Fato Jurídico - Ato Jurídico - Negócio Jurídico - Zeno Veloso
Fato Jurídico - Ato Jurídico - Negócio Jurídico - Zeno Veloso
Fato Jurídico - Ato Jurídico - Negócio Jurídico - Zeno Veloso
jurídico
ZENOVELOSO
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Os fatos jurídicos que resultam de aç(les ou extinguir direitos, porque nesse sentido se
humanas, que derivam de um comportamento exprime a vontade dos agentes".
do agente, que decorrem da vontade do ho- Informa José Carloo Moreira Alves (A Pll"l'-
mem, denominam-se. genericamente, atosjurl- /e Geral do Projeto de Código Civil Hrasí/ei-
dicos. ro, !986, Sarai"l'a, SP, p. 97) que é na disciplina
2. Para a doutrina clássica, de inspiração dos negócios jurídicos que o Projeto de Códi·
francesa, os mos Jw1clloos nao componam sub- go L"MI, no tocante a sua Parte Ucnll, apresenta
divis!!o. Abrangem todos os fatos jurldicos maiores alteraçlles em face do Código Civil vi-
dependentes de ação humana, ou cujos efeitos gente, ponderando que nfto se pode negar que
se P""noom à vt'lntade rln rleclor.mte atos juridioos há. a que os P"""'itos que l'égu-
O Código CiVil Brasileiro, seguindo o direi- lam a vontade negocia! nao têm inteim aplica-
to francês, adotou a teoria monista, deixando ção. di7.endo: "Atento a essa circunstância, o
de fazer qualquer segmcnlação dos atos jurídi• Projeto de Código Civil blllSileiro, no Livro 111
cos. conssdcrnndo romo Jais, englobadamente, de sua Pane Geral, substituiu a expressao ge-
todos os que produzem efeitos jurídicos em nérica ato jurldico. que se enconllll no Código
decorrência da ação humana, de comportameo· em vigor. pela designação especifica negócio
to do homem, ou da vontode do agente. ju,.ldico, pois é o este. c não ncccsso.riamcntc
Já a concepção dualis1a usa a express!!oato àquele, que se aplicam todos os preceitos ali
j urldico em sentido lato. distinguindo duas ca· constantes. E. no tocante aos atos jurídicos !l-
tcgori83: ato juridic:o em 3Cfltido c:strito e ncg6- eitos que nao s!!o negócios jurídicos. abriu-lhes
cio jurídico. um titulo. com artigo úni<::o. em que se dctermi·
Em razão da ciência pandectista alemã. do na que se lhes aplique. no que couber, as dis-
século XIX, foi criada a figura do negócio jurí- posiÇ<les disciplinadoras do negócio jurídico.
dico - Rechstsgeschi1j/. Da Alemanha, a dog· Seguiu-se. nesse tem:no, a oriemaçao adota-
mática do negócio jurídico se expandiu para da. a propósito. no art. 295." do Código Civil
todo o continente europeu. sendo, hoje, quase Português de I \16 7".
universalmente consagrada. embont não tenha 3. Já vimos que fatos jurídicos lato sensu
conseguido penetrar com sucesso na Fmnça. são acontecimentos natumis ou ações hurna·
nas que produ1em efeitos jurídicos. Os làtos
Na Alemanha, sobre o assunto. muitos e jurídicos oriundos de acontecimentos natumis,
renomados juristas cs'<;rcveram. podendo citar· sem ato ou vontade do homem, chamam-se fa-
se: Hugo (o primeiro a utilizar a expressAo Re- tos jurídicos stric/0 sen."'. Por sua vez. os fatos
chtsgeschttf/i. Savígny. Puchta, Tiúba~ Brinz, jurídicos que decorrem de comportamemo hu-
Thon. Windscheid. Büllow. Zitelmann. Regels- mano ou da manifestaç;lo da vontade denomi-
berger. Ennec<:erus, Manigk e Klein. Na Itália, nam-se atos jurídicos lato sensu, que se subdi-
onde a doutrina do negócio jurídico teve gran- videm em atos Jurídicos stricto :rensu (ou atos
de desenvolvimento, são importantes as obras jurídicos em sentido estrito, ou atos jurídicos
de Ferri, Santoro-Passarelli, Cari013·Ferram, não-negociais) c negócios JUrldloos. Façamos
Scognamiglio e Betti (este último, a maior cultu- a distinçllo entre as duas figuras.
