Análise Criminal
Análise Criminal
Análise Criminal
SUMÁRIO
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NOSSA HISTÓRIA
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VÍDEO DE APOIO
Além da leitura do conteúdo desta apostila serão apresentados alguns vídeos, que
tem como objetivo aprimorar e acrescentar conhecimento sobre o assunto deste
curso. Sendo assim, é relevante que acesse os links indicados e assista os vídeos.
Vídeo 1: Anne Milgram: Por que estatísticas inteligentes são a chave para combater
o crime
Disponível em:<
https://www.youtube.com/watch?v=ZJNESMhIxQ0&list=PLDVoZQl9HlQpMq-
gDVVgHUidxP-PfyElU>
Sinopse: Neste vídeo apresenta a trajetória Anne Milgram, através do canal TED.
3
INTRODUÇÃO
4
do ministro da Justiça. Tal Programa deu origem ao atual Sistema Nacional de
Integração de Informações em Justiça e Segurança Pública, conhecido como Infoseg:
5
Belo Horizonte, iniciativa desenvolvida em cooperação com a Universidade Federal
de Minas Gerais (UFMG):
Saber onde os crimes acontecem, de que forma e por quem. Isso é o que um
sistema que envolve geotecnologias e que está sendo implantado pela
Segurança Pública do Rio de Janeiro está fazendo. O principal objetivo é
identificar relações entre variáveis como método, data-hora, local e
instrumentos utilizados por criminosos, entre outras possibilidades, para se
chegar à descoberta e prisão dos autores de delitos.
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Investigation (FBI) dos EUA. E é esse também o caso do National Criminal Intelligence
Service (NCIS) do Reino Unido.
É bastante antiga a percepção da necessidade de informações para uma
melhor tomada de decisão. Sun Tzu (1983), autor do clássico A Arte da Guerra, obra
elaborada por volta de 500 anos antes de Cristo, já abordava a necessidade do
emprego da Inteligência:
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Link Importante:
https://www.in.gov.br/web/dou/-/portaria-n-114-de-25-de-julho-de-2019-
208202975
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A ATUAL INTELIGÊNCIA DE SEGURANÇA PÚBLICA
O mundo atual não é tão diferente daquele dos tempos de Sun Tzu. Persiste a
necessidade da informação para a tomada de decisão. A informação permanece como
um recurso estratégico, já que segue sendo utilizada em várias áreas de aplicação
contemporâneas. É esse o caso da Inteligência Competitiva, hoje intensamente
aplicada e estudada no mundo empresarial. Matriz principal de todas as outras, é a
Inteligência de Estado classicamente utilizada no trato de grandes questões político-
estratégicas de interesse dos Estados Nacionais.
Necessário, contudo, fazer a distinção entre Inteligência e Informação. Para
Lowental (2003, p. 8), um aspecto básico que diferencia as duas expressões é que a
Inteligência seria a informação elaborada para suprir as necessidades dos tomadores
de decisão, enquanto a informação seria tudo aquilo passível de ser conhecido:
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influência sobre o processo decisório, a ação governamental, a salvaguarda
e a segurança da sociedade e do Estado.
A Senasp, numa clara alusão ao texto legal citado, define a ISP como atividade
sistemática de produção de conhecimentos de interesse policial, apoiando as
atividades de prevenção e repressão dos fenômenos criminais:
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crime, proporcionando indicações que poderão contribuir para seu esclarecimento,
incluindo a identificação de delinquentes eventuais e contumazes e a reunião de
informações em prol da Inteligência Policial.
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A ANÁLISE CRIMINAL
Ainda são poucos os autores brasileiros que tratam da Análise Criminal. Já nos
países anglo-saxônicos, incluindo Austrália, Canadá, EUA e Reino Unido, são
inúmeras as produções científicas na área.
