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Revista Eletrônica Estácio Papirus, v.5, n.1, p. 54-68, jan./jun. 2018. ISSN 2448-2080
Lucia Costa
[email protected]
RESUMO
Este artigo aborda o uso de brinquedos cantados no processo terapêutico a partir do que a
literatura cientifica evidencia sobre o quanto esse recurso pode ser essencial ao processo
terapêutico de crianças para ajudá-las a melhorar a interação com o mundo que a cerca e
consigo mesmo. A questão/problema do estudo busca saber de que modo a utilização dos
brinquedos musicados, no processo terapêutico, pode influenciar os diferentes aspectos da
formação do indivíduo, incluindo as dimensões humana, física, social e cognitiva. Por isso, a
hipótese do estudo afirma que a riqueza de experiências com os brinquedos e,
consequentemente, com as atividades baseadas nesse recurso constituirá o banco de dados de
imagens culturais utilizados nas situações interativas. Os objetivos do estudo consistem em
compreender a eficácia dos brinquedos cantados no processo terapêutico, além de se
descrever as ações terapêuticas que podem ser colocadas em pratica pelo psicólogo com base
nos brinquedos musicados. A metodologia do estudo baseou-se na revisão da literatura com
foco em autores que se reportam à centralidade do tema no contexto da Psicologia Infantil e
da Ludoterapia. Após o estudo, inferiu-se que a realização de um trabalho terapêutico, com
base nesse recurso, requer um projeto pessoal maior do profissional quanto à sua proposta,
além de um envolvimento efetivo quanto às mudanças para se adaptar às necessidades da
criança, bem como de um maior investimento em recursos lúdicos avançados, pois, durante o
desenvolvimento desse estudo, detectou-se que apesar da eficácia dos brinquedos cantados no
processo terapêutico, atividades baseadas nesses expedientes ainda não são utilizadas com a
frequência necessária o que poderia apresentar maior resolutividade para o trabalho
desenvolvido junto à criança atendida pelo psicólogo infantil.
ABSTRACT
This article discusses the use of toys sung in the therapeutic process from which the scientific
literature evidences how much this resource can be essential in the therapeutic process of
children to help them to improve the interaction with the world that surrounds it and with
itself. The question / problem of the study seeks to know how the use of musical toys in the
therapeutic process can influence the different aspects of the formation of the individual,
including the human, physical, social and cognitive dimensions. Therefore, the hypothesis of
the study states that the wealth of experiences with toys, and consequently with activities
based on this resource, will constitute the database of cultural images used in interactive
situations. The objectives of the study are to understand the effectiveness of toys sung in the
therapeutic process, as well as to describe the therapeutic actions that can be put into practice
by the psychologist based on the musical toys. The methodology of the study was based on a
review of the literature focusing on authors who report on the centrality of the theme in the
context of Child Psychology and “Ludoterapia”. After the study, it was inferred that the
accomplishment of a therapeutic work based on this resource requires a greater personal
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project of the professional regarding its proposal, besides an effective involvement in the
changes to adapt the needs of the child, in addition to greater investment in advanced play
resources, because during the development of this study it was detected that despite the
effectiveness of the toys sung in the therapeutic process, activities based on these dossiers are
still not used with the necessary frequency which could present greater resolution for the work
developed with the child attended by the child psychologist.
1 INTRODUÇÃO
competências das crianças, não só no campo cognitivo, mas afetivo, cultural, histórico. É com
base nessa condição que o processo terapêutico com base na utilização dos brinquedos
cantados surge como uma estratégia capaz de auxiliar no desenvolvimento do individuo e seu
equilíbrio psicológico e emocional.
Em razão desses pressupostos, pode-se afirmar que o estudo possui relevância para o
curso, uma vez que será possível contribuir para que o conhecimento a respeito do tema seja
ampliado e aprofundado a ponto de estimular outros acadêmicos a dar continuidade ao debate
em torno do assunto, tornando-o um dos aspectos importantes que o psicólogo deve dar
atenção no desenvolvimento de seu trabalho cotidiano.
Para a academia a abordagem da temática também se justifica, pois é necessário
produzir literatura atualizada para que pesquisadores tenham a disposição material relevante a
ser utilizado em outros estudos voltados para a utilização da Ludoterapia no processo
psicoterapêutico infantil.
Finalmente, a elaboração e divulgação do trabalho beneficiam a sociedade, uma vez
que, ao tomar conhecimento do conteúdo, a comunidade passa a compreender que a formação
e o desenvolvimento da criança passam por questões que precisam ser debatidas de modo a
favorecer a aquisição do conhecimento a respeito dos processos que desencadeiam sua
compreensão do mundo e a aquisição da autonomia.
Assim, a questão/problema que norteia o estudo busca saber: O uso de brinquedos
cantados pode contribuir no processo psicoterapêutico infantil? Como hipótese, pressupõe-se
que os brinquedos cantados tornam-se recursos apropriados no processo terapêutico infantil,
porque combinam prazer, ludicidade e criatividade, estimulando a criança a se mostrar
receptiva ao trabalho do Psicólogo.
