Pequena História Das Artes No Brasil - Duílio Battistoni Filho
Pequena História Das Artes No Brasil - Duílio Battistoni Filho
Pequena História Das Artes No Brasil - Duílio Battistoni Filho
ISBN 978-85-7670-287-0
www.atomoealinea.com.br
SUMÁRIO
1. Capa
2. Apresentação
3. 1. Época Colonial
1. Manifestações ar s cas nos séculos XVI e XVII
2. Os jesuítas e o desenvolvimento das artes
3. Época barroca: algumas igrejas mineiras
4. A obra do Aleijadinho
5. Manuel da Costa Ataíde: exemplo de pintor colonial
6. Outros ar fices coloniais
4. 2. Época Imperial
1. A Missão Ar s ca de 1816
2. Academismo neoclássico
3. Roman smo acadêmico
5. 3. Época Republicana
1. O modernismo e a Semana de 22: antecedentes e
consequências
2. Movimentos ar s cos nas décadas de 1930 e 1940
3. A primeira Bienal e as tendências contemporâneas
6. Pequeno Glossário
7. Sobre o autor
APRESENTAÇÃO
e, por que não dizer, didá co, a respeito das artes plás cas no Brasil, desde
lugar da arte com a visão distorcida do que ela é e do que ela representa
contribuíram para a alteração do que vinha sendo feito nas ‘aulas de arte’
esse trabalho era realizado pelo próprio aluno ou por outras pessoas.
Notamos que, na escola pública, a arte sempre entrou pela porta dos
arte.
especial.
exigências locais.
da pintora Anita Malfa , quando procura enfa zar, em suas telas, mais o
lado espiritual que o natural. Com o surgimento das bienais, nossos ar stas
O autor
01
ÉPOCA COLONIAL
pelo seu donatário Duarte Coelho Pereira, que u lizou argamassa com cal
telhas.
à Bahia e escreveu a D. João III sobre “as honradas casas de pedra e cal”
metros de comprimento pelo fron spício sul que dá para o mar, disposta à
nos cunhais, nos vãos, nos arcos e nos entablamentos. As paredes são
de Tomé de Sousa, cujo pai era ligado a Rates, localidade perto de Braga,
Soares de Sousa em 1584. Kaspar van Baerle, no século XVII, refere-se a ela
como marco visível ao longo da costa. Nas ruínas existentes, com exceção
1617 a 1621. A Casa da Torre cons tuiu a residência par cular mais
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Recife (1614), o Forte de São Mateus, em Cabo Frio, Rio de Janeiro (1607),
Magos, em Natal, Rio Grande do Norte (1614), iniciada pelo jesuíta Gaspar
importante que até hoje ostenta seu par do original. Pela sua alta
caso de Baccio de Filicaia, que aqui trabalhou entre 1591 e 1606, trazendo
militares, como também às obras religiosas e par culares. Seu feito mais
no Amazonas.
janela, que, grada vamente foi ampliando sua fachada, crescendo para o
pela documentação feita por Frans Post (1612-1680), pintor que Maurício
dos índios brasileiros, casas de pau a pique cujo térreo era usado para
Numa das obras do ar sta é possível ver casas com frontão flamengo, isto
é, com empenas em degraus. Os holandeses nham preferência pelo uso
do jolo, material que traziam como lastro de navios, até o início de sua
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Ajuda, de Jaguaribe.
do Mosteiro de São Bento. Sua obra-prima é o Senhor dos Mar rios (1690),
preciso.
pretos e mulatos.
