Educador Social e Educador Popular
Educador Social e Educador Popular
Educador Social e Educador Popular
FORMAÇÃO ACADÊMICA-PROFISSIONAL
Resumo:
O artigo trata das concepções de educador social, de educador popular e do debate nacional
acerca da formação acadêmico-profissional de educadores sociais no Brasil, sobretudo a partir
da emenda do Projeto de Lei de número 2.941/2019 que trata da regulamentação da profissão.
Objetiva-se problematizar as diferentes compreensões e projetos em disputas no tocante ao
processo de regulamentação da profissão de educador social, em uma abordagem da
pedagogia crítica desde uma revisão bibliográfica e documental. Os resultados apontam para
um problema epistêmico e político com relação ao entendimento de que a ocupação do
educador social é profissional, distinta da acepção de educador popular que é um militante da
Educação Popular. As conclusões registram que não há um consenso entre grupo de
educadores sociais, pesquisadores, comunidade em geral e universidades quanto a identidade
da profissão do educador social; também da necessidade, exigência e tipo de formação
acadêmico-profissional. Há grupos que defendem a dispensabilidade de formação específica,
inclusive colocando que para o exercício do educador social não necessita o ensino
fundamental completo, o que consideramos um equívoco preocupante.
Resumen:
El artículo trata sobre lasconcepciones de educadores sociales, educadores populares y el
debate nacional sobre laformación académico-profesional de los educadores sociales en
Brasil, especialmente a partir de lamodificacióndelproyecto de ley número 2.941/2019, que
trata de laregulación de laprofesión. El objetivo es problematizar las diferentes comprensiones
y proyectosen disputa en torno al proceso de regulación de laprofesión de educador social,
enunabordaje de lapedagogía crítica a partir de una revisión bibliográfica y documental. Los
resultados apuntan a un problema epistémico y político encuanto a lacomprensión de que
laocupacióndel educador social es profesional, distinta del significado de un educador popular
1
Doutora em Educação. Censupeg/SC. E-mail: [email protected]. ORCID: 0000-0002-8022-9379.
Link do lattes: http://lattes.cnpq.br/3839347399904355
2
Mestra em Educação pela UNOESC. E-mail: [email protected]. ORCID:
0000-0003-1873-5868. Link do lattes. http://lattes.cnpq.br/6124969460577006
233
activista de la Educación Popular. Lasconclusionesmuestran que no existe un consenso entre
un grupo de educadores sociales, investigadores, comunidaden general y universidades
respecto a laidentidad de laprofesión de educador social; tambiénlanecesidad, requerimiento y
tipo de formación académico-profesional. Hay colectivos que defiendenlaprescindibilidad de
laformación específica, incluso afirmando que para el ejerciciodel educador social no es
necesario completar laenseñanza elemental, lo que consideramos unerror preocupante.
Palabras clave: Educador social. Educador popular. Formación académico-profesional.
Abstract:
The article deals with the conceptions of social educators, popular educators and the national
debate about the academic-professional training of social educators in Brazil, especially from
the amendment of Bill number 2.941/2019, which deals with the regulation of the profession.
The objective is to problematize the different understandings and projects in disputes
regarding the process of regulation of the profession of social educator, in an approach of
critical pedagogy from a bibliographic and documental review. The results point to an
epistemic and political problem regarding the understanding that the occupation of the social
educator is professional, distinct from the meaning of a popular educator who is an activist of
Popular Education. The conclusions show that there is no consensus among a group of social
educators, researchers, the community in general and universities regarding the identity of the
social educator profession; also the need, requirement and type of academic-professional
training. There are groups that defend the dispensability of specific training, including stating
that for the exercise of the social educator it is not necessary to complete elementary
education, which we consider a worrying mistake.
Keywords: Social educador. Popular educador. Academic-professional training.
Introdução
234
do educador social no Brasil. Serão utilizados materiais bibliográficos sobre formação de
educadores sociais, buscando identificar pressupostos teóricos, contexto de atuação e questões
apresentadas em torno da formação acadêmico-profissional de educadores sociais. Partimos
da seguinte questão problematizadora: Quais as contribuições, os limites e os desafios que
se apresentam acerca da formação de educadores sociais no debate da regulamentação
da profissão do educador social no Brasil?
Buscaremos apresentar alguns embates em torno da invisibilidade do educador social
no contexto da universidade – o que se apresenta como um limite no debate acerca do tipo de
formação destinada a este profissional. O campo da Educação Não Escolar institucionalizada
– espaço de ocupação do educador social - é complexo e tenso, pouco abordado em cursos de
pedagogia e em Serviço Social – graduações que se aproximam com o contexto de trabalho do
educador social – mas se distanciam da realidade concreta de sua ocupação (PAULO, 2018;
PAULO, 2019).
É importante salientar que não utilizamos a concepção de educação não formal e a de
educação social. A primeira, porque o campo de atuação do educador social é formal e não
escolar; a segunda, devido a nossa compreensão de que toda educação é social,
independentemente do tipo, característica, lugar e modalidade (PAULO; CONTE;
BIERHALS, 2013). Desta forma, assumindo a expressão Educação Não Escolar
Institucionalizada (PAULO, 2020). Além da revisão de literatura, análise documental será
utilizada reflexões oriundas dos grupos de educadores sociais e da aula aberta do professor
Roberto da Silva, realizada em 23/06/2022, do Curso Internacional de Especialização em
Pedagogia Social3,oferecido pela Universidade de São Paulo (USP), disponibilizada no
youtube (https://www.youtube.com/watch?v=SgUl-YeJ9nc).
.
Metodologia
235
pressupostos, as teorias pertinentes, a metodologia apropriada e as questões operacionais”
(MINAYO, 2002, p. 26). Ademais, a revisão de literatura contribui para ampliação e
socialização do conhecimento sobre o tema, em termos gerais e específicos (GIL, 2008).