Para Dantas (2003) a “atividade policial guiada pela Inteligência”
(Intelligenceled policing) é um termo que muito recentemente começou a ser usado
no Canadá e Estados Unidos da América (EUA). Sendo de entendimento comum,
que a “atividade policial guiada pela Inteligência” inclua, fundamentalmente, a coleta
e análise de informação para elaboração de um produto final, que é o conhecimento,
criado para instrumentar o processo decisório da gestão policial, tanto através da
análise criminal tática quanto estratégica.
Pereira (2003) ressalta a importância da AC na busca do controle da
criminalidade, já que é baseada em dados estatísticos, amostragens, gráficos,
tabelas, pesquisas, cruzamento de informações (...) é da maior importância para
compreender o fenômeno social do crime e, sob a visão técnico-policial, prever
ocorrências futuras e planejar ações com maiores probabilidades de êxito no controle
da criminalidade.
Desta forma para responder o que seria AC, Furtado (2002), aponta que, na
segundo Dantas, é um processo analítico e sistemático de produção de conhecimento
que se realiza a partir do estabelecimento de correlações entre fatos delituosos
ocorridos e os padrões de tendência da “história” da criminalidade de um determinado
local ou região.
Peterson (1994) afirma que a Análise Criminal é a particular aplicação de
métodos analíticos em dados coletados, para fins de investigação criminal ou
pesquisa criminal. Já Gottlieb (Apud Dantas; Souza, 2004) explica que é um conjunto
de processos sistemáticos direcionados para o provimento de informação oportuna e
pertinente sobre os padrões do crime e suas correlações de tendências, de modo a
apoiar as áreas operacional e administrativa no planejamento e distribuição de
recursos para prevenção e supressão de atividades criminosas.
Portanto, pode-se afirmar que é um processo sistemático de exame da
tendência histórica de incidência da criminalidade, realizado com base nos registros
de atendimentos de ocorrências policiais em determinada área geográfica e série
12
histórica, com vistas a assessorar a tomada de decisão no sentido de melhor alocar
os recursos humanos e materiais das instituições policiais.
Vale frisar ainda que é um processo que trata de informações referentes ao
campo do crime com a finalidade de gerar conhecimento para as agências de
segurança pública. E nesse processo, segundo Bruce (2008) os dados se tornam
informações quando são efetivamente analisados, e, por sua vez, informações se
constituem conhecimentos quando efetivamente apropriadas.
Nesse contexto, este mesmo autor, discorre que meados dos anos 60 foi
publicado o manual “Police Adminstration”, do chefe de polícia Orlando Winfield
Wilson1, em que a expressão análise criminal foi citada pela primeira vez, trazendo.
como unidade de estudos sobre crimes, determinando localização, tempo,
características espaciais, similaridades entre crimes, estabelecimento de padrões.
Destacava, ainda, que tais informações deveriam ser oportunas para o planejamento
das operações policiais.
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são responsáveis por lidarem com o campo do crime, visto que esse fenômeno tem
ficado cada vez mais complexo.
Assim sendo, AC, segundo Santos (2017), trabalha sobre dados pertinentes
aos serviços policiais, crimes, criminosos e vítimas visando a identificação de
tendências e padrões de crimes e criminalidade; geração de conhecimento para as
ações táticas e estratégicas de como os problemas podem ser resolvidos da melhor
maneira possível; avaliação das ações planejadas e das teorias envolvidas para os
crimes e a criminalidade e; produzir relatórios criminais.
Ainda neste sentindo o mesmo autor ressalta que a análise criminal não
envolve apenas questões de criminalidade, visto que inclui vários tipos de informação
que são relevantes para agência policial. Diante disto, pode-se afirmar que aborda o
desempenho da própria agência policial, por exemplo, com análises administrativas
sobre orçamento, pessoal e equipamentos (IACA 2014)
Desta forma IACA tem difundido a análise criminal com perspectiva holística de
as agências de aplicação da lei observarem o fenômeno da criminalidade, bem como
terem conhecimentos a respeito das próprias estruturas e culturas dessas agências.
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Com efeito, de procedimento operacional para abordagem da atividade policial, a
análise criminal passou a ser forma de gerenciar as agências policiais. Assim, para
IACA, a análise criminal seria um gênero subdivido em quatro tipos: criminal de
inteligência, criminal tática, criminal estratégica e criminal administrativa.
