Renata Guarido
Renata Guarido
Renata Guarido
Consetho Regional
de Psicologia SP
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lulecli«lalizacão
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Griancasi
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e Aclr»lescentes
Conflitos silenciados pela redução de
questões sociais a doenÇas de indivíduos
Casa do Psicólogo'
I
2
A BIOLOGTZAÇÃO DA VIDA E ALGUMAS
IMPLICAÇÕES DO DISCURSO MEDICO
SOBRE A EDUCAÇÃO
Renata Guarido
Paulo Leminski
Revista Nova Escola, junho 2003. Conhecendo como o cérebro guarda informações
você vai ajudor os alunos afixar os conteúdos estududos em classe.. . . Nos últimos 20
anos, a neurociência avançou muito nas descobertas sobre o funcionamento do cérebro. Hoje
sabe-se o que acontece quando ele está captando, analisando e transformando estímulos em
conhecimento e o que ocorre nas células nervosas quando elas sào requisitadas a se lembrar
do que foi aprendido. "Com isso o professor pode aprimorar suas estratégias de ensino", diz
o neuropsiquiatra Everton Sougey, . . . "Se o estudante não aprende um conteúdo é porque
não encontrou nenhuma referência nos arquivos já formados para abrigar a nova informação
e, com isso, a aprendizagem não ocorrel.
Revista Nova Escola, setembro de 2004: Adolescentes: entender a cabeça deles como
chave paru obter um bom aprendizado.: Ate bem pouco tempo a indisciplina e o comporta-
mento emocionalmente instável dos adolescentes eram atribuídos à explosão hormonal típica
da idade. Pesquisas recentes mostram, no entanto, que essa nào e a única explic ação para a
agressividade, a rebeldia e a falta de interesse pelas aulas. que tanto preocupam pais e pro-
fessores. Nessa fase, o cérebro também passa por um processo delicado, antes desconhecido:
as conexões entre os neurônios se desfazem para que surjam novas. . . . Atividades feitas
com base em um rap que a moçada adora, por exemplo, permitem que as informações sejam
firadas na memória com mais facilidade. "A música estimuia o lobo temporal do cérebro e
Íàz com que os circuitos estabelecidos com o córtex pre-frontal - região que analisa infor-
mação - sejam mais consistentes". [fala atribuída a um neurologista consultado pela revista]
. . . A neurologia explica: Tudo que pode parecer estranho no comportamento dos adoles-
centes tem explicação neurológi ca. -----
r A Revista Nova Escola Editora Abril, está há mais de 20 anos no mercado e é hoje a segunda maior revista de tirageÍn
-
mensal no país. Em 2007, obteve, em média, 600 mil assinantes, sendo que a metade deste número é de assinaturas
institucionais ligadas diretamente a estabelecimentos de ensino (em 2007, 168 mil exemplares foram vendidos para o
MEC). [dados fornecidos pelo editor da Revista]
A Bi0l0gizaÇá0 da vida e algumas implicaçÔes do discurso 29
médico sobre a educação
Folha de São Paulo,02 dejunho de 2009: "Professor é educado para identificar esqui-
zofrenia. . . . A Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) criou um programa em que
médicos e outros profissionais da saúde vão até as escolas ensinar os professores a identificar
alunos com suspeita de doenças psiquiátricas graves, como a esquizofrenia. O foco são estu-
dantes entre 11 e 18 anos de 40 escolas públicas de São Paulo. . . . Depois de identificados,
os alunos seguem para o Proesq (projeto de esquizofrenia da Unifesp) para confirmar o diag-
nóstico-que envolve entrevistas com osjovens e seus familiares e exames de neuroimagem.
