Conflitos Socioambientais de Populações Tradicionais - Doutorado
Conflitos Socioambientais de Populações Tradicionais - Doutorado
Conflitos Socioambientais de Populações Tradicionais - Doutorado
RECIFE
2020
1
RECIFE
2020
Catalogação na fonte
Bibliotecária Valdicéa Alves Silva, CRB4-1260
BANCA EXAMINADORA
________________________________________________________
Profº. Dr.ª Solange Laurentino dos Santos (Orientadora)
Universidade Federal de Pernambuco
_______________________________________________________
Profº. Drª. Maria do Carmo Martins Sobral (Examinadora Interna Prodema)
Universidade Federal de Pernambuco
______________________________________________________
Profº.Drª. Maria Cristina Basílio Crispim (Examinadora Externa Prodema)
Universidade Federal da Paraíba
_______________________________________________________
Profº Dra. Mírcia Betânia Costa e Silva (Examinadora Externa)
Universidade Federal de Pernambuco
______________________________________________________
Profº. Drª Mariana Olívia Santana dos Santos (Examinadora Externa)
Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães/Fundação Oswaldo Cruz
4
AGRADECIMENTOS
O agradecimento, tão raro nos dias atuais, é um exercício que deve ser praticado
diariamente. Dessa forma, foram vários os agradecimentos feitos em nome da
realização dessa pesquisa, se estendendo primeiramente a Deus, a meus familiares
por todo o apoio, a professores, pesquisadores, amigos e colegas.
À minha Mãe Vanise Alves, por todo o apoio racional e moral, conselhos, afeto e
principalmente amor.
Ao meu Avô Arnaldo Alves e Tios Wlamir Antônio e Walter Alves, homens de fibra e
caráter, em que me espelho.
Aos meus irmãos Antônio Victor e Maria Luiza, razões dos meus sorrisos nos
momentos de maior stress mental.
À mina esposa Laíse de Souza Elias, pelo amor, dedicação, companheirismo, apoio
incondicional, conselhos e constante presença nas minhas conquistas.
À Profª Drª. Solange Laurentino dos Santos, a quem sou extremamente grato pela
dedicação e orientação da minha pesquisa.
Aos meus colegas e amigos do PRODEMA, pelos bons momentos que vivemos
juntos e apoio ao longo do desenvolvimento da minha pesquisa.
À todos os outros amigos e colegas que contribuíram de forma direta e indireta para
a elaboração da presente pesquisa.
RESUMO
ABSTRACT
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 26 - Audiência pública com os moradores que residem em Suape ------ 118
LISTA DE ABREVIATURAS
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO -------------------------------------------------------------------------- 15
------- --
2 OBJETIVOS ----------------------------------------------------------------------------- 20
2.1 --
-------- OBJETIVO GERAL -------------------------------------------------------------------- 20
2.2 --
OBJETIVOS ESPECÍFICOS -------------------------------------------------------- 20
3 METODOLOGIA
-- ------------------------------------------------------------------------
21
3.1 -
TIPO DE ESTUDO --------------------------------------------------------------------- 21
3.2 ÁREA DE ESTUDO---------------------------------------------------------------------------- 21
----------------------------------------------------
----------
3.2.1 População do Estudo ---------------------------------------------------------------- 23
---------------------------------------------------------
----------
Seleçã SELEÇÃO
3.3 - DOS PARTICIPANTES ------------------------------------------------ 24
o
3.4 dos-- TÉCNICAS DE ENTREVISTAS----------------------------------------------------- 24
------------------------------------
partici
3.5 --
COLETA DE DADOS------------------------------------------------------------------- 25
----------
pantes
3.6 -
ANÁLISE DE DADOS ----------------------------------------------------------------- 27
---
----------
do
3.7 ---------------------------------------------------------------
--
CONSIDERAÇÕES ÉTICAS--------------------------------------------------------- 28
------
----------
estudo
4 -----------------------------------------
--
REFERENCIAL TEÓRICO-----------------------------------------------------------
------
- 30
4.1 UMA SÍNTESE DA HISTÓRIA DO PORTO DE SUAPE---------------------- 30
----------
4.1.1 A -- Evolução do Complexo Industrial Portuário de Suape em Quatro
--
Décadas----------------------------------------------------------------------------------- 32
4.1.2 ------------------------------------------------------------------------------
Os Impactos Ambientais Ocasionados pelas Atividades Produtivas
do CIPS------------------------------------------------------------------------------------ 35
