Aula 10

Derivando funções exponenciais e

logarítmicas

Nesta aula estaremos deduzindo as derivadas das funções f(x) = ax e g(x) = loga x,
sendo a uma constante real, a > 0 e a ≠ 1.
O que faz do número e uma constante tão especial ? A resposta está no seguinte
teorema

Teorema 10.1.

1. Se f(x) = ex , então f ′ (x) = ex . Ou seja, a derivada da função exponencial

de base e coincide com a própria função.

2. Se f(x) = ax (a > 0), então f ′ (x) = ax ⋅ ln a.

Demonstração. Seja f(x) = ex . Então

∆f f(x + ∆x) − f(x) ex+∆x − ex
lim = lim = lim
∆x→0 ∆x ∆x→0 ∆x ∆x→0 ∆x
ex ⋅ e∆x − ex
= lim
∆x→0 ∆x
e ∆x − 1
= lim ex ⋅
∆x→0 ∆x
∆x
e −1
= ex ⋅ lim = ex ⋅ 1 = ex
∆x→0 ∆x

Para justificar o último passo na dedução acima, nos resta demonstrar:

Proposição 10.1.
eh − 1
lim =1
h→0 h

107
108 Aula 10

Demonstração. Faremos o cálculo do limite através de uma estratégica mudança de

variável.
Fazendo eh − 1 = z, temos eh = 1 + z, e então h = loge (1 + z)
Assim sendo, h → 0 se e somente se z → 0, e então
eh − 1 z 1
lim = lim = lim
h→0 h z→0 loge (1 + z) z→0 loge (1 + z)
z
1 1 1
= lim = = =1
loge [(1 + z) ] loge e 1
z→0 1/z

Continuação da demonstração do teorema 10.1.

Em virtude da proposição 10.1, sendo f(x) = ex , temos f ′ (x) = lim ∆f
= ex .
∆x→0 ∆x

Para calcular a derivada de ax , fazemos

ax = eloge a = ex loge a = ex ln a = e(ln a)x

x

Pela regra da cadeia, (eu ) ′ = eu ⋅ u ′ , logo

′
(ax ) ′ = [e(ln a)x ] = e(ln a)x ⋅ ((ln a)x) ′ = e(ln a)x ⋅ ln a = ax ln a

Em se tratando de funções logarítmicas, temos as seguintes propriedades com

relação às suas derivadas.

Teorema 10.2. Sendo a ∈ R, a > 0, a ≠ 1,

1 1
1. (ln x) ′ = 2. (ln ∣x∣) ′ =
x x
′
1 ′
1
3. (loga x) = 4. (loga ∣x∣) =
x ln a x ln a

Demonstração. Se y = ln x, então y = loge x, e portanto x = ey .

Por derivação implícita em relação a x, temos (x) ′ = (ey ) ′ , logo 1 = ey ⋅ y ′ .
1 1
Portanto y ′ = = , ou seja, (ln x) ′ = 1/x.
ey x
ln x ′ (ln x) ′ 1
Assim sendo, (loga x) ′ = ( ) = = .
ln a ln a x ln a
Para derivar ln ∣x∣, ou loga ∣x∣, lembremo-nos de que ∣x∣ = x quando x > 0, e ∣x∣ = −x
quando x < 0. Assim, se x > 0, recaímos nos itens 1 e 3.
Derivando funções exponenciais e logarítmicas 109

Se x < 0, empregando derivação em cadeia,

−1
(ln ∣x∣) ′ = (ln(−x)) ′ = 1
−x ⋅(−x)
′ = x ⋅(−1) = x1 . O item 4 é deduzido analogamente.

Vimos anteriormente que α é um número racional, então (xα ) ′ = αxα−1 . Com o

emprego da função ln podemos generalizar este resultado para expoentes irracionais.

