Dissertação de Mestrado - Culturas Colaborativas e Lideranças Pedagógicas
Dissertação de Mestrado - Culturas Colaborativas e Lideranças Pedagógicas
Dissertação de Mestrado - Culturas Colaborativas e Lideranças Pedagógicas
I
AGRADECIMENTOS
Ao meu marido
por ser sempre o meu porto de abrigo, mesmo nas horas de tempestade.
À minha mãe
por me ter ensinado a ser a pessoa que, hoje, sou.
II
RESUMO
O estudo de uma realidade tão complexa como a escola deve assentar numa visão
holística e articuladora das suas diferentes racionalidades e da sua multiplicidade de
atores. Num momento de viragem de paradigma ao nível da administração central, em
que o discurso da autonomia tem vindo, ao longo dos últimos anos, a deixar algumas
marcas na gestão escolar, é importante percecionar cada mudança de uma forma
coerente e integradora. Assim, se pretendemos perceber melhor a maneira como os
modos de trabalho dos professores têm vindo, paulatinamente, a mudar, é conveniente
que compreendamos o percurso de mudança da administração e gestão escolar, a(s)
cultura(s) de escola que marcam o espaço em que os professores exercem a sua
atividade e a influência das lideranças, nomeadamente as intermédias, na forma como
desenvolvem o seu trabalho não só em sala de aula, mas sobretudo com os colegas. Para
percebermos a forma como a colaboração e as lideranças podem estar ao serviço de um
professor colaborativo e reflexivo, procurámos adotar um modelo de investigação
humanista-interpretativo, ou seja, uma investigação naturalista, conjugando uma
abordagem quantitativa e qualitativa. Para caracterizarmos a(s) cultura(s) da escola,
com base na análise da frequência, da abrangência e da amplitude das diferentes
interações realizadas entre os docentes, usámos processos de análise de dados
baseados na linguagem estatística. Por outro lado, para aprofundarmos alguns
contextos singulares e as perspetivas de atores individuais, optámos por uma
abordagem qualitativa. Feita a análise de todos os dados, concluímos que, embora se
note da parte de todos os atores escolares uma vontade para instituir a inovação e a
mudança, revelada através da implementação de diferentes dinâmicas colaborativas,
esta mudança tem sido muito lenta e ténue. Parece-nos que a sua implementação está
a ser coartada por estrangulamentos estruturais, pela falta de saber fazer e pela
fragmentação, balcanização e individualismo que estão inscritos na história da
organização escolar e do corpo docente, apresentando raízes na arquitetura das escolas
e na sua organização secular em salas de aulas, turmas autónomas com horários e
professores fixos.
III
ABSTRACT
The study of a reality as complex as the school should be based on a holistic and
articulating vision of its different rationalities and multiplicity of actors. At a moment of
paradigm shift at the level of central administration, in which the discourse of autonomy
has, over the past few years, left some marks on school management, it is important to
perceive each change in a coherent and integrating way. Thus, if we want to better
understand the manner in which the teachers' working ways have gradually been
changing, it is convenient that we understand the course of change in school
administration and management, the school culture(s) that mark the space in which
teachers exercise their activity and the influence of leaders, namely intermediate ones,
in how they develop their work, not only in the classroom, but especially with
colleagues. In order to understand how collaboration and leadership can be at the
service of a collaborative and reflective teacher, we tried to adopt a humanistic-
interpretive research model, that is, a naturalistic research, combining a quantitative
and qualitative approach. To characterize the school culture(s), based on the analysis of
the frequency, comprehensiveness and range of the different interactions between
teachers, we used data analysis processes based on statistical language. On the other
hand, to deepen some unique contexts and the perspectives of individual actors, we
opted for a qualitative approach. After analysing all the data, we concluded that,
although there is a willingness on the part of all school actors to establish innovation
and change, revealed through the implementation of different collaborative dynamics,
this change has been very slow and tenuous. In fact, it seems to us that it is being
restricted by structural bottlenecks, the lack of know-how and the fragmentation,
balkanization and individualism that are inscribed in the history of the school
organization and the teaching staff, having roots in the architecture of schools and its
secular organization in classrooms, autonomous classes with fixed schedules and
teachers.
IV
Índice Geral
PARTE I – ENQUADRAMENTO TEÓRICO E CONCETUAL …………………………………………….. 1
Capítulo 1 – Evolução histórica da gestão escolar: breve nota de enquadramento …… 1
V
Parte III – APRESENTAÇÃO, ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS………………………. 96
CONCLUSÕES 156
1- Síntese das principais conclusões…………………………………………………………………….. 156
2 - Limitações do estudo e sugestões para estudos futuros………………………………….. 168
VI
Índice de gráficos
Índice de quadros
Quadro 1 – Matriz do inquérito por questionário aos professores …………………… 81
Quadro 2 – Matriz das entrevistas semiestruturadas……………………………………….. 85
Quadro 3 – Matriz do Grupo de discussão focalizada à direção ……………………….. 88
Quadro 4 – Matriz do grupo de discussão focalizada a elementos de diferentes
equipas educativas por ano de 89
escolaridade……………………………………..……………...
Quadro 5 – Caracterização profissional dos sujeitos participantes nas
entrevistas e nos grupos de discussão focalizada……………………………………………… 93
Quadro 6 – Agrupamento de todas as interações contempladas no inquérito
por questionário por áreas de interação…………………………………………………………… 100
VII
Índice de tabelas
VIII
PARTE I – ENQUADRAMENTO TEÓRICO E CONCETUAL
Desta feita, para dar início a esta viagem, pareceu-nos pertinente iniciarmos por
um breve enquadramento da evolução histórica da gestão escolar em Portugal. A
educação sempre foi uma inquietação de todos os tempos, desde os primórdios das
civilizações greco-latinas, em que se verificava uma grande preocupação com a
formação dos jovens e a sua preparação para uma efetiva integração na sociedade. No
entanto, no século XIX, não só com a revolução industrial e a exigência de uma mão de
obra mais qualificada, mas também com as revoluções políticas, que acentuaram o
direito de cidadania, generalizou-se a ideia de que a educação é fundamental para a
evolução de uma sociedade mais desenvolvida e justa que proporcione as mesmas
oportunidades a todos. A educação passou, assim, a ser entendida como um bem
universal.
1
alargando a escolaridade básica obrigatória. Em 1964, deu-se o seu alargamento ao ciclo
preparatório; em 1986, surgiu a escolaridade básica dos nove anos e, só no início do
século XXI, em 2009, a escolaridade obrigatória é alargada ao 12º ano, atingindo todos
os níveis etários até aos 18 anos (Machado & Alves, 2014). Apesar de o direito à
educação se ter generalizado, ao longo de todos estes anos, o acesso de todos à escola
e a frequência obrigatória do ensino nem sempre significaram uma universalização da
educação que pressupõe uma educação de qualidade para todos. De facto, para
Azevedo (2014), o conceito de universalidade da educação deve estar subjacente ao de
obrigatoriedade, porém, no sistema de ensino português, a par do acesso de todas as
crianças e jovens à escola, nem sempre foi garantido o sucesso de todos,
independentemente do seu meio socioeconómico, uma vez que a democratização do
ensino teve por base a uniformidade do currículo e o princípio da homogeneidade dos
alunos, sem atender à individualidade de cada um, o que poderia contribuir para
incrementar uma política de maior equidade.
2
as aprendizagens de cada um (Formosinho & Machado, 2013). Começamos, então, a
perceber, como defende Valentim (1997), que o papel de “grande igualizador” da escola,
se vai alterando e que o conceito de igualdade, em educação, vai sofrendo redefinições,
ao longo dos tempos, que ocorrem em estreita articulação com as modificações que vão
surgindo no funcionamento do sistema educativo. Assim, a democratização visou uma
igualdade de acesso que não correspondeu a uma igualdade de resultados, uma vez que
as diferenças sociais de partida foram replicadas pela escola: com o passar do tempo,
foi-se verificando uma correlação entre classes sociais mais favorecidas e sucesso
escolar. Desta feita, a igualdade face à escola é cada vez menos pensada como uma
igualdade na competição pelo acesso a diferentes posições sociais, mas antes como uma
igualdade de oportunidades no desenvolvimento de potencialidades, necessariamente
diferentes de indivíduo para indivíduo. Sendo assim, para garantir igualdade de
oportunidades no pleno desenvolvimento do indivíduo, a escola deve promover
medidas de discriminação positiva, como estratégias de apoio para os que apresentam
mais dificuldades de aprendizagem, assim como a integração das crianças deficientes,
tendo em conta as suas necessidades educativas especiais. Passa-se, desta feita, no
contexto escolar, da deslocação do tema da igualdade para o da diferença (Valentim,
1997).
3
da autonomia das escolas públicas do 2º e 3º ciclos do ensino básico e secundário, dando
maior capacidade de decisão às escolas a nível pedagógico, administrativo e financeiro,
embora esta vontade tenha sido mais retórica do que real. No nº 1 do artigo 2º deste
Decreto-Lei “(…) a capacidade de elaboração e realização de um projeto educativo em
benefício dos alunos e com a participação de todos os intervenientes no processo
educativo”, percebemos que a autonomia se traduz na capacidade que a escola passa a
ter para elaborar o seu próprio projeto educativo, assim como o regulamento interno e
ainda o plano anual de atividades já previsto na Lei de Bases do Sistema Educativo (Lei
nº 46/ 86, de 14 de outubro). A redação de todos estes documentos pressupõe que a
escola tenha competências e poderes de decisão em várias áreas e os possa adaptar ao
contexto onde vão ser implementados.
4
estratégico, pedagógico, administrativo, financeiro e organizacional, no quadro do seu
projeto educativo e em função das competências e dos meios que lhe estão
consignados.”. Este decreto prevê ainda a constituição de agrupamentos de escolas com
o objetivo declarado de facilitar a articulação entre ciclos e uma melhor integração dos
alunos. Surgem as assembleias de escola com a participação de toda a comunidade
escolar e a constituição do conselho pedagógico passa a ser definida no regulamento
interno, contando com a participação de docentes, de um representante das
associações de pais e um representante dos projetos de desenvolvimento educativo.
Este Decreto-Lei prevê ainda a celebração de contratos de autonomia enquanto acordos
celebrados entre o Ministério da Educação e os agrupamentos de escolas com objetivos
gerais e operacionais estabelecidos. Mais uma vez, verifica-se, no enunciado discursivo,
o reforço da participação e responsabilização de toda a comunidade educativa
relativamente à escola, porém, mais uma vez, a alteração do discurso legislativo não
correspondeu à alteração das práticas dos agentes educativos, nem do modelo jurídico,
nem das práticas administrativas (Carvalho et al. 1999).
5
Mais tarde, a Portaria nº 265/2012, de 30 de agosto, abre a oportunidade às
escolas de solicitarem ao Ministério da Educação a celebração de um contrato de
autonomia com o objetivo de implementar um plano de desenvolvimento articulado
com um projeto educativo contextualizado. Desta feita, os contratos de autonomia
nascem de um movimento de descentralização administrativa, mas também da
valorização do local e dos atores. Mais uma vez, se verificou que algumas das expetativas
das escolas foram goradas, dado que alguns desses contratos, que, tendo em conta a
sua realidade, eram os mais adequados para responder às suas necessidades e
contribuir para a melhoria da escola, foram formatados por requisitos da Administração
Central e coartados por um quadro normativo limitador das práticas autónomas das
escolas (Carvalho, 2014). Por outras palavras, a concretização dos contratos de
autonomia revelou uma tensão entre a retórica e a prática, entre a autonomia local e a
legislação nacional que não permitiu que as escolas pudessem tomar decisões sobre o
que executar. Por outro lado, para Carvalho (2014), a visão que a Administração e as
escolas tinham da autonomia também não coincidia, surgindo a tensão entre autonomia
decretada VS autonomia construída; prescritivismo VS construtivismo; normatividade
VS experimentação.
6
Por outras palavras, para poderem usar os contratos de autonomia para mudar as
práticas educativas, as escolas deveriam constituir-se como locais de aprendizagem
organizacional, ou seja, locais onde os seus atores se questionassem continuamente
sobre os sentidos, os modos de fazer, as relações e as consequências do que fazem, o
que ainda não se constituiu como uma realidade na generalidade das organizações
escolares portuguesas.
7
mudança, uma autoavaliação como base no processo de mudança, a importância do
trabalho colaborativo, a mobilização da energia interna da organização. Para o autor,
Por outras palavras, é preciso que a escola esteja organizada de forma a que os
professores aprendam a ensinar melhor.
8
pedagogia; eficácia VS equidade. Apesar de considerar que a autonomia tem sido uma
ficção, Barroso (2004) defende que se trata de uma ficção necessária na medida em que
é impossível acreditar no funcionamento democrático da organização escolar e na sua
capacidade de se adaptar ao seu contexto real, sem se dar às escolas a capacidade de
definirem regras e normas e tomarem decisões.
9
evitar a reprodução das desigualdades de partida, é imperioso que a estratégia da escola
passe pela diversificação escolar e pela flexibilização curricular, para se conseguir uma
melhor educação adaptada à individualidade de cada aluno. Ainda que, para o autor, a
concretização da obrigatoriedade da frequência da escola nem sempre tenha significado
o cumprimento da universalidade da educação, a escola tem o dever de ser universal
não só no acesso, como também no sucesso para não se perpetuarem essas
desigualdades.
10
um rigoroso controlo e disciplina, a escola também passa a ser submetida e esta ação
de decisão burocrática (Formosinho & Machado, 2009).
Desta feita, numa perspetiva burocrática, a escola tem sido vista como um
elemento de uma cadeia hierárquica que resulta de um modelo organizacional
decretado. Efetivamente, as escolas foram marcadas, durante décadas, pela
centralização do poder de decisão: coube ao Ministério da Educação definir os
currículos, os programas, o regime de avaliação; toda a atuação da escola foi regulada
por uma forte organização hierárquica; o trabalho da escola surgiu fragmentado em
disciplinas, turmas, espaços, tempos; as relações pedagógicas foram muito impessoais
devido aos concursos e à mobilidade do corpo docente; o professor continuou a
apresentar uma atuação predominantemente solitária, marcada pelo seu isolamento na
sala de aula, e todo o sistema educativo dependeu dos normativos e das orientações
decretados pela tutela (Alves, 1999a).
Nesta escola, cuja organização está assente nos conceitos de turma, tempo,
professor, sala de aula, verifica-se o predomínio de um trabalho solitário do professor,
11
sem partilha com os pares, sem controlo próximo de ninguém, sem uma orientação
sustentada, portanto, propiciadora da pedagogia transmissiva (Formosinho & Machado,
2009). Ora, esta pedagogia transmissiva pretende ensinar a todos como se fossem só um
e caracteriza uma escola cujo objetivo é o entendimento e o intelectualismo, onde não
há lugar para o sentimento, a intuição e a imaginação. Para além disso, esta maneira de
ensinar não se coaduna com a escola de massas, pois com a massificação da
escolarização, a partir dos anos oitenta do século passado, a escola sofreu grandes
alterações, uma vez que passou a acolher um público mais heterogéneo e multicultural.
Logo, a escola vive, atualmente, esta tensão constante entre a heterogeneidade dos
alunos e a tendência homogeneizante da gramática escolar (Formosinho & Machado,
2016 b).
Por outro lado, outra das consequências deste modelo burocrático de gestão
escolar, durante anos, foi uma lenta inovação no sistema educativo, pois, embora os
normativos publicados pela Administração Central, ao longo dos tempos, fizessem crer
que as escolas e os professores passariam a ter mais autonomia no exercício das suas
funções, como acima apresentamos, na perspetiva histórica da reforma da
administração escolar, não se registaram grandes alterações. É ainda pertinente realçar
que, perante os normativos legais, as escolas foram revelando uma certa hipocrisia
política, fazendo de conta que faziam, foram mantendo o statu quo num registo de
acomodação ou defesa. Algumas delas, por seu turno, através de uma certa autonomia
crítica, foram-se apropriando dos novos instrumentos para a construção de um
conhecimento interno, securizando, desta feita, as suas posições (Simões, 2010). Para
esta autora, a maioria dos professores têm revelado, de facto, um poder real, porque
vão mantendo o domínio discreto de todas as interações, nomeadamente ao nível
pedagógico.
12
dominante, surge sempre, na escola, uma cultura fragmentada, já que os atores
organizacionais procedem à construção e reconstrução de múltiplas subculturas.
Os modelos de ambiguidade são todos aqueles que, para Bush (1986), dão
primazia à incerteza, à imprevisibilidade, à instabilidade na complexa existência das
organizações. Neste modelo, a escola é vista, metaforicamente, como uma anarquia
organizada (Cohen & March, 1989) ou um sistema debilmente articulado (Weick, 1976).
13
As racionalidades políticas, segundo Bush (1986), definem a tomada de decisão
como um processo de negociação. Nas organizações educativas, os seus diferentes
membros envolvem-se numa atividade política na prossecução dos seus interesses.
Nestes modelos, o conflito está sempre subjacente e a gestão é uma regulação deste
jogo político, sendo a escola comparada a uma arena política (Bolman & Deal, 1984).
Rocha (2007) defende que cada visão da escola, acima apresentada, enfatiza e
esquece algumas variáveis, sendo, pois, aconselhável superar as visões parcelares da
realidade por uma perspetiva mais holística que integre várias racionalidades, ou seja,
através de várias lentes.
14
Em suma, voltando à racionalidade burocrática, estatal e administrativa,
percebemos que, com as suas exigências de cumprimento de regras e da manutenção
da hierarquia administrativa, esta racionalidade é ainda uma realidade que vai
persistindo nas nossas escolas. Com efeito, a autonomia das escolas é relativa porque o
seu poder de decidir e de agir está não só condicionado pelas normas legais e sociais
que enformam a sua atuação, mas também pelos saberes e liberdades dos outros (Alves,
1999b).
