Ildiachas Final
Ildiachas Final
Ildiachas Final
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Angus mac Oisín
2017
“Três velas que iluminam qualquer escuridão: verdade, natureza e conhecimento.”
Tríade irlandesa.
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INTRODUÇÃO
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supostamente, serem aplicáveis também aos gaélicos), e materiais produzidos após a
conversão, como o folclore e a mitologia, registrada normalmente por monges cristãos
que colocou sua própria ótica sobre os mitos, fundindo histórias “pagãs” com
acontecimentos bíblicos, impregnando também os contos com um teor cristão; no
entanto, devemos ser gratos a eles, já que sem o seu trabalho, nunca teria chegado até
nós uma tradição literária irlandesa riquíssima que temos hoje. O folclore, no entanto,
apesar de “pertencer” à uma época muito posterior à conversão, reteve traços e
resquícios da cosmovisão e práticas ritualísticas esquecidas, sendo hoje uma fonte
importantíssima para a reconstrução de nossas práticas religiosas.
Muitos são os motivos para uma pessoa querer ingressar em uma religião que
deixou de ser praticada há mais de dois mil anos atrás – seja pelo interesse na mitologia
e pela cultura dos gaélicos ou pela descendência gaélica – o fato é que, desde os
primórdios do reconstrucionismo céltico, somos todos movidos por uma vontade latente
e sincera de cultuar os deuses que os antigos gaélicos cultuavam, adotar sua visão de
mundo e incorporar em nossas vidas e atividades diárias e rotineiras a sua ética,
sabedoria e seus costumes. Apesar de a religião gaélica ser para todos, nem todos são
para ela. O reconstrucionismo hoje está um estado muito incipiente e requer muito
trabalho para reconstruir uma religião que foi praticada há muito tempo antes do
cristianismo, e nem todos estão dispostos ou tem interesse nisso. A religião gaélica
requer estudo, dedicação às tradições culturais dos gaélicos e acima de tudo, um
profundo e sincero desejo de adotar os seus deuses como os nossos. E sendo assim,
espero suprir a todos com informações sobre essa religião, e como estou
profundamente ciente de que ninguém pode ditar ou falar pela religião, muito do que
falarei aqui é baseado no meu ponto de vista e observações de como a nossa fé vem
sendo praticada e observada pelos seus praticantes. Esperando que o texto a seguir
seja útil, cordialmente,
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A HISTÓRIA (RESUMIDA) DOS GAÉLICOS
Antes dos celtas chegarem na Irlanda, os povos pré-célticos habitavam lá, que
viviam em grupos agrícolas (cujos principais cereais cultivados eram o trigo e a cevada)
e pastorais (sendo bois, ovelhas e cabras os principais animais de pastoreio). De acordo
com uma teoria arqueológica, a primeira migração céltica (ou não) que chegou na
Irlanda foi na Idade do Bronze com um povo conhecido como Bell Beaker People
(“Povo da Taça de Sino”), chamados assim devido ao seu estilo de cerâmica que
lembrava um sino invertido. Além de sua peculiar forma de produção de cerâmica, eles
introduziram na Irlanda a metalurgia de metais leves, como o bronze. Foi então que a
Idade do Bronze começou na Irlanda, com o início da produção de artefatos em bronze,
como espadas, machados, utensílios de bebidas, etc. Como a Irlanda era rica em ouro,
diversos artefatos nesse metal também foram produzidos nesse período, como lúnulas e
braceletes. A Idade do Bronze na Irlanda começou por volta de 2.500 a.C. e terminou
em 500 a.C.
Quanto aos celtas propriamente ditos, acredita-se que sua origem remonta aos
indo-europeus, uma denominação linguística dada aos povos que viveram por volta dos
anos 5000 e 4000 a.C. em uma área entre o Mar Negro e o Mar Cáspio. Sua economia
era baseada no pastoreio e sua sociedade era dominada por uma classe bélica que dava
muita importância aos cavalos devido à necessidade que esses povos tinham de se
mover através desses animais por espetes vastas e abertas. Os indo-europeus entraram
na Europa em diferentes movimentos migratórios. Em um desses movimentos,
desenvolveu-se uma cultura em uma área ao sul da Alemanha que marcou a primeira
aparição dos celtas como um povo étnico diferente de seus ancestrais indo-europeus,
possuindo uma nova cultura e uma linguagem ligeiramente distinta de seus
antecessores. Estes celtas davam grande importância aos seus guerreiros e aos cavalos,
assim como seus antecessores, e abandonaram suas práticas funerárias originais (que
consistiam de enterros), adotando a cremação, colocando as cinzas dos mortos em urnas
que eram enterradas em cemitérios. Essa cultura foi denominada pelos arqueólogos
como “Campo de Urnas” (Urnfields) em decorrência dessa característica. Essa
sociedade avançou para grande parte da Europa ocidental, mas ainda não alcançaram à
Irlanda, que até então era habitada pelos povos pré-célticos, se aceitarmos a hipótese de
que o Bell Beaker People teve uma origem não céltica.
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Foi nessa época que foi introduzida na Irlanda uma língua céltica, sendo o mais
próximo que temos dessa língua antiga sendo o “Irlandês Primitivo”, que
posteriormente evoluiu para o “Irlandês Médio”, e este por sua vez deu origem ao
“Gaélico escocês” e o “Gaélico manês”. Foi com a introdução da língua céltica na
Irlanda que a cultura gaélica começou lá, se estendendo para a Escócia por volta do ano
200 d.C. ou 400 d.C., através do reinado de Dál Riata, localizado à oeste da Escócia e
ao norte da Irlanda. Antes da introdução da língua e cultura gaélica, a Escócia era
habitada por britônicos e pictos, cuja língua e cultura se originaram provavelmente da
língua e cultura britônica. Na Ilha de Man, a introdução da cultura gaélica se deu por
volta do século 5 d.C., através de migrações irlandesas. Antes disso, acredita-se que a
Ilha de Man era habitada por tribos britônicas que vieram da Grã-Bretanha. Assim,
quando nos referimos ao “povo gaélico”, estamos nos referindo ao povo da Irlanda,
Escócia e Ilha de Man – na Irlanda com a chegada da segunda onda migratória dos
povos da cultura de Halstatt, e na Escócia e Ilha de Man com a propagação da cultura
gaélica para esses dois países através de invasões irlandesas.
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ILDIACHAS GAELACH – O POLITEÍSMO GAÉLICO HOJE
Não sabemos como os gaélicos chamavam a sua religião, mas hoje, esta pode ser
chamada por muitos nomes, sendo “politeísmo gaélico” o mais comum. Outros podem
se referir à nossa crença como “reconstrucionismo gaélico”, apesar do termo
reconstrucionismo se referir mais à metodologia que usamos do que a religião em si.
