Dissertação Final

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Universidade do Minho

Escola de Psicologia

Joana Catarina Dias da Silva

Posttraumatic Stress Disorder Checklist for


DSM-5 (PCL-5): Validação e invariância da
medida numa amostra de Bombeiros
Voluntários Portugueses

junho 2018
Universidade do Minho
Escola de Psicologia

Joana Catarina Dias da Silva

Posttraumatic Stress Disorder Checklist for


DSM-5 (PCL-5): Validação e invariância da
medida numa amostra de Bombeiros
Voluntários Portugueses

Dissertação de Mestrado
Mestrado Integrado em Psicologia

Trabalho efetuado sob a orientação da


Professora Doutora Ângela Maia

junho 2018
Índice
Agradecimentos ..................................................................................................................................... iii
Resumo.................................................................................................................................................. iv
Abstract................................................................................................................................................... v
Introdução...............................................................................................................................................6
Método..................................................................................................................................................11
Participantes .....................................................................................................................................11
Instrumentos .....................................................................................................................................11
Procedimento ....................................................................................................................................13
Análise de Dados ..............................................................................................................................13
Resultados ............................................................................................................................................15
Dados sociodemográficos e sintomas de stress pós-traumático ........................................................15
Sensibilidade Psicométrica ................................................................................................................16
Validade do Construto .......................................................................................................................17
Invariância da Medida .......................................................................................................................18
Validade do Critério ...........................................................................................................................21
Consistência Interna..........................................................................................................................22
Discussão .............................................................................................................................................23
Validade Fatorial ................................................................................................................................23
Invariância da Medida no Género ......................................................................................................23
Limitações e Forças ..........................................................................................................................25
Recomendações para o Futuro..........................................................................................................26
Referências ...........................................................................................................................................27
iii

Agradecimentos

Porque a família é onde a nossa história começa, quero agradecer-vos: pai, mãe e irmão. Por
serem o meu alicerce, a minha base e uma enorme fonte de apoio. A vocês, o meu ‘Obrigada!’ será
eterno.
Quero agradecer a quem permitiu que este dever acontecesse. Professora Ângela Maia e Dra.
Filipa Teixeira, um enorme ‘Obrigada!’ pela orientação, encorajamento e paciência constantes! Não
poderia deixar de agradecer, também, aos restantes membros do Grupo de Investigação pelas suas
contribuições e pelo espírito de equipa.
Porque os amigos são o meu sorriso mais sincero, quero agradecer-vos! Big, Natália, Negrão e
Ribas, ‘Obrigada!’ pelo companheirismo, pela cumplicidade, pela paciência… e pelas gargalhadas mais
sinceras, ao longo destes cinco anos! Beiramar, ‘Obrigada!’ pela inspiração e por me ofereceres
sempre os teus melhores conselhos. Rita, Gui, Cátia, Chana e Pedro, ‘Obrigada!’ por serem outra parte
de mim e pela camaradagem desde a infância! Nóia, ‘Obrigada!’ pela empatia nas horas de maior
ansiedade e pelo companheirismo que cresceu ao longo deste ano. Aos restantes, que aqui não estão
mas que poderiam estar, um ‘Obrigada!’ sincero, pois nunca me esquecerei de vocês!
Não poderia deixar de agradecer aos projetos que expandiram os meus horizontes e que
foram, sem dúvida, uma enorme fonte de aprendizagens: projeto “Rabo de Peixe Sabe Sonhar” e
Equipa de Rua “Aproximar +” da Cruz Vermelha Portuguesa, um gigantesco ‘Obrigada!’, pelas pessoas
que permitiram que cruzassem a minha vida e pelo crescimento pessoal que germinaram em mim.
Não querendo eu esquecer-me de ninguém, deixo aqui, neste último parágrafo, um
agradecimento geral a todas as pessoas que me fizeram sorrir, me deram ânimo e me mostraram que
nunca é demais sonhar. ‘Obrigada!’.
iv

Posttraumatic Stress Disorder Checklist for DSM-5 (PCL-5): Validação e invariância da medida numa
amostra de Bombeiros Voluntários Portugueses

Resumo

O PCL-5, questionário que avalia sintomas de Stress Pós-Traumático, não está validado para a
população nem para os bombeiros voluntários portugueses. Os bombeiros, devido à exposição a
eventos potencialmente traumáticos, são vulneráveis ao desenvolvimento desta perturbação. Estudos
indicam que apesar do modelo do DSM-5 apresentar ajustamento adequado, os modelos da Anedonia
e Híbrido apresentam o melhor ajustamento. Ademais, são escassos os estudos que analisaram a
invariância da medida nos dois sexos. Os objetivos deste estudo foram analisar a estrutura fatorial e a
invariância da medida nos dois sexos, numa amostra de bombeiros voluntários portugueses. Uma
recolha nacional permitiu analisar dados de 664 bombeiros que responderam a um conjunto de
questionários de autorrelato, nomeadamente, o PCL-5 e o BSI. Os resultados indicaram que todos os
modelos apresentaram bom ajustamento, com o Híbrido a demonstrar-se o melhor. Ainda, os modelos
do DSM-5 e da Anedonia apresentaram invariância configuracional e o Híbrido apresentou invariância
métrica. Conforme a literatura, os resultados parecem indicar a necessidade de redefinir a estrutura
fatorial da PSPT no DSM-5, sendo o modelo híbrido o mais adequado. Devido à escassez de literatura e
à discrepância entre resultados, serão necessários mais estudos acerca da invariância da medida nos
dois sexos.

Palavras-chave: PSPT, bombeiros voluntários portugueses, propriedades psicométricas,


estrutura fatorial, invariância da medida
v

Posttraumatic Stress Disorder Checklist for DSM-5 (PCL-5): Validation and measurement invariance in a
sample of Portuguese volunteer firefighters

Abstract

The PCL-5 is a questionnaire that assesses symptoms of posttraumatic stress disorder and it is not
validated for the population neither for the Portuguese volunteer firefighters. Due to the exposure to
potentially traumatic events, firefighters, are a vulnerable population to develop this disorder. Studies
indicate that although the DSM-5 model presents adequate adjustment, the Anedonia and Hybrid
models are the most suitable. There are few studies analysing measurement invariance in both
genders. This study aimed to analyze the factorial structure and the measurement invariance in both
genders, in a sample of Portuguese volunteer firefighters. A national sample allowed the data analysis
of 664 firefighters who answered to a set of self-report questionnaires, namely, PCL-5 and BSI.
According to the results, all models demonstrated adequate adjustment, with the Hybrid model having
the highest adjustment. Also, the DSM-5 and Anedonia models showed configurational invariance and
the Hybrid showed metric invariance. In agreement with literature, results seem to indicate the need to
redefine the factorial structure of PTSD in DSM-5, being the Hybrid model the most adequate. Due to
the reduced amount of investigation on this topic and results disparity, further studies on measurement
invariance in both genres should be carried out.