4.2 POPULAÇÕES TRADICIONAIS---------------------------------------------------- 38
POPUL A
4.3 -- MATRIZ DE REPRODUÇÃO SOCIAL------------------------------------------ 40
AÇÕES
4.4 --
CRISE AMBIENTAL E O (DES)ENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL :
TRADI QUANDO AS FORÇAS PRODUTIVAS VIRAM FORÇAS
CIONAI DESTRUTIVAS-------------------------------------------------------------------------- 43
S
4.5 DA INJUSTIÇA AOS CONFLITOS SOCIOAMBIENTAIS--------------------- 50
4.6 O
-- RACISMO AMBIENTAL NO CONTEXTO BRASILEIRO --------------------54
4.7 ECOLOGIA POLÍTICA E EQUIDADE: A LUTA POR JUSTIÇA
AMBIENTAL------------------------------------------------------------------------------ 57
4.8 PARTICIPAÇÃO SOCIAL COMO PROCESSO DE LUTA POR
59
JUSTIÇA AMBIENTAL-----------------------------------------------------------------
4.8.1 ---------------
Empoderamento: uma ferramenta de fortalecimento social------------ 61
--
13
6 CONCLUSÕES-------------------------------------------------------------------------- 125
REFERÊNCIAS-------------------------------------------------------------------------- 128
APÊNDICE A - ROTEIRO DAS ENTREVISTAS------------------------------- 142
APÊNDICE B - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E
---------------------------------------------------
ESCLARECIDO ------------------------------------------------------------------------ 144
APÊNDICE C - ROTEIRO DE ENTREVISTA PARA SUAPE------------- 146
-APÊNDICE D - CARTA DE ANUÊNCIA------------------------------------------ 147
APÊNDICE E - ARTIGO PUBLICADO ------------------------------------------- 148
APÊNDICE F - ARTIGO PUBLICADO-------------------------------------------- 149
ANEXO A - PARECER DO COMITÊ DE ÉTICA------------------------------- 150
15
1 INTRODUÇÃO
2
Reprodução Social refere-se ao modo de como são produzidas e reproduzidas as relações sociais
na sociedade. É entendida como a reprodução da totalidade da vida social, não apenas a reprodução
da vida material e do modo de produção, mas também a vida espiritual e das formas de consciência
social através das quais o homem se posiciona na vida social (TANURI, 2010).
18
Dessa forma a pergunta que se coloca para o problema posto e que irá orientar
esta tese é: Como os conflitos socioambientais interferem nas dinâmicas sociais das
populações tradicionais residentes na área diretamente afetada pela implantação do
CIPS e quais conflitos enfrentados pela população podem ser superados?
20
2. OBJETIVOS
3 METODOLOGIA
Área de
Estudo
Nova Tatuoca
Área de Estudo
Eng. Massangana
4 REFERENCIAL TEÓRICO
3
Na sua primeira versão o plano Brasil em Ação contemplava investimentos em 42 projetos
considerados prioritários sendo 26 de cunho infraestrutural e 16 de cunho social (MONIÉ, 2009).
34
cais foi expandido por mais 965 metros, possibilitando que indústrias e empresas
investissem em suas instalações. A finalização dessa etapa abriu a possibilidade do
atracamento de grandes navios e a instalação de empresas e indústrias, atraindo
investimentos do capital privado. Dessa forma, o Porto de Suape tornou-se um hub
port4 brasileiro (ALVES, 2011).
Esses pontos elevaram o CIPS a uma condição de potencial concentrador
regional de cargas, colocando-se em condições de competição com qualquer outro
porto da Região Nordeste. Assim, Suape não tem apenas importância regional, mas
nacional, devido principalmente aos grandes investimentos que atrai. (ALVES,
2016).
A partir do século XXI, mais precisamente 2005, Suape passou a vivenciar
uma nova etapa caracterizada por uma verdadeira “avalanche” de investimentos
produtivos, através da chegada de indústrias de diferentes bandeiras internacionais
e setores da economia (Energia, Petróleo, Alimentos, etc.), tendo colaborado
diretamente para o crescimento econômico do Estado (SANTOS, 2012).
Ao menos três fatores principais podem ser destacados como facilitadores
deste novo momento; I) o ambiente de retomada da economia brasileira em novas
bases, em que o Nordeste passou a apresentar taxas de crescimento acima da
apresentada pelo Brasil, através do incentivo de políticas federais como o Programa
de Aceleração do Crescimento financiador de grandes projetos; II) decisão do
governo federal através da Petrobras de construir uma nova refinaria, depois de 28
anos, no Nordeste e também de reativar a indústria de construção naval a partir da
sinalização de encomenda de novos navios e plataformas feitas em estaleiros do
Brasil, o que viabilizou a implantação do estaleiro Atlântico Sul em Suape; III) a
postura e ação proativa do governo de Pernambuco em termos de política de
atração de investimentos, favorecida também pelo seu alinhamento político com o
governo federal (SANTOS, 2012).
