Apelação - Lesão Corporal Gravíssima

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ADVOGADO

ADV Advogado – OAB/MG000.000

EXMO. JUIZ DE DIREITO DA 2ª VARA CRIMINAL DA COMARCA DE


BETIM/MG

Autos nº: 0000000-00.0000.0.00.0000

JOAQUIM MARTINS, já qualificado nos presentes autos, vem, à


presença de Vossa Excelência, por intermédio de seu advogado constituído,
interpor recurso de

APELAÇÃO

Com fulcro no artigo 593, I, do Código de Processo Penal, em face da


sentença condenatória (fl. xxx).

Para tanto, seguem anexas as razões recursais para que, após as


formalidades legais, sejam os autos remetidos ao tribunal ad quem para
reexame da matéria.

Nestes termos,
Pede deferimento.

XXXXXX/MG, 22 de maio de 2023.

ADVOGADO
OAB/MG 000.000
ADVOGADO
ADV Advogado – OAB/MG000.000

RAZÕES DA APELAÇÃO

RECORRENTE: JOAQUIM MARTINS


RECORRIDO: Ministério Público do Estado de Minas Gerais
PROCESSO Nº: 0000000-00.0000.0.00.0000

EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE MINAS GERAIS,


COLENDA CÂMARA,
ÍNCLITOS DESEMBARGADORES,

DA TEMPESTIVIDADE

A presente peça é tempestiva porquanto o Apelante tem o prazo de 5


(cinco) dias para interpor o recurso (art.593, CPP) e oito dias para apresentar
razões recursais (art.600, CPP). Ademais, ensina o artigo 798, §1º do mesmo
diploma legal, que não se computará no prazo o dia do começo, incluindo-se,
porém, o do vencimento. Desse modo, o prazo deste Recorrente foi deflagrado
na data de 18/05/2023, primeiro dia útil subsequente à data em que este
procurador foi intimado acerca da Sentença, findando-se, assim, na data de
22/05/2023.

DOS FATOS

Trata-se de Ação Penal Pública Incondicionada, movida pelo Ministério


Público do Estado de Minas Gerais, que ofereceu denúncia em face do ora
acusado, por supostamente ter praticado o crime de lesão corporal gravíssima,
previsto no artigo 129, §2º, inciso III, do Código Penal.

Em apertada síntese, narra a denúncia que no dia 08 de agosto de 2021,


às 23:50h, Joaquim Martins teria agredido fisicamente a vítima, João Vitor,
enquanto este tentava ingressar, clandestinamente, na casa de Marília.
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Conforme consta do inquérito, em virtude dessas agressões, João Vitor perdeu


a visão do olho esquerdo. Neste sentido, o Ministério Público ofereceu denúncia
no dia 05/03/2022, imputando-lhe a prática do crime de lesão corporal
gravíssima, nos termos do artigo 129, §2º, inciso III, do Código Penal. A
denúncia foi recebida no dia 20/03/2022, pelo juízo da 2ª Vara Criminal da
Comarca de Betim/MG.

Durante a instrução processual, as testemunhas presenciais relataram


que Joaquim Martins estava em um bar, próximo à residência de Marília; que
toda a vizinhança sabe que Marília se mudou para o local há pouco tempo, em
razão de que seu ex-marido havia lhe ameaçado de morte; que todos na
vizinhança sabiam que Marília temia pela sua vida em razão das ameaças
sofridas; que no momento em que Joaquim Martins estava no bar, avistou um
homem tentando adentrar na residência de Marília de forma furtiva; que nesse
momento, Joaquim Martins se levantou e correu em direção ao homem, que se
tratava dá vítima, João Vitor, e o agrediu até conseguir neutralizá-lo.

Marília, em seu depoimento, confirmou que estava sendo ameaçada de


morte, razão pela qual a levou a se mudar para Betim. Ainda, esclareceu que
João Vitor é seu atual namorado, e não seu ex-marido, e que sua tentativa de
ingressar na residência dela seria parte de uma fantasia do casal.

