4 - Espaco - Paradoxal - Gillian - Rose - Port
4 - Espaco - Paradoxal - Gillian - Rose - Port
4 - Espaco - Paradoxal - Gillian - Rose - Port
Este capítulo do livro concentra-se na imaginação espacial do que Teresa de Lauretis (1987)
tem chamado de "o sujeito do feminismo". Este sujeito do feminismo é de um sentido
particular de identidade do sujeito original. Eu sugiro que se imaginam espaços que não são
estruturados através das afirmações masculinistas. De Lauretis argumenta que a construção
do sujeito do feminismo é um projeto político – "uma estratégia pessoal-política de
sobrevivência e resistência que é também, ao mesmo tempo, uma prática crítica e um modo
de conhecimento - que tenta substituir o patriarcal dualismo homem / mulher. Isto tenta
afirmar primeiramente a importância de outros eixos da identidade social. Teresa de Lauretis
insiste que para a sair do campo de conhecimento masculinista, o feminismo tem que pensar
além da diferença sexual: no desafio à alegação de que o domínio patriarcal homem / mulher
é exaustivo, o sujeito do feminismo deve ser posicionado em relação às relações sociais que
vão além do gênero. O sujeito do feminismo é, assim constituído...
não apenas pelas diferença sexual, mas em toda a representação linguistica e
cultural; um sujeito de gênero no experienciamento da raça e classe, como bem das
relações sexuais; portanto, um sujeito não unificado, mas múltiplo, e não apenas
dividido como contraditório.
E se a mediação da feminilidade por outras identidades sociais devem ser central para
feminismo, segue-se, diz de Lauretis, que "as diferenças entre as mulheres podem ser melhor
entendida como diferença dentro das mulheres... o sujeito feminino é um local de diferença".
O sujeito do feminismo abraça estas diferenças, a fim de se desviar do masculinismo.
A segunda maneira em que o sujeito do feminismo desafia o dualismo homem / mulher, de
acordo com De Lauretis, é a indicação da possibilidade de ir além dos discursos dominantes
de identidade. Ela sugere que, assim como as posições dos sujeitos são interpeladas pelos
discursos dominantes, o sujeito do feminismo também se representa, e que esta auto-
representação pode desafiar a exaustividade dos masculinismo. Sua sugestão é que este
desafio assume uma forma não explícita, prescritiva, uma alternativa utópica a organização
prevalecente do poder, mas sim de um sentimento de que existem outras possibilidades além
do discursivo status quo. Esta é uma forma de pensar que não é representada no discurso
masculinista, mas que as próprias mulheres podem dar um sentido não articulado. (...) Este
segundo aspecto do sujeito do feminismo parece-me que descreve exatamente a intenção das
geografias feministas subversivas - a nossa suspeita de que há algo diferente acontecendo
além do que a nossa disciplina pode dizer.
Tanto as diferenças dentro do sujeito do feminismo e da possibilidade de sua auto-
representação, têm sido articuladas pelas feministas através de imagens espaciais. Sua
constituição através de diversas identidades, por exemplo, é muitas vezes relacionada em
termos de uma “política de localização". Estes termos implicam que qualquer pessoa pode ser
localizada dentro de matrizes materiais e discursivas particulares de poder, resistência e
subjetividade. Os detalhes de localização em relações complexas de poder também
descrevem os locais das diferenças de alguns sujeitos particulares do feminismo. (...)
O espaço paradoxal aparece com freqüência nos trabalhos das feministas que compartilham
as preocupações De Lauretis sobre a diferença. Outras feministas falam das viagens feitas
"dentro do movimento para frente e para trás": de como "a textura dos pontos de partida e de
chegada são intesecções perpétuas de origem e destino"; que quando "voltamos no passado,
alargamos a espiral e nunca voltamos para o mesmo lugar onde aconteceu a infância,
primeiro em nossas famílias, com nossas mães e pais"; "Tons de extrema localização, do
intimamente pessoal e individualizado corpo, vibrante no mesmo campo que as emissões
globais de alta tensão"; identidades são um processo entre" desterritorialização e
reterritorialização"; "confronto e aceitação de uma dispersão e fragmentação, como parte da
construção de uma nova ordem mundial que revela mais plenamente onde estamos, e o que
podemos nos tornar"; "cada outsider é um alongamento; a diferença entre a distância e a
proximidade, nem sempre é distância. Essas noções de espaço, localização, lugar, posição,
mapeamento e paisagem implicam radicalmente geometrias heterogêneas. Eles são vividos,
experienciados e sentidos. Eles também articulam argumentos específicos sobre poder e
identidade. Suas complexas e contraditórias espacialidades são um "tipo de precária
geometria conceitual não Euclidiana", que fala de poder, resistência e ao reconhecimento da
diferença. Então eu argumento que este sentido paradoxal de espaço pode desafiar as
exclusões da geografia masculinista. (...)
