Maristela P.
Assis
Um Olhar Cristão da Liberdade
numa Perspectiva Multicultural
A Christian Look of Freedom in a Multicultural Perspective
Una Mirada Cristiana de la Libertad en una Perspectiva Multicultural
Maristela Patrícia de Assis
Resumo: Este artigo é uma análise da liberdade conceituada por Paulo, numa perspectiva multicultural e, sobretudo, conside-
rando-se que sua expressão é uma relação com o outro, numa dimensão transcendente. Esse olhar é um desafio em qualquer
cultura e vinculado a uma vida real de prática comunitária cristã com liberdade no Espírito. A liberdade como proposta de vida
cristã é em prol da comunidade, exercida com igualdade e serviço mútuo, pelo amor que transcende os limites das regras e pre-
conceitos. Liberdade é um anseio do indivíduo em qualquer cultura e se expressa na prática do serviço como designação do
amor, verdade que a pessoa humana necessita, e que independe de raça, gênero, ou até cultura, visto que ultrapassa fronteiras e
atribui sentido a uma existência, a uma história de vida.
Palavras-chave: Amor; Liberdade cristã; Comunidade; Multiculturalismo.
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This paper is an analysis of freedom as concept by Paul, in a multicultural perspective and considering its expres-
sion as a relationship, in a transcendent dimension. This look is a challenging in any culture and it’s linked to the practice of
Christian community with freedom in the Spirit into the real life. Freedom, as an option of Christian life, is in behalf of the
community, and ought to be lived with equality and serving to one another, because of the love that is beyond the rules lim-
its and prejudices. People in any culture desire freedom and its expression is by serving because of love, truth that the human
person needs and that is independent of race, gender, or even culture, considering that this surpass borders and gives sense to
the existence, to a life history.
Keywords: Love; Christian freedom; Community; Multiculturalism.
Resumen: Este artículo es un análisis de la libertad conceptuada por Paulo, bajo una perspectiva multicultural y, sobretodo,
considerando que su expresión es una relación con el otro, en una dimensión trascendente. Esa mirada es un desafío en cual-
quier cultura y está vinculada a una vida real de práctica cristiana comunitaria con la libertad de Espíritu. La libertad como
una propuesta de vida cristiana es en pro de la comunidad, ejercida con igualdad y servicio mutuo, por el amor que trasciende
los límites de las reglas y de los preconceptos. La libertad es un anhelo del individuo de cualquier cultura y se expresa por la
práctica del servicio como una designación del amor, de la verdad que la persona humana necesita, y no depende de la raza, del
género, o hasta de la cultura, ya que ultrapasa fronteras y le atribuye significado a la existencia, a la historia de vida.
Diálogos (Im)Pertinentes – Dossiê Religiosidade
Palabras-clave: Amor; Libertad cristiana; Comunidad; Multiculturalismo.
O aprendizado da liberdade possui por demarcação Restituindo ao ser humano a verdadeira liberdade, a
o amor ao próximo. Especificamente será enfocada a li- libertação radical concretizada por Cristo lhe entrega um
berdade numa relação pessoal com Deus e suas implica- serviço: a práxis cristã, que é a aplicação do amplo manda-
ções no relacionamento com o próximo. O tema sobre a mento do amor. Este último é a abertura suprema da ética
liberdade é incisivo e permeia os diversos campos do re- da sociedade cristã, fundada sobre o Evangelho e sobre toda
lacionamento com Deus e as relações interpessoais, e co- a tradição desde os tempos apostólicos, como descrito:
munica que liberdade é inerente ao ser humano. Pensar
esse tema contribui para uma discussão saudável sobre Vós fostes chamados à liberdade, irmãos. Entretanto, que
questões existenciais e sociais do ser humano na atuali- a liberdade não sirva de pretexto para (viverdes segundo)
dade, visto que liberdade em Cristo é transcender o limite a carne, mas, pela caridade, colocai-vos a serviço uns dos
cultural, político e social. Liberdade é um anseio do in- outros. Pois toda a Lei está contida numa só palavra: Amarás
divíduo em qualquer cultura e se expressa na prática do o teu próximo como a ti mesmo (Gl 5, 13-14).
