do texto, assinale a alternativa
fronteiras fechadas.
correta.
e) Foi em meados do século VIII a.C. que os gregos ex-
pandiram seu mundo, e enviaram colonizadores para a) O Senado, composto por notáveis, fazia oposição
várias regiões do Mediterrâneo e do Mar Negro. Tal à centralização do poder do Imperador e garantia
processo continuou por mais de três séculos. a centralidade do governo em Roma e a democra-
tização das decisões governamentais.
b) O Império romano foi marcado pelas disputas de
27. Enem 2017
poder entre o Imperador e o Senado. Os conflitos
Texto I entre eles acabaram por resultar na diminuição do
Esta foi a regra que eu segui diante dos que me foram poder do Senado no que diz respeito à adminis-
denunciados como cristãos: perguntei a eles mesmos se tração pública.
eram cristãos; aos que respondiam afirmativamente, repeti c) O Senado, composto por notáveis, apoiava a
uma segunda e uma terceira vez a pergunta, ameaçando-os centralização do poder nas mãos do Imperador.
com o suplício. Os que persistiram, mandei executá-los, A nova estrutura política do Império permitia a mo-
pois eu não duvidava que, seja qual for a culpa, a teimosia bilidade da administração pública representada
e a obstinação inflexível deveriam ser punidas. Outros, ci- pelo Imperador.
dadãos romanos portadores da mesma loucura, pus no rol d) O Império, governado por militares, opunha-se às
dos que devem ser enviados a Roma. Correspondência de comunidades provinciais. Isso levou ao desapare-
Plínio, governador de Bitínia, província romana situada na cimento do Senado como instituição responsável
Ásia Menor, ao imperador Trajano. Cerca do ano 111 d.C. pela administração pública.
Disponível em: www.veritatis.com.br. Acesso em: 17 jun. 2015 (adaptado).

29. Fuvest 2018 Os Impérios helenísticos, amálgamas eclé-


Texto II
ticas de formas gregas e orientais, alargaram o espaço da
É nossa vontade que todos os povos regidos pela nossa civilização urbana da Antiguidade clássica, diluindo-lhe a
administração pratiquem a religião que o apóstolo Pedro substância [...]. De 200 a.C. em diante, o poder imperial
transmitiu aos romanos. Ordenamos que todas aquelas romano avançou para leste [...] e nos meados do século II
pessoas que seguem esta norma tomem o nome de cristãos as suas legiões haviam esmagado todas as barreiras sérias
católicos. Porém, o resto, os quais consideramos dementes de resistência do Oriente.
e insensatos, assumirão a infâmia da heresia, os lugares P. Anderson. Passagens da Antiguidade ao feudalismo.
de suas reuniões não receberão o nome de igrejas e serão Porto: Afrontamento, 1982.

178 HISTÓRIA Capítulo 3 A Antiguidade Clássica


Na região das formações sociais gregas,
a) a autonomia das cidades-Estado manteve-se intocável, apesar da centralização política implementada pelos im-
peradores helenísticos.
b) essas formações e os impérios helenísticos constituíram-se com o avanço das conquistas espartanas no período
posterior às guerras no Peloponeso, ao final do século V a.C.
c) a conquista romana caracterizou-se por uma forte ofensiva frente à cultura helenística, impondo a língua
latina e cerceando as escolas filosóficas gregas.
d) o Oriente tornou-se área preponderante do Império Romano a partir do século III d.C., com a crise do escravismo,
que afetou mais fortemente sua parte ocidental.
e) os espaços foram conquistados pelas tropas romanas, na Grécia e na Ásia Menor, em seu período de apogeu,
devido às lutas intestinas e às rivalidades entre cidades-Estado.

30. Famerp 2017 Durante o século IV, a velocidade da expansão do cristianismo aumentou muito, especialmente nas cidades
[romanas]. As antigas crenças continuaram existindo, mas o número de fiéis diminuiu muito. Os cristãos passaram a chamar
os adeptos das outras religiões de pagãos e, em algumas ocasiões, se dedicaram a destruir seus templos e as estátuas dos
deuses antigos.
Isso não significa que as religiões tenham vivido em conflito. O cristianismo tomou diversas ideias e características do
paganismo para si. Os livros escritos no início do Império e na época da República eram considerados obras-primas da lite-
ratura, e mesmo os que falavam de outros deuses eram lidos e apreciados pelos cristãos.
Carlos Augusto Ribeiro Machado. Roma e seu império, 2004. Adaptado.

Segundo o texto, a ascensão do cristianismo na Roma Antiga


a) não impediu o avanço de outras formas de religiosidade, e o paganismo, apesar de reprimido, continuou a cres-
cer e manteve-se hegemônico.
b) deu-se a partir das conquistas romanas na Palestina e revelou a correção e a supremacia religiosa da fé cristã
frente às antigas religiões.
c) não impediu a manifestação de outras formas de religiosidade e, apesar de terem ocorrido tensões, algumas
antigas práticas religiosas persistiram.
d) deu-se a partir das cruzadas, que levaram a fé cristã aos pagãos, judeus e muçulmanos que controlavam as terras
do Oriente Próximo.
e) deu-se a partir do extermínio dos grupos que professavam crenças antigas e da eliminação dos materiais que contives-
sem referências ao paganismo.

Texto complementar

O Édipo Rei
A história tem seu início em Tebas, onde o perturbado rei Laio, por não conseguir ter filhos com sua esposa Jocasta, consulta o Oráculo de Delfos e
obtém a seguinte resposta: “Se tiveres um filho, ele te matará e se deitará com a mãe”. Apesar de tentar evitar, quando estava bêbado Laio fez um
filho em sua esposa: nascia Édipo. Para evitar que o destino se cumpra, o rei mandou um de seus pastores expor a criança numa montanha para ser
devorada por animais selvagens ou por aves. Porém, a criança sorriu ao pastor e este, incapaz de matá-la, entrega-a ao rei Pólibo, o qual não conse-
guia ter filhos. O rei Pólibo criou Édipo como um filho, o qual se destacou graças ao porte, coragem e inteligência. Porém, quando Édipo foi consultar
o Oráculo, já adulto, recebeu a mensagem: “Matarás seu pai e deitarás com sua mãe”. Acreditando que o rei Pólibo era seu pai, Édipo fugiu de sua
cidade para Tebas numa carroça, com um cocheiro e dois homens. Porém, no caminho, o príncipe Édipo cruzou com a carroça de um rei de Tebas.
O cocheiro desse rei pede para Édipo dar passagem, batendo com um cajado no seu ombro. Então Édipo mata o rei e seu cocheiro. Obviamente, o
rei era Laio, pai de Édipo. Chegando em Tebas, Édipo vê que um monstro aflige a cidade, com cabeça e seios de mulher, corpo e patas de Leoa: a
esfinge. Todos os anos, a esfinge exige que um jovem tebano tente resolver seus enigmas, caso contrário, o mata: “decifra-me ou devoro-te”. Vendo
a chegada de Édipo, Creonte, irmão de Jocasta, promete a mão de sua rainha, caso Édipo livre a cidade do monstro. Então a esfinge propôs a Édipo:
“Quem, entre os que vivem na terra, na água, nos ares, têm uma só voz, um só modo de falar, uma só natureza, mas tem dois, três e quatro pés?”. E
Édipo responde: “É o homem, quando criança engatinha, na idade madura caminha e quando velho apoia-se numa bengala”. Derrotada, a esfinge
joga-se de um penhasco e morre. Desse modo Édipo, salvador de Tebas, se casa com a rainha Jocasta e vira rei de Tebas. Porém, tempos após a
FRENTE 2

chegada do novo rei, uma peste recai sobre Tebas e de repente, as mulheres dão luz a monstros, as fontes secam e muitos morrem de uma estranha
doença. Ao consultar o oráculo de Delfos, para resolver os problemas de sua cidade, o rei Édipo recebe a resposta: “O mal não vai cessar enquanto
o assassino de Laio não estiver morto”. Édipo inicia uma furiosa busca pelo assassino, acabando por conversar com o pastor que havia entregado-o a
Políbio. Édipo, depois de descobrir que casara com sua mãe e matara seu pai, perfura os próprios olhos. Jocasta se enforca. Os filhos de Édipo com
Jocasta, os quais disputaram intensamente o trono, maltratam o pai, trancando-o em quartos escuros e dando carne de animais sacrificados para ele
comer. O protagonista então fugiu para Atenas, onde morreu. Era impossível fugir do próprio destino.
Texto elaborado para fins didáticos.

179
Resumindo

Grécia Antiga

Roma Antiga

180 HISTÓRIA Capítulo 3 A Antiguidade Clássica


Quer saber mais?

Livros que levaram à queda de Roma, um dos mais importantes


CORASSIN, Maria Luiza. Sociedade e política na Roma impérios da história.
Antiga. São Paulo: Atual, 2.
Conheça nesse livro a origem e as principais mudanças VERNANT, Jean-Pierre.O universo, os deuses, os homens.
ocorridas em importantes instituições contemporâneas, São Paulo: Companhia das Letras, 2.
como a representação política e o Direito. Esse estudo Nesse livro, você encontrará um guia de introdução à
nos permite refletir e compreender como foi se construin- mitologia clássica, por meio de histórias da Antiguidade,
do a ideia de cidadania. que mostram como os mitos podem se renovar em cada
aventura, drama e tragédia que protagonizam.
EYLER, Flávia Maria Schlee. História Antiga: Grécia e Roma
- a formação do Ocidente. Petrópolis, Vozes, 2. Sites
Nesse livro, é apresentado um estudo sobre a formação https://www.namuseum.gr/en/collections/
das cidades-Estado gregas, e da República e do Império Acesse o site do Museu Arqueológico Nacional de Ate-
Romano. O leitor é convidado a refletir sobre os proble- nas e navegue por diversas coleções do maior museu da
mas problemas enfrentados pelos gregos e romanos Grécia. Você encontrará um rico acervo arqueológico que
antigos ao longo de sua história. apresenta um panorama da cultura grega antiga desde a
FUNARI, Pedro Paulo. Grécia e Roma. São Paulo: Editora Pré-história até o fim da Antiguidade.
Contexto, 2. Acesso em: 4 ago. .
O livro apresenta aspectos essenciais da Antiguidade Clás- https://www.museivaticani.va/content/museivaticani/en/
sica, destacando elementos e referências do período e que collezioni.html
se mantêm importantes na atualidade, como expressões Acesse o site Museus do Vaticano, que reúne renomadas
cotidianas, costumes, tradições e formas de pensar.
instituições culturais da Santa Sé, e conheça valiosas co-
SILVA, Marcelo Cândido. 4 de setembro de 476 – A Queda leções de artes e antiguidades, além de realizar um tour
de Roma. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2. virtual pelo museu escolhido.
O livro apresenta o contexto histórico e analisa as razões Acesso em: 4 ago. .

Exercícios complementares

1. UFPR 2018 Leia o excerto a seguir: a) Indique duas condições para que um ateniense
fosse considerado cidadão na Grécia clássica no
A Grécia se reconhece numa certa forma de vida
apogeu da democracia.
social, num tipo de reflexão que define a seus próprios
olhos sua originalidade, sua superioridade sobre o mundo b) Os estrangeiros, também chamados de metecos,
bárbaro. No lugar do Rei cuja onipotência se exerce sem não tinham direitos integrais, mas tinham alguns
controle, sem limite, no recesso de seu palácio, a vida deveres e direitos. Identifique um dever e um di-
política grega pretende ser o objeto de um debate públi- reito dos metecos.
co em plena luz do sol, na ágora, da parte de cidadãos
definidos como iguais e de quem o Estado é a questão 3. Fuvest 2017 A construção da modernidade econômica no
comum [...]. Ocidente teve como elementos determinantes a aquisição
(VERNANT, Jean-Pierre. As origens do pensamento grego. de características mentais e sociais totalmente estranhas ao
Rio de Janeiro: DIFEL, 2013.) mundo greco-romano: uma árdua e longa reapropriação civil
Tendo como base as armações expostas por do trabalho e a invenção de uma relação nunca antes expe-
Vernant, identique os traços principais da pólis gre- rimentada entre trabalho dependente e liberdade pessoal,
ga, o sistema político que ela substituiu e os principais seja nas cidades que renasciam, seja nos campos depois do
feudalismo. E também uma reconquista da dimensão física
problemas que ela apresenta.
da natureza – matéria e movimento, em um novo quadro de
experiências e conceitos – como condição para uma aliança
2. Unicamp 2015 O filósofo Aristóteles (3-322 a.C.)
entre inteligência e produtividade, entre conhecimento cien-
definiu a cidadania em Atenas da seguinte forma:
tífico, saberes artesanais e inovações tecnológicas.
A cidadania não resulta do fato de alguém ter o do-
FRENTE 2

SCHIAVONE, Aldo. Uma História rompida. Roma Antiga e Ocidente Moderno.


micílio em certo lugar, pois os estrangeiros residentes e os
escravos também são domiciliados nesse lugar e não são A partir do texto,
cidadãos. Nem são cidadãos todos aqueles que participam a) caracterize a relação entre trabalho e “liberdade
de um mesmo sistema judiciário. Um cidadão integral pessoal” na Antiguidade Clássica;
pode ser definido pelo direito de administrar justiça e b) compare a natureza do conhecimento científico e
exercer funções públicas. das inovações tecnológicas do mundo greco-
Adaptado de Aristóteles, Política. Brasília: Editora UnB, 1985, p. 77-78. -romano com a do mundo moderno.

181
4. Unesp 2019 Quando eles se entopem de vinho
Costumam buscar o carinho
– São uma formosura os governantes que tu modelas-
De outras falenas
te, como se fosses um estatuário, ó Sócrates! [...]
Mas no fim da noite, aos pedaços
– Ora pois! Concordais que não são inteiramen-
Quase sempre voltam pros braços
te utopias o que estivemos a dizer sobre a cidade e a
De suas pequenas
constituição; que, embora difíceis, eram de algum modo
Helenas
possíveis, mas não de outra maneira que não seja a que
dissemos, quando os governantes, um ou vários, forem
Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas
filósofos verdadeiros, que desprezem as honrarias atuais,
Geram pros seus maridos os novos filhos de Atenas
por as considerarem impróprias de um homem livre e
Elas não têm gosto ou vontade
destituídas de valor, mas, por outro lado, que atribuem Nem defeito nem qualidade
a máxima importância à retidão e às honrarias que dela Têm medo apenas
derivam, e consideram o mais alto e o mais necessário Não têm sonhos, só têm presságios
dos bens a justiça, à qual servirão e farão prosperar, orga- O seu homem, mares, naufrágios
nizando assim a sua cidade? Lindas sirenas
Platão. A República, 1987.
Morenas [...]
O texto, concluído na primeira metade do século IV a.C., (Chico Buarque, letra e música, 1989.)

caracteriza a) Cite duas referências míticas presentes na canção.


a) a predominância das atividades econômicas ru- b) Identifique duas características da condição da
rais sobre as urbanas e enfatiza o primado da mulher na Atenas antiga, citando o trecho da can-
racionalidade. ção que as menciona.
b) a organização da pólis e sustenta a existência de
um governo baseado na justiça e na sabedoria.
6. UEG 2019 Leia o texto a seguir.
c) o caráter aristocrático da pólis durante o período
das tiranias em Atenas e defende o princípio da No decorrer da História, nenhum poeta, nenhuma
igualdade social. personalidade literária ocupou na vida de seu povo um
d) a estruturação social da pólis e destaca a im- lugar semelhante. Ele foi o símbolo por excelência deste
portância da democracia, consolidada durante o povo, a autoridade incontestada dos primeiros tempos de
período de Clístenes. sua história e uma figura decisiva na criação de seu panteão,
assim como o seu poeta preferido, o mais largamente citado.
e) a importância da ação de legisladores, como
FINLEY, Moses. T. O mundo de Ulisses. Lisboa: Presença, 1965, p. 13.
Drácon e Sólon em Atenas, e apoia a consolida-
ção da militarização espartana. A citação expressa a importância de Homero para a
cultura grega antiga. De acordo com os historiadores,
5. Unesp 2019 Analise a letra da canção “Mulheres de Homero foi um
Atenas”, de Chico Buarque e Augusto Boal, composta a) historiador responsável por publicar a primeira
em 17, para responder à questão abaixo. obra histórica da Grécia, retratando as guerras
Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas médicas.
Vivem pros seus maridos, orgulho e raça de Atenas b) personagem de origem indefinida a quem é atribuí
Quando amadas, se perfumam da a autoria dos textos épicos Ilíada e Odisseia.
Se banham com leite, se arrumam c) dramaturgo que se valeu dos mitos gregos para a
Suas melenas produção de dramas teatrais, como Édipo Rei.
Quando fustigadas não choram d) filósofo pré-socrático que reuniu e catalogou os mi-
Se ajoelham, pedem, imploram tos gregos na famosa obra As palavras e os Dias.
Mais duras penas e) legislador responsável por codificar as leis e os
Cadenas costumes das cidades de Esparta e Atenas.

Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas


7. Enem 2019 A soberania dos cidadãos dotados de plenos
Sofrem pros seus maridos, poder e força de Atenas
direitos era imprescindível para a existência da cida-
Quando eles embarcam, soldados
de-estado. Segundo os regimes políticos, a proporção
Elas tecem longos bordados
desses cidadãos em relação à população total dos ho-
Mil quarentenas
mens livres podia variar muito, sendo bastante pequena
E quando eles voltam sedentos
nas aristocracias e oligarquias e maior nas democracias.
Querem arrancar violentos CARDOSO, C. F. A cidade-estado clássica. São Paulo: Ática, 1985.
Carícias plenas
Obscenas Nas cidades-Estado da Antiguidade Clássica, a pro-
porção de cidadãos descrita no texto é explicada
Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas pela adoção do seguinte critério para a participa-
Despem-se pros maridos, bravos guerreiros de Atenas ção política:

182 HISTÓRIA Capítulo 3 A Antiguidade Clássica


a) Controle da terra. c) fortaleceu o poder do Areópago, aumentando
b) Liberdade de culto. sua capacidade de deliberar sobre questões de
c) Igualdade de gênero. interesse geral da sociedade, além de poder jul-
d) Exclusão dos militares. gar crimes de sangue e elaborar projetos de lei.
e) Exigência da alfabetização. d) foi um grande estadista que, por meio de alianças
militares com os países vizinhos, por meio de acor-
8. FGV-SP 2017 [...] a partir do século V a.C., a guerra tor- dos comerciais, e de tratados sobre livre navegação,
nou-se endêmica no Mediterrâneo. Foram séculos de guerra estabeleceu os princípios da diplomacia moderna.
contínua, com maior ou menor intensidade, ao redor de e) estendeu os mesmos privilégios concedidos aos
toda a bacia. O trabalho acumulado nos séculos anteriores hoplitas aos soldados e marinheiros a serviço do
tornara possível um adensamento dos contatos, um com- Estado, ampliando os princípios democráticos e
partilhamento de informações e estruturas sociais, uma desenvolvendo o sentimento patriótico.
organização dos territórios rurais que propiciava a extensão
de redes de poder. Foram os pontos centrais dessas redes de 10. Fuvest 2012 Não é possível pôr em dúvida por mais tem-
poder que animaram o conflito nos séculos seguintes. po, ao passar em revista o estado atual dos conhecimentos,
Norberto Luiz Guarinello. História Antiga, 2013. ter havido realmente uma guerra de Troia histórica, em
que uma coligação de Aqueus ou Micênios, sob um rei
Sobre esses “séculos de guerra contínua”, é correto cuja suserania era conhecida pelos restantes, combateu
armar que o povo de Troia e os seus aliados. A magnitude e duração
a) as Guerras Púnicas, entre Atenas e Cartago, foram da luta podem ter sido exageradas pela tradição popu-
uma disputa pelo controle comercial sobre o mar lar em tempos recentes, e os números dos participantes
Mediterrâneo, terminando após três grandes enfren- avaliados muito por cima nos poemas épicos. Muitos in-
tamentos, com a vitória de Cartago e a hegemonia cidentes, tanto de importância primária como secundária,
cartaginesa em todo o Mundo Antigo ocidental. foram sem dúvida inventados e introduzidos na narrativa
b) as Guerras Macedônicas foram um longo confli- durante a sua viagem através dos séculos. Mas as provas
to entre o Reino da Macedônia, em aliança com são suficientes para demonstrar não só que a tradição da
os persas, e o Império Romano, que venceu expedição contra Troia deve basear-se em fatos históricos,
com muitas dificuldades porque ainda estava em mas ainda que boa parte dos heróis individuais mencio-
guerra com outros povos. nados nos poemas foi tirada de personagens reais.
c) as Guerras Médicas, entre persas e gregos, resul-
Carl W. Blegen. Troia e os troianos. Lisboa, Verbo, 1971. Adaptado.
taram na vitória dos últimos e, em meio a esses
confrontos, permitiram que Atenas liderasse a A partir do texto acima,
Liga de Delos, aliança de cidades-Estados gregas a) identifique ao menos um poema épico inspirado
com o intuito de combater a presença persa no na guerra de Troia e explique seu título;
Mediterrâneo. b) explique uma diferença e uma semelhança entre
d) as Campanhas de Alexandre, o Grande, aliado a poesia épica e história para os gregos da Anti-
Esparta e Corinto, combateram e venceram as po- guidade.
derosas forças persas e ampliaram os domínios
gregos até a Ásia Menor, propagando os princí- 11. Fuvest As cidades [do Mediterrâneo antigo] se forma-
pios da democracia ateniense pelo Mediterrâneo. ram, opondo-se ao internacionalismo praticado pelas
e) a Guerra do Peloponeso, o mais importante con- antigas aristocracias. Elas se fecharam e criaram uma
flito bélico da Antiguidade, envolveu as principais identidade própria, que lhes dava força e significado.
cidades-Estados gregas que, aliadas a Roma, enfren- Norberto Luiz Guarinello, A cidade na Antiguidade
Clássica. São Paulo: Atual, p.20, 2006. Adaptado.
taram e derrotaram as forças militares cartaginesas.
As cidades-Estados gregas da Antiguidade Clássica
9. Mackenzie 2018 Durante o governo de Péricles podem ser caracterizadas pela
(-2 a.C.), a cidade-Estado de Atenas atingiu seu
a) autossuficiência econômica e igualdade de direi-
apogeu, e algumas de suas medidas políticas, ainda,
tos políticos entre seus habitantes.
servem como referência ao mundo contemporâneo.
b) disciplina militar imposta a todas as crianças du-
Sobre sua inuência na política, é correto armar que rante sua formação escolar.
a) foi instituída, por sua iniciativa, a remuneração aos c) ocupação de territórios herdados de ancestrais e
FRENTE 2

que desempenhavam funções no Estado. Essa definição de leis e moeda próprias.


seria uma forma de estímulo para que ocorresse d) concentração populacional em núcleos urbanos e
maior participação popular no governo. isolamento em relação aos grupos que habitavam
b) é considerado o fundador da democracia ate- o meio rural.
niense; pois, ao reforçar o poder naval e as tropas e) submissão da sociedade às decisões dos gover-
a serviço do Estado, enfraqueceu o prestígio da nantes e adoção de modelos democráticos de
nobreza, essencialmente guerreira. organização política.

183
12. Unicamp À Ilíada, epopeia guerreira, sucede a Odisseia, alternativa(s) correta(s) sobre os sistemas de governo
pacífica coletânea de lendas e aventuras marítimas. Esse na Grécia Antiga.
contraste corresponde a uma mudança, quando os povos da “Entre os Estados, em geral, se dá o nome de realeza ao
região renunciam às lutas em territórios muito estreitos e se que tem por finalidade o interesse coletivo; e o governo de
voltam para os países longínquos. Os poemas homéricos são um pequeno número de homens, ou de muitos, contando
contemporâneos da grande expansão marítima dos fenícios que não o seja de um apenas, denomina-se aristocracia –
e a Odisseia está cheia de violências e rapinas de todo tipo ou porque a autoridade está nas mãos de várias pessoas
praticadas pelos fenícios, apresentados como mercadores de bem, ou porque essas pessoas dela se utilizam para o
descarados e bandidos sem escrúpulos; mas devemos levar maior bem do Estado. Por fim, quando a multidão governa
em conta, nessas narrativas, as rivalidades comerciais. no sentido do interesse coletivo, denomina-se esse governo
(Adaptado de J. Gabriel-Leroux, As primeiras civilizações do Mediterrâneo. de República, que é um nome comum a todos os governos.”
São Paulo: Martins Fontes, 1989, p. 67-68.) ARISTÓTELES, Política: Texto Integral. São Paulo: Martin Claret, 2001, p. 90.

a) Segundo o texto, quais seriam as razões históri-  Ao longo da sua existência, a cidade-Estado de
cas da diferença entre a Ilíada e a Odisseia? Atenas experimentou formas de governo como a
b) Como a organização política de fenícios e gregos monarquia e a democracia.
os diferenciava da civilização egípcia?  A principal característica do período Homérico
(XII-VIII a.C.) era o predomínio de uma anarquia
13. UFPR 2013 Considere a afirmação do historiador Pe- “homérica” em que cada cidade-Estado procura-
dro Paulo Funari: va subjugar a outra.
 Ainda que os gregos tivessem produzido
“A guerra do Peloponeso não deixou de ser, até os
grandes filósofos, os textos destes não foram as-
nossos dias, uma narrativa histórica maior. Pode pa-
recer espantoso ver como recorrente um uso político
similados pelos governantes da época, pois só
contemporâneo de um conflito tão distante no tempo foram valorizados durante o Renascimento Italia-
e concernente a uma realidade histórica tão específica no do século XV.
quanto a das cidades gregas. Com efeito, os primeiros  Assim como em nossos dias, a democracia pra-
a lerem, relerem e a se inspirarem em Tucídides foram ticada na Grécia Antiga garantia a liberdade
as elites britânicas. Desde os primórdios da Inglaterra política a todos os homens que habitavam os
moderna, nascida dos conflitos com o continente, os territórios gregos.
ingleses abandonaram todas as pretensões de potência  Nas cidades-Estado onde a nobreza guerreira
terrestre europeia, em proveito da conquista dos mares.” monopolizava as instituições, consolidou-se o re-
FUNARI, Pedro Paulo. Usos da Guerra do Peloponeso. gime aristocrático em que uma minoria deliberava
Revista Brasileira de História Militar. Ano II, n. 4, abril de 2011.
pelo povo.
Com qual cidade-Estado os ingleses se identicaram Soma:
nos relatos de Tucídides sobre a Guerra do Pelopo-
neso? Justique sua resposta, explicando o que foi a
16. UFPR 2020 Alexandre, o Grande, teve uma vida
Guerra do Peloponeso, no que se refere aos principais
breve, mas intensa. Os historiadores da Antiguida-
envolvidos, a suas motivações e às consequências
de destacaram suas habilidades políticas e militares,
para o mundo grego.
e sua imagem se espalhou por meio de retratos e
bustos que foram produzidos em diferentes momen-
14. Fuvest 2013 Não esqueçamos que o processo de for- tos, seja no período helenístico, seja posteriormente
mação de um povo e de uma civilização gregos não se durante o Império Romano. Tornou-se, portanto, sím-
desenrolou segundo um plano premeditado, nem de bolo de poder em diferentes momentos históricos.
maneira realmente consciente. Tentativa, erro e imitação Discorra sobre dois legados de Alexandre na Anti-
foram os principais meios, de tal modo que uma certa
guidade – um legado político e um legado cultural.
margem de diversidade social e cultural, amiúde muito
marcada, caracterizou os inícios da Grécia. De fato, nem
o ritmo nem a própria direção da mudança deixaram de 17. UFPR 2019 Leia abaixo um excerto das Leis das Doze
se alterar ao longo da história grega. Tábuas, sistematizadas em 0 a.C.:
Moses I. Finley. O mundo de Ulisses. 3 ed. Lisboa: Presença, 1998, p.16.
TÁBUA NONA – Do direito público
a) Indique um elemento “imitado” de outros povos e 1. Que não se estabeleçam privilégios em lei (Ou que não
sociedades que teria estado presente nos “inícios se façam leis contra indivíduos) [...]
da Grécia”. 3. Se um juiz ou um árbitro indicado pelo magistrado
b) Ofereça pelo menos dois exemplos do que o au- receber dinheiro para julgar a favor de uma das partes
tor chama de “diversidade social e cultural”, que em prejuízo de outrem, que seja morto; [...]
“caracterizou os inícios da Grécia”. (Disponível em: http://www.dhnet.org.br/direitos/anthist/12tab.htm.
Acesso em: 7 set. 2018.)

15. UEM 2013 Tomando como base o texto a seguir e A partir dos conhecimentos sobre o período republi-
o contexto histórico a que ele se refere, assinale a(s) cano da Roma Antiga (0 a.C.-27 a.C.):

184 HISTÓRIA Capítulo 3 A Antiguidade Clássica


a) Explique as motivações que levaram à siste- para escrever as leis. Dois deles viajaram a Atenas, na
matização dessas leis e quais mudanças elas Grécia, para estudar a legislação de Sólon.
trouxeram em relação à vida política e social vi- COULANGES, F. A cidade antiga. São Paulo: Martins Fontes, 2000.

gente no período monárquico (5 a.C.-59 a.C.). A superação da tradição jurídica oral no mundo anti-
b) As Leis das Doze Tábuas deram origem a qual go, descrita no texto, esteve relacionada à
conjunto de leis e normas jurídicas? a) adoção do sufrágio universal masculino.
b) extensão da cidadania aos homens livres.
18. Uepa 2014 “As Catilinárias” são um célebre discurso c) afirmação de instituições democráticas.
de Marco Túlio Cícero, filósofo e cônsul romano do sé- d) implantação de direitos sociais.
culo I a.C., contra Lucius Catilina. O discurso denuncia e) tripartição dos poderes políticos.
a trama do jovem patrício e de seus seguidores para
obter riquezas com a derrubada do governo republi- 21. Fuvest 2013 A escravidão na Roma antiga
cano. O discurso é representativo da obra ciceroniana a) permaneceu praticamente inalterada ao longo
que, em geral, apresenta a política como tema central, dos séculos, mas foi abolida com a introdução do
mesmo em textos cujo propósito seja tratar de ques- cristianismo.
tões jurídicas e filosóficas. Essa inclinação na obra de b) previa a possibilidade de alforria do escravo ape-
Cícero se explica pelo (a): nas no caso da morte de seu proprietário.
a) ligação entre pensamento filosófico e vida políti- c) era restrita ao meio rural e associada ao trabalho
ca na Roma republicana, cuja ordem democrática braçal, não ocorrendo em áreas urbanas, nem
ensejava uma prerrogativa utilitária para o exercí- atingindo funções intelectuais ou administrativas.
cio filosófico. d) pressupunha que os escravos eram humanos e,
b) fato de Cícero ocupar cargos políticos no Império Ro- por isso, era proibida toda forma de castigo físico.
mano, o que demarca a peculiaridade da sua obra. e) variou ao longo do tempo, mas era determinada
c) força do pensamento jurídico na vida pública ro- por três critérios: nascimento, guerra e direito civil.
mana, o que limitava as possibilidades temáticas
de especulação filosófica. 22. Unicamp 2013 Por que as pessoas se casavam na
d) fragilidade reflexiva da filosofia romana se compa- Roma Antiga? Para esposar um dote, um dos meios
rada às obras gregas dos séculos anteriores. honrosos de enriquecer, e para ter, em justas bodas,
e) espaço ocupado pela oratória nas obras fi- rebentos que, sendo legítimos, perpetuassem o corpo
losóficas romanas, empregada como valioso cívico, o núcleo dos cidadãos. Os políticos não fala-
instrumento para a ação política. vam exatamente em natalismo, futura mão de obra,
mas em sustento do núcleo de cidadãos que fazia a
cidade perdurar exercendo a “função de cidadão” ou
19. Unesp 2012 A escravatura [na Roma antiga] foi prati-
devendo exercê-la.
cada desde os tempos mais remotos dos reis, mas seu
(Adaptado de P. Ariès e G. Duby, História da Vida Privada. São Paulo:
desenvolvimento em grande escala foi consequência das Companhia das Letras, 1990. v. 1, p. 47.)
guerras de conquista […].
Patrick Le Roux. Império Romano, 2010. a) Por que o casamento tinha uma conotação políti-
ca entre os cidadãos, na Roma Antiga?
Sobre a escravidão na Roma antiga, é correto armar que b) Indique dois grupos excluídos da cidadania du-
a) assemelhava-se à escravidão ocorrida no Brasil rante a República romana (59- a.C.).
colonial, pois era determinada pela procedência
e pela raça. 23. UEPB 2013 A expansão territorial na Antiga Roma
b) aumentou significativamente durante a expansão trouxe profundas modificações na sociedade esta-
romana pelo Mar Mediterrâneo. belecida na Península Itálica. Entre elas, podemos
c) atingiu o auge com a ocupação romana da Ger- destacar:
mânia e de territórios na Europa Central. a) O número de escravos aumentou significativa-
d) diminuiu bastante após a implantação do Império mente e estes foram largamente utilizados na
e foi abolida pelos imperadores cristãos. agricultura, na produção de alimentos e nas ativi-
e) diferenciava-se da escravidão ocorrida no Brasil dades urbanas.
colonial, pois os escravos romanos nunca podiam b) Fortalecimento da política agrícola com a expan-
se tornar livres. são dos minifúndios.
FRENTE 2

c) Democratização da sociedade com igualdade de


20. Enem 2013 Durante a realeza, e nos primeiros anos re- direitos políticos entre patrícios e plebeus.
publicanos, as leis eram transmitidas oralmente de uma d) Crise da mão de obra escrava, que ficou concen-
geração para outra. A ausência de uma legislação escrita trada nos campos agrícolas, deixando carente o
permitia aos patrícios manipular a justiça conforme seus setor urbano de trabalhadores livres.
interesses. Em 451 a.C., porém, os plebeus conseguiram e) Grande êxodo urbano, devido a contatos com ou-
eleger uma comissão de dez pessoas – os decênviros – tros povos e as conquistas romanas.

185
24. UFRGS Durante a República Romana, a escravidão aumentou consideravelmente sua importância na sociedade e
na economia, contribuindo para a crescente dependência da República Romana em relação à mão de obra escrava.
A dependência da mão de obra escrava na República Romana devia-se
a) à expansão das grandes propriedades e ao aniquilamento da pequena propriedade rural.
b) às guerras de conquista empreendidas por Roma, as quais contribuíram decisivamente para predomínio dessa
relação de trabalho.
c) à inexistência de mão de obra livre e ao desinteresse da população pelos trabalhos manuais.
d) aos conflitos entre patrícios e plebeus na luta pela terra.
e) à necessidade de ampliação da oferta de mão de obra para o desenvolvimento do artesanato.

25. UEL Leia o texto a seguir:


“A crise desencadeada na sociedade romana pela transformação acelerada das estruturas sociais ocorrida após a
segunda guerra púnica atingiu em meados do século II a.C. uma fase em que se tornava inevitável a eclosão de con-
flitos declarados. A agudização das contradições no seio da organização social romana, por um lado e, por outro, as
fraquezas cada vez mais evidentes do sistema de governo republicano tiveram como resultado uma súbita eclosão das
lutas sociais e políticas.”
ALFÖLDY, G. A História Social de Roma. Tradução de Maria do
Carmo Cary. Lisboa: Editorial Presença, 1989, p. 81.

Com base no texto e nos conhecimentos sobre o tema, considere as armativas a seguir.
I. Na revolta dos escravos, as frentes estavam bem definidas, pois tratava-se principalmente de uma luta dos escra-
vos rurais contra os seus senhores e contra o Estado romano, que protegia estes últimos. Este período iniciou-se
com a primeira revolta de escravos na Sicília e terminou com a revolta de Espártaco.
II. As revoltas dos habitantes das províncias e dos itálicos podem ser consideradas movimentos de camadas sociais
homogêneas. Os seus objetivos eram a luta pela libertação dos membros de uma camada social oprimida e não
a libertação de comunidades, Estados ou povos outrora independentes da opressão do Estado romano.
III. Um dos conflitos mais significativos tinha lugar entre os cidadãos romanos, divididos em grupos, com objetivos
opostos. O objetivo primeiro de uma das facções, a dos políticos reformistas, era resolver os problemas sociais
do proletariado de Roma; a ela se opunha a resistência da oligarquia, igualmente numerosa.
IV. Nas últimas décadas da República, o objetivo primordial dos conflitos passou a ser a conquista do poder de Estado.
A questão era saber se esse poder seria exercido por uma oligarquia ou por um único governante. A consequência
última destes conflitos não foi a mudança da estrutura da sociedade romana, mas a alteração da forma de Estado
por ela apoiada.
A alternativa que contém todas as armativas corretas é:
a) I e II.
b) II e III.
c) III e IV.
d) I, II e III.
e) I, III e IV.

26. PUC-RS (Adapt.) Responda à questão com base nas afirmativas abaixo, sobre o início da República Romana.
I. As principais classes sociais eram compostas pelos patrícios (grandes proprietários rurais descendentes das
primeiras famílias que habitaram Roma), plebeus (geralmente pequenos agricultores, artesãos e comerciantes),
clientes e escravos.
II. As instituições políticas da República eram o Consulado, o Senado, os Comícios e as Magistraturas, sendo seus
membros escolhidos por eleição.
III. Por meio de uma série de guerras, Roma expandiu sua dominação sobre o Mar Mediterrâneo, pois a Península
Itálica já havia sido conquistada pelos romanos sob a Monarquia.
IV. Os conflitos entre patrícios e plebeus geraram, gradativamente, conquistas políticas e sociais para estes últimos,
como a elaboração de uma legislação escrita ( Tábuas) e a instituição de um Tribuno da Plebe.
Pela análise das armativas, conclui-se que somente estão corretas
a) I e II
b) I, II e IV
c) I e III
d) II, III e IV
e) III e IV

186 HISTÓRIA Capítulo 3 A Antiguidade Clássica


Texto para as questões 27 e 28.
Roma provou ser capaz de ampliar o seu próprio sistema político para incluir as cidades italianas durante sua expansão
peninsular. Desde o começo ela havia – diferentemente de Atenas – exigido de seus aliados tropas para seus exércitos, e não
dinheiro para seu tesouro; desta maneira, diminuindo a carga de sua dominação na paz e unindo-os solidamente em tempo de
guerra. Neste ponto, seguia o exemplo de Esparta, embora seu controle militar central das tropas aliadas fosse sempre muito maior.
Perry Anderson. Passagens da Antiguidade ao Feudalismo, 1987. Adaptado.

27. Unesp 2014 A comparação que o texto estabelece entre Roma e Esparta é pertinente, uma vez que foi comum às
duas cidades
a) valorizar a formação e a disciplina da soldadesca e constituir amplo aparato militar.
b) instalar e manter importantes áreas coloniais no Norte da África e no Oriente Próximo.
c) estabelecer amplo domínio militar e comercial sobre o Mar Mediterrâneo e o Leste europeu.
d) erradicar a influência política e militar de Atenas e combater os exércitos cartagineses e persas.
e) viver sob regimes democráticos, após terem atravessado períodos de oligarquia e de tirania.

28. Unesp 2014 O texto caracteriza uma das principais estratégias romanas de domínio sobre outros povos e outras
cidades:
a) o estabelecimento de protetorados e de aquartelamentos militares.
b) a escravização e a exploração dos recursos naturais.
c) a libertação de todos os escravos e a democratização política.
d) o recrutamento e a composição de alianças bélicas.
e) a tributação abusiva e o confisco de propriedades rurais.

29. Unesp 2014 (Adapt.) Leia o texto para responder à questão.


Apesar de não ter sido tão complexo quanto os governos modernos, o Império [Romano] também precisava pagar custos
muito altos. Além de seus funcionários, da manutenção das estradas e da realização de obras, precisava manter um grande
exército distribuído por toda a sua extensão. A cobrança de impostos é que permitia ao governo continuar funcionando e
pagando seus gastos.
(Carlos Augusto Ribeiro Machado. Roma e seu império, 2004.)

Os gastos militares intensicaram-se a partir dos séculos III e IV d.C., devido


a) ao esforço romano de expandir suas fronteiras para o centro da África.
b) às perseguições contra os cristãos, que, bem-sucedidas, permitiram o pleno retorno ao politeísmo.
c) à necessidade de defesa diante de ataques simultâneos de bárbaros em várias partes da fronteira.
d) aos anseios expansionistas, que levaram os romanos a buscar o controle armado e comercial do mar Mediterrâneo.
e) à guerra contra Cartago pelo controle de terras no norte da África e na Península Ibérica.

30. PUC-RS (Adapt.) Responda à questão com base nas afirmativas sobre as invasões dos povos ditos bárbaros ao
Império Romano, a partir do século V.
I. As massas rurais romanizadas da Europa Ocidental em geral não opuseram resistência ativa às invasões germâ-
nicas do século V, estabelecendo-se, em muitos casos, relações de cumplicidade em troca de certas garantias
oferecidas pelos invasores.
II. A Europa Ocidental, após o século V, sofreu novas invasões, a partir do século VII, dos normandos, eslavos,
magiares e muçulmanos, o que levou à recuperação do comércio, devido ao caráter mercantil da economia dos
novos grupos invasores.
III. O Império Romano do Oriente não foi assediado pelos bárbaros no século V e o governo central, em Constanti-
nopla, promoveu, até o século VI, uma política de auxílio militar visando à libertação da parte ocidental do império.
FRENTE 2

A análise das armativas permite concluir que


a) apenas a I está correta.
b) apenas a II está correta.
c) apenas a III está correta.
d) apenas a I e a II estão corretas.
e) a I, a II e a III estão corretas.

