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ASSOCIAÇÃO INTERNACIONAL DOS EXORCISTAS

DIRETRIZES
PARA UMA CORRETA PRÁTICA DO EXORCISMO
À LUZ DOS RITUAIS VIGENTES
(esboço)

para o uso exclusivo dos membros da A.I.E.

ADVERTÊNCIA:
É vetada a difusão e / ou a publicação mesmo parcial dos conteúdos destas Diretrizes,
sem a pessoal e expressa autorização do Presidente da A.I.E.
Roma 2017​
16

ADVERTÊNCIA

Fim das Diretrizes


► Estas Diretrizes têm um fim prático e são destinadas em primeiro lugar à formação inicial dos
candidatos ao ministério de exorcista, com o vivo desejo de oferecer-lhes princípios bem fundados
e endereços seguros de comportamento.
► Nas Diretrizes os membros da Associação Internacional dos Exorcistas encontram os critérios
aos quais referirem-se no exercício do seu ministério de exorcista.

Conteúdo das Diretrizes


► Estas diretrizes se propõem expor os principais aspectos e temas que dizem respeito ao
ministério dos exorcistas, evitando, porém, o peso de um aparato crítico incômodo.
► Essas não constituem uma Summa de todo o saber relativo ao exorcistato e, pelo que toca cada
um dos pontos tratados, não pretendem expô-los de modo exaustivo, mas só o suficiente.

Valor das Diretrizes


► Estas Diretrizes não oferecem uma interpretação autêntica da disciplina da Igreja em matéria de
exorcismos, sendo essa reservada unicamente à Autoridade eclesiástica competente. Às Diretrizes
vai atribuído somente um valor doutrinal, aberto a possíveis correções, melhoras e integrações.
► Ainda que se destinadas ao âmbito interno da Associação Internacional dos Exorcistas, sendo
fruto de estudo e de experiência, as presentes Diretrizes podem resultar úteis à Autoridade
eclesiástica competente para preencher vazios disciplinares, como também para a redação daqueles
Diretórios Pastorais aos quais envia o n. 38 do DESQ.
► O último juízo sobre o valor destas Diretrizes compete à Autoridade eclesiástica competente, à
qual a Associação Internacional dos Exorcistas professa filial respeito e plena obediência.

ABREVIAÇÕES

DESQ: Rituale Romanum ex decreto Sacrosancti Oecumenici Concilii Vaticani II instauratum


auctoritate Ioannis Pauli PP. promulgatum. De Exorcismis et Supplicationibus quibusdam,
Editio Typica emendata, Typis Vaticanis 2004. Seguida, segundo os casos, o do número dos
Praenotanda, ou pelo número da rubrica à qual se refere. A tradução em língua vernácula do
texto latino é nossa.

RR: Titulus XII. De Exorcizandis Obsessis a daemonio, in Rituale Romanum Pauli V Pontificis
Maximi jussu editum aliorumque Pontificum cura recognitum atque ad normam Codicis Juris
Canonici accomodatum SS.mi D. N. Pii Papae XII auctoritate ordinatum et auctum. Editio
Typica, Typis Polyglottis Vaticanis 1952 (Edizione Anastatica e Introduzione a cura di M. Sodi
e A. Toniolo, Città del Vaticano 2008). Seguida, segundo os casos, ou pelo número das Normae
observandae circa exorcizandos a daemonio, ou pela página à qual se faz referência, tendo
presente que o número posto entre parênteses se refere àquele do RR reproduzido
anastaticamente, aquele fora dos parênteses ao número de página da obra que o contém. A
tradução em língua vernácula do texto latino é nossa.
Introdução

A Revelação Divina entregue à Igreja na Sagrada Escritura e na Tradição, revela a existência do


mondo demoníaco, constituído por anjos que, no início, foram criados bons por Deus, mas que
depois por si mesmos se transformaram em malvados, porque – com escolha livre e irreversível –
refutando a Deus e o Seu Reino (cfr Catecismo da Igreja Católica n. 391-393). A Sagrada Escritura
indica, como chefe do mundo demoníaco, um anjo decaído, que chama com vários nomes: «diabo,
satanás, maligno, serpente antiga, dragão, etc.».
É ele que – como lemos no livro do Apocalipse 12, 9. 17 – tenta seduzir o mundo inteiro e combate
contra aqueles que observam os mandamentos de Deus e possuem o testemunho de Jesus. É dito
por São Pedro “inimigo dos homens” (1 Pd 5,8) e por João é dito também “homicida desde o
princípio” (Jo 8, 44) por ter feito o homem, com o pecado, sujeito à morte.
Com as suas insídias induz o homem a desobedecer a Deus, por isto no Evangelho de Mateus, é
dito “Maligno e Tentador” (Mt 4, 3; 26, 36-44). Por João é dito “mentiroso e pai da mentira” (cfr Jo
8, 44).
O episódio da sedução dos progenitores por parte da serpente que representa Satanás e que
encontramos descrito no Gênesis no capítulo 3, 4. 13; a tentativa de Satanás durante os quarenta
dias de retiro de Jesus no deserto, de tirá-Lo da missão recebida do Pai, que encontramos descrito
no Evangelho de Mateus (4, 1-11), de Marcos (1, 13), de Lucas (4, 1-13); o mascarar-se de Satanás
de anjo de luz, que encontramos descrito na Segunda Carta aos Coríntios (11, 14), atestam que
Satanás age com astúcia e falsidade.
Satanás é dito também “príncipe deste mundo” (cfr Jo 12, 31; 14, 30), ou seja, senhor daquele
mundo que é seu em poder; aquele que não conheceu a luz verdadeira (cfr Jo 1, 9-10). O seu poder
é indicado como poder das trevas (cfr Lc 22, 53; Col 1, 13) pelo ódio que ele tem da Luz, que é
Cristo, e perlo esforço de atrair os homens às próprias trevas.
Ao seu serviço estão outros anjos, decaídos como ele, que o seguiram na sua oposição radical a
Deus e que a Sagrada Escritura chama, também esses, com diversos nomes como, por exemplo:
«espíritos maus, espíritos malignos, demônios, diabos, etc.».
Da Revelação Divina, sabemos, portanto, com certeza que Satanás e os demônios não são um
símbolo do mal, nem figuras míticas, nem personificações do mal ou do pecado, nem alegorias,
mas seres reais.
A Revelação nos diz ainda que Satanás e os outros demônios se coalizaram para oporem-se à
soberania de Deus (cfr. Jd 6) e atualmente agem no mundo humano com um fim bem preciso:
suscitar e propagar a sua mesma oposição a Deus, para separar também os homens de Deus e do
Seu Reino e conduzi-los consigo à perdição eterna.
No perseguir tal escopo, desfrutam a possibilidade que têm de interferir com a vida dos homens em
um duplo nível: com uma ação dita “ordinária”, que é aquela de tentar os homens ao mal para
separá-los de Deus; e com uma ação mais rara, definida “extraordinária”, e que – segundo as
diversas modalidades com as quais se manifesta – recebe o nome de vexação ou de obsessão ou de
possessão diabólica. Quando tal ação extraordinária é por eles exercitada sobre coisas que o homem
usa, que podem ser uma habitação ou um objeto ou um lugar ou também animais, recebe, invés, o
nome de infestação diabólica.
Quando os sinais de uma ação extraordinária do demônio se manifestam na vida de uma pessoa,
além da cura pastoral ordinária de um sacerdote, aquela pessoa vai confiada também à cura pastoral
de um sacerdote exorcista. Este critério vale também quando tais sinais se manifestam sobre coisas
que o homem usa.
A ação devastante e hostil do diabo e dos demônios pode atingir pessoas, coisas, lugares,
manifestando-se de modos diversos, por isto a Igreja, conhecedora do mandato e do poder que
recebeu de Cristo de expulsar no Seu Nome os demônios, sempre rezou e reza para que os homens
sejam libertos das insídias do Maligno.
Cristo Jesus, de fato, fundou sobre a terra a Igreja, não só para que os homens possam entrar por
meio d’Ele em comunhão com Deus Trindade, mas também para que essa através dos séculos
continue, no Seu Nome, a obra de libertação e de salvação dos homens do poder de Satanás.
Jesus, na Sua vida terrena, se confrontou e lutou contra as duas formas de ação do mundo
demoníaco: aquela ordinária e aquela extraordinária.
Aquela ordinária a afrontou permanecendo fiel ao projeto do Pai quando Satanás O tentou nos
quarenta dias do deserto (cfr. Mt 4, 1-11; Mc 1, 12-13; Lc 4, 1-13), quando Satanás O combateu nas
oposições crescentes que suscitava entre os chefes do povo contra Ele e, enfim, quando O tentou
enquanto morria na Cruz.
A ação extraordinária, invés, a afrontou através dos exorcismos. São muitos os passos evangélicos
que descrevem Jesus ao expulsar os demônios dos corpos dos possessos. Citamos só alguns deles.
Lemos no Evangelho de Marcos: «Vinda a noite, depois do ocaso, lhe traziam todos os doentes e os
indemoniados. Toda a cidade era reunida diante da porta. Curou muitos que eram afetados por
várias doenças e expulsou muitos demônios; mas não permitia aos demônios de falar, porque O
conheciam» (Mc 1,32-34); «E andou por toda a Galileia, pregando nas suas sinagogas e expulsando
os demônios» (Mc 1, 39); «Os espíritos imundos quando o viam se jogavam aos Seus pés gritando:
“Tu és o Filho de Deus”. Mas Ele os repreendia severamente para que não o manifestassem» (Mc,
3, 11-12).
No Evangelho de Lucas lemos: «… aproximaram-se alguns fariseus para dizer-Lhe: “Parte e vai
embora daqui, porque Herodes Te quer matar”. Ele lhes respondeu: “Ide dizer àquela raposa: Eis
que Eu expulso demônios e realizo curas hoje e amanhã; e ao terceiro dia a minha obra está
concluída”» (Lc 13, 31-32).
Lucas nos informa também que algumas mulheres, libertas de espíritos maus e de enfermidades se
puseram a seguir Jesus; e especifica também que de uma delas, de nome Maria, chamada Madalena,
Jesus havia expulsado sete demônios: «Em seguida Ele andava por cidades e vilarejos, pregando e
anunciando a boa notícia do Reino de Deus. Estavam com Ele os Doze e algumas mulheres que
tinham sido curadas de espíritos maus e de enfermidades: Maria, chamada Madalena, da qual
tinham saído sete demônios; Joana, mulher de Cuza, administrador de Herodes; Susana e muitas
outras, que os serviam com seus bens» (Lc 8, 1-3).
De alguns exorcismos encontramos até a descrição detalhada:
1) O indemoniado que Jesus liberta na sinagoga de Cafarnaum (Mc 1,21-28; Mt 4,31-37).
2) O indemoniado cego e mudo (Mt 12,22-23; Lc 11,14).
3) O indemoniado que vagava nos sepulcros gritando e percutindo-se com pedras (Mt 8,28-34; Mc
5,1-10; Lc 8,26-39).
4) O indemoniado mudo (Mt 9,32-34).
5) A filha da Cananeia (Mc 7,21-30; Mt 15,21-28).
6) O jovem que o demônio jogava na água e no fogo (Mc 9,14-19; Mt 17,14-20; Lc 9,37-44).
7) A mulher curva há dezoito anos (Lc 13,10-17). Neste último caso não se trata de possessão, mas
de vexação diabólica.
Nos Evangelhos, ademais, nos é descrito Jesus que transmite aos Apóstolos e aos outros discípulos
o Seu próprio poder de expulsar os demônios e ordena que esses, munidos daquele poder, os
expulsam no Seu Nome (cf Mt 10, 1.8; Mc 3, 14-15; 6, 7.13, Lc 9, 1; 10, 17.18-20).
A Igreja, por explícito mandato de Cristo, intervém, através dos exorcismos, com o poder que
Cristo mesmo lhe conferiu, para contrastar e vencer a ação extraordinária do mundo demoníaco
sobre o homem ou sobre as coisas das quais o homem se serve.
Nas Premissas Gerais do ritual dos exorcismos (DESQ), no n. 7 é afirmado:
«Quando la Chiesa comanda pubblicamente e con autorità, in nome di Gesù Cristo, che una persona
o un oggetto sia protetto contro l'influenza del Maligno e sottratto al suo dominio, si parla di
esorcismo».
O Catecismo da Igreja Católica (CEC) no número 1673 afirma: «O exorcismo mira expulsar os
demônios ou libertar da influência diabólica mediante a autoridade espiritual que Jesus Cristo
confiou à Sua Igreja».
Quando o sacerdote exorcista pratica o seu ministério, cumpre portanto uma ação litúrgica segundo
um rito aprovado pela Igreja e com a intenção de fazer aquilo que faz a Igreja: «Expelir o demônio
do corpo de uma pessoa sujeita a uma sua ação extraordinária ou deter temporariamente ou pelo
menos atenuar tal ação. Ou, expelir o demônio de um lugar, de uma casa ou de um objeto, se esses
estão submetidos à sua ação extraordinária».
Nos Evangelhos os passos que falam da atividade exorcística de Jesus, são numerosos. Em alguns
se fala disso de maneira genérica e em outros – como acenamos – de maneira detalhada. Os
Evangelhos revelam, portanto, claramente, que a Redenção de Cristo não é só libertação do homem
do pecado, mas também das criaturas demoníacas.

O Magistério da Igreja afirma, portanto, a real existência do mundo demoníaco, reportando-se à


Sagrada Escritura, e nos recorda que os exorcismos de Jesus, que encontramos descritos nos
Evangelhos, foram recolhidos pela Tradição vivente da própria Igreja. Se Jesus não tivesse
expulsado os demônios, os exorcismos jamais teriam entrado na prática da liturgia da Igreja. De
resto, não teria sentido um ritual dos exorcismos se não existissem os demônios. A Igreja, de fato,
não promulgaria um texto litúrgico no qual «se ordena em nome de Deus aos demônios de estarem
longe e de não causarem dano às criaturas humanas» se esses não existissem. É conhecido o dito:
«A lei da oração é lei do crer» (Lex orandi, lex credendi). O livro litúrgico do exorcismo, neste
sentido, constitui um particular testemunho acerca da existência do demônio e a sua atividade
maléfica: a liturgia da Igreja, de fato, é expressão concreta da fé vivida.

No Evangelho de Marcos a expulsão dos demônios nos é reportado como um dos sinais que teriam
acompanhado aqueles que crêem (cf Mc 16, 17).
Sempre nos Evangelhos Jesus revelou também o significado e a importância fundamental dos Seus
exorcismos, dizendo:
«Se [invés] eu expulso os demônios com o dedo de Deus, então o reino de Deus chegou até vós»
(Lc 11, 20).
Com estas palavras Jesus afirmou que a Sua atividade de expulsar o demônio é o sinal da vinda do
Reino de Deus entre os homens. Dobrando imediatamente a prepotência dos demônios, Jesus
confirma a origem divina do Seu poder e do Seu ensinamento e demonstra, pois, de ser o Messias
Salvador, vindo para trazer o Reino de Deus sobre a terra, para quebrar a tirania de Satanás sobre a
humanidade. Os mesmos demônios – como lemos em alguns episódios evangélicos – são
constrangidos, seu malgrado, a confirma-lo, confessando que Ele veio para destruir o reino deles.
Apesar de continuarem ainda a serem ativos no mundo, para a ruína dos homens, a derrota deles já
está assegurada. Chegará, de fato, como o Senhor mesmo preanunciou, o dia e a hora da sua derrota
total: o Rino de Deus triunfará para sempre sobre o reino de Satanás e surgirá um novo mundo. No
Seu ministério de exorcista, Jesus nos faz entrever os primeiros clarões do advento daquela
alvorada radiosa, na qual os espíritos demoníacos não terão mais algum poder de atormentar os
homens que chegarem à salvação eterna.
A forma mais grave de ação extraordinária do demônio é a possessão diabólica. Essa consiste na
tomada de posse do corpo de um ser humano por parte do demônio que chega a suspender
temporariamente o uso das faculdades intelectiva e volitiva do homem. As faculdades do intelecto e
da vontade são momentaneamente bloqueadas, paralisadas e subjugadas por um espírito demoníaco
(ou também por mais de um) que interfere com o seu domínio despótico, brutal e violento,
servindo-se do corpo da sua vítima, constrangida a farar e a mover-se como aquele espírito quer,
sem poder lhe resistir. Esta ação do demônio é revelada em particular naquelas páginas dos
Evangelhos que apresentam Jesus que expulsa os demônios e nas páginas dos Atos dos Apóstolos
nas quais nos são narrados os exorcismos feitos pelos Apóstolos e pelos discípulos.
Jesus expulsou demônios seja em território hebraico, seja fora dele. Os evangelistas – como lemos –
recordam que eram levados a Jesus doentes e indemoniados. Os doentes, os curava da doença e os
indemoniados os libertava do demônio.

Exame do diferente comportamento de Jesus em relação a uma pessoa possessa pelo demônio e
uma simplesmente doente.

Nos Evangelhos vemos que Jesus primeiro anunciava o Reino de Deus, depois curava os enfermos
das doenças e libertava os indemoniados pelo demônio. Nos Evangelhos se evidencia claramente a
diferença do comportamento de Jesus quando cura uma pessoa de uma doença e quando, invés, a
liberta da possessão diabólica. Quando a pessoa era doente, Jesus se dirigia diretamente ao doente e
o curava; se invés lhe se apresentava uma pessoa possessa pelo demônio no corpo, Jesus Se dirigia
com determinação a algum outro, distinguindo-o da pessoa mesma, e com um comando imperativo
lhe ordenava de deixar o seu corpo e de não atormentá-la mais.
No ’episódio do indemoniado na sinagoga de Cafarnaum, Jesus não disse: «Cala», mas com
comando imperativo disse: «Cala e sai daquele homem!» (Mc 1,25). Quando se encontrou diante
do possesso que vagava entre os sepulcros, gritando e percutindo-se com pedras, Jesus não falou a
ele, mas se dirigiu diretamente a algum outro, que havia reduzido aquele homem em tal miserável
condição e com comando imperativo, exclamou: «Sai, espírito impuro deste homem!» (Mc 5,8).

Quando Lhe trouxeram aquele rapaz, que os discípulos não tinham conseguido libertar e que o pai
apresentou a Jesus suplicando-O de libertá-lo, Jesus não disse ao rapaz: «Sê curado e vai em paz»,
mas: «Espírito mudo e surdo, eu te ordeno, sai dele e não entre mais!» (cfr. Mc 9,25). Com estas
palavras Jesus nos revela claramente que aquele rapaz era possesso por uma presença demoníaca
que bloqueava o seu corpo na palavra e na audição.

Exame do diferente comportamento em relação a Jesus por parte de uma pessoa possessa pelo
demônio e de uma simplesmente doente

Após ter examinado o diferente comportamento que Jesus tinha em relação de uma pessoa doente e
de uma possessa no seu corpo pelo demônio, passamos agora a examinar o diferente
comportamento em relação a Jesus por parte de uma pessoa possessa no seu corpo pelo demônio e
de uma simplesmente doente.

Nos Evangelhos, de fato, a distinção entre cura de uma doença e libertação de uma possessão
diabólica é indicada não só do diverso comportamento que assume Jesus, mas também do
comportamento que a pessoa mesma que está em estado de possessão diabólica tem em relação a
Ele. Diferente dos simples doentes, os quais suplicam a Jesus de curá-los, quando Jesus Se
aproxima uma pessoa possessa pelo demônio no próprio corpo, vemos que o demônio através
daquela pessoa com voz raivosa pede de não ser mandado embora; ao mesmo tempo o demônio
manifesta terror e aquele terror aparece claramente sobre o rosto da pessoa por ele possuída; no
momento no qual o demônio é vencido pela potência de Deus, o corpo da pessoa por ele possuída
cai por terra prostrado. Se o demônio é interrogado por Jesus acerca do seu nome, é constrangido a
responder: «O meu nome é Legião [-lhe respondeu-] porque somos muitos» (Mc 5,9). Ademais, o
demônio, teme ser vencido por Jesus. Na sinagoga de Cafarnaum exclama através da persona por
ele possuída: «Basta! Que queres de nós, Jesus Nazareno? Vieste para arruinar-nos?» (Lc 4, 34; cfr
também Mc 1, 24). Através daquele homem que vagava nos sepulcros gritando, diz: «Que queres
de mim Jesus, Filho do Deus altíssimo? Rogo-Te, não me atormentes!» (Lc 8, 28).

Os demônios, com grande turbamento e temor, presumindo de conhecer a verdadeira identidade de


Jesus, gritavam, ademais, com força através dos seres humanos, dizendo: «Eu sei quem tu és: o
Santo de Deus!» (Mc 1,24); o «Filho de Deus (Mc 3,11); o «Filho do Altíssimo» (Mc 5,7). Tal
conhecimento não é contradita por Jesus, mas reconhecida válida (Mc 1,34; 3,12) e confirmada por
outros passos nos quais a identidade de Jesus é indicada com os mesmos termos (cfr Mc 1,11; 9,7;
15,39). A proibição de falar, imposta por Jesus aos demônios, não era dirigida contra quanto esses
afirmavam, mas principalmente contra o modo de manifestá-lo, porque os demônios antecipavam
aquela revelação sobre a Sua identidade que Ele mesmo queria manifestar um pouco cada vez, para
que não fosse comprometido o êxito da Sua missão (trata-se do assim chamado “segredo
messiânico”).

Uma ulterior diferença de comportamento entre uma pessoa possessa pelo demônio e uma
simplesmente doente é o desaparecimento da consciência (no sentido do estar presente a si mesma,
da ’“auto percepção”). Na descrição dos exorcismos evangélicos a consciência da pessoa possessa
parece substituída por um ser estranho, que a controla totalmente. A pessoa readquire plena
consciência de si só quando Jesus a liberta.

O termo «cura» é às vezes usado nos Evangelhos para indicar uma «libertação» do demônio

Um outro aspecto importante que tiramos da narração dos episódios de exorcismos nos Evangelhos
é que o termo «cura» é às vezes usado nos Evangelhos para indicar uma «libertação» do demônio.

Quando nos Evangelhos são narrados episódios nos quais Jesus expulsa o espírito maligno,
desaparecem também os contragolpes físicos que aquela pessoa sofria, como vemos por exemplo
no caso daquele homem que era mudo e que voltou a falar (cfr Mt 9,32-34), ou daquele rapaz que
sofria convulsões e que o demônio jogava na água e no fogo (cfr Mc 1,20). O rapaz, uma vez
liberto do demônio, foi liberto também das convulsões que sofria. Por este motivo, algumas
libertações do demônio são definidas, nos Evangelhos, também como curas, enquanto a condição
de possessão diabólica provocava consequências físicas que desaparecem no momento da
libertação.

Examinemos mais de perto um ponto da narração do exorcismo sobre aquele rapaz que o demônio
jogava na água e no fogo (ver Mc 9,20-25):

«À vista de Jesus, imediatamente o espírito sacudiu com convulsões o rapaz e ele, caído por terra,
rolava espumando». No momento no qual o rapaz viu Jesus, teve uma violenta reação. O
evangelista põe em relação o ver Jesus com esta improvisa reação do rapaz para afirmar, como
também em outros passos do Evangelho onde são descritos exorcismos, que a reação não se deve
atribuir à pessoa, mas ao demônio o qual não conseguindo resistir à presença e à força de Deus que
opera em Jesus, não podia mais esconder-se. Jesus neste caso não Se comportou como se tivesse
diante de um rapaz simplesmente doente, mas de um rapaz possesso, pelo que não Se dirige a ele,
mas ao demônio e com um comando imperativo o expulsou do rapaz, dizendo: «Espírito mudo e
surdo, eu te ordeno, sai dele e não entres mais!» (Mc 9,25). O Evangelho nos revela aqui com
certeza que aquele rapaz era possesso. Afirmar que o rapaz era afetado exclusivamente por uma
doença é uma interpretação redutiva, porque a causa última daquilo do qual sofre o rapaz, é
reconduzível a uma ação extraordinária do demônio, como uma leitura acurada do texto evangélico
sugere.

Um ulterior episódio evangélico, no qual se define cura uma libertação do demônio, é aquele da
filha da mulher cananeia. Marcos 7, 25-26 diz explicitamente: «Uma mulher, cuja filhinha era
possessa por um espírito impuro, apenas sobe dele, andou e se jogou aos seus pés. Esta mulher era
de língua grega e de origem siro-fenícia. Ela o suplicava de expulsar o demônio da sua filha». Jesus
elogiou a fé daquela mulher e a narração de Marcos 7,29-30 se conclui assim: «Então lhe disse
[Jesus]: “Por esta tua palavra, o demônio saiu da tua filha”. Tornando à sua casa, encontrou a
menina deitada sobre o leito e o demônio tinha-se ido». Invés, Mateus 15, 28, descrevendo o
mesmo episódio, conclui com esta expressão: «Então Jesus lhe replicou: Mulher, é mesmo grande a
tua fé! Seja-te feito como desejas. E daquele instante sua filha foi curada». A expressão curada,
neste caso, se refere a uma real libertação do demônio, porque precedentemente também Mateus
havia relatado as palavras da cananeia: «Piedade de mim, Senhor, filho de Davi! Minha filha é
muito atormentada por um demônio» (Mt 15, 21).

«Ainda hoje num grande número de religiões e em muitas populações se distingue claramente entre
doença e possessão. Mesmo no Novo Testamento a doença pode ser remetida a demônios, por
exemplo Jesus comanda à febre da sogra de Pedro de deixá-la assim como comanda aos demônios
que atormentam os corpos dos possessos (Mc. 1,29-31 par.), mas a situação desta mulher se deve
distinguir da condição de possessão diabólica em senso estrito. No mundo do Novo Testamento a
possessão não é em si uma doença, mas vice versa, aparentes doenças podem ser um possível sinal
de possessão demoníaca!».
Em âmbito cristão a distinção entre estas duas condições, doença e possessão diabólica, era, em
nível de princípios, bem presente desde o início do caminho eclesial, como se pode deduzir dos
mesmos Evangelistas, muito firmes no distinguir entre doenças provocadas por fatores naturais e
ações extraordinárias do demônio. A Igreja Católica, portanto, desde o princípio distinguiu entre
possessão diabólica e doença mental.
Todavia, é necessário ter presente, como veremos nestas Diretrizes, que às vezes uma ação
extraordinária do demônio pode também enxertar-se em patologias físicas e/ou psíquicas
preexistentes.

Força incomum nos possessos

Durante os exorcismos evangélicos se nota, às vezes, o desencadear na pessoa possessa de uma


força fora da norma, que não corresponde à idade nem às condições daquela pessoa. No episódio
dos porcos que se jogavam no lago, Marcos e Lucas falam de um indemoniado que vagava nos
sepulcros; Mateus, invés, indica dois (Mt 8, 28-34). Os exegetas sustentam que historicamente é
mais preciso Mateus, ou Mateus mesmo incluiu nesta narração outros exorcismos. O evangelista
sublinha que os dois «eram tão furiosos que ninguém podia passar por aquela estrada» (Mt 8, 28).
Marcos e Lucas, mesmo referindo-se, invés, a um só indemoniado, sublinham uma força brutal, que
se explica pela presença de numerosos demônios naquele homem. Lucas 8, 29, descreve assim tal
força: «[O espírito impuro] Muitas vezes, de fato, se era apoderado dele; então o mantinham
fechado, preso com correntes e cepos aos pés, mas ele rompia i que lhe prendia e era impulsionado
pelo demônio em lugares desertos». Marcos 5,3-4 escreve: «Este tinha a sua morada entre as
tumbas e ninguém conseguia mantê-lo preso, nem mesmo com correntes, porque várias vezes fora
preso com cepos e correntes, mas havia rompido as correntes e quebrado os cepos, e ninguém mais
conseguia dominá-lo».
Ademais, seja Lucas que Marcos declaram que aquele homem «gritava muito alto» (Lc 8, 28);
Marcos acrescenta que, além de gritar tremendamente, se batia também com pedras:
«Continuamente noite e dia, entre as tumbas e sobre os montes, gritava e se percutia com pedras»
(Mc 5, 5). Quem, na realidade, lançava aqueles gritos eram os demônios através da pessoa por esses
possessa; assim, também o bater-se com pedras – que poderia parecer um gesto autolesionista – na
realidade era uma forma de vexação física do demônio, em ódio à pessoa por ele possuída. Além
daqueles até aqui descritos, existem nas narrações evangélicas outros sinais, não explicitamente
descritos, mas inegavelmente presentes de maneira implícita: como as contorções; a ira e a cólera
que se manifestam sobre o rosto dos possessos; como também a alteração dos traços somáticos.

Outro sinal que recolhemos dos exorcismos apresentados nos Evangelhos – como acenado em
precedência – é a tremenda aversão dos demônios por Jesus. Diante da santidade de Jesus,
desconhecida às pessoas, mostram juntamente ódio e medo d’Ele. Consideram-n’O, de fato – como
já vimos em precedência – uma ameaça ao poder deles, sabem que foi enviado para destruir o reino
deles.

O que acontece no momento da libertação dos possessos, nos exorcismos evangélicos

O momento do abandono do corpo humano e a consequente libertação da pessoa desta entidade


estranha é caracterizado por gritos raivosos e desesperados, juntamente a fortes convulsões. Em três
dos sete exorcismos descritos pelos Evangelhos de maneira mais extensa, nos é referido também o
que acontece naquele momento. A saída do homem possesso, na sinagoga de Cafarnaum, é descrita
por Marcos neste modo: «E o espírito impuro, convulsionando-o e gritando forte, saiu dele» (Mc 8,
26). O momento della liberazione di quel ragazzo -che gli apostoli non erano riusciti a liberare e per
il quale il padre aveva successivamente supplicato Gesù- è descritto in maniera analoga da Marco
con queste parole: «Gritando e sacudindo-o fortemente, saiu» (Mc 9, 26).
O momento da libertação do indemoniado, que vagava nos sepulcros, é mesmo uma passagem do
corpo do homem naquele de uma vara de porcos, revelando assim que também os animais podem
ser “invadidos” pelo demônio. Lucas a descreve com estas palavras: «E o esconjuravam que não
lhes ordenasse de andarem ao abismo. Havia ali uma grande vara de porcos, pastando sobre o
monte. Os demônios o esconjuraram que lhes concedesse de entrar nos porcos. Ele lhes permitiu.
Os demônios, saídos do homem, entraram nos porcos e a vara se precipitou, rocha abaixo, no lago e
afogou-se» (Lc 8, 31-33); (cfr também Mc 5, 11-13).

Síntese dos sinais de possessão diabólica nas narrações de exorcismos nos Evangelhos

Resumindo quanto foi dito até aqui, podemos, portanto, afirmar primeiramente que os Evangelhos
colocam uma distinção entre os doentes e os possessos. Estes últimos revelam, com sinais
inequivocáveis, a presença de uma inteligência estranha a eles mesmos, presença que se caracteriza
em particular na manifestação de uma tremenda aversão em relação a Jesus. Tal inteligência,
própria de um espírito maligno, se serve dos membros da pessoa sobre a qual exercita o seu
domínio; cheio de ira, grita raivosamente, provocando fortes convulsões e contorções no corpo da
sua vítima; altera os seus traços somáticos; mostra de conhecer coisas ocultas; produz no possesso
uma força fora da norma, que não corresponde nem à idade nem às condições daquela pessoa; a
vexa fisicamente, servindo-se dos seus próprios membros.

CAPÍTULO I
DEUS E A SUA PROVIDÊNCIA

001) Entre as qualidades das quais o exorcista deve ser ornado e que mais adiante exporemos
detalhadamente, o direito da Igreja nomeia expressamente a ciência, a qual deve ser específica, ou
seja, adequada ao exercício de um ministério que tem como fim peculiar, a libertação da ação
extraordinária do maligno.

002) Entre os muitos objetos da ciência do exorcista, é de suma importância a doutrina católica
referente à Providência divina e o modo com o qual essa atua no governo do mundo, juntamente
àquilo que de seguro se pode dizer acerca do diabo e do agir demoníaco para dano do homem.

003) Erros ou aproximações nestas matérias são muito perniciosos. No que toca ao exorcista, esses
comprometem o seu discernimento e o acompanhamento do paciente, expondo-o ademais ao perigo
de pensar e de agir de modo supersticioso. Quanto ao paciente, tais erros ou aproximações podem
impedir, como em seu tempo explicaremos, a aquisição das condições necessárias à libertação.

004) Neste capítulo são recordados alguns pontos de doutrina referentes a Deus, em particular à
Sua Providência e ao modo como essa atua no governo do mundo, em aplicação aos casos nos
quais o homem é vítima de um agir extraordinário do demônio. As consequências práticas que
derivam disso são de capital importância, seja no que tange a ação do exorcista, seja em ordem às
disposições do paciente.

*****
005) Segundo o ensinamento dos Padres, a Providência consiste no cuidado exercido por Deus em
relação àquilo que existe e representa a Vontade divina graças à qual toda coisa é dirigida por um
justo ordenamento. Se, pois, a Vontade de Deus é Providência, tudo quanto acontece pelo seu
ditado se realiza necessariamente de maneira belíssima e sempre diversa, no melhor dos modos
possíveis. As coisas sujeitas invés à nossa discrecionalidade, não vão atribuídas à providência, mas
ao livre arbítrio do homem. De fato:
► das coisas que dependem da Providência, algumas acontecem graças à Sua Vontade ativa, outras
invés através da Sua Vontade permissiva;
► em virtude da Vontade ativa de Deus acontecem todas aquelas coisas que resultam como
incontrovertivelmente boas; das coisas, invés, que dependem de nós, Deus desde o princípio quer e
aprova aquelas boas, enquanto aquelas más e realmente malvadas, Ele não as deseja nem
diretamente nem indiretamente, mas só as permite em razão do nosso livre arbítrio. Não conviria,
de fato, à razão nem poderia considerar-se como virtude, se o homem fosse constrangido por Deus a
agir por força.
Portanto, todo o agir extraordinário do demônio, enquanto causa ao homem dos sofrimentos, é
permitido por Deus ou como remédio para os Seus filhos ou como possibilidade de cooperar com o
Filho Jesus para a salvação do mundo, sempre em vista da glória futura deles. Enquanto, invés, o
agir demoníaco inclui o pecado ou induz ao pecado, isso não vem de Deus, que não quer a culpa
nem a aprova, mas é apenas permitido por Ele, ou seja, não impedido.

006) Ninguém, senão por revelação particular de Deus, pode saber se uma determinada pessoa
deva, por longo tempo, ser submetida como vítima de uma ação extraordinária do maligno. Ao
contrário, a Revelação afirma claramente que Deus não Se compraz que o homem deva estar sujeito
à crueldade dos demônios e que quer oferecer o Seu socorro a todos aqueles que creem n’Ele, O
invocam e O amam. O mesmo Senhor nosso Jesus Cristo, quando habitava entre nós em carne
mortal, passava fazendo o bem e curando todos os opressos pelos diabos; ademais, quis dar à Sua
Igreja o poder de vencer todos os demônios. Consta, portanto, claramente que Deus, pelo que
depende d’Ele, quer libertar do demônio todos aqueles que são vítimas da sua ação extraordinária,
uma vez que estejam convenientemente dispostos à libertação e essa lhes seja salutar.

007) Deus é onipotente nem existe alguma criatura que possa resistir à Sua potência. Portanto,
ainda que no corpo de um possesso estivessem mil legiões de demônios, Deus os poderia expelir
imediatamente. Deve-se ter como verdade absolutamente certa que para a Divina Onipotência não
há diferença em expelir de um possesso cem mil demônios ou um só, porque sendo infinita a
potência de Deus e finita aquela dos demônios, entre estes e Aquele não há alguma proporção.
Portanto, a potência de todos os demônios unida, diante daquela Divina, é um nada.

008) Deus está presente em todos os lugares por essência, por potência e por presença. Isto
comporta que todas as coisas estão abertas e nuas aos Seus olhos. Por isso Ele conhece de modo
perfeito as maquinações, as insídias e os enganos de todos os demônios, vendo-os abertissimamente
e sem algum impedimento. Do mesmo modo, na Sua infinita Sabedoria conhece otimamente o
modo com o qual os pode destruir e como pode expelir os demônios dos corpos possessos.

009) Deus é o Sumo Bem e por Sua liberíssima escolha se difunde ad extra (fora de Si) por
participação. Por causa da Sua bondade e enquanto depende d’Ele, Deus quer fazer o bem a todos e
jamais o mal. Excluindo o pecado, Deus, da Sua parte quer que todas as coisas sejam efetivamente
executadas de modo que sejam o melhor, antes, o ótimo. Esta é, por assim dizer, a inclinação de
Deus e a Sua inata propensão.

010) Deus é verdadeiro, não pode enganar-Se, nem enganar, como também não pode faltar às Suas
promessas. Por isto, tendo prometido que expulsaria os demônios pela fé dos fiéis, devemos estar
certos de que sem dúvida será liberto do demônio quem é atormentado pelo inimigo, se tiver posto
n’Ele toda a sua confiança e se tal libertação lhe será proveitosa.

011) Apesar de permitir o pecado, Deus não apenas não o aprova, mas o odeia. Portanto, se o
demônio tenta muitas vezes as pessoas possessas a fazerem muitas coisas más (por exemplo, a
blasfemar, a cometer pecados carnais, a suscitar litígios e brigas, a nutrir ódios, a desprezar os pais,
o cônjuge, os filhos, a perturbar as pessoas de casa, a fazer o mal a si mesmas, a desesperar-se e a
procurar para si a mesma morte), todas estas coisas Deus não as aprova, antes, as odeia. Neste
aspecto, Deus detesta também o demônio que habita nos corpos humanos e tenta os homens para
fazer tais coisas.

012) Se Deus é tão bom que dá o Seu sol também aos malvados e concede a chuva também aos
maus, quanto mais aos Seus amigos! Para os Seus fiéis, de fato, Ele está sempre presente e está
sempre pronto para ajuda-los, dirigindo todas as suas coisas a um fim conveniente. Isto Cristo
ensinou abertamente no Evangelho e o Espírito Santo, por meio do Apóstolo Paulo, o reconfirmou
com força.

013) É verdade de fé que todos os Sacramentos produzem o seu efeito ex opere operato. Igualmente
produzem infalivelmente o seu efeito os sacramentais ditos constitutivos.
Consequentemente, como nas acima citadas res sacrae, Deus, pela Sua fidelidade, concorre
infalivelmente se existem os requisitos requeridos da matéria, da forma, do ministro e do receptor,
assim o sacramental do exorcismo pelos méritos da Paixão de Cristo produz infalivelmente o seu
efeito se estão presentes todos os requisitos requeridos para a sua eficácia. E este efeito é a
libertação da ação extraordinária do demônio.

014) Deus, sendo Bondade infinita e Misericórdia sem confim, jamais deixará abandonado quem O
invocará com confiança. Ao contrário, lhe oferecerá sempre o Seu socorro, nem os defeitos do
homem serão obstáculo à divina proteção, se este os reconhecer humildemente e os detestar com
todo o coração. Portanto, a ninguém jamais é lícito desesperar da sua saúde, tanto corporal quanto
espiritual, seja porque contra o próprio desejo Deus humilha e aflige os filhos do homem, seja
porque Deus não quer a morte do pecador, mas antes que se converta e viva. O Senhor não pode,
portanto, alegrar-Se que o homem seja submetido às vexações do inimigo iniquíssimo. Ao
contrário, a Sua Vontade é que o homem leve a cabo aquilo que Deus lhe pede da Sua parte e que
seja liberto do Mal.

015) É certíssimo que se o exorcista e a pessoa atribulada pelo maligno, armados de confiança em
Deus, lutarão juntos contra o diabo para bani-lo, Deus ficará do lado deles em vez de ficar do lado
do diabo, que é Seu inimigo, O blasfema e O odeia. Consequentemente, a vitória será seguríssima.
Quem, de fato, pode resistir a Deus? E se Deus não manda embora imediatamente os demônios, não
é porque não possa, ou não saiba, ou não o queira, naquilo que depende d’Ele, mas porque não o
julga ser ainda benéfico ao atribulado, conhecendo, por exemplo, que se fosse liberto de pressa da
vexação demoníaca, retornaria à condição precedente e talvez também em maiores pecados.

016) Não vem de Deus, mas é uma das maiores astúcias do diabo aquela de fazer crer que Deus,
porque o permite, queira em si e por si que os demônios tiranizem uma determinada pessoa e que,
consequentemente, aquele tal deva acomodar-se na sua condição e não procurar a própria
libertação. Seria como se alguém caísse no fogo e, podendo ser liberto com a ajuda de um amigo,
refutasse o socorro dizendo: Deus quis que eu caísse no foco e por isto eu quero ficar aqui. Esta
pessoa mereceria sentir-se responder: Pela tua incúria e imprudência caíste no fogo; e como agora,
mesmo podendo ser tirado das chamas, tu não queres ser delas liberto, morrerá queimado no teu
corpo, correndo o risco, pelas tuas más disposições, de perder também a felicidade eterna.
Ocorre fazer muita atenção àquilo que se pensa de Deus, porque se nos enganamos sobre Deus, nos
enganamos sobre tudo.

CAPITULO II
O DIABO E OS SEUS ANJOS

017) Por Revelação Divina a Igreja sabe com certeza que o mal não se reduz somente a uma
deficiência, ou seja, à falta de um bem que deveria existir, mas é em primeiro lugar uma eficiência,
um ser vivo, espiritual, pervertido e pervertedor, indicado pela linguagem da fé com diversos
nomes entre os quais aquele genérico de demônio.

018) Com a mesma certeza de fé a Igreja sabe que esta terrível e misteriosa realidade contra a
qual nós cristãos devemos sustentar uma luta no escuro e da qual pedimos ao Pai para sermos
libertos, não se identifica com um só demônio, mas sim com uma sua pavorosa pluralidade.

019) Naufraga na fé e sai do quadro do ensinamento bíblico e eclesiástico quem se recusa a


reconhecer a existência desta realidade; ou seja, quem faz dela um princípio autônomo, não tendo
essa também, como toda criatura, origem em Deus; ou a explica como uma pseudo-realidade, uma
personificação conceitual e fantástica das causas desconhecidas dos nossos sofrimentos.

020) É um capítulo muito importante da doutrina católica aquele sobre o demônio e sobre o influxo
que ele pode exercitar sobre cada pessoa, como sobre comunidades, sobre sociedades inteiras, ou
sobre acontecimentos, que precisa ser reestudado, enquanto ainda hoje o é pouco.

021) Muitos sacerdotes durante o período da formação institucional não receberam algum
ensinamento em matéria de demonologia. Alguns se iludiram de encontrar nos estudos
psicanalíticos e psiquiátricos ou em outro gênero de experiências uma suficiente compensação à
rejeição da demonologia católica. Outros, quer por um fenômeno de contágio (devido à descoberta
da libertação entre cristãos de outras tradições, pertencentes no mais das vezes aos ambientes das
Free Churches ou Pentecostais), quer por outras causas, exercitam atos de “libertação dos
demônios” que revelam a fraqueza doutrinal da demonologia pressuposta.

022) Vai reafirmado que, quando se trata de conhecimento da realidade demoníaca, é necessário
ater-se sempre e somente à fé constante e universal da Igreja, guardada e proposta pelo seu
Magistério, testemunhada pelo Padres, ensinada pelos Doutores, vivida pelos Santos. Aquilo que
contradiz esta fé deve ser decisivamente rejeitado.

023) A Igreja docente, na obediente referência à fonte maior do seu ensinamento, que é o Senhor
Jesus Cristo, enquanto de um lado assegura que na doutrina do Evangelho a existência do mundo
demoníaco com a sua nefasta influência se revela como um dado dogmático, de outro preserva de
possíveis desvios de pensamento que no ministério exorcístico são perigosíssimos e trazem graves
danos, dos quais as primeiras vítimas são o mesmo exorcista e o paciente que recorre ao seu
ministério.

024) As presentes Diretrizes não são um texto de demonologia sistemática. No seu conjunto
oferecem, todavia, informações úteis ao exorcista sobre o ser e o agir demoníaco. Neste capítulo se
dão algumas entre as mais importantes, necessárias a compreender o resto da matéria que as
Diretrizes se propõem de expor.

*****

025) É de fé que o diabo (satanás, a serpente antiga, o dragão do Apocalipse) e todos os outros
espíritos maus (demônios) foram criados bons por Deus e se tornaram maus por sua própria culpa.
Do mesmo modo é de fé que todos estes, por causa da irreversibilidade da sua escolha pecaminosa,
já estão reprovados por Deus pela eternidade e que, portanto, estão condenados às penas do inferno.

026) O diabo e todos os outros demônios, como os outros anjos que permaneceram fiéis a Deus na
prova, são por natureza seres espirituais e como tais dotados de inteligência e livre vontade. Por
causa da sua espiritualidade, o conhecer e o querer do diabo e dos outros demônios ultrapassam em
perfeição aqueles dos homens, embora, em razão da sua criaturalidade, o conhecer e o querer
demoníaco é e permanece essencialmente e infinitamente inferior àquele de Deus.

027) Em particular, referindo-se a satanás, é certo que no princípio da sua criação foi dotado por
Deus de altíssima sabedoria sobrenatural, não só especulativa, mas também prática. É porém do
mesmo modo certo que no momento no qual, seduzido pela própria excelência, no orgulho da sua
mente se rebelou ao Altíssimo, ele perdeu uma e outra.
Perdendo a sabedoria sobrenatural, lhe restou por inteiro só a ciência natural. Esta ciência (que nos
demônios é inata, adquirida e comunicada) é superior a qualquer ciência criada que se possa
encontrar nos homens.
Sobre estes pontos o sentir dos Padres e dos sucessivos escritores eclesiásticos é concorde,
aplicando ao diabo, ao menos em senso acomodatício, os versículos de Ez 28, 12 ss., enquanto que
para o restante dos demônios vale para todos o testemunho de São Francisco de Assis na sua V
advertência: “[…] um só demônio soube das realidades celestes e agora sabe daquelas terrenas
mais de todos os homens juntos, ainda que tenha existido algum que recebesse do Senhor uma
especial cognição da suma sabedoria.”

028) É certo que tanto os espíritos maus, como também os anjos bons, apenas com base na sua
natureza não podem conhecer os segredos de Deus, nem os segredos dos corações humanos. Além
disso, das ações livres futuras esses não têm presciência segura, mas só conjectural (e, portanto,
falível).
Enfim, nem sozinhos, nem todos juntos podem operar verdadeiros milagres, ou seja, agir
suspendendo as leis da natureza ou pondo-se em contraste com as mesmas leis, cujo Autor é
somente Deus. Podem, porém, operar coisas que à nossa percepção resultam extraordinárias,
porque não existe poder no universo criado que possa comparar-se àquele angélico.