Os objetivos do estudo consistem em compreender a eficácia dos brinquedos cantados
no processo psicoterapêutico infantil; descrever a origem e desenvolvimento da ludoterapia na
prática psicoterapêutica; apontar as dificuldades que o psicólogo enfrenta para utilizar os
brinquedos cantados no processo psicoterapêutico infantil e apresentar os brinquedos cantados
e suas variadas formas de utilização pelo psicólogo na prática terapêutica.
2 MÉTODOS
3 RESULTADOS
3.1 LUDICIDADE
terapeuticamente não podendo ficar alheios ao brinquedo, ao jogo, às brincadeiras, pois tais
atividades são o veículo do crescimento da criança, possibilitando-a explorar o mundo,
descobrir-se, entender-se e posicionar-se em relação a si mesma e à sociedade de uma forma
natural. Segundo Santos (2012), um dos aspectos que marcam a infância é o brinquedo, e este
é para a criança aquilo que o trabalho é para o adulto, isto é, sua principal atividade.
Portanto, os jogos, brinquedos e brincadeiras fazem parte do mundo das crianças, já
que o brincar está presente na humanidade desde tempos imemoriais. Para Didonet (2014), o
brincar antecede à humanidade, “pois os animais também brincam, embora o ser humano, ser-
de-cultura, brinque diferente”. Desde os povos primitivos já eram desenvolvidas essas práticas
na forma de dança, música, pesca, caça e lutas.
Na contemporaneidade, vários teóricos de renome buscaram compreender e difundir
suas descobertas em relação às fases de desenvolvimento da criança. Entre estes um dos mais
importantes foi Piaget. Este teórico ofereceu grande contribuição com sua teoria construtivista
e dedicou-se a estudar os jogos e brincadeiras, chegando a estabelecer uma classificação deles
de acordo com a evolução das estruturas mentais que são: jogos de exercício – 0 a 2 anos –
sensório-motor; jogos simbólicos – 2 a 7 anos – pré-operatório; jogos de regras - a partir de 7
anos (PICONEZ, 2012)
Compreende-se que esse conhecimento sobre a evolução das estruturas mentais da
criança, de acordo com cada faixa etária, quando, aplicado ao contexto de uso dos brinquedos,
possibilita àquele que os utilizam junto à criança conhecer algo a mais do ser em
desenvolvimento: aquilo que não está dado simplesmente pela estrutura cognitiva, mas que se
insere no seu mundo subjetivo.
Na realidade, esse conhecimento amplia a ação do profissional que lida
terapeuticamente com a criança, na medida em que possibilita ao profissional psicólogo ou
terapeuta infantil, estabelecer uma sequência lógica e sistematizada de intervenções
psicológicas que resultam em transformações progressivas no comportamento da criança no
decorrer do processo terapêutico de modo a subsidiar a adoção de outros procedimentos para
melhorar o comportamento infantil (MOURA; VENTURELLI, 2014).
Atualmente, profissionais que trabalham no campo do desenvolvimento infantil
analisam várias teorias para seguirem seu trabalho. É importante que se faça um breve
comentário sobre Piaget, que diz que o brincar deve obedecer alguns estágios. Verderi (2012,
p. 55) cita:
4 DISCUSSÃO
Nessas situações, o imaginário entra em ação, pois torna as relações mais ou menos próximas,
podendo ser expressas como forma de acesso aos conflitos. Nessa perspectiva, o brincar
associado ao cantar é considerado como um meio de promover a relação da criança com seu
inconsciente tornando-o pronto para evidenciar suas alegrias suas tristezas, seus desejos e
angústias.
Sendo assim, é importante refletir a respeito das contribuições da atividade com os
brinquedos cantados mediante à perspectiva terapêutica. Para entender isso é essencial
recorrer a Winnicott (2012) que, com sua obra “O Brincar e a Realidade”, estabeleceu
parâmetros realistas em relação às possibilidades que o brinquedo tem de tornar as
experiências da criança muito mais enriquecedoras.
Não se deve ficar indiferente ao fato que os brinquedos utilizados no processo
terapêutico, especialmente quando apresentam-se com características musicais, podem
auxiliar a manter sob controle atitudes agressivas, ajudar a manter o equilíbrio da criança
evitando-se a ansiedade, facilitar o contato com seus pares, realizar a integração da
personalidade, para que o contato verbal com os outros ocorra de forma inteligível. Além
disso, o uso dos brinquedos cantados pode favorecer muito a compreensão dos aspectos
referentes aos objetos transicionais (PARSONS, 2011).
A respeito disso, é importante compreender, também, que os brinquedos cantados
transportam a criança a um imaginário que a auxilia a estabelecer correlações entre a
realidade e os conteúdos musicais. Conti e Souza (2010, p. 80), explicam que os brinquedos
cantados podem assumir características de elementos reais, porém, transformam-se em
instrumentos para o controle de acontecimentos que geram traumas.
