End C-130

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 14

Universidade do Estado de Minas Gerais

Ensaios Não Destrutivos (ENDs) em


Aeronaves C-130 Hércules

Disciplina: Ensaios Mecânicos

Prof: Tiago Luis Oliveira

Gabrielle Schultz Braz

Antonio Teodoro Dutra Júnior

Julho/23
Introdução
O processo de ensaios não destrutivos é um dos principais ensaios que tem a capacidade
de verificar a integridade física de um material que não altere sua forma e permaneçam com suas
propriedades físicas, químicas, mecânicas ou dimensionais. Os ensaios não destrutivos
representam um conjunto amplo de técnicas de análise utilizadas na indústria aeronáutica para
avaliar as propriedades de um material, componente ou sistema, sem causar danos, baseando-se
na aplicação de fenômenos físicos tais como ondas eletromagnéticas, acústicas, elasticidade,
emissão de partículas subatômicas, capilaridade, absorção e qualquer tipo de teste que não
implique um dano considerável à amostra examinada (Andrade, 2018).
O presente trabalho tem por objetivo geral estudar as aplicações dos ensaios não
destrutivos em aeronaves C-130 Hércules, atendendo as normas especificas para cada ensaio e de
acordo com o manual de manutenção do fabricante.

Revisão Bibliográfica
Aeronave Militar C-130 Hércules
Segundo Rodrigues (2015), o Lockheed C-130 Hércules (Figura 1) é um avião com quatro
turbo propulsores, cuja função principal é a de transporte aéreo em várias forças armadas em todo
o mundo. Ele é capaz de aterrar ou decolar em pistas pequenas ou improvisadas, foi concebido
com o intuito de transporte de tropas e carga.
Atualmente desempenha uma larga gama de papéis, incluindo transporte de paraquedistas,
reconhecimento climático, reabastecimento aéreo, combate aéreo a incêndios e evacuação
médica. Existem mais de quarenta modelos do Hércules utilizados em mais de cinquenta nações.
Com mais de cinquenta anos de serviço, a família C-130 estabeleceu um sólido recorde de
confiabilidade e durabilidade, participando em missões militares, civis e de ajuda humanitária.
A família C-130 detém o recorde de mais longo ciclo de produção de aviões militares em
toda a história. O primeiro protótipo, o YC-130 voou a 23 de agosto de 1954 decolando nas
instalações da Lockheed em Burbank, na Califórnia.
Figura 1. Lockheed C-130B Hércules (Pinterest, 2017).
Histórico C-130
Em 1951, após a primeira crise com a URSS, os Estados Unidos decidiram modernizar a frota
de transporte, constituída essencialmente pelos C-47 Skytrain e C-119 Flying Boxcar que
participaram na Segunda Guerra Mundial. Assim, a USAF inicia uma demanda por aviões de assalto
que pudessem decolar e aterrar em pistas rudimentares (PEREIRA NETO, 2004).
Em 1952 a USAF aceita o projeto YC-130A da Lockheed e encomenda duas aeronaves. A 23
de agosto de 1954 o protótipo faz o seu primeiro voo e dois anos depois, a 9 de dezembro o C-130A
entra ao serviço da USAF (RODRIGUES, 2015).
Segundo Pereira Neto (2004), a Força Aérea Brasileira recebeu seus primeiros três C-130E
em 1964. Outras cinco aeronaves se juntaram a frota até 1968. Estas aeronaves equiparam o 1º/1º
Grupo de Transporte. Em 1969, foram recebidos três SC-130 para busca e salvamento (SAR) para
equipar o 1º/6º Grupo de Aviação e, a partir de 1988, para o 1º/1º Grupo de Transporte.
Finalmente em 2001, foram compradas dez aeronaves C-130H da Itália. Estas últimas estão
passando por um amplo processo de modernização, recebendo cockpit digital e um sistema de
autodefesa com chaffs e flares. Isto permitirá o emprego operacional destas aeronaves inclusive
em zonas de combate, bem próximo à linha de frente ou com ameaça aérea inimiga.
Em sua história, a FAB operou 29 aeronaves C-130.São missões do C-130 na FAB: transporte
de carga, transporte de tropas, apoio ao programa antártico brasileiro, lançamento de
paraquedistas, reabastecimento em voo e busca e salvamento.

