A Onda Que Se Ergueu No Mar
A Onda Que Se Ergueu No Mar
A Onda Que Se Ergueu No Mar
Ruy Castro
A onda
que se ergueu
no mar
Novíssimos mergulhos
na Bossa Nova
2ª- edição revista e ampliada
Capa
Hélio de Almeida
Foto de capa
dr Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (cip)
(Câmara Brasileira do Livro, sp, Brasil)
Preparação
Isabel Jorge Cury Castro, Ruy, 1948 -
A onda que se ergueu no mar: Novíssimos
Índice remissivo mergulhos na Bossa Nova / Ruy Castro. —
Luciano Marchiori 2ª- ed. — São Paulo : Companhia das Letras,
2017.
Revisão
Bibliografia.
Carmen S. da Costa isbn 978-85-359-2923-2
Beatriz de Freitas Moreira
1. Bossa Nova (Música) – Brasil – História
Fernando Nuno e crítica 2. Música popular – Brasil – História
Thaís Totino Richter e crítica – Século 20 i. Título.
8 Textos bônus
Anatomia de um disco . . 275
Por dentro (e por fora) da
gravação de Getz/Gilberto
Onipresença de
Sylvia Telles . . . . . . . . . . 290
E se ela tiver sido a verdadeira
musa da Bossa Nova?
A gramática da bateria . 306
A incrível trajetória de Milton
Banana
Os Cariocas . . . . . . . . . . 319
A fome de grande música com
a vontade de cantar
Simonal, finalmente
perdoado . . . . . . . . . . . . 337
Só falta agora ele nos dar o seu
perdão
Bibliografia
e agradecimentos . . . . . . 357
Moça da praia
A Bossa Nova traz
Brigitte ao Brasil.
Búzios, 1964
O
lha que coisa mais linda: as garotas de Ipanema-1961 to-
mavam cuba-libre, dirigiam Kharman-Ghias e voavam
pela Panair. Usavam frasqueira, vestido-tubinho, cílio
postiço, peruca, laquê. Diziam-se existencialistas, adoravam
arte abstrata e não perdiam um filme da Nouvelle Vague. Seus
points eram o Beco das Garrafas, a Cinemateca, o Arpoador.
Iam à praia com a camisa social do irmão e, sob esta, um bi-
quíni que, de tão insolente, fazia o sangue dos rapazes ferver
da maneira mais inconveniente.
Tudo isso passou. A querida Panair nunca mais voou, a
Nouvelle Vague é um filme em preto e branco e ninguém mais
toma cuba-libre — quem pensaria hoje em misturar rum com
Coca-Cola? Quanto àquele biquíni, era mesmo insolente, em-
bora, por padrões subsequentes, sua calcinha contivesse pano
para fabricar dois ou três pára-quedas. Dito assim, é como se,
em 1961, o céu do Brasil ainda fosse povoado por pterodáctilos.
Mas há uma exceção. A música que aquelas garotas escu-
tavam na época continua a ser ouvida — um milênio depois
— como se brotasse das esferas: a Bossa Nova.
Acredite ou não, em números absolutos ouve-se mais Bossa
Nova hoje do que em 1961. E ela não brota das esferas, mas é
produzida ao vivo, pelos gogós, dedos e pulmões de artistas de
todas as idades, em lugares fechados ou ao ar livre, em quatro
ou cinco continentes. Ouve-se Bossa Nova em salas de con-
certo, teatros, boates, bares, clubes, escolas, estádios, praças,
praias e quiosques e, ultimamente, como uma epidemia, nas