A Cultura Do Arroz Apostilas Agronomia
A Cultura Do Arroz Apostilas Agronomia
A Cultura Do Arroz Apostilas Agronomia
1. Importância
O arroz (Oryza sativa L.) é uma espécie hidrófila, cujo processo evolutivo tem
levado à sua adaptação as mais variadas condições ambientais. De uma maneira mais
abrangente, são considerados dois grandes ecossistemas para a cultura, que são o de
várzeas e de terras altas, englobando todos os sistemas de cultivo de arroz no país.
O consumo de arroz pela população mundial é um hábito inquestionável e
dificilmente sofrerá substituição. O arroz é cultivado em todos os continentes, por cerca
de 120 países.
Na primeira grande “Revolução Verde”, no final da década de 60, a planta do
arroz foi objeto de expressivas modificações fenotípicas e genotípicas, o que contribuiu
para proporcionar ganhos importantes em qualidade e produtividade.
Nos últimos anos, entretanto, a produtividade média vem mantendo-se estável,
não só pela possibilidade de ter sido atingida a aproximação do potencial da cultura,
mas, sobretudo, pelas possíveis dificuldades entre a pesquisa e o produtor, na
transferência e adoção das tecnologias mais modernas.
O Brasil é o nono produtor mundial, o arroz é cultivado em todas as regiões, sob
diversos ecossistemas, tanto em terras altas como em várzeas. A produção e a
produtividade aumentaram nos últimos anos.
Porém, se consideradas as estatísticas até a década de 70, as médias eram muito
baixas. Atualmente, mesmo com ganhos expressivos na produtividade, a média ainda
está muito aquém da dos países mais evoluídos na exploração deste cereal.
Deve-se considerar que, apesar de o Brasil ser o maior produtor de arroz em
regime de terras altas do mundo, neste sistema há muito que ser feito no que se refere à
adoção de tecnologias.
Ainda predominam o empirismo e o risco de exploração, em contraste com a
grande evolução na oferta de conhecimentos e tecnologias. É necessário concentrar
esforços no sentido de melhorar as estratégias de transferência de tecnologia, já que
existem muitos exemplos de produtividade entre 3 e 5 t/ha, em regime de terras altas, e
de 7 a 8 t/ha, no regime com irrigação por inundação controlada, em nível de produtor.
A preferência do mercado brasileiro é pelo produto com grão da classe longo-
fino (agulhinha), característica comumente encontrada nas cultivares de arroz irrigado.
Embora a pesquisa já tenha disponibilizado, aos produtores de terras altas, cultivares de
arroz com grão agulhinha, o cultivo do arroz irrigado deverá manter-se estável, ou até
ter aumento na área cultivada, enquanto o arroz de terras altas certamente poderá sofrer
redução na área de cultivo, se não forem tomadas algumas medidas. Isso se observa pela
própria redução da disponibilidade de áreas novas para exploração, como tem
acontecido historicamente, particularmente no Cerrado.
2. Estatística de Produção
No mundo, a maior parte da produção e do consumo de arroz está localizada no
continente asiático, cujo sistema básico de cultivo é o irrigado. O sistema de sequeiro
(terras altas) é encontrado predominantemente no Brasil e, em menor proporção, no
continente africano.
O crescente processo de industrialização dos países asiáticos tem resultado na
diminuição da mão-de-obra disponível para o trabalho no campo e no deslocamento da
produção agrícola para áreas marginais. Por outro lado, o crescimento acelerado da
população está aumentando a demanda do produto em proporções não compatíveis com
o crescimento da produção. Para se atender esta demanda, nos próximos anos devem ser
adicionadas ao mercado mundial de arroz cerca de 10 milhões de toneladas/ano. Metade
desse total deve ser produzido no continente asiático, devendo a outra parte originar-se
3
Em 2005, o arroz de terras altas ocupou 64,2% da área total e o irrigado 35,8%.
No conjunto, o Irrigado em relação aos estados e os respectivos percentuais de
participação de área são liderados pelo Rio Grande do Sul, com 76,63%; já o de Terras
Altas é liderado pelo Mato Grosso, com 39,59%.
