M23 - Aula 4

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HISTÓRIA I

Ano letivo 2016/2017

Coletânea de textos
AULA 4

SENHORIO E FEUDALIDADE NAS SOCIEDADES EUROPEIAS ENTRE OS SÉCULOS IX E XIII

• Da crise do Império Romano, às grandes migrações.

• O Império Carolíngio e as transformações do Ocidente.

• Uma estrutura social original: o feudalismo.

• Particularismos do caso português.

Objectivos da aprendizagem:

• Identificar alguns constrangimentos potenciadores do declínio do modelo


imperial de Roma.

• Identificar possíveis causas e consequências das migrações para os domínios do


Império Romano do Ocidente.

• Caracterizar o feudalismo enquanto sistema social e político na Europa do ano


mil.

• Explicar a importância da teoria das três ordens na estrutura feudal.

• Enquadrar o caso português, num tempo de apogeu do modelo feudal na


Europa.

Bibliografia:

CARPENTIER, Jean, LEBRUN, François (dir.) – História da Europa, Lisboa: Editorial


Estampa, 1996. p. 153-163.
DUBY, Georges – Guerreiros e camponeses, Lisboa: Editorial Estampa, 1980. p. 173-
193.
FOURQUIN. Guy – Senhorio e feudalidade na Idade Média, Lisboa: Edições 70, 1987. p.
63-94, 111-144.
PINTO, Ana Lídia, CARVALHO, Maria Manuela, NEVES, Pedro Almiro (coord.) –
Cadernos de História, Porto: Porto Editora, 2007. p. 70-101.

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A OESTE, O GRANDE SURTO DA EUROPA FEUDAL
Nos três séculos seguintes ao Ano Mil, o Oeste europeu passou por uma notável fase
de expansão demográfica e económica, organizou-se num sistema político e social
original - o do feudalismo - e iniciou, por motivos principalmente religiosos, um vasto
movimento de conquistas que o conduziram a terras pagãs e, para reconquistar o
túmulo do Cristo, às terras do Islão.

Os três séculos que medeiam entre os anos 1000 e 1300 foram os do surto inicial da
Europa Ocidental. Abrigada das invasões vindas de leste graças ao talude constituído
pelos novos Estados cristãos da Rússia, da Polónia e da Hungria, a Europa Ocidental
era já um meio protegido. Neste contexto privilegiado, dotado de estruturas sociais
originais e sustentado por um continuado crescimento demográfico, o Ocidente latino
já podia, simultaneamente, sair do subdesenvolvimento económico que o
caracterizara até então, tentar novas experiências políticas e passar, perante os
mundos que o rodeavam, de uma atitude defensiva a uma atitude conquistadora.

Uma estrutura social original: o feudalismo

O feudalismo

Uma só palavra caracteriza o sistema social e político da Europa do Ano Mil:


feudalismo. Este termo ambíguo designa quer todo o sistema quer a classe social que
dominava esse sistema com os ritos que lhe eram próprios. Esses ritos, criados em
redor da concessão de um feudo, feodum, por um senhor ao seu vassalo - pela
investidura em troca da promessa deste de prestar-lhe serviços e fidelidade - pela
homenagem -, põem em evidência os valores profundos da sociedade feudal: os laços
pessoais e a terra, englobados numa visão cristã e coerente da condição humana.

As origens do feudalismo ocidental são complexas e remotas. O seu carácter


excepcional deve-se à conjunção de vários fenómenos: a existência, depois das
invasões, de uma classe de grandes proprietários emersa das aristocracias indígenas e
dos conquistadores que à sua custa se haviam instalado; a formação de laços pessoais
entre os homens, já presentes nas clientelas romanas mas consideravelmente

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fortalecidos pela companhia germânica, pela vassalagem carolíngia e pela caução da
Igreja, que os sacralizava pelo juramento; o desaparecimento da noção romana de
Estado e, mais tarde, o seu ressurgimento em proveito do Império Carolíngio, seguido
do açambarcamento dos poderes públicos - assim reconstituídos por aqueles próprios
leigos e eclesiásticos que deveriam exercê-los em nome do soberano. A grande
propriedade, a autoridade sobre os homens e a privatização dos poderes estão na
origem da omnipotência dos senhores feudais, detentores de feudos e construtores de
castelos de uma a outra ponta da Europa Ocidental. As modalidades, as datas, o
vocabulário podem diferir: assim, por exemplo, o historiador R. Fossier chegou a
descrever «sete rostos do feudalismo». Mas o fenómeno da pulverização dos poderes
foi geral. Esse poder em migalhas estava, com efeito, à medida de uma reconstrução
social e económica realizada a partir da base.

O feudalismo assentava num modo de exploração da terra e de enquadramento dos


homens, o senhorio rural, a que os Ingleses dão o nome de manarial system e os
Alemães o de Landsherrschaft. Por um lado, o grande proprietário concedia aos
camponeses, qualquer que fosse a sua condição jurídica, parcelas de terreno pelas
quais eles ficavam a ser-lhe devedores de prestações em dinheiro, em espécie ou em
trabalho. Por outro lado, o grande proprietário aproveitava-se do facto de estar numa
situação de superioridade, de ter construído um castelo e de ter açambarcado os
poderes públicos para impor o seu domínio - o ban - não apenas aos homens que lhe
trabalhavam as terras mas a todos aqueles que do seu castelo podia proteger e,
portanto, oprimir, exercendo sobre eles a totalidade, ou parte, dos poderes realengos
e cobrando os correspondentes rendimentos; estes direitos banais constituíam em
toda a Europa feudal, qualquer que fosse o grau de feudalização, uma parte essencial
dos proventos senhoriais. Em ambos os seus aspectos - o fundiário e o banal -, o
senhorio rural era a base económica do feudalismo.

Esta realidade feudal e senhorial decorria da visão coerente da sociedade que os


pensadores do tempo - isto é, os homens da Igreja - exprimiam por meio de duas
noções essenciais. A primeira era a de que todos ocupavam no mundo um lugar
conforme com a vontade divina. Na segunda têm os historiadores e os antropólogos

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reencontrado numa versão cristianizada, o velho esquema indo-europeu da
trifuncionalidade: a posição de cada indivíduo na ordem geral corresponde a uma das
três funções que o homem pode desempenhar na sociedade: orar, combater ou
trabalhar.

A primeira destas funções cabia, nesta sociedade de ordens, aos clérigos e aos monges
- que asseguravam, pelo culto religioso e pela oração, a indispensável relação com
Deus e, portanto, a salvação de todos. A Igreja - renovada no século XI pela reforma
gregoriana e dominada pelo poder papal desde Gregório VII (1073-1085) até Inocêncio
III (1198-1216) - dedicou-se então à cristianização em profundidade da sociedade,
expressa em grandes concílios reunidos em Latrão. A poderosa influência da Igreja na
sociedade cristã foi reforçada por meio de grandes reformas monásticas ou religiosas
que assinalam os tempos fortes da história da instituição: a fundação de Cluny em
910, a fundação de Cister (Clteaux) em 1098, que teve novo ímpeto em 1112 com a
chegada de S. Bernardo -, a fundação das ordens mendicantes por S. Domingos (1170-
1221) e S. Francisco (1182-1226).