187
BNCC em foco
EM13CHS103 e EM13CHS206

1. A característica mais notável da Grécia antiga, a razão profunda de todas as suas grandezas e de todas as suas fra-
quezas, é ter sido repartida numa infinidade de cidades que formavam um número correspondente de Estados. As condições
geográficas da Grécia contribuíram fortemente para dar-lhe sua feição histórica. Recortada pelo embate entre a montanha e
o mar, há uma fragmentação física e política das diferentes sociedades.

a)
b)

EM13CHS101 e EM13CHS206

2.
... antes da Guerra de Tróia, [os habitantes da] Hélade nada [realizaram] em comum. Este nome mesmo não era empre-
gado para designá-la no seu conjunto. [...] O que fica bem comprovado [nos livros de] Homero: ele que viveu numa época
bem posterior à Guerra de Tróia, não utilizou a designação [de helenos] para o conjunto [dos gregos].
[...] Não utilizou, também, a expressão “bárbaros” porque, na minha opinião, os gregos não se encontravam ainda reunidos
[...] sob um único nome que [lhes] permitisse [diferenciar-se de outros povos]. De qualquer forma, aqueles que receberam
[mais tarde] o nome de Helenos [...] nada fizeram conjuntamente antes da Guerra de Tróia. [...] Essa expedição mesma os
reuniu apenas num momento, naquele em que a navegação marítima encontrava-se mais desenvolvida.

a)
b)

EM13CHS103
3. Com relação ao ornamento, Roma não correspondia, absolutamente, à majestade do Império e, além disso,
estava exposta às inundações, como também aos incêndios. Porém, Augusto fez dela uma cidade tão bela que pode se en-
vaidecer, principalmente por ter deixado uma cidade de mármore no lugar onde encontrara uma de tijolos.

a)
b)

HISTÓRIA Capítulo 3 A Antiguidade Clássica


FRENTE 2

CAPÍTULO Outras Idades Médias

4
Este manuscrito árabe do século XIII é uma representação de Sócrates discutindo com
seus discípulos. Trata-se, portanto, de uma fonte medieval que remete a um tema da
filosofia grega clássica sob a ótica árabe. Certamente, a imagem nos remete a uma visão
do período medieval distinta daquela que o reduz a cavaleiros e castelos e à Igreja Ca-
tólica. Por muito tempo, os historiadores, ao estudarem a Idade Média, concentraram-se
apenas no ocidente do continente europeu. Hoje, porém, busca-se outras perspectivas
sobre a época e sobre o tema. Neste capítulo, concentraremo-nos em dois povos –
islâmicos e bizantinos – que compartilharam o espaço mediterrânico na Idade Média e
a partir dos quais desenvolveram-se duas religiões fundamentais para a história, o islã
e o cristianismo ortodoxo.
Origem do termo "Idade Média"

Myrabella (CC BY 1.0)/Wikimedia Commons


O período entre 476, ano da queda do Império Romano
do Ocidente, e 1453, ano da queda do Império Bizantino,
é usualmente chamado de Idade Média. Já se viu que o
ano de 476 é meramente uma data simbólica. Isso porque
a deposição do imperador Rômulo Augusto após sua der-
rota para Odoacro, líder do povo germânico hérulo, não
foi vista, naquele período, como um fato notável, dado que
os centros de lealdade já estavam localizados no Império
Romano do Oriente e nas monarquias germânicas.
Mas qual é a origem do termo “Idade Média”? Assim
como ocorreu com o termo “Pré-história”, sua origem pode
ser considerada pejorativa. O termo foi criado por Petrar-
ca e outros nomes do chamado Renascimento Cultural
(séculos XIV ao XVI) quando eles periodizaram a história
europeia, separando-a entre uma Idade Antiga ou Clássi-
ca, correspondente ao mundo greco-romano, uma Idade
Média ou “Idade das Trevas”, correspondente à “longa
noite de mil anos”, e uma época “nova” (em latim, moder-
na), que eles próprios estariam inaugurando. Para esses
pensadores do Renascimento, com o fim do Império Ro-
mano, a arquitetura, a pintura e a escultura clássica haviam
Este detalhe da Tapeçaria de Bayeux, do século XI, é uma representação
sido destruídas, o latim se deteriorou e, com ele, a cultura de Guilherme, o Conquistador (centro), o primeiro rei de origem francesa
e o pensamento greco-romano foram perdidos. Dessa (normando) a ocupar o trono da Inglaterra. O monarca está entre seus
forma, entre a época antiga e o momento em que viviam meios-irmãos Roberto e Odo. As tapeçarias, assim como as iluminuras, são
expressões artísticas muito frequentes na Idade Média.
os renascentistas, houve um período em que a arte e a
cultura teriam sido atrasadas, desvalorizadas, submersas No entanto, se os renascentistas e iluministas despreza-
na teologia, por isso o uso da expressão “Idade das Tre- ram a Idade Média, no Romantismo surgiu outra perspectiva:
vas” (tenebrae, em latim). Até hoje, o termo “medieval” é a da Idade Média, com seus cavaleiros, batalhas e torneios,
associado ao atraso, à brutalidade, à pobreza e à ignorân- vista como um período de fé e tradição. Trata-se também de
cia. No Iluminismo (século XVIII), ampliou-se essa visão da uma caracterização marcada pelo preconceito, dado que
Idade Média como um período de obscurantismo, quando ela nega toda a diversidade e complexidade do período,
a razão teria sido sufocada pelos dogmas religiosos. além de reduzi-lo ao contexto europeu.
É importante salientar, contudo, que essa visão do mun- É preciso, portanto, entender a Idade Média como um
do medieval é preconceituosa e errônea – a ideia de uma período da história humana com características próprias,
“Idade Média”, isto é, “medíocre” ou meramente “interme- nem idealizado – como buscavam os românticos – nem me-
diária” é tão equivocada quanto a ideia de uma “Pré-his- nosprezado – como faziam os renascentistas e iluministas.
tória”. Primeiramente, viu-se que o período greco-romano Além disso, é importante lembrar uma observação do
esteve longe de ser um esplendor para todos: a arte e o la- historiador Erwin Panofsky: “Na história, como na física, o
tim puro eram privilégios de uma elite patrícia, enquanto a tempo é relativo ao espaço”. E o que isso quer dizer? Na
maioria da população era escravizada ou vivia em situa- história, as temporalidades sempre dizem respeito a um
ção de pobreza. Da mesma maneira, grandes guerras espaço específico. Por exemplo, a ideia de desagregação
e outras formas de violência praticadas no decorrer da do Império Romano, embora seja importante para a Europa
história humana se situam na Idade Contemporânea – e para o Norte da África, pode não ser um marco importante
é equivocado, portanto, chamar toda forma de intolerância e em outros espaços, como a América do Sul e a Indochina.
preconceito de “medieval”. O nazismo, por exemplo, A noção de uma “Idade Média”, apesar de nos dizer algo
expressão máxima desses elementos, é um fenômeno sobre o mundo mediterrânico, talvez não nos ajude a com-
contemporâneo. preender outros espaços.
Em segundo lugar, a Idade Média foi um período mar- Nos concentraremos nos seguintes contextos da Idade
cado pelo surgimento das universidades, dos hospitais, Média: o Império Islâmico, oriundo da península Arábica,
das notas musicais, dos bancos, das línguas modernas, dos o Império Romano do Oriente, ou Império Bizantino, e o
futuros países europeus e das religiões islâmica e ortodoxa. sistema feudal na Europa ocidental.
A cultura greco-romana não se perdeu, tanto que os pen- No caso da Europa ocidental, o historiador Henri Pirenne
sadores cristãos utilizaram muitos elementos da filosofia criou, para o período medieval, a seguinte divisão: Alta Ida-
desse período antigo, especialmente de Platão, Aristó- de Média (do século V ao X), correspondente à formação e
teles e dos estoicos, para formular a teologia cristã. Os ao auge do feudalismo, e Baixa Idade Média (do século X
mosteiros conservavam grandes bibliotecas com as obras ao XV), correspondente ao apogeu, à expansão e à crise do
da Antiguidade Clássica. feudalismo. Alguns historiadores costumam chamar o período

190 HISTÓRIA Capítulo 4 Outras Idades Médias


entre os séculos XI e XIII de “Idade Média Central”, posterior É importante salientar, contudo, que o feudalismo se
à fragmentação do Império Carolíngio e anterior às crises restringe às regiões da Europa ocidental. Ainda assim,
feudais dos séculos XIV e XV. Há também historiadores que há historiadores que preferem o uso de outros conceitos
preferem identificar o período entre a crise do século III, (como “dominação senhorial”) em vez de “feudalismo”.
quando houve intensa disputa pelo poder em Roma, e a as-
censão do islã (séculos VII e VIII) como “Antiguidade Tardia”. A Idade Média e o islã
Saiba mais A península Arábica antes de Muhammad
Atualmente, calcula-se que cerca de 1,3 bilhão de pes-
soas no mundo (algo em torno de 20% da humanidade) são
muçulmanos. A palavra islã significa “submissão a Alá”, ou
[...] a deposição do último imperador romano do Oci- seja, viver segundo a vontade do Criador. A palavra Alá sig-
dente, em 476, não significou o fim [...] das tradições e nifica, em árabe, “Deus”. A religião islâmica tem suas origens
das instituições romanas, da mesma forma que o final da na península Arábica, no ano de 610, quando Muhammad,
Antiguidade não trouxe consigo a regressão da vida eco-
enquanto meditava, teria recebido mensagens de Alá por
nômica ou o desaparecimento do Estado e das atividades
intermédio do anjo Gabriel.
comerciais. Os povos bárbaros não conquistaram o Im-
pério, mas se integravam ao mundo romano, tanto pela

AishaAbdel(CC BY 4.0)/Wikimedia Commons


violência quanto por acordos pacíficos. É por isso que a
expressão “invasões bárbaras” caiu em desuso, tendo sido
substituída por “migrações bárbaras”. [...] Os reinos bár-
baros mantiveram o latim como a sua língua oficial, assim
como preservaram as instituições e leis criadas no Império
Romano tardio [...] A Idade Média foi também uma épo-
ca de expansão geográfica, política, econômica e cultural.
[...] Apesar da perda de quase toda a península ibérica para
os muçulmanos, no início do século VIII, a cristianização
da Germânia, da Escandinávia, das ilhas Britânicas, da
Boêmia, da Polônia, da Hungria e da Croácia integrou novos
territórios àquilo que se convencionou chamar de Cristan-
dade. As cruzadas, a partir do século XI, fundadas na ideia
de guerra praticada em nome de Deus, foram um segundo
momento dessa expansão [...]O Mediterrâneo funcionou
igualmente como um espaço de contatos culturais e de trocas
comerciais entre cristãos, judeus e muçulmanos [...].
A agricultura medieval foi capaz de produzir exceden-
tes que alimentaram grandes circuitos comerciais, tanto
no Mediterrâneo, quanto no norte da Europa, e que foram
responsáveis pelo desenvolvimento urbano dos séculos XI,
XII e XIII [...]. A repressão e a censura não impediram o
florescimento da literatura e das artes. Um bom exemplo
foi o advento das universidades. “Muhammad, o mensageiro de Deus” é a frase inscrita nos portões da
Em suma, nem tempo de decadência, nem época mesquita do profeta, na cidade de Medina, na Arábia Saudita. Muhammad é
de ouro. o nome original de Maomé na língua árabe.

Muçulmano ou islâmico, portanto, é todo aquele que


Para melhor compreensão do período, dividiremos a segue o islamismo como religião. Árabe, por sua vez, é
história medieval da Europa ocidental, em quatro períodos, um termo étnico-cultural que se refere a todo membro ou
de acordo com a proposta do historiador Hilário Franco Jr.: descendente das tribos do deserto da península Arábi-
• Formação do feudalismo (do século V ao IX): momento ca. Por isso, nem todo árabe é muçulmano, assim como
que se segue à queda do Império Romano, caracterizado nem todo muçulmano é árabe (por exemplo, indonésios
pela síntese romano-germânica e pela construção do Im- e malaios são predominantemente muçulmanos, mas não
pério Carolíngio. são árabes). Calcula-se que hoje apenas 40% dos muçul-
• Apogeu do feudalismo (do século IX ao XI): período manos são árabes. O Alcorão, que significa “leitura”, é o
FRENTE 2

em que o feudalismo, na Europa ocidental, assume livro sagrado da religião islâmica.


sua forma clássica. Mas como era a vida dos povos da península Arábica
• Expansão do feudalismo (do século XI ao XIII): período antes da ascensão de Muhammad? Essa região possui um
de desenvolvimento de um setor urbano e comercial, clima extremamente seco, com a presença de um dos maio-
do crescimento demográfico a das cruzadas. res desertos do mundo. Em diversas ocasiões, os romanos
• Crise do feudalismo (séculos XIV e XV): crise sistêmica estiveram às portas da península, mas nunca adentraram de
das estruturas econômico-sociais. fato o território, que permaneceu independente.

191
Principais grupos da Arábia pré-islâmica
BANU SALIH
BANU KALB
BAHRAA

BAKR IBN WALL


JUDHAM

BANU TAMIM
UDHRAH AL-KHATT
`ABS (AL-QATIF)
BALI
‘ABD UL-QAYS
GHATAFAN NUMAYR
JUNAYNAH
YATHRIB BANU ASAD BANU HANIFAH
(MADINAH) AL-YAMAMAH
BANU SULAYN BANU DHABBAH HIZWA

KHUZA´AH BAHIA AZD’UMAN


BANU KILAB
HADHAYL
MAKKAH TA’IF BANU KA’ AB
QURAYSH HAWAZAN
THAQIF BANU HILAL QARYAT DHAT KHAL
KINANAH BANU’UQAYL
DAWS
AL-AZD MIDHHAL
MAHRAH
KHATH’AM
AL-HARITH
NAJRAN KINDAH
HAMADAN
MURAD
SAN’A
MA’AFIR
YAH’
‘ANS

Fonte: MALLAM, Sally. The Pre-Islamic World. The Human Journey. Disponível em: https://humanjourney.us/ideas-that-shaped-our-modern-world-section/
mohammad-and-the-beginnings-of-islam-mecca-backdrop/#. Acesso em: 20 jul. 202.

Os povos da península Arábica pré-islâmica encontra- em uma forma de religião na qual se cultua uma única di-
vam-se divididos em numerosos agrupamentos nômades vindade, considerada suprema, mas sem negar a existência
(os beduínos), comandados por um chefe (shaik). A difícil de outros deuses.
sobrevivência levou-os ao cultivo de uma escassa agricul- Conforme dito, o santuário comum a todos os povos
tura de tâmaras e trigo, praticada nos oásis, à criação de da região fica na cidade de Meca (na atual Arábia Saudita).
rebanhos, às incursões e ao comércio de caravanas. A pi- Ali está depositada em uma das laterais da Caaba a Pedra
lhagem era uma atividade honrosa. O camelo, símbolo de Negra, pedaço de rocha considerado sagrado pelas tribos
riqueza e prosperidade no mundo árabe, era o principal arábicas desde o período pré-islâmico. Hoje, os muçulma-
meio de transporte, além de servir como moeda de troca, nos afirmam que a pedra foi trazida pelo anjo Gabriel. Na
pagamento de dote das mulheres antes do casamento, época anterior a Muhammad, as mais diversas pessoas se
entre outras funções. dirigiam a Meca não só em busca da adoração da Pedra
As famílias do deserto ligavam-se por um intenso es- Negra e de seus deuses, mas também para fazer comércio.
pírito de solidariedade. Concursos de poesia, nos quais se As transações comerciais eram controladas pela tribo dos
cantavam as façanhas da tribo, entre outras histórias, davam coraixitas, que obtinham grandes vantagens comerciais.
como recompensa a gravação das composições em ouro

Muhammad Mahdi Karim/www.micro2macro.net/Wikimedia Commons


nos muros da Caaba, um santuário importante para os po-
vos da península Arábica antes mesmo do advento do islã.
A costa marítima da península era ocupada por grupos
sedentarizados que viviam como comerciantes ou peque-
nos artífices, exportando para o Ocidente e para o Oriente
mercadorias como café, incenso, tâmaras e perfumes. Suas
principais cidades eram Meca e Yatreb (mais tarde batizada
de Medina). Não existia, na costa nem no interior, um go-
verno único centralizado.
Apesar das diferenças culturais, todos os árabes eram
do mesmo grupo étnico e diziam ser descendentes de
Abraão (Ibrahim). Alguns acreditavam em um deus supre-
mo, Alá, porém não deixavam de adorar uma infinidade
de outros deuses, os djinns, como Hanbal (o raio), Uadd
(a amizade e o amor), Iagurte (o socorro), entre outros. Na
Arábia, antes do islã, o monoteísmo já aparecia com certa
influência crescente do cristianismo ou do judaísmo, so-
A Caaba, em Meca, santuário de peregrinação e adoração dos muçulmanos,
bretudo nas regiões que hoje correspondem à Síria e à já era um local sagrado para os povos da península Arábica desde os
Palestina, e mesmo por meio do henoteísmo, que consiste tempos anteriores a Muhammad e à fundação do islã. Foto de 2018.

192 HISTÓRIA Capítulo 4 Outras Idades Médias


O nascimento do islã Em 63, Muhammad retornou a Meca e, acompanhado
Nascido em Meca (a data é incerta, podendo ser 57 ou de muitos beduínos convertidos, tomou a cidade, destruiu
571), Muhammad pertencia a um ramo secundário da tribo os ídolos pagãos na Caaba e afirmou a soberania do isla-
dos coraixitas. Diz a tradição islâmica que, em 61, aos 4 mismo. Meca tornou-se o centro da religião islâmica. Com
anos, durante um retiro em uma caverna, Muhammad teve o tempo, toda a península Arábica foi unificada em torno do
sua primeira visão. O anjo Gabriel teria descido à Terra, afir- islamismo e de seu único chefe, Muhammad, que assumia
mado que Muhammad era o último dos profetas e ordenado o poder político e religioso.
que ele pregasse a fé em um Deus único, começando com o
Atenção
seguinte poema, a mais antiga passagem do Alcorão:
“Lê em nome de teu Senhor que tudo criou;
Criou o homem de um coágulo de sangue.
Lê que o teu Senhor é generoso,
Que ensinou o uso do
Ensinou ao homem o que este não sabia”
Alcorão 96:1-5. Disponível em: http://www.ligaislamica.org.br/liga_islamica_
alcorao.htm. Acesso em: 26 ago. 2021.

Combatei, pela causa de Deus, aqueles que vos com-


batem; porém, não pratiqueis agressão, porque Deus não
estima os agressores.
Biblioteca da Universidade de Edinburgo, Escócia

Quanto àquele que se esforçar (jihad) pela causa de


Deus, o fará em benefício próprio; porém, sabei que Deus
pode prescindir de toda a humanidade.

Gravura do século XIV representando o momento em que Muhammad


recebe a primeira revelação do anjo Gabriel. O desenho faz parte do livro
Compêndio de crônicas, publicado na Pérsia no século XIV.

As revelações foram feitas aos poucos por Gabriel até


a morte de Muhammad em 63. O conjunto das revelações
formou o Alcorão, composto por 6 6 versos distribuídos

Aiman titi (CC BY 3.0)/Wikimedia Commons


em 114 capítulos. A obra reúne o mistério do Deus-Uno e a
história de suas revelações, de Adão a Muhammad, passan-
do por Abraão, Moisés e Jesus, assim como as prescrições
culturais, sociais, jurídicas, estéticas e morais que dirigem
a vida individual e social dos muçulmanos.
Após três anos, seguido por um pequeno grupo de
fiéis, Muhammad foi a Meca e começou a falar para os corai-
xitas em frente à Caaba, pregando a destruição dos ídolos
tribais e afirmando a existência de um só Deus, onisciente e
onipotente. Em 6, o grupo de Muhammad foi perseguido
e teve de abandonar a cidade, dirigindo-se para Yatreb.
FRENTE 2

Transformando a cidade em sua base, Muhammad mudou


seu nome para Medina (que significa “cidade do profeta”),
que se tornou a primeira comunidade a viver sob as leis
muçulmanas. A fuga do profeta e seus seguidores para a
cidade de Medina ficou conhecida como Hégira, tornan-
do-se um dos episódios fundamentais da consolidação do
islamismo, considerado o marco inicial de seu calendário. Mesquita Masjid al-Qiblatayn, em Medina, na Arábia Saudita. Foto atual.

193
Em 63, Muhammad fez sua última peregrinação e recebeu as últimas revelações. Após a sua morte, a comunidade
islâmica deu início a uma crise sucessória, que culminou na divisão interna do islã.

O Império Islâmico
Muhammad havia uni cado os povos árabes em torno do islamismo. Seus sucessores, sob o ideal da jihad, conquistam a Síria,
a Mesopotâmia, a Palestina, a Pérsia, parte da Índia, o norte da África e a península Ibérica (Portugal e Espanha). Essa conquista
não foi apenas militar, mas se deu também por meio da conversão (em muitos casos, inclusive, dispensando o confronto militar).
A travessia para a península Ibérica foi feita por Tar (ou Tarik), que enfrentou os visigodos de Roderico. Por isso, tal
estreito hoje é conhecido como Pedra de Tar – em árabe, Gib al Tar ou, em sua forma na língua portuguesa, Gibraltar.Após
chegar ao continente europeu pela península Ibérica, o Império Islâmico tentou conquistar os francos, mas foram detidos
por seu rei, Carlos Martel, na Batalha de Poitiers, em 73, e por Pepino, o Breve, em 75. No continente asiático, os árabes
não avançaram para além da Índia, pois desconheciam as florestas tropicais. Em direção ao centro e ao sul da África, por sua
vez, foram barrados pelo grande deserto do Saara. Ainda assim, os islâmicos formaram um vasto império que abrangeu um
território da Índia à península Ibérica.

Mundo islâmico e bizantino – séculos VII e VIII


Paris
OCEANO
ATLÂNTICO Poitiers io
MIlão Veneza ásp Mar
rC
Covadonga Toulouse Gênova
Cherson Ma de Aral
Burgos Mar Negro
Ragusa
León Narbona Córsega Andrinopla Sinope Derbent
REINO DOS Roma Tíflis
Barcelona Nápoles Constantinopla
VISIGODOS Trebizonda Boukhara Samarcanda
Segoyuela Sardenha Tessalônica Ancara
Lisboa
Valência Esmirna Tabriz Ardabil
Córdoba Túnis Sicília Tarso Merv
Gibraltar Mossul Bactra
Granada Creta Antioquia Arbela
Celta Chipre Hamadan
Nahrawan Cabul
Mar Mediterrâneo Damasco Nehavend
Fez 0º Trípoli
Jerusalém Yarmuk
Karbela
Império Bizantino no início do século VII Qadisiya
Alexandria Ajnadain Kufa Multan
Império Sassânida (Persa) no início do século VII Istakr
Tribos árabes unificadas sob liderança Tabuk
Ormuz
de Muhammad (622-632) Badr
Unificação árabe sob Abu Bakr (632-634), Hunayn Yatreb Daibul
o primeiro califa após a morte de Mohammad Assuã (Medina)
Mascato Trópico de Câncer
Expansão islâmica entre 634 e 661
Expansão islâmica sob o Califado Omíada (661-750) Meca Taif
Conquistas do Califado Abássida (a partir de 750)
Batalhas importantes durante a expansão islâmica OCEANO
Império Carolíngio em 843 Sana
Império Bizantino no final do século IX ÍNDICO
Hégira em 622 Áden

Fonte: VICENTINO, Cláudio. Atlas histórico geral e do Brasil. São Paulo: Scipione, 20. p. 9.

Saiba mais As conquistas do Oriente Médio, do norte da África e


da península Ibérica se deram entre os séculos VII e IX,
o chamado período clássico. Entre os séculos XI e XIV,
ocorreu a expansão para a Ásia Central e Índia. Após o
século XIV, os povos islâmicos ergueram os “impérios da
pólvora”, isto é, o Império Turco-Otomano, o último que
unificou o Oriente Médio e perdurou até o século XX; o
Império Safávida, de origem xiita, no atual Irã; e o Império
Mogol (ou Mugal), na Índia, entre os séculos XV e XVIII. A
maioria desses povos foi conquistada por ingleses e fran-
ceses no contexto do imperialismo dos séculos XIX e XX.
Já no continente africano (onde, atualmente, cerca de 4%
da população é muçulmana), o islã se difundiu menos pela
guerra que por práticas como o comércio, a migração e a
influência de professores e místicos.
A expansão muçulmana, portanto, é uma das mais im-
portantes da história, dado que, no espaço de um século,
os árabes dominaram um imenso território sob o signo de
uma fé. Citado no início do capítulo, o historiador Henri
Pirenne defendeu que, com o controle árabe sobre boa
parte do mediterrâneo, o comércio dos povos cristãos foi
dificultado, obrigando-os a refugiar-se no interior e dedi-
car-se à agricultura. Tal ideia, no entanto, não é mais aceita

194 HISTÓRIA Capítulo 4 Outras Idades Médias


entre os historiadores, que apontam as trocas econômicas A Escola dos Tradutores de Toledo, na Espanha muçulmana,
que ocorriam entre cristãos e muçulmanos, além da grande traduziu diversos escritos greco-romanos.
área de comércio que os bizantinos detinham. As rotas
comerciais dos islâmicos iam da Índia à península Ibérica, Saiba mais
incluindo também a troca de mercadorias com os cristãos.
Cheques, letras de câmbio, recibos e associações comer-
ciais eram usados nessas transações comerciais.
Nicolas Vollmer (CC BY 2.0)/Wikimedia Commons

Como já estudado no capítulo 1 da frente 1, nos ter-


ritórios muçulmanos era comum a relativa tolerância com
outros povos monoteístas, que os árabes chamavam de
Povos do Livro, como judeus e cristãos, que tinham direi-
to de praticar a sua fé, embora tivessem de pagar mais
impostos ao califado. Essa coexistência acabou fazendo
com que muitos cristãos e judeus migrassem para a reli-
gião islâmica. O símbolo dessa tolerância é a catedral de
Toledo, na Espanha, onde se alternavam os rituais cristãos,
A grande mesquita de Córdoba, na Espanha, foi construída no século X, no judaicos e muçulmanos.
apogeu do domínio islâmico na península Ibérica. Após a reconquista, os No Império Islâmico havia a forte presença das popu-
espanhóis a transformaram em catedral e hoje ela é chamada de mesquita-
lações escravizadas: militares escravizados, escravizados
-catedral, em uma fusão de elementos islâmicos e cristãos. Foto atual.
para trabalhos domésticos e mulheres para fins sexuais.
A assimilação da filosofia grega se intensificou sob o Geralmente, essas pessoas eram eslavos pagãos trazidos
domínio do califa al-Mansur (754-775), fundador da cidade da Escandinávia, povos das estepes da Ásia central ou de
de Bagdá em 76. No decorrer da expansão islâmica, regiões do norte da África. Os últimos países da história
pensadores muçulmanos procuraram convergir filosofia islâmica a abolir formalmente a escravidão, a propósito,
e islamismo, o que incluía conciliar Platão, Aristóteles e o foram o Iêmen e a Arábia Saudita, em 16, e a Mauritânia,
Alcorão: nessa perspectiva, os seres provêm de Deus como em 181.
a luz provém do Sol, ou seja, por uma causalidade natural
que dispensa a vontade ou a intenção. O médico e filósofo per- A fé islâmica
sa Avicena (8-137), considerado um dos pensadores mais O islamismo prega o monoteísmo. Apesar de aceitar a
importantes da tradição islâmica e cujas obras foram utilizadas existência de anjos, demônios e outras criaturas invisíveis
tanto no Oriente como no Ocidente até o século XVIII, em sua (como os gênios, ou jins), para o islã, o politeísmo é um
obra A Cura, retomou as principais teses aristotélicas e acres- pecado capital (a Santíssima Trindade, santos e imagens
centou o que ele julgava serem avanços feitos na Filosofia. constituiriam, na visão islâmica, elementos politeístas). Após
Para Avicena, a Filosofia deveria discorrer sobre tudo aquilo a morte, Alá aceitará os bons no paraíso e os maus se-
que poderia ser conhecido pela razão humana, orientando-se rão condenados ao inferno. Não há, no islamismo, pecado
para um fim: a felicidade. original, salvação pela fé ou dependência da intermedia-
A chamada Escola Falsafa (filosofia racionalista) islâmica ção de sacerdotes para a salvação. Os ulemás, teólogos
pregava que a razão poderia, sem recorrer ao Alcorão, en- especializados nas leis islâmicas, são apenas intérpretes
contrar as mesmas verdades que a religião islâmica. O filósofo da fé islâmica, mas não mediadores. Para os muçulmanos,
Averróis (116-118), nascido na península Ibérica durante o o cristianismo e o judaísmo não são religiões falsas, mas
domínio árabe, era conhecido por seus ricos comentários a apenas formas inacabadas do islamismo
FRENTE 2

respeito das obras de Aristóteles. O método grego do co- Outro alicerce da religião islâmica, assim como a cristã
mentário consiste em reconstituir a intenção do autor, isto e a judaica, é a revelação. Ela se refere ao momento em
é, fazê-lo dizer o que teria de ser dito caso quisesse se pro- que Deus irrompe no mundo e se revela mediante mensa-
nunciar com clareza sobre o assunto. É por intermédio de geiros especiais. Outras religiões, como o budismo ou o
Averróis que o mundo cristão latino conheceu Aristóteles com hinduísmo, não pregam essa “descida” do sobrenatural. Ao
profundidade – o que mostra o diálogo entre o cristianismo e contrário, pensam formas de o próprio ser humano atingir
o islamismo medieval nas áreas do conhecimento humano. níveis de consciência superiores .

195
São cinco as obrigações básicas de todo muçulmano:
• Shahada – recitar o credo “Alá é o único Deus e Muhammad, seu profeta” ao acordar e antes de dormir.
• Salat – orar cinco vezes por dia, voltado em direção à cidade de Meca. Todos os muçulmanos do mundo e todas as
mesquitas são assim integrados, com milhares de corações voltados para o seu centro.
• Zakat – ajudar os necessitados (com dinheiro, comida ou abrigo) para, assim, purificar o dinheiro ganho. O zakat é
uma espécie de justiça interior obrigatória, que torna efetiva a solidariedade dos seres humanos da fé, isto é, ven-
cendo em si mesmos o egoísmo e a avareza (a jihad maior) e mostrando que a riqueza, como tudo, pertence a Deus.
• Ramadã – jejuar no Ramadã, celebrado no nono mês do calendário islâmico (quando o arcanjo Gabriel teria feito as
revelações a Muhammad), privando-se, no mês todo, desde o nascer até o pôr do sol, de comida, água, prazer sexual
e pensamentos ruins.
• Hajj – se tiver saúde e condições financeiras, fazer a peregrinação a Meca ao menos uma vez na vida para orar diante
da Caaba, onde Muhammad destruiu os antigos ídolos.
Nurlan Mammadzada/Shutterstock

Multidão tenta tocar a porta da Caaba durante peregrinação a Meca. Foto de 2018.

O Império Bizantino
O termo “Império Bizantino” refere-se à região do antigo Império Romano do Oriente. Tal região sofreu muitas transfor-
mações ao longo da história, mas, em seu apogeu, chegou a englobar a península Balcânica, regiões da península Itálica,
o norte da África e a Ásia Menor. No decorrer dos séculos, contudo, a região controlada pelo Império Bizantino reduziu-se
à Ásia Menor e à península Balcânica.
Império Bizantino – século VI

Mar Extensão do Império
Mar do Bizantino após as
Norte Báltico conquistas de Justiniano
OCEANO Reino dos suevos
ATLÂNTICO Reino dos visigodos
Reino dos francos

40º
N

Mar Negro

Mar Mediterrâneo

Fonte: VICENTI-
NO, Cláudio. Atlas
histórico geral e do
Brasil. São Paulo:
Scipione, 20. p. .

196 HISTÓRIA Capítulo 4 Outras Idades Médias


Atenção

A religião no Império Bizantino quem escolhia o chefe da Igreja Cristã bizantina, chamado
A religião bizantina determinava o cotidiano dos indiví- de patriarca ecumênico. Abaixo do patriarca, havia 6 bis-
duos até a hora da morte, fundamentava o poder imperial, pos que, frequentemente, permaneciam em Constantinopla,
justificava a política exterior e dava significação aos temas visitando suas dioceses esporadicamente. Quem ficava
culturais. Enquanto nas monarquias germânicas do Ociden- próximo à população eram os clérigos, abaixo dos bispos
te (que estudaremos no próximo capítulo), a Igreja Católica na hierarquia religiosa.
afirmava-se como um poderio acima dos reis, no Império Uma das mais populares figuras do Império Bizantino
Bizantino tanto o poder religioso como o estatal se con- era a do monge. Isolado no deserto, em grutas e em altas
vergiam na figura do imperador, no fenômeno que ficou colunas construídas para esse fim, o monge vivia em gru-
conhecido como cesaropapismo, ou seja, o controle e a união pos disciplinados, trabalhando e orando. Modelo de pureza
do poder temporal sobre o poder espiritual. Na qualidade de e religiosidade, ele fazia votos de castidade, pobreza e
monarca e pontífice, o imperador bizantino era representado obediência, renunciando a tudo que fosse material, repre-
com auréolas, reservadas às personagens divinas. sentando o oposto da riqueza do alto clero bizantino.
As festas bizantinas eram consideradas religiosas. Fal-
Basílica de São Vital, Ravena

tar à missa por três semanas implicava excomunhão. Na


imensa cúpula das igrejas bizantinas, representando o céu,
está a figura do Cristo Todo-Poderoso vigiando seus fiéis.
Mas a grande expressão da presença divina entre os fiéis
estava no fervoroso culto às relíquias, que incluíam diferen-
tes tipos de objetos considerados sagrados.
Influenciados por correntes filosóficas gregas, pen-
sadores como Clemente de Alexandria, Orígenes, Cirilo
Nestório e os próprios imperadores bizantinos constante-
mente debatiam a respeito do que seria a “verdadeira fé”.
Entre esses pensadores, havia os chamados monofisistas,
que afirmavam que Cristo tinha uma natureza exclusivamen-
te divina, e não também humana, como defende a Igreja
Católica romana. Com o tempo, os próprios imperadores
passaram a apoiar a concepção monofisista, mesmo con-
denada pelo papa.
Mais intenso foi o movimento iconoclasta. Em 76, o
imperador bizantino Leão III decretou o fim da adoração de
imagens, ordenando a destruição delas por todo o império.
Mas a população resistiu a essa determinação: quando um
funcionário régio tentou destruir a imagem de Cristo na
entrada do Império, foi linchado pela população. Em 843, a
imperatriz Teodora restabeleceu o culto às imagens, argu-
mentando que, se “Deus revelou-se aos olhos dos mortais
na natureza humana do Cristo, não haveria problema de
FRENTE 2

manifestar-se por meio de imagens”.


Por fatos como esses, as relações com o papado ro-
Mosaico do imperador bizantino Justiniano (século VI), na Basílica de San mano tornavam-se cada vez mais tensas. Até o século VIII,
Vitale, em Ravena, Itália. Observe a auréola ao redor de sua cabeça.
sempre que um papa era escolhido em Roma, o imperador
Ao contrário da cristandade ocidental, onde o papado bizantino tinha que lhe dar aprovação. Em 768, contudo, o
se fortaleceu como um poder independente, no Oriente imperador perdeu o poder de ratificar a escolha do novo
ele estava atrelado ao imperador: era o próprio soberano papa, e, em 8, o papa coroou Carlos Magno, rei dos

197
francos e dos lombardos, como imperador dos romanos. Mas as conquistas de Justiniano duraram pouco tempo.
Isso significava que o Império Bizantino havia perdido o No século VII, como se viu, o norte da África foi conquis-
título de Império Romano do Oriente. Essa mudança não tado pelos muçulmanos. A península Ibérica, por sua vez,
foi aceita pelos imperadores bizantinos, que alegavam ser foi retomada pelos visigodos e, em seguida, conquistada
os verdadeiros herdeiros de Roma. pelos muçulmanos, enquanto, em 568, os lombardos ocu-
As Igrejas de Roma e de Constantinopla, ainda que fos- param a península Itálica. Essas guerras custaram muitas
sem instituições cristãs, já mantinham há muito tempo certas vidas humanas e dinheiro, contribuindo para aumentar o
diferenças, como vimos no início do tópico, a respeito da cen- ressentimento contra os bizantinos. Insatisfeita com os altos
tralização do poder religioso na figura do imperador bizantino. impostos decorrentes desses conflitos, em 53 a população
Faltava apenas formalizar a separação, ocorrida em 154, no se rebelou contra o imperador e deflagrou a revolta Nika,
episódio que ficou conhecido como Cisma do Oriente. Com mas foi duramente reprimida.
o Cisma, foi criada a Igreja Ortodoxa, encabeçada pelo pa- Após reprimir a revolta popular, Justiniano ordenou
triarca de Constantinopla e sob a tutela do imperador, como a reconstrução de Constantinopla, na qual se destaca a
já mencionado, e manteve-se a Igreja Católica Romana, sob construção da Basílica de Santa Sofia, hoje localizada
o julgo do papa de Roma. Passa-se, portanto, a existir ofi- em frente à Mesquita Azul, no bairro de Sultan Ahmet.
cialmente duas igrejas cristãs. Os ortodoxos acreditavam ser Depois da tomada de Constantinopla pelos Turcos, em
mais próximos aos rituais da Igreja Cristã original (daí o nome), 1453, Santa Sofia foi transformada em mesquita. Em 135,
aceitando apenas os quatro primeiros Concílios da Igreja. foi convertida em museu, até que, em , tornou-se
Em 14, o saque dos católicos à Constantinopla ajudou a mesquita novamente.
marcar a separação definitiva das duas Igrejas.

Arild Vågen (CC BY 3.0)/Wikimedia Commons


A política no Império Bizantino
Como vimos, no mundo bizantino, o imperador acumu-
lava o poder político e o religioso. O Senado, principalmente
após o século VII, praticamente não tinha influência política,
mas foram mantidas instituições romanas, como o exército
(com cerca de 65 mil soldados).
Como Roma, o mundo bizantino não teve um sistema
fixo de sucessão do trono. Acreditava-se que alguém se
tornava imperador pela vontade de Deus; desse modo, um
golpe bem-sucedido era também expressão dessa vonta-
de. Por isso, dos 17 imperadores bizantinos, 37 tiveram
morte natural, oito morreram em guerras e os demais foram
destronados ou assassinados.
No período do Alto Império (33-61), destaca-se
o reinado de Justiniano (57-565). Alguns historiadores A antiga Basílica de Santa Sofia foi construída entre 532 e 537, em
consideram que a história medieval começa propriamen- Constantinopla, durante o reinado de Justiniano. Foto de 2013.
te após o seu reinado. Justiniano assumiu o trono com
a tarefa de reconstruir o antigo Império Romano: assim, Uma das mais importantes realizações do reinado
ele destruiu o reino dos vândalos no norte da África, re- de Justiniano foi a elaboração do chamado Corpus Juris
tomou o sul da península Ibérica das mãos dos visigodos Civilis (Corpo de Direito Civil), documento que reúne e
e, em 553, dominou a península Itálica, que estava sob sistematiza as leis romanas escritas desde o século II.
o controle dos ostrogodos. Em Ravena, na península Itá- Nele estão os princípios básicos do Direito Romano, os
lica, Justiniano construiu a Basílica de San Vitale, cujos comentários de juristas da época sobre a legislação de
mosaicos são mundialmente conhecidos. Roma, as leis surgidas no período de Justiniano e uma
espécie de manual de instrução para todos aqueles que
se valessem das leis romanas. O código de Justiniano
Basílica de São Vital, Ravena, Itália.

tornou-se a base jurídica do Império Bizantino e o meio


pelo qual o Ocidente recuperou o Direito Romano na
posteridade.
O segundo período, conhecido como Médio Império
(61-14), ficou caracterizado pelo desmembramento do
Império Bizantino: os árabes dominaram definitivamente
a Síria (636) e o Egito (64), chegando a Constantinopla.
Com o início da Dinastia Macedônica, que comandou o
Império Bizantino de 867 a 156, retomou-se a ofensiva
contra os árabes, coroada pela conquista das ilhas de
Creta e de Chipre, que deram aos bizantinos novamente
Mosaico da imperatriz Theodora na Basílica de San Vitale, século VI. o comando sobre o Mediterrâneo.

198 HISTÓRIA Capítulo 4 Outras Idades Médias


Império Bizantino – 867

Fonte: The Byzantine Empire in the mid-9th centure CE. World History Encyclopedia. Disponível em: https://www.worldhistory.org/
image/0/the-byzantine-empire-in-the-mid-9th-century-ce/. Acesso em: 20 jul. 202.

A Quarta Cruzada foi responsável pela desagregação Economia, sociedade e cultura


do Império Bizantino, entre 14 e 161, culminando no Ancorada na tradição helênica, durante o período ro-
Império Latino de Constantinopla, comandado por Veneza. mano, as regiões orientais não adotaram completamente
Com ajuda de Gênova, no entanto, o Império Bizantino
a escravidão; assim, quando o Império Romano entrou em
conseguiu se reunificar.
crise, no século III, o mundo bizantino manteve certa pujan-
O Baixo Império (161-1453) é o período de decadência
ça comercial. A localização geográfica do Império Bizantino
e colapso do Império Bizantino. Além da perda de territó-
era privilegiada, pois ligava comercialmente a Europa e a
rios, a aristocracia rural se fortalecia e escapava do domínio
Ásia, mantendo um vertiginoso comércio com os países
imperial. No século XIV começa a invasão dos turcos-
-otomanos: em 1354, eles se estabelecem em Galípoli; em do Oriente. Da China, da Índia e do Ceilão chegavam di-
136, ocupam Adrianópolis; em 14, sitiam Constantinopla, ferentes mercadorias, especialmente os tecidos de seda.
mas sem sucesso; em 143, dominam a Tessalônica; e, em Seu território agregava também excelentes portos, como
1453, tomam Constantinopla definitivamente, sob o comando Alexandria e os portos da Síria, da Anatólia, da Grécia, do
do sultão Mehmed II (também conhecido como Maomé II). Mar Negro e, sobretudo, de Constantinopla. Feiras realiza-
Naquele mesmo ano, as muralhas de Constantinopla são das em diversas cidades vendiam mercadorias europeias,
derrubadas, consolidando o fim o Império Bizantino. Cons- islâmicas, persas, indianas e chinesas. Todo esse fluxo fez
tantinopla (que, posteriormente, passou a se chamar Istambul) de Constantinopla o mais importante centro econômico-
tornava-se capital do Império Turco-Otomano. comercial da Europa medieval. No século XI, era a cida-
de mais rica do mundo, ponto de encontro de pessoas e
Universidade Bilkent, Ancara

mercadorias de todas as procedências, de modo que dois


terços da riqueza universal passava pelo seu amplo porto
e pelas mãos dos seus comerciantes.
A decadência comercial do Império Bizantino veio
a partir do século XII, com a ascensão de cidades como
Gênova, Veneza e Pisa. Os venezianos patrocinaram a
Quarta Cruzada, que conquistou parte do império. No
campo, predominavam cada vez mais as grandes proprie-
FRENTE 2

dades, com a ascensão de uma aristocracia que atrapalhou


a coesão imperial. A partir do século XI, desenvolveu-se no
Império Bizantino a chamada pronoia, acordo pelo qual o
Estado dava um lote de terra a algum nobre ou oficial do
Mehmed II, o Exército, que poderia cobrar impostos das pessoas que
Conquistador,
em pintura do viviam em suas terras e treinar os homens para que se
século XV. tornassem soldados do império.

199
Ao longo de sua história, compuseram o Império Bi- Império Bizantino, mantendo-se o grego como língua oficial.
zantino uma infinidade de povos, como eslavos, búlgaros, A Geometria, por sua vez, prosseguiu apenas em termos de
persas, georgianos, armênios, russos, normandos, italianos, cartografia. As esculturas bizantinas são lembradas pelos
anglo-saxões, entre outros. Para ser bizantino não era pre- animais de bronze que rodeavam o trono para impressionar
ciso pertencer a um determinado grupo étnico, mas apenas os visitantes. A arte bizantina combinava o luxo, o misticis-
falar grego e adotar a religião cristã ortodoxa. Judeus, por mo e a exuberância orientais com o equilíbrio, a fluidez e a
sua vez, foram perseguidos e massacrados no império. sobriedade dos gregos.
A população de Constantinopla se organizava em co-

Basílica de Santa Sofia, Istambul


munidades, onde estabeleciam suas diferentes facções. Na
maior parte do tempo, duas organizações se dividiam em
Constantinopla, atuando como milícias: os Verdes – adeptos
o e dos costumes locais – e os Azuis – defenso-
res da natureza humana de Cristo e da cultura greco-romana.
A cultura bizantina era herdeira da tradição helenística
(adotando a língua grega e outros elementos culturais da
Grécia combinados com características do mundo oriental),
ao mesmo tempo que pretendia salvaguardar a herança
romana (especialmente no campo político-institucional,
com o Direito, a diplomacia, a política fiscal, a organi-
zação militar e a concepção de supremacia do Estado).
Aliados a esses aspectos, os bizantinos ainda mantinham
uma ortodoxia religiosa cheia de verdades definitivas e
transcendentes. A influência persa e islâmica também se
mostrou presente no mundo bizantino.
Em algumas áreas do conhecimento, como Geometria,
Astronomia e Matemática, predominaram os paradigmas
gregos. Na Medicina, eram mantidos os elementos hipocrá-
ticos. A Teologia permaneceu como uma ciência à parte,
recebendo influências do escolasticismo ocidental. Em ter-
mos linguísticos, o latim era muito pouco empregado no Pintura de Jesus Cristo na Igreja de Santa Sofia, 1261.

Revisando

1. Uece 2019 O acontecimento marcante a partir do qual e) a proibição de que os muçulmanos saíssem da
os muçulmanos passaram a contar o ano I do seu ca- Península Arábica, pois eles sofriam persegui-
lendário foi ções em outros territórios.
a) o falecimento de Maomé em Medina no ano 63.
b) a saída de Maomé da cidade de Meca no ano 6. 3. Mackenzie 2013 A Idade Média não existe. Esse episódio
c) o nascimento do profeta Maomé na tribo Coraixita de quase mil anos (...) é uma fabricação, uma construção,
em 57.
um mito, quer dizer, um conjunto de representações e de
d) a revelação divina recebida por Maomé em 58.
imagens em perpétuo movimento, amplamente difundi-
das na sociedade, de geração em geração (...).
2. Unesp 2018 A migração de Maomé e seus segui- Christian Amalvi. “Idade Média”. In: Jacques Le Goff e
dores, em 22, de Meca para Medina permitiu a Jean-Claude Schmitt. Dicionário Temático do
consolidação da religião muçulmana que incluía, entre Ocidente Medieval. Bauru, SP: EDUSC, 2006, p.537.

outros princípios, A respeito do tema, considere as seguintes armativas:


a) a recomendação de que os muçulmanos não es- I. As representações depreciativas do período
cravizassem ou atacassem outros muçulmanos,
remontam às tentativas, principalmente de huma-
pois eles pertencem à mesma irmandade de fé.
nistas italianos desde o século XIV, de retornar às
b) a proibição de que os muçulmanos exercessem
fontes da Antiguidade Clássica.
atividades comerciais, pois o manejo cotidiano de
riquezas era considerado impuro. II. O século XVIII, com sua revalorização do raciona-
c) a proibição de que os muçulmanos visitassem lismo e antropocentrismo, assiste ao dualismo “obs-
Meca, pois o solo puro e sagrado dessa cidade curantismo” – representado pela Idade Média – e
deveria permanecer intocado. as “Luzes” – representadas pelo Iluminismo.
d) a recomendação de que os muçulmanos não li- III. A visão de uma Idade Média plena de cultura e da
mitassem seu culto a um só Deus, pois o criador qual se originou a civilização europeia deve-se, em
multiplica-se em diversas formas e faces. grande parte, ao século XIX, com o Romantismo.

200 HISTÓRIA Capítulo 4 Outras Idades Médias


Assinale b) foi conduzida pelo Imperador bizantino Justiniano,
a) se apenas I estiver correta. que governou entre 57 e 565.
b) se apenas I e II estiverem corretas. c) deu-se devido às desavenças entre católicos e o
c) se apenas II e III estiverem corretas. poder imperial, pela cobrança de indulgências.
d) se apenas I e III estiverem corretas. d) aconteceu em 154 e ficou conhecida como Cis-
e) se I, II e III estiverem corretas. ma do Oriente.

4. Enem 2018 Então disse: “Este é o local onde construirei. 7. Fuvest A Idade Média europeia é inseparável da civiliza-
Tudo pode chegar aqui pelo Eufrates, o Tigre e uma rede ção islâmica já que consiste precisamente na convivência,
de canais. Só um lugar como este sustentará o exército e ao mesmo tempo positiva e negativa, do cristianismo e do
a população geral”. Assim ele traçou e destinou as ver- islamismo, sobre uma área comum impregnada pela cul-
bas para a sua construção, e deitou o primeiro tijolo com tura greco-romana.
sua própria mão, dizendo: “Em nome de Deus, e em lou- José Ortega y Gasset (1883-1955).
vor a Ele. Construí, e que Deus vos abençoe”. O texto acima permite armar que, na Europa ociden-
AL-TABARI, M. Uma história dos povos árabes. São Paulo:
Cia. das Letras. 1995 (adaptado).
tal medieval,
a) formou-se uma civilização complementar à islâ-
A decisão do califa Al-Mansur (-) de construir mica, pois ambas tiveram um mesmo ponto de
Bagdá nesse local orientou-se pela partida.
a) disponibilidade de rotas e terras férteis como b) originou-se uma civilização menos complexa que
base da dominação política. a islâmica devido à predominância da cultura
b) proximidade de áreas populosas como afirmação germânica.
da superioridade bélica. c) desenvolveu-se uma civilização que se benefi-
c) submissão à hierarquia e à lei islâmica como con- ciou tanto da herança greco-romana quanto da
trole do poder real. islâmica.
d) fuga da península arábica como afastamento dos d) cristalizou-se uma civilização marcada pela flexibi-
conflitos sucessórios. lidade religiosa e tolerância cultural.
e) ocupação de região fronteiriça como contenção e) criou-se uma civilização sem dinamismo, em vir-
do avanço mongol. tude de sua dependência de Bizâncio e do Islão.

