Estudo de Ecológico

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Instituto Superior Universitário de Tete – ISUTE

Deniz Miguel

Edmilda Razão

Eufrazia Bene

Eugénia Dionísio

Eunice Luís

Estudo epidemiológico descritivo – ecológico

Licenciatura em Enfermagem Geral – Pós Laboral

3º Ano/1º Grupo

Tete, 2023
Daniela Manache
Deniz Miguel
Edmilda Razão
Eufrazia Bene
Eugénia Dionísio
Eunice Luís

Estudo epidemiológico descritivo – ecológico

Trabalho em Grupo a ser apresentado ao Curso


de Licenciatura em Enfermagem, como requisito
de avaliação parcial na cadeira de Epidemiologia
e Bioestatística.

Docente: Rito Pereira.


Tete, 2023

Índice
1. Introdução ................................................................................................................................ 1

1.1. Objectivos da pesquisa .................................................................................................. 2

1.1.1. Geral ...................................................................................................................... 2

1.1.2. Específicos ............................................................................................................. 2

2. Metodologia de pesquisa.......................................................................................................... 2

2.1. Tipo de Pesquisa ........................................................................................................... 2

2.1.1. Quanto a abordagem .............................................................................................. 2

2.1.2. Quanto aos objectivos ............................................................................................ 2

2.1.3. Quanto aos procedimentos técnicos ...................................................................... 2

3. Revisão da Literatura ............................................................................................................... 3

3.1. Estudos epidemiológicos descritivos ............................................................................ 3

3.2. Estudos ecológicos ........................................................................................................ 3

3.2.1. Características ........................................................................................................ 4

3.2.2. Vantagens Limitações............................................................................................ 5

3.3. Exemplo prático ............................................................................................................ 5

Resultados ................................................................................................................................ 6

4. Considerações finais .............................................................................................................. 12

5. Referencias Bibliográficas ..................................................................................................... 13


1. Introdução

Os estudos epidemiológicos ecológicos analisam dados globais de populações inteiras


procurando comparar a frequência da doença entre grupos diferentes (populações de países,
regiões, municípios, etc) num mesmo período ou, ainda, da mesma população em momentos
diferentes, visando conhecer a possível existência de associações entre elas. Serve, também,
para criar hipóteses, como por exemplo, consumo de vinho e proteção contra doenças
cardiovasculares. Os grupos são formados por observação das situações ou alocação arbitrárias
de uma intervenção.

O presente trabalho versa sobre “Estudo epidemiológico descritivo – ecológico”, não se trata
de um enfoque cabal, mas sim, o mesmo aborda aspectos básicos sobre os temas supracitados.

Este trabalho caracteriza-se quanto ao escopo, como um teórico de natureza exploratória. Os


estudos exploratórios buscam maiores informações sobre o tema em questão, daí a importância
da revisão bibliográfica.

Por conseguinte, a ordem teórica do presente trabalho se fundamenta em argumentações


doutrinárias e nos autores especializados. De facto, utilizamos no seu desenvolvimento a
pesquisa bibliográfica com recurso material bibliográfico que se fizerem necessários bem como
á obras especializadas nas matérias tratadas que sirvam de substrato para o desenvolvimento
das ideias e efectivo alcance dos objectivos pretendidos no decorrer do presente trabalho.

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1.1. Objectivos da pesquisa

1.1.1. Geral

Compreender o Estudo epidemiológico descritivo – ecológico.

1.1.2. Específicos

 Definir epidemiológico descritivo – ecológico;


 Falar das características, vantagens e limitações do estudo ecológico;

 Evidenciar um exemplo prático sobre estudo ecológico.

2. Metodologia de pesquisa

2.1. Tipo de Pesquisa

2.1.1. Quanto a abordagem


A classificação metodológica da pesquisa quanto a abordagem é qualitativa, porque basea-se
numa argumentação lógica de ideias. De acordo com Vilelas (2009), a pesquisa qualitativa tem
como objectivos a observação, a descrição, a compreensão e o significado, não existem hipóteses
pré-concebidas, quem observa ou interpreta é influenciado pelo fenómeno pesquisado não
obstante, a existência de alguns dados relactivos a pesquisa quantitativa.

