Conflitos Socioambientais de Populações Tradicionais - Doutorado

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 151

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS


DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS GEOGRÁFICAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO E MEIO
AMBIENTE - PRODEMA

STEVAM GABRIEL ALVES

CONFLITOS SOCIOAMBIENTAIS DE POPULAÇÕES TRADICIONAIS NO


COMPLEXO PORTUÁRIO INDUSTRIAL DE SUAPE - PERNAMBUCO

RECIFE
2020
1

STEVAM GABRIEL ALVES

CONFLITOS SOCIOAMBIENTAIS DE POPULAÇÕES TRADICIONAIS NO


COMPLEXO PORTUÁRIO INDUSTRIAL DE SUAPE - PERNAMBUCO

Tese apresentada ao Programa de Pós-


Graduação em Desenvolvimento Meio
Ambiente como requisito para a obtenção do
título de Doutor.

Área de Concentração: Desenvolvimento e


Meio Ambiente.

Orientadora: Prof.ª Dr.ª Solange Laurentino


Coorientador: Prof. Dr. Cláudio Jorge de Moura Castilho

RECIFE
2020
Catalogação na fonte
Bibliotecária Valdicéa Alves Silva, CRB4-1260

A474c Alves, Stevam Gabriel.


Conflitos socioambientais de populações tradicionais no complexo
portuário industrial de Suape – Pernambuco / Stevam Gabriel Alves. –
2020.
150 f. : il. ; 30 cm.

Orientadora: Profª. Drª. Solange Laurentino dos Santos.


Coorientador: Prof. Dr. Cláudio Jorge de Moura Castilho
Tese (doutorado) - Universidade Federal de Pernambuco, CFCH.
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente, Recife, 2020.
Inclui referências, apêndices e anexos.

1. Gestão ambiental. 2. Comunidades diferenciadas. 3. Povos frágeis -


Recursos naturais. 4. Conflitos ambientais. 5. Poder - Decisão. I. Santos, Solange
Laurentino dos (Orientadora). II. Castilho, Cláudio Jorge de Moura (Coorientador).
III. Título

363.7 CDD (22. ed.) UFPE (BCFCH2020-124)


3

STEVAM GABRIEL ALVES

CONFLITOS SOCIOAMBIENTAIS DE POPULAÇÕES TRADICIONAIS NO


COMPLEXO PORTUÁRIO INDUSTRIAL DE SUAPE - PERNAMBUCO

Tese apresentada ao Programa de Pós-


Graduação em Desenvolvimento Meio
Ambiente como requisito para a obtenção do
título de Doutor.

Aprovada em: 12 de Março de 2020

BANCA EXAMINADORA

________________________________________________________
Profº. Dr.ª Solange Laurentino dos Santos (Orientadora)
Universidade Federal de Pernambuco

_______________________________________________________
Profº. Drª. Maria do Carmo Martins Sobral (Examinadora Interna Prodema)
Universidade Federal de Pernambuco

______________________________________________________
Profº.Drª. Maria Cristina Basílio Crispim (Examinadora Externa Prodema)
Universidade Federal da Paraíba

_______________________________________________________
Profº Dra. Mírcia Betânia Costa e Silva (Examinadora Externa)
Universidade Federal de Pernambuco

______________________________________________________
Profº. Drª Mariana Olívia Santana dos Santos (Examinadora Externa)
Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães/Fundação Oswaldo Cruz
4

Os frutos dessa pesquisa são dedicados a Edna


Ferreira Alves e Vanise Alves exemplos de força,
dedicação, companheirismo e amor.
5

AGRADECIMENTOS

O agradecimento, tão raro nos dias atuais, é um exercício que deve ser praticado
diariamente. Dessa forma, foram vários os agradecimentos feitos em nome da
realização dessa pesquisa, se estendendo primeiramente a Deus, a meus familiares
por todo o apoio, a professores, pesquisadores, amigos e colegas.

À minha Vó Edna Ferreira Alves in memorian, exemplo de força de vontade,


dedicação e amor. Motivo maior pela realização dos meus sonhos, sem ela não teria
chegado até aqui.

À minha Mãe Vanise Alves, por todo o apoio racional e moral, conselhos, afeto e
principalmente amor.

Ao meu Avô Arnaldo Alves e Tios Wlamir Antônio e Walter Alves, homens de fibra e
caráter, em que me espelho.

Aos meus irmãos Antônio Victor e Maria Luiza, razões dos meus sorrisos nos
momentos de maior stress mental.

À mina esposa Laíse de Souza Elias, pelo amor, dedicação, companheirismo, apoio
incondicional, conselhos e constante presença nas minhas conquistas.

À Minha Filha Maria Alice, razão dos meus sorrisos.

À Profª Drª. Solange Laurentino dos Santos, a quem sou extremamente grato pela
dedicação e orientação da minha pesquisa.

Ao Prof. Dr. Cláudio Jorge de Moura Castilho, pela co-orientação, confiança e


paciência que contribuiu para realização da pesquisa.

Aos Professores do Prodema da UFPE, pelos ensinamentos e conselhos no meu


projeto de pesquisa.

Aos professores, pesquisadores e colegas da Fundação Oswaldo Cruz de


Pernambuco, pela oportunidade de participar do Laboratório de Saúde, Ambiente e
Trabalhado (LASAT).

Aos Professores do IFPE, pela força, compreensão e conselhos acadêmicos e


pessoais.
6

Aos moradores da comunidade Engenho Mercês, Engenho Massangana e Nova


Tatuoca, a quem devo imensa gratidão pela participação ativa na pesquisa, sem
eles, esta não seria possível.

Aos membros da Secretaria do Prodema, em especial, a Solange, pela disposição


em tratar os assuntos pessoais de cada mestrando, com muita atenção, presteza, e
da forma mais correta.

Aos meus colegas e amigos do PRODEMA, pelos bons momentos que vivemos
juntos e apoio ao longo do desenvolvimento da minha pesquisa.

Ao Grupo de estudos Sambacaitá, formado pelos amigos que fiz no PRODEMA:


Afonso Reis, Antônio Pacheco e Jaílson Jorge, no qual, elaboramos alguns bons
trabalhos, além de aliviar nossas inquietações acadêmicas através de boas e
divertidas conversas.

À todos os outros amigos e colegas que contribuíram de forma direta e indireta para
a elaboração da presente pesquisa.

À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) pelo


fomento da pesquisa.
7

RESUMO

Um grande problema enfrentado pelas populações tradicionais é a


sobreposição de territórios por megaprojetos econômicos. A partir dos processos
geradores de desigualdades socioambientais ocasionados pela sobreposição
territorial emergem conflitos socioambientais. Este estudo objetiva analisar os
conflitos socioambientais nos territórios das populações tradicionais sobrepostas
pelo Complexo Industrial Portuário de Suape, considerando suas perspectivas de
superação da invisibilidade. Trata-se de um estudo analítico com abordagem
qualitativa desenvolvido em diferentes etapas. A coleta de dados se desenvolveu
através de observação direta, análise documental, revisão bibliográfica, realização
de entrevista com a Coordenação Ambiental de Suape e vinte e cinco participantes
em cada uma das comunidades de estudo no período de Novembro de 2018 e
Março de 2019. Realizou-se análise de conteúdo, sistematizada mediante
triangulação metodológica nas categorias analíticas da reprodução social. A análise
dos resultados revelou que o crescimento econômico promovido pelo CIPS não traz
benefícios para todas as camadas sociais, visto que as populações mais vulneráveis
sofrem com o ônus do progresso das mais variadas formas configurando situações
de conflitos socioambientais relacionados a questões de infraestrutura, degradação
ambiental, disputas territoriais, poluição hídrica e sonora. Os programas
socioambientais especificados pelos gestores e plano diretor do CIPS para
mitigação dos impactos socioambientais na vida das populações locais mostraram-
se ineficazes na resolução dos problemas. Os movimentos sociais atuantes no CIPS
visibilizaram a gravidade da relação entre injustiça social e degradação ambiental,
além de desenvolver estratégias de luta para empoderamento da população local.
Por fim, através dos resultados obtidos, pode-se concluir que os conflitos ambientais
têm interferido na qualidade de vida das populações locais. As medidas mitigadoras
promovidas, não condizem com as necessidades reais das populações locais, uma
vez que suas ações não estão adequadas para a resolução dos conflitos ambientais.
Nesse sentido, movimentos sociais, têm uma importância fundamental na superação
da invisibilidade socioambiental das populações locais, pois vem dando visibilidade
aos conflitos enfrentados por estas.

Palavras Chave: Populações Tradicionais. Vulnerabilidade Socioambiental.


Movimentos Sociais. Empoderamento.
8

ABSTRACT

A major problem faced by traditional populations is the overlapping of


territories by economic megaprojects. Socio-environmental conflicts emerge from the
processes that generate socio-environmental inequalities caused by territorial
overlap. This study aims to analyze the socio-environmental conflicts in the territories
of the traditional populations overlapped by the Suape Port Industrial Complex,
considering their perspectives to overcome invisibility. It is an analytical study with a
qualitative approach developed in different stages. Data collection was developed
through direct observation, document analysis, bibliographic review, an interview with
the Environmental Coordination of Suape and twenty-five participants in each of the
study communities in the period from November 2018 to March 2019. Content
analysis was carried out according to Bardin, systematized by methodological
triangulation in the analytical categories of social reproduction. The analysis of the
results revealed that the economic growth promoted by the CIPS does not bring
benefits to all social strata, since the most vulnerable populations suffer with the
burden of progress in the most varied ways, configuring situations of socio-
environmental conflicts related to infrastructure, environmental degradation ,
territorial disputes, water and noise pollution. The socio-environmental programs
specified by CIPS managers and master plan to mitigate socio-environmental
impacts on the lives of local populations have proved ineffective in solving problems.
The social movements active in the CIPS made visible the gravity of the relationship
between social injustice and environmental degradation, in addition to developing
strategies to fight for the empowerment of the local population. Finally, through the
results obtained, it can be concluded that the environmental conflicts caused by the
CIPS productive activities have interfered in the quality of life of the local populations.
The mitigating measures promoted, do not match the real needs of local populations,
since their actions are not adequate for the resolution of environmental conflicts. In
this sense, social movements are of fundamental importance in overcoming the
socio-environmental invisibility of local populations, as they have given visibility to the
conflicts faced by them.

Keywords: Traditional Populations. Socioenvironmetal Vulnerability. Social


Movements. Empowerment.
9

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 - Localização das comunidades Nova Tatuoca, Engenho Mercês e


Engenho Massangana no CIPS -------------------------------------------- 22
Quadro 1 - Critérios para escolha das áreas de estudo ------------------------------ 23
Figura 2 - Estaleiro Atlântico Sul, localizado na Ilha de Tatuoca, Cabo de
Santo Agostinho ---------------------------------------------------------------- 70

Figura 3 - Termelétrica Suape, localizada no Engenho Massangana,


Ipojuca ---------------------------------------------------------------------------- 71

Figura 4 - Refinaria Abreu e Lima, localizada no Engenho Mercês, Ipojuca - 71

Figura 5 - Vazamento de Efluentes Industriais da RNEST no manguezal----- 72

Figura 6 - Contenção do óleo vazado da RNEST no manguezal --------------- 74

Figura 7 - Área habitada por família na comunidade Engenho Mercês.


Distrito Industrial Portuário de Suape, Ipojuca-PE ---------------------- 76

Figura 8 - Rio degradado em função dos impactos ambientais advindos da


termelétrica ------------------------------------------------------------------------ 79
Figura 9 - Proximidade da termelétrica com a comunidade Engenho
Massangana, Ipojuca- PE ---------------------------------------------------- 80

Figura 10 - Moradias da Comunidade Nova Tatuoca --------------------------------- 82

Figura 11 - Estaleiro Atlântico Sul ---------------------------------------------------------- 83

Figura 12 - Deslizamento de barreira em Nova Tatuoca ---------------------------- 84

Figura 13 - Vazamento de esgoto na comunidade Nova Tatuoca ---------------- 85

Quadro 2 - Identificação dos Indutores de Conflitos Socioambientais através


87
da Matriz de Reprodução Social--------------------------------------------

Figura 14 - Zoneamento do Plano Diretor de Suape -------------------------------- 91

Figura 15 - Moradias em Nova Tatuoca, Cabo de Santo Agostinho – PE ------ 93

Figura 16 - Localização da Zona de Preservação Cultural da Ilha de Cocaia-- 97

Figura 17 - Manifestação contra as demissões em Suape ------------------------- 100

Figura 18 - Operação de dragagem em Suape ------------------------------------------- 104


10

Figura 19 - Termoelétrica instalada na comunidade Engenho Massangana,


Ipojuca-PE ------------------------------------------------------------------------- 106
Figura 20 - Estuário em que ocorre as dragagens, comprometendo a
atividade pesqueira. Suape, Cabo de Santo Agostinho – PE -------- 109
Figura 21 - Reunião da Comissao Pastoral da Terra com moradores das
110
comunidades inseridas no CIPS --------------------------------------------

Figura 22 - Audiência Pública promovida pela Assembleia Legislativa de


Pernambuco ---------------------------------------------------------------------- 111
Figura 23 - Moradores participam de audiências e relatam abusos sofridos
pelo CIPS -------------------------------------------------------------------------- 112
Figura 24 - Reivindicação do direito ao território promovida pelo CMC em
Ipojuca-PE ------------------------------------------------------------------------- 114

Figura 25 - Desocupação de posseiros pelos seguranças terceirizados no


Complexo Industrial Portuário de Suape --------------------------------- 117

Figura 26 - Audiência pública com os moradores que residem em Suape ------ 118

Figura 27 - Reivindicação dos moradores por isenção da taxa de pedágio no


Engenho Mercês, Ipojuca-PE ------------------------------------------------ 119

Figura 28 - Reunião de membros do INCRA com moradores do Engenho


Mercês, Ipojuca-PE ------------------------------------------------------------- 121
Figura 29 - Construção de moradia no Engenho Mercês, Ipojuca-PE ------------ 122

Figura 30 - Plantação na área da comunidade Engenho Mercês, Ipojuca-PE -- 122


11

LISTA DE ABREVIATURAS

ABC Agência Brasileira de Cooperação


AEA Avaliação de Equidade Ambiental

ALEPE Assembleia Legislativa de Pernambuco

CIPS Complexo Industrial Portuário de Suape

CMC Centro das Mulheres do Cabo


CPRH Companhia Pernambucana de Recursos Hídricos
CPT Comissão Pastoral da Terra
DHESCA Plataforma Brasileira de Direitos Humanos Econômicos, Sociais,
Culturais e Ambientais
EA Equidade Ambiental
IBAMA Instituto Brasileiro de Meio Ambiente
IPPUR Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional
INCRA Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária
MPF Ministério Público Federal
MPPE Ministério Público de Pernambuco
ONG Organização Não Governamental
PDS Plano Diretor de Suape

PRI Plano de Reassentamento Involuntário

RMR Região Metropolitana do Recife

SPC Setor de Proteção Cultural

TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

UNESCO Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a


Cultura

ZCS Zona Central de Serviços

ZIP Zona Industrial Portuária

ZPEc Zonas de Preservação Ecológica

ZPC Zonas de Preservação Cultural


12

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO -------------------------------------------------------------------------- 15
------- --
2 OBJETIVOS ----------------------------------------------------------------------------- 20
2.1 --
-------- OBJETIVO GERAL -------------------------------------------------------------------- 20
2.2 --
OBJETIVOS ESPECÍFICOS -------------------------------------------------------- 20
3 METODOLOGIA
-- ------------------------------------------------------------------------
21
3.1 -
TIPO DE ESTUDO --------------------------------------------------------------------- 21
3.2 ÁREA DE ESTUDO---------------------------------------------------------------------------- 21
----------------------------------------------------
----------
3.2.1 População do Estudo ---------------------------------------------------------------- 23
---------------------------------------------------------
----------
Seleçã SELEÇÃO
3.3 - DOS PARTICIPANTES ------------------------------------------------ 24
o
3.4 dos-- TÉCNICAS DE ENTREVISTAS----------------------------------------------------- 24
------------------------------------
partici
3.5 --
COLETA DE DADOS------------------------------------------------------------------- 25
----------
pantes
3.6 -
ANÁLISE DE DADOS ----------------------------------------------------------------- 27
---
----------
do
3.7 ---------------------------------------------------------------
--
CONSIDERAÇÕES ÉTICAS--------------------------------------------------------- 28
------
----------
estudo
4 -----------------------------------------
--
REFERENCIAL TEÓRICO-----------------------------------------------------------
------
- 30
4.1 UMA SÍNTESE DA HISTÓRIA DO PORTO DE SUAPE---------------------- 30
----------
4.1.1 A -- Evolução do Complexo Industrial Portuário de Suape em Quatro
--
Décadas----------------------------------------------------------------------------------- 32
4.1.2 ------------------------------------------------------------------------------
Os Impactos Ambientais Ocasionados pelas Atividades Produtivas
do CIPS------------------------------------------------------------------------------------ 35
4.2 POPULAÇÕES TRADICIONAIS---------------------------------------------------- 38
POPUL A
4.3 -- MATRIZ DE REPRODUÇÃO SOCIAL------------------------------------------ 40
AÇÕES
4.4 --
CRISE AMBIENTAL E O (DES)ENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL :
TRADI QUANDO AS FORÇAS PRODUTIVAS VIRAM FORÇAS
CIONAI DESTRUTIVAS-------------------------------------------------------------------------- 43
S
4.5 DA INJUSTIÇA AOS CONFLITOS SOCIOAMBIENTAIS--------------------- 50
4.6 O
-- RACISMO AMBIENTAL NO CONTEXTO BRASILEIRO --------------------54
4.7 ECOLOGIA POLÍTICA E EQUIDADE: A LUTA POR JUSTIÇA
AMBIENTAL------------------------------------------------------------------------------ 57
4.8 PARTICIPAÇÃO SOCIAL COMO PROCESSO DE LUTA POR
59
JUSTIÇA AMBIENTAL-----------------------------------------------------------------
4.8.1 ---------------
Empoderamento: uma ferramenta de fortalecimento social------------ 61
--
13

4.8.2 Movimento Social: uma ferramenta de ação coletiva--------------------- 63


-- Movimento Socioambientalista na Contramão da Hegemonia
4.8.2.1 O
Capitalista--------------------------------------------------------------------------------- 66
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO----------------------------------------------------- 69
5.1 --
CONFLITOS SOCIOAMBIENTAIS NO COMPLEXO INDUSTRIAL
PORTUÁRIO DE SUAPE------------------------------------------------------------- 69
5.1.1 -- Conflitos Socioambientais na Comunidade Engenho Mercês---- 72
Os
--
5.1.1.1 Conflitos Socioambientais Relacionados à Degradação Ambiental-------- 72
5.1.1.2 Conflitos Socioambientais Relacionados a Disputas--------------------------- 75
5.1.2 -Conflitos Socioambientais na Comunidade Engenho Massangana 78
5.1.2.1 Conflitos Socioambientais Relacionados à exposição de poluentes,
atmosféricos e sonoros---------------------------------------------------------------- 78
5.1.3 --
Conflitos Socioambientais na Comunidade Nova Tatuoca-------------- 81
-
5.1.3.1 Conflitos Socioambientais Relacionados à Infraestrutura da
Comunidade Nova Tatuoca----------------------------------------------------------- 81
5.1.4 -------------------
Matriz de Reprodução Social dos Conflitos Socioambientais no
CIPS---------------------------------------------------------------------------------------- 86
5.2 PROGRAMAS SOCIAIS, AMBIENTAIS E CULTURAIS DO
COMPLEXO INDUSTRIAL PORTUÁRIO DE SUAPE------------------------- 89
5.2.1 -------------------
Programa Habitacional de Interesse social----------------------------------- 89
--
5.2.1.1 Conjunto Habitacional Nova Tatuoca: uma outra realidade------------------ 93

5.2.2 -Planos de Preservação Cultural--------------------------------------------------


96
5.2.3 --
Plano de Qualificação Socioeconômica --------------------------------------- 99
5.2.4 -
Plano de Preservação do Meio Ambiente------------------------------------- 102
5.3 --
ATUAÇÃO DOS MOVIMENTOS SOCIAIS NO COMPLEXO
INDUSTRIAL PORTUÁRIO DE SUAPE ------------------------------------------ 107
5.3.1 A Comissão Pastoral da Terra---------------------------------------------------- 108
5.3.1.1 A Atuação da Comissão Pastoral da Terra no Complexo Industrial
Portuário de Suape--------------------------------------------------------------------- 108
5.3.2 Centro das Mulheres do Cabo----------------------------------------------------------- 113
5.3.2.1 A defesa do território se transforma na defesa da vida------------------------ 114

5.3.3 O Fórum Suape------------------------------------------------------------------------- 115


14

6 CONCLUSÕES-------------------------------------------------------------------------- 125
REFERÊNCIAS-------------------------------------------------------------------------- 128
APÊNDICE A - ROTEIRO DAS ENTREVISTAS------------------------------- 142
APÊNDICE B - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E
---------------------------------------------------
ESCLARECIDO ------------------------------------------------------------------------ 144
APÊNDICE C - ROTEIRO DE ENTREVISTA PARA SUAPE------------- 146
-APÊNDICE D - CARTA DE ANUÊNCIA------------------------------------------ 147
APÊNDICE E - ARTIGO PUBLICADO ------------------------------------------- 148
APÊNDICE F - ARTIGO PUBLICADO-------------------------------------------- 149
ANEXO A - PARECER DO COMITÊ DE ÉTICA------------------------------- 150
15

1 INTRODUÇÃO

O Brasil possui uma multiplicidade sociocultural que se exprime pelas


populações tradicionais, através da pluralidade de etnias, línguas, comportamentos,
saberes e modos de vida (SILVA, 2007). Segundo o autor, o principal desafio para
essas populações é o acesso ao território, pois, é nele que se dão suas práticas
culturais e socioambientais como: os modos tradicionais de distribuição e consumo
da produção; o manejo dos recursos naturais; a endoculturação; os acontecimentos
e/ou fatos históricos que compõem a identidade do grupo, e a reprodução dos
saberes tradicionais.
Outro ponto que tipifica a singularidade desses povos são seus processos
produtivos marcados pela economia de subsistência, na qual a produção é marcada
por questões ligadas às necessidades versus possibilidades. É importante frisar as
adversidades enfrentadas por esses povos no campo político e econômico,
sobretudo no que diz respeito ao reconhecimento das suas formas de organização
social (SILVA, 2007).
As populações tradicionais são definidas pelo uso sustentável da terra, pelo
destino da sua produção e o seu vínculo territorial, incluindo a sua situação fundiária,
pela importância que os ciclos naturais têm nas suas práticas produtivas, pelo uso
que fazem dos recursos renováveis e as práticas de uso comunitário dos mesmos,
pelo seu conhecimento profundo do ecossistema no qual vivem e pelo uso de
tecnologias de baixo impacto ambiental, por sua organização social, na qual a
família extensa representa papel importante, também por suas expressões culturais
e as inter-relações com outros grupos da região (LITTLE, 2005).
Devido ao fato de desenvolverem processos históricos dessemelhantes em
relação a outros segmentos sociais, ocasiona-se, ao mesmo tempo, uma riqueza
sociocultural, mas que é invisível ante a sociedade moderna. Essa invisibilidade dos
povos tradicionais é notada através das iniquidades de políticas públicas em
questões essenciais, como no acesso à terra, à saúde e à educação, tornando-as
vulneráveis e impedindo-as de reproduzir as suas práticas culturais, sociais e
econômicas (LITTLE, 2001).
Atualmente, um grande problema enfrentado pelas populações tradicionais é
a sobreposição territórial. Devido à vulnerabilidade dessas povoes, megaprojetos
econômicos como complexos industriais, portos, hidroelétricas, minerodutos, dentre
16

outros, instalam-se nos territórios já ocupados e destinam todo o passivo ambiental


de suas atividades produtivas às comunidades do seu entorno, interferindo
diretamente nos seus modos de vida.
Segundo Porto (2011), a dimensão central da vulnerabilidade decorre das
inequidades resultantes de processos econômicos e políticos que invisibilizam
minorias étnicas e grupos vulneráveis.
Um exemplo deste quadro, em Pernambuco, é o Complexo Industrial Portuário
de Suape (CIPS) que obteve, nos últimos anos, uma gama de investimentos tanto
do setor público quanto do privado, ocasionando um grande ciclo de crescimento
econômico. Sua importância estratégica vai além do Estado, sendo reputado como
um importante indutor do desenvolvimento regional. Segundo Braga e Lima (2009),
essa concentração de investimentos retrata uma boa perspectiva de crescimento.
Porém, traz no seu bojo, o risco de impactos sociais e ambientais de alta monta, a
exemplo de degradação e contaminação ambiental; remoção de populações
tradicionais que residem nas comunidades no seu interior, e migração intensa e
irregular que acarreta em aumento da demanda por habitação, transporte, serviços
sociais, infraestrutura e demais serviços.
Tal quadro, para muitos excluídos, sob o disfarce do desenvolvimento,
caracteriza-se pela desigualdade na distribuição dos bônus e ônus do progresso,
como injustiças e conflitos socioambientais, os quais desafiam a ciência, as práticas
acadêmicas, as políticas públicas e os grupos sociais que se organizam em
resistência e em defesa de direitos. Dessa forma, os problemas ambientais
decorrentes desse comportamento conformam sistemas complexos nos quais
interveem processos sociais, econômicos e políticos (AUGUSTO et al., 2005a).
Neste contexto, os problemas ambientais se acumulam e revelam situações de risco,
com impactos crescentes na qualidade do ar, da água, do solo e na qualidade de
vida da população (PORTO, 2007).
As populações que vivem de modo tradicional1, quando se deparam com
grandes empreendimentos nacionais ou internacionais, defrontam-se com grupos de
grande poder econômico e político. Dessa maneira, o uso do território tem
1
Diegues (2008, p. 89-90) pontua que o modo de vida tradicional tem como características: O fato do
conhecimento ser transferido de geração em geração pela oralidade; Uso e manejo dos recursos
naturais; A atividade produtiva tem seu foco na subsistência e o seu excedente é comercializado
localmente para obtenção de bens de primeira necessidade; A importância dada às simbologias,
mitos e rituais estão associadas à caça, pesca e às atividades extrativistas.
17

significados distintos, pois, enquanto um pretende utilizar os recursos existentes


para sua subsistência e reprodução social2, o outro faz uso do mesmo território para
desenvolver seus modos de produção. Assim, o resultado desse confronto é a
outorga do território para os agentes mais fortes, revelando o caráter desigual das
disputas (SILVA; GEHLEN, 2013).
A partir dos processos produtores de desigualdades ambientais relacionados
com o uso do território emergem os conflitos socioambientais, fundamentados na
ocorrência de efeitos indesejados de uma prática espacial sobre outra, colocando
em questão a forma de distribuição do poder sobre os recursos do território
(ACSELRAD, 2010).
O campo de estudos dos conflitos socioambientais vem exibindo nos últimos
anos um vasto potencial para a produção de pesquisas trans e interdisciplinares,
visto que a discussão em torno da problemática ambiental acentuou-se nas últimas
décadas.
Um dos maiores desafios aos pesquisadores é investigar as relações entre
esse rápido movimento de transformações ambientais globais e seus vários
desdobramentos, dentre os quais se destacam os impactos na reprodução social da
população.
Dessa forma, estabelecer relações entre ambiente, território e cadeias
produtivas é muito mais que caracterizar problemáticas fragmentadas em campos
distintos, como outrora se fazia. As conexões entre as transformações atuais de uma
economia globalizada, as radicais mudanças no ambiente natural e a complexidade
dos problemas que atingem as populações, sobretudo as tradicionais, merecem um
esforço de investigação que rompa com o paradigma cartesiano da ciência
positivista.
A literatura que trata da temática abordada (LITTLE, 2001; ACSELRAD et al.,
2004; PORTO, 2007; ZHOURI e LASCHEFSKI, 2010; PORTO, PACHECO e
LEROY, 2013) é unânime em apresentá-la sempre pela ótica da complexidade.
Afinal, seria ingênuo acreditar que não existe relação direta entre as estruturas

2
Reprodução Social refere-se ao modo de como são produzidas e reproduzidas as relações sociais
na sociedade. É entendida como a reprodução da totalidade da vida social, não apenas a reprodução
da vida material e do modo de produção, mas também a vida espiritual e das formas de consciência
social através das quais o homem se posiciona na vida social (TANURI, 2010).
18

produtivas da economia que se abrigam no território, a exploração dos recursos


naturais e os consequentes impactos de degradação ambiental, bem como os
agravos na qualidade de vida das mesmas.
A propósito, no início do século XX, mediante uma perspectiva complexa do
mundo, o geógrafo Jean Brunhes já alertava para as questões ambientais na medida
em que se preocupava com problemas referentes aos desmatamentos, degradação
de solos, aniquilamento de animais e seres humanos em função do capital. Dessa
forma, o presente autor “chama a atenção para a necessidade de se rever as
práticas de uso e ocupação do solo, vegetação, águas, bem como a natureza das
relações sociais vigentes, propondo o que denominou de sábia economia da terra”
(CASTILHO, 2017 p. 267).
Com este direcionamento é que se pretende investigar, no Complexo
Industrial Portuário de Suape, localizado no litoral sul de Pernambuco, o quão forte é
esse elo entre ambiente, território e modelos de produção, de modo a contribuir, com
uma discussão teórico-aplicada, para o avanço dos estudos sobre conflitos
socioambientais e, também, apontando alguns possíveis caminhos para os gestores
das políticas de meio ambiente, uma vez que, dificilmente, esses setores
desenvolvem ações práticas.
Este território exibe características peculiares quanto aos meios produtivos
intensivos no uso de recursos naturais, ou que geram uma carga de poluição
excessiva devido à própria natureza da atividade. Investigar as relações entre a
organização territorial produtiva baseada na exploração e/ou degradação dos
recursos naturais e seus impactos nas populações locais é de suma importância nos
dias atuais, pois os resultados da análise podem indicar correlações entre
determinadas atividades produtivas que degradam o meio ambiente e possíveis
interferências na qualidade de vida da população, além de subsidiar a formulação de
políticas públicas para melhorias sociossanitárias da população.
Nesse sentido, o trabalho parte da hipótese de que os processos de
industrialização do CIPS, mediante apropriação privada da terra, sobreposição de
territórios e degradação do ambiente local, interferem na qualidade de vida das
populações locais, provocando o surgimento de conflitos ligados a questões
ambientais e territoriais, sendo estes fundamentais para dar visibilidade às
iniquidades sofridas por essas populações.
19

Dessa forma a pergunta que se coloca para o problema posto e que irá orientar
esta tese é: Como os conflitos socioambientais interferem nas dinâmicas sociais das
populações tradicionais residentes na área diretamente afetada pela implantação do
CIPS e quais conflitos enfrentados pela população podem ser superados?
20

2. OBJETIVOS

2.1 OBJETIVO GERAL

Analisar os conflitos socioambientais nos territórios das populações tradicionais


sobre os quais se sobrepuseram interesses do Complexo Industrial Portuário de
Suape, buscando perspectivas de superação da invisibilidade socioambiental.

2.2 OBJETIVO ESPECÍFICOS

a) Identificar os tipos de conflitos socioambientais nos territórios afetados pelas


atividades produtivas do Complexo Industrial Portuário de Suape, segundo as
categorias da Matriz Reprodução Social.

b) Especificar os Programas Ambientais do Complexo Industrial Portuário de Suape


direcionados para a mitigação de impactos ambientais e socioeconômicos das
populações vulneráveis.

c) Caracterizar os movimentos sociais que atuam no enfrentamento dos conflitos


socioambientais, apresentando suas estratégias de ação para o empoderamento
da população local.
21

3 METODOLOGIA

3.1 TIPO DE ESTUDO


O estudo tem um caráter qualitativo, uma vez que possui como finalidade o
aprofundamento da compreensão da natureza de um determinado grupo social no
seu ambiente de existência, movimentando-se em algum sentido. Segundo Minayo
(2001), este tipo de pesquisa trabalha com o universo de significados, motivos,
aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais
profundo das relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser
reduzidos à operacionalização de variáveis.
Entende-se que esta abordagem, enquanto exercício de pesquisa permite que
a imaginação e a criatividade levem os investigadores a propor trabalhos que
explorem novos enfoques. Sugere ainda que a pesquisa ofereça ao pesquisador um
vasto campo de possibilidades investigativas que descrevam momentos e
significados rotineiros e problemáticos na vida dos indivíduos, utilizando uma ampla
variedade de práticas com intuito de conseguir compreender melhor o assunto que
está ao seu alcance (TUZZO; BRAGA, 2016).
Outro ponto relevante da pesquisa qualitativa diz respeito à importância do
ambiente natural como fonte direta dos dados para o pesquisador, pois imergem no
mundo dos sujeitos observados, tentando entender o comportamento real dos
informantes, suas próprias situações e como constroem a realidade em que atuam
(OLIVEIRA, 2009).

3.2 ÁREA DE ESTUDO

A área de estudo compreendeu três comunidades compostas por populações


tradicionais: Engenho Mercês, Engenho Massangana e Nova Tatuoca, localizadas
no território diretamente afetado pelo CIPS nos municípios de Ipojuca e Cabo de
Santo Agostinho, respectivamente. Ela se localiza, portanto, no setor sul da Região
Metropolitana do Recife (RMR), distante cerca de 40 km da capital Recife (Figura 1).
Figura 1. Localização das comunidades Nova Tatuoca, Engenho Mercês e Engenho Massangana no CIPS.

Área de
Estudo
Nova Tatuoca

Área de Estudo
Eng. Massangana

Área de Estudo Porto de


22

Eng. Mercês Suape

Fonte: PÉREZ; GONCALVES, 2012.


23

3.2.1 População do Estudo

Diante de um território em que se encontram 28 comunidades, para o estudo,


foram selecionadas 03 (três), conforme critérios que atendiam aos objetivos traçados
(Quadro 1).

Quadro 1. Critérios para escolha das áreas de estudo


Aspectos Comunidades Nº de Famílias Atividades
Determinantes Tradicionais
Inserção nas áreas que Agricultura
sofrem os maiores Subsistência
impactos decorrentes Engenho Mercês 80
das obras de expansão Pesca Artesanal
do CIPS
Populações Agricultura
Tradicionais Subsistência
Pescadores Artesanais Engenho 500
Marisqueiras Massangana Pesca Artesanal
Camponeses
População que migrou
em função da remoção Pesca Artesanal
de seus territórios para
a implantação de Nova Tatuoca 75 Mariscagem
empreendimentos
Fragilidades nas
políticas sociais
Fonte: Elaborado pelo autor, 2019.