O bom andamento do mundo assentava na ordem dos guerreiros que, como senhores
da força e do poder, tinham o encargo de defender a ordem e a paz. A Igreja tentou
por todos os meios canalizar a violência do mundo dos guerreiros, dos feudos e dos
castelos - em particular criando e fomentando as instituições de paz e ajudando à
formação de um ideal que iria transformar, nos séculos XII e XIII, em cavaleiro-
cavalheiro o brutal cavalgador do Ano Mil. O cavaleiro knight, Ritter, cavaliere,
caballero..., dominava então a realidade social e a ficção poética das canções de gesta,
dos romances corteses ou dos Minnesdnger.

Mas a sobrevivência dos clérigos e dos guerreiros era assegurada pela terceira ordem,
a dos camponeses, que trabalhavam a terra no âmbito da aldeia, do senhorio e da
paróquia rural. Depois do desaparecimento da escravatura, já praticamente
inexistente no Ano Mil, o seu estatuto jurídico apresentava uma infinidade de
variações de grau entre a servidão e a liberdade; já o mesmo se não dava com a sua
condição económica, pois não havia comparação possível entre o mísero jornaleiro,
amarrado aos limites da sua aldeia, e o rico possuidor de charrua e de animais de tiro

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para puxá-la. Todos eles eram, porém, englobados num mesmo desprezo - o desprezo
que se dava a uma classe social deprimida e posta ao serviço dos senhores de quem
dependia por completo.

Das três grandes fases por que a Europa Ocidental teve de passar até chegar à
supremacia mundial, o período que medeia entre os anos 1000 e 1300 foi preenchido
pela primeira, a fase agrícola - preliminar indispensável para o renascimento comercial
do século XVI e para a revolução industrial dos séculos XVIII e XIX. Esse primeiro
período de crescimento assegurou aos homens da cristandade latina, cada vez mais
numerosos, o domínio da ocupação do solo e da produção rural.

CARPENTIER, Jean, LEBRUN, François (dir.) – História da Europa, Lisboa: Editorial


Estampa, 1996. p. 153-156.

História I 50
A ORDEM FEUDAL
1 - Os primeiros sinais de expansão
Os sintomas deste desenvolvimento surgem lentamente. É notório que os cronistas
que escreviam na Gália durante a primeira metade do século XI - homens como
Ademar de Chabannes ou Raul Glaber - não parecem ter consciência de qualquer
progresso na civilização material à sua volta. É claro que estes homens foram educados
nos mosteiros, e muitos nunca saíram as suas portas. Para mais, o mundo da carne não
merecia atenção, pois os verdadeiros elementos do mundo eram espirituais. A história,
tal como estes monges a concebiam, devia preocupar-se com o destino moral da
humanidade, a marcha em direcção ao fim dos tempos e à cidade celestial. Não
podemos, portanto, esperar que sejam testemunhas fidedignas sobre assuntos
económicos. De qualquer forma, o seu silêncio indica que essas mudanças na
economia se processavam muito lentamente e não tinham a natureza de uma ruptura.
Algumas facetas destas modificações foram postas em relevo por escritores da Igreja,
porque viram nelas sinais dos desígnios de Deus.
Eram sensíveis sobretudo a dois tipos de fenómenos. Por um lado, os desastres, que
interpretavam como expressões da ira divina ou das forças do mal que atrasavam o
Homem no caminho para a luz. Assim descreveram as grandes epidemias que
avassalavam a Europa Ocidental e que só podiam ser travadas por preces, actos de
penitência colectiva e o recurso ao poder protector das relíquias. Não há dúvida que a
disseminação da doença, e sobretudo do «mal dos ardentes», era favorecida pelas
deficiências alimentares. Um destes escritores também chama a atenção para a ligação
entre a epidemia que devastava o Norte da França em 1045 e a falta de comida: «Um
fogo mortal começou a devorar inúmeras vítimas... E ao mesmo tempo, a população
de quase todo o mundo sofria as fomes resultantes da falta de vinho e de cereais».
As pessoas descritas nestes relatos parecem ter vivido sob a ameaça constante da
fome. De vez em quando, a subnutrição crónica agravava-se, causando mortalidade
catastrófica; daqui a «maldição penitencial» que, a acreditar em Raul Glaber, flagelou a
Europa durante três anos, cerca de 1033.

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Não existe, contudo, nada que nos impeça de ver verdadeiros sinais de expansão nesta
fome permanente e nas crises periódicas que deixavam pilhas de cadáveres por
enterrar nos cruzamentos das estradas e que levavam os homens e as mulheres a
comer fosse o que fosse - terra e até carne humana. Elas por certo representam um
desequilíbrio temporário entre os níveis da produção, as deficiências técnicas duma
agricultura de sobrevivência ainda muito vulnerável ao mau tempo: «chuvas contínuas
alagaram toda a terra a ponto de durante três anos ser impossível abrir regos capazes
de receber semente» e o número de consumidores que aumentava com a população.
De qualquer modo, o retrato trágico que Raul Glaber pinta das fomes de 1033 mostra
que estes desastres ocorriam num clima que era já altamente volátil. Os actos de
canibalismo que ele condena ocorreram numa província onde os viajantes se
deslocavam ao longo de caminhos e faziam escala nas estalagens; onde a carne se
vendia habitualmente nos mercados; onde o dinheiro era utilizado normalmente para
obter comida («então os ornamentos eram tirados das igrejas para serem vendidos a
favor dos pobres») e os especuladores tiravam partido da miséria generalizada. Este
era um mundo em mudança e as calamidades que o afligiam eram, na realidade, o
preço da expansão demográfica, que se dava, possivelmente, a uma cadência
demasiado rápida e, de qualquer forma, não regulada, mas que pode ser encarada
como um dos primeiros frutos do crescimento económico.
Por outro lado, os cronistas foram impressionados por certas inovações.
Interpretavam-nas à luz de uma história que se centrava na salvação da humanidade,
mas eles próprios as consideravam marcas indubitáveis de progresso. Depois do
mistério da Paixão de Cristo, Raul Glaber regista as manifestações do que lhe parece
ser uma nova aliança, uma nova primavera para o mundo cuja floração era o resultado
da clemência divina. Entre os sinais que o impressionaram, havia três que
aparentemente envolviam o jogo das forças económicas. Em primeiro lugar, salienta o
tráfego desusado nas estradas. Os únicos viajantes a que este homem da Igreja se
refere especificamente são os peregrinos, mas parecem-lhe ser mais numerosos do
que nunca:
«…ninguém podia prever tal multidão: para começar, havia membros das classes mais baixas;
depois, as pessoas das classes médias; e depois os da mais alta linhagem, reis ou condes,

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marqueses ou prelados, e, por fim, algo que nunca sucedera, muitas mulheres, das mais
nobres às mais pobres, faziam o caminho de Jerusalém».
(…)
Uma segunda inovação, notada pelos historiadores e também apontada como
progresso espiritual, foi a construção de igrejas.
(…)
Sinais de uma terceira inovação, registada pelos cronistas dos inícios do século XI, são
o testemunho de uma nova ordem: o estabelecimento das instituições feudais.

