Violencia Contra Mulher Creas
Violencia Contra Mulher Creas
Violencia Contra Mulher Creas
RESUMO
Este artigo apresenta os resultados parciais de uma pesquisa de conclusão de curso acerca da
reeducação/recuperação/ressocialização dos autores de violência contra a mulher atendidos
pelo Centro de Referência Especializado da Assistência Social – CREAS Maria Pureza,
situado em Aracaju/SE. As abordagens explicitam a representação dos técnicos e coordenação
do CREAS Maria Pureza sobre a violência contra a mulher e as ações para a reeducação do
autor de agressão, considerando a complexidade das relações sociais em que está inserido o
usuário que cometeu violência. Essa investigação utilizou-se da pesquisa qualitativa, onde as
informações foram colhidas através de entrevistas com cinco profissionais da instituição.
Este estudo tem o objetivo de demonstrar a importância do fortalecimento das ações
educativas com os envolvidos em violência doméstica contra a mulher
ABSTRACT
This article presents the preliminary results of a survey of completion on the rehabilitation /
restoration / rehabilitation of perpetrators of violence against women assisted by the Center
for Social Assistance Specialized Reference - Pureza CREAS Maria, located in Aracaju / SE.
The approaches an explicit representation of the technical and coordination of Maria Pureza
CREAS on violence against women and actions for the rehabilitation of the author of
aggression, given the complexity of social relations in which is inserted the user who
committed violence. This research made use of qualitative research, where the information
was collected through interviews with five professionals from the institution. This study aims
to demonstrate the importance of strengthening educational activities with those involved in
domestic violence against women.
A opção metodológica recaiu sobre o estudo de caso, entendido por Yin (2005) como
uma investigação empírica sobre um fenômeno contemporâneo dentro de seu contexto da vida
real, especialmente quando este fenômeno e o contexto não estão definidos claramente.
O trabalho em campo se desenvolverá, durante a realização da pesquisa com base na
consulta a diferentes fontes de coletas de dados para a produção do conhecimento sobre este
estudo:
a) Revisão da literatura, consulta a autores que teorizam sobre o objeto da pesquisa e
contribuem para um melhor aprofundamento teórico sobre o tema investigado.
b) Dados Estatísticos extraídos de sites especializados sobre as questões de gênero e
violência doméstica.
c) Entrevistas3 semi-estruturadas, realizadas com os profissionais (assistentes sociais,
psicólogas e coordenadora) da instituição, escolhidos intencionalmente4. A entrevista
semi-estruturada segundo Triviños (2007) é aquela que parte de questionamentos,
apoiados em teorias e hipóteses, mas que dá abertura para novos questionamentos e
produção de novas hipóteses, a partir das respostas do entrevistado.
Após a coleta de dados, realizar-se-á, a sistematização e organização dos dados para
uma melhor compreensão dos mesmos. Em seguida, a análise e interpretação de dados,
considerando que,
Estes dois processos, apesar de conceitualmente distintos, aparecem sempre
estreitamente relacionados. A análise tem como objetivo organizar e
sumariar os dados de forma tal que possibilitem o fornecimento de respostas
ao problema proposto para investigação. Já a interpretação tem como
objetivo a procura do sentido mais amplo das respostas, o que é feito
mediante sua ligação a outros conhecimentos anteriormente obtidos. (GIL,
2008, p. 156)
“Violência doméstica é qualquer ato que seja cometido por uma pessoa, que
cause danos, podendo ser físico, psicológico, financeiro, dentro do ambiente
familiar, [...] às vezes a gente fala da violência doméstica como se fosse
violência contra a mulher, homem e mulher, o casal, [...] a questão civil,
casou e cometeu a violência. Mas a violência doméstica ocorre também entre
pai e filho, mãe e filho, filhos e avós, tudo no âmbito familiar, [...]
consangüínea, afetiva, estando no âmbito familiar é violência doméstica.”
(Coordenadora)
É notável através das falas que a visão sobre violência doméstica é uniforme entre as
profissionais, à medida que, compreende-se a violência doméstica como uma ação ocorrida no
espaço doméstico que gera conseqüências e/ou danos aos envolvidos. Essa forma de violência
ocorre normalmente, no âmbito familiar, no entanto, não apenas com aqueles que possuem
um laço consangüíneo, mas também entre pessoas que mantém uma relação afetiva. Essa
violência apresenta diferentes tipos, como: a física, psicológica, sexual, moral, patrimonial e
etc..
A violência privada, segundo Faleiros (2004) deve ser visualizada como um fenômeno
societário complexo, que envolve as relações entre as forças sociais e políticas da sociedade,
como também as relações familiares, sendo assim, não poder ser analisada como casos
isolados, por culpa apenas do indivíduo, mas buscar situar em que contexto ele esta inserido,
considerando que, o desemprego, a incerteza, fragilização da cidadania e dos laços sociais e
comunitários contribuem para comportamentos desfavoráveis, resultado da frustração e da
impotência, diante da luta pela sobrevivência.
Sobre a relação entre a vítima e o agressor, observamos que,
“Eu acho que a família é importante, e a família deveria ficar sabendo, mas o
que acontece a maioria das vezes é que as pessoas que são agredidas
escondem que está sendo agredida, nem fala pra família do agressor e nem
fala pra família dela é como se tivesse camuflando, está tudo sempre bem.
