As Regras Monásticas de São Basílio Magno
As Regras Monásticas de São Basílio Magno
As Regras Monásticas de São Basílio Magno
OS PADRES DA IGREJA/4
Orientação editorial:
Frei Fernando A. Figueiredo, O.F.M.
SAO BAS1LIO MAGNO
AS REGRAS MONÁSTICAS
Tradução
Ir. Hildegardis Pasch e
Ir. Helena Nagem Assad
IVOZES;
Petrópolis
1983
Direitos desta tradução:
Editora Vozes Ltda.
Rua Frei Luís, 100
25600 Petrópolis, RJ
Brasil
Diagramação
Valdecir Mello
SUMÁRIO
A
217. Como receber o reino de Deus qual criança?, 232
218 Que entendimento devemos pedir a Deus e como nos
tornarmos dignos dele?, 233
219. Se formos beneficiados por alguém, como poderemos dar a
Deus pura e total ação de graças, e agradecer sabiamente,
não ficando aquém nem além da medida?, 233
220. Se deve ser permitido a quem o desejar um encontro com
as irmãs; ou quem, quando e como, falará com as irmãs?,
233
221. Tendo-nos ensinado o Senhor a rogar que não caiamos em
tentação, devemos pedir que não sintamos dores
corporais? E como suportá-las se as sentirmos?, 234
222. Quem é o adversário de cada um de nós e como con-
cordaremos com ele?, 235
223. Tendo dito o Senhor: Quando jejuares, perfuma a tua
cabeça e lava o teu rosto; assim não parecerá aos homens
que jejuas (Mt 6,17); se algu m quiser jejuar por um
motivo agradável a Deus como se verifica terem os
santos muitas vezes praticado e for visto, apesar de não
o querer, o que fará?, 235
224. Acaso, ainda hoje, uns trabalham desde a primeira hora,
outros a partir da undécima? E quem são eles?, 236
225. Como nos tornaremos dignos das palavras do Senhor:
Onde dois ou tr s est o reunidos em meu nome, a estou
eu no meio deles (Mt 18,20)?, 236
226. Tendo dito o Ap stolo: Amaldi oados, aben oamos;
caluniados, consolamos (ICor 4,12), como deve bendizer
o que é amaldiçoado e como deve consolar o que é
caluniado?, 237
227. Se deve alguém declarar aos outros o que pensa, ou
guardar para si a convicção de aprazer a Deus nisto, se a
tiver, 238
228. Se em tudo se deve fazer a vontade dos que se escan-
dalizam, ou se há alguma coisa que não deve ser simulada,
mesmo se alguns se escandalizarem, 238
229. Se é dever, vencendo o pudor, confessar a todos ou só a
alguns as ações proibidas praticadas. E a quais?, 239
230. Que significa culto e culto racional?, 239
231. Se um irmão, ou até por vezes um sacerdote, me prejudica
e age como meu inimigo, é-me lícito observar também
para com ele os mandamentos acerca dos inimigos?, 240
232. Se alguém, injuriado por outro, a ninguém o referir, por
paciência e mansidão, e parecer deixar para o juízo de
Deus, age conforme o que Deus quer?, 240
233. Se faltar a alguém uma só das boas ações, acaso, por isto,
não se salvará?, 241
234. Como alguém anunciará a morte do Senhor?, 241
235. Se é útil aprender bem muitas coisas das Escrituras, 242
236. Como devem aqueles que forem julgados aptos a aprender
os quatro evangelhos, receber esta graça?, 243
237. Qual é a alma que se orientará segundo a vontade de
Deus?, 243
238. Se é possível, de modo ininterrupto, salmodiar, ler, ou
aplicar-se às palavras de Deus, sem intervalo de tempo,
em absoluto, porque a alguns sobrevêm uma sórdida
necessidade corporal, 243
239. Que é bom ou mau tesouro?, 244
240. Por que se diz que é larga a porta e espaçoso o caminho
que conduz à perdição?, 244
241. Por que é estreita a porta e apertado o caminho que conduz
à vida? E como se entra por ele?, 245
242. Que quer dizer: Amai-vos reciprocamente com caridade
fraterna ?, 245
243. Que quer dizer o Ap stolo com as palavras: Mesmo em
c lera, n o pequeis. N o se ponha o sol sobre a vossa ira
(Ef 4,26), porque diz noutra parte: Toda amargura, ira,
indigna o sejam desterradas do meio de v s (Ib. 31)?,
246
244. Que significa: Deixai agir a ira (Rm 12,19)?, 246
245. Que ser prudente como as serpentes, mas simples como
as pombas (Mt 10,16)?, 246
246. Que quer dizer: A caridade nada faz de inconveniente
(ICor 13,5)?, 247
247. Tendo dito a Escritura: N o vos glorieis e n o faleis
coisas elevadas (ISm 2,3) e como o Ap stolo confessa:
O que vou dizer, na certeza de poder gloriar- me, não o
digo sob a inspiração do Senhor, mas como
num acesso de del rio (2Cor 11,17) e ainda: Tenho- me
tornado insensato (2Cor 12,11); em outro lugar, por m,
afirma: Aquele que se gloria, glorie-se no Senhor (2Cor
10,17), que é gloriar-se no Senhor e qual a maneira de se
gloriar?, 247
248. Se é o Senhor quem dá a sabedoria e de sua face sai a
ciência e a prudência (Pr 2,6); se também pelo Espírito a
um é dada a linguagem da sabedoria, a outro a da ciência
(ICor 12,8); por que o Senhor ex- probra aos discípulos:
Tamb m v s estais ainda sem intelig ncia? (Mt 15,16).
E por que o Apóstolo acusa a alguns de serem insensatos?
(Rm 1,31), 248
249. Que é honesto e que é justo?, 249
250. Como alguém dá o que é santo aos cães ou lança as
pérolas aos porcos? Ou como acontece que se evita o
seguinte: Para que n o suceda que as calquem com os
seus pés e, voltando-se contra vós, vos despedacem (Mt
7,6)?, 249
251. Por que o Senhor uma vez proíbe levar bolsa e alforje no
caminho; outra, por m, diz: Mas agora, quem tem bolsa,
tome-a, aquele que tem uma mochila, tome-a igualmente e
aquele que não tiver uma espada, venda sua capa para
comprar uma (Lc 10,4; 22,36)?, 249
252. Qual o pão cotidiano que aprendemos a pedir cada dia?,
250
253. Que é o talento e como o multiplicaremos?, 251
254. Qual é a mesa onde se deve, como diz o Senhor, depositar
o dinheiro?, 251
255. Para onde recebeu ordem de ir aquele ao qual se disse:
Toma o que teu e vai-te (Mt 20,14)?, 251
256. Qual é a recompensa que eles recebem de igual modo que
os últimos?, 252
257. Quais as palhas queimadas em fogo inextinguível?, 252
258. Quem é o condenado pelo Apóstolo, como afetando
humildade e culto, etc. (Cl 2,18)?, 253
259. Quem é fervoroso de espírito (Rm 12,11)?, 253
260. O Ap stolo s vezes diz: N o sejais imprudentes (Ef
5,17); outras: N o sejais s bios aos vossos pr prios
olhos (Rm 12,16). É poss vel a quem não é imprudente
não ser sábio aos próprios olhos?, 253
261. Tendo prometido o Senhor que: tudo o que pedirdes com
f na ora o, v s o alcan areis (Mt 21,22) e
ainda: Se dois de v s se reunirem sobre a terra para pedir,
seja o que for, consegui-lo- o (Mt 18,19), por que alguns
que suplicavam, até mesmo os santos, não receberam?
Assim o Ap stolo: Tr s vezes roguei ao Senhor que o
apartasse de mim (2Cor 12,8), e não recebeu o que pedia;
e também o profeta Jeremias e até o próprio Moisés, 254
262 Uma vez que a Escritura coloca a pobreza e a indi- gência
entre as coisas louv veis, por exemplo, quando diz: Bem-
aventurados os que t m um cora o de pobre (Mt 5,3), e
tamb m: O pobre e o desvalido louvar o o teu nome (SI
9,17; 73,21), qual a diferença entre pobreza e indigência e
como verdadeira a afirma o de Davi: Quanto a mim,
sou mendigo e pobre (SI 39,18)?, 256
263. Que quer ensinar o Senhor, por meio de exemplos, àqueles
aos quais acrescentou: Assim, pois, qualquer um de v s
que não renuncia a tudo o que possui, não pode ser meu
disc pulo (Lc 14,33)? Se quem quer edificar uma torre ou
guerrear a outro rei, deve-se preparar ou para a construção,
ou para a guerra, e se não for capaz, convém-lhe, de início,
não lançar os alicerces, ou deve pedir a paz, então, quem
quer ser discípulo do Senhor deve renunciar? E se vir que
para si é difícil, ser-lhe-á lícito não começar a ser discípulo
do Senhor?, 256
264. Tendo dito o Ap stolo: Sejais sinceros (F1 1,10), e
ainda: Mas com sinceridade (2Cor 2,17), que ser
sincero?, 257
265. Se somente aos sacerdotes foi dito: Se est s por fazer a tua
oferta diante do altar e te lembrares que teu irmão tem
alguma coisa contra ti, deixa lá a tua oferta diante do altar
e vai primeiro reconciliar-te com teu irmão; só então vem
fazer a tua oferta (Mt 5,23.24), ou a todos? E como cada
um de nós faz a sua oferta diante do altar?, 258
266. Que o sal que o Senhor mandou ter, dizendo: Tende sal
em v s (Mc 9,49)? E o Ap stolo diz: Que as vossas
conversas sejam sempre am veis, temperadas com sal (Cl
4,6), 258
267. Se um receber muitos açoites, e outro poucos, como diziam
alguns que as penas são sem fim? (Lc 12,47), 259
268. que sentido alguns são denominados filhos da in-
credulidade e filhos da ira? (Ef 5,6; 2,3), 260
269. Est escrito: Fazendo a vontade da carne e da con-
cupisc ncia (Ef 2,3). Acaso s o diferentes as vontades da
carne e as da concupiscência? E quais são?, 261
270. Que significa: Vivemos em completa pen ria, mas n o
desesperamos (2Cor 4,8)?, 262
271. O Senhor disse: Dai antes em esmola o conte do e todas
as coisas vos ser o limpas (Lc 11,41). Acaso ser algu m
purificado de todos os pecados que cometeu, por meio da
esmola?, 262
272. Uma vez que preceituou o Senhor não andarmos inquietos
pelo dia de amanhã, como entenderemos bem este
preceito? Vemos que temos muito empenho em obter o
necessário, a ponto de armazenarmos o bastante para
muito tempo, 263
273. Em que consiste a blasfêmia contra o Espírito Santo?, 263
274. Como se fará alguém estulto neste século?, 264
275. Se Satanás pode impedir o propósito de um santo, porque
est escrito: J por duas vezes quisemos ir ter convosco,
ao menos, eu, Paulo. Satan s, por m, nos impediu (lTs
2,18), 264
276. Que quer dizer a palavra do Ap stolo: Para que saibais
aquilatar qual é a vontade de Deus, o que é bom, o que lhe
agrada e o que perfeito (Rm 12,2)?, 265
277. Qual o cubículo onde o Senhor mandou entrar o que vai
orar?, 267
278. Como pode o espírito de alguém orar, seu entendimento,
porém, ficar sem fruto?, 268
279. Que significa: Cantai salmos sabiamente (SI 46,8)?, 268
280. Que quer dizer: puro de coração? 268
281. Deve-se obrigar aquele que não quer salmodiar?, 269
282. Quais s o os que dizem: Comemos e bebemos contigo e
ouvem a resposta: N o sei donde sois (Lc
13,26.27) ?, 269
283. Se quem faz a vontade de outrem, lhe é solidário, 270
284. Se uma comunidade se empobrecer devido a uma
adversidade ou doença, pode receber de outrem o
necessário, sem hesitação? E se convém, de quem o
aceitará?, 270
285. Se deve uma comunidade, ao negociar com outra, inquirir
solicitamente qual o preço bem justo do
objeto, 271
286. Se adoecer um membro da comunidade, deve ser
transportado ao hospital?, 271
287. Quais os dignos frutos de penitência?, 272
288. Quem deseja confessar os pecados, deve confessá-los a
todos? A qualquer pessoa? Ou a quem?, 272
289. Quem se arrepender de um pecado, mas recair, o que
fará?, 273
290. Como alguém trabalhará sempre e muito na obra do
Senhor?, 273
291. Que significa a cana rachada, ou a torcida que fumega? E
como alguém não quebrará aquela e não apagará esta?,
274
292. Se convém ter na comunidade dos irmãos uma escola de
meninos seculares, 274
293. Como proceder com os que evitam os pecados mais
graves, mas cometem, com indiferença, os leves?, 275
294. Qual o motivo de perder alguém a contínua lembrança de
Deus?, 275
295. Por que sinais se reconhece quem se distrai?, 276
296. Como se persuadirá a alma de estar purificada dos
pecados?, 276
297. Como deve alguém arrepender-se dos pecados?, 277
298. Se a Escritura permite que alguém faça o bem como lhe
apraz, 278
299. Como a alma estará bem cônscia de que não tem a
ambição de glória?, 278
300. Como se realiza a conversão, que é uma coisa oculta?, 279
301. Se algu m disser: Minha consci ncia n o me condena ,
279
302. Convém tirar do depósito para dar aos indigentes de fora?,
280
303. Se há obrigação de obedecer na comunidade às ordens de
todos, 280
304. Se os parentes dos irmãos quiserem dar algum presente à
comunidade, deve ser aceito?, 282
305. Se convém receber algo das pessoas de fora, quer amigos,
ou parentes, 282
306. Como se evita a divagação?, 282
307. Se convém que haja revezamento para se iniciar a
salmodia ou a oração, 283
308. Se convém que a comunidade retribua algum donativo, e
se a retribuição deve ser proporcional ao presente, 284
309. Se acontecer a alguém o que é naturalmente habitual, deve
aproximar-se da comunhão das coisas santas?, 284
310. Se convém celebrar a ceia do Senhor numa casa comum,
285
311. Devemos visitar os que nos convidarem?, 285
312. Se convém exortar à oração os visitantes leigos, 286
313. Se convém trabalhar quando há visitantes, 286
índice Analítico, 287
I O HOMEM
Cerca do ano 330, em Cesaréia, na Capadócia, nasceu Basílio.
Sua família era nobre e rica, mas sobretudo brilhava pela
reputação cristã de virtude e zelo. Seu pai, Basílio, exerceu com
grande competência a profissão de retor e advogado em
Neocesaréia. Sua mãe, Emília, uma capadócia, era filha de um
mártir e irmã de um bispo. Basílio foi um dos dez filhos
nascidos deste consórcio; Gregório de Nissa e Pedro de Sebaste,
seus irmãos, se tornaram bispos; Macrina, sua irmã,
cognominada a Jovem (por oposição à avó, Macrina, a Antiga),
retirou-se com a mãe para a solidão e aí vivendo a vida monacal
procuravam a Deus, após a morte do pai.
Decorria logicamente de tal ambiente de família a sua
formação cristã e bíblica.1 Basílio veio a conhecer quase de cor
a Bíblia, que amava profundamente; era-lhe o livro por
excelência.
Iniciado em Neocesaréia, por seu pai, nos rudimentos da
ciência humana, chegou à idade de freqüentar as escolas;
primeiramente em Cesaréia, onde conheceu seu compatriota e
futuro amigo Gregório, mais tarde bispo de Na- zianzo; em
seguida, em Constantinopla ouviu os sofistas e os filósofos
(Libânio, por exemplo); depois, já com mais de vinte anos,
acompanhou os brilhantes cursos da tradição helenística, em
Atenas, que, apesar de decadente política e economicamente,
continuava a capital da eloqüência e atração para todos os
jovens desejosos de se celebrizarem.
1. De judicio Dei PG 31, 653 A: Desde meu nascimento, educado por pais cristãos, aprendi,
bem criança ainda, as sagradas letras, que me conduziram ao conhecimento da verdade .
23
Aí estreitou sua amizade com Gregório, animados ambos pelo
mesmo zelo no estudo e na fidelidade a Cristo e à Igreja. São
Gregório Nazianzeno nos descreve São Basílio estudante,
contando com que esforço, interesse e entusiasmo aplicava seus
dotes de inteligência e memória não só à gramática, à história, à
métrica e à poesia, mas também à retórica e a todos os ramos da
Filosofia, à astronomia, à geometria, à aritmética. Sempre com o
equilíbrio que o caracterizará. Aprendeu também da medicina
tudo o que possui um cunho doutrinai e filosófico. Enfim, sua
competência em psicologia e moral o torna superior a Minos e
Rhadamente.2. Basílio e Gregório puseram tudo em comum e se
entretiveram freq entemente sobre a filosofia crist , como
então se chamava a vida de renúncia e ascese.
Quando São Basílio julgou já ter atingido uma suficiente
formação científica voltou à sua terra natal, onde ensinou
publicamente e com brilho a retórica.3 Sob a influência de sua
irmã Macrina, sobretudo mediante cartas, e através dela, ao que
parece, sob a influência de Eustátio, foi conquistado pelo ideal
ascético monástico.4 Basílio, então, recebe o batismo (357). É
bem possível que a primeira carta que se tem dele tenha sido
dirigida a Eustátio (PG 32, 219-222), falando de sua
convers o .
Antes, porém, de abraçar a vida monástica, São Basílio
decidiu conhecer a vida monacal visitando os célebres mosteiros
do Egito, da Palestina, da Síria e da Mesopotâmia, entretendo-se
com os mais reputados eremitas da época.
Essa viagem encheu-o de santo entusiasmo: Admirei,
escreverá mais tarde, a vida destes homens que demonstravam
carregar realmente a morte de Jesus Cristo em seu corpo, e
aspirei imitá-los tanto quanto poss vel .5 Voltando de sua
viagem monástica, entregou-se à vida ascética; tor- nou-se
sempre mais amigo de Eustátio, embora não tenha chegado a ser
dirigido propriamente por ele, como se tem insistido em dizer. 6
Renunciou às riquezas, honras, à sua
2. Greg rio de Nazianzo, In laudem Basilii Magni , Oratio 43, n. 23 PG 36, 528 A-C.
3. Rufino, Historia Ecclesiastica, L. II, c. 9 PL 21, 518.
4. Greg rio de Nissa, Vita Macrinae, PG 46, 965 C: Achou-o orgulhoso e cioso de sua eloquência,
mas tratou de atrai-lo tamb m à vida asc tica ; com essas palavras o nisseno sintetizava uma influência
de Macrina que vinha de anos.
5. Basílio de Cesaréia Cartas, 223, n. 2 (pelo fim) PG 32, 824 C.
6. Lèbe, Léon, D. OSB Introduction à ia traduction française des Règles, Maredsous, 1969, p. 14.
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posição social eminente, à sua reputação já notória de elo-
qüência e cultura. Vendeu seus bens, deu o dinheiro apurado aos
pobres, e retirou-se para a solidão com seus companheiros, perto
de Anesói, no vale do íris, na margem oposta àquela em que sua
mãe e sua irmã viviam. Oração, reflexão e estudo alternando-se
com o trabalho no campo, eis a vida nova de Basílio. Gregório,
o seu grande amigo, o futuro bispo de Nazianzo, veio também
viver aí, mas não pôde ficar, em parte por causa de seu pai
envelhecido, em parte talvez por desejo de maior atividade
apostólica, como se pode deduzir de suas cartas a Basílio. Foram
compostas regras e c nones tirados da Sagrada Escritura
para a vida do grupo; nada ainda das depois chamadas Regras
Mais Extensas e Menos Extensas, pois além dos mandamentos
imutáveis de Deus, concernentes à vida cristã e contidos na
Bíblia, a vida de comunidade organizava-se empiri- camente:
a vontade do superior era legislar à medida das circunstâncias,
pelo menos durante alguns anos. E assim foi.
Mas Basílio, embora no ermo, não esquecia os problemas da
Igreja; seu temperamento ativo e seu senso das solici- tudes
levaram-no a deixar em 360 a solidão para acompanhar Eustátio
de Sebaste a Constantinopla, onde assiste como mero espectador
aos debates entre Eunômio e Eustátio sobre a natureza de Cristo.
Em 362 sai novamente do Ponto, desta vez é para assistir aos
últimos momentos do velho Diânios, seu bispo, que lhe confessa
ent o que sempre aderiu do fundo do cora o ao homoousios ,
apesar de ter assinado um dia a fé de Rímini-Constantinopla, o
que havia desgostado profundamente a Basílio.
No entanto, sua influência sempre crescente, ciência e
eloqüência não permitiríam que Basílio ficasse por muito tempo
em sua comunidade monástica. Foi o que aconteceu: Eusébio,
eleito bispo ainda catecúmeno, embora piedoso e rico, não tinha
experiência teológica; julgando-se pouco capaz para o governo
de uma diocese, teve a sábia idéia de chamar Basílio para junto
de si, conferindo-lhe a ordenação sacerdotal e fazendo-o seu
conselheiro. Todavia, surgiu um desentendimento entre o bispo
e seu conselheiro (seria por causa do movimento monástico de
Basílio, e do espírito monástico que sempre conservava?), o
qual,
25
para não resistir a seu bispo e nem provocar uma cisão, se retira
novamente para o Ponto. Conforme nos conta São Gregório,
retoma a o governo dos seus mosteiros e estabelece para eles
uma constitui o memor vel T, a qual parece ser uma primeira
redação das suas famosas Regras. Entretanto, essa sua volta ao
ermo durou pouco; o tempo suficiente, parece, para a redação
aludida; pois a intervenção tenaz de Gregório de Nazianzo,
junto ao bispo Eusébio, fez com que São Basílio fosse
novamente chamado.
Tendo voltado a Cesaréia, São Basílio passa a dirigir em
nome do velho Eusébio a vasta metrópole eclesiástica; toma
parte ativa nas negociações de Eustátio com o papa Libé- rio,
com vistas à reconciliação do Oriente com a Sé Apostólica;
protege e ajuda os pobres, vela sobre as virgens consagradas,
regula e propaga o monaquismo, regulamenta a liturgia, acode
às vítimas de uma fome que devastou a capital e a Capadócia
por volta de 368.
Com a morte de Eusébio em 370, Basílio foi eleito para
sucedê-lo, não sem oposição da parte de alguns prelados. Tudo
o habilitava para assumir o pesado cargo de bispo de Cesaréia e
metropolita da província da Capadócia.
Não abandonou, entretanto, as comunidades monásticas do
Ponto. Fez vir monges a Cesaréia e colocou-os a serviço da
Igreja, estabelecendo, à entrada da cidade, um grande hospital
para pobres administrado por eles. Frequentemente lhes fazia
conferências e ia procurar para si mesmo aí a calma e a paz de
que também necessitava. O ensinamento que lhes dava
procurava afastá-los da influência do arianis- mo e
especialmente do anomeísmo a grassar então. A moral que
pregava aos monges era essencialmente a mesma que pregava
aos leigos, apenas mais precisa, dada a vida consagrada que
levavam.7 8
A situação religiosa do Oriente era difícil, com partidos
numerosos e apaixonados, sendo o mais poderoso o dos
homeanos, sustentado pelo Imperador Valente. Basílio, pela
força das circunstâncias, tornou-se o chefe natural de todos os
bispos que não se queriam dobrar às imposições homeanas de
Valente, mas aderiam firmemente ao homoou- sios . Nem
mesmo pessoalmente o Imperador conseguiu
26
dobrar Basílio à assinatura da fórmula de Rímini; chegou
mesmo a lhe mostrar a ordem de exílio, já pronta; mas, em vão.
Nota-se aí sua personalidade, a convicção e o respeito que
infundia; o Imperador é que acabou assistindo às cerimônias
religiosas celebradas pelo grande bispo, desistindo de lhe
impingir a dita fórmula e a comunhão com bispos suspeitos.
Aborrecimentos advieram a Basílio devido à divisão que o
Imperador fez da Capadócia, a primeira com capital em
Cesaréia, a segunda com capital em Tiana, ou ainda com seu
amigo Gregório, que Basílio quis colocar em Sásima como
bispo. Almejando bispos fiéis à ortodoxia da fé nicena, Basílio
sagrou Gregório, após evidentemente o seu consentimento. Este,
todavia, jamais apareceu em Sásima. Além disso, as divisões
internas entre as Igrejas do Oriente o preocupavam sumamente.
Os problemas de fé eram aumentados por questões pessoais e
incertezas terminológicas. Desde o início de seu episcopado viu
claramente que não havia senão um meio de socorrer as Igrejas
orientais: obter um acordo sobre a fé e as pessoas com os bispos
do Ocidente, em particular com o Papa Dâmaso. Encorajado por
Santo Atanásio de Alexandria, dirigiu-se diretamente a Dâmaso
por carta, a qual não chegou às mãos deste. Por intermédio do
diácono Sabino fez chegar novas cartas ao Ocidente. Em 373, o
sacerdote Evágrio apareceu em Cesaréia, portador de uma
fórmula romana muito exigente e imperiosa, cujo efeito foi a
interrupção das negociações com o Ocidente.
Instado por Anfilóquio, bispo de Icônio, na Licaônia, e por
muitos outros discípulos e admiradores, desejosos de terem por
escrito o que Basílio expunha tão admiravelmente em suas
homílias, preces e conferências, decidiu ele escrever o Tratado
sobre o Esp rito Santo ; era o dia 7 de setembro de 374 , festa
do santo mártir Êupsico. Em fins de 375 estava pronto e
publicado. Por outro lado, o sofrimento moral e a angústia que
experimentava diante das infindáveis divisões provocadas pela
heresia e suas conse- qüências o levam a retomar por escrito a
defesa do dogma da Santíssima Trindade e a da moral e da
ascese cristãs.9 10
27
Mas São Basílio não era pessoa para desanimar. Não cessa de
presidir às assembléias litúrgicas e de exortar seu povo em
homílias bem práticas e de soberba eloqüência. Solicita em
favor dos pobres a caridade dos ricos e a indulgência dos
funcionários do fisco. Providencia para que seus corepíscopos
façam construir hospícios regionais. Em Cesaréia edifica num
terreno, que deve à generosidade de Valente, um grande
hospital, que logo toma as proporções de uma cidade, chamada
por seu nome, Basilíada, a qual compreende, além do hospital,
uma escola de artes e ofícios, um orfanato, uma hospedaria, e
um leprosário.
Já se tentou demonstrar que Basílio exerceu sua grande
influência no plano social, não tanto como bispo mas como
membro da aristocracia dirigente, da classe senatorial. Te- ria
sido seu papel social o que lhe valeu o t tulo de Defensor
civitatis . Aspecto importante para o problema das relações
entre a Igreja e o Estado no Baixo Império.11 Todavia, S. Giet,
depois de ter estudado a fundo a questão, prova que nada há que
permita atribuir a S o Bas lio o t tulo de Senador: Tudo o que
salientamos nos testemunhos de seus contemporâneos, como em
sua própria maneira de solicitar os poderosos em favor dos
fracos, tende a afastar esta hipótese, que parece devida a uma
confusão entre a situação do Ocidente no V século e a do Orien-
te no IV .12
Na primavera de 377, dirige uma nova carta aos ocidentais,
sendo dela portadores Doroteu e um outro sacerdote, na qual
exige respeitosamente um anátema contra os lobos que se
transformam em pastores, Eustátio de Sebaste, Apolinário de
Laodicéia e Paulino (comissionado junto ao Papa para os
assuntos relativos à união). Doroteu volta de Roma no decurso
de 378, trazendo uma carta condenatória dos erros, mas
silenciando as pessoas.
378 foi o último ano da vida de Basílio. Não tinha ainda 50
anos e já era um velho. Arruinara sua saúde por suas excessivas
mortificações. As lutas incessantes azedaram seu caráter. Uma
doença do fígado o fazia sofrer muitíssimo e o obrigava a
acamar-se freqüentemente. Alguns meses após
28
o desastre de Andrinopla, que aniquilou na Trácia o exército
romano sob os golpes dos godos, no qual pereceu também o
próprio imperador (agosto de 378), faleceu Basílio (1° de janeiro
de 379), cognominado já pelos contemporâneos: O Grande.
Morria no momento em que a tempestade amainava, em que
soava a hora do triunfo para a sua política eclesiástica. Não pôde
ver a vitória de uma causa que lhe tinha custado tantos trabalhos
e sofrimentos.
29
possuiu. Antes dele, Atanásio tinha falado aos soldados da fé,
como um general que sobe à brecha, Orígenes havia dogma-
tizado diante dos discípulos, mas Basílio é o primeiro que fala a
toda hora, diante de toda espécie de homens, uma linguagem ao
mesmo tempo natural e sábia, cuja elegância não diminui nunca
nem a simplicidade nem a força. Nenhuma facúndia mais
ornada, mais nutrida de lembranças clássicas que a sua;
nenhuma, entretanto, mais à mão, correndo mais naturalmente
da fonte, mais acessível a todas as inteligências. O estudo
preparou-lhe um tesouro sempre aberto, onde a inspiração haure
sem conta o necessário de cada dia. Nem mesmo seu
condiscípulo Gregório pode ser- lhe comparado quanto ao
mérito dessa facilidade ao mesmo tempo brilhante e usual. A
imaginação é, talvez, mais viva em Gregório, mas se compraz
em si mesma, e aquele que fala é arrastado pela expressão
encontrada ou pela idéia contemplada a ponto de esquecer às
vezes e deixar em caminho aquele que escuta. A palavra é ainda
um ornamento para Gregório; mas para Basílio não é senão uma
arma, cujo gume, por mais bem afiado que esteja, não serve
senão para afundar mais a ponta. Em Gregório há freqüen-
temente o retórico, mas sempre o poeta. Em Basílio é só o
orador que transpira .15
Como teólogo, teve uma grande influência, em função das
circunstâncias. Com efeito, São Basílio é sobretudo um homem
de governo e de ação, mostrando-se teólogo quando as
circunstâncias o levam a defender o dogma católico contra os
adversários ou a integridade da fé contra os caluniadores; o
pendor natural de seu espírito parece levá-lo primeiramente para
o ensino da moral cristã, para aquilo que se traduz
principalmente em aplicação prática e em atos. A influência
doutrinai de São Basílio, no campo da teologia, afirmou-se
sobretudo no exame dos problemas relativos à Santíssima
Trindade; comenta a fórmula corrente então no Oriente, uma só
“ousia” e três “hipóstases”, definindo a ousia ou ess ncia como
aquilo que é comum nos indivíduos da mesma espécie, o que
possuem todos igualmente e o que faz com que sejam
designados todos sob um mesmo vocábulo, sem ser assinalado
nenhum em
15. Dict. de Théolog. Catholique, art. de P. Allard sobre São Basílio, Col. 444 e 445.
30
particular. Para existir realmente a ousia deve ser completada
por caracteres pr prios, que a determinam; a hi- p stase o ser
concreto, determinado e diferenciado; por outro lado, a palavra
pr sopon designa para S o Bas lio n o a pessoa, mas a
personagem de teatro, o papel desempenhado por um indivíduo
determinado; por conseguinte, não poderia ser aplicado sem
perigo às pessoas divinas, que são realidades subsistentes. É o
temor do sabelianismo que dita a São Basílio o uso de tal
vocabulário.
Outro setor da teologia influenciado por ele é o das con-
trovérsias sobre a divindade do Espírito Santo, particularmente
vivas na Ásia Menor no fim do século IV (entre 360 e 380). Se
de fato ele evita dar ao Espírito Santo o título de Deus, por
condescendência para com homens de boa-fé, mostra entretanto
que Ele é conjuntamente nomeado com o Pai e o Filho, que é
propriamente Espírito do Pai e do Filho, que recebe as mesmas
honras que o Pai e o Filho, que age como Pai e o Filho e com
eles, que suas obras s o obras divinas. É o conte do do Tratado
sobre o Esp rito Santo .16
Basílio insistiu ainda na consubstancialidade do Verbo de
Deus, isto é, da Segunda Pessoa da Santíssima Trindade,
afirmando-a categoricamente.17
No plano moral e ascético, a sua doutrina deve ser encarada
em função de sua espiritualidade. A ascese propriamente
monástica de Basílio não existe em si mesma e por si mesma,
não é outra coisa que o coroamento da ascese cristã imposta a
todo cristão. O monge há de ser o cristão autêntico e generoso, o
cristão que se esforça por viver em plenitude o cristianismo e
praticar com mais fidelidade todas as virtudes do Evangelho.
Não há senão uma só Moral, a do Evangelho. A obra monástica
de São Basílio, especialmente as suas Regras, é um dos melhores
testemunhos da vitalidade cristã do século IV, um dos maiores
da nossa história, numa região das mais favorecidas em virtude
de seus grandes doutores: a Capadócia. Não somente os seus
escritos foram muito cedo espalhados pelo mundo grego, graças
a sua qualidade espiritual e ao renome de seu autor, mas
franquearam as fronteiras e foram traduzidas em siríaco, em
armênio, em georgiano, em árabe e em eslavão, isto é,
31
por toda a parte onde floresceu o monaquismo, sem contar a
antiga versão latina, na qual os ocidentais foram se dessedentar.
A Regra de S o Bas lio foi objeto de solicitude especial de
S o Bento de Aniane, quando a inseriu no seu Codex
Regularum . F -lo para que os monges pudessem ter à mão as
fontes tão recomendadas pelo Patriarca dos Monges do Ocidente
em sua admirável Regra. sobretudo a São Bento, que no final
de sua Regra chama a Bas lio de nosso Pai S o Bas lio , que
é preciso remontar para se descobrir quanto a tradição
beneditina deveria tomar a peito voltar a esta fonte.
A influência de São Basílio até nossos dias pode ser bem
avaliada pelo que lembra Dom Olivier Rousseau a respeito da
Conferência Mundial de Fé e Constituição do Conselho Ecu-
mênico das Igrejas, em Montreal, 1963, na qual foi redigido um
relatório sobre Escritura e Tradição, em que o estudo dos Padres
foi colocado em primeiro plano. Desde então, um grupo de
sábios estudou-os em três longas sessões (Aarhus, 1964;
Hamburgo, 1965; Salonica, 1966) antes da Conferência de
Bristol em 1967, que retomou o assunto, e, coisa notável, tomou
como tema o De Spiritu Sancto de S o Bas lio em seu quadro
histórico. O relatório depois publicado menciona, como
tendência para a via nova da santidade conscientemente cristã, o
movimento mon stico do s culo IV que se difundiu na
Capadócia onde era até ent o desconhecido .10 E São Basílio
insiste em suas Regras2" na importância dos carismas e da
distribui o do esp rito nas comunidades mon sticas. É com
alegria que se vê a ala doutrinai do movimento ecumênico se
dirigir assim para a pneumatologia basiliana, que deverá ser um
modo de pesquisa útil para equilibrar, voltando-se à mais pura
tradição, as tendências tão diversas a se entrechocarem na Igreja
de hoje. E o monaquismo autêntico permanece e permanecerá
sempre um testemunho estável da vida evangélica e um penhor
do Espírito. São Basílio descreveu-o sob uma das formas mais
completas .18 19 20 21
18. Regra de São Bento, cap. 73, 5: E tamb m as Colaç es dos Padres, as Instituições e suas Vidas, e
também a Regra de nosso santo Pai Basílio, que outra coisa são senão instrumentos das virtudes dos
monges que vivem bem e são obedientes? Trad. e notas de D. João Enout, OSB, Tip. Beneditina,
Salvador, BA, 1958.
19. Nouveaut dans 1 oecum nisme, Taiz , 1968, p. 74. Cit. por Rousseau, infra.
20. Por exemplo, na Regra Mais Extensa, 7.
21. Rousseau, Olivier, D. OSB, no Avant-propos ã tradução de L be, supracitada.
32
Basílio foi um homem dinâmico, um homem de ação social,
como já vimos. A síntese de seu pensamento relativamente ao
trabalho e a todos os problemas por ele despertados está em
diversos capítulos das Regras, assim como em diversas homílias
ou discursos. A oração e o trabalho são para ele dois pólos da
vida monástica e cristã, que devem se harmonizar de modo
perfeito.22 O trabalho é querido por Deus para que o homem
encontre os meios de subsistência e ajude os outros, sem falar das
obras de caridade. Por isso mesmo, como já lembrou São
Gregório Nazianzeno2=, São Basílio estabeleceu seus mosteiros
não longe dos cristãos que vivem na sociedade, misturados com o
mundo. Aproximando os monges das comunidades cristãs das
cidades, para além da santificação pessoal, olhava para a
utilidade da presença deles no meio dos fiéis, como um fermento
na massa e como um organismo ativo perfeita- mente integrado
no Corpo Místico mais vasto da Igreja. É a concepção que
prevaleceu no Ocidente, e fez dos monges beneditinos os
civilizadores da Europa, merecendo para São Bento o título de
Patrono da Europa , outorgado por Paulo VI.24 25
33
ráveis. Mas com isso poder-se-ia pensar que, sendo exigente e
severo consigo mesmo, o fosse também com os outros. Puro
engano! Animado por uma sincera e profunda caridade para
com o próximo no qual viu os membros de Cristo, foi todo
bondade e misericórdia para com todos, sempre pronto para
servir e curar, mais do que para mandar e castigar. Era todo
moderação no exercício de sua autoridade, o que bem se pode
ver pelas qualidades essenciais que exige do Superior.29
Na forma o da teologia do monaquismo, os escritos
basilianos deram uma orientação para as obras de caridade
(misericórdia e ensino), constituíram um freio às aspirações
extraordinárias e às extravagâncias individualistas;
estabeleceram um laço estreito com a Igreja, a Escritura e
mesmo a experi ncia adquirida pela sabedoria grega . 26 27
34
Entre os escritos teológicos, sobretudo dogmáticos, podemos
colocar Philocalia , o mais antigo trabalho seu, excertos das
obras de Orígenes, um trabalho de escolar, mas no qual já se
manifesta o senso teológico de Basílio e de seu colaborador,
Greg rio Nazianzeno. No tratado Contra Eun - mio (PG 29,
497-670), escrito por volta de 363 a 364, São Basílio refuta em
três livros a Apologia de Eunômio, na qual este defendia o seu
radical arianismo; no primeiro refuta o erro que faz da
inascibilidade a essência de Deus, no segundo demonstra a
consubstancialidade do Filho, no terceiro prova a divindade do
Esp rito Santo. No Tratado sobre o Esp rito Santo (PG 32, 67-
318), dedicado a Anfi- léquio, responde às dificuldades
levantadas então pelos pneu- matômacos e, sem empregar
fórmulas muito categóricas, põe claramente em relevo a
divindade e a consubstancialidade do Espírito Santo.
Entre os escritos litúrgicos, nada temos de certo, pois a
liturgia chamada de São Basílio é apenas a ele atribuída. Parece
que São Basílio reuniu várias preces, hinos e outros textos
litúrgicos da Igreja de Antioquia e os adaptou à sua, como se
pode deduzir da carta 207 (PG 32, 764).
Quanto à correspondência, os editores beneditinos a divi-
diram em três classes: anterior ao episcopado, durante o
episcopado, de datas incertas (PG 32, 219-1112). Versam sobre
os mais variados assuntos; negócios da Igreja, vida monástica,
teologia e disciplina, interesses públicos e privados,
consolatórias a pessoas enlutadas, a pecadores e religiosos
infiéis. Algumas dessas cartas são de uma grande beleza.
Entre os escritos sobre diversos assuntos, poderiamos colocar
as homilias e sermões de PG 31, 163-617. Versam sobre o
jejum, sobre a ação de graças, sobre problemas de economia e
moral, sobre os mártires, sobre pontos de teologia e ascética,
sobre textos bíblicos, etc. Digna de nota é a alocução aos jovens
sobre o modo de ler com proveito os autores pagãos, onde
mostra que o estudo desses autores, uma vez bem feito,
contribui para a compreensão da própria Sagrada Escritura.
Muitos desses escritos refletem as idéias econômicas de Basílio
e de seu tempo, o que os torna muito interessantes ainda hoje.