2.1.2. Quanto aos objectivos


A classificação metodológica do tipo de pesquisa quanto aos objectivos é exploratória, Sampieri,
Collado e Lúcio (2006) defendem que, as pesquisas exploratórias têm como objetivo
proporcionar maior familiaridade com o tema, com vistas a torna-lo mais explícito ou a constituir
hipóteses. Pode-se dizer que estas pesquisas têm como objetivo principal o aprimoramento de
ideias ou a descoberta de intuições.

2.1.3. Quanto aos procedimentos técnicos


Quanto aos procedimentos técnicos, é uma pesquisa bibliográfica. “Entende-se por pesquisa
bibliográfica o acto de fichar, relacionar, referenciar, ler, arquivar, fazer resumos de assuntos
relacionados com a pesquisa em questão. Assim, no presente estudo, a pesquisa foi elaborada a
partir de material já publicado, fonte secundária, constituído fundamentalmente, de livros, artigos
de jornais científicos; artigos publicados em portais científicos da internet, (Vilelas, 2009).

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3. Revisão da Literatura

3.1. Estudos epidemiológicos descritivos


De acordo com Ebrahim (2006), os estudos descritivos têm por objectivo determinar a
distribuição de doenças ou condições relacionadas à saúde, segundo o tempo, o lugar e/ou as
características dos indivíduos. Ou seja, responder à pergunta: quando, onde e quem adoece? A
epidemiologia descritiva pode fazer uso de dados secundários (dados pré-existentes de
mortalidade e hospitalizações, por exemplo) e primários (dados coletados para o
desenvolvimento do estudo).

A epidemiologia descritiva examina como a incidência (casos novos) ou a prevalência (casos


existentes) de uma doença ou condição relacionada à saúde varia de acordo com determinadas
características, como sexo, idade, escolaridade e renda, entre outras. Quando a ocorrência da
doença/condição relacionada à saúde difere segundo o tempo, lugar ou pessoa, o epidemiologista
é capaz não apenas de identificar grupos de alto risco para fins de prevenção mas também gerar
hipóteses etiológicas para investigações futuras, (Last, 1995).

3.2. Estudos ecológicos


Segundo Freire & Pattussi (2018), os estudos ecológicos (também chamados correlacionados)
usam dados sobre populações inteiras ou grupos de pessoas para comparar as frequências da
doença ou outro efeito entre diferentes grupos durante um mesmo período de tempo ou na
mesma população em diferentes pontos do tempo. Os grupos ou agregados pode ser classes em
uma escola, industrias e áreas geográficas, como: cidades, regiões, estados ou países. Os estudos
ecológicos têm um papel claro quando a variável de interesse é, por definição, uma medida de
grupo ao invés de uma medida individual. Alguns exemplos são as variáveis socioeconômicos e
ambientais, como o nível de renda da população, o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), o
nível de escolaridade e o percentual da população com acesso a saneamento básico.

De acordo com Last (1995), os estudos ecológicos são relativamente rápidos e de baixo custo
porque dispensam etapas, tais como amostragem e coleta de dados por meio de entrevistas e
exames clínicos ou acesso a registros médicos individuais.

Os dados a serem analisados nessa modalidade de estudo geralmente são secundários. Três tipos
de dados ou variáveis podem ser utilizados: agregadas, ambientais e globais (Freire & Pattussi,
2018).

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As fontes de registos de dados rotineiramente, geralmente por sistemas e informações oficiais,
exemplo: banco de dados populacionais. (Last, 1995)

Alguns autores classificam os estudos ecológicos em dois subgrupos: transversais e longitudinais


(Freire & Pattussi, 2018).

Os estudos transversais indicam a frequência com que a determinada doença ou outro efeito de
interesse ocorrem em uma determinada população ou área geográfica num determinado
momento. São feitas análises comparativas entre as variáveis ecológicas, geralmente por meio de
correlação entre indicadores de condição de vida e indicadores de saúde. Os estudos ecológicos
longitudinais usam vigilância em andamento ou estudos transversais frequentes para medir a
tendência das taxas de doença ao longo do tempo, em uma determinada população ou área
geográfica. Através deste último é possível determinar, por exemplo, o impacto de mudanças
populacionais (tais, como guerras, imigração, introdução de vacinas ou antibióticos) em suas
taxas de doenças (Freire & Pattussi, 2018).

