Avaliação Neuropsicológica Andrea Karoline

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Relatório Neuropsicológico

Andrea Karoline Albuquerque Silva

Thais di Paula Souza


Neuropsicologa
CRP 20974

A avaliação neuropsicológica é recomendada em qualquer caso onde exista suspeita de uma


dificuldade cognitiva ou comportamental de origem neurológica. Ela pode auxiliar no diagnóstico e
tratamento de diversas enfermidades neurológicas, problemas de desenvolvimento infantil,
comprometimentos psiquiátricos, alterações de conduta, entre outros.
Esta consiste em um exame complementar, cujos resultados devem ser interpretados pelo médico
responsável pelo caso, considerando dados da anamnese, exames clínicos, laboratoriais e observações das
atividades da vida diária.
Este laudo constitui-se em documento clínico-legal para a descrição do estado neuropsicológico e
cognitivo-comportamental do paciente, haja visto que seu dinamismo longitudinal estabelece sua validade
por um ano. Posteriormente, sugere-se reavaliação do caso para sua possível atualização.
1. Identificação

Autor/Relator: Thaís di Paula Souza – CRP 09/5459 – 01/20974


Assunto/finalidade: Relatório de Avaliação Neuropsicológica
Nome do avaliado: Andrea Karoline Albuquerque Silva
Data de nascimento: 29/08/1991 Idade: 32 anos Sexo: Feminino
Estado civil: Casada
Escolaridade: Ensino médio completo

2. Anamnese e descrição da demanda

Avaliação Neuropsilógica para fins Clínicos, Diagnósticos e Terapêuticos, objetivando traçar o


perfil de funcionamento psicológico do paciente avaliado, destacando suas potencialidades para além de
seus déficits, em vistas de possibilitar o direcionamento e planejamento de uma posterior prática
interventiva eficiente e adequada a cada caso em suas especificidades.
A entrevista de anamnese é uma entrevista clínica semiestruturada com o objetivo de coletar
informações sobre a história de vida do paciente. Nesta entrevista, investiga-se diversos aspectos
relacionados a histórico e configuração familiar, marcos do desenvolvimento, escolarização, evolução da
queixa, funcionamento psicossocial e adaptativo do paciente, momento atual de vida, percepções sobre a
queixa, entre outros. Compareceu para esta entrevista de anamnese a própria paciente e foi utilizada uma
anamnese de rastreio.
Andrea 32 anos é casada ah 14, mãe de 2 filhos, dez e três anos. Exerce a profissão de artesã em
sua própria residência. Afirma ter tentado um trabalho externo, porém não se adaptou ao convívio social.
Buscou pela avaliação por acreditar possuir características autistas, de TDAH ou algum transtorno
psiquiátrico.
Andrea relata ter tido uma infância conturbada em meio a conflitos dos pais. Obrigada a seguir a
religião da mãe, se sentia reprimida, limitada de qualquer meio de comunicação, como televisão e internet.
Durante a adolescência, enfrentou dificuldades no contexto social, situação essa que te acompanha até a
vida adulta. Em 2013 apresentou um quadro grave de depressão, com algumas tentativas de auto
extermínio. Fez uso de Certralina. Em 2020 a depressão voltou mais grave ainda, afirma Andrea, dessa vez
não fez uso de qualquer medicação ou tratamento. Afirma ansiedade, psoríase em estágio avançado,
principalmente nas mãos, tonturas e vertigens. Expõe possuir diversas personalidades.
Introspectiva, passou a ter comportamentos de irritabilidade e intolerância. Sensível, diz que se
magoa com facilidade. Paciente se diz fragilizada frente a tomada de decisões e por vezes lhe abdica de
mudança de rotina por não acreditar em sua potencialidade.
Afirma sentir prazer em dormir, ainda que tenha sonhos/pesadelos que a fazem acordar cansada.
Andrea verbaliza não suportar barulhos, sua rotina precisar ser programada e tudo ao seu redor
precisar estar devidamente organizado (TOC), (sic).
Segundo relatos da paciente, seus dois filhos apresentam comportamento característicos de
autismo. Na família ah outros diversos pacientes que apresentam quadros psiquiátricos e três sobrinhos
diagnosticados com Transtorno do Espectro do Autismo (TEA).
Nega tabagismo e etilismo. Prefere ambientes sossegados, ainda que opte por não sair de casa.

