1966 RobertoLyraFilho
1966 RobertoLyraFilho
1966 RobertoLyraFilho
IQ 1 zf
Tese de doutorajnentos apresentada à
Universidadf ftSsagiília, a 15 de
fevereiro de 1966 .
mativo desse direito objetivo. Para esse fim, recorre ao método jurí
dico , que compreende duas operaçoes fundamentais: exegese (ou in
terpretação ) e construção ( do sistema das normas , na ordem lógica
das suas relações). Mais adiante, teremos oportunidade de esclarecer
o sentido da interpretação , de acordo com a moderna Teoria Geral do
Direito. Aqui cabe , entretanto, uma referencia a outra operação do
método jurídico , incluida por alguns autores no rol dos procedimentos
da Ciência do Direito. Trata-se da crítica. Segundo BELLAVISTA , entre
Notas
1) Estúdios de Historia de la Ideas , p. 179.
2) I.M.BOCHENSKI , Los Métodos Actuales dei Pensamiento, p.36.
3) No sentido de RICKERT, Ciência Natural y Ciência Cultural, p.26.
4) Apud BOZZETTI, Che Cosa a la Filosofia , p.9.
5) Apud MACHADO NETO,.Problemas Filosóficos das Ciências Humanas,p.17»
6) Einführung in die Soziologie , p. 9.
7) FERRATER MORA , Diccionario de Filosofia.
8) Ob. cit. , p. 31-33.
9) Assim, no art. 203 do C.P.P.
10) Cfr. G ARCIA MOREN TB, Lecciones Preliminares de Filosofia, p. 6.
11) JULIÁS MARÍAS, Idea de la Metafísica, p. 11 ss.
12) Prelúdios Filosoficos, p. 319.
13) Apud CUVILLIER , flrécis de Philosophic ,p. 45(tome II).
14) Introducción al Estúdio del Derecho, p.127.
15) A pud GARCÍA MAYNEZ , ob. cit.
16) Assim, ver o capítulo sobre norme penal.,
17) Ver, e. g., art. 165 do C.P.
18) Cfr. ESPINAS , Les Origines de la Technologie . p. 13/14. Ver art.
282 do C.P. -------------------------------------------------- ü’
19) Ver, e. g., art. 22,IV, da Lei 3.274, 2/10/57.
20) Apud JULIÁN MARÍAS ^.Ortega:Circunstancia y Vocación, pl88.
21) EMMANUEL MOUNIER, Traité du Carac cère ,p. 15 .
22) 0b.cit. , p. 317 ss.
23) Ob. cit., p.93ss.
24) RECASÍNS, Tratado Generalx de Sociologia , p. 131.
25) LÓgica, p. 233.
26) KELSEN-COSSIO, Problemas Escojidos de Teoria Pura del Derecho,p.21.
27) Ibidem.
28) Diritto Penale Italiano, p . 6 (vol.l).
29) MACHADO NETO, ob. cit. , p. 63/67.
30) Ob.cit., p. 7(vcL.l.)
31) Lezioni di Diritto Procescuale Penale, p.6.
32) GRISPIGNI, ob. cit.,p.8(vol.I).
33) Dirittp Penale Italiano , vol.l, p. 46.
í11)
A Historia das Instituições Penais
BIBLIOTECA
11) Antropologia,p.39. -&ABR82 04602
12) RALPH LINTON, The Tree of Culture, p.122.
13) Apud RAYMOND CHARLES , Histoire du Droit Penal, p.9.
14) Cfr. MORRIS GINSBERG, On the Diversity of Morals .
15) Ibidem.
16) LB SENNE , La Destinée Personnelle,
17) á a tese desenvolvida em MAN AND THE STATE,.
18) MANZINI, Diritto Penale Italiano, vol. 1 , p. 30.
19) Exposição de Motivos do Codigo Penal , n9 4.
20) Les Stapes du Droit.
Brasil, merecendo des-
taque , a respeito, os estudos de NESTOR DUARTE, COSTA PINTO e outros,
23)Apud EDUARDO CORREIA, Direito Criminal, p. 79.
2£)A respeito, FRAZER, Le Totemisme.
25) DECUGIS, ob. cit.
26) EDUARDO CORREIA , ob. cit., p.79.
27) Ibidem.
28) Temos vestígios de autòxela até no direito atual, na proteção da
posse t na legítima defesa. Ver ZAMORA E CASTILLO, Proceso , Autfr •
composicion, Autodefesa.
2$)CUVILLIER , ob. vol. cits., p.495.
30) GRISPIGNI, ob. vol. cits.,p.49.
31) Ibidem.
32) Derecho Penal, I, p. 69.
33) CHARLES, ob.cit., p. 20.
34) FCNTÁN BALESTRA, Derecho Penal, ps. 47 as.
35) Comentários ao Codigo Penal , II , p. 17.
36) ROBERTO LYRA , ob. vol. cits. , p . 15.
37) Ibidem (p.13).
38) CUELLO CALÓN, ob. cit., I, p. 75.
39) Tratado de Derecho Penal, I,p.20.
40) F0NTAN BALESTRA, ob. cit.,p.59.
41) CUELLO CALÓN, ob. cit., I, p. 75.
42) lbidem (p.76)
43) ROBERTO LYRA,Expressão Mais Simples do Direito Penal, p.25.
44) CUELLO CALÓN, ob. cit., I, p. 78.
45) Ibidem.
46) Ibidem (p.78).
47) BALESTRA, ob. cit.,p.60.
48) MEZGER, ob. , vol. cits., p. 32.
-28-
49) AFTALIÓN, OLANO & VILANOVA, Introducción al Derecho,
50) ROBERTO LYRA, Expressão , cit.,p.24/25.
51) RADBRUCH, Introducción a la Ciência del Derecho,.
52) Ibidem.
54) ANÍBAL BRUNO, Direito Penal, I, 1,
fflistória das Idéias Panais
social, incorpora a sua personalidade elementos ou componentes sociais cue também '
nao constituindo rígidas determinantes, por outro lado, nao sao meramentes superfi
ciais.. Na fórmula de Ortega, eu sou eu e minha circunstânc ia; os elementos desta '
ontrosam-se com minha personalidade, intervém nela.. Ademais, as idéias exercem in
fluencia e r a tal ponto que?muitas vezes, notamos cue se fixam como crenças e ins
piram, ate, alterações institucionais. Basta lembrar, por exemnlo, todo o fecundo
movimento que antecede a revolução francesa. 0 cue foi, inicialmente, aquisiçao do
pensamento desperto, reflexço individual, integrou-se depois, na atmosfera cultural
e exerceu uma pressão característica nas formaçoes institucionais. Ha certo elenco
de princípios que, hoje, nos parecem de tal sortp- evidentes (crenças), até exigindo
um esforço considerável, para que o encaramos na sua natureza real de elementos his
penais, a não ser com a ressalva í)é! que, nossos grupos, a reflexão consciente só o-
corre perante coisas havidas como extraordinárias, em rue a sucessão "normal" dos
fatos é interrompida inesperadamente..
Foi □ que estudou Kelsen, em obra fundamental e pouco divulgada, entre os que situ-
am o seu pensamento em um âmbito "formalista", desvinculado’preocupações com os as
pectos sociológicos e antropológicos, sob os quais também pode ser encarado o direi
to (1). É que a distinção metodologica entre os diferentes pontos de vista sob os
vos, atuando, no contorno social, em forma de vigência (3).. Por isso mesmo, o grupo
primitivo é fortemente conservador, resistente a mudança cultural,'em regre, há de
co; e ele*, e, com grande parte, o ponto nodal, que orienta as opçoesj marca as dis-
A
mente, a tres aspectos fundamentais:' a pena como retribuição; a pena com intimidação
a pena como instrumento de reeducação e defesa social.
Na construção platônica, o filosofo, descendo do plano do ideal absoluto
da or^em política de suas obras iniciais, traça, em as Leis, o esbpço de uma forma
concreta e histórica de organizaçço da cidade. Na República, tratava-se do governo'
drs sábios, entendnndo-se rue as leis seriam supérfluas.- Na segunda fase, considtran
nas, embora nao haja uma exata correspondência material entre o delito e a pena ,
à maneira taliônica (fl). 0 fim do Estalo é garantir a paz terrena e a pena resta
belece a paz que 0 delito pertubou: é meio de garantí-la..
Em Sao Tomás, a cidade terrestre conforma-se ao império de Deus, que tra
ça limites ao poder do Príncipe, realizador na terra da vontade divina.. Sao Tomás'
reconhece tres tipos de leisi a lei divina, que é revelada (Lei eterna) nas escri
turas - aspectos teológicos, a Lei natural, a que tem acesso a razao humana ,
especulativamente - aspécto filosófico; e a Lei humana, que procura formular a
peccetur.
0 retributivismo assenta em algo de instintivo; e o traumatismo provocado
pelo crime; é o clamor imediato pedindo castigo. Essa retribuição continua press nte,
Feuerbach, No; seu Lohrbuch;Feuerbach (.Ans-lmo) sur t nta que a prevenção exige que
sobre a coletivi ade atúQ. uma coaçao psicológica, interna. Em caso de possível in
fraçao do Direito, ela deveria exercer um influxo inibilatório; tal coação residi
ria na ameaça legal da pena.. 0 fundamento da ameaça é a necessidade de garantir os
direitos de todos (segurança) e o fundamento da imposição e a precedente ameaça '
(legalidade^» Feuerbach extraí desses pontos o princípio cúe empolgará as conciên
direito romano, ja sc encontrava a ideia precussora (.poena non irrog tur nisi quae
cuaque lege vel alio iure specialitcr huic imp-sito e- t).(l) Em Feuerbach, o prin
cípio da legalidade ou resrrva legal firma-se nisto rue a ameaça há de surgir da
lei, de forma preciosa. 0 maior mérito de Feuerbach há de ser visto no esforço
va) italiano e, sob certo aspecto (acentuadamente eclético), nas concepções mais
modernas.. De qualquer forma, adiantaremos que essa idéia de prevenção espefiial,
ligada a emenda e ao tratamento, já tem raíees (embora toscas) na própria Anti
guidade e na Idade Media, em que pese o seu cunho diverso; em Platão, ético-so-
craticop/SanÜo Agostinho, Sao Tomres, de feição religiosa. Mais adiante, a mes
ma noçao ressurge no correcionalismo de Roeder (necessidade de uma reeducação '
que o Estado ministrara ao delinquent_-e par seu próprio bem), associando aos
positivistas o nome do espanhol Dorado Montero que repelia inclusive o nome Di
reito Penal, para abraçar a designação, um tanto lírica, de Direito Protetor ilos
CBiminosos,
Junto às concepções intimidatórias e retributivas, vimos que se esbo
çam, desde as primeira reflexões sóhre o nosso tema, as idéias defensistas (de
fesa social). Também aqui se manifest m diferenças do fundamentação, mais raciô
suas funções naturais. Ha uma influencia decisiva dos paralelos entre o sociale
o biológico, a maneira de Gpencer, o cue chega em Ferri, por exemplo, ao exagê
ro da concepção da pena como ema espécie de " desassimilaçao artificial dos
Neste ponto, cumpre, dasde logo, fazer uma ppreciaçao dos aspectos po
sitivos e negativos das posiçoes básica referidas: retribuição, intimidação ,
defesa social e reeducação. Nao nos pareC' que elas se excluqm, reciprocamente
ou, por outro lado, que se trate de assunto superado, dispensado consideração.