Há ainda os termos Senistrognata (“Costume Antigo”, em proto-céltico), Ildiachas
Gaelach, ou simplesmente Ildiachas (“Politeísmo gaélico”, em irlandês), Ioma-
Dhiadhachd (“Politeísmo”, em escocês), Yljeeaghys (“Politeísmo”, em manês),
Paganachd (“Paganismo”, em irlandês) ou Fálachus (“Costumes de Fál”, em irlandês)
– enquanto que o primeiro termo seja mais abrangente ao politeísmo gaélico ou até
mesmo para o reconstrucionismo céltico em geral, os três seguintes são mais usados
quando o praticante tem um foco específico em suas práticas. O termo “paganismo” ou
“pagão” normalmente é evitado por alguns por fazer uma referência ao caráter
pejorativo que a Igreja Católica deu às pessoas que seguiam os costumes antigos, no
entanto, muitos ainda usam.
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O símbolo mais conhecido no politeísmo gaélico e o que melhor representa é o
triskele, também conhecida como An Tríbis Mhór, a espiral tripla, e muitos praticantes
usam este símbolo para expressar e representar a sua fé, seja como cordão ou em uma
tatuagem, sendo, contudo, extremamente opcional o seu uso. Outros símbolos que um
praticante pode adotar para representar sua fé são letras ogham, símbolos pictos, a cruz
de Brigit, os famosos “entrelaçados célticos”.
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NEM, TALAM AGUS MUIR – A CRIAÇÃO DO MUNDO E A COSMOLOGIA
GAÉLICA
Não existiu, ou pelo menos não chegou até nós, um mito de criação gaélico
explicando a origem do mundo, o nascimento dos deuses, dos homens e o porquê das
coisas serem como são. Tal fato leva muitos praticantes e estudiosos a acreditarem que
o mundo não teve um início – ele sempre existiu, sendo moldado e transformado através
de forças divinas e humanas, cujas ações moldaram o mundo como o temos hoje, e
quando olhamos para os mitos de Boann e Sinann, por exemplo, ambas criando os rios
Boyne e Shannon, respectivamente, vemos alguns vestígios dessa teoria. Similarmente,
na Escócia temos diversas histórias da deusa Cailleach formando as montanhas e rochas
da paisagem escocesa, ao derramar terra e pedras de sua cesta, e na Ilha de Man, há
crenças similares de gigantes que derramaram pedras de suas cestas que deu origem aos
monólitos de hoje. Com isso, podemos ver que embora não tenha existido (ou,
novamente, não tenha chegado até nós...) um mito de criação “geral”, cada local terá a
sua própria história do porquê de sua paisagem ser como é, sendo moldado, criado e
transformado (e nomeado, em muitos casos) através de forças divinas. Muitas dessas
histórias, aliás, podem ser encontradas nos dindshenchas, um conjunto de lendas que
contam a origem dos lugares e o porquê de eles serem chamados como são.
Os antigos gaélicos viam o seu mundo dividido em três grandes reinos: a Terra,
o Céu e o Mar. Na mitologia frequentemente encontramos os três reinos sendo
mencionados em juramentos, sendo vistos como forças destrutivas que puniriam o
jurador caso ele quebrasse sua promessa, e em algumas fontes, estes três reinos são
vistos como formando toda a criação. A Terra (Talam) era o reino dos humanos e era
através dela que as deusas das planícies e dos rios se manifestavam, fornecendo-nos
fertilidade e abundância caso o governo do rei fosse justo e correto. O Mar (Muir) era o
reino de alguns deuses, e de acordo com o que algumas fontes atestam, o reino dos
ancestrais, e era onde se localizava as ilhas governadas por Manannan mac Lir, o deus
do mar, sendo o destino final daqueles que já se foram. Quanto ao Céu (Nem), os
registros gaélicos nos mostram que o Céu era visto principalmente como um meio
através do qual os presságios eram vistos – através dos pássaros, das nuvens, dos ventos
e de mudanças do clima; além disso, o Céu era um coordenador das atividades
humanas, com a Lua, por exemplo, mostrando as épocas propícias para certas práticas e
funcionando como um calendário para os antigos gaélicos que contavam seus meses
através das luas. Ao contrário de outras religiões politeístas da Europa que veem
algumas divindades habitando em um mundo acima do nosso, os deuses dos gaélicos
habitam ao nosso redor – na terra, nas árvores, nas rochas, nos rios e nos mares, e não
há nenhuma evidência de que alguma divindade habitasse o Céu, apesar de termos
deuses que se manifestam e têm poder sobre fenômenos celestiais, como o Dagda que
controlava o clima. O equilíbrio desses três reinos significava a ordem no mundo,
enquanto que o contrário era sinônimo de caos e destruição.
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propriamente dito, mas o centro de determinado local. Tais árvores eram teixos, freixos
e carvalhos, e segundo a mitologia, algumas delas podiam dar três tipos diferentes de
frutos. É provável que esse reconhecimento que os antigos gaélicos davam para tais
árvores seja um reflexo das crenças de outros países politeístas que viam uma grande
árvore cósmica como sendo o pilar que sustentava os mundos, como no politeísmo
nórdico e eslavo.
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NA DÉITHE – OS DEUSES DOS GAÉLICOS
Muitos são os deuses que se acredita que foram cultuados pelos gaélicos. A
maioria das divindades são encontradas na Irlanda, tal como grande parte da informação
que dispomos sobre seus mitos e seu culto (quando existente). Acredita-se que o culto
de algumas divindades foi tão importantes para os antigos gaélicos que sua fama se
espalhou por todas as terras gaélicas, sendo Manannan mac Lir, Brigit e Cailleach, os
principais. Na Irlanda, por exemplo, Manannan mac Lir tem um lugar extremamente
especial, fornecendo para os deuses a imortalidade através do Banquete das Eras, tal
como na Ilha de Man, que leva seu nome, onde era visto como o rei da ilha, protegendo-
a de invasores e onde seu povo pagava o “aluguel” da ilha para ele em todo solstício de
verão; na Escócia, resquícios de seu culto são encontrados nas práticas folclóricas
associadas com uma entidade denominada “Shony”. Por outro lado, através das fontes
mitológicas e folclóricas que dispomos, podemos perceber que Cailleach tinha um
destaque maior na Escócia, onde era visto como uma divindade criadora, formando
lagos, montanhas e planícies e era tida como a mãe de uma tribo de gigantes chamados
“Fooar”, que pode ser um cognato com os Fomoire irlandeses como veremos mais
abaixo. No entanto, na Escócia em particular, existiam divindades que eram nativas à
paisagem local e não são encontradas em outras terras gaélicas, como Éiteag – uma
divindade tutelar do Lago Etive – e Tatha, a Silenciosa, associada com o Rio Tay.
