24 Conceito de Saude Publica e Coletiva

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 16

REALIDADE

SOCIOECONÔMICA
E POLÍTICA
BRASILEIRA

Jaíza Gomes
Duarte Lopes
Revisão técnica:

Luciana Bernadete de Oliveira


Graduada em Ciências Políticas e Econômicas
Especialista em Administração Financeira
Mestre em Desenvolvimento Econômico Regional

Lilian Martins
Especialista em Controladoria e Planejamento Tributário

Gisele Lozada
Graduada em Administração de Empresas
Especialista em Controladoria e Finanças

Alexsander Canaparro da Silva


Bacharel em Administração de Empresas
MBA em Marketing Práticas Avançadas
MBA em Comércio Exterior e Internacional
Mestre em Administração

R429 Realidade socioeconômica e política brasileira [recurso


eletrônico ] / Daniele Fernandes da Silva... et al.; [revisão
técnica: Luciana Bernadete de Oliveira... et al.]. – Porto
Alegre: SAGAH, 2018.

ISBN 978-85-9502-450-2

1. Economia. I. Silva, Daniele Fernandes da.


CDU 338

Catalogação na publicação: Karin Lorien Menoncin - CRB -10/2147


Conceito de saúde pública
e saúde coletiva
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Conceituar saúde pública e saúde coletiva.


 Relacionar meio ambiente e saúde coletiva.
 Identificar os distintos focos de atuação da saúde coletiva.

Introdução
Neste capítulo, você vai estudar sobre saúde pública e coletiva, seus
conceitos e diferenças, com um destaque para a saúde coletiva. Também
irá compreender qual é a relação do meio ambiente com a saúde coletiva
a partir do conceito amplo de meio ambiente e como eles interagem
entre si. Por fim, você vai saber onde a saúde coletiva pode e deve atuar
e como os profissionais da saúde podem atuar dentro da saúde coletiva.

O que é saúde pública e saúde coletiva?


Saúde é sempre um tema muito debatido na sociedade, pois é um assunto que
faz parte da vida de todos nós. A saúde é essencial para a proteção da vida
humana, mas a promoção da saúde dos indivíduos vai muito além de tratar
as doenças das pessoas: promover a saúde envolve, também, a prevenção
de doenças. A prevenção implica aspectos comumente ligados à saúde, mas
também aspectos sociais. Essa visão mais ampla do que é saúde é a base para
a constituição da saúde coletiva. A seguir, vamos estudar os conceitos de
saúde pública e de saúde coletiva.
2 Conceito de saúde pública e saúde coletiva

Saúde pública
Apesar de muito semelhantes e muitas vezes confundidas, saúde pública
e saúde coletiva não são a mesma coisa: têm origens, projetos e compro-
missos diferentes.
Saúde pública se refere às intervenções e aos serviços prestados para
combater doenças ou outras situações que ponham a saúde da população em
risco. O Estado é o principal responsável por materializar a saúde pública,
ou seja, promover políticas visando o desenvolvimento do bem-estar e a
saúde da população.
A promoção de saúde pública, no entanto, vai mais além do que o Estado
pode fazer: a sociedade civil, por meio de ações para desenvolver a cidadania,
também contribui para a construção da saúde pública, e importantes elementos
do capital social contribuem para a formação de uma cultura na sociedade
que entenda a saúde como valor social.
Winslow (apud SOUZA, 2014, p. 15) define saúde pública como:

[...] a ciência e a arte de prevenir a doença, prolongar a vida, promover a


saúde física e a eficiência através dos esforços da comunidade organizada
para o saneamento do meio ambiente, o controle das infecções comunitárias,
a educação dos indivíduos nos princípios de higiene pessoal, a organização
dos serviços médicos e de enfermagem para o diagnóstico precoce e o tra-
tamento preventivo da doença e o desenvolvimento da máquina social que
assegurará a cada indivíduo na comunidade um padrão de vida adequado
para a manutenção da saúde.

Com base nesse entendimento Wislow (apud LECHOPIER, 2015, p. 209)


descreve os meios para alcançar os objetivos da saúde pública. São eles:

 sanitarização do ambiente;
 controle das infecções transmissíveis;
 educação individual da higiene pessoal;
 organização de serviços médicos e de enfermagem para o diagnóstico
precoce e o tratamento preventivo de doenças;
 construção da maquinaria social para assegurar a todos um padrão de
vida adequado para a manutenção da saúde.