Os indicadores econômicos mostram que o CIPS é visto como uma mola
indispensável de infraestrutura para grandes saltos econômicos. Esse megaprojeto
tem-se mostrado importante para a recuperação da força comercial do estado de
Pernambuco através da movimentação das importações e exportações, além de
4
Hub Port significa porto concentrador de cargas e de linhas de navegação. Esse termo procede das
estratégias para receber navios de grande porte, concentrar cargas e reduzir o número de escalas
adotadas pelas principais companhias (PORTOPÉDIA, 2011).
35
arrecadar boas cifras de impostos das indústrias que se inserem no seu interior
(ALVES, 2016).
Atualmente, o CIPS opera navios nos 365 dias do ano, além de possuir
aproximadamente 150 empresas em operação ou instalação no seu interior de
diversos ramos, dentre as quais se destacam: I) petróleo e gás (Refinaria Abreu e
Lima); II) petroquímica, têxtil sintético e resina plástica (Petroquímica Suape,
Mossi&Guisolf, Cristal Pet, Lorempet); III) naval (estaleiro Atlântico Sul, estaleiro
Promar, Construcap, Navalmare); IV) energia eólica (Impsa Eólica, RM Eólica); V)
Siderurgia (Companhia Siderúrgica Suape CSS); VI) alimentos e bebidas (Bunge,
Pepsico, Campari, Coca-Cola, Cereser); VII) cerâmica (Duratex, Pamesa); VIII) polo
de granéis líquidos e gases (Decal, GLP, Brasilgas, Petrobras, Ultracargo, Shell /
Esso / Ipiranga); IX) complexo logístico (Cone Suape), centrais de distribuição (CD
GM) e terminal de contêineres (Tecon). O somatório geral de investimento no CIPS
chega à ordem de 45 bilhões de reais, representando aproximadamente 60% do PIB
atual do estado de Pernambuco (SUAPE, 2015).
A consolidação do Porto de Suape foi extremamente importante para atrair
grandes empreendimentos ao seu complexo industrial, além de proporcionar o
fortalecimento da economia pernambucana. Porém, ao mesmo tempo, a sua
expansão vem modificando a dinâmica e paisagem dos locais sem considerar a sua
complexidade.
Segundo Santos (1996. p. 103), “a paisagem se dá como um conjunto de
objetos reais concretos”. Nesse sentido, “a paisagem é transtemporal, juntando
objetos passados e presentes, uma construção transversal”. Em relação ao
processo histórico de construção da paisagem, é também o “conjunto de formas
que, num dado momento, exprimem as heranças que representam as sucessivas
relações localizadas entre homem e natureza”. Nesse sentido, pode-se dizer que o
CIPS é concebido como uma paisagem jovem, criada por eventos notáveis como
grandes indústrias, que podem originar fortes impactos, principalmente, no ambiente
e na vida das populações tradicionais que se acham no seu interior e entorno.
6
Que pode variar segundo fatores históricos, culturais, sociais.
49
7
Essa expressão descreve áreas com atividades econômicas que geram problemas ambientais
próximas a assentamentos humanos, com moradores pobres e com pouca capacidade de pressão
política de resistência à proximidade de atividades poluidoras (BULLARD, 2005).
52
ambiental nos Estados Unidos durante a década de 1960, principalmente, por parte
de organizações que lutavam pela garantia dos direitos civis. Porém, pode-se
afirmar que é no início da década de 1980 que ganhou força a luta por justiça
ambiental através de uma articulação entre lutas de caráter social, territorial,
ambiental e de direitos civis que se consolidou em uma rede multicultural e
multirracial no enfrentamento do racismo ambiental (ACSELRAD, HERCULANO,
PÁDUA, 2004; ACSELRAD, MELLO, BEZERRA, 2009).
Assim, evidenciava-se a existência de situações de racismo ambiental em
sociedades desiguais, nas quais os grupos vulneráveis (populações de baixa renda
e racialmente descriminados), arcam com o ônus dos danos ambientais gerados
pelo desenvolvimento. Este conceito surgiu da experiência das lutas protagonizadas
por grupos vulneráveis e marginalizados, clamando por alternativas e soluções para
o fato de serem estes a suportar, de maneira desproporcional, a exposição aos
riscos ambientais, uma vez que seus locais de residência eram constantemente
escolhidos para os depósitos de lixo, aterros e incineradoras (VERDAN, 2016).
Herculano (2006, p.11) define racismo ambiental da seguinte forma:
Racismo ambiental é o conjunto de ideias e práticas das
sociedades e seus governos, que aceitam a degradação
ambiental e humana, com a justificativa da busca do
desenvolvimento e com a naturalização implícita da
inferioridade de determinados segmentos da população
afetados – negros, índios, migrantes, extrativistas, pescadores,
trabalhadores pobres, que sofrem os impactos negativos do
crescimento económico e a quem é imputado o sacrifício em
prol de um benefício para os demais.