5. UPE 2015 O Islã ascendeu quando Roma caiu. Porque, 8. Fuvest Se o Ocidente procurava, através de suas invasões
nos primeiros anos do século VII da Era Comum, o cami- sucessivas, conter o impulso do Islã, o resultado foi exata-
nho se abriu muito para que o Islã conquistasse o mundo; mente o inverso.
como em um piscar de olhos, os árabes realizaram a maior Amin Maalouf, As Cruzadas vistas pelos árabes.
revolução de poder, religião, cultura e riqueza da história – São Paulo: Brasiliense, p.241, 2007.

e tudo isso fez da Europa a Europa. Um exemplo do “resultado inverso” das Cruzadas foi a
(LEWIS, David Levering. O Islã e a formação da Europa – De 570 a 1215.
a) difusão do islamismo no interior dos Reinos Fran-
Barueri: Amarilys, 2010, p. 1. Adaptado.)
cos e a rápida derrocada do Império fundado por
Sobre essa realidade, assinale a alternativa CORRETA. Carlos Magno.
a) A ascensão do Islã se deu em torno do profeta b) maior organização militar dos muçulmanos e seu
Maomé, defensor do politeísmo coraixita. avanço, nos séculos XV e XVI, sobre o Império
b) O Islã conquistou a Espanha após a vitória na to- Romano do Oriente.
mada de Toledo, em 185. c) imediata reação terrorista islâmica, que colocou
c) Os muçulmanos do medievo basearam sua eco- em risco o Império britânico na Ásia.
nomia na produção agrícola. d) resistência ininterrupta que os cruzados enfrenta-
d) A Espanha muçulmana sobreviveu até o século XVIII. ram nos territórios que passaram a controlar no
e) O avanço do Islã na Europa foi barrado por Carlos Irã e Iraque.
Martel, que comandou o exército cristão na vitória e) forte influência árabe que o Ocidente sofreu des-
da Batalha de Poitiers. de então, expressa na gastronomia, na joalheria e
no vestuário.
6. Uece 2015 No ano de 200, os líderes religiosos, o Papa
Católico Bento XVI e o Patriarca Ecumênico Ortodoxo 9. UFRGS Assinale a alternativa que apresenta um dos
FRENTE 2

Bartolomeu I, encontraram-se em Istambul, na Turquia. resultados do entrecruzamento de culturas no Império


O encontro marcou a reaproximação entre Católicos e Bizantino.
Ortodoxos, e renovou os compromissos em continuar o a) As artes visuais diversificaram-se a ponto de se-
caminho da unidade dos cristãos e o diálogo entre am- rem eliminadas as características estéticas de
bas as religiões. A ruptura entre Católicos e Ortodoxos inspiração greco-cristã.
a) ocorreu em 33 com a transferência da capital do b) A adoração popular a ícones religiosos gerou cri-
Império Romano para Constantinopla. ses na Igreja de Bizâncio.

201
c) Elementos clássicos, como a retórica e a língua clássica e oriental. Além disso, fizeram com que valores
grega, foram superados em função da interação culturais da Antiguidade Clássica chegassem ao mun-
cultural cosmopolita. do moderno. Isso foi possível porque os árabes:
d) A arquitetura passou a primar pela simplicidade, a) conseguiram profetizar os destinos da humanida-
a fim de se adequar à doutrina religiosa ortodoxa. de por meio dos signos do zodíaco.
e) A estrutura jurídica do Império Bizantino não so- b) difundiram, por intermédio da literatura, a obra mais
freu a influência do direito romano. conhecida dos chineses, que é Mil e uma Noites,
reunião de histórias registradas entre os Séculos
10. UPF 2014 O islamismo é a religião que mais cresce
VIII e IX, e lidas ainda hoje no mundo ocidental.
no mundo contemporâneo. Suas origens remontam ao
c) levaram para a Europa, por meio da ocupação da
século VII d.C. e sua expansão foi baseada na Jihad,
guerra santa contra outros povos, especialmente os Península Ibérica, antigas técnicas romanas de
cristãos. Entre os séculos VII e VIII, foi constituído o cultivo, habilidades de arte na representação hu-
Império Árabe-Muçulmano – que dominou a Penínsu- mana e a perspectiva linear na pintura.
la Arábica –, os territórios dos atuais Irã e Iraque, todo d) traduziram e difundiram muitos textos, concretizan-
o norte da África e a Península Ibérica (atuais Portugal do importantes realizações, a partir do pensamento
e Espanha). Nesse processo de expansão, os árabes grego.
assimilaram muitos legados culturais de outros povos e) inventaram o papel, a pólvora, a bússola, o astro-
com os quais conviveram, como as tradições da cultura lábio, os algarismos árabes e a álgebra.

Exercícios propostos
1. UCS 2015 A arabização foi um fenômeno ligado à III. A península ibérica foi profundamente marcada
expansão muçulmana nos séculos VII e VIII. Sobre pela presença muçulmana, que se estendeu en-
esse processo, é correto afirmar que tre os séculos VIII e XV, produzindo reflexos na
a) os árabes impunham sua religião aos povos cultura lusitana e hispânica.
dominados. Cristãos e judeus eram violentamente Quais estão corretas?
perseguidos e, algumas vezes vendidos como a) Apenas I. d) Apenas II e III.
escravos e, até mesmo, mortos. b) Apenas II. e) I, II e III.
b) o idioma foi um dos fatores que prejudicou c) Apenas I e III.
a afirmação árabe, em especial na Península
Ibérica, onde se falavam línguas de origem 3. Unesp 2016 Examine a iluminura extraída do ma-
latina. Assim, não puderam impor sua religião, nuscrito Al-Maqamat, de Abu Muhammed al-Kasim
nem mesmo sua cultura. al-Hariri, 2.
c) a convivência com os judeus foi pacífica desde
o início do islamismo, não existindo maiores
incompatibilidades com o judaísmo. Em função
disso, a região da Palestina foi preservada das
conquistas islâmicas.
d) os árabes consentiam, nos primeiros anos
da expansão, que os povos conquistados
seguissem suas próprias religiões. No entanto,
impunham o pagamento do imposto aos infiéis.
e) os árabes eram monogâmicos e não aceitavam o
casamento com pessoas que não praticassem a
mesma religião que a sua. Dessa forma, foi difícil
solidificar a etnia e a cultura árabe nas regiões
conquistadas.

2. UFRGS 2015 Considere as seguintes afirmações


acerca das relações entre o Oriente e o Ocidente no A imagem pode ser associada à tradição dos conhe-
mundo medieval. cimentos desenvolvidos no mundo árabe-islâmico
I. Uma das causas da queda do Império Romano do durante a Idade Média e revela
Ocidente foi a expansão do islamismo pelo terri- a) a inexistência de instrumental médico nas socie-
tório da Europa ocidental. dades islâmicas, que impediam qualquer tipo de
II. A cultura árabe legou para as sociedades eu- corte nos corpos.
ropeias estudos sobre autores como Platão e b) a preparação do cadáver feminino para a crema-
Aristóteles, estabelecendo um elo de ligação entre ção, principal culto funerário desenvolvido nas
o mundo antigo pagão e o mundo moderno cristão. sociedades islâmicas.

202 HISTÓRIA Capítulo 4 Outras Idades Médias


c) a condenação imposta pelas autoridades reli- O texto aponta para a(o)
giosas islâmicas às pessoas que cuidavam de a) início de um conflito civil no Império Islâmico,
doentes e mulheres grávidas. contribuindo para a perda de unidade política e
d) o desenvolvimento da medicina nas sociedades is- religiosa entre os seguidores do profeta Maomé.
lâmicas, o que permitiu avanços, como a descrição b) divisão do mundo islâmico após a morte do profeta
da varíola e o emprego de anestesia em cirurgias. Maomé, contribuindo para o surgimento de duas
e) o repúdio, nas sociedades islâmicas, à represen- importantes divisões do Islã: os xiitas e os sunitas.
tação do nu feminino, o que provocou sucessivas c) formação do califado, com a dinastia Omíada,
punições civis e religiosas a artistas. governado pelos descendentes diretos do pro-
feta Maomé, o que, por sua vez, deu início à
4. Uema 2021 expansão islâmica.
d) perda da unidade política, em virtude do início da
guerra civil entre as comunidades islâmicas, mas
com a manutenção da crença no Corão e na Suna.
e) imposição do poder centralizado em torno dos
descendentes diretos do profeta Maomé, com
a perseguição e eliminação de todos os grupos
opositores.

6. UTFPR 2016 O Império Bizantino, após a queda de


Roma, gradativamente se afastou da influência ociden-
tal e da autoridade exercida pelo papa. Em meados
do século XI, após uma série de discordâncias, ocor-
Cúpula da Rocha. Qubbt As-Sakhrah. Jerusalém, Israel.
reu o Cisma do Oriente que dividiu o cristianismo em
Disponivel em: https://pt.wikipedia.org/wiki/C%C%BApula_da_Rocha#/media/Fi-
cheiro:Jerusalem-20(2)-Temple_Mount-Dome_of_the_Rock_(SE_exposure).jpg duas partes. No Ocidente, a Igreja Católica Apostólica
Romana se manteve, mas no Oriente, outra Igreja Cris-
A Cúpula da Rocha ou Domo da Rocha, situado em Je- tã foi formada. Assinale o nome que recebeu a Igreja
rusalém, foi construído no século VII e é um dos lugares do Império Bizantino.
mais sagrados da religião islâmica. O Islamismo defen- a) Igreja Protestante.
de os seguintes pilares: b) Igreja Renascentista.
a) o monoteísmo (Alá é o único Deus/Maomé, o seu c) Igreja Cristã Ortodoxa Grega.
profeta) e a ação de grupos extremistas radicais d) Igreja Supra Oriental.
como forma de ação religiosa e política. e) Igreja Moderna.
b) a oração (salat), realizada cinco vezes ao dia, e a
exigência de que toda a muçulmana use a burca
7. UPE 2018
(chadri) para cobrir o rosto.
c) o jejum (saum), no mês do Ramadã, e a criação
de exércitos paramilitares para a vingança contra
judeus e cristãos em países ocidentais.
d) o exercício da caridade (zakat) e a proibição de
mulheres terem acesso ao ensino escolar e uni-
versitário.
e) a peregrinação a Meca (haj), pelo menos uma vez
na vida pelo fiel, e a tolerância em relação a todas
as religiões.

5. Mackenzie 2017 Em 632, a grande discussão provocada


pela morte de Maomé era quem deveria sucedê-lo como
principal líder político da comunidade islâmica. Embora
Abu Bakr (sogro de Maomé) tenha sido escolhido como
primeiro califa, muitos defendiam que a liderança deve-
ria ser exercida por Ali, genro do profeta, casado com sua
FRENTE 2

única filha viva na época. Do casamento nasceram dois


filhos, herdeiros diretos de Maomé. Para os seguidores de
Ali, apenas os descendentes em linhagem direta com o
profeta (portanto, as gerações nascidas de seus dois ne-
tos) deveriam assumir o controle, uma vez que teriam
sido escolhidos por Alá. Iluminura do Saltério de Chludov. Bizantino, séc. IX.
Michel Reeber. Religiões: mais de 400 termos, conceitos e ideias. Rio de Disponível em: https://en.wikipedia.org/wiki/File:Clasm_
Janeiro: Ediouro, 2002, p. 259. Chludov.jpg. Acesso em: 0 jul. 20.

203
O Saltério de Chludov, hoje na Rússia, é um dos mais e) ela foi conquistada em 1453 pelos venezianos,
importantes documentos provenientes do Império na última das Cruzadas. Esse episódio assinala o
Bizantino. Essa iluminura, em especial, retrata um fim definitivo do Império Romano do Oriente.
importante movimento sociopolítico ocorrido nesse
Estado, denominado de: 9. UFPB Bizâncio, também chamada de Constantinopla,
a) Cesaropapismo, a aliança entre o imperador e o e, depois, de Istambul, capital da atual Turquia, era
patriarca. o centro de poder do Império Romano do Oriente,
b) Iconoclasmo, o movimento pela destruição dos constituindo-se numa experiência histórica relevante
ícones religiosos. e distinta, sob muitos aspectos, em relação às socie-
c) Bizantinismo, a discussão interminável sobre te- dades medievais do Ocidente europeu. A civilização
bizantina NÃO tem como característica:
mas exotéricos.
a) Cristianismo ortodoxo, diferenciado do apostólico
d) Cisma, a excomunhão mútua entre as igrejas Ca-
romano.
tólica Romana e Ortodoxa Oriental.
b) Poder político fragmentado e feudal.
e) Iluminismo, a política em prol da ilustração dos c) Desenvolvimento do comércio e da vida urbana.
manuscritos. d) Poder político centralizado e teocrático.
e) Diversidade cultural de base grega, romana e
8. Unisc A respeito da cidade de Constantinopla, capital asiática.
do Império Bizantino, é correto afirmar que
a) atualmente ela é conhecida como Alexandria e se 10. Unesp O culto de imagens de pessoas divinas, márti-
localiza no Egito. Apesar de um passado turbu- res e santos foi motivo de seguidas controvérsias na
lento, seu centro histórico encanta e impressiona história do cristianismo. Nos séculos VIII e IX, o Im-
muitos turistas devido à riquíssima variedade cul- pério bizantino foi sacudido por violento movimento
tural que dá mostras dos diferentes povos e de destruição de imagens, denominado “querela dos
culturas que por lá passaram. iconoclastas”. A questão iconoclasta
b) o embrião da famosa cidade surgiu quando o im- a) derivou da oposição do cristianismo primitivo ao
perador romano Constantino I decidiu construir, culto que as religiões pagãs greco-romanas de-
sobre a antiga cidade grega de Bizâncio, uma nova votavam às representações plásticas de seus
deuses.
capital para o Império Romano, mais próxima às ro-
b) foi pouco importante para a história do cristianis-
tas comerciais que ligavam o Mar Mediterrâneo e o
mo na Europa ocidental, considerando a crença
Mar Negro à Europa e à Ásia.
dos fiéis nos poderes das estátuas.
c) ela é, ainda hoje, considerada a mais genuína re- c) produziu um movimento de renovação do cristia-
presentante do estilo gótico. É principalmente na nismo empreendido pelas ordens mendicantes
arquitetura religiosa que esse estilo pode ser en- dominicanas e franciscanas.
contrado, haja vista que a cidade tem mais do que d) deixou as igrejas católicas renascentistas e barro-
um templo para cada um dos 365 dias do ano. cas desprovidas de decoração e de ostentação
d) sua decadência está ligada à chegada dos portu- de riquezas.
gueses às Índias. A partir de então, os mercadores e) inviabilizou a conversão para o cristianismo das
cristãos não mais para lá se dirigiram para buscar multidões supersticiosas e incultas da Idade Mé-
especiarias e artigos de luxo. dia europeia.

Texto complementar

A Idade Média imaginada: usos do sobre o período, realizando, inclusive, a leitura séria e rigorosa dos
imaginários construídos sobre o medievo ao longo do tempo. [...]
passado medieval no tempo presente A ideia dos usos da Idade Média tem sido bastante tematizada
O passado medieval tem servido, de modo sistemático e pela pesquisa acadêmica. Algumas publicações e eventos pensa-
preocupante, como referência para diversos projetos políticos e ram, ao longo das primeiras décadas do século XXI, como o cinema
sociais no presente. Observamos referências problemáticas ao criou imagens, representações e tornou pública uma certa Idade
medievo em discursos de autoridades públicas ou em grupos de Média. O campo do Ensino tem sido, principalmente desde o final
redes sociais, que fazem referências ao período para justificar posi- da década passada, constantemente pensado como um espaço de
ções conservadoras, preconceituosas e discriminatórias, atingindo aprendizagem, de problematização e também de divulgação
minorias, religiosidades e outras formas de existência e de vida que do medievo.
não fazem parte da sua visão do que seria a Civilização Ocidental. [...]
[...] A despeito dos avanços da historiografia e no ensino da
A historiografia sobre a Idade Média, nascida no século XIX, história medieval nas escolas, um uso pouco elaborado e de-
tem se renovado constantemente e produzido novas interpretações masiado perigoso do medievo invade o nosso tempo, desde a

204 HISTÓRIA Capítulo 4 Outras Idades Médias


política até as redes sociais. O elemento central de boa parte questionou os universais e deu novos contornos aos debates
dessas narrativas é uma Idade Média Ocidental que seria si- metafísicos no Ocidente; das mulheres escritoras, particu-
nônimo de um Ocidente cristão que combateu e impediu o larmente, Julian de Norwich (1342-1416) e Margery Kempe
avanço muçulmano para o interior da Europa. Desse modo, (1373-1438), estudadas na bela dissertação de Mestrado de
volta-se para o medievo a fim de se resgatar uma origem da Carolina Niedermeier Barreiro.
civilização branca, cristã, masculina e ocidental, em oposição O passado não se constitui em monopólio do pensamento
a tudo o que consideram ofensivo a esse estilo de vida: o islã, histórico ou da medievalística. O passado medieval é um campo
as mulheres, os gays, lésbicas, transexuais, negros, indígenas, aberto a todo o público de jogos, RPGs, filmes, séries e outras
etc. De todas as Idades Médias possíveis, retorna exatamente formas de acessar e de se relacionar com ele. Mas é um problema
aquela ressaltada e construída pelo renascimento e pelo ilu- quando dessa gama incrível de imaginários, seleciona-se modos
minismo: violenta, obscurantista, intolerante. muito particulares, quase sempre sem qualquer referência ou
[...] conexão com a pesquisa acadêmica, de ver e entender o passado
Os estudos medievais apresentam uma Idade Média de medieval, fazendo usos e abusos, como é o caso em questão,
uma longa duração, um passado que se abre para o estudo produzindo referências que servem como justificativas para a
acadêmico sério e conceitual, e que permite pensar um espaço afirmação de discursos de ódio, de discriminação e de exclusão.
muito mais amplo do que o europeu e muito mais plural do [...]
que a religiosidade cristã. A Idade Média foi palco de criação
Qual Idade Média é mais produtiva como experiência de
das universidades, espaços de resistência e de inventividade;
aprendizagem para uma sociedade possível no presente, justa,
das heresias que ultrajaram o predomínio da Igreja Católica e
solidária, igualitária e democrática? [...]
propuseram formas diversas de pensar um conceito de Deus
e de divindade; da literatura profana que, por fora dos limites PEREIRA, Nilton Mullet; GIACOMONI, Marcello Paniz. “A Idade Média imagi-
impostos pela moral cristã, criou formas de sociabilidade e de nada: usos do passado medieval no tempo presente”. Café História, 9 set.
relações amorosas que se alongam no tempo e nos permitem 209. Disponível em: www.cafehistoria.com.br/usos-do-passado-
partilhar suas reminiscências; da filosofia de Abelardo que medieval-idade-media/. Acesso em:  ago. 202.

Resumindo
• A criação do conceito de Idade Média durante o Re- pouco mais de um século, um conjunto de populações
nascimento, bem como o menosprezo que iluministas dispersas na península arábica formam um poderoso im-
sustentaram a respeito do período e a idealização trazida pério conhecido por suas realizações culturais, científicas
pela tradição romântica. Nem céu nem trevas, é preciso e artísticas.
compreender a Idade Média em seus próprios termos. • Abordamos brevemente as estruturas políticas (cesaro-
• Analisamos o mundo árabe antes da ascensão do islã, papismo), religiosas (ascensão do cristianismo ortodoxo),
quando não havia unidade política ou religiosa. É nesse econômicas (papel fundamental do comércio) e culturais
contexto que, com a ascensão de Maomé, no espaço de (predominância do helenismo) do mundo bizantino.

Quer saber mais?

Série Livros
Ascensão: Império Otomano DEMANT, Peter. O mundo muçulmano. São Paulo: Con-
A minissérie conta a história do sultão Mehmed II e da texto, 2008.
queda de Constantinopla. O livro apresenta as origens do mundo muçulmano, discu-
te questões contemporâneas e propõe ações para evitar
Site
uma “guerra entre civilizações”.
CHEREM, Youssef. Jihad: Duas interpretações contempo-
râneas de um conceito polissêmico. Biblioteca digital de
SILVA, Marcelo Cândido. História Medieval. São Paulo:
periódicos, UFPR. Disponível em: https://revistas.ufpr.br/cam
Contexto, 2019.
pos/article/view/1705/1323. Acesso em: 1 ago. 2021.
O livro discute as principais características da Idade Mé-
O artigo e Youssef Cherem, antropólogo e professor
dia, com ênfase nos contrastes: a fome, a peste e as
da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), apre-
guerras em alternância com períodos de paz e prosperi-
senta uma breve discussão sobre os diferentes usos
dade; o papado e a convivência com os particularismos
do termo “jihad”.
senhoriais e as monarquias.

Exercícios complementares
FRENTE 2

1. Unicamp 2016 A palavra árabe iman provém de uma raiz que significa ‘ter certeza’ e designa fé, no sentido da certeza.
A fé, por conseguinte, não contradiz o conhecimento nem a compreensão. Pelo contrário, o desejo de saber é uma
obrigação religiosa, e os tempos pré-islâmicos (século VI) na Arábia são chamados pelos islâmicos de jahiliya, ignorância.
(Adaptado de Burkhard Scherer (org.), As Grandes religiões: temas centrais comparados. Petrópolis: Vozes, 2005, p. 77.)

a) Cite uma característica política e uma característica religiosa da península arábica pré-islâmica.
b) Como conviveram fé e conhecimento científico no mundo islâmico na Alta Idade Média?

205
2. UFPR 2017 Explique o surgimento da expressão “Ida- 4. UFG 2014 Analise a imagem a seguir.
de Média” e por que a expressão “Idade das Trevas”
é considerada inadequada para se nomear o período
entre a queda do Império Romano do Ocidente em
, no século V, e a conquista de Constantinopla pe-
los turcos em , no século XV.

3. UFJF 2017 A notícia abaixo, publicada em uma revista


semanal brasileira, informa acerca de um importante
problema contemporâneo. Observe:

Islã e Terrorismo (Carta Capital, 01/12/2015)


A imagem retrata um ritual religioso realizado pe-
riodicamente na cidade de Meca, na Arábia, pelos
muçulmanos desde o século VII. Diante do exposto,
a) identifique o evento retratado e explique o seu
significado para a religião muçulmana.
b) explique a importância de Meca no processo de
unificação da Península Arábica no século VII.

5. FGV-SP 2014 E, com efeito, concedemos a Moisés o


Livro, e fizemos seguir depois dele, os Mensageiros. E
concedemos a Jesus, Filho de Maria, as evidências e am-
paramo-lo com o Espírito Sagrado. E, será que cada vez
que um Mensageiro vos chegava, com aquilo pelo que
vossas almas não se apaixonavam, vós vos ensoberbecíeis?
Então, a um grupo desmentíeis, e a um grupo matáveis.
[...]
E, quando lhes chegou um Livro da parte de AlIah,
"Homem carrega cartaz com a inscrição "terrorista confirmando o que estava com eles – e eles, antes busca-
não é muçulmano" durante marcha a favor da paz que vam a vitória sobre os que renegavam a Fé – quando, pois,
reuniu 10 mil pessoas em Toulouse, na França, em 21 de lhes chegou o que já conheciam, renegaram-no. Então,
novembro de 2015." que a maldição de Allah seja sobre os renegados da Fé!
Alcorão, 2:87 e 89
"Os atentados terroristas em Paris serviram de Tradução do sentido do Nobre Alcorão para a língua portuguesa. NASR, H.
estopim para uma nova onda de discurso de ódio (trad.), Complexo do Rei Fahd para imprimir o Alcorão Nobre: Medina, s./d.
direcionado ao islã. Na França, a desconfiança e a hos- a) Compare, do ponto de vista doutrinal, a religião
tilidade aos muçulmanos se solidificam, enquanto nos muçulmana e as religiões judaica e cristã.
Estados Unidos a islamofobia ganha legitimidade no de- b) A Península Arábica no século VI caracterizava-se
bate político e, até no Brasil, muçulmanos são alvos de pela dispersão política e religiosa. Como a religião
agressões físicas." muçulmana favoreceu o processo de constituição
de uma unidade político-religiosa na região?
Carta Capital, 01/12/2015
c) Durante o século VII, além da expansão islâmica,
surgiu a divisão entre sunitas e xiitas, que se man-
O problema evocado na notícia possui uma raiz his- tém até os dias de hoje. Quais foram os motivos
tórica profunda e secular. Em que cenário histórico de tal divisão no século VII?
podemos situar essa raiz?
6. UFPR 2013 Considere a seguinte afirmação sobre o
a) nas sucessivas guerras entre cidades-estado gre- termo bizantino:
gas no século V a. C. É essencial lembrar que bizantino não tem cono-
b) nos conflitos provocados pelas chamadas expan- tação étnica, mas civilizacional (...). O termo bizantino
sões bárbaras no século V. foi vulgarizado apenas a partir do século XVI, depois do
c) na relação entre mundo árabe e cristão desde a desmembramento do império, que, em vida, se via como
expansão árabe no século VIII. herdeiro e continuador do império Romano.
d) na expansão marítima europeia no século XV. (FRANCO JR., Hilário; ANDRADE FILHO, Ruy de Oliveira. O Império
Bizantino. SP: Brasiliense, 1987, p. 7-8)
e) na ocupação dos territórios americanos pelos eu-
ropeus no século XVI. Em que medida o Império Bizantino pode ser consi-
derado herdeiro e continuador do Império Romano?
Estabeleça as diferenças entre esses dois impérios
entre os séculos V e VII.

206 HISTÓRIA Capítulo 4 Outras Idades Médias


7. UFPel 2013 Observe a gura abaixo. 9. PUC-PR 2015 O Império Bizantino foi uma civilização
na qual a religião tinha um lugar de grande destaque.
Temas religiosos eram muito correntes entre a opi-
nião pública em geral. Em diversos setores da vida
bizantina havia forte influência religiosa. Em especial,
na vida política havia uma conexão importante entre
Estado e Igreja, chegando o imperador a ter um papel
de destaque na vida religiosa em Bizâncio. Com base
no exposto, indique o tipo de regime político que se
desenvolveu no Império Bizantino.
a) Califado.
b) Monarquia absolutista.
c) Cesaropapismo.
d) Monarquia eletiva.
e) Sacro Império Romano.

Mosaicos como esses, e a construção da Igreja de


10. UEM 2016 O texto abaixo se refere ao Império Bizanti-
Santa Soa foram realizações de qual império?
no. Leia-o atentamente e assinale o que estiver correto.
a) Império Bizantino. d) Império Carolíngio.
b) Império Romano. e) Império Egípcio. Desde o princípio, o mosaico foi visto como um re-
c) Império Persa. f) I.R. flexo misterioso de um mundo sobrenatural no qual estava
incluído o imperador como representante de Deus na terra.
(...) Ocorre uma desproporção entre as figuras humanas
8. UFPB O Império Bizantino dominou vastas regiões de
e os objetos, de modo que, com frequencia, um persona-
diferentes etnias, em três continentes (Europa, Ásia e
gem tem o mesmo tamanho de uma árvore, uma casa etc.
África), sob a égide de um modelo teocrático centra-
Está claro que se perdeu o gosto por copiar fielmente a
lizado, conhecido como cesaropapismo, no qual o forma externa, como acontecia na arte romana, e nestas
Basileus concentrava, em suas mãos, a chea supre- representações, muito mais conceituais, intelectualizadas,
ma do exército, da administração do Estado (Poder de interessa sobretudo a ideia, o valor simbólico e narrativo
César) e da religião cristã (Poder de Papa). Por conse- da cena, sublinhado pela luz e pela cor”.
guinte, os conitos de natureza política, econômica, (ALMAZÁN, S. A.; MUÑOZ, S. A. Historia de Arte. Madrid:
social e cultural se manifestavam como questões de UNED, 2002, p. 111).
religião: as famosas “querelas religiosas” bizantinas.
 A arte pictórica da Roma antiga atingiu uma
Sobre essas querelas, é correto armar:
grande qualidade técnica na representação das
a) O Monofisismo, uma corrente religiosa europeia, proporções, pois foi beneficiada pelo descobri-
concebia o caráter unicamente humano de Cristo, mento da perspectiva, uma técnica que os artistas
contrapondo-se ao poder central e à influência bizantinos não conseguiram imitar.
das províncias asiáticas, que defendiam a dupla  Uma diferença essencial entre a arte bizantina e
natureza de Cristo (divina e humana). a de seus ancestrais gregos estava na grande im-
b) A Questão Iconoclasta expressou as divergências portância que o Império Romano do Oriente dava
entre os sacerdotes orientais (egípcios e maroni- à representação precisa dos diversos deuses que
tas) – defensores do culto das imagens – e os compunham sua religião.
sacerdotes ocidentais (gregos e latinos) – contrá-  A chamada Querela das Imagens foi um debate
rios ao culto das imagens. teológico e político que dividiu os iconoclastas e
c) O Cisma do Oriente (154) dividiu o Cristianismo os iconófilos, sendo que os primeiros defendiam
em duas Igrejas, a Católica Romana e a Cristã a destruição das imagens, entre outras coisas, por
Ortodoxa, significando um dos passos decisivos temerem que elas estimulassem a idolatria.
para a afirmação do poder papal na Europa Oci-  A técnica do mosaico, que atingiu um alto nível
dental e da influência bizantina no leste europeu. de desenvolvimento em Bizâncio, também foi em-
d) O Tribunal do Santo Ofício (a Inquisição) servia pregada por outros povos, que a desenvolveram
para garantir a ortodoxia da Igreja e foi criado independentemente do contato com o Império Ro-
FRENTE 2

pelo Basileus como instrumento de controle do mano do Oriente.


poder central sobre as heresias, que explodiram  A ruptura entre cristãos católicos e cristãos orto-
primeiramente no Império Bizantino. doxos na Baixa Idade Média foi provocada, em
e) O Arianismo, uma heresia religiosa, foi responsável grande medida, pelo repúdio dos orientais ao
pela conversão dos povos germânicos (os “Bárba- modo irônico pelo qual os artistas ocidentais re-
ros”) ao cristianismo, defendendo a superioridade presentavam o sofrimento de Jesus Cristo.
dos povos arianos sobre asiáticos e semitas. Soma:

207
BNCC em foco
EM13CHS104
1. O grande patriarca da Bíblia Hebraica é também
o antepassado espiritual do Novo Testamento e o grande
arquiteto sagrado do Alcorão. Abraão é o ancestral co-
mum do judaísmo, do cristianismo e do islamismo. É a
chave do conflito árabe-israelense. É a peça central da
batalha entre o Ocidente e os extremistas islâmicos. É o
pai – e, em muitos casos, o suposto pai biológico – de
doze milhões de judeus, dois bilhões de cristãos e um
bilhão de muçulmanos em todo o mundo. É o primeiro
monoteísta da história.

a)
b)
c)
 d)
e)

EM13CHS106

3.







EM13CHS103 e EM13CHS201
2. No início do século VII, surgiu às margens
dos grandes impérios, o Bizantino e o Sassânida, um mo-
vimento religioso que dominou a metade ocidental do
mundo. Em Meca, cidade da Arábia Saudita, Maomé co-
meçou a vontade de Deus, expressa no que ele e seus
seguidores aceitavam como mensagens divinas a ele re-
veladas e mais tarde incorporadas num livro – o Corão.
Em nome da nova religião – o Islã, exércitos recrutados
entre os habitantes da Arábia conquistaram os países vizi-
nhos e fundaram um novo Império, o Califado [...].
a)
b)
c)
d)
e)
f)

HISTÓRIA Capítulo 4 Outras Idades Médias


FRENTE 2

CAPÍTULO A Idade Média na Europa ocidental


e o início da primeira modernidade

5 Neste capítulo apresentaremos um panorama da Europa ocidental na Idade Média e


no início da Idade Moderna. Começaremos tratando dos reinos germânicos e da cons-
trução do Império Carolíngio. Depois, veremos como, após o fim desse império, houve
a fragmentação do poder real no que podemos denominar feudalismo ou sistema de
dominação senhorial, iniciado no século IX. Veremos também como ocorreu o cresci-
mento da atividade comercial e das cidades, a abertura de novas áreas de cultivo e o
surgimento da universidade e da cultura escolástica entre os séculos XI e XIII. Por fim,
estudaremos a recessão desse mundo, a crise econômica, o fortalecimento das monar-
quias, o início da expansão marítima e o Renascimento Cultural.
Os reinos germânicos e a formação monárquico semieletivo. Contudo, eles, adentraram a Eu-
ropa continental apenas no século IX.
do feudalismo (séculos V-IX) Os chamados povos bárbaros desenvolveram, ainda,
Com a desagregação Império Romano do Ocidente, importantes técnicas metalúrgicas, sobretudo na fabricação
formaram-se diversos reinos germânicos. A maioria desses de elmos, espadas e escudos, e técnicas de melhoria do
povos, chamados pelos romanos de “bárbaros”, havia aden- uso de barcos e cavalos, algumas das contribuições que
trado o espaço romano paulatinamente por meio de acordos trouxeram ao mundo ocidental. Com o tempo, os romanos
e tratados, integrando-se às estruturas do império, com lide- e os povos bárbaros foram se apropriando de costumes
ranças germânicas tornando-se senadores, por exemplo. uns dos outros. Os romanos se apropriaram de técnicas na
De acordo com o historiador Perry Anderson, em sua obra fabricação de armas, das trocas econômicas amonetárias
Passagens da Antiguidade ao feudalismo, tais reinos tiveram e das práticas de relações de dependência pessoal dos
como principal traço a fusão entre as heranças romano-cris- bárbaros. Já estes se utilizaram do costume romano e con-
tãs e germânicas. Mas quem eram os povos germânicos? fiscaram muitas terras dos próprios romanos, generalizando
a prática de distribuir terras aos seus súditos (bene cium) em
Os povos germânicos troca de serviços prestados na guerra ou na administração.
A palavra “bárbaro” remete-nos a selvageria, atraso, Em alguns lugares, houve um entrecruzamento entre as aris-
violência e primitivismo. Nesse sentido, a ideia de “bárbaro” tocracias romana e germânica. O direito romano deu lugar
foi criada pelos “não bárbaros”, os romanos, para denominar ao direito bárbaro consuetudinário, baseado na tradição.
todos os povos que não falavam latim nem compartilhavam

Marie-Lan Nguyen (CC BY 2.5)/Museu Nacional de Arqueologia de Nápoles, Itália


da mesma cultura que eles. Os povos germânicos (termo
que iremos adotar a partir de agora no lugar de “bárbaro”)
estavam organizados em tribos e confederações de tribos e
se dividiam em três grandes grupos: escandinavos (anglos,
saxões e jutos); germanos ocidentais (suevos, turíngios,
burgúndios, alamanos e francos) e germanos orientais
(godos, alanos, vândalos e lombardos).
As famílias germânicas viviam em aldeias independen-
tes e só admitiam a autoridade do rei em tempos de guerra,
quando era eleito temporariamente e assumia os poderes
do deus Odin, a principal divindade germânica. Além dis-
so, esses povos não conheciam a propriedade privada da
terra; suas leis eram consuetudinárias, isto é, transmitidas
oralmente e baseadas na tradição; suas trocas eram feitas
diretamente por produtos; e sua sobrevivência provinha de
uma agricultura rudimentar, desenvolvida por mulheres e
escravos, e da , proveniente das guerras.
A maioria era seminômade e migrava constantemente –
com exceção dos suevos –, impondo guerras e pilhagens
aos povos que dominavam. Após as guerras, os germânicos
realizavam banquetes e distribuíam presentes. E depois de
conquistar uma região, logo partiam para outra, a fim de
obter novas riquezas.
As relações entre eles eram estritamente pessoais,
baseadas na palavra, na honra e nos presentes trocados.
As relações medievais de vassalagem, que estudaremos
adiante, foram herança tanto da clientela romana quanto de
uma instituição bárbara germânica, o comitatus, a partir da
qual os guerreiros juravam fidelidade absoluta a um líder
militar que, em troca desta, os premiava com beneficius. De
fato, o prestígio de um líder se dava pela sua capacidade
de doar benefícios aos seus guerreiros após as guerras.
Os “homens do norte” ou “vikings” – termo que esses
grupos nunca utilizaram para se referir a si próprios – eram
provenientes das regiões hoje conhecidas como Noruega,
Suécia e Dinamarca, e eram grandes guerreiros, navegado-
Autor desconhecido. Escultura de prisioneiro bárbaro, c. século II. Mármore.
res e comerciantes. Eles possuíam um campesinato armado Museu Nacional de Arqueologia de Nápoles, Itália.
(bondi), um livre conselho de guerreiros camponeses (thing),
um grupo de nobres de clã (liderado pelos jarls), um sistema
de expedições de ataques ligeiros (hirdh) e um sistema

210 HISTÓRIA Capítulo 5 A Idade Média na Europa ocidental e o início da primeira modernidade
Os reinos germânicos
A partir do século III, os chamados povos germânicos adentraram o Império Romano. Primeiramente, assumiram o
título de federados, isto é, ganharam terras e autonomia dentro do império, com a condição de que ajudassem o impe-
rador militarmente. Com o tempo, formou-se uma aristocracia germânica, e, com a deposição de Rômulo Augusto em
476 d.C., esses territórios bárbaros se tornaram gradualmente autônomos, embora ainda prestassem juramento de fideli-
dade ao imperador bizantino. Após as guerras contra Justiniano e com o crescente embate entre as Igrejas do Ocidente
e do Oriente, a ligação entre esses territórios e o Império Bizantino perdeu gradualmente a força.

Migrações bárbaras em território romano – séculos IV e V


Mar
Báltico

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Mar Mediterrâneo

Fonte: FRANCO JÚNIOR, Hilário; FILHO, Ruy de O. Andrade. Atlas - História Geral. São Paulo: Editora Scipione, 1993, p. 1. (Adapt.)

No século V, nas regiões das atuais França, Bélgica, Holanda e Alemanha, estavam os povos francos. Nas atuais Itália,
Áustria e Iugoslávia, estavam os ostrogodos (os lombardos, posteriormente, instalaram-se no norte da Itália). Os burgúndios
instalaram-se no leste da Gália. Na Espanha, residiram visigodos e suevos. No norte da África, estavam os vândalos. E, na
Inglaterra, os anglo-saxões.
Os reinos bárbaros – 476

OCEANO
ATLÂNTICO

6
43
454

418
1

40°
41

N
Mar Negro
48
8
455

FRENTE 2
h
enwic

454
e Gre

Mar Mediterrâneo
iano d
Merid

Fonte: SALLES, Silvana. Bárbaros e romanos eram mais parecidos do que imaginamos. Jornal da USP, 8 mai. 2018. Disponível em:
https://jornal.usp.br/ciencias/ciencias-humanas/barbaros-e-romanos-eram-mais-parecidos-do-que-imaginamos/. Acesso em: 3 set. 2021.

211
Em um primeiro momento, as comunidades bárbaras e

CNG (CC BY 2.5)/Wikimedia Commons


romanas ficaram separadas. Depois, foram gradativamente
se aproximando, e, por fim, os costumes, as instituições e
práticas romano-germânicas acabaram por criar novas socie-
dades. As lideranças germânicas se romanizaram, adotando
a vida sedentária, o colonato, a realeza, o latim e, sobretudo,
o cristianismo, que veio a se tornar o principal elemento de
coesão desses povos, estabelecendo uma unidade religio-
sa entre eles. A conversão desses povos se deu, como em Moeda visigótica do século VI, cunhada em nome do imperador bizantino
Justiniano I. A presença do imperador em moedas utilizadas por esse povo
Roma, primeiro pelos reis e depois pela imposição de fé indicava a ligação que mantinham com o Império Romano do Oriente.
aos seus súditos. Entre os francos, por exemplo, a conver-
são ao cristianismo católico se deu com o rei Clóvis, entre Saiba mais
46 e 5; entre os burgúndios, em 56; entre os suevos,
em 56; entre os visigodos, em 57, com o rei Recaredo;
e, nos séculos VI e VII, o papa São Gregório Magno enviou
monges para a conversão dos anglo-saxões.
Esses reinos bárbaros, no entanto, tiveram curta dura-
ção. Na Espanha, os suevos foram conquistados em 55
pelos visigodos, que buscaram manter estruturas do Império
Romano, como a escravidão, o direito, o latim e o Senado. A
monarquia visigótica, porém, enfrentou vários conflitos com
a nobreza e foi amplamente controlada pela Igreja. Mais
tarde, os visigodos foram conquistados pelos muçulmanos
e expulsos da Gália pelos francos. A região onde estavam
os vândalos logo foi conquistada pelos bizantinos e, em se-
guida, pelos muçulmanos. Os ostrogodos foram dominados
pelos bizantinos e, depois, pelos lombardos.
Uma exceção a esse contexto geral foram os francos,
que, formando um imenso império, conseguiram conquistar
quase toda a Europa ocidental no século IX. Essas conquis-
tas acabaram alimentando um mito acerca do renascimento
do Império Romano Ocidental com esses povos.

A Europa – 526

OCEANO
ATLÂNTICO

40° Mar
N
Negro
wich
Green

Mar Mediterrâneo
no de
ia
Merid

Fonte: Europe, 2, (Col). Medieval Sourcebook. Fordham University. Disponível em:
https://sourcebooks.fordham.edu/maps/2eur.jpg. Acesso em: 18 set. 2021.

212 HISTÓRIA Capítulo 5 A Idade Média na Europa ocidental e o início da primeira modernidade
O Reino Franco Em 75, com o apoio do papado (a quem prometeu auxílio
Em , os francos assinaram um tratado com o im- na luta contra os lombardos), da nobreza e do exército, Pepino
perador romano Maximiano, tornando-se federados do foi eleito rei dos francos em uma assembleia e coroado em
império, quando ocupavam a região da Gália. Em troca, Soissons. Tal eleição deriva de uma tradição bárbara, segundo
deveriam integrar o exército imperial. Com o tempo, as eli- a qual os francos tinham o direito de escolher um novo líder
tes francas passaram a ocupar os mais altos escalões do se sentissem que o antigo não podia liderá-los numa batalha.
Império Romano – tornando-se generais e cônsules –, e a O rei merovíngio Childerico III foi deposto e con nado em um
adotar costumes romanos. monastério. O papa Estêvão III, sucessor de Zacarias, viajou
Após a queda do Império Romano do Ocidente, em até Paris e, em 754, ungiu Pepino III e sua esposa Bertralda,
476, os francos mantiveram alianças com os bizantinos. Em concedendo a ele o título adicional de patricius romanorum
4, no entanto, Clóvis I assumiu a liderança dos francos e (patrício dos romanos). Com apoio do papa, tinha início, então,
ganhou o título de rex (rei). Ele converteu-se ao cristianismo a dinastia carolíngia (em referência a Carlos Martel).
e aliou-se à Igreja Católica, unificou todas as tribos francas Como rei, Pepino III participou da guerra contra os lom-
e iniciou, assim, a dinastia merovíngia. Autoproclamava-se bardos, ajudando, assim, a expandir o patrimônio da Igreja
sucessor direto do imperador romano e expandiu o Reino Católica na região. Após sua morte, em 76, seus filhos,
Franco, ampliando as fronteiras até os Pirineus. Carlos Magno e Carlomano, dividiram o reino entre si inicial-
No século VII, os reis merovíngios passaram a ser mente. Contudo, Carlomano retirou-se para um mosteiro e
conhecidos como “os reis indolentes”, devido ao fato de morreu em seguida, deixando sua parte para o irmão.
legarem aos major domus (mordomos ou prefeitos do pa- Durante seu reinado, Carlos Magno tentou reconstruir
lácio, inicialmente nomeados pelo rei) diversos poderes. o Império Romano, afastando e dominando outros povos,
Inicialmente, cabia ao major domus a regência durante a distribuindo terras para a nobreza e convertendo os pagãos
menoridade do soberano, incluindo a chefia da guarda ao cristianismo. Após diversas batalhas, o Império Franco
palaciana, a direção da administração, a presidência das compreendia quase toda a Europa ocidental, abarcando o
assembleias e a jurisdição sobre os demais funcionários. que hoje são França, a parte ocidental da Alemanha, Países
Com o tempo, era o major domus que administrava os tri- Baixos, Hungria, Bélgica, Suíça, norte da Itália e parte da
butos, o comércio e as leis. Em 67, Pepino de Heristal Espanha. O papa Leão II, no dia 5 de dezembro de ,
transformou esse cargo em vitalício e hereditário, isto é, na Basílica de São Pedro, em Roma, nomeou Carlos Magno
independente da escolha do rei. como “Imperador do Sacro Império Romano-Germânico”.
Em meados do século VIII, o major domus Carlos Martel,
Atenção
ou Carlos Martelo, ganhou destaque nas batalhas contra os
islâmicos, mais notadamente durante a Batalha de Poitiers,
ou Batalha de Tours, em 7, quando derrotou o exército
do califado de Córdoba, liderado por Abd-ar-Rahman. Com a
morte de Martel, tornou-se major domus seu filho, conhecido
como Pepino, o Breve, ou Pepino III. Uma das lendas sobre
ele conta que, com um só golpe de espada, Pepino cortou
a cabeça de um leão e de um touro ao mesmo tempo. Por
isso, teria assumido o título de “o Breve”.
Arnaud 25/Galeria de Esculturas de Homens Ilustres Chateau de Versailles

FRENTE 2

Jean-Baptiste-
-Joseph De Bay.
Estátua de Carlos
Martel, 1835-39.
Mármore. Palácio
de Versalhes,
França.

213
A ascensão do Império Franco
Mar

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Norte

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Mer
40°
N

0° Mar Mediterrâneo

Fonte: SHEPHRED, William. Historical Atlas. University of Texas Library. Disponível em: https://maps.lib.utexas.
edu/maps/historical/shepherd/frankish_power_81_81.jpg. Acesso em: 3 set. 2021 (Adapt.).

Com Carlos Magno, o sistema de cunhagem de moe- Saiba mais


das foi padronizado, e o Império Franco foi dividido em
duzentos condados. O conde, nomeado pelo imperador
entre seus homens de confiança, zelava pelas leis, pelos
impostos e trabalhos públicos. As regiões fronteiriças do
império eram as marcas, comandadas pelos marqueses,
com poderes próprios. Para estabelecer a ligação entre
as regiões do império, o imperador instituiu os chamados
missi-dominici (enviados do senhor), inspetores reais que
percorriam os condados. Do ponto de vista jurídico, codifi-
cou várias leis em circulação nos territórios, formando as leis
capitulares, primeiro regulamento escrito da Idade Média.
Para reforçar seus laços e dependências, Carlos Magno
desenvolveu largamente a instituição da suserania e vassa- Com a morte de Carlos Magno em 4, assumiu seu
lagem, existente desde o século VIII. Nela o rei, o suserano, filho, Luís I, o Piedoso. Após a morte de Luís, em 4, o
exigia de seus subordinados, os vassalos, fidelidade e império foi disputado por seus filhos, numa guerra civil. A
serviço militar. Em troca, oferecia proteção e terras. O rei batalha teve fim em 4, com o Tratado de Verdun, a partir
tinha muitos vassalos, que, por sua vez, poderiam ter seus do qual se estabeleceu um esboço do futuro mapa europeu.
próprios vassalos. Essa era uma forma de o rei controlar a Por esse tratado, Carlos II, o Calvo, tornou-se rei da par-
sociedade, mas teve um resultado oposto posteriormente. te ocidental do império, o reino da Franca; e Luís, da parte
oriental, a qual, em aliança com a Igreja, converteu-se, no fim
Gianni Dagli Orti/Shutterstock

do século X, em Sacro Império Romano-Germânico. Lotário


tornou-se rei da região central, compreendendo regiões que
se estendiam da Itália até o Mar do Norte. Após a morte de
Lotário, em 7, Carlos e Luís dividiram seus territórios.
Biblioteca Nacional da França, Paris

Estátua equestre Iluminura das Crônicas


carolíngia, da França, século XIV,
do século IX, que mostra Carlos Magno
representando instruindo seu filho Luís,
Carlos Magno. o Piedoso.