Nao ó possível confundir, no plano filosófico-especulativo, o plano
abstrato dos valores, e a tarefa de reprimir, pràticamenteza delinqência, como
atividade de auto—preservação do Estado ou, mais amplamente, da Sociedade.Pouco
importa que se afirme, como Eusébio Gomez (20), quezse a defesa social reclama o
dente: o que se fez foi acentuar que a "necessidade não tem lei", sendo, portan
to, legítima - isto é, justa - a defesa social, o cue é um critério, em última a
nálise, racional e, nao, meramente prático.. Nele vai implícita uma reivindicação
filosófica - referida ao valor justiça (é justa a defena, porque necessária) e ao
momento gnosiológico $de conhecimento) da necessidade (por cue orgao? e legítima
m ~ ■» * r
a constituição? e concreta a sua apreensao?).. Mesmo a atitude pragmatica [trocar
a verdade pela utilidade, a pretexto de que a primeira e indiferente ou inapreen
sível) já comporta uma opção filosófica^ G pragmatismo é também uma filosofia ,
embora de vistas curtas e fundam^ntaçao arbitrária.
Se, por um lado, é indiscu+ível que o problema dos fundamentos da pena
(buscando sua legitimidade) nao se apresenta caio problema "int rno" do Direito*
Penal (21), isto nao nos permite esquecer que as doutrinas penais sensu agluti -
nam-se, em funação de tais opções prévias e superiores (no âmbito filosofico) ..As
posiçoes das escolas penais governam-se por tais critérios últimos (22).
0 retributivismo religioso está, evidentemente, superado a*é no plano
filosófico, referindo-se a uma taboa de valores que só pode s- r alcançada em
suas próprias postulnçoes pela fe na revelaçao de uma Lei Eterna, Salvo a coinci
dência de, no terreno especulativo.a razao aí chegar por sua própria força (2s).
Quanto ao retributivismo jurídico ou moral, substituirá o princípio ,
racionalmente impecável da compensatio mali cum maio, porémv lutando, sob um as
pecto, com a dificuldade de ajustamento do crtério legal, histórico-condicionario
da definição dos crimes e a propria definição do cue é, intrinsicamente, o mal
(em oposição as incriminações contigentes, de mera, criação política]; e, por ou
tro lado, com as dificuldades do critério de ecuivalência entre o mal e seu cas-
plo, quando se fundamenta ã ameaça penal pela necessidade de exercer a tutela ju
rídica, subordinando-a, como Feuerbach;a prévia definição rios crimes e combinação
das penas ou subpondo-a, como Carrara, ao justo - ainda aqui um convite à Êspícu-
laçao axiológica, enquanto estabelece limites ã justiça da de‘esa»
Essas observações situam-se, e claro, no terreno da Filosofia Penal *
(vêde o cap. 1) , mas há, dela, uma dupla interferência no terreno dogmático ju
rídico: 1-) enquanto o sistema legislativo esposa uma determinada orientação, na
matéria (filosofia do direito penalJ; 26) enquanto as interferências interdisci-
Notas
(D - Sociedad y Na^uraleza, passim.
(2) - Tratado General de Sociologia, p. 202
(3) - Recaséns, ib.
(4) - Derecho Penal, I, p. 44..
(5) - Aníbal bruno, Direito Penal, I, t. 1, p; 79
(6) - A propósito, vede del Vecchio, História dc la Filosofia del Derecho.
(7) - Sobre o assunto, vêde del Vecchio, ob.. cit.
(8) - De civitate Dpi,. XV, 1 e 2 apud gramática, Princípios de Derecho Penal
Subjetivo.,
(9) - De ile^imine Principium.
(10^- Summa Theologica, p. I„ quaest. 48, prop.III.
(11)
- Summa, II, quaest.. 61, prop.. IV»
(12) - Vede a árítiça de Sezão Prática e os Princípios Metafísicos da Teoria
do Direito..
(13) - Derecho Penal, p.. 86
(14) - Vede a Exposição de Motivos dO ctdiõoè Penal,
Penal, nn99 6 e, ainda mais adiante
p cap.. 6, Aota.-G„<
(15) - Apud Mezger, Tratado de Derecho Penal, V, 1 p. 36
(16) - Apud Balestra, ob«. cit,. p*89.
(17) - No estudo da criminologia ( capítulos 9/1-Sy veremos ate que ponto essa
resistência individual ainda é com iderada fator na dinamica do delito.
(13) - Vede Garrara, programa.
(19) - Vede e.g., Roberto Lyra,Em Defesa da Analogia, in Revista Brasileira de
Criminologia, jan..-março 1948, p. 14 e segs
(?0) — Apud Roberto Lyra,, Comentários ao Codigo Penal. V.. TI
reformas.
Alias, e preciso observar, com Asus, cue a Escola Clássica é um título
que nao engloba unidade de doutrina ou corpo harmonico dr princípios.. "Nenhuma '
oscola dv si mesmo chamou de classica, nome cue teria sido reputado excessivamen
te vaidoso, pois clássico significa o consagrado, o ilustre, o excelso". As
posiçoes, reunidas sob este rótulo, afinal resultam de um artifício polêmico da
escola positivistdh, em oposição a qual é possível delinear um lastro comtm dos
que se convencionou chamar de clássicos.
Poderiamos resumir essas caractrísticas principais, sublinhando os se
guintes pontos, defendidos, em geral, pelos clássicos:: a) responsabilidade moral ,
baseada no livre arbítrio; b) consideração do crime, como este jurídico; c) meto
do "lógico-abstrato" ("racional-redutivo" ); d) pena—castigo.. Na escola Clássica'
a pena, como reaçao jurídica, reservada aos imputáveis (higidez bio-psíquica), com
o provimento complementar da medida de segurança, para os nao imputáveis-
0 tecnicismo jurídico italiano sofre a influencia da doutrina alemãq, da
qual se distingue, sobretudo, pela negação da investigação filosófica, reputando-a
deslocada na ciência do Direito Penal. Mas é preciso notar cue, depois de uma pri
meira fase positivística , a - filosófica, a Manzini ou Beling, voltam-se alguns
tecnico^-jurídicos para o velho jusnaturalismo, reintroduzindo, como fundamento
estudo do mecanismo voltfitivo, embfcra, com Bettiol, assinale que a formação do ato
da vontade é uma das nuestões fundamentais do Direito Fenal. Faz profissão dc fr
"positivista" (no sentido de que o Direito nao pode r s< nao o positivo, pelo me
nos cncuanto objeto do ci(?ncia do Direito Penal), com nota liberal de que a forma
lização das normas jurídico-penais e a limitaçao do juiz ao campo cue elas
circunscrevem é essencial para evitar a arbitrariedade.
Concede mais: com Petrocelli, técnico juridico, acentua que o
estudo de cada deliqüente não pode estar compreendido na ciência
jurídica , pois o objeto desta são coisas abstratas , figuras de
crimes , categorias de deiinettentes , e não cada fato, cada crimi
noso .Pede , portanto, que sejam utilizados pela norma penal (ob
servação de lege ferenda ) dados similares "de homens estudados
natural isticamente, para que , no momento da aplicação , a catego
ria se decomponha , e reapareça o indivíduo". No âmbito propriamente
dogmático, Altavilla já sugerira o aproveitamente dos "orgãos res
piratórios" da lei, inserindo no teor da ciência juridica aqueles
elementos , sobretudo criminológicos , "recebidos" ou não vedados
pelo esquema normativo!
Diante da acomodação positivista às lindes dogmáticas , avulta,
ainda mais expressivamente , a revisão geral de GRISPIGNI , que in
clusive abandona o rotulo da Escola Positiva , para defender um "no
vo andereço técnico-científico".
á a esta contribuição que dedicaremos uma atenção especial ,
/ A %
* i *
apos breve referencia a chamada escola socialista. Aqui, a preten
são e oferecer uma nova iluminação de todo o sistema jurídico pe -
nal , acentuando as determinações econômicas , mediante as quais o
direito representaria a entronização dos interesses duma classe do
minante , em detrimento de outra , desfavorecida. As críticas en
dereçadas ao ordenamento jurídico , sob tal ponto de viíta , demons
tram, certamente, que o direito não é imune a influência da estra-
tificação social e que , em diferentes aspectos , ali se espelha
uma garantia normativa da estrutura social assente. Esse ataque e
estimulante , no sentido de que dirige a atenção para distorções e
iniqüidades e sugere a sua correção. Por outro lado, todavia , a
crítica socialista não chegou a oferecer um remédio jurídico, en
quanto alternativa , limitando-se - a) a reconduzir o problema
criminal , em tese , às "bases" socio-economicas, como se , com
a troca do modo de produção^'fizesse emergir uma sociedade sem crime;
b) a contrastar , nos países que pretendem haver implantado o so
cialismo, esse "trânsito" para a sociedade ideal , com um sistema
normativo autoritário, bastante violento , rígido , e sacrificando
direitos e garantias individuais e , sobretudo , direitos humanos
de inconformistas e grupos oprimidos;c) a enrigecer o teor norma
tivo, num"transito" que nao avança um passo para a sociedade ideal,
além de manter-se , teoricamente , num economicismo unilateral , que
oblitera as contradições e reconduz todo o direito à "infraestrutura"
como se ele não fosse senão um instrumento de dominação, á uma
Notas
1) Tratado de Derecho Penal, I, p.32.
2) Filosofia do Direito , II, p.96.