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ou privadas). Não obstante, os produtos das variadas perspectivas de análises devem
ser incorporados às agências de aplicação da lei como conhecimentos indispensáveis
à gestão dessas organizações.
Entretanto, mesmo não havendo hierarquia entre os tipos de análises, há vale
lembrar que há particularidades distintivas no que tange o processo de execução e ao
produto ofertado que devem ser observadas.
Assim, há dimensão “confidencialidade do produto”, no caso das análises de
inteligência e tática o grau de confidencialidade é alto, tendo em vista que são
produtos internos elaborados para orientar investigações e estratégias de
policiamento. Por sua vez, as análises estratégica e administrativa têm
confidencialidade baixa, pois geralmente fornecem produtos que informam ao público
externo, como critérios de transparência na gestão da agência policial.
Outra dimensão é a da “regularidade” ou frequência dos produtos. Nas análises
de inteligência e estratégica a tendência é o que os produtos sejam menos frequentes
ou, não tão submetidos ao imediatismo, porquanto lidam com questões geralmente
de longo prazo. De outro lado, as análises tática e administrativa geram produtos
rotineiros e frequentes, conforme as dinâmicas do crime ou demandas da gestão
policial.
A dimensão seguinte é da “relevância dos autores” ou do critério de
identificação dos envolvidos para que a tarefa seja desempenhada. Nas análises de
inteligência e tática o grau de relevância é alto, porque, na maioria das vezes, essas
análises buscam identificar justamente os autores, estabelecer vínculos entre os
envolvidos ou definir padrões criminais. Por sua vez, nas análises administrativa e
estratégica, a identificação de envolvidos com a criminalidade geralmente não
influencia no produto realizado.
Por fim, a dimensão “fonte primária” ou insumos para produção dos produtos.
Em geral, nas análises administrativa e tática os elementos bases são dados 2 da
própria agência policial. Por exemplo, a análise tática pode dispor quantidade de
registros policiais ou de demandas dos cidadãos ao serviço telefônico da instituição
(por exemplo: disque-denúncia, serviço de emergência). Já para análises de
inteligência e estratégica, a fonte de informações pode ser ampla, pois pode buscar
dados fora da instituição, ou seja, do ambiente externo.
A Figura 2, resume e esquematiza o debate sobre as dimensões da análise
criminal.
16
Figura 2: Dimensões da análise criminal
A Análise de inteligência
17
atividades secretas, os quais, às vezes, assumem moralidade duvidosa, tratando-se
de uma conceituação restrita da inteligência, onde o que está em postos são questões
de segredo ou informação secreta, segundo postulado por CEPIK (2003).
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Nessa seguimento, a inteligência criminal não revoga a clássica inteligência de
Estado, mas busca interpretar os recursos de inteligência para maximizar a efetividade
das agências policiais, conforme suas necessidades e desafios. Assim, a análise de
inteligência para o campo das agências de aplicação da lei se subdivide em tática,
operacional e estratégica, de acordo com o quadro 2 – Figura 3.
19
Análises criminal e de inteligência
Ratcliff (2007) declara que esse modelo integrado de análise seria adequado,
pois pode fornecer o que está acontecendo, em geral, no ambiente criminal, enquanto
a inteligência criminal pode fornecer a razão do que está acontecendo. Em
combinação são componentes essenciais para compreensão mais profunda e
embasada da criminalidade, possibilitando criar estratégias para a prevenção e
redução eficaz da criminalidade.
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produzidos pela polícia, dados socioeconômicos e demais dados de outras instituições
públicas relacionados de algum modo à questão da segurança (RATCLIFFE 2007).