A partir dos aspectos determinantes apresentados acima, as comunidades


foram escolhidas por estarem inseridas em um contexto de maior vulnerabilidade
socioambiental.
As populações que fazem parte do estudo possuem vínculos com
territorialidades quilombolas, camponesas, de pescadores e marisqueiras, sendo
escolhidas por exercerem atividades tradicionais.
24

A comunidade de Tatuoca, segundo Fon (2015) é composta por


aproximadamente 75 famílias com características de atividades voltadas para a
pesca e coleta de mariscos. Fizeram parte da pesquisa os marisqueiros e
pescadores por historicamente trabalharem na atividade pesqueira e também pelo
fato de ser a primeira comunidade realocada do seu território devido às instalações
dos estaleiros.
A comunidade quilombola Engenho Mercês, segundo Alves (2016) é
composta por aproximadamente 80 famílias, e suas atividades são voltadas para a
agricultura familiar e pesca artesanal. Agricultores e pescadores foram o público alvo
por desenvolverem a atividade mais marcante da comunidade, visto que desde a
época que o território atual Suape era ocupado pelo monocultivo da cana-de-açúcar
e usinas açucareiras, os moradores dessa comunidade já utilizavam o local para
pesca e agricultura de subsistência.
A comunidade Engenho Massangana tem a maior extensão territorial das
três; o que acontece, principalmente, pelo fato da maior parte dos moradores ter a
posse de sua terra e de acordo com o Fórum Suape (2017) tem aproximadamente
500 famílias. As atividades características dessa comunidade são as mais
diversificadas, visto que nela há marisqueiros, pescadores, catadores de caranguejo,
agricultores e trabalhadores da própria empresa Suape.
As populações estudadas são consideradas tradicionais, seus habitantes
ainda resistem e reproduzem seus hábitos culturais como pesca e a colheita de
frutas sazonais (ALVES, 2016). No entanto, por estar localizada em meio a grandes
empreendimentos, como, por exemplo, o estaleiro Atlântico Sul, há uma
descaracterização contínua dos seus territórios através das mudanças promovidas
por grandes indústrias.
No campo institucional, participaram do estudo os gestores da coordenação
ambiental de Suape, pois estes são responsáveis por poderem possibilitar caminhos
para um desenvolvimento que harmonize o crescimento econômico com o bem-estar
da população.

3.3 SELEÇÃO DOS PARTICIPANTES

Em vista das comunidades serem distantes uma das outras e possuírem


demasiado contingente populacional, a pesquisa de campo foi realizada com as
populações tradicionais em dois períodos distintos, sendo a primeira etapa, durante
25

o mês de novembro de 2018 e a segunda etapa, entre os meses de fevereiro e


março de 2019. Os critérios de seleção dos entrevistados nas comunidades foram:
residir na comunidade há mais de dez anos, ser maior de 18 anos e ser morador
nativo da região.
A escolha dos entrevistados nas comunidades foi feita através da técnica
indicação sucessiva, pela qual o primeiro informante entrevistado indicava o outro e
assim sucessivamente. Poupart et al (2008) afirmam que tal técnica analisa um
grupo relativamente homogêneo, isto é, organizado pelo mesmo conjunto de
relações socioculturais.

3.4 TÉCNICAS DE ENTREVISTAS

O roteiro para entrevista foi estruturado com 24 perguntas relacionadas com a


interferência das indústrias do CIPS nas comunidades; a contaminação ambiental; a
utilização dos recursos naturais; a assistência social pela empresa Suape; a
participação nos processos decisórios da comunidade; a inserção em políticas
públicas (Saúde, educação, infraestrutura); à realocação das comunidades
(apêndice A).
O quantitativo de entrevistados foi limitado pelo método de saturação teórica
dos dados, ou seja, o tamanho da mesma dependeu do término de novas
informações e do alcance da redundância nos dados obtidos (MINAYO, 2008). Ao
todo foram realizadas 75 entrevistas, 25 em cada comunidade, todas gravadas e
com autorizações dos respondentes, de acordo com Termo de Consentimento Livre
e Esclarecido (TCLE) (Apêndice B).
No campo Institucional, o roteiro para entrevista foi estruturado com 13
perguntas relacionadas aos seguintes temas: programas ambientais, poluição
ambiental, participação social, geração de emprego e renda, reassentamento dos
moradores locais (Apêndice C). A entrevista foi concedida mediante a apresentação
da carta de anuência (Apêndice D).

3.5 COLETA DE DADOS

O estudo foi dividido em três fases que corresponderam aos objetivos


específicos. Foram utilizadas algumas estratégias de abordagem, coleta e análise de
dados conforme detalhamento.
26

Fase 1 – Identificar os tipos dos conflitos socioambientais nos territórios afetados


pelas atividades produtivas do Complexo Industrial Portuário de Suape, segundo as
categorias da Matriz Reprodução Social de Samaja, referente ao primeiro objetivo
específico da tese.
Desenho de estudo: Para compreender o entendimento dos entrevistados acerca
dos conflitos socioambientais, foi realizada coleta de dados primários, utilizando-se
diversos instrumentos, descritos a seguir, de acordo com os grupos selecionados
para o estudo.
Coleta de dados: (1) entrevistas semiestruturadas (Apêndice A). Após a definição
dos critérios de inclusão, bem como do quantitativo de atores representativos do
território foram realizadas as entrevistas no intuito de obter informações detalhadas
acerca dos potenciais conflitos e impactos para a qualidade de vida e o ambiente
ocasionado pelo processo de implantação do CIPS. (2) observações diretas – Foram
registradas em diário de campo informações relevantes para confirmar elementos
trazidos pelos entrevistados em seus relatos.
Categorias e análise de dados: Foi utilizada a técnica de análise do conteúdo, a
fim de estabelecer os nexos causais entre os elementos que compõem o discurso
empreendido pelos entrevistados. Após a transcrição das entrevistas e organização
das notas de campo e observações coletadas, procedeu-se à análise de conteúdo
segundo percurso proposto por Bardin (2002), que envolveu os seguintes passos: a)
leitura preliminar para apreensão do todo; b) segmentação de temas; c)
agrupamento dos temas para compreensão do reforço existente entre eles. Foi
desenvolvida uma análise central do trabalho que se situou na identificação das
representações da percepção dos impactos relacionados com o processo de
implantação do CIPS nos seus modos de vida e o meio ambiente.

Fase 2 - Especificação dos Programas Ambientais do Complexo Industrial Portuário


de Suape direcionados para a mitigação de impactos ambientais e socioeconômicos
das populações vulneráveis. Referente ao segundo objetivo específico da tese.
Coleta de dados: Nesta fase da pesquisa foram utilizados dados qualitativos,
obtidos mediante o roteiro de entrevista enviado para a coordenação de meio
ambiente, e também do Plano Diretor de Suape (PDS), em relação a questões
27

ambientais e socioeconômicas, tendo como variáveis: mitigação de impactos


ambientais, economia, regularização fundiária, infraestrutura e qualidade de vida.
A partir das informações repassadas pela coordenação ambiental e de comunicação
do CIPS, em conjunto com as propostas do plano diretor de SUAPE, foi realizada a
análise da eficácia das propostas expostas frente as necessidades das populações
locais.

Fase 3 - Caracterização dos movimentos sociais que atuem no enfrentamento dos


conflitos socioambientais e suas estratégias de ação para o empoderamento da
população local. Referente ao terceiro objetivo específico da tese.
Coleta e Análise de Dados: Foi realizado um amplo levantamento de dados através
de pesquisa documental e bibliográfica. Além disso, as entrevistas realizadas com
os moradores das comunidades contribuíram para identificar as organizações
sociais que atuam nos territórios em estudo no enfrentamento dos conflitos
socioambientais. Dessa forma, foram descritas suas estratégias no enfrentamento
dos conflitos da comunidade e como estas estão fundamentadas, sustentabilidade
ambiental, justiça social, qualidade de vida, dentre outros.

3.6 ANÁLISE DE DADOS

Um dos procedimentos analíticos para interpretação de pesquisas


qualitativas se pauta na triangulação de métodos (MINAYO, 2010). No que tange
à coleta de dados, a triangulação permite que o pesquisador possa utilizar
técnicas com o propósito de ampliar o universo informacional em torno de seu
objeto de pesquisa, neste trabalho, por exemplo, a entrevista. Na segunda fase
deste processo, tem-se o emprego da triangulação para análise das informações
coletadas. Neste sentido, o método prevê dois momentos distintos que se
articulam dialeticamente, favorecendo uma percepção de totalidade acerca do
objeto de estudo e a unidade entre os aspectos teóricos e empíricos, sendo essa
articulação a responsável por imprimir o caráter de cientificidade ao estudo
(MARCONDES; BRISOLA, 2014).
O primeiro momento diz respeito à preparação dos dados empíricos
coletados, mediante diversos procedimentos a serem adotados. Esses
procedimentos são representados por etapas sumárias que visam à
organização e ao tratamento das narrativas. O segundo momento refere-se à
28

análise que implica na necessidade de refletir sobre a percepção que os


sujeitos constroem sobre determinada realidade, e os processos que
atravessam as relações estabelecidas no interior dessa estrutura. Para isso é
imprescindível a recorrência aos autores que se debruçam sobre tais
processos e sobre a temática trabalhada na pesquisa (MINAYO, 2010).
Dito isso, observa-se, que na análise por triangulação de métodos, está
presente um modus operandi pautado na preparação do material coletado e na
articulação de três aspectos para proceder à análise de fato. O primeiro
aspecto refere-se às informações concretas levantadas com a pesquisa, quais
sejam, os dados empíricos e as narrativas dos entrevistados; o segundo
aspecto compreende o diálogo com os autores que estudam a temática
abordada no estudo; e o terceiro aspecto refere-se à análise de conjuntura,
entendendo conjuntura como o contexto mais amplo e mais abstrato da
realidade.
Dessa forma, a triangulação neste estudo está pautada na junção da teoria
e prática através da relação entre as narrativas das populações locais e as
teorias abordadas no estudo, principalmente, no que tange os conflitos
socioambientais. A partir desta análise, foi possível a compreensão da realidade
local das populações tradicionais inseridas no CIPS.
Esta articulação triangular configura-se como uma possibilidade para os que
se propõem a minimizar o “distanciamento entre a fundamentação teórica e a
prática da pesquisa” (GOMES, 2004, p. 69).

3.7 CONSIDERAÇÕES ÉTICAS

O presente estudo foi desenvolvido em parceria com o projeto:


Vulnerabilidade Socioambiental Relacionada à Exposição Química nos Territórios de
Desenvolvimento das Cadeias Produtivas de Petróleo e das Consumidoras de
Agrotóxicos, sob a coordenação da Professora Dra. Idê Dantas Gomes Gurgel, e
que foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa do Centro de Pesquisas Aggeu
Magalhães /Fiocruz-PE, sob o registro CAEE de número: 44507115.5.0000.5190.
Foram utilizadas falas dos moradores no resultado deste trabalho, tendo suas
identidades preservadas, mencionando-se apenas o termo “entrevistado” e o
número da entrevista.
29

Trata-se de uma pesquisa baseada em dados primários e secundários de


caráter público e no registro das observações de campo que contam com as
análises observacionais realizadas durante o acompanhamento do processo, além
do registro fotográfico. Houve devolutiva dos resultados das análises para os
sujeitos participantes da pesquisa, além de ser disponibilizada para órgãos públicos
e privados que tenham interesse nos resultados do estudo. Por fim, houve
divulgação da pesquisa através de publicações nos meios científicos e de difusão.
Foi utilizado para todos os sujeitos participantes um Termo de Consentimento
Livre e Esclarecido (Apêndice B) de acordo com a resolução 466/2012 do Conselho
Nacional de Saúde. A instituição foi informada formalmente sobre a pesquisa para
autorização de participação através de uma Carta de Anuência Institucional
(Apêndice D). O sigilo pessoal dos sujeitos envolvidos na investigação será
respeitado na divulgação dos resultados do projeto.
30

4 REFERENCIAL TEÓRICO

4.1 UMA SÍNTESE DA HISTÓRIA DO PORTO DE SUAPE

O Porto de Suape está inserido entre os municípios de Cabo de Santo


Agostinho e Ipojuca, localizado a 40 quilômetros ao sul da capital do estado de
Pernambuco, Recife. De acordo com registros históricos, o espanhol Vicente
Yanez Pinzón em 26 de janeiro de 1500 aportou no Cabo de Santo Agostinho,
denominado naquela época de Santa María de La Consolatión em homenagem
à santa protetora das embarcações, tornando-o assim o primeiro navegador
estrangeiro a chegar no Brasil, três meses antes de Pedro Álvares Cabral
(VAINSENCHER, 2006).
Em 1500, Portugal implantou no Brasil o sistema de capitanias
hereditárias em 1532, chegavam os primeiros donatários, dando início, de fato, à
colonização tendo a cana-de-açúcar e a produção de açúcar como a principal
fonte econômica. Aliado ao fato das condições geográficas propícias para a
produção de açúcar, Pernambuco possuía a localização mais próxima a
Portugal, tornando-se posteriormente a capitania mais próspera na época
(FAUSTO, 2008).
Desde aquela época, o nome Suape era conhecido na região, visto que
os índios tupis assim chamavam o Rio Massangana por demonstrar uma
trajetória incerta e tortuosa, pois, Suape, em tupi, significa caminho incerto e
tortuoso. Também era assim chamado um ancoradouro localizado na ilha do
Cabo, separado do mar por um cordão de arrecifes de arenito e, na parte norte,
desembocam três rios importantes: o Massangana, o Tatuoca e o Ipojuca, no
qual apenas embarcações pequenas tinham acesso (VAINSENCHER, 2006).
Dessa forma, torna- se evidente que desde o começo da colonização, o estuário
de Suape passou a ser utilizado como base de infraestrutura portuária devido,
essencialmente, à sua geografia.
Desde o período colonial, o litoral pernambucano apontava dois locais
com tendência portuária, propiciada pela própria geografia do lugar, são esses:
Recife e Cabo de Santo Agostinho, tendo o Recife recebido maiores atenções,
pois é a capital do estado federado de Pernambuco e onde ocorriam nos
primeiros séculos de colonização, as trocas de mercadorias e o abastecimento
31

das capitanias do Piauí, Ceará, Paraíba, Alagoas e Sergipe, além de embarque


das riquezas produzidas em terras brasileiras para Portugal (ALVES, 2011).

Na década de 1970, o Porto do Recife começou a apresentar limitações


em termos de estrutura em relação a exportações e importações, o que gerou
preocupações para o Estado, visto que se não houvesse uma reforma portuária,
ocorreria o risco de estagnação do crescimento econômico do Estado, além do
distanciamento frente à economia baiana. Atrelado a esse fato, a implantação do
Porto do Recife deu-se sem um Plano Diretor e a cidade passou a sofrer
impactos em função de sua operação, dragagem e transporte em área urbana
(SÁ, 2008).
Assim, fez-se necessário o planejamento de um novo sistema portuário,
que estivesse próximo de um complexo industrial que não interferisse no
sistema urbano. O município do Cabo de Santo Agostinho já despontava com
sua tendência industrial devido à instalação de muitas usinas de açúcar,
demonstrando a forte tendência do local para se tornar o distrito industrial mais
forte de Pernambuco, pois a capital do Estado não dispunha de um espaço
adequado para tal finalidade (VAINSENCHER, 2006). Para construir o porto,
segundo Cavalcanti (2008) eram necessários lugares como Suape, com
requisitos geográficos naturais essenciais: águas profundas junto à linha da
costa, quebra mar natural formado por cordão de arrecifes, extensas áreas
aplainadas reservadas e convenientes à implantação de um parque industrial e
urbanização.
A ideia de se estruturar um porto na localidade de Suape surgiu de forma
visionária, em 1954, através do trabalho de reflexão do padre francês Louis
Joseph Lebret, que era economista e engenheiro especialista em portos. Lebret
identificou naquela área um potencial para a implantação de um porto e, próximo
dele, uma refinaria de petróleo (SANTOS, 2012).
A visão de Lebret começou a ter sentido estratégico inicial no início dos
anos 1970, quando começou a traçar-se o projeto de construção de um porto
integrado a uma zona industrial, copiando um modelo existente em Marseille na
França e Kashima no Japão (SANTOS, 2012; TREVAS, 2006). Segundo Alves
(2011), outros fatores como o declínio do setor sulcroalcooleiro, responsável por
32

60% da arrecadação do Estado, e a necessidade de reabilitação da economia,


fortaleceram a ideia da implantação do Porto de Suape.
Na década de 1970, especificamente, em 1973, começou a ser preparado
o plano diretor do Complexo Industrial Portuário de Suape (CIPS), que tinha
como objetivo agregar áreas extensas para a implantação das indústrias e dos
serviços portuários. Em 1974, foi lançada a pedra inicial do Porto de Suape, no
governo de Eraldo Gueiros Leite, que dá nome ao Complexo Industrial Portuário
de Suape e, em 1977, foi criado um grupo interministerial que tinha como
responsabilidade analisar a viabilidade técnica, econômica e financeira do
projeto. Após o término dos estudos de viabilidade do empreendimento em
1977, tiveram início as primeiras atividades do porto e a desapropriação de
cerca de treze mil hectares de terras (SUAPE EM DESTAQUE, 2011).
Contudo, são poucos os relatos que tratam de como se deu o surgimento
do Porto de Suape e posteriormente do CIPS com relação às comunidades que
existiam na área e que ainda resistem ao poder hegemônico do capital. O que
se vê nessas comunidades são injustiças socioambientais, que se refletem nos
modos de vida das populações originadas pela criação deste megaprojeto.
Estes conceitos serão abordados no decorrer dos próximos capítulos desta
pesquisa.

4.1.1 A Evolução do Complexo Industrial Portuário de Suape em Quatro


Décadas

Os fatores de sucesso no processo de consolidação do CIPS apontam para


uma concepção audaciosa à sua época, que aliava condições à instalação de
grandes indústrias, especialmente petrolífera, petroquímica, siderúrgica e naval, a
uma moderna infraestrutura e superestrutura portuária, capaz de permitir, a interface
entre mar e terra da geografia marítima dos anos setenta, pautada pelo movimento
de litoralização da indústria (ALVES, 2011).
Em 1978, iniciaram-se as obras de infraestrutura, sistema viário interno,
abastecimento hídrico e elétrico e o sistema de telecomunicações do porto. Nesse
mesmo ano, através da lei n° 7.763/78, foi criada a empresa SUAPE – Complexo
Industrial e Portuário, com desígnio de administrar o distrito industrial,
desenvolvimento das obras e a exploração das atividades portuárias, nas áreas
33

delimitadas nos decretos de declaração de utilidade e necessidade públicas emitidas


pela União, Estado de Pernambuco ou Municípios (HUB PORT, 2011).
Contudo, seu curso histórico não se deu de forma uniforme, visto que desde a
sua construção em 1978, fatores de ordem político-econômica, tanto na escala local
através da participação do governo estadual referente à infraestrutura e incentivos
fiscais, como na escala nacional e global devido ao choque do petróleo e à crise no
Estado brasileiro, fizeram com que a consolidação desse empreendimento se
arrastasse por mais de dez anos até possibilitar condições que atualmente o levam a
ser um dos portos mais eficientes do país (SUAPE EM DESTAQUE, 2011).
Os anos 1980 foram marcados por uma profunda crise econômica e pelo fim
da ditadura (1964 - 1985), por isso, no âmbito da economia essa década ficou
conhecida como a década perdida (MARANGONI, 2009). Mesmo com a crise que
afetou o país nessa década, o governo pernambucano continuou a investir no porto.
Quando houve a retomada do crescimento brasileiro, Suape encarava uma profunda
reforma não apenas para receber navios, mas ao mesmo tempo para a atração das
indústrias, tornando-o compatível com a nova ordem econômica e política
internacional (ALVES, 2011).
Na década de 1990, adiantando-se ao projeto de reforma portuária em análise
no Congresso Nacional, o governo do estado de Pernambuco criou uma nova
estrutura de gestão portuária, na qual o setor público ficaria responsável pela
infraestrutura do porto, e a iniciativa privada ficaria responsável por outras
operações relacionadas com as cargas e contratação de mão de obra (OLIVEIRA,
2007).
A discussão sobre essa questão está centrada em torno de modelos de
gestão com maior ou menor operação do Estado, garantindo o investimento nas
grandes infraestruturas portuárias e deixando sob responsabilidade da iniciativa
privada as atividades de operação do porto, tendo como objetivo o aumento da
eficiência e a diminuição dos custos e do tempo de operação portuária (AMÂNDIO,
2003).
No ano de 1996, o Governo Federal inseriu o Porto de Suape no programa
Brasil em Ação3, o que possibilitou o recebimento de recursos financeiros para criar
uma infraestrutura que atraísse investimentos privados. Com este investimento, o

3
Na sua primeira versão o plano Brasil em Ação contemplava investimentos em 42 projetos
considerados prioritários sendo 26 de cunho infraestrutural e 16 de cunho social (MONIÉ, 2009).
34

cais foi expandido por mais 965 metros, possibilitando que indústrias e empresas
investissem em suas instalações. A finalização dessa etapa abriu a possibilidade do
atracamento de grandes navios e a instalação de empresas e indústrias, atraindo
investimentos do capital privado. Dessa forma, o Porto de Suape tornou-se um hub
port4 brasileiro (ALVES, 2011).
Esses pontos elevaram o CIPS a uma condição de potencial concentrador
regional de cargas, colocando-se em condições de competição com qualquer outro
porto da Região Nordeste. Assim, Suape não tem apenas importância regional, mas
nacional, devido principalmente aos grandes investimentos que atrai. (ALVES,
2016).
A partir do século XXI, mais precisamente 2005, Suape passou a vivenciar
uma nova etapa caracterizada por uma verdadeira “avalanche” de investimentos
produtivos, através da chegada de indústrias de diferentes bandeiras internacionais
e setores da economia (Energia, Petróleo, Alimentos, etc.), tendo colaborado
diretamente para o crescimento econômico do Estado (SANTOS, 2012).
Ao menos três fatores principais podem ser destacados como facilitadores
deste novo momento; I) o ambiente de retomada da economia brasileira em novas
bases, em que o Nordeste passou a apresentar taxas de crescimento acima da
apresentada pelo Brasil, através do incentivo de políticas federais como o Programa
de Aceleração do Crescimento financiador de grandes projetos; II) decisão do
governo federal através da Petrobras de construir uma nova refinaria, depois de 28
anos, no Nordeste e também de reativar a indústria de construção naval a partir da
sinalização de encomenda de novos navios e plataformas feitas em estaleiros do
Brasil, o que viabilizou a implantação do estaleiro Atlântico Sul em Suape; III) a
postura e ação proativa do governo de Pernambuco em termos de política de
atração de investimentos, favorecida também pelo seu alinhamento político com o
governo federal (SANTOS, 2012).
Os indicadores econômicos mostram que o CIPS é visto como uma mola
indispensável de infraestrutura para grandes saltos econômicos. Esse megaprojeto
tem-se mostrado importante para a recuperação da força comercial do estado de
Pernambuco através da movimentação das importações e exportações, além de

4
Hub Port significa porto concentrador de cargas e de linhas de navegação. Esse termo procede das
estratégias para receber navios de grande porte, concentrar cargas e reduzir o número de escalas
adotadas pelas principais companhias (PORTOPÉDIA, 2011).
35

arrecadar boas cifras de impostos das indústrias que se inserem no seu interior
(ALVES, 2016).
Atualmente, o CIPS opera navios nos 365 dias do ano, além de possuir
aproximadamente 150 empresas em operação ou instalação no seu interior de
diversos ramos, dentre as quais se destacam: I) petróleo e gás (Refinaria Abreu e
Lima); II) petroquímica, têxtil sintético e resina plástica (Petroquímica Suape,
Mossi&Guisolf, Cristal Pet, Lorempet); III) naval (estaleiro Atlântico Sul, estaleiro
Promar, Construcap, Navalmare); IV) energia eólica (Impsa Eólica, RM Eólica); V)
Siderurgia (Companhia Siderúrgica Suape CSS); VI) alimentos e bebidas (Bunge,
Pepsico, Campari, Coca-Cola, Cereser); VII) cerâmica (Duratex, Pamesa); VIII) polo
de granéis líquidos e gases (Decal, GLP, Brasilgas, Petrobras, Ultracargo, Shell /
Esso / Ipiranga); IX) complexo logístico (Cone Suape), centrais de distribuição (CD
GM) e terminal de contêineres (Tecon). O somatório geral de investimento no CIPS
chega à ordem de 45 bilhões de reais, representando aproximadamente 60% do PIB
atual do estado de Pernambuco (SUAPE, 2015).
A consolidação do Porto de Suape foi extremamente importante para atrair
grandes empreendimentos ao seu complexo industrial, além de proporcionar o
fortalecimento da economia pernambucana. Porém, ao mesmo tempo, a sua
expansão vem modificando a dinâmica e paisagem dos locais sem considerar a sua
complexidade.
Segundo Santos (1996. p. 103), “a paisagem se dá como um conjunto de
objetos reais concretos”. Nesse sentido, “a paisagem é transtemporal, juntando
objetos passados e presentes, uma construção transversal”. Em relação ao
processo histórico de construção da paisagem, é também o “conjunto de formas
que, num dado momento, exprimem as heranças que representam as sucessivas
relações localizadas entre homem e natureza”. Nesse sentido, pode-se dizer que o
CIPS é concebido como uma paisagem jovem, criada por eventos notáveis como
grandes indústrias, que podem originar fortes impactos, principalmente, no ambiente
e na vida das populações tradicionais que se acham no seu interior e entorno.

4.1.2 Os Impactos Ambientais Ocasionados pelas Atividades Produtivas do


CIPS
Até a década de 1970, com um processo lento de ocupação territorial e uma
base econômica consolidada em torno da monocultura da cana de açúcar, na
36

agricultura de subsistência e nas atividades extrativistas de produtos vegetais e


animais, a região de Suape não tinha sofrido grandes mudanças socioeconômicas.
No entanto, nesta mesma década, havia uma corrente de cientistas que alertavam
para os possíveis impactos ambientais e sociais que o projeto do porto de Suape
causaria, mesmo sendo numa época em que as questões ambientais ainda não
eram tão discutidas quanto hoje.
Nas quatro décadas seguintes, a região de Suape passou por profundas
modificações na sua estrutura produtiva devido à introdução de novas atividades
econômicas, vinculadas, principalmente, às operações do Complexo Industrial
Portuário de Suape.
As ações responsáveis pelas mudanças no padrão de uso e de ocupação das
terras no Complexo Industrial Portuário de Suape desencadeiam uma série de
retrocessos socioeconômicos, com consequências negativas aos ambientes e aos
grupos sociais, tornando-se fortes propulsoras dos conflitos socioambientais.
Essa relação conflitante emerge através da distinção do uso do espaço. Este
é entendido por Santos (1997, p. 39), como: "um conjunto indissociável, solidário e
também contraditório, de sistema de objetos e sistema de ações, não considerados
isoladamente, mas como um quadro único no qual a história se dá”. No começo era
a natureza selvagem, formada por objetos naturais, que ao longo da história foram
sendo substituídos por objetos fabricados, objetos técnicos, mecanizados e depois
cibernéticos fazendo com que a natureza artificial tendesse a funcionar como uma
máquina.
Através da presença dos objetos técnicos: indústrias, portos, estradas de
rodagem, etc, o espaço é marcado pelos acréscimos, que lhe dão um conteúdo
extremamente técnico. Dessa forma, o espaço do CIPS tem se tornado um sistema
de objetos cada vez mais artificiais, povoado por sistemas de ações igualmente
imbuídos de artificialidade, e cada vez mais tendentes a fins estranhos ao lugar e a
seus habitantes (SANTOS, 2008).
Trazendo esse conceito para o uso do espaço em Suape, podem-se, assim,
identificar duas entidades com interesses e objetivos distintos cruzando o mesmo
espaço. A primeira seria o porto configurado como espaço econômico, orientado
para o negócio, onde o moderno se sobrepõe ao tradicional; e a segunda seriam as
comunidades que primam por seu bem estar e qualidade de vida, sendo entendida,
em certa medida como a natureza selvagem.
37

Nesse sentido, os conflitos socioambientais surgiram quando a dominação do


espaço ambiental pelo poder do capital choca-se com os territórios apropriados,
estes construídos por grupos sociais, os quais possuem valores diferenciados e
formas distintas de racionalidades, bem como, vivências que se contrapõem ao
hegemônico desenvolvimento capitalista.
As atividades do Complexo Industrial Portuário de Suape, segundo Alves
(2016), apresentam uma série de impactos negativos que vão desde a sua
implantação até à fase de operação dos empreendimentos, são estes:
 Degradação de ecossistemas, de recursos pesqueiros e alteração da qualidade
do meio ambiente, com perda de biodiversidade;
Poluição atmosférica devido às atividades geradoras de poeira e emissão de
poluentes;
Degradação de mananciais devido aos vazamentos e lançamentos de efluentes
industriais;
 Desterritorialização de populações locais para implantação de
empreendimentos;
Impactos relacionados à supressão de vegetação que altera a fauna e flora;
Alteração nos padrões de trânsito, geração de ruídos e congestionamentos,
aumentando o perigo para os pedestres, devido aos caminhões pesados que
transportam materiais até as instalações portuárias;
Sobrecarga nas redes de abastecimento de água potável, energia elétrica,
disposição de resíduos sólidos bem como coleta e tratamento de esgotos;
Efeitos sobre a saúde da população, relacionados com doenças
infectocontagiosas, devido à presença de pessoas de diferentes regiões na área
portuária, assim como em função da degradação da qualidade ambiental dos
espaços entorno.
Através das constatações supracitadas, é importante que o Estado e o CIPS
tenham uma atenção especial em relação à formulação de políticas públicas
voltadas para mobilização produtiva deste território, apontando soluções para as
novas emergências urbanas e, principalmente, pensando em uma logística mais
aberta, que se incorpore às competências locais. Caso contrário os conflitos
socioambientais não só continuarão a acontecer, como agravar-se-ão ainda mais.
38

4.2 POPULAÇÕES TRADICIONAIS

A constituição brasileira é orientada pelo multiculturalismo, conforme destaca


Santilli (2005), ao conferir proteção às manifestações culturais dos diferentes grupos
sociais e étnicos formadores da sociedade brasileira, assegurando-lhes identidade
étnica e cultural enquanto povos diferenciados. A principal questão para as
populações tradicionais refere-se à do acesso ao território, pois é nele onde se dão
suas práticas culturais e socioambientais, tais como: o manejo dos recursos naturais,
os sistemas produtivos, os modos tradicionais de distribuição e consumo da
produção, a endoculturação, a reprodução dos saberes tradicionais, os
acontecimentos e/ou fatos históricos que compõem a identidade de um grupo.
Outro ponto que caracteriza a singularidade desses povos são seus
processos produtivos marcados pela economia de subsistência, cuja produção é
determinada por questões ligadas às necessidades versus possibilidades. É
importante destacar as dificuldades enfrentadas por esses povos nos campos
político e econômico, sobretudo no que diz respeito ao reconhecimento de suas
formas de organização social (SILVA, 2007).
São consideradas populações tradicionais, segundo o Decreto nº 6.040, de 7
de fevereiro de 2007, que institui a Política Nacional de Desenvolvimento
Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais:
Grupos culturalmente diferenciados e que se reconhecem como tais, que
possuem formas próprias de organização social, que ocupam e usam
territórios e recursos naturais como condição para sua reprodução cultural,
social, religiosa, ancestral e econômica, utilizando conhecimentos,
inovações transmitidas pela tradição (BRASIL, 2007).

Complementar a esse conceito, populações tradicionais também podem ser


definidas como:
Populações que se definem pelo uso sustentável da terra, pelo destino da
sua produção e o seu vínculo territorial, incluindo sua situação fundiária,
pela importância que os ciclos naturais têm nas suas práticas produtivas,
pelo uso que fazem dos recursos renováveis e as práticas de uso
comunitário dos mesmos, pelo seu conhecimento profundo do ecossistema
no qual vivem e pelo uso de tecnologias de baixo impacto ambiental, por
sua organização social, na qual a família extensa representa papel
importante, também por suas expressões culturais e as inter-relações com
outros grupos da região (LITTLE, 2005, p. 5).

Segundo o Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional


(CONSEA) (2008), boa parte dos segmentos sociais tradicionais ainda não dispõe
de aparatos jurídico-formais (decretos, instrumentos normativos) e itinerários
39

técnicos que lhes assegurem a regularização territorial, o que alimenta e aprofunda


a desigualdade e a tradicional relação entre propriedade, poder político e poder
econômico.
A terra para as populações tradicionais:
Não é apenas um meio de produção da sua subsistência e reprodução
física, mas, sobretudo, um patrimônio sócio-cultural. A terra, para eles, é a
sua casa, o lugar onde nascem, crescem e desenvolvem suas diferentes
formas de vida. É o lugar onde celebram a vida. É o lugar onde produzem e
reproduzem sua cultura e convivem de forma costumeira e respeitosa,
espiritualmente integradas à natureza. Não é mercadoria, nem propriedade
privada de pessoa física ou jurídica. É patrimônio coletivo, de todo um povo,
de seus usos e costumes, e assim a apropriação dos seus frutos se dá,
igualmente, de forma coletiva, de forma sustentável, seja no âmbito de uma
terra, de uma aldeia, ou de grupos familiares extensos. (CONSEA, 2008. p.
2).
Para entender a importância do território para as populações tradicionais, é
preciso compreender o seu significado. Até recentemente o território era definido
como a área de atuação do Estado. Ao entender o território enquanto apropriação
social, política, econômica e cultural, há um salto qualitativo, tanto no que se refere
às escalas quanto às funções que cada recorte territorial admite. É nessa
perspectiva que a categoria ganha dinamicidade, alterando-se a partir do jogo de
poder próprio das relações sociais (FARIA; BORTOLOZZI, 2009).
Corroborando com essa ideia, Bonnemaison (2000) também constatou que o
território possui significado biológico, econômico, social e político, mas na sua
expressão mais humana identificou-o como o lugar de mediação entre os homens e
sua cultura. Para o autor:
O território nasce de pontos e marcas sobre o solo: ao seu redor se ordena
o meio de vida e se enraíza o grupo social, enquanto que em sua periferia,
e de maneira viável, o território se atenua progressivamente em espaço
secundário, de contornos mais ou menos nítidos. (BONNEMAISON, 2000,
p.128)
O espaço e o território não podem ser tratados separadamente, pois enquanto
o primeiro faz-se necessário para demarcar a existência do segundo, este último por
sua vez é a condição para que o espaço se humanize. Assim, o território é, de início,
um espaço cultural de identificação ou de pertencimento (HAESBAERT, 2016).
Dessa forma, garantir o acesso ao território significa manter vivos, na
memória e nas práticas sociais, os sistemas de classificação e de manejo dos
recursos naturais, os sistemas produtivos, os modos tradicionais de distribuição e
consumo da produção. Além de sua dimensão simbólica, no território estão
impressos os acontecimentos ou fatos históricos que mantêm conservada a memória
40

do grupo, como a base material de significados culturais que compõem sua


identidade sociocultural (DOZENA; DANTAS, 2016).
O território também faz parte da cosmologia do grupo, referendando um modo
de vida e uma visão de homem e de mundo; ele é assimilado e vivenciado a partir
dos sistemas de conhecimento próprios, portanto, encerra também uma dimensão
lógica e cognitiva. Além de assegurar a sobrevivência das populações tradicionais,
ele constitui a base para a produção e a reprodução dos saberes tradicionais. A
existência destas comunidades, baseada em sistemas sustentáveis da exploração
dos recursos naturais, desenvolvidos ao longo de gerações e adaptados às
condições ecológicas locais, desempenha papel fundamental na proteção da
natureza e na manutenção da diversidade biológica (SILVA, 2007).