na cadeia de Itanhaém, São Paulo, por mo vos polí cos, fez em barro
Santo Antonio para decorar a igreja de uma fazenda em Santo Amaro. Frei
presentes ideais esté cos do Renascimento e uma certa rigidez que não é
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Em segundo lugar, vem Frei Agos nho de Jesus, filho do Rio de Janeiro,
discípulo de Frei Agos nho da Piedade. Durante a maior parte de sua vida
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De sua lavra, destacamos quatro imagens: a de São Bento, a de Santa
igreja defini va, já com o emprego de pedra e cal, cujo arquiteto foi o
criados pelos jesuítas no Brasil quinhen sta, que funcionava como uma
exclusão dos leigos para outras carreiras. São, ainda, de sua lavra outros
Lúcio Costa assinala que o programa dos Colégios pode ser dividido em
três partes, de acordo com suas respec vas u lizações: para o culto – a
O grande século para a arquitetura de São Paulo foi o XVII. São desta
centúria aldeias, construções jesuí cas que, por seu caráter, podem
Paulo. Ao longo de todo o período colonial, vamos encontrar nos edi cios
fronteira do Brasil com o Paraguai e Argen na. Sob a tutela dos padres, os
de São Miguel das Missões, do Rio Grande do Sul, projetada pelo jesuíta
elementos gráficos dos vasos marajoaras têm pontos comuns com a arte
dos astecas e maias. Muitos desses índios artesãos chegaram a fazer cursos
e da burguesia mercan l.
A decadência, mais tarde, tanto das missões do sul como das do norte
região das Minas Gerais, como também na dos atuais estados de Mato
em decadência.
O ouro tornou rica a região das Minas Gerais. Logo, surgiu um mercado
da Igreja.
colonial mineira.
ao chão, que significa a profunda fé que deve ser seguida, a esperança que
chão, com uma cruz no vér ce do frontão e uma torre ao lado, lembra as
origens do cris anismo na Idade Média, bem como as lutas das cruzadas. A
o pelicano. Uma ave que alimenta seu filhote com a própria carne. Por essa
fênix, que desperta o cristão morto. Um dos mais notáveis exemplos desse
(1726).
com aspirais inver das, significam que o caminho para o Céu é tortuoso,
como o sacri cio de viver. A coluna é árvore de vida desde a raiz até a
representa o Cristo como Bom Pastor. Essa fase cons tui o auge do
confrarias leigas, de ordens terceiras, cujos fins eram mais sociais que
eclesiás cos, invertendo o sen do: as fachadas agora são mais vistosas e
Os fron spícios e corpos das naves são em par dos curvilíneos; as torres,
romana é subs tuída pela cruz patriarcal, com dois braços transversais. O
igrejas voltaram com os par dos retangulares dos fron spícios e as linhas
Serro. Nas vilas mais distantes, surgiram igrejas menores, com uma só torre
no lugar do frontão. Simplificou-se o par do arquitetônico, não na busca
A obra do Aleijadinho
barroco mineiro quanto à sua unidade es lís ca. As duas torres cilíndricas
pilastras das fachadas tradicionais foram subs tuídas por colunas que
pres gio do Aleijadinho fez com que fosse chamado a projetar, oito anos
mais tarde, a igreja de São Francisco de Assis em São João del-Rei. Desse
grande ar sta.
norte de Portugal.
século XVI, assim como sapatos aparentemente inver dos, narizes longos e
da América.
presente ano”.
patrimonial da humanidade.
Nunca se casou, mas teve quatro filhos com Maria do Carmo Raimunda da
seus filhos teriam sido modelos para os anjos dos seus forros e sua mulher,
para a Madona mulata do forro da Igreja de São Francisco de Assis, de
ordens terceiras de Minas Gerais. Desenvolveu, durante sua vida, uma obra
Campo. Nessa igreja, nas capelas dos Passos do Horto e da Paixão, pintou
Maria, envolta em nuvens, sobe aos céus, com toda a sua dignidade. David,
aos seus pés, canta laudes ao som da harpa, serafins tangem seus
contemporâneos”.
com duas ordens de arcos superpostos na parte mais alta. Mas foi no
brigadeiro Alpoim.
O edi cio, de linhas austeras, foi concebido como um recinto for ficado, de
plano retangular, dotado de quatro baluartes, num dos quais foi erguida,
fachada, voltada para o mar, tem portada de lioz, com brasão. Em frente à
sobrado, possuindo no andar térreo um arco de volta aba da, pelo qual se
Rio de Janeiro
no Rio de Janeiro. Nessa mesma igreja, fez o trono com a respec va talha e
inaugurado em 1785, que foi a sua maior realização. O obje vo era dotar a
imponente portão.
jardim original.
