Canais Impermeabilizaçao-Disserta

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Impermeabilização de canais de rega a céu aberto

Filipe Miguel de Almeida Morgado

Dissertação para a obtenção do Grau de Mestre em


Engenharia Civil

Júri

Presidente: Prof. Francisco José Teixeira Loforte Ribeiro


Orientador: Eng.º Jorge Manuel Grandão Lopes (LNEC)
Co-orientador: Prof. Jorge Manuel Caliço Lopes de Brito (IST)
Vogal: Profª. Maria Manuela da Silva Eliseu Ilharco Gonçalves

Julho de 2008
Impermeabilização de canais de rega a céu aberto

RESUMO

Os canais de rega são considerados infra-estruturas hidráulicas de grande importância, muitas vezes
inseridas em aproveitamentos hidroagrícolas de grande dimensão, que contribuem não só para o
desenvolvimento de uma agricultura sustentável, mas também para a fixação da população agrícola.
Nos últimos anos, têm sido executadas em Portugal obras de construção e reabilitação de canais de
rega com recurso a novos processos construtivos e com a aplicação de novos materiais.
Actualmente, não existe qualquer tipo de regulamentação oficial para sistemas de impermeabilização
de canais de rega e daí, a escolha deste tema para o desenvolvimento desta dissertação.
Neste trabalho procede-se ao levantamento e caracterização dos processos e materiais associados
aos sistemas de impermeabilização de canais de rega em Portugal, assim como da patologia a eles
associada, incluindo as principais anomalias, suas prováveis causas e possíveis técnicas de
reparação.
No final desta dissertação, são apresentadas algumas conclusões sobre os sistemas de
impermeabilização e materiais utilizados em Portugal, bem como sobre novos materiais passíveis de
poderem vir a ser aplicados neste tipo de obras.

ABSTRACT

Irrigation canals are considered hydraulic infrastructures of major importance, often inserted in large
hydro-agricultural enterprises, which contribute not only to the development of sustainable agriculture
but also to the settlement of agricultural population.
In recent years, works of construction and rehabilitation of irrigation canals have been performed in
Portugal, using new construction processes and applying new materials.
Currently, there are no official codes for waterproofing systems of irrigation canals, and therefore the
choice of this theme for the development of this dissertation
In this work the materials and processes associated with the waterproofing systems of irrigation canals
in Portugal have been surveyed and characterized, as well as the associated pathology, comprising
the main anomalies, their probable causes and possible repair techniques.
At the end of this dissertation, some conclusions are provided on the waterproofing systems and
materials used in Portugal, as well as on new materials that can be applied in this type of construction
work.

Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil - Filipe Morgado I


Impermeabilização de canais de rega a céu aberto

AGRADECIMENTOS

Ao Sr. Engenheiro Jorge Manuel Grandão Lopes do Laboratório Nacional de Engenharia Civil
(LNEC), meu orientador científico, os meus agradecimento e reconhecimento, pela disponibilidade em
aceitar esta orientação e pelo importante apoio em todo este trabalho.
Ao Professor Doutor Jorge de Brito, do Instituto Superior Técnico (IST), meu co-orientador,
agradeço-lhe pela sua disponibilidade, insistência, interesse, ânimo e confiança, que se revelaram
cruciais ao longo deste trabalho.
Ao Eng.º Luís Vaz, pela sua disponibilidade de facultar o seu vasto arquivo fotográfico.
À empresa Sotecnisol e todos os seus colaboradores, principalmente ao Eng.º João Justo,
pela sua disponibilidade e relato da sua experiência profissional que tanto me ajudou.
À Eng.ª Madalena Barroso (LNEC), pela sua disponibilidade de me facultar elementos
bibliográficos de grande importância para o desenvolvimento deste trabalho.
À Federação Nacional de Regantes, a todos os seus associados e respectivos responsáveis,
pela sua disponibilidade na realização de visitas aos seus perímetros de rega, parte essencial deste
trabalho.
À empresa Mota-Engil, particularmente à direcção de obra do canal Alvito-Cuba, pela sua
disponibilidade para a realização da visita à mesma obra.
Aos meus pais, pelos seus sacrifícios e por sempre me incutirem os valores do trabalho e do
amor. A eles, que me apoiaram e motivaram incondicionalmente em todos os momentos da minha
vida e neste trabalho em particular, o meu muito obrigado, devo-vos aquilo que sou.
A toda a minha família, principalmente ao meu irmão João, agradeço todo o apoio que
sempre me deu.
A todos os meus amigos, em particular à Paula, agradeço a sua amizade e ajuda, nos
momentos bons e maus, sem nunca me deixarem desistir.
A todos os colegas que se cruzaram comigo ao longo deste anos de curso.
Agradeço a Deus por todas as graças que me tem concedido ao longo da vida, das quais esta
é uma das mais importantes.

A todos o meu mais sincero obrigado.

II Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil - Filipe Morgado


Impermeabilização de canais de rega a céu aberto

ÍNDICE GERAL
Pág.

1. Introdução ....................................................................................................................................................... 1
1.1 Considerações iniciais ............................................................................................................................. 1
1.2 Objectivos................................................................................................................................................ 3
1.3 Metodologia de trabalho ........................................................................................................................ 4
1.4 Organização e resumo da dissertação .................................................................................................... 4
2. Soluções construtivas de impermeabilização em canais de rega ................................................................... 7
2.1 Generalidades e enquadramento ........................................................................................................... 7
2.2 Factores que afectam as perdas de água por infiltração ........................................................................ 8
2.3 Importância / utilidade de canais de rega impermeabilizados ............................................................... 9
2.4 Materiais ............................................................................................................................................... 11
2.4.1 Betão ............................................................................................................................................. 12
2.4.2 Membranas ................................................................................................................................... 13
2.4.2.1 Membranas betuminosas (modificadas) ................................................................................... 14
2.4.2.1.1 Membranas de betume-polímero APP ................................................................................ 15
2.4.2.1.2 Membranas de betume-polímero SBS ................................................................................. 16
2.4.2.2 Membranas de PVC plastificado ............................................................................................... 17
2.4.2.3 Membranas de polietileno ........................................................................................................ 19
2.4.2.4 Membranas de EPDM ............................................................................................................... 20
2.4.3 Acessórios e outros materiais ........................................................................................................ 21
2.4.3.1 Materiais para juntas de revestimento de betão ...................................................................... 21
2.4.3.2 Fixações mecânicas ................................................................................................................... 22
2.4.3.3 Equipamentos para ligação de juntas ....................................................................................... 23
2.5 Soluções construtivas ............................................................................................................................ 25
2.5.1 Revestimento com betão............................................................................................................... 25
2.5.1.1 Betão simples ou armado.......................................................................................................... 25
2.5.1.1.1 Juntas em canais revestidos com betão ............................................................................... 26
2.5.1.1.2 Soluções construtivas para juntas ........................................................................................ 30
2.5.1.1.3 Técnicas de construção de revestimentos de betão ............................................................ 34
2.5.1.1.4 Espessura do revestimento .................................................................................................. 41
2.5.1.2 Revestimento com placas pré-fabricadas ................................................................................. 42
2.5.2 Revestimento com membranas ..................................................................................................... 43
2.5.2.1 Membranas betuminosas.......................................................................................................... 44
2.5.2.2 Membranas sintéticas ............................................................................................................... 45
2.5.3 Outros tipos de revestimentos ...................................................................................................... 53
2.5.4 Pormenorização construtiva ......................................................................................................... 55
2.5.5 Análise de soluções alternativas ................................................................................................... 56
2.5.6 Novas tecnologias e materiais ...................................................................................................... 57
2.6 Observação de canais ............................................................................................................................ 59
3. Patologia mais corrente ................................................................................................................................ 63
3.1 Considerações gerais ............................................................................................................................. 63
3.2 Descrição das principais anomalias e das suas causas .......................................................................... 63
3.2.1 Revestimento com betão............................................................................................................... 63
3.2.1.1 Betão simples ou armado.......................................................................................................... 63
3.2.1.2 Revestimento com placas pré-fabricadas ................................................................................. 66
3.2.2 Revestimento com membranas ..................................................................................................... 66
3.2.2.1 Membranas betuminosas.......................................................................................................... 67
3.2.2.2 Membranas sintéticas ............................................................................................................... 69
3.2.3 Outros tipos de revestimentos - Pintura ........................................................................................ 72
3.3 Técnicas de reparação e reabilitação .................................................................................................... 73
3.3.1 Revestimento com betão............................................................................................................... 74
3.3.1.1 Betão simples ou armado.......................................................................................................... 74

Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil - Filipe Morgado III


Impermeabilização de canais de rega a céu aberto

3.3.1.2 Revestimento com placas pré-fabricadas ................................................................................. 80


3.3.2 Revestimento com membranas ..................................................................................................... 80
3.3.2.1 Membranas betuminosas.......................................................................................................... 80
3.3.2.1 Membranas sintéticas ............................................................................................................... 82
3.3.3 Outros tipos de revestimentos ...................................................................................................... 85
4. Conclusão e perspectivas para estudos futuros............................................................................................ 87
4.1 Considerações finais .............................................................................................................................. 87
4.2 Conclusões gerais .................................................................................................................................. 88
4.3 Perspectivas de desenvolvimento e estudo .......................................................................................... 90
Referências bibliográficas ..................................................................................................................................... 93
ANEXO .................................................................................................................................................................. A.1

IV Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil - Filipe Morgado


Impermeabilização de canais de rega a céu aberto

ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 1 - Comporta ................................................................................................................................................ 3


Figura 2 - Troço de mudança de secção .................................................................................................................. 3
Figura 3 - Canal antigo com revestimento de betão deteriorado ........................................................................... 8
Figura 4 - Ensaio de permeabilidade de um canal ................................................................................................ 11
Figura 5 - Canal de betão antes e depois da aplicação de membrana betuminosa com aditivo anti-raizes ........ 11
Figura 6 - Carotes no betão de revestimento do canal ......................................................................................... 13
Figura 7 - Aplicação de mastique em junta ........................................................................................................... 22
Figura 8 - Junta de PVC do tipo “water stop”........................................................................................................ 22
Figura 9 - Barra de fixação contínua em chapa Inox ............................................................................................. 23
Figura 10 - Parafusos de fixação pontual com anilha e bucha .............................................................................. 23
Figura 11 - Parafusos e buchas metálicas ............................................................................................................. 23
Figura 12 - Equipamentos de soldadura de membranas de PVC ......................................................................... 24
Figura 13 - Maçarico manual e automático ......................................................................................................... 24
Figura 14 - Canal de betão com juntas longitudinais e transversais ..................................................................... 26
Figura 15 - Perfil tipo com camadas de solo diferentes ........................................................................................ 28
Figura 17 - Junta tranversal do tipo encaixe ......................................................................................................... 31
Figura 16 - Junta transversal com base de suporte em betão ............................................................................. 31
Figura 18 - Junta transversal "incompleta" (adaptado de [3]) .............................................................................. 32
Figura 19 - Junta longitudinal do tipo “Water Stop” ............................................................................................. 32
Figura 20 - Junta de dilatação ............................................................................................................................... 33
Figura 21 - Secção horizontal de junta de dilatação ............................................................................................. 34
Figura 22 - Secção vertical de junta de dilatação .................................................................................................. 34
Figura 23 - Técnica de manual de regularização de revestimento de betão em espaldas ................................... 35
Figura 24 - Espalda intermédia ............................................................................................................................. 36
Figura 25 - Sistema de cofragem tradicional de espaldas ..................................................................................... 37
Figura 26 - Cofragem deslizante transversal - Fase 2 ............................................................................................ 37
Figura 27 - Cofragem deslizante transversal - Fase 1 ............................................................................................ 37
Figura 28 - Cofragem deslizante transversal sem vibração incorporada .............................................................. 37
Figura 29 - Equipamento de betonagem deslizante longitudinal - espaldas ........................................................ 39
Figura 30 - Equipamento de betonagem deslizante longitudinal - secção total / meia secção ............................ 39
Figura 31 - Canal Alvito - Cuba .............................................................................................................................. 40
Figura 32 - Cofragem deslizante - canal da cova de beira ..................................................................................... 40
Figura 33 - Equipamento de coFragem / betonagem deslizante longitudinal para secção circular ..................... 41
Figura 34 - Revestimento com placas de betão pré-fabricadas ............................................................................ 43
Figura 35 - Aplicação de membrana betuminosa sobre um revestimento antigo de betão ................................ 44
Figura 36 - Aplicação de membrana betuminosa com maçarico .......................................................................... 46
Figura 37 - Tratamento de juntas de sobreposição .............................................................................................. 46
Figura 38 - Membrana de PVC protegida com lajetas........................................................................................... 47
Figura 39 - Aplicação de membrana de PVC ......................................................................................................... 49
Figura 40 - Junta entre membranas de Polietileno ............................................................................................... 49
Figura 41 - Execução de uma junta entre membranas de PVC ............................................................................. 49
Figura 42 - Membrana de EPDM enterrado na pestana do canal ......................................................................... 50
Figura 43 - Fixação Pontual na pestana do canal .................................................................................................. 50
Figura 44 - Fixação contínua na pestana do canal ................................................................................................ 50
Figura 45 - Fixação contínua no rasto do canal com geodreno ............................................................................ 51
Figura 46 - Acção da pressão dinâmica nas fixações ............................................................................................. 51
Figura 47 - Secção transversal tipo para o cálculo de tensões superficiais de arrastamento .............................. 52
Figura 48 - Incremento do valor das tensões nos troços em curva ...................................................................... 53
Figura 49 - Betão betuminoso aplicado no fundo do canal .................................................................................. 54
Figura 50 - Pintura com tinta de Poliuretano à entrada de uma ponte canal....................................................... 54
Figura 51 - Perfil transversal tipo de em canal com revestimento de betão ........................................................ 55
Figura 52 - Perfil transversal tipo de um canal impermeabilizado com membrana betuminosa ......................... 55
Figura 53 - Perfil transversal tipo de um canal impermeabilizado com membrana sintética ............................... 56
Figura 54 - Canal revestido com PVC no Colorado, EUA ....................................................................................... 57
Figura 55 - Projecção de poliuretano sobre geotêxtil no Colorado, EUA .............................................................. 58

Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil - Filipe Morgado V


Impermeabilização de canais de rega a céu aberto

Figura 56 - Projecção de poliureia, EUA ................................................................................................................ 58


Figura 57 - Fisuração de espaldas devido a subpressões ...................................................................................... 64
Figura 58 - Degradação do betão nas espaldas de um canal ................................................................................ 64
Figura 59 - Deslocamento relativo de espaldas .................................................................................................... 65
Figura 60 - Desprendimento do "mastique" numa junta transversal ................................................................... 65
Figura 61 - Junta de ponte canal em cobre partida .............................................................................................. 66
Figura 62 - Ancoragem transversal com argamassa de uma membrana betuminosa .......................................... 68
Figura 63 - Descolamento de membrana betuminosa .......................................................................................... 68
Figura 64 - Retracção de uma membrana de PVC................................................................................................. 69
Figura 65 - Retracção de uma membrana de EPDM ............................................................................................. 70
Figura 66 - Descolamento da junta em membrana de EPDM ............................................................................... 70
Figura 67 - Válvulas "Clapê" .................................................................................................................................. 71
Figura 68 - Membrana de PVC rasgada ................................................................................................................. 72
Figura 69 - Membranas de Polietileno simples derretida devido a incêndio florestal na borda do canal ............ 72
Figura 70 - Tinta sem aderência ao suporte .......................................................................................................... 73
Figura 71 - Sequência de reparação de uma fissura no revestimento de betão................................................... 75
Figura 72 - Deficiente compactação da camada de solo de suporte do revestimento de betão ......................... 76
Figura 73 - Reparação de espaldas........................................................................................................................ 76
Figura 74 - Reparação da espalda danificada........................................................................................................ 76
Figura 75 - Impermeabilização de juntas em canal de betão ............................................................................... 77
Figura 76 - Rotura de canal ................................................................................................................................... 78
Figura 77 - Reparação de Emergência de um troço de canal com membrana de PE............................................ 78
Figura 78 - Reparação de junta de ponte canal com PCV ..................................................................................... 79
Figura 79 - Junta de ponte canal reparada com P ................................................................................................. 79
Figura 80 - Ancoragem tranversal “auto-protegida” ............................................................................................ 81
Figura 81 - Fixação mecânica de membrana betuminosa ..................................................................................... 81
Figura 82 - Ponte - canal revestida com membrana betuminosa ......................................................................... 82
Figura 84 - Retracção de Membrana de PVC ........................................................................................................ 83
Figura 83 - Juntas de Membrana betuminosa descoladas .................................................................................... 83
Figura 85 - Válvulas Clapê fechadas ...................................................................................................................... 84
Figura 86 - Vedação ao longo de um canal ........................................................................................................... 84
Figura 87 - Canal Senhora do Porto - antes da reabilitação .................................................................................. 85
Figura 88 - Reabilitação com membrana de PVC .................................................................................................. 85
Figura 89 - Desprendimento de tinta .................................................................................................................... 86
Figura 90 - Lavagem da superficie degradada....................................................................................................... 86

VI Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil - Filipe Morgado


Impermeabilização de canais de rega a céu aberto

ÍNDICE DE DEFINIÇÕES E ABREVIATURAS

APP - Polipropileno Atáctico - Polímero plastómero.

Armadura (de membrana) - Elemento flexível de forma laminar destinado a conferir


fundamentalmente resistência mecânica aos produtos de impermeabilização [8].

Betume - Mistura de hidrocarbonetos de origem natural ou artificial, ou ambas, solúveis em


tricloroetileno ou noutro solvente orgânico [8].

Carga - Material constituído por partículas soltas (fíler, fibras ou inertes finos) que se adiciona aos
materiais betuminosos com objectivo de lhes conferir propriedades específicas [2].

EPDM - monómero de etileno-propileno-dieno.

Espalda - Parede vertical ou inclinada da secção transversal do canal.

Feltro - Armadura constituída pela interligação de fibras de origem orgânica ou inorgânica por um
processo adequado, mas sem fiação, tecelagem ou entrançamento. São vulgares os feltros de fibra
de vidro e os feltros de poliéster [8].

Folhas - Armadura com superfície contínua constituída por materiais metálicos ou plásticos não
absorventes [8].

Material antiaderente - Material aplicado nas duas faces das geomembranas betuminosas com o fim
de evitar a aderência das superfícies durante o enrolamento. É vulgar o uso de areia de baixa
granulometria e polietileno [8].

Material de protecção - Material de acabamento das geomembrnas betuminosas com o fim de as


proteger fundamentalmente da acção dos agentes atmosféricos (raios UV) e de certas acções
mecânicas [8].

Mistura betuminosa - Mistura constituída por produtos betuminosos e material inerte, podendo
também conter plastificantes ou outros aditivos [8].

PE - Polietileno.

Pestana (do canal) - bordo superior na espalda do canal.

PVC - Policloreto de Vinilo.

Rasto ou fundo do canal - Superfície inferior, aproximadamente horizontal, da secção transversal do


canal.

SBS - Estireno Butadieno Estireno - Polímero elastómero termoplástico.

Tela (armadura tecida) - Armadura constituída por fibras de origem orgânica ou inorgânica ligadas por
fiação, tecelagem ou entrançamento [8].

Caixa - forma da secção transversal escavada no solo para posterior aplicação do revestimento.

Ponte canal - obra de arte utilizada para atravessamento de vales ao longo do percurso de um canal
de rega.

Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil - Filipe Morgado VII


Impermeabilização de canais de rega a céu aberto

VIII Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil - Filipe Morgado


Impermeabilização de canais de rega a céu aberto

1. INTRODUÇÃO

1.1 Considerações iniciais

Os recursos naturais e a sua preservação têm vindo a ser objecto de preocupação por parte
da Sociedade ao longo dos tempos, sendo a água um dos que maior atenção tem merecido.
A maioria das primeiras civilizações fixou-se em zonas costeiras, ao longo dos principais rios
e linhas de água, mostrando assim que muito cedo o Homem tomou consciência de que a sua
subsistência dependia da proximidade à água, bem como da capacidade de a armazenar e
transportar.
Os primeiros sistemas, canais e técnicas de rega com alguma complexidade, foram criados
pelo povo Egípcio no Rio Nilo, seguido pelos Romanos que desenvolveram técnicas muito apuradas
para o transporte e abastecimento de água às populações de todo o seu império.
A estanqueidade das obras hidráulicas, em geral, foi desde sempre uma preocupação tida em
conta na sua concepção e execução.
Os canais de rega são considerados infra-estruturas hidráulicas de grande importância,
muitas vezes inseridas em aproveitamentos hidroagrícolas de grande dimensão, que contribuem não
só para o desenvolvimento de uma agricultura sustentável, mas também para a fixação da população
agrícola.
O principal objectivo dos canais de rega é o transporte de água a longas distâncias,
maximizando a quantidade de água realmente aproveitada e minimizando o custo de operação dos
canais. Deste modo, a impermeabilização dos canais de rega é um dos aspectos mais importantes a
ter em conta na concepção, execução e reabilitação de canais de rega.
O Plano Nacional para o Uso Eficiente da Água [2] estima que a procura de água em Portugal
seja de cerca de 7500 milhões de metros cúbicos/ano. Verifica-se que, de entre todos os utilizadores
de água, a agricultura é o principal com 87%. No entanto, a eficiência de utilização dessa água é
apenas de cerca de 60%.
Em Portugal, existem centenas de quilómetros de canais de rega construídos nas décadas de
cinquenta e sessenta do século passado que actualmente apresentam graves problemas de
estanqueidade que chegam atingir 80%, segundo o Levantamento das necessidades de reabilitação
dos regadios existentes e/ou beneficiação de regadios tradicionais [1].
Estes valores levam a que sejam analisadas medidas a tomar de modo a inverter estes
números, principalmente no que diz respeito à eficiência do uso deste recurso na agricultura que,
ainda segundo o Plano Nacional para o Uso Eficiente da Água [2], deverá ser de 65% em 2013. Sem
dúvida que uma das principais medidas a ser tomada será a adopção de sistemas de
impermeabilização de canais de rega que apresentem problemas graves de estanqueidade.
No entanto, antes de se analisar em detalhe este tema, procede-se a uma pequena
apresentação do contexto em que os canais de rega estão inseridos.

Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil - Filipe Morgado 1


1 - Introdução

Existem em Portugal milhares de quilómetros de canais inseridos em aproveitamentos


hidroagrícolas, que se classificam em três grupos:

1. Regadios de carácter individual ou privado - que se encontram dispersos um pouco por todo
o país, com as mais variadas áreas;
2. Regadios tradicionais de carácter colectivo - que foram implantados com a ajuda do Estado;
3. Regadios de carácter público, construídos pelo Estado - com áreas de beneficiação, recursos
hídricos e infra-estruturas de relevância considerável.

Apesar de existirem canais em todos os grupos referidos, os dados disponibilizados referem-


se na sua grande maioria aos canais de rega presentes em aproveitamentos hidroagrícolas de
carácter público e colectivos (2 e 3), por representarem a maioria da amostra de canais existentes em
Portugal [1].
Quanto a tipos de canais para transporte de água, existem vários, entre os quais, canais a
céu aberto com secções de diferente forma geométrica (trapezoidais, rectangulares ou em meia
cana), túneis, ponte-canal, sifões invertidos e condutas circulares.
São objecto de estudo desta dissertação apenas os sistemas de impermeabilização de canais
de rega a céu aberto (escoamento em superfície livre) com qualquer forma de secção transversal,
bem como pontes-canal.
Os canais podem ter as mais variadas secções, sendo as mais usuais a trapezoidal, a
rectangular e a em meia cana.
Os canais trapezoidais e em meia cana são frequentemente construídos em betão simples ou
betão armado, enquanto que os de secção rectangular são normalmente construídos em betão
armado.
Em Portugal, a solução que tradicionalmente se adopta para o revestimento de canais de
rega consiste na construção de uma camada de betão, com espessura variável de caso para caso,
sobre uma superfície de fundação previamente regularizada e/ou compactada, com juntas
impermeabilizadas.
Habitualmente, o betão usado no revestimento de canais não é armado, embora se
encontrem certos troços construídos em betão armado, como, por exemplo, troços sujeitos a
elevadas pressões e troços de canal onde não se pode garantir a estabilidade do talude, sendo disso
exemplo os troços em que ocorre uma mudança de secção ou onde existem comportas de controlo
de caudais (Figuras 1 e 2).
Como qualquer revestimento de canal, a principal função da camada de betão é assegurar a
estanqueidade, garantir a eficiência no transporte da água nas condições de escoamento adequadas,
evitar a erosão dos taludes e do rasto do canal e proporcionar condições de funcionamento e
manutenção adequadas.
No entanto, o betão, por si só, não garante uma total estanqueidade, verificando-se que, com
o passar do tempo, ocorrem situações de degradação na camada de revestimento dos canais que
podem ser causadas por diversos factores, entre os quais:

2 Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil - Filipe Morgado


Impermeabilização de canais de rega a céu aberto

FIGURA 1 - COMPORTA FIGURA 2 - TROÇO DE MUDANÇA DE SECÇÃO

• degradação natural da estrutura de betão;


• deficiente ou inexistente sistema de drenagem;
• deficiente execução das juntas;
• deficiente compactação dos solos e subsequente sujeição da estrutura de betão a
movimentos e assentamentos;
• acção de raízes e demais vegetação;
• acção das sub-pressões.

