Apostila 3 Ano Arte Mídia e Comunicação
Apostila 3 Ano Arte Mídia e Comunicação
Apostila 3 Ano Arte Mídia e Comunicação
comunicação
Material de Estudos
3º Ano
Professora:
Amanda Bastos
ARTE, MÍDIA E COMUNICAÇÃO: FALANDO DE FANZINES
Que grupos sociais têm acesso à produção e difusão de conteúdos nos meios de
comunicação (e em quais deles)?
Como democratizar os meios de comunicação?
Qual é a relação entre comunicação e cidadania?
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Mídia e Estado
Você certamente recebe todos os dias informações que se referem a lugares distantes
daquele em que está. Essas informações são elaboradas e repassadas de diversas maneiras,
por meio da utilização de ferramentas e dispositivos, que envolvem complexas cadeias de
trabalho e relações sociais, econômicas, políticas e culturais.
A tirinha da personagem Mafalda, do cartunista argentino Quino (1932-), aponta que a representação e os discursos sobre a
realidade nem sempre correspondem a como ela é de fato. Dependendo do contexto, a mídia pode ser uma ferramenta para
que se defenda discursos ou interesses de alguns grupos. É papel do Estado, em uma democracia, regulamentar a mídia de
maneira a garantir que ela não se torne um poder paralelo operado por poucos grupos. QUINO. Toda Mafalda. São Paulo:
Martins Fontes, 2010.
Como as informações chegam até você? Os meios de comunicação mostrados nas imagens são
todos igualmente presentes em seu cotidiano? Você tem preferência por algum deles para se informar?
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Mídia, conhecimento do mundo e
verdade
A ilustração ao lado, de
George Newnes, feita em
1935, mostra a cena descrita
por Platão na chamada
Alegoria da caverna. A
alegoria é uma das formas
que o filósofo encontrou
para expor suas ideias em
relação ao papel da filosofia
na mediação entre a
experiência individual de
mundo e a verdade.
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Novas formas de comunicação
Atualmente, a maior parte das informações nos chega por meio da mídia. O
desenvolvimento acelerado de tecnologias de comunicação em massa transformou
tempo e espaço, assim como nossa experiência de mundo, de diversas formas.
Quais são os limites da verdade, da imaginação, da ficção e até mesmo da ética em
um contexto em que muitas das informações que interferem em nossas vivências
cotidianas nos chegam mediadas, ou seja, pelos meios de comunicação?
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As inovações tecnológicas que
permitiram a reprodução fácil e A noção de Benjamin de reprodutibilidade tecnológica implica a de reprodução em
massiva de arte, texto, “massa”. No trabalho de Benjamin, a “reprodução” da arte denota menos uma
imagens e objetos no início do “pluralidade”, uma mera coleção de ocorrências individuais, do que uma “massa”. A
século XX (processo que se reprodução em massa diz respeito ao surgimento e à transformação das próprias
acirrou na segunda metade do massas: “A reprodução em massa é particularmente favorecida pela reprodução das
século XX com o
massas”. Uma característica-chave da tecnologia do cinema é sua afinidade crucial
desenvolvimento da eletrônica
e se amplifica agora no início com a lógica da formação das massas. Benjamin ilustra isso: “Em grandes procissões
do século XXI com o cerimoniais, convenções gigantescas e eventos esportivos de massa e na guerra, que
desenvolvimento de alimentam as câmeras, as massas se deparam frente a frente consigo mesmas. Esse
impressoras 3D e outras processo, cuja importância é evidente, está intimamente ligado ao desenvolvimento
ferramentas e máquinas de das tecnologias de reprodução e de gravação”. (Benjamin, W. Selected Writings. vol.
uso doméstico e industrial)
transformaram a maneira de
3. ed. Howard Eiland e Michael W. Jennings. Cambridge, MA: Harvard University
circular informações, ideias e Press, 2002, p. 122.)
até mesmo o gosto das
pessoas. As noções de Os meios de comunicação não afetam apenas a visibilidade do poder em virtude da
“cultura de massa”, “sociedade apresentação do governante no parlamento, eles também desempenham um papel
de massa” e “meios de decisivo na formação das massas. Isso é alcançado apresentando a elas sua própria
comunicação de massa” estão
ligadas a essa nova era, imagem, por meio da “realização do desejo das massas contemporâneas de aproximar
chamada por alguns de “era da coisas espacial e humanamente” e “superar a singularidade de cada coisa”. A
reprodutibilidade técnica ou tecnologia de representação visual da “massa”, capaz de cenas de multidões e closes
tecnológica”. O fanzine individuais, percebe a “reação simultânea da massa” pela primeira vez. É essa dupla
aparece como uma forma de qualidade da mídia que permite que o filme possibilite que as massas experienciem a
mídia que, na mesma medida
si mesmas e apreciem esteticamente seus próprios movimentos de massa. Enquanto
em que depende dessa
característica – a descreve os “movimentos de massa”, Benjamin se refere não apenas à ascensão do
reprodutibilidade técnica – fascismo, mas também aos movimentos socialistas e comunistas do início do século
para existir, também se XX, todos intimamente associados à transformação da visibilidade das massas
apresenta como resistência a modernas.
