TCC 2023

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UNICATHEDRAL

CENTRO UNIVERSITÁRIO CATHEDRAL


CURSO DE DIREITO

TAYRINE SANTIN AMORIM

A FILIAÇÃO SOCIOAFETIVA A LUZ DO PRINCÍPIO DA


AFETIVIDADE

Barra do Garças – MT
Abril – 2023
TAYRINE SANTIN AMORIM

A FILIAÇÃO SOCIOAFETIVA A LUZ DO PRINCÍPIO DA


AFETIVIDADE

Artigo Científico elaborado sob orientação de


conteúdo do Profª. José Carlos Cordeiro
Gomes, para fins de obtenção de grau de
bacharel de Direito, do curso de Direito do
Centro Universitário.

Barra do Garças – MT
Abril - 2023
UNICATHEDRAL
CENTRO UNIVERSITÁRIO CATHEDRAL
CURSO DE DIREITO

A Banca Avaliadora, abaixo assinada, _________________________


com a nota _______, o Artigo:

A FILIAÇÃO SOCIOAFETIVA A LUZ DO PRINCÍPIO DA


AFETIVIDADE

TAYRINE SANTIN AMORIM

como requisito parcial para obtenção do grau


de Bacharel em Direito.

BANCA AVALIADORA

_________________________________________
Profª. José Carlos Cordeiro Gomes

___________________________________________________
(Assinatura por extenso do Membro Convidado)

Barra do Garças – MT
Abril - 2023
A FILIAÇÃO SOCIOAFETIVA A LUZ DO PRINCÍPIO DA
AFETIVIDADE

Tayrine Santin Amorim 1


José Carlos Cordeiro Gomes 2

RESUMO: O estudo trata-se de uma reflexão sobre a importância do afeto no âmbito familiar,
no qual se propôs a responder de que maneira o afeto influenciou nas novas entidades e núcleos
de pessoas. Sendo assim, objetivou-se analisar a filiação socioafetiva, utilizando como alicerce
o Princípio da Afetividade, decorrente do princípio matriz da Dignidade da Pessoa Humana.
Diante das questões levantadas, preliminarmente quanto à natureza, trata-se de uma pesquisa
básica, pois gerou novos conhecimentos em relação a filiação socioafetiva, já quanto à forma
de abordagem de pesquisa foi a qualitativa, por considerá-la a mais importante para discutir os
levantamentos que foram abordados, bem como a pesquisa bibliográfica, tendo como
fundamento de determinados autores como Calderón( 2017)), Diniz( 2005) e Dias (2006). Vale
ressaltar que a pesquisa buscou apoiar-se por meio da Constituição Federal de 1988 e da
legislação infraconstitucionais, como o Código Civil e o Estatuto da Criança e do Adolescente.
Sob essa ótica, conclui-se a relevância do afeto no cenário jurídico contemporâneo,
considerando os resultados obtidos diante dos benefícios que a mesma oferece frente as
adversidades que se apresentam diante do campo em estudo.

PALAVRA CHAVE: Família. Afeto. Filiação Socioafetiva.

1
Acadêmica do curso de Direito, do Unicathedral– Centro Universitário. E-mail: [email protected].
2
José Cordeiro Gomes: Especialista em Direito Civil e Processual Civil Pelo Centro Universitário Cathedral –
UniCathedral; Especialista em Direito Penal e Processual Penal pela FAVENI. Advogado, Presidente da Comissão
de Promoção à Igualdade Racial da OAB/MT, subseção de Barra do Garças/MT. Docente dos Cursos de Direito e
Gestão do Centro Universitário Cathedral – UniCathedral. E-mail: josé[email protected]
1 INTRODUÇÃO