Verifica-se assim que nem toda a água captada que entra na secção inicial do canal é
efectivamente aproveitada, pois deve ter-se em conta o volume de água associado às perdas.
De modo a minimizar o volume destas perdas, é fundamental que se proceda a uma
adequada concepção e execução dos sistemas de impermeabilização de canais de rega.
Actualmente, existem no mercado materiais e sistemas de impermeabilização para canais de
rega que têm vindo a ser utilizados no seu revestimento no que diz respeito à garantia da
estanqueidade, mas que nunca foram alvo de uma investigação aprofundada.
Com esta dissertação, pretende-se colaborar para um aumento da qualidade na concepção e
execução de sistemas de impermeabilização de canais de rega, com vista à minimização das
anomalias e causas que provoquem a perda da estanqueidade dos mesmos.

1.2 Objectivos

O objectivo principal desta dissertação é o levantamento dos principais materiais e sistemas


de impermeabilização existentes para revestimentos de canais de rega a céu aberto. Pretende-se não
só apresentar um leque das opções que se encontram actualmente disponíveis no mercado e que
são utilizadas na maioria das obras de rega em Portugal mas também demonstrar a sua
aplicabilidade, as suas vantagens e desvantagens, assim como propostas para estudos e
investigações futuras.

Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil - Filipe Morgado 3


1 - Introdução

Define-se então como objectivos gerais desta dissertação:

• levantamento e caracterização dos materiais utilizados nos sistemas de impermeabilização


de canais de rega;
• levantamento dos sistemas de impermeabilização existentes para canais de rega e sua
pormenorização construtiva;
• determinação das principais anomalias dos sistemas de impermeabilização e das causas
prováveis para a sua ocorrência.

1.3 Metodologia de trabalho

Numa primeira fase, procedeu-se à pesquisa e ao tratamento da informação disponível sobre


este tema, quer em termos de obras bibliográficas existentes, quer através de contactos com
empresas da especialidade, fabricantes e aplicadores, com vista a obter uma perspectiva geral do
“conhecimento” existente sobre a impermeabilização de canais de rega
Numa fase posterior, através do contacto com a Associação de Regantes e Beneficiários,
realizaram-se algumas visitas de campo a canais de rega já impermeabilizados e/ou mesmo com
obras de impermeabilização a decorrer, tendo como principal objectivo uma recolha fotográfica em
termos de materiais e técnicas de aplicação utilizadas, bem como das anomalias que alguns
revestimentos apresentam.

1.4 Organização e resumo da dissertação

Esta dissertação está organizada em quatro capítulos, nos quais se tratam os seguintes
temas:

Capítulo 1
No primeiro capítulo desta dissertação, procede-se ao enquadramento do tema, à definição
dos objectivos atingidos e à definição da metodologia de trabalho.

Capítulo 2
No segundo capítulo, procede-se ao levantamento das soluções construtivas existentes
para impermeabilização de canais de rega bem com à sua descrição, com especial ênfase naquelas
de que se conhece casos de aplicação em Portugal. No ponto 2.3, apresentam-se alguns aspectos
relacionados com a importância / utilidade de se ter canais de rega impermeabilizados. No ponto 2.3,
procede-se à caracterização dos materiais utilizados nas soluções construtivas do ponto 2.1. No
ponto 2.4, apresenta-se e descreve-se uma série de perfis transversais tipo para as diferentes

4 Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil - Filipe Morgado


Impermeabilização de canais de rega a céu aberto

soluções construtivas. O capítulo termina no ponto 2.5 onde são brevemente descritas algumas
soluções alternativas às que actualmente são utilizadas em Portugal

Capítulo 3
Neste capítulo, descrevem-se as anomalias mais correntes das soluções construtivas
apresentadas no capítulo 2 bem com as possíveis causas para essas anomalias. No ponto 3.3, são
apresentadas algumas técnicas de reparação das anomalias observadas para cada sistema
construtivo.

Capítulo 4
No quarto e último capítulo, sugerem-se algumas propostas para trabalhos e investigações
futuras sobre este tema, bem como se apresentam algumas considerações e conclusões resultantes
do desenvolvimento desta dissertação.

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1 - Introdução

6 Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil - Filipe Morgado


Impermeabilização de canais de rega a céu aberto

2. SOLUÇÕES CONSTRUTIVAS DE IMPERMEABILIZAÇÃO EM CANAIS DE REGA

2.1 Generalidades e enquadramento

A minimização das perdas de água em canais de irrigação sempre foi um aspecto importante
na sua concepção.
Estão disponíveis actualmente no mercado várias soluções construtivas que visam não só a
impermeabilização de canais novos, mas também a reabilitação de canais degradados e a sua
readaptação às necessidades dos regadio actuais.
Antes de proceder a uma intervenção de impermeabilização de um canal, é necessário
avaliar o seu estado de conservação, a fim de se verificar a necessidade ou não de trabalhos prévios
de preparação, como por exemplo a reconstrução de espaldas e/ou fundos.
Um dos aspectos a ter em conta são as condições de drenagem em que se encontra o canal,
que normalmente carecem de ser melhoradas antes de qualquer tipo de intervenção ao nível da
reparação dos revestimentos.
Depois das obras de intervenção ao nível do melhoramento da drenagem, é necessário
proceder a uma regularização da caixa, optando pela manutenção ou não do revestimento antigo
como base de assentamento do revestimento novo.
Consideram-se então 3 hipóteses de revestimento como as mais utilizadas na maioria das
obras deste tipo em Portugal:

1. Revestimento do canal com betão simples ou armado, ou com lajetas pré-fabricadas de


betão;
2. Revestimento do canal com membranas betuminosas ou sintéticas;
3. Outros tipos de revestimentos, como tintas ou produtos pastosos impermeáveis.

Como todas as soluções construtivas, também estas têm vantagens e inconvenientes, tanto
do ponto de vista técnico como do económico.
Um aspecto fundamental, a ter em conta na escolha do tipo de revestimento e na execução
do mesmo, é o período limitado em que se pode levar a cabo este tipo de obras, que devem ser
desenvolvidas no intervalo entre campanhas de rega, as quais duram entre 7 e 8 meses,
normalmente entre Abril e Novembro. O custo e a durabilidade deste tipo de obras de revestimento e
impermeabilização de canais de rega são também factores a ter em conta na análise de cada solução
construtiva.
Nos pontos 2.5.1 a 2.5.3, caracterizam-se com maior detalhe as três soluções construtivas de
revestimento indicadas.

Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil - Filipe Morgado 7


2 - Soluções construtivas de impermeabilização em canais de rega

2.2 Factores que afectam as perdas de água por infiltração


As perdas de água por infiltração num canal dependem de vários factores, sendo que os que
apresentam uma maior importância são a permeabilidade do solo no qual assenta o canal (com mais
ou menos argila na sua constituição) e o tipo de revestimento (se existir) bem como o seu estado de
conservação.
A forma e dimensões da secção transversal do canal pode também influenciar as perdas por
infiltração. Constata-se que, para grandes profundidades, as pressões no fundo do canal igualam a
pressão a água no solo diminuindo as perdas por infiltração no fundo, se o nível freático estiver
próximo da cota de rasto do fundo. Como tal, as perdas de água serão maiores em canais com maior
superfície molhada, não só devido ao facto de apresentarem uma maior superfície de infiltração, mas
também pelas perdas de água devidas à maior pressão exercida pela água decorrente da maior
profundidade do canal.
Outro factor a ter em conta é a quantidade e o tipo de sedimentos que são transportados na
água. Muitas vezes estes vão sedimentando nas fissuras e pequenos buracos que existem ao longo
do desenvolvimento do canal diminuindo assim a sua permeabilidade.
Não se poderá também esquecer que, devido à periodicidade das campanhas de rega, os
canais não se apresentam sempre nas mesmas condições; isto é, em plena campanha os canais
encontram-se cheios provocando uma pressão sobre o solo, já durante o período entre campanhas
de rega, os canais estão, na maioria dos casos, vazios, o que provoca uma retracção dos solos e
uma alteração do equilíbrio de pressões hidrostáticas. É durante este período de tempo que ocorre a
maioria das fissuras responsáveis pelas infiltrações. Para evitar esse facto, deve ter-se o canal cheio
durante o maior período de tempo possível.
A idade do canal é outro parâmetro peça importante no que diz respeito à perda de água por
infiltração. Todos os canais apresentam uma deterioração das suas condições ao longo da sua vida
útil (Figura 3).

FIGURA 3 - CANAL ANTIGO COM REVESTIMENTO DE BETÃO DETERIORADO

8 Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil - Filipe Morgado


Impermeabilização de canais de rega a céu aberto

É de esperar que um canal com mais idade apresente maiores problemas de estanquidade
do que um canal semelhante, sujeito às mesmas condições, mas com menor período de utilização.
No entanto, podem haver excepções.
As condições atmosféricas a que o canal se encontra sujeito são também aspectos a ter em
conta na degradação do canal, principalmente em climas com períodos de seca consideráveis em
que a água existente no solo é evaporada, aumentando assim as perdas por infiltração de modo a
repor os valores dessa mesma água; esta situação é naturalmente mais marcante no caso de canais
de betão ou similares.
Muitas das fissuras que aparecem nos canais de rega devem-se às raízes das árvores que
normalmente se encontram ao longo do canal. A plantação de árvores ao longo do desenvolvimento
longitudinal do canal tem que ser analisada com alguma precaução, isto é, se por um lado as raízes
podem desenvolver-se na direcção do canal rompendo o seu revestimento, por outro, podem ajudar
na estabilização dos taludes de aterro e escavação. Deve garantir-se então que as árvores sejam
plantadas a uma distância apropriada da espalda do canal.
A melhoria do revestimento da secção útil dos canais tem como objectivos directos:
• a diminuição das perdas de água por infiltração, melhorando a eficiência do sistema e
diminuindo o alagamento das terras adjacentes aos canais, assim como a humidade
dos aterros e desagravando as condições de drenagem;
• disponibilizar maior quantidade de água para rega, que não só beneficia as áreas já
consideradas no perímetro de rega, como permite o alargamento a novas áreas,
utilizando os caudais sobrantes;
• melhorar as condições de escoamento do canal reabilitado, aumentando a velocidade
da água e, consequentemente a sua capacidade de transporte.

Pode referir-se que não existe qualquer tipo de normativa que indique qual o volume máximo
de perdas de água por infiltração que um canal pode apresentar.

2.3 Importância / utilidade de canais de rega impermeabilizados

Cerca de dois terços da água transportada em canais no mundo é perdida ao longo do seu
percurso [3]. Estes são números preocupantes visto que este recurso é dos mais importantes na
Natureza. Se, por um lado, existem zonas do globo, como por exemplo as regiões tropicais, onde a
água é abundante e esta perda não tem um peso tão significativo, por outro, existem países onde
este recurso é quase sagrado, como é o caso dos países do Médio Oriente e das zonas mais áridas
do planeta.
Existem vários tipos de canais que transportam água para vários fins. Analisando as perdas
de água em canais de abastecimento, ou em canais de transporte de água para produção de energia,
as perdas por eles apresentadas têm um impacte exponencial ao longo das actividades no ciclo de
utilização de um dado tipo de água. No caso dos canais que transportam água purificada,
dessalinizada, água resultante de estações de bombagem, etc. estes tipos de água ao entrar num

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2 - Soluções construtivas de impermeabilização em canais de rega

canal de transporte já têm um custo associado e é de toda a conveniência que se perca a menor
quantidade de água ao longo do seu percurso.
Exige-se então uma análise mais profunda dos benefícios que se obtêm se se pensar na
construção de canais de raiz, com sistemas que permitam reduzir as perdas de água desde o seu
ponto de partida, se o investimento a realizar compensar os proveitos obtidos.
No caso dos canais de rega, constata-se que o maior benefício seria o aumento dos
perímetros de rega actuais, sem se levar a cabo grandes obras de reestruturação das redes de rega
já existentes.
De outro ponto de vista, se se imaginar que se introduz a água no início de um canal para se
obter um dado volume de água no seu final, e considerando que esse mesmo canal tem perdas ao
longo do seu desenvolvimento, deve então ter-se em conta no seu dimensionamento que o volume
de água final tem que resultar da soma da água realmente necessária com o volume de água que se
perde. Estes factores influenciam de forma significativa o dimensionamento do canal, o que se traduz
muitas vezes no aumento da secção do canal para fazer face às perdas previstas.

Outras razões para se proceder ao revestimento de canais


Existem canais que não necessitam de qualquer tipo de revestimento, ou porque estão em
zonas onde o solo apresenta uma permeabilidade muito baixa, ou pelo tipo de água que transportam,
isto é, se a água transportar sedimentos de alguma dimensão que podem por erosão degradar o
revestimento do canal, não é de todo aconselhado o seu revestimento, ou ainda por o canal
desempenhar uma função de drenagem em que, nesta situação, interessa que o mesmo tenha o
máximo de permeabilidade possível.
No entanto, se não se verificar nenhuma das condições acima referidas, e o canal apresentar
perdas de água significativas, deve estudar-se a possibilidade de aplicação de um revestimento ao
canal com vista a minimizar-se as essas mesmas perdas.
O revestimento não é mais do que um uma camada de material com características
impermeáveis que é aplicada ao longo do desenvolvimento da superfície do canal.
A decisão da aplicação do revestimento ou não do canal deve ser tomada antes da sua
construção, o que muitas vezes não acontece, e depois de um estudo aprofundado das
características do solo de implantação do canal. Os valores de referência para perdas por infiltração
2
em canais são da ordem de 25 a 50l/m em 24 horas [3]. Na Figura 4 apresenta-se um registo para
avaliar a estanqueidade de um canal através de um ensaio simples realizado num troço de canal.
Existem razões que não as perdas de água, que muitas vezes levam a que se proceda ao
revestimento do canal. O aumento da velocidade de escoamento é uma delas, isto é, se o coeficiente
de rugosidade do novo revestimento for melhor do que o do antigo, isso implica que a velocidade de
escoamento irá aumentar assim como o volume de água transportado no mesmo período de tempo.
A vegetação que se tende a desenvolver na superfície dos canais é outro dos factores que
leva ao revestimento dos canais sem que tenha a ver directamente com as perdas de água. Existem
já no mercado membranas betuminosas com aditivos que repelem o crescimento de vegetação e
repelem o seu incrustar, ficando a superfície do canal mais limpa (Figura 5).

10 Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil - Filipe Morgado


Impermeabilização de canais de rega a céu aberto

FIGURA 4 - ENSAIO DE PERMEABILIDADE DE UM CANAL

FIGURA 5 - CANAL DE BETÃO ANTES E DEPOIS DA APLICAÇÃO DE MEMBRANA BETUMINOSA COM ADITIVO ANTI-RAIZES

2.4 Materiais

Conforme se referiu, os materiais utilizados na maioria dos revestimentos de canais de rega


são o betão e as membranas betuminosas ou sintéticas. É certo que existiram e existem mais
materiais que podem ser aplicados no revestimento deste tipo de canais. No entanto, neste ponto
apenas se descrevem as características os principais materiais aplicados em Portugal.

Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil - Filipe Morgado 11


2 - Soluções construtivas de impermeabilização em canais de rega

2.4.1 Betão

Os canais de rega são obras hidráulicas que se encontram expostas a condições extremas,
pelo que a garantia da qualidade do betão é de extrema importância.
Nesta dissertação, não se procede a uma descrição exaustiva da composição do betão a ser
aplicado neste tipo de obras, mas referem-se apenas as principais características que este deve
apresentar para o campo de aplicação em questão.
Uma das principais exigências na qualidade deste material relaciona-se com as suas
propriedades. O estado de fluidez do betão, aquando da sua aplicação, é um dos parâmetros mas
importantes a considerar para que se minimizem os problemas de segregação na altura da
betonagem. O betão deve apresentar um “slump” entre 3 e 5, dependendo das condições climatéricas
de betonagem e da inclinação das espaldas. A fluidez do betão deve ser tal que garanta a sua
trabalhabilidade sem que no entanto provoque o seu deslizamento pelas espaldas.
Um dos principais objectivos do revestimento de canais de rega é a sua impermeabilização,
sendo o betão um material com características impermeáveis quando bem compactado. A prevenção
da formação de cavidades, que podem ser responsáveis por infiltrações e crescimento de vegetação,
é um dos principais aspectos a ter em conta na execução deste tipo de revestimentos. Este objectivo
alcança-se procedendo a uma correcta compactação do betão, actuando em paralelo com um
aumento da resistência aos esforços de tracção e compressão.
Os agregados a serem utilizados na composição do betão devem apresentar uma distribuição
granulométrica com várias dimensões, para que os agregados mais finos colmatem as cavidades
deixadas pelos agregados de maior dimensão, reduzindo o mais possível o volume de vazios.
A relação água / cimento deve estar entre 0,48 e 0,55 [3] de modo a que se obtenham bons
valores de resistência mecânica. Com esta baixa relação, é importante dar atenção ao processo de
compactação. A trabalhabilidade deste tipo de “betão seco” pode ser melhorada com recurso a
plastificantes que garantem a relação água / cimento, sem prejudicar com isso a resistência final do
betão. Deve ter-se em atenção que este tipo de plastificantes também pode influenciar o tempo de
descofragem devido ao aumento de fluidez do betão.
Actualmente, é pouco frequente a execução de betão in situ, recorrendo-se normalmente ao
fornecimento de betão pronto que, na maioria dos casos, garante um maior controlo das
características específicas do betão fresco, tais como a consistência.
3
O betão a aplicar deve ter uma dosagem de cimento, entre 250 e 300 kg/m , a qual é
responsável por lhe conferir uma elevada resistência. Pode ser utilizado cimento do tipo Portland. No
entanto, deve verificar-se se o terreno subjacente não é rico em sulfato de cálcio, pois este composto
pode reagir com os aluminatos e silicatos presentes no cimento originando uma reacção de expansão
e consequente fissuração. Não é aconselhável a adição de cinzas volantes. No entanto, a adição de
pozolanas naturais pode ser eficaz na minimização dos efeitos da presença de sulfato de cálcio no
terreno pois impede que se dêem as referidas reacções de expansão. Não obstante, a adição deste

12 Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil - Filipe Morgado


Impermeabilização de canais de rega a céu aberto

tipo de substâncias aumenta o tempo de presa do betão e, consequentemente, o tempo de


descofragem.
No que diz respeito à tolerância na espessura do revestimento, esta deve ser definida na fase
de projecto e deve ter em conta vários factores, tais como o tipo de cofragem, as técnicas de
betonagem e o acabamento da superfície do terreno antes da colocação do betão. Os valores
admissíveis são normalmente da ordem de 10% em relação à espessura do revestimento referida no
projecto. Uma forma de avaliar a espessura do revestimento em betão é através de realização de
carotes em vários troços do canal (Figura 6).

FIGURA 6 - CAROTES NO BETÃO DE REVESTIMENTO DO CANAL

O revestimento de betão em canais de rega tem como função principal garantir a


estanqueidade e não uma função estrutural. Por esse facto, o uso de betão simples é muitas vezes
suficiente para desempenhar essa função sem que seja necessário recorrer ao betão armado. No
entanto, o betão é um material apropriado para resistir a esforços de compressão e não de tracção.
Daí que, normalmente, se arme o betão com uma rede electrosoldada tipo “malhasol” com o objectivo
de controlar a fissuração.
Uma alternativa ao betão armado com armadura de fissuração é a inclusão na sua
composição de fibras metálicas. Este tipo de material tem vindo a ser utilizado em Portugal, não tanto
na reabilitação de canais, mas sim nas obras de rega novas, como por exemplo no canal Alvito -
Cuba. A principal vantagem da inclusão de fibras metálicas na composição do betão é que este
dispensa a colocação de armadura de fissuração.

Assume-se que, para além de todas as especificações do tipo e fabrico de betões referidas
neste ponto, os mesmos devem também estar de acordo com as normas e especificações gerais
adoptadas em Portugal para este propósito.

2.4.2 Membranas

As membranas utilizadas na impermeabilização de canais de rega podem classificar-se,


desde logo, em dois grupos consoante as matérias-primas base, isto é, membranas betuminosas

Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil - Filipe Morgado 13


2 - Soluções construtivas de impermeabilização em canais de rega

produzidas com base em betume e membranas sintéticas produzidas com base em polímeros
sintéticos (Tabela 1).

TABELA 1 - MATÉRIAS-PRIMAS DE BASE DE MEMBRANAS (ADAPTADO DE [4])

Matérias-primas de base de membranas


Oxidados ou insuflados
Betumes Estireno butadieno estireno (SBS)
Modificados
Polipropileno atáctico (APP)
Policloreto de vinilo plastificado (PVC-P)
Poliolefina (polietileno de alta densidade PEAD)
Plastómeros
Poliolefina (polietileno de baixa densidade PEBD)
(polímeros
Poliolefina modificada com etileno propileno (EPR)
termoplásticos)
Polietileno clorado (PIB)
Polisobutileno (PIB)
Polímeros sintéticos
Termoplásticos- Copolímeros de etileno / propileno (EIP)
elastómeros Polietileno clorosulfonado (CSM)
Monómero de etileno propileno dieno (EPDM)
Copolímero de isobutileno e de isoprene (Butyl) (IIR)
Elastómeros
Borracha de cloropreno (CR)
Borracha nitrílica / butadieno (NBR)

As membranas mais utilizadas no revestimento de canais rega em Portugal, são aquelas que
utilizam como matéria-prima betumes modificados (SBS e APP), dentro do grupo das membranas
betuminosas. No grupo das membranas com base em polímeros sintéticos, as utilizadas no
revestimento de canais de rega em Portugal são as membranas de PVC-P, as membranas de
polietileno e as membranas de EPDM. As membranas podem ser fabricadas “in situ” ou em fábrica.
Na impermeabilização de canais de rega em Portugal, as membranas aplicadas são de fabrico
exclusivo em fábrica. No entanto, existem aplicações de membranas fabricadas “in situ” em canais de
rega nos Estados Unidos [6].
Neste trabalho, apenas são apresentadas as características das membranas que são
usualmente aplicadas em revestimentos de canais de rega em Portugal.

Nota: os valores apresentados até ao final deste ponto 2.3, que não apresenttem referência
específica, foram resultado de uma análise de várias publicações [12] e [13] e algumas
especificações técnicas de materiais normalmente utilizados da impermeabilização de canais de rega
[10] [22] [23].

2.4.2.1 Membranas betuminosas (modificadas)


Este tipo de membranas é obtido por recobrimento de uma ou duas armaduras com uma
mistura betuminosa modificada, isto é, adiciona-se ao betume um polímero de APP (polipropileno
atáctico) ou SBS (estireno-butadieno-estireno).

14 Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil - Filipe Morgado


Impermeabilização de canais de rega a céu aberto

Estas membranas apresentam na sua composição armaduras geralmente de fibra de vidro


2
e/ou de poliéster, com uma massa por unidade de superfície de cerca de 50 a 60 g/m e entre 150 e
2
250 g/m respectivamente [22].
No que diz respeito à resistência à tracção por metro das armaduras de poliéster, esta pode
variar entre cerca de 450 e 1000 N na direcção longitudinal e entre 400 e 700 N na direcção
transversal, e nas armaduras de fibras de vidro a sua resistência à tracção é de cerca de 100 e 50 N
respectivamente, na direcção longitudinal e transversal, t
Outra das características a ter em conta neste tipo de armadura é a extensão de rotura, para
o qual se encontram valores semelhantes para as duas direcções ortogonais, entre 20 e 50% e 1 e
3%, respectivamente, para armaduras de poliéster e fibra de vidro.
Existem também armaduras com base em folhas de polietileno que não são as mais
indicadas para a utilização como revestimento de canais de rega por apresentarem elevadas
extensões de rotura, na ordem dos 600% [12].

