1.18 - Aspectos Normativos A Respeito de Resíduos Da Construção Civil - Uma Pesquisa Exploratória Da Siuação No Brasil e em Portugal
1.18 - Aspectos Normativos A Respeito de Resíduos Da Construção Civil - Uma Pesquisa Exploratória Da Siuação No Brasil e em Portugal
1.18 - Aspectos Normativos A Respeito de Resíduos Da Construção Civil - Uma Pesquisa Exploratória Da Siuação No Brasil e em Portugal
DESENVOLVIMENTO
E MEIO AMBIENTE
João Alexandre PASCHOALIN FILHO1, Antonio Jose Guerner DIAS2, Pedro Luis CORTES3
1
Doutor em Engenharia Agrícola (UNICAMP). Professor do Programa de Mestrado em Gestão Ambiental da Universidade Nove de Julho
(UNINOVE). E-mail: [email protected]
2
Doutor em Geologia (Universidade do Porto). Professor da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (UP). E-mail: [email protected]
3
Doutor em Ciências da Comunicação (USP). Professor do Programa de Mestrado em Gestão Ambiental da Universidade Nove de Julho
(UNINOVE). Email: [email protected]
Artigo: Recebido em: 23 de julho de 2013; Versão final aceita em: 28 de janeiro de 2014.
RESUMO A construção civil é um dos setores econômicos que primeiro responde a estímulos e condições favoráveis
da economia de um país. Este ramo industrial também é um importante agente de desenvolvimento nacional,
pois é responsável por grande parte do emprego gerado nacionalmente, além de ter um papel fundamental na
redução do déficit habitacional e de infraestrutura. Contudo, esta indústria está também ligada à geração de
grandes volumes de resíduos que, muitas vezes, são destinados de forma inadequada, causando impactos ao
meio ambiente, tanto natural quanto urbano. A essa situação soma-se ainda a grande necessidade de utiliza-
ção de matérias-primas naturais por parte deste setor produtivo, o que aumenta o impacto ambiental de suas
atividades. Tanto no Brasil como em Portugal, o setor da construção civil se destaca promovendo benefícios
econômicos e sociais. Entretanto, ambos os países enfrentam a mesma problemática em relação aos volumes
de resíduos gerados, além da destinação e manejo realizados de forma inadequada. Este trabalho apresenta um
estudo comparativo entre os aspectos normativos e legislações que regem a geração, o manejo e a gestão de
resíduos de construção civil no Brasil e em Portugal, de forma a encontrar pontos em comum entre ambas as
nações. Por meio das informações coletadas, verifica-se que ambos os países têm mecanismos legislativos e
normativos com o objetivo comum de regular e fiscalizar a geração e a destinação dos resíduos de construção e
demolição. Entretanto, ressalta-se que a discussão da problemática em torno dos resíduos de construção ainda
carece de amadurecimento nos dois países.
Palavras-chave: resíduo de construção civil; sustentabilidade; aspectos normativos e legislativos.
156 PASCHOALIN FILHO, J. A.; DIAS, A. J. G.; CORTES, P. L. Aspectos normativos a respeito de resíduos de construção...
legislativos referentes à situação da gestão e manejo 2011), o setor da construção civil foi responsável por
de resíduos de construção e demolição no Brasil e em um crescimento de 11,6% em seu Produto Interno
Portugal. As informações coletadas foram analisadas e Bruto (PIB) setorial, o melhor resultado dos últimos 24
sistematizadas no intuito de se possibilitar a organização anos, e pela geração de mais de 329 mil vagas formais
destas e a discussão a respeito da temática em questão, no mercado de trabalho. Estima-se que este setor seja
identificando paradigmas presentes em ambos os países, responsável pela geração de investimentos superiores
tendências, contradições e pontos de comum acordo. a R$ 90 bilhões por ano. A demanda por mão de obra
Ressalta-se que a escolha de Brasil e Portugal para também acompanha a necessidade de crescimento desta
a realização desta pesquisa bibliográfica é justificada, atividade, que é responsável pela geração de 62 empre-
uma vez que nestes países a discussão a respeito do gos indiretos para cada 100 empregos diretos que são
manejo e da gestão de resíduos de construção e demoli- gerados (IBGE, 2011).