Proposição 10.2. Sendo α uma constante real, racional ou irracional, e x > 0,

(xα ) ′ = αxα−1

Demonstração. Se y = xα então ln y = ln xα = α ln x.
Por derivação implícita, em relação a x, temos (ln y) ′ = (α ln x) ′ .
1 ′ 1
Logo, ⋅y =α⋅ .
y x
1 1
Portanto, y ′ = y ⋅ α ⋅ = αxα ⋅ = αxα−1 .
x x

Observação 10.1 (Derivação em cadeia envolvendo funções exponenciais e lo-

garítmicas). Combinando a regra de derivação 3.1 (regra da cadeia) com os re-
sultados estabelecidos nos teoremas 10.1, 10.2 e na proposição 10.2, podemos
imediatamente estabelecer que se u = u(x) é uma função derivável, e a > 0,
a ≠ 1, e α ∈ R,

1. (eu(x) ) ′ = eu(x) ⋅ u ′ (x)

2. (au(x) ) ′ = au(x) ⋅ u ′ (x) ⋅ ln a

u ′ (x)
3. (ln u(x)) ′ = 1
u(x) ⋅ u ′ (x) = u(x) , quando u(x) > 0
u ′ (x)
4. (ln ∣u(x)∣) ′ = 1
u(x) ⋅ u ′ (x) = u(x) , quando u(x) ≠ 0

5. ((u(x))α ) ′ = α ⋅ (u(x))α−1 ⋅ u ′ (x)

Cautela portanto com cálculo de derivadas de funções envolvendo potências. Em

notação abreviada, sendo u função derivável e a uma constante real, a > 0, temos

• (ua ) ′ = a ⋅ ua−1 ⋅ u ′

• (au ) ′ = au ⋅ u ′ ⋅ ln a
110 Aula 10

No exemplo seguinte, fazemos uso da função ln para derivar uma função exponen-
cial de base e expoente variáveis.

Exemplo 10.1 (Derivada de uma função exponencial de base e expoente variáveis).

Calcular a derivada de f(x) = xx .

Solução. Sendo y = xx , temos ln y = ln xx = x ⋅ ln x.

Derivando ambos os membros em relação a x, temos
(ln y) ′ = (x ⋅ ln x) ′
1 ′
⋅ y = ln x + x ⋅ (ln x) ′
y
1
y ′ = y (ln x + x ⋅ ) = xx (1 + ln x).
x
Portanto (xx ) ′ = xx (1 + ln x).

Observação 10.2. De um modo geral, sendo u(x) e v(x) duas funções derivá-
veis, u(x) > 0, para derivar y = u(x)v(x) , podemos também escrever
v(x)
y = u(x)v(x) = eln u(x) = ev(x)⋅ln u(x)

e então aplicar derivação em cadeia conforme a observação 12.1: (eu ) ′ = eu ⋅ u ′ .

Na expressão final da derivada, substituímos ev(x)⋅ln u(x) por u(x)v(x) . Estamos
usando o fato de que sendo a ∈ R e a > 0, a = eln a .

10.1 Problemas
1. Calcule as derivadas das seguintes funções.
(a) y = e−3x (b) y = e4x+5 (c) y = ax (d) y = 7x +2x
2 2

x −1
(e) y = ex (1 − x2 ) (f) y = eex +1 (g) y = x1/x (h) y = xπ πx
Respostas.
(a) −3e−3x (b) 4e4x+5 (c) 2xax ln a (d) 2(x + 1)7x
2 2 +2x
ln 7 (e) ex (1 − 2x − x2 )
x
(f) (ex2e+1)2 (g) x1/x ⋅ 1−ln
x2
x
(h) πxπ−1 πx + xπ πx ln π

2. Calcule as derivadas das seguintes funções.

x
(a) y = ln ∣ax + b∣ (b) y = loga (x2 + 1) (c) y = ln 1+e e
x
1+x2
(d) y = ln 1−x 2 (e) y = ln ∣x + x∣
2 (f) y = log10 (3x 2
√ + 2)
5

(g) y = x ln x (h) y = (ln x)3 (i) y = ln(x + x2 + λ) (λ ≠ 0)

(j) y = log10 (ln x) (k) y = 2a
1 a+x
ln ∣ a−x ∣ (a ≠ 0)
Derivando funções exponenciais e logarítmicas 111

a 2x 1 4x
Respostas. (a) ax+b (b)
(x2 +1) ln a
(c) 1+e x (d) 1−x 4 (e) x2x+1
2 +x

3(ln x)2
(f) 30x
(3x2 +2) ln 10
(g) 1 + ln x (h) (i) √ 2
1 1
(j) x ln x ln 10 (k) 1
a2 −x2
x x +λ

