Sumário Versão Final Corrigida
Sumário Versão Final Corrigida
Sumário Versão Final Corrigida
EDITOR RESPONSÁVEL
Jeanne Ferreira de Sousa da Silva
CONSELHO EDITORIAL
Alan Kardec Gomes Pachêco Filho
Ana Lucia Abreu Silva
Ana Lúcia Cunha Duarte
Cynthia Carvalho Martins
Eduardo Aurélio Barros Aguiar
Emanoel Cesar Pires de Assis
Emanoel Gomes de Moura
Fabíola Oliveira Aguiar
Helciane de Fátima Abreu Araújo
Helidacy Maria Muniz Corrêa
Jackson Ronie Sá da Silva
José Roberto Pereira de Sousa
José Sampaio de Mattos Jr
Luiz Carlos Araújo dos Santos
Marcelo Cheche Galves
Marcos Aurélio Saquet
Maria Medianeira de Souza
Maria Claudene Barros
Rosa Elizabeth Acevedo Marin
Wilma Peres Costa
Débora Martins Silva Santos
Itallo Cristian da Silva de Oliveira
Natália Jovita Pereira Couto
Cristiane Everton Santos da Silva
(Organizadores)
São Luís
2022
Revisão
Itallo Cristian da Silva de Oliveira
Débora Martins Silva Santos
Natália Jovita Pereira Couto
Normatização
Itallo Cristian da Silva de Oliveira
CDU: 574.1/.2(812.1)(083.86)
Capítulo 1
BIOMARCADOR MUTAGÊNICO EM Prochilodus lacustris
(PISCES, PROCHILODONTIDAE) NA AVALIAÇÃO DE
IMPACTOS NO LAGO AÇU, ÁREA DE PROTEÇÃO
AMBIENTAL DA BAIXADA MARANHENSE.............................9
Capítulo 2
BIOLOGIA E CONSERVAÇÃO DE JURARÁ (Kinosternon
scorpioides) ESPÉCIE DA FAUNA SILVESTRE AMAZÔNICA,
BAIXADA MARANHENSE, SÍTIO RAMSAR DO BRASIL.......21
Capítulo 3
BIOMARCADORES HISTOLÓGICOS EM Hoplias malabaricus
(CHARACIFORMES,ERYTHRINIDAE) NO MONITORAMENTO
DE DOIS PONTOS DO RIO MEARIM, BAIXADA
MARANHENSE,BRASIL...............................................................33
Capítulo 4
OCORRÊNCIA DE PARASITOS EM Hoplias malabaricus
(CHARACIFORMES: ERYTHRINIDAE) DA ÁREA DE
PROTEÇÃO AMBIENTAL DA BAIXADA MARANHENSE......50
Capítulo 5
ESTIRPES DIARREIOGÊNICAS DE Escherichia coli EM
TRECHODE BAIXO CURSO DO RIO MEARIM, ESTADO DO
MARANHÃO..................................................................................60
Capítulo 6
BIOMARCADORES HISTOLÓGICOS EM Hoplias malabaricus e
Pygocentrus nattereri PARA AVALIAÇÃO DE AMBIENTE
LACUSTRE DA ÁREA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL DA
BAIXADA MARANHENSE ......................................................... 72
Capítulo 7
DIVERSIDADE, DISTRIBUIÇÃO E CONSERVAÇÃO DE AVES
NA BAIXADA MARANHENSE .................................................. 85
BIOMARCADOR MUTAGÊNICO EM Prochilodus lacustris
(PISCES, PROCHILODONTIDAE) NA AVALIAÇÃO DE
IMPACTOS NO LAGO AÇU, ÁREA DE PROTEÇÃO
AMBIENTAL DA BAIXADA MARANHENSE
RESUMO
09
células por animal foi analisado para contagem dos micronúcleos e detecção
de anormalidades nucleares eritrocitárias. Os resultados indicam que os
biomarcadores mutagênicos responderam aos níveis de contaminação do Lago
Açu. Os biomarcadores refletem que existe uma variação significativa na
intensidade e ocorrência dos biomarcadores analisados entre os períodos
sazonais, em que, com o aumento da taxa de pluviosidade no período chuvoso,
o lago se torna mais vulnerável ambientalmente.
INTRODUÇÃO
O nível de compostos xenobióticos nos ecossistemas aquáticos
vem aumentando nos últimos anos de forma alarmante como resultado
da atividade antropogênica sobre o meio ambiente (WINDSOR et al.,
2019). Tal fato tem contribuído para a redução da qualidade ambiental,
bem como para o comprometimento da saúde dos seres vivos que
habitam esses ecossistemas (MASINDI; MUEDI, 2018).
Substâncias orgânicas e inorgânicas são lançadas nos
ecossistemas aquáticos na forma de efluentes domésticos, industriais e
agrícolas (PIRATOBA et al., 2017), contendo componentes
genotóxicos e mutagênicos que desencadeiam processos nocivos à
fauna aquática (ELGENDY et al., 2017), ameaçando diretamente a
integridade ecológica dos sistemas aquáticos, inclusive de áreas de
proteção permanentes (BIDEGAIN; PEREIRA, 2005).
Os biomarcadores de mutagenicidade indicam efeitos de
substâncias genotóxicas e mutagênicas ao material genético por meio
da mutação gênica e danos cromossômicos (JEENA; PANDEY, 2021;
VALENTE et al., 2017). O Teste do Micronúcleo é um método
utilizado para analisar danos estruturais e numéricos nos cromossomos
de eritrócitos em estágio de divisão (CARVALHO, 2019). Esses danos
cromossômicos podem causar anomalias nucleares, como
micronúcleos (MN) e outras anormalidades nucleares nos eritrócitos
(ANE), os quais podem ser utilizados como biomarcadores de
mutagenicidade para avaliar o grau de contaminação no meio ambiente
(LOPES, 2017).
10
Nesse contexto, os biomarcadores podem fornecer
informações sobre os efeitos de contaminantes que podem
prejudicar a saúde dos organismos aquáticos (MOREIRA et al.,
2004). Assim, juntamente com a análise físico-química, os
biomarcadores podem ser incorporados em programas de
monitoramento ambiental como uma ferramenta de triagem rápida,
antes da implementação de estratégias preventivas de
biorremediação (BEBIANNO et al., 2015).
Dessa forma, objetivou-se avaliar a qualidade ambiental do
Lago Açu através de biomarcador mutagênico em Prochilodus
lacustris (Pisces, Prochilodontidae) e análises físico-química da
água, de forma a gerar subsídios para formulação de políticas
públicas para esse ecossistema aquático, considerando sua
importância ambiental e econômica para o Maranhão.
METODOLOGIA
Para a pesquisa foram realizadas coletas de peixes e água no
Lago Açu, município maranhense de Conceição do Lago-Açu, em
outubro/2020 e maio/2021, compreendendo o período de estiagem e
chuvoso, respectivamente, em três pontos (P1, P2 e P3) de
amostragem. Nas análises microbiológicas da água foram utilizadas
as metodologias recomendadas por APHA (2005) e Silva (2000),
para determinação do número mais provável (NMP) de coliformes
totais e Escherichia coli, utilizando o substrato enzimático
cromogênico (ONPG) e fluorogênico (MUG) através do teste de
Colilert-18 e foram interpretadas segundo as Resoluções do
Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) n° 357/2005 e
n° 430/2011 (BRASIL, 2005; 2011). Os parâmetros físico-químicos
da água como temperatura pH, oxigênio dissolvido e salinidade
foram aferidos in situ com o auxílio do multiparâmetro AK88.
Para cada uma das duas coletas realizadas no Lago Açu
foram capturados 40 espécimes de peixes P. lacustris, totalizando
80 espécimes durante todo o estudo. As capturas desses peixes foram
realizadas por pesca artesanal utilizando rede de espera e tarrafa com
11
malhas variando de 5 a 7 cm. Em seguida, realizou-se a morfometria
de cada espécime em comprimento total (Lt) e padrão (Lp), obtidos
por fita métrica, sendo expressos em centímetros e aferido o peso total
(Wt) com auxílio de balança, sendo expresso em gramas (g).
Posteriormente, realizou-se a retirada do sangue, ainda em campo,
através da técnica de punção caudal (RANZANI-PAIVA et al., 2013).
Após a retirada do sangue foram preparadas lâminas de
esfregaço, as quais secaram por 24 horas em temperatura ambiente. No
Laboratório de Biologia e Ambiente Aquático (LaBioAqua/UEMA) as
lâminas foram coradas com Rosenfeld modificado (TAVARES-DAS;
MORAES, 2003). A coloração consistiu na imersão das lâminas no
corante Rosenfeld modificado durante 4 minutos e em seguida em
água destilada durante 6 minutos (para limpeza de resquícios do
corante). Após a coloração, as lâminas foram analisadas em
microscópio óptico. A identificação adotada para micronúcleos foi de
(FENECH et al., 2003) e detecção de anormalidades nucleares
eritrocitárias (ANE) (CARRASCO et al., 1990).
Os dados foram submetidos aos Testes de Normalidade
Shapiro-Wilk e de Homogeneidade Levene. Atendido os pressupostos
de normalidade (p≥0,05), as frequências foram comparadas por
período sazonal através do Teste t. Para os dados que não atenderam
aos pressupostos (p≤0,05) foi aplicado o teste não paramétrico
ANOVA Kruskal-Wallis (p≤0,05). Todas essas análises estatísticas
foram realizadas no Statistica 7.1.30.
PRINCIPAIS RESULTADOS
Os dados sobre a qualidade físico-química e microbiológica da
água estão presentes na Tabela 1.
12
Tabela 1 – Parâmetros físico-químicos e microbiológicos das amostras de
água do Lago-Açu, Área de proteção Ambiental da Baixada Maranhense,
Maranhão, Brasil.
Parâmetros Período de Estiagem Período chuvoso CONAMA
físicos, (Outubro/2020) (Maio/2021) (BRASIL,
químicos e 2005;
microbiológicos Ponto 1 Ponto 2 Ponto 3 Ponto 1 Ponto 2 Ponto 3
2011)
Temperatura
28.42±0.49b 30.6±0.2ab 30.76±0.11ab 29.58±0.14ab 31.84±0.44a 32.1±0.10a <40
(°C)
pH 9.2±0.23a,cd* 9.44±0.34a,cd* 9.86±0.05a,c* 6.84±0.10b,cd 8.0±0.03ab,cd 7.52±0.10ab,d 6.0 a 9.0
Oxigênio
dissolvido 5.63±0.24ab 5.38±0.47ab 5.81±0.36ab 2.72±0.39b* 6.54±0.10a 6.24±0.13ab > 5.0
(mg/L)
Salinidade (ppt) 1.0±0.00a* 0.1±0.00a* 1.0±0.00a* 0.03±0.00a 0.02±0.01a 0.03±0.00 a <0,05
Coliformes
2420±0.00a
totais 2420±0.00a* 2420±0.00 a* 2420±0.00a* 2420±0.00a* 658.8±0.00a <1.000
*
(NMP/100ml)
Escherichia coli
1±0.00 a 1±0.00a 1±0.00a 93.8±0.00a 64.4±0.00a 1±0.00a <1000.0
(NMP/100ml)
*: para valores fora do padrão legislativo ambiental brasileiro (CONAMA) com base nas
Resoluções nº 357 de 2005, nº 430 de 2011; ab, cd: Letras minúsculas diferentes representam
diferenças estatística entre os pontos por período sazonal (p≤0,05).
13
pontuais de poluição geram ricos a biota e podem causar danos de
ordem pesqueira local.