ção ainda encontra-se em processo de amadurecimento. Entretanto, ao mesmo tempo em que a construção
Contou também na escolha destes países a proximidade civil desempenha importante papel social, contribuindo
histórica entre ambos, o que acarreta costumes, práticas diretamente na redução do déficit habitacional e de infra-
e aspectos sociais semelhantes. estrutura, indispensável ao progresso, este setor produti-
vo é também responsável por um consumo significativo
de recursos naturais, uma vez que muitos dos insumos
2. Aspectos gerais da produção de resíduos de
que entram na produção dos materiais de construção são
construção civil no Brasil e em Portugal obtidos pela extração em jazidas para atender à demanda
de mercado. Estima-se no Brasil, de acordo com Dias
O volume de resíduos gerados pode ser atribuído (2004), que 50% dos recursos materiais extraídos da
a quatro setores econômicos principais: agricultura, in- natureza estão relacionados à atividade de construção.
dústria, construção e serviços. Na Comunidade Europeia, Além dos impactos causados pelo extrativismo, a
em 2006, de acordo com Kloek e Blumenthal (2009), a construção civil também arca com o ônus de impor ao
indústria tradicional e a construção civil destacaram-se ambiente outras formas de agressão, tais como: poluição
entre os setores que mais geraram resíduos, somando do ar e do solo, poluição sonora, geração de resíduos,
aproximadamente 83% de todo o volume produzido etc. Embora nem sempre essa situação seja percep-
pelos setores produtivos em geral. O setor de serviços tível ao cidadão comum, as quantidades de resíduos
contabilizou cerca de 11% e a agricultura, 6%. A constru- de construção civil (RCC) geradas são significativas
ção civil é responsável por uma parte muito significativa na composição dos Resíduos Sólidos Urbanos (RSU).
dos resíduos gerados em Portugal, situação comum aos Estima-se, por exemplo, que os RCC possam constituir
demais Estados Membros da União Europeia, onde se cerca de 50% dos resíduos sólidos de algumas munici-
estima uma produção anual de 100 milhões de toneladas palidades brasileiras (Ulsen et al., 2010). Na cidade de
de resíduos de construção e demolição (Portugal, 2008a). Salvador, o volume de RCC constitui aproximadamente
Em 2011, havia em Portugal, de acordo com o INE 45% do total gerado diariamente de RSU (Azevedo et
(Instituto Nacional de Estatística), aproximadamente 3,5 al., 2006), enquanto que em São Paulo e Rio de Janeiro
milhões de edifícios, sendo que cerca de 1,06 milhão essa participação cai para 21% (Gomes et al., 2008). Na
havia sido construído no período compreendido entre União Europeia, os RCC constituem cerca de 22% do
1991 e 2011, ou seja, 30% do total de edifícios foram volume total de RSU, conforme pode ser visto na Tabela
executados nas últimas duas décadas. Somente na capital, 1, obtida em Barros e Jorge (2008).
Lisboa, no período entre 2005 e 2012, foram protocola- Morais (2006) cita a relação no Brasil, de uma to-
dos cerca de 115.000 pedidos de licenciamento de obras nelada de lixo urbano recolhido para cada duas toneladas
e emitidos aproximadamente 32.300 alvarás. de resíduo de construção civil. O autor também apresenta
No Brasil, no ano de 2010, de acordo com o dados relativos a algumas cidades brasileiras de médio e
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, grande portes, nas quais a massa de RCC, em percentual,
Localidade
Material
São Paulo/SP Ribeirão Preto/SP Salvador/BA Florianópolis/SC
Concreto e argamassa 33% 59% 53% 37%
Solo e areia 32% –– 22% 15%
Cerâmica 30% 23% 14% 12%
Rochas –– 18% 5% ––
Outros 5% –– 6% 36%
FONTE: Carneiro (2005)