Keywords: PTSD, Portuguese volunteer firefighters, psychometric properties, factorial structure,


measurement invariance
Running head: PCL-5: VALIDAÇÃO E INVARIÂNCIA DA MEDIDA 6

Posttraumatic Stress Disorder Checklist for DSM-5 (PCL-5): Validação e invariância da medida numa
amostra de Bombeiros Voluntários Portugueses

Após a exposição a um ou mais acontecimentos traumáticos é provável o desenvolvimento de


mal-estar psicológico. Dependendo de fatores como a intensidade e a recorrência do acontecimento,
bem como das caraterísticas do indivíduo e dos recursos que tem disponíveis, pode observar-se
resiliência ou sintomatologia que poderá progredir para uma condição de perturbação mental como a
Perturbação de Stress Pós-Traumático (PSPT; American Psychiatric Association, 2013; Fraess-Phillips,
Wagner, & Harris, 2017). Ainda que qualquer indivíduo possa experienciar um ou mais acontecimentos
traumáticos ao longo da vida, determinados grupos, nomeadamente veteranos de guerra, técnicos da
emergência médica e bombeiros, apresentam uma maior probabilidade de exposição e, por seu turno,
uma maior vulnerabilidade ao desenvolvimento de sintomatologia psicopatológica (APA, 2013; Fraess-
Phillips et al., 2017), nomeadamente, sintomatologia pós-traumática. Por esse facto é perentório
validar e conhecer as caraterísticas de medidas capazes de avaliar esta sintomatologia, não só em
amostras na comunidade, como também nestes grupos de risco.
Na mais recente edição do Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais –
Quinta Edição (DSM-5; APA, 2013), os critérios de diagnóstico da PSPT sofreram algumas alterações.
Para além da revisão de muitos sintomas e da introdução de três novos, os três clusters de sintomas
evidenciados no anterior DSM-IV (APA, 1994) foram substituídos por quatro, através da divisão do
cluster Evitamento e entorpecimento em dois: Evitamento e Alterações negativas nas cognições e no
humor (Ashbaugh, Houle-Johnson, Herbert, El-Hage, & Brunet, 2016; Sveen, Bondjers, & Willebrand,
2016; Wortmann et al., 2016). Assim, o DSM-5 (APA, 2013) estabeleceu um modelo de quatro fatores:
Sintomas intrusivos (B1-B5), Evitamento (C1-C2), Alterações negativas nas cognições e no humor
(ANCH; [D1-D7]) e Alterações significativas da ativação e reatividade (AAR; [E1-E6]) (Ashbaugh et al.,
2016).
Estas modificações conduziram à necessidade de rever os instrumentos que avaliam a
sintomatologia de PSPT, como é o caso da PSPT checklist (PCL; Weathers et al., 1993), uma das
medidas de autorrelato mais amplamente utilizada neste domínio. Este instrumento existe, atualmente,
numa versão constituída por vinte itens, cada qual correspondendo a um dos vinte sintomas
estipulados no DSM-5 (APA, 2013) (Ashbaugh et al., 2016; Blevins, Weathers, Davis, Witte, & Domino,
2015; Bovin et al., 2015; Sveen, et al., 2016; Wortmann et al., 2016). Esta versão, denominada PCL-5
PCL-5: VALIDAÇÃO E INVARIÂNCIA DA MEDIDA 7

(Weathers et al., 2013), apresenta quatro subescalas que correspondem aos quatro clusters de
sintomas do DSM-5 (APA, 2013) (Ashbaugh et al., 2016).
Desde 2013, data da publicação do PCL-5 (Weathers et al., 2013), foram realizados vários
estudos com o intuito de analisar as propriedades psicométricas deste instrumento, considerando
diferentes amostras, tais como veteranos de guerra (Armour et al., 2015; Bovin et al., 2015; Tsai et al.,
2015; Wortmann et al., 2016), membros do serviço militar (Hoge, Riviere, Wilk, Herrell, & Weathers,
2014) e diversas amostras provenientes da comunidade (Armour et al., 2015; Ashbaugh et al., 2016;
Blevins et al., 2015; Carragher et al., 2015; Frankfurt, Armour, Contractor, & Elhai, 2016; Krüger-
Gottschalk et al., 2017; Liu et al., 2014; Sveen, et al., 2016). Independentemente da amostra utilizada,
os resultados têm demonstrado (para a escala total do instrumento) elevada consistência interna (α a
variar entre .94 e .96; Ashbaugh et al., 2016; Blevins et al., 2015; Bovin et al., 2015; Wortmann et al.,
2016) e elevada confiabilidade, observada através dos resultados dos teste-reteste (r a variar entre .82
e .89; Ashbaugh et al., 2016; Blevins et al., 2015; Bovin et al., 2015; Sveen, et al., 2016; Wortmann et
al., 2016). Relativamente à validade de critério, os resultados têm evidenciado uma validade
concorrente excelente quando se considera as correlações entre os resultados do PCL-5 (Weathers et
al., 2013) e os resultados de medidas que também avaliam a sintomatologia da PSPT e que avaliam a
sintomatologia da depressão e da ansiedade generalizada. Também têm demonstrado correlações
positivas robustas com os resultados de medidas de pânico, somatização e comprometimento do
funcionamento (Ashbaugh et al., 2016; Blevins et al., 2015; Bovin et al., 2015; Sveen, et al., 2016;
Wortmann et al., 2016). Quanto à validade divergente, os resultados têm demonstrado correlações
baixas com os resultados de psicopatia e consumo de álcool (Ashbaugh et al., 2016; Blevins et al.,
2015; Bovin et al., 2015; Sveen, et al., 2016; Wortmann et al., 2016).
Diversas investigações têm analisado, igualmente, a validade fatorial do PCL-5 (Weathers et al.,
2013) através de Análises Fatoriais Confirmatórias (AFC). Apesar dos resultados indicarem que o
modelo dos quatro fatores do DSM-5 (APA, 2013) proporciona um ajuste adequado aos dados, outros
estudos têm revelado que modelos constituídos por seis ou por sete fatores descrevem melhor a PSPT
(Armour et al., 2015; Ashbaugh et al., 2016; Blevins et al., 2015; Bovin et al., 2015; Liu et al., 2014;
Wortmann et al., 2016). Um dos modelos testados, desenvolvido a partir de uma amostra de chineses
sobreviventes a um terramoto (N=1196) e designado por modelo da Anedonia (Liu et al., 2014), é
constituído por seis fatores: Intrusão (B1-B5), Evitamento (C1-C2), Afeto negativo (D1-D4), Anedonia
(D5-D7), Ativação disfórica (E1-E2, E5-E6) e Ativação ansiosa (E3-E4). Neste modelo, o cluster D do
DSM-5 (APA, 2013) foi separado em dois clusters, Anedonia e Afeto negativo e o cluster E do DSM-5
PCL-5: VALIDAÇÃO E INVARIÂNCIA DA MEDIDA 8