Em se tratando do método de análise, utilizamos Paulo Freire, que através da
pedagogia crítica dialoga com o materialismo histórico-dialético e outras vertentes do
pensamento, como a hermenêutica (PAULO, 2020; BOMBASSARO, 2018). Essa
possibilidade analítica implica compreender que Paulo Freire (1987) parte de um problema
local e específico para tratar questões gerais, cuja abordagem parte da realidade concreta. Em
conformidade com Bombassaro (2018), Freire apresenta o encontro dialógico entre pergunta e
resposta para o desvelamento da realidade, aproximando-se ao método hermenêutico. Paulo
(2020) apresenta essas aproximações, entendendo a questão da historicidade enquanto
movimento em que Freire manifesta a perspectiva da história como possibilidade, o que
aparece com mais clareza no livro Pedagogia da Esperança. Aqui a possibilidade é um
conceito importante para a compreensão do debate nacional sobre formação de educadores
sociais na articulação com a regulamentação da profissão do educador social.
Paulo Freire (1987) declara que a leitura do mundo e das relações sociais se dá pela
totalidade; outra categoria importante para compreender o fenômeno da profissão do
educador social. A pedagogia problematizadora permite trazer à baila questões a serem
tratadas e reveladas e aclaradas. Com base nisso decidimos pelo Paulo Freire na metodologia,
sobretudo porque fazemos parte do tema por conta das nossas trajetórias profissionais e temos
pesquisas sobre o tema. Partiremos de uma análise compreendendo o contexto amplo e
específico da profissão e formação do educador social em movimento. O nosso esforço é
pesquisar o fenômeno na relação texto-contexto, como expressa Freire em “Extensão ou
comunicação?”.
Conforme Maria Cecília Minayo (2002), a análise dos dados, na perspectiva da
hermenêutica-dialética, tem algumas questões balizadoras, tais como: i) A contextualização
do texto com dados históricos; ii) Adoção de uma postura de respeito pelo material empírico;
iii) Não buscar nos textos uma verdade absoluta, mas o sentido que quis expressar quem os
emitiu; iv) Compreender o conteúdo significativo de qualquer documento com olhar no
passado e no presente; v) Compartilhar dos resultados da análise.
Ainda, a mesma autora colabora no trato dos dados, apresentando a
Hermenêutica-Dialética como práxis interpretativa, o que nos faz aproximar com Paulo
Freire, em especial a partir da interpretação de Bombassaro (2018). Diante destas exposições,
Revista Panorâmica – ISSN 2238-9210 - V. 35 – Jan./Abr. 2022.
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tendo por base Paulo Freire, o nosso método de análise parte de diálogos entre o materialismo
histórico-dialético e outras vertentes do pensamento, como a hermenêutica.
Nosso levantamento de produções foi realizado na seguinte fonte: Biblioteca Digital
de Teses e Dissertações (BDTD), realizado até dezembro de 2021. Trabalhamos com
categorias iniciais e finais, tomando como direção nosso objetivo de estudo, questão
problematizadora e interpretação dos dados.
No tocante a análise de documentos, apresentamos projetos atrelados à
regulamentação da profissão do educador social e a presença do debate sobre formação,
identificando aproximações com as proposições que constam no Projeto de Lei nº 2.941, de
2019, apensado pelo PL nº 2.676/2021, e relatórios dos deputados Pedro Uczai e Afonso
Motta.
Resultados e Discussão
237
Quadro 1 - Pesquisas localizadas no levantamento de teses e dissertações
2004 01
2005 00
2006 01
2007 00
2008 01
2009 01
2010 00
2011 01
2012 00
2013 00
2014 01
2015 00
2016 00
2017 00
2018 01
2019 00
2020 01
2021 00
Total 08
Fonte: das autoras, 2021.
Para a compreensão do nosso movimento de pesquisa, trabalhamos com as
categorias: Educação Não Escolar (concepções e contextos), educadores sociais (concepções)
e formação de educadores sociais (questões abordadas).
Para discorrer sobre os resultados da pesquisa algumas notas preliminares são
necessárias, a saber: educador social é uma profissão, conforme esclarece Paulo (2019,
p.309): “a profissão de educador social, que já consta incluído na Classificação Brasileira de
Ocupações do Ministério do Trabalho.”. Ela aparece na CBO 5153-054: “Segundo a
4
Disponível em: <https://www.ocupacoes.com.br/cbo-mte/515305-educador-social>. Acesso em: 10 mar. 2021.
Revista Panorâmica – ISSN 2238-9210 - V. 35 – Jan./Abr. 2022.
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Classificação Brasileira de Ocupações (CBO), educador social é o profissional que atua na
identificação das necessidades de pessoas em situação de vulnerabilidade, desenvolvendo
atividades e ações de tratamento5.” (Agência Câmara de Notícias, maio de 2021). Existe um
amplo debate nacional sobre a regulamentação da profissão6, com projetos de lei em disputas,
como, por exemplo, estes: “PL 5346/2009, Dep. Fed. Chico Lopes (PCdoB-CE), e PL
328/2015, Senador Telmário Mota (PDT-RR).” (PAULO, 2019, p 309).
Com essas notas preliminares, adentramos ao contexto da formação de educadores
sociais. A regulamentação da profissão do educador social está associada ao tema da
formação/escolaridade. Essa relação entre regulamentação e formação está associada à
escolaridade entre Educação Básica (Ensino Médio) e educação superior (ainda não está claro
qual curso e tipo). Temos, no Brasil, cursos de graduação na modalidade tecnólogo,
denominada como “Educador Social” – cursos promovidos por instituições de educação
superior privada, como o Centro Universitário Internacional (Uninter), o Centro
Universitário Leonardo da Vinci (Uniasselvi), a Fundação de Apoio à Tecnologia e
Ciência (Fatec), entre outros. Na Unopar e na Anhanguera, tem o curso superior de tecnologia
em Educação Social, entre outras instituições. Recentemente consta no Catálogo Nacional de
Cursos Superiores de Tecnologia (CNCST) oCurso Superior de Tecnologia em Educação
Social, podendo ser oferecidos gratuitamente pelos Institutos Federais. A AEPPA, em julho de
2022, entregou ofícios de demanda deste curso ao IFRS Restinga, Viamão e Alvorada e
IFSUL Sapucaia, enfatizando a ênfase para a perspectiva da Educação Popular.