158 PASCHOALIN FILHO, J. A.; DIAS, A. J. G.; CORTES, P. L. Aspectos normativos a respeito de resíduos de construção...
(Coelho & Brito, 2011). Em Lisboa, a quantidade de simples deposição um procedimento mais trabalhoso,
RCC foi calculada em 954 t/dia, o que resulta em uma pelo menos do ponto de vista burocrático. Na década
produção per capita ao redor de 600 kg/ano (Melo et de 1990, a imposição de um imposto sobre resíduos
al., 2011), acima da média portuguesa de 325 kg/ano não reciclados e a obrigatoriedade de separação de
per capita (Pico, 2008). resíduos quando a quantidade gerada fosse superior a
uma tonelada fizeram com que as quantidades recicladas
declaradas atingissem a marca de 90%. Uma legislação
3. Aspectos normativos e legislativos
específica sobre a extração de agregados naturais também
em Portugal concorreu para que essa marca fosse atingida (Mália et
al., 2011). O uso de RCC livres de contaminantes foi
A União Europeia ainda não dispõe de legislação regulamentado em 1990, permitindo seu uso sem prévia
específica para os RCC, embora conte com algumas autorização e sem o pagamento de uma taxação, que
diretivas que fornecem uma orientação sobre a gestão de passou a ser aplicada aos resíduos a partir daquele ano
resíduos em geral (Mália et al., 2011). A primeira legis- (Montecinos & Holda, 2006).
lação europeia sobre resíduos em geral surgiu em 1975 Em Portugal, o Decreto-Lei no 178/2006 estabe-
(Diretiva 75/442/CEE), procurando garantir a elimina- leceu o regime geral da gestão de resíduos, transpondo
ção de resíduos que representassem risco para a saúde para a ordem jurídica interna a Diretiva nº 2006/12/CE,
humana ou para o meio ambiente, além de manifestar do Parlamento Europeu e do Conselho, de 5 de Abril, e
preocupação com os recursos naturais, ao incentivar a a Diretiva 91/689/CEE, do Conselho, de 12 de Dezem-
recuperação e reutilização de resíduos sólidos. bro (Portugal, 2006b). Este Decreto-Lei aplica-se às
Na década de 1990, a União Europeia buscou a operações de gestão de resíduos, compreendendo toda
autossuficiência dos países membros quanto à eliminação e qualquer operação de coleta, transporte, armazena-
de resíduos com a promulgação da Diretiva 91/156/CEE gem, triagem, tratamento, valorização e eliminação de
(Mália et al., 2011). Em 2008, foi publicada a Diretiva resíduos, bem como às operações de descontaminação
2008/98/CE, que representou a mudança de uma política de solos e ao monitoramento dos locais de deposição.
que se baseava na eliminação correta de resíduos para O Decreto-Lei no 178/2006 considera o resíduo de
outra que passou a incentivar o seu reaproveitamento construção e demolição como sendo “o resíduo prove-
e sua reciclagem. Essa diretiva também incluiu metas niente de obras de construção, reconstrução, ampliação,
de reciclagem de RCC na União Europeia (Mália et alteração, conservação e demolição e da derrocada de
al., 2011). edificações”. De acordo com este Decreto-Lei, os resídu-
Enquanto as diretivas europeias constituem um os de construção e demolição são considerados inertes,
guia geral para os Estados Membros, há países que sendo considerado perigoso o resíduo que apresente, pelo
aprimoraram a sua legislação sobre RCC, constituindo-se menos, uma característica que coloque em risco a saúde
em exemplos importantes, como é o caso da Dinamarca. coletiva ou o ambiente, nomeadamente os identificados
Neste país, remonta à década de 1980 a primeira lei que como tal na Lista Europeia de Resíduos (Portugal, 2006b,
discorre sobre o uso de RCC. Foi em 1985 que a Agên- p. 6.530). Ainda neste Decreto-Lei, através do artigo
cia Dinamarquesa de Proteção Ambiental determinou 5º, referente ao “Princípio da Responsabilidade pela
que os resíduos de pavimentos de rodovias pudessem Gestão”, é identificado como responsável pela destina-
ser utilizados na construção de novas rodovias ou pa- ção e deposição dos resíduos o próprio gerador, salvo
vimentos, sem a necessidade de autorização. Por outro se a produção diária de resíduos não exceder os 1.100
lado, caso se optasse pela deposição desses RCC em litros, situação em que é o próprio município que fica
depósitos específicos, uma autorização seria necessária encarregado da sua gestão. O Decreto-Lei no 178/2006
(Montecinos & Holda, 2006). Isso indica que, desde a também traz consigo o chamado “Princípio da Hierarquia
década de 1980, já estava em curso uma política para das Operações de Gestão de Resíduos”, a qual estabelece
incentivar o reaproveitamento de RCC, tornando a sua os pontos a seguir transcritos:
160 PASCHOALIN FILHO, J. A.; DIAS, A. J. G.; CORTES, P. L. Aspectos normativos a respeito de resíduos de construção...
TABELA 3 – RESÍDUOS DE CONSTRUÇÃO E DEMOLIÇÃO (INCLUINDO SOLOS ESCAVADOS DOS
LOCAIS CONTAMINADOS) E SUAS RESPECTIVAS CODIFICAÇÕES, CONFORME LISTA
EUROPEIA DE RESÍDUOS (LER, 2004)
Subitem: 17 01 Betão (Concreto), tijolos, ladrilhos, telhas e materiais cerâmicos
17 01 01 Betão
17 01 02 Tijolos
17 01 03 Ladrilhos, telhas e materiais cerâmicos
17 01 06 (*) Misturas ou frações separadas de betão, tijolos, ladrilhos, telhas e materiais cerâmicos contendo substâncias perigosas
17 01 07 Misturas de betão, tijolos, ladrilhos, telhas e materiais cerâmicos não abrangidos em 17 01 06
Subitem: 17 02 Madeira, vidro e plástico
17 02 01 Madeira
17 02 02 Vidro
17 02 03 Plástico
17 02 04 (*) Vidro, plástico e madeira contendo ou contaminados com substâncias perigosas
Subitem: 17 03 Misturas betuminosas, alcatrão e produtos de alcatrão
17 03 01 (*) Misturas betuminosas contendo alcatrão
17 03 02 Misturas betuminosas não abrangidas em 17 03 01
17 03 03 (*) Alcatrão e produtos de alcatrão
Subitem: 17 04 Metais (incluindo ligas)
17 04 01 Cobre, bronze e latão
17 04 02 Alumínio
17 04 03 Chumbo
17 04 04 Zinco
17 04 05 Ferro e aço
17 04 06 Estanho
17 04 07 Mistura de metais
17 04 09 (*) Resíduos metálicos contaminados com substâncias perigosas
17 04 10 (*) Cabos contendo hidrocarbonetos, alcatrão ou outras substâncias perigosas
17 04 11 Cabos não abrangidos em 17 04 10
Subitem: 17 05 Solos (incluindo solos escavados de locais contaminados), rochas e lamas de dragagem
17 05 03 (*) Solos e rochas contendo substâncias perigosas
17 05 04 Solos e rochas não abrangidos em 17 05 03
17 05 05 (*) Lamas de dragagem contendo substâncias perigosas
17 05 06 Lamas de dragagem não abrangidas em 17 05 05
17 05 07 (*) Balastros de linhas de caminho de ferro contendo substâncias perigosas
17 05 08 Balastros de linhas de caminho de ferro não abrangidos em 17 05 07
Subitem: 17 06 Materiais de isolamento e materiais de construção contendo amianto
17 06 01 (*) Materiais de isolamento contendo amianto
17 06 03 (*) Outros materiais de isolamento contendo ou constituídos por substâncias perigosas
17 06 04 Materiais de isolamento não abrangidos em 17 06 01 e 17 06 03
17 06 05 (*) Materiais de construção contendo amianto
Subitem: 17 08 Materiais de construção à base de gesso
17 08 01 (*) Materiais de construção à base de gesso contaminados com substâncias perigosas
17 08 02 Materiais de construção à base de gesso não abrangidos em 17 08 01
Subitem: 17 09 Outros resíduos de construção e demolição
17 09 01 (*) Resíduos de construção e demolição contendo mercúrio
17 09 02 (*) Resíduos de construção e demolição contendo PCB (por exemplo, vedantes com PCB, revestimentos de piso à base de
resinas com PCB, envidraçados contendo PCB, condensadores com PCB)
17 09 03 (*) Outros resíduos de construção e demolição (incluindo mistura de resíduos) contendo substâncias perigosas
17 09 04 Mistura de resíduos de construção e demolição não abrangidos em 17 09 01, 17 09 02 e 17 09 03
* Indica os resíduos de maior periculosidade.
FONTE: Lista Europeia de Resíduos (LER, 2004).