(APA, 2013) foi também separado em dois, Ativação disfórica e Ativação ansiosa (Liu et al., 2014).
Segundo Watson (2005), a melhor adequação deste modelo justifica-se pelo facto deste separar
clusters que contêm construtos diferentes em domínios individuais, visto que os mecanismos
subjacentes a esses construtos funcionam de forma interindependente. Porém, é o Modelo Híbrido
(Armour et al., 2015), um modelo de sete fatores, que tem evidenciado melhor ajuste aos dados
quando comparado com os restantes modelos já desenvolvidos (Armour et al., 2015; Ashbaugh et al.,
2016; Blevins et al., 2015; Mordeno, Go, & Yangson-Serondo, 2016; Seligowski & Orcutt, 2015;
Wortmann et al., 2016). Este modelo, testado em amostras de veteranos de guerra (N=1484, Armour
et al., 2015) e de estudantes universitários americanos (N=497, Armour et al., 2015; N=412, Armour
et al., 2016), apresenta os seguintes sete clusters de sintomas: Reexperienciação (B1-B5), Evitamento
(C1-C2), Afeto negativo (D1-D4), Anedonia (D5-D7), Comportamentos externalizados (E1-E2), Ativação
ansiosa (E3-E4) e Ativação disfórica (E5-56). O que distingue este modelo do anterior é a introdução do
fator Comportamentos externalizados. Ao contrário dos restantes fatores, representados por sintomas
de internalização, este é descrito por sintomas comportamentais decorrentes da dificuldade em
controlar e/ou regular emoções e impulsos (Armour et al., 2015). A literatura acerca destes modelos e
a sua robustez nos resultados das AFC aponta, assim, para a necessidade de reconfiguração dos
clusters de sintomas evidenciados no DSM-5 (APA, 2013). Porém, será necessária mais investigação
neste âmbito, considerando diferentes amostras e variados métodos de recolha de dados (Bovin et al.,
2015).
Nesta análise da estrutura fatorial do PCL-5 (Weathers et al., 2013), alguns autores (Frankfurt
et al., 2016; Pendergast, Embse, Kilgus, & Eklund, 2016) têm salientado a necessidade de avaliar
potenciais variáveis moderadoras da estrutura fatorial da PSPT. Por exemplo, a consideração da
variável “sexo” tornaria possível efetuar comparações válidas dos resultados do PCL-5 (Weathers et al.,
2013) de grupos conceptualmente relevantes (neste caso, homens e mulheres), já que é conhecido
que se observam diferenças de género no que diz respeito à prevalência, severidade e expressão da
sintomatologia da PSPT. Apesar de os homens evidenciarem maior risco de exposição a eventos
potencialmente traumáticos, as mulheres apresentam, aproximadamente, o dobro do risco de
receberem o diagnóstico de PSPT, com sintomatologia significativamente mais severa (Carragher et al.,
2015; Frankfurt et al., 2016; Tolin & Foa, 2006). Ademais, em termos de apresentação sintomática,
um estudo de Carmassi et al. (2014) evidenciou que as mulheres relataram percentagens
significativamente superiores de memórias intrusivas, sonhos perturbadores, reações dissociativas (ex.:
flashbacks), evitamento de memórias, estado emocional negativo, interesse diminuído, resposta de
PCL-5: VALIDAÇÃO E INVARIÂNCIA DA MEDIDA 9

sobressalto exagerada e perturbação do sono, em comparação com os homens. Por sua vez, estes
relataram taxas significativamente superiores de comportamento imprudente ou autodestrutivo.
Desconhecendo a estrutura fatorial do instrumento nos dois sexos, a questão que surge é: será que as
diferenças observadas representam verdadeiras diferenças entre os homens e as mulheres ou estas
devem-se à existência de modelos específicos nos homens e nas mulheres? Para além de serem
necessárias mais investigações, com a utilização de diferentes amostras, que analisem as diferenças
de género na prevalência, severidade e expressão da sintomatologia, é indispensável responder a
questões acerca de possíveis diferenças de género no modelo fatorial da PSPT. Esta informação é
fundamental para o desenvolvimento de intervenções mais específicas de acordo com o género e de
acordo com sintomas particulares (Carragher et al., 2015).
A análise denominada Invariância da Medida verifica de que forma um modelo fatorial é
invariante em grupos de comparação (Marôco, 2014). Se esta se verificar, as diferenças observadas
entre os grupos refletem as verdadeiras diferenças nos construtos subjacentes, pelo que se torna
possível estabelecer comparações e interpretações significativas (Carragher et al., 2015; Pendergast et
al., 2016). Se não se verificar, as diferenças observadas entre os grupos poderão ser devidas a
disparidades na própria medida (Carragher et al., 2015; Frankfurt et al., 2016). Existem quatro níveis
de Invariância passíveis de serem analisados, de complexidade e restrições crescentes e interligados
entre si. O primeiro nível, Invariância Configuracional, pressupõe verificar se os sintomas se agrupam
em fatores equivalentes ao longo dos grupos, ou seja, se os participantes dos diferentes grupos
conceptualizam os construtos da mesma forma. Se este nível de Invariância se verificar, procede-se
com a análise do seguinte: a Invariância Métrica. Este nível restringe as forças das relações entre os
itens e os respetivos fatores latentes como equivalentes ao longo dos grupos, ou seja, pressupõe que
os fatores comuns apresentam os mesmos significados nos grupos analisados. Se se verificar, afirma-
se que o modelo apresenta Invariância da Medida Fraca e é possível proceder com a análise
subsequente: Invariância Escalar que, quando verificável, diz-se que o modelo apresenta Invariância da
Medida Forte. Este nível ocorre quando, para além de se verificar a Invariância Métrica, as
médias/interceptos dos itens demonstram-se equivalentes ao longo dos grupos. Isto significa que é
possível efetuar comparações significativas entre as médias latentes dos grupos, pois este tipo de
Invariância analisa o efeito de possíveis tendências de resposta grupais que poderão, de forma
sistemática, sobrestimar ou subestimar as respostas aos itens por parte de um determinado grupo. O
último nível de análise denomina-se Invariância Residual que, quando presente, diz-se que o modelo
apresenta Invariância da Medida Estrita. Este ocorre quando, para além de se verificar a Invariância
PCL-5: VALIDAÇÃO E INVARIÂNCIA DA MEDIDA 10

Escalar, as variâncias residuais dos itens, ou seja, a porção da variância não atribuível ao fator, são
equivalentes ao longo dos grupos. Porém, verifica-se uma discordância na literatura quanto à
necessidade de análise deste nível de Invariância para efetuar comparações significativas das médias
dos grupos (Frankfurt et al., 2016; Gregorich, 2006; Marôco, 2014; Milfont & Fischer, 2010;
Pendergast et al., 2016; Rutkowski & Svetina, 2014; Wu, Li, & Zumbo, 2007).
Até ao momento, apenas dois estudos analisaram a Invariância da Medida do PCL-5 (Weathers
et al., 2013) em relação ao sexo na população adulta (Carragher et al., 2015; Frankfurt et al., 2016).
De acordo com Carragher et al. (2015), verificou-se a Invariância da Medida Forte para todos os
modelos em análise, nomeadamente, para os modelos dos quatro fatores do DSM-5 (APA, 2013),
Anedonia (Liu et al., 2014) e Híbrido (Armour et al., 2015). Contudo, foram encontradas diferenças
relativas à expressão da sintomatologia da PSPT em consonância com as já mencionadas no estudo de
Carmassi et al. (2014). Em contrapartida, no estudo de Frankfurt et al. (2016), a Invariância
Configuracional não foi suportada para o modelo do DSM-5 (APA, 2013) e a Invariância da Medida
Forte foi suportada para os modelos da Anedonia (Liu et al., 2014) e Híbrido (Armour et al., 2015). É
de salientar que estes estudos utilizaram diferentes instrumentos de avaliação da sintomatologia da
PSPT, sendo que apenas o estudo de Frankfurt et al. (2016) utilizou o PCL-5 (Weathers et al., 2013).
Assim, tanto a escassez de literatura como a obtenção de resultados mistos apontam para a
necessidade de mais estudos empíricos acerca da temática.
O PCL-5 (Weathers et al., 2013) ainda não se encontra validado para determinadas amostras
nacionais, tais como a população portuguesa, nem em determinadas amostras vulneráveis ao
desenvolvimento da perturbação, tais como técnicos de emergência médica e bombeiros. Assim, sendo
este um assunto de investigação relativamente recente e com consideráveis lacunas, os objetivos deste
estudo concentraram-se na análise das propriedades psicométricas do PCL-5 (Weathers et al., 2013) e
da invariância do modelo fatorial nos grupos dos homens e das mulheres, numa amostra de
Bombeiros Voluntários Portugueses. Concretamente, com o presente estudo pretendeu-se: (a) analisar
as propriedades psicométricas do PCL-5 (Weathers et al., 2013), quanto à validade fatorial (em relação
aos seguintes modelos de fatores: quatro fatores do DSM-5 [APA, 2013], Anedonia [Liu et al., 2014] e
Híbrido [Armour et al., 2015]), validade concorrente e consistência interna e (b) analisar a invariância
dos modelos fatoriais no grupo dos homens e das mulheres. Com base na literatura, foram
conceptualizadas as seguintes hipóteses: espera-se que: 1) o modelo dos quatro fatores do DSM-5
(APA, 2013) proporcione um ajuste adequado; 2) os modelos da Anedonia (Liu et al., 2014) e Híbrido
(Armour et al., 2015) proporcionem um melhor ajuste; 3) as correlações entre os resultados do PCL-5
PCL-5: VALIDAÇÃO E INVARIÂNCIA DA MEDIDA 11