Estudos ecológicos permitem obter respostas rápidas. Embora sejam uteis para a formulação de
hipóteses, nem sempre podem ser usados para testá-los, devido a algumas limitações que lhes
são inerentes (Ebrahim, 2006).

Freire & Pattussi (2018) referem que apesar desses problemas, os estudos ecológicos têm sido
uteis para descrever diferenças em populações e para planear ações em saúde pública.

O uso dessa modalidade de estudo em odontologia tem sido crescente e tem contribuído para
evidenciar a determinação social das doenças e agravos bucais (Last, 1996).

3.2.1. Características

Segundo Freire & Pattussi (2018), constituem características do estudo ecológico as seguintes:

 Estudo com dados agregados, como idade, utilização de serviços de saúde, consumo em
geral;

 Avalia correlações ou tendências baseadas em informações de outros grupos que


sugerem a maior proporção por causas mal definidas, nas regiões que possuam maior
proporção de habitantes com renda familiar per capita menor que meio salário mínimo,
sugerindo que a falta de assistência médica do idoso pode relacionar-se com a pobreza;

 Áreas geográficas são geralmente as unidades de análise;

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 Serve para formular hipóteses, ex.: consumo de vinho e proteção contra DCV.

3.2.2. Vantagens Limitações


3.2.2.1. Vantagens

De acordo com Freire & Pattussi (2018), são vantagens do estudo ecológico as seguintes:

 Baixo custo e rápida execução;

 Facilidade de execução; baixo custo relativo;

 Simplicidade analítica;

 Pode gerar hipóteses;

 Mensuração de um efeito ecológico, implantação de um novo programa de saúde ou uma


nova legislação em saúde, na melhoria das condições de saúde.
3.2.2.2. Limitações

De acordo com Last (1995), o estudo ecológico tem as seguintes limitações:

 Incapacidade de associar exposição e doença no nível individual - falácia ecológica;

 Dados de estudos ecológicos representam níveis de exposição média;

 Dificuldade de controlar os efeitos de potenciais factores de confundimento;

 Dados de diferentes fontes, o que pode significar qualidade variável da informação;

 Indisponibilidade de informações relevantes para estudo.

3.3. Exemplo prático


Análise do perfil epidemiológico da tuberculose entre 2009 e 2017 nas províncias de
Nampula, Sofala e Maputo província: um estudo Ecológico

Introdução

Uma das formas de monitorar a distribuição da TB é através da caracterização do perfil


epidemiológico da infecção, um exercício complexo, pois este perfil pode ser afectado, entre

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outros, por factores determinantes da saúde individual e organização do sistema de Serviço
Nacional de Saúde (Pires, 2021).

De acordo com Pires (2021), para compreender a epidemiologia da TB não é, contudo,


suficiente analisar a distribuição de alguns dos seus determinantes. É, também, imprescindível,
considerar o factor tempo, no sentido que, quer os determinantes, quer as políticas dirigidas à
doença, necessitam de tempo para que surtam efeitos, variando este tempo de acordo com a
natureza de uns e de outras. Acresce, que uma análise que inclua vários anos permite
compreender a variação dos indicadores da doença permitindo, desta forma, a avaliação do
desempenho das políticas que lhe são destinadas e, assim, da eficiência do programa.
Método

Trata-se de um estudo descritivo, ecológico com abordagem quantitativa a partir de dados


obtidos em plataformas de informações do Programa Nacional de Controlo da Tuberculose. Os
estudos descritivos têm por objetivo determinar a distribuição de doenças ou condições
relacionadas à saúde segundo o tempo, o lugar e/ou as características dos indivíduos. Também
chamados de correlacionados, os estudos ecológicos têm por objetivo utilizar dados sobre
populações/ grupos de indivíduos e relacionar o efeito em diferentes grupos ou comparar a
frequência de alguma doença em um período de tempo. Os estudos ecológicos têm um papel
bem definido quando a variável é uma medida de grupo ao invés de uma medida individual.
Geralmente as fontes de dados são sistemas de informações oficiais como banco de dados
populacionais (Freire & Pattussi, 2018).