029) O fato de fixar-se no pecado, com a consequente perda da graça santificante e o cair em estado
de danação, mesmo não alterando os dons naturais do diabo e dos outros demônios, que
permaneceram íntegros e sumamente consideráveis, produziu porém consequências tremendas,
começando pelo seu intelecto.
Sobretudo pelo seu ódio contra a Verdade e o seu obstinado fechamento em relação a Ela, todos os
espíritos malignos vivem como que dispersos fora de si mesmos, incapazes de encontrar a própria
identidade.
Da perda da sabedoria sobrenatural deriva para eles também uma certa estupidez e por isso a eles
por primeiro se aplica aquilo que a Escritura ensina sobre os estultos. Adaptando ao diabo e a todos
os demônios uma imagem recorrente em certa produção literária e cinematográfica, esses podem
ser assimilados àqueles “cientistas loucos” que têm como único objetivo a destruição do mundo e
dos quais se pode dizer: “Eis, o ímpio produz injustiça, concebe malícia, dá à luz mentira. Ele
escava um poço profundo e cai na fossa que fez; a sua malícia recai sobre a sua cabeça, a sua
violência lhe cai sobre a cabeça.” (Sl 7, 15 – 17).

030) Quanto à sua vontade, o fixar-se do diabo e dos outros demônios no pecado, com a
consequente perda da graça santificante e o cair em estado de danação, não produziu alguma
mudança quanto à capacidade natural de aderir a um objeto que a essa se apresenta como bem, mas
a tem como que acorrentada à culpa cometida. A vontade dos espíritos malignos, feita livremente
escrava do pecado, já não pode senão querer sempre e somente o mal, em oposição a Deus.

031) Quanto, depois, à possibilidade dos demônios de agir segundo o próprio querer malvado, ainda
que segundo a ordem natural tenham poder sobre todas as criaturas a eles inferiores, esses são por
Deus como que presos, para que não façam tudo aquilo que a sua vontade maligna os impulsiona
fazer. Deus age deste modo com eles seja como pena pelos seus pecados, especialmente da sua
soberba, seja em vista do bem dos homens. Este acorrentamento começou desde a origem do
mundo, imediatamente depois do seu pecado e da consequente condenação.
Jesus sempre foi vitorioso diante do demônio: nas tentações do deserto, nos exorcismos, também
sobre a Cruz, quando o demônio se serviu da livre cooperação do homem.
Com a Paixão e a Morte de Cristo o poder dos demônios foi quebrado e tornou-se vão, mantendo-se
sempre em dependência à Vontade de Deus, cujos juízos são todos fiéis e justos.

032) É de fé que pelo pecado de Adão o diabo adquiriu um certo domínio sobre os homens e por
isso é caracterizado por Cristo como “o príncipe deste mundo”. Mas é do mesmo modo certo que
satanás, pela Paixão e a Morte de Cristo e pela aplicação dos Seus méritos que faz o batismo, não
tem algum poder sobre os santos, no sentido que não pode impedir a eles a escolha pela santidade.
O poder do demônio é, de fato, amarrado e totalmente contido em benefício daqueles que vivem em
graça de Deus, creem firmemente em Cristo e colocam a sua confiança na Sua proteção.
Ademais, tal poder é atado e contido por Deus em vista de um bem comunitário ou pessoal segundo
os decretos da Sua Providência.
Nem contradiz quanto afirmado o fato que satanás e os outros demônios possam perseguir os servos
de Deus com tentações e, em alguns casos, também com vexações de vários gêneros. O ato de fazer
guerra aos santos não é, de fato, indicativo de um poder dos demônios sobre eles, mas apenas da
vontade maligna que esses têm de reconquistar aquilo que do mais Forte foi-lhes subtraído. E para
os santos o ser temporariamente atribulados pelos demônios não é sinal de sujeição, mas ocasião de
mérito e de crescimento na graça em vista da futura glória.

033) Daquilo que já foi dito, pode-se facilmente deduzir a razão pela qual, infelizmente, muitas
vezes aos demônios venha como que restituído e até mesmo ampliado o seu poder sobre os homens.
Tal razão, sobre a qual concordam os Padres e os escritores eclesiásticos, não reside somente no
aumento dos pecados, mas no fato que, perseverando os homens no pecado, diminui ou se extingue
neles a confiança em Deus.
É, portanto, por esta falta de confiança, e não só como pena pelas suas culpas, que Deus permite aos
espíritos malvados de ter poder sobre os homens.

034) Todavia, ainda que seja certo que o poder de satanás aumenta pelo aumento dos pecados dos
homens e o seu obstinar-se no mal, não se deve jamais perder de vista um dado metafísico, além de
teológico, incontroverso, ou seja que a ação demoníaca está sempre restrita dentro das leis da
natureza postas por Deus (que nenhum ser inferior a Ele pode ultrapassar) e pelos decretos eternos
da Sua Vontade. Em outras palavras, os demônios, que são entidades criadas “banidas do céu e
precipitadas sobre a terra”, podem operar exclusivamente dentro do espaço e do tempo do universo
visível:
► primeiro, em plena dependência das leis que regulam este universo;
► segundo, jamais além das suas possibilidades naturais (dito em linguagem corrente, nenhum
deles pode dar um passo mais longo que a própria perna);
► terceiro, em absoluta obediência aos eternos decretos de Deus, que quer sinceramente que todos
os homens sejam salvos em Cristo e que ao diabo diz: “Até aqui chegarás e não além e aqui se
quebrará o orgulho das tuas ondas.”

CAPÍTULO III
A AÇÃO ORDINÁRIA DO MALIGNO

035) É doutrina comum e ensinamento constante do Magistério que os demônios procuram causar
dano aos homens exercitando para isso um duplo gênero de ação.

036) Ao primeiro gênero pertencem as ações com as quais o diabo e os outros espíritos malignos
procuram causar dano moralmente aos homens. Estas ações diabólicas são comumente indicadas
com o termo “tentações” e como às tentações dos demônios a humanidade inteira está sujeita
durante o exílio terreno, ainda que seja em medida diversa para cada indivíduo, este gênero de
ação é definido “ordinário”.

037) Pelo contrário, ao segundo gênero pertencem as ações com as quais o diabo e os outros
espíritos malignos procuram causar dano aos homens na esfera psicofísica, ainda que o objetivo
final do agir diabólico seja sempre prejudicar a esfera moral. Tais ações diabólicas são
classificadas pela doutrina segundo critérios específicos e como só um número limitado de homens
é vítima delas, o gênero destas ações é chamado de “extraordinário”.

038) Neste capítulo nos ocupamos da ação ordinária do maligno, ou seja, da tentação. Do
momento que a dogmática, a moral e a espiritualidade se ocupam dela abundantemente, aqui serão
recordados só os pontos mais úteis ao ministério do exorcista.

*****
039) É próprio da sabedoria e do amor de Deus examinar o homem, ou seja, colocá-lo à prova
enquanto está ainda exilado sobre a terra em busca da pátria futura.
► O fim imediato pelo qual o Senhor nosso Deus nos põe à prova é para ensinar-nos a amá-Lo com
todo o coração e com toda a alma e para que, através da prova, se forme e se consolide em nós a
virtude. A prova da nossa fé, de fato, produz a paciência e a paciência completa a sua obra em nós,
para que sejamos perfeitos e íntegros, sem nada faltar.
► O fim último pelo qual o Senhor nosso Deus nos coloca à prova é para que, resistindo à tentação
e após tê-la superado, possamos receber a coroa da vida, que o Senhor prometeu àqueles que O
amam.

040) Deus pode provar o homem de diversos modos, mas, da Sua parte, sempre
► ensinando o bem que deve ser feito e o mal que deve ser evitado;
► mostrando as consequências da obediência e da desobediência à Sua Vontade;
► incitando a criatura a praticar o bem e a fugir do mal;
► fornecendo os socorros necessários para superar felizmente a prova.
Ao contrário, Deus não só não quer, mas nem mesmo pode, de modo absoluto, induzir uma criatura
a fazer o mal ou simplesmente assumir uma atitude indiferente diante da sua livre escolha.

041) Tudo quanto até aqui foi dito vale sempre, também nos casos nos quais Deus, para purificar
um ser humano, se serve da ação de criaturas malvadas, sejam essas homens pecadores ou
demônios.

042) Ao tentar o homem os espíritos malignos perseguem um fim e agem num modo
completamente em oposição quer ao fim que Deus Se propõe ao pôr o homem à prova, quer ao
modo que Ele usa.
O diabo e os restantes demônios, de fato, tentam com o fim imediato de fazer o homem pecar e de
torná-lo vicioso, enquanto Deus o põe à prova para fazê-lo crescer em graça e em virtude.
O fim último da tentação demoníaca é a danação do pecador, enquanto o fim último pelo qual Deus
prova o homem é fazê-lo merecer o Paraíso.
Quanto ao modo, a tentação diabólica é um ato de despótica violência e se vale sempre das armas
da mentira e da sedução. O pôr à prova de Deus é, invés, um ato de amor paterno, que ilumina com
a luz da verdade e provê ao homem as forças necessárias para superar felizmente toda prova.

043) Assistir os fiéis na luta contra a ação ordinária do demônio, instruindo-os e fortificando-os
com a Palavra de Deus e a celebração dos Sacramentos e dos sacramentais para que resistam
vitoriosamente às tentações com as quais, por ódio a Deus, os demônios instigam os homens ao
mal, vivam em estado de pecado e no fim se si danem, é tarefa de todo sacerdote, qualquer que seja
o ministério que lhe seja confiado. Não se requer, para isto, a intervenção do exorcista.

CAPÍTULO IV
A AÇÃO EXTRAORDINÁRIA DO MALIGNO

044) Neste capítulo nos ocupamos da ação extraordinária do maligno, a cujo gênero pertencem,
como já dito, as ações com as quais o diabo e os outros espíritos malignos procuram causar dano
aos homens na esfera psicofísica, ainda que o objetivo final do agir diabólico seja sempre aquele
de conseguir prejudicar o relacionamento com Deus através de escolhas morais não conformes à
Vontade divina.

045) Tal ação pode exercitar-se diretamente contra o homem ou indiretamente, ou seja, sobre
coisas dadas em uso ao homem (por exemplo, uma habitação ou animais).

046) A Associação Internacional dos Exorcistas já há tempo estabeleceu uma linguagem comum,
classificando a ação extraordinária do demônio em vexação, obsessão e possessão, se a ação
demoníaca se exercita diretamente sobre a pessoa humana; infestação, se tem por objeto coisas
dadas em uso ao homem.

047) Às espécies do agir extraordinário demoníaco exercidas diretamente sobre a pessoa humana
acrescenta-se, para que o discurso seja completo, a sujeição diabólica. Trata-se de uma ação
extraordinária demoníaca que os autores, na maioria, referem principalmente a situações nas quais
a pessoa, que é vítima dela, se liga voluntariamente ao maligno com um pacto (que é quanto fazem
comumente os sujeitos que exercitam verdadeiramente a arte mágica ou aqueles que se tornam
membros de seitas satânicas). Na realidade, como veremos, a sujeição diabólica representa algo de
muito mais complexo.

048) Se em vista do discernimento e do acompanhamento do paciente uma classificação é


necessária, deve-se ter presente que na realidade os confins entre as várias espécies de ação
diabólica extraordinária não sempre são nítidos; ao contrário, verifica-se muitas vezes o seu
entrelaçar-se ou acumular-se, pelo que, concretamente, nos encontramos diante de uma vasta gama
de distúrbios de variadas formas e de diferentes gravidades.

049) Quanto às possíveis causas que provocam a realidade de uma ação extraordinária do
maligno, se falará delas no capítulo V.

*****

Vexação diabólica

050) Por vexação diabólica se entende a ação demoníaca que visa agredir e atormentar o homem
fisicamente, sem que isto comporte, de per si, uma posse do corpo que é atormentado.

051) A imagem com a qual podemos representá-la é aquela de um bandalho que realiza atos de
vandalismo e violência e que vem disturbar outra pessoa enquanto esta se encontra na sua própria
habitação. O agressor pode dar pontapés na porta, quebrar os vidros de alguma janela com pedras
ou paus, arrancar o reboco externo ou sujá-lo com tinta ou outra coisa, arrebentar a caixa para a
correspondência ou arranhar o carro estacionado diante da calçada e assim por diante. Todavia não
pode entrar na casa, que permanece sob o controle do seu dono.

052) Na vexação diabólica a agressão é levada ao corpo do paciente e pode tomar diversas formas.
Por exemplo, infligindo cortes, ou queimaduras, arranhões, espetadas, mordidas, pauladas, golpes
que deixam manchas rochas, inchaços e feridas sangrentas, fratura de ossos, incisões na pele de
letras, palavras ou sinais que persistem por um certo tempo e depois desaparecem.
A estas formas de vexação podem-se acrescentar outras, como perceber odores nauseantes; se
tornar alvo de pedras ou de fezes, que são jogadas contra a pessoa como que vindas do nada; ver-se
jogar no rosto com violência a água contida num copo, que levita improvisamente no ar.
Alguns foram derrubados da cama ou de escadas, jogados no ar ou derrubados por terra ou contra
uma parede, arrastados por uma mão invisível pelos cabelos; outros ainda foram transportados a
longa distância do lugar em que se encontravam.
Estas e outras formas de vexação diabólica as experimentaram em suas vidas seja muitos Santos,
seja pessoas comuns.
Se não estão legados a pactos diabólicos, entram nesta espécie de ação extraordinária demoníaca os
fenômenos aos quais se refere a expressão francesa maris et femmes de nuit (literalmente, maridos e
mulheres durante a noite). Trata-se do agir diabólico daqueles demônios tradicionalmente indicados
com os termos de íncubos e súcubos, experimentados também por santos canonizados (por
exemplo, Sto. Alfonso M. Rodriguez) e por numerosas vítimas, homens e mulheres, seja no
passado, como também no presente.

053) Em todos os casos em que parece manifestar-se uma ação diabólica de tipo vexatório, uma vez
excluída a simulação e acertada a origem não natural dos fenômenos (ou seja, nem psicológica, nem
psiquiátrica), não resta que reconhecer nelas a origem diabólica.

Obsessão diabólica

054) Por obsessão diabólica se entende a ação demoníaca que visa agredir e atormentar o homem
interiormente, na esfera psíquica. Tal agressão não é dirigida diretamente ao intelecto e à livre
vontade da pessoa, enquanto estas duas faculdades são inexpugnáveis a qualquer criatura. A serem
agredidos e atormentados são, invés, os sentidos internos da pessoa, ou seja, a imaginação, a
memória sensível e a estimativa.
Vai aqui recordado, segundo o ensinamento de Sto. Tomás aceito comumente pela doutrina, que aos
sentidos externos (vista, audição, olfato, paladar e tato) correspondem no homem quatro sentidos
internos.
► Desses, o primeiro é dito senso comum e tem a função de recolher e discernir o material das
sensações externas.
► O segundo, dito imaginação ou fantasia, tem a tarefa de reter e reproduzir aquilo que o senso
comum recolheu e diferenciou, também na ausência do mesmo objeto (depois que os olhos viram
um cão ou os ouvidos escutaram uma melodia, a imaginação pode reproduzir, na ausência do
animal e dos sons, aquilo que os sentidos externos haviam visto e ouvido).
► O terceiro, dito estimativa, tem a função de avaliar se as sensações, apreendidas pelos sentidos
externos e daqui passadas ao senso comum e à imaginação, são para a mesma pessoa que as
experimenta um bem ou um mal (este cão é um animal inócuo ou poderia me morder?).
► O quarto, dito memória, tem a tarefa de conservar e reproduzir tais avaliações.
No homem os sentidos internos dependem por natureza do intelecto e da vontade e é justamente em
força deste vínculo que na obsessão diabólica intelecto e vontade são tomados indiretamente de
assalto e atormentados.

055) Como na vexação, também na obsessão diabólica não se tem a posse do corpo e a ação do
demônio é circunscrita à comunicação aos sentidos internos do homem de imagens obsessivas. Não
é raro que as imagens “bombardeadas” apareçam desde o início racionalmente absurdas ao intelecto
da persona que as recebe, mas são de tal força e intensidade que a vítima não é capaz de afastá-las.

056) Uma representação com a qual a obsessão diabólica pode ser representada é aquela de um
louco que conseguiu entrar na nossa habitação, mas que pode somente seguir-nos em todos os
cômodos pelos quais passamos ou nos detemos atordoando nossos ouvidos com os seus discursos
ou seus gritos sem que o possamos impedir, mandando-o embora ou pondo-lhe uma mordaça.
Quanto ao resto, este inimigo não pode tocar nada daquilo que está na casa: não pode ligar ou
desligar um interruptor, não pode abrir ou fechar uma porta, não pode deslocar um móvel ou pegar
um objeto. Todo o edifício permanece sob o nosso controle.
057) Para exemplificar, a pessoa obcecada diabolicamente pode sentir-se molestada por ideias ou
fantasias incômodas, constantes, importunas, que a atormentam em continuação e que em alguns
casos a ocupam até faze-la sentir-se às portas da loucura, que loucura porém não é. São Carlos de
Sezze, por exemplo, na sua Autobiografia conta de um período de tempo no qual, ainda jovem e
antes de se tornar frade menor, era obcecado por pensamentos que tinham por objeto uma certa
mulher, sua conhecida, velha, feíssima e disforme, acompanhados de impulsos irracionais de
fornicação com ela. Estes pensamentos e impulsos pareciam absurdos à sua inteligência e
repugnavam à sua vontade, mas não havia modo de bani-los. No seu caso, encontrou-se
imediatamente liberto quando tive a humilde coragem de manifestá-los a um outro jovem seu
conhecido, mas não sempre estes atos de humildade são suficientes para obter o afastamento.
Às vezes, também e sobretudo na oração, a pessoa obcecada diabolicamente percebe um incessante
falar interior de uma outra pessoa, que repete aquilo que ela diz, ou sugere outras orações ou tem a
sua cabeça ocupada por ininterruptos discursos de todo tipo.
Alguns são tomados por improvisos frêmitos de angústia, de desesperação ou de ira, absolutamente
estranhos àquele que é o seu temperamento e o seu caráter e que não têm uma ligação com a
situação externa que estão vivendo. Outros são tomados por impulsos incontroláveis de antipatia ou
de ódio, até sentirem o desejo de matar, sem motivo algum, pessoas muito amadas, como os pais, o
cônjuge ou os filhos. Outros são atormentados por blasfêmias ou por imagens obscenas, que se
intensificam nos momentos de mais intensa oração ou quando mais se aproximam ao sobrenatural;
por outra forma, alguns são molestados por visões de figuras, que podem ser monstruosas ou podem
também imitar Jesus Cristo, Nossa Senhora, os Anjos e os Santos. Nestas situações, a pessoa se
sente como presa e percebe claramente estas sensações ou estas imagens como estranhas a si;
procura de todos os modos afastá-las, mas não consegue ou então encontra uma grande dificuldade
para libertar-se delas.

058) A casuística poderia alongar-se muito. Deve-se ter presente que, dada a sua semelhança com
algumas doenças psíquicas, o discernimento das obsessões demoníacas não é sempre fácil. Antes,
se a obsessão não se entrelaça com outros gêneros de ação extraordinária do maligno (vexação e/ou
possessão), é de fato a espécie de ação diabólica mais difícil de discernir.

059) Existem, de fato, fenômenos como aqueles descritos que têm uma origem exclusivamente
patológica, e a maior parte dos “obcecados” que procuram os exorcistas entram nesta categoria.
Existem, também obsessões que, mesmo tendo uma origem natural, são amplificadas de maneira
enorme por uma ação extraordinária do demônio. E enfim, existem algumas que, mesmo
manifestando-se com os sintomas de uma patologia psiquiátrica, têm como única causa uma ação
extraordinária do demônio.
É claro que no primeiro gênero de obsessão a competência é exclusivamente médica; no segundo
gênero médico e exorcista têm, cada um, a própria parte para cumprir no terceiro gênero toca ao
exorcista ocupar-se dela.

Possessão diabólica

060) Por possessão diabólica se entende a ação pela qual um espírito maligno, albergando-se em um
corpo humano, é capaz de exercitar um controle despótico sobe ele, conseguindo, em determinados
momentos ditos de “crise”, mover-se e/ou falar através do corpo da pessoa possessa, sem que a
vítima possa fazer nada para evita-lo, ainda nos casos nos quais mantém a consciência daquilo que
lhe esta sucedendo.

061) A imagem com a qual pode ser representada a possessão diabólica é aquela de um inimigo que
entrou numa habitação e vive nela escondido em algum lugar. Nos momentos mais inesperados sai,
num instante amordaça o dono da casa e o amarra numa cadeira; depois começa a agir como se o
dono da casa fosse ele: acende e apaga as luzes, abre e fecha as portas, mudas os móveis de lugar,
telefona, ou responde ao telefone ou ao porteiro eletrônico, fazendo crer a quem se encontra do
outro lado que está conversando com o dono da casa, enquanto, na realidade está falando com o seu
inimigo. Às vezes este inimigo amarra e amordaça a sua vítima depois de tê-la desacordada, de
modo que ela não vê nem escuta aquilo que ele diz e faz e, retornando em si, desamarrada e
desamordaçada, não pode recordar nada daquilo que o inimigo disse e fez. Às vezes o atordoamento
por ele provocado não é assim tão forte que faça perder por completo os sentidos, pelo que a vítima
percebe, mais ou menos, aquilo que o inimigo diz e faz e em seguida, mais ou menos confusamente,
o recorda. Às vezes a vítima é só amarrada e amordaçada, mas não desacordada, de tal sorte que a
sua consciência permanece vigilante, vê e escuta aquilo que o inimigo diz e faz e em seguida
consegue recordá-lo. As variantes podem ser muitas.

062) A possessão diabólica, entre as espécies de ação extraordinária do maligno até agora tomadas
em consideração, é certamente a mais grave e comporta a presença permanente do demônio no
corpo humano, ainda que isto não signifique que a ação maléfica seja contínua. Muitos possessos
conseguem, portanto, ter uma vida aos olhos dos seus familiares e conhecidos “normal” e esses
mesmos podem viver por muito tempo sem se darem conta da sua efetiva condição de possessos.

063) O específico da possessão diabólica, ou seja, o albergar de um ou mais demônios num corpo
humano sobre o qual, em determinados momentos ditos de “crise”, exercitam um controle
despótico movendo-o e/ou falando através dele como se lhes pertencesse, é essencialmente diverso
daquilo que em psiquiatria e psicologia clínica vem genericamente indicado como distúrbio de
personalidade.
Nas várias espécies de distúrbio de personalidade o sujeito é sempre o mesmo, ou seja, a pessoa
humana atingida por uma doença. Na possessão diabólica, invés, uma entidade estranha substitui a
personalidade do possesso no controle do seu corpo, entidade que se manifesta como um sujeito
dotado de personalidade própria, inteligente e livre, e que a fé cristã indica com o nome de
demônio.

064) Na possessão diabólica o demônio bloqueia, paralisa, suspende o domínio que normalmente a
alma humana, através das suas potências, intelectiva e volitiva, exercita sobre a parte somática da
pessoa, substituindo-se a ela no controle e na direção do corpo. Portanto, é o demônio que faz
realizar aos membros do corpo os movimentos que ele quer; é ele que imprime sobre a fisionomia
do rosto da pessoa, em particular nos olhos e na boca, os traços característicos que revelam as suas
emoções: a sua cólera, o seu orgulho, a sua presunção, o seu desprezo, o seu medo (é como um
animal acuado; tem medo de Deus e do exorcista), a sua vontade de enganar, de aterrorizar, a sua
rebelião a Deus. É o demônio que olha com os olhos do possesso e que fala com a sua boca, e é
assim intimamente ligado ao corpo possesso que através do sentido do tato pode, por exemplo,
sofrer quando este corpo entra em contato com a água benta, relíquias ou outros objetos bentos, nos
casos em que o Senhor queira servir-Se destes meios para atingi-lo. É, em suma, uma união estreita,
ainda que absolutamente diversa por essência da união substancial da alma humana com o próprio
corpo e com a qual, entre outras coisas, o maligno pretende, como um macaco, reproduzir a
Encarnação.

065) A posse de um corpo humano por parte de um espírito maligno não deve ser confundida com a
ligação moral que o diabo tem com a alma de quem se encontra em pecado mortal.
A alma do pecador é certamente escrava de satanás, mas disso não segue que o corpo de quem vive
em pecado mortal seja necessariamente possuído por um demônio e que este último exercite um
controle despótico sobre ele. A maioria daqueles que vivem em pecado mortal não estão
“possessos”. Só alguns têm contemporaneamente seja a alma escrava do demônio (porque em
pecado mortal), seja a possessão demoníaca do corpo.
Existem, ao contrário, pessoas possessas no corpo, mas cuja alma é intimamente unida a Deus
enquanto vivem na graça santificante. Se morressem neste estado, ainda que vítimas de uma
possessão diabólica, não teriam algum problema para chegar à salvação eterna. Não existe, de fato,
contradição entre possessão diabólica e vida de graça. A primeira diz respeito ao corpo de uma
pessoa, a segunda à sua alma. E como uma doença corporal não prejudica a santidade de uma
pessoa, assim a possessão diabólica do corpo não compromete de per si a capacidade da alma de
viver em graça de Deus e de exercitar as virtudes cardinais e teologais também em grau heroico.

Sujeição diabólica

066) A sujeição diabólica, da qual nos ocupamos nestas Diretrizes, consiste numa ação
extraordinária do maligno sui generis. Para compreender a sua especificidade é útil primeiramente
referir-se à sujeição que existe entre os próprios demônios e em seguida, servindo-se da possessão
diabólica como termo de comparação, colher as suas peculiaridades.

067) Entre os demônios existe uma espécie de unidade, tanto real que faz deles um só corpo moral.
Esta unidade diabólica não é fundada sobre a graça, nem é animada pela caridade, do momento que
da primeira os demônios estão totalmente e para sempre privados e à segunda esses opõem um ódio
irreduzível que os anima também nas “relações” entre si.
A unidade diabólica é, invés, fundada sobre a ordem hierárquica existente entre os demônios e a
consequente autoridade que alguns deles têm sobre os outros (fundamento ontológico). A isso se
acrescenta uma espécie de atração recíproca que esses experimentam por afinidade de pensamento e
de vontade e pelo fato que cada um deles persegue o mesmo fim perverso dos outros (fundamento
moral).
068) Do confronto com as notas específicas da possessão diabólica, emergem as seguintes
diferenças entre esta espécie de ação extraordinária do maligno e a sujeição diabólica:
► A possessão diabólica, sem levar em conta os fenômenos de vexação ou de obsessão que podem
ou não acompanha-la, se especifica como um controle despótico exercitado pelo demônio sobre o
corpo do possesso.
A sujeição diabólica consiste invés em uma fortíssima dependência moral do demônio,
dependência que deve ser compreendida como um progressivo fixar-se do pensar humano no pensar
diabólico e do querer humano no querer satânico. Em outras palavras, como os santos a um certo
ponto das suas vidas podem afirmar de verdade: nós temos o pensamento de Cristo; ou: em nós
estão os mesmos sentimentos de Cristo Jesus; e ainda: o meu alimento é fazer a vontade do Senhor;
assim para os sujeitos a satanás chega o momento no qual poderiam dizer: nós temos o pensamento
do diabo; ou em nós existem os mesmos sentimentos e o mesmo querer do diabo; nós não amamos o
diabo, mas gostamos dele…
► A possessão diabólica de per si não diz necessariamente relação ao pecado, embora a maior
parte das vezes a ofensa a Deus, própria ou de outros, entra nisso come causa ocasional.
Na sujeição diabólica, invés, o pecado entra sempre como causa ocasional e se trata sempre do
pecado próprio não daquele de outros.
► A possessão diabólica no mais das vezes é sofrida e não procurada, mesmo nos casos em que o
pecado, próprio ou de outro, entra como causa ocasional.
Ao contrário, a sujeição diabólica é sempre algo de procurado e querido, porque quem é vítima
dela ofereceu-se livremente e conscientemente a satanás. Para que o grau de compreensão desta
“oferta” seja suficiente para tornar possível a sujeição diabólica não é necessário que no “devoto”
de satanás a cognição do diabo se iguale àquela que se pode adquirir, por exemplo, com o estudo da
angelologia e da demonologia católica. Antes, nem mesmo se requer, de per si, a cognição de
satanás como um ser pessoal em estado de livre e voluntária oposição a Deus. É suficiente, invés, o
entregar-se conscientemente e livremente a uma vida de mentira. Como do Evangelho aprendemos
que quem é pela verdade escuta a voz de Cristo, assim de alguns desencontros verbais entre Jesus e
os Judeus apresentados pelo Evangelista São João aprendemos que algo de análogo acontece em
relação a satanás. O diabo é o mentiroso desde o princípio, por isso quem é pela mentira de algum
modo escuta a voz do maligno, que se torna para ele, em sentido metafórico, “pai” ainda que o
assujeitado saiba pouco ou nada dele.
► Na possessão diabólica a vítima adverte como estranhos, ou seja, como não seus, seja o eventual
bombardeio obsessivo dos pensamentos e dos sentimentos pelos quais é afligida, seja as palavras e
as ações que nos momentos de crise diz e faz, a ponto que às vezes a vítima duvida da própria
sanidade mental. E isto é segundo a lógica, do momento que quem fala e age nos momentos de
“crise” é o demônio e não a vítima que o maligno possui.
Na sujeição diabólica, ao contrário, a vítima sente como seus os pensamentos, os sentimentos, as
palavras e as ações que faz, porque de fato todas estas coisas, mesmo se tivessem como
“instigador” o demônio, coincidem com as suas convicções, as quer realmente e delas se compraz.

069) Muitos Autores confundem a sujeição diabólica com a situação na qual se encontra uma
pessoa que, depois de ter-se assujeitado ao demônio com pacto explícito ou implícito, experimenta
as suas vexações ou até mesmo sofre a sua possessão. Na realidade, isso acontece não como
consequência da sujeição diabólica, mas como repercussão do esforço de romper o pacto feito com
o demônio. Tendo à disposição a eternidade para fazê-lo, neste mondo o maligno não trata mal
aqueles que se assujeitam a ele, ao menos enquanto possam ser úteis aos seus escopos. Mas se um
seu escravo decide de romper o pacto com ele, o demônio, nos limites da permissão divina, lhe faz
guerra, tentando também de lhe possuir o corpo. Da parte do demônio isso acontece para reclamar
uma “propriedade”, para dissuadir a vítima do rompimento do pacto e, em todo caso, como
vingança. Da parte de Deus isso é permitido como medida medicinal, manifestando a verdadeira
natureza do senhor ao qual o homem se era assujeitado.

070) Em conclusão, a sujeição diabólica tem como notas específicas a dependência moral do
pensamento e da vontade humana do pensamento e da vontade diabólica e juntamente a decisão de
pertencer, de algum modo, ao diabo.
A dependência moral do pensamento e da vontade humana do pensamento e da vontade diabólica
produz uma sintonia que, com o tempo e sob o influxo do demônio, tende a ampliar-se e a
consolidar-se, até poder chegar, já nesta vida, a um ponto de não retorno. O ponto de não retorno da
sujeição diabólica representa o avesso do ponto de não retorno da santidade cristã, dito na
linguagem comum “confirmação na graça”.

071) A sujeição diabólica é dita sujeição porque quem escolhe voluntariamente de servir o maligno
se faz necessariamente escravo dele, seja em consequencial da ordem natural, pela qual a natureza
angélica está acima da natureza humana, seja em consequência dos eternos decretos da Justiça
Divina. É um engano do maligno e uma ilusão da mente humana pensar que quem não quer crer em
Deus e viver na Sua Graça possa comandar um demônio.
A infestação diabólica

072) Infestação diabólica é uma expressão genérica que abraça todas as espécies de ações
demoníacas dirigidas a lugares ou a coisas dadas em uso ao homem, animais incluídos. Enquanto na
vexação, na obsessão e na possessão o maligno ataca diretamente o homem, na infestação o agride
indiretamente, causando dano àquilo que serve à sua vida.

073) Entre os lugares e as coisas das quais se serve o homem e que são possíveis objetos de
infestação diabólica, as casas ou habitações são talvez as realidades mais frequentemente teatro de
fenômenos extraordinários atribuíveis a uma ação demoníaca. Os modos pelos quais as casas
podem ser infestadas pelos espíritos imundos, fazendo-as muitas vezes inabitáveis, são diversos. Às
vezes se mostram em aspecto de espectros para aterrorizar os habitantes e outras pessoas. Às vezes
sibilam, falam, riem e simulam vários outros rumores. Por vezes movem ou quebram mobília, ou
causam graves males, como lançar pedras, facas e outras ações deste gênero, infligindo também
golpes. Às vezes comparecem em aparência de bodes, de serpentes, de gatos ou de outras formas
animais ou monstruosas não bem definíveis. Por vezes provocam perturbações, por exemplo,
despertando os que dormem com o rumor de portas que batem, de passos pesados nos corredores ou
nos sótãos; ou arrancando as roupas, tirando as cobertas e os lençóis enquanto as pessoas estão na
cama. A tudo isso podem ser acrescentadas várias outras coisas do gênero. Considere-se que uma
pessoa vexada o pode ser em todos os lugares; invés, neste caso, a ação demoníaca extraordinária é
na habitação, no lugar e não diretamente na pessoa.

074) Também deve-se dizer que se trata de fenômenos nos quais é fácil ser vítimas de sugestão ou
de engano. Na maioria das vezes é frequente que fatos como aqueles acenados não sejam
atribuíveis a uma infestação diabólica da casa ou habitação, mas sim a uma ação vexatória do
maligno contra uma ou mais pessoas. Veremos, ao seu tempo, como o exorcista deve comportar-se
nestes casos.

CAPÍTULO V
CAUSAS DA AÇÃO EXTRAORDINÁRIA DO MALIGNO

075) Por ódio aos homens e para lhes causar dano os anjos maus, junto a uma ação ordinária,
exercem também uma ação extraordinária. Isto é apurado da experiência e confirmado pelo
Magistério da Igreja. A doutrina, por sua vez, ilustra de modo suficientemente claro as várias
especes da dita ação extraordinária.

076) O que permanece, invés, em boa parte escondido (muitas vezes com o turbamento do ânimo
de quem nisso reflete) é o porquê estas coisas acontecem. Isto, obviamente, não se diz em
referência ao maligno enquanto causa (autor) eficiente da ação extraordinária a ele atribuída. A
perversão dos espíritos maus, seu ódio e sua malícia são, de fato, razões evidentes e suficientes
para compreender o porquê eles procurem causar dano aos homens de todos os modos que lhe são
possíveis. O mistério é, invés, porque Deus permita a eles de agir nos modos vistos no capítulo
precedente.

077) O fato dos juízos de Deus serem em si ocultos não é um impedimento para refletir, à luz da
razão iluminada pela fé, sobre as causas da permissão divina à ação extraordinária do maligno.

078) Neste capítulo são expostas algumas verdades sobre este difícil argumento, que fazem parte
dos objetos de estudo da Teodiceia, ou seja, da ciência que indaga, entre outras coisas, a relação
entre a justiça de Deus e a presença no mundo do mal. Duas advertências a respeito.

079) A primeira é que a compreensão destas verdades pressupõe o conhecimento e a assimilação


daqueles princípios elementares de metafísica que de per si deveriam ser aprendidos no arco da
formação institucional para o sacerdócio, sobretudo no que tange o argumento das causas e suas
distinções. De fato, “verum scire est scire per causas” (o verdadeiro saber é saber através das
causas).

080) A segunda é que, tanto a Teodiceia natural ou filosófica, como aquela elaborada sobre base
teológica, não bastam a levantar completamente o véu estendido sobre o agir providencial de
Deus, que é e permanece um mistério; tanto menos servem para dar uma resposta a todas as
perguntas que surgem na mente do exorcista na consideração dos casos concretos que se lhe
apresentam.

081) A compreensão e a interiorização destas verdades podem, porém, ajudar muito, tanto ao
exorcista como aos seus pacientes, em vista do crescimento neles do santo temor de Deus e da
confiança inabalável que todo homem deve ter n’Ele.

*****
082) Toda transformação, todo devir, todo movimento tem uma causa. Deve-se, porém, admitir, sob
pena de absurdo, que na origem da cadeia de causas e efeitos existe uma causa privada de causa.
Dita causa é Deus, que por isto é chamado de Causa primeira. “Antes de mim não foi formado
algum deus nem depois será [...] eu sou Deus, sempre o mesmo desde a eternidade.” (Is 43, 10. 13).

083) Como Causa primeira, Deus concorre a todas as operações das criaturas (causas segundas),
tanto daquelas privadas de inteligência e de livre arbítrio (por exemplo, os astros nos seus
movimentos ou as plantas no seu crescimento), como daquelas por Ele criadas inteligentes e livres
(os anjos e os homens). Por este motivo Deus é chamado, além de Causa primeira, também Causa
universal. Se Deus não concorresse como Causa primeira e universal, nem uma folha se moveria,
nem um passo se poderia dar. “Todos de Ti esperam que lhes dê o alimento em tempo oportuno. Tu
o provês, esses o recolhem, Tu abres a mão, se saciam de bens. Se escondes o Teu rosto, deixam de
existir, tira-lhes a respiração, morrem e retornam ao seu pó. Mandas o Teu espírito, e são criados,
e renovas a face da terra.” (Sl 104, 27 – 30); “N’Ele, de fato, vivemos, nos movemos e existimos,
como também alguns dos vossos poetas disseram …” (At 17, 28).

084) À luz de quanto exposto, se consideramos cada ação do demônio na sua materialidade
devemos dizer que destas ações Deus é a Causa primeira, enquanto o demônio, criatura de Deus, é a
causa segunda. Na Sua sabedoria e bondade infinita, Deus dispôs que também os espíritos maus,
como todas as outras criaturas, possam exercitar suas operações segundo a natureza que Ele lhes
deu, sempre, porém, dentro dos limites por Ele estabelecidos.

085) Todavia, apesar de ser correto dizer que Deus concorre para a existência do demônio como
Causa primeira e universal, deve-se precisar que as ações do demônio devem ser atribuídas ao
demônio e não a Deus.

086) Tendo presente:


► que o conceito de causa é correlativo àquele de efeito (a causa é aquilo que provoca um
determinado efeito);
► que existem causas universais, ou seja, causas cuja ação se estende à totalidade dos indivíduos e
dos elementos de um determinado conjunto (o sol, por exemplo, é causa universal de todas as
formas de vida presentes sobre a terra);
► e que existem causas particulares, ou seja, causas cuja ação, ao contrário, é restrita a um único
indivíduo, a uma única coisa, ou a uma determinada categoria de indivíduos e de coisas;
quanto afirmado no n. 085 se explica com o fato que todas as operações de qualquer gênero são
sempre atribuídas às suas causas particulares, não àquelas universais.
Por exemplo:
► Uma águia vê um coelho e se precipita sobre ele para devorá-lo, mas não poderia fazê-lo se a luz
do sol, que é indispensável à vida da águia e do coelho e que ilumina a ambos, não lhe permitisse
de vê-lo. Apesar disto não se diz que foi o sol (causa universal) a devorar o coelho, mas sim a águia
(causa particular).
► Deus e um leão concorrem no desmembramento de um homem, todavia não se diz que Deus
(Causa prima e universalíssima) tenha desmembrado o homem, mas sim o leão (causa particular).
Assim, Deus e o demônio concorrem na vexação do homem, todavia não se diz que seja Deus a
vexar o homem, mas sim o demônio. De fato, Deus, com a Sua permissão, não concorre à ação
material do demônio como causa particular, mas só como causa universal. Portanto, as operações
do maligno se devem atribuir a ele, não a Deus.

087) Consideradas, pois, sob o aspecto da sua malícia, deformidade e defeito de retidão, não se
deve dizer que as ações do demônio são queridas ou ordenadas por Deus, mas que são apenas
permitidas por Ele.
De fato, se Ele as quisesse ou as ordenasse enquanto maliciosas, disformes e defeituosas de retidão,
Deus andaria contra Si mesmo pecando, o que é ilógico. Sendo onipotente, Deus não pode de modo
absoluto ter algum defeito e, em consequência, não pode pecar contra Si mesmo.
Ademais, se Ele o quisesse ou lhe comandasse porque más, Se mostraria malicioso e mau, o que é
absurdo. Deus, de fato, é a Verdade, a suma Bondade e a Perfeição absoluta.

088) O poder que os demônios têm de causar dano aos homens instigando-os ao pecado por meio
da tentação não pertence ao plano originário de Deus sobre eles, mas após a sua queda foi-lhes
consentido, só por Sua permissão. O mesmo deve-se afirmar sobre a faculdade que os demônios
têm de realizar ações extraordinárias para causar dano às criaturas.

089) No contexto deste capítulo é importante recordar que Deus costuma impedir ou reprimir a
crueldade dos demônios de dois modos: positivamente (ou seja, agindo) e negativamente (ou seja,
não agindo).

090) Deus Se contrapõe a esses positivamente (ou seja, agindo) quando afasta o seu ataque e quebra
a sua audácia com a Sua força divina, que é suma, infinita e perfeitíssima, tal que a essa ninguém
pode resistir. Tu fizeste o céu e a terra e todas as maravilhas que se encontram sob o firmamento.
Tu és o Senhor de todas as coisas e não há quem Te possa resistir, Senhor (Est 4, 17c).

091) Deus Se contrapõe ou afasta a potência inimiga negativamente quando subtrai o Seu concurso
aos mesmos demônios. Porque todas as causas segundas dependem da Causa primeira e sem o seu
influxo não podem nem existir nem operar, quando Deus, que é a Causa primeira e universal não
quer influir, as causas segundas não podem produzir nenhum efeito. É como se numa fábrica
faltasse a energia elétrica: tudo para. Quando Deus subtrai o Seu concurso às ações dos demônios, a
estes não resta senão a confusão “Oh esperança de Israel, Senhor, quantos Te abandonam ficarão
confusos; quantos se afastam de Ti serão escritos no pó, porque abandonaram a fonte de água viva,
o Senhor” (Jer 17, 13).

092) Ainda mais frequentemente Deus costuma impedir ou rejeitar os esforços dos demônios por
meio dos espíritos bem-aventurados aos quais é entregue o cuidado do mundo e confiada a guarda
dos homens. Uma vez que os Anjos se destacam pela dúplice força que eles desfrutam, isto é, a
força natural e a divina, Deus Se serve de preferência deles para reprimir a insolência dos espíritos
malignos. “Pois bem, quando oravas, tu e Sara, eu apresentei o memorial da vossa prece na
presença da claridade do Senhor. Da mesma forma o fiz, quando sepultavas os mortos. Porque não
hesitaste em levantar-te e deixar a refeição para ir sepultar um morto, eu fui enviado para pôr-te à
prova. Mas foi Deus também que me enviou para curar-te, e curar Sara, tua nora. Eu sou Rafael,
um dos sete anjos santos que assistimos diante da claridade do Senhor e entramos na sua
presença”” (Tb 12, 12 – 15).

093) Após estas premissas se põe a questão da razão da permissão divina ao agir extraordinário dos
demônios. Por que Deus, que é piedosíssimo e clementíssimo e poderia sem alguma dificuldade
impedir a tirania dos demônios, permite-lhes agir causando dano ao homem?

094) Acerca do porquê Deus permite a ação extraordinária dos demônios, a doutrina e a experiência
identificam as seguintes razões:
► às vezes Deus o permite como consequência da obstinação no pecado;
► às vezes Deus o permite para a conversão da pessoa;
► às vezes Deus o permite em reparação dos pecados;
► às vezes Deus o permite como provação dos Seus servos fiéis em vista de um maior exercício
das virtudes e para o seu crescimento;
► às vezes Deus o permite para a manifestação da potência de Cristo, para o esplendor da Igreja e
para a exaltação da potestade sacerdotal;
► sempre Deus o permite para a Sua glória e para o proveito dos eleitos;
► às vezes Deus o permite para fazer participar quem é vítima da ação maléfica do diabo aos
sofrimentos do próprio Filho para a salvação do mundo.

095) A doutrina e a experiência mostram também que se os pecados são muitas vezes a razão
principal do porquê Deus deixe que os homens sejam atormentados de modo extraordinário pelos
demônios, tais pecados não são só aqueles mortais, mas às vezes podem ser também os veniais; e
igualmente não são só os próprios, seja graves, seja leves, mas às vezes também aqueles dos outros,
por exemplo, dos pais.

096) Embora todos os pecados possam, por si mesmos, constituir uma razão suficiente para
desencadear a ação extraordinária do diabo, a doutrina e a experiência constatam que certos tipos de
pecados são mais frequentemente causas ocasionais da permissão divina da ação diabólica. Entre
estes devem ser mencionados:
► o temor ou o medo, como efeitos de profunda desconfiança em Deus;
► os pecados de orgulho ou de vanglória, dos quais procedem – como de uma mãe – a
desobediência, a hipocrisia e a desenfreada e ousada busca de novidades, que pode levar a erros na
fé ou mesmo à apostasia (isso acontece mais facilmente em ministros da Igreja e nas pessoas
consagradas);
► a avareza, da qual procede a fraude, o endurecimento do coração (em oposição à misericórdia) e
o roubo (quer simples, quer sacrílego), sendo o amor ao dinheiro a raiz de todos os males;
► a luxúria, entre cujas espécies deve ser contado em particular o incesto;
► a inveja, da qual um exemplo bíblico é oferecido na história do rei Saul e Davi;
► a gula, da qual procede a linguagem obscena e vulgar;
► a ira, da qual procede a blasfêmia, sobre a qual temos o exemplo de Himeneu e Alexandre em 1
Tim 1, 20;
► a preguiça, da qual procede a apatia na observância dos mandamentos de Deus, no cumprimento
dos deveres do seu próprio estado e, por fim, o desespero;
► a falta de cumprimento dos deveres do quarto mandamento em relação aos próprios pais;
► o abuso dos Sacramentos, especialmente da Penitência e da Eucaristia, bem como a zombaria
das coisas sagradas.
► a atuação de rituais maléficos operados contra o próximo, etc.

097) Nos casos comprovados em que a ação extraordinária do diabo tem como causa ocasional os
pecados dos outros, a doutrina e a experiência indicam que muitas vezes, entre esses pecados, estão
as maldições dos pais.

098) Entre as causas ocasionais que podem predispor e favorecer a continuação da ação
extraordinária do diabo, nos últimos anos a experiência exorcista constatou a frequência de algumas
situações de pecado ou de espécies particulares de pecados, tais como:
► pecados mortais jamais confessados ou não suficientemente reparados;
► graves injustiças cometidas;
► o ódio e a rejeição do perdão;
► atos que pretendem comprometer a integridade da pessoa e da vida;
► o atentar à fé dos pequenos;
► pecados que podem ser configurados como pecados contra o Espírito Santo, em particular, além
daqueles já mencionados, a presunção de salvar-se sem mérito, impugnar a verdade conhecida e a
inveja da graça alheia.