Os dados biométricos de comprimento total, padrão e peso de
P. lacustris apresentaram diferença significativa entre os períodos
sazonais com maiores valores para o período chuvoso como mostrados
na Tabela 2.
Tabela 2 - Dados biométricos e estágios gonadais de Prochilodus lacustris
coletados no Lago Açu, Área de Proteção Ambiental da Baixada Maranhense,
Maranhão, Brasil.
Período de estiagem Período chuvoso
Dados biométricos
(Outubro/2020) (n=40) (Maio/2021) (n=40)
Comprimento total (cm) 18±1.70b 24.5±2.43a
Comprimento padrão (cm) 15±1.64b 21.72±2.38a
Peso (kg) 106±31.30b 295.25±86.98a
Estágios gonadais F (n=23) M (n=17) F (n=36) M (n=4)
Imaturo 42,5% 0%
Em maturação 37,5% 92%
Maduro 20% 8%
n: Número de espécimes; F: fêmeas; M: machos; ab: Letras minúsculas diferentes representam
diferenças estatística entre os períodos sazonais (p≤0,05)
14
P. lacustris do lago estão evidenciados na Figura 2. Os
biomarcadores mutagênicos em eritrócitos de peixes podem estar
relacionados a processos de citotoxicidade, influências na divisão
celular e mutagenicidade (D’AGOSTINI; LA MAESTRA, 2021),
causados por substâncias tóxicas como as encontradas nas análises
de água do Lago Açu em estudos pretéritos (CARDOSO et al. 2018).
Figura 2- Alterações nucleares eritrocitárias em Prochilodus lacustris
coletados no Lago Açu, Área de Proteção Ambiental da Baixada
Maranhense, Brasil. A: Eritrócitos normais; B: Micronúcleo; C, D, E, F:
Alterações nucleares eritrocitárias. Aumento 1000x. Coloração Rosenfeld
modificado.
15
Tabela 3 - Frequências de micronúcleos e anormalidades nucleares
eritrocitárias em Prochilodus lacustris coletados no Lago Açu, Área de
Proteção Ambiental da Baixada Maranhense.
Período de estiagem Período chuvoso
Alterações nucleares
(Outubro/2020) (Maio/2021)
16
micronúcleos estão acima do que a espécie é capaz de reparar, de
modo que esses efeitos podem afetar a sanidade da biota.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O Lago Açu, mesmo inserido em uma Área de Proteção, está
sendo contaminado por substâncias tóxicas que causam alterações
celulares nos espécimes de P. lacustris. O conhecimento das análises
realizadas pelo estudo é importante para identificar alterações
morfológicas sanguíneas provocadas por fatores ambientais externos,
além de riscos de bioacumulação de componentes tóxicos na cadeia
trófica, podendo ser usado em estudos de monitoramentos contínuos
relacionados aos efeitos mutagênicos de impactos na área.
AGRADECIMENTOS
O presente trabalho foi realizado com o apoio do Programa
Nacional de Cooperação Acadêmica na Amazônia
PROCAD/Amazônia da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal
de Nível Superior CAPES/Brasil, da Universidade Estadual do
Maranhão e do Laboratório de Biologia e Ambiente Aquático-
LABioAqua/UEMA.
REFERÊNCIAS
17
ARAUJO, V. G. Histologia vitais system.2019. Disponível em;
<https://play.google.com/store/apps/details?id=com.vegarcezb.histo
logiavitais&hl=pt_BR&gl=US. Acessado em: 20 fevereiro 2021.
18
and former mining activities on the sediment quality of a subtropical
estuarine protected area. Environmental Monitoring and
Assessment, v.186, n.11, p. 7035-7046, 2014.
19
PRABHAKARAN, K.; NAGARAJAN, R.; FRANCO, F. M.;
KUMAR, A. A. Biomonitoring of Malaysian aquatic environments:
A review of status and prospects. Ecohydrology &
Hydrobiology, v. 17, n. 2, p. 134-147, 2017.
20
BIOLOGIA E CONSERVAÇÃO DE JURARÁ (Kinosternon
scorpioides) ESPÉCIE DA FAUNA SILVESTRE
AMAZÔNICA, BAIXADA MARANHENSE, SÍTIO RAMSAR
DO BRASIL
RESUMO
21
em ambiente natural, direcionando o estabelecimento de políticas públicas
necessárias para conservação desta importante espécie silvestre amazônica
na Área de Proteção Ambiental (APA) da Baixada Maranhense.
INTRODUÇÃO
O Kinosternon scorpioides é uma tartaruga de água doce da
família Kinosternidae, gênero Kinosternon, com ampla distribuição
geográfica e que se encontra presente em diversos estados do Brasil
nas regiões Norte, Nordeste e Centro Oeste (BERRY; IVERSON,
2001; ACOSTA et al., 2013, COSTA; BÉRNILS, 2018).
A espécie possui expressiva importância ecológica e
ambiental para a população, principalmente para as comunidades
tradicionais que comumente as utilizam como recurso alimentar, além
de auxiliar na renda familiar por meio da venda clandestina dos
espécimes. Embora a Lei nº 5.197, de 03 de janeiro de 1967 disponha
sobre proteção à fauna, proibindo a caça de animais silvestres no
Brasil, a espécie K. scorpioides continua sendo explorada
intensamente pelo homem, inclusive para o comércio ilegal. Os
animais são vendidos nas formas juvenis e adultas, principalmente nos
meses de maio a agosto, quando as fêmeas se encontram no período
reprodutivo (BARRETO et al., 2011), demonstrando a necessidade de
estudos sobre os aspectos bioecológicos para estabelecimento de
estratégias de proteção e manejo dos animais em seu ambiente natural.
K. scorpioides integra a rica fauna silvestre amazônica e é
comum na região da Baixada Maranhense (BM), sendo denominado
popularmente de “jurará”. Coloniza os ambientes aquático (dulcícola)
e terrestre, com dinâmica sazonal ao longo do ano (CABRERA;
COLANTONIO, 1997).
A Área de Proteção Ambiental (APA) da Baixada Maranhense
é uma Unidade de Conservação (UC) com reconhecimento
internacional, inclusa na Lista Ramsar em 29 de fevereiro de 2000
(MMA, 2000). Encontra-se entre os Sítios Ramsar Brasileiros de
22
grande importância no que se refere às áreas inseridas no Plano
Estratégico Nacional de Áreas Protegidas (PNAP), conforme
Decreto nº 5.758/06.
Caracteriza-se por abranger lagos de grande relevância
ecológica, além de biodiversidade aquática rica e singular, com
belezas naturais e recursos socioeconômicos que conferem
identidade e valor à região. Envolve vários ecossistemas como
manguezais, babaçuais, campos abertos e inundáveis com dinâmica
de inundações sazonais ao longo do ano, estuários, lagunas e matas
ciliares. A região sofre grande influência de rios maranhenses como
o Mearim, Pindaré, Grajaú e Pericumã, abrigando rico conjunto de
bacias hidrográficas lacustre do nordeste brasileiro (BEZERRA,
2006; SEMA, 2019).
Tendo em vista que K. scorpioides é um táxon que integra a
fauna silvestre maranhense, a espécie necessita ser mais bem
compreendida em sua biologia, especialmente nos aspectos
morfológicos, fisiológicos, reprodutivos e comportamentais, os
quais fornecem contribuição significativa para sua conservação in
situ e ex situ. Dessa forma, o objetivo desse trabalho é trazer dados
sobre a espécie que preenchem importantes lacunas relativas às áreas
citadas, com possibilidade de ampliação dos estudos para outros
quelônios.
METODOLOGIA
Trata-se de estudo de cunho descritivo e qualitativo, com
resultados de pesquisas de projetos desenvolvidos na APA da
Baixada Maranhense nos anos de 2014 a 2022 e no Criadouro
Científico através do Grupo de Estudos em Anatomia –
GRANATO/UEMA, a envolver as linhas de pesquisa dos
Programas de Pós-Graduação em Ciência Animal e Rede Bionorte,
com objetivo na formação de recursos humanos entre doutores,
mestres e iniciantes na ciência. Os projetos desenvolvidos
23
atenderam a todos os procedimentos éticos recomendados pelo
Comitê de Ética em Pesquisa com humanos – CEP/UEMA e Comitê
de Ética em Experimentação Animal – CEEA/UEMA, bem como do
SISBio/ICMBio e SEMA.
Os estudos envolveram investigações sobre a morfofisiologia
e biologia da espécie voltados aos aspectos anatômicos e reprodutivo
com coleta de animais, análises ambientais e projetos de educação
ambiental e conservação. Parte dos estudos foram desenvolvidos
também no Laboratório Experimental do Criadouro Científico da
UEMA, licenciado pelo Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos
Recursos Renováveis (IBAMA) conforme autorização nº
1899339/2008, o qual possui espécimes monitorados diariamente.
Alguns projetos receberam apoio financeiro de editais de fomento à
pesquisa pela FAPEMA/Rede da Baixada-REBAX e CAPES/Projeto
Procad.
PRINCIPAIS RESULTADOS
Biologia, Morfologia e Estrutura Óssea
O jurará pertence a ordem Testudines, subordem Cryptodira.
Possui carapaça em formato oval, moderadamente deprimida
dorsalmente e levemente tricarinada, com coloração variando entre
castanho claro, castanho escuro, negra ou verde oliva. O plastrão
apresenta dobradiças e na maioria dos espécimes é de coloração
amarela (em tons variados), podendo ser encontrado exemplares nas
cores marrom e vermelha. Apresenta-se côncavo nos machos maduros
sexualmente; na região axilar e inguinal apresentam glândulas
almiscaradas que secretam forte odor quando estimuladas.
Esta espécie possui cabeça em formato triangular, com
coloração cinza (em tons variados) e ranhuras amarelas, especialmente
na região ventral. Possui narina e ranfoteca (bico córneo) superior bem
desenvolvidos. As patas são espalmadas com membranas interdigitais,
24
reduzidas e com cinco dedos e unhas pontiagudas. Em ambos os
sexos, a cauda possui estrutura córnea na extremidade (Figura 1).
25
Figura 2 - Exoesqueleto do Kinosternon scorpioides. Carapaça- A e
Plastrão- B.
A A
B B
26
Os ovos têm formato alongado, com casca dura, lisa e
coloração branca. Internamente apresentam características de ovos
telolécitos e durante o desenvolvimento embrionário são formados
os anexos embrionários (saco vitelínico, côrion, âmnio e alantóide).
O período médio de incubação para a espécie em ambiente
controlado a (28°C) foi de 105 dias (15 semanas), permitindo a
identificação de 15 estágios do desenvolvimento embrionário
(Figura 3).
C D E
27
A partir das análises morfofisiológicas dos órgãos
reprodutivos tanto dos machos quanto das fêmeas adultas, pode-se
observar aspectos coincidentes ao comportamento reprodutivo tanto
no habitat natural quanto em ambiente controlado, uma vez que os
machos apresentavam atividade reprodutiva durante o período
chuvoso e inatividade reprodutiva no período seco. A observação dos
órgãos reprodutivos das fêmeas comprovou sua maturidade sexual,
visto que elas apresentavam período vitelogênico nas duas épocas do
ano, sendo que no período seco, os folículos ovarianos apresentaram-
se maiores em preparo (pré-ovulatórios).
28
percepção, sensibilização e compreensão das questões ambientais
pelos envolvidos.
Tabela 1 – Transcrições das informações verbais de alunos e pescadores
durante as palestras.