A luta contra o racismo ambiental busca construir realidades mais justas como
o principio da justiça ambiental, termo que Bullard (2004, p.9) define como:
8
Equidade ambiental: reduzindo riscos para todas as comunidades. Tradução livre.
58
O empoderamento tem seu exórdio nas lutas pelos direitos civis, assumindo
significações que se referem ao desenvolvimento de potencialidades, à expansão de
informação e percepção, buscando uma participação real e simbólica que possibilite
a democracia (BAQUERO, 2001). Sua idealização conceitual iniciou na década de
1970 inspirada pelos movimentos de autoajuda; seguindo na década 1980 através
da psicologia comunitária, e, na década 1990, pelos movimentos que buscam
afirmar o direito de cidadania sobre distintas esferas sociais (CARVALHO, 2004).
62
Essas quatro propriedades são dinamizadas por fatores que o autor denomina
de oportunidades, responsáveis por alimentar o processo de formação e
desenvolvimento dos movimentos sociais.
Todas essas propriedades e dimensões de oportunidades são úteis para
analisar empiricamente os movimentos sociais em qualquer tipo de embate político,
especialmente, no que diz respeito à participação social nos conflitos
socioambientais.
Diante desse quadro teórico, pretende-se identificar os atores envolvidos e as
formas de participação social nos conflitos socioambientais existentes no CIPS. Por
isso, faz-se necessário discutir um pouco sobre os movimentos socioambientalistas,
uma vez que são os mais atuantes nesse complexo industrial.
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO
por se refletir no campo ambiental no qual o desprezo pelo espaço comum e meio
ambiente se confunde com o desprezo pelos moradores da comunidade. Os
vazamentos, a poluição dos rios, as doenças causadas por esses poluentes, a
retirada forçada dos moradores através da degradação dos recursos naturais que
permitem a sua subsistência e por forças externas, tudo isso, configura uma clara
situação de conflitos ambientais enfrentada por moradores da comunidade em
questão (HERCULANO, 2008).
As falas e a observação direta desses moradores demonstram como a
degradação ambiental influenciou negativamente nas condições de vida e
econômicas das comunidades, culminando em conflitos socioambientais na
dimensão ecológica e econômica.
Nesse sentido, a mobilização social da comunidade frente a esses fatores é
extremamente importante para dar visibilidade aos conflitos socioambientais
existentes na comunidade, para que a partir da pressão social fazer valer os direitos
sociais adquiridos, sejam criadas políticas públicas que possibilitem assegurar um
ambiente saudável para as populações locais.
Entrevistado 31. “ tem dia que o cheiro é tão forte que fico com
tontura”
Entrevista 33. “Tive que tirar o meu pai daqui por que ele já é
idoso e não aguenta mais ficar aqui”
Devido à implantação dos Estaleiros Atlântico Sul (Figura 11), uma série de
impactos ambientais surgiram, tais como: desmatamento de vastas áreas, incluindo
manguezais, redução na reprodução e na densidade de inúmeras espécies nativas
de crustáceos dos manguezais, como siri, aratu e caranguejo, e alteração no
ecossistema marinho e nos lençóis freáticos devido às dragagens para aprofundar o
canal do porto (DOMINGUES et al., 2014).
Relatos dos moradores denunciam o processo de vulnerabilização
ocasionado pela implantação do Estaleiro:
Entrevistado 56. “Foi muito ruim porque acabou com a pesca,
muitos peixes morreram”.
Entrevistado 67. “Já teve ano que essa lama chegou no meu
terraço”.
85
podem voltar às proximidades da ilha para pescar, não conseguem emprego formal
e estão adoecendo fisicamente e psicologicamente.
Dessa forma, para mitigar esses impactos, e, devido as atividades históricas
que ligam a comunidade ao mar e rios, esta tese apresenta como proposta a
implantação de um projeto de aquicultura, sendo precedida de estudos dos
parâmetros necessários para estabelecer a sua viabilidade compatível com as
condições ambientais, sociais, econômicas e legais.
A aquicultura é uma atividade que utiliza os recursos ambientais para o seu
desenvolvimento, podendo proporcionar aos moradores da comunidade um retorno
financeiro estimulador.
O empreendimento deverá ser acompanhado por entidades públicas
responsáveis pela gestão ambiental local, que atuarão durante e após o
licenciamento, exercendo o controle da atividade para garantir a efetivação das
recomendações técnicas e medidas mitigadoras dos impactos provenientes desta
atividade.