099) Sempre nestes últimos anos, a experiência exorcística mostra que frequentemente na origem
de uma ação extraordinária do maligno se encontram os seguintes acontecimentos,
independentemente do grau pessoal de responsabilidade moral com o qual os protagonistas os
viveram:
► ter participado e/ou também ter somente assistido a sessões espíritas;
► ter frequentado operadores ocultistas (cartomantes, quiromantes, adivinhos, médiuns, etc.) ou
praticado pessoalmente cartomancia, quiromancia, esoterismo, magia de qualquer espécie;
► ter usado amuletos e / ou talismãs, especialmente se recebidos de autênticos agentes ocultistas,
que frequentemente consagram tais objetos a espíritos infernais, com rituais específicos em certas
horas do dia ou da noite;
► possuir objetos pertencentes à magia dos países visitados, muitas vezes comprados como
lembranças, mesmo durante viagens turísticas; ou ter presenciado rituais de magia local, como
rituais de macumba ou vodu;
► ter praticado técnicas e terapias relacionadas à Nova Era (por exemplo: meditação
transcendental, reiki, etc.);
► ter-se submetidos a sessões para receber os chamados “fluidos que afastam as energias
negativas”, durante as quais a imposição das mãos era acompanhada por invocação verbal, ou
mental, de espíritos;
► ter sido membros das chamadas “comunidades mágicas” (são muitas, espalhadas por todo o
mundo e inspiradas pelos princípios do esoterismo e do ocultismo);
► ter frequentado os chamados movimentos religiosos alternativos ou ter participado de seitas,
grupos ou associações que praticam ritos de iniciação em forma esotérica e com rituais esotéricos;
► ter frequentemente escutado música e canções cuja mensagem é um convite ao culto de satanás
ou à violência, à necrofilia, à blasfêmia, ao assassinato, ao suicídio.
100) Enfim, a experiência exorcística contemporânea pôs também em evidência que a violência
sexual, sofrida na infância ou adolescência, pode predispor e favorecer a ação extraordinária do
demônio, especialmente se a vítima, no curso da vida, teve acesso a práticas que a enredaram ao
ocultismo.

101) Uma reflexão particular deve ser feita quanto às situações nas quais as vítimas da ação
extraordinária do maligno são crianças inocentes sejam batizadas sejam não batizadas. Na Divina
Sabedoria isso pode ser permitido em vista da salvação universal em união a Cristo Jesus.

102) Sto. Auxêncio da Bitínia, sacerdote e arquimandrita, disse depois que uma certa mulher lhe
trouxe um filho de cerca de três anos, possuído por um demônio: não pensem que esta criança
pecou e por isso é assediada por um espírito imundo, mas que isso aconteceu por nossa causa e
para a nossa conversão.

103) A sujeição diabólica, considerada em suas causas, requer algumas considerações à parte.
Muitos Autores apontam como única causa dela o pacto voluntário com o diabo (explícito ou
implícito), pelo qual, em alguns grupos sectários ou por simples iniciativa pessoal, uma pessoa se
submete ao senhorio do demônio através de ritos ocultistas, missas negras, aceitação do livrinho do
comando, etc.

104) Na realidade, existem outras causas de sujeição ao diabo, diferentes daquelas experimentadas
no contexto do satanismo, tanto personalista quanto ateu.

105) Essas causas podem ser identificadas, para usar as palavras do Papa Paulo VI, nas “seduções
ideológicas dos erros de moda, fendas, estas, pelas quais o Maligno pode facilmente penetrar e
alterar a mentalidade humana”.
Referindo-se às seduções ideológicas dos erros de moda, o Papa explica a ação do maligno como
um penetrar e alterar a mentalidade humana, isto é, como uma tendência do demônio não à posse
física do homem, mas à sua perversão e, portanto, à sua sujeição moral, que é exatamente o que
especifica a sujeição diabólica como ação extraordinária do demônio.

106) Do que foi dito, se infere que todas as escolhas existenciais em oposição à moralidade natural
e à revelação cristã e realizadas com determinação consciente (por exemplo, perversão sexual,
sadismo, idolatria do dinheiro, o louco desejo de dominação, etc.). ) podem ser causa de sujeição ao
maligno.

107) Para um homem colocar-se numa verdadeira sujeição a satanás, não é necessário que a sua
vida moral esteja por inteiro em oposição consciente à moralidade natural e à revelação cristã. Essa
oposição pode ser limitada somente a algumas áreas da vida, que no restante parece “normal”.

108) O maleficio, como causa instrumental da ação diabólica extraordinária, dada a sua
peculiaridade será tratado no capítulo seguinte.

109) No entanto, uma verdade deve ser afirmada como conclusão de todo raciocínio: Deus nunca
permite a ação do demônio neste mundo que não seja por um motivo da mais elevada justiça.
Portanto, no caso de uma ação diabólica em detrimento do homem, deve-se acreditar firmemente,
como Santo Agostinho ensina em De Civitate Dei, que os demônios não podem operar algo de
acordo com o poder de sua natureza senão com a permissão d’Aquele cujos julgamentos ocultos
são certamente muitos, mas nunca algum deles é injusto.

CAPITOLO VI
O MALEFÍCIO CAUSA DA AÇÃO EXTRAORDINÁRIA DO MALIGNO

110) Negar a existência de malefícios é negar a evidência de uma realidade que o passado e o
presente mostram atual em todos os momentos e em todos os lugares.

111) Em relação ao passado, há um “corpus”, um conjunto importante de textos antigos, por


exemplo gregos e romanos, que atestam a existência dos malefícios e seu uso. Estes textos nos
permitem, em muitos casos, até de saber como foram preparados ou confecionados. Além disso,
vários museus conservam e exibem objetos usados como instrumentos dos malefícios.
112) Em relação ao presente, aqueles que negam a realidade dos malefícios mostram apenas sua
própria ignorância, facilmente vencida documentando-se, por exemplo, acerca das modalidades e
da finalidade de alguns rituais de vudu (a este respeito, basta colher informações sobre as famosas
bonecas que devem ser perfuradas com agulhas e que é possível, já faz tempo, achar em muitas
lojas ou comprar pela Internet), ou também digitar num Motor de pesquisa da Web frases do
gênero “como posso fazer macumba ou um feitiço?”.

113) Os malefícios existiam e existem. Não é por nada que a análise das várias formas de
malefícios tem uma parte significativa no estudo da religião popular e do folclore, interessando a
sociologia das religiões enquanto área específica da sociologia.

114) A verdadeira questão é, portanto, outra: os malefícios podem ou não “funcionar”? O presente
capítulo aborda este assunto e outros relacionados a ele, expondo pontos da doutrina católica
sobre o malefício enquanto arte de prejudicar os outros por meio do demônio e, consequentemente,
sobre o malefício como possível causa de uma ação diabólica extraordinária.

*****

115) A noção de malefício como “arte de prejudicar os outros pelo demônio” inclui os seguintes
elementos: (1) arte (2) para prejudicar outros (3) por obra do demônio.

116) O malefício é antes de tudo uma arte.


► Neste contexto, a palavra arte não se refere à produção de obras realizadas de acordo com os
cânones da estética do belo, mas indica qualquer atividade humana baseada num conjunto de
conhecimentos, isto é, num saber, adquirido teoricamente ou através da experiência, e disciplinado
por um complexo de noções técnicas exatas.
► O malefício é uma arte porque é uma atividade humana baseada num saber adquirido (que na
sua raiz é diabólico) e é disciplinada por técnicas exatas (rituais).
► Os nomes com os quais são designadas as pessoas que praticam a arte do malefício são
diferentes. Aqui vamos usar para todos o termo genérico “maléficos” (operadores do oculto).
Maléficos encontram-se em todos os países do mundo em dezenas de milhares. Com certeza há
mais maléficos do que padres.
► Sobretudo nos países de economia avançada (os países “desenvolvidos”), muitos destes
maléficos (operadores do oculto) são apenas trapaceiros. Esta raça de embusteiros tem muitos
representantes entre aqueles que usam os meios de comunicação de massa para fazer publicidade de
si mesmos. Eles próprios não acreditam nos “poderes” que afirmam de ter e exploram a ignorância
religiosa e a credulidade das pessoas para ganhar dinheiro e, às vezes, até para abusar sexualmente
de seus clientes.
► No entanto, há maléficos que são verdadeiros operadores do oculto. Eles acreditam no que
fazem e estipularam um pacto explícito com o diabo, a quem eles servem pensando que podem
servir-se dele.
► Muito daquilo que os maléficos (operadores do oculto) produzem com sua arte é geralmente
indicado por palavras tais como feitiço, bagata, mandinga, macumba, bruxaria e outras.
Independentemente dos significados que a cultura popular atribui a estas realidades, por si a palavra
“feitiço” se refere apenas aos procedimentos mágicos, isto é, aos ritos com os quais o malefício é
preparado usando materiais que o maléfico considera adequados para alcançar o seu objetivo.
► A experiência mostra como os materiais com os quais os feitiços podem ser realizados são de
todos os gêneros, incluindo objetos sagrados. Usam-se, por exemplo, carne, alfinetes, ossos de
pessoas defuntas, sangue, sangue menstrual, sapos, frangos, imagens sagradas, fragmentos de
vestuário sacerdotal, hóstias consagradas, etc. Se o resultado final do feitiço pretende transformar
um objeto material num objeto maleficiado (enfeitiçado), este objeto pode ser de qualquer tipo:
alimentos, presentes, plantas, almofadas, bonecos, peluches, relógios, talismãs e até imagens
sagradas (existem, com efeito, rituais próprios que servem para enfeitiçar Crucifixos, imagens de
Nossa Senhora ou de um Santo qualquer), etc.
► Alguns chamam com o nome de “testemunha” seja o material usado para confeccionar
malefícios, seja os eventuais objetos maleficiados (enfeitiçados) obtidos (“carregados”) com o
feitiço.

117) O malefício é uma arte usada com o propósito de prejudicar os outros.


► Ainda que o malefício não pareça ter a intenção de danificar alguém (são poucos os casos em
que os malefícios têm uma aparência de inofensividade: por exemplo, quando são feitos para fazer
alguém se apaixonar por outro alguém), mesmo assim é sempre um ato nocivo do próximo, porque
visa condicionar de modo enganador e desonesto o livre arbítrio de uma determinada pessoa.
► Em todo o caso, além do dano que pode produzir na vítima, o malefício sempre prejudica a
todos por causa da dupla malícia que contém em si. Na verdade, é um pecado grave contra a justiça
e a caridade, por causa da injúria que inflige ao próximo; e sendo também um ato de superstição, é
um pecado grave contra a virtude da religião. Mais ainda, como ato de superstição, o malefício
sempre inclui um pacto explícito ou implícito com o demônio, que é o inimigo por excelência do
gênero humano.

118) O malefício é uma arte atuada com o propósito de prejudicar os outros por meio do demônio.
► O demônio é o agente principal do malefício, seja porque em cada caso a inspiração para fazê-lo
pode ser atribuída a ele, seja porque somente ele é a causa própria que pode produzir seus efeitos,
não o maléfico (operador do oculto) ou o feitiço que o maléfico realiza.
► Além de prejudicar determinadas pessoas, os demônios, por meio dos malefícios, sempre
perseguem dois fins de carácter geral. O primeiro é inclinar os homens a pensar e a agir duma
maneira supersticiosa. O segundo é fazer injúria a Deus e ofender a Sua providência, imitando a
economia sacramental, sobre a qual se apoia toda a história da salvação.
► Cada malefício comporta um pacto, ao menos implícito, com o demônio pelo qual o espírito
maligno depois opera (“se compromete” a fazer algo).
► O pacto com o demônio, no qual se funda a possível eficácia do malefício, pode ser explícito ou
implícito.
► O pacto com o demônio é explícito quando o demônio é invocado com palavras ou se realizam
ações pelas quais se sabe ou se pensa que o diabo irá cooperar.
► O pacto com o demônio é implícito ou tácito quando, para conhecer ou fazer alguma coisa, uma
pessoa usa meios vãos e naturalmente inadequados (que quer dizer que estes meios não são capazes
por si só de produzir o efeito desejado), de modo que quanto é feito exclui o concurso dos anjos
bons. De fato, nenhum anjo bom se oferece para ajudar uma pessoa que, contra o bom senso e a
regra da fé, usa meios vãos e inadequados para conhecer ou fazer algo. Pelo contrário, como ensina
Sto. Tomás, pelo fato de alguém usar coisas vãs, o diabo sempre se intromete, mesmo quando
aqueles que as usam não têm intenção de invocá-lo.
► Ao dizer que o malefício envolve um pacto com o demônio com base no qual o diabo depois
opera, não significa que o diabo, por causa do pacto, se sente obrigado a agir por acordos feitos e
pelo respeito à palavra dada. Isso pode ser pensado pelos maléficos e pelo resto dos homens que se
deixam enganar pelo maligno, mas a verdade é diferente. O pacto com o diabo, de fato, não é
comparável a uma operação contratual que estabeleça uma relação de justiça entre os contraentes.
Pelo contrário, todo pacto com o diabo produz uma sujeição ao maligno que lhe dá o poder de
exercer sua tirania, antes de tudo para com aqueles que lhe se submeteram e depois contra outras
criaturas, sempre dentro dos limites da permissão divina.

119) Os manuais da moral casuística geralmente apresentam apenas duas espécies de malefício, o
amatório e o venéfico. É possível, no entanto, distinguir vários tipos de malefícios, classificados de
acordo com o objetivo ou fim que o maléfico quer alcançar, a maneira ou modo com a qual a ação
maléfica atinge a pessoa, o gênero de operação que o maléfico realiza.

120) Com base no objetivo ou fim que o maléfico quer alcançar, o malefício distingue-se em:
► amatório, para favorecer ou destruir uma relação de amor com uma pessoa;
► venéfico, para infligir danos de vário gênero: físicos, psicológicos, econômicos e/ou familiares;
► de ligamento ou amarração, para criar impedimentos de vário gênero a uma pessoa (por
exemplo, no estudo, no trabalho, na oração, nas relações conjugais íntimas, etc.); esses
impedimentos, explicáveis como bloqueios psicológicos ou emocionais e, em alguns casos, mesmo
somáticos, não são o efeito da atividade imediata do demônio nas faculdades intelectuais e volitivas
da alma (porque a estas ele não tem acesso), mas de uma ação demoníaca nas faculdades sensíveis
do homem, ação que, em todo o caso, não pode impedir o livre arbítrio da vítima;
► de transferência, para transferir para alguém os tormentos infligidos em uma foto dele ou um
fantoche que o represente (neste tipo de maldade, fotos e bonecos atuam como fetiches, isto é,
objetos que funcionam como imagem ou receptáculo da pessoa que se quer atingir);
► de putrefação, para infligir um mal mortal, fazendo apodrecer um material sujeito a
decomposição que serve como fetiche da vítima;
► de possessão, para introduzir uma presença demoníaca na vítima e causar-lhe vexação, obsessão
ou uma verdadeira e própria possessão diabólica.

121) De acordo com a maneira ou modo pela qual a ação maléfica pretende atingir a vítima, o
malefício se distingue em:
► direto, se for infligido fazendo com que a vítima entre em contato com o objeto que é
considerado o portador do mal a ser infligido (por exemplo, fazendo com que ela beba ou coma
algo que foi “maleficiado” por meio de um feitiço);
► indireto, se a ação maléfica é realizada em um objeto que representa a vítima (por exemplo,
perfurando com um alfinete um boneco de pano ou de cera que serve como fetiche da pessoa a ser
atingida).

122) De acordo com o gênero de operação que o maléfico realiza, o malefício pode ser realizado:
► fixando ou pregando: com alfinetes, pregos, pontas, etc.;
► dando nós ou amarrando: com laços, nós, arreios, fitas, faixas, arame farpado, anéis, etc.;
► por maldição: lançada diretamente contra a pessoa ou por meio de uma foto ou de um fetiche
que a represente;
► por putrefação: enterrando, depois de o ter “trabalhado” ou enfeitiçado, um objeto capaz de
decomposição (como, por exemplo, um pedaço de carne), ou mesmo o corpo de um animal, ambos
agindo como fetiches da vítima que deve ser atingida;
► por destruição: por exemplo, com fogo (neste caso um fetiche da pessoa a ser atingida é
queimado várias vezes para obter na vítima uma forma de desgaste mais ou menos semelhante à da
“putrefação”);
► por rito satânico: por exemplo, celebrando uma missa negra ou realizando outro ato de culto
satânico, com a intenção explícita de prejudicar alguém.

123) Admitida pela fé a existência do demônio e a possibilidade de que Deus lhe permita agir em
detrimento do homem (por exemplo, pela tentação ou por ações vexatórias, como no caso de Jó), à
razão iluminada pela fé não repugna que os demônios possam também agir depois que foi feito um
malefício. Pelo contrário, à luz dos objetivos gerais que o maligno persegue através do malefício e
que foram expostos no n. 118, não é irracional supor que este seja o modo por ele “preferido”.

124) Enquanto os sacramentos produzem seu efeito ex opere operato, pelo que, postas as condições
para sua validade e eficácia, é absolutamente certo, pela fé católica, que Deus contribui
infalivelmente para produzir o efeito de cada um deles, isto não pode e não deve ser dito dos
malefícios.
Na verdade, mesmo se são postas todas as condições para que seja realizado um verdadeiro feitiço,
nenhum demônio pode tornar eficaz o malefício se Deus não o permitir.
Nos casos, então, em que Deus permite a eficácia dos malefícios, o diabo pode sempre e apenas
atuar dentro dos limites estabelecidos pela permissão divina e não é raro que Deus intervenha
atenuando ou reduzindo a ação maligna que o diabo queria levar a cabo. Por exemplo, se um
malefício foi realizado para provocar a morte da vítima, Deus poderia permitir que o demônio
apenas causasse uma doença ou algum outro mal (incluindo a possessão demoníaca), que
certamente são males menores do que a perda da vida.

125) A razão pela qual Deus permite sejam produzidos malefícios e que, em alguns casos, eles
sejam eficazes (ou seja, que os demônios possam se servir dos malefícios como causas ocasionais
para agir em detrimento do homem), é uma questão que se enquadra no objeto da Teodiceia e que
nestas Diretrizes já foi considerada no capítulo V; é um mistério mas, como nos recorda S. Paulo,
tudo concorre para o bem daqueles que amam a Deus (Rom 8,28).

126) Reitera-se que Deus não quer nem aprova os motivos e as maneiras pelas quais os demônios e
os homens iníquos combatem os Seus fiéis e também que tudo aquilo que os ímpios fazem contra
eles, Deus o dirige para os fins da Sua Providência. Como Deus não quer que haja pecados, mas,
uma vez cometidos, Ele os dirige para um bom fim, do mesmo modo Ele não quer os malefícios,
mas já que existem, os dirige a um bom fim. Ou seja, Deus permite os malefícios pelos bens que
procedem desta permissão, pois Ele sabe tirar o bem do mal.

127) Deus permite os malefícios:


► para respeitar o livre arbítrio humano.
► porque o bem que se lhe opõe seja conhecido mais claramente e mais ardentemente desejado.
► pelos muitos bens que a Sua Onipotência opera quando esses acontecem (maior glória de Deus,
esplendor e magnificência da Igreja, progresso e proveito dos bons, pena dos maus).

128) Exceto para algumas tipologias de malefícios que requerem uma iniciação, um malefício pode
ser feito por qualquer um. Hoje, infelizmente, podem ser encontrados facilmente livros que ensinam
vários modos de realizar malefícios segundo os fins que cada um se propõe e desta matéria Internet
tem ampliado enormemente a possibilidade do “faça você mesmo”.
129) Muitos dos que optam por alcançar seus objetivos por meio de um malefício preferem recorrer
a “operadores” no setor, mesmo que se deva distinguir, como já mencionado no n. 116, entre
verdadeiros maléficos e outros assim chamados, mas que na realidade são apenas trapaceiros.

130) Se não há dúvida de que a ação de um verdadeiro maléfico é, por si, sempre perigosa porque
certamente implica a entrada em cena do demônio, seria ingênuo pensar que o dirigir-se a maléficos
que são apenas trapaceiros não possa levar a sérias consequências.

131) Nos clientes dos maléficos que são só trapaceiros as graves consequências são certíssimas
primeiramente no plano moral. Mesmo enganando-se sobre eles, os seus clientes estimam estes
trapaceiros autênticos maléficos e a sua ação um feitiço verdadeiro e eficaz. Por isso, solicitando a
sua ação, tais clientes pecam gravemente contra o Primeiro Mandamento no sentido já explicado no
n. 117.

132) Ademais, os clientes dos maléficos que são só trapaceiros contraem, por causa das suas
intenções, um pacto pelo menos implícito com o demônio, como já explicado no n. 118. Por esta
razão, em linha de princípio, é razoável afirmar que Deus poderia punir o seu ato permitindo uma
ação extraordinária do maligno contra eles. Tratar-se-ia, em qualquer caso, porém, de uma punição
que tem um valor salvífico, ou seja, finalizada à sua salvação, segundo as razões já expostas no
capítulo V destas Diretrizes.

133) Pelo que foi dito, segue-se que é irracional e errado tranquilizar-se a si mesmo e aos outros
alegando o fato de que o malefício foi feito por um vigarista e não por um autêntico maléfico. Em
todo o caso, o único motivo para ficar sossegados só se pode basear na certeza de que Deus é um
Pai bom e um Senhor justo e que o homem que põe n’Ele toda a sua confiança é bem-aventurado.
“Tu que habitas ao amparo do Altíssimo, e vives à sombra do Onipotente, diz ao Senhor: «Meu
refúgio, minha fortaleza, meu Deus, eu confio em ti!» Ele te livrará do laço do caçador, e da peste
destruidora. Ele te cobrirá com suas penas, e debaixo de suas asas encontrarás refúgio. O braço
dele é escudo e armadura. Não temerás o terror da noite, nem a flecha que voa de dia, nem a peste
que caminha nas trevas, o extermínio que devasta ao meio-dia.” (Salmos 91, 1-7).

CAPÍTULO VII
A SUPERSTIÇÃO

134) Na perspectiva da ciência da qual o exorcista deve ser ornado, após ter chamado a atenção
para algumas noções fundamentais sobre Deus e o Seu agir providente, o demônio e a sua ação
ordinária e extraordinária, além do malefício como instrumento peculiar do agir diabólico para
causar dano ao homem, é necessário acenar para a superstição como ato do homem.

135) Trata-se de conhecimentos necessários ao exorcista, que de per si deveriam ser adquiridos no
período da formação institucional para o sacerdócio (os textos de moral sempre trataram do
argumento), mas que no contexto atual não podem mais ser dados por descontados.

136) É urgente recuperar a convicção de fé e de razão que o agir supersticioso, os atos de


superstição sejam da espécie que for, não são jamais inócuos, mas sempre produzem efeitos
negativos. Olhá-los com simpatia, como expressão de ingenuidade e de simplicidade, ou estimá-los
como valores enquanto elementos do folclore ou da cultura de um povo, significa ser pelo menos
em estado confusional sobre o caminho certo que conduz a Deus e sobre aquilo que nos afasta
d’Ele. Quem quer adorar a Deus, de fato, O deve adorar em Espírito e Verdade.

137) A superstição, ao contrário, é um vício que se opõe por excesso à virtude da religião, a qual,
segundo o ensinamento da Igreja Católica, nos dispõe “a render a Deus aquilo que Lhe devemos
enquanto criaturas”.

138) Infelizmente, com a superstição (1) ou se oferece a Deus um culto que não Lhe se deve
oferecer, ou o culto Lhe é oferecido de modo indevido; (2) ou se oferece um culto a quem não se
deve oferecer.
Para este argumento reenviamos também ao Catecismo da Igreja Católica do número 2110 ao
2117.

*****
139) Há duas espécies de superstição.
► A primeira consiste num culto inadequado ou inconveniente com o qual se pretende honrar o
verdadeiro Deus. Isso acontece quando se quer honra-Lo com uma modalidade ilícita, falsa ou
supérflua, ou indecente, e – seja como for – de modo contrário ou fora dos costumes e das
prescrições da Igreja.
► A segunda é por causa da realidade que se venera e que invés não se deve venerar. Isso acontece
quando o culto devido a Deus é tributado a um falso deus ou a uma criatura.

140) Entram na primeira espécie de superstição:


► o venerar a Deus com cerimônias que significam que Cristo deve ainda vir e não chegou ainda;
► o introduzir falsas relíquias para venerar;
► pregar ou imprimir falsos milagres;
► fingir falsas revelações e coisas do gênero.
Em todos estes casos, quanto à matéria, a superstição é pecado mortal, porque inflige a Deus,
Verdade Primeira, uma grave injúria e irreverência e funda a virtude da religião na falsidade.

141) Entram ainda na primeira espécie de superstição:


► o venerar a Deus com ritos ou cerimônias que não servem à glória do mesmo Deus, andando
contra as rubricas dos livros litúrgicos e/ou acrescentando cerimônias não prescritas;
► obrigar-se nos atos de culto a Deus a observar uma certa disposição do corpo, a fazer
determinados gestos, a recitar um preciso número de orações e outras coisas do gênero, todas além
ou contra o costume da Igreja e aquilo que vem prescrito por Ela como necessário ou útil.

142) Entram ainda na primeira espécie de superstição o venerar a Deus com palavras, fatos e coisas
que servem mais à Sua ofensa que à Sua glória e louvor, como usar nos atos de culto música, canto,
tom, voz, palavras, gestos, instrumentos e outras coisas do gênero que provocam a lascívia ou
impureza antes que excitar o louvor a Deus e a devoção do povo.

143) Na experiência exorcística se releva que muito frequentemente os operadores do oculto


pressionam os seus clientes a realizar atos de culto falso ou supérfluo, ou indecente, e – seja como
for – contra ou além dos costumes e das prescrições da Igreja. A título de exemplo:
► uso impróprio de água benta tomada às escondidas das pias de água benta de um certo número
de igrejas, por exemplo sete, senão não seria eficaz;
► visitas a igrejas ou a lugares sacros a serem feitas segundo precisas – e irracionais –
modalidades;
► orações a serem recitadas nas quais estão inseridas cifras numéricas que devem ser repetidas
como um mantra;
► recitar orações ou fórmulas inserindo nelas augúrios de mal;
► fazer abençoar uma casa por 30 dias em seguida, senão a bênção não seria eficaz;
► girar em torno de uma pessoa durante uma certa oração senão aquela oração não será eficaz;
► fazer orações nas encruzilhadas das estradas, a certas horas do dia ou da noite;
► executar ou fazer executar em casa orações ou bênçãos estranhas, com lengalengas, com uso de
velas de cores diversas ou de crucifixos com fitas coloridas, etc.

144) Pertencem à segunda espécie de superstições a idolatria, a magia, a adivinhação, a vã


observância e o malefício, este último já tomado em consideração no capítulo precedente.
Não entra nos objetivos destas Diretrizes ocupar-se detalhadamente da idolatria, da magia nas suas
duas espécies (natural e supersticiosa ou diabólica), assim como da adivinhação nas suas numerosas
espécies. É invés útil recordar algumas noções relativas à vã observância.

145) A vã observância (ou culto vão) se funda sobre a atribuição a certas coisas de um poder
misterioso e independente da ação do homem, mas que na realidade por natureza essas não
possuem.
A vã observância é ordenada ao conhecimento prático de algo a se fazer ou a omitir. Essa, com o
escopo de obter ou de impedir algum efeito, usa meios que na realidade são inúteis e
desproporcionados, porque nem por Deus, nem pela natureza receberam qualquer eficácia, nem
pela Igreja são regulados para este fim.
Quem pratica a vã observância pensa que o simples contato com determinadas coisas, ou o fazê-las,
comporte felicidade ou infelicidade, por isso procura entrar em contato com aquilo que traz sorte
(por exemplo, um trevo de quatro folhas ou um amuleto) e de evitar encontrar ou de fazer aquilo
que dá azar (por exemplo, não começar uma viagem em certos dias ou evitar encontrar certos
animais).
146) A vã observância se distingue em três espécies: a arte notória, o culto da cura e o culto dos
eventos. Em todas estas três espécies se tem a invocação do demônio, expressa ou tácita (implícita).

147) A arte notória é a superstição pela qual, recitando algumas orações formadas por palavras
desconhecidas, praticando determinados jejuns, usando determinados sinais e outros meios do
gênero absolutamente inúteis em si, se espera a infusão ou a aquisição de uma ciência sem algum
esforço em estudá-la. Se no uso destes meios ocorresse que a pessoa mostre de improviso uma
ciência que antes não possuía (por exemplo, falar línguas precedentemente ignoradas, etc.) é
evidente que a arte notória foi causa ocasional de possessão demoníaca.

148) O culto da cura é a superstição pela qual meios sem valor e de per si inúteis são usados para
conservar ou recuperar a saúde física ou psíquica dos homens. Por exemplo, empregando e
aplicando nomes desconhecidos, determinadas palavras, certos invólucros, certos sinais, um certo
número de cruzes e de orações e outras coisas inúteis do gênero, se pretende:
► sanar as enfermidades, curar as feridas, mitigar as dores, estancar as hemorragias;
► tornar a si mesmos, ou outros, invulneráveis ou impenetráveis a golpes de armas de vários
gêneros (armas de corte, armas de fogo, etc.);
► tornarem-se imunes a possíveis danos que pessoas, tidas como hostis, poderiam infligir.
Sendo certo que todas as coisas supracitadas e outras semelhantes, não são ordenadas para tais fins
nem por Deus, nem pela natureza, nem pela Igreja, se às vezes isso acontece, é evidente que
acontece com o concurso do demônio implicitamente invocado.

149) Desta superstição se devem considerar culpados também aqueles que trazem medalhas, cruzes
bentas e coisas do gênero, ou recitam versos da Sagrada Escritura ou outras orações esperando
infalivelmente a saúde ou qualquer outra utilidade. A razão é que, além dos Sacramentos e de
algumas espécies de sacramentais, nenhuma coisa ou palavra sacra produz por si mesma de modo
infalível um efeito. Portanto, aqueles que esperam deste modo, na realidade o esperam não de Deus,
mas do demônio por meio da sua implícita invocação.
É diverso, invés, se por meio de medalhas, cruzes bentas e coisas do gênero, ou recitando versos da
Sagrada Escritura ou outras orações, se implorassem os supracitados efeitos com confiança em
Deus, confiando na Sua bondade e nas Suas promessas e sem presunção de infalibilidade (ou seja,
não considerando que o mero uso de coisas sacras o a recitação de determinadas palavras obriguem
a Deus a escutar). Em tal caso, seria uma coisa pia e não supersticiosa.
Estes princípios o exorcista os deve sempre recordar e ensinar, sobretudo quando usa ou aconselha
usar meios como água benta, óleo ou sal exorcizado, etc.

150) O culto dos eventos é a superstição pela qual alguém, do encontro ou do esbarrão com algo de
não pertinente, prognostica a si ou a outros um futuro bom ou ruim, ou em base a isto regula as suas
ações. As coisas não pertinentes podem ser o encontro fortuito com determinado tipo de pessoa,
cruzar-se com o cadáver de um animal, ouvir o piado de um passarinho, escutar ao longo do
caminho determinadas palavras e tantíssimas outras coisas do gênero.

151) Exemplos de crenças supersticiosas ligadas a coisas ou fatos que trariam azar:
► encontrar-se com um gato preto que lhe cruza o caminho (daí é necessário não prosseguir por
aquele percurso e mudar o caminho);
► escutar o pio de uma coruja;
► passar sob uma escada;
► quebrar uma garrafa de óleo;
► quebrar um espelho;
► cruzar os braços no momento em que quatro pessoas se dão a mão;
► abrir o guarda-chuva em casa;
► pôr o chapéu sobre a cama;
► receber lenços de presente;
► numa gravidez, ter as pernas cruzadas ou pregar um botão numa roupa estando vestido com ela;
► comprar ou receber de presente um carrinho de bebê antes do nascimento da criança;
► iniciar uma atividade ou viagem ou tomar decisões em certos dias da semana ou do mês;
► lidar com os números 13 ou 17;
► no jogo, mudar de lugar para evitar a má sorte;
► não aceitar um convite no qual, com a própria presença, os comensais seriam treze, pois um
destes deveria morrer em breve, visto que dos treze comensais da Última Ceia um morreu (Cristo
ou Judas);
► estar certos de que acontecerá algo de infausto a quem encontra pela rua um sacerdote de batina.

Exemplos de coisas, de gestos ou de fatos que dariam sorte ou que protegeriam do azar:
► cruzar os dedos;
► fazer o gesto de chifres com os dedos;
► tocar ferro quando se fala de algo arriscado ou enquanto passa um carro fúnebre ou também
quando se escuta o som de uma sirene; ou pelas mesmas coisas descritas, tocar-se os genitais;
► trazer consigo um “chifre da sorte” vermelho o de ouro, pendurado por uma correntinha ao
pescoço ou no pulso ou no bolso ou pendurá-lo atrás da porta de casa ou no espelho retrovisor do
carro;
► ter em casa ou trazer no carro, como amuleto, um bonequinho de plástico que representa um
corcunda que traz um chapéu cilíndrico, tem numa mão uma ferradura e na outra faz o gesto dos
chifres dirigido para baixo, e na parte inferior, invés das cochas e das pernas, acaba em forma de
“chifre da sorte” vermelho;
► encontrar um corcunda, melhor ainda se se lhe toca a corcunda;
► pôr na entrada da própria casa ou atrás da porta de casa alho, milho ou uma ferradura como
proteção;
► trazer no pescoço como pingentes objetos de marfim de elefante, coral, âmbar negro, presas,
mãozinhas negras, signos zodiacais, etc.;
► vestir de proposito em momentos importantes da própria vida (um exame escolar, um negócio,
um encontro, etc.) os mesmos vestidos que se usavam em circunstâncias particularmente positivas
do próprio passado;
► comer uva passa ou lentilha na noite da passagem do velho para o ano novo, com a convicção
que isto nos assegurará no novo ano tanto dinheiro para contar;
► jogar uma moeda em certas fontes exprimindo um desejo;
► encontrar um trevo de quatro folhas;
► ter ramos de visco em casa no último dia do ano;
► vestir indumentos íntimos de cor vermelha no último dia do ano.
e tantas outras (quase infinitas) superstições iguais.

152) Seguem agora algumas regras gerais, tiradas da doutrina comum, em matéria de superstição.

153) Regra primeira: Quando se atribui uma importância em alguma medida mágica a certas
práticas, ainda que legítimas ou necessárias, ou se atribui apenas à materialidade das orações ou dos
sinais sacramentais a sua eficácia, prescindindo das disposições interiores que requerem, isso é cair
na superstição.

154) Regra segunda: Todas as vezes que em certas coisas, em determinadas palavras, em alguns
fatos, em específicos sinais, figuras ou caracteres, e em outras coisas do gênero se crê estar presente
uma qualquer força capaz de realizar efeitos sem que uma tal força derive nem da sua natureza,
nem de Deus, nem por instituição da Igreja, sempre há superstição.

155) Regra terceira: Sempre que orações, caracteres, sinais são empregados para atingir
determinados efeitos, se estas orações, caracteres, sinais são
► desconhecidos (obscuros),
► ou vãos, frívolos, ou falsos,
► ou conhecidos e em si bons e santos,
e a esses são misturadas indicações referentes ao seu uso (modos, números, tempos, lugares,
pessoas, etc.) que resultam ser vãs, inúteis e absolutamente não pertinentes a produzir o efeito
desejado, sempre é superstição.

156) Regra quarta: Todas as vezes que sobre a base de coisas, palavras, fatos, escritos, sinais em si
mesmo bons e sãos, se assegura, se promete ou se crê de dever obter infalivelmente o efeito
entendido, mas nem da parte de Deus, nem por instituição da Igreja se encontra naquelas coisas,
palavras, etc., a capacidade de fornecer infalivelmente um tal efeito, sempre é superstição.

157) Regra quinta: Todas as vezes que as coisas sacras são usadas para efeitos vãos e inúteis, ou são
empregados sinais ou coisas vãs e inúteis para obter qualquer efeito por si útil, é sempre
superstição.
158) Regra sexta: Devem ser tidos como supersticiosos os meios empregados para obter ou impedir
algo se a esses se misturam, como necessárias, coisas vãs, ineptas e ridículas.
Deus, de fato, não Se mistura a coisas vãs e ridículas, sejam essas na ordem do fim, sejam essas na
ordem dos meios; portanto nestas circunstâncias não se pode esperar um efeito senão do demônio.

159) Regra sétima: Quando se duvida prudentemente se alguma coisa produz um efeito por uma
força natural desconhecida ou por uma força preternatural e, portanto, diabólica, antes de usar
aquela coisa é necessário resolver a dúvida de modo a excluir a força diabólica. Jamais é permitido,
de fato, usar um meio do qual se duvida se seja lícito ou não. E valer-se da força diabólica é sempre
ilícito.

160) Regra oitava: Quando se está certo de que o efeito produzido por uma coisa não pode ser
atribuído a alguma força natural e, todavia, se duvida se esse venha de Deus ou de um demônio, não
se deve usar a dita coisa se não se resolve a dúvida a favor de Deus. Valem as mesmas razões
expostas no número precedente.

161) Regra nona: Quando por algum homem, de boa fama e de grande engenho, é realizado algo de
extraordinário, deve-se concluir que isso tenha sido feito ou de modo natural ou de modo
sobrenatural, antes que pensar que foi feito de modo supersticioso e, portanto, diabólico. A razão
principal é que ninguém se deve presumir ser mau, se não se prova ser tal. Ademais, porque de
quando em quando acontece realmente que algo seja realizado de modo sobrenatural, isto é, por
milagre; Deus, com efeito, opera por meio dos Seus santos.

162) Regra décima: Quando por algum homem, de péssima fama e de provada maldade, é realizado
algo de extraordinário, pode-se prudentemente suspeitar, até prova contrária, que isso tenha sido
feito de modo natural ou de modo supersticioso e, portanto, diabólico. “Pode-se colher, por acaso,
uva de espinhos, ou figos de espinheiros? Assim toda árvore boa produz frutos bons e toda árvore
má produz frutos maus; uma árvore boa não pode produzir frutos maus, nem uma árvore má
produzir frutos bons… Dos seus frutos, portanto, os podereis reconhecer.” (Mt 7, 16 – 18. 20)

163) Regra undécima: O exorcista, lembrado também do que prescreve o RR n. 8 (… cuide o


Exorcista que não se pratique alguma superstição ou qualquer outro procedimento ilícito), deve
empenhar-se por verificar se nos seus pacientes há traços de crenças e hábitos supersticiosos e,
então, os remova, porque se pode acontecer que a superstição em um determinado caso não tenha
sido a causa ocasional do distúrbio diabólico, certamente em todos os casos é um elemento que
retarda a libertação.

CAPÍTULO VIII
A LIBERTAÇÃO DA AÇÃO EXTRAORDINÁRIA DO MALIGNO:
SUAS NOTAS ESSENCIAIS E ERROS POSSÍVEIS

164) Ajudar os fiéis na luta contra a ação ordinária do diabo, para que cada um possa resistir
vitoriosamente às suas tentações, vivendo na graça de Deus e alcançando a plenitude da própria
estatura em Cristo, é dever de todo sacerdote, seja qual for o ministério a ele confiado.

165) Os meios desta assistência são a educação (explicação da Palavra de Deus e ensino da
doutrina cristã), o conselho e a direção espiritual, a celebração dos sacramentos e sacramentais,
unidos ao exemplo de uma vida sacerdotal coerente, coisas pelas quais não se exige uma licença de
exorcista.

166) A finalidade específica do ministério exorcístico consiste, pelo contrário, na libertação da


ação extraordinária do maligno, que o espírito impuro efetua numa das formas expostas no
capítulo IV destas Diretrizes

167) Antes de examinar as condições exigidas para a libertação da ação extraordinária do maligno
e o modo pelo qual o exorcista deve proceder para obtê-la, é necessário esclarecer as notas que
caracterizam toda autêntica libertação, alertando sobre os possíveis erros nos quais os exorcistas
podem cair pela ignorância delas ou pela sua desconsideração.

*****
168) A libertação da ação extraordinária do maligno é, no sentido estrito, um milagre, ou seja, uma
ação de Deus na natureza, que, todavia, é realizada fora das leis da natureza (isto é, fora das
possibilidades da natureza). Consequentemente, como para todo verdadeiro milagre, também a
libertação deve ser
► um fato constatável empiricamente,
► não devido a causas naturais ou preternaturais,
► operado pelo próprio Deus.

169) O fato de que a verdadeira libertação seja um evento empiricamente verificável, além de ser a
primeira nota essencial que a especifica como um evento milagroso, é também uma condição
necessária para que o exorcista alcance a certeza moral de libertação da ação extraordinária do
maligno.

170) Isto não significa que o exorcista deva “ver” o demônio que foge no ato em que ocorre a
libertação. Se isso fosse necessário, os exorcistas poderiam ser tentados a suprir sua própria
incapacidade de “ver” o diabo fugindo recorrendo a carismáticos ou a sensitivos que assegurem que
o maligno se foi realmente. Isto, porém, é um erro:
► primeiramente, porque é sempre e somente o exorcista que, pelo mandato da Igreja, é
responsável pelo discernimento, tanto da ação diabólica extraordinária quanto da libertação
realizada;
► no caso de sensitivos, porque nenhum deles pode ser considerado confiável, uma vez que eles
agem sob a influência de forças preternaturais (isto é, diabólicas);
► no caso dos carismáticos, porque se daria origem a uma situação sem sentido: em vez de fazer o
discernimento sobre a vítima do diabo, o exorcista, a quem a Igreja confia a responsabilidade do
discernimento, seria obrigado, em consciência, a fazer o discernimento sobre a credibilidade da
pessoa do carismático caso por caso e vez por vez.

171) Nos casos em que a ação extraordinária do maligno consiste em uma possessão diabólica, a
constatação empírica da liberação não deve consistir em comprovações externas, como
► velas para ser apagar,
► ou vidros para ser quebrados,
► ou sinos a serem tocados por eles mesmos no ato em que o diabo é finalmente posto em fuga
definitivamente.
Mesmo se no passado essa fosse uma orientação bastante comum na prática exorcista, tais
evidências não são confiáveis, já que não há compromisso da parte de Deus em garantir sua
confiabilidade. A experiência, por sua vez, mostrou que frequentemente o diabo tenta enganar o
exorcista dando este tipo de sinais e obstinadamente continuando sua ação extraordinária
perturbadora.

172) Pelo contrário, os sinais empíricos certos e evidentes da libertação são:


► a cessação total e permanente dos distúrbios pelos quais tinha-se recorrido ao exorcista (este
sinal aplica-se à libertação de todas as espécies de ação diabólica extraordinária);
► a hilaritas ou iucunditas (alegria, contentamento, felicidade, letícia, júbilo, serenidade) que o
paciente experimenta no ato em que adverte ter sido liberto e que perdura (este sinal, juntamente ao
precedente, reveste uma particular importância na libertação da possessão diabólica).

173) No caso de possessão diabólica, mesmo que o demônio parecesse ter ido embora e/ou o
próprio paciente estimasse ter sido libertado por completo, o exorcista não deve parar até ver os
sinais de libertação acima mencionados.

174) A segunda nota do autêntico milagre é que o fato constatado empiricamente não pode ser
causado por forças naturais ou preternaturais. Isso se aplica perfeitamente à libertação da ação
extraordinária do maligno:
► primeiro, porque nenhuma força criada, de natureza inferior à natureza angélica, pode
eficazmente se opor ao demônio e tanto menos vencer ou subjugar a si seu poder;
► segundo, porque sendo as forças preternaturais só e exclusivamente forças demoníacas, é
absurdo pensar que satanás expulse satanás.

175) Pertence, invés, à mentalidade supersticiosa (cujos fautores e mestres são os próprios
demônios) a convicção de poder se defender da maldade dos espíritos maus:
► utilizando meios naturais;
► ou através da força obtida mediante sinais ou instrumentos artificiais tidos como eficazes em si
mesmos.

176) Pertence, ainda, à mentalidade supersticiosa a persuasão de poder subjugar e explorar o poder
demoníaco em seu próprio benefício:
► ou com os mesmos meios acima ditos;
► ou através de um pacto ou acordo com o maligno, ao qual o espírito imundo ficaria obrigado,
como é o caso daqueles que confeccionam malefícios.

177) Deve ser reiterado que as convicções supersticiosas apresentadas nos nn. 175 e 176 não têm
base alguma. Essas convicções não são nada além de enganos perpetrados pelos espíritos malignos
para sujeitar os homens a si mesmos. De fato, o diabo não pode ser afastado por meios naturais ou
pelas forças do homem; quanto menos pode ser acorrentado às coisas materiais e forçado a se
submeter à vontade humana, porque todas as coisas corporais que estão no universo visível estão
naturalmente sujeitas aos espíritos angélicos. Também é ilusório acreditar que os demônios
concordem em se colocar no mesmo nível dos homens e se sintam obrigados a respeitar um “pacto”
feito por eles com um ser humano qualquer.

178) Insiste-se, portanto, que nenhuma libertação de uma ação extraordinária do maligno é possível
pelo recurso a meios naturais ou a qualquer força criada. Por isso, especialmente em casos de
possessão diabólica real, o exorcista deve proceder de forma a não repetir erros já cometidos no
passado por alguém, como
► considerar certos remédios naturais eficazes para conseguir a libertação do demônio e obrigar
seus próprios pacientes a usá-los;
► fazer com que os pacientes sofram aflições corporais (espancamentos, inalações de vapores
nauseantes, maus-tratos de vários tipos, etc.), pensando que assim o diabo é forçado a se afastar.

179) A terceira nota do autêntico milagre é que o fato constatado empiricamente, não podendo ser
causado por forças naturais ou preternaturais, tem como autor somente Deus. E isto é exatamente o
que acontece na libertação do demônio, operada pelo exorcista como ministro de Cristo e da Igreja.
De fato, “nos exorcismos a Igreja age não em nome próprio, mas unicamente no nome de Deus ou
de Cristo Senhor, ao qual todas as coisas, mesmo o diabo e os demônios, devem obedecer e ao qual
estão sujeitos.” (DESQ n. 12).

180) Uma vez que o libertador é apenas Deus e Seu Filho Jesus Cristo, fica bem claro que nenhuma
res sacra (coisa sagrada) pode realizar por si própria a libertação do demônio se Deus não contribui
para isso.
Certamente o Senhor prometeu à Sua Igreja de concorrer infalivelmente na confecção dos
Sacramentos e de alguns sacramentais, entre os quais se deve contar o exorcismo litúrgico, mas
sempre respeitando as condições de sua validade e, em relação aos efeitos, as condições de sua
eficácia. Fora disso, Deus não se quis obrigar.

181) As consequências são várias. Uma destas é que, entre as fórmulas exorcísticas litúrgicas, não
há alguma que em si seja mais “poderosa” e eficaz que outra (ainda mais se forem fórmulas
exorcísticas privadas que faltam de aprovação eclesial).
Uma outra é que algumas das res sacrae (coisas sagradas) que o exorcista pode utilizar no exercício
de seu ministério (como água benta, óleo exorcizado, estola sacerdotal ou a imposição de suas
próprias mãos) não obrigam a Deus a concorrer de maneira infalível para forçar o demônio a se
manifestar em uma pessoa possuída, nem a sair dela. E pode-se ter certeza de que Deus não
concorrerá se essas res sacrae forem usadas indevidamente, de forma ridícula, indecente ou
supersticiosa.