4.3 A MATRIZ DE REPRODUÇÃO SOCIAL

O processo reprodutivo da vida humana não versa, exclusivamente, na


reprodução de um padrão biológico, mas engloba outras variáveis, vinculadas com
as ordens estabelecidas pelas relações sociais, tais como: a reprodução cultural e
de autoconsciência; a reprodução das relações materiais; e a reprodução dos modos
de vida (ANDRADE, 2007).
A variedade das formas de sociabilidade humana, estabelecida tanto nas
relações sociais, quanto na reprodução social, é qualificada por Samaja (2000) em
vínculos comunais; políticos e societais, cujo funcionamento entende ser de caráter
modular, devido ao reconhecimento da variedade das relações sociais, isto é, da
coexistência de diferentes tipos de sociabilidade e de instituições pertencentes a
distintos estratos de sociabilidade, ou seja, de diferentes tipos de vida social.
Para o entendimento do processo de reprodução social, Samaja (2004),
organiza um esquema de análise que permite separar as dimensões que compõem
esse movimento de conformação, consolidação e transformação da organização
social. Essas dimensões estão divididas em quatro, são essas: dimensão bio-
comunal; comunal-cultural; societal; ecológico-política.
• A dimensão bio-comunal refere-se a reprodução cotidiana das condições
necessárias de existência humana e a reprodução dos organismos sociais. Em uma
sociedade, é condição de existência que seus membros reproduzam seus requisitos
materiais de vida, tais como: alimentação, sono, procriação.
41

• A dimensão comunal-cultural refere-se à reprodução da autoconsciência e da


conduta humana, produção, manutenção e transformação das redes simbólicas de
elaboração e transmissão de experiências e aprendizagem, referidas como processo
de socialização. Esta dimensão diz respeito a “todos os mecanismos através dos
quais se regeneram cotidianamente as condições de desenvolvimento das condutas
exigidas pela vida da cultura em cada uma das formas de solidariedade”
(MEDEIROS, 2018. p.40).
• A dimensão societal (econômica), afirma-se a partir dos “processos pelos
quais o ser humano produz os seus meios de vida e também aos pactos de
associação que os indivíduos estabelecem para efetuar os atos produtivos e os
intercâmbios de bens” (MEDEIROS, 2018. p.40). Nessa dimensão, as relações
sociais estabelecem-se por meio de mecanismos contratuais interindividuais e
atividades relacionadas com a produção, distribuição, troca e consumo, realizadas
pelo trabalho humano.
• A dimensão político-ecológica compreende o processo através do qual os
indivíduos e grupos humanos devem restabelecer as relações de interdependência
entre: as condições territoriais (como macrocenário, com seus objetos, seus
instrumentos e seus símbolos); as relações comunal-culturais; e as relações bio-
comunais. O autor afirma que em sociedades com Estado, a função de direção
social compete às estruturas estatais, em seus diversos níveis (local, municipal,
estadual, federal). Segundo ele, a sociabilidade política é a esfera responsável pelos
processos de reprodução do ambiente social, em termos de organização e de
domínio territorial, onde se incluem construção de obras públicas, áreas de
educação, saúde e segurança pública, além de promoção de valores da cultura por
meio de aparelhos ideológicos de Estado.
Assim, as condições de vida são coletivamente concebidas e nesse mesmo
processo, originam-se as relações sociais e de poder que determinam a distribuição
do conjunto de bens necessários a reprodução social (SAMAJA, 2004). As formas
que influenciam as diversas determinações da vida humana se reproduzem em meio
a um conjunto de processos que vão adquirindo particularidades distintas conforme
“os condicionantes sociais de cada espaço e tempo”, (BREILH, 2006 p.203).
De acordo com o modo pelo qual as relações sociais ocorrem, estas, podem
gerar processos degradantes ou saudáveis, que podem favorecer o ambiente e a
vida tanto individual quanto coletiva. Entende-se que um processo possa condizer a
42

diferentes dimensões e campos de reprodução social e pode, além disso, “tornar-se


protetor ou destrutivo conforme as condições históricas em que se desenvolva a
coletividade correspondente” (BREILH, 2006, p.203). A reprodução social é o
conjunto de ações mediante as quais os múltiplos atores realizam, em uma escala
de combinações, as necessidades de seus próprios modos de funcionamento, em
consonância com as regras que lhes dão validade, o reconhecimento social
(SAMAJA, 1998).
Esse modelo interpretativo permite compreender a dimensão do problema e
nortear intervenções nos seus diferentes níveis com as suas conexões causais
(AUGUSTO et al., 2005b). Aplicando a matriz de reprodução social no campo
ambiental, pode-se dizer que devido à natureza complexa dos problemas
socioambientais e da múltipla determinação social faz-se necessário uma
abordagem própria aos sistemas complexos. Cancio (2008) destaca a necessidade
de abordar os problemas ambientais causados pelos projetos de desenvolvimento
de forma sistêmica, interdisciplinar e intersetorial em todos os níveis da organização
social.
Os processos socioambientais decorrentes da implantação de projetos de
desenvolvimento nos territórios de populações tradicionais são diversos,
desastrosos e afetam a qualidade de vida da população, além de promover
injustiças ambientais. Assim, a adaptação à proposta metodológica proposta por
Samaja (2000) sobre as dimensões da reprodução social, permite localizar as
vulnerabilidades geradas em decorrência da construção de megaprojetos
econômicos no contexto local, como o caso da instalação do complexo industrial
portuário de Suape. Propõe também compreender as relações de poder existentes
nesse processo a partir de um conjunto de referências culturais e de imposições
externas realizadas pelos grupos dominantes (políticos e econômicos) sobre as
populações tradicionais inseridas no território de Suape
Nesse sentido, será realizado o levantamento das injustiças socioambientais
nas comunidades estudadas para alimentar a construção da matriz de dados,
considerando-se: os possíveis agravos decorrentes dos possíveis efluentes
industriais e/ou poluição sonora e atmosférica como problemas de reprodução
biocomunal. Os problemas relacionados com a consciência e conduta podem ser os
relacionados ao cuidado da saúde e do ambiente (serviços de saúde, saneamento
básico). A migração, falta de emprego e miserabilidade podem ser problemas que
43

existam nas comunidades e irão constituir os dados da reprodução societal. A


dimensão política poderá ser composta pela ineficiência das políticas públicas,
principalmente, de saúde, infraestrutura e assistencialismo (exclusão social). Para a
dimensão ecológica, podem ser levadas em consideração as possíveis situações de
risco ocasionadas pela urbanização, atividades industriais, supressão de vegetação
para a chegada de novos empreendimentos, poluição de recursos hídricos, do solo,
da atmosfera, entre outros. Esses são possíveis problemas que podem ou não ser
encontrados no território das comunidades em estudo. As dimensões e as variáveis
descritoras dos problemas encontrados foram organizadas em quadros que
subsidiaram a construção da matriz de dados para o modelo compreensivo.

4.4 CRISE AMBIENTAL E O (DES)ENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL: QUANDO AS


FORÇAS PRODUTIVAS VIRAM FORÇAS DESTRUTIVAS

A Revolução Industrial originada no século XVIII esteve fundamentada em


três fatores básicos da produção: a natureza, o capital e o trabalho. Em meados do
século XX um fator dinâmico e revolucionário foi evidenciado: a tecnologia. Esse
artifício provocou um avanço qualitativo e quantitativo nos fatores resultantes do
processo industrial. Dessa forma, passou-se a gerar bens industriais numa
quantidade e velocidade antes impensáveis. Contudo, esses avanços tecnológicos
nos processos produtivos proporcionaram ao homem possibilidades mais amplas de
exploração da natureza, culminando em danos ambientais (CARVALHO, 2003).
Pela primeira vez, o grau de integração em que se encontra a humanidade
alcança níveis de causa e efeito nunca vistos anteriormente. Destaca-se, nesse
contexto, a emergência da questão ambiental em escalas local e global, em virtude
dos impactos ambientais crescentes gerados pelo modo de produção capitalista
dominante baseado na utilização dos recursos naturais de forma desenfreada.
Assim, emerge a crise ambiental5 como aquela capaz de lembrar àqueles que
persistem na reprodução ilimitada do capital, que existem limites orgânicos, físicos e
químicos para a sua expansão (QUINTANA; HACON, 2011). Para O’Connor (2002)
o capitalismo, ao presumir o abastecimento ilimitado das condições de produção,
5
Segundo Foladori (1999) qualquer espécie extrai recursos do meio e gera dejetos. Quando a
extração de recursos ou a geração de dejetos é maior do que a capacidade do ecossistema de
reproduzi-los ou reciclá-los, estamos frente à depredação e/ou poluição, as duas manifestações de
uma crise ambiental.
44

coloca em risco a sua própria reprodução, gerando, o que ele intitulou de


contradição do capitalismo.
Segundo Leff (2001), a crise ambiental tem seu início com o limite do
crescimento econômico promovidos pelos desequilíbrios ecológicos e das
capacidades de sustentação da vida. Isso deve-se ao fato de que a “destruição
ecológica e o esgotamento dos recursos não são problemas gerados por processos
naturais, mas determinados pelas formas sociais e pelos padrões tecnológicos de
apropriação e exploração econômica da natureza” (ALTVATER, 1995, p. 49).
Nesta tese, consta que a crise de custos tem a sua origem no fato de que,
no sistema capitalista, o lucro estaria acima de qualquer premissa, inclusive da
degradação das condições materiais e sociais de sua própria reprodução. Por não
considerar os limites orgânicos da natureza, o capitalismo intensifica a demanda por
mais capital para manter o mesmo nível de lucratividade mediante o declínio das
suas condições de produção. Na tentativa de manter ou restaurar o lucro, externaliza
os efeitos negativos do processo produtivo, culminando na degradação ambiental,
no esgotamento dos recursos naturais e na perda da biosociodiversidade, e, por
outro lado, apropria-se privadamente da riqueza produzida. Ao contrário do passado,
quando o processo produtivo contava com supostas fontes inesgotáveis de recursos
materiais e de energia, hoje o mesmo depara-se com impedimentos ecológicos às
atividades econômicas em função do seu antigo ritmo de produção (MONTIBELLER-
FILHO, 2001). Nesse sentido, a crise das condições de produção seria por assim
dizer, a contradição entre a busca excessiva pelo lucro e a degradação das bases
materiais e sociais de sua própria reprodução.
Em contraposição à afirmação anterior, para Chesnais e Serfati (2003), a
exploração do homem e da natureza até o seu esgotamento não reflete uma
contradição do capitalismo, visto que as verdadeiras contradições do capital
repousam nos mecanismos clássicos de criação e extração da mais valia. No plano
econômico, o capital encarrega-se de transformar a degradação ambiental em novos
mercados, isto é, em novas formas de acumulação, como, o mercado de carbono.
No plano político, o capital encontra facilmente uma maneira de transferir para
grupos sociais e Estados nacionais mais fracos, o ônus do processo produtivo, sem
que de fato este se torne uma ameaça real à própria reprodução do capital.
(QUINTANA; HACON, 2011).
45

Neste sentido, a crise ambiental atinge os variados grupos sociais de forma


desigual uma vez que a mesma reflete as contradições inerentes ao modo de
produção capitalista. A mundialização do capital e os contornos adquiridos pela
economia na atualidade acentuam ainda mais essas contradições em nível local e
global caracterizando o cenário de crise. A atual lógica de acumulação do capital sob
a égide do imperialismo, assinalada pela formação de grandes monopólios e
concentração acentuada de capital, encontra na crise ambiental o resultado de sua
dinâmica perversa, marcada pelo avanço sobre “a própria vida humana e social
como espaços para a sua expansão lucrativa” (FONTES, 2010 p.147). Para muitos,
a constituição deste cenário de crise aponta para a falência de um sistema apoiado
na mercantilização das mais variadas esferas da vida.
A crise possui efeitos que vão desde a escala global como as mudanças
climáticas, à escala local onde, por exemplo, pescadores perdem seu meio de
sobrevivência e deixam de distribuir o seu produto para a população, terras agrícolas
deixam de ser férteis e florestas repletas de matéria-prima desaparecem.
Catástrofes naturais como enchentes, secas, terremotos e incêndios florestais
aumentam a cada dia sob o efeito da atividade humana (BROWN, 2003).
Corroborando com essa afirmativa, Rattner (2009) afirmou que o
crescimento exponencial da população, acompanhado de novos padrões de
produção e consumo, resultam em enormes quantidades de resíduos tóxicos
poluentes com efeitos desastrosos na biodiversidade. Além disso, a situação
configura-se particularmente dramática nas áreas urbanas e metropolitanas nas
quais vive quase metade da população mundial, a maioria em condições de
alimentação, habitação, saneamento e acesso a facilidades de recreação e lazer
cada vez mais precárias, sendo assim os mais vulneráveis a desastres naturais e
mudanças ambientais.
Dessa forma, pode-se afirmar que a apropriação privada dos recursos
naturais, guiada pela lógica capitalista do lucro, com seus ritmos produtivos artificiais
lineares e em aceleração constante, é o fator responsável pela crise ambiental.
Assim, a crescente ameaça de colapso ambiental, do esgotamento de recursos e a
necessidade de se encontrar soluções, explicam um movimento crescente na
revisão de paradigmas, no sentido de pensar as condições de operacionalização
social, política e tecnológica do desenvolvimento sustentável (ZANETTI; SÁ, 2002).
46

Diante da crise ambiental originada a partir da constante degradação ao


meio ambiente natural desde a metade do século passado, consequente, da intensa
industrialização e do crescimento populacional, a terminologia “desenvolvimento
sustentável” foi difundida, inicialmente, na Comissão Mundial de Meio Ambiente e
Desenvolvimento (CMMAD) em 1983 pela Primeira Ministra da Noruega e
Presidente da CMMAD, Gro Harlem Brundtland, a qual sugeriu que o
desenvolvimento econômico considerasse a questão ambiental (MEDEIROS, 2013).
No ano de 1987, os trabalhos da comissão foram concluídos com a apresentação de
um diagnóstico dos problemas ambientais globais, conhecido como Relatório
Brundtland (VEIGA, 2005).
Sendo assim o desenvolvimento sustentável pode ser definido como aquele
que “atende às necessidades do presente sem comprometer a possibilidade das
gerações futuras atenderem a suas próprias necessidades”, sendo esse
economicamente viável; socialmente equitativo e ecologicamente inofensivo.
(COMISSÃO MUNDIAL SOBRE MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO, 1991,
p. 46). No entanto, ao analisar essa definição, surgem alguns questionamentos tais
como: quais as necessidades da atual geração e quais serão as das gerações
futuras? Que tipo de necessidades devem ser atendidas para que se possa manter o
equilíbrio ecológico? Quais as necessidades que devem ser atendidas: humanas ou
as do capital?
Para Gonçalves, o termo desenvolvimento significa des (+) envolver, isto é,
quebrar o envolvimento dos homens com os elementos naturais (a terra, água,
plantas, animais...). Assim, des (+) envolver é separar os seres humanos da
natureza; é torná-los livres dela. “Após quebrar essa ligação entre homens e
natureza, ela deve estar livre para ser transacionada e apropriada por algo que,
como é da lógica desse processo, não é mais aquele que dela antes já dispunha
sem precisar comprá-la” (GONÇALVES, 2002, p. 259). A partir dessa definição,
percebe-se que o termo “desenvolvimento” já indica uma tendência à perpetuação
do modelo antiecológico dualista que promove a ruptura entre sociedade e natureza.
Nesse sentido, verifica-se que o conceito e o sentido dados ao
“desenvolvimento sustentável” não alteram o paradigma antropocêntrico e utilitário
que tem marcado tradicionalmente a relação entre a humanidade e a natureza. Esta
continua sendo enfocada sob um ponto de vista meramente instrumental, servindo
47

sempre e somente para a satisfação das necessidades do capital e dos interesses


políticos (CABETTE, 2004).
É nesse contexto que o modelo neoliberal guia a proposta da sustentabilidade
sob a defesa do discurso da ética e da moral das condições ecológicas, valores
ambientais e do crescimento econômico. Como afirma Leff (2001), a ideologia do
desenvolvimento sustentável desencadeia um delírio e uma inércia incontrolável de
crescimento. Neste sentido, o discurso ecológico tornou-se a estratégia para o
desvio dos problemas sociais e políticos.
Assim, ignora-se, na teoria e na prática, a dimensão ética da vida em
sociedade, face à dinâmica perversa da acumulação e reprodução do capital e seus
impactos devastadores na espoliação e alienação dos trabalhadores e dos recursos
naturais (RATTNER, 2009)
Ao falar sobre “desenvolvimento sustentável” é necessário ter a noção de
que uma mudança de modelo impõe-se, superando o próprio significado literal do
termo. Sem essa mudança, a expressão enfocada tem um sentido estéril que nada
de revolucionário comporta e não pode contribuir efetivamente para a conformação
de um novo modelo socioeconômico voltado para princípios ecológicos de respeito à
natureza (CABETTE, 2004).
Nesse sentido, Breilh (2009), corrobora com esse pensamento ao afirmar
que "Jusgada a la luz de los derechos humanos y de la naturaleza, la sustentabilidad
se debe asumir como una base no negociable de cualquier sistema social y modelo
de desarrollo". Além disso, propõe a diferenciação entre as noções de
sustentabilidad (sustentabilidade) com sentido de sustentar/fundamentar e as
noções de sostenibilidad (sustenibilidade) com o sentido de manter/permanecer
inalterado.
Tambellini (2009) define a sustentabilidade citada por Breilh como um
conceito multidimensional que implica um conjunto de condições para que os
ecossistemas possam fundamentar ou sustentar não qualquer forma de vida, mas
sim uma vida plena, digna, feliz e saudável, permite a elaboração de um paradigma
da transformação. Em contrapartida, a autora define a sustenibilidade como um
conceito unidimensional, referido basicamente ao tempo e orientado para uma
simples satisfação de necessidades, tal como estas são definidas
convencionalmente pelo próprio sistema hegemônico, permite a elaboração de um
paradigma do continuísmo
48

Anitúa (2006) indica que o significado de ambos os conceitos implica algum


grau de similaridade, porém revela que, de acordo com o Dicionário da Real
Academia Espanhola, "sostener" tem o sentido de manter, não variar de estado, que
permanece firmemente estabelecido, assentado e inalterável. Por outro lado,
"sustentar" tem o sentido de apoiar, que requer alimentação para lhe proporcionar os
meios de sobrevivência e persistência para que possa estender sua ação.
Sem um sentido mais profundo de caráter revolucionário e inovador, o
desenvolvimento sustentável não simboliza uma nova forma de se pensar o mundo.
O desenvolvimento atrelado ao velho modelo espoliador e dominador “apresenta-se
apenas como material e unidimensional, portanto, como mero crescimento” e “a
sustentabilidade é apenas retórica e ilusória” (BOFF, 2004 p. 97).
Como afirma Gudynas (1992 p. 68 - 69):
As atuais posturas de desenvolvimento sustentável exigem um enfoque
crítico cauteloso. Nelas não se renuncia ao velho paradigma do
desenvolvimento pelo crescimento econômico; pelo contrário, ele é ajustado
a uma dimensão ecológica. Assim, a disseminação de uma nova política
neoliberal, que enfatiza o mercado como cenário privilegiado das relações
sociais, também está gerando sua própria política ambiental.

A partir dessas percepções, nota-se que o discurso do desenvolvimento tem


se deslocado daquele sentido pretendido pela luta dos povos tradicionais e
ambientalistas. Para esse modelo, os diferentes modos de vida de grupos locais
incluindo suas respectivas formas de apropriação material e simbólica da natureza
representam um contraponto ao modo de vida da sociedade urbano-industrial que,
nesta concepção, seria insustentável (ZHOURI; LASCHEFSKI, 2010).
Por isso, pode-se afirmar que existe um escalonamento6 no campo das
necessidades que vão desde as básicas (relacionadas à própria sobrevivência do
ser humano), passando por necessidades que são socialmente construídas,
chegando àquelas que são propositalmente criadas ou impostas pela lógica da
dominação (SILVA, 2011).
No Brasil, segundo Rigotto e Augusto (2007), o maior problema em relação ao
seu modelo desenvolvimentista é a falta de uma política clara na perspectiva da
sustentabilidade, visto que cabem aos movimentos sociais, pesquisadores e
organizações não governamentais (ONG), a capacidade de mobilizar-se e contrapor-
se à (in)sustentabilidade do processo de desenvolvimento do país. Os impactos
desse processo, como por exemplo, aqueles causados pelo Complexo Industrial

6
Que pode variar segundo fatores históricos, culturais, sociais.
49

Portuário de Suape, e suas interferências na vida da população sobre a qual se


sobrepôs o empreendimento, veem sendo revelados por estudos científicos e por
movimentos sociais, que expõem o lado oculto do modelo perverso de
(des)envolvimento.
Para Drummond (2007), o capitalismo industrial caracterizou-se por uma
intervenção da sociedade sobre a natureza de abrangência espacial e de aceleração
temporal inéditas na nossa história, visto que a realização do círculo virtuoso da
economia capitalista só tem sido possível pela exploração intensiva dos recursos da
natureza e da força de trabalho, dimensões que pressionam negativamente o
ambiente e a vida humana.
Evidentemente que, para manter a continuação deste modelo de produção,
não há recursos naturais que se renovem a tempo, nem para as presentes e, muito
menos, para as futuras gerações. Para Azam (2011), “o capitalismo é um processo
de (des)civilização, em que o crescimento das forças produtivas transformou-se em
forças destrutivas”, gerando consequentemente, não só a crise ambiental em que
vivemos, mas situações de injustiças socioambientais, principalmente, nos setores
populares de menor renda, com menor acesso aos processos decisórios, com
menores possibilidades de se deslocar para fugir aos efeitos danosos da ação dos
projetos (des)envolvimentistas de grande impacto ambiental.
Nesse contexto, não se pode chamar de desenvolvimento o processo em
que populações continuam a empobrecer. Muito embora mantenham uma relação
de baixa intensidade com os circuitos mercantis, elas possuem formas relativamente
afluentes de relação com o meio ambiente, dependendo justamente da manutenção
da biodiversidade e da liberdade de acesso e uso dos recursos ambientais
(INSTITUTO DE PESQUISA E PLANEJAMENTO URBANO, 2011), que devem ser
respeitados e valorizados
Por tais motivos, não é justo que os altos lucros das grandes empresas se
deem à custa de processos de miserabilização da maioria, uma vez que
desigualdades geram conflitos e violência, sintomas de sociedades insustentáveis
(RATTNER, 2009). No entanto, este tem sido o mecanismo pelo qual o Brasil tem
ganhado os recordes em desigualdade social no mundo, visto que se concentra a
renda, bem como as técnicas de uso dos espaços e recursos ambientais nas mãos
de poucos privilegiados.
50

4.5 DA INJUSTIÇA AOS CONFLITOS SOCIOAMBIENTAIS

Nos Estados Unidos, especificamente, na década de 70, surgiu o


movimento por justiça ambiental, o qual afirmava que determinados grupos estariam
mais expostos a riscos socioambientais pelo fato das indústrias sujas (depósitos de
lixos químicos e radioativos ou de indústrias com efluentes poluentes) se instalarem
nas vizinhanças. Esses grupos que estavam e ainda estão sendo expostos a esses
riscos e que vêm sofrendo os efeitos na saúde no meio ambiente são os de classes
socioeconômicas mais baixas, o que associaria a injustiça ambiental a uma condição
social. Essa condição estaria diretamente relacionada com o sistema de poder
político-econômico, em que os grupos mais poderosos transfeririam certos riscos
socioambientais aos grupos mais frágeis, reforçando a relação entre risco
socioambiental e desigualdade socioeconômica (VEIGA, 2007).
No Brasil, o conceito de injustiça ambiental foi definido pela Rede Brasileira
de Justiça Ambiental como:
O mecanismo pelo qual sociedades desiguais, do ponto de vista econômico
e social, destinam a maior carga dos danos ambientais do desenvolvimento
às populações de baixa renda, aos grupos sociais discriminados, aos povos
étnicos tradicionais, aos bairros operários, às populações marginalizadas e
vulneráveis. (PORTO; PACHECO, 2009).

A ideia de injustiça socioambiental parte do princípio que os grupos sociais


não têm acesso igualitário aos recursos naturais: terra, ar e água. Com isso, tal
conceito pode ser caracterizado de forma mais direta por uma desigualdade no
acesso a esses recursos, ou indiretamente, por uma desigualdade no acesso às
tecnologias e aos riscos associados a esses recursos. Assim, os grupos de maior
poder político e socioeconômico tenderiam a ter maior acesso aos recursos e maior
rejeição aos riscos socioambientais, representando as forças desiguais que
interagem nesse cenário (VEIGA, 2007).
Em consonância com a ideia anterior, as desigualdades sociais e a exposição
desigual aos riscos ambientais ficam encobertas pela extrema pobreza e pelas
péssimas condições gerais de vida a ela associadas. Por isso, as gigantescas
injustiças sociais brasileiras ocultam a exposição desigual à poluição e o ônus
desigual dos custos do (des)envolvimento. Associado a isso, a elite governante do
país tem sido especialmente egoísta e insensível, defendendo de todas as formas os
seus interesses e lucros, até lançando mão, em muitos casos, da ilegalidade e da
violência. O desprezo pelo espaço comum e pelo meio ambiente se confunde com o
51

desprezo pelas pessoas e comunidades. Os vazamentos e acidentes na indústria


petrolífera e química, a morte de rios, lagos e baías, as doenças e mortes causadas
pelo uso de agrotóxicos e outros poluentes, a expulsão das populações tradicionais
pela destruição dos seus locais de vida e trabalho, tudo isso, configura uma situação
constante de injustiça socioambiental no Brasil, que vai além da problemática de
localização de depósitos de rejeitos químicos e de incineradores da experiência
norte-americana (ACSELRAD; HERCULANO; PÁDUA, 2004).
As populações tradicionais e os pequenos produtores que vivem nas regiões
da fronteira de expansão das atividades capitalistas consideradas zonas de
sacrifício7, sofrem as pressões do deslocamento compulsório de suas áreas de
moradia e trabalho, perdendo o acesso à terra, às matas e aos rios, sendo expulsos
por grandes projetos homogeneizadores do espaço (ZHOURI; OLIVEIRA; MOTA,
2013). Tal processo pode ser caracterizado como de "acumulação por espoliação"
(HARVEY, 2013), o qual visa de forma articulada entre poder público e privado,
manter a acumulação e o lucro cada vez maior do capital.
Por isso, para o enfrentamento desse modelo, faz-se necessário sair da
obscuridade e quebrar o silêncio que são lançados sobre a distribuição desigual dos
riscos ambientais. Para tanto, esse enfrentamento implica em desenvolver
articuladamente as lutas ambientais e sociais, não se tratando de buscar o
deslocamento espacial das práticas danosas para áreas onde a sociedade esteja
menos organizada, mas sim de democratizar todas as decisões relativas à
localização e às implicações ambientais e sanitárias das práticas produtivas e dos
grandes projetos econômicos e de infraestrutura. Nesse contexto, a justiça ambiental
torna-se um conceito aglutinador e mobilizador, por integrar as dimensões
ambiental, social e ética da sustentabilidade e do desenvolvimento, indicando a
necessidade de trabalhar a questão do ambiente não apenas em termos de
preservação, mas também de distribuição e justiça, representando o marco
conceitual necessário para aproximar em uma mesma dinâmica as lutas populares
pelos direitos sociais e humanos e pela qualidade de vida e a sustentabilidade
ambiental (HERCULANO, 2008).

7
Essa expressão descreve áreas com atividades econômicas que geram problemas ambientais
próximas a assentamentos humanos, com moradores pobres e com pouca capacidade de pressão
política de resistência à proximidade de atividades poluidoras (BULLARD, 2005).
52

Para o autor, tal conceito contribui para reverter a fragmentação e o


isolamento de vários movimentos sociais frente aos processos de globalização e
reestruturação produtiva que provocam perda de soberania, desemprego,
precarização do trabalho e fragilização do movimento sindical e social como um
todo. Mais que uma expressão do campo do direito, assume-se como campo de
reflexão, mobilização e bandeira de luta de diversos sujeitos e entidades, como
sindicatos, associações de moradores, grupos de afetados por diversos riscos (como
complexos industriais, portos, barragens, substâncias químicas), ambientalistas e
cientistas.
Nesse mesmo contexto, Acselrad (2004) e Porto (2007) consideram que a
justiça ambiental, ao articular ambientalismo com justiça social, constitui-se numa
importante base de resistência aos efeitos nocivos do capitalismo globalizado, o qual
utiliza a sua crescente liberdade locacional de investimentos entre diferentes regiões
do planeta, sejam continentes, países ou até dentro de um mesmo país, para inibir a
construção de parâmetros sociais, ambientais, sanitários e culturais, no sentido de
direcionar o desenvolvimento econômico e tecnológico para os interesses do
mercado. Ao impor sobre os interesses das populações locais as lógicas
econômicas e os interesses de países e elites de fora do território, os processos
subsequentes de desterritorialização produzem situações de injustiça ambiental que
vulnerabilizam as populações afetadas, não somente por colocar sobre os seus
ombros vários riscos e cargas, mas por não reconhecer os seus direitos em temas
tão fundamentais como a saúde, a terra, os recursos naturais e a própria cultura,
expressa na relação material e imaterial com tais recursos.
Normalmente os problemas ambientais e as populações vulneráveis
encontram-se submersos num conjunto de relações de poder, envolvendo interesses
políticos e econômicos que expressam disputas entre diferentes sentidos e valores
relacionados como, por exemplo, aos investimentos econômicos e formas de
distribuição entre os benefícios e os danos destes investimentos. Não reconhecer a
existência dos conflitos socioambientais que emergem nos territórios, pode fazer
com que as análises de vulnerabilidade desconsiderem a dimensão dialética da
história e os seus processos de vulnerabilização, assim como passivamente aceitem
como natural a desconsideração dos vulneráveis em sua condição de sujeitos
(PORTO, 2011).
53

Esse fato é responsável por levar ao ocultamento ou invisibilidade das


populações vulneráveis. Um dos elementos centrais da vulnerabilidade é a ausência
das populações vulneráveis no espaço político formal e no debate público presente
na mídia hegemônica, ou, ainda que presentes, em contextos de enorme assimetria
de poder permanecem ausentes em termos da participação real enquanto sujeitos
políticos que se expressam, denunciam práticas e interesses ilegítimos, demandam
soluções aos seus problemas e propõem alternativas. Isto é intensificado quando o
território da intervenção é o espaço de ninguém, do sujeito não reconhecido como
portador de direitos, como as florestas, manguezais e rios onde megaprojetos se
expandem (PORTO; PACHECO, 2009). Nesses casos, o ocultamento ou a
invisibilização de tais populações possui intencionalidade, dado que a inclusão de
certos interesses ou valores na arena política pode dificultar a realização de outros
interesses hegemônicos.
Segundo Acselrad et al. (2004), os conflitos socioambientais estão
fundamentados em quatro aspectos, são eles: apropriação simbólica, apropriação
material, durabilidade e interatividade. As três iniciais estão conectadas à base
material necessária para a reprodução de determinadas formas sociais de
existência, e a última diz respeito ao cruzamento de uma prática espacial sobre a
outra. Esses aspectos são fundamentais para compreender a dinâmica dos conflitos,
inerente aos diferentes modelos de desenvolvimento. Para o presente autor, os
conflitos socioambientais podem ser classificados sobre duas vertentes: a primeira
está pautada na distribuição das externalidades dos chamados produtos
invendáveis, resíduos líquidos, gasosos e sólidos que são frequentemente lançados
nos espaços não mercantis como solo, água e ar, sendo impostos ao consumo
forçado das populações mais vulneráveis localizadas no entorno dos
empreendimentos. A segunda vertente está relacionada com os conflitos pela
utilização de recursos naturais (diferentes grupos que utilizam um mesmo espaço
com finalidades diferentes).
Para Little (2001), conflitos socioambientais são definidos como disputas entre
grupos sociais em função de seus distintos modos de interrelacionamento ecológico,
isto é, com seus respectivos meios sociais e naturais. Devido à existência de
inúmeros conflitos sociais, o conflito é determinado como socioambiental quando
sua especificidade gira em torno da utilização e uso dos recursos naturais e também
através das apropriações dos espaços de vivência e de moradia.
54

O autor entende que um conflito pode ter várias dimensões, movimentos ou


fenômenos complexos, mas, ao começar-se a identificar os pontos críticos, já é um
progresso para o entendimento da dinâmica do conflito. Para ele, há três grandes
tipos de conflitos: o primeiro está ligado ao controle sobre os recursos naturais, tais
como disputas sobre a exploração ou não de um minério, sobre a pesca, sobre o
uso dos recursos florestais etc.; o segundo diz respeito aos conflitos em torno dos
impactos (sociais ou ambientais) gerados pela ação humana, tais como a
contaminação dos rios e do ar, o desmatamento, a construção de grandes barragens
hidrelétricas etc.; o último está relacionado com os conflitos em torno dos valores e
modo de vida, isto é, conflitos envolvendo o uso da natureza cujo núcleo central
reside num choque de valores ou ideologias. Essa tipologia serve, em parte, para
tratar o foco central do conflito.
Portanto, os conflitos ambientais colocam em pauta as formas desiguais de
utilização do território, seja pelo fato da retirada de bens comuns utilizados por
populações tradicionais, seja pelo fato dos impactos entre as diferentes práticas
espaciais tenderem a exercer uma dominação ligada à prevalência dos usos dos
atores sociais mais fortes, acarretando consequentemente um enfraquecimento dos
mais fragilizados (ACSELRAD, 2010).
Uma estratégia para o enfrentamento desse complexo problema
socioambiental é a articulação de movimentos sociais, que possibilitam o
compartilhar colaborativo e solidário, tanto da produção e difusão de conhecimentos
quanto de ações conjuntas. Os movimentos sociais são estruturas flexíveis que
propiciam nas comunidades a construção de práticas através da integração de
canais de comunicação e estratégias de ação, estabelecendo compromissos mais
horizontais e solidários entre pessoas, instituições, organizações governamentais e
não governamentais organizadas em torno de causas comuns. A atuação em redes
ajuda a pensar de forma sistêmica, solidária e responsável sobre o agir diante dos
problemas ao mesmo tempo em que expressa de forma mais adequada o próprio
funcionamento com integridade da vida humana, estabelecendo pontes entre
dimensões ecológicas, sociais e éticas (PORTO, 2011).

4.6 O RACISMO AMBIENTAL NO CONTEXTO BRASILEIRO

Dentro do cenário das injustiças e conflitos ambientais está o racismo


ambiental. O debate sobre essa temática surgiu em conjunto com o de justiça
55

ambiental nos Estados Unidos durante a década de 1960, principalmente, por parte
de organizações que lutavam pela garantia dos direitos civis. Porém, pode-se
afirmar que é no início da década de 1980 que ganhou força a luta por justiça
ambiental através de uma articulação entre lutas de caráter social, territorial,
ambiental e de direitos civis que se consolidou em uma rede multicultural e
multirracial no enfrentamento do racismo ambiental (ACSELRAD, HERCULANO,
PÁDUA, 2004; ACSELRAD, MELLO, BEZERRA, 2009).
Assim, evidenciava-se a existência de situações de racismo ambiental em
sociedades desiguais, nas quais os grupos vulneráveis (populações de baixa renda
e racialmente descriminados), arcam com o ônus dos danos ambientais gerados
pelo desenvolvimento. Este conceito surgiu da experiência das lutas protagonizadas
por grupos vulneráveis e marginalizados, clamando por alternativas e soluções para
o fato de serem estes a suportar, de maneira desproporcional, a exposição aos
riscos ambientais, uma vez que seus locais de residência eram constantemente
escolhidos para os depósitos de lixo, aterros e incineradoras (VERDAN, 2016).
Herculano (2006, p.11) define racismo ambiental da seguinte forma:
Racismo ambiental é o conjunto de ideias e práticas das
sociedades e seus governos, que aceitam a degradação
ambiental e humana, com a justificativa da busca do
desenvolvimento e com a naturalização implícita da
inferioridade de determinados segmentos da população
afetados – negros, índios, migrantes, extrativistas, pescadores,
trabalhadores pobres, que sofrem os impactos negativos do
crescimento económico e a quem é imputado o sacrifício em
prol de um benefício para os demais.

