O Desenvolvimento Da Estetica Na Historia Humana
O Desenvolvimento Da Estetica Na Historia Humana
O Desenvolvimento Da Estetica Na Historia Humana
O DESENVOLVIMENTO DA ESTÉTICA NA
HISTÓRIA HUMANA
Emanuelly Leticia das Merces Silva é uma das múltiplas dimensões que a teoria
Mestranda no Programa de Pós- filosófica da estética detém. Destaque para
Graduação em Currículo e Gestão da a resposta em que foi dito: “Quando fala
Escola Básica (PPEB), no Núcleo de
estética para mim, é beleza. Cuidado. É
Estudos Transdisciplinares em Educação
Básica (NEB) da Universidade Federal do autoestima... renovação”. Outro significado
Pará (UFPA). Graduada em Pedagogia veementemente disseminado entre o grupo
(UFPA). Integrante do Grupo de Pesquisa foi acerca da vaidade, o qual foi expresso
em Filosofia, Ética e Educação (GPFEE –
na seguinte fala: “Estética são as clínicas
UFPA)
de beleza que cuidam de nós, da nossa
autoestima. São procedimentos ligados à
vaidade”.
1 | INTRODUÇÃO Posteriormente, uma resposta entre
Certamente muitos de nós já os participantes se diferiu das demais,
ouvimos falar sobre o termo “estética” e com mesmo que ainda haja associação da
certeza possuímos nossas concepções estética ao belo, porém, sobre novos
a respeito deste. Foi pensando nisso adjetivos. Foi esta: “Acredito que estética
que se iniciou este trabalho fazendo uma tem a ver com organização. Tipo um som
breve pesquisa, a estímulo de curiosidade, de uma banda. Os músicos têm que estar
no qual foi questionado a um pequeno em sincronia e organizados. O estilo dela
grupo de pessoas aleatórias o que elas tem que possuir uma estética por trás.
entendem por estética. Dentre os conceitos Acho que é o que falam de esteticamente
manifestados, os mais comuns foram bonito”. Considerando que a música é
os relacionados ao belo. É interessante uma das muitas formas de expressão
observar que todos os participantes artística, essa resposta, mesmo que sem
associaram estética à beleza. Tecnicamente a real intenção, visto que em princípio o
não estão errados, pois, realmente, o belo pensamento foi o de organização, nos
1 Sugiro a leitura de “Les trois états du capital culturel” de Pierre Bourdieu, publicado originalmente in Actes de la re-
cherche en sciences sociales, Paris, n. 30, novembro de 1979, p. 3-6 para compreender a concepção de Capital Social
e Capital Cultural.
2 A História Científica se fundamenta sobre as bases empíricas do positivismo. Os historiadores buscaram se des-
prender da filosofia metafísica, em que não se teria mais influência pela “Filosofia da História”, mas por uma “Ciência
da História”. Neste momento, não se queria mais consubstanciar ou idealizar tempo, presente, passado e futuro, mas
diferenciar as dimensões objetivas destes.