2.4.2.1.1 Membranas de betume-polímero APP


As membranas de betume-polímero APP são compostas principalmente por betume
resultante de destilação directa do petróleo e resinas de polipropileno atáctico (APP), na proporção de
um para dois respectivamente. Podem também apresentar na sua composição cargas de origem
mineral e granulometria reduzida (< 30%), cargas do tipo fibroso e aditivos. Um dos aditivos presente
habitualmente na composição deste tipo de membranas caracteriza-se por ser um produto que tem a
função de repelir raízes que, no caso da aplicação em canais de rega, se revela de extrema
importância para a prevenção da perfuração pelo tardoz da membrana por parte dessa mesmas
raízes [22] [12] [13].
Existem vários acabamentos para as faces deste tipo de membranas, de entre os quais se
destacam:
- as folhas de polietileno, usualmente com 10 µm de espessura, que têm uma função de
evitar a aderência entre as faces das membranas quando estas estão enroladas;
- granulado mineral usualmente de areia ou ardósia, aplicado na fase superior.

Os valores apresentados de seguida servem apenas como referência, podendo existir


membranas com diferentes características das apresentadas e com possibilidade de serem utilizadas
em revestimentos de canais de rega.

Apresentam-se de seguida algumas características deste tipo de membranas.

Características dimensionais
- Espessura nominal: entre 3 e 5 mm, sendo usualmente 4 mm;
2
- massa por unidade de superfície: entre 3 e 5 kg/m ;
- membranas fornecidas em rolos: usualmente 1 m de largura e 10 m de comprimento.

Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil - Filipe Morgado 15


2 - Soluções construtivas de impermeabilização em canais de rega

Características mecânicas
- Resistência à tracção na direcção longitudinal (direcção de fabrico) pode tomar valores entre
550 e 1200 N;
- resistência à tracção na direcção transversal pode variar entre 500 e 950 N;
(ambas as resistências têm intervalos de variação consideráveis, principalmente devido ao
facto de a massa por unidade de superfície das armaduras poder ser diferente e/ou à adição
de fibras de reforço na mistura betuminosa)
- alongamento na rotura pode variar entre 30 e 70%; no entanto, para o caso específico da
utilização de armaduras de fibras de vidro, este valor é bastante reduzido podendo atingir
valores de 5%;
- a resistência da membrana ao rasgamento depende do tipo de armadura utilizada e não
deverá ser inferior a 100 N.

Comportamento sob a acção da temperatura


- Estabilidade dimensional - a generalidade das membranas betuminosas armadas com
feltros de poliéster ou folhas de polietileno apresenta contracção na direcção transversal e
dilatações na direcção longitudinal; no caso de membranas armadas com fibra de vidro, as
variações dimensionais são mínimas;
- flexibilidade a baixa temperatura - a fissuração deste tipo de membranas, quando novas,
pode ocorrer para temperaturas inferiores a -20 a -30 ºC; estas temperaturas aumentam
com a idade da membrana;
- comportamento ao calor - para membranas armadas com polietileno, a temperatura máxima
para a qual não ocorre escorrimento é da ordem dos 110 ºC; para membranas com outros
tipos de armaduras, esta temperatura pode variar entre 120 e 165 ºC.

2.4.2.1.2 Membranas de betume-polímero SBS


As membranas de betume-polímero SBS são compostas principalmente por betume
resultante de destilação directa do petróleo e por um polímero elastomérico de estireno-butadieno-
estireno (SBS) que pode variar entre 7 e 15% na composição total da mistura betuminosa. Para além
deste dois constituintes, as membranas betuminosas SBS apresentam na sua composição aditivos,
entre os quais plastificante e/ou antioxidantes e produtos repelentes de raízes. À semelhança das
membranas de APP, o material fino não deve exceder 30%.

Os valores apresentados de seguida servem apenas como referência, podendo existir


membranas com diferentes características das apresentadas e com possibilidade de serem utilizadas
em revestimentos de canais de rega.

Características dimensionais
- Espessura nominal: entre 2 e 5 mm, usualmente 4 mm;

16 Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil - Filipe Morgado


Impermeabilização de canais de rega a céu aberto

- membranas fornecidas em rolos, usualmente com 1 ou 2 m de largura e 5, 8, 10 e 20 m de


comprimento.

Características mecânicas
- Resistência à tracção na direcção longitudinal (direcção de fabrico) pode tomar valores entre
350 e 1100 N;
- resistência à tracção na direcção transversal pode tomar valores entre 300 e 1000 N;
(ambas as resistências têm intervalos de variação consideráveis, principalmente devido ao
facto da massa por unidade de superfície das armaduras poder ser diferente e/ou à adição
de fibras de reforço na mistura betuminosa)
- alongamento à rotura pode variar entre 20 e 75%, para membranas com armaduras de
poliéster; no entanto, para o caso específico da utilização de armaduras de fibras de vidro
pode ser substancialmente menor;
- a resistência da membrana ao rasgamento depende do tipo de armadura utilizada e da
direcção que é solicitada; assim, para a direcção longitudinal, é cerca de 80 N para
armaduras de fibra de vidro e varia entre 160 e 290 N para armaduras de poliéster. Na
direcção transversal, esses valores são de 100 N para armaduras de fibra de vidro e variam
de 170 a 340 N para armaduras de poliéster.

Comportamento sob a acção da temperatura


- Estabilidade dimensional - a generalidade das membranas betuminosas apresenta
contracção na direcção transversal e dilatações na direcção longitudinal quando sujeiras a
elevadas temperaturas;
- flexibilidade a baixa temperatura - a fissuração deste tipo de membranas, quando novas,
pode ocorrer para temperaturas inferiores a -15 a -30 ºC, estas temperaturas aumentam
com a idade da membrana;
- comportamento ao calor - a temperatura máxima para a qual não ocorre escorrimento varia
entre 95 e 135 ºC.

As membranas de betume-polímero SBS apresentam um melhor comportamento a baixas


temperaturas enquanto que as membranas de betume-polímero APP apresentam um melhor
comportamento ao calor; talvez isto seja motivo para que as impermeabilizações de canais de rega
sejam normalmente realizadas com membranas modificadas de APP.

2.4.2.2 Membranas de PVC plastificado

Principais características
As membranas de policloreto de vinilo são constituídas por resinas, plastificantes,
estabilizantes, cargas e podem ou não ter armadura.

Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil - Filipe Morgado 17


2 - Soluções construtivas de impermeabilização em canais de rega

2
Quando existem armaduras, estas pode ser de poliéster (100 g/m [12]) ou de fibra de vidro
2
(50 g/m [12]). A incorporação de armaduras na membrana minimiza os efeitos das retracções e
variações dimensionais, devidos à perda de plastificantes e à acção da temperatura. Em Portugal,
existem aplicações de membranas armadas e não armadas, algumas delas dispondo de um feltro na
face inferior da membrana
Quanto aos outros constituintes, os plastificantes são aqueles que têm uma maior importância
e representam cerca de 30 a 40% [12], se a membrana for obtida por calandragem, e cerca de 20%
se a membrada for obtida por extrusão da mistura de PVC. Quanto menor for a quantidade de
plastificantes presentes na mistura, maior será a rigidez da membranas e menor a sua ductilidade e
flexibilidade. As membranas utilizadas no revestimento de canais de rega devem ser dúcteis e
flexíveis, como tal, devem ter uma elevada percentagem de plastificantes. Os plastificantes são
normalmente monómeros (esteres fetálicos) e podem ser razoavelmente voláteis e/ou removidos por
acção de solventes entre os quais a água. Estes monómeros apresentam uma incompatibilidade
química com betumes e óleos de origem mineral. Isto leva a que possa existir uma migração de
plastificantes e, consequentemente, a rotura da membrana. No revestimento de canais de rega, este
é um aspecto a ter em consideração principalmente nas juntas entre membranas betuminosas e
membranas de PVC. O efeito da migração de plastificantes da membrana de PVC para a membrana
betuminosa pode ser minimizado pela utilização de polímeros / plastificantes de elevado peso
molecular e pela utilização de estabilizantes.

Os valores apresentados de seguida servem apenas como referência, podendo existir


membranas com diferentes características das apresentadas e com possibilidade de serem utilizadas
em revestimentos de canais de rega.

Características dimensionais
- Espessura nominal pode variar entre 1,2 e 2,0 mm;
3
- massa volúmica varia entre 1,25 e 1,35 g/cm e massa por unidade de superfície varia entre
2
1,6 e 2,0 kg/m ;
- este tipo de membranas é comercializado em rolos de 1 a 2 m de largura e comprimentos de
15 a 25 m.

Características mecânicas
2
- Membranas armadas com fibras de vidro apresentam valores de 12 N/mm para a tensão de
rotura na direcção longitudinal, mesmo depois de envelhecidas;
2
- em membranas armadas com poliéster, a tensão de rotura varia entre 15 e 20 N/mm ,
mesmo depois de envelhecidas;
- extensão de rotura varia entre 240 e 380% para membranas com armaduras com poliéster e
é de cerca de 210% para membranas com armaduras de fibra de vidro; estes valores
diminuem com o envelhecimento;

18 Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil - Filipe Morgado


Impermeabilização de canais de rega a céu aberto

- estabilidade dimensional - as membranas envelhecidas quando expostas ao calor (6 meses


a 80 ºC) apresentam extensões 3 vezes maiores do que as mesmas membranas em estado
novo.

Existem estudos [13] que caracterizam de uma forma mais detalhada várias membranas com
diferentes tipos de plastificantes e estabilizantes que, apesar de terem como objecto as membranas
utilizadas na impermeabilização de coberturas, podem servir como base para estudos futuros
aplicados a membranas utilizadas na impermeabilização de canais de rega.

2.4.2.3 Membranas de polietileno

Principais características
As membranas flexíveis de poliolefinas podem dividir-se em dois grupos de acordo com o
constituinte principal, polipropileno (PP) e polietileno (PE).
A experiência de revestimento de canais de rega em Portugal com este tipo de materiais é
pouco significativa e diz respeito à aplicação de membranas à base de polietileno de alta e de baixa
densidade e, como tal, apenas se descreve o segundo grupo referido anteriormente. A gama de
produtos deste grupo existentes no mercado é muito variada, quer em termos de características quer
em termos de constituintes, quer em termos de espessuras e propriedades específicas do material.
Daí que as características dos materiais apresentados posteriormente possam não corresponder
exactamente às daqueles que estão actualmente aplicados em revestimento de canais em Portugal.
Para além do polímero base (PE), as membranas podem apresentar outros componentes,
tais como fíleres, estabilizantes, retardadores de incêndio, anti-oxidantes e corantes.
As membranas de polietileno podem ser ou não armadas, têm a possibilidade de serem
recicladas, apresentam resistência ao calor e aos UV, não têm plastificantes e as suas resistências
dependem não só da direcção em que a membrana está a ser solicitada, mas também do tipo de
armadura e do seu peso específico.

Os valores apresentados de seguida servem apenas como referência, podendo existir


membranas com diferentes características das apresentadas e com possibilidade de serem utilizadas
em revestimentos de canais de rega.

Características dimensionais
- Espessura nominal pode apresentar valores de 1,2 a 2,5 mm e massas por unidade e
2
superfície na ordem de 1,1 a 2,27 kg/m .
- membranas fornecidas em rolos com mais de 2 m de largura e 20 a 25 m de comprimento.

Características mecânicas

Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil - Filipe Morgado 19


2 - Soluções construtivas de impermeabilização em canais de rega

- Força de rotura, varia de 1280 a 1340 N e de 1190 a 1260 N, nas direcções longitudinal e
transversal, respectivamente;
- extensão na rotura é de 25% nas duas direcções;
- um valor de referência para a variação dimensional pode ser inferior a 0,5% após 6 horas a
80 ºC.

2.4.2.4 Membranas de EPDM

Principais características
As membranas de EPDM são produzidas a partir de uma mistura de monómero de etileno-
propileno-dieno e aditivos, tais como óleos, agentes de vulcanização e retardadores de fogo.
A percentagem de monómero de etileno-propileno-dieno presente na mistura na sua forma
pura deve ser de cerca de 30% da massa total da mistura.
À semelhança de todas as membranas anteriores, também estas membranas podem ser ou
não armadas. As armaduras mais utilizadas neste tipo de membranas são as de poliéster ou de
poliamida. Normalmente, é aplicado talco ou mica como acabamento superficial para evitar a
aderência das superfícies quando a membrana é enrolada.

Os valores apresentados de seguida servem apenas como referência, podendo existir


membranas com diferentes características das apresentadas e com possibilidade de serem utilizadas
em revestimentos de canais de rega.

Características dimensionais
- Espessura nominal é normalmente de 1,5 mm e massa por unidade de superfície pode
2
variar entre 1,2 e 2,3 kg/m ;
- membranas fornecidas em rolos de comprimento que pode variar entre 15 e 40 m de largura
entre 1,35 e 15,20 m.

Características mecânicas
2
- Em ambas as direcções, a tensão de rotura pode variar entre 7,8 e 12,8 N/mm para uma
membrana nova não-armada;
- alongamento para uma membrana não-armada envelhecida por acção do calor da ordem de
23,5% e de 12,8% por acção da exposição às radiações ultravioletas;
2
- tensão correspondente a uma extensão de 100% com valor médio de 2,60 N/mm e de 2,45
2
N/mm na direcção longitudinal e transversal, respectivamente, para membranas não
armadas;
- para membranas novas, a extensão de rotura média apresenta valores na ordem de 450%;
- a resistência ao rasgamento tende a baixar pelo efeito do calor, podendo atingir valores
cerca de 67% inferiores relativamente aos da membrana nova.

20 Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil - Filipe Morgado


Impermeabilização de canais de rega a céu aberto

2.4.3 Acessórios e outros materiais

Existem materiais que, apesar de não fazerem parte do revestimento em si, são utilizados
como acessórios, de fixação e isolamento, como por exemplo as barras metálicas de fixação,
selantes e mastiques das juntas dos revestimentos em betão.

2.4.3.1 Materiais para juntas de revestimento de betão

A escolha do tipo de material a aplicar em cada tipo de junta é um factor fundamental a


considerar na execução de juntas em canais de rega, pois é nas juntas que se verificam problemas
de perdas significativas de água.
Existem vários tipos de materiais que se podem dividir em três grupos principais [3].
O primeiro engloba os materiais não vulcanizados que são normalmente aplicados na forma
de pastas, massas ou mesmo líquidos viscosos. São materiais constituídos por betume asfáltico e
areia fina na mesma proporção, sendo frequente a adição de fibras sintéticas para melhorar a sua
resistência a esforços de tracção. O principal problema deste tipo de materiais é o seu
comportamento em temperaturas extremas e, quando sujeito a altas temperaturas, tem tendência a
escorrer e fluidificar e, em temperaturas baixas, tem tendência a tornar-se quebradiço. Para verificar a
aplicabilidade ou não desses materiais, podem efectuar-se vários ensaios entre os quais os que estão
presentes na norma ASTM D1191.
Normalmente, os representantes de cada produto elaboram uma campanha de ensaios antes
de este ser lançado no mercado. Estes ensaios devem ser tomados em conta aquando da escolha
entre os vários tipos de materiais disponíveis, antes da sua aplicação na impermeabilização de canais
de rega.
O segundo grupo denomina-se de vulcanizados e os materiais que os constituem são
normalmente constituídos por dois ou mais componentes que reagem entre si dando origem a um
produto final com boas características impermeáveis, com boa aderência ao betão, com boa
capacidade de deformação e resistência a variações de temperatura.
Neste grupo, estão os materiais à base de resinas epóxidas em que se misturam dois líquidos
que originam um material com boas características para ser aplicado em juntas. Os outros materiais
deste grupo são constituídos à base de hidrocarbonetos das mais variadas estruturas moleculares.
Os produtos betuminosos combinados a borracha, sintética ou natural, originam um produto final com
as características necessárias para ser usado em juntas de canais revestidos com betão. A principal
vantagem da adição de borracha a betume asfáltico a altas temperaturas é a de que as propriedades
do betume se alteram passando a ter um melhor comportamento a temperaturas elevadas. Kasin A.
(1969) [3] desenvolveu vários ensaios em materiais vulcanizados, quer em termos de misturas
betuminosas com borracha, quer na oxigenação de betume asfáltico a altas temperaturas que se
revelou uma técnica capaz de melhorar significativamente as características dos materiais
betuminosos a utilizar nas juntas de canais.

Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil - Filipe Morgado 21


2 - Soluções construtivas de impermeabilização em canais de rega

O terceiro grupo é constituído por materiais pré-fabricados, normalmente fornecidos em rolos


(bandas de impermeabilização) e a única operação antes da colocação é um corte na medida
desejada. Este tipo de materiais tem uma capacidade de deformação considerável, quer em termos
de alongamento, quer em termos de retracção.
A capacidade de deformação deste tipo de materiais depende não só das suas propriedades
intrínsecas mas também da sua forma. Na maioria dos casos, são fabricados em borracha, natural ou
sintética ou de plástico, mais usualmente PVC. Estão actualmente disponíveis no mercado bandas de
impermeabilização com as mais variadas resistências à tracção e características de deformação,
cabendo ao projectista escolher o material e a forma da junta mais indicada, de acordo com os
esforços que se prevê que actuem sobre cada tipo de junta (Figuras 7 e 8).

FIGURA 7 - APLICAÇÃO DE MASTIQUE EM JUNTA

FIGURA 8 - JUNTA DE PVC DO TIPO “WATER STOP”

2.4.3.2 Fixações mecânicas


As fixações mecânicas são habitualmente utilizadas nas membranas sintéticas. Podem ser
divididas em dois tipos: pontuais e contínuas.
Nas fixações contínuas, é utilizada uma barra de material metálico resistente à corrosão
fixada com parafusos igualmente resistentes à corrosão (Figuras 9, 10 e 11).

22 Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil - Filipe Morgado


Impermeabilização de canais de rega a céu aberto

As fixações pontuais são realizadas com recursos a parafusos e anilhas de matéria resistente
à corrosão em anilhas. O dimensionamento deste tipo de fixações encontra-se descrito em pormenor
no ponto 2.5 deste capítulo.

FIGURA 10 - PARAFUSOS DE FIXAÇÃO PONTUAL COM ANILHA


FIGURA 9 - BARRA DE FIXAÇÃO CONTÍNUA EM CHAPA INOX
E BUCHA [23]

FIGURA 11 - PARAFUSOS E BUCHAS METÁLICAS [28]

2.4.3.3 Equipamentos para ligação de juntas

Existem diversos tipos de equipamentos utilizados na união de membranas. No caso das


membranas sintéticas termoplásticas, como é o caso do PVC, a união é realizada por termo-fusão em
forma de soldadura dupla deixando um canal intermédio para verificação da estanqueidade (Figura
12).

No caso de membranas betuminosas, a união é realizada com recurso à chama de maçarico


(Figura 13) até à fluidificação de uma das faces ou das duas.

Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil - Filipe Morgado 23


2 - Soluções construtivas de impermeabilização em canais de rega

FIGURA 12 - EQUIPAMENTOS DE SOLDADURA DE MEMBRANAS DE PVC (SOTECNISOL)

FIGURA 13 - MAÇARICO MANUAL E AUTOMÁTICO [11]

24 Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil - Filipe Morgado


Impermeabilização de canais de rega a céu aberto

2.5 Soluções construtivas

2.5.1 Revestimento com betão

O revestimento de canais em betão foi e ainda é a solução construtiva mais utilizada no


revestimento de canais, pelo que se dedica maior atenção à sua descrição.
Os canais existentes em Portugal têm na sua grande maioria revestimentos de betão, mesmo
os que já contam com mais de 50 anos.
O betão é um material construtivo muito versátil, podendo por isso ser aplicado nos mais
diversos tipos de construção, como é o caso do revestimento de canais.
Apesar de ser o revestimento que mais se utiliza em canais, deve ter-se atenção à forma
como este é fabricado, aplicado, compactado, curado e conservado. Se forem respeitadas todas as
recomendações durante o seu processo construtivo e posterior conservação, o betão torna-se um
material extremamente compacto e altamente impermeável. É por definição um material compósito,
com uma elevada resistência à compressão mas com uma fraca resistência a esforços de tracção,
que se podem registar em casos de assentamento e deslocamento do terreno de suporte do
revestimento.
Constata-se que a maioria das infiltrações em canais com revestimento de betão não ocorre
pela falta de impermeabilidade do material betão por si só, mas devido a factores externos, entre os
quais os já referidos assentamentos e deslocamentos do terreno da base do canal.
Verifica-se que as perdas de água por infiltração não ocorrem uniformemente ao longo do
revestimento de betão, mas sim, especialmente através das fissuras e das juntas que não se
encontram correctamente impermeabilizadas. Por esse facto, devem ser vedadas convenientemente
as juntas, de modo a garantir que qualquer movimento do betão de revestimento se dê precisamente
nessas juntas, prevenindo assim a fissuração não controlada do betão.
Nos pontos seguintes, desenvolve-se com maior pormenor todo o processo construtivo do
revestimento de canais em betão, quer em betão simples ou armado, aplicado in situ, quer em termos
de soluções de revestimento pré-fabricadas. Também se abordam as condições em que este tipo de
revestimento deve ser aplicado, assim como os seus principais aspectos positivos e negativos.

2.5.1.1 Betão simples ou armado

O revestimento de canais é normalmente executado em betão simples (não armado). Isto


deve-se ao facto de o betão aplicado em canais não ter uma função francamente estrutural mas sim
de impermeabilização. É certo que existem troços de canais executados em betão armado, troços
esses que, para além de terem que garantir a impermeabilidade do canal, estão muitas vezes
localizados em zonas de perturbações do escoamento e consequentemente de variação de pressões
como, por exemplo, mudanças de secção e zonas de comportas e estreitamentos.

Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil - Filipe Morgado 25


2 - Soluções construtivas de impermeabilização em canais de rega

Em qualquer caso, e por se tratar de um tipo de obra com desenvolvimento longitudinal, é


necessária a execução de juntas de dilatação / retracção pelas razões referidas no ponto anterior
deste capítulo.

2.5.1.1.1 Juntas em canais revestidos com betão


Verifica-se que um canal com juntas que sejam executadas de forma correcta, utilizando
materiais e processos construtivos adequados, apresenta uma menor probabilidade da ocorrência de
anomalias nas juntas. Por essa razão, dedica-se neste trabalho uma especial atenção ao aspecto
construtivo de execução de cada tipo de juntas.
As juntas no revestimento de canais de betão podem ser de dois tipos, longitudinais e
transversais (Figura 14).

FIGURA 14 - CANAL DE BETÃO COM JUNTAS LONGITUDINAIS E TRANSVERSAIS

a) juntas transversais
As juntas transversais podem ter dois tipos de comportamento: por um lado, podem
comportar-se como juntas de dilatação, minimizando assim os problemas de expansão do betão
causados pelas temperaturas elevadas ou, por outro lado, comportar-se como juntas de retracção
minimizando o efeito da fissuração, bem como os efeitos de retracção provocados pelas baixas
temperaturas nas estações frias.
Em termos de dimensionamento, a distância a adoptar entre duas juntas consecutivas
transversais pode ser dada através da seguinte expressão [3]:

௧௘ (1)
‫=ܮ‬
ଶி

L - distância entre duas juntas transversais [m];


F - tensão de atrito entre o solo e o revestimento de betão [N/m2];
e - espessura do revestimento [m];
t - tensão de tracção admissível no betão [N/m2].

26 Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil - Filipe Morgado


Impermeabilização de canais de rega a céu aberto

Com base na equação (1), verifica-se que não existe problema em estabelecer valores para a
espessura do revestimento nem para o valor de tracção admissível no betão. A dificuldade está em
estabelecer o valor da tensão de atrito, F, pois esta depende de dois factores. O primeiro relaciona-se
com a coesão do solo e depende da variação da humidade e coerência, enquanto que o segundo se
relaciona com o ângulo de inclinação da espalda do canal com a horizontal, ângulo esse que é
proporcional à força normal ao plano da espalda exercida pelo revestimento no solo.
Com estes factores, é difícil considerar um valor normalizado para a distância entre juntas; na
maioria dos casos, esse valor varia entre 3 e 4,5 m, dependendo da espessura do revestimento de
betão [3].
No entanto, podem-se tirar várias ilações da equação apresentada anteriormente, como a de
que a distância entre juntas é directamente proporcional à espessura da camada de betão, ou seja,
quanto menor for a espessura do revestimento menor será a distância entre juntas, um factor
importante a ter em conta, pois é nas juntas que se verifica um maior volume de perdas. Assim,
quanto maior for o número de juntas, maior a probabilidade de ocorrência de perdas. Verifica-se
também que, se for utilizado um betão de melhor qualidade para o revestimento, a resistência à
tracção é melhorada o que aumenta a distância entre juntas.
Inversamente proporcional é a relação entre F e L, verificando-se que quanto melhor for o
acabamento da escavação, maior será a distância entre juntas.
Se se observarem todos os valores da equação, verifica-se que nenhum deles depende da
temperatura, isto é, a distância entre duas juntas consecutivas, L, não depende das condições
atmosféricas, e, por conseguinte, da zona climatérica.
A equação que permite calcular a dilatação térmica para o betão é [3]:

்௅
∆‫= ܮ‬ (2)
ଵ଴ఱ
T - variação térmica (oC);
L - distância entre juntas (mm).

