Feminismos Latino-Americanos Um Cruzamento de Iden
Feminismos Latino-Americanos Um Cruzamento de Iden
Feminismos Latino-Americanos Um Cruzamento de Iden
Abstract: This article focuses on latin american feminism seeking to understand the
general meaning that lies behind this specific framework of feminist struggle and
thoughts. Firstly, it elucidates a little about the critique of ethnocentrism through some
conceptions of Chandra Mohanty and Gayatri Chakravorty Spivak. Then attention is
focused on the contribution of Francesca Gargallo, who seeks to establish a deep
connection between feminism and latin American social reality. Finally, these ties are
thought from the dynamics of articulation of the own social movements, based on some
pioneering studies on the subject.
Keywords: Latin american feminism. Ethnocentrism. Francesca Gargallo. Social
movements.
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Este artigo foi elaborado a partir do trabalho que serviu como avaliação final para a disciplina “Feminismo
e antirracismo: teorias sociais e políticas” ministrada pelo professor Luiz Augusto Campos no primeiro
semestre do ano de 2015 no Programa de Pós-graduação em Sociologia do Instituto de Estudos Sociais e
Políticos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (IESP-UERJ).
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Mestre em sociologia pelo Programa de Pós-Graduação em Sociologia do IESP-UFRJ. Atualmente realiza
o doutorado pelo mesmo programa sob orientação do professor Breno Marques Bringel. E-mail:
[email protected].
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Desde a segunda metade do século XIX até a primeira metade do século XX, foram
empregados inúmeros esforços intelectuais para a compreensão da realidade social
latino-americana. Uma busca incessante para desvendar os seus mistérios, ou melhor,
as suas particularidades, que aos olhos de muitos configuravam um desvio em relação
ao padrão histórico-social europeu e norte-americano e aos olhos de outros eram
manifestações que deviam ser avaliadas nos termos de seus próprios padrões. Isto
resultou em um “manancial” de estudos que conformam o que hoje é denominado
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Nos dias atuais, no campo das ciências sociais não se encontram muitas
interpretações abrangentes sobre a região. Como aponta Rodolfo Stavenhagen (2009),
predominam análises voltadas para questões específicas e que promovem comparações
entre cidades, países ou sub-regiões da América Latina. Simultaneamente, no cotidiano
das relações sociais vê-se proliferar o uso do termo, que continua sendo um parâmetro
importante para as relações internacionais e para as políticas de Estado. Entretanto, para
além destes espaços governamentais ou da política institucional, a expressão é também
utilizada por ativistas e movimentos sociais em meio às lutas pela transformação social,
abrindo com isto novas possibilidades de ação.
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em 1984. A autora argumenta que, ao tratar das opressões nas sociedades que fazem
parte do chamado “terceiro mundo”, vários estudos modernos colocam em prática
estratégias discursivas que simplificam as relações sociais em tal contexto. Reduzem a
complexidade da vida das mulheres e a sua heterogeneidade enquanto grupo social, na
medida em que as representam como um sujeito monolítico e singular.
Segundo Mohanty (2008), é muito comum que tais estudos conduzam a análise
considerando as mulheres um grupo previamente constituído, cujas integrantes
possuem os mesmos desejos e interesses. Ignoram as diferenças de classe e raça/etnia e
não atentam para as condições materiais, simbólicas e históricas específicas nas quais
elas estão inseridas. “As mulheres do terceiro mundo” torna-se o termo recorrente com
que esses textos pretendem dar conta de um universo multifacetado, dinâmico e, muitas
vezes, contraditório. Além disso, é comum que elas sejam tratadas como objetos já que
a análise é centrada na maneira como são afetadas por diferentes instituições e sistemas
sociais, como a religião, a família, a violência, a colonização, o desenvolvimento
econômico, entre outros fatores. Raramente são tomadas como sujeitos que resistem,
mobilizam-se e lutam contra os poderes que os oprimem.