162 PASCHOALIN FILHO, J. A.; DIAS, A. J. G.; CORTES, P. L. Aspectos normativos a respeito de resíduos de construção...
de Construção Civil) de acordo com a resolução CONA- De uma forma geral, observando-se a Tabela 5,
MA no 431/2011, que alterou a classificação apresentada verifica-se que as Normas publicadas referem-se ba-
na resolução CONAMA no 307/2002, alterando a classi- sicamente às atividades de triagem, destinação, reuso
ficação do Gesso de Classe C para Classe B. e reciclagem dos resíduos de construção e demolição,
Anteriormente à promulgação da Resolução CO- estabelecendo recomendações e padronizações técnicas.
NAMA nº 307/2002, o Brasil dispunha de uma Norma Posteriormente, no ano de 2010, a problemática dos re-
Brasileira denominada NBR 10.004 – “Resíduos Sólidos síduos de construção civil no Brasil também foi tratada
– Classificação”, publicada pela Associação Brasileira na Política Nacional dos Resíduos Sólidos (PNRS), por
de Normas Técnicas (ABNT) no ano de 1987, que servia meio da lei no 12.305/2010. Esta política, dentre diversos
de referência quanto à classificação dos resíduos sólidos. aspectos, prevê redução na geração de resíduos, propon-
Após a entrada em vigor da Resolução CONAMA no do a prática de hábitos de consumo sustentável e um
307, a NBR 10.004 de 1987 sofreu uma revisão e foi conjunto de instrumentos para proporcionar o aumento
publicada novamente no ano de 2004 com alterações, da reciclagem e da reutilização dos resíduos sólidos e a
complementações e atualizações que vinham ao encontro destinação adequada dos rejeitos, além da necessidade de
das questões ambientais e o desenvolvimento sustentável elaboração de planos de gestão de resíduos por agentes
em discussão desde a sua primeira publicação. De acordo públicos e privados. Os planos previstos pela PNRS são
com a NBR 10.004/2004, os resíduos de construção civil a seguir listados:
são classificados como inertes, ou seja, classe II-B, uma 1 – Plano Nacional de Resíduos Sólidos: sob a
vez que estes não apresentam constituintes que, quando responsabilidade da União e coordenado pelo Ministério
solubilizados, afetam os padrões de potabilidade da água. do Meio Ambiente;
Além da NBR 10.004, a ABNT publicou as seguintes 2 – Plano Estadual de Resíduos Sólidos: sob a
Normas Técnicas, específicas para resíduos de constru- responsabilidade de cada Estado, sendo este requisito
ção e demolição, relatadas na Tabela 5. fundamental para a obtenção de recursos da União, ou
TABELA 4 – CLASSIFICAÇÃO DOS RCC (RESÍDUOS DE CONSTRUÇÃO CIVIL) DE ACORDO A RESOLUÇÃO CONAMA NO 431/2011
por ela controlados, a serem destinados aos empreen- Deve ser destacado, por meio da observação das
dimentos e serviços destinados ao gerenciamento de Tabelas apresentadas, que Portugal e Brasil possuem
resíduos sólidos; alguns pontos coincidentes a respeito da problemática
3 – Plano Municipal de Gestão Integrada de dos resíduos de construção e demolição quando compa-
Resíduos Sólidos: sob a responsabilidade das municipa- rados o Decreto-Lei no 46/2008 e a resolução CONAMA
lidades, sendo este requisito fundamental para captação no 307/2002, ou seja, ambos os documentos consideram
de recursos junto à União que serão destinados a empre- que os geradores deverão ser os responsáveis pelos resí-
endimentos e serviços relacionados à limpeza urbana e duos produzidos a partir de suas atividades. A resolução
ao manejo de resíduos sólidos; CONAMA no 307/2002 cita:
4 – Plano de Gerenciamento de Resíduos Sólidos:
estão sujeitos à elaboração deste plano os geradores de [...] os geradores de resíduos da construção devem ser
resíduos (perigosos ou não) de uma maneira geral, entre responsáveis pelos resíduos das atividades de constru-
estes, as empresas de construção civil. ção, reforma, reparos e demolições de estruturas e es-
tradas, bem como por aqueles resultantes da remoção de
vegetação e escavação de solos [...] (CONAMA, 2002).