Dados escolares: Durante a vida acadêmica, apresentou dificuldades de aprendizagem e


socialização. Concluiu o ensino médio e expressa indecisão quanto à escolha do ensino superior.
Exames e tratamentos realizados: Andrea buscou atendimento psiquiátrico em 2013, não dando
continuidade ao tratamento.

3. Procedimento e Avaliação

A referida avaliação neuropsicológica visou corroborar a relevante contribuição da


neuropsicologia à compreensão do processo de aprendizagem, buscando identificar potencialidades e
limitações, caracterizando as funções cognitivas, reconhecimento de emoções e habilidades sociais, para
elaborar estratégias de intervenção que produzam a remissão ou a redução do sofrimento da paciente.
Buscando investigar o perfil neuropsicológico da paciente que refere possível T.E.A. (Transtorno
do Espectro Autista), além de descrever as habilidades cognitivas preservadas e comprometidas. Foram
realizadas 4 sessões de aproximadamente 50 minutos de duração, incluindo os questionários Quociente
Autism-Spectrum e M-CHAT (A resposta aos itens da escala leva em conta as observações dos pais com
relação ao comportamento da criança. Esse por sua vez, foi respondido pela própria paciente) e os
seguintes instrumentos:

1. WISC-IV – Escala Wechsler – 4.ª Edição. É um instrumento clínico de aplicação individual


em que, entre suas principais aplicações, está a estimativa cognitiva na avaliação neuropsicológica, no
diagnóstico diferencial de desordens neurológicas e psiquiátricas e no planejamento de programas de
reabilitação neurocognitiva. Composta por sub testes: Cubos (CB); Semelhanças (SM); Dígitos (DG);
Conceitos Figurativos (CN); Código (CD); Vocabulário (VC); Sequência de Letras e Núm. (SNL);
Raciocínio Matricial (RM); Compreensão (CO); Procurar Símbolos (PS); Completar Figuras (CF);
Cancelamento (CA); Informação (IN); Aritmética (AR); Raciocínio com Palavras (RP):
2. Figuras Complexas de Rey - Teste de Cópia e de Reprodução de Figuras Geométricas
Complexas: É direcionada à avaliação de pessoas com idade entre 5 e 88 anos e permite avaliar as
habilidades de organização visuo-espacial, praxias construtivas, planejamento e desenvolvimento de
estratégias, bem como memória visual.
3. BDI – O Inventário Beck -II (BDI-II): Consiste grupos de afirmações sobre os sintomas
depressivos que poderiam ocorrer nos últimos 15 dias.
4. Compreensão de leitura textual: A tarefa compreende a repetição da leitura de um texto.

Desde as primeiras sessões, Andrea mostrou-se interessada, participativa, de comportamento


estável e comunicativa, sempre busca expressar com clareza seus questionamentos e apresenta boa
estrutura de pensamento. No início das sessões, a paciente gostava de expressar suas vivencias
emocionais e muito foi falado sobre seu relacionamento familiar. Relata sobre vivencias e dificuldades da
vida diária, principalmente o que concerne os filhos e socialização, ainda que afirme não ter amigas (os).
Apresenta dificuldade em manter contato visual, entretanto, conversa bastante durante os
atendimentos. Tem aparência simpática e é educada no trato com as pessoas. Participa com entusiasmo e
persistência, sem nenhuma desistência.