A luta contra o racismo ambiental busca construir realidades mais justas como
o principio da justiça ambiental, termo que Bullard (2004, p.9) define como:

A busca do tratamento justo e do envolvimento significativo de


todas as pessoas, independentemente de sua raça, cor, origem
ou renda no que diz respeito à elaboração, desenvolvimento,
implementação e reforço de políticas, leis e regulações
ambientais. Por tratamento justo entenda-se que nenhum
grupo de pessoas, incluindo-se aí grupos étnicos, raciais ou de
classe, deva suportar uma parcela desproporcional das
consequências ambientais negativas resultantes de operações
industriais ou comerciais, da execução de políticas e
programas federais, estaduais, ou locais, bem como das
consequências resultantes da ausência ou omissão destas
políticas.
A definição acima citada ratifica como o conceito de justiça ambiental é
agregador, utilizando conjuntamente os termos ‘raça’, ‘cor’, ‘origem’ e ‘renda’.
Quando analisados os objetivos das lutas por justiça ambiental e das lutas contra o
56

racismo ambiental, nota-se que há muitos pontos comuns, sobretudo à ideia de um


tratamento justo e não discriminatório quanto à partilha dos recursos e riscos
naturais, quanto ao direito de se viver em ambientes urbanos e rurais saudáveis e de
participar de decisões sobre a utilização dos espaços naturais, de entre outras
(SILVA, 2012).
A percepção de que as situações de injustiça ambiental são reproduções da
estrutura desigual das sociedades nas quais determinadas populações suportam de
forma desproporcional os danos e riscos ambientais, faz com que esta temática
ganhe relevância em várias realidades. Esse fato é notório, especificamente, em
contextos históricos marcados por situações de desigualdades e injustiças, como no
cenário brasileiro (Acselrad, Herculano e Pádua, 2004; Pacheco, 2006). Dentre os
casos, vale destacar as populações desterritorializadas como as aldeias indígenas,
grupos quilombolas, pescadores e marisqueiros para a implantação de megaprojetos
econômicos tais quais os complexos industriais, portos, hidroelétricas, minerodutos,
dentre tantos outros.
No Brasil, existem várias pesquisas que revelam um cenário desproporcional
no que diz respeito aos problemas sociais enfrentados pela população negra tanto
no meio urbano quanto no rural. Bullard (2004 p. 52) denomina esse fato de
apartheid residencial, pois segrega essa população no que toca ao acesso à
moradia, ao uso do solo e do ambiente construído. Para exemplificar, o autor faz
uma alusão aos guetos americanos, os subúrbios sul-africanos e às favelas no
Brasil, demonstrando como o racismo é um forte fator de distribuição seletiva.
Estas questões trazem à tona um cenário de desigualdade racial que está
relacionados com a problemática da justiça ambiental, servindo para caracterização
de casos de racismo ambiental, pois determinam o acesso desigual aos recursos
naturais, saneamento básico, à localização de instalações poluidoras e uma maior
exposição aos riscos de contaminação por resíduos tóxicos. Além disso, as
comunidades quilombolas travam uma luta específica no que tange à regularização
da posse das terras em que vivem (SILVA, 2012). Paixão (2004) salientou que a
regulamentação das áreas quilombolas é de fundamental importância não só pela
questão agrária, mas pela reprodução cultural de suas tradições seculares, dos seus
modos de vida sustentável, da saúde e educação desta população, para que assim
possa-se favorecer a melhoria da qualidade de vida destas, dentro da perspectiva de
desenvolvimento adequada à preservação do ambiente em que estão inseridas.
57

O racismo ambiental, segundo Pacheco (2006), não é apenas uma questão


de cor, mas de classes pelo fato de afetar grupos etnicamente diferentes tal qual as
comunidades quilombolas, indígenas, camponesas e várias outras caracterizadas
como tradicionais. Pelo fato de possuir modos de vida diferenciados, muitas vezes
considerados rústicos ou pouco evoluídos, e, por estarem localizadas em áreas
estratégicas ou que dispõem de grande estoque de recursos naturais, essas
populações são vistas como um obstáculo ao progresso, impedindo a instalação de
empreendimentos em seus territórios e consequentemente a melhoria da
arrecadação de tributos fiscais e empregos. Nesse sentido, cria-se o entendimento
de que esses territórios são “desertos”, ou seja, estão disponíveis para a
implantação de grandes empreendimentos econômicos.
Nesse contexto, as injustiças socioambientais evidenciam um complexo
sistema de desigualdade e exclusão social no que diz respeito, como visto
anteriormente, aos danos ambientais. Por isso, a luta pela justiça ambiental e o
combate ao racismo ambiental são de suma importância, pois fortalecem os
movimentos sociais que têm como bandeira as populações vulnerabilizadas. Esses
movimentos têm na defesa dessas populações e no meio ambiente sua principal
preocupação, reivindicando medidas de proteção ambiental e, sobretudo, uma
ampla mudança nos hábitos e valores da sociedade, de modo a estabelecer-se
um paradigma de vida sustentável.

4.7 ECOLOGIA POLÍTICA E EQUIDADE: A LUTA POR JUSTIÇA AMBIENTAL

O conceito de equidade ambiental foi inicialmente trabalhado nos EUA na


década de 1990, após o relatório Environmental equity: reducing risks for all
communities8 pela Agência de Proteção Ambiental dos EUA (RAMMÊ, 2012).
Segundo Acselrad; Mello; Bezerra (2009), o grupo de trabalho responsável por sua
organização relatou que os estudos sobre a relação entre equidade e meio ambiente
indicavam aspectos perturbadores, sugerindo uma maior participação das
comunidades de baixa renda e das minorias no processo decisório relativo às
políticas ambientais.
Em consonância com esse pensamento, a Equidade Ambiental (EA),
desponta como instrumento de modernização e democratização na luta contra os

8
Equidade ambiental: reduzindo riscos para todas as comunidades. Tradução livre.
58

impactos de projetos de desenvolvimento. Seus objetivos são desenvolver propostas


de tomada de decisão democráticas e elementos de metodologia que contribuam
para alterar a correlação de forças no debate sobre o impacto dos projetos de
desenvolvimento, fazendo valer a perspectiva diferenciada dos grupos sociais
atingidos e/ou correntemente menos capazes de se fazer ouvir na esfera decisória
(IPPUR, 2011).
Segundo Acselrad; Mello; Bezerra (2009), o progresso nesse campo teórico
objetiva a elaboração de instrumentos que permitam uma efetiva “avaliação de
equidade ambiental”, capaz de introduzir variáveis sociais nos tradicionais estudos
de avaliação de impacto. Os autores observam ainda que:

Nesse novo tipo de avaliação, a pesquisa participativa envolveria, como


coprodutores do conhecimento, os próprios grupos sociais ambientalmente
desfavorecidos, viabilizando uma integração analítica apropriada entre os
processos biofísicos e sociais. Postulava-se, assim, que aquilo que os
trabalhadores, grupos étnicos e comunidades residenciais sabem sobre
seus ambientes deve ser visto como parte do conhecimento relevante para
a elaboração não discriminatória das políticas ambientais (ACSELRAD;
MELLO; BEZERRA, 2009, p.22)

A partir da demanda de grupos sociais potencialmente atingidos por


megaprojetos, a EA visa à elaboração de novas formas de avaliação socioambiental,
pautadas por critérios de equidade, isto é, que garantam uma igual proteção em
relação às consequências ambientais negativas a todos os grupos sociais
concernidos e/ou impactados pelos assim chamados “projetos de desenvolvimento”
(SILVEIRA, 2016).
Ao contrário do senso comum ambiental difundido nos meios de comunicação
hegemônicos, a poluição não é democrática, visto que não afeta a todos de maneira
igual e não submete todos os grupos sociais aos mesmos riscos e inseguranças. O
que se nota nas intensas atividades econômicas que fazem uso dos recursos
naturais, em geral, e no caso dos grandes projetos de desenvolvimento, em
particular, é que são desiguais as condições de acesso dos diferentes setores da
população à proteção ambiental. Assim, são mais atingidos aqueles que têm menos
acesso aos processos de decisão política e aos mecanismos de regulação da
localização de atividades potencialmente danosas ao meio ambiente e à vida
humana (PORTO; PACHECO; LEROY, 2013).
As demandas por equidade e justiça ambiental nascem da percepção de que
a proteção ambiental é desigual e de que há uma maior exposição de populações
59

vulnerabilizadas aos riscos ambientais embutidos nos chamados “projetos de


desenvolvimento”. Por isso, a demanda dos movimentos por justiça ambiental
aponta para a busca de um tratamento justo, no qual nenhum grupo seja ele definido
por raça, etnia ou classe socioeconômica irá sofrer de maneira desigual com as
consequências ambientais negativas de determinado projeto, e um envolvimento
ativo dessa parcela populacional em todas as etapas pelas quais necessariamente
passa um projeto, desde a sua concepção no planejamento até o processo de
tomada de decisão (ACSELRAD, HERCULANO e PÁDUA, 2004)
Nesse sentido, a avaliação de equidade ambiental (AEA) tem uma
importância fundamental na promoção da justiça ambiental que visa fortalecer os
movimentos e grupos sociais atingidos nos processos de participação e tomada de
decisão sobre grandes projetos que podem afetar seu modo de vida de forma direta
ou indireta. Assim, a EA busca centralizar seu foco nos efeitos sociais e culturais de
qualquer atividade pública ou privada que altere de maneira negativa a forma pela
qual as pessoas moram, trabalham, se relacionam umas com as outras, elaboram
sua expressão coletiva e seus modos próprios de subjetivação. Ela demonstra que a
dimensão ambiental não pode ser analisada de modo separado da dimensão social
e cultural, uma vez que esta divisão disciplinar não é capaz de proporcionar a
compreensão dos efeitos mútuos e inextrincáveis desses domínios formalmente
separados, porém empiricamente integrados. Portanto, ela somente pode ser feita
incorporando integralmente a percepção dos grupos sociais potencialmente
atingidos (RAMMÊ, 2014).

4.8 PARTICIPAÇÃO SOCIAL COMO PROCESSO DE LUTA POR JUSTIÇA


AMBIENTAL

Por conta da vulnerabilidade das populações atingidas por megaprojetos que


alteram sua dinâmica espacial e territorial, do seu baixo grau de associativismo e de
exercício de cidadania, têm surgido grupos anti-hegemônicos que primam pela luta
da justiça ambiental, tomando forma através dos movimentos sociais e ONGs
geralmente, formados por membros de alta escolaridade e bem informados, ou por
movimentos de base ou coalizões de movimentos de cidadãos pobres afetados
(PORTO, 2011). Portanto, a participação social é um elemento essencial, pois
60

dinamiza tanto processos de confronto como processos de consenso em torno de


elementos de disputa.
Nesse sentido, pode-se afirmar que a participação social tanto pode ser um
instrumento de tecnologia social para a neutralização de conflitos reais e potenciais,
e democratização do Estado para uma gestão socioambiental sustentável, quanto
um processo de luta social por justiça ambiental que se configura em movimentos
sociais.
Zhouri, Laschefski e Pereira (2005) expõem algumas considerações sobre a
participação social na luta por justiça ambiental. Os autores afirmaram que as
instituições governamentais para legitimar essa prática empenham-se no
envolvimento da “sociedade civil organizada” (ONG, organizações comunitárias e
movimentos sociais) onde termos como participação, cooperação, parceria e
“empoderamento” (empowerment) são fundamentais para as estratégias de
desenvolvimento global e local. Um dos exemplos mais trabalhado nesse processo
dá-se a por meio de capacitações dos atores mais fracos, para que as “negociações”
com os agentes governamentais e com o setor privado sejam possíveis.
Segundo os autores:
A ideia básica das ‘mesas redondas’ participativas é a de criar um novo
sistema de regulação com a finalidade de se estabelecer um consenso.
Internacionalmente é uma concepção cada vez mais adotada em resposta
à crítica da falta de legitimidade democrática das políticas públicas. Essa
ideia procura desenvolver a boa governança considerando os direitos
humanos e os padrões ecológicos de conservação e de transparência
democrática. (ZHOURI, LASCHEFSKI e PEREIRA, 2005, p.16).

Para os autores, os excluídos e atingidos por megaprojetos não são vítimas


passivas desse processo injusto, uma vez que vêm se organizando em movimentos
sociais de diversas bandeiras, manifestando seus desacordos, revoltas e
reivindicações, ao mesmo tempo em que se colocam como portadores de projetos
alternativos de interação com o meio ambiente.
No Brasil, a luta pela justiça ambiental, também denominada como
“ambientalismo dos pobres” é marcada pela resistência à hegemonia das
intervenções no espaço pelas elites e grupos políticos que dele se apoderam, e
apesar do discurso da participação de grupos interessados (populações tradicionais)
nas decisões sobre a regulação do uso e ocupação do solo que supostamente
exibem uma forma de consenso, privilegiam alguns segmentos da sociedade em
razão de seus poderes econômicos, políticos e sociais. Esse fator tem gerado
61

embates desiguais entre movimentos sociais e elites político-econômicas,


evidenciado pela má distribuição de terras e pela decisão do Estado da não
resolução dos afrontamentos (ACSELRAD, 2004; MARTINEZ ALIER, 2007).
Uma consideração que deve ser destacada acerca da configuração desse tipo
de participação social, é que ela não é um mero instrumento, mas um processo, no
sentido legítimo do termo: “infindável, em constante vir-a-ser, sempre se fazendo”
(DEMO, 2009, p.18). Segundo o autor, a essência dessa participação é a
autopromoção que existe enquanto conquista processual. Logo, não existe
participação suficiente, nem acabada, mas em permanente evolução e
desdobramento, especialmente dentro de contextos de movimentos sociais.
Como citado anteriormente, outro importante termo que se faz presente no
processo de luta por justiça ambiental e conquista de direitos é o de
empoderamento. Segundo Baquero (2006), o empoderamento é uma construção
que se divide em nível individual, tendo em consideração a habilidade das pessoas
ganharem conhecimento e controle sobre forças pessoais, para conduzir-se na
direção de melhoria de sua situação de vida; em nível organizacional, quando em
referência à mobilização participativa de recursos e oportunidades de determinada
organização; e em nível comunitário, quando a estrutura das mudanças sociais e a
estrutura sociopolítica estão em foco.
Tal conceito prima pela tomada de consciência a respeito de fatores de
diferentes ordens, tais como: econômica, política e cultural, que conformam a
realidade, incidindo sobre o sujeito. Neste sentido, um processo de empoderamento
eficaz necessita envolver tanto dimensões individuais quanto coletivas (BAQUERO,
2012).

4.8.1 Empoderamento: uma ferramenta de fortalecimento social

O empoderamento tem seu exórdio nas lutas pelos direitos civis, assumindo
significações que se referem ao desenvolvimento de potencialidades, à expansão de
informação e percepção, buscando uma participação real e simbólica que possibilite
a democracia (BAQUERO, 2001). Sua idealização conceitual iniciou na década de
1970 inspirada pelos movimentos de autoajuda; seguindo na década 1980 através
da psicologia comunitária, e, na década 1990, pelos movimentos que buscam
afirmar o direito de cidadania sobre distintas esferas sociais (CARVALHO, 2004).
62

É um processo enérgico que envolve aspectos cognitivos, afetivos e de


conduta. Significa ampliação do poder, da autonomia pessoal e coletiva de
indivíduos e grupos sociais nas relações interpessoais e institucionais,
principalmente daqueles submetidos às relações de opressão, discriminação e
dominação social. Dá-se num cenário de transformação social e desenvolvimento
político, que propicia equidade e qualidade de vida através de recipriocidade,
cooperação, autogestão e participação em movimentos sociais autônomos. Envolve
práticas não tradicionais de aprendizagem e ensino que desenvolvam uma
consciência crítica. No empoderamento, processo e produto se interligam, sofrendo
interferência do cenário ecológico social, cujos resultados não podem ser somente
analiasado em termos de metas concretas, mas em relação a sentimentos,
conhecimentos, motivações etc. Um dos aspectos fundamentais do empoderamento
diz respeito às possibilidades de que a ação local promova a formação de alianças
políticas capazes de expandir o debate da opressão no sentido de contextualizá-la e
favorecer a sua compreensão como fenômeno histórico, estrutural e político
(KLEBA; WENDHAUSEN, 2009; SILVA; MARTÍNEZ, 2004; VASCONCELLOS,
2003).
No Brasil, há dois sentidos de empoderamento mais empregados: um refere-
se ao processo de mobilizações e práticas que pretendem promover e motivar
grupos e comunidades na melhoria de suas condições de vida, aumentando a sua
autonomia; o outro refere-se a ações propostas a favorecer a inclusão dos
excluídos, carentes e demandatários de bens primordiais à sobrevivência, serviços
públicos, etc. em sistemas geralmente precários, que não contribuem para organizá-
los, pois os atendem individualmente através de projetos e ações de cunho
assistencial (GOHN, 2004).
É importante ressaltar que o empoderamento não pode ser fornecido nem
tampouco realizado para pessoas ou grupos, mas realiza-se em processos em que
os indivíduos se empoderam a si mesmos. Profissionais ou agentes externos podem
catalisar ações ou auxiliar na criação de espaços que favoreçam e sustentem
processos de empoderamento, os quais refletem situações de ruptura e de mudança
do curso de vida. Através desse processo, pessoas renunciam ao estado de tutela,
de dependência, de impotência, e transformam-se em sujeitos ativos, que lutam para
si, com e para os outros por mais autonomia e autodeterminação, tomando a direção
da vida nas próprias mãos (KLEBA; WENDHAUSEN, 2009).
63

4.8.2 Movimento Social: uma ferramenta de ação coletiva

O movimento social refere-se à ação coletiva de um grupo organizado que


tem por objetivo defender determinadas causas, visando alcançar mudanças sociais
por meio da luta política, conforme seus valores e ideologias dentro de uma
sociedade permeada por situações sistêmicas antagônicas. Podem pretender a
mudança, a transição ou mesmo a revolução de uma realidade adversa de certo
grupo ou classe social. Seja a luta por um ideal ou pelo questionamento de uma
determinada realidade que se caracterize como algo impeditivo da realização dos
anseios de determinado grupo social, o movimento social concebe uma identidade
para a luta e defesa dos interesses dos oprimidos. Por isso, são indispensáveis no
fortalecimento da democracia, no processo de inclusão social e na conquista de
direitos, visando o bem comum (AQUINO; AGUIAR, 2016; RIBEIRO, 2011).
Para entender os movimentos, mais do que refletir sobre valores e crenças
comuns para a ação social coletiva, é necessário pesquisar as estruturas sociais nas
quais os movimentos despontam. Cada sociedade ou corpo social teria como
cenário um contexto histórico, no qual estaria posto um conflito entre classes,
terreno das relações sociais, a depender dos modelos culturais, político e social
(RIBEIRO, 2011). Assim, os movimentos sociais evidenciam os conflitos já postos
pela estrutura social geradora a partir da contradição entre as classes, sendo assim,
uma ferramenta essencial para a ação com fins de intervenção e mudança da
estrutura oprimida (SILVA; FELIX, 2016). Por isso, os movimentos sociais são tão
importantes para as populações tradicionais sobrepostas pelo CIPS.
Sua existência requer uma organização muito bem desenvolvida,
demandando a mobilização de recursos e participantes muito dedicados. Não se
limitam a manifestações públicas eventuais, mas tratam-se de organizações que
atuam sistematicamente para alcançar seus objetivos sociopolíticos, o que significa
haver uma luta permanente, e, a longo prazo, dependendo da condição da causa
(PIMMEL, 2015). Para Silva (2015), esses movimentos são de fundamental
importância para a sociedade enquanto meio de manifestação e reivindicação, uma
vez que as mudanças na sociedade ocorrem a partir de sua ebulição contra o
capital, o Estado ou os dois simultaneamente, como é o caso dos movimentos
presentes na área do Complexo Industrial Portuário de Suape.
64

É importante salientar que os movimentos sociais lutam por diversas causas e


que têm à sua própria identidade e forma de funcionamento. No entanto, segundo
Lenzi (2016) existem algumas características próprias que são comuns aos
movimentos que atuam em conjunto com as populações locais no território do CIPS,
são essas:
Existência de um conflito social: é a partir da observação da existência de um
problema social que os movimentos sociais começam a ser organizados com o
objetivo de obter uma melhoria;
Confronto e pressão contra o Estado: é uma característica desses
movimentos porque lutam pelo reconhecimento de direitos ou modificações que são
impostas ou propostas por interesses políticos. A pressão social feita pelos cidadãos
que demonstram suas opiniões ou interesses é uma das principais formas de
mobilização social;
Combate à injustiça social: os movimentos envolvem questões relacionadas
com interesse ou necessidades de um grupo ou o combate a uma injustiça social
e/ou ambiental;
Luta por cidadania: as causas defendidas por movimentos sociais são ligadas
ao exercício ou ao reconhecimento de direitos, assim, são diretamente ligadas ao
exercício da cidadania.
Em conformidade com a ideia anterior, é possível notar que os movimentos
sociais caracterizam-se como processos participativos pela conquista de direitos e
são capazes de evidenciar perante a sociedade diversas injustiças sociais. Assim,
os movimentos sociais são formas de participação social de confrontos políticos cuja
resolução dos conflitos dá-se pela conquista ou garantia de direitos ameaçados. É
importante salientar que nem todo o confronto político evolui para formar
movimentos sociais, mas todo o movimento social evolui de um confronto político.
Esse confronto ocorre quando um grupo social reúne forças para enfrentar elites,
autoridades e opositores (TARROW, 2009).
O autor destaca dois aspectos que configuram os movimentos sociais. O
primeiro é que nem todos os eventos de embates políticos podem ser chamados de
movimentos sociais. Para ele, tal denominação deve ser destinada para as
sequências de confrontos políticos baseadas em redes sociais de apoio e em
vigorosos esquemas de ação coletiva e que, além disso, desenvolvem a capacidade
65

de manter provocações sustentadas contra opositores poderosos. A partir desse


pensamento é possível reconhecer que a ação coletiva de disputa constitui-se a
base dos movimentos sociais, tendo em vista ser ela o principal, e quase sempre, o
único recurso que as pessoas mais vulneráveis possuem para a busca dos seus
direitos.
O segundo aspecto é que as formas contenciosas de ação coletiva se
diferenciam das relações de mercado, dos grupos de pressão ou da política
partidária porque colocam as minorias em disputa com seus opositores,
demonstrando que os movimentos sociais têm poder porque desafiam os detentores
do poder produzindo solidariedade e construindo sentido e desafios coletivos para
grupos específicos da sociedade. Esse poder é tão significativo que, mesmo
fracassando, possui a capacidade de possibilitar mudanças políticas e culturais de
diversas ordens (SILVEIRA, 2010).
Segundo Tarrow (2009), os movimentos sociais possuem quatro propriedades
básicas para serem definidos como tal e necessitam de fatores externos para se
dinamizarem. A primeira propriedade é o desafio coletivo, definido por ações que se
diferenciam das postas pelas forças opositoras. Essa separação, quase sempre de
natureza pública pode assumir também a forma de resistência social coordenada ou
de afirmação coletiva de novos valores. Os movimentos sociais costumam usar o
desafio coletivo para atrair colaboradores e dar atenção à causa.
A segunda característica é o propósito comum assinalado pela organização
de reivindicações comuns aos opositores. É importante destacar que nem todos os
conflitos surgem de interesse de classe, mas de interesses e valores comuns ou
sobrepostos que são a base das ações comuns.
A terceira propriedade refere-se à solidariedade e identidade coletiva
caracterizadas pela afirmação dos interesses comuns e dos atores envolvidos no
confronto político. O reconhecimento dá-se pelos participantes do movimento social
que se identificam com o desafio e com a luta proposta. Nesse aspecto, os
organizadores dos movimentos desempenham um papel essencial na mobilização e
estimulação de um consenso entre os participantes.
A quarta propriedade refere-se à sustentação do confronto político. Um
confronto só dará origem a um movimento social quando a ação coletiva contra seus
opositores no processo de solidariedade e identidade coletiva é efetivamente
sustentada.
66

Essas quatro propriedades são dinamizadas por fatores que o autor denomina
de oportunidades, responsáveis por alimentar o processo de formação e
desenvolvimento dos movimentos sociais.
Todas essas propriedades e dimensões de oportunidades são úteis para
analisar empiricamente os movimentos sociais em qualquer tipo de embate político,
especialmente, no que diz respeito à participação social nos conflitos
socioambientais.
Diante desse quadro teórico, pretende-se identificar os atores envolvidos e as
formas de participação social nos conflitos socioambientais existentes no CIPS. Por
isso, faz-se necessário discutir um pouco sobre os movimentos socioambientalistas,
uma vez que são os mais atuantes nesse complexo industrial.

4.8.2.1 O Movimento Socioambientalista na Contramão da Hegemonia Capitalista

A Revolução Industrial desencadeou ao logo do tempo um crescimento


técnico e científico que tem proporcionado um grau de produção de riqueza
eficiente, mudando o modo de vida cotidiano das pessoas, principalmente, das mais
providas de recursos, gerando mais acesso ao consumo. No entanto, o avanço das
novas tecnologias de produção, aplicado à indústria e à agricultura tem gerado
problemas sérios na relação do homem com o ambiente. Os efeitos da atividade
humana na natureza são muitas vezes imprevisíveis e podem trazer sérias
consequências para a vida no planeta, tal qual o conhecemos. Por isso, pode-se
dizer que a atividade antrópica que possibilita o bem-estar também cria o risco e é
justamente nesse momento em que o risco se torna um problema de gerenciamento
ambiental, político e econômico. Isto é, trata-se de lidar políticamente e
economicamente com os custos do risco, o que sempre trará problemas com relação
às medidas a serem adotadas para reduzir o nível de agressão à sociedade e
natureza
A concepção de que os modos de produção capitalista precisavam ser
repensados, almejando buscar uma relação mais harmoniosa entre homem e
natureza, ganhou força apenas no final dos anos de 1960. A partir desse momento
surgiram diversos movimentos ambientalistas preocupados em mudar essa situação
e demonstrar à opinião pública mundial os riscos que a inação por parte das
67

autoridades políticas e da sociedade civil poderia trazer ao meio ambiente


(MARONEZE, SALLA e OLIVEIRA, 2013).
Diante do quadro de acentuada degradação socioambiental no mundo,
os movimentos ambientalistas propõem novos sistemas de valores sustentados na
justiça social, no equilíbrio ecológico, na não violência e na solidariedade diacrônica
com as gerações futuras (VIOLA, 1987).
Por isso, muitos movimentos ambientalistas centram-se na crítica constante
da sociedade capitalista de produção, que limita a natureza a um objeto de
produção. Por isso, procuram despertar o interesse dos indivíduos para lutarem pela
transformação social, por tudo aquilo que deve ser direito de todos, por melhores
condições de vida e pelo princípio da igualdade coletiva, pois todos merecem ter as
mesmas condições sociais de viver (TRES, 2006).
Esse movimento carrega desde a sua concepção a consciência crítica,
solidária e de classe. Constitui suas bases na luta cotidiana de resistência contra os
interesses econômicos, elites dominantes, governantes e grandes empresários que
intensificam políticas excludentes e monopolistas, mantendo o lucro como a sua
principal finalidade, sobrepondo os modos vida, os fracos e oprimidos que não
conseguem se defender, lutando contra a natureza que à primeira vista não tem
forças para se opor. Dessa forma, cumprem o papel de denunciar as barbáries
ocorridas com o ambiente e os mais vulneráveis, em defesa de uma melhor qualidade de
vida lançam-se na batalha constante da luta por direitos sociais e ambientais. Assim,
transformam-se em militantes em favor do bem coletivo e das minorias sem vez e sem
voz.
A partir desse discurso, nota-se que os movimentos que primam pelas causas
ambientais têm direcionado suas lutas contra dinâmicas discriminatórias que destinam
a determinados grupos populacionais os malefícios do desenvolvimento econômico
e industrial. Eles vêm-se constituindo num importante exemplo de resistência aos
efeitos maléficos de um capitalismo globalizado, o qual utiliza a sua crescente
liberdade locacional de investimentos entre regiões para coibir a construção de
parâmetros sociais, ambientais, sanitários e culturais direcionadores do
desenvolvimento econômico e tecnológico (PORTO, 2005).
No Brasil, suas lutas têm-se pautado no enfrentamento aos avanços dos
investimentos produtivos potencialmente degradantes em vários territórios e locais
de trabalho. Dentre os investimentos, veem tendo destaque: a exploração e
68

produção de petróleo; a mineração; a construção de barragens hidrelétricas; os


setores econômicos que produzem e utilizam substâncias químicas extremamente
perigosas e a expansão de monoculturas intensivas (PORTO, 2011).
Ao impor sobre os interesses das populações as lógicas econômicas, os
processos subsequentes irão interferir diretamente nos modos de vida, produzindo
situações de injustiça ambiental que vulnerabilizam os segmentos sociais mais
frágeis, não somente por lhes destinar o ônus do progresso, mas por não
reconhecerem os seus direitos em temas tão fundamentais como a saúde, a terra,
os recursos naturais e a própria cultura, expressa na relação material e imaterial com
tais recursos.
Os sujeitos sociais que procuram notabilizar a gravidade da relação entre
injustiça social e degradação ambiental são aqueles que não confiam no mercado
como aparelho de superação da desigualdade ambiental e da promoção dos
princípios do que se entenderia por justiça ambiental. Estes atores consideram que
há clara desigualdade social na exposição aos riscos ambientais, decorrente de uma
lógica que extrapola a simples racionalidade abstrata das tecnologias. Corroborando
com esse pensamento, Acselrad (2000, p.51) afirma que o “enfrentamento da
degradação do meio ambiente é o momento da obtenção de ganhos de
democratização. Isto porque supõem existir uma ligação lógica entre o exercício da
democracia e a capacidade da sociedade se defender da injustiça ambiental”.
69

5 RESULTADOS E DISCUSSÃO

5.1 CONFLITOS SOCIOAMBIENTAIS NO COMPLEXO INDUSTRIAL PORTUÁRIO


DE SUAPE

O Brasil, desde a colonização, é caracterizado pela existência de inúmeros


conflitos socioambientais que emergem através da apropriação elitista do território e
dos recursos naturais, da concentração dos benefícios usufruídos do ambiente e,
principalmente, da distribuição desigual da população à poluição e aos custos
ambientais (ACSELRAD, 2010a). A elite governante tem-se mostrado extremamente
egoísta e insensível, defendendo de todas as formas, os seus interesses egoístas e
lucros do capital.
Segundo Bullard (2004), através da globalização, tornou-se fácil para o capital
e as corporações multinacionais deslocarem-se para áreas com menor
regulamentação ambiental, melhores taxas de incentivos e altos lucros. Assim, o
capital mostra-se cada vez mais móvel, acionando a sua capacidade de escolher
seus ambientes preferenciais e de forçar os sujeitos mais vulneráveis a aceitar a
degradação de seus ambientes ou deslocarem-se para outras áreas em que se
liberam novos espaços para os empreendimentos.
Um exemplo disto, em Pernambuco, é o que acontece na região do Complexo
Industrial Portuário de Suape, que tem recebido indústrias de diferentes bandeiras
internacionais e setores da economia nacional (Energia, Petróleo, Alimentos, etc.),
tendo colaborado diretamente com o crescimento econômico do estado. Nessa
perspectiva, o CIPS é visto como um centro indispensável de infraestrutura para
grandes saltos econômicos. Esse megaprojeto empresarial tem se mostrado de
grande importância para a recuperação da força comercial do estado de
Pernambuco, através da movimentação das importações e exportações, além de
arrecadar boas cifras de impostos das indústrias que se inserem no seu interior.
A forma como as empresas (refinaria, petroquímica, estaleiros e
termoelétricas) têm-se implantado na área é desrespeitoso às leis ambientais
vigentes. Há falta de responsabilidade socioambiental das empresas as quais se
instalaram como querem, sem o devido controle dos órgãos ambientais estaduais,
agravam assim, a degradação ambiental. Corroborando com esse pensamento,
Costa (2014) afirmou que os efeitos dessa política que considera a natureza como
um entrave ao crescimento econômico, tem como resultado a interrupção drástica
70

dos modos de vida da população local, ferindo direitos adquiridos de pescadores e


agricultores familiares, abandonados sem condições de trabalho ou qualquer
assistência social.
O discurso dos entrevistados sobre a percepção relacionada com os impactos
socioambientais, decorrente das atividades do Estaleiro Atlântico Sul e Promar
(Figura 2), Termelétrica Suape (Figura 3) e Refinaria Abreu e Lima (Figura 4), expõe
um conjunto variado de conflitos ambientais.
As falas dos entrevistados 1, 27 e 54 reforçam esse fato:

Entrevistado 1. “ Depois dessa indústria (Refinaria) a vida ficou


mais difícil, por que não queria sair daqui, mas depois dessa
indústria Suape quer tirar a gente” (Morador do Engenho
Mercês)

Entrevistado 27. “A vida aqui mudou muito por conta do


barulho, fumaça e mau cheiro dessa empresa (Termelétrica
Suape)”. (Morador do Engenho Massangana)

Entrevistado 54. “Nós é pescador, mas depois desse estaleiro,


a pesca diminuiu muito” (Morador de Nova Tatuoca).

Figura 2. Estaleiro Atlântico Sul, localizado na ilha de Tatuoca, Cabo de Santo


Agostinho

Foto: Stevam Gabriel, 2019.


71

Figura 3. Termelétrica Suape, localizada no Engenho Massangana, Ipojuca.

Foto: Stevam Gabriel, 2019.

Figura 4. Refinaria Abreu e Lima, localizada no Engenho Mercês, Ipojuca.

Foto: Stevam Gabriel 2019.


72

É importante salientar que os conflitos socioambientais em Suape se


intensificaram na década de 1990 pela efetivação das desapropriações dos
moradores locais, as quais, por sua vez, coincidem com o processo de
modernização dos portos. Ademais, a partir do ano de 2000, até os dias atuais, as
expropriações são retomadas com a ampliação do Complexo Industrial Portuário de
Suape.

5.1.1 Os Conflitos Socioambientais na Comunidade Engenho Mercês

5.1.1.1 Conflitos Socioambientais Relacionados com a Degradação Ambiental

Através da chegada de grandes empresas, tais como a refinaria, o que se


constata há alguns anos, reitera-se, é um enorme desrespeito às leis vigentes por
parte da empresa gestora do Complexo.
Os conflitos relacionados com a degradação ambiental que surgem através
das atividades produtivas na Refinaria Abreu e Lima são consequências de
agressão ao ambiente local alterando o modo de vida dos moradores da
comunidade como se observa na Figura 5.
Figura 5. Vazamento de Efluentes Industriais da RNEST no manguezal. Engenho
Mercês.

Fonte: JORNAL DO COMÉRCIO, 2019.