7
A área ocupada com Irrigado e Terras Altas no Brasil indica que, no período de
2001/03, houve redução de Terras Altas, enquanto o Irrigado reduziu apenas no ano
2001. Até 2011 não haverá significativa alteração de área no Irrigado, enquanto que o
de Terras Altas deverá ter um aumento de área em torno de 25%. Estas características
contribuirão para o aumento geral da área em torno de 18%, em nível nacional.
alcançando a Indonésia, em torno de 1500 a.C. A cultura é muito antiga nas Filipinas e,
no Japão, foi introduzida pelos chineses cerca de 100 anos a.C. Até sua introdução pelos
árabes no Delta do Nilo, o arroz não era conhecido nos países Mediterrâneos. Os
sarracenos levaram-no à Espanha e o espanhóis, por sua vez, à Itália. Os turcos
introduziram o arroz no sudeste da Europa, de onde alcançou os Bálcãs. Na Europa, o
arroz começou a ser cultivado nos séculos VII e VIII, com a entrada dos árabes na
Península Ibérica. Foram, provavelmente, os portugueses quem introduziram esse cereal
na África Ocidental, e os espanhóis, os responsáveis pela sua disseminação nas
Américas.
Alguns autores apontam o Brasil como o primeiro país a cultivar esse cereal no
continente americano. O arroz era o "milho d'água" (abati-uaupé) que os tupis, muito
antes de conhecerem os portugueses, já colhiam nos alagados próximos ao litoral.
Consta que integrantes da expedição de Pedro Álvares Cabral, após uma
peregrinação por cerca de 5 km em solo brasileiro, traziam consigo amostras de arroz,
confirmando registros de Américo Vespúcio, que trazem referência a esse cereal em
grandes áreas alagadas do Amazonas.
Em 1587, lavouras arrozeiras já ocupavam terras na Bahia e, por volta de 1745,
no Maranhão. Em 1766, a Coroa Portuguesa autorizou a instalação da primeira
descascadora de arroz no Brasil, na cidade do Rio de Janeiro. A prática da orizicultura
no Brasil, de forma organizada e racional, aconteceu em meados do século XVIII e
daquela época até a metade do século XIX, o país foi um grande exportador de arroz.
b) Folha
A folha primária, surgida do coleóptilo, difere das demais por ser cilíndrica e não
apresentar lâmina. A segunda folha, e todas as demais, são dispostas de forma alternada
no colmo, surgindo a partir de gemas situadas nos nós. A porção da folha que envolve o
colmo denomina-se bainha. A porção pendente da folha é a lâmina. Na junção dessas
duas partes situa-se o colar, do qual emergem dois pequenos apêndices em forma de
orelha, sendo por essa razão chamados de aurículas, e uma estrutura membranosa em
forma de língua, denominada lígula. A partir do colmo principal originam-se de 8 a 14
folhas, dependendo do ciclo da cultivar. A última folha denomina-se folha bandeira.
d) Panícula
A inflorescência determinada da planta de arroz denomina-se de panícula.
Localiza-se sobre o último entrenó do caule e é subtendida pela folha-bandeira. É
composta pela ráquis principal, que possui nós dos quais saem as ramificações primárias
que, por sua vez, dão origem às ramificações secundárias de onde surgem as espiguetas.
11
Estas são formadas por dois pares de brácteas ou glumas. O par inferior é
rudimentar, sendo suas glumas denominadas de estéreis. As glumas do par superior
denominam-se pálea e lema e contém no seu interior a flor propriamente dita, composta
por um pistilo e seis estames. O pistilo contém um óvulo. A lema pode ter uma extensão
filiforme denominada arista, que é um importante descritor varietal.
e) Grãos
É formado pelo ovário fecundado, contendo uma única semente aderida às suas
paredes (pericarpo), envolvida pela lema e a pálea. Estas, juntamente com as glumas
estéreis e estruturas associadas, formam a casca. O grão sem casca denomina-se
cariopse.
5. Cultivares
A escolha da cultivar deve ser feita com base em diversos fatores, entre os
quais destacam-se:
- O conhecimento da cultura na região,
- O conhecimento das características das cultivares (ciclo, altura da planta,
resistência a doenças, qualidade do produto e produtividade),
- O sistema de cultivo (várzeas ou terras altas),
- A disponibilidade de água,
- O nível de tecnologia a ser utilizada,
- A fertilidade do solo,
- O sistema de plantio,
- A disponibilidade de sementes.