Outro ar sta colonial que não pode ser olvidado é José Joaquim da
Após ter estudado em Lisboa, emigrou para a Bahia, onde havia melhor
escândalo na época, a figura de uma ‘anja’ com o seio desnudo. Até 1790,
ele e seus discípulos trabalharam intensamente, procurando de forma
Pedro.
feita em cedro, com duas mil pedras de rubis, na qual o escultor trabalhou
oito anos, de 1732 a 1740. Para representar o sangue de Cristo, além dos
rubis, o ar sta u lizou sangue de boi, resina de bananeira, cal e óleo de
Reprodução
Bibliografia
ALVES DE SOUZA, Wladimir, et al. Aspectos da arte brasileira. Rio de
Janeiro: Funarte, 1981.
ARAÚJO, Antonio Luz d’. Arte no Brasil colonial. Rio de Janeiro: Revan,
2000.
ZANINI, Walter. História geral da arte no Brasil. São Paulo: Ins tuto Walter
Moreira Salles, 1993. 2 vols.
02
ÉPOCA IMPERIAL
ar stas, até então exclusividade das ordens religiosas. Era o início de uma
crí co de arte; os pintores Nicolas Antoine Taunay e Jean Bap ste Debret;
1826, tendo como diretor Henrique José da Silva, que subs tuíra Lebreton
devido ao seu falecimento. Começaram, então, as desavenças entre
remuneração dos professores da nova ins tuição seria paga mediante uma
rococó no Brasil, convém salientar que Minas Gerais con nuaria a construir
majestosos prédios barrocos. A missão não podia ser culpada pelas novas
franceses.
Dessa forma, consolidava-se e normalizava-se o ensino ar s co no
desta.
ar stas.
Mais tarde, em 1854, foi nomeado Manuel de Araújo Porto Alegre, com
Jean Bap ste Debret puderam realizar aqui um trabalho mais prolongado
número de trabalhos.
mas, com Debret, optou pelo convite de Lebreton para vir ao Brasil. Logo
seis colunas jônicas e de uma ampla porta em arco pleno na frente inferior
Concluída um ano depois, cons tuiu-se em um dos mais notáveis edi cios,
arbitrariedades do governo.
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Outros projetos foram realizados pelo arquiteto francês, como o
colonial que o edi cio possuía e a própria casa de Grandjan, na Gávea, com
Março, mais tarde sede do Banco do Brasil, fachada do Ins tuto Benjamim
Boa Vista, contratou o arquiteto francês Louis Léger Vauthier como diretor
das obras públicas da província. Em seis anos (1840 a 1846), fez obras
importantes como o teatro Santa Isabel, residências par culares e edi cios
São Paulo, nessa época, muito pobre e quase sem recursos, conheceu o
vergas de arco pleno, que vinham subs tuir os arcos do centro aba do, de
David, acompanhou, bem moço, este úl mo na viagem que fez à Itália para
produ vidade que não cessou enquanto permaneceu no Brasil, fosse como
Rio de Janeiro, nas primeiras décadas do século XIX. Curioso também pela
vida do interior, viajou algum tempo pela província de São Paulo, pintando
popular, etnográfico e exó co, ele revela a melhor fase de sua pintura,
em super cie.
dezembro de 1829. Isso demonstra que era bom professor, não dogmá co,
e dava plena liberdade aos seus alunos, pois muitos quadros ali expostos
em Paris, onde o Roman smo aguçara a curiosidade e o gosto pelo exó co,
início do século XIX, apesar de uma certa debilidade no seu desenho, talvez
poucos os que decidiram tentar aqui, após a chegada dos franceses, a sorte
seu ateliê numa das salas do Palácio Imperial. Sua tela mais conhecida é
iden ficassem com uma crí ca da vida brasileira, como, por exemplo, os
do país e mais voltados para os padrões clássicos europeus. Basta dizer que
por volta de 1840, o pintor João Mafra, então jovem aluno da Academia
desproporcionados.
terracota.
Academia e ali lecionou até a sua morte. Seus relevos sobre a vida de São
Romantismo acadêmico
coloniais.