35
Quanto às obras ascéticas e morais, entre as quais se
encontram as Regras Mais Extensas e as Regras Menos
Extensas, cuja tradução agora nos é dada em português, in-
clu mos, al m da dita tradu o, a Institui o Asc tica (PG 31,
619-625), o discurso Sobre a ren ncia ao mundo (Ib., 626-
647), o discurso Sobre a vida asc tica (Ib., 648- 652). As obras
que seguem a esses no tomo 31 da Patrolo- gia Grega de Migne
constituem um conjunto que chegou até nós com o nome de
Hypotypose de ascese , isto , esbo o asc tico . Muito se tem
escrito ultimamente sobre as obras de São Basílio, de cinqüenta
anos para cá, digamos, e particularmente sobre as Regras Morais
e as Regras Monásticas. Estudando tudo o que se tem publicado,
Dom L. Lèbe, que traduziu as Regras Monásticas e Morais para
o francês, debruçou-se sobre as obras basilianas e chegou à
seguinte conclus o, quanto Hypotypose: a Hypotypose um
corpus englobando uma carta, pela qual Bas lio envia todo o
conjunto aos amigos, o De Judicio e o De Fide , que s o
como dois prólogos, depois as Morales (regulae), as Regulae
fusius tractatae e as Regulae bre- vius tractatae .28 Estas duas
últimas são chamadas também Grande Ascética e Pequena
Ascética, respectivamente, por certos autores.29 Por vezes é todo
um conjunto, do qual a Hypotypose é apenas uma parte, que é
chamada Ascética.30
Essa Hypotypose S o Bas lio enviou aos monges do Ponto
mediante uma carta, para que fossem os guardiães e os
propagadores da doutrina. Por modéstia talvez, São Basílio não
deu o nome de Regras a seu ensinamento aos monges; foi a
tradição que o deu, e com razão, porque de fato esse
ensinamento estabelece as leis fundamentais da vida estritamente
cenobítica inaugurada por ele. A forma literária em perguntas e
respostas corresponde ao costume da sua exposição em reuniões
familiares, em que mestre e discípulos estabeleciam um diálogo.
Com Dom Lèbe, podemos dizer que foi bem pouco tempo
antes de sua morte que São Basílio redigiu as Regras Mo
28. L be, L on, D. OSB, Saint Basile et ses R gles Morales , Revue Bénédtetine 75 (1955) 193/200.
29. Cf. "Saint Basile , por D. Jean Gribomont OSB, em Th ologie de la vie monas- tique , Aubier,
1961, p. 104.
30. t>. L be, "Introduction eit.
36
rais, acrescentou as Monásticas e assim compôs essa Hypo-
typose . A doen a o prostrava, tinha sempre a morte diante dos
olhos, e seus discípulos temiam, com razão, ver desaparecer essa
voz eloqüente que tantas vezes lhes tinha exposto a doutrina do
Evangelho. Pediram-lhe que deixasse por escrito o seu
ensinamento. Ele, então, cedeu com a consciência de cumprir
seu dever de Pastor; não devia senão reunir e ordenar suas
próprias notas acumuladas no decorrer dos anos. Aliás, a
primeira redação das suas Regras parece ter sido feita em 365,
durante o ano que passou no ermo, distante de Cesar ia; o texto
dessa primeira redação desapareceu infelizmente, mas cópias
foram propagadas, e foi uma delas que Rufino encontrou em sua
viagem pelo Oriente, trouxe-a para a Itália e traduziu para o
latim para seu amigo Ursácio, superior do mosteiro de Pineto,
sob o t tulo de Instituta monachorum sancti Basilii 30. O texto
grego das Regras que possuímos é portanto o fruto de uma
grande experiência de vida, tendo por isso os devidos e cor-
respondentes acréscimos, reflexo da preocupação de um grande
apóstolo da fé, a saber, a harmonia e a união dos membros do
Corpo Místico de Cristo, mediante o crescimento no amor
fraterno.
No Prólogo São Basílio faz a defesa da vida claustral como
grande meio para se viver mais perfeitamente a vontade de
Deus. Trata, depois, nas Regras 1, 2 e 3, da grandeza do amor de
Deus, como resposta à bondade e misericórdia de Deus que é
Amor. Se o homem deve corresponder a Deus em conformidade
com os talentos dele recebidos (4»), há entretanto muitos
caminhos para Deus: o do amor humano e o dos atrativos e
preocupações deste mundo, que podem, mal utilizados, afastar o
homem de Deus (5* e 8»). Daí a necessidade da renúncia (8»).
Mas o afastamento do mundo deve realizar- se numa
comunidade de irmãos unidos pela caridade fraterna (7»), na
qual se entra em conformidade com várias exigências (10» a
12»). Em consequência, São Basílio exige um engajamento vivo
e decidido na via da castidade (14» e 15»). Tanto nas Regras
Mais Extensas (RM) como nas Regras Menos Extensas (Rm) há
uma porção de normas e detalhes sobre a renúncia em seus
m ltiplos aspectos, sobre a enkr teia (repress o das paix es
da alma), sobre o vício da vontade própria, sobre o uso da
medicina, a separação
37
do mundo e da família, sobre os hóspedes, etc. Alguns temas,
contudo, chamam mais a atenção, como o da autoridade e
obediência, o da comunidade fraterna e Igreja, o do trabalho e o
da oração. Há uma espécie de teologia da autoridade e da
obediência (RM, 24 a 31, 41 e Rm 96 a 125), esta entendida
como linha de libertação na fé, e aquela numa linha de total
doação e responsabilidade, qual a do Bom Pastor. A
comunidade, à semelhança da Igreja, é entendida como um
corpo, cujos membros têm uma função de serviço para com
todos num espírito fraterno e filial (RM 24; Rm 147). Quanto ao
trabalho e a oração, são os dois pólos da vida monástica; devem
harmonizar-se de tal modo que o monge reza quando trabalha,
embora deva observar as sete horas tradicionais da oração
comunitária do Ofício Divino; além disso, o trabalho dos
monges deve ser também o das obras de misericórdia, o do
ministério espiritual das almas exercido dentro do mosteiro para
com os hóspedes e visitantes (RM 32, 45), para com as
religiosas (RM 33), para com as pessoas do mundo (RM 36; Rm
31).
Eis aí os grandes temas dessas Regras Monásticas, úteis
entretanto a todos que procuram correr no caminho da perfeição.
Durante toda a Idade Média essas Regras foram lidas na
tradução de Rufino. Em 1535, as Ascéticas foram impressas
pela primeira vez em grego em Veneza. Em 1720- 1722, D.
Garnier estabeleceu o texto da edição beneditina, refez
inteiramente a tradução latina, e é essa o texto da coleção Migne
(PG 31, 889-1306). Foi afastado o pequeno prólogo da primeira
reda o, cuja tradu o latina foi feita por Rufino nas Instituta
monachorum sancti Basilii .
Dom Bernardo Botelho Nunes, OSB
38
A REGRA MAIS EXTENSA
PRÓLOGO
1. Uma vez que, pela graça de Deus, em nome de nosso
Senhor Jesus Cristo, aqui nos encontramos reunidos, nós que
nos propusemos um só e mesmo escopo de vida, e vós mostrais
evidente desejo de aprender alguma coisa referente à salvação,
sinto-me no dever de anunciar os juízos de Deus, lembrado dia e
noite da palavra do Apóstolo: Por três anos não cessei, noite e dia,
de admoestar, com, lágrimas, a cada um de vós (At 20,31). A
oportunidade é excelente; o lugar, silencioso, livre de agitações
vindas de fora. Façamos, pois, reciprocamente, um pedido. No
tempo devido, distribuamos nós a nossos companheiros a sua
medida de trigo; e vós, acolhendo a palavra, qual terra boa,
produzais, conforme está escrito (Mt 13,23), frutos perfeitos e
múltiplos de justiça.
Exorto-vos pelo amor de Nosso Senhor Jesus Cristo, que se
deu a si mesmo pelos nossos pecados (Tt 2,14). Sejamos, enfim,
solícitos por nossas almas. Lastimemos a vaidade de nossa vida
passada. Lutemos em vista dos bens vindouros, para a glória de
Deus e de seu Cristo e do santo e adorável Espírito. Não
fiquemos na indiferença e no relaxamento. Não desperdicemos o
tempo em permanente desí- dia, diferindo sempre o início das
boas obras, para não acontecer que, apanhados desprevenidos de
boas obras por quem há de pedir contas de nossas almas,
sejamos excluídos das alegrias das núpcias, e então inutilmente
chorarmos e lamentarmos o tempo mal empregado, quando isto
de nada servirá aos que se arrependerem.
Nós estamos agora no tempo favorável, agora é o dia da salvação
(2Cor 6,2). Agora é o tempo da penitência, então
39
será o da recompensa; agora, o do labor, então, o da remu-
neração; agora, o da paciência, então, o da consolação. Deus é
agora o auxílio dos que se convertem do mau caminho; então,
será o examinador temível, e que se não deixa enganar, das
ações, das palavras e dos sentimentos humanos. Usufruímos,
agora, de sua longanimidade, mas conheceremos, então, seu
justo juízo, ao ressuscitarmos uns para o suplício eterno, outros
para a vida eterna e recebermos, cada um de nós, segundo as
nossas próprias obras.
Até quando adiaremos a obediência a Cristo, que nos chama a
seu reino celeste? Não despertaremos de nossa embriaguez? Não
nos converteremos de uma vida vulgar ao rigor do Evangelho?
Como não representar, diante de nossos olhos, o dia do Senhor,
terrível e manifesto, no qual obterão o reino dos céus os que, por
meio de suas ações, tiveram acesso à direita do Senhor, enquanto
os que, pela carência de boas obras, tiverem sido rejeitados à
esquerda, serão envolvidos pela geena do fogo e pelas trevas
eternas? Ali haverá choro e ranger de dentes (Mt 25,30).
2. Dizemos que desejamos o reino dos céus; contudo, não
cuidamos dos meios de obtê-lo. Nenhum esforço empregamos
para cumprir o mandamento do Senhor e supomos, na vaidade de
nosso espírito, que alcançaremos honras iguais às daqueles que
resistirem ao pecado até à morte.
Alguém, acaso, ficaria em casa sentado ou dormindo no
tempo da sementeira e por ocasião da messe enchería de feixes a
dobra do manto? Quem colherá uvas de uma vinha que não
plantou, nem cultivou? Os frutos correspondem ao labor. As
honras e as coroas são para os vencedores. Quem havería de
coroar aquele que nem ao menos se cingiu perante o adversário?
Não se trata apenas de vencer, mas também de lutar segundo as
regras, conforme diz o Apóstolo (2Tm 2,5), isto é, de não
negligenciar nem a menor das prescrições, mas de tudo realizar
de acordo com os preceitos. Feliz daquele servo que o Senhor
achar procedendo assim, não ao acaso, quando vier (Lc 12,43). E
ainda: Se ofereceres bem, mas não dividires bem, pecas (Gn 4,7,
seg. LXX).
Nós, no entanto, imaginamos cumprir um mandamento
isoladamente e não contamos com a ira por causa das trans-
gressões, mas esperamos recompensa pelo único manda
40
mento que praticamos! Entretanto, diria que não o cumprimos.
Todos os mandamentos de tal modo se compenetram, segundo o
verdadeiro entendimento da Palavra que, menosprezado um,
transgridem-se necessariamente os demais. Quem sonega um ou
dois dos dez talentos sob sua guarda e devolve os restantes, não
será considerado honesto, por causa da devolução da soma
maior, e sim convencido de ser injusto e avaro por ter furtado a
quantia menor. E por que falar de espoliação? Pois, será
condenado até aquele a quem fora confiado um talento e o
devolva todo e na íntegra, como recebera, mas sem rendimentos.
Quem honrar seu pai por dez anos e depois lhe infligir um só
ferimento, não será honrado como benemérito e sim condenado
como parricida.
Ide, pois, diz o Senhor, ensinai a todas as nações. Ensinai a
observar não apenas algumas coisas e a negligenciar outras, mas
a observar tudo o que vos mandei (Mt 28,19.20). E o Apóstolo, em
consequência, escreve: A ninguém damos qualquer motivo de
escândalo, para que o nosso ministério não seja criticado. Mas em
todas as coisas nos apresentamos como ministros de Deus (2Cor
6,3.4).
Se nem tudo fosse necessário ao escopo da salvação, não
haveríam sido escritos todos os mandamentos, nem fora
determinado se observassem obrigatoriamente todos eles. De
que me serve o exato cumprimento do dever se, por ter chamado
louco a um irmão, for réu da geena? Que vantagem alcança
quem se liberta de muitos, se um só o sujeita à escravidão? Pois
todo o homem que se entrega ao pecado, é seu escravo (Jo 8,34). De
que adianta a alguém a imunidade de muitas doenças, se uma só
já lhe consome o corpo?
3. Então, dirá alguém, será inútil à multidão de cristãos, que
não guarda a totalidade dos mandamentos, a observância apenas
de alguns? Seria oportuno relembrar o que, por um só motivo,
foi dito a São Pedro, após tantas ações perfeitas e depois de ter
sido chamado bem-aventurado: Se eu não te lavar, não terás parte
comigo (Jo 13,8). É ocioso asseverar que não denotava com isso
negligência ou desprezo, mas reafirmava, ao invés, honra e
reverência.
E se alguém disser estar escrito: Todo o que invocar o nome do
Senhor será salvo (J1 2,32), bastando, portanto,
41
a invocação do nome do Senhor para salvar quem o invoca, ouça
o Apóstolo: Como, pois, invocarão aquele em quem não têm fé?
(Rm 10,14). Se crês escuta o Senhor: Nem todo aquele que
diz: Senhor, Senhor, entrará no reino dos céus, mas aquele que faz
a vontade de meu Pai que está nos céus (Mt 7,21). Certamente,
quem faz a vontade do Senhor, não, porém, como Deus o quer,
nem por amor a Deus, não lhe aproveita o zelo pelas obras,
conforme a palavra de Nosso Senhor Jesus Cristo: Fazem para
serem vistos pelos homens. Em verdade, eu vos digo: já receberam
sua recompensa (Mt 6,5). Por esta razão, o Apóstolo Paulo soube
dizer: Ainda que distribuísse todos os meus bens, e entregasse o
meu corpo para ser queimado, se não tiver caridade, isto nada
aproveita (ICor 13,3).
Em resumo, vejo três atitudes diferentes a nos impelirem de
modo quase inevitável à obediência. Ou desviamo- nos do mal
por temor do castigo: é a atitude servil. Ou cumprimos os
preceitos, ambicionando a recompensa, o proveito próprio, e
assemelhamo-nos aos mercenários. Ou, por causa do bem em si
e por amor a nosso legislador, alegramo-nos em servir a um
Deus tão glorioso e tão bom: nossa atitude, então, é a filial. Nem
mesmo quem cumpre os mandamentos só por temor, receando
sempre a pena da negligência, ousa praticar apenas alguns
preceitos e descuidar dos outros; mas prevê igualmente um
castigo temível para qualquer desobediência. Por isto, declara-se
ser feliz quem vive em temor reverenciai contínuo (Pr 28,14);
ficará firme na verdade, podendo dizer: Ponho sempre o Senhor
diante dos olhos; pois que ele está à minha direita, não vacilarei (SI
15,8). Nada quer omitir do dever. E feliz o homem que teme o
Senhor. Por que motivo? Porque nos seus mandamentos põe o seu
prazer (SI 111,1). Não é próprio de quem teme transgredir as
prescrições, agir com negligência. Nem mesmo o mercenário
quer violar alguns preceitos. Como haver ia de obter salário pelo
cultivo da vinha, se não fizer tudo o que combinou? Se faltar
uma só coisa indispensável, tomá-la-á inútil para o seu
proprietário. Quem ainda oferecerá recompensa àquele que agiu
mal, em troca do prejuízo causado? A terceira atitude é a do
serviço na caridade. Qual o filho que, movido pelo desejo de
agradar ao pai, procura contrariá-lo nas coisas
42
pequenas e alegrá-lo nas grandes? Fá-lo-á tanto mais, se estiver
lembrado da palavra do Apóstolo: Não entristeçais o Espírito
Santo ãe Deus, com o qual estais selados (Ef 4,30).
4. De que lado querem ser colocados os transgressores da
maior parte dos mandamentos? Não assistem a Deus como Pai,
não lhe dão crédito quando faz promessas tão grandiosas, não o
servem como a seu Senhor. Ora, se eu sou pai, diz ele, onde estão
as honras que são devidas? E se eu sou Senhor, onde está o
temor que se deve? (Ml 1,6). Porque o homem que teme o
Senhor, nos seus mandamentos põe o seu prazer (SI 111,1). Foi
dito: Desonras a Deus pela transgressão da Lei (Rm 2,23).
Se preferimos a vida de prazeres à vida segundo os man-
damentos, como podemos esperar a vida bem-aventurada, a
cidadania igual à dos santos, as alegrias na companhia dos anjos,
em presença de Cristo? Seria pueril imaginar tal coisa.
Serei associado a Jó, se não sei suportar a menor tribu- lação
com ações de graças? A Davi, se não me porto com
longanimidade para com o adversário? A Daniel, se não procuro
a Deus em contínua abstinência e laboriosa prece? A cada um
dos santos, se não sigo a suas pegadas? Haverá em algum
certame árbitro tão sem critério que sentencie merecerem coroas
idênticas o vencedor e quem não combateu? Haverá general que
distribua aos vitoriosos e aos que não comparecerem no combate
partes iguais dos despojos?
Deus é bom. É justo também. Justo, remunera de acordo com
os merecimentos, conforme está escrito: Sede bom, Senhor, para
os que são bons e para os homens ãe reto coração. Mas aqueles que
se desviam por caminhos tortuosos, que o Senhor os expulse com os
malfeitores (SI 124,4.5). É misericordioso, mas é também juiz. O
Senhor ama a misericórdia e a justiça (SI 32,5). Diz-se por isso:
Cantarei a bondade e a justiça, a vós, Senhor (SI 100,1). Sabemos
quais os que obterão misericórdia: Bem-aventurados os mi-
sericordiosos, porque alcançarão misericórdia (Mt 5,7). Vês com
que discernimento usa de misericórdia? É misericordioso sem
prescindir do julgamento; julga sem prescindir da misericórdia.
O Senhor é misericordioso e justo (SI 114,5). Não encaremos só
um dos aspectos. Seu amor
43
ao homem não nos sirva de pretexto para desleixo. Para que não
fosse desprezada a sua bondade é que houve trovões e
relâmpagos. Faz ele nascer o sol (Mt 5,45), mas também castiga
com a cegueira (2Rs 6,18). Dá a chuva (Zc 10,1), mas também
faz chover fogo (Gn 19,24). As primeiras coisas indicam a sua
bondade, as segundas a sua severidade. Amemo-lo por causa das
primeiras, temamo-lo em conseqüência das segundas, a fim de
que não nos seja dito, também a nós: Ou desprezas as riquezas da
sua bondade, tolerância e longanimidade, desconhecendo que a
bondade te convida ao arrependimento? Mas, pela tua dureza e
coração impenitente, ajuntas para ti reservas de ira para o dia da
cólera (Rm 2,4.5).
Não pode salvar-se quem não pratica obras conforme o
mandamento de Deus, e é perigosa a omissão de algumas das
prescrições, porque seria péssima arrogância constituir-se em
juiz do legislador, aceitando algumas leis e rejeitando outras.
Nós, portanto, lutadores na arena da piedade cuja vida é
silenciosa e afastada dos negócios, o que contribui muito para a
observância dos preceitos evangélicos empreguemos
conjuntos esforços e conselhos mútuos, para que nenhuma
prescrição nos escape. Se o homem de Deus deve ser perfeito
(como está escrito e as palavras acima demonstram), forçoso é se
aperfeiçoe em cada mandamento até à estatura da maturidade de
Cristo (Ef 4,13). Pois, também de acordo com a lei divina, o
animal mutilado, puro embora, não é vítima aceitável a Deus.
Assim, se reconhecermos que nos falta alguma coisa,
proponhamos a questão a exame em comum. Uma pesquisa
laboriosa de muitos fará descobrir com maior facilidade a
solução oculta, porque Deus mesmo, segundo a promessa de
Nosso Senhor Jesus Cristo (Jo 14,26), dar-nos-á achar o que
buscamos, pelo ensinamento e pelas inspirações do Espírito
Santo.
Do mesmo modo que é uma obrigação que se impõe e ai de
mim se eu não anunciar o Evangelho (ICor 9,16), assim ameaça-
vos perigo semelhante, se procurardes com negligência ou vos
portardes com frouxidão e indolência na observância e execução
dos ensinamentos transmitidos. Por isso diz o Senhor: A palavra
que anunciei julgá-lo-á no último dia (Jo 12,48). E o servo que,
ignorando a vontade
44
de seu Senhor, fizer coisas repreensíveis, será açoitado com poucos
golpes; mas o que, apesar de conhecer (a vontade de seu Senhor),
nada preparou e lhe desobedeceu, será açoitado com numerosos
golpes (Lc 12,47-48).
Rezemos, pois, a fim de que eu vos dispense a palavra de
modo irrepreensível e o ensino vos seja frutuoso. Cientes de que
as palavras das Escrituras divinas defrontar- se-vos-ão no
tribunal de Cristo Vou te repreender e te lançar em rosto os teus
pecados (SI 49,21) atendamos, vigilantes, ao que foi dito e
apliquemo-nos zelosamente à prática das divinas exortações,
porque não sabemos o dia e a hora em que Nosso Senhor há de
vir (Mt 24,42).
QUESTÃO 1
ORDEM E SEQUÊNCIA DOS MANDAMENTOS
DO SENHOR
Uma vez que a Escritura nos dá o direito de fazermos
perguntas, queríamos saber, antes de tudo, se há ordem e
seqüência nos mandamentos de Deus, havendo primeiro,
segundo, etc.; ou se todos estão relacionados e são iguais quanto
à precedência, de maneira que sem receio se possa tomar à
vontade o ponto de partida como num círculo.
Resposta
É uma velha questão. Já fora, outrora, proposta nos
Evangelhos, quando um doutor da lei aproximou-se do Senhor e
disse: Mestre, qual é o maior mandamento da lei? Respondeu o
Senhor: Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a
tua alma, de todas as tuas forças e de todo o teu espírito. Este é o
maior e o primeiro mandamento. E o segundo, semelhante a este, é:
Amarás teu próximo como a ti mesmo (Mt 22,36-39). O próprio
Senhor, portanto, dispôs em ordem os mandamentos. Declarou
ser o primeiro e o maior dos mandamentos o referente ao amor
de Deus; o segundo em ordem, semelhante àquele, ou antes
complementar e dependente do primeiro,
45
é o do amor ao próximo. Daí e de passagens semelhantes des
Escrituras divinas infere-se a ordem e a seqüência de todos os
mandamentos do Senhor.
QUESTÃO 2
A CARIDADE PARA COM DEUS. HA, POR NATUREZA,
NOS HOMENS INCLINAÇÃO E FORÇA PARA A PRATICA
DOS MANDAMENTOS DO SENHOR
Disserta primeiro sobre o amor de Deus. Ouvimos ser preciso
amar a Deus. Queremos aprender o modo de consegui-lo bem.
Resposta
1. O amor de Deus não é coisa que se aprenda. Não
aprendemos de outrem a alegrar-nos com a luz, a almejar a vida,
nem ensinou-nos alguém a amar os progenitores ou nutrícios.
Assim também, ou com maior razão, não provém de uma
disciplina externa o amor de Deus.
Mal começa a existir este ser vivo, o homem, nele se implanta
uma espécie de razão seminal\ contendo em si a faculdade de
amar e a afinidade com o amor. Costuma tomá-la a escola dos
mandamentos de Deus, cultivá-la cuidadosamente, nutri-la com
a ciência e, pela graça de Deus, levá-la à perfeição.
Por isso, nós, vendo vosso zelo, que aprovamos como
necessário à obtenção de nosso escopo, por um dom de Deus e
com o auxílio de vossas preces, esforçar-nos-emos, apoiados na
força que recebemos do Espírito, por suscitar a centelha do amor
divino em vós latente. Importa saber que uma só é essa virtude;
no entanto, por sua eficácia, cumpre-se e abrange-se qualquer
mandamento. Se alguém amar, diz o Senhor, guardará os
meus mandamentos (Jo 14,23). E ainda: Nesses dois mandamentos
se resumem toda a lei e os profetas (Mt 22,40).
1. O Logos spermatik s designa a presença no homem de um elemento que lhe permite
ascender ao Logos, Cristo, ao qual se chega pelo amor.
46
Não vamos, porém, desenvolver agora um discurso muito
acurado talvez despercebidamente incluiriamos o todo
referente aos mandamentos numa parte mas, na medida do
possível e da conveniência do presente propósito, admoestar-
vos-emos a respeito do amor devido a Deus.
Digamos, de início, que de Deus recebemos antes a força a
fim de cumprirmos todos os seus mandamentos, de modo que
não podemos nos insurgir como se nos fossem feitas novas
imposições, nem nos orgulhar como se retribuíssemos com mais
do que nos foi dado. E quando, por essa força, agimos bem, de
maneira reta, levamos piedosamente uma vida virtuosa;
corrompendo-a, caímos nos vícios. Pois tal é a difinição do
vício: abuso dos dons de Deus, destinados ao bem, contra os
preceitos do Senhor. Ao invés, a definição da virtude que Deus
requer, é a seguinte: o uso dos mesmos, procedente de uma boa
consciência, segundo o mandamento do Senhor. Sendo assim,
diremos o mesmo da caridade.
Tendo recebido o mandamento de amar a Deus, entramos de
posse da faculdade de amar, em nós inserta logo que fomos
criados. Não é possível demonstrar tal fato com argumentos
externos, mas cada um pode percebê-lo por si e em si mesmo.
Desejamos naturalmente o que é bom e belo, embora essa
apreciação difira de um a outro. Sem haver aprendido, temos
amor aos amigos e parentes, e, de bom grado, cercamos de
benevolência aos benfeitores. E o que pode haver de mais
admirável do que a beleza divina? Que pensamento há mais
grato do que o da magnificência de Deus? Ou pode haver desejo
da alma veemente e irresistível como o que Deus faz nascer na
alma purificada de todo o vício, a dizer com verdadeiro afeto:
Estou enferma de amor (Ct 2,5)?
São totalmente inefáveis e inenarráveis os fulgores da divina
beleza; a palavra não os descobre, não os depreende o ouvido.
Descrevam-se, embora, os esplendores da estrela d alva, a
claridade da lua, a luz do sol, todos desfalecem diante de sua
glória, e, comparados à verdadeira luz, mais se distanciam do
que uma noite profunda, sombria e sem luar difere do clarão do
meio-dia. É invisível essa beleza aos olhos da carne; só a
apreendem a alma e a mente. Quando ilumina os santos,
estimula-os com um desejo
47
incontido, levando-os a dizer, entediados, da vida presente: Ai de
mim por se ter prolongado o meu exílio (SI 119,5). Quando ir ei
contemplar a face de Deus? (SI 41,3). E: Tenho desejo de ir-
para estar com Cristo, o que é, sem comparação, o melhor (F1
1,23). E ainda: Minha alma tem sede de Deus, (do Deus) forte e vivo
(SI 41,3). E: Agora, Senhor, deixas o teu servo ir (em pas) (Lc
2,29). Mal se podia deter o ímpeto daqueles que, atingidos pelo
anelo de Deus, suportavam o peso da vida presente, como sendo
um cárcere. Com desejo insaciável de contemplar a beleza
divina, pediam que a contemplação da alegria do Senhor durasse
uma eternidade.
Por natureza, os homens desejam o bem e o belo. Pro-
priamente belo e amável é o bem. Deus é o bem. E todas as
coisas apetecem o bem; portanto, todas elas desejam a Deus.
2. Encontra-se em nós, naturalmente, se a malícia não houver
pervertido nossos pensamentos, aquilo que a vontade nos faz
realizar de bom. Por conseguinte, o amor de Deus é reclamado
como um dever. Privada dele, sofre a alma o mais insuportável
dos males. Pois o afastamento e a aversão de Deus é um mal
mais intolerável até do que os ameaçadores suplícios da geena \ e
mais pesado para quem o sofre do que a privação da vista,
mesmo se indo- lor, e a perda da vida para os animais. Se os
filhos, por natureza, amam os pais (demonstra-o o instinto dos
animais e o afeto das crianças de tenra idade às suas mães), não
nos mostremos mais desarrazoados do que as criancinhas, nem
mais selvagens do que as feras, permanecendo estranhos e
desafeiçoados em relação a nosso Criador. Ignorássemos embora
qual a sua bondade, só pelo fato de nos ter criado, deveriamos
querer-lhe bem, amá-lo imensamente e estar continuamente
suspensos a sua lembrança, como os pequeninos aos braços de
sua mãe.
Entre aqueles que por natureza amamos, ocupam o primeiro
lugar os benfeitores. Este afeto aos beneméritos não é exclusivo
ao homem, mas é sentimento comum a quase todos os animais.
Foi dito: “O boi conhece o seu possuidor, e o asno, o estábulo do seu
dono” (Is 1,3). Que não se diga
2. Gêena, lugar de punição futura, compreendido como separação de Deus.
48
r
49
permanecermos na desobediência, não se apartou de nós. Não
nos abandonou a bondade de Nosso Senhor. Não abolimos o
amor para conosco pela insensibilidade com que ofendemos o
benfeitor que nos cumulava de honras, mas fomos de novo
chamados da morte e restituídos à vida por Nosso Senhor Jesus
Cristo. No seguinte ponto é mais admirável ainda sua bondade e
benevolência: Sendo ele de condição divina, não considerou a sua
igualdade com Deus como uma presa, mas aniquilou-se a si mesmo,
assumindo a condição de escravo (F1 2,6-7).
4. Ele tomou sobre si nossas enfermidades e encarregou- se de
nossos sofrimentos... e foi ferido por nossa causa... para. que
fôssemos curados graças a seus paãecimentos; e remiu-nos da
maldição da Lei, fazendo-se por nós Maldição (Is 53,4; G1 3,13).
Submeteu-se à morte mais igno- miniosa para nos reconduzir à
vida gloriosa. Não lhe bastou vivificar os que estavam mortos,
mas dignou-se ainda conceder-lhes a dignidade da divinização e
preparou-lhes um eterno repouso, cheio de alegrias tão grandes
que superam todas as cogitações humanas.
Que podemos retribuir ao Senhor por tudo o que nos tem dado?
(SI 115,12). É tão bom que não exige remuneração. Contenta-se
com ser amado por causa dos bens que concedeu.
Quando tudo isso me vem à mente (confesso meus
sentimentos), invade-me certo arrepio e perturbação, receando
que, por falta de ponderação ou por ocupação com coisas vãs,
perca o amor de Deus e me tome motivo de opróbrio para
Cristo. O atual sedutor que se esforça com todos os artifícios,
por meio de atrativos mundanos, para nos induzir ao
esquecimento de nosso benfeitor, e que nos injuria e nos pisa,
visando a perdição de nossas almas, então, diante do Senhor,
converterá em insulto o nosso desprezo e gloriar-se-á de nossa
desobediência e defecção. Ele que não nos criou, nem morreu
por nós, tem-nos por companheiros de sua obstinação e
negligência em relação aos mandamentos de Deus. O Senhor
ofendido e a jactância do inimigo parecem-me mais graves do
que os suplícios da geena, porque dão matéria ao inimigo de
Cristo de se vangloriar e de se. orgulhar contra aquele que por
nós morreu
50
ressuscitou. A este, por tal razão, corno está escrito, somos
mais devedores.
Até aqui, acerca do amor de Deus. Não pretendo, como disse,
esgotar o assunto. Seria impossível. É apenas uma lembrança
sumária para suscitar sempre em nossas almas o desejo de Deus.
QUESTÃO 3
A CARIDADE PARA COM O PRÓXIMO
Seria lógico dissertar agora sobre o segundo mandamento, em
ordem e valor.
Resposta
1. Dissemos mais acima ser a lei agricultora e nutrícia
daquelas forças implantadas seminalmente em nós. Tendo sido
ordenado amarmos o próximo como a nós mesmos,
consideremos se Deus nos deu força para praticarmos esse
mandamento. Quem não sabe que o homem é um ser social e
manso, e não isolado e fero? Nada é tão peculiar a nossa
natureza como vivermos em comum, necessitarmos uns dos
outros, amarmos os semelhantes.
O próprio Senhor, que antes espargiu em nós essas sementes,
reclama frutos adequados, dizendo: Dou-vos um novo
mandamento: Amai-vos uns aos outros (Jo 13,34). Querendo
estimular-nos à prática deste mandamento, não apresentou como
características de seus discípulos sinais e milagres estupendos
(embora lhes houvesse concedido no Espírito Santo também tal
poder), mas disse: Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos,
se vós amardes uns aos outros (Jo 13,35). E assim, sempre
correlaciona esses preceitos, transferindo para si mesmo os
benefícios feitos ao próximo. Diz: Porque tive fome e me destes de
comer, etc. (Mt 25,35). E acrescenta: Todas as vezes que fizestes
isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, foi a mim mesmo
que o fizestes (ibid. 40).
51
2. É possível, portanto, por meio do primeiro praticar bem o
segundo, e novamente, pelo segundo voltar ao primeiro. Quem
ama o Senhor, amará, em conseqüência, o próximo: Se alguém
ama, diz o Senhor, guardará os meus mandamentos (Jo 14,23).
Este é o meu mandamento: Amai-vos uns aos outros, como eu vos
amei (Jo 15,12). E reciprocamente, quem ama o próximo,
satisfaz o preceito de amar a Deus, que recebe essa boa ação
como feita a si mesmo.
Por isso, Moisés, o fiel servo de Deus, demonstrou tanto amor
a seus irmãos que desejou ser riscado do livro de Deus, no qual
fora inscrito, se não fosse perdoado o pecado do povo (Ex
32,32). E Paulo ousou pedir ser separado de Cristo por amor de
seus irmãos, de sua raça, segundo a carne (Rm 9,3), porque à
imitação do Senhor, queria fazer-se o preço da salvação de
todos; mas estava bem côns- cio de ser impossível afastar-se de
Deus quem, por caridade, a fim de observar o maior
mandamento, rejeitasse a graça de Deus. Ao contrário, recebería
muito mais do que havia dado.
Aliás, o que foi dito mais acima demonstra suficientemente
haver chegado a esta medida, a caridade dos santos para com o
próximo.
QUESTÃO 4 O
TEMOR DE DEUS
Resposta
O sábio Salomão adverte ser mais útil para os principiantes na
piedade a formação baseada no temor, ao dizer: O temor do
Senhor é o princípio da sabedoria (Pr 1,7). Vós, porém, que em
Cristo já ultrapassastes a infância, não precisais mais de leite e
podeis ser levados à perfeição segundo o homem interior por
meio do sólido alimento dos dogmas 3; necessários se tomam,
portanto, preceitos mais sublimes, nos quais se consuma, em
toda verdade, a caridade em Cristo. Acautelai-vos, para que a
superabundância dos dons
3. Dogmas não deve ser tomado no sentido moderno, mas como doutrinas de f .
52
de Deus não se torne causa de condenação maior, se fordes
ingratos para com o benéfico doador. Quanto mais se confiar a
alguém, dele mais se há de exigir (Lc 12,48).
QUESTÃO 5
COMO EVITAR A DIVAGAÇÃO
Resposta
1. Importa saber que não é possível cumprir os outros
mandamentos e nem mesmo amar perfeitamente a Deus ou ao
próximo se o espírito divagar para cá e para lá.
Não pode alguém dedicar-se a uma ciência ou arte, tran-
sitando sempre de uma a outra, e nem mesmo adquirir o
conhecimento de uma delas, se ignorar os meios de alcançar sua
finalidade. Convém que as ações quadrem com o escopo,
porque, de fato, nada de razoável se alcança por meios
inadequados. Não se consegue com bom resultado forjar metais
exercitando-se em cerâmica; nem tocando frequentemente flauta
se chega a obter coroas atléticas; mas para cada fim requer-se
labor peculiar e ajustado.
Também a ascese, segundo o Evangelho de Cristo, que agrada
a Deus, realiza-se pelo afastamento das preocupações do século
e a fuga completa da divagação. Por isso, embora sejam
permitidas e dignas de bênçãos as núpcias, o Apóstolo opõe as
preocupações destas à solicitude pelas coisas que são de Deus,
como sendo impossível coexistirem ambas, ao dizer: O solteiro
cuida das coisas que são do Senhor, procurando agradar a Deus.
Mas o casado preocupa-se com as coisas do mundo, procurando
agradar à sua esposa (ICor 7,32.33). Assim, o Senhor
testemunhou a respeito dos discípulos, por causa de seu ânimo
sincero e firme: Não sois do mundo (Jo 15,19). E, ao contrário,
atestou ser impossível ao mundo receber o conhecimento de
Deus e aceitar o Espírito Santo: Pai justo, disse, o mundo não te
conhece (Jo 17,25), e: o Espírito da verdade que o mundo não pode
receber (Jo 14,17).
53
2. Todo aquele, portanto, que verdadeiramente quer seguir a
Deus, deve romper os vínculos das afeições desta vida. Realizá-
lo-á por afastamento completo e esquecimento dos hábitos
anteriores. Por esta razão, a menos que nos façamos estranhos
ao parentesco carnal e à vida em sociedade e emigrarmos de
certo modo para outro mundo, quanto a nossos hábitos,
conforme aquele que disse: Nós somos cidadãos dos céus (F1
3,20), será impossível atingirmos a meta de agradar a Deus.
É terminante a declaração do Senhor: Assim, pois, qualquer um
de vós que não renuncia a tudo o que possui, não pode ser meu
discípulo (Lc 14,33). Feito isto, guardemos cuidadosamente nosso
coração (Pr 4,23); jamais percamos a lembrança de Deus, nem
manchemos a memória de suas maravilhas com vãs
imaginações. Por toda a parte carreguemos pura e
continuamente a santa lembrança de Deus, cuja recordação se
imprima em nossa alma qual indelével sigilo.
Assim adquirimos o amor de Deus que também nos concita à
prática dos mandamentos do Senhor, enquanto esses, por sua
vez, o conservam perpétua e constantemente. O Senhor no-lo
mostra ao dizer: Se amais, guardareis os meus mandamentos
(Jo 14,15), ou ainda: Se guardardes os meus mandamentos,
permanecereis no meu amor (Jo 15,10). E o que é ainda mais
persuasivo: Como também eu guardei os mandamentos de meu Pai
e permaneço em seu amor (ibid.).
3. Com isto, ensina-nos ele que, ao decidirmos fazer uma
obra, tenhamos sempre o escopo de realizar a vontade daquele
que ordena, concentrando nisso nossos esforços, conforme ele
mesmo declarou em outra passagem: Desci do céu, não para fazer
a minha vontade, mas a vontade daquele que enviou, o Pai (Jo
6,38). Os ofícios necessários a nossa subsistência têm fins
específicos e em conseqüência acomodam as atividades
particulares a essas finalidades.
Assim também, tendo nossas obras uma só meta, uma só
regra, a saber, a observância dos mandamentos no intuito de
agradar a Deus, é impossível fazer um trabalho bem feito a não
ser realizando-o de acordo com a vontade de quem no-lo
confiou. Se ao fazermos uma obra, aplicarmo-
54
nos com zelo diligente a cumprir a vontade de Deus, uni- mo-nos
a ele por essa intenção.
O ferreiro, por exemplo, ao forjar um machado, lembra- se de
quem o encomendou e, conservando-o na memória, pensa na
forma e no tamanho do instrumento, executando-o conforme os
desejos de quem fez a encomenda. Se por acaso se esquecer de
tudo isso, fará outra coisa ou outra muito diferente da que
intencionara. Também o cristão, em qualquer ação, pequena ou
grande, orientada pela vontade de Deus, simultaneamente a
pratica com diligência e conserva a lembrança de quem a ordena,
realizando a palavra: Ponho sempre o Senhor diante dos olhos; pois
que ele está à minha direita, não vacilarei (SI 15,8). E cumpre
aquele preceito: Quer comais e bebais ou façais qualquer outra
coisa, fazei tudo para a glória de Deus (ICor 10,31).
Se alguém, ao agir, prejudica o rigor do preceito, evidencia ter
deixado se enfraquecer a recordação de Deus. Lembrados,
portanto, da palavra daquele que disse: Porventura, não enche
minha presença o céu e a terra? Oráculo do Senhor (Jr 23,24). E:
Apenas eu sou Deus quando estou perto? Não o sou também quando
de longe? (ibid. 23). E: Onde dois ou três estão reunidos em meu
nome, aí estou eu no meio deles (Mt 18,20), tudo devemos fazer
como convém a uma ação feita sob o olhar de Deus e tudo pensar
como sendo visto por ele. Assim teremos constante temor, o
qual, conforme está escrito (SI 118,163), odeia a injustiça, a
injúria, a soberba e os caminhos dos maus; realizaremos a
caridade, cumprindo o dito do Senhor: Não busco a minha
vontade, mas a vontade do Pai que enviou (Jo 5,30), e
convencidas estarão continuamente as nossas almas de que as
boas ações são bem aceitas pelo juiz e árbitro de nossas vidas e
de que as más receberão do mesmo a condenação.
Creio que assim acontecerá, como disse, que não sejam
empregados os mandamentos do Senhor para se captar a
benevolência dos homens. Ninguém há que se volte para um
inferior, se está certo da presença de um superior. Mas, se
suceder que uma ação seja aceitável e grata a uma pessoa ilustre,
porém contrarie a um inferior e lhe pareça repreensível, dar-se-á
mais valor à aprovação da pessoa mais importante, sem
considerar a censura de quem
55
está abaixo. Entre os homens é assim que se passam as coisas.