Paulo (2013) relata que a demanda pela formação de educadores sociais na
universidade pública tem sido uma luta da Associação de Educadores Populares de Porto
Alegre (AEPPA). O movimento de educadores busca um diálogo com a “UFRGS para a
construção de um curso de Pedagogia Social com ênfase em Educação Popular”. (PAULO,
2013, p. 62), cuja “demanda surgiu nas formações realizadas na AEPPA”, desdobrando-se em
“uma agenda com o diretor da faculdade de Educação” (PAULO, 2013, p. 62), quando foi
entregue um documento em 2012 (16 de abril de 2012).
5
Disponível em:
<https://www.camara.leg.br/noticias/752635-comissao-discute-regulamentacao-da-profissao-de-educador-social-
acompanhe/> Acesso em: 10 set. de 2021.
6
PL 2941/2019 - Regulamenta a profissão de educador social. A proposta foi aprovada, com alterações, nesta
comissão. Autor: do Senado Federal - Telmário Mota (PDT-RR). Relator: Pedro Uczai (PT-SC). Reunião
Deliberativa Extraordinária (virtual) - 20/10/2021. Disponível em:
<https://www.camara.leg.br/evento-legislativo/63605>. Acesso em: 20 out. de 2021.
239
No segundo semestre de 2021, o Deputado Pedro Uczai (PT/SC) apresentou um
relatório que tratava da formação a ser exigida para o educador social. No relatório, consta:
240
universidades, segundo a explanação do deputado, poderão delinear os currículos e as
competências que entenderem necessárias para atender as especificidades do educador social.
Após a leitura do parecer, Pedro Uczai coloca que a comissão se manifesta favorável à
provação do PL 2941/2019, do Senado Federal, e do PL 26768, da Câmara dos Deputados, na
forma do anexo substitutivo.
Em 31 de maio de 2022 tivemos um novo relatório de autoria do Deputado Federal,
Afonso Motta (PDT/RS) que gerou, igualmente, inúmeras reflexões e debates. Alguns
apontamentos presentes no relatório, do qual concordamos e consideramos contribuições
acerca da formação de educadores sociais no debate da regulamentação da profissão do
educador social no Brasil merecem destaques, a saber:
A profissão de educador social já é uma realidade do mundofático, falta-lhe
apenas seu estabelecimento no mundo jurídico. Diversasorganizações
não-governamentais, assim como diversas prefeituras e estadosjá contratam
educadores sociais, que compõem as equipes multidisciplinaresdos
Centros de Referência de Assistência Social (CRAS).Atualmente, não se
costuma exigir formação específica a esses profissionais, entretanto, o
nível de qualificação necessária para atuarem em contextos tão
precarizados socialmente demanda ou uma boa experiência ou uma
adequada formação. Nesse sentido, a proposição originária do Senado
Federal estabelecia como formação mínima o nível superior,
excepcionalizando os profissionais de nível médio em efetiva atuação na
data de entrada em vigência da lei. (Afonso Motta, 2022, p.2-3. Grifos
nossos).
8
Aprovado o Parecer, após colocado em discussão. Os votos contrários foram dos Deputados Tiago Mitraud,
Paula Belmonte, Gastão Vieira e Professor Alcides. Acesso em: 20 out. 2021. Disponível em:
<https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=2200488>.
Revista Panorâmica – ISSN 2238-9210 - V. 35 – Jan./Abr. 2022.
241
análise dos documentos:1) refere-se ao tipo de curso (bacharelado, tecnólogo ou licenciatura);
2) Como e por qual área do conhecimento se daria o “reconhecimento do notório saber pelas
instituições de ensino superior.”(Art. 5º, em 31 de maio de 2022); 3) Sobre o campo de
atuação do educador social: necessidade de esclarecer que é Educação Não Escolar
institucionalizada, e ou explicitar melhor a compreensão de “educação social” como campo de
atuação. Defendemos curso superior específico destinado a formação de educadores sociais,
de modo intersetorial e multidisciplinar na perspectiva da Educação Popular.
Com relação à aula ministrada pelo professor Roberto da Silva, sobre o tema da
“Regulamentação da profissão de Educador Social”, o docente explicita alguns embates com
relação à regulamentação da profissão de Educador Social e processos de formação no Brasil.
Das suas colocações, vamos pontuar algumas: 1) que educador social abrange o educador
popular, liderança comunitária e educador comunitário e que esse é o entendimento da região
sudeste para cima (centro oeste, norte e nordeste). 2) Questiona e coloca como dúvida se a
denominação de “Educador Social” é exclusiva a quem tem formação e registro na carteira
profissional. 3) Diz que do sudeste para cima (centro oeste, norte e nordeste) a um
entendimento de que na denominação de educador social deve abranger o educador popular, a
liderança comunitária e o educador comunitário. Igualmente, faz uma crítica dura à região sul,
colocando que pesquisadores e educadores destas localidades têm uma visão elitista com
relação a este assunto e ao da formação/escolarização. Em suas palavras, há uma “insistência
irritante, elitista de que o educador social deve ter, necessariamente, a educação superior”
(Roberto da Silva. 23/06/2002).
Alusivo a estas explanações discordamos de que a categoria “educador social”
abrange o oficineiro, a liderança e o analfabeto, como foi explicitado na aula do professor
Roberto da Silva. Em nosso entendimento, o educador social precisa de saberes específicos
para a sua atuação, considerando que este profissional atua em contextos de vulnerabilidades
sociais e com pessoas que estão com seus direitos violados. Somos, radicalmente, contrárias
ao posicionamento de que os educadores sociais não necessitam de formação
acadêmico-profissional, sobretudo em virtude da complexidade de sua ocupação profissional
com função social, pedagógica e educativa.