O estudo compreendeu o horizonte temporal de 2009 a 2017. A escolha do horizonte temporal,


deveu-se à existência de dados organizados e passíveis de serem analisados apenas para este
período.

Resultados
Conforme Pires (2021), durante o período em análise (2009-2017), foram notificados no total
87 696 novos casos de TB com baciloscopia positiva (BK+) nas três províncias das três
regiões do país, correspondendo a uma incidência de 346 por cem mil habitantes. Do total de
casos notificados, 2 243 (2,5%) eram em menores de 15 anos de idade e 85 453 (97,4%) em
maiores de 15 anos. A província de Maputo foi a que menos casos novos BK+ notificaram,
enquanto as províncias de Nampula e Sofala tiveram maior notificação em 2016 e 2017.

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Na análise da variação percentual de casos novos notificados com baciloscopia positiva
para os dois tipos de pacientes (menores e maiores de 15 anos), no estudo de Pires (2021)
verificou-se que, para as províncias estudadas, houve um aumento de casos novos
notificados. A província de Nampula foi a que apresentou maior crescimento de casos
novos notificados com uma variação percentual de 130% entre 2009 e 2017. Quando
analisada a variação percentual de casos novos notificados em pacientes com menos de 15
anos e daqueles com idade superior a 15 anos, era também em Nampula que se verificava o
maior crescimento de casos novos notificados, com 303% e 127%, respetivamente.

Em relação à TB extra-pulmonar, entre 2009 e 2017, as províncias de Nampula e de Sofala,


registaram um crescimento percentual de casos novos notificados, de 43% e de 28%,
respectivamente. Há, contudo, de realçar que a província de Maputo apresentou uma
diminuição de casos em 35% entre 2009 e 2017. De realçar, também, que foi na Província
de Sofala que, em 2017, se registou uma maior proporção de TB extra- pulmonar de entre
todos os casos de TB. (Tabela 1).
Tabela 1. Número de casos novos e proporção de casos de TB extrapulmonar (TBEP) por
total de casos, por ano e por província.

Nampula Sofala Maputo prov


Ano *TBEP N(%) TBEP N(%) TBEP N(%)
2009 245 (6,6) 563 (8,4) 1019 (13,5)
2010 270 (7,2) 661 (9,8) 957 (12,7)
2011 380 (10,2) 1164 (17,3) 954 (12,7)
2012 496 (13,3) 734 (10,9) 853 (11,3)
2013 390 (10,4) 736 (10,9) 698 (9,3)
2014 502 (13,4) 708 (10,5) 799 (10,6)
2015 583 (15,6) 638 (9,5) 786 (10,4)
2016 517 (13,8) 801 (11,9) 808 (10,7)
2017 350 (9,4) 723 (10,7) 662 (8,8)
%Δ (2009-2017) 43% 28% -35%

No que diz respeito aos casos de TB-MDR, nas três províncias em estudo, verificou-se um
aumento percentual elevado, com a província de Nampula em destaque. De realçar ainda
que foi em Maputo que em 2017 se verificou a maior proporção de casos de TB- MDR
entre todos os casos de TB (Tabela 2).

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Tabela 2: Número, proporção e variação percentual dos casos TB-MDR diagnosticados por
total de casos de TB por província, entre 2009-2017.
Maputo prov N
Ano Nampula N (%) Sofala N (%) (%)
2009 1 (0.0) 4 (0,1) 32 (1,5)
2010 6 (0,2) 4 (0,1) 24 (1,1)
2011 4 (6,2) 8 (1,3) 21 (1,0)
2012 10 (0,3) 14 (0,5) 47 (2,4)
2013 21 (0,5) 26 (0,7) 44 (2,8)
2014 9 (0,2) 58 (1,6) 104 (5,1)
2015 12 (0,3) 93 (2,6) 117 (6,7)
2016 82 (1,9) 58 (1,2) 109 (4,7)
2017 88 (1,4) 143 (2,9) 114 (5,0)
%Δ (2009-2017) 8700% 3475% 256%

A taxa de cura de TB (todas as formas) aumentou 1,9% em Nampula entre 2009 e 2016. No
entanto, em Sofala e província de Maputo, a taxa de cura piorou no período em análise.