Qual será, pois, a alma verdadeiramente vigilante e equi-
librada que, convicta da presença de Deus, menosprezará o que
é do agrado de Deus e voltar-se-á para a glória humana? Ou,
negligenciando os preceitos de Deus, escravizar-se-á a práticas
humanas, ou deixar-se-á prender por um preconceito banal, ou
dobrar-se-á por causa de dignidades? Tal era a disposição
daquele que disse: Contaram-me os ímpios coisas, mas quão
diferente é tudo isso da tua lei, Senhor! (SI 118,85). E ainda:
Diante dos reis falarei de vossas prescrições e não envergonharei
(ibid. 46).
QUESTÃO 6
NECESSIDADE DA VIDA RETIRADA
Resposta
1. Morar retirado é auxílio para se adquirir a estabilidade de
espírito. O próprio Salomão demonstra ser pernicioso levar a
vida no meio dos que não receiam desprezar a perfeita
observância dos mandamentos, ao nos ensinar: Não faças
amizade com um homem colérico, não andes com o violento, com
receio de que aprendas os seus costumes e prepares um laço fatal
para a tua alma (Pr 22,24.25). E também: Saí do meio deles e
separai-vos, diz o Senhor (2Cor 6,17), induz à mesma conclusão.
Por isso, procuremos primeiro habitar num lugar retirado, para
não sermos incitados ao pecado através dos olhos e dos ouvidos,
e não nos habituarmos a ele de maneira despercebida, nem
permaneçam na alma certas impressões e imagens do que vimos
e ouvimos, causando nossa ruína e perdição, e ainda a fim de
persistirmos na oração. Assim podemos vencer os hábitos
anteriores de uma vida em desacordo com os mandamentos de
Cristo (não é pequeno combate superar os próprios hábitos; pois
o hábito, corroborado durante muito tempo, adquire força de
segunda natureza) e também conseguiremos apagar as máculas
do pecado tanto por
56
preces infatigáveis quanto pela meditação assídua da vontade de
Deus. A essa oração e meditação é impossível nos entregarmos
em meio à multidão que distrai a alma e a absorve com os
negócios desta vida. E quem poderá, envolvido em tudo isso,
cumprir a palavra: Se alguém quer vir após mim, renegue-se a si
mesmo (Lc 9,23)?
Importa renegarmos a nós mesmos e tomarmos a cruz de
Cristo, e assim o seguirmos.
Renunciar-se a si mesmo consiste em esquecer-se com-
pletamente do passado e abandonar as próprias vontades. Numa
convivência com os homens seria dificílimo realizá- lo, para não
dizer totalmente impossível. Esta companhia serve de empecilho
quando se quer tomar sua cruz e seguir a Cristo. Tomar a sua
cruz é estar pronto a morrer por Cristo. É mortificar os membros
terrenos, é estar disposto em ordem de batalha, enfrentando
qualquer perigo iminente por causa do nome de Cristo e não ser
apegado à vida presente.
Vemos assim os grandes obstáculos que provêm da con-
vivência comum em uma sociedade profana.
2. Além de outros impedimentos e são muitos a alma
considera a multidão dos transgressores.
Em primeiro lugar, não tem, com isso, oportunidade de
perceber os próprios pecados e de ter contrição dos delitos, por
meio da penitência. Compara-se aos piores e imagina que possui
certa retidão.
Em seguida, devido aos tumultos e negócios que brotam da
vida vulgar, perde a preciosa lembrança de Deus e não somente
sofre o prejuízo de não se alegrar e se deleitar em Deus, de não
fruir das delícias do Senhor, de não experimentar a doçura de
suas palavras, de modo a poder afirmar: Lembrei-me de Deus e
senti-me cheio de gozo (SI 76,4), e: Quão saborosas são para mim
vossas palavras, mais doces que o mel à minha boca (SI 118,103),
mas ainda acostuma-se inteiramente a desprezar os seus juízos, a
deles se esquecer, o que constitui o maior e pior dos males que
lhe possam suceder.
57
QUESTÃO 7
A CONVENIÊNCIA DE SE CONVIVER COM OS QUE
UNANIMEMENTE TENCIONAM AGRADAR A DEUS.
É TÃO DIFÍCIL QUÃO PERIGOSO VIVER ISOLADO
Uma vez que vossas palavras nos persuadiram de que é
perigoso passar a vida em companhia dos que desprezam os
mandamentos do Senhor, queremos agora saber se quem deles
se afasta deve viver sozinho ou conviver com irmãos que
tenham o mesmo modo de pensar e escolheram idêntico escopo
de piedade.
Resposta
58
rija com mansidão e misericórdia. A repreensão, mesmo se parte
de um inimigo, muitas vezes desperta nos bons o desejo de
correção. A purificação, porém, do pecado é realizada
conscientemente por aquele que ama de coração sincero: Quem
ama (seu filho), foi dito, corrige-o continuamente (Pr 13,24). É
dificílimo encontrar um tal na solidão, se não houver antes
vivido em comum. Acontece-lhe o que foi dito: Ai do homem
solitário. Se ele cair não há ninguém para o levantar (Ecl 4,10).
Muitos preceitos são facilmente cumpridos, quando o são por
muitos reunidos; por um sozinho, não, porque uma obra impede
outra. A visita de um enfermo, por exemplo, obsta à recepção de
um hóspede e a doação e distribuição do necessário
(principalmente quando esses serviços tomam muito tempo)
tolhe o zelo na prática de boas obras. Com isso cai no
esquecimento o preceito máximo e mais condizente com a
salvação: não é nutrido o faminto, nem vestido o nu.
Quem pretendería dar precedência à vida inerte e infrutífera e
não à vida frutuosa, segundo o mandamento do Senhor?
2. Se todos nós que fomos assumidos numa só esperança da
vocação (Ef 4,4) somos um só corpo, tendo a Cristo por Cabeça
(ICor 12,12), e somos membros uns dos outros, se não nos
unirmos na harmonia do Espírito Santo, na constituição de um só
corpo, mas ao contrário escolher cada um viver isolado, sem
servir, como é agradável a Deus, à utilidade comum na
dispensação dos bens, seguindo, como lhe apraz, os próprios
apetites, como conservaremos, separados e divididos, a mútua
relação de membros e o serviço ou a obediência devidos a nossa
Cabeça, que é Cristo?
Não poderemos, vivendo separados, alegrar-nos com quem é
glorificado, nem sofrer com quem sofre (ibid. 26), não nos sendo
possível, como se vê, conhecer as condições do próximo.
Além disso, como ninguém é capaz de receber todos os
carismas espirituais, mas segundo a proporção ãa fé (Rm 12,6) de
cada um é dado o Espírito, o dom peculiar a um transmite-se aos
seus concidadãos. A um é dada uma palavra de sabedoria, a outro a
palavra de ciência, a outro a fé, a
59
r outro a profecia, a outro a graça de curar as doenças, etc. (ICor
12,8.10). Recebe-os cada um, não tanto para si, mas para os
outros.
Na vida em comunidade, necessariamente a força do Espírito
Santo concedida a um transmite-se simultaneamente a todos.
Quem vive sozinho, talvez possua um dom; mas enterra-o em si
mesmo por preguiça e torna-o inútil. Quão grande é esse perigo,
sabeis vós todos que lestes os Evangelhos. Na convivência com
muitos, porém, goza do que lhe é próprio, multiplica-o ao
comunicá-lo e colhe frutos dos dons alheios, como dos próprios.
3. Possui ainda a vida em comum outras vantagens, difíceis
de enumerar em sua totalidade.
É mais proveitosa para a conservação dos bens que Deus nos
deu do que a solidão. Também para a preservação das ciladas
externas do inimigo é mais seguro ter alguns vigias que o
despertem no caso de adormecer naquele sono mortal, que Davi
nos preveniu pedirmos se afaste de nós: Iluminai meus olhos com
vossa luz, para eu não adormecer na morte (SI 12,4). É mais fácil
ao pecador abandonar o pecado, se receia a condenação unânime
de muitos, de maneira a convir-lhe a palavra: Basta a esse homem
o castigo que a maioria lhe infligiu (2Cor 2,6).
Mais forte será a convicção daquele que age bem, sendo
muitos os que o aprovam e concordam com a sua atuação. Se
toda questão deve se resolver pela decisão de duas ou três
testemunhas (Mt 18,6), é claro que há de se sentir muito mais
seguro quem fez uma boa obra, atestada por muitos.
Além dos supracitados, há outros perigos que acompanham a
vida isolada. O primeiro e o maior é o da auto- complacência.
Não tendo quem examine suas obras, julgará ter atingido a
perfeição do mandamento. Em segundo lugar, deixando inertes
os bons hábitos, não conhecerá seus próprios vícios, nem o
progresso realizado em obras, estando supressa a matéria para a
prática dos mandamentos.
4. Como demonstrará humildade, se ninguém houver em
comparação do qual se mostre mais humilde? Para com quem
usará de comiseração, se está longe da companhia dos demais?
Como se exercitará na paciência, se ninguém se opõe às suas
vontades? Se disser alguém bastar-lhe o
60
ensinamento das divinas Escrituras para a emenda dos costumes,
age à semelhança de quem aprende a construir, mas nunca
edifica, ou como quem aprende a forjar metais, mas não quer
aplicar as normas de sua arte. O Apóstolo poderia lhe dizer:
Diante de Deus não são justos os que ouvem a lei, mas serão tidos
por justos os que praticam a lei (Rm 2,13).
E eis que o Senhor, no excesso de seu amor aos homens, não
se contentou com ensinar só por palavras. A fim de nos dar
exemplo claro e expresso de humildade, na perfeição do amor,
cingiu-se e lavou os pés dos discípulos. De quem os lavarás tu?
A quem servirás? Como serás o último, se moras sozinho?
Sendo bom e agradável para irmãos unidos viverem juntos (SI
132,1), o que o Espírito compara ao óleo puríssimo que exala da
cabeça do sumo pontífice, como se realizará isso para quem
mora isolado?
A vida em comum de irmãos é estádio de atletismo, caminho
excelente de progresso, exercício perpétuo e meditação dos
mandamentos do Senhor. Tem por escopo a glória de Deus,
segundo o mandamento de Nosso Senhor Jesus Cristo, que
disse: Assim, brilhe vossa luz diante dos homens, para que vejam as
vossas boas obras e glorifiquem vosso Pai que está nos céus (Mt
5,16). Esta vida comum conserva o caráter da vida dos santos,
mencionada nos Atos, onde está escrito: Todos os fiéis viviam
unidos e tinham tudo em comum (At 2,44). E ainda: A multidão
dos fiéis era um só coração e uma só alma. Ninguém dizia que eram
suas as coisas que possuía; mas tudo entre eles era comum (At
4,32).
QUESTÃO 8
A RENÚNCIA
Se é preciso, primeiro, renunciar a tudo e depois ingressar na
vida conforme Deus determina.
Resposta
1. Como Nosso Senhor Jesus Cristo diz a todos, após muitas
e vigorosas manifestações, através de numerosas
61
obras: Se alguém, quiser vir após mim, renuncie-se a si mesmo, tome
sua crus e siga-me (Mt 16,24), e ainda: Assim pois, qualquer um de
vós que não renuncia a tudo o que possui não pode ser meu discípulo
(Lc 14,33), julgamos abranger esse preceito muitas coisas que é
forçoso abandonar.
Renunciamos antes de tudo ao diabo e às paixões carnais, nós
que rejeitamos as torpezas ocultas e renunciamos ao parentesco
segundo a carne, às amizades humanas e aos costumes contrários
à perfeição do Evangelho da salvação. E uma coisa ainda mais
necessária: renuncia-se a si mesmo quem se despojou do velho
homem com seus atos (Cl 3,9), o qual é corruptível, devido a
desejos ilusórios (Ef 4,26). Renuncia igualmente a todos os
afetos mundanos que possam impedir a piedade.
Considerará ele como verdadeiros pais aqueles que o geraram
em Cristo Jesus pelo Evangelho (ICor 4,15); como irmãos, os
que receberam o mesmo Espírito de adoção. Ainda, terá as
riquezas todas, como de fato o são, na conta de estranhas a si
mesmo.
Em uma palavra, como ainda partilhará as solicitudes do
século aquele para quem o mundo todo está crucificado e ele
para o mundo (G1 6,14), por causa de Cristo? Nosso Senhor
Jesus Cristo exalta em sumo grau o ódio à própria vida e a
renúncia a si mesmo, quando diz: Se alguém quiser vir após mim,
renuncie-se a si mesmo e tome sua crus e acrescenta: E siga-me (Mt
16,24). E ainda: Se alguém vem a mim, e não odeia seu pai, sua
mãe, sua mulher, seus filhos, seus irmãos, suas irmãs e até sua
própria vida, não pode ser meu discípulo (Lc 14,26).
Assim, a perfeita renúncia consiste em não se abalar nem
mesmo pelo amor à própria vida e ter em si a sentença da morte
a ponto de não confiar em si próprio (2Cor 1,9). Começa pelo
abandono dos bens exteriores, como seriam as riquezas, a
vanglória, a vida vulgar, o apego às inutilidades, conforme nos
ensinaram os santos discípulos do Senhor, Tiago e João, que
deixaram o pai, Zebedeu, e até a barca que lhes fornecia todo o
sustento; quanto a Mateus, levantando-se do telônio, seguiu o
Senhor, e com isso não só abandonou os lucros do telônio, mas
ainda desprezou os perigos decorrentes das contas em desordem,
para si e
62
para os seus, diante das autoridades. Para Paulo, enfim, todo o
mundo estava crucificado e ele, para o mundo (G1 6,14).
2. Deste modo, quem desejar ardentemente seguir a Cristo, a
nada mais desta vida pode se prender; nem ao amor dos pais ou
parentes, quando este se opõe aos preceitos do Senhor (então
aplica-se a palavra: Se alguém vem a mim, e não odeia seu pai, sua
mãe, etc. [Lc 14,26]); nem por temor dos homens, de modo a
furtar-se a algo de útil, conforme agiram os santos que diziam:
Importa obedecer mais a Deus do que aos homens (At 5,29); nem
dará importância à zombaria que suas boas obras excitarem nos
de fora, de tal sorte que não cederá diante do desprezo.
Se alguém quiser conhecer mais apurada e claramente a força
unida ao desejo que existe nos que seguem o Senhor, lembre-se
do que refere o Apóstolo de si mesmo, para nosso ensinamento:
No entanto eu podería confiar também na carne. Se qualquer outro
julga poder fazê-lo, quanto mais eu que fui circuncidado no oitavo
dia, que sou da raça de Israel, da tribo de Benjamim, hebreu, filho
de hebreus. Quanto à lei, fui fariseu; quanto ao zelo, persegui a
Igreja; quanto à justiça da lei, vivi irrepreensivelmente. Mas tudo
isso que para mim eram vantagens, considerei perda por Cristo. Na
verdade, em tudo isso só vejo dano, comparado com esse bem
supremo: o conhecimento de Jesus Cristo, meu Senhor. Por ele tudo
desprezei e tenho em conta de esterco, a fim de ganhar Cristo (F1
3,4-8).
E se (direi com ousadia, mas com verdade) o Apóstolo
comparou com as imundícias repugnantes do corpo das quais
depressa fugimos, os próprios privilégios da lei, dados
temporariamente por Deus, porque eram impedimento para o
conhecimento de Cristo e a justiça que nele se encontra, assim
como para nossa conformidade à sua morte, que dizer das
determinações dos homens? E que necessidade há de tornar
fidedigna esta palavra com nossos raciocínios, ou com os
exemplos dos santos? Pois é possível apresentar palavras do
próprio Senhor para convencer a alma temente a Deus. Ele
atesta com clareza, de modo incontestável: Assim, pois, qualquer
um de vós que não renunciar a tudo o que possui não pode ser meu
discípulo (Lc 14,33).
63
E em outra passagem: Se queres ser perfeito, tendo dito primeiro:
Vai, vende teus bens, dá-os aos pobres, acrescenta depois: Vem e
segue-me! (Mt 19,21).
A parábola do mercador evidentemente refere-se ao mesmo
assunto para qualquer um que julga com prudência: O reino ãos
céus é ainda semelhante a um negociante que procura pérolas
preciosas. Encontrando uma de grande valor, vai, vende tudo o que
possui, e a compra (Mt 13,45.46). Evidencia-se que o reino dos
céus é apresentado sob a imagem de uma pérola de grande
preço. A palavra do Senhor demonstra ser-nos impossível obtê-
la, se para comprá-la não abandonarmos de uma vez tudo o que
temos: riquezas, glória, condição de família e tudo o mais a que
tantos estão presos.
3. O Senhor afirmou em seguida ser impossível realizar os
maiores desejos se a mente está dividida entre solici- tudes
diversas: Ninguém pode servir a dois senhores (Mt 6,24). E ainda:
Não podeis servir a Deus e às riquezas (ibid.). Por isso,
escolhamos como único tesouro o celeste, para aí fixarmos o
nosso coração. Porque onde está o teu tesouro, lá também está teu
coração (ibid. 21). Se restar em nosso poder alguma posse
terrena ou bens corruptíveis, forçosamente mergulhará a mente
nesse lodo e a alma jamais atingirá a contemplação de Deus,
nem será movida pelo desejo das belezas celestes e dos bens
prometidos. Não os poderemos obter se um desejo assíduo e
veemente não nos impelir a impetrá-los e não tornar leve o labor
assumido por causa deles.
A renúncia é, portanto, conforme ficou demonstrado, li-
bertação dos vínculos da vida material e temporal, libertação de
compromissos humanos, tomando-nos mais idôneos a
empreender a caminhada para Deus. Dá também oportunidade
desimpedida de posse e uso de bens valiosos, mais desejáveis que
o ouro, que muita pedra preciosa (SI 18,11). Em suma, é a
transladação do coração humano à cidadania dos céus, de modo
a podermos afirmar: Mas nós somos cidadãos dos céus (F1 3,20).
Mais ainda. É o início da semelhança com Cristo que, sendo
rico, se fez pobre por nós (2Cor 8,9). Se não o conseguirmos,
não nos será possível atingir a forma de vida consentânea com o
Evangelho.
64
Como se poderá obter a contrição do coração, a humildade do
espírito, a libertação da ira, da tristeza, das preocupações, em
resumo, das outras más paixões da alma, em meio às riquezas e
aos cuidados dessa vida e a outras tendências e hábitos? Em
uma palavra, se não é permissível nem mesmo a inquietação por
causa do necessário, como o sustento e o vestuário, seriam
lícitas as más preocupações com as riquezas, que retêm quais
espinhos, a impedirem dê fruto a semente lançada pelo
agricultor em nossas almas? Diz Nosso Senhor: A que caiu entre
os espinhos, estes são os que... são sufocados pelos cuidados,
riquezas e prazeres da vida, e assim não dão fruto (Lc 8,14).
QUESTÃO 9
SE CONVÉM AQUELE QUE SE UNE AOS QUE SE
DEDICAM AO SENHOR CONFIAR SEUS BENS DE
MANEIRA INDISCRIMINADA A PARENTES ÍMPROBOS
Resposta
1. Como o Senhor diz: Vende os teus bens, dá-os aos pobres, e
terás um tesouro no céu. Depois vem e segue-me! (Mt 19,21), e
ainda: Vendei o que possuís e dai esmola (Lc 12,33), julgo não
dever quem se desfaz de seus bens, em vista deste objetivo,
descuidar-se deles, mas procurar que seja administrado tudo o
que recebeu por justiça, com toda a piedade, como já tendo sido
oferecido a Deus. Faça-o por si, se for capaz e experiente, ou
por outros escolhidos após sério exame e provas suficientes de
que sabem administrar com fidelidade e prudência. Esteja certo
de que é perigoso cedê-los aos parentes, ou distribuí-los por um
intermediário qualquer.
Se aquele a quem foram confiados os bens régios nada roubar
do que já foi acumulado, no entanto não lucrar, por certa
negligência, o que podia, não é absolvido do crime, a que juízo
pensamos serem submetidos os que dispensarem os bens já
dedicados ao Senhor com descuido e displicência? Acaso não
sofrerão o castigo dos negli-
65
gentes? Está escrito: Maldito aquele que faz com negligência a
obra do Senhor (Jr 48,10).
2. Tenhamos sempre a precaução de não darmos mostras de
menosprezar um mandamento, sob pretexto de cumprir um
outro. Não é decoroso disputarmos ou entrar em luta com os
iníquos (pois não convém a um servo do Senhor altercar, 2Tm
2,24), mas recordemo-nos a respeito dos parentes carnais que
agirem injustamente contra nós, da palavra do Senhor: Ninguém
há que tenha deixado casa, ou irmãos, ou irmãs, ou pai, ou mãe, ou
mulher, ou filhos, ou terras, não simplesmente, mas por causa de
mim e por causa do Evangelho, que não receba já neste mundo cem
vezes mais e no mundo vindouro a vida eterna (Mc 10,29.30).
Convém declarar a esses ímprobos que pecam por sacrilégio,
conforme o preceito do Senhor, que disse: Se teu irmão tiver
pecado, vai e repreende-o, etc. (Mt 18,15). A piedade nos impede
um litígio contra eles diante do tribunal civil, de acordo com a
palavra: Se alguém te citar em justiça para tirar-te a túnica, cede-
lhe também a capa (Mt 5,40). E: Quando algum de vós tem litígio
contra outro, como se atrevería ele ir a juízo perante os injustos, em
lugar de recorrer aos santos? (ICor 6,1). Chamemo-los a juízo
perante estes, dando importância maior à salvação de um irmão
do que à abundância das riquezas. Tendo dito o Senhor: Se te
ouvir, acrescentou: terás ganho, não riquezas, mas teu irmão (Mt
18,15).
Acontece que, a fim de se manifestar a verdade, quando
aquele que nos ataca injustamente apela não raro a um tribunal
ordinário, temos de nos submeter juntos a um mesmo processo,
sem que tenhamos agredido, mas apenas seguindo os que nos
citaram. Não atendemos a sentimentos próprios de ira ou de
disputa, mas simplesmente declaramos a verdade. Assim,
arrancá-lo-emos, também a ele, do mal, mesmo contra a sua
vontade, e não transgrediremos os mandamentos, como
ministros de Deus que não procuram litígios, não são avaros,
porém insistem, constantes, na manifestação da verdade, sem
jamais ultrapassarem a medida permitida do zelo.
66
QUESTÃO 10
Resposta
1. Nosso Salvador Jesus Cristo, Deus que ama os homens,
anuncia e diz: Vinde a mim, vós todos que estais aflitos sob o fardo,
e eu vos aliviarei (Mt 11,28). É, portanto, perigoso repelir os que,
por meio de nós, se aproximam do Senhor, querendo se
submeter a esse jugo suave e ao peso dos mandamentos, que nos
eleva até ao céu. Não consintamos, porém, que recebam as
santas instruções, senão depois de terem os pés lavados. Mas,
como Nosso Senhor Jesus Cristo interrogou acerca da vida pas-
sada o jovem que o procurava e, vendo que procedera bem, deu-
lhe preceitos sobre a realização do que ainda carecia para ser
perfeito, permitindo, então, que o seguisse, assim também nós
indaguemos acerca do passado daqueles que se apresentam.
Aqueles que já praticaram algum bem ensinemos uma doutrina
mais perfeita. Quanto aos que se converteram de uma vida má,
ou da indiferença passaram para uma vida melhor, no
conhecimento de Deus, convém perscrutar quais os seus
costumes e se são instáveis e inclinados às críticas.
2. Esses são suspeitos de inconstância. Nada lucram e ainda
prejudicam os outros, acarretando contra nossas obras injúrias,
mentiras e blasfêmias. Mas, como tudo se pode corrigir pela
diligência e o temor de Deus vence qualquer vício da alma, não
se desanime logo a respeito deles, mas sejam levados a
exercícios apropriados. Com o correr do tempo e por meio de
laboriosas práticas, teremos provas de seu propósito, e se virmos
que estão firmes, recebamo-los com segurança. Se não,
enquanto estão de fora sejam despedidos, a fim de que a
experi ncia n o prejudique a comunidade dos irmãos.
67
r
QUESTÃO 11
OS
ESCRAVOS
Resposta
68
escrevendo-lhe: Sem dúvida, ele se apartou de ti por algum tempo e
para que tu o recobrasses para sempre, mas já não como servo, e
sim, em vez de servo, como irmão caríssimo (Fm 15.16).
Se, porém, o senhor for mau, ordenar alguma coisa contra a
lei e forçar o escravo a transgredir os mandamentos do
verdadeiro dono Nosso Senhor Jesus Cristo, será preciso
combater para não ser blasfemado o nome de Deus, se o escravo
tiver feito alguma coisa que não agrada a Deus. Será uma luta,
ou do escravo que se há de preparar para sofrer com paciência o
que lhe for infligido, obedecendo mais a Deus do que aos
homens conforme está escrito (Mt 6,14); ou dos que o
receberam, suportando de maneira agradável a Deus as
provações que lhes advirão por causa dele.
QUESTÃO 12
CASADOS Resposta
Aos vinculados em matrimônio e desejosos de abraçar tal
gênero de vida, é preciso indagar se o fazem de comum acordo,
segundo a ordem do Apóstolo, que diz: Não pode dispor de seu
corpo (ICor 7,4), e o recém-vindo seja assim recebido na
presença de várias testemunhas. Nada se prefira à obediência
devida a Deus. Se uma das partes não consente e se opõe, por
ser menos solícita do que agrada a Deus, lembre-se da palavra
do Apóstolo: Deus nos chamou para viver em paz (ibid., 15), e
cumpra-se o preceito do Senhor, que disse: Se alguém vem a mim,
e não odeia seu pai, sua mãe, sua mulher, seus filhos, etc., não pode
ser meu discípulo (Lc 14,26). Nada, portanto, se prefira à
obediência a Deus. Sabemos nós que, freqüentemente, a oração
intensa e o jejum assíduo têm prevalecido para muitos, em
relação ao escopo de uma vida casta, porque o Senhor induz os
que se mostraram inteiramente obstinados, até mesmo por
necessidade física, a cederem diante de um juízo reto.
69
r
QUESTÃO 13
UTILIDADE DA PRATICA DO
SILÊNCIO PARA OS RECÉM-VINDOS
Resposta
QUESTÃO 14
DOS QUE SE DEDICARAM A DEUS E DEPOIS
TENTAM ANULAR SUA PROFISSÃO
Resposta
70
mos do desordeiro e não termos comunicação com ele, a fim de
que fique confundido (2Ts 3,14).
QUESTÃO 15
QUAL A IDADE CONVENIENTE PARA A ENTREGA A
DEUS E QUANDO SE TORNA IRREVOGÁVEL A
PROFISSÃO
Resposta
71
Em nada difere do menino em idade, aquele que é de senso
pueril. Não é de admirar que em ambos se encontrem, muitas
vezes, os mesmos vícios. Se alguma coisa convém aos mais
velhos, em vista da idade, nem por isso ousem os jovens, por
conviverem com eles, fazê-la de modo inconveniente e
prematuro.
2. Por causa desta disposição e da gravidade no mais, sejam
distintas a habitação dos meninos e a dos mais velhos. Com isto,
a casa dos ascetas não será perturbada pelo ruído do aprendizado
necessário aos jovens.
As orações diárias determinadas sejam comuns aos meninos e
aos velhos.
Os meninos habituam-se, vendo o zelo dos mais idosos, à
compunção e estes são bem auxiliados na oração pelos meninos.
Exercícios e regimes de vida peculiares sejam destinados de
modo adequado aos meninos em relação ao sono, às vigílias e ao
tempo, à medida e à qualidade da alimentação.
Quem deve dirigi-los seja de idade provecta, mais experiente
que os demais, e tenha dado provas de longanimi- dade;
visceralmente paterno, corrija com palavras cheias de sabedoria
os pecados dos jovens e proporcione remédios convenientes a
cada delito de tal modo que, ao repreender por causa do pecado,
a correção se transforme em exercício para a aquisição da
imperturbabilidade da alma. Se, por exemplo, alguém se irritou
contra o companheiro, seja forçado a honrar e prestar serviço à
proporção de sua ousadia. O hábito da humildade corta a cólera,
ao passo que o orgulho com freqüência leva à ira. Alguém tomou
alimento fora de hora? Jejue quase o dia todo. Foi surpreendido
comendo, de maneira desmedida e sem polidez? À hora da
refeição seja privado de alimento e obrigado a observar como os
outros comem com boas maneiras, a fim de ser castigado com a
abstinência e aprender a boa educação. Proferiu alguém uma
palavra ociosa, uma ofensa ao próximo, uma mentira ou outra
coisa proibida? Aprenda a moderação pelo estômago vazio e
pelo silêncio.
3. O estudo das letras seja adequado ao fim. Usem-se, até
mesmo, nomes tirados das Escrituras; em vez de mitos, contem-
se-lhes histórias de feitos admiráveis. Aprendam as sentenças
dos Provérbios. Sejam-lhes prometidos prêmios
72
se aprenderem de cor nomes e fatos, de modo que atinjam a
meta com gosto e até distração, sem aborrecimentos e
obstáculos.
Assim, bem educados, facilmente obterão a atenção de
espírito e o costume de não divagar, se os mestres perguntarem
assiduamente onde têm o pensamento e o que revolvem na
mente. Pois, aquela idade simples e sem dolo, incapaz de
mentir, manifestará com facilidade os segredos da alma. Além
disso, para não serem surpreendidos constantemente a pensar no
que é proibido, fugirão dos pensamentos absurdos e
continuamente, abandonando os despropósitos, cairão em si,
receosos da vergonha das repreensões.
4. Sendo ainda o espírito do menino fácil de plasmar e
delicado, como em cera amolecida, sem dificuldade, nele se
gravam as formas que lhe são propostas; deve pois, logo de
início, ser conduzido ao exercício do bem. Chegando ao uso da
razão e já possuindo o hábito de discernir, estabeleça-se uma
linha de conduta feita dos elementos básicos e das formas
tradicionais da piedade, porque, enquanto a razão sugere o que é
útil, o hábito dá a facilidade de agir bem.
Pode, então, ser admitido à profissão da virgindade, que já
será irrevogável, porque feita com o devido conhecimento e
julgamento, com pleno uso da razão. Desde então, as recom-
pensas ou os castigos dos que pecarem ou dos que agirem bem,
serão concedidos pelo justo juiz, segundo o mérito das obras.
Sirvam de testemunhas desse propósito os pre- pósitos
eclesiásticos.
Assim, por intermédio deles, até a santidade do corpo será
considerada como uma coisa sagrada dedicada a Deus e a ação
será ratificada por meio do testemunho, porque pela boca de duas
ou três testemunhas se decida toda a questão (Mt 18,16). Desta
forma, o zelo dos irmãos não será caluniado e aos que fizerem
profissão na presença de Deus e depois tentam anulá-la, não se
deixará ocasião de um ato vergonhoso.
Quem, contudo, não quiser a vida virginal, por não ter
solicitude pelas coisas que são do Senhor, diante das mesmas
testemunhas, seja demitido.
73
г
Quem professar, porém, após grande deliberação e exame
(que lhe seja lícito fazer sozinho e por muito tempo para não
parecer uma espécie de rapto), seja recebido e contado na
comunidade dos irmãos, e participe da mesma habitação e
idêntico regime dos mais velhos.
Mas, esquecemo-nos de dizer, e seria oportuno acrescentar
aqui, que certos ofícios sejam aprendidos pelo menino e quando
alguns dos meninos já se mostrarem capazes de aprendê-los, não
é proibido que fiquem junto dos mestres desses mesmos ofícios.
à noite, contudo, voltem para junto dos companheiros, com os
quais igualmente devem tomar o alimento.
QUESTÃO 16
SE NECESSÁRIA A TEMPERANÇA PARA OS
QUE DESEJAM VIVER PIAMENTE
Resposta
74
necessidade para não ouvirmos a mesma sentença que ele:
Recebeste teus bens em vida (Lc 16,25).
2. Quão temível é a intemperança, mostra o Apóstolo ao
enumerá-la entre as propriedades da defecção: Nos últimos dias
haverá um período difícil. Os homens tornar-se-ão egoístas (2Tm
3,1 e 2); e enunciando várias espécies de maldades, acrescenta:
caluniadores, intemperantes (ibid. 3).
A intemperança de Esaú foi condenada como sendo o maior
de seus males, porque vendeu a primogenitura por uma iguaria
(Gn 25,33). E a primeira desobediência do homem proveio da
intemperança. Foi testemunhado que todos os santos possuíam a
temperança. Todas as vidas dos santos e bem-aventurados e o
próprio exemplo do Senhor, em seu advento na carne, são de
proveito para nós, neste sentido.
Moisés, por longa perseverança no jejum e na oração, recebeu
a lei e ouviu as palavras de Deus: Como um homem fala com o
seu amigo (Ex 33,11).
Elias foi considerado digno da visão de Deus, quando também
ela empregou de igual modo a temperança (lRs 19,8).
E Daniel, como foi que viu maravilhas? Não foi depois dos
vinte dias de jejum? (Dn 10,3). Como extinguiram os três jovens
a violência do fogo? Não foi pela abstinência? (Dn 1,8).
Igualmente João iniciou seu estado de vida pela abstinência (Mt
3,4; Lc 1,15).
Com ela o próprio Senhor começou sua manifestação (Mt
4,2).
Chamamos temperança não uma total abstenção de alimentos
(seria violenta destruição da vida), mas a privação dos deleites
para a destruição do senso carnal e obtenção do escopo da
piedade.
3. Em resumo, nós que seguimos o ritmo da piedade, preci-
samos da abstinência daqueles prazeres, apetecíveis aos que
vivem segundo as paixões.
Não somente na moderação do prazer do paladar se pratica a
temperança, mas se estende à privação de tudo o que possa
servir de obstáculo. O verdadeiro temperante não domina apenas
o ventre, e deixa-se superar pela glória humana; não supera os
desejos vergonhosos sem vencer igualmente as riquezas, ou
qualquer outro sentimento
75
r
QUESTÃO 17
IMPORTA TAMBÉM CONTER O RISO
Resposta
76
É comum que a Escritura denomine riso a alegria da alma e
um sentimento alegre, proveniente de um bem, como disse Sara:
Deus deu um motivo de riso (Gn 21,6). E: Bem-aventurados
vós, que agora chorais, porque rireis (Lc 6,21). Encontra-se em
Jó: A boca verdadeira se encherá de riso (Jó 8,21). Tais termos são
usados em lugar de hilaridade, que provém da alegria da alma.
Eis por que é perfeito temperante aquele que está acima de
qualquer paixão e não sofre o estímulo da volúpia, nem o
manifesta, mas permanece continente e forte contra todo deleite
nocivo. Este, evidentemente, está livre de qualquer pecado.
Algumas vezes temos a obrigação de nos abster mesmo de
coisas permitidas e necessárias à vida. Isto sucede quando, para
o bem de nossos irmãos, a abstinência está prescrita. Assim, o
Apóstolo: Se a comida serve de ocasião de queda a meu irmão,
jamais comerei carne (ICor 8,13). E tendo o direito de viver do
evangelho, não usou deste direito: para não pôr algum obstáculo
ao evangelho de Cristo (ibid. 9,12).
2. A temperança, pois, apaga os pecados, expulsa as paixões,
mortifica o corpo e até as paixões e os desejos naturais; é início
da vida espiritual, penhor dos bens eternos, extinguindo a
volúpia em si mesma. Esta é sempre a grande sedução do mal
que a nós homens inclina fortemente ao pecado. É uma espécie
de anzol, que arrasta a alma à morte. Portanto, quem não se
torna efeminado, nem se deixa dobrar por ela, evita todos os
pecados por meio da temperança.
Se alguém evita a maior parte deles, mas se deixa vencer por
um só, já não é mais continente, como quem sofre de uma só
doença corporal já não está são. Quem se sujeita ao domínio de
um só, seja de quem for, já não é mais livre.
As demais virtudes praticadas às ocultas raramente chamam a
atenção dos homens; a temperança, porém, já no primeiro
encontro revela quem a possui. Como a corpulência e a boa cor
caracterizam o atleta, assim a magreza e a palidez proveniente
da continência denotam que o cristão é, de fato, atleta dos
mandamentos de Cristo. Na fraqueza do corpo vence o inimigo
e evidencia sua força
77
nos combates da piedade, segundo a palavra: Quando vejo em
fraqueza, então é que sou forte (2Cor 12,10).
Só em ver o continente tira-se grande proveito. Mal toca, e
com parcimônia, nas coisas necessárias, como que cumprindo
um ministério oneroso, devido à natureza, e lastima o tempo
nisto gasto, levantando-se da mesa com prontidão para praticar
as boas obras. Julgo que não há palavra que abale tanto o
intemperante na comida e o leve à mudança como ver um
homem temperante.
E isto é, ao que parece, comer e beber para a glória de Deus,
de modo que até à mesa brilhem nossas boas obras para a
glorificação de nosso Pai que está nos céus.
QUESTÃO 18
SE CONVEM PROVAR DE TUDO QUE PÕEM DIANTE DE
NÓS
Resposta
78
livrar-nos-emos de suspeitas. Por que razão seria regulada a minha
liberdade pela consciência alheia? (ICor 10,29).
A temperança indica aquele que morreu com Cristo e
mortificou seus membros terrestres. Sabemos que ela é a mãe da
castidade, protetora da saúde, e que elimina per- feitamente os
obstáculos às obras fecundas em Cristo; porque, segundo a
palavra do Senhor, os cuidados do mundo, os prazeres da vida e
as demais concupiscências sufocam a palavra e a tornam
infrutuosa (Mt 13,22). Dela fogem os demônios, como nos
ensinou o Senhor: Quanto a esta espécie de demônios, só se pode
expulsar à força de oração e de jejum (Mt 17,20).
QUESTÃO 19
QUAL A MEDIDA DA CONTINÊNCIA
Resposta
79
regar o estômago ou fartar-se de alimentos é digno de maldição,
pois diz o Senhor: Ai de vós os que agora estais fartos! (Lc 6,25).
A saciedade toma também o corpo incapaz para o trabalho,
propenso ao sono e predisposto aos distúrbios. A alimentação
não tem por finalidade a satisfação do paladar, mas é
indispensável à vida, devendo ser contida a intemperança do
prazer. Servir aos prazeres nada mais é do que fazer do ventre o
seu deus. Desde que nosso corpo continuamente se esvai e
diflui, precisa de refeição; é por isto que o apetite é natural. A
razão equilibrada exige o uso de alimentos sólidos ou líquidos
para a conservação do ser vivo, suprindo o que foi consumido.
2. Assim devemos proceder se, com simplicidade, queremos
atender às necessidades. Foi o que o próprio Senhor demonstrou
quando alimentou a multidão cansada, para não desfalecer no
caminho, conforme está escrito (Mt 15, 32). Embora pudesse
acentuar o milagre no deserto exco- gitando um lauto banquete,
preparou-lhes um alimento leve e frugal, isto é, pão de cevada,
e, com o pão, um pedaço de peixe (Jo 6,9). Não mencionou a
bebida, porque a água que brota naturalmente e basta para o
necessário está ao alcance de todos. A menos que, por doença,
esta bebida seja prejudicial; então dever-se-ia evitá-la, como
Paulo aconselha a Timóteo (lTm 5,23).
Igualmente tudo quanto certamente faz mal, seja recusado.
Seria incongruente tomar para sustentar o corpo um alimento
que suscitasse incômodos para o mesmo, obstaculizando-lhe o
cumprimento dos mandamentos. Este exemplo habitua a alma à
fuga do que é prejudicial, mesmo se agradável.
Em todo o lugar, tenha preferência o que é mais fácil de se
adquirir, a fim de que, sob pretexto de temperança, não
procuremos ansiosamente as coisas mais caras e custosas, nem
temperemos os alimentos com os mais apreciados condimentos;
mas, em cada região, seja preferido o que for mais fácil de obter,
mais vulgar e mais acessível a todos.
Dentre os alimentos importados usemos somente os mais
indispensáveis à vida, como o óleo e outros semelhantes, e o que
for conveniente para alívio dos debilitados; e que possa ser
arranjado sem muito trabalho, perturbação e solicitude.
80
QUESTÃO 20
Resposta
81
г
gem? Oferecer-lhe-emos quanto for exigido para aliviar-lhe a
fadiga.
2. Veio alguma pessoa de fora? Aprenda pelas obras aquilo a
respeito de que por meio da palavra não se conseguiu persuadi-
la. Veja o exemplo, o modelo da frugalidade. Guarde a
lembrança da mesa dos cristãos e da pobreza suportada sem
rubor por causa de Cristo. Se não se impressiona com isto e
antes ridiculariza, não nos incomodará segunda vez.
