A Caminhabilidade Utilizada Como Instrumento de Avaliação e Estímulo À Acessibilidade de Pedestres - Estudo de Caso Na Rua de Acesso Ao Ifpb Cajazeiras
A Caminhabilidade Utilizada Como Instrumento de Avaliação e Estímulo À Acessibilidade de Pedestres - Estudo de Caso Na Rua de Acesso Ao Ifpb Cajazeiras
A Caminhabilidade Utilizada Como Instrumento de Avaliação e Estímulo À Acessibilidade de Pedestres - Estudo de Caso Na Rua de Acesso Ao Ifpb Cajazeiras
RESUMO
A caminhabilidade pode ser entendida como um conjunto de condições de oportunidade para andar a pé.
Neste sentido, este artigo objetivou-se em diagnosticar a caminhabilidade da rua de acesso ao IFPB
campus Cajazeiras, refletindo as condições de garantia de níveis de acessibilidade com enfoque aos
pedestres. O método utilizado foi o índice de caminhabilidade 2.0, o que possibilitou análise por cada
segmento de quadra nas categorias calçada, mobilidade, atração, segurança viária, segurança pública e
ambiente. Destarte, a rua foi avaliada de forma geral como insatisfatória, e foram propostas ações
específicas para contribuir com melhores oportunidades de acesso a pedestres.
Palavras-chave: Acessibilidade Urbana; Caminhabilidade; Pedestrianismo.
ABSTRACT
Walkability can be understood as a set of conditions of opportunity to walk. In this sense, this article aimed
to diagnose the walkability of the access street to the IFPB campus Cajazeiras, reflecting the conditions of
guaranteeing levels of accessibility with a focus on pedestrians. The method used was the 2.0 walkability
index, which made it possible to analyze each block segment in the sidewalk, mobility, attraction, road
safety, public safety and environment categories. Thus, the street was generally evaluated as
unsatisfactory, and specific actions were proposed to contribute to better opportunities for pedestrian
access.
Keywords: Urban Accessibility; Walkability; Pedestrianism.
INTRODUÇÃO
Neste contexto, surgem discussões sobre a busca de cidades mais humanas, como
aponta Gehl (2013) ao apresentar estudos de trabalhos que realizou na Europa, Austrália e
Américas, utilizando dados de espaços públicos com enfoque em alternar as ruas com
problemas de trânsito e tráfego em lugares adequados para pessoas. Gehl ainda orienta sobre
a noção das escalas dos prédios, da possibilidade de interação com as fachadas e da
ocupação dos pavimentos térreos, convidando gestores para rever a forma de organizar o
planejamento das cidades, que devem ter como prioridade a ocupação dos espaços públicos e
consequentemente, conformidade para a caminhada (GEHL, 2013).
MATERIAIS E MÉTODOS
Quadro 1 – Síntese das categorias e indicadores utilizados para análise no iCam 2.0.
Fonte: Organizado pelos autores (2022) com base em ITDP (2019).
RESULTADOS
A Rua José Dantas Nobres tem extensão total de 468 metros, tem perfil de ocupação
residencial com muitos lotes vazios e acesso a uma única instituição: o campus Cajazeiras do
IFPB. Na figura 2 é possível observar a ocupação dos lotes, a locação de postes e árvores na
via, a existência de faixa de pedestre e rampas, tipo de pavimentação da via, além da
classificação das calçadas (se são formalizadas ou não). Não há placas de sinalização vertical
no espaço apresentando paradas ou a velocidade indicada para a via. Por ter revestimento de
pavimento intertravado e inclinação acidentada em uma de suas extremidades (Figura 2 –
Imagem C), normalmente não tem problemas de altas velocidades por veículos automotores, no
entanto, o maior problema é o conflito de pedestres na pista de rolamento, uma vez que durante
toda a rua há inúmeras calçadas que não estão formalizadas, são tomadas por vegetação
rasteira, obrigando o pedestre a trafegar de forma inadequada.
Figura 2 – Esquema da rua com imagens em destaque.
Fonte: Mapa feito pelos autores conforme levantamento (2022); Imagens (A) e (B) do acervo dos autores e Imagem
(C) do Google Maps (2020).
Conforme a Figura 3-I, a rua tem uso do solo distribuído majoritariamente por lotes de
função residencial, lotes sem uso (vazios) e um lote institucional (IFPB), mas um dos lotes
vazios também oferecesse acesso à Igreja da Sagrada Família.