ra jurídica recente da Europa). Na Espanha. há No ato jurídico em sentido estrito, a açao
o gnmdP.Iivrn tlf'o F'~rrir.n cl.P. C'.ll~fm y Rnwn F'/ humana ou a mtuUfcstaÇilo de vontade funcio-
Negocio Jurídico. na como mera pressuposto de efeitos preorde-
A doutrina brasileira, salvo poucas exce- nados pelo M. Tmla-se de CJISO em que o com·
ções, adota. francamente. a distinçllo entre ato oortamcnto ou a vontade concretiza. apenas, o
jurídico em sentido estrito e negócio jurídico. O suporte fático necessário para criar o fato. f3l.ê·
Código Civil Brasileiro. entretanto. nilo fez sc- lo cntmr ao mundo jurídico. A eficácia dele.
paraçllo, regulando, apenas. o ato jurídico. O porém, é predetenninada na lei. As conseqüên·
que t'tOSSO Código Civil. a:rt. 81, define como çjasjurídí~,;ru; dâcr-sc. no;:;essariamc:ntc. sem qut:
ato jurídico, na verdade. é negócio jurídico, a vontade do agente possa modificá-las, am-
devendo-se registrar que o art. 8 I inspirou-se pliá-las. restringi-las ou evitá-las.
no art. 437 do E.~<boço, de Teixeira de Freitas, Notc"'Soe. o ato jurídico em sentido oC$trito é
observando este jurisconsulto (Códif?.o Civil
t:l"hoço. ed. do Ministério da Justiça, 1983, v. l, fruto da ação humana. de uma atitude. de um
..
p. 147): '"Os atos jurídicos são declarações de comportamento. da manifcslação de vontade.
vontade. têm por fim imediato criar. modificar Porém. embora careça dtsto para existir (pres-
suposto), os efeitos ocorrem inexoravelmente, pondente ao resultado. O autor apre~~ta como
ex /ege, independentemente de terem s1do, ou exemplos dos chamados atos-fatos )und1cmr. a
não, queridos. A atitude humana ou a vontade, tomada de POsse. a espeefficação e a ocupação.
então, é dado necessáno e poderoso para cnar A ocupação é modo originário de aquisição
o ato. dar existência e vida ao fenômeno, mas da propriedade dos bens móveis, pelo fato de
não tem intensidade e força para estabelecer o alguém apreender a coisa sem dono. Aquele
rcsultado, nem o podçr dç provoca\" efeito dl- que se apropria da coisa que não tem dono -
verso. Não há regulamentação da autonomia res nullius res dere/icta•- adquire-lhe o do-
privada, mas uma detenninação do ordenamen- mínio (CócÜgo CiVil, artigo 592).
to jurídico. A lei fixa. ngorosamente. as conse-
qüências, sem levar em consideração uma cor- Na ocupação. diante do assenhorcamento,
respondente vontade de resultado do decla- do gesto, da atitude, a lei fixa a conseqüência,
rante, ou do agente. pela ação em si, pelo simples futo da apreensão,
sem eonsid~rar a vontade. A caça, a pesca, a
Pelo exposto, e segundo nossa visão, são
atos jurídicos em sentido estrito: fixação de invenção são fonnas de ocupação.
domicilio, reo:mhoomento de fihação, qwtação, O ribeirinho que lança a tarrafa na água, o
confissão, 1\()tificação, interpelação, emancipa- que quer~ apanharoJl,7h.epara alimentar-se e à
ção, declaração de nascimento, casamento, ad(}o família. E um ato mecamco, puramente externo,
ção. etc. o que ele pratica. E a lei confere efeitos a tal
atitude, por sua expressà'o extenor em s1, sem
Analisemos o domicilio: se alguém estabe- cogitações com relação à v~mtade do agente.
lece sua residência, com ânimo definitivo. prati- Por força do an. 600 do Cód1go C\V\1, pertence
ca mna ação, ou manifesta vontade, que é mero ao pescador o peixe que pescar. Trata-se de
pressuposto. simples suporte fátírode um efei- caso em que se ~dqnire a propriedade. Talvez o
IOjurtdico dctenninado na lei: a consutwçãode ribeirinho nem saiba que existe um Código Ci-
domicilio. Não pode a pessoa estabelecer efei- vil, e nem est«ía refletindo sobre qualquer efei-
to contrário, pretendendo, por exemplo, que, to juridico de seu gesto. O que quer é saciar a
embora seja ali a sua ~sidência com ânin;10 de- fome, sem se aperceber que o ato de pescar tem
finitivo. Mo seja no d1to local o seu dom1ciho. uma significação jurídica Há, no caso, mn com-
No mesmo sentido. o que reconhece a filiação, portamento que o direito considera relevan-
não pode afastar ou restringir os deveres pater- te, conferindo-lhe conseqüênctas.