15
professores foram sendo controlados, tornando-se executadores de currículos
prescritos e, apesar de serem profissionais altamente qualificados e com elevadas
capacidades críticas, tiveram pouco espaço para poderem intervir criticamente em todo
o processo educativo.
16
autonomia centrada na gestão, enquanto que o segundo está centrado na pedagogia
(programas, estratégias de ensino, horários), visando, fundamentalmente, a melhoria
da escola pública, ao contrário da hard autonomia cujo objetivo é a promoção da
privatização da educação. O mesmo autor, para sustentar esta tese, refere o exemplo
finlandês, um caso de sucesso pelos bons resultados que tem alcançado nos rankings do
PISA e que se baseia, essencialmente, numa autonomia pedagógica, na importância
atribuída ao diretor e à liderança partilhada no domínio educativo e na qualificação do
trabalho dos professores (Barroso, 2014).
A autonomia implica, de facto, que o Estado altere o seu papel nos processos de
decisão política e de administração da educação e reconheça a escola como um lugar de
gestão. Assim, torna-se conveniente que o tipo de controlo da tutela mude, deixando
de ter por base regras e diretivas impostas pelo poder central, passando, antes, a
concretizar-se através da verificação da conformidade da atuação da escola com os seus
objetivos e finalidades. Neste contexto de crise de regulação burocrática e do
aparecimento de novas formas de governação (governança), Barroso (2014) defende a
substituição do “controlo hierárquico pelo autocontrolo, a obrigação dos meios pela
obrigação dos resultados, a regulamentação pela avaliação” (Barroso, 2014, p.100).
Neste quadro de autonomia, surgem ainda estruturas intermédias a nível regional e
local, que, se, por um lado, são veículos institucionais do discurso legal, por outro,
procuram apoiar as escolas através de ajuda técnica, funcionando, no fundo, como
pontes entre a gestão escolar e a Administração Educativa de topo. Neste processo de
autonomização das escolas, é de notar também a descentralização administrativa,
concretizada através da transferência de competências de gestão educativa para os
municípios (Lourenço-Gil et al., 2020).
17
Por outro lado, é fundamental referir que a autonomia não pode ser vista apenas
como um fim político, não basta que seja decretada, nem que se defendam as suas
vantagens. Para ser eficaz, ela tem de ser desejada pelos agentes das instituições
escolares, nomeadamente os professores, que devem reconhecer as vantagens de
poderem ser autores de normas próprias e específicas do contexto onde desenvolvem
a sua ação profissional (Carvalho et al., 1999). De facto, se as aprendizagens decorrem
nas salas de aula, é conveniente que o foco das decisões curriculares passe do centro
político administrativo para o centro da realização educativa que é a escola. Neste
sentido, as dimensões da autonomia e flexibilidade são fulcrais para promover o sucesso
educativo, pois a escola poderá passar a dar respostas mais ajustadas ao seu contexto,
às reais necessidades dos seus alunos, se gozar de autonomia para flexibilizar o currículo
nacional. No entanto, esta vai depender de outras inovações, como: a flexibilização dos
agrupamentos de alunos, dos tempos, dos espaços, a reorganização do modo de
trabalho dos professores em equipas pedagógicas e em trabalho colaborativo, ou seja,
esta mudança vai implicar uma metamorfose mais profunda nos modos de pensar,
planear, agir e interagir na escola (Alves, 2017).
18
professores, redefinindo-se as relações laborais, as estruturas organizativas e os modos
de pensar e ensinar (Bolivar, 2014).
Neste sentido, a escola pode ser vista como uma organização que não se limita
à reprodução das políticas centrais, mas também produz as suas próprias regras e
orientações, ou seja, as organizações escolares não aplicam cegamente todas as regras
emanadas da tutela, mas aplicam-nas seletivamente e inventam outras que se
coadunam com o seu contexto. Sendo assim, a escola funciona ora como uma
19
organização burocrática, ora como uma organização anárquica, conforme o que melhor
serve os seus interesses num determinado momento (Alves, 2003).
Desta feita, estes modelos organizacionais são modelos abertos à ação, que
criam o modelo analítico de cada organização que só é possível desvendar a partir de
20
um olhar analítico e qualitativo de cada organização escolar concreta (Ferreira, 2004).
Corroborando esta necessidade de articulação de várias perspetivas, também Rocha
(2007), como já tivemos oportunidade de citar, defende que as organizações educativas
são caracterizadas por racionalidades e poderes plurais, logo elas não podem ser
estudadas à luz de uma monorracionalidade organizativa, como ficou claro no
subcapítulo anterior, ou seja, têm de ser vistas através de várias lentes.
21
perspetiva diacrónica e como, de resto, já ficou explanado no início do presente capítulo,
nos últimas vinte anos, a forma como foram exercidos a orientação e o controlo das
ações das escolas e dos professores, no interior do sistema educativo, foi sofrendo
alterações. Com o desenvolvimento da escola de massas, passaram a coexistir várias
lógicas de ação distintas ora emergindo umas ou outras em função dos contextos, das
lideranças, dos professores, articulando-se, assim, uma “regulação de controlo, estatal,
de tipo burocrático-administrativa” com uma “regulação autónoma, corporativa, de tipo
profissional e pedagógica”, numa regulação conjunta que visava uma concertação entre
o “Estado educador” e os professores (Barroso, 2006, p.28).
De facto, com o decorrer dos anos e com o reforço de uma autonomia relativa
das escolas e da responsabilidade dos seus atores e entidades locais na gestão e
coordenação de certas ações educativas, era suposto que o seu controlo começasse a
passar por outros meios e instrumentos, nomeadamente por dispositivos de avaliação
que permitissem apresentar resultados e pelo reforço de mecanismos de participação e
prestação de contas. Neste sentido, algumas escolas, em função da sua(s) cultura(s) de
escola, da sua capacidade de reorganização, da sua liderança e da disponibilidade do
seu corpo docente para a mudança, estão, embora de formas e amplitudes diversas, a
procurar desenvolver e a implementar práticas de monitorização e de autorregulação
através: da aplicação de práticas e instrumentos diversificados em função das
aprendizagens; da aplicação da avaliação formativa como reguladora dos processos de
ensino e aprendizagem; da melhoria das informações transmitidas aos encarregados de
educação; da aferição de critérios e instrumentos de avaliação e da análise da sua
fiabilidade; da monitorização regular da eficácia das medidas de apoio e de outras
medidas adotadas nos planos de melhoria e da consequente redistribuição dos recursos
educativos (Verdasca, 2015).
Por outro lado, segundo este mesmo autor, a avaliação externa das escolas
implementada a partir de 2006 pela Inspeção Geral da Educação e Ciência (IGEC) tem
impulsionado as práticas de monitorização, autoavaliação e implementação de
melhorias escolares para que haja uma maior articulação entre os resultados da
autoavaliação e as medidas apresentadas nos planos de ação de melhoria. No fundo,
pretende-se que os resultados da autoavaliação e da avaliação externa sejam usados
22
como instrumentos da governação escolar. Para que isto aconteça, é conveniente que
o processo de recolha, tratamento e análise de dados forneça não só informação fiável,
mas consiga proporcionar uma reflexão de apoio às tomadas de decisão sobre as
estratégias de melhoria das aprendizagens a implementar e respetiva organização e
gestão dos recursos disponíveis (Verdasca, 2015).
23
estão sujeitas à tutela do Ministério da Educação, dando como exemplos os Projetos
Fénix ou Turma Mais. A existência desta microrregulação vem agravar a tensão entre os
princípios de democracia, justiça e equidade e a urgência de garantir a diversidade de
processos e meios ajustados às necessidades de cada organização escolar e de cada
aluno que as constitui (Barroso, 2006).
24
possível uma articulação entre a individualidade e diversidade dos cidadãos e a
concretização dos objetivos comuns da sociedade.
Em suma, neste capítulo, procurámos fazer uma incursão histórica pela evolução
da gestão escolar, no nosso país, para podermos percecionar as alterações que têm
vindo a acontecer nos últimos anos. Percebemos que o conceito de administração
escolar tem evoluído, ao longo do tempo, no sentido de garantir uma maior autonomia
às escolas para que lhes seja possível adaptar o discurso legal, as normas gerais e o
currículo nacional prescrito ao seu contexto e aos seus indivíduos.
25
o que nem sempre é fácil, num contexto em que a(s) cultura(s) escolar(es) instituídas
constituem, a maior parte das vezes, um dos maiores travões à inovação educativa.
Com efeito, Zhu et al. (2011) defendem, citando os estudos de Goldring (2002),
que as características das culturas escolares podem afetar a forma como a escola se
pode organizar para procurar mudanças positivas, uma vez que estas se constituem
como uma realidade holística que influencia a atitude e o comportamento dos
professores.
Por outro lado, para Stoll (1998), a cultura de uma escola é moldada pela sua
história, pelo seu contexto e pelos atores que nela interagem, sendo assim, cada escola
tem uma cultura própria, ou seja, cada escola perceciona ou tem uma visão diferente
da sua realidade e do seu ambiente externo. Logo, a inovação e a implementação de
reformas educativas têm de assentar na construção de uma cultura escolar que resulte
de uma reculturação, segundo Stoll (1998), no interior de cada instituição. De facto, é
preciso encontrar novas maneiras de pensar a escola, novas conceções sobre os
processos de ensino e de aprendizagem e novas formas de profissionalismo para os
professores.
A melhoria das escolas para além de ter de vir de dentro da própria escola, não
se pode limitar, de acordo com a mesma autora, a mudanças do currículo, estratégias
de ensino e aprendizagem, avaliação, estruturas, papéis e responsabilidades. É
imperioso que essa transformação seja mais estrutural, requerendo uma mudança não
só de perspetivas, valores, paradigmas, mas também novas formas de trabalho,
sustentadas nas relações interpessoais de colaboração entre os diferentes atores
escolares.
Por seu turno, no estudo de López et al. (2018), ficou provado que a cultura de
aprendizagem exerce um efeito positivo na capacidade de inovação de uma organização
educativa, o que fica explicado tanto pela cultura como pela estrutura de aprendizagem.
Numa cultura de aprendizagem, defendem os autores, verifica-se não só a
aprendizagem individual, mas também organizacional, que só é possível através de
estruturas que facilitem a transferência de conhecimentos e da informação a toda a
organização. Para tal, é conveniente que a organização escolar se constitua como uma
26
organização flexível, sem barreiras de comunicação. Destas aprendizagens assimiladas
e partilhadas por todos, poderá nascer uma cultura de inovação, entendida como um
conjunto de princípios, valores e práticas que pretendem realizar a transformação e a
mudança nas organizações inovadoras, veiculando-as a novas maneiras de pensar e a
novas experiências (López et al., 2018).
27
pessoais e coletivas o que faz parte da cultura. Constata-se, assim, que a cultura para
além de ser constituída por produtos culturais criados pelo homem, também o molda,
criando um conjunto de características abstratas que representam a sua identidade.
Nesta mesma linha de pensamento, Zhu et al. (2011), citando Geertz (1993),
consideram a cultura como um sistema simbólico, aprendido e partilhado, de valores,
de crenças e de atitudes que influenciam a interpretação da realidade e o
comportamento dos sujeitos de um dado grupo. Estes padrões de significados são
expressos, explicitamente, sob a forma de símbolos e, implicitamente, manifestam-se
através das crenças de cada um. Neste sentido, é importante verificar que a cultura
influencia os comportamentos e interesses sociais das pessoas, assim como a maneira
como interagem.
28
profissional dos vários atores escolares, desenvolvido em vários contextos de
socialização não escolar.
Figura 1 – Processo de construção da cultura de acordo com as diversas faces (Torres, 2015)
29
Para a mesma autora, em escolas em que exista um grande sentido de pertença
e uma forte partilha estratégica da missão da instituição escolar, verifica-se uma maior
probabilidade da organização escolar ajustar as orientações políticas à sua cultura
organizacional de escola. Neste sentido, constata-se uma grande fidelidade aos
costumes, tradições da instituição que podem até entrar em colisão com as políticas
centrais ou municipais. Desta feita, a identidade da organização pode orientar as
práticas educativas dos atores em contexto, constituindo-se, assim, essa mesma
identidade como um sistema regulador das forças exteriores e como uma forma de
emancipação em relação ao poder central (Torres, 2015)
Por outro lado, numa sociedade líquida, como defende Bauman (2005), em que
toda a realidade é flexível e fluída, a cultura de uma escola também sofre mutações,
pois, nas organizações escolares, geram-se constantes ajustamentos culturais devido à
renovação anual dos seus atores (professores, alunos e pais), o que exige que elas
convivam regularmente com novos desafios (Torres, 2015).
Nóvoa (1992) defende uma conceção de cultura escolar que escapa um pouco a
esta tendência idealista, uma vez que, para além de abarcar os valores, as crenças e as
ideologias, engloba manifestações verbais e concetuais, como a metáfora e a linguagem,
manifestações visuais e simbólicas, como o logótipo e ainda as manifestações
comportamentais, como os rituais e as cerimónias. Porém, Nóvoa (1992) não considera
uma das componentes fundamentais a ter também em conta na conceção de cultura,
segundo Jorge Ávila Lima (2002), que é a dimensão inter-relacional, ou seja, as relações
informais que se estabelecem, de forma espontânea, entre os atores da organização
30
escolar. Desta feita, como defendem Trice e Beyer (1993), referidos por Jorge Ávila Lima
(2002), há duas dimensões essenciais a ter em conta na definição de cultura escolar: a
substância e a forma, entendendo-se por substância, as crenças ou ideologias e, por
forma, as atitudes ou ações através das quais os atores manifestam, exprimem,
comunicam as suas crenças. Neste sentido, a abordagem da cultura profissional dos
professores não se pode, nem se deve limitar ao estudo de um conjunto de valores,
crenças e representações, pois seria muito redutor, mas deve também abarcar os modos
de agir e os padrões de interação regulares e consistentes que os professores
interiorizaram e reproduzem na sua prática profissional.
Fullan e Hargreaves (2001) defendem ainda quatro tipos de interação social que
definem os modos de agir dos professores no seu contexto de trabalho: o
individualismo, a colaboração, a colegialidade e a balcanização.
31
Para estes autores, podem ser referenciados vários fatores que perpetuam esta
cultura escolar, como: a separação dos edifícios escolares, as salas de aula separadas, os
horários compartimentados, as normas e condições tradicionais de ensino em que o
pedido de ajuda é associado à avaliação e a colaboração ao controlo, surgindo o
individualismo, neste contexto, como uma proteção. Raposo e Alves (2013) juntam às
causas do individualismo, acima elencadas, as seguintes: a avaliação de professores que
é individual e promove, então, a competição para a progressão na carreira, a reduzida
autonomia das escolas, a forte carga burocrática na sua administração e organização e
a intensificação do trabalho docente que não deixa espaço de manobra ao professor
para a colaboração.
32
enriquecimento recíproco e o desenvolvimento das potencialidades dos diferentes
sujeitos e da instituição. Neste contexto, para ter sucesso, o sujeito não deve limitar-se
a demonstrar capacidades individuais, como: a jovialidade, a capacidade de
comunicação, a abertura e curiosidade, mas deve ainda pôr à “venda a própria pessoa,
no seu todo, como valor único e insubstituível para aumentar a qualidade da equipa”,
palavras de Bauman, na entrevista a Porcheddu (Porcheddu,2009, p. 667). Num
contexto destes, segundo o mesmo autor, os chefes não sentirão necessidade de
reprimir os seus subordinados, nem de coartar a sua atuação através de uma rígida
estrutura de rotinas, uma vez que o papel dos trabalhadores passa a ser o de se
autocontrolarem e garantirem serviços convincentes.
Por seu turno, numa cultura de colaboração, para Fullan e Hargreaves (2001), os
professores procuram ideias junto dos colegas, em workshops e nas conferências
profissionais; perante os problemas, não hesitam em procurar apoio e ajuda por parte
dos colegas e do diretor. Neste contexto, os professores mostram-se mais confiantes e
mais motivados para o desenvolvimento profissional.
33
ela exista no seu ambiente de trabalho. Nas relações de trabalho para o
desenvolvimento, os professores definem as finalidades e as tarefas das suas ações em
conjunto. Por seu turno, as relações difundidas no tempo e no espaço resultam de
convocatória, resumindo-se a reuniões e sessões de planificação, breves, mas
frequentes, em que se trocam sugestões a propósito de novas ideias, se fazem permutas
de turmas em momentos difíceis, se fazem encontros com os pais. Em suma, são
relações que se restringem às vivências do dia a dia das escolas. Quanto às relações
imprevisíveis, é importante acrescentar que os professores, embora controlados por
uma cultura escolar e por uma cultura organizacional de escola, também exercem
controlo sobre o trabalho que desenvolvem, o que o torna imprevisível, uma vez que
recontextualizam a ordem prescrita e estabelecida não só em função do contexto em
que trabalham, mas também da sua própria cultura socioprofissional, na terminologia
de Torres (2015) acima explanada.
34
significativos. Assim, a colegialidade vai variando entre o grau de independência ou
interdependência mútua entre professores, ou seja, as relações colegiais apresentam
condições bastante diferentes de desempenho e comprometimento dos professores
((Little, 1990).
35
ou quando os docentes são obrigados a reunir à mesma hora, num tempo calendarizado,
regularmente, mesmo não existindo matéria para discutir.
Também Gil e Mataveli (2016) definiram sete dimensões a partir das quais se
desenvolve uma cultura de aprendizagem: a oportunidade para a aprendizagem, o
diálogo, os sistemas de pensamento, a aprendizagem colaborativa, os sistemas de
gestão do conhecimento, o empoderamento e a liderança.