3) Ver Machado Neto, Neutralidade Científica e Espírito Totalitá
rio, Anais do 42 Congresso Nacional de Filosofia.
4) Cfr. Dei Delitti e Delle Pene.
5) Derecho Penal, I,p.44.
6) Ibidem." f
2’) 0 contrato social, falso como fato historic, e instrumento de
construção racional, que serviu ao liberalismo para combater
0 autoritarismo do ancien regime.
8) Ver, Roberto Lyra , Introdução do Estudo do Direito Criminal.
9) Ferri situava 0 Direito Criminal na Sociologia Criminal, como
ramo desta.
10) ob. cit., passim.
11) Ibidem.
12) lbidem.
13) Como assinala Aníbal Bruno, o pragmatismo á varí ante do posi
tivismo.
14) Anibal Bruno , Direito Penal, I,l,p.l25.
15) Cfr. Revista Brasileira de Criminologia , jan-março 1948,p.7/i4
L6)Roberto Lyra , ob cit.
17) Raymond Aron, Temas de Sociologia Contemporânea , passim.
18) Diritto Penale Italiano, I, p.IX ss.
19) Derecho Penal, I, p. 67.
20) Derecho Penal , passim.
Fundamentos da Teoria Geral do Direito Penal
brigatoria emana, nao de um ser humano mandante, mas de um comando impessoal jq,
anônimo é expressa nas famosas palavras: non sub homine, sed sub lege.. 0 coman
do impessoal ó preci^samente a norma.
0 Direito é, pois, um sistema de normas; e a regra do direito, formu
lada pela ciência jurídica, nao é uma repetição supérflua da norma. KELSEN com-
parc-a com a açao de um pianista, executando uma sonata, lembrando que ele de
senvolve uma atividade criadora emhora totalmente diversa da do compositor.'Di
zemo5 que ele interpreta a Sonata; esta e exatamente a tarefa do jurista, com
relaçao a obra do legislador"..
A norma jurídica nao se confunde corn a regra técnica, a simples "pres
criçao de meies idôneos para logra5’um fim" (13), nem com a norma ética, pois es
coativo — dado nao prestaçao, deve ser sanftro.. Na segunda, exprime—se a conduta
(dever jurídico) que evitaria a sanção: dado fato temperal-suposto normativo ,
aquela que, como ato antèjundico, e condição da saneao, constitui o dever jurídi
co". D ato ilícito e a conduta contraria a prescrita pela norma (dever jurídico)
ou obstando a permissão que a norma estafrelcce (no caso da norma permissiva).
Alias^mesmo quando a norma e simplesmente permissiva, ela não perde, com isso, a
sua imperatividade. 0 direito que ela atribui, a alguém, vale contra or demais.
Assim e.g,, nos recursos voluntários, (que podem ou nao, ser manifestados. Nao se
poderá, entretanto, impedir a manifestaçao. "0 fato ilícito é o oposto a uma con
duta obrigatória e há uma obrigação jurídica de abster-se d todo ato ilicitoJ’Es
• se aspecto está, ademais, vinculado a uma característica da norma jurídica - da
sua bilateralidade.. A norma jurídica não e, apenas, um dever cue tem um sujeito ,
mas um dever em relaçao a outro sujeito, cue tem a faculdade de exigir-lhe a
prestaçao (15) ;■ dado fato temporal,., deve ser alguém obrigado face a alguém preten
sor - núcleo do direito subjetivo.
Diante desse esquema geral, cumpre, agora, indagar, haverá uma caracteris
tica peculiar a norma penal, enquanto distinta*/ das demais normas jurídicas? .í,
doH(15).
Em geral, confunde—se a questão da autonomia e originalidade do direito
penal com c de sua essencia, enquanto conjunto de normas pretensamente diverso dos
demais preceitos jurídicos.
Vejamos, por parte, os dois problemas.
Em primeiro lugar, parece assente a autonomia e originalidade do precei
to penal. Dizem uns (Asúa, Grispigni, etc) que o preceito penal limita-se a re
forçar os preceitos dos demais ramos do direito; outros contestam esse ponto de
vista. Roberto Lyra resume os argumentos em prol da secunda correnteí: "quando san
ciona preceitos, depois encerrados, mutatis mujamdis, noutras normas jurídicas, a
norma penal seleciona-as, livreiremente, pela importância que lhes quer atribuir ,
desprezando, do plano, os que nao merecem a supreme dignidade do ilícito penal e,
mesmo assim, submetende-os^ a seu juízo, afeiçoando-os, adapt.-ndo-os, amoldando-os,
conferindo-lhes fundo, forma, sentido especiais rue sr- ajustem a meios, fins, cri—
térios, consequências inoarporávFãs, como sao os de Direito Penal" (17). Exemplifi
ca: o conceito de funcionário público (art. 3°7 rio Codigo Penal) não coincide com
o de Direito Administrativo; "o art. 135 do Codigo Penal Brasileiro é privativo do
Direito Criminal" (15). Roberto Lyra reconhece apenas "relações" entre as normas
penais e as outras normas juríriicas, embora, as vêzes, íntimas e constante! (19)
Uma coisa e, porem, reconhecer que preceito penal tfcn força cpnstiCúya/,
nãc sendo meio reforço de outras pre eituações extra-penais; outra, diversa - que,
aqui, veremos em segundo lugar — é atribuir ao preceito penal u'a natureza, uma
essência diversa da que revelam as demais normas jurídicas. Nenhuma ilicitude c, em
si,* penal, de tal sorte que o legislador, ao defini-la, esteja, ipso facto, prece_i
tuando em matéria penal. Muitas condutas, rue os povos mais antigosconsideravam
crimes são, hoje ilícitos civis na maior parte das, legislaqpogcontemporâneas e fatos,
dantes penalmentes irrelevantes, não rarojf' passam a integrar □ elenco das infra-
ções (?0).
0 ilícito penal e o civil são apenas categorias empíricas,
em que se especifica o conceito jurídico puro do ilicito ou não -
prestação'* (21 )•
Se , portanto, em que pese a autonomia constitutiva dos pre-
~ Z ~ z
ceitos penais , nao ha distinção ontologica entre o que constitui
a matéria de sua preceituação e o que é regulado por outros ramos
do direito, as normas penais , que têm , por outro lado , a estru
tura lógica de toda norma juridica , distinguir-se-iam das demais
pela sanção ?
GRISPIGNI, entre outros , entende que sim , definindo , inclu_
A
sive , o Direito Penal Objetivo como aquele complexo de normas
que , pela violaçao do preceito, movimentam , como oonseqttencia ,
uma pena (sanção criminal). A sanção criminal seria , então,o cri
tério distintivo(22).
Para analisar melhor esta posição , vejamos como GRISPIGNI di
vide as sanções, pela sua natureza. Ha dois grupos fundamentais: as
sanções executivas e as punitivas. Asexecutivas são aquelas que coin
cidem com a prestação que é objeto do preceito(dever jurídico) e
compreendem:a) impedimento à força da ação contraria ao preceito;
b) constrangimento ao cumprimento do preceito ;<)reposiçao do s t a tu
quo ante;d) ressarcimento com prestação de um equivalente(23). A
modalidade sub a não seria propriamente uma sanção , mas o impedi
mento da conduta a que ela deveria seguir. Sub b , temos o que
GARCIA MAYNEZ denomina "execução forçosa". Sub c, estaria , e.g.,
a devolução. Sub d , vemos o tipo de sanção que , no esquema de
z aparece como indenização, sendo que,nesta,GRISPIGNI inclui
a chamada pena civil.
As sanções punitivas corresponderiam ao que MAYNEZ de.iomina
castigo; porém elas surgem , na construção de GRISPIGNI, com aspecto
peculiar . De forma geral, note-se que,ms sanções executivas , o pre
ceito encontra sua atuação, seja pela execução forçosa , seja por
outro meio, como o ressarcimento, com a indenização correspon
dente ao dano produzido. Ja nas sanções punitivas , não se encontra
a execução efetiva do preceito, diretamente ou por equivalência ,
sendo estas , ao refcés , o que o próprio GRISPIGNI denomina uma
r afirmação ideal, moral, simbólica do preceito mesmo. Por outro lado,
nas sanções punitivas entram em linha de conta , mais acentuadameite,
Z Z
as causas psiquicas da violaçao do preceito, isto e , estão ligadas
ao elemento subjetivo , tanto quanto ao elemento objetivo do ilícito.
Dentre as sanções punitivas , GRISPIGNI distingue as administrativas
e as criminais , caracterizando-se esta ultimas por serem impostas
por um orgão da jurisdição. Observa-se , com o próprio GRISPIGNI,
que esta última caracteristica,extrinsecn e formal , adquire relevo
z
no Bstado ííoderno , enquanto a autonomia do Direito Penal e marcada
pela divisão dos poderes , na imposição da sanção,pela jurisdição.
Ademais, acrescente-se que , assim como as penas , as medidas de se
gurança constituem sanções criminais , enquanto diminuição de um ou
mais bens jurídicos , imposta judicialmente .
A dis tinção grispigniana entre a sanção administrativa e a san
ção penal , entretanto, não é de lógica jurídica , mas de considera
ção empírica , histórico-condicionada, pois vem do que ele próprio
chama de Estado moderno. Por outro lado, há sanções punitivas civis,
aplicáveis jurisdicionalmente - ex. art. 395 do Codigo Civil- que só
se separam das sanções penais pela situação na órbita do Direito
Privado.
Em síntese , como notou MANZINI, após uma resenha dos diferentes
critérios propostos para distinção entre os ilícitos civil e penal
e as respectivas sanções , chega/à conclusão de que sao , todos ,in-
satisfatórios(26). A proposta de MáNZINI envolve uma distinção entre
interesse privado e interesse público - que , além de não se esten-
Z X Z z
der, como critério distintivo , a outras órbitas , nao juridico-
penais do Direito PÚblico- tem um nitido sabor , também, de cir-
A X
cunstancias históricas e conveniências e valores , dentro de certas
concepções de Estado (27)e da Direito Penal da culpa (28).
Se quiséssemos , portanto, restringir o exame a pura analise
lógico-formal, não poderiamos demarcar , com nitidez , o que se en-
tenderia por^norma penal", enquanto peculiar a um determinado ramo
do direito, ora em consideração. A verdade e que todos os aspectos
de especificação permanecem aproxirnativos e historico-condicionad) s,
porque o conteúdo do Direito Penal mesmo é oscilante. Dentro desta
z
perspectiva e com essas ressalvas , e que temos de admitir as de
finições de Direito Penal que dão GRISPIGNI e , mais tecnicamente,
VANINi, com as quais fecharemos , adiante, as considerações deste
z
cqitulo.
