Iatrogênico Clínica em Musicoterapia
Iatrogênico Clínica em Musicoterapia
Iatrogênico Clínica em Musicoterapia
IATROGÊNICO
RESUMO:
Trata-se de uma pesquisa em desenvolvimento, vinculada a um Programa de Pós-Graduação, que propõe
investigar a utilização da música em contextos terapêuticos diversos e, mais especificamente, na Musicoterapia.
Reflexões sobre a música como terapia e o seu papel benéfico ou maléfico são os focos deste estudo, tendo como
referencial teórico a Bioética, a Musicologia e a Musicoterapia. Espera-se, com esta pesquisa, adquirir mais
conhecimentos sobre a utilização da música no contexto musicoterápico, evitando, assim, que ela se torne um
elemento iatrogênico.
ABSTRACT:
This article is a developing research, within a Post-degree Program, that considers investigating the use of music
in different therapeutical contexts and, more specifically, in Music therapy. Reflections on music as therapy and
its beneficial or maleficent role are this study's focus, having as theoretical reference the Bioethics, the
Musicology and the Music therapy. It is hoped that, with this research, more knowledge can be obtained about
the use of music in the musictherapeutical context, avoiding, thus, that it becomes an iatrogenic element.
INTRODUÇÃO
∗
Mestrando em Música (Musicoterapia) pela Universidade Federal de Goiás; Bolsista CNPq – Brasil;
Especialista em Musicoterapia pelo Conservatório Brasileiro de Música; Especialista em Educação Especial pela
Faculdade Frassinetti do Recife; Licenciado em Música pela Universidade Federal de Pernambuco; Bacharel em
Direito pela Faculdade de Direito de Olinda; [email protected]
∗
Doutora em Comunicação e Semiótica – PUC/SP; Musicoterapeuta Clínica com Especialização em Psicologia
Transpessoal; Bacharel em Instrumento – Piano; Professora-pesquisadora no Programa de Pós-Graduação em
Música da Universidade Federal de Goiás; Coordenadora do Diretório de Pesquisa NEPAM - Núcleo de
Pesquisa em Musicoterapia UFG/ CNPq; [email protected]
O pensamento de evitar que a música, no contexto clínico da Musicoterapia, seja um
elemento iatrogênico, isto é, que não faça mal ao paciente, está relacionado a um dos
princípios da Bioética, o princípio da não-maleficência. O “des-cuidar” na assistência à saúde
trata-se de uma questão ética de relevância que está apoiada na Bioética e em seus princípios,
principalmente os da beneficência e não-maleficência.
A iatrogenia refere-se a uma doença ou sequela causada pelo médico. Os resultados são
decorrentes de falhas no comportamento humano no exercício da profissão. Originariamente,
trata-se apenas de ação do médico, de erro médico. Todavia, estendemos seu conceito para
designar atos praticados por profissionais da área da Saúde, tais como: fisioterapeutas,
psicólogos, fonoaudiólogos, musicoterapeutas e terapeutas ocupacionais.
A relevância do tema proposto está em se discutir a utilização da música em contextos
terapêuticos diversos – Psicologia, Fonoaudiologia, Fisioterapia, Musicoterapia e Terapia
Ocupacional, no sentido de evitar que ela se torne elemento iatrogênico. Existiria, nesses
contextos clínicos, uma preocupação com critérios, tais como: escolha e utilização de
repertórios, objetivos terapêuticos, formas de aplicação da música, análise das respostas às
músicas utilizadas etc? Questiona-se, também, se os musicoterapeutas têm apresentado uma
consciência sobre o que é um “erro musicoterápico”1 e como evitar que a música torne-se um
elemento iatrogênico no contexto clínico musicoterápico.
Benenzon (1985) e Craveiro de Sá (2003) advertem que não sejam deixadas crianças
autistas ouvindo músicas sozinhas, pois isto pode tornar-se um elemento iatrogênico. O uso
de aparelhagens eletro-eletrônicas, como um teclado, “pode ter um efeito iatrogênico se o
musicoterapeuta não utilizá-lo como ponto de partida para introduzir-se como pessoa”
(BARCELLOS, 2004a, p. 124). Isto deve-se ao fato que o uso do teclado pela criança autista
sozinha pode levá-la a um maior isolamento. É preciso que o instrumento musical seja
utilizado visando um fazer musical/musicoterápico, em ações interativas entre
musicoterapeuta(s) e paciente(s).
Não é pelo fato de a música ser benéfica em algumas situações que ela deva ser usada
indiscriminadamente, como uma farmacopéia musical, por pessoas sem qualificações para o
uso da música como terapia ou por profissionais musicoterapeutas que não refletem sobre sua
prática clínica. Blaking (1997, p.3) afirma que “as pessoas não são toxicômanas musicais, a
quem a música faz coisas, como se a música fosse uma droga agindo sobre eles; eles são
agentes conscientes em situações sociais, entendendo a música de várias formas”.
