Cuidado Farmaceutico Metodo Clinico Vol1
Cuidado Farmaceutico Metodo Clinico Vol1
Cuidado Farmaceutico Metodo Clinico Vol1
Central de
Farmácia
O Cuidado Farmacêutico
Abastecimento
Farmacêutico
Pública
no contexto do sistema
de saúde
Unidade
de Pronto
Atendimento
Central de
Abastecimento
Farmacêutico COLEÇÃO
Cuidado Farmacêutico na Atenção Básica:
USF/UBS aplicação do método clínico
PROJETO
Atenção Básica: capacitação, qualificação dos
serviços de Assistência Farmacêutica e integração
das práticas de cuidado na equipe de saúde
Centro de
referência em
IST/AIDS
BRASILIA - DF 2020
MINISTÉRIO DA SAÚDE
Secretaria de Atenção Primária à Saúde
Departamento de Promoção da Saúde
O Cuidado Farmacêutico no
contexto do sistema de saúde
VOLUME 1
COLEÇÃO
Cuidado Farmacêutico na Atenção Básica:
aplicação do método clínico
PROJETO
Atenção Básica: capacitação, qualificação dos serviços de Assistência Farmacêutica e
integração das práticas de cuidado na equipe de saúde
BRASILIA - DF
2020
2020 Ministério da Saúde.
Esta obra é disponibilizada nos termos da Licença Creative Commons – Atribuição – Não Comercial – Compartilhamento pela mesma licença 4.0 Internacional.
É permitida a reprodução parcial ou total desta obra, desde que citada a fonte. A coleção institucional do Ministério da Saúde pode ser acessada, na íntegra, na
Biblioteca Virtual em Saúde do Ministério da Saúde: http://bvsms.saude.gov.br.
Elaboração, distribuição e informações: Grupo executivo: Débora Schuskel Rangel Ray Godoy
MINISTÉRIO DA SAÚDE Hospital Alemão Oswaldo Cruz: Modelagem Instrucional e Pedagógica: Samuel Amano Maximo
Secretaria de Atenção Primária à Saúde Aline Fajardo Débora Schuskel Simone Barbosa da Silva Bier
Departamento de Promoção da Saúde Karen Sarmento Costa Gestão dos Processos do Curso: Thaís Teles de Souza
Samara Kielmann Gicelma Rosa dos Santos Tiago Marques dos Reis
Esplanada dos Ministérios,
CONASEMS: Adrielly Saron Alves Silva Lopes
bloco G, 7º andar Revisão técnica:
Elton da Silva Chaves Gestão do ambiente virtual
CEP: 70058-900 - Brasília/DF Alice Aparecida de Olim Bricola
Hisham Mohamad Hamida de aprendizagem: Felipe Tadeu Carvalho Santos
Tel.: (61) 3315-6101 Ministério da Saúde: Alline Tibério Karen Sarmento Costa
Site: www.aps.saude.gov.br Olivia Lucena de Medeiros Produção audiovisual: Leonardo Régis Leira Pereira
E-mail: [email protected] Hannah Carolina Tavares Domingos Anders Rinaldi Angelin Orlando Mário Soeiro
Izabella Barbosa de Brito Designer Instrucional:
HOSPITAL ALEMÃO OSWALDO CRUZ
Daniel Tschisar Colaboração técnica:
R. João Julião, 331, Bela Vista Coordenação geral do projeto:
Dayde Lane Mendonça da Silva
CEP: 01327-001 – São Paulo/SP Ana Paula N. Marques de Pinho Elaboração do conteúdo e texto: Mauro Silveira de Castro
Tel.: (11) 3549-1000 Samara Kielmann André de Oliveira Baldoni Coordenação editorial:
Site: www.hospitaloswaldocruz.org.br Coordenação técnica do curso: Bárbara Cristina Barreiros Júlio César de Carvalho e Silva
Leonardo Régis Leira Pereira Camilo Molino Guidoni
CONSELHO NACIONAL DE SECRETARIAS Revisão de texto:
Dayde Lane Mendonça da Silva
MUNICIPAIS DE SAÚDE Gestão do projeto: Fabiana Rossi Varallo Julia Nader Dietrich – Educomunicação e
Esplanada dos Ministérios, bloco G, Aline Fajardo Felipe Tadeu Carvalho Santos Jornalismo
anexo B, sala 144 Camila Tavares de Sousa
Fernanda Plessmann de Carvalho
Zona Cívico-Administrativo Flávia Landucci Landgraf Projeto gráfico e capa:
Leonardo Régis Leira Pereira
CEP: 70058-900 – Brasília/DF Mariana Castagna Dall’Acqua Laura Camilo – L7 Design
Mauro Silveira de Castro
Tel.: (61) 3022-8900 Innovativ – HAOC: Patrícia Sampaio Chueiri Normalização:
Site: www.conasems.org.br Gestão dos processos de EaD: Paulo Roque Obreli Neto Delano de Aquino Silva – Editora MS/CGDI
Ficha Catalográfica
Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção Primária à Saúde. Departamento de Promoção da Saúde.
Cuidado Farmacêutico na Atenção Básica : aplicação do método clínico / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção Primária à Saúde, Departamento de Promoção da Saúde. –
Brasília : Ministério da Saúde, 2020.
5 v. : il.
Conteúdo: v. 1. O Cuidado farmacêutico no contexto do sistema de saúde. v. 2. Competências dos farmacêuticos para o Cuidado Farmacêutico. v. 3. Método clínico: acolhimento e
coleta de dados. v. 4. Método clínico: avaliação e identificação dos problemas relacionados à farmacoterapia. v. 5. Método clínico: plano de cuidado, monitoramento e avaliação das metas
estabelecidas.
ISBN 978-85-334-2850-8 (coleção)
ISBN 978-85-334-2851-5 (volume 1)
1. Prática farmacêutica baseada em evidências. 2. Atenção Primária à Saúde. 3. Procedimentos clínicos. I. Título.
CDU 615.12
a Abertura 08
Cuidado Farmacêutico na Atenção Básica/Primária em Saúde:
uma necessidade social e inadiável no contexto do SUS
Síntese da Aula 44
Referências 45
A3 Método Clínico Centrado na Pessoa (MCCP),
no contexto do profissional Farmacêutico 47
i Introdução 49
Prevenção Quaternária 59
Síntese da Aula 61
Referências 61
Material Complementar 62
A4 A Farmácia Clínica e o Cuidado Farmacêutico frente
às transformações do sistema de saúde e da
morbimortalidade relacionada aos medicamentos 63
A Fase Tradicional e a morbimortalidade relacionada aos medicamentos 65
Síntese da Aula 81
Referências 81
A5 Cuidado Farmacêutico na Atenção Básica 84
i Introdução 86
Dimensão clínico-assistencial 90
Dimensão técnico-pedagógica 93
Glossário 104
Referências 104
Prefácio
Este livro é fruto de uma parceria estratégica e fundamental entre o Hos- Nesta publicação, estruturada a partir do curso para farmacêuticos, o
pital Alemão Oswaldo Cruz (HAOC), o Conselho Nacional de Secretarias leitor poderá acompanhar os conteúdos e reflexões propostos como
Municipais de Saúde (CONASEMS) e o Ministério da Saúde (MS), por meio uma ação de formação continuada adequada à rotina desses profis-
da Secretaria de Atenção Primária à Saúde (SAPS), no âmbito do Progra- sionais. A mesma tem como objetivo fornecer os fundamentos teóricos
ma de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do Sistema Único de Saú- e práticos para que os farmacêuticos possam ampliar a sua atuação
de (PROADI-SUS), para o fortalecimento da Atenção Básica/Primária (AB/ clínica na AB a partir da compreensão das dimensões do cuidado em
APS) em Saúde no Brasil. saúde, do cuidado centrado na pessoa, do cuidado farmacêutico no
contexto do Sistema de Saúde, assim como as competências do far-
O projeto Atenção Básica: capacitação, qualificação dos serviços farmacêu-
macêutico no desenvolvimento do Cuidado Farmacêutico e os aspectos
ticos e integração das práticas de cuidado na equipe de saúde é um convite
da aplicação do método clínico.
à reflexão sobre os serviços farmacêuticos na AB/APS visando maior inte-
gração destes na rede de saúde e qualificação de sua oferta aos usuários. É A fim de apoiar o leitor na compreensão da proposta original do curso,
com essa perspectiva e considerando as necessidades de saúde da popu- foram mantidas as estruturas das aulas, congregando a cada volume, um
lação e do próprio Sistema de Saúde do nosso país que desenvolvemos um conjunto de unidades de aprendizagem sempre enriquecidas por exem-
conjunto diversificado de iniciativas ao longo do projeto. plos práticos do cotidiano do profissional nos serviços de saúde e por
ilustrações que facilitam a compreensão das discussões enunciadas. A
Dentre elas, destacamos a construção e a oferta aos municípios brasilei-
cada unidade são compartilhadas, ainda, referências e materiais comple-
ros de forma inédita do curso Cuidado Farmacêutico na Atenção Básica:
mentares para aprofundamento.
aplicação do método clínico, direcionado aos profissionais farmacêuticos,
que visa contribuir para o desenvolvimento do raciocínio clínico do farma- O HAOC espera que, em consonância com a sua missão, este projeto
cêutico, por meio de um método clínico utilizado no cuidado farmacêutico, e esta publicação possam contribuir para fortalecer a Atenção Básica no
voltado ao enfrentamento de problemas relacionados à farmacoterapia. SUS por meio da atuação integrada de profissionais qualificados, da pro-
moção de mudanças no processo de trabalho do farmacêutico e na sua
Foram também desenvolvidos três outros cursos voltados a profissionais –
integração na equipe de saúde, proporcionando melhoria da qualidade da
nível médio e/ou técnico, nível superior, e gestores - que atuam junto aos
assistência e do cuidado ao usuário do sistema.
serviços farmacêuticos municipais, cujo material é apresentado, respecti-
vamente, nas coleções Assistência Farmacêutica na gestão municipal: da
instrumentalização às práticas de profissionais de nível médio e/ou técnico
nos serviços de saúde, Assistência Farmacêutica na gestão municipal: da
instrumentalização às práticas de profissionais de nível superior nos serviços
de saúde e no livro Gestão do Cuidado Farmacêutico na Atenção Básica. Hospital Alemão Oswaldo Cruz
APS
RAS
Abertura
Samara Kielmann, Aline Fajardo, Camila Tavares de Sousa, Mariana Castagna Dall’Acqua, Flávia Landucci
Landgraf, Karen Sarmento Costa, Leonardo Régis Leira Pereira, Olivia Lucena de Medeiros, Hannah Carolina
Tavares Domingos, Izabella Barbosa de Brito, Elton da Silva Chaves, Hisham Mohamad Hamida
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PROJETO ATENÇÃO BÁSICA A1 A2 A3 A4 A5
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PROJETO ATENÇÃO BÁSICA A1 A2 A3 A4 A5
Assim, em vista da demanda de formação adequada dos farmacêuticos farmacêutico no contexto do Sistema de Saúde, além das competências
para atender as necessidades da população brasileira e do próprio sistema necessárias do profissional farmacêutico no desenvolvimento do Cuidado
de saúde do país, a equipe do Projeto da Atenção Básica formulou, de- Farmacêutico e os aspectos relacionados à aplicação do método clínico.
senvolveu e ofereceu aos farmacêuticos dos municípios brasileiros o Curso
Considerando o ineditismo e a importância desse material para a formação
Cuidado Farmacêutico na Atenção Básica: aplicação do método clínico,
de farmacêuticos no SUS e levando em conta a situação imposta pela
com o objetivo de fornecer os fundamentos teóricos e práticos para que os
pandemia do novo Coronavírus, que exige a busca de novas alternativas
profissionais farmacêuticos na Atenção Básica/Primária em Saúde possam
dentro da realidade da Atenção Básica/Primária em Saúde para orientar os
desenvolver o raciocínio clínico por meio de um método clínico utilizado no
usuários na utilização adequada dos medicamentos, principalmente aque-
cuidado farmacêutico, voltado ao enfrentamento de problemas relaciona-
las pessoas que são consideradas grupo de risco para a COVID-19, o Gru-
dos à farmacoterapia.
po Executivo do Projeto, constituído pelo Hospital Alemão Oswaldo Cruz,
A elaboração do curso foi fundamentada no construtivismo com ênfase na Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (CONASEMS) e
participação ativa do estudante na qual ele é instigado a experimentar e (re) Ministério da Saúde - Secretaria de Atenção Primária à Saúde (MS/SAPS),
construir o conhecimento. A abordagem pedagógica construída contribui para propôs a organização dessa coleção, a partir do material didático elabora-
o desenvolvimento de estruturas conceituais e para a construção reflexiva e do no curso, com a expectativa de ampliar o conhecimento e as oportuni-
crítica do conhecimento dos farmacêuticos - elementos principais na aprendi- dades dos profissionais farmacêuticos na implantação e/ou ampliação do
zagem significativa proposta pela formação. Esse tipo de abordagem requer Cuidado Farmacêutico na Atenção Básica.
desses farmacêuticos uma postura proativa no processo ensino-aprendiza-
O conteúdo dos módulos, aqui apresentados em formato de volumes, foi
gem para estudarem com autonomia e com comprometimento com o curso,
pensado de forma encadeada para que o farmacêutico passe por todas as
planejando o tempo de dedicação e criando uma rotina de estudos adequada
unidades de aprendizagem de forma fluída e organizada como um ciclo.