nos. cogentemente disciplinados na lei. Pondere-se. todavia, que o comportamento
4. A doutrina alemã distingue, ainda. o que do ribeirinho, embora possa não ser intencio-
denomina atos reais ~ Rea/akten ~, ou atos nal (vontade de resultado). é uma atuação da
materiais 1'ath<mdlangcn , que siio os o.to:s vontade, alinal, um ato de vontade.
humanos dos quaís decorrem con!;eqüências Outro exemplo que se oferece dos ditos atos
jurídicas. sem que se dê relcvãncia ao elemento reai8 é a especificação. que consiste na opera-
volitivo. Diante de uma atitude, de um compor· ção pela qual uma pessoa transforma n coisa
tamento. da mera atuação ou conduta humana móvel, pertencente 11 oulrem, em espécie nova.
decorrem efeitos jurídicos, sem que se leve em Pela transfonnaçào da matéria-prima. através do
conta uma respectiva vontade do agente para a trabalho ou indústria, Clll espécie nova, o espe·
obtenção do rc:sultndo. cificador adquire-lhe a propriedade (Código Ci·
Pontes de Miranda (Tratado de Direito Pri· vil, art. 611 ). A pintura, a gravura, a escultura
vado, t. 11. § 2<~). p. 372) opinaqueelcsescapam são formas de especificação. O ato real do ho·
às çl::.~ses: dos negóc-ios jurídicos e dos atos mcm dctcrnrina 6 efeito jurídico, sem que valori-
juridiros stricto se~su, edenomina-os atos-fa_- ze a vontade. Marcos Bemades de Mello (Teo"
tos ;urídicos. Não e preciso que se tenha quen- ria do Fato Jurídico, l'cd.. 1985. p. 137)pon-
do ajuridici7ação deles. nem. obngatonamente.
a irradiação de efeitos. Sào atos humanos que • Res rml/ius é a coisa de ninguém, a coisa sem
entram no mundo jurídico por si mesmos. sem dono. e que nunca foi apropriada ~os anim~is br~vi
se atender à vontade dos agentes. A conduta os. nas florestas~ os peixes. r1os nos; os mmera1s e
em si é que lmporta. e n conseqüência jurídica vegetais que o mar lança nas praias). He.~ derelir::tu é a
se opera sem que se considere o elemento von· coisa sem dono. porém. que teve proprietilrio, e que
tade. o dado psiquico interior, a circunstância foi abandonada por este (derrelicção), com a inten-
de o agente ter. ou não. uma vontade corres- ção de dcsfa1,er-se dela (v. lnstituta.s, 2, 1, § 47; C. C.,
art. 592).
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duz efeitos - e efeitos jurídicos - que o consi· 9. Devemos observar. ai1lda, que er00ora n4o
dcra:mosfatojurldico, em sentido amplo. Oato se confundam o ato jurtdico em sentido estrito
jurídico em sentido estrito. bem como o ne~ó e o negócio Jutidico. isto nao significa que se-
cio jurtdico, têm de ser lícitos. Porém, tratando- jam entidades absolutamente distimas, ocupan-
se de fato juridiro Jato sensu. a figura compona do depanamentos estanques, impcnetr.ivcis,
tanto atos lícitos quanto atos illcitos. O que nada apresentando de comum ou semelhante.
nlo admitimos é que o ato ilicito seja um fato As duas figuras têm difen:!l\'U. lllllli, também
jurídico da espécie ato jurídico. Cabe, inclusi· similitudes, até pela razão de serem categorias
ve, questionar: por que agrupar, sob a mesma ou espécies de ato jurtdico em sentido amplo.
denominação- ato jurídico- tanto o ato lícito Há atos jurídicos .rtricto sensu, poJ1allto.