A vítima, João Vitor, confirmou os fatos narrados pela testemunha


Marília.

Durante o interrogatório, Joaquim confessou os fatos, porém afirmou que


só agrediu João Vitor pois pensou que se tratava do ex-marido de Marília, tendo
em vista o horário e a forma como João Vitor tentava adentrar na casa de
Marília, bem como todos os fatos que eram de conhecimento de todos na
vizinhança em relação às ameaças de morte proferidas pelo ex-marido de
Marília a ela. Dessa forma, a intenção de Joaquim foi apenas tentar proteger
Marília de um possível atentado contra sua vida, agredindo João Vitor apenas
até conseguir contê-lo.
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Após o oferecimento dos memoriais, sobreveio, no dia 22/04/2023 a


sentença pelo MM. Juiz a quo, através da qual condenou o acusado como
incurso nas disposições do art. 129, §2º, inciso III, do Código Penal. A pena
base foi fixada em 2 anos e 6 meses de reclusão, porque, segundo o juiz,
embora as demais circunstâncias judiciais fossem favoráveis, Joaquim possui
maus antecedentes, tendo em vista que em suas FAC e CAC, há uma anotação
referente a outra lesão corporal praticada em março de 2022. Na segunda fase,
o juiz sentenciante não reconheceu atenuantes e elevou a pena para 3 anos em
virtude da agravante da reincidência, pela prática anterior do crime de calúnia.
Não havendo, segundo a sentença, causas de aumento e de diminuição da
pena, o juiz fixou a pena definitiva em 3 anos de reclusão em regime
semiaberto, nos termos da súmula 269 do STJ. Ainda, o juiz negou a
substituição da pena privativa de liberdade por pena restritiva de direitos ao
argumento de que a lei não admite a substituição da pena para condenados
reincidentes.

DA GRATUIDADE DE JUSTIÇA

O acusado é pobre no sentido legal, requerendo, desde logo, a


concessão dos benefícios da justiça gratuita, por não possuir condições de
arcar com custas e despesas processuais, conforme declaração de
hipossuficiência anexa aos autos (fl. xx).

DO MÉRITO

Legítima Defesa Putativa

Compulsando os autos, ao analisar os depoimentos das testemunhas


presenciais, bem como o depoimento da Marília e dá vítima, é possível
observar que, é fato, que era de conhecimento de todos na vizinhança que
Marília temia por sua vida em virtude das ameaças proferidas pelo seu ex-
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marido, o que inclusive a motivou a se mudar para a cidade de Betim/MG.


Ainda, seguindo tudo o que foi dito por todas as pessoas ouvidas durante a
instrução, constata-se que, sabendo das ameaças sofridas por Marília, avistar
um homem tentando adentrar em sua residência de forma furtiva no período
noturno, no mínimo levantaria uma enorme suspeita de que esse homem seria
seu ex-marido procurando cumprir com suas ameaças.

Nesse sentido, é razoável entender a motivação que gerou a agressão,


qual seja, proteger Marília de um invasor que poderia atentar contra sua vida.
Seguindo esse raciocínio, fica clara a figura da legítima defesa putativa,
ocorrendo em situações nas quais o autor, acreditando estar, ou acreditando
que outra pessoa esteja, sob agressão, atual ou iminente, repele essa injusta
agressão usando moderadamente dos meios necessários. Portanto, sendo
hipótese de isenção de pena, a absolvição é medida que se impõe.

Código Penal

Art. 20 - O erro sobre elemento constitutivo do


tipo legal de crime exclui o dolo, mas permite a
punição por crime culposo, se previsto em lei.