182) No passado, fizeram amarga experiência disso alguns exorcistas que, presumindo a eficácia
infalível das mencionadas res sacrae, impuseram suas mãos sacerdotais em todo o corpo das suas
pacientes possuídas pelo diabo, ou, com óleo exorcizado, as ungiram em todos os cantos, incluindo
suas partes íntimas. Quer por ingenuidade excessiva, quer por falso zelo (em todo caso sempre por
falta de bom senso e obediência às normas explícitas da Igreja), estimulados a agir assim pelas
reações do maligno (que se mostrava extremamente aflito pelo toque de suas mãos sacerdotais ou
pela unção do óleo), no final esses exorcistas só conseguiram cometer pecados carnais, com sérios
danos à sua própria alma e à alma de seus pacientes e com escândalo e detrimento de seu
ministério.
CAPITULO IX
EXORCISMOS E EXORCISTAS

183) Antes de expor as coisas mais necessárias que a Igreja prescreve e a sã doutrina ensina
quanto ao ministério do exorcista, é necessário pôr como premissas algumas noções de caráter
geral referentes aos exorcismos e aos exorcistas. A importância destas noções se renderá por si
mesma evidente.

*****

184) Por exorcismo se entende uma ação (ou seja, um conjunto de palavras e/ou de gestos)
finalizada à expulsão do demônio do corpo de um possesso, ou empreendida para impedir ou para
atenuar qualquer outra ação extraordinária do maligno, perpetrada para o dano de pessoas ou de
coisas das quais o homem se serve.
Normalmente a repetição de tais ações se consolida e está na origem de rituais de exorcismo.

185) Para explicar o exorcismo, a tradição da Igreja Católica Latina, junto a outros vocábulos,
privilegia o termo “adiuratio” (literalmente traduzível com “esconjuro”). O DESQ, no n. 11, prefere
usar o termo “petitio” (literalmente traduzível com “pedido”).
Segundo o contexto no qual vêm usados, ambos estes vocábulos exprimem, todavia, o mesmo
conceito de oração (súplica) dirigida a Deus ou de comando (ordem) dado ao demônio. Se se usam
dirigidos a Deus têm, de fato, significado de súplica; se se usam dirigidos ao demônio, têm
significado de comando.

186) São dois, portanto, os modos para se fazer um exorcismo:


► ou mediante uma “adiuratio” (“petitio”) que é súplica, invocação de ajuda, prece dirigida a
Deus, para que intervenha e liberte do maligno e da sua influência nefasta;
► ou mediante uma “adiuratio” (“petitio”) que é comando, ordem, império, dado ao espírito do mal
para que deixe o possesso e/ou cesse de agir para dano do homem.
Estes dois modos de pôr em ato um exorcismo não estão em contraposição e ambos são necessários.
Dita necessidade se compreende das fontes da Revelação, da normativa e da eucologia dos
Sacerdotais e dos Rituais usados pela Igreja no curso dos séculos, pela doutrina e pela consolidada
experiência exorcística.

187) No âmbito da Igreja Católica Latina, distinguem-se dois gêneros de “adiuratio” (“petitio”), ou
seja, de exorcismo: exorcismo público e exorcismo privado.
Trata-se de uma classificação doutrinal, que tem suas origens na linguagem jurídica, que conserva
inalterado o seu valor e à qual, no presente, não se pode renunciar sem dar ocasião a mal-entendidos
e erros.

188) O exorcismo público é uma verdadeira e própria ação litúrgica, do gênero dos sacramentais
(cfr. DESQ n. 11).
O adjetivo “público”, no sentido estrito com o qual é empregado pela doutrina, não significa que o
exorcismo deve ser feito diante de todos, ou seja, que ao exorcismo pode participar ou intervir
qualquer pessoa.
Significa, ao contrário e exclusivamente, que este gênero de exorcismo empenha a Igreja como tal,
ou seja, que o exorcismo é feito em nome da Igreja.
Consequentemente, para celebrar um exorcismo público se requer, como para todos os Sacramentos
e sacramentais:
► um ministro idôneo
► que realize o exorcismo segundo ritos aprovados pela Igreja
► e com a intenção de fazer aquilo que faz a Igreja.

189) O exorcismo privado, no sentido estrito com o qual dele fala a doutrina, não significa que o
exorcismo seja feito às escondidas, evitando toda forma de notoriedade.
Ao contrário, o adjetivo “privado” indica exclusivamente que a ação exorcística é privada de valor
litúrgico e, consequentemente, a Igreja como tal não se empenha na sua realização.
Qualquer “adiuratio” (“petitio”), seja deprecativa (prece endereçada a Deus), seja imperativa
(comando dado ao demônio), que não tenha uma das três notas que especificam o exorcismo como
público é necessariamente exorcismo privado.
190) Pertencem, portanto, ao gênero do exorcismo privado também as assim chamadas “orações de
libertação”. Sobre isso:
► É errado afirmar que as “orações de libertação” não são exorcismos pelo fato de serem diversas
daquelas contidas nos Rituais dos exorcismos aprovados pela Igreja. Como a oração de louvor ou
aquela de cura se qualificam pelo seu fim de dar glória a Deus ou de impetrar a cura de um enfermo
e não do ser ou menos inseridas em livros litúrgicos aprovados pela Igreja, assim as “orações de
libertação” se definem em base ao seu objetivo, que é aquele de libertar da ação extraordinária do
maligno (não importa se de modo deprecativo ou de modo imperativo). E toda ação (palavras e/ou
gestos) que tenha esta finalidade “libertadora” é um exorcismo.
► As “orações de libertação” permanecem exorcismo privado mesmo quando são proferidas por
bispos ou por sacerdotes legitimamente deputados ao ministério do exorcistado. Isso por causa da
ausência de uma das notas necessárias para tornar “pública” uma oração de exorcismo, ou seja,
realizá-la segundo ritos específicos aprovados pela Igreja.
► Nenhum livro ou opúsculo que contém “orações de libertação”, se privado de peculiar aprovação
eclesiástica, deveria ser usado por quem quer que seja, em razoável aplicação do cân. 826 § 3: “Os
livros de oração para o uso público ou privado dos fieis não sejam publicados se não com licença
do Ordinário do lugar”.

191) A eficácia do exorcismo privado, mesmo dependendo totalmente de Deus e do Senhor Jesus
Cristo, baseia-se primeiramente sobre as condições subjetivas da pessoa que exorciza (fé em Cristo,
confiança nas Suas promessas, vida de graça e operosidade nas virtudes).

192) Todo aquele que tenha as devidas disposições interiores (sobretudo de fé em Cristo e de vida
na graça em Deus) e que saiba o que faz e porque o faz, pode ocasionalmente praticar um
exorcismo privado para socorrer uma pessoa necessitada de ajuda imediata. Sobre isso, na história
bimilenar da Igreja o exemplo de santas mulheres e de santos varões não sacerdotes (mas também
de Bispos e sacerdotes fora de um contexto de celebração litúrgica do exorcismo) são a
confirmação irrefutável disso.

193) Por si e em senso lato, exorcista é aquele que pratica exorcismos. Todavia, como ninguém é
chamado de cantor só porque ocasionalmente e de tanto em tanto cantarola motivos musicais, assim
ninguém pode ser chamado de exorcista só porque se encontrou em situações nas quais
prudentemente praticou um exorcismo no modo e no sentido expostos no n. 192. Exorcista, sempre
em senso lato, é aquele que pratica exorcismos com uma certa continuidade.

194) Não compete a estas Diretrizes afrontar e dirimir problemáticas de ordem histórica e teológica
relativas a como na Igreja o ministério exorcístico foi se estruturando ao longo dos tempos. No
presente, parece-nos poder dizer com segurança o seguinte:
► Parece indubitável, nos inícios do caminho eclesial, a presença de exorcistas que operavam a
libertação do demônio fundando-se num carisma recebido do Senhor e reconhecido pela Igreja.
► É ainda mais indubitável que, desde a época apostólica, entre os Bispos associados ao colégio
dos Doze e os seus colaboradores (sacerdotes e diáconos) existissem aqueles que exercitavam o
ministério da libertação do demônio fundando-se sobre o sacramento da Ordem recebido e na
comunhão eclesial.
► É do mesmo modo indubitável que a Igreja, guiada pelo Espírito Santo, tenha sentido desde os
primeiros tempos a necessidade de regular o ministério da libertação do demônio, confiando-o a
uma determinada categoria de homens (ditos exorcistas), aos quais tinha sido conferido um grau do
Sacramento da Ordem (dito Exorcistado), e estabelecendo no tempo regras oportunas para o
exercício de tal ministério.
► É enfim certíssimo que a Igreja, a partir de uma determinada época, tenha, na sua sabedoria,
restringido exclusivamente a sacerdotes dotados de determinadas qualidades o exercício do
ministério da libertação da ação extraordinária do demônio, subtraindo-o, portanto, aos graus
inferiores do Sacramento da Ordem.

195) Fora da situação apresentada no n. 192, sobre a base daquilo que a história ensina e dos
princípios obteníveis da legislação atual, não deveria ser lícito a nenhum sacerdote, religioso ou
leigo católico praticar
► sozinho ou com outros,
► simplesmente em força da própria ordem, da própria consagração ou do próprio batismo,
► ou também por um possível “carisma” recebido,
a libertação do demônio quando isso acontecer “em forma ministerial”, ou seja, em maneira que
externamente o agir do sacerdote, religioso ou leigo apareça como um ministério eclesial, e isto
também no caso em que se recorra somente a exorcismos privados.
196) A razão da iliceidade da libertação do demônio “em forma ministerial”, nas circunstâncias
expostas no n. 195, depende do fato de se ter uma estabilidade de prestação, ou seja, um ministério
de fato, ao qual falta a publicidade de um reconhecimento eclesial. Para gozar da nota indispensável
de eclesialidade, o exercício de um ministério deve ser, na verdade, reconhecido pela Igreja.

197) Da sua parte, o reconhecimento eclesial visa:


► Verificar e confirmar a sobrenaturalidade do chamado divino para exercitar um ministério. Na
base do exercício de um ministério existe, de fato, uma vocação que é dom e graça do Espírito
Santo.
► Verificar e confirmar a aquisição da competência específica para exercitar o ministério ao qual
se é chamado por Deus com específica vocação.
► Assegurar a comunidade eclesial sobre a eclesialidade de fim e de conteúdo do ministério
exercitado. Todo ministério é, de fato, um serviço claramente eclesial na sua essência e na sua
destinação e contribui, por sua parte, à formação da comunidade cristã, ao seu crescimento e à sua
missão.

198) Quem pretenda exercitar o ministério de exorcista, mesmo limitando-se a praticar exorcismos
privados, invocando para este fim uma graça que lhe foi concedida por Deus de modo especial, é
obrigado a apresentar à Autoridade competente da Igreja as provas da concessão de tal graça.
Quem, pois, reclame como um seu direito o ministério de libertação das ações extraordinárias do
maligno torna-se suspeito de um pacto diabólico, ao menos de forma implícita. Se um carisma de
tal natureza fosse concedido por Deus, seria concedido, de fato, como graça e não como direito,
para ser exercitado na Igreja, pela Igreja e sob a vigilância e a direção da Igreja.

199) Ainda que na Carta Apostólica em forma de Motu Proprio Ministeria quaedam, de 15 de
agosto de 1972, o Papa Paulo VI acene à possibilidade de uma instituição do ministério do
exorcistado para proferir exorcismos sobre os possessos de forma litúrgica aberto aos leigos, à
nossa Associação Internacional dos Exorcistas parece que se deva negar que singularmente os
Bispos diocesanos gozem da dita faculdade, sem com isto subtrair coisa alguma das suas demais
competências em matéria de exorcistado.
A razão deste parecer é primeiramente jurídica. A Ministeria quaedam designa às Conferências
Episcopais individualmente a faculdade de solicitar à Santa Sé a instituição do ministério do
exorcistado e à Santa Sé a tarefa de instituí-lo. Una e outra não são atribuídas a cada Bispo
diocesano.

200) A isto se acrescente a reflexão sobre as razões, tiradas da experiência histórica da Igreja e
ilustradas pela doutrina, pelas quais é oportuno que o ministério da libertação seja confiado apenas
aos sacerdotes, excluindo os simples religiosos e os fiéis leigos. Tais razões se podem resumir em:
► conveniência ligada à natureza da Ordem sacra no grau do presbiterado em termos de potestade
sobre o demônio;
► conveniência ligada à específica formação filosófica, teológica e espiritual que os sacerdotes de
per si recebem e que é fundamental na ação de discernimento e de acompanhamento das pessoas
atribuladas pelo maligno;
► conveniência ligada a uma ligação mais firme com a pessoa do Bispo diocesano por causa da
promessa de obediência feita na ordenação presbiteral;
► conveniência ligada a uma estabilidade mais forte no exercício do ministério que a condição
sacerdotal por si assegura;
► conveniência ligada a uma gratuidade mais certa, no sentido econômico, do exercício do
ministério, que a condição sacerdotal por si garante maior respeito àquela laical.

201) A nossa Associação Internacional dos Exorcistas faz votos que a Autoridade competente
proveja a preencher quanto antes o vazio disciplinar que se registra sobre o argumento exposto nos
nn. 195 – 200. Em matéria de tanta relevância parece-nos oportuno que se tenha uma disciplina
uniforme que ajude cada Bispo a exercitar no modo melhor o seu ofício pastoral.

CAPÍTULO X
O SACERDOTE EXORCISTA

202) O ministério do exorcistado, que o Cristo Senhor durante o tempo da Sua vida pública
instituiu nos seus elementos essenciais, é regulado na Igreja Latina pelas seguintes fontes
normativas de caráter universal:
► o Código de Direito Canônico promulgado em 1983;
► o novo rito dos exorcismos, do título “De Exorcismis et Supplicationibus quibusdam”. Deste
novo rito foi publicada em 2004 uma segunda edição típica emendada (sigla DESQ);
► o rito dos exorcismos “De exorcizandis obsessis a daemonio”, que ocupa o Título XII do Ritual
Romano na edição típica promulgada em 1952 e em uso comum até 1998 (sigla RR).

203) Neste capítulo são oferecidos os elementos essenciais relativos à figura do sacerdote
exorcista, tirados em particular do cânon 1172 do Código de Direito Canônico, articulado nos
seguintes dois parágrafos.
► “Ninguém pode proferir legitimamente exorcismos sobre os possessos se não obteve uma
peculiar e expressa licença do Ordinário do lugar.” (§ 1)
► “O Ordinário do lugar conceda tal licença apenas ao sacerdote que seja ornado de piedade, de
ciência, de prudência e de integridade de vida.” (§ 2).

*****

204) O que o can. 1172 § 1 certamente proíbe é que se celebre o exorcismo público sem uma
peculiar e expressa licença do Ordinário do lugar. Em outras palavras, a falta de uma peculiar e
expressa licença do Ordinário do lugar rende seguramente ilegítima a celebração do sacramental do
exorcismo segundo os específicos Rituais aprovados pela Igreja.

205) O Ordinário do lugar ao qual se refere o can. 1172 § 1 é, de regra, o mesmo Bispo diocesano e
quantos, equiparados pelo direito ao Bispo diocesano, presidem a comunidade de fiéis como a
prelazia territorial, a abadia territorial, o vicariato apostólico, a prefeitura apostólica e a
administração apostólica ereta estavelmente.
São excluídos, ao contrário, no sentido que não podem conceder licença para exorcizar, os
Ordinários do lugar que na Igreja Latina são chamados com o nome de Vigários gerais e Vigários
episcopais. Estes o podem somente se têm um mandato especial do Bispo que lhes confira esta
parte da sua potestade executiva a norma do can. 479, §§ 1 e 2.
Deve-se enfim considerar lícito que um Bispo diocesano, após haver instituído legitimamente um
sacerdote no ofício de exorcista, dê a este último a faculdade de subdelegar um outro sacerdote,
ornado das devidas qualidades e de sua confiança, para o exercício temporário do mesmo ministério
por causa de um motivo razoável (por exemplo, pela necessidade de ser substituído).

206) A licença de proferir exorcismos não é outra coisa que a transmissão de uma faculdade
(potestade de jurisdição) pela qual o sacerdote é habilitado para usar legitimamente o poder de
expulsar os demônios já recebido por ele no ato da ordenação presbiteral. A potestade de ordem, de
fato, além do poder de celebrar o Santo Sacrifício, de perdoar os pecados e de governar uma porção
do povo de Deus, inclui aquele de expulsar os demônios, sempre na comunhão eclesial com o
próprio Bispo.
Tudo isto em analogia com o sacramento da Confissão. Todo sacerdote para poder absolver deve,
além da potestade de ordem conferida a ele na Ordenação, gozar da necessária faculdade concedida
a ele pelo próprio direito ou pela autoridade competente. O mesmo vale para exercitar o ministério
de exorcista.

207) Mediante a concessão da licença de exorcizar, ao sacerdote vem confiado o ministério de


exorcista ou de modo estável ou “ad actum”.
Se a licença é concedida de modo estável, o Bispo pode escolher dá-la por um tempo determinado
ou por um tempo indeterminado. Uma solução prudente, que permite ao Bispo remover, a qualquer
momento e sem graves razões, um sacerdote do encargo de exorcista concedido de modo estável, é
incluir na licença a fórmula “ad nutum Episcopi”.
Se a licença é concedida “ad actum”, o Bispo deve especificar se a licença é entendida só para uma
única ocasião ou para acompanhar a inteira evolução de um único caso (portanto, com a
possibilidade de repetir mais vezes o exorcismo sobre o mesmo sujeito).

208) Em ambos os casos (modo estável ou “ad actum”) o direito estabelece que a licença de
exorcizar deve ser peculiar e expressa.
Por peculiar se entende que a licença deva ser concedida a um sacerdote determinado e se exclui
que seja concedida pelo Bispo de modo geral (por exemplo, a todos os párocos, a todos os capelães
de hospital ou de cárcere, etc.).
Dizendo expressa, se exclui que possa ser concedida de forma tácita ou simplesmente presumida.
Com isso, nada proíbe que a licença seja concedida de forma oral, ainda que a prudência pastoral
requeira a forma escrita (um decreto escrito tutela seja o Bispo, seja o exorcista, seja os fiéis).

209) Entre os dotes que devem ornar o candidato ao ministério de exorcista e que compete ao Bispo
que deve conceder a licença investigar se presentes ou não, o can. 1172 § 2 evidencia quatro dentre
eles: piedade, ciência, prudência e integridade de vida.
► Piedade. Entende-se como o dom do Espírito Santo que, produzindo no coração uma afeição
filial para com Deus e uma terna devoção às coisas divinas, aperfeiçoa a virtude da religião. A
piedade é indispensável ao exorcista para perseverar na oração e também para tratar pessoas, que
naturalmente não são simpáticas, com gentileza e com doçura, tendo ternura paterna para aqueles
que Deus confia ao seu ministério.
► Ciência. É certamente e em primeiro lugar a sã ciência filosófica, teológica e espiritual que se
adquire com o estudo, necessária ao exorcista para discernir a ação extraordinária do maligno e para
acompanhar o atribulado para a libertação. O termo ciência compreende, porém, também o dom do
Espírito Santo, mediante o qual a virtude da fé é aperfeiçoada, fazendo-nos conhecer as coisas
criadas nas suas relações com Deus. Graças ao dom sobrenatural da ciência se vê prontamente e
seguramente aquilo que diz respeito à santificação própria e alheia. A ciência é um dom que destaca
das criaturas, mostrando quanto são incapazes de fazer felizes, seja porque vãs em si mesmas, seja
porque perigosas, do momento que, pela atração desordenada que o coração humano experimenta
por elas, essas tendem a desviar de Deus. Com o dom da ciência nos elevamos mais facilmente
Àquele único que pode apagar todas as aspirações do homem e somos ajudados a usar bem as
criaturas.
► Prudência. É uma virtude moral e sobrenatural (infusa), que inclina o intelecto a escolher, em
cada circunstância, os meios melhores para obter os vários fins em subordinação ao fim último. Não
é, portanto, nem a prudência da carne (que torna engenhosos no encontrar os meios para obter um
fim mau), nem a prudência puramente humana (que estuda os meios melhores para obter um fim
natural sem subordiná-lo ao fim último). É invés a prudência cristã que, apoiando-se sobre os
princípios da fé, tudo refere ao fim sobrenatural, quer dizer, a Deus conhecido e amado sobre a terra
e possuído no Céu. À luz deste fim, a prudência estuda os meios melhores para dirigir todas as
ações para o seu conseguimento. Ocupa-se, portanto, da vida em todos os seus particulares: regula
os pensamentos para impedir que vão longe de Deus; regula as intenções para remover aquilo que
poderia corromper a pureza delas; regula os afetos, os sentimentos e as vontades, para referi-los a
Deus; regula até os atos exteriores e a execução das nossas resoluções para ordená-las ao último
fim. A virtude cardinal da prudência, sumamente necessária ao exorcista, é aperfeiçoada pelo dom
do conselho.
► Integridade de vida. Para explicar o sentido desta integridade de vida bastam as palavras do rito
de ordenação dos exorcistas do Pontifical Romano em vigor para a Igreja latina em 1962: “Filhos
caríssimos, devendo ser ordenados no ofício de exorcistas, deveis conhecer o que recebeis. É
necessário, de fato, que o exorcista abata os demônios […]. Vós, portanto, recebeis a potestade de
impor a mão sobre os energúmenos e pela imposição das vossas mãos, pela graça do Espírito Santo
e pelas palavras do exorcismo, os espíritos imundos são banidos dos corpos possessos. Procurai,
portanto, que como expulsais dos corpos dos outros os demônios, assim excluais das vossas mentes
e dos vossos corpos toda baixeza e desonestidade para que não sucumbais àqueles que, com o vosso
ministério, colocais em fuga dos outros. Aprendei por meio do vosso ofício a imperar aos vícios,
para que nos vossos costumes algo não sirva para reivindicar aos inimigos o seu direito. Então
realmente comandareis retamente aos demônios nos outros, quando primeiramente em vós venceis
a sua multíplice maldade. Que o Senhor vos conceda operar por meio do Seu Santo Espírito.”

210) A este critérios, RR n. 1 acrescenta que o sacerdote escolhido para o ofício de exorcista deve
ser um homem confiante não na sua, mas na força divina, alheio a toda cupidez de bens humanos e
cumprir o seu ministério (obra pia) por caridade, com constância e humildade. Acrescenta, ainda,
que convém que seja de idade madura e respeitável, não só pelo ofício, mas também pela gravidade
dos costumes.

211) O DESQ n. 13 sublinha, invés, a preparação específica que o sacerdote individuado para o
ministério de exorcista deve receber.
Isto é compreensível, porque, em mérito à piedade e à integridade de vida, os meios que todo
sacerdote emprega para viver coerentemente e frutuosamente a sua vocação são os mesmos que os
exorcistas devem usar. As coisas, invés, mudam quanto à ciência (que deve ser específica) e, de
reflexo, à prudência que aplica os princípios aos casos particulares.

212) Do quanto foi exposto nos nn. 209 – 211 destas Diretrizes acerca das qualidades que a Igreja
procura nos exorcistas segue, entre outras coisas, que um exorcista não deve expender as suas
energias para adquirir e/ou fazer crescer em si verdadeiras ou presumidas capacidades que lhe
consintam de agir como um “carismático”, correndo só o risco de desenvolver dons mediúnicos (e,
portanto, diabólicos). Tais dons não são necessários ao seu ministério, nem a Igreja os requer. Ainda
menos segue que um exorcista, resignado de não ter em si dotes extraordinários, possa recorrer a
carismáticos ou sensitivos os quais o orientem no exercício do seu ministério.

213) Nenhum ministério, como aquele do exorcistado, requer ser realizado na plena comunhão
eclesial. Esta comunhão, que por sua natureza é hierárquica, se exprime primeiramente no
relacionamento com o próprio Bispo diocesano.
O novo ritual afirma que o exorcista deve realizar o seu serviço de caridade sob a guia do Bispo
diocesano. Isso significa que o relacionamento com o próprio Bispo vai muito além do simples
recorrer a ele nos casos que dizem respeito aos não católicos e em outros casos particularmente
difíceis, como é requerido pelo DESQ n. 18. Disso deriva
► que é deplorável que um Bispo institua um exorcista e depois, de algum modo, o abandone a si
mesmo;
► que deve ser excluído do ministério de exorcista quem quer que não mostres abertura,
disponibilidade e justa submissão para com o seu Bispo.

214) A comunhão eclesial do exorcista se exprime também no relacionamento com outros


confrades encarregados do mesmo ministério.
É desejável que cada Bispo institua ao menos dois sacerdotes exorcistas para a própria Diocese.
Independentemente do número de fiéis necessitados do ministério exorcístico, esta escolha é para o
bem dos mesmos exorcistas.
Salva a própria e irrenunciável responsabilidade que todo exorcista deve ter no discernimento e no
acompanhamento de cada um dos seus casos, como também a discrecionalidade pessoal na
aplicação dos princípios normativos e rubricais do exorcismo, nenhum sacerdote pode considerar-se
apto ao serviço do exorcistado se não é animado por um real desejo de comunhão presbiteral com
os outros exorcistas da sua Diocese.

215) O Ritual Romano, entre os critérios para discernir a idoneidade para exercer o ministério de
exorcista, indica aquele de ser “alheio a toda cupidez de bens humanos”. A doutrina comum sempre
reafirmou que o ministério do exorcistado deve ser desenvolvido gratuitamente e que só no caso no
qual o exorcista seja efetivamente pobre, ele pode aceitar esmolas, sem jamais impor ou exigir
tarifas.
É necessário que, como se procura prover ao sustento dos sacerdotes encarregados de outros ofícios
ou ministérios, toda Igreja particular adote providências que não constranjam os exorcistas a
recorrer, para poder viver decorosamente, às ofertas dos fiéis atormentados pelo maligno que se
dirigem ao seu ministério.

216) Um exorcista não se improvisa. A idade madura e a experiência no ministério sacerdotal são
elementos recomendáveis, mas sozinhas não bastam para tornar confiável um sacerdote para o
ministério de exorcista.
Nem mesmo são suficientes os anos da formação institucional, filosófica e teológica, a ornar o
sacerdote da ciência necessária para ser exorcista. E nem mesmo sucessivas especializações em
ciências teológicas, canônicas, litúrgicas, espirituais e psicológicas. Para ser exorcista ocorre uma
preparação específica.
É desejável que cada Bispo assuma, como orientação geral, a praxe de colocar o sacerdote
candidato ao exorcistado ao lado de um outro exorcista, experimentado e sobretudo confiável, que
lhe sirva de mestre sob o aspecto teórico e prático. A mesma disponibilidade que os Bispos
demonstram ao mandar os seus sacerdotes também ao exterior, para que se formem numa
determinada disciplina, deveria encontrar uma correspondência na formação dos exorcistas.
CAPÍTULO XI
O INSTRUMENTUM DO SACERDOTE EXORCISTA

217) No ministério do exorcistado o principal e insubstituível “instrumentum” é constituído pelos


Rituais já tantas vezes citados nestas Diretrizes. Precisamente:
► o novo rito dos exorcismos, do título “De Exorcismis et Supplicationibus quibusdam” na
segunda edição típica latina publicada em 2004 e/ou nas suas versões oficiais em língua vernácula
confirmadas pela Santa Sé (sigla DESQ);
► o rito dos exorcismos “De exorcizandis obsessis a daemonio”, incluído no Ritual Romano na
edição típica de 1952 e em uso comum até 1998 (sigla RR).

218) Na vida e no ministério do exorcista tal “instrumentum” cumpre três funções:


► aquela de texto fundamental da sua formação de base e permanente; por isso, toda proposta
doutrinal e prática que é atinente ao ministério do exorcista deve ser confrontada com o conteúdo
do instrumentum, que serve como critério para julgar a sua validade;
► aquela de fornecer-lhe, em cada um dos casos concretos, os critérios seguros sobre os quais
impostar a ação de discernimento e de acompanhamento de cada paciente;
► aquela de constituir o único texto a empregar para a celebração do sacramental do exorcismo.

219) Neste capítulo são oferecidos alguns esclarecimentos e importantes especificações sobre o
instrumentum que a Igreja põe nas mãos do exorcista para o reto e profícuo cumprimento do seu
ministério.

*****

220) Quanto à celebração do exorcismo como sacramental, o exorcista pode usar tanto o DESQ
quanto o RR à discrição sua. Do disposto pela Pontifícia Comissão Ecclesia Dei, Instructio ad
exsequendas Litteras Apostolicas Summorum Pontificum a S.S. Benedicto PP. XVI Motu Proprio
datas, de 30 de abril de 2011, n. 35, resulta, de fato, que o RR não só não foi ab-rogado, mas pode
também ser livremente usado, compreendida a parte relativa à celebração dos exorcismos, sem
necessidade de específicas autorizações.

221) Sempre em mérito à celebração do exorcismo como sacramental, o DESQ, além do latim da
edição típica, pode ser empregado na tradução em língua corrente feita pela competente
Conferência Episcopal e confirmada pela Santa Sé.
O RR, invés, exceto no caso que existam traduções oficiais confirmadas segundo o direito, deve ser
empregado só e exclusivamente na língua latina da última edição típica que é aquela do Papa Pio
XII e em uso comum até 1998. Eventuais traduções em vernáculo servem só para o estudo, não para
o uso litúrgico, e, portanto, todo uso delas na celebração litúrgica do exorcismo constitui um abuso.

222) Na celebração do exorcismo como sacramental deve-se abster do uso contemporaneamente do


DESQ e do RR. É verdade, como se explicará nos nn. 473 – 490 destas Diretrizes, que ambos os
Rituais permitem ao exorcista operar oportunas adaptações na ação litúrgica do exorcismo maior,
mas isto não significa de modo algum que se possa dar lugar a celebrações híbridas. O exorcismo
regulado pelos Rituais é uma ação da Igreja, não uma oração privada, e uma vez que o exorcista
escolheu a forma da celebração, ou aquela do DESQ ou aquela do RR, deve deixar-se guiar pelas
respectivas rubricas.

223) Quanto ao estudo e à compreensão dos dois Rituais, deve-se ter presente que os Praenotanda
do DESQ e as Normae do RR, que precedem a exposição do rito litúrgico do exorcismo, são
verdadeiras e próprias leis da Igreja, como tais vão interpretadas e enquanto tais observadas.

224) Também as rubricas, sendo diretrizes rituais e cerimoniais indispensáveis para o correto
desenvolvimento da ação litúrgica do exorcismo, têm valor normativo. Ocorre, todavia, prestar
atenção à linguagem das rubricas, que às vezes é descritivo (é ilustrado de modo indicativo a
realização de uma determinada ação), às vezes é dispositivo (é imposto um comportamento
necessário para que a ação seja realizada no modo justo), outras vezes é exortativo (se solicita uma
ação sem requerê-la de modo peremptório). Tenha-se presente que também as rubricas facultativas
têm uma dimensão jurídica. Concedendo, de fato, a faculdade de escolher, esta faculdade deve ser
respeitada.

225) Do momento que não foi ab-rogado o RR, as suas Normae conservam íntegro o seu valor de
lei e o exorcista as deve observar todas as vezes que se encontre a operar nas situações às quais
cada uma dela se refira, exceto o caso no qual o DESQ tenha completamente reordenado aquela
matéria.

226) Os Praenotanda do DESQ e as Normae do RR calam voluntariamente sobre muitos aspectos


ligados à praxe exorcística, enviando explicitamente aos probati Auctores e à praxe consolidada.
Isso subentende, para todo exorcista, a obrigação de informar-se, de estudar e de não desistir do
empenho de uma formação permanente.

CAPÍTULO XII
O DISCERNIMENTO: CRITÉRIOS GERAIS

227) O direito eclesial sempre foi muito claro: não se pode proceder ao exorcismo se não consta,
com certeza moral, que está ocorrendo uma ação extraordinária do maligno.

228) A doutrina aplica a norma do direito quer ao exorcismo público come ao privado e apresenta
as principais razões.

229) A primeira reside na analogia que existe entre o exorcismo e o juramento. Com efeito, para
qualquer exorcismo, como para qualquer juramento, são necessárias três coisas:
► a verdade: quem exorciza deve realmente querer conseguir aquilo que pede proferindo o
exorcismo e deve ser verdadeira a causa pela qual o profere (ou seja, deve ser verdadeira a ação
extraordinária do maligno);
► a justiça;
► o discernimento (ou seja, o proceder com a devida discrição).

230) A segunda é porque, se a ação extraordinária do maligno não fosse verdadeira, o exorcista
expor-se-ia a si mesmo ao ridículo e seu ministério ao descrédito.

231) A terceira é porque proferindo exorcismos em situações em que não há uma verdadeira ação
extraordinária do maligno, corre-se o risco de consolidar nas pessoas a persuasão de serem
vítimas de ações diabólicas extraordinárias, enquanto na realidade a situação de mal-estar se deve
a outras causas. Nesses casos, a experiência ensina que é mais difícil remover duma pessoa a
convicção errada de que ela é vítima do diabo do que afastar um espírito impuro realmente
presente.

232) Neste capítulo, são expostos os critérios gerais que devem ser usados pelo exorcista para
averiguar, com certeza moral, a ocorrência de uma ação extraordinária do maligno.

*****

233) Sobre a certeza que o exorcista deve ter para proferir legitimamente um exorcismo, privado ou
público, é necessário distinguir entre:

► Certeza absoluta. Este tipo de certeza não admite nenhuma dúvida sobre a verdade da ação
extraordinária do maligno e a possibilidade do contrário é totalmente excluída. No entanto, a
certeza absoluta não é necessária para proferir legitimamente um exorcismo.
► Quase-certeza (ou probabilidade). Esse tipo de cognição, estritamente falando, não merece a
denominação de certeza. Na quase-certeza há uma maior ou menor probabilidade de que o demônio
esteja realmente agindo, mas não são excluídas todas as dúvidas razoáveis e permanece um receio
fundado de errar. Portanto, a quase-certeza não fornece uma base suficiente para proferir
legitimamente um exorcismo, que é autorizado apenas pela verdade e pelo conhecimento seguro da
verdade, não por presunções ou conjeturas.
► Certeza moral. Essa, por um lado, caracteriza-se pela exclusão de qualquer dúvida fundada ou
razoável (por este motivo se distingue essencialmente da quase-certeza); por outro lado, deixa
subsistir a possibilidade do oposto (por isto é diferente da certeza absoluta). A certeza moral é
necessária e suficiente para proferir licitamente um exorcismo.

234) Note-se que muitas vezes a certeza moral se alcança só por uma série de pistas e provas que,
tomadas individualmente, não são suficientes para fundar uma verdadeira certeza, mas em conjunto,
numa pessoa sensata, já não deixam surgir uma dúvida razoável.
Isto não significa que a transição da probabilidade para a certeza seja o resultado de uma soma
aritmética, porque isto resultaria em uma transição ilegítima de uma espécie para outra,
essencialmente diferente.
Ao invés, afirma-se que, em cada caso concreto submetido ao discernimento do exorcista, a
presença simultânea de diferentes indícios e provas só pode ser explicada pela existência de uma
causa única, ou seja, por uma ação demoníaca real. Em outras palavras, aplicando sabiamente no
exame de cada caso o “princípio de razão suficiente”, o exorcista conclui que, se os indícios e
provas recolhidas considerados separadamente não são suficientes para alcançar a certeza moral da
ação demoníaca extraordinária, tomadas em conjunto e como que abraçadas com um único olhar
fornecem, invés, os elementos necessários para alcançar um julgamento definitivo seguro sobre a
presença e a ação do demônio.

235) A certeza moral é, portanto, certeza objetiva, que se baseia em razões objetivas, não uma
certeza puramente subjetiva, baseada no sentimento ou na opinião meramente subjetiva do exorcista
(ou mesmo em sua credulidade pessoal, em sua imprudência, em sua inexperiência).
Para garantir a objetividade da certeza moral, o DESQ 16 e o RR n. 3 mandam que o exorcista
conheça bem os sinais que a prática consolidada indica como indícios de ação demoníaca
extraordinária.

236) A ação extraordinária do diabo é o objeto do discernimento operado pelo exorcista. Dita ação,
por causa do princípio do qual procede, qualifica-se como “preternatural”.
O preternatural não deve ser confundido com o sobrenatural (porque o princípio do qual toda ação
sobrenatural procede é somente Deus), nem com o natural (porque o termo natural é usado apenas
em referência ao homem ou a coisas que na ordem da criação estão abaixo do homem).
Além disso, a palavra preternatural deve sempre ser entendida como referida apenas ao mundo
demoníaco, pois a ação dos espíritos bem-aventurados (hierarquias angélicas), depois de sua
elevação à glória, deve sempre ser qualificada como ação sobrenatural. O mesmo se aplica às almas
dos homens que gozam da visão de Deus no Paraíso e às do Purgatório, nas quais a Vontade de
Deus já se cumpre perfeitamente.

237) A ação extraordinária do diabo é reconhecível apenas por seus efeitos no mundo natural.
Examinando estes efeitos é possível remontar à causa preternatural da qual eles procedem.
Certamente nem todos os casos que têm uma causa preternatural podem ser reconhecidos pela sua
origem demoníaca, mas muitos podem. Nesses fatos, não é a natureza extraordinária do que se
observa, nem a malícia que manifestam, ou o sofrimento que alguns deles infligem que constitui
prova de que é o diabo a causa deles, mas é apenas a impossibilidade de justificá-los com qualquer
explicação natural.

238) O apelo a forças ou energias naturais atualmente desconhecidas, para excluir a priori (de
antemão) uma ação extraordinária do diabo, é contrário ao senso comum e à razão científica,
quando o exame dos fatos não permite outras conclusões. De fato, mesmo que houvesse forças
naturais atualmente desconhecidas, essas forças permaneceriam sujeitas a leis físicas determinadas.
Isso implica que seu uso permaneceria vinculado a pressupostos (condições) precisos e preparações
certas, não à arbitrariedade dos indivíduos ou, pior ainda, ao “acaso”.

239) Atualmente, nos países ocidentais descristianizados, muitas pessoas pedem a ajuda do
exorcista, alegando como sinais (provas) de que são vítimas da ação extraordinária do demônio o
fato de que a eles, a sua família, a um parente ou amigo desde um certo período de tempo “tudo dá
errado, tudo vai mal”. Por exemplo, é frequente, deparar-se com pais que se queixam dos problemas
e das coisas estranhas que se passam com seu filho (ele não consegue encontrar trabalho ou perdeu-
o, já sofreu inúmeros acidentes de trânsito, não consegue manter um relacionamento afetivo, é
sempre descontente e agressivo, insulta-nos, pragueja contra Deus, em casa quebra as coisas,
mostra – no parecer deles – um olhar de possuído, diz que mata todo mundo, que quer acabar com a
vida, etc.). Nestes casos, a premissa ou a conclusão dos pais é quase sempre: “Alguém fez alguma
coisa contra ele!”
Sem negar que o exame aprofundado de situações como as referidas pode, em alguns casos,
oferecer indicações de uma atividade diabólica real, o fato de que na vida as coisas “não dão certo”
não significa ser vítimas de ações diabólicas extraordinárias do gênero vexatório, obsessivo ou
possessivo descrito nestas Diretrizes no capítulo IV.
Pelo contrário, “setenta anos é o total de nossa vida, os mais fortes chegam aos oitenta. A maior
parte deles, sofrimento e vaidade, porque o tempo passa depressa e desaparecemos.” (Sl 89, 10).
Dessas dores,
► algumas são dispostas pela Divina Providência: “Se de Deus aceitamos o bem, por que não
devemos aceitar o mal?” Jó 2, 10b); “Meu filho, se entrares para o serviço de Deus, permanece
firme na justiça e no temor, e prepara a tua alma para a provação ... Aceita tudo o que te acontecer.
Na dor, permanece firme; na humilhação, tem paciência. Pois é pelo fogo que se experimentam o
ouro e a prata, e os homens agradáveis a Deus, pelo cadinho da humilhação.” (Sir 2, 1.4-5);
► outras são os próprios homens que as provocam a si mesmos: “alguns se desviaram da fé e se
enredaram em muitas aflições” (1 Tm 6, 10b); “Nem sequer temes a Deus, tu que sofres no mesmo
suplício? Para nós isto é justo: recebemos o que mereceram os nossos crimes ...” (Lc 23, 40-41).
A cruz, que é a “nossa”, o Senhor nos convida a carregá-la atrás d’Ele (“Se alguém quiser me
seguir renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e me siga.” Mt 16, 24b). Hoje a maior parte dos fiéis,
também entre os mesmos ministros sacros, é muito distante de ter como ideal de vida o caminhar
seguindo a Jesus paciente e crucificado, lutando decididamente contra o pecado (cfr. Hb 12, 4) e
praticando heroicamente as virtudes evangélicas, em primeiro lugar aquela caridade que é paciente,
benigna, não invejosa, não se gloria, não se incha, não falta de respeito, não procura o seu
interesse, não se ira, não tem conta do mal recebido, não goza com a injustiça, mas se compraz da
verdade; que tudo cobre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta (cfr. 1 Cor 13, 4 – 6). E não podendo
acusar a Deus e não querendo acusar a si mesmos, dão todas as culpas ao demônio.

240) Portanto, entre os critérios oferecidos pelos Rituais, é muito importante o que se encontra no n.
16 do DESQ, isto é, o exame diligente da relação entre todos os sinais denunciados e lamentados
como “prova” de ação extraordinária do demônio e o combate espiritual efetivo na vida cristã de
sua suposta vítima.
Como num espelho de água turva é impossível ver o fundo e discernir possíveis peixes em
movimento, assim numa alma desprovida de fé viva e totalmente letárgica no combate espiritual é
muito difícil de discernir, à primeira vista, a ação extraordinária do demônio. De fato, muitas coisas
ruins que a alma experimenta são simplesmente fruto e consequência de uma vida em pecado e de
se ter privado da ajuda sobrenatural que a Palavra de Deus, a oração pessoal e a vida sacramental
oferecem.
A mesma “aversão ao sagrado” que, por exemplo, os pais lamentam a respeito de seus filhos ou os
cônjuges com relação ao seu marido ou à sua mulher (e que muitas vezes eles aprenderam a chamar
assim depois de ter navegado na Internet ou lido algum artigo de revista) é, portanto, muitas vezes,
simples manifestação de preguiça nos casos mais leves, e, nos casos graves, manifestação de perda
total da fé e de amor pelo mundo pelo qual Cristo não quis orar (cfr. Jo 17, 9).
É normal, quando uma pessoa vive, de fato, longe de Deus e está contente com uma fé de fachada
(pela qual se procura e se está convencido de que o Céu é aqui na terra), que à primeira dificuldade
fique deprimida e ache que o diabo esteja prejudicando “o seu direito de ser feliz”.
Nesta sociedade supersticiosa, como pode uma pessoa que não conhece e não ama a Deus (e,
portanto, não pode amar o próximo com um amor sobrenatural), quando tudo ao seu redor está
desmoronando, não estar inclinada a pensar que alguém queira o seu mal e a prejudique com a
ajuda do diabo? Como pode evitar completamente o pensamento do suicídio, quando não há um
verdadeiro horizonte de esperança cristã e a vida parece negar qualquer possibilidade de ser feliz
neste mundo? Como pode, quando não vive na graça de Deus e é escrava das paixões (ganância,
ódio, inveja, impureza ...), ter olhos como Santa Teresinha do Menino Jesus ou Santa Gema Galgani
e não ter, pelo contrário, olhos que se parecem com os de um “possuído”, mesmo que não o seja
realmente?

241) À luz do que é descrito nos nn. 239 – 240 destas Diretrizes, o exorcista examine em primeiro
lugar e sempre a real fé acreditada e vivida pela suposta vítima de uma extraordinária ação
demoníaca; e se esta fé está ausente, ou deficiente, e os sinais relatados são unicamente reclamações
gerais sobre as coisas que dão errado (perda de emprego, acidentes, doença ou morte de familiares,
dificuldades de relacionamento, insatisfação, descontentamento etc.):
► Cumpra o requisito de DESQ n. 14: “Também não aceite imediatamente que haja possessão
quando alguém afirma ser de modo peculiar tentado, estar desolado e finalmente ser atormentado.”
A razão não é apenas na explicação oferecida pelo DESQ (que uma pessoa poderia ser enganada
por própria imaginação), mas por todas as razões acima expostas.
► Abstenha-se de qualquer forma pública ou privada de exorcismo, mesmo apenas para fins de
diagnóstico, porque, como já foi parcialmente dito e como será explicado melhor no Capítulo XIII
destas Diretrizes, faltam os requisitos que tornam lícito o exorcismo.
► Abstenha-se também de qualquer oração ou iniciativa não exorcística, se, agindo desse modo,
houvesse uma séria possibilidade de que alguém pense que o exorcista esteja atuando contra o
diabo. Nessa eventualidade, é prudente aconselhar essas pessoas a se dirigir a padres não exorcistas.
► As pessoas sejam convidadas a fazer um caminho de recuperação e/ou de crescimento na fé,
para o qual outros sacerdotes não exorcistas podem ajudar. A padres não exorcistas torna-se ainda
mais conveniente enviar esses casos, principalmente quando o exorcista esteja com excesso de
trabalho; assim o exorcista fica com mais tempo para aqueles que realmente precisam de seu
ministério específico.

242) O critério exposto no número anterior tem em sua base um princípio geral que sempre foi
mantido na legislação da Igreja, reafirmado pela doutrina e que o exorcista sempre deve ter presente
em mente, isto é, que não se deve acreditar facilmente que uma ação extraordinária do diabo esteja
em andamento; especialmente em relação à possessão diabólica. Esta última advertência é
claramente imposta pelo RR n. 3 e é retomada no acima mencionado DESQ n. 14, que circunda esta
prescrição por fortes apelos à prudência e ao discernimento.
Mandar ao exorcista que não acredite facilmente que alguém esteja possuído pelo demônio não
significa convidar o exorcista a cultivar preconceitos que levam a excluir, por princípio, qualquer
presença e atividade diabólica extraordinária, mas sim que ele sempre prefira a explicação natural à
explicação preternatural, a menos que esta última não tenha provas evidentes.

243) Daí a necessidade de o exorcista conhecer bem e compreender os sinais pelos quais se pode
reconhecer uma ação diabólica extraordinária, especialmente aqueles que lhe permitem distinguir
entre:
► uma pessoa verdadeiramente possuída pelo demônio e aqueles que sofrem de alguma doença,
especialmente psíquica;
► uma pessoa que é verdadeiramente vítima de uma ação extraordinária do maligno e aqueles que,
vítimas de uma opinião falsa, se consideram objeto de malefício, má sorte ou maldição, que teriam
sido lançados sobre elas ou seus parentes ou seus bens.

