Excelentíssimo Senhor Ministro Presidente Do Supremo Tribunal Federal

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EXCELENTÍSSIMO SENHOR MINISTRO PRESIDENTE DO SUPREMO TRIBUNAL

FEDERAL:

O Procurador Geral da República, presente o disposto no artigo 102,


I, a, da Constituição Federal, ajuíza.

Ação Direta de Inconstitucionalidade,

pelo que expõe:

I. Do preceito normativo impugnado:

1. É o que se faz presente no artigo 5º e parágrafos da Lei nº


11.105, de 24 de março de 2005, verbis:

“Art. 5º É permitida, para fins de pesquisa e terapia, a utilização de


células-tronco embrionárias obtidas de embriões humanos produzidos
por fertilização in vitro e não utilizados no respectivos procedimento,
atendidas as seguintes condições:

I – sejam embriões inviáveis; ou

II – sejam embriões congelados há 3 (três) anos ou mais, na data de


publicação desta Lei, ou que, já congelados na data da publicação
desta Lei, depois de completarem 3 (três) anos, contados a partir da
data de congelamento.

§ 1º Em qualquer caso, é necessário o consentimento dos genitores.

§ 2º Instituições de pesquisa e serviços de saúde que realizem


pesquisas ou terapia com células-tronco embrionárias humanas
n.º 2

deverão submeter seus projetos à apreciação e aprovação dos


respectivos comitês de ética e pesquisa.

§ 3º É verdade a comercialização do material biológico a que se refere


este artigo e sua prática implica o crime tipificado no art. 15 da Lei nº
9.434, de 4 de fevereiro de 1997”.

II. Dos textos constitucionais inobservados pelo preceito retro


transcrito:

1. Dispõe o artigo 5º, caput, verbis:

Artigo 5º - Todos são iguais perante a lei, sem distorção de qualquer


natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no
País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à
segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
(grifei)

2. Dispõe o artigo 1º, inciso III, verbis:

Artigo 1º - A República Federativa Brasil, formada pela união


indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-
se em Estado democrático de direito e tem como fundamentos:

III – a dignidade da pessoa humana.

III – Da fundamentação por Inconstitucionalidade material:

1. A tese central desta petição afirma que a vida humana


acontece na, e a partir da, fecundação.

2. Assim, a lição do Dr. Dernival da Silva Brandão, especialista


em Ginecologia e Membro Emérito da Academia Fluminense de Medicina, verbis:

"O embrião é o ser humano na fase inicial de sua vida. É um ser


humano em virtude de sua constituição genética específica própria e
de ser gerado por um casal humano através de gametas humanos –
espermatozóide e óvulo. Compreende a fase de desenvolvimento
que vai desde a concepção, com a formação do zigoto na união dos
gametas, até completar a oitava semana de vida. Desde o primeiro
n.º 3

momento de sua existência esse novo ser já tem determinado as suas


características pessoais fundamentais como sexo, grupo sanguíneo,
cor da pele e dos olhos, etc. É o agente do seu próprio
desenvolvimento, coordenado de acordo com o seu próprio código
genético.

O cientista Jérôme Lejeune, professor da universidade de René


Descartes, em Paris, que dedicou toda a sua vida ao estudo da genética
fundamental, descobridor da Síndrome de Dawn (mongolismo), nos
diz: "Não quero repetir o óbvio, mas, na verdade, a vida começa
na fecundação. Quando os 23 cromossomos masculinos se encontram
com os 23 cromossomos da mulher, todos os dados genéticos que
definem o novo ser humano estão presentes. A fecundação é o
marco do início da vida. Daí para frente, qualquer método artificial
para destruí-la é um assassinato".
(publicação: VIDA: o primeiro direito da cidadania – pg. 10 – em
anexo, grifei)