PESCADORES ALUNOS
“Acho que as queimadas deveriam “Quando cheguei em casa, pedi
parar de acontecer, elas destroem para meu pai soltar o macaco que
tudo” (Pescador de São Bento) [sic] ele tinha prendido, e ele soltou
de volta no mato!” (Depoimento
de aluno do 5º ano) [sic]
“A nossa natureza é muito rica” “Eu queria pedir para o meu tio,
(Pescador em Pinheiro) [sic] para quando ele fosse no campo,
soltar as tartarugas que tem lá em
casa” (Aluno do 5º ano). [sic]
“Eu não deixo ninguém queimar “Vou dizer pro meu pai não
perto da minha casa” (Pescador de queimar mais lixo no fundo de
São Bento) [sic] casa” (Aluno do 4º ano) [sic]
“Eu sei que não devemos pegar os “Semana passada encontrei um
jurarás, eu sei que é proibido, antes jurará perto da minha casa,
eu até pegava, mas agora não pego peguei ele e levei de volta para o
mais.” (Pescador de São Bento) campo” (Aluno do 6º ano) [sic]
[sic]
29
O projeto permitiu aliar teoria à prática, especialmente na
realização da “Trilha Ecológica e Soltura de filhotes de jurarás”, com
estudantes e professores do Ensino Fundamental (Figura 4-A e D),
proporcionando um momento de respeito e cuidado a natureza. Na
ocasião houve partilha de conhecimentos sobre a biodiversidade.
Cerca de 20 filhotes nascidos no criadouro científico de São Luís
foram devolvidos aos campos da Baixada Maranhense. Durante esta
atividade foi possível observar muitos alunos repetirem a frase “O
lugar do jurará é nos campos!”, demonstrando consciência ecológica.
A B
C D
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os resultados, até então disponíveis, sobre a biologia,
ecologia, morfologia e fisiologia de K. scorpioides aplicados à
reprodução contribuem para o conhecimento científico deste táxon.
Os dados teórico-práticos são aplicáveis em novas pesquisas, assim
30
como subsidiam a elaboração de plano de ação no manejo da
espécie, em ambiente natural, direcionando o estabelecimento de
políticas públicas necessárias para conservação desta importante
espécie silvestre amazônica na APA da Baixada Maranhense. A
Educação Ambiental é uma ferramenta importante na formação de
cidadãos mais conscientes e participativos em relação a sua
responsabilidade na conservação dos recursos naturais, visto que
eles são os sujeitos aprendizes e potenciais replicadores das
informações e atitudes na contribuição da sustentabilidade
ambiental.
AGRADECIMENTOS
REFERÊNCIAS
31
BERRY, J.F.; IVERSON, J.B. Kinosternon scorpioides. Catalog
American Amphibians and Reptiles. v.725: p.1-11, 2001.
BEZERRA, M. S. Avaliação do potencial turístico sustentável
da região lacustre Viana-Penalva-Cajari – Baixada
Maranhense. 2006. 141 p. Dissertação (Mestrado). Universidade
Federal do Maranhão, Programa de Pós-Graduação em
Sustentabilidade de Ecossistemas, 2006.
CABRERA, M.R.; COLANTONIO, S.E. Taxonomic revision of
the South American subspecies of the turtle Kinosternon
scorpioides. Journal of Herpetology, v.31, p.507-513, 1997
COSTA, H. C.; BÉRNILS, R. S. Répteis do Brasil e suas
Unidades Federativas: lista de espécies. Herpetologia Brasileira,
v.7, n.1, p.11-57, 2018.
MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE (MMA). Lista Ramsar –
Sítios Ramsar no Brasil. 2000. Disponível em:
https://rsis.ramsar.org/ris/1020. Acesso em 24 de julho de 2019.
SECRETARIA DE ESTADO DO MEIO AMBIENTE (SEMA).
2019. Unidades de Conservação. Disponível em:
https://www.sema.ma.gov.br/unidades-de-conservacao/. Acesso
em: 27 dez. 2021.
32
BIOMARCADORES HISTOLÓGICOS EM Hoplias malabaricus
(CHARACIFORMES, ERYTHRINIDAE) NO
MONITORAMENTO DE DOIS PONTOS DO RIO MEARIM,
BAIXADA MARANHENSE, BRASIL
RESUMO
33
consideráveis, afetando o funcionamento hepático de H. malabaricus e
possivelmente de outras espécies de peixes da região.
INTRODUÇÃO
34
O biomonitoramento aquático apresenta resultados
satisfatórios para o manejo ambiental da região, uma vez que utiliza
bioindicadores e biomarcadores na avaliação das mudanças
ambientais nos ecossistemas (MATTEWS et al., 1982;
SADAUSKAS-HENRIQUE et al., 2017). As alterações no fígado
dos peixes são amplamente utilizadas em estudos com
biomarcadores histológicos, uma vez que, tem contato direto com os
contaminantes e é responsável pelo processo de biotransformação de
substâncias no organismo, para que possam ser eliminadas
(BERVOETS et al., 2013; ARANTES et al., 2016).
A espécie Hoplias malabaricus, comumente conhecida como
traíra, é um predador de topo da cadeia, possui facilidade para
bioacumulação de contaminantes ao longo da cadeia alimentar, além
de ser importante na pesca dos rios da Baixada Maranhense,
principalmente o rio Mearim (NOVAES; CARVALHO, 2011). A
partir dessas características, H. malabaricus pode ser utilizado em
estudos com biomarcadores histológicos, com resultados
satisfatórios para monitoramento ambiental em água doce
(CASTRO et al., 2014). Assim, este estudo tem como objetivo
identificar danos hepáticos em H. malabaricus como biomarcadores
de impactos antrópicos em dois trechos do rio Mearim, com a
hipótese de que peixes coletados na área potencialmente impacta
(Curral da Igreja) apresentarão alterações hepáticas superiores a área
de referência (Engenho Grande).
METODOLOGIA
35
neste estudo, devido as proximidades de zonas urbanas. As
amostragens foram realizadas durante o período seco (agosto e
novembro/2016) e durante o período chuvoso (Maio/2016 e
Junho/2017). Foram coletados 91 espécimes de traíra (H.
malabaricus), sendo 56 machos e 35 fêmeas, sendo 54 exemplares
coletados no período seco e 37 no período chuvoso. Após a captura os
animais foram avaliados biometricamente: comprimento total (CT),
comprimento padrão (CP), peso corporal (PC); e o peso das gônadas
(PG) – foi registrado. Todos os peixes eram juvenis e as gônadas
foram categorizadas macroscopicamente em quatro classes de acordo
com Vazzoler (1996): imaturo (GS1), em maturação (GS2), maduro
(GS3) e exausto (GS4).
Figura 1- Localização dos pontos de amostragem no Rio Mearim, Maranhão,
Brasil. Engenho Grande (A1, área controle); Curral da Igreja (A2, área
potencialmente impactada).
36
Paralelo a coleta dos peixes, foram aferidos os seguintes
parâmetros físico-químicos: cálcio, magnésio, dureza, alcalinidade
em OH-, alcalinidade em CO3-, alcalinidade em HCO3-, alcalinidade
total, cloretos (Cl-), condutividade, sólidos totais dissolvidos, NaCl,
pH, turbidez, oxigênio dissolvido, nitrito, nitrato e ferro. E para
medir as características microbiológicas da água, o número mais
provável de coliformes totais e Escherichia coli foi analisado pelo
método de Colilert através da presença ou ausência e quantificação
dessas características na amostra.
Análise histológica
Fragmentos de fígado de H. malabaricus foram fixados em
formol a 10%, e em seguida desidratados em séries crescentes de
álcoois, diafanizados em xilol, impregnados e incluídos em parafina.
Cortes transversais de aproximadamente 5μm de espessura foram
corados com Hematoxilina e Eosina (HE). A leitura das lâminas foi
realizada em microscópio óptico utilizando-se as objetivas 10x, 40x
e as lesões encontradas foram fotomicrografadas em microscópio
óptico.
Análise estatística
Os dados são expressos como média ± desvio padrão. Os
estágios gonadais e as lesões histológicas encontradas são
apresentados em porcentagem. Diferenças significativas entre os
grupos foram verificadas pelo teste t e p<0,05 aceito como
significativo, as análises foram realizadas no programa Prisma.
PRINCIPAIS RESULTADOS
Os resultados das médias dos valores dos fatores abióticos e
dados microbiológicos da água coletados nos dois pontos do rio
Mearim estão apresentados na Tabela 1.
37
Tabela 1- Análises físico-químicas da água coletada em dois trechos do rio Mearim, Maranhão, Brasil.
Limites
Parâmetros Referência (A1) Contaminada (A2)
CONAMA a
Período Seco Período Chuvoso Período Seco Período Chuvoso
Amostra 1 Amostra 2 Amostra 1 Amostra 2 Amostra 1 Amostra 2 Amostra 1 Amostra 2
(Agosto) (Nov.) (Maio) (Junho) (Agosto) (Nov.) (Maio) (Junho)
Alcalinidade total (mg/L) 62 32 0 40 90 34 0 38 -
Cloretos (mg/L Cl-) 32.53 31.9 40.78 6.9 35.32 51.9 44.8 8.9 250 mg/L Cl-
Condutividade (µJ/cm) 470 74.6 115.7 - 606 104.9 116 - -
Sólido Total Dissolvido (ppm) 231 37.4 58 - 303 52.6 60 - -
NaCl (%) 1 0.2 0.2 - 1.3 0.2 0.2 - -
Ph 6.2 5.21 b 6.8 6.2 6 5.67 b 6.8 6.18 6.0 a 9.0
Oxigênio Dissolvido (mg/L O2) 0.7 b 0b 0.3b 10.8 0.6b 0b 0.3 b 14.3 < 5.0 mg/L O2
Turbidade (U.N.T) 26.86 369 b 1.75 0.51 113b 376 b 1.87 0.73 100 UNT
Nitrato (mg/L N) 4.43 0 2.21 0 4.43 0 2.21 0 10.0 mg/L N
Ferro (mg/L Fe) 2.61 b 1.66 b 2.13 b 0.68 b 5.01 b 2.53 b 3.77 b 0.12 0.3 mg/L Fe
Coliformes totais (MNP*) 3.410 b 2.481 b 24.196 b 4.352 b 5.940 b 12.033 b 24.196 b 9.208 b 1.000/MPN/100 mL
Escherichia coli 900 175 20 20 1730 b 816 41 108 1.000/MPN/100 mL
aValores de referência da resolução CONAMA 357/2005, água doce, classe II.
38
Os parâmetros de cloreto, condutividade, sólidos totais
dissolvidos, turbidez, ferro, além das microbiológicas coliformes
totais e Escherichia coli, apresentaram valores superiores na área
potencialmente contaminada (A2) no período seco e chuvoso em
relação a área controle (A1). O excesso de nutrientes, sólidos
dissolvidos e bactérias na água influenciam os altos valores de
turbidez, afetando as condições tróficas do ecossistema e a sanidade
dos peixes, afetando o crescimento e a reprodução (ESENOWO;
UGWUMBA, 2010).