A saúde pública, portanto, é uma ação coletiva entre o Estado e a sociedade


para preservar e aperfeiçoar a saúde dos indivíduos. Muitas vezes, a saúde
Conceito de saúde pública e saúde coletiva 3

pública é tratada como sinônimo das ações de saúde promovidas pelo Estado,
mas ela envolve ações não estatais também e nem todas as ações de saúde
promovidas pelo Estado são matérias de saúde pública apenas. Nesse sentido,
a Organização Pan-americana de Saúde (OPAS) (ORGANIZAÇÃO..., 2018)
define 11 funções atuais essenciais da saúde pública na América:

1. monitoramento, avaliação e análise da situação de saúde;


2. vigilância da saúde pública, pesquisa e controle de riscos e danos à
saúde pública;
3. promoção da saúde;
4. participação dos cidadãos na saúde;
5. desenvolvimento de políticas e capacidade de planejamento e gestão
institucional da saúde pública;
6. fortalecimento da capacidade institucional de regulação e fiscalização
em questões de saúde pública;
7. avaliação e promoção do acesso equitativo aos serviços de saúde
essenciais;
8. desenvolvimento e treinamento de recursos humanos para a saúde
pública;
9. garantia da melhoria da qualidade dos serviços de saúde individuais
e coletivos;
10. pesquisa em saúde pública;
11. redução do impacto de emergências e desastres na saúde.

Saúde coletiva
A saúde coletiva no Brasil é formada a partir do movimento sanitarista latino-
-americano e da corrente da reforma sanitária no país, que ocorreram entre 1960
e 1970. Nessa época, foram criados programas para expandir o atendimento
médico às zonas rurais e periféricas urbanas; também foram criados, nos
cursos de medicina, departamentos de medicina preventiva.
A saúde coletiva é formada por elementos das políticas de saúde pública
e de ciências sociais. A saúde coletiva tem um olhar econômico, social e
ambiental sobre as possíveis proliferações de doenças nas regiões, agindo
preventivamente para combatê-las. Utilizando dados sociais, econômicos e
sobre a propagação de doenças, a saúde coletiva age na prevenção das causas
de epidemias. As formas de prevenção adotadas devem levar em consideração
as particularidades de cada região.
4 Conceito de saúde pública e saúde coletiva

Souza (2014, p. 11) define saúde coletiva como:

[...] uma área do saber que toma como objeto as necessidades sociais de saúde
(e não apenas as doenças, os agravos ou os riscos), entendendo a situação
de saúde como um processo social (o processo saúde-doença) relacionado
à estrutura da sociedade e concebendo as ações de atenção à saúde como
práticas simultaneamente técnicas e sociais.

Quanto ao campo de conhecimento, Paim e Almeida (1998, p. 309) têm a


seguinte visão sobre saúde coletiva:

[...] a saúde coletiva contribui com o estudo do fenômeno saúde/doença em


populações enquanto processo social; investiga a produção e distribuição
das doenças na sociedade como processos de produção e reprodução social;
analisa as práticas de saúde (processo de trabalho) na sua articulação com
as demais práticas sociais; procura compreender, enfim, as formas com que
a sociedade identifica suas necessidades e problemas de saúde, busca sua
explicação e se organiza para enfrentá-los.

Pode parecer que não há diferença entre a saúde coletiva e a saúde


pública, mas é importante enfatizar que a saúde coletiva tem como objeto
de estudo as necessidades da saúde, enquanto que a saúde pública tem
como objeto de estudo os problemas de saúde. Mas qual a diferença entre
problemas e necessidades de saúde? Os problemas de saúde dizem respeito
aos aspectos de combate à doença e longevidade; já as necessidades da
saúde, além disso, também abrangem os aspectos de melhoria na qualidade
de vida, liberdade humana e busca pela felicidade (SOUZA, 2014, p. 17 e
18). A saúde coletiva é um elemento social importante e a sua promoção
está diretamente ligada ao conceito de políticas públicas e popularização
da vida social.
Outra forma de verificar a diferença entre saúde pública e coletiva
é sob a ótica dos meios de trabalhos utilizados por ambas. Para Souza
(2014, p. 18), o instrumento de trabalho da saúde pública é a epidemiologia
tradicional, ou seja, a concepção biologista da saúde, e o instrumento da
saúde coletiva é:

[...] a epidemiologia social ou crítica que, aliada às ciências sociais, prioriza o


estudo da determinação social e das desigualdades em saúde, o planejamento
estratégico e comunicativo e a gestão democrática. Além disso, abre-se às
contribuições de todos os saberes - científicos e populares - que podem orientar
Conceito de saúde pública e saúde coletiva 5

a elevação da consciência sanitária e a realização de intervenções intersetoriais


sobre os determinantes estruturais da saúde. Assim, os movimentos como
promoção da saúde, cidades saudáveis, políticas públicas saudáveis, saúde
em todas as políticas compõem as estratégias da Saúde Coletiva.

Podemos afirmar, aqui, que a saúde pública é uma forma de saúde coletiva,
ou seja, a saúde coletiva é um aspecto mais amplo da saúde. Atualmente, a
saúde pública envolve um planejamento nacional e mais recursos do Estado.
Já a saúde coletiva deve ser planejada de forma regional, de acordo com a
realidade local, e atuar estrategicamente na prevenção.

Meio ambiente e saúde coletiva


Antes de entendermos a relação da saúde coletiva com o meio ambiente, é
fundamental definir o que é meio ambiente, porque muitas vezes relaciona-
mos essa palavra apenas às florestas e aos rios afastados da urbanização. No
entanto, meio ambiente é tudo aquilo que está à nossa volta, é o lugar do qual
fazemos parte. Ou seja, o ambiente, seja rural ou urbano, é meio ambiente.
A Lei da Política Nacional do Meio Ambiente (Lei nº 6.938, de 31 de agosto
de 1981) no artigo 3, define meio ambiente como “o conjunto de condições,
leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite,
abriga e rege a vida em todas as suas formas”.

As dimensões do meio ambiente seriam tanto os patrimônios naturais (fauna,


flora, recursos minerais, recursos hídricos) e sua relação direta e indireta com
os seres vivos e humanos quanto os patrimônios artificiais construídos pelos
seres humanos e toda a sua infraestrutura relacionada, como a construção
de uma cidade e seu devido saneamento básico, rodovias, serviços médico-
-hospitalares, sem esquecer a cultura humana que perpassa por esses ambientes
diferentes (OLIVEIRA; CASTRO, 2013, p. 6).

Com esse entendimento sobre o meio ambiente, podemos compreender


a sua relação com a saúde coletiva. Os seres humanos fazem parte do meio
ambiente e as modificações no meio ambiente afetam o bem-estar e a saúde
dos seres humanos, assim como as modificações humanas alteram o meio
ambiente. Dessa forma, as condições sanitárias, como parte do ambiente em
que o homem vive, afetam a saúde humana.
A saúde coletiva, como mencionado, atua na prevenção das epidemias;
para intervir na prevenção de doenças, é necessário que atue, também, na área
sanitária, ou seja, na higiene. Por isso, na década de 1980, no Brasil, a luta
6 Conceito de saúde pública e saúde coletiva

pela saúde coletiva fica entrelaçada com a busca pela Reforma Sanitária. Ao
longo dos anos, esses dois assuntos foram estrategicamente separados, mas
ainda estão fortemente ligados.
A higiene em volta do ambiente onde as pessoas moram é um fator
extremamente importante para a prevenção de doenças. A saúde é afetada
pela poluição e pela destruição da água, do ar e do solo, assim como por
péssimas condições de moradia e inexistência de saneamento básico. Essas
condições são encontradas nas grandes regiões urbanas, principalmente
nas favelas e nos cortiços. Para assegurar a saúde, a habitação das pessoas
precisa ser saudável.

[...] a habitação é considerada como um agente da saúde de seus moradores e


relaciona-se com o território geográfico e social onde se assenta, os materiais
usados para sua construção, a segurança e qualidade dos elementos combina-
dos, o processo construtivo, a composição espacial, a qualidade dos acaba-
mentos, o contexto global do entorno (comunicações, energia, vizinhança) e
a educação em saúde e ambiente de seus moradores sobre estilos e condições
de vida saudável. Do ponto de vista do ambiente como determinante da saúde,
a habitação se constitui em um espaço de construção e desenvolvimento da
saúde da família. (AZEREDO et al., 2007, p. 744).

