Fascic4 Lentes de Contato Do Basico Ao Avancado

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F A S C Í C U L O

4
Ficha catalográfica por Maria Nazaré Fabel,
Bibliotecária, CRB-199, 14.Região

617.7523
C787 CORAL-GHANEM, Cleusa, STEIN, Harold A. & FREEMAN,
Melvin I. – Lentes de Contato; do básico ao avançado. –
Joinville: Soluções e Informática, 2000. 44p.

1. Lentes de contato. I. Stein, Harold II. Freeman, Melvin


III. Título.

Capa e Diagramação: Soluções e Informática Ltda. - Joinville - SC


www.solucoes.com.br
Redação/Apresentação: Dra. Cleusa Coral-Ghanem
Supervisão: Dra. Cleusa Coral-Ghanem
DIREITOS DE REPRODUÇÃO
REPRODUÇÃO::
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qualquer meio ou processo, sem permissão expressa dos autores. A violação dos direitos
é punível nos termos do art. 184 e parágrafos do Código Penal, conjuntamente com
busca e apreensão e indenizações diversas (arts. 122, 123, 124 e 126 da Lei 5988, de
14.12 1976, Lei dos Direitos Autorais).
Lentes de Contato
do Básico ao Avançado

Dra. Cleusa Coral-Ghanem


• Chefe do Departamento de Lentes de Contato do Hospital de Olhos Sadalla Amin
Ghanem - Joinville - Santa Catarina
• Representante Internacional da Sociedade Brasileira de Lentes de Contato e Córnea -
SOBLEC
• Finance Committee Chairperson for the ICLSO - International Contact Lens Society
of Ophthalmologists
• SOBLEC’s Representative at ICLSO
• Membro da Comissão de Prevenção de Cegueira e Reabilitação Visual do Conselho Bra-
sileiro de Oftalmologia
• Pós-graduanda em nível de Doutoramento pela Universidade de São Paulo (USP)
• Ex-Presidente da Sociedade Brasileira de Lentes de Contato e Córnea - SOBLEC
• Ex-Presidente da Sociedade Catarinense de Oftalmologia

Harold A. Stein, MD, FRCS (C)


• Professor of Ophthalmology, University of Toronto, Ontario, Canada
• Director, Bochner Eye Institute, Toronto, Canada
• Attending Ophthalmologist, Scarborough General Hospital, Scarborough, Ontario
• Attending Ophthalmologist, Mount Sinai Hospital, Toronto, Canada
• Past President, International Refractive Surgical Club
• Past President, International Contact Lens Council of Ophthalmology
• Past President, Joint Commission on Allied Health Personnel in Ophthalmology, St.
Paul, Minnesota
• Past President, Contact Lens Association of Ophthalmologists, New Orleans, Louisiana
• Past President, Canadian Ophthalmological Society, Otawa, Canada
• Director, Professional Continuing Education, Centennial College of Applied Arts,
Toronto, Ontario, Canada

Melvin I. Freeman, MD, FACS


• Clinical Professor of Ophthalmology, Emeritus, University of Washington School of
Medicine, Seattle, Washington
• Affliliate Clinical Investigator, Virginia Mason Research Center, Seattle, Washington
• Past Head, Section of Ophthalmology, Virginia Mason Clinic and Medical Center,
Seattle, Washington
• Medical Director, Emeritus, Department of Continuing Medical Education, Virginia
Mason Medical Center, Seattle, Washington
• President, Alliance for Continuing Medical Education, Birmingham, Alabama
• Past President, Contact Lens Association of Ophthalmologists, New Orleans,
Louisiana
• Past President, Joint Commission on Allied Health Personnel in Ophthalmology, St.
Paul, Minnesota
Sumário
Lista de Siglas ......................................................................................................................... VI

Capítulo 9
LENTES DE CONTATO GELATINOSAS (LCG) DE USO PROLONGADO (UP) /
USO CONTÍNUO (UC) / USO FLEXÍVEL (UF) ............................................................... 01
Autores: Cleusa Coral-Ghanem, Harold A. Stein e Melvin I. Freeman
9.1 - TERMINOLOGIA .......................................................................................................... 01
9.2 - O OXIGÊNIO NO METABOLISMO DA CÓRNEA .................................................. 01
9.2.a - Com o Olho Aberto ............................................................................................. 01
9.2.b - Com o Olho Fechado .......................................................................................... 02
9.2.b.1 - Temperatura .......................................................................................... 02
9.2.b.2 - pH das Lágrimas ................................................................................... 02
9.2.b.3 - Osmolaridade das Lágrimas ................................................................ 03
9.2.c - Oxigenação da Córnea na Presença da LC ....................................................... 03
9.3 - EFEITOS DO UP/UC .................................................................................................... 04
9.4 - INDICAÇÕES ................................................................................................................. 05
9.5 - CONTRA-INDICAÇÕES PARA UP/UC ..................................................................... 05
9.6 - TIPOS DE LCG UTILIZADAS PARA UP, UC/UF .................................................... 05
9.6.a - LCH de Alta Hidratação .................................................................................... 05
9.6.b - LCH Finas e de Baixa Hidratação .................................................................... 06
9.6.c - LCH de Médio/Alto Conteúdo de Água ........................................................... 06
9.6.d - LC de Elastômero de Silicone ........................................................................... 06
9.6.e - LCG de Silicone-Hidrogel .................................................................................. 06
9.7 - SELEÇÃO DO CANDIDATO ....................................................................................... 07
9.8 - CONCEITOS ESTABELECIDOS ................................................................................ 07
9.9 - TEMPO DE USO ............................................................................................................ 07
9.10 - COMPLICAÇÕES DE LCH UP/UC ......................................................................... 08
9.11 - COMO AUMENTAR A SEGURANÇA DO UP/UC ................................................. 08
9.12 - CONTROLE DA ADAPTAÇÃO ................................................................................. 08
9.13 - RECOMENDAÇÕES ÚTEIS ...................................................................................... 09
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................... 10

Capítulo 10
LENTES DESCARTÁVEIS E DE TROCA PROGRAMADA ........................................... 12
Autora: Cleusa Coral-Ghanem
10.1 - INDICAÇÕES ............................................................................................................... 13
10.2 - VANTAGENS ................................................................................................................ 13
10.3 - CONTRA-INDICAÇÕES ............................................................................................. 13
10.4 - TIPOS DE LC DESCARTÁVEIS/TROCA PROGRAMADA .................................. 13
10.4.a - Esféricas Transparentes e/ou Tonalizadas ..................................................... 14
10.4.a.1 - LC Descartável de 1 Dia ................................................................ 14
10.4.a.2 - LC Descartável 1-2 Semanas ......................................................... 14
10.4.a.3 - LC Descartável de 30 Dias ............................................................. 15
10.4.b - Esféricas Cosméticas ....................................................................................... 15
10.4.c - Tóricas ............................................................................................................... 15
10.4.d - Bifocais / Multifocais ...................................................................................... 16
10.5 - TÉCNICA DE ADAPTAÇÃO DA LC DESCARTÁVEL ESFÉRICA .................... 16
10.6 - TEMPO DE DESCARTABILIDADE ......................................................................... 16
10.7 - MANUTENÇÃO ........................................................................................................... 17
10.8 - ACOMPANHAMENTO OFTALMOLÓGICO .......................................................... 17
10.9 - COMPLICAÇÕES MAIS FREQÜENTES ................................................................ 17
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................... 19

Capítulo 11
ADAPTANDO LENTES DE CONTATO GELATINOSAS (LCG) TÓRICAS ................ 20
Autora: Cleusa Coral-Ghanem
11.1 - INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 20
11.2 - MÉTODOS DE FABRICAÇÃO .................................................................................. 20
11.3 - DESENHOS DE LCG TÓRICAS ............................................................................... 21
11.3.a - Superfície Posterior Tórica com Superfície Frontal Esférica ...................... 21
11.3.b - Superfície Posterior Esférica ou Asférica
com Superfície Frontal Tórica ....................................................................... 21
11.4 - TÉCNICAS DE ESTABILIZAÇÃO ............................................................................ 21
11.4.a - Superfície Posterior Tórica ............................................................................. 22
11.4.b - Prisma de Lastro .............................................................................................. 22
11.4.c - Peri-Lastro ......................................................................................................... 22
11.4.d - Desenho Truncado ........................................................................................... 22
11.4.e - Estabilização Dinâmica ................................................................................... 23
11.4.f - Lenticulação Excêntrica .................................................................................. 23
11.5 - INDICAÇÃO DE LC CONFORME O TIPO DE ASTIGMATISMO ..................... 24
11.6 - CRITÉRIOS BÁSICOS PARA A INDICAÇÃO DE LCG TÓRICAS ..................... 25
11.6.a - Quantidade e Tipo de Astigmatismo ............................................................. 25
11.6.b - Eixo do Astigmatismo ..................................................................................... 26
11.6.c - Predominância Ocular .................................................................................... 26
11.6.d - Avaliação das Necessidades Visuais .............................................................. 26
11.6.e - Considerações Ópticas .................................................................................... 26
11.6.f - Anatomia e Tônus Palpebral ........................................................................... 27
11.7 - FATORES QUE INTERFEREM NA ESTABILIZAÇÃO DA LCG ........................ 27
11.8 - MÉTODO DE ADAPTAÇÃO EMPÍRICO ................................................................ 28
11.9 - MÉTODO DE ADAPTAÇÃO COM LCG TÓRICA DE TESTE ............................ 29
11.9.a - Técnica de Adaptação ...................................................................................... 29
11.9.b - Avaliação da Adaptação .................................................................................. 29
11.9.b.1 - Movimento ...................................................................................... 29
11.9.b.2 - Diâmetro .......................................................................................... 29
11.9.b.3 - Rotação ............................................................................................ 30
11.9.b.4 - Determinando o Grau .................................................................... 31
11.9.c - Características de uma LCG Tórica bem Adaptada ..................................... 31
11.9.d - Características de uma LC Apertada ............................................................. 31
11.9.e - Características de uma LC Plana ................................................................... 32
11.10 - PRINCIPAIS CAUSAS DE DISTÚRBIOS VISUAIS ............................................. 32
11.11 - DICAS DE ADAPTAÇÃO ......................................................................................... 33
11.12 - DICAS DE AVALIAÇÃO DA LCG TÓRICA SOLICITADA ............................... 33
11.13 - TIPOS DE LCG TÓRICAS ....................................................................................... 34
11.13.a - Convencionais - Troca Anual ...................................................................... 34
11.13.a.1 - Exemplos de LCG Tóricas - Troca Anual ............................... 34
11.13.b - LCG Tóricas Descartáveis / Troca Programada ....................................... 35
11.13.b.1 - Exemplos de LCG Tóricas Descartáveis /
Troca Programada ..................................................................... 36
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................... 38

V
Exame Prévio do Candidato / Seleção das Lentes de Contato Capítulo 7

Lista de Siglas

AV – Acuidade Visual
CB – Curva Base
cm – Centímetro

CPG – Conjuntivite Papilar Gigante

Æ – Diâmetro da Lente de Contato


D – Dioptria(s)
Dk – Coeficiente de permeabilidade ao oxigênio do material da Lente de Contato
Dk/L – Transmissibilidade de O2 através do material de uma lente de contato
de espessura conhecida
FDA – Food and Drug Administration
FL – Filme Lacrimal
Hg – Mercúrio
KPa – kiloPascal, onde 1 Pascal = 10 milibars
LC – Lente(s) de Contato
LCG – Lente(s) de Contato Gelatinosa(s)
LCH – Lente(s) de Contato Hidrofílica(s)
ml – Mililitro
mm – Milímetro
O2 – Oxigênio
PDMS – Poli-demitil-siloxane
pH – Concentração de íons de Hidrogênio
PHEMA – Poli 2-hidroxietil-metacrilato
PO2 – Pressão parcial de Oxigênio
RGP – Rígida Gás-Permeável
seg – Segundos
UC – Uso Contínuo
UD – Uso Diário
UF – Uso Flexível
UO – Uso Ocasional
UP – Uso Prolongado
ZO – Zona Óptica

Com o desenvolvimento das lentes gelatinosas silicone-hidrogel, o uso do


termo LCH utilizado indistintamente para todas as lentes gelatinosas,
a partir deste fascículo, será destinado apenas às LC de polímero hidrogel.

