Ações e Políticas Do Estado e Da Sociedade Acerca Da Geração de Renda Na Reserva Extrativista Marinha de Soure (Guilherme Santos Júnior)
Ações e Políticas Do Estado e Da Sociedade Acerca Da Geração de Renda Na Reserva Extrativista Marinha de Soure (Guilherme Santos Júnior)
Ações e Políticas Do Estado e Da Sociedade Acerca Da Geração de Renda Na Reserva Extrativista Marinha de Soure (Guilherme Santos Júnior)
Belém – PA
2006
GUILHERME DA SILVA SANTOS JÚNIOR
Belém – PA
2006
Santos Júnior, Guilherme da Silva
Belém – PA
2006
GUILHERME DA SILVA SANTOS JÚNIOR
ORIENTADORA ASSINATURA
BANCA EXAMINADORA
Aos meus pais, Guilherme (in memorian) e Auristela, fonte dos primórdios dos meus
conhecimentos e valores.
AC Acre
ACS Associação dos Caranguejeiros de Soure
AL Amostra Local
ANATEL Agência Nacional de Telecomunicações
AMCC Associação de Moradores da Comunidade do Céu
ARPA Áreas Protegidas da Amazônia
ASMUBT Associação dos Moradores do Bairro Tucumanduba
ASMUPESQ Associação das Mulheres da Vila do Pesqueiro
ASPEPE Associação dos Pescadores do Pesqueiro
ASSUREMAS Associação dos Usuários da Reserva Extrativista Marinha de Soure
BASA Banco da Amazônia
BB Banco do Brasil
BNDES Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social
BPA Batalhão de Polícia Ambiental
CNP Confederação Nacional dos Pescadores
CNPT Centro Nacional de Populações Tradicionais e Desenvolvimento Sustentável
CNS Conselho Nacional dos Seringueiros
DADS Departamento de Agroextrativismo e Desenvolvimento Sustentável
DOE Diário Oficial do Estado
ECO 92 Conferência das Nações Unidas Sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento
EMBRATUR Empresa Brasileira de Turismo
ESREG Escritório Regional
FAO Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação
FAOR Fórum da Amazônia Oriental
FASE Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional
FAT Fundo de Amparo ao Trabalhador
FEPA Federação Estadual dos Pescadores do Pará
FUNBIO Fundo Brasileiro para a Biodiversidade
GEF Fundo para o Meio Ambiente Mundial
GRPU Gerência Regional de Patrimônio da União
Ha Hectare
X
IBAMA Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IC Instrumento de Controle
IDH Índice de Desenvolvimento Humano
IE Instrumento Econômico
INSS Instituto Nacional de Seguro Social
IPEA Instituto de Pesquisas Econômicas e Aplicadas
KEPA Centro de Serviços de Cooperação para o Desenvolvimento
KfW Banco de Desenvolvimento Alemão
LCA Lei de Crimes Ambientais
MEGAM Projeto Estudo dos Processos de Mudança no Estuário Amazônico pela Ação
Antrópica e Gerenciamento Ambiental
MPE Micro e Pequenas Empresas
NAEA Núcleo de Altos Estudos Amazônicos
ONG Organização Não-Governamental
PA Pará
PIA População em Idade Ativa
PLANFOR Plano Nacional de Qualificação do Trabalhador
PMS Prefeitura Municipal de Soure
PND Política Nacional da Biodiversidade
PNUD Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento
PROAMBIENTE Programa de Desenvolvimento Sócio-ambiental da Produção Familiar Rural
PROEMPREGO Programa de Extensão do Emprego e Melhoria da Qualidade de Vida do
Trabalhador
PROGER Programa de Geração de Emprego e Renda
PRONAF Programa Nacional de Reforma Agrária
RDS Reserva de Desenvolvimento Sustentável
RESEX Reserva Extrativista
S/A Sociedade Anônima
SAN Segurança alimentar e nutricional
SC Santa Catarina
SDS Secretaria de Desenvolvimento Sustentável
SEAP Secretaria Especial de Pesca
XI
SEBRAE Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas
SENAI Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial
SM Salário Mínimo
SNUC Sistema Nacional de Gerenciamento de Unidades de Conservação
UC Unidade de Conservação
UEI Unidade de Ensino Infantil
UFPA Universidade Federal do Pará
UPI Unidade de Conservação de Proteção Integral
UUS Unidade de Conservação de Uso Sustentável
WCED Comissão Mundial para o Desenvolvimento e Meio Ambiente
WWF World Wildlife Foundation
Z-1 Colônia de Pescadores de Soure
XII
LISTA DE MAPAS E FIGURAS
XIII
LISTA DE QUADROS E TABELAS
XIV
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO 17
2 ANTECEDENTES TEÓRICOS 30
2.1 RESERVA EXTRATIVISTA: DO INÍCIO AOS DIAS ATUAIS 30
2.2 ASPECTOS LEGAIS 34
2.2.1 Sustentabilidade e extrativismo 40
3 PERSPECTIVAS AMBIENTAIS 44
3.1 CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA 44
3.1.1 Arquipélago de Marajó 46
3.1.2 Soure 51
3.1.3 Reserva Extrativista Marinha de Soure 52
3.1.4 O cenário da pesca na RESEX 54
3.1.5 Comunidade de Caju-Una 62
3.1.6 Comunidade de vila do Pesqueiro 66
3.1.7 Comunidade do Céu 69
4 POLÍTICAS PÚBLICAS 72
4.1 DEFINIÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS 72
4.2 HISTÓRICO DE POLÍTICAS PÚBLICAS 73
4.3 ATORES SOCIAIS E FORMULAÇÃO DE POLÍTICAS 75
4.4 INSTRUMENTOS DE POLÍTICAS 78
4.5 MODELOS DE POLÍTICAS DE GERAÇÃO DE RENDA 79
4.6 POLÍTICAS PÚBLICAS DIRIGIDAS PARA O DESENVOLVIMENTO
SUSTENTÁVEL 81
4.7 AÇÕES E POLÍTICAS DO ESTADO NA RESEX MARINHA DE SOURE 84
4.7.1 HISTÓRICO DAS ATIVIDADES RELATIVAS À RESEX 84
4.8 POLÍTICAS PÚBLICAS E PARTICIPAÇÃO SOCIAL 85
XV
5.3 COLÔNIA DE PESCADORES DE SOURE 93
5.4 ASSOCIAÇÃO DOS CARANGUEJEIROS DE SOURE 95
7 CONCLUSÕES 119
REFERÊNCIAS 132
XVI
1 INTRODUÇÃO
17
de combate a essa situação é a ação do Estado. Este, segundo Tanzi (2000), tem papel
determinante na distribuição de renda. A condição social de desigualdade pode ser causa
de doenças graves, como malária, dengue, chagas e leishmaniose (CASTRO; MARIN;
COUTO, 2002), conhecidas como doenças da pobreza. Para que o combate a fatores
negativos como esse seja concretizado, os recursos econômicos presentes na unidade de
conservação seguirão, segundo o Plano de Utilização da RESEX (Anexo 1), as diretrizes
do uso auto-sustentável.
Mapa 1: Localização da RESEX Marinha de Soure no contexto da ilha de Marajó e do estado do Pará.
Fonte: Modificado a partir de Ariza, s/d., Moreira, 1998 e http://biblioteca.uol.com.br/atlas/mapa.htm?PA.
18
ligados à geração de renda, direta ou indiretamente. As políticas públicas mais freqüentes
na área, sejam elas de cunho social ou econômico, tem em seu bojo a perspectiva de
criação de renda. Isso pode ser constatado nos projetos existentes na região, como o
Programa Luz no Campo, Programa Nacional de Agricultura Familiar (PRONAF),
Programa Fome Zero (PFZ), todos em âmbito federal e cursos de capacitação. No que se
refere às ações, existe esforço na implementação de gestão compartilhada, com mudança
nas relações sociais que visem o empoderamento das comunidades e conseqüente melhora
na qualidade de vida. Todas essas políticas e ações, para que sejam bem sucedidas, contam
com mais autonomia das comunidades em relação a outros setores.
Essa autonomia se fortalece com a geração de renda, objeto deste estudo.
Entretanto, a maneira pela qual a renda é gerada merece aqui sua parcela de análise pelo
fato de integrar a questão central desta dissertação: a geração de emprego é imprescindível
nas políticas públicas e ações na RESEX Marinha de Soure? Essa questão se relaciona com
o processo de criação de renda na área de estudo. Este pode se dar de maneira que cause
dependência ou autonomia por parte da população envolvida. A dependência se dá quando
existe apenas transferência de renda, ao passo que a autonomia é fruto da geração de
emprego.
Para se chegar a uma resposta em relação à questão levantada no parágrafo anterior,
consideram-se algumas premissas, confirmadas ou refutadas no decorrer desta dissertação.
Primeiramente afirma-se que, para que haja geração de renda nessa RESEX, é necessária a
implementação de políticas públicas destinadas ao aumento e/ou melhoria das opções de
trabalho na RESEX. Em consonância com essa afirmação, entende-se que o manejo
sustentável dos recursos naturais regionais contribui para a qualidade de vida e geração de
renda. Finalmente, a integração entre os atores envolvidos no cenário de estudo estimula a
melhoria da qualidade de emprego e a geração de renda.
A respeito desse último ponto, infere-se que o processo de geração de renda
depende das ações e políticas tomadas pelo Estado em conjunto com a sociedade. Essas
atividades em conjunto têm como conseqüência a participação popular, ou seja, nas
palavras de Demo (1990), o processo de conquista e construção organizada da
emancipação social. A participação gera a conscientização dos direitos e deveres, que
podem ser entendidas como favoráveis à geração de renda, uma vez que, conforme Haddad
(1980, apud BANDEIRA, 1999), o cidadão esclarecido tende a colaborar para uma maior
mobilização de recursos. Todas essas hipóteses discutem a participação dos reais
interessados, a qual, no entendimento de Demo (1990), não pode ser obra de terceiros.
19
Essas premissas são analisadas em relação ao perfil das comunidades, desenhado a
partir de características observadas. Divisão das comunidades por faixa etária, grau de
instrução, ocupação, êxodo nas comunidades, evasão escolar e outros fatores considerados
no momento da pesquisa de campo deste trabalho são variáveis relacionadas a geração de
renda analisadas neste trabalho visando à compreensão, ainda que limitada, do processo de
geração de renda na área de estudo. Estas variáveis são consideradas no contexto das ações
e políticas do Estado e da sociedade. Pretendeu-se, assim, obter o conhecimento necessário
para responder às afirmações pressupostas.
Quanto ao objetivo básico deste trabalho, pretende-se analisar de que maneira o
Estado tem implementado políticas de geração de renda na RESEX Marinha de Soure e
como a sociedade local legitima esse processo. Além disso, pretende-se inferir o grau de
participação dos moradores locais nos programas de geração de renda; descrever a
participação das comunidades da RESEX nos programas de geração de renda; e analisar as
principais dificuldades enfrentadas pelo Estado e pelos usuários para a geração de renda
sustentada. Assim, ao se fazer uma relação entre a questão do emprego e a geração de
renda, procurou-se contribuir para a compreensão da problemática local, do
relacionamento entre os moradores das comunidades aos atritos entre estes e outros atores.
A utilização sustentável de recursos disponíveis na área da reserva, incluindo-se o
potencial turístico e pesqueiro, pode gerar renda e conseqüente melhora na qualidade de
vida dos extrativistas. Cumpre-se, assim, parte da prioridade constante do Plano de
Utilização da RESEX:
As entidades que participam da gestão da RESEX de Soure devem priorizar
programas de capacitação, políticas públicas e projetos que contemplem as
necessidades, aptidões e potencialidades das comunidades e dos ambientes que
compõem esta unidade extrativista, com objetivo de desenvolver ações visando a
melhoria da qualidade de vida, no que se refere à produção e geração de renda,
saúde, educação, habitação, saneamento básico, lazer e cultura (PLANO, 2004,
item 25).
Uma vez que a baixa qualificação profissional contribui para a baixa renda
(MINISTÉRIO. Planejamento, 2005), faz sentido a hipótese de que a capacitação voltada
para as especificidades locais de utilização dos recursos disponíveis pode contribuir de
maneira decisiva para o estímulo à geração de renda.
De fato, até o momento e apesar de alguns avanços, as políticas e ações em torno da
relação Estado-sociedade-natureza têm sido, nas palavras de Simonian (2000), geralmente
negativas aos interesses sociais, em especial os das áreas de reserva. E, embora definidas e
implementadas, as políticas públicas voltadas para a sustentabilidade dos recursos naturais
20
em áreas de reserva distam muito de propostas idealizadas e apresentadas. Em que medida
mudanças pró-natureza e pró-populações tradicionais vão ocorrer em futuro próximo,
permanece uma incógnita, pois as estruturas mais amplas são de natureza neoliberal,
portanto, vão contra tais interesses.
As técnicas de trabalho são mencionadas nesta dissertação pelo fato de
contribuírem para a geração de renda. Estão intimamente ligadas a desenvolvimento, na
medida em que influem diretamente a dinâmica do emprego e renda.. Oliveira (2006)
destaca o que chama os “três Ts do desenvolvimento”: tecnologia, talento e tolerância. A
tecnologia aqui mencionada pode estar ligada aos materiais utilizados pelos artesãos, além
de novas técnicas de exploração da fauna e flora. O talento se refere ao preparo técnico que
torna o membro de determinada comunidade apto ao manuseio das tecnologias. A
tolerância é a capacidade de se trabalhar em grupo, característica de importância evidente
na região frente aos constantes conflitos entre os atores.
Neste ponto, é de se ressaltar a importância de um estudo dos diferentes modos de
geração de renda para que se proponham os mais adequados à realidade local. Esses
diferentes modos podem ser utilizados de maneira articulada. A levar-se em conta a
realidade local, pode-se afirmar que a biodiversidade é um desses modos. A renda na
RESEX em estudo, ou, em escala maior, no meio rural, pode ser incrementada com o
gerenciamento dos recursos naturais. Para Sachs (2003), atividades como a reciclagem do
lixo e de materiais, o aproveitamento dos resíduos vegetais e a conservação da água e da
energia constituem um campo de atividades que promove uma melhor qualidade do meio
ambiente e uma redução simultânea do consumo de energia e recursos naturais não
renováveis, pois se utilizam de grande contingente de mão-de-obra.
Uma das conseqüências da realização deste trabalho poderá ser a inserção de seus
resultados ao estado da arte (conhecimento acumulado) da pesquisa na região,
principalmente sobre ações do Estado e da sociedade civil na RESEX. No que se refere à
pesca, estudos já realizados sobre essa atividade estão estritamente ligados às necessidades
sócio-econômicas do homem marajoara, dada a importância que essa modalidade
econômica ocupa na região. No intuito de se obter sucesso na ação das políticas públicas,
necessário se faz a ação da sociedade civil e da própria comunidade da Reserva.
Por certo, ainda que haja dificuldades para a participação efetiva da população de
uma RESEX, como as citadas por Bailey (1996) e Peluso (1992), a presença e intervenção
de movimentos sociais são da maior importância no papel de “capital social” (PUTNAM,
1996). Sua participação, inclusive, é essencial para que haja mudança no quadro da renda.
21
Estudar as relações governo-comunidade em Soure é instrumento útil para que se tenha
subsídios na tomada de decisões que possam vir a gerar renda de maneira sustentável em
UC as mais diversas e na região.
A metodologia adotada teve início com a contextualização de conhecimentos
adquiridos nas disciplinas ministradas em sala de aula e, na seqüência, partiu-se para os
trabalhos de campo. Para a articulação da pesquisa empírica com a interpretação de seus
resultados, adotou-se o critério de Oliveira (1996), das três etapas de apreensão dos
fenômenos sociais foram utilizadas: duas etapas do “estando lá”, o olhar e o ouvir; e uma
etapa do “estando aqui”, o escrever, etapa do exercício do pensamento. Com base em
Simonian (2007), trabalhou-se, também, com a documentação e pesquisa fotográfica,
embora muito ainda se possa fazer nesse campo quanto à RESEX Marinha de Soure.
Na etapa do olhar, o objeto de estudo, já previamente alterado pelo esquema
conceitual da formação teórica, foi visto com um olhar devidamente sensibilizado pela
teoria disponível, ou seja, pelo preparo acadêmico dado pelas disciplinas ministradas e pelo
levantamento do estado da arte sobre o tema aqui tratado. No que se refere ao ouvir, foram
obtidas explicações dadas pelos próprios membros da comunidade estudada, por meio das
entrevistas. Estas, no intuito de se chegar a uma relação preferencialmente dialógica, foram
conduzidas de maneira a ver no pesquisado, sempre que possível, um interlocutor, em vez
de informante. Para tanto, procurou-se ouvir e ser ouvido, com o cuidado de interferir o
menos possível no discurso do entrevistado devido à possibilidade sempre presente de
interferência nos contextos de pesquisa.
Com esta interação, pretendeu-se chegar à observação participante, ou seja, a uma
situação em que há troca de idéias e informações e aceitação da pesquisa por parte da
sociedade pesquisada. Observou-se, porém, a advertência de Cardoso (1986) quanto aos
métodos quantitativos e qualitativos de se ver a realidade. Na etapa do escrever, após a
pesquisa de campo, os dados coletados foram textualizados, tendo-se a intenção da
participação da comunidade local nessa fase, baseando-se na afirmação de Apel (1985,
apud OLIVEIRA, 1996) de que o homem não pensa sozinho, mas o faz socialmente. Essa
maneira de prestar contas do andamento do trabalho aos moradores locais visa a uma
integração e colaboração destes com a pesquisa, além de se procurar praticar a chamada
antropologia polifônica, dando-se espaço para a voz dos atores.
Acerca da imagem, da fotografia, o uso em ciência já é antigo, mas nestes tempos
contemporâneos se impõe, principalmente devido à disseminação dos instrumentos e
tecnologias especializados. Como posto por Simonian (1996), a utilização dessa tecnologia
22
na produção cientifica sobre a Amazônia se consolidou no século XIX devido em parte ao
exotismo atribuído aos recursos naturais, aos habitantes e à cultura. A interpretação dessas
dimensões regionais passou a contar com a contribuição fotográfica, tecnologia cujas
possibilidades múltiplas de análise a tornaram fundamental na elaboração de documentos e
imagens. Seja pelo seu potencial em replicar fragmentos ou instantâneos da realidade, seja
pela sua importância com base simbólica ou iconográfica, a fotografia tem sido
incorporada pelo cientista em seus projetos de pesquisa.
Percebeu-se que a divergência, por parte dos atores envolvidos, de concepções
acerca de alguns aspectos relacionados direta ou indiretamente à geração de renda na
RESEX de Soure exprime cuidados no momento de proceder à metodologia aplicada, sob
pena de se causar descrédito dos resultados na visão de alguns desses atores. Esse cuidado
deve ser tomado no momento da análise de conflitos sobre disputas pelo direito de uso de
recursos naturais, problema que, para Lima (2002), são comuns nas Unidade de
Conservação de Uso Sustentável (UUS). Tais conflitos podem dar origem a outros, e o
pesquisador eventualmente é visto com desconfiança por uns e como uma esperança por
parte de outros atores, um porta-voz dos anseios e carências destes, o que, como dito por
Cardoso (1986), reduziria a pesquisa à denúncia.
Em vista desse ambiente de disputa, é importante seguir algumas orientações. Para
o bom resultado do trabalho, aconselha-se que o entrevistador aprenda a ouvir discursos
concebidos em diferentes sintaxes culturais e que adote a postura indicada por Borba
(1981), de humildade dos que realmente querem aprender e descobrir. Para Alves-Mazzoti
e Gewandsznajder (199), os erros das suposições em relação às hipóteses dos problemas
são admitidos como possíveis. Houve naturalmente a dificuldade enfrentada por
Malinowski (1967) de reter a própria identidade e ao mesmo tempo se envolver o máximo
possível nos assuntos da sociedade local. Em relação a isso, adota-se aqui, ainda consoante
Malinowski (1967), a postura de que o pesquisador pode afetar certos aspectos da vida da
sociedade em estudo e ser por eles afetado.
A etapa do escrever, ou seja, do raciocínio e elaboração de conclusões dos fatos
verificados, teve por base autores utilizados pela metodologia científica contemporânea.
Ensinamentos de Duhem (1954, apud ALVES-MAZZOTTI, GEWANDSZNAJDER,
1999) levam a crer que haverá, para o cumprimento dos objetivos propostos, um esforço de
interpretação teórica dos fatos observados. Existe, porém, uma limitação, verificada por
Borda (1981): os problemas sociais exigem, para explicação e solução, níveis complexos
de análise que ultrapassam qualquer área especializada.
23
A noção do cenário e dos atores envolvidos deu-se pela utilização de literaturas
variadas. Realizaram-se consultas e análise a partir da literatura recomendada pelas
disciplinas ministradas em aula, além de referências bibliográficas extra-classe oriundas de
livros, revistas, publicações avulsas, imprensa escrita e eletrônica, bem como arquivos de
instituições públicas e privadas. Documentos como estatutos, atas de reunião do Conselho
Deliberativo e audiências públicas, relatórios de atividades e outros, adquiridos no local da
pesquisa, foram utilizados para o desenvolvimento das idéias do trabalho. Essas foram
algumas das principais fontes utilizadas na pesquisa.
Utilizou-se também como fonte de informação dados provenientes de instituições
com atuação na RESEX. Foram dados documentais e conversas junto ao Conselho
Nacional dos Seringueiros (CNS); Centro Nacional de Populações Tradicionais e
Desenvolvimento Sustentável (CNPT), órgão ligado ao Banco da Amazônia S/A (BASA) e
Banco do Brasil S/A (BB). A bricolagem de Lévi-Strauss (1989) foi um dos métodos
utilizados no processo de sistematização e na análise dos dados coletados. A tarefa de
articular dados provenientes de fontes diversas levou em conta a necessidade de se
contextualizar as informações de acordo com o objetivo do trabalho.
Essas informações, analíticas e visuais, ajudaram na identificação dos limites e
potencialidades para o desenvolvimento das comunidades tradicionais locais, bem como
para uma melhor caracterização e análise dos acontecimentos. Em relação aos atores,
houve destaque para os membros do Conselho Deliberativo da RESEX de Soure, que são
definidos pelo art. 2o do respectivo Regimento (Anexo 4), bem como pela Portaria no 76 do
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis, o IBAMA
(Anexo 5). Outras instituições, porém, relacionadas indiretamente com a região em estudo,
foram consideradas, de acordo com o interesse para a consecução deste trabalho.
Foram realizadas inicialmente duas visitas a Soure, para efeito de survey. A
primeira visita para coleta de dados documentais e de dados de trabalho de campo foi
realizada de 28 a 30 de maio de 2005, e teve por objetivo estabelecer contatos iniciais com
os setores envolvidos na dinâmica da unidade de conservação, tomando-se conhecimento
inicial do cenário da pesquisa por meio da ampliação da percepção das contradições
internas no processo de execução das políticas e ações. Para tanto, utilizou-se de
entrevistas abertas e conversas informais com as lideranças civis, autoridades do poder
público e representantes de órgãos executores e financiadores de projetos na área com o
intuito de se coletar pontos de vista.
24
Esse procedimento, juntamente com as fontes bibliográficas consultadas, foi a base
da elaboração dos questionários com questões abertas e fechadas que foram preenchidos
posteriormente no momento da segunda visita realizada nas comunidades. Levou-se com
conta, no momento do preenchimento dos questionários, que as perguntas fechadas e/ou
objetivas tendem a bloquear o surgimento de dados novos e inesperados, além de tenderem
a limitar a confirmação ou negação das hipóteses. Por essa razão, deu-se liberdade ao
entrevistado para responder algumas perguntas livremente para que, a exemplo das
entrevistas abertas, fosse estabelecida uma relação dialógica entre o pesquisador e o
pesquisado.
Essa primeira viagem serviu tanto para se tomar conhecimento da realidade do
lugar quanto para que fossem aplicados questionários introdutórios e realizadas entrevistas
a representantes de instituições com atuação na área. Serviu também, como ensina Cardoso
(1986), para a reformulação das hipóteses, dada a descoberta de novas pistas, levando ao
melhoramento das entrevistas da segunda viagem. Ainda como fruto dessa primeira
viagem, estabeleceu-se a delimitação geográfica para a realização dos trabalhos de campo.
Seguiu-se o exemplo de McGrath et al. (1996) para a escolha da área. Utilizou-se como
critérios:
1) a região efetivamente integrante da reserva;
2) a viabilidade de execução do projeto;
3) a facilidade de acesso; e
4) o tempo disponível para a execução do projeto como um todo.
Existe uma relação estreita entre a RESEX e as comunidades (a) do Pedral,
adjacente à Reserva; (b) Tucumanduba, comunidade-bairro onde se localiza a Associação
de Caranguejeiros de Soure (ACS) e muitas famílias que vivem dessa prática de pesca na
reserva; e (c) Bairro Novo, que abriga, em Soure, o maior número de catadores de
caranguejo-uçá, ou caranguejo-do-mangue (Ucides cordatus). Apesar desses fatos, essas
três comunidades e bairros foram excluídos da delimitação geográfica porque se priorizou
a área efetivamente parte da RESEX. Além disso, as dificuldades provenientes do dever de
se cobrir toda essa região, com os moradores e associações nela inserida, comprometeriam
o prazo de conclusão do trabalho, bem como sua qualidade. Serão, porém, mencionados
sempre que convier ao bom andamento do trabalho.
Na segunda pesquisa de campo, mais longa e aprofundada, realizada de 11 a 26 de
julho de 2005, foram procurados os moradores locais e representantes de instituições, nas
três comunidades e na sede do município de Soure. Como na primeira viagem, foram
25
procurados os diferentes setores que atuam na área de estudo. Para o trabalho junto aos
moradores, foi preenchido o formulário “Comunidades – Questionário” (Apêndice 1). As
entrevistas junto ao BASA, Colônia de Pescadores Z-1 e representantes da Prefeitura de
Soure seguiram basicamente o formulário “Questionário-Instituição Pública” (Apêndice 2).
Realizou-se, nessa viagem, entrevistas domiciliares por meio de questionário. Desse
modo, objetivou-se colher informações em âmbito domiciliar, a qual constou de
questionário de perguntas em percentuais iguais ou superiores a 33,33%, correspondente à
Amostra Local (AL), termo aqui empregado para designar o grupo de entrevistados de
cada uma das três comunidades, número suficiente para o propósito da pesquisa, variando
conforme a população da comunidade. A AL corresponde ao percentual mínimo do total de
famílias em cada uma das comunidades.
Nestes termos, diante de três testemunhas em cada comunidade, fez-se o sorteio do
número de pelo menos 33,33% das famílias. Cada família foi representada por um
respectivo membro, escolhido de acordo com a sugestão das testemunhas, conhecedoras da
realidade local. No momento da entrevista, esse representante escolhido foi procurado para
prestar as informações, substituído por outro no caso de sua indisponibilidade. Assim, na
vila do Pesqueiro foram sorteadas 23 famílias; na comunidade do Céu, 16 famílias; e na
comunidade de Caju-Una, 17 famílias. Em cada família, sorteou-se um respondente para
prestar as informações do questionário. Detalhes do questionário podem ser vistos no
Apêndice 11. Para os representantes de família foram feitas perguntas a respeito da
educação, saúde, renda e grau de associativismo da família. O modelo de tais perguntas foi
inspirado em pesquisas realizadas por instituições como o NAEA, o IBAMA e autores e
autoras que integram a lista da bibliografia utilizada.
A primeira comunidade visitada para a entrevista foi Vila do Pesqueiro, com 63
famílias, segundo informação verbal fornecida por Patrícia Farias Ribeiro, presidente da
Associação das Mulheres do Pesqueiro (ASMUPESQ). Procedeu-se então ao sorteio de 23
famílias, nomeando-se um representante para cada família. A seguir, os sorteados foram
procurados nas respectivas residências, fase com início e término, respectivamente, em 12
e 14 de julho. Para a comunidade de Caju-Una, das 50 famílias de moradores foram
sorteadas 17. Essa etapa durou de 15 a 17 de julho de 2005. Os nomes foram fornecidos
pela professora Leonice Nascimento Pereira, membro do Centro Comunitário São
Sebastião. O trabalho na comunidade do Céu contou com lista de moradores fornecida pelo
1
Proposta de entrevista a ser feita junto aos moradores e moradoras das comunidades dessa RESEX.
26
Sr. Francisco Neves, presidente da Associação de Moradores do Povoado do Céu. Das 39
famílias, foram sorteadas 16. Essa etapa durou de 18 a 23 de julho.
O acesso à área da RESEX foi submetido à autorização do CNPT/IBAMA e da
Associação dos Usuários da Reserva Extrativista Marinha de Soure – ASSUREMAS,
seguindo-se exigência legal prevista na legislação (BRASIL. Lei no 9.985, 2000, art. 18, §
4o) (Apêndices 3 e 4), para a qual foi adicionada . Os dias de pesquisa foram alternados
entre as comunidades de Caju-Una, Céu e a sede do município, de acordo com os
interesses da execução da pesquisa de campo e melhor momento para se realizar
determinado trabalho. Os dados colhidos em campo e nas principais instituições envolvidas
serão analisados e interpretados para que se chegue a levantamentos estatísticos por meio
de gráficos e tabelas demonstrativas, com o escopo de se demonstrar a situação das
comunidades sob aspectos relacionados à pesquisa e conclusões alusivas à situação sócio-
econômica das comunidades.
Um dos itens relacionados a renda questiona o papel do intermediário da venda dos
produtos, pois se acredita que a venda diretamente ao consumidor pode proporcionar
grande aumento na renda dos extrativistas, a exemplo do que ocorreu com pescadores do
nordeste paraense na pesquisa de McGrath et al. (1996) sobre o delineamento da situação
das Organizações Sociais de pescadores amazônicos. Outra pergunta que merece destaque
se refere a captar a preocupação que os pescadores extrativistas têm acerca da pesca
industrial, que, atuando na mesma área da artesanal, pode comprometer seriamente a
sobrevivência desta.
O presente trabalho é, até o momento, um dos pioneiros na região no que se refere
às ações do Estado e da sociedade civil em torno da geração de renda. Pretende-se que seu
produto final seja uma contribuição para a elaboração de estratégias de políticas públicas,
haja vista o número ainda pequeno de obras diretamente ligadas ao tema. Em vista disso,
encontrou-se razoável dificuldade no momento da pesquisa bibliográfica sobre o tema.
Em relação às entrevistas realizadas junto a entidades, procurou-se pelos seguintes
representantes de instituições envolvidas: gerente do BASA, Adriano Costa Filho;
secretário municipal de administração, Sr. Carlos Eduardo da Silva Barbosa; secretário
municipal de abastecimento, Sr. Luís Felipe de Souza Rodrigues; presidente da Z-1, Sr.
Waldecir da Silva Maciel; presidente da ASSUREMAS, Sr. Waldemil da Gama Medeiros;
e Sra. Eva Aboufayad, proprietária da fazenda Bom Jesus. Esses atores, alguns com
interesses opostos em alguns aspectos, colaboraram no sentido de dar uma visão ampliada
e equilibrada do cenário.
27
O projeto “Planejamento do Turismo Sustentável e com Bases Comunitárias na
RESEX de Soure/Vila do Pesqueiro”, sob coordenação da professora Sílvia Helena Ribeiro
Cruz, da UFPA, está atualmente em execução na comunidade. Um de seus objetivos é
gerar renda à comunidade. Ainda nessa localidade, Cruz (1999) constatou que a atividade
turística é associada principalmente à geração de renda.
O capítulo 2 (Antecedentes teóricos) destaca o conteúdo histórico e teórico do
tema. Faz-se um encadeamento dos acontecimentos que levaram ao estágio atual de
Reserva Extrativista. Destaca-se a participação dos diferentes atores e a institucionalização
de ideais e movimentos sociais que tornaram possível a criação e desenvolvimento da
RESEX Marinha de Soure. A partir desta noção, é destacado o suporte legal no qual se
sustenta a ação do Estado e da sociedade civil no cenário de estudo, em especial as ações
que visem a geração de renda.
Após uma apresentação da legislação em vigor, faz-se um comentário sobre
diversos conceitos ligados à modalidade de UC em estudo. Estes conceitos estão ligados a
sustentabilidade e extrativismo. Comenta-se como atores, instituições e atores vêem o
termo desenvolvimento sustentável, pretendendo-se atingir o contexto da área de estudo. A
respeito de extrativismo, procura-se a evolução do conceito até o que é conhecido hoje
como neoextrativismo
O Capítulo 3 (Perspectivas Ambientais) analisa o espaço em que ocorre o estudo,
caracterizando a área em seus aspectos físico e humano. Neste, o território, do recorte
insular ao local, é definido em função de sua formação histórica e potencialidades de
geração de renda. As atividades econômicas locais são descritas a partir de uma ótica
social, isto é, se existe retorno social no que se refere a qualidade de vida. A atividade
pesqueira é destacada pelo fato de ser a base econômica de grande parte da população das
comunidades da RESEX, ainda que economicamente desvantajosa em relação a outras
atividades. É neste capítulo que a peculiaridade de cada comunidade é descrita.