Desse modo, o brinquedo passa a assumir uma importância estratégica para vivenciar
situações prazerosas e doloridas que a criança não tem possibilidade, por si mesma, de
reproduzir no mundo concreto
Ciente disso, o profissional que utiliza os brinquedos cantados precisa entender que
existem modalidades diversificadas para se atender uma criança no contexto terapêutico. Mas
isso deve ser determinado a partir de uma avaliação inicial feita junto a criança. O objetivo
principal será, então, o de identificar os problemas ou necessidades daquela criança e dos
elementos que aprofundam sua dificuldade, levando em consideração sempre seu nível de
aprendizagem e sua faixa etária, sua vivência familiar e/ou social, além de variáveis genéticas,
culturais, familiares, psicológicas (PARSONS, 2011).
Uma vez que se tenha certeza da dificuldade da criança, o profissional deve saber
reconhecer a extensão em que aquilo está afetando a aprendizagem ou as relações que o
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indivíduo estabelece com aqueles que fazem parte do seu cotidiano. Para que se conheça
então até que ponto isso está interferindo em sua vida. Para isso, existem critérios que o
psicólogo deve levar em consideração. Esses indicadores seriam capazes de orientar o
profissional para prestar o devido apoio à criança, dando destaque ao processo terapêutico
com os brinquedos cantados.
Schimidt e Nunes (2014) informam que é necessário analisar alguns fatores para que
se utilize adequadamente os brinquedos cantados na prática terapêutica com crianças. Entre
eles pode-se mencionar o tipo de brinquedo ou brincadeira que podem evidenciar a maneira
como o ego vai demonstrar a função simbólica que sistematiza a atividade de brincar. Além
disso, a personificação atribuída ao brinquedo deve ser levada em consideração, bem como a
motricidade, a criatividade e a capacidade simbólica que é evidenciada no ato de brincar.
Com base nesses critérios, o profissional estará preparado para atender adequadamente
na medida em que novos aspectos e mudanças estruturais surgem com base na ação do
terapeuta e com base nos brinquedos cantados. Desse modo, levando-se em conta a
necessidade da introdução dos brinquedos cantados no processo terapêutico, enquanto uma
linguagem legítima de desenvolvimento, torna-se imprescindível a formulação e efetivação de
propostas que transformem em conhecimento prático e acessível aos profissionais diretamente
responsáveis por utilizar os brinquedos cantados ao realizar o atendimento de crianças, ou
seja, os psicólogos e todos aqueles interessados em compreender a ludicidade enquanto
recurso eficiente e mediador, nas interações com indivíduos de diferentes faixas etárias na
infância (ALVES, 2010).
Por esse motivo é de suma importância que, no ambiente onde a criança é atendida,
exista um espaço rico em atividades com brinquedos cantados e um ambiente que seja um
reflexo do ambiente social. Esse ambiente com recursos materiais suficientes e uma atmosfera
social é que permitirá à criança comprovar ter uma formação sólida (CONTI; SOUZA, 2010).
Os materiais do ambiente onde se desenvolve um processo terapêutico com o uso dos
brinquedos cantados podem consistir em objetos já elaborados ou em outros produzidos pelas
próprias crianças. Assim, a utilização de uma bola, de um bastão, de cones ou mesmo de
brinquedos eletrônicos pode ajudar a criança a desenvolver-se cognitivamente, culturalmente
com base em atividades significativas fundamentadas nos brinquedos cantados.
A iniciativa de usar os brinquedos cantados e essencial para consolidar o processo
terapêutico marcadamente lúdico, mais resolutivo, principalmente, no que se refere à
superação de traumas ou mesmo de perdas afetivas que a criança porventura tenha provado.
Apesar de se reconhecer a importância das atividades terapêuticas é comum que muitos
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5 CONCLUSÃO
Entretanto para que isso se concretize e necessário que outros trabalhos acadêmicos
sejam elaborados e divulgados ajudando outros pesquisadores a trilhar caminhos possíveis no
contexto da ludo terapia para auxiliar crianças no processo de desenvolvimento global. Além
disso, a própria revisão da literatura indica a necessidade de se buscar a capacitação
profissional contínua, investindo sempre em recursos diferenciados para atender ao público
infantil
REFERÊNCIAS
CONTI, Norma F; SOUZA, Alfredo. Para entender a criança: chaves psicanalíticas. São
Paulo: Instituto Langage, 2010.
PAIVA Carlos Daniel. Corpo, Música e terapia. São Paulo: Cultrix, 2010.
PARSONS, Peter A. Vecino. Questões sobre o brincar cantando: Letra freudiana. Ano X,
n.9. 2011.
PLACCO, Clarice Moura. O Despertar para o outro: Musicoterapia. São Paulo: Summus,
2003.
SILVA, Lucia Nazaré da. Brinquedos cantados. São Paulo: Cortez, 2010.
VERDERI, Carlos Daniel. Corpo, Música e terapia. São Paulo: Cultrix, 2012.