época. Surgiram, então, os edi cios construídos com jolos e cobertos com
residências.
Janeiro, obra de Adolfo José Del Vecchio (1849-1927), de 1880, com sua
para recobrir as fachadas das casas. Essa técnica de reves mento difundiu-
se bastante no Rio, Recife, São Luís e Belém do Pará. Esses azulejos são de
além da nova arquitetura baseada nos neoes los ou no que pode ser
grande parte do patrimônio colonial edificado, que foi subs tuído por uma
modelo francês que, por muito tempo, foi a residência oficial dos
presidentes do Estado. Nesse mesmo ano, São Paulo teria sua arquitetura
Hall da Vila Penteado, projetada por Carlos Eckman.São Paulo, SP. Início
do século XX
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províncias.
à cogitação pictórica.
François René teve formação ar s ca mais completa que seu irmão, pois
Pardo, Rio Grande do Sul. Tendo sido aluno de Debret e por ele enviado a
Paris para receber lições do mestre Barão de Gros, foi contagiado pelo
lançou a revista Niterói, que trazia como epígrafe Tudo pelo Brasil e para o
Brasil. Nas suas telas, o roman smo se faz presente, como em Gruta e
Sendo muito versá l, pintou cenários para teatro, sua outra grande paixão.
fundador da crí ca de arte no Brasil, escola depois con nuada por Mário
Niterói.
originalidade da composição.
frequência regular aos cursos dos mestres europeus. Foi quando o pintor
praia, trazido pelas ondas, após longas horas de luta ingente com o mar.
nação livre, o Roman smo ar s co, por sua vez, criou um centro de
época dão-lhe uma conotação que fica entre o apuro do registro realista e
o amor ao passado român co. O quadro apresenta uma composição em
paisagista do pintor.
numa exploração cien fica. Mais tarde, par u para Paris, com bolsa
par cular de D. Pedro II. Desde então, foram seguidas suas viagens à
grande pres gio junto às autoridades floren nas, que lhe facilitaram a
entre Santos e São Paulo exigia o uso de mulas. Era essa a montaria de D.
Pedro e sua comi va. O pintor colocou-o em cavalos de raça, fruto de suas
cavalo mes ço, originário do Rio Grande do Sul. A ideia ali con da foi
passar alguns metros atrás de quem observa o painel. Mas ele a colocou
plano, à esquerda, há um caipira e seu carro de boi. Ele olha a cena como
se es vesse alheio ao que acontece. O obje vo, talvez, fosse mostrar que
Paulista.
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da vida caipira. Seu mérito foi focalizar o caipira, com sua vida simples,
plano: no seu horror de super cies indefinidas, no chão que avança para o
espectador, o ar sta sen u a necessidade de criar uma zona de cor mais
usa uma faca fina e longa. Ela está no centro do quadro, no meio exato de
de cima para baixo. A faca indica a única transversal do quadro, tal hélice
cortar lenha. Sua visão é naturalista tanto na forma como na cor e, por
isso, podemos aferir as cores mais usadas nas casas, como azul e rosa, e
uma falta de decisão es lís ca nas obras dos ar stas. Rodolfo Amoedo
recep vidade cultural do meio brasileiro. Manteve uma produção forte por
mas obteve duas prorrogações de sua estada nesse país, onde permaneceu
Teatro Municipal do Rio de Janeiro, que foi um templo do ecle smo em sua
corpos. A mulher nua, sobre um divã de seda escura, é vista de costas; tem
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nenhum momento, Amoedo permite que a luz, que trabalha tão bem,
ins tuição.
das artes plás cas. Durante esse primeiro estágio em Paris, deixou-se
seduzir pelo grupo de român cos ingleses chamados pré-rafaelistas,
etéreo. A pintura teve grande repercussão nos meios intelectuais, pois foi
entre eles Eliseu Viscon , cri cavam a sociedade cien fica e industrial, ao
humana.