O Capítulo 4 (Políticas Públicas) discorre sobre ações do Estado relacionadas à
RESEX. Procura-se aqui fazer a conexão entre políticas públicas e a geração de renda. Em
um primeiro momento o termo “políticas públicas” é analisado de acordo com o
embasamento teórico disponível entre os diferentes autores, incluindo-se aqui a evolução
histórica. A esta expressão está ligado o termo “instituição”, motivo porque este também é
estudado. Chega-se então às políticas pesqueiras e de cunho sustentável e de que maneira
algumas ações do Estado são implementadas na RESEX.
28
No Capítulo 5 (Ações da sociedade civil), que versa sobre movimentos sociais e
associações, são mencionados conceitos utilizados no decorrer do trabalho, bem como
instituições. Depois da conceituação do termo sociedade civil, citam-se exemplos de
entidades presentes no local, em especial a ASSUREMAS. Pretende-se, assim, apresentar
as estratégias que a sociedade civil usa em sua atuação no que se refere ao processo
participativo no cenário da RESEX.
O Capítulo 6 (Discussão sobre geração de renda na Reserva) traz uma análise da
renda aplicada ao cenário de estudo. A partir da pesquisa de campo, avalia-se o perfil
sócio-econômico de um percentual estatístico da população da RESEX tendo em vista a
percepção de problemas para a geração de renda. A partir daí, a análise pretende propor
soluções viáveis que auxiliem as comunidades na busca de alternativas de geração de
renda.
Finalmente, o capítulo 7 (Conclusões) expõe as dificuldades que, na concepção do
autor, travam a geração de renda na RESEX, desde as internas, como dificuldade de
relacionamento entre os moradores, até as externas, como o fator político. Procura-se,
sempre que possível, projetar os acontecimentos locais em uma escala maior.
29
2 ANTECEDENTES HISTÓRICOS E TEÓRICOS
Nos primórdios da luta pela garantia do recurso produtivo e bem econômico que é a
floresta, um movimento social surgiu no Acre na década de 1970. Esse movimento,
denominado “empate” (de impedir as derrubadas), ganhou mais repercussão em 1985, ano
do primeiro Encontro Nacional de Seringueiros. Allegretti (1989) lembra que, na
oportunidade, os seringueiros propuseram a criação de “reserva extrativista”, entendida,
nessa concepção, como a regularização fundiária de áreas historicamente ocupadas por
eles. Além disso, expressa uma proposta de desenvolvimento dos recursos florestais,
garantindo, ao mesmo tempo, sua conservação.
30
No ano 2000, ainda segundo Populações (2006), as reservas extrativistas foram
reconhecidas como unidades de conservação integrantes do Sistema Nacional de
Gerenciamento de Unidades de Conservação (SNUC). O Decreto 98.897/1990 (BRASIL.
Decreto, 1990) define RESEX e regula sua criação, ao passo que a Lei 6.938 (BRASIL.
Lei no 6.938, 2000, art. 18, § 4o) (Apêndices 3 e 4), alterada pela Lei 7.804, integra esta UC
à Política Nacional de Meio Ambiente. Atualmente, segundo Matos (20006), as RESEX
são em número de 59, somando 9.557.684,40 ha, perfazendo 126.276 habitantes. As
RESEX enfrentam no momento dificuldade para viabilizar o plano de manejo, devido
principalmente à necessidade de capacidade dos técnicos e normas (modelos) técnicas.
Nenhuma das Reservas marinhas do Pará possui plano de manejo.
Quanto a sua administração, toda RESEX é gerida pelo Estado, juntamente com
representantes das comunidades extrativistas. O CNPT, órgão do IBAMA, o qual foi
instituído pela Portaria IBAMA no 22, de 10/02/1992, é o representante do Estado na
administração desta modalidade de UC. Tem como atribuições, entre outras, “[...] criar,
implantar, consolidar, gerenciar e desenvolver as Reservas Extrativistas em conjunto com
as populações tradicionais que as ocupam [...]” e “[...] promover o desenvolvimento
econômico visando a melhoria da qualidade de vida das populações tradicionais [...]”
(BRASIL. Portaria IBAMA no 22). Em vista disso, para a criação de uma RESEX o CNPT
participa em coordenação com a iniciativa das populações locais e da consulta pública. A
partir dos atores envolvidos, elaboram-se estudos técnicos para que se determine a
localização, dimensão e limites mais adequados.
Com base nesses trâmites legais, a RESEX Marinha de Soure, no município do
mesmo nome, na ilha de Marajó, teve seu processo de criação desencadeado pelos
catadores de caranguejo de Soure, por intermédio de sua associação, a ACS, contemplando
hoje todas as categorias de pesca artesanal (RESERVA, 2004). Foi criada pelo Decreto s/n,
de 22 de novembro de 2001 (Anexo 2), sendo a primeira RESEX marinha criada do estado
do Pará (Quadro 1). Possui área aproximada de 27.463,58 ha, abrigando em seu território
atualmente 152 famílias, conforme dados coletados no local, além de outras famílias que
dela retiram recursos para subsistência, totalizando 1.326 famílias de usuários, segundo
informação verbal do presidente da ASSUREMAS, Waldemil da Gama Medeiros, de 50
anos2. Sua área territorial é formada por três comunidades: Caju-Una, Pesqueiro e Céu.
2
Mais conhecido como “Vazinho”.
31
Os instrumentos de gestão da RESEX Marinha de Soure foram implementados a
partir de abril de 2002. Em 25 de julho daquele ano foi criada a ASSUREMAS, com
financiamento, segundo Vergara Filho (2006), do IBAMA e do CNS. Dois meses depois,
em 20 de setembro, foi criado o Conselho Deliberativo.
3
Sigla em inglês de Fundação Vida Selvagem Mundial.
32
As RESEX florestais e marinhas no estado do Pará totalizam uma área de
3.793.043,23 ha. Segundo Populações (2006), no país, essas mesmas UC, em número de
25, alcançam 7.734.253,00 ha, ao passo que as marinhas, num total de 18, alcançam
644.090,00 ha. Além dessas reservas, existe outro tipo de UC sustentável que abriga
populações tradicionais, a Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS), existente no
Pará. Trata-se da RDS de Itatupã-Baquiá, com área de 64.735,00 ha, localizada no
município de Gurupá, na ilha de Marajó.
12 comunidades
de Soure 27463,58 S/N 22/11/2001 Soure 400 famílias
1300 usuários
13 comunidades
Chacoaré-Mato Grosso 2785,72 S/N 12/12/2002 Santarém Novo 300 famílias
800 usuários
52 comunidades
Mãe Grande de Curuçá 37064,23 S/N 13/12/2002 Curuçá 2.000 famílias
6000 usuários
13 comunidades
São João da Ponta 3203,24 S/N 13/12/2002 São João da Ponta 200 famílias
600 usuários
75 comunidades
Maracanã 30018,88 S/N 13/12/2002 Maracanã 1.500 famílias
5000 usuários
39 comunidades
Caeté-Taperaçu 42068,06 S/N 20/05/2005 Bragança
6000 usuários
5 comunidades
Araí-Peroba 11479,95 S/N 20/05/2005 Augusto Corrêa
1300 usuários
39 comunidades
Gurupi-Piriá 74081,81 S/N 20/05/2005 Viseu
6000 usuários
36 comunidades
Tracuateua 27153,67 S/N 20/05/2005 Tracuateua
1500 usuários
284 comunidades
Total 255.319,14 ------- -------
28500 usuários
Fonte: Modificado a partir de CNPT/IBAMA.
33
porém, plano de utilização implementado. Quanto à situação fundiária, a área marinha está
em processo de concessão de direito real de uso, em trâmite final, sob a responsabilidade
da Gerência Regional de Patrimônio da União (GRPU), segundo informações de Vergara
Filho (2006b). O IBAMA repassará esse direito às reservas. Tal processo, no caso da
RESEX marinha de Soure, será finalizado ainda no ano de 2006. A RESEX de Maracanã é
a única entre as marinhas que recebe recurso do ARPA.
34
sustentável, equilibrando interesses ecológicos de conservação ambiental com interesses
sociais de melhoria de vida das populações que ali habitam. Para tal exploração, a lei exige
a celebração de um contrato chamado Contrato Real de Uso.
Consolidada entre os seringueiros em 1985, por ocasião de seu Encontro Nacional
(ALEGRETTI, 2002; SIMONIAN, GLASER, 2000), a categoria RESEX ainda hoje é alvo
de críticas, passados quase vinte anos desde a criação da primeira unidade, em 1988. Até a
nomenclatura das RESEX situadas na Zona Costeira e Marinha já foi tema de discussão
(RODRIGUES, PAULA, ARAÚJO, 2004). Chamada RESEX Marinha, é também
denominada pelo CNPT de RESEX de Recursos Pesqueiros, isto devido à predominância
de comunidades de pescadores que têm no pescado seu meio principal de subsistência. As
RESEX Florestais, por sua vez, passaram a ser denominadas, pela mesma instituição, de
RESEX de Recursos Florestais. As RESEX de Recursos Pesqueiros, segundo Furtado
(1993), são áreas em que se pratica a pesca para subsistência e/ou comercialização em
ambientes costeiros e, principalmente, em águas interiores como em lagos, rios, igarapés e
outros corpos d’água.
O conceito e função de RESEX são regulados pela legislação. Esta UC
[...] é uma área utilizada por populações extrativistas tradicionais, cuja
subsistência baseia-se no extrativismo e, complementarmente, na
agricultura de subsistência e na criação de animais de pequeno porte, e
tem como objetivos básicos proteger os meios de vida e a cultura dessas
populações, e assegurar o uso sustentável dos recursos naturais da
unidade (BRASIL. Decreto, 2001, art. 1o).
Quanto a seus objetivos básicos, a lei que institui o SNUC (BRASIL. Lei no 9.985,
2000, art. 18; Decreto no 4.340, 2002) declara que a RESEX visa “[...] proteger os meios
de vida e a cultura dessas populações, e assegurar o uso sustentável dos recursos naturais
da unidade”. Essas duas referências legais enfatizam a obrigação do Estado para com as
comunidades no que se refere ao uso sustentável. Pretende-se com ações como essa
chegar-se ao desenvolvimento sustentável.
No que diz respeito à classificação e normas de funcionamento interno, existem
orientações legais e administrativas a respeito, sempre se baseando na participação da
comunidade. As RESEX se dividem em UC de Recursos Florestais e de Recursos
Pesqueiros. Tem-se, atualmente, um total de 38 RESEX no Brasil, sendo 20 de recursos
florestais e 18 de recursos pesqueiros (RODRIGUES, PAULA, ARAÚJO, 2004). Em
pleno funcionamento, esta modalidade de unidade de conservação possui, além do Estatuto
35
(Anexo 3) e do Plano de Utilização,4 o Plano de Manejo, espécie de lei, documento técnico
no qual tem que estar presentes assuntos relativos à visitação pública, área, zona de
amortecimento e os corredores ecológicos, incluindo medidas com o fim de promover sua
integração à vida econômica e social das comunidades vizinhas (BRASIL. Lei no 9.985,
2000, § 1o, art. 27). A considerar-se a Constituição Federal (BRASIL. Constituição, 1988,
art. 225), a participação pública é obrigatória no processo de produção do Plano de
Manejo, restringindo-se o uso da propriedade pública a partir do princípio de que o meio
ambiente é bem de uso comum do povo.
Entre os dispositivos legais que se referem a renda e/ou subsistência das
comunidades extrativistas, destaca-se a Política Nacional da Biodiversidade (PND),
instituída pelo Decreto no 4339 de 22 de agosto de 2002. É formada de partes chamadas
“Componentes”, que versam sobre objetivos a serem perseguidos pelo Estado. O
Componente Um, que trata do conhecimento da biodiversidade, traz, entre os objetivos
gerais, o de promover o conhecimento da biodiversidade e seu potencial de uso econômico.
O Componente Três versa sobre a utilização sustentável dos componentes da
biodiversidade. Nessa parte, a PND afirma ser um de seus objetivos promover a inserção
de espécies nativas com valor comercial no mercado interno e externo e fomentar o
desenvolvimento de projetos de utilização sustentável de recursos biológicos oriundos de
associações e comunidades em unidades de conservação de uso sustentável.
Existe também dispositivo legal que permite o uso sócio-cultural da biota em área
de preservação. A Lei de Crimes Ambientais (LCA), instituída pela Lei Ordinária no 9.605
(BRASIL, 1998, art. 37), permite a utilização da fauna para subsistência em área destinada
ao uso sustentável de recursos naturais. Desta maneira, garante-se o sustento.
Outros conceitos são importantes para o entendimento de RESEX. Em matéria de
definições geográficas, existem conceitos importantes para o entendimento de RESEX. Em
vista disso, corredor ecológico é definido como uma porção de ecossistemas naturais e
seminaturais, ligando unidades de conservação, que possibilitam entre elas o fluxo de
genes e o movimento de biota, facilitando a dispersão de espécies e a recolonização de
áreas degradadas; também integra essa definição a manutenção de populações que
demandam para sua sobrevivência áreas com extensão maior do que aquelas das unidades
individuais (BRASIL. Lei no 9.985, 2000, art. 2o, XIX). Zona de amortecimento é o
entorno de uma unidade de conservação, onde as atividades humanas estão sujeitas a
4
Esses dois dispositivos já estão em vigor na RESEX Marinha de Soure.
36
normas e restrições específicas, com o propósito de minimizar os impactos negativos sobre
a unidade (BRASIL. Lei 9.985, 2000, § 1o, art. 2o, inciso XVIII). Tais conceitos facilitam a
compreensão do cenário de estudo.
No que se refere às definições referentes à biodiversidade, outros conceitos são
interessantes para este trabalho. Por exemplo, ecossistema é, de acordo com Rio de Janeiro
(1990, p. 85), um “sistema aberto que inclui, em uma certa área, todos os fatores físicos e
biológicos (elementos bióticos e abióticos) do ambiente e suas interações, o que resulta em
uma diversidade biótica com estrutura trófica claramente definida e na troca de energia e
matéria entre esses fatores”. E para BRASIL (Ministério, 2003), biota é o conjunto de flora
e fauna, ou todos os organismos que vivem em uma área, ou seja, o conjunto dos
componentes vivos de um ecossistema.
Em uma área de reserva é possível a intervenção no sistema, com objetivo claro e
previamente estabelecido. Tal intervenção se chama manejo, definido como o
procedimento que vise a assegurar a conservação da diversidade biológica e dos
ecossistemas. De acordo com Dubois (1996), este dependerá do interesse das comunidades
residentes e da avaliação do ambiente, das populações das espécies potenciais existentes e
dos mercados atuais e futuros. E no entender de Simonian (1997), o mesmo vem sendo
implementado de modo negativo e/ou positivo.
Populações tradicionais é expressão que traduz outro componente importante para o
entendimento de RESEX. Com relação a modelos UUS de unidade de conservação como a
RESEX, identifica um segmento populacional que necessita de reconhecimento político. A
tomar-se o entendimento de Lima (2002), sua diferenciação se faz não por fatores étnicos
distintos da população dominante, mas por uma tradição com identidade ecológica
inventada, seguindo uma terminologia internacional. Identificam-se como populações
tradicionais, conforme exemplo de Simonian (2005), caboclos ribeirinhos, camponeses,
quilombolas e indígenas. Essas populações têm respaldo legal para se fixar em dos tipos de
UC de uso sustentável.
Além de ocuparem as terras e recursos de RESEX, como a Marinha de Soure que é
objeto de estudo deste trabalho, segmentos dessa população vivem também em áreas de
outras UC. Dentre essas tem-se a RDS, definida por Brasil (Lei no 9.985, 2000, art. 20,
caput), como “[...] uma área natural que abriga populações tradicionais, cuja existência
baseia-se em sistemas sustentáveis de exploração dos recursos naturais [...]”. Mas essas
populações também vivem em áreas de outras naturezas, como nas terras de marinha, nas
devolutas, em terras privadas próprias etc.
37
As populações tradicionais sobre as quais versa o presente trabalho são as
extrativistas pesqueiras. Matos (2006) afirma que os extrativistas são obrigados pelas
circunstâncias a escolher o que pode e o que não pode usar. São produtores que tem a
função de conservar o que não se pode usar, sob o raciocínio de que quem deve cuidar do
meio ambiente é a comunidade, não o governo. Os recursos naturais por eles explorados
são os pescados, a madeira, as sementes, óleos, fauna, polpa, raízes, frutos, turismo,
artesanato e peixes ornamentais, entre outros. Essa visão de usar e conservar fazem parte
de uma cultura própria e modo de vida diferenciado, características que favorecem uma
relação harmônica com a natureza em função do relativo isolamento e da forte influência
do meio natural.
Existem alguns pontos fundamentais relacionados aos extrativistas que devem ser
levados em conta no momento da definição desse grupo. Ainda segundo Matos (2006), a
garantia do direito do espaço (terra); melhoria na produção, priorizando o uso dos recursos
naturais; a conservação desses recursos; e a organização social das comunidades são alguns
desses pontos. Estes aspectos, voltados para o uso da terra e de seus recursos via
organização social, visam a fortalecer essas populações.
Existem opiniões contrárias à funcionalidade da natureza da RESEX, bem como ao
desenvolvimento sustentável. Em relação à concepção que apregoa o bom desempenho
dessa modalidade de área de reserva,5 Alfredo Homma (1993, apud RÊGO, 1999) é um
dos autores de destaque que sustenta a opinião de que a extinção dessa atividade, baseada
no extrativismo vegetal tradicional, é inevitável devido à falta do uso de tecnologia por
essa modalidade econômica. Há que se levar em conta, também, pontos de vista sobre
desenvolvimento sustentável, como o de Fernandes (2003), para quem o conceito dado
pela Comissão Mundial para o Desenvolvimento e Meio Ambiente (WCED) (UNITED,
1987) é vazio, destinado de maneira tal que não implica desdobramento conseqüente e sem
substância como proposição possível.
O ordenamento sócio-ambiental por meio de reservas extrativistas, porém, apesar
do risco apontado por Homma, pode ser bem sucedido, inclusive com o uso de tecnologia.
Para isso, faz-se necessário que a concepção a respeito do uso dos recursos naturais seja
ampliada, admitindo-se, nos dizeres de Rêgo (1999), alguma tecnologia e uso dos recursos
naturais no modo de vida e na cultura extrativistas. As populações tradicionais das RESEX
procuram atualmente, por meio de procedimentos técnicos como o plano de manejo, sair
5
Expressão utilizada como equivalente de UC.
38
da condição de simples coletoras de recursos para o uso de técnicas de cultivo, criação e
beneficiamento.
Neste ponto, surge o neoextrativismo. Esse sistema de produção, para autores como
Kageyama (1996, apud AVALIAÇÃO, 2006), é a solução para o risco de extermínio do
extrativismo tradicional6. Para Rêgo (1996, p. 1, apud AVALIAÇÃO, 2006), o sistema
neoextrativista “supõe a construção de uma nova base técnica ou um desenvolvimento
técnico por dentro do extrativismo, subordinado aos padrões e exigências sócio culturais
dos seringueiros.” É a ênfase à importância das RESEX como base de uma economia
baseada nas atividades extrativas e na organização familiar do trabalho. Embora este
último autor se refira em seus trabalhos a reserva florestal, naturalmente seus ensinamentos
podem ser inseridos no cenário de reservas extrativistas costeiras, que possuem suas
peculiaridades e seu próprio conjunto de recursos naturais.
Outra maneira de dispor a utilização desses recursos como solução conjunta para
políticas sustentáveis é via redes. Tem início, assim, a tecnologia social, baseada, segundo
se depreende de Lassance Jr. e Pedreira (2004), na multissetorialidade e articulação entre
as organizações da sociedade e áreas governamentais. Constitui-se um desafio a tarefa de
articulá-las a ponto de virem a se tornar solução conjunta para políticas sustentáveis.
Acerca do conceito de desenvolvimento sustentável, existem dois pontos a ser
considerados. Em primeiro lugar, de fato se torna vazio quando utilizado apenas como
mais uma definição política de impacto mas vazia de sentido. Qualquer expressão utilizada
amplamente tende ao desgaste de seu significado. Em segundo lugar, é preciso considerar
que o conceito político amplo para o progresso econômico e social visa a uma meta que
integra o objetivo de se chegar a pontos de maior abrangência e efeito. Para isso, Nobre
(2002) parece defender a necessidade de se trilharem etapas visando a alcançar resultados
mais abrangentes.
A partir de decisões conjuntas sobre situações de consenso viável, ainda que
limitadas, é possível abrir caminho para acordos futuros relevantes na escala global.
Afastam-se, assim, temas urgentes, mas polêmicos que emperravam qualquer avanço em
negociações políticas entre sociedades e nações. A intenção era tão somente trazer para
primeiro plano a necessidade de conservar e preservar. Assim, no momento em que as
velhas questões fossem retomadas, viriam reorganizadas segundo o paradigma da
sustentabilidade, abrindo caminho para o desenvolvimento sustentável. Este processo faz
6
O risco anunciado por Kageyama (id., ibid.) se deve ao cultivo intensivo da seringueira, ou seja, está no
âmbito da RESEX florestal. Tal concepção, porém, é aqui estendida para as RESEX marinhas.
39
parte de acordos que, por mais limitados que sejam não se constituem em um fim, mas um
meio de se obterem melhores resultados posteriormente.
O caso em estudo se enquadra como UCUS, que, por sua vez, conforme redação da
Lei 9.985, art. 7o, § 2o (BRASIL. Lei no 9.985, 2000), tem o objetivo de “[..] compatibilizar
a conservação da natureza com o uso sustentável de parcela dos seus recursos naturais”.
Uso sustentável, definido SNUC (BRASIL. Lei no 9.985, 2000, art. 2o, inciso XI), é “[...] a
Exploração do ambiente de maneira a garantir a perenidade dos recursos ambientais
renováveis e dos processos ecológicos, mantendo a biodiversidade e os demais atributos
ecológicos, de modo socialmente justo e economicamente viável”. Tal uso sustentável
pretende ser uma alternativa viável frente ao desenvolvimento vigente, que pode gerar
retrocessos sociais e ambientais. Para que o desenvolvimento se torne sustentável, é de se
considerar os critérios qualitativos para sua análise, e não apenas os quantitativos. Por essa
razão, têm-se como referências as configurações que abrangem os aspectos social,
ambiental e econômico.
A gestão de recursos naturais e a redução de desperdícios são atividades produtivas
resultantes de uma nova cultura ambiental, diferente daquela em que o cuidado ambiental é
um custo adicional para os produtores. Políticas públicas baseadas em tais atividades, além
de conservar o ambiente, geram renda e criam empregos total ou parcialmente financiados
pela poupança de recursos naturais. Sachs (2003) argumenta que a biodiversidade regional
possibilita o aproveitamento múltiplo da biomassa para produção de um leque de produtos,
podendo ser inserida em uma economia moderna, em escala nacional, baseada no uso
extensivo de recursos naturais renováveis em condições ecologicamente sustentáveis.
Há várias definições para o termo, que, embora relativamente recente, está presente
entre os “politicamente corretos”. Nas palavras de Costa (1997), a expressão tem-se
tornado chavão obrigatório. Desenvolvimento sustentado, utilizado por Guimarães (1995)
como sinônimo de desenvolvimento sustentável, tem sua origem mais remota em
Estocolmo e como conceito e proposta foi consolidado na ECO 92. Por sua vez, Diniz
(1997) diferencia o desenvolvimento sustentável do auto-sustentado. Para o autor este é o
processo de longo prazo do aumento simultâneo da renda e de transformações quantitativas
e qualitativas sócio-estruturais. Independentemente do conceito, sua principal característica
40
é trocar a agressividade no trato dos recursos naturais pela sofisticação inteligente que
permite o máximo de aproveitamento de recursos disponíveis.
O conceito também foi formulado institucionalmente. Para a WCED, “[...]
desenvolvimento sustentável é aquele que atende às necessidades do presente sem
comprometer a capacidade das futuras gerações de atender suas próprias necessidades”
(WCED, 1987, apud COSTA, 1997, p. 83). Esta definição, criticada por alguns devido a
sua concepção generalizada, tem sido amplamente utilizado por vários autores.
Ainda a respeito do conceito de desenvolvimento sustentável, existe uma tendência
à utilização do termo de acordo com o setor interessado. Em pesquisa realizada pela
WWF-Brasil (SÁ, R.; VASQUEZ, R., 2001), junto a lideranças e formadores de opinião,
foi perguntado a vários setores (representantes do Estado, empresariado, movimento social
e ambientalista) o conceito de desenvolvimento sustentável. A resposta cita expressões
como uso dos recursos naturais; controle para uso contínuo como fonte de renda; produção
constante; participação democrática na cadeia produtiva e justiça econômica, social e
ecológica; e uso econômico e social sem destruição, de maneira planejada.
Como resultado, constatou-se que o conceito é manipulado de acordo com os
interesses de cada categoria. Esta constatação corrobora a visão de Viola e Leis (1992), de
que em torno das bases consensuais do conceito existe uma disputa teórico-política em
relação aos diferentes pesos das variáveis em jogo, levando à situação de consenso mais
nos fins ou objetivos do que nos meios ou procedimentos. Este processo leva os vários
atores a mudarem de posição durante o “jogo” de acordo com o objetivo final.
Desenvolvimento sustentável é uma expressão intrinsecamente ligada a outras, o
que facilita sua compreensão. Gestão é um desses termos, relacionado por Dias Neto
(1999, apud DIAS NETO, 2003) com a aplicação de medidas de expansão da pesca as
quais se harmonizam entre si, tendo como um de seus objetivos a geração de emprego e
renda justa para ao trabalho. E a pensar-se a realidade das RESEX marinhas, a responsável
pela gestão sustentável é a União, a detentora dos direitos sobre os recursos pesqueiros
marítimos.
O termo extrativismo é utilizado geralmente para designar toda atividade de coleta
de produtos naturais. Em concordância com a idéia de produtos de origem mineral
(exploração de minerais), animal (peles, carne, óleos), ou vegetal (madeiras, fibras, folhas,
frutos, entre outros), considera-se extrativismo, para efeito deste trabalho, a definição de
Brasil (Lei no 9.985, 2000, art. 2o, inciso XII): é o “[...] sistema de exploração baseado na
coleta e extração, de modo sustentável, de recursos naturais renováveis”. Essa coleta
41
relaciona-se ao uso econômico da biota, ou dos seres vivos, vinculado ao tipo de
organização social, valores e crenças das sociedades que habitam os ecossistemas da região
amazônica.
Não existe, portanto, o extrativismo de um só produto, mas sim uma atividade
múltipla. Esta multiplicidade de produtos na coleta vem de encontro à idéia estereotipada
de ser o extrativismo atividade de povos primitivos progressivamente substituída na
medida em que o homem foi descobrindo tecnologias e acumulando conhecimentos e
assim controlando as leis da natureza. Ainda sobre a multiplicidade de produtos, Brasil,
Instituto (2006) vê na procura de alternativas econômicas a principal característica do
neoextrativismo, enfatizando-se, para tanto, a agregação de valor aos produtos extrativistas
por meio do beneficiamento primário nos lugares de produção.
Ressalte-se, porém, que o foco econômico do neoextrativismo, enfatizado por
alguns, é visto com cautela por outros. As 200 mil famílias na região amazônica envolvidas
com essa modalidade de extrativismo estão sujeitas como as outras extrativistas, à falta de
mercado para certos produtos ou a preços abaixo do esperado. Brasil, Instituto (2006)
afirma que essa realidade leva as famílias a buscarem opções econômicas com preços mais
compensadores. Isso se constitui na procura de alternativas econômicas, o que confere ao
neoextrativismo uma importância econômica importante. Cavalcanti (1999) vê na atividade
uma importância mais social que econômica ao declarar que, isoladamente, não teria
condições de ser defendida. O mesmo autor afirma que o neoextrativismo há de vir
associado à agricultura de pequeno porte, à criação de animais, ao ecoturismo e outra
atividades, sendo deste modo benéfico para a Amazônia. Ambas as opiniões convergem no
que diz respeito ao manejo na utilização diversificada de recursos.
Chega-se então a um conceito mais específico, o de bioextrativismo. Esta
modalidade, citada por Rêgo (1999), preconiza, em vez de uma natureza intocada, a
intervenção que, baseada na racionalidade da reprodução familiar/comunitária, visa
produzir biomassa útil regulada por sistemas de manejo, bem como a exploração em
pequena escala de plantas e animais. Essa concepção de extrativismo transcende o nível
econômico tradicional, pois depende da organização comunitária. Assim, a produção
adquire uma lógica nova, diversificando-se ao mesmo tempo em que se subordina ao
universo cultural da população extrativista, visando não o lucro, mas a reprodução social e
cultural. Este é o neoextrativismo sob o ponto de vista do extrativismo da biota.
Outra concepção de neoextrativismo se dá em relação ao setor agropecuário. Em
Brasil, Instituto (1995) depreende-se que as alternativas econômicas do neoextrativismo
42
têm surgido mais no setor agropecuário. Devido a isso, os neoextrativistas têm sido
chamados de agroextrativistas.
No que diz respeito a sustentabilidade, tal conceito precisa ter mais bem definidos
alguns parâmetros para que, assim, seja aplicada com mais eficácia. Guimarães (1995)
decompõe o termo em cinco dimensões. A sustentabilidade do desenvolvimento apregoa a
democratização do Estado, e não seu abandono ou substituição pelo mercado. A
sustentabilidade ecológica do desenvolvimento, base física do processo de crescimento,
visa à manutenção do estoque de recursos naturais incorporado às atividades produtivas. A
sustentabilidade ambiental é a capacidade da natureza de absorver e se recompor das
agressões antrópicas. A sustentabilidade social do desenvolvimento tem como alvo a
melhoria da qualidade de vida da população. A sustentabilidade política do
desenvolvimento, finalmente, busca a construção da cidadania via incorporação das
pessoas ao processo de desenvolvimento, seja no nível micro, na democratização da
sociedade, seja no nível macro, com a democratização do Estado.
Se por um lado existe a preocupação da sustentabilidade, por outro o que se tem é a
realidade de crise global sobre a economia e estilo de vida, fruto da degradação ambiental.
Spangenberg (1997) lista quatro situações-problema daí decorrentes. Primeiramente, com o
uso excessivo do ambiente devido às práticas atuais, a estabilidade dos sistemas de
sustentação da vida está ameaçada. A segunda situação relaciona-se com a distribuição da
riqueza, ou seja, a distribuição de renda só tem piorado. O terceiro problema está ligado ao
setor empresarial e sua opção por reduzir custos, em vez de procurar soluções inovadoras,
criando, assim, novos mercados e empregos. Enfim, a quarta situação é a perda de
confiança nas elites dominantes para resolver o problema, sejam tais elites entes políticos,
sindicais ou outros representantes da sociedade civil. Este último caso tem levado a uma
crise de legitimação, destruindo a coesão das sociedades. Ao mesmo tempo, porém,
contribui para a adesão de novos atores, antes destituídos da capacidade participativa.
43
3 PERSPECTIVAS AMBIENTAIS
44
do estado. Para dom Luiz Azcona, citado em Marajó (2006), o contraste entre os
municípios das duas partes da ilha dá a impressão de outro arquipélago.
No que diz respeito à geração de renda, as poucas opções disponíveis se ressentem
da falta de apoio governamental, bem como de resolução de situações adversas antigas. A
estrutura agrária concentrada, o desemprego crônico, o êxodo rural e falta de assistência
são fatores que têm deixado poucas opções de renda à população carente. Mesmo quando é
possível a obtenção de recursos financeiros a partir dos recursos naturais presentes na
região, a ação ou omissão de atores governamentais constitui-se uma das causas da
problemática da geração de renda.
As principais atividades de geração de renda no arquipélago são o extrativismo
vegetal e a pecuária. Ambas as modalidades se destacam, segundo Miranda Neto (2005),
como as principais fontes de renda. O extrativismo, existente na região nas seguintes
modalidades: (a) coleta de sementes oleaginosas, de baixa rentabilidade e
progressivamente escassa; (b) madeira, inviável devido aos custos dos meios de produção;
e (c) palmito do açaí, indiscriminadamente derrubado por empresas. O modo extrativista de
geração de renda não apresenta até o momento boa opção de renda para a população
carente. O extrativismo vegetal na região, para gerar renda, necessita de mudanças.