Por exemplo, um canal sujeito a uma variação térmica de 40 ºC, com juntas espaçadas de 4
em 4 metros, dilata 1.6 mm, valor que é normalmente inferior à largura das juntas correntes.
Como referido, outra das funções das juntas transversais é fazer face aos esforços de tracção
devidos às variações térmicas.
Não existe um consenso sobre a distância a considerar entre duas juntas consecutivas deste
tipo, pois essa dimensão depende de vários factores. Verifica-se que a rotura por dilatação do betão
não ocorre uniformemente ao longo do desenvolvimento do canal, mas sim em troços específicos,
nomeadamente nas zonas de transições entre materiais que apresentam diferentes comportamentos
de dilatação.
O betão, por si só, como aliás todos os materiais, apresenta um bom comportamento quando
sujeito a dilatações se não se encontrar condicionado no seu percurso de variação de dimensões. No
caso dos canais das obras de rega, o problema do condicionamento do percurso de variação de

Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil - Filipe Morgado 27


2 - Soluções construtivas de impermeabilização em canais de rega

dimensões é particularmente importante na junção de dois materiais diferentes, como por exemplo, o
ferro fundido dos sifões e o betão do canal a céu aberto. É nestas zonas de junção entre materiais
que se verificam as roturas do betão devidas à dilatação, pois o ferro fundido apresenta uma maior
ductilidade do que o betão.
Os estudos para o desenvolvimento de equações que permitam um correcto
dimensionamento deste tipo de juntas ainda estão pouco desenvolvidos. No entanto, existem autores
que admitem a seguinte equação [3]:
ா்௘
‫=ܮ‬ (3)
ଵ଴଴଴଴଴ ி

L - distância entre duas juntas transversais [m];


F - tensão de atrito entre o solo e o revestimento de betão [N/m2];
e - espessura do revestimento [m];
T - Variação de temperatura [ºC];
E - módulo de elasticidade do betão [N/m2].

Resumindo, as juntas de dilatação / expansão devem ser localizadas antes e depois de obras
específicas com o intuito de libertar as pressões exercidas sobre o canal. O módulo de elasticidade
do revestimento, a sua espessura e a qualidade final da escavação são factores determinantes na
definição da distância entre juntas de dilatação. No entanto, o mais significativo é a variação de
temperatura.

b) juntas longitudinais
As juntas longitudinais em canais de rega revestidos com betão têm como principal finalidade
proporcionar ao canal uma dada flexibilidade que previna a fissuração resultante dos movimentos do
solo, como por exemplo os deslocamentos resultantes da variação do nível de humidade do solo ou
mesmo os movimentos provocados pela diferença de compactação das várias camadas de solo
(Figura 15).

Juntas longitudinais

Solos com diferente compactação

FIGURA 15 - PERFIL TIPO COM CAMADAS DE SOLO DIFERENTES (ADAPTADO DE [3])

28 Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil - Filipe Morgado


Impermeabilização de canais de rega a céu aberto

Este tipo de juntas tem uma função preventiva, isto é, se ocorrem no solo movimentos
mínimos passíveis de serem absorvidos pela capacidade de deformação do betão, este tipo de juntas
não tem qualquer função, actuando de uma forma passiva. Pelo contrário, para movimentos do solo
mais significativos, estas juntas funcionam como zonas de concentração de deformações.

O projecto deve prever juntas longitudinais nos casos em que a espalda do talude é
executada em camadas de solo diferentes e com índices de compactação diferentes.
Um exemplo típico é o caso em que a secção transversal do canal é uma parte executada em
escavação no terreno já existente e a outra aterrada até à altura máxima da secção transversal
pretendida naquele troço do canal. Isto leva a que o comportamento dos dois tipos de solo seja
diferente.

Outro factor que pode levar a que se proceda à execução de juntas longitudinais é o da
acentuada inclinação das espaldas. Normalmente, aconselha-se a que a inclinação das espaldas dos
taludes seja de 3/2 (Horizontal / Vertical), isto porque a maioria dos solos se revela pouco estável
para declives mais acentuados, o que nesses casos exerceria uma pressão no tardoz das espaldas
por parte do solo provocando fissuras longitudinais.

c) juntas de construção e/ou de trabalho


Outro tipo de juntas são as chamadas juntas de construção ou de trabalho. A construção de
canais é uma obra executada ao longo de vários dias e com desenvolvimento longitudinal. Por essas
razões, exige-se a execução de juntas de trabalho, que permitem um acabamento adequado no fim
de cada dia de trabalho e posterior recomeço no dia seguinte. Visto que as juntas são pontos críticos
no que diz respeito à impermeabilização de canais, deve procurar-se que este tipo de juntas
construtivas coincida com as juntas de retracção / dilatação previstas no projecto de execução, com
todas as vantagens económicas e técnicas que daí advêm.
As principais condicionantes das juntas de construção são por um lado, a dificuldade de
garantia em obra das especificações constantes no projecto, e por outro lado, os métodos, técnicas
construtivas e velocidade de execução dos trabalhos. Por vezes, apesar de as juntas de trabalho
serem transversais na grande maioria dos casos, pode haver outro em que se tenha de executar
juntas de trabalho longitudinais, não com o intuito de separar dias de trabalho diferentes mas sim
fases de execução diferentes, como por exemplo em canais em que o rasto do canal é executado
numa fase anterior às espaldas. O tratamento ou não deste tipo de juntas é um dos principais factores
que contribuem significativamente para a quantidade de água perdida pela junta. Esta é uma
anomalia que se desenvolve no Capítulo 3 desta dissertação. No entanto, é de referir que este tipo de
juntas deve ser evitado, ou seja, deve sempre que possível betonar-se simultaneamente todo o
perímetro da secção transversal num dado troço longitudinal do canal.

Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil - Filipe Morgado 29


2 - Soluções construtivas de impermeabilização em canais de rega

2.5.1.1.2 Soluções construtivas para juntas


Existem diversos tipos de soluções construtivas para a execução de juntas em canais de
rega. Não são todas executadas da mesma forma nem com os mesmos materiais pois desempenham
diferentes funções.
Deve-se ter em consideração a escolha do material a utilizar na execução de cada tipo de
juntas. Os materiais utilizados na construção de juntas encontram-se sujeitos a condições extremas,
quer em termos dos esforços que têm que suportar comparando com a sua espessura, quer em
termos das variações térmicas a que estão sujeitos, não podendo liquefazer-se a altas temperaturas
nem tornarem-se quebradiços quando sujeitos a temperaturas baixas.
Para além da escolha do material com as características técnicas adequadas, é também
importante garantir-se uma boa aderência entre o material de revestimento e o material das juntas,
pois é neste ponto que reside uma das principais anomalias responsáveis pela perda de água por
infiltração através das juntas; existem actualmente no mercado primários com vista a melhorar a
aderência entre o revestimento e a material da junta.
De seguida, apresentam-se algumas soluções-tipo de execução de juntas em canais de rega,
distribuídas por cada tipo de junta.

a) Juntas transversais de retracção

Este tipo de juntas consiste em criar uma base de suporte em betão, ao longo de toda
extensão da junta na parte do tardoz da secção (Figura 16). É um tipo de juntas utilizado em canais
de betão em que se recorre ao método tradicional de construção de espaldas alternadas, o qual se
descreve posteriormente neste trabalho.

30 Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil - Filipe Morgado


Impermeabilização de canais de rega a céu aberto

Selante da Junta

Base de suporte em betão

FIGURA 16 - JUNTA TRANSVERSAL COM BASE DE SUPORTE EM BETÃO (ADAPTADO DE [3])

O selante deve ser aplicado após a construção das primeiras espaldas e só depois devem ser
executadas as restantes. Uma das principais desvantagens desta solução é a de que, apesar de o
selante aderir bem ao betão das espaldas mais antigas, o mesmo não acontece com o betão fresco
das restantes espaldas. No entanto, este é um tipo de solução construtiva que actualmente não é
muito utilizado, apesar de não apresentar problemas de perdas de água quando bem executado.
Outro tipo de solução construtiva para juntas transversais é a chamada junta de encaixe
(Figura 17). É um tipo de solução que é muitas vezes utilizado na construção do rasto do canal,
sendo mais difícil de construir nas espaldas devido à inclinação das mesmas. Tem como principal
desvantagem a possibilidade de fractura do betão na zona onde este apresenta uma menor
espessura.
Primeira betonagem

Selante betuminoso

Segunda betonagem

Fissuração
FIGURA 17 - JUNTA TRANVERSAL DO TIPO ENCAIXE (ADAPTADO DE [3])

Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil - Filipe Morgado 31


2 - Soluções construtivas de impermeabilização em canais de rega

O tipo de juntas representado na Figura 18 é também muitas vezes utilizado. Pode executar-
se com o betão fresco deixando um negativo da espessura pretendida, que será removido
posteriormente e preenchido com selante. Se o betão já se encontrar seco, pode-se abrir um roço
com uma serra de corte.

FIGURA 18 - JUNTA TRANSVERSAL "INCOMPLETA" (ADAPTADO DE [3])

b) Juntas longitudinais
No que diz respeito a juntas longitudinais, as que são mais frequentemente utilizadas são as
que consistem na colocação de uma tira de material de flexível pré-fabricado, normalmente PVC, ao
longo do canal (Figura 19).
Com a criação desta junta, pretende-se criar uma zona mais fraca no betão, de modo a
garantir que qualquer fissura resultante das deformações se localize exactamente nessa zona. O
material a aplicar na junta deve ter a forma e as características adequadas de modo a que as perdas
de água sejam minimizadas. Outro aspecto a ter em atenção é o de que a junta deve ser colocada
ainda com o betão fresco e acompanhada de vibração de modo a garantir uma elevada aderência
entre os dois materiais.

Material Flexível

Fissuração

FIGURA 19 - JUNTA LONGITUDINAL DO TIPO “WATER STOP” (ADAPTADO DE [3])

Este tipo de solução construtiva de juntas é o que tem vindo a ser mais frequentemente
utilizado na construção de canais novos revestidos com betão.

32 Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil - Filipe Morgado


Impermeabilização de canais de rega a céu aberto

c) Juntas de dilatação
A forma mais simples de executar uma junta de dilatação é abrir um roço ao longo da secção
transversal do canal com a profundidade igual à espessura do betão e com largura variável, no
entanto sempre maior do que 0,02 m, preenchendo-o com um material flexível e capaz de resistir aos
esforços gerados (Figuras 20). As características dos materiais a aplicar neste tipo de juntas são
descritas posteriormente.

Betume asfáltico

Borracha sintética

FIGURA 20 - JUNTA DE DILATAÇÃO (ADAPTADO DE [3])

Recomenda-se que a junta não seja preenchida na sua totalidade por material
impermeabilizante. Por um lado, devido a razões económicas, a espessura do betão de revestimento
de canais pode ser de 0,10 m e, por outro, devido aos esforços de compressão a que a junta está
sujeita que muitas vezes são responsáveis pela saída do material da junta.
Para minimizar este efeito, usam-se normalmente dois tipos de materiais na execução deste
tipo de juntas. Um tem como principal função a de resistir a aumentos significativos de volume, mas
sem ser necessário que resista a esforços de compressão. Este deve ser colocado no topo da junta.
O outro material deve ser colocado na parte inferior da junta e deve ser borracha sintética ou
esferovite.
O efeito da pressão da água no fundo do canal tem um papel relevante no que diz respeito a
garantir que os materiais de preenchimento não saiam das juntas quando estão sujeitos a esforços de
compressão, isto se o canal se encontrar cheio. A pressão exercida pela água na junta ajuda de igual
modo a melhorar a aderência entre o betão e os materiais de preenchimento.
À semelhança das juntas longitudinais, também neste tipo de junta se pode utilizar uma
banda de material flexível pré-fabricado ao longo da junta de dilatação. No entanto, as condições de
aderência são diferentes pois não pode existir contacto entre os dois painéis de betão. Se existir esse
contacto, a junta não seria de dilatação mas sim de retracção (Figuras 21 e 22). Desta forma, o
material elástico fica ancorado ao betão nas duas extremidades, mas não na sua totalidade, pelo que
a sua função de contenção de infiltrações é muito maior do que numa junta longitudinal.

Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil - Filipe Morgado 33


2 - Soluções construtivas de impermeabilização em canais de rega

Possível fissura

Água

FIGURA 21 - SECÇÃO HORIZONTAL DE JUNTA DE DILATAÇÃO (ADAPTADO DE [3])

Possível perda de água

Betão mal compactado

FIGURA 22 - SECÇÃO VERTICAL DE JUNTA DE DILATAÇÃO (ADAPTADO DE [3])

2.5.1.1.3 Técnicas de construção de revestimentos de betão


Existem vários sistemas de construção para o revestimento de canais de betão, desde os
mais tradicionais sem qualquer tipo de cofragem e com regularização e compactação muitas vezes
deficientes, até aos sofisticados e modernos com equipamentos que permitem uma betonagem
contínua em toda a secção transversal do canal. É prática corrente que, em canais de secção
transversal trapezoidal, seja executado o revestimento de betão em primeiro lugar nas espaldas e
depois então no fundo ou rasto do canal, excepção feita ao caso em que se recorre ao processo de
cofragem deslizante aplicada a toda a secção transversal do canal.
Nos próximos pontos, descrevem-se e ilustram-se os principais processos construtivos de
revestimento de canais em betão.

a) Compactação e regularização manual


A técnica mais tradicional na construção de revestimentos de betão consiste na aplicação simples do
betão sobre o terreno de escavação e na regularização com réguas e mestras, como indicado na
Figura 23.

34 Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil - Filipe Morgado


Impermeabilização de canais de rega a céu aberto

FIGURA 23 - TÉCNICA DE MANUAL DE REGULARIZAÇÃO DE REVESTIMENTO DE BETÃO EM ESPALDAS [3]

Constata-se facilmente que este método tem algumas fragilidades, isto é, se o betão se
encontrar muito fluido o mesmo pode deslizar para o fundo do canal. Se, pelo contrário o betão
estiver muito seco, a sua compactação apresenta uma maior dificuldade e a probabilidade de ficar
mais poroso aumenta, não adquirindo a compacidade necessária para garantir a estanqueidade à
água.
Outro aspecto a ter em consideração é a garantia da espessura mínima do revestimento, que
pode resolver-se com a colocação de mestras e guias em madeira que garantam essa mesma
espessura. Mais uma vez, a qualidade do acabamento da superfície de escavação é fundamental
para a colocação das mestras.

No caso da betonagem das espaldas, utiliza-se a técnica da betonagem alternada, em que se


executam espaldas intercaladas entre duas juntas transversais, uma sim e uma não, deixando que o
betão endureça, e só então se procede à betonagem das espaldas intermédias. A diferença da
betonagem destas últimas é de que não é necessária a colocação de réguas mestras, sendo o plano
de regularização determinado pelas duas espaldas já betonadas na sua vizinhança (Figura 24).
Este sistema permite a construção de canais com diversas formas de secção transversal. Apenas se
deve garantir que o acabamento do plano de escavação seja o mais uniforme possível. Entre dois
troços de espaldas existe uma junta transversal. A impermeabilização que se deve aplicar na junta
tem de ser obrigatoriamente aplicada antes da betonagem da espalda intermédia.
Em suma, este é um método que apresenta muitos inconvenientes, e que tem vindo a ser
abandonado, face aos métodos mais modernos e com maiores garantias de sucesso.

Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil - Filipe Morgado 35


2 - Soluções construtivas de impermeabilização em canais de rega

FIGURA 24 - ESPALDA INTERMÉDIA

b) Sistemas de cofragem tradicionais e racionalizados


A construção de canais é, conforme já se referiu neste trabalho, um tipo de obra de
desenvolvimento longitudinal e muitas vezes com secções transversais de dimensões semelhantes
ao longo de troços com vários quilómetros. É de todo o interesse que o custo por metro quadrado de
cofragem seja o mínimo possível. Daí o uso de sistemas de cofragens racionalizados ter uma
aplicação favorável neste tipo de construção.
Não obstante, em Portugal não é um sistema muito utilizado, preferindo os construtores o
sistema tradicional com escoramentos cruzados de espalda a espalda.
Um dos principais problemas que se verifica na fase de betonagem do revestimento é a
dificuldade em garantir que a cofragem se encontra devidamente escorada. Esta dificuldade é sentida
principalmente na zona inferior das espaldas junto ao rasto, que suporta a pressão do betão fresco
(Figura 25). Esta pressão aumenta na medida em que aumenta a inclinação das espaldas em relação
à horizontal.
A vibração e compactação do betão são também aspectos essenciais a ter em conta na
escolha de um sistema de cofragem / betonagem, pois quanto mais compacto ficar o betão maior a
garantia não só em termos de estanqueidade, mas também em termos da diminuição da fissuração e
crescimento de vegetação.

c) Cofragem deslizante transversal


Este sistema é em tudo idêntico ao de compactação e regularização manual. Em ambos se
utilizam mestras para definir o plano final da espalda, assim como o sistema de betonagem alternada
de espaldas (Figuras 26 e 27). A principal diferença reside na forma como é executada a
regularização e compactação do betão, por estas não serem executadas com uma régua mas sim
com um painel de cofragem deslizante que é puxado na parte superior do canal (Figura 28).

36 Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil - Filipe Morgado


Impermeabilização de canais de rega a céu aberto

FIGURA 25 - SISTEMA DE COFRAGEM TRADICIONAL DE ESPALDAS

FIGURA 26 - COFRAGEM DESLIZANTE TRANSVERSAL - FASE 2 [3] FIGURA 27 - COFRAGEM DESLIZANTE TRANSVERSAL - FASE 1 [3]

FIGURA 28 - COFRAGEM DESLIZANTE TRANSVERSAL SEM VIBRAÇÃO INCORPORADA [6]

Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil - Filipe Morgado 37


2 - Soluções construtivas de impermeabilização em canais de rega

Este tipo de solução construtiva tem a vantagem de não ser necessária a montagem de
qualquer tipo de escoramento. No entanto, deve garantir-se que o peso próprio da cofragem é
suficiente para equilibrar a pressão do betão fresco. Esta pressão depende, entre outros factores, da
inclinação da espalda do canal e do estado de fluidez do betão a ser aplicado. Deste modo, a
velocidade de progressão da cofragem também poderá ser diferente para cada caso. Como valor de
referência, toma-se 2 m por hora [3], que pode ser maior se se verificar que o betão na parte inferior
da espalda apresenta a consistência adequada que permita suportar o que será aplicado
posteriormente na parte superior.
Neste tipo de sistema construtivo, a vibração do betão deve ser executada aquando da
colocação do betão nas várias fases de deslizamento da cofragem. Apesar de a vibração não ser
uma dificuldade neste tipo de sistemas, deve ter-se em conta que o tipo de vibrador a utilizar deve ser
de acordo com a espessura do revestimento (mín. 12 cm). Para ultrapassar esta dificuldade, existem
já máquinas automáticas de espalhamento e vibração simultânea que permitem executar
revestimentos de menor espessura, embora se rejam pelo mesmo princípio do painel de cofragem
deslizante com o qual não é necessária a vibração independente do betão.

d) Cofragem / betonagem deslizante longitudinal


Neste tipo de solução construtiva, a cofragem é disposta longitudinalmente no canal, ao
contrário do sistema anterior. O sistema de cofragem longitudinal pode ser aplicado ao longo de toda
a secção transversal do canal, ou apenas nas espaldas.
Este tipo de cofragem executa-se com recurso a equipamentos específicos, que normalmente
são de dois tipos.
Os do primeiro tipo apenas permitem a execução de espaldas (Figura 29), primeiro numa
face do canal e depois na outra utilizando o mesmo equipamento ou outro idêntico. Quanto ao rasto,
pode ser construído antes ou depois da execução das espaldas ao contrário dos sistemas de
cofragem anteriores. No entanto, deve-se prestar especial atenção à junta entre estes dois elementos
em qualquer um dos casos. Este tipo de cofragens está normalmente assente em dois carris, um no
fundo e outro na parte superior do canal, que devem estar perfeitamente nivelados e alinhados.
Alguns equipamentos não necessitam de se deslocar sobre carris pois possuem meios próprios de
deslocamento, normalmente sobre lagartas.
Este tipo de equipamento tem incorporados vibradores que actuam à medida que a máquina
vai avançando, não condicionando assim a espessura mínima do revestimento para que se possa
inserir um vibrador independente. Neste tipo de casos, o rasto do canal é construído da maneira
tradicional no qual se deve garantir as condições de compactação desejadas.
As juntas longitudinais podem ser abertas com o recurso a serras rotativas, que na maioria
dos casos estão incorporadas na própria máquina, com a espessura de um terço da espessura total
do revestimento. Nas juntas longitudinais, podem também ser utilizados os sistemas referidos
anteriormente aplicando uma faixa de material plástico ao longo da junta ainda com o betão fresco.
As juntas transversais podem ser abertas com recurso a uma lâmina vibratória, ainda com o
betão fresco, igualmente até a um terço da espessura total do revestimento. Depois do betão

38 Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil - Filipe Morgado


Impermeabilização de canais de rega a céu aberto

endurecido, deve então proceder-se ao tratamento das juntas de modo a garantir uma maior
estanqueidade, com recurso por exemplo a pinturas com um betume betuminoso.

FIGURA 29 - EQUIPAMENTO DE BETONAGEM DESLIZANTE LONGITUDINAL - ESPALDAS [25]

Os equipamentos do segundo tipo são aqueles que permitem a execução simultânea do


fundo e das espaldas do canal. Uma das suas principais vantagens é a de que eliminam as juntas
entre as espaldas e o fundo, pois a betonagem é contínua ao longo de toda a secção transversal do
canal (Figura 30). Por outro lado, este tipo de equipamento é por norma pouco flexível, isto é, não
tem capacidade de se adaptar com facilidade a variações de secção do canal. Daí ser indicado para
canais longos com secções transversais praticamente constantes.

FIGURA 30 - EQUIPAMENTO DE BETONAGEM DESLIZANTE LONGITUDINAL - SECÇÃO TOTAL / MEIA SECÇÃO [24] E [25]

Este tipo de equipamento tem quase sempre incorporado vibradores e compactadores o que
leva a que se possa reduzir a espessura do revestimento. Por outro lado, e visto que a espessura é
menor, deve ter-se em conta outros factores como a composição do betão a ser aplicado,
percentagem de cimento e dimensão dos agregados, bem como as condições de compactação e
acabamento do terreno de suporte. O rendimento deste tipo de máquinas é de cerca de 15 a 30

Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil - Filipe Morgado 39


2 - Soluções construtivas de impermeabilização em canais de rega

metros por hora [3], dependo principalmente dos ajustes a realizar na mudança de secção
transversal.
Existem em Portugal vários canais novos construídos com recurso a estes equipamentos,
como por exemplo o canal da Cova da Beira e o Canal Alvito-Cuba (Figuras 31 e 32).

FIGURA 31 - CANAL ALVITO - CUBA

FIGURA 32 - COFRAGEM DESLIZANTE - CANAL DA COVA DE BEIRA [26]

A cura do betão é um aspecto essencial a ter em consideração em qualquer processo


construtivo que o envolva. Nestes casos, em que se pode estar na presença de revestimentos de
espessuras na ordem de 5 a 8 cm, esse aspecto é um dos que maior atenção deve merecer pois a
perda de água pela pasta pode ser maior do que nos casos mais comuns. Normalmente, a rega
cuidada do betão é suficiente para a manutenção da água necessária para que se dêem as reacções
de endurecimento do betão, podendo também aplicar-se uma fina camada de polietileno que ajuda à
retenção da água de amassadura.

40 Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil - Filipe Morgado


Impermeabilização de canais de rega a céu aberto

e) Cofragem / betonagem deslizante longitudinal - Secção circular


Apesar de não ser uma prática corrente em Portugal, a execução de canais com secção
transversal semi-circular apresenta algumas vantagens que não podem ser ignoradas. Com este tipo
de secções, é possível obter o menor perímetro molhado para a mesma área útil, o que corresponde
a ter uma menor área de secção que será necessário revestir, sendo por isso uma solução mais
económica. Mesmo em termos de estabilidade, a forma circular é aquela que se apresenta mais
estável do ponto de vista das pressões exercidas pelo terreno no canal, isto é, a propagação de
esforços, na sua grande maioria de compressão, é feita ao longo do revestimento de toda a secção
transversal do canal de uma forma mais uniforme do que em secções trapezoidais ou rectangulares.
Há algum tempo atrás podia dizer-se que a escavação deste tipo de secções apresentava
uma maior dificuldade mas, nos dias de hoje, tal não corresponde à verdade devido à existência de
equipamentos com capacidade para executarem a escavação da caixa do canal com relativa
facilidade.
Existem equipamentos que permitem executar a betonagem / cofragem deslizante da mesma
forma do que em secções trapezoidais com as devidas alterações ao nível da definição da secção
transversal (Figura 33).