2 – A ordem feudal
A utilização da palavra «feudalismo» (féodalisme), adoptada pelos historiadores
marxistas para definir uma das fases principais da evolução social e económica,
justifica-se pelo papel do «feudalismo» (féodalité) (no seu sentido mais lato,
recobrindo o exercício do poder na Europa Ocidental a partir do primeiro milénio) na
organização de novas relações entre as forças produtivas e aqueles que delas tiravam
proveito. Assim é essencial examinar em profundidade esta grande alteração que se
deu nas estruturas políticas.
O feudalismo caracterizava-se, em primeiro lugar pela decadência da autoridade real e
vimos já que a incapacidade dos Carolíngios para conter os ataques do exterior tinha
acelerado a dispersão do seu poder no decurso do século IX. A defesa da terra - a
função primeira da realeza - passou rápida e irreversivelmente para as mãos dos
príncipes locais. Estes assumiram os direitos reais que neles tinham sido delegados e
incorporaram-nos no património duma dinastia cujas fundações iam sendo lançadas
como parte do mesmo processo. Depois, a maior parte dos grandes principados foi-se,
por sua vez, desintegrando, tal como os reinos. Os senhores de média linhagem,
primeiro os condes e depois, por volta do ano 1000, os comandantes das fortalezas
obtiveram a sua independência dos príncipes. Estes acontecimentos, ocuparam todo o
século X na Gália, afectaram a monarquia inglesa e penetraram em Itália, embora aqui
fossem alterados pela força das cidades. Foram lentos a chegar à Germânia, onde as
instituições políticas carolíngias sobreviveram até ao alvorecer do século XII. Esta
subdivisão em unidades territoriais cada vez mais pequenas do direito de punir,

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comandar e assegurar a paz e a justiça constituiu um ajustamento às possibilidades
concretas do exercício da autoridade num mundo rural e bárbaro, onde era difícil
comunicar à distância. A organização política ia sendo adaptada às condições da vida
material. Mas importa frisar que esta mudança só se realizou quando a memória das
guerras de pilhagem sazonais, anteriormente conduzidas por todo o corpo de homens
livres contra inimigos de outras tribos, se apagou da memória dos camponeses.
Coincidiu com a adopção de um novo tipo de guerra e com a criação de um novo
conceito de paz.
O desenvolvimento da ideologia da «paz de Deus» caminhou de mãos dadas com as
últimas fases da feudalização. Foi pela primeira vez expressa pouco antes do ano 1000
no Sul da Gália, região onde se deu primeiro o colapso da autoridade real. Lentamente
esta ideia foi ganhando uma certa consistência, embora se tenha espalhado por toda a
cristandade latina sob diversos aspectos. Os seus princípios eram muito claros: Deus
tinha delegado nos reis ungidos a tarefa de manter a paz e a justiça; os reis já não
eram capazes de a levar a cabo; assim, Deus tinha-lhes retirado esse poder de
comandar que de novo passou para as suas mãos e investira-o noutros seus
servidores, os bispos, com a ajuda dos príncipes locais. Assim, os concílios, convocados
pelos prelados, reuniam-se em cada distrito, e os magnatas e os seus guerreiros
participavam neles. Estas assembleias, baseando-se em princípios de ordem moral e
espiritual, procuravam refrear a violência e estabelecer regras de conduta para todos
os que usavam armas: por meio de um juramento colectivo, todos os guerreiros
profissionais se obrigavam a cumprir e respeitar certas proibições, sob pena de
excomunhão. Este sistema não se revelou muito eficaz. Durante os séculos XI e XII, os
caminhos do Ocidente foram constantemente devastados por grupos profissionais de
guerreiros. Mesmo assim, a instituição da paz de Deus teve profundas repercussões
sobre o comportamento os homens e sobre as bases elementares da vida económica.
Para começar, estabelecia pela primeira vez uma moral coerente de guerra. Na
primeira sociedade medieval, a luta era considerada uma actividade normal e aquela
em que a liberdade legal atingia a sua expressão mais elevada. Nenhum ganho era
considerado mais justo do que o conseguido pela guerra. De agora em diante, e de

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acordo com os preceitos dos concílios de paz, já não era permitido lutar (nem
manipular dinheiro, ou ter relações sexuais) a não ser dentro de limites específicos.
Definiram-se campos de acção fora dos quais o recurso às armas era condenado como
mal e contrário aos desígnios de Deus e à ordenação natural do mundo. Toda a
violência militar foi proibida em certas áreas (perto dos locais de culto, marcados.
pelas cruzes erguidas nas estradas), durante certos períodos, correspondentes às
ocasiões mais sagradas do calendário litúrgico e contra certos grupos sociais
considerados vulneráveis (os clérigos e os «pobres», ou massas populares). Estes
princípios morais existiam já em forma embrionária nas regras de paz e justiça que os
reis carolíngios tinham tentado fazer respeitar. Mas por serem agora da
responsabilidade da Igreja latina que as amalgamou num código uniforme, válido para
todos os seguidores de Cristo, eram agora muito mais fáceis de impor à comunidade
cristã, e isto numa altura em que os grandes Estados, recém-formados pela conquista
se desintegravam numa multidão de pequenos potentados rivais. A fragmentação da
Europa em inumeráveis unidades políticas poderia ter criado condições para o
aumento dos confrontos militares, para o fortalecimento das guerras tribais e para que
se restaurasse, no coração da Europa, uma ordem económica baseada na pilhagem
permanente. As determinações da Paz de Deus afastaram do mundo cristão as forças
agressivas próprias da sociedade feudal. Contra os inimigos de Deus, «os infiéis» não
só era permitido como até francamente salutar pegar em armas. Os homens da guerra
eram, assim convidados a praticar as suas actividades fora da cristandade. O espírito
de cruzada, que emanava directamente duma nova ideologia de paz, guiava-os para as
guerras no exterior, para as prósperas regiões fronteiriças onde a guerra era um
estímulo poderoso para a circulação da riqueza.
O roubo de riquezas pertencentes às igrejas e aos camponeses por meio da violência
militar contra o povo de Deus era assim visto cada vez mais claramente pelos que
tinham vocação para a luta como um perigo para a salvação da alma. No entanto, a
aquisição de riquezas podia-se fazer por outros meios, desde que fossem «pacíficos» -
e estes eram permitidos pela instituição do senhorio. Ao condenar a pilhagem pela
violência, a ética da paz de Deus, em compensação, legitimou a exploração senhorial.

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Esta era apresentada como o preço que tinha de ser pago pela segurança que o novo
regime garantia aos trabalhadores.
A exploração senhorial obedecia a um padrão sociológico que provavelmente se
ajustava à realidade das relações económicas e que, ao mesmo tempo, lhes dava uma
maior solidez. À medida que se afastava o ano 1000, os concílios de paz começaram a
invocar a teoria das três ordens, que tinha germinado lentamente num estreito círculo
de intelectuais: desde a Criação, Deus tinha distribuído tarefas específicas a cada
homem; uns deviam orar pela salvação de todos, outros deviam lutar para proteger o
povo; cabia aos membros do terceiro estado, de longe o mais numeroso, alimentar,
com o seu trabalho, os homens de religião e da guerra. Este padrão, que rapidamente
marcou a consciência colectiva, apresentava uma forma simples e em conformidade
com o plano divino e assim sancionava a desigualdade social e todas as formas de
exploração económica. No interior de uma estrutura mental tão clara e rígida podiam
existir livremente as diversas relações de dependência desde há muito estabelecidas
entre os trabalhadores camponeses e os proprietários rurais e que definiam o
mecanismo dum sistema económico que na generalidade pode ser apelidado de
«feudal».