O turismo se destaca como outra opção de renda. Há mais de 30 anos proposto
como alternativa de desenvolvimento para a Amazônia (CRUZ, 1999), até o momento não
atingiu nível esperado de geração de emprego e renda para suprir as carências, em que pese
a melhora na infra-estrutura. Em nível nacional, a região parece carecer de divulgação,
mesmo de órgãos oficiais. A Empresa Brasileira de Turismo (EMBRATUR), por exemplo,
quando da realização do Salão de Turismo realizado em São Paulo, de 01 a 5 de junho de
2005, apresentou um vídeo com paisagens brasileiras no qual não constava nenhuma do
estado do Pará (IPEA, 2003). Eventualmente existem vôos fretados, mas o transporte, em
geral fluvial ou aéreo, é precário.
A atividade turística pode vir a ser uma opção de criação de renda que efetivamente
melhore a qualidade de vida da população local. Para tanto, observa-se a necessidade de
criação e implementação de políticas públicas nesse sentido. Até o momento não existe
senão iniciativas embrionárias. Tais ações, no entanto, ainda que em fase inicial, são
importantes no processo de elaboração de um plano de desenvolvimento sustentável para a
região. Este é o caso do Decreto s/n de 26 de julho de 2006 (BRASIL. Decreto, 2006),
relativo ao acompanhamento de ações necessárias ao desenvolvimento sustentável no
45
arquipélago, sejam elas de iniciativa dos governos federal, estadual ou municipal ou de
ONG. Foi criado devido aos problemas diversos enfrentados no lugar.
46
conta de que a formação geológica do Marajó, de composição mista, é formada por terras
firmes e pelas matas de várzeas, sendo estas mais recentes e ocupantes da porção ocidental,
por sedimentos fluviais recentes. A parte oriental é formada por terrenos consolidados,
separados tectonicamente do continente.
A biodiversidade na região é consideravelmente alta. Também chamado de golfão
marajoara, o golfão do Amazonas é caracterizado, segundo Avaliação (1999), pela riqueza
biológica em ecossistemas de campos inundáveis, manguezais, várzea, igapós e vegetação
de terra firme, que servem de abrigo para rotas migratórias e espécies vegetais e animais
ameaçadas de extinção. Algumas unidades de conservação, além da RESEX Marinha de
Soure, foram criadas ou estão em fase de criação para proteger a fauna e a flora.
O tamanho e a posição de Marajó no delta-estuário do Amazonas/Pará separam dois
grandes ambientes hidrográficos: as formações típicas de delta do Amazonas, que
correspondem à porção norte do golfão entre Marajó e o litoral do estado do Amapá, e a
formação estuarina do rio Pará na porção sul, entre Marajó e o litoral do estado do Pará.
Uma série de canais estreitos chamados localmente de furos liga esses dois ambientes e
garante a separação entre essa ilha e o continente, num espaço em constante processo de
assoreamento. Quaresma (1999) informa que as altitudes da ilha não ultrapassam 40m, e
sua topografia em grande parte constitui uma extensa planície sujeita à inundações
periódicas pelas chuvas ou pelas cheias dos rios, que estão sob influência de marés.
Em se tratando do acesso à ilha, observou-se em viagem de campo que se dá via
aérea ou fluvial. Internamente, chega-se às vilas, povoados e comunidades, segundo
informação de Quaresma (1999), por estradas normalmente em más condições de
conservação, às vezes apenas picadas ou trilhas naturais. Expedição (2005) descreve
viagem à ilha via o conjunto de pontes Alça Viária, passando pelo município de Barcarena
e a partir daí navegando-se de balsa pelo rio Marajó-Açu em Ponta de Pedras. Evita-se,
assim, a passagem pela baía de Guajará.
Quanto a atividades econômicas, explora-se a biodiversidade de fauna e flora local.
A ilha possui fazendas de criação de búfalos (Bubalus bubalis). O pescado é explorado,
inclusive por pescadores de fora do arquipélago, principalmente no final do verão, quando,
segundo Machado (1994), as águas estão em seus níveis mais baixos nos lagos e rios. O
extrativismo vegetal é outra atividade importante, extraindo-se o palmito do açaí (Euterpe
47
oleracea Mart.) e o óleo da semente de andiroba (Carapa guyanensis), que também é
vendida in natura para a empresa Beraca/BRASMAZON, sediada em Ananindeua/PA7.
Entretanto, os recursos da região são sub-aproveitados. Segundo Miranda Neto
(2005) e Cruz (1999), tal riqueza natural até o momento não foi suficiente para elevar o
nível de vida da maioria da população, encontrando-se em cidades como Soure um grande
contraste social e econômico, seja em relação aos outros municípios, seja em relação aos
próprios moradores. Azcona (apud MARAJÓ, 2006) declara que a situação na ilha é
resultado de “completo abandono” nos últimos anos, completando com a afirmação de que
os políticos locais, com raríssimas exceções, não tem se empenhado pela luta por políticas
de desenvolvimento. Entretanto, espera-se que o grupo executivo criado em julho de 2006
consiga deixar as disputas políticas e corrupção e apresente soluções para o
desenvolvimento do arquipélago.
A degradação ambiental na região é em parte causada por fatores externos, naturais
ou antrópicos, alguns dos quais ainda não suficientemente estudados. Os eventos ocorrem a
a oeste, como a contaminação de mercúrio em peixes em Melgaço, ou a leste, como a ação
de ventos erosivos em Soure e Salvaterra. Este último caso afeta especialmente o
manguezal e dunas de Caju-Una e Céu, a cerca de 200 m da praia. Segundo El-Robrini
(2006), os poços artesianos localizados nessas duas comunidades sofrem influência da
salinidade da água do mar, que aumenta no período seco. O excesso de salinidade,
principalmente no período seco, pode prejudicar a agricultura e, por conseguinte, a saúde
humana, deixando ainda partículas de sedimentos na água. O problema da água na ilha
passa pela qualidade, além de escassez. A salubridade em si pode melhorar a qualidade do
coco cultivado, segundo certo agricultor da comunidade de Caju-Una.
Este problema com o mar já é conhecido pela população. Está presente no processo
de formação das comunidades do Céu e Caju-Una. Edevaldo Tavares, presidente da
Associação dos Pescadores do Pesqueiro (ASPEPE), da comunidade Vila do Pesqueiro,
afirma que “[...] o mar está invadindo a terra”. A força erosiva da água é testemunhada,
portanto, por quem mora no local.
Uma comparação entre os pescadores do estado do Pará e os da ilha de Marajó
(Quadro 3) ajuda a situar o profissional da área de estudo no cenário do estado em que se
encontra. No que diz respeito ao perfil sócio-econômico, Pará. Perfil (2003) fornece
7
Informação obtida junto ao Sr. Vazinho.
48
informações, diversas a respeito do profissional da pesca artesanal. A partir dessas
informações, pode-se chegar a determinadas conclusões.
Em se tratando da idade, por exemplo, a maioria dos pescadores tem idade superior
a 30 anos. Eles são chefes de família e casados ou com união estável. Esta situação os
coloca como base familiar, apesar do baixo grau de instrução, uma vez que mais da
metade, no Marajó, estudou no máximo até a quinta série do Ensino Fundamental.
O êxodo de pescadores é pequeno uma vez que, em sua maioria, permanecem no
município em que nasceu. A disponibilidade de recursos pesqueiros tem sido, portanto,
suficiente para manter o trabalhador no local. Este fato pode ser constatado com o alto
índice de freqüência da atividade de pesca e destino de comercialização da produção.
A renda, porém, é baixa, sendo que mais da metade dos pescadores marajoaras
(60,2%) aufere até dois salários mínimos por mês. Quanto à comercialização do produto,
esta é feita preferencialmente a atravessadores, sendo a média estadual de 70%. População
49
em Idade Ativa (PIA) refere-se aos que moram com o pescador sem incluí-lo, e que
possuem 10 anos de idade ou mais. Em relação ao destino da produção, a maioria pesca
para comercializar, e apenas 8,2% e 7,2% no Marajó e na média estadual, respectivamente,
destinam a produção para subsistência.
No que diz respeito ao amparo pela Previdência Social, tem-se, como indicado na
quadro anterior, que três quartos do total são inscritos. Dos inscritos, a maioria de Marajó e
da média estadual (73,4% e 51,2%, respectivamente) é inscrita como segurados especiais.
E, menos de 2% dos inscritos são de segurados autônomos.
Quanto ao grau de instrução, a média do arquipélago de Marajó que tem mais de
nove anos de estudo é um pouco maior que a média estadual. Precisamente, tem-se 1,2% e
0,5%, respectivamente. Apesar do baixo grau de instrução dos pescadores, atualmente
existe uma boa disponibilidade de escola para a classe: 89,2% para o Marajó e 91,3% para
a média estadual.
A pesca no Marajó é realizada principalmente em rios, com pouco mais de 40% do
total, condição na qual a média estadual é de cerca de 60%. Das principais espécies
pescadas no estado (Tabela 1), muitas são encontradas na região de estudo. A freqüência
de uma ou outra varia de acordo com a época do ano.
50
estadual. Observa-se que a comercialização se dá principalmente a atravessadores, seguida
do público em geral, e uma pequena parcela, em torno de 3%, para empresas. O consumo
marajoara chega a 8,2%, ao passo que no estado está em 7,2%.
3.1.2 Soure
51
marajoara, existia grande quantidade de jacarés (Caiman spp.). Conforme posto por Cruz
(1999), a Soure lusitana era chamada pelos romanos de Saurium, ou seja, jacaré em latim,
de onde se originou a palavra Soure.
A cidade de Soure tem forte relação com Belém no que diz respeito à cultura. Nesse
quesito, a capital informal do Marajó, segundo Figueiredo (1999), mantém fortes laços
com a capital do estado. Embora a maior parte dos jovens permaneça na cidade, os estudos
são feitos preferencialmente em Belém, cidade que também influi na moda feminina local
e fornece grande número de turistas. Soure vende para a capital peixe e carne que produz.
As várias festas existentes nos bairros e comunidades no decorrer do ano atraem
visitantes do próprio município e de fora. As que ocorrem nas três comunidades são
oportunidades para que os nascidos no lugar, porém não mais residentes, visitem os
parentes e amigos que permaneceram. Essas manifestações populares em Soure têm como
características, segundo Figueiredo (1999), a noção de festa como momento ritual,
sagrado, relacional e comunitário, e a noção de festa enquanto instrumento de reprodução
de padrões vigentes, ou seja, uma rememoração do passado que mantém significações da
vida social presente. Quanto a opções de renda, a pesca artesanal se destaca.
52
Figura 1: Reserva Extrativista Marinha de Soure em sua extensão costeira. Foto: CNPT/IBAMA, 2004.
53
segundo Nascimento (2002), em 1989. A outra vai de Soure a Vila do Pesqueiro. Segundo
pesquisa exploratória feita no local, o transporte da sede municipal para as três
comunidades pode ser feito utilizando os serviços da Estação Motociclista “Elias Gomes
Felipe”. Conforme dados do survey, no mês de julho de 2005, o valor da corrida de moto
táxi para Caju-Una e Céu é R$ 10,00 (dez reais), e para Pesqueiro, R$ 5,00 (cinco reais).
Acerca da infra-estrutura nas comunidades, houve mudanças significativas nos
últimos anos. Com o advento do programa do Governo federal “Luz no Campo”, na
administração do então presidente Fernando Henrique Cardoso, a energia elétrica foi
levada às vilas da RESEX Marinha de Soure a partir de 2002 (NEVES, Teófilo da Silva,
2005, informação verbal sobre a vila do Céu). Com a melhora da vida dos moradores das
comunidades rurais “em 80%”, os pescadores passaram a ter uma nova opção de conservar
a produção, em geladeira ou freezer. Os promotores de festa nas comunidades, por sua vez,
não mais precisariam alugar grupos geradores de energia.
Outros problemas, porém, permanecem. Desses, o principal parece ser o da água,
em especial nas comunidades do Céu e Caju-Una. Edson Gonçalves, 30 anos (2005,
informação verbal), da comunidade do Céu, Agente Comunitário de Saúde, afirma que
“vinha cloro da Secretaria de Saúde do Município, mas demorava muito”. A falta desse
produto ocasiona diarréia, principalmente nas crianças. Além da qualidade, as
comunidades sofrem com a falta de abastecimento do produto. Medidas devem ser
tomadas, portanto, para que a qualidade de vida na região atinja níveis razoáveis no que diz
respeito a necessidades básicas.
54
tenham na água seu normal ou mais freqüente meio de vida”. O pescado, mais tradicional
fonte de proteínas da Amazônia e constituinte da renda familiar, destaca-se, em nível
nacional, como uma das principais opções de alimento. É na Amazônia que se encontram
os maiores valores de consumo registrados no mundo, segundo Castro (2005), e no Brasil
pode vir a ser usado em programas de Segurança Alimentar e Nutricional (SAN).
De fato, esse alimento pode ser direcionado à região em estudo, bem como ao
restante do país, como estratégia da Política Nacional de Alimentação e Nutrição
(BRASIL. MINISTÉRIO. Guia, 2005). O conceito de SAN está ligado à sustentabilidade.
Como se depreende de Brasil (2004a, apud BRASIL. MINISTÉRIO. Guia, 2005, p. 16),
tais alimentos devem integrar práticas alimentares “[...] que respeitem a diversidade
cultural e que sejam social, econômica e ambientalmente sustentáveis”.
O cenário global sugere que o consumo de pescados, que é uma das riquezas
naturais da RESEX em estudo, tende a aumentar. Para o ano de 2006, espera-se um
incremento na demanda por produtos pesqueiros em função dos problemas enfrentados
pela produção de carne bovina (Bos taurus), suína (Sus scrofa) e de frango (Gallus gallus
domesticus), havendo ainda uma tendência de aumento do comércio internacional de
pescado (OLIVEIRA, 2006). Catadores de caranguejo de Tucumanduba, por sua vez,
utilizam-se desse crustáceo existente na área da RESEX como meio de subsistência e de
produção de renda.
Existe, porém, a escassez desse recurso e necessidade de repor o estoque. De certa
maneira, o desperdício reproduz a cultura nacional do desperdício citada por Sachs (2003).
Em médio prazo, conforme afirmação de Oliveira (2006), entre 2007 e 2010, o que se
prevê é um esgotamento dos estoques pesqueiros naturais e a necessidade de complementá-
los com a aqüicultura, ou seja, a criação em cativeiro de recursos pesqueiros. Um desses
recursos é o camarão que, ao ser cultivado, provavelmente será consolidado como produto
nobre no mercado até o final da década atual (OLIVEIRA, 2006). Essas são algumas das
opções de geração de renda que se vislumbram na região.
A pesca na região Norte é importante na aplicação de políticas de SAN, e a pesca
artesanal é o recurso predominante na área em estudo, situando-se, no Brasil, entre as
quatro maiores fontes de proteína animal para o consumo humano no país, além da geração
de 800 mil empregos diretos só na atividade pesqueira marinha. Esta modalidade, segundo
Estatística (BRASIL. Instituto, 2005), representa 48,9% da produção de pescado total do
Brasil. A atividade pesqueira, conforme Santos e Câmara (2002), é uma das poucas
atividades que absorve mão-de-obra de pouca ou nenhuma qualificação, sendo em alguns
55
casos a única oportunidade de emprego para certos grupos de indivíduos, principalmente
para a população excluída.
A pesca pode ser classificada de acordo com seu objetivo. Para Brasil. Decreto-Lei
(1967), pode-se efetuar com fins comerciais, desportivos e científicos. No que diz respeito
a suas características sócio-econômicas, Castro (2005) divide a atividade em três
modalidades: (a) pesca de subsistência, em que predomina o consumo próprio ou de
parentes e amigos, executada com embarcação e apetrechos simples; (b) pesca artesanal de
caráter comercial, praticada por pescadores de dedicação quase ou totalmente exclusiva,
com produção destinada em grande parte à comercialização; e (c) pesca industrial e/ou
empresarial, com barcos de maior potência e autonomia, com grande participação da pesca
de arrasto. Todas essas categorias existem no entorno da RESEX, e é comum a existência
de atritos entre essas diferentes modalidades.
Os dois tipos de pesca de alto mar predominantes no litoral brasileiro são
encontrados em Soure: a pesca artesanal e a pesca industrial. Neste estudo, destaca-se a
pesca extrativista, modo de produção típico das comunidades tradicionais. Conforme
Gestão (2006), esta modalidade de pesca enfrenta atualmente uma crise mundial, e 80%
dos recursos pesqueiros no Brasil encontram-se nessa situação. Como exemplo, As
lagostas (2006) cita o que está ocorrendo no Brasil com a lagosta (Panulirus spp.), cuja
exportação caiu de 425,2 mil toneladas em 2005 para 209,1 mil em 2006. Entre as causas
da situação, destaca-se, além da sobrepesca e pesca predatória, o fracasso do Estado na
missão de implementar uma gestão sustentável de uso dos recursos de sua propriedade.
A pesca artesanal, ou de pequena escala, conforme Santos (2002), abrange tanto as
capturas com objetivo de subsistência quanto a pesca com objetivo essencialmente
comercial. Sua importância social é assinalada por Diegues (1983), para quem a pesca
artesanal ou de pequena escala parte de um processo de trabalho baseado na unidade
familiar, ou no grupo de vizinhança. Embora não tenha a importância econômica da
industrial, proporciona alimento e emprego às populações mais carentes, sobretudo diante
da conjuntura de dificuldades sociais por que passa o País. Para a pesca artesanal, são
utilizadas embarcações de pequeno porte, mormente canoas a remo (Figura 2).
No local de estudo, geralmente os atritos se dão entre integrantes da pesca
artesanal, seja de subsistência ou comercial, e a pesca industrial. Pescadores das
comunidades se queixam de barcos invasores, mormente pesqueiros industriais, que
praticam pesca predatória de arrasto por falta de fiscalização, o que tem como
conseqüência a redução de suas rendas. “A renda poderia chegar a dois salários mínimos se
56
os barcos invasores não entrassem no local”, afirma Luzia Portal, 32 anos (2005,
informação verbal), moradora de Caju-Una, que acrescenta ainda que “falta fiscalização
para barrar os barcos invasores”. Fatos como esse geram conflitos decorrentes do
confronto de interesses pelas áreas de pesca, sobretudo entre a pesca industrial e as demais,
o que se constitui uma característica da situação atual da pesca na região.
Independentemente de culpados, a pesca predatória, praticada tanto por empresas
quanto por pescadores artesanais, é um grande agravante da escassez de pescado na região,
ainda uma das maiores opções de trabalho no local. O uso dos recursos pesqueiros na
região envolve vários atores, que interagem entre si, com freqüentes atritos, tendo como
causa comum a depredação de tais recursos. Uma das possíveis soluções, segundo opinião
comum, é a fiscalização. A prática ilegal, portanto, precisa ser coibida pelo poder de polícia
do Estado.
57
o poder aquisitivo do pescador para obtenção das embarcações e apetrechos. Este último
fator é influente na caracterização das embarcações no local de estudo. A grande maioria
faz uso de canoa, e poucos se utilizam de embarcações a motor. Quando o fazem, saem em
grupos de seis. . Devido à falta de embarcações próprias para pescarias mais distantes, esse
crustáceo é capturado nas águas interiores dessa UC com o matapi (Figura 3). A pesca é
sazonal, com período de maior fartura de março a junho, quando as águas estão baixando e
já houve reprodução.
São muitas as queixas quanto à falta de recursos financeiros para a compra de
instrumentos de trabalho, e ainda convivem com furto de material de pesca, como redes. A
pesquisa de campo constatou que é comum o comentário entre os pescadores artesanais de
que, se houvesse melhor equipamento, seria possível a pesca em locais mais distantes da
costa, o que se refletiria também na produção de camarão. As redes são normalmente de
polipropileno ou náilon, cuja malha varia de 30 mm a 35 mm, dependendo da época do
ano, próprias para os peixes de pequeno e médio porte encontrados na região e
apresentados na tabela 1.
58
reserva, tem sido objeto de esforço de renda. Na comunidade de vila do Pesqueiro, a
Associação de Mulheres da Vila do Pesqueiro (ASMUPESQ) compra, descasca e vende o
produto, conferindo-lhe, assim, valor agregado.
Coletaram-se dados nas comunidades a respeito das artes de pesca. Em Vila do
Pesqueiro, costuma-se utilizar rede de pesca de meia-água. Trata-se de apetrecho
classificado por FAO (1990) como da rede malhadeira, ou, como é conhecida, “caiqueira”,
apetrecho de pesca passiva, pois fica à espera das presas que eventualmente passem,
prendendo-se nas malhas. De forma retangular, seu tamanho é bastante variável. As malhas
na região variam de 25 a 70 mm de nó a nó, dependendo do tipo material da rede e de
pescado que se pretende capturar.
Essa variação traz versatilidade e conseqüentes vantagens no uso da arte. Faz da
malhadeira um apetrecho indicado para grande diversidade de peixes, denominando-se a
rede de acordo com a espécie (pacuzeira, entre outras). As espécies mais capturadas com
caiqueira são pratiqueira (Hemiodus unimaculatus) e tainha (Mugil brasiliensis). Outra arte
de pesca utilizada é a rabiola, principalmente na captura de pratiqueira e outros peixes de
pequeno porte. Nessa modalidade, uma extremidade da rede fica presa a um pedaço de
madeira enquanto a outra ponta da rede fica boiando e “trabalhando” (pescando) de acordo
com a subida e descida da maré.
O estado da ictiofauna no estado é, de modo geral, preocupante. A constatação
geral é que os projetos relativos a esse recurso são, via de regra, mal conduzidos. O
incentivo ao plantio de arroz (Oryza sativa) irrigado com agrotóxicos e a indústria
palmiteira prejudicam o meio aquático, causando diminuição do estoque. O aumento
populacional em certas regiões, juntamente com maior uso de apetrechos predatórios e do
esforço de pesca, contribuem para esse quadro.
A pesca industrial, também conhecida como arrastão, é a única modalidade que traz
divisas do exterior para o estado. E por isso é de grande interesse econômico para os
governos federal e estadual, que incentivam essa atividade, seja por financiamento, seja
por outros meios. Esta modalidade é subdivida por Diegues (1983, apud SANTOS, 2002)
em (a) desenvolvida por armadores de pesca e (b) empresarial ou industrial.
No que respeita à pesca e produção, divide-se o ano em duas épocas. De maio a
dezembro é o período de maior atividade. A produção segue para Soure e Belém, e a
conservação é feita com gelo vindo de Soure. No verão, que vai de maio a novembro,
quando a influência do mar é maior, a confluência deste com o rio torna a água esverdeada.
59
É quando prevalece a pesca de espécies do salgado. A água é mais limpa. Já no inverno, de
novembro a abril, a água é doce e suja, prevalecendo a pesca de espécies de água doce.
Durante o período de defeso, entre novembro e maio, é permitida a captura de
apenas 5 kg de pescado. Procura-se exercer outras atividades de renda, como a coleta de
castanhas de andiroba na praia. Leve-se em conta que, ultimamente, a água está menos
salobra devido ao maior volume de água doce disponível. No verão, tem-se a melhor safra.
Nessa época, as seguintes espécies são as mais capturadas:
Durante todo o ano é permitida a pesca, com restrições durante o defeso. Essa
restrição consiste na proibição de determinadas espécies em época de reprodução. A Lei
7.679, de 23 de novembro de 1988 (BRASIL. LEI 7.679, 1988), regulamenta o defeso para
cada bacia hidrográfica do país, e o período varia anualmente de acordo com o
estabelecido pelo IBAMA, com a colaboração de órgãos estaduais de meio ambiente,
instituições de pesquisa e associações envolvidas com a atividade pesqueira em cada bacia
hidrográfica. Nos rios da ilha de Marajó, o defeso foi estabelecido no ano de 2005 entre
01/01 e 30/04, proibindo a captura das seguintes espécies: aracu (piau), curimatã
(Prochilodus spp.), jeju (Hoplerythrinus unitaeniatis), pacu (Myleus spp.), traíra, tamoatá,
apaiari, cachorro-de-padre (anujá) e piranha. Os pescadores artesanais, conforme a Lei no
8.287 (BRASIL. Lei no 8.287, 1991, art. 1o), são beneficiados com o seguro-defeso durante
o período de defeso.
A atividade pesqueira na região enfrenta dificuldades. Segundo Raimundo Borges,
62 anos (2004, informação verbal), de Vila do Pesqueiro, “[...] a pesca é uma aventura. Ás
60
vezes não pega nada, às vezes pega”. Pescador, o Sr. Raimundo afirma ainda que durante a
melhor safra, no verão, aufere entre R$ 20 e R$ 100 por dia, o que perfaz um total de R$
1.000,00 durante a safra. A pratiqueira é uma das espécies mais citadas nessa época.
Quanto à organização dos pescadores, mudanças têm ocorrido nos últimos anos. A
organização social dessa categoria profissional tem passado por mudanças nos últimos
anos. Até pouco tempo, a classe era representada legalmente apenas pelas colônias de
pescadores. Como parte do sistema de controle excessivo em relação à pesca, com
permissões, cadastros e registros, as colônias monopolizavam a representação dos
pescadores. Isso sempre despertou o interesse político. A soma desses fatores, entre outros,
sempre tornou as colônias em alvo do interesse político, tornando-as eventualmente
instrumento de manipulação política.
Tudo isso resultava eventualmente em dificuldades para a própria categoria
profissional, haja vista as colônias serem em alguns casos utilizadas como instrumento de
manipulação política. O número de pescadores artesanais e seus dependentes é
razoavelmente grande. Só no estado do Pará, segundo Figueiredo Filho (2006), são 75 mil,
ao passo que os profissionais que vivem da piscicultura são em número bem menor. O
assédio político junto a pescadores filiados a colônias reflete em suas famílias, e
conseqüentemente nas comunidades em que se inserem.
Para Figueiredo Filho (2006), essa realidade começou a mudar a partir do momento
em que as associações passaram a ter direito a benefícios e a representar os pescadores
junto a instituições financeiras. Em um primeiro momento, porém, a maioria das
associações foi criada por interesse financeiro devido à exigências do banco financiador.
Os pescadores, coletivamente ou por meio de associação, tinham acesso ao crédito.
Entretanto, iniciava-se, a descentralização da representatividade do pescador.
A origem das colônias está ligada à iniciativa governamental. Diferentemente, o
associativismo, não imposto por lei, surge da necessidade do coletivo. Para alguns
benefícios, como seguro-defeso, e benefícios do Instituto Nacional de Seguro Social
(INSS), é suficiente que o pescador seja membro de associação. Essas mudanças
incentivaram a criação de outras associações.
61
3.1.5 Comunidade de Caju-Una
Uma das comunidades mais antigas de Soure, Caju-Una (Figura 4), tem suas raízes
no século XVII8. Em 1692, foi criado, por determinação do rei de Portugal, um
estabelecimento pesqueiro na boca do rio Cajuna, hoje Caju-Una, que vai até a boca do
igarapé Araruna, entre os rios Igarapé Grande e Cambu (Soure), na costa oriental da ilha
Grande de Joanes (CRUZ, 1999). Esse estabelecimento passou a funcionar como feitoria
de pesca, e entregue posteriormente a arrendatários. As terras da Coroa portuguesas onde
se localiza a comunidade de Cajuúna foram demarcadas em 1872 e em seguida vendidas
em hasta pública. Após uma série de troca entre proprietários, as terras foram doadas aos
moradores em 1948. Na ocasião, o local era parte integrante da propriedade da família de
Alacid da Silva Nunes.
8
Informações mais detalhadas sobre a história da comunidade de Caju-Una podem ser obtidas em Cruz
(1999).
62
do atual presidente da ASSUREMAS, Caju-Una abriga aproximadamente 135 moradores,
ou 50 famílias.
A participação comunitária nas atividades locais é percebida dentro e fora da
comunidade. Possui artesãos que são qualificados em cursos promovidos pela
ASSUREMAS, além de uma associação, o Centro Comunitário São Sebastião, cuja
presidente é a professora Celina Maria Oliveira Albuquerque. Existe um líder informal, o
professor Benedito Ramos Oliveira (Raminho). Ambos residem em Soure e trabalham na
comunidade.
Em abril de 2005, a comunidade foi visitada por representantes do Ministério do
Meio Ambiente finlandês, interessados em financiar projetos a fundo perdido. De janeiro a
junho, pratica-se a coleta de castanha na praia, vendida a R$ 0,23/kg. O artesanato (Figura
5) se constitui fonte de renda alternativa, contando a comunidade atualmente com oito
artesãos. Em 2005, quando a pesquisa para a fundamentação desta dissertação foi
realizada, parte da produção de artesanato estava sendo enviada para Brasília para
exposição e venda, com apoio da ASSUREMAS.
Existe a realização de cursos na comunidade com outros objetivos além da
qualificação técnica. Como resultado prático de cursos de conscientização de iniciativa do
Poder Público, tem-se notícia da liberação de uma tartaruga de um metro de comprimento
por parte de moradores, o que seria fruto da conscientização. Este fato demonstra a
importância da participação e da realização em eventos como este. A Srª. Leonice Pereira,
de 47 anos, comenta que lideranças fazem reunião com a comunidade, o que resulta em
conscientização. Para o Sr. Altino, de 52 anos, de Vila do Pesqueiro, “as oficinas têm
mudado a cabeça das pessoas”. Ele sugere investimento na capacitação por parte do
Governo, e mais oficinas para capacitar jovens, velhos e crianças para que se desenvolva
uma comunidade de base.
63
Figura 5: Artesanato, uma das atividades de Caju-Una. Foto: G. Santos Júnior, 2005.
64
“remendos”, quando procurados. A mesma postura seria tomada pelo governo paraense.
Tais declarações foram obtidas durante o survey.
Alguns problemas internos e externos foram detectados quando da primeira viagem
de campo. A relação com a fazenda Bom Jesus parece ser um dos problemas mais
presentes no discurso dos moradores. Quanto a essa situação, os moradores, de maneira
geral, argumentam seu direito de exploração dos recursos naturais e livre acesso à
comunidade através da fazenda, ao passo que os representantes da fazenda, juntamente
com parte do setor conservacionista, formado pelas ONG, declara que é necessário impor
restrições, seja pela preservação da região, seja pelo direito à propriedade.
Em meio a essa problemática, tem-se de um lado a pressão social e do outro a
preservação ambiental. Afirma Simonian (2003) que algumas das discussões acerca da
criação de reservas são produzidas em torno da presença humana e das possibilidades de
destruição dos ecossistemas. Para os conservacionistas, é importante a constituição de
reservas para ecossistemas frágeis, junto aos quais, a presença de seres humanos com suas
necessidades básicas seria a princípio destrutiva. Para outros, o modus vivendi das
populações tradicionais tem contribuído para a perpetuação da biodiversidade. Levam em
conta também seus direitos históricos a determinados territórios.
Com acontece em outras comunidades, Caju-Una tem seu evento folclórico local. A
festividade de São Sebastião é realizada normalmente no mês de agosto, com data marcada
segundo os conselhos dos moradores mais antigos, que, por sua vez, se baseiam nos
maruins (Culicoides paraensis). Realiza-se a festa em data apropriada para que o inseto
não incomode tanto. Em 2004, houve a participação de cerca de 500 visitantes.
A prestação de serviços públicos de saúde e educação estão no nível das outras
comunidades. O serviço de saúde é razoável. Existe pré-natal na comunidade, bem como
programas de vacinação e demais atendimentos básicos. Quanto à educação, é, entre as
três, a única comunidade que possui escola com ensino até a 8a série. As demais, até a 5a.
entretanto, como acontece nas outras duas, a criança, ao chegar em fases de estudo mais
avança do que as encontradas no local, corre o risco de parar de estudar. Se não houver
condução pública que a leve a Soure, a opção é morar temporariamente na sede do
município, o que não é possível para a maioria.
Além do problema territorial, e conseqüente isolamento, existe o risco de exaustão
de recursos naturais causados pela super-exploração de caranguejos e pesca predatória de
pescado. Apesar de compor em torno de 0,7% dos caranguejeiros de Soure, os catadores de
Caju-Una enfrentam problemas de diminuição do recurso. Alega-se como causa a invasão
65
de catadores de outras comunidades. Para essa comunidade, o fato de o lugar ter-se tornado
uma Reserva Extrativista não alterou em nada sua situação.
Figura 6: Vista parcial da comunidade Vila do Pesqueiro. Foto: G. Santos Júnior, 2005
66
para fabricar tinta. Apenas palha e fio, na atividade de artesanato, são oriundos de fora da
comunidade.
