Trabalho Maria Victoria

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Quando pensamos nas emissões de dióxido de carbono (CO²),

fatores como o efeito estufa e o aquecimento global já vêm à


cabeça. Mas as mudanças climáticas não são os únicos problemas
causados pelo excesso de CO² na atmosfera. O processo de
acidificação dos oceanos é extremamente perigoso e pode acabar
com a vida marinha até o fim do século. Você quer que a vida
marinha se acabe, se encerre por causa disso?

A acidificação começou desde a primeira revolução industrial, em


meados do século XVIII, quando a emissão de poluentes aumentou
rápida e significativamente graças à instalação das indústrias por
toda Europa. Como a escala de pH é logarítmica, uma leve
diminuição neste valor pode representar em porcentagem, variações
de acidez de grandes dimensões. Dessa forma, pode-se dizer que
desde a primeira revolução industrial, a acidez dos oceanos já
aumentou em 30%.

Mas como se dá esse processo? Estudos demonstram que, ao longo


da história, 30% do CO² emitido pela ação do homem vai parar no
oceano. Quando a água (H²O) e o gás se encontram, é formado o
ácido carbônico (H²CO³) que se dissocia no mar, formando íons
carbonato (CO³²-) e hidrogênio (H+).

O nível de acidez se dá através da quantidade de íons H+ presentes


em uma solução – nesse caso, a água do mar. Quanto maior as
emissões, maior a quantidade de ions H+ e mais ácido os oceanos
ficam.

Vida marinha em risco, e isso é muito grave.


Qualquer tipo de mudança, por menor que seja, pode mudar
drasticamente o meio ambiente. As mudanças de temperatura, do
clima, do nível de chuva ou até o número de animais podem causar o
total desequilíbrio ambiental. O mesmo pode ser dito sobre a
alteração do pH (índice que indica o nível de alcalinidade,
neutralidade ou acidez de uma solução aquosa) dos oceanos.
Estudos preliminares apontam que a acidificação dos oceanos afeta
diretamente organismos calcificadores, como alguns tipos de
mariscos, algas, corais, plânctons emoluscos, dificultando sua
capacidade de formar conchas, levando ao seudesaparecimento. Em
quantidades normais de absorção de CO2 pelo oceano, as reações
químicas favorecem a utilização do carbono na formação de
carbonato de cálcio (CaCO3), utilizado por diversos organismos
marinhos na calcificação. O aumento intenso das concentrações de
CO2 na atmosfera, e consequente diminuição de pH das águas
oceânicas acaba por alterar o sentido destas reações, fazendo com
que o carbonato dos ambientes marinhos se ligue com os íons H+,
ficando menos disponível para a formação do carbonato de cálcio,
essencial para o desenvolvimento de organismos calcificadores.

A diminuição das taxas de calcificação afetam por exemplo o estágio


de vida inicial destes organismos, bem como sua fisiologia,
reprodução, sua distribuição geográfica, morfologia, crescimento,
desenvolvimento e tempo de vida. Além disso, afeta também a
tolerância a mudanças na temperatura das águas oceânicas,
tornando-os mais sensíveis, interferindo na distribuição de espécies
mais sensíveis. Ambientes que naturalmente apresentam altas
concentrações de CO2, como regiões vulcânicas hidrotermais são
demonstrações dos ecossistemas marinhos futuros, apresentando
baixa biodiversidade e elevado número de espécies invasoras.

Uma outra consequência, advinda da perda de biodiversidade de


ecossistemas marinhos é a erosão de plataformas continentais, que
não apresentarão mais corais que ajudam a fixar os sedimentos.
Estima-se que até 2100, cerca de 70% dos corais de águas frias
estarão expostos a águas corrosivas.

