Faculdade Internacional de Teologia Evangélica

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FACULDADE INTERNACIONAL DE TEOLOGIA EVANGÉLICA

APOSTILA DE SOCIOLOGIA
INTRODUÇÃO A SOCIOLOGIA

O QUE É SOCIOLOGIA ????

PARTE I : Construção Sociológica da Realidade

Os fundamentos da reflexão sociológica a partir da problematização do mundo social .

Para alguns, a Sociologia representa uma poderosa arma a serviço dos interesses dominantes;
para outros, é a expressão teórica dos movimentos revolucionários. Mas afinal, o que é
Sociologia ?

A Sociologia é uma ciência que estuda as sociedades humanas e os processos que interligam os
indivíduos em associações, grupos e instituições.

Enquanto o indivíduo isolado é estudado pela Psicologia, a Sociologia estuda os fenômenos


que ocorrem quando vários indivíduos se encontram em grupos de tamanhos diversos, e
interagem no interior desses grupos.

Pondo-se de lado alguns trabalhos precursores, como os de Maquiavel( Itália em Florença,


1469-1527) e Montesquieu ( França em Bordéus, 1689-1755), o estudo científico dos fatos
humanos somente começou a se constituir em meados do século XIX. Nessa época, assistia-se
ao triunfo dos métodos das ciências naturais.

Diante da comprovação inequívoca da fecundidade do caminho metodológico apontado por


Galileu ( Itália em Pisa, 1564-1642) e outros, alguns pensadores que procuravam conhecer
cientificamente os fatos humanos passaram a abordá-los segundo as coordenadas das ciências
naturais. Outros, ao contrário, afirmando a peculiaridade do fato humano e a conseqüente
necessidade de uma metodologia própria. Essa metodologia deveria levar em consideração o
fato de que o conhecimento dos fenômenos naturais e um conhecimento de algo externo ao
próprio homem, enquanto nas ciências sociais o que se procura conhecer é a própria
experiência humana ( interna ).

De acordo com a distinção entre experiência externa e experiência interna, poder-se-ia


distinguir uma série de contrastes metodológicos entre os dois grupos de ciências. As ciências
exatas partiriam da observação sensível e seriam experimentais, procurando obter dados
mensuráveis e regularidades estatísticas que conduzissem à formulação de leis de caráter
matemático.

As ciências humanas, ao contrário, dizendo respeito à própria experiência humana, seriam


introspectivas, utilizando a intuição direta dos fatos, e procurariam atingir não generalidades
de caráter matemático, mas descrições qualitativas de tipos e formas fundamentais da vida do
espírito.

Os positivistas (como eram chamados os teóricos da identidade fundamental entre as ciências


exatas e as ciências humanas) tinham suas origens sobretudo na tradição empirista inglesa que
remonta a Francis Bacon ( Inglaterra em Londres, 1561 – 1626) e encontrou expressão em
David Hume ( Escócia em Edimburgo, 1711 – 1776), nos utilitaristas do século XIX e outros.
Nessa linha metodológica de abordagem dos fatos humanos se colocariam Augusto Comte(
França, 1798 – 1857 )e Émile Durkheim( França, 1858 – 1917 ), este considerado por muitos
como o fundador da sociologia como disciplina científica. Os antipositivistas, adeptos da
distinção entre ciências humanas e ciências naturais, foram sobretudo os alemães, vinculados
ao idealismo dos filósofos da época do Romantismo, principalmente Hegel ( Alemanha em
Esturgarda, 1770 – 1831) e Schleiermacher( Polônia em Breslau, 1768 – 1834). Os principais
representantes dessa orientação foram os neokantianos Wilhelm Dilthey( Alemanha em
Briebrich, Renânia, 1833 – 1911), Wilhelm Windelband ( Alemanha em Potsdam, 1848-1915) e
Heinrich Rickert ( Alemanha em Danzig, 1863 – 1936).

Dilthey estabeleceu uma distinção que fez fortuna: entre explicação (erklären) e compreensão
(verstehen). O modo explicativo seria característico das ciências naturais, que procuram o
relacionamento causal entre os fenômenos. A compreensão seria o modo típico de proceder
das ciências humanas, que não estudam fatos que possam ser explicados propriamente, mas
visam aos processos permanentemente vivos da experiência humana e procuram extrair deles
seu sentido. Os sentidos (ou significados) são dados, segundo Dilthey, na própria experiência
do investigador, e poderiam ser empaticamente apreendidospor outros em interação com
eleconforme a vivência de cada um. Dilthey (como Windelband e Rickert), contudo, foi
sobretudo filósofo e historiador e não, propriamente, cientista social, no sentido que a
expressão ganharia no século XX. Outros levaram o método da compreensão ao estudo de
fatos humanos particulares, constituindo diversas disciplinas compreensivas. Na sociologia, a
tarefa ficaria reservada a Max Weber.

Levando-se em conta os esforços realizados por tantos pensadores, desde a Antigüidade, para
entender a sociedade e o seu desenvolvimento, a Sociologia poderia ser considerada a mais
velha de todas as ciências, e a mais acolhedora. Tanto que hoje em dia praticamente todo
mundo é “sociólogo” — “porque todos estamos sempre analisando os nossos
comportamentos e as nossas experiências interpessoais”1 —, pois, até por razões emocionais,
de alguma forma nos acostumamos a contemplar e a dar palpite sobre os movimentos da
sociedade, as forças que conduzem os seres humanos, as razões dos conflitos sociais, as
origens da família, as relações entre Estado e Direito, o funcionamento dos sistemas políticos,
a função das ideologias e das religiões etc. Segundo esse raciocínio, podem ter sido sociólogos
os veneráveis santos Agostinho (Tagasta, Numídia ao norte da África, 354 – 430 ) e Tomás de
Aquino ( Campânia no sul da Itália, 1225 – 1274 ) e padre Antônio Vieira(Portugal em Lisboa,
1608 - 1697), que interpretavam a realidade social de acordo com os dogmas e interesses da
Igreja Católica, bem como os notáveis lbn Khaldun, historiador islâmico ( Tunísia, 1332 – 1406 )
e Maquiavel, que criticavam toda interpretação teológica da sociedade. Ibn Khaldun, é um
precursor das ciências sociais e é reconhecido como o historiador principal do mundo árabeem
seu tempo. Mas, o mundo árabe de então dominava também o Mediterrâneo, Espanha e
metade de Europa do leste. Éconsideradocomo hispânico-árabe pois sua família foi uma das
principais e mais antigas de Sevilha, embora tivesse nascido na Tunísia e morrido no Cairo. Era
diplomata e estadista, professor nas instituições precursoras do que hoje associamos a idéia
de universidade e magistratura. Sua obra mestra é “Muqaddimah” ou “introdução à história”,
que trata do mundo árabe e muçulmano. Entretanto, julgou necessário conformar uma teoria
da história e do seu método, e ao o fazê-lo, produziu um tratado que segundo alguns, como
Arnold Toynbee ( Inglaterra, 1889 – 1975 ) , «desarrolla una filosofía de la historia que es sin
duda lo más grandioso de su tipo jamás escrito, en cualquier tiempo o lugar».Mais do que um
tratado da história ou da sua filosofia, é um exemplo de um enfoque analíticosobre o
fenômeno social que hoje em dia nós chamamos Sociologia. O livro I de sua história é um
tratado geral da Sociologia; o II e o III são sobre a sociologia da política (o que hoje chamamos
de Ciência Política); o IV é sobre economia política e o V versa sobre educação e
conhecimento. Toda a obra está estruturada em torno de um conceito que chamou
“asabiyah”, ou coesão social. Este é o elemento ordenador do fenômeno social que surge
espontaneamente das relações entre as pessoas e os grupos, que pode ser conformado e
institucionalizado pela cultura e a religião, mas que também pode ser destruído ou debilitado
pela decadência. Ibn Khaldun é um precursor das ciências sociais modernas ao anunciar a
existência de determinada ordem social subjacente ao fenômeno político, econômico, legal e
moral. Em suas palavras, ao definir, o que viu como a ciência nova que chamou “im al umran”,
ou ciência da cultura: “Esta ciência tem seu próprio objeto de estudo, ou seja, a sociedade
humana, com seus

1 TURNER, 2000

problemas e suas mudanças que se sucedem conforme essa natureza própria da sociedade”.(
traduzido do artigo original em espanhol )

Porém, a trajetória da Sociologia no Ocidente, só começa a ser delineada com o movimento


político e intelectual conhecido como Iluminismo( Inglaterra, Holanda e França, 1590 -séc XVII
e XVIII ), que exerceu enorme influência no século XVIII, propondo reformas no interesse das
classes privilegiadas( elite ), conforme leis que regeriam ao mesmo tempo a sociedade, o
universo e a natureza e a Revolução Industrial( Inglaterra, 1750 com introdução da máquina a
vapor - séc. XVIII em diante ). Em seguida, após a Revolução Francesa ( França, 1789 – 1799 ) e
a queda do Antigo Regime (regime político vigente na França até a Rev. Francesa ), a Sociologia
adquiriu os traços que ostenta hoje em dia, aos poucos destituindo-se da roupagem de ciência
ética, de filosofia política ou social, preocupada em determinar uma ordem justa das relações
humanas, para concentrar-se na descrição e interpretação dos elementos — desempenhos,
grupos, valores, normas e modelos sociais de conduta — que determinam a integração dos
sistemas sociais.