Em todas as províncias verificou-se uma diminuição na proporção de óbitos por TB de


aproximadamente 2%. Já em relação ao abandono do tratamento, apenas em Nampula se
verificou uma diminuição deste indicador sendo que nas restantes províncias, entre 2009 e 2016,
o abandono aumentou (Tabela 3).

Tabela 3. Proporção de cura, óbitos e abandonos do tratamento no total de casos de TB (todas as


formas) registados nas províncias de Nampula, Sofala e Maputo ao longo dos anos em análise.

Nampula Sofala M. Província


Cura Óbito Abandono Cura Óbito Abandono Cura Óbito Abandono
Ano
(%) (%) (%) (%) (%) (%) (%) (%) (%)
2009 85,0 5,5 6,2 86,8 9,1 2,1 85,2 11,2 1,9
2010 82,5 6,1 7,3 86,1 8,2 3,3 85,0 10,6 3,0
2011 87,1 5,6 5,1 85,4 9,6 2,5 87,2 7,5 2,5
2012 89,5 4,8 4,1 86,6 7,0 3,3 86,1 8,6 3,3
2013 90,7 3,3 3,6 88,5 5,8 2,4 86,5 9,6 2,1
2014 88,2 4,0 5,8 88,2 6,1 2,9 88,2 7,5 2,5
2015 85,1 4,3 6,1 82,8 7,1 3,8 77,6 7,9 2,4
2016 86,8 3,7 5,1 76,1 7,0 4,0 70,3 7,9 4,0
Valor médio
(2009-2016) 86,9 4,7 5,4 85,1 7,5 3,0 83,3 8,9 2,7
%Δ (2009-
2016) 1,9 -1,9 -1,1 -10,7 -2,1 1,9 -14,9 -3,3 2,0

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Discussão

Moçambique integra o conjunto de países com alta carga da TB, TB/VIH e TB-MDR e é, ainda,
um dos poucos países do mundo com uma incidência da TB acima de 500 por cem mil
habitantes. Entre 2015 e 2018, o número de casos diagnosticados e notificados no país cresceu
aproximadamente 52%.

Em 2017, as províncias de Nampula, Sofala e Maputo, apresentaram uma incidência da TB de


116, 225 e 121 por cem mil habitantes, respectivamente, estando abaixo da registada a nível
nacional em 2017, que era de 551 por cem mil habitantes. Ainda em 2017, a taxa nacional de
notificação de casos de TB todas as formas, foi de 319 em cada 100 000 habitantes, contra 221,
489 e 470 por cem mil habitantes para as províncias de Nampula, Sofala e Maputo, (Pires, 2021).

A tuberculose infantil, isto é em menores de 15 anos, continua sendo uma preocupação para as
autoridades de saúde moçambicanas. O presente estudo revelou que há uma tendência crescente
de casos novos de TB notificados em menores de 15 anos. Embora esteja a se verificar este
aumento de casos novos notificados, a taxa de cobertura e disponibilidade da vacina BCG em
quase todas as unidades sanitárias com o Programa Alargado de Vacinação (PAV) é de 97%.

Ainda para esta população, foi na província de Nampula e de Maputo que se verificaram maior
número de novos casos. O aumento de número de casos, pode estar a reflectir o nível da doença
no seio das comunidades e a eficácia das medidas de controlo epidemiológico implementadas.
Por outro lado, a diferença observada entre províncias no que diz respeito aos novos casos de TB
em indivíduos com menos de 15 anos, pode resultar do contacto com adultos infectados, uma vez
que geralmente as crianças se infectam através de adultos doentes bacilíferos. (Pires, 2021).