Partindo desse pressuposto, seja com a criação dos ritos, com a descoberta do
fogo ou com a produção de utensílios e demais instrumentos técnicos, o sentimento e a
percepção do homem se manifestou na pré-história. Como bem explicita Ponty (2014), os
primeiros desenhos e expressões do homem nas paredes das cavernas só se fundavam
e constituíam-se em tradição, pois recolhia outra: a da percepção. Mesmo que de maneira
utilitária em início, foi este saber instintivo e esta manifestação perceptiva que os gregos
mais tarde internalizaram e conceberam como um conhecimento sensível, criando e
Quando Sócrates projeta sua concepção sobre o belo ele intensifica o fator utilitário
e funcionalista, afirmando que o útil e o benéfico são preceitos ideais de normas e valores
sociais, uma clarividência da forte influência decorrente do período pré-histórico. A
compreensão do pensamento socrático acerca da arte não é muito diferente. Para Sócrates,
a arte está para além de cores e formas, necessita expressar conteúdos, representar
objetos claros e que de certa maneira, tenham um fim social e moral para os sujeitos. Bayer
(1993, p.35) afirma que, “Sócrates é, portanto o chefe da beleza antiformalista, partidário
do conteúdo, e a sua estética utilitária torna-se para ele uma espécie de lógica sem
espontaneidade”. Apesar da influência socrática na história grega, o pensamento estético
se desenvolveu significativamente sobre a pena de dois outros importantes filósofos, que
construíram concepções sobre a estética e tiveram grandes contribuições no percurso
desta, são eles: Platão e Aristóteles, que estão entre os pensadores mais influentes acerca
das reflexões filosóficas no que se refere aos conceitos de arte, do belo, da percepção,
Sócrates - Não é, então, por este motivo, ó Glauco, que a educação pela
música é capital, porque o ritmo e a harmonia penetram mais fundo na alma
e afetam-na mais fortemente, trazendo consigo a perfeição e tornando aquela
perfeita, se tiver sido educado? [...] (PLATÃO, 2012, p.89).
Partindo desse pressuposto, a música é tida como um dos exemplos perfeitos de arte
pelo fato de alcançar o ser em essência, na alma, e não nas aparências. Dessa maneira,
deveria fazer parte da educação e orientar os valores morais dos indivíduos. Bem como a
música, os artesãos e marceneiros também aparecem na qualidade de artes e artistas em
“A República” de Platão, porque segundo ele, estes não reproduzem cópias ou imitações
das coisas, mas sim o oposto, constroem suas artes nas formas perfeitas e pensando na
utilidade que elas terão, de modo que a fabricação de seus móveis e demais produções
são provenientes das criações naturais realizadas por Deus. Isto é, produzem a partir da
realidade natural e não das imitações de coisas existentes nela. Portanto, para Platão,
estas são as categorias das artes e de artistas que deveriam fazer parte da sociedade e da
educação dos sujeitos.
Observa-se que a concepção de arte para Platão assim como para Sócrates se
sedimenta em propriedades quase que exclusivamente objetivas, devendo ser produzida
unicamente para cumprir funções e nortear valores que levem em consideração os aspectos
políticos e sociais na lógica inteligível de seu desenvolvimento. É possível notar uma
concepção de pensamento com noções práticas, ao passo que as linguagens artísticas e a
estética da arte são compreendidas como ofícios sociais, possuindo algumas diferenças de
particularidades subjetivas que contemplam suas dimensões hoje.
Assim sendo, se o princípio estético da arte se concentra substancialmente nas
aparências para Platão, não acontecerá a mesma coisa com a estética do belo, que é
pensada puramente por intermédio das essências por ele, mesmo havendo destaques para
alguns aspectos aparentes em muitas de suas reflexões. Tal qual já ressaltado, estes dois
fundamentos, arte (aparência) e belo (essência) são as dimensões principais da estética do
platonismo, se comunicando a todo o momento com as questões da sociedade, sobretudo
dos valores e das normas que fazem ou deveriam fazer parte dela. Por essa ênfase nas
vertentes sociais, Bayer (1993, p.37) certifica que há sustentações de que a metafísica
Ao dizer que o belo se caracteriza por meio de uma bela jovem, o pensamento
de Hípias não se difere de muitas das diversas noções sobre a estética e sobre o belo
que se tem atualmente na nossa sociedade por grande parte dos indivíduos. Ainda que
Platão deixe bem claro tanto nesta obra, bem como em outras que o belo e as coisas que
podem ser consideradas belas não se fundamentam e muito menos se constituem nesta
forma concreta, material e corpórea de seres e objetos, ele nos apresenta os limites e as
contradições dessa perspectiva de pensamento em determinadas passagens de “Hípias
Maior”. E na medida em que essas contradições são exemplificadas, Platão se contrapõe
a elas deixando claro que antes do belo se constituir em aparência, ele possui essências,
ideias e abstrações que estão para além das características físicas dos sujeitos e das
coisas.