Os valores de ferro foram superiores aos permitidos pela
legislação brasileira, que é de até 0,3 mg/L, principalmente na área
contaminada (A2) (CONAMA, 2005). Isso pode ter influenciado a
presença de alterações hepáticas nos peixes dessas regiões
(HERMENEAN et al., 2015), uma vez que é um dos principais
produtos químicos em processos biológicos, no entanto, quando
altas concentrações podem ser tóxicas para os animais (HEATH,
1995). O oxigênio dissolvido apresentou concentrações inferiores
aos valores de referência da legislação brasileira (>5,0 mg/L) nas
duas áreas avaliadas (CONAMA, 2005). Menor quantidade de
oxigênio dissolvido na água é preocupante, pois interfere nos
processos vitais dos animais aquáticos, prejudicando a fotossíntese
e a respiração (HE et al., 2011). Outros dados abióticos que
apresentaram valores acima do permitido pela legislação foram
turbidez, coliformes totais/Escherichia coli que são 100 U.N.T e
1000 NMP / 100 mL, respectivamente.
Os dados biométricos para o período seco mostram machos
de H. malabaricus coletados em A1 com tamanhos e pesos
superiores aos machos de A2 (p<0.05) (Tabela 2), por outro lado,
fêmeas coletadas em A2, apresentaram dados biométricos superiores
as fêmeas da A1 (p<0.05) (Tabela 2), além disso, fêmeas de A1
39
apresentaram valores de IGS maiores em relação as fêmeas de A2
(p<0.05) (Tabela 2). Em relação ao período chuvoso, machos e
fêmeas de A2 foram maiores e mais pesados em relação aos peixes
de A1 (p<0.05) (Tabela 3), e o valor de IGS foi maior em fêmeas de
A2, e em machos de A1 (Tabela 3).
O comprimento e o peso corporal dos peixes machos
coletados na área de referência (A1) apresentaram valores elevados
durante o período seco; fêmeas e machos foram mais longos e
pesados durante a estação chuvosa na área contaminada (A2). O
crescimento de indivíduos da espécie H. malabaricus é afetado em
um ambiente contaminado (SANTOS et al., 2016). Organismos que
vivem com xenobióticos gastam mais energia em processos de
desintoxicação do que em processos de crescimento e reprodução
(ESENOWO; UGWUMBA, 2010).
O IGS dos peixes machos e fêmeas listados na área de
referência (A1) na estação seca apresentaram valores mais elevados;
fêmeas coletadas na área contaminada (A2) e machos listados na
área de referência (A1) apresentaram valores elevados no período
chuvoso. Produtos químicos na água podem afetar os processos de
gônadas de peixes, maturação sexual, pigmentação de ovos e
estágios gonadossomáticos das gônadas (HANSSON et al., 2014).
Valores elevados de IGS indicam maior e melhor maturação gonadal
de machos e fêmeas neste ambiente (VAZZOLER, 1996).
Os dados dos estágios de maturação gonadais estão descritos
na tabela 4. Durante o período de seca, foram observadas fêmeas do
estádio GS3 e os machos do estádio GS2 com mais frequência. No
período chuvoso foi predominante machos no estágio GS1 e mais
frequente fêmeas do estádio GS2.
40
Tabela 2 - Dados biométricos de Hoplias malabaricus coletados na estação seca nos dois trechos do rio
Mearim, Maranhão, Brasil.
Parâmetros Área de referência (A1) Área contaminada (A2) t Test (fêmeas/machos)
CT (cm) 23,32 ± 3,04 26,31 ± 3,91 25,18 ± 3,87 19,96 ± 3,34 0,26 / 0,00012*
CP (cm) 18,36 ± 2,31 20,81 ± 2,90 21,02 ± 2,73 16,10 ± 2,88 0,039* / 0,00051*
PC (g) 131,6 ± 52,83 198,42 ± 120,87 172,12 ± 91,20 101,46 ± 73,12 0,25 / 0,0099*
PG (g) 5,23 ± 2,86 0,88 ± 0,99 3,06 ± 1,37 0,36 ± 0,21 0,06 / 0,013*
GSI 4,01 ± 1,69 0,61 ± 0,59 2,04 ± 1,32 0,41 ± 0,27 0,015* / 0,19
Tabela 3 - Dados biométricos de Hoplias malabaricus coletados na estação chuvosa nos dois trechos
do rio Mearim, Maranhão, Brasil.
Parâmetros Área de referência (A1) Área contaminada (A2) t Test (fêmeas/machos)
41
Tabela 4 - Estágio de maturação gonadal de machos e fêmeas de Hoplias
malabaricus coletados durante a estação chuvosa e seca no rio Mearim,
Maranhão, Brasil.
Período seco Período chuvoso
GS
Fêmeas (%) Machos (%) Fêmeas (%) Machos (%)
GS1 10 40 37 90
GS2 32 57 63 10
GS3 58 0 0 0
GS4 0 3 0 0
Fases gonadais. GS1 (imaturo), GS2 (maturando ou em repouso), GS3 (maduro)
e GS4 (esgotado) (Vazzoler, 1996).
42
A análise histológica do fígado de H. malabaricus, revelou
diferentes graus de severidade das lesões nas duas áreas em estudo
(Figura 2).
Figura 2 - Alterações histológicas hepáticas de H. malabaricus. A- Tecido
normal; B- dilatação dos vasos (asterisco), dilatação dos sinusóides (seta);
C- hiperemia (seta); D- vacuolização citoplasmática (seta). A, B, D: 50 µm;
C: 100 µm.
43
hiperemia, centro de melanomacrófago, núcleo periférico,
dilatação sinusoidal e necrose, apresentando diferentes graus de
severidade de acordo com as metodologias de Poleksic &
Mitrovic-Tutundzic (1994) e Bernet et al. (1999), indicando a
presença de poluentes nesses dois trechos do rio Mearim, afetando
o fígado desses animais. O fígado é fundamental para os peixes,
pois é responsável pelas funções básicas do metabolismo, como a
biotransformação, a capacidade de acúmulo e excreção de
xenobióticos (DANE; SISMAN, 2014; DYK et al., 2012), além de
ser considerado o principal alvo de substâncias tóxicas no
organismo, sendo importante para estudos utilizando
biomarcadores de contaminação ambiental (ZELIKOFF, 1998).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Estes resultados indicam que ambas as áreas estão sofrendo
impactos ambientais consideráveis, afetando o funcionamento
hepático de H. malabaricus, todavia, a área potencialmente
impactada apresentou peixes com dados biométricos inferiores,
dados físico-químicos acima do recomendado pela legislação
brasileira e uma variedade de alterações hepáticas mais elevado
que a área de referência. Esses dados em conjunto, indicam que tal
área têm sofrido com algum impacto ambiental, influenciada pelas
atividades antrópicas no entorno do rio Mearim. Além disso,
reforçamos a importância da Hoplias malabaricus como uma
espécie bioindicadora importante para a região, e o tecido hepático
um biomarcador adequado para evidências de perturbações
ambientais no rio Mearim.
44
AGRADECIMENTOS
Agradecemos à equipe do Laboratório de Biomarcadores
em Organismos Aquáticos (LABOAq) e ao Grupo de
Microscopia da Universidade Estadual do Maranhão pelo suporte
técnico e fornecimento de equipamentos, e uma das Fundações de
Apoio à Pesquisa Científica Brasileira - CAPES (Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) e a Fundação de
Amparo à Pesquisa e ao Desenvolvimento Científico e
Tecnológico do Estado do Maranhão (FAPEMA) pelo apoio
financeiro.
REFERÊNCIAS
45
protocol to assess aquatic pollution. Journal of Fish Diseases, v.
22, n. 1, p. 25-34, 1999.
46
DYK, J. C. V.; COCHRANE, M. J.; WAGENAAR, G. M. Liver
histopathology of the sharptooth catfish Clarias gariepinus as a
biomarker of aquatic pollution. Chemosphere, v. 87, p. 301-311,
2012.
47
JORDÃO, C. P.; SILVA, A. C.; PEREIRA, J. L.; BRUNE, W.
Chromium contamination of rivers from tanneries in Minas
Gerais. New Chemistry, v. 22, n. 1, 1999.
48
transition area in Brazil.Journal of Tropical Biology, v. 59, n. 1,
p. 71-83, 2011.
49
OCORRÊNCIA DE PARASITOS EM Hoplias malabaricus
(CHARACIFORMES: ERYTHRINIDAE) DA ÁREA DE
PROTEÇÃO AMBIENTAL DA BAIXADA
MARANHENSE
RESUMO
50
parasitária. Todos os 30 peixes estavam parasitados. Coletaram-se 596
parasitos no período chuvoso e 1732 no período de estiagem, distribuídos
em 5 gêneros. Espécimes de Nematóide zoonóticos foram encontrados
associados aos órgãos internos, com prevalência de 100%, é um fator de
interesse para a saúde pública, pois são potencialmente zoonóticos e há uma
escassez quanto a dados de ocorrência deste grupo e de outras espécies de
parasitos de peixes que podem causar algum dano à saúde humana.
INTRODUÇÃO
Os impactos ambientais nos ecossistemas aquáticos têm
diferentes origens e formas, o lançamento de compostos químicos
nas águas resulta em modificações no curso e composição físico-
química natural dos rios, na cobertura vegetal, nas margens, na cor
da água e na biota existente (CALLISTO; GONÇALVES;
MORENO, 2005).
Dessa forma, o uso de parasitos de peixes como
bioindicadores de impactos ambientais em ecossistemas aquáticos
tem recebido atenção (KHAN, 2011). Muitos estudos têm
demonstrado uma estreita relação entre o parasitismo e as condições
ecológicas em que os hospedeiros estão expostos, demonstrando
como os parasitos podem responder as mudanças ambientais,
(HUDSON et al., 2006; LAFFERTY et al., 2008). Nesse sentido,
os parasitos podem contribuir para o monitoramento dos efeitos da
poluição aquática (GALLOWAY et al., 2004; SURES, 2008).
O estudo se justifica pela falta de conhecimento acerca da
ocorrência de parasitos nas espécies de peixes da região do
município de São João Batista, objetivando assim com esta pesquisa,
investigar a ocorrência de parasitos na espécie Hoplias malabaricus
do Lago do Coqueiro da Baixada Maranhense.
51
METODOLOGIA
52
fixaram-se em AFA (álcool - formalina - ácido acético) a 65°C e
após 48 horas seguiram para conservação em álcool 70%
(JERÔNIMO et al., 2012). Para identificação, endoparasitos
nematoides foram submetidos ao processo de desidratação em
séries de álcool (70%, 80%, 90%) por aproximadamente 3 h over
night em álcool absoluto, clarificação em creosoto de Faia por no
mínimo 3 h e montados entre lâmina-lamínula para observação das
estruturas internas e identificação de acordo com Pardo et al.
(2008), Colorado et al. (2015).
Para determinar a ocorrência de ectoparasitos, endoparasitos
e hemoparasitos nos peixes, os parasitos foram contados de acordo
com Jerônimo et al. (2016) e calculados os índices parasitológicos
de prevalência e intensidade média conforme recomendado por
Bush et al. (1997).
PRINCIPAIS RESULTADOS
Todos os parasitos apresentaram prevalência mais elevada
no período de estiagem, variando de 93,33% a 100%. A
intensidade média mostrou maior ocorrência de parasitos por
espécime analisado no período de estiagem. A prevalência e
intensidade média dos parasitos no período chuvoso embora
inferior ao período de estiagem, mostraram-se significativas.
Os índices parasitológicos em Hoplias malabaricus do Lago
do Coqueiro da Baixada Maranhense estão indicadas na tabela 1.
Os índices mostraram maior ocorrência de parasitos no período de
estiagem. Vital et al. (2011) destacaram que diminuição no nível
da água, durante o período de estiagem, causa estresse nos peixes
devido à migração dos peixes para regiões mais cheias e a
diminuição na disponibilidade de alimento, comprometendo a
imunidade dos animais, deixando-os mais suscetíveis ao
parasitismo.
53
Tabela 1- Índices parasitológicos dos parasitos coletados em Hoplias
malabaricus do Lago do Coqueiro da Baixada Maranhense, Nordeste
brasileiro.