serviço como designação do amor, verdade que a pessoa
humana necessita, e que independe de raça, gênero, ou A liberdade cristã expressa o sentimento de ser ser-
até cultura, visto que ultrapassa fronteira e atribui senti- vo e a dependência da criatura ao criador, na pessoa de
do a uma existência, a uma história de vida. Jesus Cristo, semelhante à dependência definida por Otto
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Um Olhar Cristão da Liberdade numa Perspectiva Multicultural
(1985, p. 14) como o sentimento que a criatura tem de seu O ser humano, apesar de ser criatura, e criatura de
próprio nada e que desaparece na presença daquele que Deus, é sua imagem e semelhança; “no dia em que Deus
está acima de toda criatura, diante de um poder soberano criou o homem, à semelhança de Deus o fez” (Gn 5,1).
específico. É um sentimento de soberania absoluta e que Assim, homem e mulher pertencem à mesma natureza da-
pode indicar a diferença entre o Senhor Deus e o servo ou quele que os criou, possui a mesma qualidade do ser que
serva fiel. Para Otto (1985) é um superpoder que se rela- os gerou, e, por isso, são também criadores ou criativos em
ciona ao sentimento de ser criatura, que é um sentimento potencial. De forma latente ou manifesta, a criatividade
numinoso, matéria bruta da humildade religiosa e pode humana, semelhante à divina, procede do amor, porque “o
ser definido pelo sentimento de dependência, como ex- amor é afim à transcendência” (Bauman, 2004, p. 21).
pressada por Abraão, que não consiste no fato de não ter A carta aos gálatas é um exemplo na escritura bíbli-
sido criado, mas no fato de ser uma criatura (Gn 18, 27, ca sobre a defesa da liberdade cuja prática é o amor. O
“certamente sou ousado em falar ao meu Senhor, eu que apóstolo Paulo, o apóstolo das Nações, enviado aos gen-
sou pó e cinzas”). Este sentimento de ser criatura favore- tios para a missão de pregar o Evangelho de Cristo, nes-
ce a prática do serviço ao próximo, em amor a Deus e ao ta Epístola aos Gálatas, mais que nunca, demonstra seu
outro, como a expressão máxima da liberdade cristã. espírito de luta em prol da liberdade. Nesse embate tra-
A liberdade cristã consiste em ser livre para servir. vado com os adversários e em favor da causa de Cristo
Nesse conceito de liberdade se insere a humildade religio- e de seus irmãos em Gálatas, Paulo não mediu esforços
sa gerada pelo sentimento de dependência, de ser criatura em fazer prevalecer a verdade proclamada por Cristo, em
diante do criador, e que é necessária para que se estabele- favor da fé cristã, como definiu em Gl 2:16, de que “o
ça a condição de ser livre para servir ao Deus vivo e sobe- homem não é justificado pelas obras da lei, mas somen-
rano, e ao próximo. Pois, “sem humildade e coragem não te pela fé relativa a Jesus Cristo”. Nesse esforço, Paulo
há amor” (Bauman, 2004, p. 22). Uma liberdade eficaz o não só confirma a verdade do Evangelho de Cristo que
suficiente para produzir servos e servas que servem em procurou registrar também em outras cartas, mas, so-
amor compromissado, que traz conseqüências marcantes bretudo, expande a compreensão da vida em liberdade,
para a comunidade cristã, na direção da superação de di- centrada na pessoa de Cristo. A importância desta car-
ferenças sociais, políticas, culturais, étnicas e de gênero. ta é inquestionável para os tempos de Gálatas e para as
Essa comunidade que se forma no molde do cristianismo bases da igreja cristã que se principiava, como também
não só supera tais diferenças, mas, sobretudo agrega as para os tempos atuais, pois, em sua perspectiva mais li-
multiformes culturas e etnias num único contexto comu- bertadora introduz a comunidade uma vida social que
nitário em que o maior valor agregado é precisamente o produz o serviço ao próximo sem hierarquizar privilé-
amor expressado pelo serviço de uns para com os outros, gios ou valorizar um indivíduo em detrimento de outro,
não em ações egoístas e unilaterais, mas em ações inte- por motivo político, cultural, econômico, social ou até
gradas em que todos se beneficiam. mesmo de gênero. Não ocorreria, então, a primazia de
Teixeira (2003, p. 41) afirma que a vida religiosa im- um ser humano sobre outro, pois prevalecem às relações
plica a existência de forças muito particulares que são as igualitárias baseadas na justiça que provêm da condição
Diálogos (Im)Pertinentes – Dossiê Religiosidade
forças que removem montanhas, significando que quan- de filhos de Deus.
do um homem vive da vida religiosa ele pensa participar A luta de Paulo, como afirma Bortolini (1991, p. 16),
de uma força que o domina, mas que ao mesmo tempo o é pela preservação dos valores culturais próprios da co-
sustenta e o eleva acima de si próprio. Apoiado nela pa- munidade dos Gálatas, contemplando também a incul-
rece-lhe que pode enfrentar as dificuldades de existência, turação do evangelho na realidade própria de cada povo,
que pode até dobrar a natureza a seus desígnios. pois, evangelho que não leva em conta as culturas pró-
A liberdade que se recebe pelo viver no Espírito por prias de um povo é pura escravização. Uma luta perfei-
meio de Cristo tem seu lugar na comunidade cristã, e se tamente atual e válida para qualquer sociedade, cultura
concretiza na prática do amor que só se efetiva nas rela- e até nação.