A comunidade tem-se empenhado na realização de tarefas por conta própria. Em
julho, época de pouco peixe, alguns moradores catam caranguejo ou para renda, vendendo
aos turistas, ou como meio de subsistência. Em relação à participação do Governo Federal,
este, juntamente com o CNS e o Centro de Serviços de Cooperação para o
Desenvolvimento (KEPA9), iniciou no local, em fevereiro de 2005, trabalhos que
resultaram, entre outras obras, na construção de um quiosque para a ASMUPESQ, que
trabalha, entre outras atividades, com artesanato (Figura 7). Também, o Programa de
Desenvolvimento Sócio-ambiental da Produção Familiar Rural (PROAMBIENTE), do
Ministério do Meio Ambiente, propõe-se a ministrar cursos de capacitação.
9
Kehitysyhteistyön Palvelukeskus, em finlandês.
67
comprado dos pescadores locais, em filé, vendendo dentro da própria comunidade,
pretendendo-se, ainda a compra de 60 matapis e duas tarrafas.
Existe a intenção de se escoar a produção da Associação para fora da comunidade.
Com apoio do CNS, foi construído um quiosque na praia, onde vendem seus produtos. O
survey revelou que as associadas estão iniciando atividade de beneficiamento de andiroba,
da qual é extraído óleo para venda. Existe também a atividade da compra de camarão de
pescadores da comunidade para revenda, atividade que se constitui em um problema
atualmente, haja vista a dificuldade para escoar o produto. Do montante de cerca de 300
reais investidos na compra do camarão, boa parte foi retirada de outras atividades, como
artesanato. Ao comprar-se por um real/kg, a intenção é vender, fora da comunidade, por
oito reais/kg. Com essas iniciativas, pretende-se gerar renda para os moradores.
Com o objetivo de crescer e consolidar suas atividades, a Associação mantém
contatos com instituições oficiais. Sua liderança está propondo à Prefeitura Municipal de
Soure a construção de uma cozinha equipada. Atualmente, o Estado está envolvido na
comunidade apenas na esfera federal, por meio de convênio com o CNS e financiamentos
intermediados pelo BASA e BB. A ASMUPESQ, no que se refere a geração de renda, tem
atualmente várias atividades. Possui duas de suas associadas participantes do Conselho
Deliberativo da RESEX Marinha de Soure.
A outra associação encontrada na Vila do Pesqueiro é a Associação dos Pescadores
da Vila do Pesqueiro (ASPEPE). É composta por 92 associados, dos quais
aproximadamente 23 são mulheres. Seu atual presidente, Sr. Edevaldo Paulo Tavares, de
44 anos, assumiu em maio de 2004 para um mandato de dois anos. Sua sede foi inaugurada
dia 27/06/2005. Tiram sua renda da pesca e dos mariscos (camarão e siri (Callinactes
spp.)). Como projeto, essa associação planeja a construção do barracão da Casa do
Pescador do Pesqueiro, que teria a mesma função de um depósito de rede, estabelecimento
típico de cidades como Abaetetuba, ou seja, conserto de rede de pesca e atividades afins.
Tal projeto tem o apoio institucional de representantes da Reserva e do Governo
Federal. Segundo informação do Sr. Edevaldo, existe participação do PFZ, via
ASSUREMAS, e é voltado, como o próprio nome indica, apenas para os pescadores da
comunidade. Também, existe o projeto de uso de um “barco-mãe”, comprado ou
construído pela associação, para os pescadores da comunidade. A liderança da organização
informou ainda que o BASA concede financiamento diretamente ao pescador, não à
associação. Existe a pretensão de parceria com a CP Z-1. Esses dados foram obtidos por
meio da pesquisa exploratória.
68
As duas associações citadas trabalham independentemente uma da outra. Por
citação das próprias lideranças, observou-se que as duas únicas associações da vila do
Pesqueiro não têm vínculo entre si, nem trabalho algum em conjunto. Isso não impede,
naturalmente, que associados de uma e de outra exerçam atividades juntos, principalmente
no que diz respeito às reuniões do Conselho Deliberativo da RESEX.
Os meios de renda e subsistência dos moradores giram em torno da pesca. A renda
declarada do pescador nessa comunidade, considerando-se apenas a produção de pescado,
inclusive crustáceos como camarão e siri, fora outras atividades, é em torno de 1,5 salário
mínimo (SM), podendo chegar a três no verão, quando se obtém a melhor safra, entre julho
e dezembro. Já entre dezembro e maio, o peixe não “arria”, ou seja, não aparece na região.
O camarão, outra fonte de renda além do peixe propriamente dito, é capturado no igarapé.
O caranguejo só é capturado para subsistência.
A comunidade do Céu (Figura 8), uma das mais recentes, tem sua origem em outra
comunidade. A que hoje integra a RESEX de Soure começa a tomar contornos em 1964,
quando o povoado do Areião, destruído pela erosão das águas da baía do Marajó, mudou-
se para o atual lugar, por iniciativa dos moradores remanescentes auxiliados pelo prefeito e
governador de então. As novas terras foram desapropriadas, iniciando-se a mudança em
1966. Segundo a Srª. Maria Elielza Silva, o prefeito Emanuel Raiol Lobo comprou a atual
propriedade da comunidade.
O acesso ao local se dá pela mesma estrada que liga Caju-Una à sede municipal. A
respeito da livre passagem por essa estrada, as opiniões variam. Para uns, não existe atrito
com a fazenda Bom Jesus. “Pelo contrário”, segundo a versão do ex-presidente da
Associação dos Moradores da Comunidade do Céu (AMCC), Sr. Teófilo Neves, que
atualmente reside em Soure, embora mantenha uma casa na comunidade. Ainda segundo
ele, a comunidade vive quase no anonimato, e seus moradores são acomodados com a
situação. Já outros moradores reclamam de excesso de controle por parte da fazenda,
causando transtornos, principalmente em época de festejos no local. Essas informações
foram obtidas durante a pesquisa exploratória.
69
Figura 8: Comunidade do Céu. Foto: G. Santos Júnior, 2005.
Atualmente, essa comunidade possui 180 moradores e 39 famílias. Seus moradores são
remanescentes da extinta comunidade do Areião, que era localizada entre a vila do
Pesqueiro e a comunidade do Céu Sua renda provém da pesca, sendo a cata de caranguejo
insignificante. Uns poucos moradores incrementam sua renda com a comercialização dos
frutos dos cocais que possuem. O principal pescado são a pratiqueira e a tainha, utilizando-
se, para a pesca, barcos a motor.
No que diz respeito à presença de associações e atividades de geração de renda em
conjunto, existem iniciativas por parte da população. A comunidade dispõe de duas
associações, a saber: AMCC e Associação dos Pescadores da Comunidade do Céu
(APCC). Foi citada também uma associação de idosos. Entretanto, não se encontrou um
representante.
A exemplo da comunidade de Vila do Pesqueiro, existe um estabelecimento
destinado a atividades de artesanato. Entretanto, segundo Elielza Conceição, 29 anos, a
casa está inativa. A situação se deve a três motivos principais: falta de energia elétrica,
ausência de instrumentos de trabalho e dificuldade de passagem de carros pelo portão da
fazenda, o que dificulta a presença de visitantes. Existe também o relato de dificuldade de
relacionamento entre as associadas do empreendimento.
70
Como alternativa de renda, alguns moradores são pescadores, e poucos, servidores
públicos. Ernane Silva, 67 anos, cita como fontes principais de renda a pesca, plantação de
coco e a Prefeitura. Existem dez ou 12 catadores de caranguejo. Os pescadores não
costumam vender peixe para a comunidade. Utiliza-se no local um freezer doado pela
ASSUREMAS. Alguns fazem coleta de açaí, que é “batido” e vendido no local.
O Estado em suas esferas estadual e municipal foi declarado inativo na
comunidade. De todo modo, há prestação de serviço municipal de transporte escolar de
segunda a sexta-feira, com saída do local às 6h, 12h, 18h e 23h. Também, o usuário
comum pode utilizar esse transporte pelo valor de um real.
Os dois poços que servem aos moradores foram escavados com o apoio do Governo
Estadual, na gestão de Jader Barbalho, que cedeu material. O serviço de água, também
prestado pela prefeitura, funciona até as 19h, voltando a funcionar às 7h da manhã do dia
seguinte. Edson Gonçalves, agente comunitário e morador (2005, informação verbal),
revela que a água utilizada pela comunidade não recebe mais cloro, cuja entrega era
demasiadamente atrasada, proveniente da Secretaria da Saúde do Município. Como
resultado, é comum a ocorrência de diarréia. O problema se agrava no verão, quando
moradores acordam durante a madrugada para pegar água.
Existe uma escola municipal com ensino até a quarta série do nível fundamental.. O
ensino é tido como de qualidade. Segundo a Sra. Maria Amélia Silva, depois de dois dias
de falta de seu aluno, o professor vai à casa dele saber o motivo da ausência. Todos esses
dados foram obtidos na pesquisa exploratória.
A infra-estrutura está em fase de melhoria. O pedido de telefone público feito à
Agência Nacional de Telecomunicações (ANATEL) foi indeferido em um primeiro
momento. Atualmente, porém, a instalação foi feita, segundo Nelita Pereira da Conceição,
58 anos (2005, informação verbal), moradora, por iniciativa da empresa Telemar. Afirma
ainda a Sra. Nelita que a comunidade teve a iniciativa de preparar um abaixo-assinado para
solicitar o serviço.
71
4 POLÍTICAS PÚBLICAS
Política é expressão cuja definição é feita por vários autores, dentre os quais
destacam-se os seguintes: para Ferreira (1999, p. 1599), é um “[...] conjunto de objetivos
que enformam determinado programa de ação governamental e condicionam a sua
execução”. O mesmo autor define política de rendas como um “[...] conjunto de ações do
Governo no sentido de influir no processo de fixação de salários e preços [...]”
(FERREIRA, p. 1599). Dye (apud DIAS NETO, 2003) afirma que é qualquer coisa que o
governo escolha fazer ou não, enquanto para Houaiss (2001, p. 2253) é a “[...] arte ou
ciência da organização, direção e administração de nações ou Estados; aplicação desta arte
aos negócios internos da nação (política interna) ou negócios externos (política externa)”.
72
administração tenha parâmetros para sua atuação. Trata-se do plano público, nos quais
estão inseridos os projetos de desenvolvimento regional, que são relacionados, segundo
Amin (1997), com o baixo índice de qualidade de vida de estados como o Pará.
A instituição é outra figura que deve ser levada em conta na elaboração de uma
política pública. Em curto prazo, o governo, grupos de interesse em geral e cidadãos
devem obedecer a regras definidas pelas normas legais vigentes. No longo prazo, porém,
tais regras mudam. Uma maneira de estabelecer tais regras são as chamadas instituições,
que são, segundo Majone (1989, apud DIAS NETO, 2003), limitações ou coações feitas
pelo homem por meio de leis, normas, organizações e procedimento de tomada de
decisões. São caracterizadas por regras explícitas e relativamente estáveis, bem como
hierarquização de pessoal.
73
vista disso, juntamente com a crise econômico-financeira daí desencadeada, vieram à tona
os grandes problemas sociais que, se já existiam, foram agravados pela política de grandes
projetos, cuja idéia de desenvolvimento se confundia com crescimento econômico
(BRITO, 2000). Em face dessa situação, tomou corpo a idéia de substituição desse modelo
por uma alternativa que valorizasse as dimensões sócio-econômica, sócio-política e
ambiental (BRÜSEKE, 1996, apud BRITO, 2000). Inicia-se, então, a política pública
voltada para o desenvolvimento sustentável.
Essa mudança na maneira de pensar o desenvolvimento veio acompanhada de uma
reformulação institucional, jurídica e política. Essa nova estrutura teria sido concebida para
lidar, sobretudo na Amazônia, com os pressupostos do desenvolvimento sustentável de
eficiência econômica, justiça social e equilíbrio ambiental (BRITO, 2000). A necessidade
desses ajustes passou a ser preconizada pelos organismos internacionais, como o Banco
Mundial, para quem a eficiência da gestão estatal e o equilíbrio fiscal e monetário seriam
primordiais para o desenvolvimento (SOUZA, 2001). Essa concepção, um retorno ao
liberalismo pré-keynesiano, evidencia a dificuldade de se combinar a eqüidade com o
mercado. Segundo Souza (2001), essa situação reforça a relação de complementaridade
entre ambos, e reafirma a posição do Estado de parceiro e facilitador da participação da
sociedade civil na gestão das políticas públicas.
Observa-se grande diferença entre as políticas públicas do período pós-Vargas e o
final dos anos iniciados em 1990, quando surgiram no Brasil as leis infraconstitucionais de
cunho ambientalista. Os governos de base teórica keynesiana que sucederam a Era Vargas
centralizavam as decisões nas instâncias superiores da máquina política e governamental,
sobretudo durante os governos militares dos anos de 1970 e 1980. A partir do final dos
anos de 1990, porém, reduziu-se a intervenção estatal, tanto na ordem econômico-social
quanto no papel de empreendedor, devido à desregulamentação da economia e
privatizações.
Porém, Coelho et al. (2001) não vêem nessa dinâmica uma redução estatal, apenas
um processo de transformação, ainda que não mais com o caráter desenvolvimentista, mas
estimulando a iniciativa privada para o investimento da infra-estrutura. Diante disso,
perdeu-se a dimensão de coalizão e alianças de forças econômicas e sociais, o que têm
resultado no aumento da segmentação social. A alternativa que se coloca é a formação de
alianças entre segmentos sociais, estimulando-se a coesão e resgatando-se o contrato social
e redução dos pontos de tensão e fragmentação que se têm revelado crescentes.
74
As mudanças de visão do poder desde o fim da ditadura militar levaram a inovações
no fazer política pública. Nogueira (2005) afirma que o reformismo do processo de
democratização incorporou quatro idéias inerentes ao discurso democrático em geral e ao
radicalismo democrático em particular: descentralização, participação, cidadania e
sociedade civil. A tendência, pressionada pelas reivindicações societais, apontava para uma
abertura maior para a sociedade.
75
política pública, então, seria o direcionamento tomado, dentro de um universo do que não é
privado, mas conduzido de maneira tal a que se chegue a um consenso.
Termo freqüentemente associado ao ente estatal, pode ser aplicado a praticamente
todos os sistemas sociais nos quais o poder representa papel importante. Segundo
Anderson (apud DIAS NETO, 2003), é um curso de ação propositiva seguido por um ator
ou um conjunto de atores ao lidar com um problema ou assunto de interesse. A
característica comum é a decisão do governo, seja de fazer, seja de não fazer alguma coisa.
Johnson a designa como o processo social por meio do qual poder coletivo é gerado,
organizado, distribuído e usado nos sistemas sociais.
A política pública, modalidade de política estudada neste trabalho, é prática
constituída de ferramentas utilizadas pelo Estado para intervenção e controle no plano
social. Chaves et al. (2005) relaciona sua natureza de prática social com a formulação da
necessidade de conciliar demandas ou estabelecer incentivos para ações coletivas entre
aqueles que partilham metas. Pode-se afirmar, como faz Chaves et al. (2005, p. 54), que
“[...] em última instância, política pública é o resultado das disputas e confrontos entre
diferentes interesses, projetos e necessidades que dependem da distribuição de recursos
com base na instituição de regras definidoras e consolidadoras de interesses específicos”.
Essas disputas e confrontos são etapas necessárias, e não devem ser vistas como
empecilhos para o bom andamento do processo. Ao lado da participação social, que hoje é
parte integrante da eficácia das políticas públicas, a participação empresarial e a
governamental são importantes, pois não se tem indivíduos ou empresas isoladas. O jogo
de interesses, neste contexto é exercido no campo da participação, e participar é contribuir.
Para Costa (2006), o que se tem são redes, que fundamentam a dinâmica social, para bem
ou para mal. Quanto à deficiência de participação de determinados setores, Peixoto (2006)
afirma que o fato de se colocar regras no jogo político já favorece as partes mais fracas.
Nem todos os segmentos sociais possuem representantes ou canais de participação,
influindo mais eficazmente nas ações os atores de maior poder e força na esfera econômica
e política. Cardozo (2006) destaca aspectos importantes da gestão participativa de
qualidade, como a informação, formação e capacitação dos atores, em especial técnicos
dos setores públicos e da sociedade civil; definição de critérios que garantam a
participação de todos os setores; linguagem acessível a todos os atores, sejam eles
extrativistas, indígenas, empresários, produtores rurais, ambientalistas, pesquisadores,
profissionais da área cultural ou dos governos federal, estaduais ou municipais.
76
Evidencia-se atualmente a necessidade de determinada política pública ser
agrupada a determinado grupo de serviços, articulando-se a outra(s) política pública, para
que seus objetivos sejam viabilizados. Para tanto, Garcez (2006) afirma que três dimensões
devem ser levadas em consideração para que tal integração seja possível. São elas: (a) a
dimensão econômica, abrangendo fatores de competitividade, como a energia; (b)
dimensão social, da qual faz parte a educação, saúde, saneamento e habitação; e (c) a
dimensão ambiental, que leva em conta os recursos naturais.
Esta premissa constitui um desafio a ser vencido pelo Estado, pois, nas palavras de
Garcez (2006), a burocracia, não sabe pactuar com facilidade, não porque não queria, mas
porque não sabe. No que se refere à esfera federal de governo, existe a tendência de cada
ministério trabalhar priorizando seu próprio setor, e uma fraca pactuação entre o governo
federal e os governos estaduais e sociedade civil. É fundamental, porém, considerar o
modo de aplicação da política pública, levando-se em conta a cultura, a geografia da
população com a qual se trabalha e a participação dos cidadãos.
No caso da sociedade civil, aqui incluídos os moradores da área de estudo e os
demais usuários, a participação no processo de constituição de determinada política pública
se dá com a disputa e confrontos entre diferentes interesses, projetos e necessidades que
dependem da distribuição de recursos com base na instituição de regras definidoras e
consolidadoras e de interesses específicos. Ainda que tais conflitos sejam inevitáveis,
Peixoto (2006), vê a participação social nos dias de hoje como parte da eficácia das
políticas públicas. Pelo fato de ser a RESEX um território, pode haver, dentro dele,
realidades distintas. Daí a necessidade do planejamento. Deve-se, portanto, nas palavras de
Faleiro (2006), planejar a partir de territórios. É fundamental, em tal planejamento, levar-se
em conta a cultura, a geografia da própria população com a qual se trabalha e a
participação dos cidadãos.
No âmbito deste trabalho, a política pública visa a eliminar ou diminuir a pobreza e
promover a qualidade ambiental. A conhecida pobreza e desigualdade nas comunidades
pesqueiras pode ser combatida de várias maneiras, seja por meio de políticas públicas, seja
via entidades não-governamentais. No que tange à iniciativa governamental, há que se
levar em conta que nem toda política de inclusão trata de desigualdade. Uma política de
saúde, por exemplo, nos dizeres de Garcez (2006), pode se de acesso, mas não de combate
à desigualdade. A integração entre as diferentes políticas é que efetivamente resultará no
combate à desigualdade, elevando a qualidade de vida das populações pesqueiras.
77
No caso do local de estudo, importa o comentário de políticas públicas criadas para
o setor da pesca. Nessa atividade, não se contempla, historicamente, o desenvolvimento
social. Trata-se de fato preocupante levando-se em conta que grande parte dos moradores
das comunidades estudadas vivem dessa modalidade econômica. Chaves et al. (2006)
enumera as características das políticas públicas implementadas no Brasil no que se refere
ao aspecto social: sistema centralizado, com predominância de divisão difusa de trabalho
entre setores público e privado de prestação de serviços sociais; distorções na forma de
concessão de benefícios e prestação de serviços; dificuldade de acesso; limitado controle
público sobre os recursos destinados às políticas sociais.
As políticas atuais do setor pesqueiro diferem das adotadas no final da década de
1960, quando os instrumentos econômicos de apoio à produção – e, portanto, de promoção
do desenvolvimento – nem sempre eram instrumentos de administração da utilização
sustentável dos recursos. Além disso, nessa época as políticas eram direcionadas ao setor
industrial, com pesados incentivos que dificultavam a avaliação da verdadeira
economicidade dos empreendimentos. Também, se desconsiderava a grande massa de
pescadores artesanais, que contribuíam naquele período com 80% da produção pesqueira
nacional. Tratava-se, de acordo com Brasil, Ministério (1988), de uma política com
tendência à concentração de renda e voltada predominantemente para a exportação de
produtos nobres, o que acentuava o desnível sócio-econômico e o abandono administrativo
da produção de pequena escala.
78
desejado. Motta (2005) cita como exemplos a carteira de trabalho e o licenciamento
ambiental.
Para Costa (2006), instrumento é um meio que certo sujeito aciona para atingir um
objeto. Os instrumentos se classificam em (a) de conhecimento, que vem a ser o conjunto
de informações necessárias à prática da participação; (b) de pactuamento, (c) de
intervenção, que podem ser fiscais, etc.; (d) de manutenção de processo e (e) monetários,
que é a concessão de crédito, etc., importante na formação da infra-estrutura. É no
instrumento de conhecimento que é quebrada a assimetria existente entre os atores no
momento da discussão.
A respeito dos IE em uso na região amazônica, pode-se afirmar que se pretende
utilizá-los como elo entre a política ambiental e a econômica, sendo estes exemplos de
políticas públicas. Para Becker (2005), a política ambiental falha por tratar a região como
uniforme, ignorando a diversidade sócio-ambiental. Esta autora frisa a heterogeneidade no
desenvolvimento da Amazônia, ainda que normalmente se adote o ecoturismo como
atividade básica. Este pensamento está inserido no que ela chama de respeito às
características e às demandas específicas das regiões.
Este estudo aborda políticas públicas voltadas para a geração de renda. Nesse
sentido, Ramos (2003) defende que as principais vertentes teóricas dessa categoria de
políticas são o modelo Clássico, o Keynesiano, o Tecnológico, o Novo Modelo
Tecnológico, o Liberal-Radical e o Social-Democrata. Essas matrizes ora se contrapõem,
como no caso da Clássica e da Keynesiana, ora se complementam, como o modelo
Keynesiano e o Tecnológico. O Modelo Clássico supõe que o livre funcionamento dos
mercados sempre vai possibilitar atingir um ponto de equilíbrio no mercado de trabalho no
qual o preço da mão-de-obra (salário real) permite que a oferta de trabalho se iguale a sua
demanda, viabilizando o pleno emprego.
O modelo Keynesiano, sucessor do Clássico, diferencia-se deste por rupturas,
dentre as quais se destacam: (a) a declaração de que a demanda determina a oferta, e não o
contrário, como afirma o modelo antecessor; e (b) a afirmação de que o nível de ocupação
seria determinado pelo produto, e não pelos salários reais. Um governo ou um sindicato,
por maior que seja seu poder, não pode determinar o poder de compra do salário senão,
79
unicamente, o valor nominal do salário. Assim, a existência de um salário mínimo ou de
sindicatos com notório poder de barganha não podia ser desculpa para situações de
desemprego. O nível de emprego seria determinado, então, pelo nível de atividade e o
salário real se ajustava (via inflação, por exemplo).
O modelo Tecnológico se baseia no domínio quase absoluto do taylorismo-
fordismo. Precisamente, o mesmo tem por base a produção em massa em grandes unidades
de produção com trabalhadores que requeriam pouca qualificação devido à realização de
tarefas repetitivas, sendo mínimos os requisitos de qualificação. Como conseqüência, esse
modelo gerava recursos humanos desqualificados (exceto os aspectos culturais) e
desmotivados.
Outras vertentes teóricas surgiram após o taylorismo-fordismo. O Novo Modelo
Tecnológico sugeria que recursos humanos mais qualificados e autônomos pareciam ser
mais compatíveis com os novos postos de trabalho que se vão criando. A Alternativa
Liberal Radical é normalmente ilustrada pelos EUA de Reagan e a Inglaterra durante
Tatcher. A estratégia consistia em enfraquecer os sindicatos, reduzir o valor do salário
mínimo, diminuir as ajudas financeiras aos desempregados ou, em geral, enfraquecer o
Welfare State, de maneira tal a tornar o mercado de trabalho o mais concorrencial possível.
Houve também uma vertente com princípios similares aos de sai antecessora. A
Alternativa Social-Democrata coincidia com o modelo clássico em sua essência: a
intervenção para reduzir o desemprego centrava-se no mercado de trabalho; portanto, as
políticas keynesianas alternativas geravam poucos ganhos em termos de oferta de novos
empregos e tinham elevados custos em termos de inflação e desequilíbrios. Ao contrário da
Alternativa Liberal Radical, se distinguia dele por não propor como eixo de sua estratégia
uma ofensiva contra os sindicatos, o salário mínimo, o Welfare State etc. Sua intervenção
consistia em uma série de medidas que se convencionou em denominar de Políticas de
Emprego.
Ramos (2003) classifica essas políticas em ativas e passivas. Estas se destinam à
tomada de ações para tornar mais tolerável a condição de desempregado, como o seguro-
desemprego, extensão de ciclos escolares, aposentadoria precoce e expulsão de imigrantes.
As Políticas Ativas, divisão mais pertinente a este estudo por incorporar os objetivos do
Plano de Manejo, destinam-se a elevar o nível de emprego, geralmente atuando sobre o
contingente de trabalhadores. Destaca-se entre as políticas ativas a formação profissional, a
intermediação, o apoio aos micro e pequenos empreendimentos, os subsídios à contratação
de uma determinada população alvo e a criação direta de empregos pelo setor público.
80
Para Coelho et al. (2001), é exemplo de política passiva federal o Fundo de Amparo
ao Trabalhador (FAT), criado em 1990, que financia os seguintes programas: (a) Programa
de Geração de Emprego e Renda (PROGER, criado em 1994); (b) PROGER Rural, criado
em 1995; (c), Programa de Extensão do Emprego e Melhoria da Qualidade de Vida do
Trabalhador (PROEMPREGO, de financiamento); e (d), Plano Nacional de Qualificação
do Trabalhador (PLANFOR), implementado em 1996. Essas e outras políticas de geração
de renda, ao promoverem mudanças no setor formal, repercutem indiretamente no formal.
Existem outras classificações importantes para o estudo neste trabalho. Em se
tratando de Economia, cuja análise é contribuir para a compreensão da geração de renda,
Sachs (2003) classifica em (a) doméstica, (b) proto e pré-capitalista ou informal, (c)
capitalista de mercado e (d) solidária. Todos esses modos de produção se fazem presentes
na área, articulando-se entre si. O artesão, por exemplo, pode estar inserido em qualquer
um desses modos, podendo ainda pertencer a um e interagir com outro.
81
no sentido de que é preciso que as políticas ambientais se articulem às dimensões
econômica e social do processo de desenvolvimento.
Para a elaboração de uma política de geração de renda que se coadune às
necessidades da RESEX, é importante, portanto, uma articulação entre as dimensões
ambientais e sócio-econômica. Procura-se, assim, o desenvolvimento. Sachs (2003)
menciona dois extremos do desenvolvimento: o primeiro com configurações triplamente
ganhadoras, e o outro com as configurações triplamente perdedoras. A partir deste
raciocínio, o autor apresenta três situações intermediárias de crescimento econômico, a
saber: (a) impactos sociais positivos com degradação do meio ambiente; (b) política
ambiental prudente sem geração de empregos; e (c) uma situação em que o crescimento
selvagem puro e simples causa impactos sociais negativos, degradando o meio ambiente.
Destas, a última é a hipótese mais provável, principalmente a se levar em conta o
fanatismo de mercado descrito por alguns autores.
O campo é palco de problemas sociais diversos. Ao partir do princípio de que todo
desenvolvimento tem uma base eminentemente local, projetando-se para maiores escalas,
Sachs (2003) afirma que está no setor rural o maior repositório de miséria e exclusão social
do Brasil. Vale ressaltar que o conceito de desenvolvimento, nas palavras de Santoyo
(1992), já dividiu gerações e causou polarizações. Isso se deu por causa do conflito
causado entre os diferentes interesses. Porém, a partir do desenvolvimento sustentável, é
possível aproveitar o potencial de desenvolvimento e resgatar a dívida social. Para Sachs
(2003), ainda que todo desenvolvimento transcenda o plano local, é neste que se manifesta
sua ausência ou presença, e onde se exercem os equilíbrios entre as cinco eficiências:
social, alocativa, inovativa, ecoeficiência e de pleno emprego dos recursos.
Sachs (2003) sugere ainda que, no meio rural brasileiro, o crescimento atrelado ao
emprego poderá se dar por meio da consolidação e expansão da agricultura familiar, além
da promoção das Micro e Pequenas Empresas (MPE). Ele também classifica em três os
cenários possíveis para o desenvolvimento rural do Brasil: o primeiro se refere à
agricultura patronal moderna e das indústrias agroalimentares; o segundo enfatiza a
importância social da agricultura familiar sem levar em conta a função econômica; o
terceiro cenário é o desenvolvimento rural sustentável, tendo a agricultura familiar o papel
mais importante. Neste ponto, porém, fica a questão do extrativismo, como lembra L.
Simonian (2005, informação verbal), em especial quanto às modalidades do
neoextrativismo e do agroextrativismo, o que se coloca como fundamental em casos de
RESEX marinhas.
82
Uma nova figura que tem surgido na discussão em torno da geração de renda em
comunidades como os extrativistas é tecnologia social. Um conceito inicial, de Lassance
Jr. e Pedreira (2004, p. 66) dá conta de que é um “[...] conjunto de técnicas e
procedimentos, associados a formas de organização coletiva, que representam soluções
para a inclusão social e melhoria da qualidade de vida”. Assim, o uso do artesanato ou
fabrico de medicamentos fitoterápicos individualmente ou apenas por um grupo de pessoas
das comunidades da RESEX não se constitui em si uma tecnologia social. Entretanto,
quando essa prática passa a ser usada coletivamente e em rede com um objetivo social,
como gerar renda e emprego, integra o conceito que está sendo construído em torno dessa
figura de mudança social.
O uso da tecnologia social, porém, no que se refere à articulação entre os atores,
está restringido por fatores que precisam ser levados em conta para a geração de renda na
RESEX. O relacionamento entre os diferentes atores locais no sentido de gerar renda e
emprego ainda se faz com limitações. A tecnologia produzida muitas vezes não resulta em
aplicação, ou, nas palavras de Esteves (2005), o conhecimento não vira inovação, pois as
empresas brasileiras têm dificuldade de interagir com as universidades. Apesar de algumas
empresas participarem do processo produtivo na condição de sócias em comunidades
próximas às da RESEX em estudo, percebe-se que grande parte da iniciativa de apoio na
execução de alternativas de geração de renda parte das organizações governamentais e não-
governamentais atuantes na área, com exceção da indústria de cosméticos Brasmazon.
Lassance Jr. e Pedreira (2004) enumeram componentes de um circuito de relações
que estabelecerão determinada tecnologia social como tal. O primeiro deles, os dirigentes
governamentais, era o mais impenetrável dos circuitos. O segundo circuito, a burocracia,
deve ser vista como ente completamente distinto de governo, pois é terreno da
administração, enquanto governo é terreno da política. O terceiro circuito, a academia,
viabilizaria tecnicamente a tecnologia, aliada à sabedoria popular. Finalmente, tem-se os
movimentos populares, contextualizados aqui como comunidades organizadas para
sustentar o uso continuado e adequado da tecnologia. Estes dependem de um capital social
mínimo para reunir as pessoas em torno da solução.
Do pensamento do autor acima exposto pode-se inferir que o setor empresarial teria
uma contribuição menor para dar à atividade da tecnologia social, haja vista nem ter sido
citado como um dos circuitos de relações. Em vista disso, sugere-se que o ator ligado ao
este setor seja incentivado a participar, unindo-se ao circuito acadêmico e às populações
interessadas no sentido de transformar o conhecimento adquirido em geração de renda.
83
4.7 AÇÕES E POLÍTICAS DO ESTADO NA RESEX MARINHA DE SOURE
No âmbito do Governo Federal, existe uma estrutura voltada para ações e políticas
referentes a populações tradicionais. Tal estrutura foi formada ao longo dos governos.
Segundo Vergara Filho (2006b), todas as ações na Reserva em estudo foram oficialmente
financiadas pelo Governo Federal. Além do que já foi mencionado no decorrer deste
trabalho em termos de políticas e formação legal, existe uma distribuição de competências
no sentido de atender necessidades relacionadas às populações tradicionais. No âmbito do
Ministério do Meio Ambiente (MMA), a Secretaria de Políticas para o Desenvolvimento
Sustentável (SDS) tem como objetivos principais a proposição de políticas e
implementação de estudos. Com isso, espera-se melhorar a relação entre o setor produtivo
e o meio ambiente.
84
de 2006, o plano de manejo das RESEX, entre elas, a UC em estudo. Existe um plano de
crédito do PRONAF para casa e fomento, de R$ 5 mil e R$ 2,4 mil, respectivamente.