No momento, 300 estudantes da zona sul de São Paulo passam por avaliaçõas." ,r"-*"'
tem se produzido,
O que como
que um çadavez maior de criancas e em idade cada vez mais precoce é
medicado de forma a sem
não levando
considerar um um
SCUS ainda a
a serem
uma e entre os numa
o a
de é, que o debate ético em torno das últimas
toma-se cada vez mais complexo - como vemos, por exemplo, aquilo que
envolve as pesquisas e manipulações genéticas de embriões humanos. (Lebrun,2004)
Uma ressalva: não se trata aqLri de um reducionismo de crítica quanto aos avanços da
pesquisa biológica e das condições de tratamento das doenças próprias aos seres humanos,
muito menos ao desenvolvimento dos certos psicofármacos, o que detetminou impofiantes
transformações no campo da saúde mental, AS
do esta
no
Trata-se, diante do introduzido acinta, de considerar
mídia, no
lt1CO
. . . nós falamos aqui da «medicalização da existência» como de uma construçdo social e inter-
subjetiva que pertence da cabeça aos pés, em sua gênese como em sua função, a uma estrutura
ãâ--eUtiiia modêrna e ao mal-estar por excelência desta civilização. fgrifos dos autores] (op.
-[tradüção
ãí t : p:21 ) I ivrel
em de
estar dos esta ordem se como uma estratégia, sem
a dirigi-la, e todos vez mals emaranhados nela, que tem como única finalidade o
aumento da ooder. (Dreitus, 1995 p. XXII)
uma
sua
e e nao
está em jogo somente para ser disciplinarizada nos domínios de uma medicina social e sani-
tária. As formas de viver, o cultivo da saúde, os domínios sobre a sexualidade, bem como os
sofrimentos existenciais serão objeto do biopoder de que fala Focault.41pçãq de biopoder
sl mesmo.
E esta preocupação geral que, de fàto, anima a investigação foucaultiana dos últimos tempos:
analisar a formação do homem moderno através dos mecanismos por intermédio dos quais cada
32 MEDICÂLIZAÇÂO DE CRIANÇA§ E ÀDOLESCENTES
um deve passar a relacionar-se consigo mesmo e a desenvolver uma autêntica arte de existência
destinada a reçonhecer-se a si mesmo como um determinado tipo de sujeito. E um sujeito cuja
verdade pode e deve ser conhecida. [grifos do autor] (O, 2003, p. 5)
Ih:EÍ-
que a tecnobiologia vem sendo utilizada e difundida de forma importante e determinante
daquilo que consideramos como condição humana no contemporâneo..
A amplitude da presença da tecnobiologia na área médica revela o alcance de suas
determinações para a apreensão que o homem pode fazer do que the acontece. Falamos das
tecnologias de neuroimagem, de detecção precoce de doenças, de drogas desenvolvidas de
forma a atuarem de forma cadavez mais especificas e com cadavezmenos efeitos colaterais frr
- como o desenvolvimento de novas gerações de psicofármacos - até as formas de reprodução h
assistida, de mapeamento e manipulação geneticas. Ou seja, técnicas quê podem atuar desde
a possibilidade de manutenção da vida diante de doenças e agentes agressores, até a criação
de novos seres e a interferência em seu psiquismo por via química..... '
Assim, não é pequeno o espectro de atuação da pesquisa biológica em termos de eluci-
dação, cura e reprodução dos seres humanos. Como, então, não é pouco complexa a discussão
ética em tomo destes procedimentos e de seus efeitos, como já afirmamos acima.T
Em seu trabalho sobre as questões éticas envolvidas no campo da pesquisa em técnico-
biologia, ou biologia sintética, Dupuy (2008) aponta:
No meu trabalho sobre a ética das nanotecnologias defendi a tese de que essa ética não podia
simplesmente consequencialista, no sentido de que ela só considerasse as consequências
de técnicas járealizadas. Os sonhos que estas técnicas Írazem e que seus desenvolvimentos
mesmo tempo enearnam e reforçam devem também ser objeto de avaliação normativa. . . . A
tória das ciências e das tecnologias demonstra que muitas vezes estes sonhos, que podem
a forma da ficção científica, têm um efeito causal sobre o mundo: podem transformar a
humana mesmo se eles não se encarnam em tecnicas. . . . o não-serio não é menos
que o sério quando se trata de alimentar o irnaginário da ciência. (op. cit.,3ll32)