ções estabelecidas entre pessoas que se interagem com o A carta aos gálatas é também um exemplo na luta pela
propósito de servir a Deus e ao próximo. A comunidade superação das diferenças étnicas e culturais, onde Paulo
cristã que vive a liberdade num relacionamento pessoal defende a fé cristã que desemboca na libertação para a
com Deus e com o próximo encontra em Deus a força ne- vivência da liberdade em comunidade, sem imposição
cessária para o serviço, força esta que a sustenta, levan- de ritos judaicos como a circuncisão e a comensalidade
do-a a superação das dificuldades e propiciando a fé que para fazer surgir o sentimento de pertença à comunidade
remove as montanhas das desigualdades, das diferenças eleita ou para se tornar nação santa ou raça eleita. Aderir
culturais, do egoísmo, e tantas outras mais que vierem a aos costumes judaicos, conforme dito por Paulo: “se vos
impedir a existência dessa comunidade livre. E essa força deixardes circuncidar, Cristo de nada vos aproveitará”
de origem transcendente é o amor e não normas, precei- (Gl 5, 2), além de eliminar Cristo da comunidade, seria
tos ou um receituário de procedimentos. “Amar é querer o mesmo que impor a prevalência de uma cultura e sua
gerar e procriar” (Bauman, 2004, p. 21). soberania sobre as demais fazendo de suas bases a Lei
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judaica. Mas, com o advindo da ressurreição de Cristo, a individuais que tanto prejudicam os relacionamentos na
comunidade não necessitaria mais se tornar judeu ou ju- comunidade ou grupo eclesiástico. Para Berger (1985, p.
dia para ser povo escolhido de Deus, bastando somente 29), o indivíduo é socializado para ser uma determinada
a fé em Cristo, que tudo consumou na cruz do calvário. pessoa e habitar um determinado mundo. Berger (1985)
Porém, sem esquecer que essa liberdade é limitada pelo afirma, ainda que o indivíduo não é modelado passiva-
amor e vivida no Espírito. E o significado desse viver no mente, mas sim no curso de uma prolongada conversação
Espírito pressupõe Cristo como exemplo a ser seguido, em que ele é participante. Formado como pessoa conti-
mas que cujo jugo ou fardo é o mais suave e o mais leve nua a participar da conversação e a ser um co-produtor
que qualquer regra poderá se arvorar. do mundo social e de si mesmo.
Como afirma Ferreira (2005, p. 165), “o serviço frater- Com o objetivo de estabelecer as bases da vida comu-
no é, pois, o modo como a comunidade experiencia a li- nitária da igreja cristã, o amor ao próximo tem sido um
berdade em Cristo”. Esse modo de vida como expressão norte, lembrando que, amor “não é senão outro nome para
da liberdade cristã designada pela comunidade supera o impulso criativo e como tal carregado de riscos, pois o
desigualdades para o estabelecimento de relações que fim de uma criação nunca é certo” (Bauman, 2004, p. 21).
não sejam de dominação, ou subjugadoras e opressoras, O amor, sendo um norte, funciona como fonte de constru-
configurando-se assim numa sociedade igualitária, mais ção de uma comunidade, grupo e um mundo mais próxi-
livre de preconceitos e competições, enfim, uma socie- mo de Deus. É também um caminho a trilhar que tem seu
dade de iguais. Pois, segundo Ferreira (2005), em sua vi- início, mas como abertura através de um poder criativo
são de liberdade, aderindo ao programa de uma possível que pretende ser construtor de relacionamentos que não
sociedade sem discriminações, Paulo vai mostrando que se adaptam a regras e conceitos preestabelecidos, pois “o
ela busca, apesar dos conflitos, a superação das barreiras tipo de entendimento que a comunidade se baseia prece-
étnicas, sexuais e sociais, e, como a liberdade, ou seja, vi- de todos os acordos e desacordos. Tal entendimento não
ver segundo o Espírito, se opõe à escravidão, vê-se, pau- é uma linha de chegada, mas o ponto de partida de toda
latinamente, que liberdade e o princípio da igualdade união” (Bauman, 2003, p. 15).
