1fase FARMACOLOGIA BÁSICA. 3aula

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FARMACOLOGIA

BÁSICA

Lucimar Filot da
Silva Brum
Farmacocinética II –
distribuição de drogas
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Explicar o processo de distribuição dos fármacos no organismo


humano.
 Descrever a função das proteínas plasmáticas na distribuição dos
fármacos no organismo.
 Identificar os fatores que interferem na distribuição dos fármacos.

Introdução
Após a absorção ou a administração direta do fármaco na corrente san-
guínea, as moléculas do fármaco são distribuídas por todo o organismo,
isto é, são transportadas pelo sangue aos diferentes órgãos e tecidos do
corpo. Embora a absorção do fármaco seja determinante para a obtenção
de níveis plasmáticos adequados desse fármaco, ele também precisa
alcançar seu órgão ou órgãos-alvo em concentrações terapêuticas para
exercer o efeito desejado sobre determinado processo fisiopatológico
(SILVA, 2010).
A distribuição de um fármaco ocorre principalmente pelo sistema
circulatório, porém, o sistema linfático contribui com uma parcela menor
e os princípios e propriedades que influenciam a absorção também são
aplicáveis à distribuição de um fármaco no organismo (BRUNTON; CHAB-
NER; KNOLLMANN, 2016). Uma vez presentes no compartimento vascular,
as moléculas dos fármacos podem ligar-se às proteínas plasmáticas (como
albumina), formando assim complexo fármaco-proteína, que tende a se
concentrar no espaço vascular. A ligação das moléculas do fármaco às
proteínas é de grande importância, pois é a concentração de fármaco
livre que determina a intensidade do efeito e a velocidade de eliminação
do fármaco do organismo, pois somente as moléculas livres do fármaco,
ou seja, as moléculas não ligadas às proteínas, conseguem passar pela
2 Farmacocinética II – distribuição de drogas

barreira sangue-tecido, atingindo seu local de ação e sendo eliminadas


do organismo (KATZUNG; TREVOR, 2017).
Neste capítulo, vamos abordar os processos de distribuição de fár-
macos, a função das proteínas plasmáticas e os fatores que interferem
na distribuição dos fármacos no organismo humano.

Distribuição dos fármacos no organismo


humano
Para exercer o seu efeito farmacológico, a maioria dos fármacos deve ir do
local onde foi administrado até o tecido-alvo (Figura 1). Esse movimento do
fármaco pelo corpo é denominado distribuição (KATZUNG; TREVOR, 2017).

Figura 1. Distribuição dos fármacos no organismo.


Fonte: Brunton, Chabner e Knollmann (2016, p. 90).

Para que um fármaco seja distribuído, ele deve se deslocar e transpor/


permear barreiras, como as paredes dos capilares e das membranas celula-
res. Portanto, é muito importante conhecer os fatores que influenciam esse
movimento do fármaco de um compartimento corporal para outro, ou seja,
o processo de translocação das moléculas do fármaco entre os diferentes
compartimentos, por exemplo, como ocorre a distribuição dos fármacos (a)
do compartimento intravascular (plasmático) para o extravascular (inters-
ticial); (b) do compartimento plasmático para o cefalorraquidiano; (c) do
compartimento plasmático para o extravascular e o intracelular cerebrais;
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(d) do compartimento plasmático para o placentário; (e) do compartimento


plasmático para o tubular renal; e (f) do compartimento extracelular para o
intracelular. Também é importante conhecer como é o processo de distribuição
do fármaco para sítios especiais, como o globo ocular, os testículos, o tecido
ósseo, etc. (FUCHS; WANNMACHER, 2017).
No estudo da distribuição de um fármaco, também é importante conhecer
as informações de permeabilidade do endotélio capilar, ligação das moléculas
do fármaco às proteínas plasmáticas e volume de distribuição do fármaco.
Nesta seção, vamos abordar a permeabilidade do endotélio capilar e o volume
de distribuição do fármaco. Na próxima seção, abordaremos a importância
da ligação das moléculas do fármaco às proteínas plasmáticas (BRUTON et
al., 2016; WHALEN; FINKEL; PANAVELLI, 2016).