21
Figura 4: Modelo de integração análises criminal e de inteligência criminal
22
Apesar das vantagens do modelo integrado de análises sugerido, há inúmeras
resistências no âmbito das próprias agências policiais. Isso porque o referido modelo
indica alterações nas organizações policiais e dos atores envolvidos (policiais
dirigentes e policiais de linha). Consequentemente, além de questões estruturais, esse
modelo toca em algo fortemente enraizado e orientador dos padrões das agências
policiais: a cultura policial (GOLDSTEIN 1990; RATCLIFFE 2007).
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As inconstâncias das análises criminal e de inteligência
nas polícias brasileiras
Assim como outras agências policiais mundo afora, as polícias brasileiras são
organizações que acumulam dados. Por exemplo, dados de indivíduos, como
endereços, contatos, locais de trabalho, envolvimento com crimes, etc. Ademais, as
polícias conhecem rotinas da criminalidade, por exemplo, de criminosos e redes de
criminosos, de áreas críticas, de crimes frequentes, etc. O rol de dados que as polícias
coletam e possuem acesso é imensurável.
Quanto à análise criminal as polícias brasileiras têm buscado cada vez mais
estatísticas, georreferenciamentos, manchas de criminalidade e outras ferramentas
para lidar com a violência criminosa.
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As agências policiais brasileiras oscilam entre uma inteligência de Estado e
outra policial, sendo que a inteligência criminal é pouco desenvolvida e, até mesmo,
desconhecida conceitual e efetivamente. Não há clareza entre inteligência de Estado
e criminal, daí as polícias privilegiam a primeira por considerarem mais nobre do que
a segunda.
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que provoca problemas de duplicação de esforços e de rivalidade entre os órgãos
(MINGARDI 2007).
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estadual. Note-se: inexiste nas agências policiais carreiras especificas de analistas
criminal e de inteligência. Em geral, policiais exercem precariamente as funções de
analistas, na maioria das vezes, sem formação adequada e condições de trabalho.
Assim, por mais que haja o conhecimento empírico de certos policiais nesse campo,
carece-se da perspectiva científica que ele alvitra.
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TEXO DE APOIO
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1. FALHAS NA INTELIGÊNCIA
Não são incomuns falhas na Inteligência. Tais falhas podem estar na coleta do
material para a análise, podem estar na própria análise, podem estar na metodologia
conduzida para a obtenção do conhecimento, enfim em múltiplas vertentes.
29
a atividade voltada para os aspectos tático e operacional. A produção de
conhecimento estratégico não é fácil. Envolve investimentos, equipe preparada e
treinada e, acima de tudo, liderança adequada para tal mister. Já a atividade voltada
à área tática ou operacional é focada em ocorrência pesquisada, em fatos que
ocorreram ou estão ocorrendo e o foco está no levantamento de dados que facilitem
a investigação ou a repressão a delitos. Observe-se, que se a Inteligência não permitiu
conhecer o desenrolar dos fatos (tendências) e o reconhecimento de padrões não
pode ser considerada Atividade de Inteligência, no sentido amplo, que é o estratégico.
No contexto da Segurança Pública, o viés estratégico deveria ter sido, sempre,
adotado. Nestes termos, as decisões poderiam evitar cenários deteriorados.
Por outro lado, as atividades táteis ou operacionais são focadas em áreas
específicas que não permitem uma visão sistêmica. Teria sido essa a grande falha da
Inteligência de Segurança Pública no Rio de Janeiro? Ou a falha principal teria sido
dos responsáveis pelas decisões, que apesar de possuírem os subsídios de
Inteligência adequados não tomaram as decisões mais apropriadas que o cenário
exigia? Essas respostas interessam muito aos gestores de Inteligência.
Fora deste contexto, a pior de todas as vertentes seria a de que a Inteligência
não fora estimulada, a julgar pelos investimentos explicitados no Anuário Brasileiro de
Segurança Pública, anos 2015, 2016 e 2017. Caso seja essa a resposta, observe-se
o altíssimo preço que o Rio de Janeiro está efetivamente pagando.
O mais provável é que o fracasso da segurança pública no estado do Rio de
Janeiro tenha como um dos elementos a falta de eficiência e eficácia da Inteligência
por um misto das razões explicitadas nos parágrafos anteriores.