andam de mãos dadas. O amor é também fator de coesão forte na comunida-
A máxima da liberdade cristã, que se estabelece nas de. Favorece o indivíduo em seu esforço constante e ár-
relações entre servos e Senhor, quando não acompanha- duo de estar integrado numa vida em grupo, numa prática
da da sua práxis que é o mandamento do amor, acaba de construção de seu mundo social repleto de sentido, e
por ser uma ferramenta eficiente para o estabelecimento numa via de mão dupla que pretende levar o indivíduo
de relações que podem servir para justificar ou autorizar a doar-se ao próximo e ao grupo, e a receber o mesmo
ações e legações de autoridades eclesiásticas. Dissociar tratamento desse grupo, tornando-se participativo nessa
liberdade cristã da prática do amor ao próximo é o mes- construção social. Estabelece-se, assim, um nomos, que
mo que eliminar Cristo da comunidade, ou o mesmo que para Berger (1985) é uma ordenação da experiência que
edificar uma comunidade na forma de lei e ordenanças é própria a toda espécie de interação social em que “o
que eliminam o fruto primordial dessa liberdade, forman- ‘nomos’ de uma sociedade atinge a consciência teórica”
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do assim uma comunidade composta de indivíduos com (Berger, 1985, p. 45), legitimando totalmente, numa cos-
problemas psicossociais, em constante anomia, em que movisão que abrange tudo, com o objetivo de manter a
conflitos se acirrarão e se tornarão pontos para a deses- realidade objetiva e subjetiva. Porém, amor não se encer-
truturação social. Uma religião nessas bases não realiza ra na coesão e manutenção de realidades como fim em si
sua função social integradora. Se dissociar liberdade cris- mesmo. É sempre a inclusão do outro, visando o outro, o
tã do serviço ao próximo é o mesmo que eliminar Cristo diferente e desconhecido, pois amor é “uma relação com
da comunidade, negar essa liberdade, segundo Bortolini a alteridade, com o mistério, ou seja, com o futuro, com
(1991), é negar Jesus Cristo, o único que é capaz de fazer o que está ausente do mundo que contém tudo o que é...”
viver na justiça e na liberdade, pois, quando a Lei, ou as (Lévinas, citado por Bauman, 2004, p. 22).
obras da Lei, ocupam o primeiro lugar na vida das pes- Como fundamento da religião cristã, a liberdade aqui
soas ou das comunidades, abre-se o caminho para a es- conceituada, em que sua práxis se situa no amor ao pró-
cravidão e a injustiça. ximo, intervém para definir sentido à comunidade reli-
Para citar Berger, “o controle social busca conter as re- giosa e ao indivíduo na relação com o outro, e facilitando
sistências individuais ou de grupo dentro de limites tole- a construção de uma prática que fornece as explicações
ráveis” (Berger, 1985, p. 42). A tônica do amor ao próxi- para as relações sociais existentes, conferindo-lhes signi-
mo como produto da liberdade cristã ressalta a necessi- ficado, repassando valores existenciais e sociais, posicio-
dade de se expressar esse amor no serviço ao próximo e nando o homem num cosmos sagrado em sintonia com
em constante relacionamento com Deus. Pode-se inferir Deus e a comunidade religiosa. Nessa visão, liberdade
dessa temática que ela funciona como fator para conter é construtora de um mundo melhor, que interfere neste
sentimentos carnais de inimizades, invejas, ciúmes e tan- mundo para fazer valer o preceito do amor que é suporte
tos outros sentimentos que representam as resistências para transformação de vidas.
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A liberdade cristã assim definida é a que se estabelece Esse mesmo ser humano dissolve sua carência no ou-
entre o crente servo e Jesus Cristo, seu Senhor, Deus único tro e em comunidade, pois, “o amor é a vontade de cui-
e pessoal. A crença em Jesus como Senhor Ressuscitado, dar, e de preservar o objeto cuidado” (Bauman, 2004, p.