Ambas as deusas, como podemos ver, possuem uma identidade extremamente local, não
fazendo então sentido de serem conhecidas em outros lugares além da Escócia.
Como dito acima, é na Irlanda que encontramos a maioria das informações sobre
os deuses, e em sua mitologia, notamos a existência de quatro principais tribos de
deuses, distintos entre si, travando grandes batalhas uns contra os outros ou casando-se
entre ele para formar alianças. São eles:
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apaziguar uma tempestade ou pôr um fim no inverno. O nome da tribo pode ser
traduzido como “Aqueles que vieram debaixo do mar” ou “Os grandes do submundo”.
Balor, Ceithlenn, Elatha e Tethra são exemplos de Fomoire.
Os Fir Bolg são associados com aspectos ctônicos e agrícolas, sendo conhecidos
por transportar terra fértil em bolsas, com as quais para onde iam eram capazes de tornar
fértil e frutífera uma paisagem estéril e rochosa. Ao chegarem na Irlanda, eles
presenciaram a chegada dos Tuatha De Danann, com os quais também lutaram uma
grande batalha que ficou conhecida como ‘A Primeira Batalha de Moytura’, na qual
foram derrotados. O nome da tribo é traduzido como “Homens das Bolsas”, em
referências às bolsas que usavam para transportar terra. Tailtiu, Eochaid mac Eirc,
Genann e Rudraige são exemplos de Fir Bolg.
Por último, vale a pena colocar também que, pela quantidade de deuses
existentes e pela falta de informação que se tem sobre muitos destes, cultuar todos eles
se torna uma tarefa difícil, e sendo assim, aceitamos a constatação de que “apesar de
todos os deuses serem respeitados, nem todos são cultuados”, e é importante lembrar
também que apesar de os deuses gaélicos serem os verdadeiros deuses para nós, não
estamos interessados em proselitismo e nem negamos a existência de deuses de outras
fés politeístas. Para não alongar muito nesta parte, sugiro a leitura do Anexo II – Déithe
para uma lista pequena com alguns dos principais deuses conhecidos e cultuados dentro
do Politeísmo gaélico.
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NA DAOINE MAITH – O POVO ENCANTADO
Existem muitas teorias sobre as origens dos daoine maith. Algumas tradições
apontam que eles são os antigos deuses Tuatha Dé Danann que foram expulsos para o
interior das colinas quando o Cland Miled chegou na Irlanda e os derrotou e outras
dizem que eles são os espíritos dos mortos que passaram a viver debaixo da terra e no
interior de montes funerários. Seja como for, ambas as teorias de fato contêm alguma
verdade, já que existem muitos deuses que carregam bastante características do Bom
Povo e são associados em muitos casos com eles, como Áine que se dizia viver dentro
de Kockaine, a colina que leva seu nome, e possuía a sua própria hoste de “fadas”.
Similarmente, existem muitas tradições que contam que pessoas que morreram
frequentemente são vistas entre as tropas do Bom Povo, especialmente em determinadas
épocas do ano (como no Samhain). Muitas crenças folclóricas também alegam que a
alma dos mortos se retira para o interior das colinas para se juntarem aos seus
ancestrais, mas enquanto alguns mortos podem ser apontados como se tornando parte do
Bom Povo, nem todos do Bom Povo são necessariamente mortos, conforme alguns
registros apontam.
O Bom Povo possui uma hierarquia própria, sendo governados por reis e
rainhas, e possuem seus próprios objetivos e estilos de vida, e assim, diferente do que se
pode imaginar, nem todos são vistos como sendo benevolentes aos humanos ou
interessados em suas atividades. Enquanto algumas criaturas são visivelmente benéficas
para os seres humanos e suas atividades, como o manês Phynodderee que realiza
algumas atividades pastorais para os humanos, como vigiar e guardar ovelhas, e o
Brownie escocês, que realiza tarefas domésticas para a dona de casa se for bem tratado,
outros possuem uma natureza visivelmente maligna, como o Púca irlandês, que faz
travessuras para os humanos na noite do Samhain ou o Each-uisge escocês, que se
transformam em cavalos, e ao serem montados por humanos, os conduzem até as
profundezas de um lago, matando-os.
Tendo em mente que muitos desses espíritos são associados com lugares
específicos e determinadas paisagens, alguns deles são seres extremamente locais,
estando associados à uma localidade em particular, não sendo encontrados em outras
regiões, como é o caso dos Homens Azuis de Minch, que são encontrados em um
estreito do mar entre a Ilha de Lewis e as Ilhas Shant, e são famosos por afundar navios
e marinheiros. Essa questão se torna um pouco complicada para aqueles de nós que
vivem na Diáspora, ou seja, que não moram na Irlanda, Escócia ou Ilha de Man. Apesar
de sermos politeístas gaélicos e cultuarmos deuses e espíritos que são gaélicos, os
deuses e espíritos que encontramos aqui não são. Tendo isso em mente, devemos levar
em consideração as tradições locais que lidem com esses espíritos, respeitando as suas
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próprias crenças e práticas ao fazermos oferendas para honrá-los ou apaziguá-los, assim
como a tradição gaélica nos conta sobre a prática de fazer oferendas aos espíritos locais
quando nos mudamos de residência, de forma a conhecermos e demonstrarmos respeito
para os espíritos daquele novo local. Seja como for, tenhamos em mente de que antes de
chegarmos, estes espíritos já estavam aqui, e para eles, os forasteiros somos nós.
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NA FÉILTE – O ANO FESTIVO DOS GAÉLICOS
Existem oito festivais no total que são celebrados pela maioria dos politeístas
gaélicos, e desses oito, apenas quatro temos a certeza de que são celebrados por todos,
já que possuem uma origem incontestavelmente gaélica e foram celebrados
supostamente por todas as nações gaélicas, possuindo também equivalentes em outras
nações célticas, sendo eles: Samain, Oímelc, Beltine e Lugnasad. Estes quatro festivais
representavam o início de cada estação e eram conhecidos como os “Dias Trimestrais”,
já que como o nome sugere, eram celebrados de três em três meses.
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homenageia-se Grían em seu reinado invernal. Os mortos também são lembrados nessa
festa.
1º de agosto – Lugnasad: O festival foi criado pelo próprio deus Lugh – o deus de
muitas artes – em homenagem à sua mãe adotiva, Tailtiu – uma deusa agrícola – que
morreu de exaustão após tirar toda a vegetação de uma planície para torná-la apropriada
para o cultivo. No hemisfério norte, é comemorado nessa data o início do outono e da
temporada da colheita, e no passado, grandes feiras eram realizadas, onde aconteciam
corridas, jogos, vendas e banquetes.