(Weathers et al., 2013) e os resultados do Brief Symptom Inventory (BSI; Derogatis, 1982), medida que
avalia sintomas psicopatológicos como Somatização, Depressão e Ansiedade, sejam elevadas,
indicando validade concorrente; 4) se verifique uma elevada consistência interna, tanto para a escala
total como para as subescalas; 5) a Invariância Configuracional não seja suportada para o modelo do
DSM-5 (APA, 2013), e que a Invariância da Medida Forte seja suportada para os modelos da Anedonia
(Liu et al., 2014) e Híbrido (Armour et al., 2015).
Método
Esta investigação inseriu-se no âmbito de um projeto de doutoramento da Dra. Rafaela Lopes,
denominado “Exposição a trauma, estratégias de coping e apoio familiar em Bombeiros Voluntários
Portugueses”, tendo-se utilizado dados previamente recolhidos neste contexto.
Participantes
No âmbito do projeto foram recolhidos dados válidos de 1155 Bombeiros Voluntários
Portugueses, pertencentes a Corporações de Bombeiros Voluntários de 18 distritos de Portugal
Continental, selecionadas aleatoriamente. Dentro destas, os participantes foram selecionados por
conveniência e para integrarem a amostra teriam de obedecer aos seguintes critérios de inclusão:
exercer a atividade de bombeiro em regime de voluntariado ou profissional e encontrarem-se no ativo
no exercício das suas funções. Dos 1155 participantes avaliados, foram excluídos quatro menores de
idade, 49 que não responderam ou responderam de forma incompleta aos diferentes instrumentos e
149 que não definiram o seu evento traumático mais marcante. Para efeito deste trabalho, e no
sentido de assegurar uma amostra de participantes dos dois sexos sem diferenças significativas ao
nível das outras variáveis sociodemográficas, foram retirados da base de dados os homens mais velhos
e consequentemente com mais tempo de serviço, que correspondiam igualmente aos que
apresentavam os níveis de escolaridade mais baixos. Assim, foram excluídos 289 participantes,
remanescendo um total de 664 participantes, cujas características são descritas na Tabela 1.
Instrumentos
Os participantes foram solicitados a responder a uma bateria de questionários de autorrelato,
cujo protocolo incluía, para além de questões sociodemográficas, dimensões como a frequência da
participação na vida associativa, frequência de exposição a acontecimentos traumáticos e grau de
perturbação associado (Questionário de Exposição e Perturbação dos Acontecimentos Traumáticos;
Maia & Carvalho, 2007), estratégias de coping (Brief COPE; Carver, 1997), sintomatologia de stress
pós-traumático (PCL-5; Weathers et al., 2013), interação trabalho-casa (SWING, Geurts et al., 2005),
satisfação em áreas da vida conjugal (EASAVIC; Narciso & Costa, 1996), possíveis consumos (álcool,
PCL-5: VALIDAÇÃO E INVARIÂNCIA DA MEDIDA 12

tabaco e medicação), perturbação psicológica - somatização, depressão e ansiedade (BSI; Derogatis,


1982) e satisfação geral em diferentes áreas da vida e com a atividade de bombeiro.
Neste estudo, foram utilizados apenas os dados obtidos com o Questionário de Exposição e
Perturbação dos Acontecimentos Traumáticos (Maia & Carvalho, 2007), com o PCL-5 (Weathers et al.,
2013) e com o BSI (Derogatis, 1982).
Questionário de Exposição e Perturbação dos Acontecimentos Traumáticos (QEPAT; Maia &
Carvalho, 2009). Apesar de na versão original este instrumento apresentar 40 itens, neste protocolo
sofreu um acréscimo de três itens, pelo que se encontra constituído por 43 acontecimentos
potencialmente traumáticos que poderão ocorrer ao participante durante o exercer da sua atividade
enquanto bombeiro. Para cada acontecimento, o participante deveria indicar a frequência com que lhe
aconteceu (numa escala de Likert de cinco pontos que se estende de 0 “nunca” a 4 “frequentemente”)
e o quanto foi perturbador para si (numa escala de Likert de cinco pontos que se estende de 0 “nada”
a 4 “muitíssimo”). Após esta listagem de acontecimentos, foi ainda pedido ao participante que
descrevesse o acontecimento que considerava ser o mais marcante para si e que respondesse a
algumas questões relacionadas (ex.: há quanto tempo). Neste estudo, foi com base nesse
acontecimento descrito que o participante respondeu ao PCL-5 (Weathers et al., 2013).
Posttraumatic Stress Disorder Checklist for DSM-5 (PCL-5; Weathers et al., 2013, versão
portuguesa de Ferreira, Ribeiro, Santos, & Maia, 2016). É uma medida de autorrelato utilizada para
avaliar a sintomatologia da PSPT, constituída por vinte itens que correspondem aos vinte sintomas do
DSM-5 (APA, 2013). Inclui quatro subescalas, que também correspondem aos clusters do DSM-5:
Sintomas intrusivos (B1-B5), Evitamento (C1-C2), Alterações negativas na cognição e no humor (D1-
D7) e Alterações significativas da ativação e reatividade (E1-E6). Para cada sintoma, o participante
classificou a sua severidade, numa escala de Likert de cinco pontos de 0 a 4 (0 “nada” a 4
“extremamente”), tendo em conta o quão problemático foi para si no último mês. Os resultados totais
podem variar entre 0 e 80, sendo que quanto mais elevada a pontuação, mais severa é a
sintomatologia (Bovin et al., 2015). O instrumento refere-se a um evento traumático em específico e o
formato de administração utilizado solicitou aos participantes que identificassem o seu evento mais
marcante e avaliou de que forma é que este evento atendeu ao Critério A (Blevins et al., 2015). Para se
estabelecerem diagnósticos provisórios de acordo com as regras do DSM-5 (APA, 2013), um item é
considerado clinicamente relevante quando apresenta um resultado igual a 2 (“moderadamente”) ou
superior; sendo necessários resultados iguais ou superiores a 2 em pelo menos um Sintoma intrusivo,
pelo menos um sintoma de Evitamento, pelo menos dois sintomas de ANCH e pelo menos dois
PCL-5: VALIDAÇÃO E INVARIÂNCIA DA MEDIDA 13