3. E prossegue o Dr. Dernival Brandão, verbis:

A ciência demonstra insofismamavelmente – com os recursos mais


modernos – que o ser humano, recém-fecundado, tem já o seu próprio
patrimônio genético e o seu próprio sistema imunológico diferente da
mãe. É o mesmo ser humano – e não outro – que depois se converterá
em bebê, criança, jovem, adulto e ancião. O processo vai-se
desenvolvendo suavemente, sem saltos, sem nenhuma mudança
qualitativa. Não é cientificamente admissível que o produto da
fecundação seja nos primeiros momentos somente uma "matéria
germinante". Aceitar, portanto, que depois da fecundação existe
um novo ser humano, independente, não é uma hipótese
metafísica, mas uma evidência experimental. Nunca se poderá
falar de embrião como de uma "pessoa em potencial" que está em
processo de personalização e que nas primeiras semanas pode ser
abortada. Porque? Poderíamos perguntar-nos: em que momento, em
que dia, em que semana começa a ter a qualidade de um ser humano?
Hoje não é; amanhã já é. Isto, obviamente, é cientificamente absurdo."
(publicação citada – pg. 11, grifei)

4. O Dr. Dalton Luiz de Paula Ramos, livre-docente pela


Universidade de S.Paulo, Professsor de Bioética da USP e Membro do Núcleo
Interdisciplinar de Biotética da UNIFESP acentua que, verbis:

"Os biólogos empregam diferentes termos – como por exemplo


zigoto, embrião, feto, etc-, para caracterizar diferentes etapas da
n.º 4

evolução do óvulo fecundo. Todavia esses diferentes nomes não


conferem diferentes dignidades a essas diversas etapas.

Mesmo não sendo possível distinguir nas fases iniciais os


formatos humanos, nessa nova vida se encontram todas as
informações, que se chama "código genético", suficientes para que
o embrião saiba como fazer para se desenvolver. Ninguém mais,
mesmo a mãe, vai interferir nesses processos de ampliação do
novo ser. A mãe, por meio de seu corpo, vai oferecer a essa nova
vida um ambiente adequado (o útero) e os nutrientes necessários.
Mas é o embrião que administra a construção e executa a obra.
Logo, o embrião não é "da mãe"; ele tem vida própria. O embrião
"está" na mãe, que o acolhe pois o ama.

Não se trata, então, de um simples amontoado de células. O


embrião é vida humana.

A partir do momento que, alcançando maior tamanho e


desenvolvimento físico, passamos a reconhecer aqueles formatos
humanos (cabeça, tronco, mãos e braços, pernas e pés, etc), podemos
chamar essa nova vida humana de "feto"."
(publicação citada – pg. 12/13 grifei)

5. A Dra. Alice Teixeira Ferreira, Professora Associada de Biofísica


da UNIFESP/EPM na área de Biologia Celular-Sinalização Celular afirma, verbis:

"Embriologia quer dizer o estudo dos embriões, entretanto, se refere,


atualmente, ao estudo do desenvolvimento de embriões e fetos. Surgiu
com o aumento da sensibilidade dos microscópios. Karl Ernst Von
Baer observou, em 1827, o ovo ou zigoto em divisão na tuba uterina e
o blastocisto no útero de animais, Nas suas obras Ueber
Entwicklungsgeschiechteb der Tiere e Beabachutung and Reflexion
descreveu os estágios correspondentes do desenvovimento do embrião
e quais as características gerais que precedem as específicas,
contribuindo com novos conhecimentos sobre a origem dos tecidos e
órgãos. Por isto é chamado de "Pai da Embriologia Moderna".

Em 1839 Schleiden e Schwan, ao formularem a Teoria Celular, foram


responsáveis por grandes avanços da Embriologia. Conforme tal
conceito o corpo é composto por células o que leva à compreensão de
que o embrião se forma à partir de uma ÚNICA célula, o zigoto, que
por muitas divisões celulares forma os tecidos e órgãos de todo ser
vivo, em particular o humano.

Confirmando tais fatos, em 1879, Hertwig descreveu eventos visíveis


na união do óvulo ou ovócito com o espermatozóide em mamíferos.
n.º 5

Para não se dizer que se trata de conceitos ultrapassados verifiquei que


TODOS os textos de Embriologia Humana consultados (as últimas
edições listadas na Referência Biográfica ) afirmam que o
desenvolvimento humano se inicia quando o ovócito é fertilização
pelo espermatozóide. Todos afirmam que o desenvolvimento
humano é a expressão do fluxo irreversível de eventos biológicos
ao longo do tempo que só para com a morte. Todos nós passamos
pelas mesmas fases do desenvolvimentos intrauterino: fomos um ovo,
uma mórula, um blastocisto, um feto."