244) Para atingir o objetivo expresso no número anterior, o procedimento do exorcista deve ser,
quanto ao conteúdo, o seguinte:
► Ouvir as pessoas e anotar todos os fatos que poderiam ser um sinal de ação demoníaca
extraordinária (se o exorcista fizer perguntas, tenha cuidado de não sugerir a resposta). Um
encontro pessoal não é necessário para se ouvir a pessoa pela primeira vez. Sem prejuízo da
confidencialidade necessária, pode ser suficiente ouvir por telefone, ler um relatório por carta ou
por e-mail. Além de evitar perda de tempo, em muitos casos esse modo de proceder é suficiente
para orientar o exorcista sobre como proceder nos casos individuais (ou seja, continuando no
discernimento ou concluindo e explicando que seu ministério não é necessário).
► Ao tomar nota de fatos que podem ser um sinal de ação demoníaca extraordinária, o exorcista
deve ter muito cuidado para jamais confundir causas com efeitos. O fato, por exemplo, que uma
pessoa diga de ter ido para cartomantes ou bruxas, participado em sessões espíritas ou que tenha
recebido uma maldição verbal de um de seus pais, não faz dela necessariamente uma vítima de
ataques extraordinários do demônio, necessitando, por isso, de receber imediatamente exorcismos
públicos ou privados. Eventos como os acima ditos e também outros do mesmo tipo, certamente
podem ser uma causa ocasional de ação diabólica extraordinária, mas não são causa eficiente de
forma alguma. É somente a partir dos efeitos produzidos por uma eventual presença e atividade do
diabo que o exorcista deve fazer o diagnóstico e adquirir a certeza moral da ação diabólica
extraordinária, não pelos eventos ou coisas que só podem ser as possíveis causas ocasionais dessa
ação.
► Na fase de discernimento, o exorcista dê pouca ênfase aos fatos que têm como único valor o de
serem possíveis causas da ação extraordinária do maligno. Isso serve para não desviar sua atenção
da identificação dos verdadeiros sinais de atividade demoníaca extraordinária e, no mesmo tempo,
ajudar as pessoas que se dirigem a ele a desdramatizar sua situação.
► Depois de ter anotado todos os fatos que poderiam ser um sinal de ação demoníaca atual, o
exorcista examine-os cuidadosamente para ver se eles podem ser explicados por leis naturais (da
ordem física e/ou moral) ou podem, ou mesmo devem, ser explicados pela intervenção de um
princípio preternatural, ou seja, demoníaco. Obviamente, este exame só é possível se o exorcista
possui realmente a ciência exigida pela lei da Igreja e que estas Diretrizes, humildemente, procuram
aumentar.

CAPÍTULO XIII
O DISCERNIMENTO: CRITÉRIOS PARTICULARES

245) Os Sacerdotais e os Rituais precedentes ao RR tratam bastante difusamente dos sinais mais
recorrentes da ação extraordinária do maligno, sobretudo dos sinais relativos à possessão
diabólica.
O RR, em coerência com o critério redacional de expor somente o essencial, menciona
expressamente só três sinais reconhecidos tradicionalmente como indícios de possessão diabólica,
recordando, porém, que existem outros do mesmo gênero e enviando para o seu conhecimento aos
“probati Auctores” e à sadia praxe exorcística.

246) Além dos acima citados três sinais, precisamente:


► o falar (a pessoa possuída) com várias palavras uma língua desconhecida ou o compreender
quem a fala,
► o revelar (a pessoa possuída) coisas distantes e ocultas,
► o manifestar (a persona possuída) forças superiores à sua idade ou à sua condição,
DESQ n. 16 acena claramente a um outro sinal, também esse muito evidenciado na sã doutrina e
nos Sacerdotais e Rituais precedentes ao RR. Atualmente, tal sinal é comumente indicado com a
locução “aversão ao sacro”.

247) Como já se disse, o conhecimento e a compreensão dos sinais peculiares da ação diabólica
extraordinária são necessários ao exorcista para que sobre eles se fundamente a sua obra de
discernimento.

248) Tendo estas Diretrizes em primeiro lugar uma função didática, ao expor os sinais mediante os
quais o exorcista pode reconhecer uma ação diabólica extraordinária se seguirá, nos limites do
possível, um esquema baseado no fato que alguns destes sinais são tomados das faculdades da
alma do paciente, enquanto outros são colhidos de elementos físicos, relativos à condição do seu
corpo. Além de se fundar sobre a sã doutrina, tal escolha metodológica é justificada pelo mesmo
DESQ, o qual no n. 16 afirma que, juntamente com os sinais provenientes da esfera física, ocorre
prestar atenção também a outros sinais, sobretudo de ordem moral e espiritual, que revelam, sob
forma diversa, a intervenção diabólica. Deliberadamente deixamos de lado neste capítulo os sinais
relativos à infestação diabólica, sendo suficiente quanto já apresentado nos nn. 072 – 074 destas
Diretrizes.

249) Antes de entrar em mérito aos sinais indicadores das várias espécies de ação diabólica
extraordinária, se convida a ter sempre presente a distinção apresentada no n. 250, muito
importante porque dessa depende o poder proceder ou não com o exorcismo e, se sim, qual gênero
de exorcismo empregar: “diagnóstico” (condicionado), ou “em forma absoluta” (incondicionado).

250) Os sinais da ação diabólica extraordinária podem ser evidentes ou prováveis.


► O sinal evidente é aquele que se compreende de um efeito que não pode provir de uma causa
natural, mas é necessário que provenha de uma causa preternatural (o demônio).
► O sinal provável é aquele que se tem de um efeito que muitas vezes procede de uma causa
preternatural (o demônio), mas que às vezes pode provir de uma causa natural.

251) O exorcista jamais perca de vista que não é da estranheza de uma coisa (de um fato, de uma
pessoa), do seu ser diferente, da sua aparência fora daquilo que se considera normal, das suas
notas de brutalidade, de malignidade ou de falsidade que se deduz a existência real de uma ação
diabólica extraordinária, mas unicamente do não existir causas naturais que a possam
adequadamente explicar.

*****

Vexação diabólica

252) No n. 052 foram apresentadas algumas tipologias de vexação diabólica, que mesmo não
esgotando a casuística, são suficientes para fazer com que o exorcista compreenda quais possam ser
os sinais desta particular ação extraordinária do demônio.

253) O exorcista, ao examinar os sinais de cada caso submetido ao seu discernimento, tenha
presente quanto segue.
► Em muitos casos os fenômenos vexatórios que pressionam as pessoas a procurar a ajuda de um
exorcista entram no quadro de uma real possessão diabólica da qual as vítimas não suspeitavam que
existisse. Nestas circunstâncias o discernimento da natureza dos fenômenos vexatórios poderá ser
mais fácil.
► Em alguns casos determinadas tipologias de fenômenos vexatórios são prelúdio de uma tentativa
da parte do demônio de possuir uma pessoa. O exorcista, ao escutar o relato de tais fenômenos,
evite todo juízo apressado, sobretudo se quem os refere é uma criança simples e sem malícia ou um
adulto que dá prova de juízo e de equilíbrio psíquico. Ao invés, indague a fundo segundo os
critérios oferecidos por estas Diretrizes.
► É certo, em linha de princípio e em linha de fato, que seres humanos possam se tornar vítimas de
vexações diabólicas sem ser possuídos pelo demônio. A experiência exorcística chama a atenção
que muitas destas situações são ocasionadas por um malefício.
► Um só evento ou muito poucos, especialmente se distantes no tempo, não bastam para afirmar
que exista uma ação vexatória demoníaca, nem um só episódio acontecido há anos, mesmo se num
exame tranquilo pode ser prudentemente julgá-lo de origem preternatural, não justifica o
exorcismo. Ao contrário, a atualidade (isto é, coisas que acontecem no presente), a frequência e, em
certos casos, a “regularidade” com a qual os fenômenos vexatórios acontecem são requisitos
suficientes e necessários para que o exorcista leve a sério um caso que lhe é apresentado.
► Os fenômenos vexatórios, para serem julgados realmente de origem diabólica, devem resultar
não explicáveis por causas naturais.
► A análise dos fenômenos vexatórios é relativamente fácil se se trata de fatos que acontecem na
esfera física e que podem ser verificados objetivamente por vários observadores, mas que resultam
inexplicáveis à luz da medicina ou de outras ciências (por exemplo, cortes no corpo que são como
se viessem feitos a partir “de dentro”, com feridas que sangram e que depois desaparecem; corpos
humanos que são como que agarrados por forças invisíveis e lançados longe ou arrastados por terra
contra a vontade de quem sofre o fenômeno; desaparecimento e reaparição, no mesmo lugar ou a
distância, de objetos sem que haja fraude humana). Nestas situações e em outras análogas os sinais
relevantes devem ser classificados como evidentes.
► O juízo se torna mais difícil se os fenômenos, mesmo acontecendo na esfera física, não podem
ser verificados objetivamente por vários observadores, mas são percebidos só pela pessoa que é
“vítima” deles (por exemplo, coisas estranhas e/ou dolorosas que uma pessoa sente acontecer
dentro do seu corpo, mas que não produzem efeitos externos e fogem da normal exploração
médica). Nestes casos, entre as causas naturais que o exorcista deve levar em consideração, deve
ser primeiramente a condição psicofísica da pessoa. Por este motivo, o exorcista se valha, segundo
a oportunidade, do parecer de especialistas em medicina ou psiquiatria, especialmente quando, no
quadro completo que a pessoa oferece de si, os fenômenos que essa descreve podem ser explicados
como alucinações (estado morboso) e não existam outros sinais de ação diabólica extraordinária na
ordem física, moral ou espiritual. Se a juízo do médico ou do psiquiatra os fenômenos vexatórios
são expressão de um estado morboso, o exorcista despeça o paciente como não necessitado do seu
ministério. Se invés o juízo do médico ou do psiquiatra fica suspenso e é, entretanto, afirmada por
eles a integridade psicofísica da pessoa, os sinais relevantes devem ser classificados como
prováveis.
► Em todos os casos, o exorcista não se esqueça que é sempre necessário avaliar também a
possibilidade de uma simulação.

254) Dado que os sinais evidentes de uma vexação oferecem a certeza moral da ação diabólica
extraordinária, o exorcista pode, em todos os casos nos quais os encontra, proceder com o
exorcismo de forma absoluta. Do momento, invés, que os sinais prováveis não oferecem esta
certeza, o exorcista pode, em todos os casos que se lhe apresentam, proceder com o exorcismo
diagnóstico.
Onde, porém, não são oferecidos sinais prováveis, não se proceda nem mesmo com o exorcismo
diagnóstico e se despeça o paciente como não necessitado do ministério exorcístico.

Obsessão diabólica

255) No n. 057 foram apresentadas algumas tipologias de obsessão diabólica que, porém, não
esgotam a casuística. Como já se disse, se a obsessão não se entrelaça com outros gêneros de ação
extraordinária do maligno (vexação e/ou possessão), é a espécie de ação diabólica mais difícil de
decifrar por causa da sua semelhança com algumas situações de desconforto psicológico ou com
algumas doenças psiquiátricas.

256) Para o correto diagnóstico de uma possível obsessão diabólica é necessário começar sempre
pelo exame da condição psicofísica da possível vítima. As razões são dadas
► daquilo que especifica a obsessão diabólica, que é a agressão e o tormento causados pelo
demônio aos sentidos internos de uma pessoa: imaginação, memória sensível e estimativa;
► do dever do exorcista de fazer um discernimento levando em consideração, sempre e
primeiramente, as possíveis causas naturais dos fenômenos que lhe são referidos.

257) Portanto, depois de haver escutado a narração das obsessões sofridas, antes de dar-se o
trabalho de procurar possíveis causas remotas (sessões espíritas, frequentar magos, pessoas
invejosas ou más que possam ter comissionado um malefício, maldições, etc.), o exorcista procure
ter um quadro “clinico” objetivo atual da pessoa vítima de fenômenos obsessivos. Entram neste
quadro “clínico” como elementos a serem apurados:
► a sinceridade da pessoa e a sua capacidade de ser em geral objetiva (isto é, de colher e referir as
situações na sua objetividade),
► a sua integridade moral,
► o seu “desinteresse” ao referir os fenômenos obsessivos,
► o seu equilíbrio psíquico.

258) No caso em que o exorcista tenha verdadeiras dúvidas sobre o equilíbrio psíquico da pessoa
vítima de obsessão, para não assumir um papel que não lhe compete (o exorcista não é um médico)
deve-se valer do parecer de especialistas em medicina ou psiquiatria, especialmente se, fora das
obsessões que lhe foram referidas, não existam outros sinais de ação diabólica extraordinária na
ordem física, moral ou espiritual.

259) Segue agora um elenco, não exaustivo, de possíveis obsessões diabólicas, juntamente com a
indicação de serem sinais evidentes ou prováveis de ação demoníaca extraordinária.

260) Em ordem a obsessões que dizem respeito ao sentido interno da imaginação ou fantasia
Temos um sinal provável de obsessão diabólica:
► quando continuamente acontecem ao paciente, são de mente e de vida virtuosa, aparições
eróticas que impressionam fortemente a fantasia, mesmo contra a vontade, como se fossem
percebidas com os olhos do corpo;
► quando várias vezes vêm à imaginação visões de coisas horríveis, de perigos e a pessoa é sã de
mente e não é de natureza tímida;
► quando aparecem frequentemente visões de coisas espirituais e o paciente, são de mente, não é
absolutamente uma persona virtuosa e de vida santa;
► quando uma pessoa, sã de mente, sente locuções (discursos, palavras) interiores formadas e
distintas e o exorcista ou uma outra pessoa especialista em questões de vida espiritual reconhece
que essas não são de Deus;
► quando os sonhos de uma pessoa, casta e amante de Dio, são ordinariamente de coisas horríveis
ou obscenas.

261) Em ordem a obsessões que dizem respeito ao sentido interno da estimativa temos um sinal
provável de obsessão diabólica
► se alguém, sem alguma causa precedente, sem ser enfermo de mente e contra a sua vontade, é
impelido a considerar como inimigos seus pais, consanguíneos, amigos e familiares, e sente o
impulso de evita-los como pessoas a ele nocivas;
► Se alguém, fora da sua inclinação natural, dos seus hábitos e da sua vontade, é impulsionado a
considerar nocivo tudo o que sempre julgou ser-lhe útil, profícuo e agradável, e se sente movido a
estimá-lo como inconveniente e molesto.

262) Em ordem a obsessões que dizem respeito à memória sensitiva temos um sinal provável de
obsessão diabólica
► quando alguém improvisamente e sema alguma doença prévia se esquece de todas as coisas nas
quais era convenientemente e perfeitamente instruído e formado (ciências, artes etc.).

263) Em ordem a obsessões que dizem respeito às paixões humanas temos um sinal provável de
obsessão diabólica.
► quando alguém, de consciência temente a Deus e amante da virtude, se sente impelido a amar
ardentissimamente uma pessoa qualquer, com a qual precedentemente não teve alguma conversação
amigável, nem jamais se deteve a meditar sobre a sua beleza ou outras qualidades, e isso acontece
em contraste com os seus raciocínios e o seu querer,
► quando um homem (ou uma mulher), de bons sentimentos e de consciência temente a Deus, se
sente movido a unir-se carnalmente com qualquer pessoa de modo tão ardente que se sente queimar
o peito se não a procura, de sofrer arranques de impaciência no desejo de correr até ela, e isto sem
alguma disposição precedente (por exemplo: conversação amigável, frequentes encontros, longas
considerações entre si e aquela pessoa, ou sem haver recebido dela algum benefício);
► quando alguém, de mente sã e de boa vida cristã, se sente impulsionado a agir mal, por exemplo,
a desprezar e/ou transcurar os pais, a atacar com xingos, ultrajes, injúrias os religiosos e, sobretudo,
a caçoar e falar mal dos sacerdotes, e isto acontece contra a sua vontade, sentindo dentro de si
repugnância por estes impulsos;
► quando alguém, por exemplo, um marido, se sente impulsionado a odiar a mulher quando esta é
presente, enquanto a ama ardentemente quando está ausente, se isto acontece contra a própria
vontade, nem há uma razão qualquer que excita ao ódio;
► quando um bom cristão, de mente sadia e contra a sua própria vontade, se sente
improvisadamente impulsionado a odiar e a detestar os Sacramentos, os sacramentais, as igrejas e
todas as coisas sacras;
► quando alguém, são de mente, contra a inclinação do seu caráter e o seu hábito, estando em
lugares alegres e agradáveis se sente levado à tristeza e, onde outros se alegram, ele se entristece
sempre mais, nem há uma mínima causa racional de tristeza; antes, se sente impulsionado a
procurar lugares solitários, mais favoráveis a dar aflição que alegria, mas não para dedicar-se ao
estudo ou à oração, antes para abandonar-se à inoperosidade;
► quando alguém, são de mente e de bom caráter, é, de improviso e sem motivo, tomado pela
apreensão e pelo medo, sem que saiba que coisa ele tema;
► quando alguém, são de mente e sem alguma causa precedente, começa a sentir grandemente
medo de ser morto, sobretudo pelos amigos, e por isso percebe em si um forte impulso de fugir
deles para esconder-se;
► quando alguém, são de mente, de consciência temente a Deus e sem alguma causa precedente, se
sente transportado a irar-se contra si mesmo ou também contra os pais, amigos e familiares, e na
agitação da ira se sente impelido a proferir blasfêmias contra Deus, Cristo, a Virgem Maria e os
Santos, e até a invocar o demônio em sua ajuda.
264) Em todos os casos acima elencados e em outros análogos nos quais resulte comprometido ou
ausente um dos elementos do quadro “clínico” já citado, precisamente
► ou a sinceridade da pessoa e a sua capacidade de ser em geral objetiva (isto é, de colher e referir
as situações na sua objetividade),
► ou a sua integridade moral,
► ou o seu “desinteresse” ao referir os fenômenos obsessivos,
► ou o seu equilíbrio psíquico,
faltam aos fenômenos obsessivos seja a nota de sinal evidente, seja aquela de sinal provável.

265) Na eventualidade que não emerjam com clareza outros elementos úteis à formação de um
juízo moralmente certo e se o equilíbrio psíquico da pessoa que se diz obsessa resulta
comprometido, o exorcista suspenda a sua ação e imponha ao paciente, como condição para
continuar a interessar-se pelo seu caso, uma perícia médico-psiquiátrica em especialistas
competentes e de confiança.
Como já recordado no n. 059, existem, de fato, fenômenos obsessivos que têm uma origem
exclusivamente patológica (e muitos dos “obsessos” que procuram os exorcistas entram nesta
categoria), mas existem também obsessões as quais, mesmo tendo uma origem natural, são
amplificadas de maneira enorme por uma ação extraordinária do demônio. No primeiro gênero de
obsessão a competência é exclusivamente médica e o exorcista, enquanto tal, nada tem a fazer; no
segundo gênero, invés, médico e exorcista têm cada um a própria parte a ser feita.
Em base aos resultados da perícia médica, o exorcista agirá. Se o veredito médico restitui aos
fenômenos obsessivos a nota de “sinal evidente”, o exorcista poderá proceder com o exorcismo de
forma absoluta; se restitui a nota de “sinal provável” o exorcista poderá proceder com o exorcismo
diagnóstico; se afirma como única causa dos fenômenos obsessivos uma patologia, o exorcista
dispense o paciente e o confie apenas aos cuidados médicos.

266) Na eventualidade na qual não emerjam com clareza outros elementos úteis à formação de um
juízo moralmente certo e se resultarem comprometidas a sinceridade da pessoa e a sua capacidade
de ser em geral objetiva (isto é, colher e referir as situações na sua objetividade), ou a sua
integridade moral, ou o seu “desinteresse” no referir os fenômenos obsessivos, o exorcista suspenda
a sua opera e dê ao paciente, nos limites do possível, conselhos úteis para “curar” da sua falta de
sinceridade etc. avaliando, caso por caso, se orientá-lo também a uma perícia médico-psiquiátrica
com especialistas competentes e de confiança. Em nenhum caso profira um exorcismo absoluto ou
incondicionado, público ou privado mesmo se só diagnóstico.

267) Como já foi dito para a vexação diabólica, o exorcista tenha presente que em alguns casos os
fenômenos obsessivos entram no quadro de uma real possessão diabólica da qual as vítimas não
suspeitavam a existência. Nestas circunstâncias o discernimento da natureza dos fenômenos
obsessivos poderá ser mais fácil. Também para casos nos quais vêm referidos fenômenos
obsessivos, o exorcista deve sempre avaliar a possibilidade de uma simulação.

Possessão diabólica

268) Quanto à possessão diabólica os sinais reconhecíveis do intelecto podem ser os seguintes.

269) Quando alguém fala de modo correto línguas que ele próprio não compreende e/ou quando o
paciente, sobretudo se é uma pessoa rude e ignorante, compreende claramente e perfeitamente o
exorcista, que fala latim ou outras línguas ao paciente totalmente ignoradas e nestas línguas lhe dá
ordens (sobretudo se o exorcista usa vocábulos que ao som resultam enigmáticos e totalmente
diversos da língua vulgar do paciente).
A razão é que não existe alguma patologia psiquiátrica, nem algum estado de alteração mental, nem
alguma capacidade latente na natureza humana, nem alguma força ou energia natural posta fora
dessa que seja capaz de infundir instantaneamente os conhecimentos necessários à compreensão de
um idioma desconhecido; com maior razão, de consentir a uma pessoa de exprimir-se
improvisamente e corretamente em tal idioma, fato que comporta, entre outras coisas, um
habilitação do aparato vocal que normalmente se obtém no tempo e com muito exercício. Isso
justifica porque no Rituale de São Francisco de Sales este é um dos sinais de possessão diabólica ao
qual é atribuída a nota de certíssimo.
Deve-se, todavia, precisar que se o paciente se exprimisse em um idioma, antigo ou moderno,
desconhecido ao exorcista e incompreensível às outras pessoas eventualmente presentes, tal
fenômeno perder seja a nota de sinal evidente, como aquela de sinal provável.
Mesmo no caso no qual, por exemplo, através de uma gravação, fosse possível a uma pessoa
especialista reconhecer a língua falada pelo paciente e traduzir o que nessa foi dito, o sinal não deve
ser considerado nem evidente, nem provável se não há a possibilidade, no ato no qual o paciente
tornasse a se exprimir em tal língua, de conversar com ele e verificar o efetivo grau de compreensão
que ele tem do idioma usado (quanto dito do paciente poderia, de fato, ter sido por ele aprendido de
memória).
Igualmente, se não fosse possível obter a certeza moral que o paciente, antes de compreender e/ou
de exprimir-se numa língua “desconhecida”, não tivesse efetivamente as noções e as habilidades
físicas necessárias para tal escopo, tal sinal não deve ser considerado nem evidente, nem provável.
O exorcista preste também atenção a uma eventual “estandardização” da linguagem “desconhecida”
usada pelo paciente. A experiência mostra que nos casos de simulação, especialmente de sujeitos
com problemas psicológicos ou patologias psiquiátricas, as frases ou as palavras pronunciadas
tendem a ser sempre as mesmas independentemente da ação do exorcista. Obviamente, em tais
casos, o fenômeno não é por si mesmo indicativo de alguma presença diabólica.
O que se disse até aqui serve para compreender na sua real dimensão a afirmação o DESQ n. 16,
para o qual este gênero de sinais, enquanto pode oferecer algum indício de atividade demoníaca,
não deve ser necessariamente considerado como proveniente do diabo.

270) Quando o paciente revela algo que por si ele não pode saber porque lhe é oculto ou distante, é
sinal evidente de possessão diabólica.
A razão é clara: aquilo que para o intelecto humano é desconhecido porque oculto ou distante, não o
é para o intelecto diabólico. Quanto foi dito justifica porque no Rituale de São Francisco de Sales é
apresentado como sinal certíssimo de possessão diabólica.
Se, porém, o exorcista duvida razoavelmente do fato que a coisa revelada fosse efetivamente oculta
ao paciente, tal sinal não deve se tido nem como evidente, nem como provável, e só neste sentido se
explica a afirmação do DESQ n. 16, para o qual este gênero de sinal, enquanto pode oferecer algum
indício de atividade demoníaca, não deve ser necessariamente tido como proveniente do diabo.

271) Quando um paciente prediz acontecimentos futuros que excedem a capacidade do intelecto
humano de prognosticar eventos baseando-se em leis físicas ou estatísticas, ou seja, por indícios ou
por simples conjectura, e o quanto foi predito depois aconteça, é sinal evidente de possessão
diabólica.
A razão reside na ciência natural que os espíritos malignos conservaram por inteiro, depois da sua
queda e da reprovação por parte de Deus. Tal ciência, além de ser inata, neles é também adquirida e
é muito superior à ciência humana. Por isso, se é verdade que os demônios não têm pré-ciência
segura das ações livres futuras, mas só conjectural e, portanto, falível, de outros eventos esses
podem ter uma pré-ciência quase certa pelo conhecimento profundo que têm das suas causas. A
isso se acrescente que o demônio pode predizer um evento futuro sabendo que quase certamente
acontecerá porque ele mesmo agirá para causá-lo.
Falou-se de pré-ciência quase certa e não absoluta, porque resta sempre aberta a possibilidade que
Deus, Causa primeira de todas as coisas, aja para impedir que aconteça aquilo que o demônio
predisse.

272) Quando um paciente fala de modo elevado de mistérios da fé acima da própria capacidade, é
sinal evidente de possessão diabólica.

273) Quando um paciente cai por terra como se fosse morto e ali resta como se tivesse sem
sentidos, mas se levanta bem rapidamente ao comando tácito feito pelo exorcista ao demônio em
nome de Jesus, é sinal evidente de possessão diabólica (está presente, de fato, um demônio que
compreende o preceito).

274) Quando, no contexto de um exorcismo, em alguma parte do corpo se manifesta de improviso


uma dor e/ou um inchaço (engrossamento, tumefação), se ao sinal da cruz e ao preceito feito pelo
exorcista ao demônio em nome de Jesus esses desaparecem, e à sucessiva ordem tácita do exorcista,
o qual comanda em silêncio que tais sintomas reapareçam, dor e/ou inchaço (engrossamento,
tumefação) reaparecem, é sinal evidente de possessão diabólica (esta presente, de fato, um demônio
que compreende o preceito dado-lhe pelo exorcista).

275) Em ordem à possessão diabólica os sinais reconhecíveis da vontade podem ser os seguintes.

276) Se um homem inesperadamente e sem alguma causa prévia quer matar-se, de modo que se
golpeia com violência (por exemplo, com pedras), ou se joga no fogo o se lança no vazio, mas não
sofre algum dano disso, é sinal evidente de possessão diabólica (está presente, de fato, um demônio
que quer estes males e os procura, mas Deus impede o êxito da malícia diabólica e preserva o
paciente destes perigos).
277) Quando uma pessoa, boa, de consciência temente a Deus e sã de mente, sem causa alguma
odeia os sacerdotes, os religiosos, os pais, os amigos e contra a sua própria vontade inflige a eles
xingos, ultrajes e insultos, se não é um sinal evidente de possessão diabólica, pelo menos é muito
provável.

278) Quanto à possessão diabólica por sinais reconhecíveis da faculdade sensitiva interna da
imaginação ou fantasia se faça referência a quanto exposto no n. 260 destas Diretrizes em
referência à obsessão diabólica.
Os sinais indicativos de uma ação obsessiva do demônio sobre a imaginação podem, de fato,
referir-se a uma pessoa que não é somente obsessa, mas também possuída pelo maligno.
Como o exorcista possa compreender que o mesmo sinal, referente de per si à obsessão, seja
também sinal de uma possessão diabólica será explicado nos nn. 294 – 297.

279) Quanto à possessão diabólica os sinais reconhecíveis da faculdade sensitiva interna da


estimativa podem ser:
► Se alguém, sem alguma causa precedente, sem ser enfermo de mente e contra a sua vontade,
estima como inimigos os seus pais, consanguíneos, amigos e familiares, e os evita como pessoas a
ele nocivas, temos um sinal provável de possessão diabólica.
► Se alguém, fora da sua inclinação natural, dos seus hábitos e da sua vontade, julga nocivo tudo o
que sempre reconheceu ser-lhe útil, profícuo e agradável, e os rejeita como inconveniente e
molesto, temos um sinal provável de possessão diabólica.
De um confronto com o n. 261 destas Diretrizes emerge esta diferença: na obsessão diabólica a
vítima sente só um impulso muito forte proveniente da sua estimativa; na possessão diabólica,
invés, a vítima age segundo o impulso que sente (na realidade, quem age é o demônio e isto nos
momentos nos quais ao intelecto e à vontade humana – que ao maligno restam intangíveis – são
tirados o controle dos próprios juízos e das próprias ações).

280) Quanto à possessão diabólica os sinais reconhecíveis da faculdade sensitiva interna da


memória sensitiva podem ser:
► O que já foi apresentado nestas Diretrizes no n. 262 e para o qual valem as mesmas
considerações feitas no n. 279.
► Quando alguém, após haver exposto, explicado, comentado muitas coisas (ou de modo confuso,
ou de modo ordenado, mas sempre excedentes à sua capacidade intelectual, os seus estudos e a sua
profissão), de repente muda e todas as coisas que havia dito não mais as recorda, temo um sinal
provável de possessão diabólica.

281) No tocante à possessão diabólica os sinais reconhecíveis das paixões humanas podem ser:
► Quando alguém, são de mente e de corpo, contra o seu caráter e o seu hábito, ama
improvisadamente lugares escuros e tétricos e vai em busca dos horrores do isolamento, temos um
sinal provável de possessão diabólica.
► Quando alguém, são de mente e de corpo, foge à familiaridade e à companhia dos homens (pais,
parentes e amigos), mas não se dedica à oração ou à meditação; antes, dominado pela preguiça,
dominado pela melancolia e contra a sua natural inclinação e hábito do seu caráter, persiste em ficar
só sem haver sofrido alguma grave tribulação, temos um sinal provável de possessão diabólica.
► Quando alguém, são de mente, de consciência temente a Deus e amante da virtude, de improviso
ama ardentissimamente uma pessoa, com a qual precedentemente não teve alguma conversação
amigável, nem chegara a deter-se para pensar sobre a sua beleza ou outras qualidades, e parece agir
mais como um louco que amar, temos um sinal evidente de possessão diabólica.
► Quando alguém, são de mente, equilibrado nas escolhas e de vida boa, de modo inesperado faz
coisas perigosas e ama outras coisas do gênero a ele nocivas e as busca, temos um sinal provável de
possessão diabólica.
► Quando alguém, de mente sã e de boa vida cristã, de improviso e sem motivo começa a
desprezar e/ou transcurar os pais, a atacar com sarcasmos, ultrajes, injúrias os religiosos e,
sobretudo, a desprezar de forma mordaz e ridicularizar os sacerdotes, mostrando prazer nisto e,
juntamente, fazendo-o contra a própria vontade, temos um sinal evidente de possessão diabólica.
► Quando alguém, são de mente e sem algum motivo, foge dos sacerdotes, das igrejas, da
participação aos Sacramentos e de toda forma de oração, mesmo que sempre tenha sido pessoa
devota, praticante e de boa consciência, temos um sinal provável de possessão diabólica.
► Quando alguém, são de mente e de vida boa, se torna triste e começa a suar, ou na presença de
sacerdotes e não de outros, ou na participação da S. Missa, ou ao receber o Santíssimo Sacramento
da Eucaristia e nos outros exercícios espirituais, mas particularmente no contexto do exorcismo
diagnóstico proferido sobre ele, temos um sinal provável de possessão diabólica.
► Se alguém, são de mente e de juízo perfeito, de repente se empenha em conseguir algo de
excessivamente difícil, que parece exceder as forças da natureza, do engenho humano e da ordem
comum da natureza, temos um sinal provável de possessão diabólica.
► Quando alguém, são de mente e sem ser estado abalado por uma precedente tribulação ou
perseguição, se desespera e por isto ora se lacera as vestes e os próprios membros, ora se bate com
socos ou com outros objetos, ora procura afogar-se ou queimar-se com fogo, ora tenta de precipitar-
se de um lugar alto, se faz isto contra a sua própria vontade é sinal evidente de possessão diabólica.
► Quando alguém, são de mente, de consciência temente a Deus e sem alguma causa precedente,
se ira contra si mesmo ou também contra os pais, amigos e familiares, e na agitação da ira profere
blasfêmias contra Deus, Cristo, Maria Virgem e os Santos, e chega a invocar o demônio em sua
ajuda, temos um sinal provável de possessão diabólica.
► Quando alguém como um cão raivoso espuma e range os dentes, mas não é louco, nem
atribulado por alguma enfermidade natural (por ex. epilepsia) ou atitude passional, temos um sinal
provável de possessão diabólica.
► Quando marido e mulher, ambos sãos de mente, apenas vêem um ao outro um dos dois foge, ou
se ira de modo que o outro é agredido com pontapés, socos, unhadas, mordidas como um inimigo
danosíssimo, e quando estão separados se amam ardentissimamente, é sinal evidente de possessão
diabólica.

282) No tocante à possessão diabólica os sinais reconhecíveis pelo sentido externo da vista podem
ser:
► Quando a um paciente de improviso é tirada a visão e repentinamente lhe é restituída, se isto
acontece frequentemente, é sinal evidente de possessão diabólica.
Faça-se atenção que neste sinal existem elementos diversos daquilo que alguns indicam como
“disfunção focal completamente reversível”, nomeadamente com deficit visivo (aura visiva). Sem
levar em conta que os fatores desencadeantes e as causas disso que em medicina é chamada “aura”
são atualmente desconhecidos em nível de evidências experimentais, no sinal apresentado não
existem, de fato, ataques de dor de cabeça, de repente a visão desaparece e imediatamente retorna, e
ademais o fenômeno acontece frequentemente.
► Quando um paciente, são de mente e de corpo, durante o dia não vê nada e de noite, invés, vê
bem (tanto que lê tranquilamente sem luz, de sorte que para ele o dia parece noite e a noite dia), é
sinal evidente de possessão diabólica.
► Quando um paciente, são de mente e de corpo, mostra de improviso e sem causas de agitação
passional, um olhar tão perturbado que faz assustar aqueles que o vêem e as pupilas dos seus olhos
aparecem terríveis e cintilantes, é sinal provável de possessão diabólica.
► Quando um paciente, são de mente, com custo pode olhar para o rosto de um sacerdote e,
sobretudo, de um exorcista e o branco dos olhos muda de diversos modos, é sinal provável de
possessão diabólica (a este sinal se deve fazer atenção sobretudo quando se trata de bebês e de
crianças pequenas, das quais muito dificilmente se podem colher outros sinais).

283) No tocante à possessão diabólica os sinais reconhecíveis pelo sentido externo da audição
podem ser:
► Se numa pessoa sã improvisadamente a audição se transforma, de tal forma que se torna surda e
em seguida ouça bem, e isto acontece ao escutar coisas espirituais, é sinal evidente de possessão
diabólica.
► Quando um paciente durante o exorcismo diagnóstico, sem sofrer stress pelo trabalho o por
insônia, escutando orações, leituras sacras e passagens evangélicas mostra um tédio extraordinário
(enormes bocejos), ou grande agitação, ou é colhido por uma pesada sonolência, é sinal provável de
possessão diabólica.
► Quando o paciente, são de mente e de corpo, escuta vozes que o chamam e presta a elas a
máxima atenção, é sinal provável de possessão diabólica.
► Se soando sinos ou campainhas bentas a pessoa sofre um forte tédio o uma agitação
despropositada, coisa que não acontece com sinos ou campainhas não abençoadas, é sinal provável
de possessão diabólica.

284) No tocante à possessão diabólica os sinais reconhecíveis do sentido externo do paladar (o


daquilo que está em relação ao processo nutricional) podem ser:
► Quando, por mais de uma semana, ou mesmo além, alguém não come nada ou quase e, todavia,
é forte, robusto e cheio de energia como antes, é sinal evidente de possessão diabólica.
► Quando alguém, são de mente e de corpo, arde de fortíssima sede e, todavia, não pode beber
algum líquido, antes abomina qualquer coisa que seja capaz de extinguir a sede, é sinal evidente de
possessão diabólica.
► Quando alguém, são de mente e de corpo, parece morrer de fome e, todavia, não pode comer
alimento algum, antes foge e tem em horror qualquer coisa comestível, é sinal evidente de
possessão diabólica.
► Quando uma criança ou um adolescente de ambos os sexos, de natureza sadia e animada, sem
alguma causa de doença, não só não se desenvolve e cresce fisicamente, mas antes decresce, é
enfraquecido pela magreza duradoura e se esgota, ainda que coma e beba não apenas segundo o
hábito costumeiro, mas em maior quantidade, é sinal evidente de possessão diabólica.
► Quando alguém vomita facas, pregos, agulhas, cabelos, vidros e outras coisas várias e é excluída
toda forma de fraude, é sinal evidente de possessão diabólica.
► Quando alguém expele do ânus as mesmas coisas ou qualquer outra coisa que do corpo ou no
corpo não pode ser gerada; ou por muitos meses perde continuamente sangue sem estar sofrendo de
alguma doença, é sinal evidente de possessão diabólica.
► Quando alguém, sendo sadio, não pode conservar o alimento no estômago, mas é constrangido a
vomitá-lo e se, invés, a mesma qualidade de alimento, sem que ele saiba, é abençoada assim ele a
mantém no estômago, é sinal provável de possessão diabólica.
► Quando alguém assume tranquilamente e com gosto uma certa qualidade de alimento ou de
bebida, mas lhe desgosta e o refuta se foi abençoado por um sacerdote sem que saiba, é sinal
provável de possessão diabólica.
► Quando alguém, ainda que no exame médico resulte são, sente no estômago uma porção de
alimento quase perene, que muitas vezes sobe até a garganta e parece sufocá-lo, é sinal provável de
possessão diabólica.
► Quando alguém, são de mente, por muitos meses não pode saborear coisas que sempre comeu
sem dificuldade e com gosto e, todavia, é declarado completamente são pelos médicos, é sinal
provável de possessão diabólica.
► Quando alguém, são de mente, come de modo exagerado, em grande quantidade, e bebe muito
contra o seu hábito e, todavia, nunca se sacia, é sinal provável de possessão diabólica.
► Quando alguém, são de mente, come com dificuldade, de forma que seja necessário nutri-lo com
a força, mas não há alguma enfermidade que causa esta situação, é sinal provável de possessão
diabólica.

285) No tocante à possessão diabólica os sinais reconhecíveis pela linguagem podem ser:
► Quando alguém inesperadamente perde a voz, nem pode falar, nem abrir a boca mesmo
querendo fazer, e em seguida ao preceito tácito feito pelo exorcista ao demônio em nome de Jesus,
readquire imediatamente a palavra, é sinal evidente de possessão diabólica.
► Quando improvisamente, da boca de um homem são de mente e de corpo, normalmente
equilibrado, não perturbado pelo álcool, pelas drogas ou pela paixão, saem palavras das quais
imediatamente depois não se recorda de havê-las dito ou que jamais queria ter dito, é sinal provável
de possessão diabólica.
► Quando alguém, são de mente e de corpo, não de propósito, nem querendo livremente, emite às
vezes sons muito semelhantes aos sons produzidos por animais (latidos, uivos, mugidos, relinchos,
etc.) é sinal provável de possessão diabólica.
► Quando alguém, são de mente e de corpo, profere vários discursos sem conexão, e não resulta
estar bêbado, drogado, em delírio ou agitado por motivos passionais, ou sob influência de outras
causas naturais, é sinal evidente de possessão diabólica.
► Quando alguém, são de mente e de corpo e que não tem dificuldade para ler outras coisas, muito
dificilmente consegue pronunciar palavras sacras, senão entrecortando e gaguejando, por exemplo,
recitando o Salmo 50, ou o Salmo 90, ou o início do Evangelho de S. João, ou pronunciando o
Santíssimo Nome de Jesus, ou da Beatíssima Mãe de Deus Maria, é sinal provável de possessão
diabólica.

286) No tocante à possessão diabólica os sinais reconhecíveis do olfato podem ser:


► Quando alguém foge dos odores de coisas sacras, como incenso, rosas bentas e outras coisas do
gênero, enquanto não lhe aborrecem se não são bentas, é sinal provável de possessão diabólica.
► Quando da boca de alguém, que não sofre patologias respiratórias ou metabólicas que causam
bromopnéia (mau odor bucal), saem fedores insuportáveis como de enxofre, de pez, de fuligem, de
carvões e coisas do gênero, é sinal provável de possessão diabólica.

287) No tocante à possessão diabólica os sinais reconhecíveis pelo tato, que se dão quando alguém,
são de mente e de corpo, entra em simples contato com as mãos sacerdotais, podem ser os
seguintes:
► Alguns sentem sob a mão do sacerdote uma coisa friíssima como gelo.
► Alguns ficam atordoados e colapsam como se atingidos por um raio.
► A outros corre um vento pelas costas e pelos rins que é friíssimo.
► A alguns a cabeça fica desmedidamente pesada.
► A alguns parece que o cérebro seja comprimido e atravessado, come se fosse transpassado por
uma espada.
► A alguns se inflama a cabeça e o rosto e às vezes a pessoa inteira como se fosse envolvida por
um vapor de fogo.
► A alguns sobrevém uma febre desmedida, com dores de cabeça e enfraquecimento e uma
debilidade de todo o corpo (se sentem moídos).
► A alguns se estreita a garganta a tal ponto que parecem ser estrangulados.
► A alguns, na boca do estômago ou pelo esôfago, se move algo semelhante a uma bola, como se
fossem vermes, ou formigas, ou rãs, ou aranhas pelosas, ou serpentes.
► A alguns acontece um grande vômito.
► A alguns a maior tortura é nas vísceras.
► A alguns o ventre se incha grandemente.
► A alguns o coração se contrai como se, de modo insuportável, fosse ferido, mordido, espetado,
batido.

288) Expõem-se agora alguns sinais da atividade extraordinária do maligno, reconhecíveis pela
condição do corpo, e que, no mais das vezes, se apresentam na fase inicial do mal diabólico.
Obviamente estes sintomas têm valor de sinal na medida em que fique excluída toda causa
patológica em nível psicofísico.
► Uma certa estupidez da mente. Dá-se quando uma pessoa, que sempre gozou de capacidades
intelectivas e decisionais normais, de improviso manifesta torpor e tontura, que lhe rendem difícil
fazer ou compreender um discurso mesmo banal e, consequentemente, agir de modo adequado às
várias situações (sinal provável).
► Vários delírios melancólicos (sinal provável).
► Movimentos convulsivos que aprecem epilépticos, mas não o são (sinal provável).
► Improvisos sofrimentos e opressões (pressões) do corpo que a pessoa que as adverte não sabe
explicar (sinal provável).
► Um enfraquecimento físico geral e uma cor funesta da pele, por exemplo, esverdeada, ou pálida,
ou amarelada semelhante ao açafrão (sinal provável).
► Um abalo (tormento) espontâneo dos nervos, dos ossos, das vísceras ou uma rigidez que
antecipa uma convulsão (sinal provável).
► Lacerações e constrições internas das vísceras, além de dores no ventre com grandíssimo rumor
(sinal provável).
► Uma dor contínua na cabeça sem algum intervalo, seja que se experimente como um peso, seja
como golpes, que a pessoa adverte como se fosse uma perfuração interna e inesgotável do cérebro
ou das têmporas. Se ao sinal da Cruz feito pelo sacerdote cessa imediatamente, é sinal evidente de
ação diabólica extraordinária.
► Pulsação das artérias em torno ao pescoço (sinal provável).
► Peso no coração e pontadas no mesmo, come se fosse atravessado por agulhas (sinal provável).
► Dor contínua no estômago, pontadas que afligem a boca do estômago por breves espaços de
tempo, sensações de indigestão ou de uma porção de alimento desagradável e pesado pelo qual
parece ser sufocado ou estrangulado (sinal provável).
► Alimento sempre indigesto e frequentes vômitos, coisas que não acontecem quando o alimento é
abençoado (sinal provável).
► Evacuação, flatulência e fermento do ventre com exalações friíssimas ou quentíssimas que
escorrem, se difundem e desaparecem sensivelmente (sinal provável).
► Frequentes sofrimentos do cólon e dos rins (sina provável).
► Partes do corpo que se sentem como que amarradas (presas) por espirais de serpentes ou
pálpebras dos olhos tão serradas que com custo podem ser abertas (sinal provável).
► Casos de desmaios que acontecem em horas estáveis com persistente tédio (desgosto) da vida,
humor péssimo (estado de ânimo inclinado à irritação e ao nervosismo, excessiva tristeza,
melancolia), obstinado silêncio (taciturnidade) e um frequente suspirar (como a exprimir tristeza ou
turbamento espiritual) sem uma causa manifesta (sinal provável).
► Tremor nos membros e principalmente na cabeça do paciente que acontece na presença de coisas
ou pessoas espirituais (sinal provável).
► Agitação (às vezes limitada, por exemplo, aos membros inferiores) pela qual uma pessoa não
pode de modo algum repousar, nem estando de pé, nem se sentando, nem se deitando, e mesmo
assim não aparece alguma enfermidade (sinal provável).
► Tosse seca, muito molesta ao paciente e aos outros, sem expulsão de muco, que não pára nunca,
mas antes se agrava enquanto se reza ou são administradas coisas espirituais, como Sacramentos
e/ou sacramentais (sinal provável).
► Bocejos frequentes com grandíssima dilatação da boca, sobretudo enquanto se faz alguma leitura
sacra (sinal provável).
► Protuberâncias improvisas (inchaços, bócios, tumefações), que surgem rapidamente em alguma
parte do corpo, do qual os médicos non sabem explicar a causa e que sem alguma cura rapidamente
desaparecem (sinal provável).
► Um vento veemente que escorre por todo o corpo como se fossem formigas, ou serpenteia
velozmente para todo lado do corpo como uma serpente, ou que como um rato se intromete ora
nesta ora naquela parte do corpo, é sinal evidente de ação diabólica extraordinária.
► O transporte do corpo ou a sua elevação (levitação) contra a vontade do paciente, e não se vê por
quem ou por que coisa é transportado ou feito levitar, é sinal evidente de ação diabólica
extraordinária.
► Algazarras, gritos, lacerações das vestes, ranger os dentes e qualquer agitação do corpo sem
alguma causa, nem interna (doenças mentais ou orgânicas, motivos passionais), nem externa. Se
estas coisas desagradam a pessoa que as faz e não as quer, é sinal evidente de ação diabólica
extraordinária.
► Força acima da idade ou da constituição física da pessoa e que não pode ser explicada com
produção ou assunção de adrenalina ou de outras substâncias análogas (como quando um homem
com as mãos e os dentes rompe instrumentos de ferro e outras coisas semelhantes ou um menino
levanta e joga longe coisas que diversos homens robustos e fortes com dificuldade conseguiriam
levantar), é sinal evidente de ação diabólica extraordinária.
Nas situações ordinárias nas quais um exorcista opera, este sinal não é sempre fácil de avaliar. De
fato, se no início ou durante uma sessão um paciente começa a agitar-se e é necessário segurá-lo
para que não se faça mal, o exorcista poderia errar ao dar um juízo sobre a sua força, sobretudo se
se confia exclusivamente ao parecer das pessoas que ajudaram a segurar o paciente. Isso explica a
prudência com a qual o DESQ n. 16 se exprime sobre este sinal.