Figura 3 – Mapas temáticos do objeto de estudo com imagens em destaque.
Fonte: Mapas feitos pelos autores conforme levantamento (2022); Imagem (A) disponível em: www.ifpb.edu.br;
Imagem (B) do Google Maps (2020).
Após reconhecer o local e elaborar seu diagnóstico, o objeto de estudo foi separado em
trechos para a aplicação da metodologia do iCam 2.0, o que gerou nove segmentos de
aplicação, apresentados na Figura 3 (II). Como os segmentos têm peso na aplicação do iCam
2.0 conforme a extensão da calçada, a distribuição da porcentagem da nota da categoria sobre
a avaliação geral deu-se conforme a Tabela 1.
% da Extensão sobre o
Segmento Extensão (m)
Total
1 65 7
2 65 7
3 64 7
4 181 21
5 61 7
6 107 12
7 63 7
8 60 7
9 212 24
Tabela 1 – Extensão dos segmentos de aplicação.
Fonte: Elaborado pelos autores (2022) a partir de ITDP (2019).
Após a aplicação do iCam 2.0 foi possível verificar todos os indicadores, que resultaram
numa avaliação por categoria por segmento, e, na média aritmética desse valor (considerando
a porcentagem da extensão de cada segmento) atribuir o resultado geral para o trecho. A
categoria Calçadas obteve o índice 0,51, sendo 1,01 para a pavimentação e 0 para largura,
sendo considerado insuficiente em geral. Conforme a Figura 4A, percebe-se que os
segmentos, quando avaliados individualmente, tiveram resultados negativos, alternando entre
suficientes e insuficientes, bastante previsível frente às condições de calçadas inexistentes ou
com largura mínima útil impossibilitando o deslocamento pela calçada, projetando o pedestre a
se deslocar pela pista de rolamento.
O público de classe média/alta do bairro também não contribui para uma rua atrativa ao
pedestre, pois se isolam dentro de grandes paredões fechados (Figura 5I e 5II), mesmo o
campus do IFPB que é um espaço semipúblico tem um grande muro dentro do segmento 4
(Figura 5III), impossibilitando a permeabilidade visual.
Inclusive, esta rua não tem dispositivos de acessibilidade urbana efetivos, pois a faixa de
travessia de pedestres elevada (Figura 7I) liga o campus do IFPB a uma calçada não
formalizada, tomada por vegetação rasteira e inadequada para o deslocamento mesmo para
pessoas que não tem qualquer restrição de mobilidade, e as rampas implementadas
recentemente, como a exposta na Figura 7II foram instaladas em calçadas que não apresentam
rota contínua acessível, cheias de buracos, degraus ou mesmo sem a própria delimitação da
calçada.
Figura 7 – Dispositivos de acessibilidade urbana da rua de estudo.
Fonte: Acervo dos autores (2022).
A última categoria, Ambiente, resultou na avaliação geral como suficiente, com índice
1,58. Esta categoria analisa três critérios que pontuaram de forma diferente entre si; o critério
sombra e abrigo foi avaliado como insuficiente por apresentar poucos espaços agradáveis e
sombreados, já o critério coleta de lixo e limpeza teve índice que resultou na classificação
suficiente, e o item poluição sonora indicou a classificação bom, pois na medição local, nenhum
dos segmentos apresentou ruído acima de 60 decibéis.
A Lei nº 12.711 (BRASIL, 2012b), que dispõe sobre o ingresso nas universidades
federais e nas instituições federais de ensino técnico de nível médio, infere que uma das
categorias possíveis de enquadramento das cotas é para pessoas com deficiência.
Considerando que o IFPB Cajazeiras é uma instituição de ensino pública e se enquadra na lei
supracitada, há uma perspectiva de que haja acesso (na dimensão completa da palavra) de
pessoas com deficiência como estudantes do campus. No entanto, essa materialização tem
barreiras expostas já na linha de chegada: a rua de acesso não tem sequer duas quadras
seguidas que permitam o adequado deslocamento de pedestres, ou a descida de um veículo
motorizado com apoio seguro.
Apesar destas dificuldades, com o resultado exposto por categoria e por critério em cada
segmento e no geral, é possível identificar medidas pontuais e específicas para a melhora da
caminhabilidade da Rua José Dantas Nobres, e consequentemente, da acessibilidade urbana
de pedestres ao acesso ao IFPB campus Cajazeiras, como expresso no Quadro 2.