Essa preocupação sobre as responsabilidades do musicoterapeuta, relacionadas à
humanização da sua conduta, insere-se no campo da Bioética, cujo caráter interdisciplinar
requer o envolvimento e a discussão entre diversos profissionais. Vieira (2005) fala que, além
da formação técnica, o profissional deve estar preparado para o reconhecimento e a análise
crítica dos dilemas éticos e morais inerentes a uma profissão ligada à área da Saúde.
Todos os profissionais precisam repensar sua relação com o paciente. Jesus (2003)
relata que a responsabilidade é um dos elementos da prática profissional do musicoterapeuta e
define-a como a capacidade do profissional responder por sua prática, colocando a ética numa
posição de destaque.
2
Projeto de Lei Original nº 4.827, de 2001. Disponível em: »
http://www.senado.gov.br/web/cegraf/pdf/06042005/07614.pdf» Acesso em: 04 de novembro de 2006.
3
Grifo dos autores.
4
A leitura musicoterápica é definida por Barcellos (1994) como “a compreensão do paciente através do musical
que ele expressa e como ele expressa. Isto em relação aos parâmetros musicais, à escolha dos instrumentos e à
forma de tocar os mesmos, enfim, em relação ao setting musicoterápico” (p. 3).
5
Ver NATTIEZ, J.J. Semiologia Musical e Pedagogia da Análise. In OPUS 2. Revista da Associação Nacional
de Pesquisa e Pós-Graduação em Música – ANPPOM. Ano II, Vol. 02, nº 2, junho, 1990.
Musicoterapia. Isto realaciona-se ao aspecto principal proposto nesta pesquisa, ou seja,
investigar sobre os riscos da utilização da música em contextos terapêuticos diversos sem que
haja uma preparação do profissional quanto ao conhecimento científico sobre música como
terapia e, consequentemente, verificar se este uso indiscriminado da música, sem
embasamentos científicos, pode tornar-se elemento iatrogênico no âmbito da saúde;
4) ainda complementando o item acima, a formação do musicoterapeuta é exclusiva da
profissão, envolvendo uma interlocução entre diversas disciplinas das áreas da Música,
Medicina, Neurociência, Psicologia, Filosofia, Educação e Linguagem Corporal. Não há
como se formar profissionais musicoterapeutas sem que eles tenham conhecimentos
integrados nessas áreas do saber e, especificamente, uma formação teórico-vivencial da
música como linguagem terapêutica.
Diante do exposto, esta proposta de pesquisa visa contribuir para ampliar discussões
sobre os riscos de dano social no tocante à saúde do ser humano. Faz-se necessária uma
conscientização de que o instrumento de trabalho do musicoterapeuta é a música, sendo este o
diferencial da Musicoterapia6. Portanto, todos os esforços devem ser feitos no sentido de não
torná-la iatrogênica, isto é, prejudicial ao indivíduo que vem em busca de ajuda, de melhoria
para sua saúde física e/ou mental.
2 - A PESQUISA EM DESENVOLVIMENTO...
6
Ver Craveiro de Sá (2004): Música em Musicoterapia: dimensões da Pesquisa. In: V Anais do Encontro
Nacional de Pesquisa em Musicoterapia, Rio de Janeiro, 2004.
nos num campo de subjetividades, objetiva-se mostrar quais os “mecanismos de atuação do
musicoterapeuta” 7 podem ser desenvolvidos para evitar um “erro musicoterápico”.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este projeto de pesquisa, ainda em fase inicial, está vinculado a um Programa de Pós-
Graduação em Música e seu foco principal é a música utilizada na Musicoterapia. Esta área
do conhecimento tem como profissional um musicoterapeuta, cuja formação permeia tanto o
campo da música quanto o da saúde. A música é a ferramenta de trabalho desse profissional e
sua aplicação na prática clínica depende, em grande parte, do conhecimento teórico-vivencial
que este profissional tem de música e da área terapêutica. Daí, reconhecer a importância da
Teoria da Música e da análise musical/musicoterápica como uma das principais ferramentas
de trabalho do profissional musicoterapeuta é algo essencial.
Acredita-se que, quanto mais encontrarmos respostas às questões terapêuticas na própria
música, mais isto contribuirá para o amplo desenvolvimento da Musicoterapia, uma vez que
esta é uma ciência em desenvolvimento que tem como elemento principal a música que a
identifica e potencializa.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
7
Ver Texto de Barcellos (2004b): “Mecanismos de Atuação do Musicoterapeuta: Ações, Reações e Inações”. In:
V Anais do Encontro Nacional de Pesquisa em Musicoterapia, Rio de Janeiro, 2004, em que ela apresenta uma
pesquisa qualitativa desenvolvida no CBM do Rio de Janeiro.
JESUS, Jaíra Perdiz de. Musicoterapia: o que pode fazer pelo paciente. In: BRANCO, Rita
Francis G. y R. A Relação com o Paciente. Teoria, Ensino e Prática. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan, 2003. p. 294-302.