à sua vida pessoal e profissional, como esquematizado na Figura 1, a seguir.
Por essa razão, cada volume desta coleção é composto por um conjunto
Adotamos no curso o conceito de Cuidado Farmacêutico como: de unidades de aprendizagem. São, ao todo, cinco volumes:
um conjunto de ações e serviços realizados pelo profissional » Vol. 1 - O Cuidado Farmacêutico no contexto do sistema de saúde
farmacêutico, levando em consideração as concepções do
» Vol. 2 - Competências dos farmacêuticos para o Cuidado Farma-
indivíduo, família, comunidade e equipe de saúde com foco
cêutico
na prevenção e resolução de problemas de saúde, além da
sua promoção, proteção, prevenção de danos e recupera- » Vol. 3 - Método clínico: acolhimento e coleta de dados
ção, incluindo não só a dimensão clínico-assistencial, mas
» Vol. 4 - Método clínico: avaliação e identificação dos problemas
também a técnico-pedagógica do trabalho em saúde5:115.
relacionados à farmacoterapia
» Vol. 5 - Método clínico: plano de cuidado, monitoramento e ava-
Os conteúdos abordados percorrem desde a compreensão das dimen- liação das metas estabelecidas
sões do cuidado em saúde, do cuidado centrado na pessoa e do cuidado
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PROJETO ATENÇÃO BÁSICA A1 A2 A3 A4 A5
Módulo
• Vídeo de abertura
• Cenário reflexivo
Roteiro de
Aprendizagem
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1
PROJETO ATENÇÃO BÁSICA A1 A2 A3 A4 A5
Aula
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PROJETO ATENÇÃO BÁSICA A1 A2 A3 A4 A5
Ementa da aula
Objetivo de aprendizagem
O conceito da OMS, por mais abrangente que seja, nos remete ao contex-
Concepção de Saúde to em que as pessoas estão e suas condições de vida, família, emprego,
habitação etc. Houve um reforço dessa ideia na Conferência Internacional
de Cuidados Primários de Saúde, que ocorreu em Alma Ata, no final dos
A definição de saúde pode representar diversos conceitos, pois refle-
anos 1970, com o lema “Saúde para todos no ano 2000”. As metas do
te a conjuntura social, econômica, política e cultural1 para cada um
milênio, na década seguinte, também foram no mesmo sentido, ou seja,
de nós. Ao longo da história houve muitas tentativas de se estabele-
colocar na base da discussão os Determinantes Sociais de Saúde.
cer um consenso entre os países sem muito sucesso. Para que isso
acontecesse foi necessário o surgimento de uma entidade de grande
representação internacional, como a Organização Mundial de Saúde
(OMS). Assim, a OMS estabeleceu em 1947 que a saúde “é um estado Determinantes Sociais de Saúde
de completo bem-estar físico, mental e social e não a mera ausência
de enfermidade ou doença”2.
Essa forma de avaliar a saúde sofreu críticas por ser muito ampla e
A História do Sr. João
visar uma perfeição inatingível, utópica3. Quem está doente? Quem é Sr. João, 53 anos, agenda uma consulta na Unidade Básica de Saúde
saudável? Estabelecer a saúde como a simples ausência de doença 4 (UBS) por insistência de sua esposa. Trabalha como mestre de obras
era algo mais objetivo e fácil de ser mensurável. No entanto, esse e raramente consegue tempo para cuidar da saúde. Atualmente leva
raciocínio simplificou demais o conceito, levando os profissionais a duas horas para chegar até o local de trabalho por meio do transporte
centrar suas ações nas enfermidades propriamente ditas em vez aten- público. Apesar de não admitir nenhum problema, vive queixando-se de
tarem às pessoas que ficam enfermas. Deu-se, portanto, mais valor dor de cabeça.
a estudar a doença em si, estabelecer diagnósticos e tratamentos,
Após a consulta, em que foi constatado aumento da pressão arterial
geralmente medicamentosos, sem que isso resultasse em benefícios à
(mesmo problema de seu pai já falecido), foi solicitado que fizesse exa-
saúde da população.
mes e melhorasse o padrão alimentar. Sr. João mora com a esposa e
três filhos, em uma casa de dois cômodos, sem saneamento básico, na
periferia de sua cidade. Por ter perdido o dia de trabalho devido à pri-
meira consulta, não realizou os exames e não compareceu ao retorno.
Vamos refletir!
Você já se perguntou qual o seu conceito de
saúde? Será que isso influencia na sua atuação
profissional?
Vamos refletir!
Avaliando o caso descrito anteriormente, quais
elementos contribuem para o processo de
adoecimento do Sr. João?
Figura 2. Modelo iceberg Nível 1 – características individuais: idade, sexo, fatores genéticos, es-
tilo de vida (influenciados não apenas por características particulares,
mas também por determinação social)
Nível 2 – redes comunitárias e de apoio
Tratamento
Nível 3 – condições de vida e de trabalho, disponibilidade de alimentos
Sintomas/queixas e acesso a ambientes e serviços essenciais, como saúde e educação
Reabilitação Agravos/doenças
Nível 4 – macrodeterminantes relacionados às condições econômicas,
culturais e ambientais da sociedade e que possuem grande influência
sobre as demais camadas
ÕE
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IÇ
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AMBIENTE DE DESEMPREGO
ND
CIAIS E COM
Fonte: Elaborado sobre ID do vetor Stock livre de direitos: 622143410.
IS
TRABALHO
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O Método Clínico Centrado na Pessoa, que será abordado na Aula 3, VIDA DO IN
DE
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é uma excelente ferramenta que possibilita um olhar ampliado sobre o O
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indivíduo, pois fomenta a ampliação da abordagem clínica clássica. EDUCAÇÃO
S
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SERVIÇOS
O padrão predominante de desenvolvimento dos países tem contribuí- SOCIAIS
do para a degradação do meio ambiente e da saúde das populações, PRODUÇÃO DE SAÚDE
IDADE, SEXO
pois aumenta as desigualdades na distribuição de renda6. As moradias AGRÍCOLA E FATORES
insalubres, a falta de lazer, o trabalho precário, são consequências des- E DE HEREDITÁRIOS HABITAÇÃO
ALIMENTOS
sas iniquidades. Uma forma didática de compreender as divisões dos
Determinantes Sociais de Saúde é o modelo elaborado por Dahlgren
e Whitehead7, no qual são definidos quatro níveis dos determinantes
sociais que vão desde a camada central ou individual até a distal ou
macrodeterminante (Figura 3): Fonte: Adaptado de Buss e Pelegrini Filho7 e Imagem - Flaticon ©.
Tomando por base o modelo ilustrado na Figura 3, há então a possi- faz-se necessária não apenas uma assistência médica propriamente
bilidade de se propor medidas protetivas para cada um dos níveis de dita, mas, também, a possibilidade de melhores condições de vida. Para
Determinantes Sociais, conforme apresentado no Quadro 1, a seguir. isso, é imprescindível a participação da comunidade na proposição de
políticas públicas para a garantia de seus direitos.
Quadro 1. Níveis de intervenções sobre os determinantes sociais da saúde
Nível de Determinação
Social de Saúde
Medidas
Protetivas
Princípios e diretrizes do
Programas educativos, comunicação social, acesso
Sistema Único de Saúde (SUS)
facilitado a alimentos saudáveis, criação de espaços
Nível 1
públicos para a prática de esportes, proibição à
propaganda do tabaco e álcool etc.
A Constituição de 1988, no seu Art.
Políticas que estabeleçam redes de apoio e que
Nível 2 favoreçam a organização e participação das pessoas
196, ratifica: “A saúde é direito de
e das comunidades. todos e dever do Estado, garantido
Acesso a água limpa, esgoto, habitação adequada,
mediante políticas sociais e
Nível 3
alimentos saudáveis, emprego seguro e realizador, econômicas que visem à redução do
ambientes de trabalho saudáveis, serviços de
educação e saúde de qualidade etc.
risco de doença e de outros agravos
e ao acesso universal e igualitário às
Políticas macroeconômicas e de mercado de
Nível 4 trabalho, de proteção ambiental e promoção de
ações e serviços para sua promoção,
cultura de paz e solidariedade. proteção e recuperação”8.
Fonte: Adaptado de Buss e Pelegrini Filho7.
Voltando para o caso do Sr. João, devemos entender a relação de seu Para a garantia desse direito foi criado o Sistema Único de Saúde (SUS),
atual estilo de vida com os fatores sociais que o cercam. As característi- a partir da instituição da Constituição Brasileira em 1988, com base no
cas individuais como a herança genética, o padrão alimentar e de mora- conceito ampliado de saúde e seus Determinantes Sociais, discutidos
dia, podem ter influenciado na alteração da pressão arterial constatada anteriormente. A regulamentação do SUS se dá através de normatiza-
na avaliação clínica. A dificuldade de acessar o serviço de saúde pela ções específicas, das quais, destaca-se a Lei Orgânica da Saúde nº
precariedade de sua relação de trabalho também contribuiu para a piora 8.080, de 19 de setembro de 1990, na qual são elencados princípios e
do quadro, portanto, para que se tenha uma população mais saudável, diretrizes fundamentais9.
1
Descentralização: os serviços devem estar o mais
3
próximo possível dos cidadãos, nos municípios. Para
isso devem ser fornecidas condições gerenciais,
técnicas, administrativas e financeiras para que cada Participação comunitária: conforme mencionamos
cidade possa exercer tal função. Para que sejam anteriormente, nos Determinantes Sociais da
otimizados os recursos de um determinado local, Saúde, é fundamental que os cidadãos participem
pode ser necessário que várias municipalidades se da construção das políticas públicas. O SUS prevê
organizem em conjunto com o Estado, na oferta de dentro das suas diretrizes que a população usuária
serviços. A isso se dá o nome de regionalização. Assim, e os trabalhadores contribuam ativamente nesse
municípios pequenos não precisam ter um hospital processo. Isso ocorre por meio da constituição dos
de grande porte, pois pode haver um que sirva de Conselhos e das Conferências de Saúde.
referência para todos os municípios daquela região.
Os serviços de saúde devem estar organizados para responder às As agudizações das doenças crônicas devem ser avaliadas, preferen-
necessidades da população. Quando ocorre uma transição demo- cialmente pelas equipes que já acompanham os casos, e os pacientes
gráfica, como apresentado anteriormente, é preciso que o sistema encaminhados para os serviços de urgência, quando necessário. No
de saúde todo se adapte para dar conta das condições de saúde entanto, faz-se necessário o aumento no número de UBS e a otimiza-
atuais. O SUS tem suas regras gerais, princípios e diretrizes, mas o ção de hospitais e redes de pronto atendimento. Para dar conta das
direcionamento das ações e prioridades deve estar em constante ava- necessidades da população e efetivar o princípio da integralidade de-
liação para responder de forma efetiva às demandas da sociedade. vemos ter uma rede de serviços que se complementem e se integrem
Podemos dizer, portanto, que atualmente o sistema deve estar pre- de fato.
parado para responder às condições encontradas na “tripla carga
de doenças”.
Outra forma de se identificar as necessidades de saúde da população é Organização dos serviços de saúde:
por meio da demanda que chega aos serviços de saúde. Nessa ques-
tão, as UBS têm papel fundamental, pois é nesse local que as pessoas
são cadastradas, acompanhadas e estratificadas em relação a riscos - Assistência à saúde centrada em
e vulnerabilidades12. equipes multidisciplinares
Analisando a história da saúde pública brasileira, é possível constatar
que sempre foram privilegiados os serviços de assistência imediata,
que dão preferência para as queixas agudas e pontuais, ou os que
- Expansão da Atenção Básica com
utilizam alta densidade tecnológica. São exemplos desses serviços as aumento do número de UBS
Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) e os complexos hospitalares.
Os cenários mais adequados para o cuidado das doenças crônicas
necessitam de avaliações contínuas e vínculo. Por isso, não devem ser
- Hospitais e Unidades de Pronto
atendidas nos locais destinados às doenças agudas. Atendimento otimizados por região
As enfermidades crônicas apresentam inúmeros fatores de risco que
são melhores conduzidos por equipes multidisciplinares. Centrar o cui- - Equilíbrio entre atividades
dado apenas na assistência médica é outra característica que precisa programadas e demanda espontânea
ser adequada. Os dados estatísticos e epidemiológicos ajudam na ma-
cro-organização do sistema de saúde, mas desvendar a demanda das
pessoas no dia a dia nem sempre é uma tarefa simples. Para identifi- - Integração entre os serviços de
cá-las é essencial criar condições que facilitem o acesso aos serviços. diferentes níveis de atenção
Por isso, é preciso ter o cuidado de equilibrar as ofertas de consultas
ou atividades programadas e as demandas livres, não agendadas.
qualificação das ações de saúde Uma das primeiras características dessa rede é que ela seja constituída
de serviços de Atenção Básica à Saúde, os quais devem estar organiza-
dos de forma dispersa, o mais próximo possível das pessoas para o fácil
Nesses 30 anos de existência, o SUS acumula uma série de desafios. acesso. Os locais de alta densidade tecnológica, como ambulatórios de
O primeiro é a fragmentação da assistência entre os vários níveis de especialidade e hospitais devem ser concentrados. As atividades oferta-
atenção. Além disso, apesar da universalização preconizada, há espa- das por cada um desses equipamentos devem ser muito bem definidas
ços descobertos de assistência e uma incoerência entre a necessidade para que não haja duplicidade ou competitividade de ações. Cada um
da população e a oferta. Outros obstáculos a serem superados são a deve atuar de acordo com a sua capacidade de resolutividade.
carência de profissionais, a precarização e a pulverização dos serviços
O centro da RAS é composto pelos serviços da Atenção Básica, equi-
municipais. Há ainda a pouca inserção da vigilância e da promoção da
pamentos que utilizam baixa densidade tecnológica. Por esse motivo,
saúde no cotidiano dos serviços, principalmente na Atenção Básica13.
muitos gestores erroneamente a desvalorizam, por entenderem que não
Vários países enfrentaram esses problemas por meio da organização atendem casos difíceis e complexos. Ao contrário, são serviços que
das Redes de Atenção à Saúde (RAS), pois há evidências de que elas devem dar conta da maioria das demandas que a ela chegam. Se a
melhoram os resultados sanitários e econômicos dos sistemas de aten- Atenção Básica é o centro da RAS e a política de saúde local não a for-
ção à saúde14. A finalidade da RAS é, portanto, melhorar a qualidade da talecer, muito provavelmente não se chegará aos objetivos esperados.
atenção à saúde bem como a utilização dos recursos.