(a) As três ordens


Neste modelo ideológico elaborado por intelectuais, todos os membros da Igreja desse
tempo, os especialistas da oração, situavam-se obviamente, no cume da hierarquia das
ordens. Não só deviam ficar isentos das muitas exigências a que os homens poderosos
podiam submeter os seus dependentes, através da pilhagem ou dos impostos, mas
deviam ainda ter direito a uma porção substancial de tudo o que era produzido, que
devia ser oferecido a Deus por seu intermédio. Assim, as pessoas eram induzidas a dar
preferência às actividades económicas relacionadas com a consagração e o sacrifício.
Esta penetração na consciência colectiva coincidiu com o momento em que os
donativos piedosos às casas religiosas atingiram o ponto mais alto; nunca na história
da Igreja cristã do Ocidente foram as dádivas dos laicos tão avultadas como durante as
cinco ou seis décadas depois do ano 1000. Os fiéis davam no dia-a-dia, para remir os
pecados que acabavam de cometer e que poriam em perigo as suas almas. Davam

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ainda mais generosamente no leito de morte - mesmo com o risco de deixar os
herdeiros em má situação - para o funeral e para obter a intercessão dos santos antes
do dia do juízo. Davam o que podiam, principalmente terras, uma vez que estas eram
as formas mais valiosas de riqueza, especialmente quando tinham trabalhadores para
a cultivar. Todas as fontes escritas deste período ao dispor dos historiadores provêm
de arquivos eclesiásticos: são na sua maioria escrituras garantindo aquisições das
igrejas, fazendo assim luz sobre este fenómeno e fazendo-nos correr o risco de
exagerar a sua importância. Contudo, esta enorme transferência de propriedades em
terra - de que os mosteiros beneditinos eram os principais beneficiários, com as igrejas
episcopais em segundo lugar - era a mudança mais dinâmica que afectava a economia
europeia desta época e colocou a Igreja do Ocidente numa posição temporal
absolutamente ímpar. Contudo, não tardou a ser alvo de críticas dos que supunham
compreender melhor a mensagem do Evangelho e, em meados do século XI, começam
a levantar-se vozes que pretendem libertar os servos de Deus de preocupações
demasiado materiais. A riqueza enorme da Igreja criava uma inquietação que agia
como fermento da propaganda de heresias e um ponto de partida para sucessivas
tentativas de reforma. Também originou um aumento constante no número de
monges e clérigos durante os séculos XI e XII.
Estes homens não estavam totalmente afastados dos processos de produção. O clero
rural, em maioria, vivia como o campesinato, donde provinha e cujos costumes
partilhava. As igrejas e capelas rurais eram servidas por padres que trabalhavam no
campo com as suas famílias (muitos eram casados), cultivavam os pedaços de terra
que lhe eram dados pelos senhores do domínio, em paga dos seus serviços. As
comunidades de monges e cónegos reformados, que se tornaram frequentes no século
XI, exortavam os seus membros ao trabalho manual. Este ascetismo rígido recaía
sobretudo nos de origem rústica, que não participavam inteiramente no ofício
litúrgico. Nas suas penosas circunstâncias materiais, estes «irmãos leigos» (conversi)
assemelhavam-se ao campesinato. No entanto, muitos dos prelados mais ricos, como
recebedores de ofertas mais substanciais, eram simples consumidores. Os que
residiam próximo das catedrais gozavam duma situação social semelhante à dos

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seculares mais ricos. Nem lhes ocorria que o seu papel de servidores de Deus pudesse
ser cumprido sem ostentação. Das riquezas que recebiam em quantidade utilizavam
uma parte para assistir aos pobres. A sua hospitalidade fazia-se em grande escala. Os
pedintes recebiam dinheiro ou alimentos às portas das igrejas e estas esmolas rituais
eram alargadas em tempo de calamidades. Esta função de redistribuição,
cuidadosamente definida nas regras financeiras das grandes fundações monásticas,
não era decerto negligenciável; contribuía de facto para manter a miséria dentro de
limites, numa sociedade que era ainda muito subdesenvolvida, e continha em si uma
massa crescente de homens miseráveis e desenraizados. Contudo, a caridade vinha em
segundo lugar, depois do preceito antigo de celebrar o ofício divino com o luxo mais
aparatoso. A melhor função, que os chefes dos mosteiros e catedrais achavam que a
riqueza podia ter era a de decorar, embelezar e reconstruir o local de oração e
acumular à roda dos altares e das relíquias dos santos o mais brilhante esplendor.
Certos dos recursos que a generosidade dos fiéis continuava a aumentar, tinham uma
única atitude económica: gastar, para glória de Deus.
Este ponto de vista era partilhado pelos membros da segunda ordem da sociedade, os
especialistas da guerra. Também eles gastavam, mas no interesse da sua própria glória
e pelos prazeres da vida. Dando à Igreja todos os seus administradores,
monopolizando a força das armas e usando-a com dureza, não obstante as proibições
da ética da Paz de Deus, esta categoria social constituía a classe dirigente, a despeito
do maior valor atribuído ao clero e da maior riqueza e superioridade numérica deste.
Foi nos termos do poder e da conduta destes laicos que a teoria das três ordens se
estabeleceu e que se formaram as instituições que procuravam estabelecer a paz. Foi a
sua posição e comportamento que governaram toda a economia feudal dos séculos XI
e XII. Eles eram os donos da terra, à parte aquela que o medo da morte os obrigava a
ceder a Deus, aos seus santos e aos que O serviam. Viviam na ociosidade e
consideravam o trabalho uma actividade indigna da má linhagem e da liberdade
sobranceira com que reclamavam os seus privilégios. Como a decadência da
autoridade real tinha acabado por colocar os membros desta ordem numa posição de
independência e lhes tinha dado uma mentalidade digna de reis, não aceitavam

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restrições à sua liberdade, nem nenhum serviço que eles próprios não tivessem
escolhido, e que, por não assumir o aspecto de dever material, não lhes parecesse
desonroso. Assim, recusavam-se a qualquer pagamento a que não tivessem dado
consentimento e só condescendiam a separar-se dos seus bens sob a forma de ofertas
e actos de generosidade mútua. A sua vocação era combater, e o principal fim da sua
riqueza era adquirir os melhores meios de combate, através do treino físico, ao qual
dedicavam muito tempo, e de outros investimentos de que só esperavam um lucro -
maior força militar. Na economia doméstica dos homens desta classe, uma proporção
significativa dos seus rendimentos, e que parece ter aumentado durante os séculos XI
e XII, destinava-se a aperfeiçoar o equipamento dos guerreiros, melhorar a qualidade
dos cavalos e obter as melhores armas ofensivas e defensivas. O cavalo tomou-se a
arma principal do homem de guerra e o símbolo da sua superioridade; estes guerreiros
passaram a chamar a si próprios «cavaleiros» (milites). Nos fins do século XI, a cota de
malha já se tinha tomado tão complexa que valia tanto como uma boa quinta. A ânsia
de melhorar as armaduras esteve na raiz do contínuo progresso do trabalho do ferro.
O rápido progresso da arquitetura militar durante o século XII conduziu à abertura de
mais estaleiros de construção de castelos, muitas vezes perto dos das igrejas. Havia um
segundo motivo para despesas, entre os membros deste grupo social, governado pelo
espírito de emulação e para os quais o mérito pessoal se media não só em termos de
bravura e habilidade no manejo das armas mas também em termos de luxo,
ostentação e extravagância. No ethos a que se dedicavam estes nobres, uma das
virtudes mais prezadas era a generosidade e o prazer do desperdício. Como os antigos
reis, o cavaleiro devia ser sempre generoso, lançando riqueza à sua volta. Os
banquetes e as festas, onde se comia e bebia em excesso e onde os frutos da terra
eram destruídos colectivamente no meio de orgias em que se competia para ver quem
se excedia mais, eram, além da guerra, o padrão de vida da nobreza. Do ponto de vista
económico, a cavalaria representava na sociedade do seu tempo o saque por razões
profissionais e o consumo pela prática tradicional.
Resta-nos o terceiro estado, os trabalhadores, a camada de base formada pela maioria
da população, em que cada membro estava convencido que devia alimentar as duas