73

Esses conflitos relacionados com a degradação ambiental foram evidenciados


nas falas dos moradores, como mostrado nos relatos abaixo.

Entrevistado 2. Os rios daqui estão muito sujos, aí a pesca


parou (Morador do Engenho Mercês).

Entrevistado 4. Há uns dois meses o rio tava muito sujo, cheio


de óleo. (Morador do Engenho Mercês)

Entrevistado 5. Hoje não tem condição nenhuma de pescar


nesse rio, não tem mais nada. (Morador do Engenho Mercês).

A implicação dessa dinâmica tem sido, de uma certa feita, a homogeneização


econômica e o autoritarismo social no processo de ocupação do território de Suape.
O modelo de crescimento econômico implantado tem acelerado a economia em
detrimento dos ecossistemas e da sociedade, agindo como se a busca pelo
crescimento econômico por si só justificasse qualquer ação. Isso tem gerado um
grande ônus ambiental às populações locais, tais como: contaminação das águas,
perda de parte da biodiversidade e a expulsão de populações de seus territórios.
Os relatos dos moradores nos remetem à necessidade de insistir que a falta
de responsabilidade social das empresas que ali se instalaram e, principalmente, a
omissão do governo estadual, são os fatores essencialmente responsáveis pela
degradação ambiental das áreas do entorno. Os reflexos desta política que
considera a natureza como um entrave ao crescimento econômico, inclui a
interrupção drástica dos modos de vida da população local, ferindo direitos
adquiridos por posseiros, pescadores, e agricultores familiares, expulsos de suas
moradias, abandonados sem condições de trabalho ou qualquer assistência social
digna desse nome (COSTA, 2014).
Segundo matéria veiculada no dia 28/08/2019 no Jornal do Comércio, a
Agência Estadual do Meio Ambiente (CPRH) afirmou que “três metros cúbicos de
óleo e dois metros cúbicos de água vazaram da refinaria ao todo” (Figura 6). Na
mesma matéria, a Petrobras informou que o recolhimento de todo o óleo deve levar
uma semana, enquanto a limpeza da área de mangue e restinga atingidas exige
mais tempo.
A CPRH também multou a Refinaria Abreu e Lima em R$ 705 mil devido
ao vazamento de cinco metros cúbico de resíduo oleoso que impactou uma área de
4,5 hectares, atingindo não só um riacho, como a fauna e a flora local. Além disso, a
74

refinaria terá que apresentar um plano de remediação para a região (JORNAL DO


COMERCIO, 2019).
Figura 6. Contenção do óleo vazado da RNEST no manguezal.

Fonte: Folha de Pernambuco, 2019.

A Associação Quilombola do Engenho Mercês também relatou o ocorrido


relacionado com o vazamento de cinco mil litros de substância oleaginosa na
Refinaria Abreu e Lima – RNEST. Segundo a associação, o vazamento existe desde
o mês de maio de 2019, quando surgiram as primeiras manchas de substância
oleaginosa, justamente na mesma área onde houve o derramamento de óleo
recente. Naquela época era notória a presença de óleos na água do manguezal em
questão onde verifica-se a presença de barreiras de contenção, que indicavam o
dano ambiental desde outrora. A associação espera que sejam apurados tanto os
danos ambientais, como a responsabilidade criminal deste desastre ambiental, que
interfere de pronto na vida do manguezal e, por conseguinte na qualidade de vida da
comunidade, considerando que os pescadores utilizavam esta área como fonte de
renda através da pesca artesanal de camarão, aratus, entre outros crustáceos. A
associação também relata a falta de comunicação da empresa junto aos moradores
de nossa comunidade sobre o que de fato estava ocorrendo na área.
A partir do relato anterior, que revela parte das causas dos conflitos
enfrentados por essa comunidade, pode-se afirmar que o sentido da cidadania e dos
direitos encontra um espaço relativamente pequeno na nossa sociedade. Isso acaba
75

por se refletir no campo ambiental no qual o desprezo pelo espaço comum e meio
ambiente se confunde com o desprezo pelos moradores da comunidade. Os
vazamentos, a poluição dos rios, as doenças causadas por esses poluentes, a
retirada forçada dos moradores através da degradação dos recursos naturais que
permitem a sua subsistência e por forças externas, tudo isso, configura uma clara
situação de conflitos ambientais enfrentada por moradores da comunidade em
questão (HERCULANO, 2008).
As falas e a observação direta desses moradores demonstram como a
degradação ambiental influenciou negativamente nas condições de vida e
econômicas das comunidades, culminando em conflitos socioambientais na
dimensão ecológica e econômica.
Nesse sentido, a mobilização social da comunidade frente a esses fatores é
extremamente importante para dar visibilidade aos conflitos socioambientais
existentes na comunidade, para que a partir da pressão social fazer valer os direitos
sociais adquiridos, sejam criadas políticas públicas que possibilitem assegurar um
ambiente saudável para as populações locais.

5.1.1.2 Conflitos Socioambientais Relacionados a Disputas Territoriais

Segundo Haesbaert (2004), a desterritorialização é definida como um


processo forçado, violento, de perda de território, de quebra de controle das
territorialidades pessoais ou coletivas, de fragmentação no acesso a territórios
econômicos, simbólicos, recursos e a bens. No caso específico das populações, a
desterritorialização implica uma quebra de vínculos, uma perda de território, um
afastamento dos respetivos espaços de afirmação material. Este processo é
resultado de um conjunto de fatores que estão associados a problemas históricos
permanentes de desigualdades sociais e econômicas.
Segundo o autor, a desterritorialização corresponde a um processo de
desenraizamento involuntário, à perda de autonomia e liberdade na apropriação
simbólica e funcional do espaço geográfico e da consequente crise social e
psicológica, podendo mesmo causar desajustes em termos de afirmação identitária
e econômica.
Nesse sentido, o processo de desterritorialização é mais um conflito
socioambiental existente na comunidade Engenho Mercês. Devido à especulação
76

das empresas em se instalarem no interior do CIPS, a valorização da área por


hectare fica próxima de um milhão de reais (Figura 7). O que também agrava o forte
movimento de desterritorialização das comunidades.
Figura 7. Área habitada por família na comunidade Engenho Mercês. Distrito
Industrial Portuário de Suape. Ipojuca-PE.

Foto: Stevam Gabriel, 2018.

Os entrevistados 17 e 21 relatam como ocorre o processos de remoção e


indenização dos moradores:

Entrevistado 17. Eles pagaram indenização para meu pai, mas


o valor não deu pra nada e ele agora mora comigo”.

Entrevistado 21. “O dinheiro é muito pouco, conheço pessoas


que ganharam dez mil”

Para acelerar o processo de desocupação da comunidade, há relatos de


moradores que afirmam haver participação de seguranças terceirizados da empresa
Suape que confiscam mercadorias dos pescadores, retiram cercas dos terrenos,
destroem plantações, invadem os terrenos dos moradores e derrubam casas,
alterando a dinâmica da vida dessas pessoas. Os moradores da comunidade
77

também denunciam em seus relatos os abusos cometidos pelos seguranças de


Suape:

Entrevistado 6. “Eles não deixam plantar nada, e se plantar,


acabam com a plantação”.

Entrevistado 7. “Vendia várias frutas, mas hoje não tem mais


nada por que não podemos mais plantar no nosso terreno”.

Entrevistado 11.“As vezes eles tiram fotos da nossa casa e do


nosso terreno para ver se não estamos construindo ou
plantando nada”.

As entrevistas demonstram que os moradores são excluídos dos processos


decisórios de seu território e em alguns casos, são forçados a se retirar, culminando
no surgimento de conflitos socioambientais nas dimensões política, cultural e
econômica.
Para enfrentar essas barreiras que impedem os processos dinâmicos da
comunidade e que foram impostas por determinados grupos políticos e econômicos,
os atores com menos força devem se organizar para resistir à degradação forçada
que é imposta a seus ambientes ou a que são submetidos quando esse mesmo
ambiente interessa à valorização capitalista.
Para Porto (2009), o desenvolvimento de uma ecologia urbana articulada aos
problemas de saneamento, violência, processos de desterritorialização, poluição
atmosférica, hídrica e sonora, bem como a articulação de tais temas com os
movimentos por justiça ambiental, são importantes desafios para a realidade
brasileira e latino-americana. Segundo ainda o mesmo autor, ambientes saudáveis
não surgirão sem práticas democráticas e emancipatórias, e, para isso, um desafio
estratégico é o pensar em novas alternativas de planejamento urbano integrado a
territórios mais amplos que possibilitem formas mais sustentáveis na relação com as
comunidades e os ecossistemas ao redor. Para a efetivação dessa afirmativa, é
fundamental a busca pela justiça ambiental, que procura o tratamento justo e o
envolvimento significativo de todas as pessoas, independentemente de sua raça,
cor, origem ou renda no que diz respeito à elaboração, ao desenvolvimento, à
implementação e ao reforço de políticas, leis e regulações ambientais.
78

5.1.2 Conflitos Socioambientais na Comunidade Engenho Massangana

5.1.2.1 Conflitos Socioambientais Relacionados com a Exposição de Poluentes,


Atmosféricos, Sonoros e Hídricos

A instalação de uma termelétrica pode transformar profundamente o território


em que se instalam, nas dimensões econômicas, ambientais e sociais. Nos aspectos
sociais e ambientais, o maior impacto é a emissão de gases liberados para a
atmosfera.
A opção tecnológica pelo carvão mineral como combustível é a mais
impactante do ponto de vista ambiental e da saúde humana, entre outros efeitos, a
sua queima para produção de energia leva a quadros de insuficiência respiratória,
além da poluição atmosférica nas comunidades do entorno.
Além da contaminação atmosférica, as usinas termelétricas geram efluentes
líquidos em larga escala, contendo sólidos em suspensão bactérias, algas, etc., de
difícil remoção e tratamento. Quando há estação de tratamento de efluentes, o lodo
nela gerado apresenta forte potencial poluidor, pela elevada concentração de
biomassa e material orgânico, com risco de eutrofização dos corpos hídricos
receptores (MEDEIROS, 2003).
Corroborando com essa afirmação, os moradores da comunidade relataram
que após o funcionamento desta indústria o riacho existente na comunidade ficou
muito degradado, inviabilizando seu uso (Figura 8)

Entrevistado 32. “O rio que tem aqui agora tá morto, a gente


usava a água para tudo. Hoje não podemos fazer mais nada”

Entrevistado 35. “Nosso rio acabou. A agua tá muito suja e tem


um cheiro muito forte”.
Entrevistado 37. Me lembro que a água desse rio tinha até
peixe, agora não tem nada.
Entrevistado 40. A água desse rio era bem limpa. Depois que
chegou essa empresa esse riacho ficou com essa água escura.
79

Figura 8. Riacho degradado em função dos impactos ambientais advindos da


termelétrica.

Foto: Stevam Gabriel, 2019.

No Nordeste, o desrespeito pelos rios é algo cultural do capitalismo brasileiro,


vide “ Nordeste”, de Gilberto Freyre (2004, p. 71) que afirmou “ o monocultor rico fez
dos rios um mictório. Um mictório de caldas fedorentas e de suas usinas. E as
caldas fedorentas matam os peixes. Envenenam as pescadas. Emporcalham as
margens”. A afirmação de Freyre, embora exemplifique um cenário que ocorreu há
quase um século, traz elementos semelhantes ao que é visto atualmente, desta vez,
evidenciado através do ônus ambiental proporcionado pelo capitalismo por meio da
implantação de empreendimentos cuja produção promove uma grande carga de
poluentes como as termelétricas.
Estes impactos ambientais implicam em diversos efeitos econômicos sobre as
comunidades vizinhas, tais como: inviabilização e perda de benefícios provenientes
de atividades como a pesca e a agropecuária; exaustão de recursos naturais e
alteração no abastecimento da água.
Devido à proximidade da instalação termelétrica com a comunidade (Figura
9), e por reunir os fatores mencionados anteriormente, as atividades produtivas da
80

Termelétrica Suape II, têm interferido na qualidade de vida da comunidade. A esse


respeito, alguns moradores se pronunciaram em questão:

Entrevistado 29. “Fui ao médico e ele disse que tava com um


problema por causa da fumaça da indústria”.

Entrevistado 31. “ tem dia que o cheiro é tão forte que fico com
tontura”

Entrevista 33. “Tive que tirar o meu pai daqui por que ele já é
idoso e não aguenta mais ficar aqui”

Entrevista 34. “Depois que a empresa chegou aqui, eu comecei


a passar mal com falta de ar, com problemas na pele”

Entrevista 36. “Na minha casa tá cheio de pó. Quando liga o


motor, enche de pó e fica um barulho muito grande”

Figura 9. Proximidade da termelétrica com a comunidade Engenho Massangana,


Ipojuca- PE.

Foto: Stevam Gabriel, 2019.

A observação direta na comunidade evidenciada e as falas dos entrevistados


trazem indícios de vários impactos ambientais na presente comunidade,
relacionados, principalmente, com a poluição atmosférica e hídrica, constituindo
conflitos socioambientais na dimensão ecológica.
81

Dessa forma, torna-se evidente que a população da comunidade em estudo


está em uma situação de conflito latente através dos impactos promovidos pela
termelétrica. Nesse sentido, a participação social torna-se um processo alternativo e,
mesmo, contra-hegemônico imprescindível para o enfrentamento dos processos de
opressão imposto pela referida indústria.

5.1.3 Conflitos Socioambientais na Comunidade Nova Tatuoca

5.1.3.1 Conflitos Socioambientais Relacionados com a Infraestrutura da Comunidade


Nova Tatuoca

Os moradores da comunidade Ilha de Tatuoca, em sua maioria, viviam


basicamente da pesca e coleta de mariscos (SILVEIRA, 2010). Durante gerações,
as famílias sobreviveram da pesca artesanal, coleta de mariscos e crustáceos nos
manguezais e colheita de alguns frutos tropicais comuns na região, como manga e
caju. Santos; Andrade (2013), afirmaram que a comunidade transcende os limites
terrestres e sua apropriação do seu espaço se dá mediante a articulação com
aspectos relacionados ao uso, aos símbolos e ao conhecimento sobre as águas,
constituindo-se em território marinho. A tradição em questão é intrínseca ao modo
de produção e reprodução da vida em um espaço que extrapola a terra firme e é
desenhado também pelas águas dos rios e do mar.
Porém, essa atividade, deixou de existir devido ao processo de
desterritorialização iniciado a partir da construção dos estaleiros em Suape. Os
moradores que viviam na ilha há décadas foram retirados e realocados numa vila na
praia de Suape chamada Nova Tatuoca.
Para a lógica vigente do progresso, as populações tradicionais que habitavam
a ilha de Tatuoca são vistas como retrógradas, impedindo o processo de
modernização, discurso invocado pelos chamados “progressistas” em função de
seus interesses econômicos e/ou políticos para justificar os impactos no patrimônio
histórico e ambiental, dos lugares de memória da coletividade, redundando na perda
da identidade cultural e tendo como consequência a dominação de uma minoria,
detentora do poder econômico, sobre tais populações.
A nova vila para a qual a população foi realocada possui casas pequenas,
com dois quartos, sala, cozinha, banheiro e um pequeno quintal sem espaço
82

suficiente para o plantio de árvores frutíferas e agricultura de subsistência, o que as


torna inadequadas aos seus modos de vida, visto que impossibilita reproduzir seus
hábitos socioculturais (Figura 10) (DOMINGUES et al., 2014).

Figura 10. Moradias da Comunidade Nova Tatuoca.

Foto: Stevam Gabriel, 2019.

Devido à implantação dos Estaleiros Atlântico Sul (Figura 11), uma série de
impactos ambientais surgiram, tais como: desmatamento de vastas áreas, incluindo
manguezais, redução na reprodução e na densidade de inúmeras espécies nativas
de crustáceos dos manguezais, como siri, aratu e caranguejo, e alteração no
ecossistema marinho e nos lençóis freáticos devido às dragagens para aprofundar o
canal do porto (DOMINGUES et al., 2014).
Relatos dos moradores denunciam o processo de vulnerabilização
ocasionado pela implantação do Estaleiro:
Entrevistado 56. “Foi muito ruim porque acabou com a pesca,
muitos peixes morreram”.

Entrevistado 57. "Quando tinha a dragagem tudo que estava no


mangue morria. Antes tinha como viver da pesca. Hoje tá muito
difícil”.

Entrevistado 60. “Suape disse que nós iriamos trabalhar nos


estaleiros, mas eu nunca consegui um emprego lá. Várias
pessoas daqui também não. Hoje não tenho emprego e não
consigo mais pescar”.
83

Figura 11. Estaleiro Atlântico Sul

Foto: Stevam Gabriel, 2019.

A realocação da comunidade de origem interferiu na reprodução social da


comunidade, uma vez que os moradores em sua maioria são pescadores e não têm
mais acesso aos recursos naturais antes disponíveis e próximos às suas antigas
residências.
Entrevistado 52. “A vida aqui é muito difícil. Lá conseguia
pescar, vender as frutas que tinha na comunidade, nunca
faltava nada. Aqui em Nova Tatuoca não tem nada. Não tem
como plantar, não tem mais peixe, não tem emprego. A vida tá
muito difícil aqui”.

Entrevistado 53. “Lá em Tatuoca, mesmo que não tivesse


emprego tinha o mangue. Conseguia pegar caranguejo e
marisco. Tinha também um monte de frutas. Ganhava um
dinheiro toda semana vendendo essas coisas. Depois da
chegada desse estaleiro, acabou-se tudo”.

Entrevistado 62. “Olha, depois que cheguei aqui meu marido


não conseguiu mais pescar porque os peixes sumiram. Ele
também não conseguiu emprego como falaram que iriam dar”.
84

Na comunidade Nova Tatuoca, os moradores têm sofrido com a infraestrutura


local. Segundo os moradores, no inverno, há frequentes deslizamentos de barreiras
próximas às casas e não há nenhuma contenção (Figura 12).

Figura 12. Deslizamento de barreira em Nova Tatuoca.

Foto: Stevam Gabriel, 2019

Alguns moradores locais falaram sobre este problema:

Entrevistado 53. “No inverno é muito difícil chegar em casa por


causa da grande quantidade de lama que fica nas ruas. Tem
dia que é quase impossível andar por aqui”

Entrevistado 54. “Basta chover um dia que enche tudo de lama


aqui”.

Entrevistado 64. “Quando chove mesmo, não dá para sair de


casa. Fica tudo alagado e cheio de barro na rua”.

Entrevistado 65. “Todo ano é isso. Já tentamos resolver com


Suape, mas até hoje não fizeram nada com essas barreiras”.

Entrevistado 67. “Já teve ano que essa lama chegou no meu
terraço”.
85

Outro problema recorrente na comunidade diz respeito aos vazamentos de


esgotos que são recorrentes na comunidade (Figura 13). Além da poluição visual e
mau cheiro, os moradores relatam infestações de insetos, principalmente,
mosquitos.
Entrevistado 55. “Esse esgoto já tá assim há uns dois meses.
De lá prá cá tá cheio de mosquito. Tenho muito medo dos
meninos adoecerem”.
Entrevistado 59. “Nós estamos esquecidos aqui. Tem esse
problema do esgoto, o mato tá enorme, lá atrás tem o problema
das barreiras. Ninguém faz nada por nós”.

Entrevistado 70. “Suape disse que a vila era organizada, mas


você tá vendo. Isso aqui é organizado? Em Tatuoca era muito
melhor do que isso aqui”.

Figura 13. Vazamento de esgoto na comunidade Nova Tatuoca

Foto: Stevam Gabriel, 2019.

Os relatos dos moradores da comunidade revelam: interferências na cultura


dos entrevistados através da realocação dos mesmos, acarretando na perda da sua
identidade cultural com o território da Ilha Tatuoca; políticas ineficientes,
principalmente, nos quesitos de saneamento básico e infraestrutura na comunidade,
e, interferência na economia local, uma vez que muitos destes moradores viviam da
86

pesca e mariscagem, e a realocação afetou esta atividade tradicional. Assim, os


conflitos caracterizados na comunidade estão ligado às dimensões econômica,
política e cultural.
Para tentar uma mudança nesse cenário, os moradores têm se mobilizado e
feito reivindicações para a busca de soluções junto à empresa Suape. No entanto,
estes relatam que a administração de Suape afirma que os problemas são de
responsabilidade dos órgãos competentes para soluções dos problemas. Aliás, esse
“jogo de empurra-empurra” também é algo cultural na medida em que quando os
primeiros problemas surgem referentes aos projetos de remediação como este, a
iniciativa privada repassa a responsabilidade para o setor público, que por sua vez,
afirma que a responsabilidade da manutenção destes projetos são daqueles que o
fizeram.
Após apresentados os principais fatores de vulnerabilização da comunidade
em estudo, pode-se afirmar que o processo de industrialização atinge os moradores
da Ilha de Tatuoca em variadas esferas de suas vidas: cultura, identidade, saúde,
moradia, trabalho e ambiente. Diante desse contexto, Porto et al. (2013) afirmaram
que existem dois grandes grupos responsáveis por situações de conflitos
ambientais: o primeiro se refere às atividades econômicas exploratórias e seus
agentes, que sobrecarregam territórios e populações e interferem direta ou
indiretamente em suas dinâmicas e modos de vida. Neste caso, o CIPS. O segundo
está associado à atuação ou à omissão do Estado, que se acha desinteressado no
que concerne a fazer valer os processos regulatórios com vista a evitar os conflitos
em epígrafe. Neste caso, a esfera política faz-se responsável, uma vez que tem
ciência dos acontecimentos acima levantados, mas torna a situação invisível,
impossibilitando maiores repercussões sobre os fatos e dando continuidade ao
crescimento econômico a qualquer custo.

5.1.4 Matriz de Reprodução Social dos Conflitos Socioambientais no CIPS

Diante do exposto neste capítulo, nota-se, que há grande disparidade entre o


que é enunciado em termos de discurso político-econômico do empreendimento de
Suape como fator de desenvolvimento; e o que é revelado pelas populações
tradicionais que residem na região.
87

A seguir, o quadro 2 apresenta a síntese dos principais indutores de conflitos


socioambientais nos territórios estudados a partir da Matriz de Reprodução Social.

Quadro 2. Identificação dos indutores de conflitos socioambientais através da


Matriz de Reprodução Social.
Ecológica: Degradação ambiental e habitacional; Contaminação hídrica
através de efluentes industriais; Contaminação atmosférica através da
alteração da qualidade do ar; Redução de ecossistemas; Mudanças culturais;
Impactos nos meios de subsistência.
Política: Debilidade das instituições públicas; Falta de ação social sobre o
ambiente; Problemas de acesso a os serviços de saneamento; Conflitos
territoriais; Processos migratórios; Exclusão social; Cerceamento do uso da
terra; Ausência de investimentos sociais nas comunidades afetadas pelos
empreendimentos.

Econômica: Diminuição dos recursos vegetais; Redução dos recursos


pesqueiros; Reestruturação produtiva.

Cultural: separação das famílias; perda da identidade cultural


com o lugar de origem.

Fonte: Adaptado de Gonçalves (2018) com base em Samaja (2000).

Neste quadro, são apresentados os problemas mais relatados pelas


populações locais relacionados com o contexto ecológico, político, econômico e
cultural da matriz de reprodução social. Através dos relatos dos entrevistados, no
âmbito ecológico, a degradação ambiental foi o principal problema apontado,
seguidas pela diminuição nos meios de subsistência, e, poluição hídrica e sonora.
Como posto nos tópicos desta seção, a reprodução ecológica desse território
condiciona e é condicionada pelas condições de vida das populações tradicionais
locais e pelos diferentes agentes governamentais e não governamentais, os quais,
determinam uma série de processos que afetam seus modos de vida, quer de forma
direta ou como mediadores.
No âmbito político, a implantação do CIPS, por se tratar de um grande
empreendimento de viés econômico, inserido no modelo global, onde há crescente
integração dos mercados, da produção e das finanças, “traz em si um caráter
desterritorializador” (FUINI, 2014, p. 22), além de produzir violentas e grandes
transformações territoriais, perda de terras por parte dos moradores, saída
88

compulsória do lugar de origem, e promoção de uma intensa degradação ambiental,


pois é um projeto que se encontra atrelado a processos destrutivos conforme
evidenciado no decorrer desta seção.
Ademais, não há políticas que integrem a participação dos moradores nos
processos decisórios de seu território o que determinou a fragilização do movimento
de resistência desse povo, fomentando exclusões que atingem direta ou
indiretamente os moradores e potencializando os conflitos socioambientais.
No âmbito econômico, a implantação dos empreendimentos prejudicou as
condições materiais de vida das populações tradicionais, acionando um processo de
pauperização, pois reduziu as atividades de subsistência como a agricultura e
pesca. Além disso, ocasionou a poluição de rios e riachos através do derramamento
de óleo e efluentes industriais, supressão de manguezais, poluição atmosférica pelo
excesso de fumaça e sonora através do funcionamento das máquinas.
Corroborando com essa afirmativa, Scott (2013, p. 31), afirmou que “os
grandes empreendimentos econômicos são projetos bons para seus planejadores,
elaboradores e executores, e excludentes e omissos para os que neles mal se
enquadram”, como no caso das populações locais. Portanto, os processos
econômicos do CIPS são destrutivos, que vulnerabilizaram e transformaram as
territorialidades dos nativos, que começaram a serem sentidos no início da
implantação do projeto do CIPS.
No âmbito cultural, as populações têm perdido seus costumes devido à
impossibilidade de reproduzirem suas práticas culturais através da agricultura e
pesca de subsistência, além da perda da sua identidade cultural quando deixam
seus territórios em função da instalação dos empreendimentos.
Isso nos leva a defender a tese de que a apropriação dos territórios acarreta
em impactos ambientais e sociais que recaem nas populações tradicionais,
alterando a dinâmica de vida desses sujeitos, sua cultura, identidade, meios de
subsistência e habitação. Conquanto seja parte constituinte da luta de classe, os
conflitos socioambientais são parte das estratégias de sobrevivência e resistência
das populações locais frente aos interesses capitalistas.
89

5.2 PROGRAMAS SOCIAIS, AMBIENTAIS E CULTURAIS DO COMPLEXO


INDUSTRIAL PORTUÁRIO DE SUAPE

Devido aos impactos proporcionados pelas atividades industriais das


empresas localizadas no CIPS, a administração deste complexo tem desenvolvido
alguns planos e programas de cunho social, ambiental e cultural, apresentando no
seu escopo os métodos empregados na busca da aplicação das medidas
compensatórias, preventivas, corretivas e potencializadoras indicadas pelo
prognóstico dos estudos correlatos.
Diferentes empreendimentos e atividades demandam planos e programas
específicos às suas características ambientais. Assim surge o Pacto por Suape
Sustentável, sendo esse um acordo de cooperação técnica entre o Governo do
estado, a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura
(UNESCO) e a Agência Brasileira de Cooperação (ABC) do Ministério das Relações
Exteriores, que visam alinhar o desenvolvimento econômico ao sustentável no
Complexo Portuário de Suape (PERNAMBUCO, 2017).
O Pacto prevê, como citado anteriormente, o desenvolvimento de planos
estratégicos na área cultural, social e ambiental para atendimento das populações
que residem no território. Estão entre as prioridades da parceria a sistematização de
estudos de vulnerabilidade social e a elaboração de um plano para solucionar as
fragilidades ambientais (PERNAMBUCO, 2017).
Pelo fato do pacto por Suape ainda estar em fase de desenvolvimento, o novo
Plano Diretor de Suape denominado SUAPE 2030, está pondo em prática alguns
programas, que segundo a administração do CIPS, irão melhorar as condições
ambientais, culturais e sociais do seu território. Dessa forma, no presente capítulo,
será realizada uma análise sobre a real efetividade desses programas, uma vez que,
como visto na seção anterior, o que pode ser uma solução para o CIPS, pode não
ser para os moradores locais.

5.2.1 Programa Habitacional de Interesse Social

De acordo com o Plano Diretor de Suape (PDS), a incipiente cooperação


entre os atores locais com a administração do complexo afeta negativamente as
expectativas dos agentes produtivos quanto à implantação e/ou consolidação dos
empreendimentos industriais no ambiente local e gera um efeito em cadeia, como a
90

propagação da instabilidade, devido à insuficiência de informações sobre a posse e


o direito à terra implicando em conflitos de interesses (SUAPE, 2011).
Somado a esse fato, a inconsistência de uma legislação que defina uma
divisão territorial diante da finalidade de cada área (industrial, portuária, preservação
ecológica, serviços, habitacional, populacional) afeta o desempenho de cada setor e
implica em risco de degradação socioambiental, conflitos sociais, perda de
credibilidade na tomada de decisões e diminuição do investimento.
No diagnóstico elaborado para o PDS, foram identificadas 6.800 famílias que
moram no território de Suape, das quais 4.180 residem nas comunidades que estão
sendo consolidadas e que não serão remanejadas. Outras 2.620 famílias, que
representam, aproximadamente, 10.000 habitantes, por morarem na Zona Industrial
Portuária (ZIP), Zona de Preservação Ecológica (ZPEc) e Zona de Preservação
Cultural (ZPC), segundo o PDS, terão de ser realocadas seguindo a mesma lógica
do crescimento econômico que há séculos acontece no Brasil.
Dessa forma, o programa de habitação do plano diretor consiste em
reassentar os moradores das comunidades localizadas nas zonas industriais e de
preservação ambiental de Suape para as áreas de consolidação dos assentamentos
habitacionais informais nos territórios de Vila Claudete, Vila Nova Tatuoca já
construídos, e, Massangana e Dois Irmãos, sendo os dois últimos localizados na
Zona Central de Serviços (ZCS) do complexo (Figura 14). Essa zona pode abrigar,
além de unidades governamentais ligadas ao complexo, hóteis, bancos, escritórios,
estabelecimentos comerciais, e, principalmente, serviços de saúde, educação e
transportes (SUAPE, 2011).
91

Figura 14. Zoneamento do Plano Diretor de Suape.

Fonte: SUAPE, 2011.


92

Assim, a realocação dos moradores para esses assentamentos pode


influenciar diretamente na sua qualidade de vida devido aos acessos que estes
poderão deixar ter, tais como: recursos naturais, pesca e agricultura de subsistência,
perda da identidade cultural. Segundo o programa em questão, é fundamental
resgatar direitos dentro e fora do Complexo, tomando-se a dimensão do Território
Estratégico de Suape, como entorno privilegiado, uma vez que somente a
combinação entre uma política consistente de habitação de interesse social e a
exploração de novos mercados com camadas sociais poderá, progressivamente,
dar conta da escala da demanda reprimida por décadas de ausência de políticas
públicas e da frágil inserção de significativa parcela da população local no mercado
de consumo (SUAPE, 2011).
Dentro da temática dos aspectos habitacionais, o PDS apresenta como
principal área de atuação a regularização fundiária e direito à moradia. O objetivo é
garantir aos posseiros residentes no CIPS uma alternativa apropriada de moradia,
para as pessoas que estão inseridas nas terras de Suape através da execução de
medidas para o reassentamento dos moradores ainda remanescentes na Zona
Industrial Portuária (ZIP), com oferta de moradia, tendo em vista a preservação de
sua própria segurança e a manutenção dos padrões operacionais adequados à sua
atividade laboral. O reassentamento deve respeitar as condições adequadas de
moradia em consonância com os meios de vida e valores culturais da população
local.
Aos posseiros rurais que residem na (ZPEc), o plano de reassentamento
prevê condições de moradia condizentes com seus meios de vida e valores
culturais, bem como a adequada compensação que assegure a proporção devida da
extensão de terras destinadas à preservação ambiental.
Para os posseiros que lutam em permanecer no seu território, há o plano de
reassentamento Involuntário (PRI), o qual abrange, principalmente: Mapeamento
das comunidades que serão reassentadas; Ações de mediação de conflito e
negociação com as famílias; Conscientização dos indivíduos acerca da necessidade
de reordenamento territorial explicando os possíveis riscos de permanência em um
local onde há atividade industrial e a importância do desenvolvimento de Suape para
benefício de todos; Remoção das edificações; Reassentamento das famílias.
Esse plano não contemplou Tatuoca, uma vez que os posseiros desejavam
permanecer em seu território, mas foram realocados forçadamente para uma área
93

na qual o plano diretor afirma ser dotada de toda a infraestrutura básica,


equipamentos sociais e espaços públicos de lazer. Muito embora suas falas,
colocadas na ultima seção desta tese, demonstrem o contrário.
Corroborando com essa afirmativa, Domingues et al. (2014), afirma que os
moradores desta comunidade receberam pequenas indenizações e foram
realocados numa vila na praia de Suape chamada Nova Tatuoca. A nova vila possui
casas pequenas, sem espaço suficiente para plantio de árvores frutíferas e
agricultura de subsistência, como eles eram acostumados a viver na ilha.

5.2.1.1 Conjunto Habitacional Nova Tatuoca: uma outra realidade

Esse Plano é um retrato das denúncias realizadas pelos moradores das


comunidades locais nas audiências públicas promovidas. Por ser um
reassentamento involuntário, etimologicamente, implica dizer que estão sendo
retirados contra a sua vontade. Ao propor ações de mediação de conflitos, o
programa em questão sabe que a população não deseja ser realocada por diversos
motivos, tais como: a identidade com o lugar; suas atividades tradicionais, em que o
ambiente em que vivem tem papel fundamental; o tamanho deua propriedade que é
muito superior aos assentamentos (Figura 15).
Figura 15. Moradias em Nova Tatuoca, Cabo de Santo Agostinho - PE.

Fonte: DHESCA, 2018.


94

O conjunto habitacional abriga em casas de 40 m² famílias que antes viviam


rodeados de mar, mangue e árvores frutíferas – a empresa não permite o acesso
das famílias removidas aos territórios de pesca e de coleta de frutos onde
trabalhavam e a situação é de desemprego massivo. As casas estão a menos de
dois metros umas das outras, não há quintais nem árvores nos espaços coletivos, e
os telhados são de amianto (ALVES; SANTOS; GURGEL; SANTOS, 2016).
Em entrevista à relatoria da Plataforma Brasileira de Direitos Humanos
Econômicos, Sociais, Culturais e Ambientais (DHESCA), um Pescador e morador da
Vila Nova Tatuoca local falou sobre a experiência diária dessa comunidade:
“Eu e meus vizinhos vivíamos da pesca e da plantação. Hoje
estamos impedidos de ter nossa profissão, porque não
podemos passar para o lado de lá [o lado da Ilha de Tatuoca].
Aqui [no conjunto habitacional] nós vivemos da misericórdia de
Deus. Você sabe que uma pessoa empregada passa
dificuldade, imagine desempregada. Em Tatuoca, a gente tinha
tudo ao nosso redor: guaiamum, caranguejo, peixe, mangaba,
camurim. Acabaram com tudo. Hoje vivemos isolados. As
casas são malfeitas, nem a descarga funciona. Enquanto isso,
a ilha está lá vazia, sem ninguém”. (DHESCA, 2018. p.46).