No que se refere às ações do Governo Estadual acerca do pescador, a assistência
tem sido pequena. Informações de Figueiredo Filho (2006), afirmam que a assistência
técnica voltada para a pesca tem sido pouco trabalhada. Neste caso, a prioridade se tem
voltado para o pequeno produtor na agricultura.
Existem instrumentos legais para que o Governo Estadual pratique políticas e ações
na atividade pesqueira. O estado, concorrentemente à esfera federal, pode legalmente
normatizar, estabelecendo regras de uso e assim agir no ordenamento pesqueiro,
constituindo decisões compartilhadas com outras instituições públicas e com o profissional
da pesca. No que diz respeito à legislação estadual, a Lei no 6.713 (PARÁ. Diário, 2005),
dispõe sobre a política pesqueira e aqüícola no estado do Pará. Figueiredo Filho (2006)
lembra que o arcabouço jurídico inclui leis de proteção ao meio ambiente, proibição da
pesca de arrasto, Programa de Proteção do Caranguejo (PPC), leis de proteção dos corpos
aquáticos, lei de pesca esportiva. Esse cenário jurídico garante ao estado a ação e tomada
de decisões relativas a licenciamento e ordenamento dos recursos pesqueiros.
85
projetos com a colaboração da comunidade. É comum o financiamento de projetos na
reserva em estudo. Alguns têm sido firmados com instituições governamentais
estrangeiras, como o KEPA, já citado.
O poder público local não é normalmente lembrado ao se responder pergunta sobre
a participação estatal no âmbito da RESEX. A ação desta entidade é em geral mencionada
no tempo passado. Foi detectado, também em pesquisa exploratória, que a participação
maior se dá por meio de medidas assistenciais, como transporte e ajuda, inclusive
financeira, em eventos especiais nas comunidades.
O panorama nessa área de reserva é de problemas comuns às demais UC. Na
avaliação de Simonian (2003), por persistirem o manejo negativo, ou seja, o uso destrutivo
dos recursos naturais e a pobreza, persistem também pontos de tensões e conflitos,
sobretudo no âmbito das políticas e ações públicas que continuam a privilegiar a destruição
dos recursos naturais e a concentração de renda.
86
5. AÇÕES DA SOCIEDADE CIVIL
Essa instituição, importante para este estudo na medida em que contribui para a
qualificação dos atores envolvidos, tem conceito que varia de acordo com a corrente de
pensamento. As concepções da expressão variam de acordo com o pensamento. Karl Marx,
Hegel e, em tempos mais recentes, Antonio Gramsci são alguns dos pensadores que
formularam conceitos a respeito.
A partir do entendimento de sociedade civil, busca-se aqui um conhecimento
introdutório das instituições integrantes do cenário de estudo no sentido de se entender as
ações tomadas em conjunto. Optou-se pela menção da ASSUREMAS, Colônia de
Pescadores e Associação dos Caranguejeiros de Soure por representarem boa parte dos
residentes na RESEX. Tais instituições podem contribuir com a formação de capital
humano. A partir daí, integram-se na busca de um modelo de compartilhamento de
responsabilidades para que os comunitários deixem de ser demandantes para, nas palavras
de Isaac-Nahum (2006), passem a ser co-gestores e co-executores das políticas a serem
implantadas.
87
alcançar o desenvolvimento da força de trabalho e as condições sociais em que se realiza o
trabalho, uma das ações humanas mais centrais.
Marx ([1867] 2003) sistematizou o lugar e objetos de trabalho do seguinte modo: a
figura do campo de operação, também é importante para o cenário de estudo, é o meio de
trabalho no sentido lato, sem o qual o processo fica total ou parcialmente inviável. São
exemplos dessa categoria os edifícios de fábrica e as estradas. Quanto aos objetos de
trabalho, classificam-se em principais (matéria-prima) e acessórios. Matéria-prima é um
objeto já filtrado pelo trabalho, um produto do próprio trabalho. Os recursos naturais de
áreas de reserva, como as sementes e o pescado, não são considerados matéria-prima, pois
são fornecidos diretamente pela natureza. Por sua vez, o produto acessório é adicionado à
matéria-prima para modificá-la materialmente.
A produtividade (força produtiva) do trabalho é determinada pelas mais diversas
circunstâncias, como destreza média dos trabalhadores, grau de desenvolvimento da
ciência e sua aplicação tecnológica, organização social do processo de produção, volume e
eficácia dos meios de produção e condições naturais. A respeito disso, tem-se que a pesca
artesanal e a catação de caranguejo, por exemplo, são atividades de baixa aplicação
tecnológica, o que não quer dizer que não venham a satisfazer pelo menos parte das
necessidades locais. Outras atividades, porém, podem ser estimuladas, utilizando-se de
inovações advindas dessas diversas circunstâncias.
Valor-de-uso é o valor natural de qualquer coisa, que consiste em sua capacidade de
provar as necessidades ou de servir às comodidades da vida humana. Isso significa, para o
nosso cenário, que as atividades a serem exercidas na localidade terão maior êxito se
satisfizerem as necessidades de uso e consumo locais. Terão, assim, no processo de
geração de renda, um maior valor de mercadoria, que é, em síntese, determinado pela
quantidade de trabalho gasta durante sua produção e varia, entre outros fatores, de acordo
com a tecnologia aplicada no processo.
A sociedade civil é a instituição chamada para compartilhar encargos até então
eminentemente estatais. Carnoy (1998) cita autores clássicos que defendem diferentes
vertentes. Os naturalistas, como Locke e Rousseau, consideram a sociedade civil uma
organização dos indivíduos além da família, produção, etc. em uma entidade coletiva
governada pelas leis. A sociedade civil seria o estado de natureza organizado e governado
pela vontade coletiva, ou seja, pelo Estado. Algumas interpretações dão conta de que a
sociedade civil poderia até ser considerada o próprio Estado.
88
Outra vertente teórica é a liderada por Hegel, para quem a sociedade civil, chamada
de pré-política, é o reino da dissipação da miséria e da corrupção física e ética, o oposto da
concepção naturalista (CARNOY, 1998). Engels afirma que o Estado, que é a ordem
política, é o elemento subordinado; a sociedade civil, domínio das relações econômicas, o
elemento decisivo (CARNOY, 1998). O sistema marxista forma, assim, uma antítese
dialética, subordinando o Estado à sociedade civil.
Para Gramsci (2000), a sociedade civil, mais que um terreno de iniciativas privadas,
tem uma função estatal na medida em que se põe como “hegemonia política e cultural de
um grupo social sobre toda a sociedade, como conteúdo ético do Estado”. Este autor
posiciona a sociedade civil de maneira tal que existem dois grandes planos
superestruturais. E, conforme comentado por Bobbio (1999), um deles é a sociedade civil,
que é o conjunto de organismos habitualmente ditos privados. O outro, a sociedade
política, ou o Estado, que detém a função de hegemonia que o grupo dominante exerce em
toda a sociedade.
Esta concepção de Gramsci (2000) a respeito da sociedade civil, como parte
orgânica do Estado, contrasta com a visão das correntes mais recentes, que tendem a tratar
aquela instituição separadamente em relação a este. A sociedade civil, potencialmente
criativa e contestadora, é vista ora como base operacional de iniciativas e movimentos não-
comprometidos com as instituições políticas e as organizações de classe, ora como espaço
articulado pelas dinâmicas da "esfera pública" e da "ação comunicativa" (HABERMAS,
1997a, b, apud NOGUEIRA, 2003). Para a expressão sociedade civil foi transferida a ação
democrática, da luta por direitos e da construção de uma esfera pública autônoma em
relação ao estatal e baseada no livre associativismo dos cidadãos.
Época e grupos de interesse, por sua vez, também influenciam nos conceitos de
sociedade civil, que sofre alteração e imprecisão em seu significado na medida em que
variam as vertentes políticas, sobretudo nas sociedades contemporâneas. Existe uma idéia
de transição do termo, nas últimas décadas, que, nas palavras de Nogueira (2003), vai do
campo predominantemente político-estatal, palco de lutas democráticas, para uma imagem
de mudanças gerenciais que viabilizem tipos específicos de políticas públicas. Para este
autor, o apelo a essa figura conceitual serve tanto para que se defenda a autonomia e a
recomposição do comunitarismo como para que se justifiquem programas de ajuste e
privatização.
Atualmente, coloca-se como essencial a participação da sociedade civil na
implementação de determinada política pública. Para tanto, Cardoso (2006) menciona três
89
maneiras de ocorrência de tal participação: na elaboração, na execução e fiscalização. Para
a viabilização dessas etapas, existe a necessidade de criação de instrumentos e fóruns para
aprofundamento, com partes antagônicas.
5.2 ASSUREMAS
90
As associações da RESEX foram fortalecidas com dinheiro proveniente do PFZ.
Tal fortalecimento se traduz na criação de tais organizações, sua legalização e vida
jurídica, bem como na implementação de projetos diversos, como barracão, de infra-
estrutura, e renda, entre outros. O Comitê Comunitário tem o objetivo de aperfeiçoar a
agenda, procurando, assim, o fortalecimento das bases. Estas, por sua vez, são formadas
por grupos representativos de moradores.
O Conselho Deliberativo da RESEX Marinha de Soure tem se reunido
constantemente para deliberar sobre assuntos pertinentes às atividades da RESEX (Quadro
5). O quadro a seguir pretende facilitar a visualização das decisões no âmbito da RESEX
Marinha de Soure. Todas as atividades foram realizadas com participação dos vários atores
envolvidos. Alguns membros do Conselho, porém, não se fizeram presentes em reuniões.
Fonte: Adaptado a partir das Atas do Conselho Deliberativo da RESEX Marinha de Soure.
91
mencionados nas atas, ora se devem a conflitos internos entre os moradores, ora são
relativos a questões externas, sobretudo sobre direitos dos moradores, incluindo-se aí a
tomada de decisões. Alguns desses problemas coincidiram com respostas de entrevistados
da pesquisa de campo.
Essa associação, que funciona nas instalações do CNS, tem como presidente o
Coordenador Regional do CNS no Pará, Sr. Vazinho. Foi informado por ele que a RESEX
acolhe 1.327 famílias, sendo o transporte um problema comum a todas as cinco
comunidades. Existe um total de 17 associações ligadas à RESEX. Para o funcionamento
desta UC, a ASSUREMAS conta com o apoio legal do CNPT. A esta instituição, ligada ao
IBAMA, cabe, entre outras atribuições, criar, implantar, consolidar, gerenciar e
desenvolver as Reservas Extrativistas em conjunto com as populações tradicionais que as
ocupam (BRASIL. INSTITUTO, 1992). Por meio desta instituição foi criada a reserva
extrativista em estudo, assim como todas as outras.
92
5.3 COLÔNIA DE PESCADORES DE SOURE
10
Informação verbal do atual presidente da Z-1, Waldecir da Silva Maciel, 38 anos.
93
membros do Conselho Deliberativo da RESEX, na condição de associação comunitária
(Anexo 4).
Figura 10: Colônia de Pescadores de Soure (Z-1). Foto: G. Santos Júnior, 2006.
É cobrada taxa de manutenção no valor de três reais, e matrícula de vinte reais para
os novos associados. Não há atividade atualmente realizada em conjunto com outra
instituição. Existem, porém, negociações com instituições oficiais como o BASA e a
Secretaria Especial de Pesca (SEAP) no sentido de financiamentos.
Acerca de atividades aos associados, no momento existem projetos a serem
empreendidos pela nova diretoria. Planejam-se cursos de computação e alfabetização para
os filhos dos pescadores, e de mecânica por meio de convênio a ser firmado com o Serviço
Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI). A participação dos associados nas
atividades da Z-1 é considerada pequena, só aumentando em se tratando de benefício
próprio. Os homens são desunidos e causadores de intrigas. Apenas 20% dos pescadores
moradores da RESEX e associados a essa CP sabem ler e escrever.
Waldecir da Silva Maciel, 38 anos, atual presidente da Colônia, alega que a
instituição possui propriedade sobre terras de Caju-Una. Apesar de não haver intenção de
entrar em litígio, este fato demonstra a situação fundiária na região, em que mais de um
ator declara ter direito sobre o mesmo território.
94
5.4 ASSOCIAÇÃO DOS CARANGUEJEIROS DE SOURE
95
6 DISCUSSÃO SOBRE GERAÇÃO DE RENDA NA RESERVA
A Constituição Federal (BRASIL. Constituição, art. 3o, inciso III; art. 21, inciso IX)
declara que um dos objetivos da República é reduzir as desigualdades sociais e regionais,
sendo competência do Estado a elaboração e a execução de planos regionais de ordenação
do território e conservação da natureza. Os princípios de geração de renda com
desenvolvimento sustentável nas UC estão inseridos nesse contexto uma vez que o Estado
as tem como instrumento de políticas públicas de redução da desigualdade social. No
entender de Tanzi (2000), dentre essa desigualdade está a riqueza real, mais importante que
o capital humano para a determinação da renda, sendo assim determinada (a desigualdade
social) pela maneira como essa riqueza (real) é transferida entre as gerações.
O mesmo autor declara ainda que, em contrapartida, quando o capital humano
torna-se o determinante mais importante da renda, caso das sociedades mais avançadas, a
maneira pela qual o capital financeiro é transferido entre as gerações torna-se menos
importante, embora ainda relevante, haja vista a importância dessa modalidade de capital
para a obtenção de capital humano. As normas sociais, ou seja, costumes e regras
propensos a ser estáveis, exercem forte influência na manutenção da distribuição de renda
em vigor. Uma das causas, porém, de sua alteração é o desenvolvimento econômico, que
no âmbito deste trabalho será contemplado sob o aspecto sustentável.
Existe um problema crônico de desemprego, êxodo rural, falta de serviço público
de qualidade, entre outros. Informações do Atlas (ORGANIZAÇÃO, 2003) dão conta de
que o IDH nacional é de 0,699; 0,583 para o estado do Pará e 0,723 para o município de
96
Soure. O índice deste município o coloca em 18a posição entre os 143 do estado; e na
posição 5.031 entre os 5.507 municípios do País.
Esta seção corresponde à apresentação dos dados coletados nas três comunidades.
Do total de 152 famílias nas três comunidades, 57 fazem parte da AL, termo mencionado
na página 26. Após a explanação da metodologia utilizada, os resultados são apresentados
de maneira a destacar a importância da geração de empregos na elaboração de políticas
públicas, questão levantada na página 19 deste trabalho. Tais resultados são baseados em
variáveis relacionadas direta ou indiretamente à geração de renda. A partir desses
resultados, extraem-se as conclusões desta dissertação, expostas no capítulo 7..
6.2.1 Métodos
97
Caju-Una, Pedro Gonzaga dos Santos, Olímpio Francisco Santos da Cruz e Maria da
Conceição Pereira Santos, para entrevistas realizadas entre 15/07 e 21/07 de 2005; em Vila
do Pesqueiro, Patrícia Farias Ribeiro, Adaline do Socorro Pantoja Almeida e Sílvia de
Nazaré, para entrevistas realizadas entre 12/07 e 14/07 de 2005; e na comunidade do Céu,
Teófilo da Silva Neves, Maria de Lourdes Barros Neves e Maria Edna Silva Neves, sendo
as entrevistas realizadas entre 18/07 e 23/07 de 2005.
Quanto à distribuição dos entrevistados, individualmente e por família, a divisão da
amostra foi disposta da seguinte maneira: os 246 entrevistados estão divididos em 97 para
Vila do Pesqueiro; 84 em Caju-Una; e 65 entrevistados para a comunidade do Céu.
Considerou-se o fato de na mesma residência eventualmente encontrar-se mais de uma
família. Neste caso, as famílias foram tomadas uma independentemente da outra, como se
morassem em residências diferentes. Esta convenção foi importante para o resultado do
trabalho, pois, ao final da pesquisa de campo junto às comunidades, foram coletadas
informações de 246 indivíduos, equivalente a 4,3 pessoas por família. Esses dados foram
organizados em questionário de entrevistas (Apêndices 1 e 2), fonte de elaboração das
tabelas e gráficos deste trabalho.
As variáveis (características) foram classificadas em dois grupos: um grupo de
variáveis individuais, caracterizando cada morador da amostra, e outro de variáveis de cada
família, tomadas por representante familiar, caracterizando cada uma das famílias
pesquisadas. A análise dos dados tomou como base dois tipos de perguntas: direcionadas a
cada indivíduo e a cada família. Esses questionamentos, baseados em variáveis importantes
para a análise sócio-econômica, foram organizados em tabelas e gráficos.
As informações obtidas nessa etapa foram então transferidas para tabelas contendo
as comunidades e os dados quantitativos de cada uma das oito variáveis. Essas tabelas
foram utilizadas na elaboração de gráficos. A seguir, as informações exibidas são
comentadas detalhadamente, analisando-se seu significado e aplicação com foco no
objetivo deste trabalho.
As tabelas têm o objetivo de exibir os parâmetros gerais, ou seja, visualizar a
variável em relação à RESEX, utilizando, para tanto, as informações de cada uma das três
comunidades. Os gráficos, por sua vez, visam à visualização de informações em cada uma
das três comunidades com informações originadas na respectiva tabela. Acredita-se, assim,
que os dados sejam expostos de maneira didaticamente facilitada.
98
6.2.2 Resultados
As interpretações que se seguem não devem ser tomadas como decisivas em termos
de conclusões pelo fato de se tratar apenas de uma amostragem. Há que se tomar apenas
como dados de referência. Para a análise foram levadas em conta, além dos dados
numéricos adquiridos na pesquisa, anotações feitas durante o trabalho de campo.
Esta perspectiva visa a fornecer uma visão de grupos etários, permitindo assim uma
correlação com outras variáveis em função da idade. Os 246 indivíduos incluídos nas
entrevistas estão discriminados da seguinte maneira: primeiramente, sob representação da
tabela 2, agrupam-se os moradores da RESEX em seis faixas etárias, classificadas de
acordo com o sexo. Cada faixa é relacionada com o total de homens e com o total de
mulheres, com o respectivo valor em porcentagem em relação ao total de 246
entrevistados. A seguir, no gráfico da figura 11, as idades são categorizadas em três faixas
etárias e classificadas de acordo com o sexo. Finalmente, na Figura 12, as três faixas
etárias do gráfico da figura 11 são agrupadas em cada comunidade.
99
Tabela 2: Divisão da população da RESEX por faixa etária.
Sexo
RESEX
Faixa etária Masculino Feminino
Quantidade % Quantidade % Quantidade %
Até 11 anos 31 25 33 27 64 26
De 12 a 17 anos 19 15,3 15 12,3 34 13,8
De 18 a 25 anos 15 12,1 18 14,8 33 13,4
De 26 a 39 anos 23 18,5 24 19,7 47 19,1
De 40 a 59 anos 23 18,5 25 20,5 48 19,5
60 anos ou mais 13 10,5 7 5,7 20 8,1
Total 124 100 122 100 246 100
Fonte: G. Santos Júnior, 2005.
100,0%
90,0%
35,0%
80,0% 50,0%
51,8%
70,0%
60,0%
50,0%
40,0%
65,0%
30,0% 50,0%
48,2%
20,0%
10,0%
0,0%
Crianças, adolescentes e jovens: até 20
Adultos: entre 21 e 59 anos Idosos: 60 anos ou mais
anos
Mulheres 51,8% 50,0% 35,0%
Homens 48,2% 50,0% 65,0%
Figura 11: Porcentagem mulheres e homens por faixa etária na RESEX/Soure, por faixa
etária. Fonte: Pesquisa, 2005.
100
Quanto à divisão da RESEX por sexo, o número de homens é ligeiramente maior
que o de mulheres (Figura 11). Esse fato só não vale para duas faixas etárias, a que vai de
12 a 17 anos e a que compreende os indivíduos com 60 anos ou mais. Para ambos os sexos,
existe um alto número de pessoas jovens, demonstrado pelas três primeiras faixas etárias.
O fato de o número de mulheres ser menor que o de homens, ainda que
ligeiramente, ratifica o que já existe na literatura sobre áreas extrativistas amazônicas.
Simonian (2004), em seu trabalho sobre a ilha da Trambioca, em Barcarena/PA, cita
declarações de moradores de que as mulheres têm maior tendência a deixar o lugar à
procura de trabalho, constituindo família e se fixando fora da região. Quanto aos homens,
ao permanecerem no local, sem estudo nem capital, sobrevivem do extrativismo,
agricultura e/ou produção artesanal.
Os dados foram também analisados em cada uma das três comunidades. O número
de indivíduos de cada sexo está razoavelmente equilibrado em cada uma. Ao considerar-se
o total em cada faixa etária por comunidade, observa-se que a maior variação se deu na
comunidade do Céu, e a menor, em Caju-Una, em ambos os casos com vantagem para o
número de homens. Vila do Pesqueiro é a comunidade em que o número de mulheres é
maior que o de homens. Quanto ao número de homens em relação ao de mulheres,
percebem-se as seguintes características: em Caju-Una, Vila do Pesqueiro e Céu é de 52%,
45% e 55%, respectivamente, o número de homens.
Percebe-se entre as pessoas idosas uma quantidade considerável de homens em
relação a mulheres. Dos 246 entrevistados, foram encontrados 20 idosos, sendo 13 homens
e sete, mulheres. O maior número proporcional de idosos foi detectado em Caju-Una, com
14% dos entrevistados, ou 12 pessoas. O menor, em Vila do Pesqueiro, com apenas 3%, ou
três indivíduos. Nessa última comunidade, foram encontradas famílias cujos membros
migraram em massa para outras regiões do estado, fato que talvez esteja ligado à baixa
proporção de idosos. Em todo caso, nota-se que a migração é considerável nas
comunidades.
Outras faixas de idade mostraram equilíbrio quando confrontadas. Os sexos estão
equilibrados na faixa adulta nas três comunidades, e a faixa dos jovens mostra uma ligeira
vantagem na quantidade de mulheres em relação aos homens. Aparentemente, a RESEX
como um todo apresenta equilíbrio até a faixa adulta entre os sexos, realidade que se altera
à medida que a idade avança.
101
Divisão da população das comunidades em três faixas etárias
35%
30%
25%
20%
14%
15%
8%
10%
3%
5%
0%
Figura 12: Porcentagem de jovens, adultos e idosos na RESEX. Fonte: Pesquisa, 2005.
102
percepção deve ser levada em conta, seja para atrair o jovem para a atividade, seja na
procura de alternativas, pois algumas políticas são mais propensas a atrair jovens.
Esses dados foram analisados com base na legislação vigente que trata do tema,
bem como na prática de ensino ainda em uso. Leve-se em conta que as instituições de
ensino fundamental têm até o ano 2010 para aplicar a Lei no 9.394 (Brasil. LEI no 9.394,
1996), que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional e altera os parâmetros
etários utilizados atualmente para o ensino até o nível fundamental. Tais parâmetros,
atualmente utilizados, são os seguintes:
a) educação infantil: creche, de 0 a 2 anos; e pré-escola, de 3 a 6 anos;
b) ensino fundamental: 1ª a 4ª série, de 7 a 10 anos; 5ª a 8ª série, de 11 a 14 anos; e
c) ensino médio: 1o ao 3o ano, de 15 a 17 anos.
Uma primeira vista à tabela 3 é suficiente para que se visualize a predominância do
nível fundamental de ensino em relação aos outros níveis de escolaridade entre os
moradores. Existem 30 milhões de trabalhadores brasileiros com carteira assinada, 43,4%
deles com nível de estudo até o fundamental completo, segundo Salomão (2006). Na área
de estudo, os trabalhadores com o mesmo grau de instrução, predominantemente sem
carteira de trabalho, são 73%. Em que pese o cenário local menos exigente em relação ao
mercado de trabalho nacional, o fato é que uma melhoria na profissionalização dos
moradores passa pela elevação da média de educação e qualificação.
103
A tabela 3 é concebida de maneira a fornecer informações sobre os moradores da
RESEX acerca do grau de instrução por sexo. As mulheres, em número ligeiramente
menor que o de homens, têm maior tendência de completar o ensino fundamental. A
proporção de moradores que completam o curso superior é baixa e equilibrada entre os
sexos. O item “Outros” reúne três situações: grau de instrução não declarado pelo
entrevistado; analfabetos, inclusive funcionais; e crianças com seis anos de idade ou menos
que ainda não começaram a cursar o ensino oficial.
Devido à evidente predominância do ensino fundamental nas comunidades,
analisar-se-á com mais detalhe esse nível de ensino. Para isso, considere-se a faixa etária
de 0 a 17 anos relativamente a cada uma das três comunidades (Tabela 4). Nessa faixa
encontram-se os estudantes do nível fundamental.
104
Os estudantes do ensino médio também mostram resultados notáveis. Observou-se
uma realidade de idade em número bem menor em relação à idade de referência. As
explicações possíveis são duas. Primeiramente, é comum que os jovens deixem de estudar
para trabalhar, mormente na atividade pesqueira. A dificuldade de transporte é outra causa
possível, já que apenas recentemente este problema começou a ser resolvido. Ainda assim,
apenas os estudantes de Vila do Pesqueiro usufruem de condução para estudar o ensino
médio na sede municipal.
6.2.2.3 Ocupação
105
ocupação. Um deles, em, Caju-Una, indicou que vive da aposentadoria e agricultura; outro,
morador de Vila do Pesqueiro, indicou as ocupações de pescador e garçom. Este fato
presumivelmente se estende a outros moradores, que não consideraram, entretanto,
significante em suas respostas a declaração de outras atividades.
A maioria das ocupações atingiu menos de 10% do total. É o caso do artesanato,
prestação de serviços, agricultura, comércio, serviço público e aposentadoria/pensão.
Apesar do baixo índice da categoria “Serviço público” na tabela 5, os servidores públicos
provavelmente são em maior número. Segundo informações colhidas no local, mais de
90% dos moradores de Caju-Una seriam aposentados do serviço público ou
“funcionários”11. Conforme conversas com moradores, acredita-se que os servidores
públicos, aposentados e pensionistas tenham importância econômica relevante.
As ocupações com maior destaque numérico são constituídas por estudantes,
pescadores e donas-de-casa. As três categorias são responsáveis por quase 70% do total.
Desses, apenas os pescadores são geradores de renda. As donas-de-casa integram o item
“Lar”, formado pelas mulheres que assim se declararam, excluídas as que porventura
tenham afirmado obter renda de alguma atividade econômica. A renda proveniente de
fitoterápicos não é considerada pois, como afirmou a Sra. Maria Favacho, de Caju-Una
(2005, informação verbal), “o remédio não tinha pra quem vender”.
O fato de a agricultura ter pouco destaque se deve principalmente ao pequeno
espaço disponível. Destaca-se Caju-Una, com plantação de coco, além da comunidade do
Céu, embora. Para o progresso desta modalidade na região, um morador, ligado ao cultivo
do coco, sugeriu uma fábrica para o beneficiamento da popa da fruta. Já existe fábrica de
desfibrar coco, de propriedade do Sr. Brito, da fazenda São Jerônimo. O atravessador, que
compra o fruto por R$ 0,20, vende ao consumidor final por R$ 1,00.
O artesanato, apesar de largamente divulgado entre as comunidades, ainda se
constitui novidade nas comunidades e com número reduzido de profissionais que dele
obtêm renda.. É preciso, porém, segundo opinião encontrada na pesquisa de campo, que se
criem atividades diferenciadas, pois não há demanda suficiente. Além disso, houve
trabalhadores artesãos que, após aprenderem o ofício, não puderam dar continuidade à
atividade por falta de instrumentos de trabalho.
O item “Outros” engloba em sua maioria indivíduos sem renda. Estão incluídos os
seguintes: em Caju-Una: três desempregados e seis crianças abaixo de seis anos; em Vila
11
Servidores públicos municipais na ativa.
106
do Pesqueiro, seis crianças abaixo de seis anos, um beneficiário do INSS e um
desempregado; no Céu, sete crianças abaixo de seis anos de idade. Entre os
desempregados, alguns recebem benefício do governo federal, do Programa Bolsa-Família
(PBF).
A categoria “Estudantes” constitui-se na ocupação com o maior número de
indivíduos, embora não seja geradora direta de renda. Apesar da reconhecida importância
do período pré-escolar, optou-se por considerar a idade referencial de 6 anos para indicar a
variável “Estudante”. Tal escolha tem o escopo de simplificar o entendimento dentro dos
parâmetros deste trabalho.
Em “Prestação de serviços”, incluíram-se moradores que prestam serviços
particulares e os que prestam serviços públicos. Entre os particulares, encontram-se
garçons. Os serviços públicos, por sua vez, referem-se aos da esfera federal, estadual e
municipal. Neste último grupo inclui servidores da administração pública municipal e
contratados temporários da Prefeitura Municipal de Soure. Eventualmente, moradores são
contratados para auxílio na execução de projetos de implementação de política pública,
como o Pró-Ambiente. Serviços públicos temporários existentes nas comunidades também
incluem professores, agentes temporários comunitários de saúde e policial temporário.
O gráfico da figura 13, a seguir, exibe sete ocupações geradoras de renda na
RESEX/Soure. Para o total de 95 itens de opções dos entrevistados, a pesca se destaca
como a opção predominante, com 43, perfazendo 45%. Para esta ocupação, a comunidade
do Céu se destaca, com 54,5% das 22 ocupações; Caju-Una é a comunidade em que a
pesca é menos concorrida, com 37,5% das 40 ocupações; e Vila do Pesqueiro apresenta
47,1% do total de 34 ocupações indicadas pelos entrevistados. O grande destaque entre as
ocupações é a pesca. Destaca-se entre as que efetivamente geram renda, confirmando-se
como a melhor opção no local em termos de oferta de trabalho, ainda que mal remunerada.
107
100%
6 3
6
0 0
3
80%
15
12
60%
16
3
1
40%
0
11
5 6
20%
2
4
2 1
0
0%
Caju-Una Vila do Pesqueiro Céu
Serviço público 6 6 3
Prestação de serviços 0 3 0
Pesca 15 16 12
Comércio 3 5 0
Artesanato 1 2 0
Aposentadoria/pensão 11 2 6
Agricultura 4 0 1
Figura 13: Divisão da população da RESEX por ocupação geradora de renda. Fonte: Pesquisa, 2005.
Percebe-se grande participação da pesca nas três comunidades. Este fato pode ser
indicativo da falta de opção de trabalho na região, e não apenas a vocação de trabalho dos
moradores locais. Maneschy (1995, apud LOUREIRO, 1985) detectou no município do
Nordeste paraense de Vigia a inexistência de outras ocupações como razão para o ingresso
e permanência na pesca. Este fator, juntamente com a afirmação de muitos moradores de
falta de opções de trabalho, sustenta a afirmação de que muitos estão ou permanecem na
pesca por falta de opções de trabalho.
108
indicam pessoas que se mudaram da comunidade há 10 e até 20 anos. Em tempos atuais,
algumas razões que então ocasionaram o êxodo ou não existem mais ou foram amenizadas,
principalmente com a melhoria dos serviços públicos.
Para essas 49 pessoas que responderam “sim” foi feita uma outra pergunta: qual o
motivo do êxodo. Tais motivos estão dispostos na tabela 7, abaixo. Atente-se para o fato de
que um único representante pode ter alegado mais de um motivo para o êxodo, perfazendo
um total de 58 motivos.
Tabela 7: Motivo de mudança de parente em famílias da RESEX/Soure.
Motivo de mudança Comunidades Total da RESEX
de parente Caju-Una Vila do Pesqueiro Céu Qtd %
Estudo 2 2 1 5 8,6
Assistência pública deficiente 1 1 2 4 6,9
Familiares 4 0 0 4 6,9
Busca de QV 1 4 2 7 12,1
Trabalho 9 14 9 32 55,2
Outros 2 3 1 6 10,3
Total 19 24 15 58 100,0
Fonte: G. Santos Júnior, 2005
109
exemplo, da energia elétrica. Prevalecem, entretanto, problemas sérios para a qualidade de
vida, como falta de emprego.
Observa-se, no gráfico da figura 14, abaixo, a influência do item “Trabalho” na
busca do morador local por melhores condições de vida fora do local. Isso reflete as poucas
perspectivas por parte da população.
9% 7%
2%
7%
18%
57%
Figura 14: Motivos de Êxodo em famílias da RESEX/Soure (2005). Fonte: Pesquisa, 2005.
110
mais contundente a insatisfação popular com a prestação de serviços públicos pelo Estado.
De fato, é aparente a precariedade deles.
Para o item “Outros”, incluíram-se respostas nas comunidades de Vila do Pesqueiro
e Céu. Na primeira, duas pessoas alegaram “vários motivos” e uma pessoa disse não saber
por que os parentes se mudaram. Na comunidade do Céu, um entrevistado alegou ter
havido mudança por motivo de doença da pessoa, e outro não soube explicar o motivo.