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elites de oratores e belatores, os que rezavam e os que combatiam, e dar-lhes meios
de sustentar a sua preguiça e prodigalidade. A sua função específica, segundo os
ditames da Providência condenava-os inexoravelmente a uma vida de trabalho
manual, considerado degradante e privava-os da liberdade plena. Enquanto os últimos
elementos da escravatura desapareciam (a palavra servus desaparece de quase toda a
França no princípio do século XII), o campesinato, no seu conjunto, cada, vez mais
sobrecarregado pela pressão dos que monopolizavam o poder, parece ter sucumbido à
exploração das outras classes em virtude da própria situação. Uns propiciavam-lhes a
salvação pela prece; outros, em teoria, eram responsáveis pela sua segurança e
defendiam-nos dos agressores. Como preço destes favores, a sua capacidade
produtiva estava totalmente subordinada aos senhores.

(b) O senhorio.
Do ponto de vista económico, o feudalismo caracterizava-se não só pela hierarquia das
condições sociais que o ordenamento esquemático das três ordens tentava
representar; caracterizava-se também pela instituição do senhorialismo. Isto não era
novo, mas tinha-se modificado lentamente pelo desenvolvimento do poder político.
A despeito da estrutura social racionalizada, cuja simplificação levou ao seu
reconhecimento após o primeiro milénio, a barreira que separava os trabalhadores do
clero e dos guerreiros não correspondia exactamente à que colocava os senhores dum
lado e os que estavam sujeitos à exploração senhorial do outro. Muitos padres, como
já vimos, faziam parte da mão-de-obra do domínio. Sob as ordens do senhor que
utilizava a sua especialização profissional, realizavam serviços de forma análoga ao que
faziam os moleiros ou os que coziam pão. Até ao fim do século XII, muitos cavaleiros,
particularmente na Germânia e nos países do litoral do Mar do Norte, continuavam na
situação de dependentes domésticos junto dum senhor que os empregava e mantinha.
Não possuindo terras, embora beneficiassem dos lucros do senhor, não exerciam
qualquer autoridade. Em contrapartida, havia camponeses que tinham conseguido
acumular mais terras do que as que podiam trabalhar sozinhos e que cediam parcelas
a vizinhos menos afortunados a troco de uma renda de tipo senhorial. Entre os servos
de origem humilde a quem os senhores tinham delegado a administração das

História I 60
propriedades, havia alguns que também enriqueciam - e muito rapidamente.
Aproveitando-se do poder que lhes fora cedido, podiam explorar os inferiores, criando
fora do circuito do seu senhor uma rede de rendas que guardavam para si e que
constituíam virtualmente o seu domínio pessoal. No entanto, a sociedade feudal
estava disposta em duas classes, uma das quais, a dos senhores, compreendia clérigos
e cavaleiros. Para eles, parecia escandaloso, para não dizer pecaminoso, que um
trabalhador se elevasse da sua classe, a ponto de partilhar os privilégios dos clérigos e
dos guerreiros, vivendo na ociosidade graças ao trabalho de outros. Durante o período
em que as instituições feudais atingiam a maturidade, isto é, durante os anos a seguir
ao ano 1000, a tensão no interior da estrutura social levou à consolidação da posição
senhorial dos clérigos e dos cavaleiros e a um alargamento do fosso que os separava
das pessoas comuns, no campo das relações económicas.
DUBY, Georges – Guerreiros e camponeses, Lisboa: Editorial Estampa, 1980. p. 174-
185.

História I 61
PORTUGAL
AS ESTRUTURAS DO FINAL DA IDADE MÉDIA
O Portugal feudal

O Portugal dos finais da Idade Média apresentava muitas características próprias,


consequência natural do encontro e da fusão de estruturas do Norte com estruturas
do Sul. Reunia, na verdade: a) elementos puramente feudais, comuns a toda a Europa
Ocidental, resultado da evolução de categorias romanas e bárbaras (principalmente
visigodas) e, mais tarde, do declínio do próprio feudalismo; b) elementos feudais
deturpados, consequência das necessidades e circunstâncias da «Reconquista»; c)
elementos moçárabes, com uma longa tradição de auto desenvolvimento e isolamento
da Europa cristã; e d) elementos islâmicos típicos, comuns a todo o mundo
muçulmano, o qual, pelos séculos XII e XIII, se mostrava já feudal ou rapidamente
tendendo para o feudalismo.

O Portugal feudal, como a Castela feudal, exibia assim aspetos do maior interesse, que
só em comparação com os demais países europeus e com os estados islâmicos podem
ser cabalmente interpretados e compreendidos. Foi por, em geral, se recusarem a
fazê-la que quase todos os historiadores portugueses (com muitos dos seus colegas
espanhóis) vieram a criar e a defender um Portugal artificial, «senhorial, não-feudal»,
espécie de «avis rara» de incerta origem e difícil descrição. Uma vez posta de parte a
ideia de um feudalismo monolítico e geograficamente delimitado, a interpretação do
Estado português da Idade Média e dos começos da era moderna deixa de se
apresentar como enigma, embora continuando a levantar numerosos e inevitáveis
problemas.

A vassalidade, como instituição, achava-se perfeitamente estabelecida em Portugal


nos séculos XIII, XIV e XV. Em vez de fidelis, tão costumada anteriormente, foi vassallus
(vassalo) que se passou a generalizar e a referir a todos os nobres na dependência
directa do seu rei. A pequena extensão do País e o facto de ser o monarca um dos

História I 62
maiores proprietários dele explicam o número relativamente grande de vassalos
diretos e a consequente força do rei.

Concessões régias em forma de benefício denominavam-se préstamos (prestimonia).


Não eram, a princípio, hereditários mas, com o andar do tempo, a hereditariedade
generalizou-se e aceitou-se como prática corrente, embora muito mais tarde do que
algures na Europa feudal. Pelos meados do século XIII, e depois dessa data, existiam
por todo o Portugal feudos semelhantes aos franceses e aos ingleses. Muitas
concessões régias começaram revestindo a forma de morgadios ou morgados, que
implicavam inalienabilidade, indivisibilidade e sucessão perpétua dentro da mesma
família, geralmente seguindo o direito de primogenitura e preferência masculina.

In prestimonium podiam ser dados e foram dados latifúndios, pequenas herdades,


casas, cargos e até rendas (alfândegas, portagens, foros, etc.). A palavra feudo (feu,
feodum) é que se mostrava rara, mas ainda assim aparece algumas vezes, como, por
exemplo, na concessão hereditária do cargo de almirante ao genovês Manuel
Pessagno (1317).