36
instituição dá oportunidades de aprendizagem e desenvolvimento aos seus
colaboradores e aos grupos. Uma organização que aprende apresenta capacidade de
adaptação ao contexto, evolui com os erros, explora situações para se desenvolver e
otimiza o contributo dos seus colaboradores/ atores. São instituições que apresentam
comunidades participativas com ideias próprias e que procuram o equilíbrio entre a
continuidade e a abertura à mudança (López et al., 2018). Estes mesmos autores
concluíram, com o seu estudo, que a cultura de aprendizagem exerce um forte impacto
na aquisição de conhecimentos, exercendo, por sua vez, uma grande incidência na
inovação.
38
um trabalho mais produtivo e inovador, uma vez que promove interações sistemáticas
que estimulam os processos cognitivos e a sua progressão. Por outro lado, segundo a
mesma autora, as atividades cognitivas do tipo - expor pensamentos, discutir dados e
ideias, fazer análises - aumentam a motivação dos participantes e, consequentemente,
o seu envolvimento na construção de novos conhecimentos e na resolução de
problemas através da aplicação de diferentes estratégias. Neste sentido, destacam-se a
liderança, a competência colaborativa dos colaboradores e a sua capacidade para
intervir em grupo, assumindo papéis diferentes.
Ansell e Gash (2007), citados por Bartz et al. (2020), propõem um modelo de
governança colaborativa assente na confiança entre os atores e num comportamento
cooperativo que compreenda as etapas seguintes: o diálogo presencial entre os
diferentes atores, sempre numa dinâmica de consenso e de identificação de
oportunidades de ganhos mútuos; a construção da confiança entre os partes
interessadas; o compromisso com o processo, ou seja, para que haja confiança, é
necessário que o desenho dos projetos nasça da governança colaborativa e, por fim,
39
uma visão partilhada, isto é, os diferentes atores devem saber e compreender o que
podem alcançar coletivamente.
40
3.1 – Profissionalismo interativo/ Comunidades de aprendizagem
Estas mudanças e melhorias, segundo Bolivar (2014), não podem advir apenas
de prescrições externas, mas devem antes assentar na promoção da capacidade de
aprendizagem dos próprios agentes e das escolas enquanto organizações. Num contexto
em que se perdeu a confiança na mudança decretada, é imprescindível mobilizar a
41
capacidade interno de mudança não só dos indivíduos e dos grupos, mas também das
escolas enquanto organizações.
42
No entanto, o funcionamento eficaz das comunidades de aprendizagem exige
que a generalidade dos seus elementos se oriente por objetivos comuns, assuma
responsabilidade no seu cumprimento, partilhe os seus conhecimentos a partir do
intercâmbio dos quais se vão produzir novos saberes. Só trabalhando desta forma, os
professores encontrarão soluções para problemas reais da sua prática profissional
(Cowan, 2012; Wenger, 1998).
43
melhoria como um processo permanente. É um facto que as organizações que
aprendem apresentam a capacidade de processar a informação, corrigir erros e resolver
os seus problemas de forma criativa e transformadora. A aprendizagem organizacional
que resulta de todos estes processos não se pode traduzir na soma das aprendizagens
individuais dos seus atores, mas antes numa rede densa de colaboração entre os seus
membros através do intercâmbio de experiências e ideias. Desta feita, a aprendizagem
organizacional ocorre em grupos que trabalham colaborativamente, como membros
que enfrentam problemas e encontram soluções conjuntas. As aprendizagens que
resultam da resolução desses problemas constituem-se como fazendo parte da cultura
de escola e, portanto, passam do grupo para os novos membros (Bolivar, 2001).
46
confiabilidade, que se traduz num sentimento de confiança que determina que alguém
pode ter a certeza que pode contar com o trabalho do outro e a competência, que
consiste na capacidade de executar uma tarefa de acordo com padrões apropriados e
definidos (Weinstein et al., 2020).
Outro estudo citado por Weinstein et al. (2020), (Bryk & Schneider, 2002), veio
provar que a confiança relacional é um fator decisivo na eficácia e na melhoria das
escolas, através de uma investigação levada a cabo em escolas públicas de Chicago. Esta
investigação destacou que as escolas onde existia confiança relacional tinham três vezes
mais hipóteses de melhorar os seus resultados do que as restantes. Os mesmos autores,
citando um estudo de Kramer (1999), apresentam como benefícios da confiança
relacional numa instituição escolar, os seguintes: o aumento da socialidade espontânea,
a demonstração de deferência voluntária ao diretor, a satisfação no trabalho, o
comportamento de cidadania organizacional, o comprometimento com a organização,
a capacidade de inovação e o desempenho individual.
47
Maiores níveis de confiança promovem ainda formas de comunicação mais
abertas e permitem que as pessoas se centrem na qualidade da troca de informação,
para dar mais atenção àquilo que é essencial: o diagnóstico, a identificação e a resolução
de problemas (Neves, 2011).
Por outro lado, Neves (2011), citando os estudos de Lewin (1943), defende que
os elementos mais próximos de uma pessoa, como as chefias diretas ou os colegas, têm
um impacto mais forte nos seus comportamentos do que os elementos mais distantes,
tal como a organização. Também é fundamental considerar que, tendo em conta que,
nas trocas sociais se pressupõe que o outro vá reciprocar, é importante que ele
demonstre que é de confiança, sendo que as atitudes da confiança das pessoas face aos
outros se vão basear em experiências anteriores, conhecimentos, interações e na
consistência do comportamento dos outros (Neves, 2011). Assim se compreende que,
para este autor, quanto maior é a variedade das interações com o outro, melhor se
consegue prever o seu comportamento, independentemente da situação em que se
encontra.
Será também essencial considerar que mais importante, por vezes, do que a
predisposição pessoal de cada indivíduo para confiar no outro, são alguns aspetos
exteriores que fazem com que as pessoas se sintam mais confortáveis a nutrir essa
confiança, como: o funcionamento da equipa em que estão integrados e a cultura e o
ambiente em que se inserem. Estes aspetos externos são melhores indicadores do que
os individuais para a criação de níveis de confiança mais elevados, uma vez que uma das
características do ser humano é a sua capacidade de se adaptar à situação (Neves, 2011).
48
homogéneas, com melhores resultados escolares, a confiança relacional é maior (Van
Maele; Forsyth & Van Houtte, 2014, como citado em Weinstein et al., 2020).
Os estudos feitos por Weinstein et al. (2020) provaram ainda que a perceção que
líderes e liderados têm e expressam sobre a confiança relacional não é a mesma.
Segundo estes autores, verifica-se uma tendência natural para que alguns diretores
sejam mais críticos com os professores, questionando alguns aspetos das suas práticas
e competências. Por outro lado, o nível de vulnerabilidade entre as partes não é o
mesmo: alguns professores vêm-se obrigados a expor o seu trabalho e questões
pessoais que uma parte dos diretores não partilha com os professores. Assim, a
perceção que ambas as partes têm de confiança relacional não corresponde, porque,
segundo os mesmos autores, enquanto que os dependentes esperam mais
benevolência, os líderes desejam competência da parte dos professores. A dinâmica de
confiança entre líderes e liderados é também influenciada pela diferença de poder de
cada uma das partes: é suposto que os diretores estabeleçam as regras e que os
liderados joguem de acordo com as regras estabelecidas, podendo, não obstante, em
alguns casos, como vimos nos capítulos precedentes, também eles jogar outras regras
ou fazer de conta que jogam. Os líderes conferem confiança, por seu turno, os liderados
têm de a conquistar. Numa interação marcada por estas diferenças, não se pode esperar
grande reciprocidade.
49
Ainda a propósito da confiança criada pelos líderes nos seus colaboradores,
Neves (2011) defende que as lideranças transformacionais parecem ter um impacto
positivo nas atitudes e comportamentos dos segundos, sendo a confiança que estes
líderes desenvolvem naqueles um dos mecanismos através dos quais atuam nos seus
comportamentos. Estudos citados pelo mesmo autor, (Butler et al., 1999; Mackenzie et
al., 2001 & Podsakoff et al., 1990, 1996), vieram ainda provar que os comportamentos
transformacionais que mais têm sido associados à confiança no líder são: a criação de
um modelo apropriado para os colaboradores, a consideração individualizada e a
promoção dos objetivos grupais. Na mesma linha de pensamento, para Bolivar (2020),
cabe à liderança construir consensos em torno de um projeto educativo que oriente
toda a ação de uma escola, o que vai pressupor a criação de um ambiente e relações de
confiança que devem ter por base o respeito interpessoal, a consideração pelo outro e
a integridade pessoal, o que pressupõe uma cultura escolar em que os professores
possam trabalhar como iguais, partilhar experiências eficazes, ter abertura aos outros e
aprender uns com os outros, num conceito de “caring leadership” (Bolivar, 2020).
50
(Formosinho & Machado, 2009). Estes autores defendem ainda que esta racionalidade
normativa contribuiu para uma gramática escolar compartimentada: um professor está
alocado a uma determinada turma, num determinado tempo do seu horário escolar
para transmitir conteúdos pertencentes a um determinado programa de uma
determinada disciplina. Neste processo burocrático da organização da escola, o aluno é
considerado um ser passivo, enquanto que o educador é um transmissor de
conhecimentos e valores. O professor expõe os conteúdos e interroga os alunos que
memorizam a matéria a partir de apontamentos e manuais, para, posteriormente, a
debitarem nos testes e exames. Nesta escola, cuja organização está assente nos
conceitos de turma, tempo, professor, sala de aula, verifica-se o predomínio de um
trabalho solitário do professor, sem partilha com os pares, sem controlo próximo de
ninguém, sem uma orientação sustentada, portanto, propiciadora da pedagogia
transmissiva.
51
diversidade dos alunos e a tendência unificadora da gramática escolar (Formosinho &
Machado, 2016b).
Para fazer face a esta tensão, foram sendo experimentados, ao longo dos últimos
anos, diferentes modos de organização das turmas, uma vez que, uma das condições
básicas para mudar a forma de escolarizar os alunos, respeitando as suas diferenças, é
a alteração do modo de os agrupar em turmas rígidas, únicas, fixas e imutáveis (Alves et
al., 2016).
52
seu turno, nas turmas contíguas, segundo Formosinho e Machado (2016a), que
partilham uma equipa de professores, um horário semelhante e podem ter o mesmo
conselho de turma e o mesmo diretor de turma, já estão reunidas algumas condições
para que se desenvolva um trabalho colaborativo entre os professores e se incremente
a prática de atividades de diferenciação curricular, o que se constitui como um efetivo
progresso relativamente ao modelo tradicional. Neste caso concreto, a coordenação
curricular e a tomada de decisão sobre a progressão e a aprovação dos alunos passam a
estar a cargo do bloco de turmas contíguas e regista-se a possibilidade de organização
conjunta de atividades na medida em que se verifica uma preocupação em sincronizar
o horário dos alunos com os horários dessas turmas contíguas.
53
gestão de todo o processo de ensino/ aprendizagem, operacionalizando a gestão do
currículo e o ensino de todos os alunos de um ano de escolaridade e monitorizando a
aprendizagem de todo o grupo, em geral, e em cada disciplina, a partir da informação,
partilhada por todos, sobre os progressos e dificuldades de cada aluno nas diferentes
áreas curriculares (Formosinho & Machado, 2016a).
54
Em Portugal, por seu turno, o Decreto-Lei nº 54/2018, de 6 de julho, e o Decreto-
Lei nº 55/ 2018, de 6 de julho, pretendem conferir à escola autonomia pedagógica,
curricular e organizacional: a escola passa a ter autonomia para constituir diferentes
agrupamentos de alunos; alocar grupos de professores a cada agrupamento de alunos;
criar condições para um trabalho colaborativo e conjunto; flexibilizar os espaços, os
tempos, os grupos de alunos e os conteúdos programáticos, ajustando, assim, todo o
currículo ao contexto onde está a ser posto em prática e, por conseguinte, respeitando
a individualidade de cada aluno e de cada escola.
55
de formas de organização e funcionamento justas, deve também assegurar que a
participação democrática seja uma realidade e que a solidariedade e a inclusão sejam
exigências estruturais. Para que este modelo de escola democrática seja possível, todas
as decisões e responsabilidades devem ser partilhadas, a ação deve resultar da atuação
colaborativa de todos os atores escolares que se devem comprometer com um projeto
educativo em que todos se sintam representados (Patacho & Santomé, 2017), numa
governança colaborativa, como ficou explanado no início do presente capítulo.
57
Em síntese, pelo estudo realizado, chegaram à conclusão que o MIPSE é um
passo importante na transformação da gramática escolar, tratando-se de “um modelo
pedagógico para fazer da escola um lugar de mais aprendizagem, mais criação, mais
valorização e mais satisfação para todos” (Cabral & Alves, 2016, p. 111). No fundo, a
organização da escola por equipas educativas assenta num pilar básico, que é a
dimensão da aprendizagem e a criação de condições estruturais que a possibilitem e a
incrementem (Formosinho & Machado, 2009).
Desta feita, a partir das equipas educativas vai ser possível uma reorganização
da gramática escolar que vai permitir às escolas dar uma resposta contextualizada aos
seus problemas. Por outro lado, a formação das equipas educativas, pela sua natureza
e organização, vai exigir aos professores o desenvolvimento de várias habilidades e a
compreensão e abertura à inovação. De facto, a mudança só será possível se os
professores passarem a ser os seus atores e desenvolverem todos os esforços no sentido
de reorganizarem as suas práticas escolares. Logo, os professores vão ver fortalecida a
sua capacidade de tomar decisões e vão conseguir um aperfeiçoamento profissional em
contexto de trabalho. Na prática, na interação com os pares, vão conseguir desenvolver-
se profissionalmente, como defendiam Fullan e Hargreaves (2001), através da
observação, da colaboração mútua e da criação de redes de contacto alargadas
(Formosinho & Machado, 2013).
Em suma, esta organização da escola por equipas educativas vai não só permitir
às escolas terem mais autonomia e poder, mas também encontrarem respostas
articuladas aos problemas e desafios com que se deparam. Vão proporcionar ainda aos
professores uma oportunidade de desenvolverem um profissionalismo interativo (Fullan
& Hargreaves, 2001) capaz de criar uma confiança relacional na base da qual se
constituem efetivas comunidades de aprendizagem profissional. Só, desta forma, se
poderá constituir uma nova cultura profissional nas escolas (Formosinho & Machado,
2016 b), uma vez que o trabalho desenvolvido, no interior de cada equipa, pode
contribuir para a superação do isolamento dos professores, promover o trabalho
colaborativo, potenciar o desenvolvimento profissional e, por conseguinte, a construção
de uma nova cultura de escola (Formosinho & Machado, 2009).
58
Esta dinâmica colaborativa, assente na confiança relacional e promotora de um
desenvolvimento pessoal e profissional docentes, só fará sentido se for encarada não só
numa perspetiva horizontal, como também vertical, contando com o apoio e incentivo
das lideranças intermédias e de topo que devem passar ao exercício de uma liderança
pedagógica, transformacional e partilhada, como procurámos aprofundar e defender no
capítulo que se segue.
Vaillant (2019), citando os autores Leithood e Louis (2011), defende que existe
uma ligação forte entre liderança, melhoria das aprendizagens e qualidade educativa,
uma vez que a liderança pode ter impacto direto na melhoria da atividade docente e,
indireto, ao criar as condições que permitam proporcionar boas aprendizagens aos
alunos. Outro estudo de Bolívar et al. (2013) destaca que a liderança escolar pode ser a
solução para muitos problemas que surgem nas escolas, nomeadamente quando as
59
perspetivarmos, como defende Weick (1976), como sistemas debilmente articulados, ou
seja, sistemas instáveis, com constantes (re)organizações dos seus atores,
desenvolvendo novas perceções da realidade, influenciando outros e realizando ainda
ações que são influenciadas pelos ambientes em que se enquadram.
Weick (1976) preconiza, assim, que as organizações escolares não são sistemas
ou estruturas estáticas, mas sim conceitos abstratos partilhados por pessoas que, como
vimos acima, estão em permanente evolução: objetivos e desafios levam os atores à
ação, mas agir leva as pessoas a reinterpretar as suas relações sociais, situações e
objetivos. Logo, as organizações estão em permanente evolução no que concerne,
nomeadamente às suas ideias, às crenças, às comunicações (Starbuck, 2015). Segundo
Weick (1976), nas instituições públicas, a dificuldade de organização prende-se com um
debate permanente entre teoria política e organizacional; facto e valor; decisão e ação;
planeamento e ação. Desta feita, nas organizações educativas, os elos que mantêm
essas organizações unidas são fracos e esporádicos, em vez de serem contínuos e sólidos
(Starbuck, 2015). Assim, a partir desta metáfora de Weick (1976), compreendemos
melhor que, precisamente por ser um sistema debilmente articulado, a escola precisa
deste poder de unificação e mobilização concertada, proporcionado pelas lideranças,
para garantir o seu funcionamento e a resposta aos desafios que vão surgindo.
60
estabelecimento, ou seja, à liderança e à sua estratégia de ensino; o nível meso
contempla a planificação e a coordenação de programas e estruturas administrativas e
pedagógicas e, por último, o nível micro reporta-se às práticas de gestão da sala de aula
(Alves, 2003).
Bolivar (2020) vai mais longe e apresenta-nos cinco dimensões da liderança que
a tornam eficaz. A primeira diz respeito ao estabelecimento de metas e expetativas
centradas na aprendizagem dos alunos e à definição de estratégias que permitam a sua
consecução. Depois da sua definição, cabe ao líder comunicar, de forma clara e eficaz,
estas metas a todo o corpo docente, implicando-o e responsabilizando-o pelo seu
cumprimento. Conhecendo os objetivos da escola, é mais provável que os professores
se sintam mais implicados e, consequentemente, possam melhorar o seu desempenho
de forma a viabilizar a sua concretização, embora esta não seja uma condição garantida
e dependa de outras condições como continuaremos a expor. A segunda dimensão
reporta-se à determinação e disponibilização dos recursos necessários (tempo,
61
financiamento, material escolar) para a concretização dos objetivos primordiais da
escola, o que determina a existência de autonomia de gestão por parte do líder. Uma
terceira dimensão diz respeito à importância de assegurar um ensino de qualidade, para
tal, o líder deve implicar-se diretamente na planificação, na coordenação e na avaliação
do ensino e do currículo. Cabe-lhe, desta feita, promover uma articulação do trabalho
dos professores, supervisionar o currículo através da coordenação, assim como apoiar e
avaliar os professores através da visita regular às salas de aula. A dimensão que se segue
está diretamente associada à concretização da anterior e está relacionada com a
promoção e participação no desenvolvimento profissional dos professores, uma vez que
não pode haver um ensino de qualidade sem uma preparação profissional dos docentes.
