JACÓ-VILELA, A.M. Et Al. (2009) - Mulher, Educação e Psicologia.
JACÓ-VILELA, A.M. Et Al. (2009) - Mulher, Educação e Psicologia.
JACÓ-VILELA, A.M. Et Al. (2009) - Mulher, Educação e Psicologia.
Introdução
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O contexto histórico
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mudanças nas políticas governamentais – visto políticas públicas no Brasil serem,
necessariamente, políticas estatais.
Segundo Pinto (2001), na medida em que surge uma série de normatizações
pedagógicas apontando mudanças nas escolas primárias, torna-se necessário que exista
também maior cuidado com a formação dos professores primários. É neste contexto que
se inicia uma ampla reforma na Escola Normal, promovida por Fernando de Azevedo,
durante sua gestão na Diretoria da Instrução Pública do Distrito Federal (1928-1930),
visando controlar a organização e funcionamento das escolas primárias, remodelar suas
estruturas, fazendo com que se tornasse um curso de preparação profissional voltado
para a formação de técnicos que se preocupem com a formação moral e higiênica dos
alunos.
É a partir deste projeto de reforma, transformado em Lei do Ensino, em 1928,
que Fernando de Azevedo torna a disciplina psicologia, introduzida em 1921,
obrigatória nos currículos das Escolas Normais.
No contexto dessas transformações nasce, em 1930, a nova Escola Normal do
Distrito Federal que, corresponderia às novas exigências educacionais, com projeto
pedagógico diferenciado e infra-estrutura adequada, substituindo assim a antiga Escola
Normal (LOPES, 2001).
Criada pouco antes do movimento que permitiria a ascensão de Vargas ao poder,
esta instituição serviria de referencial para todo o país, inclusive porque nela se
encontravam os mais bem-equipados laboratórios e salas de pesquisa, estando
devidamente articulada à escola primária anexa, sendo, o próprio lugar (Lopez 2001),
um campo de experiência para os futuros professores.
Pinto (2001) destaca que, com o Governo Vargas, a educação permaneceu
estagnada até que Anísio Teixeira assume a Diretoria Geral de Instrução Pública do
então Distrito Federal. De posse do cargo, Teixeira promove, entre 1931 e 1935, a
Reforma de Instrução Pública, o exemplo mais sugestivo desse novo plano para a
educação, com claro intento racionalizador. Neste, não só sintetizou-se as idéias de
modernidade e de reformulação do país por meio da educação, como a escola a tornar-
se o centro de ressonância desse projeto, que tem como diretriz a idéia de reformar a
sociedade através da reforma do homem.
Assim,
“identificando-se com a vertente norte-americana da Escola
Nova, encampando os princípios de liberdade de pensamento e
expressão, respeito e incentivo aos talentos individuais, Anísio
compreendia a educação como o instrumento mais perfeito,
para promover mudanças visando inserir o país nos padrões de
modernização econômica e social já atingida pelos países
industrializados” (LOPES, 2006, p. 4).
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modo que cabe à Escola a formação pedagógica dos professores formados nesta
Universidade, como aponta Lopes (2001).
Segundo Martins (2000), o período de 1940 a 1960 foi considerado como “anos
dourados” por apresentar uma forte busca pelo progresso com a reforma do capitalismo
e a implantação de um novo sistema que visa desenvolvimento e bem-estar social. Ela
aponta que todos estavam empenhados em instaurar os princípios e instituições
democráticas na educação, tentando apagar as seqüelas do Estado Novo e recuperar a
infância e revitalizar a formação do professor primário.
Esta autora destaca que especial atenção foi dada ao IERJ, visto que era uma
síntese do trabalho de grandes nomes da educação: “Fernando de Azevedo, que
elaborou a primeira reforma significativa, materializando-a num prédio de arquitetura
arrojada; Anísio Teixeira que buscou unir ciência e arte na preparação do ofício de
educar; e Lourenço Filho que operacionalizou a reforma anísiana” (MARTINS, 2000,
p.3).