Nota-se o item “Trabalho” como fator importante para o êxodo. Os 57% do total de
respostas evidencia a falta de emprego como problema crônico das comunidades inseridas
na RESEX. Ao se levar em conta que a busca de qualidade de vida, um dos itens da tabela,
pode incluir a questão do emprego, percebe-se que a necessidade de se colocar a falta de
trabalho como um dos grandes problemas no local. É relevante notar também que ambos
os itens, “Trabalho” e “Busca de QV”, são os únicos que foram mencionados pelas três
comunidades.
Os itens “Estudo” e “Familiares fora” podem também ser interpretados como
ligados à necessidade de trabalho. Ao deixar a residência por motivo de estudo, o indivíduo
na verdade está procurando melhor colocação no mercado de trabalho. Este fato ocorre
devido à ausência nas comunidades de estabelecimento de ensino a partir do nível médio.
Quanto a se mudar devido a familiares que já o fazem, muitas vezes o que se pretende é
fixar residência em outra parte em busca de melhores condições de vida (trabalho e outros
aspectos), contando-se, para tanto, com o apoio de familiares.
Quanto à entrevista por comunidade, em todas a falta de trabalho aparece como
maior responsável pelo êxodo. O item “Trabalho” atinge 66,7% na comunidade do Céu,
56,5% em Vila do Pesqueiro e 50% em Caju-Una. O item “Estudo” apresenta índices
relativamente baixos. Não houve na comunidade do Céu quem admitisse mudança de
parente por esse motivo, e o índice nas demais comunidades ficou em torno de 10%.
O trabalho como fator de êxodo foi evidenciado nas três comunidades. Aquela em
que mais se sobressaiu foi na comunidade do Céu, com 66,7% das respostas. “O lugar não
tem para onde crescer”, nas palavras de um dos moradores. A seguir, Vila do Pesqueiro
elegeu esta razão como maior causa de êxodo, seguida por Caju-Una, como 50,0%.
111
6.2.2.5 Evasão escolar
112
0
100%
90%
3
80% 3
70%
5
60%
2
50%
40%
2
30%
3
20%
1 1
10%
0%
Caju-Una Vila do Pesqueiro Céu
Transporte 3 0 3
Trabalho 2 5 2
Desinteresse 3 1 1
Figura 15: Motivos para evasão escolar de estudantes da RESEX por ocupação. Fonte: Pesquisa, 2005.
Para designar o motivo pelo qual houve abandono de estudos, alguns moradores
utilizaram definições que foram agrupadas nos itens da tabela acima. “Situação
financeira”, um dos termos utilizados, foi classificado como “Trabalho”. Tal termo, aliás,
destaca-se o fato de “trabalho” ser o fator principal na comunidade Vila do Pesqueiro.
No geral, este fator se sobressai como o fator mais importante de evasão escolar.
Mais uma vez a questão do trabalho se mostra como decisiva entre as comunidades da
RESEX. Para se referir a este importante motivo, alguns entrevistados declararam que a
situação financeira, a preferência do trabalho na pesca em detrimento dos estudos e até
serviço militar foram decisivos na decisão do abandono. Acerca do item “Outros”, na
comunidade do Céu, trata-se de motivo desconhecido pelo entrevistado.
Transporte foi o item de maior queixa na comunidade do Céu, e um dos maiores em
caju-Una. Este fato estaria ligado à maior dificuldade de acesso em Caju-Una e Céu devido
ao isolamento por terra uma vez que o transporte é feito dentro da área da fazenda Bom
Jesus. Apesar de, em relação às respostas dos entrevistados, ter sido irrelevante em Vila do
Pesqueiro, sabe-se que também nessa comunidade constitui-se dificuldade para a
continuidade dos estudos. A comunidade, porém, se mobilizou para suprir esta necessidade
junto à Prefeitura Municipal de Soure (PMS) com a disponibilidade de condução regular
para os estudantes.
113
Entre as dificuldades para estudar, o fator transporte se destaca. Mesmo entre os
que responderam que não possuem filho que abandonou a escola, existe a menção deste
problema como um dos principais impedimentos para quem pretende continuar os estudos.
A partir do momento que o estudante inicia o nível Médio, é preciso que se desloque para a
sede do município de Soure, pois a RESEX possui atualmente estabelecimento de ensino
apenas até o nível Fundamental.
Apenas duas fontes aparecem com valores menores de 10% do total. A agricultura,
que sofre com a falta de espaço territorial, e o item “Outros”. A respeito deste último,
mencionado também na figura 16, abaixo, encontram-se duas ocupações em Vila do
Pesqueiro. A primeira se refere a uma entrevista viúva que alegou obter sua renda dos
filhos, formando, porém, uma família independente. Outro entrevistado declarou ter como
114
renda principal o aluguel de animais, o que se constitui um caso atípico de comércio no
local, motivo pelo qual foi destacado.
0
100%
1
90% 2
4 7
80%
1
70%
60% 3 3
4
0 12 2
50%
40%
30%
1 6
20% 2 3
7
10%
0
0%
Aposentadoria/
Agricultura Comércio Pesca Serviço público Outros
pensão
Céu 1 4 1 7 2 0
Vila do Pesqueiro 0 3 3 12 4 2
Caju-Una 1 6 2 7 3 0
Figura 16: Principais fontes de renda em cada uma das comunidades da RESEX/Soure. Fonte: Pesquisa,
2005.
115
6.2.2.7 Renda familiar
Tabela 10: Classificação das famílias de acordo com a renda familiar em salário
mínimo na RESEX/Soure.
Renda familiar Caju-Una Pesqueiro Céu RESEX
(SM) Qtd % Qtd % Qtd % Qtd %
Até 1 SM 6 33% 8 35% 8 50% 22 39
1-3 SM 6 33% 12 52% 5 31% 24 42
3-6 SM 5 28% 1 4% 2 13% 7 12
Outros 1 6% 2 9% 1 6% 4 7
Total de famílias 18 100% 23 100% 16 100% 57 100
Fonte: G. Santos Júnior, 2005.
116
6.2.2.8 Problemas para geração de renda
117
se encontra em propriedade privada. Independentemente de causa e culpados pelo
problema, o fato é que, em relação aos moradores, a dificuldade de acesso traz alguns
transtornos. Entre eles, a dificuldade para escoar a produção local. Alguns produtos locais,
entre eles remédios caseiros e artesanato, poderiam ter melhor demanda se o acesso fosse
mais livre e se a estrada estivesse em melhores condições. Segundo a Sra. Leonice Pereira,
de 47 anos, moradora de Caju-Una, “todo mundo faz artesanato, mas não existe mercado”.
Uma das soluções para isso seria justamente a melhoria de condições da estrada.
Por outro lado, o controle do acesso à estrada que liga Soure a Céu e Caju-Una é
justificado pela proprietária primeiramente por ser propriedade particular. Além disso,
evita-se assim prática de crimes, como furto de gado. Apesar das dificuldades de acesso, a
manutenção da estrada é realizada, ainda que não a contento dos moradores. Segundo
informações de moradores e da proprietária da fazenda, essa tarefa fica a cargo da
Prefeitura Municipal de Soure (PMS) e da própria fazenda.
O item “Outros” está relacionado a respostas nas comunidades de Céu e Vila do
Pesqueiro. No primeiro caso, o entrevistado respondeu o seguinte: falta de interesse dos
próprios comunitários; falta de interesse de integrantes da comunidade para desenvolver;
muitos professores para pouca demanda; casas na comunidade pertencentes a gente de
fora; medo de endividamento; comércio pouco desenvolvido (falta de açougue,
hortifrutigranjeiros etc.); falta de telefone público; falta de interesse da comunidade
(comodismo); e, falta de eventos para atrair o público. Moradores da comunidade do Céu
deram como resposta o seguinte: dificuldade para exercer a agricultura, como areia e gado;
falta de apoio da prefeitura; o item “Outros” da comunidade do Céu refere-se a
dificuldades de se exercer agricultura, como areia e criação de animais.
Observou-se que em nenhum momento a falta de energia elétrica é mencionada
como uma das dificuldades para geração de renda. Essa realidade era outra antes que a
eletricidade fosse levada ao local pela iniciativa pública por programas como o Luz no
Campo. Traduz-se, portanto, em melhoria de condições de vida no lugar.
118
7 CONCLUSÕES
119
As dificuldades de mudança que encontram as populações locais por vezes levam a
conflitos. Para Santoyo (1992), os movimentos sociais, uma vez em marcha e atiçados pela
necessidade, tendem a ultrapassar os limites das normas e recomendações. Os cientistas
sociais, ao estudar o desenvolvimento, se vêem diante de fatores complexos e
contraditórios, lidando com jogo de interesses sociais opostos e tomadas de decisões que
não seguem um processo planejado e linear. Para que as mudanças ocorram de maneira a
atingir um grau razoável de consenso entre os atores, o diálogo político é instrumento útil.
Ao mencionar a função da política, Santoyo (1992) afirma ser o meio de que as sociedades
dispõem para refletir sobre suas próprias condições de existência.
As condições de trabalho influem na maneira como a questão da renda é conduzida.
É o caso da Sra. Luzia Portal, 32 anos, de Caju-Una, que tem um filho e dois cunhados
adolescentes que trabalhavam com artesanato. Tiveram que parar a atividade pelo fato de
não possuírem instrumentos de trabalho. Essa realidade demonstra a importância de haver
continuidade de algum apoio mesmo depois que se aprende uma nova profissão.
O fabrico de remédios caseiros em Caju-Una “não foi pra frente”, segundo Luzia
Portal, porque não havia dinheiro suficiente para compra de material e início de atividades.
Além disso, não há quem compre remédios caseiros no Caju-Una, dada a dificuldade de
transporte da mercadoria para a sede do município. Além disso moradores da comunidade
comentam a escassez de demanda. Para a Sra. Maria Ledir Favacho, 28 anos, “faltou
mercado para escoar a produção de remédios da comunidade”. Essa declaração sugere que
o pensamento de que o empreendimento já fracassou. A Sra. Leonice Pereira, de 47 anos,
também do Caju-Una, diz que “todo mundo faz artesanato”, completando que não existe
mercado para todos.
Quanto ao acesso às comunidades, trata-se de problema citado constantemente,
sendo o canal que liga Vila do Pesqueiro ao Céu a alternativa em relação à via terrestre,
que passa pela fazenda Bom Jesus. Tal opção se mostra por vezes perigosa. A Sra. Luzia
Portal, de 32 anos, moradora de Caju-Una, relatou casos de afogamento na travessia do
canal. Foram três mortes nos últimos três anos. Evidentemente, os acidentes não podem ser
livremente creditados à dificuldade de acesso via fazenda Bom Jesus haja vista muitos
darem preferência ao acesso via canal por ser mais curto. Entretanto, o fato indica a
necessidade de melhoria e facilidade de se chegar às comunidades de Céu e Caju-Una.
O fator político é determinante no problema da renda. Os relatos apontam para
parcialidade ou favorecimento político na obtenção de recursos em nível regional. Se
120
determinada ala política (indivíduo ou grupo) não obteve muitos votos em certa
comunidade, não a ajuda em seus pleitos.
A continuidade de determinado processo de geração de renda e emprego é
importante para que se atinja o objetivo. Essa afirmativa é especialmente importante ao se
considerar o artesanato nas comunidades da RESEX. O sucesso da atividade, após o curso
de qualificação dos novos profissionais, parece depender basicamente do fornecimento de
ferramentas, demanda e interesse dos próprios beneficiados.
Nesse contexto, há que se considerar os três elementos marxistas do trabalho
desempenhado pelas comunidades para os comentários que se seguem: (a) a atividade
adequada a cada fim, ou o próprio trabalho; (b) a matéria sobre a qual se aplica o trabalho,
ou o objeto do trabalho; e (c) os meios de trabalho, ou instrumental de trabalho. Após
realizados cursos de artesanato e de remédios caseiros e adquirido material de trabalho, tal
atividade está atualmente suspensa ou quase parada nas comunidades do Céu e Caju-Una.
Ou pelo menos concentrada em alguns poucos artesãos, o que de certo modo pode
contribuir para paralisar a atividade nas comunidades quando essas pessoas eventualmente
se envolvem em outros compromissos.
Para esta compreensão, parte-se do princípio marxista de que um objeto só tem
utilidade quando essa propriedade é efetivamente realizada (MARX, [1867] 2003) para a
seguinte consideração: alguns meios de trabalho, como instrumentos e materiais de
artesanato e as instalações, parecem estar, no momento, “inúteis”, ou seja, sem valor-de-
uso (utilidade própria do objeto) real e efetivo nas duas comunidades citadas, adquirindo
mais uma função de consumo individual que produtivo, ou seja, mais para uso do artesão
que produto de venda e conseqüente gerador de renda. Ainda de acordo com Marx ([1867]
2003), esta situação sugere que o planejamento do processo de produção dessas atividades
pode ser mais bem explorado a fim de obter melhores resultados, haja vista a capacidade
humana de imaginar previamente o resultado do processo, subordinando-o ao modo de
operar à sua vontade.
O fato de atividades produtivas na RESEX como as citadas no parágrafo anterior
ser com freqüência mal sucedidas corrobora a afirmação de Sachs (2003) de que a
mortalidade dos micro e pequenos empreendimentos é elevada. Tais atividades, entretanto,
são responsáveis, em nível nacional, pela geração da maior parte dos empregos,
representando, no local de estudo, objeto de interesse devido a sua função de geração de
emprego e renda para as comunidades. Por meio do empreendedorismo compartilhado
121
citado por Sachs (2003), busca-se na Reserva o fortalecimento dos empreendimentos de
pequeno porte.
Um problema comum na região, diretamente ligado a geração de renda, saúde e
qualidade de vida em geral é a falta de água. Nas comunidades do Céu e Caju-Una
observou-se a dificuldade na obtenção de água potável, importante para o desenvolvimento
como um todo. Em meio ao vácuo criado pela ausência do poder público, foi encontrado
na região o que Sachs (2003) chama de apoiadores da economia solidária. Esse autor
afirma que existe um número significativo desses atores ligados à Igreja Católica. Na
região em estudo destaca-se a Cáritas, organização que se faz presente nas duas
comunidades citadas. Essa entidade mantém um projeto de perfuração de poços artesianos
com apoio financeiro de fiéis alemães.
A importância da confiança mútua entre os participantes, característica citada por
aquele autor, fez-se perceber no decorrer do processo produtivo das associações e
trabalhadores locais. Um dos fatores que levaram ao fracasso ou diminuição de resultados
de empreendimentos de geração de renda, como artesanato, foi justamente a desconfiança
por parte de associados quanto a procedimentos e atitudes tomadas pelas respectivas
lideranças. Algumas vezes, por julgamento próprio, os integrantes do grupo condenavam
atitudes dos administradores sem dar crédito às explicações. No Céu, foi relatada
dificuldade de relacionamento entre associadas da casa de artesanato. Este exemplo reflete
uma dificuldade comum nas outras comunidades, encontrada em outras atividades: a
desunião na atividade. “Um quer uma coisa, outro quer outra”, segundo testemunho de
morador.
Do que se observou, conclui-se que falta união para trabalhar em conjunto. A
ASSUREMAS fornece material para as comunidades. Canoa para pescar no rio e freezer
para pescado, entre outros. Eventualmente, porém, os instrumentos de trabalho não são
utilizados em conjunto. Devido a isso, canoas que poderiam ser compartilhadas com
trabalho em parceria não são assim utilizadas. “Dizem logo que não vai dar certo. Nem
tentam”. Existe desconfiança entre os pescadores. Raimunda Santos, 42 anos ,de Caju-
Una, relatou furto de apetrechos de pesca. “Não dá pra plantar por causa dos bois”.
Há relatos também de conflitos entre pescadores que antes exerciam suas atividades
em grupos. Pelo fato de alguns não dividirem o trabalho, sobrecarregando companheiros,
acabaram por desfazer as parcerias, trabalhando individualmente. Percebe-se, como posto
por Oliveira (2006), a insuficiência de tolerância, ou capacidade de se trabalhar em grupo,
citada como um dos três T´s do desenvolvimento econômico. Boa parte dos integrantes das
122
comunidades aparentemente não atingiu o nível de gerar decisões coletivas, ou decisões de
consenso.
Observaram-se declarações que não condizem com a idéia das afirmações
transmitidas por outros entrevistados, ou são simplesmente opostas. O Plano de Utilização
da RESEX ainda não aprovado; segundo a presidente da ASMUPESQ, foi declarado
“consolidado e aprovado” pelo vice-presidente da ASSUREMAS, o artesão José Ronaldo
Santos Guedes, de 28 anos. Haveria um total de “1.327 famílias” em toda a RESEX,
segundo informação da presidência da ASSUREMAS. A entrevista junto à liderança das
cinco comunidades detectou a presença de 622 famílias e 2.226 moradores. Como
aconteceu em outras ocasiões, este fato sugere a comparação de informações para que se
tenham dados mais confiáveis. Em Caju-Una, existe a necessidade alegada por alguns
moradores de barcos motorizados na comunidade. Fonte da própria localidade discorda,
afirmando que os jovens, a quem seriam destinadas tais embarcações, não fariam o devido
uso, preferindo o suporte financeiro dos pais a trabalhar no mar.
O presidente da ASPEPE, por sua vez, mencionou que o BASA dificultaria o
empréstimo para o pescador no momento do financiamento direto. O gerente do banco em
Soure, Sr. Adriano Costa Filho, de 47 anos, afirmou que o financiamento pode ser
concedido desde que o pescador seja filiado à instituição oficial de representação da classe,
a colônia de pescadores. A considerar-se que apenas dez ou 12 do total de 92 associados da
ASPEPE são “colonizados”, ou seja, filiados à colônia, é de se esperar que haja dificuldade
para o empréstimo.
A má aplicação do dinheiro público por parte dos representantes do Estado, em suas
três esferas, é mencionada nos comentários informais com moradores. Uma gestão não
informada do Governo estadual teria investido R$ 60 mil na pavimentação da PA-154, que
liga Camará a Caju-Una12. A obra não foi realizada, e não se sabe o que foi feito da verba.
Como este, outros exemplos podem ser citados, como a escavação de poços, que serviria,
entre outros, a fins eleitoreiros.
O deslocamento de moradores para outras localidades devido à procura de melhores
condições de vida pode ser facilmente observado. O ex-presidente da AMCC se constitui
em um exemplo do êxodo rural, embora ainda mantenha forte vínculo com o lugar de
origem. Saiu da comunidade para estudar na sede municipal, onde atualmente trabalha
12
Apesar de muitos declararem que a PA-154 se prolonga até Caju-Una, o Procurador da República Felício
Pontes, Procurador Geral da República no estado do Pará, não encontrou dispositivo legal que afirme tal
coisa. O que existe é uma decisão municipal declarando que essa estrada vai de Camará a Vila do Pesqueiro,
ao passo que a legislação estadual só reconhece a rodovia até Salvaterra.
123
como agente administrativo na escola-sede de Soure, a Escola Estadual de Ensino
Fundamental Professor “Gasparino Batista da Silva”, e como diretor em outra escola, a
Escola de Ensino Fundamental “Dom Alonso”. Sr. Teófilo está concluindo um trabalho
sobre a história daquela comunidade e se dispôs a colaborar com informações para a
realização deste trabalho.
Ainda sobre êxodo rural, foi informado por morador de Caju-Una que durante o
mês de julho um número razoável de ex-moradores visita a comunidade. Esse conjunto de
pessoas pode ser fonte interessante de informações, ajudando a esclarecer ou fortalecer
teorias sobre que os levou a migrar para outras regiões. São informações que podem
embasar trabalhos futuros.
A ASSUREMAS comentou a compra de castanha de andiroba pela indústria de
cosméticos de Castanhal, a Brasmazon. Nenhum dos representantes de associações
entrevistados, porém, comentou espontaneamente a transação. O convênio entre a KEPA e
o CNS, intermediado pelo Governo Federal, terminou em junho de 2005, apesar da
previsão inicial de existência por mais dois anos. O motivo alegado pela ASSUREMAS foi
falta de verba. Em todas as comunidades, bem como pela ASSUREMAS, a prefeitura foi
declarada inoperante.
Foi observada uma razoável influência por parte do presidente da ASSUREMAS,
que parece, de certa maneira, ter sua pessoa mais forte que a instituição que representa.
Questionada acerca da ligação entre sua associação e a ASSUREMAS, a presidente da
Associação dos Moradores do Bairro Tucumanduba (ASMUBT) afirmou que não existe. Já
ao ser indagada sobre a ligação de sua entidade com o Sr. Vazinho, afirmou que sua
instituição, a ASMUBT, mantém vínculo com ele. Em contrapartida, uma reação à
influência dele foi percebida em conversa Sr. Pedro, morador da comunidade de Caju-Una
conhecido como “Seu Pedrinho”, tesoureiro da associação local na diretoria passada, que
enfatizou não se tratar de questão pessoal, tendo os dois entre si laços de parentesco. O ex-
tesoureiro afirma que seu co-cunhado não pode responder pela comunidade, tomando
decisões por ela, tirando poderes da associação local.
Esse atrito pode revelar a vontade de parte da comunidade de tomar suas próprias
decisões, fato positivo que contradiz uma característica negativa aparentemente encontrada
em parte dos moradores da RESEX. Precisamente, seria uma superficial anomia de
Durkheim, entendida aqui como o conjunto de características culturais e estruturais de
sistemas sociais que produzem baixa coesão e um conseqüente senso fraco de apego dos
membros à sua comunidade (JOHNSON, 1995). É possível também que o estilo do Sr.
124
Vazinho tenha se caracterizado durante anos pela concentração de decisões, dada a
necessidade de se ocupar um vácuo na tomada de iniciativas.
Por necessitar de pequeno investimento por parte do trabalhador, a atividade
pesqueira é acessível às classes mais humildes da região. Enfrenta, porém, seus problemas.
Fatores como a invasão da pesca industrial nas áreas destinadas aos extrativistas e a
alegada falta de recursos para manutenção e aquisição de embarcações apropriadas e
apetrechos de pesca têm levado à falta de aproveitamento dos recursos pesqueiros locais.
Estes pesqueiros são conhecidos há séculos, como relata Cruz (1999, p. 407): “A criação
do estabelecimento pesqueiro de Cajuúna foi motivada pela grande quantidade de tainhas e
gurijubas (Arius luniscutis) na região”. Apesar da relativa abundância, a pesca predatória
faz crescer o risco de escassez do produto.
Os estoques pesqueiros podem ser protegidos principalmente com a fiscalização.
Trabalhou-se com a conscientização dos moradores, que estão razoavelmente informados
sobre a necessidade de preservação para suprir suas próprias necessidades. Entretanto, o
controle externo, ou seja, de pescadores vindos de outras localidades, ameaça não apenas
os estoques, mas também as medidas de conscientização. Essa ameaça dos estoques
pesqueiros na região se deve principalmente à dificuldade de fiscalização, considerada
deficitária por parte do Estado, representado pelo IBAMA, que não dispõe de efetivo e
recursos suficientes para cobrir a área.
Essa carência de funcionalidade abre caminho para que medidas sejam tomadas por
parte de particulares, ainda que a competência seja do poder público. Há relatos de
fiscalização feita por empregados de fazenda, procurados por extrativistas para efetuar
serviços de apreensão de caranguejos extraídos ilegalmente. A deficiência de fiscalização
por parte do Estado e dos próprios extrativistas, independentemente de culpabilidade,
contribui para o conjunto de dificuldades enfrentadas na RESEX. De maneira geral,
segundo Castro, Marin e Couto (2002), os problemas sociais, econômicos e ambientais
tendem ao agravamento, sobretudo nos países amazônicos, cujo quadro de pobreza pouco
foi alterado, apesar das demandas de atores sociais.
Os principais problemas e dificuldades enfrentados para a realização de projetos na
Amazônia, incluindo-se, evidentemente, a área de estudo, podem ser agrupados, de
maneira geral, na classificação feita por Brasil, Ministério, Secretaria (2004): gerência,
planejamento, nível de organização, mobilização social, produção beneficiamento,
comercialização, assistência técnica e barreiras culturais, além de, no ambiente externo, o
contexto em que se insere a experiência.
125
Existem problemas pendentes na RESEX que dizem respeito a questões ambientais
e sociais. Em relação a isso, necessário se faz a busca do equilíbrio entre dois princípios
constitucionais, o da defesa do meio ambiente e o da redução das desigualdades regionais e
sociais (BRASIL. Constituição, 1988, art. 170, incisos VI e VII), que podem ser
vislumbrados entre atores integrantes do cenário de estudo. No caso específico das
comunidades do Céu e Caju-Una, a fazenda Bom Jesus, situada entre essas localidades e
única saída por terra para Soure, é declarada por seus representantes como colaboradora na
preservação do meio ambiente, enquanto moradores das comunidades evocam o direito de
ir e vir como necessário no processo de desenvolvimento e conseqüente geração de renda.
Este, a exemplo do que posto por Simonian (2000), é típico dos conflitos existente na
região, que normalmente envolvem terras e recursos naturais.
Apesar desses problemas sociais, sabe-se que a escassez de renda detectada nas
comunidades da RESEX difere da encontrada em outras regiões pobres. Na área em
estudo, existe abundância de recursos naturais, carecendo a população de orientação acerca
de direitos e deveres pertinentes a essa problemática. É interessante que o catador de
caranguejo participe de atividades para aquisição de consciência e cidadania, para
desempenhar melhor seu papel de usuário e conservador do meio ambiente manguezal.
Essa afirmativa tem sido comprovada por participantes de pesquisas e projetos realizados
em comunidades como Tucumanduba. As pressões a que estão sujeitos os ecossistemas da
região justificam uma ação mais forte de pesquisa, para que a biodiversidade dessa região
seja mantida.
A RESEX Marinha de Soure ainda não tem plano de manejo. Trata-se de um
documento técnico para definir as prioridades e os critérios de exploração dos recursos
naturais da fauna e da flora, além da prestação de serviços de ecoturismo. Iniciativa estatal
e da sociedade civil organizada, este documento, resultado de estudo técnico-científico,
contém informações sobre aspectos ambientais, sócio-economia, normas e recomendações
para uso sustentado dos recursos naturais, fiscalização e vigilância, extensão, pesquisa,
monitoramento, convênios e financiadores e tudo que se refira à unidade de conservação
em questão. Todos esses procedimentos são metodicamente organizados.
O quadro social na ilha de Marajó é tema de estudo de autores e entidades oficiais e
não governamentais. Em Organização (2003), informações do Atlas de Desenvolvimento
Humano do Brasil trazem o IDH médio de vários municípios da ilha, os quais se
encontram bem abaixo da média estadual. Mesmo sendo uma das principais regiões do
Marajó, Soure é território ainda inexplorado sob alguns aspectos em relação a outras
126
regiões do estado do Pará. De acordo com o Secretário Municipal de Produção e
Abastecimento de Soure, Sr. Luis Felipe de Souza Rodrigues (2005), apesar da
reconhecida riqueza natural, com potencial turístico, da pecuária forte e do ecossistema
rico, não existe ainda na região um produto ou um projeto de sucesso consolidado, cujo
processo sirva de modelo.
As Colônias de Pescadores e demais associações ligadas a essa atividade
profissional também podem contribuir para a criação de renda entre seus filiados. Existe o
relato, em outras localidades, de que instituições como essas estimulam a qualificação de
seus associados, com a realização ou procura de cursos de capacitação, em especial no que
se refere ao manuseio do pescado, conservação e higiene, manutenção de equipamentos e
piscicultura (SETEPS/SINE-PA, 2003). Para o Sr. Pedro Santos, de 53 anos, morador de
Caju-Una, “o povo quer trabalhar mais na pesca”. Para estimular o trabalho, é necessário o
investimento em embarcações, com ajuda do Governo Federal.
O turismo pode gerar renda para as comunidades. No que se refere à área da
RESEX e sua riqueza natural, atualmente a fazenda Bom Jesus se destaca como
empreendedora bem sucedida no mercado turístico. Entre as razões para tal está o fato de
que o empreendimento não é tarefa fácil, pois requer uma estrutura que envolve proteção
ao meio ambiente e trabalho articulado com outras instituições, como IBAMA e Batalhão
de Polícia Ambiental (BPA). A fazenda parece ter requisitos para tal empreendimento.
Conforme informação de Fazenda (2000), os atrativos turísticos trabalhados pelos
empresários-fazendeiros incluem exposição de peças de arte sacra dos séculos XVIII e
XIX. Um dos resultados da atividade turística foi a realização de outros projetos, como a
preservação da garça azul (Egretta caerulea.), que estava praticamente desaparecida da
região. Este é um lado da exploração turística na região que, se articulado pelo poder
público no sentido de inserir populações locais, pode vir a ser um importante fator de
geração de renda.
É necessário que a exploração turística seja realizada de tal maneira que a
população local seja beneficiada com melhora em seu nível de vida, ao contrário do
relatado por Maneschy (1995) e Quaresma (2003) em outras localidades, como Algodoal,
Salinas e Marudá. Nesse caso, a localização privilegiada e facilidade de acesso tornaram o
local um balneário turístico bastante freqüentado. O período de atividade econômica,
porém, só se dá durante a época de veraneio, e a valorização imobiliária, segundo Furtado
(1980, apud MANESCHY, 1995), resultou no deslocamento dos pescadores para áreas
mais distantes do mar, o que descaracterizou a vila como centro pesqueiro.
127
Soluções locais, ou seja, no âmbito das comunidades, podem ser tomadas no
sentido de contribuir para a geração de emprego e renda. Entre as mais ligadas ao turismo
na Vila do Pesqueiro, existe a exercida por moradores na maloca, estrutura em madeira que
comercializa artesanato e alimentos leves, construída com recursos do CNS. As barracas na
praia comercializam comida e bebida e emprega mão-de-obra local, principalmente na
função de garçons e garçonetes. Uma atividade recente é a desempenhada pelo Sr. José
Alberto Pereira Almeida (Zeca), 33 anos. Trata-se do aluguel de animais para passeio na
praia de vila do Pesqueiro. São três cavalos e um búfalo alugados por turistas para passeios
de meia hora pela praia.
Além do turismo, existe uma utilização dos animais mais comum, que é a criação
para aquisição de carne e leite. Entretanto, trata-se de atividade de renda limitada. Havia
criação de cabras, que não foi bem sucedida devido ao ataque de insetos, os maruins.
Certos criadores em Caju-Una não tinham curral. Segundo o Sr. Benedito Oliveira
(Raminho), 58 anos, líder informal em Caju-Una o motivo era simplesmente preguiça. A
falta de controle dos animais fez com que eles atacassem plantações dos vizinhos, levando
à decisão do fim da criação na comunidade. Isso demonstra pouca iniciativa e a
necessidade de mais dinamismo.
Outras atividades poderiam ser mais bem aproveitadas. É o caso da função de
Agente distrital da Vila do Pesqueiro, exemplo citado pelo morador Marcos Antônio da
Silva Vasconcelos, 43 anos. Para ele, a função deveria ser ocupada por alguém da própria
comunidade, pois isso já seria uma maneira de colaborar para a geração de renda e
emprego. As autoridades políticas que administram a questão parecem não ter essa visão.
O Sr. Raimundo Nonato da Silva Pereira, 33 anos, morador da comunidade do Céu, no
intuito de melhorar sua renda, concluiu um curso de Tecnologia do Leite. Entretanto, não
realiza atividade econômica na qual aplique esses conhecimentos. Esse fato soma-se aos já
citados casos de artesãos e artesãs e fabricantes de fitoterápicos como um exemplo de mão-
de-obra qualificada que não encontra meios de viabilizar sua atividade. Outras atividades
encontradas são o fabrico de carvão, pão e andiroba. Todas, caso haja o interesse dos
trabalhadores em seu desenvolvimento, necessitam de apoio.
Uma das maneiras de gerar renda está intimamente ligada à água, seja como meio
de trabalho, seja diretamente, como alimento. A criação de fauna aquática é apontada como
uma das maneiras de gerar renda e, ao mesmo tempo, preservar o ambiente. Nesse
contexto, a Srª. Janete Campos, 45 anos, de Vila do Pesqueiro sugere a criação de camarão
e outras espécies aquáticas. Além de criação peixes, já houve a realização de curso de
128
apicultura por instituição pública. O Sr. Eduardo Santos, de 65 anos, sugere cursos
profissionalizantes para filho de pescador. A Srª. Ana Lúcia Brito, de 25 anos, moradora de
Caju-Una, cita a água como fator importante para gerar renda. Para ela, ninguém quer ter o
trabalho de carregar água. De fato, a facilidade no manuseio deste recurso otimiza as
tarefas do dia-a-dia, o que resulta em mais tempo para exercer outras atividades.