Período chuvoso Período de estiagem
Parasitos Média±
Média±
desvio P% IM PI NP P% IM PI NP
desvio padrão
padrão
Crustáceos
Argulus
1,93±1,27b 87 2,3 13 30 4,33±1,04ª 100 4,33 15 65
carteri
Dolops b
1,53±1,06 80 1,9 12 23 2,46±1,12ª 93 2,63 13 37
discoidalis
Monogeneas
Urocleidoides
13,04±4,38b 100 15,3 15 196 22,46±21,18ª 100 22,4 15 337
spp.
Nematoda
Contracaecun
20,73±22,6b 100 20,7 15 311 71,13±45,6a 100 71,1 15 1067
sp.
Hemoparasito
Trypanosoma
2,4±2,74b 47 5,14 6 36 15,06±5,25a 100 15,6 15 226
sp.
P: Prevalência; IM: Intensidade média; PI: Número de peixes infectados; NP:
Número de parasitos coletados; a b Letras diferentes indicam diferença
significativa entre os períodos sazonais pelo teste de Kruskal-Wallis (p≤0,05); n:
número dos indivíduos de Hoplias malabaricus.
54
monogenea coletadas nas brânquias, valor superior ao do período
chuvoso com 196 monogenea coletadas.
Espécies de monogêneas do gênero Urocleidoides foram
registradas por Ferreira et al. (2018) em H. malabaricus de rios
costeiros da Amazônia Oriental. Gasques et al. (2016) relataram
ocorrência de Urocleidoides cuiabai e U. malabaricusi em
exemplares de H. malabaricus do rio Paraná. Rodrigues et al.
(2017) relataram parasitismo em H. malabaricus do município de
São Bento da Baixada Maranhense por monogeneas de diferentes
gêneros, com prevalência de 82,8%.
A análise parasitológica mostrou que os nematoides
endoparasitos são larvas da Família Anisakidae, do gênero
Contracaecun, coletados das cavidades gastrointestinais de H.
malabaricus associados a órgãos da cavidade visceral.
A elevada prevalência de Contracaecun sp. em H.
malabaricus deste estudo, aponta para um risco a saúde pública,
principalmente para as populações ribeirinhas, que usam essa
espécie de peixe como fonte de alimento. Potencial zoonótico de
nematoides como Contracaecum sp., foi relatado para diversas
espécies de peixes piscívoras de água doce do Brasil
(ALCANTARA; TAVARES-DIAS, 2015; GONÇALVES et al.,
2016).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A presença de nematoide do gênero Contracaecum sp.
parasito com potencial zoonótico, alerta para maiores cuidados dos
gestores públicos da área de pesca e sanidade alimentar provando
a necessidade de estudos mais aprofundados com traíra e outras
espécies de peixes. Esses estudos seriam voltados para obter
informações complementares sobre os tipos de parasitos com
potencial zoonótico ou não presentes no lago, uma vez que a
55
pesca é a principal fonte de alimento para os moradores
ribeirinhos.
AGRADECIMENTOS
O presente trabalho foi realizado com o apoio do Programa
Nacional de Cooperação Acadêmica na Amazônia
PROCAD/Amazônia da Coordenação de Aperfeiçoamento de
Pessoal de Nível Superior CAPES/Brasil, da Fundação de Amparo
à Pesquisa e ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico
do Maranhão (FAPEMA), do Laboratório Sanidade de
Organismos Aquáticos da Universidade Federal de Santa Catarina
(AQUOS) e do Laboratório de Biologia e Ambiente Aquático
(LABioAqua/UEMA).
REFERÊNCIAS
56
apparatus of Dactylogyrus extensus from Cyprinus carpio var.
Koi. Helminthology. v.46, p. 39–44, 2009.
57
Parasitological assessment in the hybrid surubim
(Pseudoplatystoma reticulatum × P. corruscans), with
uncommon occurrence of Monogenea parasites. Brazilian
Journal of Veterinary Parasitology. v. 25, p. 179–186, 2016.
58
SUJAN, M.; SHAMEEM, U. Monogenoidean parasites of some
cyprinid fishes from noth coastal andhra pradesh. International
Journal of Recent Scientific Research. v. 6, p. 3147–3155,
2015.
59
ESTIRPES DIARREIOGÊNICAS DE Escherichia coli EM
TRECHO DE BAIXO CURSO DO RIO MEARIM, ESTADO
DO MARANHÃO
Vitórya Mendes da Silva MONTEIRO1, Edianez dos Santos MENDES2,
Kelyane da Costa Silva MENEZES3, Greiciene dos Santos DE JESUS4,
Viviane Correa Silva COIMBRA5, Amanda Mara TELES6, Danilo
Cutrim BEZERRA7, Nancyleni Pinto Chaves BEZERRA8*
1
Graduanda em Ciências Biológicas Licenciatura, UEMA
2
Graduada em Engenharia de Pesca, UEMA
3
Graduada em Zootecnia, UEMA
4
Mestranda em Ecologia e Conservação da Biodiversidade (PPECB),
UEMA
5
Docente do Curso de Medicina Veterinária e do Programa de Pós-
graduação Profissional em Defesa Sanitária Animal, Universidade
Estadual do Maranhão – UEMA
6
Fixação de Doutor do Programa de Pós-graduação Profissional em Defesa
Sanitária Animal, UEMA
7
Docente do Curso de Zootecnia, UEMA
8
Docente do Curso de Engenharia de Pesca e dos Programas de Pós-
Graduação em Ecologia e Conservação da Biodiversidade e Defesa
Sanitária Animal, UEMA.
*
E-mail do autor correspondente: [email protected]
RESUMO
60
EPEC-atípica. A detecção dessas estirpes pode representar risco
epidemiológico e comprometer diversos usos desse recurso hídrico, como
a irrigação de frutas e hortaliças ingeridas cruas, pesca, dessedentação
animal e recreação. Investimentos estruturais em saneamento básico são
fundamentais para minimizar a degradação ambiental resultante das
atividades antrópicas e para atuar preventivamente na saúde pública.
Adicionalmente, a recuperação das matas ciliares ao longo da Bacia
Hidrográfica e manutenção da vegetação nestas áreas são medidas para a
redução do transporte de partículas do solo para os cursos d’água, e em
consequência, acarretará a melhoria das características quali-
quantitativas desse recurso hídrico.
INTRODUÇÃO
O Maranhão apresenta posição geográfica estratégica para
o escoamento da produção de grãos, rica biodiversidade e grande
potencial hídrico (dez bacias e dois sistemas hidrográficos), e esta
última característica é base para a realização de múltiplas
atividades, como agropecuária, recreação, turismo e transporte.
Mas, a grande malha hídrica do Estado, não é suficiente para
garantir o fornecimento de água com qualidade para as diversas
necessidades dos maranhenses (UEMA, 2016).
A Bacia Hidrográfica do Rio Mearim, com uma área de
98.289,05 Km2, é a maior bacia hidrográfica em área do Maranhão,
ocupando 29,6% da área total do estado (UEMA, 2016).
Compreende 84 municípios, em que 50 estão totalmente inseridos
no vale e os demais se situam parcialmente na bacia (CODEVASF,
2016). Um trecho do baixo curso do rio Mearim é conhecido pelo
fenômeno da pororoca que atrai surfista de várias partes do mundo
e é considerado o vetor de turismo para a Região (ABRASPO,
2021).
Contudo, o índice de desenvolvimento humano na Região
é baixo e, reflexo das precárias condições sanitárias e de
61
infraestrutura da maioria dos municípios da Bacia Hidrográfica do
Rio Mearim. Em relação ao abastecimento de água nos municípios,
grande parte da população sofre com a falta de água, o que obriga
os cidadãos a captarem água diretamente dos rios dessa bacia para
múltiplas finalidades.
Estudos evidenciam que existe uma forte correlação entre
a ação humana e os impactos sobre os corpos hídricos (XIE et al.,
2020). Na investigação da qualidade da água, Escherichia coli
possui relevância microbiológica por ser um micro-organismo
indicador de contaminação fecal e agente etiológico de doenças de
veiculação hídrica. Esta bactéria é indicadora da presença de
outros patógenos entéricos, além dos tipos diarreiogênicos da
mesma (E. coli produtora de toxina Shiga - STEC, E. coli
enteropatogênica - EPEC, E. coli enterotoxigênica - ETEC, E. coli
enteroagregativa – EAEC, E. coli enteroinvasiva - EIEC e a E. coli
difusante aderente - DAEC). Estes últimos, embora não
apresentem o mesmo perfil epidemiológico, têm um enorme
potencial para causar doenças (CROXEN et al., 2013) e, portanto,
configuram desafios à saúde pública. As águas diagnosticadas com
estes micro-organismos patogênicos são impróprias aos múltiplos
usos, como consumo direto, recreação e irrigação de frutas e
hortaliças ingeridas in natura.
Nesse sentido, objetivou-se detectar estirpes
diarreiogênicas de E. coli em um trecho de baixo curso do rio
Mearim integrante da Bacia Hidrográfica do Rio Mearim,
localizado no estado do Maranhão.
METODOLOGIA
A área de estudo compreendeu um trecho do baixo curso
do rio Mearim. Esta área pertence à Amazônia Legal e situa-se
62
na planície sedimentar da Bacia Hidrográfica do Rio do Mearim,
com uma área de 1.816,994 Km2 (IBGE, 2017).
Para a coleta das amostras de água foram considerados os
seguintes fatores: facilidade de acesso; tipo de vegetação ciliar
encontrada nas margens do rio; e, sinuosidade do curso do rio.
Dessa forma, a coleta das amostras ambientais consistiu em 10
pontos (P1 a P10) escolhidos estrategicamente ao longo do curso
do rio. A localização geográfica dos pontos de coletas foi efetuada
por meio de equipamento eletrônico para posicionamento global
que utiliza sinal de satélite chamado Global Position System
(GPS).
Foram coletadas três amostras de água em cada ponto
amostrado (P1 a P10), totalizando 30 amostras. As coletas foram
realizadas no período de menor índice pluviométrico, em
intervalos mensais (meses de agosto, setembro e outubro). As
amostras foram coletadas em frascos de vidro borossilicato,
estéreis, com capacidade de 500 mL, seguindo os procedimentos.
No momento das coletas utilizou-se uma pauta de observação para
anotação de informações sobre a existência de criação de animais
de interesse pecuário e doméstico, empreendimentos comerciais,
residências e cultivo de frutas e hortaliças no trecho do rio
amostrado.
O sistema cromogênico enzimático (Colilert, Idexx, USA)
foi utilizado para a quantificação de E. coli, de acordo com as
instruções do fabricante. A confirmação da presença de E. coli se
deu pela emissão da fluorescência azul da amostra quando exposta
à luz ultravioleta de comprimento de onda de 365 nm (IDEXX
Laboratories Inc.).
Para isolamento e confirmação de E. coli, foi empregada a
metodologia convencional, dividida em duas etapas: (i)
enriquecimento da amostra – uma alíquota de 10 μL das amostras
de água cultivadas no substrato enzimático Colilert positivas para
63
E. coli foi inoculada em Ágar MacConkey. A cultura foi incubada
a 37ºC, por 24 horas. Das placas representativas de cada ponto
foram transferidas todas as colônias com morfotipos diferentes e,
no máximo, cinco colônias com o mesmo morfotipo. Cada uma
delas foi inoculada em Tryptic Soy Agar e em caldo cérebro-
coração e incubada a 37ºC, por 24 horas; (ii) identificação das
colônias isoladas - a identificação da espécie E. coli, em cada
cultura pura, foi confirmada por provas bioquímico‑fisiológicas,
com a utilização do meio de Rugai com lisina (produção de gás a
partir da glicose; fermentação da lactose; descarboxilação da
lisina; produção de indol a partir do triptofano; não degradação da
ureia; e, ausência de produção de sulfeto de hidrogênio a partir de
aminoácidos sulfurados).