6
VI
Capítulo 9 Lentes de Contato Gelatinosas

Lentes de Contato
Gelatinosas (LCG)
Uso Prolongado (UP) /
Uso Contínuo (UC) /
Uso Flexível (UF)
9
Cleusa Coral-Ghanem, Harold A. Stein e Melvin I. Freeman

Terminologia 9.1

O termo “Lentes de Contato


Hidrofílicas” (LCH) era utili-
zado, até recentemente, de forma genéri-
usuários a cada mês, chegando a 4 milhões,
em 1985 (SWARBRICK et al., 1997).
O rápido crescimento dessa forma de uso
ca para as gelatinosas (LCG), visto serem foi acompanhado de um grande aumento
todas derivadas de polímero hidrogel. de problemas oculares.
Com o desenvolvimento das LC de silicone-
Para reduzir o potencial de compli-
hidrogel, disponibilizadas no mercado
cações, passou-se a recomendar a remo-
mundial no 2o semestre de 1998, passou-se
ção diária ou, então, o uso flexível (UF),
a utilizar essa denominação apenas para as
que seria dormir com a LC apenas espo-
derivadas de polímeros hidrogel.
radicamente. Exemplo de programa de
Nos Estados Unidos, o termo extended UF é a remoção das LC a cada dois dias,
wear lenses é utilizado para definir uma efetuando a limpeza, a desinfecção e co-
LC usada de forma contínua, ocasional- locando-as no dia seguinte.
mente, ou até por 30 dias sem remoção.
No Brasil, é comparável ao termo LC de
UP/UC, que se refere às LCG ou RGP
Uso flexível é a
utilizadas por um número ilimitado de combinação de uso
horas durante o período de vigília, com diário com o uso
possibilidade de dormir com elas. noturno ocasional.
Em 1981, as LC hidrofílicas (LCH)
foram aprovadas pelo FDA para extended LC a serem usadas num programa
wear. Devido a um grande trabalho de de UF têm que ser aprovadas para UP/
marketing, o número de usuários america- UC. No entanto, as LC de UC mais frá-
nos fazendo UP/UC, em 1983, já estava em geis devem ser evitadas no UF devido à
torno de 500.000 pessoas, com 40.000 novos necessidade de manuseio mais freqüente.

O Oxigênio no
Metabolismo da Córnea 9.2
9.2.a Com o Olho Aberto

Q uando o olho está aberto, o O2 é fornecido à córnea diretamente da atmosfera


(SMELSER e OZANICS, 1952; HILL e FATT, 1964). Ao nível do mar, a con-
centração de O 2 na atmosfera é de aproximadamente 21%, correspondente à PO 2 de
155 mmHg (21 kPa). Com o olho fechado, o O2 é fornecido à córnea quase que ex-

1
Lentes de Contato Gelatinosas Capítulo 9

clusivamente pelo plexo da conjuntiva direção ao aquoso, onde é eliminado


palpebral, reduzindo o nível de PO2 para do tecido. De acordo com a teoria de
60 mmHg ou 8 kPa (EFRON e CARNEY, KLYCE (1981), a crescente concentra-
1979; HOLDEN et al., 1985). ção de lactato no tecido corneal duran-
te a hipóxia induz osmoticamente a
Um fornecimento adequado de O2 é
um influxo de líquido no estroma, le-
essencial ao metabolismo epitelial aeró-
vando ao edema.
bico normal. Quando o nível de O2 dimi-
nui na superfície corneal anterior, há Estudos de HOLDEN et al. (1984)
uma redução da taxa de metabolismo demonstraram que, na maioria dos pa-
aeróbico e um conseqüente aumento da cientes, pelo menos 10% de O 2 deve
taxa de atividade metabólica anaeróbica estar disponível à córnea para evitar
no epitélio. O principal produto do me- edema. HAMANO et al., (1983) desco-
tabolismo epitelial da glicose, sob condi- briram que a taxa de mitose epitelial
ções anaeróbicas, é o lactato. Este, nor- reduz e o lactato começa a acumular-se
malmente, oxida na presença de O2, mas no aquoso quando o fornecimento de O 2
acumula-se no epitélio e no estroma sob para a superfície anterior da córnea é
condições hipóxicas, movendo-se em menor do que 13%.

9.2.b Com o Olho Fechado

A pós oito horas de fechamento


do olho, sem LC, a córnea nor-
malmente exibe edema corneal de 3 a 4%
exigido para se evitar edema corneal, que
é em torno de 10%. Além do suprimen-
to de O2, outros fatores como mudanças
(MANDELL e FATT, 1965; MERTZ, na temperatura, pH e tonicidade das
1980; LA HOOD et al., 1988). É razoável lágrimas, sob a pálpebra fechada, tam-
supor que essa hipóxia relativa durante o bém podem contribuir para a reação de
fechamento do olho contribui para uma edema noturno.
reação de edema na córnea normal, sem MILLODOT e O´LEARY (1980)
uso noturno de LC, porque o plexo capi- relataram que a sensibilidade corneal
lar da conjuntiva palpebral fornece O2 à diminui quando as pálpebras estão fecha-
córnea em um nível mais baixo do que o das e a disponibilidade de O2 cai para 8%.

9.2.b.1 Temperatura

A temperatura da superfície ante-


rior da córnea, num olho aber-
to, está em torno de 34,5oC. No entanto,
córnea em, aproximadamente, 2 oC
(FATT e CHASTON, 1980; MARTIN e
FATT, 1986). É possível que essa eleva-
quando o olho está fechado e a córnea em ção da temperatura corneal influencie a
contato com a conjuntiva palpebral, a taxa de atividade metabólica do epitélio,
uma temperatura de 36,2oC, ocorre um produzindo um aumento no consumo do
aumento da temperatura da superfície da O2 epitelial e causando edema.

9.2.b.2 pH das Lágrimas

C ARNEY e HILL (1976) estabeleceram que o pH das lágrimas, com o olho aberto,
exibe um padrão de variação diurna de 7,45 ± 0,16, com um aumento geral na
alcalinidade durante o dia. Após o sono, ao abrir os olhos, o pH das lágrimas está reduzido a,
aproximadamente, 7,25 e se recupera para níveis médios dentro de 3 a 4 horas.

2
Capítulo 9 Lentes de Contato Gelatinosas

9.2.b.3 Osmolaridade das Lágrimas

O uso de LC rígida pode pro-


vocar hipotonicidade das lágri-
mas, particularmente devido ao reflexo
ser mais confortável. As alterações na
tonicidade do ambiente pré-corneal po-
dem, osmoticamente, provocar mudanças
lacrimal durante a adaptação. Em com- na espessura da córnea, possibilitando
paração, a LC de hidrogel provoca so- edema osmótico durante o uso noturno
mente mudanças pequenas e transitórias de LC. Essa mudança hipotônica das
na osmolaridade (MARTIN e HOLDEN, lágrimas contribui para o edema total
1983), provavelmente devido ao fato de com o olho fechado.

Os fatores que mais colaboram para o edema noturno normal são:

• hipóxia, causada pela disponibilidade reduzida de O2;


• temperatura crescente;
• mudanças na tonicidade devido à falta de evaporação de lágrimas durante o fechamento do olho.

9.2.c Oxigenação da Córnea na Presença da LC

O uso de LC constitui uma bar-


reira à passagem de O2 para a
superfície anterior da córnea, particular-
ideal, todavia, deve ser superior a 120 x 10-9
(HOLDEN e MERTZ, 1984).
O mecanismo de bombeamento de
mente durante o uso noturno, levando a
lágrimas com LC RGP é consideravel-
um estado de hipóxia relativa.
mente mais eficaz do que com LCG,
Durante o uso de LC, o O 2 pode como ficou demonstrado pela recupera-
alcançar a córnea por meio de dois ção mais rápida da córnea após o uso
mecanismos: noturno da LC RGP (ANDRASKO, 1986
e HOLDEN et al., 1988). A cada piscar
- difusão de O2 através do material da
ocorre uma troca lacrimal debaixo da
LC;
LC RGP de 10 a 20% (CUKLANZ e
- bombeamento ativado pelas pálpebras, HILL, 1969; FATT e HILL, 1970), en-
que promove a circulação de lágrimas quanto debaixo de uma LCG essa troca
ricas em O2 debaixo da LC. é de apenas 1 % (POLSE, 1979). Isso se
A LC, para não provocar edema deve a maior flexibilidade e maior Æ da
quando usada durante o dia, deve ter LCG em relação à LC RGP. 1
um Dk/L mínimo de 24 x 10-9. Entretan- Além de interferirem no forneci-
to, para permitir uma oxigenação que mento de O2 à superfície anterior da
não provoque alterações fisiológicas córnea, as LC também proporcionam
durante o UC, o Dk/L deve ser de, pelo uma barreira à eliminação de dióxido de
menos, 87 x 10-9. A transmissibilidade carbono e de debris celulares.

1
Ver Fascículo 1, Capítulo 2, página 12, figuras 8.a e 8.b.

3
Lentes de Contato Gelatinosas Capítulo 9

9.3 Efeitos do UP/UC

A reação de edema corneal decor-


rente do UC de LC varia signi-
ficativamente entre os indivíduos, depen-
(POGGIO et al., 1989). O risco relativo
de ceratite ulcerativa para o uso contí-
nuo versus uso diurno, na população
dendo da idade e do uso prévio de LC. estudada, foi de 3,9. Aqueles que fize-
Uma proporção significativa da atividade ram UC tiveram um risco 10 a 15 vezes
metabólica é devotada à manutenção da maior. Esse risco foi gradual e guardou
integridade epitelial. A hipóxia, quando relação com o número de noites conse-
prolongada e crônica, pode comprometer cutivas de uso.
a barreira epitelial e causar desprendi- Um estudo recente demonstrou, pela
mento do epitélio. Esse fato ocorre sem primeira vez em humanos, que a hipóxia
provocar sintomas, pelo efeito de banda- pré-corneal a curto prazo diminui a
gem da LC e, teoricamente, aumenta a descamação celular do epitélio corneal,
suscetibilidade da córnea à ação dos induz o edema estromal, mas não aumen-
microorganismos patogênicos. ta significativamente a aderência da
Uma LCG colocada no olho é envol- Pseudomonas aeruginosa (REN et al., 1999).
vida, rapidamente, por mucina e proteí- Em usuários de LC, os resultados revela-
nas que facilitam a fixação da bactéria ram que, tanto uma maior exposição à
(fig. 1). Durante o uso ou o armazena- hipóxia quanto a outros fatores intera-
mento, a LC pode contaminar-se com tivos, incluindo o efeito mecânico da
bactérias potencialmente patogênicas própria LC, mas não limitado a ele, po-
que, por estarem envoltas pelo biofilme, dem ser necessários para promover o
são de difícil remoção ou destruição. A aumento da aderência da Pseudomonas
contaminação da LC acontece por falta aeruginosa às células epiteliais.
de manutenção correta ou por exposição Apesar de ser a complicação mais
à flora periocular. séria, a ceratite ulcerativa não é a razão
As bactérias da LC podem invadir o mais importante da desistência do UP/
estroma corneal e causar infecção se ocor- UC. O motivo principal é o desconforto
rer uma falha do epitélio. provocado por ressecamento da LC e do
olho e por complicações oculares, tais
A hipóxia conseqüente ao UP/UC
como injeção conjuntival, CPG, infil-
pode, portanto, facilitar o aparecimento
trados corneais e alterações epiteliais.
de ceratite ulcerativa. Um estudo coro-
lário concluíu que a incidência anual Um estudo dos efeitos fisiológicos e
de ceratite ulcerativa com LCH foi de anatômicos da córnea, após 5 anos de
20,9 para 10.000 usuários de UP/UC, e uso de LCH UP/UC, mostrou que a uti-
de 4,1 para 10.000 usuários de UD lização de LCH por longos períodos

Efeitos do Uso de LC sobre


o mecanismo de defesa ocular

• Limita a troca lacrimal.