A Organização Mundial da Saúde (OMS) publicou um relatório, em 2014,


no qual afirma, com base em estudos, que a cada 1 dólar investido em água
e saneamento básico, é possível economizar 4,3 dólares em saúde no mundo.
Segundo a empresa Terra Ambiental, o não tratamento do esgoto pode ocasio-
nar doenças como febre tifoide, cólera, hepatite A e leptospirose. No Brasil,
segundo o IBGE, em 2013, 60,9% das residências tinham banheiro e esgoto
sanitário por rede geral de esgoto, ou seja, 39,1% dos domicílios brasileiros
ainda não têm saneamento básico (ONU, 2014).

O economista Eduardo Giannetti fala sobre desigualdade


no Brasil e como a falta de saneamento básico pode afetar
a saúde das pessoas e as suas condições de desenvolvi-
mento educacional. Assista ao vídeo no link ou código a
seguir (HEMEG, 2011).

https://goo.gl/iTUEGS
Conceito de saúde pública e saúde coletiva 7

A poluição e a degradação da água e do solo são causadas por diversos


fatores, e um dos principais é o despejo de resíduos químicos, como mer-
cúrio e enxofre, pelas indústrias de mineração, que podem causar graves
danos à saúde da população inserida no meio ambiente afetado. Outro
fator do meio ambiente que afeta a saúde da população são os alimentos
transgênicos e o uso excessivo de agrotóxicos na produção dos alimentos.
Existem sérios indícios de que os alimentos transgênicos afetam a saúde
dos consumidores, diminuindo a expectativa de vida e aumentando as
chances de desenvolver câncer.
Os resíduos sólidos jogados nas ruas e avenidas das áreas urbanas
também são causas de problemas na saúde coletiva. Esses resíduos acumu-
lados prejudicam a rede de drenagem das ruas, o que provoca inundações
e aumenta o risco de epidemias, como a leptospirose. Em 2011, houve o
famoso caso de deslizamento de terras nos municípios de Nova Friburgo,
Petrópolis, São José do Vale do Rio Preto e Teresópolis; nesse mesmo
período, foi registrado um significativo aumento no número de internações
por causa da leptospirose, o número chegou a quase 20 internações em
fevereiro de 2011 – sendo que a média registrada para esse mês era menor
que cinco internações.
Quando esses resíduos estão acumulados em terrenos abandonados, tornam-
-se redutos de larvas do mosquito aedes egpypti, que transmite dengue, zika,
febre chikungunya e febre amarela. No Brasil, em 2013, 12,9% da população
afirmou ter tido dengue, ou seja, 25,8 milhões de pessoas.
Como você pode perceber, a maioria das causas ambientas menciona-
das até agora que afetam a saúde das pessoas são causas que atingem a
população mais pobre. Por isso, podemos considerar que a desigualdade, a
exclusão social e a marginalização de indivíduos são as condições que mais
causam impactos na saúde humana. Infelizmente, essas são as condições
em que vivem milhares de brasileiros e milhares de pessoas ao redor do
mundo nos países em desenvolvimento.

As condições básicas de vida a que todos os seres humanos têm direito (saúde,
segurança, trabalho, educação, moradia etc.), dependem diretamente de um
meio ambiente saudável (Johnston, 1995). Os elevados índices de morbidade
e mortalidade nos países em desenvolvimento, com os conhecimentos de
prevenção que se têm, poderiam ser reduzidos quase aos níveis dos países
desenvolvidos. As causas dos atuais excessos de doenças nos países em de-
senvolvimento são, na sua maioria, originárias do meio ambiente e poderiam
essencialmente ser evitadas (DOLL, 1992; MENDES, 1988 apud FERREIRA;
ANJOS, 2001, p. 695).
8 Conceito de saúde pública e saúde coletiva

A melhoria na distribuição de renda, que envolve fatores políticos, econô-


micos e sociais, proporcionaria uma melhoria na saúde da população.

O Índice de Gini é um índice que mede a desigualdade. É medido de 0 a 1: quanto


mais próximo de 0, mais igual é a distribuição da renda no país; quanto mais próximo
de 1, mais desigual é a distribuição de renda na sociedade.
Em 2016, segundo IBGE, o Índice de Gini no Brasil foi igual a 0,525. Segundo a Se-
cretaria de Política Econômica do Ministério da Fazenda, em 2015, 5% dos brasileiros
concentravam 28% da renda bruta do país.