Data móvel em todos os meses – Gealach Úr: Além dos festivais celebrados acima,
todos os meses os politeístas gaélicos fazem celebrações à Lua Nova, conhecida em
escocês como Gealach Úr. Os dias de lua nova representam o início de um novo mês e
muitos realizam ritos de purificação nesses dias.
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Como devem ter observado, todas as datas que coloquei aqui foram baseadas no
calendário do hemisfério norte, que possui as estações inversas as do hemisfério sul –
quando é verão lá, aqui é inverno. Existem muitos argumentos para celebrar os festivais
em suas datas originais ou em datas invertidas para se adaptar ao nosso hemisfério, e
como tal, fica a critério do praticante.
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VALORES E ÉTICA DE UM POLITEÍSTA GAÉLICO
Não existe o equivalente de uma lista de coisas que “você deve fazer” ou de que
“você não deve fazer”, mas existem valores morais que normalmente são adotados por
todos. Tais valores não são encontrados em um único texto como as máximas délficas
do Hellenismos, por exemplo, mas em diversos textos de instruções, tríades e sabedoria,
e muitos desses valores morais são massivamente influenciados pelas atitudes esperadas
que um rei ou guerreiro adote, como “As Instruções de Cormac” ou “As Tríades da
Irlanda”, por exemplo. A partir destes muitos textos, podemos traçar alguns valores que
todo politeísta gaélico normalmente aspira, delineados pela historiadora Annie
Loughlinn em seu artigo “Values” (que está disponível no Anexo IV – Links):
Para os antigos gaélicos, quando estes valores não eram praticados, sérias
consequências se abatiam sobre a pessoa e até mesmo para a comunidade. Quando uma
transgressão era feita, a pessoa era despida de sua honra, satirizada e muitas vezes era
obrigado a se retirar de sua comunidade, já que uma pessoa sem honra é uma pessoa que
deve ser evitada – eles não poderiam mais ter terras ou propriedades, fazer negócios e
não tinham mais voz dentro de sua tribo. Sendo assim, procuramos nos comportar
dentro desses valores morais, nos portando de forma correta para nossa comunidade,
para aqueles que nos cercam e dando honra aos Deuses. Hoje, quando muito da honra e
da verdade já se perdeu, quando mulheres são agredidas e desrespeitadas, quando
homossexuais são perseguidos por amarem e serem quem são, quando negros são
desrespeitados pela cor de sua pele ou estrangeiros são ridicularizados por sua
nacionalidade e cultura, estes valores são mais necessários do que nunca.
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TRANSMUTAÇÃO, REENCARNAÇÃO OU IMORTALIDADE – E DEPOIS
QUE MORREMOS?
Não há um consenso sobre o que acontece quando morremos e o que nos espera
do outro lado. Existem vestígios de que a reencarnação possa ter sido uma crença
comum entre os celtas gauleses, a partir dos registros de comentadores romanos que
escreveram sobre eles, e assim, pressupõe-se que seja uma crença comum à todas os
povos celtas, o que inclui os gaélicos. Na literatura irlandesa, há alguns exemplos que
dá suporte à esta crença, como na história de Tuan mac Carril, que após envelhecer em
sua forma humana é transformado em um veado, um javali, um falcão e um salmão
(sendo transformado sempre quando envelhece e está perto da morte), que é pescado e
consumido pela rainha de Ulster e “reencarna” como seu filho, lembrando-se de todas as
suas vidas passadas. A deusa Étaín, de forma parecida, é transformada em um inseto,
que cai no copo de uma rainha que engravida, e dá a luz à Étaín novamente. Similar ao
conto de Tuan, o príncipe Mongán mac Fiachna em uma história conta para S. Columba
as suas lembranças da época em que ele viveu na forma de um veado, de um salmão, de
uma foca, de um lobo e de um outro humano, e curiosamente em outro conto, diz-se que
Mongán mac Fiachna é a reencarnação do guerreiro fianna Finn mac Cumhail. Apesar
de tudo isso, no entanto, alguns praticantes não creem na reencarnação e tendem a ver
tais mitos (com exceção da história de Mongán) mais como um processo de
metamorfose do que como uma reencarnação propriamente dita.
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RITOS, ORAÇÕES E OFERENDAS – A PRÁTICA DENTRO DO
POLITEÍSMO GAÉLICO
Existem muitos vestígios de práticas que foram realizadas pelos antigos gaélicos
para honrar seus deuses e os espíritos locais. Enquanto temos alguns desses vestígios e
uma informação ou outra aqui ou ali, não chegou até nós um modelo litúrgico com o
qual os gaélicos pré-cristãos realizavam seus rituais e a forma como faziam suas
oferendas. Contudo, a arqueologia nos mostra diversas oferendas encontradas em lagos,
poços e rios, veneração de árvores e locais sagrados, e o folclore nos conta de oferendas
sendo feitas para os espíritos locais serem apaziguados ou homenageados. Contudo,
antes de começar a falar sobre a parte prática da religião, saiba que o politeísmo gaélico
não é uma religião dogmática – isto é, que se prende a dogmas que são vistos como
verdades indiscutíveis e absolutas. Sendo assim, muito do que será dito aqui são apenas
sugestões baseadas em achados e costumes antigos encontrados principalmente no
folclore, e não quer dizer que todos os praticantes fazem desta forma, mas alteram uma
coisa ou outra que julgarem apropriado.
Os registros nos contam que rituais eram realizados pelos gaélicos para inúmeras
finalidades, como ritos de purificação, ritos de semeadura e colheita, ritos de cura, ritos
de divinação, ritos para honrar deidades e/ou apaziguá-las em tempos de crise e
necessidade, ritos para conceder bênçãos e boa sorte em alguém, e muitos outros. Como
dito acima, não chegou até nós a forma como os gaélicos realizavam estes rituais, temos
apenas vislumbres que nos mostram alguns fragmentos de temas que supostamente
eram encontrados na realização destes ritos, como o reconhecimento dos três reinos, a
crença em um centro sagrado (para estes dois temas, veja a parte de Cosmologia, mais
acima), ignição de uma chama sagrada, banquetes, movimentos e deambulações
circulares no sentido horário, o oferecimento de presentes (oferendas, como veremos
abaixo), e alguns outros temas. Com isso, hoje a nossa estrutura litúrgica segue mais ou
menos a seguinte ordem, havendo variações dependendo do praticante e do grupo: o rito
se inicia com um reconhecimento dos três reinos, normalmente é precedida a ignição de
uma chama sagrada (em rituais abertos, é onde as oferendas são depositadas), oferendas
aos espíritos locais, ancestrais e deuses, honras e oferendas aos deuses homenageados
no ritual, despedidas e um banquete onde todo o grupo participa (esse, obviamente,
sendo mais comum em ritos em grupo). A ordem, é claro, não é rígida e muitas dessas
partes podem ser omitidas e outras, acrescentadas, a depender do praticante e do grupo,
conforme já mencionado.