Além da proposta anterior, a comunidade de Nova Tatuoca possuía um
vínculo histórico com seu território, desenvolvendo atividades de subsistência
através da agricultura familiar, e, através das interferências constatadas na vida dos
nativos por parte deste empreendimento, propõe-se a implantação de um projeto
voltado para a agricultura familiar. É importante salientar que o CIPS já possui
projetos voltados para os agricultores e artesãos divulgarem e comercializarem seus
produtos. O Tô na Feira é um projeto que permite a venda dos produtos para os
colaboradores das empresas de Suape, gerando renda e fomentando o
empreendedorismo.
Contudo, para populações realocadas que possuem vínculo com o
campesinato, é de suma importância a criação de parcelas voltadas para a
agricultura familiar, onde cada família teria um local para desenvolver suas
atividades.
Esta proposta visa contribuir com as propostas elaboradas pelo CIPS, pois é
necessário construir políticas voltadas para a agricultura e segurança alimentar que
considere os aspectos sociais e ambientais, além dos aspectos econômicos, e sobre
a importância da participação dos agricultores familiares na construção desse novo
modelo.
96
Dessa forma, há necessidade de avaliar a real intenção desse plano, uma vez
que , no discurso abre a possibilidade de reassentar os moradores locais com intuito
de preservar os bens culturais e paisagísticos, mas tendo como real finalidade a
implantação de empresas nesses territórios. Também deve ser levada em
consideração neste plano a história da comunidade como um bem cultural, uma vez
que a identidade cultural tem sido um dos aportes que garante a perpetuação de
grupos e comunidades tradicionais, proporcionando relações sociais capazes de
estreitar os laços de solidariedade, sociabilidade e pertencimento entre os seus
membros. Ao se auto afirmarem pescadores, agricultores ou quilombolas, estas
comunidades, se diferenciando de outros povos, reafirmam seus laços de
pertencimento e de enraizamento ao território.
Para a efetividade desse planejamento, a área de atuação prática visa
estabelecer intervenções para a recuperação ou a conservação do patrimônio
cultural objetivando promover a valorização e a integridade cultural e material das
comunidades, visto que os monumentos naturais e culturais presentes na área de
Suape estão inseridos dentro das comunidades, tal qual: Engenho Massangana,
tombado, em nível estadual, como Parque Nacional da Abolição; O Bairro de Suape
que abriga o Parque Metropolitano Armando de Holanda Cavalcanti, patrimônio
cultural tombado em nível estadual, criado em 1979, onde está o conjunto histórico
do século XVI Vila Nazaré. Dentro da Vila, está a Igreja de Nossa Senhora de
9
O coque é um combustível sólido obtido do processamento de frações do petróleo. Sua composição
química é basicamente de carbono e hidrocarbonetos residuais (BAPTISTA; CARDOSO, 2013).
.
99
A partir do relato anterior, nota-se que os cargos nas empresas são ocupados
por profissionais que possuem um grau de qualificação diferenciado em relação à
maior parte dos moradores locais. Então, contrariando as expectativas, ditas no
discurso oficial, os fatos levam a concluir que não houve melhoria efetiva da
qualidade de vida da maioria da população envolvida no mercado de trabalho do
Complexo Industrial Portuário de Suape.
Para tanto, no PDS, a remoção das populações que hoje moram na zona de
proteção ecológica é de fundamental importância para a preservação do
ecossistema local, justamente estas que utilizam de forma sustentável o território há
séculos. Em contrapartida, os empreendimentos locados neste território e as futuras
instalações têm carta branca para suas atividades, desde que estejam em
obediência com as leis ambientais federais, estaduais e municipais e com os
conceitos e diretrizes incorporados rumo à sustentabilidade, devendo garantir a
sobrevivência assim como o bem estar de todos, direta e indiretamente afetados
(SUAPE, 2011). Todo este contexto de problemas apresentado surge através das
incoerências criadas a partir da preocupação com o crescimento econômico a todo
custo e a impunidade aos grandes centros industriais que criaram raízes na
sociedade, invertendo as posições. As indústrias, que têm obrigações e deveres
assumem a postura de fazedores de favores, já os nativos, que têm o direito de uso
da terra, são relegados à condição de dependentes.
Em relação à acelerada expansão de SUAPE, o PDS propõe que o CIPS
participe e promova, juntamente com o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente
(IBAMA) e a Companhia Pernambucana de Recursos Hídricos (CPRH), o
acompanhamento de todas as medidas de controle e mitigação dos impactos
ambientais a serem gerados pelos empreendimentos, para que sejam oferecidas as
diretrizes ambientais necessárias para a instalação de novos empreendimentos
industriais, compatibilizando-os com a conservação e preservação das áreas, sítios,
ambientes naturais e da própria paisagem. A própria empresa Suape afirmou que: “A
empresa Suape, sempre que identifica qualquer inconformidade de lei ambiental no
seu território, informa aos órgãos competentes para que possam adotar as medidas
cabíveis”.