4. Análise

Aplicação e resultado: Os resultados da avaliação neuropsicológica são analisados do ponto de


vista quantitativo e qualitativo, ou seja, dos resultados quantitativos dos instrumentos de avaliação, assim
como comportamento no momento da avaliação e das entrevistas. Tem como base as informações oriundas
da paciente.
Tabela 1 - WISC-III
 ÍNDICE       PONDERADO     QI       PERCENTIL   CLASSIFICAÇÃO
QI VERBAL 85 144 99,8 Muito superior
QI DE EXECUÇÃO 71 129 97 Muito superior
QI TOTAL 156 140 99,6 Muito superior

Discrepância não significativa entre os aspectos verbais e não verbais. QIV-QIE = 15

 Resultados em Fatores no WISC-III


 FATORES          ESCORE-  PERCENTIL      CLASSIFICAÇÃO
COMPREENSÃO VERBAL 130 98 Muito superior
ORGANIZAÇÃO PERCEPTUAL 117 87 Médio superior
RESISTENCIA À DISTRAÇÃO 113 81 Médio Superior
VELOCIDADE DE PROCESSAMENTO 99 47 Médio
 Tabela 2
Instrumentos e Interpretação dos resultados

Nome do Resultado Interpretação Funções Cognitivas


Instrumento/
Tarefa
WISC –IV QIT 107 Médio Inteligência, Memória
IOP 122 Superior Operacional, Compreensão
IMO 97 Médio Verbal, Velocidade de
ICV 104 Médio Processamento e Raciocínio
IVP 92 Médio Perceptual
Figuras Cópia –Pontos Cópia: Médio Memória Visual,
Complexas Brutos: 29 Memória: Inferior Habilidades visuoespaciais
de Rey Memória e visuoconstrutivas,
Pontos Brutos: 21 funções executivas.
Compreensão 19 recontos e Categoria 5 – Compreensão da Leitura
de 15 acertos questões compreensão
leitura Textual adequada para
idade/ escolaridade
BDI 23 Sintomas de
depressão

Seu desempenho superior nas escalas verbais do WISC-III como vocabulário, semelhança,


compreensão, informação e aritmética - sugere um bom funcionamento adaptativo, revelando um alto
grau de generalização conceitual, raciocínio lógico, juízo social, conhecimento prático das normas
sociais, manejo de cálculo, armazenamento e evocação. Este resultado se relaciona tanto com o
conhecimento que Andrea absorve espontaneamente no ambiente social e familiar como aquele
formalmente adquirido. A distraibilidade baixa e altas capacidades de concentração ficaram
evidenciadas nos seus resultados altos em aritmética e dígito número.
O seu desempenho nas escalas de execução do WISC-III foi classificado entre médio, médio
superior e superior revelando memória visual, concentração para detalhes, função atentiva preservada,
reconhecimento e organização visuo-espacial-motora (vale destacar que o teste de cubos está isento de
influências sócio-culturais), concentração necessária ao significado de uma situação interpessoal,
coordenação motora e controle da impulsividade. Especialmente no teste de código-símbolo que se
relaciona com atenção seletiva, concentrada e distrabilidade, Andrea obteve um resultado médio, um
pouco abaixo do seu padrão de desempenho. No sub-teste procurar símbolos que se relaciona
especialmente com hiperatividade (no caso de resultados baixos) e capacidade de trabalhar sob
pressão, seu resultado foi acima da média.
No teste Figuras Complexas de Rey – teste de Cópia e de Reprodução de Memória de Figuras
Geométricas Complexas, na figura A, a cópia e a reprodução de memória são analisadas separadamente.
Sendo assim, o tipo de cópia realizado por Andrea foi o tipo III, que representa “ Isolamento de detalhes”,
onde o sujeito isola os detalhes uns aos outros, procedendo, pouco a pouco, como um quebra-cabeça, sem
um elemento que oriente a reprodução, terminando num conjunto incoerente.
Quanto às funções cognitivas avaliadas, se entende que a variável cópia tende a medir a
percepção visual, que envolve habilidades como atenção e concentração; neste item a paciente obteve
percentil dentre 30 e 50%, cuja classificação é inferior, que sugere uma má capacidade de percepção
visual, realizando uma cópia mal estruturada.
No BDI-II, o resultado, a partir do escore de 33 pontos, revelou que Andrea apresentou sintomas
considerados médios, quanto aos critérios diagnósticos de Depressão Maior (BDI-II, 2011). Além disso,
nos itens que avaliam alterações no padrão de sono (item 16) e alterações de apetite (item 18), apresentou
os escores mais altos, em ambos os itens. Cabe ressaltar que, apenas, este instrumento, não permite um
diagnóstico de depressão, mas apresenta indicativos de necessidade de uma avaliação mais detalhada.
De acordo com o QA - Quociente de Espectro Autista Versão Adultos, Andrea demonstra
características leves condizentes com o quadro. No entanto, não foram vistas alterações na linguagem, tão
pouco estereotipias previstas para o TEA.
O M-CHAT, que investigam especialmente comportamentos de interação social e qualidade da
brincadeira também investiga comportamentos sociocomunicativos, obteve como resultado déficits nos
comportamentos sociocomunicativos, na interação social recíproca, na brincadeira simbólica e a presença
de padrões restritos e repetitivos de comportamento.
Personalidade
Andrea apresenta condições de funcionamento psíquico inadequado, apresentado
personalidade desintegrada, com sinais patológicos. Foram observados sinais de ansiedade ou angústia
significativas. Suas necessidades parecem predominantemente em busca de atenção, de proteção e de
afiliação. Por fim, podemos admitir que Andrea tem improváveis possibilidades de relacionamento
interpessoal e maturidade, inibindo sua adaptação em instituições que possa participar, assim como seu
desenvolvimento a nível cognitivo, psicoafetivo e social.
5. Conclusão