214 HISTÓRIA Capítulo 5 A Idade Média na Europa ocidental e o início da primeira modernidade
A divisão do Império Carolíngio – 843

Mar do
Território de Carlos, o Calvo Norte
Território de Lotário
Território de Luís, o Germânico

Rio

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OCEANO
ATLÂNTICO

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Mar Mediterrâneo
Merid

O Tratado de Verdun e os Estados Pontifícios em 843.


Fonte: Maps ETC. Florida's Educational Technology Clearinghouse. Disponível em: https://etc.usf.edu/maps/
pages/1000/1030/1030.htm. Acesso em: 3 set. 2021 (Adapt.).

No período, ocorreu também uma onda de invasões e como os privilégios da nobreza ou os impostos tradicionais.
ataques de povos normandos, os quais passaram a atacar a Somente a partir do século XIX, alguns historiadores pas-
Europa, pilhando mosteiros, latifúndios, vilas e cidades. Junto sam a utilizar o termo para referir-se às relações políticas
a eles, eslavos, búlgaros, tchecos, morávios, eslovacos e presentes no período medieval europeu, como o pacto
húngaros (magiares) pilharam o continente e estabeleceram entre vassalo e suserano. Outros historiadores, contudo,
novos reinos nos territórios do antigo Império Romano e Ca- utilizaram o termo para referir-se a um “modo de produção”,
rolíngio. Na península Ibérica, no norte da África e no Oriente cuja principal marca foi a servidão. É importante destacar
Próximo, tinha-se o domínio quase total dos muçulmanos. que “feudalismo” e “Idade Média” não são sinônimos.
A fim de se proteger dos ataques, a Europa cobriu-se de A partir de análises do historiador Hilário Franco Júnior, cha-
castelos e fortificações privadas. Essa nova onda de invasões mamos de feudalismo um conjunto de características sociais,
e conflitos no Ocidente é considerada um marco para a con- políticas e econômicas presentes na França, Bélgica, Suíça,
solidação do sistema de dominação senhorial, ou feudalismo. Itália e Alemanha ocidental, após o esfacelamento do Império
Carolíngio, e, a partir do século XI, na Inglaterra e em algumas
N.M.Bear/Shutterstock.com

regiões da península Ibérica. As principais características do feu-


dalismo são: a ruralização da sociedade, o endurecimento da
hierarquia social, a fragmentação do poder central, o desenvol-
vimento das relações de dependência pessoal, a privatização
da defesa, a clericalização da sociedade e o surgimento de
novas formas de lidar com a vida, ligadas à hegemonia católica.
Biblioteca Nacional da França, Paris

O Castelo de Windsor foi construído no século XI, após a conquista


normanda da Inglaterra por Guilherme I. Fotografia de 2020.

O apogeu do feudalismo
(séculos IX-XI)
FRENTE 2

Embora a palavra “feudo” exista desde a Antiguidade,


“feudalismo” não foi utilizado para designar as relações que
se estabeleceram na Idade Média. Na época moderna, o
termo surge não como um conceito, mas como um “contra
Iluminura do século XIX, de cópia de manuscrito do
conceito”, já que durante a Revolução Francesa chamava-
século XIV, que mostra a investidura (ordenação) de
-se de feudal tudo aquilo que era considerado atrasado, um cavaleiro.

215
A economia feudal realizava o recrutamento militar e as funções administra-
tivas. No Sacro Império Romano-Germânico, havia cerca
Museu Condé, Chantilly, França

de  mil senhorios e  milhões de habitantes. No norte


da França, existiam   senhorios numa área de 5 mil
quilômetros quadrados.
Não havia, no entanto, nada parecido com a pro-
priedade privada moderna, garantida por escritura e
documentação. Essas relações eram guiadas pela tradição
e pela oralidade e com muitas terras comuns sem delimita-
ção de posse e abertas ao uso. Na ausência de uma ideia
de propriedade privada, os senhorios (que não eram, aliás,
cercados por muros) tinham geralmente limites incertos, o
que gerava conflitos.
No mundo medieval, os senhores controlavam a ques-
tão econômica e política em sua região, no que chamamos
de soberania parcelada, diferente da soberania concentra-
da exercida pelos Estados atuais.

Calendário agrícola do século XV. Cada imagem representa um mês e Atenção


mostra a etapa do trabalho realizada em cada período.

Na passagem do século X para o século XI, a Europa


era fundamentalmente agrícola. Os camponeses compu-
nham % da população, e a manufatura, o comércio e os
serviços eram atividades secundárias. Já as cidades, muitas
vezes cercadas por muralhas, funcionavam como sede de
bispados ou centros administrativos, judiciais e comerciais.
A produção de armas, instrumentos agrícolas, utensílios
domésticos, móveis, tecidos, carnes defumadas, queijo e O feudo, e tudo o que ele implica, atinge uma franja
manteiga era artesanal e feita pelos camponeses. Alguns ínfima da população; a mais barulhenta, é verdade, mas
produtos, como o sal, eram objeto de comércio entre re- o historiador não pode sucumbir às caretas dos saltim-
giões distantes. Entretanto, as principais atividades bancos. Havia, na melhor das hipóteses, 20 000 ‘feudais’
sobre os dez milhões de habitantes e os 600 000 km2
comerciais na Idade Média eram as trocas locais, com os
do Império Romano Germânico; mesmo na Normandia,
camponeses levando à feira parte da sua produção e tro-
reputada por sua ‘feudalização’, encontramos 2 800 pos-
cando por algum artesanato urbano. A moeda, apesar de
sessores de feudos em 25 000 km2, no total, um homem
nunca ter desaparecido, era rara e escassa. (e sua família) por cada 10 ou 30 km2.
A partir do Baixo Império Romano, surgiu a figura do
colono, depois chamado servo da gleba. Esse servo havia
se instalado nas terras de um senhor, ganhando proteção
Não se deve [...] confundir senhorio e feudo, ainda
dos ataques dos bárbaros que ocorriam naquele momento, que frequentemente tenham estado juntos. [...] O senhorio
e podia cultivar lotes de terra cedidos a ele. Em contrapar- era um território que dava a seu detentor poderes econô-
tida, o servo deveria pagar diversos tributos, entre eles a micos (senhorio fundiário) ou jurídico-fiscais (senhorio
corveia (trabalho nas terras do senhor), a talha (doação de banal), muitas vezes ambos ao mesmo tempo. O feudo
parte de sua produção), a mão morta (taxa para transmitir era uma cessão de direitos geralmente mas não necessa-
o uso da terra ao filho), as banalidades (taxa para utilizar o riamente sobre um senhorio. Havia regiões feudalizadas
moinho, o forno e o lagar) e o dízimo ou tostão de Pedro não senhorializadas.
(taxa para a Igreja).
Assim, a partir dos latifúndios romanos e das terras
doadas pelos reis germânicos, formou-se a unidade de
produção fundamental do feudalismo: o senhorio, isto é,
unidades compostas de uma mansão e terras senhoriais (o
manso senhorial) e uma multidão de pequenos lotes cam-
poneses (o manso servil), além de muitas florestas e terras
comuns abertas (manso comunal), utilizadas para pastagem
de animais, coleta de frutos, extração de madeira e – di-
reito exclusivo da nobreza – a caça. Em cada senhorio,
o senhor feudal cobrava os impostos, aplicava a justiça,

216 HISTÓRIA Capítulo 5 A Idade Média na Europa ocidental e o início da primeira modernidade
A sociedade feudal alto clero eram também senhores feudais, provenientes da
A sociedade feudal era rigidamente hierarquizada, divi- nobreza, já que não existia, na época, qualquer forma de
dida em ordens ou estamentos. Um estamento tinha distintas seminário ou preparação para entrar na Igreja, de modo que
regras de comportamento, que expressavam para a sociedade era comum haver bispos e cardeais muito jovens. Geralmen-
seu status. Por isso, ao contrário de hoje (uma sociedade de te, o alto clero era escolhido entre os segundos filhos dos
classes, definida pela posição de cada um em relação ao mer- nobres mais ricos, já que estes não herdavam as terras dos
cado), um mercador medieval poderia ser mais rico do que um pais devido ao direito de primogenitura.
nobre, mas, por não ter ascendência nobre, era socialmente Clérigos e nobres impunham que os camponeses –
inferior. A mobilidade social em uma sociedade de ordens maioria absoluta da população – deveriam trabalhar, uma vez
é bastante restrita, embora não seja inexistente, ocorrendo, que seu esforço, fadiga e sofrimento eram uma penitência,
sobretudo, por meio de casamentos, guerras e butins. que aliviariam seus pecados no além. Mais da metade de
O clero e a nobreza impunham uma ideia de que a tudo que o camponês produzia era, por meio dos impostos,
sociedade, feita à imagem de Deus, deveria basear-se na apropriado pelo clero e pela nobreza. Assim, enquanto os
ordem celestial, sendo, ao mesmo tempo, una e trina. No camponeses produziam, seu excedente era apropriado pela
século XI, o bispo francês Adalbéron de Laon afirmou: nobreza. Existiam também os chamados vilões, que recebiam
um lote de terra de um senhor em troca de obrigações e limi-
A casa de Deus, que parece uma, é, portanto, tripla: uns tações leves, podendo abandonar a terra quando quisessem.
rezam, outros combatem e outros trabalham. Todos os três Os alódios, terras camponesas sobre as quais não pe-
formam um conjunto e não se separam: a obra de uns permite savam taxas ou serviços, ficaram, ao longo do tempo, cada
o trabalho dos outros dois e cada qual por sua vez presta seu
vez menores. Os servos da gleba variavam entre 5% e 5%
apoio aos outros.
da população, sendo o resto escravizados, principalmen-
O clero e a nobreza pregavam, então, que cada ordem te na península Itálica, ou trabalhadores livres. A partir do
teria uma função específica na sociedade, que correspon- século XI, as corveias foram substituídas por taxas anuais
dia a sua função dentro do universo, dada por Deus. Essa ou pagamentos em dinheiro, o que indicava uma transfor-
visão tinha como finalidade legitimar as diversas formas de mação econômica nesse período.
hierarquia e dominação que permeavam o mundo medieval. Durante a Idade Média, os excluídos e marginalizados
A nobreza medieval dedicava-se, sobretudo, à guerra, tinham sua condição justificada pela ideia de pecado. Eram
e vivia das riquezas da terra e da servidão. Justificava sua excluídos os hereges, assim chamados os cristãos que ne-
posição social afirmando que protegeria as igrejas e os mais gavam alguns dogmas da Igreja, as pessoas com doenças
fracos e que combateria os pagãos (normandos, húngaros degenerativas ou com deficiências, aqueles que sofriam de
e eslavos) e os infiéis (muçulmanos). hanseníase, chamados pejorativamente de leprosos, os es-
O clero justificava sua posição afirmando que rezava trangeiros e os judeus. Pelo Concílio de Macôn, em 5-5,
para trazer os favores divinos, conduzindo os seres humanos definiu-se que nenhum cristão poderia servir a proprietários
ao Paraíso. Só por meio dos membros do clero, portanto, judeus. Pelo Concílio de Toledo, em 6, os judeus, chamados
os seres humanos poderiam se ligar a Deus. As esmolas, os de “Anticristo”, foram proibidos de exercer funções públicas.
impostos e as doações que recebiam faziam do clero um A partir do IV Concílio de Latrão da Igreja Católica, em 5,
possuidor de extensos domínios fundiários, detendo por- eles foram obrigados a usar chifres nos chapéus, ou mesmo
tanto, grande poder econômico e político. Os membros do uma rodela, que depois se converteu na estrela de Davi.
Biblioteca Britânica, Londres

FRENTE 2

Gravura inglesa de 1310 que representa a prática da corveia, uma das obrigações feudais.

217
A política feudal A guerra no mundo medieval
No mundo medieval, a soberania era piramidal e par-

Museu da Tapeçaria de Bayeux, França


celada, de modo que as competências do Estado eram
transferidas aos senhores. Desde o século XI, os senho-
res de terra ganharam o poder de ban, isto é, aplicavam
impostos em seus feudos, organizavam seus exércitos, jul-
gavam e puniam. O Direito medieval não era escrito, mas
consuetudinário; não se baseava em um conjunto de leis
organizadas e sistematizadas, mas em um conjunto de usos,
costumes e convenções. A ideia de “nacionalidade” não
existia, e as pessoas se identificavam por serem súditas de
determinado rei e subordinadas a determinada família de
nobres. O elemento que conferia às pessoas uma identida-
de era a cristandade, identificada com a própria civilização.
Os “não cristãos” eram bárbaros, hereges, infiéis, pagãos
e, portanto, os “outros”.
Desenvolveram-se, assim, relações pessoais baseadas
na lealdade, quase nunca registradas e acordadas por es-
crito, e fortaleceram-se as relações dentro das famílias e das
linhagens. Além disso, multiplicaram-se as relações pessoais Um cavaleiro normando matando Harold II, rei anglo-saxão. Detalhe da
tapeçaria de Bayeux, c. 1070.
como o chamado contrato feudo-vassálico, o que definia o
caráter piramidal das relações feudais. Nela, o senhor con- No mundo medieval, a guerra era a própria razão da
cedia um feudo ao vassalo, com a obrigação de ajudar seu existência da nobreza. Entretanto, não havia nos reinos me-
subordinado em conflitos. Em contrapartida, o vassalo tinha dievais um exército permanente, pois o rei, como qualquer
uma série de obrigações, como enviar guerreiros ao seu nobre, contava apenas com seus exércitos pessoais, com
senhor sempre que ele necessitasse, pagar a cerimônia do os vassalos convocados pelos nobres. Assim, a maioria das
armamento do senhor e ajudá-lo em uma possível Cruzada. guerras medievais opunha senhores inimigos ou cavaleiros
Se o vassalo tivesse herdeiros, o pacto geralmente era re- e envolvia apenas os cavaleiros provenientes da nobreza.
novado, e o filho mais velho assumia o feudo. O nobre que Por vezes, um combate entre os chefes dos grupos em
traísse o seu superior perdia suas terras, o que significava confronto definia o fim do conflito, como a batalha entre o
também perder seu poder, sua posição e sua honra. rei franco Clóvis e Alarico, rei dos godos.
Os vassalos podiam dividir suas posses e doá-las a outros Existia nas batalhas algo de sagrado, e morrer em
vassalos. Quase todos os membros da aristocracia eram, ao batalha era a maior glória que os homens do medievo
mesmo tempo, senhores e vassalos. Da mesma forma, quase poderiam ter. No século VIII, o cavaleiro passou a usar
todos os vassalos eram vassalos de vários senhores. Esse o estribo, que lhe permitiu vestir uma pesada armadura
processo resultou em uma imensa descentralização do poder. e segurar as rédeas do animal com uma mão enquanto,
Nesse contexto, o rei era aquele designado por com outra, empunhava uma lança. Em uma cerimônia para
Deus para comandar os seres humanos, com valida- adentrar na Ordem da Cavalaria – a investidura –, um
ção e apoio da Igreja. Pessoas doentes iam procurar o cavaleiro mais velho chamava um mais novo pelo nome,
rei, pois o contato com suas mãos, acreditava-se, pode-
tocava nele com sua espada e acertava em sua nuca ou
ria curar doenças (Le roi te touche, Dieu te guérit – em
face um enorme bofetão, para que não esquecesse seu
português, o rei te toca, Deus te cura). Grávidas, por
compromisso. Com o tempo, o cavalo tornou-se um sím-
exemplo, procuravam o toque dos reis para ter os filhos.
bolo de status, associado à nobreza e imortalizado nas
O rei medieval era considerado sagrado e, como líder militar,
novelas de cavalaria. Havia também os cavaleiros deser-
distribuía favores e títulos, sendo fonte da justiça. Sua subsis-
dados, que viviam fazendo saques e sequestros.
tência, no entanto, como a de qualquer outro nobre, provinha
Procurando controlar essa força emergente, a Igreja
principalmente de suas terras e seus vassalos. O rei não tinha
aos poucos foi cristianizando o título de cavaleiro. A partir
nenhum poder direto sobre os vassalos dos seus vassalos,
do século X, exigiu da nobreza um juramento de não luta-
nem mesmo sobre os camponeses subordinados a eles.
rem contra clérigos, mercadores ou camponeses, e passou
a proibir lutas durante alguns dias da semana e nas proximi-
Saiba mais
dades das festas religiosas. Era a chamada Paz ou Trégua
de Deus, lançada no Concílio de Charroux em , que
visava afirmar o poder da Igreja, proteger seu patrimônio
e amenizar a violência cavaleiresca. A pena para aqueles
que não a respeitassem era a excomunhão. Mais tarde,
criou-se uma cerimônia para transformar um simples guer-
reiro em um miles Christi, o cavaleiro de Cristo, que jurava
fidelidade à Igreja.

218 HISTÓRIA Capítulo 5 A Idade Média na Europa ocidental e o início da primeira modernidade
A Igreja Católica medieval um poder limitado sobre seu próprio território, que era dividido
e o “feudalismo alemão” nos ducados da Baviera, Turíngia, Suábia, Francônia e Saxônia.
Em 6, no entanto, buscando superar essa situação, Oto I, o
A Igreja Católica Romana impôs seus valores em todas
Grande, duque da Saxônia, empreendeu uma série de conquis-
as esferas da sociedade medieval, tornando-se a grande
tas e estabeleceu a autoridade real por toda a Germânia. Por
herdeira do Império Romano e a única instituição do Oci-
ajudar a defender o papa João XII, em 6, este o coroou impe-
dente que nunca desapareceu desde a desagregação do
rador dos romanos, sucessor de Constantino e Carlos Magno.
Império. Diante do fragmentado mundo feudal, ela era um
Oto I e seus sucessores passaram a interferir nos assuntos
fator de unidade na Europa ocidental.
papais, ganhando, inclusive, o poder de nomear os bispos.
Saiba mais O poder temporal, dos reis e imperadores, e o poder espiritual,
dos papas, entraram constantemente em choque. Nesse senti-
do, as chamadas Reformas Gregorianas são consideradas um
marco na história da Igreja: as 7 sentenças do papa (Dictatus
Papae) buscavam afirmar que ele não podia ser julgado por
ninguém e que a Igreja romana não cometia erros. Gregório
afirmava, então, que o poder da Igreja, espiritual, estava acima
do poder temporal, ou seja, dos reis. Assim, o papa proibiu a
nomeação de bispos (a “investidura”) por parte dos imperado-
res. Além disso, Gregório buscou moralizar a Igreja Católica,
enfatizando, por exemplo, a importância do celibato.
Nesse período, Henrique IV, imperador do Sacro Império,
A partir do final do Império Romano, o número de mem- desafiou o papa Gregório nomeando o bispo de Milão. Tal
bros do clero aumentou, e este adquiriu privilégios especiais, ação resultou na excomunhão do imperador pelo papa. O
como a isenção de impostos, o uso de tribunais próprios e imperador, então, juntou um exército e marchou em direção
grande poderio político-econômico. Ao mesmo tempo, os a Roma, mas o papa fugiu para a Sicília, onde morreu. Foi
bispos iam adquirindo postos de comando nas cidades. Espe- a chamada Querela (Questão) das Investiduras. Iniciou-se
cialmente a partir de 445, com Leão Magno, ficou estabelecido uma verdadeira guerra civil na Germânia, enquanto a nobreza
que o bispo de Roma, chamado papa, era a autoridade má- local aproveitou a oportunidade para, com a benção papal,
xima de toda a cristandade. O clero era aquele responsável levantar-se contra o imperador. Foi durante essa luta que a
pelos batismos, matrimônios e pela definição do que era pe- aristocracia reduziu o campesinato à servidão, extorquiu dele
cado. O celibato, recomendado desde a época do Império tributos feudais e intensificou as obrigações militares entre os
Romano, tornou-se obrigatório a partir do século XII, facilitando próprios membros da classe nobre. Com isso, o feudalismo
o monopólio de terras por parte da Igreja, que não eram trans- consolidou-se no Sacro Império no século XII. No final, foi feito
mitidas ou divididas entre herdeiros. um acordo entre o papa e os reis, a chamada Concordata
O clero se dividia entre clero secular – aqueles que de Worms (), na qual se criava a dupla investidura: a
estão em contato com os fiéis, padres e bispos – e clero espiritual, feita pelo papa, e a temporal, feita pelo imperador.
regular, que se diferenciava do resto da sociedade e obe- Não obstante, os conflitos entre o papa e os reis continua-
decia a regras específicas de conduta. ram nos séculos seguintes. Para neutralizar o poder imperial,
O clero regular se formou primeiramente com os monges. estabeleceu-se, a partir do século XIII, que o imperador era
Os primeiros monges surgiram no século IV, tendo como ideal eleito por um conjunto de nobres e coroado pelo papa, que
o desapego ao que consideravam mundano: abandonavam lhe concedia sua autoridade. O Sacro Império continuou com
as cidades e se dirigiam para regiões onde ficariam comple- uma monarquia eletiva por muitos séculos.
tamente isolados do mundo, solitários, sem se envolverem Mustang Joe (CC0 1.0)/Flickr
com situações materiais, em uma vida marcada por privações,
pobreza extrema, abstinência sexual, desprezo pelos bens
materiais, jejuns e orações constantes. Com o tempo, esses
monges passaram a viver em comunidades, controladas por
regras. A primeira experiência de um clero regular foi criada
pelo monge italiano Bento de Núrsia – São Bento ou São
Benedito, em latim –, sendo imposta ao conjunto de monges
no século IX, que deu origem à ordem dos monges benedi-
tinos, cujo lema era “oração e trabalho” (laborare est orare).
FRENTE 2

Outras diversas ordens inspiradas nas regras de São Bento


também foram criadas, como a de Cluny e os cistercienses.
Na Europa ocidental, eram comuns os conflitos entre o
papa e o imperador do Sacro Império Romano-Germânico.
O imperador deveria, em tese, ser herdeiro da autoridade do
Império Romano e de Carlos Magno, a “cabeça” (caput) da cris-
Esculturas de santos católicos na Catedral de Chartres, construída no
tandade. Todavia, o imperador, como outros reis medievais, tinha século XII, na França. Foto de 2015.

219
A expansão do mundo No ano , já havia 55 cidades no Ocidente cris-
tão com mais de  mil habitantes. Com o aumento da
feudal (séculos XI-XIII) produção de mercadorias e, com isso, da mentalidade do
Entre os séculos XI e XIII, a Europa passou por um cres- mundo do trabalho, tem-se, nesse período, uma mudança
cimento da população e das cidades (e, consequentemente, fundamental: o crescente uso dos relógios, símbolo da ne-
do comércio) e pela expansão territorial (que significava, cessidade de mensuração precisa do tempo. Muitas dessas
também, expansão do cristianismo). Esse período de cres- cidades, chamadas de burgos, eram fortificadas, e seus
cimento econômico profundo dará lugar, nos séculos XIV habitantes eram os burgueses. O crescimento das cidades
e XV, a momentos de crise econômica e recessão. Esse e do comércio se deve a:
momento também pode ser enquadrado na designação • motivos agrícolas: o aumento da produção agrícola
mais tradicional de “Baixa Idade Média”. gerou excedentes que possibilitaram o crescimento
do comércio e das cidades.
Explosão demográfica • motivos demográficos: o aumento populacional nos
e crescimento econômico campos levou os camponeses às cidades em busca
No ano de , quando Carlos Magno foi coroado impe- de trabalho ou de terras em outros lugares.
rador, estima-se que a Europa ocidental possuía  milhões • demanda na construção: o crescimento populacional
de pessoas. No ano de , a população passou para mais exigiu a construção de novas catedrais, igrejas, paró-
de 5 milhões. Esse crescimento intenso se deu devido a: quias, castelos, muralhas, torres, palácios, hospitais e
• motivos epidemiológicos: entre os séculos X e XIII, casas.
com o recuo da peste e da malária, as grandes epide- • demanda têxtil: o crescimento demográfico exigiu
também um crescimento do setor têxtil. Muitos iam às
mias tiveram um peso menor.
cidades produzir tecidos. As duas principais ativida-
• motivos técnico-culturais: a guerra da época feudal,
des nas cidades medievais, portanto, eram os setores
apesar de constante, era pouco destruidora, pois nor-
têxtil e de construção.
malmente envolvia poucas dezenas de guerreiros e,
• questões culturais: muitos camponeses fugiam para
principalmente, o objetivo das batalhas em geral não era
a cidade buscando não apenas trabalho, mas também
matar o adversário, mas sequestrá-lo. Com as novas téc-
escapar da tirania do senhor feudal. A cidade, assim,
nicas de metalurgia, a armadura tornou-se muito forte no
exercia uma pressão constante sobre os nobres. Dizia-
século XII. As poderosas armas conhecidas como “bes-
-se que, se um servo morasse um ano e um dia em uma
tas”, por sua vez, foram proibidas pela Igreja Católica.
cidade sem ser reclamado pelo senhor, tornava-se livre;
• motivos técnico-econômicos ou “Revolução Agrí-
daí o provérbio medieval “o ar da cidade dá liberdade”.
cola medieval”: nesse período, há um aumento de
produtividade, decorrente do uso de técnicas e inven- Saiba mais
ções como a charrua (o arado de ferro), o moinho de
água, a coleira firme, a ferradura, o adubo calcário e,
especialmente, o uso do sistema de rodízio de terras
trienal, pelo qual ocorria uma alternância de cultivos
(cereais, leguminosas) sobre uma mesma área. Por
isso, a produtividade aumentou 5% entre os séculos
IX e XIII, tornando a dieta camponesa mais rica em
proteínas e ferro e diminuindo a mortalidade.

Crescimento demográfico na Europa ocidental de


1000 a 1300
Museu Senesi, Siena

Fonte: FRANCO JÚNIOR, Hilário; FILHO, Ruy de Oliveira Andrade.


Atlas de História Geral. São Paulo, Scipione, 1993. p. 23.

O “renascimento” urbano e comercial


Entre os séculos XI e XIII ocorreu na Europa o crescimento
das cidades e do comércio, no que chamamos de renasci-
Detalhe de Os efeitos do bom governo, Ambrogio Lorenzetti, 1338. A pintura
mento urbano-comercial. O nome, contudo, é equivocado, foi feita em um afresco na prefeitura de Siena, Itália, e representa o cotidiano
dado que as cidades e o comércio nunca desapareceram. em uma cidade medieval.

220 HISTÓRIA Capítulo 5 A Idade Média na Europa ocidental e o início da primeira modernidade
Algumas cidades desenvolveram-se dentro das terras luxuosos produtos orientais, passaram a exigir tributos dos
senhoriais. Posteriormente, elas obtiveram sua autonomia, camponeses em moeda. Formaram-se, nesse momento,
mantendo-se, no entanto, dependentes da matéria-prima, dos duas grandes áreas de comércio marítimo:
reforços populacionais e do mercado consumidor campesino. • O Mediterrâneo, dominado pelos italianos: no sul
O direito para se autogovernar era dado pela Carta de Franquia, europeu, as cidades italianas controlavam o comércio
adquirida pelos burgos por meio da compra. As cidades cha- realizado no mar Mediterrâneo. Tais cidades tinham
madas de comunas adquiriram sua liberdade através da luta. amplas malhas urbanas e realizavam um intenso co-
Nessas cidades, comerciantes e artesãos passaram a mércio com o Oriente, como é o caso de Florença,
se organizar em associações, que predominarão até o sé- Veneza, as mais ricas cidades no período, Gênova,
culo XIX, denominadas corporações de ofício ou guildas. Palermo, Bolonha, Milão e Pádua.
As corporações determinavam os preços e a qualidade dos • O mar do Norte, dominado pelos alemães: graças,
produtos vendidos, o tempo da jornada de trabalho, os dias sobretudo, à Hansa Teutônica, ou Liga Hanseática.
de descanso e feriados, o número de funcionários, os pro- Constituída no século XII, essa liga era uma asso-
cedimentos de fabricação e os salários em cada unidade ciação de mais de 5 cidades de várias áreas
de produção. Existiam as corporações dos padeiros, dos do Sacro Império, com a finalidade de manter os
sapateiros, dos marceneiros, dos comerciantes de tapeçaria, privilégios comerciais de seus mercadores e o mo-
ourivesaria etc. Para exercer um ofício, o artesão era obriga- nopólio da navegação na região. As cidades de mais
do a se filiar à corporação. Caso não obedecesse às regras relevância eram Lübeck, Bruges, Bergen e Novgorod.
da corporação, ele podia ser expulso da associação. A con- Importavam-se tecidos de Flandres, lã da Inglaterra,
corrência era evitada, e formavam-se, assim, verdadeiros especiarias do Oriente, vinho e sal dos países do sul
monopólios comerciais, objetivo central dessas corporações. da Europa.
A unidade básica da produção medieval era a oficina. Tão importantes quanto essas rotas marítimas de comér-
Nela, os trabalhadores dividiam-se em mestres, jornaleiros cio foram as rotas terrestres, dentre as quais a principal era a
e aprendizes. O mestre era o dono da oficina, da matéria- que ligava o norte da Itália a Flandres e que era conhecida
-prima e das ferramentas de produção. Os companheiros ou pelo nome de Rota de Champagne. Aproveitando as rotas
jornaleiros eram indivíduos que já haviam aprendido o ofí- de comércio terrestre, a população local passou a realizar
cio, entretanto não possuíam capital suficiente para montar as “feiras”, núcleos comerciais temporários que se formavam
suas próprias oficinas e terminavam por trabalhar para um em épocas e locais determinados e que eram frequentados
mestre, por jornada, em troca de salário. Já os aprendizes por comerciantes e compradores de todas as partes.
eram iniciantes que ainda não tinham domínio das habili- O aumento do comércio com o Oriente causou uma
dades da produção. Não recebiam qualquer remuneração relativa monetarização da economia feudal, o que levou ao
por suas atividades, apenas moradia e alimentação por surgimento dos cambistas e banqueiros, principalmente em
parte do mestre. Após terminado o aprendizado do ofício, Veneza e Gênova. Os banqueiros ganhavam esse nome por
o aprendiz poderia se tornar um mestre de oficina, desde atuar inicialmente em cima de bancos. Sua função era realizar
que para isso passasse num teste, no qual mestres deviam as trocas monetárias, uma vez que não havia uniformidade
observá-lo fabricando uma peça para posterior inspeção de de pesos e medidas, fornecer empréstimos aos comerciantes
qualidade. Essa peça era chamada de obra-prima. e transferir valores de clientes de uma cidade para outra.
Nesse contexto, aliás, a moeda volta a ser cunhada A usura, ou o empréstimo de dinheiro a juros, praticada pelos
na metade do século XIII, com os januarius e o florim em banqueiros, era inicialmente condenada pela Igreja por estar
Gênova e Florença. Muitos senhores, desejosos de comprar sendo vendido o tempo, algo que só pertenceria a Deus.
Ben Molyneux/Shutterstock.com

FRENTE 2

Casa de comércio do século XIV, restaurada, na cidade de Southampton, Inglaterra. Foto de 2020.

221
A manufatura medieval, no entanto, nunca foi capaz de até então viviam na Normandia, norte da França, domina-
absorver toda essa população que afluía para as cidades. ram os anglo-saxões e, em 66, fundaram o Reino da
Havia pedintes pelas praças, mercados e ruas. Os trabalha- Inglaterra, liderados por Guilherme, o Conquistador, que
dores, que recebiam pagamentos baixíssimos, viviam em distribuiu cinco mil feudos aos seus vassalos, com a condi-
condições precárias. Assim, a partir do século XI, prolifera- ção de que eles lhe jurassem fidelidade. Daí o feudalismo
ram movimentos messiânicos entre essa população pobre. inglês ser chamado pelo historiador Perry Anderson de
Nesses movimentos, um leigo ou monge aparecia como “feudalismo centralizado”. Na Escandinávia, a conversão
um santo salvador e, por meio de inspirações e revelações, ao cristianismo se efetuou no século XII, transformando
decretava uma missão para seus seguidores. as comunidades semitribais tradicionais em sistemas de
Ao mesmo tempo, surgiram nas cidades as Ordens Men- Estado monárquico. No século XIII, o feudalismo se expan-
dicantes, que optavam pela pobreza, renegando as riquezas diu sobretudo após a derrota do exército dinamarquês de
do clero nobre, e atuavam diretamente no mundo, pregando
Valdemar II – o mais poderoso governante escandinavo
na linguagem das pessoas comuns. Exemplos dessas Or-
da Idade Média.
dens são as dos dominicanos e a dos franciscanos. Eles são
As Cruzadas são um fenômeno que ocorre nesse mo-
considerados frades, ou irmãos, e não sacerdotes.
mento. Nas regiões da atual Palestina e de Israel, ocorreram
Nesse período, as igrejas eram detentoras do conheci-
as Cruzadas do Oriente (6-7), enquanto na penín-
mento, que era transmitido em latim. A partir das reformas
sula Ibérica houve a chamada Reconquista Cristã, onde
do papa Gregório VII, em 7, ficou estabelecido que cada
abadia e catedral tivesse uma escola, daí o nome “escolás- se formaram os reinos ibéricos. Diferentemente de outras
tica”. Nessas escolas, eram ensinadas as sete artes liberais, expansões, as Cruzadas do Oriente não buscavam terras
pensadas pelo filósofo Boécio (47-55). Na primeira parte, o férteis, até mesmo porque as terras da região Palestina não
trivium, estavam as disciplinas que buscam menos a aquisição tinham essa característica. Os motivos das Cruzadas foram:
de conhecimento que seu modo de expressão: o emprego • reunificação da cristandade: o objetivo inicial do
correto das palavras, a Gramática; a expressão apropriada papa era fornecer reforços para os bizantinos contra
do pensamento, a Dialética; e, por fim, o embelezamento do os turcos, para que, assim, a Igreja Oriental reconhe-
discurso, a Retórica. A segunda etapa do estudo era o qua- cesse a supremacia de Roma. Vale lembrar que as
drivium, as disciplinas que seguem o modelo matemático: Cruzadas tiveram início quatro décadas após o Cis-
Aritmética, Geometria, Física, Música e, mais tarde, Medicina. ma do Oriente.
No século XII, foram criados os primeiros cursos de • solução para os nobres sem-terra: a crescente par-
Medicina no Ocidente, assim como os primeiros hospitais tilha do patrimônio dos senhores feudais entre seus
(chamados “casas de Deus”). filhos e seus vassalos tornava suas terras cada vez
Nos séculos XI, XII e XIII, surgiram, a partir das escolas, mais escassas. Para não fragmentar ainda mais seus
as primeiras universidades. Essa instituição seria um lugar feudos, os senhores adotaram o direito de primogeni-
universal, onde estariam estudantes e professores de todo tura, segundo o qual apenas o filho mais velho herdaria
o mundo cristão, falando e escrevendo em latim, a língua ofi- terras. Muitos filhos mais novos, com isso, tornaram-se
cial da cristandade. As primeiras universidades foram as de cavaleiros despossuídos e saíram em busca de sobre-
Salerno, Bolonha, Paris, Oxford, Pádua, Nápoles, Toulouse, vivência, sequestrando nobres, assaltando estradas
Salamanca, Cambridge e Praga, criadas entre os séculos ou buscando casamentos. As expedições forneceriam
XI e XIV. Financiadas por autoridades locais, elas serviam
uma ocupação a esses nobres despossuídos.
como centros de formação para uma aristocracia ligada à
• busca por comércio: inicialmente, os mercadores
administração civil ou eclesiástica, onde podia optar por
viram as Cruzadas como um risco. As expedições
cursar Direito Canônico ou Romano, Medicina ou Teologia.
encontraram novos entrepostos comerciais para as
Influenciadas por pensadores islâmicos como Avicena e
camadas mercantis em ascensão, em especial as ita-
Averróis, essas instituições passaram a recuperar os traba-
lianas, que financiaram a Quarta Cruzada e a Cruzada
lhos de Aristóteles e, inclusive, conciliá-los com a doutrina
cristã. O dominicano São Tomás de Aquino (4-74), de São Luís, em troca de diversos favores. As cidades,
da Universidade de Paris, teve destaque nesse período. já em desenvolvimento comercial, apoiaram algumas
Cruzadas como forma de expansão.
A expansão territorial • interesse nos saques: muitos dos que partiam esta-
Como resultado de todas essas transformações no vam interessados nos saques das batalhas, em fugir
mundo feudal, ocorreu a expansão territorial da Europa, das dívidas que possuíam na Europa ou mesmo
com os objetivos de exportar os excedentes da produção, fugir de seus senhores.
conseguir novas terras, ampliar a área de comércio e, prin- • purificação religiosa: as Cruzadas também foram um
cipalmente, converter novas almas para o cristianismo. movimento de purificação religiosa, meio pelo qual,
Assim, nas regiões eslavas e nos reinos do Báltico, acreditavam os guerreiros, teriam a vida eterna ga-
além da Polônia e da Hungria, ampliaram-se a comunidade rantida. A Cruzada era vista como a passagem para o
cristã e o cultivo de terras. A partir do século XI, o feudalis- sagrado, e muitos acreditavam, inclusive, que Jerusalém
mo foi exportado também para a Inglaterra. Os povos que era o próprio paraíso terrestre.

222 HISTÓRIA Capítulo 5 A Idade Média na Europa ocidental e o início da primeira modernidade
unificou e a Igreja Ortodoxa existe até os dias de hoje.
Biblioteca de Arsenal, Paris
O islamismo continuou a avançar, o que culminaria, em
45, na tomada de Constantinopla. De certa forma, as
Cruzadas ajudaram a fortalecer as comunidades islâmicas,
cuja união foi reforçada por lideranças que emergiram nos
conflitos, caso de Saladino. Durante as Cruzadas, também
houve muitos momentos de paz e trocas entre muçulmanos
e cristãos, inclusive nas áreas da Medicina, da Arquitetura
e da navegação.

Coleção particular
Iluminura do século XV representando cruzados em Constantinopla no
século XIII.

Atenção
Os historiadores costumavam explicar as Cruzadas –
principalmente aquelas dirigidas à Terra Santa – através
de três fatores principais. Em primeiro lugar, o cresci-
mento populacional europeu no período que antecedeu
esse movimento: a existência de um excedente da po-
pulação forneceria a essas expedições o contingente
necessário. O segundo fator, ligado ao primeiro, seria a
necessidade de obtenção de novos domínios por parte dos Iluminura otomana que mostra a tomada de Belgrado, em 1456.
filhos mais novos da aristocracia senhorial, excluí-
dos das sucessões das linhagens que privilegiavam os pri- O problema demográfico não foi resolvido e chegaria
mogênitos. O terceiro fator seria o interesse dos mercadores ao seu ápice no século XIV. Os nobres despossuídos não
italianos em conquistar novos mercados para seus produtos. conseguiram terras, mas passaram a integrar as ordens
militares, como os templários e os hospitalários. Todavia, a
própria Igreja Católica proibiu a continuidade da Ordem dos
Templários, que foram mortos. Embora, em alguns momentos,
Até o século XI, Jerusalém, cidade sagrada para judeus, as Cruzadas tenham reforçado novas rotas comerciais, as
cristãos e muçulmanos, era livre, aberta para peregrinações expedições não levaram a um aumento significativo de rotas.
e pertencia ao Império Bizantino. No entanto, no século XI,
os turcos seldjúcidas, muçulmanos provenientes da Ásia Saiba mais
Central, conquistaram toda a região da Síria e da Pales-
tina. Diante disso, o imperador bizantino pediu ajuda ao
Ocidente, solicitando o envio de mercenários, que, pagos
As Cruzadas não conseguiram saciar a sede que os
e liderados pelos bizantinos, combateriam os turcos na
ocidentais tinham por terras [...] Nenhum historiador sério
Anatólia. O papa Urbano II viu nesse episódio um meio de
continua a crer que as cruzadas sejam responsáveis pelo
pôr em ação um projeto para expandir sua influência sobre despertar e o desenvolvimento da cristandade medieval
as regiões do Império Ortodoxo, procurando conquistar [...] Para mim, o único fruto trazido pelos cristãos das
Jerusalém dos muçulmanos. Assim, no dia 5 de novem- Cruzadas foi o damasco.
bro de 5, o papa, no Concílio de Clermont, convocou
cristãos para lutar contra os “inimigos de Cristo”, chamados
por ele de infiéis.
Foram realizadas várias Cruzadas “não oficiais”, como a Uma das maiores consequências das Cruzadas foi o
Cruzada dos Mendigos, dos Pastores e dos Pobres. Entre aumento da perseguição e da intolerância religiosa na Eu-
6 e 7, ocorreram oito Cruzadas à chamada Terra ropa. Foi nesse contexto, afinal, que a Inquisição iniciou
Santa, convocadas pelos papas e organizadas por reis e suas práticas. Tal como um tribunal secular visa defender
senhores da nobreza. Embora as primeiras Cruzadas tenham a lei, extinguindo o crime, o tribunal da Inquisição visava a
FRENTE 2

conquistado Jerusalém, a reação dos muçulmanos foi avas- defender a fé e a moral da Igreja Católica, perseguindo
aquilo que ela condenava, como as chamadas bruxarias,
saladora; caíram as últimas fortalezas dos reinos cruzados,
as blasfêmias, a sodomia, a bigamia etc. As penas apli-
até que, em , São João de Acre, o último ponto de
cadas tinham uma gradação do jejum, multas, pequenas
resistência cristã, foi também conquistado pelos muçulmanos. penitências, chibatadas, desterro, confisco de bens, as ga-
As Cruzadas para Jerusalém, portanto, do pon- lés, a prisão e, em casos mais raros, os acusados que se
to de vista de seus objetivos iniciais, fracassaram. recusavam a confessar eram entregues à autoridade civil,
Não conquistaram a Terra Santa, o cristianismo não se a qual podia aplicar a pena máxima da morte na fogueira.

223
A crise do feudalismo da França em 5, a partir das quais o termo torna-se si-
nônimo de qualquer revolta camponesa no país, e a Revolta
(séculos XIV-XV) Inglesa de . Nas cidades, eclodiram revoltas como o
Após um longo período de expansão entre os séculos movimento dos Ciompi, de Florença, em 7; as flamen-
XI e XIII, as sociedades medievais conheceram seu limite: gas, em 7; e as rebeliões dos jornaleiros de Flandres,
o crescimento populacional tornou-se excessivamente ele- de  a .
vado para as condições europeias. O feudalismo, então, No contexto da fome e da peste, ocorreu a Guerra dos
entrou em uma crise profunda entre os séculos XIV e XV. Cem Anos (7-45), uma série de conflitos opondo
No final do século XIII, em muitas regiões, houve es- França e Inglaterra. A sucessão do trono da França era
cassez de terras devido ao aumento populacional, levando disputada pelo francês Filipe de Valois, primo distante de
à ocupação de novas áreas e causando desmatamento. Filipe IV, e por Eduardo III, rei da Inglaterra, neto de Filipe
Para se ter uma ideia, estima-se que em  as florestas IV, filho de Isabel. Pela Lei Sálica francesa, no entanto, o
francesas cobriam um milhão de hectares a menos do que trono não poderia ser ocupado por um herdeiro de linha-
hoje. Ao que tudo indica, essa devastação foi responsá- gem materna, o que impedia a coroação de Eduardo IIII,
vel também pelas chuvas constantes entre 5 e 7, dando início à guerra pela soberania. Além disso, havia a
período no qual, em muitos locais da Europa, as colheitas disputa pelo rico centro comercial de Flandres (atual Bélgica
foram ruins e insuficientes. Em algumas regiões, cerca de e Holanda), exportador de tecidos de lã.
7% dos rebanhos morreram por desnutrição. Ao mesmo O conflito, que resultou na vitória francesa em 45, teve
tempo, não havia tecnologia disponível para realizar mais diversas peculiaridades. O rei Carlos VII (4-46) criou
escavações na atividade de mineração, o que causou es- um exército remunerado e regular de  mil homens, em
cassez de metais para as moedas e consequente aumento vez da tradicional convocação dos vassalos. Esse exército
do preço das mercadorias. era sustentado pelo primeiro imposto nacional de impor-
Nesse período também ocorreram grandes epidemias, tância a ser cobrado pela monarquia, a talha real de 4,
potencializadas pelos contatos crescentes com outros po- depois chamada “talha dos soldados”, na década de 44.
vos, por aglomerações nas cidades e pela ausência de Na guerra, foi utilizada a pólvora na Batalha de Castillon,
sistemas de esgoto e saneamento. Na Inglaterra, a cada em 45, que deu uma vantagem sobre os ingleses. Deve-se
mil habitantes,  morriam doentes. Na cidade belga de destacar, também, o papel de Joana D’Arc, uma jovem
Ypres, % da população morreu em apenas 6 meses no camponesa que participou de diversos combates que fa-
ano de 6. Com a chamada peste negra, ou peste bu- voreceram os franceses. Após a Guerra dos Cem Anos, a
bônica, milhões de pessoas sucumbiram, o que afetou a monarquia francesa será dirigida pelos Valois, que vão deter
produção e disseminou ainda mais a fome. a Coroa até as guerras de religião, no final do século XVI.
No caso inglês, a guerra foi travada, principalmente,
Biblioteca Real da Bélgica, Bruxelas

por companhias contratadas, alistadas com base em paga-


mentos em dinheiro, por iniciativa dos grandes senhores.
Terminada a guerra, emergiu na Inglaterra outro conflito
que, ao fim, opôs duas grandes famílias da nobreza: a fa-
mília York (cujo símbolo era uma rosa branca) e a família
Lancaster (cujo símbolo era uma rosa vermelha).
Por causa das rosas branca e vermelha, esse conflito
ficou conhecido como a Guerra das Duas Rosas(455-
-45), que terminou com a união das famílias e a ascensão
de Henrique VII Tudor (45-5). A dinastia Tudor, como
a Valois, permaneceu no poder até o fim do século XVI,
quando deu lugar à dinastia Stuart, derrubada nas revolu-
Gilles li Muisis, Peste em Tournai, em 1349, Biblioteca Real da Bélgica, ções do século XVII.
Bruxelas. A iluminura, do séulo XIV, representa o sepultamento massivo de
vítimas da pestenegra.
Nos séculos XIV e XV, o poder clerical também entra
em crise. Os reis, cada vez mais fortes, passaram a ter atri-
Com a grande mortalidade, a mão de obra campo- tos com a Igreja. O rei da França, Filipe IV, o Belo, apoiado
nesa, antes em excesso, agora estava em falta. Por um por uma assembleia, decidiu taxar bens da Igreja; diante
lado, alguns senhores feudais foram obrigados a contra- disso, teve início uma grave crise envolvendo o papa Boni-
tar camponeses assalariados, amenizando a situação de fácio VIII, que chegou a ser preso. Após a morte do papa,
dependência dos servos e resultando em um campesinato Filipe IV impôs a nomeação de um cardeal francês, que
livre. Isso contribuiu para a decadência da servidão, a nova viria a ser o papa Clemente V, e forçou a transferência da
monetarização da economia e, no século XV, a intensifica- sede da Igreja de Roma para Avignon, no sul da França.
ção do comércio. Por outro lado, outros senhores reforçaram Em 77, o papa Gregório XI regressa a Roma e, com isso,
as relações de dependência, de forma a compensar seu entre 7 e 47, a Igreja Católica passa a ter dois papas:
empobrecimento, voltando a cobrar antigos impostos um em Roma e outro em Avignon. O evento ficou conhecido
que já não eram mais comuns. Nesse contexto, eclodi- como Cisma do Ocidente, e somente com o Concílio de
ram diversas revoltas camponesas, como as jacqueries Constança (44-4) a Igreja voltou a ter um único papa.