• Reduz a eficiência na limpeza dos debris.
• Rompe o FL.
• Provoca micro-traumas devido a efeitos metabólicos
e mecânicos.
• Aumenta a retenção de microorganismos na superfície
ocular.
Figura 1 – Representação dos efeitos do uso
• Retém mucina, inibindo seu papel normal de proteção. de LC sobre o mecanismo de defesa ocular

4
Capítulo 9 Lentes de Contato Gelatinosas

causa redução na oxigenação, hiperemia - remover e trocar a LC com maior


límbica e bulbar, afinamento da córnea, freqüência.
formação de microcistos no epitélio,
A maior contribuição para a redu-
potencializa o edema estromal e provoca
ção de complicações com o UC foi o
polimegatismo do endotélio (HOLDEN
desenvolvimento do sistema de molda-
et al., 1985). Uma análise subseqüente
gem (cast-molding), que permitiu a fabri-
dos dados dessa estatística revelou que
cação de LC em grande volume e a baixo
as alterações da córnea poderiam ser
custo, possibilitando a troca mais fre-
minimizadas através de algumas atitu-
qüente. Com o advento das LCH descar-
des (HOLDEN et al., 1987):
táveis aumentou muito o número de
- adaptar LC com maior mobilidade; usuários que fazem UP/UC e diminuiu
- adaptar LC com Dk mais alto; o número de complicações graves.

Indicações 9.4

R ecomenda-se o UC/UF em
casos de:
- falha persistente na manutenção das
LC.
- dificuldade de manuseio; O grande interesse dos pacientes
nessa modalidade de uso deve-se à conve-
- erros refrativos altos;
niência, ao conforto da visão contínua e à
- necessidades profissionais; falta de habilidade no manuseio das LC.

Contra-indicações para UP/UC 9.5


• Alterações na qualidade e quantidade • Severa blefarite
do FL • Severa alergia
• Lagoftalmo noturno • Meio ambiente inadequado
• CPG em curso ou pré-existente • Glaucoma
• Infecção ocular prévia • Diabete mellitus

Tipos de LCG Utilizadas


para UP, UC/UF 9.6
9.6.a LCH de Alta Hidratação

A s primeiras LC lançadas com possibilidade de UP/UC foram as LCH de alto


conteúdo aquoso, desenvolvidas a partir da polimerização de materiais alta-
mente hidrofílicos, não-iônicos e monômeros iônicos (N-vinyl pirrolidona, dimetilacri-

5
Lentes de Contato Gelatinosas Capítulo 9

lamide e ácido metacrílico). As de mate- Desvantagens desse tipo de hidrogel:


rial iônico, numa solução salina, aumen- • exige bom FL;
tam consideravelmente o índice de água
• apresenta grande afinidade com as
do hidrogel. Para LC de mesma espessu-
proteínas, facilitando sua deposição;
ra, quanto maior o conteúdo de água,
maior é a transmissibilidade de O2 atra- • apresenta alta taxa de evaporação de
vés do material. água, podendo provocar desidratação
epitelial.

9.6.b LCH Finas e de Baixa Hidratação

E m 1980, LCH ultra-fina, de


baixo conteúdo de água (série
O da Bausch & Lomb), tornou-se uma
A principal vantagem dessa LC é sua
maior resistência à formação de depósitos
por ter o polímero uma matriz mais den-
alternativa para o UP/UC. Sua pouca sa. Entretanto, mascara menos o astig-
espessura permite uma oxigenação com- matismo e é mais difícil de manusear,
parável à de alta hidratação. particularmente em graus baixos.

9.6.c LCH de Médio/Alto Conteúdo de Água

N uma tentativa de reduzir os problemas associados às LC de alto e baixo conteú-


do de água, a maioria das LCH utilizadas para UP/UC, atualmente, são feitas
de materiais com conteúdo de água entre 45 e 60%, com espessura central moderada,
variando de 0,05 a 0,12 mm.

9.6.d LC de Elastômero de Silicone

O polímero poli-dimetil-siloxane
(PDMS) pareceu ser ideal para
o UC de LC pelo fato de possuir um bai-
• adesão à córnea, sob condições nor-
mais, por apresentar baixo transporte
de água e alta recuperação das caracte-
xo módulo de elasticidade, excelente rísticas do silicone;
transparência e alta permeabilidade ao
• natureza hidrofóbica, que obriga a tra-
O2. A permeabilidade ao O2 de um puro
tamentos de superfície.
PDMS é, aproximadamente, 600 barrers,
que significa 60 vezes a permeabilidade LC de elastômero de silicone deve
de PHEMA ao O2. Resultados clínicos ser adaptada mais plana do que a de
mostraram que o UC de PDMS não pro- hidrogel, visto ter tendência a aderir à
vocou mudança na fisiologia da córnea, córnea, pelo alto módulo de elasticidade
mas apresentou outros problemas: do material.

9.6.e LCG de Silicone-Hidrogel

U m novo material que representa grande avanço na transmissibilidade do O2 é o


silicone-hidrogel, composto basicamente por um monômero de siloxane, um
monômero hidrofílico e uma ligação cruzada.

6
Capítulo 9 Lentes de Contato Gelatinosas

Um dos maiores desafios no projeto Nesses materiais, que tem um Dk/L su-
da LC silicone-hidrogel foi o tratamento perior a 100 x 10-9, a parte de silicone é
de superfície, em função dos monômeros responsável pela alta permeabilidade ao
de base siliconada serem hidrofóbicos e O2, enquanto a porção hidrofílica promo-
insolúveis em monômeros hidrofílicos. ve o movimento e o conforto.

Seleção do Candidato 9.7

O sucesso da adaptação depende


da seleção adequada dos usuá-
rios. Fatores como saúde geral, integrida-
exigências visuais, destreza manual e
disponibilidade financeira representam
uma relação parcial dos critérios para
de do segmento anterior, função das lá- avaliar as condições do paciente que de-
grimas, hábitos de higiene, motivação, seja fazer UP/UC.

Conceitos Estabelecidos 9.8

• O UC não significa deixar a LC no olho por • As LC devem ser removidas ao primeiro sinal de
tempo indeterminado. hiperemia, turvação visual e dor.
• O risco de complicações oculares aumenta a • Os olhos necessitam de períodos regulares de
cada dia de UC. descanso para retornarem à sua atividade me-
tabólica normal.
• O UC facilita a formação de depósitos na super-
fície, diminuindo o tempo de vida útil da LC. • O UC, mesmo quando sem sintomas, exige
exame oftalmológico semestral.

O candidato ideal ao UP/UC é aquele que já faz UD e é hábil no manuseio da LC.


Ao novo usuário2 recomenda-se remover as LC diariamente, por um período de 30 dias,
para adquirir destreza na inserção e remoção.

Tempo de Uso 9.9

E m 1981, quando foram aprova-


das as primeiras LC para UP/
UC, a indicação era para 30 dias de UC.
fosse limitado a 7 dias e 6 noites. Depois
desse prazo, devem ser removidas para
limpeza e desinfecção e recolocadas ape-
No final dos anos 80, baseado nos resul- nas no dia seguinte. Cada paciente preci-
tados de inúmeros trabalhos clínicos, o sa ser avaliado individualmente para ter
FDA passou a recomendar que o UC seu programa de uso apropriado.

2
Para seleção do candidato, ver Fascículo 3, Capítulo 7.

7
Lentes de Contato Gelatinosas Capítulo 9

9.10 Complicações de LCH UP/UC

O s problemas mais relacionados


com o UP/UC de LC são:
• Reações inflamatórias e auto-imunes.
• Reações de sensibilidade às soluções
• Hipóxia, que desencadeia a formação utilizadas nas LC.
de microcistos epiteliais, redução da • Ceratite infecciosa (a mais grave das
adesão epitelial, infecção, vasculari- complicações é a ceratite infecciosa,
zação corneal, problemas estromais e pela ameaça que representa à visão) ou
polimegatismo endotelial. não-infecciosa.

9.11 Como Aumentar a Segurança do UP/UC

A segurança no UP/UC depende: • Do assistente - Mesmo que haja um


extremo cuidado na adaptação da LC,
o profissional aumenta o risco do paci-
• Da qualidade da LC – Quanto maior a ente se as instruções de manuseio e
hidratação da LCH, melhor é a oxige- manutenção forem delegadas a pessoas
nação da córnea. As LC de silicone- não qualificadas.
hidrogel apresentam um Dk/L maior
• Do usuário – Embora esteja bem adap-
do que as hidrofílicas.
tado e tenha recebido os cuidados e as
• Do oftalmologista – É indispensável instruções necessárias, terá maior risco
um acompanhamento cuidadoso para de desenvolver complicações se não
reconhecer precocemente as alterações seguir as orientações de manutenção,
oculares causadas pelo uso da LC. tempo de uso e troca.

9.12 Controle da Adaptação

Tempo de Retorno Exame com LC:


Examinar o novo usuário: • Sobre-refração – A medida da AV deve
• 24 horas após o UC, o mais próximo ser comparada à do início do uso de
possível da hora do despertar, para LC.
avaliar o edema corneal noturno; Queixa de visão borrada pode ser pro-
vocada por:
• após 1 semana;
- depósitos na superfície da LC;
• após 1 mês;
- irregularidades na córnea por ceratite
• após 3 meses;
puntada;
• a cada seis meses. - astigmatismo irregular pelo efeito da
Esse intervalo varia conforme a ne- LC;
cessidade de cada paciente e, a cada re- - alterações refracionais reais ou causa-
torno, recomenda-se realizar os procedi- das pela LC;
mentos detalhados a seguir. - patologias intra-oculares.

8
Capítulo 9 Lentes de Contato Gelatinosas

• Exame de sensibilidade de contraste – significar alterações na porção central


Revela mudanças qualitativas na visão, da córnea, com mais freqüência no
muitas vezes não demonstradas pelo epitélio, causadas por edema, ceratite
teste padrão de Snellen. puntada superficial e/ou efeito mecâni-
co da LC. Aguarda-se a recuperação
• Exame à lâmpada de fenda – Além de
total da córnea para definir a refração.
permitir a verificação da integridade
ocular, esse exame permite avaliar: • Exame à lâmpada de fenda – Observar,
- o movimento; especialmente, se há desenvolvimento de
- o posicionamento; neovasos e alterações do epitélio corneal.
- a qualidade da superfície; A instilação de fluoresceína pode ser
- a qualidade da borda da LC. necessária para uma melhor avaliação.
É indispensável a eversão das pálpe-
Exame sem LC: bras para o exame dos tarsos.

• Refração – Espera-se que seja igual a • Ceratometria – Mais importante do que


anterior ao uso da LC. Para um exame a alteração dos parâmetros ceratométri-
de refração mais acurado, recomenda- cos é a avaliação da qualidade das miras,
se um intervalo de duas horas sem LC. que pode indicar defeitos epiteliais, alte-
Queixas de borramento visual podem rações do FL ou corneal warpage.

A cada retorno, rever com o usuário


os procedimentos de manutenção da LC.

Recomendações Úteis 9.13


Higiene das Pálpebras Remoção da LC se o olho estiver:
Uma boa higiene, particularmente • desconfortável e assim continuar após
das pálpebras, é essencial para o sucesso algumas piscadas;
do UP/UC. Meibomite e blefarite, ou
• vermelho ou com secreção, cujo fato
outras alterações de bordas palpebrais
deve ser relatado ao oftalmologista.
podem afetar a qualidade e quantidade
do FL, aumentando o risco de complica-
ções. Além disso, pode haver desidrata- Testar a visão de rotina, cobrindo cada
ção da LC como resultado de condições olho alternadamente.
ambientais, deficiência na quantidade e
qualidade do pestanejar e alterações do
próprio FL.
O UC não deve
Umidificação da LC ultrapassar 6 noites
Recomenda-se utilizar colírios e sete dias, quando
umidificantes/lubrificantes pelo menos então as LC devem
ao deitar e ao acordar. Seu uso auxilia ser removidas para
na remoção de debris, mantendo a LCH
limpeza e
limpa e confortável. Para evitar resse-
camento e desconforto é aconselhável desinfecção e
utilizá-los, também, em ambientes fe- recolocadas apenas
chados e climatizados ou em locais de no dia seguinte.
muito vento.