«Dom Dinis, pela graça de Deus, rei de Portugal e do Algarve. A quantos esta carta virem faço
saber que eu, querendo fazer graça e mercê a micer Manuel, meu vassalo, faço-o meu
Almirante-mor. E depois sa morte, mando que o seja o seu filho mor que ai ficar que herdar o
feu que eu dou ao dito micer Manuel; e assim os outros seus sucessores todos que o feu
herdarem segundo é conteúdo nas cartas que são feitas entre mim e ele e que assim em como
houverem o feu, que assim hajam o almirantado por linha direita pela maneira e condições
que são conteúdas nas ditas cartas. E mando a tôdolos meus vassalos, corsários e alcaides de
galés e arraises e oficiais que a este ofício pertencem e a tôdolos outros homens de mar que
com eles forem em frota ou em armada ou em outra corsaria de mar, que lhes sejam
obedientes e mandados e que façam por eles como por meu Almirante-mor. [...]»

Os feudos portugueses exibiam variedade grande de condições onerosas, do tipo


serviços. Contudo, serviços militares ou administrativos não se tinham por condição
indispensável para benefício régio, sendo muitas vezes substituídos por qualquer
forma de pagamento. Outros feudos, semelhantes aos bem conhecidos «feudos livres

História I 63
ou francos» da Europa transpirenaica, quase implicavam plena propriedade na
concessão, como recompensa de serviços prestados. O rei, todavia, conservava
sempre um certo número de direitos, tais como o de justiça ao nível superior,
interferindo também em matéria de sucessão. O termo honra (e, por vezes, couto)
parece ter-se aplicado às senhorias de qualquer tipo, e até aos alódios. No Portugal da
Idade Média, como em França, senhoria queria dizer o mesmo que feudum. Referia-se
geralmente aos feudos mais importantes, em especial aos de maior antiguidade, para
norte do rio Mondego. As concessões régias à Igreja denominavam-se geralmente
coutos, palavra que traduzia o complexo dos privilégios e das imunidades do território.
Em todas as senhorias, definia-se imunidade como a proibição de entrada de
funcionários régios, a inexistência de impostos da Coroa e o exercício, pelo senhor, da
autoridade pública, com autonomia administrativa, judicial e financeira.

Entre os feudos detidos por vassalos laicos e pelo próprio rei, contavam-se igrejas
paroquiais, mosteiros e capelas. Os senhores respetivos, frequentemente fundadores
ou descendentes de fundadores dessas instituições pias, recebiam as rendas da dízima
e as dotações da Igreja, incluindo por vezes rendimentos que resultavam de ofertas
dos fiéis, de direitos eclesiásticos, etc. Tão rendosos se mostravam esses feudos
(padroados) que tinham larga procura e eram muito apreciados.

«A lei de D. Afonso III de Março de 1261 - o primeiro diploma régio tendente a reprimir as
usurpações e violências que se praticavam - esclarece-nos relativamente aos direitos de que os
padroeiros usavam e abusavam. Os seus naturais ou herdeiros, sendo legítimos, podiam
aposentar-se (pousadia) nas igrejas e mosteiros do seu padroado e receber aí alimento
(comedoria, comedura, colheita, jantar). As pousadias e comedorias podiam também ser
exigidas pelos filhos ilegítimos, no caso de estarem equiparados aos legítimos na sucessão dos
bens dos pais. Os padroeiros tinam ainda o direito de cobrar um subsídio para o casamento
das filhas (casamento), para armar os filhos cavaleiros (cavalaria) ou para os tirar do cativeiro.
Como os padroeiros se multiplicavam por descendência, sucedeu, por exemplo, que o
mosteiro de Grijó chegou a ter 208, o de S. Gens de Monte Longo 273 e o de Rio Tinto 514.»
(Rui de Abreu Torres)

História I 64
A Igreja, claro está, fazia o que podia para os extinguir ou reduzir-lhes o número,
devido aos abusos que sempre implicavam e ao considerável empobrecimento que
traziam para os curas e seus meios de acção.

Combate à expansão senhorial

A pequena área de Portugal, e as circunstâncias peculiares que acompanharam o seu


nascimento e crescimento, impediram sempre uma organização feudal desenvolvida
até às últimas consequências. Em todas as senhorias, o rei tinha a última palavra nos
casos de alta justiça. No século XIII, a Coroa encetou como que um plano de repressão
das imunidades e da plena autonomia dos senhores feudais. O sistema das
confirmações de Afonso II foi acompanhado e seguido de sucessivas inquirições, que
duraram até aos fins do século XIV, alcançando o clímax com D. Dinis (1284, 1301,
1303 e 1307). Talvez influenciadas, nas suas formas mais evoluídas, pela prática
francesa dos «enquêteurs royaux» (Luís IX, 1248), as inquirições régias portuguesas
serviram para prover a administração central com um cadastro rigoroso de grande
parte do País (quase todo o Norte, com o Minho, Trás-os-Montes e a Beira). Ajudaram
assim o rei, mediante o conhecimento pormenorizado dos direitos de propriedade e
das rendas devidas, a estabelecer com firmeza a sua autoridade, impedindo abusos e
periodicamente interferindo a bem de uma justiça centralizada e de um sistema
financeiro planificado.

Na raiz das inquirições portuguesas estão os abusos dos senhores, laicos e


eclesiásticos, e até de vilãos, cometidos relativamente aos reguengos, terras, direitos e
padroados da Coroa. Coutos e honras estabeleciam-se ou alargavam-se como não
deviam; sonegava-se o pagamento de colheitas, foros, rações, e anúduvas; impunham-
se títulos de propriedade onde não os havia. De tudo isto sofria a Coroa
principalmente; e às vezes, também, os pequenos proprietários e os «mesquinhos»,
violentados nos seus direitos pela arrogância e a cobiça dos grandes. O rei, cujas
necessidades de aumentar os rendimentos, quer em géneros quer em moeda, vista a
complexidade crescente da administração central, se tornavam de ano para ano mais
prementes, servia-se dos inquéritos para apurar responsabilidades, remediar às faltas,

História I 65
castigar os culpados e, com tudo, receber o mais que pudesse. Ao mesmo tempo se ia
constituindo um cadastro muito imperfeito da propriedade, da distribuição
demográfica e dos rendimentos gerais, que não sabemos até que ponto terá
aproveitado à administração pública e militar do Reino.