Assim, segundo Lopes (2007), neste contexto de democratização pós II Guerra
Mundial, a Congregação de Professores – órgão criado em 1947 – acata novas propostas
viabilizando os Cursos de Especialização e Aperfeiçoamento para suprir as deficiências
do ensino normal e possibilitar ainda o contato direto com sua Escola Primária, que
funcionava também como local de experimentações e pesquisas diretamente
relacionadas ao Instituto de Pesquisas Educacionais – IPE –, órgão subordinado à
Secretaria Geral de Educação e Cultura do Distrito Federal (RJ). A partir dele, teve
início uma forte divulgação da psicologia como um campo de importância fundamental
para a adaptação dos métodos educacionais à realidade vigente, sendo indispensável ao
objetivo da formação de sentimentos, valores e ideais do novo homem brasileiro a que a
instituição se propunha (PINTO, 2001).
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do Estado da Guanabara”, publicado sob coordenação geral de Iva, contando com a
colaboração de diversos membros deste Gabinete de Psicologia, onde as professoras
explicam a importância do estudo da psicologia para as futuras educadoras afirmando
que, não sendo mais o aluno “um ser estático” manuseável pelo adulto e sendo agora o
professor um “orientador de aprendizagens”, a psicologia se torna fundamental para que
o educador possa orientar seus alunos facilitando seu ajustamento à sociedade.
A noção de indivíduo como unidade básica de análise e os procedimentos de
classificação dos indivíduos apoiaram os procedimentos de mensuração das faculdades
mentais através dos testes de inteligência, aptidão e personalidade, que passaram a ser o
instrumento de trabalho dos educadores no Brasil. A classificação das crianças
justificaria o poder regulador do Estado sobre cada uma delas e suas famílias. (NUNES,
1994).
Foram, dessa forma, criados espaços para crianças normais, para crianças débeis
(frágeis de saúde), para crianças inteligentes e para crianças retardadas. Com a
organização dessas classes homogêneas, visavam agrupar crianças com as mesmas
capacidades de aprendizagem e desenvolvimento, como intuito de maximizar e
potencializar suas faculdades (NUNES, 1994).
O Serviço de Ortofrenia e Higiene Mental (SOHM) do Departamento de Educação
do Distrito Federal pertencia ao Instituto de Pesquisas Educacionais (IPE) e foi criado
em 1934, com a posse de seu primeiro e único diretor, o psiquiatra Arthur Ramos
(1903-1949). Tinha como objetivos atuar nas escolas primárias da rede municipal,
atendendo crianças que apresentassem problemas de adaptação, abordando seus
possíveis desajustamentos psíquicos no lar e na escola, dentro dos ideais da Escola
Nova e da Higiene Mental, objetivando prevenir, no pré-escolar, a eclosão de falhas de
personalidade que poderiam determinar, no futuro, desregramento psíquico e social.
Encerrou seus trabalhos em 1939, e foi substituído pelo Serviço de Ortofrenia e
Psicologia (SOP) em 1940, destinando-se principalmente a diagnosticar os alunos com
dificuldade de aprendizagem nas escolas, através do uso de testes de inteligência
infantil.
A raça, a situação social e a sexualidade, por exemplo, são preocupações presentes
nos trabalhos do Serviço de Higiene Mental e Ortofrenia, do Instituto de Educação e da
Escola Normal de Niterói, cujos debates pedagógicos traziam em seu bojo, a concepção
de que a marca moral do país era a degenerescência.
Será considerado como trajetória higienista o período que vai da constituição da
medicina mental no Brasil em meados do XIX até as primeiras décadas do século XX,
até a Segunda Guerra (1939-1945) mais precisamente. Período este que se caracteriza
pela constituição e desdobramento de uma medicalização social, em que se insere a
psiquiatria, então se construindo como um novo instrumento de poder e controle
(AMARANTE, P. 1994). Sua prática se institui por meio da reorganização do espaço
físico das instituições e cidades, além da produção de idéias moralizantes expressas
através de novas formas de regulação e moralização das condutas humanas e dos
fenômenos sociais relativos à saúde, saneamento e habitação, se constituindo como um
poder disciplinar, tendo esses como dispositivos de controle político e social.