9
Lentes de Contato Gelatinosas Capítulo 9

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11
Lentes Descartáveis e de Troca Programada Capítulo 10

Cleusa Coral-Ghanem
10 Lentes Descartáveis e
de Troca Programada

L C descartável, muito mais do


que um material diferente,
é conseqüência do desenvolvimento do
LC, 87,9% utilizavam LCH, dos quais
57,7% usavam descartáveis.
As LC descartáveis foram desenvol-
método de fabricação por moldagem que
vidas para reduzir:
possibilita a reprodutibilidade a baixo
custo. Representa a filosofia atual de - necessidade de manuseio e manutenção;
adaptação dirigida à preservação da saúde
- contaminação da superfície;
ocular e à exigência de conforto dos paci-
entes. Em sentido estrito, LC descartável é - probabilidade de micro-trauma corneal,
aquela que ao ser removida não é reapro- por inserção e remoção repetidas;
veitada. Clinicamente, designa-se LC - complicações secundárias a depósitos;
descartável aquelas feitas de material
hidrogel que são substituídas após 1 dia, 1 - problemas relacionados à sensibilidade
semana de UC ou 2 semanas de UD, bem para as soluções de manutenção.
como as de silicone-hidrogel, desenvolvi- Os riscos do uso inadequado, da não
das para descarte mensal. Quando as LCH descartabilidade no tempo recomendado e
são reaproveitadas e descartadas antes de da compra em óticas ou por mala direta,
1 mês, denomina-se troca programada sem supervisão médica, provocam inúme-
freqüente. Para as hidrogel trocadas 1 vez ras complicações oculares desnecessárias.
por mês ou em intervalos de até 6 meses, O uso correto diminui o número de pro-
chama-se LC de troca programada. Lite- blemas em relação às LCH convencionais,
ralmente falando, todas as LC são de troca principalmente os causados por depósitos.
programada e descartáveis. O médico e o Muitos estudos científicos como os de
paciente planejam quando trocá-las. POGGIO & ABELSON (1993),
As primeiras LC descartáveis, desen- BOSWALL et al. (1993), HAMANO et al.
volvidas na Dinamarca no início dos anos (1994) e PORAZINSKI & DONSHIK
80, foram disponibilizadas para o mercado (1999) demonstraram que quanto mais
mundial somente em 1987 com o lança- novo o material, menor o acúmulo de
mento da ACUVUE (Vistakon - J&J). depósitos e melhor a oxigenação da
córnea. O tipo de material da LC descar-
A propaganda, com a conseqüente tável influencia na quantidade de depósi-
popularização, as múltiplas opções, a tos formados. Os materiais iônicos e de
comodidade e o custo relativamente bai- alto conteúdo de água (grupo IV do
xo têm aumentado o número de usuários. FDA1) sofrem muito mais o acúmulo de
Em 1995, conforme CORAL-GHANEM, depósitos do que os não-iônicos e de bai-
havia no Brasil, aproximadamente, xo conteúdo de água (grupo I do FDA1).
1.700.000 usuários de LC. Apenas 5% Por essa razão, esses últimos são reco-
utilizavam descartáveis. Um estudo de mendados para usuários que têm facili-
KARA-JOSÉ et al. (1997) mostrou que dade na formação de depósitos e para os
dentre 80 usuários de LC, 85% usavam portadores de CPG. Materiais do grupo
LCH, das quais 42,5% eram descartáveis. II1, com alta hidratação e não-iônicos
Num survey conduzido por CORAL- (ex.: efilcon C) que sofrem menos forma-
GHANEM et al. (2000), entre estudantes ção de depósitos do que os do grupo IV, já
universitários da área de saúde, foi estão sendo utilizados no sistema descar-
constatado que dos 207 usuários de tável/troca programada.

1
Ver Fascículo 1, Capítulo 2, página 11.
12
Capítulo 10 Lentes Descartáveis e de Troca Programada

Indicações 10.1
• UC - por conveniência ou por dificul- • Ambientes poluídos
dade de manuseio
• Formação excessiva de depósitos
• Sensibilidade a produtos químicos
• Portadores de CPG
• Usuários que necessitam LC sobressa-
• Uso terapêutico
lentes
• Uso pediátrico
• Usuários que perdem as LC com
freqüência

Vantagens 10.2
• Menor acúmulo de depósitos • Fácil reposição
• Menor número de complicações • Desnecessário o uso de produtos químicos
• Fácil manutenção • Possibilidade de testes gratuitos

Contra-Indicações 10.3

S ão todas as clássicas das LCH. Incluem: inflamação ou infecção do segmento


anterior do olho, alterações importantes do FL, hipoestesia corneal, ambiente
com poluição química.

Tipos de LC Descartáveis/
Troca Programada 10.4
Tipo de LC Formas de Uso Descartabilidade

Esféricas Diário 1 dia


(Transparentes e/ou tonalizadas) Contínuo/flexível 1-2 semanas
Contínuo/flexível 30 dias
Diário/flexível 1-3 meses

Esféricas cosméticas Diário/flexível 30 dias

Tóricas Contínuo/flexível 1-2 semanas


Diário/flexível 30 dias

Bifocais/ Multifocais Contínuo/flexível 1-2 semanas


Diário/flexível 30 dias

13
Lentes Descartáveis e de Troca Programada Capítulo 10

10.4.a Esféricas Transparentes e/ou Tonalizadas

10.4.a.1 LC Descartável de 1 Dia

C omo o próprio nome diz, devem


ser descartadas diariamente.
São especialmente indicadas para quem
É uma LC moldada, de material etafil-
con A, com 58% de água e com Dk/L de
28 x 10-9.
tem sensibilidade a produtos químicos e
Outras LC de descartabilidade diá-
para quem faz UO, tornando desnecessá-
ria como a Focus Dailies (nelfilcon A,
rio os cuidados de manutenção. Essas LC
69% de água, Dk/L de 26 x 10-9) fabri-
ainda têm um mercado pequeno no Bra-
cada pela CIBA Vision e a SofLens
sil devido a baixa condição econômica da
(hilafilcon A, conteúdo aquoso 70%,
maioria da população.
Dk/L igual a 33 x 10 -9 ) da Bausch &
A LC Acuvue 1-DAY, da Vistakon, foi Lomb, ainda não estão disponíveis no
a primeira a surgir no mercado mundial. Brasil.

As LCH descartáveis de 1 dia dão aos usuários de óculos e


de LC RGP a oportunidade de usar LC ocasionalmente,
com conforto e sem o incômodo de seguir
um programa de manutenção.

10.4.a.2 LC Descartável 1-2 Semanas

I ndica-se o uso de acordo com as recomendações do fabricante, aprovadas pelo


FDA e pela SOBLEC: “UC por 7 dias e depois descartar, ou remover todas as
noites e descartar em 14 dias”. Depois de observar as reações oculares do paciente, pode-
se determinar a forma ideal de uso, mas recomenda-se que a descartabilidade seja feita a
cada 2 semanas.

LC Descartáveis 1 – 2 Semanas – Brasil


Nome Comercial Material Grupo FDA
FDA Fabricante

Acuvue Etafilcon A – 58% IV Vistakon – J&J

Focus Week Vifilcon A – 55% IV CIBA Vision

Hydron Ocufilcon D – 55% IV Ocular Sciences


Biomedics 55

Precision UV Surfilcon A – 74% II Wesley-Jessen

SofLens 66 Alphafilcon A – 66% II Bausch & Lomb

14
Capítulo 10 Lentes Descartáveis e de Troca Programada

10.4.a3 LC Descartável de 30 Dias

A s LC descartáveis de 1 dia e de
1-2 semanas têm como maté-
ria-prima grupos químicos hidroxil que
LC, ela deve ter um Dk/L de pelo menos
87 x 10-9, embora a transmissibilidade
ideal, para evitar alterações fisiológicas,
absorvem água. Essa água absorvida é o deva ser maior do que 120 x 10 -9. Uma
meio pelo qual o O2 atravessa o material nova geração de materiais com um Dk/L
hidrogel. As moléculas de O2 dissolvem- superior a 100 x 10-9 foi desenvolvida em
se na lágrima e são levadas através do 1998. É o silicone hidrofílico, cuja super-
material da LC até a córnea. A permea- fície é tratada para ser resistente a depó-
bilidade e a transmissibilidade para o O2, sitos. Nesse tipo de material, a fase aquosa
portanto, são diretamente proporcionais tem a função de promover o conforto e o
ao conteúdo aquoso. Esses materiais têm movimento, enquanto a parte de silicone é
um Dk/L médio de 30 x 10-9 (cm/seg – ml responsável pela alta permeabilidade ao
O2/ml mm Hg). Conforme já menciona- O2 (Focus Night & Day da Ciba Vision e a
do2, para que possa ser feito o UC de uma Purevision, da Bausch & Lomb).

10.4.b Esféricas Cosméticas

O s parâmetros de adaptação a
serem respeitados são os mes-
mos exigidos para as LCH transparentes.
lher a marca da LC com base nessa medi-
da. As LC descartáveis cosméticas opa-
cas, disponíveis no Brasil, são fabricadas
Muitos usuários queixam-se da visão em pela Wesley Jessen. O material é Phem-
ambientes pouco iluminados devido ao filcon A, 55% de conteúdo aquoso, com
aumento do diâmetro pupilar que se tor- CB de 8,6 mm e Æ de 14,5 mm. A Color-
na maior do que o tamanho da pupila da Blends é encontrada nas cores azul, ver-
LC. Recomenda-se medir o diâmetro de, cinza e mel, enquanto a FreshLook
pupilar em baixa iluminação para esco- está disponível, também, na cor violeta.

10.4.c Tóricas3

O número de usuários de LC tem


aumentado, em parte, devido
ao desenvolvimento das LCH tóricas
tórica convencional. No Brasil, estão
disponíveis a Focus Toric (Vifilcon 55% -
CIBA Vision) de troca mensal; a SofLens
descartáveis e de troca programada. 66 Toric (Alphafilcon A 66% - Bausch &
Elas representam uma alternativa para os Lomb) e a FreshLook Toric (Phemfilcon
portadores de astigmatismo que não se A 55% - Wesley Jessen), que devem ser
adaptam às rígidas e têm receio de fazer descartadas após duas semanas.
um investimento maior numa LCH

2
Ver Fascículo 4, Capítulo 9, página 03.
3
As LCH tóricas serão estudadas no próximo capítulo.

15
Lentes de Contato Gelatinosas Capítulo 9

10.4.d Bifocais / Multifocais4

O uso de LC cresceu na década


de 80 com o desenvolvimento
das LCH, mais ainda na década de 90
teste gratuito, têm sido uma excelente
oportunidade para os présbitas que não
se adaptam à monovisão e se sentem in-
com as LC descartáveis. Grande parte seguros para investir em LC bifocal de
dos usuários, no ano 2000, já é présbita e troca anual. No Brasil, estão disponíveis
não quer retornar ao uso dos óculos. a Acuvue (Vistakon – J&J) para troca de 7
Por isso, a entrada das LC descartáveis – 14 dias e a Focus Progressives (CIBA
bifocais/multifocais, que permitem um Vision) para troca mensal.

Técnica de Adaptação
10.5 da LC Descartável Esférica

1º - Selecionar a CB conforme a cera- 3º - Examinar o paciente à lâmpada de


tometria e a disponibilidade de CB fenda após 20 minutos, tempo neces-
fornecida pelo fabricante. sário para a estabilização da LC no
olho. A LC deve ser confortável e
2º - Colocar LC diagnóstica com grau
apresentar um movimento de 0,5 a
baseado na refração, corrigindo o
1,00 mm.
equivalente esférico e a distância ao
vértice. Ter em estoque diferentes 4º - Fazer a sobre-refração.
marcas de LC descartáveis, para faci-
litar a adaptação de um maior núme-
ro de pessoas.