Cabe, assim, ao líder encontrar oportunidades e contextos que permitam aos
professores desenvolver as suas aprendizagens profissionais até porque delas depende
diretamente a qualidade das aprendizagens dos alunos. Assim, é suposto que a liderança
desenvolva todos os esforços no sentido de transformar a escola numa comunidade
profissional de aprendizagem. A quinta dimensão, apresentada por Bolivar (2020) para
uma liderança eficaz, reporta-se à importância de assegurar um contexto adequado e o
apoio necessário aos professores. É preciso criar todas as condições para que estes se
possam centrar naquilo que é prioritário: as aprendizagens dos alunos, através de
contextos que permitam o estabelecimento de relações de confiança entre líderes,
professores e alunos. Por fim e não menos importante, surge a relação entre a escola e
a comunidade, nomeadamente a criação de laços com as famílias, para as comprometer
numa participação responsável ao serviço de uma melhor educação dos estudantes. Das
seis dimensões expostas, as que apresentam maior impacto na melhoria das
aprendizagens dos alunos são, segundo Bolivar (2020), o desenvolvimento profissional
docente e um ensino de qualidade.
Nesta perspetiva, tal como preconiza Guerra (2015), a liderança escolar tem de
ser maioritariamente de natureza pedagógica e não se centrar apenas nas suas funções
educativas mais pobres: burocracia, controle, domínio e imposição. A sua metáfora da
feromona das maçãs é bem elucidativa quanto ao papel dos novos líderes, que devem
funcionar como maçãs maduras junto do grupo que lideram, ou seja, devem constituir
um impulso de mudança que consiga o amadurecimento dos elementos que estão ao
62
seu redor, sem coação e sem violência. Desta feita, o líder tem de ser um primus inter
pares, um coordenador de atividades e gerador de um bom clima e de relações positivas,
inspirador de projetos e propiciador de iniciativas inovadoras. Para deixar os outros
crescer, não deve ser apenas ele a pensar, a responsabilizar-se e a fazer tudo, cabe-lhe
a missão de ser um verdadeiro aglutinador, um gerador de feromonas que despoletem
o crescimento e o amadurecimento do seu corpo docente. Deve ainda estar aberto às
críticas porque, por um lado, estas implicam um clima em que os professores possam
expressar livremente as suas opiniões e, por outro, abrem caminho à aprendizagem.
63
4.1 – Lideranças transformadora, pedagógica, instrucional, distribuída e
comunidades profissionais de aprendizagem.
Desta forma, o diretor da escola deixa de ser um mero gestor burocrático para
passar a ser um agente de mudança, aproveitando as competências dos seus
professores em torno de uma missão comum (Bolivar, 2009). De facto, para contribuir
para uma melhoria das aprendizagens dos alunos, a liderança diretiva deve passar a ser
distribuída e coletiva, nascendo, assim, os líderes intermédios (middle leaderships) que
poderão funcionar como promotores da mudança e da articulação numa cultura coletiva
de compromisso, operando entre a liderança de topo e os professores da escola (Bolivar,
2020).
64
constituir-se como verdadeiros motores da melhoria das escolas (Day & Sammons,
2016).
De facto, pelo contexto acima exposto, a cultura e a prática das escolas têm
limitado o papel das chefias intermédias à transmissão de informação e diretrizes no
interior da hierarquia da escola, ficando a sua responsabilidade de gestão pedagógica,
curricular e didática para segundo plano, quando deveria ser central (Roldão, 2013). Na
realidade, a partir do seu estudo das lideranças de topo e intermédias, Roldão (2019)
concluiu que a sua ação se cinge à partilha de materiais e à disponibilidade de apoio
65
sempre que existem problemas, nomeadamente de indisciplina, não havendo lugar para
a análise da natureza, da eficácia ou da qualidade das práticas educativas. Os líderes
intermédios não se veem como líderes de uma equipa, nem pretendem ser vistos pelos
colegas como agentes de autoridade ou intrusivos nas práticas de ensino individual. Ora,
nesta cultura docente onde prevalece uma lógica de horizontalidade entre pares, a
presunção de competência e o mito do profissionalismo, a ação das lideranças
intermédias é, por vezes, bloqueada pelos interesses dos pares. Assim, em vez de se
centrar na avaliação e controlo dos processos de ensino, baseia-se na fiscalização de
formalismos que garantam às escolas o cumprimento das expectativas sociais e o
compromisso na passagem daquilo que o diretor e o conselho pedagógico determinam
(Roldão, 2019).
66
liderança, nas organizações escolares, estes três conceitos de liderança:
transformadora, instrucional e distribuída.
Por seu turno, a liderança instrucional vai para além da gestão administrativa da
escola e centra-se num conjunto de atividades que visam a melhoria das aprendizagens
dos alunos. Sendo assim, tem de partir de uma definição clara dos objetivos que
pretende atingir no que concerne às suas aprendizagens, fornecer os recursos
necessários para atingir esses objetivos e ter uma preocupação central com o trabalho
dos professores, revelando interesse em constituir comunidades profissionais de
aprendizagem que lhes permitam um desenvolvimento profissional colegial e em
contexto. O estudo de Hallinger e Heck (1996), citado por Lourenço-Gil et al. (2020), vem
demonstrar que o diretor pode afetar significativamente o desempenho dos alunos por
meio de fatores organizacionais, pelas inovações introduzidas na escola, pelo
empoderamento dos professores e pelo envolvimento comprometido dos mesmos. Esta
liderança já não é apenas singular e já não se concentra apenas na pessoa do diretor,
mas tem sido distribuída por outros atores educativos com responsabilidades na
concretização dos objetivos da escola, na supervisão pedagógica e no desenvolvimento
67
do ensino para melhorar o desempenho escolar. Logo, podemos falar de uma liderança
instrucional compartilhada (Lourenço-Gil et al., 2020).
Para Thurler (2001), a liderança partilhada justifica-se pelo facto de ser muito
difícil pedir aos professores que se envolvam num projeto comum e participativo sem
lhes ser cedida uma parte do poder/ autoridade. Verifica-se, assim, o empowerment, ou
seja, o processo graças ao qual uma parcela do poder de decisão e ação é transferido
aos atores diretamente envolvidos num projeto. Se cabe aos professores introduzir as
mudanças para melhorar o processo de ensino/ aprendizagem, também tem de se lhes
reconhecer a competência profissional e conceder-lhes a necessária autonomia para
poderem fazer o seu trabalho. Desta feita, o empowerment afasta-se de uma lógica
burocrática de perceção hierárquica e aproxima-se dos conceitos de participação,
abertura e flexibilidade. A liderança partilhada acontece, na realidade, quanto o
conjunto do grupo está implicado no processo e pressupõe que a liderança atribuída a
um determinado professor num projeto não seja questionada pelos restantes e que o
líder confie nele sem necessitar de funcionar como um “copiloto de segurança” (Thurler,
2001, p. 160).
68
da missão, da visão e dos objetivos da instituição educativa; da gestão do currículo e dos
recursos; da supervisão e da avaliação do ensino; assim como da monitorização da
aprendizagem dos alunos. No mesmo sentido, Amorim et al. (2020) apresentam-nos a
liderança pedagógica como aquela em que o líder dirige a sua atuação para a consecução
de objetivos de desempenho ambiciosos para professores e alunos, com base numa
ação de apoio, de monitorização e de avaliação do processo de ensino/ aprendizagem.
Por seu turno, Spillane e Louis (2002) conceberam uma estrutura concetual de
melhoria escolar cuja base impulsionadora era a aprendizagem dos alunos. Estes
autores posicionam a aprendizagem dos alunos como o objetivo central para
desenvolver as capacidades pedagógicas dos professores, o ensino na sala de aula e a
comunidade profissional de aprendizagem que se desenvolve num contexto prático
através de reflexões conjuntas sobre: as características dos alunos, as diferentes crenças
e expectativas dos professores sobre o processo de ensino e de aprendizagem, o
conhecimento de conteúdos, a pedagogia, o currículo, a aplicação de teorias e os
métodos de aprendizagem. Os mesmos autores defendem ainda que a melhoria das
estruturas e processos educativos nasce da interação dentro e entre as salas de aula
como locais de aprendizagem dos professores, num contexto de uma cultura partilhada
de crenças, confiança e colaboração que constituirão a base do crescimento dos
professores e melhorias mútuas numa comunidade de aprendizagem (Spillane & Louis,
2002).
O termo supervisão é constituído por dois étimos latinos: super, cujo significado
é sobre, e visão, que se reporta ao ato de ver. A ligação de ambos os étimos significará,
assim, ter uma visão sobre algo ou alguém, logo, segundo Gaspar (2019), pressupõe uma
perspetiva vertical sobre práticas profissionais, implicando observação,
acompanhamento e avaliação. Neste sentido, o termo supervisão aparecerá associado
a uma relação hierárquica, sendo o supervisor o observador, o controlador, o avaliador,
o fiscalizador. No entanto, o conceito foi-se associando, com o tempo e com as
69
mudanças que urge implementar no sistema educativo, aos conceitos de orientação,
acompanhamento, partilha e colegialidade (Mesquita & Roldão, 2019).
Desta feita, o termo supervisão surge como um conceito polissémico que pode
ser definido, por um lado, como uma forma de controlar, mas, por outro, como uma
maneira de guiar, estimular a ação do outro, promovendo o seu desenvolvimento
profissional (Gaspar, 2019). De facto, no sistema educativo português, segundo Alarcão
e Canha (2013), registou-se uma evolução do conceito e prática da supervisão, que
progrediu de uma perspetiva mais hierárquica para uma perspetiva mais horizontal e de
uma dimensão mais normativa para uma dimensão mais colaborativa e formativa.
70
Contudo, no contexto das mudanças que se estão a implementar nas escolas,
esta realidade tem de ser questionada/ repensada e exige uma redefinição das
finalidades da supervisão, assim como dos processos e ações que devem implicar. Desta
feita, a supervisão terá de passar a concretizar-se através de experiências profissionais
assentes na ação, na reflexão e na colaboração (Gaspar, 2019).
71
Desta feita, segundo Marchão e Henriques (2019), o eixo estruturante da
formação inicial dos professores deve ser a prática profissional, articulada com os
conhecimentos científico-didáticos e com uma supervisão que promova o pensamento
crítico e reflexivo. É, desta forma, segundo os mesmos autores, que se conseguirá
fomentar a prática de um profissionalismo reflexivo que procura questionar os saberes
científicos, pedagógicos ou as práticas da profissão.
72
para passar a ser um conteúdo de reflexão e de investigação, que despolete uma
oportunidade de repensar as práticas pedagógicas (Gonçalves & Nogueira, 2017).
Começaríamos, então, por referir que a escola é uma realidade muito complexa
que resulta da articulação entre várias racionalidades, vários planos, vários níveis,
múltiplos atores e múltiplas culturas. Assim, da tensão entre macro – micro; interior –
exterior; estrutura – ação nasce uma estrutura organizativa debilmente articulada, que
se vem orientando, cada vez mais, rumo à autonomia e à autorregulação e,
consequentemente, a cujos atores se exige uma responsabilização cada vez maior, num
sistema de prestação de contas.
73
Neste contexto, o caminho da inovação e da mudança para uma escola, que
pretenda ser democrática, solidária, permitindo a formação efetiva de todos e
respeitando a diferença de cada um, pressupõe uma articulação entre os três níveis da
organização escolar: meso, macro e micro. É ainda suposto que essa transformação
tenha por base uma dinâmica colaborativa entre todos os seus atores, assente numa
confiança relacional e numa partilha de responsabilidades, de saberes e de capacidades.
O desenvolvimento pessoal e profissional docentes, promovido por este trabalho
colaborativo, deverá também ser impulsionado por uma liderança pedagógica,
transformacional e partilhada, cuja preocupação central deve passar pela melhoria das
aprendizagens dos alunos.
74
investigação de tipo naturalista. De facto, o que pretendemos com este estudo é uma
“recolha de informação fiável e sistemática sobre aspetos específicos da realidade
social, usando procedimentos empíricos com o intuito de gerar e inter-relacionar
conceitos que permitam interpretar essa realidade.” (Afonso, 2014, p. 18).
75
focalizada, entrevistas semiestruturadas e inquérito por questionário. Para além da
triangulação metodológica, previmos ainda a triangulação de dados provenientes de
diferentes pessoas, produzidos em diferentes espaços e tempos (Santos et al., 2020).
Por outro lado, a própria dinâmica organizativa das escolas impele os professores
para um trabalho solitário, uma vez que os fecha numa sala de aula isolados dos colegas,
os enclausura num horário onde quase não há espaço para a interação com os colegas
ou, quando existe, é uma cooperação artificial, que resulta de reuniões com
convocatória, por vezes, sem objetivos bem definidos e encaradas como mais uma
tarefa burocrática a ser cumprida. Desta feita, este modelo compartimentado e
segmentado da gramática escolar vai limitar a progressão pessoal e profissional dos
professores que, relacionando-se muito pouco com os colegas, os conhecem mal e
pouco sabem do trabalho que desenvolvem nas suas salas de aula. Este défice de relação
interpessoal e conhecimento gera uma grande insegurança e falta de confiança, o que
impede uma efetiva cooperação entre docentes que, na base, essencialmente, da
confiança, pressupõe a observação, a análise, a crítica e a investigação-ação. Só assim,
se consegue um profissionalismo interativo que, segundo Fullan e Hargreaves (2001), é
a base do aperfeiçoamento contínuo das escolas que conduz a ganhos reais nas
aprendizagens dos alunos.
77
Por seu turno, cabe às estruturas de liderança intermédia um papel
fundamental na cultura de participação, de descentralização de competências, de
responsabilidade de gestão partilhada e de supervisão pedagógica. No entanto,
continuam a existir situações críticas associadas ao desenvolvimento profissional
docente às quais a escola não tem sabido dar resposta, porque a ação dessas lideranças
intermédias é exercida de forma muito limitada, o que, muitas vezes, se justifica pelo
facto de nem sempre a sua legitimidade ser reconhecida pelos pares, uma vez que o
coordenador apresenta o mesmo estatuto profissional dos colegas que, supostamente,
orienta e coordena e, na cultura das escolas, ainda não estão instituídas as práticas da
supervisão.
78
1.2 – As diferentes áreas potenciais de interação profissional apresentam
manifestações diferentes na amplitude, na frequência e na abrangência
das interações entre os professores?
79
grupos de discussão focalizada, inquérito por questionário, aplicados a sujeitos
diferentes, em momentos e espaços diversos. Por outro lado, como defendem Almeida
e Freire (2017), a qualidade dos dados empíricos recolhidos depende da qualidade dos
instrumentos usados nessa recolha, daí a importância da garantia de qualidade desses
instrumentos na investigação em educação. Logo, foi fundamental verificar, no presente
estudo, em que medida esses instrumentos de avaliação expressavam, através dos seus
itens, os construtos a avaliar e em que medida as definições operacionais desses
construtos se encontravam devidamente suportadas pelas teorias existentes na área em
estudo. Sendo assim, na construção de cada um dos instrumentos de recolha de dados,
verificámos os itens que formavam cada um dos fatores avaliados e aqueles que melhor
avaliavam os traços ou dimensões em avaliação. No fundo, tudo foi planeado de forma
a que “os resultados reflitam as reais características dos indivíduos, das relações ou dos
contextos, assumidos como alvo da investigação” (Almeida & Freire, 2017, p. 144).
80
do inquérito por questionário, foram definidos o tipo de questões a elaborar, o tipo de
respostas pretendidas, as escalas de medida e os métodos para análise dos dados. Estas
tomadas de decisão tiveram por base a matriz, abaixo apresentada, onde foram
definidos blocos de estudo para cada um dos quais foram identificados objetivos
específicos a partir dos objetivos gerais da presente investigação.
81
colegialidade alguns contactos irregulares, superficiais e, por vezes, pouco
consequentes em termos de impacto nas práticas educativas. Através de um conjunto
de entrevistas prévias, Jorge Ávila Lima (2002) definiu as seguintes áreas de interação
profissional, que seguimos, na elaboração do nosso inquérito, embora tenhamos
contemplado outras formas de interação: a) conversas sobre o comportamento dos
alunos; b) conversas sobre as práticas docentes; c) troca de materiais de ensino; d)
desenvolvimento conjunto de materiais para os alunos; e) planificação conjunta das
aulas; f) ensino conjunto ou troca de turmas. Pretendíamos que os professores
indicassem o número de colegas com quem mantiveram contacto em cada uma dessas
áreas e com que frequência o fizeram ao longo de um ano.
82
os vários postos e posicionar-se nessa escala.” (Almeida & Freire, 2017, p. 86). Em todo
o inquérito por questionário, privilegiámos as respostas fechadas, utilizando as escalas
de formato likert no sentido de facilitar ainda o tratamento das respostas e garantir a
máxima clareza da interpretação dos dados.
Entrevistas semiestruturadas
83
coordenadores de departamento também coordenadores de equipas educativas por
ano de escolaridade através de entrevistas semiestruturadas. Assim, pretendíamos
conhecer a perspetiva dos líderes intermédios sobre o seu papel na promoção de um
professor reflexivo e colaborativo e nas práticas de supervisão pedagógica e ainda
identificar, na sua perspetiva, os fatores desencadeadores e/ ou inibidores do trabalho
colaborativo entre docentes, nomeadamente no seio de uma equipa educativa por ano
de escolaridade.