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graves uma vez que a compreensão equivocada das relações de opressão impede a
formulação de estratégias eficazes de luta e dificulta a cooperação internacional entre
organizações e movimentos feministas.
Neste último caso, Spivak (2010) alerta para o risco de uma crença equivocada na
possibilidade de eliminação de todas as mediações que são estabelecidas para que uma
fala possa ser projetada, levando a uma invisibilidade do intelectual. Ou seja, sua
presença e impacto na articulação do discurso não é considerada sob a alegação de que
os agentes sociais falam por si mesmos. Além disso, ainda que não o pretenda, esta
postura também pode acarretar uma nova forma de objetificação e essencialização, uma
vez que a designação de um lugar de fala para o subalterno é também uma forma de
delimitar e distinguir um “outro”.
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Por isso a autora exalta o caos, ou seja, o desconcerto que surge quando algo não
se conforma a esta ordem dominante, a confrontando e desestabilizando. Ela salienta
ainda que ao se unirem, se nomearem e se reconhecerem de forma independente de tais
parâmetros, aqueles que são excluídos assumem uma atitude transformadora que rompe
aos poucos com os laços de dominação. Os caminhos desta luta política são, entretanto,
permeados por dificuldades, já que muitas vezes não se dispõe de instrumentos que
funcionem fora destas lógicas opressoras, tendo que se forjar novos artifícios e novas
linguagens para a contestação.
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Em síntese, o tema da identidade foi crucial tanto para a luta e reflexão feministas
quanto para o pensamento latino-americano. Muitas das discussões nestes dois campos
giraram em torno das perguntas “o que é ser mulher?” e “o que é ser latino-
americana/o?”, respectivamente. Para Gargallo (2006), durante muito tempo a
conceituação da América Latina foi realizada sob uma tríplice mordaça, pois dela foi
apagada a presença dos povos indígenas e africanos, justificando-se tal ausência com a
falácia da mestiçagem generalizada. Já as outras identidades da mulher perseguidas pelo
movimento feminista foram muitas vezes apropriadas pelo sistema de dominação
patriarcal para renovar as formas de opressão que exerce sobre elas.
Existem outros pontos de convergência entre esses dois aportes. Como explica
Gargallo (2006), os saberes que endossam os parâmetros impostos como universais
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Essa conceituação indica um dos aspectos que diferencia a corrente do feminismo maternal da corrente
do feminismo radical conforme estas se situam no interior da teoria feminista, correspondendo a primeira
ao feminismo igualitário e a segunda ao feminismo da diferença. Entretanto, este paralelo não é traçado
pela autora.
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Além de contestar os estudos feministas que tratam das opressões de gênero com
os olhos voltados unicamente para o contexto dos países “centrais”, o enquadramento
latino-americano do feminismo também significou um esforço para estabelecer uma
conexão mais profunda com a região. Este seria, por assim dizer, outro efeito da
autocrítica feminista com relação ao etnocentrismo. Gargallo (2006) assim expressa a
necessidade de reconhecer e assumir a realidade latino-americana como unidade de
análise e referência para a luta:
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Retomando uma fala da feminista Urania Ungo, Gargallo ressalta que “citar es un hecho político” (2006,
p. 9).
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Primeiramente ressalta que mesmo antes do século XX, quando ainda não havia
um movimento feminista estruturado e consolidado na região, já existiam mulheres que
problematizavam a condição feminina, especialmente no que tocava ao acesso à
educação e ao direitos políticos. A autora cita nomes como o de Joana de Asbaje no
século XVII, Teresa Margarida da Silva e Orta no século XVIII e Flora Tristán no século
XIX. Ao longo desses períodos históricos as mulheres estiveram intensamente
mobilizadas no interior de várias lutas. Desde a luta pela abolição da escravidão e pela
independência até os movimentos socialistas, anarquistas e liberais, participando de
partidos, sindicatos e outros tipos de organização.