FIGURA 33 - EQUIPAMENTO DE COFRAGEM / BETONAGEM DESLIZANTE LONGITUDINAL PARA SECÇÃO CIRCULAR [3]

2.5.1.1.4 Espessura do revestimento


A espessura do revestimento a aplicar deve ser especificada no projecto de construção /
reabilitação de um canal. A escolha da espessura de um revestimento de betão tem com principal
objectivo garantir a estanqueidade do canal. Verifica-se que não são necessárias grandes espessuras
para garantir a estanqueidade do revestimento de betão, se este for devidamente compactado e não
vier a apresentar fissuras. As perdas de água por infiltração normalmente ocorrem através das juntas.
A escolha da espessura do revestimento de betão é maioritariamente condicionada por
razões económicas. Um dos factores económicos é a dimensão máxima do agregado, que não deve
exceder 40% da espessura total do revestimento [3], isto é, quanto mais fino for o agregado a utilizar

Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil - Filipe Morgado 41


2 - Soluções construtivas de impermeabilização em canais de rega

na composição do betão, maior será o custo da mistura. Outro factor a ter em conta é o espaçamento
entre juntas transversais que se relaciona directamente com a espessura do revestimento: quanto
menor for a espessura do revestimento, maior o número de juntas para um dado troço. Este facto
influencia o custo final da obra devido ao aumento do custo associado ao tratamento de juntas.
Alguns equipamentos de betonagem / cofragem deslizante compactam o betão apenas com
recurso ao seu peso próprio, o que leva a que as espessuras dos revestimentos sejam mais finas, da
ordem de 7 a 8 cm. Já no caso de sistemas em que se usa o vibrador tradicional, a espessura do
revestimento tem de ser de pelo menos 12 cm [3] de modo a garantir a correcta aplicação do
vibrador.

2.5.1.2 Revestimento com placas pré-fabricadas


Este tipo de solução construtiva não é actualmente muito utilizada no revestimento de canais
novos em Portugal. No entanto, é importante referi-la pois existe obra construída nos anos 60 e 70
com este tipo de solução.
Esta solução consiste na disposição ao longo do canal de lajetas pré-fabricadas de betão
normalmente de forma rectangular, que podem apresentar várias dimensões.
Podem referir-se várias vantagens deste tipo de solução, tais como a utilização de menor
quantidade de betão do que nas soluções tradicionais para uma mesma área de revestimento. As
lajetas são fabricadas em estaleiro através de moldes, sendo aplicadas posteriormente directamente
sobre o terreno de escavação. Por esse facto, deve ter-se especial atenção ao acabamento a dar à
superfície de escavação, que se deve encontrar o mais regular possível. Caso não se verifique essa
situação, devem colmatar-se as irregularidades com betão pobre antes da aplicação das lajetas com
vista à minimização de posteriores assentamentos. Cada lajeta deve ser assente em cima de duas da
fiada anterior fazendo um efeito cruzado “tipo parede de alvenaria” (Figura 34).
Uma outra vantagem é a de que velocidade de progressão da frente de trabalho não está
dependente do tempo de presa do betão, como nos sistemas de betonagem “in situ”.
O tratamento de juntas neste tipo de revestimento, em tudo semelhante ao utilizado em juntas
de canais de betão aplicado in situ, é um dos aspectos mais importantes a ter em conta, pois
apresenta um maior número de juntas por metro quadrado do que os revestimentos tradicionais.
Sendo este um ponto crítico no que diz respeito à estanqueidade, considera-se que este tipo de
revestimento não é o mais recomendado se esse for o principal objectivo. Usa-se normalmente este
tipo de revestimento quando o principal objectivo não é a garantia da estanqueidade, mas sim quando
se pretende revestir o canal com o objectivo de prevenir a erosão do mesmo, melhorar o factor de
rugosidade ou mesmo facilitar as operações de limpeza. Por estas razões, este é um revestimento
que se usa normalmente em solos que só por si apresentem características de impermeabilidade
elevada ou quando o objectivo principal não é garantir a impermeabilidade mas sim a protecção
contra a erosão, como por exemplo, em canais de drenagem de estradas.

42 Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil - Filipe Morgado


Impermeabilização de canais de rega a céu aberto

Mastique

FIGURA 34 - REVESTIMENTO COM PLACAS DE BETÃO PRÉ-FABRICADAS (ADAPTADO DE [3])

A solução de reabilitação do revestimento do canal através da pré-fabricação pode aplicar-se


em troços de canal onde não se registem deformações estruturais significativas, quer por abatimento
de espaldas e/ou fundo, quer por rotação e deformação da secção transversal. Este tipo de solução
de reabilitação tem com principal vantagem a coordenação das tarefas da empreitada que se
realizam em estaleiros, com as que se realizam no local da obra, respectivamente a pré-fabricação e
a aplicação em obra.
Neste tipo de soluções de revestimento pré-fabricadas, estão também incluídos os materiais
cerâmicos em tudo semelhantes às lajetas de betão. Este tipo de solução construtiva apresenta
praticamente as mesmas características das soluções de lajetas pré-fabricadas em betão e é
normalmente utilizada em revestimento de canais de pequena secção, como por exemplo caleiras
para escoamento de águas pluviais.

2.5.2 Revestimento com membranas

O revestimento de canais com membranas tem vindo a ser utilizado com frequência nos
últimos 20 anos em Portugal, não tanto em canais novos mas principalmente na reabilitação de
canais de betão antigos. Existem vários tipos de membranas que têm vindo a ser aplicadas no
revestimento de canais de rega. Nesta dissertação, analisam-se aqueles que de facto foram aplicados
em Portugal e que se podem dividir desde já em dois grupos principais: o primeiro corresponde a
membranas de base betuminosa, que na maioria das vezes autoprotegida com granulado mineral, e o
segundo a membranas de base sintética. Descreve-se nos pontos 2.1.2.1 e 2.1.2.2 as soluções
construtivas que se aplicam com este tipo de revestimento.

Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil - Filipe Morgado 43


2 - Soluções construtivas de impermeabilização em canais de rega

2.5.2.1 Membranas betuminosas


As membranas betuminosas são materiais com um amplo campo de aplicação na construção.
Normalmente, são utilizadas quando se tem por objectivo garantir a impermeabilidade de um dado
elemento construtivo.
Este tipo de membranas é frequentemente aplicado em coberturas em terraços. No entanto, a
sua aplicação no revestimento de impermeabilização de canais tem vindo a ser uma das técnicas de
impermeabilização mais utilizada em Portugal nos últimos 20 anos.
Não existe um processo construtivo devidamente documentado para a aplicação de
membranas betuminosas como revestimento de canais. As técnicas e procedimentos adoptados são
muitas vezes importados da sua aplicação em coberturas, seguindo as recomendações do fabricante,
e melhorados com a experiência de obras anteriores.
Apesar deste vazio técnico, podem fazer-se algumas considerações sobre as técnicas e
procedimentos construtivos na aplicação deste revestimento betuminoso em canais.
Este tipo de revestimento necessita de um suporte mais rígido que ele próprio. Muitas vezes é
utilizado como suporte o revestimento antigo que na maioria dos casos é o betão (Figura 35).

FIGURA 35 - APLICAÇÃO DE MEMBRANA BETUMINOSA SOBRE UM REVESTIMENTO ANTIGO DE BETÃO

Este é um aspecto fundamental a ter em conta quando se toma a decisão de reabilitar o


revestimento de um canal antigo.
Estas membranas podem ainda ser assentes directamente sobre o terreno. No entanto, esta
opção apresenta um maior risco de instabilidade do canal em caso de rotura da membrana
betuminosa visto que não existe um suporte rígido que garanta essa estabilidade.
As subpressões da água no tardoz do canal afectam também este tipo de revestimento.
Neste trabalho, apresentam-se algumas soluções e técnicas que foram desenvolvidas e melhoradas
ao longo dos últimos 20 anos, muitas delas pelas próprias Associações de Beneficiários e Regantes.
A aplicação de membranas betuminosas em revestimento de canais de rega é uma solução
que apresenta algumas vantagens em relação aos revestimentos de betão: devido à maior
simplicidade de colocação e à não exigência de equipamento pesado, pode ser colocada em grandes

44 Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil - Filipe Morgado


Impermeabilização de canais de rega a céu aberto

extensões muitas vezes durante o curto período de tempo em que decorrem as campanhas de rega,
minimizando assim os prejuízos nas actividades agrícolas.
A membrana betuminosa aplicada no revestimento de canais condutores, pelo seu coeficiente
de rugosidade, aumenta a capacidade de transporte em cerca de 30% [5], em relação ao caudal
anterior com o revestimento do canal degradado, o que tem alguma vantagem quando, por razões
construtivas, se é obrigado a reduzir um pouco a secção útil, como é o caso da reabilitação de um
canal tendo como suporte o anterior.
No que diz respeito ao processo construtivo, deve garantir-se uma adequada limpeza do
suporte de fixação e proceder-se a uma impregnação prévia do mesmo com uma emulsão
betuminosa. A fixação de membrana é feita a quente com maçarico, para que se garanta um boa
aderência entre o suporte e a membrana e para que esta se ajuste à forma da secção transversal do
canal (Figura 36).
A aplicação da membrana deve ser executada de jusante para montante com uma
sobreposição em 10% da largura do rolo. As juntas de sobreposição devem ser tratadas com a
aplicação de material betuminoso (Figura 37).
Nos canais de rega observados em Portugal, verifica-se que as membranas betuminosas são
dispostas com a direcção de fabrico (longitudinal) perpendicular ao desenvolvimento do canal.
No que diz respeito às membranas betuminosas, a principal razão da sua aplicação
perpendicularmente ao desenvolvimento do canal pode ser a maior facilidade no desenrolar da
membrana ao longo de todo o perímetro molhado da espalda do que na direcção longitudinal do
canal. Esta disposição transversal da membrana apresenta a vantagem de só se ter juntas
transversais ao sentido do escoamento ao longo de todo o canal.

2.5.2.2 Membranas sintéticas


À semelhança das membranas betuminosas, as membranas sintéticas são igualmente
versáteis e têm um vasto campo de aplicação na construção.
Este tipo de membranas começou a ser aplicado em Portugal no revestimento de canais nos
últimos 15 anos, se bem que na construção em geral já se aplica há mais tempo, principalmente na
impermeabilização de coberturas.
As membranas sintéticas são o revestimento mais flexível de todos os que já foram
apresentados. No seu estado inicial apresentam uma maior resistência à erosão do que as
membranas betuminosas e os revestimentos de betão. A sua constituição confere-lhe uma maior
resistência ao punçoamento e à penetração da vegetação, pois a sua consistência mantém-se
sensivelmente constante a temperaturas em que as membranas betuminosas têm tendência a
fluidificar.
Verifica-se que as propriedades e resistências deste tipo de membranas não se mantêm
constantes ao longo do tempo, quer quando são utilizados em elementos resistentes, como por
exemplo em tubagens sobre pressão, quer quando são utilizados em forma de membrana flexível.
Quando são aplicados sob a forma de membrana, verifica-se também que a flexibilidade e a
resistência se degradam ao longo do tempo. Devem por isso considerar-se factores de segurança no

Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil - Filipe Morgado 45


2 - Soluções construtivas de impermeabilização em canais de rega

dimensionamento deste tipo de revestimentos. No capítulo de anomalias desenvolve-se com maior


detalhe esta alteração de propriedades.

FIGURA 36 - APLICAÇÃO DE MEMBRANA BETUMINOSA COM MAÇARICO

FIGURA 37 - TRATAMENTO DE JUNTAS DE SOBREPOSIÇÃO

Os Estados Unidos da América têm uma vasta experiência neste tipo de revestimentos, tendo
mesmo publicado várias normas sobre ensaios que avaliam a sua qualidade, entre as quais as ASTM
D-1239 [30], ASTM D882 [30] e ASTM D-689 [30], que têm servido como base para a elaboração de
outras normas noutros países. Estas publicações referem alguns ensaios e limites mínimos, de
permeabilidade, resistência das membranas e das juntas, entre outros, que as membranas sintéticas
devem apresentar de modo a garantir a qualidade dos materiais.
Em Portugal existem várias experiências de aplicação de membranas sintéticas, sendo as
mais utilizadas na impermeabilização de canais de rega o PVC, o PEBD e o PEAD, e o EPDM,
disponíveis no mercado em várias espessuras de 0,5 até 3 mm.

46 Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil - Filipe Morgado


Impermeabilização de canais de rega a céu aberto

A resistência destas membranas não depende apenas do tipo de material mas também da
sua espessura. Pode-se dividir este tipo de revestimento em dois subtipos: o primeiro é aquele em
que é utilizada uma membrana mais fina, protegida posteriormente na obra, por exemplo através da
colocação de uma camada de areia e/ou gravilha ou lajetas pré-fabricadas de betão; o segundo
consiste apenas numa membrana com maior espessura e sem qualquer tipo de protecção, ou seja, a
membrana encontra-se em contacto directo com a água.
Procede-se agora a uma descrição mais detalhada de cada um destes subtipos começando
pelas membranas mais finas e protegidas (Figura 38).

FIGURA 38 - MEMBRANA DE PVC PROTEGIDA COM LAJETAS [6]

A camada de areia, gravilha ou lajetas que tem como principal função a protecção da
membrana dos agentes externos, tais como a acção do vento e da água em movimento, contribuindo
assim para que esta permaneça no mesmo sítio. Este tipo de revestimento deve ser aplicado em
canais com baixas velocidades de escoamento de modo a prevenir a erosão da camada protectora.
As espaldas devem ter declives apropriados de acordo com a granulometria dos agregados usados
na camada de protecção da membrana, para evitar desta forma a instabilidade da mesma. Assim,
podem admitir-se os seguintes valores de referência: para as espaldas, o declive deve ter no mínimo
o valor de 2/1 (H/V) e a espessura mínima da camada deve ser de 0,40 m, que podem ser divididos
numa camada mais fina, normalmente de areia, que protege a membrana e numa camada de
agregados mais grossos, normalmente cascalho pouco compactado, para fazer face à erosão
provocada pela velocidade da água [3].
A distribuição granulométrica dos agregados a utilizar na aplicação da camada protectora tem
vindo a ser objecto de vários estudos a nível internacional, principalmente nos Estados Unidos [3],
sem no entanto se concluir qual a distribuição ideal para esta camada. Esta distribuição está
condicionada não apenas pela inclinação das espaldas e velocidade de escoamento, mas também se
é utilizada uma ou duas camadas de protecção da membrana.
Os revestimentos em membranas sintéticas de que há registo em Portugal são na sua grande
maioria do segundo subtipo, ou seja, aqueles onde a membrana está completamente exposta à

Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil - Filipe Morgado 47


2 - Soluções construtivas de impermeabilização em canais de rega

radiação solar e em contacto directo com a água sem qualquer camada protectora. Estas são razões
para que se utilize neste tipo de revestimento membranas com uma maior espessura e com uma
maior resistência do que no caso de revestimentos com camadas protectoras. Se, no caso anterior, o
PVC é o que mais é utilizado, pois consegue-se obter espessuras mais finas, neste caso, em que a
membrana está exposta, é utilizado, para além do PVC, também o PEBD e PEAD, e o EPDM, pelo
menos em Portugal.
A utilização de membranas expostas tem algumas vantagens tais como:

- possibilidade e aplicação em canais com declives de espaldas mais acentuados, desde que
as fixações na pestana do canal estejam bem dimensionadas; neste caso o declive da espalda não é
condicionado pela estabilidade da camada de protecção, por esta não existe;
- de uma foram indirecta, pode-se considerar que o volume de escavação é menor, pois não
se terá de escavar a espessura de 0,40 m em toda a secção do canal, que corresponderia à camada
de protecção;
- facilidade na localização de qualquer rotura ou rasgamento;
- melhoria significativa da rugosidade e, consequentemente, da velocidade de escoamento
em relação a revestimentos mais rugosos como é o caso do betão e dos agregados grossos da
camada de protecção.

No entanto, este tipo de revestimento também apresenta pontos fracos, como por exemplo:
- erosão do material por parte da água;
- envelhecimento quando exposto à radiação solar;
- vandalismo;
- sensibilidade da membrana ao choque de impactos, por exemplo o dos cascos de animais;
- deslocamento da membrana pela tensão superficial exercida pela água ou pela acção do
vento, caso o canal esteja vazio.

Este tipo de membranas é normalmente fornecido em rolos que podem ter larguras variáveis.
Idealmente, deveriam ter a largura correspondente ao perímetro da secção transversal. Deste modo,
não se teriam de executar juntas de sobreposição longitudinais, o que nem sempre é possível em
canais de grande secção (Figura 39).
À semelhança das membranas betuminosas, também os rolos de membranas sintéticas
devem ser dispostos de jusante para montante do escoamento para que a água, no seu movimento,
não tenha tendência para descolar a junta de sobreposição. Desta forma, uma membrana deve ficar
sobreposta à anteriormente colocada a jusante.
Apesar de não existir uma regulamentação prática deste tipo de aplicação, podem fazer-se
algumas considerações para a justificação destes procedimentos construtivos.
As membranas sintéticas podem ser fornecidas em rolos muitas vezes superiores a 30 m de
comprimento o que tornaria pouco prática a sua colocação na direcção transversal do canal não só
devido ao número de cortes a efectuar na membrana, mas também pela difícil execução das juntas

48 Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil - Filipe Morgado


Impermeabilização de canais de rega a céu aberto

transversais em superfícies inclinadas (espaldas). Como referido, uma das principais vantagens na
aplicação de membranas sintéticas é a rapidez de colocação, o que só faz sentido se se considerar
que as membranas são dispostas ao longo da direcção longitudinal do canal.

FIGURA 39 - APLICAÇÃO DE MEMBRANA DE PVC (SOTECNISOL)

Juntas de sobreposição
As membranas sintéticas são normalmente fornecidas em rolos de 100 m de comprimento.
Visto que os canais de rega apresentam na sua grande maioria extensões superiores a esta, torna-se
necessário proceder-se pelo menos à junção de rolos consecutivos. No caso das membranas de
PVC, esta junta deve ter uma largura de pelo menos 0,10 m, podendo ser realizada através da
aplicação de uma cola apropriada, ou utilizando pistolas de ar quente. No caso de membranas de
polietileno, a sobreposição pode ser a mesma mas a cola tem que ser também a apropriada para este
tipo de membranas (Figuras 40 e 41).

FIGURA 41 - JUNTA ENTRE MEMBRANAS DE POLIETILENO FIGURA 40 - EXECUÇÃO DE UMA JUNTA ENTRE MEMBRANAS DE PVC
(SOTECNISOL)

Fixações
Para que este tipo de revestimento seja o mais eficaz possível, é essencial que tenha um
adequado sistema de fixação ao suporte.

Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil - Filipe Morgado 49


2 - Soluções construtivas de impermeabilização em canais de rega

Este tipo de revestimento é aplicado num suporte, normalmente mais rígido do que a
membrana, que na maioria dos casos é o betão antigo do revestimento do canal, se se tratar de uma
reabilitação.
Existem vários tipos de fixação da membrana para que esta não tenha tendência a levantar.
O mais simples de todos eles consiste na abertura de uma vala com cerca de 0,30 x 0,30 m de cada
lado do canal, junto às pestanas, ao longo de todo o seu comprimento, com a finalidade de enterrar
parte da membrana e assim fixá-la nas pestanas do canal apenas com o peso do terreno (Figura 42).

FIGURA 42 - MEMBRANA DE EPDM ENTERRADO NA PESTANA DO CANAL

Este tipo de fixação tem alguns problemas pois não contempla qualquer ponto de amarração
do rasto do canal, zona crítica no que diz respeito a movimentos da membrana. Este sistema de
fixação pode ser indicado para canais de pequena secção.
O outro sistema de fixação adoptado em muitas obras em Portugal é complementar do já
descrito, isto é, contempla fixações da membrana na pestana do canal mas também no fundo. O
sistema de fixação pode não ser com a membrana enterrada recorrendo-se a uma fixação mecânica
com chapas de material resistente à corrosão, colocadas de forma contínua ou pontual (Figuras 43,
44 e 45).

FIGURA 43 - FIXAÇÃO PONTUAL NA PESTANA DO CANAL FIGURA 44 - FIXAÇÃO CONTÍNUA NA PESTANA DO CANAL

50 Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil - Filipe Morgado


Impermeabilização de canais de rega a céu aberto

FIGURA 45 - FIXAÇÃO CONTÍNUA NO RASTO DO CANAL COM GEODRENO (SOTECNISOL)

Dimensionamento das fixações mecânicas


Apesar de não existirem normas que definam a distância mínima entre pontos de fixação,
Giroud [6] apresenta algumas fórmulas que permitem o cálculo da distância mínima entre pontos de
amarração para membranas em canais de rega.
No dimensionamento das ancoragens, deve-se ter em conta todas as forças a que as
membranas podem estar sujeitas, das quais as principais são as devidas a tensões de arrastamento
provocadas pela velocidade do escoamento, chamada de pressão dinâmica do escoamento.
Uma forma de dimensionamento do espaçamento das ancoragens (L) num dos lados do troço
entre duas placas de ancoragem paralelas, pode ser dada pela equação [6]:

ி pdyn

௅௕
= ଶ
(4)

ఘೢ ௏ మ
‫݌‬ௗ௬௡ = (5)

pdyn - pressão dinâmica do escoamento [Pa];


V - velocidade do escoamento [m/s];
rw - massa volúmica da água [kg/m3];
L - distância entre pontos de fixação [m];
F - força de arrancamento [N];
b - distância entre troços de fixação paralelos [m].

FIGURA 46 - ACÇÃO DA PRESSÃO DINÂMICA NAS FIXAÇÕES

Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil - Filipe Morgado 51


2 - Soluções construtivas de impermeabilização em canais de rega

A membrana pode estar sujeita a pressões dinâmicas geradas não apenas pelo escoamento
mas também, por exemplo, pela a pressão dinâmica devida ao vento quando o canal se encontra
vazio. Esta pressão é normalmente inferior à gerada pelo escoamento da água, daí que não seja o
principal critério a ter em conta no dimensionamento das fixações. As pressões devidas ao vento são
um aspecto importante no dimensionamento de fixações das membranas noutro tipo de obras, como
por exemplo em coberturas em terraço. Na impermeabilização de canais de rega, o vento é muitas
vezes uma condicionante mas apenas na fase de aplicação da membrana, isto é, os vários panos da
membrana devem ser dispostos segundo o sentido dos ventos dominantes, o que muitas vezes pode
ser contrário ao sentido de jusante para montante do escoamento. Quando esta situação acontece a
opção para a minimizar consiste na fixação temporária da membrana com pesos durante a fase de
soldadura e aplicação. Se tal não for possível, os panos de membrana podem ser dispostos de
montante para jusante.
As fixações deste tipo de membranas devem também ser dimensionadas tendo em conta não
só as tensões superficiais de arrastamento, mas também as subpressões da água entre o solo e a
membrana.
Essas tensões (t) não dependem da velocidade de escoamento nem do coeficiente de

rugosidade, nem da largura máxima do canal (B), mas sim da altura de água (d) e da sua inclinação
longitudinal (α) (Figura 47). Na equação (6) γw é o peso específico da água.

(6)

FIGURA 47 - SECÇÃO TRANSVERSAL TIPO PARA O CÁLCULO DE TENSÕES SUPERFICIAIS DE ARRASTAMENTO [6]

Nos troços de canal em curva, este problema requer especial atenção pois as tensões de
arrastamento geradas podem tomar valores não desprezáveis no dimensionamento dos sistemas de
fixação. Nesses troços (Figuras 48 - zona vermelha exterior), afecta-se o valor das tensões de um
coeficiente (k).
Existe um tipo de tensões que contribui de forma positiva para a estabilidade da membrana
de revestimento. Trata-se das tensões de atrito entre o suporte e a membrana. A contabilização deste
tipo de tensões “favoráveis” levanta algumas dúvidas no que diz respeito a casos extremos, como por
exemplo se se considerar que a membrana pode levantar completamente devido a subpressões.
Neste caso, e se as fixações foram dimensionadas considerando este tipo de tensões favoráveis,
pode ocorrer uma rotura do revestimento pelas ancoragens mal dimensionadas.