289) Expõe-se agora alguns sinais da atividade diabólica extraordinária dos quais são potenciais
vítima as crianças (infantes), reconhecíveis pela condição do seu corpo, e que, no mais das vezes, se
apresentam na fase inicial do mal. Obviamente estes sintomas têm valor de sinal na medida em que
seja excluída toda causa patológica ou ligada ao normal desenvolvimento de crescimento.
► Quando muitas vezes tremam sem alguma causa aparente, sobretudo se se acrescenta o fato que
choram continuamente e não dormem, enquanto antes não eram assim (sinal provável).
► Quando têm olhos tímidos e assustados nem ousam olhar diretamente os exorcistas e os
religiosos devotos (sinal provável).
► Quando, de repente, perdido o belo aspecto do rosto e da condição de todo o corpo, se tornam
pálidos e macilentos (sinal provável).
► Quando não querem mais mamar e têm a boca aberta (sinal provável).
► Quando jamais se saciam de leite, mesmo que mamem continuamente, e, ademais, são
macilentos, é sinal evidente de ação diabólica extraordinária.
► Quando de sadios se tornam improvisamente enfermos, sobretudo se em alguma parte do corpo
estão como que “estreitos” ou apareça algum buraco (abertura, cavidade) no corpo, como sob a
língua, em torno do umbigo, nos pés, nas pernas, nas nádegas ou em outros membros (sinal
provável).

290) Dado que os sinais evidentes de uma possessão oferecem a certeza moral da ação diabólica
extraordinária, o exorcista pode, em todos os casos nos quais os encontra, proceder com o
exorcismo na forma absoluta. Do momento, invés, que os sinais prováveis não oferecem esta
certeza, o exorcista pode, em todos os casos que se lhe apresentam, proceder com o exorcismo
diagnóstico.

291) Quanto a todos os sinais da ação diabólica extraordinária (vexação, obsessão, possessão e
infestação), tenha-se presente:
► Os sinais apresentados nestas Diretrizes não esgotam a casuística das manifestações das
operações extraordinárias do maligno.
► Em base à cultura e às características de um povo, podem acontecer outros sinais de atividade
diabólica extraordinária, diversos daqueles descritos e que são conhecidos pela experiência
exorcística no contesto da civilização ocidental. Isso não significa, obviamente, que é a cultura ou o
gênio de um povo a causa eficiente da produção dos sinais, mas que é a ação diabólica a adequar-se
àquela cultura e àquelas características (como de resto acontece no agir salvífico divino).
► A nota específica para que um fenômeno possa chamar-se sinal de atividade extraordinária do
maligno é a origem diabólica e não natural do fenômeno observado.
► Além dos sinais descritos nestas Diretrizes há muitíssimos outros, que com a experiência se
chega a conhecer.

292) O exorcista prudente não se precipite ao julgar uma presença e uma atividade diabólica. Além
da possibilidade de simulação de alguns sinais entre aqueles apresentados, existem patologias que
manifestam sintomas iguais àqueles produzidos pela atividade diabólica. Sobre isso, tenha-se
presente o quanto segue:
► A eficácia das terapias médicas para resolver uma doença ou no aliviar os seus sintomas
demonstra a origem natural de um distúrbio atribuído no início, diretamente e como hipótese, ao
demônio.
► A ineficácia das terapias médicas para resolver uma doença ou no aliviar os seus sintomas surge
como sinal provável de atividade diabólica extraordinária só se é cientificamente e estatisticamente
provada a sua validade no resolver a doença ou no mitigá-la.
► Os exorcismos podem resolver situações devidas a ações extraordinárias do maligno, mas não
têm eficácia no tratamento de estados patológicos que têm origem natural.

293) Nos casos em que a agitação e o estar como que fora de si de um paciente não é certo se sejam
atribuíveis a causas naturais ou preternaturais, um critério importante de discernimento da atividade
diabólica extraordinária é a obediência ao exorcista.
Com isto se entende o render-se aos comandos que o exorcista, em nome do Senhor e pela
autoridade da qual o investiu a Igreja, dá ao demônio, se estivesse presente na pessoa, de cessar de
fazer uma coisa, ou de fazer uma outra.
Obviamente o exorcista não deve esperar do demônio uma obediência inaciana “perinde ac
cadaver”, mas tenha por certo que enquanto nos casos nos quais o paciente é simplesmente doente é
quase impossível que receba uma resposta obediente, naqueles nos quais o demônio está realmente
presente, seja mesmo com relutância, de um modo ou de outro, esta obediência deverá ser-lhe
prestada.
Nos casos de possessão diabólica, muitas vezes também a não-obediência do demônio é ocasião
para adquirir um sinal evidente da presença e da atividade diabólica extraordinária. Isso acontece
quando o exorcista dá ao demônio um comando tácito, por exemplo, de ajoelhar-se diante de um
crucifixo, e este, pela boca do possesso, responde que não se ajoelhará jamais.
Em todo caso, o exorcista se guarde sempre de comandar coisas ridículas, inúteis ou que de per si
venham a excluir a concorrência ou cooperação (concursus, co-operatio) de Deus com o comando
por ele dado ao demônio.

294) Nos casos duvidosos de ação diabólica extraordinária a certeza moral pode ser conseguida só
com o exorcismo diagnóstico. O exorcismo diagnóstico pode dar ocasião a três específicas
situações:
► Aparecimento de outros sinais de ação diabólica extraordinária.
► Regressão dos sinais pelos quais foi proferido.
► Manutenção do “status quo” (situação invariada).

295) Se depois do exorcismo diagnóstico aparecem outros sinais de ação diabólica extraordinária
significa que o paciente é vítima de uma possessão diabólica. Em tal caso os sinais de vexação e/ou
de obsessão, pelos quais o exorcismo diagnóstico foi proferido, devem ser inscritos no quadro de
uma verdadeira possessão. Nestes casos, se os sinais são numerosos e significativos, mesmo se só
prováveis, o exorcista passe ao exorcismo de forma absoluta.

296) Se depois do exorcismo diagnóstico os sinais prováveis de ação diabólica extraordinária


regridem significa que o paciente é vítima só de vexação ou de obsessão, conforme o gênero para
os quais o exorcismo diagnóstico foi proferido. Nestes casos, o exorcista passe ao exorcismo na
forma absoluta.

297) Se depois do exorcismo diagnóstico a situação permanece inalterada e os sinais para os quais o
exorcismo diagnóstico foi proferido são de uma certa relevância, o exorcista deve armar-se de
paciência e continuar com o exorcismo diagnóstico por um certo período de tempo.
A amplitude de tal período não é quantificável de igual modo para todos os casos. Depende dos
contornos de cada em deles e da relevância dos sinais prováveis que motivaram a decisão de se
fazer o exorcismo diagnóstico. Por exemplo, um decreto da Sagrada Congregação dos Bispos e dos
Regulares, transmitido vária vezes a vários Ordinários do lugar, determinava no passado, para
algumas situações particulares, um período compreendido entre três a seis meses. Muitas vezes, de
fato, acontece que só depois de um certo período de tempo e um certo número de exorcismos se tem
o aparecimento de outros sinais ou a regressão daqueles já individuados.
Permanece o fato que se depois de um conveniente lapso de tempo a situação permanece
estacionária (nem se piora, nem se melhora), o exorcista pode em consciência demitir
tranquilamente o paciente, ao qual, qualquer que seja a origem dos seus distúrbios, bastam
certamente os meios ordinários da graça.
O comportamento que o exorcista deve sempre ter, sobretudo com o paciente e durante todo o
tempo do discernimento por meio do exorcismo diagnóstico, é aquele da pessoa que se abstém de
todo juízo, não de quem pensa que o demônio está, de alguma forma, agindo. Se no tempo do
discernimento o paciente se convencesse, de fato, de ser vítima de uma ação extraordinária do
demônio, poderia disso sofrer um sério dano quando o exorcista o devesse depois despedir porque o
demônio, na realidade, não é a causa direta dos seus distúrbios.
298) Quanto à sujeição diabólica os sinais que podem induzir a suspeitar que em alguns sujeitos
aconteça esta forma de ação diabólica extraordinária são dedutíveis do ensinamento dado pelo Papa
Paolo VI na Audiência Geral de quarta-feira dia 15 de novembro de 1972. Precisamente:
► a negação de Deus, que nestas pessoas se faz radical, sutil e absurda;
► a mentira, que nestas pessoas se afirma hipócrita e potente contra a verdade evidente;
► o egoísmo frio e cruel que nestas pessoas apaga o amor;
► o ódio consciente e rebelde com o qual estas pessoas impugnam o nome de Cristo;
► o seu mistificar (falsificar, adulterar) e o seu negar (contradizer, desacreditar, repudiar, rejeitar) o
espírito do Evangelho;
► o desespero que nestas pessoas se afirma como a última palavra.

299) Ocorre, todavia, fazer atenção a não compreender erroneamente aquilo que se observa, para
não tomar como sujeição diabólica aquilo que não o é.

300) Seria um erro, por exemplo, confundir como sendo sujeição diabólica extraordinária a
condição de uma pessoa que dissesse ao exorcista: “Não gostaria de blasfemar, mas é mais forte do
que eu. Não gostaria de trair minha mulher, mas é mais forte do que eu” etc.
Independentemente daquilo que provoca esta debilidade moral (hábitos contraídos, vida de graça
carente, ação obsessiva extraordinária do maligno…) aqui não se pode falar de sujeição diabólica
extraordinária pelo fato que quem realmente é assujeitado pelo demônio de modo extraordinário, se
blasfema é porque quer blasfemar, se trai é porque quer trair, etc.
Consequentemente, o verdadeiro assujeitado não vive a sua blasfêmia e a sua traição como uma
coisa forçada ou uma constrição, nem tanto menos sente desprazer nisso e quase se desculpa.
Nestas almas, de fato, a mentira se afirma hipócrita e potente contra a verdade evidente.

301) Um outro erro seria considerar uma pessoa assujeitada de modo extraordinário ao diabo só
pelo fato de ter feito um pacto com ele, ou por sua própria conta, ou no contexto de uma seita
satânica.
Certamente um tal acordo representa por si uma etapa significativa no caminho para uma sujeição
diabólica extraordinária. Ademais, um tal ato dá ao diabo “direitos” que normalmente são por ele
reivindicados com formas mesmo extremas de vexação, obsessão e possessão no momento em que
quem fez o pacto decide de sair dele.
Todavia, até quando não há um real, ainda que progressivo, fixar-se do pensamento e da vontade no
pensamento e na vontade diabólica não se pode falar ainda de sujeição diabólica extraordinária. Por
quanto grave e tremenda seja a condição de quem fez um pacto com o demônio, se falta quanto foi
apenas dito encontramo-nos ainda no âmbito da sujeição diabólica ordinária, que é a sujeição na
qual se encontram todos aqueles que vivem simplesmente em estado de pecado.

302) Do momento que na sujeição diabólica extraordinária o desespero se afirma como a última
palavra, um outro erro seria considerar que uma pessoa se encontra nesta condição pelo simples
fato de que essa é frequentemente assaltada por pensamentos e por sentimentos violentos de
desespero que a fazem gemer e ter espasmos de angústia.
Este tipo de assalto demoníaco, na realidade, entra no âmbito daquela espécie de ação demoníaca
extraordinária conhecida como obsessão e não raramente é sofrida também por quem é vítima de
uma possessão diabólica.
A nota discriminante que distingue esta espécie de desespero daquela que se afirma como a última
palavra de uma sujeição diabólica extraordinária é que a primeira é “quente” e a alma reage a ela,
gostaria de se libertar dela, ficaria muito bem sem ela; ao contrário, o desespero da sujeição
diabólica é “frio”, “glacial”, e a alma não se opõe a ele, mas antes o deseja, acomodando-se
cinicamente nele.
Os assujeitados ao maligno de modo extraordinário, ao chegarem no último estágio da sua sujeição,
escolhem o desespero como última palavra, enfiando-se nele como as almas dos condenados ao
inferno estão enfiadas no gelo daquele imenso lago gelado que é o Cocito descrito por Dante na
Divina Comédia.

303) Nos casos de verdadeira sujeição diabólica extraordinária o exorcismo, público ou privado,
não pode nada. O exorcismo, de fato, se dirige à vontade demoníaca, não àquela humana de quem é
vítima de uma ação extraordinária do demônio.
Ora, a vontade humana de quem se assujeitou ao diabo no sentido exposto nestas Diretrizes é uma
vontade livre, que pode livrar-se do maligno só por meio da graça da conversão, dada por Deus e
acolhida pelo pecador.
A única possibilidade que o exorcista tem de poder intervir com o exorcismo em casos de sujeição
diabólica extraordinária é quando nesta última se podem ver, ao menos nas fazes iniciais, margens
de boa fé, de ignorância, de superficialidade no deixar-se arrastar por satanás para o assujeitamento.
Nesta eventualidade, o exorcismo pode efetivamente alentar os laços da sujeição satânica e abrir
espaços de liberdade que, se desfrutados pelo assujeitado e por quem lhe está em torno, podem
ajudar a vítima do maligno a encaminhar-se para a conversão e a salvação.

CAPÍTULO XIV
EFICÁCIA DO EXORCISMO

304) Na longa história do nosso ministério, mesmo depois da publicação do RR e a progressiva


imposição do seu uso exclusivo por parte da Autoridade eclesiástica, nunca houve entre os
exorcistas uma substancial uniformidade no modo de proceder, tanto na fase do discernimento,
como naquela da libertação.

305) Isso não depende só da discrecionalidade que sempre caracterizou o exercício do exorcistado,
mas também do fundo de conhecimentos e de convicções que todo exorcista cultivou em relação ao
seu próprio ministério.

306) É necessário, portanto, ter claro aquilo que funda a peculiar eficácia do exorcismo, porque da
compreensão ou menos que se tem dele derivam importantes consequências práticas.

*****
307) A potestade de ordem, que o Cristo Senhor (na Igreja, mediante a Igreja e para o serviço da
Igreja) participa aos Seus sacros ministros, é imediatamente dirigida à santificação das almas,
sobretudo com a oferta do sacrifício da Missa e com a administração dos Sacramentos e dos
sacramentais. Sempre em vista de tal fim, à potestade de ordem é inerente o serviço do governo e o
poder de expulsar os demônios, como de impedir-lhe ou limitar-lhe a ação maléfica.

308) Os Bispos, que possuem a plenitude do sacerdócio e aos quais, em força do seu ofício,
compete apascentar a porção da grei do Senhor a eles designada, muito cedo começaram a associar
a si batizados na luta contra a ação extraordinária do maligno, dando ao serviço destes últimos a
forma de um ministério estável. Isso acontecia mediante uma ordenação, ou seja, uma ação litúrgica
que tinha como efeito não aquele de transmitir toda a potestade de ordem, mas só aquela parte de
potestade sacerdotal consistente no império sobre os demônios. O exclusivo conferir desta parte da
potestade sacerdotal está na origem da Ordem menor do Exorcistado e explica o porquê o
Exorcistado nunca foi considerado pela Igreja um ministério laical, mas sim clerical.

309) Este agir da Igreja não é arbitrário, nem motivado por mutáveis circunstâncias dos tempos e
das situações. Ao contrário, esse se funda sobre o modo com o qual o Cristo Senhor transmitiu a
Sua potestade de Sumo e Eterno Sacerdote aos Doze Apóstolos. Ele, de fato, os associou
gradualmente ao Seu sacerdócio, dando a eles, antes do poder de celebrar a Eucaristia, aquele de
expulsar os demônios. Não é, portanto, errado afirmar:
► que a instituição do Exorcistado, naquilo que diz respeito à sua essência, deva ser atribuída a
Jesus Cristo;
► que o Exorcistado não é algo que se acrescente ao sacerdócio, mas é parte essencial dele, mesmo
que nem todos os sacerdotes sejam chamados pela Igreja a exercitá-lo de forma ministerial.

310) O sacerdote exorcista exercita a sua potestade sobre os demônios mediante o exorcismo, que
pode ser público ou privado. A seguir se dão alguns esclarecimentos acerca da eficácia do
exorcismo.

311) No n. 191 foi dito que “a eficácia do exorcismo privado, mesmo dependendo totalmente de
Deus e do Senhor Jesus Cristo, se baseia primeiramente sobre as condições subjetivas da pessoa
que exorciza (fé em Cristo, confiança nas Suas promessas, vida de graça e operosidade nas
virtudes)”. Isto é verdade, mas só referente a quem não recebeu a licença de exorcista.
O exorcista que no cumprimento do seu ofício profere um exorcismo privado (orações de
libertação), age de fato sempre representando Cristo e a Igreja. Consequentemente, se isso que diz e
que faz não repugna, mas sim exprime a fé objetiva da Igreja e a Sua santidade, a eficácia do
exorcismo privado não se baseia mais só sobre as condições subjetivas do exorcista, mas sobre uma
particular assistência do Senhor e sobre a força da comunhão eclesial.

312) Quanto à eficácia do exorcismo público, ou seja, do exorcismo litúrgico celebrado segundo a
norma do DESQ ou do RR, mesmo permanecendo a definir alguns aspectos referentes à sua
natureza peculiar de sacramental, é doutrina comum e certa a sua infalibilidade, seja que a
expliquemos em analogia com os Sacramentos, seja que a expliquemos em referência aos
Sacramentais.
Postas, portanto, as condições para a sua válida e lícita celebração (matéria, forma e ministro) o
exorcismo público é de per si infalível.

313) Em analogia com o Sacramento da Confissão, a matéria do exorcismo público se distingue em


remota e próxima.
► A matéria remota é constituída pela realidade da ação diabólica extraordinária à qual o
exorcismo se opõe.
► A matéria próxima são os atos, ou melhor, as disposições de quem é o beneficiário do
exorcismo, em particular: a fé em Deus (que nos carentes de razão e nos não cristãos pode ser
suprida pela fé da Igreja); a confiança nas promessas de Cristo; o desejo sincero e firme da
libertação do maligno; a disponibilidade de fazer a Vontade de Deus nas circunstâncias ordinárias e
extraordinárias da vida.

314) No exorcismo público a forma é constituída pelas palavras e pelos gestos do rito litúrgico do
exorcismo aprovado pela Igreja, contido seja no DESQ, seja no RR. Diferentemente dos
Sacramentos, não existem no rito litúrgico partes ou palavras “essenciais”, enquanto jamais pode
faltar a intenção objetiva do ministro, que consiste no querer fazer aquilo que faz a Igreja.

315) O ministro do exorcismo público é só o sacerdote que recebeu do legítimo Ordinário a


faculdade de proferi-lo.

316) A falta de um só dos elementos acima (matéria, forma ou ministro) torna inválida a celebração
do exorcismo público, no sentido que o priva da nota essencial de ação litúrgica da Igreja.

317) Asseguradas a matéria e a forma, se o ministro do exorcismo é um sacerdote sem a devida


licença, o exorcismo público é válido, mas ilícito, com consequências sobre o plano moral e
disciplinar.
► No plano moral, a doutrina comum julga em si pecado grave o proferir ilicitamente um
exorcismo público.
► No plano disciplinar, o Ordinário do lugar competente pode infligir uma justa pena canônica.

318) Quanto ao sujeito do exorcismo (a pessoa que o recebe), as condições gerais para que possa
licitamente beneficiar-se dele são:
► o estado de vida (estar vivo);
► se se trata de uma pessoa senhora de si, que tenha a intenção, ao menos virtual, de receber o
exorcismo.

319) Quanto a Deus, as condições para que Ele concorra a assegurar a eficácia infalível do
exorcismo público são que se respeitem os requisitos para a sua válida e lícita celebração (matéria,
forma e ministro), aos quais se acrescente que a libertação da ação extraordinária do demônio deva
ser proveitosa.

320) Quanto até aqui exposto sobre a eficácia do exorcismo, especialmente se celebrado na forma
litúrgica (ou seja público), tem notáveis reflexos sobre o modo de explicar a eventual ineficácia do
mesmo, ou seja, o não produzir a libertação da ação extraordinária do maligno apesar da sua
reiterada repetição.

321) Quanto ao demônio e à sua ação, a eventual ineficácia do exorcismo se explica tendo por certo
o quanto segue.
► É indubitável que entre os anjos apóstatas vige uma ordem hierárquica fundada sobre os dotes
diferentes de natureza (intelecto e vontade) e é certo que cada um deles se distingue do outro seja
por índole, seja por maior ou menor propensão a este ou àquele outro vício. Logo, não é errado
afirmar que existem alguns demônios mais fortes, mais obstinados no mal e, portanto, mais
perversos do que outros.
► Todavia é errado argumentar daquilo que acontece durante os exorcismos proferidos sobre
pessoas possessas (ou seja, das reações que o exorcista pode verificar), que uma pessoa seja
possuída por um demônio mais potente e uma outra, invés, por um mais em baixo na sua ordem
hierárquica. Isto por um simples motivo: nenhum demônio age contra o homem segundo toda a
eficácia das suas forças naturais, porque se assim pudessem operar, como ensina S. Bernardino de
Sena, imediatamente todos os homens seriam mortos. Ao contrário, os demônios podem operar
somente segundo aquilo que por Deus lhes é permitido ou comandado. Assim, pode acontecer que
um só demônio, entre os últimos e ínfimos, cause mais danos e maiores tormentos num possesso, de
quanto produzam mais demônios de ordem superior numa outra pessoa.
► Do momento que o exorcista, sobretudo quando profere um exorcismo público, não luta contra o
inferno com forças humanas ou criadas, mas só com a força divina (que é por Si infinita), e do
momento que entre o infinito e o finito não há alguma proporção, eventuais retardos na libertação
(aparente ineficácia do exorcismo) não podem provir da força e da índole do demônio. Todos os
demônios juntos, em relação à força divina, são, de fato, como um nada.
► Por isso, se o anjo apóstata, depois da celebração do exorcismo público, não se vai, do momento
que o seu resistir não pode depender das suas forças naturais e do momento que o exorcismo, se
retamente posto, opera por si infalivelmente, a consequência é que Deus não quis colaborar com o
exorcista para a sua expulsão. E os juízos do Senhor são todos fieis e justos (Sl 18, 10b).

322) Quanto à Vontade de Deus, a eventual ineficácia do exorcismo se explica tendo por certo
quanto segue.
► É de fé que o Filho de Deus apareceu para destruir as obras do diabo e isto não pode ser posto
em discussão da aparente ineficácia do exorcismo. Consequentemente, o exorcista e o atribulado
pelo demônio não são jamais autorizados a pensar que Deus queira por si mesma uma determinada
ação extraordinária do maligno.
► Pensar que Deus queira por si mesma uma determinada ação extraordinária do maligno é fazer
um ultraje à voluntas signi, ou seja, à vontade significada, manifestada repetidamente por Deus nas
Sagradas Escrituras e no Sacramento do Batismo, que o Senhor instituiu para subtrair o homem da
escravidão de satanás e restitui-lo à filiação divina. Ademais, disso vem um grave dano ao paciente
porque alimenta nele o veneno da desconfiança, contradizendo a Cristo que, invés, “passou fazendo
o bem e curando todos aqueles que eram opressos pelo diabo, porque Deus estava com ele.” (At 10,
38b).
► Consequentemente, o exorcista e o atribulado pelo demônio devem estar convencidos que Deus
quer a libertação e que a concederá, uma vez que a pessoa atribulada se encontre nas condições
requeridas para receber o dom e este dom lhe seja realmente proveitoso.

323) Quanto ao ministro do exorcismo (o sacerdote exorcista), a eventual ineficácia do exorcismo


se explica tendo por certo o quanto segue.
► É de fé que as condições subjetivas do ministro não impedem a eficácia do sinal sacro. Isso é
verdadeiro não só na celebração dos Sacramentos, mas também naquela dos sacramentais que ex
opere operantis Ecclesiae (enquanto realizados pela Igreja), obtêm infalivelmente o seu efeito.
► Consequentemente, isso que ao exorcista se pede como essencial, não para a sua santificação,
mas para a libertação dos pobres sofredores que se confiam a ele, é que, na celebração do
exorcismo público, faça simplesmente aquilo que a Igreja quer que faça; em outras palavras, que
como ministro do sacramental do exorcismo ponha exatamente o sinal “ao menos com a intenção
de fazer aquilo que faz a Igreja”, segundo o disposto pelo Concílio de Trento.
► Isto comporta, em linha de princípio, que para libertar da ação extraordinária do maligno Deus
poderia servir-Se também de um exorcista “pecador”, assim como a condição de pecado do
ministro não impede a reconciliação com Deus no Sacramento da Confissão e a validade da
consagração eucarística na celebração da Santa Missa.
► É, porém, indubitável que o Senhor pede aos Seus ministros, no ato em que expulsam os
demônios, a fé teologal na Sua Pessoa, em analogia com as situações nas quais, operando um
milagre, Ele declara que o miraculado recebeu a salvação pela sua fé.
► Isso significa que, não obstante existam todos os requisitos para a válida e lícita celebração do
exorcismo público, a falta ou a escassez da fé teologal do exorcista, sobretudo se manifesta, pode
induzir Deus a não operar a libertação do demônio pelas más consequências que disso derivariam,
tanto ao ministro, quanto às outras pessoas envolvidas no exorcismo. Não se deve esquecer que o
expulsar os demônios tem também uma finalidade apologética, ou seja, de defesa e de afirmação da
fé. Tal finalidade resultaria comprometida se o ministro da libertação fosse carente dela. Ademais, a
falta de fé do exorcista operaria nas mentes um perigoso escorregar da celebração do exorcismo na
superstição, porque se acabaria com o tornar causa eficiente da libertação o exorcista, que invés é
só sua causa instrumental.

324) Quanto ao sujeito do exorcismo (o paciente que se beneficia dele), a eventual ineficácia do
exorcismo se explica tendo por certo quanto segue.
► Sobre a base do quanto foi exposto a respeito dos demônios e da vontade significada de Deus e
uma vez apurado que, mesmo se o exorcista é pecador e, todavia, faz aquilo que deve fazer, por si o
efeito é conseguido, as demoras e os insucessos na libertação devem, invés, ser referidos sobretudo
ao paciente: ou porque não está ainda disposto a receber o dom, ou porque, no presente, a libertação
não lhe seria proveitosa.
► A primeira das duas razões, ou seja, o fato que o paciente não está subjetivamente disposto a ser
liberto, vai compreendida em analogia com o Sacramento da Reconciliação. Por meio da Confissão
sacramental dada por um ministro idôneo e na devida forma, o pecador bem disposto é liberto
imediatamente com uma só absolvição de todos os crimes cometidos, qualquer que seja a espécie, o
número e o tempo em que perseverou no pecado. Ao contrário, se os atos do penitente, que
constituem a “matéria próxima” da Confissão, são insuficientes ou defeituosos, o Sacramento é
impedido de produzir todos os efeitos que por si esse realiza infalivelmente, apesar do confessor ter
dado a absolvição. Conforme a como o penitente está indisposto, se pode ter um sacramento
inválido ou quanto menos infrutuoso. Neste último caso se é perdoado, mas fica sempre no mesmo
ponto e não há um progresso na vida da graça.
No exorcismo litúrgico se podem aplicar por analogia os mesmos princípios, ou seja, são os atos (as
disposições) do paciente, a “matéria próxima” necessária a fazer com que o sacramental do
exorcismo resulte frutuoso. Quando no paciente não há o mínimo de disposições necessárias,
normalmente através do exorcismo litúrgico não se tem a libertação, ainda que, em linha de
princípio, Deus poderia dá-la assim mesmo.
► A segunda das duas razões referida ao paciente, que pode explicar os atrasos e os insucessos na
sua libertação, é o fato que, no momento presente, a libertação não lhe seria proveitosa. Ainda nisso
a analogia com a confissão sacramental pode ajudar a compreensão. É normal, salvo casos de
extraordinária conversão, que o hábito do pecado faça de novo cair na culpa a pessoa que se era
validamente confessada, assim como é normal que os elementares exercícios da vida cristã (oração,
vida sacramental, etc.) e a necessária prática das virtudes possam custar muito ao pecador
convertido em termos de aplicação e de constância. Estas recaídas na culpa, assim como a fadiga no
conduzir um estilo de vida realmente evangélico, não devem ser imputadas a um defeito da graça de
Deus recebida confessando-se e nem mesmo ao confessor que validamente absolveu, mas
unicamente às condições subjetivas da pessoa que se confessou. Também para quem recorre ao
exorcismo valem os mesmos princípios. Se o demônio “entra” de onde foi expulso, a causa deve ser
procurada só na pessoa que voltou a se tornas sua vítima, precisamente porque não perseverou nas
disposições que lhe haviam permitido de poder ser liberta. À luz destes princípios, o atraso da
libertação em pessoas que à primeira vista parecem encontrar-se já nas disposições necessárias para
ser liberadas da tirania de satanás, encontra explicação numa sapiente e amorosa Providência
divina: querendo evitar que estes filhos se encontrem na infeliz condição da qual fala Jesus em Lc
11, 24 – 26, Deus os deixa sob o jugo do maligno até quando as disposições necessárias para a
libertação não se tornem “hábito”. Só então, de fato, a libertação será para esses proveitosa.
► Esta perspectiva enriquece de sentido as disposições do Código de Direito Canônico, do DESQ e
do RR, além das insistências da sã doutrina, sobre as qualidades do exorcista, não porque a sua
piedade, ciência, prudência, integridade de vida e santidade influenciem de modo decisivo sobre a
eficácia intrínseca do exorcismo litúrgico, mas porque estas notas resultam determinantes em outros
aspectos do ministério exorcístico, como o discernimento, o modo de afrontar o demônio, o modo
de relacionar-se (com o paciente, com os seus familiares e com os próprios auxiliares), mas
sobretudo o saber guiar o paciente a adquirir aquelas disposições que lhe são pessoalmente
necessárias para conseguir a libertação e porque esta lhe seja proveitosa. Para expulsar o demônio,
ao exorcista não se requer de modo absoluto nem o ser santo, nem o ser douto, podendo-lhe de per
si bastar a potestade de ordem e aquela de jurisdição. Mas santo e douto o deve ser, ao menos no
esforço humilde e constante, porque diversamente não é capaz de ajudar o paciente a colocar-se nas
disposições justas para a sua libertação e a perseverar, sobretudo se este último é uma pessoa que há
tempo vive longe de Deus e carece de tudo aquilo que é a verdadeira espiritualidade cristã. Também
aqui vale a analogia com o Sacramento da Confissão. Se um pecador empedernido se arrepende e
vai a um padre pecador e vicioso para confessar-se, os seus pecados, se o penitente é bem disposto,
lhe são seguramente perdoados. Mas se aquele pecador tem necessidade de ajuda para não recair no
pecado e para crescer na vida como cristão, de um padre pecador e vicioso poderá receber bem
pouco. Se, porém, no confessionário encontra um santo, as coisas mudam.

CAPÍTULO XV
O EXORCISMO DIAGNÓSTICO

325) As condições necessárias para praticar o exorcismo de modo absoluto ou, que é o mesmo, de
modo não condicionado, seja esse aquele privado (oração de libertação), seja esse aquele público
(litúrgico), são:
► em todas as espécies de ação extraordinária do demônio, a aquisição por parte do exorcista da
certeza moral de uma ação diabólica em ato;
► ademais, caso se trate de proferi-lo sobre uma pessoa, a sua condição de caminhante e, se
responsável dos seus atos, a sua intenção, ao menos virtual, de receber o exorcismo.

326) Não se requer, invés, e por si, que a pessoa sobre a qual é proferido o exorcismo seja em
estado de graça (que na maioria dos casos é, todavia, uma das condições sem a qual Deus não dá
a libertação). Isso é confirmado por diversas intervenções normativas da Igreja que concede o
benefício do exorcismo também a acatólicos e não batizados, além de católicos atingidos por penas
eclesiásticas.

327) A experiência de séculos mostra, todavia, que em muitíssimos casos o exorcista atinge a
certeza moral da ação diabólica extraordinária só após proferir o exorcismo.

328) Quanto ao fim, se podem, portanto, distinguir dois gêneros de exorcismo:


► O exorcismo que tem como fim a libertação de uma ação extraordinária do demônio. Este
exorcismo, dito absoluto ou incondicionado, pode ser privado ou público e para a sua celebração,
requer, quando devesse ser absoluto ou incondicionado, as condições indicadas no n. 335.
► O exorcismo que tem como fim aquele de apurar o estar em ato ou não uma ação extraordinária
do demônio. Este exorcismo, dito diagnóstico ou condicionado, pode ser privado ou público e desse
se ocupa o presente capítulo.

329) Nos números seguintes será mostrado:


► o que torna o exorcismo diagnóstico essencialmente diverso do exorcismo absoluto ou
incondicionado;
► a liceidade do exorcismo diagnóstico e a sua necessidade moral;
► o fundamento da eficácia do exorcismo diagnóstico;
► as condições e os modos com que o exorcismo diagnóstico pode ser proferido;
► o que o exorcista deve observar durante o exorcismo diagnóstico;
► como o exorcista deve agir em base aos resultados conseguidos com o exorcismo diagnóstico;
► o que jamais pode ser feito pelo exorcista para fins diagnósticos.

*****
330) A diferença essencial entre o exorcismo diagnóstico e o exorcismo absoluto ou incondicionado
está toda na intenção com a qual se profere o exorcismo.
► Se o exorcismo diagnóstico é proferido de forma deprecativa, o exorcista se dirige a Deus
pedindo-Lhe que obrigue o demônio a manifestar a sua presença. O escopo é de obter sinais
evidentes desta presença ou sinais que, apresentando-se, resultem suficientes para se ter a certeza
moral.
► Se o exorcismo diagnóstico é proferido de forma imperativa, o exorcista dá ao demônio
comandos com os quais lhe ordena, se presente, de fazer ou de cessar de fazer alguma coisa. O
escopo é de obter a certeza moral da presença e da ação demoníaca, que o exorcista deduz da
execução da ordem dada. Tal resultado o exorcista chega a ele com mais facilidade e maior
segurança fazendo uso de comandos tácitos.

331) A possibilidade de recorrer a uma forma de exorcismo condicionado (nisto está a essência do
exorcismo diagnóstico), encontra resposta na celebração condicionada de alguns Sacramentos. Por
exemplo, na Confissão e na Unção dos Enfermos, quando o ministro, duvidando que a pessoa se
encontre nas condições de poder receber o Sacramento porque não parece mais estar em estado de
vida, exprime a intenção de conferir o Sacramento com a cláusula si capax est (se és capaz).

332) O exorcismo diagnóstico é um instrumento lícito a ser empregado:


► porque cumpre o fim específico do ministério exorcístico, que é a libertação da ação
extraordinária do maligno, permitindo a aquisição da certeza moral da sua presença e do seu operar;
► porque não contradiz, antes confirma, o que é posto pela Igreja como condição para proferir o
exorcismo de forma absoluta ou incondicionada (a aquisição da certeza moral por parte do
exorcista);
► porque nos séculos a prática exorcística sadia fez sempre largo e sábio emprego dele, sustentada
nisto pelos Rituais em uso, pela doutrina comum e por intervenções particulares da Sé Apostólica,
que em determinados casos considerou por bem dar indicações concretas sobre o modo de atuá-lo.

333) Sempre que existam as condições para ser proferido, o exorcismo diagnóstico é um
instrumento moralmente necessário para empregar em todos os casos nos quais o exorcista tem só
elementos (sinais) prováveis da presença e do agir extraordinário do maligno. Esta necessidade vem
do dever do exorcista de acertar-se da real situação das pessoas que pedem o seu ministério e da
consequente necessidade que essas têm, ou não, de libertação.

334) Sobre a peculiar eficácia que o exorcismo diagnóstico tem de tornar evidente a presença do
demônio e a sua ação extraordinária em relação às outras realidades sacras (Sacramentos e
sacramentais, lugares e objetos sacros), tenha-se presente quanto segue:
► Os espíritos malignos, que não vivem nem em estado de glória, nem em estado de graça, estão,
diante das realidades sobrenaturais e no contato com essas, completamente “cegos” e “insensíveis”.
Dado que o sobrenatural excede absolutamente tudo aquilo que é natural ou preternatural, esses não
têm, nem podem ter, por exemplo, alguma percepção congênita da presença real de Cristo no SS.
Sacramento da Eucaristia, exceto no caso em que o Senhor, ao Seu beneplácito, escolha de
manifestar a eles algo da Sua presença e da Sua potência. Isso explica porque o demônio pode
tranquilamente estar presente numa igreja, seja na modalidade própria dos espíritos angélicos, seja
por meio do corpo de um possesso, deixando até que este último se aproxime dos Sacramentos.
► A razão pela qual o Senhor não Se sirva em via ordinária das realidades sacras oferecidas em
dom à Igreja para obrigar o demônio a manifestar-se, se explica com a peculiar destinação destas
últimas. No que diz respeito aos Sacramentos, instituídos por Cristo, esses são dados aos homens
principalmente em vista da concessão da graça ou do seu aumento, enquanto o resto das demais
realidades sacras instituídas pela Igreja tem, no mais das vezes, como finalidade aquela de dispor a
conseguir o efeito precípuo dos Sacramentos e de santificar as várias circunstâncias da vida. Só a
uma pequena parte destas últimas a Igreja designou uma finalidade principalmente exorcística, ou
seja, de pôr em fuga o maligno ou de defesa dos seus eventuais ataques, como é o caso de algumas
bênçãos presentes no RR.
► O exorcismo tem, invés, como fim próprio aquele de libertar da ação extraordinária do maligno,
obrigando-o, consequentemente, a manifestar-se lá onde, segundo a sua índole e estratégia, busca
esconder-se. O exorcismo diagnóstico, que possui toda a eficácia própria do exorcismo absoluto ou
incondicionado, é o instrumento adequado para atingir talo escopo, ou seja, a manifestação do
maligno.

335) Sobre as condições necessárias para se proferir o exorcismo diagnóstico, tendo como painel de
fundo quanto já foi exposto no capítulo 12 destas Diretrizes, o exorcista tenha sempre presente o
que é apresentado nos nn. 249 e 250, ao que se acrescenta o seguinte:
► O exorcismo diagnóstico não tem por finalidade fazer emergir sinais “prováveis” da presença e
do agir extraordinário do demônio. Ao contrário, é só a prévia presença de sinais “prováveis” que
torna lícito proferi-o.
► Constatados os sinais prováveis, o exorcismo diagnóstico serve apenas ou para conseguir sinais
evidentes da presença e do agir extraordinário do demônio, ou para fazer emergir a inconsistência
da presumida presença e ação diabólica. Faltando absolutamente sinais prováveis, o exorcista não
se preocupe em procurar a todo custo alguma presença do maligno, mas despeça quem o procurou
porque não tem necessidade do seu ministério.
► Após ter encontrado sinais prováveis e de ter decidido pelo exorcismo diagnóstico, o exorcista
deixe bem claro para a persona interessada e/ou para aqueles que a acompanham que tudo quanto
fará e dirá lhe serve só para compreender a situação e orientar-se sobre o caminho a seguir;
explique também que isto poderá requerer tempo e, por isso é necessário ter paciência.
► As frases, as palavras usadas pelo exorcista para explicar esta fase do acompanhamento podem e
devem ser diversas (porque as pessoas são diversas), mas a substância não pode mudar: ninguém
deve ser induzido a crer que o exorcista esteja já atuando para expulsar um demônio presente e
operante. Se isso acontecesse, poderia, de fato, resultar um dano à pessoa ou a quem a acompanha
quando, terminada a fase diagnóstica, o exorcista fosse obrigado a despedir o paciente porque não
necessitado do seu ministério.
► Dependendo de cada caso e se a situação o consente, o exorcista não proceda ao exorcismo
diagnóstico sem que a pessoa interessada tenha recebido um mínimo de preparação nas coisas que
deve crer sobre Deus, naquelas que se referem ao exorcista, do que deve saber sobre os demônios e
daquelas que se referem ao próprio paciente, propondo aquilo que é mais adequado ao caso que está
examinando e sempre adaptando-se às pessoas. Já na fase do discernimento é importante que a
palavra e a ação do exorcista ajudem a gerar ou despertar a fé e a confiança em Deus.

336) Sobre os modos como o exorcismo diagnóstico pode ser proferido, tendo bem presente quanto
já exposto no n. 330, o exorcista pode escolher para o seu discernimento se proceder com o
exorcismo público ou aquele privado (ou seja, utilizar o sacramental do exorcismo ou uma
modalidade exorcística não sacramental).

337) Segundo o nosso parecer, é conveniente proceder, em linha de princípio, com o exorcismo
privado, que em muitos casos é suficiente, especialmente nos casos de pressuposta possessão
diabólica, para fazer emergir sinais evidentes da presença e da ação diabólica. Se a situação
permanece inalterada, se pode proceder com o exorcismo público de forma diagnóstica.

338) Utilizando o exorcismo privado:


► É muito profícuo, nos casos de presumida possessão diabólica, recorrer a comandos tácitos
dados ao demônio, sob condição que esteja presente, para que se manifeste. Esta, nos probati
Auctores, era a regra geral dada aos exorcistas na fase do discernimento.
► É ademais muito conveniente o uso da Palavra de Deus e de alguns sacramentais. Isto não muda
a natureza do ato realizado pelo exorcista, que permanece – justamente – privado, mas ações como
ler alguma perícope evangélica ou outras passagens da Escritura, mostrar o Crucifixo, aspergir com
água benta, colocar relíquias de modo digno e seguro recomendado pelo próprio RR no n. 13, ungir
a fronte com óleo exorcizado, etc., podem ser de grande eficácia para apoiar o preceito dado ao
demônio de manifestar a sua presença.
► Nos casos, invés, que se suspeite só de uma ação diabólica de tipo vexatório ou obsessivo, pode
ser mais útil recorrer a orações de libertação em forma deprecatória, observando seus efeitos.
► Em todo o seu agir o exorcista proceda com segurança, autoridade, seriedade, serenidade,
máxima prudência, jovialidade para com o paciente, pureza e em íntima união com Deus.

339) Sobre o uso diagnóstico do exorcismo público, o exorcista goza de quatro possibilidades:
► Pode usar o exorcismo solene do RR, como de resto se fazia até o pontificado de Leão XIII,
sendo esta a única possibilidade. O que é necessário é celebrar o sacramental sob condição (se
realmente o demônio está presente), enquanto não é indispensável celebrar por inteiro o rito. O uso
parcial do rito é consentido pela natureza do próprio rito e corroborado pela provada praxe
exorcística. Todos os ritos iniciais, até a imposição da estola e da mão direita compreendida, é
aconselhável mantê-los, enquanto os comandos indicados nas rubricas devem ser modificados,
adaptados à situação e proferidos, preferivelmente, de forma tácita. Para a parte eucológica
propriamente exorcística, pode-se dar uma preferência à oração Deus, conditor et defensor generis
humani, como também à oração Deus caeli, Deus terrae, Deus Angelorum, que são fórmulas
exorcísticas deprecativas.
► Pode usar o exorcismo simples do RR (Caput III, Exorcismus in satanam et angelos
apostaticos). Este exorcismo, que é uma adaptação daquele feito publicar pelo Papa Leão XIII no
volume XXIII das Acta Sanctae Sedis, é considerado pelos Autores da primeira metade do séc. XX
particularmente indicado, além de servir para reter ou conter o demônio para que não cause dano
aos homens, também para resolver os casos nos quais, após ter realizado a investigação requerida,
permaneça uma dúvida que se trate de verdadeira possessão diabólica. Optando por este rito, seja
celebrado por inteiro, seguindo as indicações das rubricas. O “lugar” para se aspergir com a água
benta, no final do rito, é a pessoa em exame.
► Pode usar o exorcismo solene do DESQ. Em linha de princípio, valem as mesmas observações
feitas acima para o exorcismo solene do RR. Para a parte eucológica propriamente exorcística, se dê
preferência às fórmulas deprecativas. Em todo caso, segundo o disposto pelo DESQ, não se use a
fórmula imperativa sem fazê-la preceder por aquela invocativa.
► Pode usar o exorcismo simples do DESQ (Appendix I, Supplicatio et exorcismus qui adhiberi
possunt in peculiaribus adiunctis Ecclesiae). Este exorcismo, que é uma adaptação do exorcismo
simples do RR, cumpre as mesmas finalidades. Optando por este rito, seja celebrado por inteiro,
seguindo as indicações das rubricas. O “lugar” para ser aspergido com a água benta no final do rito
é a pessoa em exame.

340) A respeito daquilo que se deve prestar atenção durante o exorcismo diagnóstico (privado ou
público) nos casos em que é realizado sobre sujeitos suspeitos de serem vítimas de uma ação
diabólica extraordinária de tipo vexatório ou obsessivo, o exorcista tenha presente o seguinte:
► Em alguns casos podem manifestar-se sinais não verificáveis diretamente pelo exorcista, mas
referidos depois pelo paciente, como: improviso senso de peso na cabeça, sensação não natural de
frio ou de calor, sensação de cansaço físico e outros do gênero. Duram geralmente pouco e nos
sucessivos exorcismos tendem a não se repetir ou a desaparecer gradualmente. Se o paciente é
atendível, o exorcista tome nota destes sinais, mas não lhes dê excessiva importância.
► Observe, invés e, sobretudo, se à distância de dias, entre um exorcismo diagnóstico e outro, lhe
são referidas mudanças nos sintomas pelos quais o paciente o havia procurado.

341) Se o exorcismo diagnóstico é, invés, realizado sobre sujeitos suspeitos de serem vítimas de
possessão diabólica, o exorcista observe se durante o exorcismo aparecem sinais como aqueles
apresentados no capítulo 13 destas Diretrizes, tendo presente que a reação do demônio ao
exorcismo pode assumir as formas mais variadas, reconduzíveis às seguintes categorias:
► Mimetização. Os demônios, de fato, dificilmente se manifestam, para que o exorcista, depois de
se ter empenhado longamente e estar cansado, desista, ou o enfermo pareça não ser vexado pelo
demônio.
► Vexação. O demônio reage vexando fisicamente o paciente nos modos apresentados no capítulo
13 destas Diretrizes ou em outras maneiras análogas.
► Obsessão. O demônio reage com ataques obsessivos ao paciente (por exemplo, visões ou
insinuando-lhe o pensamento de estar louco).
► Prova de força. O demônio reage ao exorcista e àqueles que o assistem (atitudes intimidatórias
de violência física, ameaças proferidas com palavras ou mímicas faciais, insultos, provocações,
risadas). É, sobretudo, como “prova de força” que, na fase diagnóstica, devem ser entendidos os
sinais de falar em outras línguas, de revelar coisas ocultas ou de manifestar uma energia física
acima da idade e da condição do paciente.
► Aversão ao sacro. Este é o sinal considerado o mais típico da possessão diabólica. O termo
“aversão” significa “animosidade, antipatia, rancor, hostilidade, ódio” e deve ser entendido como
uma disposição interior do demônio, não do paciente. Tal aversão, que na vida de uma pessoa
possuída se pode apresentar em relação a Deus, ao Santíssimo Nome de Jesus, da Beata Virgem
Maria e dos Santos, à Igreja, à Palavra de Deus, aos ritos, sobretudo sacramentais, e às coisas e
imagens sacras, no contexto do exorcismo diagnóstico assume conotações particulares. Essa se
pode manifestar como reação do demônio à pessoa sacra do exorcista, ao ambiente no qual se
celebra o exorcismo, aos objetos sacros que o exorcista usa, às palavras que ele profere, à oração
feita pelos participantes do exorcismo. Com a experiência se torna relativamente fácil distinguir a
aversão ao sacro como sinal de possessão diabólica da aversão ao sacro que pode ter uma pessoa
não crente e não praticante ou uma pessoa psiquicamente perturbada. Neste último caso, a aversão
se apresenta, entre outras coisas, como algo de desordenado, descomposto, enquanto a aversão
diabólica na sua manifestação é sempre pertinente, ou seja, numa relação lógica com aquilo que a
provoca.