O conceito de família passou por diversas alterações no decorrer do tempo, adaptando-


se a novas concepções advindas com a evolução da sociedade, deixando de lado uma linha
patriarcal e hierárquica e trazendo o vínculo afetivo como um direito personalíssimo do ser
humano e como elemento basilar para o surgimento de novos arranjos familiares.
Por meio da nova regulamentação, expressa na Constituição Federal do Brasil de 1988,
a família afetiva foi constitucionalmente reconhecida e o afeto passou a ser um pilar e a exercer
um relevante papel.
A partir do momento do reconhecimento do vínculo afetivo novos conceitos referentes
a entidades foram definidos, dando origem à diversas formas de família, como a monoparental,
homoafetiva, informal, adotiva, paralela e socioafetiva, todas tendo em comum o afeto.
Sob esse prisma, temos a chamada filiação socioafetiva, onde o reconhecimento de
filiação, além do aspecto consanguíneo, ocorre através da relação civil (adoção) e a relação
socioafetiva, com influência do princípio da dignidade humana e o princípio da afetividade,
encontrando implícita e explícita no texto constitucional bem como no entendimento
jurisprudencial e doutrinário.
Nesse ínterim, o artigo tem como tema o “A filiação socioafetiva a luz do Princípio da
Afetividade”, e buscou responder a seguinte problemática “De que forma tal princípio
influenciou nas novas modalidades de família, principalmente em relação a filiação
socioafetiva?”.
A vista disso, esse trabalho tem como objetivo geral compreender a filiação
socioafetiva a luz do Princípio da afetividade, ampliando o entendimento de que o núcleo
familiar vai além das meras relações sanguíneas, considerando também a influência cultural e
a afinidade dos indivíduos.
Mediante o exposto, quanto à natureza do trabalho, entendeu-se que se trata de uma
pesquisa básica, acerca do princípio da afetividade sobretudo em relação à filiação socioafetiva.
Quanto à abordagem de pesquisa foi a qualitativa, a qual permite compreender os detalhes das
informações obtidas, aprofundando-se no tema.
Adiante com assunto, aliou-se a pesquisa explicativa, por buscar e analisar o afeto
como valor jurídico. Envolve o levantamento bibliográfico, cujo suporte se deu em livros,
artigos e legislações relacionadas ao assunto. Dessa maneira, recorreu-se ao exame de
normativas afetas ao assunto, tais como a Constituição da República Federativa do Brasil de
1988, o Código Civil de 2002 e demais legislações pertinentes. Já, em âmbito doutrinário fez-
se imprescindível o estudo de determinados autores como Calderón (2017) Diniz (2005) e Dias
(2006)
Isto posto, entendeu-se que o método de abordagem foi o método dedutivo por partir
de teorias e leis gerais para ocorrência de fenômenos particulares, como exemplo o afeto dentro
do âmbito familiar. Por fim, quanto ao método do procedimento é monográfico, por se tratar de
um contexto específico de suficiente valor representativo, que gera vários debates jurídicos e,
que deriva da observação de determinados indivíduos e condições, com a finalidade de obter
generalizações.
No tocante à estrutura, preliminarmente, fez-se necessário apontar o antecedente
histórico de família e o seu conceito. Em seguida, citou-se o afeto como valor jurídico e o seu
presente papel nas linhagens contemporâneas, definindo o Princípio da afetividade como
percursor no direito de família. Posteriormente, discutiu-se o que vem a ser filiação e filiação
socioafetiva.
A relevância acadêmica da presente pesquisa é notória, pois o afeto atualmente tem
grande visibilidade dentro do direito, possuindo influência nas relações de família e na
formação do indivíduo como ser humano, onde os laços de afeto derivam da convivência e não
do sangue, tendo como enfoque a filiação socioafetiva. Por fim, a pesquisa justifica-se pelo
estudo bibliográfico para que desta se possa emergir ampla visão sobre a matéria, na medida
em que se refere a assunto de imensurável importância, demasiada atualidade e que reflete na
sociedade como um todo.
2 BREVE HISTÓRICO

2.1 CONCEITO E EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA FAMÍLIA

Com o passar do tempo, as leis e normas que regem o casamento e a família foram evoluindo,
acompanhando as mudanças sociais e culturais de cada época, dessa forma na medida em que
a sociedade se transformava, a legislação precisou- se adaptar às novas configurações familiares
e às diferentes formas de relacionamento entre as pessoas.

Na Antiguidade, a família tinha uma estrutura patriarcal, em que o homem era o chefe da casa
e possuía autoridade absoluta sobre seus filhos, esposa e servos. Nesse contexto, a principal
atribuição da essência familiar era a autoridade do chefe, ou seja, aquele que gozava do poder
de determinação e fazia com que os outros integrantes do núcleo ficassem subordinados a ele.

Na Idade Média, a família continuou com sua estrutura patriarcal, mas ganhou maior
complexidade, como a aquisição de propriedades, formação de alianças matrimoniais e a
influência da Igreja Católica nas normas familiares.