uma massificação, sobretudo
ao ser adotado por coletivos e KANG, Jaeho. A mídia e a crise da democracia: repensando a política estética. Novos estudos Cebrap, São
grupos ligados à cena punk na Paulo, n. 93, jul. 2012 . Disponível em:<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-
década de 1980 como meio de 33002012000200006&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 24 nov. 2019.
publicação independente
e contracultura editorial.
A tirinha de André Dahmer (1974-), publicada no jornal Folha de S. Paulo em 2014, apresenta uma crítica à relação das massas
com sua própria imagem e a noção de sociedade do espetáculo, processo discutido no texto anterior.
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Informação e desinformação
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Atualmente, consumimos informação em um ritmo cada vez mais acelerado,
mas as notícias envelhecem em curto período. Toma-se como verdade aquilo que se
vê e se ouve, sem checar a veracidade da informação, levando uma notícia falsa a
se espalhar rapidamente pelas redes sociais, atingindo milhões de pessoas, tomando
forma de verdade incontestável. Esse fenômeno é chamado de fake news.
Fake News
Muitas vezes, uma notícia falsa se propaga pelas redes, tomando grandes proporções e se
cristalizando como verdade. A desconstrução dessa falácia nem sempre é fácil. Hoje, no entanto, existem
sites que verificam a veracidade das informações e apontam fake news (notícias falsas), o que garante
maior confiabilidade ao que é postado nas mídias sociais.
Uma das características das fake news é a manipulação intencional. Por isso, na maior parte das
vezes, o disparador da notícia falsa se vale da utilização de montagens em vídeos e imagens, com o intuito
de deixar a notícia com uma “aparência verdadeira” e prejudicar determinada pessoa ou grupo. O maior
perigo das fake news é transformar mentiras em verdades com notícias que intencionalmente apelam para
o emocional do leitor/espectador.
Outro tipo de fake news diz respeito a notícias notadamente falsas, “embasadas” em
conhecimentos pretensamente científicos. Essas fake news se caracterizam por difundirem informações
sem comprovação científica e que muitas vezes podem implicar sérias consequências para a saúde.
Um exemplo são as notícias que anunciam a descoberta de que algumas vacinas, que previnem
doenças, poderiam causar outras doenças graves. Reconhecidas, em muitos casos, como informações
sem comprovação científica, essas notícias podem influenciar no retorno de doenças dadas como
erradicadas em diversas regiões do planeta. Que tipo de atitude seria a mais correta ao nos depararmos
com informações não confirmadas? Por quê?
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O pop não poupa ninguém
Você já deve ter ouvido falar da Pop Art, mas você sabe o que significa?
Não é a arte feita pelo povo, mas produzida para o consumo de massa, como a pop music! Esta
Arte nasceu na Inglaterra no início dos anos 50, em pleno desenvolvimento da cultura industrial.
Pop Art é uma abreviação do termo em inglês popular art, cuja tradução literal seria Arte Popular.
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O papa da pop art
Andy Warhol é considerado o “papa da pop art”. Sua arte é inspirada nos símbolos de
consumo das massas urbanas: lâmpadas elétricas, enlatados, automóveis, sinais de trânsito e, até
mesmo, as imagens de celebridades que, também, são consumidas em massa, por meio do cinema,
da tv e das revistas. Veja, como exemplo, o trabalho feito a partir de uma fotografia de Elvis
Presley, um dos maiores ídolos do rock americano.
O artista
O retrato foi um dos temas mais explorados por Andy Wahrol, principalmente de
personalidades famosas do cinema e da política, a partir de imagens fotográficas bem conhecidas
usadas na publicidade, utilizando a técnica da serigrafia, valorizando detalhes e acrescentando cor.
ANDY WARHOL. Elvis I e II, 1964. Painel em serigrafia sobre acrílico sobre tela, 208,3 x 208,3 cm. Art Galery of
Ontário, Toronto, Canadá.
A serigrafia é uma técnica com a qual se pode fazer várias reproduções sobre papel ou
tecido. Utiliza-se uma armação com tela fina, de seda ou tecido sintético. A imagem que se quer
reproduzir é transferida para a tela por meio de um processo que veda os espaços que devem ficar
em branco, deixando passar a tinta onde está a figura ou texto que deve ser reproduzido. A tela é
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colocada sobre o papel ou tecido que se deseja estampar e a tinta apropriada é aplicada sobre a tela
e espalhada com uma espátula. Atualmente existem máquinas que facilitam esse processo.