No entanto, contrariando essa proposição, há relatos de crimes ambientais
cometidos por Suape, como a multa de 2,5 milhões de reais que o complexo levou
após denúncias feitas por pescadores e comprovadas pela CPRH de que as obras
realizadas no leito marinho (dragagem e derrocamento) para aprofundar o canal de
acesso ao porto impactam toda a cadeia produtiva da pesca artesanal da região,
causando a mortandade de peixes, inclusive de espécies protegidas por lei, como o
peixe mero e o boto-cinza. A Colônia de Pescadores Z-8 no Cabo, ressaltou que a
transformação do porto em complexo industrial portuário provocou um processo de
104
A CPT foi fundada no ano de 1975, em plena ditadura militar, como resposta
à preocupante situação vivida pelos trabalhadores rurais e posseiros,
principalmente, na Amazônia, explorados em seu trabalho, submetidos a condições
semelhantes ao trabalho escravo e expulsos das terras em que viviam (COMISSÃO
PASTORAL DA TERRA, 2010).
Os posseiros da Amazônia foram os primeiros a receber atenção da CPT. No
entanto, sua ação se ampliou para todo Brasil, pois os trabalhadores e as
trabalhadoras rurais em suas mais diversas categorias, independente de sua região,
enfrentavam e ainda enfrentam sérios problemas.
Suas ações destacam-se pela defesa dos direitos dos trabalhadores rurais,
principalmente, posseiros e sem-terra. Logicamente, cada região tem uma
peculiaridade específica, por isso, adquirem uma tonalidade diferente de acordo com
os desafios que a realidade apresenta. Assim, a CPT se envolve nas mais variadas
causas de populações atingidas pelos grandes projetos chamados de
desenvolvimentistas que expulsavam e ainda expulsam milhares de famílias pelas
suas instalações. É dentro desse contexto que a CPT tem desenvolvido suas
atividades no território de Suape.
Destaca-se ainda, que no caso de Suape, existe uma ação civil pública para
defender os territórios de pesca contra as dragagens e derrocagem dos territórios de
pesca (CONSELHO PASTORAL DOS PESCADORES, 2016).
110
10
Grupo armado de seguranças que prestam serviços terceirizados ao CIPS e que tem intimidado os
moradores das comunidades locais.
111
Figura 23. Moradores participam de audiências e relatam abusos sofridos pelo CIPS.
11
As minorias sociais são as coletividades que sofrem processos de estigmatização e discriminação,
resultando em diversas formas de desigualdade ou exclusão sociais, mesmo quando constituem a
maioria numérica de determinada população (PACHECO; PACHECO, 2016).
113
A luta pela defesa da terra é inseparável da defesa dos corpos das mulheres,
como primeiro território a libertar em um sistema que os explora. É necessário fazer
uma defesa mais abrangente do direito de decidir sobre o território, o corpo e a vida.
Somente unidas, as lutas têm chances de resistir e criar alternativas para
transformar o sistema capitalista e colonial.
Para elas, a defesa do território não é apenas uma questão de respeito ao
meio ambiente; ela tem a ver com a defesa de suas formas de vida, que têm
115
profundas raízes na vida da terra e na vida da comunidade, nas quais ainda existem
o cuidado mútuo e o valor do coletivo.
O território onde estão inseridas não é apenas o espaço físico em que elas
plantam, colhem, pescam e criam animais, entre outras atividades. Ele tem um
significado mais profundo: é o lugar onde se dão as relações humanas, a relação
com o entorno, e o que as possibilita de ter uma vida digna junto com suas famílias.
Por isso, esse movimento tem construído um novo imaginário político e de
luta, que se concentra no corpo das mulheres como primeiro território a defender.
Assim, o corpo se torna a primeira fronteira, o lugar a partir do qual, inicialmente de
forma individual e depois coletiva, defende-se a vida própria e a comunitária, os
saberes, a identidade, a memória. Associado a essa resistência está a defesa do
território, pois não se pode falar de corpos emancipados enquanto o ambiente
estiver sendo degradado e explorado, pois a libertação dos corpos passa pela
libertação da terra.
Nesse sentido, as mulheres representantes do CMC e das lideranças locais
têm lutado pela regularização fundiária das terras e pela permanência das
comunidades na região. Também têm atuado fortemente contra os abusos e as
violências praticadas por representantes de SUAPE e pela reparação dos direitos
das famílias que já foram removidas e ainda aguardam indenizações
Atualmente, o Centro das Mulheres do Cabo está coordenando o Fórum
Suape, que é uma organização da sociedade civil articulada em um fórum
permanente que visa mobilizar atores sociais envolvidos com os processos
descivilizatórios e discriminatórios provocados pelo CIPS aos residentes das
comunidades locais.
