Conceitos de Sustentabilidade e Sua Insersão No
Conceitos de Sustentabilidade e Sua Insersão No
Conceitos de Sustentabilidade e Sua Insersão No
Sílvia Pedroso Xavier (1); Antonio Manuel Nunes Castelnou (2); Sergio Fernando
Tavares (3);
(1) Programa de Pós-Graduação em Construção Civil – Universidade Federal do Paraná, Brasil –
e- mail: [email protected]
(2) Departamento de Arquitetura e Urbanismo – Universidade Federal do Paraná, Brasil – e-mail:
[email protected]
(3) Programa de Pós-Graduação em Construção Civil – Universidade Federal do Paraná, Brasil – e-
mail: [email protected]
RESUMO
Proposta: O presente artigo pretende abordar o ensino de Arquitetura e Urbanismo sob o viés do
paradigma da sustentabilidade. Esta discussão é parte da revisão bibliográfica da dissertação de
mestrado: “Ensino de arquitetura e urbanismo: abordagem transdisciplinar focada nos princípios da
sustentabilidade”. Apresenta-se os conceitos acerca da sustentabilidade (enfatizando a abordagem
ambiental) e seu impacto no projeto do ambiente construído, e por conseqüência no exercício da
profissão de arquiteto. Metodologia: Revisão bibliográfica sobre: a) o estado da arte do ensino de
projeto de arquitetura no Brasil; b) conceitos gerais de sustentabilidade ambiental e seu contexto com
o ambiente construído; c) entrevistas pessoais com professores da UFRGS e Unicamp que já aplicam o
conceito de ensino de projeto com o enfoque na sustentabilidade; d) levantamento dos trabalhos
publicados que abordam o tema: ensino de projeto de arquitetura com vistas à sustentabilidade e
descrição dessas experiências ímpares. Resultados Esperados: A reflexão sobre os assuntos
abordados (ensino de projeto de arquitetura Brasil; sustentabilidade; sustentabilidade no ambiente
construído) pretende gerar uma discussão sobre novas perspectivas do ensino de arquitetura e
urbanismo com vistas à sustentabilidade. Justificativa: Contribuição para uma nova maneira de
ensinar e aprender arquitetura, condizente com os paradigmas e desafios do início do século XXI.
2 OBJETIVO
Este trabalho tem por objetivo iniciar uma discussão sobre o ensino de arquitetura e urbanismo sob o
paradigma da sustentabilidade. Para isso será apresentada uma revisão bibliográfica que pretende
relacionar os seguintes temas: a) sustentabilidade – definições, desafio energético e visão holística de
mundo; b) sustentabilidade no ambiente construído; c) ensino de arquitetura e urbanismo no Brasil.
Espera-se, como resultado, formar uma base teórica que possa contribuir com o ensino de arquitetura e
urbanismo visando um profissional que trabalhe à luz da sustentabilidade.
1
Obras literárias: Admirável Mundo Novo, Aldous Huxley (1932); Mil Novecentos e Oitenta e Quatro, Geoge Worwell
(1949); Fahrenheit 451, Ray Bradbury (1953), entre outros. Filmes: Guerra dos Mundos, Dir. Byron Haskin (1953); La
Jetée, Dir. Chris Marker (1962), 2001: Uma Odisséia no Espaço, Dir. Stanley Kubrick (1968); Laranja Mecânica, Dir.
Stanley Kubrick (1971); e Silent Running, Dir. Douglas Trumbull (1972), entre outros.
2
UMA VERDADE inconveniente. Direção de Davis Guggenheim. Los Angeles: Paramount Classics: 2006. 1 DVD
(100min), color.
3
Trad. livre: Um problema não pode ser resolvido pela mesma mente que o criou. Citado por: Arqa Chrisna Du Pleiss, Prof.
Kenneth Masden e Profa Liliana Miranda em suas palestras no V Encontro Nacional e III Encontro Latino-Americano sobre
Edificações e Comunidades Sustentáveis, realizado em 2009, na cidade de Recife PE.
desenvolvimento sustentável. É deste documento, popularmente conhecido por Relatório Brundtland,
em honra à primeira-ministra norueguesa Gro Harlem Brundtland, então presidente da CMMAD, a
definição de que “o desenvolvimento sustentável é aquele que atende as necessidades do presente sem
comprometer as possibilidades de as gerações futuras atenderem suas próprias necessidades”.