Em relação aos novos casos BK+ em pacientes adultos, isto é, maiores de 15 anos, verificou-se
um aumento em todas as províncias estudadas e no tempo considerado.

A província de Maputo embora seja aquela com maior densidade populacional


comparativamente com as outras províncias em análise, era aquela com poucos casos novos
notificados com BK+ em adultos. A província de Maputo é muito próxima da capital do país,
Maputo, onde se situa a maior unidade sanitária do país (Hospital Central de Maputo). Tal pode
levar a que os indivíduos recorram preferencialmente às unidades da capital, facto para o qual
contribuirá a proximidade geográfica, embora o Hospital Geral da Machava, o de referência para
o tratamento da TB, se situe na província de Maputo. Aliás, o estigma social associado à TB
pode também fazer com que os indivíduos com suspeita de doença se dirijam às unidades

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sanitárias da capital, onde, protegidos pelo anonimato, podem confirmar um eventual diagnóstico
e aí serem tratados (Pires, 2021).

Por outro lado, nas províncias de Nampula e Sofala, a existência em maior número de parceiros
dedicados às actividades comunitárias de diagnóstico precoce da TB comparativamente à
província de Maputo, pode, igualmente, explicar as diferenças observadas na incidência da
doença.

A análise da evolução temporal dos casos novos de TB extrapulmonar demonstrou que é em


Nampula e Sofala que há um aumento maior de casos ao longo do tempo. Este aumento pode
estar relacionado com a expansão de meios de diagnóstico com maior especificidade para esta
forma de TB, excluindo-se assim os falsos negativos. Por outro lado, verificou-se um maior
número de casos de TB pulmonar que extra pulmonar, o que pode estar relacionado com o facto
de a forma pulmonar ser a apresentação mais frequente da doença.

Em relação a casos de TB-MDR, as províncias de Sofala e Maputo apresentaram, de uma forma


geral, uma tendência crescente. Apesar desta tendência crescente, estas duas províncias tiveram,
em específico, uma tendência crescente de casos entre 2011 a 2015, que veio a reduzir entre
2015 a 2016, contrariamente para Nampula que teve um ligeiro aumento entre 2015 a 2016. O
aumento de casos para Sofala e Maputo, pode estar relacionado com a introdução de GeneXpert
em 2011, que terá aumentado a confirmação bacteriológica nesse período. O pico da proporção
de casos TB-MDR observado na figura 5 para província de Maputo em 2015, pode ser explicado
pelo facto de neste ano, ter havido um reforço nas actividaes de vigilância activa, para rastreio
dos possíveis contactos, dos pacientes que eram diagnosticados nas unidades sanitárias desta
província.

Houve um ligeiro aumento da taxa de cura em pacientes diagnosticados com TB para a província
de Nampula, o que pode estar relacionado com a toma correcta dos fármacos por parte dos
pacientes, acompanhados pelos serviços de DOTS institucionais e comunitários, com auxílio de
APES, que tem feito um acompanhamento directo aos pacientes, sobretudo ao nível comunitário.
Estes achados coincidem com o estudo retrospectivo realizado no Hospital Universitário de
referência de Dilla, no sul da Etiópia, que tinha como objectivo determinar o resultado de
tratamento em pacientes de TB e investigar factores associados ao insucesso do tratamento.
Outras pesquisas similares, também encontraram os mesmos achados.

Para Sofala e Maputo província houve uma redução na proporção dos curados ao longo dos anos
em análise. Este facto pode estar também relacionado com o número de pacientes que abandonou
10
o tratamento da TB entre 2009-2016. As províncias de Maputo e Sofala, apresentaram uma
tendência crescente da proporção de abandono o que pode estar relacionado com o facto destas
duas províncias terem menor número de parceiros que apoiam o programa provincial de controlo
da tuberculose, comparativamente com a província de Nampula (6Pires, 2021). Esta província,
por seu lado, apresentou uma redução na proporção de abandonos. Um aumento da proporção de
abandono ao tratamento, vai influenciar na proporção dos curados, pois nem todos pacientes
inscritos para fazerem o tratamento, completaram. O abandono do tratamento pode ser
influenciado por vários factores, entre os quais, os sócio-económicos, o acesso às unidades
sanitárias, a falta de informação detalhada sobre a doença e seu tratamento ou os factores
culturais, entre outros.