A geografia doméstica de Frye traça quê papéis as mulheres têm na sociedade patriarcal:
existe uma expectativa que ela seja uma dona de casa na cozinha, o local do seu trabalho
doméstico, ela pode desafiar seu marido, enfurecer, falar com autoridade, ser ouvida, "e obter
aceitação". Mas no quarto ela não tem nenhuma autoridade para falar de forma independente.
Lá ela não pode falar o que pensa, mas apenas ser eloqüente com o corpo, com o prazer. Sua
geografia cotidiana é a cozinha e o quarto – ruas, locais de trabalho e vizinhança - é a
geografia da espacialidade de muitas mulheres, e do feminismo também. Penso que o
feminismo é a tomada de consciência da política do quotidiano, sempre teve uma consciência
muito forte da intersecção entre espaço e poder - e o conhecimento. Como De Lauretis diz,
isto é "uma prioridade epistemológica que o feminismo tem localizado no pessoal, no
subjetivo, no corpo, no sintomático, no cotidiano, como o próprio local de inscrição material
da ideologia". De Lauretis também localiza a luta pela auto-representação do sujeito do
feminismo no cotidiano e sua "constelação ou configuração de efeitos de significado".
O minha própria opinião sobre espaço e poder – opinião que tem em grande parte motivação
neste capítulo - certamente vêm de minhas próprias experiências no espaço cotidiano. Eu
tenho um forte sentido de espaço como opressivo, por exemplo, devido ao medo de andar à
noite na cidade em que moro. Tenho que dizer os termos do meu receio em termos de espaço:
quando me senti ameaçada, o espaço que me rodeava me sufocava com uma opacidade que
rouba o meu direito de estar ali; eu não podia olhar em volta, os detalhes do entorno me
inundavam, a inocente transparência das ruas vazias transformava-se em lentes plasticas
agressivas em mim. O espaço torna-se quase como um inimigo em si. Este medo é em parte
sobre ser definida como uma mulher. Isso significa que posso sonhar para além do
patriarcado, talvez como nas palavras de Susan Griffin:
Não estamos mais articuladas para o direito de falar: temos falado: o espaço mudou,
estamos vivendo em uma matriz de nossos próprios sons; ressoam nossas palavras,
por um gráfico que reflete a nossa própria geografia; reconhecemos esta nova
paisagem como nosso lugar de nascimento, onde inventaram nomes para nós; aqui a
linguagem não contradiz o que sabemos, pelo que ouvimos, nós somos movidoa
novamente e novamente para a palavra.
Geométricas da diferenças
O sujeito do feminismo é compreendido como "um local das diferenças", devido ao impacto
das críticas de formas dominantes do feminismo a partir de outras mulheres ao longo da
última década. As mulheres que não são de classe média, branca, heterossexuais e portadoras
de necessidades especiais, tem interpretado suas experiências e insistido em ser ouvidas. Seus
argumentos têm enriquecido o imaginário espacial do feminismo; como notado no capítulo 6,
por exemplo, que a centralidade da distinção público / privado para o feminismo branco tem
sido desafiada por uma diversidade de distintos trabalhos geográficos, como nas casas e
comunidades do feminismo negro. O imaginário político feminista também foi diversificado
pela adição de interpretações da imigração, ou de exílio, ou de determinadas estruturas da
comunidade, para o feminismo das mulheres de cor. Como Miller tem descrito, as
"geopolíticas de uma poética do gênero", tendo criado um fragmentado e rico imaginário
geográfico no feminismo.
Essas articulações de diferentes estruturas espaciais também têm complexificado os
argumentos sobre o conhecimento socioespacial. Para muitas feministas, o pensamento da
geografia da diferença é extremamente complexo. Esta geografia não pode ser simplesmente
um mapeamento das relações sociais de poder sobre espaços territoriais: masculinidades e
feminilidades sobre espaços públicos e privados, por exemplo. O impacto do feminismo
negro e lésbico é evidente no reconhecimento de que todas as mulheres são sujeitos para a
constituição não apenas do gênero, mas também de uma sexualidade, de uma classe, de uma
raça, de uma religião,e de todo um range de outras relações sociais; as feministas de cor
insistem que estas relações são sempre experienciadas simultaneamente. Para o sujeito do
feminismo, então, "a questão é a dispersão". O espaço social não pode ser imaginado
simplesmente em termos de um território do gênero. A geografia do sujeito principal e de seu
feminismo cúmplice foi rompida por uma diversidade de espacialidades de mulheres
distintas. Então, uma imaginação geográfica está emergindo no feminismo, indicando a
complexidade do sujeito do feminismo, articulado por uma plurilocalidade. No
reconhecimento desta diferença, duas dimensões espaciais no mapa são insuficientes. Em vez
disso, muitas outras estruturas de dimensão espacial são necessárias; como Haraway tem
descrito, as “geométricas da diferença e contradição”.