10.6 Tempo de Descartabilidade

Alguns fatores devem ser consi-


derados para recomendar o
tempo de troca:
quando o usuário retorna, além do exame
biomicroscópico, deve-se perguntar se
percebe alguma diferença quando troca
as LC velhas por novas. Se a diferença
- forma de uso - UC ou UD;
com as LC novas não for significativa, é
- diferenças oculares individuais; porque está trocando no tempo certo. Se
- condições financeiras do usuário. as LC novas são consideradas bem me-
lhores que as velhas, recomenda-se uma
Para definir o tempo ideal de descar- troca mais freqüente. Por outro lado,
tabilidade, a princípio, segue-se as reco- deve-se levar em conta que quanto mais
mendações do fabricante. Entretanto, nova for a LC melhor para o olho.

4
As LC bifocais serão estudadas num capítulo à parte.

16
Capítulo 9 Lentes de Contato Gelatinosas

Manutenção 10.7

A LC deve ser limpa e desinfetada sempre que removida do olho. Recomenda-se


utilizar soluções multi-uso. As específicas são dispensadas em LC de troca pro-
gramada freqüente, a não ser durante o curso de uma CPG, se o paciente não quiser in-
terromper o uso da LC ou fazer uso de LC descartável de 1 - dia.

Acompanhamento Oftalmológico 10.8

A responsabilidade do médico é
adaptar a LC criteriosamente e
dar boa assistência oftalmológica. O paci-
me à lâmpada de fenda deve ser feito
cada vez que forem fornecidas novas cai-
xas de LC.
ente deve ter fácil acesso aos auxiliares e
É indispensável que todo o usuário
ao médico.
com queixas seja atendido e reavaliado
Recomenda-se examinar os usuários para evitar complicações oculares mais
que dormem com as LC a cada 6 meses; sérias e o abandono do uso da LC.
os outros, a cada ano. Além disso, o exa-

Complicações mais Freqüentes 10.9

A maioria dos problemas associa-


dos ao uso de LC descartáveis é
proveniente da falta de orientação médi-
Uma das complicações mais fre-
qüentes é a ceratite puntada superficial.
Conforme POGGIO (1989), o UC pode
ca correta quanto ao esquema de uso e provocar edema corneal, aumentando de
descartabilidade, ou da falta de obediên- 10 a 15 vezes o risco de ceratite infecciosa
cia às orientações recebidas. Conforme quando comparado ao UD. As alterações
CORAL-GHANEM (2000), 57,6% dos do epitélio, a hipóxia e a presença de
usuários de LCH utilizam descartáveis, e bactérias na LC formam a tríade cau-
desses, 88,5% não seguem os padrões de sadora do desenvolvimento de úlcera
uso e de descartabilidade estabelecidos. corneal infecciosa. A introdução das LC
São freqüentes os casos de infiltra- descartáveis parece não ter afetado a inci-
dos corneais, olho vermelho agudo e CPG dência de ceratite ulcerativa. Estudos de
em pacientes que fazem UC. Embora as POGGIO & ABELSON (1993) e de
LC descartáveis tenham diminuído as NILSSON & MONTAN (1994) demons-
complicações causadas por depósitos, o traram que a incidência de ceratite ulce-
Dk/L da maioria das LC descartáveis rativa foi similar com descartáveis e com
utilizadas é semelhante ao das LCH con- LCH de troca anual. Entretanto, nos dois
vencionais; portanto, não resolvem o pro- estudos, os dados sugerem que a severi-
blema da hipóxia. dade dessa complicação é maior com o

O UC deve ser limitado pelas diferenças individuais


e monitorado pelo oftalmologista.

17
Lentes Descartáveis e de Troca Programada Capítulo 10

UC das LCH convencionais. A ceratite taram ser significativamente menor em


ulcerativa associada ao uso de descartável pacientes que trocam as LC com interva-
é mais freqüente na periferia do que no los de 3 semanas ou menos. Assim, a tro-
centro da córnea e os microorganismos ca constante da LC parece ser benéfica
responsáveis são, com mais freqüência, para a superfície ocular.
gram-positivos do que gram-negativos.
Um estudo retrospectivo de ALVES
Ainda não se sabe como o uso das novas
(1998) demonstrou que as LC descartáveis,
LC descartáveis de silicone hidrogel irão
em regime de troca programada, sob super-
afetar esse quadro.
visão médica, são uma boa alternativa para
Quanto à incidência de CPG, pacientes que tiveram insucesso com ou-
PORAZINSKI e DONSHIK (1999) rela- tros tipos de LC.

Para evitar complicações e diminuir a desistência,


o usuário de LC deve ser educado sobre a forma correta
de utilizá-las, ser orientado sobre os sinais e sintomas de
alerta para problemas oculares e receber as informações
também por escrito.

Histórico das LC Descartáveis

Tempo de Uso Lançamento


Tipo de LC Nome da LC (fabricante)
(dias) USA Brasil

7 – 14 Acuvue (Vistakon – Johnson & Johnson) 1987 1990

Esféricas 1 One-Day (Vistakon – Johnson & Johnson) 1994 1998


Transparentes
7 – 30 Focus Night & Day (Ciba Vision) 1998 1999

7 – 30 Purevision (Bausch & Lomb) 1998 1999

Esféricas 30 FreshLook Colors (Wesley Jessen) 1994 1995


Cosméticas
30 FreshLook Color Blends (Wesley Jessen) 1998 1999

30 Focus Toric (CIBA Vision) 1994 1996

7 – 14 SofLens 66 Toric (Bausch & Lomb) 1998 1999


Tóricas
7 – 14 FreshLook Toric (Wesley Jessen) 1997 2000

7 – 14 Acuvue (Vistakon – Johnson & Johnson) 2000 2000

Bifocais / 7 – 14 Acuvue (Vistakon – Johnson & Johnson) 1998 1999


Multifocais
30 Focus progressives (CIBA Vision) 1999 2000

18
Capítulo 10 Lentes Descartáveis e de Troca Programada

Referências Bibliográficas

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19
Adaptando Lentes de Contato Gelatinosas (LCG) Tóricas Capítulo 11

11
Adaptando Lentes de
Contato Gelatinosas
Cleusa Coral-Ghanem
(LCG) Tóricas

11.1 Introdução

A s LCG esféricas, diferente das


LC rígidas e RGP, não masca-
ram o astigmatismo corneal por serem
mica que, segundo LINDSAY (1997), foi
iniciada por FANTI em 1975, as LC tor-
naram-se mais leves e possibilitaram o UP.
moles e flexíveis e se amoldarem à córnea Além disso, esse tipo de desenho, associa-
subjacente. Para corrigir o astigmatismo, do ou não a outras técnicas de estabiliza-
corneal e/ou residual, foram desenvolvi- ção, permitiu a fabricação com orientação
das as LCG tóricas. As primeiras torna- estável do eixo e reprodutibilidade.
ram-se disponíveis em 1975. Nesse ano,
Na última década foram desenvolvi-
HOLDEN, discutindo o critério para a
dos desenhos de LCG tóricas capazes de
prescrição de LC tóricas, mostrou que
corrigir quase todos os graus de astigma-
45% da população necessitava de uma
tismo regular com resultados visuais bas-
correção cilíndrica de até 0,75 D e 25%
tante satisfatórios. Apesar disso, o núme-
apresentava cilindro de 1,00 D ou mais.
ro de adaptações é ainda muito pequeno
As técnicas utilizadas para a estabili- em relação às reais possibilidades. A mai-
zação de LCG tóricas, até a década de 80, oria dos portadores de astigmatismo, bons
eram o prisma de lastro e a truncagem que candidatos para LCG tóricas, continuam
as tornavam espessas e desconfortáveis. A com óculos porque persiste na população
partir daí, principalmente pelo desenvol- o conceito antigo de que o astigmatismo
vimento da técnica de estabilização dinâ- só pode ser corrigido com LC rígidas.

11.2 Métodos de Fabricação

São três os mais utilizados:


- fresagem;
- reprodução, que é uma forma especial de torneamento voltada à produção
de superfícies tóricas;
- associação de torneamento mais moldagem (superfície anterior torneada e posterior
moldada).
Como regra geral, o método de reprodução fornece LCG tóricas mais finas, com
reprodutibilidade superior àquelas feitas pela técnica de fresagem.

20
Capítulo 11 Adaptando Lentes de Contato Gelatinosas (LCG) Tóricas

Desenhos de LCG Tóricas 11.3

P ara a escolha do desenho, leva-se


em conta a refração, a toricidade
da córnea, o método de estabilização da
A fabricação do primeiro é mais
complexa por requerer maior número de
etapas, entretanto apresenta maior esta-
LC, o desempenho fisiológico e as consi- bilidade em cilindros altos.
derações relativas à fabricação.
Com os métodos atuais de fabrica-
Os dois tipos básicos de desenho ção, nenhum deles tem vantagens espe-
apresentam: ciais quando se trata de LC com cilin-
dros de 0,75 a 2,50 D. A LCG tórica
- superfície posterior tórica com superfí-
assume a configuração de bitórica
cie frontal esférica;
quando colocada sobre uma córnea
- superfície posterior esférica com super- tórica. A toricidade é transferida de
fície frontal tórica. uma superfície para a outra.

11.3.a Superfície Posterior Tórica com


Superfície Frontal Esférica

É desenhada de forma a encaixar-


se sobre a córnea tórica, neutra-
lizando o astigmatismo e auxiliando a
Clinicamente, entretanto, resultados
razoáveis podem ser obtidos.

estabilização da LC. O astigmatismo Indica-se para altos astigmatismos


lenticular não é, teoricamente, corrigível corneais, principalmente se o componen-
através do uso desse tipo de desenho. te esférico for menor do que o cilíndrico.

11.3.b Superfície Posterior Esférica ou


Asférica com Superfície Frontal Tórica

E ste desenho é indicado quando


o astigmatismo for residual ou
corneal até 2,00 D. Assume característica
córnea pode ser feita através de prisma
de lastro, truncagem ou pelo método de
estabilização dinâmica. Sua espessura e
bitórica quando colocada sobre a córnea geometria impõem um limite máximo de
tórica. A estabilização da LC sobre a cilindro em torno de 4,50 D.

Técnicas de Estabilização 11.4

P ara uma AV estável é necessário manter o eixo do cilindro na posição correta.


A rotação pode ser evitada através de: - superfície posterior tórica;
- prisma de lastro;
- peri-lastro;

21
Adaptando Lentes de Contato Gelatinosas (LCG) Tóricas Capítulo 11

- desenho truncado; - lenticulação excêntrica;


- estabilização dinâmica - combinação das técnicas acima citadas.
(desenho chanfrado);

11.4.a Superfície Posterior Tórica

A estabilização com esse tipo de


desenho, conforme já mencio-
nado, é conseguida pelo efeito de encaixe
incorporar o prisma estabilizador apenas
na sua área periférica. Uma ZO livre de
prisma permite que a LC seja produzida
da LC sobre a córnea tórica, como se mais fina. Apresenta a vantagem adicio-
fosse uma luva. nal de não introduzir o desequilíbrio
Tanto em superfície tórica posterior vertical quando apenas um dos olhos
como em anterior, o desenho da LC deve necessita correção tórica.

11.4.b Prisma de Lastro1

O princípio básico do prisma de


lastro é exercer peso. Junto
com o fator gravidade, auxilia no posicio-
Bordas espessas na região da base do
prisma podem ser afinadas durante o
estágio de manufatura, sem alterar seu
namento da LC, puxando-a para baixo efeito de peso. A sensação de desconforto
após o piscar. Utiliza-se um prisma de depende, em grande parte, da posição das
1,00 a 1,50 D, de base inferior, cujo cen- pálpebras em relação à borda da LC.
tro está localizado às 6 h. A espessura
Essa técnica de estabilização costu-
aumentada, associada ao pouco movi-
ma causar efeitos prismáticos verticais,
mento da LC, pode causar edema corneal
quando utilizada em astigmatismos
localizado, além de provocar desconforto
monoculares.
em pacientes com pálpebras sensíveis.