A extração do DNA das culturas puras de E. coli foi
realizada por aquecimento de acordo com protocolo proposto por
Rowlands et al. (2006). O DNA extraído foi quantificado em
espectrofotômetro pela leitura de absorbância a 260 nm e a relação
260/280 nm foi utilizada para determinar a pureza das amostras.
As amostras foram armazenadas a -20° C até a realização
da técnica PCR para detecção dos genes eae1 (REID; BETTING;
WHITTAM, 1999), bfpA (GUNZBURG et al., 1995), elt e est
(ARANDA; FAGUNDES-NETO; SCALETSKY, 2004) que
codificam fatores de virulência de E. coli, utilizando o Kit GoTaq®
Colorless Master Mix (Promega®) de acordo com as
recomendações do fabricante, obtendo-se um volume final de 25
μL por reação. Controles positivos para eae, bfpA, elt e est, bem
como o controle negativo interno (água ultrapura), foram incluídos
em cada lote de reações.
Os produtos de PCR foram visualizados mediante a
aplicação de 5 μL do amplificado em gel de agarose 2%, corado
com SYBR Safe®, submetido à eletroforese horizontal por 30
minutos a 90V em tampão TBE 1X. As bandas foram visualizadas
64
sob luz ultravioleta e imagens digitais foram gravadas com o
fotodocumentador L-PIX Image EX (Locus Biotecnologia,
Brasil).
PRINCIPAIS RESULTADOS
65
20 isolados bacterianos diferentes com características bioquímicas
compatíveis com E. coli e detectar, pela primeira vez no estado do
Maranhão, genes de virulência característicos de E. coli
enterotoxigênica (ETEC) e E. coli enteropatogênica típica (EPEC-
t) e atípica (EPEC-a) (Tabela 1).
Tabela 1 - Patótipos diarreiogênicos de Escherichia coli detectados em
amostras de água oriundas de um trecho de baixo curso do Rio Mearim,
estado do Maranhão.
Pontos
Estirpes de E. coli
de Gene
diarreiogênicas
Coleta
01 bfpA, est EPEC-t, ETEC
02 Est ETEC
03 est, elt ETEC
04 bfpA, est, elt EPEC-t, ETEC
05 bfpA, eae1, elt EPEC-t, EPEC-a, ETEC
06 BfpA EPEC-t
07 eae1, est EPEC-a, ETEC
08 bfpA, eae1, est, elt EPEC-t, EPEC-a, ETEC
09 BfpA EPEC-t
10 bfpA, est EPEC-t, ETEC
66
corrobora o presente estudo no que se refere à detecção das estirpes
EPEC e ETEC.
Nos 10 pontos amostrados foram detectados genes de
virulência característicos de ETEC (genes elt e est), isolados ou em
conjunto. Devido às características das atividades antrópicas
desenvolvidas nas proximidades da área amostrada é possível que
a contaminação por essa estirpe tenha origem em fezes de bovinos,
cães e de seres humanos. Mainil (2013) citou que os principais
hospedeiros de ETEC são seres humanos, bovinos, suínos e cães.
No Estado de Minas Gerais, Andrade et al. (2012) detectaram
genes de virulência característicos desse patótipo tanto em
bezerros saudáveis quanto em animais com diarreia. E, em um
estudo realizado com bezerros no Vale da Caxemira, na Índia,
Manzoor et al. (2015) diagnosticaram ETEC em 15% dos 200
animais avaliados.
Em oito pontos amostrados foram detectados genes de
virulência característicos de EPEC (eae1 e/ou bfpA). Nos pontos
denominados P5, P7 e P8 foram identificados o gene virulento
eae1 que apresenta características atípicas. Segundo Nguyen et al.
(2006) esse patótipo possui alta patogenicidade para seres
humanos, com o prolongamento do estado diarreico em pacientes
acometidos e possibilidade de evolução para óbito. Importante
mencionar que próximo ao P5 fica um hospital público.
Mediante às observações in locu dos pontos amostrados,
isoladamente ou em conjunto, é possível inferir que as principais
fontes poluidoras no trecho avaliado são a criação de animais de
interesse pecuário (bovinos, equinos e suínos) e domésticos (cães),
núcleos populacionais, empreendimentos empresariais e presença
de hospital que se situam próximos às margens do rio.
Adicionalmente constatou-se, com as observações, que a
população da área amostrada utiliza os recursos hídricos locais
67
para diversos fins o que evidencia que a economia dos
municípios localizados na Bacia Hidrográfica do Rio Mearim
está estreitamente relacionada às atividades desenvolvidas ao
longo dela em que são observadas pequenas culturas de
subsistência como o arroz, milho e melancia, além da pesca
praticada de forma artesanal.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A qualidade microbiológica da água no trecho do baixo
curso do rio Mearim pertencente a Bacia Hidrográfica do Rio
Mearim, no estado do Maranhão sofre deterioração caracterizada
por populações médias de E. coli elevadas e diversificadas
estirpes diarreiogênicas (ETEC, EPEC-t e EPEC-a). A
confirmação desse grupo de micro-organismos patogênicos ao
longo do trecho avaliado representa risco microbiológico à saúde
pública, comprometendo diversos usos como a irrigação de
hortaliças e demais culturas ingeridas cruas, pesca,
dessedentação animal, recreação e o turismo.
Investimentos estruturais em saneamento básico são
fundamentais para minimizar a degradação ambiental resultante
das atividades antrópicas e para atuar preventivamente na saúde
humana, sanidade animal e na biodiversidade. Adicionalmente, a
recuperação das matas ciliares ao longo da Bacia Hidrográfica e
manutenção da vegetação nestas áreas são medidas efetivas na
redução do transporte de partículas do solo para os cursos d’água,
e em consequência, pode acarretar melhoria das características
quali-quantitativas da água no trecho avaliado.
68
REFERÊNCIAS
69
GONÇALVES, M. P. et al. Qualidade das águas e análise de
metais em folhas de mangue na APA Tinharé-Boipeba (BA).
Engenharia Sanitária e Ambiental, v. 25, n. 4, p. 583-596, 2020.
70
ROWLANDS, R. E. G. et al. Resistência térmica de Salmonella
enteritidis, S. panama e S. infantis em fórmula láctea infantil
reconstituída. Revista do Instituto Adolfo Lutz, v. 65, n. 1, 36-39,
2006.
71
BIOMARCADORES HISTOLÓGICOS EM Hoplias
malabaricus e Pygocentrus nattereri PARA AVALIAÇÃO DE
AMBIENTE LACUSTRE DA ÁREA DE PROTEÇÃO
AMBIENTAL DA BAIXADA MARANHENSE
RESUMO
72
espécie P. nattereri esses parâmetros foram de 13,7 e 11,3. Para brânquias
foram observadas alterações histológicas em três estágios de severidade,
em contrapartida no fígado foram observados dois estágios. Para o IAH
de brânquias o valor médio foi de 35,72 para H. malabaricus e para
P.nattereri foi de 64,18. Os valores do IAH em brânquias de P. nattereri
foram maiores, já o IAH em fígados de P. nattereri foram menores. O
valor médio de IAH de H. malabaricus foi de 17. Já o IAH médio de P.
nattereri foi de 7,09. As espécies H. malabaricus e P. nattereri se
mostraram sensíveis a possíveis estressores presentes no ambiente,
podendo ser utilizadas em avaliações de impacto ambiental.
INTRODUÇÃO
A expansão urbana na Área de Proteção Ambiental (APA)
da Baixada Maranhense tem como consequência a degradação de
habitats, sobretudo, sobre os ecossistemas lacustres da região
(CAO et al., 2017; MACHADO E PINHEIRO, 2016). Estes
ecossistemas, comumente, recebem substâncias xenobióticas
provenientes das atividades antrópicas, como agricultura e
pecuária, com a criação de búfalos na área (FRANCO, 2008;
TIJANI et al., 2016). O lançamento dessas substâncias pode
resultar em eutrofização, déficit de oxigênio dissolvido, alterações
no ciclo de inundação e destruição de micro hábitats (WIEGAND,
PIEDRA, ARAÚJO, 2016) afetando diretamente a biota aquática
(SACHI, 2019).
As respostas na ictiofauna podem ser bioquímicas,
fisiológicas, comportamentais, imunológicas, genômica e
histológica, em nível de organismo, população e comunidade,
resultantes da exposição a essas substâncias (ZHOU et al., 2008).
Assim, os peixes são extensamente aplicados em avaliações de
ambientes aquáticos por responderem a exposição aos
xenobióticos, por meio dos biomarcadores, bem como por
ocuparem diferentes níveis tróficos e bioacumular os
contaminantes presentes na água (NOVAES, 2019).
73
As alterações em nível histológico expressam um
marcador de efeito a exposição a estressores que causam prejuízo
para saúde ou uma doença ao organismo (LENHARDT et al.,
2015). Nesse sentido, este trabalho teve como objetivo avaliar a
qualidade ambiental do Lago de Viana, na área da APA da Baixada
Maranhense, utilizando biomarcadores histológicos em brânquias
e fígado de peixes para contribuir na criação e implantação de
políticas públicas voltadas para esse ecossistema.
METODOLOGIA
Esta pesquisa foi autorizada pela Secretaria de Estado do
Meio Ambiente e Recursos Naturais do Maranhão e pelo Instituto
Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade. Todos os
procedimentos foram realizados seguindo os princípios éticos
estabelecidos pelo Colégio Brasileiro de Experimentação Animal
e aprovados pelo Comitê de Ética em Experimentação Animal
(CEEA) da Universidade Estadual do Maranhão.
Para as análises foram coletados 22 espécimes de peixes,
sendo 11 da espécie Hoplias malabaricus e 11 da espécie
Pygocentrus nattereri no lago de Viana, em outubro de 2019,
compreendendo o período de estiagem.
Após a coleta os peixes, estes foram transferidos para
caixas isotérmicas com anestésico, sendo eutanasiados por choque
térmico (CONCEA, 2013). Após a eutanásia dos espécimes de H.
malabaricus e P. nattereri foram obtidas as medidas corporais:
comprimento total (CT) e comprimento padrão (CP) por fita
métrica. As medidas corporais de cada espécie foram comparadas
entre si, estabelecendo valores mínimo e máximo em centímetro,
bem como a média e desvio padrão das duas medidas aferidas.
Para procedimento histológico, foi retirado dos peixes o
segundo arco branquial direito e o fígado para fixação em
formaldeído a 10% por 24 horas e submetidos ao processamento
74
histológico padrão em parafina. Os blocos de parafina foram
seccionados em micrótomo na espessura de 4μm e corados com
Hematoxilina e Eosina.
As alterações estruturais histológicas encontradas foram
classificadas e avaliadas semiquantitativamente pelo cálculo do
Índice de Alteração Histológica (IAH), adaptado de Poleksic e
Mitrovic – Tutundzic (1994).
PRINCIPAIS RESULTADOS
Os espécimes de H. malabaricus variaram quanto ao seu
comprimento total (Lt) e comprimento padrão (Lp) neste estudo,
em contrapartida, os espécimes de P. nattereri tiveram pouca
variação quanto as medidas corporais aferidas (Tabela 1).
75
foram maiores quando comparadas com as medidas obtidas para
os espécimes do lago de Viana. Giarrizzo et al. (2015) obtiveram
25.3 centímetros como medida máxima de comprimento padrão
para P. nettereri, já para H. malabaricus obtiveram medidas de 75
centímetros para esta variável.