Focos de atuação da saúde coletiva


A saúde coletiva, por representar um conceito mais amplo de saúde, tem vários
focos de atuação, ou seja, existem várias áreas de atuação da saúde coletiva.
No geral, ela atua na promoção, proteção e recuperação da saúde.
A promoção da saúde atua no diagnóstico, reconhecimento e tratamento
das doenças e de aspectos que afetem a qualidade de vida da população,
assim como no desenvolvimento e elaboração de tecnologias voltadas para
os diversos aspectos da saúde, como cultura, educação e cuidado. Já a
proteção da saúde atua no diagnóstico, reconhecimento e tratamento dos
fatores que causam a desigualdade e a vulnerabilidade social, no controle
de doenças, na vigilância epidemiológica, sanitária e ambiental e na redução
de riscos. Combater a desigualdade e a vulnerabilidade social é uma difícil
tarefa e deve incluir todas os suportes sociais e estatais, mas também a
participação do próprio individuo, que também deve ser um agente atuante
em relação à sua saúde.
A recuperação da saúde atua na parte institucional, na gestão e no planeja-
mento das clínicas, hospitais, nos processos de acolhimento, nos programas e
sistemas assistenciais e de apoio psicológico e de toda a rede de saúde.
A saúde coletiva atua em diversas áreas para assegurar a promoção da
saúde em todos seus aspectos. Nos estudos e pesquisas acadêmicas desen-
volvidas para tentar compreender as dimensões em que a saúde coletiva
Conceito de saúde pública e saúde coletiva 9

deve atuar, também se tem entendido que a saúde coletiva exige uma trans-
disciplinaridade, ou seja, a união de várias disciplinas para se chegar ao
conhecimento. A respeito desse assunto, observe o que escrevem Sánchez
e Bertolozzi (2007, p. 322):

A abordagem na perspectiva da determinação social da saúde-doença e que o


modelo de vulnerabilidade apresentado incorpora aponta para a necessidade
da transdisciplinaridade, o que é fundamental quando se trata de problemas
ou de necessidades de saúde, na medida em que a complexidade do objeto da
saúde requer diferentes aportes teórico-metodológicos, sob pena de reduzir
as ações a “tarefas” pontuais, de caráter emergencial, que não modificam a
estrutura da teia de causalidade.

Uma outra forma de ver os focos de atuação da saúde coletiva é a partir da


análise da forma como os profissionais que atuam nela podem exercer suas
atividades. Regis e Batista (2015, p. 835) descrevem como deve ser a atuação
do enfermeiro na saúde coletiva:

[...] desenvolver atividades gerenciais e contribuir com a consolidação da


estratégia da saúde da família. É competência do enfermeiro, ainda, promover
atividades educativas e ações que garantam a integralidade do ser humano
na atenção à saúde. Evidencia-se a importante contribuição da saúde coletiva
para o empoderamento de enfermeiros dentro do atual contexto brasileiro
e mundial. A saúde coletiva configura-se como uma nova perspectiva de
saberes e práticas: as possibilidades teóricas são ampliadas para além da
enfermagem centrada em procedimentos e no corpo biológico; a autonomia
e o trabalho em equipe ressignificam a prática dos enfermeiros e atributos
como comprometimento social e visão crítica e reflexiva são identificados
não só como características do ser humano-cidadão, mas também do ser
humano-profissional enfermeiro.

O nutricionista é um profissional que também pode atuar na saúde coletiva,


promovendo a segurança alimentar como uma forma de prevenir doenças de
uma pessoa ou de um determinado grupo da população; por exemplo, ele pode
trabalhar no combate à obesidade em um caso específico ou com campanhas
educativas junto a grupos de crianças em escolas.
10 Conceito de saúde pública e saúde coletiva

Segundo a OMS, 213 milhões de crianças e adolescentes no mundo estavam com


sobrepeso. As taxas de obesidade infantil continuam crescendo em países de baixa
e média renda. As tendências estatísticas preveem um futuro de uma geração inteira
de crianças e adolescentes obesos e com maior propensão a desenvolver doenças
como a diabete. Por isso é tão importante a atuação de nutricionistas na orientação
de crianças e adolescentes e dos responsáveis (ORGANIZAÇÃO..., 2017).