Embora seja uma classificação empírica, em termos práticos existem três tipos
de arquitetura de plantas de arroz nas lavouras orizícolas do Brasil, assim denominadas:
16
Canastra: apresenta boa produtividade nas mais diversas situações de plantio, em áreas
velhas ou novas, adaptando-se a diferentes níveis de fertilidade. Em condições muito
favorecidas tende a apresentar alta incidência de escaldadura e mancha de grãos. Tem
boa resistência ao acamamento e pode alcançar alta produtividade. Seus grãos são da
classe longo-fino e a qualidade de panela é regular.
Supremo 1: RS.
BRS Bojuru: RS.
Irga 418: RS.
Irga 419: RS.
Irga 420: RS.
BRS Atalanta: RS.
BRS Firmeza: RS.
Empasc 101: SC e norte do RS.
Empasc 105: RJ, SC e norte do RS.
Cica 8: SC, norte do RS, AP, CE, MA, MS, PI, RN, SE, PA, PR.
IR 841: SC e norte do RS.
Epagri 106: SC e norte do RS.
Epagri 107: SC e norte do RS.
Epagri 108: SC e norte do RS.
Epagri 109: SC e norte do RS.
BR IPA 101 (Moxotó) : PE.
Cica 7: MA.
Cica 9: ES, MS, PI, PR, RN.
Diamante: AL, CE, MA, PB, PE, PI, RN, SE.
Metica 1: AL, GO, MT, PI, PR, RJ, RN, TO, SE.
Pericumã: MA.
Pesagro 101: RJ.
Pesagro 102: RJ.
Pesagro 103: RJ.
Pesagro 104: RJ.
Pesagro 105: RJ.
Pesagro 106: RJ.
Pesagro 107: RJ.
São Francisco: AL, PE, SE.
Javaé: GO, RR, TO.
IAC 100: SP.
IAC 101: SP.
IAC 102: SP.
IAC 103: SP.
IAC 104: SP.
IAC 238: SP.
IAC 242: SP.
IAC 4440: SP.
Formoso: GO, TO.
Aliança: ES, GO, MT, MS.
Jequitibá: MG.
Sapucaí: MG.
MG 1: MG.
Inca: ES, MG, MS, RJ.
Uma classificação mais geral, de acordo com o número de dias decorridos entre
o plantio e a maturação de colheita, as cultivares de arroz são classificadas como:
Precoces: até 115 dias, Intermediárias: de 115 a 135 dias, Tardias: mais de 135 dias. Em
condições similares, as cultivares com maior duração de crescimento podem ser mais
produtivas do que as de ciclo curto, pois têm mais tempo para produzir e acumular
fotoassimilados. As cultivares precoces de terras altas podem ser mais produtivas que as
de ciclo médio, quando escapam dos efeitos de veranicos.
7. Sistemas de Cultivo
O arroz no Brasil é produzido nos ecossistemas de várzea e de terras altas, sob
diversos sistemas de cultivo.
O sistema irrigado, responsável por aproximadamente 60% da produção
nacional, predomina nas várzeas da Região Sul do país, onde é tradicionalmente
conduzido em rotação com pastagem. Nesse sistema, o cultivo mínimo, o plantio direto
e, mais recentemente, o pré-germinado, especialmente no Estado de Santa Catarina,
estão se expandindo rapidamente. Nas demais áreas produtoras, situadas na região
tropical, o uso de várzeas com e sem irrigação controlada são alternativas comuns. O
plantio deste tipo de arroz ocorre nos meses de outubro, e nos meses de novembro,
dezembro e janeiro do ano seguinte a lavoura é alagada, exigindo uma grande
quantidade de água, normalmente oriunda de açudes, ou bombeada de rios. A colheita é
realizada no período de março a maio.
A cultura do arroz no ecossistema de terras altas vem se apresentando como um
componente fundamental em sistemas agrícolas, tanto em cultivo sem irrigação como
irrigado por aspersão, enquanto o sistema de sequeiro tradicional, de abertura de novas
áreas, está diminuindo em importância. O plantio em terras altas, das plantas não
irrigadas artificialmente, ocorre de outubro a dezembro. A irrigação é feita através de
chuvas que ocorrem no período de outubro e se estende até maio. A colheita inicia de
janeiro e vai até maio, dependendo da variedade e local de plantio.