342) A tudo o que foi dito nos nn. 340 – 341, acrescente-se que o exorcista tem necessidade de
manter-se informado de quanto acontece ao paciente entre um encontro e outro, porque também
destas notícias pode receber uma ajuda para formular um diagnóstico exato sobre a situação.
Por isto, independentemente da forma na qual lhe pode ser oferecida (coloquial ou escrita), o
exorcista exija sempre do paciente um relatório sobre como viveu o momento do exorcismo
diagnóstico e sobre o que, depois dele, lhe aconteceu de significativo até o sucessivo encontro com
o exorcista.

343) Sobre como o exorcista deve agir em base aos resultados alcançados com o exorcismo
diagnóstico, se faça referência a quanto expresso nos nn. 294 – 297.

344) Não é raro, em algumas circunstâncias e com sujeitos diante dos quais a dúvida não é sobre a
realidade da possessão diabólica, mas sobre a sua provável simulação, que um exorcista ache
conveniente proceder a um falso exorcismo (privado ou público). A ideia de fundo é simples: se
aplicando ao pretenso possesso falsas relíquias, ou aspergindo-o com normal água da torneira, ou
declamando em latim poesias profanas como se fossem preces, este começa a agitar-se e a dar
sinais externos de possessão demoníaca, o diagnóstico pode ser um só: simulação.

345) Ainda que o uso deste método diagnóstico sempre tenha sido muito difuso, ele deve ser
considerado ilícito quanto a doutrina e não confiável quanto aos resultados práticos.
► Quanto a doutrina, a iliceidade se explica com a analogia que existe entre o exorcismo e o
juramento, em particular sobre a primeira condição requerida que é a verdade. Consequentemente,
como não é lícito fingir de jurar mesmo em vista de um fim bom, assim jamais é lícito fingir de
exorcizar. Ademais, é impróprio que os ministros de Cristo e da Igreja, aos quais é dada a
autoridade sobre os demônios, usem as mesmas armas do inimigo, isto é, enganos e mentiras.
► Quanto aos resultados práticos, o demônio, que conhece muito bem como estão as coisas,
facilmente pode contornar o engano com um outro engano; ou seja, fingir de estar muito aflito
(atormentado) pela aplicação e o contato de falsas coisas sacras, para que se estime que o mal
diabólico seja um mal imaginário e não se recorra mais aos ministros da Igreja.

CAPÍTULO XVI
NECESSIDADE DE UMA ADEQUADA INSTRUÇÃO
DOS FIEIS QUE PEDEM A LIBERTAÇÃO DO MALIGNO

346) Dever grave do exorcista não é só aquele de ter cuidado que o exorcismo se desenvolva de
modo que manifeste a fé da Igreja e impeça de ser interpretado como um ato de magia ou de
superstição, mas aquele, primeiramente, de levar os pacientes realmente atribulados pelo maligno
às disposições pessoais necessárias à sua libertação.

347) Este resultado, em via ordinária e nos sujeitos dotados de uso de razão, não se pode obter sem
uma adequada instrução do paciente e oportunas verificações.
348) Isto não significa que o exorcista deva proferir o exorcismo só depois de haver dado uma
instrução completa a cada paciente e ter-se assegurado sobre as suas disposições interiores,
sobretudo de fé e da confiança. Seja o RR, seja o DESQ, não impõem, de fato, um tal limite e os
exorcismos, mesmo não obtendo o seu efeito principal por causa da não perfeita disposição do
paciente, causam outros efeitos secundários muito úteis ao próprio paciente, que pode assim ser
incentivado e reforçado no empenho pessoal de melhorar as próprias disposições.

349) Significa, invés, que a arte exorcística é verdadeira arte só quando quem a exercita é capaz
de, com a ajuda de Deus, levar o paciente às disposições pessoais necessárias à sua libertação.
Por isso todo paciente, até onde seja possível, seja bem instruído e examinado, sobretudo na fé e na
confiança, porque este é um pressuposto moralmente necessário à dignidade e à eficácia do
exorcismo e é uma tarefa da qual o exorcista não se pode dispensar. Este princípio pode ser
concluído de um atento exame dos nn. 15, 16, 19, 32, 34c do DESQ, que sob este aspecto engloba o
RR e o amplia.

350) A compreensão e a observância deste princípio fará evitar ao exorcista, que luta para libertar
o paciente do maligno, o erro de procurar a fórmula exorcística “mais potente, mais terrível e mais
eficaz” e/ou de adotar remédios que acabam por invadir campos alheios de competência (médico,
psiquiátrico), ou que decaem em atitudes contrárias ao bom senso e à prudência ou até mesmo em
escolhas supersticiosas.

*****

351) Quanto aos conteúdos da instrução, o paciente deve ser instruído pelo exorcista sobretudo:
primeiro, sobre aquelas coisas que deve crer sobre Deus; segundo, naquelas coisas que deve crer
sobre os demônios; terceiro, naquelas coisas que se referem ao exorcista; quarto, naquelas coisas
que se referem a ele mesmo.

352) Quando às coisas que se referem a Deus, o exorcista adapte à compreensão do paciente quanto
foi exposto nestas Diretrizes, sobretudo no capítulo I.

353) Quanto às coisas que se referem ao demônio, o exorcista colha sobretudo do capítulo II destas
Diretrizes o que pode ser mais adequado ao paciente para o crescimento da sua fé e da sua
confiança em Deus. Em particular tenha o cuidado de mostrar os limites de criaturas das potências
demoníacas e insista sobre o fato que o demônio não pode absolutamente perpetrar todos os males
que lhe agradaria, mas só aquilo que Deus lhe permite em vista da Sua glória e do maior bem dos
eleitos. Não trascure de instruir o paciente sobre o fato que, por meio da Paixão de Cristo e da Sua
Morte, o poder demoníaco foi quebrado e retirado dele e alimente o conhecimento do papel que a
Imaculada Mãe de Deus tem na luta que a Igreja e cada cristão devem sustentar contra as potências
infernais.

354) Quanto às coisas que se referem a exorcista e, de maneira adequada à sua capacidade, o
atribulado pelo maligno
► deve chegar a crer que o exorcista é um ministro de Deus, que quanto ele faz durante o
exorcismo deve se atribuir principalmente a Deus mesmo e só instrumentalmente a ele como
ministro e que, consequentemente, o diabo obedecerá sem dúvida ao exorcista, porque não
obedecer ao ministro de Deus equivale a não obedecer a Deus mesmo. O paciente seja instruído
sobre o fato que os comandos do exorcista serão, porém, plenamente eficazes só se da sua parte
estiver convenientemente disposto e o dom da libertação lhe será benéfico. De resto, isto acontece
também nos Sacramentos, que não conferem a graça àqueles que colocam obstáculo ou que, mesmo
conferindo-a, permanecerão infrutuosos porque quem os recebe não colabora com Deus.
► deve se dispor sinceramente a obedecer ao exorcista em tudo o que concerne à sua libertação.
Esta obediência não diz respeito apenas às coisas exteriores que devem ser feitas, mas também aos
atos internos. Além de contribuir para adquirir as disposições necessárias à sua libertação, com esta
obediência o paciente concede honra e reverência ao exorcista como ministro de Deus.
► deve manifestar ao exorcista todas as tentações, de qualquer gênero sejam, e tanto mais aquelas
que mais o induzem aos pecados; o mesmo deve fazer com as sugestões que o distraem dos avisos
do exorcista. Sempre, de fato, mas especialmente nos sujeitos possuídos pelo demônio, o adversário
põe alguns obstáculos para que o paciente não creia no exorcista, ou seja atingido pelo tédio, ou se
abandone a distrações.

355) Quanto às coisas que se referem a ele mesmo, o paciente deve ser instruído a observar
diligentemente as coisas que seguem.
► Depois que o exorcista tenha certeza de que o paciente é realmente vítima de um ataque
extraordinário do maligno, este último non deve formar-se um juízo diverso daquele do exorcista.
Em outras palavras, não deve julgar que a sua situação dependa de uma enfermidade natural ou que
proceda de uma qualquer outra causa natural, porque isto impediria muito a cura. De fato, o
paciente, enganado sobre este ponto pelo demônio, não combateria contra ele em comunhão com o
exorcista, mas agiria em vantagem do inimigo contra o exorcista. Quem não crê ser vítima do
demônio, nem mesmo pode fazer atos de fé e de confiança em Deus para que o liberte da ação do
maligno.
► O paciente deve crer que a tribulação que padece poderia provir, ao menos em parte, por causa
de alguma sua culpa. Logo, se o exorcista julgar útil, convide-o a confessar o quanto antes a um
sacerdote todos os seus pecados mais graves, apesar de já os ter certamente confessado em outra
ocasião, receba a Santa Comunhão e procure viver reconciliado perfeitamente com Deus, apoiado
na Sua infinita piedade e misericórdia. Cumpridas estas coisas, o paciente creia que foi tirada a raiz
principal da sua tribulação, nem creia à sugestão do diabo, quando lhe insinue que haja algum
pecado oculto por causa do qual não pode ser liberado da perseguição demoníaca.
► Ainda que o paciente possua elementos prováveis que o leve a julgar que a enfermidade
diabólica tenha sido causada a ele por determinadas pessoas mediante malefícios, afaste de si um tal
juízo. Diversamente, seria tentado pelo demônio a conservar rancor e, talvez, até reagir vingando-
se, coisa que resultaria em males mais grave e a sua cura seria muito impedida. Rejeite, pois, e
afaste de si estas tentações diabólicas e não procure absolutamente de onde lhe provenha o distúrbio
diabólico. Este conhecimento não serve à libertação, mas é usada pelo demônio para empurrá-lo
para o mal.
► Se o paciente conhecesse com a máxima certeza que uma determinada pessoa lhe procurou o
mal diabólico, não se importe absolutamente e se convença que, se estiver perfeitamente fortificado
contra o demônio, nem aquela, nem outras pessoas maléficas (operadores do oculto) poderão lhe
causas dano e que o mal já recebido desaparecerá logo, porque a autoridade da Igreja tem poder
sobre todos os magos e sobre todo o inferno.
► O paciente deve ter por certo que em vista da libertação da ação diabólica extraordinária
(compreendida a possessão), não há alguma diferença que a causa imediata seja um malefício ou
uma qualquer outra causa; nem mesmo há diferença se o malefício é de um gênero ou de um outro,
se os demônios são muitos ou um só, nem que o assalto do maligno seja recente ou em ato há longo
tempo, nem que tenham sido feitas renovações ou confirmações do malefício da parte dos maléficos
(operadores do oculto). Nem importa que o paciente tenha sido exorcizado em outro tempo ou não,
como não tem algum peso que os demônios sejam mudos ou loquazes, furiosos ou “mais calmos”.
Nem mesmo tem relevância o gênero e o modo das suas vexações. De fato, no exorcismo o agente
principal é Cristo Deus, cuja potência é infinita. Ademais, o Senhor sujeitou as potestades infernais
à autoridade da Igreja e à fé dos crentes, por isso o paciente deve só ter cuidado em crescer nas
virtudes, especialmente naquelas teologais.
► Embora pareça verdade pensar que mais demônios são expulsos com maior dificuldade que um
só, ou que uma pessoa possessa a partir de um malefício obtenha mais dificilmente a libertação
quando o malefício fosse periodicamente renovado (e outras convicções do gênero), se responde
que estas são falsas opiniões, introduzidas pelo diabo para inclinar à superstição, desviar a atenção
daquilo que é mais importante e tornar assim mais difícil a cura. Em verdade, não é assim, porque
se o exorcista age com a devida autoridade e nos modos estabelecidos pela Igreja, se no paciente
existe uma verdadeira e perfeita disposição e se a libertação lhe é proveitosa, não existe
absolutamente qualquer dificuldade para serem curados. Valha por analogia o que acontece no
Sacramento da Confissão: o penitente, apesar de ter sido sujeito por longíssimo tempo a
inumeráveis e diversos pecados, se realmente estive disposto, será liberto imediatamente de todos
os crimes por meio de uma só absolvição. De onde principalmente surgem as dificuldades na
libertação já foi explicado no n. 324.
► O paciente deve aprender a dominar as suas paixões e empreender uma vida realmente
evangélica, começando por dentro (“limpa primeiro o interior do copo, para que também o exterior
se torne limpo!” Mt 23, 26), para não alimentar algum turbamento de luxuria, ódio, ira, inveja,
maledicência, tristeza, desconfiança, desespero e outras paixões, que perturbam o ânimo e dão
alimento ao demônio para vexar. Lute em particular contra a melancolia, procure a alegria no
Senhor e se conforme com todo o coração e em todas as coisas à Divina Vontade, e assim será
tirado do demônio o seu leito.
► O paciente deve ser ajudado a crer, sem alguma dúvida e como a experiência comprova, que
com a ajuda de Deus (que a ninguém que o quer é negado) e com a fé e a confiança firme no
Senhor e na Sua Santíssima Mãe, sustentado pelo ato do seu livre arbítrio, ele pode por si mesmo
expulsar todas as vexações diabólicas, quando o demônio o assaltasse estando ausente o exorcista.
Isto pode-se deve se fazer invocando com fé o nome de Jesus contra o demônio, para que desista de
todo assalto e que se retire, dado que esta potestade de banir os demônios em nome de Jesus é
comunicada pelo próprio Cristo a todos aqueles que crêem n’Ele, segundo as palavras do
Evangelho.
► O paciente deve convencer-se que o diabo não pode causar alguma vexação intrínseca ou
extrínseca, ao menos grave, no corpo daqueles que atualmente e maximamente confiam em Deus,
porque Deus os protegerá e os preservará. Ao contrário, o diabo vexa maiormente aqueles que
confiam menos em Deus e são os mais desconfiados da Sua proteção divina, como se percebe
também da experiência. Disto se conclui que o paciente deve implorar muitas vezes a ajuda divina,
fazer muitíssimo atos de fé firme e de confiança em Deus sem hesitação, pedindo todo dia
humildemente a Deus de fazê-lo crescer e reforçá-lo nestas disposições interiores. Em tal modo,
com o livre arbítrio e juntamente com a graça de Deus, afastará todas as tentações e ilusões
diabólicas e experimentará sobre si a ajuda de Deus.

356) O exorcista, como deve evitar diagnósticos apressados, assim também deve fugir do risco de
se reduzir a distribuidor de bênçãos. O contexto de secularização e de neo-paganismo, a diluição ou
a perda da fé, o relativismo e a confusão geral o devem impelir a cuidar mais da vida espiritual dos
seus pacientes para fazer-se realmente próximo de quem assiste. Em caso contrário, é difícil chegar
a uma plena libertação do maligno.

357) As modalidades com as quais o exorcista pode instruir cada paciente podem ser muitas,
porque são diversas as circunstâncias nas quais todo exorcista se encontra a operar. A forma mais
simples e geralmente mais eficaz á aquela do colóquio pessoal, que pode acontecer de muitos
modos, sempre salvas as exigências da prudência.
Neste caso, o exorcista vigie sobre eventuais turbamentos infligidos pelo demônio ao paciente,
exortando este último a não fazer caso deles e a permanecer concentrado com a atenção naquilo que
lhe é dito. Se, todavia, o paciente fosse disturbado pelo demônio de modo a não conseguir atender à
instrução, então o exorcista freie o demônio com preceitos lenitivos, ou seja, comandando-lhe em
nome de Jesus que não moleste o paciente, nem lhe impeça de escutar as instruções e de
compreender, acrescentando também, se será necessário, alguma reprovação contra o demônio. Se
não se quiser improvisar e se quisesse para isto confiar-se aos Rituais:
► pelo que se refere ao RR, serve para tal fim a oração deprecativa com a qual se conclui o
primeiro exorcismo: Deus, cónditor et defénsor géneris humáni …
► pelo que diz respeito ao DESQ, pode-se recorrer a um preceito limitado a algumas palavras da
fórmula imperativa n. 82: Obmutésce, pater mendácii, neque impédias hunc fámulum [hanc
fámulam] Dei Dóminum benedícere et laudáre.
► no que diz respeito, pois, às expressões de reprovação (obiurgationes), podem ser usadas aquelas
do primeiro exorcismo do RR: inimíce fídei, hostis géneris humáni, mortis addúctor etc. (em parte
tomadas da fórmula imperativa do DESQ n. 84), o aquelas incluídas no terceiro exorcismo do RR:
tu es princeps maledícti homicídii, tu autor incéstus, tu sacrilegórum caput, tu actiónum
pessimárum magíster, tu hæreticórum doctor, tu totíus obscœnitátis invéntor.

358) Quando o exorcista elabore percursos formativos e/ou se valha da colaboração de pessoas
qualificadas, é necessário que se encarregue de verificar pessoalmente a instrução recebida pelo
paciente, seja porque é seu dever ter sob controle todo caso confiado à sua responsabilidade e à sua
direção, para que ne oleum et operam perdat.

CAPÍTULO XVII
OS PRECEITOS DADOS AO DEMÔNIO

359) O exorcismo sempre foi considerado um exercício de potestade sobre o demônio realizado em
nome de Cristo Deus e por isto no curso dos séculos as fórmulas exorcísticas não se estruturaram
só como fórmulas deprecatórias, mas também como fórmulas imperativas, ou seja, como comandos
ou preceitos dirigidos diretamente ao demônio.

360) O Decreto com o qual a Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos
promulgou o DESQ envia a esta visão tradicional, atestando que “em modo, pois, peculiar foram
constituídos na Igreja os exorcistas, para que, imitando a caridade de Cristo, ressanassem os
obsessos pelo Maligno, também comandando aos demônios em nome de Deus de se afastarem,
para que por qualquer motivo não causem mais dano às criaturas humanas.” A seguir o DESQ n.
7 precisa que “a Igreja, em nome de Jesus e pela força do Espírito Santo, ordena em diversos
modos aos demônios de não impedir a obra da evangelização e de restituir ao ‘mais Forte’ o
domínio de todos e de cada um dos homens.”

361) Para afastar os demônios, de fato, Cristo não diz aos Seus discípulos de limitar-se a rogar a
Deus e a jejuar, mas confere-lhes a potestade de expulsá-los. Entre as várias razões, o exercício
desta potestade tem, no desígnio da Sabedoria divina, também uma finalidade apologética:
► para que apareça evidente aquilo que a Igreja e os seus ministros são para Deus;
► para que se veja o que a Igreja e os seus ministros são para os demônios, os quais por Cristo
são sujeitados à Igreja e aos seus ministros.

362) Pretender que um exorcista jamais comande ao demônio dizendo-lhe, por exemplo, “Eu,
ministro de Cristo e da Igreja, te ordeno em Seu Nome de sair deste homem” é como exigir que um
sacerdote batize sem dizer: “Eu te batizo …”, ou que absolva sem dizer: “Eu te absolvo …”, ou
como obrigá-lo a celebrar a Santa Missa impedindo-o de dizer: “Isto é o meu Corpo …”, com a
pretensão que este Sacramentos sejam confeccionados só rezando a Deus para que pense Ele a
batizar, a perdoar os pecados e a consagrar o pão e o vinho postos sobre o altar.

363) A Igreja jamais confeccionou os Sacramentos considerando suficientes fórmula epicléticas ou


deprecatórias. Consequentemente, exigir isto no sacramental do exorcismo seria fruto de uma
visão eclesiológica errada e a sofrer disso, mais que a fé da Igreja sobre a existência e a ação do
diabo, seria a certeza do agir “in persona Christi” do sacerdote, sobre o fundo da dimensão
sacramental e mistérica da Igreja como Corpo de Cristo.

364) Neste capítulo das Diretrizes serão aclaradas algumas questões concernentes aos preceitos a
serem postos ao demônio durante o exorcismo, argumento sobre o qual não existe oposição entre o
RR e o DESQ.

*****

365) O preceito ao demônio, genericamente entendido, é uma injunção com a qual o espírito
maligno é vinculado de modo eficaz pela potência de Deus a prestar obediência ao exorcista como
ministro de Cristo e da Igreja. Existem diversas espécies de preceitos, ou seja, comuns, lenitivos,
expulsivos, probativos.

366) A primeira espécie de preceitos é indicada pela doutrina com o termo de preceitos comuns.
São os preceitos que o exorcista usa em qualquer necessidade, quando quer constranger o demônio
a fazer algo, ou a cessar alguma ação, ou a responder a qualquer pergunta.

367) O RR faz referência diversas vezes aos preceitos comuns, seja no contexto das Normae, seja
dentro do próprio rito do exorcismo maior.
► RR n. 14, após haver imposto ao exorcista de não divagar em discursos prolixos ou em
interrogatórios excessivos ou curiosos, sobretudo sobre coisas futuras e ocultas não pertinentes ao
seu ofício, conclui em tom peremptório “mas ordene ao espírito imundo de calar e de responder
somente às perguntas postas”.
► No RR n. 15 são preceitos comuns a injunção de responder às perguntas relativas ao número e
ao nome dos espíritos possuidores, ao tempo em que fizeram o seu ingresso, à causa que tornou isso
possível. Em seguida, no mesmo número se deixa ao exorcista a faculdade de escolher vez por vez
como comportar-se de fronte às estultices com as quais o demônio poderia manifestar-se no curso
do exorcismo, as quais podem ser provocações, risadas e outas ninharias. O exorcista pode
desprezá-las ou pode impedi-las. Neste último caso é evidente que deve valer-se do preceito comum
de cessar a ação de distúrbio.
► No RR n. 20, são preceitos comuns o ordenar ao demônio de dizer se permanece naquele corpo
por causa de uma qualquer obra mágica ou por sinais maléficos ou por coisas maleficiadas, e que,
se o obsesso tivesse assumido estas últimas pela boca, as vomites; ou, se se encontrassem em
qualquer lugar fora do corpo, as revele e, após tê-las encontrado, sejam completamente queimadas.
► Em correspondência da rubrica Deinde praecipiat Daemoni hunc in modum há o preceito
comum de responder às perguntas relativas ao nome do espírito possuidor e ao dia e à hora da sua
saída da pessoa possessa. Seguem três preceitos comuns nos quais se impõe ao espírito imundo no
ato da sua saída de dar um sinal dessa, de obedecer em tudo ao exorcista, de não causar algum dano
nem ao possesso, nem aos circunstantes, nem aos seus bens.
► Na primeira fórmula exorcística imperativa são preceitos comuns o comando feito ao demônio
de escutar aquilo que o exorcista lhe está por dizer (a fim de repreendê-lo) e a injunção, repetida
duas vezes, de ter temor de Cristo.
► Na segunda fórmula exorcística imperativa, são preceitos comuns o comando feito ao demônio
de render-se ao ministro de Cristo, de temer o braço de Cristo, de ter terror do corpo do homem, de
provar medo diante da imagem de Deus (que é o homem), de não resistir e de não desprezar o
exorcista, de tremer pela invocação do nome do Senhor.
► Na terceira fórmula exorcística imperativa, são preceitos comuns o comando feito ao demônio
de parar de assaltar o homem, de render-se a Deus e de dar honra a Deus Pai onipotente.
368) No DESQ alguns preceitos comuns estão contidos nas fórmula exorcísticas imperativas.
► Na primeira dessas se comanda por três vezes Satanás de reconhecer a justiça e a bondade de
Deus, a potência e a força de Jesus Cristo, o Espírito de verdade e de graça.
► Na segunda fórmula se ordena ao pai da mentira de emudecer e de não impedir ao servo de Deus
que se está exorcizando de bendizer e louvar o Senhor.
► Na terceira fórmula se intima ao espírito imundo de temer a Cristo, de humilhar-se sob a potente
mão de Deus, de tremer à invocação do santo Nome de Jesus.

369) A experiência ensina que é impossível exercitar o ministério de exorcista, devendo tratar com
pessoas realmente possessas pelo demônio, sem encontrar-se mais cedo ou mais tarde na
necessidade de fazer recurso a preceitos comuns. Por exemplo, comandando ao espírito, que possui
o paciente e não quer fazê-lo entrar no lugar onde deve ser exorcizado, de parar de fazer resistência;
que volte a fazer se sentar o possesso depois que, tendo-o feito levantar-se, o impele para que se vá
embora; que desista de certos atos com os quais quer infligir danos ao corpo do possesso, etc.

370) Os casos sempre diversos entre si e as circunstâncias mutáveis não permitem oferecer um
elenco, mesmo que aproximativo, dos preceitos comuns e das conjunturas nas quais usá-los. O
importante é ter compreendido o seu sentido, a liceidade, a utilidade e a conveniência, fazendo
sábio uso deles.

371) A segunda espécie de preceitos é indicada pela doutrina com o termo de preceitos lenitivos.
Estes preceitos são ordenados a tirar ou a aliviar a vexação (dor, sofrimento, tormento) que durante
o exorcismo o demônio inflige ao paciente.

372) A experiência ensina quanto é grande o sofrer daqueles que são realmente vítimas de uma ação
extraordinária do maligno, especialmente de quem é possesso. Isto seja na vida ordinária, seja no
momento no qual recebem a graça dos exorcismos da parte da Igreja. Antes, às vezes é justamente
quando se submetem às bênçãos que são ainda mais vexados.

373) O exorcista, que deve sempre manter-se calmo, senhor de si e da situação, em espírito de pleno
e confiante abandono em Deus, aprenda a estimar estes momentos como muito úteis em vista do
maior bem do paciente e da sua desejada libertação. Graças também a estas vexações, de fato,
diversas pessoas, realmente possessas, adquirem plena consciência da sua situação e se tornam mais
dispostas a colaborar para a sua libertação, sobretudo mudando para melhor a sua vida.

374) Em todo caso, sobretudo na possessão diabólica, a libertação dificilmente acontece sem que o
paciente passe através das vexações mesmo muito dolorosas. Por isto no RR se encontram
indicações muito claras.
► RR n. 16 dispõe que o exorcista, “quando verá que o espírito é mais atormentado, então o
persiga e o atormente mais.”
► RR n. 17 acrescenta que o exorcista deve observar “em seguida a quais palavras os demônios
tremem mais e as repita mais vezes; e quando será chagado à intimidação, as profira de novo e mais
frequentemente, sempre aumentando a pena”.
Tenha-se presente que o exorcista pode se dar conta que o espírito imundo é mais atormentado só
por tormentos que o demônio inflige ao pobre paciente no curso do exorcismo. Daqui a exortação
do RR n 12 ao paciente, para que, quando é vexado mais violentamente, procure de suportar com
paciência, em nada desconfiando da ajuda de Deus.

375) Todavia, em certos momentos, uma intervenção do exorcista se torna necessária para aliviar
um sofrimento excessivo e, possivelmente, fazê-lo cessar. Segundo os casos, isso pode acontecer
mediante preceitos lenitivos dirigidos ao demônio.

376) A terceira espécie de preceitos é indicada pela doutrina com o termo de preceitos expulsivos.
Estes preceitos são aqueles ordenados à expulsão dos demônios.

377) Os preceitos expulsivos constituem o coração da ação exorcística e desses são feitas as várias
fórmulas exorcísticas imperativas do RR e do DESQ.

378) Os preceitos expulsivos, também quando, pelas razões já expostas nos nn. 320 – 324, não
obtêm a libertação completa e definitiva, são sempre muito úteis, enquanto tornam sempre mais
fracas a ação vexatória e obsessiva do maligno e contribuem, juntamente com as outras ajudas
oferecidas pelo exorcista em termos de acompanhamento, a reforçar o paciente na luta espiritual em
vista da completa libertação.

379) A quarta espécie de preceitos é indicada pela doutrina com o termo de preceitos probativos.
São os preceitos que o exorcista usa para avaliar se alguém seja realmente possesso (e como tal
realmente vexado pelo demônio), ou o seja de modo imaginário ou simulado.

380) Sob o aspecto material os preceitos probativos não se distinguem dos outros (comuns,
lenitivos e expulsivos). A diferença é dada pela finalidade com a qual são proferidos pelo exorcista,
que é atingir a certeza moral que o distúrbio demoníaco é verdadeiro e real, ou que é somente fruto
da imaginação do paciente ou seu fingimento (simulação de distúrbio demoníaco).

381) Dado o seu propósito, os preceitos probativos vão sobretudo usados na fase do discernimento
e no contexto do exorcismo diagnóstico. Esses, todavia, são úteis também superada a fase
diagnóstica, por exemplo, para verificar durante um exorcismo o estado de consciência do paciente
do qual se tem já a certeza da possessão, mas do qual não é claro, se naquele determinado
momento, se encontra sob o influxo do demônio ou menos. Pode acontecer, por exemplo, que em
certos momentos do exorcismo um possesso, além de parecer presente a si mesmo, se demonstre
tranquilo e em atitude de oração. O exorcista experto, conhecendo a pessoa e colhendo alguns
pequenos indícios (por exemplo, pequenas mímicas faciais ou de postura), querendo inteirar-se do
real estado no qual o paciente se encontra, suspende as orações e lhe dirige comandos (por
exemplo, de fixar o Crucifixo ou uma imagem de Nossa Senhora, de recitar determinadas orações
ou de repetir as renúncias batismais, etc.). O exorcista dirige a ordem ao possesso, mas
interiormente a dirige também ao demônio, se naquele momento está presente e operante. E se está,
dificilmente conseguirá manter-se escondido.

CAPÍTULO XVIII
AS PERGUNTAS AO DEMÔNIO

382) Na tradição exorcística as perguntas feitas pelo exorcista ao demônio nos casos de real
possessão diabólica sempre tiveram um lugar relevante. O RR se ocupa disso seja na parte
normativa, seja naquela rubricial, enquanto o DESQ conserva sobre elas um aparente silêncio.

383) O silêncio do DESQ não pode ser interpretado como uma reprovação da praxe comum. Do
momento que, a partir ao menos do séc. XVII, a questão das interrogações ao demônio se
apresenta debatida em nível de doutrina com argumentos sérios e bem fundados, tal silêncio
representa não uma proibição, mas uma mera suspensão de juízo, na espera que a reflexão
teológica, com a verificação da experiência exorcística, aclare os vários aspectos da questão e
apresente soluções adequadas.

384) Este capítulo se propõe oferecer alguns esclarecimentos sobre este argumento e também
oportunas e práticas soluções.

*****

385) O exorcista deve ter bem claro que jamais é lícito perguntar ao espírito impuro coisas que não
são úteis à libertação da ação extraordinária do demônio. Isto é, de fato, o fim pelo qual a Igreja dá
ao exorcista a licença de exorcizar. Consequentemente, o exorcista pode usar licitamente só os
meios que conduzem a tal fim.

386) Toda eventual pergunta feita ao demônio pelo exorcista durante um exorcismo deve ter como
nota essencial aquela de ordem dada ao maligno. O exorcista, se se dirige diretamente ao demônio,
pode fazê-lo e deve fazê-lo sempre e somente com autoridade e em tom de comando endereçado a
um inimigo.
► Com autoridade, porque o exorcista representa Cristo e a Igreja, aos quais toda outra criatura
está sujeita, compreendidos satanás e os outros anjos apóstatas.
► Em tom de comando endereçado a um inimigo, porque este é o único modo lícito de dirigir-se
aos demônios, seja considerando coisa estes espíritos apóstatas livremente escolheram ser, seja
atendo-se ao exemplo oferecido por Cristo e pelos Apóstolos.

387) O exorcista deve ser muito sóbrio se eventualmente se dirigir ao demônio com perguntas. Se o
demônio, de fato, se apercebe que o exorcista é um tipo loquaz, inclinado à verbosidade, dará ao
exorcista em abundância novas ocasiões de falar, distraindo-o do cumprir retamente o seu ofício e
conseguindo, consequentemente, ter algum domínio sobre ele.

388) Não é sem pecado grave (quanto à matéria) quem se entretém em muitos e longos discursos
com um demônio possuidor, porque este modo de proceder pertence à amizade, que no
relacionamento com os espíritos malignos deve ser absolutamente excluída.

389) Perguntas breves, mas supérfluas ou curiosas, são matéria de pecado, ainda que a imperfeição
do ato possa escusar daquele mortal.

390) O exorcista peca se interroga o demônio acerca de coisas futuras e ocultas que não são
pertinentes ao seu ofício, sobretudo se a revelação de coisas ocultas trouxesse acidentalmente dano
a alguém (por exemplo, à sua honora e à sua fama). Como todos, também o exorcista é, de fato,
gravemente obrigado a evitar a infâmia do próximo.

391) Peca de superstição o exorcista que quisesse aprender algo do demônio com uma pergunta
ordinária; isto seria, de fato, esperar do demônio algum benefício.

392) Em todas as espécies acima referidas, a gravidade do pecado aumenta notavelmente se um


exorcista interrogasse o demônio de modo não coercitivo (dando ordens), que é o único admissível,
mas de modo deprecativo (pedindo-lhe quase como um favor). Isto seria, de fato, fazer-se discípulo
do maligno e submeter-se a ele, o que é absolutamente ilícito.

393) Quanto à questão se é lícito pedir de modo imperativo ao demônio a manifestação de alguma
verdade, Sto. Afonso Maria de’ Liguori afirma, como opinião comuníssima entre os teólogos e
como a mais provável, que isto é lícito, desde que seja feito de modo ocasional, para a utilidade de
outros e conduza à divina glória.

394) Sobre as perguntas que é lícito pôr ao demônio por parte do exorcista (entende-se sempre de
modo imperativo ou coercitivo), surgem algumas questões:
► quais são estas perguntas e o que se pode objetivamente objetar sobre elas?
► em que consiste a sua efetiva utilidade para os fins da libertação?
► o exorcista é obrigado a fazê-las ou isso é deixado à sua discrição?

395) Sobre interrogar os demônios com qual nome se chamem.


► É a pergunta mais atestada pela tradição exorcística. O RR no n. 15 a apresenta entre as
perguntas “necessárias” e na rubrica Deinde praecipiat Daemoni é a primeira a ser posta.
► Do momento que os demônios não tem propriamente nomes e aqueles com os quais são
chamados indicam o gênero de operações que cada um deles realiza ou o fim da atividade por eles
desenvolvida (por exemplo, tentar à soberba, criar divisões, incitar à luxúria), esta pergunta é
supérflua se é posta para conhecer que um demônio está presente numa pessoa possessa. Para este
fim ao exorcista é suficiente constatar que as diversas operações em ato no paciente provêm não de
uma causa natural e nem mesmo sobrenatural, mas sim preternatural, ou seja, diabólica. A
manifestação do nome não acrescenta nada a este conhecimento.
► Nem mesmo serve para que o exorcista conheça a quem expressamente devem ser dirigidos os
preceitos ditos no capítulo XVII destas Diretrizes. Para este fim é, de fato, suficiente chamar o
demônio com o nome comum, como frequentemente se faz com os homens (por exemplo num
aeroporto: os senhores passageiros do vôo … se dirijam imediatamente à saída …). Os próprios
Rituais dão prova disso nas fórmulas exorcísticas imperativas.
► A experiência atesta que se Deus obriga às vezes o espírito impuro a manifestar o seu nome, não
sempre colabora com o exorcista para forças o demônio a explicitá-lo. A razão é que tal
manifestação não é em si necessária à libertação.
► A experiência ensina que esta interrogação é também perigosa. De fato, sendo o demônio
mentiroso e não tendo outro desejo que aquele de enganar os homens (e, sobretudo, os exorcistas),
não é raro que, permitindo-o Deus, ele manifeste ao exorcista um nome ridículo qualquer ou
obsceno, ou um nome que na língua do exorcista ressoe come algo de hilariante, ou que provoque
risos. Se em seguida o exorcista decidisse usar este nome nos exorcismos misturando-o às orações
da Igreja, daria só ocasião aos demônios de ironizar e de desprezar o ministro de Deus, que pela sua
inexperiência não percebeu e reconheceu o engano.

396) Sobre o interrogar os demônios se a pessoa é possuída por um ou mais espíritos malignos.
► É uma das perguntas atestadas pela tradição exorcística. O RR no n. 15 a enumera entre as
perguntas “necessárias”. A rubrica Deinde praecipiat Daemoni não a menciona.
► A experiência ensina que através desta interrogação o exorcista pode facilmente ser enganado
pelo demônio, não havendo a possibilidade de verificar a verdade da resposta dada a ele pelo pai da
mentira. Eventuais “provas” empíricas não têm algum valor, do momento que um só demônio pode
fingir de ser em muitos e o mesmo demônio pode sucessivamente formar mais vozes, diversas entre
elas, imitando as características de “personalidades” diferentes. Dando crédito àquilo que o
demônio lhe diz sobre o número dos demônios, o exorcista corre o risco de perder tempo em vãs e
ridículas questões (por exemplo, dar-se ao trabalho de conhecer o nome de cada um com o intento
de expulsar os demônios um a um), para depois desistir, cansado e desmotivado, da obra iniciada.
► O conhecimento exato do número dos demônios que possuem uma pessoa não é em si
necessário à libertação, enquanto é absolutamente certo que não há alguma diferença, por parte de
Deus e da potestade que a Igreja transmite aos exorcistas, se os demônios a expelir são muitos ou
apenas um (nem se a possessão seja recente ou dure há muito tempo). Se, pois, algumas libertações
resultam mais difíceis, isto não depende do número dos demônios, nem da maior força de alguns
deles em relação a outros, nem de uma menor eficácia da potência divina ou da potestade
eclesiástica. A única razão está num defeito do ministro ou do paciente, ou porque a libertação não
é ainda benéfica ao possesso.

397) Sobre o interrogar os demônios sobre a causa do seu ingresso.


► É uma das perguntas atestadas pela tradição exorcística. O RR no n. 15 a enumera entre as
perguntas “necessárias”, retomada e ampliada pelo n. 20. La rubrica Deinde praecipiat Daemoni
não a menciona.
► A experiência ensina que através desta interrogação o demônio pode facilmente servir-se da
ocasião para infamar alguém, tirando-lhe a honra. Ademais, pode procurar atrair para a superstição
o mesmo exorcista, dizendo, por exemplo, que ele entrou no paciente porque assim lhe foi ordenado
por uma certa pessoa e que para a sua saída é necessário destruir os sinais ou os selos do malefício
escondidos ou guardados por aquela pessoa; que é necessário, portanto, dirigir-se àquela pessoa
pedindo-lhe que ela mesma elimine aqueles sinais pelos quais o demônio fica ligado, etc.
► Uma vez que um paciente, dotado do uso de razão, conseguiu detestar de coração todos os seus
pecados, deixar as ocasiões próximas de pecado, confessar integralmente, com fé e confiança todos
os seus erros e, em seguida, mudar para melhor a sua conduta para conhecer, servir e amar a Deus
piamente e humildemente, a experiência atesta que a libertação pode ser conseguida mesmo sem ter
conseguido um conhecimento exato daquilo que foi a causa imediata da possessão diabólica.

398) Sobre o interrogar os demônios a respeito de qual dia e hora sairão do possesso.
► É uma das perguntas atestadas pela tradição exorcística. Na rubrica Deinde praecipiat Daemoni
do RR é a segunda a ser posta, enquanto nas Normae não aparece.
► Do momento que a expulsão do espírito impuro depende da vontade divina e não daquela
diabólica é evidente que o demônio não pode saber o seu momento exato, exceto no caso em que
Deis o manifeste a ele expressamente.
► É para ser considerada mais de acordo com a verdade a resposta “não sei” que muitas vezes o
demônio dá ao exorcista, do que qualquer outra indicação temporal fornecida pelo maligno, a qual
em não poucas ocasiões se revela falsa. Em todo caso, o conhecimento do dia e da hora da
libertação não é em si necessário à expulsão do demônio.

399) Sobre o interrogar os demônios se tenham entrado no paciente sem seguida a uma qualquer
obra mágica ou por sinais maléficos ou por coisas maleficiadas.
► É uma das perguntas atestadas pela tradição exorcística e é prescrita pelo n. 20 do RR.
► É evidente que tal disposição tem sentido só nos casos de possessão nos quais o demônio se
manifesta falando pela boca do possesso e é justificada unicamente pela finalidade de expelir ou de
encontrar o instrumento do malefício.
► Do momento que o demônio, nem com meios naturais, nem com o uso da força, pode ser
“acorrentado” por um homem a coisas, sejam essas naturais ou artificiais (os instrumentos do
malefício), a disposição do RR n. 20 não deve ser mal entendida. O “ficar” o demônio num corpo
humano por meio de coisas maleficiadas é sempre, por parte do espírito maligno, um ato livre e
voluntário, não forçado. Nenhum demônio pode, de fato, ser constrangido por um maléfico
(operador do oculto) a vincular-se a um objeto material e a agir segundo o querer do maléfico
(operador do oculto).
► Igualmente o RR n. 20 não ensina absolutamente que, se não é destruído o instrumento do
malefício (que muitas vezes não pode ser encontrado), o malefício não possa ser destruído (esta é,
no máximo, a convicção supersticiosa que têm os maléficos e os operadores do oculto).
► A finalidade de expelir ou de encontrar o instrumento do malefício que justifica a disposição do
RR n. 20 é pedagógica e não conseguir fazê-lo não prejudica de modo algum a libertação, porque
também sem a procura, o encontro e a destruição dos instrumentos do malefício os demônios
podem ser expulsos e os malefícios serem destruídos por meio do exorcismo.
► É, pois, absolutamente ilícito, como ensina a doutrina comum, comandar ao demônio de dizer
como o malefício possa ser destruído. Mesmo se a pergunta fosse posta ao demônio de modo
imperativo, isso equivaleria a pedir ao demônio que seja mestre em alguma coisa. O exorcista viria
a usar do ministério e da condescendência do diabo, convertendo o seu agir numa espécie de pacto
e de sociedade com o demônio, ao menos implícita.

400) O exorcista jamais se esqueça que os demônios, depois da sua queda e a sua condenação, têm
como conaturais a falsidade, o engano, o fingimento, a dissimulação, a duplicidade, a hipocrisia, a
impostura. Quando são obrigados por Deus a afirmar uma verdade, mesmo nos casos nos quais lhes
é impedido de insinuar o veneno da sua mentira, a intenção com a qual obedecem é sempre aquela
de enganar.

401) O comando que o exorcista dá aos demônios no nome do Senhor e com a autoridade recebida
da Igreja basta per si para obrigá-los a confessar a verdade objetiva, independentemente da sua
condição subjetiva e, sobretudo, das suas intenções, se e só quando Deus considera necessário
concorrer com a Sua potência para obrigá-los a responder. Isso explica seus obstinados silêncios,
seus desvios ao responder e suas respostas falsas.

402) A utilidade das perguntas “necessárias” (e por isto lícitas), postas ao demônio de forma
imperativa, é, contudo, confirmada pela tradição exorcística e é sustentada pelas seguintes razões.
► A primeira razão é que aos demônios desagrada muito serem comandados. Estes seres infelizes,
cheios de soberba, inchados de orgulho, transbordantes de vontade homicida, não suportam que
uma criatura humana, a eles inferior por natureza e por eles odiada e desprezada com todas as
forças, ouse comandá-los. Ademais, tornando-se velhacos por causa do pecado, ficam
amedrontados e assustados por sentirem-se comandar por alguém que esses percebem como
verdadeiro representante de Cristo Deus. Independentemente do concurso de Deus para obrigar o
demônio a responder, as perguntas do exorcista servem como “estímulo” com o qual a audácia do
espírito imundo é rompida e ele é disperso nos pensamentos do seu coração. Por isto, quando o
exorcista comanda ao demônio de responder-lhe sobre coisas sobre as quais é lícito interrogá-lo,
interiormente não se deve preocupar que o demônio lhe responda ou que lhe diga uma coisa antes
que uma outra. De fato, interrogando o demônio de modo coercitivo com perguntas lícitas, o
exorcista atinge sempre um dos fins principais anexos às interrogações: a cabeça soberba do
maligno é esmagada.
► A segunda razão é que ao fazer perguntas ao demônio de modo imperativo, o exorcista é
ensinado pelo Senhor sobre a infeliz condição dos anjos apóstatas. As vezes em que o exorcista
interroga com autoridade o demônio representam, de fato, os momentos de maior contato com o
inimigo, assimiláveis à fase do “corpo a corpo” durante uma batalha. São, portanto, os momentos
mais perigosos, mas são também os momentos nos quais, permanecendo na escuta de Deus, o
exorcista pode aprender mais sobre o adversário. Através das diversificadas reações do demônio às
perguntas, o exorcista pode colher com mais evidência a terrível condição na qual os demônios se
colocaram, o seu ser dispersos fora de si mesmos, a sua incapacidade de reencontrar a própria
identidade. Através do seu obstinado e teimoso silêncio, como através das suas respostas, sempre
cheias de falsidade e de dolo, o exorcista toca, quase que com a mão, o que significa, para um ser
pessoal capaz de conhecer a Deus e de amá-Lo, o fechar-se a Ele e perde-Lo para sempre. As
perguntas lícitas feitas pelo exorcista em forma de preceito representam, pois, um “pôr à prova” o
demônio, fazendo cada vez emergir algum aspecto do mistério da iniquidade sobre o qual o único
Mestre quer iluminar primeiramente o exorcista, Seu ministro. E isto acontece sempre: seja quando
o demônio responde forçadamente às perguntas, não importa se mentindo, seja quando não
responde.
► A terceira razão é de obter do demônio um ato de submissão a Deis, coisa que acontece sempre
quando o espírito impuro responde, não importa se mentindo ou afirmando a verdade com a
intenção de enganar. O exorcista não espere jamais que o demônio lhe diga a verdade, apesar ele o
ordene em nome do Senhor. Por isto não leve em conta aquilo que o maligno diz, se não tem a
possibilidade de verificar com os normais meios humanos a correspondência das suas afirmações à
realidade dos fatos. Por quanto, pois, às verdades sobre Deus, sobre o homem, sobre o mundo e
sobre o mesmo demônio, esta as aprenda só da Revelação Divina e daquilo que a Igreja propõe à
sua adesão de fé.