6. A Dra. Elizabeth Kipman Cerqueira, perita em sexualidade


humana e especialista em logoterapia escreve, verbis:

"O zigoto, constituído por uma única célula produz imediatamente


proteínas e enzimas humanas e não de outra espécie. É
biologicamente um indivíduo único e irrepetível, um organismos
vivo pertecente à espécie humana.

b) "O tipo genético – as características herdadas de um ser humano


individualizado – é estabelecido no processo da concepção e
permanecerá em vigor por toda a vida daquele indivíduo" (Shettles e
Rorvik – Rites of Life, Grand Rapids (MI), Zondervan, 1983 – cf.
Pastuszek: Is Fetus Human – pg. 5."

"O desenvolvimento humano se inicia na fertilização, o processo


durante o qual um gameta masculino ou espermatozóide (...) se une a
um gameta feminino ou ovócito (...) para formar uma célula única
chamada zigoto. Esta célula altamente especializada e totipotente
marca o início de cada um de nós, como indivíduo único. (Keith
Moore e T.V.N Persaud – The Developing Human, Philadelphia,
W.B. Saunders Company – 1998 – pg.18

7. Anexo quadro esquemático que na, e a partir da, fecundação


marca o desenvolvimento da vida humana: o zigoto, que se desenvolve a partir de sua
unicidade celular. (vide: quadro anexo).

8. Importa, agora, abordar o tema das células-tronco.

9. Diz a Dra. Alice Teixeira Ferreira, verbis:

As células tronco embrionárias são aquelas provenientes da


massa celular interna do embrião (blastocisto). São chamadas de
células-tronco embrionárias humanas porque provêm do embrião e
porque são células-mães do ser humano. Para se usar estas células,
que constituem a massa interna do blastocisto, é destruído o embrião.
n.º 6

As células tronco adultas são aquelas encontradas em todos


os órgãos e em maior quantidade na medula óssea (tutano do osso) e
no cordão umbilical-placenta. No tutano dos ossos tem-se a
produção de milhões de células por dia, que substituem as que
morrem diariamente no sangue." (publicação citada – pg. 33, grifei)

10. O Dr. Herbert Praxedes também considera que, verbis:

"As células de um embrião humano de poucos dias são todas células-


tronco (CTE), são pluripotenciais, tendo capacidade de se auto-
renovarem e de se diferenciarem em qualquer dos tecidos do
corpo. As células-tronco adultas (CTA) são multipotenciais e têm
também capacidade de ser auto-renovarem e se diferenciarem em
vários, mas, aparente não em todos, os tecidos do organismo. As
CTA existem no organismo adulto em vários tecidos como a medula
óssea, pele, tecido nervoso, e outros, e também são encontradas em
grande concentração no sangue do cordão umbilical."
(publicação citada pg. 33 grifei)

11. O Professor Titular de Cirurgia da Universidade Autônoma de


Madrid, Dr. Damián Garcia-Olmo, em entrevista, realçou os avanços muito mais
promissores da pesquisa científica com células-tronco adultas, do que com as
embrionárias.

12. Principia por apresentar quadro real de tratamento de pacientes,


curados da enfermidade de Crohn, verbis:

--Usted ha desarrollado uma investigación sobre el tratamiento de


algunas enfermedades com células madre adultas, y parece haber
obtenido buenos resultados.