Subdivisão das Partes da Aeronave C-130 Hércules


Essa subdivisão das partes da aeronave C-130 Hércules (Figura 2), não foi baseado em
critérios técnicos ou manual do fabricante, foi definido pela experiência para facilitar o
entendimento de um leitor técnico, aluno de engenharia ou proprietário de qualquer tipo de
aeronave civil ou militar.

Asa da Aeronave C-130 Hércules


A estrutura principal dos painéis de asa centrais e exteriores consistem em vigas dianteiras
e traseiras. A estrutura na seção central é reforçada com longarinas. A estrutura nos painéis
exteriores é usinada e integralmente endurecida. A borda de ataque removível possui uma chapa
dupla para anti-gelo com ar quente. Os ailerons, as guias de compensação do aileron e as abas são
de construção de liga de alumínio. Cada estrutura é composta de vigas, stringers e longarinas. Os
ailerons são articulados às asas com rolamentos antifricção e as abas são montadas por meio de
rolos antifricção em trilhos na borda de fuga da asa (USAF, 2009).

Figura 2. Estrutura da aeronave C-130 Hércules (Pinterest, 2017).

Estrutura da Aeronave C-130 Hércules


O avião C-130 é um avião de quatro motores, de médio alcance, terrestre, de tropa e de
transporte de carga capaz de transportar uma carga útil de 25 mil libras. Quatro motores Allison
turbo-prop, com hélices Aero-Products, alimentam o avião (USAF, 2009). A estrutura da fuselagem
é toda em metal, construção semi-monocoque, e é feita de material de liga de alumínio projetado
para pressurização. A fuselagem é composta por três seções: dianteira, central e traseira (USAF,
2009).

Trem de Pouso da Aeronave C-130 Hércules


O trem de pouso ou trem de aterragem de aeronaves de asa fixa é considerado como o
principal integrante do sistema de pouso de um avião. Serve para garantir a sustentação da
aeronave no solo, permitir a mobilidade e deslocamento para a pista de voo, corrida para a
decolagem, absorver as cargas e reações no solo no momento do pouso. Possui também a função
de garantir os meios para a frenagem segura do avião até a sua parada (BUGLIA, 2010). O trem de
pouso é um tipo de triciclo modificado. É composto por uma roda e engrenagem dupla do nariz e
duas rodas individuais montadas em tandem em cada trem de pouso principal. Cada trem de pouso
de aterrissagem é composto por dois elementos óleo-pneumáticos de “offsetaxe”, dispostos em
tandem e montados em trilhos verticais ao lado da fuselagem. O trem de pouso principal retrai-se
verticalmente e o trem de pouso de nariz se retrai para frente (USAF, 2009).

Rampa da Aeronave C-130 Hércules


A porta de carga está situada no bordo de fuga da fuselagem, parte da qual se transforma
em uma rampa, facilitando a carga e descarga de material da aeronave (Figura 3). A rampa e porta
de carga servem como compartimento de carga após o fechamento. A rampa abre para baixo, e a
porta de carga traseira se abre para cima para expor o compartimento de carga à máxima largura
e altura (USAF, 2009).

Figura 3. Rampa da aeronave C-130 Hércules (Pinterest, 2017)

Ensaios Não Destrutivos (END´s)


O desempenho confiável de um componente ou estrutura depende da qualidade pré-
serviço do componente e da degradação em serviço do componente em condições operacionais.
O papel da avaliação não destrutiva na garantia da qualidade pré-serviço e também a monitoração
da degradação em serviço para evitar falhas prematuras dos componentes estruturais é cada vez
maior. Existem muitas técnicas baseadas em vários princípios físicos.
O objetivo final dos ensaios não destrutivos é a detecção e caracterização de anomalias,
como defeitos, estresses e degradações microestruturais em materiais. Isto é conseguido
estabelecendo correlação entre um parâmetro físico derivado não destruído e informações
quantitativas sobre defeitos, estresses e microestruturas. As informações dos ensaios não
destrutivos, juntamente com os parâmetros de projeto, são levadas em consideração para
avaliação da integridade e avaliação da vida dos componentes e estruturas (RAJ, 1995).
Na indústria aeronáutica, bem como na maioria das indústrias de transporte, os ensaios não
destrutivos podem fazer diferença entre a vida e a morte. O NDT visa detectar trincas, preservando
a integridade do produto (HARZALLAH, 2017).
Os ensaios não destrutivos são parte integrante de um sistema de gestão da Qualidade. São
ensaios realizados em materiais e peças, sem destruí-las e não interferindo na utilização futura das
mesmas. A seleção do método depende de uma série de fatores, tais como: tipo de material,
acabamento, processo de fabricação, descontinuidades esperadas, etc...
Os END tem como principais vantagens o aumento da produtividade, enviando-se gastos de
tempo e energia, a indicação correta do local da descontinuidade; a prevenção do mau
funcionamento de equipamentos vitais; a localização de falhas de processo ou utilização de peças.
São inúmeros os tipos, cada um com suas características que devem ser observadas,
juntamente com as condições do material a ser ensaiado. Para determinados objetivos, um ensaio
pode ser complementado por outro. Os ensaios mais utilizados são de inspeção visual (IV), líquido
penetrante (LP), partículas magnéticas (PM), correntes parasitas (EC), ultrassom (US), radiografia
industrial (RI) (DCTA, 2017).