O processo produtivo também é visto como passível de gerar renda na medida em
que pode ser alterado para atingir tal objetivo. Eliminação ou diminuição de atravessadores
aumentaria a renda dos pescadores. No caso do plantio de coco, o intermediário compra a
unidade do produto por R$ 0,20 e vende ao consumidor final por R$ 1,00, segundo
declarou o Sr. Manoel Ferreira (“Seu Pombo”), de 61 anos. No que se refere aos
pescadores extrativistas, o que se tem no momento é que, na cadeia produtiva, quem pesca
(o extrativista) é quem ganha menos.
A mudança da definição de pescador artesanal é citada como contribuição para mudar esse
quadro de desigualdade, com melhoria da classe, incluindo-se aí a geração de renda. O
termo “pescador artesanal”, segundo Figueiredo Filho (2006), consistiria em uma classe
profissional cujas práticas rudimentares puramente extrativistas a mantêm pouco
valorizada. A simplicidade técnica caracteriza o artesanal, que se utiliza de barcos à vela e
canoas e o fabrico de seus próprios artefatos de pesca. Essa categoria sempre vai existir, e
deve, nos dizeres de Figueiredo Filho (2006), ser separada daqueles que não fabricam mais
seus próprios apetrechos, mas que ainda hoje são classificados como artesanais. Àqueles,
mais rudimentares, os legítimos artesanais, se ofereceria um tratamento diferenciado.
No que diz respeito aos outros, reclassificados, políticas voltadas para o setor
seriam implementadas no sentido de tirá-los da condição em que se encontram para torná-
los microempresários. Nesse grupo se encontram pescadores que possuem em seu barco
equipamentos como motor e câmara frigorífica. A melhoria de suas técnicas de produção
seria alvo das diretrizes da política pesqueira estadual, que, para Figueiredo Filho (2006),
abrangem a melhoria do nível educacional e a transformação do profissional da pesca em
microempresário.
É uma transição gradual que inclui iniciativas como fomento e cursos de gestão de
negócios. Instituições como o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas
(SEBRAE) podem apoiar e auxiliar a condução desses procedimentos de mudança
envolvendo os trabalhadores da atividade pesqueira. Dessa maneira, torna-se possível a
organização dos profissionais em cooperativas e microempresas voltadas para o
129
empreendedorismo. Uma vez adquirida a cultura empreendedora, o trabalhador assimila a
importância do trabalho conjunto e da qualificação individual.
O trabalho em grupo é seguramente o melhor caminho para que surjam oportunidades de
geração de renda. Para tanto, porém, necessário se faz cumprir uma série de requisitos,
bem como contornar problemas comuns nesse empreendimento. É necessária a
participação de instituições de ensino e pesquisa, fornecedoras de mão-de-obra
especializada. Segundo o Sr. Francisco Neves, 49 anos, da comunidade do Céu, maior
participação dos gestores públicos é necessária, não apenas em época de campanha
política. Aconselha-se também maior descentralização de decisões. A transparência quanto
ao andamento dos trabalhos e procedimentos contribui para a credibilidade dos tomadores
de decisões responsáveis pelo grupo. A investidura de pessoal capacitado em funções
operacionais viabiliza a negociação com parceiros e fornecedores, desonerando custos e
abrindo novas frentes de oportunidade de negócios.
Uma política voltada para o empreendedorismo do pescador e melhora de sua
qualidade como profissional refletiria no homem e no meio em que vive. O aprimoramento
das técnicas comerciais e de produção levaria a uma condição social mais digna, na qual a
geração de renda com sustentabilidade estaria ligada à sustentabilidade dos recursos
naturais. Essas iniciativas vêm ao encontro do pensamento de Isaac-Nahum (2006, p. 35),
para quem “a ausência de conhecimentos sobre as regras básicas de gerenciamento de
negócios em uma sociedade estritamente capitalista fazem do pescador [...] um trabalhador
sem instrumentos culturais, sociais e econômicos para melhorar sua condição de vida”.
Quanto ao uso sustentável dos recursos pesqueiros, é necessário o incentivo à
aqüicultura para diminuir o esforço de pesca, ou seja, a pressão no recurso natural. Desse
modo, é possível a correção de falhas que levaram algumas experiências ao fracasso na
região, relacionadas a falhas de planejamento, gestão e preparo das comunidades. O
trabalho e manejo no ordenamento dos bens hídricos, além de contribuir para a preservação
ambiental, resultará em oferta maior de alimentos para a comunidade. Pode-se, assim,
retomar-se projetos de criação de espécies adequadas. Nas palavras de Figueiredo Filho
(2006), isso geraria renda para que possa haver uma subsistência abundante.
Essas mudanças na estrutura da produção local tende a se refletir na esfera regional
e nacional. Para tal, a educação formal e profissional dos trabalhadores comunitários é
necessária. A respeito disso, destaca-se a comparação feita entre Brasil, Rússia, Índia e
China pelo banco de investimentos norte-americano Goldman Sachs, que cunhou, para os
quatro paises, o termo BRIC. Existem oito características que definem o ranking de
130
competitividade global do Foro Econômico Global, entre as quais saúde e educação básica.
Albuquerque (2006) divulgou que o Brasil ocupa posição de desvantagem em relação aos
outros três países. Em vista disso, há muito que se fazer no local de estudo, que reflete a
realidade nacional. Os resultados, quando vierem, refletirão certamente na esfera macro,
colaborando para o crescimento regional e nacional.
Infere-se da leitura deste capítulo que a solução de problemas na RESEX passa pela
elaboração e implementação de políticas públicas que levem em conta as questões aqui
citadas: o fortalecimento das instituições, como o IBAMA e as representantes da sociedade
civil, viabilizando assim o cumprimento de normas instituídas legalmente; o atendimento
de necessidades básicas, como água, energia elétrica e situação fundiária; o fortalecimento
do capital social, por meio da educação formal e profissional e a de cunho participativo;
atenção às soluções criadas no âmbito das próprias comunidades; o estímulo ao
empreendedorismo, com presença da iniciativa privada já atuante na região. Todos esses
aspectos podem refletir no sucesso de qualquer política pública que objetive a geração de
renda na RESEX.
Uma vez feita a conexão entre esses aspectos e as políticas públicas de geração de
renda adequadas ao local, entende-se a importância da geração de emprego. Busca-se uma
autonomia que capacite os moradores à participação na gestão das políticas, com pleno
conhecimento de seus direitos e deveres. Essa autonomia passa pela conquista de razoável
independência econômica, oriunda da capacidade do indivíduo de sustentar a si mesmo e a
sua família sem a dependência atualmente existente de outros atores. Daí a necessidade da
geração de emprego, aqui defendida como o meio básico de geração de renda. Passa o
morador da RESEX de Soure, assim, a ter mais possibilidade de viver em um ambiente
com sustentabilidade.
131
REFERÊNCIAS
ALBUQUERQUE, V. Brasil cai em ranking de competitividade do Fórum Econômico
Mundial. Folha on-line. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/folha/dinheiro/ult
91u111269.shtml >. Acesso em: 26 set. 2006.
ARAGÓN, L. E. (Org). Debates sobre a agenda amazônica 21. Belém: UNAMAZ, 2000.
132
BRASIL. Constituição (1988). Brasília: Congresso Nacional, 1988. Disponível em:
<https://www.planalto.gov.br>. Acesso em: 25 fev. 2005.
______. Decreto s/n, de 26 de julho de 2006, Cria o Grupo Executivo Interministerial para
acompanhar a implementação das ações de competência dos órgãos federais no
Arquipélago de Marajó, bem assim elaborar plano de desenvolvimento sustentável em
articulação com a sociedade civil e os Governos estadual e municipais, e dá outras
providências. Disponível em: <https://www. planalto. gov.br/ccivil_03/_Ato2004-
2006/2006/Dnn/Dnn10906.htm#art9>. Acesso em: 18 ago. 2006. Diário Oficial da União–
DOU, Brasília, 23 nov. 2001.
133
______. INSTITUTO BRASILEIRO DO MEIO AMBIENTE E DOS RECURSOS
NATURAIS RENOVÁVEIS (IBAMA). Portaria no 22. DOU, Brasília, 10/02/1992. Diário
Oficial da União – DOU, Brasília, 1992.
______. Lei no 6.938, de 31 de agosto de 1981. Dispõe sobre a Política Nacional do Meio
Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, e dá outras providências.
DOU, Brasília, 18 jul. 2000. Diário Oficial da União – DOU, Brasília, 02 set. 1981.
______. Lei no 9.394, estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Diário Oficial
da União – DOU, Brasília, 23 dez. 1996. Seção 1, p. 1.
134
______. MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE, DOS RECURSOS HÍDRICOS E DA
AMAZÔNIA LEGAL. Avaliação e ações prioritárias para a conservação da
biodiversidade das zonas costeira e marinha. Brasília, 2002.
135
CASTRO, E. M. R. DE; MARIN, R. A.; COUTO, R. C. S. A pesquisa em ciências
humanas e as relações entre trabalho, saúde e meio ambiente. In: CASTRO, E. M. R. de;
MARIN, R. A.; COUTO, R. C. S. (Org.). YSaúde, trabalho e meio ambiente. Belém:
Editora Universitária, 2002. p. 21-35.
136
DIAS NETO, J. Gestão do uso dos recursos pesqueiros marinhos no Brasil. Brasília:
Edições IBAMA, 2003.
ESTEVES, B. Brasil segue em 17o no ranking da ciência mundial. Ciência Hoje on-line.
Disponível em: < http://cienciahoje.uol.com.br/53244>. Acesso em: 18 jul 2006.
FAZENDA é um refúgio natural para as espécies. O Liberal, Belém, Cidade, 03 nov. 2000.
137
<http://www.adaltech.com.br/evento/museugoeldi/resumoshtm/resumos/R1054-2.htm>.
Acesso em: 19 out. 2003.
GESTÃO sustentável dos recursos pesqueiros é saída para crise. In: Revista IBAMA. Sl.,:
Ajir Gráfica e Editora ltda., 2006, p. 30-31.
IPEA: Pará é líder em pobreza na região norte. O Diário do Pará, Belém, C-7, 05 jun.
2003.
138
LESCURE, J.; PINTON, F.; EMPERAIRE, L. La gente y los productos forestales en la
Amazonia central: el enfoque multidisciplinario del extractivismo. In: CLÜSENER-
GODT, m.; SACHS, I. Extractivismo en la Amazonia brasileña: perspectivas sobre el
desarrollo regional. Montevidéu: UNESCO, 1995. p. 62-93.
MALINOWSKI, B. A diary in the strict sense of the term. New York: Harcourt, Brace &
World, 1967.
MARAJÓ clama por qualidade de vida. O Liberal, Belém, Atualidades, p. 9, 31 jul. 2006.
139
______. Marajó: desafio da Amazônia, aspectos da reação a modelos exógenos de
desenvolvimento. Rio de Janeiro: Record, 1976, 180 p.
MOREIRA, I. O espaço geográfico: geografia geral e do Brasil. São Paulo: Editora Ática,
1998.
140
ORGANIZAÇÃO das Nações Unidas. Programa das Nações Unidas para o
Desenvolvimento. Atlas de desenvolvimento humano do Brasil. PNUD, 2003.
______. Food And Agriculture Organization. Definition and classification of fishing gear
categories. Rome: FAO, 1990.
PELUSO, N. L. Rich forest, poor people. Resource control and resistance in Java.
Berkeley: University of California Press., 1992.
SALOMÃO, A. O preço da ignorância. In: revista Exame, quinzenal, ano 40, edição 877.
São Paulo: Editora Abril, setembro, 2006.
141
RELATÓRIO do levantamento sócio-econômico realizado junto à comunidade de
caranguejeiros no município de Soure, ilha do Marajó, Pará. Soure: IBAMA, 1998.
RODRIGUES, Luis Felipe de Souza. Entrevista. Soure, 2005. (Entrevista feita por G.
Santos Júnior com o Secretário Municipal de Produção e Abastecimento de Soure, sobre
questões relativas à produção agroextrativista local).
142
______. Políticas públicas, desenvolvimento sustentável e recursos naturais em área de
reservas na Amazônia: gestão de recursos naturais. In: COELHO, M. C. N.; SIMONIAN,
L. T. L.; FENZL, N. (Org.). Estado e políticas públicas na Amazônia. Belém: CEJUP:
NAEA, 2000. p. 9-53.
UNITED Nations. General Assembly - 96th plenary meeting, 11 December 1987: Report
of the World Commission on Environment and Development. Disponível em:
<http://www.un.org/documents/ga/res/42/ares42-187.htm>. Acesso em: 06 abr. 2006.
143
APÊNDICE 1 – FORMULÁRIO “COMUNIDADES”
Comunidades – Questionário
A – IDENTIFICAÇÃO
1. Nome: _______________________________________
2. Data de nascimento: ___/___/_____ 3. Local de nascimento: ______________
4. Estado civil: (a) solteiro (b) casado (c) amigado (d) viúvo (e) desquitado
5. Moradia:
(a) própria com título de propriedade
(b) própria sem título de propriedade
(c) alugada
(d) emprestada de parente
6. Tempo em que reside no local: (a) menos de 1 ano
(b) 1 – 5 anos
(c) 5 – 10 anos
(d) 10 – 20 anos
(e) mais de 20 anos
(f) a vida toda
7. Tipo de construção da moradia: (a) taipa (b) palha (c) madeira (d) alvenaria
8. Tem parente que morava na comunidade e se mudou?
(a) Não; (b) Sim. Por que ele se mudou? ______________________
Estrutura familiar
NOME IDADE G/PAR INST OCUPAÇÃO
B – EDUCAÇÃO
1. Escolaridade: (a) 1o g inc (b) 1o g comp (c) 2o g inc (d) 2o g comp
2. Tem filho que parou de estudar?
(a) Não. (b) Sim. Por quê, e com que idade? ______________________________
3. Existe alguma dificuldade para estudar? (a) transporte; (b) material escolar; (c) falta de
professores; (d) escola distante (e) _______________________________
C – SAÚDE E SANEAMENTO
1. Quais as doenças mais freqüentes na família?
(a) ______________ (b) _____________ (c) ______________ (d) ____________
2. Existem campanhas de vacinação no local?
( ) Não;
( ) Sim. Tipo de vacina:
(a) febre amarela
(b) sarampo
(c) poliomielite
(d) BCG
144
(e) tétano
(f) ____________________________
3. Origem da água: (a) poço doméstico (b) poço comunitário (c) ________________
4. Iniciativa para abastecimento da água:
(a) Governo Federal (b) Prefeitura (c) Governo Estadual (d) Comunidade
5. iniciativa para abastecimento de energia elétrica:
(a) Governo Federal (b) Prefeitura (c) Governo Estadual (d) Comunidade
6. O que faz com o lixo doméstico?
(a) queima (b) joga no mato (c) enterra (d) _________________________________
D – RENDA
1. Fontes de renda da família Principal (P) e Secundária (S):
( ) comércio
( ) agricultura
( ) serviço público
( ) pesca
( ) empregado doméstico
( ) _________________________
145
14. Percebeu alguma alteração na quantidade de matéria-prima nos últimos tempos?
____________________________________________________________________
E – ASSOCIATIVISMO
1. É atuante em alguma associação local?
(a) Sim. Qual(s)? ____________________
(b) Não. Qual o motivo?
a) falta de tempo devido ao trabalho;
b) cansaço decorrente do trabalho;
c) problemas de saúde;
d) outros: ________________
146
APÊNDICE 2 – QUESTIONÁRIO INSTITUIÇÃO PÚBLICA
A – IDENTIFICAÇÃO
1. Nome do representante: _______________________________________
2. Função do representante: ______________________________________
3 Programas de financiamento ligados a geração de renda à disposição das comunidades:
(a) ___________________________________________
(b) ___________________________________________
(c) ___________________________________________
4. Projetos financiados na Resex ligados à geração de renda:
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
5.Fontes de financiamento de projetos nas comunidades:
______________________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________
6. Existe alguma perspectiva de projeto ou iniciativa por parte da instituição que contemple
a geração de renda?
_______________________________________________________________
7. A instituição é procurada com freqüência pelos representantes da comunidade para
financiamentos de projetos ligados à geração de renda?
_______________________________________________________________
8. O que tem impedido o financiamento de projetos?
_________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
___________________________________________
9. Além dos projetos já existentes, o que poderia ser financiado futuramente no sentido de
promover a geração de renda?
_________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
___________________________________________
10. Que documentos a instituição possui sobre os projetos já financiados na Resex?
_______________________________________________________________
11. Que documentos (relatórios etc) a instituição possui sobre os resultados de projetos de
geração de renda na Resex?
_________________________________________________________________________
_____________________________________________________
12. A instituição possui outros documentos relacionados a geração de renda na Resex?
_______________________________________________________________
13. A instituição possui alguma informação sobre a capacidade técnica dos beneficiários de
financiamento para a realização de projetos? Em caso afirmativo, qual o nível de
capacidade?
_______________________________________________________________
147
APÊNDICE 3 – AUTORIZAÇÃO DO ÓRGÃO RESPONSÁVEL PELA RESEX/IBAMA
Atenciosamente,
148
APÊNDICE 4 – AUTORIZAÇÃO DO ÓRGÃO RESPONSÁVEL PELA
RESEX/ASSUREMAS
AUTORIZAÇÃO
149
ANEXO 1 – PLANO DE UTILIZAÇÃO DOS USUÁRIOS DA RESEX
FINALIDADES DO PLANO
1. Este Plano objetiva o uso auto-sustentável da Reserva Extrativista Marinha de Soure mediante a
regulamentação do uso dos recursos naturais e dos comportamentos a serem seguidos pelos extrativistas,
no que diz respeito às condições técnicas e legais para a exploração racional da fauna marinha. Está aqui
contida a relação das condutas não predatórias incorporadas à cultura dos extrativistas, bem como as
demais condutas que devem ser seguidas para cumprir à legislação sobre o meio ambiente.
2. Objetiva ainda este Plano manifestar ao IBAMA, o compromisso dos extrativistas de respeitar
a Legislação Ambiental e o Plano de Utilização e ao mesmo tempo oferecer àquele Instituto um
instrumento de verificação do cumprimento das normas aceitas por todos.
3. O presente Plano tem como finalidade servir de guia para que os extrativistas realizem suas atividades
dentro de critérios de sustentabilidade econômica, ecológica e social.
7. Os rios, igarapés, praias e manguezais são áreas de uso comum da Reserva, respeitando a
tradição de pesca e recorrendo-se à Associação e à Comissão de Proteção da Reserva para
resolver as questões que porventura existirem entre moradores.
7.1- A Comissão de Proteção da Reserva deverá ser criada e coordenadas pelo conselho
deliberativo, que deverá indicar a sua composição e atribuições.
7.2- Esta comissão deverá ser apresentada ao IBAMA para que este possa instruir os
participantes sobre os aspectos técnicos, legais e administrativos, fornecendo-lhes inclusive
identificação.
150
INTERVENÇÕES NOS RECURSOS NATURAIS
8. Não será permitido na Resex o desmatamento, corte das raízes, retiradas de casca de mangue,
devendo ser obedecida a legislação que trata do assunto.
9. Não será permitido na Resex o uso de Timbó ou outras substâncias tóxicas, devendo ser
obedecida a legislação que trata do assunto.
10. Fica proibida a exploração de recursos minerais (pedras, areias e seixos rolados) na área da
Resex.
11. Não será permitida a captura de aves, coletas de ovos e destruição dos ninhais na área
da Resex.
12. Fica proibida a captura de Répteis (jacarés, camaleões e tartarugas) na área da Resex.
12.1- Qualquer atividade ou projeto que pretenda manejar fauna silvestre devará ser encaminhado
para análise do IBAMA e posteriormente contemplado pelo Plano de Manejo da Resex.
151
Ucides cordatus com largura de carapaça inferiores à 6,0 cm, medida no dorso de uma
margem lateral à outra.
14.5. É proibidas a captura com a retirada de partes isoladas (quelas, pinças, garras ou patas)
da espécie Ucides cordatus.
14.6. É permitida a captura de caranguejos da espécie Ucides cordatus somente pelo método
de Braceamento com auxílio de gancho.
14.7. Os extrativistas têm o direito de pescar e mariscar no estuário para seu consumo e
comercialização, mediante plano de manejo (à ser realizado) que determine a
capacidade de produção sustentável e conforme norma aprovada.
14.8. Animais como ostra, marisco da lama e caranguejo, poderão ser retirados do mangue,
para consumo dos extrativistas, e sua comercialização só poderá ser feita mediante
estudo que assegure a capacidade de produção sustentável.
14.9. Fica permitida a implantação de cultivos marinhos tradicionais no estuário, mediante a
elaboração e apresentação de Projeto ao IBAMA, para análise, e aprovação do
Conselho Deliberativo da Reserva que não causem: desmatamento na cobertura vegetal
(mangue), retirada de sedimento, mudanças no fluxo das marés e cursos de rios e
igarapés, e que usem apenas espécies nativas.
152
Aos extrativistas cadastrados nesta categoria, não é permitido votar nas assembléias da
RESEX.
Categoria C: Extrativista que tem a pesca como atividade complementar de sua renda
familiar, não sendo a pesca a principal atividade econômica.
Aos extrativistas cadastrados nesta categoria, não é permitido votar nas assembléias da
RESEX.
Categoria D: Extrativista que pratica a pesca como lazer e de forma amadora. Aos
extrativistas desta categoria só serão permitidos a pesca de linha e anzol, de caniço
simples e caniço com molinete. Aos extrativistas desta categoria, fica proibida a venda
dos pescados extraídos na RESEX.
A ASSUREMAS poderá estabelecer taxas pela concessão de autorização de captura a
esses usuários, desde que obtenham anuência prévia do Conselho Deliberativo.
17.3. As solicitações de mudanças de categorias para os usuários da RESEX devem ser
encaminhadas primeiramente a ASSUREMAS, com posterior apreciação e aprovação
do Conselho Deliberativo.
17.4 Credenciamento de Embarcações:
17.4.1 Todas as embarcações que pratiquem a pesca na RESEX de Soure devem estar
devidamente regularizadas como embarcações pesqueiras na Marinha do Brasil.
17.4.2. Todas as embarcações pratiquem a pesca na RESEX de Soure devem pertencer e ser
operadas por pescadores credenciados na RESEX.
17.5. A quantidade máxima de embarcações permitida na Resex deverá ser regulada através
de estudos e orientada pelo Plano de Manejo da Resex, respeitando a capacidade dos
ambientes e recursos.
17.6. Os proprietários de embarcações que utilizam a área da Resex para turismo e lazer
deverão fazer seu cadastro junto á ASSUREMAS.
17.7. A ASSUREMAS poderá estabelecer taxas pela concessão de autorização para
embarcações para turismo e lazer, desde que obtenham anuência prévia do Conselho
Deliberativo.
17.8. A cada extrativista devidamente cadastrado na RESEX é permitido o cadastramento de
um número máximo de quatro embarcações. Os tipos de embarcações com uso
permitido na RESEX são:
a) canoas com comprimento de 4 metros sem motor;
b) canoas de rabeta com motor de potência máxima de 1,5 HP;
c) barcos motorizados de no máximo 8 metros de comprimento, com potencia máxima
de 18HP.
17.9. O credenciamento de novas embarcações junto à ASUUREMAS está condicionado ao
cumprimento das normas acima e avaliação e endosso do CNPT/IBAMA.
FISCALIZAÇÃO DA RESERVA
153
PENALIDADES
25. As entidades que participam da gestão da RESEX de Soure devem priorizar programas
de capacitação, políticas públicas e projetos que contemplem as necessidades, aptidões e
potencialidades das comunidades e dos ambientes que compõem esta unidade extrativista,
com objetivo de desenvolver ações visando a melhoria da qualidade de vida, no que se
refere à produção e geração de renda, saúde, educação, habitação, saneamento básico, lazer
e cultura.
DISPOSIÇÕES GERAIS
26. Será obrigatório o fornecimento de informações e amostras biológicas sempre que solicitadas
pelo IBAMA para o controle e avaliação dos Planos de Manejo.
27. Após um ano de funcionamento o presente Plano de Utilização estará sujeito a modificações,
quando solicitadas, discutidas e aprovadas pelo Conselho Deliberativo.
28. O presente Plano de Utilização fica sujeito a alterações de qualquer de suas
normas, sempre que o aparecimento de novos conhecimentos e novas tecnologias possa
contribuir para a melhoria do processo de consolidação da Reserva Extrativista Marinha de
Soure, ou a qualquer tempo, seja por problemas causados por ocasião da execução do
próprio Plano de Utilização.
29. As propostas para alterações no Plano de Utilização poderão ser feitas, ao Conselho
Deliberativo, formalmente pelos grupos de extrativistas que desenvolvem atividades na
Reserva e suas Organizações, e se acatada pelo Conselho, serão encaminhadas para o IBAMA
para análise e aprovação, das questões técnicas e legais.
30. As propostas de alteração do Plano não podem entrar em conflito com as finalidades e filosofia
da Reserva.
31. O não cumprimento do presente Plano de Utilização significa quebra de compromisso e
resultará na perda do direito de utilizar a reserva, nos termos e penalidades estabelecidas neste
Plano.
32. Por razões de ordem técnica os Planos de Utilização na Reserva poderão ser, em qualquer
tempo, suspensos, restringidos ou condicionados pelo IBAMA.
154
33. A pesquisa, fotografia, filmagens e coleta de material genético no interior da reserva só poderão
ser realizadas mediante a autorização do IBAMA, conforme regulamento próprio.
Representante ASSUREMAS_______________________________________________________
Representante
CNPT/IBAMA/Belém/PA_______________________________________________
155
ANEXO 2 – DECRETO DE CRIAÇÃO DA RESEX MARINHA DE
SOURE
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso da atribuição que lhe confere o art. 84, inciso
IV, da Constituição, e tendo em vista o disposto no art. 18 da Lei no 9.985, de 18 de julho
de 2000, e no Decreto no 98.897, de 30 de janeiro de 1990,
DECRETA:
156
II - a área 2 possui superfície aproximada de 3.534,45 ha e é denominada Manguezal do
Rio do Saco, com os seguintes limites e confrontações: partindo do Ponto 5, de
coordenadas geográficas aproximadas 0º42’11" S e 48º32’55" WGr, localizado na margem
esquerda do Rio Paracauari, segue pela margem esquerda do Rio Paracauari, no sentido
montante, penetrando no Rio do Saco, em sua margem esquerda, por uma distância
aproximada de 6.217,96 metros, até a desembocadura do Igarapé Cabana; daí, segue no
sentido montante pela margem esquerda do Rio do Saco e uma distância aproximada de
8.914,80 metros, até o Ponto 6, de coordenadas geográficas aproximadas 0º35’19" e
48º32’54" WGr, localizado na foz do Igarapé do Bom Jardim, quando este deságua no Rio
do Saco; daí, segue pela margem esquerda do citado Igarapé, acompanhando o limite da
zona terrestre do mangue, por uma distância aproximada de 861,25 metros, até o
cruzamento do limite da zona terrestre do mangue com o Igarapé Bom Jardim, nas
proximidades de sua nascente, contornando assim todo o manguezal existente nas
nascentes do Igarapé Bom Jardim; daí, segue na direção sul, acompanhando o limite da
zona terrestre do mangue, por uma distância aproximada de 22.642,58 metros, até o
cruzamento do limite da zona terrestre do mangue e do Igarapé Cabana; daí, segue no
sentido sudoeste, acompanhando o limite da zona terrestre do mangue, por uma distância
aproximada de 6.263,37 metros, até o Ponto 5, inicial desta descritiva, perfazendo um
perímetro de 44.899,96 metros.
157
ANEXO 3 – ESTATUTO DA RESEX MARINHA DE SOURE
CAPÍTULO I
DENOMINAÇÃO, SEDE, DURAÇÃO, ANO SOCIAL, ÁREA DE ATUAÇÃO E
FINALIDADE
Art. 1º- A Associação dos Usuários da Reserva Extrativista Marinha de Soure/Marajó, fundada em 2002, é
uma sociedade de natureza civil, sem finalidades lucrativas, destinadas a proporcionalidade aos associados
uma forma de participação comunitária ativa e a representá-los e defendê-los em seus interesses políticos,
socioculturais.
§ 1º- A Associação dos Usuários da Reserva Extrativista Marinha de Soure adotará o nome de ASSUREMAS
e, os dispositivos que se seguem passará a ser referido por esta expressão.
§ 2º- A ASSUREMAS terá sua sede administrativa na comunidade do Caju-una – Soure –Marajó-PA.
§ 3º- O prazo de duração da ASSUREMAS é indeterminado e o ano social compreendido no período de 1º de
Janeiro a 31 de Dezembro do corrente ano.
§ 4º- A área de ação, para efeito de admissão de associados abrange a área de limites da RESEX de Marinha
de Soure e outras que se propuserem a filiar-se a esta Associação.
Art. 2º- A ASSUREMAS, com base na colaboração recíproca a que se obrigam seus associados promover:
I- O estímulo ao desenvolvimento progressivo e a defesa dos interesses políticos, econômicos, sociais,
e culturais de seus associados;
II- O entrosamento com o Governo, órgãos oficiais e apoio às atividades de interesse dos associados;
III- Atividades socioculturais para associados e suas famílias;
IV- A representação dos interesses dos associados;
V- Cursos profissionalizantes a serem ministrados aos associados, seus familiares e Comunidade;
VI- Formar Cooperativas de interesse dos Associados.
§ Único- A ASSUREMAS poderá firmar convênio com órgãos públicos e/ou privados, bem como
estabelecer cooperações para desenvolver atividades de educação profissional destinadas a seus associados,
familiares e Comunidade.
Art. 3º- Para a realização de seus objetivos a Associação agirá isoladamente ou em colaboração com
Associações congêneres e com poderes públicos.
§ 1º- A ASUREMAS poderá criar um Centro Social, vinculado diretamente a Presidência para atender as
demandas de seus associados.
§ 2º- A ASSUREMAS poderá firmar convênios, estabelecer intercâmbios, participar de iniciativas conjuntas,
bem como receber doações de pessoas jurídicas de direito público ou privado, nacionais ou internacionais, da
mesma forma poderá integrar quadros de participantes de organizações e entidades afins, nacionais e
estrangeiras.
Art. 4º- Pode associar-se a ASSUREMAS, homens e mulheres maiores de 18 (dezoito) anos que se
propuserem a colaborar com os interesses e objetivos da entidade.
158
§ 4º- Os nomes sugeridos à categoria de sócios beneméritos serão submetidos à apreciação da Diretoria e
aprovados pela Assembléia Geral.
Art. 6º- Para associar-se a interessada preenche e assina a respectiva proposta de admissão.
§ 1º- Aprovada pela Diretoria a sua proposta, a candidata fornece a sua ficha cadastral, paga a jóia de
admissão, assinando o livro de matrícula juntamente com o Presidente.
Art. 7º- Cumprindo o disposto no artigo anterior, o associado adquire todos os direitos e assume todos os
deveres e obrigações decorrentes deste estatuto e das decisões tomadas pela ASSUREMAS.
Art. 8º- Os sócios responderam pelos compromissos assumidos junto à ASSUREMAS, mas não respondem
solidária ou subsidiariamente pelas obrigações contraídas pela entidade.
Art. 9º- Só terão direitos a votar e a ser votados os sócios fundadores e admitidos, quites com a
ASSUREMAS, em pleno gozo de seus direitos e deveres estatutários e que tenham ingressado no quadro
social até 30 (trinta) dias antes de qualquer Assembléia Geral.
Art. 12º- Os direitos e as obrigações dos associados falecidos contraídos com a ASSUREMAS e os oriundos
de suas responsabilidades com a ASSUREMAS ficam extintos automaticamente.
Art. 14º- A eliminação do associado, que é aplicada em virtude de infração deste Estatuto e feita por decisão
da Diretoria depois de ter-lhes sida dada oportunidade de ampla defesa, em prazo estipulado pela Diretoria.
§ 1º- Os motivos que a determinam deve constar de termo lavrado no livro de matrícula e assinada pelo
Presidente.
§ 2º- Cópia autenticada da decisão remetida dentro do prazo de 30 (trinta) dias ao interessado, por processo
que comprove datas de remessa e do recebimento.
159
§ 1º- A exclusão do associado, nos termos deste artigo é feita por decisão da Diretoria e lavrada no livro de
matrícula.
Art. 16º- Em qualquer caso de demissão, eliminação ou exclusão o associado não tem direito a restituição de
colaborações financeiras de qualquer espécie, bem como dos fundos existentes.