A célebre definição de Brundtand, apesar de amplamente aceita e difundida, não cerca o assunto em
sua totalidade. Myttenaere (2006), afirma que esta definição é um tanto vaga, pois não define quais são
as tais necessidades do presente e futuro, nem de quem são e para quem. No entanto, ainda conforme
Myttenaere, o relatório aponta uma preocupação com a interdependência das escalas locais, regionais e
mundiais e, principalmente, que o cenário econômico não pode ser considerado isoladamente: deve-se
levar em conta as dimensões ambientais e sociais.
Já Sahtouris (2009) destaca que, antes de qualquer discussão sobre sustentabilidade, é preciso entender
realmente que uma atitude insustentável significa fadar ao futuro a impossibilidade da sobrevivência.
Ela exemplifica que uma sociedade sustentável viveria de modo análogo ao funcionamento natural de
uma floresta tropical ou uma pradaria: cada ser tem e cumpre a sua função, havendo uma diversidade
de recursos que são utilizados sem desperdícios e sendo o lixo gerado consumido por esta mesma
sociedade. Lovelock (2006a) compara a civilização com um viciado que morrerá caso continue
consumindo a droga ou se tentar uma retirada brusca.
É crescente também o uso do conceito Triple Bottom Line – TBL ou 3BL, cunhado por Elkington
(1998), o qual avalia o sucesso de empresas não apenas pelo seu desempenho econômico, mas também
por outros critérios intangíveis como as esferas social e ambiental (NORMAN; MacDONALD, 2003).
Em inglês, este conceito é apresentado também como 3P: Profit, People e Planet, que representam
respectivamente o desempenho econômico, o progresso social e o equilíbrio ambiental.
Sahtouris (2009) ainda destaca que a sustentabilidade não é um assunto que tange apenas a esfera
ambiental, pois implica em uma compreensão do ser; da maneira como cada um pensa e age em
relação a si mesmo e aos outros; e do modo que se produz e oferece produtos e serviços. Assim, a
sustentabilidade demanda uma abordagem holística 4. Capra (2008) reforça este conceito, afirmando
que a visão do mundo está mudando: da visão mecanicista de Descartes e de Newton para uma visão
ecológica, holística.
4
Conforme o dicionário eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa 1.0 o vocábulo „holístico‟significa: Abordagem, no campo
das ciências humanas e naturais, que prioriza o entendimento integral dos fenômenos, em oposição ao procedimento analítico
em que seus componentes são tomados isoladamente.
5
Os “cinco pontos de uma nova arquitetura” são: 1 – Pilotis: a casa eleva-se do chão. 2 – Planta Livre: a estrutura do edifício
permite que o espaço interno seja organizado da forma como se deseje. 3 – Fachada Livre: como as paredes externas não
sustentavam peso, elas podiam receber, sempre que necessário, janelas e outras aberturas. 4 – A janela larga: uma grande
janela horizontal. 5 – O terraço ajardinado: a ideia era recuperar a área coberta pela casa e pôr os seus moradores em contato
direto com a natureza (DARLING, 2000).
6
A Guerra dos 6 dias e Guerra do Yom Kippur, localizadas no Oriente Médio em meados dos anos 70, comprometeram a
produção e distribuição de petróleo.
sobre a energia necessária para a manufatura e transporte dos materiais de construção ou sobre qual
seria a adaptação do edifício em relação ao clima. Assim, estes fatores não eram considerados como
diretrizes de projeto e esta omissão se traduziu em uma série de edifícios com baixo desempenho
ambiental.
Edwards (2008) afirma que a definição de desenvolvimento sustentável, postulada por Brundtland,
gerou muitas outras subdefinições, cada uma inserida dentro de sua subárea. O autor destaca duas
definições sobre construção e projetos sustentáveis. A primeira, proposta pelo escritório inglês
Norman Foster + Partners define que o projeto sustentável seria a “criação de edificações eficientes
do ponto de vista energético, saudáveis, confortáveis, de uso flexível e projetadas para terem uma
longa vida útil”. Já a Building Services Research and Information Association (Associação para a
Informação e Pesquisa sobre as Instalações dos Edifícios) – BSRIA define que construção sustentável
seria a “criação e gestão de edifícios saudáveis, baseados em princípios ecológicos e no uso eficiente
dos recursos”.
Assim, os critérios apresentados pelos autores citados são:
a) Eficiência Energética;
b) Edificação Saudável e Confortável;
c) Flexibilidade de uso;
d) Utilização de princípios ecológicos;
e) Longa vida útil;
f) Uso eficiente dos recursos.