Ademais, seguindo a apresentação histórica, no Renascimento a família ainda era patriarcal,


mas as relações familiares passaram a ser mais afetivas e recíprocas, e não somente baseadas
na obediência ao chefe da casa. Durante a Revolução Industrial, a família sofreu grandes
mudanças, com a saída dos homens para o trabalho nas fábricas e a consequente perda da
autoridade patriarcal. A mulher passou a ter maior participação na vida econômica e social,
além do desenvolvimento de outras formas de família, como a monoparental.

Assim sendo, percebe-se que a estrutura patriarcal era comum em muitas civilizações antigas e
perdurou até a modernidade em algumas culturas. No entanto, com o passar do tempo, houve
um movimento de questionamento e desafio a essa estrutura. Como dispõe o trecho a seguir:

" Diante dessa nova perspectiva tem-se a extinção da família


patriarcal, que pouco a pouco foi cedendo espaço aos laços
afetivos, que contribuíram para a existência de um modelo de
família fundado no companheirismo e na igualdade entre seus
membros, em busca da felicidade individual ou coletiva."
(DAMIAN, 2022, p.9)
Por essa razão, pode se dizer que o o entendimento de família não está necessariamente atrelado
a um modelo tradicional de pai, mãe e filhos, mas sim a relações de afeto, dando espaços a
diversos arranjos familiares, sendo crucial que ali haja uma unidade de apoio, independente de
sua forma.

Assim, a família é vista como uma unidade na qual todos os sujeitos possuem igualdade de
direitos e deveres, e suas necessidades e interesses são levados em conta.. Essa visão mais
democrática tem como objetivo promover o bem-estar de todos os seus membros e garantir que
eles possam crescer e se desenvolver de forma de saudável e equilibrada.

Para tanto, a definição de família ganha contornos mais amplos e complexos, contemplando o
amor, o respeito, a solidariedade e o acolhimento, independente de sua conformação ou
estrutura. A proteção da família acaba transcendendo a esfera puramente jurídica, envolvendo
cada vez mais ações e políticas públicas integradas e amplas, que garantam bons
relacionamentos interpessoais para cada membro.

Destaca-se, que a diversidade familiar é um reflexo das mudanças sociais e culturais, e deve ser
respeitada em todas as suas formas. O essencial é que todos os membros da família tenham uma
vida digna, passando uma infância e adolescência segura, onde as relações são baseadas em um
vínculo de parceria e amor. Assim, conforme diz o trecho a seguir:

Direito de família é o mais humano e sentimental dos ramos do direito civil.


Lida com a vida - desde os mais comezinhos e iniciais fatos da vida cotidiana,
até a mais cara das regulações humanas. Absorve a base normativa das
relações derivadas da paixão - e também ele se ocupa com as sobras de vida
pela desestrutura dessa paixão. É o direito que lida com o amor e com o
desamor, cuida do afeto e da ausência dele. Protege a prole, o enjeitado, zela
pelo abandonado, cuida da mãe, do pai, dos custos da casa, regula o habitual.
( FERNANDEZ, 2015, p.19)

Diante disso, abordar o tema família é também falar em afeto e dignidade da pessoa humana, que são
grandes norteadores do direito de família. Desse modo, o entendimento de família vai além de um
simples núcleo, já que nela se busca formar indivíduos conscientes, respeitosos e tolerantes, criando
uma espaço de convivência e aprendizado, onde valores e tradições são transmitidos, sendo um pilar de
sustentação para todos.
Portanto, a família é um conceito amplo e complexo, que deve ser entendido dentro de um contexto
social e cultural sempre em transformação. O direito de família é fundamental para a garantia dos
direitos das pessoas nas suas relações familiares, zelando pelo respeito e proteção dessas relações para
assegurar a dignidade da pessoa humana.