A organização da RAS depende de três elementos básicos: a popula-
ção, a estrutura operacional e o modelo de atenção à saúde.
Vamos refletir!
A população que vive no território da RAS
Você conhece as Redes de Atenção à Saúde deve ser profundamente conhecida. Por isso, é
disponíveis no território em que trabalha? importante que seja realizado um levantamento
das famílias e uma avaliação do território que
ocupam. A população geral deve ser subdividida
e estratificada conforme o risco em relação às
Fonte: Imagem – Flaticon ©.
condições de saúde estabelecidas14.
Mas, quais são os elementos que diferenciam uma Rede de Atenção à
Saúde de um simples agrupamento de serviços e ambulatórios? Fonte: Imagem - Flaticon ©.
Alguns instrumentos permitem um melhor conhecimento da população sição, armazenamento e distribuição dos medicamentos e insumos) na
da RAS, como a territorialização e o cadastramento de famílias. Com o função de apoio à rede e, ofertar, nos diferentes pontos de atenção da
auxílio de sistemas de informações efetivos pode-se identificar subgru- RAS, o cuidado farmacêutico, na dimensão clínico-assistencial e téc-
pos de maior risco e, com isso, estruturar toda a rede de saúde neces- nico-pedagógica do trabalho em saúde, voltados aos indivíduos, família,
sária para o seu atendimento. comunidade e equipe de saúde”15.
O prontuário eletrônico é uma ferramenta II. Atenção psicossocial especializada: é o segundo nível de
atenção da RAPS, formada pelo Centro de Atenção Psicosso-
útil no seguimento do usuário do sistema cial (CAPS) onde atua uma equipe multiprofissional sob a ótica
de saúde por toda a RAS, pois pode interdisciplinar e realiza atendimento às pessoas com transtornos
ser configurado para emitir lembretes e mentais graves e persistentes.
alertas. Além disso, se integrado com III. Atenção de urgência e emergência: as situações de crise de
várias unidades de saúde, permite uma saúde mental que necessitam de cuidado hospitalar devem con-
comunicação mais eficiente entre elas. tar com o aporte do serviço de atendimento móvel de urgência
(SAMU), sala de estabilização, UPA 24 horas e unidades hospita-
lares de atenção à urgência/pronto socorro.
A Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) IV. Atenção residencial de caráter transitório: são constituídos de
Para exemplificarmos como funciona uma RAS na prática, apresentaremos Unidade de Acolhimento (UA) que oferecem cuidados contínuos
a Rede de Atenção Psicossocial (RAPS). Essa rede propõe uma forma di- de saúde, com funcionamento 24 horas, em ambiente residencial,
ferenciada de atenção à saúde mental com a criação, ampliação e articula- para pessoas com necessidade decorrentes do uso de crack, ál-
ção de pontos de atenção. Podemos observar, com base nos componen- cool e outras drogas.
tes apresentados a seguir, que os serviços se complementam no cuidado
em saúde mental e cada um tem o seu papel. V. Atenção hospitalar: enfermaria especializada para atenção às
pessoas com sofrimento ou transtorno mental e com necessida-
Componentes da RAPS, de acordo com a Portaria nº 3.088/201117:
des decorrentes do uso de crack, álcool e outras drogas, em Hos-
pital Geral.
I. Atenção Básica em Saúde: Como em toda RAS, na RAPS é a
atenção básica que tem papel central e se constitui como primeiro VI. Estratégias de desinstitucionalização: constituída pelos Servi-
componente. Segundo a referida portaria, a UBS: ços Residenciais Terapêuticos, que são moradias inseridas na co-
munidade, destinadas a acolher pessoas egressas de internação
de longa permanência (dois anos ou mais, ininterruptos), egressas
[…] tem a responsabilidade de desenvolver ações de promoção de
de hospitais psiquiátricos e hospitais de custódia, entre outros.
saúde mental, prevenção e cuidado dos transtornos mentais, ações
de redução de danos e cuidado para pessoas com necessidades
VII. Reabilitação psicossocial: composta por iniciativas de gera-
decorrentes do uso de crack, álcool e outras drogas, compartilha-
ção de trabalho e renda/empreendimentos solidários/cooperati-
das, sempre que necessário, com os demais pontos da rede.
vas sociais.
É comum encontrarmos municípios que estabelecem protocolos que Coordenação do cuidado: está relacionado ao cuidado individual com
impossibilitam os profissionais da AB de solicitarem determinados exa- o objetivo de integrar e dar continuidade às várias ações de saúde pres-
mes ou até mesmo de realizarem alguns procedimentos. Pode ocorrer tadas por diferentes profissionais ou em diferentes serviços da rede12.
também uma baixa resolutividade clínica nesse primeiro nível de aten-
A AB consegue determinar as necessidades de saúde da população por
ção, demandando um maior número de encaminhamentos para as es-
meio da disponibilidade do acesso, acompanhando ao longo do tempo
pecialidades do nível secundário. Isso acontece quando uma rede de
e coordenando as várias ações de saúde prestadas às pessoas. Ba-
saúde não é ordenada pela AB ou quando esta executa de forma ina-
seando-se nesse diagnóstico é que se deve estruturar a RAS, garantin-
propriada os seus atributos.
do que a AB seja a ordenadora das suas próprias necessidades, assim
como a responsável pela demanda para outros serviços.
Pode ser necessário, por exemplo, que os profissionais das UBS se-
Continuaremos a utilizar o termo “atenção básica” como equiva-
jam capacitados para melhorar a sua resolutividade às demandas mais
lente à Atenção Primária à Saúde, assim como orienta a Política
comuns. Portanto, as ações de educação permanente e atualizações
Nacional de Atenção Básica (PNAB)18.
clínicas, ofertadas pelas secretarias de saúde, devem levar em conta as
necessidades trazidas pelos profissionais.
No caso citado anteriormente, a ampliação do número de equipes po-
Mas, quais são esses atributos?
deria melhorar o acesso. A estrutura da unidade deveria possibilitar a
Na atenção básica, os principais atributos são: realização de exames de eletrocardiograma, através de protocolos es-
tabelecidos, sem precisar de referenciamento. A carteira de serviços de
Primeiro contato ou acesso: representa a entrada do paciente nos
uma unidade do primeiro nível de atenção, também deve ser norteada
serviços de saúde. É um atributo essencial ao bom funcionamento e à
pelas necessidades da população. O mesmo raciocínio se faz para a
racionalidade do sistema19. Se uma UBS não tiver um bom acesso es-
quantidade e quais as especialidades ofertadas no nível secundário.
tará falhando gravemente em sua função. Esse aspecto é determinado
não só pelo local onde a unidade está situada, mas também pela orga- Por isso, a Atenção Básica à Saúde ocupa um papel central dentro da
nização da agenda local e por parâmetros populacionais. RAS, ou seja, uma rede que não é ordenada pelas necessidades da AB
corre o risco de não se basear nas demandas da população e ser, por-
Longitudinalidade: é o acompanhamento ao longo do tempo, o segui-
tanto, menos efetiva.
mento da pessoa através dos ciclos de vida. É pela da longitudinalidade
que se constrói o vínculo entre os profissionais de saúde e a pessoa.
Integralidade: há vários conceitos diferentes sobre integralidade. O
sentido mais apropriado para os atributos da atenção básica é que esta
necessita ofertar um cuidado abrangente, com base nas necessidades
de saúde da população. Refere-se ainda à carteira de serviços e ativida-
des executadas na UBS19.
9. Brasil. Presidência da República. Lei nº 8.080, de 19 de setembro 16. Mendes EV. As Redes de Atenção de Atenção à Saúde: Revisão.
de 1990. Dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e 2ª ed. Brasília: Organização Panamericana de Saúde; Conselho
recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços Nacional de Secretários de Saúde; 2011.
correspondentes e dá outras providências. [acesso em 23 jan. 2019].
17. Brasil. Ministério da Saúde. Portaria nº 3.088, de 23 de dezembro
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8080.htm
de 2011. Institui a Rede de Atenção Psicossocial. Diário Oficial da
10. Vasconcelos CP, Pasche DF. O Sistema Único de Saúde. In: União, Brasília (DF), 23 dez. 2011.
Campos GWS, Minayo MCS, Akerman M, Drumond Júnior M,
18. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde.
Carvalho YM. Tratado de Saúde Coletiva. 2ª ed. São Paulo:
Departamento de Atenção Básica. Política Nacional de Atenção
Hucitec; Rio de Janeiro: Ed. Fiocruz; 2009.
Básica / Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde.
11. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Projeção da Departamento de Atenção Básica. Brasília: Ministério da Saúde;
População 2018: número de habitantes do país deve parar de 2017.
crescer em 2047. Agência IBGE Notícias, 25 jul. 2018; atualizado em
19. Gusso G, Machado LBM. Atenção Primária à Saúde. In: Gusso
1 ago. 2018 [acesso em 14 de abril 2019]. Disponível em: https://
G, Lopes JMC, Dias LC. Tratado de Medicina de Família e
agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-sala-de-imprensa/2013-
Comunidade, princípios, formação e prática. 2ª ed. Porto Alegre:
agencia-de-noticias/releases/21837-projecao-da-populacao-2018-
Ed. Artmed; 2019. p. 32-33.
numero-de-habitantes-do-pais-deve-parar-de-crescer-em-2047
12. Chueiri PS, Harzheim E, Takeda SMP. Coordenação do cuidado e
ordenação nas redes de atenção pela Atenção Primária à Saúde:
uma proposta de itens para avaliação destes atributos. Rev Bras Autora
Med Fam Comunidade. 2017;12(39):1-18.
13. Brasil. Ministério da Saúde. Portaria nº 4.279, de 30 de dezembro Fernanda Plessmann de Carvalho
de 2010. Estabelece diretrizes para a Rede de Atenção à Saúde.
Médica de Família e Comunidade pela Universidade Estadual de Campinas
Diário Oficial da União, Brasília (DF), 30 dez. 2010.
(UNICAMP) e titulada em Medicina de Família e Comunidade pela Socieda-
14. Mendes EV. As Redes de Atenção de Atenção à Saúde: Revisão. de Brasileira de Medicina de Família e Comunidade (SBMFC). Supervisora
2ª ed. Brasília: Organização Panamericana de Saúde e Conselho Médica pela Organização Social Associação Congregação de Santa Cata-
Nacional de Secretários de Saúde; 2011. p 85-87. rina (OS Santa Catarina).
15. Costa KS, Tavares NU. A Integração sistêmica da Assistência
Farmacêutica. In: Projeto Atenção Básica: Capacitação,
Qualificação dos Serviços de Assistência Farmacêutica e
Integração das Práticas de Cuidado na Equipe de Saúde.
Módulo 1. Brasília: Ministério da Saúde, Programa de Apoio
Desenvolvimento Institucional do Sistema Único de Saúde; 2019.
APS
Aula
| 30 |
PROJETO ATENÇÃO BÁSICA A1 A2 A3 A4 A5
Ementa da aula
Objetivo de aprendizagem
Atenção à dica!
No caso apresentado anteriormente, a equipe
mostra que reconheceu a necessidade de saúde
do Sr. João, compreendendo fatores relacionados
ao trabalho e aos riscos apresentados pelo paciente e
tentando facilitar o acesso ao cuidado. Com a presença
de todos os membros da equipe, a discussão de caso
possibilita um olhar integral e que engloba o conhecimento
de diversos núcleos profissionais, potencializando o
cuidado. Portanto, cuidar vai muito além da prática de
diagnóstico e da prescrição de tratamento, abrangendo
a compreensão e a adequação das ações da equipe e
promovendo cuidado.
O Sistema Único de Saúde (SUS), a Rede de Atenção em
Saúde e, mais especificamente, a Atenção Básica (AB) têm
papel fundamental na oferta de cuidado à população, afinal
um dos princípios da AB é a coordenação do cuidado.
A Atenção Básica e o
cuidado em saúde
“Um sistema de saúde com forte referencial na Atenção Primária em
Saúde é mais efetivo, é mais satisfatório para a população, tem me-
nores custos e é mais equitativo – mesmo em contextos de grande
Fonte: Imagem - Shutterstock ©. iniquidade social”(p.46)5.