Ao trazer elementos voltados para a suposta importância de Suape com todos


e a remoção das edificações, fica implícito que o diálogo terá uma única finalidade,
os deslocamentos dessas comunidades, uma vez que o único propósito real de
Suape é a reprodução do capital para os grandes empreendimentos, e,
consequentemente, para o Estado, a arrecadação de impostos. O que fica evidente,
quando, ao conhecer as comunidades, percebe-se um descaso em várias esferas,
seja na saúde pela ausência de um posto médico dentro do território do CIPS, na
educação por não haver escolas para os jovens, na infraestrutura por não haver
saneamento adequado e pavimentação nas ruas, contradizendo o exposto no PDS.
A esse respeito, a administração de Suape afirmou que:
“Vale salientar que muitas famílias hoje reassentadas viviam
em condições subumanas, sem água encanada, sem
saneamento, em casas de taipa e sem acesso aos serviços
públicos. E agora vivem em casas com infraestrutura adequada
e serviços sociais, de saúde e educação”.

Nesse sentido, percebe-se uma completa distorção sobre a realidade dos


moradores locais. Não obstante, é de conhecimento público que a comunidade
sofreu uma completa descaracterização sociocultural, pois as pessoas que antes
sobreviviam da pesca e do plantio na ilha, não têm mais a terra para plantar, não
95

podem voltar às proximidades da ilha para pescar, não conseguem emprego formal
e estão adoecendo fisicamente e psicologicamente.
Dessa forma, para mitigar esses impactos, e, devido as atividades históricas
que ligam a comunidade ao mar e rios, esta tese apresenta como proposta a
implantação de um projeto de aquicultura, sendo precedida de estudos dos
parâmetros necessários para estabelecer a sua viabilidade compatível com as
condições ambientais, sociais, econômicas e legais.
A aquicultura é uma atividade que utiliza os recursos ambientais para o seu
desenvolvimento, podendo proporcionar aos moradores da comunidade um retorno
financeiro estimulador.
O empreendimento deverá ser acompanhado por entidades públicas
responsáveis pela gestão ambiental local, que atuarão durante e após o
licenciamento, exercendo o controle da atividade para garantir a efetivação das
recomendações técnicas e medidas mitigadoras dos impactos provenientes desta
atividade.
Além da proposta anterior, a comunidade de Nova Tatuoca possuía um
vínculo histórico com seu território, desenvolvendo atividades de subsistência
através da agricultura familiar, e, através das interferências constatadas na vida dos
nativos por parte deste empreendimento, propõe-se a implantação de um projeto
voltado para a agricultura familiar. É importante salientar que o CIPS já possui
projetos voltados para os agricultores e artesãos divulgarem e comercializarem seus
produtos. O Tô na Feira é um projeto que permite a venda dos produtos para os
colaboradores das empresas de Suape, gerando renda e fomentando o
empreendedorismo.
Contudo, para populações realocadas que possuem vínculo com o
campesinato, é de suma importância a criação de parcelas voltadas para a
agricultura familiar, onde cada família teria um local para desenvolver suas
atividades.

Esta proposta visa contribuir com as propostas elaboradas pelo CIPS, pois é
necessário construir políticas voltadas para a agricultura e segurança alimentar que
considere os aspectos sociais e ambientais, além dos aspectos econômicos, e sobre
a importância da participação dos agricultores familiares na construção desse novo
modelo.
96

5.2.2 Plano de Preservação Cultural

Segundo o PDS, programas de educação patrimonial promovido junto à


população do Território Estratégico de Suape, associados a uma ação continuada de
identificação, proteção e valorização do patrimônio cultural identificado, podem
expressar de forma palpável uma presença marcante e o compromisso da Empresa
com as raízes de Pernambuco.
Neste plano, haverá áreas de atuação de caráter prático, no sentido de pautar
intervenções prioritárias para a recuperação ou a conservação do patrimônio
cultural. O objetivo é de realizar ações de conservação para promover a valorização
e a integridade do patrimônio cultural material de SUAPE e apoiar ações de mesma
natureza na escala do Território Estratégico de Suape (SUAPE, 2011).
A medida deve incluir parâmetros que assegurem o controle de interferências
sobre a leitura do ambiente construído e da paisagem, a manutenção das
características morfológicas do sítio e tipológicas do conjunto edificado.
Para o desenvolvimento deste plano foi criada a Zona de Preservação
Cultural (ZPC) abrangendo duas áreas distintas, o Parque Metropolitano Armando
de Holanda Cavalcanti e uma parcela da Ilha de Cocaia.
De acordo com Suape (2011 p. 199) no art. 64 do PDS, essas áreas serão
tratadas em sua integridade respeitando as características do ambiente natural e
construído, vestígios arqueológicos, tipologia arquitetônica bem como a população
remanescente, eventualmente presente, e suas atividades e costumes tradicionais.
No entanto, ao analisar o plano diretor na íntegra, há um projeto de
reassentamenrto dos moradores da ilha de cocaia, além de restringir o acesso à ilha,
em função da área de segurança do porto. Admitindo pesquisa, monitoramento
ambiental e práticas educacionais, sempre monitoradas pela segurança portuária
(SUAPE, 2011 p. 43)
Mesmo sendo uma área de preservação cultural, no PDS é informado que a
médio e longo prazos essa comunidade deverá ser realocada devido à proximidade
com o porto (Figura 16).
97

Figura 16. Localização da Zona de Preservação Cultural da Ilha de Cocaia.

Zona de Preservação Cultural


da Ilha de Cocaia

Fonte: Suape, 2011.


98

Esse fato contradiz o art. 65 do PDS visto que os Setores de Proteção


Cultural (SPC) serão tratados individualmente quanto à regulação de uso e
ocupação do solo, admitindo-se, que os aglomerados devem ser antigos,
contemplados pelo dispositivo da permanência transitória do uso habitacional,
exclusivamente para as famílias já residentes (SUAPE, 2011 p. 199).
Ao mesmo tempo em que se fala de uma zona de preservação na Ilha de
Cocaia documento, no PDS é previsto a Implantação de Granéis Sólidos na referida
para atender a demanda dos serviços portuários, além da movimentação dos
minérios de coque9. Por isso o interesse em realocar a comunidade, visto que se
permanecer ali, poderá interferir diretamente nas atividades desse empreendimento.

Dessa forma, há necessidade de avaliar a real intenção desse plano, uma vez
que , no discurso abre a possibilidade de reassentar os moradores locais com intuito
de preservar os bens culturais e paisagísticos, mas tendo como real finalidade a
implantação de empresas nesses territórios. Também deve ser levada em
consideração neste plano a história da comunidade como um bem cultural, uma vez
que a identidade cultural tem sido um dos aportes que garante a perpetuação de
grupos e comunidades tradicionais, proporcionando relações sociais capazes de
estreitar os laços de solidariedade, sociabilidade e pertencimento entre os seus
membros. Ao se auto afirmarem pescadores, agricultores ou quilombolas, estas
comunidades, se diferenciando de outros povos, reafirmam seus laços de
pertencimento e de enraizamento ao território.
Para a efetividade desse planejamento, a área de atuação prática visa
estabelecer intervenções para a recuperação ou a conservação do patrimônio
cultural objetivando promover a valorização e a integridade cultural e material das
comunidades, visto que os monumentos naturais e culturais presentes na área de
Suape estão inseridos dentro das comunidades, tal qual: Engenho Massangana,
tombado, em nível estadual, como Parque Nacional da Abolição; O Bairro de Suape
que abriga o Parque Metropolitano Armando de Holanda Cavalcanti, patrimônio
cultural tombado em nível estadual, criado em 1979, onde está o conjunto histórico
do século XVI Vila Nazaré. Dentro da Vila, está a Igreja de Nossa Senhora de

9
O coque é um combustível sólido obtido do processamento de frações do petróleo. Sua composição
química é basicamente de carbono e hidrocarbonetos residuais (BAPTISTA; CARDOSO, 2013).

.
99

Nazaré e o Convento Carmelita, tombados pelo Instituto do Patrimônio Histórico e


Artístico Nacional (IPHAN) e considerados patrimônios histórico nacionais; A Vila
Nazaré que abriga a Capela com registro de 1597, também conhecida como “Vela
Branca”, por causa de sua aparência quando vista do mar, apresentando os
períodos remotos da colonização no estado para os interessados em saber um
pouco mais sobre a cultura de Pernambuco (SUAPE, 2011).
Planos de preservação ao patrimônio histórico como este fazem-se
necessários para a perpetuação da história não só de Suape e seus habitantes, mas
de Pernambuco, desde que sua execução não sirva de instrumento arbitrário para a
desterritorialização das comunidades locais.

5.2.3 Plano de Qualificação Socioeconômica

Uma perspectiva de análise liga o fato da falta de qualificação profissional


para o trabalho especializado com relação à questão histórica dos moradores das
comunidades de Suape, visto que a maioria dos trabalhadores estava ligada às
atividades da pesca ou do campo, principalmente, nas usinas sucroalcooleiras. Com
o fechamento das usinas instaladas em Suape e a degradação do ambiente local
que interfere nas atividades pesqueiras, estava criado um excedente de população
útil ao capital, constituindo uma reserva de trabalhadores disponíveis para serem
utilizados a qualquer momento (SOUZA, 2014).
Confirmando que o Território de Suape é dotado de uma mão-de-obra que
carece de qualificação profissional adequada para a nova lógica do capital, o CIPS
tem tentado implantar políticas para valorizar as capacidades profissionais
presentes, orientando-as segundo o modelo proposto.
Os moradores das comunidades residentes em Suape enxergam os
empreendimentos da região como oportunidades de trabalho. No entanto, a fim de
absorver esta oferta de mão-de-obra potencial, faz-se necessário qualificar a
população adequando-a tecnicamente aos postos de trabalho demandados através
do plano de qualificação socioeconômica proposto no plano diretor. No que diz
respeito à educação técnica voltada para os empreendimentos de Suape, o plano
setorial de qualificação exemplifica como se dá na prática. O plano realiza a
instrução da mão-de-obra direcionando-a para a demanda vigente de construção
civil, engenharias e manutenção, entre outras áreas, capacitando a força de trabalho
100

através de cursos de pedreiro, carpinteiro, armador, soldador, por exemplo (SUAPE,


2011).
Grande parte desses cursos foram e ainda são destinados ao emprego formal
na construção civil devido à instalação de empreendimentos, como no período do
boom de Suape, marcado pela inserção do PAC I e II, entre janeiro de 2008 e de
2013. Contudo, esse tipo de emprego destaca-se pelo elevado volume de
contratações com baixo nível salarial e alta rotatividade. Como exemplo, o segmento
de servente de obras que teve nesse período 17.612 admissões e 10.428
desligamentos, com média de um salário mínimo (VERAS DE OLIVEIRA, 2013).
O crescimento que foi gerado na fase de implantação das indústrias, além de
ter produzido uma demanda muito alta por mão-de-obra, ocasionou uma imigração
descontrolada, proporcionando diversos impactos sociais no município, como o
aumento da violência e do uso de drogas e álcool, prostituição, aumento da gravidez
na adolescência, degradação ambiental e descontrole da ocupação urbana.
Contudo, essa oferta de empregos vem sendo reduzida com a conclusão dos
processos construtivos desde 2015, quando foi demitida a maioria dos trabalhadores
após o término das obras da refinaria e do Estaleiro Atlântico Sul (Figura 17)
(ALVES, 2016).

Figura 17. Manifestação contra as demissões em Suape.

Fonte: Jornal do Comércio, 2016.


101

Tal fato gera exclusão de grande parte da população local no mercado de


trabalho, restando o ônus desse processo realizado sem planejamento adequado.
Nesse sentido, percebe-se que a inclusão dessa população em programas de
qualificação profissional é mais uma estratégia para concluir os empreendimentos do
que qualificar efetivamente a população local para o mercado de trabalho. Após a
conclusão, o que se vê são inúmeros desempregados constatados após as visitas
de campo. A esse respeito, a entrevistada 12, que reside ao lado da Refinaria Abreu
e Lima, ao ser perguntada sobre se há oportunidade concreta de emprego,
respondeu que “não há nenhuma oportunidade, mas gostaria de trabalhar em
alguma empresa”.
Ao ser indagado sobre as demissões no CIPS, a Administração de Suape
relatou que:
“O Complexo Industrial Portuário de Suape é um dos maiores
projetos de desenvolvimento da economia do País e, mesmo
diante da crise econômica brasileira, mantém-se como gerador
de aproximadamente 18 mil empregos nas cerca de cem
indústrias instaladas ou em instalação em seu território de 13,5
mil quilômetros”

No entanto, o que se percebe é que os moradores locais que perderam seus


empregos sofrem com a falta de oportunidades tanto no mercado de trabalho,
quanto nas suas atividades tradicionais, visto que não possuem mais os recursos
disponíveis como os manguezais suprimidos para instalação das empresas,
impossibilitando a pesca de peixes e crustáceos, além do impedimento da
agricultura nas áreas livres, pela administração do CIPS. Corroborando com esse
fato, a entrevistada 15 afirma que “antes das empresas podíamos plantar,
vendíamos castanha, frutas, hoje caiu muito”
Essas interferências nos modos de vidas locais geram não só problemas
relacionados com a questão financeira da população, mas também ao psicológico,
podendo ocasionar vários distúrbios sociais como alcoolismo, depressão, consumo
de drogas e violência doméstica.
Dessa forma, no que se refere ao processo de inclusão social através dos
programas de qualificação profissional, os fatos indicam outra realidade, uma vez
que parte da população local tende a ser excluída do processo de ocupação dos
postos de trabalho nas empresas locais.
102

Ao ser questionada sobre a efetividade dos programas sociais, principalmente


os voltados para o mercado de trabalho, a Administração do CIPS respondeu da
seguinte forma:
“Considerando o volume de empresas instaladas no território e
a quantidade de empregos gerados, certamente há inúmeros
moradores inseridos no mercado. Neste mês de agosto/2019, o
Aché Laboratórios Farmacêuticos informou que 565 pessoas
trabalham na construção da sua nova planta em Suape, sendo
74% da região de Cabo de Santo Agostinho e 26% de outros
municípios de Pernambuco e que vai gerar 500 empregos
diretos e 2,5 mil indiretos quando a fábrica estiver pronta. A
qualificação de profissionais pernambucanos, entre eles
farmacêuticos e engenheiros, foi elogiada pela diretoria da
empresa”

A partir do relato anterior, nota-se que os cargos nas empresas são ocupados
por profissionais que possuem um grau de qualificação diferenciado em relação à
maior parte dos moradores locais. Então, contrariando as expectativas, ditas no
discurso oficial, os fatos levam a concluir que não houve melhoria efetiva da
qualidade de vida da maioria da população envolvida no mercado de trabalho do
Complexo Industrial Portuário de Suape.

5.2.4 Plano de Preservação do Meio Ambiente

De acordo com o PDS, o crescimento acelerado do setor produtivo que se


vem notando no CIPS tem exigido o fortalecimento institucional para a adoção e
aplicação prática cotidiana de um aparato legal e regulatório que norteie o
comportamento empresarial perante a necessidade urgente da preservação e
gestão do ambiente.
Diante da referida necessidade de um reforço institucional com a gestão
ambiental, os atores produtivos precisam rever sua postura comportamental para
adequar suas ações de modo a não repercutir em degradação ambiental e,
consequentemente, não comprometer o bem estar social nem a eficiência produtiva
e competitiva dos empreendimentos (SUAPE, 2011). Tal como dizem Castilho,
Pontes e Brandão (2018), ainda há tempo para se rever as práticas de destruição
dos ambientes urbanos e rurais.
Diante da complexidade das ações relacionadas com a questão ambiental de
SUAPE, a Coordenação Ambiental é responsável pelo setor de ação socioambiental
e cultural da empresa, tendo como objetivo a contribuição para superação de
situações de vulnerabilidade social e promoção da sustentabilidade.
103

Para tanto, no PDS, a remoção das populações que hoje moram na zona de
proteção ecológica é de fundamental importância para a preservação do
ecossistema local, justamente estas que utilizam de forma sustentável o território há
séculos. Em contrapartida, os empreendimentos locados neste território e as futuras
instalações têm carta branca para suas atividades, desde que estejam em
obediência com as leis ambientais federais, estaduais e municipais e com os
conceitos e diretrizes incorporados rumo à sustentabilidade, devendo garantir a
sobrevivência assim como o bem estar de todos, direta e indiretamente afetados
(SUAPE, 2011). Todo este contexto de problemas apresentado surge através das
incoerências criadas a partir da preocupação com o crescimento econômico a todo
custo e a impunidade aos grandes centros industriais que criaram raízes na
sociedade, invertendo as posições. As indústrias, que têm obrigações e deveres
assumem a postura de fazedores de favores, já os nativos, que têm o direito de uso
da terra, são relegados à condição de dependentes.
Em relação à acelerada expansão de SUAPE, o PDS propõe que o CIPS
participe e promova, juntamente com o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente
(IBAMA) e a Companhia Pernambucana de Recursos Hídricos (CPRH), o
acompanhamento de todas as medidas de controle e mitigação dos impactos
ambientais a serem gerados pelos empreendimentos, para que sejam oferecidas as
diretrizes ambientais necessárias para a instalação de novos empreendimentos
industriais, compatibilizando-os com a conservação e preservação das áreas, sítios,
ambientes naturais e da própria paisagem. A própria empresa Suape afirmou que: “A
empresa Suape, sempre que identifica qualquer inconformidade de lei ambiental no
seu território, informa aos órgãos competentes para que possam adotar as medidas
cabíveis”.
No entanto, contrariando essa proposição, há relatos de crimes ambientais
cometidos por Suape, como a multa de 2,5 milhões de reais que o complexo levou
após denúncias feitas por pescadores e comprovadas pela CPRH de que as obras
realizadas no leito marinho (dragagem e derrocamento) para aprofundar o canal de
acesso ao porto impactam toda a cadeia produtiva da pesca artesanal da região,
causando a mortandade de peixes, inclusive de espécies protegidas por lei, como o
peixe mero e o boto-cinza. A Colônia de Pescadores Z-8 no Cabo, ressaltou que a
transformação do porto em complexo industrial portuário provocou um processo de
104

dizimação dos territórios camponeses e pesqueiros (Figura 18) (JORNAL GLOBO,


2013).

Figura 18. Operação de dragagem em Suape.

Fonte: Revista Algomais, 2018.

No relatório, a CPRH apontou que, nos documentos de diagnóstico dos


impactos ambientais do Porto, há ausência e omissão de informações sobre os
possíveis danos causados por Suape. Também foi apontada a omissão de
proposições de medidas compensatórias.
Ao ser questionado sobre este fato, a empresa Suape informou que: “Quando
ocorre aporte no ambiente de produtos potencialmente nocivos, a Autoridade
Portuária de Suape atua no suporte à investigação dos causadores dos danos,
solicitando aos responsáveis a interrupção da emissão do fluxo de poluentes”.
Como medida compensatória, o PDS designa a Coordenação Ambiental de
Suape para assegurar o gerenciamento apropriado dos recursos naturais da área e
seus remanescentes. Além disso, a administração de Suape informou que “Suape
passará a publicar em seu site, o Boletim de Monitoramento da Biota Marinha e
105

Estuarina, com as análises realizadas, inclusive de espécies exóticas, qualidade da


água e sedimentos”. Contudo, essas informações não estão disponíveis.
No que tange às questões ligadas aos danos à fauna e flora aquáticas
geradas pelas dragagens, o PDS não expõe nenhuma medida compensatória
específica, apenas a recomendação da “manutenção e conservação do canal de
circulação das águas, existente entre a Ilha de Cocaia e os arrecifes”, passando a
responsabilidade para os órgãos ambientais, em que estes devem “determinar as
ações compensatórias para as atividades que degradem os ecossistemas costeiros
e aquáticos” (SUAPE, 2011 P.85).
É da responsabilidade do núcleo ambiental de SUAPE assegurar o
gerenciamento apropriado dos recursos naturais da área e seus remanescentes, de
modo que continuem disponíveis às futuras gerações, o que implica no
reordenamento do uso e ocupação do solo baseado em um zoneamento ambiental
mais preciso. Nesse sentido, há os projetos de reassentamento de comunidades
próximas à ZPEC que visam, segundo o plano diretor, o controle do crescimento
desordenado e possíveis impactos ambientais nessas áreas.
Ao realizar visitas de campo nas comunidades que estão nas proximidades da
ZPEC, o discurso dos moradores se mostra distinto do proposto pelo plano diretor,
principalmente, no que diz respeitos aos impactos ambientais, visto que, muitos
desses são originados pelos próprios empreendimentos instalados no território
(Figura 19).
A esse respeito, a entrevistada 26 falou sobre seu modo de vida antes da
chegada da termoelétrica instalada ao redor da comunidade em que reside: “Nós
plantávamos, mas depois que a empresa chegou, diminuiu tudo”. Em relação às
atividades deste empreendimento, a entrevistada 27 afirma que “à noite ninguém
dorme por conta do mal cheiro e o barulho”; “os meninos só vivem cansados,
usando bombinha por causa da fumaça dessa empresa”.
106

Figura 19. Termoelétrica instalada na comunidade Engenho Massangana, Ipojuca-


PE

Foto: O Autor, 2018.


A partir dos relatos da população local, percebe-se que a manutenção da
sustentabilidade proposta pelo PDS fica para segundo plano, uma vez que acabam
priorizando o crescimento econômico em detrimento das questões socioambientais.
Diante dos fatos abordados, nota-se que o CIPS busca manifestar-se por meio do
discurso desenvolvimentista para passar uma ideia otimista a cerca de suas
operações; contudo, este modelo objetiva apenas o progresso, trazendo inúmeros
impactos socioambientais, afetando as populações que residem ao redor de vários
empreendimentos.
Diante do acima exposto, os planos e programas do CIPS, voltados para os
territórios e ecossistemas locais, têm agido mais numa perspectiva de mascarar
ações destruidoras do complexo do que realmente promover o desenvolvimento
sustentável a partir da resolução dos conflitos socioambientais.
107

5.3 ATUAÇÃO DOS MOVIMENTOS SOCIAIS NO COMPLEXO INDUSTRIAL


PORTUÁRIO DE SUAPE

Ao iniciar o debate sobre as ações coletivas de cunho socioambiental que


promovem a preservação dos ecossistemas de Suape e a luta por direitos sociais
das comunidades atingidas pelos empreendimentos do CIPS, deve-se ressaltar o
surgimento dos movimentos sociais e do ativismo ambiental no Brasil, como eles se
organizaram e se associaram em prol de uma demanda socioambiental para lutar
por direitos das gerações atuais e futuras.
Gohn (2012) expõe a insuficiência de produções acadêmicas que versem
sobre os movimentos ambientais no Brasil e das tentativas de teorizar sua
constituição e seu desenvolvimento. A autora relata sobre a fluidez que a temática
traz em sua natureza. Corroborando com esse pensamento, Melucci (1994, p. 190)
explica que:
Parte da realidade social na qual as relações sociais ainda não
estão cristalizadas em estruturas, onde a ação é portadora
imediata da tessitura relacional da sociedade e do seu sentido
(...) eles são uma lente por intermédio da qual problemas mais
gerais podem ser abordados, e estuda-los significa questionar
a teoria social e tratar questões epistemológicas como: o que é
a ação social.
Portanto, os movimentos sociais surgem, especialmente, quando há
“mudanças nas oportunidades políticas (...) nas dimensões formais e informais do
ambiente político, (...) abrindo ou criando novos canais para a expressão de
reivindicações”. (ALONSO, COSTA e MACIEL, 2007, p. 153).
Dessa forma, percebe-se que os movimentos sociais brasileiros se
desenvolvem em espaços não consolidados de estruturas e organizações sociais.
Por isso, eles questionam as estruturas existentes e propõem novas formas de
organização da sociedade política. Assim, seus integrantes exercem a política
através de ações coletivas, reivindicando atitudes de seus gestores governamentais
(GOHN, 2007).
Dentro desse contexto, as mudanças sociais e ambientais que vêm ocorrendo
ao longo das últimas décadas no CIPS abram espaço para a atuação de
movimentos que primam, principalmente, pela busca da resolução das questões
sociais e ambientais no território. Assim, são abordados nesse capítulo os
movimentos socioambientais Comissão Pastoral da Terra (CPT), Centro das
Mulheres do Cabo (CMC) e Fórum Suape que atuam em conjunto com as
108

populações locais residentes na área sobreposta pelo CIPS, denunciando as ações


que privilegiam o capital, em detrimento dos seus direitos e dos passivos ambientais.

5.3.1 A Comissão Pastoral da Terra

A CPT foi fundada no ano de 1975, em plena ditadura militar, como resposta
à preocupante situação vivida pelos trabalhadores rurais e posseiros,
principalmente, na Amazônia, explorados em seu trabalho, submetidos a condições
semelhantes ao trabalho escravo e expulsos das terras em que viviam (COMISSÃO
PASTORAL DA TERRA, 2010).
Os posseiros da Amazônia foram os primeiros a receber atenção da CPT. No
entanto, sua ação se ampliou para todo Brasil, pois os trabalhadores e as
trabalhadoras rurais em suas mais diversas categorias, independente de sua região,
enfrentavam e ainda enfrentam sérios problemas.
Suas ações destacam-se pela defesa dos direitos dos trabalhadores rurais,
principalmente, posseiros e sem-terra. Logicamente, cada região tem uma
peculiaridade específica, por isso, adquirem uma tonalidade diferente de acordo com
os desafios que a realidade apresenta. Assim, a CPT se envolve nas mais variadas
causas de populações atingidas pelos grandes projetos chamados de
desenvolvimentistas que expulsavam e ainda expulsam milhares de famílias pelas
suas instalações. É dentro desse contexto que a CPT tem desenvolvido suas
atividades no território de Suape.

5.3.1.1 A Atuação da Comissão Pastoral da Terra no Complexo Industrial Portuário


de Suape
O surgimento de conflitos socioambientais presentes nas populações
tradicionais possuem referências históricas que se baseiam no controle sobre os
recursos naturais enquanto recursos econômicos, exercido pela ação do capital.
Esse controle provoca dois profundos problemas inerentes aos conflitos que são: o
domínio tecnológico ligado ao produtivismo econômico e o controle sobre a
territorialidade onde a terra, a água e os ecossistemas tornam-se recursos de
interesse do capital.
Estes conflitos envolvem grandes decisões políticas, como é o caso do CIPS
que lida com fatores territoriais, mas, principalmente, com decisões político-
econômicas e ideológicas tomadas a partir de interesses públicos e particulares.
109

Consequentemente, afetam diretamente os direitos das populações tradicionais que


vivem neste território, devido à especulação de grandes empreendimentos em
implantar-se no CIPS, acarretando privatização de terras públicas, degradação
ambiental, despejos forçados e restrições de acesso aos recursos naturais dispostos
no ambiente local (CPT, 2016).
Por tais motivos, a CPT tem denunciado as violações de direitos humanos
cometidas contra as populações locais no CIPS durante as últimas duas décadas.
A CPT em uma de suas ações relatou a expropriação e despejo de famílias
pesqueiras, degradação ambiental e a privatização da Ilha de Tatuoca para a
construção dos estaleiros Atlântico Sul e VARD Promar. Devido à necessidade de
ampliação e aprofundamento dos taludes do Porto de Suape, são realizadas
dragagens, utilizando como área de descarte dos sedimentos o mar aberto, o que
tem inviabilizado a atividade pesqueira local devido à grande quantidade de lama
que tem danificado os apetrechos de pesca, e, principalmente, a drástica redução de
peixes (Figura 20).

Figura 20. Estuário em que ocorre as dragagens, comprometendo a atividade


pesqueira. Suape, Cabo de Santo Agostinho – PE.

Fonte: CPT, 2016.

Destaca-se ainda, que no caso de Suape, existe uma ação civil pública para
defender os territórios de pesca contra as dragagens e derrocagem dos territórios de
pesca (CONSELHO PASTORAL DOS PESCADORES, 2016).
110

Como ações de resistência por parte das populações pesqueiras, a CPT


relata que elas ocorrem de diversas formas, dentre as quais destacam-se:
representações junto ao Ministério Público Estadual; incidência e mobilizações junto
ao público local (Figura 21); visibilidade dos conflitos através do enfrentamento por
parte das comunidades pesqueiras nas redes sociais e em outros meios de
comunicação.

Figura 21. Reunião da Comissao Pastoral da Terra com moradores das


comunidades inseridas no CIPS

Fonte: Comissão Pastoral da Terra Nordeste II, 2015.

Além dos relatos referentes às populações pesqueiras no CIPS, a CPT tem


mobilizado agricultores e pescadores que tradicionalmente vivem no entorno do
complexo e que veem sofrendo com ações da chamada “milícia armada”10 ligada ao
CIPS. Os moradores afirmam que são constantes as ações de violência praticadas
por seguranças contratados por Suape (COMISSÃO PASTORAL DA TERRA, 2015).
As denúncias foram feitas durante a Audiência Pública promovida pela comissão de

10
Grupo armado de seguranças que prestam serviços terceirizados ao CIPS e que tem intimidado os
moradores das comunidades locais.
111

cidadania, direitos humanos e participação popular da Assembleia Legislativa de


Pernambuco (ALEPE) (Figura 22).

Figura 22. Audiência Pública promovida pela Assembleia Legislativa de


Pernambuco.

Fonte: CPT, 2015.

Os moradores do entorno do CIPS presentes na audiência mostraram-se


revoltados (as) com a situação em que vivem. Dentre as denúncias sobre a atuação
da milícia em Suape estão: destruição de casas, confiscos ilegais de materiais de
construção das famílias, destruição de lavouras e fruteiras, execução de
reintegrações de posses ilegais e violentas, confisco ilegal dos bens das famílias
sem justificativa formal (CPT, 2015).
Essas intervenções promovidas pelas milícias têm como finalidade inviabilizar
a continuidade dos modos de vida tradicionalmente praticados pelas famílias que
residem na área e que tiram o seu sustento da terra, tentando enfraquecer a
resistência em permanecer no seu território, o que favoreceria a negociação de suas
terras com o CIPS. Vale frisar que as violações de direitos ocorrem em uma área da
qual o CIPS diz ser dono, mas, segundo os moradores presentes no evento,
diversos documentos relatam que houve ilegalidade no processo de compra e venda
do território hoje ocupado por parte da empresa (Figura 23).
112

Figura 23. Moradores participam de audiências e relatam abusos sofridos pelo CIPS.

Fonte: CPT, 2016.

Durante a audiência, o presidente da Comissão de Cidadania e Direitos


Humanos da ALEPE, propôs, como encaminhamento, o estabelecimento de um
Termo de Ajustamento de Conduta para que fosse terminantemente proibido o uso
de armas por funcionários de Suape. Além disso, o Ministério Público Federal
deverá ser provocado formalmente com as denúncias de existência de milícia
armada atuando em Suape, para que o órgão possa demandar ao órgão de
segurança pública competente uma investigação sobre o caso (ALEPE, 2015).
Diante disso, torna-se evidente a importância dos movimentos sociais na
reivindicação de direitos das chamadas “minorias”11, que vêm sendo marginalizadas
em detrimento dos interesses do capital. Além disso, tais movimentos têm uma
participação pertinente no processo de empoderamento da população local, uma vez
que contribuem para a emancipação individual e também da consciência coletiva
necessária para a superação da dominação política.

11
As minorias sociais são as coletividades que sofrem processos de estigmatização e discriminação,
resultando em diversas formas de desigualdade ou exclusão sociais, mesmo quando constituem a
maioria numérica de determinada população (PACHECO; PACHECO, 2016).
113

5.3.2 Centro das Mulheres do Cabo

O Centro das Mulheres do Cabo (CMC) é uma organização não


governamental, emergente das lutas populares e do movimento das mulheres na
década de 1980. O CMC vem desenvolvendo ações que visam conscientizar as
mulheres sobre seu papel na sociedade, priorizando a formação de multiplicadoras e
fortalecendo a sua luta contra as desigualdades de gênero e pela afirmação da
cidadania. A história dessas mulheres representa a luta e a resistência de outros
milhares de mulheres agricultoras, quilombolas, pescadoras e marisqueiras que
resistem em seus territórios e que lutam pela reparação de seus direitos (CENTRO
DAS MULHERES DO CABO 2014).
Por estar localizado no município do Cabo de Santo Agostinho, o CMC tem
como um dos seus pilares a incidência do movimento de mulheres nas políticas
públicas, visando o enfrentamento à violência sofrida pelas famílias no território de
Suape. Para tanto, as vozes das mulheres moradoras de Suape, em meio ao
cenário de violações de direitos em torno da construção e operação do CIPS,
revelam a forma como são impostos os critérios para a construção de grandes
projetos de desenvolvimento, pelos quais perpassam as determinantes de classe,
gênero e raça. É recorrente na região, a expropriação de terras e de recursos.
Agricultoras, pescadoras e marisqueiras estão sendo expulsas de seus territórios,
seja por remoções diretas (pelas quais as pessoas são tiradas de suas casas por
processos de negociação ou não) ou indiretas (pelas quais se engendram condições
inviáveis para a permanência no local fazendo com que as famílias pressionadas
não tenham outra escolha, se não a de se mudar) (SANTOS, ALVES, SILVA,
MERTENS, GURGEL, AUGUSTO, 2016.).
Nesse sentido, as mulheres que fazem parte desse estudo não estão sendo
prejudicadas apenas materialmente, tendo sua renda reduzida por conta da
diminuição de sua produção (redução do pescado e do marisco, por exemplo); mas
também veem sofrendo impactos negativos profundos, seja no sentido de sua
existência e relação com o mundo, seja no sentido de sua saúde e de sua
autonomia. A figura 24 retrata uma parte das reivindicações feitas pelas mulheres
residentes nas comunidades de Suape.
114

Figura 24. Reivindicação do direito ao território promovida pelo CMC em Ipojuca-PE.

Fonte: Fórum Suape, 2019.

No ato reivindicatório, as mulheres levavam uma faixa com os seguintes


dizeres: “Mulheres atingidas por SUAPE reivindicam o direito ao território e à
integridade de seus corpos”. Em contextos de megaprojetos de exploração da
natureza, como é o caso do Complexo de Suape, os impactos econômicos, sociais e
ambientais sobre a população e os territórios onde se instalam são sempre muito
negativos. As mulheres são especialmente prejudicadas, pois são atingidas em suas
atividades econômicas, sua saúde, sua participação na tomada de decisões e sobre
as formas de violência de gênero que vivenciam (SANTOS, ALVES, SILVA, MERTENS,
GURGEL, AUGUSTO, 2016).

5.3.2.1 A defesa do território se transforma na defesa da vida

A luta pela defesa da terra é inseparável da defesa dos corpos das mulheres,
como primeiro território a libertar em um sistema que os explora. É necessário fazer
uma defesa mais abrangente do direito de decidir sobre o território, o corpo e a vida.
Somente unidas, as lutas têm chances de resistir e criar alternativas para
transformar o sistema capitalista e colonial.
Para elas, a defesa do território não é apenas uma questão de respeito ao
meio ambiente; ela tem a ver com a defesa de suas formas de vida, que têm
115

profundas raízes na vida da terra e na vida da comunidade, nas quais ainda existem
o cuidado mútuo e o valor do coletivo.
O território onde estão inseridas não é apenas o espaço físico em que elas
plantam, colhem, pescam e criam animais, entre outras atividades. Ele tem um
significado mais profundo: é o lugar onde se dão as relações humanas, a relação
com o entorno, e o que as possibilita de ter uma vida digna junto com suas famílias.
Por isso, esse movimento tem construído um novo imaginário político e de
luta, que se concentra no corpo das mulheres como primeiro território a defender.
Assim, o corpo se torna a primeira fronteira, o lugar a partir do qual, inicialmente de
forma individual e depois coletiva, defende-se a vida própria e a comunitária, os
saberes, a identidade, a memória. Associado a essa resistência está a defesa do
território, pois não se pode falar de corpos emancipados enquanto o ambiente
estiver sendo degradado e explorado, pois a libertação dos corpos passa pela
libertação da terra.
Nesse sentido, as mulheres representantes do CMC e das lideranças locais
têm lutado pela regularização fundiária das terras e pela permanência das
comunidades na região. Também têm atuado fortemente contra os abusos e as
violências praticadas por representantes de SUAPE e pela reparação dos direitos
das famílias que já foram removidas e ainda aguardam indenizações
Atualmente, o Centro das Mulheres do Cabo está coordenando o Fórum
Suape, que é uma organização da sociedade civil articulada em um fórum
permanente que visa mobilizar atores sociais envolvidos com os processos
descivilizatórios e discriminatórios provocados pelo CIPS aos residentes das
comunidades locais.