-- En el Departamento de Cirugía del Hospital Universitario La Paz de


Madrid estamos desarrollando un estudio sobre el uso de células
madre autólogas (del proprio individuo) para el tratamiento de las
fístulas en la enfermedad de Crohn ( Una efermedad inflamatoria
intestinal que aumenta rápidamente de incidencia en países
desarrollados y que afecta sobre todo a jóvenes). La aparición de
fístulas en la enfermedad de Crohn es una importante causa de
sufrimientos por su gran resistencia a curar com los tratamientos
clásicos. Por outra parte, a partit del año 2001, la terapia celular se
esta introduciendo rápidamente en muchas ramas de la medicina, en
especial desde la introducción del uso de células madre adultas. Esto
permite el autotrasplante (trasplante autólogo) sin problemas de
rechazo y obvia los graves problemas clínicos y éticos del uso de
n.º 7

células madre de origen embrionario. Com el estudio que estamos


desarrollando nos proponemos conecer si es posible y seguro utilizar
células adultas en el tratamiento de las fístulas que aparecen en los
pacientes com enfermedad de Crohn.

--Damián García-Olmo: En determinados pacientes com esta


enfermedad, realizamos una liposucción de 100 cc de grasa
subdérmica. De esta grasa extraemos una pequeña cantidad de células
madre que posteriormente son expandidas en cultivo (ex – vivo).
Cuando han crecido y tenemos un número suficiente, se realiza la
intervención quirúrgica de la fístula siguiendo los métodos habituales,
pero ademais se inyectan en diferentes puntos del trayecto fistuloso
entre 9 y 12 millones de estas células madre autólogas cultivadas.

-- Cuál es la experiencia actual?

--Desde que se obtuvieron todos los permisos legales y se comenzó la


fase clínica, dos pacientes han completado el seguimiento
programado, alcanzando temporalmente la curación completa de la
enfermedad fistulosa. Se trataba de uma fístula recto-vaginal y de una
fístula enterocutánea, ambas en mujeres jóvenes u con numerosas
operaciones previas fracasadas por esa misma causa.

Del seguimento de estos enfermos podemos deducir que: 1§ Por


liposucción podemos obtener un suficiente número de células madre.
2§.- Estas células se reproducen bien en cultivo y entre 5 y 7 días se
obtiene una cantidad suficiente para su uso clínico. 3§.- La inyección
celular no produjo en ningún momento fenómenos de rechazo. 4§.- No
se há producido un crecimiento celular incontrolado que suponga
riesgo tumoral. 5§.- Los efectos reparadores de esta terapia parecen
comenzar al cabo de 4-8 semanas de la inyección.

13. Depois, demonstra a superação do preconceito científico


contra as células-tronco adultas, a partir do trabalho da Professora Catherine
Verfaillie. De se ler, verbis:

--En qúe punto esta actualmente la investigación com celulas madres


adultas?

--El año 2002 ha sido um año clave. Tanto que ha dado um vuelco a
las expectativas sobre la investigación de usos potenciales de células
madre. Hasta esse anõ era casi un dogma que las células madre
adultas estaban tan diferenciadas que difícilmente serian útiles en
terapia celular. Pero en julio de 2002 el grupo de investigación de
la Universidade de Minnesota (USA) dirigido por la Profesora
Catherine Verfallie publicó en la revista "Nature" (una de las mas
prestigiosas de la literatura científica y extremadamente exigente a la
n.º 8

hora de publicar resultados) un estudio en el que demonstraba que


células madre obtenidas de la medula ósea de los adultos podían
diferenciarse en prácticamente todos los tipos celulares conocidos
en el adulto y concluía diciendo que por tanto era la fuente de
células ideal para el tratamiento de enfermidades degenerativas
(Cf. Natures 2002 Jul 4;418(6893):41-49).

En diciembre de ese mismo año 2002, científicos de la Universidad


de UCLA (USA) tienen hallazgos similares utilizando células
madre obtenidas por liposucción. En este trabajo consiguen obtener
incluso auténticas neuronas partiendo de estas células que procesan de
la grasa (similares a las usadas en nuestra investigaciones) (Cf.
Molecular Biology of the cell. Decembrer 2002; 13: 4279-4295)
14. E concluiu o Professor García-Olmo, verbis:

-- Son más idóneas para desarrollar terapias actualmente las células


madre adultas que las embrionarias? Porque?