É, portanto, neste panorama onde um conjunto recente de práticas tenta redefinir as concepções
do corpo humano e dos seus limites, . . . que a psiquiatria biológica pode ganhar sentido como
fenômeno cultural mais amplo, ou, dito de outra forma, menos restrito aos interesses imediatos
da corporação de especialistas. (op. cit.,274)rz/
ia
b A direção assumida pelas práticas psiquiátricas contemporâneas também depende da
a atuação médica, do Manual Diagnóstico e Estatístico dos Transtomos
D
Desenvolvido nos EUA, o N[4_aualrem por criterio, desde 1980, objetivar
lr OSS sticos dos evitando os problemas causados pêla hetero-
E fundamentando a prática diagnóstica em psiquiatria
t então 2004),
h O DSM - IV é hoje referência mundial para diagnósticos psiquiátricos; entretanto,
embora se tratando de um texto voltado aos profissionais da área médica. pode-se encontrar
qj$ialeiga a difusão dos conjuntos de sinais sintomáticos presentes en1 seu texto. E o que
-na
encontramos nos diversos sites sobre autismo,TDAH, sobre Transtomos Globais do Desen--,
volvimento e nos aftigos, por exemplo, da Revista Nova Escola, citada anteriotment e..o''
Apartir dos anos 50 do seculo XX, as práticas em saúde e saúde mental torraran'I-se cres-
centemente dependentes dos produtos fannacológicos. Desde então, os lucros da indústria
farmacêutica têm crescido enormementel.
As pesquisas sobre o funcionamento neuroquímico humano impulsionatn e sào irnpul-
sionadas pela indústria farmacêutica. O sistema de licença para produçào e comerciahzaçào
de remédios regula as drogas que podem ser disponibilizadas ao consumo. mas a lógica do
mercado tambem interfere neste conjunto. A produção dos remédios (não somente os psi-
quiátricos) e seu uso não podem ser vistos somente no campo científico e da prática medica;
os remédios atualmente produzidos apresentam-se como novos bens a consumir. atrelados a
condição de produção de bem-estar, felicidade, auto-realização. Vejamos:
Vamos direto ao ponto: nos últimos 43 anos, o trabalho da EMS tem sido fabricar remédios. E,
se rir é o melhor remédio, então podemos dizer que o trabalho da EMS tem sido fabricar sor-
risos. Sorrisos de bem-estar, risos de alegria, gargalhadas de satisfação. . . . a EMS foi eleita
uma das marcas mais confiáveis entre os médicos. Por isso, sempre que você precisar de uma
I O DSM (Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders) é uma série organizada e publicada originahnente pela
Associação PsiquiátricaArnericana. No ano de 1952, a Associação publicou a primeira ediçâo do Manual (DSM-I) e
as edições seguintes foram publicadas em 1968 (DSM-II), 1980 (DSM-IID, 1987 (DSM-III-R) e 1994 (DSM-IV) e
2000 (DSM IV TR)..A versão DSM-III é considerada como fundamental na reorientação da prática diagnóstica da
p-siquiatria contcmporànca. O DSM i urn sisterra classificalório dos transtomos mentais: apresenla a descriçào de cada
transtorno e os critérios de diagnóstico e diagnósiico diferencial que dcvem ser observadôs pelo médico. Os critérios
diagnósticos coincidcm com uma lista de sintomas a screm vcrificados, seguindo certas orientações oferecidas pelo
manual. As classes diagnósticas presentes no manual recebem códigos numéricos específicos. O DSM é hoje utilizado
como relerencia em todo o munclo para o diagnóstico dos transtomos mentais-,.-'---'
' O crescimento exponencial do uso de medicamentos psicotrópicos em diversos países tem sido alvo constante de aná-
lise de diversos autores.-?ara uma análise precisa da história de desenvolvirnento dos psicofármacos e suas implicaçôes
na prática psiquiátrica, bem como do contexto aponta<lo acima, vcr ROSE, N. Becoming Neurochemical Selves- Dis-
ponível on-linc. Também publicado in Stehr, N. (2004). Biotechnology: Between comerce and civil .society. The State
University. New Jersey: Transaction Publishers. *-."---
-
34 MEDICÂLIZAÇÃO DE CRIANÇÂS E ADOI-ESCENTES
força e vir o logotipo azul da EMS, pode confiar. E depois, quando estiver tudo azul de novo,
nem precisa dizer nada. Apenas responda cotrl um sorrisoa.