O estudo de White et al., de 1961, repetido por Green et al. em 2001 (representados nas Figuras 4 e 5), demonstra que em um mês, em uma
população de 1.000 pessoas, somente 1 necessita de um hospital terciário, 8 são internadas, 21 precisam de cuidados especializados e 217
procuram cuidados médicos designados primários, apesar de 750 em 800 apresentarem sintomas6,7.
1000 Pessoas
8 São hospitalizados
1 É internado em um centro médico acadêmico
* Resultados de uma Reanálise da Prevalência Mensal de Doenças na Comunidade e os Papéis das Diversas Fontes de Atenção à Saúde.
Tais resultados vão ao encontro do que foi publicado por Bertrand Dawson Figura 6. Atributos da Atenção Básica
em seu relatório de 1920, ao propor um modelo de saúde para o Reino
Unido que contasse com centros de saúde primários com médicos gene-
ralistas nas vilas, próximos às pessoas, e centros de saúde especializados Atributos essenciais Atributos derivados
e hospitais que deveriam, quando necessário ser referenciados8.
Primeiro contato Orientação familiar
O processo de trabalho dos profissionais da AB, quando pautado nos atri- a efetividade dos outros três atributos essenciais da AB: primeiro con-
butos descritos na Figura 6, promove maior qualidade do cuidado, entre- tado, longitudinalidade e integralidade5.
gando para o indivíduo e para a população um sistema de saúde mais
Sr. João conseguiu fazer os exames e o seguimento das consultas na
preparado para o atendimento das reais demandas. Assim sendo, a coor-
UBS. Além do diagnóstico de Hipertensão Arterial Sistêmica, os altos
denação do cuidado é um dos atributos mais importantes para o funciona-
níveis de colesterol aumentam o risco cardiovascular, e o paciente foi
mento adequado da AB.
orientado a utilizar anti-hipertensivos e estatina, além de ser estimulado
a realizar mudanças no estilo de vida. Apesar disso, Sr. João sofreu um
IAM em um final de semana prolongado. Quando sentiu dor, foi direto
A Atenção Básica no Brasil à UPA de seu bairro e, quando diagnosticado, encaminharam-no para
o hospital terciário de referência para realização de cateterismo com
Os termos Atenção Primária em Saúde (APS) e Atenção Básica (AB), colocação de stent.
apesar de diferentes, são considerados no Brasil como similares. A
Após a alta, Sr. João foi orientado à sua UBS de referência para agen-
nova Política Nacional de Atenção Básica (PNAB), aprovada na Portaria
damento de consulta com cardiologista e reabilitação cardiovascular
nº 2.436/2017, em parágrafo único do Art. 1º, define “A Política Na-
antes de voltar ao trabalho. Na UBS, após o acolhimento do Sr. João,
cional de Atenção Básica considera os termos Atenção Básica - AB e
médica e enfermeiro atenderam e realizaram os encaminhamentos para
Atenção Primária à Saúde - APS, nas atuais concepções, como termos
a cardiologia e o ambulatório de reabilitação cardiovascular, ambos no
equivalentes, de forma a associar a ambas os princípios e as diretrizes
centro de especialidade. Percebendo que João estava com dificulda-
definidas neste documento”11.
des no uso dos medicamentos, os profissionais solicitaram também a
marcação de uma consulta com o farmacêutico na unidade. Karina,
farmacêutica do NASF, atendeu o Sr. João na mesma semana, incluin-
A coordenação do cuidado na Atenção Básica do-o no Serviço de Cuidado Farmacêutico após tê-lo orientado sobre a
Coordenação é a ação de concatenar vários elementos, atividades e posologia dos medicamentos a serem utilizados e a importância do uso
serviços, enquanto que ordenação é a ação de colocá-los em ordem12. adequado destes. A profissional também respondeu a algumas dúvidas
Apesar de terem significados muito próximos, o uso dessas palavras acerca dos medicamentos prescritos para o Sr. João e sua esposa. A
no cuidado em saúde tem características diferenciadas. A coordenação equipe continua atendendo Sr. João e cuidando de outros aspectos de
do cuidado refere-se ao cuidado individualizado da equipe para a pes- sua saúde, como o sofrimento pelo afastamento do trabalho, orientan-
soa dentro do sistema, enquanto que a ordenação do cuidado relacio- do-o para busca de benefícios para complementação de renda, além
na-se à rede de saúde, ao sistema e ao papel da AB dentro do sistema. de continuarem o acompanhando mensalmente.
A coordenação do cuidado traduz-se em organização do cuidado e Em reunião de equipe, Karina informa quais orientações foram forneci-
de seu fluxo, sendo realizado pela equipe responsável pela assistência das ao Sr. João na consulta e discute com os colegas sobre a necessi-
aos indivíduos, além de ser centrado na pessoa. A equipe de cuidado dade de avaliação do uso dos medicamentos. Foi agendada uma visita
prestado à pessoa é integrada por diferentes profissionais em diversos domiciliar para o Sr. João, e a farmacêutica será a responsável pela
pontos/serviços da rede13. É um atributo que permeia e define também discussão do caso com o ACS e os demais membros da equipe.
VIII - Ordenar as redes: reconhecer as 1. População adscrita por equipe de Atenção Básica (eAB) e de
Saúde da Família (eSF) de 2.000 a 3.500 pessoas, localizada den-
necessidades de saúde da população tro do seu território, garantindo os princípios e diretrizes da Aten-
sob sua responsabilidade, organizando as ção Básica.
necessidades desta população em relação 2. Quatro equipes por UBS (Atenção Básica ou Saúde da Família),
aos outros pontos de atenção à saúde, para que possam atingir seu potencial resolutivo.
contribuindo para que o planejamento das 3. Fica estipulada a seguinte fórmula para cálculo do teto de equi-
pes de Atenção Básica (eAB) e de Saúde da Família (eSF), pelas
ações, assim como, a programação dos quais o município e o Distrito Federal poderão fazer jus ao recebi-
serviços de saúde, parta das necessidades mento de recursos financeiros específicos: população/2 mil, com
de saúde das pessoas11. ou sem os profissionais de saúde bucal.
4. Que uma eSF ou eAB seja responsável por toda população em
municípios ou territórios com menos de 2 mil habitantes.
Apesar de o SUS ter mais de 30 anos, é necessário reconhecer a exis-
tência de fragmentação e fragilidades nesse sistema. Para sua qualifica-
ção, é imprescindível que sejam traçadas estratégias para a qualificação As especificidades territoriais de vulnerabilidade e riscos devem ser
do cuidado, sendo uma destas a priorização da coordenação do cuida- levadas em conta para a definição de quantidade e tipos de equipe,
do, indispensável para a prática da integralidade no cuidado individual e considerando-se o objetivo de atingir um melhor potencial resolutivo e,
da articulação da rede. por conseguinte, garantir a coordenação do cuidado adequada.
Ao ampliar os tipos de profissionais atuando na AB, é possível qualificar mações da pessoa ao longo da continuidade do cuidado. A qualidade e
o cuidado e aumentar a resolutividade do serviço. O Núcleo Ampliado a veracidade do registro auxiliam na comunicação, na tomada de deci-
de Saúde da Família e Atenção Básica (NASF) constitui uma equipe mul- são e na coordenação do cuidado5.
tiprofissional e interdisciplinar composta por categorias de profissionais
O uso regular e correto da Lista de problemas, parte do registro, é uma
da saúde, sendo complementar às equipes que atuam na AB. É formada
forma de facilitar e dinamizar o acesso às informações mais importantes do
por diferentes ocupações (profissões e especialidades) da área da saúde,
paciente por qualquer profissional da AB e, portanto, qualificar o cuidado e
atuando de maneira integrada para dar suporte clínico, sanitário e peda-
a sua coordenação. Assim, é importante estudar formas de registro na AB,
gógico aos profissionais das eSF e de eAB.
em especial o Registro Clínico Orientado por Problemas (RCOP)14. O RCOP
Outras equipes descritas pela PNAB são a de Saúde Bucal (modalidades é composto pela base de dados da pessoa, pela lista de problemas, pelo
I e II), e a de Agentes comunitários de saúde (antigo PACS). plano inicial de cuidado e pelas notas de evolução da consulta.
A definição dos tipos de equipe e das categorias profissionais é de auto- O SOAP ou ReSOAP é uma forma de registrar o episódio de cuidado. É di-
nomia do gestor local, devendo ser escolhida de acordo com as necessi- vidido em quatro partes: Subjetivo – informações subjetivas e apresentação
dades dos territórios. dos problemas pelo paciente; Objetivo – informações objetivas observadas
pelos profissionais; Avaliação – avaliação ou Lista de Problemas da consul-
ta e impressões; e Plano – plano de manejo elaborado em conjunto15.
Instrumentos de coordenação do cuidado
A coordenação acontece dentro da AB entre os diferentes profissionais e
diversos núcleos de atenção; porém, acontece também fora da AB: em um
contato pontual com serviço de nível secundário ou terciário e em um cuida- Saiba mais!
do contínuo pelo serviço de nível secundário ou terciário5. Para tanto, a coor- O RCOP pode ser usado por todos os profissionais
denação do cuidado deve utilizar-se de diferentes instrumentos, a depender da saúde. Conheça essa forma de registro e as
do processo de cuidado que o indivíduo ou a população estão sob influência. vantagens de seu uso.
Os instrumentos de coordenação de cuidado são todas ferramentas e
ações do cuidado em saúde que contribuem para a qualificação da coor-
Fonte: Imagem – Flaticon ©.
denação do cuidado, sejam estas relacionadas à promoção ou preven-
ção, resolutividade, organização dos serviços, normalização de atividades
Genograma e ecomapa são instrumentos de avaliação familiar que se
profissionais e dos níveis de atenção. São exemplos: prontuários e fichas
utilizam da representação gráfica. O genograma descreve a história da pes-
utilizadas na ESF, reuniões de serviço, diretrizes clínicas, protocolos clí-
soa e da família, mapeando e ampliando o conhecimento sobre os familia-
nicos, protocolos de encaminhamento, documentos técnicos (linhas de
res para que as intervenções dos profissionais de saúde no processo de
cuidado), protocolos de serviços, manuais técnicos, entre outros.
cuidado sejam facilitadas. O ecomapa, por sua vez, identifica os sistemas
O prontuário é um documento para registro de todas as visitas e acom- envolvidos e relacionados com o paciente e o meio em que vive, facultando
panhamento do cuidado do indivíduo assistido pela equipe. É um instru- a visualização de áreas que podem ser utilizadas para melhorar o cuidado
mento de acompanhamento longitudinal, que apresenta todas as infor- por toda equipe de saúde16.
No desenvolvimento das atividades cotidianas da prática, a equipe produz A realização de atividades de gestão da clínica é fundamental para a ade-
diversos espaços que desenvolvem a coordenação do cuidado, como as quação das ações necessárias para o cuidado da população sob respon-
reuniões de equipe, que potencializam o cuidado na AB por meio da dis- sabilidade da equipe. Gestão da clínica é um conjunto de tecnologias
cussão. Esse espaço é elemento chave para a coordenação de cuidado de microgestão que tem como objetivo promover uma atenção à saúde
devido à troca de informações entre membros da equipe de Saúde da Fa- de qualidade, buscando avaliar as melhores evidências existentes, cen-
mília, da equipe de Saúde Bucal e integrantes do NASF, ou mesmo outros trar-se nas pessoas e não causar danos a elas. Para isso, analisa se os
profissionais da rede de saúde. Nesse espaço acontecem as discussões indicadores da equipe foram atingidos ou não, como resolutividade, e
de caso, as reflexões sobre necessidades de saúde da população, a ges- planeja ações que qualifiquem o curso de cuidado daquela equipe17. O
tão da clínica e outras atividades que aprofundam aspectos do cuidado conhecimento do território e da população, assim como a organização
individual e coletivo, as quais buscam atingir a integralidade e qualificar a da demanda e da agenda dos profissionais da equipe, são fundamen-
coordenação do cuidado. tais para que as suas ações sejam efetivas para o cuidado, focando nas
demandas de saúde da população, qualificando o acesso e realizando
ações de prevenção e promoção de saúde18. A utilização de indicadores
de cuidado e a gestão de lista de espera são fundamentais para a otimi-
zação do trabalho da equipe para a resolução de demandas.
Importante!
1. O nome do serviço de saúde/nome do médico/enfermeiro su-
Clique aqui e conheça o PCAToll Brasil na íntegra.
geriu (indicou, encaminhou) que você fosse consultar com este
especialista ou serviço especializado?
16. Dias LC. Abordagem familiar. In: Tratado de medicina de família 24. Leite SN. Quê “promoção da saúde”? Discutindo propostas para
e comunidade: princípios, formação e prática. 2ª edição. Porto a atuação do farmacêutico na promoção da saúde. Ciênc saúde
Alegre: Artmed; 2019. p. 282-99. coletiva [Internet]. Nov.-dez. 2007 [acesso em 29 de abril de 2019];
12(6). Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_
17. Mendes EV. Os sistemas de serviços de saúdes: o que os gestores
arttext&pid=S1413-81232007000600036
deveriam saber sobre essas organizações complexas. Fortaleza:
Escola de Saúde Pública do Ceará; 2002. 25. Vieira FS. Possibilidades de contribuição do farmacêutico
para a promoção da saúde. Ciênc saúde coletiva [Internet].
18. Gusso G, Neto PP. Gestão da Clínica. In: Tratado de medicina de
Jan.-mar. 2007 [acesso em 29 de abril de 2019]; 12(1).
família e comunidade: princípios, formação e prática. 2ª edição.
Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_
Porto Alegre: Artmed; 2019. p. 205-12.
arttext&pid=S1413-81232007000100024.
19. Chiaverini HD, Gonçalves D, Balester D, Tófoli LF, Chazan L,
Almeida N, et al. Guia prático de matriciamento em saúde mental.
Brasília: Ministério da Saúde; 2011.
20. Haddad AE, Skelton Macedo MC, Abdala V, Bavaresco C,
Autora
Mengehel D, Abdala CG, et al. Formative second opinion: qualifying
health professionals for the unified health system through the Bárbara Cristina Barreiros
Brazilian Telehealth Program. Telemed J e-Health. Feb. 2015;
2017-2019 Mestrado em Programa de Pós Graduação Avaliação Tecno-
21(2):138-42.
logiasSUS. Escola GHC - Grupo Hospitalar Conceição, ESCOLA GHC,
21. Brasil. Manual do instrumento de avaliação da atenção primária Brasil. Orientador: Ananyr Porto Fajardo. Coorientador: Margarita da
à saúde: primary care assessment tool pcatool – Brasil. Brasília: Silva Dierks. 2005 - 2007 Especialização - Residência médica. Grupo
Ministério da Saúde; 2010. Hospitalar Conceição, GHC, Brasil. Residência médica em: Medicina de
Família e Comunidade. 2015 - 2016 Especialização em Especialização
22. Pereira RCA, Riveira FJU, Artman E. O trabalho multiprofissional
em Preceptoria de Residência Médica. Hospital Sírio-Libanês, SIRIO-LI-
na Estratégia Saúde da Família: estudo sobre modalidades de
BANÊS, Brasil. Título: METODOLOGIAS QUE RECRIAM O EDUCADOR:
equipes. Interface [Internet]. 2013 [acesso em 01 de maio de
UM PROCESSO DE ORGANIZAÇÃO E CONSTRUÇÃO DE SABERES.
2019]; 17(45):327-40. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/icse/
1999 - 2004 Graduação em Medicina. Universidade de Mogi das Cru-
v17n45/aop0613.pdf.
zes, UMC, Brasil.
23. Brasil. Práticas farmacêuticas no núcleo de apoio à saúde da
família (Nasf) [Internet]. Brasília: Ministerio da Saúde; 2017 [acesso
em 29 de abril de 2019]. Disponível em: http://www.saude.
goiania.go.gov.br/docs/divulgacao/NASF_praticas_farmaceuticas_
nasf_2017.pdf
Aula
| 47 |
PROJETO ATENÇÃO BÁSICA A1 A2 A3 A4 A5
Ementa da aula
Objetivo de aprendizagem
Introdução
A aula anterior tratou das ferramentas que os profissionais de saúde pos-
suem para realizar a coordenação do cuidado. Nesta aula daremos con-
Faça um
tinuidade ao uso de ferramentas e métodos para o cuidado em saúde,
exercício mental:
porém o foco será a consulta, o encontro entre o profissional de saúde e a
como você
pessoa que busca ou necessita de cuidado. Apresentamos aqui o Método
definiria o termo
Clínico Centrado na Pessoa, mais conhecido como MCCP.
CONSULTA?
E você deve estar se perguntando: Mas por que o profissional de saúde precisa
de um método para abordar os seus pacientes? Atender não é algo intuitivo?
Cuidar é uma característica do ser humano, com menor ou maior facilida- Fonte: Imagem - Shutterstock ©.
de, todos nós, em algum momento, iremos exercer essa atividade. Mas,
quando falamos de cuidado, na perspectiva da atenção à saúde, do ponto
José Mauro Ceratti Lopes, médico de família que ajudou a difundir o
de vista profissional, é importante que alguns objetivos sejam atingidos, en-
MCCP no Brasil, propõe o termo consultagem para o ato de fazer con-
tre eles a satisfação do usuário e a qualidade da atenção. Só assim teremos
sultas e o define como “uma prática social entre médico e Pessoa, com
sistemas de saúde com bons resultados (avanços nos indicadores) e cen-
troca de conhecimentos, com um contrato baseado na parceria, na
trados nos usuários, e que, portanto, serão sustentados pela sociedade.
busca de construir o Cuidado, através de ações dentro e fora do con-
Nesse sentido, a consulta é um dos principais recursos ou ato, conhecida sultório, de ambas as partes”1. O termo médico pode ser substituído por
como tecnologia leve do cuidado em saúde. Você já pensou sobre o que profissional da saúde, partindo do cuidado multiprofissional.
define uma consulta?
Sempre que utilizamos um método (uma técnica) para execução de
uma atividade será mais fácil de alcançarmos nossos objetivos, assim
como também será possível reproduzi-lo em outras ocasiões.
Glossário! Isso quer dizer que as consultas serão todas iguais?
Tecnologia leve: Tecnologia é aqui entendida como
um conjunto de conhecimentos e agires aplicados Não! Afinal em cada uma delas estamos diante de alguém com especifi-
à produção de algo como: trabalho vivo, produção cidades/individualidades, o que será repetido é apenas o método e não o
de serviços, abordagem assistenciais, ou seja, modos de conteúdo. Entretanto, é importante ressaltar que mesmo quando utilizamos
produção de acolhimento, vínculo e responsabilização. um método para execução das nossas tarefas haverá necessidade de algum
grau de flexibilidade e adaptação de acordo com a situação vivenciada.
Método: “seguir um caminho” (para chegar a um fim).
A partir desses conceitos, daremos início ao estudo do MCCP. Neste
material, você encontrará informações sobre sua história, as evidências
Fonte: Imagem – Flaticon ©. dos seus benefícios e quais são os seus quatro componentes.
A história do método iniciou quando o Doutor Levenstein, num dia típico de trabalho em seu
consultório na África do Sul, atendendo 30 pessoas com uma variedade de problemas, foi
desafiado pela pergunta de uma estudante de medicina. Ela perguntou-lhe como ele sabia o
que fazer com cada uma delas; comentou que sua abordagem era diferente do que ela havia
observado no hospital, e que ela não conseguia reconhecer nenhum padrão nesta técnica. Dr.
Levenstein explicou que o que ele fazia era orientado “[...] pelo seu conhecimento prévio de cada
paciente, pela frequência das diferentes doenças na sua comunidade, e pela importância que ele
colocava na continuidade e compreensão do cuidado, prevenção e relação médico-paciente.”
(LEVENSTEIN, 1984 apud STEWART, 2003, p. 4). Ele imediatamente percebeu a sensação de
frustração da estudante – sua resposta não tinha ajudado-a entender seu método. Decidiu então
gravar em vídeo os atendimentos no consultório e analisá-los. Ao final, ele revisou cerca de
1.000 gravações de atendimentos e concluiu que sua abordagem combinava uma abordagem
tradicional com perguntas aberto-fechadas sobre tudo que a Pessoa desejasse tratar. Ele
encontrou nas gravações intervenções efetivas e não efetivas. Ele percebeu que as consultas nas
quais ele percebeu as queixas e expectativas sobre a visita foram bem; mas se ele esqueceu ou
não percebeu as “dicas” da Pessoa sobre “sua agenda”17, a consulta foi menos efetiva. Estava
aqui alguma coisa que poderia ser ensinada (p.125 e 126)1.
1
o seu método clínico. Portanto a partir da criação do método foi possível
Período de 1982-1992: desenvolvimento teórico
que ele fosse estudado e validado pela ciência (avaliado, comparado,
do método.
julgado), assim como também passou a ser ensinado1.
Hoje o MCCP pode ser considerado como a prática do equilíbrio entre
o método ontológico e o método fisiológico. Apesar de ainda haver um
2
desequilíbrio e o método mais comumente praticado seja o ontológico/ Período de 1992-2002: implementação de programas
convencional ou moderno2. de ensino do método nos cursos de graduação e de
residência médica e desenvolvimento das primeiras
pesquisas de avaliação do MCCP.
3
Período de 2002-2012: publicações e publicização
dos resultados das pesquisas sobre o MCCP que
demonstravam os seus benefícios.
Os autores colocam como desafio para o futuro a aplicação do método profissional, avaliou-se as intervenções com foco nesse indivíduo ou no
sobre uma gama mais variada de problemas de saúde, desenvolvendo processo da consulta (ex.: educação permanente do tipo treinamento
e propiciando evolução ao método a partir de situações clínicas con- em habilidades de comunicação), as quais demonstraram resultados
cretas3, criando, dessa forma, a oportunidade para desenvolvimento do positivos em relação ao esclarecimento de preocupações, melhor in-
método a partir da experiência prática de outras profissões da saúde formação sobre opções de tratamento e melhora do nível de empatia3.
para além da medicina.
Em relação às pesquisas sobre adesão ao tratamento, os resultados tam-
bém são positivos, e incluem não apenas profissionais médicos, mas tam-
bém farmacêuticos e enfermeiras. Quando esses profissionais são melho-
res comunicadores, a adesão é maior. Além dessa variável, de acordo
com a pesquisa, outras três também influenciaram a adesão, são elas: a
gravidade da doença (quanto mais grave maior adesão de profissionais);
ser pediatra também aumentava a adesão; por fim, ser estudante (por
exemplo: residentes), ou seja, oportunidade de experiência3.
1 2
Explorando a saúde, a
3 4
diminui queixas melhora a aderência Entendendo a pessoa
doença e a experiência
por má prática; aos tratamentos; como um todo;
da doença;
Fortalecendo a
3 4
Elaborando um plano
5 6
relação entre a pessoa
melhora a conjunto de manejo
reduz preocupações; e o médico (profissional
saúde mental; dos problemas;
de saúde).
7 8
melhora a recuperação Os quatro componentes em geral são apresentados e descritos de forma
reduz os sintomas; de problemas separada, porém, quando praticados, são interdependentes e simultâ-
recorrentes. neos. Exploraremos mais adiante cada um dos componentes.
O profissional experiente no MCCP
deve ter habilidade de ir e vir em
todos os componentes de acordo
As evidências produzidas aproximam dois campos essenciais para a
com as dicas da pessoa no momen-
qualificação do cuidado em saúde: a prática clínica centrada na pes-
to da consulta. É esse processo de
soa e a prática baseada em evidências.
ir e vir que possibilita que os obje-
tivos de uma consulta sejam atingi-
dos: entender a razão da consulta,
Leia um pouco mais nesse editorial sobre o MCCP e MBE: considerar outros problemas, definir
http://www.scielo.mec.pt/scielo.php?script=sci_ de forma compartilhada um plano
arttext&pid=S2182-51732014000500001. de cuidado (plano terapêutico), me-
lhorar a saúde e produzir satisfação
para a pessoa e para o profissional. Fonte: Imagem - Shutterstock ©.
Sinais e indicações
Doença
Doença
3 Experiência
Experiência
Elaborando um plano Saúde da doença
Saúde da doença
conjunto de manejo
dos problemas
» Problemas
» Metas PESSOA
» Papéis
Decisões
CONTEXTO PRÓXIMO
conjuntas
CONTEXTO AMPLO
Entendimento integrado
Caso essas respostas não apareçam espontaneamente, o profissional 1) sempre, ao final da consulta, verifique se você consegue responder as
pode fazer essas perguntas diretamente à pessoa, pois elas ajudam a cen- perguntas do acrônimo SIFE;
trar a consulta na pessoa e na sua individualidade e não na doença.
2) se possível, grave alguns dos seus atendimentos, com consentimento
Iniciar a consulta com perguntas abertas (por exemplo: Em que posso te do paciente, e assista ou ouça para ver se conseguiu captar a comunica-
ajudar hoje? O que te trouxe aqui?) faz com que boa parte dessas infor- ção verbal e não verbal do paciente e compare com as suas anotações
mações apareçam já no início da consulta. É importante procurar deixar o sobre a consulta.
paciente falar livremente, sem interrompê-lo. Depois desse primeiro mo-
mento, pode-se realizar perguntas complementares tanto para entender a
experiência da doença como para a doença em si e a partir daí realizar o
Entendendo a pessoa como um todo
raciocínio clínico e desenvolver o plano de cuidado compartilhado. O segundo componente engloba compreendermos a pessoa, a família
e o seu contexto (próximo e distante). Para isso, a principal ferramenta
é o cuidado ao longo do tempo (longitudinal) e os dados de prontuá-
rio, que proporcionam a continuidade do cuidado 4. Muitas vezes, os
profissionais da Atenção Básica conhecem as pessoas antes delas fi-
carem doentes, conhecem a família, a rede de apoio social e talvez até
o local de trabalho, se este for no mesmo território da Unidade Básica
de Saúde (UBS).
O contexto proximal inclui: a família, o trabalho ou a escola, o lazer, a
rede de apoio social, já o contexto distante envolve a cultura, a comuni-
dade onde se vive, o meio ambiente e a situação econômica. Identificar
o ciclo de vida individual (ex.: adolescência, início de carreira, saída da
casa dos pais, entrada na escola etc.) e familiar (ex.: casal com filhos
pequenos, família com avós, casal recém casado etc.) faz parte desse
componente e sempre que pertinente deve ser incluído nas anotações
da consulta, assim com o contexto proximal e distal2.