--Que sepamos, en España, no hay ningún estudio clínico aprobado


para el uso de células madre procedentes de embriones. Esto es
actualmente inviable por los enormes riesgos potenciales que
conlleva (tumores, problemas de rechazo, necesidad de terapia
inmunosupresora, etc.). Sin embargo, en España, hay al menos tres
programas de uso clínico de células madre adultas en patología
humana que estan demonstrando que el uso de estas terapias es
factble y seguro. Estos grupos van a presentar sus resultados durante
un simposio que se celebrará en el Hospital Universitário La Paz el
próximo 18 de marzo.

--Sin entrar en consideraciones éticas sino con los resultados clínicos


en la mano, cree que la presión de algunos sectores por potenciar y
dotar de recursos la investigación com embriones obedece a una real
expectativa de obtener resultados o se mezclan en el tema cuestiones
diversa a las meramente científicas?

--Lo que pienso es que la comunidad científica, después de muchos


años de investigar sobre células madre embrionárias como la
mejor fuente para la terapia celular, aún no há asimilado el
cambio copernicano que se há producido en el conocimiento
durante el año pasado. Tenga en cuenta que no hace ni un año desde
la publicación de los trabajos de Catherine Verfaillie. Ademais los
médicos clínicos tardamos bastante tiempo en asimilar lo que
descubren los investigadores básicos."
(mesma entrevista grifei)
n.º 9

15. Na Alemanha, no plano legislativo, há específica lei de proteção


aos embriões, definido pelo artigo 8º, 1 como, verbis:

“Por embrião nos termos desta lei entende-se, já a partir do momento


da fusão nuclear, o óvulo humano fecundado e capaz de se
desenvolver, assim como toda célula totipotente retirada de um
embrião que, uma vez reunidas as condições necessárias, seja capaz
de se dividir e se desenvolver num indivíduo.” (vide: Lei alemã, em
anexo)

16. A propósito, faço anexar a esta petição inicial, importante registro do


il. Subprocurador-Geral da República, Dr. Eugênio Aragão, posto nestes termos, verbis:

“Atendendo a pedido de Vossa Excelência, encaminho, em anexo, a


tradução livre do alemão para o português, de minha lavra, do “Gesetz
zum Schutz von Embryonen” (ESchG) e do “Gesetz zur Sicherstellung
des Embryonenschutzes im Zusammenhang mit Einfuhr und
Verwendung menschlicher embryonaler Stammzellen ” (StZG),
correspondendo às leis alemãs sobre proteção de embriões humanos e
sobre a importação e o uso de células-tronco, respectivamente.
Coloquei em colchetes as adaptações de texto necessárias à melhor
compreensão dos textos legais.

No geral, na Alemanha é proibido o uso de embriões humanos para


fins outros que o de provocar a gravidez (ESchG § 1, Abs. 1, S. 1).
Por isso, não se prestam, embriões humanos, naquele país, à pesquisa
científica. A lei de proteção a embriões humanos também proíbe
expressamente a clonagem humana (ESchG, § 6, Abs. 1). Isso vale
também para a chamada “clonagem terapêutica”, visto que, para os
efeitos da ESchG, considera-se embrião humano toda célula
totipotente, já no seu estágio mais primário, da fusão nuclear (§ 8,
Abs. 1).

Diferente é, pela legislação alemã, a situação de células-tronco


embrionárias pluripotentes, ou seja, aquelas que não se podem
desenvolver para virem a constituir um indivíduo. Estas podem ser
usadas para fins de pesquisa científica. O problema está em garantir
que tais células sejam apenas pluripotentes e não totipotentes.

Com a promulgação da lei sobre importação e uso de células-tronco


humanas (StZG), de 28 de junho de 2002, passou-se a admitir
expressamente, mediante permissão específica, o uso de células-
tronco embrionárias importadas, desde que tenham sido geradas antes
de 1º de janeiro de 2002 e mantidas em cultura crioconservada (linhas
n.º 1

de célula-tronco). Exige-se, ademais, que os embriões que lhes deram


origem tenham sido gerados no contexto de uma fecundação
medicinal extracorporal para fins de provocar gravidez e que em
definitivo não se prestaram a tal finalidade por razões que não
contemplem a qualidade dos embriões. Por fim, é proibida a aquisição
onerosa dessas células-tronco importadas (cf. StZG, § 4, Abs. 2).