§ 1º - É isento de pena quem, por erro


plenamente justificado pelas circunstâncias,
supõe situação de fato que, se existisse,
tornaria a ação legítima. Não há isenção de
pena quando o erro deriva de culpa e o fato é
punível como crime culposo

Desclassificação da lesão corporal gravíssima para lesão corporal grave

Narram os autos que, em razão da agressão, a vítima perdeu a visão do


olho esquerdo. Diante disso, o Ministério Público ofereceu denúncia, imputando
ao réu a prática do delito de lesão corporal gravíssima, sendo a sentença
proferida seguindo o entendimento do Ministério Público.

Porém, ocorre que, ao lesar apenas um olho, não há de se falar em


perda ou inutilização do membro, sentido ou função, conforme o inciso III do §2º
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do artigo 129, do Código Penal, e sim em debilidade permanente de membro,


sentido ou função, conforme §1º, inciso III do mesmo dispositivo. Ou seja, a
conduta praticada não se amolda aos requisitos da lesão corporal gravíssima
presentes no §2º do artigo 129 do Código Penal, e sim aos requisitos da lesão
corporal grave, previstos no §1º do mesmo instituto.

Código Penal

Art. 129. Ofender a integridade corporal ou a


saúde de outrem:

Pena – detenção, de três meses a um ano.

§1º Se resulta:

III – debilidade permanente de membro, sentido


ou função;

Pena – reclusão, de um a cinco anos.

§2º Se resulta:

III – perda ou inutilização do membro, sentido


ou função;

Pena – reclusão, de dois a oito anos.

Lesão corporal gravíssima - Absolvição -


Impossibilidade - Prova - Perda da visão do
olho esquerdo - Debilidade permanente de
sentido ou função - Desclassificação do crime -
Lesão corporal grave - Admissibilidade -
Regime semiaberto Ementa oficial: Penal.
Lesão corporal de natureza gravíssima.
Absolvição. Impossibilidade. Autoria e
materialidade comprovadas. Desclassificação.
Necessidade. Lesão corporal de natureza grave.
Debilidade de membro, sentido ou função.
Recurso conhecido e parcialmente provido. -
Impõe-se a condenação quando se encontram
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comprovadas a autoria e a materialidade do


delito de lesão corporal, afastando-se o pleito
absolutório. - A perda da visão do olho
esquerdo constitui debilidade permanente de
sentido ou função, sendo a lesão corporal
grave, e não gravíssima. Recurso parcialmente
provido. APELAÇÃO CRIMINAL Nº
1.0701.03.051125-0/002 - Comarca de Uberaba -
Apelante: Orlando da Costa - Apelado:
Ministério Público do Estado de Minas Gerais -
Vítima: Laura da Costa Serran - Relator: DES.
PEDRO COELHO VERGARA

DA DOSIMETRIA DA PENA

Após ser proferida sentença condenatória, passou-se à dosimetria da


pena, a qual ocorreu de forma incorreta, aplicando uma pena injusta ao
acusado.

Pena base: Na primeira fase, o juiz considerou uma circunstância judicial


do art. 59, do Código Penal, sendo ela:

Maus antecedentes: O juiz fundamentou essa circunstância judicial


levando em conta um inquérito que investiga uma suposta lesão corporal grave
ocorrida em 12/03/2022.

O Direito Penal brasileiro adota a teoria da atividade em relação ao


tempo do crime, conforme prevê o artigo 4º do Código Penal. Portando,
levando-se em conta que os fatos em análise nos presentes autos ocorreram
em 08/08/2021, não há que se falar em reincidência ou maus antecedentes,
tendo em vista que quando o crime ocorreu, o acusado não possuía nenhuma
condenação criminal transitada em julgado que o tornasse reincidente ou de
maus antecedentes. Ainda, a mera investigação de um outro crime não gera
maus antecedentes, e mesmo que gerasse, os fatos referentes ao inquérito que
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investiga uma lesão corporal grave apenas se deram na data de 12/03/2022,


portanto não deve ser considerada nestes autos.