O comprimento dos peixes pode estar relacionado com
vários fatores, como sexo, estrutura etária, estágio maturacional,
sazonalidade, condições ambientais, adensamento populacional e
disponibilidade de alimento (MAFRA et al., 2016).
As alterações histológicas de estágio I: levantamento do
epitélio respiratório (Figura 1-A), hiperplasia do epitélio lamelar,
fusão incompleta de várias lamelas e congestão vascular (Figura 1-
B) foram as mais frequentes em H. malabaricus e P. nattereri. A
observação de parasitos nas brânquias de P. nattereri (64%)
(Figura 1-C) foi intensa quando comparada com H. malabaricus
(9%) (Figura 1-D).
Figura 1 - Fotomicrografias de brânquias de Hoplias malabaricus e
Pygocentrus nattereri coletados no lago Viana, Área de Proteção
Ambiental da Baixada Maranhense. Em A Levantamento do epitélio
respiratório (setas) em H. malabaricus; em B Congestões vasculares
(asteriscos) e fusão incompleta de várias lamelas (setas) em Pygocentrus
nattereri; em C Parasitos (seta) em P. nattereri; em D parasitos em H.
malabaricus (seta). Coloração HE. Escala 500µm.
A B
* *
76
C D
A B
77
C D
78
Figura 3 - Em A: Frequências do Índice de Alteração Histológica em
brânquias de Hoplias malabaricus e Pygocentrus nattereri. Em B:
Frequências do Índice de Alteração Histológica em fígados de Hoplias
malabaricus e Pygocentrus nattereri.
A B
79
No fígado ocorre tanto a biotransformação, quanto a
acumulação dos produtos tóxicos e elementos-traço, de modo que
os hepatócitos ficam expostos a níveis elevados de agentes
químicos que podem estar presentes no ambiente ou em outros
órgãos do peixe. Esse padrão de diferenciação entre fígado e
brânquia, também tem sido observado para outras espécies de
peixes em estudos de campo (GHISI et al., 2016; PAULINO et al.,
2020).
As alterações em brânquia e fígado podem estar associadas
a possíveis substâncias com potencial de contaminação dos corpos
hídricos. O lago de Viana apresenta altas concentrações de
alumínio, ferro e manganês em seus componentes rochosos
(EMBRAPA, 2013). Esses elementos podem interagir com as
brânquias e causar toxicidade respiratória, por meio da produção
de muco e alterações nas lamelas branquiais (PEURANEN et al.,
2003) e sobrecarregar as funções do fígado. Além disso, na região
do lago de Viana existe grandes criações bovinos, bubalinos e
outros, o que reduz a qualidade dos sistemas hídricos, uma vez que
a concentração de grandes rebanhos compromete qualidade da
água, com o aumento de excrementos dos animais que pastam a
área.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
As espécies Hoplias malabaricus e Pygocentrus nattereri se
mostraram sensíveis a possíveis estressores presentes no ambiente,
podendo ser utilizadas em avaliações de impacto ambiental, uma
vez que apresentaram alterações histológicas nas brânquias e
fígado, indicando possível contaminação do lago de Viana.
Dessa forma, são necessárias ações conjuntas dos órgãos públicos
junto aos resultados apresentados pelas pesquisas financiadas por
meio das universidades para a realização de um estudo mais
80
aprofundado visando o manejo de atividades que possam
prejudicar a qualidade da água.
AGRADECIMENTOS
O presente trabalho foi realizado com o apoio do Programa
Nacional de Cooperação Acadêmica na Amazônia
PROCAD/Amazônia da Coordenação, Fundação de Amparo à
Pesquisa e ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do
Maranhão (FAPEMA) e do Laboratório de Biologia e Ambiente
Aquático (LABioAqua/UEMA).
REFERÊNCIAS
CAO, W.; LI, R.; CHI, X.; CHEN, N.; CHEN, J.; ZHANG, H.;
ZHANG, F. Island urbanization and its ecological consequences:
A case study in the Zhoushan Island, East China. Ecological
Indicators, v. 76, p. 1-14, 2017.
81
FRANCO, J. R. C. Sistema Lacustre Vianense: ensaios de
bases conceituais para os lagos do município de Viana-MA.
2008. 160p. Dissertação (Mestrado em Sustentabilidade de
Ecossistemas) - Universidade Federal do Maranhão, São Luís,
2008.
82
NOVAES, Glaucia Helena Castro de Freitas. Atuação dos
metais cobre e níquel em tecidos de Danio rerio: ênfase para
análise de biomarcadores histológicos e histoquímicos da
espécie Danio rerio. 2019. Dissertação (Mestrado em Ciências
Ambientais) - Universidade Estadual “Julio de Mesquita Filho”,
Sorocaba, 2019.
83
WALKER, C. H.; SIBLY, R. M.; HOPKIN, S. P.; PEAKALL, D.
B. Principles of Ecotoxicology. CRC press, 2012
84
DIVERSIDADE, DISTRIBUIÇÃO E CONSERVAÇÃO DE
AVES NA BAIXADA MARANHENSE
1,
Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Conservação da
Biodiversidade, Universidade Estadual do Maranhão.
2
Curso Ciências Biológicas Licenciatura, Centro de Estudos Superiores
de Zé Doca, Universidade Estadual do Maranhão.
3
Curso de Ciências Biológicas Bacharelado, Centro de Estudos
Superiores de Bacabal, Universidade Estadual do Maranhão.
*
E-mail do autor correspondente: [email protected]
RESUMO
A região da APA da Baixada Maranhense é um sítio Ramsar e importante
refúgio para as aves de áreas úmidas, pois abriga populações
significativas de várias espécies dependentes desses habitats, como
espécies de aves aquáticas, limícolas, residentes e migratórias. O trabalho
objetivou-se fazer um levantamento qualitativo sobre quais são as
espécies que se tem registros e quais as suas localidades de ocorrência na
região da Baixada Maranhense. Foram determinadas a riqueza e a
composição das aves palustres da Ordem Gruiformes, e das espécies de
aves pertencentes aos Charadriiformes, e identificadas áreas que possam
ser prioritárias para a conservação da biodiversidade na região. Foram
registradas 59 espécies através dos dados de ciência-cidadã, distribuídas
em 11 famílias, sendo as mais representativas Scolopacidae (n=17),
Laridae (n=15), Rallidae (n=14) e Charadriidae (n=6). Destas,
destacamos a ocorrência de espécies de aves migratórias e ameaçadas de
extinção, em nível nacional e internacional, o que demonstra a
importância da APA da Baixada Maranhense, não só em escala regional,
mas internacional como um importante sítio de reprodução e invernada
para espécies de aves dependentes de áreas úmidas residentes e
migratórias neárticas, respectivamente.
85
INTRODUÇÃO
86
temporários, contendo água estática ou corrente, doce, salobra ou
salgada, e que também inclui áreas de água marinha cuja
profundidade na maré baixa não ultrapasse seis metros (RAMSAR,
1994).
Muitas espécies de aves residentes e migratórias são
dependentes de áreas úmidas para alimentação, pouso/repouso e
nidificação. As aves residentes são aquelas permanentes e que têm
a sua estação reprodutiva na localidade. As aves categorizadas
como migratórias são aquelas que realizam a migração, um
deslocamento periódico, cíclico e anual, de uma região geográfica
para outra, geralmente associada a mudanças sazonais no
ambiente, como por exemplo às estações do ano, disponibilidade
de recursos alimentares e estação reprodutiva (BERTHOLD,
2001).
As aves dependentes de áreas úmidas habitualmente são
denominadas de aves aquáticas, o que restringe o conceito à
classificação taxonômica de determinadas famílias de aves, uma
vez que essa categorização leva em consideração espécies que
compartilham adaptações anatômicas, morfológicas e fisiológicas
(ACCORDI, 2010).
A Convenção RAMSAR definiu que aves aquáticas são
“aquelas espécies ecologicamente dependentes de áreas úmidas”
(RAMSAR, 1994), ou seja, aquelas espécies que dependem do
habitat aquático para forrageio, reprodução ou moradia
(WETLANDS INTERNATIONAL, 2006). Mas esse conceito
também acaba delimitando grupos taxonômicos em nível de
família: Ardeidae, Anhimidae, Anatidae, Anhingidae, Aramidae,
Balaenicipitidae, Burhinidae, Charadriidae, Ciconiidae,
Dromadidae, Gaviidae, Glareolidae, Gruidae, Erypygidae,
Ibidorynchidae, Laridae, Pedionomidae, Pelecanidae,
Phalacrocoracidae, Phoenicopteridae, Podicipedidae, Rallidae,
Recuvirostridae, Rostratulidae, Rynchopidae, Scopidae,
87
Scolopacidae, Sternidae, Threskiornithidae e Thinocoridae
(VIEIRA, 2017).
Outras espécies não possuem tais adaptações, são
específicas de outros hábitats, mas usam os ambientes aquáticos,
úmidos casualmente para nidificação, alimentação ou abrigo
(STOTZ et al., 1996; WELLER, 2003).
Assim, as aves de áreas úmidas contemplam grupos de
espécies com diferentes graus de dependência desses ambientes.
Os principais são: as aves marinhas (seabirds) cujo hábitat e fonte
alimentar são obtidos no mar, seja na zona costeira, longe da costa
(offshore) ou zona pelágica, como as fragatas, os pelicanos, os
albatrozes, os biguás, os trina-réis e as gaivotas; as aves costeiras
(shorebirds ou waders) que contemplam espécies das sub-ordens
Charadrii, Scolpaci e Alcae (sinônimo de limícolas); as aves
limícolas são aquelas que forrageiam e se alimentam de pequenos
invertebrados presentes no “limus” (lodo em latim), em alagadiços
e áreas pantanosas, sendo representadas pelas espécies de aves da
Ordem Charadriiformes, especificamente as Famílias Charadriidae
e Scolopacidae); as aves palustres (marshbirds e wetlandbirds)
contemplam as espécies que habitam solos encharcados d’água e
áreas pantanosas, sendo Anseriformes, Ciconiiformes,
Phoenicopteriformes, Gruiformes e Passeriformes as famílias
representativas; as aves Ripícolas (riparian birds) são aquelas que
habitam as margens de cursos d’água; e as Ribeirinhas (riverine)
que andam, vivem pelos rios (STOTZ et al., 1996; ACCORDI,
2010).
As áreas úmidas são extremamente ricas em
biodiversidade e devido à sua importância para grandes
congregações de aves aquáticas como garças, marrecos, patos,
saracuras, sanãs; e de aves limícolas, migratórias neárticas como
os maçaricos, batuíras e gaivotas foram denonimadas de Áreas
Importantes para as Aves e Biodiversidade (Important Bird Areas
88
– IBAs). De todas as aves globalmente ameaçadas, 12% dependem
de áreas úmidas, tanto nos sítios reprodutivos quanto nos sítios de
invernada (BIRDLIFE, 2021).
Os estudos e pesquisas sobre conservação de aves de áreas
úmidas tem crescido consideravelmente com a assinatura da
Convenção sobre Áreas Úmidas (Convenção RAMSAR), e do qual
o Brasil foi signatário em 1993. Até a década de 60, a maioria das
pesquisas com conservação de aves era ligada à etnoornitologia,
quando surgem esforços e uma preocupação em inventariar áreas
e conhecer a biologia das espécies, priorizando medidas e ações de
manejo e conservação (ACCORDI, 2010).