Tanto os destaques positivos quanto as limitações ainda presentes se apresentam
como desafios políticos e epistemológicos no tema da regulamentação da profissão do
educador social no Brasil.
242
Concernente ao levantamento de teses, dissertações, encontramos 08 trabalhos
(dissertações) e vamos apresentar mediante quadros conceituais as análises efetuadas, a partir
das Categorias iniciais: Formação de educadores Sociais e Educação Não Escolar
Institucionalizada.
Quadro 2 - Formação de educadores sociais e principais questões abordadas nas dissertações
Autor/a Questões relevantes
Ana Cristina dos Santos O estudo focou na formação dos educadores antes, durante e
Vangrelino depois de seu envolvimento no projeto de crianças e
adolescentes de rua e na rua. A pesquisa buscou oferecer
subsídios para propostas de formação de educadores em geral.
Samuel Coelho da Silva Os educadores, em sua maioria, mesmo não tendo formação
específica para atuarem na área investigada, demonstraram
comprometimento com as atividades sob sua responsabilidade.
Francisco Domingos dos Santos Tem a definição de educador social progressista como
perspectiva de formação – colocando que essa não pode se dar
de modo aligeirado.
Anelize D Ávila Ferreira Os resultados obtidos evidenciaram a importância da formação
continuada para os profissionais do SCFV, e subsidiaram, como
processo interventivo, a elaboração de uma trilha de
capacitação direcionada aos educadores sociais do CRAS II.
Ana Paula Martins Os resultados demonstraram que as educadoras sociais
compreendem que sua formação profissional acaba se
constituindo no fazer cotidiano, pois não tiveram treinamento
algum ou formação inicial para exercerem essa atividade.
Gilmar Tondin Revela a necessidade de formação inicial e permanente
(continuada) de educadores sociais, na universidade, e no
trabalho.
Dalton Gean Perovano O trabalho verificou que os instrutores do PROERD, a partir de
sua formação inicial, possuem necessidades e expectativas que
poderão contribuir para o aumento de seu nível profissional.
Foi realizada a comparação de teorias e práticas da educação
para a constituição desse profissional, pois a formação desse
educador exige um saber profissional específico.
Francisco Erlon Barros Revela as fragilidades nas políticas públicas, na rede de
atendimento às crianças e adolescentes, na formação dos
educadores sociais, na escola e na universidade. Além disso,
indica algumas formas de se repensar a prática desses
educadores sociais e de toda a sociedade.
Fonte: das autoras, 2021.
Nesse quadro, fica evidente que muitos dos educadores buscam por uma formação
inicial e continuada, mas não existe uma política educacional destinada à formação dos
educadores sociais. Muitos dos educadores sociais compreendem que sua formação
profissional se constitui no fazer cotidiano, sendo essa uma fragilidade das políticas que se
dirigem à garantia de direitos das crianças e adolescentes, pois o trabalho do educador e da
educadora social exige saberes específicos. Destacamos, aqui, duas questões, que se afirmam
Revista Panorâmica – ISSN 2238-9210 - V. 35 – Jan./Abr. 2022.
243
como categorias, e que já foram apresentadas por Paulo (2013, 2019, 2020, 2021), as quais
são: a) necessidade de formação específica, que contribuirá para a formação profissional dos
educadores sociais; e b) a categoria identidade profissional caminha junto com a formação dos
educadores sociais.
Em conformidade com Ferreira (2020), compreendemos que, mesmo que os
educadores sociais desenvolvam atividades socioeducativas em ambiente socioassistencial,
carece ainda de uma identidade pedagógica nesse trabalho. No caso dessa pesquisa, é o
reconhecimento do caráter pedagógico das atividades desenvolvidas. A autora compreende a
existência de uma pedagogia social na “prática socioeducativa, realizada pelos educadores
sociais” (FERREIRA, 2020, p.101). Para tanto, propõe uma atenção para a formação
continuada, a ser realizada à luz das Diretrizes Nacionais do Sistema Único da Assistência
Social.
Para Vangrelino (2004, p. 128), “Os educadores se formam, como tais, no espaço
familiar, escolar, nas experiências da maternidade, da paternidade e nas experiências
profissionais anteriores e exteriores ao projeto educacional/assistencial no qual estão
inseridos.”; mesmo sem relacionar, diretamente, a identidade profissional do/a educador/a
social, observamos que a constatação da autora está associada a essa categoria.
No estudo de Perovano (2006), o trabalho dos educadores sociais do “Programa
Educacional de Resistência às Drogas e à Violência” é compreendido como prática docente;
ele constata que os educadores sociais percebem sua formação inicial insuficiente, colocando
que a formação da identidade profissional do policial-militar (educador social) nesse contexto
deveria levar em consideração o bem social comum e não a figura desse educador como
repressor (policial-militar).
Paulo (2013, p. 33) argumenta sobre a constituição da identidade do educador social,
declarando que a mesma é originária daquilo “que Gilberto Velho (1988) vai chamar de
‘identidade adquirida’ em função de uma trajetória de vida”. A autora expressa a categoria
associada com a forma como se constituiu a profissão do educador social – ela é advinda da
formação que aconteceu na prática, sem formação específica. Com relação a esse cenário,
Paulo (2013) discorre sobre o problema da inexistência de formação específica para esses
trabalhadores que atuam com execução das políticas sociais. Diante disso, em nossa revisão
de literatura, buscamos identificar quais autores embasam o tema referente à Formação de
Educadores Sociais.