'r'-- Os remédios, quando tomados como objeto de consunto, deixam, de cefia forma, o campo !-
restrito da terapêutica médica, passando a funcionar tan,bém na lógica do mercado. Solução
pronta entrega,não sendo demais lembrar o apelo do n-rarketing da indústria fandacêutica a
certa dose de automedicação, que a própria advertência da propaganda anuncia: "ao persis-
tirem os sintomas o medico deverá ser consultado".
É
A direção da medicalização no mundo contelrporâneo aponta, então, para uma biolo-
gízaçào das experiências humanas, para urla retraduçào de suas vicissitudes em termos
sintomáticos, para uma intensificação do uso de rledicarnentos na regulação e controle das I E ,: ll:,-': !r ) . ':
n
t'
j'J.-.! )!r',- -
a Propagandaencontradaemumarevistamensaldegrandecirculaçào,tambémdisponívelnositedaEMS.AEMS-sigma
é um laboratório de sintetizaçào de genéricos. "Sem realizar uma grande aquisição ou fusão com outras indústrias, o
EMS rnais quc dobrou seu faturamento nos últimos anos, passando de 390 milhões de reais em 2001 para cerca de 1
-'
bilhão de reais em 2005. . . . a companhiajá é o segundo maior laboratório farmacêutico do país em volume de medi- ' -_r!iLr!
camentos". (fonte: Comunidade Virlual de Vigilância Sanitária / BVS: Biblioteca Vitr:al em Saúde)
§l
i A Biologizaçá0 da vida e algumas implicaEóes do discurso
médico sobÍe a educaçáo
35
§d,
q
§J
para cada sujeito sua inserção na cultura, identificando-se a partir de certas marcas históricas
e constituindo para si ideais a serem alcançados no percurso da vida.
A mudança em relação ao passado, a seu valor como tradição, tem imprimido, ao longo
' da modemidade, uma certa desqualificação de referências simbólicas da experiência humana
€*- ..acumulada como capaz de darem sustentação às vivências presentes do homemécXpeÍiência
u) acumulada parece ânão dar conta de
;)
de o saber explicar o mundo. A
a ulTl presente sempre renovado, um presente que já é o futuro, num movimento incessante
que toma obsoletas as produções do passadg--
O ideal da vida remete tambem
a OS
envla o a
§ sua a
C A alienação pode ser mais sutil, menos visível, mais astlciosa, quando passa por discursos pseu-
doemancipadores, que levam a crer que abertura para o rnundo exterior, o ensino vivo - segundo
f@U!u da moda -, o,aprendizado natural, a boa cornunicação são os verdadeiros meios de edu-
â^--'
ao passo que solnente quando existern pontos de referência sirnbólicos, diferença não
-!-a_Ção,
dissirnulada dos lugares, possibilidade de identificaçào colr o mestre" coll o pai, mas tambérn
corn a instituição - e, no rneslno rnolirnento, possibilidade de oposição e de crítica, é que a edu-
91Çi9 pode alcançar pleno sentido. (LeÍbrt. 1999.p.223)
"1
No que diz respeito particularmente às experiências es t
tem uma
)Ç,1
,.,
tà particular da constituição humana, mas também entendida corno ternpo.de preparo e pre.- É
es vençào para a produçào de indivíduos cap?zes para o trabalho e saudáveis. do ponto de vista
"1,
psíquico, para participarerr do social., "
t
-F-)
problerna a ser abordado, ou seja, uma época a ser cuidada, assistida, tutelada. No lugar de
uma autoridade familiar, um conjunto de especialidades se consolidou como capaz de orientar
a educação das crianças, aconselhando tanto as troças afetivas familiares quanto a moralidade,.
