Legitimidade Daniel
Legitimidade Daniel
Legitimidade Daniel
Resumo
O Poder Judiciário, ao exercer a denominada jurisdição constitucional,
penetra nos territórios onde os poderes políticos, em regra, são os responsáveis
pela atuação preponderante. À vista do constitucionalismo contemporâneo,
marcado pela nova valoração da Constituição e pela efetiva promoção dos direitos
fundamentais, observa-se o desenvolvimento da judicialização da política,
caracterizada pela discussão na arena judicial de temas pertencentes à
discricionariedade dos detentores de mandato eletivo. A teoria substancialista e a
procedimentalista abordam a atuação do Poder Judiciário diante do regime
democrático e dos direitos fundamentais. Exsurge a necessidade de se examinar os
fatores que realmente legitimam de forma democrática a jurisdição constitucional, a
fim de que seja respeitada a vontade popular, mas sem que os direitos
fundamentais fiquem ao relento. Assim, num olhar voltado ao Supremo Tribunal
Federal, despontam elementos imprescindíveis para a formulação da proposta
científica, mais especificamente a forma de escolha de seus ministros, o modo
como é franqueado o acesso à corte e, por fim, os meios de participação da
população junto ao tribunal.
Palavras-chave: Jurisdição constitucional; Legitimidade democrática;
Direitos fundamentais; Substancialismo; Procedimentalismo.
Abstract
The judiciary, by exercising the so-called constitutional jurisdiction,
participates in decisions where the political powers are responsible for the
1
Artigo recebido em: 12/04/2012. Pareceres emitidos em: 12/07/2012 e 20/08/2012. Aceito
para publicação em: 12/09/2012.
2
Doutor em Direito pela Universidade de Brasília (FD-UnB). Endereço eletrônico:
[email protected].
3
Bacharel em Direito pelo Centro Universitário Toledo (UniToledo) de Araçatuba-SP.
Endereço eletrônico: [email protected].
Constituição, Economia e Desenvolvimento: Revista da Academia Brasileira de Direito Constitucional.
Curitiba, 2011, vol. 3, n. 5, Jul.-Dez. p. 251-273.
251
A legitimidade democrática da jurisdição constitucional...
INTRODUÇÃO
4
A “nobreza de toga”, como era conhecida, consistia num grupo (ao lado da nobreza
cortesã e da provincial) do segundo estado da França no século XVIII – o primeiro estado
era composto pelo clero e o terceiro estado pelos camponeses, burgueses e pebleus.
Representava parte da população de ricos que compravam títulos de nobreza, cargos
políticos e administrativos (COTRIM, 2005, p. 290-291).
Constituição, Economia e Desenvolvimento: Revista da Academia Brasileira de Direito Constitucional.
Curitiba, 2011, vol. 3, n. 5, Jul.-Dez. p. 251-273.
253
A legitimidade democrática da jurisdição constitucional...
Inspirado em Nicola Matteuci (1998, p. 25), Lenio Luiz Streck (2004, p. 99)
diz ser característica da Constituição a sua função de, na condição escrita, rígida e
inflexível, não só impedir o governo autoritário e assim implementar um governo
limitado, mas também garantir a inviolabilidade dos direitos dos cidadãos, que
poderiam ser subjugados pelo legislador ordinário caso a Carta Maior não lhe fosse
hierarquicamente superior. Desse modo, requer-se a instituição da jurisdição
constitucional a fim de se defender a supremacia do texto constitucional, visto como
a lei fundamental para a organização, sustentação e orientação do Estado, exigindo-
se que o Poder Público (incluído o tribunal constitucional) aja pautado nos limites
delineados na Constituição. Como se percebe, essa necessidade não se trata de
uma idealização classista de magistrados ambiciosos em tolher dos representantes
políticos e, dessa forma, do povo, a prerrogativa de escolher os melhores caminhos
para o país. Cuida-se de zelar pelo efetivo respeito aos direitos fundamentais
consagrados na Constituição, para os quais deve ser atribuído um eficaz tratamento,
de modo a avançar nos campos políticos, desde que seja para a real garantia dos
direitos mínimos, mesmo contra a vontade da parcela majoritária. Não soa bem que
direitos indisponíveis, como a vida, a saúde e a dignidade sejam vilipendiados sob
pretextos retóricos.