quanto o ato illcito'! Haverá lógica nisto? Esta· atos mio-negociais, que se parecem muito com
rá atendida a natureza das coisas? Favorecer.i a negóciosjuridicos(ex.: renúnciaabdicativa). Por
sistematização? Facilitará a compreensão da sua vez, há negócios jurídicos que se asseme·
dogmática jurídica? Sclvirá. de alguma forma, lham a atos JUri<licos em sentido estrito. Dado o
para melhorar o entendimento da ciênaa? que Josserand. com grande inspirar;ao, deno-
7. A dtstinção entre o ato jurídico em senti· minou "dirigismo contratual". com vistas a cor-
do eslrito e negócio jurídico, apesar de ser urna rigir as desigualdades de fato e alcançar a "fun-
criação dos pandecustas, e sua discussão ve· ção social" dos contratos, o Estado intervém
lha e revelha. com bem mais de cem anos, con· no campo econômico, ocorrendo casos em que
tinua CC'lntmvenida_ Procuntrnos assumir uma o conteúdo jurídico de certos tipos contraiU·
posição transacional entre as diversas teorias. ais, em grande extensão. é estabelecido pela lei,
Mesmo entre os que admitem a diferença, há cerceando-se o auto-regulamento do interesse
pontos de vista divergentes, inclusive no que particular. A locaçilo é um exemplo, sendo a lei
pertme aos exemplos ae uma ou outra catego- do inquilinato de dilcito p..ivado, ~m dúvida,
ria. Para maiores esclarecimentos, na doutrina mas impregnada de normas de ordem pública,
nacional, sugerimos: Orlando Gomes: Introdu· portanto, normas imperativas, cogentes, inder·
çifo ao Dir4'ifo Civil e 1'ransformaç~es Ge,-ais rogáveis pela vontade dos particulares. sendo
no D1reílo da obrigações~ Miguel Reale: [,;. muito escasso. extremamente limitado ocampo
çi!es Preliminare.; de Direito; Pontes de Mi· de atuação das partes, predominando o inte·
randa: Tratado de Dirello Privado, t. lll; Caio resse social sobre o individual. Quando se con·
Mário da Silva Pereira: Instituições de Direito trata o aluguel de um Imóvel, grande mlmero t1e
Civil, v I; Vicente Ráo: Ato Jurídico; Fábio efeitos, uma gama de direitos e obrigações de·
Maria de Mattia: in f.'nciclopédia Saràiva de corre da lei. e nilo. diretamente, da vontade dos
Dirc•lo, Y. 9; Mnrcos Bcrnard<:o de Mello: Teo· cnntntt,.ntf"oct QnPr e:l~ tP.nham. ou n;'io, P""'iç-
r1a do FatoJuridico; Darcy Bessone: Do Con· to, quer queiram, ou não, certas disposições
trato · Teoria Geral; Francisco Amaral: Direi· vigorarão, por determinaçao de normas legais
to Civil Brasileira -lntroduçifo; José Abreu: cogentes.
O Negócio Jurldico e sua 7eoria Geral; Cus- ~. J. Segundo seu conteudo e torça oonga-
tódio da Piedade Ubaldino Miranda: Teoria tória, as leis podem ser classificadas em cogen·
Gerai do Negócio Jurídico; Antônio Junquei· tes (jus wgens) c suplr;tivas (jus dispositivum,
ra de Azevedo: Negócio Jurídico Existência, oo ;us permi.rsivum). Dadn a importância do
111/idade e Eficácia. tema. creio ser oportuna uma ligeira digressão
sobre o mesmo.
8. A classificação que propomos expressa-
se no seguinte csqu.:ma: As leis cogentes representam normas ((ue
Ato illcito
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se impõem de modo absoluto. Sua obrigatorie- Lei do Inquilinato (Lei n.' 8.245. de 18.10.91).
dade é de alto grau, ora estabelecendo determi- Inspirado no artigo 5. 0 do "Esboço", de Tei-
nada conduta (lei imperativa), ora proibindo al· xeira de Freitas, o art. 17 da Lei de Introdução
gum procedimento (lei proibitiva). A violação ao Código Civil dispõe: "As leis, atos e senten-
de lei cogente implica, em regra, nulidade abso- ças de outro país, bem como quaisquer declara-
luta do ato praticado. Não é possivel, mediante ções de vontade, não terão eficácia no Brasil,
convenção ou acordo, afastar a incidência das quando ofcmlcrem a soberania nacional, a or-
leis cogentes, cujos preceitos são inderrogá- dem pública e os bons costumes".