O desenvolvimento de cultivares de arroz mais produtivas e de melhor qualidade
de grão, associado à utilização de técnicas de manejo adequadas, poderá permitir o país
atingir a auto-suficiência e até exportar arroz dentro de um prazo relativamente curto.
De uma maneira geral, os solos apropriados para o cultivo de arroz nas várzeas
caracterizam-se por serem hidromórficos e apresentarem topografia plana, sendo,
consequentemente, suscetíveis a inundações nos períodos de chuva. Por possuírem
horizontes argilosos, que apresentam condutividade hidráulica baixa, são também de
difícil drenagem. Essas condições favorecem o cultivo de arroz, não sendo, contudo,
adequadas para utilização com outras culturas.
Nesse ecossistema, a cultura do arroz pode ser encontrada sob cultivo de várzeas
sistematizadas, com controle da lâmina de água, como também em várzeas úmidas, não
sistematizadas, irrigadas pela água da chuva ou pela elevação do lençol freático.
7.1.1. Sistema irrigado por inundação controlada
A maior parcela da produção de arroz no país é proveniente do sistema irrigado
por inundação, sendo cultivado em várzeas sistematizadas e com controle de lâmina de
água. Esse sistema é predominante na Região Sul do Brasil. Entretanto, nas
propriedades agrícolas, o nível de controle da água pode variar desde áreas bem
sistematizadas, onde o agricultor coloca e retira a água quando é conveniente ao cultivo,
até lavouras onde o mau nivelamento impede o controle da lâmina de água e a má
drenagem não permite o manejo eficiente do sistema.
Os métodos de preparo do solo e de semeadura dependem do nível de
sistematização do terreno. Em áreas em desnível, são utilizados o sistema convencional,
o cultivo mínimo ou o plantio direto, com semeadura em solo seco. Em áreas
sistematizadas, a tendência atual é o plantio com sementes pré-germinadas cuja
preparação é feita com o solo seco ou inundado.
O custo da água é um componente importante no custo de produção total.
Quando se compara o consumo de água entre os sistemas convencional, pré-germinado,
cultivo mínimo e plantio direto, os resultados indicam que a semeadura com sementes
pré-germinadas consome menos água que os demais sistemas, principalmente em
relação ao convencional.
O sistema tradicional de cultivo tem contribuído para a degradação das
condições físicas e químicas dos solos hidromórficos, além de facilitar a disseminação
das espécies daninhas, principalmente do arroz vermelho, também conhecido como
arroz daninho, que representa um dos principais problemas da cultura. O cultivo
mínimo e o plantio direto, bem como o pré-germinado, ajudam no controle das plantas
daninhas, inclusive do arroz vermelho, e permitem maior integração da agricultura e da
pecuária.
Em geral, os agricultores iniciam com o cultivo mínimo, reduzindo o preparo do
solo a gradagens leves e aplicação de herbicidas dessecantes antes do plantio. Com o
decorrer do tempo e o ganho de experiência, passam ao plantio direto, que é a
semeadura do arroz sobre cobertura vegetal morta, sem nenhum preparo anterior. Além
de prevenir a erosão e reduzir os custos com a aplicação de fertilizantes, as vantagens
atribuídas a esse sistema são: maior retenção da umidade do solo; melhor controle de
plantas daninhas; mais tempo útil de trabalho no período de semeadura; otimização do
uso de máquinas, insumos e mão-de-obra; melhoria das características fisioquímicas dos
solos; e facilidade para rotação de culturas.
7.1.2. Sistema de várzea úmida
O cultivo do arroz nesse sistema caracteriza-se pelo baixo nível de insumos. Em
geral, este tipo de exploração utiliza alto índice de mão-de-obra familiar, pequenas áreas
e máquinas de pequeno porte, não existindo a preocupação com a construção de
sistemas de controle e eliminação de água. As cultivares normalmente usadas são as
tradicionais e o plantio é feito por meio de semeadura direta ou do transplante de mudas.