Notas
1) GARCÍA MAYNEZ , Introducción 9.1 Estudio del Derecho, p. 121.
2) RECASÉNS , Filosofia del Derecho.
3) MAYNEZ, ob. cit., p.123.
4) RECASÉNS , ob. cit.
5) MACHADO NETO, Introdução á Teoria Geral do Direito, I, p. 7.
6) Ibidem.
7) Estudo in Discorsi intorno al Diritto.
8) Studi sul Processo Penale , p.87.
9) Ibidem.
lOjToda a exposição kelseniana utilizou, principalmente, as seguin
tes obras: Teoria Pura del Derecho, Teoria General del Derecho y dei
Estado, além das conferências de Buenos Aires , in : KELSEN-COuSIO,
Problemas Escojidos de la Peoria Pura del Derecho.
11) Ver 0 cap. 12.
12) MACHADO NETO, Introdução à Ciência do Direito, II,p.97.
13) MAYNEZ, ob.cit., p.ll.
14) A sançao social difusa ou organizada e referida sgundo 0 es
quema de DURKHEIM.
Sobre
15) a bilateralidade, ver MACHADO NETO, ob.cit (nota 12).
16) MAYNEZ, ob. cit.,p.193.
17) ROBERTO LYRA , Introdução ao Estudo do Direito Criminal,p.193.
18) Ibidem.
19) ASÚA, Tratado de Derecho Pena1.
â$)A passagem entre ilicitudes do campo civil ao penal e vice-vcrs.3.
não atende à "lei" durkheimiana penal-civil,não confirmada pelos fatos.
21) MACHAD0 NETO, ob. cit.,p.93.
22) Diritto renale Italiaho , p.93.
23) 01»., vol. cits, p.118.
24) Ob, vol.cits., p.3fil.
25) JOSÉ FREDERICO MARQUES , Curso de Direito Renal, vol.3.
26) Diritto Penale Italiano, I,p.160.
27) Mesmo o critério da sanção mais enérgica há de ser tomado com
orientam a formaçao do Direito Positivo na maior parte dos Estados ditos civiliza
do'- - ou a que esse Direito Positivo faz remissão implícita ou expressa (vede o
cap. 2). Mas tais princípios sao menos lógico»jurídicos do que aquisições cultu
nao raro faz - vede cap. 8) a uma ordfm estranha ao estrito âmbito positivo do
Direito., Essas remissões, entretanto, nao destroem a autonomia da ordem positiva ,
em seu plano específico, eis que, para se introduzirem no seu contexto, dependem
da chamada, feito pelo próprio ordenamento. Noutro sentido (vede o cap. 2), de
uma organizaçao jurídico-positiva, em contrastre com elementos jusnaturalísticos
a ela rebeides poderá ocorrer, nao uma atividade jurídico-científica, porém
atividade política, voltada para a reforma do ordenamento posto..
Entre os chamados princípios de pré-constituição, que participam da
de una tabua de valores, a que aderimos, embora conscientes de sua natureza histó—
rico-condicionada.
derivaçao, em tema penal, nos seus aspectos material e formal, não difere do m■ca—
nismo estudado em Teoria Geral do Direito (5).. Para nós, ganha peculiar relevo, a
esse respeito, entretanto, o princípio da reserva legal (nullum crimrn, poena sine
lege)este, aliás, é encarado sob tres aspectos: enc uanto vedação da retroativida—
de (vede o cap.. 7), enquanto proibição de analogia (vêde adiante), aplicação analó
gica) e enquanto óbicj2_ a admissão do costume como fonte imediata de cognição (vêde
adiante)..
Ja vimos ocasio© de assinalar a" circunstancias históricas emhàquele
principio teve consagraçao institucional, bem com os precedentes, rue ascendem ao
Direito Romano (6), sem, contudo, a amplitude cue ganha, posteriormente, com a
pregação de BECCARIA, a vinculação, sobretudo em FEUERBACH, à doutrina da intimida
ção e, de uma forma geral, o pensamento jurídico-político, que é antecedente ideoló
gico do revolução francêsa.Aliás, o princípio 4a fôra acolhido, na antecipação lumi
nosa da Declaraçao de Filadélfia (1774).
0 nullum crimen, nulla poena sine lege, enquanto principio de pre—constituição,
nao é, reiteramos, um princípio inerente a todo o "ualquer Oi rito Penal dado,
aparecendo, em geral, como garantia política, nos Estados Democráticos. Todavia,
em que pese ser característica de Estados autoritários a supressão do princípio,
Direito Penal Objetivo são as que emanam, diretamente, do Estado: as leis penais.
*
Sao fontes mediatas as que, em si, não têm car ater jurídico-normativo (nao cons
I
tituem normas penais), mas a# que as normas penais, expressa ou implicitamente ,
se reportam; e, ainda, as que,, pertencendo a outro ramo do Direito, sao chamadas,
de forma implícita ou exp4ssa pelas normas penais, e vêm, portanto, integrar o ord_e
namento jurídico—penal..
sobre os conceitos penais de furto, dano etc". (17). Note-se, porém, que, " para
estabelecer—sâ'o costume, ainda no campo extra-pmal, pode reconhecer-se como vá
lido, é essencial determinar se o fato nao é contra leg em, enruanto precisamente
vedado pela lei penal" (IR).. 0 costunr contra legem nao pode prevalecer. A vilên
cia esportiva e outros casos de lesões corporais, por exemplo, não se tornam pe
nalmente lícitos por força do costume e, sim, porque -nao permitidos por normas ex—
tra-penais. A atividade e autorizada pelo Estado e o exercício regular de um di
reito (art. 19, III, do codigo Penal) é causa da exclusão da criminalidade.
do, como no caso da^ <3umula>j do Pretório Excelso, têm certo âmbito de influência pro
cessual (deixam-no bem claro os próprios têrmos do Regimento do S.T..F, e os escla
tade do legislador? Pode ocorrer, entretanto, cue o visado pelo legislador não ganhe
expressão na lei. E o que importa interpretar é o texto.
gia como produto historico das aspirações e necessidades de cada epoca, ligado
ao espirito do povo. Sentida, porém, a insuficiência da analise histórica, sur
giram as preocupações tendentes a procurar o ajustamento entre um direito riado
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( o ordenamento vigente) e as alterações nas relações sociais que o Direitfy 4i
vre, que procurou atribuir ao juiz uma função criariora, à margem e até ao
arrepio de suficiência absoluta do ordenamento, em sua plehitude..
Note-se, em toda essa intensificação, um abandono de verdadeiro senti
do de interpretação, enquanto procura rio contudo das normas. A atitude ca.tacte—
riza uma insatiêfação ante o direito cristalizado na ordem positiva.. Mas essa
insatisfação é um ingrediente alheio a verdadeira tarefa do jurista , enquanto tal.
dos juristas em geral. Nos dois primeiros casos, o ato e tanto de conhecimen
to (seja da norma fundamental, para o legislador, seja da geral, para o juiz )
como de vontade (na criaçao da norma individual, pela aplicaçao, ou da norma
geral derivada).. No caso do jurista há puro conhecimento.
Embora, tradicional4amt.o T se fale cm intprpr etaçao autentica como
oriunda do legislador, quando se trata de norma cue tem por objeto interpretar
outra norma, uma interpretação contida em norma rue tem também outra função não
é menos autêntica e obrigatória (KELSEN). t o cue ocorre na criaçao da norma in
mas de u'a outra norma jurídica, em si obrigatória, mesmo se nas corresponder, pre
cisamente, às palavras e ao conteúdo ria norma declarada (27) — obedecendo, é certo,
ã hierarquia do ordenamento, que a subordina a norma fundamental. A lei interpreta
tiva se entendera em vigor desde a vigência da norma interpretada, pois foraa, com
ela, uma so lei.
Pode haver interpretação autentica subsidiária (exposições de motivos, a
tas parlamentares) , anterior a vigência ria lei e estranha ao seu contexto,. Mas seu
valor e secundário; ela jamais prevalecerá contra o texto expresso.
A interpretação judicial ganha relevo, face a exclusividade do, aplicação
contenciosa da lei (jurisdição), com âmbito a cue se fez referencia, ao tratar da
jurisprudência, como fato.
A interpretação doutrinaria nao tem, jamais, fêrgwobrigatória, constitu—
indo mero (embora, as vezes, precioso) subsidio, princi-almente quando adquire a
feição de communis opinio doctorum: e vazaria em comentários, pareceres, obras de
dogmática jurídica etc.
tos histori os, da legislação copparadç, dos princípios lógicos aplicáveis à ciên
cia jurídico-penal e da recepção legal (expressa ou implícita) rie conceitos extra-
como e.g., nas palavras emoção e paixão (art. 24,1, do C.P.) em harmonia com no -
çoes ministradas pela psicologia. Porem, na própria ciência jurídica, hão raro, há
transformações do sentido das palavras. Nesta hipótese, entende-se que a lei as
emprega neste sentido jurídico (ex.: sociedade por ações, no art. 177 do C.P.).
Todavia, pode ocorrer outradefinição, para os fins da ordem normativa especial»
domicílio" tem sentido
próprio (art. 150 rio C.P.) , desprezando a diatinçço civil entre residência e domi—
cílio (art,. 31 do C. Civil). 0 art.. 155 do C.P» refere-se a coisa alheia movei (bem
z . .iíWív, i
novelj, sem anteoeder e.g., a restrição rio art. 44, II ri Civil. Funcionário
público, em materia penal (art 327 do C.P,) e conceito mais amplo rio que o acolhi
do no direito administrativo, e.r tenrie-»*»p- inclusive, ao jurado (art. 438 do C r.p.).