244
Silva (2009) aponta para o contexto de desvalorização da profissão do/a educador/a
social, a precariedade para o desenvolvimento do trabalho e a descontinuidade das políticas e
projetos em que esse profissional atua, bem como para a necessidade de formação
(especialização, qualificação, etc.) como componente importante para a profissionalização
desse educador, cuja identidade está em construção. Concordamos com esse autor, que
apresenta limites do trabalho do educador social, sendo um deles a formação. Para situarmos,
nos trabalhos analisados, a fundamentação acerca da formação de educadores sociais,
apresentamos o quadro a seguir:
Quadro 3 - Principais autores citados referente à Formação de educadores sociais
Autor da Pesquisa Autores citados para formação de educadores Sociais
Ana Cristina dos Santos Freire e Arroyo, com conceito de formação continuada, ou
Vangrelino concepção tradicional de formação; o educador social se forma
na experiência, uma vez que não tem formação específica.
Samuel Coelho da Silva Josso, Freire, Gadotti e Nóvoa: conceito de formação inicial, e
curso de formação na área social, preferencialmente como
educador social.
Francisco Domingos dos Santos Autores que tratam da formação, assim como da
sistematização: Santos, Lévy, Silveira, Castel, Lopes, Martins,
Castells, Schwartz, Freire, Becker, Fernandes, Martinez,
Streck.
Anelize D Avila Ferreira Os teóricos na discussão sobre a Pedagogia Social; Heloísa
Lück, nas reflexões sobre Gestão Educacional; Aldaísa Sposati,
nos estudos sobre a Assistência Social. Conceito de formação
continuada.
Ana Paula Martins Formação inicial contínua ou permanente, treinamento; autores
que dialogam: Petrus, Trilla, Romans, Moura, Neto e Silva,
Freire.
Gilmar Tondin Formação inicial diferente daquela em ambiente escolar: Moura
e Zuchetti, Freire, Morin.
Dalton Gean Perovano Formação continuada: Freire, Goffmann, Demo, Nóvoa,
Navarro, Vygotsky, Trilla, Romans.
Francisco Erlon Barros Formação inicial: Luziraga, Brandão, Antony Petrus, Mercê
Romans, Jaume Trilla, Maria Stella Graciani, Geovanio
Edervaldo Rossato, Ligia Costa Leite, Antonio Carlos Gomes
Costa, Ireni Rezzini.
Fonte: das autoras, 2021.
Os autores dos trabalhos analisados que embasaram a formação de educadores
sociais, tratando do tema geral da formação, foram: Vangrelino (2004), Silva (2018), Santos
(2008), Tondin (2011) e Martins (2014). E, tratando do tema de forma mais específica, foram:
Barros (2009), Martins (2014), Ferreira (2020) e Tondin (2011). Vale ressaltar a presença do
debate em torno da formação inicial e continuada.
245
Nessas pesquisas, destacou-se a inexistência de formação específica para o educador
social (VANGRELINO, 2004; TONDIN, 2011), alertando-se para a necessidade de uma
formação diferente daquela dada a quem irá trabalhar em ambiente escolar (TONDIN, 2011).
Na maioria dos trabalhos, Paulo Freire é citado no tema que se refere à formação de
educadores/as, relacionando-o à pedagogia libertadora. Alguns conceitos se destacaram, como
liberdade, amorosidade e autonomia na defesa de uma formação para humanização (contexto
abrangente); no contexto específico, formação para a transformação e a construção social dos
educandos, contribuindo para a mediação de conflitos. Também, para a construção da
identidade do/a educador social.
A perspectiva teórica da formação de educadores sociais, na maioria dos trabalhos,
dialoga com os pressupostos da pedagogia crítica e da Educação Popular Freiriana, conforme
vimos no quadro anterior.
Por pedagogia crítica entendemos a definição de Peter McLaren, dada na entrevista
realizada por Paula e Portella (2021):
Acreditamos que a pedagogia crítica tem o potencial de reumanizar nosso
futuro, se pudermos desafiar nossa cultura material (mercadoria/commodity),
desumanizada, por uma pedagogia orientada para a práxis, e formos capazes
de revolucionar as instituições políticas e econômicas para o interesse
público, em vez de para ganho privado. Isso significa construir para um
futuro socialista. Toda a educação, hoje, precisa se concentrar na construção
de um futuro socialista. Nosso planeta está queimando! Precisamos recuperar
nossa humanidade e o poder da crítica.
246
destaca: “com base na perspectiva da educação popular, os profissionais denominados
educadores sociais de rua passaram a atuar de forma politicamente engajada, em busca de
uma transformação social rumo à emancipação, conforme propunha Freire (1987)”. (SILVA,
2018, p. 25).
Dois dados merecem destaque: 1) Educação Popular, com base em Paulo Freire, tem
sido utilizada como sinônimo de educação problematizadora e libertadora (VANGRELINO,
2004; BARROS, 2009; SILVA, 2018); e, 2) Educação Popular, com base em Paulo Freire,
entendida como educação não formal (MARTINS, 2014).
Para discussão dos conceitos de Educação Não Escolar - espaço de atuação dos
educadores sociais, organizamos um quadro com as definições localizadas nas dissertações.
Quadro 4 - Conceitos de Educação Não Escolar presentes nas Dissertações
Autor da pesquisa Definições
Ana Cristina dos Santos Vangrelino Educação de Rua; contra turno escolar; educação popular;
educação social.
Samuel Coelho da Silva Educação Popular para População em Situação de Rua.
Francisco Domingos dos Santos Educação Social.
Anelize D Avila Ferreira Pedagogia Social.
Ana Paula Martins Educação não formal.
Gilmar Tondin Educação Social de esporte e lazer.
Dalton Gean Perovano Educação social.
Francisco Erlon Barros Educação Social de Rua.
Fonte: das autoras, 2021.
Na análise dos trabalhos, percebemos que o conceito mais utilizado para definição de
Educação Não Escolar foi Educação Social, por Vangrelino, Santos, Tondin e Perovano, como
também Educação de Rua, por Silva e Barros, seguida da Educação não Formal, utilizada por
Martins.