2.2 EVOLUÇÃO CONSTITUCIONAL DO DIREITO DE FAMÍLIA NO BRASIL

As Constituições brasileiras revelaram as evoluções sociais que ocorreram na


civilização, moldando seu perfil e também mostrando as peculiaridades ideológicas que
emergiram do desempenho e aplicação da lei.
A Carta Imperial de 1824, primeira Constituição Brasileira, se encontra na hierarquia
sucessória ao trono do então Império do Brasil.No que se refere à família, a Constituição de
1824 estabelecia a manutenção da família monárquica, porém, a vida familiar da população em
geral não era alvo de regulamentações específicas.
Dessa forma, tendo em vista a ausência de dispositivo legal no Brasil que versa-se
sobre o direito de família e considerando que a Constituição do império estabeleceu o
catolicismo como religião oficial, tem se que o casamento somente era válido quando celebrado
por autoridade da própria igreja.
Na Constituição republicana de 24 de fevereiro de 1891 não contém disciplina especial
sobre a família, trouxe-se somente um único dispositivo no bojo da sessão dedicada a
declaração de direitos , que dizia que a república só reconhece o casamento civil, cuja
celebração é gratuita.
Posteriormente na Constituição de 1934, primeira a consagrar os direitos sociais, introduziu
inovações, diante da reiteração do casamento apenas religioso pelo interior do país. A Carta
determinou ao estado o dever de especial proteção à família e dedicou um capítulo (art.144 a
147) para cuidar do casamento e nascimento dos filhos , estabelecendo regras e conceitos.
Já em 1937, houve um golpe guiado por Getúlio Vargas, surgindo assim o Estado Novo,
considerando que a constituição foi outorgada pela autoridade que vigorava quando da
elaboração da Constituição de 1934 , poucas alterações foram realizadas em seu texto,
sobretudo no que diz respeito à família, sua única modificação foi o reconhecimento a
igualdade entre os filhos naturais e legítimos.
Na Carta de 1946 no que tange ao conteúdo normativo constitucional no âmbito familiar,
manteve-se os institutos inspirados nas constituições anteriores, ou seja, à família sob a especial
proteção do estado, o casamento continuava indissolúvel e apenas o reconhecia-se o casamento
religioso e civil. O mesmo com a constituição de 1967 que não inovou no campo da família,
apenas manteve os direitos já conferidos pelas passadas.
Com a Constituição e 1969 e por meio da emenda constitucional de 1977 foi implantado o
divórcio, sendo este um marco para modernização do direito de família no Brasil. A Lei do
Divórcio – Lei 6.5l5, de 26 de dezembro de 1977, regulou os casos de dissolução da sociedade
conjugal e do casamento, seus efeitos e respectivos processos.
Em 5 de outubro de 1988 foi promulgada a Constituição Cidadã, sendo o principal
símbolo de redemocratização nacional. Foi por meio dela que novos arranjos de famílias
surgiram, dando um grande passo no que diz respeito ao reconhecimento de famílias, pois foi
além da consanguinidade, expandindo a ideia de família e introduzindo transformações
mediante o seu conceito.
A visão limitada e conservadora foi sendo superada, de forma a se reconhecer a
pluralidade de formas familiares existentes na sociedade, como as uniões estáveis, famílias
monoparentais, homoafetivas, paralela, simultânea, anaparental, poliafetiva, entre outras.
A Constituição Federal de 1988 também reconheceu a igualdade de direitos entre
homens e mulheres, assim como a proteção da criança e do adolescente, e a obrigação do Estado
em garantir educação e saúde para todos. Estes princípios ajudaram a consolidar a ideia de que
a família é um espaço de cuidado, afeto, respeito e garantia de direitos para as partes que
compõe o núcleo familiar.
Em resumo, a história das Constituições Brasileiras mostrou uma evolução no
reconhecimento e proteção da diversidade de formas familiares existentes na sociedade. Sendo
um importante marco nesse sentido, estabelecendo princípios que garantem a igualdade de
direitos e a proteção da família como base da sociedade.
Diante dessa realidade, pôde-se concluir que a Constituição cidadã alterou o tamanho
e a valorização do núcleo familiar, tratando pais e filhos, cônjuge e parceiros igualmente e
protegendo outros tipos de arranjos familiares. Posto isso, a família representa uma formação
social mais significativa, deixando para trás os interesses patrimoniais, abrindo espaço pra a
função contemporânea, e com um novo paradigma, atendendo as condições de afeto e
responsabilidade social.
3 O AFETO