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Gargallo (2006) demostra, entretanto, que esta visão está equivocada, pois foi
justamente durante este período que floresceu uma fecunda produção literária.
Considerada pela autora como um espaço de reflexão “protofeminista”, cujas obras da
poetisa mexicana Enriqueta Ochoa e da romancista colombiana Marvel Moreno são
tomadas como exemplo. A partir dos anos 70 o movimento “ressurgiu” centrado na
afirmação da liberdade e da diferença5. Neste período Gargallo (2006) destaca os
trabalhos de Graciela Hierro Perezcastro e de uma série de feministas que ela
influenciou, como Eli Bartra Murià e Diana Helena Maffía.
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Esta oposição entre o feminismo pautado na igualdade versus o feminismo que exalta a diferença se
assemelha ao dilema apresentado por Nancy Fraser (2001) entre a luta pela igualdade social (com
demandas por políticas de redistribuição) e a luta pelo reconhecimento cultural. Fraser concebe essas
vertentes como dois lados opostos que tenta conciliar ao final de sua análise. No entanto, é preciso atentar
para o fato de que nem sempre estas linhas de ação excluem uma à outra na medida em que políticas de
redistribuição de renda, por exemplo, podem ter um impacto decisivo no reconhecimento cultural de um
determinado grupo social e vice-e-versa. Uma relativização das análises que apresentam tais tendências
como absolutamente contrárias é algo que também se pode aplicar às concepções de Gargallo (2006).
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que esteve mais voltado para a reivindicação dos direitos civis e políticos, culminando
na luta sufragista. Neste novo contexto, o questionamento das opressões sofridas pelas
mulheres em termos das relações interpessoais que se desenrolam no espaço privado
ganhou um enorme destaque e a partir dele se cunhou um dos grandes lemas do
feminismo: a constatação de que “o pessoal é político". Também os papéis sociais
atribuídos a cada gênero foram alvo de reflexão e contestação mais profunda.
Ana Alice A. Costa (2013) argumenta que na América Latina uma nova articulação
do movimento feminista ocorreu devido a confluência de vários fatores, dentre os quais
sublinha o processo de modernização que permitiu, ainda com restrições, uma maior
inserção das mulheres no mercado de trabalho e no sistema educacional e a influência
do cenário internacional no qual, como visto, as feministas se projetavam como atores
políticos importantes. Porém, o fator que aparenta ter tido o maior peso foi o
engajamento das mulheres nos movimentos de resistências e oposição aos regimes
políticos ditatoriais instalados em vários países da região por grupos civis-militares,
incluindo na luta armada que utilizou táticas de guerrilha no campo e na cidade. De
acordo com Cynthia A. Sarti (1998) foi, sobretudo, a posterior avaliação política-pessoal
dessa experiência que instigou uma reflexão feminista.
Segundo a autora, atuando desta forma as mulheres frequentemente desafiavam
os estereótipos sexistas e recusavam a obrigação de se enquadrarem nos padrões
tradicionais de comportamento. Porém, em muitas das organizações de esquerda em
que ingressaram - sejam os sindicatos, partidos clandestinos ou grupos guerrilheiros -
elas foram excluídas das posições de poder e sofreram com a discriminação e o
machismo também presentes, em maior ou menor intensidade, nesses espaços. Tudo
isso entrava em contradição com os ideais emancipatórios da luta. Por outro lado,
também a repressão estatal incidiu de maneira diferenciada sobre as mulheres como
atesta, por exemplo, a atroz experiência da tortura fortemente marcada pelo abuso
sexual, dentre outras formas de violência nas quais se podia ver claramente as marcas
das opressões de gênero.
É importante lembrar, ainda, que o feminismo foi rejeitado, estigmatizado e
deslegitimado não só pelos grupos da direita, mas também por setores da esquerda,
como relatam as duas autoras mencionadas. No primeiro caso, por desafiar muitos dos
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preceitos, dentre eles a submissão da mulher, nos quais estava calcada a ética
conservadora de tais grupos, era tomado uma ideologia imoral e ameaçadora. No
segundo caso, há que se considerar as concepções distorcidas e equivocadas que eram
disseminadas sobre o feminismo nestes meios.