Nossa compreensão de Educação Não Escolar parte de Paulo (2020), a saber:
a) Temos vertentes do trabalho pedagógico crítico e não crítico;
b)A expressão Educação Não Escolar é ampla; portanto, utilizamos Educação Não
Escolar institucionalizada quando nos referimos ao espaço de atuação do educador
social.
c)Ao identificar as características da Educação Não Formal, ela não representa o contexto
de atuação do educador social, porque há formalidades e institucionalidade.
d)Com relação à Educação Social, entende que toda educação é social; portanto, não
caracteriza a educação social como aquela educação que se realiza fora da escola.
247
Reconhece que o que é chamado de educação social corresponde à educação não
escolar institucionalizada ou formalizada.
e)A Educação Não Escolarinstitucionalizada pode acontecer de diferentes formas e com
referências teóricas distintas. A Educação Popular é uma delas.
248
teorias sobre a pedagogia social nos revela que elas sempre foram mais
desenvolvidas e utilizadas na Europa. O termo é de origem alemã, e é este
país, e a Espanha, pátrias de acolhimento e expansão de seu uso. Em países
outrora chamados de Terceiro Mundo, hoje muitos deles denominados como
‘emergentes’, como o caso do Brasil na atualidade, a educação popular foi
um conceito muito mais difundido/utilizado, e a pedagogia social vem se
implantando um pouco tardiamente. Caliman é um dos autores que tem
pautado a temática, e afirma: ‘atualmente, a pedagogia social parece
orientar-se sempre mais para a realização prática da educabilidade humana
voltada para pessoas que se encontram em condições sociais desfavoráveis’.
(Caliman, 2008, p.19). No Brasil, na atualidade, há uma ânsia em dar um
estatuto científico à pedagogia social, e construí-la como um campo de
conhecimento e práticas educativas diferente da pedagogia escolar. A
pedagogia social é alçada a uma Teoria Geral, visando formar um
profissional específico: o pedagogo social. [...]os novos cursos formariam
os Pedagogos Sociais, e poderiam desenvolver habilitações específicas,
assim como cursos de especialização em Pedagogia Social, para outros
profissionais interessados [...]. A sustentação dessas posições não se faz pelo
embate com o tipo de formação dada pelas escolas atuais [...]. Tal
abordagem autoproclama-se como científica, ou seja, é dita e tida como
científica porque nomeada como tal, dentro de uma Teoria Geral da
Educação Social, na qual também não se fornecem muitos elementos.
Em síntese, nossa visão e abordagem não seguem a trilha que contrapõe
educação não formal a outras categorias, porque nossa preocupação não é a
de demarcar um território de atuação para um novo profissional, na academia
e na sociedade – o pedagogo social. Nossa abordagem busca entender os
processos educativos existentes na sociedade, num sentido mais amplo,
abarcando espaços para além das instituições escolares – indivíduos que
estão em qualquer nível ou grau de ensino, ou fora dele, porque o concluiu
ou nunca teve acesso ao mesmo. Preocupamo-nos mais com os processos de
aprendizagens e produção de saberes à sociedade como um todo.
249
Encontramos os mais diversos conceitos – Educação Social, Educação Não formal e
Pedagogia Social – para definir a área de atuação dos educadores sociais, sendo a Educação
Não Escolar o lócus de inserção de educadores sociais. Jacyara Paiva (2015, p. 40) destaca
que “o surgimento do que se está a denominar de Educação Social enquanto prática,
alicerçada na Pedagogia Social como teoria” representa que educação não é sinônimo de
escola e que processos educativos ocorrem em diversos contextos.
A atuação dos educadores sociais com processos educativos não escolares exige
conhecimentos pertinentes; por isso, “devemos investir na formação dos Educadores Sociais
de forma mais intencional e efetiva, para que nosso trabalho não fique na invisibilidade”
(PAIVA, 2015, p. 171).
Diante dessas exposições, organizamos os conceitos de Educação Não Escolar e suas
tipologias, para deixar mais claro o lugar que ocupam os educadores sociais, como pode ser
observado a seguir:
Quadro 6 - Educação Não Escolar e suas tipologias
DAS TIPOLOGIAS Organização das nomenclaturas utilizadas
DA
EDUCAÇÃO NÃO ESCOLAR
Educação Social.
Educação Não Formal.
Educação Popular.
Pedagogia Social.
Educação de Rua.
Fonte: das autoras, 2021.
Observemos que as tipologias que localizamos em nosso estudo convergem com a
pesquisa de Zoppei (2015). Paulo Freire é referenciado nas concepções: Educação popular,
Educação libertadora, Educação Progressista, Pedagogia/educação crítica e Socioeducação.
Até aqui, mediante análise do levantamento de produção do conhecimento científico,
visualizamos algumas contribuições das dissertações, que apresentam limites e desafios
acerca da formação de educadores sociais. Quanto a isso, gostaríamos de discorrer um pouco
mais a respeito de alguns aspectos importantes que as pesquisas trouxeram. Primeiramente, no
que se refere à concepção de Educação Não Escolar, observamos um esforço importante dos
autores em diferenciar o contexto da escola como diferente do espaço de atuação do educador
social. Mas, em alguns casos, encontramos a palavra docente como sinônimo de educador
social. Esse é um limite de compreensão acerca da identidade desse profissional.
Vale destacar alguns estudos sobre identidade profissional, como, por exemplo, a
observação sobre o processo de regulamentação da profissão de educador social:
Revista Panorâmica – ISSN 2238-9210 - V. 35 – Jan./Abr. 2022.