Por outro lado, podem-se encontrar muitos preconceitos na pintura
plás cas não eram os dos africanos do Valongo, mas os dos escravos
pelos nossos pintores, mais preocupados com a mulher das altas camadas
esta sta, seria masculino. A mulher que os pintores representam não tem
lugar no mundo da polí ca, não tem lugar fora de casa, a não ser nos
não é cívica.
tantas coisas? Por que não podiam copiar também a tradição francesa de
polí ca era tarefa dos homens. As únicas mulheres que surgem no episódio
bronze no Rio de Janeiro. O ar sta, entre outras obras, fez ainda os bustos
esculturas. É a essa corrente que Bernardelli se filia. Suas obras dessa fase,
valores que atestam o valor e a mul plicidade de seu poder cria vo. Se a
graça de sua figura divina, mas, sim, o Cristo vivo, real, socorrendo os
necessitados.
Bibliografia
ALVES DE SOUZA, Wladimir, et al. Aspectos da arte brasileira. Rio de
Janeiro: Funarte, 1981.
BARATA, Mário. Artes Plás cas de 1808 a 1889. In: HOLANDA, Sérgio
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Difusão Europeia do Livro, tomo 2, 1967.
PONTUAL, Roberto. Dicionário das artes plás cas no Brasil. Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 1969.
São Paulo, entre fins do século XIX e o começo do século XX, cresceu
autônomas.
a relação entre a nossa arte colonial dos séculos XVIII e XIX e a arquitetura
portuguesa.
O modernismo caracteriza-se pelo repúdio a cânones estabelecidos,
defendiam uma nova função ar s ca, num mundo que já contava com
arte deixava de representar a super cie visual das coisas para penetrar no
seu interior.
1955).
professor e filósofo que lhe incu u, durante um ano e meio, a paixão pela
simpá cos, embora as crí cas do observador “pouco afeito àquele gênero
a opinião pública sen ram um impacto com tal evento, mas ajudaram a
mundo real.
A comemoração dos cem anos da independência polí ca do Brasil
dos quais a figura da mulata cons tui um dos exemplos mais patentes.
Di Cavalcan . Cinco moças de Guara nguetá, 1930
Reprodução
Pietá e Diana.
alegorias.
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Realizada de 13 a 17 de fevereiro, a Semana foi um fes val dadaísta, no
Zina Aita com seus trabalhos impressionistas luminosos; John Graz, com
sobre literatura, música, artes plás cas, cinema e teatro, que viveria até
janeiro de 1923.
é que a pintora paulista soube incorporar, com uma sabedoria que nha
muito de ins nto e de intuição, as linguagens atualizadas de seu
Tarsila ouvia muitas histórias contadas por uma negra ex-escrava que
da mesma década.
obra primi va pura. Sentada numa planície verde, uma figura solitária
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perder o rumo.
Campinas. De família judaica, o pai o iniciara nos rolos da Torá, que ele logo
seriam, em grande parte, obras desse teor que trariam ao Brasil em sua
Moderna de 22. Em 1924, foi levado pelo senador Freitas Valle à Vila Kyrial,
Quanto à sua pintura, imediatamente foi tocada pela luz e pela cor
uma paleta nova de cores claras e cômodas. No Rio de Janeiro, Lasar sen u
iria abordar con nuamente nos anos seguintes, e que culminou, alguns
cuja composição mostra alguns grupos de mães abraçadas aos filhos, como
iden ficado na série Florestas, na qual os planos são cruzados com ritmos
intensos de luz, destacando-se os troncos ver cais das árvores sem copas.
impelisse ainda a narrar as misérias do mundo. Mas foi nas paisagens, nos
Gregori Warchavchik. Casa modernista à rua Santa Cruz, São Paulo, SP.
1927-28
Reprodução
A passagem de Le Corbusier pelo Brasil, em 1929, para conferências em
nova arquitetura: “pilo s”, colunas que sustentavam o edi cio acima do
solo; “telhado plano” com jardins; “plano livre”, que seria a independência
por ele, lutaram pela aprovação de um currículo novo. Essa nova geração
1943, e cons tuiu a equipe responsável pelo primeiro edi cio moderno no
ver calizar graças à nova tecnologia e o brasileiro passou a trocar sua casa
próprio país.
para poder, à noite, exercitar o desenho com modelo vivo e, nos fins de
nucleanos.