3.1 O PRINCÍPIO DA AFETIVIDADE

A evolução da sociedade trouxe consigo novos costumes, valores e maneiras de


pensar. Com isso, houve uma transformação no modo de interpretação jurídico e nas relações
sociais. Dentre os valores que ganharam destaque na atualidade, está o afeto.
O afeto é um sentimento essencial para o bem-estar e a felicidade do indivíduo, seja
no âmbito pessoal ou nas relações sociais. É por meio da afetividade que as pessoas se
conectam, criam laços de amizade, amor, solidariedade e respeito, como se observa a seguir:

Eventos que podem evidenciar a afetividade são manifestações


especiais de cuidado, entreajuda, afeição explícita, carinho, comunhão de
vida, convivência mútua, mantença alheia, coabitação, projeto de vida em
conjunto, existência ou planejamento de prole comum, proteção recíproca,
acumulação patrimonial compartilhada, dentre outros. (CALDERÓN, 2017,
p.148)

Nesse sentido, é por meio do princípio da afetividade, que o ser humano encontra a
verdadeira felicidade e realiza sua plenitude enquanto pessoa. Assim, essa nova realidade
implica na existência de responsabilidades afetivas e sociais , em conjunto com o princípio da
afetividade e da dignidade da pessoa humana.
Portanto, a valorização da afetividade no âmbito familiar tem implicações
significativas no âmbito jurídico, uma vez que as questões relacionadas a guarda, ao direito de
visita, a pensão alimentícia, entre outras, devem considerar sempre o melhor interesse da
criança ou do adolescente envolvido, levando em conta a sua relação afetiva com os pais ou
responsáveis.
Logo, entende-se que o princípio da afetividade é uma garantia do direito de família que visa
proteger os vínculos de amor e cuidado que existem entre as pessoas, independentemente dos
laços biológicos. Esse princípio reconhece a importância das relações interpessoais que existem
dentro do núcleo, que são fundamentais para o desenvolvimento humano e a construção da
identidade dos indivíduos.
Em vista disso, o afeto é entendido como o elo formador das famílias, baseado pelo
convívio, cuidado e carinho entre os entes do mesmo grupo, onde não se espera nenhum
benefício material entre as partes. Ele se materializa em um ambiente de compaixão,
humanidade, solidariedade e responsabilidade.
Podemos determinar, que a família está voltada ao afeto, sendo o ambiente mais
apropriado para o indivíduo, mediante uma convivência duradoura e notória, não importando
necessariamente o modelo que adote e nem a existência de um vínculo consanguíneo.
Isso posto, compreende-se que o afeto recebido entre os membros do núcleo auxilia
significativamente para suas evoluções como pessoas, influenciando de formas positivas e
negativas, tanto na sua educação, como no desenvolvimento físico e psicológico.
Nesse sentido, o afeto além de estar ligado à dignidade, porque promove a formação
do indivíduo, assume posição de direito essencial, sendo também criador de entidades
familiares e outros relacionamentos.
Portanto, o princípio da afetividade influenciou significativamente o direito de família,
uma vez que colocou em destaque a importância das relações interpessoais e das emoções
envolvidas na formação e na construção das famílias.
Acerca disso, foi com a introdução do princípio da afetividade, que o direito de família
passou a reconhecer outras formas de vínculos afetivos, inclusive aqueles que não são baseados
em laços de sangue. Consequentemente, a guarda compartilhada, o reconhecimento de
paternidade socioafetiva e as uniões estáveis passaram a ter maior valorização jurídica.
Dessa forma, pode-se afirmar que o princípio da afetividade permitiu uma maior
liberdade na formação das famílias e uma maior proteção jurídica para os vínculos afetivos,
reconhecendo e valorizando seu papel na sociedade.