Revolução

Século / Ano

Esfera de atuação e impacto

Iluminismo

a partir de 1590, séc. XVII – XVIII


ideológica

Industrial

segunda metade do séc. XVIII ( 1750 )

econômica

Francesa

segunda metade do séc. XVIII ( 1789 )

política

Nesse sentido, a Sociologia é um fenômeno estrito e uma ciência, característica da sociedade


moderna.

O termo Sociologie foi cunhado por Auguste Comte, que esperava unificar todos os estudos
relativos ao homem — inclusive a História, a Psicologia e a Economia. Seu esquema sociológico
era tipicamente positivista, (corrente que teve grande força no século XIX), e ele acreditava
que toda a vida humana tinha atravessado as mesmas fases históricas distintas e que, se a
pessoa pudesse compreender este progresso, poderia prescrever os remédios para os
problemas de ordem social.

O surgimento da sociologia ocorreu num momento de grande expansão do capitalismo,


desencadeado pela dupla revolução – a industrial e a francesa. O triunfo da indústria
capitalista na revolução industrial desencadeou uma crescente industrialização e urbanização,
o que provocou radicais modificações nas condições de existência e nas formas habituais de
vida de milhões de seres humanos. Estas situações sociais radicalmente novas, impostas pela
sociedade capitalista, fizeram com que a sociedade passasse a se constituir em "problema".
Diante disso, pensadores ingleses da época procuraram extrair dessas novas situações temas
para a análise e a reflexão, no objetivo de agir, tanto para manter como para reformar ou
modificar radicalmente a sociedade de seu tempo. Isto foi fundamental para a formação e a
constituição de um saber sobre a sociedade. Outra circunstância que também influenciou e
contribui para a formação da sociologia se deve às transformações ocorridas nas formas de
pensamento, originadas pelo Iluminismo.

As transformações econômicas que o ocidente europeu presenciou desde o século XVI,


provocaram modificações na forma de conhecer a natureza e a cultura. A partir daí, o
pensamento deixa de ter uma visão sobrenatural para a explicação dos fatos da natureza e
passa a ser substituído pelo uso da razão.

O emprego sistemático da razão representou um avanço para libertar o conhecimento do


controle teológico, da tradição, da revelação e para a formulação de uma nova atitude
intelectual diante dos fenômenos da natureza e da cultura. Essas novas maneiras de produzir e
viver,propiciaram um visível progresso das formas de pensar e contribuíram para afastar
interpretações baseadas em superstições e crenças infundadas, abrindo conseqüentemente
um espaço para a constituição de um saber sobre os fenômenos histórico-sociais.
Esta crescente racionalização da vida social não era um privilégio somente de filósofos e
homens que se dedicavam ao conhecimento, mas também, do homem comum dessa época,
que renunciava cada vez mais os fatos

submetidos às forças sobrenaturais, passando a percebê-los como produtos da atividade


humana, passíveis de serem conhecidos e transformados.

A revolução francesa contribuiupara o surgimento da sociologia na medida em que o objetivo


dessa revolução era mudar a estrutura do Estado monárquico e, ao mesmo tempo, abolir
radicalmente a antiga forma de sociedade; promover profundas inovações na economia, na
política, na vida cultural, etc; além de desferir seus golpes contra a Igreja. Tais atitudes
ocasionaram profundos impactos, causando espanto aos pensadores da época e à própria
burguesia, já instalada no poder. Diante disso, esses pensadores se incumbem à tarefa de
racionalizar a nova ordem e encontrar soluções para o estado de "desorganização" então
existente. Mas, para estabelecer esta tarefa seria necessário, segundo eles, conhecer as leis
que regem os fatos sociais e instituir uma ciência da sociedade.

Assim, pensadores positivistas da época concluíram que, para restabelecer a organização e o


aperfeiçoamento na sociedade, seria necessário fundar uma nova ciência. Essa nova ciência
assumia, como tarefa intelectual, repensar o problema da ordem social, ressaltando a
importância de instituições como a autoridade, a família, a hierarquia social, destacando a sua
importância teórica para o estudo da sociedade. A oficialização da sociologia foi, portanto, em
larga medida, uma criação do positivismo que procurará realizar a legitimação intelectual do
novo regime.

Foram as idéias desenvolvidas por incontáveis homens e mulheres, ao longo da história


humana, que começa na Mesopotâmia e no Egito a mais de quatro mil anos antes do
nascimento de Cristo, que reunidas, trabalhadas e revistas, formaram o que hoje temos como
CONHECIMENTO em todas as áreas da vida.

A Sociologia foi o resultado da união de inúmeros pensadores, nas diversas partes do mundo.
Alguns se conheciam, muitos outros nunca se viram. Uns complementando outros, até formar
o que conhecemos como ciência sociológica ou ciência da sociedade ou Sociologia. Destes
tantos, quatro pensadores foram responsáveis por estruturar os fundamentos da Sociologia
possibilitando criar três linhas mestras explicativas, fundadas por eles e aos quais iremos
estudar com mais profundidade:

1) aPositivista-Funcionalista, tendo como fundador Auguste Comtee seu principal expoente


clássico Émile Durkheim( França, 1858 – 1917 ), de fundamentação analítica;

2) a Sociologia Compreensiva iniciada por Max Weber( Alemanha, 1864 – 1920 ), de matriz
teórico-metodológica hermenêutico-compreensiva; e

3) a Sociologia dialética, iniciada por Karl Marx( Inglaterra, 1818 – 1883 ) que mesmo não
sendo um sociológo e sequer se pretendendo a tal, deu início a uma profícua linha de
explicação sociológica.
TEÓRICO

PRINCÍPIOS TEÓRICOS

AUGUSTE COMTE

Positivismo

ÉMILE DURKHEIM

Fato Social, Consciência coletiva, Anomia

MAX WEBER

Ação Social

KARL MARX

Modo de produção, mais-valia, acumulação primitiva, alienação, materialismo histórico,


ideologia, luta de classes, materialismo dialético

Como fazer ciência ? Com OBJETO e MÉTODO

PARTE II – OS CLÁSSICOS DA SOCIOLOGIA

AUGUSTE COMTE

O núcleo da filosofia de Comte radica na idéia de que a sociedade só pode ser


convenientemente reorganizada através de uma completa reforma intelectual do homem. Ele
achava que antes da ação prática, seria necessário fornecer aos homens novos hábitos de
pensar de acordo com o estado das ciências de seu tempo. Por essa razão, o sistema comteano
estruturou-se em torno de três temas básicos : em primeiro lugar, uma filosofia da história
com o objetivo de mostrar as razões pelas quais uma certa maneira de pensar (chamada por
ele filosofia positiva ou pensamento positivo) deve imperar entre os homens. Em segundo
lugar, uma fundamentação e classificação das ciências baseadas na filosofia positiva.
Finalmente, uma sociologia que, determinando a estrutura e os processos de modificação da
sociedade permitisse a reforma prática das instituições.

A contribuição principal de Comte à filosofia do positivismo foi sua adoção do método


científico como base para a organização política da sociedade industrial moderna.

O estado positivo corresponde à maturidade do espírito humano. O termo positivo designa o


real em oposição ao quimérico, a certeza em oposição à indecisão, o precisoem oposição ao
vago. É o que se opõe as formas teológicas ou metafísicas de explicação do mundo.

Ex: a explicação da queda de um objeto ou corpo: o primitivo explicaria a queda como uma
ação dos deuses; o metafísico Aristóteles explicaria a queda pela essência dos corpos pesados,
cuja natureza os faz tender para baixo, onde seria seu lugar natural; Galileu, espírito positivo,
não indagaria o porquê, não procuraria as causas primeiras e últimas, mas se contentaria em
descrever como o fenômeno da queda ocorre.