Quando vemos alguns ricos que consideram como bens
precípuos o gozo das delícias, lastimamo-los muito, porque
desperdiçam a vida em vaidades e divinizam os prazeres. Sem o
perceberem, recebem sua parte de bens nesta vida e pelas
delícias presentes precipitam-se no fogo ardente que lhes está
preparado. Se tivermos oportunidade, não hesitemos em dizê-lo
a eles mesmos. Se, porém, para nos pormos a sua altura, à
medida de nossos meios, procurarmos as iguarias e lhas
prepararmos por ostentação, receio que estejamos a destruir o
que, na aparência, construímos, e sejamos condenados pelo que
julgamos mal nos outros. Constituiría simulação em nossa vida,
à qual damos variadas formas; a não ser que mudemos também
de hábito, quando vamos nos encontrar com os orgulhosos. Se é
vergonhoso agir assim, mais ainda o seria preparar diversamente
nossa mesa por causa dos glutões.
A vida do cristão é constante e igual a si mesma, porque tem
um só escopo, a glória de Deus; Quer comais, quer bebais, ou
façais qualquer outra coisa, fazei tudo para a glória de Deus (ICor
10,31), diz São Paulo, que falava em Cristo. A vida dos de fora
é multiforme e vária, passando de um a outro estilo, ao sabor
dos visitantes.
3. Se preparas com variedade e excessivo apuro os alimentos
para dar prazer a teu irmão, tu o acusas de apego às delícias e
lhe exprobras a gula pelo que lhe ofereces, censurando-lhe este
prazer. Não se pode, acaso, muitas vezes conjecturar quem é, ou
como é, o visitante esperado, só de lançar um olhar à
apresentação e ao preparo da mesa? O Senhor não elogiou a
Marta, dispersa na contínua lida, mas disse: Andas muito inquieta
e te preocupas com muitas coisas (Lc 10,41.42); no entanto,
poucas ou an-
82
tes uma só coisa é necessária. Poucas, refere-se ao preparo; uma,
ao fim, isto é, atender à necessidade.
Ninguém ignora qual alimento ofereceu o próprio Senhor aos
cinco mil.
E Jacó fez a Deus o seguinte voto: Se der, disse, pão para
comer e roupa para vestir... (Gn 28,20). Não disse: Se me
deres delícias e suntuosidade.
O que diz o sábio Salomão? Não me dês nem pobreza, nem
riqueza; concede-me o pão que me é necessário, para que, saciado,
eu não te renegue e não diga: Quem me vê? Ou que, pobre, eu não
roube e não per jure o nome de meu Deus (Pr 30,8-9). Chama
riqueza à saciedade, e pobreza à penúria completa do
indispensável à vida. Indicou, simultaneamente, que a
suficiência não é nem indigência, nem superabundância do
necessário.
O grau de suficiência difere de um a outro, conforme o estado
de saúde e a necessidade do momento. Um precisa de alimento
mais forte e em maior quantidade, devido ao labor; outro, de
mais fraco e mais leve, de acordo em tudo com a própria
fraqueza; mas, em geral, necessitam todos do mais simples e
mais fácil de adquirir. Em tudo, no entanto, é preciso cuidado e
farta mesa sem que nunca se excedam os limites da necessidade.
A norma da hospitalidade seja procurar atender às necessidades
de cada um dos recém-vindos.
Diz-se: Os que usam deste mundo mas sem abuso (ICor 7,31).
Abuso seria a prodigalidade, além da necessidade. Mas se temos
riquezas? Oxalá não as tenhamos. Mas não estão repletos os
nossos celeiros? Vivemos o dia-a-dia e o sustento provém do
trabalho de nossas mãos. Por que, então, desperdiçar em iguarias
para os de paladar delicado o alimento que Deus dá para os
famintos? Pecaríamos duplamente, aumentando de um lado as
tribulações da miséria e, de outro, os incômodos da saciedade.
83
QUESTÃO 21
Resposta
QUESTÃO 22
Resposta
1. Acima ficou demonstrado serem indispensáveis a hu-
mildade, a simplicidade, a aceitação em tudo do que é
84
barato, pouco dispendioso, para diminuirmos as ocasiões de nos
dispersarmos por causa das exigências do corpo. Assim convém
seguir o mesmo em relação às vestes.
Se devem todos procurar ser os últimos, também quanto ao
vestuário é evidente ser preferível o de pior qualidade. Os que
ambicionam a glória, andam à sua caça até pelas vestes e
buscam atrair os olhares e a consideração através da
magnificência dos vestidos; por esta razão, quem pela hu-
mildade reduziu sua vida a ínfima condição, também quanto a
isto deve aceitar o que é de qualidade inferior.
Como os coríntios, na ceia em comum (ICor 11,22), foram
repreendidos porque envergonhavam com sua sun- tuosidade os
que nada tinham, assim, no emprego habitual e externo das
vestes, quem ultrapassar o modo de trajar vulgar, por uma
espécie de comparação, incute vergonha ao pobre. Diz o
Apóstolo: Não aspireis a coisas altas, mas acomodai-vos às
humildes (Rm 12,16). Considere cada um consigo mesmo se
convém mais aos cristãos assemelharem- se aos que vivem nos
palácios dos reis e vestem roupas luxuosas ou ao anjo e arauto
da vinda do Senhor: Entre os filhos das mulheres não surgiu
outro maior. Digo João, o filho de Zacarias (Mt 11,8-11), cuja
vestimenta era de peles de camelo (Mt 3,4). Também
antigamente os santos andaram errantes, vestidos de peles de
ovelhas e de cabra (Hb 11,37).
2. O apóstolo indicou qual a finalidade das vestes, numa
palavra: Tendo alimento e vestuário, contentemo-nos com isto (lTm
6,8). Sugere ser necessário apenas com que nos cobrirmos. Não
caiamos pois na vaidade proibida da variedade e dos adornos
que dela se originam, para não dizer coisa pior. Foram,
finalmente, algumas artes ociosas e vãs que as introduziram na
vida. Conhece-se quais foram as primeiras vestes dadas por
Deus aos necessitados. Fez-lhes, diz-se, Deus veste de peles (Gn
3,21). Para cobrir as partes menos honrosas, bastavam essas
túnicas. Mas como há simultaneamente um outro fim, o de nos
agasalharmos, forçoso foi aplicá-las para ambas as finalidades:
revestir as partes menos decentes e servir de proteção contra as
intempéries.
E se entre as vestes, umas são mais úteis e outras menos,
prefiram-se as que prestem maior número de serviços,
85
sem lesar a pobreza. Não devemos arranjar algumas para
ostentação e outras para uso diário; nem umas diurnas e outras
noturnas. Mas procuremos uma roupa que sirva para tudo:
manto decente para o dia e coberta necessária para a noite.
Assim teremos todos o mesmo hábito.
Dê-se a conhecer o cristão por uma nota peculiar, até na
maneira de vestir. Todos os que visam o mesmo fim, têm em
muitas coisas idêntico cunho.
3. É bom ainda que as vestes sejam características, porque
servem de prévio anúncio e atestado da profissão de viver para
Deus. Assim, os que nos encontram exigirão de nós ações
condizentes com tal promessa.
Difere em grau o que é inconveniente ou vergonhoso num
homem da plebe ou numa pessoa de compromissos mais
elevados. Um homem do povo ou de origem obscura, se apanha
ou bate em público, se diz palavras inconvenientes, se freqüenta
tabernas ou pratica ações vergonhosas semelhantes a essas, não
chama logo a atenção, pois compreende-se que age de maneira
conseqüente com seu modo de viver. Mas, se o que professa
perfeição negligenciar, por mínimo que seja, suas obrigações,
todos o observam e lançam-lhe em rosto este opróbrio, fazendo
conforme foi dito: Voltando-se contra vós, vos despedacem (Mt
7,9). O compromisso que o hábito constitui por si só é uma
espécie de pedagogia para os fracos, que os afasta dos vícios,
mesmo contra a vontade.
Como a farda é própria do soldado, diversa é a veste do
senador e outros usam roupa característica da respectiva
dignidade, assim é plausível e conveniente haver uma veste
peculiar ao cristão, que conserve o modo de trajar recomendado
pelo Apóstolo. Determinou que o bispo ande bem arranjado
(lTm 3,2), que a roupa das mulheres seja adornada (lTm 2,9), de
modo que se entenda a palavra ornato segundo o sentido próprio
no cristianismo. O mesmo digo dos sapatos; sempre se prefira o
menos extravagante, mais barato e que satisfaça à necessidade.
86
QUESTÃO
23 O CINTO
Resposta
Os santos das épocas anteriores manifestam ser necessário o
cinto.
João cingia os rins com um cinto de couro (Mt 3,4); já antes
dele, Elias. Está escrito como característica sua: Era um homem
coberto de peles e que trazia um cinto em volta ãos rins (2Rs 1,8).
Pedro também usava cinto, o que se evidencia das palavras
do anjo: Cinge-te e calça as tuas sandálias (At 12,8). Igualmente
se pode verificar que São Paulo usava cinto, pela profecia de
Ágabo a seu respeito: Assim, em Jerusalém, ligarão o homem a
quem pertence este cinto (ibid. 21,11).
E o Senhor ordena a Jó que se cinja, como símbolo de ânimo
viril e pronto para obrar, ao dizer: Cinge os teus rins como um
homem (Jo 38,3).
É evidente ter sido habitual a todos os discípulos do Senhor
usar cinto, pois foi-lhes proibido levar dinheiro nos cintos (Mt
10,9).
Aliás, é indispensável a quem quer por si fazer um trabalho
cingir-se e ter movimentos livres. Daí vem a necessidade do
cinto, para a túnica se ajustar ao corpo. Se forem bem
distribuídas as pregas, isto ajudá-lo-á a ter movimentos
desimpedidos.
Por esta razão, também o Senhor, quando se preparava para
prestar o ministério aos discípulos, pegando duma toalha,
cingiu-se (Jo 13,4).
Acerca da quantidade das vestes nada precisamos dizer, uma
vez que dispusemos o suficiente ao tratarmos da pobreza. Se,
pois, ordena-se a quem tem duas túnicas dar uma a quem não
tem (Lc 3,11), é claro ser proibido ter muitas só para si. Para
aquele a quem é vedado ter duas túnicas, de que serve legislar
sobre o uso delas?
87
1
QUESTÃO 24
Resposta
88
QUESTÃO 25
Resposta
89
Do acima referido se vê o grande mal em ser para o irmão, ao
invés de direção segura, causa de erro. Além do mais, é sinal de
que o mandamento da caridade não foi cumprido. Não há pai
que veja o filho em perigo de cair numa fossa, ou já caído, e o
abandone na queda. Quem pode dizer quanto é pior abandonar
na perdição a alma que caiu no abismo dos males?
É dever, portanto, vigiar pelas almas dos irmãos e preocupar-
se com a salvação de cada um deles, pois disso há de prestar
contas. Preocupar-se, até à morte mostrar solicitude para com
eles, não só seguindo a palavra do Senhor sobre a caridade,
dirigida a todos geralmente: Que cada um dê a sua vida por seus
amigos (Jo 15,13), mas também aquela especial dita pelo
Apóstolo: Em nossa ternura por vós desejavamos não só
comunicar-vos o Evangelho de Deus, mas até a nossa própria vida
(lTs 2,8).
QUESTÃO 26
DE QUE TUDO, ATÉ MESMO OS SEGREDOS
DO CORAÇÃO, DEVE SER MANIFESTADO
AO SUPERIOR
Resposta
90
QUESTÃO 27
Resposta
QUESTÃO 28
COMO SE COMPORTARÃO TODOS EM
RELAÇÃO A UM DESOBEDIENTE
Resposta
91
do e completamente inútil, à imitação do que fazem os médicos.
Se estes encontram um membro atingido de doença incurável,
para que a infecção não se alastre muito e não contagie as partes
contíguas e próximas, costumam tirá-lo, cortando ou
cauterizando.
Assim façamos também nós, com os que odeiam e impedem
os mandamentos do Senhor, segundo o preceito do Senhor, que
diz: Se o teu olho direito é para ti causa de queda, arranca-o e
lança-o longe de ti (Mt 5,29). Quem lhes mostra amizade, imita a
bondade desordenada de Heli, argüida por não ter sido
empregada para com os filhos de modo agradável a Deus (lRs
3,13). Fingir bondade para com os maus seria trair a verdade,
armar insídias à comunidade e facilitar a indiferença diante do
pecado. De modo algum realiza o que foi escrito: Nem tendes
manifestado tristeza para que seja tirado dentre vós o que cometeu
tal ação? (ICor 5,2). Forçosamente acontece o que se segue: Um
pouco de fermento leveda a massa toda (ibid. 6). Aos faltosos, diz
o Apóstolo, repreende-os diante de todos (ITm 5,20), e acrescenta
imediatamente a causa, quando diz: Para que também os demais
se atemorizem.
2. Em resumo, aquele que não aceita bem o corretivo
ministrado pelo superior, é inconseqüente consigo mesmo. Se
recusa submeter-se e defende sua própria vontade, por que
permanece em companhia dele? Por que o declara pre- posto à
sua vida?
Uma vez que consentiu em ser agregado ao corpo da
comunidade dos irmãos, se foi considerado instrumento idôneo
para um serviço, mesmo no caso de julgar que a ordem está
acima de suas forças, deixará a responsabilidade a quem ordena
o que ultrapassa suas forças e mostrar- se-á dócil e obediente até
a morte, lembrado do Senhor que se tornou obediente até a morte
e morte de cruz (F1 2,8).
Rebelar-se e contradizer seria demonstrar muitos males:
doença na fé, dúvida na esperança, orgulho e soberba nos
costumes. Ninguém desobedece sem ter antes menosprezado
quem tal determinou. Se alguém acredita nas promessas de Deus
e deposita nelas firme esperança, não hesitará nem ainda quando
as ordens são árduas, sabendo que os sofrimentos da presente vida
não têm proporção alguma com a glória futura que deve ser
manifestada (Rm
92
8,18). E, persuadido de que quem se humilhar, será exaltado (Mt
23,12), mostrará maior prontidão ainda do que espera quem
manda, ciente de que a nossa presente tribulação, momentânea e
ligeira, produz em nós um peso eterno de glória incomensurável
(2Cor 4,17).
QUESTÃO 29
ORGULHO OU MURMURAÇÃO NO TRABALHO
Resposta
93
a preguiça ou o orgulho da própria suficiência, porque os que o
acolherem tomam-no insensível aos próprios males.
Persuada-se o superior de que se não dirigir a seu irmão como
convém, atrairá sobre si ira grave e inevitável. Pedir- se-á conta
de seu sangue a este (Ez 3,18), segundo está escrito.
O súdito se disponha a cumprir sem preguiça qualquer ordem,
mesmo se dificílima, certo de que sua recompensa será grande
nos céus. Rejubile ao obediente a esperança da glória, a fim de
realizar a obra do Senhor com grande alegria e paciência.
QUESTÃO 30
QUAL DEVE SER A ATITUDE DOS SUPERIORES AO
CUIDAREM DOS IRMÃOS
Resposta
94
QUESTÃO 31
Resposta
QUESTÃO 32
RELAÇÕES COM OS PARENTES
Resposta
95
parentes, afaste-se dos irmãos, levando uma vida longe de
testemunhas, ou se envolva em negócios, por solicitude de
patrocinar os consangüíneos.
A Palavra de Deus veta absolutamente usarem-se na
comunidade dos irmãos as expressões: meu e teu. A multidão dos
fiéis, diz-se, era um só coração e uma só alma. Nenhum dizia que
eram suas as coisas que possuía (At
4,32) . Sejam, portanto, os pais segundo a carne ou os irmãos,
se vivem segundo o que Deus ordena, venerados por todos da
comunidade como se fossem pais ou parentes. Todo aquele que
fizer a vontade de meu Pai, que está nos céus, diz o Senhor, este é
meu irmão e minha irmã e mãe (Mt 12,50). Julgamos, no entanto,
caber ao superior da comunidade cuidar deles.
Se, porém, estão implicados na vida profana, nada há de
comum entre eles e nós, que nos esforçamos por manter a
honestidade e a fidelidade ininterrupta a Deus. Além de lhes
sermos inúteis, ainda enchemos nossa vida de perturbação e de
agitação e procuramos ocasião de pecado. Todavia não é
conveniente receber a visita dos que outrora nos eram
familiares, se desprezam os mandamentos de Deus e não fazem
caso da obra da piedade, porque não amam o Senhor, que disse:
Aquele que não ama, não guarda as minhas palavras (Jo
14,24). Que união pode haver entre a justiça e a iniquidade? Ou de
comum entre o fiel e o infiel? (2Cor 6,14.15).
2. Antes de tudo, é preciso, de todos os modos, ter empenho
em afastar qualquer ocasião de pecado dos que ainda se
exercitam no bem; a maior destas ocasiões é a recordação da
vida passada. Não lhes suceda o que foi dito: Em seus corações
voltaram para o Egito (Nm 14,4). Em geral, tal acontece quando
têm freqüentes e assíduos encontros com os parentes. Não se
permita absolutamente que parentes ou estranhos falem com os
irmãos, se não estivermos seguros de que as conversas tratam da
edificação e do aperfeiçoamento das almas.
Se houver necessidade de falar com os que alguma vez vêm
visitar, façam-no aqueles aos quais foi confiado o dom da
palavra, como os que podem, com sabedoria, falar e ouvir, para
a edificação da fé; o Apóstolo manifestamente ensina que nem
todos possuem a capacidade de falar, mas poucos
96
são dotados desse carisma, dizendo: Porque a um é dada pelo
Espírito a linguagem da sabedoria, a outro, porém, a linguagem da
ciência (ICor 12,8). E em outro lugar: Para que possa exortar na
sã doutrina e rebater os que a contradizem (Tt 1,9).
QUESTÃO 33
RELAÇÕES COM AS IRMÃS
Resposta
1. Quem renunciou às núpcias, evidentemente renunciou mais
ainda aos cuidados que, diz o Apóstolo, atribulam o casado, isto
é, como há de dar gosto a sua mulher (ICor
7,33) , e se libertará totalmente do desejo de agradar a uma
mulher, receoso do juízo daquele que disse: Deus dispersa os
ossos dos que procuram agradar aos homens (SI 52,6). Com o fito
de obter favor, nem mesmo com um homem quer encontrar-se,
mas vai conversar com ele pelo zelo que se deve ao próximo,
segundo o mandamento de Deus, quando houver necessidade.
Não se dê licença de conversar, indistintamente, a quem o
desejar, nem qualquer tempo ou lugar para tal fim se presta. Mas
se, de acordo com o preceito do Apóstolo, não queremos ser
motivo de escândalo nem para os judeus, nem para os gentios, nem
para a Igreja de Deus (ICor 10, 32), e sim, fazer tudo com
respeito, ordem e para a edificação, será necessário escolher
devidamente as pessoas, o tempo, a utilidade e o lugar. Com
isto, afugentar-se-á até mesmo a sombra de uma suspeita.
Em tudo constituirá uma manifestação de gravidade e de
prudência a atitude dos que foram escolhidos para se verem e
conferenciarem acerca do que agrada a Deus, quer em vista das
exigências do corpo, quer da cura das almas. Não sejam menos
de dois, de cada lado. Sobre uma pessoa só facilmente recaem
suspeitas, para não dizer coisa pior. Além disso, teria ela menos
vigor para confirmar o que foi dito, pois a Escritura declara
nitidamente que toda questão se resolva diante de duas ou três
testemunhas (Dt 19,15;
97
Mt 18,16). Não mais de três, porém, para não se tolher o zelo
ardente que o mandamento de Nosso Senhor Jesus Cristo
suscita.
2. Se houver necessidade de que outros da comunidade falem
ou ouçam qualquer coisa particular a respeito de alguém, não
venham pessoalmente conversar, mas alguns anciões escolhidos
tratem do assunto com anciãs determinadas e assim, por seu
intermédio, faça-se o que for mister. Seja mantida esta ordem
não só das mulheres para com os homens, ou dos homens para
com as mulheres, mas até entre os do mesmo sexo. Estes, por
conseguinte, além da piedade e da gravidade em tudo, sejam
cautelosos nas perguntas e respostas, fiéis e prudentes no
proferir as palavras, cumprindo o que foi dito: Disporá seus
discursos com juízo (SI 111,5), de modo que se cuide
simultaneamente do bem daqueles que lhes confiaram o negócio
e fique resolvida a questão ventilada. Atendam outros às
necessidades corporais; sejam experimentados, de idade
provecta e de hábitos e costumes graves, a fim de não se ferir a
consciência de outrem com qualquer suspeita de mal. Por que
razão seria regulada a minha liberdade pela consciência
alheia? (ICor 10,29).
QUESTÃO 34
COMO DEVEM SER OS QUE DISPENSAM O
NECESSÁRIO À COMUNIDADE
Resposta
1. Entre os que, dentro, distribuem o necessário, é preciso
absolutamente que haja alguns em cada ofício que imitem o que
narram os Atos: Repartia-se, então, a cada um deles conforme a
necessidade (At 4,35). Tenham principalmente a preocupação
de ser misericordiosos e pacientes para com todos, sem
provocarem suspeitas de simpatia ou parcialidade, segundo a
ordem do Apóstolo que diz: Nada fazendo por espirito de
parcialidade (lTm 5,21), ou ainda de contestação, que ele rejeita
como inconveniente aos cristãos, ao dizer: Se, no entanto,
alguém quiser con
98
testar, nós não temos tal costume e nem as igrejas de Deus
(ICor 11,16). Alguns subtraem o necessário àqueles com os
quais estão em desacordo e dão excessivamente àqueles por
quem sentem simpatia. O primeiro modo de agir é ódio fraterno,
o segundo, simpatia muito repreensível por afugentar da
comunidade a concórdia, originária da caridade, que é
substituída pelas suspeitas, as emulações, as disputas e a
preguiça para o trabalho.
2. Têm a máxima obrigação, aqueles que distribuem à
comunidade o necessário, de libertarem-se das simpatias e
antipatias, tanto pelo supra-referido, quanto por muitas outras
circunstâncias semelhantes. Devem estar cônscios dessa
disposição de ânimo e mostrar tal zelo, eles e os que exercem
outros ofícios a serviço da comunidade, como quem serve não
aos homens, mas ao próprio Senhor que, em sua grande
bondade, toma como prestadas a si mesmo a consideração e a
solicitude para com os que lhe são consagrados e promete em
vista disto a herança do reino dos céus. Vinde, disse, benditos do
meu Pai, tomai posse do reino que vos está preparado desde a
criação do mundo. Todas as vezes que fizestes isto a um destes
meus irmãos mais pequeninos, foi a mim mesmo que o fizestes
(Mt 25, 34.40). Ao contrário, reconheçam o perigo da
negligência, lembrados daquele que disse: Maldito aquele que
faz com negligência a obra do Senhor (Jr 48,10). Porque não só
serão expulsos do reino, mas espera-os aquela sentença
tremenda e terrível, proferida contra tais homens: Retirai-vos de
mim, malditos! Ide para o fogo eterno, destinado ao demônio e
a seus anjos (Mt 25,41).
Se aqueles que assumem as preocupações e o serviço re-
cebem tal recompensa do zelo, e se tamanho juízo aguarda a
negligência, que solicitude não devem empregar os que têm de
servir, para se tornarem dignos da denominação de irmãos do
Senhor! Ensina-o o Senhor ao dizer: Todo aquele que faz a
vontade de meu Pai que está nos céus, este é meu irmão e minha
irmã e minha mãe (Mt 12,50).
3. Incorre em perigo quem não propuser a vontade de Deus
como escopo de toda a vida; assim, se na saúde não mostrar o
labor da caridade pelo zelo nas obras do Senhor e na doença
alegremente não demonstrar grande paciência e tolerância.
99
O primeiro maior de todos os perigos, porém, é dis-
tanciar-se do Senhor e do convívio dos irmãos, porque separa-se
por si mesmo quem não faz a vontade de Deus.
O segundo consiste em que, sendo indigno, ousa participar
das coisas preparadas para os que são dignos.
Neste ponto mister se faz lembrar-se do Apóstolo que diz:
Senão seus colaboradores, exortamo-vos a que não recebais a graça
de Deus em vão (2Cor 6,1). Aqueles que foram chamados para
serem irmãos do Senhor, não desonrem tamanha graça de Deus,
nem traiam tal dignidade, descui- dando-se da vontade de Deus,
mas antes obedeçam ao Apóstolo, quando diz: Exorto-vos, pois,
prisioneiro que sou pela causa do Senhor que leveis uma vida
digna da vocação à qual fostes chamados (Ef 4,1).
QUESTÃO 35
SE CONVÉM ESTABELECER NUMA ALDEIA MAIS
DE UMA COMUNIDADE DE IRMÃOS
Resposta
100
T
de, haja outro para consolar deste abandono, a menos que parta
para socorrer outra comunidade desprovida de guia.
A experiência obtida nos negócios de fora pode ser de grande
vantagem para o escopo que visamos. Como os peritos do
mesmo ofício invejam seus rivais e a emulação no mesmo
artesanato surge ocultamente, assim, na maioria dos casos,
acontece nesse tipo de vida.
De início, rivalizam-se no bem e esforçam-se por superar uns
aos outros, quer na recepção dos hóspedes, no aumento do
número dos ascetas, ou em outras obras deste gênero. Vão
avante e caem em contendas. Se advêm irmãos peregrinos,
sentem estes muitas dúvidas e dificuldades, ao invés da
tranqüilidade desejada, divididos pelo pensamento de onde se
hospedar. É difícil preferir uns a outros e impossível satisfazer a
ambos, principalmente quando têm pressa. Aqueles que de início
vêm para abraçar a mesma vida, ficam em grande perplexidade,
porque devem escolher os superiores para os dirigirem e, na
verdade, se preferem uns, reprovam os outros.
2. Então, já desde o primeiro dia, são prejudicados pelo
orgulho, porque não se dispõem a aprender, mas acostumam-se a
ser juizes e censores da comunidade.
Desde que não há bem evidente algum em existirem casas
separadas e são tais os inconvenientes, é completamente
despropositado separarem-se uns dos outros. Se acontecer que
alguém haja presumido fazê-lo, urge uma mudança,
principalmente após a experiência dos prejuízos decorrentes
desta situação. Manter a própria opinião seria contestação
manifesta. Se, no entanto, alguém quiser contestar..., diz o
Apóstolo, nós não temos tal costume, nem as igrejas áe Deus (ICor
11,16).
Que motivo hão de alegar como impedimento à união? Será
por causa do necessário? Mas, é muito mais fácil adquiri-lo para
uma casa comum, onde há uma só lâmpada, um só fogo; estas e
outras coisas semelhantes são suficientes para todos. Importa,
pois, nestas e outras questões ir ao encalço da facilidade maior,
de todos os modos, a fim de se reduzir a quantidade das coisas
necessárias. Além disso, casas separadas necessitam de maior
fornecimento vindo de fora para a comunidade; da metade, se
numa só casa. Sem que o diga, sabeis como é difícil encontrar
al-
101
guéra que não ocasione opròbrio ao nome de Cristo, mas que se
porte com os de fora nas viagens de modo digno de sua
profissão.
Ademais, como poderão os que se mantêm separados edificar
os que levam a vida comum, quer impelindo-os a paz, se for o
caso, quer exortando-os ao cumprimento de outros
mandamentos, uma vez que, não se unindo, suscitam suspeitas
contra si mesmos?
Ouvimos também que o Apóstolo escreveu aos filipenses:
Completai a minha alegria permanecendo unidos. Tende um mesmo
amor, uma só alma, e os mesmos pensamentos. Nada façais por
espírito de partido ou vangloria, mas com humildade, considerando
os outros superiores a vós mesmos, visando cada um não os seus
próprios interesses, senão os dos outros (PI 2,2-3).
102
r
QUESTÃO 36
OS QUE SE RETIRAM DA COMUNIDADE DOS IRMÃOS
Resposta
103
tas, o que é evidentemente contra o preceito do Senhor, que diz:
Se estás, portanto, por fazer a tua oferta diante do altar e te
lembrares que teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa lá a tua
oferta diante do altar e vai primeiro reconciliar-te com teu irmão e só
então vem fazer a tua oferta (Mt 5,23.24).
QUESTÃO 37
SE É LÍCITO, SOB PRETEXTO DE ORAÇÃO E DE
SALMODIA, DESCUIDAR-SE DO TRABALHO.
QUAL O TEMPO APROPRIADO PARA AS
ORAÇÕES? EM PRIMEIRO LUGAR É DEVER
TRABALHAR?
Resposta
104
2. Qual a necessidade de dizer que constitui grande mal a
ociosidade, quando o Apóstolo claramente preceitua: Quem não
quiser trabalhar, não tem direito de comer (2Ts 3,10)? Como é
indispensável para todos o alimento cotidiano, assim também é
necessário o trabalho, à medida das forças. Não foi em vão que
Salomão escreveu em elogio: Não comeu o pão da ociosidade (Pr
31,27). E ainda o Apóstolo, falando de si mesmo: Não temos
comido de graça o pão de ninguém, mas, com trabalho e fadiga,
labutamos noite e dia (2Ts 3,8), embora pudesse, porque pregava
o Evangelho, viver do Evangelho.
Também o Senhor associou a preguiça malícia, dizendo:
Servo mau e preguiçoso (Mt 25,26).
E o sábio Salomão não só louva o trabalhador pelas causas já
citadas, mas igualmente censura o preguiçoso, comparando-o a
animais minúsculos, ao dizer: Vai o preguiçoso ter com a formiga
(Pr 6,6).
Por isso é de temer que no dia do juízo nos seja isto lançado
em rosto, pois quem nos deu forças para o trabalho, exigirá
obras proporcionadas a elas. Porque: Quanto mais se confiar a
alguém, dele mais se há de exigir (Lc 12,48).
Desde que alguns, sob o pretexto de orações e salmodia,
furtam-se ao trabalho, convém saber que há um tempo próprio
para cada coisa, segundo o Eclesiastes que diz: Para tudo há um
tempo (Ecl 3,1). Mas, para a oração e a salmodia, como para
muitas outras ocupações, serve qualquer tempo, porque
enquanto as mãos trabalham, talvez seja possível, ou ao menos
proveitoso para a edificação da fé, com a língua, ou ao menos de
coração, louvar a Deus com salmos, hinos e cânticos espirituais
(Cl 3,16), como está escrito, entregando-nos assim à oração no
meio do trabalho.
Demos graças àquele que deu forças às mãos para o trabalho
e inteligência para adquirirmos a ciência, fornecen- do-nos ainda
a matéria, tanto a dos instrumentos, quanto a matéria-prima para
as artes que cultivamos. Supliquemos que as obras de nossas
mãos tenham a finalidade de agradar a Deus.
3. Afastamos a divagação do espírito quando, em cada ação,
impetramos de Deus o bom andamento da obra, agradecemos
àquele que nos concede a energia para a ação e
105
conservamos o propósito de lhe agradar, conforme foi dito
acima. Porque, de outro modo, como se conciliarão as duas
palavras do Apóstolo: Orai sem cessar (lTs 5,17), e: Labu- tando
noite e dia (2Ts 3,8)?
Se também a lei determina se dê graças em todo o tempo e a
natureza e a razão demonstram a necessidade desta ação de
graças em nossa vida, nem por isso podemos omitir as horas
determinadas, que escolhemos por necessidade, para a oração
nas comunidades dos irmãos, pois cada uma constitui uma
espécie de memória dos bens recebidos de Deus.
A hora matutina, para dedicarmos a Deus os primeiros
movimentos da alma e da mente e nada cuidarmos antes de nos
alegrarmos com o pensamento de Deus, como está escrito:
Lembrei-me de Deus e senti-me cheio de gozo (SI 76,4). Que o
corpo não se mova para o trabalho antes de fazer o que foi dito:
É a vós que eu invoco, Senhor, desde a manhã; escutai-me.
Porque, desde o raiar do dia, a vós apresento minhas súplicas e
espero (SI 5,4.5).
De novo, à hora terça, levantem-se para a oração, convoque-
se a comunidade, mesmo se acontecer que alguns estejam
ocupados em diversos trabalhos. Lembrados do dom do Espírito,
concedido aos apóstolos na hora terceira, unânimes, prostrem-se
todos, para se tornarem dignos também de receber a santificação.
Peçam que ele os dirija no caminho e lhes ensine o que é
proveitoso. Façam como aquele que disse: ò meu Deus, criai em
mim um coração puro. E renovai-me o espírito de firmeza. De
vossa presença não rejeiteis. E nem priveis de vosso
santo espírito. Restituí-me a alegria da salvação. E sustentai-me
com uma vontade generosa (SI 50,12.13). E alhures: Que o
vosso espírito de bondade conduza pelo caminho reto (SI
142, 10). E assim, voltem ao trabalho.
4. Se alguns se afastarem para mais longe, por causa de
trabalho, ou da natureza do lugar, cumpram obrigatoriamente ali,
sem hesitações, tudo o que foi estabelecido em comum, porque:
Onde dois ou três estão reunidos em meu nome, aí estou eu em
meio deles (Mt 18,20).
À hora sexta, julgamos necessária a oração, à imitação dos
santos, que dizem: Pela tarde, de manhã e ao meio-dia, narrarei
e anunciarei. E ele ouvirá minha voz (SI 54,18).
106
E para nos livrarmos do ataque e do demônio meridiano (SI
90,6), também se diga o salmo 90.
À hora nona é dever rezar, como nos ensinaram os apóstolos
nos Atos, onde se narra que Pedro e João iam subindo ao templo
para rezar à hora nona (At 3,1).
Já completo o dia, damos graças pelo que nos foi concedido
neste dia, ou pelo bem que fizemos, e também confessamos
nossas omissões, a saber, falta voluntária ou involuntária, ou
qualquer pecado oculto, por palavras, obras, ou só no coração,
aplacando a Deus por tudo com a oração. É de grande utilidade
examinar o passado, para não recairmos nas mesmas faltas. Por
isso foi dito: Refleti em vossos corações, quando estiverdes em
vossos leitos e calai (SI 4,5).
5. Ainda, ao cair da noite, vem a prece para que o repouso
seja inofensivo e livre de pesadelos. Recite-se nessa hora,
obrigatoriamente, o salmo 90. Paulo e Silas nos transmitiram ser
preciso orar no meio da noite, conforme os Atos declaram: Pela
meia-noite, Paulo e Silas rezavam e cantavam um hino a Deus
(At 16,25). E o salmista diz: Em meio à noite levanto-me para
vos louvar pelos vossos decretos cheios de justiça (SI 118,62). E
de novo, antecipando-nos à aurora, levantamo-nos para a oração
para não sermos surpreendidos pelo dia ainda adormecidos no
leito, segundo a palavra: Meus olhos se antecipam à vigília da
noite, para meditarem em vossa palavra (ibid. 148).
Nenhuma dessas horas seja esquecida por aqueles que se
decidiram a viver com fervor para a glória de Deus e de seu
Cristo. Julgo ser de vantagem a diversidade e a variedade nas
preces e na salmodia, nas horas estabelecidas, e nestas últimas,
porque pela monotonia muitas vezes a alma se entorpece e se
distrai; a mudança e a variedade da salmodia, como também o
sentido de cada hora, renovam o desejo e a atenção se refaz.
107
QUESTÃO 38
A EXPLICAÇÃO NOS MOSTROU SUFICIENTEMENTE
QUE A ORAÇÃO NÃO PODE SER OMITIDA E QUE O
TRABALHO É INDISPENSÁVEL. SERIA LÓGICO
APRENDERMOS AGORA QUAIS OS OFÍCIOS
ADEQUADOS A NOSSA PROFISSÃO
Resposta
108
cá e para lá; contanto, como o dissemos, que não nos envolva,
da parte dos vizinhos, ou dos que moram conosco, em tumultos
ou confusão.
QUESTÃO 39
COMO VENDER OS PRODUTOS E COMO VIAJAR
Resposta
QUESTÃO 40
DAS TRANSAÇÕES FEITAS COM ASSEMBLÉIAS
RELIGIOSAS
Resposta
109
Palavra. Não compareçam os cristãos nos locais onde são
venerados os mártires ou nas suas adjacências, a não ser para a
oração e a fim de que, pela comemoração da piedosa firmeza
dos santos até à morte, incitem-se a idêntico zelo. Lembrem-se
da terrível ira do Senhor que, embora mostrando-se sempre e em
toda a parte manso e humilde de coração, conforme está escrito
(Mt 11,29), tomou energicamente do flagelo só contra aqueles
que vendiam e compravam no templo (Jo 2,15), porque
transformavam pela mercancia a casa de oração em covil de
ladrões. Alguns perderam o costume em vigor entre os santos,
fazendo desse tempo e lugar uma praça pública e um empório,
em vez de se entregarem à oração uns pelos outros, à adoração
de Deus com os demais, às lágrimas em comum diante dele, à
propiciação pelos pecados, à eucaristia por seus benefícios, à
edificação com palavras de exortação. (Conforme sabemos de
conhecimento próprio, isto era praticado). Nem por isso seria
conseqüente que os seguíssemos e confirmássemos seus
absurdos por nossa participação; mas imitemos as assembléias
reunidas em torno de Nosso Senhor Jesus Cristo e descritas nos
Evangelhos. Pratiquemos os preceitos do Apóstolo, bem
conformes a este modelo, ao escrever: Quando vos reunis, cada
um de vós tem um cântico, uma revelação, um discurso em
línguas, uma interpretação: que tudo se faça de modo a edificar
(ICor 14,26).
QUESTÃO 41
AUTORIDADE E OBEDIÊNCIA
Resposta
1. Mesmo ao se tratar de ofícios lícitos, não se permita a cada
um exercer o que sabe ou o que quer aprender, e sim aquele para
o qual for julgado capaz. Quem renunciou a si mesmo e
abandonou todas as suas vontades, não faça o que quer, mas o
que lhe ensinarem. Não é razoável escolher por si mesmo o que
é útil, uma vez que se entregou à direção de outros; estes o
encaminharão para aquilo que reconhecerem, em nome do
Senhor, ser-lhe conveniente.
110
Quem escolhe um trabalho seguindo seu próprio desejo,
expõe-se a censuras: primeiro, porque procura o que lhe agrada;
em segundo lugar, porque tem propensão para tal ofício por
glória mundana e esperança de lucro ou coisa semelhante; ou
ainda, porque escolhe o mais leve por preguiça e negligência.
Agir assim é dar provas de ainda não se ter libertado das más
paixões. Não se renegou a si mesmo quem quer seguir as
próprias inclinações, nem renunciou aos negócios do século, se
ainda se deixa prender pelo desejo de lucro e de glória. Não
mortificou os membros terrenos quem não suporta o peso do
trabalho, mas mostra-se arrogante, achando o próprio juízo mais
acertado do que o parecer de muitos.
Se alguém tiver um ofício bem aceito pela comunidade, não o
abandone. Denota inconstância e vacilação quem despreza o que
tem em mão. Se não tiver ofício, não o arranje por si mesmo,
mas aceite o que os maiores aprovarem, para em tudo se
salvaguardar a obediência. Como foi demonstrado, se não
convém escolher por si mesmo, é repreensível recusar o que
outros aprovaram. Se alguém tiver ocupação que desagrade à
comunidade dos irmãos, largue-a prontamente, dando provas de
que em nada atraem-no as coisas mundanas. Satisfazer às
próprias inclinações é peculiar de quem não tem esperança,
segundo a palavra do Apóstolo (lTs 4,13); uma obediência em
tudo, porém, é digna de louvor, pois o Apóstolo louva os que se
deram a si mesmos primeiro ao Senhor, depois a nós, pela
vontade de Deus (2Cor 8,5).
2. Cada um cuide do próprio trabalho, solícito e de boa
vontade. Como se Deus o vigiasse, de modo irrepreensível, com
zelo incansável e a mais atenta diligência, realize-o de modo a
poder dizer sempre com toda confiança: Como os olhos dos
servos estão fixos nas mãos de seus senhores, assim nossos olhos
estão voltados para o Senhor, nosso Deus (SI 122,2), e não
mude de serviço. Nossa natureza não pode ao mesmo tempo
preencher várias funções; por conseguinte, é melhor exercer com
apuro uma do que imperfeitamente muitas. A grande dispersão e
a troca de uma para outra não permitem se termine trabalho
algum; igualmente denota leviandade já existente ou a produz
onde ainda não existe.
111
Se acaso houver necessidade de auxílio em outros ofícios, é
justo ajude quem for capaz. Não, contudo, por iniciativa própria,
mas se for chamado. Façamo-lo, sem nos anteciparmos, se
houver urgência, à semelhança do que sucede com os membros
do corpo; se o pé tropeça, fir- mamo-nos com as mãos. Ainda
uma vez, abraçar um ofício por iniciativa própria é inútil, assim
como é repreensível recusar-se ao que foi mandado.
Não se alimente portanto a auto-suficiência nem se
ultrapassem os limites da obediência e da docilidade.