5.3.3 O Fórum Suape

O Fórum Suape surgiu em 2011, a partir da articulação e mobilização de


atores sociais preocupados com o crescente processo de exclusão social, violência
e degradação ambiental gerado pelo CIPS. Seu objetivo é buscar possibilitar uma
cultura democrática de participação social e justiça ambiental contribuindo para
garantia dos direitos das populações tradicionais atingidas pelo CIPS (FÓRUM
SUAPE, 2011).
Segundo o Fórum Suape (2011) a atuação do movimento busca:
116

Contribuir para o fortalecimento e a ampliação das capacidades dos


moradores e associações locais para defenderem seus direitos e garantirem a
manutenção de seus modos de vida tradicionais;
Prestar apoio jurídico às populações tradicionais que se encontram
vulnerabilizadas, ou em situações de risco pelas ações violentas cometidas pelo
CIPS;
Identificar e denunciar violações aos direitos humanos e ao meio ambiente
que ocorrem na área de influência do CIPS.
Articular-se com outras organizações e movimentos sociais, revelando os
aspectos de insustentabilidade do CIPS que causam grandes perdas sociais e
econômicas e de qualidade de vida para a toda a sociedade pernambucana.
Dialogar com autoridades de governo e empresas, demandando
transparência e participação efetiva das comunidades e segmentos da sociedade
nos processos de decisão sobre o território, além de maior responsabilidade
socioambiental.
Dentro dessa lógica, o movimento vem trazendo à tona os problemas que a
implantação do CIPS tem causado às populações sobrepostas por ele,
principalmente, pela luta da terra que se tornou o elemento principal das investidas
contra os moradores, existindo disputas jurídicas sobre a posse dos terrenos
valorizados em Suape e também dos impactos socioambientais provocados por
seus empreendimentos.
Para atender à necessidade de espaço para os grandes empreendimentos,
a desocupação dos territórios por Suape tem ocorrido de forma agressiva, em
muitos casos sem negociação amigável com os moradores. Para isso, recorre-se à
segurança contratada e por funcionários da Diretoria de Gestão Fundiária e
Patrimônio. Além disso, em determinadas ocasiões contam com a participação do
Estado através da Polícia Militar de Pernambuco para a execução dos processos de
reintegração de posse contra os posseiros (Figura 25).
117

Figura 25. Desocupação de posseiros pelos seguranças terceirizados no Complexo


Industrial Portuário de Suape.

Fonte: Movimento Ecossocialista de Pernambuco, 2012.

Para visibilidade e resolução dos conflitos que estão emergindo devido às


ações praticadas pelo CIPS, o fórum tem articulado mobilizações com lideranças
comunitárias do território e agendamento de audiências no Ministério Público, com
intuito de relatar e apurar denúncias sobre atuação violenta da segurança do CIPS
contra famílias instaladas no seu entorno; os processos de expulsão de moradores
de suas terras ou pagamentos de indenizações muito baixas, processo
caracterizado pela desterritorialização das comunidades; os passivos ambientais
emitidos pelas empresas ao ambiente das comunidades e sobre os processos de
remoção das famílias do CIPS. Em dezembro de 2017 foi realizada mais uma
audiência pública para tratar dessas questões (Figura 26).
Segundo o Fórum Suape (2017), além do desrespeito aos direitos básicos
garantidos pela legislação vigente, prevalece a violência física e psicológica
praticada pela segurança denunciada nas três Audiências Públicas realizadas pela
Comissão de Cidadania, Direitos Humanos e Participação Popular da ALEPE.
Membros das comunidades locais da região estiveram reunidos a convite do fórum
para tratar sobre: os danos ambientais causados pelo lançamento de poluentes das
empresas; as dragagens responsáveis pela queda do estoque pesqueiro; as
explosões para a instalação dos estaleiros e a violência por parte da conduta dos
118

seguranças do empreendimento, que atuariam destruindo lavouras e derrubando


casas.

Figura 26. Audiência pública com os moradores que residem em Suape.

Fonte: SAMPAIO, 2017.


O movimento tem buscado dialogar com a direção do CIPS, na tentativa de
encontrar caminhos que levem à solução das várias questões que afetam
diretamente o modo de vida das populações locais. Contudo, apesar do discurso
pró-diálogo por parte do CIPS, o fórum relata que isto nunca ocorreu de fato.
Enquanto isso, a tensão cresce entre os moradores e suas lideranças contra
o CIPS, pois não acreditam mais que a empresa vai ouvi-los, fazendo valer suas
reivindicações. Por isso, a palavra de ordem das populações tradicionais que ali
vivem é enfrentamento, e esse é o papel do Fórum Suape, ou seja, o de fortalecer a
participação popular pela luta de seus direitos.
O fruto dessa participação ocorrerá somente quando as reivindicações se
concretizarem em conquistas como, por exemplo, a isenção da taxa do pedágio dos
quilombolas remanescentes do Engenho Mercês (Figura 27) (FÓRUM SUAPE,
2018a).
119

Figura 27. Reivindicação dos moradores por isenção da taxa de pedágio no


Engenho Mercês, Ipojuca-PE.

Fonte: FÓRUM SUAPE, 2018a.

Outra ação da qual o Fórum Suape participou ativamente foi o que aconteceu
contra o racismo ambiental e a mobilização pela demarcação das terras da
comunidade Engenho Mercês. Até o ano de 2016 a comunidade era alvo de
intensos processos de racismo ambiental devido à vulnerabilização promovida pelo
CIPS à comunidade. Parafraseando Herculano (2006), o racismo ambiental não
está, unicamente, ligado à questão da cor, mas também ao conjunto de ideias e
práticas das sociedades e seus governos que aceitam a degradação socioambiental
de determinados segmentos sociais (pescadores, camponeses, negros, etc.) com o
pretexto do crescimento econômico. Contudo, essas são as parcelas que arcam com
a carga negativa do almejado progresso e são sacrificadas em benefício das
demais.
Uma estratégia do CIPS para a resolução desse problema é a realocação dos
moradores mediante indenizações; no entanto, estes não querem as indenizações,
mas sim manter vivas suas tradições e o direito à terra que é a fonte de suas vidas.
O receio em deixar seu território é um dos exemplos dos que foram indenizados e,
120

de acordo com seus relatos, após a expulsão possam a viver em condições


precárias ou em casas de parentes.
Em entrevista ao Diário de Pernambuco (2017, p.3), um morador afirma que:
“Longe de casa, um quilombola não vive, morre de fome,
doença ou tristeza. É só questão de tempo. Se tivéssemos a
titulação das terras, poderíamos brigar pelo direito ao principal
acesso à nossa casa”. “... Podem derrubar nossas casas,
suspender a água, a energia elétrica… ficamos sozinhos, sem
garantias, nem proteção”.

Esse era o receio da maior parte da população do Engenho Mercês. No


entanto, no decorrer desta década, as intervenções de pesquisadores e movimentos
sociais, como o fórum Suape, veem mobilizando as comunidades locais para
denunciar os abusos sofridos. Uma das estratégias deste fórum é, portanto, a
realização de audiências como citado antes, para exibir a realidade vivenciada por
essas populações.
A partir dessas audiências, especificamente, a ocorrida no dia 19 de Junho de
2017, que contou com a presença de representantes do Ministério Público de
Pernambuco (MPPE), Grupo de Trabalho de combate ao Racismo do MPPE,
Ministério Público Federal (MPF), Defensoria Pública da União e o presidente da
Associação dos Moradores de Mercês, foram compartilhadas informações sobre o
caso da comunidade quilombola de Mercês, bem como sobre os conflitos entre os
moradores dessa comunidade e os fiscais de campo de Suape.
A partir das reuniões, foi determinado oficiar o Instituto Nacional de
Colonização e Reforma Agrária (INCRA), em caráter de urgência, para dar
conhecimento do procedimento de certificação da comunidade quilombola Ilha de
Mercês, atentando para a necessidade de garantir a posse da terra tradicionalmente
ocupada, garantindo a demarcação e segurança aos moradores.
Desde então, O MPPE vem investigando as denúncias de conflitos entre
moradores da comunidade e o CIPS através da instauração do inquérito civil na
Promotoria de Justiça de Defesa do Patrimônio Público e Social de Ipojuca. O
inquérito foi instaurado porque, além de se tratar de uma área de preservação
histórico-cultural já prevista no Plano Diretor de Suape, com a identificação
quilombola, a área passa a ter um tratamento específico para a sua preservação
(DIÁRIO OFICIAL, 2017).
Essa audiência representou um marco na questão da demarcação das terras
desta comunidade. Um ano após sua realização, em 27 de setembro de 2018, o
121

INCRA se reuniu com a Comunidade Quilombola para iniciar os trabalhos da


elaboração do Relatório Técnico de Identificação e Delimitação. Esse relatório é um
documento necessário para o processo de regularização fundiária e titulação do
território quilombola que consiste em estudos antropológicos, cartográficos,
socioeconômicos e dos impactos ambientais ocorrido no território (FORÚM
SUAPE,2018) (Figura 28).

Figura 28. Reunião de membros do INCRA com moradores do Engenho Mercês,


Ipojuca-PE.

Fonte: FÓRUM SUAPE, 2018.

O fórum Suape relata que a Comunidade Quilombola de Mercês já é


certificada pela Fundação Cultural Palmares e vem travando há anos uma batalha
contra o poder político e econômico de SUAPE, que tinha o interesse em se apossar
do território da comunidade.
Os moradores que resistiram às investidas de Suape e permaneceram no seu
território, conseguiram o direito de utilizar suas terras de acordo com suas
necessidades. Assim, estes conseguem desenvolver a agricultura antes proibida e
construir novas residências (FIGURA 29 e 30).
122

Figura 29. Construção de moradia no Engenho Mercês, Ipojuca-PE.

Foto: Stevam Gabriel, 2019.

Figura 30. Plantação na área da comunidade Engenho Mercês, Ipojuca-PE.

Fonte: Stevam Gabriel, 2019.

A Esse respeito os entrevistados 1 e 2 relatam que:


“O projeto quilombola construiu umas casas para os moradores
que estão precisando... Agora tá podendo plantar, tá podendo
construir, isso tá liberado por causa dessa coisa que fizeram
agora, o projeto Quilombola, aí liberou muitas coisas, né, pra
quem não podia assentar um tijolo hoje pode, tá ´podendo ter
casa ter as coisas né, por que antigamente não podia. Foi luta
123

né, isso aconteceu por conta da associação dos moradores


que antes não existia.

“Suape agora acalmou por que os meninos do outro lado se


reuniu, o presidente dos quilombolas, por que agente agora é
tudo quilombola aí Suape deixou a gente queto, não tá
mexendo mais com nada. Antes não podia nem construir e
plantar e agora tá liberado”.

Através dos discursos dos entrevistados, é possível perceber que as


interligações entre movimento social e as lideranças comunitárias são fundamentais
para a formulação de estratégias para o empoderamento e a aquisição de direitos da
comunidade.
Além da mobilização dos moradores locais, o fórum atua em eventos
científicos através de seminários que contam com movimentos sociais, comunidades
atingidas e pesquisadores, que tratam dos impactos socioambientais causados,
principalmente, pelo avanço do capital em áreas estratégicas através da instalação
de megaprojetos tal qual o CIPS. Um exemplo foi o seminário intitulado Complexo
Industrial Portuário de Suape: Desenvolvimento e os Impactos Socioambientais,
realizado no mês novembro de 2017 na FICRUZ em Recife, que abordou o aspecto
bioético relacionado com os relatórios de impactos ambientais apresentados pelo
CIPS, que não levam em conta a situação de saúde das pessoas que vivem nas
comunidades; a desvalorização do saber local por parte de Suape quando promove
a desterritorialização das famílias e as violações praticadas pelas empresas
instaladas na região. Salienta-se que, nesse seminário, houve o convite para o
diretor de Meio Ambiente e Sustentabilidade do CIPS que infelizmente não
compareceu, evidenciando o desinteresse da empresa em dialogar com os
diferentes segmentos sociais (FÓRUM SUAPE, 2017).
Outro seminário que abordou os problemas ocasionados por Suape foi o de
Geografia e Interdisciplinaridade promovido pelos estudantes do IFPE em junho de
2018, intitulado: O Complexo de SUAPE em Pernambuco: outras palavras. O evento
que também contou com professores, integrantes do fórum e das comunidades
locais, buscou dar voz às narrativas que sempre foram silenciadas e que revelam o
lado nefasto e invisibilizado do tão propagado progresso advindo do Complexo de
Suape.
No seminário, foram abordados temas referentes ao grande passivo
ambiental produzido pela supressão de 601 hectares, acarretando um impacto direto
124

nos pescadores locais, visto que cerca de 70% a 80% das espécies de importância
econômica são espécies que utilizam-se desse ecossistema em pelo menos uma
fase de sua vida, portanto, a destruição dos manguezais gera uma interferência
direta na pesca local, deixando pescadores artesanais sem sua fonte de sustento;
aos meios de comunicação dominantes em Pernambuco que contribuíram para a
reprodução da voz hegemônica, segunda a qual retrata SUAPE como um grande
indutor de investimentos para o Estado, silenciando, contudo, os grandes impactos
socioambientais produzidos por ele; as graves intervenções no meio ambiente, que
repercutem diretamente sobre os modos de vida das populações tradicionais; as
remoções de milhares de famílias, que hoje passam por imensas dificuldades
financeiras, de saúde, alimentação etc., e a violência cotidiana a que as
comunidades estão submetidas (FÓRUM SUAPE, 2018b).
Diante do exposto, os movimentos aqui considerados se tornam de suma
importância, pois são espaços e momentos ricos de compartilhamento de
conhecimentos e representam mais um importante passo na luta de um povo que
quer permanecer em seu território ancestral e que vem passando por profundas
transformações.
É nesse cenário que são instaladas as lutas dos movimentos sociais, através
das quais são afirmadas as práticas participativas desses grupos. Logo, pensar em
espaços coletivos é necessariamente dar voz para que os principais interessados
possam tomar as decisões condizentes com cada realidade. Esse é sem dúvida o
grande diferencial da participação dos movimentos sociais. Pois no cenário politico
obscuro em que o país se encontra, grupos minoritários não têm voz ativa para
discutir seus próprios direitos perante a sociedade.
Nesse sentido, movimentos sociais que buscam a transformação social por
meio da mudança do modelo de desenvolvimento que impera no país, inspirados em
um novo modelo civilizatório no qual a cidadania, a ética, a justiça e a igualdade
social sejam imperativos, prioritários e inegociáveis, são indispensáveis para a
construção de um espaço público diferente do modelo neoliberal, construído a partir
de exclusões e injustiças. É preciso que sejam respeitados os direitos de cidadania e
que aumentem progressivamente os níveis de participação democrática da
população para que as minorias sejam capazes de sair dos cenários de invisibilidade
social, política, econômica e ambiental, vide as comunidades de estudo desta tese .
125

6 CONCLUSÕES

Diante do que foi exposto nesta pesquisa, algumas considerações necessitam


ser levantadas, relacionando as ideias e os conceitos do referencial teórico com a
realidade observada in loco, atendendo ao conjunto de objetivos da pesquisa
Através de pesquisas documentais das empresas inseridas no Complexo
Industrial Portuário de Suape, notou-se que algumas comunidades poderiam estar
expostas a riscos socioambientais devido à natureza de determinadas atividades
industriais.
Pelo fato das refinarias e termelétricas serem consideradas indústrias sujas
por conta dos processos do refino do petróleo e queima de combustíveis fósseis
para geração de energia, foi constatado que estes são os responsáveis diretos pelos
processos de conflitos socioambientais que atingem os moradores das comunidades
do Engenho Mercês e Engenho Massangana, emergindo, principalmente, através
das atividades produtivas geradoras de poluentes hídricos, atmosféricos e sonoros,
e, remoção dos nativos, impossibilitando-os de conquistarem o direito à terra,
interferindo nas relações entre homem e meio ambiente, determinando e/ou
contribuindo para a existência de condições e situações de vulnerabilidade.
Devido à implantação dos Estaleiros Atlântico Sul, uma série de impactos
ambientais surgiu na Ilha de Tatuoca como a supressão de manguezais responsável
pela redução na reprodução e na densidade de inúmeras espécies de crustáceos
nativos desse ecossistema. Essas intervenções culminaram na realocação dos
nativos para a Vila Nova Tatuoca, interferindo na sua reprodução social, uma vez
que os moradores em sua maioria são pescadores que não têm mais acesso aos
recursos naturais antes disponíveis próximos às suas residências. Além desse fato,
foi constatado que na atual área da comunidade há diversos problemas de
infraestrutura sem resolução por parte do CIPS.
Ademais, a partir da matriz de reprodução social foi possível identificar os
principais indutores de conflitos socioambientais e em qual dimensão estes incidem.
Assim, constatou-se que os impactos socioambientais identificados nas dimensões
ecológica e econômica, induzem o surgimento de conflitos socioambientais
relacionados a degradação ambiental e a exposição de poluentes atmosféricos,
sonoros e hídricos, bem como os impactos identificados nas dimensões política e
126

cultural, induzem aos conflitos socioambientais relacionados a disputas territoriais e


de infraestrutura.
Dessa forma, os processos de vulnerabilização têm seu ponto de partida na
criação de políticas que privilegiam a produção do espaço para grupos dominantes
em detrimento das classes sociais menos favorecidas, trazendo a lume as
contradições do desenvolvimento econômico no contexto do capitalismo e do Estado
desenvolvimentista.
Devido a tais acontecimentos, as comunidades vêm sendo descaracterizadas
socioambiental e culturalmente através de um modelo desenvolvimentista predatório
que não lhes garante benefícios. Assim, as populações destas comunidades sofrem
profundos traumas nas suas vidas através das intervenções ambientais decorrentes
dos empreendimentos em seu território.
Como meios para resolução dos problemas gerados pelos empreendimentos,
a gestão do CIPS criou um plano diretor no qual instituiu ações de mitigação para os
principais impactos promovidos pelos empreendimentos alocados no seu território.
No entanto, após análises comparativas entre o que foi proposto nos planos e suas
aplicações in loco, foi verificado que não houve melhoria efetiva da qualidade de
vida da população, visto que a manutenção da sustentabilidade proposta pelo plano
diretor fica em segundo plano, pois acabam priorizando o crescimento econômico
em detrimento das questões socioambientais.
É neste contexto que os conflitos socioambientais permitem a visualização
dos problemas das populações tradicionais através de formas diversas de
enfrentamento entre os grupos envolvidos e as possibilidades para a sua conciliação
ou solução. Ao entender que os conflitos ambientais surgem a partir da natureza
antagônica entre capital versus ambiente e grupos vulnerados, implica em buscar
sua solução no fim do sistema que privilegia as classes mais ricas e o crescimento
econômico a qualquer custo.
Estudar os conflitos socioambientais nesta perspectiva busca fortalecer o lado
vulnerável da disputa e aumentar sua capacidade de resistência, ou seja, envolve
conscientização, caracterização da situação e escolha de estratégias. Logo, o
conflito socioambiental é um dos instrumentos de construção de uma sociedade que
prima pela justiça ambiental, tendo como estratégia de resistência o estabelecimento
de alianças entre os protagonistas desses casos. Estas alianças surgem a partir da
127

relação das populações locais com pesquisadores e movimentos sociais que primam
pela democracia da diversidade.
A atuação dos movimentos sociais na região do CIPS mostrou-se de suma
importância, pois amplia as possibilidades de organização de práticas sociais
participativas na construção de processos coletivos para o desenho de caminhos
alternativos e emancipatórios que conduzam à luta contra hegemônica, a favor de
uma sociedade democrática mais justa e igualitária.
Nesse sentido, pensar em qualidade de vida implica defender modalidades de
desenvolvimento sustentável que promovam mudanças qualitativas significativas e
que enfrentem as crises do crescimento econômico, possibilitando um
desenvolvimento que se reflita em melhorias nas condições sociais e ambientais das
diversas camadas da sociedade.
128

REFERÊNCIAS

ACSELRAD, H. Justiça Ambiental. Novas articulações entre meio ambiente e


democracia. In BASE/CUT-RJ/IPPUR-UFRJ. Movimento Sindical e Defesa do Meio
Ambiente – o debate internacional. Rio de Janeiro, 2000. p. 51.

ACSELRAD, H. Justiça ambiental - Ação coletiva e estratégias


argumentativas”. In: Henri Acselrad; Selena Herculano e José Augusto Pádua
(orgs.). Justiça ambiental e cidadania. Relume Dumará. Rio de Janeiro, 2004.

ACSELRAD, H. Mediação e Negociação de Conflitos Socioambientais. IX encontro


temático da 4º. Câmara da Coordenação e Revisão do Ministério Público
Federal. Brasília, 2010. Disponível em:<http://4ccr.pgr.mpf.mp.br/atuacao/ da-4a-
tematico/documentos/mediacao_e_negociacao_de_conflitos_socioambientais.pdf>.
Acesso em: 12/05/2015.

ACSELRAD; HERCULANO; PÁDUA, J. A. Justiça Ambiental e cidadania. Rio de


Janeiro: Editora: Relume Dumará, 2004.

ACSELRAD, H.; MELLO, C. C. A.; BEZERRA, G. N. O que é justiça ambiental. Rio


de Janeiro: Garamond, 2009.

ALMEIDA, A. W. B. Terras tradicionalmente ocupadas: processos de


territorialização, movimentos sociais e uso comum. Revista Brasileira de Estudos
Urbanos e Regionais. Vol.6, nº 1. Maio, 2004.

ALONSO, A.; COSTA, V.; MACIEL, D. Identidade e estratégia na formação do


movimento ambientalista brasileiro. IN: Novos Estudos Cebrap. São Paulo, 2007.
p. 151-167.

ALTVATER, E. O Preço da Riqueza. Editora da Universidade Estadual Paulista.


São Paulo, 1995.

ALVES, J. L. Suape e sua Trajetória Histórica: Um Olhar Geográfico. 2011. Tese


(Doutorado em Geografia) Programa de Pós-Graduação em Geografia. Universidade
Federal de Pernambuco, Recife, 2011.

ALVES, S. G. Injustiças Socioambientais e Interferências na Saúde de


Populações Localizadas na Área do Complexo Industrial Portuário de Suape.
Dissertação (Mestrado), Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio
Ambiente, UFPE. Recife, 2016

ALVES, S. G. ; SANTOS, M. O. S. ; GURGEL, I. G. D. ; SANTOS, S. L. . Vulnerabilização


Socioambiental de Comunidades Tradicionais no Complexo Industrial Portuário de Suape.
DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE (UFPR), v. 38, p. 403-418, 2016.

AMÂNDIO, D. S. Modernidade e identidade das cidades portuárias. In: Interesse


nacional, competitividade marítima e desenvolvimento urbanístico. Metrópoles.
Lisboa, 2003.
129

ANDRADE, S. R. de. Saúde dos maricultores e atenção básica à saúde: uma


análise sob o enfoque da teoria da reprodução social. Florianópolis, 2007.

ANITÚA A. C. sostenible y sustentable. Correo del Maestro. 2006. Disponível


em:<http://www.correodelmaestro.com/anteriores/2006/enero/sentidos116.htm>.
Acesso em 28/02/2019.

AQUINO, S. S.; AGUIAR, A. L. O. Nada sobre nós, sem nós”: movimentos sociais à
luz das pessoas com deficiência Revista Includere, v. 2, n. 2, p. 129- 318, ed. 1,
2016.
ARRUDA, R. S. V; DIEGUES, A. C. Saberes Tradicionais e biodiversidade no
Brasil. Brasília: Ministério do Meio Ambiente; São Paulo: USP, 2001.

ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DE PERNAMBUCO. Situação dos posseiros de


Suape é debatida em audiência da Comissão de Cidadania no Cabo de Santo
Agostinho. Disponível em:< http://www.alepe.pe.gov.br/2015/09/09/situacao-dos-
posseiros-de-suape-e-debatida-em-audiencia-publica-da-comissao-de-cidadania-no-
cabo-de-santo-agostinho/>. Acesso em:18/01/2019.

AUGUSTO, L. G. S. et al. Vigilância Ambiental: um novo conceito uma nova


abordagem. In: AUGUSTO, L. G. S.; FLORÊNCIO, L.; CARNEIRO, R. M. (Orgs).
Pesquisa(ação) em Saúde Ambiental: Contexto, Complexidade, Compromisso
Social. Editora Universitária da UFPE, 2ª ed. Recife, 2005a.

AUGUSTO, L.G.S. et al. Uma nova compreensão da causalidade e dos métodos de


investigação em Saúde Ambiental. In: AUGUSTO, L. G. S.; FLORÊNCIO, L.;
CARNEIRO, R. M. (Orgs). Pesquisa(ação) em Saúde Ambiental: Contexto,
Complexidade, Compromisso Social. Editora Universitária da UFPE, 2ª ed. Recife,
2005b.
.
AZAM, G. Colóquio “Une Crise de civilisation?”. 2011. Disponível em:
<http://www.espaces-marx.net>. Acesso em: 23/08/2016.

BARDIN, L. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70. 2002.

BAQUERO, M. Reinventando a sociedade na América Latina: cultura política,


gênero, exclusão e capital social. Ed. da UFRGS. Porto Alegre, 2001.

BAQUERO, R V. A. Empoderamento: questões conceituais e metodológicas.


Redes. v. 11, n. 2, p. 77-93, mai-ago. 2006.

BAQUERO, R. V. A. Empoderamento: instrumento de emancipação social? – uma


discussão conceitual. Revista Debates, v. 6, n. 1. Porto Alegre, 2012. Disponível
em:< http://seer.ufrgs.br/debates/article/view/26722>. Acesso em: 03/10/2016.

BRAGA, M C ; LIMA, A S Q. Território estratégico de Suape: diretrizes para uma


ocupação sustentável. Humanae, v.1, n.3, 2009.
130

BAPTISTA, R.; CARDOSO, F. O. Estudo ambiental da utilização do coque de petróleo


na cogeração de energia elétrica em comparação com o carvão mineral. Revista
científica integrada da UNAERP , V. 3, P. 1-11, 2013.

BRASIL. Decreto nº 6.040 de 7 de fevereiro de 2007. Política Nacional de


Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais. Brasília,
2007.

BREILH, J. Bases para uma Epidemiologia Contra Hegemônica. Ed. Fiocruz. Rio
de Janeiro, 2006. pág. 203.

Breilh J. Latin American critical ('Social') epidemiology: new settings for an old
dream. International Journal of Epidemiology. 37:745-750. 2009.

BROWN, L. R. Eco-Economia: construindo uma economia para a terra. Salvador,


2003.

BOFF, L. Ecologia: grito da Terra, grito dos pobres. Editora Sextante. Rio de
Janeiro2004.

BONNEMAISON, J. La Géographie culturelle. Paris: Éditions du CTHS, 2000. P.


128.

BULLARD, R. Enfrentando o racismo ambiental no século XXI. In: ACSELRAD,


Henri; HERCULANO, Selene; PÁDUA, José Augusto (Org.). Justiça ambiental e
cidadania.Editora Relume Dumará. Rio de Janeiro, 2004. p.9.

BULLARD, R. The Quest for Environmental Justice: Human rights and the politics
of pollution. Sierra Club Books. San Francisco, 2005.

CABETTE, E. L. S. É Sustentável a Tese do Desenvolvimento Sustentável? Revista


Anbito Jurídico, 2004. Disponível em: <http://www.ambito-
juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=2232#_ftn3>.
Acesso em: 15/09/2016.

CANCIO, J. A. Inserção das questões de saúde no estudo de impacto


ambiental. Dissertação (Mestrado em Gestão Ambiental) Programa de Pós-
Graduação em Planejamento e Gestão Ambiental. Universidade Católica de Brasília,
2008.

CARVALHO, C. G de. O que é Direito Ambiental: Dos Descaminhos da Casa à


Harmonia da Nave. Editora Habitus. Florianópolis, 2003.

CARVALHO, S. R. Os múltiplos sentidos da categoria empowerment no projeto de


promoção à saúde. Cadernos de Saúde Pública, v. 20, n. 4, p. 1088-95, jul./ago.
Rio de Janeiro, 2004.

CASTILHO, C. J. M. de . Jean Brunhes: a atualidade de um geógrafo do início do


século XX. Movimentos Sociais e Dinâmicas Espaciais, v. 6, p. 253-272, 2017.
131

CASTILHO, C. J. M. de ; PONTES, B. A. N. M. ; BRANDAO, R. J. A. . A destruição da


natureza em ambientes rurais e urbanos no Brasil ? uma tragédia que ainda pode ser
revista. CIÊNCIA E NATURA , v. 40, p. 16-20, 2018.

CAVALCANTI, C. Desenvolvimento a todo custo e a dimensão ambiental: o


conflito do Complexo Industrial Portuário de Suape, Pernambuco. IV Encontro
Nacional da ANPPAS. Brasília, 2008.

CENTRO DAS MULHERES DO CABO. Nossa História. 2014. Disponível em:<


http://www.mulheresdocabo.org.br/>. Acesso em 03/04/2019.

CHESNAIS, F.; SERFATI, C. l: alguns fios condutores marxistas. Revista Crítica


Marxista, n. 16, 2003. Disponível em:
http://www.unicamp.br/cemarx/criticamarxista/sumario16.html. Acesso em: 31 de
outubro de 2017.

COMISSÃO MUNDIAL SOBRE MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO. Nosso


futuro comum. Fundação Getúlio Vargas. Rio de Janeiro, 1991.

COMISSÃO PASTORAL DA TERRA. Histórico. 2010. Disponível em:<


https://www.cptnacional.org.br/cedoc/centro-de-documentacao-dom-tomas
balduino>. Acesso em:12/11/2018.

COMISSÃO PASTORAL DA TERRA. Agricultores e pescadores denunciam


presença de milícias armadas e privadas em Suape. 2015. Disponível em:<
https://cptne2.org.br/index.php/publicacoes/noticias/noticias/pernambuco/4319-
agricultores-e-pescadores-denunciam-presen%C3%A7a-de-mil%C3%ADcias-em-
suape>. Acesso em: 01/11/2018.

COMISSÃO PASTORAL DA TERRA NORDESTE II. Suape - Camponeses e


camponesas exigem do Incra a titulação de suas terras e o fim da violência cometida
por Suape. 2015. Disponível em:<
https://www.cptne2.org.br/index.php/publicacoes/noticias/noticias/pernambuco/3829-
suape-camponeses-e-camponesas-exigem-do-incra-a-titula%C3%A7%C3%A3o-de-
suas-terras-e-o-fim-da-viol%C3%AAncia-cometida-por-suape>. Acesso
em:<09/01/2019.

CONSELHO PASTORAL DOS PESCADORES. Conflitos Socioambientais e


Violações de Direitos Humanos em Comunidades Tradicionais Pesqueiras no
Brasil. Brasilia, 2016. Disponível em:<
http://cpp.institucional.ws/sites/default/files/publicacoes/Relat%C3%B3rio%20de%20
conflitos%20socioambientais%20final.pdf>. Acesso em 08/12/2018.

CONSELHO NACIONAL DE SEGURANÇA ALIMENTAR E NUTRICIONAL.


Terra: direitos patrimoniais e territoriais. Brasília, 2008.
Disponível:<http://www4.planalto.gov.br/consea/eventos/plenarias/documentos/
2008/direitos-patrimoniais-e-territoriais-sobre-a-terra-10.2008>. Acesso em
25/06/2016.
132

DEMO, P. Participação é conquista: noções de política social participativa.


Editora Cortez, 6ª ed. São Paulo, 2009.

DHESCA BRASIL. Complexo Industriais e Violações de Diretios. O caso de


Suape – Complexo Industrial Portuário Governador Eraldo Gueiros. 2018.
DIÁRIO DE PERNAMBUCO. Quilombos: luta pela terra à luz da Justiça. 2017.
Disponível em:<https://curiosamente.diariodepernambuco.com.br/project/quilombos-
luta-pela-terra-luz-da-justica/>. Acesso em 06/07/2019.

DIÁRIO OFICIAL. COMUNIDADE QUILOMBOLA ILHA DE MERCÊS, IPOJUCA:


MPPE, MPF e Defensoria se reúnem para discutir caso. 2017. Disponível em:<
https://mppe.mp.br/mppe/cidadao/diario-oficial-link-cidadao/category/474-diario-
oficial-2017?download=4598:diario-oficial-do-estado-mppe>. Acesso em:<
07/07/2019.

DIEGUES, A. C. O mito moderno da natureza intocada. Ed. Hucitec, 6ª ed. São


Paulo, 2008. p. 89-90.

DOMINGUES, R. C. A Vulneração socioambiental advinda do Complexo


Industrial Portuário de Suape: a perspectiva dos moradores da Ilha de Tatuoca –
Ipojuca/PE. Monografia (Residência Multiprofissional em Saúde Coletiva) -
Departamento de Saúde Coletiva, Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães,
Fundação Oswaldo Cruz. Recife, 2014.

DOZENA, A.; DANTAS, E. M. Espaço-tempo: Enredos entre Geografia e História.


EDUFRN. Natal, 2016

DRUMMOND, J. A. L. Debate sobre o artigo de Rigotto & Augusto. Cad. Saúde


Pública. vol.23 suppl.4. Rio de Janeiro, 2007.

FARIA, R. M.; BORTOLOZZI, A. ESPAÇO, TERRITÓRIO E SAÚDE: contribuições


de Milton Santos para o tema da geografia da saúde no Brasil. Revista Raega,
Curitiba, n. 17, p. 31-41, 2009.

FAUSTO, B. História do Brasil. Edusp.13 ed. São Paulo, 2008.

FOLADORI, G. O capitalismo e a crise ambiental. Revista Raízes, Nº 19. 1999. p 31


a 36. Disponível
em:< http://www.revistaoutubro.com.br/edicoes/05/out5_08.pdf>. Acesso em
10/07/2016.

FON, K. Suape completa um ano de trabalho pós ocupação na Vila Nova


Tatuoca. 2015. Disponível em:< http://www.suape.pe.gov.br/pt/noticias/608-suape-
completa-um-ano-de-trabalho-pos-ocupacao-no-vila-nova-tatuoca>. Acesso em:
20/06/2018.

FONTES, V. O Brasil e o capital-imperialismo: teoria e história. EPSJV. Rio


de Janeiro, 2010.
133

FÓRUM SUAPE. Fórum busca aperfeiçoas diálogos com comunidades. Fórum


em Ação. 2012. Disponível em:< https://fase.org.br/wp-
content/uploads/2017/03/BOLETIM-FORUM-EM-A%C3%87%C3%83O-FEV17-PDF-
compressed.pdf>. Acesso em: 25/06/2018.