Permeabilidade do endotélio capilar


Sabe-se que moléculas dos fármacos atravessam as paredes capilares pela via
transcelular ou pela via intercelular. Na via transcelular, o fármaco atravessa
a célula endotelial por pinocitose, por difusão simples ou por transporte ativo.
Já na via intercelular, a permeação das moléculas dos fármacos é feita através
de sistemas de poros ou canais existentes no endotélio, entre as células.
O movimento transcelular é regulado pelos fatores semelhantes aos que
ocorrem no processo de absorção e, em grande parte, pelo tamanho das mo-
léculas dos fármacos, embora se observe também a difusão transcelular de
grandes moléculas.
Os capilares de certos tecidos, como o hepático e o renal, apresentam
características próprias de permeabilidade, em consequência de suas funções
específicas. No fígado e no baço, uma fração significativa da membrana basal
é exposta em razão de os capilares serem descontínuos e grandes, através dos
quais podem passar grandes proteínas plasmáticas (Figura 2 [a]).
Os capilares cerebrais também apresentam propriedades especiais, ou
seja, apesar da relativa facilidade com que os fármacos se distribuem em
todos os tecidos do corpo, existem determinadas áreas que são de mais difícil
penetração, cujos principais representantes são definidos por duas barrei-
ras. A primeira barreira é a hematoencefálica, que utiliza junções estreitas,
especializadas em impedir a difusão passiva da maioria dos fármacos da
circulação sistêmica para a circulação cerebral (Figura 2 [b]). Por conseguinte,
os fármacos destinados a atuar no sistema nervoso central (SNC) devem ser
suficientemente pequenos e hidrofóbicos para atravessar com facilidade as
membranas biológicas, ou devem utilizar as proteínas de transporte existentes
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na barreira hematoencefálica para penetrar nas estruturas centrais. A segunda


barreira é a hematoplacentária, que representa um conjunto de tecidos que se
localizam entre a circulação materna e a fetal. Essa barreira pode facilitar ou
restringir a passagem de fármacos da circulação materna para a fetal.

Figura 2. Corte transversal de capilares (a) hepáticos e (b) cerebrais.


Fonte: Whalen, Finkel e Panavelli (2016, p. 11).

Em geral, fármacos que conseguem atravessar essa barreira biológica são


lipofílicos e não polares e de peso molecular inferior a 1.000 KDa, do mesmo
modo como acontece na barreira hematoencefálica. Por exemplo, o tiopen-
tal, o álcool, os antibióticos e a morfina, por terem as propriedades citadas,
podem atravessar a barreira e alcançar os tecidos do feto. Deve ser lembrado
que a placenta não é apenas uma barreira inerte, mas também um tecido
metabolizador que pode biotransformar os fármacos, produzir metabolitos e/
ou inativá-los, protegendo, assim, os órgãos ainda imaturos do feto. Por outro
lado, os metabólitos produzidos pela placenta podem ser mais tóxicos do que
o fármaco original e causar dano ao feto.
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Volume de distribuição do fármaco