No Maranhão, os estudos com aves de áreas úmidas foram
realizados principalmente na zona costeira, com uma lacuna
temporal de quase 10 anos. Eles trazem informações ecológicas
espaciais e temporais da dinâmica de aves limícolas, migratórias e
aquáticas no Golfão Maranhense e no litoral oriental (e.g.
RODRIGUES, 2007; ALMEIDA & RODRIGUES, 2015; SOUSA
& RODRIGUES, 2015; RODRIGUES et al., 2015). Na Baixada
Maranhense existe uma imensa lacuna de conhecimento científico
sobre a avifauna, havendo uma grande necessidade de inventários
e de estudos voltados para o entendimento de padrões e processos
ecológicos, assim como de história natural das espécies. Apenas
um artigo publicado sobre a avifauna de Arari (ALTEFF et al.,
2019).
Nesse sentido, o presente trabalho tem como objetivo fazer
um levantamento preliminar das espécies de aves com ocorrência
na Baixada Maranhense através de dados de ciência-cidadã, a fim
de iidentificar as espécies com registros de ocorrência, sua
distribuição e áreas importantes para a conservação, com ênfase às
aves palustres e às da Ordem Charadriiformes, uma vez que
compreendem a maioria das espécies encontradas nos ambientes
89
de áreas úmidas e nos ecossistemas da Baixada Maranhense
(MARANHÃO, 1991; ACCORDI, 2010; ALTEFF et al., 2019).
METODOLOGIA
Área de estudo
O estudo foi realizado na região ecológica da Baixada
Maranhense, que está localizada a Oeste da ilha de São Luís, no
norte do Estado do Maranhão (1°59’ – 4°00’S e 44°21’ – 45°33’W).
É formada pelas bacias hidrográficas dos rios Mearim, Pindaré,
Pericumã, Aurá e Turiaçu que anualmente transbordam e inundam
as planícies baixas da região, formando grandes lagos, temporários
e permanentes (ALMEIDA-FUNO et al., 2010). Abrange uma área
de 1.775.035,6 ha, totalmente inserida no bioma Amazônico, mas
que inclui a zona Costeira e Marinha. A APA da Baixada
Maranhense contempla 47 municípios (SEMA, 2022).
90
Birds, Shorebirds, Migratory birds, Floodplains, Ramsar sites,
Wetlands.
Em seguida, os dados de presença nas duas principais
plataformas de dados de ciência cidadã de aves no Brasil: registros
de avistamentos no e-Bird (http://ebird.org) e imagens no
WikiAves (www.wikiaves.com.br). Apenas registros com
localização precisa e informações de data foram utilizados (LEES,
2016). E por fim, a classificação taxonômica e a nomenclatura das
espécies seguiram a adotada pelo Comitê Brasileiro de Registros
Ornitológicos (PACHECO et al., 2021).
PRINCIPAIS RESULTADOS
Os levantamentos preliminares identificaram até o momento
59 espécies de aves, pertencentes a 11 Famílias, distribuídas nas
Ordens Gruiformes e Charadriiformes (Tabela 1).
Dentre os Gruiformes foram documentadas 17 espécies que
estão distribuídas em quatro famílias: Aramidae, Psophiidae,
Rallidae e Heliornithidae, sendo a mais representativa Rallidae
(n=14; Figura 1).
Figura 1 - Famílias de aves da Ordem Gruiformes mais representativas
em espécies com ocorrência na Baixada Maranhense.
15
14
10
5
1 1 1
0
91
Apenas uma espécie é considerada parcialmente
migratória, o frango-d ’água azul Porphyrio martinica (Linnaeus,
1766). O jacamin – de -costas verdes Psophia viridis Spix, 1825 é
endêmica do Brasil e está ameaçada de extinção na categoria
Vulnerável, tanto a nível nacional quanto internacional (Tabela 1)
A sanã-preta Laterallus jamaicensis (Gmelin, 1789) também está
ameaçada de extinção na categoria Ameaçada (Tabela 1).
Quanto aos Charadriiformes, foram registradas 42
espécies, divididas em sete famílias (Charadriidae,
Haematopodidae, Recurvirostridae, Scolopacidae, Jacanidae,
Stercorariidae e Laridae). As famílias mais representativas foram:
Scolopacidae com 17 espécies, Laridae com 15 espécies e
Charadriidae com seis espécies (Figura 2), sendo que 27 espécies
são visitantes sazonais não reprodutivos, e quatro espécies são
vagantes. Cinco espécies estão na categoria vulnerável (VU):
Charadrius wilsonia (Ord, 1814), Thalasseus acuflavidus (Cabot,
1847), Calidris canutus (Linnaeus, 1758), Numenius hudsonicus
(Latham, 1790) e Sterna dougallii (Montagu, 1813); duas em
perigo (EN), Calidris pusilla (Linnaeus, 1766) e Thalasseus
maximus (Boddaert, 1783) de acordo com a Lista Brasileira de
espécies ameaçadas. Já na categoria internacional, a maior parte
das espécies está categorizada como pouco preocupante (LC) e
somente duas estão quase ameaçadas (NT), Calidris pusilla
(Linnaeus, 1766) e Calidris canutus (Linnaeus, 1758).
92
Figura 2 - Famílias de aves da Ordem Charadriiformes mais
representativas em espécies com ocorrência na Baixada Maranhense.
18
16
14
12
10
0
Scolopacidae Laridae Charadriidae
93
Tabela 1 - Lista de espécies de aves registradas na APA da Baixada
Maranhense, Maranhão, Brasil, através de levantamento bibliográfico e
dados de ciência cidadã, entre agosto de 2021 e agosto de 2022. BR:
residente ou migrante reprodutivo, VI (N): visitante sazonal não
reprodutivo oriundo do norte, VA (N): vagante do norte com status
presumido mas não confirmado, VI (E,N): visitante sazonal não
reprodutivo oriundo do leste Norte, VA (E): vagante oriundo do leste, VI
(N, E): visitante sazonal não reprodutivo oriundo do norte/leste, VI (S, N):
visitante sazonal não reprodutivo oriundo do sul/norte, En - endêmica do
Brasil (PACHECO, 2021), MPR - Parcialmente migratório
(SOMENZARI, 2018). NA: não avaliado; LC: pouco preocupante (least
concern), NT: próximo de estar ameaçado (near thretened), VU:
Vulnerável, EN: Em Perigo e CR: criticamente ameaçada (IUCN, 2022;
MMA, 2022).
Nome
Nome do Táxon Status IUCN/MMA
vernacular
Gruiformes
Aramidae
Psophidae
Jacamin-de-
Psophia viridis BR, En VU/VU
costas-verdes
Rallidae
Frango-d’água-
Porphyrio martinica BR, MPR LC
azul
Frango-d’água-
Porphyrio flavirostris BR LC
pequeno
94
Rufirallus viridis Sanã-castanha BR LC
Laterallus
Sanã-parda BR LC
melanophaius
Saracura-do-
Aramides mangle BR LC
mangue
Saracura-três-
Aramides cajaneus BR LC
potes
Heliornithidae
Charadriiformes
Charadriidae
Batuiruçu-de-
Pluvialis squatarola VI (N) LC
axila-preta
95
Charadrius
Batuíra-de-bando VI (N) LC
semipalmatus
Batuíra-de-
Charadrius collaris BR LC
coleira
Haematopodidae
Recurvirostridae
Pernilongo-de-
Himantopus mexicanus BR LC
costas-negras
Scolopacidae
Maçarico-de-
Numenius hudsonicus VI (N) LC/VU
bico-torto
Maçarico-de-
Calidris canutus VI (N) NT/VU
papo-vermelho
Maçarico-de-
Calidris fuscicollis VI (N) LC
sobre-branco
Maçarico-de-
Calidris melanotos VI (N) LC
colete
Maçarico-
Calidris pusilla VI (N) NT/EN
rasteirinho
96
Maçarico-de-
Limnodromus griseus VI (N) LC/EN
costas-brancas
Maçarico-
Tringa solitaria VI (N) LC
solitário
Maçarico-grande-
Tringa melanoleuca VI (N) LC
de-perna-amarela
Maçarico-grande-
Tringa inornata VA# (N) NA
de-asa-branca
Maçarico-de-asa-
Tringa semipalmata VI (N) LC
branca
Maçarico-de-
Tringa flavipes VI (N) LC
perna-amarela
Jacanidae
Stercorariidae
Laridae
Chroicocephalus Gaivota-de-
BR LC
cirrocephalus cabeça-cinza
97
Gaivota-de-asa-
Larus fuscus VA(E) LC
escura
VI (N),
Sternula antillarum Trinta-réis-miúdo LC
BR
Trinta-réis-
Sternula superciliaris BR LC
pequeno
Trinta-réis-
Phaetusa simplex BR LC
grande
Trinta-réis-de- BR, VI
Gelochelidon nilotica LC
bico-preto (N)
VI (N),
Sterna dougallii Trinta-réis-róseo LC/VU
VA (E)
BR, VI (S,
Thalasseus maximus Trinta-réis-real LC/EN
N?)
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A APA da Baixada Maranhense é uma importante região
para a conservação das aves de áreas úmidas, uma vez que abriga
espécies de aves residentes dependentes desses habitats, de
98
espécies migratórias neárticas e ameaçadas de extinção, a nível
nacional e internacional.
A sanã-preta Laterallus jamaicensis, por exemplo, é uma
espécie que possui registros recentes para o Brasil, sendo dois em
municípios da Baixada Maranhense. É uma espécie pouco
conspícua e com carência de informações sobre a sua biologia,
ecologia e status migratório, assim como sobre os seus padrões de
distribuição e ocorrência no Maranhão.
A Psophia viridis, apesar de não ser uma ave palustre, é
uma representante da Ordem Gruiformes, ameaçada de extinção na
categoria vulnerável, e que habita florestas úmidas de terra firme.
O registro desta espécie na APA da Baixada Maranhense, no
município de Bom Jardim, demonstra que a APA ainda contempla
remanescentes de florestas preservadas.
Apesar das pressões antrópicas encontradas na Baixada
Maranhense como a introdução de espécies exóticas (piscicultura
e criação de bubalinos), agricultura, poluição, caça e captura ilegal
de aves para a comercialização e criação como pets, a APA da
Baixada Maranhense abriga uma avifauna bastante diversificada e
de importância para a conservação da biodiversidade e de seus
ecossistemas associados, reforçando a necessidade de políticas
públicas voltadas para o uso sustentável dos recursos naturais e de
proteção da fauna silvestre na APA da Baixada Maranhense.
Os municípios que concentraram o maior número de
registros de espécies foram pontos de observadores de aves no
Maranhão, o que demonstrou um potencial de oportunidade
econômica para o desenvolvimento da observação de aves no
Estado, como ferramenta para a conservação, assim como
oportunidades de geração de renda. Além disso, através da
observação de aves e ciência cidadã é possível coletar dados de
ocorrência das espécies, distribuição, comportamento e
sazonalidade.
99
Relembramos que aqui são apresentados dados parciais
sobre a riqueza, composição e distribuição de espécies de aves na
APA da Baixada Maranhense, através de dados de ciência-cidadã.
A ausência de registros de espécies em determinadas áreas não
indica a sua ausência, mas sim a carência de inventários e de dados
populacionais da avifauna na baixada maranhense. Dados esses
primordiais para a implementação de ações de monitoramento,
manejo e conservação das espécies de aves.
Dessa forma, é emergente que ações de educação
ambiental com toda a comunidade, assim como projetos de
restauração ecológica e de alternativas de renda sustentáveis sejam
realizadas na APA da Baixada Maranhense, a fim de que sejam
mantidas a sua biodiversidade e seus serviços ecossistêmicos.
AGRADECIMENTOS
REFERÊNCIAS
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