Não era apenas quanto ao método de investigação que a filosofia positivista se aproximava das
ciências da natureza. A própria sociedade foi concebida como um organismo constituído de
partes integradas e coesas que funcionavam harmonicamente, segundo um modelo físico ou
mecânico. Por isso o positivismo foi chamado também de organicismo.

CARACTERÍSTICAS DO POSITIVISMO

A realidade é formada por partes isoladas, de fatos atômicos; a explicação dos fenômenos se
dá através da relação entre eles; não se interessa pelas causas, mas pelas relações entre os
fenômenos; rejeição ao conhecimento metafísico; há somente um método para a investigação
dos dados naturais e sociais. Tanto um quanto outro são regidos por leis invariáveis.

Em sua Lei dos três estados ou estágios do desenvolvimento intelectual, Comte teoriza que o
desenvolvimento intelectual humano havia passado historicamente primeiro por um estágio
teológico, em que o mundo e a humanidade foram explicados nos termos dos deuses e dos
espíritos; depois através de um estágio metafísico transitório, em que as explanações estavam
nos termos das essências, de causas finais, e de outras abstrações; e finalmente para o estágio
positivo moderno. Este último estágio se distinguia por uma consciência das limitações do
conhecimento humano.

LEI DOS TRÊS ESTADOS - características

Estado Teológico

Estado Metafísico

Estado Positivo

- tudo tem origem no sobrenatural - época dos sacerdotes e militares - domínio da organização
militar

- tudo tem origem na razão, na natureza e em forças misteriosas| - época jurídica - prevalece a
organização jurídica

- ciência substitui a razão, natureza e forças misteriosas - época industrial - predomínio do


intelectual, principalmente o sociólogo|- a economia se junta à sociologia para, juntas,
guiarem os destinos da organização social

Comte tentou também uma classificação das ciências; baseada na hipótese que as ciências
tinham se desenvolvido a partir da compreensão de princípios simples e abstratos, para daí
chegarem à compreensão de fenômenos complexos e concretos.

Assim as ciências haviam se desenvolvido a partir da matemática, da astronomia, da física, e da


química para atingir o campo mais complexo da biologia e finalmente da sociologia.
De acordo com Comte, esta última disciplina, a Sociologia, não somente fechava a série mas
também reduziria os fatos sociais a leis científicas, e sintetizaria todo o conhecimento humano,
como ápice de toda a ciência.

Embora não fosse dele o conceito de sociologia ou da sua área de estudo, Comte ampliou seu
campo e sistematizou seu conteúdo. Dividiu a Sociologia em dois campos principais: Estática
social, ou o estudo das forças que mantêm unida a sociedade; e Dinâmica social, ou o estudo
das causas das mudanças sociais.

ESTUDO DA ESTÁTICA SOCIAL = ORDEM

O estudo da estática social deve ser iniciado com o entendimento do Consenso Social, que é a
interdependência social ou interpenetração dos fenômenos sociais. Segundo Comte os
fenômenos sociais só podem ser estudados em conjunto porque eles são fundamentalmente
conexos. E é pelo Consenso Social que pode existir a Harmonia Social.

A sociedade é composta de unidades chamadas de células sociais. Essas células são famílias e
não indivíduos. A família, portanto, é a verdadeira unidade social por ser a associação mais
espontânea que existe. Ela é a fonte espontânea da educação moral e constitui a base natural
da organização política.

A sociedade deve ser organizada com base no "organismo doméstico", que tem como
características principais:

- subordinação espontânea da mulher ao homem e dos filhos aos pais

- a família é possível graças a união de seus membros

- a sociabilidade no meio familiar é possível graças à cooperação

- o sentimento familiar desenvolve o prazer de fazer pelo outro e para o outro.

Toda sociedade deve possuir uma ordem, proveniente dos instintos sociais do indivíduo e que
se manifesta através da família. Essa ordem exige, para sua sobrevivência, de uma autoridade.
Na família essa autoridade é o marido e na sociedade é o governo. Não há sociedade sem
governo, nem governo sem sociedade.

O governo deve manter uma intervenção "universal e contínua" na sociedade, de forma


material, intelectual e moral, para evitar que o progresso a inviabilize. Segundo Comte, o
progresso enfraquece a união e a cooperação, fragilizando a ordem. Essa é a intervenção do
"conjunto sobre as partes".

As forças sociais que determinam as estruturas sociais são a material, a intelectual e a moral. A
organização social baseia-se na divisão do trabalho social e na combinação de esforços.

ESTUDO DA DINÂMICA SOCIAL = PROGRESSO

Todo estado social é uma conseqüência do passado e uma preparação para o futuro. Não há
espaço para quaisquer vontades superiores. As leis que regem o estado social são leis análogas
às leis biológicas. E exatamente por essa analogia conclui-se que a humanidade caminha para a
completa autonomia, o que ocorrerá quando for ultrapassada a sua etapa metafísica.

Mas nada é eterno! A evolução da sociedade, da mesma forma que no indivíduo, leva-a para o
inevitável caminho da decadência final.

No início a humanidade assumiu a fase teológica ou fictícia, que foi uma fase provisória, mas o
ponto de partida necessário para todo o processo cultural.

A segunda fase é a metafísica ou abstrata, que é transitória, onde os agentes sobrenaturais são
substituídos por força abstratas, entendidas como seres do mundo.

A terceira fase é a positiva, científica ou real, que é a fase definitiva da humanidade, quando o
homem descobre a impossibilidade de obter conhecimentos absolutos e desiste de indagar
sobre a origem e a finalidade do universo, assim como sobre as causas íntimas dos fenômenos.
O homem passa a se preocupar apenas em descobrir as leis efetivas que estabelecem as
relações invariáveis de sucessão e semelhança. Estuda-se as leis a abandona-se a pesquisa das
causas.

Problema fundamental do estado positivo: conciliação da ordem com o progresso, que é a


condição necessária ao aparecimento do verdadeiro sistema político. Toda ordem estabelecida
deverá ser compatível com o progresso, assim como todo progresso, para ser realizado, deverá
permitir as consolidação da ordem.

Estado Positivo significa o fracasso da Teologia e da Metafísica. Em seguida virá o domínio do


Positivismo e da Sociologia, fazendo surgir a "Religião da Humanidade", com o predomínio do
altruísmo e da harmonia social.

ÉMILE DURKHEIM

Durkheim viveu numa época de grandesconflitos sociais entre a classe dos empresários e a
classe dostrabalhadores. É também uma época em que surgem novos problemassociais como
favelas, suicídios, poluição, desemprego etc.No entanto, o crescente desenvolvimento da
indústria e tecnologiafez com que Durkheim tivesse uma visão otimista sobreo futuro cio
capitalismo. Ele pensava que todo o progresso desencadeadopelo capitalismo traria um
aumento generalizado dadivisão do trabalho social e, por conseqüência, da
solidariedadeorgânica, a ponto do fazer com que a sociedade chegasse a umestágio sem
conflitos e problemas-sociais.

Com isso, Durkheim admitia que o capitalismo é a sociedadeperfeita; trata-se apenas de


conhecer os seus problemas e debuscar uma solução cientifica para eles. Em outras palavras,
asociedade é boa, sendo necessário, apenas, "curar as suasdoenças".

Tal forma de pensar o progresso de um jeito positivo fezcom que Durkheim concluísse que os
problemas sociais entreempresários e trabalhadores não se resolveriam dentro de umaLUTA
POLÍTICA, e, sim, através da CIENCIA, ou melhor, daSOCIOLOGIA. Esta seria, então, a tarefa da
SOCIOLOGIA:compreender o funcionamento da sociedadecapitalista de modo objetivo para
observar,compreender e classificar as leis sociais, descobriras que são falhas e corrigi-las por
outras mais eficientes.

E como está estruturada esta sociedade segundo Durkheim ?

A estrutura da sociedade é formada pelasesferas política, econômica e ideológica. Estas


esferas formam a estrutura social responsável pela consolidação do Capitalismo.

Ao refletir sobre a sociedade, Durkheim começou a elaborar algumas questões que orientaram
seu trabalho:

1. O que faz uma sociedade ser sociedade ?

2. Qual é a relação entre o indivíduo e a sociedade ?

3. Como os indivíduos transformam o social ?

4. O social é a superação do individual. Em que momento os indivíduos constituem uma


sociedade ?