A conservação dos instrumentos de trabalho compete,
principalmente, ao artífice de determinada obra. Se acontecer
que fique jogado um objeto de uso comum, o primeiro que o
notar dê-lhe a devida atenção. Se o uso é particular, a utilidade
que ele traz, contudo, é comum. Descuidar-se alguém dos
instrumentos de outro ofício, como nada tendo que ver com
eles, é sinal de que os considera bens alheios. Não convém
àqueles que exercem os ofícios reivindicarem a posse dos
instrumentos, de modo que o superior da comunidade não tenha
a faculdade de dar-lhes o destino que lhe aprouver, ou de vendê-
los, trocá-los, colocá-los de qualquer outro modo, ou comprar
outros, além dos que já têm. Quem decidiu não ser senhor nem
de suas próprias mãos, mas entregou a outrem a disposição de
suas atividades, agiria de modo conseqüente se tivesse todos os
direitos sobre os instrumentos de seu ofício e usasse deles a
título de propriedade?
QUESTÃO 42
QUAL O FIM E A ATITUDE DOS QUE TRABALHAM
Resposta
112
reis, nem por vosso corpo, como vos vestireis (Mt 6,25), e ajuntou:
São os pagãos que se preocupam com tudo isso (ibid. 32). Deve
portanto cada um ter por escopo do trabalho servir aos
necessitados e não às próprias vantagens. Assim também não será
censurado de egoísmo e receberá a bênção atribuída pelo Senhor
ao amor fraterno, quando disse: Todas as vezes que fizestes isto a
um destes meus irmãos mais pequeninos, foi a mim mesmo que o
fizestes (Mt 25,40). Ninguém pense que nossa palavra contradiz à
do Apóstolo que ordena: trabalhando comam o pão (2Ts 3,12).
Isto se aplica aos desordeiros e preguiçosos, porque é preferível
cada um prover-se a si mesmo, não ser pesado aos outros, a viver
na ociosidade. Ora, nós temos ouvido dizer que há entre vós pessoas
desregradas. Em lugar de trabalharem, ocupam-se com futilidaães.
Nós lhes ordenamos e os exortamos a trabalhar pacificamente.
Comam assim o pão (2Ts 3,12). E afirmamos: Labutamos noite e
dia para não sermos pesados a nenhum de vós (ibid. 8), tem
idêntico significado. O Apóstolo, por amor fraterno, sujeitava-se
a trabalhos além dos que lhe foram prescritos, para eliminar os
desordeiros, próprio daquele que se apressa em busca da
perfeição trabalhar noite e dia, para ter com que socorrer os
necessitados (Ef 4,28).
2. Quem, porém, põe sua esperança em si mesmo ou no
encarregado da distribuição das coisas necessárias, quem pensa
que o próprio trabalho, ou o de um companheiro, é suficiente
para a subsistência, enquanto espera num homem, incorre no
perigo da maldição: Maldito o homem que em outro confia, que da
carne faz o seu apoio e cujo coração vive distante do Senhor (Jr
17,5). A Palavra de Deus, com a express o quem em outro
confia , pro be confiar em outrem, e com esta: da carne faz o
seu apoio veta a confian a em si mesmo. Ambas se denominam
apostasia do Senhor. E acrescenta o resultado de ambas: Asse-
melha-se ao cardo da charneca e nem percebe a chegada do bom
tempo (ibid. 6). Mostra a Escritura que esperar em si ou em um
outro é apostatar do Senhor.
113
QUESTÃO 43
Resposta
114
rio a seus servos, mas quis mostrar-se servo da terra e do barro,
que ele plasmou para formar o homem {Estou, disse, no meio de
vós como aquele que serve, Lc 22,27), que não devemos nós fazer
a nossos semelhantes, para pretendermos imitá-lo? Disto, pois,
acima de tudo seja dotado o superior.
Em seguida, seja misericordioso e suporte pacientemente os
que omitirem alguma coisa das obrigações, por inexperiência.
Não dissimule os pecados pelo silêncio, mas tolere com
mansidão os rebeldes e aplique-lhes o remédio com toda a
misericórdia e moderação. Seja, pois, capaz de encontrar o
tratamento adequado à doença, não censurando com arrogância,
mas corrigindo e instruindo com mansidão, conforme está
escrito (2Tm 2,25).
Seja vigilante no presente, previdente do futuro, capaz de
lutar em companhia dos fortes, de carregar as enfermidades dos
fracos e de tudo fazer e dizer para a perfeição dos discípulos.
Não assuma por si mesmo o governo, mas seja escolhido
pelos que dirigem outras comunidades de irmãos, depois de ter
dado suficientes provas de seus costumes na vida anterior. Antes
de exercer o ministério, diz-se, sejam provados para que haja
segurança de que são irrepreensíveis (lTm 3,10).
Quem tiver tais qualidades aceite o governo, estabeleça a
disciplina na comunidade dos irmãos e distribua o trabalho,
conforme as capacidades de cada um.
QUESTÃO 44
A QUEM SE DEVE PERMITIR AS VIAGENS E COMO
SERÁ INTERROGADO, À VOLTA
Resposta
115
tias até a morte do que, a fim de aliviar o corpo, arrostar um
perigo certo para a alma. Preferiría, diz o Apóstolo, morrer
a . . m a s ninguém tirará este título de glória (ICor 9,15).
Isto, em questões indiferentes; quanto mais ao se tratar de
mandamentos.
Mas aqui também a lei da caridade não nos deixa desam-
parados. Se acontecer que numa comunidade não haja quem
esteja em condições de ser mandado, os mais próximos supri-lo-
ão, viajando em grupos, sem jamais se separarem, de modo que
tanto os fracos relativamente ao espírito, quanto os débeis
também de corpo, nesta sociedade com os mais fortes, fiquem
incólumes. Com antecedência seja isto previsto pelo superior,
para não suceder que no momento da necessidade, por
impossibilidade de tempo, não haja mais recurso.
À volta, o superior interrogue o viajante acerca do que fez,
com quem se encontrou, as palavras que lhes disse, quais as
cogitações do espírito, se passou dias e noites no temor de Deus,
ou se prevaricou e transgrediu alguma prescrição, levado pelas
circunstâncias externas, ou se caiu por própria frivolidade.
2. Confirme com sua aprovação o que se fez bem e corrija
com exortações cuidadosas e prudentes o delito. Assim, os que
partirem de viagem serão mais vigilantes, receosos das contas
que hão de prestar e nós mostraremos que, nem separados, nos
desinteressamos da vida que levam.
Narram os Atos que assim costumavam agir os santos, ao nos
ensinarem como Pedro, voltando a Jerusalém, prestou contas de
sua sociedade com os pagãos aos que lá estavam (At ll,5s). De
modo semelhante, Paulo e Barnabé, à volta, tendo reunido a
assembléia, anunciou-lhe quanto Deus havia feito por seu
intermédio (At 15,12); e ainda, que toda a multidão se calou
para ouvir Barnabé e Paulo contarem quanto Deus havia feito.
Importa, contudo, saber que os circuitos, os negócios maiores
e pequenos lucros devem ser absolutamente evitados pelas
comunidades dos irmãos.
116
QUESTÃO 45
Resposta
117
1
QUESTÃO 46
NÃO SE OCULTEM OS PECADOS DE UM IRMÃO OU OS
SEUS PRÓPRIOS
Resposta
118
15,56). Melhor é a correção manifesta do que uma amizade
escondida (Pr 27,5). Portanto, que um não esconda o pecado de
outro, para não se tornar fratricida, ao invés de amigo de seu
irmão; nem proceda assim em relação a si mesmo. Aquele que é
descuidado em seu trabalho, é irmão do que vai à perdição (Pr
18,9).
QUESTÃO 47
OS QUE NÃO ACEITAM O QUE O SUPERIOR
ESTABELECEU
Resposta
119
QUESTÃO 48
Resposta
QUESTÃO 49
CONTROVÉRSIAS ENTRE OS IRMÃOS
Resposta
120
aos mais idôneos. Parã não se perturbar a ordem, perguntando
todos sempre, nem dar ocasião a zombarias e bagatelas, é preciso
haver uma pessoa bem experiente, que possa propor o ponto
duvidoso à deliberação comum dos irmãos ou referi-la ao
superior. Assim, o exame da questão será mais exato e mais
prudente. Se em qualquer negócio são precisas ciência e
experiência, nesses muito mais ainda. E se ninguém entrega
instrumentos a inexpertos, com maior razão, só se conceda o
manejo da palavra a peritos, que sabem discernir o lugar, a
ocasião e o modo de interrogar, perguntam sem contradição e
com prudência, ouvem com sabedoria, e com diligência dão a
solução desejada, para a edificação da comunidade.
QUESTÃO 50
DE QUE MODO DEVE O SUPERIOR CORRIGIR
Resposta
121
pecado, patenteando o ardor do espírito na severidade da pena.
QUESTÃO 51
PECOU Resposta
Proceda-se nas correções à maneira da medicina em relação
aos pacientes: não se irrita contra os doentes, mas combate a
doença. Ataque os vícios e, se necessário, com meios mais
penosos, cure as doenças da alma. A vangloria, por exemplo,
com exercícios de humildade; as palavras ociosas, com o
silêncio; o sono exagerado com vigílias de oração; a preguiça
corporal com o labor, a imoderação no comer com o jejum; a
murmuração com o retiro.
Nenhum dos irmãos trabalhe com o murmurador, nem o
produto de seu trabalho seja englobado com os dos outros, como
foi dito acima, a não ser que, pela penitência, da qual não se
core, mostre que se libertou deste vício. Então, também a obra
que fez murmurando pode ser aceita; no entanto, não seja usada
para serviço dos irmãos, mas destinada a outra finalidade. A
razão disto foi suficientemente exposta acima.
QUESTÃO 52
COM QUE DISPOSIÇÃO SERÃO RECEBIDOS OS
CASTIGOS
Resposta
122
camente doentes confiem nos médicos a tal ponto que, se
cortam, queimam ou receitam remédios amargos, são con-
siderados benfeitores e nós não mantenhamos idêntica atitude
para com os médicos das almas, quando por meios severos agem
em prol de nossa salvação, conforme diz o Apóstolo: Porque, se
eu vos entristeço, como podería esperar alegria daqueles que por
mim foram entristecidos? (2Cor 2,2). E ainda: Vede, pois, que
disposições operou em vós a tristeza segundo Deus! Que zelo! Que
ardor! (2Cor 7,11). Se olharmos para o fim, consideraremos
benfeitor quem nos entristece, segundo Deus.
QUESTÃO 53
COMO OS MESTRES DOS OFÍCIOS HÃO DE
CORRIGIR AS FALTAS DOS MENINOS
Resposta
Os mestres dos ofícios, no caso de os discípulos cometerem
erros contra a própria arte, corrijam em particular a falta e
emendem os erros. Todos os pecados, porém, que denotarem
perversidade nos costumes, como sejam con- tumácia e
contradição, preguiça no trabalho, ou palavras ociosas, ou
mentira, ou qualquer outra coisa proibida aos que praticam a
piedade, devem ser denunciados junto do responsável pela
disciplina comum e repreendidos. Exco- gite ele a medida e o
modo a empregar a fim de curar os pecados. Se a repreensão é o
tratamento da alma, não compete a qualquer um repreender ou
curar, senão àquele a quem o superior, após maduro exame, o
permitir.
QUESTÃO 54
CONVENIÊNCIA DE TEREM OS SUPERIORES DAS
COMUNIDADES DIÁLOGOS A RESPEITO DOS
RESPECTIVOS INTERESSES
Resposta
É bom que haja, em tempos e lugares determinados, reuniões
dos superiores das comunidades dos irmãos. Ex
123
ponham eles mutuamente as questões fortuitas, os pontos morais
mais difíceis e o que cada um estabeleceu, de modo que, se
houver erro, pelo julgamento de muitos se esclareça
devidamente, e se foi acertado, seja confirmado pelo testemunho
de muitos.
QUESTÃO 55
SE O USO DA MEDICINA CONVÉM ÀS FINALIDADES
DA PIEDADE
Resposta
124
também a ajuda da medicina, para proporcionar aos doentes certa
assistência.
2. Não foi fortuitamente que as ervas apropriadas à cura de
cada uma das doenças germinaram da terra. Ao contrário, foram
produzidas de acordo com a vontade do Criador, para prover às
nossas necessidades. A descoberta de força natural que há nas
raízes e nas flores, nas folhas e nos frutos, nas substâncias, no
que há nas minas ou no que existe no mar presta-se ao bem do
corpo. Asse- melha-se aos outros inventos, referentes à comida e
à bebida. Os cristãos, no entanto, têm o dever de evitar o que foi
excogitado supérflua e minuciosamente, é obtido com grande
trabalho e absorve de certo modo nossa vida nos cuidados com o
corpo.
Esforcemo-nos por usar desta arte, se precisarmos, sem lhe
atribuir a causa da boa ou má saúde, mas empreguemo- la a fim
de manifestar a glória de Deus e enquanto imagem do tratamento
da alma.
Se precisarmos dos socorros da medicina de modo nenhum
ponhamos a esperança da melhora dos males somente nessa arte.
Devemos saber que o Senhor não permitirá sermos tentados além
do que podemos suportar (ICor 10,13), ou fará como outrora,
quando fez um pouco de lodo, ungiu (o cego) e ordenou-lhe se
fosse lavar em Siloé (Jo 9,6.7), ou quando se limitou a
manifestar a própria vontade, dizendo: Quero, sê purificado (Mt
8,3). Na verdade permite que alguns combatam em meio de
aflições, tomando-os mais recomendáveis por meio da prova.
Assim também agora quer agir conosco, algumas vezes curando
de maneira invisível e escondida, quando julga proveitoso para
nossas almas; de outras vezes, porém, determina que usemos dos
socorros materiais em nossas doenças, a fim de ser duradoura a
lembrança do benefício recebido pela demora da cura, ou ainda,
como disse, dá-nos um exemplo de terapêutica espiritual. Como
é forçoso para o corpo eliminar os elementos estranhos e suprir
as deficiências, assim convém remover de nossas almas o que
lhes é alheio e tomar o que é de acordo com sua natureza. Na
verdade, Deus criou o homem reto e nos fez para a prática das
boas obras (Ecl 7,30).
125
3. E se aceitamos para curar o corpo os cortes, as cau-
terizações, os medicamentos amargos, de igual modo importa
suportar para a cura da alma as palavras cortantes da censura e
os remédios amargos das repreensões. A palavra profética
exprobra os que assim não se emendam, ao dizer: Não haverá
bálsamo em Galaad? Nem se poderá encontrar um médico? Por
que, então, a ferida da filha de meu povo não se há de cicatrizar?
(Jr 8,22). Se nas doenças crônicas procura-se por muito tempo
obter a saúde, empregando recursos vários e dolorosos, isto
indica que devemos corrigir os pecados da alma também com
orações prolongadas, diuturna penitência e regime mais severo,
talvez mais ainda do que a razão sugere como suficiente para a
cura.
Se alguns não usam convenientemente da medicina, nem por
isso somos obrigados a recusar todas as suas vantagens. Se os
intemperantes, à busca de delícias, abusam da arte culinária, da
panificação, da arte têxtil, excedendo os limites da necessidade,
não rejeitamos logo todos esses ofícios; ao contrário, pelo bom
uso dos mesmos, corrigiremos o seu abuso. Assim também
quanto à medicina é ilógico opor- se a um dom de Deus, porque
alguns a empregam mal. Seria irracional colocar nas mãos do
médico a esperança da saúde; no entanto vemos que alguns
infelizes o fazem, não se corando de denominá-los seus
salvadores. Seria, porém, obstinação ser inteiramente avesso aos
bens que a medicina traz. Como Ezequias não tinha a massa de
figos na conta da causa primeira de sua saúde (2Rs 20,7), nem
lhe atribuía a cura do corpo, mas acrescentou à glorificação de
Deus a ação de graças por ter criado os figos, assim também
nós, se feridos por Deus, que governa de maneira boa e sábia a
nossa vida, peçamos-lhe, em primeiro lugar, conhecimento da
razão por que deste modo nos flagela; em segundo, que nos
livre dessas dores e nos dê a paciência, de modo que com a
tentação nos conceda também os meios de sairmos dela, dando-
nos poder de suportá-la (ICor 10,13).
4. Recebamos com ações de graças a concessão da graça da
saúde, seja por meio de um misto de vinho com óleo (Lc 10,34),
como sucedeu ao que caiu nas mãos dos ladrões, seja por meio
dos figos, como aconteceu a Ezequias (2Rs
126
20,7). Não há diferença se Deus nos trata de um modo invisível
ou emprega elementos corpdreos; estes, com frequência, nos
levam mais eficazmente a entender o dom do Senhor.
Muitas vezes, por castigo caímos doentes e somos con-
denados a tratamento duro e pesado, em substituição da pena. A
reta razão nos persuade a não repudiarmos nem os cortes, nem
as cauterizações, nem a acerbidade dos remédios acres e
molestos, nem os regimes, nem a dieta estrita, nem a abstinência
de coisas mortíferas; salvo, repito-o, o bem da alma, à qual é
proposto este exemplo para seu próprio tratamento.
Perigo não pequeno há em cair no erro de pensar que toda
doença reclama os subsídios da medicina. Nem todas as doenças
provêm da natureza, ou de uma alimentação imprópria, ou de
outra causa somática, para cuja terapia vemos, por vezes, ser útil
a medicina. Freqüentemente, porém, as doenças são flagelos por
causa dos pecados, para nos convertermos. O Senhor castiga
aquele que ele ama (Pr 3,12); e: Esta é a razão por que entre vós há
muitos adoentados e fracos e muitos mortos. Se nos examinássemos
a nós mesmos, nós não seríamos julgados. Mas, sendo julgados pelo
Senhor, ele nos castiga para não sermos condenados com este
mundo (ICor 11,30.32). Por isso, em tais casos, logo que
reconhecermos nossos delitos, desistindo da medicina, soframos
em silêncio nossas penas, segundo a palavra: Suportei a cólera do
Senhor porque tenho pecado contra ele (Mq 7,9). E assim,
emendemo-nos, produzindo dignos frutos de penitência,
lembrados do Senhor que disse: Eis que ficaste são; já não peques,
para não te acontecer coisa pior (Jo 5,14).
Às vezes, as doenças nos advêm a pedido do maligno, quando
o Senhor, amigo dos homens, lhe apresenta para combate um
grande lutador e deprime sua jactância com a suma tolerância de
seus servos, conforme sabemos ter sucedido a Jó (Jó 2,6). Deus
propõe aos intolerantes de seus próprios males o exemplo de
alguns que suportaram com perseverança as adversidades até à
morte, como Lázaro do qual, afligido por profundas úlceras (Lc
16,20), não está escrito que tivesse pedido alguma coisa ao rico
ou se mos
127
trasse impaciente por causa da própria situação. Por isso
alcançou o repouso no seio de Abraão (ibid. 22.25), tendo
recebido males em sua vida.
Encontramos ainda outra causa das doenças que atacam os
santos, como se deu com o Apóstolo. Para não parecer
ultrapassar os limites da natureza humana, nem julgasse alguém
possuir ele naturalmente algo de extraordinário (como sucedeu
aos licaônios, que lhe trouxeram coroas e touros, At 14,12) e a
fim de comprovar que possuía natureza humana, pelejava
continuamente com a doença.
5. Que vantagens, portanto, pode trazer a medicina a tais
homens? Ou antes, que perigo não será se os desviar da reta
razão para cuidarem do corpo? Os que contraíram uma
enfermidade devida a uma dieta prejudicial devem servir de
modelo, pelo tratamento do corpo, ao da alma, como se disse
mais acima. Pois, convém-nos também, de acordo com a
medicina, abster-nos do que é nocivo, escolher o que é útil,
observar as prescrições. Analogamente, a passagem da
enfermidade corporal à saúde serve-nos de consolo, para não
desanimarmos a respeito da alma, como se não pudesse voltar,
pela penitência, dos pecados à própria integridade.
Não evitemos, portanto, inteiramente esta arte, nem tam-
pouco coloquemos nela toda a nossa esperança. Mas, como
usamos da agricultura, suplicando a Deus os frutos, e como
entregamos o leme ao piloto, rogando a Deus escapemos
incólumes do mar, assim também se chamamos o médico,
quando razoável, não perdemos a esperança que devemos
colocar em Deus.
Parece-me também que esta arte auxilia não pouco à
continência. Vejo como corta os prazeres, condena a saeie- dade
e variedade dos alimentos, rejeita como inconveniente o
excessivo apuro no preparo da alimentação; em resumo, chama
à sobriedade mãe da saúde, e assim, até por esse ponto de vista,
seus conselhos não são vãos.
Quer, portanto, respeitemos algumas vezes as prescrições
medicinais, quer não as sigamos por alguma das causas acima
enumeradas, preservado fique o escopo de agradar a Deus e
buscar o bem da alma, cumprindo o mandamento do Apóstolo:
Quer comais ou bebais ou façais qualquer outra coisa, fazei tudo
para a glória de Deus (ICor 10,31).
128
AS REGRAS MENOS EXTENSAS
INTRODUÇÃO
Deus, dos homens amigo, que ensina a ciência ao homem (SI
93,10), de um lado ordena por intermédio do Apóstolo (lTm 1,3)
aos que receberam o carisma de ensinar perseverarem no
magistério, e de outro, exorta, por meio de Moisés, aos
necessitados da edificação dos ensinamentos divinos, dizendo:
Interroga teu pai, e ele te contará, teus avós, e eles te dirão (Dt
32,7). Por isto, nós, a quem foi confiado o ministério da palavra,
devemos em qualquer tempo estar desejosos de orientar as
almas; e não só testemunhar publicamente diante de toda a
Igreja, mas também em particular permitir a cada um dos que
nos procuram interrogarem à vontade o que interessa à
integridade da fé e à autenticidade deste gênero de vida,
segundo o evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo. As duas
coisas constantemente completam o homem de Deus.
Vós, porém, nada deixeis sem fruto, nada ocioso; mas, além
do que aprendeis em comum, fazei perguntas em particular
sobre assuntos proveitosos e empregai utilmente todos os lazeres
da vida. Se Deus nos reuniu para este fim e gozamos de muita
tranqüilidade, sem ruídos do exterior, não nos afastemos para
fazer outro trabalho, nem entreguemos novamente o corpo ao
sono, mas passemos o restante da noite na meditação e exame de
nossas necessidades, cumprindo a palavra do bem-aventurado
Davi: Na lei do Senhor medita dia e noite (SI 1,2).
129
w
INTERROGAÇÃO 1
É lícito ou útil a alguém fazer ou dizer o que pensa ser bom, sem
ter o testemunho das Escrituras divinas?
Resposta
130
e o servo de todos (Mc 9,34), contrariando as próprias vontades, à
imitação do Senhor que disse: Desci do céu, não para jazer minha
vontade, mas a vontade daquele que enviou (o Pai) (Jo 6,38).
INTERROGAÇÃO 2
Que espécie de profissão devem exigir uns dos outros, os que
querem viver em comum segundo Deus?
Resposta
INTERROGAÇÃO 3
Como converter um pecador? Ou se não se converter, como agir?
Resposta
131
INTERROGAÇÃO 4
Resposta
Como o Senhor assegurou que tudo se cumprirá antes que
desapareça um iota, um traço da lei (Mt 5,18) e afirmou: No
dia do juízo os homens prestarão contas de toda palavra vã que
tiverem proferido (Mt 12,36), nada se menospreze, como se
fosse pequeno. Quem menospreza a palavra será por ela
menosprezado (Pr 13,13). Aliás, quem ousará dizer que um
pecado é pequeno, se o Apóstolo asseverou: Desonras a Deus
pela transgressão da lei (Rm 2,23)? Se o estímulo da morte é o
pecado, não este ou aquele, mas qualquer pecado sem distinção,
é sem misericórdia quem se cala, não quem censura, assim
como o é quem deixa o veneno em alguém que foi mordido por
um animal peçonhento, não quem o extrai. Aquele destrói a
caridade. Pois está escrito: Quem poupa a vara, odeia seu filho;
quem o ama, castiga-o na hora precisa (Pr 13,24).
INTERROGAÇÃO 5
Como fazer penitência de cada pecado e mostrar dignos
frutos de penitência?
Resposta
Tendo a disposição daquele que disse: Odeio o mal e o
detesto (SI 118,163) e praticando o que foi referido no Salmo 6
e em muitos outros, hem como seguindo o testemunho do
Apóstolo acerca dos que se contristaram, conforme quer Deus,
por causa do pecado alheio. Vede, pois, que disposições operou
em vós a tristeza segundo Deus! Que digo eu? Que escusas, que
indignação, que temor, que ardor, que zelo, que severidade!
Mostrastes em tudo que
132
não tínheis culpa neste assunto (2Cor 7,11). E ainda como Zaqueu,
tendo um procedimento multiplicadamente oposto ao anterior.
INTERROGAÇÃO 6
Resposta
Julgo ter sido por causa dele que foi escrito: Quando o inimigo te
falar com amabilidade, não te fies nele, porque há sete abominações
em seu coração (Pr 26,25). E em outra passagem: Um cão que volta a
seu vômito: tal é o louco que reitera suas loucuras (ibid. 11).
INTERROGAÇÃO 7
133
INTERROGAÇÃO 8
Resposta
Como ensinou o Senhor: Reúne os amigos e vizinhos, dizendo-
lhes: Regozijai-vos comigo, achei a minha ovelha que se havia
perdido (Lc 15,6).
INTERROGAÇÃO 9
Que atitude tomaremos para com o pecador não contrito?
Resposta
A que ordena o Senhor ao dizer: Se recusar ouvir também a
Igreja, seja ele para ti como um pagão e um publi- cano (Mt 18,17)
e a que ensinou o Apóstolo, quando escreveu: Que vos aparteis
de qualquer irmão que vive na preguiça, sem observar as instruções
que de nós tendes recebido (2Ts 3,6).
INTERROGAÇÃO 10
Com que temor e com quantas lágrimas deve a mísera alma que
muito pecou abandonar os pecados e possuída de que esperança e
sentimentos há de se aproximar de Deus?
Resposta
Em primeiro lugar, deve odiar a reprovável vida anterior e
execrar e detestar até mesmo a sua lembrança, pois está escrito:
Odeio o mal, e o detesto, mas amo a vossa lei (SI 118,163). Em
seguida, ter como mestra do temor a ameaça do juízo e do
suplício eterno; também reconheça ser o tempo de penitência
um tempo de lágrimas, como
134
Davi o ensinou no Salmo 6. Creia firmemente na remissão dos
pecados pelo sangue de Cristo, devido à grandeza da
misericórdia e à multidão das comiserações de Deus, que disse:
Se vossos pecados forem escarlates, tornar-se-ão brancos como a
neve! Se forem vermelhos como a púrpura, ficarão brancos como a
lã! (Is 1,18). Então, tendo recebido faculdade e força para
agradar a Deus, diz: Pela tarde, vem o pranto, mas de manhã, volta
a alegria (SI 29,6)! Vós convertestes o meu pranto em prazer;
tirastes minhas vestes de penitência e cingistes de alegria. E
assim minha glória vos louvará (ibid. 12.13). Aproximando-se
assim, sal- modia diante de Deus: Eu vos exaltarei, Senhor,
porque livrastes. Não permitistes que exultassem sobre mim
meus inimigos (ibid. 2).
INTERROGAÇÃO 11
Como odiará alguém os pecados?
Resposta
INTERROGAÇÃO 12
Como pode a alma persuadir-se de que Deus lhe perdoou os
pecados?
Resposta
135
doou a todos. Mas o santo Davi canta (SI 100,1) a mise- ricódia
e a justiça e atesta ser Deus misericordioso e justo; portanto, é
necessário realizarmos as palavras dos profetas e dos apóstolos
nos lugares em que falam de penitência, a fim de que os juízos
da justiça de Deus se manifestem e se exerça a sua misericórdia
na remissão dos pecados.
INTERROGAÇÃO 13
Quem pecou depois do batismo deve desesperar de sua salvação,
por se achar envolvido numa multidão de pecados, ou até que
quantidade de pecados deve confiar na benigni- daãe de Deus, por
meio da penitência?
Resposta
136
INTERROGAÇÃO 14
Resposta
INTERROGAÇÃO 15
Que significa a palavra: Quantas vezes devo perdoar a meu
irmão, quando ele pecar contra mim? (Mt 18,21). E quais os pecados
que devo perdoar?
Resposta
INTERROGAÇÃO 16
Por que é que às vezes a alma sem esforço sente compun- ção por
um pesar espontâneo que dela de repente se apossa; e por vezes de
tal modo não sente contrição que, mesmo fazendo-se violência, não
pode se compungir?
137
Resposta
INTERROGAÇÃO 17
Se alguém pensar em comer, depois censurar-se a si mesmo, deve
ser acusado de ter sido inquieto?
Resposta
138
acontecer coisa pior (Jo 5 4). Se, porém, por necessidade natural,
a fome aumentar, a sensação de fato mover a memória, mas a
razão vencê-la por meio de zelo, ou ocupação com coisas
melhores, esta lembrança não é condenável e sim, a vitória,
louvável.
INTERROGAÇÃO 18
Se deve um membro ãa comunidade que pecou, depois de muitos
exercidos, receber um ofício. E se deve, qual?
Resposta
INTERROGAÇÃO 19
Se incorrer em suspeita de pecado alguém que não o comete às
claras, deve ser vigiado a fim de que se depreenda o que se
suspeitou?
Resposta
139
INTERROGAÇÃO 2Ò
Resposta
140
INTERROGAÇÃO 21
Resposta
Resposta
INTERROGAÇÃO 23
Que espécie de palavras torna ociosa uma conversa?
Resposta
141
que, embora seja bom o que for dito, se não servir para a
edificação da fé, a bondade da palavra não afasta do perigo a
quem falou, mas porque este não a empregou para edi- ficar,
contrista o Espírito Santo de Deus. O Apóstolo ensinou-o
claramente: Nenhuma palavra má saia da vossa boca, mas só boas
palavras que eventualmente sirvam para a edificação da fé, e sejam
benfazejas aos que as ouvem (Ef 4,29), e acrescentou: Não
contristeis o Espírito Santo de Deus, com o qual estais selados (ibid.
30). Será preciso dizer que é grande mal entristecer o Espírito
Santo de Deus?
INTERROGAÇÃO 24
O que é a injúria?
Resposta
INTERROGAÇÃO 25
O que é a detração?
Resposta
142
tu, porque faz grande oposição às nossas palavras (2Tm 4,14.15).
Exceto esses casos necessários, quem fala qualquer coisa contra
alguém, para incriminá-lo ou denegri-lo, é maldizente, mesmo se
falar a verdade.
INTERROGAÇÃO 26
Que merece quem fala mal de seu irmão ou escuta a um detrator
e o tolera?
Resposta
INTERROGAÇÃO 27
INTERROGAÇÃO 28
Deve-se acreditar, quando alguém com palavras ousadas e tom
insolente responder a outrem e, advertido, disser que nada de mal
tem no coração?
Resposta
143
males corporais. Os peritos descobrem no corpo certos sinais de
doenças ocultas que escapam à percepção do próprio doente;
assim também, mesmo se o pecador não sentir a doença da alma,
deve crer no Senhor ao lhe dizer e a seus sequazes que o mau
retira males do mau tesouro de seu coração. Pois o mau, algumas
vezes, simula o bem em palavras e obras; o bom, porém, não
pode simular mal algum. Aplicai-vos a fazer o bem, não só diante
de Deus, mas também diante de todos os homens (Rm 12,17).
INTERROGAÇÃO 29
Resposta
INTERROGAÇÃO 30
Como eliminaremos o vício da concupiscência má?
Resposta
144
são verdadeiros, todos igualmente justos. Mais desejáveis que o
ouro, que muito ouro fino. Mais doces que o mel, que o puro mel
dos favos (SI 18,10.11). O desejo das coisas melhores, quando se
tem a capacidade e a força de fruir do que se deseja, sempre
impõe o desprezo e o afastamento das mais insignificantes,
como o ensinaram todos os santos; com quanto maior razão das
coisas más e vergonhosas!
INTERROGAÇÃO 31
Se não é lícito, absolutamente, rir-se.
Resposta
INTERROGAÇÃO 32
Donde vem o torpor inoportuno e excessivo e como o
repeliremos?
Resposta
145
INTERROGAÇÃO 33
Resposta
INTERROGAÇÃO 34
Como fugir do vício de agradar aos homens e como menoscabar
os louvores dos homens?
Resposta
INTERROGAÇÃO 35
Como se conhecerá o soberbo e como ficará curado?
Resposta
146
4,6). Convém saber que, apesar do receio de ser julgado
soberbo, ninguém se curará desse vício se não abandonar
inteiramente a ambição de prevalecer, como não poderá
esquecer uma língua ou uma arte, quem não deixar com-
pletamente não só de fazer ou de falar a respeito de tal arte, mas
até de ouvir os que falam, e de olhar os que fazem; o mesmo
seja observado em relação a qualquer vício.
INTERROGAÇÃO 36
Se as honras devem ser ambicionadas.
Resposta
INTERROGAÇÃO 37
De que modo o preguiçoso em cumprir o mandamento poderá
recuperar a diligência?
Resposta
147
cada qual a própria recompensa de acordo com o labor (ICor
3,8); e ainda quanto de semelhante foi escrito para suscitar o
zelo de cada um, ou a paciência para a glória de Deus.
INTERROGAÇÃO 38
Se um irmão receber uma ordem e contradisser, mas depois for
espontaneamente.
Resposta
Pelo fato de contradizer, enquanto é contumaz e provoca os
outros a agirem de igual modo, saiba que é réu daquela
sentença: O perverso só busca a rebeldia (Pr 17,11). Persuada-se
bem de não ser a um homem que contradiz ou obedece, mas ao
próprio Senhor, que disse: Quem vos ouve, a mim ouve; e quem
vos rejeita, a mim rejeita (Lc 10,16). E arrependido primeiro,
apresente escusas, e assim, se lho permitirem, faça o trabalho.
INTERROGAÇÃO 39
Se alguém obedecer murmurando.
Resposta
Uma vez que disse o Apóstolo: Fazei todas as coisas sem
murmurações e sem hesitações (F1 2,14), quem murmura aliena-
se da unidade dos irmãos e o seu trabalho é excluído do uso dos
mesmos. Evidencia-se estar enfermo de incredulidade e
hesitação na esperança.
INTERROGAÇÃO 40
Se um irmão contrista a outro, como deve ser corrigido?
148
Resposta
INTERROGAÇÃO 41
r'
Se aquele que contristou se recusar a pedir desculpas.
Resposta
INTERROGAÇÃO 42
Se quem contristou pedir desculpas, mas o entristecido recusar
reconciliar-se.
Resposta
149
passado. E o senhor, encolerizado, retirou-lhe o seu favor, entregou-
o aos algozes, até que pagasse toda a dívida (Mt 18,31.34).
INTERROGAÇÃO 43
INTERROGAÇÃO 44
Que merece quem ficar de mau humor ou mesmo se irritar, ao
ser despertado?
Resposta
INTERROGAÇÃO 45
Se alguém, tendo ouvido do Senhor que: O servo que, apesar de
conhecer a vontade de seu Senhor, não a fez,
150
nada preparou e lhe desobedeceu, será açoitado com muitos golpes,
e aquele que a ignorou e fez coisas repreensíveis será açoitado com
poucos golpes (Lc 12,47-48), negligencia, no entanto, conhecer a
vontade do Senhor, terá ele alguma desculpa?
Resposta
INTERROGAÇÃO 46
Se é réu de pecado quem permite a outrem pecar. Resposta
Sua sentença evidencia-se das palavras do Senhor a Pilatos:
Quem entregou a ti tem pecado maior (Jo 19,11). Daí se deduz
que também Pilatos, ao tolerar os que o entregaram, tornou-se
réu de pecado, embora mais leve. Vemo-lo igualmente em Adão
que suportou a Eva; em Eva, que tolerou a serpente. Nenhum
deles ficou impune, como se fosse inocente. A própria
indignação de Deus contra eles, ponderada bem a questão, o
demonstra, pois quando Adão, à guisa de escusa, disse aquela
palavra: A mulher que deste apresentou-me deste fruto e eu
(Gn 3,12), Deus respondeu: Porque ouviste a voz de tua
mulher e comeste do fruto da árvore que eu te havia proibido comer,
a terra será maldita por tua causa (Gn 3,17), etc.
151
INTERROGAÇÃO 47 Se convém calar
diante dos que pecam.
Resposta
Verifica-se pelos preceitos do Senhor que não convém; disse
ele no Antigo Testamento: Repreende publicamente o teu irmão,
para que não incorras em pecado por sua causa (Lv 19,17). No
Evangelho, porém: Se teu irmão tiver pecado contra ti, vai e
repreende-o entre ti e ele somente: se te ouvir, terás ganho teu
irmão. Se não te escutar, toma contigo uma ou duas pessoas, a fim
de que toda a questão se resolva pela decisão de duas ou três
testemunhas. Se recusa ouvi-los, dize-o à Igreja. E se recusar
também ouvir a Igreja, seja ele para ti como um pagão e um
publicano (Mt 18,15-17).
Depreende-se a gravidade da sentença desse pecado, primeiro
da palavra do Senhor, quando afirmou, em geral: Quem não crê
no Filho, não verá a vida, mas sobre ele pesa a ira de Deus (Jo
3,36). A seguir, das histórias narradas na Escritura, antiga e
nova.
Eis, por exemplo, quando Acan roubou o lingote de ouro e a
veste, a ira do Senhor recaiu sobre todo o povo, embora esse
ignorasse o autor do pecado e o próprio pecado, até que o acima
mencionado fosse descoberto e sofresse, com todos os seus,
aquela horrível ruína (Js 7,21-26).
Heli, ainda que não tivesse guardado silêncio para com seus
filhos, que eram pestilentos, mas freqüentemente os
admoestasse, dizendo: Não façais assim, meus filhos, não são boas
as informações que chegam a vosso respeito (ISm 2,24) e
ainda, com outras palavras, mostrasse o absurdo do pecado e sua
inevitável condenação, porque não os punira devidamente, nem
demonstrara a energia conveniente contra eles, de tal modo
exasperou a ira de Deus que o povo pereceu com os filhos, a
própria arca foi tomada pelos estrangeiros e ele mesmo teve um
fim miserável.
Se tamanha ira se inflamou contra aqueles que não estavam
cientes do autor do pecado e contra os que proibiram o pecado e
testemunharam contra ele, que se dirá dos que sabem, contudo
se calam? A não ser que façam o que
152
recomendou o Apóstolo aos coríntios com as seguintes palavras:
Nem tendes manifestado tristeza, para que seja tirado dentre
vós o que cometeu tal ação (ICor 5,2). Ele mesmo atesta como
os coríntios agiram a seguir, escrevendo: Vede, pois, que
disposições operou em vós a tristeza segundo Deus! Que digo
eu? Que escusas! Que indignação! Que temor! Que ardor! Que
zelo! Que severidade! Mostrastes em tudo que não tínheis culpa
neste assunto (2Cor 7,11).
Mesmo agora existe em geral o perigo para todos juntos de
serem sujeitos à mesma ruína, ou até mais grave, na medida em
que é pior do que aquele que despreza a lei de Moisés, quem
despreza o Senhor (Hb 10,29) e ousa cometer o mesmo pecado
que aquele que anteriormente pecou e foi condenado. Se Caim
será vingado sete vezes, Lamec, que cometeu pecado
semelhante, o será setenta vezes sete (Gn 4,24).
INTERROGAÇÃO 48 Como
se define a avareza?
Resposta
153
INTERROGAÇÃO 49 Que é
Resposta
INTERROGAÇÃO 50
Se alguém rejeita vestes mais preciosas, mas quer para si coisa
vulgar, um manto ou um calçado que lhe fique bem, peca? Ou de
que mal sofre?
Resposta
INTERROGAÇÃO 51
Que é raca? (Mt 5,32)
Resposta
INTERROGAÇÃO 52
O Apóstolo ora diz: Não sejamos ávidos de vangloria; ora: sem
servilismo, como para vos fazerdes bem vistos (Ef 6,6). Quem é
ávido da vangloria e quem é que busca o beneplácito dos homens?
154
Resposta
Julgo que é ávido de vanglória quem faz ou diz alguma coisa
tendo em vista uma frágil glória mundana, da parte de
espectadores ou de ouvintes. Busca o beneplácito dos homens,
quem faz alguma coisa, até mesmo ignominiosa, conforme o
arbítrio de outrem e no fito de lhe agradar.
INTERROGAÇÃO 53
Que é mancha da carne e nódoa do espírito e como delas nos
manteremos puros ou que é a santidade e como a alcançaremos?
Resposta
Mancha da carne é juntar-se àqueles que cometem o que é
proibido; nódoa do espírito, porém, é mostrar-se indiferente para
com os que assim pensam, ou agem. Mantém-se puro quem
obedece ao Apóstolo que dia (ICor 5,11) nem mesmo se dever
tomar alimento com tal homem e com quantos se lhe
assemelham; ou quando sente em si o que disse Davi: Revolto-
me à vista dos pecadores, que abandonam a vossa lei (SI 118,53) e
demonstra ter a tristeza de que ficaram possuídos os coríntios,
quando acusados de indiferença diante do pecador (2Cor 7,11),
e na verdade mostraram-se totalmente puros naquela questão.