Sócrates – Com relação a todo o corpo, também, não dizemos que este é belo
para correr e aquele para lutar, e de igual modo procedemos com os animais,
pois damos o nome de belo ao cavalo, ao galo, à codorniz, como a todos os
vasos e veículos, ou terrestres ou marítimos, navios marcantes e trirremes,
bem como a todos os instrumentos, ou sejam de música ou das demais artes,
e caso queiras, também, as ocupações e instituições: a todos damos o nome
de belo, de acordo com o mesmo princípio, considerando como cada um se
originou ou foi feito ou se encontra [...]. (PLATÃO, 1980, p.13).
Hípias – Eu, pelo menos, Sócrates, sou de opinião que desta vez o belo foi
muito bem definido. (PLATÃO, 1980, p.15).
Bayer (1993) enfatiza que conforme Platão delimita o domínio do belo ao que é
agradável aos sentidos dos ouvidos e da vista, recusa as demais faculdades dos indivíduos.
Porém, apesar dessa concepção ainda levantar essa espécie de crítica, é possível pensar
que assim como o olhar, os ouvidos são heterogêneos, e um prazer não se diferencia
um do outro enquanto prazer, logo, a causa do belo não se sedimenta nem no ouvido e
nem na vista, mas conforme Bayer: em “algures”. Portanto, o belo em “Hípias Maior” não
apresenta restrições, ao contrário, se mostra despido, agradável e vantajoso, o que pode
ser identificado nas obras posteriores a ela como, por exemplo, “Fedro” datada por volta de
370 a.C. e que é tida como uma síntese desse pensamento primeiro a respeito da natureza
da estética e do belo na filosofia de Platão.
Se as contribuições de Platão para estética são fundamentadas predominantemente
a partir da natureza de dois elementos principais como vimos, o da arte e o do belo, as
contribuições de Aristóteles (384 a.C – 322 a.C.) para essa tendência filosófica faz o
caminho inverso e apresenta-se a partir de perspectivas múltiplas que referenciam diversas
áreas do conhecimento. Sabe-se que Aristóteles foi o discípulo mais famoso de Platão e
do mesmo modo que seu mestre, foi um dos filósofos gregos que mais realizou reflexões
e discussões sobre o pensamento estético, e talvez tenha sido aquele que em maior grau
diversificou suas dimensões e concepções.
Em Aristóteles, a estética iniciou um percurso de desenvolvimento extremamente
abrangente. A estética aristotélica emprega-se tal como a platônica, nas reflexões acerca
da arte e do belo, porém, com grandes diferenciações nas definições dos princípios da sua
4 | CONCLUSÃO
O desenvolvimento da estética na história humana possibilitou que esta tendência
adquirisse diversas linguagens. A partir das transformações que se sucederam em sua
natureza ao longo do tempo, a estética adquiriu conceitos múltiplos, empregando-se de
saberes que se concentram tanto em princípios da sensibilidade, bem como de aspectos
inteligíveis. A partir do momento que a estética incorpora uma diversidade de princípios,
principalmente aqueles que se direcionam na formação integral dos sujeitos, essa
concepção filosófica proporciona práticas formativas essenciais para a sociedade.
Como foi salientado, a estética possui infinitas diversidades de conceitos e estes
são inerentes a tudo que permeia nosso meio. A nossa própria existência e a maneira com
que nos relacionamos em sociedade, além de ser uma relação de educação e trabalho
como sabemos, é também uma relação estética, pois estamos rodeados de fenômenos
sociais e interagimos a todo o momento com eles. As situações vivenciadas, as percepções
e prazeres obtidos, as relações estabelecidas, estão intimamente relacionadas ao nosso
caráter sensível e estético, como já salientaram os gregos na antiguidade.
O desenvolvimento das espécies, as primeiras criações de objetos e modelos de
organizações sociais, econômicas e culturais no período pré-histórico, despertaram os
instintos dos indivíduos primitivos, e tivemos a partir disso, as primeiras transformações
REFERÊNCIAS
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