52 Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil - Filipe Morgado


Impermeabilização de canais de rega a céu aberto

(7)

se

se

Interpolar para 2<Rc/B<10

Rc - raio da curva [m];


n - coeficiente de rugosidade;
Lc - troço de rectilíneo de reforço [m];
R - raio hidráulico [m];
B - largura máxima da secção transversal [m];

FIGURA 48 - INCREMENTO DO VALOR DAS TENSÕES NOS TROÇOS EM CURVA

2.5.3 Outros tipos de revestimentos

Apesar de os revestimentos de canais normalmente utilizados em Portugal já se encontrarem


descritas nos pontos 2.1.1 e 2.1.2, existem outros tipos de revestimento de canais de rega aos quais
se fará referência neste ponto. No entanto, são soluções construtivas de que não se conhecem casos
de aplicação em Portugal.
O primeiro exemplo de revestimento alternativo é o de alvenaria de tijolo ou pedra, que é um
revestimento utilizado em canais em que o principal objectivo não é a sua impermeabilização. O
problema da impermeabilização das juntas é neste caso um aspecto a ter em conta devido à sua
quantidade. Por vezes, também se utiliza o betão ciclópico em vez da alvenaria de pedra. No entanto,
este processo construtivo não funciona apenas como revestimento mas actua como suporte rígido da
secção do canal. A rugosidade destes tipos de revestimento é muito superior às membranas ou
mesmo ao betão simples, sendo essa uma das principais desvantagens, assim como a dificuldade na
limpeza e o maior crescimento de vegetação em relação a outros revestimentos. Por norma, não é
utilizado em Portugal, pelo menos no revestimento de canais de rega. Os romanos utilizavam os
canais revestidos a alvenaria cerâmica em canais de distribuição de água dentro das cidades.
Actualmente, é um tipo de revestimento que está em desuso face ao aparecimento de novas técnicas
de abastecimento.
O segundo exemplo de revestimentos alternativos são os revestimentos semi-flexíveis ou
betuminosos asfálticos (Figura 49), em que a principal diferença em relação ao revestimento de
betão simples é a substituição do ligante (cimento) por um material betuminoso mais flexível.
Normalmente, a mistura é aplicada directamente no terreno e não tem água na sua composição.
Apresenta uma melhor adaptação às variações de temperatura e aos esforços de tracção e
compressão, o que em muitos casos dispensa a execução construção de juntas.

Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil - Filipe Morgado 53


2 - Soluções construtivas de impermeabilização em canais de rega

FIGURA 49 - BETÃO BETUMINOSO APLICADO NO FUNDO DO CANAL [6]

Por se tratar de um revestimento betuminoso, quando exposto a altas temperaturas a mistura


betuminosa tem tendência a fluidificar e escorrer pelas espaldas do canal, o que limita a sua
aplicação em canais com espaldas com declive acentuado e que possam estar vazios durante a
estação quente. O crescimento de vegetação é outro dos problemas a ter em conta neste tipo de
revestimentos, pois não se conseguem garantir níveis de compacidade tão elevados como no betão.
Este problema pode ser minimizado com aplicação prévia de um herbicida no terreno antes da
mistura betuminosa. No entanto, há que ter em atenção o uso dos solos envolventes ao canal, assim
com o tipo de água a ser transportado. Este tipo de misturas tem muitas vezes na sua composição
metais pesados e arsénio que podem limitar o uso deste revestimento para canais que forneçam
água para as populações.
Outro tipo de revestimento é o que é constituído com base em tintas de poliuretanos; ele é
normalmente aplicado para proteger o betão em zonas de elevada perturbação do escoamento, como
por exemplo em entradas de uma ponte canal (Figura 50) ou troços de mudança de secção.

FIGURA 50 - PINTURA COM TINTA DE POLIURETANO À ENTRADA DE UMA PONTE CANAL

54 Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil - Filipe Morgado


Impermeabilização de canais de rega a céu aberto

2.5.4 Pormenorização construtiva

Neste ponto, apresentam-se perfis transversais tipo dos diferentes tipos de sistemas de
impermeabilização de canais de rega em Portugal.

A Figura 51 representa um perfil transversal tipo de um canal com revestimento de betão


onde se pode observar duas juntas transversais na espalda do canal. A inclinação das espaldas
deste tipo de canal apresenta declives acentuados. Os canais de rega em Portugal são na sua
grande maioria revestidos com betão.

FIGURA 51 - PERFIL TRANSVERSAL TIPO DE EM CANAL COM REVESTIMENTO DE BETÃO

Na Figura 52, está representado um perfil tipo de um revestimento com membrana


betuminosa aplicado sobre um revestimento de betão. Normalmente as membranas são dispostas na
perpendicular ao escoamento o que faz com que não existam juntas longitudinais ao longo do
desenvolvimento do canal.

FIGURA 52 - PERFIL TRANSVERSAL TIPO DE UM CANAL IMPERMEABILIZADO COM MEMBRANA BETUMINOSA EM SUPORTE DE BETÃO

Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil - Filipe Morgado 55


2 - Soluções construtivas de impermeabilização em canais de rega

A Figura 53 representa um perfil tipo de um canal revestido com membrana sintética


colocada sobre um suporte de betão, que pode ser um revestimento antigo. De realçar os sistemas
de fixação mecânica da membrana quer no fundo do canal quer nas pestanas com os respectivos
remates.
Neste caso, representam-se duas juntas longitudinais na transição do fundo para a espalda
com as respectivas fixações mecânicas e remates.

FIGURA 53 - PERFIL TRANSVERSAL TIPO DE UM CANAL IMPERMEABILIZADO COM MEMBRANA SINTÉTICA EM SUPORTE DE BETÃO

2.5.5 Análise de soluções alternativas

Para além dos materiais que anteriormente mais se fez referência, nos últimos anos têm
aparecido no mercado nacional vários materiais que podem ser aplicados no revestimento de canais
de rega. Do ponto 2.5 deste capítulo, apresentam-se alguns destes materiais.
A preocupação com a impermeabilização de canais de rega sempre foi um dos principais
aspectos tidos em conta na sua concepção e construção.
Muito do “know-how” dos materiais e soluções construtivas aplicados na impermeabilização
de canais de rega foi importado de outros sectores da construção, como por exemplo da
impermeabilização de coberturas.
O betão e as argamassas foram desde sempre aplicados na impermeabilização de canais de
rega. Já as membranas sintéticas começaram a ser aplicadas durante a década de 50 nos Estados
Unidos (Figura 54).
Este foi dos países pioneiros na aplicação e desenvolvimento deste tipo de materiais e que
actualmente apresenta uma vasta informação sobre os mesmos, principalmente em termos de
estudos e normas e estudos referentes a revestimentos de canais de rega com membranas sintéticas.
O leque de materiais aplicados na impermeabilização de canais em Portugal é relativamente
restrito quando comparado com a oferta existente no mercado.

56 Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil - Filipe Morgado


Impermeabilização de canais de rega a céu aberto

FIGURA 54 - CANAL REVESTIDO COM PVC NO COLORADO, EUA [6]

Muitos destes materiais já foram aplicados em canais de rega em outros países, como é o
caso da impregnação do solo com betume betuminoso em 1947 e da borracha butílica em 1961, nos
Estados Unidos [6].
O betão continua ser um dos revestimentos mais utilizados para a impermeabilização de
canais de rega, assim como a construção em geral. Pode-se considerar que este é o material
construtivo sobre o qual mais se têm desenvolvido estudos e investigações.
O betão aplicado actualmente no revestimento de canais de rega, apresenta características
completamente diferentes dos betões aplicados nas décadas de 50 e 60, nos canais dos perímetros
de rega portugueses.
O desenvolvimento de aditivos e plastificantes permitiu o fabrico de betões com elevada
controlo de qualidade, principalmente no que diz respeito à sua consistência e aplicação em obra.
O aparecimento de novos materiais no mercado obrigou ao desenvolvimento de técnicas e
soluções construtivas inovadoras e capazes de responder às exigências deste tipo de obras
hidráulicas. Um exemplo deste tipo de interacção é o aparecimento de equipamentos de betonagem
contínua, só possíveis devido ao maior controlo da consistência do betão nas fases de fabrico e na de
aplicação.
No que diz respeito às soluções construtivas com membranas, para além do desenvolvimento
dos materiais, também os sistemas de fixação têm sido objecto de estudo e investigação.

2.5.6 Novas tecnologias e materiais

Existem actualmente no mercado materiais e técnicas construtivas com características que


lhes permitem serem utilizados na impermeabilização de canais de rega.

Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil - Filipe Morgado 57


2 - Soluções construtivas de impermeabilização em canais de rega

Muitos deles já foram utilizados em obras de impermeabilização de coberturas e obras


subterrâneas, tais como os revestimentos à base de poliuretano e/ou poliereias que se utilizam
actualmente na impermeabilização de coberturas e pavimentos. Estes produtos são aplicados por
projecção a quente sobre uma camada de suporte [19]. Existem alguns casos de aplicação deste tipo
de revestimento por impregnação de um feltro geotêxtil (Figuras 55 e 56).

FIGURA 55 - PROJECÇÃO DE POLIURETANO SOBRE GEOTÊXTIL NO COLORADO, EUA [6]

FIGURA 56 - PROJECÇÃO DE POLIUREIA, EUA [6]

Em Portugal, não se conhecem casos de aplicação de membranas fabricadas “in situ” na


impermeabilização de canais.
No que diz respeito a membranas pré-fabricadas, existem algumas com a possibilidade de
aplicação em revestimentos de canais de rega, como por exemplo membranas de borracha butílica,
de poli-isobutileno (PIB), de polietileno clorado (CPE), entre outros. Estes tipos de membranas são
frequentemente aplicados na impermeabilização de coberturas.

58 Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil - Filipe Morgado


Impermeabilização de canais de rega a céu aberto

2.6 Observação de canais

Como referido no capítulo 1 realizaram-se algumas visitas de campo a canais de rega. Na


impossibilidade de visitar todos os perímetros de rega em Portugal no período de tempo destinado ao
desenvolvimento deste trabalho, optou-se por visitar alguns perímetros com casos de aplicação deste
tipo de revestimentos. Não se pretende de modo algum menosprezar as restantes Associações de
Regantes que também têm os seus casos de aplicação e a sua experiência.
Efectuaram-se assim oito visitas a perímetros de rega e uma visita a um canal em construção,
as quais se referem de seguida:

- Associação de Regantes e Beneficiários do Vale do Sorraia;


- Associação de Regantes e Beneficiários de Campilhas e Alto Sado;
- Associação de Beneficiários da obra de rega de Odivelas;
- Associação de Beneficiários do Roxo;
- Associação de Beneficiários do Caia;
- Associação de Regantes e Beneficiários de Silves, Lagoa e Portimão;
- Associação de Regantes e Beneficiários do Alvor;
- Associação de Regantes e Beneficiários do Mira;
- Canal Alvito - Cuba (Mota-Engil).

Nas visitas efectuadas aos perímetros de rega, constata-se que face às características dos
canais não é possível estabelecer uma relação com a natureza das membranas de
impermeabilização utilizadas na sua reabilitação. Por exemplo, no perímetro de rega do Caia,
aproximadamente 90% dos canais revestidos / reabilitados têm membranas betuminosas e no
perímetro do Mira, aproximadamente 80% dos canais estão revestidos com PVC.

Apenas como nota, apresentam-se na Tabela 2 algumas características relacionadas com as


obras de reabilitação de canais com membrana de PVC no período 1994-2003.
No que diz respeito a outros tipos de revestimentos, as informações disponíveis são mais
escassas, principalmente as relativas ao revestimento com membranas betuminosas que são
aplicadas em praticamente todos os perímetros de rega em Portugal. Era conveniente que existisse
em Portugal um organismo que registasse todo o tipo de informação relativas aos canais de rega
desde as suas características até às obras de reabilitação.

Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil - Filipe Morgado 59


2 - Soluções construtivas de impermeabilização em canais de rega

TABELA 2 - CARACTERÍSTICAS DE ALGUNS CANAIS REVESTIDOS COM MEMBRANA DE PVC EM PORTUGAL DESDE 1994 [7]
Obras hidráulicas - Canais Perímetro Área total Prazo Tipo de
2
Ano
hidroagrícolas (m) (m ) (meses) membrana
Canal condutor 12 de Alqueva 11,50 77300 2003 3 PVC - 1,5/2,5 mm
Canal condutor geral do Mira 9,50 12410 2003 2 PVC - 1,5 mm
Canal do Alvor 1ª fase 7,00 35351 2002 3 PVC - 1,5 mm
Canal condutor geral do Mira 9,50 18097 2001 3 PVC - 1,5/2,5 mm
Distribuidor do Alvor 5,00 7400 1999 1 PVC - 1,5 mm
Canal condutor geral do Alvor 7,00 30000 1999 2 PVC - 1,5 mm
Canal condutor geral de Idanha 5,00 21000 1998 1,5 PVC - 1,5 mm
Canal condutor de Chaves 3,53 33986 1998 2,5 PVC - 1,5/2,5 mm
Canal de Odeceixe - Mira 7,50 98890 1997 3,5 PVC - 1,5/2,5 mm
Canal condutor de S. Domingos 4,70 35000 1997 2 PVC - 1,5 mm
Canal condutor de Campilhas 4,70 16100 1996 2 PVC - 1,5 mm
Canal distribuidor do Mira 1,56 28700 1994 2 PVC - 2,0 mm

De seguida passam-se a indicar de uma forma abreviada algumas observações efectuadas


nas visitas realizadas aos perímetros de rega e respectivas datas.

Associação de Regantes e Beneficiários do Vale do Sorraia - 27 de Fevereiro de 2008


Esta associação foi a primeira a ser visitada no âmbito deste trabalho. Os seus canais são na
sua grande maioria revestidos com betão que se apresentavam em bom estado de conservação.
Observou-se também uma solução de impermeabilização de juntas de ponte-canal com recurso a
membrana de PEAD e fixações metálicas.

Associação de Regantes e Beneficiários de Campilhas e Alto Sado - 10 de Março de 2008


O perímetro de rega de Campilhas e Alto Sado foi uns dos pioneiros na aplicação de
revestimentos em PVC. Na visita realizada a este perímetro foi possível observar o estado de
conservação das membranas de PVC colocadas em 1996, as quais apresentavam grandes
anomalias, principalmente no que diz respeito à retracção da membrana e rompimento das fixações.

Associação de Beneficiários da obra de rega de Odivelas - 10 de Março de 2008


Neste perímetro de rega observou-se um canal novo construído em betão em 2004 que por
apresentar problemas de estanqueidade foi completamente revestido com membrana de PVC que
aquando da visita se encontrava em perfeitas condições.

Associação de Beneficiários do Roxo - 10 de Março de 2008


No perímetro de rega do Roxo foi possível observar três tipos de revestimentos, revestimento
de betão que de uma forma geral se encontrava em bom estado de conservação, revestimento de um
troço com membrana de PVC aplicada em 2001 e que se encontrava em bom estado de conservação
e por último revestimento com membrana betuminosa aplicado ao longo de uma grande extensão do
canal principal e que se encontrava em bom estado de conservação.

60 Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil - Filipe Morgado


Impermeabilização de canais de rega a céu aberto

Associação de Beneficiários do Caia - 18 de Março de 2008


Esta associação pode considerar-se como a pioneira na aplicação de revestimentos
alternativos ao betão em canais de rega. Os canais apresentam-se impermeabilizados com
membrana betuminosa em aproximadamente 90% da sua totalidade. Todos os troços revestidos com
membrana betuminosa apresentavam-se em bom estado de conservação, o mesmo não se pode
dizer de um pequeno troço revestido com PE que se apresentava danificado devido a um incêndio.

Associação de Regantes e Beneficiários de Silves, Lagoa e Portimão - 24 de Março de 2008


Neste perímetro de rega observou-se um troço de canal revestido com EPDM, talvez o único
em Portugal, que se encontrava danificado devido à retracção da membrana. Aquando da visita ao
canal este revestimento estava a ser substituído por membrana betuminosa. Observou-se também
alguns troços de canal revestidos com membrana betuminosa que se apresentavam em bom estado
de conservação, troços de canal revestidos com membranas de PVC que apresentavam retracção.

Associação de Regantes e Beneficiários do Alvor - 24 de Março de 2008


Neste perímetro de rega observou-se alguns troços de canal revestidos com betão e com
membranas de PVC que se encontravam em bom estado de conservação. De destacar um troço
onde foi aplicada uma membrana com características compatíveis com água potável, visto que o
transporte de água para abastecimento pública das populações circundantes se processa através
deste canal.

Associação de Regantes e Beneficiários do Mira - 25 de Março de 2008


O perímetro de rega do Mira foi o primeiro onde se aplicou revestimento com membranas de
PVC em canais de rega (1994). Observou-se na visita efectuada que as membranas mais antigas
apresentavam problemas significativos de retracção. Observou-se também um troço de mudança de
secção transversal onde foi aplicado uma tinta epoxi num revestimento de betão com vista a
minimizar a sua deterioração.

Canal Alvito - Cuba (Mota-Engil) - 14 de Abril de 2008


Inserido nas obras de aproveitamento da Barragem do Alqueva, é um dos canais novos a que
estão a ser construídos em Portugal. Com uma secção transversal de grandes dimensões, foi
construído em betão com recurso a equipamento e betonagem/cofragem automática.

Neste segundo capítulo abordaram-se de uma forma geral os sistemas construtivos para
impermeabilização de canais de rega assim como os vários materiais que os constituem.
No capítulo 3, analisam-se algumas das anomalias apresentadas pelos sistemas construtivos
e pelos materiais, bem como as prováveis causas e possíveis técnicas de reparação.

Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil - Filipe Morgado 61


Impermeabilização de canais de rega a céu aberto

3. PATOLOGIA MAIS CORRENTE

3.1 Considerações gerais

A impermeabilização de canais, apesar de apresentar várias vantagens, quando bem


executada, pode apresentar também anomalias importantes quando não se tem em conta todos os
factores necessários à sua boa execução.
Com base na bibliografia e também nas visitas realizadas aos canais de rega em Portugal,
apresentam-se as principais anomalias bem com as suas causas mais prováveis para cada tipo de
revestimento de canal.
Existem anomalias comuns nos diversos tipos canais que não dependem directamente do
seu revestimento, isto é, são anomalias existentes na maioria dos canais observados que não estão
directamente relacionadas com o revestimento. Temos como exemplo o problema das subpressões
que se desenvolve com maior pormenor mais adiante.
Procura-se neste capítulo descrever as principais anomalias correspondentes a cada tipo de
revestimento referido no capítulo 2 desta dissertação, bem como, determinar as suas possíveis
causas. No ponto 3.3, descrevem-se as técnicas de reparação normalmente utilizadas para a
reparação dessas anomalias.

3.2 Descrição das principais anomalias e das suas causas

3.2.1 Revestimento com betão

3.2.1.1 Betão simples ou armado


Sendo o betão o material de revestimento mais utilizado nos canais de rega, é também sobre
este revestimento que existe uma mais vasta informação quanto às suas anomalias. Descrevem-se
neste ponto as principais anomalias apresentadas nos canais de rega revestidos com betão assim
como as suas prováveis causas.

Fissuração do betão

A fissuração do betão é uma anomalia que ocorre na maioria das obras executadas em
betão. As obras hidráulicas de que fazem parte os canais de rega não são excepção.
A fissuração do betão em canais de rega pode ocorrer por várias razões, das quais se
descrevem algumas. A primeira e a mais significativa é o problema das subpressões, isto é, a
pressão exercida pela água no tardoz das espaldas ou no fundo do canal. Este fenómeno acontece
quando a pressão hidrostática no interior do canal é inferior à pressão na água do solo, e localiza-se
em zonas do canal onde o nível freático atravessa a secção transversal do canal. Estas fissuras
desenvolvem-se normalmente na direcção longitudinal do canal e entre metade e um terço da altura
da secção transversal, como se pode observar na Figura 57.

Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil - Filipe Morgado 63


3 - Patologia mais corrente

FIGURA 57 - FISURAÇÃO DE ESPALDAS DEVIDO A SUBPRESSÕES

As fissuras no betão de revestimento de um canal podem também dever-se a movimentos


das camadas do solo que suportam o revestimento.

Degradação do betão
Outra das anomalias mais frequentes em canais revestidos a betão é a degradação do
próprio material, principalmente em canais com mais de 50 anos em que o betão já perdeu muitas
das suas características originais.
Esta anomalia pode dever-se a vários factores, dos quais se destacam, a má qualidade do
betão, a erosão provocada pelo escoamento, fenómeno do gelo-degelo em zonas com temperaturas
negativas, agressão de agentes químicos presentes na água que reajam com os constituintes do
betão. Como consequência destes factores, o revestimento torna-se mais rugoso, apresentando uma
macro-rugosidade que pode perturbar o escoamento. Alguns canais apresentam mesmo cavidades
no revestimento em que o betão está desagregado (Figura 58).

FIGURA 58 - DEGRADAÇÃO DO BETÃO NAS ESPALDAS DE UM CANAL

64 Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil - Filipe Morgado


Impermeabilização de canais de rega a céu aberto

Colapso e abatimento de espaldas


Quando os movimentos do solo de suporte do revestimento são significativos, o canal, para
além da fissuração do betão, pode apresentar deslocamentos estruturais significativos de onde
normalmente resultam fundos partidos e espaldas com abatimentos ou rotações consideráveis
(Figura 59).

FIGURA 59 - DESLOCAMENTO RELATIVO DE ESPALDAS

Impermeabilização das juntas


Ao longo desta dissertação, referiu-se que a deficiente execução das juntas é umas das
principais causas de perda de água por infiltrações nos canais de rega. Na Figura 60, observa-se o
descolamento do material impermeabilizante da junta. Esta anomalia pode ser provocada pelas
tensões superficiais de escoamento geradas na zona das juntas e/ou pela falta de aderência ao
suporte por parte do material impermeabilizante. Esta pode ser uma das principais anomalias em
canais de rega, visto que, a maioria dos canais em Portugal construídos nos anos 40 e 50 apresenta
juntas de 3 em 3 metros [5].

FIGURA 60 - DESPRENDIMENTO DO MASTIQUE NUMA JUNTA TRANSVERSAL

Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil - Filipe Morgado 65


3 - Patologia mais corrente

Juntas de pontes - canal


Muitas das pontes - canal existentes em Portugal foram construídas em betão armado com
juntas em cobre. Este material, apesar de extremamente dúctil, com o passar dos anos perde as suas
capacidades e acaba por romper (Figura 61).

FIGURA 61 - JUNTA DE PONTE-CANAL EM COBRE PARTIDA

3.2.1.2 Revestimento com placas pré-fabricadas


Apesar de actualmente este ser um revestimento que não se aplica normalmente na
construção de canais novos em Portugal, é importante referir que existem canais construídos nos
últimos 50 anos com este tipo de placas e que apresentam anomalias significativas das quais se
referem as principais.
Este revestimento caracteriza-se pela quantidade de juntas, entre placas, que devem ser
tratadas, quando comparado com a solução tradicional de revestimento de betão. A anomalia
associada ao desprendimento do material de tratamento das juntas é em tudo igual às juntas do
revestimento de betão tradicional, mas neste caso com a agravante de que o número de juntas por
metro quadrado de revestimento é muito superior.
Apesar de o betão utilizado no fabrico deste tipo de placas ser de qualidade igual ou mesmo
superior à solução de revestimento tradicional, a rigidez deste tipo de revestimento não pode ser
comparada com a de um elemento contínuo de uma espalda. Por esse facto, estas placas de betão
têm tendência a saltar por não suportarem a pressão da água no tardoz do revestimento. Na maioria
dos casos, este desprendimento de placas acontece quando o canal está vazio, ou seja, quando não
se pode garantir um equilíbrio hidrostático de pressões dentro e fora do canal.

3.2.2 Revestimento com membranas

Apresentam-se agora as principais anomalias dos revestimentos com membranas sintéticas e


betuminosas.
No entanto, antes de se descrever mais em pormenor as anomalias especificadas, é
importante referir que este tipo de membranas normalmente tem como suporte o betão de um

66 Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil - Filipe Morgado


Impermeabilização de canais de rega a céu aberto

revestimento antigo, ou mesmo betão novo. Muitas vezes, o comportamento deste tipo de
membranas pode ser influenciado pelas condições em que se encontra o suporte. Se o suporte for de
facto betão, é essencial que se proceda à análise do seu estado de conservação antes da aplicação
de qualquer tipo de membrana.
Já foi referido que a utilização de membranas no revestimento de canais apresenta vantagens
não só do ponto de vista de estanqueidade, mas também no aumento da velocidade de escoamento.
Este aumento de velocidade deve-se ao facto de as membranas apresentam coeficientes de
rugosidade inferiores aos de outros tipos de revestimentos (Tabela 3).

TABELA 3 - COEFICIENTE DE RUGUSIDADE DE VÁRIOS TIPOS DE REVESTIMENTOS [6]

Coeficiente de rugosidade
de Manning-Strickler Tipo de revestimento
-1/3
n = [m s]
0,010 Membrana sintética
0,012 Membrana betuminosa
0,013 Betão novo com acabamento liso
0,018 Betão degradado
0,016 Betão betuminoso

No entanto, há que ter em atenção que estes valores são resultantes de ensaios realizados
em laboratório e que as condições da membrana no terreno podem não ser as mesmas. Um dos
principais factores para a diferença de rugosidade registada em laboratório e no terreno é o estado de
regularização em que se encontra o suporte, isto é, quanto mais regular estiver o suporte de
assentamento da membrana, menor será a rugosidade apresentada pela mesma.