Andrea apresenta critérios diagnósticos para o Transtorno do Espectro do Autismo (TEA), com
déficit na comunicação social, comportamentos restritos, ansiedade e quadro depressivo, associado a
transtorno de personalidade, conforme DSM-5. CID10; F84.0; F41.2
Aparentemente, é detalhista e com inclinação mais obsessiva diante das atividades propostas. Tal
comportamento pode favorecer tempo de execução mais longo que o previsto para a idade. Por
outro lado, Andrea é persistente, esgotando ao máximo seu raciocínio para que a atividade seja
perfeitamente executada.
O diagnóstico tardio, após a infância, pode ocorrer, por exemplo, quando há comorbidades que
mascaram os traços autistas – como hiperatividade, ansiedade e distúrbios do humor – bem como fatores
socioeconômicos, étnicos e outros, assim casos de autismo diagnosticados tardiamente costumam ter os
mais variados motivos. Um deles está atrelado à situação de pacientes que apresentam sintomas leves e,
quando criança, passam despercebidos por seus responsáveis.
Vale ressaltar que a entrevista com os pais é de mera importância, pois com ela é possível
colher informação sobre vários sinais e sintomas característicos presentes durante o desenvolvimento
do filho e nesse caso não foi possível tal averiguação.

7. Recomendações:

Frente às observações realizadas na presente avaliação, sugere-se, portanto:


⮚ Parecer médico no que se refere a sintomas discretos condizentes com o espectro autista (TEA);
⮚ Acompanhamento psiquiátrico, com enfoque na depressão;
⮚ Continuidade ao acompanhamento psicoterapêutico;
⮚ Inserção da paciente em programa de orientação profissional.
⮚ Por fim, o TEA em adultos é um transtorno que também afeta o ambiente familiar. Portanto, é
pertinente que a avaliação desse espectro inclua um diálogo com os familiares ou entes queridos do
paciente.

O presente laudo é composto por 07 (sete) páginas assinadas e rubricadas por


Thais di Paula Souza, Psicóloga/Neuropsicológica.
Coloco-me à disposição para eventuais esclarecimentos.
Cidade Ocidental, 04 de julho de 2023.

_______________________
Thais di Paula Souza
Psicóloga/Neuropsicológica
CRP 09/5459 – 01/20974.

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