10

Uma outra preocupação de Durkheim, assim como outros pensadores, era aformação de uma
ciência social desvinculada das Ciências Naturais. Além disso na emergência do proletariado,
era preciso encontrar formas de controle de tal forma que o indivíduo se integre à ordem. Este
princípio será aplicado na educação. A contribuição de Durkheim foi de importância
fundamental para que a Sociologia adquirisse o status de ciência, pois ele estuda a sociedade e
separa os fenômenos sociais da Psicologia, construindo um Objeto e um Método. Na obra ‘As
regras do Método Sociológico’ publicada em 1895, definiu o método a ser usado pela
Sociologia e as definições e parâmetros para a Sociologia tornar-se uma ciência, separada da
Psicologia e Filosofia. Ele formulou o tipo de acontecimentos sobre os quais o sociólogo
deveria se debruçar : os fatos sociais. Estes constituiriam o objeto da Sociologia. MÉTODO
SOCIOLÓGICO DE ÉMILE DURKHEIM 1º Regra do Método : tratar o FATO SOCIAL como Coisa.

Para Émile Durkheim, fatos sociais são maneiras de agir, pensar e sentir exteriores ao
indivíduo, dotadas de um poder coercitivo e compartilhadas coletivamente. Variam de cultura
para cultura e tem como base a moral social, estabelecendo um conjunto de regras e
determinando o que é certo ou errado, permitido ou proibido. Não podem ser confundidos
com os fenômenos orgânicos nem com os psíquicos, constituem uma espécie nova de fatos.
Trés são as características que Durkheim distingue nos Fatos Sociais :

- é geral – se repete em todos os indivíduos. Tem natureza coletiva.

- é exterior - independe da vontade ou adesão consciente do indivíduo. Ex : leis

- é coercitivo2- se impõe sobre o indivíduo.

2Coerção : repressão, restrição de direitos, que limita a liberdade de agir individual. Ex : a


regra da escola é usar uniforme composto de blusa com logotipo do colégio, calça jeans azul e
tênis.
FATO SOCIAL é diferente do

e do

Individual / Emocional

Fato Individual

Determinação biológica

Fato Orgânico

FATO SOCIAL

não se reduz ao individual

Durkheim separa o social do individual e do orgânico

É coletivo

É representação

Representação

Coletiva

11

Os fatos sociais deveriam ser encarados como coisas, isto é, objetos que, lhe sendo exteriores,
poderiam ser medidos, observados e comparados independentemente do que os indivíduos
pensassem ou declarassem a seu respeito. Para se apoderar dos fatos sociais, o cientista deve
identificar, dentre os acontecimentos gerais e repetitivos, aqueles que apresentam
características exteriores comuns.

Por que considerar o Fato Social como coisa ? Para afastar os pré-conceitos, as pré-noções e o
individualismo ou seja, seus valores e sentimentos pessoais em relação ao acontecimento a ser
estudado. Como se reconhece um fato social? Pelo poder de coerção que exerce ou que pode
exercer sobre os indivíduos, identificado pelas sanções ou resistências a alguma atitude
individual contrária e quando é exterior a ele. Ex: se um aluno chega no colégio de roupa de
praia, ele estará em desacordo com a regra e sofrerá sanção por isso, seja voltar para casa ou
uma advertência por escrito. O social é o entre nós. Onde se dá a interação, troca.

As transformações que se produzem no meio social, sejam quais forem as causas repercutem
em todas as direções do organismo social e não podem deixar de afetar mais ou menos, todas
as suas funções.

Durkheim não aceita a idéia que diz ser o social formado de processos psíquicos. Durkheim
afirma que o social não pertence a nenhum indivíduo mas ao grupo que sofre pressões e
sansões sendo obrigado a aceitá-lo.
Partindo do princípio de que o objetivo máximo da vida social é promover a harmonia da
sociedade consigo mesma e com as demais sociedades, e que essa harmonia é conseguida
através do consenso social, a ‘saúde’ do organismo social se confunde com a generalidade dos
acontecimentos e com a função destes na preservação dessa harmonia, desse acordo coletivo
que se expressa sob a forma de sanções sociais.

Quando um fato põe em risco a harmonia, o acordo, o consenso e, portanto, a adaptação e


evolução da sociedade, estamos diante de um acontecimento de caráter mórbido e de uma
sociedade doente.

Portanto, normal é aquele fato que não extrapola os limites dos acontecimentos mais gerais
de uma determinada sociedade e que reflete os valores e as condutas aceitas pela maior parte
da população. Patológico é aquele que se encontra fora dos limites permitidos pela ordem
social e pela moral vigente.

EmAs regras do método sociológico, escrito em 1894, Durkheim coloca que:

Fato Social

existe ANTES

Indivíduo

Fato Social

existe DEPOIS

Indivíduo

entre

social

Indivíduo

12

1º) Devemos afastar sistematicamente todas as idéias pré-concebidas ou prenoções ao se


estudar um fato social:

-conceber significa antecipar uma idéia, sem saber ao certo o que é. Ex: naquela escola,
dizem, o ensino é fraco; escola pública é sinônimo de má qualidade no ensino; todo político é
corrupto, acho que Roberto gosta de vinho suave.

2º) Os fatos sociais devem ser explorados de acordo com os seus aspectos gerais e comuns,
evitando suas manifestações individuais.Ex: Aspectos gerais da dengue: A dengue é uma
doença febril aguda, causada por vírus, de evolução benigna, na forma clássica, e, grave,
quando se apresenta na forma hemorrágica. A manifestação individual da dengue varia de
pessoa para pessoa. Uma pessoa pode ter dengue hemorrágica enquanto outra pode ter
dengue simples. 3º) Para explicar um fenômeno social devemos separar dois estudos: o da sua
causa e o da sua função.Ex: qual a função do professor na escola? Qual é a causa do
desinteresse do aluno pelo conteúdo oferecido na escola? 4º) A pesquisa da causa que
determina o fato social deve ser feita entre os fatos sociais anteriores e nunca entre os estados
de consciência individual. Ex: em dada comunidade, há histórico de violência doméstica. Os
relatos anteriores e atuais, determinaram ser a violência doméstica um fato social naquela
comunidade e não somente um caso isolado ou individual. 5º) Devemos buscar a origem
primeira de todo processo social de alguma importância na constituição do meio social
interno. Meio social interno é a família, grupo da escola, o ambiente em que a pessoa se
desenvolve. A interação entre a pessoa e o meio ambiente representa a dinâmica da vida. É
um processo de ação e reação a estímulos positivos ou não e que serão responsáveis pelo
despertar ou bloqueio das potencialidades da pessoa. Processo social é qualquer mudança ou
interação social em que é possível destacar uma qualidade ou direção contínua ou constante.
Produz aproximação( cooperação, acomodação, assimilação ) ou afastamento ( competição,
conflito ). O Todo se manifesta numa parte. O Todo é mais do que a soma das partes, porque a
consciência coletiva passa pela individualidade mas vai além desta individualidade. Em seu
livro ‘Da divisão do trabalho social’ de 1893, Durkheim reconhecia a existência de duas
consciências. Segundo ele : "...em cada uma de nossas consciências há duas consciências: uma,
que é conhecida por todo o nosso grupo e que, por isso, não se confunde com a nossa, mas
sim com a sociedade que vive e atua em nós; a outra, que reflete somente o que temos de
pessoal e de distinto, e que faz de nós um indivíduo. Há aqui duas forças contrárias, uma
centrípeta e outra centrífuga, que não podem crescer ao mesmo tempo".

Para Durkheim, osocial é modelado pela Consciência Coletiva3, que é uma realidade social
resultante do contato social. Essa consciência difere da consciência individual4, pertencendo a
todos

3consciência coletiva : conjunto das maneiras de agir, pensar e agir, característica de


determinado grupo ou sociedade. Impõe-se à consciência individual. É a forma moral vigente
na sociedade. Ela aparece como regras estabelecidas que delimitam o valor atribuído aos atos
individuais. Ela define o que, numa sociedade, é considerado „imoral‟, „reprovável‟ ou
„criminoso‟. A punição é o meio de voltar a consciência coletiva. 4consciência Individual :
traços de caráter ou temperamento e acúmulo de experiências pesoais que permite relativa
autonomia no uso e adaptação das maneiras de agir, pensar e sentir.

13

enquanto integrados e a nenhum em particular. Os fenômenos sociais refletem a estrutura do


grupo social que os produz (idéia da Sociologia Moderna). Se a sociedade é o corpo, o Estado é
o seucérebro e por isso tem a função de organizaressa sociedade, reelaborando aspectos da
consciência coletiva. Vimos que a sociedade capitalista esta cheia de problemas. Durkheim
admitia que o Estado é uma instituição que tem o dever do elaborar leis que corrijam os casos
patológicos da sociedade.