sintomas de AAR (Ashbaugh et al., 2016; Blevins et al., 2015). O instrumento tem demonstrado
excelentes propriedades psicométricas: elevadas consistência interna (α=.94), fiabilidade teste-reteste
(r=.82) e validade convergente e divergente (Blevins et al., 2015).
Brief Symptoms Inventory (BSI; Derogatis, 1982, versão portuguesa de Canavarro, 1999). O
questionário é constituído por 53 itens que avaliam sintomas psicopatológicos organizados em nove
dimensões e três escalas globais. Neste protocolo foram apenas utilizadas três dimensões de avaliação
– Somatização, Depressão e Ansiedade - constituindo um total de dezanove itens. Cada item foi
classificado numa escala de Likert de cinco pontos de 0 a 4 (0 “nunca” a 4 “muitíssimas vezes”). A
versão Portuguesa revelou boas propriedades psicométricas, com coeficientes de consistência interna
entre .72 e .80, à exceção das dimensões da Ansiedade Fóbica e do Psicoticismo (α=.62). Os valores
da fiabilidade teste-reteste variaram entre .65 (dimensão da Hostilidade) e .80 (dimensão da
Depressão). Neste estudo, o coeficiente da consistência interna demonstrou um valor de α=.92 quando
se considerou as três dimensões em simultâneo, e α=.79, α=.84 e α=.87 para as dimensões de
Ansiedade, Somatização e Depressão, respetivamente.
Procedimento
O projeto de investigação recebeu parecer positivo da Comissão de Ética da Universidade do
Minho e foi autorizado pela entidade que tutela os bombeiros, nomeadamente, o Núcleo de Segurança
e Saúde da Autoridade Nacional de Proteção Civil (ANPC). Com base no recenseamento desta
entidade, foram selecionadas aleatoriamente as Corporações de Bombeiros Voluntários. A
investigadora visitou as Corporações que aceitaram participar mediante contacto prévio e administrou
os instrumentos a todos os sujeitos que se mostraram disponíveis para participar, após esclarecimento
dos objetivos e do formato anónimo e confidencial da participação e subsequente obtenção de
consentimento informado. Os questionários foram apresentados sob a mesma ordem a todos os
participantes, de forma individual e com um único momento de avaliação.
Análise de Dados
Com o intuito de avaliar as propriedades psicométricas do PCL-5 (Weathers et al., 2013),
analisou-se a sensibilidade psicométrica, a validade fatorial, as validades convergente e discriminante,
a validade concorrente, a invariância do modelo fatorial nos grupos dos homens e das mulheres e a
consistência interna.
O pressuposto da sensibilidade psicométrica foi avaliado através das medidas de forma da
distribuição dos itens: a assimetria univariada e a curtose univariada. De acordo com Kline (2005), os
itens cujos valores da assimetria e da curtose univariadas são superiores a 3 e a 10, respetivamente,
PCL-5: VALIDAÇÃO E INVARIÂNCIA DA MEDIDA 14

apresentam um desvio à distribuição normal capaz de inviabilizar as análises psicométricas


subsequentes.
Para determinar qual o modelo que melhor se ajusta aos dados, foram conduzidas Análises
Fatoriais Confirmatórias (AFC). Para avaliar a qualidade do ajustamento dos modelos, recorreu-se aos
seguintes índices e respetivos valores de referência: X2/gl (razão da estatística do Qui-quadrado pelos
graus de liberdade) inferior a 2.0, TLI (Tucker-Lewis Index) e CFI (Comparative Fit Index) superiores a
9.0, RMSEA (Root Mean Square Error of Aproximation) inferior a 0.10 e AIC (Akaike Information
Criterion) que não apresenta valor de referência mas, quanto menor, melhor (Marôco, 2014).
A invariância do modelo fatorial nos grupos dos homens e das mulheres foi examinada através
de uma Análise Fatorial Confirmatória Multigrupos, utilizando uma estratégia stepwise de restrições
crescentes. Por exemplo, para analisar a Invariância da Medida Fraca, impôs-se restrições de igualdade
aos pesos fatoriais do modelo ajustado aos grupos em simultâneo. As estatísticas de teste foram a
diferença do qui-quadrado de ajustamento (∆X2) e a diferença do Comparative Fit Index (∆CFI), entre o
modelo com os parâmetros fixos e o modelo basal com os parâmetros livres. Como o X2 é sensível à
dimensão da amostra, alguns autores têm questionado a utilização do ∆X2 perante amostras de
elevada dimensão e/ou muito diferentes entre si (Marôco, 2014). De acordo com as sugestões de
Cheung e Rensvold (2002) e de modo a contornar o facto acima mencionado, utilizámos a ∆CFI, não
afetada pela especificação do modelo e cujo valor de ∆CFI < - 0.01 aponta para a não invariância do
modelo.
As validades convergente e discriminante foram analisadas através da obtenção da Variância
Extraída Média (VEM) dos fatores e da comparação entre estes e o quadrado da correlação entre esses
fatores, respetivamente. A validade discriminante fica demonstrada se as VEM dos fatores forem
superiores ou iguais ao quadrado da correlação entre esses fatores (Marôco, 2010).
A validade concorrente foi analisada através da estimativa das correlações entre os resultados
da escala total do PCL-5 (Weathers et al., 2013) e os resultados do BSI (Derogatis, 1982).
Por último, estimou-se a consistência interna, tanto para a escala total e subescalas do PCL-5
(Weathers et al., 2013) como para os grupos dos homens e das mulheres. Para além do coeficiente
alfa de Cronbach (α), também se estimou a fiabilidade compósita (FC), uma medida de fiabilidade
especialmente apropriada para a AFC e facilmente estimável a partir desta (Marôco, 2014). Considera-
se a fiabilidade adequada quando o coeficiente α de Cronbach e a fiabilidade compósita são iguais ou
superiores a 0.7 (Hair, Anderson, Tatham, & Black, 1998).
PCL-5: VALIDAÇÃO E INVARIÂNCIA DA MEDIDA 15

Para efetivar as análises estatísticas, foram utilizados os programas IBM SPSS Statistics 24 e
IBM SPSS Amos 24.
Resultados
Dados sociodemográficos e sintomas de stress pós-traumático

Tabela 1
Dados sociodemográficos e resultados do PCL-5, organizados de acordo com o Sexo.
Indicador Sexo Total
Masculino Feminino
n (%) 414 (62.3) 250 (37.7) 664
Idade (M, DP) 30.47 (7.62) 30.14 (8.52) 30.34 (7.97)
Nacionalidade (%)
Portuguesa 408 (98.6) 246 (98.4) 654 (98.5)
Estrangeira 6 (1.4) 4 (1.6) 10 (1.5)
Habilitações literárias (%)
Ensino primário 3 (0.7) 1 (0.4) 4 (0.6)
Ensino básico 107 (25.8) 54 (21.6) 161 (24.2)
Ensino secundário 233 (56.3) 135 (54.0) 368 (55.4)
Ensino superior 71 (17.1) 60 (24.0) 131 (19.7)
Regime do bombeiro (%)
Voluntário 208 (50.2) 142 (56.8) 350 (52.7)
Profissional e voluntário 206 (49.8) 108 (43.2) 314 (47.3)
Tempo de serviço em anos (M, DP) 10.95 (6.73) 10.04 (7.53) 10.61 (7.05)
Pertencer a ECINs (%) 339 (81.9) 203 (81.2) 542 (81.6)
PCL-5 (M, DP)
Cluster B 2.61 (3.38) 3.10 (3.73) 2.79 (3.52)
Cluster C 1,27 (1.64) 1.76 (1.97) 1.45 (1.78)
Cluster D 2.63 (3.82) 2.56 (4.17) 2.60 (3.95)
Cluster E 3.23 (3.89) 2.98 (3.62) 3.14 (3.79)
Escala total 9.74 (11.05) 10.40 (11.69) 9.99 (11.29)
Nota. ECINs = Equipas de Combate a Incêndios. PCL-5 = PTSD Checklist for Diagnostic and
Statistical Manual of Mental Disorders - Fifth Edition.
PCL-5: VALIDAÇÃO E INVARIÂNCIA DA MEDIDA 16

Os sintomas relatados no PCL-5 (Weathers et al., 2013) em relação à amostra total e aos
grupos dos homens e das mulheres encontram-se na Tabela 1. Cerca de 5.9% da amostra total e 5.3%
e 6.7% dos homens e mulheres cumpriram, respetivamente, os critérios provisórios para o diagnóstico
de PSPT do DSM-5.