Art. 17º- Os deveres do associado perduram, para os demitidos, eliminados e excluídos, até que sejam
aprovadas pela Assembléia Geral, as contas do exercício em que se deu o desligamento.
Art. 19º- A jóia de admissão dos novos sócios será sugerida pela Diretoria e aprovada em Assembléia Geral.
Art. 20º- A taxa de contribuição dos sócios será mensal e será sugerida pela Diretoria e aprovada em
Assembléia Geral. A taxa deverá ser paga até o dia 5 (cinco) do mês subsequente.
ÓRGÃOS SOCIAIS
SEÇÃO I – ASSEMBLÉIA GERAL
Art. 21º- A Assembléia Geral dos associados, que pode ser ordinária ou extraordinária, é o órgão supremo da
ASSUREMAS com poderes dentro dos limites deste Estatuto, para tomar toda e qualquer decisão de
interesse social e suas decisões dizem respeito a todos, ainda que ausentes ou discordantes.
Art. 22º- A Assembléia convocada é dirigida pelo Presidente após deliberação da Diretoria.
§ Único - Pode também ser convocada pelo Conselho Fiscal, se ocorrem motivos graves ou urgentes ou,
ainda, por 20% (vinte por cento) dos associados em pleno gozo de seus direitos sociais, após solicitação não
atendida pelo Presidente.
Art. 23º- Não pode votar e ser votado na Assembléia Geral o associado que:
a) Tenha sido admitido após sua convocação, ou menos de 30 (trinta) dias antes de sua
convocação.
b) Esteja na infrigência de qualquer disposição deste Estatuto
c)
Art. 24º- As Assembléias Gerais são convocadas com antecedência mínima de 01 (uma) semana
Art. 25º- o número legal (quorum) para instalação da Assembléia Geral é o seguinte:
a) 2/3 (dois terços) do número de associados em condições de votar em primeira
convocação;
b) Metade mais um (51% cinquenta e um por cento) dos associados em Segunda
convocação;
c) Qualquer número de associados presentes com direito a votar, em terceira convocação.
Art. 26º- É da competência das Assembléias Gerais, Ordinárias ou Extraordinárias, a destruição de membros
da Diretoria, do Conselho Fiscal e outros.
Art. 27º- As deliberações das Assembléias Gerais devem tratar sobre assuntos constantes da Convocação e os
que com eles tiverem direta e imediata relação.
§ 1º- Habitualmente, a votação é a descoberto, podendo a Assembléia optar pelo voto secreto, atendendo-se,
então as normas usuais.
160
§ 2º- O que ocorrer na Assembléia Geral deve constar na ata circunstanciada, lavrada no livro próprio, lido,
aprovado e assinada na próxima Assembléia pelos componentes da mesa, por uma comissão de 04 associados
designados pela Assembléia e, ainda, por quantos queiram fazê-lo.
Art. 30º- É da competência exclusiva da Assembléia Geral Extraordinária deliberar sobre os seguintes
assuntos:
I) Reforma do Estatuto;
II) Fusão, incorporação ou desmembramento
III) Mudança do objetivo da sociedade;
IV) Dissolução voluntária da sociedade e a nomeação de liquidantes;
V) Contas de liquidantes.
§ 1º- Para deliberação dos assuntos de que se trata este artigo é necessário um quorum mínimo da metade
mais um dos associados com direito a votar.
§ 2º- São necessários os votos de 2/3 (dois terços) dos associados presentes para tornar válidas as
deliberações de que trata este artigo.
SEÇÃO IV – DIRETORIA
Art. 31º- A Diretoria é o órgão executivo da ASSUREMAS e terá a seguinte composição:
Presidente
Vice-presidente
1º Secretário
2º Secretário
1º Tesoureiro
2º Tesoureiro
Art. 32º- São inelegíveis, além das pessoas regularmente impedidas os condenados a pena que vede, ainda
que temporariamente o acesso a cargos públicos, ou por crime falimentar, de prevaricação, suborno, peculato
ou contra a economia popular e a fé pública.
§ 1º- Os componentes da Diretoria, do Conselho Fiscal ou outros, assim como os liquidantes, equiparam-se
aos administradores das sociedades anônimas, para efeito de responsabilidade criminal.
§ 2º- Sem prejuízo da ação que couber a qualquer associado escolhido em Assembléia Geral, tem direito de
ação contra os Diretores e Administradores, para promover a sua responsabilidade.
161
§ 3º- Se ficar vago, por qualquer tempo, mais da metade dos cargos de Diretoria, deve o Presidente, ou ainda
do Conselho Fiscal, convocar a Assembléia Geral para o devido preenchimento.
§ 4º- O substituto exerce o cargo somente até o final do mandato do antecessor.
§ 5º- Perde automaticamente o cargo, o membro da Diretoria que sem justificativa faltar a 03 (três) reuniões
ordinárias consecutivas ou a 06 (seis) durante o ano, após notificação expressa ao faltante.
Art. 34º- No desempenho das suas funções cabe à Diretoria, entre outras, as seguintes atribuições:
a) Dirigir e coordenar as atividades da ASSUREMAS;
b) Deliberar sobre a convocação das Assembléias Gerais;
c) Convocar, pelo menos trimestralmente, reuniões com associados, visando:
- Discutir propostas para o seu plano de trabalho;
- Discutir e aprovar o calendário das atividades da ASSUREMAS;
- Criar e extinguir comissões para colaborarem no desenvolvimento de suas atividades;
- Aprovar e discutir entre os associados os balancetes mensais de receita e despesa;
- Informar e divulgar entre os associados assuntos de seu interesse.
d) Gerir recursos financeiros da ASSUREMAS;
e) Estabelecer, em Instrução ou Regulamentos, sanções ou penalidades a serem aplicadas
nos casos de violação ou abuso contra disposições deste Estatuto ou das regras de
relacionamento com a sociedade e levá-las à aprovação em Assembléia Geral;
f) Representar oficial, extra-oficial e judicialmente a ASSMUREMAS.
g) Escolher o Diretor do Centro Social e propor sua estrutura organizacional, regulamento
interno, programação e atividades.
h)
Art. 35º- Ao Presidente cabe, entre outras, as seguintes atribuições:
a) Supervisionar as atividades da ASSUREMAS, através de verificações e contatos
assíduos com os demais membros da Diretoria;
b) Verificar frequentemente o saldo de caixa;
c) Assinar cheques bancários juntamente com o Secretário e, no impedimento deste,
juntamente com o Tesoureiro;
d) Assinar juntamente com o Secretário e outro designado pela Diretoria, contratos e
demais documentos constitutivos de obrigações;
e) Convocar e presidir as reuniões da Diretoria, as reuniões do Centro Social e,
normalmente, as Assembléias Gerais;
f) Apresentar à Assembléia Geral Ordinária:
- Relatórios
- Balanços
- Demonstrativos das sobras ou das perdas decorrentes da insuficiência das contribuições
para cobertura das despesas da sociedade e o parecer do Conselho Fiscal
g) Representar ativa e passivamente a ASSUREMAS, em juízo ou fora dele, podendo
constituir procuradores;
h) Proferir o voto de desempate;
i) Presidir e supervisionar as atividades do Centro Social.
162
b) Efetuar os pagamentos autorizados pelo Presidente, de conformidade com o Plano
Orçamentário de Aplicação de recursos;
c) Visar os cheques assinados pelo Presidente e pelo Secretário;
d) Assinar recibos e exigir dos beneficiados o comprovante da aplicação dos auxílios
recebidos;
e) Manter em ordem e atualizados os livros de escrituração contábil e o arquivo de notas
fiscais, recibos e quaisquer documentos relativos aos valores pagos pela
ASSUREMAS;
f) Apresentar à Diretoria o balancete mensal de receita e despesa e o balanço final de
exercícios financeiros, acompanhados dos documentos comprobatórios.
Art. 42º- O Conselho Fiscal reuni-se, ordinariamente, uma vez por trimestre e, extraordinariamente, sempre
que necessário, com a participação de 03 (três) de seus membros.
§ 1º- As reuniões podem ser convocadas, ainda, por qualquer dos seus membros, por solicitação da Diretoria
ou Assembléia Geral.
§ 2º- As deliberações são tomadas por maioria simples de votos e constam de ata lavrada no livro próprio
lida, aprovada e assinada ao final dos trabalhos, em cada reunião, pelos dois conselheiros presentes.
§ 3º- Ocorrendo duas ou mais vagas no Conselho Fiscal, a Diretoria convoca a Assembléia Geral para o
devido preenchimento.
Art. 43º- Compete ao Conselho Fiscal exercer assídua fiscalização sobre as operações, atividades e serviços
da ASSUREMAS, cabendo-lhe entre outras coisas, as seguintes atribuições:
a) Examinar a escrituração contábil da ASSUREMAS;
b) Revisar os balancetes de receita e despesa;
c) Promover sindicância para apurar a ocorrência de irregularidades;
d) Convocar Assembléias Gerais Extraordinárias, sempre que necessário ao fiel
desempenho de suas funções.
§ Único - Para os exames e verificações dos livros, contas e documentos necessários ao cumprimento das
suas atribuições, pode o Conselho Fiscal contratar o assessoramento de técnico especializado e valer-se dos
relatórios e informações dos serviços de auditoria externa, correndo as despesas por conta da ASSUREMAS.
CAPÍTULO IV - LIVROS
Art. 44º- A ASSUREMAS deve ter os seguintes livros:
I) De matrícula;
II) De Ata das Assembléias Gerais e reunião da Diretoria;
III) Outros, fiscais e contábeis, obrigatórios.
Art. 46º- É vedado à ASSUREMAS, discussão ou discriminação de questão de caráter religioso, político-
partidário e de cessão de qualquer dependência social para reuniões de pessoal ou instituições enquadradas
nestas proibições.
Art. 47º- É vedado à Diretoria ou qualquer membro desta, prestar fiança ou conceder aval em nome da
ASSUREMAS.
Art. 48º- A filiação da Associação em entidades afins dá-se sem o comprometimento de sua autonomia e
patrimônio.
163
Art. 49º- A ASSUREMAS somente poderá ser dissolvida:
a) Em decorrência de ato legal do poder competente;
b) Por decisão de 2/3 de seus associados, manifestada em Assembléia Geral,
especialmente convocada para tal fim.
c)
Art. 50º- O casos omissos neste Estatuto serão resolvidos em Assembléia Geral e/ou pela Diretoria da
ASSSUREMAS.
Soure/Marajó-PA, / / 2002
--------------------------------------------------------------
Presidente
164
ANEXO 4 – REGIMENTO INTERNO DA RESEX DE SOURE
TÍTULO I
Disposições Gerais
TÍTULO II
Da Organização do Conselho Deliberativo
165
c) O Conselho Deliberativo terá mandato de 02 (dois) anos;
d) O Conselho Deliberativo reunir-se-á, ordinariamente duas vezes ao ano, e
extraordinariamente sempre que for necessário e será convocado pelo seu presidente ou por
1/3 dos conselheiros.
e) O quorum para deliberação nas reuniões deve ser de 50% mais 01 (um) dos membros do
Conselho Deliberativo, em primeira convocação e com 1/3 em segunda convocação, com
30 (trinta) minutos de intervalo após o horário previsto na convocatória.
f) Qualquer membro do Conselho Deliberativo poderá ser afastado por 50% mais 01 (um)
de seus membros, quando praticar falta grave.
Parágrafo Único: configura-se falta grave a ausência do membro do Conselho
Deliberativo em 02 (duas) reuniões ordinárias consecutivas.
g) Em caso de expulsão ou desistência o Conselho Deliberativo da RESEX indicará outra
instituição para o preenchimento da vaga.
TÍTULO III
Competência do Conselho Deliberativo
Artigo 8° - Garantir a transparência da gestão e das decisões que afetam esta unidade de
conservação.
166
TÍTULO IV
Disposições Finais
Artigo 14 – O Conselho Deliberativo, ao fim de cada ano, prestará conta das suas
atividades a Associação dos Usuários da Reserva Extrativista Marinha de Soure
ASSUREMAS.
167
ANEXO 5 – PORTARIA DE CRIAÇÃO DA RESEX
Art.3º - O Conselho Deliberativo deverá elaborar, aprovar e publicar o seu regimento interno no
prazo de, no máximo, noventa dias, a partir da data da publicação dessa Portaria no Diário Oficial
da União.
168
ANEXO 6 – ATA DE POSSE DO CONSELHO DELIBERATIVO
MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis - IBAMA
Gerência Executiva I do IBAMA no Estado do Pará
169
municipais e federais no exercício da aplicação da política nacional do Meio Ambiente.
Em seguida, o Sr. Atanagildo de Deus Matos do CNPT/DF, esplanou a respeito da
importância da conquista de uma reserva extrativista, na luta das populações tradicionais,
ressaltando a concessão do direito real de uso, e também o fortalecimento das associações
comunitárias, na busca da melhoria da qualidade de vida, na reserva , conjuntamente aos
órgãos de apoio governamentais e não governamentais, finalizando sua fala, ressaltou a
importância da Prefeitura Municipal de Soure e a Câmara de Vereadores, como parceiros
primordiais, para que possa avançar e solidificar o Conselho Deliberativo desta reserva.
Dando continuidade, fez uso da palavra a Sr.ª Raimunda Monteiro, Diretora do Fundo
Nacional do Meio Ambiente, falando da importância deste, no apoio de ações ligadas às
reservas extrativistas, gestão ambiental e conservação dos recursos naturais e da aprovação
do projeto de consolidação da gestão desta unidade extrativista, através da associação dos
usuários e Conselho Nacional de Seringueiros, através de projeto aprovado pelo edital do
FNMA. Logo Após esta explanação ,a Sr.ª Ana Lange da Coordenadoria de
Agroextrativismo do MMA, parabenizou a todos, expressou a felicidade de estar presente
nesta posse e falou da importância do setor que ela coordena, do desenvolvimento de ações
e apoio a projetos ligados a organização, gestão e agregação de valores aos produtos
extrativistas na Amazônia, ressaltando a participação feminina na reserva e na composição
deste conselho, enfatizando a atuação da família no processo de consolidação da reserva.
Dando continuidade a plenária fez uso da palavra o Sr. Marco Antonio Cunha Solimões,
Chefe do Escritório Regional do IBAMA Soure, que esplanou sobre a grande importância
da criação da reserva extrativista de Soure e participação da comunidade no auxilio às
atividades de fiscalização, lembrou das dificuldades e exclusão histórica, sofridas pelos
marajoaras, agradecendo a participação efetiva da comunidade no processo de criação da
reserva extrativista marinha de Soure, parabenizando-os pelas conquistas alcançadas,
colocando a disposição de todos, o escritório regional do IBAMA Soure, e sua pessoa em
particular para contribuir no que se fizer necessário. O Deputado Aírton Faleiro,
cumprimentando a todos, fez uso da palavra, esplanando sobre o papel do parlamentar no
processo de criação de reservas extrativistas, tendo o mesmo declarado ao público presente
o seu apoio incondicional concluindo assim a sua fala. Em seguida o vereador João
Carmelino Ramos Ramires, que saudando a todos, enfatizou a participação da senhora
Carmem Dolores, In Memorian, na criação desta reserva, salientando também as
dificuldades enfrentadas pelos extrativistas no processo de criação da reserva, ressaltando
que ações que envolvam a sociedade são importantes para que não faltem alimentos e
matéria prima, nas áreas de reserva extrativista, destacando, ainda, a importância histórica
do Marajó para o restante do estado do Pará. Na seqüência o Vereador João Luiz Oliveira
de Souza Melo, após cumprimentar as autoridades e a todos os presentes, lembrou da
responsabilidade de todos, pela manutenção da reserva e que ainda há muito trabalho a ser
feito e outras dificuldades à superar, e que devemos utilizar racionalmente a reserva
extrativista para que não nos falte oportunidades para utilização futura.
Foi facultada a palavra aos presentes, aonde foram convidados, o Sr. Odalvo Castro
dos Santos, Gerente do Banco do Brasil, Agência Soure, o Sr. Antonio Rodrigues
Figueiredo Leal, Presidente da Associação dos Caranguejeiros de Soure, a Dr.ª Eva Maria
Daher Abufaiad, Médica Veterinária e empresária voltada para o Ecoturismo, e o Sr.
Valdemir da Gama Medeiros, presidente da Resex Soure, tendo estes apresentado seu
apoio e colocando-se a disposição para colaborar no que se fizer necessário.
Dando prosseguimento a cerimônia a Dr.ª Maria do Carmo Oliveira Brígido, convidou as
entidades conselheiras, através de seus conselheiros, titulares e suplentes, para serem
empossados, como também apresentou aos membros deste conselho a nomeação do seu
presidente, representante do IBAMA o Sr. Waldemar Londres Vergara Filho, coordenador
170
do CNPT/IBAMA/Belém/Pará, e do seu vice-presidente, o Sr. José Ronaldo Guedes dos
Santos, representante da Associação dos Usuários desta reserva extrativista.
Após a posse, foi dado por encerrado este ato. O senhor Henrique Rodrigues Nunes Filho,
Técnico Administrativo do Escritório Regional do IBAMA Soure, na função de secretário
desta cerimônia de posse, aonde subscrevo.
___________________________________________
Henrique Rodrigues Nunes Filho n.° Mat: 0687006
Técnico Administrativo IBAMA - Soure
171
ANEXO 7 – ATA DA 1a REUNIÃO ORDINÁRIA DO CONSELHO
DELIBERATIVO
172
de camaleoas e tartarugas nas áreas da Resex Marinha de Soure, no entanto está havemdo
também uma elevada ação predatória do homem nestas áreas, também reforçou a
problemática da falta de água potável nas comunidades do Cajú-Una e Céu. O Sr. Vergara
sugeriu a elaboração de um orçamento para dar início a solicitação de recursos para a
resolução destes problemas.
A Sr.ª Elka Lucielene, da Ass. Com. Pesqueira da Vila do Pesqueiro, informou que
caixa d'água do Pesqueiro não é suficiente para abastecer a comunidade nos períodos de
veraneio. O Sr. Valdemil apresentou a possibilidade de conseguir recursos junto as ONG's
ou até mesmo com o BNDS para resouver o problema da falta de água potavel nestas
comunidades.
A Sr.ª Rosileia Felipe Brito, da Sociedade Alternativa de Soure, interrogou, de que
maneira as ONG's podem auxiliar na resolução dos problemas das comunidades e se é
possível patrocinar atividaes esportivas e culturais.
O Sr. Vergara informou que existe a possibilidade de um convênio do CNPT com a
AABB, para utilização do espaço físico da AABB-Soure, para uso da comunidade no
desenvolvimento de atividades esportivas.
O Sr. Valdemil da Gama Medeiros explicou que existe sim, a possibilidade de
patrocínio para este tipo de projeto desde que existam associações específicas, e que os
recursos poderão ser conseguidos, principalmente, através do CNS, lembrou ainda de
outras problemáticas da Resex Mar. De Soure, como é o caso dos tiradores de mel que
derrubam árvores centenárias do mangue para a retirada de mel de forma inadequada, e
sugeriu que se realizem convênios para a capacitação das comunidades da Resex Marinha
de Soure, para trabalhos na área de Apicultura.
A Sr.ª Adriana do projeto Novos Curupiras, questionou a existência de associações
e comunidades que ainda não foram contemplandas com projetos. O Sr. Vergara respondeu
que existem associações que não tem participação efetiva e que há comunidades que
sequer possuem associações que as represente.
A Sr,ª Fátima Kury, também do Projeto Novos Curupiras, questionou a respeito da
possibilidade da ASSUREMAS, patrocinar a legalização de novas associações. O Sr.
Valdemil respondeu que isso já aconteceu com onze associações e que até hoje elas são
atuantes.
O Sr. Miguel Vambé do CNPT Brasília, sugeriu um projeto de inclusão digital para
comunidades componetes da Reserva Extrativista Marinha de Soure, se comprometendo a
articular com o CNPT Braília e através do Programa Nacional de Inclusão Digital, afim de
obter informações para o projeto.
A Sr.ª Elka Lucielene, lembrou que esta poderia ser a solução para retiar
adolescentes das ruas. A Sr.ª Rosileia Felipe Brito, lembrou que a Sociedade Alternativa de
Soure já tem um projeto desta área e que existe a necessidade de espaço físico para a
implementação deste projeto.
O Sr. Miguel Ferreira, do MOPEPA, parabenizando a atuação do Sr.Valdemil,
reiterou a parceria do terminal pesqueiro do MOPEPA com a Reserva Extrativista Marinha
de Soure, colocando a disposição esta entidade, para auxiliar nos trabalhos desta RESEX,
lembramdo que a fundação Banco do Brasil repassou ao MPA vários computadores, e que
acredita ser possível conseguir outros mais para as comunidades componentes da RESEX
Marinha de Soure. Informou ainda que acontecerão curos de informática, promovidos pelo
MOPEPA, para filhos de pescadores da região, e que deverão iniciar no próximo mês de
Outubro.
O Sr. Marco Antonio Solimões, chefe do escritório regional do IBAMA de Soure,
prestou esclarecimentos sobre os trabalhos do IBAMA na região de abrangência do
escritório regional de Soure, lembramdo que a regional abrange os municípios de Soure,
173
Salvaterra, Cachoeira do Ararí, Santa Cruz do Ararí, Muaná, Ponta de Pedras e Chaves. O
Sr. Marco Antonio, ainda reforcou a disponibilidade de sua equipe, para atividades de
fiscalização nas áreas da RESEX Marinha de Soure, aproveitando a aportunidade para
sugerir convênios com o MMA, afim de capacitar os membro das associações das
comunidades componentes da RESEX Marinha de Soure, para que sirva como auxílio nos
trabalhos de fiscalização nas áreas da RESEX Marinha de Soure.
O Sr. Rodrigo Leal, sugeriu a realização de um abaixo assinado para solicitar
providências no sentido de equipar a região do pacoval e machado com suporte para
fiscalização.
O Sr. Waldemar Londres Vergara Filho, presidente deste conselho, encerrou a
reunião ordinária, agradecendo o comparecimento das entidades conselheiras.
O senhor Marco Antonio Cunha Solimões, Chefe do Escritório Regional do
IBAMA Soure, na função de secretário desta reunião ordinária, aonde subscrevo.
___________________________________________
Marco Antonio Cunha Solimões n.° Mat: 1436303
Chefe do Escritório Regional do IBAMA - Soure
174
Ata da 2ª Reunião Ordinária do Conselho Deliberativo da Reserva Extrativista Marinha de
Soure
175
O Sr. Vergara Perguntou se havia algum investimento pendente. O Sr. Valdemil
informou que até 2005 todos os investimentos devem ser aplicados. O Sr. Valdemil
lembrou de algumas situações polêmicas que causaram conflitos nas áreas da Reserva
Extrativista Marinha de Soure, como a construção de cercas e às degradações ambientais
nas áreas de Reserva. Declarou seu ressentimento pela falta de apoio do poder público na
tentativa de solucionar estes problemas. Citou encontros e eventos dos quais participou em
nome da Reserva e agradeceu a participação dos componentes da ASSUREMAS.
Manifestou satisfação pelas ações do Sr. Vergara no auxílio das conquistas das
comunidades da Reserva e finalizou declarando que não aceita o apoio de políticos mais
sim de associações e de entidades realmente comprometidas com às ações sociais.
A Sr.ª Marivalda Cardoso Leal, da Associação dos Caranguejeiros de Soure,
informou que a diretoria desta associação estará mudando no próximo ano e declarou seu
descontentamento com a falta de investimentos, por parte da Reserva Extrativista Marinha
de Soure, nesta Associação. O Sr. Valdemil esclareceu que um dos recursos que estava
disponível, no valor de R$ 9.000,00, para esta associação, não foi tilizado,o pois a
associação não soube viabilizar sua utilização, esperando que a diretoria da Reserva
providenciasse tudo, e justificou que a diretoria da Reserva não poderia se responsabilizar
pela utilização e prestação de contas de um recurso que estava disponível para uma
Associação específica, sendo assim os recursos não utilizados foram devolvidos.
O Sr. Vergara informou que as linhas de crédito disponíveis para as comunidades
da Reserva Extrativista Marinha de Soure, precisam do aval do CNPT para serem
liberadas. Declarou o apoio a associação de caranguejeiros, mas lembrou que os recursos
devem solicitados com base na demanda da comunidade, lembrou também que, se estas
solicitações forem feitas diretamente para Brasília, não será possível dar o aval do CNPT,
pois deveria passar primeiro pelo CNPT para ser posteriormente encaminhado para
Brasília. Lembrou que os caranguejeiros tiveram papel fundamental na criação da Reserva
Extrativista Marinha de Soure, juntamente com pescadores e camaroeiros. Lamentou a
ausência da Pastoral da Cidadania na última reunião do Conselho.
O Sr. José Ronaldo Guedes dos Santos, representante da ASSUREMAS e vice-
presidente deste conselho, cumprimentando os conselheiros, demonstrou satisfação em ser
parte componente da Reserva, e de poder retribuir a sua comunidade através de ações
conjuntas como é o caso dos créditos do PRONAF, que foi oferecido as comunidades
componentes da Reserva Extrativista Marinha de Soure, trazendo soluções para alguns dos
diversos problemas desta comunidade. Demonstrando o entendimento de que não é
possível resolver todos os problemas de uma única vez, mas que, aos poucos, se todos
buscarmos juntos soluções para as dificuldades de nossa comunidade com muita luta e
trabalho, mesmo com as divergências alcançaremos nossos objetivos e o progresso
desejados.
A Sr.ª Juliana Pereira, manifestou o interesse em substituir o Sr. Mauro Sérgio
Jesus Silva, como representante da Pastoral da Cidadania, esclarecendo que o Sr. Mauro
Sérgio não poderá mais participar deste conselho por motivos particulares.
O Sr. Vergara Informou da necessidade de que a Pastoral da Cidadania encaminhe
um ofício ao conselho solicitando a substituição do Sr. Mauro Sérgio pela Sr.ª Juliana
Pereira.
A Sr.ª Maria Lina Amador Figueiredo, da Associação das Mulheres de Soure,
emocionada, apresentou-se aos conselheiros e informou que é objetivo desta associação
criar o Comitê das Mulheres de Soure, lembrando que a associação já conseguiu, através
do auxílio de outras entidades, iluminação para sua sede e pediu o apoio de todos que
queiram somar com a associação, e não os queiram se aproveitar indevidamente dela e
concluiu agradecendo a atenção de todos.
176
A Sr.ª Maria Luizete Sampaio Sobral Carliz, Coordenadora do Campus da UFPA
em Soure, expressou sua alegria em poder atuar na comunidade, relembrando que passou
grande parte de sua infância em Soure, e que, após uma longa ausência, que culminou com
um Mestrado na França, retornou a este município aonde foi convidada à coordenar o
Campus da UFPA de Soure, convite que foi aceito mediante a constatação de que havia
apoio da comunidade, mesmo tendo ciência de que poderia não agradar a todos.
Aproveitando a oportunidade a Sr.ª Luizete colocou a disposição, para utilização da
comunidade, a estrutura e os equipamentos do Campus da UFPA em Soure, informando
que foram solicitado 100 novos Títulos para o acervo da Biblioteca do Campus e que,
através da aplicação do PROINT, serão feitas melhorias estruturais as quais o Campus já
está recebendo, falou ainda sobre o projeto de alfabetização de adultos e o trabalho com as
crianças da comunidade além do trabalho com plantas medicinais. Finalizou falando dos
projetos para parcerias futuras expressando sua satisfação pela oportunidade de estar
participando desta reunião.
O Sr. Vergara sugeriu a utilização do espaço do Campus da UFPA em Soure para a
realização de reuniões das entidade componentes deste Conselho.
A Sr.ª Luizete reforçou, que sempre que se fizer necessário, será possível utilizar a
estrutura e os equipamentos do Campus, mediante solicitação prévia.
O Sr. Cecin, representante do Banco do Brasil, cumprimentando os conselheiros,
prestou esclarecimentos a respeito do AABB-Comunidade e disponibilizou a estrutura do
Clube para trabalhos sociais voltados as crianças da comunidade. Falou sobre alguns
programas de financiamento e tratou com a Sr. Luizete sobre a cooperação com o trabalho
com as crianças da comunidade e se referiu ao BB-Educar como um auxílio no trabalho de
alfabetização de adultos e idosos.
A Sr.ª Luizete convidou a todos os presentes para participar no próximo dia 22 de
dezembro deste ano, as 08:00h da manhã, da festa de confraternização entre o Campus da
UFPA em Soure e a comunidade local.
O Sr. Cecin finalizou, informando sobre projetos intinerantes que podem ser
aplicados a comunidade, como um caminhão que leva orientação a respeito da alimentação
alternativa, e lembrou que seria possível contemplar a comunidade com uma biblioteca
intinerante, manifestando o desejo de que em 2005 possa disponibilizar a estrutura física da
AABB, inteiramente as necessidades da comunidade.
A Sr.ª Leila Solange Barbosa Ramires, da ONG S.O.S. Marajó, lembrou aos
presentes dos cursos de capacitação e que, através do IBAMA, foram capacitados Agentes
Ambientais Voluntários nas comunidades deste município, lembrou ainda que desde o
início da criação da Reserva Extrativista Marinha de Soure até os dias atuais, esta ONG se
preocupa com as questões ambientais do Município. Pediu aos presentes que ajudem a
encontrar soluções para, pelo menos, amenizar os problemas de degradação ambiental
neste município, através de trabalhos de educação ambiental, se colocando a disposição ao
que se fizer necessário.
O Sr. Cecin disponibilizou o espaço da AABB para trabalhar estas atividades
educativas da ONG S.O. S. Marajó.
A Sr.ª Leila lembrou das agressões as Tartarugas a aos Peixes-Boi.
A Sr.ª Elka Lucielene Sales da Silva, da Associação Comunitária Pesqueira da Vila do
Pesqueiro, informou dos problemas de cercas na comunidade do pesqueiro e pediu o
auxílio deste conselho e do IBAMA para solucionar estes e outros problemas desta
comunidade.
A Sr.ª Maria Olívia Costa e A Sr.ª Luci Barbosa Lima, da Associação das Mulheres
do Pesqueiro, informaram que existe um membro da comunidade que cria um rebanho de
177
gado, e ainda que apesar de ter uma grande área cercada em sua propriedade, deixa estes
animais soltos na comunidade, o que provoca várias situações conflitantes, e pediram
providências ao conselho.
A Sr.ª Elka informou ainda, que pessoas de outros Municípios fazem casas, apenas
para veraneio, em áreas da comunidade do Pesqueiro, ocupando espaço que pessoas da
própria comunidade poderiam utilizar para construir suas casas. Informou ainda, que o lixo
das barracas da praia do Pesqueiro, que é coletado pela prefeitura, é despejado nas áreas
próximas a comunidade, e que por influência do vento e das marés, acaba espalhado na
comunidade do Pesqueiro.
O Sr. Vergara Lembrou que, quem não estiver cadastrado na reserva, não poderá
usufruir do direito de uso dos recursos deste Reserva sem a devida autorização da
comunidade.
A Sr.ª Liberalina do CNPT, orientou de que maneira deverá ser feito o combate à
este tipo de prática, devendo a comunidade encaminhar aos órgão competentes, como é o
caso do IBAMA ou Ministério Público, um documento assinado por membros da
comunidade solicitando medidas que solucionem estes problemas.
O Sr. Marco Antonio Cunha Solimões, representando o IBAMA, esclareceu que as
questões de distribuição de terra, são de responsabilidade do G.R.P.U., e que, até que seja
repassado o direito real de uso para a Reserva Extrativista Marinha de Soure, não será
possível fazer grandes progressos em relação a problemas de cercas e casas nas áreas das
comunidades. Aproveitou a oportunidade para informar que mesmo que o G.R.P.U.
conceda o uso de áreas de marinha para qualquer cidadão, isto não dá o direito a que estes
cometam crimes ambientais, como a agressão ou degradação de áreas de preservação
permanente, como as áreas de Mangue. Finalizando, esclareceu que as denuncias devem
ser feitas por escrito e encaminhadas ao Escritório Regional do IBAMA em Soure,
independente da presença ou ausência dele no escritório no momento da denúncia, pediu
maior empenho da comunidade na repressão aos atos de agressão ao meio ambiente,
colocando o Escritório Regional do IBAMA, em Soure, a serviço das comunidades da
Reserva Extrativista Marinha de Soure, passando a palavra ao Sr. Vergara para que fosse
encerrada esta reunião.
Antes da finalização da reunião pelo Sr. Vergara, alguns dos presentes
aproveitaram para trocar votos de Boas Festas e desejos de Prospero ano Novo.
Finalmente o Sr. Vergara encerrou a reunião, relembrando a importância das
comunidades componentes da Reserva Extrativista Marinha de Soure, na construção de um
Futuro Digno para Todos.
178