A família, além de fonte de saúde ou de adoecimento, é fonte de in-
formação, então incluir familiares na consulta, se permitido pelo pa-
ciente, pode apoiar na análise do papel da família, principalmente para
pacientes com problemas graves ou queixas de saúde mental. Com-
Fonte: Imagem - Shutterstock ©. preender como a doença afeta os papéis desempenhados na família
pela própria pessoa e pelos familiares também é parte desse com-
Essa tarefa ainda não é tão habitual, portanto, precisamos treiná-la. Duas ponente. Da mesma forma, é importante obter informações sobre o
dicas que podem ajudar nesse treinamento são: histórico de saúde da família 2.
O uso do MCCP não exige que o profissional seja rígido, ao contrário, Um ponto-chave para obtermos sucesso nessa etapa do método é de-
ele deve saber reconhecer as necessidades de cada indivíduo, obser- senvolvermos a autopercepção e o autoconhecimento, reconhecer e usar
var os aspectos culturais e os diferentes perfis que buscam cuidado. A a transferência e a contratransferência no desenrolar das consultas. Sa-
flexibilidade é a arte do método. Por exemplo, o grau de participação ber compartilhar o poder, demonstrar interesse e segurança são também
das pessoas na tomada de decisão vai variar e depender das carac- peças fundamentais2.
terísticas de cada um, tais como idade, capacidade física, capacidade
O segundo ponto-chave é reconhecermos que as pessoas são muito
emocional; devemos saber compreender e considerar essas carac-
diferentes e, portanto, devem receber diferentes abordagens. Não só
terísticas nas consultas. Quando trabalhamos em equipe o papel as-
diversas nas suas experiências, mas também nas suas potencialidades
sumido pela pessoa pode variar a depender do profissional que está
e resiliência2.
realizando o cuidado (médico, enfermeiro, farmacêutico, psicólogo)2.
Alguns comportamentos do profissional podem ajudar no fortalecimento
Uma ferramenta interessante é sumarizar verbalmente os problemas,
do vínculo, por exemplo, estar atento no momento da consulta (presen-
as metas e o plano de cuidado. Caso essas informações sejam muito
te e dedicado), não disputar “verdades” com os pacientes, fazer acor-
extensas isso pode ser feito de forma escrita para facilitar a compreen-
dos quando houver divergências, usar o poder do olhar e do toque ao
são e adesão ao plano. Em seguida, averiguar se a pessoa concorda
cumprimentar2. O potencial “curativo” do vínculo, da relação de con-
e se tem dúvidas.
fiança entre profissional de saúde e a pessoa que busca cuidado, se faz
presente nesse componente.
MÉDICO
SENTE-SE BEM 1 2
4 3
SENTE-SE MAL
Fonte: Tesser7.
De acordo com Tesser: “A prevenção quaternária (P4) é um conceito A prática do cuidado baseada na centralidade do sujeito autônomo
(e prática) relativamente recente, que significa a ação de identificar proposto pelo MCCP, torna-se também uma das ferramentas para que
pessoas em risco de medicalização excessiva e protegê-las de novas o profissional de saúde consiga evitar excessos da medicina, como
intervenções desnecessárias, evitando danos iatrogênicos e propondo exames desnecessários, efeitos adversos evitáveis por excesso de
medidas eticamente aceitáveis”7. medicação, facilitando a prática da prevenção quaternária.
Aula
| 63 |
PROJETO ATENÇÃO BÁSICA A1 A2 A3 A4 A5
Ementa da aula
Objetivo de aprendizagem
A Fase Tradicional e a
morbimortalidade relacionada
aos medicamentos
No início do século XX (fase tradicional da profissão farmacêutica)
o farmacêutico era reconhecido pela sociedade como o profissional
de saúde responsável pela produção artesanal dos medicamentos. A
fase tradicional foi substituída, após a II Guerra Mundial, pela fase
de transição da profissão farmacêutica, que culminou com o surgi-
mento da Farmácia Clínica. O processo de transformação da pro-
fissão farmacêutica no século XX foi impulsionado pelo advento da
indústria farmacêutica, a qual introduziu no mercado o conceito do
medicamento moderno, produzido mecanicamente em larga escala.
Essa maior disponibilidade dos medicamentos favoreceu o acesso
pela população, devido à redução dos preços, e propiciou o trata-
mento de várias enfermidades, entretanto, alterou a forma como a
sociedade compreendia esse insumo, com o medicamento receben-
do o status de “pílula milagrosa”, que resolveria todos os problemas
de saúde. Aliado à industrialização, surgiu também uma sociedade
moderna, estimulada para o consumo de mercadorias, com o medi-
camento tornando-se uma mistura de bem de consumo e instrumento
terapêutico, sendo esses fatores determinantes para transformar a
farmácia, de estabelecimento de saúde em um local que comercializa
medicamentos. Diante dessa realidade o advento da manufatura fabril
levou à quase obsolescência dos laboratórios magistrais das farmá-
cias, que era a atividade primária e sedimentada do farmacêutico na
fase tradicional, e reconhecida pela sociedade 1-5.
A disponibilidade dos medicamentos e a ausência de controle sobre as Nesse cenário, os farmacêuticos perceberam que diante das transforma-
propagandas e a comercialização, sem a devida regulamentação sanitá- ções ocasionadas pelo advento da indústria farmacêutica, tais como o
ria, estimulou a automedicação, promovendo o que chamamos de “medi- consumo excessivo de medicamentos e a morbimortalidade relacionada
camentalização da sociedade”, em que as pessoas buscam a automedi- aos medicamentos, existia espaço na equipe de saúde para que esse
cação para resolverem seus problemas, sem o auxílio de um profissional profissional pudesse desempenhar um novo papel frente à sociedade e
de saúde. Diante dessa realidade começaram a ser relatados os primeiros em conjunto com os demais profissionais de saúde.
acidentes relacionados à utilização inadequada dos medicamentos – em
1937, mais de 100 crianças morreram nos Estados Unidos devido ao uso
de um elixir de sulfanilamida, que continha como veículo o dietilenoglicol,
cujos efeitos tóxicos do solvente não eram conhecidos pelo fabricante. A Farmácia Clínica e a Fase
No início da década de 1950 observou-se que o cloranfenicol induzia, em
alguns pacientes, anemia aplástica. Entretanto, o fato mais marcante re- de Transição da profissão
lacionado ao uso de medicamentos foi o episódio da talidomida, ocorrido
em 1961, quando dezenas de milhares de crianças em vários países do farmacêutica
mundo, nasceram com malformações devido ao consumo desse medica-
mento pelas mães durante a gestação10.
Apesar de a atividade clínica do farmacêutico começar a ser difun-
dida após a década de 1960, esta foi sugerida pela primeira vez em
1921, quando Krantz publicou um artigo científico enfatizando que
“farmacêuticos deveriam ser capacitados para fornecer serviços clí-
nicos”. Porém, na época não houve interesse dos farmacêuticos em
desenvolverem tais serviços, principalmente em virtude do status
que esse profissional representava junto à sociedade na fase tra-
dicional6. Destaca-se também que o Código de Ética da American
Pharmacists Association, de 1952, estabelecia que os farmacêuti-
cos eram proibidos de discutir os efeitos terapêuticos dos medica-
mentos com os pacientes. Os usuários deveriam ser encaminhados
aos médicos ou dentistas para esclarecerem as dúvidas, e esse fato
tornava ainda mais restrito o papel dos farmacêuticos nessa épo-
ca 4. Por isso, o movimento de Farmácia Clínica, principalmente nos
EUA, foi considerado uma “revolução”, transformando de maneira de-
cisiva a profissão farmacêutica e aproximando esse profissional dos
demais membros da equipe de saúde e do cuidado aos pacientes1.
Fonte: Imagem - Shutterstock ©.
4. Os novos medicamentos aprovados devem ser usados somente se 13. Quando vários medicamentos são igualmente eficazes e seguros,
houver vantagens claras sobre os medicamentos mais antigos deve ser escolhido aquele que resultar em menor custo de cuidados à
saúde ou que for mais conveniente para o paciente
5. Sempre que possível, a escolha de um regime medicamentoso deve
ser baseada em evidências obtidas de ensaios clínicos controlados 14. Ao se decidir sobre a terapêutica medicamentosa para pacientes
individuais, efeitos sociais devem ser considerados
6. O período de administração do medicamento deve ser considerado
como uma possível influência sobre a efetividade, efeitos adversos e in- 15. As possíveis razões para o fracasso dos regimes medicamentosos
terações medicamentosas e alimentares incluem seleção de medicamentos inadequados, baixa adesão, intervalo
ou dose inadequada, diagnóstico errado, doenças concomitantes, inte-
7. O regime de administração deve ser o mais simplificado possível, ob- rações medicamentosas e alimentares, fatores ambientais ou genéticos
jetivando aumentar a aderência do paciente
Fonte: DiPiro11.
Transição do
Sistema de Saúde modelo sanitário
Construção do cuidado farmacêutico 1967 1975 1980 1985 1987 1988 1990
Além de assessorar os países-membros a desenvolverem políticas na- Sendo assim, estimular a maior atuação dos profissionais de saúde na
cionais de medicamentos, principalmente voltadas ao favorecimento do Atenção Básica tem justificativas importantes do ponto de vista eco-
uso racional dos medicamentos e ao acesso à população mais carente, nômico e social, pois a Atenção Básica, analisada de forma individual
a OMS também mostrava a necessidade de mudança do foco de atua- e considerando os custos a longo prazo, é menos onerosa quando
ção dos profissionais da saúde para a Atenção Básica, entre eles, os comparada à atenção secundária ou terciária. O investimento na Aten-
farmacêuticos. As mudanças propostas no sistema de saúde hospitalo- ção Básica também promove impacto social positivo porque favorece
cêntrico e a medicamentalização da sociedade oportunizaram aos far- a prevenção de doenças e a promoção de saúde, melhorando a assis-
macêuticos mostrarem que havia espaço para um profissional com essa tência sanitária dos usuários.
formação na equipe de saúde, confirmadas pelas publicações da OMS,
Diante das pressões econômica e política, tornava-se evidente a neces-
que diziam que “a busca da saúde para todos, mediante o enfoque da
sidade de os países romperem com o modelo hospitalocêntrico, racio-
atenção primária (básica) de saúde, exigirá a redefinição dos papéis e
nalizando os recursos financeiros aplicados na área de saúde, tornando
funções de todas as categorias do pessoal sanitário […]”21.
o atendimento à população mais sensato, investindo na promoção da
saúde e na prevenção de doenças. Portanto, o foco na Atenção Básica
era necessário para a manutenção de um sistema de saúde moderno.
Assim, percebe-se uma sinergia entre as políticas da OMS, estimulando
o investimento na Atenção Básica, com as propostas dos pesquisado-
res apresentadas anteriormente. Diante desse contexto, o farmacêutico
clínico foi constantemente estimulado a desenvolver atividades na Aten-
ção Básica, pois a presença de um profissional com esse perfil clínico
poderia auxiliar os demais profissionais de saúde e as pessoas atendi-
das na utilização racional dos medicamentos nesse nível de atenção.
Em relação ao Brasil, estudos realizados durante a década de 1970
destacavam que 70% dos farmacêuticos consideravam a atuação nas
farmácias comunitárias uma atividade secundária, pois sentiam-se
como meros “vendedores de medicamentos”, não desempenhando um
papel importante no cuidado aos pacientes, além da própria formação
acadêmica não privilegiar a Farmácia Clínica. Esses fatos podem ter
desencadeado o afastamento dos farmacêuticos da Atenção Básica
em nosso país naquele período22. Entretanto, na última década um mo-
vimento clínico forte vem ocorrendo no país, estimulando os farma-
cêuticos a se aproximarem dos pacientes e da equipe de saúde, seja
na Atenção Básica, seja em nível hospitalar, revertendo esse quadro
Fonte: Imagem - Shutterstock ©. observado no final do século XX.
Vamos refletir!
O que são Serviços Farmacêuticos? O que é Farmácia Clínica: Ciência da saúde, cuja responsabilidade
Atenção Farmacêutica? Qual a diferença entre é assegurar, mediante aplicação de conhecimento e funções
Cuidado Farmacêutico e Farmácia Clínica? relacionados ao cuidado centrado na pessoa, na família e na
comunidade, a promoção da saúde, do bem estar, prevenindo doenças
e/ou otimizando o tratamento farmacoterapêutico. O farmacêutico
Fonte: Imagem – Flaticon ©. necessita de educação especializada e treinamento estruturado para
desenvolver tais atividades
O termo Atenção Farmacêutica foi substituído no país em 2014 pelo
termo Cuidado Farmacêutico devido a uma publicação do Ministério de
Saúde. No entanto, ainda nos cabe refletir sobre uma nova pergunta:
Serviços Farmacêuticos: Conjunto de atividades e processos de
O Cuidado Farmacêutico substituiu a Farmácia Clínica ou as duas ativi-
trabalho relacionados aos medicamentos e protagonizados pelo
dades conseguiriam conviver em paralelo?
farmacêutico, desenvolvidos no âmbito da atenção em saúde, com
Podemos começar a construir essa resposta propondo uma nova indagação: vistas a potencializar sua resolubilidade. Compreendem tanto atividades
Por acaso, os médicos ficam apenas no ambiente hospitalar ou também técnico-gerenciais (atividades de apoio), quanto clínicas (finalísticas),
desenvolvem suas atividades nos demais níveis de atenção do sistema dirigidas à indivíduos, família e comunidade
de saúde?