A proporção de óbitos, no geral, diminuiu nas três províncias, o que pode estar relacionado com
algumas intervenções do programa como, por exemplo, a melhoria no acesso dos pacientes às
unidades sanitárias através da expansão dos DOTS comunitários, a intensificação de actividades
colaborativas TB/HIV, o aumentando do número de rastreados para essas duas doenças ou a
intensificação de palestras sobre a TB nas comunidades ou em locais de maior aglomeração
populacional.

Conclusão

A tendência crescente na notificação de casos de TB nas províncias em análise não pode ser vista
apenas sob ponto de vista do aumento do problema, mas também deve ser vista de um outro
ângulo – o da melhoria dos serviços de saúde junto das comunidades como, por exemplo, o
diagnóstico precoce da doença, palestras institucionais e comunitárias sobre a doença, expansão
de DOTS, bem como a melhoria da capacidade e qualidade de diagnóstico dos casos suspeitos de
TB.

A tuberculose infantil continua sendo um problema, havendo necessidade de melhoria de


diagnóstico precoce e monitoria contínua dos métodos de prevenção ao nível das comunidades,
bem como ao nível do PAV.

A baixa notificação de casos de tuberculose extrapulmonar, não pode ser vista sob ponto de vista
de redução de casos, mas também como um desafio de diagnóstico correcto, pois o país ainda
enfrenta inúmeras dificuldades sob ponto de vista de capacidade técnica e laboratorial para o
diagnóstico deste tipo de tuberculose, sobretudo em zonas subservidas. Mais esforços
combinados são necessários para aumentar a taxa de cura e reduzir as taxas de abandono e de
mortalidade por esta doença.
11
4. Considerações finais
Nos estudos ecológicos, compara-se a ocorrência da doença/condição relacionada à saúde e a
exposição de interesse entre agregados de indivíduos (populações de países, regiões ou
municípios, por exemplo) para verificar a possível existência de associação entre elas. Em um
estudo ecológico típico, medidas de agregados da exposição e da doença são comparadas. Nesse
tipo de estudo, não existem informações sobre a doença e exposição do indivíduo, mas do grupo
populacional como um todo. Uma das suas vantagens é a possibilidade de examinar associações
entre exposição e doença/condição relacionada na coletividade. Isso é particularmente
importante quando se considera que a expressão coletiva de um fenômeno pode diferir da soma
das partes do mesmo fenômeno. Por outro lado, embora uma associação ecológica possa refletir,
corretamente, uma associação causal entre a exposição e a doença/ condição relacionada à saúde,
a possibilidade do viés ecológico é sempre lembrada como uma limitação para o uso de
correlações ecológicas. O viés ecológico – ou falácia ecológica – é possível porque uma
associação observada entre agregados não significa, obrigatoriamente, que a mesma associação
ocorra em nível de indivíduos.

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5. Referencias Bibliográficas
Ebrahim S. (2006). Principles of epidemiology in old age. In: Ebrahim S, Kalache A.
Epidemiology in old age. London: BMJ Publishing Group.

Freire, M.C.; Pattussi M.P.(2018). Tipos de estudos. IN: ESTRELA, C. Metodologia científica.
Ciência, ensino e pesquisa. 3ª ed. Porto Alegre: Artes Médicas.

Last J.M. (1995) A Dictionary of Epidemiology. 3rd ed. Oxford: Oxford University Press.

Pires, G. M. (2021). Análise das políticas de controlo da tuberculose e do perfil epidemiológico


da infecção em Moçambique (2009-2017), (Dissertação para a obtenção do grau de doutor em
saúde internacional na especialidade em políticas de saúde e desenvolvimento), Universidade
Nova de Lisboa.

Sampier, R.; Collado, C. (2006). Metodologia de pesquisa. 3ª ed.. São Paulo: McGraw-Hill.

Vilelas, J., (2009). Investigação: O processo de Construção do Conhecimento. Lisboa: Edições


Silabo, Lda.

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