Aí aparece com manchas, com hematomas, às vezes quando não é física, fala
só pelos cantos, mas não diz. E eu acho que era importante que a família
soubesse, tivesse conhecimento pra que pudesse ajudar, [...] aquela história
que diz: briga de marido e mulher ninguém mete a colher. [...] se a família
tiver conhecimento, tiver alguém que possa orientar, que possa procurar um
profissional que ajude, eu acredito que contribui para acabar com a agressão
[...]” (Coordenadora)
“Acredito que não. Os fatos de violência contra a mulher após a Lei Maria
da Penha em sua maioria, tornaram-se mais divulgados na sociedade devido
à lei, o que ajuda para que mais mulheres que sofrem violência denunciem.
No entanto, devido a lei ser relativamente recente, não acredito que tenha
havido diminuição da violência por conta da lei. ” (Assistente Social 2)
“No que se refere aos avanços para a qualidade, acredito que a equipe
anterior tenha conseguido, pois o serviço era novo e não tinha nenhuma
referência a seguir. Quanto à barreira, a principal que observo é o espaço
físico para o atendimento.” (Assistente Social 2)
De acordo com as falas das técnicas, percebemos divergências nas respostas sobre a
presença do trabalho interdisciplinar. Com isso destacamos a conceituação de
interdisciplinaridade exposta por Severino (1995, p. 12), “[...] diz respeito, fundamentalmente,
a uma tentativa unidade do Saber, esteja ele posto em ação no ensino, na pesquisa ou na
prática social.” Como sugere o autor, a interdisciplinaridade visa à unidade entre o saber, ou
seja, a unificação dos saberes onde as diferentes áreas articulam os seus conhecimentos, a fim
de alcançar um resultado.
Entre as respostas, uma profissional classificou o trabalho realizado como
multidisciplinar, onde os atendimentos realizados pela assistente social e psicóloga ocorrem
em momentos distintos. Compreendendo-se assim, que não há uma interlocução entre os
técnicos durante o atendimento.
Tendo em vista que a violência doméstica encontra explicações em diferentes ramos
das ciências, o trabalho interdisciplinar deve está presente nas ações profissionais, através de
uma interação entre as profissões. É importante ressaltar que a interdisciplinaridade, não
equipara os profissionais, e sim respeita a identidade profissional e propõe a integração do
conhecimento.
Sobre que sugestões as profissionais apresentam para melhoria das ações vinculadas
ao combate à violência doméstica, destacaram que:
Diante do que foi colocado pelas profissionais, percebemos a proposta de uma maior
divulgação da Lei Maria da Penha, onde através dessa divulgação as pessoas percebam, o que
a violência pode implicar na vida do agressor e da vítima. Evidenciando que, para o
enfrentamento à violência contra a mulher sejam desenvolvidas ações preventivas.
Mesmo com a Lei Maria da Penha e o Plano de Enfrentamento à Violência Contra a
Mulher é necessária a ampliação e consolidação de ações afirmativas que mostrem as famílias
e a sociedade em geral como a violência traz implicações que degradam o convívio familiar e
afetam toda sociedade, sendo o diálogo uma saída para resolução desses problemas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Através das representações dos técnicos do CREAS Maria Pureza, podemos constatar
que esse atendimento ao autor de agressão é o início de ações que se comprometem na busca
pelo fim da violência e nas novas relações que se estabelecerão pelo usuário na sua vida
cotidiana e o fim da reincidência nas relações afetivas fragilizadas.
A violência contra a mulher é algo que atinge além dos envolvidos, toda a família. Por
isso é necessário, que além das punições ao autor de agressão, os protagonistas da situação de
violência tenham acesso a atendimento psicossocial para que os mesmos superem a situação e
possam reconstruir as suas vidas. A recuperação, ressocialização e reeducação ao autor de
agressão é indispensável para uma reconstrução das relações sociais do indivíduo, esse
processo não substitui a punição do agressor, e não tem essa função, mas a partir desse
momento de reeducação o usuário tem a possibilidade de desconstruir a estigmatização sobre
a mulher e visualizar o quanto a violência é prejudicial a sua vida.
Contudo, através da pesquisa foi possível visualizar que o CREAS Maria Pureza tem
relevância no processo de reeducação dos seus usuários, que recebe um atendimento
especializado para os mesmos enfrentarem essa situação como cidadão de deveres, mas
também de direitos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BLAY, Eva Alterman. Violência contra a mulher e políticas públicas. Estud. av. [online].
2003, vol.17, n.49, p. 87-98. ISSN 0103-4014. doi: 10.1590/S0103-40142003000300006.
Acesso em 14 jan. de 2010.
GIL, Antônio Carlos. Métodos e Técnicas de Pesquisa Social. 6. São Paulo, Ed. Atlas, 2008.
VINAGRE, Marlise Silva. Violência contra a mulher: Quem mete a colher? São Paulo:
Cortez, 1992.
1
Graduanda em Serviço Social da Universidade Federal de Sergipe. Grupo de Pesquisa: Educação,
Formação, Processo de Trabalho e Relações de Gênero. E-mail: [email protected]
2
Doutora em Educação. Professora do DSS/UFS. Grupo de Pesquisa: Educação, Formação, Processo de
Trabalho e Relações de Gênero E-mail: [email protected]
3
Entrevista, tomada no sentido amplo de comunicação verbal, e no sentido restrito de coleta de
informações sobre determinado tema cientifico, é a estratégia mais usada no processo de trabalho de
campo. Entrevista é acima de tudo uma conversa a dois, ou entre vários interlocutores, realizada por
iniciativa do entrevistador. Ela tem o objetivo de construir informações pertinentes para um objeto de
pesquisa, e abordagem pelo entrevistador, de temas igualmente pertinentes com vistas a este objetivo.
(MINAYO, 2007, p. 64)
4
Também constitui um tipo de amostragem não probabilística e consiste em selecionar um subgrupo da
população que, com base nas informações disponíveis, possa ser considerado representativo de toda a
população. (GIL, 2008, p.94)