Este é o estágio atual da legislação alemã, pelo que Vossa Excelência


pode depreender das anexas traduções.”
(Doc. junto)

17. A Dra. Claudia M. C. Batista, Professora-Adjunta da UFRJ e pós-


doutorada pela University of Toronto na área de células-tronco, afirma, verbis:

“No momento da fecundação, a partir da fusão do material genético


materno e paterno, a nova célula formada, chamada zigoto,
reorganiza-se, perde proteínas inicialmente ligadas ao DNA dos
gametas, inicia um novo programa ditado por esta nova combinação
de genes, comanda de forma autônoma todas as reações que o levarão
a implantar-se no útero materno. Inicia-se uma “conversa química”
entre esta célula e as células do útero materno. Este programa é, além
de autônomo, único, irrepetível, harmônico e contínuo.

A partir da primeira divisão do zigoto, quando originam-se as duas


primeiras células, estas encontram-se predestinadas. Estudos
recentes da Dra. Magdalena Zernicka-Goetz, do Departament of
Experimental Embryology, Polish Academy of Science, Jastrzebiec,
Poland, (Cf. Nature. 2005 Mar 17;ai434 (7031): 391-5, Development.
2005 Feb; 132(3): 479-90; Development. 2002 Dec; 129(24): 5803-13;
Nat Cell Biol. 2002 Oct; 4(10:811-5), mostram clara e
irrefutavelmente que toda e qualquer parte do embrião ou feto é
formada por células já predestinadas nas primeiras horas após a
fertilização. Portanto, todo o desenvolvimento humano tem como
marco inicial a fecundação e, após este evento, têm-se um ser humano
em pleno desenvolvimento e não somente um aglomerado de células
com vida meramente “celular”. Trata-se, a partir deste evento, de um
indivíduo humano em um estágio de desenvolvimento específico e
bem caracterizado cientificamente”.

18. Fica, pois, assente:

- que a vida humana acontece na, e a partir da, fecundação: o


zigoto, gerado pelo encontro dos 23 cromossomos masculinos com os
23 cromossomos femininos;

- a partir da fecundação, porque a vida humana é contínuo


desenvolver-se;
n.º 1

- contínuo desenvolver-se porque o zigoto, constituído por uma


única célula, imediatamente produz proteínas e enzimas humanas, é
totipotente, vale dizer, capacita-se, ele próprio, ser humano
embrionário, a formar todos os tecidos, que se diferenciam e se
auto-renovam, constituindo-se em ser humano único e irrepetível.

- a partir da fecundação, a mãe acolhe o zigoto, desde então


propiciando o ambiente a seu desenvolvimento, ambientação que
tem sua etapa final na chegada ao útero. Todavia, não é o útero que
engravida, mas a mulher, por inteiro, no momento da fecundação.

- a pesquisa com células-tronco adultas é, objetiva e certamente,


mais promissora do que a pesquisa com células-tronco
embrionárias, até porque com as primeiras resultados auspiciosos
acontecem, do que não se tem registro com as segundas.

19. Estabelecidas tais premissas, o artigo 5º e parágrafos, da Lei nº


11.105, de 24 de março de 2005, por certo inobserva a inviolabidade do direito à
vida, porque o embrião humano é vida humana, e faz ruir fundamento maior do
Estado democrático de direito, que radica na preservação da dignidade da pessoa
humana.

20. Nesse passo – a preservação da dignidade da pessoa humana –


importa, aqui, reproduzir o pensamento do Dr. Gonzalo Herranz, Diretor do
Departamento de Humanidades Biomédicas da Universidade de Navarra, verbis:

“El núcleo ético del argumento es este: no todos los seres humanos
son iguales, pues unos tienen más valor y más dignidad que otros. En
concreto, ciertos seres humanos, y los embriones congelados
caducados se cuentan entre ellos, valen muy poco y podemos
intercambiarlos por cosas más valiosas. No tienen nombre, ni son
personas como las otras. Están condenados a morir y nadie los
llorará ni celebrará funerales por su muerte, inevitable y
autorizada por la Ley.