Outra ação da qual o Fórum Suape participou ativamente foi o que aconteceu
contra o racismo ambiental e a mobilização pela demarcação das terras da
comunidade Engenho Mercês. Até o ano de 2016 a comunidade era alvo de
intensos processos de racismo ambiental devido à vulnerabilização promovida pelo
CIPS à comunidade. Parafraseando Herculano (2006), o racismo ambiental não
está, unicamente, ligado à questão da cor, mas também ao conjunto de ideias e
práticas das sociedades e seus governos que aceitam a degradação socioambiental
de determinados segmentos sociais (pescadores, camponeses, negros, etc.) com o
pretexto do crescimento econômico. Contudo, essas são as parcelas que arcam com
a carga negativa do almejado progresso e são sacrificadas em benefício das
demais.
Uma estratégia do CIPS para a resolução desse problema é a realocação dos
moradores mediante indenizações; no entanto, estes não querem as indenizações,
mas sim manter vivas suas tradições e o direito à terra que é a fonte de suas vidas.
O receio em deixar seu território é um dos exemplos dos que foram indenizados e,
120
nos pescadores locais, visto que cerca de 70% a 80% das espécies de importância
econômica são espécies que utilizam-se desse ecossistema em pelo menos uma
fase de sua vida, portanto, a destruição dos manguezais gera uma interferência
direta na pesca local, deixando pescadores artesanais sem sua fonte de sustento;
aos meios de comunicação dominantes em Pernambuco que contribuíram para a
reprodução da voz hegemônica, segunda a qual retrata SUAPE como um grande
indutor de investimentos para o Estado, silenciando, contudo, os grandes impactos
socioambientais produzidos por ele; as graves intervenções no meio ambiente, que
repercutem diretamente sobre os modos de vida das populações tradicionais; as
remoções de milhares de famílias, que hoje passam por imensas dificuldades
financeiras, de saúde, alimentação etc., e a violência cotidiana a que as
comunidades estão submetidas (FÓRUM SUAPE, 2018b).
Diante do exposto, os movimentos aqui considerados se tornam de suma
importância, pois são espaços e momentos ricos de compartilhamento de
conhecimentos e representam mais um importante passo na luta de um povo que
quer permanecer em seu território ancestral e que vem passando por profundas
transformações.
É nesse cenário que são instaladas as lutas dos movimentos sociais, através
das quais são afirmadas as práticas participativas desses grupos. Logo, pensar em
espaços coletivos é necessariamente dar voz para que os principais interessados
possam tomar as decisões condizentes com cada realidade. Esse é sem dúvida o
grande diferencial da participação dos movimentos sociais. Pois no cenário politico
obscuro em que o país se encontra, grupos minoritários não têm voz ativa para
discutir seus próprios direitos perante a sociedade.
Nesse sentido, movimentos sociais que buscam a transformação social por
meio da mudança do modelo de desenvolvimento que impera no país, inspirados em
um novo modelo civilizatório no qual a cidadania, a ética, a justiça e a igualdade
social sejam imperativos, prioritários e inegociáveis, são indispensáveis para a
construção de um espaço público diferente do modelo neoliberal, construído a partir
de exclusões e injustiças. É preciso que sejam respeitados os direitos de cidadania e
que aumentem progressivamente os níveis de participação democrática da
população para que as minorias sejam capazes de sair dos cenários de invisibilidade
social, política, econômica e ambiental, vide as comunidades de estudo desta tese .
125
6 CONCLUSÕES
relação das populações locais com pesquisadores e movimentos sociais que primam
pela democracia da diversidade.
A atuação dos movimentos sociais na região do CIPS mostrou-se de suma
importância, pois amplia as possibilidades de organização de práticas sociais
participativas na construção de processos coletivos para o desenho de caminhos
alternativos e emancipatórios que conduzam à luta contra hegemônica, a favor de
uma sociedade democrática mais justa e igualitária.
Nesse sentido, pensar em qualidade de vida implica defender modalidades de
desenvolvimento sustentável que promovam mudanças qualitativas significativas e
que enfrentem as crises do crescimento econômico, possibilitando um
desenvolvimento que se reflita em melhorias nas condições sociais e ambientais das
diversas camadas da sociedade.
128
REFERÊNCIAS
AQUINO, S. S.; AGUIAR, A. L. O. Nada sobre nós, sem nós”: movimentos sociais à
luz das pessoas com deficiência Revista Includere, v. 2, n. 2, p. 129- 318, ed. 1,
2016.
ARRUDA, R. S. V; DIEGUES, A. C. Saberes Tradicionais e biodiversidade no
Brasil. Brasília: Ministério do Meio Ambiente; São Paulo: USP, 2001.
BREILH, J. Bases para uma Epidemiologia Contra Hegemônica. Ed. Fiocruz. Rio
de Janeiro, 2006. pág. 203.