3.2.2.1 Membranas betuminosas

Subpressões
O problema das subpressões afecta os revestimentos betuminosos de uma forma bastante
significativa pois a água que se infiltra no tardoz da secção do canal pode provocar o descolamento
entre a membrana e o suporte. É mais fácil a pressão da água ser superior às forças de aderência
entre a membrana e o seu suporte, do que às forças de coesão no interior do betão. Por isso, é mais
fácil verificar-se o descolamento dentre a membrana e o suporte do que a desagregação do betão.

Amarrações e ancoragens
Normalmente, as ancoragens deste tipo de membranas limitam-se à fixação da membrana no
início de cada troço de revestimento do canal, visto que a fixação da membrana por acção da chama
do maçarico no resto do troço é, na maioria dos casos, suficiente para garantir uma boa aderência ao
suporte.

Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil - Filipe Morgado 67


3 - Patologia mais corrente

A fixação inicial da membrana pode ser realizada de duas formas. A primeira consiste na
criação de um maciço de amarração com abertura de um roço no próprio canal, onde se fixa a
membrana e depois se colmata com argamassa (Figura 62). A segunda forma consiste na fixação
mecânica com parafusos e chapas de metálicas adequadas (ex: aço inox).

FIGURA 62 - ANCORAGEM TRANSVERSAL COM ARGAMASSA DE UMA MEMBRANA BETUMINOSA

Sendo assim, o principal problema neste tipo de fixações é o desgaste do maciço de


amarração ou do desprendimento das fixações mecânicas devido à erosão da água e às
perturbações do escoamento.

Aderência ao suporte
A estabilidade deste tipo de revestimento está directamente relacionada com a aderência
deste ao suporte de fixação. É necessário garantir que o suporte apresenta condições estruturais e
de limpeza adequadas à sua fixação. Quando isso não acontece, podem existir roturas e
descolamentos da membrana.
Muitas vezes, estas roturas ocorrem em zonas singulares que por norma apresentam
perturbações do escoamento, como por exemplo comportas e troços de mudança de secção (Figura
63).

FIGURA 63 - DESCOLAMENTO DE MEMBRANA BETUMINOSA (SOTECNISOL)

68 Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil - Filipe Morgado


Impermeabilização de canais de rega a céu aberto

Perfuração das membranas


Este tipo de anomalia é mais susceptível de ser observado em canais revestidos com
membranas betuminosas. De facto, ao contrário de algumas obras onde este tipo de membranas
também é utilizado (ex: impermeabilização de coberturas não acessíveis), os canais de rega são
obras muito mais expostas a factores que podem provocar roturas localizadas da membrana, como
por exemplo arrastamento de ramos no escoamento, cascos dos animais, entre outros.

Descolamento das juntas de sobreposição


Esta anomalia pode ser das mais significativas, pois os canais revestidos com rolos de
membrana betuminosa de 1 m de largura apresentam juntas afastadas cerca de 0,90 metro ao longo
de todo o seu desenvolvimento.

3.2.2.2 Membranas sintéticas

Retracção da membrana
Da observação de canais revestidos com membranas sintéticas de PVC e de EPDM em
Portugal, constata-se que os mesmos apresentam problemas de retracção da membrana, como se
pode observar na Figuras 64 e 65. Esta perda de elasticidade de membrana ocorre entre 8 e 10 anos
após a sua aplicação. Nas observações de canais de rega realizadas no âmbito deste trabalho, é
evidente a perda de características elásticas das membranas de PVC e de EPDM ao longo do tempo.
As causas exactas para esta anomalia devem ser objecto de estudos futuros mais aprofundados,
podendo apenas referir-se algumas possíveis causas, tais como a radiação solar e à exposição aos
restantes agentes climatéricos, a reacção das substâncias presentes na água com as substâncias
plastificantes e a sua consequente dissolução e/ou “lavagem”.
No que diz respeito às membranas de polietileno, estas não apresentavam este tipo de
anomalias.

FIGURA 64 - RETRACÇÃO DE UMA MEMBRANA DE PVC

Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil - Filipe Morgado 69


3 - Patologia mais corrente

FIGURA 65 - RETRACÇÃO DE UMA MEMBRANA DE EPDM

Descolamento das juntas


O processo construtivo de soldaduras entre membranas sintéticas já foi descrito neste
trabalho. Por vezes, observa-se que essas soldaduras têm tendência a descolar. As razões para essa
descolagem podem ser as mais variadas e podem estar muitas vezes associadas a outras anomalias.
Por exemplo, se a membrana tiver tendência a retrair, as soldaduras podem ficar sujeitas a tensões
para as quais não estavam dimensionadas, provocando a sua descolagem (Figura 66). Outra razão
poderá ser a ocorrência de perturbações no escoamento na zona do canal onde se encontra uma
junta entre dois panos de membranas.

FIGURA 66 - DESCOLAMENTO DA JUNTA EM MEMBRANA DE EPDM

Válvulas “Clapê”
O problema das subpressões é também uma das principais causas de anomalias nos
revestimentos de canais com membranas sintéticas. Tal como nas membranas betuminosas, a
circulação de água sob a membrana provoca um efeito de levantamento da mesma.

70 Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil - Filipe Morgado


Impermeabilização de canais de rega a céu aberto

Para minimizar a ocorrência desta anomalia, são normalmente executadas válvulas que
permitem o escoamento da água do tardoz do talude para dentro do canal. Este tipo de válvulas é
executado realizando um corte na membrana e soldando uma “pestana” do mesmo material da
membrana apenas aberta a jusante (Figura 67). No entanto, na observação de alguns canais com
estas válvulas, verifica-se que estas padecem da mesma anomalia de retracção, isto é, não são
capazes de acompanhar a retracção da membrana ficando sempre abertas o que provoca uma saída
de água do canal.

FIGURA 67 - VÁLVULAS "CLAPÊ"

Rasgamento da membrana e vandalismo


Os canais de rega são obras hidráulicas que normalmente estão expostas e localizadas em
zonas isoladas. As membranas sintéticas de revestimento de canais estão por isso sujeitas a essas
mesmas condições particulares de exposição.
O rasgamento da membrana pode acontecer por diversos factores, tais como perfuração por
meios mecânicos como quedas de pedras, arrastamento de ramos no escoamento, cascos de
animais e vandalismo, mas também devidos a tensões provocadas pela retracção das membranas
(PVC e EPDM). Este último caso verifica-se em alguns canais que estão cheios durante todo o ano,
em que a membrana, não podendo retrair / levantar livremente como se o canal estivesse vazio,
acaba por romper por rasgamento aproximadamente a meio do pano da membrana e não na zona da
fixação (Figura 68).

Rompimento das fixações


As fixações de um revestimento sintético são na maioria dos casos mecânicas, pontuais e
contínuas, aplicadas no revestimento do betão mais antigo.
Podem identificar-se várias anomalias e as suas respectivas causas para o rompimento das
fixações. Se o betão em que são colocados os parafusos e barras de fixação se apresentar
deteriorado, então o sistema de fixação não funciona devidamente e acaba por romper, pelo suporte
e não pelo sistema de fixação, quando lhe são transmitidas as tensões da membrana. Outro aspecto

Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil - Filipe Morgado 71


3 - Patologia mais corrente

a ter em conta é, mais uma vez, o da retracção da membrana no caso do PVC e do EPDM em que as
tensões geradas por essa retracção podem ser de tal ordem que provoquem o arrancamento das
fixações, normalmente no fundo do canal.

FIGURA 68 - MEMBRANA DE PVC RASGADA

Volatilidade de PE
O Polietileno, apesar de não apresentar problemas de retracção, é um material extremamente
volátil e onde o fogo se propaga com extrema facilidade, o que, em canais de rega inseridos em
zonas florestais, é um inconveniente a ter em conta na escolha deste tipo de revestimento (Figura
69).

FIGURA 69 - MEMBRANAS DE POLIETILENO SIMPLES DERRETIDA DEVIDO A INCÊNDIO FLORESTAL NA BORDA DO CANAL

3.2.3 Outros tipos de revestimentos - Pintura

Nas zonas onde podem existir perturbações no escoamento, as membranas betuminosas ou


sintéticas apresentam dificuldades de aderência ao suporte. Uma solução para a impermeabilização
dessas zonas é a pintura com materiais à base de resinas e tintas.

72 Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil - Filipe Morgado


Impermeabilização de canais de rega a céu aberto

Este tipos de produtos, quando aplicados em suportes que não estejam devidamente limpos,
podem ter problemas de aderência (Figura 70).

FIGURA 70 - TINTA SEM ADERÊNCIA AO SUPORTE

3.3 Técnicas de reparação e reabilitação

A reabilitação de canais e a sua manutenção devem ser aspectos a tem em conta logo
aquando do seu dimensionamento e concepção, permitindo a intervenção antecipada sobre os canais
antes que seja tarde demais para recuperar o património degradado.
Podem-se considerar vários tipos de trabalhos de intervenção em canais [3]: trabalhos de
reabilitação; modernização; manutenção e conservação.
Apesar de a separação entre estes tipos de trabalhos não ser muito clara, são trabalhos
considerados relevantes para retardar a deterioração do canal assim como para prolongar a sua vida
útil.
Entendendo-se por:
Reabilitação “intervenção com recurso a trabalhos de fundo, sem começar do zero, isto é,
tomando por base a construção antiga que apresenta problemas significativos, como por exemplo a
reabilitação dos revestimentos dos canais por degradação ao longo do tempo, e que provoca perdas
de água excessivas por infiltração” ([3] pág. 239).
Modernização “modificação significativa de elementos do canal que têm de ser adaptados às
novas exigências técnicas e económicas, como por exemplo a conversão de sistema de controlo
manual n um sistema automático” ([3] pág. 349).
Manutenção e conservação “trabalhos periódicos necessários para manter o canal em boas
condições de funcionamento e, por isso, capazes de prevenir a sua deterioração” ([3] pág 349).

Passa-se a desenvolver cada um destes tipos de trabalhos:


Reparação
Os trabalhos de reparação de canais referem-se a operações que devem ser executadas em
obras que se apresentem deterioradas ou que deixaram de ser adequadas para cumprir os objectivos
para os quais foram originalmente projectadas.

Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil - Filipe Morgado 73


3 - Patologia mais corrente

Os trabalhos de reparação são muitas vezes dificultados, pois para a sua realização é
necessário aceder ao canal ao longo da sua berma, o que implica custos significativos.
Muitas vezes, o resultado final das obras de reparação de canais confere-lhes níveis de
impermeabilidade que nunca tiveram.

Modernização
Os novos sistemas de distribuição de água e as novas técnicas de regadio fazem com que os
canais já existentes tenham que ser “modernizados”.
Por outras palavras, os canais devem ser adaptados às novas necessidades para as quais
são propostos.
Os novos sistema de distribuição superficial de água utilizam uma menor quantidade de água
do que os sistemas tradicionais de rega de superfície.No entanto, a flexibilidade de horários de rega é
muito maior devido à automatização dos sistemas de rega.
Os canais projectados antes da década de 80 tinham como finalidade principal o fornecimento
contínuo de água aos campos de cultivos. Actualmente esta não é a principal finalidade dos canais
mas sim na maioria dos casos ter capacidade para fornecer a água necessária para a rega
automatizada, disponível a qualquer hora do dia, funcionando muitas vezes mais como reservatório
do que como obra hidráulica de transporte.
Com a alteração da finalidade dos canais ao longo do tempo, é de todo o interesse que os
mesmos sofram obras de modernização e adaptação de acordo com as suas novas funções, quer do
ponto de vista da impermeabilização e controlo de perdas por infiltração, quer no que diz respeito à
construção de obras de controlo, como por exemplo, comportas e descarregadores.
A manutenção dos canais é um processo que permite que os mesmos se encontrem em bom
estado de conservação e utilização para que desempenham da melhor forma as funções para as
quais foram projectados. Pode também incluir pequenas obras de reparação decorrentes dos
trabalhos de manutenção ([3] pág. 356).
A manutenção de canais teve ser considerada de extrema importância económica, pois pode
evitar e reduzir custos das obras de reparação e substituição de elementos do canal [16].

Caracterizam-se agora algumas técnicas que se usam na reparação e/ou reabilitação das
anomalias descritas no ponto 3.2.1 no que diz respeito a revestimentos de betão.

3.3.1 Revestimento com betão

3.3.1.1 Betão simples ou armado

Fissuração do betão
A fissuração do betão devido a subpressões pode ser minimizada com a realização de obras
de drenagem do canal ou o seu melhoramento, caso já exista algum tipo de drenagem que se revele

74 Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil - Filipe Morgado


Impermeabilização de canais de rega a céu aberto

insuficiente para fazer face a este fenómeno. No entanto, existem fissuras no betão que resultam da
retracção do mesmo. Neste caso, o procedimento mais adequado será a realização de uma “junta” na
zona da fissura, isto é, deve abrir-se a fissura com uma serra de corte, limpá-la e preenchê-la
posteriormente com um cordão de polietileno e mastique, como se pode observar pela sequência de
imagens da Figura 71.

FIGURA 71 - SEQUÊNCIA DE REPARAÇÃO DE UMA FISSURA NO REVESTIMENTO DE BETÃO

Degradação do betão
Normalmente, quando se observa a degradação superficial do betão ou mesmo a sua
deterioração em toda a sua espessura, as obras de reabilitação desta anomalia limitam-se à limpeza
sob pressão e colmatação das zonas degradadas com argamassa. Em casos extremos e quando a
degradação é mais extensa, pode optar-se pela reconstrução da totalidade a secção transversal do
canal nos troços mais afectados (Figura 72).

Colapso e abatimento de espaldas


Quando o canal apresenta deformações estruturais consideráveis, isto é, perda de secção por
abatimento de espaldas ou fundos entre outros, a solução construtiva de reparação passa pela
reconstrução completa do revestimento (Figuras 73 e 74). De notar que, nestes casos, deve
proceder-se ao estudo da origem da deformação estrutural, e proceder à sua reparação antes de se
reabilitar o revestimento. Muitas vezes, este tipo de deformações pode estar associado a uma
drenagem insuficiente do fundo e do tardoz do canal que provoca um aumento da instabilidade do
solo pelo aumento da humidade relativa do solo.

Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil - Filipe Morgado 75


3 - Patologia mais corrente

FIGURA 72 - DEFICIENTE COMPACTAÇÃO DA CAMADA DE FIGURA 73 - REPARAÇÃO DE ESPALDAS


SOLO DE SUPORTE DO REVESTIMENTO DE BETÃO

FIGURA 74 - REPARAÇÃO DA ESPALDA DANIFICADA

Impermeabilização das juntas


A técnica a aplicar na reparação de juntas depende do tipo de junta à qual se destina a
reparação. Em canais de betão, as juntas são normalmente rematadas com um material do tipo
mastique que, com o tempo, tem tendência a saltar da junta, quer por movimentos de retracção do
revestimento, quer pelas tensões superficiais do escoamento. A reparação desta anomalia consiste
na substituição do mastique. No entanto, deve lavar-se a superfície de suporte do mastique e verificar
as condições de aderência proporcionadas pelo mesmo. É aconselhável a aplicação prévia de um
primário com o objectivo de melhorar as condições de aderência (Figura 75).
Com vista a minimizar a ocorrência desta anomalia, pode-se aplicar, nas zonas das juntas de
canais novos, argamassas com uma composição específica que minimiza a retracção, tornando
desnecessária a execução de juntas tão próximas.

76 Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil - Filipe Morgado


Impermeabilização de canais de rega a céu aberto

FIGURA 75 - IMPERMEABILIZAÇÃO DE JUNTAS EM CANAL DE BETÃO (BASF)

Reparações de emergência
Apesar de não se poder considerar como uma anomalia, as roturas de canais de betão são
situações que devem ser tidas em conta. Estas roturas ocorrem normalmente quando o canal se
encontra em pleno funcionamento durante as campanhas de rega (Figura 76).
Quando este tipo de rotura acontece em plena campanha de rega, a sua reparação deve ser
efectuada no menor espaço de tempo possível. A reconstrução do canal em betão é um processo
moroso, daí que muitas vezes sejam usadas membranas sintéticas como reparação de emergência
até que se proceda à reconstrução definitivas do troço afectado (Figura 77).

Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil - Filipe Morgado 77


3 - Patologia mais corrente

FIGURA 76 - ROTURA DE CANAL

FIGURA 77 - REPARAÇÃO DE EMERGÊNCIA DE UM TROÇO DE CANAL COM MEMBRANA DE PE

78 Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil - Filipe Morgado


Impermeabilização de canais de rega a céu aberto

Reparações pontual de juntas de pontes - canal

As juntas de cobre das pontes - canal são muitas vezes reparadas com a aplicação de
membranas e sistemas de fixação pontuais na zona das juntas. Quando a ponte - canal apresenta
uma grande parte das juntas degradadas, pode optar-se por revestir a totalidade da ponte - canal. Na
reparação das juntas, podem utilizar-se quer membranas betuminosas quer membranas sintéticas
(Figuras 78 e 79).

FIGURA 78 - REPARAÇÃO DE JUNTA DE PONTE CANAL COM PCV [29]

FIGURA 79 - JUNTA DE PONTE CANAL REPARADA COM PE

Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil - Filipe Morgado 79


3 - Patologia mais corrente

3.3.1.2 Revestimento com placas pré-fabricadas

Por se tratar de um revestimento que tem caído em desuso, os canais revestidos com estas
placas, e que apresentam anomalias de impermeabilização de juntas ou desprendimento de placas
têm vindo a ser progressivamente reparados com recurso a outros tipos de revestimento. A
recuperação / reabilitação deste tipo de revestimento não se apresenta nem como a melhor solução
técnica, pois existem actualmente revestimentos com melhores características, nem como a melhor
solução financeira, pois o tratamento de juntas pode ter custos significativos.

3.3.2 Revestimento com membranas

3.3.2.1 Membranas betuminosas

Subpressões
Uma solução possível para minimizar o problema das subpressões pode passar pela colagem
parcial da membrana ao suporte. Em muitos casos, o suporte sobre o qual é assente a membrana
betuminosa é o revestimento de betão, novo ou antigo. Como referido, observa-se nos revestimentos
de betão o aparecimento de fissuras longitudinais entre metade e dois terços da altura da secção do
canal devido a subpressões.
Uma das técnicas utilizadas, com base na experiência adquirida na aplicação deste tipo de
revestimento, é a da colagem da membrana apenas na parte superior da secção transversal do canal.
Deste modo, quando a pressão da água no tardoz do canal é superior à pressão da água no próprio
canal, a membrana adquire um grau de liberdade, pode “levantar”, permitindo que a água se infiltre
no canal circulando sob a membrana.
Apesar de esta ser uma boa solução para minimizar este problema, não se pode deixar de
considerar que a água que circula entre o suporte e a membrana terá de ser libertada em algum local.
Existem várias formas para libertar esta água. Uma delas consiste no escoamento desta água
pela drenagem de fundo do canal, caso exista. Outra forma mais expedita é a execução de válvulas
ou fusíveis, isto é, o revestimento com a membrana betuminosa é executado em troços de 80 a 100
m de forma contínua e sem qualquer tipo de ancoragem. No final de cada troço, executa-se uma
ancoragem da membrana no betão de revestimento antigo protegida com a membrana do troço de
montante (Figura 80).
Esta técnica tem vindo a ser utilizada em várias associações de regantes em Portugal com
resultados favoráveis. Este processo construtivo apresenta algumas vantagens, em primeiro lugar, é
um processo construtivo em que, no caso de rotura ou descolamento da membrana o troço de canal
afectado é limitado à distância entre fusíveis; a segunda é a de que a água que se escoa sob a
membrana de um troço a montante passa a escoar sobre a membrana no troço de jusante.

80 Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil - Filipe Morgado


Impermeabilização de canais de rega a céu aberto

Ancoragem da Membrana

FIGURA 80 - ANCORAGEM TRANVERSAL “AUTO-PROTEGIDA”

Amarrações e ancoragens
De modo a minimizar esta anomalia, podem ser tomadas várias medidas. No que diz respeito
aos maciços de amarração da membrana, podem ser protegidos deixando uma sobreposição da
membrana do troço imediatamente a montante.

Aderência ao suporte
Para minimizar esta anomalia, deve garantir-se à partida que o suporte esteja limpo e
minimamente estável do ponto de vista estrutural. Muitas vezes, opta-se por não se revestir os troços
onde o escoamento apresenta grandes perturbações, pela dificuldade de garantir a sua aderência
perfeita ao suporte. Pode-se recorrer nestes casos a fixações mecânicas da membrana (Figura 81)
e/ou à utilização de membranas de maior resistência e espessura.

FIGURA 81 - FIXAÇÃO MECÂNICA DE MEMBRANA BETUMINOSA

Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil - Filipe Morgado 81


3 - Patologia mais corrente

Orifícios nas membranas


A reparação deste tipo de anomalia é bastante simples quando comparada com a reparação
dos outros tipos de revestimentos. Normalmente, as membranas betuminosas são fornecidas em rolo
de 1 m de largura, o que permite a fácil substituição dos troços que apresentem fissuras e/ou
rasgamentos. Esta reparação deve ser feita o mais rapidamente possível de modo a evitar roturas de
maior dimensão.

Juntas de pontes-canal
A perda de água devida ao mau funcionamento das juntas de ponte - canal é significativa e,
em muitos casos, pode ser minimizada pelo revestimento da ponte - canal com tela betuminosa na
sua totalidade ou apenas na zona das juntas. A primeira hipótese apresenta-se mais consistente pois
minimiza os problemas já descritos no que diz respeito à transição membrana / betão no início de
cada troço (Figura 82).

FIGURA 82 - PONTE - CANAL REVESTIDA COM MEMBRANA BETUMINOSA

Descolamento das juntas de sobreposição


Para minimizar esta anomalia, deve garantir-se que a largura da junta de sobreposição seja a
especificada pelo fabricante, que as superfícies das telas a sobrepor estejam limpas e que o
aquecimento das telas seja o adequado.
Se esta anomalia se verificar em canais já revestidos, deve proceder-se à substituição do troço
afectado retirando a tela solta ou sobrepondo outro rolo de tela na junta que se encontra descolada
(Figura 83).

3.3.2.1 Membranas sintéticas

Retracção da membrana
Quando se verifica a retracção da membrana do revestimento, podem adoptar-se dois
processos de reabilitação. O primeiro consiste na substituição total da membrana retraída por uma

82 Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil - Filipe Morgado


Impermeabilização de canais de rega a céu aberto

nova e o segundo consiste no corte da membrana retraída no sentido perpendicular à retracção


(normalmente o corte é longitudinal) e soldadura de uma faixa de membrana nova. Este último
processo apresenta algumas reservas pois não existe maneira de garantir a perfeita aderência nas
juntas entre a membrana nova e a antiga (Figura 84).

FIGURA 84 - JUNTAS DE MEMBRANA BETUMINOSA DESCOLADAS [6]

FIGURA 83 - RETRACÇÃO DE MEMBRANA DE PVC

Descolamento das juntas


A reparação deste tipo de anomalia consiste na lavagem da superfície descolada, secagem e
nova colagem da zona afectada. Muitas vezes, é aconselhável a substituição da zona da membrana
afectada.

Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil - Filipe Morgado 83


3 - Patologia mais corrente

Válvulas “Clapê”
O modo de reparação desta anomalia pode consistir na execução de uma nova válvula com
as devidas dimensões, ou mesmo o seu tamponamento soldando-a em todos os seus lados (Figura
85). Se esta for a opção a tomar, devem ser previstas outras alternativas para o escoamento da água
resultante das subpressões.

FIGURA 85 - VÁLVULAS CLAPÊ FECHADAS

Rasgamentos da membrana e vandalismo


Os efeitos do vandalismo e acesso indevido ao canal podem ser minimizado pela colocação
de vedações ao longo dos dois bordos do canal, o que nem sempre é possível devido aos custos
envolvidos (Figura 86).

FIGURA 86 - VEDAÇÃO AO LONGO DE UM CANAL

Quanto ao rasgamento da membrana devido a problemas de retracção, estes podem ser


reparados soldando um pano do mesmo material de revestimento na zona danificada após uma
limpeza dessa mesma zona.