Pero, como demócratas, se ha de replicar que no es justo ni


razonable dividir a los seres humanos en grupos de valor
diferente. Los embriones sobrantes son, ante todo, hijos, que
forman parte de una familia. Formaban parte de un grupo de
hermanos. De ellos, unos fueron considerados dignos de ser
n.º 1

transferidos al seno de su madre y son ahora niños llenos de alegría de


vivir. Pero, por un azar trágico, los otros fueron dejados de lado.

La humanidad ha madurado trabajosamente la idea de que a


todos los miembros de la familia humana se ha de conferir la
misma dignidad, aunque sus ideas o su apariencia difieran
radicalmente de las propias.”
(El sacrificio de prisoneros de guerra y los embriones congelados –
Diário Médico – 6.11.02)

21. E, conclusivo, verbis:

Las vidas humanas no valen menos porque nadie las llore. La


saturación de tragedias que nos revela el telediario cada día está
quemando nuestras reservas de compasión. Nuestra capacidad de
comprender y emocionarnos no nos alcanza para conmovernos por los
que mueren a consecuencia de catástrofes naturales, accidentes,
crímenes terroristas o no, sobre todo si ocurren lejos de nosotros. No
se llora por los embriones que se pierden espontáneamente o que
son abortados. Pero no ser llorado, no ser conocido o no ser
deseado no hace a esos seres menos humanos o menos valiosos. La
deficiencia de valor no está en ellos.

Total, van a morir... Pero nuestra postura ante su muerte no es asunto


indiferente. El modo y las circunstancias de su muerte son asuntos
éticamente decisivos. Y una cosa es reconocer lo inevitable de su
muerte absurda que pone fin a una existencia todavía más absurda, y
otra muy distinta es consentir en su sacrificio en el altar de la ciencia y
sentirse redimido y justificado. Su muerte, inevitable, no es
pasivamente presenciada, sino que es activamente consentida,
programada, usada en beneficio propio. Es reducir a los embriones a
la condición de meros medios con los que se satisfacen los deseos
de otros: al principio, para cumplir unos proyectos parentales que los
han dejado en el frío; después, unos proyectos de investigación que los
dejan crecer hasta blastocistos de cinco días para reconvertirlos en
células que nada tienen que ver con su propio proyecto de vida.

En Bruselas han optado por pensarse un poco mejor donde poner el


dinero. Nosotros necesitamos también tiempo para decidir donde
ponemos el alma, porque estamos ante una decisión histórica. Paul
Ramsey lo dijo muy bien: ‘La historia moral del género humano es
más importante que la historia de la Medicina’.”
(ainda trecho outro do artigo citado acima)
n.º 1

III – Do Pedido:

1. Advindas informações do Congresso Nacional, da Presidência da


República, colhido o pronunciamento da Advocacia Geral da União, e tornando-me os
autos a parecer, peço, presentemente, a declaração de inconstitucionalidade do artigo
5º e § § da Lei 11.105, de 24 de março de 2005.

2. À luz do disposto na parte final, do § 1º, do artigo 9, da Lei nº


9868/99, solicito a realização de audiência pública a que deponham, sobre o tema,
as pessoas que apresento, e que comparecerão à audiência independentemente de
intimação, tão só bastando a este Procurador-Geral da República a intimação pessoal
da data aprazada à realização da audiência pública:

1. Professora Alice Teixeira Ferreira;

2. Professora Claudia Maria de Castro Batista;

3. Professora Eliane Elisa de Souza e Azevedo;

4. Professora Elizabeth Kipman Cerqueira;

5. Professora Lilian Piñero Eça;

6. Professor Dalton Luiz de Paula Ramos;

7. Professor Dernival da Silva Brandão;

8. Professor Herbert Praxedes; e

9. Professor Rogério Pazetti.

Brasília, 16 de maio de 2005.

CLAUDIO FONTELES
PROCURADOR-GERAL DA REPÚBLICA

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