Em resumo:Se cabe a Sociologia observar, entender e classificar os casos patológicos,


procurando criar uma nova moral social, cabe ao Estado colocar em pratica os princípios dessa
nova moral.
Neste contexto, a Sociologia e o Estado complementam-se na organização da sociedade para,
na prática, evitarem os problemassociais. Isso levou Durkheim a acreditar que os sociólogos
devessemter uma participação direta dentro do Estado.

Para Durkheim, a Sociologia deveria ter ainda por objetivo comparar as diversas sociedades.
Constituiu assim o campo da morfologia social ou seja, a classificação das espécies sociais.

MORFOLOGIA SOCIAL – AS ESPÉCIES SOCIAIS

classificação das “espécies” sociais (inspiração na biologia)

a horda (agrupamento social primitivo, em que todos os membros


usufruíam de condições iguais)

passado e no presente (clãs, tribos, castas etc)

co de classificação das sociedades:

- procedimento: observação experimental

- resultado: “descoberta” de que o motor de transformação de toda e qualquer sociedade


seria a passagem da solidariedade mecânica para a solidariedade orgânica

Obs. No conceito durkheimiano, o termo solidariedade não tem os significados

usuais de fraternidade, ajuda, assistência, filantropia e outros.

SOLIDARIEDADE→ o que liga as pessoas

Basta uma rápida observação do contexto histórico do século XIX, para se perceber que as
instituições sociais se encontravam enfraquecidas, havia muito questionamento, valores
tradicionais eram rompidos e novos surgiam, muita gente vivendo em condições miseráveis,
desempregados, doentes e marginalizados.

Ora, numa sociedade integrada essa gente não podia ser ignorada, de uma forma ou de outra,
toda a sociedade estava ou iria sofrer as consequências.

14

Durkheim acreditava que a sociedade, funcionando através de leis e regras já determinadas,


faria com que os problemas sociaisnão tivessem sua origem na economia (forma pelaqual as
pessoas trabalham), mas sim numa crise moral,Isto é, num estado social em que várias regras
de conduta não estão funcionando.Por exemplo: se a criminalidade aumenta a cada dia
éporque as leis que regulamentam o combate ao crime estãofalhando, por serem mal
formuladas. A este estado de crise social onde as leis não estão funcionando, Durkheim
denominapatologia social.Por outro lado, os problemas sociais podem ter sua origemtambém
na ausência de regras, o que por sua vez se caracterizariacomo anomia.

Frente a patologia social (regras sociais falhas), cabeà Sociologia captar suas causas,
procurando evitar a anomia(crise total), através da criação de uma nova moral social que
supere a velha moral deficiente.

Na tentativa de “curar” a sociedade da anomia, Durkheim escreve em seu livro “Da divisão do
trabalho social”, sobre a necessidade de se estabelecer uma solidariedade orgânica entre os
membros da sociedade. A solução estaria em, seguindo o exemplo de um organismo biológico,
onde cada orgão tem uma função e depende dos outros para sobreviver, cada membro da
sociedade exercer uma função na divisão do trabalho.

Cada indivíduo ou cidadão será obrigado, através de um sistema de direitos e deveres, e


também sentirá a necessidade, de se manter coeso e solidário aos outros. O importante para
ele é que o indivíduo realmente se sinta parte de um todo, que realmente precise da
sociedade de forma orgânica, interiorizada e não meramente mecânica.

Durkheim através do estudo da solidariedade – apoiando-se em Heráclito( Grécia em Éfeso na


Jônia, 540 a.C. - 470 a.C. ) e Aristóteles( Grécia em Estagira, 384–322 a.C.) – vai dizer que há
sempre um processo em direção ao consenso – onde não há conflto.

Durkheim se preocupa com a função do direito e como é trabalhado o consenso e a


solidariedade.

Quando a consciência coletiva é abalada, a punição deve ser aplicada. O indivíduo deve seguir
a consciência coletiva, as regras.

Nas sociedades simples, os indivíduos são a extensão do coletivo, da coletividade. A


consciência individual se dilui, se perde na coletividade. E isso se dá naturalmente.

Nas sociedades complexas, o consenso se dá através do contrato, da contratualidade e tem a


ver com a especialização.

A solidariedade neutraliza uma possível barbárie na civilização.

Como resultado da divisão do trabalho social a sociedade obtém:

1) aumento da força produtiva 2) aumento da habilidade do trabalho 3) permite o rápido


desenvolvimento intelectual e material das sociedades 4) integra e estrutura a sociedade
mantendo a coesão social e tornando seus membros interdependentes 5) traz equilíbrio,
harmonia e ordem devido a necessidade de união pela semelhança e pela diversidade 6)
provoca a solidariedade social

Durkheim mostra em seu livro que :

- a solidariedade é o fundamento da civilização, pois ela interliga as pessoas ;

- o trabalho não existe sem solidariedade ;


- solidariedade significa função, união, independente de ser boa ou má ;

- existem dois tipos de solidariedade : mecânica e orgânica.

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DA SOLIDARIEDADE MECÂNICA À SOLIDARIEDADE ORGÂNICA

Solidariedade Mecânica : é a solidariedade por semelhança.

Predominante nas sociedades pré-capitalistas ( primitivas, antigas, asiáticas, feudais ):

- influência marcante do peso coercitivo da consciência coletiva, que moldava os indivíduos


através da família, da religião, da tradição e dos costumes;

- maior independência e autonomia individual em relação à divisão do trabalho social

Os membros da sociedade em que domina a Solidariedade Mecânica estão unidos por laços de
parentesco.

O meio natural e necessário a essa sociedade é o meio natal, onde o lugar de cada um é
estabelecido pela consangüinidade e a estrutura dessa sociedade é simples.

O indivíduo, nessa sociedade, é socializado porque, não tendo individualidade própria, se


confunde com seus semelhantes no seio de um mesmo tipo coletivo.

Na solidariedade mecânica, o direito é repressivo ( Penal ). Crime é tudo aquilo que diz
respeito a consciência coletiva, ao consenso. O crime é, o rompimento de uma solidariedade
social. Todo ato criminoso é criminoso porque fere a consciência comum, que determina as
formas de solidariedade necessárias ao grupo social.

Não reprovamos uma coisa porque é crime, mas sim é crime porque a reprovamos. A
solidariedade social representada pelo Direito Penal é a mais elementar, espontânea e forte.

Solidariedade Orgânica : é a solidariedade por desemelhança.

Típica das sociedades capitalistas:

- grande interdependência entre os indivíduos, como resultado da acelerada divisão do


trabalho. Essa interdependência é o principal elo de união social, ao invés das tradições, dos

pela especialização de atividades

- influência menor da consciência coletiva, portanto.

É fruto das diferenças sociais, já que são essas diferenças que unem os indivíduos pela
necessidade de troca de serviços e pela sua interdependência. Os membros da sociedade onde
predomina a Solidariedade Orgânica estão unidos em virtude da divisão do trabalho social.

O meio natural e necessário a essa sociedade é o meio profissional, onde o lugar de cada um é
estabelecido pela função que desempenha e a estrutura dessa sociedade é complexa. O
indivíduo, nessa sociedade é socializado porque, embora tenha sua individualidade
profissional, depende dos demais e por conseguinte, da sociedade resultante dessa união.

Na solidariedade orgânica, o direito é restitutivo, cooperativo. O Direito Restitutivo


cooperativo é preventivo. Evita, previne a repressão, a dor. O contrato é uma forma de
prevenir que a transgressão seja muito grande. Quanto mais civilizada for uma sociedade,
maior o número de contratos dele, que servirá para prevenir desobediências.

Os costumes são a fonte do direito, mas tudo aquilo que é mais importante para a consicência
coletiva, torna-se direito, regra.

Podemos tornar estes conceitos mais fáceis de serem entendidosa partir de um exemplo:
imaginemos um professor quenecessite formar grupos para desenvolver o tema da aula. O
professorpode querer a formação dos grupos a partir de doiscritérios: ele pode pedir nos
alunos que formem grupos

16

livremente,a partir da amizade existente entre eles. Uma segundaopção é pedir aos alunos
para formarem grupos de forma queem cada um dos grupos fique uma pessoa que saiba
datilografia,uma outra que saiba desenhar, outra que tenhaexperiência de redação, e, por fim,
uma que domine bem oconteúdo das aulas que seja o coordenador do grupo.

No primeiro caso, o que uniu os alunos no grupo foi umsentimento, a amizade, de onde
teríamos a solidariedade mecânica.No segundo caso, o que uniu os alunos emgrupo foi a
dependência que cada um tinha da atividade dooutro: a união foi dada pela especialização das
funções, de ondeteríamos a solidariedade orgânica.