Materiais e Métodos
O planejamento experimental apresenta a metodologia aplicada para atender os objetivos
do trabalho, desde o tipo de aeronave, partes e ensaios executados, respeitando as características
de cada componente e materiais, para posterior análise de dados e discussão, conforme
fluxograma da Figura 4.
Figura 4. Fluxograma do planejamento experimental da aeronave C-130 Hércules.

Aeronave C-130 Hécules


As inspeções não destrutivas são exames na estrutura e nos componentes do avião da série
1C-130 (Figura 5), para detectar descontinuidades na superfície ou dentro do material ou
mascarados por uma outra estrutura sem danificar a integridade física do material a ser ensaiado.
A terminologia e definições que são peculiares aos diferentes tipos de ensaios não destrutivos que
são descritas nas normas.

Figura 5. Índice de montagem do grupo principal (USAF, 2009).


Inspeção de Eddy Current da Asa
A inspeção na asa deve ser feita utilizando o item do Technical Manual (USAF, 2009) CW13
Inspeção na superfície inferior da asa, na área do “Rainbow Fitting” esquerdo e direito, conforme
figuras 16. Foi utilizado o aparelho de Eddy Current da marca Zetec, modelo MIZ 21A, utilizando
uma frequência de 330KHz, com fase 121, sensibilidade 57, ganho 43. Para calibração do aparelho
de Eddy Current, foi utilizado o bloco de referência de alumínio MSN 6635-01-092-51291/2.
A descrição dos defeitos, tais como defeitos procurados nesta inspeção, são propagação de
trincas de furos de fixação e raios nas chapas da asa devido a cargas de voo. Geralmente, essas
trincas propagam-se para frente e para trás através da superfície da asa, conforme mostrado na
Figura 6.

Figura 6. Inspeção da superfície do centro da asa inferior na junção da asa direita e esquerda (USAF,
2009).

Inspeção de Eddy Current da Estrutura


A inspeção na moldura do para-brisa deve ser feita utilizando o item do Technical Manual
F-4 (USAF, 2009). Inspeção na moldura de todo o para-brisa ao redor dos fixadores e nos raios da
moldura de fixação da janela. Foi utilizado o aparelho de Eddy Current da marca ZETEC Modelo MIZ
21A, utilizando uma frequência de 300 KHz, com fase 052, sensibilidade 57, ganho 42. Para
calibração do aparelho de Eddy Current, foi utilizado o bloco de referência universal padrão de
alumínio NSN 6635-01-092-5129.
Procedimento de inspeção.
A calibração do equipamento deve ser realizada de acordo com o manual do fabricante e
TO 33B-1-1, e deve ser utilizado um probe tipo caneta de superfície. Com o instrumento calibrado,
verifique no padrão para garantir a sensibilidade de modo que o equipamento consiga detectar a
descontinuidade no slot de 0,020” de profundidade, conforme Figura 7.

Figura 7. Inspeção ao redor dos fixadores e nos raios da moldura do para-brisa (USAF, 2009).