Por outro lado, outras pesquisas apontam para a direção oposta,


afirmando que alguns microrganismos se beneficiam com esse
processo. Isto se deve ao fato de que a acidificação dos oceanos
possui também uma consequência que é, para alguns micro-
organismos marinhos, positiva. A diminuição do pH altera a
solubilidade de alguns metais, como por exemplo o Ferro III, que é
um micronutriente essencial para o plâncton, tornando-o assim mais
disponível, favorecendo um aumento da produção primária, que
acarreta em uma maior transferência de CO2 para os oceanos. Além
disso, o fitoplâncton produz um componente chamado
dimetilssulfeto, que ao ser lançado para a atmosfera contribui para a
formação de nuvens, que refletem os raios solares controlando o
aquecimento global. Este efeito é positivo até que sejam reduzidas
as absorções de CO2 pelo oceano devido à saturação deste gás nas
águas, situação sob a qual o fitoplâncton , pela menor oferta de
Ferro III, produzirá menos dimetilssulfeto.

Mais prejuízos econômicos


Em suma, podemos dizer que o aumento da concentração de dióxido
de carbono na atmosfera termina por aumentar a acidez e
temperatura das águas oceânicas. Até certo ponto, como vimos, isso
é positivo, pois aumentará a solubilidade do Ferro III que é absorvido
pelo fitoplâncton para a produção de dimetilssulfeto, que contribui
na redução da minimização do aquecimento global. Ultrapassado
esse ponto, a saturação de CO2 absorvido pelo ambiente marinho
somado ao aumento da temperatura das águas altera o sentido das
reações químicas, fazendo com que menores quantidades deste gás
sejam absorvidas, prejudicando organismos calcificantes e
aumentando a concentração do gás na atmosfera. Por sua vez, esse
aumento contribuiria para intensificar os efeitos do aquecimento
global. Dessa forma, é criado um ciclo vicioso entre a acidificação
dos oceanos e o aquecimento global.

Além de todos os impactos já descritos, com a diminuição do pH


oceânico haverá também o impacto econômico, já que comunidades
que se mantém à base de eco-turismo (mergulhos) ou de atividades
pesqueiras serão prejudicadas.

A acidificação dos oceanos pode também afetar o mercado global


de créditos de carbono, uma vez que prejudicado o depósito natural
de CO2 nos oceanos, maiores quantidades deste gás se
concentrarão na atmosfera, fazendo com que os países arquem
financeiramente com as consequências.

Ainda sobre o depósito natural de carbono, a formação de conchas


de organismos calcários é interessante economicamente pois com a
morte destes organismos, elas são depositadas no leito oceânico,
armazenando carbono por longos períodos de tempo.

Tecnologia de mitigação
A geoengenharia desenvolveu algumas hipóteses para acabar com
esse problema. Uma delas é usar o ferro para “fertilizar” os oceanos.
Dessa forma, as partículas desse metal estimulariam o crescimento
dos plânctons que, por sua vez, absorveriam o CO² que, ao morrer,
levaria o gás carbônico para o fundo do mar.

Outra alternativa proposta foi a adição de substâncias alcalinas nas


águas dos oceanos para equilibrar o pH, como pedra calcária
esmagada. Porém, segundo o Professor Jean-Pierre Gattuso, da
Agência Nacional de Pesquisas da França, este processo poderia ser
eficaz apenas em baías com troca limitada de água com o mar
aberto, o que daria um alívio local, mas não é prático em escala
global pois consome muita energia, além de ser uma alternativa cara.

Na realidade, as emissões de carbono deveriam ser o foco da


discussão. O processo de acidificação oceânica não afeta apenas a
vida marinha. Povoados, cidades e até mesmo países são totalmente
dependentes da pesca e do turismo marítimo. Os problemas vão
muito além dos mares.

Atitudes incisivas se fazem cada vez mais necessárias. Por parte das
autoridades, leis sobre níveis de emissão e fiscalizações cada vez
mais rigorosas. Pelo nosso lado, diminuir nossa pegada de carbono
com pequenas medidas, como utilizar mais transporte público,
principalmente em veículos os movidos a fontes de energia
renováveis ou optar por alimentos orgânicos, que sejam provenientes
da agricultura de baixo carbono. Mas todas essas escolhas só são
possíveis caso a indústria altere suas formas de lidar com os
recursos naturais e também priorize a produção de bens que utilizem
matérias-primas sustentáveis.

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