A época de plantio é limitada pela capacidade de manejar o solo, ou seja, uma vez
22
arroz dentro desse sistema, já que a cultura, nos últimos anos, vem apresentando
vantagens econômicas em relação ao milho, no sistema de rotação com o feijão.
e zinco. Além de pouco férteis, os solos de cerrado são extremamente ácidos, o que
diminui a disponibilidade de nutrientes para as culturas. Entre os nutrientes essenciais, o
nitrogênio, o fósforo e o potássio são os que a planta necessita em maior quantidade.
Para a incorporação dos solos de cerrado ao processo produtivo é indispensável o uso
adequado de adubação e calagem. O uso adequado de adubação não somente aumenta a
produtividade, mas também reduz o custo da produção e propicia maior retorno
econômico para os produtores. Ainda, a aplicação de adubação e calagem de acordo
com a necessidade da cultura, reduz o risco de degradação do meio ambiente. A
quantidade de N recomendada está em torno de 90 kg ha -1 aplicado em duas vezes,
metade no plantio e o restante na época do perfilhamento ativo. Se o arroz é plantado
após soja, uma redução de 30 kg N ha -1 é recomendada. A aplicação de P depende da
análise do solo, quando o teor de P é menor que 5 mg kg -1, a aplicação de 100 a 120 kg
P2O5/ha é recomendada. A aplicação de K também é feita com base na análise do solo.
Quando o K está na faixa de 25 a 50 mg kg -1, uma aplicação de 80 kg K2O/ha é
recomendada. Quando o teor de K é maior de 50 mg kg-1, a aplicação de adubação de
manutenção em torno de 50 kg K2O/ha é recomendada. Com relação os micronutrientes,
a deficiência de Zn é comumente observada em arroz de terras altas. A deficiência de Zn
pode ser corrigida com a aplicação de 5 kg Zn/ha. O pH adequado para o arroz de terras
altas está em torno de 5,5.
Em geral, as culturas não se desenvolvem satisfatoriamente em solos muito
ácidos. Entretanto, certas espécies toleram melhor a acidez, como é o caso do arroz de
terras altas.
Embora a cultura do arroz de terras altas não responda ou responda pouco ao
calcário, isso não significa que a calagem não deva ser recomendada. A calagem para a
cultura do arroz de terras altas deve ser feita com vista, prioritariamente, ao suprimento
nutricional da planta em Ca e Mg, e não como meio de correção de acidez.
Na cultura do arroz, a prática da calagem deve ser encarada com cautela,
devendo ser considerada apenas quando o arroz for utilizado em sistema de rotação.
Na rotação do arroz com culturas como milho, soja e feijão, que não toleram
níveis muito altos de acidez e possuem necessidades mais elevadas de Ca e Mg, é
comum, em situações onde a correção da acidez do solo é feita com altas doses de
calcário, a indução, no arroz, de deficiências de micronutrientes, como Zn e Fe, em
solos de Cerrado com baixa disponibilidade desses nutrientes. Nessas condições,
recomenda-se uma prévia correção do solo com micronutrientes e uma aplicação de
calcário em quantidade suficiente para manter o pH em torno de 5,8 a 6,0.
Existem muitos materiais que podem ser utilizados para corrigir a acidez do solo,
entre os quais óxidos e/ou hidróxidos de Ca e/ou de Mg, silicatos, carbonatos, etc. Os
carbonatos, comumente denominados de calcários, são os mais empregados, por terem
menor custo e serem encontrados em quase todos os Estados brasileiros. Ressalte- se,
entretanto, que existe grande variação de qualidade entre os calcários disponíveis no
mercado.
Entre as tecnologias geradas que permitiram a utilização agrícola de solos
ácidos, destacam-se o emprego de fertilizantes como fonte de nutrientes e de calcário
como corretivo da acidez natural dos solos, sem o que teria sido impossível a
implantação de culturas como a soja, o feijão e o milho na região de Cerrado. A
calagem, quando administrada adequadamente e utilizada como prática corretiva da
acidez do solo, e não apenas na cultura do arroz, apresenta inúmeras vantagens, tanto no
aspecto econômico quanto na melhoria das condições químicas que promovem no solo.
Quanto ao aspecto econômico, além do efeito marcante da calagem no aumento da
produtividade das lavouras, seu custo pode ser considerado muito baixo em relação às
30
demais práticas agrícolas (cerca de 5% do custo total de produção), o que propicia, aos
produtores, alto retorno em termos de benefícios econômicos e sociais.