Inspeção de Líquidos Penetrantes Fluorescentes da Estrutura


A inspeção nos componentes estruturais deve ser feita utilizando o item do Technical
Manual F-6 (USAF, 2009), e para realização desse ensaio foi utilizado o líquido penetrante
fluorescente tipo 1 método C removível por solvente.
Procedimentos de Inspeção
De acordo com a Seção II para procedimentos gerais de inspeção visual e do líquido
penetrante fluorescente no TO 33B-1-1 para procedimentos a serem seguidos na realização das
seguintes inspeções. Inspecione visualmente as intercostais (item 1) e analise os componentes
entre a fuselagem nas estações 156 e 204 para detectar trincas e corrosão, conforme Figura 8.
Inspecione visualmente segmentos do anel (item 2) e analise os componentes entre a fuselagem
nas estações 165, e 204 para detectar trincas e corrosão. Inspecione visualmente as intercostais
(item 3) e analise os componentes entre a fuselagem nas estações 204 e 245 para detectar trincas
e corrosão.
Inspecione visualmente intercostais (item 4) e analise os componentes para trincas e
corrosão. Inspecione visualmente intercostais (item 5) e analise os componentes entre a fuselagem
estações 156 e 165 para detectar trincas e corrosão. Inspecione visualmente intercostais (item 6)
e analise os componentes entre a fuselagem nas estações 146 e 156 para detectar trincas e
corrosão. Inspecione visualmente as correias (item 7) para detectar trincas e corrosão. Verifique as
indicações de trincas com o penetrante tipo 1, método C, sensibilidade 2 de acordo com o 1C-130A-
36.

Figura 8. Inspeção nos componentes estruturais superior da fuselagem (USAF, 2009).


Inspeção de Eddy Current do Trem de Pouso
A inspeção no trem de pouso de nariz deve ser feita utilizando o item do Technical Manual
F-12 (USAF, 2009). Inspeção na superfície superior do alojamento do trem de pouso de nariz,
conforme Figura 9. Foi utilizado o aparelho de Eddy Current da marca Zetec, Modelo MIZ 21A,
utilizando uma frequência de 350 KHz, com fase 041, sensibilidade 41, ganho 38. Para calibração
do aparelho de Eddy Current, foi utilizado o bloco de referência universal padrão de alumínio.

Figura 9. Inspeção na superfície superior do alojamento do trem de pouso de nariz (USAF, 2009).

Inspeção de Raios-X do Trem de Pouso


A inspeção no trem de pouso de nariz deve ser feita utilizando o item do Technical Manual
F-11 (USAF, 2009). Inspeção na estrutura inferior do alojamento do trem de pouso de nariz. Foi
utilizado o aparelho portátil de raios-X da marca Sperry, modelo 160 KVP. Para calibração do
aparelho de raios X, foi utilizado o bloco de referência universal padrão de alumínio PN 6100-1
(Figuras 10 e 11).
Figura 10. Estrutura inferior do alojamento do trem de pouso de nariz (USAF, 2009).

Figura 11. Estrutura inferior do alojamento do trem de pouso de nariz (USAF, 2009).
Conclusão
Foi estudado a aplicação dos ensaios não destrutivos em aeronaves C-130 Hércules, para
asa, estrutura, trem de pouso, estabilizadores e rampa, atendendo as normas especificas para cada
ensaio e de acordo com o manual de manutenção do fabricante.
Foram estudadas e interpretadas todas as seções do manual de manutenção do fabricante,
antes de iniciar a execução dos ensaios por técnico qualificado, TO 1C -130A-36, Technical Manual
de 2009.
Foi desenvolvido o pleno domínio das técnicas de ensaios não destrutivos aplicados no
manual do fabricante da aeronave C-130 Hércules, para os ensaios de líquidos penetrantes
fluorescentes, partículas magnéticas fluorescentes, Eddy Current, ultrassom e raios-X.
Foram interpretados os resultados obtidos dos ensaios não destrutivos, onde foram
detectados defeitos na asa, frame da janela inferior e estabilizador horizontal frontal.
Portanto, fica garantida a vida útil de cada componente inspecionado pelas técnicas de
ensaios não destrutivos e com isso garantindo a confiabilidade e a aeronavegabilidade na aeronave
C-130 Hércules.

Referências
 HARZALLAH, S.; CHABAAT, M., CHABANE, K. Numerical study of eddy current by Finite Element
Method for cracks detection in structures. Frattura Ed Integrità Strutturale, v. 11, n. 39, 2017.
 LOCKHEED C-130A HÉRCULES. Fotografia sem autoridade conhecida. Disponível em
https://br.pinterest.com.
 PEREIRA NETO, F. C. A aviação militar brasileira. Rio de Janeiro: Editora Revista Aeronáutica,
2004.
 RAJ, B.; JAYAKUMAR, T.; RAO, B. P. C. Non-destructive testing and evaluation for structural
integrity. Sadhana, v. 20, n. 5, p. 5-38, 1995.
 RODRIGUES, L. E. M. J. Lockheed C-130 Hércules. São Paulo: Taperá Aerodesign; GEA – Grupo
de Estudos Aeronáuticos, 2015

Você também pode gostar