Moléculas do fármaco que conseguem atravessar o endotélio capilar de dentro
para fora, ou seja, sair de dentro da corrente sanguínea, se distribuirão através
do líquido extracelular dos tecidos. A velocidade e extensão dessa distribuição
dependerão da extensão da vascularização e da hemodinâmica, isto é, da velo-
cidade do fluxo sanguíneo do órgão considerado. Porém, após um determinado
tempo, a concentração sanguínea iguala-se à concentração extracelular do
fármaco, diluindo-se em aproximadamente 12 litros, que representam a soma
dos volumes de líquido intersticial e do plasma sanguíneo. Caso as moléculas
do fármaco tenham a capacidade de atravessar as membranas celulares, elas
também se diluirão no líquido celular, cujo volume é igual a aproximadamente
28 litros. Quando somados os volumes do plasma sanguíneo (3 litros), do
líquido intersticial extravascular (12 litros) e do líquido intracelular de todas
as células (28 litros), obtém-se um total de aproximadamente 40 litros em
homem adulto de 70 kg, o que representa o total de água do organismo.
Nesse contexto, o fármaco que, em razão das suas características (tamanho
molecular, lipossolubilidade, grau de ionização), consiga atravessar os epitélios
de absorção, o endotélio capilar e as membranas celulares se distribuirá nos 40
litros de água de todo o organismo, que constituem o volume de distribuição
real. Paralelo ao parâmetro volume de distribuição real, foi criado, no estudo
da farmacocinética, o volume de distribuição aparente.
O volume de distribuição real de um fármaco relaciona-se à água do
corpo e não pode exceder o volume total da água corpórea, que é em torno
de 40 litros, no adulto de 70 kg. Por outro lado, volume de distribuição apa-
rente representa uma constante de proporcionalidade e não tem representação
anatômica, podendo variar de frações de 1 litro até mais de 40 litros por kg de
peso. Por exemplo: um fármaco representante da classe dos antidepressivos
tricíclicos tem volume de distribuição aparente que varia em torno de 20
litros, enquanto o do anticoagulante varfarina se situa em cerca de 0,1 litro.
A expressão do volume de distribuição aparente é feita em litros em relação
ao peso do corpo. Desse modo, nos exemplos citados, teríamos os valores de
20 litros/kg e 0,1 litro/kg. Assim, elevados volumes de distribuição aparentes
indicam que os fármacos apresentam grandes concentrações teciduais em
comparação com a concentração plasmática e vice-versa. Assim, o baixo
valor do volume de distribuição aparente de um fármaco (Vd = 0,1 litro/kg)
significa que a concentração do fármaco no plasma é 10 vezes superior à dos
outros tecidos do corpo.
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O volume de distribuição aparente é determinado pelo balanço entre a


ligação dos fármacos aos tecidos e a ligação dos fármacos às proteínas plas-
máticas. Ou seja, quanto maior a ligação aos tecidos, menor é a concentração
no compartimento vascular e, consequentemente, maior valor de volume
aparente; ao contrário, quanto maior a ligação as proteínas plasmáticas, maior
é a concentração no compartimento vascular e, portanto, menor valor de
volume aparente.
Na maioria das vezes, a distribuição do fármaco não é homogênea em
todo o corpo, podendo o fármaco se concentrar em um ou mais tecidos (como
sangue, gordura ou ossos). Esses tecidos são descritos como “compartimentos
físicos” e seus volumes podem ser definidos (Tabela 1). Entretanto, como
observado, muitos fármacos não se distribuem da mesma forma em todos os
compartimentos. Por isso, dizemos que os fármacos têm um volume de distri-
buição aparente (não é equivalente ao tamanho físico) (Vd), o qual relaciona a
quantidade de fármaco no corpo com a concentração plasmática conforme a
equação Vd = quantidade no corpo/concentração plasmática, graficamente
representada na Figura 3.

Tabela 1. Volumes físicos, em litros (L), de alguns compartimentos corporais em que os


fármacos podem ser distribuídos

Compartimento e volume físico

Água

Água total do corpo 42 L1

Água extracelular 14 L

Sangue 5,6 L

Plasma 2,8 L

Gordura 14,0 a 24,5 L

Osso 4,9 L
1
Representação média para uma pessoa de 70 kg. A água total do corpo, em um
homem jovem e magro pesando 70 kg, pode totalizar 49 L; em uma mulher obesa
de 70 kg, 35 L.

Fonte: Adaptada de Panus et al. (2011, p. 21).