Para muitos militantes de orientação socialista que perseguiam a transformação
revolucionária da sociedade a partir da abolição da estrutura de classes, o feminismo era
visto como um pensamento vinculado a burguesia e que instigaria a desunião da classe
trabalhadora em função da divisão que supostamente estabeleceria entre os sexos. Havia
ainda o argumento de que consistiria em um modismo passageiro fruto da influência
cultural e política norte-americana e, portanto, reflexo do imperialismo exercido por
esse país sobre a região. Já outros a consideravam uma causa válida porém secundária e
de menor importância em relação a luta de classes. Ela trataria de “questões especificas”
e não das “questões gerais” que estariam situadas no terreno das estruturas produtivas
da sociedade, sendo estas últimas as que deveriam ter prioridade. Para alguns destes,
uma vez que a “classe dominada” não estivesse mais sujeita à “classe dominante”, todas
as outras formas de dominação seriam superadas.
Devido a todas essas questões as feministas acabaram estabelecendo uma relação
tensa com as demais organizações que se insurgiram contra os governos autoritários da
região. Dentre estas estava o segmento mais progressista da igreja católica que inspirava-
se nas ideias da teologia da libertação. Tal segmento desenvolvia um trabalho junto as
camadas populares que se organizavam entorno de demandas referentes a serviços
públicos básicos - habitação, saúde, educação, segurança, saneamento, entre outros -
para os seus bairros de origem. Muitas destas lutas comunitárias contaram com papel
destacado de mulheres, o que correspondia a conduta proativa e a liderança que elas, de
certo modo, possuíam em seus lares. As feministas conquistaram uma inserção
significativa nesses “movimentos de base”, porém a abordagem de temas como
sexualidade, reprodução, família e violência doméstica ainda era um gesto delicado e
muitas vezes encarado como um tabu devido a influência religiosa. Deste modo
encontravam novamente limitações para a sua atuação.
Isto levou muitas feministas a se desligarem de tais grupos ou a desenvolverem
uma dupla militância, ou seja, atuarem tanto nessas organizações quanto em outras de
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Sob outra perspectiva, Joana Maria Pedro (2006) observa que as narrativas sobre
a importância e o significado destes eventos para o “renascimento” do feminismo nos
anos 1970 no Brasil eram disputadas pelas integrantes do movimento. Sendo assim,
recorda que desde o início da década algumas feministas atuavam em grupos de reflexão.
Por meio deles as mulheres se reuniam para realizar leituras, debater textos, trocar ideias
e expor experiências pessoais, o que convertia esse espaço em um espaço de reflexão e
desenvolvimento de ideias feministas. Ele contribuía para o fortalecimento dos laços
(políticos e pessoais) entre as mulheres e para que elas aprimorassem o seu
autoconhecimento. Esta prática, presente nos Estado Unidos e na Europa, era difundida
no país por intelectuais que durante a passagem pelo exterior tinham tido contato com
este método de conscientização política.
Diferenças no interior do próprio movimento feminista na América Latina
também vieram à tona nessa época. Para Sarti (1998) era possível entrever duas
tendências que algumas vezes convergiram e outras vezes entraram em conflito. De um
lado havia uma corrente mais voltada para a atuação das mulheres na esfera pública e
na esfera da política institucional. De outro lado estava a corrente mais voltada para o
terreno da subjetividade, das relações interpessoais e da experiência feminina na esfera
privada. Elas refletem um dilema que, para a autora, é intrínseco a busca emancipatória
do feminismo, já que por vezes se esbarra na impossibilidade de realizar uma tradução
no plano político da singularidade individual. Em que pese, ainda, a infinita pluralidade
que caracteriza a condição social das mulheres.
estariam contidas tanto nos parâmetros de uma sociedade capitalista quanto nos
parâmetros de uma sociedade socialista. Para elas, portanto, manter uma dupla
militância, participando de organizações feministas e socialistas simultaneamente, seria
problemático. Do outro lado estavam as “feministas militantes” que defendiam que a
luta pelo socialismo seria a verdadeira luta revolucionária, estando a luta feminista
contido em seu interior e não existindo uma contradição entre elas.