Fala-se em um tipo de interpretação evolutiva,, que embora não fosse, ja
mais, contra legem, tomaria certa elasticidade car cterística do ord namento jurí
dico, mesmo o jurídico—pebal, para afeiçoar a norma as transformações de relações
sociais que elas disciplinam.. ALTAVILLA afirma, corn razao, que a lei penal tem or
gan respiratórios, permitindo a inserção de elementos externos» Na sua função des-
2, Ç' í ( ' /
critiva, o jurista pode (e deve) apreciar o elenco dos "elementos clássicos'1* (28) ,
com a comprovação das diferentes maneiras de possível preenchimento do marco esta
belecido pela norma. Servirá esse trabalho de subsídio para as autoridades jurídi
om t
Diz-se—ia extensiva a interpretação, ao determinar que, incriminando a
ti"-
bigamia, o art.. 235 do C.P. implicitamente abrange a poligamia (29)» f\ propósitoda
interpretação extensiva, fala-se em lacunas aparentes, dissolvidas por uma exata
.'■'C’u
compreensão das virtualidades que o anunciado oferece ao exame do intérprete. Em
*1
linhas gerais, a interpretação extensiva (lex minus dixit quam voluit)-sempre rige
rosamente distinta da analogia — deve ser empregada, em materia penal, da forma a
mais pru 1 ente e dentro dos limites da mais absoluta necessidade lógica" (30).
outra conduta (nichtzunutbarkeit), isto e,. ruando a conduta que evitaria, normal
mente^, a sanção (dever jurídico de abstenção da conduta ilícita) era (impossível, no
caso concreto, ou excedia o que e razoavel exigir do horrifr modius. Dai as causas su
pra-legais de justificação..
Hungria (33) assinala que essa distinção foi escogitada pelos autores a-
lemaes para suprir as deficiências do Codigo Penal de sua pátria..
De qualquer forma, para dar ensejo ã aplicação analógica, voltaríamos a
questão das alegadas lacunas. KELSEN assinala que . ao falar-se em lacunas, o que
se afirma nao ó a impossibilidade lógica de uma decisão, ante a falta de dispositi
vos aplicáveis (plenitude do ordenamento), mas que a decisão logicamente possível
parece ao órgão encarregado de aplicai' o direito a tal ponto inoportuna ou injusta
que ele se inclina a admitir que o legislador nao cogitou daquela hipótese e quey
se o houvesse feito, teria tomado uma orientação diversa da que resulta do direito
vigente. Portanto, haveria ivergência entre o direito positivo e ...outro, melhor
ceito, mas cujos supostos sao apenas semelhantes.. Isto, porém, repetimos, importaria
Geral do Direito.
6) - "Quanto as origens históricas dêsse instituto, parece -uc êle não existia antes
do procedimento das ruaestiones, que se tornaram estáveis sob SILA [B2-30 A.C.),
C* T<zVwi - /
Como prova, dvttfcdm—as passagens de ULPIANO - pena non irírrogatur nisi quae
quaque lege hie delicto imposita est -, e de PAULO - poenae certae singulorum
peccatorum sunt.. Mas, enquanto isto nao valia para a coercio, mesmo para a
jurisdictio o princípio de,: apareceu com □ sucessiva cognitio extra ordinem"
i°)- Ib.
13) - Ib.
Id)- Ib. "É evidente que nao se deve confundir com abroga'ao ou derrogação devida ao
costume tfque pode ser efeito do leis sucos ivar ou cessação das condições
'Direito Penal.
Em regra, a vigência da lti penal estende-se até a sua revogação por lei
posterior, salvo a hipótese da lei temporária (com prazo fixo) ou excepcional (em
ia; volta-se para o futuro, nao para a passado e, portanto, os fatos cometidos an—
tes da sua entrada em vigor nao recaem sob os seus preceitos. Como razao deste cri—
terio, é costume afirmar-se que nao é possível viofcar o direito adquirido pelo de
linqúente, de ser castigado pela lei vigente ao momento da comissão do delito, porem
essa idéia, na realidade, é apenas a manifestação do espírito legalista dominante tio
Direito Penal, em consequência da máxima nullum crimen sine lege, pois,, se as leis
penais tivessem afeito retroativo, o Estado, ao promulgar leis que apcnasoabwi fatos
antes inocentes, tornaria ilusorio o princípio de leg ilida'-'e e a garantia penal que
A
ele representa" (?).-
. * f X
CALÓN, citando DOMO, acentua que o principio da nao retroatividade "e
um princípio constitucional, um dos direitos adeuiridos pelos cidadãos, face ao po-
embora alçando-se acima das circunstancias da época e do meio em cue foram geradas
Mas, desde logo, na própria enunciaçao da irretroatividade da lei penal í
(salvo para beneficiar), cumpre esclarecer que dela não se cogita, suando se trata de
lei interpretative. Esta última opera ex tunc, ou srja, a lri interpretative se entun
••
de em vigor desde a vigência da lei interpretada, com a r uai forma uma só lei (3)
j •
A lei posterior interpretativa será, sempre, parte da lei int rprstada, cabendo so
mente examinar se, de fato, é interpretativa ou see, ao reves, sob tal nome se apre-
senta norma substancialmente modificadora - pois, neste último caso a "interpreta^"'"
incorporar-se ao ordenamento jurídico sem vigência ex itunc; será irretreativa
A lei posterior que comina pena mencs rigorosa, também retroagindo, para
beneficiar, provoca,, inclusive, o ajustamento da sentença condenatória irrecorrí—
tio criminis ou a mais suave apenaçao) favorece o agente, sua retroaçao é limitada;
a lei sómente se aplica ao fato anterior, se nao há julgamento definitvo.
segur inça; mas, por isso mesmo que a medida de segurança não se confunde com a pena,
e nao e necessário cue esteja previsto, em lei anterior ao fato, ,® nao'distingue en
tre a lex mi tior e a lex gravior no sentido da retroatividadr: regem -se as medi
das de segurança pela lei vigente ao tempo da sentença ou. pela que se suceder duran
te a axecuçao". (Exposições de motivos do Codigo Penal, n® 33).
fato a lei posterior somente quando favorece o agente, cm caso algum poderá cogitar
da aplicaçao de qualquer lei sucessiva mais r^ignrosa, pois esta encontrará o agente
já favorecido por lei intermediária mais benigna" (Exposição de motivos do Codigo
Penal1, ,ne 7.
Exemplo de lei posterior que comina pena menos rigorosa: a lei nova pas
sa a considerar contravenção o fato ante iormente definido como crime; ex vi do
art.. Is da Lei de Introdução ao Codigo Penal, distinguem -se crimes e contraven-
ças pelas sanções cominadas, neste último caso, mais suaves.
mesmo que a lei vigente a data do crime dispusesse de forma diversa (13).
* Z z
Ha certas leis, chamadas leis penais em branco, isto e, leis cujo Conteu
do é completado por ato administrativo (14) e.g., a que sc encontra no art 2 CS
do Codigo Penal.- "A circunstância de ruc, com cepsaçao dos complementos (as normas
em branco) deixam de ser aplicáveis diz com o futurp. Nao pode ser suscitaria, aqui,
questão de direito transitório, pois que nao há sucessão de leis, isto é a norma
penal (15) nao e revogada, mas, apenas, vem a faltar, temporariamente ou nao, para
o futuro, eventualidade oíwxstitwianant® da aplicaçao t!n pena" (16). Assim, no exem
pio de MANZINI (17): "se alguém vender mercadorias a preço: superiors- aos fixados
na tabela oficial, e punível pelo crime, ainda que na oca siac do julgamento, t is
preços, por efeito de sua periodica revisão, tenham sido elevados ao mvcl dar. uelcs
nova nao preveja aqueles fatos enquanto delitos, como quando os castiga mais suav£-
mBnte".
Esta a solução, face ao nosso direito positivo, assim como o italiano. Nos
ordenamentos em que não existe disposição expressa, a respeito, há grande oscilação
doutrinária a respeito da ultratividade dessas leis.. A justificação da ultrativida-
de, nesses casos, e, segu indo a Exposição de Motivos do nosso Codigo Penal a se
guinte: "Esta ressalva visa a impedir cue, tratando-se de leis previamente limita
das no tempo, possam ser frustradas es suas sanções por expedientes astuciosos, no
sentido de retardamento dos processos penais."
Alguns autores encerram o exame dos limites rir tempò rias normas jurídica-
penais, com uma referencia ao chamado conflito aparente do normas. A—ui, oo 'rr, n~~>
se trata de sucessão de leis.
Dá-se o conflito aparente, quando duas disposiçães, simultaneamente vigen
tei parecem referir-se, enquanto suporte normativo . a u’a mesma ordem de fatos na-
turris..
A matéria ficaria, a rigor, mais adenuadamente situada no capítulo refe-
rente a interpretação ou aplicação das normas e, não, entre os limites temporais £
(nao ha, repetimos, sucessão^as coexitÓncia) ou entre as hipát.- es de concurso apa
rente, como fazem alguns autores, em oposição ao conceito de concurso ideal: neste
a açao típica (fato natural), atualiza dois ou mais tipos,
ao pasdb que no concur-
so aparente, há un só crime.
Nosso Código Penal não oferece expressa solução pQra os problemas do con
flito aparente de normas, embora o anteprojeto HUNGRIA (art. «e) tenha -rop-^tn
a incorporarão da matéria, no nosso direito positivo (19), reportando-se aos códigos
praticado pela mae que, sob a influência do estado puerperal, mata o próprio
filho, durante o parto ou logo após. Nao se cogita, aí, de homicídio (matar
alguém ,,, art. 121).
como elemento seu, fato, por si so, incriminando, como por exemplo, nos crimes com
plexos, que excluem os cue entram em sua trama. 0 estupro abrange um constrangi
mento ilegal (artí 146 e 213, do C. Penal).
Alem desses casos, pode ocorrer que, embora na açao típica ds scrita na
lei penal nao haja coincidência de fatos que, em sí constituem crimes, um destes
possa surgir na execução do crime ( lex consumens de rog t legi consumptae). sen
do necessária ou normal etapa, na realizaçao concreta do tipo.
* * rs. rs.
Ha, nesta hipótese, consunção ou absorçao* Assim, e.g., quando o furto
e praticado com a entrada em casa alheia, o primeiro crime absorve o segunde ou,,
noutra hipótese, o homicídio praticado com arma de fogo, absorve a contravenção de
porte de armas e a lesão corporal (vede os art. 152, 155, 1°1 e 129 do 3., Penal e
19 da Lei das Contravenções Penais). 0 problema de absorção envolve cuestões deli
radas, quando a infraçao a ser absrovida nao se insere nc mesmo contexto da ação,
constituindo fato anterior ou posterior nao punível.. E o caso do crime-meio, absor
vido pelo crime-fém (meio necessário ou normal, e.g., a falsidade ideológica ou
material para que seja praticado bigamia - arts. 235, 297 e 299 do C. Prnal), como
também o das seguintes hipóteses:' desdobramento da mesma linha de execução (falsi
ficação e uso de documento falsificado - arts. 297 e 3P4), incidência geral (-m cri'
me de conteúdo variado/ (apresentando diferentes modalidades, como a recepção —
adquirir, receber... - art.. 180) e a hipótese de nova ofensa ao mesmo bem jurídi
co, sem aumentar o dano causado (como, por rtémplo, o ladrão f;ue, apos o furto,,
destrói a res- furtiva - arts. 155 e 163 do C. Penal).
duas modalidades do peculato doloso (arts.. 155, 168 e 312 do C. Penal)► 0 exemplo,
todavia, parece demonstrar a existência de especialidade.