O fisioterapeuta pode atuar na saúde coletiva, tanto desenvolvendo seu


trabalho no atendimento de reabilitação quanto na orientação postural, que é
um importante aliado na prevenção de diversas doenças. Bispo Júnior (2010,
p. 1633) descreve a importância da orientação postural e indica como deve
ser construída essa orientação nas comunidades:

A questão da postura deve ser difundida em âmbito coletivo não apenas como
questão estética, mas como atitude corporal inerente a uma vida saudável e
fator preventivo para diversas doenças. No âmbito da atenção básica, o fisio-
terapeuta deve atuar preferencialmente com grupos populacionais, orientando
sobre as posturas mais adequadas para cada grupo ou para cada situação. A
prática da educação em saúde não deve e não pode ser entendida como ação
vertical e unidirecional, do profissional que sabe para a população que não
sabe. O processo de educação e orientação postural deve ser construído cole-
tivamente, levando-se em consideração quais os hábitos, costumes e crenças
com poder de influência na postura daquela comunidade.

O psicólogo saindo das práticas individuais de consultórios pode ampliar


sua contribuição para o campo coletivo. Esse profissional pode atuar no
acolhimento e cuidado com os usuários das redes de saúde pública, suas
famílias e os profissionais que atuam nela. Os profissionais citados aqui são
apenas exemplos para que você possa compreender melhor como se atua
e trabalha na saúde coletiva. Há, no entanto, diversos outros profissionais
que também podem colaborar com as áreas da saúde coletiva, pois, como
já vimos, ela integra vários focos de atuação dentro da saúde, economia
e sociedade.
Conceito de saúde pública e saúde coletiva 11

AZEREDO, C. M. et al. Avaliação das condições de habitação e saneamento: a impor-


tância da visita domiciliar no contexto do Programa de Saúde da Família. Ciência &
Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 12, n. 3, p. 743-753, 2007. Disponível em: <https://
www.scielosp.org/pdf/csc/2007.v12n3/743-753/pt>. Acesso em: 14 mar. 2018.
BISPO JÚNIOR, J. P. Fisioterapia e saúde coletiva: desafios e novas responsabilidades
profissionais. Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 15, supl. 1, p. 1627-1636, 2010.
Disponível em: <https://www.scielosp.org/pdf/csc/2010.v15suppl1/1627-1636/pt>.
Acesso em: 14 mar. 2018.
FERREIRA, J. A.; ANJOS, L. A. Aspectos de saúde coletiva e ocupacional associados
à gestão dos resíduos sólidos municipais. Cadernos de Saúde Pública, Rio de Janeiro,
v. 17, n. 3, p. 689-696, maio/jun. 2001. Disponível em: <http://www.limpezapublica.
com.br/textos/4651.pdf>. Acesso em: 12 fev. 2018.
HEMEG, F. Economista comenta desigualdade no Brasil. sensacional! YouTube, 2011.
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=hwL_xFbXtvs>. Acesso em:
14 mar. 2018.
LECHOPIER, N. Quatro tensões na saúde pública. Estudos Avançados, São Paulo, v.
29, n. 83, 2015. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/ea/v29n83/0103-4014-
-ea-29-83-00209.pdf>. Acesso em: 10 fev. 2018.
OLIVEIRA, A. C.; CASTRO, L. P. G. Vigilância em Saúde e Ambiente: interfaces do meio
ambiente com a saúde humana. In: MOSTRA DE PRODUÇÃO CIENTÍFICA DA PÓS-
-GRADUAÇÃO LATO SENSU DA PUC GOIÁS: CIÊNCIA, SAÚDE E ESPORTE. 8., Goiânia,
2013. Artigos... Goiânia: PUC-Goiás, 2013. Disponível em: <http://www.cpgls.pucgoias.
edu.br/8mostra/Artigos/Caderno%208%20Mostra.pdf>. Acesso em: 15 fev. 2018.
ONU BRASIL. OMS: Para cada dólar investido em água e saneamento, economiza-se
4,3 dólares em saúde global. ONUBR, Brasília, DF, 2014. Disponível em: <https://naco-
esunidas.org/oms-para-cada-dolar-investido-em-agua-e-saneamento-economiza-
-se-43-dolares-em-saude-global/>. Acesso em: 10 fev. 2018.
ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DE SAÚDE. Funções Essenciais de Saúde Pública –
FESP. PAHO Brasil, Brasília, DF, 2018. Disponível em: <http://www.paho.org/bra/index.
php?option=com_content&view=article&id=340:funcoes-essenciais-de-saude-
-publica-fesp&Itemid=444>. Acesso em: 14 mar. 2018.
ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DE SAÚDE. Obesidade entre crianças e adoles-
centes aumentou dez vezes em quatro décadas, revela novo estudo do Imperial
College London e da OMS. PAHO Brasil, Brasília, DF, 2017. Disponível em: <http://
www.paho.org/bra/index.php?option=com_content&view=article&id=5527:obe
sidade-entre-criancas-e-adolescentes-aumentou-dez-vezes-em-quatro-decadas-
12 Conceito de saúde pública e saúde coletiva