A santidade, porém, é unir-se ao Deus santo, integralmente,
sem cessar, em todo o tempo, com diligência e solicitude pelas
coisas que lhe agradam. Pois coisa mutilada não é aceita como
dom sagrado e o que foi uma vez dedicado a Deus, seria ímpio e
intolerável reduzi-lo a um uso comum e humano.
INTERROGAÇÃO 54
155
odeia a sua vida neste mundo, conservá-la-á para a vida eterna (Jo
12,25). Egoísta é evidentemente quem se ama a si mesmo.
Reconhece-se a si mesmo como tal, se age por causa de si
mesmo, ainda quando de acordo com os mandamentos. Se, por
comodidade, omitir qualquer coisa de útil a um irmão, em
relação à alma ou ao corpo, mani- festa-se até aos outros que
está com o vício do egoísmo, cujo fim é a perdição.
INTERROGAÇÃO 55
Qual a diferença entre amargura, furor, ira e exasperação?
Resposta
INTERROGAÇÃO 56
Tendo proferido o Senhor que: Todo o que se exalta será
humilhado (Lc 18,44), e como preceituou o Apóstolo: Não te
ensoberbeças (Rm 11,20), e em outro lugar: Arrogantes, soberbos,
altivos (2Tm 3,2), e de novo: A caridade não se ensoberbece (ICor
13,4), quem é que se ensoberbece, quem o arrogante, quem o
orgulhoso, quem o presunçoso, quem o inchado?
Resposta
156
fariseu (Lc 18,11) e não se abaixa às coisas humildes. Merece
igualmente o nome de soberbo, como foram acusados os
coríntios.
Arrogante é quem não anda de acordo com as normas, nem
procura seguir a mesma regra e o mesmo modo de pensar, mas
traça o próprio caminho de justiça e de piedade.
Orgulhoso é quem se jacta do que possui e procura parecer
mais do que é.
Presunçoso talvez seja idêntico a orgulhoso, ou pouco difere,
segundo o dito do Apóstolo: É um homem orgulhoso, um
ignorante (lTm 6,4).
INTERROGAÇÃO 57
Se alguém tiver um vício incorrigível, depois de frequentemente
repreendido, deve ser batido ou é preferível ães- pedi-lo?
Resposta
INTERROGAÇÃO 58
Se é condenado apenas quem mentiu conscientemente ou se
também aquele que, por ignorância, afirmou absolutamente alguma
coisa contra a verdade.
157
Resposta
INTERROGAÇÃO 59
Se alguém planejar uma coisa e não a fizer, será condenado
como mentiroso?
Resposta
Se o que projetava fazer é preceituado, não só será condenado
enquanto mentiroso, mas ainda como contumaz, porque Deus
sonda os corações e os rins (SI 7,10).
INTERROGAÇÃO 60
Se alguém teve a idéia de fazer algo que desagradasse a
Deus, e decidiu fazê-lo, será melhor desistir do mau propósito
ou cometer pecado, por receio de se desmentir?
Resposta
Como diz o Apóstolo: Não que sejamos capazes por nós
mesmos de ter algum pensamento, como de nós mesmos (2Cor
3,5), e o próprio Senhor confessa que: Nada posso fazer de mim
mesmo (Jo 5,19) e: As palavras que eu vos digo não as digo de
mim mesmo (Jo 14,10), e em outro lugar: Desci do céu não para
fazer a minha vontade, mas a vontade daquele que enviou
(Jo 6,38), o Pai; portanto deve penitenciar-se, em primeiro lugar,
porque ousou decidir uma coisa qualquer por si mesmo, uma vez
que nem mesmo o bem deve ser feito por própria autoridade. Em
158
segundo lugar, sobretudo, porque não hesitou em decidir contra
o que agrada a Deus.
Vemos claramente que devemos voltar atrás, quando a
decisão deliberada vai contra o mandamento do Senhor, pelo
apóstolo Pedro que deliberadamente decidiu: Jamais lavarás
os pés (Jo 13,8.9), mas após o Senhor asseverar: Se eu não te
lavar, não terás parte comigo, logo mudou de opinião e disse:
Senhor, não somente os meus pés, mas também as mãos e a cabeça.
INTERROGAÇÃO 61
Se alguém não pode trabalhar, nem quer aprender os salmos, que
fazer dele?
Resposta
INTERROGAÇÃO 62
Que é preciso que alguém faça para ser condenado por ocultar o
talento?
Resposta
INTERROGAÇÃO 63
Que é preciso que alguém faça para ser condenado como os
murmuradores contra os últimos?
159
Resposta
INTERROGAÇÃO 64
Como Nosso Senhor Jesus Cristo disse: Mas, se alguém fizer cair
em pecado um destes pequenos, melhor fora que lhe atassem ao
pescoço a mó de um moinho e o lançassem no fundo do mar (Mt
18,6), que é escandalizar? E como nos acautelaremos a fim de não
sofrermos esta horrível condenação?
Resposta
160
vezes vem da malícia, outras da inexperiência deste ou daquele.
Por vezes, numa conversa sincera, evidencia-se a maldade dos
que se escandalizam; assim como nas ações.
Se alguém, pois, pratica o mandamento de Deus, ou usa
livremente do que está em seu poder, escandaliza-se quem se
escandalizar. Quando, porém, os homens se ofendem e se
escandalizam com o que é feito ou dito de acordo com o
mandamento (como no Evangelho alguns, acerca do que o
Senhor fazia ou dizia, segundo a vontade do Pai), então é bom
lembrar-se de que o Senhor, quando se aproximaram os
discípulos e disseram-lhe: Sabes que os fariseus se escandalizaram
destas palavras que ouviram? respondeu-lhes: Toda a planta que
meu Pai celeste não plantou, será arrancada pela raiz. Deixai-os;
são cegos e guias de cegos. Ora, se um cego conduz a outro,
tombarão ambos na mesma vala (Mt 15,12-14). Muitas coisas
semelhantes encontram- se nos Evangelhos e foram ditas pelo
Apóstolo.
Quando, porém, alguém se ofende ou se escandaliza por
coisas que estão em nosso poder, devem então vir à lembrança
as palavras do Senhor a Pedro: Os filhos, então, estão isentos. Mas
não convém escandalizá-los. Vai ao mar e lança o anzol, e ao
primeiro peixe que pegares, abrirás a boca e encontrarás um estáter.
Toma-o e dá-o por mim e por ti (Mt 17,25.26); e também estas
palavras que o Apóstolo escreveu aos coríntios: Jamais comerei
carne, para não escandalizar o meu irmão (ICor 8,13), e ainda:
Bom é não comer carne, nem beber vinho, nem outra coisa que para
teu irmão possa ser uma ocasião de queda (Rm 14,21), de
escândalo, de fraqueza. O preceito do Senhor mostra quão
terrível é, no que parece estar em nosso poder, desprezar o
irmão, que por isto se escandaliza; proíbe completamente
qualquer espécie de escândalo, dizendo: Guar- ãai-vos de
menosprezar um só destes pequenos! Porque eu vos digo que seus
anjos no céu contemplam sem cessar a face de meu Pai que está nos
céus (Mt 18,10).
O Apóstolo também o atesta, dizendo: Cuidai em não pôr um
tropeço diante de vosso irmão ou dar-lhe uma ocasião de queda (Rm
14,13); ou reprime com maior veemência e palavras mais
abundantes este absurdo, dizendo: Se alguém te vê a ti, que és
esclarecido, sentado à mesa no templo dos ídolos, não se sentirá ele
em sua consciência
161
fraca autorizado a comer do sacrifício aos ídolos? Assim a tua
consciência fará cair o fraco, um irmão pelo qual morreu Cristo
(ICor 8,10.11). E acrescentou: Assim, pecando vós contra os
irmãos e ferindo a sua débil consciência, pecais contra Cristo. Pelo
que, se a comida serve de ocasião de queda a meu irmão, jamais
comerei carne, para não ser para o meu irmão uma ocasião de
queda (ibid. 12.13). Em outro lugar diz: Ou só eu e Barnabé não
temos direito de deixar o trabalho? (ICor 9,6), e acrescenta a
seguir: Não temos feito uso deste direito; sofremos tudo para não
pôr algum obstáculo ao Evangelho de Cristo (ibid. 12).
Se foi demonstrado como é terrível nas coisas que dependem
de nós escandalizar um irmão, que dizer dos que escandalizam
fazendo ou falando coisas proibidas? Principalmente, quando o
que dá escândalo parece ter uma ciência mais vasta ou está
estabelecido num grau sacerdotal. Deverá então estar à frente
dos outros como regra e modelo; se negligenciar o mínimo que
seja do que está escrito ou fizer uma coisa proibida, ou omitir
algum preceito, ou, em resumo, deixar passar em silêncio
quaisquer coisas destas, é o bastante para ser severamente
julgado, de modo que do sangue do que pecou, como foi dito,
ser- lhe-á pedida conta (Ez 3,18).
INTERROGAÇÃO 65
Como alguém injustamente detém a verdade?
Resposta
Quando abusa dos bens dados por Deus para realizar suas
próprias vontades. Desaprova-o o Apóstolo, dizendo: Não
somos, como tantos outros, falsificadores da palavra de Deus (2Cor
2,17). E ainda: Nunca usamos de adulação, como sabeis, nem
fomos levados por interesse algum. Não buscamos glórias humanas,
nem de vós nem de outros (lTs 2,5.6).
162
INTERROGAÇÃO 66
Resposta
INTERROGAÇÃO 67
Que é imunãície e que é impureza?
Resposta
INTERROGAÇÃO 68
Que é próprio do furor ou da justa indignação? Como é que,
frequentemente, começando pela indignação, encontramo-nos
enfurecidos?
163
Resposta
INTERROGAÇÃO 69
Como agir com aquele que não come menos que os outros, nem
consta estar inválido ou doente, mas se queixa de falta de forças
para o trabalho?
Resposta
INTERROGAÇÃO 70
Como deve ser tratado o que faz mau uso das vestes e dos
calçados; se for repreendido, suspeita-se haver em quem o
repreende parcimônia ou murmuração. Que convém fazer- lhe, se,
depois da segunda e terceira aãmoestação justa, continuar do
mesmo modo?
164
Resposta
INTERROGAÇÃO 71
Há alguns que procuram mais o sabor dos alimentos do que a
quantidade; outros, porém, mais a quantidade do que o sabor, a fim
de se saciarem. Como proceder para com ambos?
Resposta
INTERROGAÇÃO 72
Se alguém, ao tomar a refeição em comunidade, se comportar
sem polidez, comendo e bebendo vorazmente, deve ser repreendido?
Resposta
165
sa; mas ainda assim, evite-se cuidadosamente o que possa
causar má impressão.
INTERROGAÇÃO 73
Como deve ser corrigido quem repreender um delinquente não
pelo desejo de correção fraterna, mas com sentimento de vingança,
se, muitas vezes admoestado, persistir no mesmo vício?
Resposta
INTERROGAÇÃO 74
Devem ser separados dos demais os que se apartam da
comunidade e querem viver uma vida solitária, ou seguir, na
companhia de poucos, o mesmo escopo de piedade? Desejamos
saber o que ensina a Escritura.
Resposta
166
INTERROGAÇÃO 75
Resposta
De modo geral, penso que, por si mesmo, satanás não pode
ser a causa de pecado de outrem; ora aproveita os movimentos
naturais, ora as paixões proibidas, e por elas tenta induzir os que
não são vigilantes aos efeitos peculiares dos vícios. Usa dos
movimentos naturais, como tentou fazer em relação ao Senhor,
ao notar que estava faminto, dizendo: Se és o Filho de Deus,
ordena que estas pedras se tornem pães (Mt 4,3). Emprega os
afetos proibidos, como o fez com Judas; porque, percebendo que
sofria da afeição da avareza, aproveitou-se desta paixão e
instigou o avarento ao crime da traição, por meio de trinta
moedas de prata.
Mostra claramente o Senhor que também os males procedem
de nós mesmos: É do coração que provêm os maus pensamentos
(Mt 15,19). É o que acontece àqueles que, por descuido, deixam
incultas as boas sementes naturais, conforme foi dito nos
Provérbios: Como um campo, o homem insensato, e como uma
vinha, o homem estulto. Se o deixares, tornar-se-á um deserto e
encher-se-á de urtigas e ficará abandonado (Pr 24,30.31, juxta
LXX). A alma que, por tal incúria, permanece inculta e
abandonada, inevitavelmente produzirá espinhos e abrolhos e
sofrerá o que foi dito: Eu esperava vê-la produzir uvas, ela não deu
senão uvas verdes (Is 5,4). Dela foi dito anteriormente: Eu plantei
uma vinha de Sorec (ibid. 2), isto é, eleita. Coisa semelhante
acha-se em Jeremias, que fala em nome de Deus: Eu que te havia
plantado de vides escolhidas, todas de boa cepa; como te
transformaste em sarmentos bastardos de uma videira estranha (Jr
2,22)?
167
INTERROGAÇÃO 76 Se é lícito
mentir por utilidade.
Resposta
INTERROGAÇÃO 77
Que é dolo, e que é maligniãade?
Resposta
INTERROGAÇÃO 78 Quem é
inventor de maldades?
Resposta
INTERROGAÇÃO 79
Como corrigir alguém que é com frequência surpreendido a
tratar com dureza um irmão?
168
Resposta
INTERROGAÇÃO 80
Por que, de certo modo, faltam a nossa mente bons pensamentos
e cuidados agradáveis a Deus, e como evitaremos isto?
Resposta
169
que ilumina, e sim, que dormita aquele que deve ser iluminado.
INTERROGAÇÃO 81
Se devem de igual modo ser repreendidos os piedosos e os
indiferentes, quando ambos forem surpreendidos no mesmo pecado.
Resposta
170
É bom saber também que, muitas vezes, os piedosos pecam
por dispensação divina, para seu bem: Deus permite, por vezes,
que caiam para curar a soberba anterior, à semelhança do que foi
predito a Pedro e, de fato, lhe sucedeu.
INTERROGAÇÃO 82
Está escrito: As anciãs como a mães (lTm 5,2). Se acontecer que
uma anciã cometa o mesmo pecado que uma jovem, devem sofrer
igual castigo?
Resposta
INTERROGAÇÃO 83
Se alguém, tendo praticado assiduamente o bem, cair uma ves,
como o trataremos?
Resposta
171
INTERROGAÇÃO 84
Resposta
INTERROGAÇÃO 85
Se convém ter algo de próprio na comunidade.
Resposta
INTERROGAÇÃO 86
Se alguém disser: Nada recebo da comunidade dos irmãos, nem
dou, mas contento-me com o que é meu, como agir com ele?
Resposta
172
obedeçamos nós ao Apóstolo que disse: Seja tirado dentre vós o
que cometeu tal ação (ICor 5,2), para não suceder que um pouco
de fermento levede a massa toda (G1 5,9).
INTERROGAÇÃO 87
Se é lícito a cada um dar a quem quiser o manto velho ou os
sapatos, segundo o mandamento.
Resposta
INTERROGAÇÃO 88
Que é a solicitude desta vida?
Resposta
INTERROGAÇÃO 89
Já que está escrito: A riqueza de um homem é o resgate de sua
vida (Pr 13,8), nós que as não possuímos, o que faremos?
Resposta
173
isto, que dissera: Eis que deixamos tudo para te seguir. Que haverá
então para nós? (Mt 19,27). Ele lhe respondeu: Todo aquele que
por minha causa deixar casa, irmãos, irmãs, pai, mãe, mulher,
filhos, terras, receberá o cêntuplo e possuirá a vida eterna (ibid. 29).
Se não o praticamos por incúria, agora mostremos zelo. Se não
temos mais nem tempo, nem forças, console-nos o Apóstolo ao
dizer: Não busco os vossos bens, mas, sim, a vós mesmos (2Cor
12,14).
INTERROGAÇÃO 90
Se é lícito ter uma veste para a noite, quer de pêlos, quer de outra
espécie.
Resposta
INTERROGAÇÃO 91
Se a um irmão, que nada possui de próprio, for pedido aquilo que
usa, o que fazer, principalmente se estiver nu o pedinte?
Resposta
174
INTERROGAÇÃO 92
Resposta
INTERROGAÇÃO 93
Com que espírito aquele que renunciou já a seus bens e prometeu
nada ter de próprio, deve usar do necessário para viver, como a
roupa e o alimento?
Resposta
175
seu alimento, o qual não esteja a seu arbítrio, mas seja
distribuído pelo encarregado, em tempo e medida oportunos,
segundo está escrito: Repartia-se, então, a cada um deles conforme
a sua necessidade (At 4,35).
INTERROGAÇÃO 94
Se alguém, tendo impostos a pagar, entrar na comunidade, e seus
parentes forem importunados pelos cobradores, há motivo de dúvida
ou de prejuízo para ele, ou para os que o receberam?
Resposta
INTERROGAÇÃO 95
Se convém aos recém-vindos aprender imeãiatamente as palavras
das Escrituras.
Resposta
176
INTERROGAÇÃO 96
Resposta
INTERROGAÇÃO 97
Se alguém disser: Quero por pouco tempo aproveitar-me de vossa
companhia, deve ser recebido?
Resposta
Tendo dito o Senhor: O que vier a mim, não o lançarei fora (Jo
6,37) e afirmado o Apóstolo: Mas, por causa dos falsos irmãos
intrusos, que furtivamente se introduziram entre nós para espionar a
liberdade de que gozamos em Cristo Jesus, a fim de nos escravizar.
Aos quais nem só uma hora quisemos estar sujeitos, para que
permaneça entre vós a verdade do Evangelho (G1 2,4.5), é
conveniente permitir o ingresso, mesmo por ser incerto o
resultado; muitas vezes, tendo aproveitado por algum tempo,
aceita de uma vez para sempre a nossa vida, como
freqüentemente aconteceu. Também serve para manifestação da
disciplina que mantemos e que talvez se suspeite ser bem
diferente. É necessário observar diante dele a disciplina mais
rigorosa, para se manifestar a verdade e afastar qualquer suspeita
de negligência. Assim, nós agradaremos a Deus e ele ou terá pro-
veito ou será confundido.
177
INTERROGAÇÃO 98
Resposta
Para com Deus, seja como servo de Cristo e dispensa- dor dos
mistérios de Deus (cf. ICor 4,1), receando dizer ou instituir algo
contra a vontade de Deus, atestada na Escritura, porque do
contrário se apresentaria como testemunha falsa de Deus e
sacrílego, introduzindo alguma coisa oposta ao ensinamento do
Senhor, ou omitindo algo do que agrada a Deus. Para com os
irmãos, qual mãe que com ternura cuida dos filhos (lTs 2,7),
desejosa de entregar a cada um, para aprazer a Deus, e em vista
do bem de todos em comum, não só o evangelho de Deus, mas a
própria vida, segundo o mandamento de nosso Deus e Senhor
Jesus Cristo, que disse: Dou-vos um mandamento novo. Como eu
vos tenho amado, assim vós deveis amar-vos uns aos outros (Jo
13,14). Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida por
seus amigos (Jo 15,13).
INTERROGAÇÃO 99
Com que disposição deve alguém repreender?
Resposta
Para com Deus, tenha a mesma que teve Davi, quando disse:
Vi os prevaricadores e consumia-me, porque eles não observam a
vossa palavra (SI 118,158). Para com os repreendidos, tenha o
ânimo de um pai e de um médico, que cura o filho com perícia,
unindo a misericórdia à comiseração. Principalmente, se causar
dor e o tratamento for penoso.
178
INTERROGAÇÃO 100
Resposta
Como o Senhor afirmou não ser bom tirar o pão dos filhos e
lançá-lo aos cães, e contudo aprovou a palavra: Mas os
cachorrinhos ao menos comem as migalhas que caem da mesa de
seus donos (Mt 15,27), o encarregado de distribuir, após ter sido
experimentado, faça-o. Todo aquele que o fizer fora deste
parecer, seja repreendido como transgressor da disciplina, para
que aprenda a manter-se em seu lugar, segundo a palavra do
Apóstolo: Cada um, irmãos, permaneça na condição em que estava
quando Deus o chamou (ICor 7,24).
INTERROGAÇÃO 101
Deverá o encarregado da dispensação das ofertas a Deus cumprir
a palavra: Dá a todo o que te pedir e ao que te tomar o que é teu,
não Iho reclames (Lc 6,30)?
Resposta
179
INTERROGAÇÃO 102
Resposta
Se o Senhor disse: O que vier a mim, não o lançarei fora (Jo 6,37),
e:Não são os que estão bem os que precisam de médico, mas sim os
doentes (Mt 9,12) e em outra parte: Quem de vós que, tendo cem
ovelhas e perdendo uma delas, não deixa as noventa e nove e vai em
busca da que se havia perdido, até encontrá-la (Mt 18,19). De todos
os modos deve-se curar o enfermo e com zelo tratar do membro luxado,
como se diz, para que volte ao lugar. Se perseverar em seu vício, seja
qual for, deve ser despedido como um estranho. Está escrito: Toda a
planta que meu Pai celeste não plantou, será arrancada pela raiz.
Deixai-os. São cegos (Mt 15,13.14).
INTERROGAÇÃO 103
Resposta
A este respeito foi dito o bastante na resposta mais extensa.
INTERROGAÇÃO 104
180
Resposta
Se cada um aprendeu a propor aos outros o que pensa, quanto
mais devem tais coisas ser feitas com a aprovação daqueles que
são capazes de julgar! Por isso, a administração das coisas de
Deus, segundo Deus, seja confiada àqueles que já deram provas
de poderem exercer o ofício que lhes foi entregue, de modo
agradável ao Senhor. Em suma, é necessário que o superior em
todos os negócios se lembre da Sagrada Escritura, que diz: Nada
façais sem conselheiro (Eclo 32,24).
INTERROGAÇÃO 105
Se devem os recém-vindos para a comunidade aprender logo
os ofícios.
Resposta
Julguem os superiores.
INTERROGAÇÃO 106
Que penas serão usadas na comunidade em vista da con-
versão dos pecadores?
Resposta
Depende do juízo do superior o tempo e o modo, de acordo
com o vigor do corpo, a disposição da alma e a diferença dos
pecados.
INTERROGAÇÃO 107
Se alguém disser que deseja viver na comunidade dos irmãos,
mas, devido aos cuidados com os parentes carnais,
181
ou por causa dos tributos, estiver muitas vezes impedido de se
entregar de uma vez a esta vida, deve ser-lhe permitido o acesso
junto dos irmãos?
Resposta
É perigoso cortar um bom desejo; não é seguro, contudo, dar
ao que entrou oportunidade de tratar de coisas externas e alheias
à vida segundo Deus. Se o que entrou entregar-se às obras
internas e nada trouxer das de fora, dá melhores esperanças.
INTERROGAÇÃO 108
Se convém que o superior, na ausência da superiora, fale com
uma irmã do que se refere à edificação da fé.
Resposta
Seria inobservância do preceito do Apóstolo, que diz: Faça-se
tudo com decência e ordem (ICor 14,40).
INTERROGAÇÃO 109
Se convém que o superior fale com frequência com a superiora,
principalmente se alguns dos irmãos se aborrecem com isto.
Resposta
Tendo dito o Apóstolo: Por que razão seria julgada a minha
liberdade pela consciência alheia? (ICor 10,29) é bom imitá-lo,
quando diz: Não temos feito uso deste direito, para não pôr
obstáculo algum ao Evangelho de Cristo (ICor 9,12), e na medida
do possível, os colóquios sejam raros e breves.
182
INTERROGAÇÃO 110
Resposta
INTERROGAÇÃO 111
Resposta
E muito.
INTERROGAÇÃO 112
Resposta
INTERROGAÇÃO 113
183
des como criancinhas (Mt 18,3), visto ter relação com muitas e
diferentes pessoas.
Resposta
INTERROGAÇÃO 114
Se é dever obedecer a todos os que dão ordens e a qualquer um
deles, porque o Senhor ordenou: Se alguém vem obrigar-te a andar
mil passos com ele, vai com ele dois mil (Mt 5,41) e c Apóstolo
ensinou a nos sujeitarmos uns aos outros, no temor de Cristo (Ef
5,21)
Resposta
184
com ele e como que o reforçam) é preciso lembrar-se do
Apóstolo que diz: Não desprezeis as profecias. Examinai tudo.
Retende o que for bom. Guardai-vos de toda a espécie de mal (lTs
5,20-22). E ainda: Nós aniquilamos todo o raciocínio e toda a
altivez que se levanta contra o conhecimento de Deus e cativamos
todo o pensamento e o reduzimos à obediência a Cristo (2Cor
10,4.5). Por isto, se alguma coisa nos é ordenada que coincida
com o mandamento do Senhor, ou concorde com ele, devemos
recebê-la zelosa e diligentemente, como vontade de Deus,
cumprindo o que foi dito: Suportai-vos caridosamente uns aos
outros (Ef 4,2). Quando, porém, nos é prescrito algo de contrário
ao mandamento do Senhor, ou que o destrua, ou manche, é o
momento de dizermos: Importa obedecer mais a Deus do que aos
homens (At 5,29), lembrados do Senhor, que disse: Mas não
seguem o estranho, antes fogem dele, porque não conhecem a voz
dos estranhos (Jo 10,5), e do Apóstolo que ousou, para nossa
segurança, referir-se aos anjos, dizendo: Mas, ainda que alguém
nós ou um anjo baixado do céu vos anunciasse um evangelho
diferente do que vos temos anunciado, que ele seja rejeitado (G1
1,8). Daí deduzimos que, por mais próximo ou por mais ilustre
que for, quem proíba aquilo que o Senhor ordenou, ou persuada
a fazer o que ele proibiu, deve ser evitado a execrado por
qualquer um dos que amam o Senhor.
Resposta
185
"
INTERROGAÇÃO 116
Resposta
INTERROGAÇÃO 117
De que vício sofre quem não aceita receber ordens diárias para a
realização de um mandamento, mas quer aprender um ofício? Deve
ser tolerado?
Resposta
INTERROGAÇÃO 118
Qual será a recompensa de quem é zeloso em cumprir o
mandamento, mas não faz aquilo que lhe é ordenado e sim o que
quer?
Resposta
186
sua edificação (Rm 15,2), e mais ainda nos convida, acres-
centando: Cristo não se comprazeu em si mesmo (ibid. 3), conheça
o autocomplacente o perigo em que incorre. Será também
convencido de ser insubordinado.
INTERROGAÇÃO 119
Se é lícito a alguém recusar o trabalho que lhe é confiado e
procurar outro.
Resposta
Como a medida da obediência, conforme já foi dito, vai até à
morte, quem recusa o que lhe é entregue e procura outro
trabalho, primeiro destrói a obediência e manifesta não ter
renunciado a si mesmo; segundo, torna-se causa de muitos
outros males para si e para os demais. Além disso, abre a porta
da contradição para os outros e acostuma-se à mesma. Uma vez:
que não pode cada um julgar o que é bom para si, escolhe
muitas vezes um serviço que lhe é prejudicial. Também desperta
suspeitas entre os irmãos de que é mais propenso ao trabalho
que escolhe do que àqueles nos quais deve colaborar.
Em suma, desobedecer torna-se a raiz de muitos e grandes
males. Se julga ter uma razão para recusar o trabalho, declare-a
aos superiores e deixe a questão a seu juízo.
INTERROGAÇÃO 120
Se convém sair para algum lugar, sem avisar ao superior.
Resposta
O Senhor diz: Não vim de mim mesmo, mas (é verdadeiro)
aquele que enviou (Jo 7,28). Quanto maior razão não temos
de não nos permitirmos agir assim? Quem toma essa liberdade,
mostra claramente que sofre de soberba e
187
está sujeito ao juízo do Senhor, que disse: O que é elevado aos
olhos dos homens é abominável aos olhos de Deus (Lc 16,15). Em
resumo, é culpada qualquer concessão a si mesmo.
INTERROGAÇÃO 121
Se é lícito recusar os trabalhos mais pesados.
Resposta
Quem ama a Deus com sinceridade e está firmemente
convicto da retribuição que Deus dará, não se satisfaz com o que
advém, mas sempre procura acréscimo e deseja fazer mais.
Mesmo que pareça fazer um pouco além das suas forças, não
fica tranqüilo, como quem houvesse preenchido a medida; está
sempre solícito, como se tivesse feito menos do que seria
conveniente, atendendo à ordem do Senhor: Depois de terdes feito
tudo o que vos foi ordenado, dizei: Somos servos inúteis; fizemos o
que devíamos fazer (Lc
17,10) e ao Apóstolo, para o qual o mundo estava crucificado e
ele para o mundo (G1 6,14) e que não se corou de dizer: Não
penso havê-lo já alcançado, mas uma coisa faço: esquecendo-me do
que fica para trás e avançando para o que está adiante, prossigo em
direção do alvo, para obter o prêmio da soberana vocação de Deus
em Cristo Jesus (F1 3,13.14). Tendo ele o direito de viver do
Evangelho, pois anunciava o Evangelho (ICor 9,14), disse: Com
trabalho e fadiga, labutamos noite e dia. Não porque não tivéssemos
o direito, mas para vos oferecer em nós mesmos um modelo a imitar
(2Ts 3,8.9). Quem será, pois, tão insensível e incrédulo que lhe
baste o que já fez, ou recuse o .mais pesado ou laborioso?
INTERROGAÇÃO 122
Deve-se permitir a recusa da eulógia a alguém que disser: Se não
receber a eulógia não como?
188
Resposta
INTERROGAÇÃO 123
Se alguém se entristece porque não lhe permitem fazer aquilo
que não é capaz de fazer, isto deve ser tolerado?
Resposta
INTERROGAÇÃO 124
Se deve alguém que se encontrou com hereges ou gentios comer
com eles ou saudá-los.
Resposta
189
1
INTERROGAÇÃO 125
Se alguém a quem foi confiado um trabalho e sem avisar fizer
algo aquém da ordem ou além do prescrito, deve ser mantido no
trabalho?
Resposta
INTERROGAÇÃO 126
Como não se deixar vencer pelo gosto de comer?
Resposta
INTERROGAÇÃO 127
Dizem alguns ser impossível ao homem não se irar.
190
Resposta
INTERROGAÇÃO 128
Se é lícito permitir a quem quiser fazer abstinência além de suas
forças, de modo a ficar tolhido de praticar o mandamento que lhe é
proposto.
Resposta
INTERROGAÇÃO 129
Se alguém jejua muito e por isso não pode tomar dos alimentos
da mesa comum, o que será melhor? Jejuar com os irmãos e comer
com eles, ou por causa do jejum imo- ãeraão ter necessidade de
outros alimentos, na refeição?
Resposta
191
os Atos dos Apóstolos e aprendemos de Davi, o eleito (At
13,2.3; SI 34,13). Se alguém jejua deste modo, também estará
em condições de fazê-lo, porque fiel é o que fez a promessa (Hb
10,23).
INTERROGAÇÃO 130
Como se deve jejuar, quando for preciso jejuar por motivo de
piedade? Por obrigação? Ou de boa vontade?
Resposta
INTERROGAÇÃO 131
Faz bem quem não toma alimentos quando os irmãos comem,
mas procura outros?
Resposta
192
INTERROGAÇÃO 132
Que pensar de quem diz: Isto faz mal, e se contrista se não lhe
derem outra coisa?
Resposta
INTERROGAÇÃO 133
Se alguém murmurar por causa da comida.
Resposta
INTERROGAÇÃO 134
Se alguém, irado, se recusar a tomar o necessário.
Resposta
INTERROGAÇÃO 135
Se convém, ao que faz um trabalho cansativo, procurar mais
alguma coisa, além do que costuma receber.
193
Resposta
INTERROGAÇÃO 136
Se é de obrigação reunirem-se todos à hora do almoço; e como
receberemos o que estiver ausente e chegar depois do almoço?
Resposta
INTERROGAÇÃO 137
Se é bom que alguém decida, por exemplo, por algum tempo,
abster-se de alguma coisa na comida ou na bebida.
Resposta
INTERROGAÇÃO 138
Se na comunidade será lícito a alguém jejuar ou fazer vigílias
mais do que os outros, a seu arbítrio.
Resposta
195
1
INTERROGAÇÃO 139
Resposta
INTERROGAÇÃO 140
Se alguém não se abstiver dos alimentos que lhe fazem mal e,
ingerindo-os fartamente, cair doente, deve ser tratado?
Resposta
196
Se virmos que alguém aprende prudentemente durante o
tratamento do corpo e cuida da alma, mergulhada no vício,
empreguem-se os socorros corporais. Se houver convicção de
que, cuidando do corpo, descuida-se da alma, é melhor deixar
com suas dores aquele que as sofre devido à própria
intemperança, porque talvez, com o tempo, obtendo o
conhecimento de si mesmo e dos suplícios eternos, possa prover
ao bem de sua alma. Mas, senão julgados pelo Senhor, ele nos
castiga para não sermos condenados com este mundo (ICor 11,32).
INTERROGAÇÃO 141
Se convém nas oficinas encontrarem-se hóspedes, ou alguns de
casa, que saiam de seu lugar.
Resposta
INTERROGAÇÃO 142
Se os artífices devem receber alguma encomenda, sem o
conhecimento do responsável por estes trabalhos.
Resposta
197
1
INTERROGAÇÃO 143
Resposta
INTERROGAÇÃO 144
Se alguém perder alguma coisa por descuido, ou abusar,
desprezando-a.
Resposta
INTERROGAÇÃO 145
Se alguém, por própria conta, der ou receber uma coisa
emprestada.
Resposta
INTERROGAÇÃO 146
Se por urgente necessidade o prepósito lhe pedir um instrumento,
mas ele negar.
198
Resposta
INTERROGAÇÃO 147
Quem estiver ocupado no celeiro, na cozinha, ou em coisa
semelhante, se não se apresentar no tempo da salmo- áia e da
oração, sofrerá detrimento espiritual?
Resposta
INTERROGAÇÃO 148
Até onde vai a faculdade de administrar do responsável pelo
celeiro?
Resposta
199
posso fazer coisa alguma (Jo 5,30); quanto aos que foram
confiados a seus cuidados, considere a necessidade de cada um.
Pois está escrito: Repartia-se a cada um deles, conforme a sua
necessidade (At 4,35). O mesmo seja observado por todos os
encarregados de funções semelhantes.
INTERROGAÇÃO 149
Qual a sentença do ecônomo que fizer algo por acepção de
pessoas ou por contestação?
Resposta
INTERROGAÇÃO 150
Se por negligência não der a um irmão o necessário.
Resposta
200
INTERROGAÇÃO 151
Resposta
INTERROGAÇÃO 152
Se alguém, chegado o seu turno de servir na cozinha, trabalhar
acima de suas forças, de modo que por uns dias fique
impossibilitado de trabalhar como de ordinário, convém impor-lhe
este ofício?
Resposta
INTERROGAÇÃO 153
Como a encarregada das lãs guardá-las-á, e de que maneira
atenderá às que trabalham?
201
J
Resposta
INTERROGAÇÃO 154
Se forem poucos os irmãos e servirem a muitas irmãs, de modo
que precisem separar-se, distribuindo-se o trabalho, haverá perigo?
Resposta
INTERROGAÇÃO 155
Aprendemos que devemos servir aos doentes no hospital como a
irmãos do Senhor; se tal não for aquele que é servido, como tratá-lo?
Resposta
O Senhor disse: Todo aquele que faz a vontade de meu Pai que
está nos céus, este é meu irmão e minha irmã e minha mãe (Mt
12,50). Se alguém não for um destes, e sim convencido de ser
pecador, merecedor daquela sentença: Todo o homem que se
entrega ao pecado, é seu escravo (Jo
8,34) , primeiro precisa de admoestação e advertência do
superior. Se persistir nos mesmos vícios, evidencia-se recair
sobre ele a sentença do Senhor que acrescenta: O escravo
202
não fica na casa para sempre (ibid. 35) e a do Apóstolo que
preceitua: Tirai o perverso do vosso meio (ICor 5,13). Assim não
haverá hesitação para os que servem e todos os que vivem juntos
sentir-se-ão em segurança.
INTERROGAÇÃO 156
Se o encarregado do celeiro ou de ofício semelhante deve ser
mantido, ou será bom trocar.
Resposta
INTERROGAÇÃO 157
Com que atitude se deve servir a Deus; e o que é, em resumo, esta
atitude?
Resposta
203
Seja Deus servido com tal disposição de ânimo que se realize
a palavra do Apóstolo: Quem nos separará do amor de Cristo?
Tributação? Angústia? Perseguição? Fome? Nudez? Perigo?
Espada? etc. (Rm 8,35).
INTERROGAÇÃO 158
Com que atitude deve ser recebida uma punição?
Resposta
INTERROGAÇÃO 159
Resposta
Não conhece o perigo do pecado, principalmente em relação
a Deus, nem a vantagem da penitência, e não acredita naquele
que disse: Quem ama, castiga (Pr 13,24) e não obtém o lucro
ambicionado por aquele que disse: Se o justo bate, é um favor.
Se ele repreende... (SI 140,5). Toma-se também prejudicial à
comunidade, levando os empenhados na luta a desanimarem.
INTERROGAÇÃO 160
Com que atitude devemos servir aos irmãos?
Resposta
204
irmãos mais pequeninos, foi a mim mesmo que o fizestes (Mt
25,40). Se forem assim aqueles que recebem estas atenções, esta
atitude é facilitada. Por isso, os superiores devem zelosamente
cuidar que eles não sejam escravos da gula e dos prazeres, como
os que lisonjeiam o corpo; mas como amigos de Deus e de
Cristo, pela paciência perfeita, à semelhança do justo Jó,
tomem-se uma glorificação do Senhor, para ignomínia do diabo.
INTERROGAÇÃO 161
Com que humildade se receberá um serviço da parte de um
irmão?
Resposta
INTERROGAÇÃO 162
Como há de ser a caridade para com os outros?
Resposta
205
INTERROGAÇÃO 163
1
De que modo exercerá alguém a caridade para com o próximo?
Resposta
INTERROGAÇÃO 164
Que quer dizer: Não julgueis e não sereis julgados (Lc 6,37)?
Resposta
206
não proíbe inteiramente o juízo, mas nos ensina a diferença entre
os juízos. O Apóstolo claramente nos ensinou o que convém
julgar, e o que não. Quanto ao que está em poder de cada um e
não foi prescrito na Escritura, diz: Por que julgas o teu irmão?
(Rm 14,10 e ainda: Cessemos, pois, de julgar uns aos outros (ibid.
13). Relativamente ao que desagrada a Deus, o Apóstolo condena
os que não julgam e apresenta-lhes o seu próprio juízo: Pois eu,
em verdade, ainda que ausente com o corvo, mas presente em
espírito, já tenho julgado, como se estivesse presente, aquele que
assim se comportou. Em nome de Nosso Senhor Jesus Cristo
reunidos vós e o meu espírito com o poder de Nosso Senhor Jesus
seja este homem entregue a Satanás, para a destruição de seu corpo,
a fim de que a sua alma seja salva no dia de Nosso Senhor Jesus
Cristo (ICor 5,3-5).
Se alguma coisa está ao nosso arbítrio, ou, por vezes, é
incerta, não devemos por isto julgar o irmão, segundo o que o
Apóstolo diz a respeito do que se ignora: Não julgueis antes do
tempo; esperai que venha o Senhor. Ele porá às claras o que se acha
escondido nas trevas. Ele manifestará as intenções dos corações
(ICor 4,5). É de absoluta necessidade defender os juízos de Deus,
para não ficar sujeito à ira de Deus aquele que se cala; a não ser
que alguém, por fazer o mesmo que censura no outro, não tenha
coragem de julgar o irmão, ouvindo o Senhor que diz: Tira
primeiro a trave do teu olho e assim verás para tirar a palha do
olho de irmão (Mt 7,5).
INTERROGAÇÃO 165
Como pode alguém saber se é por zelo de Deus que se comove
contra o irmão que pecou, ou por ira?
Resposta
207
o zelo de Deus. Mas também aqui é necessária uma hábil
prudência, para a edificação da fé. Se não houver previamente
esta disposição que mova o ânimo, suas reações serão desiguais
e não se observará o escopo da piedade.
INTERROGAÇÃO 166
Com que atitude se deve ouvir quem insiste na prática do
mandamento?
Resposta
INTERROGAÇÃO 167
Como há de ser a alma que for considerada digna de se ocupar
na obra de Deus?
Resposta
Como aquela que dizia: Quem sou eu, ó meu Senhor, e que
casa é a minha, para amares? (2Sm 7,18, nos LXX). Realiza
o que foi escrito: Rendei graças ao Pai, que nos fez idôneos de
participar da herança dos santos na luz. Ele nos arrancou do poder
das trevas e nos transferiu para o reino de seu Filho muito amado
(Cl 1,12.13).