0 Direito Penal Objetivo nao tem, apenas, limites de tempo. Ha, também,
limites de espaço e de pessoa, isto e, restrições a incidência das normas, segun
do o território, subtraçao de algumas pessoas a jurisdição penal ou simples restri
ções à incidência, conforme as pessoas-
Quanto aos limites de espaço, o Direito Penal Objetivo obdece, em regra,
ao principio da territorialidade (vêrie o art. do C. Penal e o art. 29 da Lei
das Contravenções Penais) prevalecendo o lugar do crime. Note-se, desde logo, que
o art. 4® do C. Penal, ao estabelecer o princípio de t. rritórialidade, entendeu
plectendum ubi facinus admissum; o crime deve ser punirio no lugar em que foi prati
cado)•
Para a correta inteligência dêsée princípio, urge, entretanto, esclare
cer dois pontos: l9) o conceito de território; 22) como se determina o lugar do
crime à luz dêsses conceito.
Território do Estado, na definição de MANZZNI, *e "todo espaço terres
tre, marítimo ou aéreo, sujeito a plenar/absoluta soberania do Estado mesmo, já
esteja compreendido dentro dos confins que separam este Estado dos Estados limí
trofes, já esteja separado do corpo territorial principal, de maneira que se en
contre dentro de outro Estado ou entre vários Estados ou rodeado pelo mar livre,
já tenha caráter metropolitano ou colonial, permanente ou precário" (22).
nar, ainda, o que vem a ser lugar rio crime (locus comissi delicti),is4o é, ruando
o f ito punível deve considerar-sr praticado no t> critério rio Estado.£m certos caros
torio. Por exemplo: "num comboio em marcha, do Rio Grande rio Sul para o Uruguai, um
passageiro, ainda em território brasileiro, desfecha tiros contra outro, cue é
atingido, mas só vem a morrer em território Uruguaio" (23).
Doutrinariamente, apresentam-se várias teorias, para solução da hipó
de "o agente atingí, o objeto ou alcança □ vitima"; teoria da ação ã distâcia (teo
ria dell'azione ampliata], segundo a qual "o crime, como nuntoi.'o, considera-se
praticado, quer onde o agente exerceu sua atividade executiva, quer onde ocorreu o
efeito intermédio"; teoria limifada da ubiquidade (neschrBnkte Il^biqui^taxts th eorie)
segundo a qual "□ lugar do crime é tanto o lugar da açao quanto o do resultado";
teoria pura da ubiquidade (reine Libia ui tã-tetheorie) segundo a qual o lugar do crime
é tanto o.lugar da açao, quanto do resultado e do efeito intermédio (24)..
bellica.
Na ocupatio bellica, a organização administrativa e judiciária é, também,
em princípio, conservada, mas os agentes ou funcionários políticos, em geral, ccs-
sam o exercício de suas funções e sao substituidos por autoridades militares rio
ocupant'■. Por outro lado, os crimes contra a segurança das tropas ocupantes ainda
que cometidas por civis, sao submetidas aos tribunais militares do Ocupante" (25).
Excepcionalmente, a lei penal brasileira tem aplicarão extraterritorial.
Assim, a lei penal brasileira é aplicável aos crimes (?.j) - art. 5G do CÓdiro Penal
convenção, o 3rasil se obrigou a reprimir, mesmo suando tais crimes são cometidos
no estrangeiro. É o princípio da universalidade.
questão que nos ocupa, agora, isto e, a incidência d? lei penal no espaço, de extra
*' ”
-V
diçao se cogita, ap>nas, enquanto reçuisito^êxtraterritorialidade condicionada (
art. 5s, § 3s a do C. Penal)..
orientação errada da terminologia do Codigo, uma vez que ali so menciona e usa a
palavra imputabilidade em mais d'p um passo” (JO3É FREDERIC!? MARCHES).. É possível,
contudo, estabelecer uma distinção conceituai, ajustada ao ordenamento jurídico, em
que pese a imprecisão, puramente t rminológica.
Responsabilidade nao é um requisito prévio ou contemporâneo da ação ou
, *** ll z»
omissão, mas uma conse-uencia desta, quanto aliada aos demais elementos do crime.
Responsabilidade é obrigaçao de suportar as consequências jurídicas do crime..
A Capacidade penal é a aptidao, em tese, pare responder, pela conduta; a
imputabilidade e a aptidão bio-psíouica, in concreto, no momento da infração, para
responder, penalmente^pela conduta.
"A capacidade se refere a qualquer relação, hipotética ou real, de Direito
Penal;- a imputabilidade, ao contrário, se prende a um determinado crime em concreto.
21 anos, embora nao penalmerrte incapaz, recebe tratamento especial (vede os arts. 30
1, 32, 48, I, 57 e 115 do C. Penal).
0 sujeito ativo capaz e pessoa física - homem (societns delinquerg non oo-
Nacr crime praticado por animal, ou ente inanimado, embora possa haver crime
■praticado com ou mediante animal (a exemplo da introdução nu abandono de animais
em propriedade alheia, vede o art, 164, do C. Penal).
limites de pessoas..
A materia atinente a inviolaKbilidade pessoal do agente diplomático e
Nao sfi estende, portanto, a iÁ/iolabilidade referida a tudo rue não entre
no exercício das suas funções, isto e, aqueles atos rue pod riam ser praticados mes
Imo por aqueles que nao fossem deputados ou senadores (33): discurso fore do parla-
mento, publicações na imprensa, participação em mani^Çotacão públicas, etc. **te
ponto o, contudo, muito controvertido (.34).
pererp, de ídnle processual: refer n-»se, nao a capacidade penal, r, sim, à capacidade
processual.
Sob o ponto de vista do Direito ft ia!, há entretanto,, uma repercussão
importante: se a Camara respectiva negar a licança, a ~ue se refere o art. 45, §
l9, da Constituição Federal, diz a doutrina constitucional, interrompe-se o cur
so da prescrição (35), em face do princípio - contra non yglrnten non c.urrit
z
menção, tal qualidade ou posição pode ser inferida dos proprios t' rmos da lei;. Os
crimes dessa naturaza sao os chamados crimes próprios e os chamados crimes de atua
çao pessoal.
Ha crime proprio quando a lei t ualifica o sujeito ativo por um elemePto jur
dico ou um elemento de fato. Assim e.g., na entrega de filho menor a pessoa ini—
donea (art. 245 do C. Penal), em que.; sujei tos ativos sao cs pais do menor: trata-
se de crime próprio. Os crimes próprios distingunm-se dos crimes de atuação pessoal
porque, nos primeiros, o sujeito ativo (próprio) pode valer-se do outras pessoas
para a execução, ao passo que, nos segundos, os crime so pode ser cometido pelo
"autor em pessoa" (Asua).. É crime de atuacao pessoal, c-.g., o f.also testemunho
(art. 342 do C. Fenal).
Nesses casos, não é excessivo falar-se em uma capa irinde .specifics "para
sg ao mesmo bom jurídico, exclui-se o concurso ruando o ^ato punível praticado an
tes ou depois de outro, nao aumentar o dano cau* ado.
20) - Vede STEVENSON, Concurso Aparente de Normas, in Estudos de Dirrito e Processo
Penal em Homenagem a NELSON HUNGRIA
21) - Nao se trata, aqui, do conceito de norma primaria, em sentido KELSENIANO e,
sim, de um vínculo de subordinação.
22) - Pb. cit. v. 1. p. 365
23) - HUNGRIA, ob. cit., v. 1, t. 1 , p. 151
24) - Cfr. HUNGRIA, ob. cit. v. 1 t. 1 ps. 152 segs.
25) - HILDEBR AtIDO AG IDLY, Direito Internacic al Publico
26) - Quanto às contravenções, nao há extensão extraterritorial (Exp dc Motivos da
nada infração\,
27) — in Curso de Direito Penal
30/ - in Diritto Constituzionale
31) - Sobre a suspensão das imunidades parlamentares, vede o art. 13 cj .. .F..
também, as disposições do Ato Institutional de 9/4/61, atinente a rootriçoe^
Notas
1) HESSEN, Tratado de Filosofia , vol.I-
2) DIRITTO PENALE ITALIANO, I.p.6.
3) Cfr. ROBERTO LYRA FILHO, Esboço dum Sistema de Interferencia Inter-
disciplinares e Livramento Condicional e Interferências Inter disci
plinares, UnB.
!}) 3 a cegueira epistemológica , a que nos referíamos no cap.
A) Diritto Penale Italiano, I,p.4.
$) Política , no sentido de política c riminal ou consideração
Direito Penal sob o aspecto de luta eficaz contra o deiito (.iBZGoR).
$) HELENO FRAGOSO, Lições de Direito Penal, I,p.67.
t VANNINI, 1Manuale
I 7) 1 1 di Diritto■ Processuais Penale,
8) CALAMANDREI, Istituzioni di Diritto Processuale Civile.
.{0) Manuale di Diritto Processuale Civile.
4 4) C OU TUR E, Fundamentos del Derecho Proccsol- Civil.
li) B d LING, Derecho Procesal Penal
GRISPIGJI, Diritto Penale Italiano.
h) EDUARDO CARLOS, Introducción al Estudio dei_Derecho Procesal
Desenvolvimento da Criminologia
(3). Esta procura, nao sórpente apontar as diferentes formes de associaçao d: elemen
tos ou fatores em estruturas (tipos caracterologicos), mas ocu' a-se, t .mbrm, da
p ojeçao dessas estruturas na conduta Como nota LE PENNE, reste saber como o homem
c) ? 14 w z . íz
son caractcre - o que da ensenjo a obsrvaçao rio matizamento nas diferen
ças individuais..