As inquirições principiaram em 1220, sob D. Afonso II. A área sobre que incidiram
respeitava a parte dos territórios de Entre Douro e Minho; de Trás-os-Montes e do
Norte da Beira. Se a analisarmos do ponto de vista administrativo-religioso, incluí-Ia-
emos no âmbito da diocese de Braga. Por isso, Herculano supôs que as contendas do
rei com o arcebispo fossem outro motivo determinante do acto de inquirir, «tanto
mais que entre os delegados régios figuram dois antigos adversários do arcebispo, os
piores dos mosteiros augustinianos de Santa Marinha da Costa e de S. Torquato».
Ainda durante o mesmo reinado, mas em data incerta, se prosseguiram as inquirições,
agora na Beira Baixa, além de algumas outras particulares. Com D. Sancho II, fizeram-
se inquirições aos bens que possuíam no termo de Lisboa diversas ordens religiosas, na
Beira Alta (Sátão), e várias particulares. D. Afonso III intensificou os inquéritos. Em
1258 percorreram os seus agentes as regiões de Entre Douro e Minho (Entre Cávado e
Minho, Entre Douro e Ave, Entre Cávado e Ave), Trás-os-Montes (Entre Douro e
Tâmega, terras de Barroso e Chaves, região de Bragança) e Beira Alta (Seia, Gouveia,
bispados de Lamego e de Viseu, até Trancoso). Foram seguidas, durante todo o
reinado, por inquirições particulares a vários reguengos, termos, concelhos e julgados.
D. Dinis ordenou as suas primeiras inquirições gerais em 1284. Respeitaram a Entre
Douro e Minho e a parte da Beira Baixa. Quatro anos mais tarde, de novo os
funcionários régios percorreram o Minho, Trás-os-Montes e a Beira, preocupando-se
sobretudo com as honras recém e indevidamente criadas. O inquérito repetiu-se com
idêntico objectivo em 1301 (quase todo o Minho e uma pequena parte da Beira), 1303
(Minho e Trás-os-Montes) e 1307 (Minho, Trás-os-Montes e Beira). Passamos por alto
as diversas inquirições de carácter local. Sob D. Afonso IV foram inquiridas as regiões
de Trás-os-Montes (1335) e Entre Douro e Minho (1343), além de muitos julgados,
aldeias e povoados objecto de diligências específicas. Mas as mais importantes e
inéditas inquirições do reinado foram as que respeitaram à cidade do Porto (1339-48)

História I 66
e se inserem na já antiga luta entre o rei e o bispo local. Podem ainda registar-se
inquéritos fernandinos no Alto Alentejo (1373) e, mais tarde, em 1395, em boa parte
da região beirã (Trancoso, Guarda, Pinhel, etc.).

Ê errado supor que as inquirições se dirigiram primacialmente às terras do clero e da


nobreza, como tantas vezes se vê afirmado. O objectivo consistiu sempre em averiguar
dos direitos reais, dos padroados e dos reguengos, em suma, dos bens do rei e da
Coroa. Mas é claro que, para reprimir os abusos de justiça e a usurpação dos réditos
fiscais, se haviam de inquirir também muitas herdades e direitos das classes
privilegiadas. O facto é especialmente marcado com as inquirições ordenadas por D.
Dinis, exercidas sobretudo nas honras e nos coutos.

Durante o século XIV, outras decisões régias tenderam a travar a expansão do regime
senhorial. O monarca preveniu a nobreza Contra abusos de jurisdição (1317), mandou
os seus funcionários impedirem a criação de novas honras (1321) e obrigou todos os
nobres a provarem todos os seus direitos feudais (1325). Com D. Fernando o direito de
justiça feudal foi negado às honras constituídas a partir de 1325, com excepção de
uma dúzia de senhorias. Restringiram-se também as concessões régias aos
descendentes legítimos (desde 1384) e, depois, aos filhos varões apenas (1389). D.
João I seguiu certo número de regras nas doações que fez, medida que seu filho e
sucessor D. Duarte passou a lei (1434) com o título de lei mental: todas as doações
régias só se poderiam transmitir dentro da linha legítima e não seriam consideradas
feudais. Porque esta lei se aplicava ao passado, como ao futuro, muitas terras
reverteram para a Coroa. Algumas famílias nobres protestaram e conseguiram eximir-
se oficialmente ao estabelecido, nomeadamente a mais poderosa de todas, a do conde
de Barcelos, futuro duque de Bragança.

Apanágios e doações
Contudo, foram os próprios monarcas os primeiros a prejudicar os seus interesses com
generosas concessões, que as circunstâncias ou a irresponsabilidade do poder
determinavam. Aos príncipes reais, por exemplo, doaram-se importantes apanágios
que, de tempos a tempos, os levantavam por rivais do soberano. Isso já acontecera à

História I 67
morte de Sancho I, quando os extensos legados feitos à filharada deram origem a uma
quase guerra civil e à vitória final do primogénito, o rei Afonso II. Com D. Dinis (1279-
1325), seu irmão Afonso esteve na posse de grande parte do Alentejo, à que acarretou
a luta permanente entre os dois. No reinado de D. João I (1385-1433) os apanágios
ainda se tornaram maiores e mais opulentos. A seus filhos legítimos, Pedro, Henrique,
João e Fernando, bem como ao bastardo Afonso de Barcelos, doaram-se enormes
quinhões do solo e da fortuna de Portugal. O século XV foi um século de turbulência
civil, em parte por causa de tais doações e da concentração final de propriedade
fundiária nas mãos de uma só família, os descendentes de Afonso de Barcelos
(Braganças).
Concessões a favoritos ou simplesmente fraqueza e generosidade reais para com os
nobres e o clero vinham de par com a política dos apanágios. D. Afonso IV, D. Pedro I,
D. Fernando e D. Afonso V contaram-se entre os mais generosos dos reis medievais. A
família Meneses nos finais do século XIV e três ou quatro outras (incluindo os mesmos
Meneses e os Braganças) durante o século XV podiam bem comparar-se, em riqueza,
prestígio e força militar, a alguns senhores feudais típicos da França ou da Alemanha. É
verdade que o seu poderio não durou, mostrando-se até uma aberração em país tão
pequeno, uma espécie de «finale» desesperado do período feudal.

Prazos
O sistema dos aforamentos ou emprazamentos, com sua forma precária de concessão
de bens, cobria todo o reino e afectava quase toda a população. Grandes proprietários
doavam herdades maiores ou menores a vilãos, do mesmo modo que as haviam
recebido do rei. Alguns concelhos nasceram até deste tipo de concessão, feita a um
grupo de pessoas. Integravam-se na hierarquia feudal, dependendo dos seus senhores
e não do monarca. Na maioria dos casos, porém, os aforamentos ou emprazamentos
faziam-se a agricultores individuais (foreiros), perpetuamente, com diversas condições,
como fossem o pagamento de um foro de parte da produção do solo (1/4 a 1/3
geralmente), a prestação de serviços no paço senhorial, diversos tributos ocasionais, e
os típicos monopólios feudais dos meios de produção (forno, lagar, moinho, etc.).
Outros prazos, comuns nos séculos XIV e XV, eram feitos temporariamente, em três,

História I 68
duas ou uma vidas, ou até em períodos menores. Implicavam condições mais duras,
sendo, evidentemente, preferidos por muitos senhores, nomeadamente pela Igreja.
Em todos os casos, mesmo quando a origem da tenência se não revelava tipicamente
feudal, os resultados práticos eram-no sem sombra de dúvida.

Características demográficas
A população de Portugal no século XIII não excedia provavelmente o milhão de
habitantes. De Norte a Sul mostrava-se muito irregular a sua distribuição. Até ao vale
do Tejo, com excepção de Braga, Porto, Guimarães (que crescera consideravelmente
desde o século XII), Coimbra e talvez Bragança, não havia grandes cidades, até para os
padrões medievais.
O povoamento era denso no Minho, no vale do Douro e ria Beira Alta, mas
dispersando-se em numerosos pequenos núcleos de habitantes. Os grandes centros
populacionais continuavam a existir no Sul, graças à tradição romana e muçulmana:
Lisboa, Santarém, Évora, Estremoz, Elvas, Silves, Beja, Faro, Tavira e outros menores.
Mas as vastas regiões quase desabitadas que os separavam - à excepção do baixo
Algarve - conferiam ao Sul um aspecto semidesértico.
Um regulamento dos tabeliães para os finais do século XIII dá-nos achegas muito
interessantes para o estudo da população nessa época.
MARQUES, A. H. de Oliveira – História de Portugal, Lisboa: Palas Editores, 1983. Vol. I,
p. 151 – 159.