sobre que se fundou a igreja cristã primitiva pode ser um 24). Não pode haver nada mais criativo e construtor do
pressuposto para a crença também em um Senhor que que esse amor. Não pode haver nada mais prestativo que
venceu todas as coisas e realizou o sacrifício por seus ser- esse amor, pois “amar é contribuir para o mundo, cada
vos e servas. Essa crença orienta, no cristianismo, a vida contribuição sem o traço vivo do eu que ama” (Bauman,
da instituição e especificamente do grupo. Na verdade é 2004, p. 24). E, ainda, não pode haver nada mais expres-
a base do cristianismo enquanto prática religiosa: a prá- sivo da liberdade que o amor, e nada mais expressivo do
tica do amor ao próximo, o serviço ao próximo. O amor significado da existência e da vida do que o amor, porque
ao próximo, como expressão da liberdade, é fundamento “amor significa um estímulo a proteger, alimentar, abri-
da ética cristã ocidental, em que o pensamento religioso gar. Amar significa estar a serviço, colocar-se à disposição,
ocidental é transcendentalista e acentua um Deus trans- aguardar a ordem” (Bauman, 2004, p. 24).
cendente e o mundo como sua criação.
Concluindo, nessa perspectiva em que se coloca a li-
berdade cristã, as diferenças se despojam de significado e Referências Bibliográficas
a comunidade passa a ser condicionada pelas trocas que se
estabelecem em bases sólidas e consistentes, fundamenta- Bauman, Z. (2003). Comunidade: a busca por segurança no mun-
do atual. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editora.
das no amor uns para com os outros. Isso implica em de-
cisão pela vontade de viver numa comunidade livre para Bauman, Z. (2004). Amor líquido: sobre a fragilidade das relações
servir, não por força de leis e ordenanças, mas no amor humanas. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editora.
que é gerado pela fé daqueles que crêem em Cristo como
Berger, P. (1985). O dossel sagrado: elementos para uma teoria
Senhor, e desejam andar no seu Espírito, produzindo o
sociológica da religião. São Paulo: Paulinas.
seu fruto melhor que é esse amor. Segundo Giavini (1987,
p. 77), “essa liberdade foi dada pelo Espírito à igreja para Bortolini, J. (1991). Como ler a carta aos gálatas. São Paulo:
que a viva no interior de si mesma e no mundo, dentro Paulinas.
da sociedade civil”. Nesse sentido o propósito é produzir
Ferreira, J. A. (2005). Gálatas. A epístola da abertura de frontei-
o amor como o fruto melhor vivendo-o não só na comu- ras. São Paulo: Loyola.
nidade eclesiástica, mas também na sociedade. O verda-
deiro amor não precisa da lei ou do seu jugo “e vai muito Giavini, G. (1987). Gálatas: Liberdade e lei na Igreja. São Paulo:
além do mínimo exigido pelas normas, contratos, amea- Paulinas.
ças de penas ou previsão de vantagens” (Giavini, 1987, Otto, R. (1985). O Sagrado. São Bernardo do Campo: Imprensa
p. 78). Nesse sentido as normas em vigor não são pesadas Metodista.
ou determinantes, pois, o ser humano que vive a liberda-
de de servir por amor não se baseia ou se prende a elas, Teixeira, F. (2003). Sociologia da religião. Petrópolis: Vozes.
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uma vez que já não precisa delas. O amor prescindindo
de leis, ultrapassando-as, cumpre além de suas determi-
nações de forma serena e pacífica. Pois, Maristela Patrícia de Assis - Graduada em Psicologia e Mestranda do
Programa de Pós-graduação em Ciências de Religião, do Departamento
de Filosofia e Teologia da Universidade Católica de Goiás (UCG). En-
amar significa abrir-se ao destino, a mais sublime de todas
dereço para correspondência: QND 19, Casa 18, Taguatinga Norte, CEP
as condições humanas, em que o medo se funde ao regozijo 72120.190 (Brasília/DF). Email: <
[email protected]>
num amálgama irreversível. Abrir-se ao destino significa,
em última instância, admitir a liberdade no ser: aquela li-
berdade que se incorpora no Outro, o companheiro no amor Recebido em 09.05.08
(Bauman, 2004, p. 21). Primeira Decisão Editorial em 21.08.08
Aceito em 17.09.08
Amor e liberdade cristã se expressam no outro. Apesar
de muitas vezes solitário, não existe na ausência do outro.
É um desafio a ser vivido na relação com o outro, com a
alteridade. E o mais desafiador é a vivência da liberdade
pela práxis do amor na multiplicidade do que é diferen-
te, do outro, ou seja, na comunidade. Esse viver comuni-
tário é, na verdade, um anseio do ser humano em qual-
quer cultura, pois este ser não pode prescindir de outros
seres por ser ele mesmo carente de uma vida em grupo
que lhe satisfaça.
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