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quaisquer outros elementos naturais que quisermos louvar. Muitas orações desse tipo
podem ser encontradas em uma obra conhecida como “Carmina Gadelica”, que é um
compêndio de orações, hinos e bênçãos registradas oralmente nas Terras Altas da
Escócia que, apesar de conter elementos visivelmente cristãos, contém resquícios de
uma genuína fé politeísta, nos mostrando vislumbres de crenças e práticas pré-cristãs.
Eu não poderia encerrar esse capítulo sem falar em uma prática, através da qual
muitos chegam até aqui, que é a magia. A prática de magia é bastante comum dentro do
Politeísmo gaélico, mas não é o aspecto principal da nossa religião. Tradicionalmente,
os encantamentos eram feitos para atrair boa sorte, curar pessoas e o gado, extrair
propriedades “mágicas” de determinadas ervas, atrair um amor, ou encontrar objetos
perdidos (se considerarmos a divinação como um processo “mágico”). Apesar de não
termos nada que regulamente tais práticas, muitos de nossos valores morais orientam
não só nossa atitude em relação à sociedade, mas também nesse tipo de trabalho, e a
mitologia nos fornece diversos exemplos de personagens que usaram magia para
propósitos negativos ou injustos e que consequentemente tiveram fins trágicos. Como
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no passado existiam títulos apropriados para aqueles que trabalhavam com o que hoje
chamamos de “magia” (como bean feasa e fear feasa, “mulher/homem do
conhecimento”, sempre associados com a cura, conhecimento de ervas e adivinhação),
normalmente evitamos o título de “bruxa/bruxo” assim como o termo “bruxaria” para
descrever nossas práticas mágicas, visto que não faz jus à totalidade delas e por já
existirem termos próprios para tal (assim como o Asatrú tem o seidr ou galdr), além de
frequentemente esse termo ter sido usado para designar práticas mágicas maliciosas
dentro de todas as tradições gaélicas, como provocar um clima ruim, adoecer o gado e
pessoas, lançar o mau olhado ou destruir as plantações, por exemplo. Deve-se deixar
claro, no entanto, que nenhum de nós tem o poder de ditar como alguém deve se
intitular, apenas sabemos que existem termos específicos que definem melhor as nossas
práticas que chamamos de “mágicas” e nomear tais praticantes envolvidos com tal
dentro de uma abordagem reconstrucionista, visto que a tradição gaélica dos “homens e
mulheres do conhecimento” ainda vive em áreas falantes de gaélico, e chamar nossas
práticas mágicas de bruxaria seria um insulto a essas tradições vivas.
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DRUIDAS, POETAS, VIDENTES E CURANDEIROS – CAMINHOS E ATRIBUIÇÕES
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DIFERENÇAS ENTRE O POLITEÍSMO GAÉLICO, O DRUIDISMO E A WICCA
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E POR ONDE EU COMEÇO?
Com o passar do tempo você pode se interessar pela história dos povos célticos
(e gaélicos, mais especificamente), estudar as associações que os animais e a plantas
tinham com determinadas virtudes ou características, simbologia céltica, orações,
diferentes tipos de liturgia e teologia gaélica. Aprender alguma língua gaélica também é
recomendado (não é uma obrigação), já que qualquer cultura é expressa e interpretada
através de sua linguagem; consequentemente, o aprendizado de uma língua é importante
para a compreensão de qualquer cultura. No entanto, enquanto alguns veem o
aprendizado de alguma língua gaélico como necessário ou até mesmo fundamental,
existem aqueles que não veem necessidade no aprendizado, e ainda outros, aqueles que
só aprendem uma palavra ou outra, uma frase ou outra para usá-las nos seus rituais e
orações. Enquanto que existem certas vantagens em se aprender (mesmo que não seja
para ficar fluente) alguma língua gaélica, como compor orações e invocações na língua
nativa ou saber pronunciar corretamente os nomes dos deuses, o aprendizado em si é
escolha do praticante e não torna ninguém mais ou menos politeísta.
Obviamente, nem sempre devemos ficar no campo dos estudos, mas também
praticar aquilo que estudamos. Uma boa maneira de começar é erguendo um altar para
os Deuses, que pode ser até mesmo uma pequena mesinha reservada somente para este
fim: basicamente, o altar pode conter representações das divindades, velas, incensos, um
copo para oferendas líquidas e um prato ou recipiente para ofertas sólidas (como pães,
flores, etc.). Orações para o sol quando acordar ou orações para a lua ao dormir são
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bastante comuns e de fácil realização caso erguer um altar não seja possível, assim
como orações específicas para deuses particulares acompanhados com ofertas. Para
algumas opções práticas, veja o Anexo VI – Um guia simples para a prática de
iniciantes. Entre em contato com outros praticantes para trocar ideias, participe de
grupos, e mais uma vez, leia mais! O Politeísmo gaélico ainda é uma religião bastante
incipiente – não possuímos livros dizendo como isto ou aquilo pode ser feito, de que
maneira, por onde começar – e, portanto, requer muito estudo para poder criar uma
prática embasada historicamente sem incorrer no erro de criar algo que fuja
completamente das características das tradições gaélicas. Com toda a informação dada
até aqui, espero ter cumprido com o meu objetivo em ter escrito este pequeno texto
introdutório, para que as velhas tradições possam voltar a ser praticadas e os nomes dos
antigos deuses gaélicos possam voltar a serem honrados.
27
ANEXOS
ANEXO I – GLOSSÁRIO
Segue uma pequena lista com o significado dos principais termos mencionados
aqui que podem causar estranhamento para alguns.
Aes Síde. Traduzido como “Povo das Colinas”, é uma das denominações dadas ao Bom
Povo ou o Povo Encantado, uma espécie de semideuses que habitavam no interior de
colinas ou estavam associados à alguma paisagem, local ou elemento natural específico,
como rios, árvores e rochas.
An Saol Eile. O nome dado ao outro mundo gaélico, um local inacessível para os
humanos, mas cujos “portões” ficavam abertos em algumas épocas do ano, como
Samhain e Beltane, permitindo que os humanos e espíritos transitassem de um lado para
o outro.
Bile. Nome dado para uma árvore que normalmente simboliza a árvore cósmica que
sustenta os três reinos na cosmologia gaélica. É também o nome de um deus do Cland
Miled.