História I 69
CONCEITOS
BAN: Termo de origem germânica que designa a autoridade de quem
detém o poder militar.
A partir de finais do século X, na Europa Ocidental, o poder de
banus, o ban, alarga-se passando a incluir o poder político e
administrativo, judicial e fiscal.
Igualmente se verifica a sua difusão entre grandes e pequenos
senhores.

CARTA DE FORAL: Documento escrito que reconhecia ou criava um concelho.


Geralmente era emitido pelo rei, mas também há casos em que a
iniciativa partia de um grande senhor, visando atrair povoadores
para as suas terras.

CONCELHO: Termo usado na Península Ibérica para se referir aos moradores


numa determinada circunscrição territorial, gozando de certa
autonomia perante os senhores ou os soberanos. Possuíam
magistrados e administração própria.

CONSELHO DO REI: Órgão administrativo e de governo com funções consultivas,


auxiliando-o na governação diária.
Era integrado por oficiais régios para aconselhamento técnico.

COUTO: Território imune resultante de uma doação régia atribuindo a


posse de poderes públicos numa região delimitada, o couto, a
uma autoridade laica ou eclesiástica.

CÚRIA: Órgão que assessorava o rei no exercício das funções


administrativas e governativas.

História I 70
No início era composto pelos membros da família real e outros
nobres que circulavam na Corte.
Com o processo de centralização régia, passam a ganhar
importância os letrados dotados de competências técnicas e
confiança do rei.

FEUDALISMO: Conjunto de laços pessoais que unem hierarquicamente os


membros da camada dominante da sociedade.
Esses laços baseiam-se num benefício, o feudo, que é concedido
por um senhor, em troca de certos serviços e de um juramento
de fidelidade prestado por outro senhor que assume a figura de
vassalo.
Este passa a beneficiar da protecção e manutenção do feudo
concedido pelo superior.

HONRA: Território imune sob a administração directa de um nobre,


exercendo por direito próprio ou adquirido um conjunto de
poderes públicos de carácter judicial, fiscal, económico e militar.

IMUNIDADE: Privilégio daqueles que são isentos tanto a obrigações fiscais,


como judiciais. Nestas incluíam-se a não obrigatoriedade de
receber juízes e outros funcionários da administração central.

MONARQUIA FEUDAL: Organização dos poderes dos reinos europeus até inícios do
século XIII, caracterizado pelo exercício do poder do rei sobre os
demais senhores, não havendo distinção da autoridade pública,
do poder e autoridade privada.

RECONQUISTA: Processo de ocupação de um território marcado por avanços e


recuos. Na Península Ibérica, ocorreu entre os séculos VIII e XV.

História I 71
REINO: Estado ou nação cujo chefe é um rei. Na época medieval, os
reinos eram unidades territoriais, agregando várias pequenas
unidades regionais.

SENHORIO: Circunscrição jurídica, fiscal e administrativa na qual um senhor,


laico ou eclesiástico, exerce o poder banal sobre todos os
homens aí residentes, sejam livres ou servos.

SOCIEDADE FEUDAL: Sistema de organização económica, social e política baseada nos


laços feudais que se estabelecem entre membros da camada
dominante, hierarquizando-os.
Os membros da camada superior, formada por guerreiros,
dominam uma população que vive sobretudo da exploração da
terra, garantindo o sustento de toda a sociedade.

VASSALIDADE: Vínculo de dependência pessoal, privada e recíproca, que une


um vassalo, um homem livre de condição inferior, a um senhor
mais poderoso.
Esse vínculo formalizava-se pelo contrato vassálico ou de
vassalagem.

História I 72
LOCALIZANDO NO TEMPO

218 a.C. O exército romano, comandado por Cneio Cornélio Cipião, entra pela 1ª
vez na Península Ibérica, respondendo à tomada de Sagunto por Aníbal.

c. 194-193 Os Lusitanos revoltam-se pela primeira vez contra os romanos.

16 – 13 a.C. Fundação da divisão administrativa em conventos.

409 Alanos, Vândalos e Suevos entram na Península Ibérica, depois de um


acordo com Máximo, pretendente rebelde ao título imperial.

570-574 Leovigildo rei dos Visigodos inicia acções militares que lhe garantem
inteira supremacia na Península Ibérica.

711 Início da islamização da Península Ibérica. O berbere Taric derrota o rei


Rodrigo na batalha de Guadalete.

718 Pelágio revolta-se contra os muçulmanos.

844 Os normandos atacam Lisboa, Beja e Algarve.

950 Mumadona Dias, à morte do Marido, Mendo Gonçalves, divide o


território pelos filhos.

c. 962 Revolta do conde de Portucale, Gonçalo Mendes contra Sancho I de


Leão

1096 Casamento de D. Henrique de Borgonha com D.ª Teresa filha de Afonso


VI. Recebe em dote as terras a sul do rio Minho, os condados
Portucalense e de Coimbra.

D. Henrique concede foral à vila de Guimarães

1112 Morte de D. Henrique em Astorga

1125 Data provável da investidura de D. Afonso Henriques, em Zamora.

História I 73
1139-1140 Batalha de Ourique com a primeira grande vitória de D. Afonso
Henriques sobre os muçulmanos.

1143 Conferência de Zamora entre D. Afonso Henriques e D. Afonso VII de


Leão, na presença do legado papal, Guido de Vico.

1169 Doação por D. Afonso Henriques aos templários de 1/3 das terras que
conquistassem no Alentejo.

1179 Reconhecimento do título de rei a D. Afonso Henriques pelo Papa


Alexandre III, através da bula Manifestis Probatum

1185 Falecimento de D. Afonso Henriques

1207 – 1210 Conflitos entre D. Sancho I e bispos de Porto e Coimbra, sobre a


delimitação de poderes.

1211 Faleceu D. Sancho I

1223 Morre D. Afonso II

1231 Morre em Pádua, Santo António de Lisboa, uma das mais notáveis
figuras da Igreja e da Cultura do seu tempo.

1248 D. Sancho II morre desterrado em Toledo.

1249 D. Afonso III conquista Faro, Albufeira, Porches e Silves, marcando a


conquista definitiva do Algarve.

1250 Nas cortes de Guimarães, Afonso III ouve queixas do clero contra as
interferências dos oficiais régios.

1254 – 1256 Afonso III, estrategicamente, coloca bispos de sua confiança à frentes
das dioceses.

História I 74
1267 Tratado de Badajoz entre Portugal e Espanha garantindo para o primeiro
a posse definitiva do Algarve.

1276 O português Pedro Hispano é eleito Papa com o nome de João XXI

1285 Nas cortes de Lisboa, os nobres queixam-se da quebra de imunidades


senhoriais nas Inquirições

1288 Cortes em Guimarães continuando as queixas da nobreza.

1297 Tratado de Alcanises entre D. Diniz e o rei de Castela, garantindo as


fronteiras que se mantiveram até aos nossos dias.

1305 Proibição de os nobres armarem cavaleiros vilãos nos concelhos,


reservando esse privilégio para o rei.

1325 Morre D. Diniz subindo ao trono D. Afonso IV.

História I 75

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