Durkheim admite que a solidariedade orgânica é superior à mecânica, pois ao se


especializarem as funções, a individualidade de certo modo, é ressaltada, permitindo maior
liberdade de ação.

No grupo formado por amigos, podeacontecer que um elemento discorde muito das opiniões
deoutro; este fato pode trazer um conflito que põe em risco aexistência do grupo. Nesse caso,
os elementos devem agir doacordo com as idéias comuns do grupo, e não a partir das
suaspróprias idéias. Já no grupo onde a união dá-se pela atividadeespecializada, a
individualidade é ressaltada, pois, dentro da suaatividade, cada um age como bem entende, e
aí a divergênciade opiniões não põe em causa a existência do grupo.

MAX WEBER

Max Weber nasceu e teve sua formação intelectual no período em que as primeiras disputas
sobre a metodologia das ciências sociais começavam a surgir na Europa, sobretudo em seu
país, a Alemanha. Filho de uma família da alta classe média, Weber encontrou em sua casa
uma atmosfera intelectualmente estimulante. Seu pai era um conhecido advogado e desde
cedo orientou-o no sentido das humanidades. Weber recebeu excelente educação secundária
em línguas, história e literatura clássica. Em 1882, começou os estudos superiores em
Heidelberg; continuando-os em Göttingen e Berlim, em cujas universidades dedicou-se
simultaneamente à economia, à história, à filosofia e ao direito.

Concluído o curso, trabalhou na Universidade de Berlim, na qual idade de livre-docente, ao


mesmo tempo em que servia como assessor do governo. Em 1893, casou-se e; no ano
seguinte, tornou-se professor de economia na Universidade de Freiburg, da qual se transferiu
para a de Heidelberg, em 1896. Dois anos depois, sofreu sérias perturbações nervosas que o
levaram a deixar os trabalhos docentes, só voltando à atividade em 1903, na qualidade de co-
editor do Arquivo de Ciências Sociais (Archiv tür Sozialwissenschatt), publicação extremamente
importante no desenvolvimento dos estudos sociológicas na Alemanha. A partir dessa época,
Weber somente deu aulas particulares, salvo em algumas ocasiões, em que proferiu
conferências nas universidades de Viena e Munique, nos anos que precederam sua morte, em
1920.

A Sociologia weberiana caracteriza-se por um dualismo racionalismo – irracionalismo:

- Racionalismo: rotina social; estabilidade; tradição; legalidade; continuidade; espírito


científico e pragmático do ocidente, sacrificando a espontaneidade da vida aos cálculos e à
seleção dos meios, para serem atingidos fins previamente escolhidos.

- Irracionalismo: crenças; mitos; sentimentos; ação carismática.

AÇÃO

17

Para Weber a sociedade não seria algo exterior e superior aos indivíduos, como em Durkheim.
Para ele, a sociedade pode ser compreendida a partir do conjunto das ações individuais
reciprocamente referidas. Por isso, Weber define como objeto da sociologia a ação social. O
que é ação social? Para Weber ação social é qualquer ação que o indivíduo faz orientando-se
pela ação de outros. Por exemplo um eleitor. Ele define seu voto orientando-se pela ação dos
demais eleitores. Ou seja, temos a ação de um indivíduo, mas essa ação só é compreensível se
percebemos que a escolha feita por ele tem como referência o conjunto dos demais eleitores.
Assim, Weber dirá que toda vez que se estabelecer uma relação significativa, isto é, algum tipo
de sentido entre várias ações sociais, teremos então relações sociais. Aação social, é a conduta
humana dotada de sentido. O sentido motiva a ação individual. Para Weber, cada sujeito age
levado por um motivo que se orienta pela tradição, por interesses racionais ou pela
emotividade. O objetivo que transparece na ação social permite desvendar o seu sentido, que
é social na medida em que cada indivíduo age levando em conta a resposta ou reação de
outros indivíduos. A ação social gera efeitos sobre a realidade em que ocorre.

É o indivíduo que através dos valores sociais5 e de sua motivação, produz o sentido da ação
social. A transmissão destes valores comuns de uma geração para outra é chamada
socialização, que é uma forma inconsciente de coerção social.Ex. de valores sociais: respeito,
virgindade, honestidade, solidariedade, etc Só existe ação social quando o indivíduo tenta
estabelecer algum tipo de comunicação, a partir de suas ações, com os demais. A partir dessa
definição, Weber afirmará que podemos pensar em diferentes tipos de ação social,
agrupando-as de acordo com o modo pelo qual os indivíduos orientam suas ações. Assim, ele
estabelece tipos de ação social:

1. Ação tradicional:aquela determinada por um costume ou um hábito arraigado.

2. Ação carismática: inova e inobserva tradições. Funda-se na crença de ser seu autor dotado
de poderes sobre-humanos e sobrenaturais que agem, livremente, sem fazer caso de normas
estabelecidas ou de tradições, estabelecendo novas normas e criando tradições.

3. Ação afetiva: orientada pelas emoções e sentimentos.

4. Ação social racional:determinada pelo cálculo racional que coloca fins e organiza os meios
necessários.

5. Ação política: a finalidade ideal da ação política é a instituição e a perpetuação do


poder.Para a instituição e a perpetuação do poder a ação política exerce três tipos de
dominação que precisam ser legitimados: carismática, tradicional e legal.

5Valores : níveis de preferência estabelecidos pelo ser humano para objetos, conhecimentos,
comportamentos ou sentimentos, tenham eles origem individual ou coletiva. Mas todos eles
geram algum tipo de conduta, isto é, servem de referência para a ação. É o valor moral,
ético.Os valores sociais são aqueles gerados por um grupo e que contribuem para sua
manutenção. Durkheim atribuiu aos valores a caracteristica de coerção social, ou seja, o poder
de induzir pessoas a um determinado comportamento.

18

Weber afirma que a Ciência Social que ele pretende exercitar é uma “Ciência da Realidade”,
voltada para a compreensão da significação cultural atual dos fenômenos e para o
entendimento de sua origem histórica. O método compreensivo, defendido por Weber,
consiste em entender o sentido que as ações de um indivíduo contêm e não apenas o aspecto
exterior dessas mesmas ações.

Se, por exemplo, uma pessoa dá a outra um pedaço de papel, esse fato, em si mesmo, é
irrelevante para o cientista social. Somente quando se sabe que a primeira pessoa deu o papel
para a outra como forma de saldar uma dívida (o pedaço de papel é um cheque) é que se está
diante de um fato propriamente humano, ou seja, de uma ação carregada de sentido. O fato
em questão não se esgota em si mesmo e aponta para todo um complexo de significações
sociais, na medida em que as duas pessoas envolvidas atribuem ao pedaço de papel a função
do servir como meio de troca ou pagamento; além disso, essa função é reconhecida por uma
comunidade maior de pessoas.

CONHECIMENTO

‘o conhecimento são os acontecimentos pensados, racionalizados, não apenas vividos’.

O que é conhecimento?
gerações.

Ex: Tive a idéia de fazer um bolo. Não qualquer bolo. Escolhi fazer um bolo de chocolate. A
massa que saiu do forno é o produto da idéia que tive. Meus colegas Clóvis e Andréia, que
comeram o bolo, não pensaram, não tiveram a idéia, não racionalizaram criando a receita.

concreto: sujeito estabelece relação com objeto individual. Ex: conhecimento que temos de
alguém em particular.

abstrato: relação estabelecida com um objeto geral, universal. Ex: conhecimento que temos do
ser humano, como gênero.

Acontecimentos Pensados: são as idéiasque temos das coisas: o pensamento

rganizado com o vocabulário aprendido assim como os conceitos e


definições.

portuguesa ).

Definição de idéia: representação abstrata de um ser, de um objeto, elaborada pelo


pensamento.

Ex: idéia do que seja belo ( ideal de beleza ).

TIPO IDEAL

O tipo ideal é uma construção do pensamento e sua característica principal é não existir na
realidade, mas servir de modelo para a análise de casos concretos, realmente existentes.

As construções de tipo ideal fazem parte do método tipológico criado por Max Weber. Ao
comparar fenómenos sociais complexos o pesquisador cria tipos ou modelos ideais,
construídos a partir de aspectos essenciais dos fenómenos.

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TIPOS IDEAIS DE DOMINAÇÃO:

- Dominação carismática: legitimada pela fé e pelas qualidades sobrenaturais do chefe

- Dominação tradicional: legitimada pela crença sacrossanta na tradição

- Dominação legal: legitimada pelas leis a partir dos costumes e tornado possível pela
burocracia, trazendo a especialização e a organização racional e legal das funções.
BUROCRACIA

O estado moderno, com suas inúmeras atribuições, reclama a existência de uma ampla
estrutura organizacional, constituída por funcionários sujeitos à hierarquia e a regulamentos.