Sensibilidade Psicométrica

Tabela 2
Estatísticas Descritivas dos 20 itens que compõem o PCL-5 (erro-padrão da assimetria=0.095; erro-
padrão da curtose=0.189; n=664).
Itens Média Desvio-padrão Assimetria Curtose Mínimo Máximo
PCL1 0.77 0.96 1.24 0.99 0 4
PCL2 0.44 0.80 2.07 4.27 0 4
PCL3 0.49 0.84 1.89 3.19 0 4
PCL4 0.64 0.87 1.44 1.92 0 4
PCL5 0.45 0.81 1.93 3.50 0 4
PCL6 0.80 1.01 1.39 1.41 0 4
PCL7 0.66 0.97 1.58 1.90 0 4
PCL8 0.53 0.89 1.87 3.19 0 4
PCL9 0.35 0.77 2.76 8.10 0 4
PCL10 0.33 0.71 2.44 5.96 0 4
PCL11 0.35 0.71 2.43 6.27 0 4
PCL12 0.30 0.73 2.85 8.27 0 4
PCL13 0.39 0.77 2.20 4.73 0 4
PCL14 0.36 0.74 2.36 5.87 0 4
PCL15 0.36 0.74 2.36 5.75 0 4
PCL16 0.41 0.78 2.09 4.03 0 4
PCL17 0.99 1.13 1.06 0.31 0 4
PCL18 0.38 0.74 2.21 4.95 0 4
PCL19 0.46 0.80 1.96 3.81 0 4
PCL20 0.53 0.92 1.92 3.23 0 4
PCL-5: VALIDAÇÃO E INVARIÂNCIA DA MEDIDA 17

As propriedades distributivas de cada um dos itens do PCL-5 encontram-se na Tabela 2. Todos


os pontos da escala foram utilizados (Mínimo=0 e Máximo=4) e todos os itens apresentaram os valores
da média próximos dos valores mínimos. Os valores da assimetria e da curtose univariadas de todos os
itens não se afastaram excessivamente dos valores considerados adequados para a assunção do
pressuposto da normalidade (sk univariada < 3 e ku univariada < 10), o que está de acordo com as
recomendações de Kline (2005), viabilizando as análises subsequentes.
Validade de Construto
Em relação à validade do construto analisamos a validade fatorial e as validades convergente e
discriminante.
Validade fatorial. Para todos os modelos, os valores dos pesos fatoriais e das fiabilidades
individuais revelaram-se adequados (λ≥0.5 e R2≥0.25, respetivamente).
Os modelos do DSM-5 (APA, 2013), da Anedonia e Híbrido revelaram uma qualidade de
ajustamento boa (X2/gl=3.874; CFI=0.936; GFI=0.912; RMSEA=0.066; P[rmsea≤0.05]=0.000),
boa/muito boa (X2/gl=3.425; GFI=0.927; RMSEA=0.06; P[rmsea≤0.05]=0.001; CFI=0.949) e
boa/muito boa (X2/gl=3.406; GFI=0.929; RMSEA=0.06; P[rmsea≤0.05]=0.002; CFI=0.951),
respetivamente (ver Tabela 3). Os modelos da Anedonia e Híbrido revelaram um ajustamento
significativamente superior ao do modelo do DSM—5 (X2(10)=18.307, p<0.05 e ∆AIC=86.04, entre os
modelos da Anedonia e do DSM-5 e X2(14)=23.685, p<0.05 e ∆AIC=94.53, entre os modelos Híbrido e
do DSM-5). Adicionalmente, o modelo Híbrido revelou um ajustamento significativamente superior ao
do modelo da Anedonia (X2(4)=9.488, p<0.05 e ∆AIC=8.49), sendo, portanto, o modelo que
apresentou o melhor ajuste.

Tabela 3
Índices de ajustamento das AFCs dos três modelos fatoriais considerados no estudo em relação aos
sintomas de PSPT do DSM-5 (n=664).
Modelo X2 gl CFI GFI RMSEA (90% IC) AIC
Modelo 1 619.837 160 0.936 0.912 0.066 (0.060-0.071) 719.837
Modelo 2 513.797 150 0.949 0.927 0.060 (0.055-0.066) 633.797
Modelo 3 497,307 146 0.951 0.929 0.060 (0.054-0.066) 625.307
Nota. X2 = teste do Qui-quadrado; gl = graus de liberdade; CFI = Comparative Fit Index; GFI = Goodness
of Fit Index; RMSEA = Root Mean Square Error of Approximation; IC = Intervalo de Confiança; Modelo
1 = Modelo do DSM-5; Modelo 2 = Modelo da Anedonia; Modelo 3 = Modelo Híbrido.
PCL-5: VALIDAÇÃO E INVARIÂNCIA DA MEDIDA 18

Validades convergente e discriminante do modelo dos quatro fatores do DSM-5 (APA, 2013). A
variância extraída média (VEM), indicador da validade convergente, revelou-se adequada para os
clusters ‘Sintomas intrusivos’ (0.601) e ‘Evitamento’ (0.596) e próxima do aceitável para os clusters
‘ANCH’ (0.498) e ‘AAR’ (0.480). No que diz respeito à validade discriminante, os clusters ‘Sintomas
intrusivos’ e ‘ANCH’, ‘Sintomas intrusivos’ e ‘AAR’ e ‘ANCH’ e ‘AAR’ não apresentaram este tipo de
validade (ver Tabela 4).

Tabela 4
Variância Extraída Média (VEM), Quadrado da correlação de Pearson entre os fatores (R 2) e Fiabilidade
Compósita (FC).
Fator VEM R2 FC
Sintomas Evitamento ANCH AAR
intrusivos
Sintomas intrusivos 0.601 1 0.88
Evitamento 0.596 0.593 1 0.75
ANCH 0.498 0.578 0.436 1 0.87
AAR 0.480 0.672 0.436 0.774 1 0.84

Invariância da Medida

Tabela 5
Índices de ajustamento das AFCs multigrupo em relação aos grupos dos homens e das mulheres em
simultâneo.
Modelos testados X2 gl CFI TLI RMSEA (90% IC)
Comparações em relação ao género
Modelo do DSM-5 1004.752 320 0.908 0.890 0.057 (0.053-0.061)
Modelo da Anedonia 868.462 300 0.923 0.903 0.054 (0.049-0.058)
Modelo Híbrido 851.015 292 0.925 0.902 0.054 (0.050-0.058)
Nota. X2 = teste do Qui-quadrado; gl = graus de liberdade; CFI = Comparative Fit Index; GFI = Goodness
of Fit Index; RMSEA = Root Mean Square Error of Approximation; IC = Intervalo de Confiança.
Comparações em relação ao género (N=664; homens, n=414; mulheres, n=250).
PCL-5: VALIDAÇÃO E INVARIÂNCIA DA MEDIDA 19

Modelo do DSM-5

Figura 1. Modelo dos quatro fatores do DSM-5 ajustado a dois grupos, (a) Homens e (b) Mulheres, em
simultâneo (X2(320) = 1004.752; X2/gl = 3.140; CFI = 0.908; TLI = 0.890; RMSEA = 0.057;
P[rmsea≤0.05]=0.002).