Categoria(s) Ações propostas
(1) Pavimentar os segmentos 1, 7, 8 e 9, uma vez que “a pavimentação da
calçada é um requisito imprescindível” (ITDP, 2019, p. 22).
Calçada
(2) Delimitar as faixas de serviço e livre de largura útil para o deslocamento
de pedestre em todos os segmentos.
(3) Solicitar a instalação de um ponto de ônibus no bairro, possibilitando a
Mobilidade integração intermodal pedestre/transporte público para usuários da rua/do
campus do IFPB.
(4) Para tornar a rua mais atrativa para a caminhada, seria importante
aproveitar os terrenos vazios (segmentos 1, 6, 7, 8 e 9) ao longo da via e
ocupá-los com usos comerciais, de serviços ou mistos, de forma a provocar
Atração/Segurança fachadas mais ativas e uso nos três turnos do dia. Esta ação também
pública/Ambiente provocará incentivo à categoria Segurança Pública, pois estimulará maior
contato visual entre as pessoas, e à categoria Ambiente, pois desestimulará
que os terrenos vazios sejam espaços de depósito de lixo e entulho em toda a
sua porção, inclusive a calçada.
(5) Em todos os segmentos falta sinalização vertical e horizontal que delimite
as travessias e oriente sobre a baixa velocidade da via, que não deve
Segurança viária
ultrapassar 30km/h garantindo o perfil “local” como medida moderadora de
tráfego.
(6) Melhorar a iluminação pública da via, principalmente nos segmentos 4,5 e
9, além de adequar a poda das árvores de forma a não gerar grandes áreas
Segurança pública de sombra na parte da noite, pois “a calçada bem iluminada cria condições de
utilização noturna dos espaços públicos e favorece a percepção de segurança
pelos pedestres” (ITDP, 2019, p. 44).
(7) Implementar arborização e abrigos para oportunizar sombras nos horários
mais quentes do dia nos segmentos 1, 3, 4, 5, 6, 7, 8 e 9, e adequar a poda
Ambiente
do segmento 2 possibilitando altura útil livre abaixo das copas das árvores
para não atrapalhar o deslocamento de pedestres.
Quadro 2 – Quadro-síntese de ações sugeridas para o objeto de estudo.
Fonte: Elaborado pelos autores (2022).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
• jovens – que compõem grande parcela dos estudantes – são perfis típicos adequados
para o andar a pé, principalmente por não terem idade suficiente para ter certificação de
veículos motorizados e/ou não terem aporte financeiro, além de serem devidamente instruídos e
empoderados sobre aspectos relevantes da mobilidade dentro da própria instituição de ensino;
• e por fim, mas não menos relevante, que a infraestrutura adequada facilita a
aceitação e motiva as pessoas a andarem a pé.
Em 2018, o IFPB fez uma postagem discutindo a inclusão dos estudantes e concluiu que
Neste sentido, compreende-se que este trabalho alcançou seu objetivo ao analisar o
índice de caminhabilidade do objeto de estudo resultando num quadro de ações que podem ser
aplicados de forma efetiva para melhorar e até garantir a acessibilidade urbana focada para os
pedestres. O método escolhido contribuiu para esta efetividade, pois apesar de gerar um
‘resultado geral’, a avaliação por categorias permitiu identificar em quais segmentos pode ser
possível atuar para melhorar o potencial do espaço para a caminhada, atuando principalmente
nos indicadores mais deficitários, descobertos neste estudo como a calçada e fatores que
contribuem para a segurança viária.
AGRADECIMENTOS
REFERÊNCIAS
GEHL, Jan. Cidades Para Pessoas. São Paulo: Perspectiva, 2013. 262 p.
GHIDINI, Roberto Jr. A caminhabilidade: medida urbana sustentável. Revista dos Transportes
Públicos - ANTP, v. 127, p. 21-33, 2011.
JERONYMO, Caroline M. C.; OLIVEIRA, Emanuel J. L.; VIANA, Karla S. da C. L.; LIMA, Erick
S.; RICARTE, Nathaniele A.; SIMÃO, Tiere O. A caminhabilidade no sertão paraibano: estudo
de caso no bairro central de cajazeiras. Revista Principia: Divulgação Científica e Tecnológica
do IFPB, João Pessoa, v. 1, n. 57, p. 1-12, 22 ago. 2021. Disponível em:
https://periodicos.ifpb.edu.br/index.php/principia/article/view/5741. Acesso em: 10 maio 2022.