e organizaçào que deveriam ser obserradas no procêsso da escolarizaçào. As intervenÇíes
destinadas ao cuidado deste tempo de preparo paLltaram-se por uma definição de prevençào
e moralização das crianças e das práticas educativas. (Patto. 1993: Costa.2004: Moys6l
2b01; Legani e Almeida, 2004)
Algumas referências tornaram-se fundamentais no que diz respeito ao cuidado da infância
corno ternpo de vulnerabilidade, bem como de preparo.e as intervenções dirigidas às escolaq
e famílias tiveram raízes, em geral, nas teorias irigienistas bem corno nas ideias preventivas
da higiene mental-, nas teorias rnedicas sobre a degeneração. nas concepções da puericultura
e no desenvolvimento das técnicas e conceitos da psicometria e da psicologia do desenvolvi-
mento. Na atualidade, as pesquisas da bioquírnica cerebral têm animado uma certa esperança
por uma metodologia de ensino condizente colrr os novos "achados" sobre o funcionamento
cerebral, bem como tem sustentado explicaçôes sobre os conlportamentos das crianças e as
causas de seu suposto fracasso escolar.
Assim, as vicissitrdes da escolarização das crianças estào. sem duvida, incluídas no con-
texto antes apresentado, qr.rando renomeadas sob o prisrla. por exemplo, do Transtorno do
Déficit de Atenção e Hiperatividade, dos Transtomos de Conduta. dos Transtomos Globais
do Desenvolr,irnento. etc.
Diante do desenvolvimento da ciência e das práticas das especialidades no domínio da
criação e educação das crianças. r imos s.- consolidar. ao iongo do último século, uma auto-
ridade cspecializada em rnatéria de educaçào.
Aparti+de certa infonlaçào do teneno da psicologia. os professores foram também cha-
mados a serem extensào do oihar especialista na prática cotidiana, levados a observare#iá§
üariações de comportarnento das crianças e a orientarem seus f4niliares na busca cle trata-
mentos adequadoi aos problernas apresentados pelos alunosy,/-
.Podemos reconhecer no contato cotidiano com os professores e outros agentes das equipes
átgo qüe há muito vem sendo trabalhado pàr autores críticos da ãpropriaçao à pl!-
"r.àüt"S;
sença do discurso especialista no cotidiano escolar. Patto (1993). por exemplo, ag?]iq1 c-LLmo
as explicações psicológicas sustentaram a culpabilizaçào das crianças e das famílias pelo
fràôasso escolar, beú como serviram à manutenção das divisões de classe e da ideologia
bü-iguesa. Também reconhecemos a demanda pela intervenção especializada como efeito do
que Lajonquiêre (1999) denominou o discurso psicopedagógico hegemônico. E, remeten--
do-nos a Foucault (1987), poderíamos tomar a mesma demanda como resultado das prática's
disciplinares que gaúaram na rnodernidade a eficácia de caracteúzar os indivíduos, classi-
ficando-os, localizando-os e registrando-os nos parâmetros da Norma.
Desta forma, a permeabilidade da escola ao discurso médico, bem como ao discurso psi-
coTógico, e histórica.
Ahegerynia 49.4ls_curso sobre o organismo, sobre seus aspectos funcionais, reduz aconsi-
deração da diméú-são §inibóIiõa dá subjeiividade, como efeito disso, poderíamos ressaltar uma
retirâóa da posdúitiOàAe de atuação dos sujeitos sobre o que lhes acontece, já que os problemas
A Biologizaçáo da vida e algumas implicaçoes do discurs0 37
médico sobre a educação
+ c' condições do aprendizado das crianças estariam dados pelo funcionamento cerebral e não
pelas interferências de um outro em sua condição de estruturação e desenvolvimento42
e adultos, confrontados com certa sobre o que lhes acon-
I -!-!_!.1r. SO SEUS a
é então um -se, aparentemente potente
especialista que saberia o que fazer diante do diagnostico que profere.