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Figura 3. Efeito da ligação do fármaco sobre o volume de distribuição aparente. O fármaco


A não se liga a macromoléculas (linhas onduladas grossas) nos compartimentos vascular
ou extravascular do organismo hipotético no diagrama. O fármaco A se difunde livremente
entre os dois compartimentos. Com 20 unidades do fármaco no organismo, a distribuição
do estado de equilíbrio deixa uma concentração sanguínea de 20 unidades. O fármaco B,
diferente do A, liga-se fortemente a proteínas no sangue. A difusão do fármaco B é muito
mais limitada. No equilíbrio, apenas duas unidades do total se difundiram para o volume
extravascular, deixando 18 unidades no sangue. Em ambos os casos, a quantidade total do
fármaco no corpo é a mesma (20 unidades), mas o volume de distribuição aparente é muito
diferente. O fármaco C se liga fortemente a moléculas nos tecidos periféricos, de modo que
é necessária uma dose total maior (200 unidades) para alcançar concentrações plasmáticas
mensuráveis. Em equilíbrio, são encontradas 198 unidades nos tecidos periféricos e apenas 2
no plasma; assim, o volume de distribuição calculado é maior que o volume físico do sistema.
Fonte: Panus et al. (2011, p. 22).

Mudanças na ligação tecidual ou na ligação plasmática podem alterar o


volume de distribuição aparente, determinado a partir de mensurações da con-
centração no plasma. As pessoas mais idosas têm uma diminuição relativa da
massa muscular esquelética e tendem a apresentar um volume aparente menor
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de distribuição da digoxina (que se liga a proteínas do músculo). O volume


de distribuição pode ser superestimado em pacientes obesos, se baseado no
peso corporal e o fármaco não penetrar bem em tecidos adiposos, como é o
caso da digoxina. Em contraste, a teofilina tem um volume de distribuição
semelhante àquele da água corporal total. O tecido adiposo tem quase tanta
água como outros tecidos, de modo que o volume total aparente de distribuição
da teofilina é proporcional ao peso corporal, mesmo em pacientes obesos
(KATZUNG; TREVOR, 2017).

Algumas patologias podem promover variação no volume de distribuição aparente.


Quando há insuficiência cardíaca, em razão da baixa perfusão sanguínea, pode ocorrer
a diminuição do Vd, aumentando a concentração plasmática do fármaco. É o que se
observa, por exemplo, quando se administra lidocaína em pacientes com insuficiência
cardíaca, em que os pacientes apresentam maior número de efeitos colaterais, em
razão da elevação da sua concentração plasmática. Em situações clínicas em que
ocorre o acúmulo anormal de líquido (como edema, ascite ou derrame pleural), pode
aumentar bastante o volume de distribuição de fármacos como a gentamicina, que
são hidrofílicos e têm volumes de distribuição pequenos (KATZUNG; TREVOR, 2017).

Função das proteínas plasmáticas na


distribuição dos fármacos no organismo
No compartimento vascular, quase todas as moléculas dos fármacos se sub-
dividem em duas porções: uma livre – dissolvida no plasma – e outra que se
liga às proteínas plasmáticas, especialmente à fração albumínica.
As moléculas do fármaco que se ligam às proteínas formam um complexo
reversível, passível de dissociação. Do ponto de vista farmacológico, somente
as moléculas livres é que podem ser distribuídas, atravessar o endotélio vas-
cular e atingir o compartimento extravascular. Já a parte ligada às proteínas
plasmáticas constitui fração de reserva das moléculas do fármaco e só se torna
farmacologicamente disponível no momento em que ocorre dissociação e se
tornam livres. Desse modo, estabelece-se no sangue um equilíbrio entre a
parte ligada e a parte livre do fármaco. À medida que a parte livre é utilizada
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pelo organismo, a parte ligada vai se desligando para substituir aquela parte
livre, que é então distribuída, metabolizada no fígado e excretada pelos rins
(BRUNTON; CHABNER; KNOLLMANN, 2016). A Figura 4 apresenta as
correlações entre absorção, distribuição, ligação às proteínas plasmáticas,
metabolismo e excreção de um fármaco e sua concentração nos locais de ação,
bem como a distribuição de fármaco livre nos diferentes compartimentos.

Figura 4. Distribuição do fármaco nos diferentes compartimentos do organismo.


Fonte: Brunton, Chabner e Knollmann (2016, p. 18).