Popularmente, o termo burocracia apresenta em geral uma conotação pejorativa, associada à


lentidão com que se cumprem os trâmites administrativos e à existência de estruturas, um
tanto abstratas, que regem as atividades humanas sem levar em conta as circunstâncias
concretas e as necessidades individuais.

Nas ciências sociais, entretanto, a noção de burocracia define, por um lado, a estrutura
organizativa e administrativa das atividades coletivas, no campo público e privado, e, por
outro, o grupo social constituído pelos indivíduos dedicados ao trabalho administrativo,
organizado hierarquicamente, de forma que seu funcionamento seja estritamente regido por
rigorosas regras de caráter interno, emanadas da legislação administrativa geral.

Foi no século XVIII, com a crescente importância assumida pelos organismos administrativos,
que Jean-Claude Marie Vincent, senhor de Gournay, criou a palavra burocracia, a partir do
francês bureau, "escritório", e do grego kratia, "poder". Somente em fins do século XIX, o tema
passou a ser estudado dentro de uma perspectiva geral.

“O domínio legal é caracterizado, do ponto de vista da legitimidade, pela existência de normas


formais. Do ponto de vista do aparelho, pela existência de um staff administrativo burocrático
(grupo qualificado de funcionários pela aptidão e competência, que assiste a um dirigente em
entidades públicas e privadas)”. Weber, portanto, define a burocracia como a estrutura
administrativa, de que se serve o tipo mais puro do domínio legal.

Segundo Weber, são três as características da burocracia:

desempenhado por cada indivíduo dentro da estrutura; e

A divisão do trabalho em áreas especializadas é obtida pela definição precisa dos deveres e
responsabilidades de cada pessoa, considerada não individualmente, mas como um "cargo".
Essa definição de cargo delimita determinadas áreas de competência, que não podem ser
desrespeitadas em nenhuma hipótese, de acordo com os regulamentos pertinentes. Em
situações extremas ou anômalas, recorre-se à consulta "por via hierárquica", ao órgão
imediatamente superior.

Essa via, segundo Weber, resulta da absoluta compartimentação do trabalho e da estruturação


hierárquica dos diferentes departamentos, de forma racional e impessoal.A legitimação da
autoridade não é pessoal, nem se baseia no respeito primário à tradição, como nas relações
tradicionais entre superiores e inferiores, mas resulta do reconhecimento da racionalidade e
da excelência dos processos estabelecidos.

20
O respeito e a obediência são devidos não à pessoa, nem sequer à instituição, mas sim ao
ordenamento estabelecido.

Para Weber, a característica básica de todo o sistema burocrático é a existência de


determinadas normas gerais e racionais decontrole, que regulam o funcionamento do
conjunto de acordo com técnicas determinadas de gestão, visando o maior rendimento
possível.

Na realidade, como reconhece Weber, nem todas as organizações administrativas apresentam-


se com todas essas características, presentes, no entanto, na grande maioria delas.

KARL MARX

As revoluções burguesas do séc. XVIII se encontravam, no início do séc. XIX, ameaçadas pelas
forças conservadoras do feudalismo em decomposição, representadas pela nobreza e pelo
clero desejosas de restituir o absolutismo e excluir a burguesia do poder político.

As forças revolucionárias eram representadas pela burguesia e pelo crescente proletariado,


ambos descontentes com a situação socioeconômica. O embate dessas forças se fez sentir em
1830 e 1848 nos grandes movimentos liberais e nacionais que, iniciados na França, se
estenderam pela Bélgica, Polônia, Alemanha, Itália, Portugal e Espanha.

Em uma Alemanha agitada e cheia de problemas, surgiu o marxismo.

Em 1848, Marx e Engels ( 1820 – 1895 ) escrevem o Manifesto Comunista, formulando suas
idéias a partir da realidade social por eles observada: de um lado o avanço técnico, o aumento
do poder do homem sobre a natureza, o enriquecimento e o progresso; de outro e
contraditoriamente, a escravização crescente da classe operária, cada vez mais empobrecida.

O objetivo de Marx não era apenas contribuir para o desenvolvimento da ciência, mas propor
uma ampla transformação política, econômica e social.

A teoria marxista compõe-se de uma teoria científica, o materialismo histórico e de uma


filosofia, o materialismo dialético.

Marx desenvolve o materialismo histórico, a corrente mais revolucionária do pensamento


social nas conseqüências teóricas e na prática social que propõe. Ele faz uma leitura crítica da
filosofia de Hegel ( Alemanha, 1770 – 1831 ), de quem absorveu e aplicou, de modo peculiar, o
método dialético.

Para Hegel, o mundo é a manifestação da idéia. Marx e Engels ao contrário, diz que a matéria é
a fonte da consciência e esta é um reflexo da matéria. Marx diz que:

“A contradição é a fonte de toda a vida. Só na medida em que encerra em si uma contradição é


que uma coisa se move, tem vida e atividade. Só o choque entre o positivo e o negativo
permite o processo de desenvolvimento e o eleva a uma fase mais elevada.”

Naturalmente Marx substitui, do pensamento de Hegel, o espírito ou a idéia, que são os


elementos básicos de sua dialética, pelas relações de produção, pelos sistemas econômicos,
pelas classes sociais, ou seja, pelas condições materiais de existência.
21

Marx contraria também a Declaração Universal dos Direitos Humanos elaborada no período
iluminista que diz que todos os homens são iguais política e juridicamente e que a liberdade e
justiça eram direitos inalienáveis de todo cidadão. Ele proclama que não existe tal igualdade
natural e observa que o Liberalismo vê os homens como átomos, como se estivessem livres
das evidentes desigualdades estabelecidas pela sociedade. Ele discordará de Durkheim sobre o
consenso, dizendo que não existe consenso, mas sim uma eterna luta de classes. MANIFESTO
COMUNISTA MARX, Karl e ENGELS, Friedrich, Manifesto do Partido Comunista –
1848http://www.culturabrasil.pro.br/manifestocomunista.htm )

O Manifesto sugere um curso de ação para uma revolução socialista através da tomada do
poder pelos proletários.

O Manifesto Comunista faz uma dura crítica ao modo de produção capitalista e na forma como
a sociedade se estruturou através desse modo. Busca organizar o proletário como classe social
capaz de reverter sua precária situação e descreve os vários tipos de pensamento comunista,
assim como define o objetivo e os princípios do socialismo científico.

Marx e Engels partem de uma análise histórica, distinguindo as várias formas de opressão
social durante os séculos e situa a burguesia moderna como nova classe opressora. Não deixa,
porém, de citar seu grande papel revolucionário, tendo destruído o poder monárquico e
religioso valorizando a liberdade econômica extremamente competitiva e um aspecto
monetário frio em detrimento das relações pessoais e sociais, assim tratando o operário como
uma simples peça de trabalho. Este aspecto juntamente com os recursos de aceleração de
produção (tecnologia e divisão do trabalho) destrói todo atrativo para o trabalhador,
deixando-o completamente desmotivado e contribuindo para a sua miserabilidade e
coisificação. Além disso, analisa o desenvolvimento de novas necessidades tecnológicas na
indústria e de novas necessidades de consumo impostas ao mercado consumidor.

Afirmam sobre o proletariado: "Sua luta contra a burguesia começa com sua própria
existência". O operariado tomando consciência de sua situação tende a se organizar e lutar
contra a opressão e ao tomar conhecimento do contexto social e histórico onde está inserido,
especifica seu objetivo de luta. Sua organização é ainda maior pois toma um caráter
transnacional, já que a subjugação ao capital despojou-o de qualquer nacionalismo. Outro
ponto que legitima a justiça na vitória do proletariado seria de que este, após vencida a luta de
classes, não poderia legitimar seu poder sob forma de opressão, pois defende exatamente o
interesse da grande maioria: a abolição da propriedade(“Os proletários nada têm de seu para
salvaguardar”). A exclusividade entre os proletários conscientes, portanto comunistas,
segundo Marx e Engels, é de que visam a abolição da propriedade privada e lutam embasados
num conhecimento histórico da organização social, são portanto revolucionários. Além disso,
destaca que o comunismo não priva o poder de apropriação dos produtos sociais; apenas
elimina o poder de subjugar o trabalho alheio por meio dessa apropriação. Com o
desenvolvimento do socialismo a divisão em classes sociais desapareceriam e o poder público
perderia seu caráter opressor, enfim seria instaurada uma sociedade comunista.
Analisam e criticam três tipos de socialismo. O socialismo reacionário, que seria uma forma de
a elite conquistar a simpatia do povo, e mesmo tendo analisado as grandes contradições da
sociedade, olhava-as do ponto de vista burguês e procurava manter as relações de produção e
de troca; o socialismo conservador, com seu caráter reformador e anti-revolucionário; e o
socialismo utópico, que apesar de fazer uma análise crítica da situação operária não se apóia
em luta política, tornando a sociedade comunista inatingível. E fecham com as principais idéias
do Manifesto, com destaque na questão da propriedade privada e motivando a união entre os
operários. Acentua a união transnacional, em detrimento do nacionalismo esbanjado pelas
nações, como manifestado na célebre frase: “Proletários de todo o mundo, uni-vos!”