84 Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil - Filipe Morgado


Impermeabilização de canais de rega a céu aberto

Rompimento das fixações


Antes de se proceder à reparação desta anomalia, deve antes investigar-se as causas que
levaram à sua ocorrência. Se, por um lado, o rompimento se deveu a má qualidade do suporte de
fixação, deve-se proceder à sua reparação, com por exemplo com materiais à base de resinas
epoxídas. Se, por outro lado, a rotura se deve à retracção excessiva da membrana, esta deve ser
reparada antes que se executem novas fixações

3.3.3 Outros tipos de revestimentos

A reabilitação de revestimentos de alvenaria de tijolo ou pedra ou de betão ciclópico passa


muitas vezes pela sua cobertura com um novo revestimento.
Um exemplo duma reabilitação deste tipo foi a do Canal de Senhora do Porto construído em
alvenaria de pedra e reabilitado com membrana PVC em 1994 [7].
Apesar deste não ser um canal de rega, mas sim um canal hidroeléctrico, é dos poucos casos
de reabilitação deste tipo de revestimento em Portugal e daí a sua referência (Figuras 87 e 88).

FIGURA 87 - CANAL SENHORA DO PORTO - ANTES DA REABILITAÇÃO [7]

FIGURA 88 - REABILITAÇÃO COM MEMBRANA DE PVC [7]

Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil - Filipe Morgado 85


3 - Patologia mais corrente

A reabilitação dos revestimentos à base de tintas e resinas consiste na lavagem e


arrancamento do material degradado à pressão com água e areia. Deve depois proceder-se a uma
análise do suporte para determinar a causa possível do desprendimento do produto de revestimento
antes de se optar pela repintura ou mesmo pela aplicação de outro tipo de revestimento (Figuras 89
e 90).

FIGURA 89 - DESPRENDIMENTO DE TINTA

FIGURA 90 - LAVAGEM DA SUPERFICIE DEGRADADA

Neste capítulo, caracterizaram-se as principais anomalias registadas nos sistemas de


impermeabilização de canais de rega em Portugal, no entanto, podem existir outros sistemas e/ou
anomalias que não se encontram descritos neste trabalho.

86 Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil - Filipe Morgado


Impermeabilização de canais de rega a céu aberto

4. CONCLUSÃO E PERSPECTIVAS PARA ESTUDOS FUTUROS

4.1 Considerações finais

Nas últimas duas décadas, têm sido executadas em Portugal várias obras de construção e/ou
reabilitação de canais de rega com técnicas e materiais que até então nunca tinham sido utilizados.
Em Portugal, não existe qualquer regulamentação técnica oficial sobre sistemas de
impermeabilização de canais de rega. Por essa razão, neste trabalho caracterizam-se e compilam-se
os materiais e técnicas construtivas mais utilizadas neste tipo de obras com vista ao possível
desenvolvimento de um grupo normativo no futuro.
O curto período de tempo em que decorreu o desenvolvimento deste trabalho não permitiu
que fossem desenvolvidas algumas tarefas que se consideram essenciais para um estudo mais
aprofundado deste tema.
Depois de se terem visitado alguns perímetros de rega em Portugal, considera-se que se
deveria proceder a um levantamento mais exaustivo das condições de conservação em que se
encontram as obras de rega em Portugal, principalmente os canais a céu aberto. Este levantamento
seria também um importante instrumento de trabalho para uma análise de custo / benefício.
A análise económico-financeira não é abordada neste trabalho de uma forma exaustiva não
só devido ao curto espaço de tempo disponível para o seu desenvolvimento mas também à
dificuldade de caracterização de todos os parâmetros necessário para a elaboração de uma análise
mais cuidada. Ao contrário de maioria das construções novas, em que a determinação do preço por
unidade de construção não apresenta uma dificuldade acrescida, nas obras de reabilitação tal pode
não acontecer. No que diz respeito à reabilitação de canais de rega, essa dificuldade é acentuada
pelas características da obra em si e pelos parâmetros a ter em consideração. A título de exemplo,
um canal de rega é uma obra de desenvolvimento longitudinal normalmente dividida em vários troços
que podem apresentar diferentes características entre eles, quer em termos de estado de
conservação do revestimento, quer das características dos solos e da estabilidade dos mesmos. Daí
a dificuldade na determinação de um custo geral por unidade de construção para este tipo de obras,
devido à especificidade apresentada por cada uma delas.
No entanto, é de referir que os custos associados a reabilitação de canais de rega não devem
ser analisados de uma forma independente, mas sim em conjunto com os benefícios que advêm do
melhoramento das condições de escoamento dos canais, como o aumento da velocidade, a
diminuição das perdas de água por infiltração, entre outros.
No ponto 4.2, apresenta-se a generalidade das conclusões obtidas com o desenvolvimento
deste trabalho.

Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil - Filipe Morgado 87


4 - Conclusão e perspectivas para estudos futuros

4.2 Conclusões gerais

O desenvolvimento desta dissertação permitiu obter, por um lado, o levantamento e a


caracterização dos materiais utilizados na impermeabilização de canais de rega em Portugal e, por
outro, o levantamento e a caracterização dos vários sistemas de impermeabilização de canais de
rega.
Procedeu-se à determinação das principais anomalias associadas a cada tipo de sistemas de
impermeabilização, bem como das suas possíveis causas e técnicas de reparação.
Dos materiais e sistemas aplicados na impermeabilização de canais de rega em Portugal,
existem alguns que desempenham adequadamente a função a que se destinam, a estanqueidade e
durabilidade. No entanto, na observação de canais realizada no âmbito deste trabalho, verificou-se
que existem sistemas e materiais que não cumprem as exigências para as quais foram concebidos.
Não se quer dizer contudo que estes sistemas e/ou materiais não sejam passíveis de ser aplicados
neste tipo de obras, mas sim que devem desenvolver-se estudos que comprovem a sua aplicabilidade
na reabilitação de canais de rega a céu aberto em Portugal.

As observações efectuadas nas visitas a alguns perímetros de rega em Portugal permitem


concluir que o betão é o material mais aplicado no revestimento no revestimento de canais de rega.
Todos os perímetros de rega visitados tinham canais revestidos com betão, uns com idades
superiores a 50 anos e outros realizados durante os últimos anos, como por exemplo o Canal de
Odivelas (2004/2005) e o Canal Alvito-Cuba (2007/2008).
É difícil concluir quanto à percentagem aplicada de cada tipo material / sistema de
impermeabilização em Portugal sem que seja efectuado um levantamento mais exaustivo em todos
os perímetros de rega. Para mostrar esta dificuldade, considere-se dois perímetros de rega visitados,
como por exemplo o do Caia e do Vale do Sorraia; se no primeiro a maioria dos canais foi
impermeabilizada com betão aquando da sua construção com a posterior aplicação de membrana
betuminosa nos últimos 15 anos sobre o revestimento de betão antigo, no segundo a maioria dos
canais apenas tem como revestimento o betão, tendo sofrido algumas reparações sem no entanto ser
aplicado qualquer material que não betão.
O betão, por ser um material aplicado no revestimento de canais de rega desde o seu
aparecimento, é também aquele para o qual existe uma maior informação e estudo, no que diz
respeito ao desenvolvimento de novas técnicas construtivas e melhoramento das existentes.

Relativamente ao revestimento de canais com membranas pré-fabricadas, observa-se que na


maioria dos canais realizados em Portugal as membranas utilizadas são de dois tipos: betuminosas e
de PVC plastificado (sintéticas).
Mais uma vez, é difícil concluir quanto à extensão e área exacta de cada tipo de membranas
aplicadas na impermeabilização de canais de rega em Portugal sem que para tal seja efectuado um
levantamento mais exaustivo. No entanto, com base nas observações efectuadas durante as vistas
realizadas no âmbito deste trabalho, pode concluir-se que qualquer dos dois tipos de membranas

88 Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil - Filipe Morgado


Impermeabilização de canais de rega a céu aberto

apresenta uma extensão de aplicação inferior ao betão porque, normalmente estas membranas são
aplicadas tendo como suporte o betão do revestimento antigo do canal.
Relativamente à percentagem comparativa entre extensões de aplicação de membranas
sintéticas e betuminosas, pode-se dizer que tal depende do perímetro de rega visitado. Algumas
associações de regantes optaram por aplicar no revestimento dos seus canais membranas sintéticas,
como por exemplo a Associação de Beneficiários do Mira, enquanto que outras têm a grande maioria
dos seus canais revestidos com membranas betuminosas, como é o caso da Associação de
Regantes do Caia.
Conforme se referiu, a grande maioria dos revestimentos de impermeabilização aplicados
sobre o betão ou a alvenaria de suporte dos canais em Portugal é formada por membranas pré-
fabricadas, sintéticas ou betuminosas, não sendo por isso muito usual a aplicação de produtos
pastosos com essa função impermeabilizante. Existem troços singulares de canal onde se aplicaram
tintas epóxidas mas sem grande representação em termos de áreas aplicadas quando comparadas
com os outros tipos de revestimentos referidos anteriormente.
A escolha do processo construtivo, bem como, dos materiais a aplicar no revestimento de
canais de rega é condicionada por diversos factores, entre os quais, o caudal a ser transportado, a
forma da secção do canal, o tipo de água a transportar, o tipo de terreno, o declive do canal e o tipo
de vegetação circundante.
No que diz respeito à patologia dos revestimentos aplicados na impermeabilização de canais
de rega, pode concluir-se que todos os sistemas construtivos observados apresentavam anomalias
mais ou menos significativas consoante o perímetro de rega considerado e o tipo de material
aplicado.
No revestimento de betão, a principal anomalia que se observou em quase todos os canais
relaciona-se com a fissuração e degradação do betão, devidas na grande maioria dos casos à
subpressão da água no tardoz do revestimento do canal. Esta anomalia é mais significativa nos casos
em que o canal não apresenta qualquer tipo de revestimento, que garanta uma maior estanqueidade,
para além do betão.
Nos canais observados revestidos com membranas betuminosas sobre revestimentos de
betão mais antigo, notou-se que as mesmas se encontram em bom estado de conservação em todos
os perímetros de rega visitados. Este facto é relevante se se tiver em conta que algumas destas
membranas já se encontram aplicadas há mais 15 anos. A principal anomalia deste tipo de
revestimento é a falta de aderência da membrana ao suporte de betão, tendo como possíveis causas
a deterioração da superfície do betão, assim como a circulação de água entre a membrana e o
suporte.
As membranas de PVC e de EPDM aplicadas há mais de 8 anos em alguns dos canais
visitados apresentavam anomalias significativas no que diz respeito à retracção e ao arrancamento
das fixações mecânicas. No entanto, as membranas de PVC com idade inferior a 8 anos apresentam-
se em boas condições de conservação. As membranas de Polietileno Simples aplicadas em alguns
canais visitados não apresentavam qualquer tipo de retracção, sendo que a principal anomalia
registada era a sua elevada volatilidade.

Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil - Filipe Morgado 89


4 - Conclusão e perspectivas para estudos futuros

No que diz respeito às tintas epóxidas, a principal anomalia observada relaciona-se com o
seu desprendimento da superfície de aplicação.
No ponto 4.3, apresentam-se algumas sugestões para desenvolvimentos futuros sobre este
tema.

4.3 Perspectivas de desenvolvimento e estudo

O estado de deterioração dos canais de rega em Portugal exige que sejam tomadas medidas
com vista à conservação dos mesmos. Os canais deteriorados apresentam perdas de água
significativas. Existem actualmente no mercado materiais e soluções construtivas utilizadas na
reabilitação de revestimentos de canais, mas que devem ser objecto de uma investigação mais
profunda.
Muitos dos materiais e técnicas de aplicação utilizados no revestimento de canais foram
baseados no conhecimento já existente.
No que diz respeito aos materiais, o betão continua ser a solução tradicional, apesar do
desenvolvimento que este tipo de material tem tido ao longo dos últimos anos, quer em termos dos
materiais constituintes quer do seu comportamento. Nas obras de reabilitação de revestimento de
canais de rega, têm sido aplicados nos últimos 20 anos em Portugal materiais betuminosos e
sintéticos sem que contudo tenha sido feita muita investigação sobre esta matéria.
As soluções construtivas utilizadas na reabilitação de canais são muitas vezes adaptadas de
outros sistemas construtivos utilizados noutros tipos de obras, como são o caso das coberturas, não
existindo informação normativa que garanta uma boa execução das mesmas.

Devido a estas lacunas, quer em termos de investigação das propriedades dos novos
materiais, quer de regulamentação dos sistemas construtivos, sugerem-se alguns temas para
desenvolvimentos futuros que muito contribuiriam para melhorar a qualidade deste tipo de obras:
• levantamento sistemático das soluções construtivas existentes em Portugal - o levantamento
das soluções construtivas serve para as comparar com as de outros países; deveria assim ser feita
uma análise mais exaustiva dessas soluções aplicadas em países estrangeiros, especialmente
naqueles onde a experiência ou a necessidade obrigue à sua utilização corrente;
• elaboração de fichas de inspecção, de modo a proceder-se a uma análise do estado de
conservação dos revestimentos de canais de rega actuais e das técnicas de reparação / substituição
mais adequadas; estas fichas de inspecção permitiriam também uniformizar a informação a
disponibilizar no levantamento das anomalias observadas, nomeadamente pelas Associações de
Regantes; ter-se-ia assim uma ferramenta que poderia ajudar a relacionar os principais parâmetros
que intervêm na ocorrência dessa patologia;
• definição de métodos de ensaios de estanqueidade à água, quer in situ quer em laboratório -
a definição de uma metodologia de ensaio tem como objectivo a normalização das técnicas
respectivas, eventualmente diferentes consoante a solução de revestimento do canal; dos ensaios in
situ, seria importante definir o critério de amostragem (função da extensão do canal, do estado de

90 Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil - Filipe Morgado


Impermeabilização de canais de rega a céu aberto

degradação do revestimento, da orientação predominante das espaldas, entre outros factores); um


dos aspectos a ter em consideração na definição dos métodos de ensaio seria a avaliação do efeito
da evaporação tendo em conta os principais parâmetros que a condicionam: temperatura, HR,
superfície livre (secção do canal); e o efeito do tipo de solução (betão, alvenaria de pedra,
membranas prefabricadas, produtos pastosos), não esquecendo a influência do tipo de terreno [15]
[18] [20];
• estabelecimento de exigências relativas às perdas admissíveis de água para cada tipo de
material de revestimento;
• definição das principais propriedades dos materiais a considerar quando usados no
revestimento de canais de rega - o estudo dessas propriedades, nomeadamente as relacionadas com
o envelhecimento dos materiais, permitiria avaliar a evolução do seu estado de degradação face aos
principais agentes de envelhecimento, tornando-se assim uma ferramenta para a escolha das
diferentes alternativas possíveis;
• elaboração de estudos, com caracterização experimental, sobre os sistemas de fixação das
membranas a aplicar no revestimento de canais de rega - sendo o processo de amarração ao suporte
das membranas prefabricadas um dos principais pontos críticos identificados no estudo realizado, a
sua caracterização experimental, através da definição de um método de ensaio simples mas
representativo do seu desempenho em obra, seria um bom contributo para minimizar a ocorrência de
anomalias decorrentes de deficiências de concepção ou execução desses pontos singulares do
canal; o desenvolvimento de modelos matemáticos sobre o desempenho das soluções construtivas,
nomeadamente dos seus pontos mais críticos, seria um tema importante a desenvolver, para evitar a
realização sistemática de ensaios;
• elaboração de estudos que permitam concluir sobre as causas mais prováveis das anomalias
apresentadas no capítulo 3 desta dissertação - de entre esses estudos, destacam-se o da verificação
das propriedades dos materiais aplicados em revestimentos ao longo de um período de tempo, como
por exemplo a perda ou não de elasticidade da membrana; outro tipo de estudo pode ser a
caracterização quanto à deterioração e fissuração do betão, por este ser o material com maior
utilização em Portugal;
• elaboração de um levantamento e estudo de novos materiais passíveis de serem aplicados
no revestimento de canais de rega - nesse levantamento e estudo, seria importante contemplar por
um lado, o aspecto ambiental com a possibilidade de reciclagem dos novos materiais a aplicar e, por
outro os custos associados; os custos associados à reabilitação de canais de rega dividem-se em
dois grupos: o primeiro está relacionado com os trabalhos de preparação do suporte de aplicação do
novo material que muitas vezes implicam a demolição e reconstrução alguns troços de canais; o
segundo está relacionado com o custo do material impermeabilizador e a sua aplicação.

Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil - Filipe Morgado 91


Impermeabilização de canais de rega a céu aberto

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[1] Levantamento das necessidades de reabilitação dos regadios existentes e/ou


beneficiação de regadios tradicionais. Grupo de trabalho Agro-Ambiental. Ministérios
da Agricultura, Desenvolvimento Rural e Pescas, e das Cidades, Ordenamento do
Território e Ambiente. Lisboa, Maio, 2003.

[2] Resolução do Conselho de Ministros nº 113/2005, DR n.º 124, I-B Série, de 2005.06.30.
Presidência do Conselho de Ministros - Plano Nacional para o Uso Eficiente da Água -
Bases e Linhas Orientadoras (PNUEA), 2005.

[3] MONTAÑES J. L., Hydraulic canals, Taylor & Francis, Abingdon, 2006.

[4] COMITÉ FRANÇAIS DES GEOTEXTILES ET GEOMEMBRANES - Recommandations


générales pour la réalisation d’étanchéités par geome,branes. Bagneux,. Fascicule n.º
10, 1991.

[5] GUSMÃO, J. - Canais. Problemática. Reparação e obra nova. Lisboa. Laboratório


Nacional de Engenharia Civil, Novembro de 1996.

[6] GIROUD. J. P. - Geomembranes in Canals. Apresentação do 2º Seminário Português


sobre Geossintéticos, Lisboa. Laboratório Nacional de Engenharia Civil, Junho de 2007.

[7] MACHADO DO VALE, J. L. - Impermeabilização de obras hidráulicas com


geomembranas sintéticas em Portugal. 1º Seminário Português sobre Geossintéticos,
Porto. 2005, pp. 1-15

[8] INSTITUTO PORTUGUÊS DA QUALIDADE - Revestimentos de impermeabilização


betuminosos “Vocabulário”. Lisboa. IPQ, 1998, prNP3833.

[9] ATARFIL - Geomembranas poliolefinicas “Polietileno y polipropileno”. Granada,


Atarfil, 2002.

[10] SCUERO, AM, VASCHETTI, GL - Waterproofing free flow canals with flexible
synthetic composite membrane systems, Geosynthetics ASIS’97 Conference
Banfalore, pp. 179-186.

[11] JUSTO, J. - Obras subterrâneas: Impermeabilização e drenagem associada,


Dissertação de Mestrado em Construção, Instituto Superior Técnico, Lisboa, Setembro de
2004.

[12] GONÇALVES, Manuela; GRANDÃO LOPES, Jorge; BRITO, Jorge de; LOPES Maria de
Graça - Características das membranas de impermeabilização de coberturas em
terraços, Engenharia Civil nº. 22, Universidade de Minho, Novembro de 2005, pp. 59-71.

[13] GRANDÃO LOPES, Jorge - Revestimentos de impermeabilização de coberturas em


terraço, ITE 34, LNEC, Lisboa, 1994.

[14] GONÇALVES, Manuela - Revestimentos de impermeabilização de coberturas em


terraço com base em membranas prefabricadas. Comportamento de juntas de
sobreposição, Dissertação de Mestrado em Construção, Instituto Superior Técnico,
Lisboa, 2004.

[15] KATIBEH, Homayoon - Seepage from lined canal using finite-element method, Journal
of Irrigation and Engineering, ASCE, September/October 2004, pp. 441-444.

Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil - Filipe Morgado 93


Referências bibliográficas

[16] COMER, Alice - Remediation of existing canal linings, Geotextiles and Geomembranes
14, Elsevier Science Limited, 1996, pp. 313-325.

[17] COMER, Alice - Canal lining systems in irrigated agriculture, IPTRID, Rome, February
2000

[18] HOTCHKISS, RH, WINGERT, CB, KELLY, WE - Determining irrigation canal seepage
with electrical resistivity, Journal of Irrigation and Drainage, ASCE, February 2001, Vol
127, pp. 20-26.

[19] MARKUSCH, PH, GUETHER, R, SEKELINK, TL - Geotextile / polyurethane composite


useful as liner for canals and ditches comprises geotextile impregnated with one-
component heterogeneous liquid polyurethane composition comprising dispersion
of isocyanate with isocyanate reactive compound, Bayer material science LLC, March
2005, pp. 1-10.

[20] ALIMOV, AG - Method for canal seepage losses determination, AS Russia povolzhsk
ecology melior (ASAG - Soviet Institute), December 2007.

[21] SCHIBI, CW - Plastics-lined open top gravity-flow liquid canal has impermeable
plastics liner fixed by anchors to side walls and bottom of canal, in which heads of
anchors are set between liner and tab, SCHI-Individual, Jan 2001, pp 1-8.

Websites

[22] www.imperalum.com

[23] www.sfsintec.biz

[24] www.ferrovial.com

[25] www.gomaco.com

[26] www.motaengil.pt

[27] www.sotecnisol.pt

[28] www.hilti.pt

[29] www.carpitech.com

[30] www.astm.org

[31] www.sika.com

94 Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil - Filipe Morgado


Impermeabilização de canais de rega a céu aberto

ANEXO

Resumo das características dos sistemas de impermeabilização observados do decurso deste trabalho.

Ano de
Área Secção
Tipo de Ano de Forma da aplicação Comp
aplicada média Observações e anomalias
revestimento construção secção do revesti- 2 (m) 2
(m ) (m )
mento
Membrana em boas condições,
Membrana de
Caia - Elvas 1963 a 1967 Trapezoidal 1995 -- 3900 7,67 derretida nas pestanas do canal
PE simples
devido a incêndio
Perímetro de rega:
7240 ha Membrana
1963 a 1967 Trapezoidal 1997 -- 73000 1,91 Membrana em boas condições
Extensão de canais: betuminosa
78000 m
Membrana Membrana apresenta retracção em
Silves 1944 a 1956 Trapezoidal 2002 2000 268 3,8
PVC alguns troços do canal

Membrana
1944 a 1956 Trapezoidal 2002 7723 1512 3,8 Membrana em boas condições
betuminosa

Membrana
1944 a 1956 Trapezoidal 2003 8326 1517 3,8 Membrana em boas condições
betuminosa
Perímetro de rega:
Membrana apresenta retracção ao
2300 ha Membrana de
1944 a 1956 Trapezoidal 2000 19500 3000 6 longo de todo o troço
Extensão de canais: EPDM
impermeabilizado
42000 m
Membrana
1944 a 1956 Trapezoidal 2003 48087 6784 6 Membrana em boas condições
betuminosa

Membrana
1944 a 1956 Trapezoidal 2008 10000 1540 6 Membrana em boas condições
betuminosa

Vale do Sorraia
Perímetro de rega: Membrana
15365 ha 1951 a 1959 Trapezoidal 2002 -- 800 -- Membrana em boas condições
PEAD
Extensão de canais
-- m
Campilhas e Alto Sado Membrana apresenta retracção ao
Membrana de
1942 a 1963 Trapezoidal 1996 -- -- -- longo de todos os troços
Perímetro de rega: PVC
impermeabilizados
6097 ha
Extensão de canais: Membrana
1942 a 1963 Trapezoidal 2008 -- -- -- Membrana em boas condições
112055 m betuminosa

Odivelas
Perímetro de rega: Membrana em boas condições, o
Membrana de
5767 ha 2003 - 2004 Trapezoidal 2005 -- -- -- canal nunca foi limpo desde a sua
PVC
Extensão de canais: aplicação
15000 m
Roxo Membrana de
1963 a 1968 Trapezoidal 2002 300 -- -- Membrana em boas condições
Perímetro de rega: PVC
5040 ha
Extensão de canais: Membrana
1963 a 1968 Trapezoidal 2003 -- -- -- Membrana em boas condições
-- m betuminosa

Alvor Membrana de
1956 a 1959 Trapezoidal 1990 -- 250 -- Membrana em boas condições
PE

Membrana de Membrana apresenta retracção em


1956 a 1959 Trapezoidal 2000 -- 3000 --
PVC alguns troços do canal
Perímetro de rega:
1800 ha
Extensão de canais: Membrana de
-- m PVC
1956 a 1959 Trapezoidal 2003 -- 6000 -- Membrana em boas condições
(adequado para
água potável)

Mira Membrana de Membrana apresenta retracção em


1963 a 1973 Trapezoidal Vários -- -- --
Perímetro de rega: PVC alguns troços do canal
1200 ha
Extensão de canais Membrana
1963 a 1973 Trapezoidal -- -- -- -- Membrana em boas condições
-- m betuminosa

Alvito-Cuba
Betão -
Perímetro de rega: -- ha 2007 / Construção de canal em betão com
Reforçado com 2007/2008 Trapezoidal -- 15000 --
Extensão de canais: 2008 juntas impermeabilizadas
fibras metálicas
-- m

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Anexos

A.2 Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil - Filipe Morgado

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