A proteína plasmática mais abundante é a albumina. A albumina e a alfa-


-glicoproteína exercem papéis fundamentais na ligação aos fármacos, visto
que a albumina se liga aos fármacos ácidos e as alfa-glicoproteínas se ligam
aos fármacos básicos. A hemoglobina também pode se ligar a determinados
fármacos. Alguns autores designam essas proteínas plasmáticas que se ligam
aos fármacos como receptores passivos ou reservatório temporário, pois
essa interação fármaco-proteína plasmática não resulta em efeito farmacoló-
gico, ou seja, constituem macromoléculas farmacologicamente inertes, pois
as moléculas do fármaco ligadas às proteínas permanecem no compartimento
vascular, não sendo distribuídas ao órgão-alvo para que possam interagir com
seu receptor e desencadear o efeito farmacológico (KATZUNG; TREVOR,
2017).
O grau da ligação das moléculas dos fármacos às proteínas plasmáticas
depende: (a) da afinidade entre os fármacos e proteínas plasmáticas; (b) da
concentração do fármaco no sangue; e (c) da concentração das proteínas
plasmáticas. A ligação entre o fármaco e a proteína, principalmente a albu-
mina, constitui uma ligação reversível, como força de van der Waals, ponte
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hidrogênica e atração iônica. Os fármacos também podem se ligar às proteínas


teciduais fora dos seus sítios de ação, constituindo assim locais de depósitos
que são capazes, igualmente, de estabelecer equilíbrio com a fração livre do
fármaco (exemplo: as tetraciclinas acumulam no tecido ósseo).
É muito variável a proporção entre a fração livre e a fração ligada para
os fármacos. Essa variabilidade influencia diretamente a ação terapêutica. A
fenilbutazona, por exemplo, liga-se na proporção de 95% da quantidade admi-
nistrada, portanto, nesse exemplo, apenas 5% é utilizada farmacologicamente.
Teoricamente, a ligação dos fármacos às proteínas plasmáticas pode ser
passível de competição entre fármacos que têm afinidades semelhantes por
tais proteínas e é importante como mecanismo em algumas interações me-
dicamentosas. Assim, a coadministração de dois ou mais fármacos que se
ligam a elas pode resultar em uma concentração plasmática da forma livre
acima do esperado de um ou de ambos os fármacos, quando competem entre
si pelos mesmos sítios de ligação nessas proteínas. A concentração aumentada
de fármaco livre é capaz de, eventualmente, causar efeitos terapêuticos e/ou
tóxicos aumentados do fármaco.
Nesses casos, é possível deduzir que será necessário ajustar o esquema de
dosagem de uma ou de ambas as substâncias, de modo que a concentração de
fármaco livre retorne à sua faixa terapêutica (KATZUNG; TREVOR, 2017).

A magnitude da ligação dos fármacos às proteínas é muito variável. Assim, alguns


fármacos ligam-se em torno de 15% ou menos às proteínas plasmáticas (exemplos:
acetominofeno, aciclovir, gentamicina, metronidazol, metoprolol e ranitidina). Por outro
lado, outros fármacos se ligam em torno de 95% às proteínas plasmáticas (exemplo:
diazepam, digitoxina, furosemida, tolbutamida e varfarina).
Um fármaco ligado à proteína plasmática pode ser deslocado por outro fármaco
que tenha maior afinidade pela proteína. Nesse contexto, ocorre um aumento da
concentração plasmática da fração livre do fármaco deslocado e pode inclusive pro-
duzir níveis tóxicos. A fenilbutazona, por exemplo, desloca a varfarina da sua ligação
proteica, aumentando, desse modo, o efeito anticoagulante, pois a concentração da
fração livre se eleva (e em alguns casos pode causar hemorragia em razão do aumento
do efeito farmacológico), bem como o seu metabolismo e sua excreção (WHALEN;
FINKEL; PANAVELLI, 2016).
Farmacocinética II – distribuição de drogas 11