Podemos aplicar o mesmo raciocínio para os farmacêuticos clínicos: eles
podem atuar tanto no ambiente hospitalar, como nos consultórios farma- Cuidado Farmacêutico: Constitui um conjunto de ações e serviços
cêuticos – na Atenção Básica ou Especializada, em unidades de saúde realizados pelo profissional farmacêutico levando em consideração as
ou nas farmácias comunitárias. Por isso, o farmacêutico clínico quan- concepções do indivíduo, família, comunidade e equipe de saúde, com
do recebe a formação adequada domina o método clínico e consegue foco na prevenção e resolução de problemas de saúde, além da sua
desenvolver uma anamnese com qualidade, identificando os possíveis promoção, proteção, prevenção de danos e recuperação, incluindo não
problemas farmacoterapêuticos e estabelecendo um plano de cuidado, só a dimensão clínico-assistencial, mas também a técnico-pedagógica
pactuado com o paciente e com a equipe de saúde, para solucionar as do trabalho em saúde
causas desses problemas, considera-se que esse profissional está apto
a desenvolver o Cuidado Farmacêutico em todos os níveis de atenção do
sistema de saúde. Vamos observar os conceitos no Quadro 4, a seguir: Fonte: Elaboração própria.
*Nota do editor: Conceitos definidos na 1ª Oficina de Alinhamento Conceitual do projeto Atenção Básica: capacitação, qualificação dos serviços de Assistência Farmacêutica e integração das práticas de cuidado
na equipe de saúde, realizada em outubro de 2018, em Brasília/DF. Reuniram-se especialistas, equipe do projeto e Grupo Executivo – composto por representantes do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, CONASEMS e
Ministério da Saúde – com o objetivo de discutir temas importantes e controversos que envolvem a Assistência Farmacêutica e a Atenção Básica e definir a abordagem conceitual a ser utilizada nos cursos do projeto.
Contudo, as transformações do sistema de saúde ampliaram o local acompanhamento dos pacientes, controlando a farmacoterapia, prevenin-
de atuação do farmacêutico clínico para a Atenção Básica e Espe- do, identificando e solucionando problemas que possam surgir durante
cializada, onde estaria integrado aos demais profissionais de saúde esse processo, ou seja, é uma prática profissional que deve ser executada
e em contato direto com as pessoas atendidas pelo sistema de saú- de forma integrada e compartilhada com os demais profissionais de saúde,
de, situação diferente daquela vivenciada pelo farmacêutico clínico no ou seja, enquanto o conceito de Farmácia Clínica é mais acadêmico (ciên-
ambiente hospitalar, onde o contato desse profissional seria predo- cia), o conceito de Cuidado Farmacêutico é mais voltado à pessoa atendi-
minantemente com a equipe de saúde, em virtude das dificuldades da (prático), por isso são complementares. Por isso esse último deve ser
referentes à condição de saúde do paciente abordadas anteriormente. desenvolvido por um farmacêutico com formação clínica e humanística13,14,
cabendo à Farmácia Clínica, como ciência, formar farmacêuticos clínicos
Diante do foco na Atenção Básica tornava-se fundamental preparar o far-
para atuarem no Cuidado Farmacêutico.
macêutico clínico para desempenhar suas novas funções, atendendo às
expectativas do sistema de saúde, para isso deveria incorporar na sua O Cuidado Farmacêutico também busca prevenir ou solucionar os proble-
formação profissional habilidades adicionais voltadas principalmente às mas relacionados à farmacoterapia e aos tratamentos prescritos de manei-
Ciências Humanas, pois no atendimento às pessoas seria fundamental o ra sistematizada e documentada. Além disso, envolve o acompanhamento
conhecimento elementar sobre Sociologia, Antropologia, Psicologia e Filo- das pessoas com dois objetivos principais:
sofia, além de Semiologia e Anamnese. Além disso, o farmacêutico clínico
está inserido numa equipe de saúde, portanto, precisaria compartilhar suas
1
experiências e seus atendimentos com os demais profissionais de saúde,
trabalhando de forma integrada, em qualquer nível do sistema de saúde. responsabilizar-se com a pessoa atendida e com a
equipe de saúde para que o medicamento prescrito
Sendo assim, a OMS afirma que o farmacêutico deveria ser “sete estrelas”, seja seguro e efetivo, na posologia correta, e que
atuando como prestador de serviços, tomador de decisão, comunicador, resulte no efeito terapêutico desejado;
líder, gerente, estudante por toda a vida e mestre, além de pesquisador30.
Todavia, sabe-se que converter a formação centrada no medicamento para
o cuidado às pessoas não é fácil, principalmente quando esse profissional
recebeu a formação tradicional. Portanto, a esses profissionais, cabe bus-
2
car essa nova competência (conhecimento + habilidade + atitude). atentar para que, ao longo do tratamento, as reações
Vale ressaltar que, além do conhecimento clínico, o Cuidado Farmacêutico adversas aos medicamentos sejam as menores
exige do profissional uma preocupação com as variáveis qualitativas do possíveis e que, quando surgirem, possam ser resolvidas
processo, principalmente aquelas referentes à qualidade de vida e à satis- imediatamente de forma compartilhada com o usuário e
fação do usuário. Por isso os conhecimentos exigidos de um farmacêutico a equipe de saúde29. Enfim, trata-se de um conceito de
clínico na década de 1960 deveriam ser revistos e ampliados para prepa- prática profissional em que o usuário do medicamento
rá-los para o Cuidado Farmacêutico. Na verdade, o Cuidado Farmacêutico é o mais importante beneficiário das ações do
é conceituado como uma atividade estruturada que facilita a interação do farmacêutico, ou seja, o centro de sua atividade.
farmacêutico com o usuário do sistema de saúde, favorecendo um melhor
O impacto clínico, econômico e e 748 em visitas domiciliares). Participaram do estudo 1.080 pessoas
atendidas pelo SUS. Na primeira consulta farmacêutica, cerca de 10%
social do Cuidado Farmacêutico das pessoas diagnosticadas com hipertensão arterial sistêmica (HAS)
estavam com a sua enfermidade controlada; na terceira consulta farma-
cêutica esses valores aumentaram para cerca de 50%. Em relação ao
Essa transformação profissional do farmacêutico tornou-se realidade na
diabetes mellitus (DM), na primeira consulta farmacêutica cerca de 5%
maioria dos países desenvolvidos, tendo em vista que o método biomé-
das pessoas estavam com a sua enfermidade controlada, e ao final da
dico tradicional centrado na prescrição médica e dispensação dos medi-
terceira consulta esse valor alcançou 26%40.
camentos mostrou-se inadequado para garantir segurança, efetividade e
adesão ao tratamento farmacológico. As consequências desse modelo Observe agora dois estudos realizados em Ribeirão Preto (SP). O pri-
anterior podem ser observadas pelos números referentes ao custo do meiro acompanhou 64 pessoas com diabetes mellitus tipo 2 (DM2), das
sistema de saúde, em que, nos países desenvolvidos, de 4% a 10% dos quais 33 foram atendidas pelo serviço de Cuidado Farmacêutico durante
pacientes hospitalizados, especialmente os idosos, experimentaram pelo 12 meses, e as outras 31 receberam o cuidado normal oferecido aos
menos uma vez reações adversas aos medicamentos, principalmente demais usuários do SUS do município (grupo controle), que consistia em
devido às interações medicamentosas. Nos Estados Unidos, as reações consultas médicas e dispensação ou entrega de medicamentos pelos
adversas estão entre as seis principais causas de óbitos, o que custa ao farmacêuticos ou auxiliares de farmácia, mas sem a consulta individuali-
país cerca de US$ 130 bilhões ao ano, enquanto no Reino Unido esse zada com esse profissional voltada para a realização do Cuidado Farma-
custo alcançou £ 466 milhões em 200430. cêutico integrado e compartilhado com a equipe de saúde38.
Os resultados, quando comparados os dois grupos, mostram redução signi-
ficativa na hemoglobina glicada (de 8,9% para 7,9%), na dose de metformina
Vamos refletir! e de insulina e nos números de consultas no Pronto Atendimento do municí-
pio pelas pessoas atendidas pelo serviço de Cuidado Farmacêutico38.
O Cuidado Farmacêutico pode tornar a utilização
de recursos mais eficiente? Funcionaria também Esse mesmo estudo mostrou que as pessoas atendidas pelo serviço de
no Brasil? Cuidado Farmacêutico não apresentaram aumento de custo ao municí-
pio, ao passo que cada pessoa do grupo controle teve um aumento de
custo da ordem de US$ 1,90 por mês, devido ao aumento de consultas
Fonte: Imagem – Flaticon ©. junto às UPAs do município e ao maior consumo de medicamentos para
controlar o DM238.
Para auxiliar nessa reflexão, observe alguns resultados de estudos bra- Esse mesmo estudo mostrou que as pessoas atendidas pelo serviço de Cui-
sileiros. O primeiro foi realizado no município de São Paulo (SP), entre dado Farmacêutico não apresentaram aumento de custo ao município, ao
maio e novembro de 2016, e contou com a participação de farmacêuti- passo que cada pessoa do grupo controle teve um aumento de custo da
cos clínicos de 12 Unidades Básicas de Saúde, que realizaram um total ordem de US$ 1,90 por mês, devido ao aumento de consultas junto às UPAs
de 1.833 consultas farmacêuticas (1.085 em consultórios farmacêuticos do município e ao maior consumo de medicamentos para controlar o DM238.
Grupo Cuidado
Parâmetros Grupo Controle
Farmacêutico
Nº consultas na UPA
0,8 0,6 0,6 0,8
(paciente/ano)
Custo com
10,20 10,00 7,60 9,20
medicamentos/ano (US$)
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Aula
| 84 |
PROJETO ATENÇÃO BÁSICA A1 A2 A3 A4 A5
Ementa da aula
Objetivo de aprendizagem
Que tal conhecer mais sobre o Cuidado Farmacêutico? O entendimento ampliado de saúde, a partir do conceito da Organiza-
ção Mundial da Saúde (OMS), que a define como um completo estado
Vamos lá!!!
de bem-estar físico, mental e social, não apenas como a ausência de
doenças, é fundamental para compreender o papel social do farma-
cêutico14. A saúde é vista como um processo amplo e complexo, o que
remete a uma pluralidade de determinantes e condicionantes sociais.
Leia um pouco mais!
Dessa forma, configura-se a necessidade de uma amplitude assisten-
Cuidado Farmacêutico na Atenção Básica – Caderno cial, que possibilite uma atuação sistêmica e construtora, em todos os
1: Serviços Farmacêuticos na Atenção Básica. campos da área da saúde, inclusive na área farmacêutica. De forma a
Ministério da Saúde, 2014. atender todas as demandas e necessidades trazidas pela sociedade, a
implementação de diferentes abordagens e espectros de atuação, para
além da dimensão estritamente biológica, é fundamental para operar
Fonte: Imagem – Flaticon ©. frente às preposições de saúde da população.
Diante de toda a realidade contemporânea e do panorama da estru-
turação do sistema de atenção à saúde, a formação do farmacêutico
Reconfiguração do papel e preparação deste profissional para lidar com a rede de cuidado e
assistência à saúde requer o desenvolvimento de competências e ha-
social do farmacêutico bilidades gerais e específicas, de forma a contemplar as necessidades
sociais da saúde, a atenção integral no sistema regionalizado e hierar-
quizado, assim como o trabalho em equipe, com ênfase no Sistema
Único de Saúde (SUS)15. A evolução da forma de atuação do farmacêu-
tico inserido em um sistema de saúde passa então a se configurar em
um contexto social, que visa a melhoria do estado de saúde da popu-
lação, a partir do desenvolvimento de ações comunitárias e com foco
sanitarista, principalmente no que diz respeito à saúde pública.
Assim, torna-se cada vez mais fundamental efetivar a Farmácia Social
como uma área interdisciplinar presente na formação do farmacêutico,
uma vez que permite oferecer ferramentas, através dos conhecimen-
tos de teorias e métodos das ciências sociais e humanísticas, voltadas
para a investigação dos aspectos sociais relacionados à farmacotera-
pia, assim como propicia a evolução da relação comunicativa existente
Fonte: Imagem - Shutterstock ©. entre o paciente e o profissional16.
A aproximação do farmacêutico com as linhas de cuidado em saúde, de Independentemente da estratégia de ação elencada pelo farmacêuti-
forma a assumir um papel clínico-assistencial e desenvolver as ações vol- co para atuação na comunidade, a relação terapêutica criada entre o
tadas para cuidado propiciou o desenvolvimento de macro componentes farmacêutico e o usuário deve estar baseada no respeito mútuo, no
importantes nessa prática, definidos no Consenso Brasileiro de Atenção vínculo de confiança e na troca contínua de experiências. A dimensão
Farmacêutica, tais como: a educação em saúde e a promoção do uso comunicativa e a rede de atenção conversacional, ligada à perspecti-
racional de medicamentos, a orientação farmacêutica, a dispensação de va da integralidade, envolvem processos, estratégias e inventividades,
medicamentos, o atendimento farmacêutico, o acompanhamento farma- que precisam envolver os atores sociais com os problemas de saú-
coterapêutico e o registro sistemático das atividades17,18. de a serem enfrentados, inclusive com relação ao uso indiscriminado
de medicamentos19.
Diante dessa realidade, as ações do farmacêutico necessitam estar
voltadas predominantemente para o sujeito, ou seja, para os usuá-
rios do sistema de atenção à saúde 20. A consolidação efetiva desse
profissional, de forma a responder às necessidades sociais, carece
de ser concretizada em meio à superação do entendimento do papel
do serviço de farmácia e da sua redefinição como integrante da rede
assistencial, assim como através de uma participação voltada para
corresponsabilização do cuidado junto com os usuários e a equipe de
saúde, com foco nos benefícios trazidos com o uso de medicamentos
e nas práticas saudáveis de vida.