Cland Miled. A última tribo de deuses que chegou na Irlanda, lutando contra os Tuatha
Dé Danann e os expulsando para as colinas e para o subsolo, enquanto assumiam o
poder da ilha.
Daoine maith. Traduzido como “Bom Povo” como um eufemismo para o Povo das
Colinas, a fim de não atrair sua atenção indesejada ou provocar a fúria deles. Ver Aes
Síde.
Dúile. Nome dado aos nove elementos que, segundo a tradição irlandesa, com os quais
o homem é formado, atribuindo cada elemento natural à uma parte do corpo humano.
Fir Bolg. Uma das tribos de deuses que lutaram contra o Tuatha Dé Danann e
presenciaram a sua chegada na Irlanda. Foram derrotados por eles na Primeira Batalha
de Moytura e foram expulsos para o oeste da Irlanda, para a província de Connacht.
Muir. Traduzido do irlandês antigo para “mar”, um dos três reinos da cosmologia
gaélica, sendo a morada de Manannán mac Lir e a localização de suas Ilhas
Abençoadas, no oeste.
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Nem. Traduzido do irlandês antigo para “céu”, um dos três reinos da cosmologia
gaélica, sendo o reino que abriga os seres e elementos que trazem presságios, como
pássaros, ventos e nuvens, e elementos que regulam as atividades humanas, como a Lua.
Talam. Traduzido do irlandês antigo para “terra”, um dos três reinos da cosmologia
gaélica, sendo a morada dos humanos, e o reino onde deusas das planícies e de rios se
manifestam.
Tuatha Dé Danann. Uma das tribos dos deuses da Irlanda, personificando a ordem, a
civilização e as atividades humanas. Derrotaram os Fir Bolg e os Fomoire em duas
batalhas, mas foram derrotados pelo Cland Miled, fugindo para o interior das colinas e
para o subterrâneo na Irlanda.
29
ANEXO II – DÉITHE
Segue agora uma lista com os principais e mais conhecidos deuses do politeísmo
gaélico. Grande parte dos deuses mencionados pertencem aos Tuatha Dé Danann, e
como tal, se restringem à Irlanda. Quando não for este o caso, será explicado.
Áine – Vista como uma deusa com características solares, Áine reina no período do
verão, enquanto sua irmã Grían reina no período do inverno. Foi cultuada na região de
Munster, em especial em Knockaine, durante o festival do solstício de verão, com
procissões de tochas feitas de feno.
Airmid – Filha do médico-divino Diancécht, Airmid é a deusa das ervas que curam.
Conta-se que quando seu irmão Miach foi morto por Diancécht por ser capaz de
transgredir as leis naturais com suas habilidades de cura, nasceu no túmulo de Miach
365 ervas que Airmid colheu, separando-as pelas suas propriedades medicinais.
Anu – A deusa que provavelmente deu o seu nome à principal tribo dos deuses
irlandeses (Tuatha Dé Danann), foi cultuada em Munster como uma deusa da
prosperidade pelo fato da região ser muito fértil e rica. As montanhas conhecidas como
“As Tetas de Anann”, no formato de dois seios, também leva o seu nome.
Badb – Badb é descrita como uma das três morrígna, junto com Morrígan e Macha,
com as quais fez chover sangue e fogo sobre a tropa dos Fír Bolg durante a guerra
contra eles. É uma deusa da guerra, e como seu nome sugere, tem relação com corvos.
Cailleach – Também conhecida como Buí, é a deusa do inverno e do frio. Ela aprisiona
Brigit em sua montanha quando seu reinado invernal começa, criando ferozes
tempestades de neve com seu martelo. Na Escócia, foi vista como uma deusa criadora,
formando planícies e montanhas quando deixava pedras caírem de sua cesta. Não temos
certeza se ela é uma Tuatha Dé Danann, mas segundo a tradição escocesa, é provável
que ela pertença a tribo dos Fomoire, sendo chamada de “Mãe dos Fooar”. Ela é
homenageada no equinócio de primavera, quando seu reinado oficialmente termina.
30
Diancécht – É o médico divino dos Tuatha Dé Danan, sendo mencionado em muitos
encantamentos de cura da Irlanda medieval. Foi Diancécht que forjou um braço de prata
para Nuada quando este o perdeu em uma batalha, mas quando seu filho Miach foi
capaz de fazer com que um novo braço humano nascesse nele, Diancécht o matou por
transgredir as leis naturais. Seus atributos incluem a medicina, a cura e procedimentos
protéticos.
Ériu, Banba e Fótla – São três deusas irmãs que representam a soberania da Irlanda.
Quando o Cland Miled tomou a Irlanda, elas pediram para que seus nomes fossem
dados para a ilha. Cada uma é casada com um dos três reis dos Tuatha Dé Danann –
Mac Cuill, Mac Cécht e Mac Gréine – e são, provavelmente, deusas da terra.
Fand – É a esposa de Manannán mac Lir, e possivelmente, uma deusa do mar. Foi
descrita como uma deusa de beleza tão grande que era capaz de tirar o sentido das
tropas. Morava em Mag Mell, no outro mundo, e teve um romance com o guerreiro
Cúchulainn, mas quando Manannán descobriu, ele sacudiu seu manto de névoas entre
os dois para que não lembrassem nunca mais um do outro.
Flidais – Mãe de Fand, esta deusa possuía uma vaca encantada que podía alimentar 300
homens por noite com o seu leite. Ela deu o poder para seu filho Nia Segamain ser
capaz de ordenhar veados como se ordenha vacas, e diz-se que só ela era capaz de saciar
sexualmente Fergus, que precisava de sete mulheres para se satisfazer.
Lugh Lámhfada – É o deus de todas as artes. Quando chegou em Tara, ele substitui
Nuada no reinado da Irlanda e ensinou aos Tuatha Dé Danann estratégias militares para
que pudessem derrotar os Fomoire em uma batalha. Supõe-se que ele seja um deus que
presida sobre juramentos, e também sobre o comércio. É homenageado no Lugnassadh,
no festival que criou para honrar sua mãe adotiva, Tailtiu.
31
Manannán mac Lir – É o deus do mar, das praias, baías e promontórios. Foi descrito
como o protetor dos pescadores, dos viajantes, dos navegantes, mendigos e poetas. Sua
fama foi tão grande que chegou até a Ilha de Man, que leva o seu nome, onde em todo
solstício de verão os nativos pagam o “aluguel” da ilha para ele com oferendas de
juncos. Ele era o rei das ilhas do outro mundo, localizadas no mar oriental, e tinha
diversas posses mágicas, como um cavalo que era capaz de correr na terra ou na água,
uma capa da invisibilidade, uma espada mortífera e um porco que era capaz de renascer
no dia seguinte se fosse abatido para o consumo. Era capaz de prever o tempo e é
sempre descrito como um feiticeiro muito habilidoso.