[a] democracia do cidadão está muito mais próxima da idéia que concebe a
democracia a partir dos direitos fundamentais e não a partir da concepção
segundo a qual o Povo soberano limita-se apenas a assumir o lugar do
monarca. (HÄBERLE, 1997, p. 38)
5
STF, MI 721, Relator: Min. MARCO AURÉLIO, Tribunal Pleno, julgado em 30/08/2007.
Constituição, Economia e Desenvolvimento: Revista da Academia Brasileira de Direito Constitucional.
Curitiba, 2011, vol. 3, n. 5, Jul.-Dez. p. 251-273.
265
A legitimidade democrática da jurisdição constitucional...
6
Para Friedrich Müller (2003, p. 55-80), diante da legitimação democrática que produz ao
titular do poder, “povo” deve ser entendido a partir de seus vários elementos que o
compõe. Primeiramente, aborda o conceito como “povo ativo”, compreendido como
aqueles capazes de votar, os eleitores. Depois, concebe povo como instância de
atribuição de legitimidade, sendo todos os nacionais de um país. Extrai “povo” como
“ícone”, aquele que só é invocado normativamente para a legitimação do poder, mas que
não fora o responsável pela atribuição de tal poder (o povo não existiu). Desse modo, o
elemento de “povo” como ícone não deve ser considerado. E, por último, de forma
abrangente, define “povo” como os destinatários das pretensões civilizatórias,
consubstanciando-se na população (todos os habitantes do território), pois para ele, “[o]
mero fato de que as pessoas se encontram no território de um Estado é tudo menos
irrelevante. Compete-lhes, juridicamente, a qualidade do ser humano, a dignidade
humana, a personalidade jurídica [Rechtsfähigkeit]”.
Constituição, Economia e Desenvolvimento: Revista da Academia Brasileira de Direito Constitucional.
Curitiba, 2011, vol. 3, n. 5, Jul.-Dez. p. 251-273.
266
Daniel Barile da Silveira / Elton Johnny Petini
[t]odo aquele que vive no contexto regulado por uma norma e que vive este
contexto é, indireta ou, até mesmo diretamente, um intérprete da norma. O
destinatário da norma é participante ativo, muito mais ativo do que se pode
supor tradicionalmente, do processo hermenêutico. (HÄBERLE, 1997, p. 15)
CONCLUSÃO
revestidas de vontade espúria. Como seja, já dizia Martin Luther King, ativista
político estadunidense: “O que me preocupa não é o grito dos maus. É o silêncio dos
bons”.
REFERÊNCIAS
SOUZA, Gelson Amaro de; MATTOS, Karina Denari Gomes de. Supremo Tribunal
Federal: o caso paradigmático da Corte Constitucional Brasileira. Revista Jurídica
da Presidência, Vol. 12, n. 98, out. 2010/jan. 2011. Brasília: Centro de Estudos
Jurídicos da Presidência, 2011. Disponível em: <https://www4.planalto.gov
.br/revistajuridica/vol-12-n-98-out-2010-jan-2011/menu-vertical/artigos/artigos.2011-
02-18.2974549222>. Acesso em: 20 jul. 2012.
STRECK, Lenio Luiz. Jurisdição constitucional e hermenêutica: uma nova crítica
do direito. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2004.
TAVARES, André Ramos. Tribunal e Jurisdição Constitucional. São Paulo:
Instituto Brasileiro de Direito Constitucional (IBDC)/Celso Bastos Editor, 1998.
VERBICARO, Loiane Prado. A (i)legitimidade democrática da judicialização da
política: uma análise à luz do contexto brasileiro. Revista Jurídica da Presidência,
Vol. 13, n. 101, out. 2011/jan. 2012. Brasília: Centro de Estudos Jurídicos da
Presidência, 2012. Disponível em: <https://www4.planalto.gov.br/revistajuridica/vol-
13-n-101-out-2011-jan-2012/menu-vertical/artigos/artigos.2012-01-23.0731894512>.
Acesso em: 23 jul. 2012.