Imigração Ou Mobilidade Social
Imigração Ou Mobilidade Social
Imigração Ou Mobilidade Social
Entender como o processo de exclusão social e nossas escolhas têm criado grande mobilidade
social, pois, como vimos, os comportamentos, hábitos e atitudes forjados, a princípio, em
ambientes sociais, como a família, igreja e escola, fabricam um autocontrole que nos dá o
direito e a liberdade de escolhas que podem nos levar ao sucesso ou ao insucesso. Tal
liberdade nos leva a caminhos nunca antes percorridos, como a imigração.
Com efeito, esta mudança melhorou e muito nossos rendimentos, os níveis de escolaridade e
o de nossas famílias, assim como as perspectivas futuras de nossos filhos. Mas essa alteração
geográfica tem um valor que vai além: possuir a possibilidade de decidir onde viver é um
elemento fundamental da suposta liberdade de escolha que discutimos no tema anterior.
Conforme o Relatório de Desenvolvimento Humano de 2009 (UNESCO), estima-se que:
aproximadamente 740 milhões de pessoas sejam migrantes internas – quase quatro vezes
mais do que aquelas que se deslocaram internacionalmente. Entre as pessoas que se
deslocaram atravessando fronteiras nacionais, pouco mais de um terço mudaram-se de um
país em desenvolvimento para um país desenvolvido – menos de 70 milhões de pessoas. A
maioria dos 200 milhões de migrantes internacionais do mundo mudou-se de um país em
desenvolvimento para outro, ou entre países desenvolvidos.
Ainda conforme o relatório, quando se escolhe um outro país para melhor viver "o imigrante
econômico frequentemente se coloca de forma aberta para acolher a nova cultura, os novos
hábitos e costumes da sociedade que elegeu". (RDH, 2009:15). Dessa forma, busca integrar-se
à nova sociedade, compreender e falar a nova língua e vai paulatinamente adquirindo novos
hábitos culturais.
Mas nem sempre esta adaptação ocorre de modo tranquilo, pois aqueles que deixam
amigos e a família poderão vir a enfrentar a solidão, sentir que não são bem-vindos entre as
pessoas que temem ou que hostilizam os estrangeiros recém-chegados, poderão perder o
emprego ou adoecer e, por isso, não ser capaz de aceder aos serviços de apoio de que
necessitam para prosperar.
Mais de 200 imigrantes em greve de fome encerraram na manhã de hoje a ocupação de cinco
dias da Escola de Direito da Universidade de Atenas, após um tenso impasse com a polícia,
enfatizando a crise enfrentada pelo país na questão dos imigrantes ilegais. Os imigrantes, em
greve de fome desde a última terça-feira, receberam o apoio de vários manifestantes gregos
que se juntaram a eles e saíram do prédio da universidade. A seguir, marcharam pelo centro
da cidade até um prédio privado alugado por manifestantes que apoiam os imigrantes. Os
grevistas, a maioria de países do norte da África, exigem ser legalizados pelo país, pedido
rejeitado pelo governo socialista local que luta contra o problema da crescente imigração
ilegal. Um grande grupo de policiais — incluindo forças especiais — cercaram o campus no
centro de Atenas durante as mais de dez horas de negociação que finalmente se encerraram
às 3h30 de hoje (horário local, 23h30 de ontem em Brasília), quando os imigrantes saíram
andando carregando cobertores e finos colchões. As informações são da Associated Press.
Se antes havia um interesse direto do Estado para a permanência dos imigrantes, hoje a
imigração de modo geral é considerada ilegal. Falamos do imigrante que por questões
econômicas decide usar sua liberdade de escolha, mas existem outros que precisam decidir
entre ficar e morrer ou se deslocar e viver. Refiro-me aos refugiados políticos, que deixam seus
países e rumam para países desenvolvidos, em busca de asilo.
Os refugiados políticos são pessoas que, por defenderem posturas políticas contrárias àquelas
que predominam em seus países de origem, obrigam-se a imigrar, por serem vítimas de
perseguição. Este tipo de imigrante normalmente não se integra na sociedade que os "acolhe",
considerando-se como visitante temporário.
Estima-se que existam 14 milhões de refugiados a viver fora do seu país de cidadania, os quais
representam cerca de 7% dos migrantes de todo o mundo. A maioria permanece perto do país
do qual fugiu e vive tipicamente em campos de refugiados até que as condições no seu país
permitam o seu regresso. Porém, cerca de meio milhão por ano viajam até países
desenvolvidos em busca de asilo. Um número muito superior, que ronda os 26 milhões, tem
estado deslocado internamente.
((RHH, 2009:15))
Note que, quando migramos ou imigramos por questões pessoais, já estranhamos o lugar que
escolhemos para viver, pois como nos diz Caetano"narciso acha feio tudo o que não é
espelho".Imaginem aqueles que por conflitos internos são obrigados a deixar parentes e
amigos? Por certo enfrentam barreiras maiores que as territoriais, principalmente as barreiras
da língua, cultura e religião.
Delors (1998) chama a atenção para a pluralidade de idiomas. "Os movimentos da população
[...] foram criando, sobretudo nas grandes aglomerações urbanas, novas situações linguísticas
que acentuam esta diversidade."
Diversidade que nos remete a diferentes modos de interpretar o mundo. Interpretações que
acontecem por manifestações culturais, religiosas, étnicas, ou seja, sociedades plurais que se
movimentam em uma dinâmica que articula realidades distintas, provocando uma revisão das
concepções modernas que nortearam a compreensão de elementos, como a diversidade de
culturas, línguas, costumes e tradições (só para citar alguns), convivendo em uma única
sociedade.
Neste aspecto, Touraine (1995: 16) assevera que a sociedade plural ou multicultural
Assim, temos um grande volume de indivíduos que vivem em uma cultura mestiça, que
constroem um sincretismo cultural ou religioso muito individualizado, quando se debilitam as
normas em grande número de esferas, desde o tipo de vida familiar ou sexual até a
alimentação ou o vestir.
Até aqui falamos sobre aqueles que migram, reconfiguram os mapas urbanos, hibridizam
culturas, intensificam a pluralização das sociedades e nações, mas esquecemos de dizer que
esse movimento gera seu contrário, pois temos aqueles que pertencem a determinado
território, que recebem este grande contingente de pessoas e, paradoxalmente, criam novas
formas de racismo, xenofobia e nacionalismos, assim como se constata um retorno para o
"local" e o "regional". Todos estes processos e fenômenos vêm obrigando os governos a
repensar suas políticas sociais e a própria organização das sociedades e, consequentemente,
nos obrigam a repensar a própria lógica que sustenta uma concepção ou conceito de cultura
para os tempos atuais.
Referências
DELORS, Jacques (Coord.). Educação: um tesouro a descobrir. São Paulo: Cortez, 1998.
(Relatório para a UNESCO da Comissão Internacional sobre Educação para o Século XXI).