5. Aspectos semelhantes entre Brasil e Portugal
O Decreto-Lei no 46/2008 traz o seguinte em seu
Nas Tabelas 6 e 7 são listados e sintetizados os Capítulo 1, artigo 3º, parágrafo 1:
principais documentos legislativos e normativos que
incidem sobre os resíduos de construção e demolição
aprovados no Brasil e em Portugal. A gestão dos RCC é da responsabilidade de todos os
intervenientes no seu ciclo de vida, desde o produto
164 PASCHOALIN FILHO, J. A.; DIAS, A. J. G.; CORTES, P. L. Aspectos normativos a respeito de resíduos de construção...
TABELA 6 – PRINCIPAIS DOCUMENTOS LEGISLATIVOS QUE PODEM INCIDIR SOBRE OS RESÍDUOS DE CONSTRUÇÃO E
DEMOLIÇÃO APROVADOS NO BRASIL ENTRE 1987 E 2012
Legislação Descrição geral
Norma Técnica ABNT: NBR 10.004/1987 (cancelada). Substituída Classifica os resíduos sólidos quanto aos seus riscos potenciais ao meio
pela NBR 10.004/2004 (ABNT, 2004) ambiente e à saúde pública para que estes resíduos tenham manejo e
destinação adequados.
Resolução CONAMA nº 307/2002 (CONAMA, 2002). Estabelece diretrizes, critérios e procedimentos para a gestão dos resí-
duos da construção civil, disciplinando as ações necessárias de forma a
minimizar os impactos ambientais.
Normas Técnicas ABNT: NBR 15112 até 115116/2004 (ABNT, Apresenta recomendações técnicas para o manejo, destinação e recicla-
2004). gem de resíduos de construção civil
Resolução CONAMA nº 348/2004 (CONAMA, 2004). Altera a Resolução CONAMA nº 307, de 5 de julho de 2002, incluindo
o amianto na classe de resíduos perigosos
Lei nº 15.445/2007 – Política Nacional de Saneamento Básico Estabelece diretrizes nacionais para o saneamento básico; altera as Leis
(BRASIL, 2007). nos 6.766, de 19 de dezembro de 1979, 8.036, de 11 de maio de 1990,
8.666, de 21 de junho de 1993, 8.987, de 13 de fevereiro de 1995; revoga
a Lei no 6.528, de 11 de maio de 1978; e dá outras providências
Lei nº 12.305/2010 – Política Nacional de Resíduos Sólidos (BRA- Institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos, altera a Lei número
SIL, 2010). 9.605 de fevereiro de 1998
Resolução CONAMA nº 431/2011 (CONAMA, 2011). Altera o art. 3º da Resolução nº 307, de 5 de julho de 2002, do Conselho
Nacional do Meio Ambiente – CONAMA, estabelecendo nova classifi-
cação para o gesso.
Resolução CONAMA nº 448/2012 (CONAMA, 2012). Altera os artigos. 2º, 4º, 5º, 6º, 8º, 9º, 10 e 11 da Resolução nº 307, de 5
de julho de 2002, do Conselho Nacional do Meio-Ambiente- CONAMA
FONTE: Os Autores
TABELA 7 – PRINCIPAIS DOCUMENTOS LEGISLATIVOS QUE PODEM INCIDIR SOBRE OS RESÍDUOS DE CONSTRUÇÃO E
DEMOLIÇÃO APROVADOS EM PORTUGAL ENTRE 1996 E 2009
Legislação Descrição geral
Portaria nº 15/96, 23 de janeiro de 1996 (Portugal, 1996). Aprova as operações de gestão de resíduos (revogada pela Portaria
nº 209/2004)
Portaria nº 335/97, 16 de maio de 1997 (Portugal, 1997c). Estabelece as regras de transporte de resíduos
Portaria nº 818/97, 5 de setembro de 1997 (Portugal, 1997b). Aprova a Lista Europeia de resíduos (revogada pela Portaria nº
209/2004)
Decreto Lei nº 239/97, 9 de setembro de 1997 (Portugal, 1997a). Estabelece as regras gerais de gestão de resíduos (revogada pelo De-
creto Lei nº 178/2006)
Portaria nº 792/98, 22 de setembro de 1998 (Portugal, 1998b). Aprova a lista de resíduos industriais não perigosos (revogada pela
Portaria nº 1.408/2006)
Portaria nº 961/98, 10 de novembro de 1998 (Portugal, 1998a). Legisla a autorização de processos de gestão de resíduos industriais,
urbanos e de outros tipos (revogada pelo Decreto Lei nº 178/2006)