em São Paulo um fato reputado como da maior importância nos des nos
Anita Malfa , Victor Brecheret, Lasar Segall, Tarsila do Amaral, John Graz e
salão pôde contar com grande afluência de público, em parte, sem dúvida,
ar stas das duas capitais. Par ciparam Di Cavalcan , Cândido Por nari,
a sua concorrente alegando que esta era muito aristocrá ca, eli zante, ao
passo que os volantes do CAM eram mais democrá cos, com uma
que encenou sua peça Bailado do Deus Morto. Essa peça chegou a ser
verdade era que o CAM gozava de pouco apreço pelo governo ditatorial da
Por nari e Segall, que enviaram obras, assim como o célebre escultor e
de São Paulo.
Joseph Albers.
fábricas, distantes dos grupos e das rodas intelectuais. Surgiu ali a amizade
con do, que ficou caraterizado pela ênfase na pintura suburbana paulista,
além do organizador, Paulo Rossi Osir e Vi orio Gobbis, ou seja, dois dos
O pintor de maior relevância nos anos 1940 foi Cândido Por nari
diante do trabalhador.
acentua pela distorção das figuras inspiradas pelas secas do Nordeste. Sob
simples e poderoso na linha de Diego Rivera. Suas obras Guerra e paz (sede
Reprodução
Nas décadas de 1930-39 e 1940-49, a gravura começou a afirmar-se no
trajetória deste paulista, fica fácil deduzir que poucos como ele foram tão
captados em todos os locais por onde andava. Quase toda sua obra está
voltada para a con ngência humana – o homem oprimido pelos que detêm
carentes.
país, o que explica a ausência de uma maior ação de sua parte no meio
aperfeiçoara em Paris, subs tuiria Celso Antônio nos trabalhos do edi cio
expressão foi Juventude, que enfeita a praça do mesmo edi cio. Essa obra
deu grande impulso à sua carreira e originou sua amizade com Oscar
Paulo (MAM-SP – este, núcleo gerador das bienais de artes plás cas) –
ambos em 1948.
Bruno Giorgi, além dos gravadores Oswaldo Goeldi e Lívio Abramo. Não
ins tuição, constar o desenho como uma seção autônoma, também com
direito a grande prêmio. Pela dis nção do convite especial, foram aqueles
retrospec vas de alguns dos maiores mestres dos nossos tempos – como
signos abstratos. É o caso de picas obras dos anos 1960. Há arcos que são
triunfava no Brasil na mesma época. Nos anos 1970, suas composições são
Volpi iden ficou-se muito com as bandeirinhas, que, para muitos, parece
ser um tema pobre. Porém, com a maior espontaneidade, ele coloca suas
bandeirinhas a serviço da magia e tripudia com a luz, ao repe r retângulos
europeus: Tarsila a Léger; Di Cavalcan e Por nari, a Picasso. Volpi não. Sua
mundo. Ela é, agora, patrimônio que coloca o Brasil num alto nível dentro
Ohtake. Nas telas desta úl ma, há uma ordenação livre e concisa das
formas. Mais tarde, ela conteria seu lirismo em favor de uma geometria
Reprodução
Tomie Ohtake. Pintura, 1969
Reprodução
específico para a crí ca de arte como linha, plano, cor e luz como
“50 anos em 5”. Brasília foi uma das alavancas de sua gestão.
público.
Jus ça.
de uma região para outra também foi decisivo para a afirmação de uma
1970-80.
Nos seus projetos, os edi cios seriam abertos, com ambientes fluentes e
Mendes da Rocha.
legi mação desse novo ideário: as condições polí cas de discussão e ação
todos os sen dos são solicitados. Os cheiros têm a ver com a cor, o
fundir concre smo e pop art, criando os popcretos, que ele definia como
“arte semân ca”, procurando recuperar a realidade depois de afastar-se
veram relações com o concre smo foi, sem dúvida, Geraldo de Barros
anos 1960, aproximou-se da pop art com colagens feitas com recortes de
Reprodução
que o resultado.