224 HISTÓRIA Capítulo 5 A Idade Média na Europa ocidental e o início da primeira modernidade
Nesse período, as heresias ganharam força, o que cul- que essa mudança é relativa. No campo das mentalidades,
minaria, dois séculos mais tarde, na Reforma Protestante. por exemplo, as pessoas continuam tão (ou mais) religiosas
O Renascimento Cultural tem início, as monarquias tomam quanto na Idade Média, já que a ideia de secularização
as primeiras atitudes que levarão à unificação do poder, com ocorrerá somente no século XIX. A nobreza, grupo domi-
a formação de exércitos unificados e impostos nacionais, e, nante na Idade Média, passará por transformações, mas
para superar a falta de metais preciosos, os portugueses continuará a ser o grupo dominante. As corporações de
dão início à expansão marítimo-comercial. A tomada de ofício, de origem medieval, vão se tornar ainda mais pode-
Constantinopla pelos turco-otomanos, em 45, represen- rosas. Além disso, é preciso notar que, embora os reis se
tará um grande impulso neste último acontecimento. fortaleçam ao longo da Idade Moderna, as particularidades
Todos esses eventos marcam a passagem da Idade locais e a heterogeneidade linguística medievais continua-
Média para a Idade Moderna. No entanto, é preciso lembrar rão a existir até o século XIX.

Saiba mais

FRENTE 2

225
A Idade Moderna (1453-1789)
O que significa “Época Moderna”? Em primeiro lugar, cabe destacar que nem todos os países fazem a divisão
entre a Idade Moderna e a Idade Contemporânea, separados pela Revolução Francesa. Na Inglaterra e nos Estados
Unidos, por exemplo, fala-se em Modern History desde o século XV até os dias atuais (para ocorrer alguma forma
de separação, chamam-se os primeiros séculos de Early Modern History, o que costuma ser traduzido para a língua
portuguesa como “primeira modernidade”, em contraposição à “segunda modernidade”, iniciada no século XIX).
No final do Império Romano, pensadores como Gelasius, Cassiodoro e Orose denominavam de modernus aquilo
que era novo em oposição ao antigo – no caso, o cristianismo, em oposição ao paganismo. Na Idade Média, São Tomás
de Aquino chamava de moderni o uso de Aristóteles, em oposição a formas anteriores de fazer filosofia. No século XIV,
Petrarca um dos primeiros nomes do Renascimento, fez uma distinção entre os “tempos medievais” que o precederam e
os “tempos modernos” que estariam começando. Quando Petrarca e outros nomes associados ao Renascimento Cultural
determinaram que havia uma Antiguidade clássica (áurea, o que, para eles, significava o mundo greco-romano), uma idade
intermediária (medieval) e uma época moderna (que começaria com eles próprios), estavam lançando as bases de uma
periodização utilizada até os dias de hoje. Os renascentistas pensaram em uma era de luz e glória de Roma que eles,
modernos, estariam recuperando.
Isso não significa que o período que chamamos de Idade Moderna não tenha conhecido profundas transformações.
A segunda metade dos séculos XV e XVI terá um grande crescimento econômico; o século XVII será, por outro lado, para
a maior parte da Europa, um século de estagnação ou de crescimento reduzido; por fim, o século XVIII será, de forma
geral, novamente um século de prosperidade. É importante considerar que, na prática, os períodos de crescimento são
entrecortados por períodos mais curtos de crise ou estagnação, e vice-versa.
Seria a época moderna capitalista? Isso dependerá do que se entende por capitalismo. Para alguns pensadores, o
capitalismo indica maior presença de pessoas investindo capital no sentido de uma produção voltada para o mercado,
o que significaria que o capitalismo teria começado a se fortalecer na Baixa Idade Média. Para outros, o capitalismo re-
presenta um grupo que, mais poderoso que o próprio mercado, o comanda e pode deslocar-se territorialmente conforme
a necessidade, o que significaria que o capitalismo também começaria a se fortalecer no final da Idade Média e estaria
representado por um grupo muito restrito de banqueiros, comerciantes e industriais em Gênova no século XVI, Amsterdã
no século XVIII, Inglaterra no século XIX e Estados Unidos no século XIX. Para outros, ainda, só há capitalismo quando a
maior parte da população, destituída dos meios de produção, precisar vender sua força de trabalho para um grupo que
os detém, o que significaria que só há capitalismo de fato após a Revolução Industrial, nos séculos XVIII e XIX.
Na época moderna, há também o fortalecimento das Coroas, com maior autonomia financeira, por meio da cobrança
de impostos, e militar, por meio dos exércitos permanentes; é o que chamamos de absolutismo. O termo “absolutismo”,
contudo, é impreciso, já que as autonomias locais da nobreza, os particularismos e as línguas regionais continuaram bas-
tante fortes. Cabe notar ainda que a época moderna será marcada por uma profunda cisão religiosa com as Reformas
Protestantes, no século XVI, seguidas por guerras civis em vários lugares da Europa. Por fim, a passagem da Idade Moderna
para a segunda modernidade ou Idade Contemporânea será marcada pelas Revoluções Inglesas (XVII), pelo Iluminismo
(XVIII) e por uma série de revoluções.

O Renascimento Cultural (séculos XIV-XVI)


O Renascimento Cultural pode ser caracterizado como uma grande revivescência das Artes e das Letras, sob a
influência dos modelos clássicos, que teve início na península Itálica nos séculos XIV e XV, expandindo-se para outros
territórios no XVI.
Nos períodos medieval e moderno, o artista era aquele que estudava as sete artes liberais, as artes consideradas
dignas de um indivíduo livre, ou os chamados trivium, constituído por Retórica, Dialética e Gramática, e quadrivium, com-
posto de Música, Aritmética, Geometria e Astronomia. O que hoje chamamos de “artes” ou “belas artes” não se incluía nas
artes liberais, mas nas artes mecânicas, próximas do que chamaríamos de artesanato. Os artesãos estudavam em ateliês,
oficinas coletivas que funcionavam como uma corporação de ofício, com mestres e aprendizes. Por isso, os pintores do
Renascimento costumavam ter uma origem mais modesta (Michelangelo, filho de aristocratas, é exceção). Vejamos como
exemplo a carta em que Leonardo da Vinci, 4, pedia trabalho a Ludovico, o Mouro:
Farei [...] carros cobertos, seguros e inexpugnáveis, que entrarão no território inimigo com a artilharia. [...]
Em tempo de paz, acredito que posso garantir total satisfação na arquitetura e na construção de edificações privadas e pú-
blicas e na condução de água de um lugar para o outro. Além disso, posso esculpir em mármore, bronze ou argila, bem como
reproduzir em pintura qualquer coisa que possa ser feita, tão bem como qualquer outro, seja ele quem for.
SCHILLING, Voltaire. Da Vinci, Carta a Ludovico Sforza. Terra, 7 jun. 2019. Disponível em: https://www.terra.com.br/noticias/educacao/historia/
da-vince-carta-a-ludovico-sforza,ffc4d90aab7b62d0202ee7
fbea81ab512yxivurj.html. Acesso em: 14 ago. 2021.

Nessa época, as produções eram coletivas, e cada mestre pintava ou esculpia com a ajuda de muitos ajudantes.
A maioria dos artistas era dependente do patronato ou mecenato de nobres, de clérigos ou da própria Igreja Católica, ou
mesmo de alguns burgueses mais abastados como a guilda Arte da Lã, que encomendou obras para Michelangelo, como
a escultura Davi.

226 HISTÓRIA Capítulo 5 A Idade Média na Europa ocidental e o início da primeira modernidade
Renascimento: a filologia, estudo das origens e formações
k.com
das línguas, com a busca pelo entendimento dos clássicos
em seus próprios termos; a arqueologia, para a compre-
ensão correta do mundo greco-romano; e a crítica textual,
buscando o contexto original da produção de palavras e
PrakichTreetasa

textos antigos.
Com o desenvolvimento da filologia, um estudo a
respeito da Doação de Constantino tornou célebre o hu-
manista italiano Lorenzo Valla, no século XV, considerado
um expoente do humanismo jurídico. A doação, suposta-
mente feita pelo imperador romano Constantino, concedia
à Igreja Católica grande parte das terras da Itália. Porém,
Valla encontrou no documento palavras inexistentes no
Império Romano, que só apareceram no século IX e X, pro-
vando, assim, a falsidade do tratado utilizado pelos papas.
A descoberta de Lorenzo causou grande impacto na época.
Obras como a escultura helenística Lacoonte e seus filhos
foram encontradas pela arqueologia renascentista.
O advento do humanismo não significou o fim da esco-
lástica, que continuou a existir durante a época moderna e
conheceu inovações, como em Salamanca no século XVI.
Todos os humanistas eram religiosos, embora alguns, no sé-
culo XVI, vão aderir ao protestantismo ou, como Montaigne,
adotarão uma postura cética.

Saiba mais

Michelangelo Buonarroti. Davi, 1501-04. Mármore. Academia de Belas Artes,


Florença. Como ainda não existiam museus, a obra ficou em frente ao
Palazzo della Signoria, sede da governadoria de Florença, e simbolizava o
heroísmo da cidade ante as guerras com outras cidades.

Essa forma de patrocínio, o mecenato, explica a grande


quantidade de retratos de membros da nobreza. Eventual-
mente, uma cidade também poderia encomendar obras,
como no caso do governo de Florença, que fez muitas
encomendas a Da Vinci. No século XVI, principalmente nos
Países Baixos, teve início também uma produção para a
venda no mercado.
E quem eram os “humanistas” no Renascimento? Eles
eram os professores das universidades que valorizavam
os estudos das humanidades (studia humanitatis), ou seja,
defendiam o estudo da gramática, da retórica, da história, da Inicialmente, o resgate dos clássicos era um tema
poesia e da filosofia moral para além do trivium e do quadri- dos humanistas, e não dos pintores e escultores. Os pri-
vium da escolástica. Para a valorização desses estudos, os meiros pintores associados ao Renascimento, Cenni di
FRENTE 2

humanistas resgatam os estudos dos clássicos (imitatio), a Petro Cimabue (4-) e Giotto di Bondone (67-
inspiração nos atos, crenças e realizações dos indivíduos do 7), produziram suas obras apesar de pouquíssimas
passado para, assim, surgir um novo comportamento para o fontes ou resquícios de pinturas da Antiguidade em
europeu, calcado na determinação da vontade, no desejo suas obras. Em busca de um naturalismo radical, Giot-
de conquistas e no anseio do novo. Dessa forma, acredi- to esboçava, em suas pinturas, profundidade espacial
tavam resgatar o mundo clássico e romper com o período (perspectiva), técnica depois estudada por outros, como
medieval. Sendo assim, três ciências se desenvolvem no Brunelleschi (77-446).

227
Mas como, na quase ausência de pinturas greco-romanas, conciliar o naturalismo e a perspectiva com o regresso aos
clássicos? Leon Battista Alberti, no Tratado sobre a pintura (1435), diz que o pintor deve inspirar-se na retórica clássica
e buscar convenienza, isto é, harmonia entre as partes e as cores. Nesse sentido, CristoforoLandino(1424-1498) dizia
que Cimabue redescobriu o que os gregos chamavam de simetria. Seguindo Vitrúvio, um arquiteto romano (I a.C.) que
buscava proporções matemáticas no corpo humano, Alberti, Da Vinci e Dürer tentaram encontrar essas proporções na
pintura. Filippo Brunelleschi (1337-1446) inspirou-se nas proporções humanas de Vitrúvio para pensar a arquitetura. Assim,
proporção, naturalismo e harmonia marcavam o regresso aos clássicos nas belas artes.

Convento de Santa Maria da Graça, Milão


Leonardo da Vinci, A última ceia, 1495-1498. Têmpera sobre gesso, piche e mástique. Santa Maria delle Grazie, Milão. A obra apresenta uma perspectiva visual
com profundidade, espessura e aparência tridimensional, característica presente nas pinturas renascentistas.

O humanista Marsílio Ficino (1433-1499) realizou discussões sobre música baseadas em passagens de Platão ou
Harmonika, de Ptolomeu. Rabelais (1494-1533) e Pierre de la Ramée, o Petrus Ramus (1515-1572), sugeriram, para
a Medicina, a leitura de Galeno e Hipócrates, ao passo que Johannes Werner (1468-1522) ressaltou a importância
dos clássicos para a Matemática. Nas impressões, as letras itálicas e romanas se impuseram sobre as letras góticas.
A invenção da imprensa, em 1430, por Johannes Gutenberg, tem um papel fundamental na difusão das obras clássicas
e renascentistas. O uso dos tipos móveis metálicos possibilitou a impressão mais rápida e o relativo barateamento
do custo do livro.

O Renascimento Cultural na península Itálica e a expansão para outros territórios


O Renascimento teve origem e maior expressividade na Itália, local onde o desenvolvimento comercial foi mais preco-
ce. Na época, a região da península Itálica era composta de cerca de trezentas cidades, das quais se destacam Gênova,
Veneza, Florença, Milão e Roma.
Nos séculos XII e XIII, a região da Itália passou por uma grande prosperidade comercial. Dentre as cidades mais ri-
cas, destaca-se Florença, que possuía 21 guildas (de advogados, mercadores de lã, banqueiros, médicos, boticários, lojis-
tas, negociantes e artesãos). A cidade contava com inúmeras igrejas, praças, lojas de comércio de lã e de seda, farmácias,
marcenarias, ateliês de escultores e cortadores de pedras, bancos etc. Importava couros da Espanha, peles e cobre da
Polônia, estanho e tecidos da Inglaterra, armas do Sacro Império, além de seda, pérolas, canela, cravo e outros temperos
dos países do Oriente, como a Pérsia e a China. Os tecidos importados eram pintados, refinados e vendidos ao exterior.
Aliás, durante a Guerra dos Cem Anos, Florença emprestava dinheiro para a Coroa inglesa, passando a importar lã do
território britânico. A história de Florença foi caracterizada por golpes, contragolpes e muita instabilidade política, ao con-
trário de Veneza, que conseguiu manter o mesmo regime político – composto de uma espécie de governador chamado
Doge, um senado e um conselho formado por homens livres – por oito séculos.
Em tese, no século XII, as cidades eram vassalas do Sacro Império Romano-Germânico. Contudo, os próprios papas,
em muitos casos, opuseram-se a esse domínio. Nesse sentido, ocorreram guerras entre partidários do papa (guelgos)
e partidários dos imperadores (gibelinos). Com isso, juristas escolásticos, como Bartolo de Saxoferrato, começaram a
defender a importância de cidades terem liberdade, definida como autogoverno e ausência de interferência externa.
Defensores dos imperadores, como Dante Alighieri (1265-1321), acreditavam em uma monarquia universal.

228 HISTÓRIA Capítulo 5 A Idade Média na Europa ocidental e o início da primeira modernidade
Entre os séculos XII e início do XIV, as cidades italianas participarem do governo, como uma forma de recupera-
foram consumidas por conflitos que resultaram na ascensão ção do ideal romano de república. No que chamamos de
de tiranos. Muitos mercenários, homens de origem plebeia republicanismo ou humanismo cívico, uma república seria
contratados para a guerra, tomaram o poder. Devido ao caracterizada pelo respeito à lei, pelo engajamento dos
comércio e às disputas políticas, havia na península Itá- cidadãos e pela manutenção da liberdade, valores resumi-
lica maior espaço de mobilidade e ascensão. As guerras dos na palavra “virtude”. Essa palavra seria a capacidade
e o comércio enfraqueceram as noções de legitimidade de moldar o destino e adequar o mundo aos desejos,
e dinastia, da mesma forma que valorizaram o cálculo, a conferindo honra, glória e fama. Movimentos como esse
deliberação e o talento. Assim, os novos governantes, oriun- nos permitem falar em um antropocentrismo do Renasci-
dos do povo, valorizariam o talento e tratariam os assuntos mento, uma valorização do homem, de suas capacidades
com maior objetividade. A arte da guerra, a estatística e a e da vida ativa, ou engajada nos assuntos de sua cidade.
diplomacia também seriam assuntos importantes nessas ci- Esse antropocentrismo, entretanto, não significa a des-
dades. Nesse contexto, muitos passam a escrever “espelho valorização de Deus, pois os homens continuavam tão
de príncipes”, livros de conselhos para governantes, dos cristãos quanto na Idade Média. Os autores republicanos
quais O Príncipe, de Maquiavel, será o principal exemplo. voltam a ter destaque durante a luta contra a monarquia
Esse foi também o contexto de Dante Alighieri, Francesco inglesa do século XVII e na independência dos Estados
Petrarca (4-74), Giovanni Boccaccio (-75), Unidos, no século XVIII.
Giotto e Cimabue. No final do século XV e no século XVI, as repúblicas
Apesar de ter surgido no período de prosperidade entram em decadência, e a maioria das cidades passa a
econômica, o Renascimento tomou impulso no final do sé- ser governada por déspotas. Nesse período, ganham força
culo XIV e no século XV, durante a crise econômica, o que aqueles que valorizam o neoplatonismo e a vida contemplati-
levou as cidades italianas a uma lenta decadência. Cada va, como Pico della Mirandola (46-44), Marsílio Ficino e
vez mais, as cidades se dedicam às atividades bancárias e Nicolau de Cusa (4-464). A obra de Pico, Discurso sobre
de especulação, com destaque para Gênova, que passará a dignidade do homem, é considerada por muitos o grande
a auxiliar financeiramente a Espanha durante a expansão
manifesto do Renascimento. Para ele, a dignidade humana
marítima por meio de crédito e acordos (a prata trazida
consiste em sua razão e sua liberdade, e o homem não é
do Peru era controlada, em Sevilha, por comerciantes de
um animal nem celeste, pois não sabe de tudo, nem terres-
Gênova, por exemplo). Com a crise, também, muitos recur-
tre, pois não é determinado pela natureza. Segundo ele, o
sos antes investidos no comércio passam a ser reinvestidos
ser humano teria o poder quase divino de transformar a si
no patrocínio das Artes e das Letras.
próprio, a chamada liberdade, podendo tanto degenerar-se
e ser mais cruel que o mais cruel dos animais quanto rege-
Museu do Louvre, Paris

nerar-se e ser tão bom quanto um anjo. O autor, com isso,


buscava conciliar hermetismo, zoroastrismo, pitagorismo,
astrologia, platonismo, islamismo e cristianismo, já que, para
ele, todas as religiões e filosofias eram facetas de uma única
verdade, formas distintas de enxergar uma mesma coisa.
No século XVI, a produção renascentista se concen-
trou no papado. Os papas Júlio II (5-5) e Leão X
(5-5) criaram uma atmosfera de luxo, requinte e so-
fisticação, com as obras de Leonardo da Vinci, Michelangelo
Buonarrotti (475-564) e Rafael Sanzio (4-5).
A pintura de Leonardo procurou reproduzir habilmente
o próprio percurso da luz, deixando indefinidos os con-
tornos que se perdem nas partes escuras e sombreadas,
recortando com nitidez as superfícies banhadas mais direta-
mente pela luz. O resultado é um realismo maior das figuras
e um tom geral de unidade e homogeneidade que realça
a atmosfera mágica da pintura. Se Da Vinci se preocupava
com a face de seus personagens, Michelangelo é o “poeta
do corpo”. Profundamente abalado pela crise espiritual do
século XVI, ele destaca a tensão permanente entre o corpo
FRENTE 2

Quentin Matsys, Ocambista e sua esposa, 1514, óleo sobre madeira. Museu
do Louvre, Paris, França.
e o espírito, a carne e a alma, representando detalhes da
anatomia humana. Já Rafael estaria mais próximo de uma
Em Florença, no contexto de luta contra os exércitos de síntese entre seus dois contemporâneos, com algo mais
Milão, os florentinos passam a defender que todo cidadão suave, mais simples, sem sacrificar nenhum recurso técni-
deve armar-se e engajar-se na luta pela própria liberdade, a co e nenhum efeito emocional. Sua obra era preferida por
qual era entendida como ausência de interferência exterior grandes príncipes e senhores e tornou-se modelo da arte
e possibilidade de os cidadãos – homens e proprietários – oficial até o início do século XX.

229
Museus do Vaticano, Roma
Rafael Sanzio, Escola de Atenas, 1509-1510. Afresco. Palácio Apostólico, Vaticano. A obra, encomendada pelo papa Júlio II, apresenta pensadores
clássicos, como Platão e Aristóteles (ao centro), como referências no Renascimento.

No final do século XVI, a França, a Espanha e o Sacro Outro nome de destaque inglês foi Thomas Morus
Império Romano-Germânico disputam o domínio sobre a pe- (47-55), que estudou Direito na Universidade de Oxford,
nínsula Itálica. A expansão marítima portuguesa e espanhola onde recebeu formação humanista. Atuante na política, en-
desloca o eixo econômico do Mediterrâneo para o Atlântico, trou no Parlamento em 54, desempenhando inúmeras
e as cidades italianas passam por uma nova crise. Em 57, missões diplomáticas, até que, em 5, assumiu o cargo
inicia-se a Reforma Protestante. Em 55, pelo Tratado de de primeiro chanceler do rei Henrique VIII. É autor de Utopia,
Cateau-Cambrésis, boa parte da península passa para as obra na qual apresenta uma comunidade tolerante, erguida
mãos da dinastia Habsburgo da Espanha, em aliança e com sob bases racionais, em que a guerra é vista como inglória,
o apoio do papado. Ao mesmo tempo, a Inquisição, que o ouro não tem valor, todos são iguais perante a lei e os
havia sido desativada, ressurge em Roma. Galileu Galilei cargos são eletivos. Tal descrição era uma forma de criticar
(564-64) será preso, e Giordano Bruno (54-6) será a corrupção de sua própria época.
queimado. Em Veneza, as elites começaram a mudar seus Na França, o movimento renascentista teve sua base
investimentos do comércio para os campos. Na passagem em Paris, onde monarcas como Francisco I (55-547)
do século XVI para o século XVII, o Barroco tomou o lugar atuaram feito mecenas, patrocinando pintores, arquitetos
do Renascimento na história da arte italiana. e literatos. Pierre Lescot (55-57) e Philibert Delorme
No século XVI, ocorreu a expansão do humanismo e (54-57) construíram palácios tais quais Fontainebleau,
das artes italianas para outros lugares da Europa. Os Países Chambord, Blois e o Louvre, que definiram o renascentismo
Baixos conheceram, antes do Renascimento, um desen- arquitetônico francês. François Rabelais (44-55) criou
volvimento cultural esplêndido, ligado a nomes como Jan personagens como Gargântua e Pantagruel, renovando a
van Eyck (-44), considerado a grande expressão prosa e criticando a Igreja. Na Filosofia, destacou-se Michel
da arte flamenga pré-renascentista, além de Erasmo de Eyquem de Montaigne (5-5).
Roterdã, o príncipe dos humanistas. O teatro inglês teve um A manifestação mais marcante do Renascimento no
florescimento notável, sobretudo no período de Elizabeth I Sacro Império Romano-Germânico foi a rápida difusão dos
(5-6), quando Londres viu a ascensão de camadas estudos humanistas nos meios burgueses e universitários em
ligadas ao artesanato e aos negócios. A figura mais proe- fins do século XV. O filólogo Johann Reuchlin (455-5) foi
minente da época foi William Shakespeare (564--66), o responsável por atacar a cultura escolástica na Alemanha,
ator profissional e próspero empresário teatral. sendo seguido por Ulrich von Hutten (4-5) e Crotus

230 HISTÓRIA Capítulo 5 A Idade Média na Europa ocidental e o início da primeira modernidade
Rubianus (4-545), os quais liquidaram de vez a hege- Universo infinito, sem centro e povoado por uma quantidade
monia da cultura tradicional. Um dos mais notáveis pintores imensa de mundos semelhantes ao nosso.
alemães foi Albrecht Dürer (47-5), de Nuremberg, res- Galileu Galilei, conhecido por defender o sistema helio-
ponsável por reunir a solidez do gótico alemão, o cromatismo cêntrico de Copérnico, contribuiu fundamentalmente para
e luminosidade flamenga e o sentido da geometria, harmonia consolidar a união entre as Ciências da Natureza e a Ma-
e profundidade da pintura italiana. temática, em oposição àqueles que utilizavam a obra de
Na Espanha, as obras de Inácio de Loyola (4-556) Aristóteles como paradigma interpretativo. Galileu Galilei e
Santa Teresa d’Ávila e São João da Cruz eram revestidas Francis Bacon (56-66), ambos cristãos, defendiam, ao
de grande densidade poética, somando-se à parte mais sig- contrário dos herméticos e escolásticos, a separação entre o
nificativa do Renascimento espanhol, marcada por Herrera mundo natural, que seria regido por leis mecânicas expres-
(54-57), Miguel de Cervantes (547-66), Garcilaso sas pela matemática, e o mundo divino. Com Isaac Newton
de La Vega (5-56) e Lope de Vega (56-65). (64-77), a ideia de que todo o Universo é regido pelas
Pintores como Luis de Morales, o Divino (5-56), repre- mesmas leis matematicamente identificáveis ganha força, ain-
sentaram o clima religioso da Espanha renascentista. Dom da que, para ele, essas leis fossem estabelecidas por Deus.
Quixote, de Miguel de Cervantes, apresenta uma crítica Assim, enquanto a magia é baseada em princípios
genial às nostalgias medievais e, evidentemente, à Espanha ocultos eternos e universais, a ciência é ancorada na ideia
de sua época. de gerações distintas, contribuindo para a descoberta das
Em Portugal, destacam-se Sá de Miranda (4-55), verdades. Embora o estudo dos pensadores do passado
que trouxe o dolce stil nuovo (“doce estilo novo”) dos poe- seja importante para a ciência, eles não são uma autoridade
tas, literatos e dramaturgos do Renascimento italiano; Luís inquestionável, como acontecia na magia eterna. Por isso,
de Camões (c.- 54-5), autor de Os Lusíadas, o maior Francis Bacon escreveu, em 65, Da proficiência e o avan-
épico da língua portuguesa; Juan de Encina (46-5), ço do conhecimento divino e humano. Enquanto a magia
que inaugura o teatro ibérico e tem como grande marca os defenderia a ideia de eleitos ou iluminados, que passam as
Autos, peças em verso, de fundo religioso ou cômico, mar- verdades eternas para todos, a ciência partiria da noção de
cadas por fortes elementos populares. Destacam-se, ainda, que as inteligências podem alcançar o conhecimento por
temas cavaleirescos, religiosos e populares, como é o caso meio do método científico. Daí a importância do método
de Gil Vicente (c. 465-56). indutivo (isto é, ancorado na observação dos casos particu-
lares e na formulação de hipóteses para a descoberta de
Do Renascimento à Revolução Científica princípios gerais), defendido por Bacon.
No Renascimento, a magia, a filosofia e a ciência mistu- No século XVII, emergirá a ideia que o funcionamento
ravam-se e auxiliavam-se, em uma sociedade atravessada do mundo é autônomo, como um relógio, e dispensa inter-
por inquietações religiosas e por exigências práticas de ferência divina. Da mesma forma, o corpo humano seria um
todo gênero. Na segunda metade do século XVI e, princi- mecanismo, uma máquina, como diziam Thomas Hobbes
palmente, no século XVII, ocorreu a Revolução Científica, (5-67) e René Descartes (56-65). Newton des-
marcada por nomes como Copérnico, Galileu, Kepler, Francis tacou-se com as leis universais, em que o funcionamento da
Bacon, Isaac Newton e Descartes. natureza era entendido de maneira autônoma, regido por
Nicolau Copérnico (47-54), em Sobre as revo- leis matemáticas, operando, tal como as máquinas, sem a
luções das esferas celestes (54), defendeu a teoria intervenção das vontades. Para todos eles, contudo, assim
heliocêntrica, na qual o Sol era o centro do Universo e a como um relógio precisa de um relojoeiro, o funcionamento
Terra era mais um astro que girava em torno do Sol. Giordano autônomo do Universo não excluía a existência de Deus,
Bruno, a partir de Copérnico, defendeu a existência de um mas a tornava necessária.

Revisando

1. UEM 2019 A Europa Ocidental, a partir do século V,  As vitórias militares de Clóvis contaram com o
viu-se dividida entre vários reinos, resultado da in- apoio da Igreja Católica Romana, decisivo para
vasão dos povos germânicos. O reino dos francos, o projeto de unificação do território.
estabelecido no norte da Gália, teve na figura de  O feudalismo, como um sistema de organização
Clóvis (da dinastia merovíngea) o rei que favoreceu econômico, social e político, foi estruturado no
o processo de ruralização do território europeu. Com reinado merovíngeo de Clóvis.
FRENTE 2

Carlos Magno (dinastia carolíngea), o reino dos fran-  A grande expansão de território do período ca-
cos viveu grande renovação cultural, atraindo para a rolíngeo fez que o papa Leão III coroasse Carlos
sua corte sábios das penínsulas itálica e ibérica. Magno como imperador do Sacro Império Romano
Acerca do reino dos francos, assinale o que for correto. no ano .
 Durante a Alta Idade Média, a constituição dos  A restauração do ensino no período de Carlos
reinos germânicos provocou uma excessiva frag- Magno foi marcada pela forte presença das cha-
mentação da posse de terras. madas artes liberais, o trívio e o quadrívio.
Soma:
231
2. Uece 2017 Servidão e vassalagem eram duas formas I. Uma forte diminuição demográfica, causada pela
de relação social existentes na Idade Média, através chamada peste negra e pelas chamadas invasões
das quais os senhores se impunham. Sobre esses mo- bárbaras.
delos de relação social, é correto afirmar que II. O aumento do número de cidades e da intensifi-
a) na vassalagem, um nobre submetia sua fidelidade cação da divisão social do trabalho que ajudou no
a outro nobre que, assim, tornava-se seu suserano. desenvolvimento do artesanato.
b) a vassalagem constituía-se pelo contrato de con- III. O aumento da atividade bancária como ativida-
cessão de terras do senhor feudal a um camponês. de cada vez mais significativa para expansão do
c) a servidão era o laço que unia um nobre a outro comércio.
através do juramento de fidelidade irrestrita a ele
e ao seu suserano. Em relação a essas informações, assinale a alternativa
d) a servidão e a vassalagem eram relações que se que apresenta as armativas corretas.
davam somente entre um nobre e um camponês a) II e III.
ligado à terra. b) I e II.
c) I e III.
3. Famerp 2017 Aparece na literatura medieval, no final d) I, II e III.
do século IX, para florescer no século XI, até se tornar
um lugar comum no século XII, um tema que descreve 6. FGV-SP 2018 Aproveitando-se do reforço populacional
a sociedade que se divide em três categorias ou ordens. e espiritual, os reinos cristãos acentuaram sua ofensiva
Jacques Le Goff. Para uma outra Idade Média, 2013. contra os domínios muçulmanos. Em 1492, concluía-se a
conquista da península, com a incorporação de Granada.
As “três categorias ou ordens” citadas no texto são, A reconquista representou, para os ibéricos, uma
respectivamente, primeira expansão feudal. Caracterizou-se pela incorpo-
a) aristocracia, burguesia e proletariado. ração de novas terras, pelo crescimento demográfico, pelo
b) militares, patrícios e camponeses. desenvolvimento das cidades, das atividades mercantis e
c) clérigos, guerreiros e trabalhadores. pela expansão cristã. No entanto, 1492 não se encerra
d) comerciantes, industriais e operariado. em Granada. Meses depois, em outubro, Colombo daria
e) classe alta, classe média e classe baixa. continuidade à conquista material e espiritual. Do outro
lado do Atlântico.
4. UFU 2017 Os especialistas em demografia histórica são (Flavio de Campos. Folha de S. Paulo, 1.10.2000. Adaptado)
mais ou menos concordes em estimar que a população
global do reino da França no mínimo duplicou entre A Reconquista Ibérica
os anos mil e 1328, passando de cerca de 6 milhões a) remonta aos meados do século IX, momento no
de habitantes para 13,5 milhões, e de 16 a 17 milhões, qual os cristãos ibéricos, refugiados no norte da
considerando as regiões que desde então se tornaram península, constituíram-se em pequenos reinos
francesas. independentes e, a despeito das suas diferenças
LE GOFF, Jacques. O apogeu da cidade medieval. Trad. Antônio Danesi, São étnicas e das rivalidades, edificaram uma identida-
Paulo: Martins Fontes, 1992, p. . (Adaptado).
de cultural e política, porque objetivavam vencer
De acordo com a citação, pode-se armar que o prin- militarmente os muçulmanos.
cipal fator que permitiu o crescimento da população b) contrapõe-se ao movimento das Cruzadas porque
europeia foi a luta e as ofensivas contra o poder mulçumano
a) o controle da Peste Negra por meio da implan- não foram realizadas como uma conquista militar,
tação de medidas de saneamento das grandes mas por meio de lenta e progressiva incorporação
cidades europeias. de novas terras, obtidas com as relações de vassa-
b) o fim dos conflitos entre os reinos, especialmen- lagem, em especial a partir do século XII.
te o da “Guerra dos Cem Anos”, entre França e
c) significou uma recomposição das forças cristãs oci-
Inglaterra.
dentais e parte das orientais, a partir do início do
c) a relativa estabilidade política e econômica, que
século XIV, unificadas pelo Concílio de Trento, que
fomentou a expansão dos burgos e o aumento da
produção agrícola nos campos. estabeleceu uma nova mística em torno da figura
d) o incremento da agricultura, que impulsionou o de Jesus Cristo, que passou a ser tratado como
sistema de trocas de mercadorias promovendo a tendo essência divina e não humana.
prosperidade nos feudos. d) constitui-se em um processo que tem as suas
origens localizadas após a formação das nações
5. UFU 2019 A partir do século XI, observa-se em várias ibéricas, Portugal e Espanha, em fins do século
localidades da Europa Ocidental uma intensificação XIV, porque a expulsão dos invasores mouros de-
das atividades comerciais. Dentre os fatores que ex- pendia de uma enorme ação militar que apenas
plicariam esse “renascimento comercial”, analise as Estados unificados podiam organizar e arcar com
informações a seguir. os custos.

232 HISTÓRIA Capítulo 5 A Idade Média na Europa ocidental e o início da primeira modernidade
e) dependeu menos da ação das forças cristãs ibé- intelectuais foram buscar inspiração num período
ricas e muito mais da progressiva fragilização dos considerado por eles de grandes realizações e es-
domínios mouros nessa região, condição do califa- plendor: o Egito antigo.
do de Granada, no século XIII, que foi obrigado a e) Os renascentistas defendiam uma visão humanis-
ta, naturalista e teocêntrica, buscando superar a
mandar forças militares para conter uma série de
antiguidade clássica, período que classificaram
invasões aos seus domínios no Norte da África.
como trevas, devido à falta de produção de co-
nhecimento.
7. UFG O usurário, que adquirir lucro sem nenhum traba-
lho e até dormindo, vai contra a palavra de Deus que
9. UFRGS 2018 Sobre o desenvolvimento do pensa-
diz “Comerás teu pão com o suor de teu rosto”. Assim,
mento moderno no Ocidente, entre os séculos XIV e
o usurário não vende ao devedor nada que lhe pertença,
XVIII, é correto afirmar que
apenas o tempo, que pertence a Deus. Disso não pode
a) os estudos empíricos sobre a natureza, realizados
tirar qualquer proveito.
no Renascimento, contribuíram para o desenvolvi-
CHOBHAM, Thomas de, apud LE GOFF, J. A bolsa e a vida. São Paulo:
Brasiliense, 1989. p. 39. [Adaptado]. mento da ciência europeia.
b) o abandono do dogma cristão pelo pensamento
O texto acima apresenta o posicionamento da Igreja humanista motivou a criação dos tribunais do San-
Católica diante da crescente atividade dos usurários, to Ofício para combater as heresias.
nas cidades comerciais europeias (séc. XIII). Relacione c) a filosofia foi marcada por uma completa ruptura
usura, tempo e trabalho no discurso eclesiástico. em relação à visão de mundo, elaborada durante
a antiguidade.
8. UFMS 2020 Em 2019, completaram-se 00 anos da d) a Reforma Protestante caracterizou-se pela reafir-
morte de Leonardo Da Vinci, considerado um dos mação dos valores institucionais da Igreja e pela
maiores expoentes do movimento denominado Re- defesa do papado.
nascimento Cultural. Esse movimento foi um marco e) a rígida separação social entre a elite letrada e a
importante na sociedade ocidental, pois promoveu população camponesa impedia o desenvolvimen-
uma mudança profunda na maneira de pensar, im- to de práticas culturais populares.
pactando crenças e valores que norteavam o homem
europeu até então. 10. Uece 2016 Atente ao seguinte excerto:
Sobre as características do Renascimento Cultural, as-
A impotência do homem diante do destino, absurdo
sinale a alternativa correta.
deste último, é também o que afirmam frequentemente os
a) O conhecimento passou a ser dirigido pelo clero
personagens do teatro inglês no fim da Renascença. Ao
católico, que administrava escolas e universidades.
fazê-lo, eles não exprimem necessariamente a opinião
Assim, essa nova visão de mundo foi compreendida
dos próprios autores. Mas eles dão testemunho – o que
a partir de um único caminho: o da fé e da religião. para nós importa aqui – de um sentimento amplamente
b) Surgiu na Península Itálica no final do século XIV e difundido na cultura dirigente.
início do XV. Foi marcado por um espírito científico, DELUMEAU, J. O pecado e o medo. Bauru: EDUSC, 2003, p.31.
de valorização da razão e do raciocínio lógico, co-
locando o ser humano como centro do universo. O famoso autor do teatro inglês, que compôs sua obra
c) Surgiu na Península Itálica no século XVI. Promoveu no m da fase conhecida como Renascimento foi
mudanças políticas, econômicas e sociais baseadas a) Nicolau Maquiavel.
nas ideias de liberdade, igualdade e fraternidade. b) William Shakespeare.
d) Surgiu na Península Itálica no final do século XIV c) Lord Byron.
e início do XV. Nesse contexto, muitos artistas e d) Edgar Allan Poe.

Exercícios propostos
1. Unicamp 2014 No Natal de 800, o papa Leão III coroou Carlos Magno como Imperador dos Romanos. O Imperador
FRENTE 2

recebeu o antigo título de Augusto.


a) Caracterize a autoridade de Carlos Magno como Imperador naquele momento.
b) Apresente dois aspectos do renascimento carolíngio.

233
2. Fuvest 2017

Percival, Cavaleiro da
Távola Redonda na lenda
arturiana, invocando Deus e
o mensageiro. Chrétien de
Troyes, Le Conte du Graal,
início do século XII (BnF).

Esta imagem integra o manuscrito de uma das mais notáveis obras da cultura medieval. A alternativa que melhor
caracteriza o documento é:
a) Fábula que enuncia o ideal eclesiástico, mescla a aventura cavalheiresca, o amor romântico e as aspirações reli-
giosas que simbolizaram o espírito das cruzadas.
b) Poema inacabado que narra a viagem de formação de um cavaleiro e a busca do cálice sagrado; sua composição
mistura elementos pagãos e cristãos.
c) Cordel muito popular, elaborado com base nos épicos celtas e lendas bretãs, divulgado para a conversão de fiéis
durante a expansão do Cristianismo pelo Oriente.
d) Peça teatral que serviu para fortalecer o espírito nacionalista da Inglaterra, unindo a figura de um governante
invencível a um símbolo cristão.
e) Romance que condensa vários textos, empregado pela Igreja para encorajar a aristocracia a assumir uma função
idealizada na luta contra os inimigos de Deus.

3. Famema 2019 O problema das “origens” do feudalismo gerou inúmeras polêmicas sobre o fim do Império Romano no Oci-
dente (século V) e o surgimento das instituições feudais. Comumente, aceita-se a tese da junção de formas sociais romanas e
germânicas que, justapostas, engendrariam as bases da sociedade feudal. Outros historiadores têm procurado ver na própria crise
interna do império, particularmente a partir do século III, as causas da decadência romana e sua fragilidade em face dos bárbaros.
(Francisco C. T. da Silva. Sociedade feudal, 1982. Adaptado.)

As origens do sistema feudal podem ser encontradas


a) no declínio da escravidão no Império Romano, o que originou nova forma de trabalho, e na noção de fidelidade
pessoal dos germanos.
b) no fracasso da reforma agrária no Império Romano, o que intensificou as guerras civis, e na concepção de poder
divino dos germanos.
c) na assimilação dos povos dominados, que se tornaram plenos cidadãos romanos, e na ideia de propriedade priva-
da dos germanos.
d) no fortalecimento da autoridade imperial, que se sobrepôs ao Senado romano, e na tradição das leis escritas dos
povos germânicos.
e) na crise dos minifúndios romanos, o que gerou intenso êxodo rural, e nas relações escravistas típicas das comuni-
dades germânicas.

4. UPE 2017 Observe a imagem a seguir:

(https://en.wikipedia.org/wiki/
File:Bayeux_Tapestry_scene23_
Harold_sacramentum_fecit_
Willelmo_duci.jpg)

Ela mostra um trecho da Tapeçaria de Bayeux (séc. XI d.C.), na qual o rei saxão Harold Godwinson jura delidade a
Guilherme, o conquistador. Qual relação social, existente no medievo, está expressa nessa imagem?
a) Suserania e vassalagem
b) Servidão e senhorio
c) Escravidão e dominação

234 HISTÓRIA Capítulo 5 A Idade Média na Europa ocidental e o início da primeira modernidade
d) Devoção e fidelidade 7. UFPR 2020
e) Obediência e trabalho

5. UFJF 2020 Leia o texto a seguir:


A sociedade dos fiéis forma um só corpo; mas o
Estado compreende três. A lei humana impõe duas
condições: o nobre e o servo não estão submetidos ao
mesmo regime. Os guerreiros são protetores das igrejas.
Eles defendem os poderosos e os fracos, protegem todo
mundo, inclusive a si próprios. Os servos, por sua vez,
têm outra condição. Esta raça de infelizes não tem nada
sem sofrimento. Fornecer a todos alimentos e vestimen-
ta: eis a função do servo. A casa de Deus, que parece
una, é, portanto, tripla: uns rezam, outros combatem e
outros trabalham. Todos os três formam um conjunto
e não se separam: a obra de uns permite o trabalho dos
outros dois e cada qual por sua vez presta seu apoio
aos outros.
LAON, Adalbéron de. In: LE GOFF, Jacques. A civilização do Ocidente
medieval. São Paulo: Edusc, 200, p. 2-28. Iluminura do século XIII (Disponível em: https://education.
francetv.fr). Acesso em: 10 de maio de 2019.
O trecho acima foi escrito pelo bispo Adalbéron de
Sobre a iluminura, é INCORRETO armar:
Laon em 1030 com o objetivo de explicar a organiza-
a) Revela a supremacia da união entre guerreiros e
ção social que existiu no período medieval dividida
trabalhadores sobre os membros do clero.
em estamentos. Sobre a sociedade estamental é
b) Representa a sociedade trifuncional tal qual foi con-
CORRETO armar que:
cebida pelo bispo Adalberão de Laon, no século XI.
a) A igreja católica defendia e justificava a divisão c) Expressa uma concepção de sociedade no me-
social da sociedade estamental. dievo.
b) A sociedade estamental caracterizava-se pela d) Representa uma configuração social baseada na
possibilidade de ascensão social. cooperação e no serviço para a harmonia social
c) Nesta sociedade o estamento mais privilegiado no medievo.
era o dos servos. e) Não expressa a sociedade medieval em sua con-
d) Nesta organização os servos eram sustentados figuração social variada.
pelos estamentos clerical e senhorial.
e) A sociedade estamental era pautada em uma hie- 8. Fac. Albert Einstein – Medicina 2020 Durante muito
rarquia social igualitária. tempo, os doentes eram tratados, principalmente, com re-
médios populares. Nas terras não cristãs, os homens e as
6. Enem 2015 A casa de Deus, que acreditam una, está, mulheres que aplicavam esses tratamentos eram conside-
portanto, dividida em três: uns oram, outros combatem, rados feiticeiros e feiticeiras. Nas terras cristãs, a feitiçaria
outros, enfim, trabalham. Essas três partes que coexistem era proibida, mas havia “curandeiros” cristãos a quem
não suportam ser separadas; os serviços prestados por Deus havia dado um saber. As pessoas mais ricas (senho-
uma são a condição das obras das outras duas; cada uma res e burgueses) eram quase sempre tratadas por médicos
por sua vez encarrega-se de aliviar o conjunto... Assim a judeus, pois os judeus possuíam conhecimentos de medi-
lei pode triunfar e o mundo gozar da paz. cina vindos da Antiguidade.
ALDALBERON DE LAON. In: SPINOSA, F. (Jacques Le Goff. A Idade Média explicada aos
Antologia de textos históricos medievais. Lisboa: Sá da Costa, 1981. meus filhos, 200. Adaptado.)