Lichtenstein empregou
em suas obras uma técnica
parecida com o pontilhismo
para simular os pontos
reticulados das revistas. Cores
primárias, chapadas e
contornadas por um traço negro
contribuíam para reproduzir os
efeitos das técnicas industriais.
Com essas obras, o artista
pretendia oferecer uma reflexão
sobre as linguagens e as formas
artísticas. Seus quadros,
desvinculados do contexto de
uma história, são simplesmente
imagens representativas do
mundo moderno.
ROY FOX LICHTENSTEIN. No carro, 1963. Magna sobre tela a 172 x 203,5
cm. Scottish National Gallery of Modern Art Edimburgo.
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Para quem é essa Arte dos Quadrinhos?
Os quadrinhos são uma forma de contar fatos e histórias por meio de imagens, utilizando, ao
mesmo tempo, desenhos e palavras escritas. A história que se quer contar é dividida e explicada
por meio de quadros com desenhos e textos curtos, que se distribuem na página um depois do
outro, dando sequência à história.
Takka Takka demonstra um conhecimento profundo de Lichtenstein sobre o papel que as imagens
provocam. Nesse quadro, o artista transmite uma impressão inesquecível da guerra: a ameaçadora
boca da metralhadora em preto e branco por cima das folhas verdes da selva, e sublinhada pela
onomatopeia Takka Takka, em vermelho sangue, criando espaço para uma invasão do real no
mundo da ficção. (HONNEF, 2004)
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Observe que a imagem possui um
balão com um texto escrito em
inglês. Evidentemente é necessário
um conhecimento da língua
estrangeira para melhor
compreensão do texto. Além disso,
observe que o artista usa letras
maiúsculas sobre um fundo amarelo
para chamar a atenção dos
observadores. Leia o texto
buscando compreender seu sentido.
Comente com seus colegas sobre a
mensagem do texto.
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Nem tudo é o que parece ser!
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Conhecendo a história dos fanzines
Os fanzines foram primeiro conhecidos como tais nos Estados Unidos,
embora a época da sua criação seja incerta e controversa. O termo “fanzine”,
porém, só passou a ser usado de fato para designar as revistas amadoras e
artesanais na década de 1940. A palavra remete justamente à ideia de fã (fan,
em inglês) e de revista (magazine, em inglês), indicando assim uma revista
temática feita por e para fãs de um gênero literário, assunto, banda etc.
As mulheres tiveram
Esse tipo de revista, que tem periodicidade livre, geralmente traz assuntos
um papel fundamental
na história desse de grande interesse das pessoas que o produzem e das que acompanham as
gênero literário, tanto publicações. Elas têm em comum algum gosto específico, como por uma
no exterior quanto no obra, gênero ou tipo de arte, forma de expressão cultural, atividade etc. A
Brasil. A Rainha do
Ignoto é um romance relação dos fanzines, por exemplo, com os fãs de ficção científica é muito
considerado a primeira estreita em sua origem. O tema da ficção científica acompanhou os primórdios
obra longa de ficção da produção dos fanzines nas décadas de 1920 e 1930 nos Estados Unidos,
científica e fantasia da
literatura brasileira,
período em que esse gênero literário começou a conquistar as massas não
escrita por Emília apenas na forma de textos escritos, como também fazendo imenso sucesso
Freitas em 1899. em produções cinematográficas. Textos clássicos de ficção científica
Outros nomes de estadunidense foram transpostos para o cinema, caso de A guerra dos
mulheres são hoje
bastante populares mundos, de H. G. Wells, sobre a invasão da Terra por marcianos; de Vinte mil
entre os leitores de léguas submarinas, de Júlio Verne, em que o autor concebe um submarino,
ficção científica, como décadas antes de esse tipo de navio de guerra totalmente vedado e capaz de
Ursula Le Guin e
Octavia Butler.
submergir no fundo do mar ter sido criado; e daquele que é considerado o
romance fundador do gênero literário em questão, Frankenstein, escrito por
Mary Shelley, que reflete sobre a condição humana a partir do
desenvolvimento de um humanoide artificial e visualmente grotesco.
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A ficção científica também foi tema de Fanzines e histórias em quadrinhos
outras publicações independentes, em
formatos que, embora não sejam
tradicionalmente ligados ao fanzine, As histórias em quadrinhos (HQs) também ganharam
têm semelhanças com ele, como a destaque como tema de fanzines com a difusão da imprensa, a
literatura de cordel. Na imagem, o comunicação de massa e a popularização de jornais e revistas
cordel O homem que subiu em entre o final do século XIX e o início do XX. O fanzine se tornou
aeroplano até a lua (Recife, 1947), de
Leandro Gomes de Barros, editado por um meio extremamente popular de produzir e fazer circular
João M. de Athayde. quadrinhos independentes e de autores novos.