84
Quadro 2 – Matriz das entrevistas semiestruturadas.
85
Desta feita, no decurso da entrevista, procurámos controlar o ritmo da mesma,
seguindo o guião, mas proporcionando uma certa abertura e estabelecendo/ garantindo
uma boa relação de confiança, empatia e segurança com o entrevistado, começando por
explicitar claramente o objetivo da pesquisa e clarificando as regras de anonimato e de
confidencialidade em relação à sua identidade e em relação à informação recolhida,
garantindo ainda uma posterior partilha dos resultados do estudo.
Logo após a realização das entrevistas, foi feita a sua transcrição não só para
garantirmos uma maior fidelidade à intencionalidade comunicativa dos sujeitos, como
também aprimorar a condução dos grupos de discussão focalizada que se iriam seguir.
86
problematização e o aprofundamento das temáticas de pesquisa, mas, acima de tudo,
permite o conhecimento e a compreensão das vivências dos sujeitos e os significados
que eles atribuem ao objeto estudado.” (Santos et al., 2020, p. 660).
87
Quadro 3 – Matriz do grupo de discussão focalizada à equipa diretiva.
88
Quadro 4 – Matriz do grupo de discussão focalizada a elementos de diferentes equipas educativas por
anos de escolaridade.
A realização das duas entrevistas e dos dois grupos de discussão focalizada foi
precedida de um pedido de autorização, por escrito, ao diretor e da assinatura dos
consentimentos informados por parte de todos os participantes. Para não prolongar
demasiado a entrevista e os grupos de discussão focalizada, os dados pessoais e
profissionais dos participantes foram solicitados, por escrito, nos consentimentos
89
informados. Embora as entrevistas e os grupos de discussão focalizada tenham sido
realizados através da plataforma digital Zoom, os consentimentos informados foram
entregues e devolvidos em presença à investigadora, uma vez que tínhamos regressado
à escola para a realização dos conselhos de turma do final do ano letivo e para a
preparação do novo ano. Optámos pela realização destas técnicas de recolha de dados
via online, pois era recomendável estar o mínimo de tempo possível na escola e manter,
o mais possível, o distanciamento social. Por outro lado, pela experiência do ensino à
distância, tínhamos constatado que, nas reuniões online, os professores acabavam por
estar mais focados nos temas a tratar e eram mais interventivos.
Este estudo foi levado a cabo num Agrupamento de Escolas do Concelho de Santa
Maria da Feira, constituído pela escola sede, por 5 jardins de infância e por 4 escolas
básicas do primeiro ciclo, com um total de 973 alunos: 185 no pré-escolar; 342 no 1º
ciclo e 446 no 2º e 3º ciclos. Este agrupamento de Escolas, onde 43% dos alunos
beneficiam da Ação Social Escolar, tem como lema: “Porque cada aluno é importante”
e apresenta como preocupação central que “Cada aluno deverá ter todas as
oportunidades de crescer e de se desenvolver independentemente da sua origem social,
étnica e religiosa, respeitando o direito à crítica, opinião e diversidade. O aluno será
sempre o centro de um processo educativo de qualidade.” (Plano de Estudos e
Desenvolvimento do Currículo 2019/20).
90
2º/ 3º ciclos em 48, 77% dos respondentes. Assim, num universo de 77 professores,
obtivemos 62 respostas ao inquérito por questionário, o que perfaz uma percentagem
de resposta de 81%. Para melhor caracterizar este universo de respondentes, podemos
ainda acrescentar que se trata de um corpo docente estável, cuja maioria dos
professores se encontra no Agrupamento há 6 ou mais anos, 70,2%, como se pode
verificar no gráfico seguinte.
É também importante realçar que 98,3% dos respondentes têm mais de 40 anos
de idade, de acordo com o gráfico seguinte.
91
para participarem nas entrevistas por acumularem as funções de coordenadores de
departamento e de equipa educativa, em simultâneo.
92
Quadro 5 – Caracterização profissional dos sujeitos participantes nas entrevistas e Grupos de discussão
focalizada.
Tempo de exercício de
Formação Académica Situação profissional
funções na escola
Equipa Diretiva
Quadro de
D1 Pós-Graduação e Mestrado 24 anos
Agrupamento
Quadro de
D2 Mestrado 23 anos
Agrupamento
Coordenadores
Quadro de
C8 Licenciatura 11 anos
Agrupamento
Quadro de
C9 Pós-graduação 10 anos
Agrupamento
Professores
Quadro de
P5 Licenciatura 3 anos
Agrupamento
Quadro de
P6 Licenciatura 12 anos
Agrupamento
Quadro de
P7 Licenciatura 16 anos
Agrupamento
Quadro de
P8A Licenciatura 18 anos
Agrupamento
Quadro de Zona
P8B Licenciatura 3 anos
Pedagógica
Quadro de Nomeação
P9 Licenciatura 13 anos
Definitiva
O tratamento dos dados obtidos pela aplicação do inquérito por questionário foi
realizado através da análise estatística, cujas vantagens são as que passam a ser
elencadas: a precisão e o rigor do dispositivo metodológico; a capacidade dos meios
informáticos, que permitiram manipular muito rapidamente um grande número de
variáveis e a clareza dos resultados, e relatórios de investigação, nomeadamente através
da apresentação gráfica da informação.
Quanto à análise das entrevistas e dos grupos de discussão focalizada, esta partiu
da sua transcrição integral a partir das gravações áudio, logo após o seu término, no
sentido de garantir uma maior fidelidade à transcrição. Procurámos realizar uma
93
transcrição ipsis verbis das intervenções dos sujeitos, porém, por uma questão de ética
e de respeito pelos intervenientes no estudo, procedemos a alguns ajustes morfológicos
e sintáticos nas construções frásicas, uma vez que a transcrição é um registo escrito de
um discurso oral em que a possibilidade de lapsos gramaticais é mais comum.
94
Procurámos, desta feita, com uma definição precisa e ordenação rigorosa
diminuir a subjetividade em prol de uma maior objetividade, sistematização e
generalização dos resultados obtidos.
95
resultados e interpretações que tinham sido já delineados na análise estatística dos
inquéritos por questionário.
Para Jorge Ávila Lima (2002), a caracterização das culturas das escolas será mais
frutuosa se as perspetivarmos não apenas como um sistema de valores, crenças,
representações e normas, mas também como modos de ação e padrões de interação
consistentes que os professores produzem durante o seu trabalho, ou seja, nas palavras
do autor, “fazer agir é culturalmente tão significativo como sentir ou pensar” (J. A. Lima,
2002, p. 20). Por outro lado, o autor defende que o estudo das dinâmicas colaborativas
na profissão docente pressupõe a utilização sistemática de processos de medida para se
poder exprimir na prática, com exatidão, o modo como a colegialidade se expressa nas
escolas onde existe, o que pressupõe a aplicação explícita de um conjunto de critérios
de análise que o permitam fazer. Para Jorge Ávila Lima (2002), existem três critérios
principais que permitem distinguir as culturas fortes das fracas, a saber: a frequência
das interações (as interações com os colegas devem resultar em contactos frequentes);
a amplitude das interações (para uma cultura ser considerada forte, é imprescindível
que os professores interajam com um número considerável de colegas nas escolas onde
trabalham) e, por fim mas não menos importante, a abrangência dessas interações (as
interações entre os professores devem abranger um conjunto diverso de áreas da vida
profissional).
Foi com base nestes três critérios que procurámos caracterizar as culturas
escolares do Agrupamento em estudo. Para tal, começámos por apresentar dois gráficos
que contemplam os dados gerais recolhidos através do inquérito por questionário,
segundo os três critérios acima elencados.
97
Gráfico 3 – Frequência de diferentes interações profissionais realizadas pelos professores (n=62).
Nunca Raramente Poucas vezes Muitas vezes A maioria das vezes Sempre Não sei
Verifica-se, a partir da análise destes dois gráficos, que procurámos estudar áreas
diversas da vida profissional dos professores, contemplando a frequência com que
98
decorreram: nunca, raramente, poucas vezes, muitas vezes, a maioria das vezes e
sempre e ainda a amplitude, ou seja, o número de colegas com quem o professor
realizou cada uma dessas interações: nenhum, poucos (de 1 a 3 colegas); bastantes (de
4 a 8 colegas); muitos (9 ou mais colegas).
99
Quadro 6 – Agrupamento de todas as interações contempladas no inquérito por questionário em áreas de
interação
100
Tabela 1 – Frequência das interações realizadas entre os professores (n=62).
“(…) vamos verificar e fazemos a análise das estratégias que estamos a aplicar,
das aprendizagens que foram adquiridas, quais as estratégias que melhor funcionaram,
aquelas que não funcionaram tão bem, tendo em conta, depois, uma reformulação
dessas próprias estratégias ou ações que estamos a aplicar. (…)”
102
no seu modo de ser professor e, consequentemente, nas aprendizagens dos alunos. No
sentido de contribuir para um maior desenvolvimento profissional docente, o trabalho
desses equipas deveria ser mais reflexivo, exigindo que se pensasse mais, que se
confrontasse mais, que se avaliasse mais, que se articulasse mais a teoria com a prática.
Só assim estas equipas funcionariam como verdadeiros centros de produção de saberes
(Alarcão, 2019).
103
aprendizagem dos professores deve estar focalizada nos problemas a resolver e menos
nos conteúdos a transmitir, o que passa pela adoção de estratégias de formação-ação
organizacional que implicam uma compreensão mais profunda dos fenómenos
educativos através do estudo, do conhecimento, da investigação, da avaliação, em
suma, de uma reflexão coletiva, informada e crítica.
104
Tabela 2 – Amplitude das interações realizadas entre os professores (n=62).
105
Pelos dados apresentados, verificámos que o número de parceiros com quem os
professores interagem é maior nas relações que exigem uma colaboração
interdisciplinar, como é o caso da colaboração em atividades da escola (PAA e DAC),
contando com 9 ou mais professores. Não obstante, desce para uma interação com 4 a
8 professores, nas áreas de conteúdo que implicam uma comunicação verbal, como:
conversa com outros colegas sobre o comportamento e o aproveitamento dos alunos;
a reflexão conjunta sobre os resultados dos alunos e a forma de os melhorar; a troca de
boas práticas; a partilha e análise de problemas de aprendizagem e a reflexão sobre as
práticas pedagógicas, que, normalmente, acontecem na sala de professores ou nos
conselhos de turma. O número de parceiros de interação baixa para 1 a 3, quando nos
reportamos a interações que envolvam partilha de materiais; desenvolvimento de
materiais pedagógicos com os colegas e planificação conjunta das aulas. Baixa ainda
para nenhum parceiro de interação, em 50% dos professores respondentes, no caso do
ensino conjunto ou troca de turmas. Constatámos, desta feita, que se verifica um
decréscimo contínuo do número máximo de parceiros com quem os professores
interagem à medida que passámos de tipos de interação que exigem pouca
interdependência para os que são mais complexos e exigem uma maior
interdependência e reciprocidade.
106
(2002), traduzem um menor contributo para o desenvolvimento profissional do
professor porque se centram apenas na partilha de informação. As interações que
exigem uma produção em interação, implicando uma maior apropriação concetual e
uma mobilização maior dos saberes do professor, favorecendo não só o seu
desenvolvimento profissional, mas também a melhoria dos processos de aprendizagem,
são as que envolvem um menor número de parceiros de interação e se fecham nos
departamentos curriculares, grupos disciplinares ou subgrupos de ano. Ora, Jorge Ávila
Lima (2002) chegou a esta mesma conclusão, num estudo realizado com professores,
revelando que a abordagem integrada, fora dos grupos disciplinares, embora seja
expressa nas intenções, encontra dificuldade em se manifestar na prática. Para o mesmo
autor, este problema da falta de colaboração interdisciplinar entre colegas representa
uma das limitações mais significativas da colegialidade que existe atualmente nas nossas
escolas. Esta parca colaboração interdisciplinar enquadra-se no fenómeno da
balcanização que Hargreaves (1998) refere com tanta preocupação. De facto, os
professores conhecem muito pouco o trabalho realizado por colegas de outras
disciplinas ou níveis de ensino.
107
“Nós, internamente, estamos organizados… os nossos alunos estão organizados por turmas, não
é? Tem o grupo turma e temos o Conselho de turma que trabalhará com aquele grupo turma
(…)”
“(…) Apesar de o Ministério da Educação ter dado um enfoque para que o trabalho fosse
realizado junto do grupo- turma ou até mesmo com as equipas educativas, a nossa opção foi por
grupo disciplinar. (…)”.
Ainda numa ótica organizacional, pudemos constatar que, apesar desta opção
tomada pela direção da escola, existem também equipas educativas por ano de
escolaridade, no Agrupamento, contudo nem todos os professores desse ano de
escolaridade integram a respetiva equipa educativa, uma vez que, como cada professor
tem vários níveis de escolaridade na sua distribuição de serviço, não pode pertencer a
várias equipas em simultâneo. Segundo um dos professores de uma dessas equipas
educativas, P7:
“(…) uma vez que nós temos vários níveis de ensino, ou estávamos numa ou estávamos na outra.
E para estarmos numa, não podemos colaborar na outra. Se cada um de nós tivesse apenas um
nível de ensino e, dentro desse nível de ensino, tivesse as turmas todas, então aí, (…) o grupo
dos professores do 7º ano estaria todo na equipa educativa do 7º ano.”
“Não tínhamos professores para as outras equipas e foi uma maneira de diversificar o número
de disciplinas e para que esta equipa pedagógica fosse o mais multidisciplinar possível.”
“(…) Consideramos que o facto de termos optado pelo trabalho colaborativo por grupo
disciplinar foi mais profícuo no sentido que quebrou o isolamento dentro do grupo disciplinar
(…)”.
Segundo uma das professoras que integrou uma destas equipas educativas, P8B:
108
“Tivemos, no fundo, três reuniões, porque houve duas que foram para reuniões intercalares,
não é? Na realidade, tivemos três reuniões. (…)”.
Esta falta de tempo para reunir em equipa educativa por ano de escolaridade
justifica que, segundo líderes e liderados, o trabalho daí resultante não tenha sido muito
consistente. Segundo os dois coordenadores das equipas educativas por ano de
escolaridade, o tipo de trabalho realizado por esses mesmos grupos de trabalho foi
muito limitativo, uma vez que se cingiu à operacionalização dos projetos no âmbito dos
Domínios de Autonomia Curricular, o que acabou por condicionar as verdadeiras
funções de uma equipa educativa.
O coordenador C8 confessou:
“Um dos constrangimentos que eu tenho sentido, nestas equipas educativas, é que as pessoas
vão para a equipa educativa sempre com a ideia de que nós só nos reunimos por causa dos DAC,
os Domínios de Autonomia Curricular. Muitas vezes, é um bocadinho difícil conseguirmos sair
dessa linha orientadora (…)”.
“Sim, é uma equipa multidisciplinar, mas esta equipa pedagógica teve lugar no âmbito dos
Domínios de Autonomia Curricular. Só acontece no âmbito dos Domínios de Autonomia
Curricular.”.
“Depois disso, aquilo passou a flexibilidade, falava-se mais no trabalho da flexibilidade e acabou
por não se fazer aquilo que se pretendia inicialmente (equipas por ano de escolaridade para
melhorar as aprendizagens dos alunos).”.
“Numa fase inicial, foi até o levantamento dos temas das várias turmas, o trabalho que as turmas
tinham proposto fazer para ver se não havia coincidência ou duplicação do mesmo trabalho e,
109
depois, tentar gerir, entre os vários diretores de turma, (…) para que os trabalhos fossem,
digamos, distribuídos. Nas reuniões, depois mais para a frente, aí já foi mais o ponto da situação:
ver o que é que já tinha sido feito, o que é que cada turma ia fazer a seguir. Uma articulação…
Eu falo, no caso do grupo, da equipa educativa em que eu estava, que era a do 7º ano, e em que,
curiosamente, todas as turmas do 7º estavam a trabalhar o mesmo tema, apesar de não ter
ficado, previamente, escolhido ou decidido, havia também um trabalho de articulação em que
algumas tarefas que precisavam de ser feitas e havia um diretor de turma que se propunha:
“Olha, faço eu essa tarefa com a minha turma”, em vez de estar a ser feita por quatro turmas,
era feita apenas por uma.“
“Isso implicaria uma ordem de trabalhos minimalista, com mais tempo de debate. Conversando
com os colegas, refletindo em conjunto para chegar a um constrangimento que detetamos num
pequeno grupo-turma, num pequeno núcleo do grupo-turma. Mas isto é um sonho que eu tenho
há muitos anos.”
110
“O que nos impede é aquilo de que falei no início, nós, os professores somos das poucas classes
profissionais que trabalhamos isoladamente dentro de uma sala de aula. Nós fomos educados...
Não podemos esquecer que os professores têm uma média de idade à volta dos 50 anos e fomos
educados, em metade da nossa carreira, fomos educados de forma a que só nos devemos
preocupar com o que se passa dentro da nossa sala de aula, com aquela turma e levar os
problemas ao Conselho de Turma e dar a nossa nota e todos aceitam a nota, ninguém questiona
a nota. (…) Não existe este tipo de reflexão, porque nós estamos habituados a aceitar, não
confrontar a decisão tomada pelo professor. Nós temos a ideia de que somos reis dentro da sala
de aula e é esse tipo de pensamento que nós temos de mudar e nós sabemos que as coisas em
educação demoram tempo a ser implementadas. O mesmo acontece com esta metodologia das
equipas educativas. (…)”;
“(…) mas, como tudo o que é novo faz confusão aos colegas… Foi confuso para os colegas? Sim.