A ideologia apresentada por Aldalberon de Laon foi Ao tratar das doenças e dos tratamentos médicos na
produzida durante a Idade Média. Um objetivo de tal Idade Média, o texto
ideologia e um processo que a ela se opôs estão indi- a) reconhece a diversidade dos cuidados médicos
cados, respectivamente, em: em um universo sociorreligioso uniforme.
a) Justificar a dominação estamental / revoltas cam- b) caracteriza o avanço das ciências médicas na Euro-
FRENTE 2

ponesas. pa, em comparação com outras partes do mundo.


b) Subverter a hierarquia social / centralização mo- c) destaca o caráter democrático da medicina popu-
nárquica. lar, em comparação com tratamentos mais caros.
c) Impedir a igualdade jurídica / revoluções burguesas. d) associa o declínio dos tratamentos médicos à per-
d) Controlar a exploração econômica / unificação seguição desencadeada pela Inquisição.
monetária. e) relaciona o acesso a tratamentos médicos às dife-
e) Questionar a ordem divina / Reforma Católica. rentes condições sociais e religiosas.

235
9. Enem 2019 O cristianismo incorporou antigas práticas O excerto permite armar corretamente que a Igreja cristã
relativas ao fogo para criar uma festa sincrética. A igreja a) tornou-se uma instituição do Império Romano e
retomou a distância de seis meses entre os nascimentos sobreviveu à sua derrocada quando da invasão
de Jesus Cristo e João Batista e instituiu a data de come- dos bárbaros germânicos.
moração a este último de tal maneira que as festas do b) limitou suas atividades à esfera cultural e evitou
solstício de verão europeu com suas tradicionais foguei-
participar das lutas políticas durante o Feudalismo.
ras se tornaram “fogueiras de São João”. A festa do fogo e
c) manteve-se fiel aos ensinamentos bíblicos e
da luz no entanto não foi imediatamente associada a São
proibiu representações de imagens religiosas na
João Batista. Na Baixa Idade Média, algumas práticas tra-
dicionais da festa (como banhos, danças e cantos) foram
Idade Média.
perseguidas por monges e bispos. A partir do Concílio de d) reconheceu a importância da liberdade religiosa na
Trento (1545-1563), a Igreja resolveu adotar celebrações Europa Ocidental e combateu a teocracia imperial.
em torno do fogo e associá-las à doutrina cristã. e) combateu o universo religioso do Feudalismo e
CHIANCA, L. Devoção e diversão: expressões contemporâneas de festas e propagou, em meio aos povos sem escrita, o pa-
santos católicos. Revista Anthropológicas, n. 18, 200 (adaptado). ganismo greco-romano.
Com o objetivo de se fortalecer, a instituição mencionada
no texto adotou as práticas descritas, que consistem em 12. Unesp 2016 Os mosteiros eram em primeiro lugar casas,
a) promoção de atos ecumênicos. cada uma abrigando sua “família”, e as mais perfeitas,
b) fomento de orientação bíblicas. com efeito, as mais bem ordenadas: de um lado, desde o
c) apropriação de cerimônias seculares. século IX, os mais abundantes recursos convergiam para
a instituição monástica, levando-a aos postos avançados
d) retomada de ensinamentos apostólicos.
do progresso cultural; do outro, tudo ali se encontrava or-
e) ressignificação de rituais fundamentalistas.
ganizado em função de um projeto de perfeição, nítido,
bem estabelecido, rigorosamente medido.
10. Enem PPL 2019 A ausência quase completa de
(Georges Duby. “A vida privada nas casas aristocráticas da França feudal”.
fantasmas na Bíblia deve ter favorecido também a von- História da vida privada, vol. 2, 1992. Adaptado.)
tade de rejeição dos fantasmas pela cultura cristã. Várias
passagens dos Evangelhos manifestam mesmo uma A caracterização do mosteiro medieval como uma
grande reticência com relação a um culto dos mor- “casa”, um “posto avançado do progresso cultural”
tos: “Deixa os mortos sepultar os mortos”, diz Jesus e um “projeto de perfeição” pode ser explicada pela
(Mt 8:21), ou ainda: “Deus não é Deus dos mortos, mas disposição monástica de
dos vivos” (Mt 22:32). Por certo, numerosos mortos são a) valorizar a vida privada, participar ativamente da
ressuscitados por Jesus (e, mais tarde, por alguns de seus vida política e combater o mal.
discípulos), mas tal milagre – o mais notório possível b) recuperar a experiência histórica e pessoal do
segundo as classificações posteriores dos hagiógrafos Salvador durante sua estada no mundo dos vivos.
medievais – não é assimilável ao retorno de um fantas- c) recolher-se a uma comunidade fechada para orar,
ma. Ele prefigura a própria ressurreição do Cristo três dias estudar e combater a desordem do mundo.
depois de sua Paixão. Antecipa também a ressurreição d) identificar-se com as condições de privação por
universal dos mortos no fim dos tempos. que passavam as famílias pobres, celebrar a tradi-
SCHMITT, J.-C. Os vivos e os mortos na sociedade medieval. ção escolástica e agir de forma ética.
São Paulo: Cia. das Letras, 1999. e) reconhecer a humanidade como solidária e unida
De acordo com o texto, a representação da morte ga- num esforço de salvação da alma dos fiéis e dos
nhou novos signicados nessa religião para infiéis.
a) extinguir as formas de ritualismo funerário.
b) evitar a expressão de antigas crenças politeístas. 13. Unesp 2015 Os homens da Idade Média estavam persua-
c) sacramentar a execução do exorcismo de infiéis. didos de que a terra era o centro do Universo e que Deus
d) enfraquecer a convicção na existência de demônios. tinha criado apenas um homem e uma mulher, Adão e
e) consagrar as práticas de contato mediúnico trans- Eva, e seus descendentes. Não imaginavam que existissem
cendental. outros espaços habitados. O que viam no céu, o movi-
mento regular da maioria dos astros, era a imagem do que
havia de mais próximo no plano divino de organização.
11. Unesp 2017 A Igreja foi responsável direta por mais
(Georges Duby. Ano 1000, ano 2000: na pista de nossos medos, 1998.
uma transformação, formidável e silenciosa, nos úl- Adaptado.)
timos séculos do Império: a vulgarização da cultura
clássica. Essa façanha fundamental da Igreja nascente O texto revela, em relação à Idade Média ocidental,
indica seu verdadeiro lugar e função na passagem para a) o prevalecimento de uma mentalidade fortemen-
o Feudalismo. A condição de existência da civilização te religiosa, indicativa da força e da influência do
da Antiguidade em meio aos séculos caóticos da Idade cristianismo.
Média foi o caráter de resistência da Igreja. Ela foi a b) a consciência da própria gênese e origem, resultan-
ponte entre duas épocas. te das pesquisas históricas e científicas realizadas
(Perry Anderson. Passagens da Antiguidade ao Feudalismo, 201. Adaptado.) na Grécia Antiga.

236 HISTÓRIA Capítulo 5 A Idade Média na Europa ocidental e o início da primeira modernidade
c) o esforço de compreensão racionalista dos fenômenos naturais, base do pensamento humanista.
d) a construção de um pensamento mítico, provavelmente originário dos contatos com povos nativos da Ásia e do
Norte da África.
e) a presença de esforços constantes de predição do futuro, provavelmente oriundos das crenças dos primeiros
habitantes do continente.

14. UFJF 2019 O mapa abaixo informa sobre rotas mercantis que conectavam Europa medieval, Ásia e África, entre os
séculos XI e XII:

(Disponível em: <https://bit.ly/2JexoP>. Acesso em: 31 jul. 2018.)

Considerando-se a natureza e a incidência das rotas indicadas no mapa, é possível concluir que:
a) A Idade Média foi um período marcado por uma economia rural, fechada e pautada pela ausência de trocas
comerciais.
b) A possibilidade de oferta de produtos de luxo oriundos do norte da África e Ásia nas principais cortes europeias
é posterior à expansão marítima do século XV.
c) Cidades como Roma, Paris e Londres são construções modernas e representativas do estilo de vida contempo-
râneo, portanto, sem elos com o mundo pré-capitalista.
d) Durante a Idade Média existia uma circulação de produtos e pessoas, o que favoreceu a formação de redes
mercantis que conectavam diversas cidades.
e) O Mar Mediterrâneo serviu, durante a Idade Média, como barreira geográfica natural, o que favoreceu o isolamento
das diferentes regiões europeias.

15. Famerp 2018 (Adapt.) Leia o texto para responder à questão.


O Ocidente havia conhecido somente três modos de acesso ao poder: o nascimento, o mais importante, a riqueza, muito se-
cundário até o século XIII salvo na Roma Antiga, o sorteio, de alcance limitado entre os cidadãos das cidades gregas da Antiguidade.
(Jacques Le Goff. Os intelectuais na Idade Média, 198. Adaptado.)

O excerto sustenta que o acesso ao poder por meio da riqueza era secundário na Europa Ocidental até o século XIII,
quando
a) as monarquias nacionais sobrepuseram-se aos direitos da nobreza senhorial sobre os seus feudos.
b) o esfacelamento do poder imperial romano transferiu as funções de defesa militar para os burgueses das cidades.
c) os reis absolutistas constituíram seus exércitos com recursos de impostos arrecadados de banqueiros e comerciantes.
d) as atividades comerciais e artesanais produziram novos grupos sociais no interior das cidades medievais.
e) a fragmentação econômica do continente europeu foi substituída por um só padrão monetário.

16. Unesp 2017 Em Aire-sur-la-Lys, em 15 de agosto de 1335, Jean de Picquigny, governador do condado de Artois, permite ao
FRENTE 2

“maior, aos almotacés1 e à comunidade da cidade construir uma torre com um sino especial, por causa do mister da tecelagem e
de outros misteres em que vários operários deslocam-se habitualmente em certas horas do dia”.
Jacques Le Goff. Por uma outra Idade Média, 2013. Adaptado.

1
almotacé: inspetor municipal.

O texto revela
a) a persistência da concepção antiga de emprego do tempo, associada aos ciclos da natureza.

237
b) a persistência da concepção artesanal de em- 18. Enem 2018 A existência em Jerusalém de um hospital vol-
prego do tempo, associada à busca de maior tado para o alojamento e o cuidado dos peregrinos, assim
qualidade. como daqueles entre eles que estavam cansados ou doentes,
c) o surgimento de uma nova concepção de empre- fortaleceu o elo entre a obra de assistência e de caridade e
go do tempo, associada ao exercício do trabalho. a Terra Santa. Ao fazer, em 1113, do Hospital de Jerusalém
d) o surgimento de uma nova concepção de empre- um estabelecimento central da ordem, Pascoal II estimulava
go do tempo, associada à valorização do ócio. a filiação dos hospitalários do Ocidente a ele, sobretudo da-
e) a persistência da concepção eclesiástica de em- queles que estavam ligados à peregrinação na Terra Santa ou
em outro lugar. A militarização do Hospital de Jerusalém não
prego do tempo, associada à ditadura do relógio.
diminuiu a vocação caritativa primitiva, mas a fortaleceu.
DEMURGER, A. Os Cavaleiros de Cristo. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2002
17. FGV-SP 2018 Este documento, do século XIV, encontra- (adaptado).
-se nos arquivos de Assize, na ilha de Ely, na Inglaterra:
Adam Clymne foi preso como insurgente e traidor de seu O acontecimento descrito vincula-se ao fenômeno
juramento e porque traiçoeiramente com outros celebrou ocidental do(a)
uma insurreição em Ely. Penetrando na casa de Thomas a) surgimento do monasticismo guerreiro, ocasiona-
Somenour onde se apossou de diversos documentos e do pelas cruzadas.
papéis selados. E ainda, que o mesmo Adam no momen- b) descentralização do poder eclesiástico, produzi-
to da insurreição, estava andando armado e oferecendo da pelo feudalismo.
armas, levando um estandarte, para reunir insurgentes, c) alastramento da peste bubônica, provocado pela
ordenando que nenhum homem de qualquer condição, expansão comercial.
livre ou não, deveria obedecer ao senhor e prestar os ser- d) afirmação da fraternidade mendicante, estimula-
viços habituais, sob pena de degola. da pela reforma espiritual.
O acima mencionado Adam é culpado de todas as e) criação das faculdades de medicina, promovida
acusações. Pela ordem da justiça, o mesmo Adam foi le- pelo renascimento urbano.
vado e enforcado.
(Leo Huberman. História da riqueza do homem, 2008. Adaptado)
19. UFU 2018 Observe a imagem.
Considerando o documento, é correto armar que, no
século XIV,
a) as violentas revoltas e mortes de camponeses
foram provocadas pelo desespero em não conse-
guir pagar, em dinheiro, aos senhores feudais, as
novas taxas e o aumento das já existentes, além
da exigência de mais tempo de trabalho nas re-
servas senhoriais.
b) as revoltas camponesas aconteceram, tanto na In-
glaterra como na França, contra os cercamentos,
que empobreceram os trabalhadores e os obri-
garam a deixar a terra pelo não pagamento do
aumento dos aluguéis, o que enriqueceu ainda
mais os senhores da terra.
c) a impossibilidade de juntar dinheiro para a com-
pra da terra onde trabalhavam fez com que
muitos camponeses se revoltassem, porque se Pintura medieval de 1411. <http://brasilescola.uol.com.br/oque-e/historia/o-
que-foi-a-peste-negra.htm>
colocaram contra os senhores que aumentaram
os impostos e exigiram o pagamento de novos;
Essa pintura retrata um dos fatores que contribuíram
algo considerado ilegal.
para a derrocada do sistema feudal na Europa Medieval.
d) o recrudescimento da servidão decorria de uma Sobre o contexto abordado, é correto armar que a
nova estrutura econômica presente na Inglaterra, rápida disseminação da peste negra decorreu em
onde as pequenas propriedades rurais e os campos grande parte em função
comunais perdiam espaço para os latifúndios pro- a) da circulação de mercadorias na Europa total-
dutores de matéria-prima para a nascente indústria. mente urbanizada.
e) as insurreições camponesas ocorridas na Ingla- b) do reforço do sistema servil, que debilitou ainda
terra e parte do Norte da Europa decorreram do mais os camponeses.
rápido processo de dissolução dos laços servis c) da crença na ira divina, que dificultava a cura pela
de produção, dirigido por uma nova elite de pro- medicina.
prietários rurais, que detinha forte representação d) do baixo nível nutricional e das precárias condi-
no Parlamento inglês. ções sanitárias dos indivíduos.

238 HISTÓRIA Capítulo 5 A Idade Média na Europa ocidental e o início da primeira modernidade
20. UEL 2018 (Adapt.) Leia o texto, analise a gura a se- e) Devido ao grande número de vítimas da Peste
guir e responda à(s) questão(ões). Negra, a sociedade na Baixa Idade Média se tor-
nou indiferente à morte, entendendo-a apenas
A Peste Negra, ou Morte Negra, era assim chamada
como uma passagem à vida eterna.
porque no seu desenvolvimento provocava hemorragias
subcutâneas, que assumiam uma coloração escura no
momento terminal da doença. A morte dava-se entre três 21. Fac. Albert Einstein 2017 [Na Europa, criaram-se] con-
e sete dias, depois de contraída a patologia, e levava de dições favoráveis para o estudo da Medicina (...). Um fator
75% a 100% dos acometidos. O agente causador da peste decisivo (...) foi a retomada da herança antiga. (...) Em boa
era transmitido pelo rato, por meio das pulgas e sua pene- parte, o Ocidente tomou contato com a herança científica
tração na pele humana causava uma adenite aguda, que clássica graças às culturas bizantina e muçulmana. A partir
recebia o nome de “bubão”, principal sintoma da doença. do século XII foram feitas inúmeras traduções do grego e do
Daí também o nome de peste bubônica. árabe para o latim, um pouco em Veneza (por seus contatos
(SIMONI, K. De peste e literatura: imagens do Decameron de Giovanni Boc- com Bizâncio), um pouco na Sicília (anteriormente ocupa-
caccio. Anuário de Literatura Umbral. Disponível em: <https://periodicos.ufsc. da por bizantinos e islamitas) e sobretudo na Espanha.
br/index.php/literatura/article/viewFile//882>. Acesso em: 2 jun. 201.) FRANCO JR. Hilário. A Idade Média, Nascimento do Ocidente. São Paulo:
Brasiliense, 2001, pp. 18

(...) Ocupei-me então em dominar os vários textos e


comentários sobre as ciências naturais e as metafísicas até
se abrirem para mim todas as portas do saber. Em seguida
desejei estudar medicina e empreendi a leitura de todos
os livros que tinham sido escritos sobre esse assunto. A
medicina não é uma ciência difícil e naturalmente em
muito pouco tempo me distingui nela, de maneira em que
físicos qualificados começaram a ler medicina comigo. (...)
AVICENA, apud. ESPINOSA, Fernanda. Antologia de textos históricos medie-
vais. Lisboa: Livraria Costa Sá da Costa Editora, 192, pp. 119-120.

A partir dos textos, é possível armar que o estudo da


medicina durante a Idade Média Central (séc. XI-XIII)
a) desenvolvia-se na Europa com base em pesquisas
A dança macabra. Xilogravura italiana de 1486. empíricas que visavam confirmar as verdades teo-
(FRANCO JUNIOR, H. A idade Média, nascimento do Ocidente. SP: Brasiliense,
2006. p.w 30.)
lógicas reveladas pelos textos cristãos sagrados,
e seguia para Bizâncio pelas rotas comerciais.
b) baseava-se na tradução para o latim de obras
A Peste Negra, que atingiu a Europa no séc. XIV, es-
antigas chegadas ao Ocidente por intermédio de
palhou o pânico e transformou a maneira como se bizantinos e muçulmanos, e estudos recentes das
concebia a morte. A Dança Macabra, expressão artística mesmas feitos por muçulmanos, como Avicena.
surgida nesse período, representava temas fúnebres e c) realizava-se sob a orientação de mestres bizan-
sombrios, como a decrepitude dos corpos já em forma tinos, que vinham do Oriente ensinar as teorias
cadavérica ou esquelética. Ao chamar a atenção para clássicas apreendidas das obras de filósofos e
a fragilidade e a nitude da vida, sugeria que todos, cientistas gregos como Aristóteles e Hipócrates.
independentemente de sua posição social, haviam de d) destinava-se a proporcionar aos europeus os
compartilhar o mesmo destino. conhecimentos necessários para enfrentar as fre-
Com base na gura, nos textos e nos conhecimentos quentes epidemias nas cidades e nos campos,
sobre a Baixa Idade Média, assinale a alternativa correta. que já tinham sido eliminadas no Oriente.
a) Em uma sociedade dividida em ordens, a Dança
Macabra foi interpretada como uma crítica social 22. Uece 2017 Durante o período medieval, a Igreja Católica,
que nivelava os estamentos em face do fenôme- herdeira das tradições romanas, sobressaiu-se como a
no da morte. mais poderosa instituição e grande baluarte da cultura eu-
b) Na gravura, dois personagens são conduzidos ropeia. À medida que avançava e convertia novos povos
por figuras macabras, revelando que, devido às ao cristianismo, ampliava mais ainda seu poderio espiritual
e material, e fundia a cultura romana com a dos povos
péssimas condições de vida, os camponeses
convertidos. No que se refere ao papel da Igreja Católica
eram os que mais temiam a morte.
na cultura europeia medieval, é correto afirmar que
FRENTE 2

c) Na maioria dos países, a epidemia de Peste Ne- a) a literatura medieval era dominada pelo tema reli-
gra assolou burgos e castelos, mas preservou os gioso imposto pela Igreja Católica; nesse período
camponeses do contágio, por estarem eles isola- não se escreveu sobre nada que não estivesse
dos no campo. no Livro Sagrado.
d) Por viverem nos mosteiros, os membros da Igreja b) a educação formal espalhou-se pela Europa atra-
foram poupados da Peste Negra, reforçando a ima- vés da Igreja Católica, à qual estavam ligadas as
gem do clero como estamento de origem divina. escolas e as universidades medievais.

239
c) a filosofia escolástica nascida nas universidades Está correta, de cima para baixo, a seguinte sequência:
católicas opunha-se à fusão da fé cristã com o a) F, V, V, V. c) V, V, F, F.
pensamento racional humanista. b) V, F, V, F. d) F, F, F, V.
d) apesar de controlar a literatura, as artes plásticas
ficaram livres de qualquer tipo de cerceamento 25. UFSC No final do período moderno, a Europa passou
religioso por parte da Igreja Católica. por profundas mudanças em várias áreas. Nesse con-
texto se insere o movimento cultural conhecido como
23. Fuvest 2017 Renascimento. Em relação a este tema, examine as
proposições abaixo e assinale a(s) CORRETA(S).
 O Renascimento teve início na Península Itálica,
centro de um ativo comércio no Mediterrâneo.
 A burguesia em ascensão nesse período, ávida
por lucros, dedicou-se ao comércio, desprezando
completamente a área cultural.
 Uma das marcas mais significativas do Renascimento
foi o racionalismo, o qual se expressava na convicção
de que tudo poderia ser explicado pela observação
objetiva da natureza e pelo exercício da razão.
 Estão diretamente relacionados ao Renascimento
expoentes como: Leonardo da Vinci, Michelange-
lo Buonarotti, Albert Einstein e Nicolau Copérnico.
Alexander Anievas e Kerem Nisancioglu, How the West Came to Rule. The  O Renascimento foi profundamente antropocêntri-
Geopolitical Origins of Capitalism. Londres: PlutoPress, 2015. Adaptado.
co, por entender que o ser humano era a obra mais
Encontram-se assinaladas no mapa, sobre as frontei- perfeita do Criador. Dessa forma, a arte renascen-
ras dos países atuais, as rotas eurasianas de comércio tista passou a valorizar a realidade da vida humana.
a longa distância que, no início da Idade Moderna, cru-  O Renascimento foi um movimento cultural que se
zavam o Império Otomano, demarcado pelo quadro. limitou às artes plásticas, não atingindo a literatura.
A respeito dessas rotas, das regiões que elas atraves- Soma:
savam e das relações de poder que elas envolviam, é
correto armar que 26. Unesp 2017
a) a China, com baixo grau de desenvolvimento po-
lítico e econômico, era exportadora de produtos
primários para a Europa.
b) a Índia era uma economia fracamente vinculada
ao comércio a longa distância, em vista da pouca
demanda por seus produtos.
c) a Europa, a despeito do poder otomano, exercia
domínio incontestável sobre o conjunto das ativi-
dades comerciais eurasianas.
d) a África Ocidental se encontrava em posição
subordinada ao poderio otomano, funcionando
como sua principal fonte de escravos.
e) o Império Otomano, ao intermediar as trocas a
longa distância, forçou os europeus a buscar ro-
tas alternativas de acesso ao Oriente.

24. Uece 2018 A historiografia recente não aceita mais


uma ideia negativa sobre a Idade Média, porque con-
(Andrea Mantegna. Lamentação sobre o Cristo morto, 1480. Pinacoteca de
sidera essa ideia um juízo de valor do humanismo Brera, Milão.)
renascentista que pretendia ligar-se diretamente ao
pensamento clássico da antiguidade greco-romana. A pintura representa no martírio de Cristo os seguin-
Atente ao que se diz a seguir em relação à Idade Mé- tes princípios culturais do Renascimento italiano:
dia, e assinale com V o que for verdadeiro e com F o a) a imitação das formas artísticas medievais e a ên-
que for falso. fase na natureza espiritual de Cristo.
Nesse período foram extintas algumas línguas e b) a preocupação intensa com a forma artística e a
literaturas. ausência de significado religioso do quadro.
c) a disposição da figura de Cristo em perspectiva
Ocorreu aumento demográco causado por maior
geométrica e o conteúdo realista da composição.
produtividade.
d) a gama variada de cores luminosas e a concep-
Houve dinamismo social impulsionado pelos co- ção otimista de uma humanidade sem pecado.
merciantes e artesãos. e) a idealização do corpo do Salvador e a noção de
Foram criadas as primeiras universidades. uma divindade desvinculada dos dramas humanos.
240 HISTÓRIA Capítulo 5 A Idade Média na Europa ocidental e o início da primeira modernidade
27. Fac. Albert Einstein 2016 Leonardo [da Vinci] analisou a a) A Inquisição proibiu os livros de Nicolau Copérnico,
anatomia humana durante toda sua vida; considerava que relacionando-os ao Index Librorum Prohibitorum,
a natureza havia criado todas as coisas visíveis que pode- por divulgarem a heresia protestante.
riam tornar-se pintura. (...) Escrevendo sobre o horror de
b) Os inquisidores descobriram, nos diálogos entre
cadáveres esquartejados com os quais costumava passar
as personagens do livro de Galileu Galilei, pas-
as noites, Da Vinci diz que de nada lhe serviriam caso não
soubesse também desenhar perfeitamente; a dissecção de sagens em defesa da magia como uma forma
corpos deveria ser acompanhada por um conhecimento legítima de conhecimento do mundo natural, mo-
da perspectiva, dos métodos de demonstração geométrica, tivo para proibição do livro.
do método do cálculo de força e de poder dos músculos. c) O processo contra Galileu foi além de uma ad-
A pintura deveria levar em conta os fenômenos naturais, a moestação, ordenando que abjurasse da teoria
estrutura das coisas, o mecanismo dos corpos. heliocentrista defendida por Copérnico e não a
Teresa Aline Pereira de Queiroz. O renascimento. São Paulo: divulgasse e nem a ensinasse.
Edusp, 199, p. . d) Após o Concílio de Trento, os doutores da Igreja
O texto refere-se a três características centrais do Re- procuraram estabelecer uma atitude de conci-
nascimento cultural dos séculos XV e XVI: liação e diálogo com os filósofos naturalistas e
a) o naturalismo, a rusticidade das representações e matemáticos, com a finalidade de controlar o co-
o simbolismo. nhecimento da Natureza.
b) o abstracionismo, o contraste entre claro e escuro e) O livro de Galileu Galilei foi motivo de escândalo
e a despreocupação com as proporções na re-
e condenação, por submeter a teologia à filosofia
presentação do corpo.
c) o experimentalismo, a pesquisa científica e a valo- natural, questionando os dogmas religiosos e a
rização do homem. verdade revelada pelas Escrituras.
d) o reconhecimento da submissão absoluta do
homem a Deus, o platonismo e a ausência de 30. Fuvest 2018 Tanto no desenvolvimento político como no
perspectiva. científico, o sentimento de funcionamento defeituoso, que
pode levar à crise, é um pré-requisito para a revolução.
28. Unicamp 2015 A primeira lei de Kepler demonstrou que
T. S. Kuhn. A estrutura das revoluções científicas.
os planetas se movem em órbitas elípticas e não circula-
São Paulo: Perspectiva, 1989.
res. A segunda lei mostrou que os planetas não se movem
a uma velocidade constante. Analise as quatro armações seguintes, acerca das
PERRY, Marvin. Civilização Ocidental: uma história concisa. São Paulo: Martins revoluções políticas e cientícas da Época Moderna.
Fontes, 1999, p. 289. (Adaptado) I. A concepção heliocêntrica de Nicolau Copérnico,
É correto armar que as leis de Kepler sustentada na obra Das revoluções das esferas
a) confirmaram as teorias definidas por Copérnico e celestes, de 54, reforçava a doutrina católica
são exemplos do modelo científico que passou a contra os postulados protestantes.
vigorar a partir da Alta Idade Média. II. A Lei da Gravitação Universal, proposta por Isaac
b) confirmaram as teorias defendidas por Ptolomeu
Newton no século XVII, reforçava as radicais pers-
e permitiram a produção das cartas náuticas usa-
das no período do descobrimento da América. pectivas ateístas que haviam pautado as ações
c) são a base do modelo planetário geocêntrico e dos grupos revolucionários na Inglaterra à época
se tornaram as premissas científicas que vigoram da Revolução Puritana.
até hoje. III. Às experiências com eletricidade realizadas por
d) forneceram subsídios para demonstrar o modelo Benjamin Franklin no século XVIII, somou-se sua
planetário heliocêntrico e criticar as posições de- atuação no processo de emancipação política
fendidas pela Igreja naquela época. dos Estados Unidos da América.
IV. Os estudos sobre o oxigênio e sobre a conserva-
29. UFPR 2020 Em 132, o matemático, astrônomo e fi- ção da matéria, feitos por Antoine Lavoisier ao final
lósofo italiano Galileu Galilei (1-12) publicou o
do século XVIII, estavam em consonância com a
Diálogo sobre os dois principais sistemas do mundo,
no qual três personagens, de nomes Sagredo, Salviati racionalização do conhecimento, característica da
e Simplício, debatem sobre a cosmologia copernicana Ilustração.
FRENTE 2

e a cosmologia aristotélica. Ainda no mesmo ano, Gali- Estão corretas apenas as armações
leu foi intimado a comparecer à Congregação do Santo
a) I, II e III.
Ofício em Roma, acusado de defender as ideias de Co-
pérnico, consideradas heréticas pela Igreja. b) II, III e IV.
Considerando o contexto histórico do processo e c) I, III e IV.
da condenação de Galileu Galilei pela Inquisição de d) I e II.
Roma, assinale a alternativa correta. e) III e IV.

241
Texto complementar

Guia Medieval
O que é o Guia Medieval?
Um indexador de materiais didáticos e bibliográficos sobre o período medieval, produzido por especialistas da América Latina. A ideia era
agrupar conteúdos on-line sobre a história medieval, como artigos, livros, conferências e videoaulas. “Constatamos a necessidade de melhor
divulgar a produção científica sobre o período medieval realizada por pesquisadores latino-americanos”, conta Marcelo Cândido, coordenador
do Laboratório de Estudos Medievais (Leme) da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP.
Quem produziu?
Pesquisadores do Laboratório de Estudos Medievais (Leme) da USP. [...]. O financiamento é do Conselho Nacional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico (CNPq), com o apoio da Pró-Reitoria de Pesquisa da USP. A atual equipe do Guia Medieval é formada por 20 pessoas
da comunidade USP, entre professores, pós-doutorandos, doutorandos, mestrandos e alunos de graduação. Há ainda a participação de uma
designer e de um programador.
Como usá-lo?
Quem acessa o site encontra as informações divididas em diferentes categorias, como cronologia, regiões geográficas e temas de pesquisa.
Entre as formas de navegação, há a busca por assuntos de interesse, viagem por séculos ou espaços geográficos. O guia pode ser usado por
pesquisadores e demais interessados em história medieval. Além dos materiais escritos, há conteúdo audiovisual na plataforma, como podcasts
e videoaulas.
O que você encontra no Guia?
Atualmente são 600 documentos entre artigos, livros, podcasts, teses e videoaulas. São informações do século 5 ao 16, mas também há
materiais sobre o pós-Idade Média, como o “Neomedievalismo”. O termo é usado para se referir à interpretação que jogos e séries, como Game
Of Thrones, fazem sobre o período medieval. “É a reflexão sobre que tipo de Idade Média se produz nesse tipo de apropriação”, explicou Thiago
Ribeiro, pesquisador que lidera o projeto do guia
[...]
SANTANA, Crisley. O que você quer saber sobre a Idade Média? Guia da USP ajuda a encontrar. Jornal da USP, 10 dez. 2020. Disponível em:
https://jornal.usp.br/universidade/o-que-voce-quer-saber-sobre-a-idade-media-guia-da-usp-ajuda-a-encontrar/. Acesso em: 28 jul. 2021.

Resumindo
• A relação horizontal de suserania e vassalagem, herdeira, por um lado, do clientelismo romano e, por outro, do comitatus
bárbaro, constituiu em um pacto entre um nobre (o suserano) e outro (o vassalo). Geralmente, o suserano concedia um feudo
ao mais jovem em troca de lealdade e proteção.
• A servidão, herdeira, por um lado, do colonato romano e, por outro, da degradação de camponeses germânicos, consistiu no
fato de o servo, ligado à terra, dever uma série de impostos e obrigações ao senhor feudal. Trata-se de uma relação de tipo
vertical, por envolver ordens distintas.
• Os senhorios, herdeiros, por um lado, dos latifúndios romanos e, por outro, da distribuição de terras dos bárbaros, podem
ser chamados também de “feudos”, embora o feudo nem sempre seja um senhorio. O senhorio, unidade básica do modo de
produção feudal, é constituído pelas terras em que se localizam os servos (manso servil), as terras comuniais (manso comunal)
e as terras senhoriais (manso senhorial).
• A Igreja cristã, se foi, por um lado, o principal aqueduto sobre o qual passavam as reservas do mundo clássico, foi, por outro,
uma instituição que adotou costumes e valores dos povos germânicos. Desse modo, ao longo da Idade Média, processa-se
a cristianização da Europa, o que não se deu de forma homogênea ou inconteste.
• A partir do século IX, os monarcas, por um lado, são considerados sagrados como os últimos imperadores romanos (herança
clássica), mas, por outro, possuem funções práticas reduzidas e se submetem aos aristocratas, como acontecia com os líderes
bárbaros (herança germânica). Por isso, em relação ao que ocorre posteriormente, dizemos que o mundo feudal possui a
soberania “parcelada”, dado que há uma poderosa fragmentação no que diz respeito aos costumes, às línguas, às moedas,
aos impostos e a outros elementos da vida social.
• Perde-se a ideia de um exército unificado, do mundo antigo, os quais são substituídos pelos fragmentados exércitos feudais.
Se, por um lado, os costumes guerreiros bárbaros permanecem, por outro, surge a figura do “cavaleiro de Cristo”, muito forte
em lendas medievais como o Santo Graal, típica mistura cristã-romana-germânica.
• Na Baixa Idade Média, teve início um processo de transformação das Artes e das Letras, ancorado no exemplo clássico, geral-
mente chamado de Renascimento Cultural. O Renascimento teve como protagonistas, em primeiro lugar, os humanistas, isto
é, aqueles que trabalhavam nas universidades valorizando o estudo das humanidades para além do trivium e do quadrivium
medievais, e, em segundo lugar, o trabalho de pintores, escultores e arquitetos, geralmente feito nos ateliês, de acordo com
a noção da corporação de ofício medieval e sob patrocínio dos grandes mecenas.

242 HISTÓRIA Capítulo 5 A Idade Média na Europa Ocidental e o início da primeira modernidade
Quer saber mais?

Livros SOUZA, Laura de Mello e.A feitiçaria na Europa moderna.


BASCHET, Jérôme.A civilização feudal: do ano mil à colo- São Paulo: Ática, 1987.
nização da América. São Paulo: Globo, 2006. O livro traz uma análise geral da feitiçaria na Europa da
Obra do medievalista francês Jérôme Basche que apre- Idade Moderna.
senta uma visão diferente da tradicional sobre a Idade
Podcasts
Média.
Estudos medievais – Mundus 02 - Feudalismo
BURCKHARDT, Jacob. A cultura do Renascimento na Itália: O podcast do Laboratório de Estudos Medievais da USP
um ensaio. São Paulo: Companhia das Letras, 2009. (LEME) recebeu o historiador Diego Spínola para discutir
A obra-prima do historiador suíço Jacob Burckhardt, vol- o surgimento do conceito de feudalismo e sua utilidade
tada a diversos públicos. no estudo do passado medieval.
BURKE, Peter.O Renascimento. Lisboa: Texto & Grafia, 2008. Medievalíssimo – #007
Análise do historiador inglês Peter Burke que rompe com Podcast exclusivamente dedicado aos estudos medievais,
o que normalmente conhecemos sobre o Renascimento coordenado pelo historiador Bruno Rosa. No episódio
Cultural. 7, a professora Claudia Bovo, da Universidade Fede-
ral do Triângulo Mineiro (UFTM), fala da importância de
LE GOFF, Jacques.A civilização do Ocidente medieval.
estudar a Idade Média.
São Paulo: Editora Vozes, 2018.
Obra indispensável para conhecer a Idade Média.

Exercícios complementares

1. Mackenzie 2019 Leia o documento abaixo:


É permitido a qualquer, sem punição, auxiliar o seu senhor, se alguém o ataca, e obedecer-lhe em todos os casos legítimos,
exceto no roubo, no assassinato e naquelas coisas que não são consentidas a ninguém, sendo reconhecidas como infames
pelas leis. O senhor deve proceder da mesma maneira com o conselho e a ajuda; e deve ir em auxílio do seu homem em
todas as vicissitudes, sem malícia. É permitido a todo o senhor convocar o seu homem que deve estar à sua direita no tribu-
nal; e mesmo que seja residente no mais distante mansus de quem o protege, deverá ir ao pleito se o seu senhor o convocar.
Pedrero-Sanchez, M. Guadalupe. História da Idade Média: textos e
testemunhos. São Paulo: Unesp, 1999, p. 95.

O trecho acima foi extraído de um documento inglês do século XI e diz respeito a uma típica relação feudal. A relação
em evidência é a
a) Vassalagem: relação recíproca entre senhores em que fica acordado a proteção por parte do Suserano e o trabalho
nos campos por parte do Vassalo.
b) Servidão: relação vertical entre senhores e camponeses que, uma vez presos à terra, não podem abandonar suas
obrigações nos feudos.
c) Vassalagem: relação horizontal entre senhores a qual cria uma teia de alianças políticas e uma maior descentra-
lização do poder.
d) Servidão: relação entre senhores e servos a qual estabelece um acordo de proteção e ajuda econômica em troca
de terras para o plantio.
e) Vassalagem e Servidão: relações equivalentes entre nobres e servos em que os vassalos asseguram o trabalho
nas terras senhoriais.

2. UFPR 2019 Leia o trecho abaixo, retirado de uma carta escrita entre 830 e 840 pelo aristocrata franco Eginhardo, em
favor de camponeses:
Ao nosso mui querido amigo, o glorioso conde Hatton, Eginhardo, saudação eterna do Senhor. Um dos vossos servos, de
nome Huno, veio à igreja dos santos mártires Marcelino e Pedro pela falta que cometeu contraindo casamento
sem o vosso consentimento [...]. Vimos, pois, solicitar a vossa bondade para que em nosso favor useis de indulgência em
FRENTE 2

relação a este homem, se julgais que a sua falta pode ser perdoada. Desejo-vos boa saúde com a graça do Senhor.
Cartas de Eginhardo. Tradução de Ricardo da Costa. Extratos de documentos medievais sobre o campesinato (sécs. V-XV). Disponível em: <https://www.ricardocos-
ta.com/extratos-de-documentos-medievais-sobre-o-campesinato-secs-v-xv#footnoteref19_nuc8key>. Acesso em 11 de agosto de 2018.

No extrato acima, encontramos elementos da vida social e econômica do período medieval europeu (Alta Idade Mé-
dia). Esse documento insere-se em qual sistema social, político e econômico predominante nesse contexto?

243
a) Feudalismo, caracterizado pela ruralização da economia, pela relação senhorial entre nobres e servos e pela
atuação social e política da Igreja Católica.
b) Mercantilismo, caracterizado pela urbanização da economia, pela relação senhorial entre nobres e camponeses
e pela atuação social e política da Igreja Protestante.
c) Socialismo, caracterizado pela ruralização da economia, pela relação remunerada entre nobres e servos e pela
atuação cultural e política da Igreja Cristã.
d) Mercantilismo, caracterizado pela urbanização da economia, pela relação campesina entre nobres e vassalos e
pela atuação social e política da Igreja Ortodoxa.
e) Feudalismo, caracterizado pela urbanização da economia, pela relação agrária entre o clero e os servos e pela atua-
ção social e cultural da Igreja Cristã.

3. Unesp 2018
Empunhando Durendal, a cortante,
O rei tirou-a da bainha, enxugou-lhe a lâmina
Depois cingiu-a em seu sobrinho Rolando
E então o papa a benzeu.
O rei disse-lhe docemente, rindo:
“Cinjo-te com ela, desejando
Que Deus te dê coragem e ousadia,
Força, vigor e grande bravura
E grande vitória sobre os infiéis.”
E Rolando diz, o coração em júbilo:
“Deus mo conceda, pelo seu digno comando.”
La Chanson d’Aspremont, século XII. Apud Georges Duby. A Europa na Idade Média, 1988.

a) Qual é a cerimônia medieval descrita no texto? Identifique dois versos do texto que contenham elementos religiosos.
b) Qual é a relação entre o rei e Rolando, personagens do poema? O que essa relação representa no contexto do
feudalismo?

4. UEM 2018 Sobre a sociedade feudal europeia, assinale o que for correto.
 No feudalismo havia dois segmentos sociais importantes, e a posse de terra era um critério que os diferenciava.
De um lado, os senhores feudais, que detinham a posse das terras e o controle do trabalho servil; de outro, os
servos, vinculados à terra e sem possibilidades de ascender socialmente.
 As relações entre suseranos e vassalos eram caracterizadas pela reciprocidade, de modo que a concessão de
um feudo (beneficium) pelo suserano gerava, como contrapartida, a fidelidade do vassalo.
 As relações entre senhores e servos eram baseadas na ajuda mútua (recompensa aos agricultores de acordo
com a produtividade), costume que foi introduzido na Europa a partir do século VI pelos muçulmanos.
 Concomitantemente à gênese do feudalismo, ocorreu na Europa a ascensão do cristianismo e sua institucionali-
zação, consolidando-se o poder particularista dos senhores feudais e o poder universal da Igreja.
 O feudalismo tinha por base uma economia agrária, que se voltava para a autossuficiência e que usava moedas
de forma muito restrita.
Soma:

5. UEM 2017 Sobre a ação da Igreja Católica durante a Idade Média, assinale a(s) alternativa(s) correta(s).
 Os anacoretas eram monges que viviam agrupados em comunidades urbanas, no vale do rio Sena, no norte da
França, onde mais tarde foi fundada a cidade de Paris.
 O movimento monástico se desenvolveu nas regiões rurais da Europa, sobretudo a partir do século V, e acolhia,
em suas comunidades, principalmente a população marginalizada socialmente.
 Um dos primeiros reis bárbaros que se converteu à fé cristã foi Clóvis, rei dos francos, no final do século V. Ele foi
o primeiro rei bárbaro a governar com o apoio da Igreja Católica.
 A conversão dos povos pagãos muitas vezes foi acompanhada de atos de extrema violência, como os que ocor-
reram contra os saxões, que se recusavam a aceitar o cristianismo. No final do século VIII, milhares de prisioneiros
saxões foram decapitados por não aceitarem o batismo cristão.
 Carlos Magno foi um dos imperadores europeus que não aceitou a religião católica, motivo pelo qual foi exco-
mungado pelo Papa.
Soma:

244 HISTÓRIA Capítulo 5 A Idade Média na Europa ocidental e o início da primeira modernidade
6. UEL 2018 Leia o texto a seguir.
A casa de Deus, que cremos ser uma, está, pois, dividida em três: uns oram, outros combatem e os outros, enfim, tra-
balham. Essas três partes que coexistem não sofrem com a sua disjunção; os serviços prestados por uma são a condição da
obra das outras duas; e cada uma, por sua vez, se encarrega de aliviar o todo. De modo que essa tripla associação nem por
isso é menos unida, e é assim que a lei tem podido triunfar e que o mundo tem podido gozar de paz.
Adalbéron de Laon (c. 1020). Apud LE GOFF, Jacques. A Civilização do Ocidente Medieval. Lisboa: Estampa, 198. p. -.

Esse texto se refere à Europa cristã medieval como a “casa de Deus”.


A partir de tais informações, aponte o papel da Igreja Católica na criação e na manutenção do chamado Regime Feudal.

7. UPE 2018 Observe a imagem abaixo:

Chronica Maiora II, de Matthew


Paris (séc. XIII). Disponível em:
https://en.wikipedia.org/wiki/Fi-
le:Matthew_Paris_Elephant_from_
Parker_MS_1_fol_11v.jpg.
Acesso em: 10 jul. 201.

Essa imagem representa o famoso Elefante de Cremona, um presente que o Sultão Al-Kamil, do Egito, deu para o
Sacro Imperador Romano-Germânico Frederico II em 1229. Esse fato indica que as relações internacionais nesse
período se caracterizavam
a) por conflitos e diplomacia.
b) pelo isolamento entre muçulmanos e cristãos.
c) unicamente pelas guerras.
d) exclusivamente por trocas comerciais.
e) pelo privativo da corte papal em Roma.

8. UEL 2017 A respeito do período conhecido como Idade Média, durante muito tempo, historiadores e literatos refe-
riam-se a esses séculos como “Idade das Trevas”. Segundo a historiadora Nuncia S. de Oliveira, por mais que se tenha
repensado essas ideias, elas ainda persistem na atualidade. Para a autora,
afinal, quantas vezes não ouvimos críticas àqueles que porventura têm um comportamento fora daqueles tidos
como “civilizados” serem chamados de “bárbaros”? Quantas vezes não encontramos o adjetivo medieval ser usado
para definir comportamentos violentos? Ou ainda, quem nunca ouviu alguém dizer “não vivemos mais na Idade
Média” desejando exaltar a mudança de comportamentos para atitudes “inovadoras” ou “modernas”?
OLIVEIRA, N. S. O estudo da Idade Média em livros didáticos e suas implicações no Ensino de História. Cadernos de Aplicação. n. 1. v. 23. jan/jun. 2010, p.101-12.

A respeito dessas armações que a autora cita, responda aos itens a seguir.
a) Por que se construiu a ideia de Idade Média como a autora coloca?
b) Pode-se ou não contestar essa noção sobre a Idade Média? Justifique sua resposta.

9. Fuvest 2016 No século XII, padres e guerreiros esperavam da dama que, depois de ter sido filha dócil, esposa clemente,
mãe fecunda, ela fornecesse em sua velhice, pelo fervor de sua piedade e pelo rigor de suas renúncias, algum bafio de santi-
dade à casa que a acolhera. Ela, por certo, era dominada. Entretanto, era dotada de um singular poder por esses homens que
FRENTE 2

a temiam, que se tranquilizavam clamando bem alto sua superioridade nativa, que a julgavam, contudo, capaz de curar os
corpos, de salvar as almas, e que se entregavam nas mãos das mulheres para que seus despojos carnais depois de seu último
suspiro fossem convenientemente preparados e sua memória fielmente conservada pelos séculos dos séculos.
Georges Duby, Damas do século XII. Adaptado.

A partir do texto,
a) identifique dois papéis sociais exercidos pelas mulheres na Idade Média;
b) associe as relações entre homens e mulheres à estrutura social na Idade Média.

245
10. Unicamp 2016 Reproduz-se, abaixo, trecho de um sermão do bispo Cesário de Arles (0-2), dirigido a uma pa-
róquia rural.
Vede, irmãos, como quem recorre à Igreja em sua doença obtém a saúde do corpo e a remissão dos pecados. Se é possível,
pois, encontrar este duplo benefício na Igreja, por que há infelizes que se empenham em causar mal a si mesmos, procurando os
mais variados sortilégios: recorrendo a encantadores, a feitiçarias em fontes e árvores, amuletos, charlatães, videntes e adivinhos?
Fonte: http://www.institutosapientia.com.br/site/index.php?option=co_content&view=article&id=139:
sao-cesario-de-arles-sermao-13-parauma-paroquia-rural&catid=28: outros-artigos&Itemid=28.