Fatores que interferem na distribuição dos


fármacos
Uma vez que tenha atingido a circulação sistêmica, o fármaco é distribuído,
pelo sangue, aos vários órgãos do corpo. A distribuição do fármaco depende
de fatores fisiológicos (como fluxo sanguíneo e débito cardíaco) e das pro-
priedades físico-químicas dos fármacos (FUCHS; WANNMACHER, 2017).
Dependendo das características físico-químicas dos fármacos, como lipos-
solubilidade e pH, pode haver o aprisionamento do fármaco no compartimento
tecidual ou plasmático. Os fármacos lipofílicos se movem mais facilmente
através das membranas biológicas, pois se dissolvem nas membranas lipídi-
cas e permeiam toda a superfície celular. O principal fator que influencia a
distribuição do fármaco lipofílico é o fluxo de sangue para aquela área. Em
geral, o equilíbrio de distribuição de um fármaco é atingido rapidamente em
tecidos mais vascularizados e que recebem grande circulação de fluidos, como
coração, pulmões e fígado, e lentamente naqueles que são pouco irrigados,
tais como ossos, unhas e dentes. Em contraste, os fármacos hidrofílicos não
penetram facilmente nas membranas celulares e devem passar através de
junções com fendas.
Com relação ao pH, é muito pequena a diferença de pH entre os comparti-
mentos (tecido e sangue) e, portanto, a distribuição depende mais da afinidade
do fármaco às proteínas plasmáticas, como a albumina. Ou seja, no processo de
distribuição, os principais fatores que determinam a velocidade de distribuição
de um fármaco, da corrente sanguínea para os tecidos, é a sua taxa de ligação
às proteínas plasmáticas. Nesse contexto, é importante conhecer os fatores
que afetam a ligação a proteínas:

1. Concentração de albumina: fármacos como fenitoína e salicilados se


ligam amplamente à albumina do plasma. Os níveis de albumina são
baixos em muitos estados mórbidos, resultando em concentrações totais
do fármaco mais baixas.
2. Concentração de α1-glicoproteína ácida: a α1-glicoproteína ácida é
uma proteína de ligação importante, com sítios de ligação para fár-
macos como quinidina, lidocaína e propranolol. A concentração de
α1-glicoproteína ácida está aumentada em distúrbios inflamatórios
agudos e causa alterações relevantes na concentração plasmática total
desses fármacos, embora a eliminação do fármaco esteja inalterada.
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1. No processo de distribuição, a c) O fármaco é extensivamente


passagem do fármaco do plasma metabolizado no tecido.
ao interstício depende do débito d) O fármaco é inativado
cardíaco, do fluxo sanguíneo pela mucosa gástrica.
local e da permeabilidade capilar. e) O fármaco se liga pouco às
Sobre tais fatores que interferem proteínas plasmáticas.
na distribuição de fármacos no 3. Sobre a distribuição de fármacos no
organismo, é correto afirmar que: organismo, é correto afirmar que:
a) o fluxo sanguíneo para SNC, a) a distribuição de um fármaco
fígado e rins é menor do que entre os compartimentos
para músculos esqueléticos. sangue-tecido é principalmente
b) o fluxo sanguíneo para tecido dependente do pH do fármaco.
adiposo e pele é maior do que b) a albumina é o principal
para músculos esqueléticos. carreador dos fármacos básicos.
c) a permeabilidade capilar é c) os fármacos ácidos têm afinidade
determinada pela estrutura pela glicoproteína ácida alfa-1.
capilar e pela natureza físico- d) os fármacos se distribuem
química do fármaco. lentamente para fígado, rins
d) no fígado, a membrana e cérebro e distribuem-se
basal é exposta a capilares mais rapidamente para
pequenos e contínuos. músculos, ossos e pele.
e) as células endoteliais do SNC têm e) a distribuição de um fármaco
junções com fendas e constituem entre os compartimentos
a barreira hematoencefálica. sangue-tecido é principalmente
2. Volume de distribuição (Vd), dependente da afinidade do
também conhecido como volume fármaco às proteínas plasmáticas.
aparente de distribuição, é um 4. Um fármaco no qual a
parâmetro utilizado para descrever concentração tecidual é maior
a distribuição de um fármaco no que a concentração plasmática
organismo após administração. Em pode ser caracterizado como um
um experimento, após a avaliação fármaco que tem como perfil de
da concentração plasmática de um parâmetro farmacocinético:
medicamento X, verificou-se que a) boa absorção no trato
este apresenta um pequeno Vd. Qual gastrointestinal.
das seguintes afirmações melhor b) baixa taxa de excreção renal.
explica o referido valor de Vd? c) alta taxa de excreção renal.
a) O fármaco é rapidamente d) elevado volume de distribuição.
eliminado pelos rins. e) reduzido volume de distribuição.
b) O fármaco se liga amplamente 5. A intensidade e a duração do
às proteínas plasmáticas. efeito farmacológico dependem
Farmacocinética II – distribuição de drogas 13