3. Calcule y ′ , calculando ln y, expandindo o segundo membro, utilizando proprieda-

des de logaritmos, e então derivando implicitamente em relação a x.
√ 2
+1) (x+1)2 2)
(a) y = 3 x(x (b) y = (x+2) √
(c) y = x(1+x
(x−1)2 3 (x+3)4
1−x2
√ √
(d) y = (3x2 + 2) 6x − 7
√
1 x(x2 +1)
Respostas. (a) 3 ⋅ ( x1 + x22x+1 − x−1
3
(x−1)2
2
). Sugestão. Como sugerido no enunci-
√
x(x2 +1)
ado do problema, faça ln y = ln 3 (x−1)2 . Expandindo o segundo membro, obtemos
ln y = 13 (ln x+ln(x2 +1)−2 ln ∣x−1∣). Por derivação implícita, em relação a x, obteremos
y′ 1 2x 2
y = x + x2 +1 − x−1 . √
(x+1)(5x2 +14x+5) 2 −2x4 √
(b) − (x+2)4 (x+3)5 √
(c) 1+3x (d) 3x 3 2 + 2) 6x − 7
3x +2
( + ) (3x
(1−x )
2 3 2 2(6x−7)

4. Calcule dy/dx, se y = f(x) é definida implicitamente pela equação

(a) 3y − x2 + ln(xy) = 2
(b) x ln y − y ln x = 1
(c) exy − x3 + 3y2 = 11
(2x2 −1)y y2 −xy ln y 3x2 −yexy
Respostas. (a) dy
dx = x(3y+1) (b) dy
dx = x2 −xy ln x
(c) dy
dx = xexy +6y

5. Determine a equação da reta tangente à curva y = x2 + ln(2x − 5) no ponto dessa

curva de abcissa 3. Resposta. y = 8x − 15

6. Mostre que a função y = C1 e−x + C2 e−2x é solução da equação diferencial

y ′′ + 3y ′ + 2y = 0.

7. A posição s de um ponto móvel P sobre um eixo horizontal s é dada por

s(t) = t2 − 4 ln(1 + t), t ≥ 0, sendo s dado em centímetros e t em segundos.
Determine a velocidade e a aceleração do ponto P em um instante t qualquer.
Determine os intervalos de tempo em que o ponto P se move (a) para a es-
querda, isto é, em direção contrária à do eixo s, e (b) para a direita. Resposta.
2 +t−2)
v(t) = 2(t t+1 , a(t) = 2 + (t+1)
4
2 . (a) 0 ≤ t < 1, (b) t > 1.

8. Esboce o gráfico de f(x) = e1/x , analisando a função f através de derivadas e

cálculos de limites apropriados.

Resposta.
112 Aula 10

6
A reta x = 0 (eixo y) é assíntota vertical
do gráfico (somente para x > 0).
4
A reta y = 1 é assíntota horizontal do
gráfico.
2 f ′ (x) = −e1/x /x2
f ′′ (x) = e1/x (2x + 1)/x4

-2 -1 0 1 2 3 x

9. Esboce o gráfico de f(x) = 1+e21/x − 1, analisando a função f através de derivadas

e cálculos de limites apropriados.
Resposta.
y Será útil saber que f é uma função ím-
1 par, ou seja, f(−x) = −f(x), para cada
x ≠ 0 (verifique).
1 2 3 x 2e1/x
-3 -2 -1 0 f ′ (x) = 2
x (1 + e1/x )2
−2e1/x [e1/x (2x − 1) + 2x + 1]
-1 f ′′ (x) =
(1 + e1/x )3 x4
Dado numérico. Raízes de f ′′ : ≈ ±0, 4. Sendo f uma função ímpar, temos que f ′ é uma
função par (f ′ (−x) = f ′ (x)), e f ′′ é também função ímpar (veja problema 9, aula 3).

10. (a) Qual número real é maior, (0, 1)0,1 ou (0, 2)0,2 ?
(b) Qual é o menor valor de xx , sendo x real e positivo?
Respostas. (a) (0, 1)0,1 > (0, 2)0,2 (b) (1/e)1/e . Sugestão para ambos os itens.
Verifique os intervalos de crescimento e de decrescimento de f(x) = xx .

11. Mostre que πe < eπ , sem o uso de máquinas de calcular.

ln x
Sugestão. Considere f(x) = . Mostre que f é crescente no intervalo ]0, e] e
x
decrescente no intervalo [e, +∞[. Use então o fato de que π > e.