A partir desse sermão, escrito no sul da atual França, é correto armar que:
a) A Igreja Católica assumia funções espirituais e deixava à nobreza o cuidado da saúde dos camponeses, através
de ordens religiosas e militares.
b) O cristianismo tinha penetrado em todas as categorias sociais e era interpretado da mesma forma através da
autoridade dos bispos.
c) Práticas consideradas menos ortodoxas por Cesário de Arles ainda encontravam espaço em setores da socieda-
de e a elite da Igreja tentava se afirmar como o único acesso ao sagrado.
d) O avanço do materialismo estava afastando da Igreja os camponeses, que, com isto, deixavam de pagar os dízi-
mos eclesiásticos.

11. UEM 2016 As Cruzadas foram expedições de caráter militar e religioso organizadas pela Igreja Católica. O termo
“cruzada” é uma referência aos trajes usados pelos participantes, que traziam em suas vestimentas uma cruz verme-
lha bordada na altura do peito, simbolizando a relação do homem com Deus.
Sobre os objetivos das Cruzadas, assinale o que for correto.
 Isentar os servos do pagamento da corveia (prestação de trabalho gratuito) aos senhores feudais.
 Conquistar os territórios americanos recém-descobertos por Cristóvão Colombo para realizar a catequização das
populações indígenas.
 Expulsar os muçulmanos de Jerusalém, cidade considerada pelos cristãos como Terra Santa, já que foi nesta
cidade que Jesus Cristo foi crucificado e sepultado.
 Restituir a unidade cristã nas terras do Império Bizantino e ampliar o poder, naquela região, da Igreja Católica, já
que estava enfraquecido pela fundação da Igreja Ortodoxa.
 Perseguir os cátaros ou albigenses que viviam em território francês, mas mantinham autonomias política e religiosa.
Soma:

12. UEG 2016 Leia o texto a seguir.


A Cruzada foi fonte de enormes infelicidades, desde a própria época: a tomada de Jerusalém, em 1099, o saque de Cons-
tantinopla em 1204 são páginas vergonhosas da história do Ocidente Cristão [...]. É claro que a Cruzada foi muito importante
para a identidade da cristandade: um tal projeto une uma comunidade, dá-lhe uma unidade.
LE GOFF, Jacques. Uma longa Idade Média. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2008. p. 101–102.

Quando, no século XI, o papa Urbano II convocou a Primeira Grande Cruzada ao Oriente, usou como justicativa para
tamanha movimentação de tropas e recursos o projeto de
a) reafirmar a universalidade da fé católica, ameaçada pelas conversões em massa dos cristãos do Oriente ao islamismo.
b) reunificar os Impérios Romano do Oriente e do Ocidente, separados desde o Édito de Tessalônica de 5.
c) retomar a posse de reinos cristãos ibéricos ocupados por muçulmanos, num projeto militar chamado de Reconquista.
d) defender os cristãos do Oriente e a retomada dos “lugares santos” que estavam em posse dos muçulmanos.
e) punir os cavaleiros cristãos que desobedeciam a Paz e a Trégua de Deus, enviando-os em missão suicida ao Oriente.

13. Unicamp 2018 A ideia de que a demanda de especiarias resultava da necessidade de disfarçar o gosto da carne e do peixe
putrefatos é um dos grandes mitos da história da alimentação. Na Europa medieval, os alimentos frescos eram mais frescos que
os atuais, pois provinham da produção local. Os alimentos em conserva mantinham-se em salga, curtição, dessecação ou gor-
dura, assim como hoje em dia são enlatados, refrigerados, liofilizados ou embalados a vácuo. De qualquer forma, os aspectos
determinantes do papel desempenhado pelas especiarias na gastronomia eram o gosto e a cultura. A cozinha muito temperada
com especiarias era objeto de desejo por ser cara e por “condimentar” a posição social dos ricos e as aspirações de quem
ambicionava sê-lo. Além disso, a moda gastronômica predominante na baixa Idade Média europeia imitava as receitas árabes,
que exigiam sabores doces e ingredientes fragrantes: leite de amêndoa, extratos de flores aromáticas e outras iguarias orientais.
Adaptado de Felipe Armesto-Fernández, 1492: o ano em que o mundo começou. São Paulo: Companhia das Letras, 201, p. 2.

A partir do texto acima e de seus conhecimentos históricos:


a) defina o que são as especiarias e explique seu significado social na Europa medieval.
b) explique como era feito o comércio de especiarias na baixa Idade Média.

246 HISTÓRIA Capítulo 5 A Idade Média na Europa ocidental e o início da primeira modernidade
14. Unesp Era uma doença exótica, contra a qual os organismos dos europeus não tinham defesas. Veio da Ásia pela rota da
seda. Veja: a epidemia, essa catástrofe, é, portanto, também um dos efeitos do progresso, do crescimento.
Georges Duby. Ano 1000, ano 2000. Na pista de nossos medos, 1998.

O texto refere-se à peste que atingiu a Europa no século XIV. Indique dois fatores, além da falta de defesa dos organismos
dos europeus, que ajudaram na propagação da doença, e explique a associação, feita pelo texto, da peste com o progresso.

15. UFSC Na Idade Média, entre os séculos XII e XV, verificou-se uma ascensão da economia europeia. No entanto,
dentro desse período, em meados do século XIV, ocorreu uma significativa retração econômica. Em relação a este
assunto, é CORRETO afirmar que:
 a crise econômica verificada em meados do século XIV se deveu às Cruzadas, movimento religioso que deslocou
milhares de homens em idade produtiva rumo ao Oriente Médio.
 a Peste Negra acarretou uma drástica diminuição da população, com reflexos diretos na economia.
 tudo indica que a Peste Negra originou-se no Oriente, matando mais de um terço da população europeia.
 a crise econômica gerada pela Peste Negra foi o marco decisivo para o fim do sistema feudal.
 como forma de fugir da Europa infectada pela Peste Negra, milhares de europeus se dispuseram a seguir as Cruza-
das para libertar Jerusalém sitiada.
 a ascensão econômica entre os séculos XII e XV foi uma realidade exclusiva dos países ibéricos, em função das
grandes navegações lá iniciadas.
Soma:

16. UFPR 2015 Sobre Joana D’Arc, o historiador Jules Michelet escreveu:
Pela primeira vez, sente-se, a França é amada como uma pessoa, e ela torna-se tal desde o dia em que a amam. Até ali era uma
reunião de províncias, um vasto caos feudal, um país imenso, de ideia vaga. Mas desde esse dia, pela força do coração é uma pátria.
MICHELET, Jules. Joana D' Arc. São Paulo: Fulgor, 19, p. 1.

Comente esse excerto, explicando as consequências da Guerra dos Cem Anos (133-13) para a França e para o
sistema feudal.

17. Unesp [Na Idade Média], chamava-se ‘lepra’ a muitas doenças. Toda erupção pustulenta, a escarlatina, por exemplo,
qualquer afecção cutânea passava por lepra. Ora, havia, com relação à lepra, um terror sagrado: os homens daquele tempo
estavam persuadidos de que no corpo reflete-se a podridão da alma. O leproso era, só por sua aparência corporal, um pe-
cador. Desagradara a Deus e seu pecado purgava através dos poros.
Georges Duby. Ano 1000 Ano 2000. Na pista de nossos medos. São Paulo: Unesp, 1998.

O texto mostra a associação entre doença e religião na Idade Média. Isso ocorre porque os homens do período
a) abandonaram o conhecimento científico, acumulado na Antiguidade, sobre saúde e doença; daí a época medie-
val ser apropriadamente chamada de “era das trevas”.
b) recusavam-se a admitir que as condições de higiene então existentes fossem inadequadas e preferiam criar
explicações astrológicas para os males que os afligiam.
c) estigmatizavam os portadores de doenças e os isolavam, ao contrário do que ocorre hoje, quando todos os do-
entes são aceitos no convívio social e recebem tratamento adequado.
d) eram marcados pelo imaginário cristão, que apresentava o mundo como um espaço de conflito ininterrupto
entre forças divinas e forças demoníacas.
e) rejeitavam a medicina, pois a associavam a práticas mágicas e a curandeirismo, preferindo recorrer a exorcistas a
aceitar os tratamentos prescritos nos hospitais.

18. UFRGS 2015 Considere as seguintes afirmações acerca das relações entre o Oriente e o Ocidente no mundo medieval.
I. Uma das causas da queda do Império Romano do Ocidente foi a expansão do islamismo pelo território da Europa
ocidental.
II. A cultura árabe legou para as sociedades europeias estudos sobre autores como Platão e Aristóteles, estabele-
FRENTE 2

cendo um elo entre o mundo antigo pagão e o mundo moderno cristão.


III. A Península Ibérica foi profundamente marcada pela presença muçulmana, que se estendeu entre os séculos VIII
e XV, produzindo reflexos na cultura lusitana e hispânica.
Quais estão corretas?
a) Apenas I. d) Apenas II e III.
b) Apenas II. e) I, II e III.
c) Apenas I e III.

247
19. UFSC 2015 Sobre o período conhecido como Idade Média, é CORRETO afirmar que:
 o romance de cavalaria foi um gênero literário que divulgou ideias de amor cortês.
 a peste negra foi uma doença que teve graves consequências para a sociedade medieval, dizimando parte da
população europeia.
 as universidades criadas no período tiveram importante papel no desenvolvimento da cultura e do ensino no
Ocidente.
 a formação das corporações de ofício está relacionada à efervescência comercial da Europa no início da Idade Média.
 várias dissidências da Igreja surgiram no período, como foi o caso dos cátaros. Devido ao acolhimento à diversi-
dade defendido pela Igreja, as comunidades cátaras puderam ser mantidas.
 o cristianismo difundido pela Igreja penetrou de tal maneira em todas as camadas da sociedade medieval que foi
capaz de anular as crenças pagãs de origem antiga.
 as ordens mendicantes foram criadas por uma parcela do clero medieval que defendia o conceito de usura e
estimulava o acúmulo de bens e lucro.
Soma:

20. Unicamp 2015 Guerreiros a pé e cavaleiros fizeram um caminho através dos cadáveres. Mas tudo isso ainda era pouca
coisa. Fomos ao Templo de Salomão, onde os sarracenos tinham o costume de celebrar seus cultos. O que se passou
nestes lugares? Se dissermos a verdade, ultrapassaremos o limite do que é possível crer. Será suficiente dizer que, no
Templo e no pórtico de Salomão, cavalgava-se em sangue até os joelhos dos cavaleiros e até o arreio dos cavalos. Justo e
admirável julgamento de Deus, que quis que este lugar recebesse o sangue daqueles que blasfemaram contra Ele durante
tanto tempo.
Raymond d’Aguiller, Historia Francorum qui ceperunt Jerusalem. http://www.fordham.edu/halsall/source/raymond-cde.asp#jerusalem2.
Acessado em 01/10/201.

O texto acima se refere à Primeira Cruzada (109-1099). Responda às questões abaixo.


a) Identifique um motivo econômico e um motivo político para o movimento das Cruzadas.
b) Que grupo social liderou esse movimento e como o cronista citado identifica o apoio de Deus ao empreendi-
mento cruzadístico?

21. Mackenzie 2015 Durante o século XV, a Europa experimentou o início de uma expansão marítima, que é um marco
no início da europeização do mundo. Entre os motivos que levaram os portugueses a buscarem a Expansão Marítima,
podemos apontar
a) a queda de Constantinopla para o império turco otomano, em 45, levando os países católicos a buscarem um
novo caminho que os conduzissem à Terra Santa.
b) o crescimento da circulação monetária e a consequente estabilização dos preços, na época, permitindo o acú-
mulo de que passou a ser investido nas empreitadas marítimas.
c) o fortalecimento do poder dos monarcas europeus, que passaram a governar em caráter absolutista e centraliza-
ram todas as decisões do Estado em suas mãos.
d) a consolidação do sistema de manufaturas controladas pelas grandes corporações de ofício, que passaram a
financiar a Expansão Marítima em busca de novos mercados consumidores.
e) a necessidade da expansão comercial, que aumentaria os poderes do rei, manteria os privilégios da nobreza e
elevaria os lucros da burguesia, pois o controle comercial do Mediterrâneo pertencia aos italianos.

22. Uepa 2014 Produzir e divulgar livros em Portugal, no século XV, estava longe de ser uma tarefa tranquila. Em 1451, no
mesmo ano em que Johannes Gutenberg (1400-1468) revolucionava a Europa com a prensa mecânica, o rei Afonso V (1432-
1481) promulgava um alvará mandando queimar livros falsos ou heréticos, difundidos ainda como manuscritos. Foi sob este
clima de forte repressão cultural que o país adotou a tipografia, por volta de 1490. Durante o reinado de D. Manuel I, entre
1495 e 1521, o ofício ganhou impulso, graças à ação empreendedora de Valentin Fernandes, um alemão de nome lusitano.
Essa expansão, porém, não significou o fim da repressão.
ZILBERMAN, Regina. “Letras entre a cruz e a espada”. In: Revista História. Ano 2, nº 19, 200, p. 8.

A censura à publicação de livros no Império Português do século XVI, no contexto de expansão da arte tipográca
na Europa, se explica pelo fato de(a):
a) difusão das ideias humanistas através de obras de grande tiragem produzidas por escritores renascentistas por-
tugueses como Luís de Camões e Gil Vicente, ferozes opositores da doutrina católica.
b) preocupação geopolítica de controlar a difusão de ideias religiosas e políticas nas colônias americanas, de modo
a conter a notória expansão religiosa protestante na América Portuguesa, como ocorreu com a instalação da
França Antártica.
c) criação da tipografia ser avaliada pelo Tribunal do Santo Ofício como uma ameaça ao domínio ideo-
lógico católico na Península Ibérica, já abalado pela forte presença religiosa islâmica.

248 HISTÓRIA Capítulo 5 A Idade Média na Europa ocidental e o início da primeira modernidade
d) nova tecnologia ser vista pelo estado português de forma ambivalente: tanto como revolução cultural quanto
como instrumento de subversão dos princípios morais da sociedade civil e religiosa.
e) invenção dos tipos móveis ter sido feita por um alemão protestante, o que assinalava o perigo do domínio po-
lítico-religioso alemão da nova tecnologia, num contexto de disputa por espaços coloniais entre as potências
europeias.

23. UFPR 2020 Considere o trecho abaixo:


Se numa conversa com homens medievais utilizássemos a expressão “Idade Média”, eles não teriam ideia do que es-
taríamos falando. Como todos os homens de todos os períodos históricos, eles viam-se na época contemporânea. De fato,
falarmos em Idade Antiga ou Média representa uma rotulação a posteriori, uma satisfação da necessidade de se dar nome
aos momentos passados. No caso do que chamamos de Idade Média, foi o século XVI que elaborou tal conceito. Ou melhor,
tal preconceito, pois o termo expressava um desprezo indisfarçado em relação aos séculos localizados entre a Antiguidade
Clássica e o próprio século XVI. Este se via como o renascimento da civilização greco-latina, e, portanto, tudo que estivera
entre aqueles picos de criatividade artístico-literária (de seu próprio ponto de vista, é claro) não passara de um hiato, de um
intervalo. Logo, de um tempo intermediário, de uma idade média.
FRANCO JÚNIOR, Hilário. A Idade Média, Nascimento do Ocidente (2. ed.). São Paulo: Editora Brasiliense, 2001, p. 9. Retirado de: Chrome extension://oemmndcbl-
dboiebfnladdacbdfmadadm/http://www.letras.ufrj.br/veralima/historia_arte/Hilario-Franco-Jr-A-Idade-Media-PDF.pdf. Acesso em: 18/09/2019.

a) Aponte três críticas realizadas pelo Renascimento ao modo de organização política, econômica e cultural do
período que denominamos hoje como medieval.
b) Indique três características econômicas presentes na Idade Média.

24. UFSC 2019 A imagem a seguir, conhecida como o Homem vitruviano (192), foi desenhada por Leonardo
da Vinci (12-119) e é acompanhada por diversas notas sobre anatomia. A obra pertence aos estudos de da Vinci
dedicados à representação do corpo humano, uma preocupação essencial dos artistas do Renascimento.

Imagem: Alegoria da Primavera de Sandro


Botticelli, c. 1482. Galeria Uffizi,
Florença, Itália. Têmpera sobre madeira,
205 cm x 314 cm.

As mudanças resultantes do movimento renascentista causaram impactos em diversas áreas da sociedade europeia
e mundial. As artes, a literatura, as ciências e a medicina foram amplamente afetadas pelas mudanças conceituais
FRENTE 2

proporcionadas pelos rumos do Renascimento. Muitos artistas e estudiosos do período, como Leonardo da Vinci,
eram italianos e desenvolveram suas obras e pesquisas nas cidades italianas.
a) Por que a Península Itálica é reconhecida como o “Berço do Renascimento”? Apresente duas razões e justifique-as.
b) No centro dos ideais renascentistas estavam alguns conceitos considerados fundamentais, dois dos quais são
citados abaixo. Defina-os:
1. Antropocentrismo:
2. Racionalismo:

249
25. Unesp 2013 Podemos afirmar que as obras A divina comédia, escrita por Dante Alighieri no início do século XIV, e
Dom Quixote, escrita por Miguel de Cervantes no início do século XVII,
a) parodiaram as novelas de cavalaria e defenderam a hegemonia da Igreja Católica e da aristocracia, respectiva-
mente.
b) derivaram de registros orais e foram apenas organizadas e sistematizadas na escrita de seus autores.
c) contribuíram para a unificação e o estabelecimento da forma moderna dos idiomas italiano e espanhol.
d) assumiram forte conotação anticlerical e intensificaram as críticas renascentistas à conduta e ao poder da Igreja
Católica.
e) retrataram o imaginário da burguesia comercial ascendente na Itália e na Espanha do final da Idade Média.

26. FGV-RJ 2015 Observe atentamente a imagem abaixo e responda às questões propostas.

Imagem: Alegoria da Primavera


de Sandro Botticelli, c. 182.
Galeria Uffizi, Florença, Itália.
Têmpera sobre madeira,
20 cm x 31 cm.
a) Aponte duas características da pintura que permitam identificá-la com o movimento cultural conhecido como
Renascimento.
b) Explique por que o Renascimento pode ser associado ao processo de transição da Idade Média para a Idade
Moderna.

27. UFJF 2015 Observe as seguintes figuras e leia o texto a seguir:

Os quatro evangelistas, iluminura de 820, Catedral de Rafael: Madonna Cowper, 1504/1505. National Figura3: Michelangelo: David,
Aachen, Alemanha. Gallery of Art, Washington. 1504. Galleria dell’Accademia.
Fonte: Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Arte_ Fonte: Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/ Fonte: Disponível em: <https://pt.wi-
carol%C3%ADngia>. Acesso em:  ago. 201. wiki/Renascimento>. Acesso em:  ago. 201. kipedia.org/wiki/Renasci mento>.
Acesso em:  ago. 201.

250 HISTÓRIA Capítulo 5 A Idade Média na Europa ocidental e o início da primeira modernidade
No nal da Idade Média, a Europa Ocidental passou por transformações sociais, políticas e econômicas relacionadas
ao desenvolvimento do comércio e das cidades. E, no âmbito da cultura, as cidades italianas constituíam um ambiente
propício para a consolidação de um movimento de transformação cultural, o chamado Renascimento.
a) Disserte sobre uma transformação socioeconômica que possibilitou a afirmação da cultura renascentista na
Península Itálica.
b) Cite e analise um aspecto da cultura renascentista que entrava em conflito com os ensinamentos da Igreja.
c) Analise um aspecto do Renascimento no âmbito das artes.

28. UEPB 2014 Das universidades medievais italianas surgiram duas práticas culturais que teriam impacto na formação de
estudiosos: o estudo vernacular, a língua própria de um lugar, e a prática da retórica (...). Os letrados italianos, como Petrar-
ca e Leonardo Bruni, defendiam o uso do próprio idioma para se expressar, e não a língua oficial da cristandade, o latim.
A utilização de uma língua própria estimulava a adoção de expressões da particularidade de cada local, criando um estilo
próprio e negando a padronização feita por outros (...). A retórica tinha a função de educar e persuadir. O ato de estudar e
debater levava à reformulação dos pensamentos e à capacidade de expressar ideias publicamente.
José A. de Freitas Neto e Célio Ricardo Tasinafo. História Geral e do Brasil. SP. Editora Habra. p. 18.

O texto oferece subsídios para compreensão:


a) Do liberalismo
b) Do medievalismo
c) Do catolicismo
d) Do culturalismo
e) Do humanismo

29. Fuvest 2016 O grande mérito do sábio toscano estava exatamente na apresentação de suas conclusões na forma de “leis”
matemáticas do mundo natural. Ele não apenas defendia que o mundo era governado por essas “leis”, como também apre-
sentava as que havia “descoberto” em suas investigações.
Carlos Z. Camenietzki, Galileu em sua órbita. 01/02/201. www.revistadehistoria.com.br.

Considerando que o texto se refere a Galileu Galilei (1-12),


a) identifique uma das “leis” do mundo natural proposta por ele;
b) indique dois dos principais motivos pelos quais ele foi julgado pelo Tribunal da Inquisição.

30. UFG 2013 Leia a citação a seguir.


Mago designa um homem que alia o saber ao poder de agir para a criação de mundos desejáveis.
BRUNO, Giordano. Tratado da magia, 191. Apud JOB, Nelson. Ontologias em devir: confluências entre magia e ciência.
Disponível em: <www.hcte.ufrj.br/downloads/sh/sh3/trabalhos/NelsonJob.pdf>. Acesso em: 1 nov. 2012.

Tal como demonstra a citação de Giordano Bruno, sentenciado pela Inquisição à morte na fogueira, a magia desper-
tava o interesse de pensadores e cientistas que estudavam as formas de intervir nas forças da natureza, no período
entre os séculos XV e XVI. Com base no exposto,
a) explique como a citação de Giordano Bruno contraria os princípios que sustentaram a ação da Inquisição;
b) relacione a citação de Giordano Bruno aos valores renascentistas sobre o conhecimento humano.

BNCC em foco
EM13CHS105

1.










EM13CHS401

2.

a)

b)
c)
d)

e)

EM13CHS101
3.
Aquele que jura fidelidade ao seu senhor deve ter sempre presente estas seis palavras: incólume, seguro, honesto, útil,
fácil e possível. Incólume, na medida em que não deve causar prejuízos corpóreos ao seu senhor; seguro, para que não
traia os seus segredos ou armas pelas quais ele se possa manter em segurança; honesto, para que não enfraqueça os seus
direitos de justiça ou outras matérias que pertençam a sua honra; útil, para que não cause prejuízo às suas possessões; fácil
ou possível, visto que não deverá tornar impossível ao seu senhor o que facilmente poderia fazer...

a)
b)

HISTÓRIA Capítulo 5 A Idade Média na Europa ocidental e o início da primeira modernidade


Gabarito
4. C 13. A
Frente 1
5. E 14. B
Capítulo 1 – A formação dos impérios ibéricos
6. A
15. D
Revisando
7. C
1. C 3. D 16. B
8. C
2. B 4. D 17. A
9. Soma: 04 + 16 = 20
5. a) A prática econômica é o mercantilismo. 18. A
10. A
b) O principal objetivo da prática era o de garantir que nada
11. D 19. B
saísse ou entrasse “em Espanha sem o consentimento de um
governo muito desconfiado, tenaz em vigiar as entradas e as
12. D 20. B
saídas de metais preciosos”.

c) O fecho era imperfeito porque os carregamentos de metais


Exercícios complementares
preciosos sofriam ataques de outras Coroas que, sem a disponi- 1. a) A “Reconquista” foi o processo de expulsão dos muçulma-
bilidade desses metais, via nos carregamentos espanhóis suas nos da península Ibérica, sob as armas dos reinos cristãos
“Índias”, que eram imaginadas como terras repletas de riquezas. setentrionais. Tal empreendimento religioso-militar encer-
rou-se no ano de 1492, com a tomada de Granada pelo
6. A
exército espanhol.
7. A Reconquista ocorreu quando a Igreja Católica começou a ver o
b) A formação dos Estados Nacionais na península Ibérica deu-
islã como ameaça, criando uma guerra em duas frentes: uma para
-se mediante um duplo movimento: de combate ao “infiel
conquistar novos fiéis; e uma para retomar os territórios ocupados
muçulmano” e de confronto interno entre os diversos reinos
por exércitos muçulmanos. A guerra deixou, nesse momento, de
ser feita em nome de um nobre ou rei, e passou a ser feita em cristãos rivais. Esse último aspecto indica a existência de in-
nome de Deus. Tornada uma marca profunda na história da Espa- teresses políticos contrastantes, além da presença dos mais
nha e de Portugal, a Guerra de “Reconquista” uniu os fatores que variados particularismos e identidades regionais. Sendo as-
abriram caminho para as Cruzadas. Portanto, em linhas gerais, é sim, a atribuição de um significado transcendente  Batalha de
predecessora das Cruzadas. Covadonga, por parte do clero das Astúrias, deve ser entendi-
da como uma “luta dos habitantes locais por sua autonomia”.
8. Entre os séculos VIII e XVI houve a perseguição de judeus e mu-
çulmanos por parte dos reinos católicos, que ofereciam a esses 2. B 4. A
povos duas opções: a conversão ou a expulsão. Aqueles que se
convertiam eram considerados “cristãos-novos”, e perdiam muitos 3. A 5. B
direitos possuídos por cidadãos cristãos, além de sofrerem seve-
ras punições caso fossem acusados de prática da antiga fé. 6. O Império Romano aceitava a existência de várias crenças reli-
giosas nos territórios conquistados, com a condição de que fosse
9. C mantida lealdade a Roma. Os cristãos foram perseguidos por não
aceitarem a existência de mais religiões e por não serem fiéis a
10. O modo de produção feudal era sobretudo pautado pela subsis- Roma, pois acreditavam em um único Deus, que estaria acima de
tência. Com plantações rotativas e, por vezes, sementes de má tudo e todos. Os ibéricos, entretanto, impuseram o cristianismo s
qualidade, a agricultura medieval era marcada por um baixo de- populações de seus impérios (original e dominada).
sempenho produtivo que limitava a ocorrência das trocas naturais
e do comércio. O sistema mercantilista, por sua vez, era o nome 7. B
dado  junção de diversas práticas econômicas, como o metalis-
mo, pela intervenção do estado na economia, pelo protecionismo, 8. a) Os mouros, como na época eram chamados os muçulmanos,
pelo estabelecimento de monopólios e pela expansão marítima. invadiram e dominaram a península Ibérica no século VIII. No
Todas essas características contribuíram para as Grandes Navega- século X, os cristãos refugiados na região das Astúrias iniciaram
ções. A adoção do metalismo levou  busca de metais preciosos, uma longa guerra visando  expulsão dos mouros, que ficou
encontrados em terras distantes; a intervenção estatal foi impor- conhecida como a Reconquista. O avanço da Reconquista, nos
tante por ter na figura da Coroa, dentre outros, o financiamento séculos XI e XII, fez surgir, na península Ibérica, vários pequenos
para as explorações e navegações; e a necessidade de expansão reinos cristãos, entre eles o Condado Portucalense, entregue
marítima para a busca de metais como um impulso ainda maior. a D. Henrique de Borgonha como prêmio por sua participação na
guerra, que se estendeu ainda por um longo período. Esse con-
dado originou, no século XII, o reino independente de Portugal.
Exercícios propostos
A segunda parte da canção conta como, no século XV, os portu-
1. A relação entre o cristianismo e a formação dos reinos ibéricos gueses realizaram uma série de navegações, por meio das quais
é profunda. Habitada por muçulmanos desde o século VIII, a exploraram a costa da África e a da Ásia e chegaram  América,
península Ibérica foi palco da Guerra de Reconquista, cuja fun- apontando quatro consequências dessas expedições.
damentação era religiosa: os cristãos europeus entendiam que a
península era uma possessão dos visigodos invadida pelo islã, daí b) Os versos “Atravessei / a Tormenta, a Esperança” sugerem a
a ideia de reconquistar o que lhes pertencia por direito e lutar pela descoberta de um caminho marítimo para as Índias. Os versos
verdadeira fé. Portanto, a Reconquista foi movida pelo cristianis- “até onde o sonho alcança / minha Fé pude cravar” sugerem
mo, e seus resultados contribuíram para a formação dos reinos de a divulgação da fé católica nas colônias portuguesas. Por sua
Espanha e Portugal. vez, os versos “Rasguei as lendas / do Oceano Tenebroso”
sugerem a derrubada de vários mitos e lendas sobre os peri-
2. B 3. C gos da navegação oceânica, como a existência de monstros

253
marinhos e abismos. Por fim, os versos “para El Rey, o Glorio- BNCC em foco
so, / não há mais trevas no mar”sugerem o estabelecimento da
primazia da Coroa portuguesa sobre importantes rotas maríti- 1. Um modo de desconstruir o discurso de apropriação do passado cria-
mas no início da Idade Moderna. do no século XIX por meio da narrativa histórica é relembrar que não
existe uma ideia de destino ou imutabilidade na história. As condições
9. A e os fatores que levaram  Guerra de Reconquista e  formação dos
reinos de Portugal e Espanha são totalmente distintos da realidade
10. a) As especiarias eram produtos de origem vegetal, como cravo, de Portugal quando da ascensão dos nacionalismos, a partir do sé-
canela e pimenta, considerados exóticos e muito apreciados culo XIX. A narrativa histórica também ajuda a quebrar a ideia de que
na Europa justamente por serem trazidos de terras distantes, um único povo teria direito quela terra, por ter se estabelecido nela há
como as Índias. Como o enunciado destaca, essas merca- eras. A história da humanidade é composta de migrações e contatos,
dorias eram caras e, portanto, apenas os mais ricos podiam portanto ideias como pureza geográfica e racial não se sustentam..
adquiri-las, reforçando a sua posição social.
2. O termo “Reconquista” é fruto da ideia de que a península Ibérica
b) O comércio de especiarias na Europa cresceu a partir das pertenceria  cristandade europeia, herdeira do Império Romano,
Cruzadas, com a intensificação do comércio pelo mar Me- e deveria ser retomada das mãos dos invasores muçulmanos.
diterrâneo durante a Baixa Idade Média. Surgiram em várias O uso desse termo é problemático por várias razões: por legitimar a
partes da Europa feiras e rotas comerciais marítimas, fluviais e ideia de a península ter sido de fato invadida e conquistada, quan-
terrestres. As especiarias eram obtidas por meio de rotas que do a historiografia mais recente percebe o movimento dos árabes
como migrações; por dar a entender que a península pertencia
ligavam a Ásia ao Mediterrâneo. Os mercadores das cidades
 cristandade; e por criar uma fronteira cultural entre muçulmanos
italianas, por exemplo, compravam as especiarias de Constan-
e cristãos que, na prática, não existiu.
tinopla e as revendiam em outras áreas da Europa.
3. Ao misturar a ideia de pertencimento territorial e a luta por uma
11. O mercantilismo era caracterizado pela busca de uma balança
causa maior, como Deus, a Guerra de Reconquista resultou em
comercial que mais exportasse do que importasse e pelo prote-
uma fusão de referências culturais e na ascensão de personagens
cionismo econômico.
históricos que moldaram a forma como a população se reconhe-
cia enquanto habitante do Reino de Espanha e como entendia sua
12. B
história. Também influencia pela negação de identidades, ao retirar
13. a) Portugal era favorecido por aspectos como: posição geográfi- muçulmanos e judeus do convívio social (e do país) até que se con-
ca; paz interna, fruto de relativa estabilidade política; formação vertessem ao cristianismo. Desse modo, a Guerra de Reconquista é
e reunião de navegadores, matemáticos, geógrafos e astrôno- a base de vários modos de pensar a Espanha e os espanhóis, nos
mos; tradição marítima e pioneirismo na formação do Estado diversos períodos históricos subsequentes, até os dias atuais.
Nacional Moderno.

b) Metalismo: acumulação de metais preciosos dentro do ter- Capítulo 2 – A formação das estruturas
ritório nacional. Identificação entre a riqueza de um país e coloniais
a quantidade de moedas em circulação no seu território.
Protecionismo: direito exclusivo dos governos sobre a co- Revisando
mercialização de certos produtos em todos os seus domínios,
principalmente nas colônias (pacto colonial). Imposição de bar- 1. E 6. Soma: 01 + 08 + 16 = 25
reiras tarifárias aos produtos estrangeiros. Balança comercial
favorável: volume de exportações superior ao de importações. 2. Soma: 01 + 04 + 08 = 13 7. E
Estímulo  produção manufatureira e diminuição das importa-
ções. Posse de colônias de exploração como forma de garantir 3. C 8. C
a balança comercial favorável. Colonialismo: conquista e domí-
4. C 9. D
nio de territórios ultramarinos. A colônia como uma economia
complementar  metrópole, com produção totalmente voltada 5. E 10. C
 exportação.
Exercícios propostos
14. C
1. D 13. D
15. A expansão marítima portuguesa foi um dos principais episódios
da ambígua transição da Idade Média para a Idade Moderna, épo- 2. C 14. A
ca em que a cultura europeia estabelece as bases do pensamento
cientifico, ao mesmo tempo que mantinha uma forte carga de re- 3. B 15. D
ligiosidade (“Deus quer, o homem sonha, a obra nasce”). Nesse
contexto de transformações materiais e espirituais, assistimos ao 4. E 16. D
prenúncio da integração econômica mundial (“Deus quis que a ter-
ra fosse toda uma”) e a constatação empírica da esfericidade da 5. B 17. A
Terra (“Surgir, redonda, do azul profundo”). Por fim, temos a conco-
6. B 18. B
mitância entre o apogeu das conquistas navais lusitanas e o início
da decadência do seu poderio político-econômico (“Cumpriu-se o 7. A 19. E
Mar, e o Império se desfez”).
8. E 20. D
16. Era dever do Estado, representado pelo rei, coordenar medidas
econômicas, de cunhos técnico e militar, para a realização das via- 9. E 21. C
gens ultramarinas e, como consequência, a exploração mercantil
nas colônias conquistadas. 10. C 22. A

17. A 19. C 11. Soma: 02 + 04 + 08 + 16 = 30 23. C

18. B 20. B 12. Soma: 02 + 08 + 16 = 26 24. C

254 HISTÓRIA Gabarito


25. B 37. Soma: 04 + 08 = 12 b) A finalidade econômica da colonização portuguesa era a de
produzir açúcar e encontrar metais preciosos como prata e
26. B 38. C ouro para que fossem extraídos e comercializados.

27. E 39. Soma: 02 + 04 + 08 + 16 = 30


6. Os indígenas eram os habitantes do continente americano antes
40. Soma: 02 + 04 + 16 = 22 da chegada dos europeus e da subsequente colonização no sécu-
28. C loXVI. Eram numerosos étnica e culturalmente, e foram exterminados
41. A e colonizados pelos europeus e brasileiros nos séculos seguintes.
29. B
O indígena hoje tem direito de posse da propriedade onde habita
42. E
30. D se conseguir provar que ela pertence a seu povo e que a cultura
43. B deste depende da propriedade. Muitas terras indígenas foram ho-
31. B mologadas graças a isso, mas há diversas outras demarcações que
44. C se encontram em disputa, assim como a própria segurança dessas
32. A populações. Apesar do que diz a Constituição, pouco é feito para
45. Soma: 02 + 04 + 08 = 14
impedir as agressões aos povos indígenas por parte de diferentes
33. A 46. D grupos da sociedade.

34. Soma: 01 + 02 + 04 = 07 47. D 7. a) Na tabela, observa-se que havia populações indígenas distri-
buídas pela maior parte do território americano, as quais viviam
35. Soma: 01 + 04 = 05 48. D nas mais variadas formas de organização social e política. Não
36. Soma: 01 + 08 + 16 = 25 49. B obstante, salta aos olhos a maior densidade demográfica na
Cordilheira dos Andes, centro do Império Inca, e no México,
50. a) A instalação representada é um engenho; a força motriz utili- centro do Império Asteca, regiões onde viviam populações se-
zada é a água; a mão de obra predominante é a escravizada; dentárias, que desenvolveram complexas redes de estradas,
e o produto processado é o açúcar. técnicas agrícolas, obras de irrigação, sistemas de servidão
coletiva, centros cerimoniais e palácios.
b) A articulação entre essas regiões se dava por meio do tráfico
de escravizados para o Brasil. De Angola, pessoas eram trazi- b) À época do contato europeu, destacava-se, na Cordilheira
das como mão de obra escravizada para a Colônia. dos Andes, o Império Inca e, no antiplano central mexicano, o
Império Asteca (ou Mexica), além do decadente mundo maia,
Exercícios complementares na península de Yucatán. Todos os regimes constituem teo-
cracias com forte destacamento do poder real, no caso de
1. a) De acordo com o texto, Gil Vicente e Camões criticam “a bru- mexicas, comungando inclusive de uma mesma cosmologia.
talidade, a covardia, a avareza, a crueldade, a pilhagem e o
desprezo pelas sensibilidades, costumes, crenças e propriedade 8. B 9. D 10. B
dos locais” o que significava “o reverso da medalha do papel
de colonizadores”, podendo, inclusive, refletir negativamente 11. Os mapas representam objetos e realidades distintas. O primei-
e levar, “ degenerescência moral e o declínio das virtudes ro demonstra o território da América portuguesa e elementos
cívicas de Portugal”. considerados características essenciais; no caso, o pau-brasil, os
animais, trabalho e religiões indígenas. Já o segundo mapa repre-
b) Entre as formas de resistência  presença portuguesa no Bra- senta todo o continente da América do Sul, destacando a América
sil, podemos citar fugas, ataques contra os colonos e alianças portuguesa das possessões espanholas e demonstrando a situa-
locais ou com estrangeiros em lutas como a Confederação ção sob uma perspectiva macro.
dos Tamoios (1554-1567), na capitania de São Vicente.
12. a) Entrepostos comerciais litorâneos responsáveis pelas trocas
2. a) Nota-se, no texto, um conhecimento amplo a respeito dos cos- entre colonizadores e nativos.
tumes e das maneiras de outras populações, fato que só foi
possível graças ao contexto das Grandes Navegações. Nesse b) A produção predominante entre os séculos XVI e XVII foi a
ínterim, o texto refere-se a contatos ora pacíficos e marcados da cana-de-açúcar. O feitor era o responsável imediato pela
por trocas (caso da amizade do imperador japonês), ora confli- eficiência do trabalho escravizado.
tuosos e marcados por guerras (caso da morte do rei francês).
13. E 14. C 15. C
b) Domingo Francisco de San Antón Muñón Chimalpahin Quauhtlehua-
nitzin (1579-1660), conhecido como Chimalpahin ou Chimalpain, 16. a) Entre os séculos XVI e XVIIl, o Vice-Reino do Peru foi uma das
escreveu a história do México e de outras nações vizinhas em mais importantes áreas de exploração do Império Colonial
náhuatl e castelhano, cobrindo os anos entre 1589 e 1615 (embora Espanhol. Dentro da lógica do pacto colonial e da política mer-
refira-se também a períodos pré-coloniais) e utilizando, para isso, cantilista, a mineração era a principal atividade econômica.A
testemunhas indígenas. Nesse sentido, a obra destaca-se por mão de obra compulsória indígena era sistematicamente utili-
zada (mita e encomienda).
representar uma perspectiva indígena desses processos históricos.

3. D b) As estruturas de poder político eram: corregedor (aplicação de


leis), padre (conversão e aculturação dos nativos), escrivães
4. As motivações presentes são a busca de recursos valiosos como me- (sistematização de normas, burocracia), caciques (líderes nati-
tais e ferro, tal como está no trecho “Nela, até agora, não pudemos vos que serviam aos espanhóis); encomenderos (latifundiários)
saber que haja ouro, nem prata, nem coisa alguma de metal nem de e comerciantes (controle da atividade comercial).
ferro”, e a conversão dos indígenas  fé cristã, pelo que diz o trecho
“Porém o melhor fruto, que nela se pode fazer, me parece que será c) Os nativos ameríndios estavam sujeitos  violência, exploração
salvar esta gente. E esta deve ser a principal semente que vossa alte- e aculturação impostas pelos colonizadores espanhóis. A cate-
za em ela deve lançar”. quese forçada também era um forte elemento de submissão,
vide a imagem do nativo ajoelhado, por exemplo.
5. a) A diferença está presente no modo de se referir aos habitan-
tes das terras descritas. Enquanto no trecho da Odisseia os 17. a) A elite letrada nativa é a demonstração de maior miscigenação
habitantes são descritos de modo pejorativo, na carta de Pero da sociedade colonial, e sua presença afetou a colonização
Vaz de Caminha eles são descritos de modo positivo. espanhola por tornar menor as diferenças entre nativos e

255
europeus: as sociedades coloniais miscigenadas eram únicas, assim, mão de obra para a realização de obras públicas ou
não sendo europeias nem ameríndias. para fortalecer os exércitos. Muitas vezes, o escravizado era
vendido ou trocado pelo seu dono. As pessoas escravizadas
b) Os colonizadores espanhóis tentaram integrar os indígenas ao costumavam trabalhar na agricultura, na mineração ou em
trabalho colonial com táticas não exploradas pelos portugue- serviços domésticos. Alguns chegavam a se tornar militares,
ses, como as encomiendas. O colonizador português pensava funcionários públicos ou comerciantes, conseguindo, em cer-
no indígena como trabalhador e alvo de cristianização. tos casos, acumular riquezas.

18. a) Em relação aos indígenas, podemos mencionar os ataques b) Na América portuguesa, os escravizados passaram a se tornar
noturnos ou em terreno coberto, canoas encouraçadas que importantes mercadorias, e instaurou-se uma grande rede de
resistiam aos tiros das armas de fogo dos espanhóis e valas tráfico de pessoas, que vigorou entre os séculos XVI e XIX, tendo
com estacas para empalar as montarias hispânicas. Em rela- marcado profundamente a história da humanidade. A escravidão
ção aos espanhóis, podemos destacar a utilização de armas moderna – como costuma ser chamada a escravidão praticada
de fogo e de cavalos. Outro aspecto que pode ser apontado nesse período – é essencialmente comercial/mercadológica.
como consequência da ocupação espanhola foi a dissemina- Milhões de pessoas foram capturadas na África, separadas de
ção de doenças. suas famílias e transportadas para lugares distantes em porões de
embarcações (conhecidas como navios negreiros) que cruzavam,
b) Além da utilização de armas de fogo e de cavalos (fato que o primeiro, o Oceano Índico, depois o Oceano Atlântico. Foi dessa
próprio texto da questão relativiza ao citar que a superiorida- forma que, por mais de 300 anos, o Brasil recebeu pessoas es-
de bélica espanhola era compensada pelo grande número de cravizadas. Ao chegarem aqui, os africanos escravizados viviam
nativos), os espanhóis disseminaram doenças que vitimaram em condições miseráveis, sofriam maus-tratos e eram obrigados
muitos nativos. Vale ainda ressaltar que, em vários casos, os a trabalhar incansavelmente. Caso se negassem ou resistissem
espanhóis firmavam alianças com os nativos para incentivar (o que ocorria constantemente), sofriam pesados castigos físicos
conflitos locais e, dessa forma, facilitar a ocupação e a conquis- e psicológicos.
ta do território. A destruição da estrutura produtiva dos povos
nativos e a imposição do trabalho compulsório aos indígenas 28. Um dos aspectos possíveis é a variedade étnica dos africanos; e
(mita e encomienda) também podem ser colocadas como fato- uma das características é a diversidade da composição da popu-
res determinantes para o alto índice de mortalidade indígena. lação negra.

19. B 20. C 29. A 30. B

21. O primeiro mapa representa o nordeste da América portuguesa 31. As capitanias eram administradas de modo hereditário e eram
e suas capitanias, criadas para a produção do açúcar. O segundo descentralizadas no que diz respeito  unidade colonial. O Go-
mapa, por sua vez, demonstra a ocupação do litoral da Colônia, verno-geral, por sua vez, era centralizado e tinha seu governante
em referência ao sistema colônia-metrópole. nomeado pela Coroa.

22. Dois objetivos: fixar a população portuguesa  terra e produzir 32. a) Os proprietários de terras e escravizados, conhecidos como
mercadoria de alto valor para o mercado europeu. Duas carac- “homens bons”; elite colonial; latifundiários; aristocracia; no-
terísticas: existência de uma quantidade de capital circulante na bres da Colônia; classe alta.
Colônia, empregado não só no tráfico negreiro como também na
criação do gado e na lavoura de subsistência, voltadas principal- b) Fiscalização das condições da vida urbana (abastecimento,
mente para o mercado interno; e desenvolvimento de relações salubridade, posturas etc.); arrecadação de tributos e adminis-
comerciais internas e com outras regiões, apesar das proibições tração de contratos; e justiça de primeira instância.
características do monopólio metropolitano.
33. A 34. C 35. F; F; V; F; V
23. A exigência de uma grande produção de açúcar dedicada ao mer-
cado externo levou  formação de latifúndios graças ao sistema 36. a) Entre as práticas punitivas descritas no texto e presentes ao
de plantations. Esses latifúndios caracterizaram as sociedades da longo do período colonial brasileiro, podemos identificar os
América portuguesa. suplícios, os enforcamentos, os cadafalsos e os pelourinhos.