30
2. MAPA DA VIOLÊNCIA
31
Gráfico 1: Taxas de homicídio por armas de fogo (por 100 mil) nas UF. Brasil. 2014.
32
maior redução dos últimos 11 anos, já que o FBSP realiza as pesquisas desde 2007.
Minas Gerais está entre os seis estados que apresentaram diminuição das mortes
superior a 20% (G1, 2019).
O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – IPEA e o FBSP publicam o Atlas
da Violência, além disponibilizarem os dados dos registros policiais do Brasil e dos
estados para as ocorrências violentas contra as pessoas e contra os patrimônios
(BRASIL, 2018). O Atlas da Violência 2018 apresentou várias constatações acerca da
evolução da criminalidade violenta, dentre elas:
Em 2016 o país alcançou uma marca histórica com 62.517 homicídios, o que
seria 30 vezes a taxa da Europa, segundo o Ministério da Saúde – MS (p. 3);
Situação mais grave nos estados do Nordeste e Norte, com as maiores taxas
de homicídios (p. 3);
A juventude perdida se agravou em 2017 e respondia por 56,5% das mortes
intencionais dos jovens entre 15 e 19 anos (p. 3);
A taxa de vitimização de indivíduos negros ou pardos aumentou e alcançou
40,2%, ao passo que para o resto da população era de 16%, fundamentando a
implicação de que 71,5% das vítimas foram negras ou pardas (p. 4).
O banco de notícias da SESP-MG publicou que, das 12 estatísticas de
criminalidade monitoradas pela secretaria, 10 tiveram queda no mês de janeiro do
corrente ano, com relação ao mesmo período em 2018 (MINAS GERAIS, 2019b). A
notícia destaca a redução do crime de roubo que teve 2.710 registros, 32,9% menor
que janeiro de 2018, o melhor resultado do estado nos últimos 7 anos. Segue o
demonstrativo publicado junto à notícia com as comparações 2018/2019 com as
naturezas de crimes monitorados.
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Tabela 1: Crimes violentos monitorados pela SESP-MG – Jan 2018/2019.
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subárea estudada, sobretudo pela característica do setor possuir bairros com casas
de alto luxo, vizinhos a aglomerados urbanos, com famílias de baixa renda e
indivíduos a fim de obterem vantagem econômica. Assim, os criminosos cometem o
roubo até próximos de suas residências com grande facilidade de fuga e difícil captura
pelas forças policiais.
Em sua pesquisa, Ribeiro e Bastos (2012) utilizaram o banco de dados do
Índice Mineiro de Responsabilidade Social – IMRS para uma análise da capacidade
instalada no estado e nos municípios mineiros para a gestão dos investimentos em
segurança pública ante o fenômeno criminal. As autoras confirmaram, através de
análises estatísticas, as hipóteses de que (1) quanto maior o município e mais
complexa a situação da criminalidade, maior chance de se aumentarem os
investimentos em segurança pública, e (2) quanto maior o efetivo policial, menor a
probabilidade do município investir nessa função. Destacando que a segurança
pública constitucionalmente é função do estado, as autoras concluíram que o
investimento municipal ocorre apenas se a situação for gravíssima ou se o aparato
estadual estiver ausente ou insuficiente pra contenção dos crimes e da violência
(RIBEIRO; BASTOS, 2012).
Sobre a percepção de medo ante a criminalidade violenta em Paracatu-MG
entre 2014 e 2016, Parreira (2017) constatou que o medo de ser vítima de um crime
é fator emocional presente nos moradores da cidade, sensação essa enfatizada pela
influência da mídia na divulgação dedicada dos fatos policiais violentos, com grande
repetição de matérias reportando a violência. O autor concluiu que a comunicação
organizacional da PMMG, e também dos outros órgãos de segurança pública, deve
ser explorada a fim de divulgarem as campanhas de conscientização, prevenção ao
crime, bons resultados alcançados e promoverem maior proximidade entre estado
(polícia) e população para redução do medo da violência.