4 FILIAÇÃO SOCIOAFETIVA

A filiação socioafetiva é um tema cada vez mais relevante no direito de família. Ela se
refere à relação de paternidade ou maternidade que se estabelece não pelo vínculo biológico,
mas pelo carinho, cuidado e convivência duradoura.
Essa forma de filiação surgiu a partir da necessidade de proteger os direitos das
crianças que, apesar de não compartilharem o mesmo sangue com seus pais, formaram vínculos
emocionais profundos.
Em outras palavras, a filiação socioafetiva é uma construção social que se baseia nas
relações afetivas que se desenvolvem ao longo da vida e que formam um vínculo de parentesco
entre pessoas que não necessariamente compartilham laços biológicos. Este vínculo é
construído a partir da continuidade do afeto, da proteção e do cuidado mútuo entre as pessoas
envolvidas.
Desta maneira, esse tema é uma forma de proteger e garantir essas relações interpessoais
importantes para a vida e o desenvolvimento humano, reconhecendo que a família pode ser
construída a partir de laços emocionais, bem como a partir dos laços biológicos.
Logo, entende-se que esse tipo de filiação se baseia no princípio da afetividade, o que
significa que as relações devem ser permeadas de sentimentos verdadeiros, e não somente de
formalismos legais. A afetividade é vista como essencial para a formação de valores, para a
construção de personalidade e para a integração social da pessoa.
A influência do princípio da afetividade na filiação socioafetiva torna-se evidente ao
considerar que a filiação não pode ser definida apenas com base na biologia, mas sim a partir
da valorização da relação afetiva entre pais e filhos. Desta modo, filiação socioafetiva passa a
ser vista como uma forma legítima de estabelecer famílias.
Nessa perspectiva, o reconhecimento da filiação socioafetiva possui uma importante
repercussão tanto para os pais quanto para as crianças. Para os pais, a possibilidade de
reconhecer legalmente a relação de carinho e cuidado que vem sendo estabelecida com uma
criança é algo que pode trazer estabilidade e responsabilidade.
Para as crianças, o reconhecimento da filiação socioafetiva é importante porque elas
passam a ter a segurança de serem amadas e cuidadas por alguém que consideram como seus
pais, mesmo que não exista um laço consanguíneo entre eles. Além disso, essa relação de afeto
e cuidado é fundamental para um desenvolvimento saudável da criança.
Em resumo, a influência do princípio da afetividade na filiação socioafetiva é essencial
para promover uma perspectiva mais humana e justa no direito de família. Ao valorizar a
importância da relação afetiva entre pais e filhos, é possível reconhecer que a afeição e o
carinho são referências para se construir um lar.
Desse modo, é visível que o vínculo afetivo é tão primordial quanto a filiação biológica
ou jurídica, assim, é importante promover medidas para que ambas possam coexistir. Afinal, a
afetividade deve estar presente de forma incondicional nas relações familiares, independente da
origem do vínculo.
4.1 FILIAÇÃO

A filiação é um dos elementos centrais do âmbito familiar, sendo responsável por


estabelecer vínculos afetivos, jurídicos e sociais entre pais e filhos, é a relação jurídica que se
estabelece entre membros do mesmo núcleo, sendo reconhecida e regulada pelo direito de
família. Ela pode ser biológica ou socioafetiva.
A filiação biológica, é reconhecida a partir do estabelecimento de vínculos genéticos
entre os pais e os filhos. Isso ocorre por meio da realização de exames que confirmam a
paternidade, como o DNA.
A filiação socioafetiva, por sua vez, é aquela estabelecida por meio da convivência e do
afeto. Ela se refere à relação de parentesco estabelecida entre uma pessoa e seus pais adotivos,
padrastos ou madrastas. Essa relação também é reconhecida legalmente e possui os mesmos
direitos e deveres da filiação biológica.
Assim, podemos destacar com exatidão, seu conceito descrito no trecho a seguir:
Trata-se de modalidade de filiação construída no amor, gerando
vínculo de parentesco por opção. A adoção consagra a paternidade
socioafetiva, baseando-se não em fator biológico, mas em fator sociológico
(DIAS, 2006, p. 385)

Pode-se observar a partir desta citação, que o processo de adoção é um instrumento


legal de estabelecer um vínculo com uma criança que não é fruto de consanguinidade , porém
não se configura como socioafetiva, enquanto a filiação socioafetiva pode ser realizada tanto
judicialmente como extrajudicialmente, a adoção só pode ter seu vínculo declaro sob sentença
judicial. Ambos os casos requerem requisitos legais e podem ser realizada por pessoas e casais
de diferentes orientações sexuais e gêneros.
De qualquer forma, é importante destacar que, independente da forma de filiação, todos os
filhos têm o mesmo reconhecimento legal e são tratados com igualdade perante a lei. Isso
significa que todos têm os mesmos direitos e deveres em relação aos seus pais e demais
membros da família.
Nesse ínterim, o reconhecimento legal da relação entre as partes é primordial para
garantir o respeito aos direitos das crianças e para que elas possam crescer e se desenvolver
com integridade e compaixão
Em resumo, o reconhecimento da filiação é uma questão central do direito de família,
que busca proteger os interesses das crianças e garantir a formação de vínculos benevolentes.
Assim, é importante que as famílias entendam o valor desse tema e busquem o apoio e
orientação de profissionais especializados, como advogados e assistentes sociais, para garantir
o reconhecimento adequado da filiação e o cumprimento dos direitos dos filhos.
Logo, o reconhecimento e a regulamentação da filiação são significativos para definir
a responsabilidade e os deveres dos pais em relação aos filhos, bem como seus direitos e
benefícios em relação à família e à sociedade.