da concentração plasmática de aumento na concentração


fármaco livre. Portanto, em alguns total do fármaco no plasma.
regimes terapêuticos em que c) uma diminuição na taxa de
há administração concomitante ligação de um fármaco a
de dois medicamentos que têm proteínas plasmáticas em
alta afinidade pelas proteínas razão de uma interação por
plasmáticas, pode ocorrer uma deslocamento diminuirá sua
interação medicamentosa distribuição, uma vez que o
por competição e ocorrer o fármaco deslocado se difundirá
deslocamento de ligação às para os tecidos e isso levará a
proteínas plasmáticas de um uma diminuição na concentração
dos fármacos. Sobre interação total do fármaco no plasma.
medicamentosa por deslocamento d) uma diminuição na taxa de
de ligação às proteínas plasmáticas, ligação de um fármaco a
podemos afirmar que: proteínas plasmáticas em
a) um aumento na taxa de ligação razão de uma interação por
de um fármaco a proteínas deslocamento aumentará sua
plasmáticas em razão de uma distribuição, uma vez que o
interação por deslocamento fármaco deslocado se difundirá
aumentará sua distribuição, para os tecidos e isso levará a
uma vez que o fármaco um aumento na concentração
deslocado se difundirá para total do fármaco no plasma.
os tecidos e isso levará a uma e) uma diminuição na taxa de
diminuição na concentração ligação de um fármaco a
total do fármaco no plasma. proteínas plasmáticas em
b) um aumento na taxa de ligação razão de uma interação por
de um fármaco a proteínas deslocamento aumentará sua
plasmáticas em razão de uma distribuição, uma vez que o
interação por deslocamento fármaco deslocado se difundirá
aumentará sua distribuição, para os tecidos e isso levará a
uma vez que o fármaco uma diminuição na concentração
deslocado se difundirá para total do fármaco no plasma.
os tecidos e isso levará a um
14 Farmacocinética II – distribuição de drogas

BRUNTON, L. L.; CHABNER, B. A.; KNOLLMANN, B. C. As bases farmacológicas da tera-


pêutica de Goodman & Gilman. 12. ed. Porto Alegre: AMGH, 2016.
FUCHS, F. D.; WANNMACHER, L. Farmacologia clínica: fundamentos da terapêutica
racional. 5. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2017.
KATZUNG, B. G.; TREVOR, A. J. Farmacologia básica e clínica. 13. ed. Porto Alegre:
AMGH, 2017. (Lange).
PANUS, P. C. et al. Farmacologia para fisioterapeutas. Porto Alegre: AMGH, 2011.
SILVA, P. Farmacologia. 8. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2010.
WHALEN, K.; FINKEL, R.; PANAVELLI, T. A. Farmacologia ilustrada. 6. ed. Porto Alegre:
ARTMED, 2016.

Leituras recomendadas
LÜLLMANN, H.; MOHR, K.; HEIN, L. Farmacologia: texto e atlas. 7. ed. Porto Alegre:
Artmed, 2017.
TOZER, T. N.; ROWLAND, M. Introdução à farmacocinética e à farmacodinâmica: as bases
quantitativas da terapia farmacológica. Porto Alegre: Artmed, 2009.
WILLIAMSON, E.; DRIVER, S.; BAXTER, K. Interações medicamentosas de Stockley. Porto
Alegre: Artmed, 2012.
Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para
esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual
da Instituição, você encontra a obra na íntegra.
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