MARX E O MATERIALISMO HISTÓRICO

22

Em 1859, Marx e Engels publicaram o Prefácio da Contribuição à crítica da economia política.


Neste prefácio está a formulação de uma teoria empírica, fundada na observação de condições
reais do capitalismo emergente e definida como materialismo histórico. Os conceitos
desenvolvidos por Marx em sua teoria são: mercadoria, capital, lei da mais-valia, classes
sociais, Estado e ideologia. Em seu livro mais importante, O Capital, Marx afirmava que a nossa
sociedade aparece inicialmente como um grande depósito de mercadorias. Por exemplo:
relaciono-me com o padeiro, porque compro seu pão; relaciono-me com o cobrador do
ônibus, pois pago a passagem. Tudo acaba sendo mercadoria. O trabalhador vende sua
capacidade de trabalhar em troca de um salário e assim por diante. Marx diz que a estrutura
da sociedade está fundamentada na mercadoria, ou seja, a sociedade está estruturada na
economia. Segundo o materialismo histórico, a estrutura econômica de uma sociedade
depende da forma como os homens organizam a produção social de bens. Essa estrutura é a
verdadeira base da sociedade. É o alicerce sobre a qual se ergue a superestrutura jurídica e
política e ao qual correspondem formas definidas de consciência social. A produção social de
bens, segundo Marx, engloba dois fatores básicos: as forças produtivas e as relações de
produção. As forças produtivas e relações de produção constituem o modo de produção e são
as condições naturais e históricas de toda atividade produtiva que ocorre na sociedade. O
modo de produção da vida material condiciona o processo de vida social, política e espiritual
em geral. Para Marx, o estudo do modo de produção é fundamental para se compreender
como se organiza e funciona uma sociedade. As relações de produção, nesse sentido, são
consideradas as mais importantes relações sociais. As formas de família, as leis, a religião, as
idéias políticas, os valores sociais são aspectos cuja explicação depende, em princípio, do
estudo do modo de produção. A história do homem é portanto, a história do desenvolvimento
e do colapso de diferentes modos de produção. Analisando a história , Marx identificou alguns
modos de produção específicos: sistema comunal primitivo, asiático, antigo, germânico, feudal
e modo de produção capitalista. Cada qual representa passos sucessivos no desenvolvimento
da propriedade privada e do advento da exploração do homem pelo homem.

Em cada modo de produção, a desigualdade de propriedade, como fundamento das relações


de produção, cria contradições básicas com o desenvolvimento das forças produtivas.
Ao se desenvolverem, as forças produtivas da sociedade entram em conflito com as relações
de produção existentes. Estas relações tornam-se, então, obstáculos para as forças produtivas,
nascendo, nesse momento uma época de revolução social.

Relação do trabalhador com omeiode produção

23

A mudança da base econômica, gerada pela transformação material das condições econômicas
de produção, provocam revoluções jurídicas, políticas, religiosas, artísticas e filosóficas, que
são as formas ideológicas que servem aos homens não só para tomar consciência deste
conflito, como também para explicá-lo.

Por outro lado jamais aparecem novas relações de produção superiores às antigas antes que as
condições materiais de sua existência se tenham desenvolvido completamente no seio da
velha sociedade.

Marx diz que as desigualdades sociais são provocadas pelas relações de produção do sistema
capitalista, as quais dividem os homens em proprietários e não-proprietários dos meios de
produção. As desigualdades são a base da formação das classes sociais.

Ele não acreditava no consenso de Durkheim, mas sim que a história do homem é a história da
luta de classes, uma luta constante entre interesses opostos. Por outro lado, as relações entre
as classes são complementares, pois uma só existe em relação à outra. Só existem
proprietários porque há uma massa de despossuídos cuja única propriedade é sua força de
trabalho, que precisam vender para assegurar a sobrevivência. As classes sociais são, pois,
complementares e interdependentes.

Fixando conceitos

FORÇA PRODUTIVA = meios de produção + trabalho humano.

Todo processo produtivo combina os meios de produção e a força de trabalho. Constituem as


condições materiais de toda a produção. Sem o trabalho humano nada pode ser produzido e
sem os meios de produção, o homem não pode trabalhar.

Todo processo de trabalho implica em determinados objetos ( matérias-primas ) e


determinados instrumentos (ferramentas ou máquinas). Os objetos e instrumentos constituem
os meios de produção. O proletariado constitui a força de trabalho. Os meios de produção ou
meios de trabalho incluem os "instrumentos de produção" (máquinas, ferramentas), as
instalações (edifícios, armazéns, silos etc), as fontes de energia utilizadas na produção
(elétrica, hidráulica, nuclear, eólica etc.) e os meios de transporte. Os "objetos de trabalho"
são os elementos sobre os quais ocorre o trabalho humano (matérias-primas minerais,
vegetais e animais, o solo etc.).

MODO DE PRODUÇÃO = forças produtivas + relações de produção.

Conceito abstrato para definir os estágios de desenvolvimento do sistema capitalista. É a


forma de organização socioeconômica associada a uma determinada etapa de
desenvolvimento das forças produtivas e das relações de produção. Reúne as características
do trabalho preconizado, seja ele artesanal, manufaturado ou industrial. São constituídos pelo
objeto sobre o qual se trabalha e por todos os meios de trabalho necessários à produção
(instrumentos ou ferramentas, máquinas, oficinas, fábricas, etc.) Existem 6 modos de
produção: Primitivo, Asiático, Escravista, Feudal, Capitalista e Comunista.

RELAÇÕES DE PRODUÇÃO: O trabalho é necessariamente um ato social. As pessoas dependem


umas das outras para obter os resultados pretendidos. As relações de produção, são as formas
pelas quais os homens se organizam para executar a atividade produtiva. As relações de
produção podem ser cooperativistas ( ex: mutirão ), escravistas (

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como na Antiguidade européia ou período colonial brasileiro ), servis ( como na Europa feudal )
ou capitalistas ( como na indústria moderna ). são constituídas pela propriedade econômica
das forças produtivas. Na condição de escravos, servos ou assalariados, os trabalhadores
participam da produção somente com sua força de trabalho. Na condição de senhores, nobres
ou empresários, os proprietários participam do processo produtivo como donos dos meios de
produção.

CLASSE SOCIAL:O conceito cientifico das classes sociais exige análise dos seguintes níveis:
modo de produção, estrutura social, situação social e a conjuntura. Em uma explicação mais
simples, classe social é um grupo de pessoas que tem status social similar segundo critérios
diversos, especialmente o econômico. Segundo a ótica marxista, em praticamente toda
sociedade, seja ela pré-capitalista ou caracterizada por um capitalismo desenvolvido, existe a
classe dominante, que controla direta ou indiretamente o Estado, e as classes dominadas por
ela, reproduzida inexoravelmente por uma estrutura social implantada pela classe dominante.
Segundo a mesma visão de mundo, a história da humanidade é a sucessão das lutas de classes,
de forma que sempre que uma classe dominada passa a assumir o papel de classe dominante,
surge em seu lugar uma nova classe dominada, e aquela impõe a sua estrutura social mais
adequada para a perpetuação da exploração.

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

Dicionário do pensamento marxista, Tom Bottomore. RJ: Jorge Zahar, 1988

OLIVEIRA, Pérsio Santos de. Introdução à Sociologia: série Brasil. SP: Ática, 2004

ARANHA, Maria L. de Arruda. Filosofando: introdução à Filosofia. SP: Moderna, 1993

COSTA, Maria C. Castilho. Sociologia: introdução à ciência da sociedade. SP: Moderna, 1998

MARTINS, Carlos Benedito. O que é Sociologia. SP: Brasiliense, 1982

Meksenas, Paulo. Sociologia. SP: Cortez, 1994

FONTES NA INTERNET

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http://www.direitonet.com.br/artigos/x/14/48/1448/

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=8260

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