Sem Nome - Capítulo 1

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Admito que não estava escutando a garçonete até ela tocar meu ombro, ergui o olhar em sua

direção esperando o questionamento.

Depois do café voltei ao carro. Amantes tendem a sair apenas na manhã seguinte do

motel ou apartamento em questão. As fotos foram tiradas como provas para o contratando,

além de vídeos, áudios e qualquer outra coisa que pudesse comprovar a traição.

Assim como o contrato descrevia, ao anoitecer nos encontramos em um determinado

local da cidade. O homem saiu do veículo arrumando o colarinho.

“E então ?” - o homem tinha uma expressão apavorada.

“O dinheiro” - disse em alto e bom tom.

“Óbvio, Claro” - ele gaguejava pegando o envelope para me entregar. Sem muito enrolar,

entreguei-lhe o envelope pardo, um pendrive e me despedir virando em direção ao carro.

“Qual a respostas ?!” - escuto um grito de agonia.

“Abra o envelope, veja o pendrive e então terá sua resposta.”

Gostaria de ter ficado para para ver sua reação ao saber que seu noivo o traía com uma

mulher diferente todos os dias, em qualquer horário. Bom, de qualquer modo eu não sou pago

para isso.

Voltando para a casa sou recebido por duas crianças que gritavam em minha direção,

seguido de um grito de desaprovação da mulher parada na porta. Peguei meus filhos no colo e

cumprimentei com um beijo. Jantamos pizza, nem eu nem minha esposa conseguimos negar

pedido das crianças; pouco tempo depois já estávamos todos na cama. Depois de alguém

tempo conversando com minha esposa adormecemos juntos.

Escutei um barulho de longe aumentar aos poucos, abri os olhos sonolento tentando

entender o que era aquele barulho, o barulho aumentou e identifiquei. Minha filha.

April gritava se debatendo tentando se livrar de um homem que a segurava no ombro.

Seus olhos escorrendo ao gritar ‘papai’. Me levantei olhando ao redor do quarto e vi minha

esposa amarrada com uma faca em seu pescoço, em seu olhar de súplica para não fazer nada.

Eu estava em pânico e paralisado, ao me virar senti meu corpo ser arremessado contra a

parede, senti mãos envolta do meu pescoço.

1
“Eu disse que voltaria” - o homem disse rindo olhando os outros ao seu redor. “Era

melhor você ter ficado calado pra polícia” - o homem sorrindo, encostou o cano frio em

minha costela.

“Boa viagem, detetive”

Foi a última coisa que escrevi antes de fechar o velho notebook e seguir em direção ao

sofá cama.

Caminhando sacudindo a cabeça em negação por escrever mais uma história que jamais

seria lida.

Deitei-me na cama encostada na parede do quarto, sala ou seja lá o que isso for. Uma sala

mofada em um prédio velho. Sim, eu sou o clichê óbvio que todos já viram alguma vez na

vida e para ser mais clichê, o aluguei estava atrasado. Ridículo! Eu me tornei o clichê que

sempre repudiei. Haviam se passado dois dias desde a última vez que comi algo, e a dor

estava começando a me incomodar. Diferente do que deve estar pensando eu não trabalho em

um café, nem em alguma loja com o chefe grosseiro que “eu terei que aguentar para não me

sustentar com o dinheiro dos meus pais, pois queria ser independente” ha ha, boa sorte

princesa pois eu não tive nenhuma.

Mesmo com duas faculdades, sendo fluente em quatro línguas e com diplomas

acadêmicos adicionais tudo parecia fácil, até a entrega da documentação. Sempre que

descobriam minha transexualidade, eu passava a ser tratado diferente. Mesmo com a

confirmação anterior de emprego, começavam a chegar ligações e e-mail com qualquer

desculpa clichê. “Retornaremos assim que possível” “Você não é o perfil da empresa”

“Estava vaga já foi preenchida” posso disser que essa foi a parte fácil da minha vida. Avance

alguns anos e aqui estou. Observando o teto. Nada de interessante, não vai sair uma frase que

vai te fazer pensar, eu não sou a porra do Bukowski, e aqui é só um teto.

É a merda de um teto, sem perspectivas da minha parte, em uma palavra, teto.

Parei para pensar o que eu estaria fazendo se fosse rico. Bom, não acho que vou

descobrir.

2
Há esse ponto do dia eu já estava precisando de um banho. Para minha imensa alegria,

havia um banheiro comunitário em cada final de corredor. O prédio parecia um bordel ou um

albergue, sem escolhas era o que eu tinha.

2.

“Chupa seu viadinho” - um velho repugnante disse empurrando minha cabeça.

Esse frase sequer faz sentido. Eu sou um cara, chupando o pau de outro cara que me

chamou de “viadinho”. Tudo bem, ao menos estou sendo pago para ser um viadinho.

Eu tentava não pensar enquanto estava ali sendo um viadinho com o velho repugnante.

Isso nem de longe era o que pensei para minha vida mas aqui estou eu, agora em um beco

escuro metendo em um cara casado que se apoiava no lixo. O cara tinha uma esposa e dois

filhos, ainda sim vinha várias vezes durante a semana. Sempre pagava o dobro se o deixasse

chupar meu pau. Eu já reconhecia e conhecia os frequentadores daquele beco. Quase sempre

homens casados que queriam se fudidos ou só chupar um pau. Engravatados que pagavam a

diária por meia hora. Sempre havia uns encrenqueiros bebados. Fetichistas que me levavam a

motéis caros pra os amarrar ou urinar em seus corpos. Trabalho é trabalho, certo ? E esses

eram o que pagavam melhor, e a única coisa que eu tinha que fazer era mandar neles.

Você já deve ter entendido que sou um garoto de programa. No começo eu recusei mas

eu precisava comer.

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