11.4.c Peri-Lastro

A estabilização é conseguida
através da remoção de um
carrier lenticular alto negativo da porção
um lastro na porção inferior da mesma.
Na prática, é semelhante ao prisma de
lastro, exceto que, no peri-lastro, todo o
superior da LC. Essa técnica reduz a prisma está fora da região da ZO.
interação pálpebra-borda da LC e produz

11.4.d Desenho Truncado2

Caracteriza-se pela remoção, em


corte horizontal, de 0,50 a
1,50 mm de largura na borda inferior,
durante o processo de manufatura.
Alguns fabricantes utilizam o desenho
truncado também na porção superior da

1
Ver Fascículo 1, Capítulo 3, página 18, figura 3.
2
Ver Fascículo 1, Capítulo 3, página 19, figura 4.

22
Capítulo 11 Adaptando Lentes de Contato Gelatinosas (LCG) Tóricas

LCG. Quanto maior o diâmetro, maior mente na primeira parte do dia. Com o
poderá ser a parte seccionada. A finali- passar das horas de uso, ela pode resse-
dade da truncagem é apoiar a borda car, formar uma pequena bolha que afas-
cortada na borda palpebral inferior. Para ta a LC do globo ocular, irritando a pál-
o sucesso do uso da LCG truncada, o pebra inferior. Outra dificuldade com
posicionamento da borda palpebral infe- esse desenho, semelhante ao que ocorre
rior deve estar no limbo inferior. Com o com o prisma de lastro, é a instabilidade
propósito de melhorar a estabilização, em casos de cilindros oblíquos. A espes-
costuma-se associar prisma de lastro de sura irregular produzida por esse tipo de
base inferior, de 1 ou 1,50 D, que tem a cilindro pode tornar muito difícil a esta-
desvantagem de aumentar a espessura e bilização da LC.
o desconforto.
Para o sucesso do uso da LCG trun-
Uma LCG tórica truncada, bem cada, o posicionamento da borda palpebral
adaptada, costuma funcionar confortavel- inferior deve estar no limbo inferior.

11.4.e Estabilização Dinâmica3

É alcançada pelo afilamento da


superfície anterior, em sua par-
te inferior (simples slab-off) ou superior
nho, passaram a ficar mais estáveis devi-
do às mudanças recentes que incorporam
um carrier negativo, antes da adição das
e inferior (duplo slab-off), com o objetivo zonas afiladas, permitindo que o diferen-
de reduzir a espessura, encaixar a LC cial aumentado de espessura funcione
sob as pálpebras e proporcionar confor- semelhante às LC tóricas negativas.
to. As zonas afiladas no topo e na base
A técnica de estabilização dinâmica
da LC fazem com que o centro mais
é uma das mais utilizadas, por ser facil-
espesso se posicione entre elas, promo-
mente reprodutível e poder ser associada
vendo estabilização dinâmica. Com essa
a outros métodos.
técnica, a toricidade da LC fica limitada
à porção central. O diâmetro da ZO cos-
tuma ser de 8 mm, situando-se dentro
da abertura palpebral. Para que o paciente
tenha conforto e
Alguns fabricantes fazem o chanfro
visão boa imediata,
da porção superior maior do que o da
inferior, por levarem em conta que a deve-se observar
maior parte da ação do piscar é executa- as marcas a laser
laser,,
da pela pálpebra superior. utilizadas pelo
Essa técnica tem mais êxito quando fabricante para a
o diferencial de espessura dos perfis hori- orientação do eixo,
zontal e vertical é grande, como em cor- antes da colocação
reções de altas miopias e cilindro contra- da LC.
a-regra. As LC positivas, com esse dese-

11.4.f Lenticulação Excêntrica

M uitos laboratórios têm utilizado a lenticulação excêntrica, especialmente


na construção da LC tórica frontal, em que a espessura da borda pode ter

3
Ver Fascículo 1, Capítulo 3, página 19, figuras 5a e 5b.

23
Adaptando Lentes de Contato Gelatinosas (LCG) Tóricas Capítulo 11

variação significativa. A remoção do oblíquo, freqüentemente provoca deslo-


excesso de material da superfície ante- camento torsional (fig. 1).
rior, semelhante ao peri-lastro, reduz a
espessura da borda, aumenta a estabili-
dade e o conforto, e minimiza a compres-
são na conjuntiva escleral.
A espessura torna-se quase igual em tor-
no da periferia da LC e o prisma perma-
nece nos seus 2/3 centrais. A estabilidade
proporcionada por esse desenho é mais
evidente em correções de cilindro oblí-
quo, quando a abertura da margem Área afilada
palpebral encontrando por primeiro a
parte mais espessa da LC, num ângulo Figura 1 - Lenticulação excêntrica

Indicação de LC conforme
11.5 o Tipo de Astigmatismo

A primeira atitude para selecionar a LC correta é analisar o tipo e a quantidade


de astigmatismo em relação à refração total.

Cilindro refrativo maior que o cilindro corneal


- Para uma dioptria ou menos - Para mais de uma dioptria
Exemplo 1: Exemplo 1:
Rx = -3,00 -1,00 x 180o Rx = -3,00 -1,75 x 90o
C = 43,00/44,00 x 180o
C = 43,00/43,50 x 90o
(astigmatismo residual)
- Rígida esférica4
- Rígida tórica de superfície frontal
- Rígida asférica frontal4
- LCG tórica
- LCG tórica
Exemplo 2:
Rx = -3,00 -4,50 x 10o
C = 43,25 / 46,00 x 100o
(astigmatismo misto residual)
- LCG tórica
- Rígida bitórica

Cilindro corneal maior que o cilindro refrativo


Exemplo 1: - LCG com superfície posterior tórica
Rx = -3,00 -0,50 x 180 o
- Rígida bitórica5
C = 43,00 / 46,50 x 90o
(astigmatismo corneal e lenticular balanceados)

Cilindro corneal igual a cilindro refrativo


- Para astigmatismo de 2,5 D ou menos
Exemplo 1: - Rígida esférica
Rx = -3,00 -1,50 x 20o - LCG tórica
C = 43,00 / 44,50 x 110o
(astigmatismo com-a-regra)

4
Adapta-se abaixo de K.
5
A diferença entre a curvatura horizontal e vertical auxilia na estabilização da LC.

24
Capítulo 11 Adaptando Lentes de Contato Gelatinosas (LCG) Tóricas

Exemplo 2: Exemplo 3:
Rx = -3,00 -1,50 x 40o Rx = -3,00 -1,50 x 90o
C = 43,00 / 44,50 x 130o C = 43,00 / 44,50 x 180o
(astigmatismo oblíquo) (astigmatismo contra-a-regra)
- Rígida esférica - Rígida esférica
- LCG tórica - LCG tórica

- Para astigmatismo maior que 2,5 D

Exemplo 1: - Rígida esférica


Rx = -3,00 -3,00 x 10o
- Rígida bitórica6
C = 43,00 / 46,00 x 110o
(astigmatismo com-a-regra) - LCG com superfície posterior tórica

Critérios Básicos para a Indicação


de LCG Tóricas 11.6
O astigmatismo da córnea é
mensurável através do ceratô-
metro e da vídeoceratoscopia. Sua com-
Para prescrever LCG tórica, deve-
se avaliar cada candidato individual-
mente, considerando-se os fatores abai-
paração com a refração dos óculos de- xo descritos.
monstra a possibilidade de haver astig-
matismo residual.

11.6.a Quantidade e Tipo de Astigmatismo

Indica-se LCG tórica em astigmatismo:


- regular, igual ou maior do que 1,00 D;
- regular de 0,75 D, quando representar um terço ou mais do erro refrativo total;
- lenticular (residual)7, - encontrado freqüentemente em associação a córneas esféricas
ou com moderado astigmatismo contra-a-regra;
- irregular e ceratocone, quando o paciente não tolerar LC RGP, se fornecer AV satisfatória.

Evita-se em astigmatismo:
- irregular, sempre que for possível adaptar RGP;
- associado à LC bifocal/multifocal gelatinosa8;
- pequeno, associado à ambliopia;
- abaixo de 1,00 D, quando o paciente estiver satisfeito com LCG esférica, especialmente
se fizer apenas UO, ou se estiver preocupado com o custo da LCG tórica.

6
Indica-se LC bitórica quando a córnea apresenta K mais plano do que 42,00 D e astig-
matismo maior do que 3,00 D.
7
Os graus do astigmatismo lenticular/residual variam de -0,75 a -1,50 D e os eixos
oscilam em torno de 90o (± 15o).
8
Os pacientes présbitas com astigmatismo que têm melhor desempenho com RGP bifocal.

25
Adaptando Lentes de Contato Gelatinosas (LCG) Tóricas Capítulo 11

11.6.b Eixo do Astigmatismo

Q uando o eixo do meridiano


mais plano da córnea for dife-
rente do eixo do cilindro dos óculos, reco-
instabilidade visual e astenopia do que o
astigmatismo com-a-regra. O resultado
da adaptação em astigmatismo oblíquo
menda-se adaptar LC RGP, que tem o pode não ser satisfatório porque, com o
poder de mascarar o cilindro cruzado re- piscar, a pálpebra toca inicialmente o
sultante. A LCG tórica tende a acomodar- meridiano mais espesso da LC, fazendo-a
se sobre o meridiano primário da córnea. girar. O desenho de LC com lenticulação
excêntrica, que produz borda com espes-
O astigmatismo miópico oblíquo sura uniforme em toda a circunferência,
contra-a-regra, não corrigido, causa mais minimiza esse problema.

11.6.c Predominância Ocular

P acientes podem tolerar cilindro


não corrigido de até 1,50 D no
seu olho não-dominante, mas ao mesmo
olho dominante. Astigmatismo residual
é facilmente tolerado por pessoas porta-
doras de ametropias altas e AV abaixo
tempo exigem que um cilindro tão pe- do normal.
queno quanto 0,50 D seja corrigido no

11.6.d Avaliação das Necessidades Visuais

Q uanto maior a necessidade vi-


sual do paciente nas suas tare-
fas diárias, menor a quantidade de astig-
Présbitas jovens requerem especial
consideração porque o eixo da LC desvia
no olhar para baixo, podendo afetar a AV
matismo que ele tolera. Por exemplo, um e fatigar o sistema de acomodação.
digitador pode necessitar a correção de
Alguns fabricantes (Califórnia
um cilindro tão pequeno quanto 0,50 D
Optics, Ocu-Ease Optical, United
para possibilitar seu trabalho. Por outro
Contact Lens e Westcon Contact Lens)
lado, uma pessoa sem tarefas visuais
estão disponibilizando, nos Estados
específicas pode sentir-se satisfeita com
Unidos, as LCG tóricas bifocais.
um astigmatismo residual maior do que
1,00 D, contanto que o componente esfé- Deve-se evitar LCG tórica em paci-
rico de seu erro refrativo seja corrigido. entes que já apresentaram complicações
Esse fato é freqüente em pessoas que anteriores relacionadas à hipóxia durante
utilizam LCG para a prática de esportes. o uso de LCG esférica. Isso deve-se à
espessura maior no local do prisma e ao
fato de ainda não estarem disponíveis em
materiais silicone-hidrogel.