Fanzines se tornaram
uma forma prática e
barata de autores de
histórias em quadrinhos
sem editora – isto é,
independentes –
colocarem seu trabalho
para circular. As imagens
mostram alguns
exemplos de zines feitos
por autores de HQ.
As publicações
mimeografadas eram feitas Fanzine no Brasil
em máquinas conhecidas
como mimeógrafos, que
permitiam fazer cópias em No Brasil, o primeiro periódico considerado formalmente um fanzine
papel utilizando na surgiu em 1965. Nesse ano, foi mimeografado o fanzine produzido pelo
reprodução um tipo de papel desenhista, ilustrador e cartunista Edson Rontani, na cidade de Piracicaba (SP).
chamado estêncil. Antes da O fanzine se chamava Ficção: Boletim do Intercâmbio Ciência-Ficção “Alex
invenção das impressoras e Raymond” e tinha como tema as histórias em quadrinhos.
da popularização da
copiadora automática, o Na década de 1980, com a expansão e popularização das copiadoras
mimeógrafo teve grande automáticas, houve uma rápida disseminação de fanzines no Brasil. Tornou-se
importância, possibilitando a muito comum as pessoas publicarem fanzines dos mais variados tipos e sobre
produção de cópias em larga diversos temas. Esse tipo de mídia contribuiu com a divulgação de criações
escala. A máquina foi artísticas da cena independente, como bandas de música, textos literários,
bastante utilizada na
confecção e reprodução de
publicações alternativas e
independentes. 15
histórias em quadrinhos, ilustrações, e estimulou também o desenvolvimento do
design gráfico.
No Brasil, hoje, os
fanzines ganham
cada vez mais
espaço. Seja em
sua forma mais
tradicional ou em
formatos mais
elaborados, a
variedade é grande.
A imagem mostra
um pouco da
diversidade dessa
produção.
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Criatividade e planejamento
Nada mais interessante para refletir sobre a mídia do que produzir mídia!
O fanzine é um formato bastante popular de mídia independente. De produção
barata e relativamente simples, o fanzine promove a circulação de ideias sem
depender do crivo, do investimento e dos limites dos meios de comunicação de
massa. Você deve escolher o tipo e o tamanho do papel que irá usar para
confeccionar seu fanzine. Se preferir também pode optar por um papel colorido,
embora isso dificulte o uso de fotocopiadoras. Lembre-se de que o tamanho do
seu fanzine é muito importante, pois essa característica definirá a quantidade de
texto e imagens que caberão em suas páginas, assim como suas dimensões.
Você já deve ter os textos e imagens prontos a partir das atividades das etapas
anteriores. Outro aspecto que precisa ser destacado é a definição do título do
fanzine. O fanzine deve ter um título criativo e que atraia o interesse do seu
público leitor.
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A escolha das fontes, como toda escolha estética,
também é parte da mensagem comunicada. Você
pode escolher uma variedade de fontes para seu
fanzine ou, se preferir, trabalhar com uma fonte
única.
A escolha do tamanho do papel está relacionada à dimensão que o fanzine terá. O tipo de
montagem e fixação das páginas, como por meio de dobradura ou furos perpassados por linhas, são
opções que também precisam ser decididas previamente para que a diagramação e os materiais
necessários fiquem de acordo com a sua concepção original.
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Caso você use papel A4, uma opção
é planejar a diagramação de duas páginas
em cada folha de papel dobrada ao meio.
Você também pode dispor mais páginas
menores em uma mesma folha. É necessário
ficar atento para a disposição das páginas na
montagem. Na ilustração a seguir você pode
observar detalhes da técnica de dobradura de
fanzines. Se desejar, você pode utilizar um
papel um pouco maior que o usual para que
as páginas fiquem um pouco mais amplas.
Observe que, dependendo do tamanho da
folha que você utilizar, o tamanho final do
fanzine será diferente, obtendo variados
efeitos.
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É possível ainda organizar a divisão
das páginas de outras maneiras com a
técnica de dobradura, como usando
quatro quadros ou três quadros por
folha. Nesse caso, é possível produzir
um número ilimitado de páginas,
terminando, porém, em página ímpar.
Observe os três modelos a seguir.
Quando fizer o seu fanzine, deixe um e-mail para contato e peça retorno de
seu público leitor! Dessa maneira, você poderá estabelecer um diálogo com
base na temática escolhida.
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