4.2 SOCIOAFETIVIDADE

A socioafetividade se refere ao aspecto emocional e afetivo das relações humanas,


tanto entre os indivíduos quanto no contexto social. É um conceito que se tornou cada vez mais
importante nos estudos sociais e psicológicos, pois reconhece a importância das relações
afetivas no desenvolvimento humano e no relacionamento entre as pessoas.
Esse tipo de filiação é reconhecido pelo direito como um vínculo de parentesco com
todos os direitos e deveres, inclusive os de ordem patrimonial. Ou seja, um pai/mãe socioafetivo
tem os mesmos deveres e direitos que um pai/mãe biológico, incluindo a obrigação de prestar
alimentos, a responsabilidade civil em relação ao filho, o direito à guarda, visitas, etc.
Vale salientar que o reconhecimento da filiação socioafetiva não exclui a possibilidade
de investigação da paternidade/maternidade biológica. Em caso de conflito entre os vínculos,
será realizada uma análise das provas apresentadas para determinar qual é a verdadeira filiação,
observando sempre o melhor interesse da criança.
Em resumo, a filiação socioafetiva é um vínculo de parentesco construído de laços, e
pode ser reconhecida pelo direito como uma forma legítima de filiação. É um reconhecimento
da realidade social, que valoriza cada ação realizada pelas partes dentro do âmbito familiar,
seja, a construção de vínculos afetivos ou proteção continua que os tutores possuem com a
criança.
De acordo com o artigo 227 da Constituição Federal de 1988, é dever da família, da
sociedade e do próprio Estado assegurar à qualquer criança e adolescente o direito à convivência
familiar e comunitária. Essa garantia visa a proteção integral e prioridade absoluta dos direitos
das crianças e adolescentes, proporcionando-lhes um ambiente saudável e acolhedor, livre de
toda forma de negligência, violência, crueldade e opressão.
O ECA também se estendeu sobre o assunto, aduzindo que os filhos tidos fora do
casamento também serão reconhecidos pelos pais, conjunta ou separadamente, no próprio termo
de nascimento, por meio de testamento, mediante escritura ou até mesmo com outro documento
público, qualquer que seja a origem da filiação.
Logo, o reconhecimento da filiação socioafetiva se dá por meio do Judiciário, que analisa
cada caso de forma individualizada. É necessário comprovar que houve o exercício da
paternidade ou da maternidade socioafetiva, o que pode ser demonstrado por meio de
documentos e testemunhos de pessoas que convivem com a família.
Além de ser uma forma de reconhecer o papel dos pais/mães sociais na vida dos filhos,
a filiação socioafetiva tem relevantes contribuições para a sociedade como um todo. Em
primeiro lugar, permite a ampliação das opções de formação das famílias, uma vez que, ao
valorizar as relações de afeto, possibilita que pessoas sem laços biológicos ou legais sejam
reconhecidas como pais/mães.
Outra vantagem é que a filiação socioafetiva ajuda a reduzir o estigma em torno da
adoção e a diminuir a discriminação em relação a famílias formadas por casais homoafetivos.
O reconhecimento legal da paternidade/maternidade socioafetiva ajuda a remover obstáculos
administrativos e burocráticos que essas famílias muitas vezes enfrentam para garantir os
direitos dos seus filhos, como questões de guarda, visitação e sucessão.
Por fim, conclui-se que a filiação socioafetiva pode trazer importantes contribuições
para o desenvolvimento emocional e psicológico das crianças, pois reconhece as relações de
afeto como percursor para o crescimento e formação de indivíduos, sendo neste ambiente que
irá desenvolver suas características e personalidades, ou seja, onde moldara sua forma de
pensar e lidar com o mundo afora.
10 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante da trajetória da família, podemos averiguar desde o começo dos tempos grandes
mudanças e transformações no campo social, devendo o sistema jurídico pátrio se ajustar a tais
modificações. Dessa maneira, a Constituição federal de 1988, fixou princípios explícitos e
implícitos e trouxe novas formas de organização, de união e de proteção sobre a família.