Entre outros efeitos benéficos da calagem, além de neutralizar a acidez do solo,
podem ser citados os seguintes:
Aumento da eficiência dos fertilizantes e da absorção de nutrientes pelas plantas.
Aumento da disponibilidade de nutrientes do solo, como nitrogênio, fósforo, enxofre
e molibdênio, além de suprimento de cálcio e magnésio presentes no calcário.
Melhoria das condições químicas do solo à medida que diminui a concentração de
elementos tóxicos na solução do solo, permitindo, assim, maior desenvolvimento do
sistema radicular das plantas.
Estímulo à atividade e ao aumento da população microbiana do solo, em
conseqüência do aumento de pH e dos teores de Ca e Mg. Nessas condições,
maiores quantidades de nitrogênio são fixadas pelos microrganismos e a
decomposição dos resíduos vegetais é mais rápida.
8.2. Arroz em várzeas
Para o arroz irrigado, no momento da escolha do preparo do solo, devem ser
observados os seguintes aspectos:
A presença de restos culturais e de plantas daninhas na área. Quando em grande
quantidade, interferem na operação do plantio direto, pois, em geral, os solos de
várzeas oferecem baixa sustentação, afetando o desempenho do disco da semeadora
ao cortar a palhada (os restos culturais são empurrados para dentro do sulco,
dificultando a germinação por impedir o contato da semente com o solo).
O nivelamento do solo é importante, pois o uso de colhedoras em áreas irrigadas
provoca formação de sulcos profundos, que influenciam na escolha do método de
preparo do solo e na seqüência e datas de realização das operações para o cultivo
subseqüente do arroz.
A profundidade de mobilização do solo também deve ser observada, evitando o
preparo profundo, que pode ser prejudicial à operação posterior da colhedora.
O preparo do solo seco consiste em uma aração, com arado ou grade aradora,
visando incorporar os restos culturais e as plantas daninhas, e revolver a camada
superficial do solo. Se houver muita palhada e plantas daninhas, é aconselhável realizar
a operação de incorporação com grade aradora, de 10 a 30 dias antes da aração. Após a
aração são feitas duas ou três gradagens, dependendo do tipo de solo, com intervalo de
uma semana, sendo a última imediatamente antes da semeadura, para obter um
destorroamento adequado e um bom controle das plantas daninhas. Em solo
excessivamente compactado onde, após a aração, permanecem torrões, recomenda-se
umedecer o solo antes de fazer a última gradagem. As gradagens são realizadas com
grade leve.
Para a semeadura direta do arroz irrigado, em linha ou a lanço, o solo deve
apresentar uma camada superficial finamente destorroada, de maneira a possibilitar
maior contato da semente com o solo e condições adequadas à germinação. Assim, o
uso da enxada rotativa constitui uma alternativa para o destorroamento, devendo,
entretanto, ser usada apenas quando a grade niveladora não tiver condições de realizar
satisfatoriamente essa operação.
Independentemente do método empregado para o preparo do solo, é necessário
fazer o nivelamento da superfície do terreno para corrigir as irregularidades nas quadras,
provocadas, principalmente, pelas colhedoras. Essa prática permite a uniformização da
lâmina de água e o controle de plantas daninhas, e favorece o sistema de plantio de
sementes pré-germinadas.
Em áreas onde não há condições para preparar o solo seco, por causa da
ocorrência de chuvas freqüentes durante a fase em que se realiza essa operação, uma
alternativa é o preparo do solo com água. Os equipamentos mais utilizados para a
realização desse preparo têm sido a enxada rotativa, a lâmina traseira e a grade de
dentes. O procedimento para efetuar o preparo do solo alagado consiste na inundação
do solo, na realização da aração e, por fim, no nivelamento da área com lâmina traseira
ou com grade niveladora.
A inundação do terreno deve ser feita sete dias antes da aração. Esse período
pode variar, dependendo do tipo de solo e da quantidade de resíduos da cultura anterior.
Quando o terreno apresenta partes altas, que não se molham completamente, é
necessário o uso da lâmina traseira para efetuar pequenos cortes e transportar a terra das
partes mais altas para as mais baixas. Para o nivelamento final, procede-se à drenagem
do excesso de água, deixando somente a quantidade suficiente que permita observar as
partes altas e baixas do terreno. Durante a gradagem, deve-se levar a lama às partes
mais baixas do terreno, para obter um melhor nivelamento.