Midir – Uma divindade um pouco obscura, mas que certamente desempenhou um papel
importante para os gaélicos. Ele morava na colina encantada de Brí Léith, na entrada da
qual tinha três gruas mágicas que negavam a entrada ou hospitalidade para qualquer um
que viesse. Ele se apaixonou por Étaín, causando a ira de sua esposa Fuamnách, uma
poderosa feiticeira, que transformou Étaín em uma borboleta, que caiu na bebida de
uma rainha e renasceu em seu ventre.
Nuada Airgetlám – Foi um dos reis dos Tuatha Dé Danann, e em seu mito mais
conhecido, conta-se que ele perdeu seu braço na batalha contra os Fír Bolg, e como um
rei deveria ser fisicamente perfeito, perdeu o direito de governar para Brés, filho de
Ériu. Mais tarde, Diancécht forja um braço de prata para ele, e posteriormente, Miach
foi capaz de fazer nascer um novo braço. Seus atributos são um pouco obscuros, mas é
provável que tenha sido associado com o reinado, a lei e a justiça.
32
ANEXO III – LIVROS RECOMENDADOS
Folclore da Escócia
Witchcraft and Second Sight in the Highlands and Islands of Scotland: Collected
entirely from oral sources, de J. G. Campbell (link aqui)
Superstitions of the Highlands and Islands of Scotland, de J. G. Campbell (link aqui)
Carmina Gadelica: Volume 1, 2 e 3, de Alexander Carmichael (link aqui, aqui e aqui)
Gaelic Incantations, Charms and Blessings of the Hebrides, de William Mackenzie (link
aqui)
The Silver Bough, de F. Marian McNeill
Mitologia irlandesa
Folclore da Irlanda
33
Irish Folk Custom and Belief, de Séan Ó Súillebháin (link aqui)
Irish Superstitions, de Sir William Wilde (link aqui)
The Fairy-Faith in Celtic Countries, de W. Y. Evans-Wentz (link aqui) (não só irlandês,
mas abrange todos países gaélicos e da Grã-Bretanha)
The Old Gods of Ireland: the Facts about Irish Fairies, de Patrick Logan
Visions and Beliefs in the West of Ireland, de Lady Gregory (link aqui)
Ancient Legends, Mystic Charms and Superstitions of Ireland, de Lady Wilde (link
aqui)
Land, Sea and Sky, vários autores (link aqui) (com algumas ressalvas)
O CR-FAQ Brasil, vários autores (link aqui)
Pagan Portals – Irish Paganism: Reconstructing Irish Polytheism, de Morgan Daimler
34
ANEXO IV – LINKS
SITES E BLOGS
Tairis. O site mais completo sobre politeísmo gaélico até agora, com um foco mais nas
tradições escocesas, apesar de abranger todas as tradições gaélicas. (link aqui)
CELT – Corpus of Electronic Texts. Traduções e textos originais de grande parte dos
mitos irlandeses, além de outros textos dos manuscritos medievais. (link aqui)
Sacred Texts – Celtic Folklore. Um bom site com alguns bons livros – outros nem
tanto – mas que vale a leitura, de qualquer forma. (link aqui)
Gaol Naofa. O site da organização mais conhecida no politeísmo gaélico, com artigos
excelentes e um bom FAQ que dá uma introdução excelente sobre o politeísmo gaélico.
(link aqui)
Slakkos Abonos. Um blog que aborda alguns temas gerais da religiosidade céltica.
(link aqui)
Fine na Dairbre. Site de um grupo reconstrucionista, com alguns artigos que valem a
leitura. (link aqui).
35
Breath of Life: The Triple Flame of Brigid, por Treasa Ní Chonchobhair e Kathryn
Price NicDhàna (link aqui)
Tree Huggers – A Methodology for Crann Ogham Work, por Raven Nic Rhóisín e
Kathryn Price NicDhàna (link aqui)
KILLYOUANDEATYOU – Or, a Well-Intentioned Celt’s Guide to Non-Celtic
Bioregions, por Raven Nic Rhóisín e Kathryn Price NicDhàna (link aqui)
Irish Perceptions of the Cosmos, por Liam Mac Mathúna (link aqui)
Water Imagery in Early Irish, por Kay Muhr (link aqui)
The Names of the Dagda, por Scott A. Martin (link aqui)
Hearth Prayers and Others Traditions of Brigit: Celtic Goddess and Holy Woman,
por Séamas Ó Catháin (link aqui)
The Cult of St. Brigid, por Sean O’Riordan (link aqui)
The Place of Manannan mac Lir in Irish Mythology, por David B. Spaan (link aqui)
War Goddess: the Morrígan and her Germano-Celtic Counterparts, por Angelique
Gulermovich Eptsein (link aqui)
The Ancient Irish Goddess of War, por W. M. Hennessey (link aqui)
The Festival of Brigit the Holy Woman, por Séamas Ó Catháin (link aqui)
November Eve Beliefs and Customs in Irish Life and Literature, por Helen Sewell
Johnson (link aqui)
Reading the Bean Feasa, por Gearóid Ó Crualaoich (link aqui)
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ANEXO V – MITOS
Segue agora uma lista dos principais mitos conhecidos na nossa religião, com
um sumário e um link para saber onde encontrar cada um.
O Livro das Invasões da Irlanda. É um texto que narra todas as invasões da Irlanda
por diferentes tribos de deuses, e resumidamente, narra também as batalhas que os
deuses fizeram entre si. Contém um teor cristão forte, especialmente no início, onde é
relatado a criação do mundo pelo deus cristão. Texto traduzido aqui.
O Cortejo de Étaín. Conta a história da deusa Étaín, que foi dada de presente para
Midir, mas devido aos ciúmes de Fuamnách, a esposa de Midir, foi transformada em
uma borboleta por ela e vagou pela Irlanda até cair no copo da rainha de Ulster, e
renascer no ventre dela. Texto traduzido aqui.
O Sonho de Óengus. Narra o episódio em que Óengus se apaixonou por uma donzela
que viu em seu sonho, e após ficar doente de amor por ela, sua família inicia uma
procura por toda a Irlanda para encontrá-la, descobrindo que ela é prisioneira em um
lago com outras cento e cinquenta donzelas que se transformam em cisnes no Samhain.
Texto traduzido aqui.
O Progresso dos Filhos de Mil da Espanha até a Irlanda. Conta a chegada dos Cland
Miled, ou Filhos de Mil, que vieram da Espanha para tomar a Irlanda, após em uma
visita, um de seus reis ter sido assassinado por Mac Cuill, Mac Gréine e Mac Cecht.