Lygia Clark. Bicho: caranguejo duplo, 1961
Reprodução
ves r que envolvem passistas de uma escola de samba que ele próprio
um show de Gilberto Gil. Vale assinalar que tal movimento iria influenciar a
Cara de cavalo é uma caixa de madeira e vidro, em cuja super cie interna
visual e das artes gráficas. Entre seus trabalhos – nos quais tem buscado
Um bom exemplo dessa nova postura foi a Escola Brasil (São Paulo,
“ninguém”; a cidade com suas “caixas de viver”, com suas proibições e leis
valores cole vos, fez do corpo a sua cidadela de resistência, o seu refúgio
Picasso e Ma sse. O ar sta Daniel Senise, que nha par cipado da mostra
Como vai você, Geração 80, em 1984, no Rio de Janeiro, usava a técnica da
toma a forma de grade paralela ou xadrez, e ele já não pinta sobre telas,
Lacaz, parecem ser singulares ao cul var um veio neopop – ambiente meio
pouco a pouco, a uma poé ca, a uma sensualidade, que são visíveis nas
podia contar com inicia vas privadas que, ainda que de modo rela vo,
efe vamente para uma visão mais ampla da realidade da cultura e da arte
Castro (1920-2002). Suas obras, de tão díspares, parecem ter sido feitas
Reprodução
Krajcberg deixou a pintura para se dedicar inteiramente à escultura,
nelas o elemento vital de toda a natureza, a sua força viva. Seu contato
o por dentro. Por isso, ama as raízes e detesta as flores, pois na raiz tem
libertar do solo. Não são raízes de quintal, domes cadas nos canteiros
Cildo Meireles (Rio de Janeiro, 1948) é, hoje, o principal nome das artes
plás cas no Brasil, segundo a crí ca especializada. Nos anos 1970 realizava
carimbos de mensagens polí cas. Também Quem matou Herzog era uma
cédula que se conver a em suporte de protesto e denúncia. O ar sta nha
representa uma ação esté ca e crí ca, isto é, cons tui um campo
passa a ser uma en dade de influência sobre esse visitante, o que não
legi madores da produção ar s ca. Concursos, feiras e fes vais são alguns
moderno cria um produto diferente, cujo valor depende não apenas de sua
habilidade, mas também da ideia que expressa. Cada ar sta passa a ser
sua obra.
dos ar stas, seus autores, salvo algumas exceções, quase nunca prevê com
Deve-se convir que qualquer leigo sabe que a arte não é simplesmente
uma cópia, mesmo quando suas imagens nos são familiares e facilmente
iden ficamos o tema tratado. Isso não quer dizer que a arte figura va, que
plano. Pelo contrário. Nota-se uma grande revalorização dela, nos tempos
vez, tendo pintado a figura de uma mulher em cor verde e tendo mostrado
essa obra a um crí co, ouviu-o dizer: “Não existem mulheres verdes”. Ao
que Magri e respondeu: “Mas não é uma mulher, é uma pintura”. Desde o
toda pessoal.
natureza e seus contextos por outras, mais ‘humanas’, por assim dizer.
linguagem.
Para crí cos argutos, a arte de ruptura está no fim. O que existe é uma arte
O que se observa é que a crí ca não procura mais catalogar uma obra num
Salvo honrosas exceções, todavia, muitas obras chegam até nós sem
nosso caminho?
Bibliografia
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MORAIS, Frederico. Artes plás cas: a crise da hora atual. Rio de Janeiro:
Paz e Terra,1975.
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Cultural Itaú, 1989.
_____. Modernismo: anos heróicos. São Paulo: Ins tuto Cultural Itaú, 1993.
NAVES, Rodrigo. A Forma di cil, ensaios sobre arte brasileira. São Paulo:
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PEDROSA, Mário. Mundo, homem, arte em crise. São Paulo: Perspec va,
1975.
ZANINI, Walter. História Geral da Arte no Brasil. 2 vols. São Paulo: Ins tuto
Walter Moreira Salles, 1983.
Concre smo – Designação dada pelo suíço Max Bill à escola que procura
apresentar obras par ndo da realização de uma imagem autônoma,
não originada de modelo natural, e que u liza elementos geralmente
visuais ou táteis.