Breilh J. Latin American critical ('Social') epidemiology: new settings for an old
dream. International Journal of Epidemiology. 37:745-750. 2009.
BOFF, L. Ecologia: grito da Terra, grito dos pobres. Editora Sextante. Rio de
Janeiro2004.
BULLARD, R. The Quest for Environmental Justice: Human rights and the politics
of pollution. Sierra Club Books. San Francisco, 2005.
HARVEY, D. O novo imperialismo. Edições Loyola. 7 ed. São Paulo, 2013. 201 p.
JORNAL GLOBO. CPRH multa Complexo de Suape em R$ 2,5 milhões por crime
ambiental. 2013. Disponível em:
<http://g1.globo.com/pernambuco/noticia/2013/09/cprh-multa-complexo-de-suape-
em-r-25-milhoes-por-crime-ambiental.html>. Acesso em: 30/06/2019.
OLIVEIRA, C. T. de. Modernização dos portos. Lex Editora, 4. Ed. São Paulo,
2007.
PORTO, M. F. Uma ecologia política dos riscos. Editora FIOCRUZ, Rio de Janeiro
2007.
SANTOS, M. Por uma geografia nova. São Paulo: Editora da Universidade de São
Paulo, 4ª Ed. 1996.
<http://basilio.fundaj.gov.br/pesquisaescolar/index.php?option=com_content&id=396
&Itemid=1> . Acesso em: 25/08/2016.
APÊNDICE A
ROTEIRO DAS ENTREVISTAS
APÊNDICE B
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Convidamos o (a) Sr. (a) para participar como voluntário (a) da pesquisa
Conflitos Socioambientais em Comunidades: perspectivas para superação da
invisibilidade que está sob a responsabilidade do pesquisador : Stevam Gabriel
Alves, residente na Avenida Doutor Belmínio Correia, 4115, Alberto Maia,
Camaragibe. Cep: 54771000. Telefone: 995736981. E-mail:
[email protected].
Todas as suas dúvidas podem ser esclarecidas com o responsável por esta
pesquisa. Apenas quando todos os esclarecimentos forem dados e você concorde
com a realização do estudo, pedimos que rubrique as folhas e assine ao final deste
documento, que está em duas vias. Uma via lhe será entregue e a outra ficará com o
pesquisador responsável.
Você estará livre para decidir participar ou recusar-se. Caso não aceite
participar, não haverá nenhum problema, desistir é um direito seu, bem como será
possível retirar o consentimento em qualquer fase da pesquisa, também sem
nenhuma penalidade.
INFORMAÇÕES SOBRE A PESQUISA:
Descrição da pesquisa: O Complexo Industrial Portuário de Suape é um
empreendimento de infraestrutura portuário e industrial que implicará em uma
reorganização territorial, com impactos diretos e indiretos no território e na
população.
Destaca-se então que projetos que auxiliem na melhoria da qualidade de vida da
população em geral são sempre bem-vindos, no entanto, é preciso cuidado com a
natureza, não só pensando no bem estar atual dos indivíduos e sim no futuro dos
mesmos e também no meio ambiente que se terá em decorrência de certas ações
hoje impensadas. Dessa forma, a pesquisa tem como objetivo geral analisar as
perspectivas e superação dos conflitos socioambientais das populações tradicionais
localizados na área de implantação desse complexo industrial e portuário. A coleta
de dados será mediante a gravação de entrevista.
Esclarecimento do período de participação do voluntário na pesquisa: o
número de visitas ao local do entrevistado será único, e a entrevista irá durar
cerca de 20 minutos.
Essa pesquisa apresenta como risco ao participante o desconforto sobre
respostas do seu ambiente de trabalho.
No entanto, para amenizar esse desconforto os benefícios diretos e indiretos
que a entrevista proporcionará será uma reflexão sobre a política ambiental
da empresa e como está pode ser melhorada.
Todas as informações desta pesquisa serão confidenciais e serão divulgadas
apenas em eventos ou publicações científicas, não havendo identificação dos
voluntários, a não ser entre os responsáveis pelo estudo, sendo assegurado o sigilo
sobre a sua participação. As entrevistas coletadas nesta pesquisa, ficarão
armazenados na pastas de arquivos do computador pessoal do pesquisador, sob a
145
___________________________________________________
(assinatura do pesquisador)
Nome: Nome:
Assinatura: Assinatura:
146
APÊNDICE C
ROTEIRO DE ENTREVISTA PARA SUAPE
1- Quais os programas ambientais vigentes em Suape que visem a minimização dos
impactos ambientais?
APÊNDICE D
CARTA DE ANUÊNCIA
_______________________________________________________________
Nome/assinatura e carimbo do responsável onde a pesquisa será realizada
148
ANEXO A
PARECER DO COMITÊ DE ÉTICA