208
INTERROGAÇÃO 168
Resposta
Se for maior ou menor em tamanho, declare com a devida
moderação, a sua necessidade. Se, porém, desagrada- lhe pela má
qualidade ou porque não é novo, lembre-se do Senhor que disse:
O operário, não simplesmente qualquer um, merece o seu sustento
(Mt 10,10). Interrogue-se a si mesmo se fez alguma coisa à altura
dos mandamentos do Senhor, ou de suas promessas, e então não
reclamará coisa alguma, mas se perturbará com o que lhe é dado,
julgando receber além do que merece. Como regra, em relação a
todas as necessidades corporais, sirva o que foi dito acerca da
alimentação.
INTERROGAÇÃO 169
Como se portará um irmão mais jovem a quem for ordenado dar
alguma instrução a um mais velho em idade?
Resposta
Como um ministério ordenado pelo Senhor Deus, receando
incorrer na condenação daquele que disse: Maldito aquele que faz
com negligência a obra do Senhor (Jr 48,10) e ainda precavendo-
se para não acontecer que, orgulhando-se, caia na mesma
condenação do demônio (lTm 3,6).
INTERROGAÇÃO 170
Se devem ser tidos na mesma conta os que procedem melhor e os
que agem menos bem.
Resposta
Julgo razoável observar a respeito deles todos o que o Senhor
determinou sobre a remissão dos pecados, quando
209
disse: Seus numerosos pecados lhe foram perdoados, porque ela
tem demonstrado muito amor. Mas ao que pouco se perdoa, pouco
ama (Lc 7,47) e o que o Apóstolo instituiu acerca dos
presbíteros: Os presbíteros que cumprem bem a sua função são
dignos de dupla remuneração, principalmente os que trabalham na
pregação e no ensino (lTm 5,17). Assim, a meu ver, deve-se agir
em todos os casos semelhantes.
INTERROGAÇÃO 171
Como trataremos um inferior que se contrista porque lhe é
preferido outro mais piedoso?
Resposta
INTERROGAÇÃO 172
Com que temor, convicção e atitude receberemos o corpo e o
sangue de Cristo?
Resposta
210
meiro a glória do Verbo e acrescenta o modo da encarnação,
com as palavras: E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, e
vimos a sua glória, a glória que um Filho único recebeu do seu Pai,
cheio de graça e de verdade (Jo 1,14), e do Apóstolo, que
escreveu: Sendo ele de condição divina, não se prevaleceu de sua
igualdade com Deus, mas aniquilou- se a si mesmo, assumindo a
condição de escravo e assemelhando-se aos homens. E senão
exteriormente reconhecido como homem, humilhou-se a si mesmo,
tornando-se obediente até à morte, e morte de cruz (PI 2,6-8).
Quando a alma acredita nestas palavras e em pessoas tais e
tão importantes, aprende a majestade da glória e admira-se do
excesso da humildade e da obediência, porque ele, tão grande,
obedeceu ao Pai até à morte, para nossa vida; julgo que tomará a
atitude do amor para com Deus, que é também Pai, e que não
poupou seu próprio Filho, mas que por todos nós o entregou (Rm
8,32); e para com o seu Filho Unigênito que obedeceu até à
morte para nossa redenção e salvação. E poderá assim atender ao
Apóstolo que propôs aos sãos uma boa consciência a respeito
disto, à guisa de regra, quando diz: O amor de Cristo nos impul-
siona, considerando que, se um só morreu por todos, logo todos
morreram. Cristo morreu por todos, a fim de que os que vivem já
não vivam para si, mas para aquele que por eles morreu e ressurgiu
(2Cor 5,14-15). Tal a atitude e a preparação convenientes para
aquele que participa do pão e do cálice.
INTERROGAÇÃO 173
Se é lícito a hora em que, em casa, se realiza a salmodia, travar-
se uma conversa qualquer.
Resposta
211
rência, e sem provocar escândalo; para todos os outros é
obrigatório o silêncio. Se até no tempo de falar e entre aqueles
aos quais foi confiado o ofício de ensinar, o primeiro deve se
calar se um outro tiver uma revelação (ICor 14,30), quanto mais
o silêncio não será necessário aos demais, no tempo da
salmodia?
INTERROGAÇÃO 174
Como praticará alguém, com ânimo e grande desejo, os
mandamentos do Senhor?
Resposta
INTERROGAÇÃO 175
Como se manifestará que alguém ama o irmão segundo o
mandamento do Senhor; e como se convencerá de que não ama
deste modo?
Resposta
212
É bem-aventurado, pois, quem chora o pecador, cujo perigo é
terrível; e o que se alegra com o que age bem, cuja recompensa é
incomparável, como está escrito. O Apóstolo Paulo o atesta
quando diz: Se um membro sofre, todos os membros padecem com
ele (ICor 12,26), certamente segundo a razão da caridade em
Cristo; ou se um membro é honrado, conforme o escopo de
agradar a Deus, todos os membros se regozijam com ele. Quem não
tem esta atitude, é evidente que não ama seu irmão.
INTERROGAÇÃO 176
Quais os inimigos que temos o dever de amar? Como amaremos
os inimigos? Somente conferindo-lhes benefícios, ou também pela
afeição? E isto é possível?
Resposta
213
te inserto em nossa natureza. Pois até os animais amam
naturalmente os benfeitores. Prestar-nos-á um amigo benefício
tão grande como os inimigos? Proporcionam-nos a bem-
aventurança que o Senhor anunciou: Bem-aventurados sois,
quando vos caluniarem; quando vos perseguirem e disserem
falsamente todo o mal contra vós por causa de mim. Alegrai-vos e
exultai; porque será grande a vossa recompensa nos céus (Mt
5,11.12).
INTERROGAÇÃO 177
Como devem os fortes carregar as enfermidades dos fracos? (Rm
15,1).
Resposta
INTERROGAÇÃO 178
Que significa: Ajudai-vos uns aos outros a levar os vossos fardos
(Gl 6,2)? Qual a lei que cumprimos ao fazer isto?
Resposta
214
gião, como eu mesmo ouvi de vários deles muitas vezes.
Cumprimos a lei de Cristo, que disse: Não vim chamar à
conversão os justos, mas sim os pecadores (Lc 5,32), e que nos
prescreveu a norma: Se teu irmão tiver pecado contra ti, vai e
repreende-o entre ti e ele somente: se te ouvir, terás ganho o teu
irmão (Mt 18,15).
INTERROGAÇÃO 179
Como poderá alguém sem a caridade ter tal fé que transporte
montanhas, ou dar todos os seus bens aos pobres, ou entregar seu
próprio corpo para ser queimado?
Resposta
215
INTERROGAÇÃO 180
Resposta
INTERROGAÇÃO 181
Se houver duas comunidades de irmãos vizinhas, uma que luta
com a pobreza e a outra que dificilmente dá, como deve a pobre
portar-se para com a que não dá?
Resposta
INTERROGAÇÃO 182
Quais frutos comprovam a compaixão de quem repreende o
irmão que peca?
Resposta
216
membros padecem com ele (ICor 12,26) e: Quem tropeça, que eu
não consuma em febre? (2Cor 11,29). Segundo, se igualmente
se atribula por causa de qualquer pecado e se entristece e se
lastima diante de todos os que pecam contra ele mesmo ou
contra os outros, e se, ao censurar, não se desvia da maneira que
o Senhor nos deixou como tradição.
INTERROGAÇÃO 183
Se houver entre alguns dos que vivem em comunidade um
desentendimento, será certo concordar com eles por causa da
caridade?
Resposta
INTERROGAÇÃO 184
Como poderá alguém, quando exorta ou censura, não apenas se
esforçar por se exprimir sabiamente, mas também conservar a devida
atitude para com Deus e para com aqueles aos quais fala?
Resposta
217
dores dos mistérios de Deus (ICor 4,1), não ministrará a ciência
como própria, por sua autoridade, mas com temor e tremor
diante de Deus, como um ministro de Deus, para cura de almas
remidas com o sangue de Cristo, segundo aquele que disse:
Falamos, não para agradar aos homens, mas a Deus que sonda os
nossos corações (lTs 2,4), e para com os que ouvem, com afeto e
misericórdia, realizando a palavra: Qual mãe, que com ternura
cuida dos filhos que amamenta, assim em nossa ternura por vós
desejavamos não só comunicar-vos o Evangelho de Deus, mas até a
nossa própria vida (ibid. 7.8).
INTERROGAÇÃO 185
Se alguém, vendo que sua palavra tocou os ouvintes, se alegrar,
como poderá saber se é por boa disposição ou viciosa afeição para
consigo mesmo que se alegra?
Resposta
INTERROGAÇÃO 186
Uma vez que fomos instruídos a ter tal amor a ponto de dar a
vida pelos amigos, queremos saber para que amigos devemos querer
isto.
218
Resposta
INTERROGAÇÃO 187
Se devem todos receber alguma coisa dos parentes carnais.
Resposta
219
INTERROGAÇÃO 188
Resposta
INTERROGAÇÃO 189
Devemos ouvi-los se quiserem com exortações induzir-nos a
voltar para casa?
Resposta
INTERROGAÇÃO 190
Se devemos compadecer-nos dos parentes, desejando a sua
salvação.
Resposta
220
Deus (Jo 1,12), envergonha-se de falar em parentes carnais, mas
reconhece como familiares os próximos na fé, dos quais o
Senhor atesta: Minha mãe e meus irmãos são estes que ouvem a
palavra de Deus e a observam (Lc 8,21). Compadece-se de todos
os que estão longe do Senhor, tanto dos parentes carnais, como
dos demais. Se alguém, contudo, tiver maior afeição por eles e
julga ter o Apóstolo por patrono de seus sentimentos, ao dizer:
Porque eu mesmo desejaria ser reprovado, separado de Cristo, por
amor de meus irmãos, que são da minha raça, segundo a carne (Rm
9,3), entenda pela sequência que o Apóstolo não honra o
parentesco carnal, mas a Israel e aos privilégios concedidos por
Deus; nem porque os israelitas eram de sua raça, mas porque os
seus parentes carnais eram israelitas e porque foram honrados
com tantos e tão grandes benefícios de Deus. Porque deles era a
adoção e a glória, deles a legislação e o culto; porque deles eram
os testamentos e as promessas, deles os pais; porque deles era o
Cristo segundo a carne (Rm 9,4.5); é por tudo isto que dá tanta
importância à salvação deles, sem olhar o parentesco, e sim a
encarnação do Senhor, feita em seu favor. Disse o Senhor: Não
fui enviado senão às ovelhas perdidas da casa de Israel (Mt 15,24).
INTERROGAÇÃO 191
Que significa ser manso?
Resposta
INTERROGAÇÃO 192
Qual a tristeza segundo Deus e qual a de acordo com o mundo?
221
Resposta
INTERROGAÇÃO 193
Que é gáudio no Senhor? Quais dentre nossas ações devem nos
alegrar?
Resposta
INTERROGAÇÃO 194
De que modo chorar para sermos dignos da bem-aven- turança?
Resposta
222
INTERROGAÇÃO 195
Resposta
INTERROGAÇÃO 196
Como haverá alguém de comer e beber para a glória de Deus?
Resposta
INTERROGAÇÃO 197
Como agirá a direita, de modo que não o saiba a esquerda?
Resposta
223
útil a execução do projeto; como o artífice, em cada obra, olha
somente para o instrumento proveitoso a sua atividade.
INTERROGAÇÃO 198
Que é humildade e como a alcançaremos?
Resposta
INTERROGAÇÃO 199
Como estará alguém inteiramente pronto até a enfrentar os
perigos, por causa do mandamento do Senhor?
Resposta
224
INTERROGAÇÃO 200
Resposta
INTERROGAÇÃO 201
Como chegará alguém a estar bem atento na oração?
Resposta
INTERROGAÇÃO 202
Se é possível em tudo e sempre não ter distrações e como realizá-
lo?
225
Resposta
Demonstra ser isto possível aquele que disse: Meus olhos estão
sempre fixos no Senhor (SI 24,15) e: Ponho sempre o Senhor
diante dos olhos, pois que ele está à minha direita, não vacilarei (SI
15,8). Acima foi dito de que maneira realizá-lo; isto é, a alma
não deve parar de pensar em Deus, em suas obras e em seus
dons, confessar e dar graças por tudo.
INTERROGAÇÃO 203
Se, na realização do mandamento do Senhor, a medida é uma só
para todos, ou uns têm mais e outros menos?
Resposta
INTERROGAÇÃO 204
Como alguém se tornará apto a ser participante do Espírito
Santo?
Resposta
226
mos todos os mandamentos do Senhor, nem pudermos dele
receber este testemunho: Não sois do mundo (Jo 15,19), não
esperemos tomarmo-nos aptos para receber o Espírito Santo.
INTERROGAÇÃO 205
Quem são os pobres de espírito? (Mt 5,3).
Resposta
Como o Senhor uma vez diz: As palavras que vos tenho dito
são espírito e vida (Jo 6,64), outra vez diz: O Espírito Santo
ensinar-vos-á todas as coisas, e vos recordará tudo o que vos tenho
dito (Jo 14,26), porque não falará por si mesmo, mas dirá o que
ouvir (Jo 16,13) de mim, são pobres de espírito os que se
empobreceram sem outro motivo a não ser a doutrina do Senhor,
que disse: Vai, vende teus bens, dá-os aos pobres (Mt 19,21). Se
alguém, contudo, aceitar a pobreza que lhe sobrevier de qualquer
modo, orientando-a para a vontade do Senhor, como Lázaro,
também não é estranho àquela bem-aventurança.
INTERROGAÇÃO 206
O Senhor ordena que não nos inquietemos com o que
comeremos, o que beberemos, ou com que nos vestiremos (Mt 6,31).
Até onde vai este mandamento? Como o praticaremos?
Resposta
227
Tal era o Apóstolo, que dizia: Sentimos dentro de nós
mesmos a sentença de morte: deu-se isso para que saiba-
mos pôr a nossa confiança não em nós, mas em Deus, que
ressuscita os mortos (2Cor 1,9). Segundo o propósito e a
prontidão do ânimo, morria cotidianamente; mas era pre-
servado pela benevolência de Deus. Por isso dizia com toda
a confiança: Somos considerados agonizantes, embora es-
tejamos com vida (2Cor 6,9). Corroboram este propósito
o zelo ardente e o anelo insaciável pelos mandamentos do
Senhor que, se em alguém forem predominantes, não lhe
permitem as distrações com as necessidades corporais.
INTERROGAÇÃO 207
Uma vez que não se deve ter inquietação a respeito da própria
subsistência, e há outro preceito do Senhor que diz: Trabalhai, não
pela comida que perece (Jo 6,27), será supérfluo trabalhar?
Resposta
228
correr os necessitados (Ef 4,28). Esta tradição do Senhor, através
do Evangelho e do Apóstolo, nos demonstra que é
completamente proibido ter solicitude consigo, ou trabalhar para
si mesmo; segundo o mandamento do Senhor, deve-se ter
solicitude e trabalhar pelas necessidades do próximo,
principalmente, porque o Senhor recebe, como prestadas a si
mesmo, as atenções aos que lhe são dedicados e promete por
isso o reino dos céus.
INTERROGAÇÃO 208
Se é boa a ascese do silêncio contínuo.
Resposta
INTERROGAÇÃO 209
Como poderemos temer os juízos de Deus?
229
Resposta
INTERROGAÇÃO 210
INTERROGAÇÃO 212
Como alcançar a caridade para com Deus?
Resposta
230
Aprendemos isto também da censura do profeta Isaías,
quando diz: Eu criei filhos e os enaltecí, eles, porém, se revoltaram
contra mim. O boi conhece o seu possuidor e o asno, o estábulo do
seu dono; mas Israel não conhece nada, e meu povo não tem
entendimento (Is 1,2.3). Como o boi e o asno instintivamente
têm afeição aos que os alimentam, por causa do benefício, assim
também nós, se recebermos os dons com sensibilidade e
prudência, como não amaremos a Deus, autor de tantos e tão
grandes benefícios, quando, naturalmente, por assim dizer, e
sem mestre, é inata tal disposição na alma sadia?
INTERROGAÇÃO 213
Quais os sinais da caridade para com Deus?
Resposta
INTERROGAÇÃO 214
Qual a diferença entre benignidade e bondade?
Resposta
231
INTERROGAÇÃO 215
Resposta
INTERROGAÇÃO 216
Em que devemos nos converter e tornar-nos como crianças (Mt
18,3)?
Resposta
INTERROGAÇÃO 217
Como receber o reino de Deus qual criança?
Resposta
-232
INTERROGAÇÃO 218
Resposta
O próprio Deus nos ensina pelo profeta o que é o enten-
dimento, ao dizer: Não se envaideça o sábio do saber, nem o forte
de sua força, e da riqueza não se orgulhe o rico! Aquele que se
quiser vangloriar, glorie-se de possuir inteligência e de saber que eu
sou seu Senhor (Jr 9,22.23), e pelo Apóstolo, quando diz: Mas
procurai compreender qual é a vontade de Deus (Ef 5,17).
Podemos ser dignos de recebê-la, se fizermos o que está escrito:
Par ai e reconhecei que sou Deus (SI 45,11) e acreditarmos que
toda palavra de Deus é verdadeira. Diz Ele: Se não o crerdes, não
subsistireis (Is 7,9).
INTERROGAÇÃO 219
Se formos beneficiados por alguém, como poderemos dar a Deus
pura e total ação de graças, e agradecer sabiamente, não ficando
aquém, nem além da medida?
Resposta
Se estivermos convictos de que Deus é o autor de todo bem e
quem o leva a termo, e reconhecermos que aquele que nos presta
serviço é ministro do benefício de Deus.
INTERROGAÇÃO 220
Se deve ser permitido a quem o desejar um encontro com as
irmãs; ou quem, quando e como, falará com as irmãs?
233
Resposta
INTERROGAÇÃO 221
Tendo-nos ensinado o Senhor a rogar que não caiamos em
tentação, devemos pedir que não sintamos dores corporais? E como
suportá-las se as sentirmos?
Resposta
234
INTERROGAÇÃO 222
Resposta
INTERROGAÇÃO 223
Tendo dito o Senhor: Quando jejuares, perfuma a tua cabeça e
lava o teu rosto; assim não parecerá aos homens que jejuas (Mt
6,17); se alguém quiser jejuar por um motivo agradável a Deus
como se verifica terem os santos muitas vezes praticado e for
visto, apesar de não o querer, o que fará?
Resposta
235
INTERROGAÇÃO 224
Resposta
INTERROGAÇÃO 225
Como nos tornaremos dignos das palavras do Senhor: Onde dois
ou três estão reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles (Mt
18,20)?
Resposta
236
a construir; assim os chamados pelo Senhor devem se lembrar
do Apóstolo que exorta: Rogo-vos, pois, prisioneiro que sou
pela causa do Senhor que leveis uma vida digna da vocação à
qual fostes chamados, com toda a humildade, mansidão e paciência.
Suportai-vos caridosamente uns aos outros. Esforçai-vos por
conservar a unidade do Espírito, no vínculo da paz. Há um só corpo
e um só espírito, como também fostes chamados pela vossa vocação
a uma só esperança (Ef 4,1-4). Mais claramente o Senhor nos
expõe tudo através da promessa feita a cada um, com as
palavras: Se alguém ama, guardará a minha palavra, e meu Pai
o amará, e nós viremos a ele, e nele faremos nossa morada (Jo
14,23). Como, devido à observância dos mandamentos, fará
junto deles a sua morada, assim também está no meio de dois ou
três, que se conformarem com sua vontade. Os que não se
congregaram de modo digno da vocação, nem para fazerem a
vontade do Senhor, embora pareçam reunidos no nome do
Senhor, ouvirão a palavra: Por que chamais Senhor, Senhor...
e não fazeis o que digo? (Lc 6,46).
INTERROGAÇÃO 226
Tendo dito o Apóstolo: Amaldiçoados, abençoamos; caluniados,
consolamos (ICor 4,12), como deve bendizer o que é amaldiçoado e
como deve consolar o que é caluniado?
Resposta
237
ver-vos a fim de comunicar-vos alguma graça espiritual, com que
sejais confirmados, ou melhor, para encorajar juntamente
convosco naquela vossa e minha fé, que nos é comum (Rm 1,11-
12), e em outra parte: Deus, porém, que consola os humildes,
confortou-nos com a chegada de Tito (2Cor 7,6).
INTERROGAÇÃO 227
Se deve alguém declarar aos outros o que pensa, ou guardar
para si a convicção de aprazer a Deus nisto, se a tiver.
Resposta
INTERROGAÇÃO 228
Se em tudo se deve fazer a vontade dos que se escandalizam, ou
se há alguma coisa que não deve ser simulada, mesmo se alguns se
escandalizarem.
Resposta
Resposta
Resposta
239
um facho a dirigir meus passos, é uma luz em meu caminho (SI
118,105), ainda: Meus conselheiros são as vossas leis (ibid. 24).
INTERROGAÇÃO 231
Se um irmão, ou até por vezes um sacerdote, prejudica e age
como meu inimigo, é-me lícito observar também para com ele os
mandamentos acerca dos inimigos?
Resposta
INTERROGAÇÃO 232
Se alguém, injuriado por outro, a ninguém o referir, por
paciência e mansidão, e parecer deixar para o juízo de Deus, age
conforme o que Deus quer?
Resposta
240
escutar, toma contigo uma ou duas pessoas, a fim de que toda a
questão se resolva pela decisão de duas ou três testemunhas. Se
recusa ouvi-los, dize-o à Igreja, e se recusar ouvir também à Igreja,
seja ele para ti como um pagão e um publicano (Mt 18,16-17), deve
mostrar o fruto da paciência, fazendo oração a Deus pelo que foi
injusto, com verdadeiro afeto e dizendo: Senhor, não lhes leves
em conta este pecado (At 7,59), para não ser réu do juízo por se
ter irado contra seu irmão.
É conveniente, porém, aconselhar e censurar o que injuriou,
para que ele se livre da ira que virá sobre os filhos da
desobediência. Se, porém, descuidar-se, calar-se e der como
razão o exercício da própria paciência, comete duplo pecado,
porque transgride aquele mandamento: Repreende severamente o
teu próximo, para que não incorras em pecado por sua causa (Lv
19,17, apud LXX), e tornar- se-á partícipe do pecado por seu
silêncio; e porque aquele que podería talvez ser ganho pela
repreensão, como ordenou o Senhor, ele o deixa perecer no mal.
INTERROGAÇÃO 233
Se faltar a alguém uma só das boas ações, acaso, por isto, não se
salvará?
Resposta
INTERROGAÇÃO 234
Como alguém anunciará a morte do Senhor?
241
Resposta
INTERROGAÇÃO 235
Se é útil aprender bem muitas coisas das Escrituras.
Resposta
242
INTERROGAÇÃO 236
Resposta
Tendo o Senhor afirmado que: Daquele a quem muito se deu,
muito se exigirá (Lc 12,48), devem ter mais temor e zelo, como
o ensina o Apóstolo: Sendo seus colaboradores, exortamo-vos a
que não recebais a graça de Deus em vão (2Cor 6,1). Assim será
feito se acreditam no Senhor que diz: Se compreenderdes estas
coisas, sereis felizes, sob condição de as praticardes (Jo 13,17).
INTERROGAÇÃO 237
Qual é a alma que se orientará segundo a vontade de Deus?
Resposta
A que abraçar a sentença do Senhor: Se alguém quiser vir após
mim, renuncie-se a si mesmo, tome sua cruz e siga-me (Mt 16,24).
Se alguém, pois, não começar por renunciar a si mesmo e
tomar a sua cruz, ao avançar, encontrará muitos impedimentos,
provenientes de si mesmo, para não prosseguir.
INTERROGAÇÃO 238
Se é possível, de modo ininterrupto, salmodiar, ler, ou aplicar-se
às palavras de Deus, sem intervalo de tempo, em absoluto, porque a
alguns sobrevêm uma sórdida necessidade corporal.
243
Resposta
Resposta
INTERROGAÇÃO 240
Por que se diz que é larga a porta e espaçoso o caminho que
conduz à perdição?
Resposta
244
INTERROGAÇÃO 241
Resposta
INTERROGAÇÃO 242
Que quer dizer: Amai-vos reciprocamente com caridade
fraterna?
Resposta
INTERROGAÇÃO 243
Que quer dizer o Apóstolo com as palavras: Mesmo em cólera,
não pequeis. Não se ponha o sol sobre a vossa ira
245
(Ef 4,26), porque diz noutra parte: Toda amargura, ira, indignação
sejam desterradas do meio de vós (Ib. 31)?
Resposta
INTERROGAÇÃO 244
Que significa: Deixai agir a ira (Rm 12,19)?
Resposta
INTERROGAÇÃO 245
Resposta
246
pies como a pomba, porém, é o que nem cogita de como se
vingar de quem lhe arma insídias, continuando a praticar o
bem, segundo o preceito do Apóstolo: Vós, irmãos, não vos
canseis de fazer o bem (2Ts 3,13). O Senhor, quando enviou os
discípulos a pregar, prescreveu-lhe isto; havia então
necessidade de sabedoria para persuadir e de paciência para
com os que armavam insídias. Como a serpente, outrora, soube
apresentar aspecto mais tratável e fala mais persuasiva para
afastar de Deus e induzir ao pecado, assim também nós
escolhamos expressão fisionômica, modo e lugar, e
empreguemos nossas palavras de todas as maneiras com
discernimento para afastarmos do pecado e convertermos para
Deus. De resto, conservemos a paciência nas tentações até o
fim, como está escrito.
INTERROGAÇÃO 246
Resposta
INTERROGAÇÃO 247
Tendo dito a Escritura: Não vos glorieis e não faleis coisas
elevadas (ISm 2,3) e como o Apóstolo confessa: O que vou dizer, na
certeza ãe poder gloriar-me, não o digo sob a inspiração do Senhor,
mas como num acesso de delírio (2Cor 11,17) e ainda: Tenho-me
tornado insensato (2Cor
12,11) ; em outro lugar, porém, afirma: Aquele que se gloria,
glorie-se no Senhor (2Cor 10,17), que é gloriar-se no Senhor e qual
a maneira de se gloriar?
247
Resposta
INTERROGAÇÃO 248
Se é o Senhor quem dá a sabedoria e de sua face sai a ciência e a
prudência (Pr 2,6); se também pelo Espírito a um é dada a
linguagem da sabedoria, a outro a da ciência (ICor 12,8); por que
o Senhor exprobra aos discípulos: Também vós estais ainda sem
inteligência? (Mt 15,16). E por que o Apóstolo acusa a alguns de
serem insensatos? (Rm 1,31).
Resposta
248
INTERROGAÇÃO 249 Que é
honesto e que é justo?
Resposta
INTERROGAÇÃO 250
Como alguém dá o que é santo aos cães ou lança as pérolas aos
porcos? Ou como acontece que se evita o seguinte: Para que não
suceda que as calquem com os seus pés e, voltando-se contra vós,
vos despedacem (Mt 7,6)?
Resposta
INTERROGAÇÃO 251
Por que o Senhor uma ves proíbe levar bolsa e alforje no
caminho; outra, porém, dis: Mas agora, quem tem bolsa, tome-a,
aquele que tem uma mochila, tome-a igualmente e aquele que não
tiver uma espada, venda sua capa para comprar uma (Lc 10,4;
22,36)?
249
'
Resposta
INTERROGAÇÃO 252
Qual o pão cotidiano que aprendemos a pedir cada dia?
Resposta
250
INTERROGAÇÃO 253
Que é o talento e como o multiplicaremos?
Resposta
Julgo que esta parábola foi dita para significar todos os dons
de Deus. Cada um, seja qual for o dom que recebeu de Deus,
multiplique-o, empregando-o para fazer o bem e ser útil a
muitos. Pois ninguém há que não tenha participado da
benignidade de Deus.
INTERROGAÇÃO 254
Qual é a mesa onde se deve, como diz o Senhor, depositar o
dinheiro?
Resposta
INTERROGAÇÃO 255
Para onde recebeu ordem de ir aquele ao qual se disse: Toma o
que é teu e vai-te (Mt 20,14)?
251
Resposta
INTERROGAÇÃO 256
Qual é a recompensa que eles recebem ãe igual modo que os
últimos?
Resposta
INTERROGAÇÃO 257
252
e do próximo, seja quanto aos carismas espirituais, seja quanto
aos benefícios corporais, e assim não atingem o fim.
INTERROGAÇÃO 258
Quem é o condenado pelo Apóstolo, como afetando humildade e
culto, etc. (Cl 2,18)?
Resposta
INTERROGAÇÃO 259
Quem é fervoroso de espírito (Rm 12,11)?
Resposta
INTERROGAÇÃO 260
O Apóstolo às vezes diz: Não sejais imprudentes (Ef 5,17);
outras: Não sejais sábios aos vossos próprios olhos (Rm 12,16). É
possível a quem não é imprudente não ser sábio aos próprios
olhos?
Resposta
253
é a vontade de Deus. Ao outro: Não sejais sábios aos vossos
próprios olhos, ajunta-se: Teme o Senhor e afasta-te do mal (Pr
3,7). Por isto, é imprudente aquele que não entende a vontade
do Senhor; sábio, porém, aos próprios olhos, todo aquele que
segue seus próprios pensamentos e não as palavras de-Deus, de
acordo com a fé. Se alguém, pois, não quer ser imprudente, nem
sábio aos próprios olhos, deve entender qual a vontade de Deus,
pela fé nele, e temendo o Senhor imitar o Apóstolo que
assegura: Nós aniquilamos todo o raciocínio e toda altivez que se
levanta contra o conhecimento de Deus, e cativamos todo o pensa-
mento e reduzimos à obediência a Cristo (2Cor 10,4.5).
INTERROGAÇÃO 261
Resposta
254
e diligência de acordo o dito do profeta a alguns, da parte
do Senhor: Quando estendeis vossas mãos, eu desvio de vós os
meus olhos; quando multiplicais vossas preces, eu não as ouço.
Vossas mãos estão cheias de sangue, lavai- vos, purificai-vos, etc.
(Is 1,15-16). Não duvidam de que mesmo agora tal acontece e
de que há alguns com as mãos cheias de sangue, os que crêem
naquele juízo de Deus proferido contra quem recebeu ordem de
anunciar ao povo e calou-se: É à sentinela que pedirei conta de
seu sangue (Ez 3,18). O Apóstolo, convicto de ser isto verdade
indefectível, afirmou: Hoje protesto diante de vós que sou ino-
cente do sangue de todos; porque não esquivei de anunciar-vos
todo o desígnio de Deus (At 20,26.27). Se é réu do sangue dos
pecadores quem apenas se calou, que se dirá de quem, por
obras e palavras, escandaliza os outros? Acontece por vezes,
devido à indignidade do suplicante, não ser satisfeito o pedido,
como sucedeu quando Davi rogava permissão para construir a
casa de Deus, a qual lhe foi negada; embora fosse grato a Deus,
não foi julgado digno desta obra. Jeremias, porém, parece não
ter sido ouvido por causa da maldade daqueles pelos quais
orava. Muitas vezes, também por nossa negligência, perdemos
a ocasião oportuna para fazer a prece e, depois, vamos orar
debalde em tempo impróprio. Quanto ao dito: Três vezes roguei
ao Senhor que o apartasse de mim (2Cor 12,8), é bom saber que
há muitas e variadas razões para as tribulações externas e
corporais. Deus as envia ou permite por uma economia melhor
do que a libertação delas. Se alguém, portanto, conseguir saber
que deve por meio da oração e da súplica livrar-se da
adversidade, ao rogar será ouvido, como os dois cegos do
Evangelho, os dez leprosos e muitos outros. Se, porém, não
conhece a razão por que caiu em tentação (muitas vezes deve
obter por meio da paciência o fim pelo qual lhe advêm os
males) e for preciso até o fim suportá-la, no caso de pedir que
lhe seja retirada a tribulação, não será atendido, porque não
concorda com o escopo do amor que Deus tem aos homens.
Quanto à afirmação: Se dois de vós se unirem sobre a terra para
pedir (Mt 18,19), a própria perícope é muito clara. Trata-se de
quem argúi o pecador e do argüido. Como Deus não quer a
morte do pecador, mas que se converta e viva, se o argüido, de
ânimo
255
contrito, contribui para a finalidade visada por quem censura,
em tudo, isto é, a respeito de todos os pecados dos quais pedem
a remissão, esta lhes será concedida por Deus que ama o
homem. Se, porém, o repreendido e quem repreende não
entram em acordo, não haverá remissão, e sim vínculo,
conforme as palavras seguintes: Tudo o que ligardes sobre a
terra, será ligado no céu (Mt 18,18), de modo a se realizar a
sentença: Se se recusar a ouvir a Igreja, seja ele para ti como um
pagão e um publicano (ibid. 17).
INTERROGAÇÃO 262
Uma vez que a Escritura coloca a pobreza e a indigência entre
as coisas louváveis, por exemplo, quando diz: Bem- aventurados os
que têm um coração de pobre (Mt 5,3J, e também: O pobre e o
ãesvalido louvarão o teu nome (Sl 9,17; 73,21), qual a diferença
entre pobreza e indigência e como é verdadeira a afirmação de
Davi: Quanto a mim, sou mendigo e pobre (Sl 39,18)?
Resposta
INTERROGAÇÃO 263
Que quer ensinar o Senhor, por meio de exemplos, àqueles aos
quais acrescentou: Assim, pois, qualquer um de vós
256
que não renuncia a tudo o que possui, não pode ser meu discípulo
(Lc 14,33)? Se quem quer eãificar uma torre ou guerrear a outro
rei deve-se preparar ou para a construção, ou para a guerra, e se
não for capas, convém-lhe, de início, não lançar os alicerces, ou
deve pedir a pas, então, quem quer ser discípulo do Senhor deve
renunciar? E se vir que para si é difícil, ser-lhe-á lícito não
começar a ser discípulo do Senhor?
Resposta
O fim visado pelo Senhor com estes exemplos não é dar
liberdade de ser, ou não, discípulo seu, mas mostrar ser
impossível que alguém, no meio de coisas que distraem o
espírito, agrade a Deus; nelas periclita, tomando-se suscetível
às ciladas do diabo e merecedor de zombaria e riso por ter
deixado inacabadas as coisas nas quais se empenhara. O profeta
pedia não lhe sobreviesse isso, quando dizia: Não se alegrem à
minha custa os meus inimigos. Não se ensoberbeçam contra mim,
quando meu pé resvala (Sl 37,17).
INTERROGAÇÃO 264
Tendo dito o Apóstolo: Sejais sinceros (Fl 1,10), e ainda: Mas
com sinceridade (2Cor 2,17), que é ser sincero?
Resposta
Julgo ser sincero o que está livre de mistura e purificado
completamente de elementos contrários, porém unido e
ordenado só à piedade; não só, mas ainda ao que é abso-
lutamente requerido para tal escopo, sempre e em todos os
casos, de modo que o encarregado de algum ofício não pode se
afastar dele, nem para cuidar de problemas afins. A primeira
sentença se explica por si mesma, no contexto, porque depois
das palavras: Mas com sinceridade, acres- centa-se: Pregamos em
Cristo, sob os olhares de Deus; a segunda, por meio da
afirmação: Não façam de si pró-
257
prios uma opinião maior do que convém, mas um conceito
razoavelmente modesto, de acordo com o grau de fé que Deus lhe
distribuiu (Rm 12,3), e ainda mediante as palavras subseqüentes.
INTERROGAÇÃO 265
Se somente aos sacerdotes foi dito: Se estás por fazer a tua oferta
diante do altar e te lembrares que teu irmão tem alguma coisa
contra ti, deixa lá a tua oferta diante do altar e vai primeiro
reconciliar-te com teu irmão; só então vem fazer a tua oferta (Mt
5,23.24), ou a todos? E como cada um de nós faz a sua oferta diante
do altar?
Resposta
INTERROGAÇÃO 266
Que é o sal que o Senhor mandou ter, dizendo: Tende sal em vós
(Mc 9,49)? E o Apóstolo diz: Que as vossas conversas sejam sempre
amáveis, temperadas com sal (Cl 4,6).
Resposta
258
sempre conservarmos os vínculos da paz, para a unidade do
espírito. Com as palavras do Apóstolo lembremo-nos daquele
que disse: Come-se uma coisa insípida sem sal? Pode alguém
saborear aquilo que não tem gosto nenhum? (Jó 6,6).
Aprendamos a ministrar as palavras para edificação da fé, e que
sejam benfazejas aos que as ouvem (Ef 4,29), empregando tempo
oportuno e ordem conveniente para os ouvintes serem mais
dóceis.
INTERROGAÇÃO 267
Se um receber muitos açoites, e outro poucos, como diziam
alguns que as penas são sem fim? (Lc 12,47).
Resposta
259
bons, mas também para os maus, dando a cada um conforme as
suas obras, pode alguém ser digno do fogo inextin- guível que
queima menos ou mais; outro, do verme que não morre, e o qual
igualmente atormenta com maior ou menos intensidade,
segundo o merecimento de cada um; outro, da geena que tem, de
fato, tormentos muito variados; e outro, das trevas exteriores,
onde para um existe somente choro e para outro ranger de
dentes, por causa da veemência das dores. Também as trevas
exteriores sugerem haver seguramente outras, interiores. E a
palavra dos Provérbios: Nas profundezas da região dos mortos (Pr
9,18), declara haver alguns no inferno, contudo não no profundo
do inferno e que são submetidos a penas mais leves. Estes
caracteres encontram-se já agora nas doenças corporais. Um
sente febre com alguns sintomas e outros incômodos; outro,
apenas febre, de modo diferente um do outro. Alguém não está
com febre, mas dói-lhe um membro; e mais ou menos do que
em um outro. O Senhor empregou as express es muito e
pouco segundo o uso comum, em casos semelhantes.
Sabemos, muitas vezes, que este modo de falar é empregado a
respeito dos que sofrem de uma doença; assim dizemos,
admirados, de alguém que está febril, ou sente dor nos olhos:
Quanto sofreu! Ou: Quantos males o atingiram! De maneira que,
muitos e poucos açoites, digo- o novamente, não significam
duração, ou fim do tempo, mas diferença dos tormentos.
INTERROGAÇÃO 268
Em que sentido alguns são denominados filhos da incredulidade e
filhos da ira? (Ef 5,6; 2,3J.
Resposta
260
como o diabo é denominado, a meu ver, não só pecador, mas o
próprio pecado, porque é instigador do pecado, assim também,
por idêntica razão, ele pode ser chamado a própria infidelidade.
Filho da ira, porém, é todo aquele que se fez digno da ira. Como
o Apóstolo denominou aqueles que são dignos do Senhor e
fazem as obras da luz e do dia filhos da luz e filhos do dia ,
assim, por consequência, deve-se entender a palavra: Éramos
filhos da ira. Importa saber que filho da incredulidade
id ntico a filho da ira , porque proferiu o Senhor que: Quem
não crê no Filho, não verá a vida, mas sobre ele pesa a ira de Deus
(Jo 3,36).
INTERROGAÇÃO 269
Está escrito: Fazendo a vontade da carne e da concu- piscência
(Ef 2,3J. Acaso são diferentes as vontades da carne e as da
concupiscência? E quais são?
Resposta
261
r INTERROGAÇÃO 270
Que significa: Vivemos em completa penúria, mas não
desesperamos (2Cor 4,8)?
Resposta
INTERROGAÇÃO 271
O Senhor disse: Dai antes em esmola o conteúdo e todas as coisas
vos serão limpas (Lc 11,41). Acaso será alguém purificado de todos
os pecados que cometeu, por meio da esmola?
Resposta
262
r
dos, e para os quais é possível múltipla compensação, são per-
doados deste modo; deste modo, digo, não que, por si só, baste
para a remissão, mas primeiro exigem-se a misericórdia de Deus
e o sangue de Cristo, pelo qual também obtemos a remissão de
todos os outros, se fizermos dignos frutos de penitência.
INTERROGAÇÃO 272
Uma vez que preceituou o Senhor não andarmos inquietos pelo
dia de amanhã, como entenderemos bem este preceito? Vemos que
temos muito empenho em obter o necessário, a ponto de
armazenarmos o bastante para muito tempo.
Resposta
INTERROGAÇÃO 273
Em que consiste a blasfêmia contra o Espírito Santo?
.263
Resposta
INTERROGAÇÃO 274
Como se fará alguém estulto neste século?
Resposta
INTERROGAÇÃO 275
Se Satanás pode impedir o propósito de um santo, porque está
escrito: Já por duas vezes quisemos ir ter convosco, ao menos, eu,
Paulo. Satanás porém nos impediu (lTs 2,18).
264
Resposta
INTERROGAÇÃO 276
Que quer dizer a palavra do Apóstolo: Para que saibais aquilatar
qual é a vontade de Deus, o que é bom, o que lhe agrada e o que é
perfeito (Rm 12,2)?