Lembre-se!
A atuação do farmacêutico inserido em um contexto
social visa responder as necessidades de saúde da
sociedade, com o foco na melhoria da qualidade de
vida da população.
*Nota do editor: Conceitos definidos na 1ª Oficina de Alinhamento Conceitual do projeto Atenção Básica: capacitação, qualificação dos serviços de Assistência Farmacêutica e integração das práticas de cuidado
na equipe de saúde, realizada em outubro de 2018, em Brasília/DF. Reuniram-se especialistas, equipe do projeto e Grupo Executivo - composto por representantes do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, CONASEMS e
Ministério da Saúde - com o objetivo de discutir temas importantes e controversos que envolvem a Assistência Farmacêutica e a Atenção Básica e definir a abordagem conceitual a ser utilizada nos cursos do projeto.
Como vimos no conceito apresentado anteriormente, o Cuidado Farma- A expansão da prática clínica na perspectiva farmacêutica vem ao encon-
cêutico permeia duas dimensões importantes, a clínica relacionada à vigi- tro da transição demográfica e epidemiológica observada já há algumas
lância do uso de medicamentos e a técnico-pedagógica direcionada para o décadas no país, caracterizada pelo aumento da expectativa de vida e do
desenvolvimento de competências e habilidades dos usuários e profissio- índice de doenças crônicas não transmissíveis e, consequentemente, uma
nais para a promoção do uso racional de medicamentos8, conforme ilus- tendência à maior utilização de medicamentos pela população. Apesar da
trado na Figura 9. existência de práticas alternativas e complementares, o sistema de saúde
ainda carece do fortalecimento e estímulo a essas práticas não convencio-
Figura 9. Dimensões do Cuidado Farmacêutico nais na abordagem dos profissionais.
CUIDADO FARMACÊUTICO
DIMENSÃO DIMENSÃO
CLÍNICO-ASSISTENCIAL TÉCNICO-PEDAGÓGICA
Dimensão clínico-assistencial
O espectro do Cuidado Farmacêutico, no que tange à dimensão clínico-as-
sistencial, remete à aproximação do farmacêutico com o usuário, em meio
à responsabilização pelas suas necessidades de saúde e compromisso
com o processo de uso de medicamentos9,25. Fonte: Imagem - Shutterstock ©.
A crescente complexidade da terapia medicamentosa, como o uso de qua- A dimensão clínico-assistencial engloba um grupo amplo de ações que
tro ou mais medicamentos (polifarmácia), assim como de usuários com podem ser realizadas pelo farmacêutico, de forma integrada com equipe
várias morbidades, aumentam o risco da ocorrência de problemas relacio- de saúde, centrada no usuário e com foco na promoção e recuperação
nados à farmacoterapia, como eventos adversos e erros de medicação26,27. da saúde e prevenção de agravos. Tais ações podem ser agrupadas em
Alguns estudos realizados com pacientes idosos evidenciam que a prática dois tipos: (i) as que estão relacionadas ao processo do uso de medica-
clínica do profissional farmacêutico contribui para a melhoria da adesão à mentos, como aconselhamento farmacoterapêutico e revisão da farma-
farmacoterapia, a redução do número de medicamentos utilizados e uma coterapia; e (ii) as que estão centradas na avaliação dos resultados do
maior racionalidade das prescrições em longo prazo28. tratamento medicamentoso, também entendidas como atividades cogni-
tivas avançadas, como as relacionadas à farmacovigilância, avaliação do
estado atual da doença e o acompanhamento farmacoterapêutico8,11,30.
Algumas ações clínicas assistenciais do farmacêutico, as quais reque-
rem um atendimento individualizado e em ambiente privado, foram tes-
tadas em estudos controlados e randomizados. No âmbito da Atenção
Básica, destacam-se: aconselhamento ao usuário, avaliação e promo-
ção da adesão terapêutica, revisão da farmacoterapia, conciliação de
medicamentos e acompanhamento farmacoterapêutico8.
5
» a extração das necessidades e expectativas do paciente no que
Acompanhamento farmacoterapêutico: tange à farmacoterapia;
envolve o acompanhamento dos resultados
» a prevenção, identificação e resolução dos problemas relaciona-
advindos com o uso dos medicamentos e requer
dos à farmacoterapia, por meio da promoção do uso adequado e
um seguimento mais prolongado, a partir da
seguro dos medicamentos;
análise das metas terapêuticas propostas, sendo
necessário principalmente para pacientes com » o registro de todos os atendimentos realizados, assim como dos
tratamentos complexos e com dificuldades na resultados alcançados;
utilização dos medicamentos8. Prevê assim
» a colaboração com todos os membros da equipe de cuidado.
uma corresponsabilização do farmacêutico com
o usuário quanto a prevenção, identificação
e resolução de problemas associados aos
medicamentos, o que deve ser continuado
e documentado25.
Dimensão técnico-pedagógica
A dimensão técnico-pedagógica compreende as atividades relaciona-
das à educação e ao compartilhamento de saberes, no que diz respei-
to à promoção do uso racional de medicamentos, envolvendo assim
Cada encontro do farmacêutico com o usuário envolve um processo sis- ações de caráter clínico e educacional. Dessa forma, envolve práticas
temático, que visa a identificação e resolução de problemas relaciona- voltadas para a coletividade (sociedade) e também para outros profis-
dos à farmacoterapia, assim como a promoção de resultados positivos sionais (equipe de saúde)8.
advindos do uso de medicamentos32. No âmbito da Atenção Básica, o
Destaca-se assim, o papel do farmacêutico como educador em saúde
atendimento individualizado pode se dar por meio de consultas farma-
acerca dos aspectos relacionados à farmacoterapia, sendo um ponto
cêuticas ou visitas domiciliares, que podem ser específicas ou compar-
crucial e capaz de alicerçar a nova formatação de expansão do traba-
tilhadas com outros profissionais.
lho desse profissional na realidade da saúde pública. A educação em
Conforme descrito por Oliveira, Brummel e Miller32, as responsabilidades saúde deve ir além da simples disseminação do conhecimento, pois
do farmacêutico no âmbito clínico estão relacionadas com: necessita envolver processos que contribuam para a mudança de atitu-
de e de conduta com relação ao uso de medicamentos pelas pessoas.
Assim, os profissionais farmacêuticos estão inseridos na lógica da pro-
dução social da saúde, agregando os múltiplos saberes e práticas de
» a priorização do foco no paciente com um olhar integral, de forma
cuidado, envolvidos pela escuta, diálogo, solidariedade e autonomia33.
a superar a abordagem fragmentada de um determinado medica-
Entre as estratégias de educação em saúde e ações relacionadas à far-
mento ou doença;
macoterapia, as abordagens podem ser feitas de forma individualizada
ou coletiva, no âmbito da lógica do matriciamento.
Mas, o que é matriciamento? pacidade de interação e compreensão do tema discutido. Alguns temas
podem ser abordados pelo farmacêutico nessas ações coletivas, como
automedicação, interações medicamentosas, forma de uso correto das
O matriciamento é sinônimo de apoio matricial e pode ser entendido diversas formas farmacêuticas, identificação de reações adversas, assim
como um arranjo organizacional e uma metodologia para a gestão do como questões relacionadas ao acesso e ao uso abusivo de medica-
trabalho em saúde, que tem o objetivo de expandir as possibilidades mentos, entre outras8. Contudo, vale ressaltar que o planejamento para a
de realização da clínica ampliada e integração entre as distintas espe- realização de atividades coletivas deve ocorrer em meio às necessidades
cialidades. Visa assegurar uma maior eficácia e eficiência no trabalho e demandas do território, trazidas pelos próprios usuários e compartilha-
em saúde e contribuir para a construção da autonomia do usuário, das com os profissionais da equipe de saúde. Além disso, cabe também
sendo também uma retaguarda assistencial e suporte técnico-peda- ao farmacêutico a identificação de indivíduos que necessitam de uma
gógico às equipes34. abordagem individualizada, possibilitando uma orientação mais focada no
arcabouço farmacológico utilizado ou na incorporação de um acompa-
nhamento continuado.
Dessa forma, as ações matriciais envolvem o compartilhamento de sa-
beres e práticas e podem estar diretamente voltadas para o âmbito as-
sistencial, em atividades diretas com os usuários, em consultas, visitas
domiciliares e grupos educativos, assim como em atividades com e para
a equipe, em reuniões de equipe e espaços de troca, em atividades com-
partilhadas nas Unidades de Saúde35.
No que tange às ações técnico-pedagógicas voltadas para o usuá-
rio, família ou comunidade, estas podem ocorrer na esfera individual,
porém destacam-se as ações coletivas, através dos grupos educativos,
como uma estratégia interessante no âmbito da Atenção Básica, uma vez
que possibilita a inclusão e identificação entre os participantes, de forma
que cada indivíduo possa enxergar no outro a sua realidade e propiciar a
busca do amparo dos seus problemas de saúde36. A troca de saberes e
de experiências se faz permanente tanto na abordagem coletiva partici-
pativa, como na aproximação do profissional com a realidade vivenciada
pelos membros da atividade em saúde.
A atuação do farmacêutico na abordagem coletiva possibilita a agregação
de pessoas com dificuldades ou dúvidas semelhantes relacionadas aos
medicamentos, o que permite trabalhar as especificidades de forma ge-
neralizada, com o cuidado de respeitar cada indivíduo mediante a sua ca- Fonte: Imagem - Shutterstock ©.
f. Estimular e facilitar a articulação e o trabalho colaborativo Nesse contexto, cresce a necessidade do desenvolvimento de habi-
das equipes de saúde para garantia do acesso e uso racional lidades e conhecimentos, nos diversos profissionais, voltados para a
de medicamentos; promoção da saúde do indivíduo, não sendo suficientes somente as
aptidões voltadas para a prevenção e recuperação39.
A atuação do farmacêutico na promoção do uso racional de medica-
g. Contribuir, por meio da promoção do uso racional de
mentos e, de forma expansiva, na promoção da saúde na Atenção
medicamentos, para a ampliação e a qualificação do acesso no
Básica se dá a partir de um processo de integração com o usuário, em
município, a medicamentos de qualidade, seguros e eficazes”.
que os sujeitos constroem, através de uma aproximação, uma relação
(p. 95-96)8.
de confiança capaz de distinguir e hierarquizar necessidades, de forma
a incorporar novas práticas de vida19,33.
3
de de integração dos serviços, uma vez que está baseada na garantia da
Incentivo à ação comunitária: o incentivo à
atenção em todos os níveis de complexidade, na articulação das ações de
ação comunitária permeia o desenvolvimento da
promoção, prevenção e recuperação da saúde, a partir de uma abordagem
consciência política na comunidade, de forma a
integral dos indivíduos, famílias e comunidades42,44. Entende-se por integra-
favorecer seu desenvolvimento sustentável, como
ção o processo de coordenação e cooperação dos serviços assistenciais,
o estímulo às discussões relacionadas às práticas
que pode se dar de forma normativa, voltada para a interface da integração
saudáveis de vida, participação nas campanhas
clínica e funcional, ou sistêmica, a partir da coesão das diferentes modali-
de saúde, desenvolvimento conjunto de ações de
dades em todos os níveis assistenciais42,45.
prevenção de doenças e o estabelecimento de
prioridades para a educação em saúde. Nessa perspectiva, o processo de integração do Cuidado Farmacêuti-
co pode ocorrer com outros serviços de saúde da rede assistencial ou
entre as práticas profissionais que permeiam a integração com outros
profissionais dentro do mesmo equipamento de saúde, sendo funda-
Assim, a inserção do farmacêutico no contexto da Atenção Básica tem mental a instituição de canais de comunicação, por sua vez construí-
se configurado de forma a construir uma identidade, a partir de novas dos a partir da aproximação e de uma relação de confiança, capaz de
práticas, que transcendem a disponibilização do insumo farmacológico distinguir e hierarquizar necessidades, em um ambiente de coopera-
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Autor
Felipe Tadeu Carvalho Santos
Farmacêutico pela Universidade Federal de Alfenas com habilitação em
Análises Clínicas (2008). Doutorando em Saúde Coletiva pela Universi-
dade Estadual de Campinas. Mestre em Saúde Coletiva pela Universida-
de de Brasília (2017). Especialista em Saúde da Família pela Faculdade
Santa Marcelina (2013) e em Gestão de Redes de Atenção à Saúde pela
Fundação Oswaldo Cruz (2017). Atualmente, é coordenador da Divisão
de Assistência Farmacêutica e Insumos Estratégicos da Secretaria Mu-
nicipal de Saúde de São Paulo e docente de cursos de pós graduação
na área da saúde. Foi Consultor Técnico pela Organização Panameri-
cana da Saúde (OPAS/OMS) no Departamento de Assistência Farma-
cêutica e Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde (DAF/SCTIE/
MS), com atuação no Programa Nacional de Qualificação da Assistência
Farmacêutica e em Projetos de Cuidado Farmacêutico no SUS. Tem
experiência nas áreas de Saúde Coletiva e Farmácia, com ênfase na
Gestão de Serviços de Saúde, Políticas Farmacêuticas, Farmácia Clínica
e Cuidado Farmacêutico.