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“considerando o processo já em andamento da regulamentação de sua atividade ocupacional,
é a demanda por conhecimento público sobre o trabalho de educadoras sociais. Uma ocupação
que pleiteia a sua regulamentação, ou uma possível profissionalização [...]” (DIAS 2018
p.138). Esse estudo nos ajuda a refletir sobre a categoria “identidade profissional”. Sobre
isso, os educadores e educadoras sociais “possuem características de atuação, necessidades de
formação e organização próprias, e, assim, buscam o fortalecimento de sua identidade
profissional” (BRASIL, 2009. p. 5). No mesmo documento, localizamos:
Em janeiro de 2009, os Educadores e Educadoras Sociais obtiveram até o
presente a sua mais importante conquista no processo de reconhecimento
social e profissional e no fortalecimento de sua identidade trabalhista.
Foram incluídos na Classificação Brasileira de Ocupações - CBO, do
Ministério do Trabalho e Emprego, com a seguinte descrição: “5153-05 –
Educador Social. [...]. (BRASIL, 2009, p. 5.).
Diante das explanações e dos dados coletados das dissertações, somadas a reflexões
advindas de Jantke (2012, p. 38), que destaca “a necessidade de uma formação permanente,
que propicie um trabalho de qualidade” do educador e da educadora social, afirmamos que a
identidade profissional, sem formação específica, tem se constituído pelas experiências
adquiridas no e pelo trabalho.
Considerações Finais
251
profissional (fazemos parte deste coletivo) e outros grupos defendem que a área é a pedagogia
social e o campo de atuação é a educação social. Nestes tensionamentos há convergências
divergências.
Em nosso caso, apostamos na formação superior específica, procurando criar
mecanismos para a sua materialização, respeitando histórias e contextos já existentes;
buscando garantir a construção de um projeto formativo em nível superior para a qualificação
profissional de educadores sociais. Observamos a necessidade de um projeto que contemple o
campo da “Educação Não Escolar institucionalizada”. Acreditamos que a Grande Área deva
ser denominada como “Educação Não Escolar”, e, depois, vêm os seus desdobramentos, entre
eles o campo de atuação do educador social: contextos educativos não escolares
formalizados/institucionalizados. Tais iniciativas contribuem para a profissionalização do
educador social, auxiliando também para o fortalecimento da identidade profissional desse
trabalhador.
Nossa proposição de formação superior é a de um curso intersetorial e
multidisciplinar, diferente da licenciatura (formação prioritária para docência), podendo ser
bacharelado ou tecnológico. Estamos inclinadas para a última opção. Inclusive sugerimos um
curso superior tecnólogo em Pedagogia Social intersetorial na perspectiva da Educação
Popular.
Outro tensionamento é referente à identidade do educador social – uma das
categorias finais identificadas na nossa análise. A identidade profissional do educador social é
um tema que necessita de fundamentação teórico-prática porque o educador social é um
profissional que atua na defesa e garantia dos direitos sociais na perspectiva dos Direitos
Humanos. Não é voluntário; não é monitor; não é oficineiro; não é professor; não é liderança.
Assim esclarecemos, a luz de Paulo (2013; 2020), que educador popular não é profissão - é
uma opção política de quem atua na defesa dos Direitos Humanos na perspectiva da Educação
popular crítica. Para ser um educador popular não precisa de formação acadêmica. Um
educador social, um professor, um médico, uma liderança podem se considerar um educador
popular - por militância na Educação popular, mas nem todo educador social, professor,
médico, liderança é um educador popular. Então, para ser educador social (profissão)
necessita-se de uma formação específica, para ser educador popular não necessita a exigência
de formação acadêmica.
As outras categorias que emergiram foram: formação de educadores sociais
intersetorial, Pedagogia Social intersetorial e profissionalização do educador social. Nesse
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sentido, o lugar de formação do educador social deve ser, principalmente, na universidade e
Institutos Federais com curso multidisciplinar, intersetorial com base nas experiências de
Educação Popular do Brasil, em especial.
Consideramos que a criação e implementação da área de Educação Não Escolar no
Ensino Superior é prioridade para a qualificação do trabalho do educador social. Para tanto, se
faz urgente a elaboração de Diretrizes Operacionais Nacionais para a Educação Não Escolar
Institucionalizada, visando contribuir para a consolidação da formação específica do educador
social e da sua identidade profissional. Propomos que a Educação Popular ultrapasse a
dimensão metodológica da formação, muito presente na formação pela experiência, se
apresentando enquanto referencial teórico-prático da formação de educadores sociais
intersetoriais.
Sobre a formação pela experiência de educadores sociais, consideramos a potência
desses saberes profissionais, destacando que estes são necessários no processo de formação
superior. Maurice Tardif (2005) é um autor reconhecido no tema da formação docente, mas o
utilizamos porque suas ideias podem ser incorporadas na formação de educadores sociais,
concernente aos currículos de formação, juntamente com Paulo Freire (1976, 1987, 1992). Os
saberes inerentes ao exercício da prática profissional parecem-nos consideráveis. Indicamos
os saberes da formação profissional: saberes das ciências da educação e saberes pedagógicos,
além dos saberes curriculares e os saberes experienciais. Esse conjunto de saberes contribui
para uma prática pedagógica não escolar dialógica.
Nesse viés, Paulo Freire auxilia porque os “saberes de experiência” (FREIRE, 1976),
advindos da prática profissional de educadores sociais, podem contribuir para a construção de
conhecimentos significativos e transformadores, e, para tanto, Freire (1992) coloca que é
necessário superarmos o “saber de experiência feito”, o senso comum, pelo conhecimento
crítico e problematizador do texto e do contexto da realidade, diante de procedimentos
metodológicos e pedagógicos dialógicos, críticos e libertadores.
A nossa opção metodológica –relacionada à hermenêutica e à dialética –para a
compreensão do texto e contexto, à luz de Paulo (2020), Bombassaro (2018) e Paulo Freire
(1971), nos ajudou na interpretação dos dados, na singularidade deles (educador social,
Educação Não Escolar institucionalizada, educador popular), e na identificação dos aspectos
da universalidade do tema (educação, contexto educativo e pedagógico, educador,
institucionalidade). A compreensão do contexto de formação de educadores sociais, mediante
a identificação de pressupostos teóricos, contexto de atuação e questões apresentadas em
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torno do tema possibilitou olhar o objeto do estudo diante da nossa questão problematizadora,
que está circunscrito por especificidades (formação de educadores sociais) em diálogo com
questões gerais, como a necessidade de a universidade dialogar com os saberes periféricos na
construção de um conhecimento transformador.