Relata a batalha que eles tiveram com os Tuatha Dé Danann, vencendo-os, e assumindo
o controle sobre a Irlanda. Texto traduzido aqui.
A Lactação da Casa dos Dois Baldes de Leite. O assunto principal do mito é a história
de Eithne, que é adotada por Óengus em seu bando de donzelas, que após ser insultada
por Finnbharr, fica incapaz de comer ou beber qualquer coisa terrestre, se alimentando
apenas do leite de duas vacas – a vaga de Óengus e a vaca de Manannán. Além disso, o
texto relata alguns acontecimentos após a derrota dos Tuatha Dé Danann e os presente
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que Manannán deu para eles, como a imortalidade através do Banquete das Eras e a
invisibilidade através do Feth Fiada. Texto traduzido aqui.
O Destino dos Filhos de Tuireann. Após matarem o pai de Lugh, Brian, Iuchar e
Iucharba são condenados a saírem da Irlanda para procurarem diversos artefatos
mágicos que Lugh posteriormente usará para derrotar os Fomoire na Segunda Batalha
de Moytura. Texto traduzido aqui.
Estes que consultei são alguns dos que considero os principais, um ponto de
partida para se iniciar na mitologia irlandesa. Para ver outro mitos, segue os links
abaixo.
Ildiachas – Politeísmo gaélico: Mitologia. Uma página do meu próprio blog, contendo
diversos mitos traduzidos. Link aqui.
CELT – Corpus of Electronic Texts. Traduções e textos originais de grande parte dos
mitos irlandeses, além de outros textos dos manuscritos medievais. Link aqui. (Em
inglês)
38
ANEXO VI – UM GUIA SIMPLES PARA A PRÁTICA DE INICIANTES
Este anexo visa dar um pontapé inicial para se começar a praticar o politeísmo
gaélico. Como uma religião não dogmática, tudo descrito aqui são sugestões podendo
ser adaptadas ou alteradas de forma que o praticante se sinta mais confortável. Minha
intenção não é que esta seja a “bíblia” da prática politeísta gaélica e nem que todos
fiquem presos nisso.
ORAÇÃO MATINAL
I
“Abençoem, ó deuses,
Minha vida e minha saúde;
Abençoem, ó deuses,
Minha crença e minha situação.
Abençoem, ó deuses,
Meu coração e minha fala;
E abençoem, ó deuses,
O que quer que minhas mãos façam.
ORAÇÕES NOTURNAS
I
“Brigid, proteja essa casa, seus mantimentos, minha família,
Proteja todos os que estão dentro dela essa noite,
Proteja-me e proteja todos aqueles que amo,
Proteja-nos da violência e do dano,
Proteja-nos dos nossos inimigos essa noite,
Grande e brilhante tocha de Leinster,
Nesse lugar e em qualquer lugar onde estão essa noite,
Nessa noite e em todas as noites;
Essa noite e todas as noites.”
II
“Abençoem, ó deuses, esta casa,
E todos que descansam nela essa noite.
Abençoem, ó deuses, meus amados,
39
Em qualquer lugar em que estejam dormindo.
Comentários e sugestões: Estas são adaptações das orações 43 e 338, do livro “Carmina
Gadelica: volume 1 e 3”, de Alexander Carmichael. Você pode usar esta oração ou se
inspirar nela para criar algo a se dizer quando for dormir. A palavra “deuses”, na
segunda oração, pode ser adaptada para alguma divindade que você tenha mais
afinidade.
Ao Dagda
“Eu lhe chamo, ó Dagda, poderoso, bondoso,
Generoso, grande deus de muitos talentos,
Pai de filhos fortes e de bom coração,
Mestre de tesouros além da conta, seu caldeirão está
Sempre cheio, suas árvores sempre estão pesadas com frutas doces.
Com sua harpa de carvalho você toca para trazer a terra
A uma nova vida ou a coloca no sono de inverno;
Em sua mão manejas a robusta clava com a qual toma
Ou devolve vidas. Ó Dagda, deus de muitos nomes,
Tu que concedes muitos dons, detentor do conhecimento
E portador da sabedoria, tu que faz maravilhas,
Defenda-nos em segurança, abençoe-nos com abundância.”
Comentários e sugestões: Você pode usar a oração acima ou se inspirar nela enquanto
fizer algumas oferendas para o Dagda, quando quiser honrá-lo ou quando quiser buscar
suas bênçãos. A oração foi retirada e traduzida do blog “Field of Stones”, cujo link está
aqui. Se quiser conhecer mais sobre Dagda, indico este texto.
Sugestões para oferendas: mingau de cereais e carnes, maços de trigo, cerveja, pão, leite
e flores. Se possível, queime, enterre ou libere sua oferenda em um corpo hídrico, caso
contrário, simplesmente embrulhe em um papel e jogue no lixo.
Para Brigid
“Eu chamo Brigid, deusa gentil e hábil cujo nome
Nunca foi deixado de ser mencionado, cujos presentes nunca
Deixaram de serem dados. Brigid das mãos que curam,
Brigid do martelo e do tenaz, Brigid que adoça
Nossas palavras, que acende o fogo da poesia dentro de nós,
Deusa a quem muitos procuram em tempos
De alegria e desespero, que acalma nossos medos,
Que ilumina nossas vidas, que aquece nossos corações: ó três irmãs
Que possuem todas as artes e ofícios em suas mãos, Brigid das chamas,
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Ó senhora do conforto e da boa alegria, deusa querida,
Peço a vossa compreensão. Conceda a mim,
Ó deusa, a bênção de tua presença.”
Comentários e sugestões: Você pode usar a oração acima ou se inspirar nela enquanto
fizer algumas oferendas para Brigid, quando quiser honrá-la ou buscar suas bênçãos. A
oração foi retirada e traduzida do blog “Field of Stones”, cujo link está aqui. Se quiser
saber mais sobre Brigid, indico este texto.
Sugestões para oferendas: leite e laticínios em geral, colcannon (um purê de batata feito
com alho, cebolinha e repolho), uma chama, poesias e músicas, e água. Se possível,
queime, enterre ou libere sua oferenda em um corpo hídrico, caso contrário,
simplesmente embrulhe em um papel e jogue no lixo.
SAUDAÇÃO AO SOL
I
“Eu te recebo, sol das estações,
Conforme tu viajas nos céus acima;
Seus passos são fortes na asa dos céus,
Tu és a gloriosa mães das estrelas.
Sugestões para oferendas: leite, pão, feixes de cereais, como trigo e cevada, e flores
amarelas. Se possível, queime sua oferenda, caso contrário, simplesmente embrulhe em
um papel e jogue no lixo.
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