Enunciado

É vedada a utilização de inquéritos policiais e


ações penais em curso para agravar a pena-
base. (SÚMULA 444, TERCEIRA SEÇÃO,
julgado em 28/04/2010, DJe 13/05/2010)
Pena intermediária: Na segunda fase da dosimetria foi considerada a
agravante da reincidência, prevista no artigo 61, inciso I, do Código Penal, e
não foi considerada nenhuma atenuante.

Como já dito anteriormente, à data dos fatos o acusado não era


reincidente, vindo a ter uma sentença criminal condenatória transitada em
julgado pelo crime de calúnia apenas em 20/06/2022.

Código Penal

Art. 63. Verifica-se a reincidência quando o


agente comete novo crime, depois de transitar
em julgado a sentença que, no País ou no
estrangeiro, o tenha condenado por crime
anterior.

Ainda, deixaram de ser consideradas duas atenuantes as quais o réu faz


jus, sendo elas:

Ser o agente menor de 21 anos na data dos fatos: a data de nascimento


do suposto autor dos fatos é 01/04/2001, então na data dos fatos, em
08/08/2021, o réu possuía apenas 20 anos.

Código Penal

Art. 65. São circunstâncias que sempre


atenuam a pena:

I – ser o agente menor de 21 (vinte e um), na


data dos fatos, ou maior de 70 (setenta) anos,
na data da sentença;
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Ter o agente confessado espontaneamente, perante a autoridade, a


autoria do crime: conforme consta dos autos, o réu, em seu interrogatório,
confessou a autoria dos fatos, apenas deixando claro que só agrediu a vítima
pois pensou que ele apresentava um risco à Marília, agindo, portanto, em
legítima defesa putativa.

Código Penal

Art. 65. São circunstâncias que sempre


atenuam a pena:

III – ter o agente:

d) confessado espontaneamente, perante a


autoridade, a autoria do crime;

Pena definitiva: Na terceira fase, deixou de ser observada a causa de


diminuição de pena referente ao motivo. Ocorre que, no momento em que o réu
avistou João Vitor tentando invadir a casa da Marília, cominado com o fato de
que Marília temia por sua vida em decorrência das ameaças de morte
proferidas pelo seu ex-marido, Joaquim Martins, no intuito de repelir a injusta
agressão iminente contra Marília, agrediu João Vitor apenas até conseguir
contê-lo, portanto, agindo impelido por motivo de relevante valor social, mesmo
que de forma putativa.

Art. 129. Ofender a integridade corporal ou a


saúde de outrem:

Pena - detenção, de três meses a um ano.

§ 4° Se o agente comete o crime impelido por


motivo de relevante valor social ou moral ou
sob o domínio de violenta emoção, logo em
seguida a injusta provocação da vítima, o juiz
pode reduzir a pena de um sexto a um terço.

DA FIXAÇÃO DO REGIME INICIAL


ADVOGADO
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Em relação ao início do cumprimento da pena, levando-se em


consideração que o réu, ao tempo do crime, era primário, deve-se proceder à
fixação do regime aberto, uma vez afastada a reincidência.

Art. 33 - A pena de reclusão deve ser


cumprida em regime fechado, semi-
aberto ou aberto. A de detenção, em
regime semi-aberto, ou aberto, salvo
necessidade de transferência a regime
fechado.

§ 2º- As penas privativas de liberdade deverão


ser executadas em forma progressiva, segundo
o mérito do condenado, observados os
seguintes critérios e ressalvadas as hipóteses
de transferência a regime mais rigoroso:

c) o condenado não reincidente, cuja pena seja


igual ou inferior a 4 (quatro) anos, poderá, desde
o início, cumpri-la em regime aberto.

DOS PEDIDOS

Diante do exposto, requer seja conhecido e totalmente provido o


presente recurso de apelação, requerendo:

a) Seja o réu absolvido, com fulcro no artigo 20, §1º.

b) Subsidiariamente, requer-se a reforma da sentença, para a


revisão da pena imposta.

Termos em que,

Pede deferimento.

XXXXXX/MG, 22 de maio de 2023.

ADVOGADO
OAB/MG 000.000

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