Ps tipos crimnológicos distinguem—se, entretanto, dos tipos jurídicos—pe
lísticasf, expressão de vida e, nao, como para b Direito Penal, "relações normati
vas com a ordem jurídica" (4) ., 0 que a compreensão criminologies total procura ó
o entrosamento (síntese criminologies), visando aos fatôre i dividuais e sociais
concebia?
Se procurarmos a lista dos seus precursores, podemos remontar a sugesteus,
intuiçoes, observaço s que vao muito loge.. A sua, por exemplo, sugere a vinculação
* A e
da "tendência para o mal" aquela imagem platônica da alma puxada por dois cavalos:
o negro — dos maus instintos, o branco, da bondade
A
contos djz_ elegante passatempo^ dissertar sobre u'a Mitologia Criminal
Bem mais próximos de uma formulação, com pretensões científicos, embora
ainda colorida, por muito larga dose de fantasia ou do empirismo, no sentido que
contrapõe essa posição ao ordenado e sistemático snb. r científico (?), estariam
fisiognononj-stas e frenologistas.
Atribue-se a ARISTÔT LES a inauguraçao das indagaçõr fisiogncmônicas
•tema de correlações entre o físico e o psi'uico, entre a aparência e a alma. Haye—
Haveria três sistemas antiquíssimos para a determinações dessas relações: a) o
platônico, pelas semelhanças entre hom ns e animais; b) o de TRDGO, fundado em
costumes relacionados, sobretudo, com o clima; c) o da marca das paixões na"par—
te mais nobre do corpo" - o rostc (s). 0 próprio ARISTÓTELES, adepto do último
JE6KYLL, que, separando o lado sombrio, encarnava o seu lado mal na figura de Mr.
HYDE, que era êle próprio, mas transfigurado, mediante a ingestão de misteriosa
substancia.
A Frenologia, de GALL, defendeu a idéia das localizações cerebrais, com
protuberâncias e depressões nas ruais se ir/dentif icaria o desenvolvimento de cer
tas faculdades. •
Essas noçoes, evidrntemente superadas, cm seu aspecto primitivo e tosco,
ainda aparecem, como objeto de consideração, já agora propriamente científica, nos
domínios da Psicologia e Biologia modernas..
Submeteu-se a testes estatísticos aí correlaçcxCê entre a anatomia facial e
personalidade do indivíduo. jWXÁy MAR RUIS e .VOnv.VDRTH, porém, que,, se a estrutura
física fi. - forma do queixo, tamanho do nariz, recorte do lábios -*yo comportamento
do indivíduo sao componentes de um só todo, "r«/a correlações são demasiadamente
baixas, para que possam ter alguma explicação prática" (9).
A Frenologia teve grande voga, embora não subsistisse, em teor originário,
tal como foi sugerida, no início do século passado.. Em 1361, BROCA levou a Socieda
de de Antropologia o cérebro do pere Tan (chamavam-no Pai Tan, porque êle so dizia
— tan, tan) e, neste afasico, foi revelada uma lesão na circunvoluçao fron
tal esquerda, onde BROCA localizou o centro da linguagem articulada. Mais tarde,
localizaram-se areas celebrais em correlacao com sensações c comando motor—zonas
sensitivas e motoras.. Nestas, uma eventual lesão detr minaria paralisias e apraxias
(a perda, som pftralizaçao, da lembrança de sentido dos gestos). As lesões nas sen44
vas acarretariam insensibilidade, como por exemplo, uma lesao dc zona visual no glo
bo ocipital provocando a cegueira (10).
As localizações cerebrais trriam, contudo, âmbito limitado, restrito a
funções sensitivo-motÇrtrizes jtlementares. Em cue pesem as correlações citadas, alias,
as localizações cerebrais, enquanto tecrias de funções específicas, lo aliadas ?.m
regiões determinadas, é aceita com crescentes reservas, predomin ndo, hoje, tese de
sua indagaçao culminou com o encontro una base do craneo do -..;didc milanês, ^a
fesseta media no osso occipital. Tal característica/ dc ser: c inferiores, o uc
existe nos embriors - unida/ a outras, próprias dr. r-ças primitivas - inspirou a
LPM3RPSP a tese da origem biopsíquica do criminoso (14); o criminoso reproduziría,
. rj
anacronicamente, o homem primitivo, projetando-o cm plena civilização
£ conveniente notar, porem,/muis tarde, Lr" RdfP rcelabarcu a sua Teoria,
dando—lhe estrutura mais complexa, embora ainda presa a noçao de um corte na evolu-
ção físico-psíquica^(regressão atávica) , mas ja agora , ligando-a a e a
outros aspectos apjoryLjios/Havería uma afinidade : ntre e
rença de grau, na regressão) e o crime era concebido,
~ z_.
da epilepsia, em sentido amplo-? no geral convulsões atuariafib's,e
das por impulso ao crime.
Daí a síntese de NMKE (15): o delin-Vionte nato ' congênito, idêntico ao
louco moral (16), com base epilética, explicável, principals-nt-; por ntavismo e
um tipo biologico e zi^ComicB especial. C acréscimo dr um ingrcriiantc - epilepsia,
proveio do estudo dor- crime, do sargento ZíTíDEA.
A propria descrição do criminoso neto ja -ta a tr.*
âmbito da observação, nos traço; de analgesia, aparência física, tatuagens, aversoz
ao trabalho, despertar precoce da sexualidade, vaidade ;..perstição, primitivismo,
para não falar noutros estigmas lombrosianos (17).. Assim, a primeira objeção a es
sas características físio-psíquicas do criminoso foi a própria verificação experi
mental de que a tal tipo não correspondia/, objetiva (parte somaticaye subjetivamen
grande margens de matizamentos.. Falou-se, mais tarde, numa volta a LOME3ROSO (kfc/7
RPf^DEN, HEINDL,, MEZ&ER),. mas ninguém reeditou, na verdade a posição lombrosiano. A
A- 'JJI .
propalda "volta" çigoiju—rxf a admissao, comçô maior ou menor de
criminoso nato. Este, porém, já não seria representado por
linqüentes e, assim, qqe nasceram para o delito, por força de determinações endoge
nas. Daí falar MEZÍER em criminoso natc em sentido amplo.
Note-sey-'oe qualquer forma,, já nao se
dclinqticnte
e, sim, un tipo, entre outros delint Cientes (e, nao, decertto, o mais comum) , levan—
do adiante, a cisão entre natos, ocasionais etc o
Sob □ ponto de vista jurídico, aliás, o nosso ordenamento penal\<rcpetiu
a destinçao entre criminosos psw accide/y^ í criminoso por
jpndencia (Exposição de
motivos do C. Penal, n9 24). Repugna/-lhe a afirmação de uma
fatalística para o crime, que, de resto, se admit é^/a f eteri Q
a imputabilidade
* ~
Note—se, porem,, por uma questão de vocabulário, P o
9
"crime", a linguagem da criminologia, e até
(preventivo) , abrang ev, jtambém, o caso limitado da carroncia de imputabilidade e,
psicológica, de JUNG (25) são ... outros tantos Jéinsaios de sistematizar observações
de'rminados, mas, inclusive, outros dado. , inclusive amti nt.iis. Padecem de uni-
lateralidade as concepções puramente psicSÓ.í ticas do criminalidade,
uma anomalia psíquica ã base de toda opção delituosa, mc mo quando admitem C
influxo poligenético, de outros fatores, reduzindo-os a considerações remotas.
Nao se negará, a importância^do ponto de vista psicanalítico, na exploracao dc
delinqüentejí se poderia aplicar essa constatação limitada? D alcance nao e tao vas-
tc quanto se pretende; e so pode ser percebido em conjunção com o quadro geral. Ha,
tiplos. Na frase de MEZÊER, "d_a_s Gongo von ^at und Tatcr" fo todo do ato o do autor)
Alias
■A PEL^Ü, sempre muito informado filosoficamente (29), refere a abordagem com-
Al
z.
preensiva abrangedora (dinâmica deliqbencial) a maturidade das concepções filosófi-
cas, a partir do estar no mundo" (in der A'el t .Gcin), de HEIDEGGER.
Fala-se em Briminolcgia Blínica, no sentido dc aplicação criminologia
/. z ~ *y> '
de um esprrit medicai, através das operaçoes fundamentais dc anamaese, exame obje-
ti vo, diagnose e prognose (30). Trata-se rio estudo integral ria per onalidade, cm
relaçao ao qual cabe, sempre, ter m vista a advertência de
carrier dc croire qu1on frónégligcr un detail ct sc g'T ’or de pencor ru’un detail
explique un délit”
tar um palavra sobre o que constitui, hoje, uma das preocupacõe;: da Criminologia.
Ao lado da pessoa do delinqbente, cstuda-sc com igual interesse, a pr.s- oa ri; vítima
(Vitimologia).. Pretende 8. MENDELSONN ter sido inovador, na proposta de cue ?? di
rigissem os estudos criminologicos tombem par - a função d.; vítima no fenôm-.no cri
minai. Nao se pode, entretanto, considerar a j/itimologia como "ciência" autônoma.
Neste sentido, tem razao 1SÍJA ao notar que isso * exagerado e jactancioso. 0 estu
do dE"recoptividade vitimai", da tendência de certos^ individues para se tornarem
vitimas (32), integra (e, hoje, com nnfasc notável) a analise criminológica do
delito.
Como e freqOente, rm tais casos, a pretensa "ciência", já se defronto com
□ processo de investigação de paternidade. VON HENTIG (.33) disputa com 'iEV.'ELNHON
a primazia nesfa sistematiznção dos estudos referente- ao sujeito passivo de cri
me. De qualquer sorte, trata-se, tão só, de levar, mais profund mente, o foco da
analise criminologies ao aspecto que integrará verificações glo ais: a posição c a
constituição da vítima. Aliás, já o velho de la L-PAfSE (IE, cm 1901, tratava, nos
°)
3) Sebre o tema vede Le Senne, Traité d Caracterologie entre ouiros estudos
) Ob. cit., p. 77
6) Tratado de Derecho Penal, v. 1
O
) - Como acorre, por exemplo, em certas "crenças" populares", no âmbito medico
v. 1 „ t., 1
19) Preferíamos dizer propiciador, por aquele mesmo sentido compreensivo e, nao,
natural!eticamente causai, sem mais, de
Criminologia mesmo
23) já, também, no trab Iho citado de analise criminolcgica, referíamos raízes
concepção de uma ciência — a Sociologia Criminal — que colocaria a enfase nos as
pectos sociais do fenômeno criminoso.
cos e sociais da delinqbencia" (vede ASÚA, Tratado de Derecho Penal).. Mais tarder
COLAJANNI referiu-se, também, a uma Sociologia Criminal, expressão que, em 1891,
passou a ser o título (3® edição) da obra de FERRI, anteriormente publicada como
Nuovi Orizzonti dei Dirittp e Della Procedure Penale» AÍ, FERRI esboça uma estrutu
tica Criminal, bem como no Direito Penal e nos estudos relativos à reclusão, vai
tornar-se esta ciência sintática, a que eu próprio dei o nome de Sociologia Crimi
FERRI.