Almeida (2018), inserindo o contexto de Polícia Comunitária trabalhado pela
PMMG, no qual policias e comunidade atuam mais próximos no combate à
criminalidade e aumento da sensação de segurança, analisou a implantação da Base
de Segurança Comunitária – BSC da Polícia Militar no bairro Cruzeiro em Belo
Horizonte. Com a instalação de um veículo van (base) em ponto estratégico fixo para
registro de ocorrências e motocicletas patrulhando somente aquele setor, além das
viaturas de atendimento comunitário, o autor entrevistou comandantes de
policiamento e comerciantes.
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Em suas conclusões, Almeida observou que o programa é bem recebido pela
população e gera aumento da sensação de segurança subjetiva com a maior
ostensividade da presença policial. Para o autor, essa proximidade trouxe redução da
possibilidade de vitimização, menor subnotificação de crimes e de outros eventos
defesa social. No tocante à incidência criminal no setor de análise, do período anterior
à instalação das bases de segurança, set/2016 a ago/2017, para um ano após a
implementação do programa, set/2017 a ago/2018, o autor constatou expressiva
redução de 18% do ICV, com diminuição de 7% dos crimes contra comerciantes.
Conforme verificado na Introdução do presente estudo, a criação do INFOSEG
no Brasil e o exemplo do NCIC nos EUA indicam que a integração e o
compartilhamento de dados e informações entre as instituições policiais nos níveis
estadual e federal é de fundamental importância. A integração pode ser um fator
determinante do sucesso de ações pertinentes ao combate sistemático à
criminalidade. Decorre daí, a necessidade de integração de todas as instituições
envolvidas com a Segurança Pública.
Com a execução da AC, as instituições de segurança pública estarão melhor
assessoradas no processo de tomada de decisões para emprego do policiamento
ostensivo e judiciário, ficando também mais preparadas para atender às necessidades
do Subsistema de Inteligência de Segurança Pública, conforme especificado no
parágrafo 3º do Art. 2º do Decreto nº 3.695/2000:
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Identificar a existência, surgimento e evolução de padrões e tendências dos
crimes;
Identificar as áreas com maior incidência de determinadas categorias de
crimes;
Subsidiar o planejamento do policiamento ostensivo;
Melhorar uso dos recursos operacionais disponíveis;
Diminuir custos e positivar a relação custo-benefício;
Avaliar o desempenho dos policiais em todos os níveis corrigindo os erros e os
rumos das ações; e g) promover a eficácia da ação policial.
Para Dantas, Souza e Gottlieb, a AC deve ser executada no contexto Atividade
de Inteligência visto ser a área de Inteligência a encarregada de assessorar as
autoridades com conhecimentos oportunos e essenciais ao processo de tomada de
decisões.
Em suma, face à grande quantidade de dados referentes aos atendimentos e
ocorrências policiais, torna-se humanamente impossível fazer inferências sobre um
vasto amontoado de registros, sem a possibilidade de recorrer ao uso de ferramentas
tecnológicas. Assim, são ferramentas essenciais ao analista criminal: planilhas
eletrônicas, acesso eletrônico aos diversos bancos de dados, gerenciadores de banco
de dados e conexão à rede mundial de computadores (Internet). Também é
necessária a capacitação para uso de tais ferramentas, bem como a satisfação aos
pré-requisitos de integração e interoperabilidade nos níveis federal, estadual e
municipal.
A AC é um processo de grande utilidade para a ISP e para a Inteligência de
Estado pois tem o potencial de produzir conhecimentos a serem utilizados pelos
tomadores de decisões e pelos formuladores de políticas públicas nos níveis estadual
e federal em benefício da sociedade e do Estado.
37
VÍDEO DE APOIO
Vídeo 2: Segurança Intraurbana: Ciência de dados, tecnologia e análise criminal
38
REFERÊNCIA
AZEVEDO, Ana Luísa Vieira de; RICCIO, Vicente; RUEDIGER, Marco Aurélio. A
utilização das estatísticas criminais no planejamento da ação policial: cultura e
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