É possível localizar que foi a partir de Movimentos Populares que o tema da
formação de educadores sociais se materializou nas proposições parlamentares. Daí a
importância do diálogo entre universidade e movimentos de educadores sociais.
São vários os significados que são produzidos pelos conceitos de Educação Não
Escolar - espaço de atuação dos educadores sociais; e carecem de estudos mais aprofundados,
levando em consideração metodologias que contemplem estudos de campo, em diferentes
contextos e territórios. Ratificamos que o campo da Educação Não Escolar é complexo e, às
vezes, tenso. Em nossa revisão de literatura identificamos diferentes concepções e
compreensões para Educação Não Escolar, tais como: educação não formal, extraescolar,
educação social, educação de rua, educação comunitária e Educação Popular. Urge discutir o
campo e área de atuação do educador social. Acreditamos que a área é multidisciplinar.
Reafirmamos que a educação não formal está distante da realidade do trabalho
realizado pelos educadores sociais, pois possui “aspectos legais e formalidades do processo de
execução de políticas sociais para a educação não escolar institucionalizada” (PAULO, 2020,
p. 74), além de planejamento pedagógico, registro de atividades e frequência dos usuários da
política social.
Observamos que os conceitos identificados nas nossas análises têm como base de
referência Paulo Freire, mas, nos projetos de leis, a Educação Popular não está presente. Na
maioria dos estudos que versam sobre o contexto de atuação do educador social, Freire está
presente, e a Educação Popular não aparece como fundamentação teórico-prática.
Reiteradamente, encontramos a expressão “Educação Social”, mas parcamente conceituado.
Paiva (2015) é a autora que explicita que “Educação Popular é à base da Educação Social no
Brasil” (p.159). Para nós, a Educação Popular é a base do trabalho realizado pelos educadores
sociais no campo da Educação Não Escolar institucionalizada. Das 8 dissertações analisadas,
4 autores citaram Educação Popular, e 4 não a mencionaram, sendo que 7 pesquisas citaram
explicitamente Freire e ou Brandão. Amparando-nos nas teorias críticas freirianas, assistimos
a Educação Popular presente no cenário da Educação Não Escolar (frequentemente
denominado como “Educação Social”), enquanto ferramenta metodológica do trabalho do
educador educadora social. Isto é, a Educação Popular é reconhecida muito mais na dimensão
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metodológica do que no pressuposto teórico da formação de educadores sociais, segundo
nossas análises.
Pontuamos a necessidade do reconhecimento público e estatal dos educadores sociais
e do seu lugar de ocupação na “Educação Não Escolar formal/institucionalizada”. A Norma
Operacional Básica de Recursos Humanos do Sistema Único de Assistência Social
(NOB-RH/Suas) reconhece o educador social como profissional de referência dos serviços
socioassistenciais do Sistema Único de Assistência Social (SUAS). Ele atua na rede
socioassistencial estatal e não-estatal. Esse reconhecimento profissional, acompanhado de
formação específica, não pode acontecer de cima para baixo, sem a participação dos
educadores e das educadoras sociais, profissionais que atuam na política da assistência social.
Participação consciente (aquela que tem reflexão acerca da ação); isso porque, como diz
Freire (1987), a educação não é neutra.
Somos conhecedoras de que muitos educadores sociais não possuem formação
superior (PAULO; SILVA, 2021), e, diante dessa realidade, há certa aversão com relação aos
Projetos de Lei que assumem a exigência da Educação Superior para a ocupação e profissão.
Por isso, é importante ampliar o debate sobre a identidade profissional do educador social, o
trabalho-formação intersetorial que exige saberes específicos e acerca da profissionalização -
categorias que emergiram de nossas análises. Igualmente, lutar por cursos superiores públicos
e gratuitos.
Apostamos nos pressupostos da Educação Popular freiriana, que poderão contribuir para o
projeto de formação superior específica para o educador social. Queremos encher o campo
universitário de cores, pessoas, cheiros, experiências que até então estão invisibilizadas na educação
superior, através de ações coletivas transformadoras empreendidas por educadores sociais
(RAMOS;ROMAN; 2011). Reiteramos que a revisão de literatura, pesquisa documental e a aula
analisada trazem importantes contribuições para avançarmos nas pautas da formação
acadêmico-profissional de educadores sociais – entre limites e avanços acreditamos que o
desafio é continuar lutando em prol do reconhecimento e valorização do educador social – o
que perpassa pela formação.
Referências
255
BOMBASSARO, Luiz Carlos. HERMENÊUTICA. In: STRECK, Danilo Romeu;
REDIN, Euclides; ZITKOSKI, Jaime José (Orgs.). Dicionário Paulo Freire. 4.ed. revista e
ampliada. Belo Horizonte: Autêntica, 2018. (p. 245-246).
GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 2. ed. SP: Atlas, 1991.
JANTKE, Regina Vazquez Del Rio. Educador Social: formação e prática. 68p. Dissertação
(Mestrado em Educação: Currículo) – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São
Paulo, 2012.
PAIVA, J. S. Caminhos do educador social no Brasil. São Paulo, Paco Livros, 2015.
256
PAULA, L. C.; PORTELLA, B. M. Entrevista com Peter McLaren Discussões radicais e
esperançosas sobre tempos de brutal conservadorismo - caminhos de luta e transformação à
luz de Paulo Freire. Práxis Educativa, Ponta Grossa, v. 16, e2117204, p. 1-22, 2021.
257
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Escola de Educação Física, Programa de
Pós-Graduação em Ciências do Movimento Humano, Porto Alegre, BR-RS, 2011.
258