Aliás, FERRI chegou a ironizar, dizendo que "seria possível descobrir um
criminoso nato que seria... homem honesto, aos olhos do código Penal", tudo depen
com o horizonte limitado por suas tabelas". SEELIG (ob. cit.), referindo-se a lei
dos grandes números, destaca os "desvios", inerentes aos casos individuais, que
podem desmentir a própria visão abrangedora, generalizada e típicada.
ob, cit. ). Em que pese o ingênuo romantismo da proposição, nao se reputou despre
zível a sua influência.
exemplo, a de MEZGNER, assim expressar Krt= aeP X ptU» As iniciais sao germânicas
e poderiam ser traduzidas desta maneira:: AC = (p +• d) P X (ap f aa) M. AC é a açao
criminosa; p, a predisposição pessoal; d, o desenvolvimento da personalidade; P, a
personalidade (estrutura global) do autor, no momento do crime; ap, o ambiente da
personalidade} aa, o ambiente da açao; M, o meio (ambiente circundante), (vêde
PELÁEZ, ob. cit.).
Nota—se que, com maior sutileza e mais requintado senso dos matizamentos,
as indagações visam ao entrosamento dos fatores, a medida que se encaminham para
a síntese criminologies..
ASÚA (ob. cit.) registra, nas antecipações de QUEIECET, aquela ênfase, já
apontada por nós, dos fatores sociais, ctevida a um "sociologismo" inicial (vêde <Js
mAKMk <ánteriores), sobretudo na afirmaçao de que d'sociedade prepara o delito;
o delinquents é apenas o seu poder executivo.
sos estatísticos. Essa relação culmina, por exemplo, em VON LISZT, que, atribui
a Estatística a condição de "método seguro" da Sociologia Criminal (Tratado de
Direito Penal).
Nao reinou, porém, a Estatística, sem algumas objeções que a reduziram
a técnica auxiliar, destronando-a das antigas pretensões exclusivistas. ROBERTO
LyRA sintetiza o ataque (in ob. cit.), lembrando, com EUCLIDES DA CUNHA,, que a
Estatística "serva infiel da Sociologia", com o seu teor quantitativo, que abran
ge os elementos rebeldes à quantificaçao (sobre o assunto vede SOROKIN, TENDENCES
et DÉBOIRES de la Sociologie Americaibe) e ponderando que as estatísticas "não re
criminologistas seguem esta via, nos seus estudos, de pouco valerá afirmar a exi
gência de tratar dos problemas da delinqOencia individual, se, depois, nao mais
serão integradas, crimÈnolõgicamente. E, se esruece que o indivíduo se atualiza,
projetando-se rumo aos outros, que todo ato seu é relaçao inter-individual e que
a sua vida é um tecido de relações, não se poderão jamais ter, em justa conta, os
aspectos autênticamente sociológicos da delinqüência, quando se procurar concluir,
criAinologicamente. (...) 0 exame individual clínico deve ser conduzido, em função
do ambiente externo, além das disposições pessoais, e os métodos (rectius, p oces—
sos; sobre a distinção, vede sociologicos devem ser iluminado?'. , pre—
viamente, pelo homem singular. É êsse o único meio, para chegar a conhecer as de
pendências dinâmicas, que interferem Bntre o indíviduo e o grupo social" (PELÁEZ,
ob. cit.).
Por isso, FLESCH divide a criminodinâmica em; geral, especial, individual
geral e individual particular.
Feitas essas ressalvas, concentraremos a itençao nos estudos sociológico-
mostrando que "a legislação criminal, melhor do que qualquer outra parte do Direito,
exprime as idéias morais, as necessidades e os costumes de um povo",êle faz, indis
cutivelmente, Sociologia do Direito Criminal►
Outra coisa é a Sociologia Criminal. Esta volta-se para a anális? da Cri
por exemplo, haveria larga margem para o e tudo das resitencias da ordem privada e
suas coordenadas sociológicas, voltada para a dispersidades regionais, face a um
Enfoque" da Sociologia
do Direito Criminal
t
Instituições Penais
Criminal
T
Criminalidade
bordinado a uma esquematizaçao dos elementos a serem observados, em cada caso deter
minado. Sem um hipótese reitora de trabalho e sem uma fixaçao de campos específicos,
o empreendimento era possível. Mas, por outro lado, a repartição dos observadores
criaria, sem um enquadramento metodológico fundamental e uma convergência teológica,
go Penal, n° 51) ou, noutro exemplo, a verificação das desarmonias regionais (sub
que apresenta melhores condiçoes de trabalho)* mas isso, com agravaçao das dificul
dades da outra", observa HUNGRIA, Comentários ao código Penal). Não se proibe o ê-
xodo, em si,, "seja expontâneo ou provocado" (ib); mas a lei reprime a atividade dos
< <-a f
namente vigorosa (dada a força intimidativa e repressiva da saaçao penal). Nestas 'KX
sobre Sociologia Criminal, já acentuamos, aliás, as ano^malias funcionais da ur
banização (desde a cidade primitiva, de vínculo agrário, até o centro urbano, de
cit.), a que nos reportamos, quanto ao êrro da concepção causai como "força efi
de ser das pessoas, que reagem criminalmente^.a essas condiçoes do meio e '‘deter
minada" no seu desenvolvimento, essencialmente, pelas disposições congênitas” (ob.
cit.). Esta sínt se de SfefeLIG será retomada por nós, no estudo da dinamica do de
lito, inclusive para entendê-la, no duplo ângulo, individual e social, com a indis
pensável conciência das limitaçõe' de determinismos e causalidades, em Criminologia.
Nessa síntese, aparecerao a^ verificações sociológico-criminais, oriundas
da observação coletiva, assim esquematizadas por SEELIG: a) ha algumas pessoas que,
em virtude de suas disposições hereditárias, praticam crimes, em condiçoes médias
do meio (especialmente criminosos profissionais refratários ao trabalho^, agressivos
por disposição, criminosos sexuais crônicos) b) há muitas pessoas que, em virtude
de suas disposições -fàereditárias, cometem crimes por influência da pressão refor—
çada do meio (os chamados criminosos da legião/reserva); c) ha muito poucas pessoas
que, em virtude de influência do meio, cometem crimes dom condições médias de am-
, z .
biente; dj ha pessoas que, em virtude das suas disposições hereditárias, nao se
tornam criminosas, ainda que sob a pressão refoçada do meio" (ob. cit.). As propor-
çoes encontradas por SEELIG sao respectivamente, 1 a 2%, para o primeiro caso; 30
a 40% para o segundo; 0,1% para o terceiro; acima de 5C% para o quarto.
Essa verificação macrocriminológica está sujeita, é claro, â conjugarão
com os elementos microcriminológicos; e, por outro tado há de ser entendida na
concepção restritiva das causas da criminalidade, jogandc com os conceitos de evo
luçao, encadeamento, âmbito vital concreto e, sobretudo "a ^utonomia e a capacidade
criadora de toda personalidade humana" (SEELIG, ob. cit.).
síntese Criminológica
Notas
1) Criminologia.
2) Comunicação ao Congresso Internacional de Criminologia (1950).
3) ABRAHAMSEN, Crime and Human Mind.
4) LE SENNE , Traité de Caractérologie.
5) Trata-se do esquema de FLESCH, aqui rel'undido.
6) EXNER, Kriminalbiologie.
7) SEELIG , Manual de Criminologia, o. 7 6.
8) ROBERTO LYRA FILHO, Análise , cit.
9) SEELIG, ob. cit., P. 9.
10(}S£ELIG, ob. cit., P- 10.
ll)Art. 76 , § único, do C.P.
12)SEELIG, ob. cit., P- 11.
14) 0b.cit.,p.l3.
'-Relatório, in
15) R0BERT0 LYRA FILHO//Anais ga~~Semana Comemorativa do Duodecenio
do código Penal (1954).
16) Ib.
17) SEELIG, ob. cit., p.76.
18) Cahiers de Synthèse de 1 * Encyclopedic Française, V111, p. 3.
19) Ob. cit., p. 79/80.
I
20) VEIGA DE CARAVALHO, in Anais cit.
1)Relatório , cit.
22) SEELIG, ob. cit.,p.79.
23) Ib.
24) Criminologia.
25) SEELIG, ob. cit.,p.79 e 260 ss.
26) LE SENNE, Traité cit.
27) La Science et la Prevention du Crime , Impact, vol.5.
28) Caractórologie du Criminel.
29) Traité Pratique de 1*Analyse du Caractère.
30(>RESTEN, ob.cit., p. 59.
31) Cáractères et Visages.
32) RESTEN, ob.cit.,p.11.
33) RESTEN, ob. cit.,p.80.
34) RESTEN, ob. cit.,p.140.
35) Ib.
36) Ib.
37) Ib.
■1 ■ /
38) RESTEN,p.154/165 Job»4 cit).
I
39) SEELIG, ob.cit., p. 80.
40) Criminologia.
41) NICEF0R0, ob. cit.
42) Relatório cit.
43) SEELIG, ob. cit. , p. 232.
44) RECASáNS , Tratado de Sociologia.
45) PELAES , Introduziõne cit., p . 98 ess.
46) LYRA, Comentários ao gódigo Penal, II
47) HUNGRIA, Comentários ao Codigo Penal, III
48) CALON, Derecho Penal, cit. ,1.
49) PELAEZ, ob.cit., p. 197.
*a
a
ral
La these revolt et precise toute la structure de
la Science du Droit , et general , et de la Science du Droit Pe
nal - sous le point de vue de 1*épistémologie actuelle (chap. I)
et face au développement des institutions (chap. II) et des
idees penales (chap. III). L’auteur considere , ensuite , les
écoles pénales subsistentes , et suggère les principes nécessaires
pour surmonter la polemique qu’elles entretiennent , tout en
gardant les contribution plus fécondes de chacune de ces eco