Assim, a família atual centraliza-se no afeto, que é derivado da convivência harmônica,
do carinho, e do comprometimento mutuo entre os sujeitos, podendo a família ser constituída
de forma consanguínea e afetiva. O modelo que antes era patriarcal baseado somente no vinculo
biológico e matrimonial definitivamente ficou de lado, dando lugar a uma nova percepção do
conceito família, sendo uma estrutura fundamental para o desenvolvimento do ser humano.
Nesse sentindo, buscou-se analisar a influência do afeto para o entendimento dos
novos modelos de família, em especial a filiação socioafetiva. Isso foi permitido por meio da
exposição sobre o Princípio da Afetividade elencando as mudanças ocorridas com a
promulgação da Carta Magna. Em consideração a isso, o afeto recebido pelo indivíduo ajuda
significativamente em sua educação e o no desenvolvimento psicológico e físico, ou seja, está
ligado na personalidade do indivíduo, daí sua grande importância.
Nessa esteira, a investigação que se fez sobre o tema, proporcionou o entendimento de
que o Princípio da Afetividade, está diretamente vinculado ao Princípio da Dignidade Humana,
tendo em vista que a afetividade se encontra de forma implícita na Constituição Federal de
1988, seguindo de mera interpretação do Princípio da Dignidade da Pessoa Humana.
A afetividade surge deste modo como valor e princípio a autorizar o reconhecimento
jurídico da filiação socioafetiva. Implicando na caracterização de uma entidade guiada pelo
afeto, carinho, o cuidado e a felicidade de seus membros.
No que tange à filiação socioafetiva, está consistente na posse de estado de filho,
também não possuindo previsão expressa, mas encontra-se amparada nas nova estruturas da
família que considera como elemento principal a afetividade.
Logo , entende-se que, de fato o que identifica a instituição familiar é o afeto, por meio
da busca da felicidade e da realização pessoal dos membros que a integram. O essencial mesmo
é que nessas novas instituições de família predomine o amor, a solidariedade, o
comprometimento mútuo e, acima de tudo, a busca pela satisfação de cada membro que a
compõe. Assim, o instituto de filiação socioafetiva, trouxe benefícios, sendo uns dos muitos
progressos para o direito de família e para humanidade, não podendo a legislação deixar de lado
os avanços da sociedade .
Além disso, a ideia de ser mãe ou pai é uma escolha pessoal que regula responsabilidades
e direitos, garantindo o bem-estar e o desenvolvimento dos filhos. Isso não é algo que deve ser
forçado a alguém por hereditariedade. Ao invés disso, deve ser implementado no contexto da
vida familiar através de uma relação afetiva e continua. As relações pessoais são repletas de
peculiaridades difíceis de entender. Tanto as emoções positivas quanto as negativas fazem com
que as pessoas se unam ou se separem.
Assim, cabe destacar que a promoção da filiação socioafetiva deve ser uma
preocupação constante das políticas públicas e da sociedade civil. É preciso incentivar a cultura
do acolhimento, do zelo e do amor, que devem ser valores fundamentais para o
desenvolvimento saudável e feliz de crianças e jovens.
Por isso, conclui-se que o princípio da afetividade tem sido um grande influenciador nas
novas formas de família que surgem na sociedade contemporânea. As mudanças na estrutura
familiar estão diretamente ligadas ao maior valor dado às relações, baseadas no afeto na
solidariedade e na intimidade. Essas mudanças têm sido impulsionadas por fatores sociais,
culturais e econômicos, mas é incontestável o papel da afetividade na construção dessas novas
configurações familiares, que possuem maior diversidade e flexibilidade do que as formas
tradicionais. Desse modo, se faz necessário que as políticas públicas e a sociedade em geral
continuem reconhecendo a importância da diversidade e da proteção das diversas
configurações familiares, garantindo que todos os tipos de família recebam a devida proteção e
amparo legal.
11 REFERÊNCIAS

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