Resposta
265
levam-nos à conversão pelas aflições, transformam-se em bem.
Tudo o que Deus, tolerante e bom, quer, também nós devemos
querer e imitar. Sede misericordiosos, como também vosso Pai é
misericordioso (Lc 6,36). Igualmente o Apóstolo diz: Sede, pois,
imitadores de Deus, como filhos muito amados. Progredí na
caridade segundo o exemplo de Cristo que nos amou (Ef 5,1.2).
Tudo o que ele nos envia em sua ira, por causa dos nossos
pecados, e, como já disse, chama-se mal, de modo nenhum
também nos é lícito fazer. Nem por ser vontade de Deus que os
homens muitas vezes morram de fome, peste, guerra, ou coisa
semelhante, con- vém-nos cooperar para a realização desta
vontade. Para isto, Deus emprega também ministros maus,
segundo a palavra: Descarregou o ardor de sua cólera,
indignação, furor, tributação, um esquadrão de anjos da desgraça
(SI 77,49). Em primeiro lugar, portanto, procura-se saber qual
é a vontade de Deus e um bem; depois, conhecido o bem,
descobrir se este bem é igualmente agradável a Deus. Há coisas
que, por razão própria, são vontade de Deus e um bem; mas se
for feita por pessoa e tempo não convenientes, já não é
agradável a Deus. Por exemplo, era vontade de Deus e um
bem, que se oferecesse incenso a Deus, mas não era agradável
a Deus, fosse apresentado por Datan e Abiron. E ainda, é
vontade de Deus e um bem que se dê esmola; mas dá-la por ser
louvado pelos homens, de modo nenhum apraz a Deus.
Novamente, era vontade de Deus e um bem que os discípulos
anunciassem dos telhados o que lhes tinha sido dito aos
ouvidos; mas dizer alguma coisa antes do tempo não era
aprazível a Deus. Diz ele: Não conteis a ninguém o que vistes, até
que o Filho do homem ressuscite dos mortos (Mt 17,9). Em
resumo, toda vontade de Deus que é um bem, agrada-lhe
quando por ela se cumpre a palavra do Apóstolo: Fazei tudo
para a glória de Deus (ICor 10,31); e: Mas faça-se tudo com
decência e ordem (ibid. 14,40). Ainda, quando é vontade de
Deus, um bem, e lhe agrada, nem assim haja inteira
despreocupação; mas será preciso ter solicitude e cuidado para
realizá-la perfeita e integralmente, levando-se em conta tanto
se o ato é de acordo com o preceito, quanto as forças de quem
age. Declara ele: Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu
coração, de toda a tua alma, de todas as tuas forças e de
todo o teu pensamento, e a teu próximo como a ti mesmo (Lc
10,27); como também o Senhor ensinou no Evangelho,
segundo João. O mesmo, em relação a todos os mandamentos,
conforme está escrito: Bem-aventurado aquele servo a quem seu
senhor, na sua volta, encontrar procedendo assim (Mt 24,46).
INTERROGAÇÃO 277
Qual o cubículo onde o Senhor mandou entrar o que vai orar?
Resposta
267
INTERROGAÇÃO 278
Resposta
INTERROGAÇÃO 279
Que significa: Cantai salmos sabiamente (Sl 46,8)?
Resposta
268
Resposta
INTERROGAÇÃO 281
Deve-se obrigar aquele que não quer salmodiar?
Resposta
INTERROGAÇÃO 282
Quais são os que dizem: Comemos e bebemos contigo, e ouvem a
resposta: Não sei donde sois (Lc 13,26.27)?
Resposta
269
de outra causa semelhante. Por esta razão o Senhor denomina
tudo isto obra de iniqüidade, respondendo aos que dizem:
Comemos contigo etc.: Apartai-vos de mim todos vós que sois
malfeitores (Lc 13,26.27). Como não seriam operários de
iniqüidade os que abusam dos dons de Deus para o próprio
prazer? Tais eram aqueles dos quais fala o Apóstolo: Não
somos, como tantos outros, falsificadores da palavra de Deus
(2Cor 2,17). E ainda: Julgam ser a piedade uma fonte de lucro
(lTm 6,5) e muitas coisas semelhantes. De tudo isto, o próprio
Apóstolo declarou estar livre quando disse: Não para
agradar aos ho
mens, mas a Deus, que sonda os nossos corações. Com efeito,
nunca usamos de adulação, como sabeis, nem fomos levados por
interesse algum. Deus é testemunha. Não buscamos glórias
humanas, nem de vós nem de outros (lTs 2,4-6).
INTERROGAÇÃO 283
Se quem faz a vontade de outrem, lhe é solidário.
Resposta
INTERROGAÇÃO 284
Se uma comunidade se empobrecer devido a uma adversidade ou
doença, pode receber de outrem o necessário, sem hesitação? E se
convém, de quem o aceitará?
270
Resposta
INTERROGAÇÃO 285
Se deve uma comunidade, ao negociar com outra, inquirir
solicitamente qual o preço bem justo do objeto.
Resposta
INTERROGAÇÃO 286
Se adoecer um membro da comunidade, deve ser transportado ao
hospital?
271
Resposta
Resposta
INTERROGAÇÃO 288
Quem deseja confessar os pecados, deve confessá-los a todos? A
qualquer pessoa? Ou a quem?
Resposta
272
INTERROGAÇÃO 289
Resposta
INTERROGAÇÃO 290
Como alguém trabalhará sempre e muito na obra do Senhor?
Resposta
273
'Ч
INTERROGAÇÃO 291
Resposta
Penso que cana rachada é o que pratica o mandamento de
Deus mas estando mal disposto; não se deve quebrá-lo e cortá-
lo, porém curá-lo, como ensinou o Senhor: Guardai-vos de fazer
vossas boas obras diante dos homens, para serdes vistos por
eles (Mt 6,1). E o Apóstolo preceitua: Fazei todas as coisas sem
murmurações e sem hesitações (F1 2,14). E em outro lugar:
Nada façais por espirito de partido ou vangloria (ibid. 3).
Torcida fumegante é alguém que pratica o mandamento, não
com um desejo ardente e zelo perfeito, mas um tanto negligente
e frouxamente; não o impeçamos, mas antes incitemo-lo com a
lembrança dos juízos de Deus e de suas promessas.
INTERROGAÇÃO 292
Se convém ter na comunidade dos irmãos uma escola de
meninos seculares.
Resposta
Tendo dito o Apóstolo: E vós, pais, não provoqueis vossos
filhos à ira, mas educai-os m disciplina e correção segundo o
espírito do Senhor (Ef 6,4), se os que trazem os meninos
apresentam-nos com tal finalidade e os que os recebem têm a
convicção de que os podem educar na disciplina e nas
instruções do Senhor, observe-se a ordem do Senhor que disse:
Deixai vir a mim estas criancinhas e não as impeçais. Porque o
reino dos céus é para aqueles que se lhes assemelham (Mt
19,14). Sem este escopo e sem esta esperança, porém, penso que
não seria agradável a Deus, nem a nós conveniente, nem
proveitoso.
274
INTERROGAÇÃO 293
Resposta
Primeiro, convém saber que no Novo Testamento não se
encontra tal distinção. Uma só é a sentença contra todos os
pecados, porque assegura o Senhor: Todo o homem que se
entrega ao pecado, é seu escravo (Jo 8,34). E ainda: A palavra
que anunciei julgá-lo-á no último dia (Jo 12,48). E João clama:
Quem não crê no Filho não verá a vida, mas sobre ele pesa a
ira de Deus (Jo 3,36). A desobediência não é ameaçada por
causa de diferença entre os pecados, mas devido à transgressão.
Em resumo, se nos é lícito falar em pecado pequeno e grande,
sem contradição não se pode negar que para alguém é grande
aquele que o domina e pequeno aquele que ele mesmo supera.
Entre os atletas, o vencedor é mais forte, e o vencido é mais
fraco do que o vitorioso, seja ele quem for. Portanto, observe-se
em relação a todos os pecadores, quaisquer que sejam os seus
pecados, a sentença do Senhor: Se teu irmão tiver pecado contra
ti, vai e repreende-o entre ti e ele somente; se te ouvir, terás
ganho teu irmão. Se não te escutar, toma contigo uma ou duas
pessoas, a fim de que toda a questão se resolva pela decisão de
duas ou três testemunhas. Se recusar ouvi-los, dize-o à Igreja. E
se recusar ouvir também a Igreja, seja ele para ti como um
pagão e um publicano (Mt 18,15-17). Observe-se para com
todos eles o que disse o Apóstolo: Nem tendes manifestado
tristeza, para que seja tirado dentre vós o que cometeu tal ação
(ICor 5,2). Importa, por conseguinte, unir a paciência e a
misericórdia à severidade.
INTERROGAÇÃO 294
Qual o motivo de perder alguém a contínua lembrança de
Deus?
275
r
Resposta
INTERROGAÇÃO 295
Por que sinais se reconhece quem se distrai?
Resposta
Quando descuida das coisas que agradam a Deus. Diz o
profeta: Ponho sempre o Senhor diante dos olhos; pois que ele está
à minha direita, não vacilarei (SI 15,8).
INTERROGAÇÃO 296
Como se persuadirá a alma de estar purificada dos pecados?
Resposta
Se depreender em si a disposição de Davi, que disse: Odeio o
mal, eu o detesto (SI 118,163), ou verificar que cumpriu em si o
preceito do Apóstolo, que disse: Morti- ficai, pois, vossos
membros no que têm de terreno: a devassidão, a impureza, as
paixões, os maus desejos, a concupis- cência que é uma idolatria.
Destas coisas provém a ira de Deus (Cl 3,5.6). Daí, estendendo a
todo pecado esta sentença, acrescenta: sobre os descrentes, de
maneira a poder afirmar: Terei horror àquele que pratica o mal,
não será ele o meu amigo. Longe de mim o coração perverso. Não
quero conhecer o mal (SI 100,3.4). Reconhecerá alguém em si tal
atitude, se tiver contra os pecadores a mesma compaixão terrível
dos santos, conforme diz Davi: Ao ver os prevaricadores, sinto
desgosto, porque eles não observam a vossa palavra (SI 118,158).
E o Apóstolo afirma: Quem é
276
r 7
fraco, que eu também não seja fraco? Quem tropeça, que eu não
consuma em febre? (2Cor 11,29). Se, pois, em verdade, a alma é
superior ao corpo e vemos a repugnância e o horror que temos
de todas as imundícies do corpo; e que o dilaceramento ou mau
trato produz aflição e tristeza para o coração, quanto mais justo
não será para quem ama a Cristo e os irmãos, sentir o que foi
dito acima, acerca dos pecadores, ao ver a alma dos pecadores
de certo modo ferida e corroída por feras, ou purulenta e
pútrida? Diz Davi: Porque as minhas culpas se elevaram acima de
minha cabeça, como pesado fardo oprimiram em demasia. São
fétidas e purulentas as chagas que a minha loucura causou.
Estou abatido, extremamente recurvado, todo o dia anão cheio de
tristeza (SI 37,5-7). Assevera, porém, o Apóstolo: O aguilhão da
morte é o pecado (ICor 15,56). Quando alguém vir sua alma em
tal disposição diante dos pecados, próprios ou alheios, então
pode ter a convicção de estar purificado do pecado.
INTERROGAÇÃO 297
Como deve alguém arrepender-se dos pecados?
Resposta
277
modo pelos pecadores, mas também afastarmo-nos dos
pecadores. Davi o declarou, dizendo: Apartai-vos de mim, vós
todos que fazeis o mal (SI 6,9) e o Apóstolo ordena: Com esse nem
sequer deveis comer (ICor 5,11).
INTERROGAÇÃO 298
Se a Escritura permite que alguém faça o bem como lhe apras.
Resposta
INTERROGAÇÃO 299
Como a alma estará bem cônscia de que não tem a ambição da
glória?
Resposta
278
Apóstolo que ordena: Quer comais, ou bebais ou façais qualquer
outra coisa, fazei tudo para a glória de Deus (ICor 10,31), de modo
que o homem temente a Deus, não tendo procurado a glória
presente, nem a futura, mas tendo posto acima de tudo o amor
de Deus, tenha a confiança de dizer, além do supracitado, o
seguinte: Nem as coisas presentes, nem as futuras poderão apartar-
nos do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, Nosso Senhor (Em
8,39). Pois, diz o próprio Senhor nosso Jesus Cristo: Não busco a
minha glória (Jo 8,50). E ainda: Quem fala por própria autoridade
busca a própria glória; mas quem busca a glória de quem o enviou,
é digno de fé (Jo 7,18).
INTERROGAÇÃO 300
Como se realiza a conversão, que é uma coisa oculta?
Resposta
INTERROGAÇÃO 301
Se alguém disser: Minha consciência não condena.
Resposta
279
que se passa. Deste modo agiram os santos apóstolos quando,
persuadidos embora de sua sincera afeição ao Senhor, ouvindo
dizer: Um de vós há de trair (Mt 26,21), acreditaram antes
na palavra do Senhor, discutiam e diziam: Sou eu, Senhor?
(ibid. 22). Mais claramente no-lo ensina São Pedro, que por
ardente humildade recusou o serviço de seu Senhor, Deus e
mestre; mas, convencido da verdade das palavras do Senhor, ao
ouvir: Se eu não te lavar, não terás parte comigo (Jo 13,8),
disse: Senhor, não somente os meus pés, mas também as mãos e
a cabeça (ibid. 9).
INTERROGAÇÃO 302
Convém tirar do depósito para dar aos indigentes de fora?
Resposta
O Senhor disse: Não fui enviado senão às ovelhas perdidas
da casa de Israel (Mt 15,24) e: Não convém jogar aos
cachorrinhos o pão dos filhos (ibid. 26). Não se deve consumir
com os indiferentes o que foi destinado aos consagrados a Deus.
Se, porém, for possível fazer o que disse a mulher, louvada por
causa de sua fé: Certamente, Senhor, mas os cachorrinhos ao
menos comem as migalhas que caem da mesa de seus donos
(ibid. 27), julgue-o o ecônomo com o consentimento dos que lhe
são co-responsáveis, de modo que o sol, em sua
superabundância, como está escrito, se levante sobre os maus e
os bons.
INTERROGAÇÃO 303
Se há obrigação de obedecer na comunidade às ordens de
todos.
Resposta
É muito difícil responder a esta pergunta. Primeiro, porque é
evidentemente indício de indisciplina todos darem
280
ordens, pois diz o Apóstolo: Quanto aos profetas, falem dois ou
três, e os mais julguem (ICor 14,29). Ele mesmo, em relação à
distribuição dos carismas, estabeleceu a ordem dos que falam,
com as palavras: De acordo com o grau de fé que Deus lhes
distribuiu (Rm 12,3). E, pelo exemplo dos membros do corpo,
claramente mostrou ser peculiar a parte do que fala; explica-o
bem, ao dizer: Se tem o dom de ensinar, que ensine; o dom de
exortar, que exorte, etc. (ibid. 7,8). Daí se vê com nitidez que
nem tudo é lícito a todos, mas cada qual deve permanecer na sua
vocação e realizar com mais diligência o que o Senhor lhe
confiou. Deve, então, o que está à frente da comunidade e foi
estabelecido acima de todos, depois de muita experiência, rece-
ber tal encargo. Exerça uma vigilância solícita, em relação a
cada um, de modo que, agradando a Deus e considerando a
aptidão e esforços de cada um, determine e ordene o que serve à
utilidade comum. Os súditos, porém, guardando a boa ordem e a
obediência que conhece sua própria medida, lembrem-se do
Senhor, que disse: As minhas ovelhas ouvem a minha voz, eu as
conheço e elas seguem. Eu lhes dou a vida eterna (Jo
10,27.28); e da passagem precedente: Mas não seguem o
estranho, antes fogem dele, porque vão conhecem a voz dos
estranhos (ibid. 5). Também o Apóstolo afirma: Se alguém
ensinar de outra forma e não se conservar fiel às salutares
palavras de Nosso Senhor Jesus Cristo, bem como à doutrina
conforme à piedade, é um homem orgulhoso, um ignorante (lTm
6,3-4), e acrescenta, depois de enumerar o que costuma
acontecer: Foge destas coisas. E ainda, em outra parte: Não
desprezeis as profecias. Examinai tudo. Retende o que for bom.
Guardai- vos de toda a espécie de mal (lTs 5,20-22). Por isto, se
alguma ordem é segundo o mandamento do Senhor, ou visa-o,
deve-se obedecer, mesmo sob ameaça de morte; se, porém, é
contra o mandamento, ou o lesa, de modo nenhum deve-se
obedecer, mesmo se um anjo do céu, ou algum dos apóstolos,
ordenar, mesmo com promessa de vida ou ameaça de morte,
pois diz o Apóstolo: Mas ainda que alguém nós ou um anjo
baixado do céu vos anunciasse um evangelho diferente do
que vos temos anunciado, que ele seja rejeitado (G1 1,8).
281
r
INTERROGAÇÃO 304
Se os parentes dos irmãos quiserem dar algum presente à
comunidade, deve ser aceito?
Resposta
INTERROGAÇÃO 305
Se convém receber algo das pessoas de fora, quer amigos, ou
parentes.
Resposta
Resposta
282
ele está à minha direita, não vacilarei (SI 15,8); ou: Meus olhos
sempre fixos no Senhor, porque ele livrará do laço os meus pés (SI
24,15), ou: Como os olhos dos servos estão fixos nas mãos dos seus
senhores, como os olhos das servas fixos nas mãos das suas
senhoras, assim nossos olhos estão voltados para o Senhor, nosso
Deus (SI 122,2). E, para que, a exemplo das coisas menores,
cuidemos de maior diligência nas maiores, cada um considere
como se comporta na presença dos outros, embora seus iguais;
como procura manter-se correto, quer esteja de pé, andando,
movimentando-se, ou falando. Como nos esforçamos por obser-
var a polidez naquilo que os homens vêem, assim e com maior
razão, se alguém tem a convicção de ser visto por Deus, que
perscruta os corações e as entranhas (SI 7,10), segundo está
escrito, e também pelo Unigênito Pilho de Deus, que cumpre sua
promessa: Porque onde dois ou três estão reunidos em meu nome,
aí estou eu no meio deles (Mt 18,20), e ainda pelo Espírito Santo
que dirige os carismas, divide-os e torna-os eficazes, e
igualmente pelos anjos da guarda de cada um, segundo o que
disse o Senhor: Guardai-vos de menosprezar um só destes
pequeninos! Porque eu vos digo que seus anjos no céu contemplam
sem cessar a face de meu Pai que está nos céus (ibid. 10), terá
grande e múltipla solicitude pelo culto agradável a Deus. Assim
firma-se a atenção mais intensa e perfeitamen- te. Ainda, se
procurar cumprir a palavra: Bendirei continuamente ao Senhor,
seu louvor não deixará meus lábios (SI 33,2). E: Meditarei a lei do
Senhor dia e noite (SI 1,2), de modo que o espírito, sempre
entregue à meditação e contemplação contínuas das vontades e
dos juízos de Deus, não encontre tempo para a divagação.
INTERROGAÇÃO 307
Se convém que haja revezamento para se iniciar a sal- modia ou
a oração.
Resposta
Entre os muitos que forem capazes, guarde-se nisto a boa
ordem. Não se considere a questão sem importância
283
*
INTERROGAÇÃO 308
Se convém, que a comunidade retribua algum donativo, e se a
retribuição deve ser proporcional ao presente.
I
Resposta
INTERROGAÇÃO 309
Se acontecer a alguém o que é naturalmente habitual, deve
aproximar-se da comunhão das coisas santas?
Resposta
1
O Apóstolo mostra que é superior à natureza e ao hábito
quem foi sepultado no batismo com Cristo. De um lado, no
lugar em que trata do batismo de água, prossegue, depois de
intercalar algumas palavras: Sabemos que o nosso velho homem
foi crucificado com ele, para que seja reduzido à impotência o corpo
de pecado, e já não sejamos escravos do pecado (Rm 6,6); de outro,
ordena: Mortificai, pois, os vossos membros no que têm de terreno:
a devassidão, a impureza, as paixões, os maus desejos, a
concupiscência que é uma idolatria. Destas coisas provém a ira de
Deus sobre os descrentes (Cl 3,5). De outra vez, expõe esta nor-
ma: Os que são de Jesus Cristo crucificaram a carne, com as
paixões e concupiscências (G1 5,24). Sei, porém, que pela graça
de Cristo isto se realiza em homens e mulheres através da
genuína fé no Senhor. Aprendemos do Antigo
284
Testamento em que terrível juízo incorre o impuro que se
aproxima das coisas santas. Se aqui está alguém que é maior que
o templo, ensinar-nos-á o Apóstolo de modo ainda mais terrível:
Aquele que o come e bebe indignamente sem distinguir o corpo do
Senhor, come e bebe a sua própria condenação (ICor 11,29).
INTERROGAÇÃO 310
Se convém celebrar a ceia do Senhor numa casa comum.
Resposta
Como a Escritura não permite levar aos lugares santos um
vaso profano, assim também não é lícito celebrar as ações
sagradas numa casa ordinária, porque o Antigo Testamento,
evidentemente por ordem de Deus, jamais permitiu tal coisa. Diz
o Senhor: Aqui está quem é maior que o templo (Mt 12,6), e o
Apóstolo: Porventura não tendes casas para comer e beber? Que
vos direi? Devo louvar-vos? Não. Nisto não vos louvo, porque eu
recebi do Senhor o que também vos ensinei (ICor 11,22.23), etc.
Daí aprendemos a não tomar na igreja uma refeição comum,
comendo e bebendo, nem profanar a ceia do Senhor, celebrando-
a numa casa comum, exceto se alguém por urgente necessidade
escolher um lugar ou casa mais limpos, em tempo oportuno.
INTERROGAÇÃO 311
Devemos visitar os que nos convidarem?
Resposta
285
г
das com sal, para poder responder a cada um devidamente (Cl
4,6). Fazer, porém, uma visita só por motivo de parentesco, ou
amizade, é estranho a nossa profissão.
INTERROGAÇÃO 312
Se convém exortar à oração os visitantes leigos.
Resposta
Se são amigos de Deus, é bom. O Apóstolo lhes escreve:
Orai também por mim, para que seja dado anunciar
corajosamente, quando eu tiver de falar, o mistério de Deus (Ef
6,19).
INTERROGAÇÃO 313
Se convém trabalhar quando há visitantes.
Resposta
Nenhuma das obrigações deve ser interrompida por causa
daqueles que nos procuram por atenção amistosa, a não ser que
se tenha de assumir uma particular obra espiritual, preferível a
um trabalho corporal segundo o mandamento do Senhor, pois
os santos apóstolos dizem nos Atos: Não é justo que
abandonemos a palavra de Deus para servir às mesas (At 6,2).
286
ÍNDICE ANALÍTICO
Abraão 55,4 Agabo 23 ancião 24 anjos 2,3; Espírito Santo Pr. 3.4; 3,1; 7,2; 16,1; 32,2;
12,3; 23 amor a Deus Pr. 2; 1; 2,1.2.4; 3,2; 35,3; 37,3
5,2 Evangelho(s) Pr. 1.4; 7,2; 8,1.3; 9,2;
ao próximo Pr. 2; 1; 3; 37,1 11; 17,1; 37,2
Bamabé 44,2 Ezequias 55,3.4
Benjamim 8,2 Filêmon 11 Heli 28,1
carisma 7,2; 32,2; 35,3; 45,1 cinto 23 hóspedes 20; 44,2
compra e venda 39,2; 40 compimção 15,2 humildade 7,4; 10,1; 15,2; 21,1; 22,1; 30;
comunidade (adelphótes, fraternidade) 31; 35,3; 43
11; 15,2; 17,1; 26; 27; 28; 29; 32; 33,2; instrumentos de trabalho 41,2 Israel 8,2
34,1.2; 36; 37,3; 41,2; 43; 44; 49; 54 Jacó 20,3
consciência, manifestação da ao ancião jejum 12; 16,1.2; 18
26 conselho 48 continência 19; 55,3 Daniel Jerusalém 44,2
Pr. 4; 16,2 Davi Pr. 4 Deus (Pai) Jó Pr. 4; 15,1; 17,1; 23; 55,4
misericordioso e justo Pr. 4 João Batista 16,2; 22,1; 23
agradar a 5,3; 11; 12; 25,1; 28,1; juiz Pr. 4; 5,3; 15,4
33,1; 37,2.3; 55,5 juízo Pr. 1.4; 25; 34,2; 37,2
amigo dos homens 10; 55 Lázaro 55,4
lembrança de 2,3; 5,2.3; 6,2 mandamento do Senhor Pr. 2; 3,1;
diabo 2,4; 7,3; 8,1; 30; 37 divinização 2,4 5,3; 9,2; 21; 33,1; 36 mandamentos do
Elias 16,2; 23 Esaú 16,2 escravo 11 Senhor Pr. 2.3.4; 1; 2; 7,1; 8,2; 9,2; 16,3;
Escrituras Pr. 4; 1; 7,3; 15,1.3; 17,1; 20,1; 19,2; 20,1; 32,1; 43,1 Marta 20,3 Mateus
42,2; 47 8,1
matrimônio (núpcias) 5,1; 12; 32,2
medicina 55
meninos 15,1.2
Moisés 3,2; 16,2
noviços 10,12
obediência Pr. 3; 12; 29
e humildade 21; 31; 41
e autoridade 41
Onésimo 11
287
oração Pr. 4; 6,1; 12; 37,2; 38; 39; 40; 55 Salomão 4; 6,1; 20,3; 37,2 salmodia 13;
em comum 15,2; 37,3 Paulo (o 37,2.5; 38 Sara 17,1
Apóstolo) 3,2; 5,1; 7,4; 8,1.2; 11; 16,1; serviço 6; 31; 34,2 Silas 37,4 silêncio 13;
19,2; 20,2; 22,1.2.3; 24; 25; 28,1; 29; 32,2; 51
33,1; 34,1; 35,2; 37,1.2.3; 41,1; 42,1; superior 25; 26; 27; 29; 30; 31; 35;
43,1.2; 45,1; 53,4 Pedro Pr. 3; 23; 31; 43; 44,1; 45; 48; 49; 50; 51; 52; 54
37,4.5; 44,2 penitência Pr. 1; 6,2; 7,1; temor filial e servil Pr. 3.4; 4; 10,2; 44
10,2; 20 pobreza 8,3; 16,3; 20; 23 temperança 13; 16; 18; 19,2 Tiago 8,1
prepósito 15,4; 19,1; 24; 28,2 (Ver Timóteo 19,3
superior) trabalho 29; 34,1; 37,1.2.3.4; 38; 41,1;
razão seminal (lógos spermatikós) 2Д 42; 43; 48; 51; 53
regra (cânon) 27 renúncia vestes 20,1.2; 22
6,1; 8; 30; 32 riso 17
288
obediência 39; 114; 115 ; 116, 119; 138; pobreza 181; 188; 205; 242 prepósito 146;
152 172; 176; 199; 206; 235 ; 269 303 201 renúncia 2; 137 riso 31
;
oração 113; 147; 201; 277; 278; 307 salmodia 147; 173; 238; 279; 281; 307
Paulo Intr. 3; 4; 5; 9; 16; 18 19; Salomão 113
20; 23; 25; 36; 37 39 40 47; sangue de Cristo 13; 271 corpo e de
52; 53; 57; 63; 64 ;
65 ; 72;
70 Cristo 172 serviço 115; 151; 155; 157;
76; 82; 86; 89 96; 100; ; 108;; 109; 160; 161
114 115; 118; 121; 124; 128; 129; na cozinha 152
;
130 133; 138; 139; 141; 149; 164; aos doentes 155
;
170 172; 179; 182; 183; 184; 186; silêncio 208
;
187 190; 198; 200; 206; 208; 210; trabalho 5; 39; 61; 69; 119; 121;
;
215 218; 220; 224; 225; 226; 227; 135; 136; 141; 147; 153; 154; 207
;230 234; 235; 236; 243; 245; 246; Timóteo 25
;
247 248; 250; 252; 258; 260; 261; vestes 50; 87; 90; 91; 93; 168; 206; 207;
;
262 264; 265; 266; 268; 269; 270; 210
;
272 274; 275; 276; 280; 283; 291; vontade de Deus 32; 45; 64; 74; 114; 132;
;
296 298; 299; 303; 309; 310; 312 137; 207; 211; 235; 237; 259; 260; 261;
;
Pedro 60; 64; 81; 83; 89; 161; 233; 276; 306 voz, tom da 151 Zaqueu 5; 27
251 301
;
penitência (arrependimento) 4; 5; 8;
9; 10; 11; 13 14 15; 58; 110;
159 177; 271; 287; ; 288; 292
;
Pilatos 46
289
ÍNDICE BÍBLICO
290
18.10- 11:
18.10- 12: 174 18,11: 8-180
24,15: 202,306 29,2: 10
29.6- 13: 10 31,5: 297 32,5:
Prólogo 33,2: 306 34,13: 129
35,1: 81 35,7: 80
37.5- 7: 296 37,17: 263 38,3
208 39,18: 262 41,1: 157 41,3: 2
45,11: 218 46,8: 279 49,21:
Prólogo 49,23: 265 50,12-13: 37
50,19: 265 51,3: 247 52,6: 33-298
54,18: 37 57,5: 55
57.5- 6 45 72,22: 274 73,21:
262 76,4: 6,37-44 77,49: 276 90,6:
37 93,10: 274 93,20: 152
100,1: Prólogo - 12 100,3-4: 296
100,5: 26 100,6: 284
100.6- 7: 29 108,6: 251 108,9:
251
111,1: Prólogo - 259 111,5: 33,44-
214,245 114,5: Prólogo 115,12: 2
118,24: 230,269 118,28: 80
118,46: 5 118,53: 53,192 118,62:
37 118,85: 5 118,103: 6-281
118,105: 230 118,106: 137
118,139: 165
291
1 5-16: 261 NOVO TESTAMENTO
1,18: 10,13
3,11: 25 Mateus
5,2: 75 3,4: 16,22,23
5,4: 75 3,6: 288
5,21: 227,274 3,12: 257
7,9 (LXX): 218 4,2: 16
26,20: 277 4,3: 75
40,1 (LXX): 226 5,3: 20,30-205,262
45,7: 276 5,5: 194
53,4: 2-177 5,6: 130
53,12: 251 5,7: Prólogo
61,6: 265 5,8: 280
66,3: 29 5,9: 215
66,24: 267 5,11-12: 163,176
5.14- 15: 223
Jeremias 2,22: 75 8,22: 5.14- 16: 277
55 9,23-24: 218 17,5: 5,16: 4-195,299
42-298 17,6: 42 23,23: 5,18: 4
5 23,24: 5 5,21-22: 243
48,10: 9,24,34-150,169 5,22: 51
5,23-24: 36-40,205
Lamentações 3,25: 214 5,25: 222
Ezequiel 3,18: 29- 5,29: 28-7
64,261 3,20: 25 18,4: 5,29-30: 57
50-194 33,8: 45 33,11: 5,30: 44
261,288 5,39: 244
5,40: 9-222
Daniel 5,41: 114
1,8: 16 5,42: 101
10,3: 5,45: Prólogo - 179,302
16 5,47: 124
6,1: 291
Joel 6,2: 276-282
2,32: Prólogo 6,5: Prólogo - 179,247,298
Amos 5,13: 208 6,6: 20 6,14: 11
6,17: 223
Miquéias 7,9: 55 6,21: 8
6,24: 8
Zacarias 10,1: Prólogo 6,25: 42-252
6,31: 206
Malaquias 1,6: 6,31- 32: 207
Prólogo 6,32: 42-206
6,33: 207,272
6,34: 272
7,3: 231
7,5: 164
7,6: 250
7,9: 22
7,13: 240
7,14: 241
7,21: Prólogo
7,22: 179
8,3: 55
9,12: 102
10,9: 23
10,10: 37-168,252,272
292
10,16: 245 24,42: Prólogo
10,23: 244 24,46: 276
10,26: 300 25,15: 203,253
10,27: 276 25,21: 235
10,37: 183 25,26: 37-69
11,8-11: 22 25,30: Prólogo
11,28: 10 25,34-40: 34
11,29: 40,43-195 25,35: 3,42
12,6: 309,310 25,35-36: 207
12,20: 291 25,40: 3,42-160,284
12,35: 239 25,41: 34-255,267
12,36: 4,220 25,41-42: 150
12,48-50: 188 25,42: 181
12,50: 32,34-155 25,46: 267
13,22: 18 26,21: 301
13,23: Prólogo - 203 26,22: 301
13,45-46: 8 26,39: 261
13,55: 262 26,52: 251
15,12-14: 64,102 28,19-20: Prólogo
15,16: 248
15,19: 75 Marcos
15,24: 101,302 3,29: 273
15,26-27: 100,302 6,7: 35
15,32: 19 8,35, 199
15,40: 101 9,34: 30-7
15,53: 190 9,45: 267
16,22-23: 64 9,50: 266
16,24: 8-2,234,237 10,14: 15
17,9: 276 10,29: 9
17,20: 18 10,44: 115
17,25-26: 64 10,45: 115
18,3: 113,216 11,25: 232
18,6: ¥1-64 12,30: 157
18,10: 64,306
18,12: 102 Lucas
18,15: 9,36-178,232 1,15: 16
18,15-17: 3,37,232,293 2,29: 2
18,16: 7,15,33 3,8: 271,288
18,17: 36-9,41,261 3,9: 288
18,18: 261 3,11: 23
18,19: 15,261 5,32: 178
18,20: 5,37-225,306 6,21: 17
18,21: 15 6,25: 17,19-37
18,31-34: 42 6,30: 101
19,14: 292 6,32: 163
19,21: 8,9-205 6,36: 276
19,27-29: 89 6,37: 164
20,1-2: 224 6,45: 300
20,9-10: 256 6,46: 225
20,14: 171 7,47: 170
21,22: 261 8,13: 275
22,36-39: 1 8,14: 8
22,37-39: 163 8,20: 188
22,40: 2 8,21: 190
23,12: 28 9,23: 6
24,13: 221,245 9,61-62: 189
24,40: 284 10,4: 251
293
10,16: 38 5,19: 1,60,74
10,27: 276 5,30: 5-148
10,34: 55 5,44: 36
10,41-42: 20 6,9: 19
11,8: 261 6,24: 207
11,10: 121 6,27: 207
11,39: 271 6,37: 97,102
11,41: 92,271 6,38: 5-1,60,74,137,138
12,20: 48,291 6,64: 205
12,21: 48 7,18: 299
12,29-30: 131 7,24: 164
12,32-33: 92,101 7,28: 120
12,33: 9 8,34: Prólogo - 155,21
12,40: 96,117 8,35: 155
12,42: 45 8,39: 268
12,43: Prólogo 8,44: 76,268,283
12,47: Prólogo - 267 8,50: 299
12,47-48: 45 9,6-7: 55
12,48: 4,37-58,236 9,28: 24
13,7: 61 10,5: 114,303
13,26-27: 282 10,27-28: 303
13,27: 179 12,25: 54
14,10: 21 12,44: 151
14,11: 198 12,48: Prólogo - 293
14,26: 8,12 12,49-50: 1,163
14,28-32: 263 12,50: 166,199
14,33: 5,8-263 13,4: 23
15,6: 8 13,8: Prólogo - 233
15,13: 13 13,8-9: 60,301
16,15: 29-120 13,17: 236
16,20: 55 13,34: 3-86,98,163
16,22: 20,55 13,35: 3
16,25: 16,55 14,10: 60
17,2: 7 14,15: 5,213
17,10: 121 14,15-17: 204
18,11: 56 14,17: 5
18,14: 35 14,23: 2,3-225
18,22: 101 14,24: 32
18,44: 56 14,26: Prólogo - 205
19,8: 271 14,27: 215
19,16: 203 14,30: 243
20,22-25: 94 15,10: 5
22,19: 172 15,12: 3
22,27: 43 15,12-13: 162
22,36: 251 15,13: 25-98
22,37: 251 15,19: 5-204
22,40: 221 15,22: 45
16,13: 1,205
João 17,21: 183
1,12: 190 17,25: 5
1,14: 172 19,11: 46
2,15: 40
3,8: 190 Atos dos Apóstolos
3,36: 47,163,268,293 2,44: 7,35
4,27: 48 2,45: 19
4,34: 166,207 3,9: 37
5,14: 55-17 4,32: 7,32,35-85,183
294
4,35: 34-93,131,135,148,187,252 12,17: 28
5,29: 8,11-114 12,19: 234,244
6,2: 313 12,21: 226
7,59: 232 13,7: 36
10,2: 224 13,14: 16
11,5: 44 14,10: 164
12,8: 23 14,13: 64,164
12,20: 55 14,15: 40
13,2-3: 129 14,21: 64
14,12: 55 14,23: 47
15,4: 44 15,1: 117,229
15,12: 44 15.1- 3: 138
16,25: 37 15.2- 3: 118
19,18: 288
20,26-27: 261 Primeira aos Coríntios
20,31: Prólogo 3,8: 37
20,35: 37-207,272 4,1: 98,184,288
21,11: 23 4,5: 164
4,12: 226
Romanos 1,11-12: 226,227 1,13: 4,15: 8
275 1,28-32: 20 1,29: 255 5,2: 28-47,56,84,86,293
I, 31: 248 2,4: 179 5,3-5: 164
2.4- 5: Prólogo 2,13: 7 5,6: 28,47-20
2,23: Prólogo - 4,31,250 5.9- 11: 124
5,1: 215 5,11: 53,297
5,8-9: 176,186 5,13: 12-155
6,3: 234 5,40: 9
6,4: 309 6,1: 9
6,6: 234,309 7,3: 70
6,16: 283 7,4: 12
7,10: 297 7,11: 47
7,14-15: 16 7,15: 12
7,17: 16 7,24: 91,100,125,136,141,147
8,7: 269 7,31: 20
8,14: 285 7.32- 33:
8,18: 28 5,33
8,32: 172 8,10: 64
8,35: 157 8.10- 11:
8,38-39: 299 64
9,3: 3-190 8,13: 17-54
9.4- 5: 190 9,6: 64
10,14: Prólogo - 224 9,12: 17-64,109
II, 20: 56 12,1: 230,265 12,2: 276 9,14: 121
12,3: 125,235,264,303 9,15: 44
12.4- 5: 303 12,6: 7 12,7-8: 9,16: Prólogo
303 12,10: 242 12,11: 24-259 9,25: 16,18
12,16: 22-260 10,10: 29-133
10,13: 55-221
10,22-24: 1
10,29: 18,33-109
10,31: 5,20,55-72,138,139,220,276,299
10,32: 33
10.32- 33: 18
10,33: 7
11,1: 43
11,16: 34,35-138,149
11,22: 22-187,304
11.2- 23: 311
11,29: 172,309
295
Г
296
2,5: 116 2,9: 22
2,6-7: 2 3,2: 22
2,6-8: 172 3,6: 30-169
2,8: 28-116,199,206 3,10: 43
2,14: 39,291 4,2: 3
3,4-8: 8 4,2-3: 18
3,13-14: 121 4,4: 92
3,16: 56 4,4-5: 18
3,20: 5,8 4,12: 43
4,13: 247 5,2: 82
5,6: 16 5,17: 170
Colossenses
1,10: 287 5,20: 28
1,12-13: 167 5,21: 34-149
1,28: 19 5,23: 19
2,5: 154 6,3-4: 303
2,18: 258 6,4: 19,56
2,23: 128,258 6,5: 282,303
3,3: 234 6,8: 22
297
Este livro foi composto e impresso nas oficinas da Editora Vozes Limitada
Petrópolis - RJ - Brasil
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Recife Recife
Curitiba
1
SãoBasílio
Magno
COLEÇÃO: OS PADRES DA IGREJA/4
São Basílio Magno, bispo e monge, foi sem dúvida, uma das
figuras mais brilhantes da Igreja de todos os tempos. Foi um
teólogo, como defensor da fé, um asceta profundo, um dinâ-
mico homem de ação, um grande orador, um pastor zeloso
das almas, um ardoroso liturgo e místico, um bispo de gran-
de cidade. Como teólogo, teve uma grande influência, em
função das circunstâncias. No plano moral e ascético, a sua
doutrina deve ser encarada em função de sua espiritualidade.
A ascese propriamente monástica de Basílio não existe em
si mesma e por si mesma, não é outra coisa que o coroamen-
to da ascese cristã imposta a todo o cristão. A obra monás-
tica de São Basílio, especialmente as suas Regras, é um dos
melhores testemunhos da vitalidade cristã do século IV. A
síntese de seu pensamento relativamente ao trabalho, à ora-
ção e a todos os problemas por ele despertados está em
diversos capítulos das Regras, que agora são traduzidas para
o português.
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Uapa: Ornar Santos
VOZES