Estas características das edificações já estavam presentes em muitas edificações vernaculares. A
arquitetura vernácula seria aquela que respeita o contexto ambiental e os materiais disponíveis.
Utiliza-se da tradição e das técnicas locais, construindo conforme os valores, o modo de vida e a
cultura das pessoas que as executam (OLIVER, 1997). Aschquint e Vellinga (2009) destacam ainda
que no século XXI o interesse pelo estudo da arquitetura vernacular não é pelo resgate histórico
cultural, mas pelo que pode contribuir para novas técnicas e soluções, bem como pelo melhor
desempenho do ambiente construído.
O primeiro sinal da necessidade de se avaliar o desempenho ambiental de edifícios veio exatamente
com a constatação que, mesmo os países que acreditavam dominar os conceitos de projeto ecológico,
não possuíam meios para verificar quão "verdes" eram de fato os seus edifícios (SILVIA, 2007). Para
suprir esta demanda foram criadas a partir da década de 1990 ferramentas de avaliação ambiental
também chamadas de “ferramentas de certificação”. Cada uma estabelece critérios a serem seguidos e
atribui a eles certa pontuação: deve-se atingir uma pontuação mínima para receber o certificado 7.
Outra ferramenta importante de avaliação do desempenho ambiental é a chamada Análise de Ciclo de
Vida – ACV. A norma ISO 14040 (1997) define a ACV como uma investigação abrangente do uso de
todos os insumos relativos a um processo de obtenção de um bem ou serviço e suas conseqüências em
termos de impactos ambientais. Ela é dividida em quatro etapas: Objetivo e Escopo; Análise do
Inventário; Avaliação de Impacto; e Interpretação. A partir da definição de um escopo que estabelece
os limites da pesquisa, é realizado um inventário que inclui os recursos naturais, materiais e
energéticos utilizados. Posteriormente são definidas e ponderadas categorias de impactos ambientais, a
partir das quais se dá o resultado da análise.
As figuras seguintes representam três momentos distintos da história da arquitetura e
conseqüentemente relações diferentes com o meio ambiente. A Farnsworth house de Mies van der
Rohe (fig. 01) repousa absoluta sobre o terreno, sem manter com ele nenhuma relação direta. Esta
edificação poderia ser reproduzida em qualquer outro sítio. Já a casa tradicional de Batik (fig. 02) é um
exemplo de arquitetura vernacular. Seus elementos construtivos buscam uma melhor resposta ao
clima: os beirais oferecem proteção solar e as aberturas uma boa ventilação (BEHLING; BELING,
2002). Por fim, o projeto do escritório do arquiteto italiano Renzo Piano (fig. 03) acompanha a
inclinação do terreno, além de demonstrar outras preocupações com o desempenho ambiental.
7
Algumas ferramentas: BREEAM BEPAC, LEED, CASBEE, HQE, GBC, Green Star, etc..
Figura 01: Farnsworth house (1951, Chicago IL), Mies van der Rohe.
Fonte: Farnsworth House Foundation 8.
Figura 02: Casa de Batak (Indonésia), vernacular. Figura 03: Escritório Punta
Nave (1989/91, Genova).
Fonte: Enciclopédia Britânica9. Fonte: Renzo Piano website10.
8
Disponível em: <www.farnsworthhouse.org.photos.htm>. Acesso em: 02/02/2010.
9
Disponível em: <http://cache-media.britannica.com/eb-media/60/125060-004-2D13D51E.jpg>. Acesso em: 23/02/2010.
10
Disponível em: <http://www.rpbw.com/>. Acesso em: 23/02/2010.
11
Disponível em: <http://www.fau.ufrj.br/prolugar/index.htm>. Acesso em: 23/02/2010.
12
Disponível em: < http://www.ufrgs.br/propar/index.html>. Acesso em: 23/02/2010.
Monteiro (2009a) considera que este futuro profissional deva estar preparado para atender a
multiplicidade de soluções espaciais, formais e funcionais, decorrente da diversidade social, cultural e
territorial, existente nas cidades; e que esta problemática nem sempre têm constituído a base de
formação real e atual dos arquitetos brasileiros.
Sattler (2007), por sua vez, aponta o caráter holístico da profissão do arquiteto e a necessidade deste
compreender o relacionamento entre edifícios e seu ambiente natural e construído, dos projetos
urbanos e no seu papel na sociedade. Deve-se projetar considerando o lugar; vencer o desafio de
transporte eficaz e não nocivo ao meio ambiente; preservar o espaço aberto; proporcionar ar e água
saudáveis e ambientes confortáveis e acessíveis para as pessoas.