11.6.e Considerações Ópticas

O s princípios ópticos das LC rígidas tóricas não se aplicam quando se pretende


adaptar LCG tórica, porque essa última tende a se amoldar à córnea, fazendo

26
Capítulo 11 Adaptando Lentes de Contato Gelatinosas (LCG) Tóricas

com que a lente lacrimal, que se forma ao meridiano vertical ou ao horizontal.


entre a superfície posterior da LC Eixos oblíquos freqüentemente fornecem
e a superfície frontal da córnea, seja resultados visuais piores do que os ócu-
insignificante. los. Costumam ter melhor correção com
Por isso, para calcular uma LCG LC rígida esférica ou asférica.
tórica não é necessário considerar a lente As LCG tóricas podem ser inaceitá-
lacrimal. Todo o astigmatismo ocular é, veis para pacientes que percebem peque-
normalmente, corrigido pela incorpora- nas mudanças na prescrição de óculos e/
ção do cilindro no seu desenho. ou para pessoas que têm alta exigência
Consegue-se AV semelhante à for- visual no trabalho. Quando se posicio-
necida pelos óculos quando o astigma- nam fora do eixo prescrito, provocam
tismo se apresenta em posição próxima astigmatismo induzido.

11.6.f Anatomia e Tônus Palpebral

O deslocamento da LC e sua
rotação têm como causa princi-
pal a dinâmica das pálpebras.
pelos pacientes portadores de alterações
do FL. A pálpebra ideal deve ter tensão
normal e uma abertura relativamente
ampla. Além disso, não deve apresentar
Fissuras palpebrais pequenas ou
elevação de tecido conjuntival
pálpebras muito apertadas costumam
(TOMLINSON, 1982).
provocar pressão excessiva sobre a LC,
alterando sua estabilidade rotacional. A posição ideal da pálpebra inferi-
No entanto, uma abertura palpebral mui- or é no limbo inferior. Quando ela se
to ampla, quando associada a um padrão posiciona a 2 mm ou mais acima do
de piscamento incompleto, facilita a desi- limbo ou é movida bruscamente do
dratação da LC e a formação de depósi- plano horizontal, provoca distúrbios
tos. Os sintomas são mais percebidos visuais pelo deslocamento do eixo.

Fatores que interferem


na Estabilização da LCG 11.7
- Desenho da LC, que depende do erro eixos oblíquos (entre 30º e 60º ou entre
refrativo e da técnica de estabilização. 120º e 150º). Conforme esse mesmo autor,
- Ação das pálpebras. o principal fator que afeta a rotação é o
- Relação da adaptação da LC sobre a ponto inicial de contato entre a pálpebra
córnea. superior e o meridiano mais espesso da
LC. Nas LCG tóricas de eixo oblíquo,
- Espessura. isso implica em efeitos rotacionais im-
- Efeito da gravidade. portantes uma vez que o contato com a
pálpebra superior sempre afetará uma
Conforme HANKS (1983), a gravi-
dade exerce um efeito pouco significati- margem do meridiano mais espesso antes
vo; mais importante é a interação entre a da outra. Quando a pálpebra superior
pálpebra superior e a espessura da LC. desce, ela força a LC para baixo nesse
primeiro ponto de contato, determinando
A espessura é determinada, particu- a sua rotação numa certa direção (fig. 2).
larmente, pelo eixo e grau do astigma-
tismo. Para as LCG tóricas que incorpo- Baseando-se apenas no perfil de
ram estabilização dinâmica, GUNDEL espessura, GUNDEL prediz rotação na-
(1989) demonstrou que a influência rota- sal para eixos oblíquos próximos de 45o
cional é maior nas LC com cilindros em no olho esquerdo e de 135o no direito.

27
Adaptando Lentes de Contato Gelatinosas (LCG) Tóricas Capítulo 11

Numa LC esferocilíndrica, o meridiano


mais espesso está a 90o do eixo do cilindro
negativo. Assim, se a prescrição da LCG
tórica for
for,, por exemplo, –2 –1,75 X 50o,
a maior espessura da LC estará a 140o.
Ao piscar
piscar,, a pálpebra superior tocará
primeiro nessa porção mais espessa,
girando a LC no sentido nasal (fig. 2).
Figura 2 - LCG Tórica em astigmatismo
de eixo oblíquo

11.8 Método de Adaptação Empírico

D ispensa-se o teste com LC de


prova, mas não se prevê as
alterações de posicionamento do eixo do
- Grau Cilíndrico - solicitar igual ou
menor do que o cilindro da refração.
- CB - utilizar a ceratometria e as opções
cilindro causadas pela flexibilidade do
fornecidas pelo fabricante.
material e pelo movimento das pálpebras.
- Eixo do cilindro:
A LCG é encomendada pela cerato-
metria e refração, na forma de cilindro OD - Somar 5-10o do eixo do cilindro
negativo, levando em conta a orientação da refração;
do fabricante com o qual se trabalha. OE - Subtrair 5-10o do eixo do cilindro
- Grau Esférico - usar o da refração, cor- da refração.
rigindo a distância ao vértice em graus
acima de 4 D.

Guia de seleção do eixo


Olho esquerdo Olho direito
Eixo do cilindro Eixo do cilindro
Eixo a pedir Eixo a pedir
da refração da refração
1o – 10o 180o 1o – 10o 10o
11o – 20o 10o 11o – 20o 20o
21o – 30o 20o 21o – 30o 30o
31o – 40o 30o 31o – 40o 40o
41o – 50o 40o 41o – 50o 50o
51o – 60o 50o 51o – 60o 60o
61o – 70o 60o 61o – 70o 70o
71o – 80o 70o 71o – 80o 80o
81o – 90o 80o 81o – 90o 90o
91o – 100o 90o 91o – 100o 100o
101o – 110o 100o 101o – 110o 110o
111o – 120o 110o 111o – 120o 120o
121o – 130o 120o 121o – 130o 130o
131o – 140o 130o 131o – 140o 140o
141o – 150o 140o 141o – 150o 150o
151o – 160o 150o 151o – 160o 160o
161o – 170o 160o 161o – 170o 170o
171o – 180o 170o 171o – 180o 180o

28
Capítulo 11 Adaptando Lentes de Contato Gelatinosas (LCG) Tóricas

Método de Adaptação
com LCG Tórica de Teste 11.9

O s princípios de adaptação para LCG tóricas são muito semelhantes àqueles


descritos para LCH esféricas9.

11.9.a Técnica de Adaptação

P ara iniciar o teste, selecionar


uma LC com grau esférico, ci-
líndrico e eixo mais próximos da refração
minutos para sua estabilização e exami-
nar à lâmpada de fenda. Esse tempo é
necessário para que haja troca da solução
do paciente, utilizando CB de acordo de manutenção pela lágrima do paciente,
com os parâmetros ceratométricos. Al- pois pequenas variações na tonicidade e
guns tipos de LC estão disponíveis ape- pH das soluções, em relação a composi-
nas na CB média. Aguardar de 20 a 30 ção individual da lágrima, podem alterar
as características da adaptação.

11.9.b Avaliação da Adaptação

11.9.b.1 Movimento

U ma LC bem adaptada é confor-


tável em todas as direções do
olhar. O movimento vertical durante o
interface córnea-LC, sem causar instabi-
lidade do eixo.
Se a LC não estiver apresentando
piscar deve ser de, aproximadamente,
0,25 a 0,50 mm quando o olho está em movimento durante o ato de piscar, deve-
posição primária. No olhar para cima ou se pressioná-la levemente usando a pál-
para os lados, um movimento de 0,5 mm pebra inferior. Se demonstrar resistência,
é suficiente para liberar os debris da mudar para CB mais plana.

11.9.b.2 Diâmetro

O Æ total da LC influencia sua centralização e estabilidade. Prefere-se utilizar Æ


grande, pois representa uma área maior disponível para as zonas de estabiliza-
ção na periferia da LC.

9
Ver Fascículo 3, Capítulo 8.

29
Adaptando Lentes de Contato Gelatinosas (LCG) Tóricas Capítulo 11

11.9.b.3 Rotação

A estabilidade é afetada pela ação Para auxiliar na avaliação da rotação


das pálpebras. A superior, ao se fechar, do eixo, alguns fabricantes utilizam mar-
desloca a LC no sentido oblíquo, fazen- cas a laser nos meridianos de 90o e 180o;
do-a girar, deslocando-a para o lado nasal outros o sistema de relógio através de
ou para o temporal. A influência da pál- marcas às 3, 6 e 9 horas, com distância de
pebra inferior só é observada quando se 30o entre cada hora. Em algumas LC
utiliza LC tórica truncada. essas marcas estão a 10o, 15o ou a 20o
umas das outras (fig. 3).

OPTIFIT Hydrocurve 3 Hydrasoft e Flexlens Toric Focus Toric Hydron Ultra Fresh Look Acuvue Toric
(WJ) Preference (Flexlens) (CIBA) T (Ocular Toric (WJ) (Johson&
TORIC
Toric Sciences) Johson)
Optima Toric e Proclear Toric
D2 ou D3 (CooperVision)
Soflens 66 Tailor Separação Separação
(WJ)
Toric (B&L) Sunsoft Made Toric de 15o de 10o
Separação (Sunsoft) (Biocompatibles)
Separação
de 20 o
de 30o

Figura 3 – Marcas para orientar a rotação de LC

Essas marcas servem para orientar o oftalmologista quanto à posição do eixo e deter-
minação da rotação. Além disso, auxiliam o usuário na forma correta de colocá-las, a fim
de alcançar uma rápida estabilização.

Análise da Rotação para a Determinação do Eixo a ser Solicitado


Eixo sem rotação Rotação no sentido horário Rotação no sentido anti-horário

Figura 4.a - LC centralizada Figura 4.b - LC deslocada 20o Figura 4.c - LC deslocada 20o
no sentido horário no sentido anti-horário

Se as marcas da LC (3, 6 e 9 h) coinci- Se a LC de teste apresentar rotação Quando a rotação for no sentido
direm com as de um relógio, nenhuma no sentido horário, adicionar o total anti-horário, deve-se subtrair o total
da rotação ao eixo da refração. da rotação do eixo da refração.
compensação do eixo da refração será
Eixo da LC a ser adaptada = Eixo Eixo da LC a pedir = Eixo da recei-
necessária.
da receita do óculos + graus de rota- ta dos óculos - graus de rotação
Eixo do cilindro da LC a ser solicitada ção apresentados pela LC de prova. apresentados pela LC de prova.
= Eixo da receita dos óculos. Exemplo: Exemplo:
Rx dos óculos: -3,50 -1,50 x 100º Rx dos óculos: -3,50 -1,50 x 100º
LC de teste: -3,50 -1,50 x 90º LC de teste: -3,50 -1,50 x 90º
Localização: marca das 6 h desviada Localização: marca das 6 h desviada
20º no sentido horário. 20º no sentido anti-horário.
LC a solicitar: -3,50 -1,50 x 120º LC a solicitar: -3,50 -1,50 x 80º

30
Capítulo 11 Adaptando Lentes de Contato Gelatinosas (LCG) Tóricas

A marca de orientação numa LCG tórica serve para orientar a quantidade de


rotação para um determinado paciente, mas não significa a localização do
eixo do cilindro. A LC definitiva, após um período de adaptação, deverá
apresentar rotação idêntica à LC de prova.

11.9.b.4 Determinando o Grau

É indispensável que a refração


seja feita corretamente. Em indi-
víduos com altas ametropias, graus superi-
xo. Assim, quando a LC girar fora do eixo,
irá provocar menos astigmatismo residual.
Pode-se observar variação do astig-
ores a + 4,00 e - 4,00 D, deve-se corrigir a
matismo nas diferentes posições do olhar.
distância ao vértice. Essa correção também
Essas mudanças ocorrem, principalmen-
é necessária na prescrição de LCG tóricas,
te, por causa do efeito das pálpebras.
visto que, atualmente, elas estão disponí-
Variações no grau e eixo do astigmatismo
veis para erros refrativos altos.
também podem ocorrer quando se trans-
Se um paciente tiver um cilindro de fere o olhar de longe para perto. No en-
-2,00 D e a LC que se deseja adaptar só tanto, esses efeitos não são percebidos
está disponível em -1,75 e -2,25, o oftal- pela maioria dos pacientes.
mologista deve optar pelo grau mais bai-

11.9.c Características de uma LCG Tórica bem Adaptada

• Boa centralização e estabilidade rotacional.