O modelo fatorial apresentou um ajustamento aceitável (X2/gl = 3.140; TLI = 0.890; RMSEA =
0.057; P[rmsea≤0.05]=0.002; CFI = 0.908) aos grupos dos homens e das mulheres em simultâneo,
demonstrando-se a invariância configuracional do modelo fatorial (ver Tabela 5). Contudo, os testes ∆X2
e ∆CFI entre o modelo com os pesos fatoriais fixos e o modelo com os parâmetros livres nos dois
grupos indicaram que não se verifica a invariância da medida métrica (ΔX2(16) = 49.219; p = 0.000;
estatisticamente significativo e ∆CFI < - 0.01).
PCL-5: VALIDAÇÃO E INVARIÂNCIA DA MEDIDA 20

Modelo da Anedonia

Figura 2. Modelo da Anedonia ajustado a dois grupos, (a) Homens e (b) Mulheres, em simultâneo ( X2(300)
= 868.462; X2/gl = 2.895; CFI = 0.923; TLI = 0.903; RMSEA = 0.054; P[rmsea≤0.05]=0.081).

O modelo fatorial apresentou um bom ajustamento (X2/gl = 2.895; RMSEA = 0.054;


P[rmsea≤0.05]=0.081; CFI = 0.923; TLI = 0.903) aos grupos dos homens e das mulheres em
simultâneo, demonstrando-se a invariância configuracional do modelo fatorial (ver Tabela 5). Contudo,
os testes ∆X2 e ∆CFI entre o modelo com os pesos fatoriais fixos e o modelo com os parâmetros livres
nos dois grupos indicaram que não se verifica a invariância da medida métrica (ΔX2(14) = 33.945; p =
0.002; estatisticamente significativo e ∆CFI < - 0.01).
PCL-5: VALIDAÇÃO E INVARIÂNCIA DA MEDIDA 21

Modelo Híbrido

Figura 3. Modelo Híbrido ajustado a dois grupos, (a) Homens e (b) Mulheres, em simultâneo ( X2(292) =
851.015; X2/gl = 2.914; CFI = 0.925; TLI = 0.902; RMSEA = 0.054; P[rmsea≤0.05]=0.068).

O modelo fatorial apresentou um bom ajustamento (X2/gl = 2.914; RMSEA = 0.054;


P[rmsea≤0.05]=0.068; CFI = 0.925; TLI = 0.902) aos grupos dos homens e das mulheres em
simultâneo, demonstrando-se a invariância configuracional do modelo fatorial (ver Tabela 5). Os testes
∆X2 e ∆CFI entre o modelo com os pesos fatoriais fixos e o modelo com os parâmetros livres nos dois
grupos indicaram que se verifica a invariância métrica (ΔX2(13) = 20.882; p = 0.075; não
estatisticamente significativo e ΔCFI = - 0.01). Contudo, os testes ∆X2 e ΔCFI entre o modelo com os
pesos fatoriais fixos e o modelo com os pesos fatoriais e as médias/interceptos fixos nos dois grupos
indicaram que não se verifica a invariância escalar (∆X2(20) = 62.223; p = 0.000; estatisticamente
significativo e ΔCFI < - 0.01).
Validade de Critério
Em relação à validade de critério analisamos a validade concorrente.
Validade concorrente. Obteve-se uma correlação fraca entre os resultados da escala total do
PCL-5 e os resultados das subescalas do BSI (r=0.493), não se verificando uma boa validade
concorrente (ver Tabela 6).
PCL-5: VALIDAÇÃO E INVARIÂNCIA DA MEDIDA 22

Tabela 6
Coeficientes de correlação de Pearson entre os resultados do PCL-5 e os resultados do BSI e coeficientes
alfa (α) de Cronbach para a escala total e subescalas do PCL-5, em relação à amostra total e aos grupos
dos homens e das mulheres.
PCL-5
Sintomas Evitamento ANCH AAR Escala
intrusivos total
Coeficientes de correlação de Pearson
PCL-5
Sintomas intrusivos 1
Evitamento 0.641** 1
ANCH 0.665** 0.540** 1
AAR 0.699** 0.554** 0.722** 1
Escala total 0.808** 0.658** 0.803** 0.806** 1

BSI
Somatização 0.373** 0.270** 0.338** 0.354**
Depressão 0.362** 0.341** 0.442** 0.412**
Ansiedade 0.421** 0.298** 0.383** 0.418**
Escala total 0.411** 0.291** 0.398** 0.392** 0.493**

Coeficientes α de Cronbach
Amostra global 0.88 0.77 0.86 0.83 0.94
Sexo
Masculino 0.88 0.74 0.86 0.83 0.94
Feminino 0.88 0.79 0.87 0.82 0.94
Nota. BSI = Brief Symptom Inventory.
**p < 0.01.

Consistência Interna
A Tabela 4 apresenta os resultados da Fiabilidade Compósita e a Tabela 6 apresenta os
resultados do coeficiente alfa de Cronbach em relação ao PCL-5. Os resultados revelaram que tanto a
PCL-5: VALIDAÇÃO E INVARIÂNCIA DA MEDIDA 23

escala total como as subescalas apresentam consistência interna boa (>0.7) a excelente (>0.85), para
a amostra global e para os grupos dos homens e das mulheres.
Discussão
Este estudo analisou as propriedades psicométricas do PCL-5 (Weathers et al., 2013),
comparando o ajuste de três modelos diferentes e a invariância dos modelos fatoriais nos dois sexos,
numa amostra de Bombeiros Voluntários Portugueses. É de salientar a sua importância para uma
temática de investigação relativamente recente e com consideráveis lacunas. Os resultados indicaram
que os três modelos apresentaram um bom ajustamento aos dados, com o modelo Híbrido a
apresentar o melhor ajustamento. Quanto à Invariância da Medida, os modelos dos quatro fatores do
DSM-5 (APA, 2013) e da Anedonia apresentaram invariância configuracional e o modelo Híbrido
apresentou invariância métrica.
Validade Fatorial
Em concordância com as hipóteses, os resultados indicaram que apesar do modelo dos quatro
fatores do DSM-5 (APA, 2013) apresentar um ajuste adequado, os modelos da Anedonia e Híbrido
apresentaram o melhor ajuste. Estes resultados encontram-se em concordância com a literatura
(Armour et al., 2015; Ashbaugh et al., 2016; Blevins et al., 2015; Bovin et al., 2015; Liu et al., 2014;
Wortmann et al., 2016). Ademais, o modelo Híbrido demonstrou o melhor ajuste quando em
comparação com os restantes modelos, o que também está de acordo com a literatura (Armour et al.,
2015; Ashbaugh et al., 2016; Blevins et al., 2015; Mordeno, Go, & Yangson-Serondo, 2016; Seligowski
& Orcutt, 2015; Wortmann et al., 2016). Esta constância poderá sugerir a necessidade de redefinir a
estrutura fatorial da PSPT apresentada atualmente no DSM-5 (APA, 2013), sendo que o Modelo Híbrido
aparenta ser o mais adequado. Todavia, serão necessários mais estudos acerca da estrutura fatorial da
PSPT com outras amostras e populações. É de salientar a importância desta temática de investigação
para o contexto da prática clínica e, particularmente, para a redefinição de instrumentos de avaliação e
diagnóstico da PSPT.
Invariância da Medida no Género
Foram rejeitadas as duas hipóteses sobre invariância da medida. Previa-se que o modelo dos
quatro fatores do DSM-5 (APA, 2013) não apresentasse qualquer tipo de invariância, no entanto, este
apresentou invariância configuracional. Também se previa que os modelo da Anedonia e Híbrido
apresentassem invariância da medida escalar, no entanto, ambos apresentaram níveis inferiores de
invariância: o modelo da Anedonia apresentou invariância configuracional e o modelo Híbrido
apresentou invariância métrica. Para os modelos do DSM-5 (APA, 2013) e da Anedonia, os homens e
PCL-5: VALIDAÇÃO E INVARIÂNCIA DA MEDIDA 24