veis, submetendo e subordinando a vontade
individual, a tal ponto que não se pode renun- Em Direito Internacional Privado (DTP), o
ciar a beneficios ou direitos que eles confiram. principal limite à aplicação da lei estmngeíra é a
Ulpiano. no Digesio (50, 17, 45, l ), já deixou ordem pública. Trata-se, aliás, de limite consa-
consignado: Privatorum conventio juri publi- grado universalmente. Comentando o artigo 17
co nu11 r.k1 u~at, es-tando, u.í, juri pulAi<.:u uu
da anti ,VIl .Irr qnetinha rffiaçlo ~mf;"lhante a
sentido de jus cogens. O Código Civil francês, da que atualmente vigora, Clóvis Beviláqua de-
artigo 6. 0 , acolheu o velho principio romano: fine: "Leis de Ordem Pública são aquelas que,
On ne peut déroger. par des conventions par- em um Estado. estabelecem os princípios, cuja
liculieres, aux /ois que intéressent I 'ordre pu~
manutençao se considera imllspensavel á or-
h/ic et/es bonnes moeurs "Não se pode revo- gani7.ação da vida social. segundo os preceitos
gar, por convenções particulares, as leis que inte- do Direito".
Jl."SSélm à onlt:m públi~..;a c aos bons costumes··. As leis supletivas (tambem chamaaas per-
São eogentes, por exemplo, no Código Ci- missivas. ou não-eogentes) contêm matérias em
vil, os artigos 5.", 82, 116, 130, 134,628,765,776, que os interesses individuais têm prevalência
920,922, 1.089, 1.125, 1.132, Ll33, 1.175, LIS2, sobre os da sociedade. Trata-se de nonnas in-
1.474, 1.483. 1.518, 1.572, 1.595, 1.603, 1.627, dicativas, que são aplicáveis nos casos em que
1.630, 1.650, 1.667, 1.720, 1.721, 1.729. as pessoas não tiverem disciplinado de outro
Dentre as leis cogentes. merecem destaque modo a questão. Nas leis supletivas. o preceito
especial aquelas que albergam princípios de não é absoluto. peremptório, nem tão rigoroso,
ordem pública. São leis que, embora atuando como no caso das leis coativas. A obrigatorie-
no campo do direito privado, visam a resguar- dade e a incidência da lei supletiva ficam na
dar c garantir interesses fundamentais da cole- dependência de a vontade individual não ter
tividade. Por sua finalidade social e rigorosa disposto diferentemente, ou seja, não ter afas-
imperatividade. assemelham-se muito às regras tado a regra legal, daí apresentar a norma suple-
de direito público. São de ordem pública as leis tiva um caráter subsidiário. Porém, na ausência
que definem o estado e a capacidade das pes- de declaração em sentido contrário, a lei suplc·
soas, que estruturam a família, que protegem as tiva adquire a força de jus cogens, ficando. por-
crianças e adolescentes, que organizam a pro- tanto. com o caráter de imperatividade.
priedade, especialmente a imobiliária, que regu- No Código Civil, são nomtas supletivas. por
lam o inquilinato, que estabelecem os direitos exemplo. osartigos638, 716, 764,864. 875,884,
dos consumidores. 889,943,950, 1.066, 1.129, Ll78.
Nem sempre é fácil concluir se dado precei- 10. Atenção especial deve ser dada aos wu-
to é de ordem pública. Deve o intérprete verifi- tratos de adesão. A característica principal des-
caro conteúdo e abrangência da norma, os in- ses contratos é a predominância absoluta de
teresses que ela protege, os fins sociais a que uma das partes: o contratante economicamente
ela se destina. mais forte. detentor de capital. grande fornece-
Em decorrência da passagem do Estado de dor de bens ou serviços, que predeterrnina o
Direito liberal para o Estado de Direito social, o conteúdo do contrato. endereçando-o à coleti·
ordenamento Jnrtdlco caaa vez mats tmpregna- vidaae. Aos imeressaaos, só resta comratar,
se de normas de ordem pública. ou não ("pegar ou largar"), sem possibilidade
São de ordem pública, por exemplo, quase de discussões prévias. ou de suprimir. alterar
todas ru; nomlas do direito de frunília e n maioria ou modific~r ~!; r:>!>tipulaçõei prel!dabelecida~.
dos preceitos do Estatuto da Criança e doAdo- Taís contratos têm exemplares reproduzidos em
lescente (Lei n." 8.069, de 13.7.90), do Código número indefinido. seu texto é rígido. uniforme,
do Consumidor (Lei n. 0 8.078, de 11. 9.90) e da gcralmeme impresso. padroni1.ado. estandardi-