O Instituto de Educação do Rio de Janeiro e o Instituto de Educação Professor
Ismael Coutinho foram órgãos privilegiados na produção e reprodução dessa nova
cultura pedagógica, e exigiam uma formação técnica com o aporte de novos
conhecimentos capazes de forjar uma consciência que conjugasse bom senso a uma
teoria sobre educação e a interiorizasse na prática cotidiana da vida escolar.
Considerações Finais
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Apesar de nossa pesquisa ainda estar em andamento, percebemos, a partir da
análise bibliográfica existente, seja de material impresso ou digitalizado, e ainda a partir
de entrevistas realizadas com algumas das personagens desta história, que a relação
entre a mulher, a educação e a psicologia é bastante relevante. Como notamos por uma
breve análise dos verbetes do Dicionário Biográfico da Psicologia no Brasil: Pioneiros:
a inserção feminina na psicologia ocorreu prioritariamente através das questões
pedagógicas e, de certa forma, foi devido a esta relação que as mulheres puderam
conquistar alguns espaços na área profissional (JACÓ-VILELA, 2007).
Em nossa busca por dados referentes ao Instituto de Educação Professor Ismael
Coutinho – IEPIC, antiga Escola Normal de Niterói encontramos, infelizmente, alguns
entraves, ficando restritos a informações escassas sobre sua história. Entretanto, ainda
estamos buscando contatar pessoas que pertenceram ou estudaram na entidade, de modo
a construir parte dessa história apagada e resgatar suas personagens ocultadas.
Já no caso do Instituto de Educação do Rio de Janeiro, mesmo com a vasta
literatura acerca de sua história nos deparamos com uma escassez de fontes primárias
que nos limitou a poucas informações, mas que nos serve de base para o
prosseguimento da busca por este objeto que pretendemos desvendar. A exemplo disso
destacamos a descoberta do Gabinete de Psicologia do IERJ criado por Iva Waisberg
Bonow e do livro acerca do mesmo que oferece um rico conteúdo sobre a importância
psicologia produzida pelas mulheres da época para a educação.
Esta psicologia se constituía em um instrumento eficaz para analisar e entender a
formação da personalidade e as ações e reações dos alunos, conhecendo amplamente
seu desenvolvimento psíquico e os fatores que o influenciam, para então respeitá-los em
suas individualidades, visando adaptar os métodos educacionais às condições de
aprendizagem e assim educá-los de acordo com as normas e valores da sociedade.
Desta forma, conseguimos descobrir informações que nos comprovam a
participação feminina na difusão da psicologia através da educação e a importância do
seu trabalho, sendo este um estímulo e uma prova da relevância de nossa pesquisa.
Assim, a proposta do presente trabalho consiste não apenas demonstrar a forte
relação que há entre psicologia, educação e mulher, mas resgatar a memória da
Psicologia nestas instituições e, principalmente, resgatar a relevância da participação de
mulheres que, como Iva, foram importantes na construção desta história, contudo
caladas por esta.
REFERÊNCIAS
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Encontro Anual Helena Antipoff / VII Encontro Interinstitucional de Pesquisadores em
História da Psicologia, 2008, Belo Horizonte e Ibirité - MG. Boletim do CDPHA -
Centro de Documentação e Pesquisa Helena Antipoff. Belo Horizonte: CDPHA - ISSN
1806-1931, 2008.
7
PENNA, A. G. Heloísa Marinho (1903-01994). In: CAMPOS, R. H. F. (coord.)
Dicionário Biográfico da Psicologia no Brasil – Pioneiros. Rio de Janeiro: Imago;
Brasília: CFP; 2001.