Assim como esta multiplicidade de dimensões, o sujeito do feminismo depende também de
uma geografia paradoxal. Qualquer posição é imaginada não apenas como localizada em
múltiplos espaço sociais, mas também em ambos os pólos de cada dimensão. É esta tensão
que pode articular um sentido em outro lugar além dos territórios do sujeito principal.
A decisão nunca pode ser sentida como sólida ou definitiva. Ninguém pode ficar
firme no seu lado, não passa de um repouso em uma posição claramente fiável...
Mesmo quando uma mulher opta pelos sapatos que vai usar hoje (...) Ela decide
sobre o próprio local, o momento e o espectro corrente possível de imagens de
mulher. Seja qual for a nossa posição habitual sobre a divisão, na vida cotidiana nos
deslocamos para frente e para trás, ou como uma mudança metafórica, nós lutamos
pelo que pudermos."
O que eu gostaria de ter visto no topo: no entorno das ruas a praça do tribunal, a
igreja metodista, o edifício de mármore com o Departamento de Saúde, o Conselho
de Educação, o Departamento de Bem-Estar (minha mãe trabalhadora lá), a igreja
batista com tijolos amarelos, a estação do Golfo, a piscina municipal (não
autorizado para as mulheres), a mercearia Cleveland,a loja de calçados Ward: então,
todos em uma linha, conectados, o banco, os correios, o escritório do Dr. Nicholson,
uma porta para os brancos, um para os negros ... . Fui formada pela minha relação
com os edifícios e para as pessoas nos edifícios, pela ideia de que deveríamos
trabalhar no Conselho de Administração da Educação, que deveriamos estar no
banco manuseamento dinheiro, de quem deveria ter as armas e as chaves para o
prisão, e quem deveria estar na prisão: eu foi moldada por aquilo que eu não via, ou
pelo que não era anunciado naquelas ruas.
Eu aprendi uma maneira de olhar o mundo que é mais precisa, complexa, formada
por múltiplas camadas, multi-dimensional, mais sincero: para ver um mundo de
círculos sobrepostos, como o movimento da água após o salto de um peixe. Ao
invés da praça do tribunal comigo no meio, eu estando no chão.
Eu posso discutir se, em uma noite no espaço de três quaerteirões, jovens mulheres
negras não falam porque estão cansadas, na periferia urbana, ou porque odeiam
mulheres brancas; me pergunto por que eu não iria falar com jovens mulheres
brancas profissionais, sobre suas maneiras de trabalhar pela manhã, mas eu faço a
noite: ela não fala a todos: isto é sobre quem eu penso, eu preciso muito de uma
segurança física?
E sobre o fato de falar com um jovem homem negro: se não, vai ser o velho medo
racial-sexual. Maldição do passado, de qualquer forma. Quando eu falo
diretamente, normalmente obtenho uma respeitosa resposta: é que a resposta
violenta exortada pela história, o tabu sobre as mulheres brancas?
Entretanto, isto não é apenas uma passagem de uma posição para outra. Assim como Hooks,
Pratt não vê a margem como uma alternativa problemática para o centro. Elas se recusam a
dizer que a sua mudança de sexualidade e política é um processo inevitável de iluminação da
razão; ela insiste que em sua infância, especialmente os temores racistas de seu pai continuam
a moldá-la: "cada um de nós carrega em torno desses crescentes locais as instituições, uma
espécie de pano de fundo, uma fase definida". Ela estava exilada, tanto pelo fato de viver em
Washington, como pelo fato de viver na casa da sua mãe: "Eu sou filha do meu pai, vivendo
no presente em um mundo que eles ajudaram a criar". Para Prett, este reconhecimento da
diferença e da cumplicidade permite seu seu esforço para trabalhar um mundo no qual as
pessoas são capazes de viver sem tentar fazer as outras menos de si.
Estas geografias não acontecem naturalmente para esses escritores: mas salientam o esforço
para construí-lo. Como no ensaio de Haraway, "não existe uma visão imediata do ponto de
vista dos subjugados". Estas geografias paradoxais são projetos políticos que tentam desafiar
uma geografia evidente criada pela subjetividade hegemônica, de uma "posição crítica
excessiva ... alcançada através de práticas de deslocamento político e pessoal através das
fronteiras". Seu envolvimento com as experiências da dispersão e fragmentação cotidiana tem
criado não tanto um espaço de resistência, como uma geometria completamente diferente,
através da qual podemos pensar o poder, o conhecimento, a crítica ao espaço e às identidades,
e esperemos, produzir caminhos libertadores.
Observações Finais