FORUM SUAPE. Quem somos. 2011. Disponível em:


<https://forumsuape.ning.com/page/quem-somos> Acesso em: 10/11/2018.

FÓRUM SUAPE. Desenvolvimento e os Impactos Ambientais de Suape. Edição


de Novembro. N, 17. 2017. Disponível em:<
https://drive.google.com/file/d/1vthpsLwJKNbDo781WqOaUl2ucJqSyXMi/view>.
Acesso em: 17/11/2018.

FÓRUM SUAPE. Quilombolas de ilha de mercês conquistam isenção da taxa de


pedágio. Edição de Agosto. N, 22. 2018. Disponível em:<
https://drive.google.com/file/d/1JUG2RgpmA8i2W-AjZ_jH9MCocxGl-ZfJ/view>.
Acesso em: 17/11/2018.

FÓRUM SUAPE. Comunidades Tradicionais Atingidas por Suape. Edição de


Julho. N, 21. 2018b. Disponível em:<
https://drive.google.com/file/d/1zGfZsukEZxFCt0yv3WCs4M7tx7nmjVsz/view>.
Acesso em: 16/11/2018.

FÓRUM SUAPE. INCRA inicia trabalhos na comunidade quilombola Ilha de Mercês.


2018. Disponível em:< http://forumsuape.ning.com/profiles/blogs/incra-inicia-trabalhos-
na-comunidade-quilombola-ilha-de-merces>. Acesso em:<08/07/2019.

FÓRUM SUAPE. MULHERES ATINGIDAS PELOS CIPS CAMINHAM DE MÃOS DADAS


POR DIREITOS. 2019. Disponível em:< https://forumsuape.ning.com/profiles/blogs/mulheres-
atingidas-pelos-cips-caminham-de-ma-os-dadas-por-direito>. Acesso em: 02/05/2019.

FUINI, L. L. A territorialização do desenvolvimento: construindo uma proposta


metodológica. Interações, v. 15, n. 1, p. 21-34, 2014.
GOHN, M. G. Empoderamento e participação da comunidade em políticas sociais.
Saúde e Sociedade, v. 13, n. 2, p. 20-31, mai./ago. São Paulo, 2004.

GOHN, M. G. Teoria dos movimentos sociais: paradigmas clássicos e


contemporâneos. Editora Loyola, 6 ed. São Paulo, 2007.

GOHN, Maria da Glória. Movimentos sociais e educação. Cortez, 8. ed. São


Paulo, 2012.

GOHAN, M. da G.; BRINGEL, B. M. Movimentos sociais na era global. Ed. Vozes:


Rio de Janeiro, 2012.

GOMES, R. A Análise de Dados em Pesquisa Qualitativa. In: MINAYO, M. C. S.


(Org.). Pesquisa Social: Teoria, Método, e Criatividade. Petrópolis. Vozes. 2004. p.
69.
134

GONÇALVES, C. W. P. Natureza e sociedade: elementos para uma ética da


sustentabilidade. In: COIMBRA, José de Ávila Aguiar (org.). Fronteiras da Ética.
Senac. São Paulo, 2002, p. 259.

GONÇALVES, G. M. da S. A territorialidade indígena Pipipã vulnerabilizada na


transposição do rio São Francisco e as relações com a saúde em Floresta.
Tese (doutorado em saúde pública) - Instituto Aggeu Magalhães, Fundação Oswaldo
Cruz, 2018.

GUDYNAS, E. Ética, ambiente e ecologia: uma crise entrelaçada. Revista


Eclesiástica Brasileira. Vozes, nº. 52, fasc. 205, mar., 1992, p. 68 – 69.

HAESBAERT, R. Limites no espaço-tempo: a retomada de um debate. Revista Brasileira


de Geografia , v. 61, p. 5-20, 2016.

HARVEY, D. O novo imperialismo. Edições Loyola. 7 ed. São Paulo, 2013. 201 p.

HERCULANO, S. “Lá como cá: conflito, injustiça e racismo ambiental”. Seminário


Cearense contra o Racismo Ambiental. Fortaleza. 2006. P.11.

HERCULANO, S. O clamor por justiça ambiental e contra o racismo ambiental.


InterfacEHS - Revista de Saúde, Meio Ambiente e Sustentabilidade, Vol. 3, No 1.
2008.

HUB PORT. Porto Concentrador. 2011. Disponível


em:<https://portogente.com.br/portopedia/hub-port-porto-concentrador-73181>.
Acesso em: 14/04/2015.

INSTITUTO DE PESQUISA E PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL. Projeto


avaliação de Equidade Ambiental como instrumento de democratização dos
procedimentos de avaliação de impacto de projetos de desenvolvimento. Rio
de Janeiro, 2011.

JORNAL DO COMÉRCIO. Crise em Suape provoca demissões em massa.


2015. Disponível em:<
https://m.tvjornal.ne10.uol.com.br/noticia/ultimas/2015/07/08/crise-em-suape-
provoca-demissoes-em-massa-e-fechamento-de-empresas-20113.php>. Acesso
em:<11/05/2019.

JORNAL GLOBO. CPRH multa Complexo de Suape em R$ 2,5 milhões por crime
ambiental. 2013. Disponível em:
<http://g1.globo.com/pernambuco/noticia/2013/09/cprh-multa-complexo-de-suape-
em-r-25-milhoes-por-crime-ambiental.html>. Acesso em: 30/06/2019.

LENZI, T. O que são movimentos sociais?. 2016. Disponível em:<


https://www.todapolitica.com/movimentos-sociais/. Acesso em: 02/09/2018.

LITTLE, P. E. I Encontro Nacional de Populações Tradicionais. Brasília, 2005.


135

LITTLE, P. E. Territórios sociais e povos tradicionais no Brasil: por uma


antropologia da territorialidade. Brasília, Universidade de Brasília, Departamento de
Antropologia, 2002.

LITTLE, P. E. Os Conflitos Socioambientais: um Campo de Estudo e de Ação


Política. (Org.) BURSZTYN, M. In: A Difícil Sustentabilidade: Política energética e
conflitos ambientais. Ed. Garamond. Rio de Janeiro, 2001.

KLEBA, M. E.; WENDHAUSEN, Á. L. P. Empoderamento: processo de


fortalecimento dos sujeitos nos espaços de participação social e democratização
política. Saúde e Sociedade v. 18, p. 733-743. São Paulo, 2009.

LEFF, E. Saber Ambiental: Sustentabilidade, racionalidade, complexidade, poder.


Editora Vozes. Rio de Janeiro, 2001.

MARANGONI, G. Anos 1980, década perdida ou ganha? Revista Desafios do


Desenvolvimento. Ano 9 . Edição 72. 2009. Disponível em:<
http://www.ipea.gov.br/d/esafios/index.php?option=com_content&id=2759:catid=28&I
temid=23> Acesso em: 18/02/2019.

MARCONDES, N. A. V. BRISOLA, E. M. A. Análise por triangulação de métodos: um


referencial para pesquisas qualitativas. Rev. Univap. v. 20, n. 35. 2014.

MARCONI, M. de A; LAKATOS, E. M. Técnicas de pesquisa. Atlas. 5ª ed. São


Paulo. 2002.

MARONEZE, M. C.; SALLA, M. F.; OLIVEIRA, R. S. Ambientalismo.com: a atuação


do movimento ambientalista diante as novas mídias digitais – uma análise a partir
das campanhas do Greenpeace e Avaaz. Revista Eletrônica do Curso de Direito
da UFSM. 2013. Disponível
em:https://periodicos.ufsm.br/revistadireito/article/viewFile/8219/pdf_1. Acesso
erm:31/10/2018..

MARTÍNEZ ALIER, J. O ecologismo dos pobres: conflitos ambientais e linguagens


de valoração. Contexto. São Paulo, 2007.

MEDEIROS, I. S. Crise Ambiental, desenvolvimento sustentável e ecoeconomia.


Ética & Realidade Atual. 1º ed, v.1. 2013.

MEDEIROS, M. S. de. Condições de vida e de saúde no contexto de uma


unidade de conservação ambiental de uso sustentável na Amazônia Brasileira.
Tese (doutorado em saúde pública) - Instituto Aggeu Magalhães, Fundação Oswaldo
Cruz, 2018.

MELUCCI, Alberto. Movimentos sociais, inovação cultural e o papel do


conhecimento. Novos Estudos Cebrap: São Paulo, 1994.

MINAYO, Maria. C. S. Ciência, técnica e arte: o desafio da pesquisa social. In:


MINAYO, Maria. C. S (Org.). Pesquisa social: teoria, método e criatividade.
Petrópolis. Editora Vozes. 2001. p.09-29.
136

MINAYO, M. C. de S. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde.


11. Ed. São Paulo. Heuciter, 2008.

MINAYO, M. C. S. Avaliação por triangulação de métodos: Abordagem de


Programas Sociais. In: MINAYO, M. C. S.; ASSIS, S. G.; SOUZA, E. R. (Orgs.).
Fiocruz. Rio de Janeiro, 2010. pp. 19-51.

MONIÉ, F. Desenvolvimento territorial nas cidades-porto da América do sul. In:


XII Encuentro de Geógrafos da América Latina: caminando en una América Latina
em transformación, Montevidéu, 2009.

MONTIBELLER-FILHO, G. O mito do desenvolvimento sustentável. UFSC.


Florianópolis, 2001.

MOVIMENTO ECOSSOCIALISTA DE PERNAMBUCO. Remoção de posseiros em


Suape. 2012. Disponível em:< https://www.youtube.com/watch?v=RRhSsvsamrs> .
Acesso em: 13/11/2018.

O’CONNOR, J. Es posible el Capitalismo sostenible? In: ALIMONDA, H. (Org.).


Ecología política, naturaleza, sociedad y utopía. CLACSO. Buenos Aires, 2002.

OLIVEIRA, C. T. de. Modernização dos portos. Lex Editora, 4. Ed. São Paulo,
2007.

OLIVEIRA, C. L. Um apanhado teórico-conceitual sobre a pesquisa qualitativa: tipos,


técnicas e características. Rev.Travessias. nº 1. v 2. 2009.

PACHECO, T. “Desigualdade, injustiça ambiental e racismo: uma luta que


transcende a cor”. I Seminário Cearense contra o Racismo ambiental. Fortaleza
2006.

PACHECO, R.; PACHECO, I. Direito, violências e sexualidades: a transexualidade


em um contexto de direitos. Estudios Socio-Jurídicos. nº 18, v. 2. p 201-226. 2016.

PAIXÃO, M. “O verde e o negro: a justiça ambiental e a questão racial no


Brasil”.In: Henri Acselrad; Selene Herculano; José Augusto Pádua (ORGs), Justiça
ambiental e cidadania. Relume Dumará. Rio de Janeiro, 2004. p. 159-168.

PÉREZ, M. S.; GONÇALVES, C. U. Desenvolvimento e Conflito Territorial: primeiras


reflexões sobre as comunidades atingidas pelo complexo industrial portuário de
Suape –PE, Brasil. Revista de Geografia, v. 29, n. 2, p.167–179. Recife, 2012.

PERNAMBUCO. Parceria com a UNESCO e a ABC impulsiona as ações do


Pacto por Suape Sustentável. 2017. Disponível em:
<http://www.casacivil.pe.gov.br/noticia/parceria-com-a-unesco-e-a-abc-impulsiona-
as-acoes-do-pacto-por-suape-sustentavel. Acesso em: 20/12/2018.

PIMMEL, W. L. A contribuição dos movimentos sociais para a construção da


cidadania no Brasil. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado em Direito)
137

Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul. Santa Rosa,


2015. Disponível em:<
http://bibliodigital.unijui.edu.br:8080/xmlui/handle/123456789/2773>. Acesso em:
04/09/2018.

PORTO, M. F. Uma ecologia política dos riscos. Editora FIOCRUZ, Rio de Janeiro
2007.

PORTO, M. F. Complexidade, processos de vulnerabilização e Justiça Ambiental:


um ensaio de epistemologia política. Revista Crítica de Ciências Sociais, n 93.
Coimbra, 2011. Disponível em: <http://rccs.revues.org/133>. Acesso em:
06/04/2017.

PORTO, M. F. Saúde do trabalhador e o desafio ambiental: contribuições do


enfoque ecossocial, da ecologia política e do movimento pela justiça ambiental.
Ciência & Saúde Coletiva. Rio de Janeiro. v. 10, n.4. 2005.

PORTO, M. F. Complexidade, processos de vulnerabilização e justiça ambiental: Um


ensaio de epistemologia política. Revista Crítica de Ciências Sociais. v. 93, p. 31-
58, 2011.

PORTO, M. F.; PACHECO, T. Conflitos e injustiça ambiental em saúde no


Brasil. Tempus, Actas em Saúde Coletiva, 4(4), 26-37, 2009.

PORTO, M. F.; PACHECO, T.; LEROY, J. P. Injustiça Ambiental e Saúde no


Brasil: o mapa de conflitos. Editora Fiocruz , 2013.

PORTOPÈDIA. Porto Concentrador. 2011. Disponível em:<


https://portogente.com.br/portopedia/73181-hub-port-porto-concentrador>. Acesso
em:<30/04/2017.

POUPART, J. et al. A pesquisa qualitativa: enfoques epistemológicos e


metodológicos. Petrópolis. Vozes. 2008.

QUINTANA, A. C.; HACON, V. O desenvolvimento do capitalismo e a crise


ambiental. O Social em Questão - Ano XIV - nº 25/26 – 2011. Disponível em:<
http://osocialemquestao.ser.pucrio.br/media/21_OSQ_25_26_Quintana_e_Hacon.pdf
>. Acesso em:09/09/2016.

RAMMÊ, R S. Da justiça ambiental aos direitos e deveres ecológicos:


conjecturas políticos-filosóficas para uma nova ordem jurídico-ecológica. Educs.
Caxias do Sul, 2012.

RAMMÊ, R. S. AVALIAÇÃO DE EQUIDADE AMBIENTAL: um dever fundamental


socioambiental. Revista da Faculdade de Direito. Curitiba, vol. 59, n. 2, p. 119-141,
2014.

RATTNER, H. Meio ambiente, saúde e desenvolvimento sustentável. Ciênca. saúde


coletiva. vol.14, n.6, pp.1965-1971. 2009.
138

REVISTA ALGOMAIS. Porto de Suape retoma dragagem do canal de acesso ao


estaleiro Vard Promar. 2018. Disponível
em:<http://revista.algomais.com/exclusivas/porto-de-suape-retoma-dragagem-do-
canal-de-acesso-ao-estaleiro-vard-promar>. Acesso em: 30/06/2018.

RIBEIRO, P. S. Movimentos sociais: breve definição. 2011. Disponível em:<


https://brasilescola.uol.com.br/sociologia/movimentos-sociais-breve-definicao.htm>.
Acesso em: 30/08/2018.

RIGOTTO, R. M; AUGUSTO, L. G. S. As autoras respondem. Cad. Saúde Pública.


Rio de Janeiro. vol.23 suppl.4. 2007.

SÁ, M. E. M. de. Análise comparativa entre os portos do Recife e de Suape:


desafios para a gestão ambiental. Dissertação (Mestrado em Gestão e Políticas
Ambientais. Recife) Universidade Federal de Pernambuco, 2008.

SANTILLI, J. Socioambientalismo e Novos Direitos: proteção jurídica à


diversidade biológica e cultural. São Paulo, Peirópolis, 2005.

SANTOS, J. O. ANDRADE, M. O. Dossiê: Religião, biodiversidade e território –


Artigo: Festa da Ouriçada e devoção a Santa Luzia na praia de Suape – PE.
2013.Disponível:<http//periodicos.pucminas.br/index.php/horizonte/article/view/P.217
55841.2013v11n 30p545/5365>. Acesso em 14/08/2015.

SANTOS, M. Por uma geografia nova. São Paulo: Editora da Universidade de São
Paulo, 4ª Ed. 1996.

SANTOS, M. O. S. dos. Vulneração e injustiças ambientais na determinação


social da saúde no território de Suape, Pernambuco/Brasil. Tese (Doutorado
Acadêmico em Saúde Pública) – Instituto Aggeu Magalhães, Fundação Oswaldo
Cruz, Recife, 2017.

SANTOS, M. O. S. ; ALVES, S. G. ; SILVA, J. M. ; MERTENS, F. ; GURGEL, I. G. D. ;


AUGUSTO, L. G. S. . Excluídas pelo desenvolvimento: mulheres e o Complexo Industrial
Portuário de Suape. Revista de Geografia (Recife) , v. 33, p. 117, 2016.

SAMAJA, J. Epistemologia e epidemiologia. Notas preliminares sobre a noção de


ciência. In: Almeida Filho, N., et al., (orgs). Teoria epidemiológica hoje: fundamentos,
interfaces, tendências [online]. Rio de Janeiro: FIOCRUZ, 1998. 256 p.

SAMAJA, J. A reprodução social e a saúde: elementos metodológicos sobre a


questão das relações entre saúde e condições de vida. Casa da Qualidade
Editora. Salvador, 2000. p. 60, 65, 73.

SAMAJA, J. Epistemología de la salud: reproducción social, subjetividad y


transdisciplina. Buenos Aires: Lugar, 2004. p 113.
139

SAMPAIO, R. Comissão de Cidadania volta a debater atuação de milícias no


entorno do Complexo de Suape. 2017. Disponível em:<
http://www.robsonsampaio.com.br/comissao-de-cidadania-volta-a-debater-atuacao-
de-milicias-no-entorno-do-complexo-de-suape/>. Acesso em 17/11/2018.

SANTOS, V. M. dos. Suape: Um desafio para Pernambuco. Revista do Instituto


Humanas Unisinos. 2012. Disponível em:<
http://www.ihu.unisinos.br/entrevistas/508579-suapeum desafio-para-pernambuco-
entrevista-especial-comvaldeci-monteiro-dos-santos#>. acesso em: 26/08/2016.

SCOTT, P. Projetos de desenvolvimento no rio São Francisco: administrando


vocações e desigualdades. Campos: Revista de Antropologia Social, v. 14, n. 1-2,
p. 15-36, 2013.

SERRES, M. O Contrato Natural. Trad. Serafim Ferreira. Lisboa: Instituto Piaget,


1994, p. 54.

SILVA, L. H. P. Ambiente e justiça: sobre a utilidade do conceito de racismo ambiental


no contexto brasileiro. E-cadernos CES (Online) , v. 17, p. 85, 2012

SILVA, M. B. O. Crise(s) do Capitalismo e crise ambiental: crises que se cruzam


no caminho do marxismo. In: I Congresso Internacional Direito e Marxismo. I
Congresso Internacional Direito e Marxismo. Caxias do Sul: Plenum, 2011. v. 1. p.
683-692

SILVA, M. O. Saindo da invisibilidade: a Política Nacional de Povos e Comunidades


Tradicionais. Revista Inclusão Social, 2(2), 7-9, 2007. Disponível em:
<http://revista.ibict.br/inclusao/index.php/inclusao/article/viewFile/91/98>. Acesso
em:30/04/2017.

SILVA, D. E. A. Dos movimentos sociais, sua origem, história e


desdobramentos. 2015. Disponível em:<
https://www.jurisway.org.br/v2/dhall.asp?id_dh=14510>. Acesso em: 07/09/2010.

SILVA, C.; MARTÍNEZ, M. L. Empoderamiento: proceso, nivel y contexto. Psykhe, ,


v. 13, n. 1, p. 29-39, mai. Santiago, 2004.

SILVA, V. P. da; FELIX; T, D. Criminalização dos movimentos sociais: reflexões


sobre suas consequências à democracia, à liberdade e ao livre exercício do direito.
O Direito Alternativo , v. 3, p. 55-80, 2016.

SILVA, T. A. A. da.; GEHLEN, V. R. F. Conflitos Socioambientais em


Pernambuco. Recife. Editora Massangana. 2013.

SILVEIRA, K. A. Conflitos socioambientais e participação social no Complexo


Industrial Portuário de Suape. Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento e Meio
Ambiente). Universidade Federal de Pernambuco. Recife, 2010.
140

SILVEIRA, M. A Implantação de Hidreletricas na Amazônia Brasileira, Impactos


Socioambientais e à Saúde com as Transformações no Território: o caso da uhe
de belo monte. Tese (Doutorado em Geografia) Universidade de Brasília, 2016.

SOUZA, E. R. et al. Construção dos instrumentos qualitativos e quantitativos. In:


MINAYO, M. C. S.; ASSIS, S. G.; SOUZA, E. R (Orgs). Avaliação por triangulação
de métodos: abordagem de programas sociais. Rio de Janeiro: Ed. Fiocruz, 2005.

SOUZA, B. G. de. A Usina Central Barreiros e as implicações socioeconômicas


no espaço urbano de Barreiros, Pernambuco. Dissertação (Mestrado em
Geografia) – Universidade Federal de Pernambuco.Recife, 2014.

SUAPE EM DESTAQUE. Histórico de Suape - Complexo Industrial Portuário


Governador Eraldo Gueiros. 2011. Disponível em: <
http://suapeemdestaque.blogspot.com/2011/12/historico-de-suape-complexo-
industrial.html >. Acesso em: 26/08/2016.

SUAPE. Cinco empreendimentos iniciaram operação em Suape em 2014. 2015.


Disponível em:< http://www.suape.pe.gov.br/pt/noticias/610-cinco-empreendimentos-
iniciaram-operacao-em-suape-em-2014>. Acesso em 24/02/2019.

SUAPE. Patrimônios históricos e culturais permeiam território de Suape. 2011.


disponível em: <http://www.suape.pe.gov.br/pt/noticias/1010-patrimonios-historicos-
e-culturais-permeiam-territorio-de-suape>. Acesso em 30/04/2019.

TAMBELLINI, A. T. Sustentabilidade e sustenibilidade: um debate sobre a


concepção de uma sociedade sustentável. Ciênc. saúde coletiva, v.14 n.6 Rio de
Janeiro. 2009.

TANURI, J. Reprodução Social e Serviço Social. 2010. Disponível em:<


https://trabajosocialbrasil.wordpress.com/2010/05/26/2-2-1-reproducao-social-e-
servico-social/>. Acesso em: 24/0/2015.

TARROW, Sidney. O Poder em movimento: movimentos sociais e confronto


político. Petrópolis. Editora Vozes. 2009.

TRES, L. A resistência como práxis dos movimentos ambientalistas e ecológicos.


Práxis Educativa. v. 1, n. 1.2009.

TREVAS, J. Y Plá. A importância da lei 8.630/93 para a modernização dos


portos brasileiros: os casos de Pecém, Suape e Salvador. Dissertação (Mestrado
em Economia). Universidade Federal de Pernambuco. Recife, 2006.

TUZZO, S. A; BRAGA, C. F. Processo de triangulação da pesquisa qualitativa: o


metafenômeno como gênese. Revista Pesquisa Qualitativa. v. 4, n. 5, p. 2016.

VAINSENCHER, S A. Suape - Porto e Complexo Industrial. Pesquisa Escolar


Online, Fundação Joaquim Nabuco. Recife, 2006. Disponível em:
141

<http://basilio.fundaj.gov.br/pesquisaescolar/index.php?option=com_content&id=396
&Itemid=1> . Acesso em: 25/08/2016.

VASCONCELLOS, E. M. O poder que brota da dor e da opressão: empowerment,


sua história, teoria e estratégias. São Paulo: Paulus, 2003.

VEIGA, J. E. Desenvolvimento sustentável: o desafio do século XXI. Rio de


Janeiro: Garamond, 2005.

VEIGA, M. M. Agrotóxicos: eficiência econômica e injustiça socioambiental. Ciênc.


saúde coletiva. vol.12, n.1 . 2007. pp.145-152.

VÉRAS DE OLIVEIRA, R. Suape em construção, peões em luta: o novo


desenvolvimento e os conflitos do trabalho. Caderno CRH, v. 26, p. 233-252, 2013.

VERDAN, T. L. . Racismo Ambiental às comunidades quilombolas. Revista Interdisciplinar


de Direitos Humanos , v. 04, p. 129-141, 2016.

VIOLA, E. O movimento ecológico no Brasil (1974-1986): do ambientalismo à


ecopolítica. In: PÁDUA, J. A. (Org.) Ecologia & política no Brasil. Rio de Janeiro:
Iuperj,Espaço & Tempo, 1987. p.63-110.

ZANETTI, L C. B. B; SÁ L. M. A educação ambiental como instrumento de


mudança na concepção de gestão de resíduos sólidos domiciliares e na
preservação do meio ambienta. In: Anais do I Encontro Associação de Pós
Graduação e Pesquisa em Ambiente e Sociedade. Campinas, 2002.

ZHOURI, A.; LASCHEFSKI, K. Desenvolvimento e Conflitos Ambientais: um


novo campo de investigação. In: ZHOURI. A.; LASCHEFSKI, K. (Org.).
Desenvolvimento e Conflitos Ambientais. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2010.

ZHOURI, A.; LASCHEFSKI, K.; PEREIRA, D. B. A insustentável leveza da política


ambiental: desenvolvimento e conflitos socioambientais. Belo Horizonte: Autêntica,
2005.

ZHOURI, A.; OLIVEIRA, R.; MOTTA, L. Deslocamentos múltiplos e a


compulsoriedade do desenvolvimento: urbanização e barragens em face aos
lugares. In: XXXI Congresso Internacional da Associação Latinoamericana de
Estudos (LASA). 2013. p. 1-27.
142

APÊNDICE A
ROTEIRO DAS ENTREVISTAS

1- Há quanto tempo você reside aqui?


2- Você acha que reside em uma comunidade poluída? Se sim, qual tipo de
poluição (gasosa, líquida, sólida)?
3- Esse poluente é devido à atividade de alguma indústria? Qual?
4- Já sofreu algum tipo de doença devido a poluição? Qual?
5- Os animais ou vegetais foram contaminados?
6- A disponibilidade de alimentos diminuiu por causa disso?
7- Já se alimentaram de algum recurso animal ou vegetal que estivesse perto do
poluente e passou mal? Qual foi sua reação?
8- Você acredita que o ambiente é importante para sua comunidade?
9- Há serviços de saúde nas proximidades da comunidade?
10-Você acredita que a comunidade se mobiliza para discussão dos processos
decisórios referentes a ela?
11-Qual o seu nível de escolaridade?
12-Qual a sua qualificação profissional?
13-O que a comunidade representa para você?
14-Qual a sua renda: menos de um salario mínimo, um salário mínimo, dois ou
mais.
15-Qual era a sua profissão antes da chegada das indústrias em Suape?
16-Sua família em acesso aos serviços básicos? (Educação, Saúde,
transporte...)
17-Houve um aumento populacional na sua comunidade através da chegada de
novos moradores após as instalações das indústrias em Suape?
18-Em sua opinião, a chegada das indústrias melhorou ou piorou sua vida na
comunidade? Se piorou, Você pensa em sair dela?
19-Qual o destino dos efluentes domésticos de sua residência? Sistema de
esgoto (Rede geral), Fossa séptica, Céu aberto?
20-Qual o destino do lixo de sua residência? Há Coleta, queimado/enterrado,
céu aberto?
21-Qual a procedência de abastecimento de água na sua casa? Rede pública
Poço ou nascente, outros?
143

22-Como você avalia a convivência com a administração de Suape?


23-Há algum programa de Suape que contemple a comunidade?
24- Tem conhecimento da participação de algum movimento social na sua
comunidade? Se sim, Qual?
144

APÊNDICE B
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Convidamos o (a) Sr. (a) para participar como voluntário (a) da pesquisa
Conflitos Socioambientais em Comunidades: perspectivas para superação da
invisibilidade que está sob a responsabilidade do pesquisador : Stevam Gabriel
Alves, residente na Avenida Doutor Belmínio Correia, 4115, Alberto Maia,
Camaragibe. Cep: 54771000. Telefone: 995736981. E-mail:
[email protected].
Todas as suas dúvidas podem ser esclarecidas com o responsável por esta
pesquisa. Apenas quando todos os esclarecimentos forem dados e você concorde
com a realização do estudo, pedimos que rubrique as folhas e assine ao final deste
documento, que está em duas vias. Uma via lhe será entregue e a outra ficará com o
pesquisador responsável.
Você estará livre para decidir participar ou recusar-se. Caso não aceite
participar, não haverá nenhum problema, desistir é um direito seu, bem como será
possível retirar o consentimento em qualquer fase da pesquisa, também sem
nenhuma penalidade.
INFORMAÇÕES SOBRE A PESQUISA:
Descrição da pesquisa: O Complexo Industrial Portuário de Suape é um
empreendimento de infraestrutura portuário e industrial que implicará em uma
reorganização territorial, com impactos diretos e indiretos no território e na
população.
Destaca-se então que projetos que auxiliem na melhoria da qualidade de vida da
população em geral são sempre bem-vindos, no entanto, é preciso cuidado com a
natureza, não só pensando no bem estar atual dos indivíduos e sim no futuro dos
mesmos e também no meio ambiente que se terá em decorrência de certas ações
hoje impensadas. Dessa forma, a pesquisa tem como objetivo geral analisar as
perspectivas e superação dos conflitos socioambientais das populações tradicionais
localizados na área de implantação desse complexo industrial e portuário. A coleta
de dados será mediante a gravação de entrevista.
 Esclarecimento do período de participação do voluntário na pesquisa: o
número de visitas ao local do entrevistado será único, e a entrevista irá durar
cerca de 20 minutos.
 Essa pesquisa apresenta como risco ao participante o desconforto sobre
respostas do seu ambiente de trabalho.
 No entanto, para amenizar esse desconforto os benefícios diretos e indiretos
que a entrevista proporcionará será uma reflexão sobre a política ambiental
da empresa e como está pode ser melhorada.
Todas as informações desta pesquisa serão confidenciais e serão divulgadas
apenas em eventos ou publicações científicas, não havendo identificação dos
voluntários, a não ser entre os responsáveis pelo estudo, sendo assegurado o sigilo
sobre a sua participação. As entrevistas coletadas nesta pesquisa, ficarão
armazenados na pastas de arquivos do computador pessoal do pesquisador, sob a
145

responsabilidade presente pesquisador no endereço acima informado pelo período


de mínimo 5 anos.
Nada lhe será pago e nem será cobrado para participar desta pesquisa, pois a
aceitação é voluntária, mas fica também garantida a indenização em casos de
danos, comprovadamente decorrentes da participação na pesquisa, conforme
decisão judicial ou extra-judicial.

___________________________________________________
(assinatura do pesquisador)

CONSENTIMENTO DA PARTICIPAÇÃO DA PESSOA COMO VOLUNTÁRIO (A)


Eu, _____________________________________, CPF _________________,
abaixo assinado, após a leitura (ou a escuta da leitura) deste documento e de ter
tido a oportunidade de conversar e ter esclarecido as minhas dúvidas com o
pesquisador responsável, concordo em participar do estudo: Conflitos
Socioambientais em Comunidades Tradicionais situadas no Complexo Industrial
Portuário de Suape, como voluntário (a). Fui devidamente informado (a) e
esclarecido (a) pelo(a) pesquisador (a) sobre a pesquisa, os procedimentos nela
envolvidos, assim como os possíveis riscos e benefícios decorrentes de minha
participação. Foi-me garantido que posso retirar o meu consentimento a qualquer
momento, sem que isto leve a qualquer penalidade.
Impressão
digital
Local e data __________________
(opcional)
Assinatura do participante: __________________________

Presenciamos a solicitação de consentimento, esclarecimentos sobre a


pesquisa
e o aceite do voluntário em participar. (02 testemunhas não ligadas à equipe de
pesquisadores):

Nome: Nome:
Assinatura: Assinatura:
146

APÊNDICE C
ROTEIRO DE ENTREVISTA PARA SUAPE
1- Quais os programas ambientais vigentes em Suape que visem a minimização dos
impactos ambientais?

2- Há fiscalização de leis ambientais por parte da empresa aos empreendimentos


localizados em seus territórios?

3- Em caso de acidentes industriais com contaminação ambiental, qual a


participação da empresa Suape nessa situação?

4- As comunidades que estão inseridas nesse território são consultadas quando a


instalação de um empreendimento na comunidade em que residem?

5- Após a injeção financeira do PAC, Suape teve um aumento exponencial de


indústrias e mão de obra, contudo, estudos apontam que as comunidades
localizadas no seu interior sofreram alterações nos seus modos de vida. O que
Suape tem feito para minimizar essas interferências?

6- A empresa Suape tem desenvolvidos programas sociais para os moradores


locais?

7- Os moradores conseguem se inserir nesse nicho de empregos? Em que tipos?

8- Devido a emissão de poluentes de determinadas indústrias, a empresa Suape


tem participação no processo de saneamento básico das comunidades locais?

9- Se grandes empreendimentos necessitam de agua constantemente, por qual


motivo falta água nas comunidades?

10- Há disputas territoriais entre a empresa e a comunidade?

11- Qual a participação da empresa no que tange a segurança do se território? Eles


incluem as comunidades locais?

12- Como acontecem os processos de realocação dos moradores em função de


implantações industriais?

13- Há programas de desenvolvimento social com as comunidades locais?


147

APÊNDICE D

CARTA DE ANUÊNCIA

Declaramos para os devidos fins, que aceitaremos o a pesquisador Stevam


Gabriel Alves, a desenvolver o seu projeto de pesquisa Conflitos Socioambientais
em Comunidades Tradicionais: perspectivas de superação da invisibilidade, que está
sob a orientação da Profa. Dra. Solange Laurentino dos Santos, cujo objetivo é
analisar as perspectivas e superação dos conflitos socioambientais das populações
tradicionais localizados na área de implantação do Complexo Industrial Portuário de
Suape.
Esta autorização está condicionada ao cumprimento do pesquisador aos
requisitos das Resoluções do Conselho Nacional de Saúde e suas complementares,
comprometendo-se utilizar os dados pessoais dos participantes da pesquisa,
exclusivamente para os fins científicos, mantendo o sigilo e garantindo a não
utilização das informações em prejuízo das pessoas e/ou das comunidades de
acordo com a resolução 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde. A presente
Resolução incorpora, sob a ótica do indivíduo e das coletividades, referenciais da
bioética, tais como, autonomia, não maleficência, beneficência, justiça e equidade,
dentre outros, e visa a assegurar os direitos e deveres que dizem respeito aos
participantes da pesquisa, à comunidade científica e ao Estado.
Antes de iniciar a coleta de dados o pesquisador deverá apresentar a esta
Instituição o Parecer Consubstanciado devidamente aprovado, emitido por Comitê
de Ética em Pesquisa Envolvendo Seres Humanos, credenciado ao Sistema
CEP/CONEP.

RESOLUÇÃO Nº 466, DE 12 DE DEZEMBRO DE 2012

Local, em _____/ ________/ __________.

_______________________________________________________________
Nome/assinatura e carimbo do responsável onde a pesquisa será realizada
148

APÊNDICE E – ARTIGO PUBLICADO – INJUSTIÇAS E CONFLITOS


SOCIOAMBIENTAIS: O QUE SÃO E COMO SURGEM
149

APÊNDICE F - ARTIGO PUBLICADO - RESISTÊNCIA DE COMUNIDADES


TRADICIONAIS FRENTE AS INJUSTIÇAS AMBIENTAIS DAS AÇÕES DO
COMPLEXO INDUSTRIAL PORTUÁRIO DE SUAPE
150

ANEXO A
PARECER DO COMITÊ DE ÉTICA

Você também pode gostar