9. Sistemas de Plantio
As formas de plantar o arroz se agrupam em dois grandes sistemas: semeadura
direta e transplantio. A principal diferença entre estes sistemas é que, na semeadura
direta, como o nome indica, as sementes são distribuídas diretamente no solo, quer seja
na forma de sementes secas ou pré-germinadas, a lanço ou em linhas, em solo seco ou
inundado, e, no sistema de transplantio, as plântulas são produzidas primeiramente em
viveiros ou sementeiras, antes de serem levadas para o local definitivo.
9.1. Semeadura direta
O sistema de semeadura direta pode ser efetuado com sementes secas ou pré-
germinadas, a lanço ou em linhas, em solo seco ou inundado, preparado através dos
diferentes sistemas ou sem preparo.
Os seguintes fatores são considerados essenciais na semeadura direta de arroz
irrigado:
32
9.2. Transplantio
É um sistema de semeadura indireta, no qual o arroz é semeado inicialmente em
sementeira ou viveiro, em solo bem preparado, e assim que as mudanças atingem
tamanho adequado para o transplantio, são levadas para o campo definitivo. Este
sistema possibilita a obtenção de um produto de qualidade mais elevada, sendo
recomendado, portanto, para a produção de sementes. Para conseguir alta pureza
varietal, a técnica de eliminação de plantas contaminantes (atípicas) do campo de
produção, também denominada de purificação ou ‘roguing’, é prática fundamental e
35
trilhados são separados das impurezas (palha) por meio de peneiras móveis e fluxo de ar
regulável produzido por ventilador próprio.
Na colheita mecanizada os agricultores utilizam alta tecnologia e plantam
grandes áreas. A operação de colheita é realizada por diversos modelos e tipos de
máquinas, incluindo desde as de pequeno porte, tracionadas por trator, até as colhedoras
automotrizes. Essas máquinas realizam, em seqüência, as operações de corte, transporte
e abastecimento da unidade trilhadora, trilhamento, limpeza e armazenamento a granel,
permitindo comumente ensacamento dos grãos.
O rendimento das colhedoras é variável, dependendo do seu modelo, da sua
conservação e manutenção, assim como das condições da lavoura, isto é, do estádio de
maturação, do índice de acamamento e da ocorrência de plantas daninhas.
As recomendações técnicas que devem ser observadas antes da colheita, a fim de
evitar perdas desnecessárias são:
Horário de colheita: evitar que a colheita se realize pela manhã, quando os grãos
ainda se encontram umedecidos pelo orvalho. Caso ocorra chuva, deve-se esperar
que o arroz sequem completamente, caso contrário, pode haver obstrução na
colhedora.
Teor de umidade do grão: para a maioria das cultivares de arroz deve situar-se entre
18 e 23%. O produtor pode basear-se na mudança de cor das glumas, considerando
como ideal quando dois terços dos grãos da panícula estiverem maduros. Morder os
grãos ou apertá-los com a unha pode também ser um indicativo útil. Se o grão
amassar, o arroz encontra-se ainda imaturo; se quebrar encontra-se na fase semidura,
e a colheita poderá ser iniciada. Deve ser ressaltado que em regiões de alta
pluviosidade, onde a colheita é processada frequentemente com elevado teor de
umidade, o produto deve sofrer secagem imediata, a fim de preservar sua qualidade
durante o armazenamento.
Colheita manual: após o corte do arroz com cutelo, deve-se evitar que as plantas
permaneçam no campo por muito tempo, pois as perdas aumentam se as operações
de recolhimento e trilhamento forem atrasadas sem necessidade. Em locais com alto
índice de chuva e sem condições de se realizar o trilhamento no tempo adequado, o
arroz deve ser emedado, visando proteger as panículas das chuvas. As medas devem
ser pequenas e bem arejadas, de modo que os grãos alcancem o teor de umidade
adequado, sem o risco de ocorrer fermentação. Após 10 a 15 dias está em condições
de ser trilhado, o que deve ser feito antes da chuva seguinte.