Não acharam graça a isso? Não. Talvez não tenhamos trabalhado da maneira como era
desejável? Talvez. (…)”.
“(…) Embora também considere que isto (trabalho colaborativo e reflexivo) é ainda um processo
que tem de se continuar a fazer, uma vez que o ser humano oferece sempre resistência a tudo
o que é novidade. (…)”
111
papéis, da estrutura física das escolas até ao perfil da instituição. A propósito do projeto
educacional dos colégios jesuítas da Catalunha, Azevedo (2016) defende que uma
mudança deste género implica a preparação dos alicerces e do terreno em que vai ser
implementada, ou seja, vai exigir uma mudança de mentalidade de todos os atores
educativos, a partilha de um sonho e um trabalho conjunto para a sua concretização
com determinação e com foco, lideranças firmes e com os olhos postos no futuro e
processos muito participados e lentos.
“(…) Na minha opinião, eu acho que o trabalho reflexivo foi mais forte na equipa de
departamento do que na equipa educativa dos DAC. Primeiro, porque tivemos muito menos
reuniões da equipa educativa dos DAC, inclusivamente, perdemos muitas que eram
importantes, na fase agora da pandemia, do ensino à distância. E é, normalmente, nas equipas
de departamento, que nós fazemos a análise dos resultados, a análise das estratégias
implementadas, se surtiram efeito, se não surtiram efeito e, em grupos mais pequenos, em
grupos disciplinares, é discutido que estratégias se vão utilizar para melhorar os resultados. Aí,
acho que é feito um trabalho reflexivo mais forte. Na dos DAC, é mais uma articulação, pelo
112
menos, no meu entender. Uma articulação de trabalho e uma colaboração em alguns trabalhos
interturmas.”
“(…) Quando, pelo menos, naquela equipa onde eu estava com os nonos anos, quando as coisas
chegaram, estavam delineadas já por um Conselho de Turma e nós reunimos e, pronto… Já havia
temas mais ou menos delineados porque o Diretor de Turma já tinha falado com os alunos,
depois, nós fomos dando algumas dicas de possibilidades de subtemas e de reflexões que eles
poderiam depois negociar, obviamente, o professor teria de negociar com a turma, mas fizemos
uma espécie de brain storming de coisas que eles poderiam fazer (…)
“E como todos esses exemplos (de trabalho interdisciplinar) são tão gratificantes e têm tanto a
ver com um aspeto tão fundamental que é a articulação interdisciplinar na lecionação dos
currículos (…) também seria interessante (…) haver equipas que conseguissem reestruturar, (…)
ver à partida, a montante, onde é que poderá haver articulação e tentar generalizar, massificar
ao máximo estes exemplos de articulação para que não fossem apenas fruto de professores
dedicados, mas entrassem numa quase nova normalidade. Isso seria, penso eu, muito mais
gratificante. E poder-se-ia aproveitar todas estas pequenas experiências e tentá-las sistematizar
e estruturar.”
113
Realidade confirmada nas palavras dos professores P8B e P9, respetivamente:
(…) Como estive a trabalhar contigo, já tive de pensar numa outra forma de lecionar a obra, não
é? É como tu disseste, obriga-nos é a, no fundo, repensar a nossa forma de dar um determinado
conteúdo. (…) Também me obrigava a reformular aquilo que eu estava a pensar fazer.”;
“Pois, porque, se eu peço à colega, para já, ela tem de ter disponibilidade para trabalhar a
atividade que eu quero, por exemplo, na parte do Português, não é? Se eu tenho um texto para
trabalhar, ela tem de ter abertura para isso, não é? Se não quiser, não trabalha.”
Portanto, por tudo o que acima ficou exposto, podemos concluir que um dos
entraves para uma efetiva cultura colaborativa de aprendizagem, no Agrupamento em
114
estudo, parece prender-se com o fraco funcionamento das equipa educativa por ano de
escolaridade, que permitiriam um trabalho interdisciplinar mais sistemático,
consistente e abrangente e contribuiriam, desta feita, para a redução ou mesmo
anulação de uma cultura de balcanização.
Começamos, então, à semelhança do que fizemos acima, pela análise dos dados
relativos à frequência a partir das três tabelas que se seguem.
115
Frequência – pré-escolar
116
Frequência – 1º ciclo
8 – Desenvolvimento de materiais
1 6% 4 25% 10 63% 1
pedagógicos com os colegas
117
Frequência – 2º/ 3º ciclos
Tabela 5 – Frequências das interações realizadas ente educadores do 2º/3º ciclo (n=37).
Raramente) Sempre)
Pela análise dos resultados expressos nas tabelas, verificámos que a maior parte
das interações apresentadas são realizadas regularmente, numa percentagem elevada
nos três níveis de ensino, ou seja, 81% a 100% da totalidade dos professores inquiridos
referem que realizam essas interações com regularidade (muitas vezes, a maior parte
das vezes ou sempre), ficando bastante abaixo dos 81%, o desenvolvimento de materiais
pedagógicos com os colegas (63%), no 1º ciclo, e a reflexão sobre as práticas
pedagógicas (67%, 69% e 73%, respetivamente, no pré-escolar, 1º ciclo e 2º/ 3º ciclos).
De notar que, no que concerne à observação de aulas para aprender/ melhorar as
118
práticas de ensino e ao ensino conjunto/ troca de turmas, a percentagem de professores
que o diz fazer, com regularidade, baixa bastante em todos os níveis de ensino, para
valores de 33% e 44% no pré-escolar; de 24% e 25% no 1º ciclo e de 16% e 14% no 2º
/3º ciclos, respetivamente. É ainda relevante destacar que 100% dos educadores e
professores do 1º ciclo e 94% dos professores do 2º/ 3º ciclos afirmam que fazem uma
planificação conjunta das aulas, de forma regular com os colegas, o que pode ser
justificado pela existência de uma hora de trabalho colaborativo semanal no horário de
cada professor, essencialmente, dedicada à planificação das atividades letivas.
“(…) os professores, em grupos de trabalho, de cada um dos anos e de cada uma das disciplinas,
elaboram a planificação, tendo em conta os conteúdos, as aprendizagens essenciais, a avaliação,
o perfil do aluno e as metas. Ao nível da realização, nós, aqui, temos a operacionalização da
119
planificação, isto é, este é o momento em que é possível verificar se há necessidade de se
proceder a reajustes. Estes são feitos através de momentos de feedback (…) E é aqui que cada
professor vai verificar o reajuste que é necessário fazer à planificação. (…)”.
C8 - “Na escola, na forma como nós trabalhamos em termos de trabalho reflexivo e colaborativo,
funcionam quase como ponto da situação, em que nós vamos verificar e fazemos a análise das
estratégias que estamos a aplicar, das aprendizagens que foram adquiridas, quais as estratégias
que melhor funcionaram, aquelas que não funcionaram tão bem, tendo em conta, depois, uma
reformulação dessas próprias estratégias ou ações que estamos a aplicar (…)”
“(…) E é, normalmente, nas equipas de departamento, que nós fazemos a análise dos
resultados, a análise das estratégias implementadas, se surtiram efeito, se não surtiram efeito
e, em grupos mais pequenos, em grupos disciplinares, é discutido que estratégias se vão utilizar
para melhorar os resultados. (…)”
120
Pelo acima exposto, pareceu-nos, então, que as reformulações feitas às
planificações visam, essencialmente, responder a problemas de aprendizagem
diagnosticados.
121
Amplitude – pré-escolar
122
Amplitude – 1º ciclo
123
Amplitude – 2º e 3º ciclo
Tabela 8 – Amplitude das interações realizadas ente professores do 2º/3º ciclo (n=37).
124
1º ciclo, se registam 7 interações em que a percentagem de professores que diz interagir
com 4 a 8 parceiros é a mais alta, no 2º/ 3º ciclo, a maioria das interações, neste caso 5,
decorre com 1 a 3 parceiros. Se considerarmos que o universo de respondentes do pré-
escolar é de 9 educadoras e que 5 das interações estudadas acontecem entre 9 ou mais
professores e 3 dessas interações entre 4 a 8 professores, concluímos que existe uma
maior coesão no trabalho desenvolvido por este grupo de professores, cuja maioria das
interações é realizada pela totalidade ou pela maioria dos colegas. No caso do primeiro
ciclo, do universo dos 16 respondentes, a maioria das interações, 7 interações, acontece
entre 4 a 8 professores, logo nota-se uma menor coesão relativamente ao nível de
ensino anterior. Quando passámos para o 2º/3ª ciclos, a maioria das interações, 5
interações, desenvolve-se em grupos de 1 a 3 professores, logo, nota-se aqui uma menor
coesão e um maior espartilho nas equipas de trabalho. Considerando os dados expostos,
verificámos que o conceito de balcanização, apresentado por Hargreaves (1998), é mais
acentuado no 2º/3º ciclo e tem tendência a diminuir à medida que baixamos no nível de
ensino, o que, provavelmente, está relacionado com a divisão do 2º/3º ciclos em grupos
disciplinares e departamentos curriculares, o que não acontece no 1º ciclo e no pré-
escolar.
125
6.2 – Perceção dos professores sobre o trabalho colaborativo e a sua relevância no seu
desenvolvimento profissional
126
Tabela 9 – Perceção dos sentimentos experimentados no trabalho colaborativo (n= 62).
Esporadicamente
Ocasionalmente Regularmente
(Nunca/
Raramente) (Poucas vezes) (Muitas vezes/
Não Sei
A maioria das
vezes/
Sempre)
1 – Motivação. 1 2% 6 10% 54 87% 1
2 – Confiança. 2 3% 3 5% 56 90% 1
3 – Constrangimento. 32 52% 21 34% 7 11% 2
4 – Apreensão/ Receio. 33 53% 19 31% 8 13% 2
5 - Reconhecimento 5 8% 16 26% 36 58% 5
6 – Segurança. 2 3% 6 10% 53 85% 1
7 – Contrariedade. 29 47% 22 35% 8 13% 3
Esporadicamente (Nunca/Raramente)
Ocasionalmente (Poucas vezes)
Regularmente (Muitas vezes/A maioria das vezes/Sempre)
Não Sei
127
Tabela 10 - Perceção dos sentimentos e dimensões do trabalho colaborativo (n=62).
128
Gráfico 6 – Perceção dos sentimentos e dimensões do trabalho colaborativo.
70%
60%
50%
40%
30%
20%
13%
10% 11% 9% 10%
8% 7% 7%
10% 5% 5%
3% 2% 3% 3% 2% 3%
0%
Com base nos gráficos e tabelas acima apresentados, verificámos que, de acordo
com a perceção dos professores respondentes, 90% dos mesmos dizem experimentar o
sentimento de confiança ao trabalhar em equipa com os seus colegas e, quando
129
confrontados com a questão sobre se podem confiar nos colegas, perante um problema
ou desafio, 94% dizem concordar ou concordar totalmente com a afirmação.
Esta implicação afetiva está bem patente, na tabela 10/ gráfico 6, em que se
verifica que 85% dos professores dizem concordar ou concordar totalmente com o facto
de, no Agrupamento a que pertencem, existirem ligações humanas: os colegas criarem
relações de confiança mútua e de amizade. Esta constatação também fica evidente,
quando 85% dos respondentes referem que sentem regularmente segurança sempre
que trabalham em equipa com os colegas e 87% que se sentem motivados para
trabalhar em equipa. Em contrapartida, apenas 11% dos professores dizem
experimentar, regularmente, constrangimento e 13%, apreensão/receio, quando
trabalham colaborativamente.
Percebemos pelos dados acima expostos que, pela perceção dos respondentes,
uma grande maioria dos professores se sente bem e experimenta sentimentos positivos
quando trabalha colaborativamente, estabelecendo até laços de amizade com os
colegas, nutrindo confiança neles e sentindo-se seguros e motivados para este tipo de
trabalho. Parecem-nos aqui reunidos os valores que caracterizam uma cultura de
aprendizagem. Se esta ocorre das interações entre os sujeitos, então, ela vai implicar
diálogo, confiança e tolerância entre os membros da organização e os grupos de
trabalho. Pressupõe ainda autonomia e liberdade dos colaboradores para expressarem
as suas opiniões (López et al., 2018).
130
Também Santa (2015), na mesma linha de pensamento, defende a abertura (as
pessoas poderem partilhar ideias sem restrições); o diálogo entre os colaboradores
(estes podem fazer qualquer tipo de pergunta que recebem feedback da sua questão) e
a participação (os colaboradores têm todos a mesma importância e participam juntos
nas tarefas de trabalho) como três das quatro características básicas de uma cultura de
aprendizagem. Ora, pela análise dos resultados obtidos, verificámos que, de acordo com
a perceção da generalidade dos professores, estas características estão patentes na
cultura do Agrupamento em estudo. Senão vejamos, o diálogo, a participação, a
abertura e a liberdade revelam-se na tabela 10/ gráfico 6, onde podemos verificar que,
segundo a perceção dos professores participantes neste estudo, 95% dizem concordar
ou concordar totalmente com o facto de se sentirem à vontade para partilhar todas as
suas opiniões/ sentimentos com os colegas; 84% defendem que não sentem dificuldade
em abordá-los e 82% que não se sentem desiludido com eles. Por outro lado, no que
concerne à participação, 91% dos docentes inquiridos defendem que existe um
propósito comum no sentido de um desempenho coletivo de qualidade, ou seja, a
maioria pressupõe que participa na consecução de objetivos comuns, sendo que 84%
dos professores discordam que, ao realizarem o trabalho colaborativo, estão apenas a
cumprir as suas funções de docentes. Logo, os dados expostos parecem reunir os valores
e características propícias a uma cultura colegial de aprendizagem que, como já tivemos
oportunidade de referir acima, parece ainda ser muito ténue no Agrupamento.
131
aprender/ melhorar estratégias de ensino e o ensino conjunto ou troca de turmas, cuja
frequência e amplitude foram registadas como as mais baixas. Será conveniente lembrar
que, no que concerne à frequência, 48% dos docentes referem nunca ou raramente
observar aulas dos colegas e 61% nunca ou raramente promoverem um ensino conjunto
ou troca de turmas, segundo a tabela 1. Relativamente à amplitude, de acordo com a
tabela 2, 39% referem não interagir com nenhum colega na observação de aulas e 42%
interagirem apenas com 1 a 3 colegas; 50% referem não interagir com nenhum colega
na troca de turmas e 37% dizem fazê-lo apenas com 1 a 3 colegas, talvez num contexto
de aulas de coadjuvância nas disciplinas de Português e de Matemática.
132
e grupos de discussão focalizada realizados, que, na ótica dos líderes, nomeadamente
da equipa diretiva, esta prática, embora tenha existido, já não existe, porque os
professores não aderiram muito à prática da observação de aulas dado que estão pouco
habituados a abrirem as portas da sua sala de aula. É esta constatação que retirámos
das palavras proferidas pelo diretor:
“Nesse sentido, nós fizemos já vários projetos em que havia a troca de experiências entre
docentes, em que, de forma voluntária, alguns professores poderiam ir observar as aulas de
outros. A aceitação deste projeto não foi... não podemos dizer que tenha sido muito
participativa, que tenha havido uma grande participação ou uma grande adesão. “
A fraca aceitação desta prática, por parte dos professores, levou à sua
substituição, segundo o diretor, pelo trabalho colaborativo onde se podem fazer trocas
de experiências sem necessidade de invasão do espaço da sala de aula.
“Por alguma razão é que se passou para o trabalho colaborativo e, dessa forma, o trabalho
colaborativo funciona mais também como uma troca de práticas, uma troca de experiências sem
haver a necessidade de os colegas entrarem na sala de aula de outro colega (…)”
“Porque depois começámos a ter um horário muito mais compacto e isso impossibilitou-me de
poder, àquela hora, ir assistir à aula e porque, naquela hora, o colega também estava a ter aula.
E também porque o corpo docente acaba por ser mais estável e nós vemos que os colegas não
têm outra novidade para apresentar e, então, não tem ocorrido esse pedido.”
Assim, apesar de todos considerarem que se trata de uma prática que contribui
para o desenvolvimento profissional dos docentes, uma vez que permite o contacto com
novas formas de fazer, a adoção de novas práticas, a motivação do professor através do
reconhecimento de práticas positivas, a ampliação do saber do professor; ela existe
apenas de forma esporádica e serve apenas o propósito da avaliação para a progressão
na carreira.
Segundo D2:
133
“Apesar de ser bastante polémico, é um ponto bastante polémico, eu acho bem quando o colega
que vai observar não vai para avaliar, mas vai observar, analisar e depois, em conjunto com o
colega, encontrar outro tipo de … como é que se poderia fazer de outra maneira, entendes? Eu
tenho experiência de ser observadora das aulas como coordenadora e posso dizer que vi coisas
muito interessantes que também depois me ajudaram no meu desenvolvimento pessoal. (…)”
E acrescentou:
“(…) Agora, eu acho que as pessoas não devem ter receio deste tipo de metodologias de ser
observado dentro da sala de aula quando, torno a dizer, o objetivo não é para ir, para apontar o
que é negativo, até porque não, para apontar o que é positivo. Há muito boa coisa que se faz
dentro de uma sala de aula e, às vezes, se fossem apontadas essas coisas dentro de uma sala de
aula, talvez a motivação de alguns professores fosse bem maior.(…)”
Referiu ainda:
“(…) e tenho outras colegas que, mesmo não necessitando da progressão na carreira, fazem-me
o convite para poder assistir às aulas delas.”
O coordenador C8 acrescentou:
“(…) Mas, neste momento, só tem sido feito esporadicamente quando um colega ou outro
solicita a participação do coordenador ou a ida à sala de aula.”
134
“É assim, eu, pessoalmente, acho que a observação de aulas nos faz mudar as nossas práticas
educativas e a observação de aulas pode ter efeitos positivos. “
E argumentou:
“Pode ter efeitos positivos porque requer um trabalho conjunto com o professor que está a dar
a aula e também uma posterior reflexão.”