O arquiteto, no exercício de sua prática profissional, deverá trabalhar em equipe, considerando outras
variáveis, que não as diretrizes e estratégias de projeto:
O processo de projeto da prática profissional para a arquitetura em prol da
sustentabilidade implica um trabalho de equipe no qual os arquitetos responsáveis
estejam familiarizados com as questões ambientais e ao mesmo tempo em que os
demais especialistas possuam um vocabulário arquitetônico e um entendimento dos
demais aspectos de projeto, a fim que a interação seja positiva e a síntese projetual
aconteça com sucesso (GONÇALVES; DUARTE, 2006).
Estes são os desafios que se colocam para os arquitetos na busca de estratégias inovadoras e eficazes.
Para esta nova maneira de projetar, é preciso repensar a pedagogia do projeto.
6 METODOLOGIA
A revisão bibliográfica contemplou a problemática da sustentabilidade neste início de século e o
estado da arte do ensino de projeto de arquitetura.
Tendo como interesse a junção das temáticas já abordadas – resultando no “ensino de projeto com
vistas à sustentabilidade” – realizou-se na seqüência uma pesquisa para identificar trabalhos que
apresentassem experiências inovadoras em relação ao ensino e aprendizagem de arquitetura e
urbanismo, com enfoque sustentável. Utilizou-se o universo de bases de dados da Associação
Nacional de Tecnologia do Ambiente Construído – ANTAC: Portal InfoHAB, a Revista Ambiente
Construído, a Revista Habitare e os Anais de congressos promovidos pela Associação.
Foram selecionados dez trabalhos que tratam desta temática. Deste recorte destacam-se dois artigos
que descrevem experiências de ensino de projeto com vistas a implementação da sustentabilidade. Os
autores destes trabalhos foram entrevistados durante congressos.
7 RESULTADOS
7.1 Inovações de Metodologias Pedagógicas
Os dois trabalhos a seguir expressam experiências de ensino de projeto com vistas à sustentabilidade.
Os autores de ambos foram entrevistados e afirmam que a proposta de trabalhar o projeto nestes
moldes surgiu do amadurecimento da carreira profissional e acadêmica. Eles acreditam que é preciso
extrapolar o modelo de ensino e colocaram em prática idéias próprias (suas e da equipe de professores
de projeto) que visam melhorar o ensino.
8 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste novo século, adotar uma postura que privilegie as questões ambientais torna-se um imperativo.
As questões sociais e econômicas complementam a problemática ambiental e precisam também ser
consideradas. A forma pela qual os arquitetos tratam esta problemática reflete diretamente na
produção da arquitetura. Assim, as edificações atenderão estas necessidades em graus diferentes, o que
é objeto de estudo das certificações ambientais e das análises de ciclo de vida.
Mesmo não havendo um consenso sobre ensino de projeto de arquitetura no Brasil, grupos vinculados
a programas de pós-graduação já perceberam que se está à beira de um novo desafio e que o ensino
deve considerar as questões da sustentabilidade. As iniciativas promovidas por esses grupos devem ser
divulgadas e, por conseqüência, poderão ser apreendidas por professores de cursos que não possuem
vínculos com programas de pós-graduação.
Os conceitos de conforto, energia, adaptação, inserção urbana estão diretamente relacionados ao
ensino de projeto. Entretanto, o modelo de ensino atual, que segrega a disciplinas e promove pouca
integração, omite alguns destes saberes importantes. O aluno estuda estes conteúdos em outras
disciplinas, como em conforto ou instalações, mas nem sempre a relação destes com a prática de
projeto é óbvia. Os professores precisam promover esta integração de conteúdos e contar com a infra-
estrutura dos laboratórios de conforto ambiental, por exemplo, para complementar os conteúdos.
O ensino de arquitetura e urbanismo no Brasil precisa se reinventar para que as iniciativas que
contemplem a sustentabilidade sejam regra geral e não apenas iniciativas isoladas. Em outra etapa da
revisão bibliográfica da dissertação (a qual este trabalho integra) estão descritas algumas experiências
de ensino internacionais. Entretanto, a realidade dos países desenvolvidos proporciona o uso de
tecnologias e soluções ainda afastadas do contexto brasileiro. Assim, a busca de uma reinvenção do
ensino, pautada nas nossas experiências, parece ser o caminho que aponta melhores resultados.
9 REFERÊNCIAS