Na segunda metade da década o outro dilema que se manifestou, de acordo com
as autoras, girava entorno da relação do feminismo com os movimentos conduzidos por
mulheres que se centravam em lutas populares ou comunitárias e não trabalhavam
diretamente com questões de gênero. Movimentos estes que ganharam vulto diante do
contexto de crise econômicas, repressões políticas e desrespeito aos direitos humanos
que a região atravessava há algumas décadas. Essa questão também dividiu opiniões.
Para algumas feministas, eles não poderiam ser considerados movimentos de caráter
feminista sob os quais os Encontros deveriam estar centrados. Já outras questionavam a
legitimidade de tal julgamento que pretendia determinar, sob um ponto de vista único,
se um movimento era ou não feminista e argumentavam que independente de tal
classificação todos deveriam poder participar do evento.
No decorrer dos anos, afluíram para os Encontros novas vozes reivindicando uma
maior visibilidade para diferentes formas de opressão – como o racismo e a homofobia -
que até então não tinham sido tratadas com destaque nos debates do evento. Negras,
indígenas, lésbicas, mulheres ligadas a matrizes religiosas africanas, mulheres latino-
americanas ou descendentes que residiam fora da região (imigrantes) e muitas outras,
com distintos vínculos identitários, confrontaram o movimento com novas questões.
Assim, consolidando uma base social cada vez mais amplas, o feminismo latino-
americano era colocado diante do desafio de lidar com uma grande heterogeneidade e
este foi outro ponto que gerou tensões e reflexões nos Encontros.
Nos anos 1990, os Encontros seguiram debatendo estes e outros temas centrais
para o feminismo, porém o panorama político-social da América Latina passou por
algumas transformações que repercutiram sob a dinâmica dos movimentos. Por um
lado, como aponta Alvarez et alli (2003), conforme o processo de democratização
avançou em alguns países, com o fim dos regimes ditatoriais, foi possível uma maior
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regional e global, ressalta Sonia E. Alvarez (2003). Este foi o caso do primeiro Fórum
Social Mundial (FSM) que ocorreu em 2001 na cidade de Porto Alegre no Brasil. O evento
foi idealizado como um contraponto do Fórum Econômico Mundial, que ocorre
anualmente em Davos na Suíça, e foi impulsionado pelo movimento antiglobalização
que se ergueu contra o sistema global neoliberal. Ao longo das várias edições do evento,
diferentes organizações e redes feministas – como a Marcha Mundial de Mulheres e a
Articulação Feminista Marcosur – coordenaram e promoveram inúmeras atividades.
Assim o feminismo latino-americano chegou ao início do século XXI após ter
trilhado uma trajetória cheia de encontros e desencontros, ao longo da qual se viu diante
do estado, da igreja, dos movimentos da esquerda revolucionária e dos movimentos
populares. Teve de lidar com a atuação cada vez mais dinâmica das feministas em
diversas esferas institucionais, governamentais e não-governamentais, nacionais,
regionais e mundiais. Precisou também reconhecer e encarar as desigualdades e
hierarquias presentes em seu próprio interior. De todas as formas ele se mostrou um
movimento vigoroso, se firmando como uma força política importante e que ganha cada
vez mais visibilidade social, o que o defronta com novos desafios.
Referências Bibliográficas:
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ROIG, A. A. (1981). Teoría y crítica del pensamiento latinoamericano (p. 101). México:
Fondo de cultura económica.
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