24. D 25. C b) As punições impostas durante o Antigo Regime tinham como


finalidade “reconstruir a soberania lesada por um instante” e
26. a) Os ventos alísios, que ocorrem entre 0º e 30º de latitude no “reativar o poder”, ou seja, por meio de punições exemplares,
Hemisfério Sul, sopram de leste para o oeste, partindo da pro- amedrontar a população e fortalecer o poder monárquico.
ximidade do Trópico de Capricórnio (alta pressão) em direção
ao Equador (baixa pressão). Esse movimento de massa de ar c) Não, pois, de acordo com o texto, o povo, além de não parti-
sofre interferência do movimento de rotação da Terra e de seu cipar das decisões, era testemunha das punições exemplares
eixo inclinado (efeito Coriolis). A funcionalidade desses ventos que reforçavam o poder monárquico por meio do medo.
no transporte marítimo da África para o Brasil ocorria devido s
embarcações a vela se utilizarem desses ventos para atracar 37. a) Durante o período do Brasil colonial, cabia  mulher branca,
no litoral brasileiro, localizado a oeste do continente africano. inserida na mentalidade portuguesa, entre outras tarefas, a or-
ganização do ambiente doméstico. Era obrigação da mulher
b) O tráfico de africanos escravizados se constituiu na principal branca o que o período compreendia como preservação da
atividade das relações entre Brasil e África. Essa prática, além honra familiar; dessa forma, a organização ou condução (depen-
de garantir bons lucros para Portugal, oferecia mão de obra dendo da esfera social) da casa e de seus respectivos afazeres
para as atividades econômicas da Colônia (cana, mineração cumpria com tal objetivo. Esse papel poderia, ainda, ser esten-
etc.). dido em casos específicos. Nas Ordenações Filipinas, indica-se
que, em caso de falecimento do marido, a mulher poderia assu-
27. a) Em muitas sociedades africanas, as pessoas eram escravi- mir a condução de todo o patrimônio familiar.
zadas nas seguintes situações: como prisioneiras de guerra,
quando cumpriam penas por determinados crimes ou por não b) As mulheres escravizadas de origem africana podiam ter sua
quitarem suas dívidas. De modo geral, nas sociedades africa- mão de obra explorada no ambiente doméstico: cozinhar,
nas, a escravização de pessoas era também uma forma de limpar, tornar-se ama de leite; assim como podiam cumprir
aumentar o número de súditos de um reino, disponibilizando, obrigações braçais, ainda que em menor escala.

256 HISTÓRIA Gabarito


38. a) A catequização dos povos indígenas e, depois, dos povos 45. A
africanos trazidos para o Brasil como escravizados era parte
importante do projeto colonizador português. Essa catequi- 46. Os viajantes europeus, como o pintor holandês Albert Eckhout,
zação defrontou-se com um conjunto variado de crenças, costumavam retratar o Brasil e os indígenas brasileiros de forma
mitos e ritos praticados pelas populações indígenas e africa- eurocêntrica, isto é, de acordo com seus valores e crenças. Entre
nas, dando origem a um intenso sincretismo religioso. Esse os elementos apresentados na pintura de 1641 que configuram o
sincretismo foi caracterizado pelas múltiplas combinações de “olhar europeu” sobre o Brasil, destacam-se a forma exótica e exu-
elementos provenientes das crenças religiosas, dos mitos e berante que a flora brasileira é apresentada e a forma equivocada
dos ritos das populações indígenas e africanas, como deu- que a antropofagia indígena é retratada por meio dos pedaços de
ses, entidades, danças e mitos diversos, com os elementos corpos carregados pela indígena.
do catolicismo. Ao promover a assimilação e equiparação de
santos católicos a deuses e entidades das suas tradições 47. a) O texto faz referência a duas interpretações sobre o combate aos
culturais religiosas, indígenas e africanos preservavam, de holandeses. A primeira, considerada mais tradicional, afirma que
algum modo, essas tradições, recriando cultos e rituais que a luta de brasileiros e negros contra os holandeses construiu uma
apresentavam combinações de elementos católicos com identidade nacional brasileira. A segunda interpretação diz que
aqueles de origens indígena ou africana. Ao mesmo tempo, o principal fator na luta contra os holandeses eram os interesses
o próprio projeto de catequização recebia as influências das econômicos e políticos dos senhores de engenho, que foram
religiosidades indígena e africana, adaptando-se, como no prejudicados em determinado momento da ocupação.
caso das festividades, entre outras ocasiões.
b) A formação da Companhia das Índias Ocidentais (1621) e os
b) A Igreja Católica se comportou de maneira ambígua em rela- conflitos entre Espanha e Holanda, o que fez os espanhóis
ção  escravidão de indígenas e de africanos. No caso dos decretarem embargo comercial aos holandeses.
indígenas, a Igreja defendia que estes deveriam ser catequi-
zados, ensinando-os a serem “bons cristãos” e adquirindo os 48. O principal objetivo econômico dos holandeses era a ocupação
hábitos europeus, uma vez que eles só não o faziam e não e o controle das regiões produtoras de açúcar no litoral nordeste
praticavam o catolicismo simplesmente por não o conhece- da América portuguesa. O governo de Nassau foi marcado pela
rem. Já em relação aos africanos, embora a Igreja Católica conquista de entrepostos na África, incentivo  presença de artis-
também tenha se empenhado na cristianização desses po- tas, tolerância religiosa com católicos, protestantes e judeus, entre
várias outras realizações.
vos, ela estava ligada a setores sociais que sustentavam e se
beneficiavam com o tráfico e o trabalho escravizado. A Igreja 49. C
chegou a “explicar” a escravidão africana ora como “castigo
e maldição de Deus” aos povos do continente africano, ora 50. a) Maurício de Nassau, mais conhecido por seu título de conde,
como um “sacrifício” que levaria  salvação da alma. foi o escolhido para governar a província de Pernambuco, uma
das regiões da América portuguesa conquistadas pelos holan-
39. a) No contexto tratado, os escravizados eram “as mãos e os pés” deses. Os fracassos em conquistar a Bahia e as desavenças
dos senhores de engenho com os trabalhos na propriedade com a Companhia das Índias Ocidentais foram a razão de sua
rural, do plantio ao fabrico do açúcar. Isto é, constituem as ba- derrocada em 1641.
ses fundamentais da economia colonial.
b) Uma das medidas de Nassau foi estabelecer Pernambuco
b) Em relação ao tratamento dispensado aos escravizados, como capital do “Brasil holandês”, o que envolveu reformas e
Antonil observa que, muitas vezes, os castigos são mais abun- mudanças na organização física da cidade, como a alteração
dantes que a vestimenta e a alimentação, ou seja, ele indica o de estradas, tal qual é apontado no texto.
desequilíbrio no tratamento dado aos escravizados. Em outras
palavras, recomenda aos senhores que castiguem os escravi- BNCC em foco
zados na “medida correta”, sem exageros.
1. Pois são conceitos diferentes um do outro. Conquista se refere ao
40. E ato de conquistar determinada região, população e estrutura de
poder por meio de guerras militares, culturais e/ou econômicas.
41. a) Segundo o texto, Portugal beneficiou-se ao ganhar acesso a
Os conquistadores espanhóis foram cunhados de tal modo por
mercados, frotas e prata espanhóis, enquanto a Espanha usu-
conquistarem terras para a Coroa espanhola. Colonizar, por sua
fruía do comércio com a Índia, a costa da África e o Brasil, além
vez, é decidir o que será feito nesse espaço e abrange políticas
de ter acesso a um importante porto atlântico.
educacionais, econômicas e outras que afetam, em diversos ní-
veis, a vida daqueles que ali vivem.
b) O sebastianismo foi a crença no retorno de D. Sebastião, rei
de Portugal desaparecido na guerra contra os mouros. Essa 2. C
crença pode ser explicada pelo contexto da União Ibérica, já
que foi o desaparecimento do rei a causa da anexação de 3. Soma: 01 + 02 + 04 + 32 = 39
Portugal  Espanha. O seu retorno significaria a libertação de
Portugal do jugo espanhol.

42. E-C Capítulo 3 – Da crise do açúcar ao


43. C
apogeu do sistema colonial no Brasil

44. a) Desprovida de herdeiros, a Coroa portuguesa passou para o


Revisando
sucessor dinástico mais próximo, Felipe II, rei de Espanha, que
1. E 6. B
se tornou também rei de Portugal. Essa união de Coroas e,
consequentemente, de territórios deu origem ao que se en- 2. E 7. B
tende por União Ibérica.
3. A 8. D
b) Com a União Ibérica, os espanhóis vetaram aos holandeses
o comércio com as colônias portuguesas. Privados dos lucros 4. A 9. B
que advinham do comércio açucareiro com o Brasil, os holan-
deses decidiram invadir o território brasileiro. 5. A 10. A

257
Exercícios propostos c) A diferença entre as expediçes de apresamento e as reali-
zadas pelos jesutas diz respeito ao trabalho. Eles buscavam
1. E 11. A converter os indgenas ao cristianismo, e não os forçar ao tra-
balho fsico, como pretendiam os bandeirantes.
2. D 12. B
8. E 9. A
3. E 13. Soma: 01 + 04 = 05
10. a) Eram expediçes dedicadas a explorar os interiores da Am-
4. C 14. A rica portuguesa, realizadas nos sculos XVII e XVIII. Foram
responsáveis pelo aprisionamento de indgenas e pela desco-
5. C 15. C berta de recursos economicamente valiosos, como as jazidas
de ouro na região das Minas Gerais.
6. A 16. Soma: 01 + 04 + 16 = 21
b) Os bandeirantes e colonos aprisionavam indgenas para se
7. E 17. Soma: 01 + 16 = 17
utilizar do conhecimento deles na exploração das terras e
8. C 18. A para forçá-los à escravidão como mão de obra nas lavouras.

9. Soma: 04 + 08 + 16 = 28 19. Soma: 01 + 16 = 17 11. a) Os bandeirantes são vistos como heris pelas caractersticas
dadas a eles, como corajosos e empreendedores, e pelo que
10. D 20. D realizaram, entre elas a descoberta de recursos valiosos e um
aprofundamento do conhecimento do interior do Brasil.
Exercícios complementares
b) Os bandeirantes são vistos como viles pelas atitudes tomadas
1. a) Entre os fatores que levaram à crise do açúcar, estão: a ex- em relação aos indgenas, que resultaram em aprisionamen-
pulsão dos holandeses do nordeste e a consequente perda tos, destruição de populaçes inteiras, danos irremediáveis à
do monoplio açucareiro nas Antilhas e seu maior nvel tc- cultura desses povos e sua contribuição direta na manutenção
nico; o reaquecimento da produção e consumo de açúcar de do trabalho escravizado indgena.
beterraba na Europa; o endividamento dos senhores de en-
genho e a lenta resposta da Coroa portuguesa para oferecer 12. B
novos investimentos.
13. a) A Guerra dos Mascates foi um conflito local entre senhores
b) Não teria havido um ciclo açucareiro pela manutenção de sua de engenho de Olinda e comerciantes portugueses instalados
em Recife. A guerra foi consequncia do endividamento dos
produção e importncia por sculos na pauta das exportaçes
senhores de engenho de Olinda e a busca destes por supre-
e no atendimento ao mercado interno. Deve-se considerar a
macia no poder local.
impropriedade de utilização do conceito de “ciclo” tendo em
vista a dinmica colonial que não se resumia apenas a um pro- b) A Guerra dos Emboabas foi travada porque os paulistas ligados
duto exportador. ao bandeirantismo, que descobriram as jazidas de ouro, inco-
modaram-se com os desbravadores que chegaram ao local
2. O declnio relativo do setor açucareiro da Amrica portuguesa, a
aps a descoberta para realizar a exploração do raro metal. O
partir da segunda metade do sculo XVII, deveu-se à concorrn-
conflito se iniciou com o pedido dos bandeirantes feito à Coroa
cia da produção de açúcar implementada em diversas colnias
para obter exclusividade na exploração e extração das minas.
europeias na região caribenha (Martinica, Guadalupe, Jamaica,
Barbados, entre outras). 14. A principal atividade econmica que condicionou o surgimento
dos caminhos da Estrada era a extração de ouro e diamantes/
3. C 4. D
mineração. Dois dos interesses da Coroa para controlar esse
caminho eram: impedir o roubo dos recursos valiosos extrados;
5. a) A mitologia refere-se à ideia de que o bandeirante era um
garantir o monoplio desses produtos.
heri do desbravamento do interior do territrio colonial, con-
quistando o aumento das fronteiras. 15. a) A capitania de São Paulo vivia basicamente de uma produ-
ção agrcola de subsistncia e, principalmente, de uma
b) Em geral, essa mitologia não faz referncia ao fato de os
produção agrcola voltada para o mercado interno, visando
bandeirantes estarem envolvidos em processo de captura, es- abastecer a região das minas. Outra atividade era o comrcio,
cravização e comercialização de indgenas, alm do massacre que, atravs dos rios, abastecia a região mineradora — ativi-
dos povos nativos e da destruição de quilombos. dade econmica chamada de comrcio das monçes, vital na
capitania de São Paulo no sculo XVIII.
6. a) As bandeiras tinham como principais atividades a busca, o
aprisionamento, a escravização e o comrcio de indgenas, b) O sculo XVIII foi marcado pela intensificação do processo
alm da busca por metais preciosos, como as jazidas de ouro de interiorização dos luso-brasileiros no territrio colonial
encontradas na região de Minas Gerais. devido a uma srie de fatores econmicos, principalmente
a pecuária e a atividade mineradora. Tal fato agravou as
b) Os bandeirantes são vistos pela historiografia e pelo conhe-
disputas territoriais entre Portugal e Espanha na Amrica,
cimento popular paulista como corajosos desbravadores e
diludas por meio de vários tratados de limites, destacando-
empreendedores, os pioneiros do Brasil. Essa visão justificaria a
-se o Tratado de Madri, de 1850.
prevalncia paulista do perodo e  atualmente criticada por ten-
tar amenizar as açes dessas figuras. 16. B

7. a) As expediçes de apresamento ocorriam com o objetivo de 17. O nordeste açucareiro dos sculos XVI e XVII foi marcado por uma
capturar indgenas e forçá-los ao trabalho escravizado. sociedade ruralizada, escravista, de claras demarcaçes, e de
economia pautada pela agronomia e pelo isolacionismo, com foco
b) Dois processos histricos resultantes das expediçes de apre- no mercado externo. Já em Minas Gerais, no sculo XVIII, há uma
samento foram a destruição de várias culturas e populaçes sociedade urbanizada, tambm escravista, mas com demarcaçes
indgenas, e a entrada cada vez mais profunda dos colonos no sociais menos rgida (ascender socialmente era mais possvel ali
interior do continente. do que no nordeste dos dois sculos anteriores), e cuja economia

258 HISTÓRIA Gabarito


era baseada na extração de minrios e no comrcio destes 2. A questão pode ser respondida de várias maneiras, porm os dois
com outras regies da Amrica portuguesa. principais componentes são a relação passado-presente e o uso
de diferentes fontes (escritas, orais, digitais, fotográficas, audiovi-
18. a) A diferença está no fato de o contrabando do ouro ser suais etc.). Alm desses dois pontos, a interdisciplinaridade  uma
maior no norte devido às dificuldades de controle para das questes mais presentes nos estudos atuais, junto com as
impedir esse extravio. O ouro bruto era mais facilmente mudanças e permanncias. Todas essas questes são relevantes
contrabandeado. para a construção do conhecimento histrico.

b) A função era fundir o ouro extrado na capitania, transformá-lo 3. C


em barras com o selo da Coroa portuguesa e retirar a quinta
parte para o tributo rgio da metrpole, ampliando o controle
da produção e da arrecadação do quinto.
Capítulo 2 – Os povos do Oriente Médio
19. E e do norte da África na Antiguidade
20. E-E Revisando
BNCC em foco 1. A 6. C
1. B 2. A 3. B 2. B 7. B

3. C 8. B

Frente 2 4. E 9. C

Capítulo 1 – História e Pré-história 5. C 10. D

Revisando Exercícios propostos


1. E 6. A 1. Soma: 01 + 04 + 32 = 37 6. E

2. D 2. C 7. D
7. C
3. B 3. E 8. C
8. A
4. Soma: 01 + 02 + 08 = 11 4. E 9. E
5. B 9. B 5. C 10. B
10. a) A Revolução Neoltica significou a transição dos grupos huma- Exercícios complementares
nos de uma condição de nmades para a sedentarização, com
o desenvolvimento da agricultura e posterior desenvolvimento 1. a) A escrita no Egito e na Mesopotmia marcava as distinçes
das cidades. sociais entre as pessoas. A hierarquia social era rgida e quem
possua o acesso à escrita era um grupo muito limitado. Nesse
b) A afirmação de que os grupos humanos anteriores ao de-
caso, o Estado legitimava essa divisão e mantinha a domi-
senvolvimento da escrita eram “pr-histricos” traz a ideia, nação da elite composta dos sacerdotes em detrimento das
equivocada, de que eles não tinham histria. demais camadas sociais, como os camponeses.
Exercícios propostos b) Essas civilizaçes foram marcadas por um Estado que inter-
feria diretamente na economia, supervisionando colheitas e
1. D 6. Soma: 01 + 02 + 04 + 08 = 15
possuindo certo controle da irrigação, em acordo com as po-
2. E 7. C cas de enchente. As pessoas comuns trabalhavam e o que era
colhido primeiro era entregue ao Estado e depois redistribu-
3. E 8. E do entre a população, reafirmando a dominação que existia
nesse perodo.
4. D 9. A
2. a) Os rios Tigre e Eufrates são os principais recursos hdricos
5. F; V; V; V; F 10. C da região, e seu regime fluvial (cheias) promove a fertilização
do solo, criando condiçes favoráveis às atividades agrcolas.
Exercícios complementares Devido à aridez do clima dessa região, os rios e suas
margens se tornaram as áreas de ocupação preferencial, no
1. E 6. C estabelecimento das primeiras civilizaçes mesopotmicas.
2. A 7. D
b) Nos últimos anos, o principal conflito regional esteve vinculado
3. B 8. B ao grupo autodenominado Estado Islmico e suas preten-
ses expansionistas, compreendendo desde o leste srio at
4. D 9. D o noroeste iraquiano. As motivaçes do Estado Islmico são
poltico-religiosas, uma vez que pretendem implantar a sharia,
5. B 10. A um estado regido por leis islmicas.

BNCC em foco 3. A 5. B

1. D 4. C 6. A

259
7. D 9. C 20. D

8. a) O trecho faz uma comparação entre Ilíada e Odisseia, sen- 10. D 21. A
do a primeira uma epopeia guerreira, enquanto a segunda é
uma coletânea de lendas e aventuras marítimas. Desse modo, 11. B 22. A
Ilíada está inserida no contexto da Guerra de Troia, lutas por
territórios e disputas entre os diversos povos. Na Odisseia, o 12. C 23. A
destaque é a razoável paz após o fim da guerra e o retorno de
13. B 24. B
Ulysses para a sua terra.
14. A 25. D
b) A organização política dos egípcios visava  centralização em
torno da figura do faraó e da alta elite próxima a ele, além da 15. E 26. C
extensa utilização da agricultura em grande parte do Egito. Já
os gregos e fenícios se caracterizavam pelas cidades-estado 16. E 27. A
independentes, mantendo relações mediante trocas comer-
ciais feitas por terra e mar. 17. E 28. B

9. A 10. C 18. A 29. D

BNCC em foco 19. A 30. C

1. A Exercícios complementares

2. Os povos mesopotâmicos eram muito dependentes do comércio 1. A Grécia foi marcada por diferentes momentos em sua história. Du-
externo. O uso da moeda como objeto de troca se constituiu em rante o período arcaico, de 800 a.C. a 500 a.C., havia um governo
agente facilitador desse processo, pois era uma medida de valor feito pelas elites agrárias. Já no período clássico, séculos V-IV a.C., a
comum entre os envolvidos. Ainda nesse contexto, o sistema ban- democracia foi instituída e as decisões e o poder político foram dados
cário foi responsável por efetuar a guarda e o saque dos valores. aos cidadãos. A Ágora e a acrópole passaram a ser locais de debates
e pensamentos para a organização da pólis. Apesar dessa participa-
3. C ção política dos cidadãos, este era um grupo bastante limitado, sendo
considerados apenas os homens, maiores de idade e filhos de pai
ateniense. As mulheres, os escravos e os estrangeiros eram excluí-
dos de seu papel político e não eram considerados cidadãos.
Capítulo 3 – A Antiguidade Clássica
2. a) No mundo greco-romano, a mão de obra predominante era
Revisando a escrava, especialmente o escravo de guerra. Sobretudo na
Roma Antiga, que possuía numerosos escravos, estes reali-
1.  6. D zavam todo tipo de trabalho nos meios urbano e rural. Nesse
período, o trabalho manual era visto como algo degradante,
2. E 7. D relacionado aos grupos inferiores. Os escravos estavam ex-
cluídos do direito de participação política.
3. B 8. Soma: 01 + 02 + 04 + 08 = 15
b) Durante a Antiguidade Clássica, o conhecimento não estava
4. D 9. D
relacionado ao trabalho, diferentemente da modernidade, em
5. B 10. Soma: 02 + 04 + 08 = 14 que a noção de trabalho foi transformada em algo positivo.
Na Idade Moderna, a partir da exaltação do uso da razão, as-
Exercícios propostos sociada a uma postura de observação e experimentação, o
homem pode avançar ainda mais no conhecimento do mundo
1. D 4. C ao seu redor, aplicando esse conhecimento e proporcionando
inovações tecnológicas na estrutura de produção.
2. B 5. B
3. a) Ser um habitante de Atenas não implicava, necessariamente,
3. D pertencer  condição de cidadão. Para tal, o indivíduo deveria
ser homem, adulto, livre e filho de pais atenienses.
6. a) O modelo político aristocrático que antecedeu a democracia
era caracterizado por famílias nobres, e somente homens b) Metecos eram os estrangeiros residentes em Atenas. Dentre
nascidos em Atenas, filhos de pais atenienses e que tinham seus deveres, estavam o pagamento de tributos e a participa-
posses eram os detentores de direitos políticos, ocupavam ção na defesa da cidade. Dentre seus direitos, estavam o de
cargos públicos e escolhiam a maneira que isso ocorreria, se tornarem proprietários de terras e o de exercerem alguma
uma oligarquia formada por eupátridas. Na democracia, as atividade profissional (comércio, artesanato, educação etc.).
reformas iniciadas por Sólon possibilitaram a futura ampliação
da participação política de mais cidadãos, independentemente 4. B
de sua origem; entretanto, as mulheres não eram cidadãs e a
escravidão permaneceu. 5. a) Na canção “Mulheres de Atenas” é possível identificar re-
ferências a duas importantes epopeias gregas: a Ilíada e a
b) Na Grécia Antiga o voto era permitido apenas para homens, Odisseia. Ambas as obras tratam de narrativas pautadas no
maiores de idade, livres, nascidos em Atenas com pai atenien- mundo mitológico grego.
se. Nas democracias ocidentais contemporâneas, o direito ao
voto foi ampliado para as mulheres, porém ainda existe a li- b) As mulheres, na Atenas da Antiguidade, eram, socialmente,
mitação por idade e a restrição aos estrangeiros a depender submissas  figura masculina. Na música apresentada, tal ca-
de cada país. Além disso, os analfabetos não são obrigados a racterística é retratada pelo verso “Vivem pros seus maridos,
votar, porém os seus direitos por muitos anos foram excluídos. orgulho e raça de Atenas”. Outro elemento característico da
condição da mulher, no mesmo contexto, aparece na can-
7. D 8. A ção no excerto “Geram pros seus maridos os novos filhos

260 HISTÓRIA Gabarito


de Atenas”, representando, dessa forma, a valorização do fe- legado cultural se relaciona a essas expansões militares, pois
minino, ainda a partir de uma visão patriarcal, como agente ele fundou diversas cidades por onde passou, sendo Alexandria
reprodutor. uma das mais famosas.

6. B 8. C 17. a) As motivações para essa sistematização partiram de pedi-


dos populares; a plebe se via em constante desvantagem se
7. A 9. A comparada aos patrícios. Dessa forma, a luta entre eles cul-
minou nessas leis plebeias, sendo a igualdade política e civil
10. a) O poema épico inspirado na guerra foi a Ilíada, de autoria de o principal marco desse contexto. Portanto, as Doze Tábuas
Homero. Esse nome se deve ao fato de que, para os gregos, transformaram a estrutura social vigente em Roma e permiti-
a região de Troia se chamava Ilion, tendo como fundo a Guer- ram uma maior ampliação, claro, com limitações.
ra de Troia. Para além disso, existem os vários personagens
históricos e batalhas, como no caso do guerreiro Aquiles. b) As leis deram origem ao direito civil e ao sistema jurídico, que
possibilitaram a diminuição da injustiça em certa medida e evita-
b) A poesia épica e a história eram de suma importância para os ram que privilégios continuassem se perpetuando. Vale ressaltar
gregos, pois por meio delas era possível a preservação de uma que essa conquista foi inédita em Roma, principalmente pela par-
memória coletiva que seria passada s outras gerações. A princi- ticipação dos plebeus no reconhecimento de seus direitos.
pal diferença é que nas poesias épicas existe a presença maior
da mitologia e das crenças próprias dos gregos, além de refe- 18. E 20. B
rências a acontecimentos muito antigos ou criados. No caso da
história, eles prezavam por manter um certo compromisso com a 19. B 21. E
verdade, tentando sempre ter testemunhos dos acontecimentos
22. a) Os casamentos na Roma Antiga permitiam que a cidadania
ou eles próprios serem os observadores de tais fatos; de todo
continuasse por meio da descendência legítima dos parcei-
modo, existia a preocupação com a temporalidade.
ros, o que garantia a continuidade do funcionamento político.
11. C Além disso, o recebimento de bens era uma melhoria e pos-
sibilidade de enriquecimento.
12. a) As obras de Homero possuem momentos históricos dife-
rentes. A Ilíada retrata o período de conflitos por domínios b) As mulheres eram excluídas do direito  cidadania, assim como
territoriais e influência, o cenário da Guerra de Troia, en- os escravos.
quanto a Odisseia está relacionada ao momento em que
23. A 27. A
as regiões estão em razoável paz e Ulisses retorna a sua
terra natal. 24. B 28. D
b) Os fenícios e os gregos se organizavam politicamente em ci- 25. E 29. C
dades-Estado, suas unidades políticas eram autônomas, não
dependiam de um governo central. Por outro lado, no Egito, a 26. B 30. A
organização política era mais ligada a um grupo específico e
marcado pela teocracia, sendo o faraó o mais importante nas BNCC em foco
tomadas das decisões em geral.
1. a) A organização política mais relevante da Grécia Antiga foi
13. Nesse conflito, a Inglaterra se caracterizaria como Atenas, vista a cidade-Estado, também conhecida como pólis grega. Ela
como uma potência expansionista, que exercia forte influência possuía independência administrativa s demais cidades,
nas demais cidades. Além disso, Atenas se fortaleceu economi- possuía as próprias instituições políticas e todas elas par-
camente por seu comércio marítimo. A Guerra do Peloponeso foi tilhavam do politeísmo, a crença em vários deuses. Além
um conflito entre Atenas e Esparta, que comandavam as princi- disso, a pólis não era apenas a urbe (cidade), mas também a
pais alianças militares da época, a Confederação de Delos e a parte de cultivo, bosques e zonas de pastoreio.
Liga do Peloponeso. Essa Guerra foi marcada pelos interesses
de ambas em possuir hegemonia no mundo grego. b) As pólis possuíam características diferentes quando o assunto
era economia, afinal, isso dependia muito de sua localização
14. a) Os gregos conheceram e “imitaram” muito do que a civili- e das condições geográficas. Apesar disso, elas dependiam
zação cretense produziu por meio do bronze, a construção muito do comércio marítimo, e, por isso, o comércio era uma
naval, a arquitetura e várias características culturais. constante em seu contexto social e político. Algumas se desta-
cavam pela agricultura em regiões montanhosas, e outras, pelo
b) Nos primórdios de sua formação, a Grécia possuía a presen- comércio marítimo.
ça de aqueus, jônios, eólios e dórios, povos que possuíam
características diferentes entre si e que batalharam pela sua 2. a) O trecho mostra que na visão de Tucídides não existia uma
permanência no território. Nesse contexto, os gregos se ca- unidade política e muito menos uma união entre helenos,
racterizaram por suas cidades-Estado independentes, se posto que as cidades se uniram apenas para combater du-
destacando por suas diferentes políticas. Já Esparta havia pos- rante a guerra. Os gregos não estavam reunidos antes disso.
suído a sua origem dos dórios. Dessa forma, Esparta e Atenas
possuíam diferenças entre si. Esparta estava mais ligada s b) Apesar da situação descrita por Tucídides, os gregos eram po-
guerras e ao treinamento militar; Atenas, por outro lado, se vos que se assemelhavam culturalmente, possuíam estruturas
caracterizava pela poesia, teatro e pelos debates em público. linguísticas parecidas e haviam se desenvolvido em comu-
nidades anteriormente muito próximas, o que caracterizava
15. Soma: 01 + 16 = 17 a Hélade (Grécia) como uma civilização grega, mesmo com
essas críticas do autor.
16. Alexandre, o Grande, foi um personagem simbólico para a An-
tiguidade. O seu legado não ficou restrito durante o seu curto 3. a) A modificação do material de tijolos para mármore simboliza-
tempo de sua vida, mas sim permaneceu após décadas de sua va, além das mudanças nas edificações, uma superação de
morte. Nesse contexto, Alexandre herdou vários territórios de momentos anteriores, antes da ascensão de Augusto como
seu pai e prosseguiu com novas conquistas, difundindo a cultu- imperador de Roma. Essas transformações, segundo Suetô-
ra grega na Ásia, chegando a Pérsia e transformando a cultura nio, transformaram-na em bela e magnífica, o que seria uma
grega com novas características, a chamada helenização. O seu comparação aos valores do próprio Otávio Augusto.

261
b) Medida social: Otávio Augusto estabeleceu novas regras em tem elementos dessas duas religiões, associados s tradições
Roma, criando uma divisão censitária, das ordens senato- árabes e s revelações que teriam sido feitas a Muhammad.
rial, equestre e do restante, e esses direitos dependiam da O judaísmo aguarda o retorno de um messias, enquanto cris-
renda dessas pessoas, o que limitava ainda mais qualquer tãos e muçulmanos acreditam que o messias já veio ao mundo
tipo de participação. Medida política: houve a continuação nas figuras de Cristo e Muhammad, repectivamente.
das instituições da República, mas isso apenas na aparência,
pois Otávio Augusto era um ditador e suas decisões pos- b) A unificação foi feita por meio da religião, pois as palavras de
suíam peso. Muhammad também chegaram ao poder político, criando uma
coesão maior entre os diversos grupos árabes. Dessa forma, o
islamismo se tornou predominante entre a população e conti-
nuou a se expandir após a morte de Muhammad.
Capítulo 4 – Outras Idades Médias
c) Os motivos dessa divisão remontam  época da morte de
Revisando Muhammad, quando os muçulmanos se dividiram, desta-
cando-se dois grupos opostos: os sunitas, que achavam que
1. B 6. D a sucessão de Muhammad não precisava ter laços consan-
guíneos, podendo assumir o posto outros líderes islâmicos
2. A 7. C
próximos ao poder político, diferentemente dos xiitas, que só
3. A 8. B aceitavam descendentes diretos de Muhammad como seus
sucessores. Esse conflito perdura na atualidade e ainda gera
4. E 9. D debates entre os diversos grupos islâmicos.

5. E 10. B 6. A legislação bizantina foi feita a partir do código romano, refor-


mulando-se com a criação do Código Justiniano. Suas terras
Exercícios propostos faziam parte das antigas conquistas romanas, mantendo a
hierarquia social e a importância da religião em suas localida-
1. A 6. C des. Em relação s diferenças, o Império Bizantino existiu por
séculos, enquanto o Império Romano do Ocidente sofreu cons-
2. D 7. B tantes ataques até não conseguir mais se manter “unificado”.
O século V marca oficialmente a data da queda de Roma, apesar
3. D 8. B de sua influência permanecer por séculos.
4. B 9. B 7. A 9. C
5. B 10. A 8. C 10. Soma: 04 + 08 = 12

Exercícios complementares
BNCC em foco
1. a) Política: havia uma grande divisão de tribos independentes.
Religiosa: não havia uma única religião, e a maioria da popu- 1. Soma: 01 + 04 + 08 = 13
lação era politeísta e acreditava em vários deuses; no período
pré-islâmico, a cidade de Meca já era um local de peregrina- 2. B
ções, como ocorre até hoje, mas para o culto politeísta.
3. D
b) A partir do trecho citado no enunciado, é possível compreen-
der que fé e conhecimento não eram contraditórios no mundo
islâmico, mas complementares. Os povos árabes eram conhe-
cidos por seus estudos de Medicina e Matemática. Capítulo 5 – A Idade Média na Europa
ocidental e o início da primeira modernidade
2. A expressão “Idade Média” surgiu durante o Renascimento e foi
criada pelos humanistas para denominar o período entre a Anti- Revisando
guidade Clássica e o Renascimento. Além disso, no século XVIII,
os iluministas denominavam o período como “Idade das Trevas”, 1. Soma: 01 + 02 + 08 + 16 = 27 4. C
sempre em oposição ao momento em que eles estavam viven-
do, considerado o do esclarecimento. Além de ser pejorativo, o 2. A 5. A
termo “Idade das Trevas” não é explicativo sobre o período,
sobretudo porque parece desconsiderar a criação das univer- 3. C 6. A
sidades e as diversas trocas culturais entre povos distantes e a
cultura árabe-muçulmana. 7. A partir do texto, é possível inferir que a Igreja condenava a usura
ou o empréstimo a juros; diante disso, é justificado com a afirma-
3. E ção de que o tempo pertence a Deus, portanto ele é divino e não
deve ser comercializado como essas transações. O trabalho é
4. a) Trata-se da peregrinação dos muçulmanos  cidade de Meca, bem-visto, mas não a usura. Assim, o lucro pode até ser alcançado,
um dos fundamentos do islamismo: se tiver condições físicas mas deve vir do trabalho, e não da venda do tempo divino.
e financeiras, todo muçulmano deve ir a Meca ao menos uma
vez na vida. 8. B 9. A 10. B

b) Meca foi uma região muito importante na unificação, pois o retor- Exercícios propostos
no de Muhammad  cidade e os elementos comuns da religião
mantiveram a tradição da peregrinação, mas agora para cultuar 1. a) Carlos Magno, antes mesmo de sua coroação pelo papa,
Alá, fortalecendo o processo de unificação da península Arábica. já possuía extensas conquistas pelo Reino Franco, as quais
continuavam a se expandir para regiões onde hoje se en-
5. a) As três religiões são monoteístas. O cristianismo é derivado contra a Alemanha. Por esse grande poderio, o papa Leão III
do judaísmo, conservando o Velho Testamento. O islamismo o coroou como imperador dos romanos, o que o legitimava

262 HISTÓRIA Gabarito


como continuador dos antigos césares de Roma e o equi- 7. A
parava ao imperador do Império Romano do Oriente, o
Bizantino. Assim, ambos reafirmaram suas lideranças: Magno 8. a) A Idade Média é, muitas vezes, conhecida pelo seu imaginário,
era reconhecido pela Igreja, a qual reafirmava seu poder po- ignorando o contexto histórico. O que temos ainda hoje vem
lítico com um dos mais poderosos imperadores do período. da ideia pejorativa do medievo construída principalmente pe-
los iluministas no século XVIII; em oposição s luzes, existiria
b) O Renascimento Carolíngio se caracterizou pelas transforma- esse período de “retrocesso” e de não uso da razão. Ao dizer
ções culturais empreendidas no reinado de Carlos Magno. que o Iluminismo visava ao progresso, a Idade Média parecia
Várias escolas foram criadas, embora voltadas s classes um poço de atrasos e de violência. Todas essas ideias são
mais altas. O latim se tornou a língua oficial do Império, prin- construções que possuem fins específicos; neste caso, rea-
cipalmente em documentos e éditos, os escritos em geral. As firmar o século ilustrado como um momento de ascensão do
igrejas e mosteiros passaram a ter características arquitetôni- conhecimento contra os outros passados.
cas romanas, como a abóboda e o arco redondo. Além dessas
b) Sim. A noção de Idade Média como um período de trevas e de
transformações, o incentivo cultural foi intensificado, então a
retrocesso não deve ser mais considerada. O medievo é mui-
arte romana foi sendo retomada e reformulada.
to mais diverso, amplo e com muitos estudos mostrando que
2. B 17. A existiram criações, modos de vida próprios, divergências entre
os diversos locais e a criação das universidades. Portanto, a
3. A 18. A sua imagem pejorativa já foi descartada pelos historiadores,
mas muitas pessoas ainda não se questionam sobre o seu pa-
4. A 19. D pel e as mudanças ocorridas nesse contexto.

5. A 9. a) Alguns dos principais papéis exercidos pelas mulheres na Ida-


20. A
de Média eram o de filha, esposa e mãe. Nesse contexto, elas
6. A eram submetidas aos valores da Igreja e ao universo mascu-
21. B
lino do medievo. Além disso, a constante reafirmação de seu
7. A papel doméstico e religioso era comum. Apesar desses pa-
22. B
péis atribuídos a elas, isso não significa que todas as mulheres
8. E viviam dessa maneira por toda a vida.
23. E
9. C
b) As relações entre homens e mulheres eram extremamente
24. A
hierarquizadas, e havia um predomínio das ações políticas e
10. B
econômicas dos homens, principalmente como guerreiros, reis e
25. Soma: 01 + 04 + 16 = 21
11. A clérigos. Assim, existia uma assimetria entre os gêneros, o que
não significa dizer que as mulheres permaneciam restritas ao
26. C
12. C meio familiar e s classes baixas do clero, pois ocorreram exce-
ções; além disso, existiram grandes rainhas que possuíam poder
27. C
13. A de decisão.

14. D 28. D
10. C

15. D 29. C 11. Soma: 04 + 08 + 16 = 28

16. C 30. E 12. D

Exercícios complementares 13. a) As especiarias eram produtos de origem vegetal, como pi-
menta, cravo, canela e noz-moscada, vindos principalmente
1. C 2. A da Ásia e utilizados pelos europeus devido ao forte sabor
e aroma. A partir do texto apresentado na questão, percebe-
3. a) A cerimônia mencionada dita no poema é a sagração do cava- -se que esses artigos eram uma forma de distinção social, pois
leiro, conhecida como homenagem. A partir dos trechos como eram de difícil obtenção e de regiões distantes. Além dos usos
“Deus mo conceda”, “Que Deus te dê coragem e ousadia”, é em alimentos, essas ervas eram utilizadas para fins medicinais.
possível compreender que se trata de uma sagração, além da
“vitória sobre os infiéis”, tipicamente um dever dos cavaleiros. b) O comércio das especiarias era feito pelas rotas comerciais es-
palhadas por toda a Europa, África e Ásia. A Rota da Seda era
b) A relação existente entre o rei e Rolando é a suserania e vas- uma das mais famosas e fazia a conexão da China a Constanti-
salagem, fidelidade e acordo entre dois homens nobres. Essa nopla e outras partes do Mediterrâneo. Além dessa rota terrestre,
relação entre membros da nobreza era muito comum; o suse- o Oceano Índico era utilizado para levar especiarias das Índias.
rano permitia o uso da terra, e o cavaleiro prestava serviços
militares quando fosse preciso. 14. Além da falta de defesa dos organismos dos europeus, a propaga-
ção da doença era muito rápida, e a falta de condições sanitárias
4. Soma: 01 + 02 + 08 + 16 = 27 e de higiene agravaram a situação. Ademais, as intensas trocas
comerciais com regiões distantes trouxeram produtos e movimen-
5. Soma: 02 + 04 + 08 = 14 tação de pessoas, disseminando a doença. O trecho de Duby fala
sobre progresso, pois esse período é conhecido pela expansão
6. A Igreja Católica teve um papel central na criação e na continua- comercial e pelo aumento da população nas cidades. Todavia,
ção do feudalismo. Por possuir grande influência, seus membros esse crescimento também propiciou o aumento da doença, e
constantemente reafirmavam a divisão social entre os que traba- a sua proliferação foi feita rapidamente pelas pulgas dos ratos.
lham, os que oram e os que guerreiam. A partir de seu poderio,
ela possuía muitas terras e aliados em vários reinos; com os 15. Soma: 02 + 04 = 06
batismos de reis, cada vez mais a sua confiança e fidelidade a
tornavam parte essencial do mundo feudal. Por isso e outros fa- 16. Os séculos XIV e XV são um período marcado por transformações
tores, ela foi um elemento basilar na vida social, política e cultural sociais, políticas e econômicas. Nesse contexto, ocorreram más
do medievo. colheitas, que geraram a fome, a peste negra, que dizimou a maior

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parte da população da Europa, além dos conflitos da Guerra dos das pessoas e da própria natureza (naturalismo). A partir des-
Cem Anos. Portanto, esse momento trouxe novas definições da sas características, é possível perceber como as pessoas
economia; posteriormente, o mercantilismo seria mais dominante representadas estão muito próximas da realidade, tanto em
que o antigo sistema feudal, e os poderes locais se tornariam cada tamanho quanto em proporção.
vez mais centralizados em torno de reis e rainhas. E é preciso dizer
que isso não significou uma total centralização política, e muito b) O Renascimento é o processo de transição da mentalidade
menos um desaparecimento do sistema feudal. medieval para a mentalidade moderna. Por meio das artes,
essa mudança fica muito presente; as representações hu-
17. D manas tentam ser mais racionais, mais matematicamente
calculadas, e o ser humano passa a ser colocado como um
18. D ser de possibilidades abertas para o conhecimento e a crítica.
Nesse sentido, o crescimento comercial e a vida urbana pas-
19. Soma: 01 + 02 + 04 = 07
sam a ser fatores que caracterizam essa transição.
20. a) O principal motivo econômico foi a tentativa de retomar o controle
27. a) A península Itálica já era, há muitos anos, um local de comércio
das rotas comerciais do mar Mediterrâneo, que, em alguns sécu-
e encontro de diversos povos; por essa razão, tornou-se um
los, foi mais fortemente influenciado pelos árabes e muçulmanos.
dos centros comerciais mais ativos do Mediterrâneo. Desse
O motivo político se relacionava  ajuda que a Igreja Católica pre-
modo, os novos grupos sociais foram surgindo e desejavam
cisou conceder ao Império Bizantino, que, embora não idêntico
novos produtos e novas artes, o que favoreceu mudanças nos
ao lado ocidental, partilhava muitas semelhanças com a Igreja diversos âmbitos da vida social, cultural e política.
Católica. Apesar dessa ajuda, os membros da Igreja tinham outras
ambições além de uma mera ajuda contra os islâmicos. b) A teoria heliocêntrica de Copérnico questionava o geocen-
trismo, defendido pela Igreja e por alguns de seus membros.
b) A nobreza liderou a Cruzada. O cronista do texto apresentado
Além disso, houve a crítica ao uso do latim para todos os âm-
na questão justifica o apoio de Deus dizendo que essa era uma
bitos e o favorecimento do uso da língua de cada localidade.
reparação necessária ao que os muçulmanos estavam fazendo
desses locais sagrados do cristianismo, principalmente Jerusalém. c) O uso da perspectiva linear e o efeito de um espaço tridimensio-
nal nas pinturas, além da representação das pessoas cada vez
21. E
mais próxima do ser humano e de suas medidas geométricas.
22. D
28. E
23. a) Os renascentistas criticavam o modo de organização políti-
29. a) Uma das leis mais conhecidas de Galileu foi a de que todos os
ca que eles diziam ser mais fragmentado politicamente, pois
corpos em queda livre caem com a mesma aceleração inde-
existiam vários reis e, no período do movimento renascentis-
pendentemente de suas massas, a lei dos corpos em queda.
ta, houve ascensão de novas dinastias e, em alguns locais, a
tentativa de centralização. Na Idade Média, a economia era b) Galileu foi julgado pela Inquisição de seus escritos críticos, muito
predominantemente rural, e, em momento posterior, as pes- comuns no Renascimento, o que a Igreja não tolerava de manei-
soas criticariam a vida nos campos e em volta de muralhas e ra tão direta. Além disso, a defesa do heliocentrismo foi um dos
torres. No âmbito cultural, reprovavam a forma como as pintu-
principais pontos em que ele foi acusado mais fortemente.
ras e esculturas eram feitas; afinal, fazia-se uma adaptação da
Antiguidade Clássica, enquanto os renascentistas buscavam 30. a) A fala de Giordano Bruno contrariava os princípios da Igreja
as formas e os modelos semelhantes ao período clássico. Católica no sentido de que ele propunha a ação e o comporta-
mento por meio das produções culturais e inovações científicas.
b) A Idade Média foi um longo período de tempo, com predomí- A citação apresentada na questão indica que o homem poderia
nio de economia rural, permeada pela fidelidade da suserania e agir, criar e saber, ser um agente ativo na natureza. Por essa
vassalagem. Ademais, o comércio marítimo e terrestre estava razão, ele foi considerado um herege, neste caso, como mago,
em expansão e havia uma constante busca por novos locais. e teria a sua punição, a morte na fogueira.
Por fim, a produção em seu início era voltada para os feudos,
e havia o uso de moedas, que variavam de região para região. b) A citação de Giordano Bruno se relaciona aos valores renas-
centistas, que incentivavam a ação do ser humano, na qual ele
24. a) A península Itálica contava com vasto comércio e era uma região deveria ser um agente ativo, transformando sua realidade e o
de encontro e trocas de ideias entre diferentes populações, permi- mundo. Dessa forma, o racionalismo e esse ímpeto de ação
tindo o desenvolvimento de novos conhecimentos. Além disso, a eram vistos negativamente pela Igreja.
Itália havia sido o centro do Império Romano e possuía diversos in-
telectuais de sua localidade e advindos de outros locais. Ademais, BNCC em foco
as ricas famílias que a habitavam financiavam obras de arte e im-
pulsionavam cada vez mais o desejo e a busca por esses artigos. 1. Soma: 01 + 02 + 04 = 07

b) O antropocentrismo corresponde  noção de que o ser humano 2. B


deveria estar em vários âmbitos dos estudos, seja na arte, seja
nas ciências. Por isso, a sua presença estava em todos os lugares, 3. a) O texto trata do laço de feudo-vassalagem, a estruturação do
desde estudos anatômicos até pinturas e representações hu- feudalismo.
manas. O racionalismo se relaciona ao conceito anterior, no qual
privilegiam-se noções geométricas e estudos matemáticos para b) A Igreja na Idade Média tinha o papel essencial de ser uma refe-
compreender e representar os seres humanos, e isso não significa rência em vários campos do cotidiano, da economia  educação.
ignorar os antigos preceitos, mas sim reformulá-los a seu modo. Entretanto, não se pode pensar nela como uma instituição  parte
da sociedade, pois os clérigos e nobres estavam em constantes
25. C trocas, e grande parte das terras estava sob seu domínio – pos-
teriormente, elas seriam vendidas e trocadas entre os senhores
26. a) Duas características presentes na pintura são a inspiração na feudais e os mosteiros. Portanto, o seu papel vai além do religioso,
Antiguidade Clássica (classicismo) e a representação realista estando a Igreja presente em várias esferas sociais e políticas.

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