“Mas eu acho que, mesmo que a observação seja informal e eu, quando falo de uma observação
informal, por exemplo, quando há uma coadjuvância, um apoio individualizado que é dado em
sala de aula, há um segundo professor que, naturalmente, pela função que vai exercer, vai
assistir à aula. Eu acho que é sempre positivo, porque nós vemos a prática dos nossos colegas e,
às vezes, vemos coisas que dizemos assim: “Eu nunca faria assim e porquê?”.”
“Quando estamos a assistir a uma aula de outra pessoa, é uma aprendizagem até nas
estratégias, na metodologia, na resolução de conflitos entre alunos. Muitas vezes, nem sempre
nos lembramos como devemos atuar ou a melhor forma, não é? Eu penso assim. (…)”
135
Desta feita, pareceu-nos que a mudança a realizar pressupõe não uma mudança
de valores, como acima procurámos explicar, mas antes uma alteração de atitudes inter-
relacionais dos professores, movida por uma alteração da estrutura e dinâmica da
organização do Agrupamento. De facto, Nóvoa (2002a) defende que, muitas vezes, a
organização das escolas parece desencorajar um conhecimento profissional partilhado,
dificultando o investimento em experiências significativas nos percursos de formação e
a sua formulação teórica. No entanto, para o autor, este é o único processo que pode
conduzir a uma produção pelos próprios professores de saberes reflexivos e pertinentes.
(Nóvoa, 2002a)
136
Gráfico 7 – Perceção sobre os fatores que obstaculizam o trabalho colaborativo.
70%
57% 55%
60% 53%
50% 49% 47%
45%
50% 44%
40% 40%
37%
40% 33%
30% 26% 24%
Pela análise dos resultados apresentados, constatámos que, para a maioria dos
docentes do Agrupamento em estudo, os fatores que mais obstaculizam o trabalho
colaborativo são o excesso de trabalho com que os professores se confrontam (89%) e
a desmotivação dos professores (73%). Quando apresentados alguns obstáculos a uma
realização eficaz do trabalho colaborativo, como: a falta de articulação entre colegas de
diferentes áreas curriculares; o clima de escola pouco propício ao trabalho colaborativo
ou a falta de focalização das lideranças na promoção do trabalho colaborativo, as
opiniões aparecem muito divididas e há muitos professores que preferem não dar a sua
opinião (8 em 62, em dois dos casos). Pareceu-nos que esta divisão de opiniões denota,
137
da parte dos professores, que a falta de oportunidades de aprendizagem em ação, a
cultura balcanizada, ou seja, o trabalho espartilhado por grupos disciplinares, assim
como o parco funcionamento das equipas educativas por ano de escolaridade
constituem uma normalidade que não estão ainda preparados para questionar. No
entanto, será de todo pertinente lembrar que a dificuldade em implementar uma efetiva
colegialidade nas escolas não se prende apenas com fatores individuais como a
resistência ou má vontade dos professores. Há fatores culturais, como a balcanização e
outros relativos à gramática das instituições que constituem um obstáculo à instauração
de uma efetiva cultura colaborativa e de aprendizagem nas escolas (Hargreaves, 1998;
Roldão, 2007), para os quais os professores deste Agrupamento parecem estar pouco
conscientes.
138
O Trabalho Colaborativo é
139
Gráfico 8 – Perceção sobre os contributos e desvantagens do trabalho colaborativo.
80% 72%
70%
60% 55%
50%
40% 32%
30% 25%
novos desafios.
perspetivas.
alunos.
Através de uma análise cuidada dos mesmos, percebemos que a maioria dos
professores concorda ou concorda totalmente que o trabalho colaborativo contribui
para o sucesso dos alunos (94%); é uma forma eficaz de apoiar os colegas que se
encontram em dificuldade (94%); contribui para a abertura a outras perspetivas (94%);
cria oportunidades de desenvolvimento profissional docente (90%); contribui para uma
interação profissional com efeitos positivos ao nível das práticas pedagógicas (95%);
contribui para uma autorreflexão e autoavaliação (96%); aumenta a capacidade de
responder a novos desafios (90%); promove práticas pedagógicas inovadoras e mais
eficazes (84%); promove agentes de mudança (86%) e promove partilha de
140
responsabilidades (85%). Pelo contrário, apenas 3% dos professores consideram que o
trabalho colaborativo é uma perda de tempo.
“Por um lado, fortalece os laços entre os próprios colegas, nós não nos sentimos tão isolados
dentro da nossa própria atividade. (…) porque, às vezes, são problemas que surgem, surgem
num momento e nós não temos solução e este trabalho colaborativo tem ajudado a que nós
implementemos, às vezes, algumas atividades que parecem muito simples, mas que acabam
por…por resultar pelo lado da aprendizagem (…)”
“(…) Eu acho que sim, acho que é muito importante para o desenvolvimento profissional esse
tipo de trabalho reflexivo e colaborativo. É como eu já falei há bocado, permite uma pausa no
trabalho dos professores para refletirem em conjunto sobre as práticas, porque nós temos
sempre a impressão que somos os melhores e que as nossas práticas é que são as melhores e,
às vezes, podem surgir alguns problemas seja de aprendizagem, seja comportamentais e nós
141
atribuímos logo a culpa porque os miúdos não aprendem, os miúdos se portam mal, mas, às
vezes, a conversar uns com os outros até chegamos à conclusão que, se a estratégia for
diferente, às tantas, os resultados também serão diferentes e os miúdos terão outro tipo de
comportamento e, às tantas, o conteúdo já vai ser assimilado com mais facilidade. (…)”
“É sempre importante as equipas educativas sejam de que tipo for, porque duas cabeças pensam
sempre melhor do que uma só e a partilha de ideias, o próprio debate, a troca de ideias é sempre
positiva. “
P9 acrescentou:
“…E aprende-se imenso, troca-se experiências, há coisas que, depois, nós até podemos aplicar…
Portanto é enriquecedor…”
142
formas de encarar o currículo, sobre as suas funções e papéis na escola, o que teria
repercussões na sua forma de entender a sua formação e avaliação (Flores, 2014).
6.3 – Perceção dos professores sobre a promoção (ou não) de um professor reflexivo
e colaborativo pelas lideranças intermédias.
143
Tabela 13 – Perceção sobre o papel das lideranças intermédias na promoção de um professor colaborativo e
reflexivo (n=62).
144
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
0%
2%
1 – Fornece informações sobre os dispositivos legais e… 3% 94%
1%
0%
2 – Cria e clarifica expetativas elevadas e objetivos claros. 6% 89%
5%
2%
3 – Fornece informações sobre as novas metodologias de… 13% 76%
9%
colaborativo e reflexivo.
5%
4 – Estabelece canais de comunicação entre os diferentes… 3% 89%
3%
2%
5 – É fácil de abordar. 5% 90%
3%
0%
6 – Valoriza o meu trabalho. 6% 77%
Não Sei
17%
2%
7 – Presta atenção àquilo que eu digo. 5% 89%
4%
66%
8 – Observa as minhas aulas. 11%
15%
8%
40%
9 – Fornece feedback construtivo após ter observado a forma… 5%
24% 31%
32%
10 – Dá-me sugestões para aperfeiçoar os meus métodos de… 13% 42%
13%
19%
Esporadicamente (Nunca/Raramente)
11%
18%
13 – Ajuda-me a avaliar as minhas necessidades. 8% 66%
8%
2%
14 – Confia nas decisões que tomo sobre o funcionamento da … 0% 82%
16%
5%
15 – Presta o apoio necessário à identificação de alunos com… 8% 73%
14%
REFLEXIVO E COLABORATIVO
11%
16 – Ajuda-me na planificação e definição de objetivos… 10% 68%
11%
12% 77%
Gráfico 9 – Perceção sobre o papel das lideranças intermédias na promoção de um professor
5%
19 – Fornece informações úteis para desenvolver as minhas… 11% 73%
INTERMÉDIAS NA PROMOÇÃO DE UM PROFESSOR
11%
15%
20 – Ajuda-me a resolver os conflitos que surgem e as… 11% 60%
14%
21%
145
21 – Desafia-me a assumir novos papéis, responsabilidades ou… 15% 48%
16%
Para podermos analisar e interpretar os dados acima apresentados, baseámo-
nos não só nas cinco dimensões de liderança que a tornam eficaz, segundo Bolivar
(2020), como também nos oito passos fundamentais para se conseguir uma liderança
transformadora nas escolas, de acordo com Leithwood (1994), citado por Lourenço-Gil
et al. (2020). Assim, começamos por lembrar as cinco dimensões apresentadas por
Bolivar (2020): estabelecer objetivos e expetativas; definir recursos de maneira
estratégica; assegurar um ensino de qualidade; promover e participar no
desenvolvimento profissional dos professores e assegurar-lhes um contexto adequado
e o apoio necessário. Apresentamos também os oito passos traçados por Leithwood
(1994): construir a visão da escola; estabelecer os objetivos da escola; fornecer
estimulação intelectual; dar suporte individual; modelar boas práticas e valores
organizativos; demonstrar expetativas de desempenho elevado; criar uma cultura de
escola e desenvolver estruturas de forma a promover uma participação nas decisões da
escola.
146
professores; 61% que os líderes intermédios fornecem, regularmente, materiais
necessários à sua atividade profissional; 76% que os coordenadores fornecem, com
regularidade, informações sobre as novas metodologias de ensino; 66% que os
coordenadores os ajudam, regularmente, a avaliar as suas necessidades; 73% que os
mesmos lhes prestam apoio necessário à identificação de alunos com problemas de
aprendizagem; 68% que eles os ajudam na planificação e definição de objetivos
programáticos e 60% que eles os ajudam a resolver, regularmente, os conflitos que
surgem e as decisões que os afetam. Quanto à estimulação intelectual, 89% dos
professores consideram que os seus coordenadores prestam atenção àquilo que eles
dizem; 77% que eles valorizam, regularmente, o seu trabalho; 77% que consideram e
valorizam as suas opiniões e 82% que confiam nas decisões que tomam sobre o
funcionamento da sala de aula. No que concerne à demonstração de expetativas de
desempenho elevado, apenas 48% dos professores consideram que os seus
coordenadores os desafiam, regularmente, a assumir novos papéis, responsabilidades
ou projetos, ao contrário do que é suposto numa liderança transformacional, em que,
segundo Lourenço-Gil et al. (2020), é conveniente que o líder conheça muito bem os
pontos fortes e fracos dos seus colaboradores e procure capacitá-los, estimulando-os,
mostrando-lhes que acredita no seu potencial, desafiando-os a assumir outros papéis e
responsabilidades e motivando-os a participar, de forma comprometida, noutros
projetos.
147
Passando a uma terceira dimensão que, segundo Bolivar (2020), potencia uma
liderança eficaz, promover e participar no desenvolvimento profissional dos
professores, verificámos que 73% dos professores defendem que os seus
coordenadores lhes fornecem, regularmente, informações úteis para desenvolver as
suas competências profissionais; 74% consideram que os líderes intermédios
promovem, com regularidade, reflexões conjuntas sobre as práticas pedagógicas e 76%,
reflexões conjuntas sobre as estratégias de melhoria das aprendizagens.
Porém, pareceu-nos que estas reflexões são mais teóricas do que práticas, ou
seja, não partem da ação e, para transformar a escola numa comunidade profissional de
aprendizagem, segundo Bolivar (2020), teriam de ser encontrados contextos e
oportunidades de aprendizagem profissional, o que não parece acontecer, neste
Agrupamento, por falta de observação de aulas por parte dos colegas e dos
coordenadores, pela quase inexistência do ensino conjunto e troca de turmas, como
também pelo frágil funcionamento das equipas educativas. Na mesma linha de
pensamento, Mesquita et al. (2019) preconizam que, para crescerem profissionalmente,
é imprescindível que os professores reflitam sobre as ações levadas a cabo no decurso
da aula; sempre que se justifique, reformulem o problema proposto e façam uma
experiência para testar uma nova hipótese de trabalho, isto é, o que se pretende é
promover uma reflexão no decurso da ação.
Ora, esta realidade está relacionada com uma outra dimensão que torna,
segundo Bolivar (2020), eficaz uma liderança, assegurar um ensino de qualidade. Para
que tal aconteça, o líder deve promover uma articulação do trabalho dos professores,
supervisionar o currículo através da coordenação e avaliar os professores através da
visita regular às salas de aula, dando-lhes o respetivo feedback. Voltando ao gráfico 9/
tabela 13, acima apresentados, verificámos que apenas 15% dos professores referem
que os seus coordenadores observam, regularmente, as suas aulas; apenas 31% dizem
que os coordenadores fornecem, regularmente, feedback construtivo após ter
observado a forma como ensinam, sendo, neste caso, importante registar que dos 62
respondentes, 15 (24%) preferiram não responder a esta questão. Apenas 42% dos
professores consideram que os seus coordenadores lhes dão, regularmente, sugestões
para aperfeiçoar os seus métodos de ensino.
148
Triangulando, uma vez mais, a perspetiva dos liderados com a ótica dos líderes,
no que concerne ao exercício da supervisão, no Agrupamento em estudo, verificámos
que o exercício desta supervisão é exterior à sala de aula, ou seja, é feito com base em
relatórios escritos e troca de experiências, sem que as práticas letivas sejam
monitorizadas.
“(…) Por alguma razão é que se passou para o trabalho colaborativo e, dessa forma, o trabalho
colaborativo funciona mais também como uma troca de práticas, uma troca de experiências sem
haver a necessidade de os colegas entrarem na sala de aula de outro colega (…)”
149
A seguinte intervenção do coordenador C8 também veio no mesmo sentido:
“Por um lado, através das reuniões, dos pontos de situação que fazemos. Há aquelas reuniões
que são feitas sempre após o Pedagógico, quase sempre após um Conselho Pedagógico. Há
também as reuniões que são feitas de ponto da situação, da aplicação ou não das planificações.
Há também preenchimento de uma fichinha que os professores têm que assinar essa fichinha e
colocar se estão ou não a ser cumpridos os critérios e tudo aquilo que foi aprovado, no fundo,
as orientações que nós temos a nível do Conselho Pedagógico e a nível do Projeto Educativo da
Escola e, através desses documentos, eu vou observando se os colegas têm ou não têm
aplicado(…)”
150
“Em primeiro lugar, pela confiança que deposito no trabalho desenvolvido por cada um dos
elementos do departamento, é essencialmente isso, por isso, a confiança é a base de toda a
atuação da minha parte.”
“Não, porque o coordenador é como os seus pares, quando entra no papel da avaliação, quando
entra no papel da supervisão, entra num papel desconfortável (…)”
“Eu, sinceramente, não me considero muito como um supervisor, mais como um orientador (…)”
“É assim, para mim, o coordenador é aquele que orienta, aquele que responsabiliza todos os
elementos. E, ao promover o trabalho reflexivo e colaborativo, vai haver lugar à
corresponsabilização de todos os elementos na tomada de decisão e não aquele que vai ser o
chefe. Não, o coordenador é aquele que vai partilhar e que vai corresponsabilizar todos os
elementos do departamento.”
151
de chefias hierárquicas e uma aproximação à conceção de liderança que
corresponsabiliza todos na tomada de decisão.
152
As intervenções seguintes do coordenador C8 corroboram esta postura da parte
dos líderes intermédios:
“(…) Gostar de estar, de orientar quando sinto que as pessoas precisam de tomar um caminho.
(…) Orientar, apresentar sugestões, ouvir também sugestões, colaborar com os colegas, ouvir os
colegas (…)”
“(…) Atualmente, vêm, muitas vezes, porque surgem orientações novas. Às vezes, eles não têm
bem a noção porque as coisas estão sempre a sair e depois há o “diz que disse” e as pessoas
acabam por se sentir um bocadinho desorientadas e dirigem-se para perguntar se, de facto, é
isso que se está a passar, o que é que se está a passar, o que é que têm que fazer.(…)”
“Sempre que há o trabalho colaborativo, é feita essa reflexão. Sempre que nós fazemos e, como
o fazemos quinzenalmente, é feita. Depois, num plano mais amplo, é feito sempre antes das
reuniões de avaliação intercalares e antes das reuniões de avaliação do final do período. É
sempre feita uma análise, um ponto da situação, o que é que correu bem, o que é que correu
mal, que estratégias é que nós devemos ajustar ou não. (…)”
“Desafiar, de facto, é feito, muitas vezes, o desafio. Do outro lado, nota-se esta sensação de as
pessoas estarem muito atarefadas. As pessoas sentem que estão muito preenchidas, que as
153
coisas estão…estão sempre a apardecer coisas novas, as pessoas têm de estar constantemente
a atualizarem-se. No entanto, quando algum desafio é lançado (…) nós procuramos, sempre que
surge algo novo, que os colegas também acompanhem, que não se deixem ficar para trás e, até
ao momento, a resposta tem sido bastante positiva, acabaram por me surpreender mesmo. No
entanto, continuam sempre a falar que estão sobrecarregados, que não têm tempo (…)”
“Bem, ser professor é já por si um grande desafio, por isso, [Risos] cada vez mais, somos
surpreendidos com novas realidades a que temos de dar resposta. Neste momento, estamos a
viver o maior desafio de todos os tempos e todos soubemos dar resposta, por isso, considero
que, todos os dias, quase nem é preciso solicitar esse desafio porque cada professor está sujeito
a um novo desafio, porque nada é igual num dia do professor.”