Regulagem e manutenção da colhedora: é possível obter maior rendimento com
custo reduzido, se forem seguidas às instruções contidas no manual do operador,
que acompanha a colhedora. Recomenda-se que, após a colheita de cada cultivar, a
colhedora, ou o local de trilha, sejam cuidadosamente limpos, para evitar o risco de
misturas varietais.
Drenagem final: a drenagem antecipada, embora favoreça a economia de água, pode
acarretar decréscimo na produção. A época da drenagem varia em função das
características do solo e da cultivar, e deve ser efetuada, geralmente, dez dias antes
do corte de arroz, para maior facilidade de locomoção da máquina na área, sem
prejuízo para a produção e a qualidade dos grãos, assegurando bom rendimento no
beneficiamento.
Também devem ser tomados cuidados com o transporte, secagem, limpeza,
tratamento e conservação das sementes e grãos.
Qualquer que seja o método utilizado, quando o arroz é colhido muito úmido ou
tardiamente, com baixo teor de umidade, a produtividade e a qualidade dos grãos são
prejudicadas. Para a maioria das cultivares, o ideal é colher o arroz entre 18 a 23% de
40
12.2.Doenças
A cultura do arroz é afetada por doenças durante todo seu ciclo, que reduzem a
produtividade e a qualidade dos grãos. A incidência e a severidade das doenças
dependem da ocorrência do patógeno virulento, do ambiente favorável e da
suscetibilidade da cultivar. As doenças que causam prejuízos significativos na produção
e qualidade dos grãos em ordem decrescente de importância são: brusone (Pyricularia
grisea), mancha de grãos (Phoma sorghina e Bipolaris oryzae) e escaldadura
(Monographella albescens). No arroz irrigado ainda podem ocorrer: escaldadura das
folhas (Gerlachia oryzae), queima das bainhas (Rhizoctonia solani), mancha parda
(Drechslera oryzae, Helminthosporium oryzae e Bipolaris oryzae), podridão do colmo
(Nakataea sigmoideum), mancha das bainhas (Rhizoctonia oryzae). Os prejuízos direto
e indiretos ocasionados pela brusone, nas folhas e nas panículas, são maiores em arroz
de terras altas, na região Centro-Oeste, onde, pelas condições favoráveis à doença, as
perdas podem chegar em até 100%. Em plantio direto, a incidência e a severidade da
44
brusone nas folhas e nas panículas foram significativamente menores do que no plantio
convencional, contudo, este sistema de plantio apresentou maior produtividade. A
queima das glumelas é um dos principais componentes das mancha de grãos e pode
ocasionar perdas de 12 a 30% no peso, e de 18 a 22%, no número de grãos cheios por
panícula, dependendo do grau de suscetibilidade da cultivar, assim como reduzindo a
qualidade após o beneficiamento, os grãos totalmente manchados apresentam
gessamento e coloração escura. A escaldadura é uma enfermidade comum,
principalmente em locais com temperaturas elevadas acompanhadas por períodos
prolongados de orvalho ou chuvas contínuas. As perdas resultam da redução da
fotossíntese e da paralisação do crescimento da plantas ocasionadas geralmente em
plantios de arroz de primeiro ano em solos de cerrado e na Amazônia e região pré-
amazônica, a doença é endêmica. Dentre os métodos de controle dessas doenças, a
resistência genética é o principal componente do manejo integrado. A utilização de
cultivares resistentes além de ser a prática mais econômica, permite racionalizar o seu
uso e de outros insumos como adubação e tratamento com fungicidas. Medidas de
controle integrado das doenças do arroz de terras altas aumentam a produtividade
levando em consideração os custos de produção e redução dos impactos ambientais das
medidas adotadas.
Vídeo
SOCA: Alternativa alimentar e rentabilidade do arroz
O vídeo apresenta uma tecnologia capaz de aumentar a produtividade de arroz
irrigado em várzeas tropicais. A soca do arroz garante qualidade de produção, reduz a
sazonalidade do uso de máquinas e implementos, propicia maior ocupação de mão-de-
obra rural e aumenta a renda líquida dos produtores.
Referências Bibliográficas
Vieira, N.R. de A. V.; Santos, A. B. dos; Sant’Ana, E.P. A cultura do arroz no Brasil.
Santo Antônio de Goiás: Embrapa Arroz e Feijão, 1999. 633p.
Sites Consultados
Arroz Brasileiro. http://www.arroz.agr.br/site/index.php