-revela-novo-estudo-do-imperial-college-london-e-da-oms&Itemid=820>. Acesso
em: 14 mar. 2018.
PAIM, J. S.; ALMEIDA FILHO, N. Saúde coletiva: uma “nova saúde pública” ou campo
aberto a novos paradigmas? Revista de Saúde Pública, São Paulo, v. 32, n. 4, p.299-316,
1998. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/rsp/v32n4/a2593.pdf>. Acesso em:
13 fev. 2018.
REGIS, C. G.; BATISTA, N. A. O enfermeiro na área da saúde coletiva: concepções
e competências. Revista Brasileira de Enfermagem, Brasília, DF, v. 68, n. 5, p. 830-6,
set./out. 2013. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/reben/v68n5/0034-7167-
-reben-68-05-0830.pdf>. Acesso em: 15 fev. 2018.
SÁNCHEZ, A. I. M.; BERTOLOZZI, M. R. Pode o conceito de vulnerabilidade apoiar a
construção do conhecimento em Saúde Coletiva? Ciência & Saúde Coletiva, Rio de
Janeiro, v. 12, n. 2, p. 319-324, 2007. Disponível em: <https://www.scielosp.org/pdf/
csc/2007.v12n2/319-324/pt>. Acesso em: 15 fev. 2018.
SOUZA, L. E. P. F. Saúde Pública ou Saúde Coletiva? Revista Espaço para a Saúde, Lon-
drina, v. 15, n. 4, p. 01-21, out./dez. 2014. Disponível em: <http://www.escoladesaude.
pr.gov.br/arquivos/File/saude_publica_4.pdf>. Acesso em: 14 fev. 2018.

Leituras recomendadas
BRASIL. Saúde Brasil 2013: uma análise da situação de saúde e das doenças transmissí-
veis relacionadas à pobreza. 10. ed. Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2014. Disponível
em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/saude_brasil_2013_analise_situa-
cao_saude.pdf>. Acesso em: 14 mar. 2018.
CONHEÇA as doenças causadas pelo “não tratamento” do esgoto. Tera, São Paulo, 2013.
Disponível em: <http://www.teraambiental.com.br/blog-da-tera-ambiental/conheca-
-as-doencas-causadas-pelo-nao-tratamento-do-esgoto>. Acesso em: 11 fev. 2018.
IBGE revela como anda a saúde do Brasil. Uol, São Paulo, 2015. Disponível em: <https://
noticias.uol.com.br/saude/ultimas-noticias/redacao/2015/06/02/ibge-revela-como-
-anda-a-saude-do-brasil.htm>. Acesso em: 14 mar. 2018.
RATTNER, H. Meio ambiente, saúde e desenvolvimento sustentável. Ciência & Saúde
Coletiva, Rio de Janeiro, v.14, n. 6, p. 1965-1971, 2009. Disponível em: <http://www.
scielo.br/pdf/csc/v14n6/02.pdf>. Acesso em: 12 fev. 2018.
SAÚDE pública ou saúde coletiva: qual a diferença entre os termos? Portal Educa-
ção, Campo Grande, 2018. Disponível em: <https://www.portaleducacao.com.br/
Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para
esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual
da Instituição, você encontra a obra na íntegra.
Conteúdo:

Você também pode gostar