as mulheres conceptualizaram os construtos da mesma forma, porém, os fatores comuns não


apresentaram significados equivalentes nos grupos dos homens e das mulheres. Isto significa que
alguns itens refletiram melhor o construto latente para os membros de um dos grupos. Quanto ao
modelo Híbrido, os fatores comuns apresentam os mesmos significados nos grupos dos homens e das
mulheres, demonstrando este modelo, mais uma vez, uma melhor adequação aos dados deste estudo.
Estes resultados não estão em concordância com nenhum dos resultados mencionados na literatura
(Carragher et al., 2015; Frankfurt et al., 2016). Devido à escassez de estudos que analisaram esta
temática, comparando os grupos dos homens e das mulheres, é difícil estabelecer possíveis
explicações para esta discrepância. Contudo, o facto de terem sido utilizados diferentes amostras e
diferentes instrumentos de avaliação da sintomatologia da PSPT poderá ter contribuído para a
heterogeneidade dos resultados. Indubitavelmente, devido a estas caraterísticas, serão necessários
mais estudos acerca desta temática.
Nenhum modelo analisado apresentou invariância escalar, o que não garante uma comparação
válida entre os dois sexos quanto às médias dos clusters de sintomas e dos itens considerando cada
um dos modelos. Presumivelmente, existiram tendências de resposta grupais que sobrestimaram ou
subestimaram as respostas aos itens obtidas por cada grupo. Variáveis de caráter cultural e de género
poderão ter enviesado as respostas aos itens, bem como a desejabilidade social, a necessidade de
superar limitações relacionadas com o grupo (ex.: estereótipos) e os diferentes pontos de referência
através dos quais os participantes avaliam os seus próprios pensamentos e/ou comportamentos, etc.
(Mesquita, 2018, in press; Pendergast et al., 2016). Assim, não é possível concluir que as diferenças
de género observadas nos resultados do PCL-5 reflitam as verdadeiras diferenças nos construtos
subjacentes à PSPT, (Carragher et al., 2015; Pendergast et al., 2016). É de sublinhar que existem
diversas teorias que pretendem justificar as diferenças de género quanto à prevalência, severidade e
expressão da sintomatologia da PSPT observadas frequentemente na literatura (Carmassi et al., 2014;
Carragher et al., 2015; Frankfurt et al., 2016; Tolin & Foa, 2006). Dentro destas teorias, são de
mencionar a maior probabilidade de as mulheres sofrerem exposição a eventos traumáticos, a idade
mais jovem das mulheres no momento da exposição traumática, as reações psicobiológicas específicas
do género à exposição traumática e a maior probabilidade das mulheres experienciarem, de um modo
geral, afeto negativo (Carragher et al., 2015; Mesquita, 2018, in press). É provável que estas
diferenças de género se devam a uma variedade de fatores, alguns dos quais acima mencionados,
outros dos quais relacionados com disparidades na própria medida de avaliação (Carragher et al.,
2015; Frankfurt et al., 2016). Será que estas diferenças de género serão válidas? Será que se
PCL-5: VALIDAÇÃO E INVARIÂNCIA DA MEDIDA 25

obtiveram sob influência da não invariância da estrutura fatorial, ou seja, devido à existência de
modelos específicos nos homens e nas mulheres? Outra hipótese explicativa que surge recentemente
na literatura, mas que ainda não foi empiricamente investigada, são as diferenças ao nível da
interpretação das questões acerca dos sintomas (Carragher et al., 2015). No contexto dos bombeiros
voluntários portugueses, um estudo de Mesquita (2018) demonstrou a ausência de diferenças
estatisticamente significativas entre os sexos quanto à sintomatologia de PSPT. O facto de as mulheres
constituírem a minoria numa profissão tradicionalmente masculina pode impor-lhes a necessidade de
contestarem o estereótipo da fragilidade feminina e de superarem as expectativas relacionadas com a
performance dos homens, o que poderá ter influenciado as suas respostas Mesquita, 2018, in press.
Este tipo de investigação tem relevância para a prática clínica, nomeadamente, para a
promoção de intervenções específicas consoante o género e consoante a especificidade da
sintomatologia psicopatológica (Carragher et al., 2015; Mesquita, 2018, in press). Para além disso, no
contexto deste estudo, é de frisar a sua pertinência visto que os bombeiros, dada a sua exposição e
adversidade, são vulneráveis ao desenvolvimento da PSPT.
Limitações e Forças
Relativamente às limitações deste estudo, são de mencionar as relacionadas com a
metodologia de análise. Apesar dos valores da assimetria e da curtose univariadas não se afastarem
excessivamente dos valores considerados adequados para a assunção do pressuposto da normalidade
(Kline, 2005), o mesmo não se verificou em relação ao valor da curtose multivariada ( ku multivariada >
10). No entanto, só é possível efetivar AFC Multigrupos utilizando o método de estimação da Máxima
Verosimilhança (ML), método que requere a validação do pressuposto das normalidades univariada e
multivariada, quando se utiliza o programa IBM SPSS Amos 24. Por este motivo, o método ML foi
utilizado, mas poderá ter enviesado os resultados. É de mencionar que o método ML é bastante
robusto, mesmo em casos de violações graves da normalidade e que a utilização alternativa do método
dos Mínimos Quadrados Não Ponderados (ULS), método apropriado para a não validação do
pressuposto da normalidade, não é aconselhado devido à desadequação dos seus índices e à sua
ausência de robustez (Mâroco, 2014). Esta limitação transcende a possibilidade de escolha do
investigador e suscita a necessidade de se desenvolverem metodologias de análise robustas em
relação a amostras ou populações que, naturalmente, não cumprem o pressuposto da distribuição
normal. Uma outra limitação diz respeito ao facto de todos os modelos fatoriais analisados
apresentarem fatores constituídos por menos do que três itens, o que poderá ter contribuído, também,
para um enviesamento dos resultados obtidos. Por último, sendo este um estudo cross-sectional, não
PCL-5: VALIDAÇÃO E INVARIÂNCIA DA MEDIDA 26

foi possível obter conclusões acerca da confiabilidade obtida através dos teste-reteste. Quanto aos
pontos fortes deste estudo, para além da sua pertinência e inovação já destacadas ao longo desta
secção, salienta-se o facto do recrutamento da amostra de Bombeiros Voluntários Portugueses ter sido
efetuado a nível nacional, o que permitiu obter uma amostra não só representativa desta população,
como de elevada dimensão. Uma amostra com estas caraterísticas é essencial para a obtenção de
resultados válidos e generalizáveis.
Recomendações para o Futuro
Tal como já foi mencionado previamente, é necessário que se realizem mais estudos acerca
das propriedades psicométricas do PCL-5, nomeadamente acerca da validade fatorial, utilizando outras
amostras ou populações também vulneráveis ao desenvolvimento da PSPT. É de salientar, também, a
necessidade de mais estudos acerca da Invariância da Medida, tendo em conta os grupos dos homens
e das mulheres em diferentes amostras e populações, devido à escassez da literatura e à discrepância
entre os resultados obtidos. Ainda, seria pertinente estudar a Invariância da Medida tendo em conta
outros grupos de comparação (ex.: exposição única vs. exposição crónica a um evento traumático,
etc.).
PCL-5: VALIDAÇÃO E INVARIÂNCIA DA MEDIDA 27

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