403) Quanto àquilo que concretamente pode ou deve fazer sobre as perguntas a serem feitas ao
demônio durante o exorcismo, o exorcista se atenha a quanto segue.
404) Se o exorcista, valendo-se da liberdade de escolha dada a ele pela Instrução Universae
Ecclesiae sobre a aplicação do Motu Proprio Summorum Pontificum de Bento XVI (ver Diretrizes,
n. 220), decide de usar o RR, ele não é obrigado fazer as perguntas que o RR indica como
necessárias. As opiniões expressas pela doutrina são, de fato, suficientes para levantar uma
verdadeira dúvida de direito sobre a sua obrigatoriedade e, assim, a lei não urge.

405) Se o exorcista decide de ater-se ao rito do exorcismo segundo as rubricas do DESQ pode
certamente inserir as perguntas ao demônio na forma imperativa que o RR indica como necessárias
e, consequentemente, lícitas de serem feitas. As razões desta possibilidade são as seguintes:
► o princípio da continuidade entre DESQ e RR, pelo qual o silêncio do DESQ não pode ser
interpretado como rejeição dos princípios que inspiram e regulam o RR.
► o apoio da prática exorcística comum corroborada por uma correta interpretação e aplicação das
Normae do RR. Do RR aprendemos, de fato, que as interrogações feitas ao demônio não são ligadas
necessariamente a um momento particular do rito, mas podem ser feitas pelo exorcista sempre que
se lhe apresenta a utilidade, como se fossem, num certo sentido, independentes do contexto
imediato no qual são pronunciadas.

406) Quanto às perguntas, o exorcista se regule, pois, segundo o princípio do “prout expedire
iudicaverit” (como se retém oportuno), que envia à discrecionalidade que tanto o RR quanto o
DESQ requerem, seja na aplicação da normativa relativa aos vários aspectos do ministério do
exorcista, seja na celebração litúrgica do exorcismo.

CAPÍTULO XIX
O RITO DO EXORCISMO EM GERAL

407) Neste capítulo são oferecidas, primeiramente, algumas indicações gerais sobre o exorcista, o
lugar dos exorcismos, o paciente e as pessoas presentes ao exorcismo, sobretudo os auxiliares. Em
seguida, vem exposta a estrutura do exorcismo maior segundo os Rituais em vigor (DESQ e RR).
Conclui-se com notas sobre o princípio de discrecionalidade na celebração do exorcismo litúrgico.
Como durante o seu ministério ao exorcista não acontecerá jamais de ter um caso igual a um
outro, assim também, em cada caso não se dará jamais uma celebração do exorcismo igual a uma
outra. Disto a prática exorcística sempre esteve ciente e os Rituais são a confirmação disso.

*****

Indicações gerais sobre o exorcista

408) As rubricas do DESQ exortam o exorcista a preparar-se de modo conveniente antes de iniciar
a celebração do exorcismo. A única indicação concreta é, porém, só a recitação, em silêncio e não
obrigatória, de algumas orações sugeridas pelo Ritual. Acrescenta-se, nos Praenotanda, a
recomendação genérica da oração e do jejum (seja pessoalmente por parte do exorcista, seja por
parte de outros).

409) A estas indicações, o exorcista pode livremente acrescentar aquelas do RR, que nas rubricas
sugere, como atos do exorcista a serem feitos antes da celebração do exorcismo, a confissão
sacramental (ou, pelo menos, o ato interno de detestação dos próprios pecados) e a celebração do
SS. Sacrifício da Missa, se se possa fazê-lo facilmente.

410) As vestes litúrgicas para a celebração do exorcismo público são a cota sobre a veste talar ou a
alva (túnica) e a estola roxa.

411) O exorcista recorde sempre que se, no que diz respeito a Deus, os exorcismos os deve fazer e
declamar com grande fé, humildade e fervor, para com o demônio os deve fazer e declamar com
poder e autoridade. O demônio deve ser exorcizado não pedindo a ele, nem perguntando-lhe de
modo amigável, mas comandando-o, repreendendo-o e obrigando-o (e sempre em nome do Senhor
Jesus Cristo).

Indicações gerais sobre o lugar da celebração


412) Os Praenotanda do DESQ recomendam, se é possível, um oratório ou um outro lugar
oportuno, mas sempre longe da multidão.

413) Nada impede, segundo a preferência já concedida pelo RR, que o exorcismo possa ser
celebrado numa igreja, com a condição de que tenham acesso só as pessoas admitidas pelo
exorcista para participar, as quais não podem ser muitas.

414) Em todos os lugares nos quais estavelmente se celebram exorcismos deve ser posta em
evidência uma imagem do Crucificado e também deve estar presente uma imagem da Beata Virgem
Maria. Estas imagens devem ser colocadas de modo que resultem bem visíveis ao paciente durante
o exorcismo.

415) Continua válida a indicação do RR que se o paciente estivesse doente, ou por outra causa
honesta, o exorcismo possa ser celebrado numa casa privada. Em tal caso a prudência requer que o
exorcista recorra primeiro ao Bispo e adote todas as precauções necessárias para evitar que a sua
honra e o seu ministério possam ser prejudicados por isso.

416) É desejável que o Bispo, ouvido o sacerdote ao qual pretende confiar o ministério do
exorcistado, proveja a designar-lhe um lugar conveniente onde receber as pessoas e celebrar o
exorcismo, ou quanto menos o apoie na tarefa de individuá-lo. Tal lugar deveria ser facilmente
accessível aos fiéis da Diocese (não os obrigando a longas e incômodas viagens para chegar até ele)
e, juntamente, ajuda-los a manter a necessária reserva.

417) A experiência aconselha que não só o paciente e os presentes, mas também o lugar onde se
proferem os exorcismos seja sempre bento no início de cada encontro de oração, coisa que o DESQ
n. 44 prevê expressamente nos ritos iniciais do exorcismo maior.

Indicações gerais sobre o paciente

418) Os Praenotanda do DESQ estabelecem que o paciente, por quanto lhe é possível, deve em
geral, mas sobretudo antes do exorcismo, rezar a Deus, praticar a mortificação, professar a fé
recebida no Batismo, aproximar-se ao sacramento da Reconciliação e reforçar-se com a sagrada
Eucaristia.

419) Antes de proceder ao exorcismo, o exorcista faça atenção que o paciente não seja naquele
momento perturbado por qualquer paixão. Numa situação de turbamento a mente do paciente não se
encontra, de fato, bem disposta por meio da fé e da confiança nem para com Deus, nem para com a
potestade exorcística, e por esta razão o demônio mais dificilmente prestará obediência aos
preceitos do exorcista. Por isso, se necessário, o exorcista deve antes interrogar separadamente o
paciente se está turbado por alguma paixão ou tribulação. Apurado um eventual turbamento, com as
armas da verdade, o exorcista se empenhe a fazer com que o paciente se sinta à vontade e o ajude a
estar, o quanto possa, sereno e confiante.

420) Durante o exorcismo, o exorcista deve esforçar-se por ajudar o paciente, o quanto lhe seja
possível, a estar completamente recolhido, a dirigir-se a Deus e a reivindicar d’Ele a libertação, com
fé firme e com toda humildade. E quando é vexado de modo mais intenso, o deve exortar a resistir
pacientemente, em nada desconfiando da ajuda que Deus lhe dá por meio do ministério da Igreja. O
paciente deve estar certo de que, durante o exorcismo, o exorcista age em nome de Cristo e da
Igreja, que Deus esta realizando a Sua obra e que, portanto, será ajudado por Deus. No exorcismo
Deus, o ministro e o paciente lutam juntos contra os demônios.

421) O exorcista eleve muitas vezes a mente do paciente e, por quanto será possível, reforce o seu
coração, lhe ofereça os oportunos remédios para expelir as tentações, o pacifique e, se lhe falta
confiança, o sustente na esperança e o excite à confiança. Diante do paciente o exorcista se mostre,
nas palavras e nos atos, cheio de fé e de confiança em Deus, para que o paciente possa emitir mais
facilmente tais atos.

422) Conserva plenamente o seu valor a prescrição do RR que proíbe colocar a Santíssima
Eucaristia sobre a cabeça do paciente ou a uma outra parte do seu corpo, por causa do perigo de
irreverência.

423) Se o exorcista tem à disposição Relíquias de Santos, pode certamente faze uso delas como
indicado pelo RR (desde que não sejam manejadas de modo indigno ou a essas não venha feito pelo
demônio algum ultraje), colocando-as com reverência sobre a cabeça ou no peito do paciente. Se,
porém, o paciente fosse uma mulher ou houvesse o perigo que a si ou a algum dos presentes tais
gestos possam ser ocasião de um mau pensamento, os evite decididamente.

424) Sobre a possibilidade de deixar entre as mãos do paciente um Crucifixo ou qualquer outro
objeto sacro, o exorcista avalie, caso por caso e vez por vez, se há o perigo que nos momentos de
crise do paciente esse possa ser jogado por terra ou contra algum dos presentes ou uma parede.

425) Na maior parte dos casos de possessão diabólica, ao paciente é suficiente uma cômoda cadeira
(melhor se dotada de braços) ou uma poltrona para acompanhar todos os momentos da celebração
exorcística. Como alguns pacientes, sobretudo durante os primeiros exorcismos, são bastante
agitados pelo maligno e não raramente jogados por terra, o exorcista disponha, no caso do
pavimento não ser de madeira, que sob a cadeira ou a poltrona do paciente haja um bom tapete e
que não haja móveis por perto ou algo que possa acidentalmente causar feridas ao corpo do
paciente nos momentos em que o demônio o agita.

426) Ainda que em alguns casos o corpo do paciente, sobretudo durante os primeiros exorcismos,
seja sacudido e agitado pelo demônio, ao ponto que se torna necessário segurá-lo, se a possessão
diabólica não é associada a problemas psíquicos é inconveniente que o paciente seja amarrado. A
indicação rubricial do RR trata, de fato, só dos casos nos quais o possesso seja ao mesmo tempo
vítima de doenças mentais que o tornam furioso. Ao contrário, se a fúria externa do paciente
provém exclusivamente de um demônio que age interiormente e não de uma doença mental, tal
fúria diante e ao comando do sacerdote exorcista deve atenuar-se e nem por ele ou pelos presentes
se deve temer algum dano. Certamente o demônio através do possesso fará muitas ameaças, mas
além da voz não haverá nada de mais, como é demonstrado pela experiência.

427) Não raramente durante o exorcismo alguns pacientes, sobretudo se vítimas de malefícios, têm
ânsias de vômito, seguidas às vezes da expulsão de material gastrointestinal e, em alguns casos,
também de materialização de objetos entre os mais variados (pregos, vidros, lâminas de barbear,
tranças de cabelos, etc.). Por isto no lugar onde se proferem os exorcismos nunca falte um
recipiente apto (balde ou outro), com toalhas ou guardanapos (mesmo de papel).

428) Ainda que raramente, alguns pacientes manifestam a necessidade durante o exorcismo, de
servirem-se do banheiro e em alguns raros casos acontecem expulsões de objetos por via anal. Este
é um dos motivos que podem aconselhar a presença de adequados serviços higiênicos no lugar onde
se praticam os exorcismos.

429) Além dos ritos iniciais, nos quais seja o DESQ como o RR prevêem o uso de água benta, o
paciente pode ser aspergido com este sacramental também em outros momentos da celebração,
quando se verificam situações como aquelas acenadas no RR. n. 16 ou em circunstâncias onde a
experiência aconselha o seu sábio emprego.

430) O óleo exorcizado, cujo uso é amplamente atestado pela tradição exorcística, pode ser
utilizado pelo exorcista durante o rito quando as rubricas prevêem que seja feito o sinal da cruz no
contesto das fórmulas imperativas. Neste caso, o exorcista se limite a ungir só a fronte do paciente.

431) Os sacramentais acima mencionados (água e óleo exorcizado) devem ser empregados pelo
exorcista com moderação e espírito de fé e de verdadeira piedade. Todo exagero arrisca de gerar
mentalidade e comportamentos supersticiosos que podem causar danos espirituais ao paciente, aos
participantes ao rito e ao mesmo exorcista.

432) No contexto do exorcismo se deve sempre absolutamente evitar o uso impróprio de coisas
sacras, respeitando-lhes a finalidade e empregando-as nos modos estabelecidos pela Igreja.
Sobretudo, o exorcista deve prestar atenção a não dizer, fazer ou usar coisas que possam resultar de
aviltamento ao paciente e ao seu corpo, que mesmo quando está possesso pelo demônio permanece
o corpo de uma criatura elevada por Deus à dignidade filial. Em base a estes princípios não é
certamente lícito ao exorcista usar o óleo dos enfermos ou o sacro Crisma, como também aspergir a
cabeça ou o corpo do paciente com sal bento.
433) O exorcista pode certamente sugerir aos seus pacientes o uso privado de água, sal e óleo
bentos, como também de outros objetos sacros (velas, etc.). Seja, porém, muito cauteloso, avaliando
caso por caso a oportunidade e vigiando para que não se faça uma utilização imprópria ou
supersticiosa pelo paciente ou por outros.

434) É necessário que o exorcista vigie muito sobre os pacientes, para que mantenham sempre
desperto o desejo de serem libertos, o queiram verdadeiramente e estejam convictos que é Deus que
por primeiro o quer. A experiência ensina, de fato, que a busca do exorcista e o pedido das suas
bênçãos por parte dos atribulados pelo maligno não sempre corresponde um real desejo deles de
libertação e, sobretudo, a convicção de fé que Deus, movido pela Sua infinita bondade, queira em si
esta libertação. No contexto ocidental é frequente, de fato, o caso de pessoas desadaptadas, carentes
de afeto, com situações familiares borderline (ao limite), as quais, ainda que afetadas por reais
distúrbios demoníacos, encontrando-se no centro da atenção do exorcista e de pessoas que rezam
por elas, desejam receber as bênçãos, mas não querem de modo algum que essas parem, para não
perderem o nicho no qual periodicamente se refugiam. Estas pessoas estão muitas vezes à procura
também de grupos de oração onde se reza sobre elas, de um segundo ou de um terceiro exorcista
que as “acompanhe” e de outros paliativos. Uma vez certo desta situação e da sua incorrigibilidade,
o exorcista não se faça escrúpulo de demitir este gênero de pacientes, do momento que falta a
verdadeira vontade de serem libertos por Deus e, juntamente, a confiança n’Ele para obter o dom.

Indicações gerais sobre a presença de outras pessoas diversas dos auxiliares

435) Além dos auxiliares do exorcista, à celebração do exorcismo podem participar outras pessoas
no respeito de alguns critérios, o primeiro dos quais é sobre o número, que ambos os Rituais
querem que seja limitado a poucas pessoas, e o fato que o exorcismo não se torne um espetáculo
para os presentes.

436) No caso de menores, devem certamente ser admitidos os pais ou quem tem a sua tutela. Se
estes últimos devessem de qualquer maneira disturbar o bom andamento da celebração, o exorcista
suspenda o rito. Quando não fosse possível obter um comportamento adequado, o exorcista cesse
de seguir o caso.

437) Pais, parentes, amigos, acompanhantes de um paciente em idade adulta e senhor de si podem
prudentemente ser admitidos pelo exorcista à celebração avaliando caso por caso a idoneidade deles
a não interferir negativamente no bom êxito da celebração. Na dúvida, o exorcista dirija-se a eles
convidando-os e manterem-se em oração em um lugar à parte.

438) Médicos, médicos psiquiatras, psicólogos, especialmente se estão curando pacientes


submetidos a exorcismo, como também sacerdotes ou religiosos podem convenientemente, a
convite do exorcista, participar a celebrações, conquanto, mantendo a devida reserva e não
interferindo com rito, se empenhem a não divulgar o conhecimento daquilo que foi feito.

439) Todos aqueles que assistem a um exorcismo cumpram exatamente as indicações dadas a eles
pelo exorcista, ficando no próprio lugar, mantendo o silêncio e abstendo-se de observações ou
comentários de todo gênero. É-lhes absolutamente proibido, mesmo se sacerdotes, de dirigirem a
palavra ao paciente, fosse só para exortá-lo ou encorajá-lo.

440) O exorcista não permita a algum curioso, qualquer que seja o seu título e a sua posição, de
participar da celebração de um exorcismo. Só ao exorcista compete, de fato, escolher quem pode ou
não participar de um exorcismo, sendo ele o único responsável de tudo aquilo que diz respeito ao
seu ofício.

441) O exorcista tenha sempre presente que de nenhum modo é lícito admitir ao exorcismo
qualquer meio de comunicação social, seja antes de realiza-lo, seja enquanto o realiza, seja depois
de tê-lo realizado.

Indicações gerais sobre a presença de auxiliares

442) Entende-se por auxiliar a pessoa que coadjuva o exorcista com continuidade e com prestações
estritamente relacionadas ao exercício deste ministério. Um auxiliar pode ser homem ou mulher,
leigo, consagrado ou sacerdote.

443) Mesmo que seja lícito ao exorcista receber sozinho um paciente, a presença de um grupo de
fieis, ainda que pequeno, é requerida pela prudência e pela sabedoria que procede da fé. O exorcista
tem, por conseguinte, o dever de cuidar da formação de alguns auxiliares para o apoio do seu
ministério, sendo a presença deles moralmente necessária no acompanhamento de cada caso.

444) Os deveres principais dos auxiliares são aqueles da oração e da tutela do bom nome do
exorcista. Outras tarefas dos auxiliares, designados pelo exorcista conforme as capacidades pessoais
de cada um e depois de uma conveniente instrução, podem ser:
► o cuidado pelo lugar e pela preparação das coisas necessárias ao acompanhamento de cada caso;
► o assistir o paciente nas suas necessidades (contê-lo quando é agitado, sustenta-lo quando
ameaça cair, oferecer-lhe o ocorrente quando vomita, etc.).

445) Com os pacientes, os auxiliares devem ter uma contenção cortês e afável, mas sempre
reservada. Às eventuais perguntas em matéria de exorcismos dirigidas a eles por um paciente,
respondam convidando o paciente a perguntar ao exorcista.

446) Em nada os auxiliares podem assumir iniciativas próprias, mas sempre e somente cumprir as
tarefas confiadas a eles pelo exorcista, na modalidade por este indicada e sob a sua direção.

447) Durante o exorcismo os auxiliares rezem segundo as indicações dadas a eles pelo exorcista e
para o resto permaneçam no próprio lugar, mantendo o silêncio e abstendo-se de observações ou
comentários de todo gênero.

448) Os auxiliares não devem prestar atenção àquilo que o demônio pode eventualmente fazer e
dizer por meio da pessoa possessa; tanto menos podem pretender de interrogar pessoalmente o
paciente, mas antes devem rezar a Deus, humildemente e com todas as forças, pela sua libertação,
seja individualmente, seja no modo indicado pelo rito empregado pelo exorcista.

449) É proibido aos auxiliares, mesmo se sacerdotes, o uso de qualquer fórmula exorcística, seja
deprecativa, seja imperativa, que a Igreja reserva apenas ao exorcista.

450) É proibido aos auxiliares, mesmo se sacerdotes, dirigir a palavra ao paciente, mesmo que fosse
só para exortá-lo ou encorajá-lo, como também realizar sobre o paciente gestos reservados só ao
exorcista (imposição das mãos, ostensão do crucifixo ou de imagens sacras, etc.).

451) Na escolha dos próprios auxiliares o exorcista avalie que tenham uma profunda vida de oração
e que gozem de autêntica integridade de vida. Juntamente com uma real disponibilidade ao serviço,
devem possuir uma saúde física e psicológica adequada aos deveres que o exorcista entende lhes
confiar. Entre as virtudes recomendadas não podem faltar a paciência e a discrição, sendo-lhes
obrigatório manter a devida reserva sobre a identidade dos pacientes e sobre tudo o que concerne ao
exorcismo, seja antes da sua realização, seja enquanto se dá, seja depois de tê-lo realizado.

452) Os auxiliares não devem apenas ser escolhidos, mas também acompanhados. Sem assumir
necessariamente o papel de confessor ou de diretor espiritual, o exorcista tenha muito carinho pela
sua conveniente formação espiritual e catequética, especialmente nas matérias que dizem respeito
ao seu ministério e ao serviço deles.

453) O exorcista é o único responsável pelo discernimento e pelo acompanhamento dos pacientes a
ele confiados. Todo auxiliar, mesmo se sacerdote, que não mostrasse humildade e docilidade para
com o sacerdote exorcista, atendendo as suas indicações, deve ser corrigido e, se persiste no seu
comportamento errado, deve ser exonerado do seu serviço.

A estrutura do rito do exorcismo maior segundo o DESQ

454) Diferente do RR, o DESQ se preocupa de oferecer nos Praenotanda uma descrição do rito do
exorcismo maior. Esta escolha visa oferecer algumas breves explicações sobre o significado de cada
parte da celebração, coisa que as rubricas, dada a sua particular função de “guia prática” da ação
litúrgica, por si não cumprem. Infelizmente não faltam descuidos e confusões entre esta parte do
DESQ e quanto, de fato, as rubricas prescrevem. Omitindo as explicações, fáceis de serem lidas,
que os Praenotanda dão sobre os vários momentos do rito, apresentamos aqui a estrutura como
resulta das rubricas.

455) O rito inicia com o sinal da cruz, a saudação do exorcista e uma sua eventual amonição, sóbria
e cordial, dirigida ao paciente e a todos os presentes, para melhor dispô-los à ação litúrgica.

456) Segue o rito da aspersão com a água benta. Essa pode ter sido benta em precedência ou pode
ser abençoada dentro da celebração, acrescentando, se se retém oportuno, também o sal. Segue a
ladainha dos Santos, que se conclui com uma oração à escolha.

457) Depois da ladainha, o exorcista pode recitar (não é obrigado) um ou mais salmos escolhendo a
forma para ele mais apta (todo o salmo de uma vez ou na forma responsorial). Se o faz, no final do
salmo o exorcista pode acrescentar (não é obrigado) a oração super psalmum assinalada para cada
salmo.

458) Segue a proclamação do Evangelho, à escolha, quanto à perícope, entre aqueles propostos pelo
DESQ.

459) O exorcista impõe, depois, as mãos sobre o paciente, acompanhando o gesto com a recitação
de específicas invocações.

460) A seguir vem a profissão de fé que pode ser feita ou recitando o Símbolo (dos Apóstolos ou o
niceno-constantinopolitano) ou na forma da renovação das promessas batismais com a renúncia a
Satanás.

461) Vem depois a oração dominical e o rito da cruz, que o exorcista mostra ao paciente e com a
qual o abençoa.

462) Depois disso as rubricas colocam o rito da insuflação, que – porém – não é obrigatório.

463) Por último vêm a fórmula invocativa de súplica a Deus e a fórmula imperativa de comando
direto ao demônio, cuja ordem no DESQ não pode ser invertida (ou seja, não se deve usar a fórmula
imperativa sem fazê-la preceder daquela invocativa). A fórmula invocativa pode, entretanto, ser
usada sem aquela imperativa.

464) Infelizmente a conclusão do rito é descrita de modo confuso. O DESQ n. 30 recita que “o rito
se conclui com o cântico de ação de graças, a oração e a bênção.” Todavia as rubricas, depois das
fórmulas exorcísticas, trazem no n. 63 como cânticos de ação de graças o Magnificat e o
Benedictus, seguidos no n. 64 da oração, especificando que esses devem ser proferidos pelo
exorcista e pelos presentes depois que a libertação do fiel vexado ocorra. Consequentemente, o
exorcista pode fazer como melhor crê: ou se contenta de concluir o rito com a saudação e a bênção,
ou profira um dos dois Cânticos evangélicos, seguidos pela oração, pela saudação e pela bênção.

465) Mesmo que não seja dito expressamente, o exorcista avalie cada vez a oportunidade de
observar momentos de silêncio orante entre um momento e outro do rito. Não raramente é
justamente naqueles momentos de oração silenciosa que o maligno começa a manifestar a sua
presença.

A estrutura do rito do exorcismo maior segundo o RR

466) As rubricas do RR prescrevem que o sacerdote, de cota e estola roxa, dê início ao rito
fortificando (defendendo) a si mesmo e os presentes com o sinal da cruz, faça a aspersão com a
água benta e, de joelhos, enquanto os outros respondem, diga a Ladainha dos Santos.

467) Ao terminar a Ladainha, o exorcista recita sozinho em voz baixa o Pai Nosso, exceto as duas
últimas petições que são, invés, pronunciada em voz alta de forma responsorial.

468) Segue a recitação do Salmo 53, um responsorium prolixum (responsório longo) com uma
oração conclusiva, que pelo conteúdo pode já ser classificada como fórmula exorcística
deprecativa.

469) As rubricas trazem depois alguns dentre os comandos e interrogações que são lícitos e
possíveis fazer ao demônio no curso do exorcismo, começando deste preciso momento, depois dos
quais segue a leitura de ao menos um texto evangélico entre os quatro propostos. Tudo se conclui
com um responsório breve e uma oração.

470) O exorcista, então, fortifica (protege) a si mesmo e o obsesso com o sinal da cruz, lhe impõe a
parte terminal da estola sobre o pescoço e, colocando sobre a cabeça a sua mão direita, firmemente
e com grande fé recita um responsório e uma oração.

471) Segue uma primeira fórmula exorcística imperativa, que se conclui com um responsório e uma
oração, que corresponde a uma fórmula exorcística deprecativa.

472) Vêm depois uma segunda fórmula exorcística imperativa, que também se conclui com um
responsório e uma oração ou fórmula exorcística deprecativa, e, enfim, uma terceira fórmula
exorcística imperativa, com a qual, à escolha do exorcista, o rito pode-se dizer concluído.

Exorcismo e princípio de discrecionalidade

473) Quando uma norma deixa uma margem de escolha entre várias possibilidades de
comportamento igualmente lícitas, fala-se de “discrecionalidade”, conceito que não deve ser
confundido com a assim chamada “criatividade” litúrgica. A Igreja sempre concedeu à celebração
do exorcismo uma ampla discrecionalidade, tendo conta das condições subjetivas do exorcista, da
personalidade e da situação em que se encontra o paciente, como também da índole do demônio ou
dos demônios com o qual o exorcista deve lutar.

474) Quanto às condições subjetivas do exorcista, a discrecionalidade é requerida por diversos


fatores, quais, por exemplo, os espaços materiais à sua efetiva disposição, o tempo que deve repartir
com outras ocupações, as pessoas concretas com cuja colaboração pode contar, etc.

475) Quanto aos pacientes, a discrecionalidade é requerida pelo fato que não todos estão na mesma
condição e que, por isso, não se deve proceder com todos de mesmo modo. Alguns, de fato, são um
tanto rudes, especialmente nas coisas da fé, e com estes se requer grande paciência, prudência e
destreza, para que gradativamente compreendam a doutrina. Outros são temerosos e por isso
difíceis de cuidar, porque penosamente são capazes de emitir atos de fé firme e de confiança em
Deus sem hesitações, e têm necessidade de serem continuamente reforçados, animados e
confortados. Alguns, de cabeça dura e apegados ao próprio parecer, são facilmente enganados pelo
diabo para que não prestem fé às instruções do exorcista; a esses é necessário mostrar que devem
ser humildes e em todas as coisas obedecer ao juízo do exorcista. Para alguns, vergonhosos e
tímidos, deve-se haver cuidado de não exorcizá-los diante de pessoas das quais possam se
envergonhar. Outros são de outras condições e características e a todos o exorcista se deve adaptar.

476) Quanto aos demônios, a discrecionalidade é requerida pelo fato que esses têm índole e modos
de agir diferentes, como se pode constatar das diversas espécies de reações que se verificam durante
os exorcismos, obrigando o exorcista a adequar-se caso a caso e vez por vez.

477) Do que foi exposto deriva que o sacramental do exorcismo, excluída toda arbitrariedade e o
que mesmo na aparência pode inclinar à magia o à superstição, é, juntamente com a Confissão
sacramental, o espaço litúrgico que requer ao celebrante a maior capacidade de adaptação do rito à
pessoa e à situação da qual se está ocupando.

O princípio de discrecionalidade no RR

478) A leitura atenta do RR, começando das Normae, faz compreender que é impossível celebrar o
exorcismo mantendo-se fechados numa sequência sempre igual de ritmos, de palavras e de gestos
que não levem em conta a diversidade dos casos para os quais o exorcismo é empregado, da
evolução de cada situação e dos imprevistos que podem sempre ocorrer. É prova disso o quanto
segue.

479) O convite feito ao exorcista de compreender por quais palavras os diabos sejam mais turbados
para que em seguida, as intercale e as repita maiormente. Este conceito é repetido mais adiante com
o acréscimo, se se vê a vantagem disso, de perseverar no exorcismo por duas, três, quatro horas e
até mais, se possível, até conseguir a vitória.

480) As indicações já vistas relativas ao lugar.

481) A possibilidade que as Normae oferecem de usar relíquias sem, todavia, que em nenhuma
parte do rito se encontre uma só rubrica que explique quando e como emprega-las durante a
celebração.

482) O fato que as Normae indicam explicitamente perguntas / preceitos que o exorcista deve ou
pode dar ao demônio, mas das quais não existe depois sinal nas rubricas. As Normae, de fato,
atestam que o exorcista pode / deve:
► ordenar ao espírito imundo de calar e de responder somente às perguntas postas por este último;
► interrogar o demônio sobre o número dos espíritos possuidores, o tempo em que fizeram seu
ingresso e a causa da possessão;
► impedir ao demônio (e isto pode ser feito só comandando) os sarcasmos, as risadas e outras
bobagens do gênero, se o considera oportuno;
► pôr ao demônio perguntas mais específicas sobre a causa da possessão: se é devida a uma obra
mágica, ou a sinais maléficos, ou a coisas maleficiadas, com outras perguntas e ordens
consequentes à resposta recebida.

483) O fato que por bem duas vezes no mesmo número das Normae se deixe claramente entender
que além das perguntas / preceitos espalhadas aqui e ali no RR (Normae mais rubricas) há outras.

484) O fato que as rubricas trazem algumas perguntas / preceitos em uma ordem e com vazios que
deixam perplexos quando devessem entender-se como palavras que se devem pronunciar só naquele
momento do rito e na rígida forma verbal com que são apresentados.

485) O fato que o exorcista é convidado, enquanto exorciza, a usar as palavras da S. Escritura antes
que as suas ou de outros, deixa claramente entender que no curso da celebração podem existir
espaços e momentos nos quais o exorcista não se limita a declamar simplesmente as palavras do
rito.

486) Significativa, enfim, a rubrica posta à conclusão do rito do exorcismo maior, onde se afirma
que será muitíssimo de ajuda repetir várias vezes sobre o possesso o Pai Nosso, a Ave Maria e o
Credo, e pronunciar devotamente as coisas abaixo anotadas (isto é o Magnificat, o Benedictus, o
Símbolo Atanasiano e diversos Salmos).

487) Destas considerações se mostra a discrecionalidade ínsita nas disposições do RR, que deixa –
portanto – ao exorcista uma margem de escolha entre várias possibilidades de comportamento
igualmente lícitas.

O princípio de discrecionalidade no DESQ

488) Em primeiro lugar, após haver exposto a estrutura do rito do exorcismo maior, se precisa que
“tudo o que foi descrito pode repetir-se, quantas vezes for necessário, quer na mesma celebração,
atendendo ao que adiante se diz no n. 34, quer noutro tempo, até que o atormentado seja totalmente
liberto.”

489) Mais além se afirma que, “tendo em conta a condição e as circunstâncias do fiel atormentado,
o exorcista use livremente as faculdades propostas no rito. Mas observe a estrutura da celebração,
organize-a e escolha as fórmulas e orações que forem necessárias, adaptando tudo às circunstâncias
de cada pessoa.”

490) Mesmo ao final dos Praenotanda, onde se trata das adaptações que competem às Conferências
Episcopais, o princípio de discrecionalidade emerge claramente. Em primeiro lugar, com um
chamado a levar em conta a cultura e o gênio (caráter, índole, aptidão) do povo na eventual
adaptação dos sinais e dos gestos do rito do exorcismo. Em segundo lugar, com um chamado a uma
possível coletânea de documentos (instruções) sobre o modo de agir, de exprimir-se, de interrogar e
de julgar, presos de autores de segura doutrina.

Nota conclusiva

491) Para quem começa o ministério de exorcista e não tem a possibilidade de fazer um tirocínio
com um exorcista já experiente, para aprender a desempenhar-se na celebração do rito, a indicação
é de seguir o Ritual do início ao fim, deixando-se guiar com muita simplicidade daquilo que as
rubricas dizem de fazer.

492) O Ritual, como já explicado, pode ser seja o DESQ, seja o RR, mas é preferível, para quem
está começando, aprender com o DESQ utilizando a tradução oficial da própria Conferência
Episcopal confirmada pela Santa Sé. Com o tempo e com o estudo se podem eventualmente fazer
testes com o RR, deixando à experiência pessoal a tarefa de escolher o instrumento litúrgico mais
apto ao desempenho do próprio ministério. Nada proíbe o uso alternado, segundo os casos, de
ambos os Rituais.

493) Ao exorcista é necessário, juntamente com a prática, que não deixe jamais de empenhar-se
séria e constantemente a estudar as Normae e os Praenotanda. A falta da devida ciência leva, de
fato, o exorcista a confiar de modo cego na própria experiência e, portanto, a ser fácil vítima dos
enganos de satanás. Ao contrário, a experiência, unida ao estudo e à graça de Deus, forjará o
verdadeiro exorcista, que se manterá tal enquanto estiver convencido de ter sempre o que aprender.

CAPÍTULO XX
MODO DE PROCEDER NOS CASOS DE INFESTAÇÃO

494) Neste capítulo se examina o modo de proceder nos casos de infestação quando a agressão é
dirigida a lugares (casas) habitados pelo homem. Os mesmos critérios se aplicam, com as
necessárias adaptações, a todos os outros casos de infestação.

495) Uma vez excluída a sugestão, o engano ou qualquer outra causa natural, aquilo que aparece
como infestação de um lugar a um exame mais acurado se revela, às vezes, ser efeito de uma ação
extraordinária do maligno contra uma ou mais pessoas. O exorcista deve, portanto, ser prudente e
perspicaz, evitando diagnósticos apressados.

*****

O que deve preceder ao ato litúrgico de purificação de uma casa infestada

496) O exorcista, antes de ir ao lugar que se presume infestado, deve interrogar os proprietários ou
os habitantes da casa em questão sobre:
► os fenômenos que fazem supor uma infestação (quais são e quantos são);
► o tempo da suposta infestação (quando começou, por quanto tempo durou e em qual tempo o
incômodo costuma ser maior);
► o lugar específico da infestação (se por toda a casa, ou em algum ambiente ou quarto em
particular);
► a provável causa da infestação (deve-se perguntar aos interessados o que eles hipotizam ou
imaginam que seja a causa dos distúrbios e como chegaram a tais suposições);
► quem de fato sofre a infestação (se o incômodo aflige todos os habitantes da casa, ou apenas um
deles, e se quem é molestado o é somente em casa ou também fora de casa; se a um habitante é
causada uma moléstia maior que a um outro; se fora da casa se ouve ou se vê algo pelos vizinhos ou
pelos mesmos habitantes; se quem é molestado o é durante as orações ou outros exercícios
espirituais);
► eventuais remédios já usados (perguntar se se recorreu a algum expediente para sair daquela
situação, e se sim que remédio foi oferecido, por quem e de qual gênero);
► no caso em que se tratasse de manifestações de espíritos, se estes pediram algo e, se sim, que
coisa.

497) O exorcista, no modo mais oportuno, deve instruir os habitantes da casa, objeto de ação
extraordinária por parte do demônio, sobre aquelas coisas da fé que é necessário acreditar,
sobretudo que Deus não costuma permitir aos demônios que causem dano às pessoas ou às suas
coisas se não por alguma justa causa.

498) O exorcista deve admoestar os habitantes para que não creiam facilmente aos demônios ou aos
homens que afirmam que tal infestação é feita por algumas almas do Purgatório ou condenadas,
porque as almas purgantes pedem sufrágios e depois de tê-los recebido ficam em paz e não
perturbam mais ninguém; as almas condenadas, invés, estão presas no inferno e não podem
interferir com o mundo presente.

499) Os habitantes devem conformar-se de boa vontade ao exorcista, ter confiança nele e pôr em
Deus a sua esperança. De modo algum devem ter medo dos demônios, confiando que os espíritos
malignos não podem nada contra aqueles que sem hesitação puseram em Deus a sua confiança.
Antes, se esforcem para realizar as coisas que são ordenadas pelo exorcista com ânimo corajoso e
coração alegre.

500) O exorcista, segundo os casos e com prudência, faça-lhes presente que o diabo, diretamente ou
por meio do conselho de pessoas insipientes, costuma introduzir falsos pensamentos nos habitantes
da casa infestada, por exemplo, apresentando à fantasia que aquela casa está sob o domínio de
demônios que jamais irão embora, que ali devem permanecer para atormentar as almas ou porque
naquela casa morreu um pecador ou por outras coisas do gênero. Portanto, não dêem ouvidos a
estas sugestões, que no mais das vezes são só falsidades.

501) Como a causa principal de todo distúrbio diabólico extraordinário é, na maior parte dos casos,
o pecado, ocorre também e sobretudo examinar a vida das pessoas da casa infestada, de modo
análogo ao que normalmente é feito com os pacientes sob ataque diabólico. Nestes casos a
libertação falida poderia, de fato, encontrar explicação nas não adequadas disposições interiores de
quem habita naquele lugar; portanto, se há erros, contradições, defeitos, lacunas, se deve exigir um
empenho sério de conversão. Diversamente não só em termos de discernimento a situação
permanece confusa, mas se arrisca só de perder tempo.

502) O exorcista não proceda ao exorcismo de um lugar que se afirma ser infestado:
► sem antes ter uma certeza objetiva da realidade dos fenômenos e da sua preternaturalidade;
portanto, se o exorcista não tem experiência direta dos fenômenos, é preciso que tenha uma certeza
objetiva da completa fiabilidade daqueles que os testemunham, para não expor ao ridículo e ao
descrédito nem o seu ministério, nem a Igreja que lho confiou;
► sem estar certo das boas disposições das pessoas que pediram a sua intervenção.

O ato litúrgico de purificação da casa infestada

503) Salvo casos evidentes de infestação diabólica, é útil e prudente proceder por graus. Mesmo
havendo motivos suficientes para julgar a preternaturalidade dos fenômenos de infestação, o
exorcista, antes de usar o exorcismo em casas tidas por infestadas, proceda a uma simples bênção
da habitação, atendo-se ao rito do novo Ritual de Bênçãos ou usando aquele proposto pelo Ritual
Romano. Esta bênção, não exorcística, pode ser dada também por um sacerdote não exorcista ou
por um diácono.

504) Se os fenômenos continuam e se retém oportuno prosseguir com o exorcismo, o exorcista use
então o exorcismo simples, cuja especificidade faz dele o instrumento apto para todos os casos de
infestação diabólica, fazendo muita atenção, no modo de proceder, a tudo aquilo que, ainda que seja
coberto por uma aparência de piedade, pode inclinar à superstição.

505) Antes de passar ao exorcismo verdadeiro e próprio, o exorcista faça com que os habitantes da
casa rezem atos de contrição, de confiança em Deus e de renúncia ao demônio. Por causa da
natureza do exorcismo sacramental, toca de fato, a quem faz uso das coisas sobre as quais se reza,
emitir aqueles atos que as criaturas irracionais não podem fazer.
506) O exorcista insista muito sobre o que se deve fazer para a preservação das coisas dadas em uso
ao homem de eventuais infestações demoníacas. A este fim sugira algumas práticas de piedade que
possam ajudar os habitantes a ter em Deus uma fé certa e uma confiança indestrutível, sendo estas
virtudes os primeiros e principais meios de preservação e de defesa de todos os ataques do iníquo
inimigo.

CAPÍTULO XXI
MODOS DE PROCEDER NOS CASOS DE SIMULAÇÃO

507) São três os gêneros de pessoas que se encontram com o exorcista por causa do seu ministério:
► pessoas que pensam de ser vítimas de ataques extraordinários do demônio ou que desejam
apurar se aquilo que lhes acontece deve ser atribuído diretamente ao diabo, mas que – seja como
for – não são nem vexadas, nem obsessas, nem possuídas (e estas são a maior parte);
► pessoas que, independentemente daquilo que elas pensam, são realmente objeto de ação
extraordinária do maligno;
► pessoas que, por motivos diversos e com diversa consciência daquilo que fazem, fingem de ser
possuídas ou vexadas pelo demônio.

508) Estas últimas, às quais o RR e o DESQ não acenam, são seguramente em percentual mínimo
em relação às outras duas categorias e a algum exorcista pode suceder de não encontrar-se com
este gênero de casos; todavia não se pode transcurar de dizer uma palavra sobre elas.

*****

509) As causas pelas quais uma pessoa chega a simular uma possessão ou vexação demoníaca
podem ser diversas:
► influência do ambiente unido à fragilidade psicológica;
► doença psíquica;
► fuga de situações existenciais particularmente difíceis ou meio considerado apto para resolvê-
las;
► vontade de causar dano a um exorcista em particular;
► vontade de desacreditar o ministério exorcístico em geral.

510) O exorcista recorde que se a aversão ao sacro é um sinal particularmente indicativo de


intervenção diabólico extraordinária, na realidade da possessão tal sinal, sozinho, não basta a dar a
certeza moral. Um dos motivos é que a aversão ao sacro pode ser simulada, e às vezes tão bem, que
seja capas de enganar até o exorcista mais experiente. Atualmente, Internet oferece abundantemente
aquilo que serve para fingir ser possesso pelo demônio, interpretando-a como um ator.
Consequentemente, enquanto a absoluta falta de aversão ao sacro durante o exorcismo diagnóstico
pode, juntamente com outros critérios, ser suficiente para dar a certeza moral da não possessão,
somente a presença deste sinal não basta para oferecer a segurança da real presença do demônio.

511) Reafirma-se a iliceidade e a periculosidade de utilizar como critério diagnóstico o fingimento:


aplicar relíquias falsas; proclamar orações e exorcismos falsos; usar água benta falsa, etc.

512) O exorcista procure ter um quadro sempre mais preciso da situação do paciente quanto à sua
condição
► espiritual (vida de fé, de oração, etc.),
► moral (inclinações e atitudes morais que de fato possui, sobretudo sinceridade e veracidade),
► e existencial (havendo claro o quadro da sua vida e o tecido das relações humanas que formam a
sua trama),
para individuar, se existissem, as razões pelas quais poderia querer simular uma possessão ou uma
vexação diabólica.

513) No caso em que as reações do paciente durante o exorcismo diagnóstico pertençam ao gênero
das usadas pelo cinema e pela literatura para gerarem lucro (gritos, gestos descompostos, linguagem
torpe, explosões de fúria, etc.), se faça particular atenção ao que mais dificilmente pode ser
simulado, como, por exemplo, aquelas repentinas mudanças de “humor” típicas nas pessoas
realmente possessas e que se manifestam frequentemente durante o exorcismo, especialmente nos
estados de transe.

514) Durante o exorcismo diagnóstico o exorcista saiba fazer um sábio uso dos preceitos, sobretudo
em língua desconhecida ao paciente ou de forma tácita, porque a obediência do demônio ao
exorcista é uma das provas mais seguras da sua real presença e ação na pessoa possuída.

515) O critério indicado no n. 514 tem uma particular importância para apurar a simulação nos
casos em que ao exorcista chegasse uma pessoa realmente possessa, mas não desejosa de libertação
porque enviada a ele por uma seita diabólica na tentativa de causar-lhe dano, como a experiência
ensina.

516) O exorcista exija a obediência também do paciente em tudo aquilo que, em vista da sua
libertação, lhe compete como exorcista. E se esta obediência não é prestada, não por obstáculos
postos pelo demônio, mas por má vontade do paciente, como também se não se vêem, pelos
mesmos motivos, mudanças significativas no seu agir moral e espiritual, depois das devidas
amonições e também temporárias suspensões em recebê-lo, o exorcista o despeça sem algum temor,
independentemente do fato que estivesse simulando ou que fosse realmente disturbado pelo
maligno.

517) O exorcista não repreenda publicamente os simuladores da sua simulação, para não correr o
risco de difamá-los, mas, segundo os casos e a conveniência, privadamente os admoeste, para que
se arrependam e quanto antes se confessem com um outro sacerdote idôneo. De fato, acontece às
vezes que aqueles que neste modo simulam em seguida se tornam verdadeiramente vítimas de uma
ação extraordinária do espírito imundo.

518) O exorcista esteja certo que não é de pouca virtude desmascarar os enganos dos homens e que
é de maior mérito libertar as almas do pecado de quanto o seja libertar os corpos da escravidão do
maligno.

ÍNDICE

ADVERTÊNCIA pag. 1

ABREVIAÇÕES pag. 2

CAP. I – DEUS E A SUA PROVIDÊNCIA pag. 3

CAP. II – O DIABO E OS SEUS ANJOS pag. 7

CAP. III – A AÇÃO ORDINÁRIA DO MALIGNO pag. 12

CAP. IV – A AÇÃO EXTRAORDINÁRIA DO MALIGNO pag. 14

CAP. V – CAUSAS DA AÇÃO EXTRAORDINÁRIA DO MALIGNO pag. 23

CAP. VI – O MALEFÍCIO CAUSA DA AÇÃO EXTRAORDINÁRIA DO MALIGNO pag. 30

CAP. VII – A SUPERSTIÇÃO pag. 36

CAP. VIII – A LIBERTAÇÃO DA AÇÃO EXTRAORDINÁRIA DO MALIGNO:


pag. 43
SUAS NOTAS ESSENCIAIS. POSSÍVEIS ERROS

CAP. IX – EXORCISMOS E EXORCISTAS pag. 48

CAP. X – O SACERDOTE EXORCISTA pag. 53

CAP. XI – O INSTRUMENTUM DO SACERDOTE EXORCISTA pag. 58


CAP. XII – O DISCERNIMENTO: CRITÉRIOS GERAIS pag. 60

CAP. XIII – O DISCERNIMENTO: CRITÉRIOS PARTICULARES pag. 67

CAP. XIV – EFICÁCIA DO EXORCISMO pag. 89

CAP. XV – O EXORCISMO DIAGNÓSTICO pag. 96

CAP. XVI – NECESSIDADE DE UMA ADEQUADA INSTRUÇÃO DOS FIÉIS QUE


pag. 103
PEDEM A LIBERTAÇÃO DO MALIGNO

CAP. XVII – OS PRECEITOS DADOS AO DEMÔNIO pag. 108

CAP. XVIII – AS PERGUNTAS AO DEMÔNIO pag. 113

CAP. XIX – O RITO DO EXORCISMO IN GENERE pag. 120

CAP. XX – MODO DE PROCEDER NOS CASOS DE INFESTAÇÃO pag. 135

CAP. XXI – MODO DE PROCEDER NOS CASOS DE SIMULAÇÃO pag. 138

ÍNDICE pag. 141

16

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