\i rr
I Sendo o da estimulação
que "nos govema",
\ -P
vada- que ocoÍTe ou seJa, o
o caráter
, onde história. aparece ser possível crer
( na il usao que algurn possa se 110 privado, fruto do bom
I :irncionamento do
f\ a uma transmissão,
Finalmente, do lado do sujeito, diferente dos mmos que a ruptura que o discurso de Freud
-
ler,ou à medicina da epoca dando lugar ao sentido dos sintomas, à sexualidade infantil,
ao mal-estar estrutural, à singularidade da história de cada um na constituição de sua sub-
tetividade -, na contramão deste processo, o biologismo no qual se apoiam a psiquiatria
contemporânea e os discursos científicos sobre o homem, tende cada vez mais a uma natu-
ralizaçào dos fenômenos humanos.
l
Uma das marcas do discurso freudiano foi fazer incidir ,bre
na construção dos fiü(i*
como inerente SC
faz ver no fato de que a p com que cada sujeito §
manifesta sua busca por uma satisfação no laço com os outros
{àJ
Os sintomas assim, rnodalidades de humana. Neste .1
a 1na, pors, sinais }}
de desvio ou doença, ma§,i construídas forma à
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a!.g}§tia-e aQJs§eh.
--L
Do ponto_& vista da-psic.qnâljse. o se constitui em sua com os outros, deles ql"
dependendo, de início, IaU[g&;Ua. {
podendp sieniflcar srasÉxpcriênciaüç r,jrjLyjvçr.a"çalqsg9.q.e*s.gl :E
etividade sua na
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o eito só
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SELI Íica lltcl-
marcas ASSIII A
a,rganlsmo
A em como toma os da falar de si ao
r.tiro
- a
partir de-".-.f&84&*"^q
! sua posição Ug.l*gg3ffi"(ou seja, como se situa que o sujeito faz
a-
Iaco com os outos- seus Dares.
._, +:@4*n|.*r
_,-^_-^. .
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rionX ,lüifu
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t-$*
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Do de vlsta do ser
Desta
que seu organismo funcione, lhe é, no entanto. i{ra--
somente no campo da medicação não escuta queqL
IE
.,. .\t seu sofrirnento em um reducionismo da terapêutica.
NECCSS
tF
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qtx f,r
I
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{=l nesta medida da exclusão do sujeito
para aquilo que aqui interessa. o
tratamento
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desej o. na dimensão do
§ toe Outro como constitutivo da sr-rbjetir idade. ;----
Para tenninar, seria, no entanto, uma ilusào crer que o medicamento e a promessa que ele
caffega, não tocam em desejos humanos. E o fato de que o sujeito deseje ver-se livre de sua
dor e de seus conflitos que também anima, de certa forma. a busca por uma solução tal como
a apresentada pelos remédios. Por isso lembramos Freud. em o Mal-Estar da Civilização:
-
H
La vida, como nos es impuesta, resulta gravosa: nos trae hartos dolores, desengafios, tareas
insolubles. Para soportala, no podernos prescindir de caLmantes ("Eso no anda sin construc-
ciones auxiliares", nos ha dicho Theodor Fontane.) Los hay, qtizá, de tres clases: poderosas -ill'r
distracciones, que nos hagan valuar en poco nuestra miseria; satisfacciones sustitutivas, que la
reduzcan, y sustancias embriagadoras que nos vuelvan insensibles a ellas. Algo de este tipo es
indispensable. A las distracciones apunta Volteire cuando, en su Candido, deja resonado el con- :
sejo de cultivar cada cual su jardín; una tal distracción es también la actividad científica. Las
satisfacciones sustitutivas, como las que ofrece el arte, son ilusiones respecto de la realidad, :
mas no por e1lo menos efectivas psíquicamente, merced al papel que la fantasía se ha conquis-
tado en la vida anímica. Las sustancias embriagadoras influyen sobre nuestro cuelpo, alteran su
quimismo. No es sencillo indicar el puesto de la religión dentro de esta serie. Tendremos que
-- l
*t ldtr r
proseguir nuestra busca. (Freud, AE, vol. XXI, p. 75)
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l-r
I
h
E
A Biologizaçáo da vida e algumas implicaçóes do discurso 39
médico sobre a educacão
:114-
REFERÊNCIÂS BIBLIOGRAFICAS
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