• Cobertura corneal completa, sem contato da borda com o limbo.
• Conforto em todas as posições do olhar.
• Movimento suficiente para permitir troca de lágrimas sob a LC
durante o piscar, em posição primária ou superior, ou quando se faz o push-up test.
• Rápido retorno à posição original do eixo após o piscar.
• Visão estável em todas as posições do olhar.

Uma LC bem adaptada, quando se desloca, mostra um


rápido retorno à posição original do eixo.

11.9.d Características de uma LC Apertada

• Boa centralização.
• Bom conforto.
• Possível deslocamento estável do eixo.
• Pouco ou nenhum movimento durante o piscar, em posição primária ou no olhar
para cima.
• Visão borrada entre um piscar e outro.

31
Adaptando Lentes de Contato Gelatinosas (LCG) Tóricas Capítulo 11

Uma LC muito apertada causa nubla- Pacientes apresentando esses sinto-


ção visual que melhora após a piscada. mas devem ser adaptados com uma CB
Entretanto, se estiver apenas um pouco mais plana, ou com outro desenho de LC.
apertada, a visão não varia com o piscar e o
Teoricamente, a adaptação de LCG
conforto inicial é bom. Para diferenciar
tórica apertada, com um movimento mí-
uma LC ligeiramente apertada de uma
nimo, evita oscilações da visão. No entan-
bem adaptada, pede-se ao paciente que
to, com os desenhos disponíveis atual-
olhe para cima. Uma LC bem adaptada
mente, se a LC estiver firmemente aderi-
tende a descer de 0,5 a 1 mm, enquanto
da ao olho, não é afetada pelas técnicas
uma LC apertada permanece imóvel. Pode-
de estabilização projetadas para sua cen-
se fazer o push-up test ou, então, girar gentil-
tralização. Além disso, LCG apertada
mente a LC com o dedo, em aproximada-
provoca complicações que iniciam com
mente 45º, para o lado temporal. Após 5 a
visão instável e identação limbal.
10 piscadas (não mais do que 15 segundos),
ela deve retornar à sua posição inicial.

11.9.e Características de uma LC Plana

• Descentração. Uma LC muito plana provoca visão


nublada após o piscar e desce mais do
• Discreto desconforto.
que 1 mm no olhar para cima. Seu giro é
• Levantamento da borda. maior do que 5°, podendo oscilar na sua
• Movimento excessivo durante o piscar, posição de orientação entre as piscadas.
em posição primária ou no olhar para Pode apresentar borda inferior afastada
cima. da esclera, provocando desconforto e
irritação ocular, além de visão flutuante.
• Visão borrada imediatamente após o
piscar. Pacientes apresentando esses sintomas
devem ser adaptados com uma CB mais
apertada, ou com outro desenho de LC.

11.10 Principais Causas de Distúrbios Visuais

Rotação da LC

P ode provocar distúrbio visual


permanente ou temporário, após
cada piscar. Pacientes que apresentam
tes présbitas que fazem monovisão usando
LCG tórica, com um olho corrigido para a
distância e o outro para perto.
astigmatismo num eixo oblíquo são mais
O exame à lâmpada de fenda deter-
propensos à rotação da LC do que aque-
minará se a LC apresenta centralização e
les que apresentam astigmatismo com-a-
movimento adequados, ou se ocorre osci-
regra e contra-a-regra. Um efeito de cilin-
lação excessiva após o piscar. O movi-
dro cruzado oblíquo, resultante do mau
mento excessivo pode exigir uma CB
alinhamento entre o eixo do cilindro re-
mais apertada para reduzir a rotação e
frativo e o da LC tórica, provoca distúrbi-
melhorar a AV, ou deve-se testar um dese-
os na AV. A visão de perto pode ser com-
nho diferente.
prometida pela rotação da LCG tórica
com a convergência do olho, resultado da A refração realizada sobre a LC em
enciclo-rotação do globo ocular. Esse pro- uso ou sobre a LC diagnóstica pode ser útil
blema é ainda mais acentuado em pacien- para determinar o grau e o eixo corretos.

32
Capítulo 11 Adaptando Lentes de Contato Gelatinosas (LCG) Tóricas

Dicas de Adaptação 11.11


• Aguardar pelo menos 20 minutos para prevê um sucesso de adaptação
avaliar a LCG tórica de teste. > 90% com a primeira LC;
• Avaliar a quantidade de rotação que, em - igual a 15 graus, o êxito será de apro-
graus altos, não deve ser maior do que 5o ximadamente 90% com duas LC;
e, nos baixos, pode ser de até 10o.
- igual a 10 graus, será de 70%, utili-
• Corrigir a distância ao vértice em cada zando-se três LC;
meridiano, nos graus superiores a 4 D.
- menor do que 5 graus, o sucesso de-
• Fazer refração cuidadosa para obter a penderá da quantidade de redução de
melhor AV possível. nitidez que o paciente está disposto a
• Fazer o teste para predizer o sucesso de aceitar.
adaptação da LCG tórica (Becherer • Informar ao paciente que é comum a
Twist). Quando se tem a melhor refra- necessidade de várias trocas antes da
ção subjetiva no refrator, gira-se o eixo
LC definitiva.
do cilindro até o paciente perder a niti-
dez da imagem na tabela de AV. Nesse • Optar pelo desenho que apresente a
momento, avalia-se o desvio: melhor estabilidade rotacional.
- maior do que 20 graus em cada dire- • Usar o menor grau cilíndrico que forneça
ção, independente da localização AV aceitável para que não haja sintomas
do eixo ou da quantidade de cilindro, quando a LC sofrer pequenas rotações.

Dicas de Avaliação
da LCG Tórica Solicitada 11.12
• Se a visão for 20/30 ou 20/40, num sua face posterior criam um outro
paciente que apresenta AV 20/20 com sistema óptico, podendo fornecer uma
óculos, é recomendável reavaliá-lo após melhor AV.
1 semana de uso, antes de solicitar a
• Se uma LC não apresenta a estabili-
troca da LC.
dade ideal, mas o paciente está satis-
• Se a visão for insatisfatória e a sobre- feito, é recomendável não perseguir a
refração da LC não alterar o resultado, perfeição. Como há poucas opções de
recomenda-se modificar a CB. Fisica- CB e Æ disponíveis para LCH tóricas,
mente, a LC no olho poderá parecer a deve-se determinar um nível de tole-
mesma, mas as diferentes curvas da rância aceitável.

Formação de depósitos de proteína e mucina provoca


o aumento da rotação da LC. P ara as pessoas que
Para
apresentam esse problema, recomenda-se LCG tórica
descartável / troca programada freqüente.

33
Adaptando Lentes de Contato Gelatinosas (LCG) Tóricas Capítulo 11

11.13 Tipos de LCG Tóricas

11.3.a Convencionais - Troca Anual

D enomina-se LCG tóricas con-


vencionais aquelas que são
programadas para troca anual. Podem ser
um material com conteúdo aquoso médio
ou alto para garantir à córnea a transmis-
sibilidade de O2, suficiente para manter
fabricadas com materiais de hidrogel, sua fisiologia dentro dos padrões de nor-
que contêm baixo, médio ou alto conteú- malidade. De modo geral, recomenda-se
do de água. LCG tóricas com baixo teor não dormir com esse tipo de LC.
de água funcionam bem do ponto de vista Estão disponíveis em graus esféricos
fisiológico se forem finas. No entanto, de -20,0 D a +20,0 D; graus cilíndricos
devido ao grau e ao método de estabiliza- de -0,75D a -10,0 D, com eixos de rotação
ção, a maioria torna-se espessa, exigindo em incrementos de 5o ou até de 1o.

11.13.a.1 Exemplos de LCG Tóricas - Troca Anual10

Nome Desenho/ Poder Poder


Material11 CB Ø
Comercial Processo esférico Cilíndrico

Optima Toric Hefilcon B - Sup. tor. anterior/ 8,3 +4,00 -0,75 14,0
(Bausch & Lomb) 45% (1) prisma de lastro a a
UD (fig. 5) torneamento tórico 8,6 - 9,00 -2,75 (Br)

Hydrasoft Toric Methafilcon B - Sup. posterior/ 8,6 +20,00 -0,75 14,2


(Coopervision) 55% (4) torneadas/ prisma a a
UP/UF (fig. 6) de lastro 8,9 -20,00 -10,00 15,0
Torneamento

10
Relação completa das LCH disponíveis no Brasil está em “O Consultor”, 1999 (SOBLEC) e nos EUA
em “Contact Lenses Quarterly”, Summer 2000.
11
Classificação dos materiais de LCH quanto à hidratação e à ionicidade (FDA - Federal Drug Administration
- USA).

34
Capítulo 11 Adaptando Lentes de Contato Gelatinosas (LCG) Tóricas

CB = 8,6 mm

Æ = 14 mm
ZO = 8 mm Espessura
Central =
0,13 mm

Chanfro Anterior de
Conforto = 1,9 mm
Base do Prisma = 1,25D

Vista Frontal Perfil

Figura 5 - Optima Toric (Bausch & Lomb) - Características de uma LC de -3D

Figura 6 - Hydrasoft Toric (CooperVision)

11.3.b LCG Tóricas Descartáveis - Troca Programada

O desenvolvimento de LCG tóricas para esquemas de descartabilidade tornou


mais fácil passar o usuário de LCH esférica para a LCG tórica, quando existe
um astigmatismo comprometendo o desempenho visual. As vantagens são as mesmas das
esféricas12.
A Focus Tóric, lançada nos EUA em 1994, foi a primeira a estar disponível, em 1996.

12
Ver Fascículo 3, Capítulo 7, página 19-22.

35
Adaptando Lentes de Contato Gelatinosas (LCG) Tóricas Capítulo 11

11.13.b.1 Exemplos de LCG Tóricas Descartáveis -


Troca Programada13

Nome Desenho/ Poder Poder


Material14 CB Ø
Processo Esférico Cilíndrico

Acuvue Toric Etafilcon A Estabilização 8,7 Plano a - 6,00 -0,75 14,4


(Vistakon - J&J) 58% (4) Dinâmica -1,25
-1,75
1 - 2 semanas
(fig. 7)

Focus Toric Vifilcon A Sup. tor. posterior / 8,9 -6,00 -1,00 14,5
(CibaVision) 55% (4) prisma de lastro – a -1,75
Moldeamento 9,2 +4,00 -2,25
30 dias

FreshLook Phemfilcon A - Sup. tor. posterior/ M PL 0,75 14,5


(Wesley Jessen) 55% (4) prisma de lastro a -1,25
-6,00 -1,75
7 - 14 dias Moldagem úmida
(fig. 8)

SofLens 66 Alphafilcon A - Sup. tor. posterior 8,5 PL -0,75 14,5


(Bausch & Lomb) 66% (2) a -1,25
Moldeamento -6,00 -1,75
7 - 14 dias
(fig. 9) Lo-Torque

Dupla zona fina


de estabilização

Zona Óptica
independente da
estabilização
periférica

Marcas de orientação Transição Óptica/


às 3 e 9 horas com 10o lenticular suave
de intervalo entre elas

Figura 7 - Acuvue Toric (Vistakon - J&J)

13
Relação completa das LCH disponíveis no Brasil está em “O Consultor”, 1999 (SOBLEC) e nos EUA
em “Contact Lenses Quarterly”, Summer 2000.
14
Classificação dos materiais de LCH quanto à hidratação e à ionicidade (FDA - Federal Drug Administration
- USA).

36
Capítulo 11 Adaptando Lentes de Contato Gelatinosas (LCG) Tóricas

Zona superior
de estabilização

Cilindro na
superfície posterior

Zona óptica Bisel de


frontal comodidade

Zona inferior
de estabilização Marca de inversão

Figura 8 - FreshLook Toric (Wesley Jessen)

Zona óptica
balanceada

Geometria de
estabilização com Chanfro de
prisma de lastro conforto de 360o

Face posterior
bicurva

Bordas arredondadas

Figura 9 - SofLens 66 Toric (Bausch & Lomb)

37
Adaptando Lentes de Contato Gelatinosas (LCG) Tóricas Capítulo 11

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