154
sobre o ensino e não para examinarem as próprias práticas, verificando-se, desta feita,
que a teoria se continua a sobrepor à prática. Assim, a partir deste estudo, podemos
corroborar a opinião de Roldão (2012), quando defende que a supervisão para além de
ter estado ausente do discurso legal que regula as escolas e da própria autonomia das
organizações, também não se tem instituído por decisão dos atores nos contextos
escolares. Não obstante este ser um dos obstáculo à instituição de comunidades
profissionais de aprendizagem nas escolas, no atual quadro normativo da autonomia
das escolas, como tivemos ocasião de desenvolver no enquadramento teórico-
concetual, o diretor, que concentra o poder executivo das organizações escolares, passa
a ter o poder de proceder a alterações orgânicas, definir processos organizativos e
promover lideranças inclusivas e focadas no desenvolvimento profissional dos
professores e, consequentemente, na melhoria das aprendizagens dos alunos.
155
recomendação ainda não foi adotada. Procurámos demonstrar que esta situação se fica
a dever não só a razões de ordem organizacional, mas também de cariz cultural. Num
contexto em que os docentes afirmam que interagem tanto com os colegas,
desenvolvem um trabalho conjunto, confiam nos colegas e acreditam nas virtudes do
trabalho colaborativo, somos interpelados pelas seguintes questões: porque é que as
portas das salas de aula continuam fechadas? Porque é que há tanta dificuldade em
desenvolver um trabalho interdisciplinar? Porque é que as equipas educativas por ano
de escolaridade apresentaram um funcionamento tão frágil? Pensamos que não serão
só as razões de ordem organizacional a explicar esta realidade, mas também a forma
como os professores continuam a perspetivar e a sentir a profissão, assim como o cariz
individual que marca a avaliação docente, promovendo, então, a competição para a
progressão na carreira.
CONCLUSÕES
156
normativa, mas antes descritiva, analítica e interpretativa, reconhecendo-se a
ambiguidade e a complexidade do funcionamento organizacional, o que vai exigir
leituras multifacetadas do seu funcionamento (L. Lima, 2006). Realçámos, desta feita,
na apresentação das nossas conclusões duas das dimensões que influenciam as
dinâmicas escolares, a macro e a meso. Ao nível macro, considerámos que as realidades
escolares estudadas, a importância do trabalho colaborativo e das lideranças
intermédias na promoção de um professor colaborativo e reflexivo, são influenciadas
por políticas educativas que se podem organizar numa lógica top down, com caráter
prescritivo, ou numa lógica button up, que deixa às escolas autonomia para se
organizarem de forma a resolverem os seus problemas. Ao nível meso, relativo à
gramática escolar, perspetivámos as diferentes racionalidades subjacentes às diversas
lógicas de ação, neste caso, a racionalidade burocrática, a neoinstitucional e a metáfora
do sistema debilmente articulado (Weick, 1976); as culturas profissionais que
influenciam a atuação dos atores escolares, a organização dos alunos e o modus
operandi das lideranças, nomeadamente as intermédias.
157
de melhoria das aprendizagens de todos os alunos, com respeito pelas dificuldades de
cada um.
1.2 – Ao nível meso, sob a capa de uma cultura colaborativa, perspetivámos uma
escola em que a generalidade dos professores e dos líderes considera que o trabalho
colaborativo só traz vantagens; em que a maioria expressa confiança nos restantes
colegas e confessa sentir-se bem a trabalhar colaborativamente, mostrando abertura
para o trabalho em equipa e onde parece existir algum trabalho conjunto desenvolvido
pelos professores, nomeadamente ao nível dos departamentos curriculares, grupos
disciplinares e equipas educativas.
Porém, parece constituir-se como uma realidade que o trabalho que exige uma
maior interação entre os docentes e uma realização conjunta se concretiza de forma
menos frequente e com um menor número de parceiros de interação. De facto, as
interações colaborativas centram-se, predominantemente, na partilha de informações,
de conhecimentos e de saberes. As interações que requerem produção em interlocução
e uma maior apropriação concetual, maior mobilização de saberes específicos da
profissão docente, ou seja, aquelas que favorecem a qualificação profissional e a
melhoria dos produtos educativos são as menos frequentes e aquelas que se
concretizam com um menor número de colegas, normalmente dentro do grupo
disciplinar. Para que os professores possam aprender uns com os outros, as suas ações
não se podem resumir a conversas de café relativamente vagas, mas passar, entre
outros, pela docência em conjunto, o que é residual no Agrupamento; pela observação
mútua e a supervisão crítica entre professores que não existe na escola em estudo.
158
Esta constatação deixou-nos descortinar uma colaboração superficial, uma
cultura balcanizada e um individualismo que persiste, o que vem dificultar, numa
estrutura debilmente articulada, uma atuação conjunta de todos os atores para se
atingirem objetivos comuns, nomeadamente a melhoria das aprendizagens dos alunos.
159
feita, estas equipas, que poderiam atenuar a cultura de balcanização e de
individualismo, acabaram por não surtir esse efeito.
160
ser necessária uma supervisão direta da instrução. A sala de aula continua a ser o
santuário do professor e só se abre nas aulas de coadjuvância de Português e de
Matemática e ao professor a ministrar o apoio individualizado a alunos com
necessidades educativas especiais, isto é, não se verifica uma prática de supervisão no
interior da sala de aula e grande parte do trabalho do professor continua solitário, quer
na sala de aula, quer em casa.
Concluímos, assim, que estamos perante um modo de funcionamento de uma
racionalidade neoinstitucional, assente no mito do profissionalismo, que parece
automaticamente legitimar a ação da escola (Cabral & Alves, 2015).
161
lhes é transmitido nas reuniões. Outra das missões destes líderes seria partir da análise
dos resultados escolares dos alunos para se procederem a alterações metodológicas
mais adaptadas às suas dificuldades, o que, por um lado, se constitui como tarefa muito
difícil dada a heterogeneidade das turmas, mas também por motivos culturais em que
se continua a imputar a responsabilidade do insucesso não só aos alunos, como também
às famílias, numa dinâmica de pouca implicação e compromisso por parte de líderes e
professores. Outra das funções destas lideranças intermédias seria a melhoria da
qualificação profissional dos professores através de uma supervisão assente na ação, na
reflexão e na colaboração, o que nos parece ser bastante dificultado num Agrupamento
em que não existe uma dinâmica de observação de aulas e se verifica um débil
funcionamento das equipas educativas.
162
Por outro lado, esta débil existência de profissionalismo interativo desenvolvido
com base na ação educativa, na avaliação e na cooperação dificulta uma atuação
autónoma dos professores e limita a sua capacidade de tomada de decisão, o que
também pode constituir uma justificação para o débil funcionamento das equipas
educativas e para a dificuldade em se alterarem algumas práticas pedagógicas. De facto,
o desenvolvimento profissional é uma realidade ainda emergente neste Agrupamento,
uma vez que, por um lado, não se verificam ainda condições organizacionais como: o
eficaz funcionamento das equipas educativas e a observação de aulas. Por outro lado,
também não conseguimos vislumbrar uma efetiva cultura colaborativa que permita aos
professores uma atitude de sistemática pesquisa da prática e de assimilação de novos
conhecimentos a aplicar dentro da sala de aula, criados a partir da observação, discussão
e reflexão sobre as experiências de ensino. Defendemos que a compreensão da
realidade parte da observação e da reflexão que não pode ser individual, no interior da
sala de aula, mas, pelo contrário, colegial, na escola vista como um todo. Porém, no
Agrupamento em questão, a reflexão levada a cabo, nas diferentes equipas de trabalho,
cinge-se a uma reflexão sobre os problemas mais imediatos da prática letiva,
normalmente de forma isolada e descontextualizada, o que não contribui para uma
reflexividade que abone em favor de um desenvolvimento profissional docente que leve
o professor a uma mudança efetiva das suas práticas letivas em contexto de sala de aula.
1.7 – Para terminar, será importante realçar que se nota da parte de todos os
atores escolares, direção, lideranças intermédias e professores, uma vontade para
instituir a inovação e a mudança, revelada não só através da implementação do trabalho
colaborativo, mas também das equipas educativas no Agrupamento. Porém, a mudança
aparenta estar a ser muito lenta e ténue, uma vez que nos parece estar a ser coartada
por estrangulamentos estruturais, pela falta de saber fazer e pela fragmentação,
163
balcanização e individualismo que, muitas vezes, não são uma opção dos professores,
mas estão inscritos na história da organização escolar e do corpo docente, apresentando
raízes na arquitetura das escolas e na organização das salas de aula; na estrutura dos
horários escolares; na organização do currículo em disciplinas; na ação docente isolada,
muitas vezes, motivo de sofrimento e angústia; nas turmas autónomas e inflexíveis
alocadas a professores fixos; na sobrecarga do trabalho dos professores e no modo de
avaliação dos docentes para a progressão na carreira que despoleta a competição e não
a cooperação.
164
coletiva pelas aprendizagens dos alunos, superando, desta feita, o isolamento,
desenvolvendo o trabalho colaborativo, potenciando o empoderamento quer
individual, quer do grupo, através da partilha de sucessos e derrotas, e permitindo a
construção de uma nova cultura de escola e de um profissionalismo interativo que não
se escuda à prestação de contas, num contexto de autorregulação implícito a um
processo de autonomia crescente das organizações escolares.
Para que esta adaptação seja uma realidade, no contexto de um novo paradigma
administrativo, o Decreto-Lei nº 55/ 2018, de 6 de julho, vem desafiar as escolas, no
plano da orientação para a ação, para a assunção plena da sua autonomia curricular, da
flexibilidade, da capacidade de inovação e da diferenciação pedagógica (L. Lima, 2020).
Com efeito, só podendo decidir autonomamente, a escola é capaz de contribuir para a
sua democratização, ou seja, uma escola democrática para todos, de qualidade social
para todos e impedida eticamente de desistir de qualquer aluno, tem de ser criativa,
tentando encontrar resposta para os seus problemas, numa lógica button up.
165
numa nova perceção das lideranças intermédias. Desta feita, as equipas educativas
funcionaram de uma forma muito débil, não tendo conseguido a concretização da sua
missão. Por outro lado, o trabalho colaborativo que se tem vindo a desenvolver entre os
professores acontece, na sua maioria, ao nível do departamento ou do grupo disciplinar,
ficando confinado, normalmente, às fronteiras disciplinares e tratando-se de uma
colaboração um tanto superficial que se materializa na troca de ideias, de boas práticas
e de materiais, verificando-se que as interações profissionais mais exigentes que
implicam produção conjunta de materiais, lecionação conjunta, observação de aulas e
análise sobre as práticas observadas são muito pouco frequentes e são reduzidas, na
sua maioria, a dois ou três elementos, o que deixa antever, aqui, uma cultura
balcanizada que impede que os professores aprendam uns com os outros para além das
barreiras da sua disciplina (Fullan & Hargreaves, 2001).
Verificámos ainda que, como apresentámos nas conclusões acima, nem todo o
trabalho colaborativo desenvolvido pelos professores vai contribuir para o seu
desenvolvimento profissional e pode também não ser uma garantia da melhoria da
organização da escola e das práticas educativas. Porém, as equipas educativas, ao
garantirem autonomia aos professores para tomarem as suas decisões, assim como
realizarem uma monitorização das decisões e ações educativas levadas a cabo, podem
potenciar as capacidades e apetências de cada professor e funcionar como comunidades
166
de aprendizagem. Com efeito, as equipas educativas são “locus de mudança da escola e
do modo de trabalho docente” (Formosinho & Machado, 2009, p.14), uma vez que são
grupos de trabalho que se responsabilizam coletivamente pelas aprendizagens dos
alunos implicados na sua equipa educativa.
Desta feita, estas equipas educativas vão permitir “lógicas de formação-ação, nas
quais a teoria seja colocada ao serviço da melhoria das práticas e, por sua vez, a prática
docente seja levada para a formação, constituindo-se como o seu objeto central” (Cabral
& Alves, 2016, p. 91). A funcionar desta forma, as equipas educativas poderiam permitir
a constituição de comunidades aprendentes que ainda não existem, no Agrupamento,
e contribuir para o desenvolvimento profissional dos seus docentes. Embora esta
apareça como uma das preocupações centrais expressa no Projeto Educativo do
Agrupamento, continua a revelar-se muito ténue, como tivemos oportunidade de expor
acima, por falta de uma aprendizagem em ação, obstruída não só por um fraco
funcionamento das equipas educativas, mas também pela falta de observação de aulas
e ainda por uma cultura de individualismo, de balcanização e de colegialidade artificial.
Nesta mesma linha de pensamento, é importante referir que o funcionamento das
equipas educativas, no Agrupamento em estudo, também falhou, dado que, segundo
Machado (2016), um novo desenho organizacional pensado para uma escola deve
implicar um desenvolvimento da capacidade da escola enquanto comunidade
aprendente, assim como da capacidade dos seus atores para analisar e renovar a prática
educativa. Ora, neste Agrupamento, faltou essa capacitação dos professores e o
desenho organizacional traçado não respeitou os requisitos para o bom funcionamento
dessas mesmas equipas, uma vez que nem todos os professores do ano de escolaridade
em questão faziam parte da equipa e os alunos continuaram a estar organizados por
turmas autónomas, sem flexibilização de grupos, de espaços e de tempos.
167
afirmação das lideranças intermédias, criando uma liderança múltipla que permita que
a mudança aconteça em cada equipa educativa. Ao contrário das lideranças intermédias
do Agrupamento em estudo, cujo papel é essencialmente burocrático, estas devem
exercer, fundamentalmente, uma função pedagógica, com base numa ação de
monitorização, apoio e avaliação do processo de ensino e aprendizagem. Como
defendem Day e Sammons (2016), a liderança de topo cria a visão. Ela cria a direção
estratégica, mas depende dos líderes intermédios para fazer todo o seu trabalho. A visão
vai ser traduzida e implementada na sala de aula e a escola vai ser julgada/ avaliada
conforme os professores executam bem ou mal as suas tarefas, daí a importância dos
líderes intermédios quando sabem o que se passa na sala de aula e como se faz na sala
de aula. Logo, as lideranças intermédias desempenham um papel crucial como motores
das melhorias da escola. O seu papel é variado, complexo, mas recompensador, porque
contribui para elevar a qualidade das experiências educativas dos alunos, as suas
aprendizagens e os resultados.
168
colaboração ainda bastante superficial. Assim, foram-nos surgindo algumas questões,
como: será que a confiança que os professores dizem manifestar pelos colegas é à prova
da abertura da porta da sala de aula? Será que, num nível mais aprofundado de
colaboração, esta confiança resiste à divergência de posições? Resistirá ela a uma crítica
frontal do desempenho do professor em sala de aula? Será, então, essa confiança que a
maioria dos professores diz ter uma confiança de primeiro nível ou uma confiança
estrutural? Estas são algumas das questões que nos fomos colocando, ao longo do
estudo, mas, para as quais, não conseguimos obter resposta por falta de dados
empíricos suficientes. Contudo, julgamos que, num contexto em que a colaboração é a
base da transformação das escolas em comunidades aprendentes e, por conseguinte, a
grande impulsionadora do desenvolvimento profissional docente, este poderia
constituir um objeto de estudo pertinente para próximas investigações.
169
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183
ANEXOS
184
ANEXO I – Inquérito por questionário – Google Forms
A minha resposta a este questionário é livre, sendo importante relevar que o faço de forma
consentida.
1 - Género
Feminino
Masculino
2 - Idade
Até 29 anos
30 - 39
40 - 49
50 - 59
60 – 69
185
3 - Tempo de serviço no Agrupamento.
Até 5 anos
6 - 10
11 - 15
16 - 20
21 - 25
4 - Nível de ensino
Pré- esc
1º ciclo
2º ciclo
3º ciclo
Pré-escolar
1º ciclo
Departamento de Línguas
Departamento de Expressões
186
1 - Com que frequência realiza os tipos de trabalho colaborativo que se seguem?
187
2 - Com quantos colegas realiza os tipos de trabalho colaborativo que se seguem?
188
3 - Quando me encontro em situação de trabalho colaborativo com os meus pares...
189
4 - Com que frequência experimenta os sentimentos abaixo indicados ao trabalhar
com os seus colegas?
190
5 - Sobre o meu coordenador de Departamento, posso afirmar que ...
191
192
193
6 - O principal fator que obstaculiza um trabalho colaborativo frequente e eficaz é ...
194
7 - Na sua opinião, o trabalho colaborativo...
195
8 - Na sua opinião, o maior obstáculo ao desenvolvimento do trabalho
colaborativo entre os professores é ...
196
ANEXO II – Guião das entrevistas semiestruturadas
Objetivos Gerais:
1. Analisar as perceções que as lideranças intermédias têm relativamente ao trabalho reflexivo e colaborativo;
2. Analisar as perceções que as lideranças intermédias têm relativamente às práticas de supervisão nas escolas;
3. Compreender na perspetiva dos líderes intermédios, em que medida é que as escolas facilitam ou não o trabalho colaborativo entre
professores.
2.2– Como se concretiza, a seu ver, o trabalho reflexivo e colaborativo entre professores
do seu departamento? Exemplos ao nível da planificação, realização e avaliação.
197
ANEXO III – Guião do grupo de discussão focalizada a 6 elementos de diferentes
equipas educativas por ano de escolaridade
Objetivos Gerais:
1. Analisar as perceções que os professores de uma equipa educativa têm relativamente ao trabalho reflexivo e colaborativo;
2. Compreender, na perspetiva dos professores de uma equipa educativa, em que medida é que as escolas facilitam ou não o trabalho
colaborativo entre professores.
2.2– Em que se concretiza, a seu ver, o trabalho reflexivo e colaborativo entre professores
de uma equipa educativa? Exemplos a nível do planeamento, realização e avaliação.
198
ANEXO IV – Guião do grupo de discussão focalizada à equipa diretiva
Objetivos Gerais:
1. Analisar as perceções que as lideranças de topo têm relativamente ao trabalho reflexivo e colaborativo;
2. Analisar as perceções que as lideranças de topo têm relativamente às práticas de supervisão nas escolas;
3. Compreender, na perspetiva dos líderes de topo, em que medida é que as escolas facilitam ou não o trabalho colaborativo entre
professores, nomeadamente numa equipa educativa.
199