Decreto Lei nº 516/99, 2 de agosto de 1999 (Portugal, 1999b). Aprova o Plano Estratégico para os resíduos industriais não peri-
gosos
Portaria nº 321/99, 11 de agosto de 1999 (Portugal, 1999a). Regula a instalação e a gestão de aterros de materiais não perigosos
(revogada pelo Decreto Lei nº 152/2002)
Decreto Lei nº 152/2002, 23 de maio de 2002 (Portugal, 2002). Regula a instalação, utilização, encerramento e pós-encerramento de
aterros (revogado pelo Decreto Lei nº 183/2009)
Portaria nº 209/2004, 3 de março de 2004 (Portugal, 2004). Lista Europeia de classificação de resíduos
Decreto Lei nº 178/2006, 5 de setembro de 2006 (Portugal, 2006b). Estabelece as regras gerais de gestão de resíduos
Portaria nº 1408/2006, 18 de dezembro de 2006 (Portugal, 2006a). Aprova o regulamento de funcionamento do Sistema Integrado de
Registro Eletrônico de Resíduos (SIRER)
Decreto Lei nº 46/2008, 12 de março de 2008 (Portugal, 2008b). Estabelece as regras gerais de gestão de RCC
Decreto Lei nº 183/2009, 10 de agosto de 2009 (Portugal, 2009). Regime jurídico da deposição de resíduos em aterros
FONTE: Os Autores
TABELA 8 – ASPECTOS SEMELHANTES ENTRE A RESOLUÇÃO CONAMA Nº 307/2002 (CONAMA, 2002) E O DECRETO-LEI Nº
46/2008 (PORTUGAL, 2008B)
166 PASCHOALIN FILHO, J. A.; DIAS, A. J. G.; CORTES, P. L. Aspectos normativos a respeito de resíduos de construção...
semelhantes observados entre a resolução CONAMA de Resíduos, aprovado pela decisão 94/3/CE de 20 de
no 307/2002 e o Decreto-Lei no 46/2008. dezembro de 1993.
Um aspecto a ser destacado, comparando-se os
documentos apresentados na Tabela 8, consiste no fato 6. Conclusão
de que o Decreto-Lei no 46/2008 apresenta uma série
de artigos e parágrafos que instituem mecanismos es- Por meio das informações apresentadas, pode-se
pecíficos para fiscalização, taxação e demais ações a concluir que Brasil e Portugal possuem aspectos seme-
serem tomadas pelo poder público. Em contrapartida, a lhantes em relação à problemática dos resíduos gerados
resolução CONAMA no 307/2012, por meio dos artigos pela construção. Em ambos os países este setor tem um
5º e 6º, estabelece diretrizes mais gerais ao poder público, importante papel na geração de benefícios econômicos
deixando os Municípios autônomos para a elaboração e e sociais. Entretanto, a construção civil também arca
implantação de seus Planos Integrados de Gerenciamento com o ônus dos grandes volumes de resíduos por ela
de Resíduos de Construção, desde que sejam observadas gerados, além da necessidade intensa do consumo de
as diretrizes relatadas na resolução. Outro aspecto, no matérias-primas naturais.
qual diferem os documentos analisados, é que a resolu- É certo comentar que em ambos os países a discus-
ção CONAMA no 307/2002 (e depois suas alterações) são da problemática em torno dos resíduos de construção
traz consigo a classificação dos resíduos de construção e demolição ainda é recente, porém, pode-se afirmar que
e demolição em classes A, B, C e D. O Decreto-Lei no tanto Portugal como o Brasil já dispõem de mecanismos
46/2008 não estabelece classificações entre os resíduos legislativos e normativos que têm por objetivo regular e
de construção e demolição, uma vez que em Portugal fiscalizar a geração de resíduos de construção pelo poder
é utilizada a Lista Europeia de Resíduos (LER), im- público e estimular a adoção de práticas de redução de
plantada desde 2004 e resultante do Catálogo Europeu geração, reuso e reciclagem destes.
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